Sara Justino, Engenheira do Ambiente

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]acau é um lugar sui generis e Sara Justino é bem capaz de saber isso. Mais do que uma experiência totalmente aventureira, esta cidade trouxe à jovem portuguesa um primeiro e fresco olhar para a Ásia. Algo que se assumiu como o início de uma óptima experiência, tanto profissional como pessoal.
Sara tem, certamente e como vários outros emigrantes portugueses na região, família e amigos lá bem longe, mas quando se quer muito uma coisa, dizem, é preciso mergulhar de cabeça. A jovem, agora na casa dos 20 e poucos anos, conta com uma licenciatura e um mestrado feitos em Portugal e foi numa parceria neste último programa académico que Sara conheceu esta terra que diz ser “bastante familiar”. No âmbito de um estágio, foi parar à Macao Water, empresa onde actualmente trabalha.
“Gosto muito de Macau e mesmo muito do que faço”, disse. É que Engenharia do Ambiente não parece ser uma área fácil, principalmente para quem lida com as águas do território. O mais complicado, revela, foi lidar com o choque cultural em termos de idiomas. 17666_1015415568478307_5764452654826085557_n
“Continua a ser muito complicado comunicar, mas no início foi ainda mais difícil porque trabalho maioritariamente com pessoas chinesas e a comunicação pode ser difícil”, diz.
No entanto, Sara parece ter-se adaptado bastante bem à realidade local – ao contrário de outros tantos. Se nos três meses do estágio viveu nas residências da Universidade de Macau, actualmente mudou-se sozinha para uma casa numa zona que, curiosamente, não atrai muitos estrangeiros.
“Moro perto da Ilha Verde, junto ao trabalho, num bairro completamente chinês, em que nenhum dos meus vizinhos é ocidental”, revela. “Tem as suas coisas boas, como poder sair à rua de pijama e ser uma coisa perfeitamente normal”, brinca.

Há voltas e regressos

“No início [da proposta para ficar em Macau] não sabia bem se queria mesmo ficar, até porque Macau é do outro lado do mundo”, confessou. Em Abril passado foi quando Sara se decidiu a pôr pela segunda vez os pés nesta terra. A sua primeira experiência em Macau começou de forma meio atabalhoada.
A viagem inaugural, em Setembro de 2014, aconteceu precisamente no dia seguinte à defesa da tese, momento que marca o estudante, mais que não seja pelo passo académico que representa.
Quando as asas do avião deixaram mostrar Hong Kong, Sara percebeu que era época de feriados, mais conhecida como a Semana Dourada. As ruas abundavam de gente e sacos, pessoas e saquinhos. O tempo foi deixando que Sara se ambientasse e fizesse amigos, conhecesse pessoas na universidade e no local de trabalho. Cedo percebeu que era um local agradável para viver. “É um ambiente familiar”, reforça na conversa com o HM. “A primeira impressão? Que calor!”.
“Apesar de ser tudo muito diferente e de ser a única estrangeira, tenho muita sorte com a empresa onde estou”, adianta. É que Sara sente-se a trabalhar com uma equipa que valoriza o seu trabalho. “Eles adoptaram-me, por assim dizer, e às vezes na brincadeira, até digo que são a minha família chinesa”, revela.
Por enquanto, está-se bem por aqui. Ou pelo menos é essa a ideia transmitida pela especialista em Ambiente. Assegura que fica por estes lados até que seja preciso mais para evoluir. “Fico cá enquanto sentir que estou a aprender e a partir do momento em que não é possível evoluir mais, penso em ir embora”, frisa.

Debaixo de um guarda-chuva

Para Sara, o mais complicado de ultrapassar é mesmo a barreira linguística, mas acredita que “se se quiser muito cá viver e ficar a longo prazo, é fácil ter aulas e aprender em alguns meses” de muito esforço. No entanto, fossem esses todos os males. É que, ao contrário de muitos outros lugares, Macau parece trazer a várias pessoas a sensação de conforto e uma familiaridade que, diz Sara, “não tem nada a ver com o sítio de onde vimos”, mas está presente a cada canto, esquina de prédio, pastelaria e restaurante.
Caso a ideia fosse ficar por aqui por tempo indefinido, a jovem confessa que gostaria de ter “uma casa em Coloane”, aquela que considera ser “a zona mais bonita de Macau”. O território tem, diz, “ainda muito por onde evoluir” na área da poluição e de formas de ajudar o ambiente. 10437783_821417631211436_365897649101595033_n
Quando questionada sobre momentos estranhos, que só teriam lugar em Macau, Sara não demora a recordar aquele que considera melhor espelhar o choque cultural entre a China e Portugal. Um dos episódios mais caricatos que marcam a estada de Sara no território aconteceu debaixo de uma chuva torrencial, com um grande amigo seu de naturalidade local. Chinês de alma e sangue. “Estávamos os dois debaixo do mesmo guarda-chuva, estava a chover imenso e eu, num gesto de amizade, cruzei o braço ao dele para não ficarmos desfasados debaixo do chapéu. Mas ele ficou agitadíssimo, a dizer que não podíamos fazer aquilo porque a namorada ia pensar que existia alguma coisa”, recordou, ao mesmo tempo que se ria. Quando Sara finalmente explicou ao seu amigo a natureza altamente inócua da acção, riram-se os dois ao perceber que também na amizade existia uma espécie de “protocolo cultural”.
Sara sabe que tem ainda “imensa coisa para ver e aprender” por essa Ásia fora, especialmente aqui ao lado. “Adorava pegar numa mochila e fazer uma viagem pela China, mas sei que não sabendo Mandarim não ia correr bem”, lamenta. Assim, as viagens vão-se fazendo ao passo de quem trabalha e aproveita o tempo livre. Por enquanto, Sara parece feliz com o que faz, mas essencialmente, com quem é.

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