O eco-sistema de Macau

No primeiro versículo do Livro de Génesis, podemos ler “Deus abençoou-os, e disse-lhes, sede fecundos, multiplicai-vos, povoai a Terra e subjugai-a: e tende domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves do ar e sobre todos os seres vivos que caminham na terra”. Actualmente, a taxa de natalidade dos países e regiões desenvolvidas está a decair, ao mesmo tempo que nos oceanos várias zonas estão sujeitas a monitorizações sazonais da fauna marítima ou mesmo consideradas áreas onde a pesca é proibida. Há cada vez menos locais onde as aves migratórias se podem recolher e inúmeras espécies extinguiram-se da face da terra. Este eco-sistema não fazia de forma alguma parte dos planos divinos quando confiou a Terra à humanidade.

O ambiente à nossa volta é moldado pelo eco-sistema social, que por sua vez é moldado pelo eco-sistema político. A capacidade dos seres humanos de se sobreporem à vontade de Deus pode ter um lado romântico, no entanto a violação das leis da Natureza só pode conduzir à auto-destruição. As questões ecológicas desempenharão um papel chave para a sobrevivência de uma pequena cidade como Macau.
Recentemente, o Governo da RAEM apresentou um plano de construção na área marítima de 85 quilómetros quadrados sob jurisdição da RAEM (zona marítima em frente à Beira-Mar de Long Chao Kok de Hac Sá em Coloane) de um novo aterro para resíduos de materiais de construção – ilha ecológica – de harmonia com a protecção ambiental e que integre a função de prevenção e redução de desastres, o que tem causado grande preocupação em muitos deputados da Assembleia Legislativa. Estes deputados não se opõem à construção da ilha ecológica, mas estão preocupados com os impactos ecológicos que a “ilha ecológica” pode vir a causar.
Se a formulação de um projecto de construção estiver errada, por mais medidas que se tomem posteriormente para o corrigir, o resultado nunca será bom. A localização apontada para a ilha ecológica é definitivamente uma má escolha. Para além desta zona ser habitat de vários golfinhos brancos chineses, é também um local onde se praticam desportos e competições marítimas. A construção de uma ilha ecológica irá causar danos irreversíveis nos eco-sistemas marinhos e vai afectar seriamente a paisagem costeira e prejudicar a realização de eventos desportivos, por isso é uma opção pouco desejável. Felizmente, no quadro do eco-sistema político actual, caracterizado por um apoio zeloso aos projectos do Governo, há quem dê a sua opinião sobre o desempenho e os empreendimentos do Executivo, embora evitando críticas mais duras. Para corrigir as “falhas” da governação, só podemos confiar na opinião pública e na sua supervisão do desempenho do Governo.
O aumento do território de Macau foi obtido através da reclamação de terrenos. Em Novembro de 2009, o então Chefe do Executivo, Ho Hau Wah, anunciou que o Conselho de Estado da China tinha aprovado o plano da RAEM do novo aterro consistindo em cinco zonas para construção de novas áreas urbanas. O então primeiro-ministro Wen Jiabao também reiterou que o Governo da RAEM teria de fazer bom uso dos terrenos reclamados. Atá à presente data, quatro zonas foram concluídas, mas o plano do aterro da Zona D não está implementado.
Estou certo de que a reclamação de terrenos terá impacto na hidrografia marinha e na qualidade da água do mar, bem como na paisagem costeira. O Plano do aterro da Zona D já foi certificado por peritos e aprovado pelo Conselho de Estado, o que o torna um facto irreversível. Assim, se é necessário destruir a qualidade das águas em torno da Beira-Mar de Long Chao Kok de Hac Sá em Coloane, a bem da construção de uma ilha ecológica destinada a resolver o problema da eliminação de resíduos, seria melhor mudar a sua localização para a Zona D, já que o Plano do aterro da Zona D ainda não foi implementado. A zona de COTAI também foi edificada sobre aterros de resíduos de construção!
O eco-sistema político molda o eco-sistema económico, e a bio-diversidade determina a sobrevivência de uma Comunidade e o Destino Comum da Humanidade!

25 Fev 2024

Ambiente | Joe Chan critica declarações de Ho Iat Seng sobre aterro-lixeira

O presidente da Macau Green Students Union, Joe Chan, criticou as declarações do Chefe do Executivo sobre a falta de soluções e a proposta para construir um aterro junto à praia para funcionar como lixeira. A crítica foi deixada através de uma publicação no Facebook, em que é questionada a coerência da mais recente consulta pública sobre o projecto de um aterro-lixeira a que o Governo chama “ilha ecológica”.

Ho Iat Seng apontou que apesar de existir uma consulta pública, pode não haver alternativa ao projecto apresentado. Estas declarações foram alvo de crítica: “Nestas condições qual é o significado de fazer uma consulta pública ou uma avaliação sobre o impacto ambiental?”, questionou Joe Chan.

Joe Chan criticou também a política do Executivo, porque ao contrário do que diz acontecer nos países desenvolvidos, em que há um ataque à produção do lixo por via regulamentar e com a adopção de novas tecnologias, em Macau a prioridade passa por “sacrificar a natureza”.

O ecologista destacou também que os golfinhos brancos chineses existem há cerca de mil anos no mundo e que é necessário protegê-los, dado que os seus habitats estão a ser reduzidos a um ritmo acelerado.

“É pena que tenhamos este homem denominado de ‘líder’ que fala como um homem-de-negócios sobre a biodiversidade, convenções e obrigações internacionais marinhas. Falar com alguém assim [sobre medidas ambientais] é o mesmo que falar com as paredes”, lê-se igualmente na publicação.

15 Fev 2024

Evolução do clima no terceiro milénio

Terminado o ano 2023, é altura de se fazer um breve balanço das alterações climáticas durante os primeiros 23 anos do presente milénio. Consultando relatórios de vários organismos internacionais, nomeadamente Organização Meteorológica Mundial (OMM) e Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas 1 (IPCC), chega-se à conclusão de que as alterações do clima se têm acentuado no decorrer deste milénio, o que contribui para atrasar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 2, estabelecidos em 2015, na “Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável” 3. Os 13º e 14º objetivos desta Agenda estão relacionados com, respetivamente, “Ação Climática” (Tomar medidas urgentes para combater as alterações climáticas e os seus impactos) e “Vida Subaquática” (Conservar e utilizar de forma sustentável os oceanos, mares e recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável).

A realidade mostra-nos que algumas das antevisões do IPCC foram ultrapassadas no que se refere ao grau de gravidade, em especial relativamente ao aquecimento global. Este, a continuar a acentuar-se, além de contribuir para o não cumprimento da “Agenda 2030”, leva-nos a duvidar da concretização do principal objetivo do Acordo de Paris: limitar, até ao final do século XXI, o aumento da temperatura média global a menos de 2 graus Celsius, de preferência até 1,5 graus, tendo como referência os níveis pré-industriais.

Da consulta dos relatórios da OMM e do IPCC ressaltam as seguintes principais evidências ocorridas no atual milénio:

Continuação do aumento de: concentrações na atmosfera dos três gases de efeito de estufa mais importantes (dióxido de carbono, metano e óxido nitroso); taxas de aquecimento e acidificação dos oceanos; frequência e intensidade de ondas de calor em terra e nos oceanos; fusão do gelo nas calotas polares, Gronelândia e glaciares; subida do nível do mar.

A Gronelândia e a Antártida perderam mais 38% de gelo na década 2011-2020 em comparação com a década 2001-2010;

A extensão do gelo no Ártico continua em declínio;

Eventos meteorológicos extremos, nomeadamente ciclones tropicais e ondas de calor, causaram elevado número de vítimas mortais e danos económicos consideráveis.

A temperatura média do globo atingiu, em 2023, o valor mais alto de sempre desde que há registos, ultrapassando o recorde anterior de 2016. O incremento que o aquecimento global sofreu nestes dois anos foi em parte devido ao episódio do El Niño que ocorreu em 2016 e o que está em desenvolvimento desde meados de 2023. Tanto o El Niño como La Niña são fenómenos característicos da variabilidade climática, não devendo ser confundidos com alterações climáticas. Segundo a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (UNFCCC) 4 a variabilidade climática tem causas naturais e perdura durante períodos relativamente curtos, enquanto as alterações climáticas são atribuídas à atividade humana e repercutem-se por muito mais tempo.

Como consequência da subida do nível do mar, pequenas nações instaladas em atóis, no Pacífico e no Índico, estão cada vez mais em risco de se tornarem inabitáveis. São exemplos, no Pacífico, países como Kiribati, Ilhas Marshall e Tuvalu e, no Índico, as Maldivas. Também vastas regiões de países não insulares sofrerão as consequências da subida do nível do mar, como Bangladesh, China, Índia e Países Baixos. Calcula-se que quase 900 milhões de pessoas vivendo em zonas costeiras baixas poderão ter de ser deslocadas se, entretanto, não se conseguir desacelerar as alterações climáticas ou não forem tomadas medidas significativas de adaptação. Ironicamente, a grande maioria das populações mais afetadas são as que menos têm contribuído para essas alterações.

Entretanto, graças a um sistema de avisos meteorológicos cada vez mais eficiente, as perdas humanas devidas a fenómenos meteorológicos têm diminuído, contrariamente ao que tem acontecido em relação a danos materiais. Neste aspeto, a OMM tem desempenhado um papel primordial, coordenando, à escala mundial, um sistema de avisos meteorológicos precoces que permitem os governos e as populações tomarem medidas face à aproximação e passagem de fenómenos gravosos como ciclones, tornados, linhas de borrasca, etc. A inexistência deste sistema de avisos em alguns países, ou o seu deficiente funcionamento, tem-se refletido, por vezes, em desastres que ceifaram a vida de muitos milhares de seres humanos. Foi o que aconteceu com o ciclone extremamente severo Nargis, em maio de 2008, em Mianmar (antiga Birmânia), onde as autoridades militares ignoraram os avisos meteorológicos emanados pelos países vizinhos. Cerca de 48 horas antes do ciclone ter atingido a costa de Mianmar, o serviço meteorológico da Índia avisou as autoridades birmanesas sobre o perigo iminente, tendo sido prevista uma maré de tempestade de grandes proporções. As autoridades não tomaram as devidas medidas de evacuação das populações da região densamente povoada do delta do rio Irrawaddy, o que ocasionou um dos maiores desastres naturais que atingiram aquele país. A contagem das vítimas feita pelas autoridades parou em cerca de 138.000, número manifestamente inferior à realidade. Quase dezasseis anos depois desta tragédia, Mianmar progrediu significativamente na preparação para enfrentar as consequências de catástrofes, mas a relação entre o governo ditatorial e as agências internacionais continua tensa, o que põe potencialmente vidas em risco.

Apesar do agravamento do estado do clima, nem tudo é negativo. Devido à concretização das medidas preconizadas no “Protocolo de Montreal” 5 (1987), que consistiram na eliminação progressiva da produção e uso de químicos que empobrecem a ozonosfera, esta camada tem vindo a ser reconstituída. Este acordo é um bom exemplo do que a humanidade pode alcançar quando são tomadas ações conjuntas para defender a sustentabilidade da vida no nosso planeta.

Também se pode considerar uma boa notícia o facto de no texto final do relatório da COP28, que decorreu no Dubai entre 30 de novembro e 12 de dezembro de 2023, constar pela primeira vez nos quase 30 anos de relatórios das COP, a necessidade de se abandonar progressivamente, até 2050, os combustíveis fósseis no setor energético.

Entretanto, quanto mais atrasarmos as ações de combate às alterações climáticas, maiores serão os riscos para o desenvolvimento sustentável do nosso planeta. É, portanto, necessário aprofundar sinergias tendo em vista o combate a essas alterações, as quais constituem o maior desafio deste primeiro século do terceiro milénio.

Meteorologista

Referências:

Intergovernmental Pannel on Climate Change

Sustainable Development Goals – SDG

The 2030 Agenda for Sustainable Development

United Nations Framework Convention on Climate Change – UNFCCC

Montreal Protocol on Substances that Deplete the Ozone Layer

5 Jan 2024

COP28 | “Países desenvolvidos devem assumir liderança” na transição energética

A China afirmou ontem que os países desenvolvidos devem “assumir a liderança” na transição energética global e “fornecer sem demora” apoio financeiro e técnico para a transição nos países em desenvolvimento, na conclusão da COP28, no Dubai.

“Os países desenvolvidos têm uma responsabilidade histórica e indiscutível no que respeita às alterações climáticas: devem assumir a liderança na meta do 1,5°C” e “alcançar a neutralidade carbónica o mais rapidamente possível”, afirmou Zhao Yingmin, vice-ministro chinês do Ambiente.

A China é o maior emissor mundial de gases com efeito de estufa. Quase dois terços da energia consumida no país assentam na queima do carvão. No entanto, o país é também o maior investidor do mundo em energias renováveis. Em 2022, o país asiático acrescentou tanta capacidade instalada de energia eólica e solar quanto todos os outros países do mundo combinados.

O Presidente chinês, Xi Jinping, delineou, em 2020, os compromissos chineses para o clima: neutralidade carbónica “antes de 2060” e atingir o pico das emissões “antes de 2030”. Os países reunidos na cimeira do clima aprovaram ontem “por consenso” uma decisão que apela a uma “transição” no sentido de abandonar os combustíveis fósseis, anunciou o presidente da COP28, no Dubai.

14 Dez 2023

COP28 | Na ‘Terra Sagrada do Petróleo’, proliferam as renováveis

Reportagem de João Pimenta, da Agência Lusa

No remoto oeste chinês, berço da exploração de petróleo e carvão, estão a ser construídos alguns dos maiores parques eólicos e fotovoltaicos do mundo, ilustrando os esforços da China para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis.

Em Gansu, uma província empobrecida e esparsamente povoada, a energia eléctrica gerada a partir de fontes renováveis ascende já a 40 por cento da produção total, explicou à agência Lusa Ding Kun, vice-director da Divisão de Desenvolvimento da filial local da State Grid, a estatal chinesa que em Portugal detém 25 por cento da REN – Redes Energéticas Nacionais.

Trata-se de um valor superior à média do país, que se fixou em 31,9 por cento, no ano passado, segundo dados publicados pelo grupo de reflexão Ember.

A China é o maior emissor de gases poluentes do mundo, devido à sua dependência do carvão, mas é também líder global em energias renováveis. Em 2022, o país asiático acrescentou tanta capacidade instalada de energia eólica e solar quanto todos os outros países do mundo combinados.

“Há sinais contraditórios”, reconheceu Renato Roldão, especialista português em alterações climáticas a viver em Pequim desde 2008, sobre a política do país asiático, na véspera da conferência do clima da ONU, COP28, arrancar no Dubai.

Em entrevista à agência Lusa, o actual vice-presidente da consultora norte-americana Inner City Fund (ICF) para a China e Europa reconheceu que a “trajectória é de subida e não de descida” no consumo do carvão, mas que, em simultâneo, o país está a investir e instalar nova capacidade de energias renováveis a “grande velocidade”.

Transição natural

Em Gansu, onde vastas planícies são interrompidas por vales profundos e cadeias montanhosas com picos nevados, estão já alguns dos maiores parques eólicos e solares do planeta, visando aproveitar a abundância de vento, sol e água da região.

A capacidade de exploração técnica de energia eólica e solar da província ascende a 5,6 mil milhões de quilowatts e 95 mil milhões de quilowatts, respectivamente, explicou Ding Kun. No norte da região, na borda oriental do deserto de Gobi, que se estende por mais de 1.600 quilómetros quadrados, está o parque de Jiuquan – o maior da China e um dos maiores do mundo, com capacidade instalada de mais de 20 gigawatts.

A cerca de 200 quilómetros, a outrora próspera cidade de Yumen, o “berço da indústria petrolífera chinesa” que entrou em decadência, nos últimos 20 anos, à medida que os poços de crude se esgotaram, está a construir um dos maiores parques de energia solar do país.

Um sinal escrito em inglês e chinês continua a identificar Yumen como “Terra Sagrada do Petróleo”. No centro da cidade, ergue-se uma estátua de Wang Jinxi, o “Homem de Aço” que liderava uma equipa encarregue da perfuração de campos petrolíferos, e que se tornou numa figura exaltada pelo regime, nos anos 1960, como parte das campanhas para inspirar os operários. Ele “trabalhava tão afincadamente que, por vezes, se esquecia de comer”, contava a propaganda maoista.

Mas, numa planície desértica nas redondezas da cidade, estão agora a ser instalados anéis gigantes de painéis solares. No centro de cada círculo há uma torre, projectada para receber a luz do sol reflectida e concentrá-la num feixe, gerando calor suficiente para operar uma usina termoeléctrica – técnica designada Energia Solar de Concentração.

Aproveitando as capacidades tecnológicas da State Grid para transmissão de energia a longa distância, a energia produzida em Gansu viaja cerca de 1.500 quilómetros até à província de Hunan, fornecendo assim o sudeste chinês, a região mais industrializada do país.

Gansu ambiciona ser um ‘hub’ na produção e distribuição de energia ‘verde’ para o resto da China, devido à sua localização central no noroeste do país. A província faz fronteira com Shaanxi, Qinghai, Ningxia e Xinjiang, regiões administrativas cujas redes de distribuição eléctrica não estão directamente conectadas entre si. “As redes dessas regiões estão conectadas a Gansu e conectadas entre si através de Gansu”, resumiu Ding.

30 Nov 2023

Ambiente | Pequim anuncia medidas para reduzir emissões de metano

As medidas implementadas para reduzir as emissões do gás com efeito de estufa incidem em áreas como a exploração mineira e a agricultura

 

A China, o maior emissor mundial de metano, anunciou ontem que vai reforçar a monitorização, a comunicação de informações e a transparência dos dados para reduzir as emissões deste gás com efeito de estufa. O ministério da Ecologia e do Meio Ambiente detalhou ontem num documento as estratégias para reduzir as emissões de metano de sectores como a exploração mineira e a agricultura.

De acordo com a declaração, a China tenciona criar um sistema de monitorização, contabilidade, comunicação e verificação das emissões de metano, melhorar a legislação, as normas e as políticas de incentivo económico e promover a inovação tecnológica e a cooperação internacional neste domínio, embora não estabeleça objectivos específicos de redução.

O metano é um gás com efeito de estufa com “elevado potencial de aquecimento” e “o controlo das emissões de metano tem benefícios climáticos, económicos, ambientais e de segurança”, lê-se no documento.

O plano reconheceu os desafios à sua implementação, incluindo a “falta de uma base estatística e de monitorização sólida, a inadequação do sistema de regulação e normativo e a necessidade de melhorar a capacidade técnica”.

Combate em curso

Em Julho passado, o enviado dos Estados Unidos para as questões climáticas, John Kerry, instou a China, durante uma visita oficial ao país, a descarbonizar o sector energético, reduzir as emissões de metano e diminuir a desflorestação.

A fonte da grande maioria das emissões de metano da China relacionadas com a produção de energia é o carvão, que produz mais de metade da electricidade do país asiático.

A China é o maior emissor mundial de metano relacionado com produção energética, com 28 milhões de toneladas por ano, seguida da Rússia (18 milhões de toneladas) e dos Estados Unidos (17 milhões de toneladas), de acordo com a Agência Internacional da Energia.

9 Nov 2023

Pequim quer reforçar cooperação com a Califórnia na questão do clima

O ministro do Ambiente chinês, Huang Runqiu, afirmou ontem que a China pretende reforçar a cooperação com os Estados Unidos na luta contra as alterações climáticas, durante uma reunião com o governador da Califórnia, Gavin Newsom.

Newsom está a fazer uma visita de uma semana à China, visando promover a cooperação no âmbito da luta contra as alterações climáticas. A viagem de Newsom como governador, outrora considerada rotineira, ganhou maior relevo no âmbito das tensões crescentes entre EUA e China.

O clima é uma das poucas questões em que os dois países concordaram em trabalhar juntos. As relações entre Pequim e Washington deterioraram-se nos últimos anos, devido a uma guerra comercial e tecnológica, diferendos em questões de direitos humanos, o estatuto de Hong Kong e Taiwan ou a soberania do mar do Sul da China.

Huang disse que o seu ministério vai continuar a cumprir os acordos ao abrigo de um memorando de entendimento assinado no ano passado entre China e Califórnia, que inclui “investimentos no mercado do carbono, adaptação climática, implementação da lei ambiental e intercâmbio entre pessoas para reforçar a cooperação e ter um efeito positivo na cooperação ambiental China – EUA”.

A Califórnia é líder na regulação da poluição atmosférica e outras questões relacionadas com o clima, disse Newsom, durante o encontro.

“Mas reconhecemos os limites da liderança subnacional. Precisamos de mais parceiros. E estou aqui com esse espírito de parceria e também de humildade, reconhecendo que não temos todas as respostas”, disse o governador. Ambas as partes falaram sobre o aumento de fenómenos de clima extremo nos seus países.

Objectivo comum

Califórnia e China emitiram uma declaração na quarta-feira na qual se comprometem a trabalhar em conjunto para combater as alterações climáticas, incluindo promover o uso de energia eólica, tecnologias avançadas de armazenamento de energia e veículos com emissões zero.

Newsom foi recebido em Pequim com uma cordialidade e simpatia raramente vistas entre autoridades norte-americanas e chinesas. Na quarta-feira, reuniu-se com o líder chinês, Xi Jinping, e outros líderes de topo, incluindo o ministro dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, e o vice-presidente, Han Zheng.

Newsom destacou o clima como um domínio em que ambas as partes precisam de cooperar, uma vez que está em causa a sobrevivência e o futuro da população humana. Reuniu-se ainda com o chefe da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China, órgão máximo de planeamento económico do Governo chinês.

26 Out 2023

Ambiente | Fórum Internacional prevê sessão focada nos países lusófonos

Num ano em que o número de expositores cresce quase 50 por cento, devido ao fim das restrições de circulação ligadas à pandemia, o MIECF vai ter uma sessão para potenciar os negócios verdes com os países de língua portuguesa

O Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau (MIECF, em inglês), que tem início hoje, vai ser dedicado à inovação e prevê uma sessão para potenciar “negócios verdes” com os países de língua portuguesa, anunciou a organização.

A sessão agendada para amanhã tem como objectivo “ajudar as empresas a criar conjuntamente oportunidades de negócios verdes através das bolsas de contactos”.

Também amanhã, num painel dedicado à inovação e desenvolvimento, está prevista a participação do vice-presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, José Carlos Pimenta Machado, e do presidente do Instituto Brasileiro de Mobilidade Sustentável, Ricardo Guggisberg.

O fórum, que vai ocupar uma área de mais de dez mil metros quadrados, conta “com mais de 400 expositores (…) oriundos de vários países e regiões, num total de cerca de 500 stands, entre os quais 40 expositores estrangeiros”, informou a organização em conferência de imprensa.

Durante os 20 fóruns e conferências previstas, vão intervir cerca de 30 inovadores na área ambiental, responsáveis de empresas multinacionais e decisores políticos de vários países e regiões, nomeadamente do Interior da China, Europa, países de língua portuguesa, nações do Sudeste Asiático, Hong Kong e Macau.

O Fórum, cujo tema é “Construir uma civilização ecológica através de iniciativas inovadoras”, tem também como objectivo “promover o intercâmbio internacional e a cooperação em matéria de protecção do ambiente entre diferentes sectores, incluindo governos, indústrias, universidades, institutos de investigação, utilizadores e investidores”.

Vários lançamentos

“Haverá uma série de lançamentos de novos produtos, como soluções de energia digital, tecnologia não convencional de neutralidade de carbono e outros produtos ambientais”, prometeu o presidente da Promoção do Comércio e Investimento de Macau, U U Sang, na conferência de imprensa.

O fórum, que vai realizar-se no Cotai Expo do Venetian, é organizado pelo Governo da Região Administrativa Especial de Macau, co-organizado pelos governos provinciais e regionais da Região do Delta do Rio das Pérolas e coordenado pelo Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau e pela Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental.

A exposição está organizada em sete áreas, os Pavilhões da Região do Pan-Delta do Rio das Pérolas, a Área de Exposição das Indústrias de Protecção Ambiental da China, a Área de Exposição Internacional das Indústrias de Proteccão Ambiental, a Área de Exposição das Indústrias de Protecção Ambiental de Macau, a Zona de Exposição Premium, a Zona de Vida Verde e a Zona de Projectos Verdes e com Baixo Teor de Carbono.

17 Ago 2023

Ambiente | Projecto para tratamento de resíduos suspenso

O Governo suspendeu o plano de tratamento prévio de resíduos, que implicava a concessão de um terreno para o efeito. O projecto, que fez parte dos planos do Executivo desde 2019, teria como objectivo tratar materiais de construção

 

No final de 2018, o Chefe do Executivo, Chui Sai On, anunciava nas Linhas de Acção Governativa para 2019 a reserva de uma parcela de terreno de 15.000 metros quadrados onde seria instalada uma estrutura para fazer o tratamento prévio de resíduos de materiais de construção, antes da exportação.

Na sexta-feira, o Governo revelou que este projecto foi suspenso. A novidade foi dada pelo director substituito dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), Ip Kuong Lam, em resposta a uma interpelação escrita de Ron Lam.

Quando o plano foi anunciado, o Executivo de Chui Sai On indicou que seria lançado um concurso público para concessionar a gestão e operação durante um prazo inicial de 13 anos, para fazer o tratamento prévio de três materiais de reciclagem (papel, plástico e metal) produzidos por construções.

O responsável da DSPA revelou também que “o Aterro para Resíduos de Materiais de Construção (ARMC) já atingiu o seu limite” e que é “necessário, em primeiro lugar, rever novamente a configuração do ARMC para que seja libertado o maior espaço possível para efectuar o tratamento dos resíduos de materiais de construção, portanto, o respectivo projecto de concessão do terreno já se encontra suspenso”.

Em actualização

Por outro lado, o Governo anunciou que o projecto das instalações de selecção móveis para materiais inertes de demolição e construção está “em fase de conclusão”, e que estará para breve a entrada em funcionamento a título experimental. Também a 3.ª fase de expansão da Central de Incineração de Resíduos Sólidos de Macau e do Centro de Recuperação de Resíduos Orgânicos está a ser ultimada.

Além disso, Ip Kuong Lam defende que as instalações de esmagamento de garrafas de vidro e as instalações de pré-tratamento de equipamentos electrónicos e eléctricos têm sido sucessivamente construídas e aperfeiçoadas.

Feito o tratamento prévio de material reciclado, a fase seguinte é a reciclagem, passo para o qual o Governo da RAEM garante que “irá continuar a negociar com as entidades competentes do Interior da China” para permitir “que os materiais recicláveis de Macau que preencham os respectivos requisitos sejam transportados para reciclagem no Interior da China”.

A matéria em questão

A resposta da DSPA tem o contexto numérico apresentado por Ron Lam, baseado nas conclusões do Relatório do Estado do Ambiente de Macau 2022, que salientou que em 2022 foram descartadas 436.828 toneladas de resíduos sólidos urbanos, cuja composição consistiu principalmente em matéria orgânica, papel/cartão e plástico. Neste aspecto, o deputado sublinha que em 2022 a “quantidade de resíduos sólidos urbanos descartados per capita foi de 1,77 kg/pessoa/dia, registando-se uma diminuição em comparação com o ano anterior, mas ainda assim superior à de Singapura, Hong Kong, Pequim, Cantão e Xangai.

6 Ago 2023

Estado do clima em 2022-2023 e sua evolução

Entre as muitas publicações produzidas pela Organização Meteorológica Mundial (agência especializada das Nações Unidas que trata do tempo, do clima e da água), sobressaem as que se referem à monitorização do clima e à sua evolução. Antes de tirar conclusões sobre essa evolução, o IPCC, órgão criado pela OMM e UNEP (United Nations Environment Programme), estuda em pormenor as características anuais do clima e tira conclusões sobre as alterações sofridas pelos valores médios dos parâmetros meteorológicos à escala global.

Com os resultados deste estudo a OMM tem vindo a publicar anualmente, desde 1993 até 2020, relatórios intitulados “WMO Statement on the State of the Global Climate” e, desde 2021, com o título “State of the Global Climate”. O mais recente consistiu no “State of the Global Climate in 2022”.

O clima é um sistema altamente complexo e, como tal, não é fácil o seu estudo. Para o monitorizar tem de se recorrer a milhões de dados referentes aos parâmetros meteorológicos medidos diariamente em estações meteorológicas padronizadas. Até há algumas dezenas de anos recorria-se a observadores meteorológicos para efetuar as leituras dos valores registados pelos instrumentos meteorológicos, nomeadamente da temperatura, pressão atmosférica, direção e velocidade do vento, humidade, visibilidade, etc.

As leituras eram feitas nas chamadas horas sinóticas principais (00:00, 06:00, 12:00 e 18:00 horas) e secundárias (03:00, 09:00, 15:00 e 21:00 horas). Desde que foi generalizado o uso de estações meteorológicas automáticas, a quantidade dos dados aumentou significativamente, o que permitiu a sua monitorização contínua.

Estes dados são transmitidos em tempo real para centros meteorológicos, onde são tratados. A principal vantagem das estações meteorológicas automáticas em relação às convencionais consiste no facto de poderem fornecer continuamente dados precisos e fiáveis, inclusive em locais remotos de difícil acesso, podendo ser programáveis para alertar as autoridades aquando da ocorrência de valores extremos. Com base nos dados recolhidos são traçadas cartas meteorológicas que traduzem as condições meteorológicas em vastas regiões.

Os centros meteorológicos mundiais, com base nestes dados, traçam as chamadas cartas sinóticas à escala global, onde se esquematiza o campo da pressão atmosférica referido a uma determinada hora sinótica com o recurso a linhas de igual pressão (isóbaras) e as localizações e intensidades dos vários centros de ação (depressões e anticiclones). Com recurso a modelos físico-matemáticos são elaboradas cartas de prognóstico nas quais se pode seguir a evolução espácio-temporal desses centros de ação, bem como a formação e evolução de outros sistemas de pressão, nomeadamente vales, cristas e colos1.

São também esquematizadas as chamadas frentes, que correspondem a zonas de separação de massas de ar com características diferentes. Estas cartas de prognóstico são válidas para intervalos de 12 ou 24 horas, estendendo-se por 5 ou mais dias, com base nas quais se podem fazer previsões cuja fiabilidade diminui à medida que o período de validade aumenta.

A análise da situação meteorológica, ou seja, do tempo, e a previsão da sua evolução cabe aos meteorologistas, que traduzem em linguagem clara as situações esquematizadas nas cartas de análise e de prognóstico. Compete, por sua vez, aos climatologistas, o estudo dos valores médios dos parâmetros meteorológicos referentes a períodos mais ou menos longos, de preferência no mínimo 30 anos, e a respetiva evolução.

O sistema climático reage a forçamentos externos, manifestando comportamentos que fazem lembrar a reação dos seres vivos a estímulos exteriores. O Professor José Pinto Peixoto (1912-1996), eminente meteorologista e climatologista conhecido mundialmente, referiu-se a esta analogia no livro de sua autoria Physics of Climate (conjuntamente com o meteorologista americano Abraham Oort), “the climate is always evolving and it must be regarded as a living entity”.

Infelizmente os conceitos de “tempo” e de “clima” são por vezes confundidos, não só por entidades oficiais, mas também por alguns meios de comunicação social. Não é raro usar-se a expressão “condições climatéricas” para justificar a interrupção ou impedimento de eventos ao ar livre, devido a ocorrências meteorológicas, como, por exemplo, chuva intensa, vento forte ou trovoada. Dever-se-ia usar a expressão “condições meteorológicas” (ou simplesmente “tempo” ou “estado do tempo”) nessas situações, na medida em que a expressão “condições climatéricas” se refere ao clima. No entanto, o termo “climatéricas” não seria o mais adequado, mas sim “climáticas”, na medida em que o primeiro destes termos é um galicismo que se pode confundir com “climactéricas”, que se refere ao “climactério”, período da vida em que ocorrem alterações significativas no organismo, como, por exemplo, a menopausa e a andropausa.

Além do cálculo dos valores médios e extremos dos parâmetros meteorológicos, a OMM recorre a 7 indicadores para proceder à monitorização das alterações climáticas: concentração de gases de efeito de estufa, temperatura, aumento do nível do mar, acidificação dos oceanos e energia por eles absorvida e armazenada (calor do oceano), gelo marinho e glaciares.

No relatório “State of the Global Climate 2022” sobressaem vários aspetos que põem as entidades governativas e o público em geral de sobreaviso, nomeadamente a alta probabilidade de aumento de frequência de fenómenos extremos, entre os quais secas, inundações, ondas de calor2 e fogos florestais.

É também evidenciado o facto de, apesar de um episódio extraordinariamente longo de La Niña (de setembro de 2020 a março de 2023), fenómeno a que corresponde a um certo arrefecimento do nosso planeta, a temperatura média à escala global nos últimos 8 anos (2015-2022) foi a mais alta registada. O nível do mar e o calor do oceano alcançaram valores recorde e o gelo do Oceano Glacial Antártico atingiu a menor extensão registada. Na Europa foram também alcançados recordes de degelo de glaciares.

Caso não tivesse ocorrido esse episódio de La Niña o aumento da temperatura média teria sido, provavelmente, ainda mais acentuado. Entretanto, o episódio atual do El Niño, iniciado há cerca de um mês, que poderá perdurar aproximadamente um ano ou mais, muito provavelmente contribuirá para um maior aquecimento nos próximos anos. É muito provável que as ondas de calor que estão a afetar a vastas regiões na Europa, América do Norte e Ásia estejam relacionadas com este fenómeno.

Os valores da temperatura máxima deste ano, em algumas regiões, aproximaram-se dos máximos até agora observados, e não seria de estranhar que se registassem recordes mundiais em várias regiões do globo nos próximos anos. Segundo o “Archive of Weather and Climate Extremes”, a temperatura mais alta registada foi em Furnace Creek, Death Valley, Califórnia, com 56,7 °C em 10 de julho de 1913. Na Europa continental o recorde foi de 48,8 °C, na Sicília, em 11 de agosto de 2021. Na Ásia foi de 53,9 °C, em Mitribah, no Kuwait, e em Turbat no Paquistão, respetivamente em 21 de julho de 2016 e 28 de maio de 2017. Os valores da temperatura máxima em Death Valley em 2020 e 2021 foram tão altos, que se decidiu retirar os sensores da estação meteorológica e enviá-los para que se realizassem testes num laboratório independente.

De acordo com uma declaração conjunta da OMM e do Copernicus3, o dia 6 de julho de 2023 foi caracterizado pela mais alta temperatura média global diária, ultrapassando o recorde que havia sido atingido em agosto de 2016, o que indicia o perigo de se estar prestes a atingir o limite de 1,5 ⁰C, estabelecido no acordo de Paris, para o aumento da temperatura média global até ao fim deste século.

Apesar de não querermos ser tão pessimistas como o nosso compatriota António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas, não deixa de nos perturbar as suas palavras integradas num discurso proferido na sede da ONU, em 27 de julho deste ano: «The era of global warming has ended; the era of global boiling has arrived».

Segundo a OMM, diz-se que ocorre uma onda de calor quando durante pelo menos 6 dias consecutivos a temperatura máxima diária excede pelo menos 5 graus Celsius a temperatura máxima média durante o período em referência.

Copernicus consiste na componente de Observação da Terra do programa espacial da União Europeia, cujo objetivo de observar o nosso planeta e o seu ambiente para o benefício dos cidadãos europeus.

3 Ago 2023

China | Mais inundações e tufões em Agosto

A China enfrenta um alto risco de inundações e tufões em agosto, informou ontem o jornal oficial Global Times, após a passagem do tufão Doksuri ter deixado pelo menos 20 mortos e 27 desaparecidos em Pequim e arredores.

Segundo um documento publicado em conjunto por organizações como a Comissão Nacional para a Redução de Catástrofes, o Ministério dos Assuntos Civis e o Ministério de Gestão de Emergências, o norte do país vai sofrer altas temperaturas e seca em Agosto, enquanto algumas áreas no sul e leste da China vão registar precipitações acima da média, com maior risco de catástrofes naturais, incluindo cheias, inundações urbanas e agrícolas, fortes rajadas de vento ou granizo.

As partes superiores do rio Yangtsé e do lago Poyang, no centro do país, podem sofrer inundações acima dos níveis de alerta, alertaram as agências. Entre quatro e seis tufões estão também previstos no Noroeste do Pacífico e no Mar do Sul da China, sendo que dois ou três devem “chegar à terra ou afectar os sistemas climáticos da China”, informaram as agências.

As autoridades prevêem que quatro ondas de calor vão atingir várias partes do país em Agosto. E notaram que a China enfrenta um pico crucial de consumo de electricidade no Verão, algo que já causou problemas de abastecimento durante a seca do Verão passado, no centro do país.

As autoridades também alertaram para incêndios florestais em algumas partes de Sichuan (centro), Chongqing (centro) e Xinjiang (oeste).

3 Ago 2023

Clima | Pequim regista as chuvas mais intensas em pelo menos 140 anos

Nunca a capital chinesa tinha sido fustigada com tamanha intensidade de chuvas e inundações como nos últimos dias. Pelo menos, desde que há registos meteorológicos

 

A capital da China, atingida por inundações mortíferas, sentiu nos últimos dias as chuvas mais intensas em pelo menos 140 anos, quando os registos começaram, avançaram ontem os serviços meteorológicos de Pequim.

“O valor máximo” de chuva registado entre a noite de sábado e a manhã de quarta-feira numa estação da cidade foi de 744,8 milímetros, sendo a “chuva mais forte em 140 anos”, segundo o Serviço Meteorológico de Pequim.

Os levantamentos precisos começaram em 1883. “O recorde anterior (…) antes do actual episódio chuvoso” tinha sido estabelecido em 1891, com 609 milímetros, sublinhou a agência.

As chuvas torrenciais que atingiram Pequim e a província vizinha de Hebei, no norte da China, deixaram pelo menos 20 mortos e 27 desaparecidos, segundo a imprensa oficial chinesa.

As cheias levaram rios a transbordar, arrastando estradas, veículos, casas e árvores, cortaram vias de telecomunicação e causaram deslizamentos de terra.

Cerca de 13 rios ultrapassaram os níveis de alerta na Bacia de Haihe, que inclui Pequim, Tianjin e Shijiazhuang, disse a agência de notícias oficial Xinhua, citando o Ministério de Recursos Hídricos chinês.

O fornecimento de energia para cerca de 60 mil casas no distrito de Fangshan, na capital, foi interrompido, informou a televisão Phoenix TV. As imagens divulgadas pela imprensa e redes sociais mostram cenas de caos, com pessoas presas em veículos ou nas suas casas.

O caos está no ar

O tufão Doksuri, revisto para uma tempestade tropical, tem varrido a China de sudeste para norte desde sexta-feira, dia em que atingiu a província de Fujian, no leste do país, depois de passar pelas Filipinas, onde causou pelo menos 25 mortos.

Chuvas torrenciais começaram a atingir a área metropolitana de Pequim no sábado. Em apenas 40 horas, a capital chinesa registou o equivalente à precipitação média de um mês inteiro de Julho.

As fortes chuvas mataram pelo menos 11 pessoas só na capital, incluindo um bombeiro que participava nas operações de resgate, e causaram milhares de desalojados, informou a televisão estatal CCTV.

Milhares de pessoas foram retiradas para abrigos em escolas e outros prédios públicos nos subúrbios de Pequim e nas cidades vizinhas de Tianjin e Zhuozhou. Em Zhuozhou, a sudoeste de Pequim, cerca de 125 mil pessoas foram transferidas de áreas de alto risco para abrigos, informa a Xinhua.

A autarquia de Tianjin, um porto a leste de Pequim, disse que 35 mil pessoas foram retiradas de perto do rio Yongding. Na província vizinha de Hebei, o mau tempo deixou pelo menos nove mortos e seis desaparecidos, segundo a CCTV.

Cerca de 42 mil pessoas foram retiradas de várias áreas da província de Shanxi, a oeste de Hebei, informou a Xinhua, citando autoridades dos serviços de emergência.

A China está a enfrentar clima extremo e altas temperaturas recordes neste Verão, eventos que os cientistas dizem serem exacerbados pelas mudanças climáticas.

3 Ago 2023

Ruby Hok Meng O, Sociedade para a Saúde Alimentar e Ambiental: “A população preocupa-se com o ambiente”

Em pouco tempo, a Sociedade para a Saúde Alimentar e Ambiental, criada em 2021, já chegou a escolas e grandes empresas promovendo a aposta na sustentabilidade e na redução do desperdício alimentar e do uso do plástico. Ruby Hok Meng O, fundadora e presidente da organização, considera que a sociedade de Macau está cada vez mais vocacionada para a protecção ambiental

 

Criou a Sociedade para a Saúde Alimentar e Ambiental [Society of Food & Environmental Health] em 2021. Como analisa o trabalho desenvolvido até aqui?

Uma das principais razões que me levou a criar esta organização foi o facto de ver muitas pessoas com dificuldades em aderir a um estilo de vida que implique a redução da sua pegada de carbono ou com vontade de melhor proteger os recursos naturais. Juntando um grupo de amigos, e pessoas ligadas às áreas da restauração e segurança alimentar, podemos usar a alimentação como um meio para aumentar a consciência das pessoas, incluindo residentes, turistas e representantes de todo o sector turístico [de Macau], com destaque para as indústrias alimentar, de catering e de hotelaria. Todos nós temos um papel muito importante na mitigação das emissões de carbono, reduzindo o uso do plástico e tentando fazer com que Macau seja um destino turístico de baixo carbono, onde é servida comida saudável e onde são respeitados os recursos naturais. [É importante] ter uma indústria de catering mais consciente do que se passa em questões de segurança alimentar ou a poluição causada pelo plástico, tentando criar novos valores. Criámos então esta associação tendo a alimentação como foco e tentando promover uma boa conexão entre as pessoas e o ambiente.

Arrancaram em plena pandemia. Foi uma altura particularmente desafiante para começar um projecto que implica a criação de laços e contactos?

Estava tudo muito calmo e queria aproveitar essa oportunidade para estar mais tempo na minha cidade e com a minha comunidade, com pessoas apaixonadas pelas questões da sustentabilidade, tentando criar um projecto inspirador que tentasse compreender e transformar comportamentos no dia-a-dia, e eventualmente transformar a própria cultura [de relacionamento com o meio-ambiente]. Tentámos apostar na literacia sobre a alimentação, formação e workshops. Foi algo que criámos e que levámos a diferentes escolas secundárias, por exemplo a Pui Ching, Santa Rosa de Lima, Sagrado Coração, entre outras. Tentámos uma aproximação junto da indústria, dizendo-lhes que os alimentos não são apenas bens de consumo, e que cada vez existem mais pessoas a dedicarem-se à protecção dos recursos naturais e a tentar perceber o caminho do desperdício alimentar. Até à data, conduzimos cerca de seis ou sete workshops e debates em escolas do território. Sentimos que grande parte dos comportamentos [que implicam maior desperdício] devem-se ao facto de as pessoas não estarem conscientes do gasto em energia e recursos e de toda a pegada de carbono que está associada [à produção alimentar]. Apostamos em recursos educativos junto dos mais jovens, pois acreditamos que se conseguirmos dar poder à juventude teremos mais possibilidades de potenciar comportamentos sustentáveis no futuro. Espero que os mais jovens possam ganhar maior consciência sobre o que é, de facto, sustentável, quando chegar a altura de escolhorem os seus cursos ou projectos na Grande Baía ou em competições internacionais, por exemplo. Já poderão ter uma mentalidade que dá às questões da sustentabilidade a importância que merecem. De outra forma seremos como outras cidades e países. Até à data, a reacção [em relação ao nosso trabalho] tem sido bastante boa.

Observamos em Macau muitos comportamentos que são ainda ecologicamente pouco sustentáveis, como o facto de a fruta estar toda embalada em plástico nos supermercados, entre outras questões. Sente que há ainda um longo caminho a percorrer para mudar este panorama?

Isso não é inteiramente verdade. Nos últimos dois ou três anos temo-nos aproximado de diversos actores [na promoção de comportamentos sustentáveis]. Antes estava mais focada no meu trabalho ou nos meus amigos, mas esta plataforma permite uma conexão com pessoas e entidades com quem nunca tinha falado antes, e a percepção que recebo é que as pessoas de Macau se preocupam bastante com a protecção do meio ambiente e da sua comunidade. Sentimos alguma frustração quando vamos a Hong Kong ou mesmo a Hengqin e vemos coisas que não acontecem em Macau. Mas voltando à sua questão, a fim de que isso possa acontecer [uma mudança de paradigma], precisamos de uma sistematização do pensamento e cada actor deve ter um papel a desempenhar. Alguém tem de assumir essa iniciativa e em Macau penso que os resorts integrados estão a liderar esse processo, nomeadamente ao nível dos processos de reciclagem e da redução do desperdício alimentar, por exemplo. Assim que as grandes empresas ou organizações iniciarem esse processo, as coisas vão tornar-se mais acessíveis. Penso que é uma questão de tempo e definir quais são as prioridades a atingir e colocá-las na agenda da cidade.

Falou dos resorts integrados. Com os novos contratos de jogo, que reforçam a responsabilidade social corporativa, os casinos estão mais predispostos a apostar na área da sustentabilidade?

Penso que os operadores de jogo são de facto a força motriz neste campo. Falamos de empresas de grande dimensão que lidam com diversas jurisdições, que precisam de realizar relatórios de responsabilidade social e de sustentabilidade, que não se resumem a uma ou duas frases. Precisam de ter uma missão no seu interior, são avaliados por uma terceira parte em relação ao seu nível de sustentabilidade. O investimento é feito numa empresa sustentável, que respeita as pessoas, que é credível, que cresce em conjunto com a sociedade. Com essa ideia, todas as operadoras de jogo têm objectivos de sustentabilidades e metas de redução da pegada de carbono a atingir. O impacto climático [das suas operações] tem de ser reduzido. Todas estas questões se relacionam com as pequenas e médias empresas, numa partilha de valores. De outra forma não conseguem corresponder ao panorama internacional.

Acredita que o Governo deve alterar a estratégia e políticas relativamente às questões ambientais?

A Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental tem um plano a cinco anos de melhoria do ambiente da cidade, com ideias para a redução do consumo de energia, por exemplo, e programas educacionais. Sei que têm feito trabalho de consulta com diferentes associações. Penso que tudo depende dos recursos importantes, como, por exemplo, os custos associados a termos no território um centro de reciclagem ou a importarmos esse serviço. Macau tem um modelo de economia baseado no consumo, na medida em que importamos quase tudo para consumir, e geramos lixo. A estratégia está relacionada com a tal sistematização e mudança de pensamento. Isso pode ser uma responsabilidade do Governo, mas penso que é mais das pequenas e médias empresas e dos próprios consumidores e empresários. Penso que o consumidor tem muito poder nesse sentido: porque compramos tantas coisas online, por exemplo? Todos têm um papel a desempenhar, e todos apontam o dedo ao Governo, que não está a fazer isto ou aquilo. Mas devemos questionar-nos a nós próprios: sempre que sabemos que determinada embalagem não vai ser reciclada, ou que vai demorar muitos anos a sê-lo, porque a vamos comprar ou continuar a usar esse tipo de produto? Como cidade, devemos perguntar-nos a nós próprios o que podemos fazer? Reduzir a partir da fonte é de facto o mais importante e deve ser feito por cada indivíduo.

Relativamente ao despejo para o mar de água usada na refrigeração da central nuclear de Fukushima. O Instituto para os Assuntos Municipais pondera deixar de importar comida do Japão. Qual a sua posição?

Sim. Penso que, sem uma decisão, vamos todos sofrer passivamente. Esta questão é semelhante à da reciclagem: todos têm responsabilidade. O Governo assegura a transparência da importação e os requisitos de qualidade, mas as grandes empresas devem também testar os alimentos importados. Esta pode ser uma oportunidade para falarmos sobre a qualidade da alimentação e pensarmos na possibilidade de diversificar a nossa dieta, comendo alimentos orgânicos e locais, beneficiando o meio ambiente, sem gastarmos imenso dinheiro.

20 Jul 2023

EUA | John Kerry em Pequim para retomar as conversações sobre o clima

Enquanto os efeitos desastrosos das alterações climáticas se fazem sentir de uma forma cada vez mais dramática por todo o mundo, o enviado norte-americano para as questões do clima chega a Pequim com vista a encontrar pontos de convergência para a diminuição de poluição gerada pelos dois países

 

O enviado dos Estados Unidos para o Clima, John Kerry, chegou ontem a Pequim com a ambição de retomar o diálogo sobre as alterações climáticas, uma questão crucial para os dois principais poluidores do mundo.

Kerry, que faz a sua terceira viagem à China desde que assumiu o cargo em 2021, chega numa altura em que o impacto das alterações climáticas se faz sentir particularmente em todo o mundo, com ondas de calor em muitas partes do globo.

A China não é excepção e a capital, Pequim, tem registado temperaturas de cerca de 40 graus Celsius desde há semanas. John Kerry, que estará na China até quarta-feira, deverá encontrar-se com o homólogo Xie Zhenhua.

A partir de segunda-feira, “a China e os Estados Unidos terão uma troca de pontos de vista aprofundada” sobre questões climáticas, noticiou a televisão estatal chinesa CCTV após a chegada de Kerry a Pequim, mas sem adiantar pormenores.

Nos últimos meses, tem havido um número crescente de visitas de Washington para melhorar as relações diplomáticas: o secretário de Estado, Antony Blinken, visitou o país em Junho, seguido pela secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, no início deste mês.

Os dois maiores poluidores do mundo não discutem as alterações climáticas há quase um ano, depois de, em Agosto de 2022, Pequim ter suspendido as conversações sobre este assunto em protesto contra a visita a Taiwan de Nancy Pelosi, então Presidente da Câmara dos Representantes dos EUA.

As discussões sobre o clima parecem agora ser retomadas após meses de tensão, sobretudo porque Kerry, antigo secretário de Estado norte-americano, tem uma relação bastante cordial e ininterrupta com a China e ocupa agora uma posição-chave, tendo em pano de fundo a ideia de que a administração de Joe Biden considera que as alterações climáticas são um dos domínios em que as duas potências, ferozmente competitivas, podem cooperar.

Mau tempo, pouco tempo

O tempo está a esgotar-se: globalmente, Junho foi o mês mais quente de que há registo, segundo a agência europeia Copernicus e as norte-americanas NASA e NOAA.

A primeira semana completa de Julho foi, por sua vez, a mais quente de que há registo, segundo dados preliminares da Organização Meteorológica Mundial (OMM).

Uma nota do Departamento de Estado norte-americano refere que o objectivo de Kerry é “encetar um diálogo” com a China “sobre a resolução da crise climática”, como o aumento da ambição e da implementação” dos regulamentos sobre o clima e “a promoção de uma COP28 bem-sucedida”. A conferência da ONU sobre alterações climáticas (COP28) está marcada para o Dubai no final do ano.

A China é o maior emissor mundial de gases com efeito de estufa, responsáveis pelas alterações climáticas, e prometeu atingir o seu pico de emissões de dióxido de carbono (CO2) até 2030 e atingir a neutralidade carbónica até 2060. O Presidente Xi Jinping também prometeu que o seu país reduzirá a utilização de carvão a partir de 2026.

16 Jul 2023

Cimeira de Paris | China comprometida no combate às alterações climáticas e pobreza

Numa conferência que juntou mais de 40 chefes de Estado e de Governo na cidade das luzes, Pequim, através do primeiro-ministro, Li Qiang, afirmou estar preparada para cooperar na luta global contra as alterações climáticas e a pobreza

 

A China está preparada para assumir maiores compromissos na luta contra as alterações climáticas e a pobreza, bem como no alívio da dívida dos países pobres, anunciou na sexta-feira em Paris o primeiro-ministro chinês, Li Qiang.

No encerramento da cimeira de Paris para um novo pacto financeiro global, Li afirmou que a China acelerou os esforços para promover “uma produção e um estilo de vida com baixas emissões de carbono”.

“Nos últimos dez anos, a China registou um crescimento médio de 6,3 por cento, mas apenas 3 por cento de crescimento no consumo de energia”, afirmou, citado pela agência francesa AFP.

O primeiro-ministro chinês disse que a China, acusada de ser um dos maiores poluidores do mundo, diminuiu a quota do carvão.

Li disse que a China também está empenhada na cooperação global na luta contra a pobreza e na iniciativa de suspensão do serviço da dívida apoiada pelo G20 (grupo das maiores economias).

A China está preparada para “trabalhar com todas as partes interessadas, incluindo as instituições financeiras internacionais, os credores privados e outros”, afirmou o chefe do Governo do país asiático.

 

Ajuste de contas

Este compromisso surge no momento em que os credores da Zâmbia anunciaram na passada quinta-feira que tinham chegado a um acordo para reestruturar parte da dívida do país da África Austral.

A Zâmbia, com quase 20 milhões de habitantes, entrou em incumprimento da dívida em 2020, e as negociações para resolver o problema estavam paradas devido a divergências entre os credores ocidentais e chineses.

“A China está pronta a trabalhar com todas as partes envolvidas para garantir que as finanças mundiais se tornem justas e eficientes”, concluiu Li Qiang.

A presidência francesa organizou a cimeira para lançar as bases de uma revisão da arquitectura financeira internacional que surgiu após a Segunda Guerra Mundial, com o objectivo de travar a pobreza e o aquecimento global.

Participam na cimeira cerca de quarenta chefes de Estado e de Governo, bem como os dirigentes das instituições internacionais.

Li Qiang está em Paris depois de ter visitado Berlim, na primeira deslocação ao estrangeiro desde que assumiu funções em Março.

26 Jun 2023

Ambiente | Ron Lam pergunta por terreno destinado a reciclagem

O deputado Ron Lam pediu ao Governo um ponto de situação sobre instalação de um centro de reciclagem no aterro destinado à reciclagem de materiais de construção, na Taipa (Avenida do Aeroporto).

Numa interpelação escrita, o deputado recordou que a designação de um terreno para processar a reciclagem de resíduos constou do relatório das Linhas de Acção Governativa para o Ano Financeiro de 2019, e nunca mais conheceu avanços. Ron Lam apontou ainda que o terreno no aterro para resíduos de materiais de construção teria área de 15 mil metros quadrados para o pré-tratamento de papel, plástico e metal antes da exportação.

A urgência na execução do projecto foi justificada pelos dados revelados pelo relatório sobre o estado do ambiente de Macau que indicou que, nos últimos dez anos, a taxa de reciclagem apenas chegava a 20 por cento. Além disso, com a progressiva restrição de entrada de resíduos sólidos no Interior da China, que foi proibida completamente em 2021, Ron Lam defendeu a necessidade de o Governo dar prioridade à reciclagem no território.

Ron Lam também pediu um ponto de situação sobre a construção do terminal marítimo para o transporte de materiais reciclados e para as instalações de pré-tratamento para os resíduos de produtos eléctricos, garrafas de vidro e outros materiais reciclados mencionados no planeamento de gestão de resíduos sólidos de Macau.

11 Jun 2023

Ambiente | Muitos dias com boa qualidade de ar, mas cresce efeito de estufa

A emissão de gases com efeito de estufa aumentou em 2022 face ao ano anterior, assim como os dias em que se respirou em Macau ar insalubre. Ainda assim, em quase 92 por centos dos dias do ano passado a qualidade do ar foi moderada a boa, segundo o Relatório do Estado do Ambiente de Macau 2022 publicado ontem

 

A Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) divulgou ontem o Relatório do Estado do Ambiente de Macau 2022, que traça um cenário diverso de avanços e recuos na meta de preservação ambiental, naturalmente afectado pelo contexto socioeconómico de um ano marcado pela pandemia da covid-19.

Em termos atmosféricos, a proporção de dias com qualidade do ar classificada de “bom” e de “moderado” no total de dias monitorizados foi de 91,8 por cento ao longo do ano passado. Apesar da elevada percentagem, “em 2022, foram registados entre 8 e 33 dias classificados de ‘insalubre’ em todas as estações de monitorização da qualidade do ar de Macau”, face ao registo de entre 10 e 24 dias insalubres em 2021.

A DSAP revelou também que foram registados entre 1 e 3 dias ‘muito insalubres’ em 2022 nas estações ambientais da Taipa e Coloane, e na Berma da Estrada de Ká-Hó.

O relatório aponta que os resultados das medições relativas ao ambiente atmosférico reflectem “uma ligeira queda em comparação com 2021, no entanto, a qualidade do ar melhorou em geral em relação ao nível pré epidémico”.

Quanto aos poluentes detectados nas estações de monitorização da qualidade do ar, as partículas finas em suspensão PM2,5 e o ozono foram os principais poluentes atmosféricos, com a Estação Ambiental da Taipa a registar o índice mais elevado ao longo de todo o ano. A DSAP aponta ainda que em 2022 o mês com melhor qualidade do ar em Macau foi Junho e o pior foi Setembro.

Apesar de na última década a percentagem de dias com qualidade do ar ‘insalubre’ ou ‘muito insalubre’ apresentar uma trajectória de descida, com os níveis de concentração os principais poluentes a diminuírem, as concentrações médias anuais de ozono mostraram “uma tendência ascendente, o que continua a pôr em causa a qualidade atmosférica de Macau”.

Por outro lado, o relatório da DSAP revela que em 2022 o dióxido de carbono (CO2) dominou as emissões de gases com efeito de estudo, correspondendo a mais de 94,7 por cento do total de emissões, com as restantes emissões a corresponderam a óxido nitroso e metano.

No geral, o valor estimado das emissões de gases com efeito de estufa de 2022 subiu em relação a 2021, na sequência do aumento de cerca de 40 por cento da produção local de electricidade.

Consumos vários

A DSPA explica que devido ao “impacto dos repetidos surtos epidémicos causados pelo novo tipo de coronavírus, o PIB, o número de turistas e a intensidade turística, em 2022, diminuíram significativamente, e a quantidade de resíduos sólidos urbanos descartados, o consumo de electricidade e o volume de água facturada também baixaram”.

No ano passado, o volume de água facturada foi de 86.308 milhares de metros cúbicos, o que representou uma descida de 3,5 por cento face a 2021. O consumo de electricidade acompanhou a tendência, com uma descida anual na ordem dos 3,7 por cento, assim como a quantidade de resíduos sólidos urbanos descartados, que totalizou 453.152 toneladas (menos 3,6 por cento).

Porém, é indicado que o consumo de energia por unidade do PIB aumentou 30 por cento em termos anuais.

No capítulo do consumo energético, os sectores que gastaram mais energia foram o comércio (70,5 por cento), o consumo doméstico (18,9 por cento), os organismos do Governo (7,4 por cento) e a indústria (3,2 por cento).

Importa ainda referir que, no ano passado, 89,6 por cento do total de energia eléctrica consumida em Macau foi adquirida ao exterior, enquanto a electricidade produzida localmente representou uma fatia de 7,5 por cento.

Estado sólido

O relatório divulgado ontem revela que no ano passado “foram recolhidas do mar cerca de 306 toneladas de resíduos sólidos e jacintos de água, o que representa um aumento face às 243 toneladas de 2021”, uma subida de quase 26 por cento em termos anuais.

A quantidade de resíduos sólidos urbanos descartados em Macau caiu no ano passado 3,6 por cento em termos anuais, com o registo per capita também a cair 2,7 por cento.

Também nesta categoria, os efeitos do combate à pandemia se fizeram sentir. A quantidade de resíduos de construção teve uma queda de 16,5 por cento face a 2021, a quantidade de lamas marinhas reduziu 42,5 por cento, enquanto as quantidades de escória e de cinzas volantes ficaram a um nível próximo do de 2021.

Por outro lado, “a DSAP aponta que no ano passado se manteve a tendência de subida de 32,7 por cento na quantidade de resíduos especiais e perigosos, comparando com 2021”.

Outro factor relevante é a descida de 1,7 por cento das despesas públicas do Governo relativas à “Protecção ambiental” verificada em 2022, face ao ano anterior, com o orçamento dedicado às questões ambientais a situar-se em cerca de 1,7 mil milhões de patacas. Estas despesas destinaram-se principalmente a pagar “obras de construção e modernização das infra-estruturas ambientais e trabalhos de operação e manutenção”.

Com o retorno à normalidade, o Governo aponta o caminho para um futuro com melhor ambiente. “Com a gradual dissipação da névoa da epidemia, Macau dará início a uma ampla recuperação global da sociedade e da economia. É imperativo que o desenvolvimento verde se torne no princípio básico do desenvolvimento socioeconómico de Macau e se ponham em prática, de forma abrangente, as estratégias de conservação de energia, redução de emissões e protecção ambiental”.

6 Jun 2023

Síntese do sexto relatório de avaliação do IPCC sobre as alterações climáticas

António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas, no seu discurso na conferência de imprensa para apresentação da Síntese do Sexto Relatório da Avaliação das Alterações Climáticas, em 20 de março de 2023, recorreu à seguinte metáfora: “… a humanidade está sobre uma fina camada de gelo e este gelo está a derreter rapidamente…(Humanity is on thin ice and this ice is melting fast…”).

Para evitar o desastre a que esta figura de linguagem se refere, é imprescindível que a humanidade tome consciência do risco que corre na sua corrida desenfreada para melhorar o Produto Interno Bruto dos Estados ignorando as devidas precauções no que se refere à sustentabilidade da Terra.

Como é do conhecimento do público que acompanha o evoluir dos assuntos relacionados com a sustentabilidade do nosso planeta, nomeadamente no que se refere às alterações climáticas, o acrónimo IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) refere-se ao órgão das Nações Unidas incumbido de monitorizar as alterações climáticas, os impactos inerentes a essas alterações, e fornecer aos governos avaliações regulares sobre a evolução do clima. Durante os seus 35 anos de atividade foram elaborados 6 Relatórios de Avaliação (Assessment Reports – AR) da evolução do clima, com a periodicidade aproximada de 6 anos. Além destes foram também publicados 14 relatórios sobre temas específicos.

De acordo com o Relatório Síntese do AR6, as atividades antropogénicas desde há mais de 150 anos, ou seja, desde o início da era industrial, são a principal causa do aquecimento global de cerca de 1,1 ºC acima dos níveis pré-industriais, o que implicou a ocorrência de eventos meteorológicos extremos mais frequentes e violentos, que têm sido a causa de elevadas perdas de vidas e bens.

Como o título indica, este Relatório Síntese consta do resumo das conclusões e recomendações que compõem as três primeiras partes do AR6, já publicadas previamente em 2021 e 2022. Tem como objetivo disponibilizar importante informação e linhas mestras de atuação tendo em vista a mitigação das alterações climáticas e a adaptação da sociedade a essas alterações.

Apesar de ser uma síntese, este relatório, na sua versão para os decisores políticos, consta de 36 páginas (versão em inglês). Vejamos algumas das principais conclusões expressas neste documento, segundo o World Resources Institute:

O aquecimento global de 1,1 ºC, induzido pelas atividades antropogénicas, estimulou alterações no clima sem precedentes na história recente da humanidade.

Os impactos das alterações climáticas sobre a humanidade e ecossistemas são mais generalizados e graves do que o previsto, e os riscos futuros aumentarão rapidamente sempre que haja um aumento de uma fração de grau da temperatura média global.

Para ilustrar esta constatação, pode-se mencionar o facto de cerca de metade da população mundial enfrentar atualmente forte escassez de água, e que o aumento da temperatura é favorável à propagação de doenças transmitidas através de vetores (p. ex. mosquitos, carraças, etc.), como malária, vírus do Nilo Ocidental e doença de Lyme.

As medidas de adaptação às alterações climáticas podem efetivamente contribuir para o aumento da resiliência, mas, para esse efeito, será necessário um maior apoio financeiro.

O IPCC estima que os países em desenvolvimento precisarão de US$ 127 mil milhões por ano até 2030 e US$ 295 mil milhões por ano até 2050 para se adaptarem às alterações climáticas.

Alguns impactos das alterações climáticas são já de tal maneira severos que não podem ser atenuados com recurso a medidas de adaptação, o que implica aumento de perdas de vidas e danos materiais.

Por exemplo, algumas comunidades costeiras viram as suas vidas dificultadas devido à extinção de recifes de corais que lhes garantiam meios de subsistência e segurança alimentar, enquanto outras comunidades foram obrigadas a abandonar os seus terrenos de cultura devido à subida do nível do mar.

As emissões globais de gases de efeito de estufa (GEE) atingirão um pico antes de 2025, se o ritmo de emissões atual não abrandar.

Segundo o IPCC, há uma probabilidade superior a 50% de que a subida da temperatura global atinja 1,5 ºC até 2040, com base em vários cenários e, num cenário de emissões mais intensas, poder-se-á atingir este valor mais cedo, até 2037. Nestas condições o aumento global da temperatura poderá subir para valores entre 3,3 ºC e 5,7 ºC até 2100.

A queima de combustíveis fósseis, causa número um da crise climática, deve ser abandonada rapidamente.

Embora centrais elétricas movidas a carvão estejam a ser desmanteladas na Europa e nos EUA, alguns bancos multilaterais de desenvolvimento continuam a financiar a instalação de centrais deste tipo.

Para garantir um futuro resiliente e com neutralidade carbónica é necessário proceder a transformações urgentes em todo o sistema.

Embora os combustíveis fósseis sejam a principal causa das emissões de GEE, além de se ter de deixar de recorrer à sua utilização, terá de se proceder a cortes drásticos das emissões noutras áreas da atividade humana, como por exemplo a agricultura e a exploração pecuária.

A remoção de carbono da atmosfera é essencial para limitar o aumento da temperatura global a 1,5 ºC.

Para se atingir a neutralidade carbónica não é suficiente desistir da utilização dos combustíveis fósseis e outras medidas de redução das emissões de GEE. Terá também de se recorrer à remoção do carbono da atmosfera, o que implica, além da intensificação da florestação e outros métodos naturais, o recurso a novas tecnologias para extrair o dióxido de carbono diretamente da atmosfera para o subsolo.

As medidas de adaptação podem efetivamente contribuir para uma maior resiliência, mas é necessário mais financiamento para melhorar as soluções.

De acordo com o IPCC, o financiamento público e privado para produção de combustíveis fósseis tem sido superior ao dirigido para a mitigação das alterações climáticas e a adaptação a essas alterações. Se tudo continuar assim, não serão atingidas as metas globais preconizadas no Acordo de Paris.

As alterações climáticas, assim como os nossos esforços coletivos para a adaptação e mitigação, contribuirão para aumentar a desigualdade, caso não se consiga garantir uma transição justa.

Os efeitos das alterações climáticas atingem mais duramente os países menos desenvolvidos, apesar de terem sido os que historicamente menos GEE emitiram.

De acordo com Relatório Síntese da AR6, ainda é possível limitar o aquecimento global a 1,5 ºC até ao fim do século, conforme o preconizado pelo Acordo de Paris, mas apenas se houver empenho dos governos, setor privado, sociedade civil e todos nós individualmente. A janela de oportunidade ainda está aberta, mas não há tempo a perder.

*Meteorologista

3 Mai 2023

Ambiente | Dia mais quente de 2022 voltou a bater o do ano anterior

A temperatura mais elevada registada no passado foi de 37,4ºC, mais 1,6ºC do que a verificada no dia mais quente de 2021. No cômputo geral, em 2022 houve quase uma semana de dias quentes (com temperatura máxima acima de 33ºC) face aos valores médios entre 1991 e 2020. No ano passado choveu menos e houve menos tempestades tropicais face a 2021

 

Menos chuva, menos tufões, mas mais calor. Estas são as primeiras conclusões que se retiram das estatísticas do ambiente referentes ao ano de 2022, divulgadas ontem pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC).

Ao longo do ano passado, o dia mais quente foi registado em Julho, quando os termómetros chegaram aos 37,4ºC, temperatura 1,6ºC mais alta do que a verificada no dia mais quente de 2021, quando o dia com mais calor registou 35,8ºC, mais 0,3ºC, em relação à de 2020.

Apesar de o dia mais quente de 2021 ter superado a temperatura do ano anterior, a temperatura média em Macau no ano passado correspondeu a 22,7ºC, menos 0,8ºC, face à de 2021.

No ano passado, os termómetros reajustaram-se depois de um 2021 muito quente, quando a temperatura média atingiu os 23,5ºC, “correspondente a um nível relativamente elevado”, representando uma subida de “0,2ºC, face à de 2020 e 0,7ºC, em comparação com o valor médio climático de 1991 a 2020”.

A DSEC acrescenta que em 2021 ocorreram 38 dias quentes (com temperatura máxima diária igual ou superior a 33ºC) e 43 dias frios (com temperatura mínima diária inferior ou igual a 12ºC), mais 6,7 e 3,9 dias, respectivamente, em comparação com os correspondentes valores médios de 1991 a 2020.

No que há precipitação diz respeito, a DSEC indica que em 2021 o registo total atingiu os 2.030,8 milímetros (mm), menos 175,4 mm, em comparação com 2021.

Ar respirável

Em relação à qualidade do ar, a DSEC refere que o número de dias bons observados em todas as estações de monitorização aumentou face a 2021. Por seu turno, na estação ambiental da Taipa registaram-se três dias com qualidade do ar “muito insalubre”, dois na estação ambiental de Coloane e um na estação de berma da estrada de Ká-Hó.

Quanto às partículas inaláveis em suspensão (PM10), não se registou nenhum dia com valor superior ao valor padrão em nenhuma estação, segundo os dados divulgados ontem pela DSEC. Por outro lado, “em relação às partículas finas em suspensão (PM2,5), o número de dias com valor superior ao valor padrão diminuiu em todas as estações, excepto na estação de berma da estrada de Macau e na estação ambiental da Taipa”, afirmou a DSEC em comunicado, sem referir que existem seis estações ambientais.

No ano passado, só os serviços públicos aumentaram o consumo de água. A DSEC indica que em 2022, “o volume total de água facturada atingiu 83.254.000 metros cúbicos (m3), menos 3,5 por cento, em comparação com o ano 2021.

Fúria dos elementos

O volume de água facturada para uso doméstico e uso do comércio e indústria desceu 1,1 por cento e 6,5 por cento, respectivamente, em termos anuais, porém, o volume de água facturada usado pelos organismos públicos aumentou 0,7 por cento.

Na Central de Incineração de Resíduos Sólidos foram tratadas 436.828 toneladas de resíduos sólidos urbanos em 2022, menos 3,6 por cento, em termos anuais. Os resíduos especiais e perigosos totalizaram 8.255 toneladas, mais 32,7 por cento, em relação a 2021.

No ano passado ocorreram seis tempestades tropicais, menos duas em relação a 2021. O sinal n.º 8 de tempestade tropical foi hasteado aquando da passagem dos tufãos “Chaba”, “Ma-on” e “Nalgae”, bem como do ciclone tropical “Mulan”. A DSEC salienta que durante a passagem do tufão “Chaba”, a rajada máxima chegou aos 123,8 km/h e a velocidade média máxima do vento durante 10 minutos alcançou 95,4 km/h.

20 Abr 2023

As Nações Unidas e a luta contra a perda de biodiversidade

Como tem vindo a ser alertado pelas Nações Unidas, as alterações climáticas e a degradação da biodiversidade são dois dos grandes problemas que afetam a sustentabilidade do nosso planeta. Perante esta realidade, a ONU organiza regularmente conferências das partes envolvidas (Conferences of the Parties – COP) com o intuito de atenuar ou até mesmo reverter as suas consequências. Talvez a mais conhecida destas conferências relativas às alterações climáticas seja a COP21, na qual foi alcançado o Acordo de Paris, em 2015. No que se refe à biodiversidade, realizou-se a 15ª COP, em Montreal, de 7 a 19 de dezembro de 2022. Considerada quase unanimemente um êxito pelos representantes de cerca de 190 países, esta conferência logrou atingir o chamado “Quadro Global para a Biodiversidade de Kunming-Montreal” (Kunming-Montreal Global Biodiversity Framework).

A COP15 para a biodiversidade realizou-se no âmbito das atividades da Convenção sobre a Diversidade Biológica (Convention on Biological Diversity – CBD), estabelecida em 1993, a qual tem como principal objetivo a tomada de medidas para a recuperação de ecossistemas naturais e evitar a perda acelerada da biodiversidade. Estava inicialmente prevista realizar-se em 2020 em Kunming, capital da província de Yunnan, na China, mas foi várias vezes adiada devido à pandemia COVID-19. Foi designado Presidente desta conferência o ministro da Ecologia e do Meio Ambiente da China, Huang Runqiu.

A decadência vertiginosa do número de espécies animais e vegetais e a deterioração de ecossistemas naturais estão intimamente relacionadas com o aumento do número de habitantes do nosso planeta e consequente excesso de exploração agrícola, pesca, caça, desflorestação, uso exagerado de pesticidas, etc. Atualmente cerca de um terço dos terrenos estão degradados e aproximadamente um milhão de espécies correm risco de extinção. Para se ter uma ideia de como a população mundial tem aumentado, basta lembrar que se calcula que há cerca de 12 mil anos não excedia 5 milhões, em 2000 era de cerca de 6 mil milhões, atualmente é de 8 mil milhões e, segundo antevisão da ONU, será de 11,2 mil milhões em 2100.

Por ser escassa a percentagem atual das áreas terrestres e marinhas protegidas, apenas cerca de 17% e 10% respetivamente, foram preconizadas medidas para serem aplicadas a médio e longo prazo, algumas das quais não agradarão certamente a certos setores da sociedade, atendendo a que foi decidido acabar com subsídios a atividades que ponham em perigo a preservação de determinadas espécies e ecossistemas.

No Quadro Global para a Biodiversidade de Kunming-Montreal foram estabelecidas 23 metas a alcançar até 2030, e cinco objetivos até 2050. Das metas sobressaem as seguintes:

– Mobilizar, junto a fontes públicas e privadas, pelo menos 200 mil milhões de dólares americanos por ano para financiamento de medidas de preservação e de recuperação da biodiversidade;
– Assegurar que pelo menos 30% das áreas degradadas de ecossistemas terrestres, de águas interiores e costeiras e marinhas estejam efetivamente recuperadas;
– Reduzir a quase zero a perda de áreas de grande importância para a biodiversidade;
– Reduzir a metade o desperdício global de alimentos e reduzir significativamente o consumo excessivo e a produção de resíduos;
– Reduzir a metade o excesso de nutrientes e o risco inerente ao uso de pesticidas e produtos químicos altamente perigosos;
– Disponibilizar informação necessária aos consumidores para promover padrões de consumo sustentáveis;
– Assegurar a participação plena e equitativa na tomada de decisões, sem descriminação de género, de pessoas com deficiência, povos indígenas e comunidades locais, e assegurar a proteção integral dos defensores dos direitos humanos ambientais.

Os cinco objetivos, a alcançar até 2050, convergem no sentido da satisfação plena do preconizado nas 23 metas, na “Visão 2050 para a Biodiversidade” e no aumento progressivo do fundo para 700 mil milhões de dólares por ano.
Ainda no que se refere à proteção da biodiversidade, os Estados Unidos da América (assim como Andorra, Iraque e Somália) não ratificaram a Convenção devido a razões de índole política. No entanto, os EUA têm manifestado uma atitude mais humana em relação a certas espécies animais do que alguns países que a ratificaram, como o Canadá, Dinamarca (Gronelândia), Japão, Noruega e Rússia, onde continua a ser permitido o aviltante abate de focas-bebés. Nos EUA esse tipo de caça é proibido, segundo a Lei de Proteção dos Mamíferos Marinhos (Marine Mammal Protection Act). As focas abatidas têm em geral menos de três meses, idade em que a sua pele é mais branca e macia, o que satisfaz as exigências da moda.

É também oportuno recordar que a guerra na Ucrânia constitui não só um crime contra a humanidade, mas também contra a diversidade biológica. Milhares de animais selvagens e domésticos são vítimas de bombardeamentos indiscriminados. Estão também a decorrer graves atentados à biodiversidade no Mar Negro, onde deram à costa numerosos corpos de animais marinhos, vítimas das atividades dos navios russos. Segundo biólogos, a poluição sonora causada pelas manobras e disparos de mísseis nos navios de guerra e a radiação associada às emissões sonar provocam desorientação nos animais, o que os impede de se alimentar, além de lhes enfraquecer o sistema imunitário.

Calcula-se que entre cinquenta mil e cem mil cadáveres de golfinhos deram recentemente à costa do Mar Negro, nas regiões de Odessa, Crimeia, Bulgária, Roménia e Turquia, vítimas da guerra ilegítima, ilegal e irracional que está a decorrer na Ucrânia. Também deram à costa russa, no mar Cáspio, milhares de cadáveres de focas. Segundo a organização conservacionista World Wildlife Fund (WWF) cerca de 20% das áreas protegidas da Ucrânia e 3 milhões de hectares de florestas foram afetados pela guerra. Oito reservas naturais e 10 parques nacionais permanecem sob controlo das tropas russas.

Entretanto, a tomada de posse de Lula da Silva como Presidente do Brasil, constitui fator de esperança no que se refere à recuperação da biodiversidade, na medida em que o Plano de Ação para Prevenção e Controlo do Desmatamento na Amazónia Legal, que esteve em vigor de 2004 a 2018, vai ser reposto, o que irá contribuir para a redução assinalável da desflorestação na maior floresta tropical do globo.

5 Jan 2023

MIECF encerra com o “Dia Verde do Público”, dedicado à sustentabilidade

Terminou ontem o Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau 2022 (2022MIECF) com a celebração do “Dia Verde do Público” e o incentivo à população para adoptar um estilo de vida sustentável.

O evento organizado pelo Governo da RAEM guardou para o fim o dia aberto ao público para “visitas gratuitas à Mostra Verde e para dar a conhecer aos visitantes as novidades e as tecnologias de protecção ambiental mais recentes”. No local, foram organizadas múltiplas actividades educativas sobre a protecção ambiental para sensibilizar os visitantes.

Esta iniciativa já vem sendo uma tradição da MIECF, com a apresentação de workshops, “jogos no palco, postos para pedido dos Pontos “Verdes”, zona de exposição de produtos reciclados”, além de sorteios.

A entidade organizadora espera que, através destas actividades educativas, o público promova o conceito de uma vida mais sustentável e de baixo carbono e incentive a população a adoptar activamente comportamentos ecológicos na sua vida quotidiana.

Para incentivar a adesão dos residentes à mobilidade verde, no “Dia Verde do Público”, foram disponibilizados gratuitamente autocarros directos de quatro itinerários diferentes entre a Zona Central, a Zona Norte, a Taipa e o recinto do MIECF. Todos os autocarros utilizados nesta edição são eléctricos.

No arranque

No primeiro dia do evento, sexta-feira, realizou-se a Sessão 1 do Fórum Verde no âmbito do “Dia da Cooperação Empresarial Verde”, organizada, pela primeira vez, pelo Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau em colaboração com a PricewaterhouseCoopers (PwC).

Tendo como tema de fundo o “Desenvolvimento Colaborativo das Indústrias Ecológicas para Formação de um Ecossistema de Inovação Sustentável”, o evento contou com a participação, online e presencial, de mais de dez especialistas e académicos de organizações internacionais e de instituições de investigação de relevância nacional, líderes de sectores relacionados provenientes do Interior da China e de Macau para debater e trocar ideias. O fórum contou com mais de 150 participantes presenciais.

Um dos participantes foi o director-geral adjunto do Departamento para Conservação e Aplicação Integrada de Energia junto do Ministério de Indústria e Tecnologia de Informação da República Popular da China, You Yong, que endereçou os problemas relacionados com recursos enquanto desafios comuns a toda a humanidade.

Nesse sentido, o responsável aponta a necessidade de reforçar a capacidade de fornecimento de tecnologias, produtos e serviços verdes e de redução de emissão de carbono.

12 Dez 2022

Ambiente | Governo admite não ter um plano de descarbonização

O secretário para os Transportes e Obras Públicas admitiu que o Governo não tem ainda um plano concreto de descarbonização nem metas ambientais anuais, à semelhança da China ou Hong Kong. Além disso, não está nos planos do Executivo regular a instalação de painéis fotovoltaicos

 

Numa altura em que as questões ambientais estão na agenda política da maioria dos países e regiões, pelo menos no papel, o Governo de Macau admite não ter planos concretos para a gradual descarbonização, nem mesmo planos anuais de implementação de medidas ecológicas. A ideia foi deixada ontem pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, no debate sobre as Linhas de Acção Governativa (LAG) de 2023 da sua tutela.

“Posso dizer que não temos um plano concreto [para a descarbonização]. O nosso trabalho está direcionado nesse sentido, a fim de corresponder ao plano nacional e planos internacionais, mas não há nada de concreto”, disse.

Vários deputados levantaram a questão, lembrando a meta traçada pelas autoridades de Hong Kong, que querem proibir, em 2035, a venda de novos carros movidos a combustíveis fósseis. “Hong Kong tem metas definidas a cada ano, mas nós em Macau não temos”, admitiu o secretário.

O debate de ontem arrancou com os temas ambientais na agenda dos deputados, em particular com questões ligadas a veículos eléctricos e postos de carregamento. Raimundo do Rosário disse que existem entre 300 a 400 utilizadores de postos de carregamento de veículos eléctricos em parques de estacionamento públicos, e que até final deste ano serão acrescentados mil postos aos mil já existentes.

“Não é preocupante esta questão pois temos lugares de carregamento suficientes”, disse. No Governo há 3.200 veículos eléctricos, confirmou ainda Raimundo do Rosário, sendo que desde o ano passado existe uma directiva, assinada pelo Chefe do Executivo, para a substituição gradual dos veículos do Executivo por carros eléctricos.

Postos sem consenso

Relativamente ao aumento dos postos de carregamento em parques privados e zonas residenciais, o governante disse pouco poder fazer. “A instalação dos postos nas zonas comuns dos edifícios residenciais carece de consentimento e consenso dos condóminos. Na construção dos novos edifícios públicos e privados a instalação desses postos já está prevista. Mas quanto aos edifícios já existentes carece de consentimento e essa é uma questão de difícil resolução. Na falta desse consenso, nada se pode fazer.”

O secretário disse mesmo que a eventual alteração da lei, para flexibilizar o processo, nem pode partir da sua tutela, pois está em causa uma revisão do Código Civil. O deputado Leong Sun Iok alertou para o facto de a matéria ter gerado queixas de moradores. “Temos de incentivar os proprietários a instalar mais postos de carregamento, aprendendo com as experiências da China e de Hong Kong. Será que o Governo tem medidas pensadas, como a atribuição de subsídios?”, questionou.

Quanto ao uso de combustível à base de hidrogénio, o secretário frisou é ainda uma realidade distante do território. “Não temos esse tipo de veículos, é uma técnica inovadora.”

A questão da instalação dos painéis solares foi também abordada no debate de ontem. O deputado Wang Sai Man lembrou que o foram lançadas normas sobre essa matéria, existindo apenas sete painéis instalados até à data. “Porque há tão poucos painéis instalados? Será que podemos optimizar este regime?”, inquiriu.

A lei que regula a matéria existe desde 2014 e deverá continuar como está. “Não vamos publicar um novo regulamento sobre painéis fotovoltaicos”, disse Raimundo do Rosário.

1 Dez 2022

COP27 | Ainda há “longo caminho a percorrer”, diz China

O Governo chinês saudou ontem o acordo alcançado na conferência do clima das Nações Unidas, no Egipto, mas alertou que “há ainda um longo caminho a percorrer”, em termos de cooperação global contra as alterações climáticas. “A governação global em assuntos do clima ainda tem um longo caminho a percorrer”, disse a porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros Mao Ning, em conferência de imprensa.

A porta-voz apontou, em particular, a “ausência de um roteiro claro” na prestação de apoio financeiro aos países em desenvolvimento, pelos países desenvolvidos, como factor que “não permite o estabelecimento de confiança mútua entre os [hemisférios] Norte e Sul”. “Os países desenvolvidos ainda não estão a cumprir com o seu compromisso de fornecer 100 mil milhões de dólares anualmente em apoio financeiro aos países em desenvolvimento, para combater o aquecimento global”, disse a porta-voz.

A China atribui, no entanto, “grande importância a esta cimeira e apoia totalmente o Egipto, que cumpriu com sucesso o seu papel como país anfitrião”.

O país rejeitou nesta cimeira deixar de ser considerado uma nação em desenvolvimento, apesar de ser há vários anos a segunda maior economia mundial. Depois de negociações difíceis, que ultrapassaram o cronograma original, a COP27 terminou no domingo com um texto muito contestado sobre ajuda aos países pobres afectados pelas alterações climáticas, mas também com o fracasso em estabelecer novas ambições para a redução de emissão de gases com efeito estufa.

22 Nov 2022

COP27 | EUA e China retomam conversações sobre o clima

O diálogo construtivo, em matéria de alterações climáticas, voltou à mesa das negociações das duas maiores potências mundiais

 

Estados Unidos e China retomaram sábado as conversações na Cimeira do Clima do Egipto (COP27), num novo passo de aproximação entre os dois países depois do encontro entre Joe Biden e Xi Jinping na semana passada.

O enviado especial da China para o clima, Xie Zhenhua, confirmou no mesmo dia, numa conferência de imprensa, que a colaboração sobre o clima entre os dois países foi renovada. O descongelamento das relações entre os dois países seguiu-se a uma reunião entre o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o seu homólogo chinês, Xi Jinping, na reunião do G20 na Indonésia no início da semana.

A cooperação Estados Unidos-China sobre o clima em 2014 ofereceu uma base fundamental para o Acordo de Paris um ano mais tarde, e elementos de uma declaração conjunta emitida pelos dois países no ano passado foram adoptados no acordo de Glasgow.

Xie Zhenhua disse que os dois países concordaram em colocar na agenda formal de negociações a questão de como lidar com as perdas e danos nos países em desenvolvimento em resultado das alterações climáticas.

O mesmo responsável ressalvou que qualquer novo acordo deve ter em consideração o que ficou estabelecido no Acordo de Paris no que diz respeito às contribuições dos países desenvolvidos.

“A responsabilidade do financiamento cabe aos países desenvolvidos e é sua responsabilidade e obrigação”, disse Xie, porém “os países em desenvolvimento devem contribuir numa base voluntária. O Acordo de Paris deixou isto muito claro”, insistiu.

A questão de saber se os países com elevadas emissões, como a China, devem ou não contribuir para ajudar os países em desenvolvimento a enfrentar os danos provocados pelas alterações climáticas é um dos pontos controversos da COP27 em Sharm el-Sheikh.

Mãos abertas

A União Europeia está a pressionar no sentido da adopção de uma linguagem formal no acordo que permita a expansão da base de doadores em qualquer novo programa de compensação de perdas e danos e os Estados Unidos disseram também várias vezes que a China deveria contribuir para o financiamento de qualquer programa de compensação de perdas e danos.

O representante chinês argumentou que o seu país tem prestado apoio a outras nações em desenvolvimento sob a forma de ajuda a sistemas de alerta precoce, projectos de redução de emissões de carbono e desenvolvimento de energias renováveis.

Xie acrescentou que as discussões com o seu homólogo norte-americano, John Kerry, continuarão depois da reunião da COP27: “Acordámos que após esta COP continuaremos as nossas consultas formais”, confirmou.

21 Nov 2022