Flora Fong PerfilFrancisco Song, professor de língua portuguesa na MUST “Estar em Macau é a vida ideal para mim” [dropcap style=’circle’]M[/dropcap]acau, Pequim e Braga são as cidades mais importantes para o jovem natural da capital chinesa. Francisco Song fala fluentemente português depois de ter optado por estudar esta língua na universidade, tendo feito uma licenciatura, mestrado e doutoramento. Neste momento Francisco Song passa os seus conhecimentos na língua de Camões aos mais novos na Universidade de Ciências e Tecnologia (MUST). Em 2006 Francisco Song terminou a escola secundária em Pequim e optou desde logo para começar a sua vida universitária em Macau. “Nessa altura não tinha nenhuns conhecimentos sobre Macau ou Portugal, só sabia que tinha sido uma colónia portuguesa e que Portugal era um país que tinha começado os Descobrimentos e uma terra de futebol. Comecei a conhecer mais depois de chegar ao território. Pensava que Macau era igual a Hong Kong, mas na realidade é totalmente diferente. Aqui há muito o estilo europeu e características históricas, enquanto que na cidade vizinha só observo edifícios modernos”, contou ao HM. Francisco Song gosta do património cultural, da segunda língua oficial de Macau e nunca se arrependeu da sua decisão. “Fiz a escolha certa em vir para Macau, porque na China é impossível termos tanto contacto com a língua portuguesa. Consegui conhecer professores portugueses e brasileiros, as placas das ruas estão em português e vivem muitos portugueses e pessoas que falam a língua, o que só beneficia o estudo.” Em 2009, depois de terminada a licenciatura na Universidade de Macau (UM), Francisco Song escolheu fazer o mestrado na Universidade do Minho, em Braga, na área dos Estudos Interculturais Português-Chinês, bem como o doutoramento em Cultura do Extremo Oriente. A estadia de Francisco Song em Portugal foi longa e só acabou no passado mês de Julho, quando defendeu a sua tese de doutoramento. Apesar de ter gostado de viver no outro lado do mundo, Francisco sempre pensou que Macau é um bom sítio para se ter oportunidades e trabalhar. Ao viver aqui, realizou o seu sonho. Na MUST, o curso de português é ainda recente, tendo só começado em 2012. Francisco Song começou a trabalhar na universidade privada em 2012. “Fui recomendado por um professor da UM para dar aulas na MUST, mas na altura, como ainda não tinha concluído o meu doutoramento, só trabalhava a tempo parcial. Agora é que me dedico a tempo inteiro à carreira académica”, referiu. Apesar de estar numa universidade diferente daquela onde estudou, Francisco Song não se importa, defendendo que cada curso de português tem as suas características. “Até gosto do curso na MUST, porque não se aprendem só línguas. É obrigatório os alunos escolherem uma área no segundo ano do curso, entre Gestão de Turismo, Comércio, Média e Comunicação. O curso pretende que os alunos tenham vantagens na procura de emprego e não apenas dominarem a língua, mas também terem outras capacidades”, explicou o docente. Francisco Song tem uma boa relação com os alunos, devido à idade próxima, já que entre professor e estudantes há apenas cinco a seis anos de diferença. Como a maior parte dos alunos vem do interior da China, não há obstáculos à comunicação. O professor revela ficar contente com os progressos na aprendizagem e a participação dos alunos nas actividades, tal como o concurso de interpretação em português-chinês e o Dia da Língua Portuguesa. Fora da sala de aula o professor gosta de futebol, paixão que manteve quando esteve em Portugal, onde viu muitos jogos, incluindo os da selecção portuguesa. Viajar faz também parte das suas paixões, e quando estudava em Portugal visitou a maioria dos países europeus. Em Macau, visitou a Indonésia e Taiwan. Passeios à parte, é em Macau que Francisco Song quer continuar a fazer a sua vida. “Falando das três cidades onde já estive, penso que Pequim não é ideal para viver devido aos problemas ambientais e à questão política, já não consigo habituar-me a viver lá. Quanto a Portugal, mesmo que a qualidade do ar seja muito boa, há diferenças culturais que, a meu ver, fazem com que ache que não é adequado viver lá. Só em Macau é que existe a cultura chinesa ligada à portuguesa, e o meu pensamento aqui pode ser muito livre. Estar em Macau é o ideal para mim.” Dentro da cultura portuguesa, a gastronomia não poderia faltar no leque de preferências do professor da MUST, que não esquece a enorme variedade de restaurantes. Apesar de estar em Macau há muito tempo, o professor nunca se cansa de visitar o património. Paixões à parte, Macau tem um problema: o trânsito excessivo. “Apanhar autocarros ou táxis é mesmo chato, sobretudo um táxi. Quase que pagamos cem patacas para ir do Instituto Politécnico de Macau às Portas do Cerco.”
Leonor Sá Machado Ócios & Negócios PessoasBarbearia 2Legit | Sara K, Rocklee e Fernando Lourenço, fundadores e co-fundador Sara K, Rocklee e Fernando Lourenço decidiram aliar-se para criar um novo conceito de barbearia inspirado naquelas que ainda existem por essa Macau. A ideia voou dos EUA e estabeleceu-se perto de S. Lázaro, com ênfase na imersão comunitária [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] 2Legit nasceu há meio ano mas já está a ferver, mais que não seja pela paixão cega dos seus dois fundadores e co-fundador, Rocklee, Sara K e Fernando Lourenço. O projecto sobrevive pela paixão e talento de ajudar os outros. Rocklee, agora com 30 anos descobriu a sua vocação pelo conceito de ser barbeiro a milhares de quilómetros de distância, nos Estados Unidos. Participa, desde novo, numa série de competições e ‘battles’ de breakdance – estilo que nasceu nos EUA e foi popularizado pelos afro-americanos, com recurso ao hip-hop – pelo mundo. “Tudo começou quando fui aos EUA para uma competição, uma coisa que faço há mais de 20 anos. Punha-me a pensar nos cortes fantásticos daqueles b-boys, mas com linhas [de corte] realmente bem feitas, sem defeitos e em como eu nunca conseguia fazê-lo”, conta. As experiências iniciais, confessa, levaram a uma série de “desastres” capilares, o que o obrigou a um pente zero permanente, numa tentativa de esconder as avarias. Anos depois, foi convidado para um evento como DJ no Michigan, altura em que aproveitou para ir a Chicago. Foi numa festa nesta cidade que conheceu uma rapariga sino-americana, “das poucas que falava cantonês” por lá. A história acaba com Rocklee a conhecer o seu mentor por via da sua amiga. “Foi nesse dia que conheci o meu mentor, que me cortou o cabelo como eu sempre quis”. A paixão nasceu assim, como todas: inesperada e repentinamente. De volta a Macau, o barbeiro empenhou-se como nunca, fez várias perguntas e outras tantas experiências, até que começou a cortar cabelos “em casa, numa cadeira do Ikea”. Decidir-se por ‘2Legit’ foi, de certa forma, fácil. “Para o nome, lembrei-me dos primórdios da cultura pop e da minha infância, quando ouvia MC Hammer e ele tinha a ‘2Legit2Quit’”, conta. Entre um trabalho a tempo inteiro num grupo hoteleiro local e a vontade insaciável de criar, Rocklee foi singrando, até abrir a barbearia em Abril. Aliar a arte à vontade de contribuir Para Rocklee, o conceito é sólido e imutável: uma hora na 2Legit pode ajudar qualquer um. “É uma sessão terapêutica”, exclama, com o aval de Fernando. “Sinto que ao tornar-me barbeiro, estou a ajudar os outros”, traça Rocklee. Entre risos, explicam que se trata de um momento quase catártico. Curiosamente, os cortes não são efectuado de frente para o espelho, mas sim para dentro da loja. “Dá aso à criação de conversas entre nós e a clientela, troca de experiências, de histórias e desabafos”, revelam. Várias são as histórias que têm para contar: umas mais felizes que outras, mas todas se concentram da comunidade. “As pessoas não devem seguir o rebanho, fazer o que a sociedade lhes impõe, mas sim o que realmente querem”, frisa o proprietário. Entre palavras, confessa ter sido uma dessas crianças, até finalmente perceber que só assim seria feliz. “Há dificuldade em ver o valor além do dinheiro, mas é preciso promover isso”, disse. Além das marcações diárias, os dois barbeiros ajudam muita gente. É que a estabilidade do exterior engrandece o interior. Na calha da 2Legit estão outros projectos. Entre eles, parcerias com associações solidárias de pessoas com deficiência e ex-toxicodependentes no sentido de formar quem queira seguir a actividade. Fernando fala também na colaboração com estes grupos vulneráveis e artistas locais na criação de outros produtos. Muito mais do que um corte A Rocklee juntaram-se o seu primo Fernando Lourenço e Sara K, uma jovem residente que adquiriu os seus conhecimentos com um curso em Portugal. No entanto, a paixão de cortar cabelos não previa um molde tão “tradicional” como aquele a que um salão comum obriga. Entre aquelas quatro paredes, Sara sente-se a dar asas à sua imaginação. O aparar de pontas, permanentes e madeixas foram trocados pelo cavalheirismo capilar. Anteriormente, Sara trabalhou num salão local e depois como freelancer, a partir de casa. Fernando esforça-se todos os dias para manter a casa em ordem, mas não só. Neste momento, delineia um plano de longo prazo para a marca. “Não queremos só ter produtos à venda na loja, queremos criá-los para que sejam vendidos lá fora”, conta. Na 2Legit vai vender-se uma série de produtos, o mais original sendo uma pasta capilar orgânica semelhante à cera. Há, ainda este ano, espaço para a venda de roupa. Além de cadeiras de barbeiro, o espaço está decorado com espelhos, um balcão para tatuagens, estação de lavagem e uma cabine de música, com vinis e um amplificador à mistura. É que não só há música a tocar, como artistas em ascensão podem lá actuar para mostrar do que são feitos. A 2Legit não se encara como mais um cabeleireiro. Pode dizer-se que é o barbeiro de antigamente, mas de cara lavada. Errada é a ideia de que uma barbearia dos tempos modernos obriga à criação de looks tresloucados ou cristas pontiagudas. Ali usa-se uma espécie de cera própria, fazem-se desenhos artísticos, mas principalmente, cortes clássicos e modernos. A atirar para um homem de negócios orgulhoso do que a sua cabeça veste. A equipa vai marcar presença no Flea Market, uma feira que tem lugar este fim de semana, na Estrada Marginal da Areia Preta.
Andreia Sofia Silva Perfil PessoasYujin Katsube, jornalista: “Interessa-me o futuro desenvolvimento de Macau” [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]m 1997 ficou para a história a visita oficial da Princesa Diana a Angola, para conhecer de perto o drama das minas de guerra e as vítimas feitas ao longo destes anos. Na sua casa, em Quioto, a visita também ficaria para sempre na mente de Yujin Katsube. Este jornalista japonês, residente em Macau, já então queria escrever histórias e ajudar as pessoas, mas a visita da “Princesa do Povo” acabaria por ser determinante na sua escolha do percurso. Actualmente residente em Macau, Yujin Katsube é editor do órgão de informação “The Macau Shimbun”, virado para o público japonês que quer conhecer mais sobre Macau. Actualmnte sente-se a concretizar o sonho de uma vida, mas não esquece o momento em que, no final da década de 90, se decidiu pelo estudo da língua portuguesa. Hoje, com um sorriso tímido, lá vai dizendo algumas palavras da língua de Camões, depois de ter esquecido muitas outras. “Os japoneses sentem-se muito próximos à língua portuguesa, porque mantemos uma longa amizade desde os tempos dos Descobrimentos. Quando andava na escola secundária na minha cidade, Quioto, já sonhava em ser jornalista. Para aumentar os meus conhecimentos decidi aprender uma língua e cultura estrangeira. Quioto é a antiga capital do Japão e mantém um estilo de vida mais tradicional e conservador, então senti que seria muito difícil concretizar os sonhos lá. Decidi ir viver para Tóquio e tirar o meu curso superior”, conta ao HM. A decisão de aprender português teve muito a ver com o seu pai, professor e auto-didacta da cultura pop dos Estados Unidos. “Perguntei-lhe que línguas é que deveria aprender, e ele recomendou-me as românicas. Disse-me que o inglês era muito popular e que não era nada de especial, e eu estava muito interessado na história portuguesa, especialmente a época dos Descobrimentos e o futebol, então pensei que se aprendesse português teria mais oportunidades de me tornar jornalista.” Estudou na Universidade Sofia, fundada pelos jesuítas, onde aprendeu o idioma com professores de Portugal e do Brasil. Assim que acabou o curso começou a trabalhar na área editorial, a editar uma revista e a coordenar um conjunto de guias de viagem, que incluíam viagens a Macau e a Hong Kong. A paixão por Macau foi imediata. Visitou o território em 2006 e não mais o largou. Hoje é casado com uma residente local e tem um filho, que já domina o cantonês. “Tornei-me um grande fã de Macau e quis conhecer mais sobre a cidade. Em 2007, a empresa onde trabalhava planeou o lançamento de uma nova revista em Macau, Hong Kong e China. Procuravam alguém que coordenasse o projecto, tive muita sorte.” No “The Macau Shimbun”, Yujin Katsube garante que não escreve apenas sobre o sector do jogo, “mas também do turismo e da cultura de Macau, para que o público japonês tenha mais interesse. Através do meu trabalho penso que posso construir uma ponte entre Macau e o Japão.” “Enquanto jornalista interessa-me o futuro desenvolvimento de Macau e quero ver com os meus próprios olhos o desenvolvimento dos actuais projectos que estão a ser feitos no Cotai. Também me interessa o que a China espera de Macau enquanto plataforma entre a China e os países de língua portuguesa. É um papel único que Macau pode fazer”, conta ao HM. O filho de Yujin acabou de entrar na escola e Macau é o lugar onde se sente em casa. Os pais preferem a pequenez do território ao frenesim constante de Hong Kong, mas já tomaram a decisão de ir ficando, consoante a vontade do filho. “Espero que o meu filho possa ter amigos e oportunidades para ficar mais ligado à cultura portuguesa. Estou à procura de uma equipa de futebol onde ele possa jogar. Os jogadores portugueses sempre atraíram a atenção dos japoneses e se o meu filho jogar à bola com eles, vou ficar muito feliz”, remata.
Flora Fong Ócios & Negócios PessoasMini Wong, gerente da loja de produtos criativos P.M & Salon Numa rua estreita perto do Templo do Bazar, há um espaço de grande dimensão cheio de vidros com produtos originais. A P.M & Salon, ajuda artistas a vender os seus produtos a troco de uma comissão, mas também quer ser uma galeria de arte e um espaço de workshops [dropcap style=’circle’]“[/dropcap]P.M & Salon é um espaço onde os artistas podem vender os seus produtos, com marcas originais, sem terem grandes despesas.” Esta é a ideia por detrás da loja gerida por Mini Wong, situada na Rua das Estalagens. Lá dentro estão produtos diversos de 20 marcas originais, sendo a maioria de Macau, embora existam outras marcas de Hong Kong. Mini Wong é uma jovem com cerca de 30 anos que decidiu, em Outubro do ano passado, abrir a empresa Prism Creative e a loja, em conjunto com outro sócio. Localizada num antigo bairro, perto da Rua Cinco de Outubro, a P.M & Salon mostra, logo à entrada, uma série de acessórios, cartões postais, cadernos. Há também velas esculpidas e peças encaixadas como se fossem legos e que representam os principais monumentos de Macau, como as Ruínas de São Paulo, o Templo de A-Má ou Templo de Na Tcha. [quote_box_left]“Cooperamos com os artistas para que realizem workshops sobre como fazer pulseiras, colares ou velas esculpidas. A participação é muito positiva”[/quote_box_left] A P.M & Salon não cobra aos artistas por exporem os seus produtos, mas recebe uma comissão quando estes conseguem vendê-los. Mini Wong não tem dúvidas de que essa forma de negócio apresenta vantagens e desvantagens. “A principal vantagem é que ajudamos os artistas a mostrar as suas obras sem que tenham de pagar muito por isso, mas há uma desvantagem: sem a pressão, os artistas tendem a criar novos produtos devagar, sem que tenham motivação”, explicou ao HM. A ideia de abrir a P.M & Salon surgiu porque Mini Wong trabalhou durante dez anos na área do design gráfico, numa agência de publicidade. Até que decidiu criar a sua própria marca – a Something. “Desisti do trabalho e quis dedicar-me à área das indústrias culturais e criativas e ter mais tempo livre. O meu sócio propôs a criação de um estúdio, mas, como podíamos não ter rendimento suficiente, surgiu a ideia de juntar os produtos criativos e vendê-los no mesmo sítio.” Não basta vender, há que expor Para além dos produtos para venda, a loja acolhe neste momento uma exposição de pinturas feitas com vernizes para unhas e produtos de maquilhagem, da autoria de uma artista local. As pinturas, expostas em toda a loja, são para serem apreciadas, mas também vendidas. “Esta ideia é para nos libertarmos do conceito de que só podemos assistir a exposições nos museus ou galerias de arte. Espero que esta loja possa vir não só a expor mas a vender obras de arte, para que possamos aproximar mais os artistas aos residentes”, acrescentou Mini Wong. Para além das vendas e exposições, a loja pretende ser um espaço para a organização de workshops, sendo que cada workshop recebe um máximo de oito pessoas. “Cooperamos com os artistas para que realizem workshops sobre como fazer pulseiras, colares ou velas esculpidas. A participação é muito positiva. Muitas vezes as pessoas compram os produtos mas não conhecem o contexto criativo. Quando participam nos workshops conseguem descobrir esse lado.” Dificuldades contornadas “Temos sorte”, diz Mini Wong quando o HM a questiona sobre a renda da loja. Esta é suportável porque é dividida com outra empresa. Ainda não houve recrutamento de funcionários, então o arranque do negócio não precisou de muito investimento inicial. Enquanto Mini Wong gere a loja, o sócio é o principal investidor. O movimento da Rua das Estalagens não é grande e só é mais preenchida por turistas aos fins-de-semana, sobretudo vindos de Taiwan e Hong Kong. Nos primeiros dois meses, foi difícil ter rendimentos, mas os clientes têm vindo a crescer, apesar dos lucros ainda não serem os ideais. No futuro a loja vai sofrer mudanças e poderá transformar-se num estúdio de criações. Meses após a criação da P.M & Salon, Mini Wong adquiriu as novas experiências e conheceu mais amigos, o que não conseguiu fazer no tempo em que foi designer gráfica. Endereço: Rua das Estalagens, rés do chão do Edifício Wo Fat, número 37º
Filipa Araújo Perfil PessoasSoraia Ramos Almeida, consultora fiscal [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hama-se Soraia Ramos Almeida, tem 27 anos e é natural de Águeda, ainda que seja em Lisboa que se sente em casa. “Vivi lá nove anos, desde os meus 18. Quando penso em casa é Lisboa que surge no meu pensamento”, começa por contar ao HM. De olhos brilhantes e sorriso sempre presente, Soraia abraçou a ideia de vir para Macau fazer um estágio na área fiscal. “Tudo isto foi muito estratégico”, brinca, explicando-se: “formei-me em Direito e depois tirei o mestrado em Gestão, trabalhei durante três anos em Portugal, mas sempre quis internacionalizar a carreira. Esse era o meu objectivo e por isso sabia que no final do ano me iria despedir”. Candidatando-se para um LLM [programa de mestrado internacional na área de Direito], Soraia sabia que sem experiência no estrangeiro a selecção ficaria mais difícil. “Foi aí que pensei em candidatar-me para o programa Inov, que me permitia ganhar esta experiência internacional caso não fosse seleccionada [para o LLM]. A verdade é que consegui ser admitida para o mestrado, mas ainda assim, estava muito curiosa em saber onde é que seria o meu estágio Inov. Estava mesmo curiosa”, relembra entre sorrisos. Ser mais que estagiária Foi Macau que ouviu como destino. A surpresa, essa, não foi grande. “Na área de Direito sabemos sempre que só podemos calhar em países com o nosso Direito, portanto não há muitas opções”, remata. Depois de uma reflexão decidiu: o mestrado ficaria adiado para Setembro e iria abraçar Macau nos próximos seis meses. “Vim de cabeça aberta, numa perspectiva a curto prazo”, conta. Mas mais que isso, a profissional da área fiscal veio “disposta a dar tudo o que conseguisse pela experiência de trabalho”, retirando o máximo da experiência. “Já não há espaço no mercado para assumirmos um papel de estagiário que apenas obedece e espera por ordens. Devemos e temos de ser proactivos, querer saber e, mais que isso, fazer [mais]”, defende. Seis meses depois foi isso mesmo que aconteceu. Admitindo que não foi o “maior desafio da vida”, até pelo curto prazo de duração, Soraia deixa Macau com o sentimento de dever cumprido e com óptimas recordações. “Correu lindamente, participei em projectos muito giros”, admite. A hipótese de ficar pelo território esteve sempre em cima da mesa, até porque as ligações com os colegas são muito positivas, mas outros desafios surgiram na vida da jovem. “Recebi um convite de trabalho para o Vietname e, contrabalançando a economia em expansão que aquele país está a passar com o pouco desenvolvimento do Direito Fiscal em Macau, não poderia dizer que não”, explica. O mestrado esse, foi adiado de novo. Quem sabe no futuro. De turista a residente Foi durante uma viagem, no ano passado, de mochila às costas, que visitou Macau pela primeira vez. “São coisas completamente diferentes”, diz sem hesitar, quando questionada sobre as diferenças de olhar o território como turista e residente. “Vim aqui apenas um dia, achei tudo muito escuro, apesar de estar um dia de sol. Achei os prédios escuros, não conseguia perceber as centenas de ourivesarias que enchem a área que envolve os casinos. Não conseguia associar ao Jogo. Achei as diferenças entre Macau e o Cotai esquizofrénicas. Era para dormir cá essa noite e desisti, voltei para Hong Kong”, relembra. Meio ano depois de assumir o papel como residente e parte integrante de Macau a opinião é bem diferente. “O melhor de Macau é este espírito de bairro. Conhecemos as pessoas, conhecemos os sítios, se estivermos sozinhas sabemos onde é que os nossos amigos estão, nem precisamos de perguntar”, conta, sublinhando as festas e momentos de convívio à volta de uma mesa. Afinal de contas “somos portugueses, gostamos de comer, beber e ficar na conversa”. A melhorar ainda há muito, como em todo o lado. A começar pela necessidade de abandonar a ideia, diz Soraia, de que “em Macau não se passa nada”. “Acho que as pessoas se habituaram um bocado a esse ideia. Passa. Macau tem momentos culturais, não tanto quanto Lisboa ou Porto, ou até Hong Kong, mas tem os seus momentos, é preciso procurá-los”, defende. A própria é exemplo disso, já que em seis meses muitos convites recebeu para diversas coisas – exposições, concertos, festas – com muitas gargalhadas à mistura. Pessoas que levo comigo Quando pedimos a Soraia para nos fazer um resumo da sua passagem por Macau de imediato o olhar perde-se. Mexendo nas pulseiras que envolvem os pulsos, a emprestada alfacinha relembra, ri e solta um sincero “foi óptimo”. “Não tinha grandes amigos em Macau, mas tinha imensos amigos de amigos que me receberam muito bem. A integração é fácil, foi muito fácil. As pessoas aqui são fantásticas, abrem-nos a porta de casa”, conta, constatando divertidamente “são portugueses”. São as pessoas e os momentos com elas vividos que a aguedense leva na bagagem. “As minhas experiências são sempre à volta das pessoas que conheço. Se pensar em viagens que fiz, tenho alguma dificuldade em lembrar-me de tal monumento ou um sítio, mas se pensar nas pessoas que conheci e nos momentos que tivemos é mais fácil. Comigo levo pessoas e momentos e isso é também o que levo de Macau”, conta num misto de nostalgia e timidez. De malas feitas, Soraia Ramos Almeida deixa Macau, com a garantia de que voltará. “Estou perto, a duas horas de distância, se me apetecer venho aqui um fim-de-semana comer um prato português”, garante, com o brilho no olhar e a certeza que Macau fica na história de quem por aqui passa.
Leonor Sá Machado Ócios & Negócios Pessoas“Lemon Lemon”, restaurante | Jaime Lai, co-fundador e gerente Foi com o irmão e três amigos que Jaime Lai decidiu abrir o “Lemon Lemon”, um restaurante mesmo no centro da cidade, num canto pacato e bem arranjado. A ideia é aproximar a clientela à cultura de Londres, sem esquecer o gosto da comunidade [dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oi ali mesmo, ao virar da esquina do Cine Teatro, que Jaime Lai decidiu, juntamente com o irmão e três amigos, abrir o “Lemon Lemon”. A chegada ao local não é inteiramente fácil, uma vez que fica num beco escondido, mas os azulejos pretos e a emblemática sinalização do metro londrino que decora a entrada do restaurante aguçam o apetite e a vontade de experimentar algo diferente. O espaço está bem decorado, a branco e amarelo, e até uma imitação da conhecida Mona Lisa lá está. O menu está perfilado de comes e bebes dos mais variados que por aí há, desde pão com parmesão que se assemelha aos típicos pães de queijo brasileiros, aos nachos espanhóis, omeletes, chás com leite e batidos de frutas. À conversa com o HM, Jaime Lai explica que tudo começou devido à experiência do fundador em Londres. “Vivi em Londres durante oito anos e quando voltei, não sabia bem o que havia de fazer em Macau, até que nos lembrámos do tempo que passávamos na Regent Street, em Londres”, começou por contar. “A cultura é mais aberta e desenvolvida e sempre passei muito tempo sentado cá fora, nas ruas, com os meus amigos e a ver as pessoas passar”, continuou. O proprietário juntou-se aos amigos por sentir que era a coisa certa para fazer agora que está em Macau. “Queríamos um espaço calmo num cidade atarefada”, resumiu ao HM. E agora, o que fazer? Voltou há cerca de um ano para o território que o viu nascer, mas não tinha uma ideia sólida do que quereria fazer com o seu futuro. Até que tudo aconteceu. A ideia nasceu, assim, do objectivo de tentar criar nesta cidade um espaço onde as pessoas pudessem relaxar, com um espaço exterior em condições. Por um lado, Jaime confessa que gostaria de ter uma espécie de esplanada, mas a lei não permite e o proprietário também preferiu que assim não fosse, por duas razões: a comunidade chinesa não é fã de espaços exteriores e o local, lamenta, “não é muito bonito”. Em Londres, Jaime Lai estudou Contabilidade e Gestão, essa sendo uma ferramenta “adequada” para o funcionamento lógico que um espaço como o “Lemon Lemon” exige. O restaurante pertence a Jaime, ao irmão e outros três amigos, todos eles sendo já sócios de uma outra empresa, à excepção do recém-chegado residente. “Têm uma empresa de decoração de interiores e foram eles que decoraram o espaço”, acrescenta. Entre imagens de uma Regent Street estampada na parede e de um quadro da Mona Lisa, estão pinturas a amarelo e branco e um vidro decorado com desenhos abstractos de várias cores. O primeiro é sempre o pior O “Lemon Lemon” abriu em Outubro do ano passado e tem já uma vasta legião de fãs, ou pelo menos é isso mesmo que as fotografias da página oficial no Facebook transmitem. Questionado sobre as dificuldades que um novo negócio enfrenta em Macau, Jaime é claro e directo: “no primeiro mês e meio foi muito complicado, porque ninguém sabia onde isto ficava e estávamos sempre sem clientes, mas agora que sinalizámos melhor e temos mais visibilidade, estamos bem”, desabafou o jovem. Hoje em dia, a ideia passa por proporcionar às pessoas um bom início de todos os dias, antes do trabalho ou mesmo a meio deste. “As sandes são a nossa especialidade e assim as pessoas podem vir cá comer refeições mais leves, relaxar e depois voltar para o trabalho”, diz Jaime Lai. Para já, a ideia é manter apenas um “Lemon Lemon”, mas nada exclui a possibilidade de virem a ser mais daqui a uns tempos. Para expandir a marca, os quatros sócios decidiram fazer uma série de publicações com festas, eventos especiais e casa cheia à hora de almoço para mostrar que este é um dos restaurantes-sensação do momento. Isto, juntamente com o patrocínio que o “Lemon Lemon” dá aos concertos de uma banda de artistas locais faz com que cada vez mais pessoas se juntem ali para aproveitar o descanso que uma boa refeição deve proporcionar. O local pode ainda ser arrendado para festas privadas, mas está limitado a dez ou 15 pessoas, uma vez que o espaço não é muito grande. “Isto não se parece com Macau e é precisamente essa a imagem que queremos passar”, frisou. Actualmente, o espaço encontra-se aberto das 10h00 às 21h00, tendo o horário sido esticado recentemente, para fazer a vontade aos fãs que lá queriam ir jantar. Entre sumos frescos, café quente que aconchega a alma e muita comida das mais variadas origens, este restaurante e coffeeshop vai agradando a gregos e troianos, locais e estrangeiros. A malta que atende a clientela fala relativamente bem Inglês e por isso mesmo a barreira da língua é facilmente quebrada. A eficiência é também dado adquirido, já que se espera pouco tempo e a conta ao final da barrigada não é extensa, mas sim justa.
Filipa Araújo Perfil PessoasJoaquim Alves, engenheiro electrotécnico [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]passagem de Joaquim Alves por Macau é diferente daquela a que estamos habituados. “Comecei a vir para Macau em 2012, na altura para uma obra da CEM”, contou ao HM o engenheiro electrotécnico, natural de Santa Maria da Feira, acrescentando que a empresa onde trabalha, em Portugal, começou a ter mais clientes. É por isso que são muitas as vezes que tem que vir a este lado do mundo. “Desde 2012, sem ter um número certo, acho que já viajei para Macau umas dez vezes”, relembra. A sua estada no território quase nunca ultrapassa os quatro meses seguidos, mas não é por isso que deixa de gostar mais ou menos, de ter menos ou mais saudades de Macau. Por entre o barulho ensurdecedor de uma obra, Joaquim Alves partilha o misto de sensação e a dualidade de sentimentos que Macau lhe provoca. “A adaptação é muito fácil aqui. Acho que não está relacionado com o pouco tempo que aqui passo. Claro, é diferente de estar aqui muito tempo, mas não implica que não sinta as coisas à minha maneira. Acho Macau um território fácil para um português se adaptar. As pessoas são diferentes, a condução, mas há outras coisas… A comida, a comunidade portuguesa, os meus colegas de trabalho que já cá estão adaptados, por já estarem há mais tempo. Tudo isto fez, e faz, sempre que venho, que a adaptação seja fácil, não sinto qualquer dificuldade”, partilha. Caro mas seguro Macau é, diz o engenheiro, uma “coisa difícil de explicar”. “Macau com o passar do tempo torna-se, para mim, um bocado monótono. É um meio muito pequeno, muito limitado e quem habita aqui está um bocado restringido ao que aqui existe”, partilha. Ainda assim, mesmo com a questão de este ser um território pequeno, “há muitas atracções”, ainda que muito caras. “Qualquer coisa aqui em Macau está muito inflacionada para quem vem cá trabalhar e que pretende juntar algum dinheiro. Apesar dos ordenados serem bons em Macau, para fazer coisas diferentes ao fim-de-semana, como por exemplo ir ao cinema, ver um concerto ou um espectáculo, é caro, não o podemos negar. Ser um ponto turístico tem vantagens e desvantagens e esta é uma delas. Para se ter um fim-de-semana para descontrair da semana de trabalho tem que se gastar algum dinheiro”, argumenta. Mas na segurança ninguém bate o território. É inegável, diz o engenheiro, a segurança que se sente a viver aqui. Joaquim Alves, para além de Portugal e Macau, já trabalhou no Brasil e em Angola, países com taxas de criminalidade elevadas, e por isso, melhor que ninguém percebe a enorme vantagem que é viver em Macau, nesse aspecto. “Não há melhor. Macau é um território bastante acolhedor e sentimo-nos seguros, podemos andar à noite à vontade, não temos zonas perigosas. Isso é muito bom. Temos liberdade em ir a qualquer lado a qualquer hora, é seguro, mais do que em Portugal. E claro, quem viaja muito em trabalho este é um dos pontos mais importantes, a segurança”, remata o jovem que completa este ano 33 primaveras. Odeio-te meu amor Sejam dois ou quatro meses, as saudades de Portugal batem à porta sempre. “Mesmo quando só fico dois meses aqui, quando chego a meio, quando passou um mês, começo a ter saudades de algumas coisas”, conta, apontando as suas pessoas, famílias e amigos como a primeira coisa que lhe vem ao pensamento. As praias, que tanto falta fazem em Macau, os passeio à beira rio e as esplanadas são outras regalias que Portugal consegue oferecer e que “muita falta fazem” à sua ex-morada. Mas, curiosamente, o mesmo acontece quando volta para Portugal. “Macau é um amor-ódio, acho que esse é o melhor termo para definir esta região. Macau fica sempre a mexer-te por dentro. Há qualquer coisa que nunca passa. Quando volto para Portugal, passado duas ou três semanas começo a sentir falta de Macau, das pessoas. Começo a conversar com os colegas que aqui ficam e apetece-me estar com eles, ir aos jantares que eles estão a combinar, ir passar fins-de-semana fora. Não sei. Este é o poder de Macau”, relata o engenheiro. São esses passeios que Joaquim Alves tenta sempre fazer quando está cá. “Com visto de grupo ou individualmente facilmente conseguimos passar as fronteiras para a China e isso faz com que possamos conhecer mais coisas, que nos distraem e que faça passar o tempo sem pensarmos no que ganhamos ou perdemos estando longe”, diz. Várias cidades da China, Hong Kong e as suas praias são uma constante nos fins-de-semana entre Joaquim e os amigos.
Andreia Sofia Silva Ócios & Negócios Pessoas“Dona Gula”, negócio de take-away | Inês Madeira, gerente O projecto do “Dona Gula” começou em família e acabou espalhado a todos aqueles que gostam de comida portuguesa como se fosse feita pelas mães ou avós. Inês Madeira gere o projecto com duas familiares e fala do sucesso das suas receitas, procuradas sobretudo por mães ocupadas [dropcap style=’circle’]D[/dropcap]iz o dicionário da Língua Portuguesa que “gula” é o “excesso no gosto de comer e beber”, um dos sete pecados mortais. E foi a pensar no gosto pela comida, mas sobretudo pelos pratos feitos com cuidado e qualidade, que nasceu o “Dona Gula”. Com apenas uma página na rede social Facebook e quase 300 gostos, o projecto visa a entrega de refeições, salgados e pastelaria em casa. Inês Madeira é designer e gere o negócio, não tendo qualquer experiência com tachos e panelas. Ao seu lado tem as “donas gulas”, como a própria lhes chama, Margarida Pereira, responsável pela parte dos salgados, e Marília Coutinho, a pasteleira responsável por fazer os bolos de aniversário. “Eu sou o maestro do que se está a passar”, conta Inês Madeira ao HM. “Tento criar algum dinamismo na página do Facebook e não apenas publicar fotos de comida. Tudo isto começou porque elas são pessoas da minha família e pensámos que, se os produtos que faziam já eram bons, poderíamos mostrar ao público em geral.” O que começou por ser uma brincadeira já se transformou num negócio muito procurado, sobretudo entre a comunidade portuguesa. “A Dona Gula aconteceu de forma muito espontânea e é resultado de um trabalho que já existia. Eu já consumia os produtos e pensei: ‘porque não fazer uma divulgação?’. Isto numa conversa de mesa, numa brincadeira. Foi uma brincadeira não muito na perspectiva de negócio, mas mais na divulgação dos produtos para as pessoas experimentarem, e acabou por se transformar na Dona Gula, que neste momento tem uma grande adesão por parte do público.” Inês Madeira conta que o projecto “Dona Gula” tem servido de apoio a festas de aniversário de crianças e adolescentes, mas também serve muitas mães que nem sempre têm tempo para cozinhar. “Curiosamente achava que as pessoas iam procurar a Dona Gula mais para festas, mas tem havido muita adesão mais para os salgados para refeições. As pessoas pedem muito esses produtos ainda congelados para depois fazerem nas suas casas, como consumo diário. É uma questão de comodismo também, porque as pessoas não têm tanto tempo e disponibilidade para cozinhar, então acabam por encomendar à Dona Gula.” O lado caseiro à mesa Com uma oferta variada de salgados, tartes salgadas e bolos de aniversário, o projecto “Dona Gula” apresenta-se como sendo algo mais do que um negócio familiar de entrega de comida em casa. Cada encomenda tem a garantia de ser uma refeição caseira. “As pessoas procuram muito os produtos portugueses, de referência. As receitas dos nossos avós são uma referência para nós, não é a mesma coisa que comer um rissol caseiro ou outro. É como o pastel de nata, estes são parecidos mas não têm o mesmo sabor, porque não há essa referência cultural do que é o pastel de nata. Os chineses aceitam, mas nós sentimos falta do sabor português. E a Dona Gula tem cativado as pessoas por essa referência, por ter produtos de qualidade e comida caseira. A ideia é ter a comida portuguesa na mesa, como se fosse a mãe ou a avó a fazer, mas nós é que entregamos. A comida chega à casa das pessoas como se fossem elas a fazer”, frisa Inês Madeira. Para já a página do Facebook está apenas em Português, sendo que a gestora do projecto considera que é necessário fazer com que o “Dona Gula” chegue a cada vez mais pessoas. “Queremos também tentar chegar a outro público. O grande número de clientes é português, curiosamente as mães. Sentimos que há uma preocupação em ter as refeições prontas em casa ou uma ajuda numa festa para não terem de encomendar em vários sítios. Depois também têm a referência dos ingredientes, da comida que é nossa, são mesmo receitas que vêm dos avós e as pessoas sentem-se familiarizadas com os produtos”, remata. Os preços dos produtos são variados: um bolo de aniversário personalizado pode custar quase 400 patacas, enquanto que uma tarde salgada pode atingir as 200 patacas. Também há a possibilidade de encomendar uma boa sopa de legumes ou salgados congelados, prontos a fritar. Tudo depende da gula de cada um.
Filipa Araújo Perfil PessoasLiliana Noronha Medalha, professora de Português [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]asceu nas Caldas da Rainha mas bem cedo se mudou para a capital portuguesa, Lisboa. Licenciada em Línguas e Literaturas Clássicas e mestre em Ensino de Português como Língua Segunda e Estrangeira, Liliana Noronha Medalha decidiu arriscar e concorrer a uma vaga disponível para docente no Instituto Português do Oriente (IPOR). “Cheguei a Macau no final de Maio do ano passado”, relembra a jovem professora. Em conversa com o HM, Liliana, sempre de sorriso tímido, mostrava-se atenta ao que ao seu lado acontecia. Uma criança empoleirada na cadeira a espreitar para a professora, uma mãe concentrada no telemóvel, um empregado de mesa que pouco percebia e falava Inglês. Liliana ri-se e comenta: “o mais estranho foi isto tudo”. Assume-se como “perfeitamente adaptada”, mas consciente de que Macau não será um local onde vai ficar durante muito tempo. A sua ligação com o estilo europeu é inegável e isso nota-se a cada palavra que a professora diz. “Sim, gosto muito da Europa, apesar de Macau ser a primeira experiência fora das fronteiras portuguesas, portanto não tenho termo de comparação. Mas identifico-me muito com o estilo europeu”, partilha. Vir para “o outro lado do mundo” nunca foi ideia que passasse pelos planos da docente de Língua Portuguesa. “É engraçado não é? Nunca pensei, nunca me tinha passado pela cabeça vir para a Ásia, nunca esteve nos meus planos, mas com a situação económica de Portugal quando vi a vaga disponível quis arriscar, e aqui estou”, explica. Diferenças acentuadas As diferenças culturais são notórias, não fosse estarmos na China. “O primeiro impacto são as diferenças, em tudo. Comportamentos das pessoas, o clima e tantas outras coisas. Mas no início tudo é surpresa, tudo é novo, assumimo-nos como turistas, parece que as coisas não são reais”, partilha Liliana, depois de conseguir pedir o almoço, numa mistura de Cantonês com Português e Inglês. Canalizando o nervosismo da sua “primeira entrevista” para o garfo que tinha nas mãos, Liliana volta a olhar para a crianças e diz-nos “depois, quando assumimos que vivemos em Macau, que não somos turistas, temos de saber lidar com essas diferenças, porque elas podem ser boas ou más, dependendo da nossa capacidade de gerir [as situações]”. Amores meus Sem esconder, Liliana Noronha Medalha conta que a maior motivação para aguentar as saudades que sente de casa e da sua família são os seus “miúdos”. O amor pelo ensino sempre esteve muito presente na sua vida. “Adoro dar aulas, adoro os miúdos”, conta, acrescentando que tem turmas de várias faixas etárias, dependendo dos cursos, mas que maioritariamente são adolescentes “que em breve vão para Portugal” que ensina. “Essa troca de informações é muito simpática. Falamos muitas vezes sobre a minha experiência como portuguesa, a viver em Lisboa. Como eles vão para lá agora é giro”, explica. Mas o mais interessante é saber “que os alunos são todos iguais seja em que país for”, ainda que haja claramente “um maior respeito pela figura do professor aqui em Macau”. Os hábitos e posturas na sala de aula trouxeram a Liliana histórias para a vida. “No início, estava cá há pouco tempo, e os miúdos comiam na sala, mas não era uma espécie de snack, eram bolas de peixe, ou fast-food, comida de faca e garfo”, partilha, entre risos. “Não sabia muito bem como reagir, mas assumi que era uma coisa natural para a cultura chinesa. Foi um jogo de adaptação entre mim e eles”, acrescenta. Amizades no território Não foi difícil para a docente “conhecer pessoas” e a própria garante que, entre portugueses, é fácil conhecer muita gente. “Mas acredito que seja um bocadinho mais difícil criar relações de profunda amizade. Para aqueles que ficam aqui um período de tempo”, defende. Ainda assim, em pouco mais de um ano, Liliana já tem amigos com quem irá tentar manter relação, seja onde for. Nos seus tempos livres, aos fins-de-semana ou até ao final do dia, o que mais sente faltam são “cafés ou esplanadas” em que possa estar e descomprimir de um dia ou semana de trabalho. Ainda assim, na falta desses espaços, a jovem professora gosta de partilhar momentos com os amigos, nas suas casas ou em lugares em que todos possam estar tranquilos. “Não é importante os sítios, mas sim os momentos que partilhamos todos juntos”, remata. Apesar de Macau não fazer parte dos seus planos a longo prazo, e “embora toda a gente diga isso”, Liliana está convicta que isto será uma experiência para vida.
Andreia Sofia Silva Ócios & Negócios Pessoas“Macau Roomate”, website de quartos para arrendar | Leon de Spain, criador Radicado em Macau desde 1991, Leon de Spain seguiu uma tendência muito em voga na Europa e Estados Unidos e criou o website “Macau Roomate”, vocacionado para os anúncios de casas ou quartos disponíveis para arrendar. A utilização ainda é gratuita e o projecto ainda não é rentável, mas poderá sê-lo no futuro [dropcap style=’circle’]“[/dropcap]Preciso de um quarto: orçamento 5000 patacas. Fumador, acordado até tarde devido ao trabalho. Gosto de sair ou de estar em casa com umas cervejas, jogar jogos de computador ou ver filmes e séries. Amigável e maluco por limpeza”, pode ler-se num ‘post’ no Macau Roomate. Outro anúncio é feito por um homem de 36 anos que procura pessoas para dividir o seu apartamento de três quartos, num prédio que até tem ginásio incluído. Não tem preferência: qualquer pessoa pode morar na casa, seja rapaz ou rapariga. Estes são dois exemplos de anúncios de quartos para arrendar e que compõem o novo website “Macau Roomate”, o primeiro projecto online do género em Macau para quem tem um quarto vago em casa e quer partilhar despesas. O objectivo é encontrar o parceiro ideal para uma casa, sendo uma “prioridade providenciar uma procura escolha, segura e bem sucedida”. Até aqui, encontrar casa no território para os recém-chegados implicava lidar directamente com agentes imobiliários ou pesquisar em websites, também ligados a agências. A rede social Facebook vem, desde há algum tempo, apresentando alguns anúncios, mas segundo Leon de Spain, mentor deste novo projecto, o website vem tornar mais fácil o que sempre foi difícil. Com algumas semanas de existência, o “Macau Roomate” já tem cerca de 30 utilizadores, incluindo mais de 500 pessoas que seguem a página no Facebook. “Penso que o website é muito eficiente”, disse ao HM Leon de Spain. “As casas têm estado a ser arrendadas muito rapidamente no Facebook, mas com um website as coisas são mais acessíveis. É uma melhor forma de reter a informação para que os utilizadores tenham um acesso mais fácil”, explica. Leon de Spain tentou implementar algo que já é muito comum noutros países, mas que ainda não é conhecido no território. “Este é de facto o primeiro projecto do género em Macau e não há outro. Um dos motivos pelos quais criei o website é porque é muito difícil encontrar uma casa em Macau e as rendas são muito caras portanto pensei que muitas pessoas gostariam de reduzir as despesas partilhando a renda. E uma forma de fazer isso seria através de colegas de casa”, partilha, acrescentando que “ter colegas de casa é algo muito popular na Europa e nos Estados Unidos”, mas aqui, diz, ainda não viu muitas pessoas a fazer isso, apesar da grande procura. Apesar do pouco tempo de existência, Leon de Spain nota uma grande aceitação por parte das pessoas. “A aceitação tem sido bastante boa, só estamos a funcionar há cerca de dez dias e já temos 30 utilizadores. Alguns anunciam que estão à procura de um quarto, outros anunciam os seus quartos para arrendar. Está a crescer devagar mas só agora começou.” Leon de Spain, que trabalha na área de Multimédia, garante que, para já, não tem lucros com o projecto, mas que poderá tornar o website rentável no futuro. “Essa não é uma questão no momento uma vez que o projecto ainda agora começou. É grátis para os utilizadores e, neste momento, não existem quaisquer ganhos. Talvez mais tarde, quando o website começar a ser mais utilizado, seja possível ter alguns ganhos. Uma das formas do website se tornar rentável é através da publicidade, talvez algumas empresas queiram publicar anúncios no website. Também há a possibilidade de implementar alguns custos para os utilizadores que estejam a anunciar”, contou o mentor do “Macau Roomate”. Leon de Spain veio para Macau nos idos anos 90, mais concretamente no ano de 1991, época em que arranjar uma casa a preços baixos era bem mais fácil. Ainda assim, Leon de Spain conta que nunca teve problemas em encontrar um apartamento, por ter vários amigos que trabalham no ramo do imobiliário. O “Macau Roomate” foi feito a pensar nas necessidades dos que ainda agora chegaram. “Há muitas pessoas que estão a chegar a Macau para viver por um ou dois anos e não querem gastar muito dinheiro numa casa. É mais fácil e conveniente. E muitas vezes até é melhor partilhar casa com alguém local que leve essas pessoas a conhecer melhor Macau. É mais fácil fazer isso agora do que antes”, rematou.
Filipa Araújo Perfil PessoasJason Ferreira, engenheiro electrotécnico [dropcap style= ‘circle’]Q[/dropcap]uase a completar um ano de residência no território, Jason Ferreira mostra-se rendido a Macau. “Lembro-me de chegar a Macau no final do dia, respirava-se um ar muito denso e estive duas horas à espera que me fossem buscar”, relembra o jovem engenheiro. O mau momento foi imediatamente ultrapassado quando o recém-chegado pousou as malas naquela que seria a sua nova casa. “Era uma casa incrível. Com espaço, bonita e com uma vista para Macau de apaixonar”, descreve. O ‘clique’ pelo território tinha acontecido e o jovem engenheiro começou a achar que conseguia adaptar-se na perfeição a este lado do mundo. Um bom grupo de colegas de trabalho – que mais tarde viria a torna-se num grupo de bons amigos -, novas amizades, um trabalho desafiante e um mundo a explorar são agora os pontos que tornam a estada de Jason Ferreira muito mais interessante. “Uma das primeiras aventuras que me lembro é de adormecer logo no segundo dia de trabalho por causa do jet lag”, conta divertidamente ao HM. O engenheiro vinha de Portugal, mas no currículo já contava com experiências profissionais em vários países. Brasil, Angola, Ceuta, Tanzânia, Singapura e muitos outros foram alguns dos sítios onde trabalhou. O que tornou as coisas mais fáceis. “Estou habituado a adaptar-me a todo o tipo de cultura, isso é o mais entusiasmante das experiências fora da nossa zona de conforto”, defende, acrescentando que Macau é um “sítio especial pela história portuguesa que traz conseguido e transpira nas ruas”. Um local onde, tão longe de casa, esta parece estar perto. Jason Ferreira assume-se completamente adaptado, mas admite que não é local onde irá construir a sua vida. “Preciso de praia perto de mim e Macau tem esta lacuna gigante, a qualquer sítio que vou é um dos meus pontos obrigatórios. Até podemos ir a Hong Kong ou à Tailândia com mais tempo, mas não está aqui ao meu lado como eu quero que esteja”, defende. [quote_box_left]“Olho para o mundo do trabalho em Macau e vejo o seu crescimento contínuo. Macau cresce todos os dias. Todos os dias vemos coisas a crescer, é de facto um crescimento bastante interessante, o que é óptimo”[/quote_box_left] Saudades que falam Filho de portugueses, nascido no Canadá, Jason Ferreira cresceu bem no centro de Portugal, em Fátima. Quando lhe perguntamos o que mais sente falta, visto ser altamente adaptável a diferentes culturas, Jason, entre sorrisos, diz-nos que nada substitui as pessoas. “A minha família, os meus amigos e a minha namorada são o que mais sinto falta, seja em que país for”, admite, sublinhado a falta que o carro lhe faz. “Adoro o meu carro e conduzi-lo e aqui em Macau, apesar de conduzir, o espaço territorial é diminuto e há imenso trânsito, por isso a sensação de conduzir não é tão boa, tal como é em Portugal”. Um dos seus passatempos preferidos é a cozinha. Considerando o seu gosto pela preparação de “uns bons pitéus”, Jason Ferreira gosta de juntar os amigos à mesa e prolongar os serões dos fins-de-semana com boa conversa e bom vinho. Sendo também o próprio um apreciador de gastronomia, em Macau encontrou um ponto no mundo que une os vários tipos de culinárias existentes no meio asiático e não só. “Gosto especialmente [do facto] de aqui existir uma diversidade muito grande no que diz respeito à gastronomia. Se quisermos comer comida coreana, chinesa, macaense, portuguesa, tailandesa ou até italiana encontramos aqui. Em qualquer lado ou esquina existem várias opções. Difícil é escolher”, relata. No entanto há uma falha tremenda para lamento do engenheiro. “O café só em casa”, ri-se. A bica tão portuguesa ainda não chegou a Macau e, ao final de um ano, Jason ainda sente falta dessa forma de terminar uma refeição. Futuro à vista Sem grandes respostas, Jason Ferreira não sabe o que o futuro lhe reserva, até porque a sua vida tem sido sempre uma surpresa no que diz respeito ao local de trabalho. “Olho para o mundo do trabalho em Macau e vejo o seu crescimento contínuo. Macau cresce todos os dias. Todos os dias vemos coisas a crescer, é de facto um crescimento bastante interessante, o que é óptimo”. Mas, pessoalmente, diz, tudo é uma incerteza. A única certeza que traz consigo é que o seu contrato de trabalho termina já no final do ano. Depois… “Depois disso, logo se vê, não se podem fazer planos a longo prazo”, remata, mostrando-se pronto para abraçar qualquer desafio, seja em que país for. Ainda assim “andar sempre com a mala atrás começa a ser desgastante” e, por isso, um dia, o engenheiro quer voltar a Portugal para aproveitar o que de lhe melhor o seu país tem.
Flora Fong Ócios & Negócios Pessoas“Lei.s”, sapataria | Sandy Lei, fundadora Tornando realidade o sonho do pai, Sandy Lei fundou a sapataria “Lei.s”, onde o objectivo é dar conforto aos pés dos clientes, sem ligar a modas [dropcap style=’circle’]“[/dropcap]Life needs to be simple” é o slogan criado por Sandy Lei para a sua nova marca de sapatos, fundada este mês. O negócio é novo para a jovem, mas a verdade é que a família de Sandy trabalha na produção de sapatos há mais de 20 anos. “Lei.s é o apelido da nossa família, pelo que este pode ser considerado um negócio familiar”, começa Sandy por explica ao HM. “O meu pai começou a trabalhar na produção de sapatos em 1985, depois criou uma fábrica na cidade de Zongshan em 1992, que tem até agora. A fábrica tem recebido encomendas de grandes marcas da China e do estrangeiro para fazer sapatos.” Agora, com o passar do tempo, a família Lei – que não tinha a sua própria marca de sapatos – passou a ter. A “Sapataria Lei.s” é o sonho realizado do pai de Sandy, que queria que a profissão fosse passada para as novas gerações, o que acabou por acontecer. Para Sandy é importante não só a aparência dos produtos, mas também as suas características. Por isso mesmo, a jovem assegura que o “conforto é a prioridade” para a marca. “Uma vez o meu pai encontrou um comerciante que inventou uns sapatos que tinham na sola uma função semelhante à das almofadas de Memory Foam e conseguimos trazer esta tecnologia exclusiva para vender em Macau”, conta Sandy. Assim, explica, as palmilhas dos sapatos da “Lei.s” são feitas com este sistema, que “memoriza a forma dos pés de quem calçar os sapatos, além de serem feitos por pele genuína e não rasgarem os pés, fazendo com que os pés fiquem mais confortáveis”, diz Sandy ao HM. “Os nossos produtos visam as mulheres que precisem de trabalhar de pé durante um longo período de tempo, tais como professoras, funcionárias bancárias e de Jogo.” A sapataria localiza-se no 3º andar do Centro Comercial Hoi Tou, na Avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida. Abriu há um mês à experiência, sendo que vai ser oficialmente aberta no início de Agosto. Melhores dias virão O centro onde fica a loja acabou de ser renovado, pelo que muitos espaços continuam vazios ou em obras. Sandy admite que, devido a isto, o movimento ainda não é muito bom para o negócio. A pagar uma renda que não ultrapassa as dez mil patacas, depois de ter gasto também com obras de decoração, Sandy admite que a renda é mais barata pelo facto da sua loja não ser no rés-do-chão. No entanto, além da loja ser pequena, ainda há a questão da clientela. “Até ao momento, o movimento de clientes é mau, poucas pessoas fazem compras no centro ou vêm para passear pouco tempo porque há poucas lojas abertas. Mas como em breve vai ser criado um café aqui ao lado, acredito que vai melhorar.” A fundadora da “Lei.s” explicou ainda que a maioria dos clientes veio depois de consultar a página do Facebook. Portanto, Sandy criou uma promoção de 22% de desconto para os clientes que gostarem da página, além de um sorteio. Os preços dos sapatos rondam as 300 patacas e as 700 patacas, mas as encomendas especiais podem chegar às mil patacas. “O material dos nossos sapatos é do mesmo material e produzido na mesma fábrica do das marcas, mas esses são vendidos a mais de mil patacas, pelo que os nossos produtos são mais vantajosos ao nível dos preços”, assegura a jovem. A gestão da loja é feita por Sandy e e pela irmã mais nova que ajuda só aos fins-de-semana. “Faço a gestão da sapataria de segunda a sexta-feira. Ao fim-de-semana preciso de contactar com a fábrica sobre as encomendas, os novos produtos ou os novos design.” Sandy orgulha-se de apresentar os seus serviços ao público mais pela qualidade do que pela marca. “Os nossos produtos não são para acompanhar o que está na moda, mas para que as pessoas tenham sapatos confortáveis. Não temos produtos de todas as cores, mas podem ser feitas encomendas à escolha. O design dos sapatos muda de acordo com as estações do ano. Mas uma coisa é certa: não somos uma loja de moda mas sim uma profissional e fazemos sapatos para pessoas que trabalham.” Sandy explica ainda que os clientes podem mostrar o seu design favorito à “Lei.s” para que sejam feitas encomendas. “Isso sobretudo para as mulheres que tenham pés demasiados pequenos ou grandes”, disse, acrescentando que está ainda a rectificar a tabela de preços, ainda que garanta que as encomendas de sapatos não ultrapassam as mil patacas.
Filipa Araújo Perfil PessoasFilipa Bento, professora de música [dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oi no envolvente Largo do Lilau que Filipa Bento agendou connosco a sua entrevista. “Este é um dos meus sítios favoritos em Macau”, partilhou, sem esconder que a lista é grande. A paixão pelo território é impossível esconder e a professora de música, mais precisamente de violino, faz questão de gritar aos sete ventos que adora “viver aqui”. A ideia de abraçar uma aventura no estrangeiro há muito que residia no coração de Filipa. “Durante muito tempo falei com o Luís (marido) para emigrarmos, não sei explicar bem porquê. As coisas estavam a piorar em Portugal – apesar de estar numa situação muito confortável – e tinha algumas dúvidas para o futuro”, partilha. Filipa Bento era professora no Conservatório de Sintra, escola e equipa que mais saudades lhe traz depois de dois anos em Macau. “Vou esta semana a Portugal ao final de dois anos e de facto tenho muitas saudades daquela equipa espectacular que tinha de colegas, chefes e directores. Éramos uma espécie de família, ainda hoje digo a ‘minha directora’ ou os ‘meus colegas’. Sei que vou entrar lá e estarei em casa, passe o tempo que passar”, frisa. O marido da professora, também ele do mundo da música já que é baterista, sempre se mostrou um pouco mais reticente perante a ideia de sair do seu país natal. “Ele sempre me disse que emigraria se eu conseguisse arranjar um sítio qualquer, um país, um lugar qualquer onde se falasse Português e [para o qual] toda a sua banda pudesse também emigrar. O desafio era enorme, mas nunca desisti de convencer a banda e ao final de pouco tempo já todos queriam emigrar. Perceberam que em Portugal iria ser difícil”, relembra. Bilhete de ida Um dia, habituando-se à ideia que emigrar não estaria nos próximos planos do casal, é o marido de Filipa que vê um anúncio que pedia uma banda portuguesa para o território. “O Luís chegou a casa e perguntou-me: queres ir para Macau? A minha reacção foi pensar ‘caramba tinha mesmo que ser a China?’”, conta. Em poucos meses, marido e banda voavam para este lado do mundo, mas Filipa ficou em Portugal com a única filha do casal. “Quisemos perceber as condições que existiam aqui, se havia possibilidade para mim a nível profissional e também condições para a nossa filha. Estivemos três meses separados e foi o momento mais difícil”, conta a violinista, frisando que Macau já estava a marcar a sua vida sem que ela sequer conhecesse o território. O clima, a comida, os hábitos e costumes da sociedade fizeram com que Filipa se apaixonasse desde o momento em que chegou. “Adoro este clima”, diz ao HM, entre palavras soltas. Ao olhar em redor, Filipa Bento observa uma mesa composta por residentes a conversar e, atrás de si, uma outra pessoa, sentada num banco confortavelmente. Ao fundo, duas adolescentes passeavam os cães de estimação. “Isto tudo”, apontou, “eu gosto disto tudo, dos residentes, do tipo de vida, desta humidade, gosto de não ter que me preocupar em usar casaco, gosto de estar na rua à noite, gosto de conseguir passear com a minha filha”. Um amor para sempre Mas nem tudo foi fácil. “A fase mais difícil foi toda a parte burocrática. Vim para cá, porque como casal achámos que a distância iria trazer marcas irremediáveis, e quisemos estar juntos. Portanto vim para cá sem trabalho, fiz vida de ‘dondoca’, ia para o café o dia todo para não ficar trancada em casa – que era outro problema”, lembra. Filipa e Luís deixaram uma casa de “várias assoalhadas, espaçosa e com muita luz exterior” na zona de Oeiras e vieram para uma casa “muito local”, apenas com duas janelas. Depois de algum tempo neste sistema que “mexeu muito com os sentimentos” da professora de música, Filipa Bento começou a ter propostas de trabalho para dar aulas privadas de violino. “Não o podia fazer porque ainda estava à espera dos papéis para os documentos de residente e isso irritava-me profundamente, sentia-me sempre pressionada. Tinha vindo de uma vida totalmente independente, em que andava sempre a mil à hora, e de um dia para o outro estava sem ter um rendimento mensal e sem actividade”, aponta. Ao final de um ano, os documentos saíram e Filipa conseguiu abraçar os projectos para os quais tinha sido convidada, que por sua vez começaram a crescer cada vez mais. No dia em que conversou com o HM, a professora vinha do seu último dia de trabalho antes da férias. Este ano fez parte de vários projectos de diferentes escolas de Macau, dando aulas a alunos de todas as nacionalidades. “Foi um desafio, por muito que me esforce em aprender a falar Chinês há muitas coisas que não consigo, então tenho que criar meios de comunicação”, acrescenta. Vídeo, imagens, gestos e som são uma constante nas suas aulas. Depois de muitas aventuras – e de muitas provas de amizade entre Macau e Portugal – Filipa Bento está rendida ao território. “Desde a directora do Conservatório me colocar no quadro da escola e aceitar uma licença sem vencimento durante dois anos, para que eu pudesse ter certeza que é em Macau que quero estar, até ao mínimo pormenor, tudo aconteceu. E tenho certeza que é aqui que vou ficar. Já não me imagino a viver em Portugal”, termina de sorriso rasgado.
Andreia Sofia Silva Ócios & Negócios Pessoas“Mariazinha”, restaurante português | Nélson Rocha, proprietário Abriu há cerca de um mês e já é um sucesso pela qualidade que traz a cada prato. O restaurante “Mariazinha” está localizado perto das Ruínas de São Paulo e pretende mostrar os sabores do norte de Portugal, pouco explorados em Macau. A francesinha tem sido o maior sucesso [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]o “Mariazinha” a comida é fresca, tipicamente portuguesa e começa a ser preparada logo de manhã cedo, à medida que os clientes começam a chegar para degustar o menu de almoço. Os ingredientes parece que vieram directamente das nossas casas. É assim o novo restaurante português que abriu recentemente em Macau, junto à zona das Ruínas de São Paulo. Os donos do novo espaço não trazem apenas os típicos pratos e sobremesas portuguesas, mas querem mostrar também o que de melhor se cozinha no norte do país. Ao HM, Nélson Rocha, um dos proprietários, conta como veio para Macau com a esposa, Filipa, para cumprir um sonho de longa data. “Sempre foi uma ambição minha abrir um restaurante fora de Portugal, porque toda a vida trabalhei lá na área da restauração, desde miúdo. Macau surgiu numa das visitas que fizemos, gostei muito de Macau e achei que aqui, mais do que qualquer outro sítio, fazia sentido [abrir] um restaurante português. Depois tínhamos a oportunidade de vir para cá, porque a minha esposa cresceu aqui e já tinha muitos contactos. Acabou por se juntar o útil ao agradável”, apontou. A principal atracção no menu tem sido a francesinha, prato típico da cidade do Porto que ainda está ausente de muitas mesas dos restaurantes portugueses locais. “Queremos começar mais pela cozinha do norte, porque acho que muitos restaurantes portugueses em Macau têm uma culinária mais típica de Lisboa. Nós queremos ter mais a comida do Norte, com o prato bem servido e a comida de qualidade. Esse foi, aliás, um dos motivos pelos quais decidimos vir para Macau, porque verificámos que, apesar de haver muitos restaurantes portugueses, ainda há muito a fazer”, frisou Nélson Rocha. O “Mariazinha” tem sido tão bem-sucedido que muitos clientes fazem questão de regressar. As horas de almoço conseguem preencher todas as mesas. “A adesão tem sido muito positiva e está a ser uma alegria para nós. As pessoas gostam sempre de visitar as novidades, mas connosco têm vindo cá quatro, cinco, seis vezes. Temos clientes que em duas semanas de abertura já vieram cá seis vezes. Isso é bom porque significa que as pessoas gostam.” Para Nélson Rocha, a qualidade da comida é o que faz os clientes regressarem. “Muita gente vem ao almoço, por causa do nosso set menu, que está muito bom e completo, e acabam por constatar que a comida é boa e têm regressado. À noite vêm para provar a Francesinha e para provar também os pratos da carta, mas temos tido muita procura pela Francesinha. Temos a Posta à Mirandesa, Lombo de Vitela com molho de cogumelos… depois regressam para provar essas coisas também.” Com o “Mariazinha”, Nélson Rocha acredita estar a fazer a diferença em relação à oferta já existente, mas também promete que o que as pessoa vêem agora é aquilo a que vão ter direito. “Estamos a apostar num serviço de qualidade e é para manter. Temos a vantagem de ter um contrato de renda um bocadinho mais alargado em relação ao que acontece em Macau, por isso estamos para ficar. Vim para cá com a minha filhota e a ideia era ela crescer aqui. As coisas estão a correr bem e penso que as pessoas vão reconhecer a qualidade.” Apesar do sucesso, Nélson Rocha pretende fazer mudanças no menu nos próximos tempos. “No futuro queremos fazer alguma rotação dos pratos, com algum cuidado porque há pessoas que procuram sempre por determinados pratos. Mas queremos mudar aqueles que não têm tanta procura. A Francesinha não podemos mudar porque tem sido, de facto, bastante procurada. Podemos aumentar o nosso menu. Temos planeado para o Inverno fazer as receitas mais pesadas, como Tripas à Moda do Porto, um prato que as pessoas têm perguntado se vamos ter, só vamos ter no Inverno. Mas as pessoas já começam a dizer que têm saudades.” O “Mariazinha” oferece menus diários por 130 patacas e está aberto todos os dias, excepto aos domingos.
Flora Fong Perfil PessoasAntonius Leong, funcionário público [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]ão é um fotógrafo profissional, mas adora tirar fotografias. Todos os dias, Antonius Leong se dedica a essa mesma paixão, pondo na sua página do Facebook (Antonius Photoscript) uma imagem da sua autoria. O interesse surgiu há três anos e Antonius, natural de Macau, fala-nos sobre esta história. Tem menos 40 anos e um trabalho fixo na Função Pública, algo que, confessa, não está relacionado com o seu sonho de carreira. Como se pode imaginar, grande parte do seu tempo livre serve para tirar fotos. Tempos esses que incluem não só os fins-de-semana, mas também as horas de almoço e depois da saída do trabalho. “Passeio todos os dias para tirar fotografias depois de almoçar ou sair do trabalho. Trago comigo a minha máquina e assim posso tirar a qualquer coisa sempre que tenho inspiração, seja onde for, esteja onde estiver”, conta-nos. A forma como realiza o seu passatempo consegue fazer com que Antonius lide diariamente com a sua profissão e a sua paixão de forma equilibrada. Até porque, antes de adorar tirar fotografas, o nosso entrevistado gostava mesmo era de comprar e coleccionar máquinas fotográficas. “Antes só pensava em comprar máquinas caras que podiam tirar boas fotos. Só depois comecei a frequentar cursos básicos e, depois, o que era preciso era praticar mais.” Antonius recorda que o interesse surgiu em 2011, um ano depois de ter criado a página do Facebook. Página que cada vez começou a receber mais ‘likes’ e que fez Antonius criar uma página de internet, onde apresenta o seu portefólio. Macau, Macau Macau é, quase há 40 anos, a terra de Antonius. E é em Macau que as suas imagens são capturadas. “Gosto de ir a cafés, de andar na mota e de passear ao longo dos becos e ruas, capturando imagens de tudo o que me fascina, tanto o património, como os bairros menos conhecidos onde as pessoas vivem e brincam com os gatos atrás de becos”, descreve no seu site. Perdemo-nos na sua página, onde podemos ver que, na maioria das fotos de Antonius, o contexto é Macau. Desde as esquinas dos templos, às casas e lojas antigas… desde as pessoas a trabalhar como vendedores nas ruas, até à paisagem que nos traz as Ruínas de São Paulo, os Lagos Nam Van ou os empreendimentos luxuosos dos casinos. Mas, para o fotógrafo amador, os sítios preferidos são o Jardim Lou Lim Iok e o Largo do Lilau, porque são especialmente “bonitos e clássicos”. Questionado se pensa em ser fotógrafo profissional para amigos ou até para clientes, Antonius conta-nos que já ajudou um grande amigo a trabalhar numa série de fotografias de casamento, mas como tem o seu trabalho fixo, não vai se dedicar a esta actividade. “Isto fica só como o meu interesse pessoal”, diz-nos. Em algumas descrições das fotografias na página do Facebook, Antonius agradece à sua esposa pela compreensão. Perguntamos-lhe o porquê e, ao HM, explica que “tirar fotografias é uma actividade que demora sempre muito tempo”, pelo que é preciso a compreensão da parceira e da família. “Várias vezes aconteceu que saí do café para tirar fotos enquanto a minha esposa esperava por mim sozinha, mas felizmente ela não se importa e nunca se queixou”, diz orgulhoso. Antonius não tem uma preferência de temas específicos quando tira fotos. Aprecia, isso sim, a beleza das coisas. Uma espécie de registo, ou diário do seu quotidiano. “Depende da minha disposição diária. Quando estou contente, tiro a coisas mais felizes; quando estou em baixo ou aborrecido pelo trabalho, procuro coisas mais pesadas. Isso já é um hábito.” Mas as obras especiais do fotógrafo não acabam aí. Antonius utiliza Legos na sua actividade e explica-nos de onde surgiu a ideia. “Uma vez a Direcção de Serviços para Turismo (DSE) fez uma exposição em Hong Kong que recriava em Legos um modelo do Leal Senado. Participei e conheci um membro de uma associação de Legos em Hong Kong e assim surgiu a ideia de tirar fotos em Macau com elementos de Legos. Ele ofereceu-me ou emprestou-me bonecos e eu comecei a fazê-lo. Antonius vê as oportunidades de expandir a sua paixão de forma optimista, ainda que admita que Macau é pequeno e só se conseguem tirar fotos aos mesmos sítios. “Muitos outros especialistas mais experientes tiram fotografias melhor do que eu, então procurei ideias novas para haver uma mudança e fazer com que as minhas imagens não sejam aborrecidas.” Outra obra especial que Antonius levou a cabo foi uma combinação de dois sítios semelhantes, sendo um em Macau e outro na Coreia de Sul. A fotografia mostra que parece o mesmo lugar. Apesar de aprender várias técnicas nos cursos, Antonius tem a sua própria maneira de tirar fotos, a qual não chega para ser um fotógrafo reconhecido. “Já participei em concursos de fotografias realizados por Hong Kong Macau e Cantão e ganhei dois prémios. Mas raramente participo mais porque os meus temas de fotos nunca correspondem aos dos concursos e os concursos limitam a maneira de tirar fotografias, não gosto tanto, porque eu tiro à vontade.”
Filipa Araújo Ócios & Negócios Pessoas“SomBento”, organização de eventos | Luís Bento, proprietário A empresa SomBento não tem mãos a medir. Num território que reúne as condições perfeitas para a organização de eventos, Luís Bento disponibiliza material musical e electrónico, entre outros. A meta é uma: proporcionar um excelente espectáculo [dropcap style=’circle’]“[/dropcap]Foi o acaso que fez nascer esta empresa, foi quase por acidente ou necessidade, não era algo pensado, com um plano de negócios.” Assim começa por explicar ao HM Luís Bento, proprietário da empresa SomBento dedicada à organização de eventos. Antes de ser empresário, Luís Bento sempre se dedicou à música. Aqui em Macau faz parte de vários projectos músicas, sendo um deles bem conhecido na comunidade portuguesa – a banda ‘80&Tal’. Em Portugal, Luís Bento, em 2003, começou a comprar algum equipamento musical que o faz ter neste momento uma diversidade invejável. “Comecei a comprar vários instrumentos musicais e outro tipo de equipamento para dar resposta aos eventos a que ia. Fossem eles aniversários, casamentos, conferências, ou outro tipo de eventos. Aos poucos fui comprando material e quando dei por mim tinha um armazém cheio de equipamento”, relembra. A oportunidade para vir para Macau surgiu em 2013 e foi nesse mesmo ano que Luís Bento registou a sua empresa, por sentir que o mesmo acontecia no território. “Durante dez anos em Portugal trabalhei no sistema de recibos verdes com a SomBento, era uma simples prestação de serviços ou aluguer de material. Em Macau, percebi que este sistema tem pernas para andar e o território precisa disto, portanto foi quando cheguei que registei a empresa”, explica o empresário. Um bocadinho de tudo Com um crescimento notável, Luís Bento começou aos poucos e poucos. No início os eventos eram dirigidos a 200 ou 300 pessoas e agora têm capacidade para mil, duas mil “ou muito mais”. Algum do material o empresário trouxe de Portugal e precisamente este mês chegará um novo contentor com mais equipamento. “A SomBento tem um bocadinho de tudo. Fazemos casamentos, baptizados, jantares, apresentações, lançamento de produtos, tudo o que esteja relacionado com som e a parte audiovisual”, enumera. Na bagagem a empresa tem “todo o tipo de aluguer”, seja para bandas de jazz, rock ou música clássica. “Quando é pedido algum tipo de equipamento que não faz parte das opções disponíveis, é fornecido de igual forma ao cliente recorrendo a outras colaborações”, adiciona o empresário. A agenda está mensalmente ocupada e apesar da empresa só ter um colaborador, o próprio proprietário, é através da contratação pontual que tudo acontece. “A empresa recorre sempre a mão-de-obra local conforme cada evento, porque há vários tipos de eventos e nalguns são precisas mais pessoas”, explica. Um submundo deslumbrante “Quando cheguei a Macau deparei-me com um submundo que não está à vista das maioria das pessoas. São as salas de eventos dos casinos. Erradamente pensamos que os casinos se resumem apenas a Jogo, bares e a estada no hotel. Não, é errado. Nos primeiros eventos que fiz fiquei super surpreendido com o facto de entrar numa sala e estar a acontecer um evento para 200 pessoas e ao lado, com mais quatro ou cinco salas, decorrerem eventos com cem ou mil pessoas”, aponta o músico. Dentro dos meandros da organização e dos próprios eventos, Luís Bento afirma que “Macau reúne as condições todas para suportar e organizar eventos não só locais mas internacionais”. Eventos organizados por países como a Índia, Brasil, China, Itália, América foram apenas alguns que a SomBento já acolheu. Apesar disso, são as conferências e encontros profissionais para a zona da Ásia o tipo de eventos que mais estão sob a alçada da empresa de Luís Bento. Há no entanto um problema no mercado. “O equipamento no território, ou a gestão desse mesmo equipamento não é bem feita. Um exemplo simples, um concerto de uma banda de jazz para a inauguração de uma galeria não necessita do mesmo número de equipamento para um concerto para duas mil pessoas”, clarifica. Situação, aponta que acontece no território. “Uma das coisas que a SomBento faz é dimensionar cada equipa e cada set de equipamento ao evento, sem ter que estar a sobredimensionar”, aponta. Este mês, dia de 14 de Julho, as luzes e música da SomBento vão estar atrás da organização de um evento na piscina do Hotel Sheraton. Apesar das horas de trabalho serem muitas e a pressão também, o objectivo é sempre cumprido: proporcionar um evento de qualidade, em que as pessoas se possam divertir.
Leonor Sá Machado Perfil PessoasCristiana Su, Relações Públicas no Instituto Cultural [dropcap]C[/dropcap]ristiana Su é, tal como tantos outros jovens que por cá andam, natural de Macau. No entanto, o seu nome engana quem possa julgar que viveu em Portugal. Na verdade, a história desta jovem é particular, no sentido em que não segue o destino habitual. Ao invés de ter ido estudar para Portugal, Inglaterra ou EUA como tantos outros, o rumo de Cristiana foi diferente: aos oito anos de idade mudou-se com a família para a região vizinha de Zhuhai, onde cresceu e cumpriu o ensino educativo até atingir a maioridade. Aos 18, retorna ao berço que a viu nascer, com um objectivo claro: licenciar-se. Foi assim que a sua história no território (re)começou. “Mudei-me para cá e fiz a licenciatura em Estudos Portugueses na Universidade de Macau”, começou a jovem por explicar ao HM. Viver em Zhuhai, diz, foi bom enquanto durou, mas parece-se mais com “um local de relaxamento e descanso, para onde as pessoas vão quando se reformam”. Macau tornou-se assim num local onde Cristiana se imaginou a evoluir profissionalmente. Fruto de heranças distintas, tem dupla nacionalidade e nasceu em Macau: duas mais-valias que fazem do mundo a cidade de Cristiana. Entre estudos e novos conhecimentos, acabou por cumprir um estágio de seis meses na Universidade de Coimbra. Actualmente, trabalha como Relações Públicas e Organizadora de Eventos Culturais no Instituto Cultural, onde se diz “muito feliz”. Isto não só porque gosta de viver em Macau e naquilo em que a cidade se está, aos poucos, a transformar, mas porque muito se interessa por actividades culturais, como são a realização de exposições, peças de teatro, concertos, entre outras. “Estou no IC desde Agosto [do ano passado] e a adorar o que faço, especialmente porque posso fazer parte da transformação de Macau na área cultural”, diz ao HM. Uma das curiosidades acerca desta jovem é o facto de falar, fluentemente, três línguas. “Falo Inglês porque é a língua com que comunicamos em casa e Mandarim e Português porque aprendi mais tarde”, esclarece. Entre ajudar a organizar eventos culturais e comunicá-los aos meios de comunicação, faz algumas traduções e participa activamente em algumas dessas actividades. Questionada sobre o actual panorama cultural na região, Cristiana diz considerar que o Governo “está a fazer um grande esforço” nesse sentido. À parte do trabalho no IC, a jovem sente-se privilegiada por viver em Hac-Sá e poder usufruir daquele zonas, dos seus trilhos de caminhada e da praia e de pequenos cafés que vão surgindo por toda a cidade, o desenvolvimento daquilo a que chama de “crescente cultura de fazer e beber café”. Ocidentais no Oriente Não é, no entanto, comum ouvir-se uma jovem notoriamente loira, de traços ocidentais, a falar Mandarim como se de uma nativa quase se tratasse. Natural é, por tudo isso, que a comunidade chinesa se surpreenda ao ouvir Cristiana a comunicar fluente e comodamente na língua da Mãe-Pátria. “É muito engraçado quando, em trabalho, se combina alguma coisa com alguém por telefone, em Chinês, e depois se chega ao sítio e a pessoa não nos reconhece porque não parecemos a pessoa que atendeu a chamada”, conta Cristiana, entre risos. A experiência de trabalhar num departamento que faz da cultura personagem principal é, para a jovem, bastante boa, uma vez que não é só possível perceber as mudanças progressivas da cidade, mas também do contexto de mentalidade local. “Acho que nunca vi tantas notícias sobre novas exposições e eventos culturais nos jornais como hoje em dia e isso é um dos sinais de que Macau e a comunidade estão cada vez mais preocupados com a difusão da cultura”, explica. Pelos olhos de uma criança dos anos 90, esta era uma cidade segura, mais calma e que Cristiana associa à presença lusa. “Antes, relacionava muito Macau à herança cultural portuguesa e a Portugal, porque a diferença entre Macau e Zhuhai, mesmo sendo as duas zonas chinesas, é muito diferente. Mas hoje em dia, associo Macau a toda a indústria do Turismo, aos grandiosos hotéis e casinos”, distingue a jovem, licenciada em Estudos Portugueses. “Vejo Macau como uma cidade internacionalizada”, frisa. Cristiana justifica esta internacionalização com o facto de haver sempre coisas a acontecer, lojas e restaurantes a abrir numa cidade que actualmente pouco pára. De Zhuhai para o mundo “A vida é mais fácil. Atravessa-se a fronteira e há mais coisas, mais parques, mais natureza, mais desporto e eu gostei dos anos que lá vivi e acho que Macau hoje é um pouco confuso, com muita gente e trânsito”, confessa ao HM. Ainda assim, embora descreva Macau como um “pouco insuportável para se viver”, gosta de cá estar e não pretende deixar já o território. Hoje em dia prefere Macau a Zhuhai. “Para pessoas que procuram um emprego e uma vida mais atarefada, este é um sítio melhor”, justifica. A vida de Cristiana começou em Macau, para passar quase dez anos por Zhuhai e simplesmente regressar à região que a viu nascer. No entanto, não se trata de um caminho sem fim e Macau pode não ser a última casa do jogo. “Gosto muito desta cidade para viver e trabalhar, mas não me imagino a criar família e ter filhos aqui, por isso projecto uma próxima etapa da minha vida noutro sítio e os EUA ou Portugal são duas das possibilidades”. O que importa, diz, “é tentar”, já que a vida são dois dias e um deles está já a passar. Neste momento, Cristiana parece querer aproveitar aquilo que a cidade e a vida lhe dá, nunca descartando o facto do mundo ser agora global e capaz de acolher quem o quiser abraçar.
Leonor Sá Machado Ócios & Negócios Pessoas“7 Burguer”, restaurante e espaço de festas | Roy Ho, co-proprietário O restaurante “7 Burguer” abriu há precisamente um ano e oferece à clientela uma vasta variedade de comidas. O menu é extenso, mas o que importa mesmo são os hambúrgueres do novo espaço de dois pisos, que dá mesmo para as Ruínas de S. Paulo. Ali quer-se um espaço confortavelmente internacionalizado [dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oi Roy Ho que, de boné em riste e calças descontraídas, aceitou estar à conversa sobre a criação do “7 Burguer”, uma das poucas hamburguerias de Macau situada na zona mais turística e movimentada da cidade: na rua que desemboca nas Ruínas de S. Paulo. O espaço é grande, ocupando dois pisos inteiros de um prédio restaurado, mesmo à direita do conhecido monumento. O objectivo, começou Ho por explicar ao HM, é atrair gentes de todo o mundo que por cá passem, não apenas pessoas de Macau. “A ideia é internacionalizar o espaço e o tipo de clientes que temos, não apenas locais e é isso que sentimos que faltava em Macau: um restaurante que apelasse à fome de estrangeiros”, justifica o co-proprietário. De entre as nacionalidades frequentes estão pessoas de Hong Kong, da Coreia, de Taiwan e até alguns ocidentais. Entre pequenos autocarros ao estilo londrino, ursos de peluche de diferentes tamanhos, cartazes promocionais, rede de internet gratuita e lustrosas escadas convidativas, o “7 Burguer” vai de vento em popa, como nos diz Ho, que acredita estar não só a desenvolver, como a oferecer a quem lá entra, uma experiência como poucas em Macau. A localização atira qualquer um para preços de renda exorbitantes, mas a verdade é que “isso não é um problema”, uma vez que a quantia mais avultada está a ser paga pelos proprietários de uma nova loja que nasceu no rés-do-chão. Roy detém o restaurante com mais uma pessoa e juntos foram introduzindo algumas alterações ao espaço. A decoração foi pensada para fazer com que os clientes queiram por lá ficar na conversa ou até mesmo a entreterem-se com jogos de tabuleiro e outros, que estão organizados numa estante ao lado da janela. “Optámos por decorar o espaço com motivos mais ocidentais porque servimos comida europeia e mesmo os hambúrgueres são estilo inglês, não americano”, disse o jovem. Ar fresco, música ambiente e muita luz é aquilo que se pode encontrar no “7 Burguer”, que foi baptizado com este nome em jeito de trocadilho em mandarim. É que a fonética que corresponde ao número “sete” também vai ao encontro daquela que forma uma das sílabas da palavra “hambúrguer”. Um espaço além-fome No entanto, o “7 Burguer” não serve apenas como restaurante, mas também como espaço de aluguer de festas. Os preços parecem acessíveis, se se pensar na escassez de locais do género. “O aluguer do espaço para 30 a 40 pessoas, com comida de buffet incluída, ronda as 200 patacas por pessoa”, explica Roy Ho. Em jeito de brincadeira, diz mesmo que pode ser feito um desconto se o grupo pedir bebidas extra. A conversa decorreu numa das várias mesas espalhadas pelo sítio e a vontade de trincar uma das delícias do menu aumentou à medida que os pedidos da clientela foram chegando. A página de Facebook do restaurante está perfilado de fotografias de festas e encontros, a mais visível sendo a de Natal, que teve lugar durante esta época festiva, no ano passado. O espaço encheu-se de pessoas e o ambiente foi “festivo”, a vermelho e verde. À parte dos hambúrgueres, há ainda quem prefira as sopas, as sobremesas ou simplesmente um copo de vinho, algo fácil de encontrar por ali, já que várias estantes mostram aquilo que de melhor a casa tem para oferecer. Muito mais virá Tal como nos animais e nos seres humanos, também nos locais e nos negócios a evolução desempenha um papel crucial. Neste caso, o que mais pode ser feito dentro de um espaço que serve comida e oferece conforto? “Começámos a ter música acústica ao vivo e embora neste momento tenhamos apenas um cantor filipino, qualquer pessoa que saiba cantar, pode vir falar connosco e talvez até ficar para tocar”, diz Ho. Os sets de música ao vivo acontecem todas as sextas-feiras e sábados, geralmente desde a hora de jantar até à hora de fecho, às 22h00. No entanto, até isso os proprietários querem alterar. “Estamos a pensar acrescentar algo mais ao conceito que já temos e queríamos alargar o horário para abrir às 11h00 e fechar perto das 2h00 da manhã”, continuou o dono por dizer.
Andreia Sofia Silva Perfil PessoasAntonieta Sam, tradutora-intérprete na Função Pública [dropacp style=’circle’]T[/dropcap]odos os dias a cabeça de Antonieta Sam trabalha com dois mundos completamente diferentes numa área que, para muitos, é por si só uma dor de cabeça. No meio dos juízes e cabeçalhos de Direito, Antonieta traduz e interpreta do Chinês para o Português os crimes e as sentenças que calham a culpados e inocentes. O rodopio das leis em duas línguas não a faz desistir. Bem pelo contrário: sempre quis ser tradutora e pretende continuar a sê-lo. Numa altura em que o Português está na moda e a tradução e interpretação é um curso muito procurado, mais por uma questão prática do que pelo que dita o coração, Antonieta Sam prefere ter esta profissão porque gosta. Nunca o fez pela segurança de um emprego bem pago no Governo, até porque quando optou por frequentar o terceiro programa de formação de tradução e interpretação das Línguas Chinesa e Portuguesa, organizado pelos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP) em colaboração com a direcção-geral da interpretação da União Europeia (UE), já trabalhava na Função Pública, como oficial de justiça. Há 15 anos que trabalha para o Governo e há apenas dois que é intérprete-tradutora nos tribunais da RAEM. “É um grande desafio para mim, sobretudo na tradução simultânea. Gosto, é algo muito interessante, mas ainda estou a aprender. Ainda tenho muita margem de sucesso para o meu trabalho. Quando comecei a fazer interpretação simultânea achei muito difícil, mas tive de ultrapassar isso porque gosto muito do meu trabalho”, contou ao HM. O curso dos SAFP terminou-o em 2004 e a experiência que passou, ao estar umas temporadas em Pequim, Bruxelas e Portugal, só a enriqueceu ainda mais. “Aquele curso foi de um ano e durante cinco meses estudei interpretação e depois tradução. Tive dois meses e tal em Bruxelas e um tempo em Portugal e isso foi uma boa experiência para mim. Como passei por isso, depois de voltar a Macau, pensei mudar de área, já que antes trabalhava mais com a tradução e depois passei mais para a interpretação”, recorda. Ao contrário de muitos jovens, que só têm contacto com o idioma de Camões quando entram no ensino secundário ou na universidade, Antonieta Sam começou a aprendê-lo desde criança, quando Macau ainda tinha o seu liceu. “Não achei difícil [fazer o curso de tradução e interpretação], porque comecei a estudar Português desde muito cedo, logo no jardim infantil, e na primária. Estudei sempre em Português e sempre falei em Português e Chinês. A minha família não me aconselhou muito sobre isto, porque quando comecei a estudar para ser tradutora já estava a trabalhar. Então eles não me disseram nada, se era algo bom ou mau.” Antonieta, ou Eta, como é tratada pelos amigos, recorda com saudade os tempos de um ensino que não era tão exigente como agora. “O ensino não era assim muito puxado. Tinha o meu tempo de estudo mas tinha muito tempo para me divertir e não tinha muita pressão. Vejo os alunos hoje em dia e acho que têm muita pressão, porque ainda têm de estudar quando chegam a casa. Gostava da minha vida escolar.” Macau mudou Hoje em dia não só o sistema de ensino está diferente, como a própria Macau que Antonieta sempre conheceu mudou muito. A intérprete-tradutora conta que passa os fins-de-semana e tempos livres nas zonas da Taipa e Coloane, como forma a fugir ao caos do dia-a-dia na península. “Penso que Macau está pior em termos de qualidade de vida, mas a vida económica está melhor (risos). Temos falta de espaço para diversões no fim-de-semana, não temos muitos sítios para ir. Só temos os hotéis e casinos como opção. Na Almeida Ribeiro há imensos turistas e quase não podemos caminhar lá e nos fins-de-semana costumo ficar na Taipa e em Coloane”, diz. “Prefiro, porque em Macau não dá para andar de carro, não dá para nada.” Apesar dos anos de Administração que tem, Antonieta Sam quer continuar a aprender numa área onde passa muitas vezes despercebida, mas onde o seu trabalho é essencial para manter o segundo sistema de Macau. “Antes o nosso trabalho era muito monótono, mas agora é mais diversificado. Tenho de procurar conhecer mais, ter mais bagagem para enfrentar os desafios no trabalho”, conclui.
Leonor Sá Machado Ócios & Negócios PessoasIao Hin, Galeria de Arte | Simon Lam, curador: “O mais difícil é incutir à comunidade local o gosto pela arte” Uma antiga cadeira de dentista, um espaço livre para exposições e workshops, um corredor cheio de motas antigas e vários projectos futuros. É assim que as galerias de arte Iao Hin se desenvolvem, com o novo espaço aberto há seis meses [dropcap style =’circle’]O[/dropcap] mais recente espaço da galeria Iao Hin encontra-se em frente ao Mercado Vermelho, num daqueles edifícios à beira-rio, quase em ruína, não fosse o investimento de alguns patrões do ramo imobiliário. É o caso deste lugar, localizado num dos andares mais altos do prédio em questão. A entrada, essa, denota um sentido de gosto e conhecimento cultural de quem não se presta a faltas de talento. Simon Lam é o curador dos dois espaços, ambos em funcionamento desde 2012. No entanto, aquele mais perto do mercado tem uma particularidade: foi inteiramente remodelado para abrir ao público há cerca de seis meses, com um conceito e aspecto completamente novos. Em conversa com o HM, Simon Lam confessa que o principal motivo para o estabelecimento das galerias foi o facto deste ser “um nicho de mercado”, já que mais ninguém detinha um espaço do género naquela altura. “Não havia qualquer galeria de arte em Macau. Havia museus, concertos e eventos de arte, mas não havia um único espaço dedicado à arte, como em Hong Kong”, frisou Lam. “Começou com o conceito dos artistas virem cá para fazer workshops, conferências e reuniões e foi aí que começámos a expor os trabalhos de artistas locais”, começa Simon por explicar. “Nesta altura, alguns artistas estrangeiros contactaram-nos para expor os seus trabalhos na galeria, pelo que tiveram início as exposições de maior envergadura”, acrescenta. No entanto, tal diz respeito à galeria existente na Rua de Tercena, travessa bem tradicional da região. O local junto ao mercado servia anteriormente como armazém para mobílias antigas encontradas e estúdio para trabalhos de design. “Eu estava a fazer trabalho de design e, passado um ano, começámos a ter um volume estável de negócio, pelo que acrescentámos a organização de aulas e workshops sobre esta indústria”, disse. “Em 2011, o mercado de arte estava a explodir em Hong Kong e lembrámo-nos de criar aqui um conceito que na altura era inexistente”, confessou. O início, admite, foi complicado, uma vez que a adesão foi fraca, tendo começado com “20 ou 30 pessoas” nas suas primeiras exposições. Hoje em dia este número cresceu e Simon calcula que mais de cem pessoas aparecerem para ver as mostras em exibição, de entre as quais estão especialistas de arte, como curadores e críticos. “De tempos a tempos temos exposições de artistas locais para ir avaliando as vontades da população e saber quais os seus gostos e sinto que o mercado está cada vez mais receptivo, embora a maioria dos visitantes continue a ser estrangeira”, acrescentou ao HM. Assim, ambas as galerias têm conceitos distintos. Aquela localizada na baixa da cidade é mais selectiva e acolhe exposições de artistas de renome. A do Mercado Vermelho foca-se mais na proliferação de talentos locais menos conhecidos, onde todos são bem-vindos, após aval do curador. O preencher de uma lacuna O curador gere a marca e os espaços com a sua esposa Florence, a directora. O casal viveu no estrangeiro e foi no Reino Unido que mais tempo esteve, cerca de dez anos. Daí mudaram-se para outros países europeus, até que em 2011 decidiram criar raízes em Macau, onde viram uma grande falha. A Iao Hin junto ao rio está decorada com uma série de artigos antigos, nomeadamente mobília descoberta no lixo e nos grandes contentores, como são uma antiga cadeira de dentista – actualmente considerada vintage –, várias cadeiras e mesas, um hall com algumas motas locais de diferentes décadas, entre outros itens. Existe ainda uma espécie de quarto munido de um pequeno espaço de trabalho que serve para vários fins, nomeadamente projectos artísticos. A necessidade de cultivar O maior obstáculo, neste caso, parece ser o aparente desinteresse da comunidade local chinesa na arte contemporânea. As rendas aqui não desempenham um papel determinante, já que os espaços não estão a ser alugados. “O mais difícil é incutir à comunidade local o gosto pela arte”, lamenta Simon, que refere ser complicado explicar às pessoas que a arte é um valor acrescentado. Uma das vantagens, diz, é o facto das obras ali expostas poderem “vir a ser uma excelente fonte de investimento”, seja agora ou futuramente. O curador ilustra com uma situação em particular: “vamos agora ter uma mostra do French May com esculturas feitas a partir de raízes de árvores, mas a comunidade chinesa não dá valor e acha-a desinteressante porque diz serem coisas feitas pela natureza”. Actualmente, o casal trabalha com um estagiário e um outro funcionário. Questionado sobre uma nova onda de expansão da Iao Hin, Simon Lam comenta que para já os planos não vão nesse sentido. Não só porque “as rendas estão muito caras”, mas também devido ao facto de não sentirem necessidade de expandir. Para além de uma galeria, o espaço é também uma loja e um local com potencial para talentos desconhecidos. Para já, o futuro da empresa passa pela organização de workshops, aulas temáticas e leilões de pequena envergadura, que contam com a total participação dos residentes. “As pessoas vão poder trazer itens que já não queiram ou não lhes façam falta para vender na galeria, depois do seu valor ser mensurado por especialistas convidados”, diz entusiasmado.
Filipa Araújo Perfil PessoasRicardo Alves, Chef de cozinha: “Sinto-me bem aqui” [dropcap type=”circle”]S[/dropcap]e lhe falarmos sobre os bifes tão famosos da cervejaria mais conhecida de Macau, a Portugália saberá identificar qual é a cara por trás do sabor? O HM esclarece. Chama-se Ricardo Alves e é o chef que guarda o segredo do molho que conquista apreciadores gastronómicos há 85 anos. Engane-se quem acredita que para a cozinha só é bom quem nasceu com o gosto. Ricardo Alves é exemplo disso. Formado em Engenharia Mecânica, o engenheiro trocou os fios por panelas, abandonou a produção de máquina para se dedicar por inteiro à produção gastronómica. “Cheguei a um ponto enquanto estava a tirar o curso de Engenharia que me sentia completamente desiludido com a área, percebi que não era de todo aquilo que queria fazer”, começa por contar Ricardo Alves. A cozinha não era uma paixão “mas tornou-se depois”. O que aconteceu é que o jovem chef abraçou uma “oportunidade que surgiu” na área da cozinha e, como é curioso, foi experimentando. “Gostei muito e já lá vão 15 anos de cozinha”, relembra. Já fez um ano que o chef chegou ao território e não se arrepende nada do ‘sim’ que disse quando recebeu o convite para embarcar nesta aventura. Antes de chegar a Macau, Ricardo Alves já fazia parte da equipa da cervejaria há mais de cinco anos. “Trabalhava na Portugália no departamento de inovação e desenvolvimento, como cozinheiro criativo. Depois disso passei para a chefia da cervejaria da Almirante Reis [Lisboa] e foi aí que me foi apresentado o convite da empresa para vir para [Macau]”, conta o chef ao HM. Degrau a degrau Separar a figura de Ricardo Alves à cervejaria não faria sentido. Envoltos sobre o azulejo português que serviu como mote de decoração para o restaurante, acolhido numa das ruas mais típicas da Taipa, Ricardo Alves explica ao HM as dificuldades que sentiu com o projecto. “O primeiro impacto foi o estranhar tudo, adaptar-me a um cenário completamente diferente, tanto profissional como pessoalmente. Foi preciso conhecer o mercado, que é muito diferente”, relembra Ricardo Alves. Quando chegou, o chef pensou que seria mais fácil e rápido abrir a cervejaria. “Houve todo o tipo de imprevistos que podiam existir, desde burocráticos a técnicos de obra, tudo o que tinha que correr mal, correu”, recorda, sorrindo agora, enquanto relembra o verdadeiro desafio que foi. Por todos esses obstáculos no caminho, a inauguração do espaço sofreu um atraso de seis meses, mas o dia e a casa cheia compensaram tudo. “O momento mais glorioso que tive desde que aqui estou, foi, obviamente, a abertura da Portugália”, conta com o sentimento de dever cumprido. Mercado de duas faces Completamente absorvido pelo trabalho, Ricardo Alves, aproveita o muito escasso tempo livre que tem para se passear por Macau. Não há um sítio preferido, até porque tudo se torna bom quando o tempo para aproveitar é pouco. Mesmo com pequenas arestas a limar no que diz respeito às questões logísticas que um restaurante implica, Ricardo Alves não esconde a excelente oportunidade que Macau proporciona principalmente nesta área”, em que a oferta é tão vasta. “A grande diferença aqui, neste lado do mundo, é como as coisas funcionam. A interligação com o fornecedor, os clientes… Mas o trabalho de chef é exactamente o mesmo”, explica Ricardo, destacando o contacto com os clientes que tem sido muito gratificante. Aqui estamos bem Deste chef, que se mostra adepto de qualquer gastronomia, pode esperar-se muito, principalmente criatividade. De espírito curioso, Ricardo Alves não esconde as surpresas que gosta de implementar nos seus menus e isso mesmo vai acontecer no restaurante onde trabalha. “Apesar de estar preso a um conceito neste momento, gosto muito de experimentar coisas novas. Especialmente no início da carreira tentei experimentar gastronomia diferente, desde coreana, vietnamita, francesa, italiana… tentei beber de todas as fontes. Experimentar, conhecer outros trabalhos e tentar adaptar tudo”, enumera, admitindo que não há um tipo de prato que prefira fazer, mas a cozinha tradicional portuguesa é uma das suas escolhas. “O que eu gosto é de mostrar os vários pratos, das várias gastronomias”, brinca. Por norma, Ricardo Alves é o tipo de pessoa que deixa a vida acontecer, sem excessivas preocupações, ciente que tudo pode mudar. Por isso, à pergunta sobre o futuro, o chef sorri e diz: neste momento é estabilizar este restaurante e depois logo se vê. “Não sou pessoa de fazer planos a longo prazo e de ter uma meta traçada, estou tranquilo aqui”, afirma, rematando a conversa com um “estou bem neste lado do mundo. Sinto-me bem aqui”.
Andreia Sofia Silva Ócios & Negócios Pessoas“My Art: Sweets”, loja de doces | Carina Ribeiro, criadora O percurso de Carina Ribeiro pelo mundo da culinária e doçaria começou nos idos anos 2000. Primeiro em Macau, depois em Portugal, Carina foi chef de cozinha. Até que regressou ao território e decidiu começar a vender bolos de aniversário e sobremesas para fora. A “My Art: Sweets” começou no Facebook, mas agora já tem um espaço físico na zona do Dom Bosco [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s bolos de Carina Ribeiro têm a fama de serem deliciosos, de várias cores, tamanhos e feitios. Tudo depende do gosto do cliente e da pessoa a que se destinam. Há quatro anos que Carina começou a fazer bolos por encomenda via Facebook, através da sua página “My Art: Sweets”, mas o que era um projecto pessoal que funcionava através do ‘passa a palavra’, depressa se transformou num negócio com pernas para andar. A loja propriamente dita abriu esta semana junto ao Colégio Dom Bosco e disponibiliza bolos e sobremesas já feitos, prontos a comprar, café, chás, crepes e panquecas. Carina Ribeiro planeia um dia ter refeições, mas, para já, os mais gulosos podem também desfrutar de crepes e panquecas na “happy hour”, que dura entre as 16h00 e as 17h00. Chegar a um público mais vasto foi o objectivo desta chef de cozinha, mãe de três filhos. “Quis abranger um maior mercado, porque através do Facebook, apesar das pessoas irem passando a palavra, acabamos por ficar nos clientes regulares. Não há tanta gente, as pessoas deixam de visitar a página. Então comecei a ver que já tinha a minha cadeia de clientes e decidi deixar a minha página no Facebook, que apesar de tudo continua a funcionar e a aceitar pedidos. Quero chegar a uma maior clientela e poder dar a conhecer o meu produto a mais pessoas”, contou ao HM. Carina Ribeiro garante que não quer ficar por aqui, pretendendo continuar a dar cartas como empresária no mundo da cozinha. “Depois do Facebook, o próximo passo seria abrir a minha loja de bolos, mais tarde o meu café, mais tarde um restaurante (risos). É esse o meu objectivo.” Com poucos dias de funcionamento, a loja é um sucesso, apesar de muitos ainda não ousarem passar para o lado de lá da porta e provar as sobremesas. “O público ainda tem um bocado de receio, porque vêem que não sou chinesa, ficam mais cépticos para entrar. A pessoa tem de sorrir um bocadinho, convidar a entrar. Se falarem inglês, entram. Vou tentar mudar isso aprendendo um bocadinho mais de chinês, porque o meu chinês ainda não é perfeito”, referiu. A mentora da “My Art: Sweets” conta que há quatro anos, quando começou, havia pouca oferta no mercado ao nível dos bolos e sobremesas personalizados. Mas agora começam a surgir as lojas de bolos e Carina Ribeiro não quis ficar para trás. “De há dois anos para cá já se vêem várias lojas em Macau como a minha e essa foi uma das razões que me fez sair do online. Pensei que, se não começasse agora, depois iria ser apenas mais uma loja. Já houve um pequeno ‘boom’. Mas esta é das poucas lojas onde as pessoas podem comer na hora, beber um café ou um chá, onde todas as coisas são caseiras”, aponta. No início eram as marmitas Carina Ribeiro chegou a Macau pela primeira vez em 1994 e começou a trabalhar nesta área porque, um dia, experimentou uma refeição num restaurante perto do Centro Cultural de Macau (CCM) e não gostou do que provou. Mas antes disso já Carina Ribeiro fazia refeições para fora, a partir de casa. “Tive de criticar, porque o bacalhau com natas tinha açúcar. Mas a pessoa que estava no restaurante perguntou-me se não gostaria de trabalhar com eles. Fui, fiz uma entrevista, gostaram muito e passei a trabalhar lá e foi assim que virei chef de cozinha. Durante algum tempo trabalhei lá, depois mudei e trabalhei em vários restaurantes. Mas aí não fazia doces, era só comida tradicional portuguesa. Depois abri o meu café em Portugal e foi aí que comecei a fazer bolos e a apostar na doçaria, para não pedir bolos de outros lados. Foi aí que comecei a ganhar paixão por fazer bolos.” Carina Ribeiro deixou Macau em 2004 para voltar em 2011. Ainda passou pelo Westin Resort, até que decidiu ser mãe a tempo inteiro. Nascia então a “My Art: Sweets”. “Organizei uma festa de aniversário e achei os bolos caríssimos, então pensei que não valia a pena pagar aquele preço, porque eu sabia fazer melhor. Decidi abrir a minha página no Facebook.” O gosto pelos bolos de chocolate de Carina fez-se logo notar: “comecei logo com muitas pessoas”.
Filipa Araújo PerfilEddie Murphy, mestre de capoeira: “Macau foi amor à primeira vista” [dropcap class=”type1″]S[/dropcap]e lhe falarmos de Edilson Almeida consegue reconhecer? É difícil, até porque até ele tem algumas dificuldades em se reconhecer pelo nome próprio. Pois bem, Edilson Almeida é, nada mais nada menos, do que o Mestre Eddie Murphy, cara muito conhecida de toda a comunidade de Macau. “É um orgulho, uma alegria quando passo na rua e as pessoas levantam a mão, dizem ‘olá mestre Eddie’, é muito bom”, começa por nos contar o único mestre de capoeira de Macau, Hong Kong e China. Mesmo lesionado não negou, como estávamos à espera, dar uma entrevista ao HM. De sorriso rasgado, conta-nos um pouco do que é. “Sou um optimista, adoro o que faço, amo minha família, adoro Macau.” Foi há sete anos que chegou ao território, não à China. Isto, porque vivia em Shenzen há cinco anos. “Acredita que nunca tinha vindo a Macau? Não acredito nisto, mas é verdade, em cinco anos aqui ao lado nunca vim a Macau. Estava cego”, relembra. A convite para colaborar com uma academia que na altura existia em Macau, o mestre Eddie abraçou o desafio e mal colocou os pés neste território não teve dúvidas: “foi amor à primeira vista”. “Mal cheguei fiquei apaixonado. Só o facto de ver coisas em Português, os nomes das ruas, os autocarros… não queria acreditar, senti-me em casa”, conta. A verdade é que num abrir e fechar de olhos, o mestre e a sua família criaram raízes neste lado do mundo. Primeiro passos [quote_box_right]Foi há sete anos que chegou ao território, não à China. Isto, porque vivia em Shenzen há cinco anos. “Acredita que nunca tinha vindo a Macau? Não acredito nisto, mas é verdade, em cinco anos aqui ao lado nunca vim a Macau. Estava cego”, relembra.[/quote_box_right] Pouco tempo depois de residir em Macau, a academia em que Eddie trabalhava fechou e o mestre de capoeira temeu o pior. “Tinha um mês para sair de Macau porque tinha ficado sem trabalho, pensei no que iria fazer para arranjar uma solução”, relembra, frisando que foi a ajuda das pessoas que fez com que, sete anos depois, Eddie Murphy seja responsável por uma academia de capoeira, uma empresa de entretenimento, uma escola de dança e de grande parte dos eventos de carnaval e latinos que acontecem no território. “Também é da nossa responsabilidade a organização do carnaval em Hong Kong”, acrescenta. Na altura, relembra, muita pessoas foram ao encontro do mestre de capoeira e apresentaram sugestões e “muita ajuda” para que o Eddie conseguisse avançar com a sua vida aqui. Por Macau ser um espaço pequeno, com traços de pequena vila, tem este lado positivo. “Em Macau é possível conhecer toda a gente. Todos sabem quem é quem e se é bom ou mau”, explica, sublinhando que cada um “escolhe com quem quer andar”. “À minha volta gosto de ter pessoas boas, pessoas que gostam de fazer o bem, pessoas positivas e que se esforçam por estar de sorriso mesmo nos dias maus. Tu tens duas formas de viver a vida, ou de sorriso ou de cara fechada, tu é que escolhes o que queres ser”, partilha. União é a máxima Não associar o mestre ao seu trabalho na capoeira é quase impossível. Foi Eddie Murphy que trouxe para China esta espécie de dança que culturas mas, principalmente, que “faz bem à alma”. Das suas aulas fazem parte alunos de todas as nacionalidades e giro é ver as diferenças de comportamentos, reflexos dos diferentes lugares de onde chegam. “Os chineses são mais tímidos, porque são assim por natureza, o português é mais aberto. Com as crianças chinesas é preciso ir mais devagar, mas depois de se sentirem à vontade funcionam como família”, conta. E é esta união a base da capoeira e de todos os ensinamentos que o mestre pretende passar a todos aqueles que passam pela sua vida. “Muitas vezes acontece que quem começa a frequentar as aulas tem problemas, tem uma fase menos boa na vida, muitas vezes ligadas com a família. Os meus alunos chineses têm muitas vezes esse problema, uma educação mais rígida, com mais respeito porque é um respeito imposto e não pode ser assim. É importante – e esta é uma das linhas da capoeira – que se perceba que o respeito é merecido e não imposto”, partilha. Eddie Murphy acredita que Macau está melhor do que há sete anos e é a Taipa a zona que mais lhe enche o coração. “Sou muito ligado aos valores familiares, à minha família de sangue ou à da capoeira, porque é isso que somos, uma família, e a Taipa permite no tempo livre ires passear com a tua família, ir a um parque com as crianças, dar um passeio. Adoro a Taipa”. É a indústria do Jogo que mais preocupa Eddie Murphy. “É preciso ter algum controlo nos casinos e na construção dos casinos, é preciso dar atenção aos que cá moram e não querem saber dos casinos, olhar para os filhos dos trabalhadores [desses espaços] que muitas vezes estão sem os pais durante a noite”, argumenta. Um amor para sempre Não há hesitação nenhuma quando perguntamos ao mestre o que pretende fazer no futuro. “Quero ficar em Macau, já não saio daqui”, diz-nos de sorriso rasgado. “Tenho recebido muito amor aqui, dos meus alunos, dos pais dos meus alunos, de todos aqueles que até não se identificam com o movimento da capoeira mas vão aos encontros e estão connosco”, conta. Planos para o futuro não faltam. Eddie Murphy, marcado pelo seu espírito de trabalho, levanta um pouco o véu e conta-nos que talvez para o próximo ano Macau receba, pela primeira vez, o Campeonato Mundial de Capoeira, que poderá receber pelo menos cem países.