Andreia Sofia Silva Breves PerfilJoana Ieong, professora do ensino secundário [dropcap=’circle’]A[/dropcap] pouca experiência que ainda tem na área do ensino já lhe mostrou que ensinar os mais novos não é pêra doce. Por entre a papelada burocrática das aulas, dos testes e exames, há que ensinar letras e números a crianças que nem sempre querem estar sentadas a aprender. Professora na secção inglesa do ensino secundário do Colégio do Sagrado Coração de Jesus, das Irmãs Canossianas da Caridade, Joana Ieong, de 24 anos, reconhece as dificuldades. Mas, para já, estar numa sala de aula é mesmo aquilo que a jovem de Macau quer fazer. O percurso académico foi feito na Universidade de Macau, com uma licenciatura em Educação, com especialização no Chinês. “Pensei que poderia ser professora, então escolhi estudar Chinês, mas também domino o Inglês e tenho conhecimentos de Matemática. Fiquei em Macau por causa da minha família, porque não tinha condições financeiras para ir estudar para fora. E também queria estudar Chinês, então pensei que estudar em Macau fosse a melhor opção. Na escola também dou aulas de Cantonês, então acho que o ter estudado em Macau foi a melhor opção”, contou ao HM. Joana Ieong considera que não é fácil dar aulas e muito menos a alunos locais, que nem sempre querem trabalhar. “Os estudantes de Macau são um pouco preguiçosos, porque penso que tudo começa nos pais, que trabalham fora de casa e não têm tempo para cuidar dos filhos. Então as crianças gostam de brincar e têm muitas actividades depois das aulas e ficam com menos tempo para os estudos. Preferem brincar em vez de estudar.” Casas e velhice Ao olhar para a terra que a viu nascer, Joana Ieong encontra as dificuldades normais de uma economia que sofreu o ‘boom’ que ninguém esperava. Ainda vive com os pais, mas o facto de ter de entrar no mercado imobiliário deixa-a com vários receios. “Em relação aos problemas existentes, só aponto a questão da habitação e da economia, porque as coisas em Macau estão muito caras. O meu salário, comparando com outros, é mais baixo e também é impossível comprar uma casa. Talvez até à minha velhice tenha de pagar uma renda de casa e esse é o problema mais grave. Tenho 24 anos, mas daqui a uns anos quero casar, mas talvez eu e o meu namorado não possamos pagar uma habitação. Preocupo-me bastante em relação a esse ponto”, disse. Quando não dá aulas, Joana Ieong opta por ficar em casa aos fins-de-semana, uma vez que, fora de portas, encontra apenas uma cidade em constante rebuliço. “Macau é uma cidade muito pequena e há casinos por toda a parte, então não há muitos lugares de entretenimento em que possamos relaxar. Há demasiados turistas e, nos fins-de-semana em que passeio por Macau, só encontro pessoas, então normalmente prefiro ficar em casa.” Apesar de ter estudado Chinês, Joana Ieong ficou com a curiosidade desperta em relação ao Português, até porque o namorado aprendeu a língua de Camões na universidade. “Gostaria de sair daqui e ir a Portugal. Tenho muitos amigos que foram estudar para Portugal e disseram-me que é um bom sítio para ir e onde as coisas são mais baratas”, assume. Joana Ieong não acha mal algum que o território ainda possua uma comunidade portuguesa com alguma expressão. “É muito importante termos uma comunidade portuguesa aqui, porque o Português também é uma língua de Macau. Mas não há muitas pessoas que falem o Português hoje em dia. Eu gostava de aprender Português também, mas trabalho aqui e tenho muitas coisas para fazer, por isso ainda não encontrei tempo para estudar. Talvez deixe de ser professora para estudar”, admite ao HM. Olhando para o sistema de ensino, a professora do ensino secundário considera que o Executivo deveria investir ainda mais no ensino das línguas e não apenas da segunda língua oficial. “As crianças deveriam aprender mais línguas e não apenas o Inglês. Hoje em dia a maioria das pessoas diz que o Inglês é importante, mas penso que deviam aprender mais línguas estrangeiras, a língua materna, o Inglês e outra”, conclui.
Flora Fong Ócios & Negócios Pessoas“The Royal”, restaurante de take-away | Tong Wu, sócio Para quem trabalha a horas tardias ou tem apenas um ‘ratinho’ no estômago a altas horas da noite é possível, agora, encontrar refeições e sobremesas a preços razoáveis. É que os Nam San, na Taipa, contam com mais um restaurante “The Royal”, especializado precisamente nisso [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hama-se “The Royal” e é bem fácil de encontrar no meio dos Nam San, com as suas cores de madeira clara e um balcão com jovens sorridentes a atender. Este não é o primeiro restaurante “The Royal”, mas é o mais recente e tem um elemento especial: a falta de espaço para cadeiras e mesas faz com que os clientes tenham de saborear em casa as sobremesas e pratos principais. E começámos pelas sobremesas porque é, aparentemente, o que agrada aos clientes do espaço. São Parfaits, Waffles, Crepes, Pastéis Mil Folhas, Panna Cotta e gelados do que mais gostam os clientes deste restaurante. Apesar do novo espaço – que abriu há menos de um mês –, o “The Royal” é, na verdade, uma cadeia de restaurantes que não tem apenas negócios em Macau, mas também em Hong Kong e no interior da China. “O primeiro restaurante já foi criado em Hong Kong há vários anos, mas percebemos que o mercado de sobremesas já estava saturado, então o nosso director-geral tentou investigar em Macau e descobriu que aqui há mais espaço de desenvolvimento. O primeiro restaurante foi aberto, então, nos Três Candeeiros”, conta ao HM Tong Wu. Em dois anos, a empresa conseguiu abrir o segundo restaurante, no Fai Chi Kei, e os seguintes na Taipa e em Cantão. Agora, o “The Royal” chega aos edifícios Nam San, em frente ao Jockey Club, bem ao lado da torre 4. Uma localização que parece ir de encontro à ideia dos investidores, que é oferecer comida e sobremesas à noite e de madrugada, para quem trabalha até tarde ou para quem tiver aqueles ataques de gula depois do jantar. “Operamos consoante o estilo de vida dos cidadãos e oferecemos sobremesas especiais”, explicou Tong ao HM. “As sobremesas têm o tema de ‘fusão internacional’ e os ingredientes são provenientes do Japão e de Taiwan, via aérea”, explica o sócio, acrescentando que a qualidade é importante e, por isso, “os gelados do restaurante são da marca Movepick, da Suíça”. Tong Wu explicou que as bebidas como chás de ervas, batidos de leite e cafés são também muito procurados por clientes. Este restaurante na Taipa é apenas para “take away” e está aberto das 22h00 às 2h00 da manhã. Nesta ilha existem poucos restaurantes que se especializam em sobremesas, diz Tong, ao mesmo tempo que oferecem pratos rápidos, como massas e arroz, ao mesmo tempo. Surgiu, assim, a ideia de tentar expandir negócios na Taipa. Tong Wu explica que a decisão de criar um local onde as pessoas podem apenas ir levantar as refeições, sem terem hipótese de se sentar, tem a ver com o pedido de licença ao Governo, que é mais fácil para take aways do que para abrir um restaurante comum. Além dos quatro restaurantes, o “The Royal” tem uma fábrica de produção de ingredientes básicos na Avenida do Almirante Lacerda, de forma a conseguir diminuir o tempo de processamento das refeições feitas nos restaurantes, bem como para “manter a qualidade da comida”. O objectivo é conseguir servir o cliente rapidamente, a preços cómodos, que começam nas 24 patacas. A cozinha molecular é também um dos novos focos do “The Royal”. “A reacção dos clientes é melhor do que imaginávamos, mesmo que a loja se localize numa rua interior. Acho que é porque os tipos de sobremesas são diversos e muitas pessoas escolhem o nosso restaurante”. “The Royal” promove ainda um buffet de sobremesas às horas de lanche, jantar e ceia. Na loja dos Nam San, por exemplo, os clientes conseguem, nestas horas, comprar as sobremesas com 20% de desconto. Há ainda sobremesas de época, que não existem sempre. O modelo de negócio foi também pensado pelos donos do restaurante, já que este tem ainda uma agência para os ajudar a procurar parceiros para abrir mais lojas de “take away”. O futuro pode ser por aí, até porque Tong Wu explica que este modelo pode ajudar a diminuir despesas de operação e o tempo necessário para abrir um restaurante.
Leonor Sá Machado PerfilFrancisco Carvalho, engenheiro electrotécnico [dropcap style=’circle’]F[/dropcap]rancisco Carvalho veio para Macau em busca de experiência profissional, tal como tantos outros portugueses. Desde a chegada até agora passaram-se dois anos, que descreve como “espectaculares”, tanto ao nível profissional como pessoal. Aterrou na região por via de um “grande amigo” e foi no terreno que foi ganhando nome e capacidade no mundo da construção. O jovem, agora na casa dos 30, licenciou-se na Universidade de Trás-Os-Montes e Alto Douro em Engenharia Electrotécnica. “Não estava satisfeito com o que estava a fazer em Portugal e isso, aliado à vontade de ter uma experiência fora, fez-me procurar”, descreve Francisco ao HM. É “na obra” que o seu talento ganha vida. Preocupa-se com as instalações eléctricas, circuitos e uma série de outros pormenores que o comum mortal desconhece, mas dão – literalmente – luz aos casinos, prédios habitacionais e industriais por essa cidade fora. Pergunte-se a um engenheiro português o que acha de Macau e a resposta está na ponta da língua: “Esta cidade é um estaleiro gigante, há sempre uma grua em qualquer lado”. Francisco congratula a celeridade com que as obras privadas são concluídas, mas também a qualidade dos trabalhos e a dimensão que os projectos têm na cidade. Pastel de Macau À parte das já conhecidas barreiras culturais que se experienciam num primeiro contacto com a região e a população residente, Francisco garante recordar para sempre um episódio caricato, esparrela na qual já muitos emigrantes caíram certamente: “Antes de vir para cá, falei com um amigo de longa data que vivia em Macau e ele aconselhou-me a não trazer roupa de Inverno porque aqui não fazia frio. Ora eu cheguei em Janeiro e estava mesmo muito frio, pelo que pensei logo ‘já fui enganado!’”. Um português em Macau que nunca tenha ouvido falar da Tarte de Ovo Portuguesa passa certamente pouco tempo na rua. À conversa com um macaense, Francisco quis saber qual a doçaria típica da região. Do outro lado da linha, prontamente se disse “tens que provar o pastel de nata”. E Francisco ficou certamente confuso. Não serão estes dos mais tradicionais doces de Portugal? Um sem norte agradável Há quem prefira sempre saber onde e quando se vai dar o próximo passo, mas Francisco não. “Vou à procura da confusão nas ruas mais pequenas e movimentadas da cidade”, confessa. Tal será, certamente, tarefa que não agrada a gregos e troianos, mas uma que o engenheiro garante fazer com quem chega para o visitar. “Gosto de levar as pessoas para o meio de zonas movimentadas, mostrar-lhes a cidade e andar a passear por lá”, acrescentou. É também da Vila da Taipa que os seus dias livres são preenchidos. Francisco não deixa de aproveitar a oportunidade para agradecer à “equipa espectacular” que o recebeu quando sentiu a humidade no ar asiático pela primeira vez. No entanto, esta zona do mundo é à primeira estranha, mas acaba por se entranhar. O jovem português ganhou o vício de viajar por estes lados e não perde uma oportunidade para ganhar asas e voar até ao Vietname, Tailândia ou até mesmo China. “Já percorri as capelinhas quase todas, até porque todos os feriados que temos permitem que isso aconteça. Estamos perto de sítios tão incríveis”, comenta. Neste momento, considera-se um jovem relativamente conhecedor desta zona do globo, com um currículo relativamente sólido e alguma experiência na bagagem. Sempre aberta, mas neste momento agarrada ao chão do local que já considera casa: a Taipa. Um ser adaptável Nem tudo soa bem a Francisco. Neste caso, sabe e cheira bem. “O ar é muito poluído e isso sente-se imenso, principalmente no início. Ao fim de algum tempo deixa de se sentir com tanta intensidade, mas mesmo assim sabe-se que os níveis de poluição são grandes”, lamenta. O círculo estável e sólido de amigos macaenses e portugueses vem equilibrar a balança, à qual se acrescenta o conforto de uma vida fácil e desafiante ao mesmo tempo. “Há dias em que me apetece ir embora e outros em que não penso nisso”, explica-nos Francisco, quando questionado sobre a vontade de por cá ficar. É que pesadas as balanças, Macau é, diz, um local “bom para trabalhar”, mas talvez “não tão bom para se viver”, como quem fala em criar família e fixar um sítio ao qual chamemos lar. Quem por cá passa sabe, no entanto, que Macau fica na memória até ao último suspiro, já que por aqui se fazem “amigos para toda a vida”, com quem o jovem pretende manter contacto, mesmo que se mude para o outro lado do mundo. “Costumo dizer que vivo um mês de cada vez, até porque tem sido assim até agora e vai continuar”, conta. A pressa não parece existir na vida de Francisco. Para já, interessa a carreira, o constante desafio que o trabalho traz e a velocidade com que esta cidade se vai construindo sobre si mesma.
Flora Fong Ócios & Negócios Pessoas“The Perfect Moment”, café | Chloe Chan, sócia [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]ão são só saladas, esparguete e café, mas também livros, pinturas e fotografias. No “The Perfect Moment”, os clientes podem aproveitar o espaço e fazer o tempo passar devagar e os artistas podem expor as suas obras Se abrir um café é um sonho para muitos jovens, Chloe Chan e outros três sócios não são excepção. Para falar com uma das sócias, entrámos no café “The Perfect Moment”, que fica num barro antigo na Freguesia de São Lázaro. Com uma decoração feita de paredes brancas, materiais e madeira, as mesas não o único adorno deste espaço. Existem duas estantes cheias de livros, revistas de arte locais e cartazes de exposições que estão a ser realizadas em toda a Macau. Localizado na Rua de Abreu Nunes, a rua mesmo atrás da Pavilhão de Exposições e Espectáculos Artísticos para Jovens, junto à Praça do Tap Seac, o café abriu no Verão do ano passado. Chloe explica-nos que são quatro os sócios e que cada um desempenha diferentes funções, na administração, na contabilidade e na promoção do café. Antes de 2014, os quatro não sabiam nada sobre o que era “abrir um café”. Tiveram, então, que aprender tudo sobre o negócio. “Preparámo-nos dois anos antes de começar a planear a abertura do café e até fomos frequentar cursos para tirar licenças de barista”, começa por nos contar Chloe Chan. No início, os quatro jovens não tinham ideia de como criar o café ideal. Revendo os gostos de cada um, e ligando-os, conseguiram abrir este café que é, dizem, especial. “Um de nós gosta de arte, um outro gosta de ler e outro gosta muito de beber café. Assim, o “The Perfect Moment” junta tudo isso”, disse. Chloey recomenda as saladas feitas com legumes que são, garante, muito frescos. “Pedimos a uma empresa para transportar os legumes com embalagem em vácuo, porque queremos oferecer os produtos frescos e limpos. Não temos comida muito delicada, é simples, mas é tudo fresco.” Dedicação têm os seus “Specialty Coffee”, o café com rosa ou com caramelo. O espaço vende também grãos de café provenientes do Quénia e de Nicarágua. Mas não só. Um chá preto com gengibre e açúcar mascavado pode ser outra opção do “The Perfect Moment”, principalmente no Inverno, já que ajuda a aquecer o corpo. “Atentamos muito à qualidade do café, mesmo que possa não ser o melhor de Macau, mas esperamos ser considerados um dos dez melhores aqui”. Na comunidade Chloe não gosta do conceito actual, de que as pessoas consideram cafés como restaurantes. Ela e os outros sócios preferem o conceito de que as pessoas desta cidade urbana têm um ritmo de vida muito rápido e querem, sim, que as pessoas usufruam da comida e do café devagar. Que, no fundo, o saboreiem. Outros dos pontos que nos chama a atenção no café são as obras de arte nas duas paredes principais do café, que fazem parte da “Exposição Automne”, da artista local Natalie Pun. Chloe explica-nos que já foram realizadas seis exposições de pintura e de fotografias no espaço e está planeado fazer um workshop onde a artista desenha a caneta, sob o tema de Natal. Os clientes podem comprar as canetas e os lucros vão para caridade. A razão para realizar uma exposição de artistas locais no café veio do facto destas não serem, normalmente, muito apreciadas pela população. “As pessoas não se dirigem às exposições a não ser que os artistas sejam amigos ou muito conhecidos. Então pensámos em como conectar a arte com a comunidade e surgiu a ideia de integrá-la com o café, o que acho uma ideia maravilhosa, porque os clientes do café são muito diversificados, desde trabalhadores, a turistas, grupos de amigos ou famílias. O café parece uma plataforma para todos apreciarem as obras de arte. Queremos ter um café que não vende só cafés”. A responsável avançou que as exposições são realizadas no café periodicamente e que até já existe uma lista de exposições até ao Verão do próximo ano. “The Perfect Moment” foi também arrendado para realizar um seminário e uma sessão de partilha por associações ou grupos de juventude. Café literário O café é também conhecido por outro nome. Ultimamente foi arrendado por uma revista de literatura para rodar uma curta-metragem e, na entrada do café, ficou exposto um cartaz que diz em Chinês “Café da Literatura”. “Achamos que os caracteres são muito bonitos, não os tirámos depois de acabar a curta-metragem. É divertido ver que as pessoas pensam que esse é o nome do nosso café.” No que toca ao investimento e volume de clientes, Chloey confessa que, devido à instalação de equipamentos de cozinha e a dificuldade de encontrar uma loja com rendas baixas, os sócios já investiram grande montante do dinheiro que tinham. Ainda assim, diz, consegue equilibrar bem os pagamentos, diz-nos. O número de clientes é melhor aos fins- de-semana ou quando se realizam actividades na Praça do Tap Seac. Durante os dias úteis, há mais clientes nas horas do almoço e do lanche. “Não podemos pedir mais clientes porque queremos oferecer um espaço mais calmo e confortável, sobretudo nos fins-de-semana. Portanto, sugerimos aos clientes vir cá durante os dias úteis, usufruindo de um espaço de leitura tranquilo”.
Filipa Araújo PerfilRui da Silva, docente: “A vida em Macau é muito interessante” [dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oi a leitura que despertou Rui da Silva, docente de Língua Portuguesa na Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST), para o mundo e a cultura orientais. “Desde sempre que tive muito interesse na aprendizagem de línguas e conhecimento de novas culturas e, na altura, quando estava no ensino secundário, comecei a ler muitos romances cujas histórias se passavam na China e no Japão. Foi aí que comecei a desenvolver um gosto especial por estes dois países”, explicou o professor ao HM. Rui da Silva está em Macau há muito pouco tempo. “Cheguei em Agosto, são quase três meses”, indica. Mas só como residente, pois como turista já tinha visitado o território. “Já tinha vindo a Macau duas vezes antes de me mudar definitivamente para cá”, contou, sublinhando que a “primeira impressão foi de uma enorme confusão”. “Estava a viver no norte da China e estava à espera que fosse algo semelhante. Contudo, quando cheguei ao território descobri que era completamente diferente”, admitiu. O cunho português foi o que mais sobressaiu. A sensação era estranha porque “algumas zonas são bastantes semelhantes a Portugal, mas eu não estava em Portugal”, partilha. Ida e voltas Depois de decidir que queria dedicar-se às línguas chinesa e japonesa, Rui da Silva avançou com a candidatura para a licenciatura em Línguas e Culturas Orientais, na Universidade do Minho, onde acabou por se especializar em chinês e japonês. “Durante esse tempo fui duas vezes à China Continental fazer alguns cursos de Língua Chinesa e de ensino”, conta. Os estudos prosseguiram e Rui da Silva inscreveu-se no mestrado, também na Universidade do Minho, em Estudos Interculturais Português/Chinês. “No primeiro ano do mestrado fui para a Universidade de Nankai, em Tianjin, onde continuei a estudar Língua Chinesa, depois disso voltei para Portugal para terminar o mestrado e, ao mesmo tempo, comecei a trabalhar na universidade onde estudava como professor, leccionando Língua Chinesa e Comunicação Intercultural”, relembrou. Durante o seu percurso académico, a paixão pela língua chinesa ganhou terreno. “Apaixonei-me completamente pela China, pela sua cultura e língua”, disse, admitindo que o que mais gosta na língua é a escrita. “A escrita chinesa é muito visual e cada carácter tem uma história por trás que está intimamente ligada à forma de pensamento do povo chinês e como vê o mundo”, partilha, desmitificando a dificuldade tão comummente atribuída ao acto da escrita. “A escrita não será o mais difícil, mas é talvez o que dá mais trabalho para aprender”, anotou. Arriscar para viver Um dia, enquanto estava a viver em Tianjin, local onde frequentava um ano de intercâmbio na Universidade de Nankai, no âmbito da investigação de doutoramento, decidiu que estava na hora de arriscar e tentar outra coisa: Macau. “Como a minha investigação está relacionada com Macau e eu gostava de experimentar dar aulas de Português a chineses – porque até então só havia dado aulas de Chinês a portugueses – decidi procurar emprego em Macau”, lembra. Juntando a isto, o caminho de Rui da Silva foi facilitado pelo facto de ter alguns amigos chineses no território, amizades que fez até com o intercâmbio das universidades locais com Portugal. Para o jovem docente, Macau não o faz sentir que está na China, mas também não o faz pensar que está em Portugal: “Macau tem a sua própria identidade, o que faz desta cidade um local muito especial”. Um registo diferente Na MUST, Rui da Silva tem ao seu encargo cinco disciplinas: Fonética com 30 alunos, Gramática com 22 alunos, Escrita com uma turma de 28 alunos, Introdução ao Português com 14 alunos e ainda dá “aulas de Mandarim aos alunos estrangeiros de intercâmbio que fazem uma turma de 15 alunos”. Questionado sobre o diferente método de ensino e até de aprendizagem, o docente explica que a maioria dos alunos “são da China Continental e não de Macau, como se possa pensar, e nota-se uma diferença entre os dois”, até mesmo comparado com Portugal. “A atitude dos alunos de Macau é mais parecida com os alunos portugueses, ou seja, eles estudam mas, ao mesmo tempo, querem usufruir da vida. Os alunos da China Continental, por questões culturais e também por se encontrarem tão longe de casa, sentem que estudar é de facto o seu ‘trabalho’, por isso, empenham-se muito mais e dedicam-se por completo aos estudos”, explica, frisando que, no fim, “acabam por ser todos bastante interessados, dedicando-se muito à aprendizagem da língua portuguesa”. Macau, para já, é um projecto a médio prazo, como conta o jovem docente. “Ainda não decidi quanto tempo irei ficar por cá”, assinalou, indicando que, “fora das aulas, a vida em Macau é muito interessante”. As diferenças entre a China e Portugal tornam a vivência aqui “muito estimulante”. Do Cotai à Taipa a zona preferida é mesmo Macau “por causa da sensação de estarmos a viver num local cheio de história”. Apesar de Coloane ser muito agradável para uns passeios e por ter praia, Taipa e Cotai são “demasiado modernas”. As saudades da família e dos amigos são inegáveis, “até da cultura do Alto Minho”, sendo Rui da Silva de Viana do Castelo. “Mas não sinto saudades de estar em Portugal, acho que já estou habituado a estar longe e gosto tanto de cá estar que acabo por nem sequer sentir vontade de voltar”, termina.
Filipa Araújo Ócios & Negócios Pessoas“Love Nest”, loja online de decoração | Larissa Orenga e Rita Andorinho, sócias gerentes Nasceu da necessidade e veio para ficar. “Love Nest” é um projecto recente que já se mostra com asas para voar. Artigos de decoração para a sala, cozinha e quarto, ou apenas ideias profissionais são algumas das possibilidades que poderá encontrar nesta loja online, para tornar a sua casa num verdadeiro “ninho do amor” [dropcap styyle=’circle’]E[/dropcap]ncontrar artigos de decoração – e outros – em Macau deixou de ser um problema. Nasceu o “Love Nest”, uma loja online que promete facilitar a vida a todos. “Este é um projecto que nasceu há um ano”, indica Rita Andorinho, uma das duas sócias da empresa, sublinhando que inicialmente tudo começou por uma ideia e um gosto em comum com a sua amiga, e agora sócia, Larissa Orenga. Tudo começa, explica, com a grande problemática que existe no território. “A área da decoração é muito limitada em Macau. As ofertas que temos são poucas e são caras”, partilhou com o HM, exemplificando que sempre que uma das sócias viaja até ao seu país natal, Portugal ou Brasil, traz as malas cheias “de material para a própria casa, como toalhas ou roupa de cama”. Uma amizade que já vem de alguns anos e o gosto pela decoração juntaram o útil ao agradável. “Comprámos as duas casa em Lisboa e começámos a decorar à distância. (…) Percebemos que partilhávamos este amor pela decoração, por reinventar, por comprar material para as nossas casas. Adorámos o processo, entrámos em contacto com fornecedores e partilhámos muitas ideias. Funcionou tão bem, que avançámos com uma análise ao mercado tanto lá [em Portugal] como cá [Macau], que nos levou até aqui”, relata. Para facilitar A partilha, com as amigas, das alterações que Rita Andorinho fez aos seus móveis e artigos de decoração, depois de ser obrigada a mudar para uma casa mais pequena este ano, mostrou-lhe que o público de Macau está interessado e, mais que isso, necessitado de alguém que lhes facilite a árdua tarefa de tornar uma casa longe do país natal num lar. Depois de todos os sinais recebidos desta necessidade da sociedade, as duas amigas avançaram com o lançamento de um site e página no Facebook dedicado ao “Love Nest”. Ao dispor da sociedade está agora uma plataforma com uma montra de produtos disponíveis e de fácil acesso. O site, que funciona de forma muito simples, permite que os clientes criem os seus cestos de compras e recebam os dados para o pagamento através de e-mail. “O prazo que damos é sempre de oito dias até o cliente receber a sua encomenda em casa, que somos nós que vamos entregar. (…) Asseguramo-nos que tudo está em ordem, que o produto está nas condições exigidas e depois entregamos à porta”, explica Rita Andorinho, não escondendo que há produtos que podem demorar um pouco mais, mas isso dependerá sempre do fornecedor e da distância a que está. Qualidade e confiança “Transformar a casa num lar, num sítio confortável e aconchegante, como um ninho do amor é o que pretendemos”, explica Larrisa Orenga, justificando por isso o logótipo escolhido para a empresa. O negócio está muito direccionado para a comunidade expatriada, porque “é óbvio que a comunidade chinesa consegue encontrar aquilo que procura de forma mais fácil”, e porque a cultura – e por isso aquilo que procuram – é também ela diferente. Ainda assim, explica Rita Andorinho, a “Love Nest” não se limita apenas à cultura ocidental. Em menos de uma semana a reacção não poderia ser melhor. “As pessoas estão a reagir muito bem, temos muitas ideias e projectos. O projecto foi lançado oficialmente a 9 de Novembro e já tivemos várias encomendas”, indica Rita Andorinho, exaltando também o método mais antigo de promoção de negócios, o boca-a-boca entre amigos. Mimar os seus clientes, ajudá-los a encontrar aquilo que eles efectivamente querem nas suas casas ou até criar projectos de decoração na íntegra são os objectivos claros destas duas amigas e sócias. A qualidade dos produtos é, asseguram, uma exigência muito vincada. “Queremos que os clientes percebam que podem confiar em nós (…) queremos os clientes satisfeitos, caso algum produto não esteja em condições, por alguma razão que de nós não dependa, arranjaremos solução, seja devolução ou um produto alternativo. (…) A verdade é que temos gosto em ajudar, fazemos isto com muito amor”, garantem. Linha de Natal A primeira linha lançada pela equipa está subordinada ao tema natalício. Para já, os interessados em fugir às tradicionais prendas e às filas nas lojas, podem facilmente ir ao site ou ao grupo do Facebook, entrar em contacto directo com a gerência e tratar do seu natal, “ou prenda de aniversário, tudo depende da necessidade”, de forma mais simples. Com preços competitivos, a “Love Nest” veio facilitar a vida de cada um de nós, trazendo-nos o tão desejado cheirinho a casa.
Flora Fong PerfilDinizio Silva, jogador de futebol [dropcap style=’circle’]T[/dropcap]em apenas 17 anos, mas a vida deste jovem já está cheia de aventuras e esperanças para o futuro, bem como missões para cumprir. “Actualmente sou jogador de uma equipa de futebol local, a MFA Development, e jogo como avançado e médio. Fui também seleccionado para a selecção de Macau”, começa por dizer ao HM Dinizio Silva. Dinizio começou a ter contacto com este desporto quando tinha apenas quatro anos. A tenra idade para começar a dar pontapés na bola deve-se à influência da família, já que o pai também era jogador de futebol. “O meu pai ensinou-me a jogar futebol nos campos desde que eu era muito pequenino, porque o meu pai era futebolista a tempo inteiro.” Dinizio já teve a sorte de jogar em competições no interior da China, na Mongólia Interior, e na Tailândia. Experiências diferentes para quem joga futebol no território. “Nas competições, tivemos concorrentes muitos fortes, sobretudo das equipas nacionais. Normalmente a equipa de Macau perde nos jogos, mas esforçamo-nos ao máximo e ganhámos experiência, usufruindo também do jogo.” Em breve, Dinizio vai participar numa actividade maior, o Campeonato do Pacífico, na Austrália, e não consegue esconder a excitação. “Estou muito contente por ter sido escolhido entre muitos jovens locais para a selecção que representa a minha terra natal. É sinal de que o treinador reparou no meu progresso”. Mas, como todas as histórias, também a deste jovem jogador não se pode focar apenas no actual sucesso. Dinizio também passou tempos difíceis no que à bola diz respeito. “Pensei em desistir deste desporto. Em anos anteriores, não jogava bem e fui muitas vezes chamado à atenção pelo treinador. Foi muito frustrante.” Dinizio não parece ter muito tempos livre para a diversão como os outros jovens da sua idade, já que os treinos de futebol, como admite, são muitos e muito duros. “Tenho treinos todos os dias, três horas por dia.” Dar o salto Dinizio nasceu e cresceu em Macau, mas considera a sua cidade “um bocado seca”, como nos diz. “Vou sempre aos mesmos sítios nos tempos livres. Normalmente assisto a filmes, faço natação durante o Verão, passeio e faço compras com amigos, mas jogo mais futebol e fico em casa.” Se calhar é por causa disso mesmo que o jovem quer sair do território. “Estou a pensar frequentar uma universidade onde possa beneficiar também de treinos de futebol, para que possa jogar no estrangeiro. Se conseguir, queria ser jogador fora de Macau. Já acho bom ser jogador em Hong Kong ou em Portugal”, disse, acrescentando que, além de pensar em ser futebolista, ainda não escolheu qualquer outra profissão. Dinizio vive entre as comunidades e as culturas chinesa e macaense. Ele próprio considera-se “meio macaense”, porque a mãe é macaense e o pai é chinês. “Tenho muitos contactos com jogadores macaenses e gosto de conversar com eles. Acho que, por estar dentro destes grupos, posso fazer mais amigos.” O jovem estudou na Escola Secundária Luso-Chinesa da Flora, depois passou a estudar na Escola Portuguesa de Macau a partir do oitavo ano, por decisão da mãe. Depois, pôde seguir a sua “vontade” e mudar para a Escola Secundária Pui Va, onde está no décimo ano. “Foi divertido estar na Escola Portuguesa, tinha colegas chineses, portugueses e mistos. No entanto, achei muito duro para mim. Por exemplo, estudar a História em Língua Portuguesa é muito difícil para mim, o horário das aulas também era muito longo, mais de uma hora por aula, e às vezes tínhamos duas aulas seguidas.” Para o jovem, os estudos são mais relaxados nesta escola chinesa e não se arrependeu da decisão. Como joga bem futebol, é considerado a “estrela do futuro” na sua escola. Mas o jovem diz-nos, sem qualquer arrogância, que há sempre forma de melhor e ainda não é um futebolista “muito, muito bom”. Muitos estudantes, com 17 anos, conseguem apenas focar-se nos estudos. Mas Dinizio, assegura-nos que consegue manter o equilíbrio entre as duas coisas mais importantes na sua vida actual: a escola e o futebol. “Consigo gerir bem o uso do tempo, tanto as tarefas e exames na escola, como o futebol. Pelo menos nunca reprovei”, conta. Dinizio gosta que a família lhe dê um certo grau de liberdade, tanto nos estudos, como nas coisas que gosta de fazer. O futebol, claro, é uma dessas. E o jovem diz achar muito engraçado ter o mesmo gosto por este desporto desde que se lembra de existir.
Andreia Sofia Silva Ócios & Negócios PessoasCore Studio, estúdio de fotografia | Nuno Veloso, director Pouco mais de um ano depois de ter aberto a empresa de audiovisual Core Productions, o fotógrafo Nuno Veloso cansou-se de ter uma enorme sala vazia e decidiu abrir o Core Studio, que pretende proporcionar diferentes experiências no mundo da fotografia [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]uno Veloso sempre fotografou modelos, actores e o fabuloso mundo da moda e do entretenimento. Um ano após ter aberto uma empresa de fotografia e vídeo, a Core Productions, o fotógrafo português decidiu ir mais além e abrir o Core Studio, um espaço que faz lembrar o velhinho fotógrafo, virado para as pessoas. “O Core Studio é um estúdio aberto ao público. Fotografamos pessoas individuais, não é para clientes ou negócios, no sentido de fotografar produtos ou serviços, mas fotografamos pessoas para fazerem os seus retratos, famílias, crianças, bebés, recém-nascidos. Aqui na Ásia as pessoas gostam muito de fotografar os seus cãezinhos e gatinhos, então o Core Studio é como um estúdio de produção, mas para pessoas”, disse ao HM Nuno Veloso. A inauguração do espaço aconteceu na passada sexta-feira e o fotógrafo garantiu que no Core Studio não há lugar à fantasia. “É mesmo focado nas pessoas e é quase voltar ao fotógrafo antigo. Nós no Core Studio não queremos colocar as pessoas a serem retratadas na fantasia, mas queremos tirar o retrato delas próprias. Não vamos ter os vestidos e mil e quinhentas coisas em que a pessoa fica escondida no meio daquilo tudo. Se os nossos clientes quiserem ser fotografados assim, não vamos dizer que não, mas estamos mesmo a apostar no retrato da sua própria identidade e não de uma fantasia.” O Core Studio apresenta-se como um filho da Core Productions, mas é uma espécie de prenda que Nuno Veloso quer dar a Macau, a terra onde cresceu. “A Core Productions, como produtora de audiovisual, só precisa de uma sala e já não aguentava estar sentado numa secretária e ter ali um espaço com tanto potencial e não fazer nada dele. E foi por aí que decidi abrir o Core Studio, sendo algo onde eu já tenho alguma experiência. Cresci aqui, considero-me uma pessoa de Macau e é uma forma de eu poder dar alguma coisa a Macau, tendo um serviço profissional para as pessoas serem fotografadas”, apontou. Packs e cocktails No Core Studio fazem-se retratos de pessoas, mas também de namorados e de famílias, de mulheres grávidas ou dos seus filhos recém-nascidos. Há até a possibilidade de fotografar animais de estimação. Tudo isso com base em pacotes com um preço pré-definido. “O que eu quero que aconteça no Core Studio é um sítio onde as pessoas vão para serem fotografadas mas que para elas seja uma experiência também. Vai ser divertido de certeza absoluta, porque é essa a nossa forma de trabalhar, e vamos ter pequenas ofertas conforme os packs que vão escolher. Vão poder ter cocktails à entrada, alcoólicos ou não. Têm pequeninos luxos e vão sentir-se quase como estrelas durante aquele tempo em que estão ali para ser retratadas”, contou Nuno Veloso. O Core Studio pretende ainda ser um espaço de partilha de experiências, já que serão feitos convites a outros fotógrafos para trabalhos. “Sou o dono do estúdio, mas conheço fotógrafos muito melhores do que eu, a fotografar mulheres grávidas ou recém-nascidos, por exemplo. O meu background é mais ligado ao mundo da moda e a fotografar actores e dançarinos e isso vai ser fotografado por mim. Mas nem tudo vai ser fotografado por mim.” Nas paredes do estúdio de fotografia há ainda lugar para a exposição das fotografias de outros. “ Também temos uma área a que chamo de micro galeria para todos os outros fotógrafos que queiram expor as suas fotografias. De tempos a tempos vamos mostrando outros trabalhos”, explicou Nuno Veloso. Com o Core Studio, Nuno Veloso quis aproveitar um nicho de mercado e proporcionar momentos diferentes na hora de fotografar, algo que não se consegue com um simples smartphone. “Todos somos fotógrafos hoje em dia, e até podemos ter uma máquina muito boa, mas é uma experiência diferente ir a um estúdio profissional de fotografia. Eu chego a dizer que é como uma pessoa ir ao cinema, passar lá uma hora e meia e ficar com as imagens e o filme na memória. E ir a um estúdio de fotografia passa lá uma hora e o que traz consigo, além das memórias, são as fotografias para as poderem ver um dia mais tarde”, rematou. O Core Studio tem uma página do Facebook com o mesmo nome e fica na Alameda Carlos de Assumpção, Kin Heong Long, 5A.
Filipa Araújo Perfil PessoasJosé Macedo, arquitecto [dropcap style=’circle’]J[/dropcap]á viveu em quase todos os continentes. O Rio de Janeiro foi, e continua a ser, a sua cidade de eleição. José Macedo, um português a viver na Ásia desde 2010 não controla o brilho no olhar quando relembra o Ipanema, a água de côco e a bossa nova. O mundo gira e com ele gira também a vida. Quis o programa Inov Contacto trazer o arquitecto para Hong Kong e foi lá que ficou por quatro anos seguidos. “Vim nesse programa para Hong Kong, mas o ano passado fui convidado para pertencer ao projecto do Galaxy e abracei essa aventura”, conta ao HM. Porque não há coincidências, quis o acaso que a conversa do arquitecto com a equipa do HM acontecesse no dia em que José Macedo comemorava um ano de estada neste território. “A verdade é que é muito pouco comum alguém passar de Hong Kong para Macau, o mais habitual é o contrário. Confesso que é um trajecto que poucas pessoas fazem, mas como eu gosto de experimentar e já vivi em quatro continentes decidi arriscar”, conta. Na região vizinha, José Macedo trabalhava na área de arquitectura empresarial e decidiu experimentar “trabalhar para o cliente”. Música no coração No saco das paixões, carrega o gosto e a dedicação pela música. O brilho no olhar volta a invadir a nossa conversa e José Macedo explica que a dada altura, durante a sua permanência em Hong Kong, sentiu carência “de festas mais indie, mais alternativas”. Pela necessidade nasceu um duo de DJ. Com um amigo, de origem espanhola, nasce um projecto que vem trazer, ou pelo menos tentar, aquilo que os amigos procuravam. “Começámos devagar, passo a passo, até que começámos a ser convidados para festivais de música e festas. É um bichinho que sempre tive”, partilha. A chegada a Macau pareceu-lhe agridoce. “Não gostei logo de Macau porque tirou-me esta parte da minha vida na música. Sabia que não ia encontrar aqui o mesmo que estava a fazer em Hong Kong, mas, também sabia, que há sítios em que as coisas não vêm ter contigo de forma natural, tens de as procurar ou criar. Macau dá-te essa oportunidade. A oportunidade de criares. Só falta que as pessoas sejam abertas e aceitem”, assina. Locais como a Live Music Association, ou bares de música mais alternativa foram os espaços escolhidos pelo arquitecto. Ainda assim, nos momentos de mais calma é Coloane que se destaca. “É um sítio que dá para te refugiares um bocadinho”, remata. Paraíso fiscal Assumindo que tudo depende de pessoa para pessoa, José Macedo, entre gargalhadas, assume que olha para Macau como um “paraíso fiscal”. “É fácil viver aqui e tens alguma qualidade. Tudo depende de pessoa para pessoa. A mim, Macau não me preenche a 100%, mas vejo que há muitas pessoas que, por tudo o que o território é, se deixam estar e ‘metem as pantufas’, ficam acomodadas. Faltam algumas coisas aqui”, partilha. Uma grande escola de artes seria ouro sobre azul para o território. “Isso iria trazer novas visões, novas experiências e, mais que isso, espírito crítico”, aponta. O crescimento veloz da cidade exige alguma preparação, organização, criatividade e “de novo o espírito crítico”. Paciência de chinês Ainda no mundo da música, durante o ano que marcou a sua passagem por aqui, José Macedo foi conhecendo pessoas e projectos locais. Uma maior aposta no que é local e bom deveria fazer parte dos planos de quem manda, defende. Para o arquitecto não se pode desistir, e quem quer vingar terá de ser muito paciente e tentar, “tentar sempre”. Assumindo-se como “um bicho da Taipa”, José Macedo lamenta não ter tido muito tempo para conhecer o verdadeiro lado de Macau. “Se vives e trabalhas na Taipa vives o que aquilo é, e lá não é o que de Macau tem de verdadeiro”, aponta. A compra de uma mota ajudou a colmatar as escassas visitas, brinca. “Tive de facto mais acesso e fui descobrindo aos poucos, gostei”, remata. Por razões pessoais, José Macedo deixa, em breve, Macau para trás. Consigo leva momentos, muitos momentos, pessoas e aprendizagens para a vida. Voltar nunca será carta fora do baralho, mas neste momento não existe uma resposta. Por enquanto a única certeza com que nos deixa é a saudade.
Leonor Sá Machado Ócios & NegóciosNomad Design Ldt, empresa de design | Stanley C., fundador e designer [dropcap style=’circle’]D[/dropcap]e Macau para o Canadá e de regresso às origens que o viram nascer. É isso mesmo: Stanley C. nasceu no território, mas viajou até àquele país para completar uma licenciatura em Design de Arquitectura. Talvez tenha sido isso ou a simples vontade de abrir um negócio que fez com que o jovem designer tenha criado a marca Nomad Design Ldt há cerca de dois anos. Em parceria com um outro profissional, transportou a empresa para voos mais altos. A clientela é toda local, mas os produtos são comprados lá fora, até “porque aqui não há coisas com a qualidade das estrangeiras”, diz. Do maior ao mais pequeno À conversa com o HM, mostrou uma série de projectos que ganharam vida por essas ruas, incluindo do restaurante e loja Green’s, localizado na Calçada de Santo Agostinho. A ideia partiu da premissa de escassez quando se fala de empresas que oferecem “soluções de design”. Enfim, uma alternativa aos estilos clássicos a que a população está habituada. A Nomad produz de tudo um pouco e está preparada para completar grandes projectos. “Podemos fazer desde pequenos elementos até ao projecto [de construção] todo, quase chave na mão, desde a escolha de azulejos, tintas de parede e móveis”, começa o designer por explicar. Os materiais, esses, podem vir de qualquer parte do mundo, passando pelos EUA, países europeus, América do Sul e outros países asiáticos. “Tentamos encontrar a melhor solução para aquilo que o cliente quer e depois importamos de qualquer parte do mundo, com pessoas a quererem peças dos EUA que são depois reproduzidas na China”, informa. Estúdios de trabalho, a Nomad não tem, mas dispõe de um escritório. É aqui que a magia acontece. Os designers encontram-se com o cliente, debatem ideias e chegam à conclusão naquele mesmo local. As ideias vão surgindo e depois resta avaliar o espaço in loco e pôr mãos à obra. No escritório são dois funcionários, a juntar a uma equipa de pessoal de construção e outras duas pessoas que tratam de negócios no exterior. O cliente importa Os trabalhos mais interessantes, confessa Stanley, não têm que ver com os espaços a mexer, mas sim com o tipo de cliente e os pedidos. “Sinceramente, não importa muito o espaço em que mexemos, mas sim o cliente e às vezes é interessante debater ideias”, acrescenta. Abrir a Nomad foi uma ideia que partiu dos dois parceiros: “Temos a mesma mentalidade em relação à forma como se faz design em Macau”. Ambos trabalhavam para terceiros outrora, mas chegou a altura de montarem o seu próprio negócio e deixarem de seguir ordens para passarem a transformar conceitos em objectos palpáveis. “Não tínhamos capacidade para executar as nossas ideias e percebemos que as pessoas em Macau estão a pagar cada vez por trabalhos que não são exactamente aquilo que desejavam inicialmente”, explicou. E assim nasceu a Nomad. (In)visionários Neste momento, diz, os principais obstáculos têm somente que ver com a natureza humana. O primeiro problema teve início mesmo antes da empresa estar em actividade: “Tudo o que está relacionado com burocracias e aprovações do Governo, é lento e progride num passo vagaroso”. Outro dos obstáculos é a falta de visão da população e das empresas relacionadas com a área. “Enquanto no resto do mundo há uma tendência já no seu pico, em Macau pouca gente a conhece ou rejeita”, lamenta Stanley. É preciso, assim, “persuadir as pessoas para que percebam o que é melhor para elas”. Aqui joga-se, aparentemente, pelo seguro. Questionado sobre se por estes lado se transpira um espírito e gosto clássicos e pouco modernos, o designer consente e vai mais longe. “Diria que não são apenas clássicos, mas também com uma visão muito fechada”, disse. “É muito mais interessante quando trabalhamos com pessoas que nos deixam experimentar mais e arriscar”, confessa. São os casinos e hotéis que vencem pela sua imensidão e popularidade internacional. “A clientela local tem necessidade de ver os materiais em primeira mão já montados”, adiantou ao HM. A Nomad está a tentar trazer novos métodos, ideias, conceitos, materiais e formas de criar diferentes. Para isso, explicam, viajam bastante para procurar lá fora. Põe-se aqui um outro problema: Stanley lamenta que haja uma crescente escassez de pessoal de construção especializado, que saiba trabalhar com as mãos na massa. China com qualidade A China é conhecida pelos inúmeros casos de contrafacção e imitação de produtos, pelo que é uma tendência que se estende a todos os mercados e não apenas aos dos acessórios, roupa e relógios. As empresa de arquitectura e construção queixam-se frequentemente de lidarem com produtos falsos, com maus acabamentos e de má qualidade. Questionado sobre como enfrenta este problema, Stanley fala de uma revolução neste mercado chinês. “Nestes últimos anos, tenho ido várias vezes à China e noto que as coisas estão a mudar. Há já uma vasta escolha de materiais de alta qualidade e as empresas fazem boas opções de preço/qualidade”, revela. Há vários anos, justificou, era preciso ir até Hong Kong porque os produtos do continente não eram de confiança. Às vezes voava-se mesmo até aos EUA. “Acho que as empresas chinesas perceberam que faz mais sentido investir um pouco mais para ter produtos de qualidade e conquistar a clientela do que gastar menos e vender coisas sem qualidade”, justificou. Sobre o preçários dos trabalhos executados, Stanley adiantou apenas que “depende do projecto”, porque há muitas premissas a ter em conta. Aqui importam os materiais, o tamanho do espaço e o estilo escolhido.
Andreia Sofia Silva Perfil PessoasBrook Yang: “Macau precisa de promover mais o espírito académico” [dropcap style=’circle’]S[/dropcap]onhou cuidar de doentes e ajudar a curar as maleitas dos outros, mas acabou a escrever em Inglês sobre a realidade de um pequeno território no sul da China. Foi uma volta de 180º aquilo que aconteceu à jovem Brook Yang. Natural da cidade de Nanyang, província de Henan, Brook Yang estudou Jornalismo em Xangai e depois acabou por escolher a RAEM para fazer os seus estudos de pós-graduação. Mas antes não foi fácil o processo de entrada no ensino superior. “Queria tirar Medicina, mas a competição no exame nacional é muita, especialmente numa província com muita população mas com poucos recursos como é a minha. Candidatei-me a um programa de Jornalismo em Xangai, que só aceitou três candidatos em toda a província, mas não sei como fui escolhida. Não tínhamos hipótese de escolher outras opções ou de sequer deixar cair uma lágrima quando víssemos os resultados das candidaturas. Mas assim que o semestre começou, descobri que o jornalismo encaixava perfeitamente e que queria ter uma voz”, disse Brook Yang ao HM. Na hora de entrar na universidade, o Inglês acabou por representar o seu calcanhar de Aquiles, mas hoje Brook Yang olha para isso com ironia. “Ainda me lembro de como o meu pai ficou desapontado por eu ter tirado 46 pontos em 100 no meu exame de Inglês. E quando soube que na Universidade de Macau (UM) se privilegiava o ensino do Inglês, então achei atractivo. Hoje acho engraçado o facto de me ter tornado uma jornalista de língua inglesa e isso é algo que me faz sentir bem nesta pequena cidade: sem quaisquer ligações podemos ter boas oportunidades.” A escolha de Macau acabou por surgir por intermédio de um amigo dos pais. “Foi uma escolha rápida para fazer os meus estudos de pós-graduação. Nessa altura falhei nos exames para entrar em Jornalismo em Pequim, especialmente no exame de Inglês. Nunca me candidatei a estudar no estrangeiro porque seria muito caro. Um amigo dos meus pais viu um anúncio da Universidade de Macau, que dizia que o período de candidaturas terminava dentro de três dias. Candidatei-me ao único programa da minha área – Comunicação e Novos Media. Foi assim que vim para Macau”, contou ao HM. Com os estudos terminados e à procura de novos desafios profissionais, Brook Yang quer continuar a viver a vida intensamente e a procurar coisas novas noutros lugares. A viver no território há algum tempo, a jovem chinesa já começa a olhar para o lado menos bom de uma sociedade de pequena dimensão. “A sociedade de Macau não parece integrada, apesar de ser multicultural e de ter muitos grupos de emigrantes, de diferentes lugares. A cidade é muito familiar para os rostos estrangeiros, mas há diferentes comunidades que vivem em mundos diferentes e muitos residentes não parecem ter uma atitude de respeito. Mas esta falta de atenção não se vê só nas pessoas mas também ao nível do ambiente e natureza. Vemos preocupação no consumo, grande desperdício de recursos e falta de reciclagem.” A jovem não deixa de apontar o dedo àqueles que fazem as leis e as políticas da RAEM. “Vemos muitos locais e deputados a construir lobbies para restringir o número de trabalhadores migrantes em espaços públicos e ao nível dos recursos e vemos trabalhadores da construção civil, da hotelaria, empregadas de limpeza que vivem em condições difíceis.” Um bom lugar A jovem jornalista considera que o ensino superior local ainda tem muito espaço para crescer e aponta várias sugestões. “As universidades de Macau não estão suficientemente desenvolvidas para corresponder aos recursos do território e das suas ambições, mas estão a fazer esforços para melhorar. Contudo, construir mais infra-estruturas e atrair estudantes de fora não é suficiente para fazer uma universidade crescer. Macau precisa que as suas instituições promovam mais o espírito académico e as responsabilidades sociais.” Contudo, Brook Yang continua a achar que este é um bom lugar para os jovens do continente que buscam por novas experiências. “Para os estudantes da China, Macau representa um caminho para atingirem objectivos a nível académico. Quer estejam a estudar ou a trabalhar, é definitivamente uma experiência fora do comum do outro lado da fronteira. Comparando com Hong Kong e os países ocidentais, Macau é um sítio não muito caro e menos competitivo. Quem quer viver e trabalhar aqui, Macau pode ser um pouco mais confortável com boas paisagens, melhores salários e com fáceis acessos a outros países, com mais actividades de entretenimento”, concluiu.
Filipa Araújo Ócios & Negócios PessoasMacau ItClinic, clínica de tecnologia | Pascoal Júnior, fundador e sócio É uma clínica para dispositivos tecnológicos. A Macau ItClinic nasceu por necessidade. Quatro sócios, a mesma ideia: trazer ao território aquilo que faltava com qualidade a preços altamente competitivos [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hama-se Pascoal Júnior e é um dos quatro sócios fundadores da Macau ItClinic. “Foi a 15 de Outubro de 2014 que a Macau ItClinic nasceu”, começou por explicar o sócio ao HM, que nos recebeu nas instalações do escritório de advogados C&C, local que acolhe a Macau ItClinic. “A ideia começou porque eu e um dos sócios – somos quatro no total – que trabalhava comigo numa empresa de tecnologia sentimos imensa falta de alguém que nos pudesse ajudar na manutenção e, dessa forma, achamos que fazia muita falta a Macau ter alguém que não só fosse bom naquilo que faz, mas que acima de tudo tivesse algum cuidado com o cliente”, explica. Nasce assim, com pouco dinheiro, a empresa que agora tem mais de quatro mil ‘likes’ na única plataforma online que possui, a sua página no Facebook. “Como é óbvio não havia dinheiro e uma das formas que achamos que seria possível fazer, porque Macau felizmente é um território pequeno e funciona como uma aldeia, era criar uma página no Facebook”, indicou. É por essa página que a equipa faz a sua gestão de clientes, garantindo que 90% dos contactos surgem através desta plataforma e o resto passa de boca-em-boca. “Não existe outra forma de contabilizar os nossos clientes. Felizmente o Facebook funciona muito bem em Macau, mesmo muito bem, o que foi bom para a empresa”, conta. O local, o escritório, foi também uma aposta de muito sucesso. “É importante agradecer a todas as pessoas que aqui trabalham e que nos receberam. Naturalmente aos poucos foram percebendo o nosso trabalho e a sua qualidade e isso também nos ajuda a crescer. Quer se queira, quer não, estarmos neste edifício credibiliza-nos imenso e só podemos estar agradecidos por isso”, anotou, apesar de assumir que devido ao crescimento o dia de mudar para um espaço maior poderá chegar. Passo a passo Evitando riscos de maior, os sócios decidiram começar o seu trabalho com aparelhos mais comummente utilizados: os telemóveis. “Começámos pelos telemóveis porque, sem dúvida nenhuma, era a forma mais fácil de chegar às pessoas e foi assim que começamos a crescer, passando depois para os computadores de todos os tipos”, adianta. Apesar da empresa prestar algum apoio técnico a empresas, não é este o seu objectivo. “Somos só quatro, para assumir a responsabilidade de um bom serviço às empresas é necessário termos alguém sempre disponível para isso e para já não temos. Mas também não é importante, não é o nosso objectivo. Queremos trabalhar neste registo, cliente final que vem até nós, entrega o que tem para reparação – um computador para formatar, um router que deixou de funcionar – e nós resolvermos no menor tempo que nos é possível”, esclarece. Apoio até ao fim A garantia é dada pelo próprio Pascoal Júnior: a Macau ItClinic presta um serviço que é difícil de encontrar em Macau por parte da comunidade estrangeira. Afinal de contas, este grupo é a esmagadora percentagem dos seus clientes. “A nossa lógica é, se vamos cobrar por um serviço, então esse serviço tem de estar resolvido. Nem que o cliente tenha de vir ter connosco mais do que uma vez e nós passarmos a assumir esse custo e prejuízo, mas o resultado será sempre o problema resolvido”, garante, assumindo que só assim se conquista o mercado – com qualidade. Com o slogan “o cliente só paga se conseguirmos resolver o problema a 100%”, a Macau ItClinic promete-lhe qualidade e rapidez. “Não sei se somos os mais baratos do mercado, mas sabemos que somos dos melhores em termos de qualidade daquilo que fazemos relativamente ao preço que cobramos. Se somos os mais baratos só o cliente é que poderá dizer”, remata. Crescer é sempre o caminho, mas esta equipa de quatro sócios quer que essa caminhada se faça com calma e segurança. Começam a receber agora os primeiros clientes de nacionalidade chinesa, o que poderá ser sinal a um novo mercado. “Mas o nosso público alvo será sempre a comunidade estrangeira”, garantiu Pascoal Júnior.
Leonor Sá Machado PerfilSara Justino, Engenheira do Ambiente [dropcap style=’circle’]M[/dropcap]acau é um lugar sui generis e Sara Justino é bem capaz de saber isso. Mais do que uma experiência totalmente aventureira, esta cidade trouxe à jovem portuguesa um primeiro e fresco olhar para a Ásia. Algo que se assumiu como o início de uma óptima experiência, tanto profissional como pessoal. Sara tem, certamente e como vários outros emigrantes portugueses na região, família e amigos lá bem longe, mas quando se quer muito uma coisa, dizem, é preciso mergulhar de cabeça. A jovem, agora na casa dos 20 e poucos anos, conta com uma licenciatura e um mestrado feitos em Portugal e foi numa parceria neste último programa académico que Sara conheceu esta terra que diz ser “bastante familiar”. No âmbito de um estágio, foi parar à Macao Water, empresa onde actualmente trabalha. “Gosto muito de Macau e mesmo muito do que faço”, disse. É que Engenharia do Ambiente não parece ser uma área fácil, principalmente para quem lida com as águas do território. O mais complicado, revela, foi lidar com o choque cultural em termos de idiomas. “Continua a ser muito complicado comunicar, mas no início foi ainda mais difícil porque trabalho maioritariamente com pessoas chinesas e a comunicação pode ser difícil”, diz. No entanto, Sara parece ter-se adaptado bastante bem à realidade local – ao contrário de outros tantos. Se nos três meses do estágio viveu nas residências da Universidade de Macau, actualmente mudou-se sozinha para uma casa numa zona que, curiosamente, não atrai muitos estrangeiros. “Moro perto da Ilha Verde, junto ao trabalho, num bairro completamente chinês, em que nenhum dos meus vizinhos é ocidental”, revela. “Tem as suas coisas boas, como poder sair à rua de pijama e ser uma coisa perfeitamente normal”, brinca. Há voltas e regressos “No início [da proposta para ficar em Macau] não sabia bem se queria mesmo ficar, até porque Macau é do outro lado do mundo”, confessou. Em Abril passado foi quando Sara se decidiu a pôr pela segunda vez os pés nesta terra. A sua primeira experiência em Macau começou de forma meio atabalhoada. A viagem inaugural, em Setembro de 2014, aconteceu precisamente no dia seguinte à defesa da tese, momento que marca o estudante, mais que não seja pelo passo académico que representa. Quando as asas do avião deixaram mostrar Hong Kong, Sara percebeu que era época de feriados, mais conhecida como a Semana Dourada. As ruas abundavam de gente e sacos, pessoas e saquinhos. O tempo foi deixando que Sara se ambientasse e fizesse amigos, conhecesse pessoas na universidade e no local de trabalho. Cedo percebeu que era um local agradável para viver. “É um ambiente familiar”, reforça na conversa com o HM. “A primeira impressão? Que calor!”. “Apesar de ser tudo muito diferente e de ser a única estrangeira, tenho muita sorte com a empresa onde estou”, adianta. É que Sara sente-se a trabalhar com uma equipa que valoriza o seu trabalho. “Eles adoptaram-me, por assim dizer, e às vezes na brincadeira, até digo que são a minha família chinesa”, revela. Por enquanto, está-se bem por aqui. Ou pelo menos é essa a ideia transmitida pela especialista em Ambiente. Assegura que fica por estes lados até que seja preciso mais para evoluir. “Fico cá enquanto sentir que estou a aprender e a partir do momento em que não é possível evoluir mais, penso em ir embora”, frisa. Debaixo de um guarda-chuva Para Sara, o mais complicado de ultrapassar é mesmo a barreira linguística, mas acredita que “se se quiser muito cá viver e ficar a longo prazo, é fácil ter aulas e aprender em alguns meses” de muito esforço. No entanto, fossem esses todos os males. É que, ao contrário de muitos outros lugares, Macau parece trazer a várias pessoas a sensação de conforto e uma familiaridade que, diz Sara, “não tem nada a ver com o sítio de onde vimos”, mas está presente a cada canto, esquina de prédio, pastelaria e restaurante. Caso a ideia fosse ficar por aqui por tempo indefinido, a jovem confessa que gostaria de ter “uma casa em Coloane”, aquela que considera ser “a zona mais bonita de Macau”. O território tem, diz, “ainda muito por onde evoluir” na área da poluição e de formas de ajudar o ambiente. Quando questionada sobre momentos estranhos, que só teriam lugar em Macau, Sara não demora a recordar aquele que considera melhor espelhar o choque cultural entre a China e Portugal. Um dos episódios mais caricatos que marcam a estada de Sara no território aconteceu debaixo de uma chuva torrencial, com um grande amigo seu de naturalidade local. Chinês de alma e sangue. “Estávamos os dois debaixo do mesmo guarda-chuva, estava a chover imenso e eu, num gesto de amizade, cruzei o braço ao dele para não ficarmos desfasados debaixo do chapéu. Mas ele ficou agitadíssimo, a dizer que não podíamos fazer aquilo porque a namorada ia pensar que existia alguma coisa”, recordou, ao mesmo tempo que se ria. Quando Sara finalmente explicou ao seu amigo a natureza altamente inócua da acção, riram-se os dois ao perceber que também na amizade existia uma espécie de “protocolo cultural”. Sara sabe que tem ainda “imensa coisa para ver e aprender” por essa Ásia fora, especialmente aqui ao lado. “Adorava pegar numa mochila e fazer uma viagem pela China, mas sei que não sabendo Mandarim não ia correr bem”, lamenta. Assim, as viagens vão-se fazendo ao passo de quem trabalha e aproveita o tempo livre. Por enquanto, Sara parece feliz com o que faz, mas essencialmente, com quem é.
Andreia Sofia Silva Perfil PessoasSuraphou Kanyukt: “Estou feliz se o meu país estiver em paz” [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]scolheu fazer parte do exército do seu país, a Tailândia, como quem escreve uma cruz num qualquer papel sem pensar muito no assunto. De facto, Suraphou Kanyukt nunca quis ser um militar no activo, mas escolheu essa opção de vida como poderia ter optado por outra qualquer. Mas há quatro anos este jovem, oriundo de Banguecoque, decidiu que a farda de cor verde escura e as armas já não lhe serviam como projecto de vida. Foi então que decidiu vir para Macau. Suraphou Kanyukt optou por estudar Comunicação Social na Universidade de São José (USJ) e não se arrepende da sua decisão. “Decidi sair de Banguecoque em 2011, depois de ter servido o meu país no exército. Decidi vir para Macau estudar porque em termos pessoais gosto de aprender sobre outras culturas e línguas, então porque não escolher um sítio algures? Na altura não fazia ideia. Tudo o que sabia sobre Macau é que era uma pequena cidade, a Las Vegas da Ásia, onde poderia comer pastéis de nata”, contou ao HM. Apesar de Macau ter uma forte comunidade tailandesa, no início Suraphou Kanyukt sentiu-se totalmente um peixe fora de água. “Adorei a vida universitária aqui, mas foi um grande desafio conquistar os corações dos locais, já que estive muito tempo na luta de um estrangeiro que vive fora do seu país. Senti-me um pouco em baixo, mas depois percebi que fui eu que não me abri a eles”, aponta. Hoje tem vários amigos, não só tailandeses como também chineses, que o tratam por Justin. Suraphou sabe que o seu nome não é de fácil compreensão, pelo que, num primeiro contacto com as pessoas, pede sempre para ser tratado pelo nome inglês. De Macau, Suraphou Kanyukt, que não gosta de jogar em casinos, só tem a apontar de negativo o sistema de transportes. Mas até lhe dá jeito. “Não foi fácil deslocar-me pela cidade enquanto andava na universidade. Comecei a andar a pé, porque é fácil deslocarmo-nos a todos os sítios e isso é o que eu mais gosto em Macau, especialmente no Inverno.” Atentado à distância O atentado terrorista que ocorreu em Banguecoque há meses não passou despercebido a Suraphou Kanykt, tal como a todos os membros da comunidade tailandesa aqui presente. O receio da quebra no sector do turismo, principal motor da economia do país, fez-se sentir, aliado aos conflitos políticos internos que não estão totalmente dissipados. Meses depois, e já com dois suspeitos identificados pela polícia tailandesa, o jovem espera que as autoridades e a sociedade encontrem soluções para que tudo volte à normalidade. “Estou feliz se o meu país estiver em paz. Penso que precisamos de mudanças que sejam o melhor para nós.” Actualmente à procura de trabalho, o regresso a Banguecoque não está posto de lado. “Se alguém me oferecer uma oportunidade de trabalho, porque não? Gostaria de trabalhar na área da música, crítica gastronómica, lifestyle, arte, uma área na qual eu me pudesse envolver. Não quero sequer ter um pé na política”, frisou. Apesar disso, Suraphou Kanykt confessa que ficar em território chinês é a primeira opção. Na qualidade de jornalista estagiário experimentou as várias vertentes da profissão, desde a imprensa escrita ou ao online, ao trabalhar no diário inglês Macau Post Daily e no grupo de media Macaulink. Na Fundação Rui Cunha, experimentou durante seis meses a área multimédia, ao produzir filmagens dos eventos e alguns filmes. Optimista e à espera do que o futuro lhe pode trazer, Suraphou Kanykt continua a olhar para diversas oportunidades de trabalho, seja em Macau, Hong Kong ou até em territórios vizinhos, como é o caso de Singapura. “O melhor para mim seria ter uma oportunidade de trabalho aqui, mas recentemente ouvi que há muitas mudanças, porque a economia está a abrandar”, referiu. Suraphou, ou Justin, vai continuando pela RAEM por estar tão perto de Hong Kong. Aqui já se candidatou a vários trabalhos na área da hotelaria e turismo, mas chama a atenção para o facto da língua ser um entrave. “Sei que há muitas oportunidades em Hong Kong, porque é mais internacional, as empresas não estão preocupados com o facto de eu não falar Chinês”, rematou.
Flora Fong Ócios & Negócios PessoasOily Duck Art, playground | Suey Ho e Syen Lou, fundadora e sócia Para matar a pressão, Suey e Syen acham que pintar é a melhor maneira, especialmente se acompanhado com vinho e comida. Apesar de não terem um local fixo, as duas responsáveis da “Oily Duck Art” organizam actividades uma vez por mês para os clientes que se querem expressar através de pincéis [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]que se faz em Macau aos fins-de-semana para relaxar? Ir ao cinema, lanchar e jantar fora ou apenas descansar em casa? Há mais do que isso, agora. Desde que Suey Ho se lembrou de criar uma actividade relaxante para as pessoas de Macau, além das actividades comuns que por cá encontramos. “Queremos que os clientes fiquem relaxados e confortáveis enquanto pintam, comem e bebem vinho”, explica ao HM a fundadora da Oily Duck Art playground, que organiza a actividade uma vez por mês. “Sip & Paint” é o tema para este espaço de entretenimento, lazer e arte. À falta de um sítio fixo, o “Sip & Paint” desdobra-se em lugares diferentes. Para Outubro, o local da actividade é o Edifício Montepio, na Avenida Doutor Mário Soares. O negócio foi criado há três anos pelo primeiro sócio de Suey, que arrendou uma loja na freguesia de São Lázaro durante meio ano, mas desistiu por ter poucos clientes. Na altura, Suey acabara o curso de Design de Moda nos Estados Unidos. Quando voltou para Macau, não conseguiu procurar um emprego que se apropriasse à licenciatura que tirou, mas achava o negócio que partilhava com o sócio tão interessante que aceitou continuar sozinha. “Quando tínhamos a loja, os clientes podiam vir quando quisessem e preparávamos tudo todos os dias. Fazíamos eventos especiais, tal como no Dia dos Namorados”, relembra. Depois de sobreviver mais de um ano, a responsável confessou que “nada pagava a renda”, que atingiu cerca de 20 mil patacas mensalmente. Pensou em desistir, mas conheceu os actuais dois sócios, que já tinham experiência de uma actividade semelhante em Hong Kong e que queriam trazê-la para Macau de qualquer forma. Os três decidiram, em Maio deste ano, organizar as actividades mensalmente em vez de arrendar uma loja fixa, fazendo com que não só as actividades organizadas pudessem ser mais flexíveis, mas também sem terem a preocupação do espaço. Suey explica que as actividades estão abertas apenas a oito a dez clientes de cada vez devido aos limites de espaço nos sítios que a empresa aluga para a ocasião. Um dos exemplos que a fundadora dá para explicar como funciona este passatempo é o da organização de uma festa que tinha como tema o chá. Os convidados de um restaurante puderam apreciar esta bebida, enquanto pintavam durante uma tarde relaxante. E tudo para fazer algo diferente em Macau. “Quero que haja algo mais para as pessoas se divertirem em Macau. Além dos casinos e hotéis, como é que nos podemos divertir em Macau? É o que pensam muitas pessoas de Macau e eu quero quebrar isso. Assim a actividade “Sip & Paint” pode proporcionar uma outra experiência no território, pode fazer as pessoas esquecerem-se da pressão e das chatices de Macau enquanto estão concentradas a pintar, temporariamente”, explicou. Syen Lou, uma das sócias de Ho, explica-nos que vai criar também actividades mais diversificadas, para que os clientes possam não só pintar no papel, mas também em pano, calças de ganga, malas, vasos ou garrafas de vinho. Suey e Syen esperam desenvolver o mercado de Macau, que consideram não estar maduro o suficiente. “Mesmo que haja mais de 600 mil pessoas aqui, só uma pequena parte procura esta actividade relaxante.” Além dos clientes individuais, a Oily Duck Art playground organiza actividades para as empresas para actividades de ‘teambuilding’. “Normalmente, quando uma empresa quer fazer actividades de consolidação de equipa para os funcionários, fazem um passeio ou cozinham juntos para unir os trabalhadores. Também esperamos atrair mais empresas a fazer workshops criativos no Oily Duck para os funcionários começaram a ‘think out of the box’”. Em Hong Kong, as pessoas já conhecem bem este tipo de actividades e têm mais vontade em participar. Mas em Macau, para Syen, “as pessoas não querem gastar centenas de patacas para fazerem este tipo de actividades”. A mesma situação acontece nas empresas locais, porque, até agora, as que já participaram são provenientes de Hong Kong ou do estrangeiro. Mesmo assim, a Oily Duck já cooperou com a Universidade de Macau e Suey considera que os estudantes são mais propícios ao contacto com a arte. “Os estudantes acham que a forma como podem pintar na nossa actividade é diferente do que acontece na escola, onde é limitado e o professor avalia a pintura. Aqui não há pressão, desenha-se o que se gosta e não se recebe comentários negativos.” Quando os clientes não sabem o que devem pintar, a Oily Duck oferece um desenho como referência. A fundadora frisa que a actividade não é só para os que sabem pintar ou têm talentos artísticos. “Não somos todos cantores, mas vamos sempre ao Karaoke, então o mesmo conceito deve aplicar-se à pintura”, afirmou Syen. A actividade pode ser encontrada na página do Facebook da empresa, com o mesmo nome.
Leonor Sá Machado Perfil PessoasJoana Dillon, licenciada em Gestão Empresarial: “Macau é a minha casa” [dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oi no restaurante de comida portuguesa e macaense do casal Dillon que o HM se encontrou com Joana, uma jovem local de 27 anos. Em Londres, tirou uma licenciatura em Gestão Empresarial, mas não sem primeiro experimentar o curso de Hotelaria e Gestão na Suíça. “Era muito aborrecido e percebi que não era aquilo que queria e foi então que mudei para Londres”, começou por dizer. Ainda de tenra idade, não sabe exactamente, como milhares de jovens por esse mundo fora, o que quer fazer no futuro. Entre os serões passados em casa dos pais e de amigos, Joana entretém-se a passear os cães e a ouvir música. Questionada sobre o seu percurso, a jovem confessa ter sempre sentido que Macau simboliza conforto e à vontade. Enfim, tudo aquilo que procuramos quando falamos de um lar. “Macau é a minha casa”, diz sem hesitações. Por esse mundo fora Ir para fora sempre esteve nos seus planos, mas não para sempre. É que é com os nossos que mais queremos estar quando o tempo passa pelo corpo e pela alma. Ao contrário de vários residentes locais, viajar é uma das coisas que a licenciada mais gosta de fazer. Nos planos futuros estão caminhadas pela Índia e pelo Egipto, mas os pais temem que ambos sejam territórios “perigosos”. Será, certamente, um assunto a discutir em seio familiar. Entre uma vida (agora) pacata, Joana ajuda os pais no restaurante, aceitando pedidos nas mesas e fazendo as contas ao final da hora de ponta. O restaurante, mesmo ao pé dos Lagos Nam Van, enche a olhos vistos às horas de almoço e jantar. São os macaenses, portugueses e turistas chineses que mais lucro dão à casa. A jovem gosta de ajudar a família, mas sabe que não será para sempre. “Estou aqui e de momento não estou a trabalhar, por isso ajudo-os no restaurante, acho que é uma coisa normal”. Supermercados à maneira Embora Macau seja o lar de Joana, a licenciada macaense gostou muito da sua experiência na Europa, continente que visita com uma regularidade a que poucos têm acesso. Seja por falta de interesse, posses ou horizontes. No entanto, há uma coisa em particular da qual tem realmente saudades: “Os supermercados europeus são enormes, tão grandes que sou capaz de lá estar a ver produtos durante umas três horas”. Comparativamente, prefere os portugueses e espanhóis aos de Londres ou Suíça. Primeiro, por serem mais perto do centro das cidades, mas também por terem “produtos de qualidade a preços muito acessíveis”. Para Joana, é lamentável que não haja em Macau locais como aqueles. “O único que temos é o New Yaohan e mesmo assim nem é muito grande, só tem um piso e é muito caro”, explica. A capital inglesa e a Suíça são países nos quais o Inverno é lei e muitas vezes acompanhado de neve. Por contraste, Macau é um território virado ao lado exótico, onde o tempo frio faz das suas, mas que passa quase sem que percebamos. Talvez parte da vontade de sair tivesse sido motivada pela diferença de climas e culturas. Foi graças à frequência do antigo Colégio Canadiano de Macau que Joana hoje em dia fala Inglês fluentemente, a juntar ao Cantonês de língua materna e Mandarim de língua segunda. A pequenez faz a regra Não é novidade dizer que Macau se pode tornar um tanto ou quanto claustrofóbico. Tratando-se de um território com pouco mais de 30 quilómetros quadrados, traz em si o espírito de aldeia, onde cada passo é um cumprimento ao transeunte que nos passa ao lado. Nascida em Hong Kong, mas a viver no território desde bebé, Joana não vê as mudanças sofridas na cidade como algo negativo. Antes, como um factor “natural” de qualquer sociedade que se quer evoluída. “Macau é muito pequeno”, explica Joana. No entanto, aponta que esta característica pode funcionar bem e mal para a sua população. Por um lado, torna-se pouco possível fugir ao efeito de aldeia aqui criado, mas por outro, “sabe bem porque é uma cidade muito familiar, faz-me sentir em casa”. Por estas paragens, mais especificamente na Universidade de São José, frequentou o curso de Design, mas rapidamente percebeu que “não era aquilo para o qual havia sido talhada”. Neste momento, contenta-se com serões com a família e amigos a descobrir novos nomes da música electrónica e rock mundial e a dar longos passeios na zona das Casas-Museu da Taipa. “É um dos espaços mais calmos e bonitos da cidade”, diz. “Antigamente, saía muito à noite, mas cansei-me desse tipo de vida e já não consigo achar piada aos bares e discotecas de Macau. Temos pouca escolha e a música não é muito boa”, queixa-se. Quando o intuito é comprar produtos mais internacionais, diz, Hong Kong é a cidade a frequentar. “O ambiente nocturno dos bares, a música, as lojas, os supermercados e os centros comerciais são todos muito maiores e sempre que quero comprar uma coisa específica, é a Hong Kong que vou”, acrescentou. Para já, Joana desconhece aquilo que o futuro lhe reserva, mas sabe que será certamente sumarento. Entre temporadas na Europa, serões bem passados em família e a falta de supermercados grandes, Joana lá se vai entretendo nesta cidade que considera ser sua. Como é já de todos nós um pouco.
Andreia Sofia Silva Ócios & Negócios PessoasRestaurante vegetariano “Concept H” | Calista Chan, fundadora Está aberto na Rua Henrique de Macedo e promete todos os dias entregar em casa ou no trabalho dos clientes refeições simples mas cheias de produtos saudáveis. Calista Chan quer continuar a expandir o restaurante “Concept H – Healthy, Honest, Home” e até dar aulas de comida vegetariana [dropcap style=’circle’]H[/dropcap] de Healthy (saudável), Honest (honestidade), Home (casa). São estas as ideias que estão por detrás do conceito do restaurante de comida rápida “Concept H – Healthy, Honest, Home”. Quem o procura, sabe que vai encontrar refeições preparadas de forma caseira e com os melhores produtos, mas sem carne ou peixe. Calista Chan, fundadora do negócio, conta o que a levou a abrir um restaurante vegetariano no território. “Não é apenas um café ou um restaurante, queremos entregar comida simples e vegetariana na vizinhança”, contou ao HM. “Pensámos em distribuir comida segundo um conceito de vida saudável. O vegetarianismo é apenas uma das formas de proteger o meio-ambiente, reduzindo emissões para a atmosfera, e consegue prevenir muitas doenças do meio urbano. Por isso é que queremos distribuir comida vegetariana aos nossos vizinhos e também temos a ideia de que cada pessoa pode escolher os seus próprios ingredientes e criar o seu almoço”, disse ainda. Além de refeições propriamente ditas, preparadas com legumes, fruta e outros produtos orgânicos, o “Concept H” tem ainda hambúrgueres e sanduíches onde não entram a manteiga, o fiambre ou o queijo, mas sim alimentos como abacate. “Há mais consciência por parte das pessoas que comem fora de casa mas que procuram comida mais saudável, livre de óleos e outros aditivos. Temos muitas opções para os clientes”, acrescentou Calista Chan. Com alguns meses de abertura, o “Concept H” tem gerado boas reacções junto dos clientes. “Normalmente as pessoas encomendam as nossas refeições à hora de almoço, combinadas com arroz vermelho. Têm-se mostrado bastante curiosas sobre este conceito e tentamos explicar. Os locais têm muita curiosidade em experimentar”, revelou a empresária. Aulas de culinária Vegetariana há cerca de um ano, Calista Chan depressa percebeu que comendo mais frutas e vegetais e eliminando a carne, peixe ou lacticínios teria maiores benefícios para o seu corpo e dia-a-dia. “Penso que é uma boa opção para aqueles que se preocupam com a sua saúde e que estão sempre doentes. É uma boa opção para limpar o corpo com vegetais e fruta. Uma dieta vegetariana ajuda ainda a prevenir doenças do coração, entre outras, e também é uma boa forma de proteger o ambiente.” Criar o “Concept H” foi apenas mais uma consequência natural dessa opção pessoal, sendo o restaurante mais um a adicionar à lista dos mais variados espaços de comida saudável que têm surgido em Macau. “Pelo que percebi desde a abertura do restaurante há mais restaurantes vegetarianos em Macau e há cada vez mais espaços que fazem entrega de comida vegetariana ou mesmo lojas com produtos orgânicos. Este ano notámos mais isso e penso que vai ser cada vez mais uma tendência em Macau”, defendeu Calista Chan. Com muitos espaços abertos, o “Concept H” não quer parar por aqui. Na calha estão a aquisição de mais produtos orgânicos, “para que as pessoas tenham mais oportunidade de escolha”. Mas Calista Chan quer ir mais longe e começar a dar aulas de culinária para aqueles que querem aprender a cozinhar de forma saudável, mas simples. “Arrendámos um novo espaço e queremos que os nossos clientes participem em aulas de culinária, onde ensinaríamos as pessoas a utilizar ingredientes simples para fazer refeições, na maioria vegetarianas. Aí as pessoas vão perceber que preparar este tipo de refeições não é difícil. Esse é o nosso principal objectivo”, rematou. No Facebook, a página tem cerca de mil gostos, mas no dia-a-dia muitos têm sido os clientes que procuram opções de almoço mais saudáveis. O “Concept H” está aberto entre as 11h30 e as 18h30 de segunda a sexta-feira e aos sábados das 10h00 às 18h00 e fica na Rua Henrique de Macedo, perto da Rua de Horta e Costa.
Filipa Araújo Perfil PessoasAngeline Silva, educadora de infância: “A oportunidade que nunca tive” [dropcap style=’circle’]É[/dropcap]o olhar mais recente que a equipa do HM tem a oportunidade de partilhar. Chama-se Angeline Silva, mas é por Angie que a tratamos. Foi em Fevereiro que visitou pela primeira vez Macau. “O meu marido veio trabalhar para um projecto aqui em Macau”, começa por explicar. Um projecto que deu frutos e abriu a porta à possibilidade de Angie se ficar pelo território. “Vir para Macau tornou-se um objectivo pela presença do meu marido aqui, isso e a falta de oportunidades em Portugal”, partilha. A conversa começou logo ali, num parque exterior carregado de baloiços e risadas de mais de 20 crianças. Um choro aqui, um corrida para ali, o ambiente não podia ser mais descontraído e isso era evidente na cara de Angie: as crianças são a sua praia. “Tenho de colocar os meus meninos na aula de Mandarim, já volto”. É assim que a educadora de infância interrompe a conversa com o HM. Ao seu lado uma criança chorava, outra sentava-se no chão sem vontade de parar de brincar. Em Inglês, Português e noutras expressões que, para nós, são difíceis de perceber, Angie coloca ordem na turma e todos focam a atenção na aula que ia começar. Oportunidade de ouro “Adoro o que faço”, reinicia a conversa, explicando que as aulas começaram há poucas semanas e que todas as crianças ainda estão em fase de adaptação. “São muito pequeninos, é uma nova fase da vida deles é normal”, explica quando percebe que à nossa volta estavam pelo menos três crianças a chorar. Numa sala que parecia de contos encantados, em cadeiras para pessoas de tamanho pequeno, a educadora mostra o brilho do olhar típico de quem acabou de aterrar no território. “Gosto muito de estar cá, não tive medo nenhum em vir viver para aqui”, indica. A verdade, confessa, é que Macau deu à educadora “a oportunidade que Portugal nunca deu”. Angie está a fazer o que realmente gosta: ser educadora de infância, algo que nunca conseguiu naquele país. “A crise, mais a vontade de estar com o meu marido, trouxe-me aqui. E gosto”, partilha. Num cenário cheio de cor, numa mesa com sete pratos pequenos, sete colheres e sete guardanapos para um almoço que iria acontecer num par de horas, Angie ri-se ao contar que está em fase de adaptação. Sim, Yes, Ci Um dos maiores desafios que esta aventura lhe trouxe foi a multiculturalidade existente na turma pela qual é responsável. “Aquilo fala-se em Chinês, Inglês e Português, tem sido um desafio. Quando dou por mim estou a dizer ‘sim’ e olho para o lado e digo ‘yes’”, relata. A sua turma tem meninos chineses que nada falam em Inglês e por isso Angie tem-se esforçado para captar e aprender a língua, permitindo uma comunicação para além de gestual com essas crianças. “Já vou percebendo palavras soltas, já reconheço alguns sons e sei o que eles querem dizer com isso, mesmo que não os consiga perceber. Mas quero tentar aprender a língua local”, adianta. O jardim de infância proporciona a cada sala uma auxiliar intérprete para melhor facilitar a comunicação, algo que tem sido uma ferramenta muito útil. Mudam-se os hábitos O trânsito é de facto o que mais estranheza lhe causa. “Nunca vi um sítio assim, mesmo que tente não sei explicar como é que eles conduzem. Os taxistas… Já para não falar dos condutores de autocarros em que as pessoas, com as travagens bruscas, com os buracos, balançam como bailarinas”, relata, entre gargalhadas. A massa populacional é também uma novidade para a educadora. “Nunca vi tanta gente em ruas tão pequenas e parece que eles se movem de forma automática, nem olham para os lados ou para a frente, e se for preciso vão contra as pessoas”, brinca. O mar, esse é o que mais falta lhe faz. “Vivia perto do mar, tenho uma ligação muito forte com o mar. Sempre que me sentia triste, ou precisava de pensar em alguma coisa, ou só porque sim, ia passear à beira-mar, ia ver o meu mar. Aqui não posso fazer isso”, anota. Curiosamente, Angie conseguiu encontrar um substituto para o seu mar. É um espaço que não se assemelha a ele, mas que o substituiu. O Bellini. “Eu sei que é estranho, mas agora é um ritual. Todas as quartas feiras vou àquele bar, dançar, ouvir música. Descontrai-me”, anota. Entre passos de dança e rodopios, Angie vai-se adaptando ao novo mundo que a acabou de receber.
Flora Fong Ócios & Negócios Pessoas“Gorilla”, Loja de Móveis | Charles Ieong, fundador: “O design pode ser integrado na vida” São peças especiais, mas simples. Charles Ieong é desenhador gráfico, mas resolveu criar uma loja onde vende mobílias provenientes da Europa. Mesmo que os preços sejam caros, são duradouros e passam, garante, de geração para geração [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]a Calçada da Barra, pouco movimentada e antiga, encontramos uma loja bem moderna, decorada a preto, branco e madeira. Entrámos num ambiente que nos pareceu confortável e falámos com Charles Ieong. É o fundador da loja, que nos explica como surgiu esta oportunidade. “O negócio foi criado há um ano e meio. A localização da loja, se calhar, não é muito boa, mas confesso que a abri sem considerar todos os factores. Mas sobrevivi até ao momento”, começa por dizer Charles ao HM. O jovem estudou design gráfico, porque desde sempre teve interesse na matéria. Surgiu, assim, a ideia de coleccionar mobílias de moda, mas simples. Dentro da loja vemos sofás, mas também recheio de casa: talheres, panelas, velas, candeeiros, brinquedos para crianças, revistas de design interior. A ideia de Charles Ieong é que o cliente consiga comprar tudo o que precisa para a casa dentro da sua loja. “O design pode ser integrado na vida. Em Macau, há poucas lojas que vendem mobílias com design especial e existe um mercado de consumidores que se dirige sempre a Hong Kong para fazer compras de mobiliário. Na cidade vizinha este tipo de lojas já está muito bem assente no mercado. Por isso quis mesmo criar uma loja [semelhante] na nossa cidade.” O fundador da “Gorilla” considera este tipo de peças é cada vez mais procurado em Macau, porque é um tipo de conceito novo. Até ao momento não há outra loja do mesmo estilo da sua, a quem Charles chamou de “Gorilla” apenas por gosto pessoal. “Quando pensei em criar um nome, não quis seguir os nomes comuns como ‘home’ ou ‘store’. Se calhar porque me dedico ao design, espero ter um nome bem especial com um tema que seja divertido para a loja. Acabou por ser “Gorilla”, para ser um ‘gimmick’”, explica-nos, como que dizendo que a ideia é atrair atenção. Para Charles, o nome combina com o estilo da loja: é menos vulgar e tem mais produtos divertidos. As peças à venda têm custos diferentes, que começam nas mil patacas. Os produtos da loja são principalmente de design simples e prático, provenientes do norte da Europa, sobretudo da Dinamarca, Suécia e de Espanha. “Todos os produtos podem ser utilizados durante muito tempo, não se estragam facilmente.” Charles confessa que o custo de origem dos produtos é “bem alto”, já que as despesas com o transporte são a maioria. A renda ocupa outra parte. Contudo, o número de clientes tem aumentado e Charles diz-nos que consegue equilibrar as despesas e as receitas. A clientela da “Goriila” é da nova geração. Charles observa que os jovens dão mais importância às mobílias modernas e de design especial. E que têm, agora, em Macau, onde comprar o que gostam. “Os nossos clientes consumiam sempre em Hong Kong e gostam deste tipo de mobílias. Quando abrimos uma loja assim em Macau, naturalmente vêm escolher ou comprar peças aqui.” Escolhas especiais Charles Ieong passa as suas próprias paixões para a loja que gere. O dono introduziu uma série de panelas provenientes da Dinamarca com cinquenta anos da história. “Chama-se Dansk Kobenstyle. De facto, a marca parou a produção de panelas durante 20 anos. Mas existem pessoas de todo o mundo a procurar as panelas em segunda mão por achá-las muito boas. Pelo grande interesse dos clientes, a empresa voltou a produzir a série de panelas em 2012 e, recentemente, chegou a Macau, sendo bem aceite pelas pessoas do território.” Charles Ieong diz-nos que gosta muito do modo da vida da Dinamarca, por isso querer trazer um pouco do país para Macau. “Para os dinamarqueses, o conceito da casa é muito importante e as mobílias podem ser muito caras mas são utilizadas dezenas de anos, passando de geração para geração. Em Macau, é fácil encontrar produtos baratos de grandes marcas, como a Ikea, que produz produtos muito rápido, mas que não são duradouros. Da minha parte, espero que a ideia dinamarquesa possa ser integrada na vida de Macau e que as mobílias não sejam eliminadas devido à passagem do tempo e das modas”, frisou.
Filipa Araújo PerfilVasco Flores, engenheiro electrotécnico [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hama-se Vasco Flores, é engenheiro electrotécnico e abraçou a aventura de viver em Macau por tempo indeterminado. “Em Macau devemos viver um dia de cada vez, tudo pode mudar, as coisas não são lineares como pensamos”. É assim que Vasco Flores abre a conversa com o HM. Depois de muito viajar pelo mundo, o engenheiro começou a dar sinais de cansaço devido às “muitas horas de trabalho e a uma remuneração insuficiente”. Portugal, um país de sonhos, fez acordar a população com a sua crise e falta de condições de trabalho. O desemprego bateu à porta de muitos e cortou nas remunerações de outros. Depois de passar por vários países – Cabo Verde, Suíça, Irlanda, Cuba, Angola – o engenheiro electrotécnico começou a pensar de forma mais séria na possibilidade de sair do país de forma fixa. E como quem procura, encontra, Vasco Flores acabou por receber um convite para voar para este lado do mundo. “Através de amigos comuns fui contactado com esta oportunidade, aqui para Macau”, explicou, acrescentando que, depois de tudo definido, embarcou “nesta aventura” que supostamente seria apenas de um ano, terminando em Julho de 2015. Culturalmente diferente O bom trabalho e o conhecimento prestado pelo engenheiro levaram a que outras oportunidades surgissem e, depois de terminado o projecto que trouxe Vasco Flores ao território, a possibilidade de ficar por cá tornou-se uma realidade. O primeiro impacto foi claro: o clima e a diferença cultural. “Apesar do choque cultural, nomeadamente dos hábitos cívicos, ainda se nota uma certa influência portuguesa, como o nome das ruas, os restaurantes. Mas é evidente que há pequenas coisas que fazem sentir que estamos do outro lado do mundo, como por exemplo o clima” argumenta. “A humidade é das coisas mais impressionantes aqui, quando damos por nós estamos a suar de cima a baixo”, explica, admitindo traços de recém-chegado a Macau. Ser coordenador de uma equipa de nacionalidade chinesa também não se mostrou tarefa fácil. “Tenho experiência profissional em vários países e culturas e trabalhar com chineses não é fácil. Como orientador de uma equipa temos de assumir muitas vezes uma postura mais séria, ao contrário de outros países. Por exemplo, em Angola se falamos de forma mais ríspida é muito possível que o trabalhador olhe para o chefe e vire as costas, aqui é diferente, eles vêem o coordenador com uma postura mais autoritária”, relata. Ainda assim uma coisa é certa: “somos nós [portugueses] que somos a matéria estranha ao território e somos nós que, se estivermos mal, temos que ir embora”. Intensamente amigos A decisão foi tomada e, sem fechar a porta às mudanças da vida, Vasco Flores acabou por aceitar ficar por cá. A maior prova disso foi o convite que se estendeu à sua esposa, para que o casal se aventurasse na Ásia. Ainda assim, mesmo com amigos e família do outro lado do mundo, aqui, neste pequenino espaço da China, os novos amigos parecem de sempre. “Macau aproxima as pessoas, as relações são intensas. É mesmo muito fácil fazer amigos, até porque fazemos muitas coisas e mais vezes com eles. Os almoços, os fins-de-semana. Estamos do outro lado do mundo, sem a família é normal que isto aconteça. Isso é muito bom”, enumera. A comunidade portuguesa patente em Macau é também apontada como uma vantagem que facilita a integração. “Acho que a comunidade portuguesa sabe receber e acaba por nos integrar e mostrar sítios e outras coisas. Caso contrário, se estivéssemos do outro lado do mundo, sem ninguém, seria mais difícil”, defende. De sorriso na cara Macau deve ser encarada com a mente carregada de optimismo, caso contrário as viagens de táxi, exemplifica, poderão tornar-se uma tragédia. “Temos que nos rir, temos que encarar isso de forma positiva, se nos enervamos só vai complicar”, conta, relembrando várias aventuras que já teve com as viagens de táxis. “É uma problemática de Macau e isso já se sabe”, remata. Os menus de vários restaurantes só em Chinês, ou a incapacidade de falar Inglês dos funcionários são outro dos exemplos dados pelo engenheiro. “Fazemos à sorte e arriscamos. Pode calhar uma coisa boa ou não, até podemos não saber o que estamos a comer, mas temos de nos rir com isso”, acrescenta. Macau e as suas pessoas fazem parte da vida de Vasco Flores e agora também da sua esposa e isso o tempo não mais vais apagar. O futuro é uma incógnita e o que interessa é “o dia que se está a viver” e o hoje é aqui, deste lado do mundo.
Filipa Araújo Ócios & Negócios PessoasMacau Film Production | Hugo Neves Cardoso, produtor executivo Primando pelo “fazer acontecer”, a MFP nasceu para tornar real o vídeo que imaginou para si, ou para a sua empresa. Cabe também à MFP a responsabilidade de transformar o que imaginou para o seu evento em realidade. Tem quatro anos e começa agora a dar os primeiros passos além fronteiras [dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oi em 2011 que nasceu a marca Macau Filme Production (MFP), que adoptou o nome Filmes e Eventos, Serviços de Produção. “O nosso nome é basicamente toda a descrição daquilo que podemos oferecer”, começa por explicar o produtor executivo Hugo Neves Cardoso ao HM. Eventos, vídeos promocionais, filmes, captação de imagens para televisão, ensaios fotográficos e produção de programas televisivos são apenas algumas dos serviços prestados pela empresa. “Tudo o que esteja ligado à área da produção, temos capacidade para fazer”, adiantou o também publicitário, indicando que a equipa é composta por cinco trabalhadores fixos, especializados nas áreas de produção de conteúdos, design e editorial, sendo que, em projectos que necessitam de mais trabalhadores é feita uma subcontratação. “Tudo depende da dimensão do projecto em causa, podemos fazer parcerias com outras empresas, ou até contratamos trabalhadores em freelancer”, acrescenta. As mãos na massa A variedade de projectos é uma constante para a empresa. A organização do Campeonato Mundial de Karaoke (KWC), que aconteceu recentemente no Hard Rock café, por exemplo, foi da autoria da MFP. “Estamos neste momento a fazer o Karaoke e nesta semana será em Cantão”, explicou. Cantão é um dos outros lugares em que a empresa actua também. Na área de filmagens, Hugo Neves Cardoso indica ainda a participação nos vídeos de formação de empresas de entretenimento a actuar no território. “O que nós fazemos é comunicação para várias empresas, nomeadamente na área de vídeo, ou então de eventos”, esclarece o produtor. A possibilidade de criar o vídeo corporativo para a sua empresa, a sua página na internet ou criar um evento existe com a MFP. Os particulares podem também recorrer aos serviços da empresa, tendo o site como plataforma de contacto directo. Além fronteiras Neste momento, a empresa tem a representação exclusiva – em Macau e Cantão – da marca KWC – Karaoke World Championship. “Este é um projecto que temos para os próximos três anos, temos a representação exclusiva para a província de Cantão, e, de facto, estamos a dar o passo que é exactamente o de entrar na China continental”, explica. A falta de mais oportunidades na RAEM faz com que a empresa procure novas oportunidades além fronteiras. “O mercado de Macau, infelizmente, é um mercado pequeno e limitado. Há muito dinheiro, não há crise, mas a realidade é que não existe muito mercado nesta área”, explica. De olhos bem abertos Apesar do conteúdo dos serviços serem adaptados a cada cultura, o produtor explica que na área de produção tudo tem as mesmas linhas de funcionamento. “O que nós fazemos é a parte da execução da produção. Há um lado criativo, mas muitas vezes este lado criativo vem das agências de comunicação, que têm a ideia para o anúncio, para o plano e depois, claro, precisam de uma produtora que as execute. Esse é de facto o nosso forte”, acrescenta. Existe também um lado muito criativo, até porque o mercado de Macau assim o exige. A China continental é assim a próxima meta a atingir, conforme indica o produtor executivo. A equipa conta também com colaboradores de vários pontos do mundo. “Assumimos a presença aqui no Delta, ou seja três pontos, Macau, Hong Kong e Cantão. Trabalhamos nestas três zonas”, explicou Hugo Cardoso, acrescentando que a equipa já tem um grupo de trabalhadores com quem tem trabalho em vários projectos, seja em Macau, China ou Portugal. Uma breve visita pelo site permite perceber todas as áreas de actuação da empresa. Com experiência na área de produção em Portugal – responsáveis por várias publicidade de marcas portuguesas – é possível ao cliente ter acesso ao portfólio da MFP e escolher a opção que mais se adequa ao seu projecto. A empresa situa-se no Beco da Palha, em Macau.
Flora Fong Perfil PessoasGemmany Cheong, artesã [dropcap style=’circle’]U[/dropcap]ma pessoa pode ter vários papéis. Quando não se conhece e se olha para Gemmany pela primeira vez, podemos achar que esta jovem é apenas uma secretária normal de uma empresa normal, que entra e sai de trabalho à mesma hora normal de todos os dias. Que gosta de maquilhagem e de pintar as unhas. Mas esta jovem de 26 anos faz coisas que a maioria de nós não faz. “De dois em dois dias, vou alimentar os cães abandonados em vários sítios de Macau com comida cozinhada pela minha mãe, nas noites depois do trabalho.” Já há algum tempo que a mãe da jovem faz arroz com frango todas as semanas, pondo a comida em caixas para que Gemmany se dirija aos locais onde se passeiam animais vadios e possa alimentá-los. Sempre que alimenta um animal, ela passar a conhecer bem os sítios onde vivem os cães abandonados em Macau – normalmente vai às zonas da Areia Preta, das Portas do Cerco e aos lotes de construção desocupados. É possível que este interesse da jovem tenha surgido por causa da mãe, que adora cães, e passa este gosto aos familiares. “Agora temos oito cães e um gato em nossa casa. A minha mãe começou por adoptar primeiro o cão de uma vizinha quando eu andava na escola primária. No início, o meu pai não gostava de ter tantos cães mas, passo a passo, a mãe convenceu-o e ele aceitou. Desde então, adoptámos cada vez mais animais nos locais de construção e noutros sítios”, conta Gemmany ao HM. Um dos oito cães foi também encontrado mais recentemente pela sua mãe na rua. Ambas tentaram durante muito tempo procurar um novo dono, mas não conseguiram, pelo que resolveram levá-lo para casa, sendo este agora mais um membro da família. Se a despesa com os animais é grande? Gemmany não acha. “É apena comida e champôs para tomar banho. O dinheiro gasto é limitado, não é muito.” Trabalhos diversos Há vários anos, a jovem começou por dar atenção a cães abandonados quando trabalhava como uma espécie de cabeleireira numa loja de animais. Gemmany não percebia como é que alguns donos podiam ser tão cruéis para com os seus bichos e surgiu, então, a ideia de os ajudar, através da criação de uma página no Facebook denominada “I See You”. E foi também aqui que a jovem encontrou a sua nova vocação. “Como sempre gostei de fazer arte, comecei a fazer peças de artesanato. Depois de vendidas, o lucro que faço pode ajudar a comprar comida para os cães abandonados” explicou. As peças de artesanato são normalmente instrumentos para gatos e cães, gravatas, molduras, roupas e objectos de decoração, que são colocados à venda num canto especificamente feito para “I See You”, na loja de animais onde trabalhava. Mas como este não é o seu trabalho a tempo inteiro, o lucro não é estável. Felizmente, Gemmany consegue todos os meses doações em dinheiro e comida para os cães. “Normalmente são os clientes da loja que me conhecem e têm sempre vontade de doar comida à ‘I See You’”, conta. Amor em tempos de abandono Nos tempos livres, Gemmany frequenta cursos de formação de software de design, mas a vida desta jovem não podia ser contada sem se falar dos animais. Gemmany gasta todos os fins-de-semana a dar banhos aosn cães. Olhando para o futuro, não tem planos para suspender a alimentação dos cães abandonados, a criação de artesanato ou, obviamente, deixar de ter os oito cães e o gato que pertencem à sua família. A criação de artesanato começou em Outubro do ano passado, ainda que, como lamenta, o tempo seja escasso para a criação, já que o seu trabalho de secretária não lhe permite total dedicação. Mas a jovem nunca parou ou parará de ajudar os animais. A página da rede social que criou ajuda também os donos a procurar os animais perdidos nas ruas, partilhar ofertas e pedidos de comida para cães abandonados de forma a alertar a consciência dos outros e tenta também ajudar a procurar donos para os animais, cooperando com a Associação de Protecção de Animais Abandonados (AAPAM) e o Canil de Macau. Algo que pode não ser fácil. “Uma vez, uma cadela teve seis bebés num local de construção. Tentei com muito esforço e havia muitas pessoas a mostrar vontade de adoptar pelo facto de eles serem de graça. Mas, depois, começam a pensar e muitos contactaram-me a dizer que já não conseguiam adoptar por diversas razões. Este problema é comum e frustrante.” Através do Facebook, a jovem quer ainda promover o conceito da substituição de compra de animais por adopção. Na opinião da Gemmany, a alimentação dos cães abandonados é um trabalho significativo e a vida de Gemmany é, por isso, gratificante. “Eles agradecem-me por encontrá-los e lhes dar amor e comida. Acredito.”
Leonor Sá Machado Ócios & Negócios‘Maquette’, restaurante | Maggie Chiang, proprietária e chef [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]m Português, maquette é a construção, em miniatura, de uma estrutura arquitectónica. Foi exactamente essa a inspiração para Maggie Chiang, a proprietária de um dos poucos restaurantes originalmente franceses em Macau. Tudo começou em 2013, mas foi preciso algum tempo para que as pessoas realmente absorvessem este tipo de conceito: um local de um conforto intimista, que se quer sempre original e fiel aos princípios. A ideia por trás de ‘Maquette’ tem um conceito básico que se descortina em dois: o sabor e o gosto estão na linha da frente, tanto ao nível da comida servida, como do ambiente que se quer sentido por quem ali entra. “Primeiro, foi importante reproduzir bem o paladar das cozinhas francesa e italiana e depois fazer com que as pessoas se sintam confortáveis”, conta a proprietária. “É um local que se quer intimista”, destacou, quando questionada sobre aquilo que se quer transmitido naquele espaço. É sabido que a aceitação de diferentes culturas não é fácil, seja aqui ou em qualquer outro lado do mundo. Exemplo disso foram os primeiros meses de ‘Maquette’, onde Maggie era frequentemente questionada acerca da rigidez das massas, aprimoradas ‘al dente’ para serem tipicamente italianas. “Quando comecei, tive alguns problemas… As pessoas perguntavam-me porque é que as massas eram tão duras e eu tinha que lhes explicar o conceito por trás da cozedura e daquele tipo de gastronomia”, conta a chef. Também o tamanho das porções, servidas com menos volume do que o habitual, era estranho para a clientela. “Achavam que eram muito pequenos, mas fui-lhes explicando que eram pratos que em Itália eram entradas e não pratos principais”, justifica Maggie. De origem asiática, Maggie cresceu em Macau, mas cedo percebeu que existe mundo para além de Hong Kong, tendo-se lançado nos estudos bastante cedo. Actualmente, encontra-se na casa dos 30 e com grande dos seus objectivos profissionais cumpridos: não só gere e prepara o cardápio do restaurante, como também tem oportunidade para continuar a ensinar às pessoas a cultura e paladar de outros povos. Experiência comprovada Pode dizer-se que a alma de Maggie vive na cozinha ou, melhor dizendo, na gastronomia ocidental. Em França e Itália estudou Culinária e Gestão Gastronómica, mas este amor não é recente, já que antes, ainda em Macau, tinha um estúdio onde dava aulas sobre estas matérias. Maggie investiu em estudos no estrangeiro, acreditando que tudo lá fora seria melhor do que por estes lados, só para mais tarde perceber que o seu coração residia na terra-natal. “Dantes, não sentia que tinha raízes em Macau e não dava valor ao facto de ser daqui. Só quando estava lá fora é que me apercebi das saudades que tinha e do quão queria voltar”, confessou. Geralmente, só quando se perde algo é que se lhe dá valor, mas Maggie foi a tempo de tirar o curso superior e realizar o seu sonho de criança: abrir um restaurante. A identidade de macaense cresceu, neste caso, lá fora. “A ideia de criar o meu próprio espaço surgiu quando ainda estava a acabar o curso e a fazer o estágio em Itália”, começa por dizer. Nessa altura, entre tachos, massas, pizzas e saladas frias, Maggie já se imaginava a gerir um pequeno espaço intimista, como sempre quis. Ideias pré-cozinhadas E assim foi. “Já fazia rascunhos de como queria que o restaurante fosse, incluindo o menu e a lista de produtos que lá ia vender”, destaca. Como uma ideia nunca vem só, a proprietária quis não só fazer um restaurante original, mas ensinar às pessoas o significado italiano de bem comer. A ideia principal não é a de saciar a fome da clientela, mas antes fazer com que esta se sinta em casa, confortável e a passar um momento que não teria em qualquer outro lugar. “Julgo que outra das coisas importantes é a apresentação dos pratos e prezo por fazê-la bem”, destaca a proprietária. “Penso que as pessoas gostam disso”. Naquele espaço perto do Hotel Regency, na Taipa, as mesas costumam estar cheias de clientes já habituais, não fosse Maggie uma boa anfitriã. “A maioria das pessoas é já da casa e acho que isso se deve ao facto de termos criado um espaço intimista e onde se criam relações pessoais”, argumenta. O espaço está aberto de terça-feira a domingo para almoços e jantares, entre as 13h00 e as 21h30 horas, no 7ºE da Estrada Lou Lim Ieok. Uma refeição pode ir das 200 às 500 patacas, incluindo entrada, prato principal, sobremesa e bebida. A selecção de vinhos é bastante vasta, sejam eles brancos ou tintos. Muitos dos produtos vêm de fora e embora obriguem à subida do preço das refeições, vale a pena provar um pouco da Europa na Ásia profunda. É que aqui não há figos nem azeite como os de Portugal. A não ser no ‘Maquette’.
Filipa Araújo Perfil PessoasCélia Boavida, consultora informática [dropcap style=’circle’]S[/dropcap]empre pronta para viajar e com sorriso na cara são as linhas base na vida de Célia Boavida. Argentina, Estados Unidos, Holanda, Suíça, Japão, Singapura e Xangai são apenas alguns dos sítios por onde a consultora informática já passou. “A empresa onde trabalho está a apostar muito na internacionalização e temos um cliente muito forte na Ásia, o que faz com que surjam oportunidades no Oriente”, começa por contar ao HM. Um dia o convite surgiu. A empresa onde Célia Boavida trabalha avançou com a decisão de abrir um escritório em Macau e a consultora não hesitou quando a administração – sabendo do seu gosto pela Ásia – lhe apresentou a proposta. “Como há alguns anos já tinha assumido projectos internacionais, fizeram-me o convite quando quiseram criar uma equipa”, acrescenta, sublinhando que sempre gostou “imenso da Ásia”. Macau é a experiência profissional internacional mais longa em que, até à data, a consultora embarcou. “Estou em Macau há dois anos e meio, é o sítio em que estou há mais tempo”, conta, relembrando que o primeiro impacto, embora já tivesse contacto com o mundo asiático, foi “estranho”. “Embora já tivesse trabalhado na China, em Xangai, são realidades distintas. Chegar a Macau foi um bocadinho, posso dizer, [um] choque”, partilha, frisando que visualmente foi um grande impacto. “Macau pareceu-me um pouco ‘selva urbana’, mas não bem estruturada e por isso no início foi um bocadinho difícil de me adaptar”, conta. A equipa de trabalho – permitindo que a consultora não viesse sozinha – foi um grande suporte no processo de adaptação. “A equipa serviu muito para se apoiar entre si. Dávamos muito apoio uns aos outros, isso foi óptimo, super vantajoso”, assinala. Viver a viajar Natural de Lisboa, mas sempre a viver em Alverca do Ribatejo, Célia Boavida não esconde a vontade que tem em abraçar o mundo e viajar sem parar. Macau é um ponto estratégico nesse aspecto, defende. “É muito fácil viajar aqui à volta, isso para mim é muito positivo, é mesmo muito bom”, remata. O ordenamento do território e a falta de espaços verdes são os aspectos menos positivos aos olhos da consultora. “Tenho mesmo muita pena que não existam mais espaços verdes para a população poder passear e usufruir. Há muita aposta no jogo e no imobiliário e falta, por isso, essa qualidade de vida, a capacidade de oferecer às pessoas uma forma melhorada de aproveitarem a sua cidade”, defende. O caminho para o estatuto de qualidade de vida ainda é longo, mas ainda assim viver em Macau oferece algumas coisas que outras cidades não conseguem. “Não é das cidades que eu consiga dizer que tem muita qualidade de vida, mas temos vantagens, a monetária é uma delas”, remata. Carinho na bagagem Sem esconder o seu lado doce e carinhoso, Célia não hesita quando lhe perguntamos o que de melhor Macau trouxe à sua vida: as pessoas. “O que vou levar, quando for embora, com muito carinho é o grupo de amigos que criei e que vou conhecendo”, aponta.[quote_box_left]“Nós aqui socializamos muito, não sei se é efeito das comunidades expatriadas, ou das pessoas que estão fora, mas as coisas e as relações são vividas de forma mais intensa. Tudo é intenso”[/quote_box_left] O território chinês é marcado por um processo social bem mais forte que no país natal, diz. “Nós aqui socializamos muito, não sei se é efeito das comunidades expatriadas, ou das pessoas que estão fora, mas as coisas e as relações são vividas de forma mais intensa. Tudo é intenso. E o que de facto levo com maior carinho é o convívio com os meus amigos, a interacção, o apoio, as coisas que fazemos juntos, os jantares, as saídas. Vou levar isto para Portugal, com grande afecto”, argumenta. Os afectos, que aqui são vividos com mais intensidade, fazem deste Macau um território especial, tão especial que parece que se entranha na vida de cada que por aqui passa. “Acontece, muitas vezes, por ser um ponto de passagem das pessoas, que alguns chegam e outros vão. A diferença é que mesmo indo embora, acho que aqui se fazem amizades para a vida, sinto isso. Talvez por as coisas se viverem intensamente, as amizades que se fazem, independentemente onde as pessoas possam estar ou ir, são relações que ficam para sempre. É muito positivo. E posso dizer que falo por experiência própria”, explica. Uma marca para sempre Entre sorrisos, Célia Boavida assume que nem sempre é fácil viver em Macau, e que há muitas pessoas a defender essa ideia. Ainda assim é inegável que “todos nós, mais cedo ou mais tarde, quando formos embora de Macau vamos ter saudades”. “É um traço comum a toda a gente, sinto isso. Tenho certeza que vou ter saudades. Macau faz parte da minha história”, remata. Sem planos a longo prazo, a consultora vai abraçando as oportunidades conforme surgem. “Ao final de cada ano de contrato a empresa pergunta se quero continuar ou não e eu aceitei agora por mais um ano, depois logo vejo”, termina.