Andreia Sofia Silva Ócios & Negócios PessoasTuga & Lola, Vinhos e Tapas | O lugar do petisco ibérico No mais recente espaço de Cristiana Figueiredo e Mónica Gonzzalez há enchidos e queijos espanhóis com vinhos portugueses, sem esquecer a tortilha, as gambas salteadas e o pão português. A gastronomia ibérica serve-se à mesa no Tuga & Lola [dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] a seguir a um supermercado filipino e a um restaurante de rua chinês, que serve as típicas refeições hotpot, que encontramos um espaço de petiscos e bebidas completamente diferente, cujo nome faz lembrar uma célebre marca de roupa espanhola. O Tuga & Lola, espaço de tapas e vinhos, abriu há cerca de um mês na Rua da Tercena e vende o melhor do mundo português e espanhol: tem o pão e os queijos, os enchidos e os vinhos. Este não é o primeiro projecto desenvolvido por Cristiana Figueiredo e por Mónica Gonzzalez. A portuguesa, socióloga e proprietária do espaço Cuppa Coffee, na Taipa, já tinha trabalhado com a espanhola num negócio totalmente diferente, na área das lembranças para turistas e pequenas decorações de casa. Mónica, que já foi piloto de helicópteros, tinha um negócio de importação de chás, carnes curadas, queijos e vinhos de Espanha. “Como a nossa parceria correu tão bem, pensámos que poderíamos fazer uma coisa que fosse meio portuguesa, meio espanhola, porque as pessoas gostam de petiscar. Criámos este conceito e encontrámos este espaço que estava num sítio óptimo, com um preço óptimo, uma coisa difícil de encontrar”, contou Cristiana Figueiredo ao HM. Numa tábua de madeira chegam fatias de presunto e de queijo para comer com pão, bem como tortilha espanhola ou cogumelos salteados, sem esquecer as gambas com azeite e alho. A ideia é petiscar enquanto se bebe um copo de vinho tinto ou rosé. Mas há também espumante para preparar sangrias. “A ementa foi feita por gosto pessoal e nas expectativas das pessoas. Todos pensam em gambas e pequenos pratos com coisas fritas, como a tortilha. Foi muito simples”, disse Cristiana Figueiredo. No Tuga & Lola também se vendem queijos e presuntos importados, os quais vêem directamente do produtor, com preços são mais apelativos. “Temos o presunto pata negra, mas o que é realmente diferente é a língua de vaca fumada, servido com um pouco de azeite e vinagre, e o presunto de vaca, que não temos em Portugal. Pensámos que aquilo que combinaria com as tapas são os vinhos secos e as sangrias”, disse a proprietária. Cristiana Figueiredo frisou que a abertura deste novo espaço “não foi uma coisa planeada”. “A Mónica já tinha sido dona de um restaurante espanhol na Taipa. Eu sei mais do lado da pastelaria e padaria, ela domina a preparação das comidas”, contou a empresária portuguesa. Para já, o Tuga & Lola está aberto ao público em regime de take away, organizando pontualmente alguns eventos privados. “Decidimos abrir a porta para ver a reacção das pessoas apenas”, referiu Cristiana, que espera que o espaço ganhe outro dinamismo daqui a uns meses. Experiência que vem de trás A vontade de enveredar por coisas novas sempre existiu na mente de Cristiana e Mónica, que vivem em Macau há mais de uma década. “Somos pessoas que gostamos de fazer coisas e para alguém ser empreendedor é preciso não gostar de rotinas nem de horários, e aí tem de se encontrar outra solução. E passa muitas vezes por gerir os próprios horários.” No caso de Cristiana, tudo começou com o Cuppa Coffee e com a ideia de fazer diferente num território onde não havia estabelecimentos desse género. “Quando chegámos a Macau, há 15 anos, não havia cafés como aqueles a que estávamos habituadas em Portugal, onde há sítios onde podemos estar e estudar, por exemplo. Achamos que faltava um café com um conceito novo, mais internacional. Eu e o meu marido achamos que podíamos criar isso e começou tudo por aí, sem nenhum tipo de experiência. Tínhamos de fazer as nossas próprias coisas e então fomos ler como se faziam as coisas. Temos pães e bolos produzidos por nós, a nossa padaria é artesanal.” Esses produtos artesanais, sem químicos, corantes ou conservantes, e que não são congelados, também podem ser encontrados na montra do Tuga & Lola. “Queremos ter um espaço para que as pessoas se possam sentar lá em baixo a petiscar. Acabámos por ficar aqui e foi uma feliz coincidência o facto de termos uma casa de cocos mesmo em frente, muito conhecida pelos turistas. Queremos ter uma simbiose com o vizinho e um sítio dinâmico, com lugares sentados, pois só assim será sustentável”, concluiu Cristiana Figueiredo.
Hoje Macau Ócios & Negócios Pessoas“Slow Tune”, Livraria | Jeff e Emily, proprietários Fica perto do Consulado de Portugal e promete oferecer mais do que livros, apesar de ser à volta das palavras que se faz este negócio. Jeff e Emily contam como decidiram apostar no mundo das letras, com um pouco de artes à mistura [dropcap style=’circle’]P[/dropcap]odemos concordar que Macau é um território que anda a um ritmo muito rápido, sendo certo que são necessários sítios onde possamos gastar o tempo de uma maneira mais lenta. A livraria “Slow Tune”, localizada na Rua do Pato, atrás do Consulado-geral de Portugal em Macau, talvez seja um desses lugares, onde é possível ler livros enquanto se bebe um café ou chá num final de tarde, ou mesmo aos fins-de-semana. “Gostamos muito de ler livros e quando viajamos para diferentes sítios gostamos muito de passear em livrarias, porque há livros específicos que só se vendem em determinados sítios. E essa é a melhor forma para conhecer as culturas locais”, disse ao HM Emily, esposa de Jeff. Os dois são proprietários da “Slow Tune”. Por considerarem que Macau não tem uma livraria tão confortável como aquelas que visitaram por esse mundo fora, decidiram criar um espaço semelhante por cá. Mas nem só de literatura se faz esta livraria, que também abrange áreas como a arte, sociedade, cultura, educação ou psicologia. May, outra das sócias do projecto, disse ao HM que a livraria faz por ter os livros que são difíceis de encontrar no território, para além de desejar partilhar os livros que gosta com os clientes. A “Slow Tune” procura ainda vender e comprar livros em segunda mão. Sessões diferentes A livraria tem um espaço reservado para a venda das tradicionais canetas-tinteiros, um dos muitos produtos criativos ali disponíveis. “Conhecemos este tipo de produtos na internet e achámos muito atractivos. Estabelecemos então contacto com os fornecedores porque queremos promover este conceito em Macau”, referiu May. A loja, de cor branca e azul, até passa despercebida num lugar tradicional onde nem sempre andam muitas pessoas, mas foi aí que os seus proprietários descobriram uma renda mais comportável para os seus bolsos. Estar numa rua mais movimentada seria impossível, mas ainda assim Jeff, Emily e May consideram que a freguesia de São Lázaro é uma zona agradável para ter uma livraria. Ao fundo situam-se várias mesas e cadeiras onde as pessoas podem ler os livros que escolhem para aquele momento ou mesmo para levar para casa. “Ler livros é um momento individual e num ambiente tão povoado como o de Macau não é fácil encontrar concentração para ler um livro, já que há muitas coisas a causar distracção. Esperamos oferecer esse ambiente ideal para a leitura de livros. Muitos clientes até compram canetas e gostam de praticar a caligrafia aqui. Acredito que essa é uma forma de acalmar o espírito e aproveitar o tempo livre”, adiantou Emily. Para quem já tem demasiados livros em casa e não quer comprar mais, a “Slow Tune” permite a leitura dessas obras. Para Emily, é uma forma de proteger o meio ambiente, mas considera que vai demorar tempo até que as pessoas se habituem a este novo modelo. Tanto Jeff, como Emily e May têm os seus trabalhos fora da livraria, pois consideram “impossível” manter o negócio como um trabalho a tempo inteiro. O dono da “Slow Tune”, contudo, não é um novato na arte de abrir negócios, pois já teve uma experiência com uma empresa criada entre Hong Kong e Macau há alguns anos. Balanço positivo Inaugurada há dois meses, a livraria tem gerado comentários positivos e tem recebido muitos clientes. “Às vezes os clientes entram na livraria e dizem o que gostam e até sugerem aquilo que pode ser feito de melhor. O intercâmbio com os clientes é interessante, mesmo que não possamos satisfazer todos os seus pedidos”, acrescentou May. Por se tratar de um espaço onde o tempo passa devagar, a “Slow Tune” tem três gatos, os quais são aceites por quem lá passa e que já são as mascotes do negócio. Os gatos são adoptados e já estavam com Jeff antes deste abrir a livraria. Para o futuro, a “Slow Tune” pretende realizar workshops de caligrafia, algo que partiu da ideia de vários clientes que gostaram das canetas-tinteiro. “Antes só escrevia quando fazia os trabalhos de casa na escola, mas depois cresci e percebi que o objectivo da escrita é bem diferente. Quem gosta de praticar caligrafia e quer escrever bem palavras e frases pode participar”, rematou Emily.
Andreia Sofia Silva Ócios & Negócios PessoasRui Rocha, fundador da Casa da Rocha: “Faço a convergência de duas tradições” Rui Rocha deixou de ser apenas académico para se dedicar a um negócio seu. A “Casa da Rocha” abriu portas há cerca de uma semana no Centro Histórico e mostra o bom de dois mundos: chás chineses e doçaria conventual portuguesa. A loja poderá um dia ser palco de exposições e workshops [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] “Casa da Rocha” esteve quase para nascer em Lisboa, mas Rui Rocha, o seu fundador, decidiu que é em Macau que quer ficar para o resto da vida. Aberta há uma semana, na Calçada da Rocha, no Centro Histórico de Macau, esta loja tem uma panóplia de chás chineses, escolhidos pelo também director do Departamento de Português da Universidade Cidade de Macau (UCM), e doçaria conventual portuguesa, até então inexistente no território. Há ovos moles, suspiros e cavacas, entre outros doces. A corrida aos doces foi tanta que no segundo dia de funcionamento da “Casa da Rocha” estava praticamente tudo esgotado. “Não vou morrer de barbas na universidade e isto dá-me uma certa liberdade e prazer, porque são coisas de que gosto. Permite-me também investigar um pouco mais sobre o chá”, contou ao HM Rui Rocha, enquanto à mesa se bebia um chá verde. O antigo director do Instituto Português do Oriente (IPOR) explicou ainda que, com a Casa da Rocha, faz “a convergência de duas tradições, uma centenária e outra milenar”. “Funcionava aqui a Futura Clássica (projecto de Ivo Ferreira e Margarida Vila-Nova), mas tivemos uma conversa e perguntaram-me se não queria ficar aqui porque fazia-lhes pena deitar fora toda a obra que fizeram e o investimento. Os móveis ficaram, as mesas foram adquiridas por nós com azulejos da Casa de Portugal em Macau”, contou ainda. Um gosto antigo Rui Rocha começou cedo a visitar casas de chás e a estudar esta bebida que pode ter efeitos relaxantes e terapêuticos. “A minha mãe é de Macau e recebíamos regularmente chá verde. Quando cheguei a Macau, em 1983, fiquei alojado no Hotel Metrópole e fui tomar o meu almoço e pedi chá e deram-me ‘Tetley’. Aí disse: “estou na China ou no império britânico?”. O ‘Tetley’ é aquilo que os produtores de chá dizem ser a parte não utilizada do chá”, recorda. Na “Casa da Rocha” existem sete variedades de chá verde, de entre mais de cem existentes. “Escolhi dois chás brancos, amarelos, pretos e depois há os chás florais, que conhecemos como chá de jasmim. Depois temos as tisanas, que são chás mais purificantes. Vou muitas vezes à China a lojas de chá e a mercados e desde que estou em Macau que gosto muito de chá. Venho sempre estudando coisas sobre o chá, porque para além do interesse cultural do chá, há a poesia, a estética, em termos de cerimónia do chá, que é mais simples do que a japonesa. A cerimónia chinesa não é tão cerimoniosa e a mim interessa-me mais. A cerimónia do chá do Japão acaba por menorizar um pouco o que é a estética do próprio chá”, referiu ainda o responsável pela loja. Quanto aos doces, são importados de Portugal e vêm preencher uma lacuna no território que, ao contrário de outros países asiáticos, ainda não tinha doçaria conventual portuguesa à venda. “O doce conventual português existe no Japão e existe em qualquer lado, as cavacas, o pastel de feijão, o pão de ló de Ovar, mas com nomes japoneses. E é curioso que aqui não temos. Quando houve a perseguição dos jesuítas e outras ordens religiosas, muitos deles eles fugiram para a Tailândia e hoje existe no país doçaria tradicional portuguesa”, explicou. Um espaço para as artes A “Casa da Rocha” pretende ser mais do que um espaço para beber chá e comer doces, sem esquecer aquela bebida tão portuguesa que é o café. Rui Rocha garantiu ao HM que a ideia é fazer da loja um espaço dedicado às artes. “Este é um espaço de confluência de culturas de Macau e não se confina apenas a vender chá ou doçaria conventual portuguesa. Também pode ser um espaço interessante para que artistas de Língua Portuguesa possam expor aqui as suas peças. Poderíamos também fazer workshops sobre o chá ou cerâmica portuguesa. Sem fins lucrativos, isso não nos interessa muito.” Mais do que o português que quer recordar o sabor dos ovos moles ou do chinês que quer beber um chá, a “Casa da Rocha” quer atrair as comunidades coreana e japonesa e preencher um vazio. “Sem menosprezo pelas casas de chá que existem, não vejo que haja aqui grandes casas de chá. Sei que há uns clubes de chá, havia uma casa muito interessante na Taipa, que fechou. Era de uma associação, cheguei a ir lá duas vezes. Há depois uma iniciativa ou outra, mas eu queria fazer uma coisa que fosse efectivamente minha”, concluiu.
Angela Ka Ócios & Negócios PessoasAgora Taproom, bar | Angel Wong, proprietária O segundo espaço nocturno de Angel Wong pretende mostrar o que de melhor existe na cerveja artesanal. O bar, localizado na zona dos NAPE, espera trazer também mais música e aperitivos para que se crie um ambiente que incite aos brindes e à diversão [dropcap style=’circle’]P[/dropcap]rimeiro era a cerveja apenas em garrafa, tão banal como em qualquer outro bar ou loja. Mas Angel Wong quis inovar e abriu, em Julho deste ano, um bar com uma cultura diferente. O “Agora Taproom” existe na zona do NAPE e o principal objectivo é trazer a cultura da cerveja artesanal a Macau, contou ao HM a fundadora. No Agora vende-se cerveja guardada nos tradicionais barris, feitos à mão e importados do estrangeiro, tão difíceis de encontrar no outro lado de Macau. Angel Wong garantiu que o espaço ainda precisa de ser desenvolvido e que o ambiente não está como desejou. Falta uma maior diversidade de aperitivos nas mesmas, mais bandas de música ao vivo e jogos, para que se possa trazer alguma energia ao espaço, contou. O cliente tem mais de 20 tipos de cerveja à escolha e não tem sequer de se preocupar com as mudanças que Angel Wong pretende introduzir. Esta garante que o bar vai continuar a manter um ambiente tranquilo, propício à conversa e aos brindes em grupo. Se o seu primeiro bar, aberto em 2014, não tivesse tido tanto sucesso, Angel Wong jamais se atreveria a investir num novo espaço nocturno. Mas até agora a proprietária garante que, para os lados do NAPE, o negócio promete prosperar. A cerveja como fenómeno Em 2014, quando se aventurou neste tipo de negócio, Angel Wong reparou que nem todos os clientes estavam familiarizados com o mundo da cerveja artesanal. “No início as pessoas pediam as bebidas porque olhavam para as garrafas primeiro”, disse a proprietária. A popularidade da bebida disparou em Macau e beber cerveja tornou-se um fenómeno comum há cerca de dois anos, ao ponto de neste momento, ao ponto de Angel Wong garantir que muitos dos clientes já sabem distinguir a origem da cerveja e o país de onde vem. Angel Wong quer que o seu negócio cresça, até porque já não é exclusivo na cena nocturna de Macau. Esta referiu ao HM que há cada vez mais bares que têm cervejas artesanais vindas de todos os cantos do mundo, existindo mesmo pequenos cafés que já disponibilizam este tipo de bebidas. Primeiro festival realizado Aberto entre as 17h00 e as 4h00, o Agora foi buscar o seu nome à língua portuguesa, idioma que Angel Wong estudou quando era criança. A ideia é que os clientes possam “gozar o momento” enquanto estão no espaço. Por forma a promover as cervejas e o conceito por detrás do bar, Angel e o seu sócio começaram a contar a história das cervejas artesanais e todo o processo de produção que está por detrás. Neste momento os empregados estão a ser formados para este efeito, para que depois possam promover os produtos junto dos clientes. Também aqui a falta de recursos humanos se faz notar. “Em Macau só os proprietários dos bares é que percebem dos vinhos e das cervejas”, contou Angel. É necessário formar pessoas desde o seu início, para que a formação possa continuar. Angel Wong quer também promover as suas cervejas através de um festival de pequena dimensão. Para o evento foi convidado o responsável pela fábrica da cerveja “Brewdog”, da Escócia. Este fez uma apresentação da produção da cerveja neste país europeu, que neste momento chega a Macau graças aos fornecedores de Hong Kong. Para Angel Wong, eventos quase ao jeito do célebre Oktoberfest, onde as grandes canecas de cerveja são as rainhas, são essenciais para promover a cerveja artesanal que tem, quase sempre, um sabor diferente das cervejas banais.
Andreia Sofia Silva Ócios & Negócios PessoasJosephine Lam, criadora da “Loving Macau”: “Macau inspirou-nos muito” Josephine Lam juntou-se a uma pequena equipa de designers e juntos criaram a “Loving Macau”, que cria lembranças com os tradicionais símbolos de Macau e que tem inclusivamente a vertente de merchandising, vendendo para outras empresas ou clientes. T-shirts, canecas e canetas tentam mostrar a verdadeira Macau [dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]acau é pastéis de nata, é pauzinhos e dumplings em qualquer dim sum, é Ruínas de São Paulo, é espaços cheios de cultura e calçada portuguesa. Foi a pensar em tudo aquilo que preenchia as suas memórias, e também pelo amor que sente a este território, que Josephine Lam criou a “Loving Macau”, juntamente com mais sócios. Criada em Dezembro, só há cerca de dois meses é que esta empresa de pequenas lembranças começou a promover-se. Josephine Lam estudou Design no estrangeiro, mas quis voltar à terra que a viu nascer. Aqui encontrou um nicho de mercado. “Quando regressei percebi que havia falta de projectos de design que pudessem representar Macau. Então decidi criar algo que representasse melhor a nossa cidade.” Dessa ideia nasceram t-shirts, canecas e canetas com todos os elementos que representam a história e cultura tão características de Macau. “Fomos buscar a inspiração a uma série de coisas. Macau inspirou-nos muito. Tentámos escolher os elementos mais icónicos, mas que não fossem os mais banais. Queríamos encontrar elementos que tivessem algum significado para nós, que nos fizessem lembrar a nossa infância, quando éramos jovens, quando apanhávamos o autocarro, por exemplo.” Apesar da equipa ser pequena, o sucesso tem sido muito, garantiu ao HM Josephine Lam. “Temos vindo a receber muito apoio da comunidade local e dos turistas. O mais importante para nós é produzirmos coisas a pensar nos locais, algo que os faça ficar orgulhosos e que os faça lembrar da infância. Algo que possam oferecer aos amigos.” Com parceiros de negócio e designers, a “Loving Macau” trabalha ainda com vários colaboradores. A ideia é trazer sempre novas ideias e ir além da banalização deste tipo de produtos. “Temos colaboradores e até fotógrafos, mas adoramos trabalhar com todos aqueles que tenham sempre uma perspectiva mais criativa”, contou Josephine Lam. Expansão é o caminho Um olhar sobre a loja online permite chegar à conclusão que a “Loving Macau” procura fazer diferente com aquilo que existe há muito. Há pins para camisolas feitos com o tradicional pastel de nata e não faltam sequer pins com a imagem dos velhinhos autocarros da Transmac que antes povoavam a cidade. Há outros com a imagem de uma caixa de correio com a palavra em Português, que fica bem em qualquer camisola ou mochila. Josephine Lam acredita ter criado um projecto pioneiro ao nível da criação de produtos de merchadising locais, com uma aposta na qualidade. “Em termos de merchandising acredito que somos pioneiros na área das lembranças, porque criámos algo do qual os locais também se podem orgulhar. Trabalhamos arduamente para que isso aconteça. As t-shirts são o produto que vendemos mais, sobretudo as que dizem ‘Macau’, porque somos pioneiros na criação de um t-shirt de alta qualidade que promover Macau de forma simples.” Ao criar este tipo de produtos, a “Loving Macau” acaba por estar a contar a história do seu território, tão cheia de coisas diferentes e semelhantes ao mesmo tempo. “Somos apenas uma empresa criativa que produz estes elementos sobre Macau. Tentamos ter sempre uma nova perspectiva sobre as coisas e ter uma mente criativa, a criatividade é muito importante para nós. Tentamos promover essa história que está por todo o lado, na cidade.” Para o futuro Josephine Lam pretende aumentar ainda mais a extensão do seu negócio. Sempre da maneira mais criativa e original possível. “Vamos continuar a expandir o nosso negócio e gostaríamos de fazer mais produtos e convidar mais mentes criativas para colaborarem connosco, para fazerem desta uma cidade mais bonita.”
Andreia Sofia Silva Ócios & Negócios PessoasObento Fit, restaurante de takeway: “Poderia ter um negócio ainda maior” Sayaka Mcpherson criou, há cerca de um ano, uma marmita com refeições saudáveis à qual deu o nome de Obento Fit, nome dado em japonês à lancheira do almoço. Hoje entrega cerca de 30 refeições por dia nas zonas de Taipa e Coloane e o negócio só não cresce pela falta de recursos humanos [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] história do restaurante de take-away “Obento Fit” começou com um espectáculo de dança. Foi graças ao House of the Dancing Water que a ideia de fazer comida saudável para vender para fora ganhou forma. Daí até à sua expansão foi um pequeno passo. Sayaka Mcpherson, de ascendência japonesa e americana, começou a fazer refeições caseiras sem gordura ou hidratos de carbono porque os artistas e trabalhadores do espectáculo estavam cansados de fazer más refeições. “O meu marido trabalhava no House of Dancing Water e começou a pedir comida. Numa primeira fase comecei a fazer comida mais saudável para mim e para o meu filho, para testar, e também para quem trabalhava no espectáculo. Depois começaram a perguntar-me se poderia entregar refeições nas escolas da Taipa e também para os trabalhadores dos casinos”, contou ao HM. “Comecei a perceber que em Macau era difícil encontrar sítios com comida saudável e os sítios disponíveis eram caros. Queria criar um negócio que permitisse entregar refeições todos os dias. As pessoas começaram a gostar e decidi começar a fazer mais publicidade nas zonas da Taipa e Coloane”, disse a responsável. Assim nasceu o “Obento Fit”, nome da marmita vendida pelo restaurante e que é, em japonês, o nome da tradicional lancheira de almoço. O objectivo é disponibilizar uma refeição completa e saudável a preços baixos, sendo que actualmente são distribuídas cerca de 30 refeições diárias, apenas nas zonas da Taipa e Coloane. “A comida é feita na minha casa, tudo é natural e não utilizo coisas processadas, ou comida congelada. Não acredito em apenas uma dieta, então experimento várias coisas.” Substituições saudáveis Para comer melhor e sem aditivos existem truques. Nada de usar o maléfico óleo, mas apostar sim no azeite ou no óleo de coco. Sayaka garante que experimentou ela própria a comida que vende para fora e que já perdeu cerca de seis quilos em oito meses, juntamente com o marido. A fundadora faz sempre substituições de alimentos nas marmitas “Obento”. “Costumo substituir a massa, por exemplo, e muitos dos clientes não acreditam que aquilo não é massa. Faço substituições com alimentos mais saudáveis, mas faço os pratos que todos costumam comer. Todos os dias tenho menus diferentes, com carne, marisco… A minha crença na comida saudável baseia-se numa diminuição do consumo de açúcar e dos hidratos de carbono e a aposta em mais carne e vegetais.” Sayaka acredita que em Macau há cada vez uma maior consciência social em relação à comida saudável, mas que é preciso uma maior informação junto do público. “Não há muita gente que saiba o que de facto significa comer de forma saudável. Não basta comer saladas todos os dias, não é essa a dieta mais equilibrada. Temos de comer diferentes refeições.” Os clientes que procuram o “Obento” não são todos aficionados do desporto, conforme explicou Sayaka. “Tenho pedidos todos os dias, muitos dos meus clientes praticam fitness, mas muitos [querem] apenas experimentar. É de facto importante comermos comida saudável sem químicos e quando comemos fora muitos restaurantes utilizam esse tipo de produtos. Tento que seja comida caseira, como se fosse a nossa mãe a cozinhar, com mais vegetais e carne.” As dificuldades O sucesso do “Obento Fit” é uma realidade, porém limitada: Sayaka Mcpherson não consegue fazer entregas em Macau devido aos parcos recursos humanos de que dispõe. As entregas são totalmente gratuitas. “Não consigo entregar refeições em Macau porque não tenho recursos humanos suficientes. Entrego cerca de 30 refeições por dia”, disse, alertando para as dificuldades diárias que enfrenta para ter um negócio. “Poderia ter um negócio ainda maior, mas é muito difícil. Sou estrangeira, não sou residente, é mais difícil para nós, estrangeiros, fazer negócio em Macau, porque não falo Chinês nem Português. Para encontrar condutores ou para comunicar é difícil e isso é importante para aumentar o volume de negócio. Mas se encontrar um parceiro de Macau, isso será possível”, conclui. A comida pode ser encomendada na página do Facebook da empresa.
Hoje Macau Ócios & Negócios PessoasEcoAmigo, consultora ambiental: “Plantar é positivo para a vida” Qual é a relação entre a engenharia e a protecção ambiental? Esta empresa sediada em Macau pode talvez, dar uma resposta [dropcap style≠’circle’]“E[/dropcap]coAmigo é uma companhia de engenharia e consultoria ambiental, que quer melhorar o ambiente e a qualidade de vida da sociedade em Macau”, começou por explicar a secretária Karen Chan. Conhecemos a empresa porque tem uma loja na Rua da Tercena – atrás da Rua Cinco de Outubro – com uma porta de vidro que dá para ver o que se passa lá dentro: tudo é verde e branco. Karen explicou-nos que a empresa já tem quatro anos de existência mas o espaço onde está o “showroom” foi aberto há cerca de um mês. Lawrence Tam, director executivo, explica que a empresa promove as novas tecnologias de poupança de energia como é o caso da solar. Mas ao lidar com este mercado, apercebeu-se que ainda é um assunto desconhecido e que muitos pensam ser complexo, por isso esclarece que, a protecção ambiental não tem de ser uma coisa complicada e tecnológica, mas sim uma coisa simples e que pode fazer parte da vida. Decidiu abrir a loja para “aproximar a população”, promovendo a ideia junto do público e do Governo. “Green living” é o principal conceito da empresa. EcoAmigo quer que cada pessoa, cada família de Macau plante em casa ou no local de trabalho, tornando-se um interesse ou um hábito do dia-a-dia. Espera também que as crianças compreendam a ciência simples do ambiente e da agricultura. Mas não só de plantas verdes, solo orgânico, mini-estufa, e sistema de purificação do ar interior, vive esta empresa. Painéis solares, design, consultoria e gestão de projectos de interior são outros serviços que a EcoAmigo oferece. Além disso, Lawrence acrescentou que a empresa tenta também envolver-se na parte da Educação. Já elaborou programas e materiais didácticos para escolas primárias, com conteúdos como reciclagem e energia solar, para que os alunos aprendam mais sobre a protecção ambiental. “Olhando à minha volta , 80% de pessoas não têm o hábito de plantar, mas eu espero criar esta tendência porque, primeiro; plantar é muito barato e segundo; é positivo para a vida. Se o Governo não promove, eu promovo. Sugiro também que os namorados não comprem ramos de flores para as namoradas, mas sim uma planta inteira, que é reproduzível.” Durante a visita à loja, Lawrence salientou que todos os produtos que a EcoAmigo selecciona para vender são da Europa e têm boa qualidade, e por isso os preços são um pouco mais caros. O que o responsável quer trazer para Macau produtos de qualidade. “Por exemplo, vendemos um vaso de plantas com preço de 150 patacas, muito mais caro do que um vaso normal, mas o nosso é especial porque se consegue regar a planta automaticamente e aumentar a taxa de sobrevivência da planta. Mesmo que se esqueça de regar a planta durante duas semanas, ela não morre,” acrescentou. Outro produto que a secretária Karen recomenda, é de uma marca portuguesa, Minigarden, o “green wall”, que reutiliza materiais incluindo pneus abandonados para fazer uma parede, onde se pode plantar produtos hortícolas na varanda, com um sistema de rega automática e poupança de água. O produto tem garantia de fabricante de dez anos. Em tom de orgulho, Karen acrescentou que esta loja não é só de venda de produtos. Porque caso haja algum problema com algum dos produtos aqui comprados, comprometem-se a resolver os problemas e a prestar a máxima ajuda. Apesar de estarem abertos há pouco tempo, Karen explicou que a loja já conseguiu atrair a atenção dos moradores e recebeu bons comentários. “Os clientes disseram-nos que não havia uma selecção de produtos como os nossos em Macau. Os pais também aceitaram bem estes conceitos, porque não querem que os filhos passem todo o tempo a jogar no smartphone ou a ver televisão. Querem também incutir-lhes o espírito de plantar legumes na varanda, em casa”, disse. Para Karen, o que é preciso para a empresa nesta altura, é apostar mais na promoção e é por essa razão que a EcoAmigo participa na Feira da Taipa, todos os domingos, no Largo dos Bombeiros, onde espera poder promover os seus produtos ecológicos. Como outras pequenas e médias empresas, EcoAmigo enfrenta a pressão da renda, mas também grandes custos de, por exemplo, transporte de produtos estrangeiros. Lawrence Tam revelou que o dinheiro investido na loja ainda não foi recuperado, mas os trabalhos paralelos de design e engenharia ajudam a equilibrar as despensas. No futuro, Karen espera que empresa cresça e gostaria de aumentar a equipa, que agora é de apenas oito pessoas, mas tudo depende da situação que a EcoAmigo vai enfrentar no futuro.
Sofia Margarida Mota Ócios & Negócios PessoasLax Café | Nicole Helm, gerente: “Sem bom café não se faz uma casa” “Lax” surge da palavra “relax”. O “Lax Café” é um espaço de comes e bebes com uma pequena esplanada que se especializou no café de qualidade e dá as boas-vindas aos animais [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] “Lax Café” existe há cerca de quatro anos na Rua de Bragança na Taipa. A ideia para um espaço acolhedor por dentro, e que oferece uma pequena esplanada, surgiu da oportunidade. Nicole Helm, proprietária e gerente do café, procurava um sítio para investir quando o então estabelecimento que ocupava aquele espaço foi posto à venda. “O meu marido perguntou-me e porque não aproveitar?”. Meio a medo, avançou. Com a mudança de proprietário foi tempo de mudar os ares. “Mudei tudo aqui, fiz uma espécie de limpeza ao espaço”, frisa. Os trabalhos não se ficaram por aí e são “um processo que se vem mantendo ao longo do tempo”, acrescenta. Outra lufada de ar fresco foi dada também ao menu, de modo a que se tornasse exequível e apelativo a um público generalizado. “A forma como está organizado reflecte a preocupação de que todos o entendam.” Cada sugestão é acompanhada por uma imagem ilustrativa de forma a que, independentemente da origem, o cliente possa saber o que está efectivamente a escolher. A opção tem em conta “a crescente multiculturalidade local”. Por outro lado a escolha é feita conforme o que Nicole gosta. “Não posso ter no menu coisas que não goste, não faria sentido”, refere, dizendo que, como cartão de visita, escolhe o hambúrguer australiano, uma criação do seu marido. Por outro lado não deixa de frisar os ovos beneditinos como uma das escolhas que sempre marcaram a diferença na casa pela “sua concepção cuidadosa”. Apesar de ser um prato capaz de ser encontrado “em qualquer lado, aqui é especialmente bom”, garante, falando de uma ementa que vai de pequenos almoços a refeições e snacks com destaque ainda para as sobremesas “caseiras”. “O Lax oferece repasto para todos os gostos.” Outra grande aposta foi o café, sendo que “sem um bom café não se faz uma casa que se chama de tal”, afirma Nicole sem hesitação. “Não sou propriamente uma apreciadora, mas passei três meses em formação intensiva para que esta casa possa ter um café de qualidade e feito como deve ser”, sublinha. Por outro lado, o “Lax” aposta na diversidade desta bebida, não querendo igualar-se a estabelecimentos do género que só se baseiam numa marca ou num tipo de café. A proprietária aprendeu a degustar e a diferenciar várias origens e várias formas de se fazer café, para diferenciar o estabelecimento que gere, sendo que considera que “é uma forma de atrair os clientes e de convidar a um regresso”. Bicharada bem-vinda À porta do “Lax” encontrámos um letreiro a dar as boas-vindas a animais de estimação. Esta é, sem dúvida, uma das características que distingue este café na Taipa. Inserido na família, Nicole não vê porque é que as pessoas não devam ir aos sítios que gostam com os seus companheiros de quatro patas. A iniciativa, apesar de por vezes não agradar a todos, tem surtido efeito positivo na clientela em geral. “Quando um cliente não deseja que o cão da mesa vizinha esteja por perto, até podemos perguntar educadamente aos donos se se incomodam de ir para a esplanada. No entanto, se estes não quiserem, ficam cá dentro com os animais”, afirma a gerente , sendo que “faz parte da política da casa e é uma iniciativa que criou” por também lhe agradar. “São parte da família e portanto devem estar com ela.” É inevitável ainda perceber que cada refeição é acompanhada por uma escolha cuidada de modo a criar um ambiente confortável. “Escolho a playlist e trabalho para que possa encontrar a música que mais se enquadra neste tipo e estabelecimento”, refere Nicole com satisfação. “Não é possível agradar a todos mas é com entusiasmo que a grande maioria aprecia o que se ouve aqui”, assegura. Trabalhos sem limites O balanço deste quatro anos de existência é no geral muito positivo, sendo que a proprietária considera que a marca “Lax” está já positivamente afirmada no mercado local. “É um sítio onde as pessoas se encontram, entram, compram qualquer coisa de que mais gostam e ficam um pouco a usufruir do espaço.” Se há três anos o “”Lax tinha um público composto “apenas por ocidentais”, agora as cadeiras são ocupadas por gente de todo o lado. Para o futuro, o trabalho “não tem limites”. “Penso que continuarei a trabalhar numa melhoria permanente, não quero fazer um franchising do Lax Café, prefiro que este seja efectivamente um sítio popular em Macau. Fico muito feliz quando vejo o regresso de clientes”, remata a proprietária.
Andreia Sofia Silva Ócios & Negócios Pessoas“Malaninha”, uma marca com um pé em Macau e Portugal Com as mãos de Ana Cristina Sarmento pedaços de tecido transformam-se em malas e peças de roupa com um toque artesanal. A “Malaninha” e o croché fazem parte da vida de Ana desde a sua reforma, sendo que as peças que produz já chegaram a Macau [dropcap style≠’circle’]“M[/dropcap]alaninha” vem de mala e vem de ‘Aninha’. Era este o nome que o marido de Ana Cristina Sarmento lhe dava. Depois vieram as linhas e as agulhas e nasceu um projecto. Com ligações a Macau, onde residem os seus filhos, Ana decidiu, após a reforma, produzir peças em croché para todos os gostos, tamanhos e feitios. Na última edição do Arraial de São João as peças da “Malaninha” estiveram presentes, a mostrar uma técnica tradicional bem portuguesa. Tudo começou por acaso, contou Ana Cristina Sarmento ao HM. “Começou por ser uma brincadeira. O meu marido disse-me: agora que estás reformada porque é que não começas a fazer croché? Foi nessa altura que ponderei e comecei a expandir os meus trabalhos. O projecto foi desenvolvido juntamente com a minha irmã e com a ajuda dos meus filhos, que nasceram em Macau.” O arranque não foi fácil, conforme recorda Ana Cristina Sarmento. “Ao princípio tivemos muitas dificuldades, mas depois começámos a fazer algumas exposições em várias zonas típicas de Portugal.” A ligação da “Malaninha” a Macau parece ter ficado reforçada graças ao convite de Miguel de Senna Fernandes e da Associação dos Macaenses (ADM) para expor em São Lázaro. “Agradeço o facto de me ter aberto as portas e ter-me ajudado a ser reconhecida pelo meu artesanato”, referiu Ana Vieira. Apesar dos traços e laços portugueses que o território mantém, a verdade é que em Macau muitas pessoas continuavam a não compreender o método de trabalho da “Malaninha”, que trabalha com produtos vindos de Portugal. “Em Macau muita gente não acreditava que as linhas vinham de Portugal e tinham medo de comprar. Mas com o passar do tempo os nossos amigos começaram a passar a palavra e explicavam que se tratam de produtos mesmo artesanais.” Passadas as dificuldades iniciais, a “Malaninha” parece ter vindo para ficar. “Tenho tido muitas encomendas ao ponto de pedir ajuda à minha irmã. Quando estou em Macau tenho que lhe pedir linhas de Portugal para poder trabalhar. E foi assim que resolvemos ficar as duas sócias.” Técnica de infância Ana Cristina Sarmento aprendeu em criança a fazer croché, uma arte que tradicionalmente é passada de mães para filhas. Desde aí que adapta o croché para fazer malas, roupas e chapéus, sem esquecer carteiras mais pequenas. “Apesar de ter aprendido esta técnica quando era pequena tenho vindo a aperfeiçoar com alguns cursos”, referiu ao HM, garantindo que os produtos mais procurados são as malas, almofadas para decorar a casa e chapéus, ainda que não só. “As pessoas procuram de tudo um pouco, é algo que depende sempre do gosto de cada um.” Ana Cristina Sarmento garante não ter interesse “em mais parcerias com outros”, por gostar de “trabalhar em exclusividade”, mas não descarta a possibilidade de mostrar mais o trabalho da “Malaninha” no território. “Tenho tido várias oportunidades, mais do que em Portugal, porque as pessoas de Macau gostam muito de coisas artesanais vindas de Portugal. Neste caminhar de empenho do nosso trabalho esperamos que esta situação se desenvolva, a fim de poder participar em artesanatos e encontros, tal como fizemos no Arraial de São João e no Festival da Lusofonia, onde também estive em representação da ADM.” Apesar desta ser uma arte rara em Macau, Ana Cristina Sarmento defende, contudo, que a “indústria de artesanato é óptima” no território. Ainda assim, diz, “precisa de ideias diferentes em relação aos actuais hábitos da cidade, algo que, sem dúvida, levaria a própria indústria a desenvolver-se mais.” Os produtos da “Malaninha” podem ser vistos na página do Facebook com o mesmo nome.
Manuel Nunes Ócios & Negócios PessoasHandyman | Simon Lam, proprietário: “Sempre tive jeito para trabalhar com as mãos” Há quase meia dúzia de anos em Macau, este polaco educado em Inglaterra, percebeu, ao arranjar a sua própria casa que um estrangeiro deveria ver-se grego ao tentar fazer obras em casa e resolveu lançar um serviço de faz-tudo. Estava a certo porque o problema agora é tempo para atender a todas as solicitações [dropcap style≠’circle’]“E[/dropcap]xiste um Handyman II mas não sou eu”, começou por explicar Simon que não percebe a razão pois ele apareceu depois. Ainda assim, o negócio começou já há dois anos e meio. Nasceu na Polónia, viveu em Londres cerca de 12 anos e por motivos familiares acabou por vir para Macau há uns cinco anos.“Comecei por fazer renovações no nosso próprio apartamento”, explica. Casado com uma residente, ao voltar, como o pai da mulher tem várias propriedades, “deu-nos uma para vivermos num desse prédios antigos”, diz Simon, “mas estava num estado horrível e tivemos de refazer tudo”. O processo de renovação durou mais de um ano. “Empreguei várias equipas, tive de ir à procura de materiais da China, da Europa e no final conseguimos um lugar agradável”, recorda. Não foi fácil mas aprendeu muito no processo e, especialmente, “fiquei a perceber quão difícil será para um estrangeiro em Macau fazer alguma coisa do género”, diz, o que lhe deu a ideia para o negócio. “Achei que era um nicho que eu poderia preencher”, revela.“Descobrir os materiais, os especialistas locais que trabalham bem…” Nunca foi um profissional da área mas “sempre tive jeito para trabalhar com as mãos. Pintava as minhas paredes, arranjava o mobiliário, canos, enfim, sempre fiz de tudo um pouco, e desde há muito”, assegura. “Mas aqui é diferente da Europa”, afiança, “não existem aquelas grandes lojas com tudo o que uma pessoa precisa”, o que torna difícil o processo de fazer mesmo as coisa mais simples em casa. “Em Macau, como sabe, existem uma série de pequenas lojas que vendem um pouco disto ou daquilo nas nenhuma vende tudo. Em chinês chamam-lhe ‘wǔjīn diàn’ (‘loja dos cinco metais’, em cantonês “ng gam pou”). Aproveitámos a intervenção em mandarim para percebermos de onde vinha a habilidade. “Aprendi quando cheguei”, explica “comprei uns livros, li muito, repeti muitos caracteres e agora leio, escrevo no computador e falo” e não teve qualquer professor, garante, “foi tudo na base do esforço próprio”. Chegou mesmo a abrir uma escola de chinês mas não tinha alunos suficientes e acabou por desistir. Mão de obra, essa raridade Voltávamos ao negócio, pois Simon explicava que “para se encontrar algum material melhor temos de mandar vir de fora, via Taobao, se for da China, ou de outra forma qualquer”. “Nestas pequenas lojas de Macau os problemas para quem não sabe procurar é um drama”, relata Simon. “Os tamanhos, os nomes, o material certo… muita gente não faz sequer ideia do que pode arranjar no mercado”. A sofisticação dos acabamentos nos casinos acontece porque “importam tudo” mas “na área residencial as coisas estão muito atrasadas por falta de oferta de material de qualidade”, explica. Problemas nas reparações? “Vários”, confirma, “os canos que correm por fora, os quadros que não estão preparados para a potência dos modernos equipamentos domésticos”, mas o problema maior para Simon é a burocracia. “As grades nos prédios são ilegais. Mas tirá-las, pintá-las ou mesmo mudar as janelas é um problema. Os fiscais do Governo aparecem e depois mandam uma carta para pararmos com tudo e pedir uma licença de obra. O processo é um inferno e tenho de contratar um advogado para tratar disso”, explica. A falta de mão de obra, naturalmente, é outro dos problemas que o afligem regularmente. “Tenho um empregado fixo e depois vou buscar equipas que já conheço, os melhores. Eles têm o negócio deles, independente, mas fazemos muita coisa em conjunto” porque contratar não é fácil. “Não posso empregar filipinos porque é ilegal. Os chineses de qualidade estão na maioria a trabalhar para os casinos e, se estão cá fora, é porque não são grande coisa” diz Simon adiantando ainda que “o pessoal local prefere sentar-se num escritório a trabalhar nesta área mesmo ganhando três vezes mais. É uma questão de estilo…”, aventa. Barulho? A culpa é dos azulejos De resto, em termos do trabalho propriamente dito, não encontra muitas dificuldades: “não é ciência espacial, sabe? Há sempre uma solução desde que tenhamos os materiais certos, as ferramentas certas e as equipas certas”. O sonho é focar-se em propriedades comerciais em vez de residências. “Um projecto do princípio ao fim”, diz, “um espaço, um orçamento e deixarem-me trabalhar, é tudo o que desejo”, confessa. Então e o nicho? “Continuará porque é a base do negócio mas quero mesmo chegar às grandes obras, das que levam meses”, explica. No que respeita a preços considera-se competitivo. “Se for directo a um chinês, nós somos mais baratos mas mais caros que os filipinos ilegais, naturalmente” Uma mudança com uma camião cheio, incluindo desmontagem de mobília transporte e remontagem no outro local, custa 1,800 patacas e 1000 por cada camião extra. Mudar uma torneira pode custar 200 patacas e um cano em baixo do lavatório 350 patacas. Não podíamos terminar a conversa sem tentar perceber as origens do barulho constante dos berbequins que assola a cidade e a explicação de Simon é simples: “O problema são os azulejos, sabe? É a cultura local de construção. Toda a gente usa azulejos em tudo. Depois querem mudá-los e a única solução é rebentar com eles. Tudo para pouparem uns centímetros de espaço, claro, porque podiam cobri-los com vinil, madeira ou outra coisa qualquer. Mas preferem mudar de azulejos para outros azulejos”. Estava explicado.
Joana Freitas Ócios & Negócios PessoasManna Cookery | Matthew Pang, proprietário [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]scondida ao lado da igreja de São Lourenço, parece um café mas não é. Ao entrarmos ficamos com a certeza disso e depois encontramos Matthew Pang, cozinha escancarada à sua volta, ocupado entre encomendas e cozinhados. Alguns bancos para os clientes é tudo o mais que encontramos. O a decoração é simples e inspirada nas ideias mediterrâneas. “Queria dar um sentimento de conforto aos clientes”, justifica Matthew, mirando a decoração. Para além disso, a comida é toda ela “tradicional portuguesa”. “Esta loja é o meu sonho”, confessa ao HM. Cresceu numa família onde todos trabalhavam para a função pública. E ele também, na Polícia Judiciaria(PJ), imagine-se. Mas ter um restaurante falou mais alto e resolveu meter uma licença sem vencimento, não vá o diabo tecê-las. Uma licença de 10 anos. A casa de família teve sempre muitas festas, celebrações das grandes ocasiões do calendário. Essa prática desenvolveu nele “um prazer enorme pelo sentimento do encontro”. Cozinhar é celebrar esse encontro. É também a forma ao seu alcance, que Matthew julga a melhor forma para levar aos outros esse sentimento de comunhão. “Macau está cheio de cafés mas tem falta de comida caseira”, explica Matthew a propósito da escolha do negócio. “A comida caseira é mais saudável”, reforça, dizendo ainda que “partilhar a gastronomia tradicional portuguesa com os outros” é também outra das atrações responsáveis por o terem feito largar temporariamente a PJ. Entrou na polícia logo após terminar a licenciatura em Gestão de Empresas pela Universidade de Macau. Por lá esteve mais de dez anos, mas esta loja ia surgindo no pensamento até que um decidiu lançar-se ao negócio. “Enquanto tinha força física para isso”, confessa. Entregou um pedido de suspensão do cargo e atirou-se aos tachos. Mas a hipótese de voltar a ser um agente da PJ existe pois as regras permitem apenas dez anos de licença e já passaram dois. “Nunca trabalhei num restaurante”, admite, “mas gosto de cozinhar”, conclui. “Aprendi com a minha mãe, ou fui buscar receitas à internet” consente, mas como quem corre por gosto não cansa, todos os dias “aprendo um pouco mais”. O faz-tudo O valor da renda não divulga mas fica acima das 10 mil patacas. Não se queixa. Preferia que tivesse sido na Taipa mas um amigo descobriu aquele lugar e, como era perto da casa da avó e frente à sede do Governo, achou que até fazia sentido. Imaginou que muitos funcionários públicos procurariam um lugar na zona para “almoçarem saudavelmente”, o que veio a acontecer. “Portanto”, diz, “acabou por ser a localização ideal”. A cozinha aberta foi pensada “para ter uma ligação mais próxima com os clientes”. Normalmente, a comida só é confeccionada após receber os pedidos, tempo que aproveita para dar uns dedos de conversa com os clientes. “Empregados, para já, não”, garante Matthew que acha que dar boa conta do recado sozinho. “Uma pessoa numa loja de take-away chega”, diz. Assim, faz tudo: cozinha, limpa e recebe os pedidos. Viva os fins de semana O horário, das 8H às 15H, dá-lhe para passar mais tempo com a família. “Quando trabalhava na PJ, tinha um horário certo, mas muitas vezes trabalhei mais tempo do que previsto pois a PJ opera 24 horas”, relata. “Perdi muito tempo para estar com a família”, lamenta. Mas agora pode descansar aos fins de semana, e tudo. “Gosto disso, porque sou preguiçoso”, confessa com um sorriso. “Nunca promovi a loja”, diz Matthew. Alguns amigos até já lhe sugeriram utilizar o Facebook mas Matthew acha que “não é preciso”. “Cada um tem a sua preferência. Não quero clientes influenciados pelos comentários dos outros”, explica para justificar a sua recusa em promover o negócio. Os clientes todavia, continuam a chegar. O boca-a-boca tem funcionado e a fama tem-se espalhado. “A minha comida tem qualidade”, racionaliza Matthew, explicando ainda que todos os dias sai um menu diferente e há sempre quatro pratos à escolha..
Filipa Araújo Ócios & Negócios PessoasBournemouth, café e padaria | Chan, proprietário: “Apostei num serviço barato” Está aberto há duas semanas e já tem o rótulo de sucesso garantido. Chan é a cara do negócio que pretende facilitar a vida dos residentes. Comidas leves, acompanhadas por sumos frescos, para levar ou comer num simpático balcão [dropocap style=’circle’]A[/dropcap]ssim que entramos somos recebidos com um sorriso. O cheiro a pão inunda-nos e o calor pede um sumo, bem fresco. Chan, o proprietário do mais recente café junto à igreja de São Lourenço, convida-nos a provar o “fresquíssimo sumo de manga”. “Querem um pão? É português e temos vários tipos de pães”, completa. Esta era, de facto, a ideia que fez nascer o café e padaria Bournemouth. “Sou formado na área de hotelaria, e sempre trabalhei em grandes restaurantes. Um dia decidi que queria o meu próprio negócio e como tinha muito contacto com comida mais ‘ocidentalizada’ decidi criar este espaço”, começa por partilhar o proprietário. A ideia era simples: os clientes tinham ao seu dispor uma quantidade variada de sumos frescos e tipos de café, sejam duplos, americanos, Moka ou um café com leite. Para acompanhar tinham pão português. “Esta combinação resulta sempre: sumo com pão”, brinca Chan. O fabrico não é próprio, alerta. “O pão encomendo da Metro Pizza. Eram os fornecedores do meu antigo trabalho e sempre gostei do serviço”, explica. Pão com chouriço, vegetais e salsichas, leitão, mortadela e até bacon são algumas das variedades que se podem encontrar na montra. Ao lado está uma arca que se destaca, por estar vazia. Chan olha e prontamente justifica. “Não tenho mãos a medir, numa semana e meia as mais de 500 garrafas desapareceram e percebi que as pessoas queriam mais do que um sumo e um pão”, conta. É desta necessidade que nasceu um menu mais completo composto por sandes, saladas e pratos rápidos. Bom e barato “Parece que as pessoas queriam sempre mais, e a verdade é que venho para aqui às 7 da manhã mas rapidamente vendo tudo. Estou a tentar encontrar uma forma de ter mais oferta agora, para a procura que tenho”, continua. Quando questionado sobre a aceitação do serviço, Chan explica que a ideia era ser um serviço barato. “Apostei num serviço barato, porque comecei a perceber que com esta história das baixas na economia as pessoas querem gastar menos. Eu sentia isso no restaurante em que trabalhava, e posso dizer que era uma coisa de luxo”, continua. “Eu sei que há sítios em que este serviço é mais caro. Mas não acho que haja necessidade para isso. A ideia é que seja mesmo barato. Que uma sandes um sumo sejam baratos, não precisam de ser caros”, explicou ainda. Para todos Sandes de frango, queijo e fiambre, bife com ovo, tomate, acompanhadas por uma salada César ou de fruta, por menos de 50 patacas? Sim é possível. Agora é possível. Um balcão com poucas cadeiras, porque “a ideia não é que as pessoas fiquem por aqui, mas sim usufruam do serviço take away”, recebe que por ali que ficar. A decoração não podia ser mais simples e bonita. Paredes de ardósia para se poder diversificar, o uso da madeira e brincadeira com a luz dão um ar saudável, divertido e bastante familiar. Uma pequena cozinha mostra todo o processo de confecção das sandes. E até as garrafas são originais. “Apostei no simples”, explica Chan. Abrir um negócio não “é trabalho fácil” em Macau, mas com esforço as coisas vão-se conseguindo. Chan não esconde que não contava com tanta gente nos primeiros dias porque sempre teve em mente trabalhar para um grupo pequeno de pessoas. “Não sabia que isto iria ser assim, talvez tenha que fechar mais cedo para conseguir confeccionar mais para o dia seguinte, mas é importante que as pessoas também comprem o nosso pão”, argumenta. Entusiasmado com o projecto, mas com medo de falhar, Chan nasceu para vencer e isso nota-se na sua dedicação ao trabalho. “Vamos ver, um dia de cada vez”, diz. E não será este o lema mais simples de viver?
Andreia Sofia Silva Ócios & Negócios PessoasHandmade Arraiolos | “Fazemos isto porque é uma arte” Há três anos Vera Fernandes veio viver para Macau e, juntamente com os pais, trouxe a Handmade Arraiolos, um negócio de família de produção e restauro dos tapetes de Arraiolos. Se em Portugal a tradição não pega, na China virou moda [dropcap style=’circle’]P[/dropcap]ara fazer tapetes de Arraiolos em Macau é necessário importar todas as telas e lãs e enfrentar um enorme calor enquanto se faz uma peça à mão com técnicas tradicionais utilizadas há vários anos, mas nem assim se desiste. De geração em geração, a Handmade Arraiolos chegou a Macau há três anos não tanto com a vontade de fazer negócio mas com o desejo de continuar a preservar a técnica de fazer estes tapetes que não existem em mais nenhum lugar do mundo. A avó e o pai de Vera Fernandes eram verdadeiros artesãos numa empresa fundada há 70 anos. Hoje, a Handmade funciona graças ao trabalho da mãe de Vera, já reformada, e com a proprietária, que, contudo, mantém outro emprego. “Não vivo dos tapetes de Arraiolos, infelizmente”, apontou Vera Fernandes. As encomendas feitas por portugueses escasseiam e são os chineses que mais compram. “Os portugueses percebem que podem adquirir em Portugal ou mandar fazer de novo. O Arraiolos não está assim tão na moda em Portugal. Os chineses ficam muito interessados. Escolhem mais os clássicos, os desenhos mais cheios, gostam que tenham o máximo de elementos e gostam muito das cores que tenham a ver com o azulejo português, com o azul, amarelo, branco. Pedem almofadas a imitar o azulejo, já vendemos um tapete a imitar o azulejo de Lamego”, exemplificou Vera Fernandes ao HM. O atelier está montado em casa e existem mais de mil cores de lãs prontas a serem trabalhadas numa tela. Vera Fernandes não fala de preços, por variarem consoante a encomenda, mas confessa que um tapete de dois metros pode levar quase seis meses a fazer. “Em Macau não há tanto mercado para o restauro, não há muitos tapetes de Arraiolos, infelizmente, então dedicamo-nos à confecção de novos tapetes e damos workshops. Já fizemos umas apresentações na China, também”, disse ainda. As imitações Para além dos trabalhos que faz para fora, a Handmade Arraiolos também realiza workshops na Casa de Portugal em Macau, os quais “estão quase sempre cheios”. São a única empresa que se dedicam a manter viva a tradição, mas os alunos também fazem por isso. “Temos tido uma recepção muito boa e os cursos têm estado quase sempre cheios, com pessoas de todos os grupos, e cada vez mais temos pessoas que não são portuguesas. Há pessoas em Macau que fazem tapetes de Arraiolos porque as nossas alunas querem continuar a fazer depois dos workshops e acabamos por ser revendedores.” Outro dos desafios de ter a empresa em Macau é de lidar com as imitações que são feitas na China. “As pessoas, na sua grande maioria, não perceberem a diferença em termos de materiais e técnicas. As coisas na China não são feitas com a técnica tradicional e isso não ajuda muito à divulgação da cultura portuguesa.” “Temo-nos dedicado a várias vertentes do negócio, mas o principal objectivo é divulgar a cultura portuguesa. Mesmo havendo imitações na China a técnica continua a ser totalmente desconhecida, porque eles não a seguem”, revelou ainda Vera Fernandes. Para o futuro a empresa pretende continuar a inovar, mas mantendo sempre a técnica tradicional. “Tentamos manter a técnica o mais possível ligada à origem. Mas inovar em termos da aplicação da técnica sim. Para além dos tapetes e almofadas, temos bolsas, capas para telemóveis, malas e estofos para cadeiras.” “O nosso objectivo seria conseguirmos a partir de Macau levar os workshops a outros países. Depois de fazermos esta exposição podemos levá-la a outros sítios aqui na Ásia. Os tapetes de Arraiolos são algo muito português e esta técnica do ponto é única em Portugal. Fazemos isto porque é uma arte”, concluiu.
Tomás Chio Ócios & Negócios Pessoas“1930 Dream Corner”, espaço partilhado | Joe Chan, responsável E se Macau tivesse um lugar onde todos pudessem descansar, partilhar ideias, dormir ou tocar guitarra? E se esse lugar fosse aberto àqueles que acreditam na necessidade de proteger o ambiente e de fazer novas amizades? Agora Macau já tem um espaço assim. É o “1930 Dream Corner” [dropcap style=’circle’]F[/dropcap]ica na Travessa do Penedo, ao lado do Templo de Na Tcha na Calçada das Verdades e do Colégio Mateus Ricci. Foi criado por Joe Chan, líder da União Macau Green Student, e chama-se “1930 Dream Corner”. Mas o que é este novo espaço no meio da cidade? A ideia de Joe Chan, como o próprio explica ao HM, é fácil de entender: criar um espaço onde o conceito de consumo partilhado dá o mote para diversas experiências. Aqui, as pessoas podem compartilhar recursos ao mesmo tempo que diminuem a produção de resíduos e consumos desnecessários, em prol do ambiente. Joe Chan quer que todos sejam bem-vindos: os idosos podem passar pelo “Dream Corner” para partilhar as suas experiências e histórias com os mais novos, de forma a “passar memórias e culturas”. Os residentes podem lá descansar. E os turistas têm até um espaço onde ficar durante a noite. Mesmo que não seja uma hospedaria. “Isto não é um café, nem uma pensão. É um canto para promover uma outra forma de vida, uma forma de proteção ambiental que envolve a partilha de recursos, onde os jovens se podem encontrar, trabalhar e até tocar guitarra neste espaço”, explica o responsável ao HM. Joe Chan indica ainda que este espaço serve também como ponto de descanso, ou como hospitalidade temporária para os turistas que cá chegam. Joe Chan quer que turistas e residentes possam conhecer outra forma de vida no território além dos casinos através do “1930 Dream Corner”, ao mesmo tempo que se promove a protecção ambiental. Por isso mesmo, reciclar e reutilizar é algo “muito importante” neste espaço, onde várias mobílias e peças de decoração foram encontradas em depósitos de lixo fechados, depois de abandonados pelos cidadãos. “O conceito de consumo em colaboração é muito importante , porque é uma maneira de proteger o ambiente. Podemos utilizar os recursos juntos, não precisamos de continuar a produzir mais enquanto não se trata a pressão actual no que concerne ao lixo”, diz o responsável. Joe Chan explica que a ideia de abrir este espaço partiu de um professor de Ciência do secundário, que decidiu ir viajar pelo mundo porque queria conhecer as histórias dos outros e ver as paisagens dos países estrangeiros. Nessa viagem, encontrou alguns espaços semelhantes ao “Dream Corner”, especialmente alguns com cozinha pública, algo que admirou e que depois tentou tornar real em Macau. Joe Chan explica que a localização do espaço é um pouco escondida, mas nem isso impede o valor alto da renda, por ser perto de uma zona turística. Ainda assim, o responsável considera-se um sortudo por ter conseguido encontrar o local e arrendá-lo, dado que as sete mil patacas que paga ainda são mais baratas do que as lojas à volta. O pagamento das despesas, contudo, está dependente de algumas actividades. “Realizamos mensalmente alguns eventos, iniciativas ou festas que têm temáticas relacionadas com a protecção ambiental, os organizadores das actividades doam pela utilização do lugar e alguns turistas que passam a noite aqui também doam. Às vezes vendemos comida ou produtos alimentares para obtermos dinheiro e conseguimos cobrir cerca de 60% das despesas. O resto pago eu do meu dinheiro”, explica-nos Joe Chan. Contar com o Governo para “fornecer” um local onde o “1930 Dream Corner” pudesse funcionar é algo que Joe Chan apelida de difícil, para já. Até porque a ideia é demasiado nova para Macau e muitas pessoas não entendem o que está a ser criado. “Neste momento, o que quero é que o espaço tenha sucesso, até porque não está finalizado, e depois, se o Governo nutrir alguma admiração pelo local e pensar em dar-nos um espaço, seria um grande favor.” Sobre o futuro do “Dream Corner”, Joe Chan espera poder continuar a convidar residentes que nasceram em décadas diferentes para apresentar as suas histórias de vida, partilhar as suas experiências com os jovens e mostrar como Macau tem muitas coisas com “muito valor” para proteger, como a relação entre as pessoas, as lojas e produtos tradicionais, cada vez mais a fechar e a perderem-se. O espaço ainda não tem condições para recrutar trabalhadores, mas Chan e outros membros do espaço conseguem conciliar um horário de trabalho, que não permite, contudo, que o local tenha um horário regular de abertura e fecho. “Vimos cá quando temos tempo livre e estou a tentar encontrar uma pessoa que tenha interesse em administrar o espaço, mas é muito difícil, os jovens são muito ocupados”, lamenta. O líder da União Macau Green Student diz, contudo, que ganhou já muito com este espaço – várias amizades, intercâmbio de ideias com diferentes pessoas e a expansão da “crença na protecção ambiental”.
Flora Fong Ócios & Negócios Pessoas“Cedar & Cicada”, mobílias e design de interior | Francis Choi, co-fundador De um edifício antigo de 50 anos para uma loja moderna, com a fachada com listas azul e brancas, a “Cedar & Cicada” foi criada por um grupo de designers locais que faz mobílias únicas e “Made in Macau” bem ao gosto do cliente [dropcap style=’circle’]M[/dropcap]uitos clientes entram na loja e perguntam se a loja foi aberta por pessoas de Hong Kong. Ou se as mobílias são de marca. Mas não. Aqui, todas as mobílias são criadas por pessoas de Macau. É assim que começa a nossa conversa com Francis Choi, co-fundador da “Cedar e Cicada”, uma loja de móveis e design de interior. Para Francis, ele próprio designer, a abertura da loja é motivo de orgulho, porque não só mostra que existem pessoas de Macau que têm profissões nesta área, mas também porque pode provar aos clientes que mobília não é apenas um objecto para se ter em casa: também podem trazer sentimentos. “Tenho um cliente que comprou uma mobília aqui e quando voltou para Singapura quis transportá-la com ele. Queremos que as pessoas dêem essa importância [aos nossos móveis].” A loja foi aberta em Dezembro do ano passado, apesar de estar arrendada há dois anos. Francis explica porquê. “Esta loja tem uma história. Estava muito danificada e passamos muito tempo a fazer obras e a tratar da decoração, desde o exterior ao interior.” Após a remodelação da loja, o que mais se destaca é a fachada, com listas azuis e brancas pintadas em todo o edifício de três andares. “Quisemos fazer uma fachada de estilo francês e a cor azul é muito francesa. Mesmo assim, quisemos manter as suas características originais, como a barreira metálica antiga de estilo chinês na entrada, os azulejos de estilo português no chão… preservamos de propósito para uma fusão entre o oriente e ocidente.” Francis Choi assegura-nos que cada produto aqui vendido tem uma “linguagem de design” muito própria. “Não fazemos algo do nada. Por exemplo, um parceiro meu foi ao Japão, visitou um prédio com uma arquitectura muito especial. Quando chegou a Macau surgiu a inspiração de criar mobílias [tendo em conta essa arquitectura]”, diz-nos mostrando um armário onde várias peças se sobrepõem umas às outras. Um sofá que vimos foi também criado pela equipa depois de uma viagem à Tailândia. “Passamos por um hotel e vimos um sofá com elementos de [madeira de] vime. Voltamos a Macau e fizemos este sofá de estilo do sudeste-asiático. Os clientes também acham muito confortável.” Há ainda uma outra série que o responsável nos mostra, que é uma homenagem a grandes mestres. “Além do design local, queremos que os nossos clientes conheçam a existência de pessoas extraordinárias neste mundo. Usamos o design de mestres e alteramos um pouco para adequar à utilização actual. Isso deve ser preservado e queremos desenvolvê-lo ainda mais”, explica. A “Cedar&Cicada” é também especializada em fazer mobílias temáticas para clientes. Francis Choi explicou que a loja está a criar mobílias para uma escola católica: sofás, mesas e cadeiras estão a ser criadas especialmente para esta instituição, integrando conceitos da Bíblia. Actualmente apenas o primeiro andar está aberto ao público, mas o responsável espera que daqui a um ano o segundo e terceiro andares possam servir para que o público possa apreciar as mobílias que aqui são feitas. Localizada na Rua de Abreu Nunes, perto do Jardim Luís de Camões, a loja está, diz Francis Choi, numa zona tranquila, que levou até a que os clientes tenham sido poucos nos primeiros três meses. Mas agora há cada vez “mais” interessados. “Estou muito contente por ver que alguns clientes vieram com grande vontade à loja. Como a zona tem falta de lugares de estacionamento, só conseguem estacionar o carro longe e vir a pé para aqui”, disse. Mas “o trabalho da equipa está ainda a crescer” e, por isso, por descobrir. “Queremos usar mais os média e as redes sociais para promover a nossa loja.” São vários os designers locais que fazem parte da equipa da “Cedar&Cicada”. Antes de inaugurar a loja, já faziam mobília por encomenda, bem como design de interiores e gestão de obras. “Cooperámos, até há um ano com hotéis, como o Altira, fizemos design de interiores e uma parte das mobílias para o hotel quando pensamos que teríamos capacidade para abrir uma loja para que mais pessoas pudessem conhecer as nossas obras.”
Filipa Araújo Ócios & Negócios PessoasPortus Cale, restaurante | Herlander Fernandes, chef Ali, entre as distracções do Jockey Club, está o Portus Cale. Um restaurante português que reúne gastronomia, música, espaços abertos e a possibilidade de, no coração da Taipa, sentirmos o sabor a casa [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]viagem começa logo no parque de estacionamento. Ao entrarmos no Jockey Club, bem lá no fundo, encontramos o Portus Cale, o restaurante do momento. Ao entrar no espaço sentimos que podíamos estar em qualquer outro restaurante, mas em Portugal. A verdade é essa, Portus Cale, aberto desde o final de 2014, quer trazer para Macau do melhor que se faz por lá. Somos recebidos na sala VIP, ideal para almoços ou jantares de trabalho, aniversários ou qualquer outra festa que queira organizar. A sala, que está separada da principal do restaurante, reúne as condições ideias para parecer que está na sala lá de casa. Confortável, com música de fundo, o espaço acolhe quem o visita. É Herlander Fernandes, o chef do Portus Cale, que nos dá as boas-vindas. Sorriso aberto e muita simpatia faz jus à representação de toda a equipa. Afinal de contas saber receber é das principais marcas de qualquer restaurante que queira ser uma segunda casa para o cliente. A olhar à volta o espaço convida a ficar. Se já se está a questionar se existe esplanada, dizemos-lhe: sim. Duas. Uma varanda no primeiro andar, com mesas e possibilidade de almoçar ou jantar lá fora. “A verdade é que no Verão é mais difícil por causa do calor”, explica o chef, mas, garante, a decisão é do cliente. No andar de baixo há também uma esplanada, esta em cima da relva. “Ideal para festas”, diz Herlander. Nós confirmamos. O espaço fica virado para a pista de corridas, afastado mas com visibilidade. No lado direito estão os estábulos. “Quando há festas de aniversário de crianças, ou crianças em algum evento, podemos conciliar e oferecer passeios de pónei aos miúdos. É giro, a ideia é esta, as pessoas poderem aproveitar do espaço”, frisou. Sabor luso Mas vamos ao que interessa: a comida. O menu é só e apenas dedicado à comida tradicional portuguesa. “Temos alguns pratos de autor, criados por nós, mas são pratos portugueses, 100% portugueses”, apontou Herlander Fernandes ao HM. Prepare-se para ir provar aquelas que têm sido as jóias da casa: o arroz de marisco, a feijoada, o bacalhau à Portus Cale e a sopa, “o verdadeiro caldo verde”. É preciso despachar-se, porque o menu vai mudar já este mês. Sem adiantar as surpresas que aí vêm, Herlander Fernandes garante que a carta será portuguesa, até porque essa é a essência deste espaço. “Comidas mais leves para o Verão e terá alguns pratos de assinatura”, diz-nos. É a única pista que conseguimos arrancar do chef. Desengane-se quem acha que é um restaurante só a olhar para a comunidade portuguesa. “Os nossos clientes são metade portugueses, metade chineses”, adianta o chef, sem esconder que às vezes é preciso adaptar o tempero ao cliente. É inegável, confirma, o diferente paladar que as duas culturas têm. “Por vezes corto um bocadinho no açúcar porque sei que a comunidade chinesa não gosta tanto, mas a verdade é que não posso fugir ao que a sobremesa é na sua raiz”, confirma. Sem entraves Preparar pratos que sejam verdadeiramente portugueses é mesmo possível. Os entraves da inexistência ou escassez de alguns produtos são fáceis de contornar nos tempos que correm. “É possível aqui arranjar os produtos que temos em Portugal. Temos muitos fornecedores que importam directamente de Portugal e é fácil arranjarmos, aceitando que às vezes o custo é um pouco mais elevado. Mas não é difícil arranjar, é algo muito acessível até”, desvenda. O jantar é a hora de ouro do espaço, principalmente ao fim-de-semana. Uma sala que tem capacidade para 50 pessoas está muitas vezes cheia. “Também temos o snack-bar que podemos usar como sala, temos a varanda e ainda temos o estacionamento que é uma coisa tão difícil de arranjar em Macau. Os clientes podem vir, sem chatices, estacionar no nosso parque que, por sinal, é muito grande. E temos vista, conseguimos ver o horizonte, que é coisa rara em Macau. Conseguimos ver as montanhas da China. Reunimos as condições ideais”, relata. Condições estas que têm feito os clientes voltar. “Sim, tenho notado que os nossos clientes repetem e isso é bom para a casa, é um bom sinal”, explica. O espaço é “meio escondido”, mas a qualidade e preço valem a procura. Por exemplo, Portus Cale funciona com um “set menu ao almoço, de terça a sexta-feira, com sopa, prato principal, bebida e sobremesa por 90 patacas”. “Um preço bastante acessível”, afirma Herlander Fernandes. De fundo ouve-se fado e outros géneros de música portuguesa, até porque esta é uma casa portuguesa, com certeza.
Manuel Nunes Ócios & Negócios Pessoas“Maggie Chiang”, catering Já apareceu neste jornal pelo seu restaurante “Maquete”, mas agora a aventura desta apaixonada da cozinha conhece uma nova fase: a arte combinada com comida num projecto de catering personalizado ao qual decidiu dar o seu próprio nome [dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m serviço de catering, adaptado ao evento a que se destina, combinando arte com comida é algo que não se vê normalmente. Maggie Chiang resolveu dar vazão às suas duas grandes paixões, cozinha e arte, e é isso mesmo que apresenta num serviço muito próprio, quiçá único. “É tudo sobre mim”, diz Maggie, “é um trabalho muito pessoal”. Tudo parte de uma ideia dela ou por solicitação dos clientes. A maioria das suas encomendas provêem de “marcas que pretendem realçar a singularidade do evento”, explica Maggie ao HM. Como exemplo, o lançamento do iPhone rosa da CTM onde, claro, a cor definiu o conceito, ou o de uma exposição de arte com tinta da china onde a criadora usa “tinta de lula e os pratos saíram todos a preto e branco”, como nos conta. Não existe um menu pré-definido. “As pessoas têm de confiar no meu gosto”, diz. “Posso apenas falar em estilos, como canapés, mas o cliente não faz ideia como vai sair”, revela entre risos. O processo é muito semelhante ao de uma obra de arte. Parte de um tema, pesquisa e elabora esboços no papel. “Eu pinto”, explica, “crio imagens e depois tento perceber como aplicá-las na comida.” Um processo de experiência e erro que demora até chegar ao final desejado. Para além disso, “quando se fala de catering”, explica, “tenho de me preocupar com a durabilidade dos pratos, pois todos têm um período óptimo para serem consumidos.” Do papel para o prato “Cozinhar não demora muito”, confessa Maggie, “mas o conceito pode levar entre dez dias a duas semanas para desenvolver”. Até mais, como um mês ou mais de três como foi o caso do “Jantar Contos de Fada”, um projecto artístico concebido para celebrar o dia de São Valentim e desenvolvido em conjunto com Giulio Acconci, artista plástico e músico. A “piéce de resistance” do serviço de catering Maggie Chiang são esses jantares. “Cada prato tem uma história”, revela. “São jantares com uma mensagem positiva por detrás.” O primeiro e único organizado até agora tinha por tema “A Procura do Amor”. Seis pratos, que custaram 850 patacas por pessoa. “Não acho que tenha sido caro e tenho a certeza que foi uma experiência única”. Cada prato era introduzido com uma peça gráfica de Giulio Acconci e ela própria surgia na sala para contar a parte da história até esta ser concluída na sobremesa. “O negócio não vai mal”, garante, “é um nicho, os hotéis fazem alguma coisa mas normalmente apresentam comida em pratos e mais nada. Nem os chefs ‘sobem ao palco’ para ‘desenharem’ no local, como eu faço”, diz. Paixão de criança Desde os seis anos que a paixão culinária a envolve. “Tentava fazer bolos mas a coisa não corria bem. Falhei muitas vezes”, diz a rir-se. Um dia, apareceu uma tia salvadora que a colocou no caminho certo e, aos 11 anos, já dominava a ciência. “Brincava mais na cozinha do que com bonecas”, revela. Acabou a estudar gestão estratégica por pressão do pai que a queria ver ligada aos negócios mas foi sempre fazendo bolos para festas de amigos. O curso levou-a a trabalhar em marketing e publicidade, surgindo depois as relações institucionais do Galaxy. Isso aborrecia-a e começou um part-time como formadora numa escola de cozinha. Cozinha é arte Nunca tirou um curso superior mas assegura-nos que “deve ter mais de 30 certificados de cozinha em casa”, confessa bem disposta. Esgotou os cursos todos em Macau, Hong Kong e Taiwan. Cursos curtos mas onde ia aprendendo técnicas diferentes. “Nunca parei de aprender”, explica. Há dez anos, um curso do IFT de “Cordon Bleu” ministrado por um chefe francês, fê-la perceber que tinha de ir para a Europa estudar. Em 2012 abalou para Turim e depois Paris. Mas foi em Hong Kong que surgiu a revelação ao participar num curso do conceituado chefe italiano Massimo Bottura. “Era um artista”, explica. Dizia-me que cozinhar é arte, forma de expressão pessoal e não apenas know-how”, conta Maggie. Foi o clique. Comida e Arte. As suas duas paixões juntavam-se, finalmente. “Cada prato dele era uma peça de arte”, garante. “O mais famoso chamava-se ‘Cinco Consistências de Parmesão’ um conceito sobre cores, texturas e formas. Uma abordagem muito diferente das técnicas tradicionais de cozinha”, garante. Com tantas influências perguntámos-lhes pela síntese da sua própria cozinha que Maggie garante ser “contemporânea ocidental”, apesar de reconhecer poder ser estreito pois também utiliza técnicas chinesas na preparação. Interessante é a forma como sintetiza as cozinhas: “A italiana”, começa por explicar, “revela o melhor de cada ingrediente. A francesa faz com que a comida pareça decente (risos), a portuguesa são sabores intensos e a Chinesa é a perícia”. Uma equação onde, para ela, até a filosofia e a psicologia entram. “Das texturas à expressão visual tudo afecta a experiência. A disposição dos ingredientes, por exemplo, é crucial para condicionarmos a ordem de ingestão.” Exposição na calha “O meu sonho é produzir uma exposição de comida e arte”, confessa. Estava previsto para o início do ano mas ainda não saiu. “Tenho muito em que pensar”, explica, pois “os pratos têm um tempo para serem ingeridos e quem chegar tarde vai perder o espectáculo”, adianta. Mas isso não chega para desmoralizar. “Existem exposições para serem vistas como as de arte em açúcar”, diz, “mas isto é comida. Tem de ser ingerida, cheirada, experimentada”. A efemeridade desta arte é algo que não a preocupa um pouco, “normalmente, são os comensais a preocuparam-se pois não querem destruir os pratos. Mas eu satisfaço-me com o processo de criação”, remata. E nós com a sua arte. O catering de Maggie Chiang pode ser visto em www.maggiechiang.com
Filipa Araújo Ócios & Negócios PessoasMiss M, café | Maggie Lee, proprietária “Miss M Food” é um espaço que cheira a algo delicioso. Quem entra não se arrepende. Pastelaria fina, um aspecto agradável, refeições saudáveis e um sorriso atrás do balcão são os ingredientes perfeitos para conquistar qualquer cliente [dropcap style=’circle’]B[/dropcap]em ali, metido entre as ruas do Mercado de São Lourenço e a Igreja, nasceu, e vai ganhando vida, o sonho de Maggie Lee. É o “Miss M Food”, um café com linhas modernas e dedicado à pastelaria fina. O conceito é simples. “Se olharem para os nossos menus eles não têm muita variedade”, começa logo por explicar Maggie, a proprietária do espaço. A ideia é comer bem e saudável, com refeições práticas. Mas não foi assim que começou. “Abrimos o espaço em Julho do ano passado. Estamos quase de parabéns. Começámos por ter disponíveis alguns bolos e pastelaria fina que nós próprios confeccionamos”, indica. Depois, com o passar do tempo e com “o feedback e reacções” dos clientes, a gerência decidiu introduzir o conceito de massa e arroz nos seus menus. Quem procura muita variedade não bate na porta certa, mas “quem quer qualidade” sim. “A verdade é que estamos inseridos na cultura de Macau e eu sei que as pessoas de cá gostam muito de massa e arroz, isso estava a faltar. Os nossos menus viviam muito na base do pão e saladas. Agora temos para todos os gostos”, explica. Muito trabalho Reforçando a ideia de “sonho concretizado”, o “Miss M Food” nasceu de muito trabalho e dedicação. “É preciso trabalhar muito, estarmos muito atentos ao mercado, saber o que ele quer, o que procura, o que mais gosta. É preciso ouvirmos o que os nossos clientes gostariam de ver e adaptarmos, gradualmente, o nosso negócio ao movimento da sociedade”, adiantou. Desengane-se quem considera ser um mercado fácil. “Abrir um negócio em Macau não é coisa fácil, temos de estar sempre a trabalhar, sempre a evoluir, sempre atentos ao mundo dos negócios”, acrescentou Maggie, exemplificando que não pode ter sempre o mesmo menu. “Seria um erro. Tenho que adaptar o menu consoante as épocas e os gostos dos clientes”, reforçou. Da decoração ao preço Entre saladas saudáveis, refeições de qualidade e uns bolinhos na montra, Maggie tem ainda uma paixão à qual, sempre que o tempo lhe permite, se dedica. Decoração de bolos. “Este não é o meu mercado, é só uma coisa que gosto muito de fazer”, explica, afirmando que qualquer cliente pode pedir um bolo, mas é um serviço paralelo ao objectivo do “Miss M Food”. Bolos de casamento, aniversários ou por qualquer outro motivo já fazem parte da história de Maggie. “É preciso muito tempo para esta área. Para decorar um bolo inteiro são precisas muitas horas, existem muitos pormenores”, conta. Mas há outro ponto de destaque neste negócio: os preços. “Apesar de estarmos perto de algumas escolas, os estudantes não mostravam interesse em entrar no nosso café. Nós não percebíamos porquê. Um dia entraram aqui alguns estudantes e eu perguntei se eles gostavam do espaço e da comida, eles disseram que sim, mas explicaram que não tinham entrado mais cedo porque, pelo aspecto do espaço, pensavam que era muito caro”, partilha a proprietária. A verdade é essa, lá de fora, quem olha para o café parece “algo muito chique”. “Eu faço preços baratos, sei que sim, porque não tenho necessidade de os fazer mais caros e com isso mexer com o mercado de negócios. Não acho que as pessoas precisem de pagar mais, mas a verdade é que também não tenho muita variedade nos menus”, esclarece, indicando que assim é possível existir um equilíbrio. Agradar a todos São Lourenço é o bairro escolhido por Maggie. A escolha parece óbvia visto a proprietária residir por perto, mas a verdade é que “estar ao lado da Igreja de São Lourenço” era um ponto a favor para o negócio. “Há muitos turistas por aqui e entram muitas vezes no nosso café”, aponta. “Este é um espaço para todos, sejam chineses, portugueses, turistas ou não. É um espaço que pretende ser um bom sítio para se comer qualquer coisa e conversar um bocadinho”, frisa, admitindo que no mundo das refeições o negócio aposta muito no serviço de take-away. “Grande parte das refeições que vendemos os clientes vêm aqui buscar. Basta ligar para aqui, pedir e vir buscar”, remata.
Andreia Sofia Silva Ócios & Negócios PessoasShoot and Chop, produtora audiovisual | Iwin Kwow e Kenny Leong, fundadores Existe somente há uns meses e é mais uma das empresas que está localizada no Macau Design Center. A “Shoot and Chop” não quer apenas fazer vídeos de entretenimento mas assumir-se no mercado publicitário como uma aposta que vale a pena fazer [dropcap style=’circle’]D[/dropcap]urante muito tempo Kenny Leong esteve chateado com Macau e a forma como tem sido governada. A série de vídeos “Pissed off man” fez sucesso no Youtube e tornou-se num canal para a reflexão da actualidade local. Mas Kenny Leong, nascido em Macau e com largos anos de vida em Toronto, no Canadá, decidiu juntar-se à sua parceira de negócio Iwin Kuok e apostar num novo projecto. “Shoot and Chop” é uma empresa de audiovisual criada há poucos meses, sediada no Centro de Design de Macau, e pretende tornar-se uma aposta profissional na área de produção de vídeos. Aos poucos e poucos têm sido contactados por várias empresas e até por universidades que estão interessados nas suas produções. “Neste momento temos mais clientes, estamos a conseguir alguma atenção. Não devemos estar preocupados em atrair as atenções, não é uma preocupação para nós, isso vai acabar por acontecer. Há três meses foi algo difícil, mas as coisas vão melhorar”, disse Kenny Leong. “A minha verdadeira paixão sempre foi fazer vídeos sobre o que se passa em Macau ao nível da política, a actuação do Governo e os problemas sociais. Essas foram as ideias iniciais que me levaram a estabelecer e ‘Shoot and Chop’. A minha parceira também tem interesse por estas questões e ela é a directora desta empresa, enquanto eu sou o director criativo. Juntos queremos fazer um trabalho mais comercial, ligado à produção de filmes curtos, mas também fazemos os nossos próprios vídeos, os quais são depois colocados no Youtube”, contou ainda ao HM. Estes vídeos, sem nenhum objectivo de lucro, pretendem apenas chamar a atenção do público e muitos deles são um verdadeiro sucesso online. Colocar estrangeiros a residir em Macau e a experimentar comidas tipicamente chinesas é um vídeo que mostra esse lado de entretenimento da “Shoot and Chop”. “Para além de tentarmos tornar isto rentável também queremos ter espaço para fazer as nossas próprias coisas e é aí que entram esses vídeos. Não temos quaisquer lucros com esses vídeos mas temos paixão na criação de novos conteúdos e no desenvolvimento de novas ideias para as pessoas de Macau”, explicou Kenny Leong. Pouca aposta em Macau A Iwin Kwok cabe a parte de lidar directamente com os clientes e gerir toda a parte logística à qual uma empresa está obrigada. Kenny Leong apenas dá largas à sua imaginação, sendo director para os conteúdos criativos. “Esperamos que as pessoas tenham interesse em seguir os projectos da nossa empresa, no nosso canal do Youtube e no Facebook também. Também estamos à procura de novos projectos e de encontrar patrocinadores para esses vídeos, porque achamos que podemos criar algo”, disse Kenny Leong. Iwin Kwok assume que uma das grandes dificuldades de manter uma empresa em Macau é lidar diariamente com a competição que vem da região vizinha. “Nos últimos anos os meios de comunicação de Macau têm estado muito ligados às produções de Hong Kong, incluindo o próprio Governo e a indústria dos casinos. Mas porque é que as empresas locais não podem fazer esse trabalho? São profissionais e tudo mais, mas porque não dão mais atenção às empresas locais? Nós estamos à procura de mais oportunidades e esperamos que compreendam que em Macau também se fazem bons vídeos.” Kenny Leong explica, contudo, que o mercado audiovisual local tem vindo a amadurecer. “Vemos mais produções de vídeo do que víamos antes e o mercado está a amadurecer, inclusivamente no mundo online. Estamos a receber mais atenção. Estamos num mercado pequeno, mas penso que as ideias podem fazer tudo. A partir do momento em que se colocam as coisas online se as pessoas gostarem é tudo mais fácil. Também queremos fazer coisas que possam surpreender as pessoas.” Misturar o lado lúdico com a parte profissional é a aposta da “Shoot and Chop”. “A Shoot and Chop serve para termos a coragem para fazer algo de louco e dizer coisas que os outros não querem dizer. Mas para ter uma empresa termos de ter algo mais do que fazer coisas malucas. Também queremos criar conteúdos de forma profissional para potenciais clientes. Temos duas direcções e isso é importante para que não sejamos apenas divertidos”, disse Kenny Leong.
Flora Fong Ócios & Negócios PessoasLivraria Júbilo 31 | “Aproximar as relações entre pais e filhos” Abraçada por um ambiente característico da Freguesia de São Lázaro, entre a cultura e a criatividade, mora a livraria Júbilo 31. Pequena, acolhedora e com cheiro a livros novos. Bem ali, no coração da Rua de São Roque, local tranquilo e pouco movimentado, encontrámos aquele espaço, que só pela cor e aposta nos livros infantis atrai miúdos e graúdos Da Xiang é a dona da Júbilo 31. Entre sorrisos, explicou, ao HM, que o nome da livraria foi decidido por duas coisas: “Júbilo”, que quer dizer alegria – sentimento que quer que predomine na livraria – e 31, o número da prédio. Na realidade, o nome da livraria em chinês (井井三一) tem outro significado. “A forma do caracter chinês 井 parece uma estante, isto quer dizer que aqui há livros”, acrescentou. A proprietária nasceu em Taiwan e chegou a Macau em 2003. A razão foi a mais bonita: amor. Apaixonada, Da Xiang voou até o território. O marido é de Cantão e a sua área de formação obrigava-o a estar sempre entre Hong Kong, Macau e o interior da China. Foi aí que Da Xiang percebeu que, depois de acabar a sua licenciatura, seria melhor viver em Macau. E foi aqui que se tornou professora. Um novo rumo A sentir que precisava de tempo para si, para descansar, a professora pensou que era a altura ideal para deixar um pouco de lado a sua profissão. Com o conhecimento, através de um amigo, de um espaço vazio à espera de ganhar alguma vida, Da Xiang não hesitou e pensou que poderia abrir a sua livraria. “No início, não pensava em abrir uma livraria assim, dedicada maioritariamente ao mundo das crianças. Mas depois do que tenho vindo a observar nos últimos anos, vejo que os espaços infantis são cada vez menores. Não há muitas escolhas em Macau para as crianças se divertirem e aprenderem ao mesmo tempo. Portanto abri a livraria com este tema: livros de ilustrações infantis”, explicou-nos. Tal como aconteceu naquela tarde que nos recebeu, os dias da semana são marcados pela entrada de poucos clientes. Algo que muda quando tocam as campainhas das escolas para a saída. É nessa altura que “muitos miúdos” enchem o espaço, folheiam os livros, conversam com Da Xiang e passam ali o seu tempo. “Tenho duas clientes irmãs que gostam tanto do espaço que começaram a trazer os irmãos mais novos. Eles adoram. Chegam aqui e deitam-se no chão, bem perto das almofadas, a ler. Passam horas nisto. Os livros que escolhem não são aqueles que estão nas estantes, são os que estão deixados sobre as mesas ou pelo chão de leitura. Estão cheios de ilustrações”, gaba-se. De fora para cá Os livros vendidos na Júbilo 31 são principalmente de editoras e artistas de Hong Kong e Taiwan, mas também existem publicações de artistas locais. Da Xiang recomenda um livro de ilustrações que relata o desastre nuclear em Fukushima, no Japão. “Este livro é considerado o “top de vendas”, muito valorizado. Não estou a falar do preço do livro mas sim do seu significado. É um livro que pretende alertar e educar as novas gerações para a ideia de anti-nuclear. Não são histórias felizes, conta a história de uma miúda que sofre com o desastre. Ela não chorou e até está calma, precisa de esforçar-se para enfrentar a tristeza e evitar que aconteçam mais desastres”, explica. Elo literário Da Xiang partilha ainda que acredita que pais e filhos que se dedicam à leitura em conjunto têm relações mais próximas, e isto, diz, traz uma felicidade incalculável à família. “Nas estantes há centenas de livros que fazem flores desabrochar no coração de crianças e adultos, levando-os para um mundo diferente”, é o slogan que dá as boas-vindas a quem visita o site da livraria. Questionada sobre as dificuldades de ter um negócio em Macau, a empresária explica que a renda da loja é partilhada com um editora local que ocupa o espaço do andar de cima. Isto, conta, ajuda a aliviar os custos da abertura de um espaço. Mesmo assim, nem é tudo fácil. “Temos que ganhar mais dinheiro, mas até agora, está difícil. As despesas e as receitas ainda não estão equilibradas”, confessa, explicando que “o movimento dos clientes é pouco”. “Existem pais e filhos que vieram cá só porque souberam da nossa existência através da internet ou pelos meios de comunicação”, apontou, admitindo que o espaço precisa de se tornar mais conhecido. Em jeito de brincadeira, Da Xiang disse que muitas vezes a livraria assume funções de creche, isto porque há empregadas domésticas que levam os miúdos à Júbilo 31 depois da escola e os pais vão lá apanhá-los ao fim do dia. Algo que não incomoda a dona que diz que pode conhecer muito mais pessoas. “A ideia é que se possa oferecer um espaço que junte crianças e que as ajude a desenvolver pensamentos e conhecimentos”, acrescenta. Mais do que ler Além de livros para vender, a Júbilo 31 organiza sessões de leitura e workshops na livraria, não só para crianças mas também para adultos. A proprietária garante que está atenta aos assuntos sociais deste território. “Como fizemos na semana passada. Realizámos um workshop de fazer açaimes à mão. Através do workshop explicámos às crianças o que os cães podem sentir quando precisam de usar açaimes na rua”, relembrou. A livraria realizou ainda outra sessão de partilha de opiniões, convidando um especialista de Taiwan para explicar as influências negativas de animais em cativeiro, e em parques de diversão. Outra das razões pelo qual os leitores devem ir a esta livraria, explicou Da Xiang, é o gato, bem redondo, o “Ar Pou”, que está a viver no espaço. “O Ar Pou tem muitos fãs, há pessoas que entram na livraria só para brincar com ele. Mas a verdade é que o gato gosta de passear lá fora e alguns deles ficam bastante desapontados”, rematou divertidamente.
Tomás Chio Ócios & Negócios PessoasCakepuccino Bakery, pastelaria e fábrica | Flora Che, proprietária Assim que fez um bolo descobriu a sua paixão. Deu aulas, mas depressa se fartou do que fazia e apostou na abertura de um espaço que vende bolos e materiais de pastelaria. Assim é a “Cakepuccino Bakery”, que pretende, um dia, ser uma escola. Falta apenas o parceiro de negócio [dropcap style=’circle’]F[/dropcap]lora Che começou a vender os seus bolos há dois anos na internet, enquanto dava aulas de culinária nos colégios Estrela do Mar e Diocesano de São José. Foi nessa altura que se apercebeu que era muito difícil comprar os materiais para fazer os seus bolos enquanto dava aulas e viu que tinha uma oportunidade de negócio à sua frente. A proprietária da “Cakepucciono Bakery” teve a possibilidade de arrendar uma loja cuja proprietária é mãe de uma amiga. Foi aí que decidiu despedir-se do seu emprego como professora e apostou na abertura da pastelaria. Primeiro, Flora Che arrendou um espaço no andar acima da loja que servia de cozinha para fazer os seus bolos. Hoje arrenda o espaço situado na Rua de São Lourenço e garante que o local é conveniente para quem quer adquirir estes materiais de pastelaria ou para quem quer encomendar bolos para ocasiões especiais. “Comecei a interessar-me por fazer bolos há quatro anos e tudo por causa da minha irmã, que trabalha como pasteleira num hotel. Sempre gostei de trabalhos artesanais desde criança e sentia-me aborrecida com a vida no escritório. A partir do momento em que fiz o meu primeiro bolo descobri que era isto que gostava de fazer.” Questionada sobre o tipo de bolo que mais gosta de fazer, Flora Che destaca o bolo feito com a cobertura em glacê. A aposta na formação internacional foi algo que a proprietária da “Cakepuccino Bakery” procurou fazer desde o início. “Estive no Reino Unido, em Taiwan e Hong Kong para frequentar cursos de pastelaria”, conta. A faz-tudo Flora Chen referiu que o seu negócio sofre com a falta de recursos humanos. “Tenho muitas funções aqui. Para além de ser a dona, também sou pasteleira e gestora de marketing. Estou à procura de pessoas que tenham interesse em fazer bolos.” A ideia é encontrar um parceiro de negócio e não apenas um simples empregado. A promoção da “Cakepuccino Bakery” depende muito das redes sociais, sendo que Flora Che também participa em exposições ou eventos para mostrar os seus produtos. “Cheguei a ter um emprego relacionado com mercadorias num hotel e acredito que a eficácia da publicidade em exposições é grande. Gostaria de ter um stand nas exposições para poder promover os meus produtos”, disse. O próximo evento onde irá participar será o Rubber Duck Garden na Doca dos Pescadores. Os pedidos feitos online garantem a manutenção do negócio. Os clientes pedem muitas bolachas, cupcakes e bolos com glacê. Mas a estabilidade ainda não está garantida apenas com a venda dos materiais. Como a loja abriu pouco tempo antes do ano novo chinês, “os clientes pediram mais bolos de aniversário”, mas Flora também recebeu pedidos para bolos de casamento e festas.” A maioria dos materiais que utiliza e vende provém de países como a Austrália ou os Estados Unidos, sendo que os seus bolos são livres de químicos. Para o futuro No processo de abertura da loja surgiram vários desafios, os quais Flora Che acredita que vai ultrapassando com o tempo. Para já pretende renovar a loja e focar-se na importação dos materiais. “Nunca pensei que pudesse ter tanto trabalho, como a encomenda dos materiais, a rotulagem dos produtos.” Sendo beneficiária do subsídio atribuído pelo Governo no âmbito do Plano de Apoio a Jovens Empreendedores, Flora Che garante que ainda não sente pressão financeira. “Tenho horário diferente daquele que tinha, começo às 11h00 e tenho a loja aberta até às 20h00. Faço os bolos depois de fechar a loja e trabalho normalmente até às 23h00. Tenho um horário muito preenchido, por isso quando tiver um parceiro de negócio poderei descansar mais”, disse ao HM. Olhando para os próximos tempos, Flora Che quer ensinar outras pessoas a fazer bolos e essa será uma tendência da “Cakepuccino Bakery”: fazer com que outras pessoas se apaixonem pela arte da pastelaria.
Hoje Macau Ócios & Negócios PessoasMISE: “De eventos desportivos, a musicais e festivais” Numa altura em que o atrair de diversidade a Macau é a “palavra de cada dia”, a MISE surge para “inovar” a área da promoção de eventos, de olhos postos nas reuniões e incentivos, mas com mais na manga Chama-se Associação de Reuniões, Incentivos e Eventos Especiais (MISE, na sigla inglesa) e foi lançada no mês passado. É, como asseguram os criadores desta nova organização, uma plataforma que responde aos apelos governamentais de diversificação da economia da RAEM. Fazendo do lançamento o pontapé de saída de uma das áreas desta Associação, a MISE fez da sua apresentação um exemplo dos serviços que pode prestar, num evento que contou com a presença de mais de uma centena de profissionais do sector do Turismo e eventos e que teve lugar no Hotel St. Regis Macao. Mais que uma associação comum ou uma extensão do MICE (sector das convenções e exposições na sigla inglesa) num trocadilho com o programa, a MISE não só substitui as conferências e exposições pelos eventos especiais, como também pretende ir mais além e dotar Macau de um conjunto de meios capazes de promover a tão dita diversificação económica – e de turistas – do território. Para Todd Cai, Presidente do Conselho de Administração, “até à data não existia uma associação que apoiasse estes sectores em particular, nomeadamente incentivos e eventos especiais”, diz num comunicado, assumindo a MISE como prioritária nas estratégias políticas de turismo de Macau enquanto entidade promotora e atractora de mais eventos internacionais, capazes de promover a região como destino. Estão também na agenda a execução independente de relatórios das indústrias MICE, bem como a criação de uma plataforma em Inglês que abarque todos os profissionais ligados aos MICE numa perspectiva promotora do empreendedorismo local. Mais e diferente Representante de uma base de apoio aos profissionais dos negócios e turismo da região, Bruno Simões, Secretário do Conselho de Administração, diz ao HM que, apesar de já existirem na região entidades dedicadas aos eventos, esta plataforma pretende ir mais longe, numa aposta num leque mais alargado em que estão também na mira “eventos desportivos, musicais, festivais e desafios, numa intenção que vai até aos eventos televisivos ou mesmo casamentos”. Já nos incentivos, a diferença é marcada com a oferta de viagens a profissionais da área num convite para conhecer Macau e desta forma promover a região num contexto internacional cada vez mais alargado. No que respeita à formação e numa aposta de carácter pioneiro na região, esta será dividida em duas componentes primordiais: do lado teórico é intuito da MISE – com o apoio dos Institutos de Educação locais – prestar formação certificada. Numa vertente prática, a MISE prevê uma formação integrada e completa através da aprendizagem directa com a participação dos formandos nas actividades organizadas pela Associação. Em conjunto A MISE não está sozinha e conta com a cooperação com duas empresas irmãs estabelecidas há alguns anos em Macau: a DOC DMC Macau | Hong Kong e a smallWORLD Experience, especialistas em gestão de eventos e produção de actividades especiais e que é também a “maior empresa de team building em Macau”. Sendo uma associação sem fins lucrativos, o “bom desempenho” da MISE é suportado por trabalho voluntário. Da organização, além de Todd Cai e Bruno Simões, fazem parte David Paulo Ribeiro, Rebecca Choi e Filipe de Senna Fernandes. Tendo em conta a diversidade dos interessados, a Associação apresenta diversas opções aos seus associados tendo em conta pequenas e médias empresas e grandes empresas, bem como profissionais individuais e estudantes. Ainda não tem sede, mas está online, em www.misemacau.org.
Filipa Araújo Ócios & Negócios Pessoas“IES”, restaurante | Larry Chen, proprietário: “Estamos concentrados no melhor” O espaço desliga o cliente do mundo lá fora. Cor, luzes e decoração tornam-se elementos fundamentais que, aliados aos sabores, nos fazem voar até Itália. Assumindo uma aposta na aparência dos pratos, e fazendo jus ao sabor, a nova surpresa da gerência é “o pão” [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]negócio está-lhe no sangue. Larry Chen traz consigo uma grande bagagem de trabalho na área de restauração, mas “esta é a primeira vez que tem um negócio mais pequeno”. “Sempre trabalhei em restaurantes, mas eram grandes e com muita saída, desta vez decidi apostar num espaço mais pequeno, mas criando condições para crescer e se espalhar para fora de Macau”, começa por partilhar com o HM aquele que é um, dos dois, sócios do restaurante “IES”. Entre o Teatro D. Pedro V e as antigas instalações da Polícia Judiciária, o “IES” não passa despercebido. Uma porta de madeira dá entrada a um espaço acolhedor, com dois andares, e carregado de cheiro a comida caseira. Bem no centro, no balcão, está uma equipa que rasga um sorriso sempre que um cliente chega. A atenção à nacionalidade dos que acabam de chegar é um ponto de dedicação da equipa, até porque, explica o proprietário, cada cultura tem os seus hábitos. A crescer Aberto há menos de um ano, “IES” – nome que surge de “IExpresso” – quer “criar um café com comida decente”, como explica Larry Chan. “Queremos criar uma marca que se possa estender para outros horizontes. Por isso é que criámos localmente uma marca sofisticada, moderna, com traços e uma atmosfera italiana”, acrescenta. Mas não estamos só a falar do espaço. “Obviamente também falamos da comida, do café, das sobremesas, todo o conjunto”. Macau, aponta o sócio-gerente, é tão diversificado que “mesmo com a competição louca que se sente nos dias de hoje”, o território “é um mercado emergente” e por isso precisa de novos espaços e novos conceitos. “Aqui [em Macau] é possível encontrar um pouco de tudo. Seja comida portuguesa, seja chinesa… Mesmo as pessoas que vêm de Hong Kong ou do interior da China, mesmo que seja uma viagem curta, conseguem encontrar aqui em Macau uma grande diversidade”, acrescentou. Pasta e pão Uma breve passagem de olhos pelo menu facilmente nos remete para um restaurante italiano. A razão é simples, “a comida italiana não é cara, pode ser consumida todos os dias e os asiáticos estão ligados à massa”. Larry Chan explica que a vantagem deste tipo de gastronomia para com outras nacionalidades é a possibilidade de se optar por comida italiana diariamente. “Por exemplo, a comida tradicional francesa não é uma comida que se coma todos os dias, até porque é mais sofisticada e, por vezes, até mais cara. A comida italiana não é assim, é uma comida que se pode comer todos os dias”, apontou. Variados tipos de massa, pizza, pão e sobremesas fazem parte da oferta da casa, que garante a qualidade e sabor dos seus pratos. Todos os dias existe um menu diário com opções variadas e a um preço simpático. Uma das vantagens do espaço é que está aberto até tarde. “Uma das nossas particularidades é essa. Não fechamos a parte das refeições ou café. Ou seja, as pessoas podem vir aqui só para beber um café, ou um chá, ou uma sobremesa, mas também comer refeições a qualquer hora”, clarificou. A grande aposta É o pão a menina dos olhos do “IES”. A abertura de uma padaria foi a grande aposta do gerente para este ano. “A padaria abriu há poucos meses, estamos a tentar crescer”, apontou, explicando que existem variadíssimos tipos de pão dependendo dos gostos e necessidades de cada cliente. Mas desengane-se quem acha que abrir um negócio em Macau, principalmente na área de restauração, é fácil. “É muito difícil”, partilha o empreendedor. Principalmente, diz, por causa da falta de recursos humanos dispostos a trabalhar na área. “É muito difícil encontrar pessoas que estejam prontas a oferecer um serviço bom e de qualidade, portanto isto não nos facilita o trabalho. E depois existe a concorrência, antigamente poucos ligavam ao mercado da restauração, agora há muito interesse”, apontou. O trabalho nos casinos é também um dos grandes entraves ao negócio. “Trabalhar num casino é mais fácil do que trabalhar na restauração”, apontou. Ainda assim, Larry Chan não está nada arrependido de ter arriscado num novo negócio. “Eu gosto disto, é um bom desafio. Abri vários restaurantes no passado, não em Macau, mas não estou arrependido, acho que é um desafio. É divertido, gosto desta combinação de café com comida. Gosto disto”, reforçou, sonhando expandir o “IES” para Hong Kong, Singapura e Taiwan. “Por agora, eu e a minha equipa, queremos dar tudo por tudo para os nossos clientes. O feedback tem sido bom, mas estamos concentrados no melhor que podemos fazer”, rematou.
Tomás Chio Ócios & Negócios PessoasNature CM, loja de flores | Human Io e Ayo Io, proprietárias São flores que podem durar até dois anos ou mais, ainda que sejam frescas e naturais. A “Nature CM” nasceu em Macau com o propósito de ajudar as pessoas a perceber que as flores não servem apenas para dias comemorativos [dropcap style=’circle’]S[/dropcap]e quer flores frescas todos os dias, a “Nature CM” é a loja para si. Human Io e Ayo Io são duas jovens irmãs, que estabeleceram esta loja de flores, que traz novidades ao público: flores frescas preservadas. “Sempre tivemos um grande interesse por flores e trabalhos artesanais, desde crianças”, começa por explicar Ayo ao HM, quando questionada sobre a razão de abrir esta loja. A jovem explica que, normalmente, os residentes apenas compram flores nos dias importantes, ou de celebração, como o Dia dos Namorados. A ideia de usar flores para decorar a casa ainda não é popular em Macau, diz Ayo, pelo que a ideia era também divulgar que as plantas são ideais para isso. O produto principal da “Nature CM” são as flores frescas preservadas, que conseguem ficar vivas e coloridas até cerca de dois anos, depois de um tratamento técnico. Estas são vendidas com vários cores e decoração artesanal, em jarros para todos os gostos e feitios. Human Io confidencia ao HM que as irmãs conheceram a técnica de tratamento para flores frescas numa viagem ao Japão. Embora admita que ainda têm muito de aprender para utilizar esta técnica, as duas dedicaram-se a vender este tipo das flores por cá, porque isso “é uma novidade para Macau”. Quando se chega à porta da loja, é difícil imaginar que esta – localizada no Centro Industrial Keck Seng, na Avenida de Venceslau de Morais, 13º andar – contém tanta natureza. As duas irmãs explicam, no entanto, que a escolha para estarem neste prédio “é muito simples”: “a renda. Aqui temos um espaço maior e as rendas são tão elevadas em Macau”, diz-nos Human com um sorriso. Ayo e Human apenas divulgam os seus produtos via redes sociais, como o Facebook e WeChat. “Ainda não investimos nada no anúncio e promoção da loja, porque queríamos evitar os aumentos dos custos”, explicou Ayo. A loja é uma sala de trabalho e um lugar de venda, mas poderá vir a transformar-se numa sala de aula no futuro. É que as duas jovens têm o plano de criar um curso para ensinar como envasar e decorar flores frescas preservadas. “Como não temos tempo suficiente somos nós que temos de arranjar todas as coisas da loja e procurar as flores no estrangeiro para vender. Por isso estamos a estudar este plano.” Ayo diz ao HM que o negócio já abriu há mais de um ano, mas só agora as proprietárias começaram a arrendar um espaço. Afinal, as duas jovens pensavam que este negócio seria apenas um trabalho temporal – ou até um hobby. Cada uma tinha o seu trabalho, mas depois de arrendarem a loja decidiram dedicar-se a 100% ao novo negócio. Como a promoção dos seus produtos normalmente é partilhada via boca a boca, Human refere que os elogios dos clientes são muito importantes para duas irmãs, até porque esta é “a única maneira de atrair clientes”. De acordo com as jovens, os clientes podem receber as encomendas três dias depois de fazerem o pedido, ainda que se possa oferecer um “serviço urgente” dependendo do caso. As rosas são as flores preferidas para os produtos, mas Human e Ayo procuram também vários tipos de girassol e tulipa, além de flores específicas de países estrangeiros, como o Japão. Além das flores preservadas, a “Nature CM” também oferece flores secas com cores diferentes, sendo que cada cliente pode pedir as suas flores e cores preferidas, adicionado bonequinhos plásticos como decoração. Human diz que o negócio corre bem, sem muitas dificuldades, mas revela que há um custo elevado com as flores, devido ao custo da compra, transporte e renda. “Normalmente, as flores frescas preservadas são importadas do Japão”, explica Ayo. Estas duas irmãs relembram ainda a história de um cliente que consideram “inesquecível”: a de um português que tinha de regressar a Portugal de Macau e, para que a namorada tivesse uma prenda dele, este comprou uma rosa fresca preservada com decoração. “É uma história romântica, não é?”, dizem, indicando que também têm clientes de Hong Kong e da China continental. As duas dizem ainda ao HM que a “vida simples é bela e que toda gente pode sentir-se maravilhosa quando partilhar o seu espaço com flores”.