Hoje Macau China / ÁsiaEmpresário intermediário entre Angola e China detido [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] empresário Sam Pa, um dos mais importantes intermediários nos negócios entre Angola e a China, foi esta semana detido em Pequim no âmbito da investigação contra a corrupção, noticia ontem o Financial Times. No texto do FT, argumenta-se que “o futuro deste misterioso empresário que gere uma rede empresarial em Hong Kong está em perigo depois da notícia de que o seu principal responsável, um bilionário com sete nomes e ligações aos serviços de inteligência chineses, foi apanhado numa investigação do Partido Comunista contra a corrupção”. O artigo, assinado pelo jornalista de investigação Tom Burgis e autor do livro ‘A Pilhagem de África’, explica que Sam Pa é o líder de um grupo empresarial com interesses no Médio Oriente e em África, mas também na Coreia do Norte e na Rússia, que tem a sede em Hong Kong, e a que os seguidores chamam o ‘Queensway Group’ devido à morada. “Durante a última década, Sam Pa ergueu-se da obscuridade para conseguir negócios em cinco continentes no valor de dezenas de milhares de milhões de dólares, e ajudou a construir de raiz uma abrangente teia de empresas ligadas por donos e directores comuns na morada 88 Queensway, em Hong Kong”, escreveu o FT em 2014, quando publicou uma aprofundada investigação sobre Sam Pa, na qual o descreveu como “um homem mais discreto do que os asiáticos que normalmente visitam África para exibir a sua ligação ao país”. O grupo, escreveu então o FT, “tem negócios com a BP, a Total e a Glencore, e tem interesses que vão desde o gás da Indonésia até uma refinaria no Dubai, passando por apartamentos de luxo em Singapura e uma frota de aviões Airbus; abarca uma rede de companhias privadas sediadas em paraísos fiscais para sustentar duas grandes empresas”. Uma delas é a “Sonangol China, que é principalmente uma companhia petrolífera, mas que também é dona do antigo edifício JP Morgan, em frente à bolsa de Nova Iorque, em Wall Street”.
Hoje Macau China / ÁsiaPequim investiga alegado sequestro de cidadão pelo EI [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Governo chinês disse ontem que está a investigar o alegado sequestro de um cidadão pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI), anunciado ontem na revista ‘jihadista’ Dabiq, distribuída na rede social Twitter. Um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros afirmou em conferência de imprensa que as autoridades chinesas estão a investigar o caso, sem confirmar a veracidade do mesmo. Na imagem publicada pelo Dabiq, surgem dois homens, um cidadão norueguês de 48 anos, identificado como Ola Johan Grimsgaard-Ofstaf, e um chinês, Fan Jinghui, identificado como sendo natural de Pequim. Na fotografia, os homens vestem um traje amarelo e envergam um cartaz com a inscrição “à venda”. A China vincula grupos como o Movimento Islâmico do Turquestão Oriental, que opera na região autónoma chinesa de Xinjiang, habitada pela minoria étnica muçulmana Uighur, com organizações extremistas como o EI. Em Março, as autoridades chinesas anunciaram a detenção de vários grupos de alegados terroristas que lutaram com o EI e regressaram depois à China, sem avançar quantos. A China não faz parte da coligação internacional liderada pelos Estados Unidos, e que integra mais de 60 países, entre árabes e ocidentais, contra as posições ocupadas pelo EI no Iraque e na Síria.
Hoje Macau China / ÁsiaBolsa interrompida caso se registem oscilações de 5% ou mais [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] China planeia interromper as negociações nas bolsas, em caso de oscilações de 5% ou mais, numa medida que visa reduzir a volatilidade do mercado, de acordo com um comunicado das duas praças financeiras chineses. Caso o índice das 300 principais companhias cotadas cair ou subir 5%, as autoridades vão suspender as negociações em ambas as praças de Xangai e Shenzhen por um período de 30 minutos, lê-se no comunicado. Mas se o mesmo índice – que inclui empresas como o gigante bancário ICBC e estatais do sector energético como a PetroChina e a Sinopec – oscilar em 7%, as negociações serão interrompidas durante o resto do dia, acrescenta. O documento refere que o mecanismo – designado por “interruptor” – vai “prevenir riscos na bolsa” e promover o “desenvolvimento estável e saudável do mercado de acções”. Trata-se da mais recente medida adoptada pelas autoridades chinesas com vista a controlar o ‘estouro’ da bolha que levou a uma queda de 40% no Índice Composite de Xangai, desde o pico de Maio, e depois de ter valorizado 150% no espaço de um ano. Estímulos excepcionais Antes da abrupta desvalorização, o Governo chinês lançou um pacote extraordinário de estímulos, incluindo financiar uma empresa estatal para compra de acções, com vista a dinamizar o mercado. O banco norte-americano Goldman Sachs estima que as autoridades chinesas tenham gasto 1,5 biliões de yuan para ‘segurar’ as bolsas, nos últimos três meses, segundo avança a agência de informação financeira Bloomberg. De acordo com as medidas vigentes até à data, as acções individuais não podem subir ou descer mais de 10%. O ministro das Finanças chinês disse na segunda-feira que os investidores que retenham acções durante mais de um ano beneficiarão de um alívio de 20% no imposto sobre dividendos, enquanto os que o façam por um mês serão favorecidos em metade da carga fiscal.
Joana Freitas Manchete SociedadeII Guerra | Macau comemora 70 anos. Investigadores divididos com feriado Macau comemorou ontem os 70 anos do final da Segunda Guerra com uma mensagem dirigida aos idosos e aos jovens. Wong Sio Chak assegura que é importante que se perceba a história para valorizar Macau como é, mas especialistas dividem-se sobre a implementação deste dia como feriado [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s 70 anos do fim da II Guerra Mundial foram ontem assinalados na China (ver página 12) e Macau não escapou às celebrações. Por cá, há muito que se faz anunciar a data que, em 2014, se tornou feriado para comemorar o Dia Nacional da Vitória da China na Guerra de Resistência contra a Agressão Japonesa, sendo que numa das praças principais da cidade, o Leal Senado, enormes cartazes celebram “a vitória do povo chinês na guerra contra a Japão” e a “vitória mundial contra o fascismo”. Para Wong Sio Chak, Secretário para a Segurança, o dia foi também marcado em Macau para “endereçar aos soldados e ao povo da Pátria o maior reconhecimento pela excelência dos históricos contributos e heróicos sacrifícios que protagonizaram”, bem como para relembrar os compatriotas “inocentes que pereceram” e apresentar aos mais velhos cidadãos de Macau agradecimentos pela prestação do apoio e da ajuda aos soldados na Guerra contra o Japão. Provas irrefutáveis No discurso da cerimónia, Wong Sio Chak disse que, apesar de terem passado 70 anos, as provas dos actos violentos dos agressores são irrefutáveis e incontestáveis e relembrou que, por cá, a constituição de grupos de apoio ao continente foi algo bastante comum. “Durante a Guerra, para ajudar aos compatriotas da China continental submetidos aos sofrimentos extremos, os cidadãos de Macau participaram activamente no ensejo de salvação da Pátria, estabelecendo [por vontade própria] associações aglutinadoras do amor à Pátria e desencadeando acções de grande envergadura para a sua salvação. Todo o povo, independentemente do seu extracto social, dedicou-se e contribuiu generosamente para o financiamento da guerra e muitos jovens, que ao tempo viviam uma vida caracterizada por uma estabilidade raramente encontradas nessa época, regressaram à China continental e correram para a linha da frente para servir e participar naquela contenda bélica, acontecendo que muitos deles resultaram gloriosamente feridos ou morreram heroicamente.” Wong Sio Chak disse ainda esperar, através das comemorações, que os jovens possam retirar lições. “Temos de aproveitar este dia comemorativo para veicular, ano após ano, aos nossos descendentes, as humilhações e sofrimentos a que foram submetidos os antepassados há 70 anos, sendo que não nos move o ódio, mas sim a missão de lhes lembrar as lições que podemos retirar desta guerra, para que aprendam com a história e jamais permitam que tal volte a acontecer”, frisou o Secretário, explicando que a ideia não é “hipervalorizar a história mas sim para que os jovens sintam o ambiente de estabilidade, paz e desenvolvimento em que vivemos”. Estranho, mas entranhado Apesar de Macau ter sido neutro, recebeu meio milhão de refugiados e atravessou um período de grande dificuldade em que muitos passaram fome. No entanto, foi também um território povoado por “milícias pró-japonesas”, responsáveis pelos conflitos e maus-tratos que o exército nipónico não podia realizar, como explica à agência Lusa o jornalista e investigador João Guedes. A contradição de sentimentos em relação à proclamação deste feriado, tanto na China, como em Hong Kong e Macau, é salientada por quatro especialistas ouvidos pela Lusa. Se por um lado, explicam, persiste uma memória dolorosa acerca da presença japonesa em todo o território chinês, por outro, esta conflitua com a atracção dos chineses pelo Japão contemporâneo, cultura, produtos e gastronomia. “Ninguém do Governo disse que [a criação deste feriado] está relacionada com as tensões actuais. Dizem que tem que ver com a importância de lembrar a história. Claro que fazer este tipo de declaração é já uma indicação de que está, sim, relacionado com tensões actuais”, comenta Barry Sautman, académico da Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong, que investiga questões relacionadas com o nacionalismo chinês. “Quando se tem uma grande parada militar e centenas de milhares de espectadores a assistir é uma grande oportunidade de passar uma mensagem política”, comenta. You Ji, académico da Universidade de Macau especializado em política externa chinesa, é um entusiasta do feriado: “Ele existe para se lembrar que se mataram pessoas a sangue frio. Acho que é uma boa lição sobre o certo e o errado. Mesmo que as pessoas não leiam livros, nem participem nas actividades, acabam por pensar nestas coisas”. O investigador acredita que, tal como defende o Governo chinês, o Japão não efectuou um “sincero e adequado” pedido de desculpas pelas “atrocidades” da guerra, e que é por isso que a China “não consegue virar a página”, ao contrário da Europa.[quote_box_right]“Temos de aproveitar este dia comemorativo para veicular, ano após ano, aos nossos descendentes, as humilhações e sofrimentos a que foram submetidos os antepassados há 70 anos”, Wong Sio Chak, Secretário para a Segurança[/quote_box_right] A parafernália comemorativa – cujos cartazes foram fotografados e reproduzidos nas redes sociais – gerou, em Macau, alguma estranheza, em parte devido à linguagem utilizada. You Ji admite o seu “potencial” de desconforto, mas considera, no entanto, que é “difícil condenar que se use este tipo de linguagem porque nos corações [dos chineses] há feridas que ainda não foram curadas”. Bill Chou, politólogo do Instituto de Educação de Hong Kong e antigo docente da Universidade de Macau – de onde saiu depois de acusar a instituição de perseguição política – lembra que “estas comemorações não são um plano do Governo de Macau, que está apenas a organizar um programa de uma autoridade superior”. O investigador alerta para o facto de a história ser pouco debatida em Macau, algo que não é tão gritante no território vizinho: “A maioria das pessoas de Macau nasceu na China, é de uma geração que não foi educada com factos históricos, mas apenas com propaganda”. “Ao nível civil [em Macau], acho que as pessoas não estão realmente comprometidas com isto, o que se verifica pela forte presença nos restaurantes japoneses e pelo interesse pela cultura japonesa”, comenta Bill Chou. You Jia discorda: “Temos de distinguir os dois fenómenos. As pessoas de Macau, e até da China, não detestam os japoneses, basta olhar para os números do turismo. Distinguem a história do presente”. O Japão ocupou uma parte da China, desde 1931 até ao fim da guerra. Razões históricas e disputas territoriais têm intensificado o nacionalismo nos últimos anos. Pequim e Tóquio disputam, por exemplo, a soberania das ilhas Diaoyu ou Senkaku, no Mar da China Oriental. O evento de ontem contou com a presença de cerca de 440 personalidades, entre as quais o sub-director do Gabinete de Ligação do Governo Central da RPC na RAEM, Yao Jin, sub-comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros na RAEM e Cai Siping, director do departamento político de Guarnição em Macau do Exército de Libertação do Povo Chinês, Zhang Jian.
Hoje Macau BrevesXi Jinping quer reforçar relação com EUA durante visita em Setembro [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, afirmou que espera reforçar as relações com os Estados Unidos durante a sua próxima visita de Estado a Washington, marcada para o próximo mês. Xi Jinping reuniu-se na noite de sexta-feira com a conselheira de Segurança Nacional da Casa Branca para preparar essa visita, depois de Susan Rice ter mantido encontros com outros altos quadros chineses. “Espero continuar a minha conversa com o Presidente [Barack] Obama e manter discussões aprofundadas sobre assuntos importantes de interesse mútuo”, realçou, citado pela agência oficial Xinhua. Xi Jinping afirmou que Pequim gostaria de trabalhar com Washington para que a relação bilateral alcance “um crescimento sustentável e constante”, algo que beneficiará não apenas os povos de ambos os países, mas também promoverá a paz e o desenvolvimento na região da Ásia-Pacífico e “no resto do mundo”. As divergências entre as duas potências mundiais podem ser tratadas por via “da comunicação, de um sincero e mútuo respeito e tendo em conta os interesses-chave de cada um”, disse. Susan Rice, por seu lado, indicou que Obama espera resultados muito positivos da viagem do seu homólogo chinês, afirmando que Washington vai trabalhar com Pequim para que essa visita seja “um marco” no aprofundamento das relações e da cooperação bilaterais. A mesma responsável, que terminou sábado dois dias de reuniões de alto nível para preparar a importante visita de Xi Jinping a Washington, manteve encontros, na sexta-feira, com o conselheiro de Estado Yang Jiechi, um dos arquitectos da política externa chinesa, e com o vice-presidente da Comissão Central Militar, o general Fan Changlong.
Hoje Macau China / ÁsiaPM | Metas vão ser cumpridas apesar da crise bolsista [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, afirmou estar confiante de que a segunda economia mundial vai cumprir as metas que o Governo fixou para este ano, apesar de reconhecer o impacto da crise bolsista, informaram ontem os ‘media’. “A China tem confiança para alcançar os seus principais objectivos de desenvolvimento para este ano sob adequadas medidas de reforma para estabilizar e reestruturar a economia”, afirmou Li Keqiang, em declarações reproduzidas hoje pelo jornal oficial China Daily. As palavras do primeiro-ministro chinês chegam numa altura em que a crise bolsista obrigou o banco central a intervir, esta terça-feira, nomeadamente com um corte nas taxas de juro para acalmar os mercados. Li Keqiang reconheceu que a economia chinesa se tem visto afectada pela turbulência nos mercados globais, mas defendeu que os seus pilares se mantêm “estáveis” e que o gigante asiático vai manter um ritmo de crescimento “razoável”. “Ainda temos margem para aplicar mais políticas macroeconómicas e a China tem um mercado interno enorme”, recordou. Pelos ajustes Li Keqiang também defendeu as recentes desvalorizações do yuan – adoptadas este mês pelo banco central chinês – que se fizeram acompanhar de uma reforma no sistema cambial, ao garantir que depois dessas “melhorias” a taxa de câmbio da moeda chinesa se ajusta mais em relação ao seu valor de mercado. Após esta correcção, acrescentou, não há base para uma contínua depreciação do yuan. “Esse ajustamento também foi realizado como parte dos esforços reformistas que a China está a levar a cabo”, assinalou, insistindo que as depreciações foram consequência do desenvolvimento dos mercados financeiros internacionais. A segunda economia mundial manteve um crescimento de 7% no segundo trimestre de 2015, excedendo várias previsões internacionais, e confirmando a “nova normalidade” defendida pelo governo chinês. Aquele valor (7%), que coincide com a meta apontada pelo governo chinês, excede também a previsão do Fundo Monetário Internacional acerca do crescimento económico da China em 2015 (6,8%). Comparando com igual período do ano anterior, o crescimento da economia chinesa no primeiro semestre de 2015 abrandou 0,4 pontos percentuais. Se aquele valor (7%) se mantiver ao longo do ano, será o mais baixo do último quarto de século. Na última década, a economia chinesa cresceu em média 9,9% ao ano e em 2010 tornou-se a segunda maior do mundo, à frente do Japão e da Alemanha.
Hoje Macau Breves SociedadeCidade Proibida encerrada durante duas semanas [dropcap style=’circle’]A China anunciou sexta-feira que a Cidade Proibida vai estar fechada ao público entre 22 de Agosto e 3 de Setembro, quando terá lugar nessa zona um desfile militar para comemorar o fim da II Guerra Mundial. O encerramento temporário do antigo palácio imperial e popular atracção turística, situado em frente à praça de Tiananmen, não é a única medida que o regime chinês adoptou para garantir que não há imprevistos nesse dia. Além das restrições ao trânsito, a China vai encerrar os seus aeroportos durante a manhã de 3 de Setembro, e adoptará outras restrições no espaço aéreo da capital. Entre sábado e o dia 4 de Setembro, o espaço aéreo de Pequim estará fechado para helicópteros, balões, parapentes e aviões sem motor. As autoridades chinesas já anunciaram que ordenaram o encerramento temporário das fábricas de Pequim e arredores e vão impor reduções à actividade de outras, para garantir que nesse dia os céus da capital estão limpos. Está também a ser restaurada a porta de Tiananmen, a entrada do antigo palácio imperial da Cidade Proibida, onde se exibe o retrato de Mao Zedong. O dia 3 de Setembro foi declarado feriado nacional pelas autoridades chinesas e o desfile militar será o culminar de uma série de actos comemorativos do final da II Guerra Mundial. O Japão invadiu a China em 1931 e não abandonou o território até depois da rendição oficial em Setembro de 1945, num conflito que causou cerca de 20 milhões de mortos chineses, a maioria civis.
Hoje Macau China / ÁsiaDetidos 15 mil cibernautas na China por ‘colocar em perigo a segurança’ [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] ministério chinês de Segurança Pública anunciou a prisão de 15.000 ciberrnautas por crimes na internet e acções que colocaram em risco a segurança cibernética, sem especificar quais foram os delitos cometidos. A medida ocorre face a um rigoroso processo de censura às informações divulgadas na internet sobre as explosões de Tianjin, muitas delas com críticas à actuação do governo diante do incidente que matou 114 pessoas, feriu mais de 200 e deixou 70 desaparecidas . Segundo o site do ministério, 7.400 casos foram investigados, mas sem precisar o período em que as detenções foram feitas. O governo lançou no mês passado uma campanha denominada “Limpeza na internet” que durante seis meses intensificou a vigilância do ciberespaço, concentradas nas páginas que fornecem “informações ilegais e nocivas” ou promovem a pornografia, o uso de armas ou apostas ilegais. No domingo, foram bloqueados dezenas de sites com críticas sobre a gestão do governo chinês a propósito da explosão num armazém com material químico. As páginas desaprovavam a atenção dada às vítimas, a falta de transparência na investigação e a ausência de informações por parte das autoridades. Antes, mais de 360 contas já haviam sido suspensas de forma temporária ou permanente. Ao rubro Em contrapartida, as autoridades alegam que cibernautas disseminaram rumores que criam pânico sobre a população. Entre eles, a Administração do Ciberespaço chinês apontou que algumas páginas comparam o incidente à explosão de uma bomba atómica, enquanto outras indicam que há mais de mil mortos. O governo classificou as publicações como “irresponsáveis” e ressaltou que vai adoptar uma postura de “tolerância zero” contra os boatos. Desde que Xi Jinping chegou ao poder, o governo chinês têm como prioridade o controlo de páginas na internet e das redes sociais. Vários donos de blogs críticos do regime foram presos e forçados a confessar publicamente os seus delitos, como o chinês-americano Charles Xue, acusado de ter relações ilícitas com prostitutas. Além disso, em Março do ano passado, o Congresso aprovou uma lei que dá poderes ao Estado para tomar “todas as medidas necessárias” para proteger a soberania de seu ciberespaço. A legislação, que recebeu muitas críticas de organizações de direitos humanos, pretende evitar que a “informação ilegal ou prejudicial” se espalhe e prevê uma pena de três anos de prisão para aqueles que espalham “rumores” através de rede.
Hoje Macau China / ÁsiaExplosões em Tianjin afectam economia [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s explosões em Tianjin, na China, já causaram prejuízos de quase mil milhões de euros, impediram grandes multinacionais de acederem às suas instalações e podem gerar um impacto económico com duração de vários meses. O desastre matou pelo menos 114 pessoas e gerou receio de contaminação do ar e da água da cidade com poluentes tóxicos, apesar de as autoridades insistirem que são seguros. As explosões destruíram também a zona do porto de Tianjin, uma plataforma chave da segunda economia mundial e maior comercializadora de bens. Uma das imagens mais marcantes do desastre é a de inúmeros carros importados completamente carbonizados, com estimativas de que cerca de 10.000 veículos ficaram destruídos. Mais de 150 empresas listadas na Fortune 500 – a revista norte-americana que apresenta as maiores empresas do mundo – operam em Tianjin, e o seu porto é um dos dez mais movimentados do mundo. A cidade conta com uma população de 15 milhões de pessoas, o dobro de Londres, e uma economia do tamanho da República Checa. “A actividade económica em Tianjin ainda não voltou ao normal, vários dias depois das explosões devastadoras”, indicou a consultora Capital Economics, numa nota aos clientes. “Apesar de a maioria do porto continuar a operar, os danos aos armazéns e instalações de fábricas foram severos”, acrescentou, alertando que “as perturbações devem estender-se às cadeias de abastecimento”.
Hoje Macau China / ÁsiaTianjin | Imprensa critica resposta dos dirigentes de às explosões As suspeitas em torno da gestão da catástrofe aumentaram depois da revista Caijing anunciar que quem realmente controla a empresa onde se registaram fortes explosões é o filho de um antigo alto dirigente do governo local [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] imprensa estatal chinesa criticou ontem fortemente os responsáveis da cidade portuária de Tianjin, acusando-os de falta de transparência no caso das explosões na zona industrial da cidade que causaram a morte de, pelo menos, 114 pessoas. As autoridades chinesas têm limitado as críticas à gestão do desastre, suspendendo ou encerrando dezenas de páginas na Internet ou contas em redes sociais. No entanto, a imprensa estatal condenou ontem os dirigentes locais por falta de transparência, dizendo que a sua atitude tem um reflexo negativo no Governo central. “Durante as primeiras dezenas de horas após as explosões foi disponibilizada pouca informação pelas autoridades de Tianjin”, escreveu ontem o Global Times no seu editorial. “Tianjin não é um caso excepcional em termos de resposta desadequada em situação de desastre. O esforço para responder aos repórteres deve passar a ser rotineiro, caso os governos voltem a enfrentar um acontecimento de grande dimensão. Uma reacção lenta pode levar a que rumores corram desenfreados. E como consequência, a confiança pública no Governo continua a decrescer”, diz o jornal com ligação ao Partido Comunista. Por seu lado, o China Daily escreve que “muitas questões continuam por responder” sobre as explosões, que geraram vários dias de incêndios e receio de contaminação tóxica. “Não é surpreendente que a falta de informação confirmada tenha resultado em teorias da conspiração (…) que vão aumentar, a não ser que o Governo revele os mistérios em torno do incidente através de uma investigação exaustiva e transparente que possa responder às perguntas das pessoas”, escreve. O jornal afiliado com o órgão de disciplina do Partido Comunista, o “China Discipline Inspection and Supervision News”, afirmou que o desastre em Tianjin expôs graves lacunas na implementação das regulações do país. “As chamas engoliram não só vidas e propriedade, mas também o sentido de segurança. O promotor dos complexos [industriais] e os residentes não sabiam que estavam a viver ao lado de um ‘vulcão’ até as explosões acontecerem”, escreve. Ligações opacas A revista económica chinesa Caijing escreveu também ontem que quem realmente controla a empresa proprietária do terminal de contentores do porto de Tianjin, em que se registaram fortes explosões, é o filho de um antigo alto dirigente do governo local. Apesar de o titular oficial da empresa Ruihai International Logistics ser Zhi Feng e os principais accionistas pessoas com o nome Li Liang e Shu Zheng, com 55% e 45% das acções, respectivamente, quem “realmente controla” a empresa é Dong Mengmeng, diz a revista. A publicação indica que Dong é o filho do ex-director do Gabinete de Segurança Pública do Porto de Tianjin, onde fica o terminal de depósitos. A ligação entre a empresa e o governo aumenta as suspeitas sobre a opacidade na gestão da catástrofe, sem que ainda tenha sido revelado o que a provocou. Desde que se deram as explosões que se revelaram várias possíveis violações às regras de segurança, entre informações oficiais e publicadas pela imprensa. O Tribunal Supremo Chinês já anunciou uma investigação para apurar possíveis negligências. Apesar de ainda não ter sido oficialmente confirmado, a hipótese mais forte é que as explosões se deveram ao contacto dos produtos químicos nos contentores – incluindo cianeto – com a água usada pelos bombeiros para apagar um incêndio que havia deflagrado previamente. Ainda não se sabe se a Ruhai International Logistics tinha licença para armazenar estes químicos perigosos, já que a autorização de 2012 não contemplava esta opção, ainda que fontes do Governo local tenham dito na sexta-feira que a licença foi “redefinida” mais tarde.
Hoje Macau BrevesDeslizamento de terras causa sete mortos e 57 desaparecidos [dropcap style=’cirlcle’]P[/dropcap]elo menos sete pessoas morreram e 57 outras são dadas como desaparecidas, quatro dias depois do deslizamento de terras numa empresa mineira no noroeste da China, noticiou ontem a agência oficial Xinhua. Ontem à noite foram retirados sete corpos dos escombros de um dormitório de funcionários da empresa, que funciona na região de Saanxi, segundo responsáveis citados pela agência noticiosa. O deslizamento de terras registado na quarta-feira passada soterrou os alojamentos da empresa de mineração sob um milhão de metros cúbicos de terra, segundo as mesmas fontes. O trabalho das equipas de resgate foi dificultado por uma enorme massa de lama e detritos, e também, o risco de outro deslizamento de terra, noticiou a AFP. Os acidentes nas minas de carvão chinesas causaram 931 mortes no ano passado, disse um funcionário em Março último.
Hoje Macau China / ÁsiaEUA exigem o fim do repatriamento forçado de chineses [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s Estados Unidos exigiram ao Governo de Pequim que ponha fim às actividades secretas dos agentes que estão a operar em território norte-americano para repatriar cidadãos chineses procurados na China. De acordo com o jornal New York Times, as missões secretas fazem parte da operação “Caça à Raposa” que tem como objectivo forçar o regresso à China de pessoas que são procuradas por delitos como corrupção e, em alguns casos, proceder à apreensão de bens das pessoas alvo dos processos de busca. Segundo informa o Times na edição digital, o aviso dos Estados Unidos para que sejam interrompidas as operações foi transmitido ao Governo de Pequim devido aos actos de “intimidação” alegadamente usados pelos agentes da República Popular da China. Segundo a imprensa norte-americana, os agentes são funcionários do Ministério da Segurança Pública de Pequim, que pressionam os chineses expatriados nos Estados Unidos para que regressem de imediato à China. As tácticas de intimidação incluem ameaças aos familiares dos fugitivos, refere o New York Times, que cita fontes oficiais norte-americanas não identificadas. A notícia refere que os agentes entram nos Estados Unidos com vistos turísticos ou a coberto de falsas actividades comerciais. O jornal recorda que Pequim tem em prática uma campanha que foi imposta pelo Presidente Xi Jinping, contra a corrupção, desde 2014 e que já conseguiu o repatriamento de mais de mil alegados suspeitos. Tensão em alta Nos últimos meses, verificou-se o incremento das operações dos agentes da República Popular da China, num período em que se registam também várias tensões políticas e diplomáticas entre Washington e Pequim. Entre outros casos, os Estados Unidos suspeitam que a China é responsável pelo roubo de milhões de arquivos com informações de funcionários norte-americanos. De acordo com o Times, o aviso às autoridades chinesas sobre as operações secretas pode ser interpretado como um primeiro passo para a possível expulsão dos agentes. O mesmo jornal escreve que um dos cidadãos da República Popular da China – cujo repatriamento está a ser imposto – é Ling Wancheng, um homem de negócios que se move em meios políticos e que chegou aos Estados Unidos e é residente em Sacramento, Califórnia, desde 2014. As fontes consultadas pelo Times não adiantam o número de indivíduos procurados nem se são alvo de perseguição política.
Hoje Macau Breves China / ÁsiaPoluição mata diariamente 4.000 pessoas [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] poluição atmosférica é actualmente responsável por uma em cada seis mortes prematuras registadas no país mais populoso do mundo. Especialistas da Universidade da Califórnia, Berkeley, estimam que 1,6 milhões de pessoas morram anualmente na China devido a problemas no coração, pulmões e acidentes vasculares cerebrais provocados pelo ar extremamente poluído. Estudos anteriores estimavam o número anual de mortes devido à poluição atmosférica em entre um e dois milhões, mas este é o primeiro a utilizar dados recentes de monitoramento do ar. O estudo, a ser publicado na revista científica PLOS One, atribui a culpa às emissões resultantes da combustão de carvão — tanto para a produção de energia eléctrica como para aquecimento das casas — pelos elevados níveis de partículas registadas. Foram utilizadas medições do ar em tempo real e, posteriormente, aplicados cálculos computacionais para estimar as mortes por problemas do coração, pulmões e acidentes vasculares cerebrais causadas por diferentes tipos de poluentes. O principal autor do estudo, Robert Rohde, afirmou que 38% da população chinesa vivia numa zona com uma média de qualidade do ar a longo prazo que a Agência de Protecção Ambiental dos Estados Unidos (EPA, na sigla em inglês) considera “insalubre”. Ao contrário do que sucede nos Estados Unidos, a poluição atmosférica na China é mais grave no Inverno, devido à combustão de carvão para aquecimento das habitações e às condições meteorológicas que mantém o ar poluído mais próximo do chão, explicou Robert Rohde. Pequim foi recentemente escolhida para organizar os Jogos Olímpicos de inverno de 2022.
Hoje Macau China / ÁsiaDois barcos de patrulha e busca e salvamento entregues a Cabo Verde [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] República Popular da China entregou hoje oficialmente dois navios de patrulha e de busca e salvamento ao Governo de Cabo Verde para apoiar a Guarda Costeira cabo-verdiana na fiscalização e vigilância das suas águas territoriais. Os dois navios-patrulha, que constam de um leque de materiais e equipamentos que a China entregou recentemente a Cabo Verde, chegaram ao país em março deste ano, mas depois da preparação da guarnição e tripulação, só agora foram entregues oficialmente. Os outros equipamentos incluem ainda quatro ginásios, uma fábrica de produção de fardamento para as Forças Armadas, equipamentos informáticos e materiais de escritório, avaliados em 585,5 milhões de escudos cabo-verdianos (5,3 milhões de euros). Na cerimónia de entrega, realizada no porto da Praia, o ministro da Defesa cabo-verdiano, Rui Semedo, destacou a importância do mar e da localização estratégica de Cabo Verde no corredor do Atlântico e salientou que os barcos vão ajudar o país a aumentar a segurança e fazer face às ameaças que emergem, como o tráfico internacional de droga, pirataria e outros crimes. “Hoje a segurança é um bem essencial, mas é um bem que está sujeito a muitas ameaças. Temos o tráfico de drogas, de armas e humano, a pirataria marítima, questões ambientais, que colocam aos países, principalmente os insulares, maiores desafios”, referiu. Indicando que o objetivo é transformar a Guarda Costeira cabo-verdiana no principal prestador de serviço no que diz respeito à busca e salvamento nas águas do arquipélago, Rui Semedo salientou que isso implica mais responsabilidades e mais meios para dar respostas às catástrofes e acidentes marítimos e aéreos que poderão acontecer. A chegada dos dois barcos, prosseguiu o ministro, enquadra-se numa reforma no que diz respeito às operações de busca e salvamento no país, tendo sido alterada a legislação do setor. Por sua vez, o comandante da Guarda Costeira cabo-verdiana, Anildo Morais, indicou que, depois da formação dada pelos chineses aos militares cabo-verdianos, os navios já estão prontos a operar na zona costeira do arquipélago. Para Anildo Morais, os dois barcos, totalmente novos e apetrechados com equipamentos modernos e de alta tecnologia, vão permitir à Guarda Costeira aumentar a capacidade operacional em termos de meios, de fiscalização, da pesca e de busca e salvamento. “São grandes ganhos para a Guarda Costeira cabo-verdiana”, afirmou o responsável, indicando que agora Cabo Verde fica com sete embarcações de tipo costeiro e está “bem servido”.
Hoje Macau Breves China / ÁsiaJustiça investiga negligência [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Supremo Tribunal da China anunciou ontem que abriu uma investigação para determinar se houve negligência no caso das explosões no terminal de contentores em Tianjin, na quarta-feira.”Vamos investigar possíveis actos ilegais, tais como o abuso de poder, negligência nas obrigações ou qualquer prática que constitua um crime”, informou o tribunal num comunicado divulgado pela agência oficial de notícias Xinhua. Até ao momento, nenhum membro do governo local ou da empresa proprietária do armazém, Ruihai International Logistics, foram considerados responsáveis pelo acidente. Inicialmente, o director da empresa e outros funcionários ficaram à disposição da polícia para tentar apurar o que se passou.
Hoje Macau China / ÁsiaExplosões | Cerca de 50 ‘sites’ sobre Tianjin censurados [dropcap style=’cirle’]C[/dropcap]inquenta páginas da Internet que continham críticas às operações de socorro e à investigação das explosões ocorridas na quarta-feira no porto de Tianjin, no norte da China, foram encerradas ou suspensas temporariamente pelas autoridades. Um comunicado da Administração do Ciberespaço da China, divulgado ontem pela agência oficial Xinhua, refere que os ‘sites’ “criam pânico publicando informação sem verificá-la ou permitindo aos seus utilizadores divulgar rumores infundados”. Entre os rumores, aponta a administração, estão informações de que “as explosões causaram pelo menos 1.000 mortos” e de que “os supermercados em Tianjin foram saqueados”, além de comentários a defender uma mudança do governo no município. O organismo considera que estas publicações “causam influências negativas”, pelo que revogou em permanência as licenças de 18 ‘sites’ e suspendeu temporariamente outros 32, não especificados. A medida soma-se à censura, anunciada já no sábado, de 360 contas em redes sociais. A Administração do Ciberespaço promete uma postura de “tolerância zero em relação à divulgação de rumores depois de grandes desastres”. Cianeto à solta Desde a tragédia, centenas de utilizadores do Weibo (o Twitter chinês) pediram “a verdade da explosão”, um dos ‘hashtags’ utilizados mais vezes na rede na sexta-feira, e criticaram a censura a órgãos de comunicação locais. Familiares dos bombeiros desaparecidos (85, segundo o balanço mais recente) têm criticado na cidade portuária a falta de assistência e de informação por parte das autoridades. O balanço ontem divulgado indica que 112 pessoas morreram e 95 continuam desaparecidas, havendo 88 cadáveres não identificados. As explosões causaram mais de 700 feridos. Um alto quadro militar afirmou ontem que centenas de toneladas de cianeto, químico altamente perigoso, estavam a ser armazenadas no armazém devastado pelas explosões de quarta-feira e onde já voltaram a ocorrer novas explosões e incêndios. “O volume é de algumas centenas de toneladas, de acordo com estimativas preliminares”, afirmou o general Shi Luze, em conferência de imprensa, referindo que o cianeto foi identificado em duas localizações da zona. A informação dada pelo general Shi Luze é a primeira confirmação oficial da presença dos químicos no armazém. No sábado, especialistas que colaboram na investigação consideraram ser “possível” que os contentores armazenassem cianeto de sódio, entre outros produtos químicos, como nitrato de amónio, nitrato de potássio e carboneto de cálcio. O desastre gerou receios de contaminação tóxica, pelo que foram retirados residentes da zona. Maior porto do norte da China, situado a 150 quilómetros de Pequim, Tianjin é a sede de um município com cerca de 15 milhões de habitantes.
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasMendes Pinto encontra a filha de Tomé Pires [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]desajustada política de D. Manuel para os Mares da China, como ficou bem provado com Simão de Andrade “habituado ao autoritarismo com que os Portugueses se haviam imposto por todo o Índico, não se adaptou às práticas locais, nem se apercebeu de que estava num país assaz peculiar, tanto de um ponto de vista cultural como do político e, por isso mesmo, incomparável a outras regiões asiáticas onde já servira o rei” como refere João Paulo Oliveira e Costa e com ele continuando: “Assim que chegou à orla do Império do Meio, Simão de Andrade cometeu um erro que originou o primeiro equívoco grave nas relações com as autoridades locais”, “resolveu defender-se em terra: ergueu para isso um fortim na ilha de Tamau, sem que os governantes chineses fossem ouvidos. Detentor de toda a autoridade no ilhéu onde se fortificara, o capitão enforcou aí um dos seus marinheiros, facto que fez crescer ainda mais a indignação e a preocupação dos chinas. Com as relações já tensas, Simão impediu que comerciantes de outras nações vendessem as suas fazendas e autorizou os seus homens a comprar moços e moças filhos de gente honrada” e João de Barros acrescenta: “Simão de Andrade personificava as virtudes e os defeitos do optimismo manuelino”. Desmandos em Tamão e no vizinho mar de Tunmen de Simão de Andrade, aliados com o de mercadores portugueses terem batido num mandarim, foi o rastilho que estourou com Duarte Coelho a abrir fogo na batalha naval de 1521. Estas as grandes causas do malogro das duas primeiras embaixadas à China, a de Tomé Pires e a seguinte, em 1522 com Martim Afonso de Melo Coutinho como Embaixador e daí, “todas as desgraças que os portugueses sofreram na China nos mais de trinta anos seguintes, até ao aparecimento de Leonel de Sousa, que fez o assentamento de 1553-1554, em Kuóng-Hoi, com o Intendente Marítimo, Van-Pé (o haidao Wang Bo, subintendente dos Assuntos de Defesa Costeira que deu uma autorização de estadia temporária) – título que nos facultou o estabelecimento em Macau” A. Cortesão. A suspensão obrigatória de todas as actividades da vida chinesa após a morte do Imperador Zhengde, não tinham sido respeitadas pelos comerciantes portugueses que se encontravam em Cantão, o que levou à expulsão dos bárbaros do país após duas batalhas navais e “como consequência, a proibição dos navios portugueses não poderem aportar em Cantão, nem estabelecer relações diplomáticas e comerciais com a China, fez os portugueses juntarem-se aos japoneses na pirataria pelas baías da costa de Fuquiam e Zhejiang, trocando a prata e outros produtos por seda com os contrabandistas chineses” A. Cortesão. Havia ainda mercadores portugueses que entravam na China disfarçados e misturados com os comerciantes das embaixadas dos países do Sudeste Asiático. Fernão Mendes Pinto e seus companheiros em 1542, após o barco naufragar na enseada de Nanquim e de muitas peripécias, seguiam pelo interior até Pequim fazendo-se passar por mercadores do Sião, mas acabaram presos. Já em 1525 um édito imperial decretara o fim da marinha mercante chinesa nos mares da China, tendo por isso alguns chineses emigrado e desrespeitando as leis tornaram-se mercadores renegados, dependendo dos portugueses para manter os contactos com os familiares e no comércio com os conterrâneos. Com estas amizades feitas, esses chineses ultramarinos forneciam aos portugueses guias e após o imbróglio com Simão de “Andrade, levaram-nos a Liampó (Ningpo), onde os mandarins, largamente subornados, faziam vista grossa ao comércio proibido, que, com o passar do tempo, se estendeu a Chincheu (Zhangzhou), chegando a restabelecer-se às próprias portas de Cantão”, como refere Montalto de Jesus citando Gaspar da Cruz. As costas passaram a estar cheias de comerciantes piratas japoneses e portugueses à procura dos apetecíveis produtos chineses, pois proibido pela dinastia Ming o comércio marítimo com outros países e a China sem esquadras para patrulhar a longa costa. Mas os lucros em prata eram muitos e estas enseadas de Fujian e Zhejiang foram bons locais para as trocas entre chineses e portugueses. Tomé Pires está morto ou vivo? Montalto de Jesus refere que as “Cartas de Cantão que chegaram, anos depois, às mãos dos portugueses revelaram os sofrimentos atrozes da embaixada na prisão, onde roubaram a Pires os presentes reais recusados, assim como uma quantidade de almíscar, ruibarbo, damasco, cetim, ouro e prata que ele trazia consigo para fins comerciais. Era crença geral que, por fim, a desgraçada embaixada teria morrido na prisão.” Armando Cortesão complementa: “A carta de (o persa convertido Cristóvão) Vieira, concluída provavelmente em Novembro de 1524, diz que, de todos os companheiros de Tomé Pires, apenas ele e Vasco Calvo se encontravam vivos, na cadeia de Cantão, e à primeira vista dá a impressão de que Pires falecera em Maio desse ano. Esta passagem, que levou Barros, e todos os que, depois dele, mais ou menos levemente se têm referido ao assunto, a declarar que de facto Pires faleceu então na cadeia, é muito confusa e susceptível de várias interpretações. E aquela não é a interpretação que se coaduna com outros elementos de informação conhecidos.” “Na verdade, Vieira não diz que Pires morreu na prisão, o que, no caso afirmativo, não deixaria de mencionar; a informação foi-lhe provavelmente dada pelos chineses, que teriam interesse em o enganar. Castanheda, que, nessa ocasião, se encontrava na Índia, diz que o Rei da China . Porém, Gaspar Correia, que, durante quase todos esses anos, também esteve na Índia, diz positivamente que o Rei da China . Isto é ainda confirmado por um antigo documento chinês, citado por W. F. Mayers, em que este assunto é referido, no qual se diz que a embaixada de Pires foi enviada sob prisão de Pequim a Cantão e os seus homens expulsos para além das fronteiras da província. Por onde andava Tomé Pires Ora, Fernão Mendes Pinto escreve, na Peregrinação, que, ao passar, em 1543, pela povoação de Sampitay, na margem do Grande Canal, quando seguia preso de Nanquim para Pequim, encontrou aí uma mulher cristã que, depois de lhe mostrar a cruz que tinha tatuada no braço e o convidar e a seus companheiros portugueses para sua casa, lhes disse “que se chamava Inês de Leiria, e que seu pai se chamara Tomé Pires,”…”E que a seu pai lhe coubera em sorte ser seu degredo para aquela terra, aonde se casara com sua mãe, por que tinha alguma coisa de seu, e a fizera cristã, e sempre em vinte e sete anos que ali estivera casado com ela, viveram ambos muito catolicamente, convertendo muitos gentios à Fé de Cristo, de que ainda naquela Cidade havia mais de trezentos, que ali em sua casa se ajuntavam sempre aos domingos a fazer doutrina” A. Cortesão. E com ele continuando, Fernão Mendes Pinto “confirmou tudo isto numa declaração escrita, ainda hoje existente, que, em 1582, fez a uns jesuítas que o visitaram em Almada”. Também Cristóvão Vieira na sua carta diz: “as mulheres dos línguas, assim as de Tomé Pires, que ficaram em esta cidade o ano presente (1524) foram vendidas como fazenda de traidores, aqui ficaram em Cantão espalhadas”. De onde A. Cortesão depreende “o facto de Pires ter, pelo menos, uma mulher chinesa, ao que parece, a mãe de Inês de Leiria, de que nos fala Fernão Mendes Pinto. Pode, pois, reconstituir-se o que provavelmente se passou. Quando Pires, viajando pelo Grande Canal, quer na ida para Pequim, quer no regresso, parou em Sampitay, conheceu a mãe de Inês de Leiria, possivelmente, dama de certos meios e categoria, como cabia a um embaixador, com quem se juntou ou casou à maneira da terra. De modo que a venda da dama “como fazenda de traidores”, em Cantão, não teria tido para ela graves consequências, se é que foi abrangida em tal operação. Pelo que dizem Castanheda e, sobretudo, Gaspar Correia e o referido documento chinês, e Mendes Pinto confirma, se vê que Pires foi desterrado de Cantão, o que Vieira e Calvo não sabiam à data das suas cartas. Talvez nessa altura Inês de Leiria já tivesse nascido, ou estivesse para nascer, e é perfeitamente natural que Pires houvesse seguido com a filha e sua mulher para Sampitay, a terra em que esta tinha casa e bens” Armando Cortesão, que identifica “a Sampitay de Fernão Mendes Pinto, que então se chamaria Hsim (ou Sun) P’ei t’ai (segundo a grafia inglesa de nomes chineses) com a moderna povoação de P’i chou, ou P’ei chou, hoje, a uns nove quilómetros a nordeste do ponto mais perto no Grande Canal (cujo curso em certos sítios também variou muito durante os séculos), em latitude 34º 25′ N e longitude 118º 6′ E.” Conhecida actualmente por Pi Zhou, 邳州, era Sampitay denominada Pi Xian (邳县) em mandarim e situa-se a Leste de Xuzhou e ao Norte da província de Jiangsu. Segue-se um elogiar de Armando Cortesão: “A descrição de Pinto carece de ajuste, num ou noutro ponto, o que não deve surpreender quando se considere que Inês de Leiria lhe falou em chinês, língua que ele decerto conhecia mal, que escreveu de memória quando, pelo menos, uns vinte e seis anos haviam já decorrido sobre os acontecimentos, e que a Peregrinação só foi publicada trinta e um anos depois da sua morte, com as introduzidas por Francisco de Andrade, para que Inquisição a deixasse dar à estampa.” O que teria sido a Suma Oriental se… Pela Peregrinação concluída em 1580, mas só editada em 1614, não se fica a conhecer o ano em que faleceu Tomé Pires, mas pela descrição que Inês de Leiria fez a Fernão Mendes Pinto se deduz ter sido por volta de 1540 e que da sua casa em Sampitay foram apreendidos papéis por ele escritos. Com os portugueses proibidos de entrarem na China, difícil terá sido a Tomé Pires em Sampitay ter feito chegar a Malaca o que escreveu nos últimos quinze anos da sua vida. Por Gaspar Correia ficamos a saber que Tomé Pires a D. Duarte de Meneses, Governador das Índias entre Janeiro de 1522 e Dezembro de 1524. Mas até esse desapareceu, tal como tudo o resto que Tomé Pires escreveu na China. Seguramente uma grande perda para a História, Geografia e Botânica do século XVI, perante o que na Suma Oriental nos é permitido imaginar poderem ter sido essas informações. “Depois duma mocidade cheia de esperança e de uma fecunda passagem de cinco anos pela Índia e Malaca – em que acumulou muito saber e não pouco cabedal, em cargos modestos mas que lhe permitiram grandes possibilidades de exploração e ao conhecimento do tão diferente e variado mundo oriental, com que os portugueses apenas vinham de entrar em contacto – o simples boticário achou-se, de repente, guindado a embaixador, para afinal vir a morrer ignoradamente, depois de tanta desilusão, ignomínia e sofrimento, perdido e esquecido numa terriola qualquer dessa China imensa, cujo mistério e riqueza tanto o haviam seduzido. O nome de Tomé Pires é mais um a inscrever entre os de tantos dos seus compatriotas que pagaram o mais alto preço pela honra de bem servir a Pátria e a Humanidade”. Londres, Abril de 1945, Armando Cortesão. Foi para comemorar os quinhentos anos do manuscrito Suma Oriental que, sobre a base do trabalho de Armando Cortesão e documentos dos arquivos chineses que têm visto tradução em português e transmitidos por muitos dos actuais historiadores de quem me socorri, fizemos esta longa viagem pelo percurso de Tomé Pires, esperando ter ficado o leitor, que acompanhou os episódios desta aventura, com uma visão sobre a acção e as dificuldades dos portugueses no primeiro período de relacionamento com a China, entre 1513 e 1522.
Sérgio de Almeida Correia VozesUm país, três sistemas Jules Romain – “Dr. Knock”[dropcap style=’circle’]R[/dropcap]econheço que reflecti várias vezes sobre a publicação destas linhas. Resolvido o meu problema poderia ter silenciado, abalado, ido à minha vida. Há, todavia, um pequeno senão. Vivo em comunidade e não sou ninguém sem os que me rodeiam. São estes que dão sentido à minha existência como cidadão e advogado. É com eles que partilho sucessos e insucessos, lágrimas e sorrisos, e é a eles que me acolho quando preciso. São eles que me confortam e prolongam os dias. Também confesso que não sei bem em qual das qualidades escrevo, embora saiba que sou antes de tudo um cidadão, e que a protecção corporativa não me esvazia dessa condição. Sem tal estatuto, que tanto quanto possível faço por merecer, dar sentido à aristotélica vida boa passa por assumir essa condição em toda e qualquer situação. E sei, sem claudicar nem esmorecer, que não dormiria tranquilo se ignorasse o que aqui deixo. Posto isto, tenho de dizer que depois da perplexidade que me varreu quando nos primeiros dias de Janeiro escutei Alexis Tam – esforçado tenista e pessoa por quem tenho a maior estima e admiração –, dar um voto de confiança a quem tinha acabado de ser acusado de incompetência e sido demitido em directo, perante as câmaras de televisão, fiquei posteriormente incrédulo ao saber, no final da primeira quinzena de Abril, que aquele mesmo governante decidiu antecipar uma parte do futuro promovendo a substituição de Chan Wai Sin por Kuok Cheong U. De qualquer modo, gostei do anúncio de um conjunto de medidas que passarão pela contratação de mais, melhores e mais competentes, assim o espero, profissionais de saúde, por uma melhoria das instalações e dos processos de triagem, redução dos tempos de espera nas farmácias dos Serviços de Saúde de Macau (SSM), urgências mais eficientes e céleres e uma renovação dos carenciadíssimos serviços das especialidades. Quando vi o número 529 como sendo o dos profissionais a contratar até me assustei. Vinha aí uma revolução, pensei, e ainda mais depressa isso foi confirmado pelo próprio Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura ao assumir a ambição da empreitada e o risco de afirmar, nem mais nem menos, que “os próximos cinco anos serão a era mais brilhante da saúde” (Lusa, 13/04/2015). Já tinha havido uma nova era nos aviões, para onde voaram sem retorno umas centenas de milhões. Depois veio uma nova era nos autocarros. A dos táxis já foi encomendada e está em curso, pelo que logo a seguir, para não se perder a embalagem, virá a da Saúde. Isto é bonito. E será ainda mais bonito quando, após todos os milhões que a Região já enterrou num novo hospital, sem que a coisa dê sinais de se estar a levantar ou aqueles a reproduzirem-se, a referida ambição, isto é, os sonhos, “a era mais brilhante”, tiver concretização prática. Mas como ainda falta algum tempo para que essa nova era da saúde pública, que transportará Macau para o Guiness, colocando a saúde de qualquer outro país da Ásia a anos-luz da excelência desta pequena e festivaleira península, o melhor é começarmos por questões básicas e de rápida resolução. Vi-me ultimamente confrontado com uma arreliadora lesão do tendão de Aquiles, a qual me impede de poder desafiar o Secretário para uma partida de ténis, e foi por via dela que, por mero acaso, descobri o terceiro sistema. Presumo que Alexis Tam não o conheça, por isso irei resumidamente explicá-lo. Devido aos atrasos na marcação de consultas, a que como cidadão desta cidade também tenho direito – o estatuto de cidadania não nos impõe só deveres – aproveitei uma deslocação ao exterior para fazer uma ecografia. No regresso, já com um diagnóstico, contactei um clínico local. Especialista e privado. Depois de feito o indispensável exame foi-me passada uma receita e fui à farmácia. E não é que não houve ninguém que me aviasse a receita? Até que uma alma caridosa, sabendo do meu sofrer e incompreensão, me deu conta da existência do terceiro sistema, ao qual eu poderia recorrer para me desenvencilhar do problema. Graças ao meu informado interlocutor, pelo menos em matéria de medicamentos, fiquei a saber que há um sistema de saúde pública, um sistema de saúde privada, e um terceiro sistema que é o “salve-se quem puder”. Com efeito, o medicamento que me foi receitado (não sei quantos mais haverá na mesma situação, mas isso fica para o Secretário e o CCAC investigarem), de nome Viartril-S, em saquetas de 1500 mg, é exclusivo para o sistema de saúde pública, só pode ser receitado em unidades dos SSM e, ainda mais exclusivo, só é acessível a funcionários públicos e equiparados, isto é, a titulares do “cartão verde”. Ainda sem saber como aliviar a dor, propus-me adquirir o medicamento ao farmacêutico pagando a integralidade do seu custo. Qual não é o meu espanto quando sou esclarecido, para desgosto do farmacêutico, de que esse medicamento, embora acessível a funcionários públicos, não é sequer vendável. Com ou sem receita médica. Quem tem acesso ao cartão verde pode recebê-lo gratuitamente; os outros, os que não são funcionários públicos, nem equiparados, não têm acesso ao medicamento. Nem sequer pagando. Porque o acordo feito entre os SSM e o fornecedor de Hong Kong da Rottapharma não permite a sua comercialização a terceiros. Há sucedâneos mas não são a mesma coisa nem têm a mesma dosagem. Creio que a situação descrita é do desconhecimento de Alexis Tam e do Chefe do Executivo, só podendo ser imputada à “má gestão”, à existência de “zonas de tragédia” e aos maus gestores que precisam, urgentemente, de ser ajudados pelos bons gestores do gabinete do Secretário. E escrevo isto convicto de que nem mesmo as “boas intenções” de Lei Chin Ion (Tribuna de Macau, 16/04/2015) conseguirão uma interpretação do artigo 25.º da Lei Básica que salve tamanha iniquidade que afecta o grosso dos cidadãos, aliás candidamente confirmada pelo próprio médico dos SSM quando me apresentei a uma consulta, conseguida in extremis, para obter uma receita que me permitisse levar a cabo o tratamento prescrito. Eu não quero que os SSM acabem com a prescrição do medicamento e que todos fiquem impedidos de a ele aceder. E até posso admitir que uma mentalidade canhestra consiga perceber as razões para que exista um tratamento – ilegal e intolerável, sublinhe-se – tão discriminatório entre funcionários públicos e equiparados titulares do cartão verde, por um lado, e a generalidade dos cidadãos, pelo outro lado, que como cidadãos têm direito ao mesmo acesso à saúde, aos meios de diagnóstico e à assistência medicamentosa que os seus impostos ajudam a pagar. Mas o que não aceito, nem ninguém de boa consciência pode aceitar, é que sejam os próprios SSM a violarem de forma tão flagrante o princípio da igualdade, introduzindo um sistema de tal forma discriminatório e distorcido que até quem pode arcar com o custo dos medicamentos está impedido de a estes aceder – para proteger quem? – pagando o respectivo custo. [quote_box_left]“Fiquei a saber que há um sistema de saúde pública, um sistema de saúde privada, e um terceiro sistema que é o “salve-se quem puder”[/quote_box_left] Não sei se as luminárias que pensaram e permitiram que tamanha discriminação entre cidadãos fosse levada à prática em matéria de medicamentos terão a noção da gravidade do que está em causa. Nem se Alexis Tam já se apercebeu da dimensão da tragédia a que se chegou em matéria de assistência médica e medicamentosa na RAEM. Desconheço em nome de que princípio se pode permitir tamanho entorse a um princípio estruturante da RPC, da própria RAEM e de qualquer nação civilizada. Seria o mesmo que ter medicamentos só para brancos ou só para nazis, deixando negros e judeus de fora. Todos os cidadãos contribuem em igual medida para o PIB de Macau, sejam funcionários públicos ou a gente sem eira nem beira que dorme nas camaratas urbanas da Nova City, e que é vergonhosamente explorada de sol a sol para acarretar calhaus nas obras dos casinos que irão encher os cofres da RAEM. Não vejo por que razão os funcionários públicos hão-de ser de tal forma privilegiados que seja necessário impedir o acesso a determinados medicamentos aos médicos que estejam na actividade privada e à maioria dos cidadãos o direito à cura das suas maleitas com os medicamentos prescritos. A discriminação no acesso à saúde e aos medicamentos entre cidadãos nunca deveria ter acontecido. E não pode continuar. Ela constitui uma infâmia, uma aberração em pleno século XXI, uma afronta aos cidadãos de Macau, uma vergonha para qualquer Estado de direito, e representa algo que a velha administração portuguesa, com todos os seus defeitos, jamais permitiu que acontecesse. Não acredito que uma situação desta gravidade possa ser tolerada em Beijing. A forma como a liderança do Partido Comunista Chinês tem combatido a corrupção, o nepotismo e a existência de privilégios de casta, seja de que casta for, não me permite pensar de outra forma, tanto mais que o Politburo, na reunião de 26 de Junho pp., até introduziu um sistema para premiar os bons dirigentes e punir os maus (SCMP, 27/06/2015, p.3), não sendo necessário dar-lhes sucessivas oportunidades para mostrarem a sua inaptidão no tratamento dos interesses públicos. Se a situação não for rápida e prontamente corrigida, começando-se pela área do medicamento e devolvendo-se às farmácias a sua função social – que é a de vender medicamentos a qualquer cidadão, e não a de dizerem que “esse não há” e serem mais um supermercado para os “mainlanders” irem arrastar as chinelas e comprar leite em pó – não auguro nada de bom para a prometida “nova era da saúde”. E se está em marcha uma revolução no sistema de saúde da RAEM, então o melhor é começar já por aqui, pela política do medicamento, repondo a igualdade e a justiça entre todos os cidadãos. De outro modo, a distribuição de vouchers e de cheques ao domicílio não passará de uma forma de aligeirar o peso da incompetência e de aliviar consciências.
Hoje Macau SociedadeTurismo | Crença no aumento de taxa de ocupação hoteleira Helena de Senna Fernandes [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] directora da Direcção dos Serviços de Turismo, Helena de Senna Fernandes, acredita que a taxa de ocupação hoteleira do território vai aumentar nos próximos meses. De acordo com notícia avançada pela Rádio Macau, a directora está confiante no aumento, que justifica com o crescimento progressivo dos números de turistas desde Março a Maio deste ano. “Os números de Março e de Abril, sobretudo de Março, não são muito bons para o turismo, mas (…) em Abril os números melhoraram e as notícias que temos da parte do sector privado são de que está a aumentar [a ocupação hoteleira]. O mês de Maio está, ligeiramente, melhor do que os anteriores”, disse a responsável ao canal. Além disso, Helena de Senna Fernandes lembra que a abertura de novos hotéis indica um descréscimo dos preços, uma vez que a competividade aumenta. De acordo com a directora da DST, o Turismo quer agora investir na atracção de turistas provenientes do território vizinho. “Hong Kong pode ser uma fonte muito importante de turistas, que possam ficar a pernoitar nos hotéis de Macau. Há uma série de acções que vamos levar a cabo daqui para a frente, em mercados internacionais e também nos mercados de Hong Kong e Taiwan”, revelou Helena de Senna Fernandes. As declarações foram feitas à margem da cerimónia de assinatura de um contrato entre a DST e o Turismo de Shaoguan, da província de Guangdong. Este pretende reforçar a cooperação turística entre as duas zonas e um dos objectivos é atrair mais turistas de Shaoguan a Macau e “apoiar o desenvolvimento e actividades das atracções turísticas nos dois lados”, refere a DST em comunicado.
Filipa Araújo China / Ásia MancheteAlimentos | Mais um escândalo na China com carne dos anos 70 Adivinhe o que é o jantar? [dropcap]A[/dropcap] notícia é avançada pela imprensa chinesa: bem aqui ao lado, na China, foram apreendidas mais de cem mil toneladas de carne contrabandeada em que parte dela tinha mais de 40 anos. Assas de galinhas, carne de porco e de vaca faziam parte de um menu podre que veio, segundo fontes da indústria, do Brasil e da Índia, passando na viagem por Hong Kong e Vietname. Além da idade, a carne foi encontrada já a descongelar, algo comum também. Depois é novamente congelada. “Para poupar custos, os contrabandistas alugam muitas vezes veículos normais em vez de camiões refrigerados. Assim a carne descongela muitas vezes antes de chegar aos clientes”, explicou Yang Bo, vice-director do gabinete anti-tráfico de Changsha, capital de Hunan. A agência noticiosa Reuters indica que, segundo as autoridades da China, parte da carne contrabandeada tinha mais de 40 anos. Feitas as contas, isto significa que a carne foi originalmente empacotada e armazenada quando o país ainda estava sob o domínio Mao Zedong, que morreu em 1976. O China Daily indica que a descoberta foi feita pelos dirigentes de Guangxi, uma região do sul junto ao Vietname. “Cheirava mal e quase vomitei quando abri a porta”, contou ao China Daily, Zhang Tao, um dos agentes que participou nas operações. A agência Xinhua explica ainda que, durante o presente mês, as autoridades chinesas organizaram uma investida ao contrabando de carne congelada e apreenderam responsáveis de 21 grupos criminosos, em contrabando que atingiu os três mil milhões de yuan. Esta acção surge depois de, em Abril passado, as autoridades chinesas terem reforçados as suas regras de segurança no sector alimentar. Leite impróprio [quote_box_right]“Para poupar custos, os contrabandistas alugam muitas vezes veículos normais em vez de camiões refrigerados. Assim a carne descongela muitas vezes antes de chegar aos clientes” – Yang Bo, vice-director do gabinete anti-tráfico de Changsha[/quote_box_right] Mas não foi só a carne podre que esteve em destaque pelas piores razões. Também três fabricantes lácteos da província central de Shaanxi foram avisados para retirarem do mercado os seus produtos de leite em pó para crianças, após terem sido descobertos vários lotes adulterados, segundo avançou a agência chinesa. A Administração de Alimentos e Medicamentos da China assinalou, num comunicado na sua página na internet, que as três empresas implicadas devem suspender a produção e distribuição de produtos de leite em pó, todos elaborados com leite de cabra. Em cinco lotes deste produto da empresa Guanshan Dairy foram detectados níveis excessivos de nitratos, durante duas inspecções realizadas este ano. Esta empresa já emitiu um comunicado em que prometeu retirar os produtos e tomar medidas para rectificar a situação. Nas outras empresas, a Xian Guanshan Dairy e a subsidiária Shengtang Industry, foram encontrados lotes de produtos com níveis de selénio acima dos limites estabelecidos por lei. Os cidadãos chineses olham com receio para os produtos lácteos para bebés fabricados no país desde o escândalo com leite em pó contaminado com melanina, em 2008, que causou a morte de seis bebés e afectou mais de 300 mil. Historial deficitário Recorde-se que estes não são os únicos casos no último ano em que a segurança alimentar é colocada em causa. Em Julho do ano passado, as autoridades chinesas anunciaram o encerramento da fábrica que fornecia carne para vária empresas de fast-food, como o McDonald’s, KFC, Pizza Hut e Starbucks. Pequim avançou que a fábrica da Husi, em Xangai, falsificou as datas de validade de mais de quatro mil caixas de carne picada que terminava em Fevereiro anterior. [quote_box_left]“Cheirava mal e quase vomitei quando abri a porta” – Zhang Tao, agente que participou nas operações[/quote_box_left] A fábrica vendeu mais de três mil caixas. O escândalo alimentar levou ao encerramento da fábrica e à detenção de cinco pessoas. Desde então a cadeia do McDonald’s em Macau começou a comprar carne de outras empresas da Tailândia e da China. (com Agências)
Hoje Macau Os discursos ponderados de Wang ChongDo destino – 2 [dropcap type=”2″]H[/dropcap]á quem nunca consiga por em prática os seus talentos ou inteligência; ou, mesmo quando consegue, é sem grande consequência. Há quem não chegue a qualquer resultado, apesar de ter talentos e inteligência comparáveis a Confúcio. As pessoas, vendo alguém de conduta irrepreensível, lhe perguntam: “Como explicar que, com a sua sabedoria, nunca tenha recebido honrarias?” A outrem, avisado e ponderado, dirão: “E você, tão astucioso e inteligente, porque nunca enriqueceu?” Ora, a riqueza e as honrarias dependem do destino e da sorte, não da sabedoria e da inteligência. Eis porque se diz que não se pode contar com a riqueza e que os talentos não chegam para garantir honrarias. Pessoas inteligentes e avisadas não conseguem fazer fortuna; outras, perfeitamente capazes, não conseguem arranjar emprego. Os detentores [de sinetes] em prata, ou de [sinetes] suspensos de cordões púrpura [NT – altos funcionários], não são necessariamente do calibre de Ji ou Xie [NT –conselheiros míticos]; nem todos aqueles que acumularam ouro ou jade são tão engenhosos como Zhu de Tao [NT – conselheiro que se dedicou aos negócios]. É possível encontrar refinados idiotas que possuem grandes quantidades de ouro e imbecis entre os grandes dignitários locais. Funcionários de iguais capacidades têm cargos diferentes por causa dos seus destinos; dado não terem a mesma sorte, mercadores de capacidades comparáveis não acumulam as mesmas riquezas. A sorte dita que alguns sejam ricos e outros pobres e a inteligência nada nisso pode mudar; não são as competências que decidem promoções ou despromoções, mas sim o destino. O rei Cheng era menos dotado do que o duque de Zhou e o duque Huan [de Qi] menos inteligente do que Guan Zhong, mas o rei Cheng e o duque Huan conheceram a glória, enquanto que o duque de Zhou e Guan Zhong nunca passaram de subalternos. Devemos recordar que numerosos soberanos antigos se instruíram com seus súbditos e que muitos destes, dotados e inteligentes, foram seus tutores. Mas tal não impediu os primeiros de serem os amos, mesmo que fossem incompetentes, enquanto que os seus brilhantes súbditos não passaram de servos – ora isto sucede porque o estatuto social não depende da sabedoria, mas do destino, e porque o sucesso material não é função da inteligência, mas da sorte reservada a cada um. Os nossos oradores afirmam que os mais competentes devem ocupar as mais altas funções e que os outros devem labutar nos ofícios da terra ou do comércio. Sempre que vêem um homem capaz e inteligente falhar na sua carreira oficial, espantam-se e acusam: “Deve ser um problema da sua conduta moral!” E àqueles que cuja moral é irrepreensível [mas que também falham], fazem a acusação inversa: “Trata-se, sem dúvida, de um incompetente!” Não lhes ocorre que uma pessoa pode muito bem dar provas de grande inteligência e de uma moralidade perfeita, mas que é sempre o destino a decidir o seu sucesso. Quando uma pessoa capaz e inteligente gera os seus interesses numa época que lhe é favorável e é bem sucedida, interpretamos isso como prova das suas capacidades; mas outra pessoa, a quem o destino seja hostil e só conheça a desgraça, vê-se classificada de estúpida. Eis o que é ignorar que o destino pode ser fasto ou nefasto, a sorte favorável ou desfavorável. *O destino e a sorte: ming lu [命 祿]. As palavras ming e lu referem-se a dois aspectos do destino: o ming define o sucesso social, o estatuto, enquanto que o lu determina a riqueza, o sucesso material. Curiosamente, lu designa também o salário de um alto oficial na China antiga.
Andreia Sofia Silva China / Ásia MancheteSufrágio | Com o não, Hong Kong terá caminho árduo, dizem especialistas A proposta de sufrágio universal em Hong Kong já está a ser debatida no Conselho Legislativo, estando prevista para amanhã a votação final. Em Macau, Eilo Yu, Agnes Lam e Larry So prevêem um futuro difícil para o território caso os democratas chumbem a proposta [dropcap style=’circle’]M[/dropcap]uitos protestos e paralisações depois, os 70 deputados Conselho Legislativo (LegCo) de Hong Kong começaram ontem a discutir a proposta de reforma política feita por Pequim, que determina o sufrágio universal com uma pré-selecção dos candidatos a Chefe do Executivo por parte de uma comissão, tida como próxima de Pequim. O campo pró-democrata já anunciou que não vai votar a favor da proposta do Governo Central, mas em Macau os especialistas temem um futuro complicado para o território caso isso venha mesmo a acontecer. [quote_box_left]“Votar contra neste momento não é apenas votar contra uma proposta, é quebrar a ligação com o Governo Central. Ninguém vai ganhar com isso, nem mesmo os democratas ou Hong Kong” – Agnes Lam, docente da Universidade de Macau[/quote_box_left] “Votar contra a proposta vai tornar mais difícil o caminho de Hong Kong em relação a um progresso. Compreendo que os democratas não estão satisfeitos com a proposta, mas votar contra neste momento não é apenas votar contra uma proposta, é quebrar a ligação com o Governo Central. Ninguém vai ganhar com isso, nem mesmo os democratas ou Hong Kong. A situação política de Hong Kong poderá ficar afectada e esse não é o movimento certo”, disse Agnes Lam, docente da Universidade de Macau (UM), ao HM. Eilo Yu, docente de ciência política na UM, fala sobretudo de dificuldades em lidar com o período pós-chumbo. “Os democratas não vão votar a favor da proposta de reforma, penso que não vai ter apoio suficiente e provavelmente não vai ser aprovada. Será difícil para o Governo de Hong Kong e para o Governo Central lidarem com a situação e com o período após a proposta de reforma política, no caso dos deputados não a aprovarem. Hong Kong vai ficar numa posição difícil e isso pode durar até às próximas eleições. Mas a sociedade pode ficar exausta com este debate e as pessoas podem abrandar um pouco”, disse o académico ao HM, numa clara referência aos acontecimentos do “Occupy Central” e aos protestos que continuam a invadir as ruas de Hong Kong. Larry So, politólogo e ex-docente do Instituto Politécnico de Macau (IPM), considera que “vai tudo ficar como está”, dado a ausência de apoio por parte dos democratas. Macau sem interesse Do lado de Macau, o Executivo está a prestar atenção ao que poderá acontecer no LegCo, mas isso não significa que esteja interessado em algo semelhante, defendeu Eilo Yu. “Não me parece que o Governo de Macau queira um pacote de reformas nos próximos um ou dois anos. Temos de ver o que acontece em Hong Kong e a sociedade pode não procurar uma reforma do sistema para eleger o Chefe do Executivo. Pelo contrário, nas legislativas vão aparecer cada vez mais pessoas que querem competir e que gostariam de ter uma reforma. Parece-me que Pequim não quer ter outra batalha em Macau, como teve em Hong Kong.” Tanto Agnes Lam como Larry So defendem que a Assembleia Legislativa (AL) facilmente votaria a favor de uma proposta de sufrágio universal semelhante, sem o tumulto social que acontece na região vizinha. “Assim que Hong Kong começar a ter o seu modelo de sufrágio universal, vai ser mais fácil para as pessoas em Macau traçarem o seu caminho. A não ser que o Governo Central tenha outros ideais. A maioria vai seguir a tendência, não penso que teremos a mesma situação num futuro próximo”, disse Agnes Lam. “Macau não teria qualquer problema em passar este tipo de proposta”, rematou Larry So. O debate arrancou ontem às 11 horas da manhã, sendo que 200 agentes da polícia entraram no LegCo, algo inédito desde a transferência de soberania. Cerca de sete mil polícias foram destacados para as ruas, depois do episódio da ameaça de bomba ter levado dez pessoas para a prisão. ___________________________________________________________________ Democratas em Macau divididos Jason Chao, membro da direcção da Associação Novo Macau (ANM) e promotor do referendo civil, desloca-se amanhã para Hong Kong para dar apoio ao movimento, tal como Sulu Sou, presidente da ANM. E revela que ambos estão contra as ideias de Ng Kuok Cheong e Au Kam San para o sufrágio universal de Macau. “Estamos preocupados com o facto de Ng Kuok Cheong e Au Kam San apoiarem o falso sufrágio universal. Discordamos totalmente deles, porque consideramos que deveríamos ter um verdadeiro sufrágio universal. Mas os dois deputados estão agora a apoiar essa ideia e defendem que é melhor ter esse modelo de sufrágio universal do que não ter nenhum. Não deveríamos aceitar isso”, frisou ao HM. Divisões políticas à parte, Jason Chao acredita que Macau pode mesmo vir a adoptar o modelo de Hong Kong, apesar de não o desejar. “O Governo não está de todo interessado em ter um falso sufrágio universal, estamos muito satisfeitos com a manutenção do status quo e o sistema que está implementado.” O HM tentou contactar o deputado Ng Kuok Cheong, sem sucesso.
Carlos Morais José EditorialUma baforada de bom senso [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hui Sai On tem razão quando diz que a quebra das receitas do Jogo nada tem a ver com proibição de fumar. Mas não tem a razão toda e os números que as operadoras hoje apresentam são disso testemunho. Se pensarmos um pouco, não é do interesse das operadoras que se fume nos casinos. Estou convencido que os seus donos prefeririam um ambiente mais saudável para todos. Por isso acredito mais nos dados agora revelados, no que na estatística apresentada pelo Governo, certamente através dos Serviços de Saúde, os mesmos que montaram a campanha mais fundamentalista que alguma vez aconteceu em Macau. De facto, não vislumbramos que interesse poderiam ter os casinos em albergar fumadores, se não soubessem que uma parte significativa das suas receitas desaparecerão com o fumo. Sobretudo, nas salas VIP, afinal onde se realiza diariamente a mais importante recolha de dinheiro para os cofres das operadoras, da RAEM e da população de Macau. [quote_box_right]E é bom não esquecer também que, sendo a maior parte do dinheiro aqui gasto de cidadãos chineses e de origem chinesa, é muito bom para o país que parte desse dinheiro fique em terra chinesa e não desapareça para os cofres e as economias de outros países.[/quote_box_right] (Interessante o facto do estudo governamental ter feito um “referendo informal” à população, tendo obtido o resultado de 70% a favor da proibição total do fumo nos casinos. Não se percebe bem é porque razão a população há-de ter opinião sobre isto, que não a afecta directamente, e não sobre… outras coisas. Esperamos que tenha existido uma cuidadosa protecção dos dados pessoais dos “referendados”.) A verdade é que nem sempre a realidade nem se curva perante os nossos desejos e tem aquele mau feitio de ir contra o que nos parece mais lógico, mais saudável e etc.. Basta, contudo, um pouco de bom senso para que se encontre uma alternativa ou várias alternativas que deixem todos satisfeitos. É por isso positivo que o Governo não se incruste na “tolerância zero” e deixe aberta uma porta aberta à negociação. Se assim fizer, mais não mostrará que entende a realidade da cidade que governa e, nesse sentido, não correrá o risco de ver biliões a serem desviados para outros casinos das redondezas que, provavelmente, estão a esfregar as mãos de contentes com esta atitude da RAEM. E é bom não esquecer também que, sendo a maior parte do dinheiro aqui gasto de cidadãos chineses e de origem chinesa, é muito bom para o país que parte desse dinheiro fique em terra chinesa e não desapareça para os cofres e as economias de outros países. Uma baforada de bom senso, na hora certa, tem evitado enormes descalabros. Agora precisa-se.
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasA espera em Cantão de Tomé Pires [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]uma viagem normal, em condições favoráveis, desde Cochim até à costa chinesa demorava-se quatro meses, mas esta, que trazia o Embaixador Tomé Pires, levava já mais de dezassete meses quando, em 15 de Agosto de 1517, a frota comandada por Fernão Peres de Andrade chegou a Tamão (Lin Tin). Aí, os primeiros contactos com os chineses foram através do Pio de Nantó, tendo os portugueses que ficar mais de um mês em Tamão à espera pela permissão para seguir até Cantão. Segundo Gonçalo Mesquitela, os portugueses chamavam a esta ilha de Tamão, Beniaga, que significa mercadoria, e a causa por “esta ilha ser assim chamada é porque todos os estrangeiros que vão à Província de Cantão, é a marítima mais ocidental que o Reino da China tem, a ela por ordenanças da terra hão-de ir por estar por espaço de três léguas da terra firme e ali provém os navegantes do que vão buscar” como refere João de Barros. Beatriz Basto da Silva explica que o termo de Ilha de Veniaga só foi usado pela primeira vez em 1525, referindo-a como a ilha de encontro comercial de mercadores portugueses e chineses e é uma expressão propositadamente vaga, tal como “a designação de ‘ilha do encontro’, já que podia não ser a mesma em cada ano, como convinha ao comércio clandestino que então se praticava na China meridional”, sendo Tamão, (Tunmen em mandarim), nesse ano de 1517 a Ilha da Veniaga. E continuando com Mesquitela: “A três léguas da ilha da Veniaga está outra em que vive o almirante ou capitão-mor do Mar, na vila de Nantó (Nantou encontra-se na área de Nanshan, em Shenzhen). Logo que chegam estrangeiros a Veniaga faz saber aos regedores de Cantão quais são e que mercadorias trazem e quais querem comprar”…”Informado disto por Duarte Coelho, mandou Fernão Peres recado ao capitão da armada chinesa, fazendo-lhe saber quem era e que vinha com uma embaixada d’el-rei D. Manuel de Portugal, seu Senhor, a el-rei e que por vir em paz e não em guerra, não respondera nas palavras de Barros. Ao que o capitão (chinês) respondeu manifestando-lhe muito boas vindas e que pelo navio de Duarte Coelho, chegado dois dias antes, soubera, que a sua armada tinha partido de Malaca; e que pelos chineses que ali iam tinha também notícias da verdade e cavalheria dos Portugueses. Que folgava com a paz e que guardasse os costumes da terra, que ele primeiro ia mandar recado aos regedores de Cantão, e o que respondessem, isso fariam.” Mas os dias iam passando e a resposta não aparecia e então “Fernão Peres insistiu por mensageiro junto do Almirante do Mar, o Pio, tendo como resposta, dada nos mais amáveis termos, que os regedores de Cantão ainda não tinham comunicado a sua decisão.” E continuando com João de Barros: “Sobre este negócio houve tantos recados de parte a parte que enfadado Fernão Peres desta dilação, mandou tirar do porto da ilha alguns navios para se pôr em caminho e com os pilotos chineses que trouxera de Malaca, meteu-se em Cantão.” “Enquanto Fernão Peres subia o Rio das Pérolas até à cidade de Cantão, parte da armada permanecia próximo da foz, sob o comando de Simão de Alcáçova; João de Barros relata-nos que este grupo de navios foi atacado por piratas, mas não se refere a baixas avultadas; ter-se-á tratado de uma simples escaramuça…” refere João Oliveira e Costa. A instrução protocolar Em finais de Setembro de 1517, os barcos que transportavam a Embaixada Portuguesa ao Imperador do Celeste Império entraram em Cantão. “Desfraldando bandeiras e salvando com toda a artilharia, os navios portugueses lançaram ferro em frente do cais principal da cidade” A. Cortesão. Como os três governadores de Cantão, o Tutam, o Concam e o Chumpim, se encontravam ausentes da cidade foi com o Puchanchi, o haidao interino Gu Yingxiang, que os portugueses primeiro trataram. Gu Yingxiang não os recebera, sendo toda a comunicação feita por intermédio do intérprete chinês”, como está referido no Revisitar os Primórdios de Macau para uma nova abordagem da História de Jin Guo Ping e Wu Zhiliang. Aí se diz que, devido ao haidao Wang Hong se encontrar fora numa missão oficial a Pequim, Gu Yingxiang nessa altura substituía-o na repartição do Haidao (Circuito da Defesa Marítima). “Logo o Puchanci, a mais alta autoridade que no momento se encontrava em Cantão, mostrou o seu desagrado contra o que dizia ser uma violação dos direitos da terra por parte dos portugueses, que demais tinham chegado sem consentimento oficial. Respondeu Andrade que o salvar da artilharia e desfraldar de bandeiras era devido à sua ignorância, apenas significando uma marca de respeito, e, quanto a vir sem licença, explicou que o Pio acabara por lha dar e fornecer pilotos” Armando Cortesão. Resolvido este pequeno problema, muitos outros foram ocorrendo. Para João de Barros: “A ida dos três governadores fora da cidade, segundo depois pareceu, foi mais artifício para Fernão Peres ver a majestade e pompa de suas pessoas quando entrassem nela, que alguma outra necessidade; e ainda para ver os graus da precedência de cada um e a diferença que a cidade fazia no seu recebimento, vieram um e um, tomando dia próprio para isso.” “Foi então arranjada uma entrevista com os portugueses. Andrade, que até aí tinha proibido o desembarque de qualquer português ou a entrada de chineses nos navios, enviou a terra o feitor (Giovanni da Empoli), . O feitor disse aos Governadores como o Rei D. Manuel de Portugal, desejando relações de amizade com tão grande Príncipe como era o Rei da China, enviara aqueles navios, sob o comando do seu Capitão Fernão Peres de Andrade, conduzindo um Embaixador e presentes para serem entregues aos Governadores de Cantão, que os enviariam à corte” A. Cortesão e com ele continuando, “No fim de Outubro de 1517, foi Tomé Pires desembarcado por Andrade, . O presente para o Imperador, que só na sua presença deveria ser aberto, foi fechado na mesma casa e a chave entregue a Pires” Armando Cortesão. O encontro entre os governantes da cidade e o Embaixador Tomé Pires decorreu na Mesquita Huaisheng, que continua hoje a existir na Rua Guangta, no centro de Cantão. Ainda antes disso, o haidao interino Gu Yingxiang “imediatamente mandou comunicar tudo e Ning Cheng, eunuco dos Três Salões e Guo Xun, o marquês Wuding, à altura no cargo de Zongbing acorreram ao aviso. O cabecilha (Tomé Pires) saiu de longe para os receber mas não lhes fez genuflexões. O Censor Metropolitano e Grande Coordenador Chen Jin (o Tutão) chegou mais tarde sozinho e mandou dar vinte bastonadas no intérprete, dizendo ao Superintendente do Comércio Marítimo: . No primeiro dia, começaram a fazer genuflexão com a perna esquerda, no segundo dia conseguiram fazê-la com a perna direita, e só no terceiro dia aprenderam a bater a cabeça no chão” Revisitar os Primórdios de Macau. Fernão Peres deixa Pires em Cantão [quote_box_right]O encontro entre os governantes da cidade e o Embaixador Tomé Pires decorreu na Mesquita Huaisheng, que continua hoje a existir na Rua Guangta, no centro de Cantão[/quote_box_right] “Embora a comitiva ficasse alojada num edifício próprio, especialmente destinado às missões estrangeiras, as despesas da estada corriam por conta dos portugueses, como expressamente exigira Fernão Peres” assim diz João de Barros na Ásia, segundo Rui Manuel Loureiro e com ele continuando: “Durante longos meses, os portugueses estiveram ancorados diante da grande metrópole da província de Guangdong, efectuando proveitosos negócios e colhendo amplas notícias sobre a realidade sínica, por ocasião de sucessivas visitas à cidade e de múltiplos contactos com a população local e com os mandarins cantonenses. Entretanto, um navio capitaneado por Jorge Mascarenhas explorou demoradamente o litoral chinês até às imediações de Amoy”. E Beatriz Basto da Silva complementa “entre saguates (presentes destinados a predispor bem um interlocutor, costume muito comum então no Oriente, especificamente na China), deixou sementes de bom entendimento”. Por outro lado, segundo João Oliveira e Costa: “o êxito desta armada deveu-se em grande parte ao tacto do capitão-mor (Fernão Peres de Andrade), que procurou respeitar todas as práticas locais. Num país com um poder fortemente centralizado, como era a China dos Ming, que contrastava com a situação política do resto do continente asiático, os Portugueses não podiam ofender as autoridades de uma cidade, pois se tal acontecesse não seriam bem aceites em todos os outro portos do Celeste Império. Não era possível repetir aqui o que acontecera na Índia e na África Oriental…” Rui Loureiro refere que: “De acordo com documentos coevos, o jurubaça principal da embaixada portuguesa, um chinês que dava pelo nome de Huo-che Ya-san (Huozhe Yasan), estabelecera excelentes relações com as autoridades provinciais, logo após o desembarque no porto de Cantão. Por sua própria iniciativa, e graças a uma generosa distribuição de dádivas, conseguira obter autorização imperial para Tomé Pires visitar Pequim como enviado do rei de Malaca.” “Depois de declinar convites para ir a terra, Andrade despediu-se dos Governadores, por lhe ter chegado notícia de que os navios que deixara em Tamão tinham sido atacados pelos piratas, e também porque uma parte da sua gente dos navios de Cantão estava adoecendo com febres e disenteria, doença que já vitimara nove homens, entre os quais Impole (o feitor da armada). Desta vez, os chineses prestaram todo o auxílio na reparação dos navios.” E seguindo ainda com A. Cortesão: “Após algum tempo em Tamão, recebeu Andrade notícia (aliás, falsa) de que os Governadores de Cantão já tinham ordem da corte para enviar a Embaixada. Mandou então lançar pregões para se qualquer chinês tivesse recebido agravo de algum português ou algo lhe fosse devido, se lhe queixasse a fim de receber reparação ou pagamento, o que causou excelente efeito. E, assim, partiu em Setembro de 1518, depois de se ter demorado quase catorze meses na China, chegando a Malaca , conforme comenta Barros”, que adita ter Fernão Peres nesta estadia aprendido dos chineses algumas técnicas de construção naval, que introduziu nos navios portugueses e passaram a ser, nestes, de uso corrente. A longa espera em Cantão Com Tomé Pires, segundo João de Barros, ficaram em Cantão sete portugueses mas, Cristóvão Vieira informa que foram Duarte Fernandes, Francisco de Budoia, Cristóvão de Almeida, Pedro de Faria e Jorge Álvares, todos portugueses, <eu, Cristóvão Vieira, pérsio de Ormuz, doze moços servidores e cinco jurabaças> (intérpretes). Eram, pois, cinco portugueses, um persa lusitanisado e dezassete outros. Duarte Coelho foi enviado pelo capitão-mor D. Jorge de Mascarenhas para Malaca com a informação de o Embaixador Tomé Pires ter sido bem recebido em Cantão mas, quando aí chegou em Março de 1518, Duarte Coelho logo mandou avisar Fernão Peres de Andrade que a praça estava a ser atacada pelo Rei de Bintão. Já com a informação que chegara instruções do Imperador da China para lhes enviar o Embaixador português, os navios sob o comando de Fernão Peres largaram de Tamau em finais de Setembro de 1518, chegando no mês seguinte a Malaca. Ainda antes de partir, Fernão Peres de Andrade disse aos Governadores de Cantão que, no ano seguinte, outro Capitão português iria com uma armada buscar o Embaixador. No entanto, Tomé “Pires e o seu séquito ainda tiveram de esperar mais de quinze meses em Cantão antes de partirem para Pequim. Só depois de três recados transmitidos à corte e de terem vindo de lá outros três recados para os Governadores, pedindo mais pormenores sobre os portugueses, etc., chegou enfim ordem para a Embaixada seguir” A. Cortesão. Já Beatriz Basto da Silva diz que: “Tomé Pires aguardou viagem em Lantao” onde os visitantes ficaram em “prisão preventiva”, enquanto não chegava autorização imperial a Cantão. Assim, por questões de ordem diplomática, a embaixada teve que esperar até 1520 para que fosse permitido a Tomé Pires ir até Pequim entregar os presentes e a carta que trazia do Rei de Portugal D. Manuel ao Imperador da China, nessa altura Zheng De (1505-21) da dinastia Ming, cujo nome de Templo é Wu Zong.