Maggie Chiang, artista e chef local: “Tudo pode estar sincronizado com o paladar”

Depois de estudar em França e Itália, Maggie Chiang voltou a Macau e abriu um restaurante. Conjugando sempre as esferas da arte e da gastronomia, deixou esse projecto para vender biscoitos na Rua do Seminário, inspirados em pinturas que a própria fez. Para a fundadora da “maqi lava cookies” expressar o sabor através dos cinco sentidos é uma exploração diária, que pode ir do abstracto ao estado de espírito do momento, passando pela filosofia e terminando no prato

De que forma é possível combinar comida e expressão artística?

Para mim, a comida é uma forma de arte porque tem tudo a ver com a forma como somos capazes de combinar os elementos, misturar sabores e apresentar visualmente os alimentos. Até a própria cultura de degustar comida é, para mim, uma forma de arte. Em Itália, por exemplo, o simples facto de criar uma oliveira ou produzir queijo é uma forma de arte porque lá não se limitam a plantar essa árvore, seguem métodos precisos e têm uma filosofia para o fazer. Tudo tem a ver com arte. Quando voltei para Macau criei o meu próprio restaurante [Maquete] e apostei tudo em termos artísticos. Porque gosto de música, caligrafia e pintura procurei formas de combinar as artes visuais na comida e acabei por criar vários projectos artísticos relacionados com comida.

Como é que essas formas de expressão artística são materializadas em comida ou noutros pratos?

Para me expressar de forma artística através da comida invisto sobretudo nas cores, nas formas e texturas dos alimentos. No caso dos projectos de catering que dirijo, depois de definir os pratos, tento construir uma história através do menu, ou seja, o que pretendo é que a sequência daquilo que vem para a mesa conte uma história. Como gosto muito de arte, procuro combinar todas as formas de expressão artística na comida, não apenas em termos visuais, mas também recorrendo a histórias e à música, por exemplo.

De onde vem a inspiração para novas receitas e como se combinam ingredientes, cores, formas e texturas para apreciar à mesa?

Viajar é a minha principal inspiração, apesar de agora ser impossível fazê-lo devido à pandemia. Foi quando comecei a ver mais coisas à minha volta e comecei a ser mais curiosa em relação a tudo o que me rodeia que fiquei mais desperta para aquilo que faço. Encontro inspiração em todo o lado. Mesmo agora, nesta zona [São Lourenço] gosto de ir ao mercado aqui perto, simplesmente para ver pessoas no seu quotidiano e isso pode servir de base para novas criações.

Como despertou a paixão de combinar gastronomia e arte?

Desde pequena que gosto de cozinhar e de tocar piano. Acho que é algo que implica todos os nossos sentidos, porque quando comecei a cozinhar fiquei mais alerta não só para o paladar dos alimentos, mas também para os cheiros. E como sempre toquei, comecei a usar também os ouvidos de outra forma. Quando começamos a usar todos os nossos sentidos, a curiosidade começa a aparecer em todas as coisas. Mais tarde comecei a fazer empratamentos e a interessar-me mais por pintura e resolvi ir estudar para Florença. Acho que tudo pode estar sincronizado com o paladar.

Como surgiu a ideia de fundar o “maqi lava cookies” e de que forma o conceito está ligado à pintura?

Depois do restaurante “Maquete”, comecei este negócio em 2018 porque queria fazer algo que as pessoas pudessem comer no dia a dia e que as fizesse sentir felizes e lembrei-me de uma das coisas mais básicas da cozinha ocidental: biscoitos. Queria continuar a explorar a vida e não a trabalhar num restaurante todos os dias durante 14 horas porque, alguns anos depois, senti que não sabia nada do mundo. Quando abri esta loja permiti-me a mim mesma ter mais espaço e comecei a desenvolver outros projectos em paralelo, como dar aulas, promover projectos de catering e  dedicar-me aos estudos. Daí, quando criava menus para marcas ou eventos, começava antes de mais por fazer uma pintura e isso ajudava-me a ter um conceito sobre a paleta de cores e as formas que pretendia criar. Servia quase como um mockup. É assim que crio coisas e, por isso, quando decidi abrir este espaço, aproveitei esse processo criativo, de pintar antes de conceber algo ligado ao paladar, para criar oito biscoitos com diferentes sabores e texturas, associados a oito obras feitas por mim.

Que tipo de arte e pintores servem de inspiração?

Gosto sobretudo de pintura abstracta e, por isso, artistas como Kandinsky e Pollock são algumas das minhas principais fontes de inspiração. Para mim, no caso das obras abstractas, não se trata apenas da capacidade técnica de cada um, mas sim do espírito e da forma como expressamos ideias e emoções. É energia. É algo que vai além daquilo que conseguimos ver.

Nesse sentido, de que forma os sentimentos e as memórias podem interagir com a confecção e o paladar?

Também isso é abstracto. Não tem a ver com conhecimento ou capacidade, mas sim com a energia do chef ou da pessoa que está a cozinhar. É uma forma de expressão que vai além do sabor. Enquanto chef considero sempre que os meus sentimentos e a minha energia têm o condão de afectar o sabor e tento mobilizar-me nesse sentido.

E tem tido sucesso?

Considero que sim. Por exemplo, quando dava formação a chefs não treinava apenas as suas capacidades técnicas, mas tentava também fazer com que eles se sentissem felizes antes de cozinhar. Antes de um grande evento, por exemplo, fazia questão pôr música que transmitisse sentimentos de felicidade e bebíamos normalmente qualquer coisa. Era quase como uma pequena celebração que contribuía para que todos estivéssemos nesse mesmo comprimento de onda antes de irmos trabalhar.

Então se a mesma pessoa utilizar a mesma técnica para cozinhar um prato em estados de espírito diferentes, o resultado também vai distinto?

Claro que sim. A mesma receita com as mesmas quantidades feita por pessoas diferentes origina resultados diferentes. Tem tudo a ver com experiência e com sentimentos. Uma pessoa mais racional e outra mais sentimental vão produzir pratos diferentes com a mesma receita. Tudo isto, juntamente com as emoções e outros factores, como a virtude e a intencionalidade, são ingredientes que podem afectar a forma como exploramos a criação de algo.

Como é que a filosofia e a religião entram nesta equação gastronómica e artística?

Depois de trabalhar com muitos artistas, um deles do Tibete, reparei que as crenças e os pensamentos podem de facto afectar a forma de estar de uma pessoa e comecei a interessar-me por religião. Ao mesmo tempo, como fui obrigada a suspender os projectos que tinha devido à pandemia, comecei a estudar filosofia para tentar explorar como é que essas crenças e os pensamentos podem afectar as criações de alguém. Comecei a tentar compreender de uma forma académica, como é possível fazer coisas a partir de um método filosófico. Foi bom também porque descobri que a ideia que tinha antes para uma exposição de arte e gastronomia não era suficientemente profunda, pois estou neste momento a trabalhar numa pesquisa sobre a sensação gustativa. A ideia que tinha para essa exposição era tentar expressar o sabor através dos cinco sentidos e a forma como a percepção pode afectar o paladar. Uma vez mais está tudo relacionado com a comida.

De que forma é que ter crescido em Macau influenciou ou contribuiu para as suas criações?

Viver em Macau influenciou muito a forma como cozinho. Quando estive em Itália apercebi-me que tinha algumas vantagens ao nível do conhecimento da gastronomia europeia devido à cozinha macaense, cujo sabor me era familiar e parecido com a gastronomia italiana em certa medida. Comparando com outros estudantes na China ou na Ásia acho que temos essa vantagem de ter aqui em Macau um pouco dessa cultura europeia.

Disse em tempos estar consciente de que “ser chef não é profissão para uma mulher”. Mantém esta ideia?

Hoje em dia, já penso de maneira diferente. Quando era mais nova e enquanto adolescente ou jovem estudante inserida no contexto asiático de Macau, ser chef era algo que fazia parte do mundo dos homens e um trabalho que os pais não iam gostar para uma filha. O trabalho com o qual os meus pais se sentiram mais confortáveis foi quando trabalhei em escritórios. Quando me despedi e disse que queria cozinhar eles não gostaram. Mas acho que após tantos anos, essa ideia mudou. A mentalidade é agora mais aberta em Macau, apesar de haver ainda muito a fazer quando se fala nesta profissão. Comparando Macau com Hong Kong ou com a Austrália há ainda uma grande diferença. Há mais restaurantes e variedade agora, mas a forma como as pessoas comem e desfrutam de uma refeição é ainda muito diferente.

Diferente de que forma?

Se formos a um restaurante francês pedimos um bom prato e queremos emparelhar com um bom vinho e apreciamos a forma como o restaurante presta esse serviço, mas em Macau não. Ainda se prefere partilhar sempre todos os pratos e trazer vinho de casa. É a cultura daqui. Enquanto chef preferia que o ambiente fosse diferente, mais à semelhança de Hong Kong, Melbourne ou da Europa. Sentir-me-ia melhor com a minha profissão e os clientes conseguiriam apreciar melhor as refeições.

15 Nov 2021

Autocarros | Sem condições para frota totalmente eléctrica

É possível fazer melhor, mas a falta de estacionamento é uma grande limitação para que Macau tenha uma frota de autocarros públicos totalmente eléctrica. Actualmente, a RAEM tem 200 espaços de carregamento de veículos eléctricos

Faltam condições a Macau para concretizar o desejo de ter uma frota de autocarros públicos exclusivamente movida a electricidade. Os limites foram explicados por Li Jiliu, representante da construtora Zhong Tong, em declarações à TDM, que argumentou com a falta de locais para estacionar.

“Cidades como Macau e Hong Kong são relativamente pequenas, as ruas são estreitas e não há estacionamentos suficientes em Macau [para permitir os carregamentos]”, justificou Li Jiliu, à margem da Exposição Internacional Automóvel da China. “É impossível resolver as questões relacionadas com a criação de estações centralizadas de carregamento”, acrescentou.

Apesar das limitações, a Zhong Tong trouxe a Macau um veículo desenhado a pensar no mercado local, que recorre ao diesel para alimentar baterias. “Este modelo de autocarro tem um motor tradicional a diesel, que carrega as baterias e depois circula com um motor movido a bateria, menos poluente do que um motor a diesel tradicional”, foi explicado.

Até 2025, Macau tem como meta implementar uma frota de autocarros públicos com mais de 95 por cento dos veículos movidos através de energias alternativas, com menos impacto para o ambiente e emissão de poluentes reduzida.

Ligar à ficha

Actualmente, de acordo com a Companhia de Eletricidade de Macau (CEM), Macau dispõe de 200 espaços de carregamento de veículos eléctricos em 42 parques de estacionamento públicos e em sete ruas de Macau, Taipa e Coloane.

“A cobertura em parques de estacionamento públicos é de quase 80 por cento, com a maioria dos tipos de fichas disponíveis”, revelou a CEM num comunicado, citado pela Lusa, que recordou faltarem “instalações de carregamento em conjuntos habitacionais privados”.

Em Fevereiro de 2019, existiam 172 espaços de carregamento em 70 por cento dos parques automóveis públicos. A empresa pretende “aumentar ainda mais a cobertura” e prevê instalar, no futuro, estações de “carregamento padrão” para facilitar o uso perto de zonas residenciais e escritórios, durante o tempo de estacionamento.

De acordo com as “Especificações Técnicas de Fornecimento de Energia” revistas em 2018, os parques de estacionamento em novos edifícios devem estar 100 por cento equipados com infraestruturas de carregamento, para melhorar as instalações de carregamento e incentivar o público a conduzir de forma ecológica, indicou a CEM.

No final de Junho, as autoridades contabilizaram 1.852 veículos eléctricos, entre automóveis (1.612) e motorizadas (240), números pouco impressionantes que, ainda assim, representam um aumento de 38 por cento em relação ao final de 2020. Em Junho, o Governo de Macau usava 36 veículos eléctricos, de acordo com dados publicados no website da Direção de Serviços para os Assuntos do Tráfego (DSAT).

 

15 Nov 2021

DST | Deloitte alerta para concorrência de Hainão e sugere aposta no mar

O Governo encomendou um estudo à consultora Deloitte sobre o presente e o futuro do turismo de Macau, identificando potenciais riscos e caminhos de saída. A concorrência da ilha da Hainão e da zona da Ásia/Pacífico pode “roubar” visitantes a Macau. A solução é aproveitar os recursos marítimos e culturais e apostar no segmento do luxo

Depois de quase dois anos de clausura e prejuízo, a saída para a crise poderá passar pela reinvenção do sector do turismo. Foi com o propósito de análise e projecção de soluções para o sector que a Direcção dos Serviços de Turismo (DST) encomendou à consultora Deloitte um estudo sobre o desenvolvimento da indústria do turismo.

Além de estabelecer a óbvia dependência da economia local no turismo, e da imprevisibilidade do fim dos efeitos nefastos da pandemia, a consultora refere que a política de facilitação de vistos no Interior da China para destinos no estrangeiro tem “desviado” visitantes que tradicionalmente optariam por Macau, Hong Kong e Taiwan, diminuindo as visitas “de ano para ano”.

Também destinos como Vietname e Tailândia, tornam-se cada vez mais competitivos a captar turistas, enquanto que na Malásia, Filipinas e Camboja a indústria do jogo está “em rápido crescimento, afectando a concorrência com a indústria do jogo de Macau”.

Por outro lado, a Deloitte destaca Hainão como um destino que “atrai o retorno do consumo dos visitantes do Continente”, através da isenção de impostos e da oferta de produtos turísticos cada vez mais ricos. “A rota de desenvolvimento com foco em compras isentas de impostos e hotéis/resorts de luxo é uma forma de concorrência para a indústria do turismo de Macau.” Aliás, para aferir do grau de competitividade entre as duas regiões, basta recordar a nomenclatura política que o Governo Central estabeleceu para Hainão enquanto “Centro Internacional de Turismo e Consumo”, termo semelhante ao “Centro Internacional de Turismo e Lazer” aplicado em Macau.

Mão cheia de remédios

Num período em que a RAEM procura diversificar a economia, a Deloitte fez algumas sugestões ao Governo para a retoma do mercado turístico.

Em primeiro lugar, a consultora sugere que se mantenha a “comunicação com o Continente, a melhoria da eficiência da passagem pela alfândega e discutir a melhoria da política de vistos para pessoas que viajam frequentemente na área da Grande Baía”. Neste aspecto, é apontado que Macau não aproveitou, até agora, a conectividade das redes de transportes da região.

Um outro potencial trunfo a explorar é a atracção de turistas com elevado poder de compra, descritos pela consultora como “clientes de alto valor”, “casais jovens, visitantes de colarinho branco, famílias de rendimento médio e alto e jovens da Geração Z”. Também a especificação do produto pode ser uma vantagem, nomeadamente através da oferta de pacotes de “viagem para fotografia para casamento, gestão de fortunas, cuidados de saúde, etc”.

No capítulo dos recursos, o plano geral recomenda o planeamento de instalações culturais na área dos Estaleiros Navais de Lai Chi Vun, na Fábrica de Panchões de Iec Long e no Pátio da Eterna Felicidade, e a promoção de elementos de turismo cultural através de operações de parcerias público-privada.

Outro dos métodos recomendados neste ponto, é a colaboração com museus e galerias da área da Grande Baía e outras cidades do Interior da China, em termos de curadoria colaborativa ou exposição de colecções de forma mútua.

Enquanto porta de entrada para o Mar do Sul da China, a Deloitte reforça que Macau deve aproveitar o acesso à costa, nomeadamente através de um plano com os operadores de turismo que oferecem passeios marítimos e optimizem rotas que “enriqueçam a experiência turística marítima”. Ainda no campo voltado para o mar, é sugerida a aposta no reforço dos portos existentes que, por exemplo, permitam oferecer ancoragem para iates.

15 Nov 2021

Economia | Governo espera apoiar 103 mil trabalhadores a partir de Dezembro

O Governo espera que o apoio pecuniário incluído no plano de apoio às PME, alcance 103 mil trabalhadores, 6.800 profissionais liberais e 15 mil estabelecimentos. Pagamentos começam em Dezembro e os beneficiários não podem cessar actividade ou despedir durante seis meses. Construção do armazém permanente de substâncias perigosas em Ká-Hó continua sem data

O Governo prevê atribuir 10 mil patacas a cerca de 103 mil de trabalhadores, através do plano de apoio pecuniário incluído nas oito medidas de apoio às PME anunciado no mês passado.

Concluída a discussão do regulamento administrativo denominado por “Plano de apoio pecuniário aos trabalhadores, profissionais liberais e operadores de estabelecimentos comerciais” pelo Conselho Executivo, a directora substituta dos Serviços de Finanças (DSF), Chong Seng Sam revelou que o Governo espera beneficiar 6.800 profissionais liberais e 15 mil estabelecimentos. Os pagamentos começam em Dezembro, por transferência bancária ou cheque.

“Os requerentes terão de apresentar os documentos comprovativos de existência efectiva da sua relação laboral para a nossa apreciação. Se reunirem os requisitos atribuímos o montante [10 mil patacas]. A partir de Dezembro serão atribuídos esses montantes”, explicou na sexta-feira Chong Seng Sam.

Recorde-se que o apoio prevê atribuir 10 mil patacas a todos os contribuintes do imposto profissional, com rendimentos obtidos em 2020 inferiores a 144 mil patacas, ou seja, remunerações mensais de cerca de 12 mil patacas. Abrangidos estão também profissionais liberais que reúnam os mesmos requisitos, contribuintes do imposto complementar de rendimentos que não obtiveram lucros operacionais em 2020 e operadores de estabelecimentos comerciais. Para os dois últimos casos será atribuído um apoio pecuniário entre 10 mil e 200 mil patacas, “calculado com base em 5 por cento da média dos custos operacionais por si efectuados nos últimos três anos”.

Durante a apresentação do diploma, o porta-voz do Conselho Executivo André Cheong anunciou ainda que, para “proteger os direitos e interesses relativos ao emprego dos trabalhadores”, os beneficiários cujo apoio pecuniário é calculado com base nos encargos do imposto profissional e custos de operação, “não podem cessar a actividade ou despedir sem justa causa os trabalhadores dentro de seis meses”. Caso isso aconteça, as quantias do apoio pecuniário recebidas terão de ser restituídas total ou parcialmente.

Questões substanciais

A proposta de lei sobre o controlo de substâncias perigosas também foi concluída pelo Conselho Executivo, estabelecendo um regime de controlo e prevenção da ocorrência de acidentes graves decorrentes do transporte, fabrico, manuseio e utilização de substâncias perigosas.

Durante a apresentação do diploma que será entregue à Assembleia Legislativa foi revelado que a construção do armazém permanente de substâncias perigosas de Ká-Hó continua sem data e que, dentro das nove categorias de substâncias perigosas definidas de acordo com os critérios internacionais, existem cerca de 2.800 tipos de substâncias, que serão detalhadas no futuro.

Sobre a gestão e exploração de zonas de armazenagem controlada por parte de entidades públicas ou privadas, foi dito que o Corpo de Bombeiros terá “poder uniformizado” para fiscalizar todas as zonas de armazenagem, mas que essa gestão poderá contar com a colaboração de entidades privadas.

15 Nov 2021

Exposições | Tap Seac e Oficinas Navais acolhem arte contemporânea

Duas exposições, com 81 obras de 22 artistas de 9 países. “Abraço na Diversidade” e “Simbiose”, são duas mostras que se tocam na partilha de visões contemporâneas com obras de artistas chineses e de países de língua portuguesa

Dois blocos geográficos, uma língua vanguardista. Estão em exibição duas exposições de arte contemporânea que entre a Galeria do Tap Seac e o Centro de Arte Contemporânea de Macau – Oficinas Navais N.º 1 celebram a expressão artística moderna de artistas oriundos de países de língua portuguesa e criadores Grande Baía de Guangdong – Hong Kong – Macau.

As mostras compõem os dois lados da Exposição Anual de Artes entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

Perto do local onde, reza a lenda, os portugueses atracaram em Macau pela primeira vez, o Centro de Arte Contemporânea de Macau – Oficinas Navais N.º 1 acolhe a mostra “Abraço na Diversidade” até 31 de Dezembro de 2021, onde vão estar expostas 36 obras/conjuntos de arte contemporânea com linguagens artísticas que incluem pintura, instalação, fotografia, escultura e vídeo.

No total, o centro de arte contemporânea recebe obras de 17 artistas da lusofonia. A representar Portugal a mostra reúne trabalhos de Catarina Castel-Branco, Diogo Muñoz, Isabel Nunes, João Santa-Rita, Nuno Nunes-Ferreira, Rita GT e Sarah Ferreira. De Angola chegam obras de Ana Silva e Keyezua, e do Brasil para Macau vem a visão de Fernanda Lago.

A “delegação” artística de Cabo Verde é composta por trabalhos da autoria de Abraão Vicente, David Levy Lima e Euclides Eustáquio Lima. 

Timor-Leste, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe são representados por um artista cada, a saber, Ino Parada, Nú Barreto, Gonçalo Mabunda e Kwame Sousa, respectivamente. 

Baía na Praça

No capítulo local, a Área de Exposição da China e de Macau será a Galeria do Tap Seac, onde está patente, desde ontem e até ao fim do ano, “Simbiose”. A mostra reúne trabalhos de cinco artistas locais e cinco artistas da Grande Baía de Guangdong – Hong Kong – Macau. 

No total, “Simbiose” é o somatório de 45 de criações artísticas numa variedade de meios e formas, incluindo pintura a óleo, pintura acrílica, pintura a tinta em papel, fotografia, instalação interactiva de imagens criada por computador, instalação eléctrica, instalação de escultura tridimensional, instalação de luz LED e espelho, e instalação de arte performativa. 

A arte contemporânea local está representada por Leong Chi Mou, Lei Ka Ieng e Kit Lee, Tang Kuok Hou, Wong Iek e Jeff Wong, Yung Lai Jing e Karen Yung. Do Interior da China, a outra cara metade de “Simbiose” é composta pelas obras de Chen Yuan Long, Jiang An, Liu Xiang Lin, Xu Zi Wei e Zhang Chi. 

13 Nov 2021

Quarentena | Viajantes vindos por Singapura ficam no Hotel Tesouro

Isolados num hotel “especializado” e obrigados a fazer 10 testes de ácido nucleico nos primeiros 10 dias de quarentena. É esta a nova realidade para quem viaja de Portugal, ou de qualquer outra zona de alto risco, para Macau

O Governo reviu as medidas de observação médica para quem viaja para Macau vindo de Singapura, como acontece com as ligações áreas entre a RAEM e Portugal, tornando-se obrigatório cumprir quarentena no Hotel Tesouro a partir de 1 de Dezembro. 

As novidades foram apresentadas ontem, por Leong Iek Hou, coordenadora do Núcleo de Prevenção de Doenças Infecciosas e Vigilância da Doença. “Os indivíduos com diferentes riscos serão distribuídos por instalações diferentes. Os indivíduos de risco máximo ficam no Centro Clínico do Alto de Coloane. Os indivíduos de risco elevado secundário têm de ir para os hotéis especializados, sem poderem fazer escolha”, explicou Leong. 

Segundo Liz Lam, dos Serviços de Turismo, os indivíduos de risco elevado secundário são “todos os que viajam vindos de Singapura”. Ainda de acordo com a responsável, o primeiro espaço designado como especializado é o Hotel Tesouro, o mesmo que estava a ser utilizado para isolamentos e que há dois meses registou um surto entre os trabalhadores de segurança.

A escolha surgiu após a avaliação dos Serviços de Saúde e, neste momento, estão a decorrer obras na unidade hoteleira. 

“Escolhemos o Hotel Tesouro porque tem 500 quartos, uma capacidade grande, que facilita muito as operações. Também está fora das zonas residenciais, o que facilita as operações dos SSM”, justificou Lam.

As pessoas que vierem do Interior, Hong Kong e Taiwan podem continuar a escolher o hotel para cumprir quarentena.

Revisão das medidas

Além da divisão das pessoas em quarentena por hotéis diferentes, foram anunciadas quatro novas medidas para os isolamentos. Quem vier de Singapura tem de fazer 10 testes nos primeiros 10 dias da quarentena. Leong Iek Hou explicou que o objectivo é detectar os casos o mais cedo possível.

Questionada sobre se as mudanças da política podiam ser vistas como discriminatórias, o cenário foi recusado: “Não há rotulagem nem discriminação. A situação epidémica no estrangeiro está grave e, por isso, adoptámos medidas”, defendeu Leong.

Nas outras alterações constam ainda a divisão clara de tarefas entre os serviços públicos, a realização de testes e gestão de circuito fechado para os trabalhadores dos hotéis em quarentena e a obrigação de fazer a reserva de hotel antes de viajar para Macau.

Desde o início da pandemia até à passada segunda-feira, 58.060 pessoas cumpriram quarentena. No pico das quarentenas, 12 hotéis estiveram reservados para o efeito, onde foram detectados 25 dos 77 casos de Macau.

13 Nov 2021

Desemprego | Procura de subsídio cai em 2021 mas triplica em 2020

O desemprego está a abrandar, mas a pandemia levou à corrida ao subsídio do Fundo de Segurança Social em 2020, altura em que o valor dos apoios mais do que triplicou, passando de 14,43 milhões de patacas para 52,31 milhões 

A situação do desemprego tem melhorado ao longo deste ano com uma quebra de 3,6 por cento no número de indivíduos a receber o subsídio. Os dados foram apresentados na segunda-feira por Iong Kong Io, presidente do Conselho de Administração do Fundo de Segurança Social, ao canal chinês da Rádio Macau, e citados pelo jornal Cheng Pou.

De acordo com Iong, nos primeiros dez meses do ano houve um total de 3.813 pessoas a receberem subsídio de desemprego, no que representou um valor de 36,88 milhões de patacas. O número de pessoas a recorrer a este apoio social demonstra uma redução de 143 indivíduos face aos 3.956 apoiados nos primeiros três meses do ano passado. Os dados anunciados por Ieong mostram assim uma quebra de 3,6 por cento. 

Em relação às despesas com o subsídio, no final de Outubro do ano passado, estas cifravam-se em 43,24 milhões de patacas, o que significa uma redução de 15 por cento. “Os dados mostram-nos que em comparação com o ano passado a situação do desemprego abrandou”, afirmou o presidente do Conselho de Administração do Fundo de Segurança Social.

Ainda de acordo com o dirigente, desde o ano passado foram adoptados procedimentos para que os pedidos sejam aprovados o mais rapidamente possível. Ao mesmo tempo, em vez de se pagar o subsídio uma vez por mês, o valor permaneceu o mesmo, mas é pago em duas tranches, a cada 15 dias, de forma a “facilitar o pagamento”, foi explicado.

Crise económica

Os dados do FSS mostram também um agravar das condições de vida da população com o primeiro ano da pandemia, e as restrições de circulação, que atingiram gravemente a indústria do turismo. 

Em 2019, o último ano sem pandemia, o número de requerentes do subsídio de desemprego foi de 3.511, porém, no ano passado subiu para 12.141. Nem todos, entre os 12.141 requerentes, terão tido os pedidos aprovados, mas o montante anual gasto com este subsídio cresceu de 14,43 milhões de patacas para 52,31 milhões de patacas, ou seja, mais do que triplicou.

Nos termos das leis em vigor, o subsídio de desemprego equivale a uma prestação diária de 150 patacas. Cada residente pode, por ano, receber 90 dias de subsídio, o que equivale a um limite máximo de 13.500 patacas por ano. O subsídio é pago a cada 15 dias, ou seja, 2.250 patacas de cada vez.

Caso um residente receba as 13.500 patacas, tem de voltar a esperar um ano até poder a voltar a receber um valor semelhante.

13 Nov 2021

AL | Orçamento de 2022 aprovado apesar de chuva de críticas

Os deputados aprovaram ontem na generalidade a lei do orçamento para 2022, apesar das muitas críticas apresentadas. A redução do investimento nas obras públicas, falta de medidas para gerar receitas e ausência de referências ao cartão de consumo e ao apoio aos idosos estiveram entre as principais falhas apontadas. Sem se comprometer ou debater ideias, Lei Wai Nong admitiu discutir o assunto em sede de comissão 

A Assembleia Legislativa (AL) aprovou ontem, na generalidade, a proposta de Lei do Orçamento de 2022, que prevê retirar 30 mil milhões de patacas da reserva financeira extraordinária para cobrir despesas e alcançar receitas brutas do jogo de 130 mil milhões. No entanto, e apesar de ter recebido o voto favorável de todos os deputados, as críticas fizeram-se ouvir.

“Espero que o Governo poupe o que deve poupar e gaste onde deve gastar”, começou por dizer Leong Sun Iok, o primeiro a intervir durante o período de discussão. 

Dada a tónica, o deputado criticou o facto de o orçamento prever, por um lado, um aumento de 31 por cento de despesas relacionadas com a investigação científica e, por outro, uma redução ao nível das obras públicas, materializada em menos 100 milhões de patacas alocadas ao Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração (PIDDA).

Perante o aumento do número de desempregados, também Song Pek Kei foi crítica em relação à diminuição do investimento nas obras públicas, apontando que é necessário que o Governo “invista mais” para estabilizar o mercado de trabalho e a economia.

“O orçamento deve ser capaz de estabilizar a economia e encontrar mais postos de trabalho. Tendo em conta a experiência de outras regiões, é necessário que o Governo invista mais para que a sociedade se desenvolva, mas o PIDDA não aumentou. Se as obras dos particulares já são poucas e o Governo reduz as obras públicas, muitos trabalhadores vão ficar sem emprego”, vaticinou.

Em uníssono com José Pereira Coutinho, a deputada lamentou ainda a ausência de referências a uma nova ronda de cartões de consumo, sobretudo numa altura em que o subsídio de previdência central de 7.000 patacas destinado aos idosos continua omisso do orçamento.

“No ano passado houve cartões de consumo para substituir a perda do apoio da previdência central, mas nas medidas de apoio deste orçamento, não há referências ao cartão de consumo (…) que pode servir de motor para acelerar a economia”, disse Song Pek Kei.

Também Ella Lei e Ron Lam questionaram o Governo sobre as razões para não terem sido reservadas verbas destinadas aos idosos, quando a pandemia continua a criar muitas dificuldades à população. Numa altura em que a ordem é para cortar nas despesas, a deputada quis também saber o que explica o aumento dos investimentos em empresas de capitais públicos como a Macau Investimento e Desenvolvimento, S.A..

Dar a volta ao texto 

Do lado das receitas, e perante a diminuição dos rendimentos afectos ao jogo, Ip Sio Kai, Pereira Coutinho e Song Pek Kei apontaram que o orçamento é parco em ideias para encontrar novas fontes de rendimento. Como sugestão, os deputados colocaram a hipótese de o Executivo apostar na venda de terrenos ou na emissão de obrigações.

Por seu turno, Ron Lam propôs ao Governo repensar algumas medidas de apoio à população que se mantêm inalteradas desde 2008, como os cheques pecuniários ou a isenção de rendas para vendilhões. 

“Concordo com as medidas de apoio, mas não devemos ajustá-las? Há vendilhões que abrem a banca só para passar o tempo e (…) o valor da compensação pecuniária não é pouco, sobretudo quando muitos dos que recebem o cheque não residem em Macau”, apontou.

Na resposta, o secretário para a Economia e Finanças, começou por dizer que o orçamento deve ser “pensado de forma integral”. Sobre as propostas apresentadas, nomeadamente quanto ao apoio aos idosos, Lei Wai Nong não se comprometeu e admitiu discutir o assunto apenas em sede de comissão.

Foi dito ainda que o Governo está a ponderar emitir obrigações para aliviar a crise económica e que a zona de cooperação em Hengqin será uma das soluções para revitalizar a economia de Macau. 

 

Suicídio | Lo Choi In diz que serviços sociais fazem “omeletes sem ovos” 

Preocupada com o aumento do número de suicídios e outras problemáticas associadas à pressão gerada pelo prolongar da pandemia de covid-19, a deputada Lo Choi In apontou que o Governo deve aumentar os apoios destinados às instituições de cariz social. Segundo a deputada, com as diversas medidas de austeridade adoptadas pelo Governo, as instituições profissionais cívicas foram “gravemente afectadas” e que isso limita a cobertura e a profundidade dos seus serviços. Isto, quando, apesar de não ter havido cortes no financiamento, o número de casos disparou. “As autoridades não reduziram os salários e o número de trabalhadores, mas (…) os pedidos de assistência aumentaram significativamente e é difícil fazer omeletes sem ovos. A falta de verbas limitou gravemente o desenvolvimento dos diversos trabalhos, reduziu significativamente a qualidade dos serviços e impossibilitou o acesso dos utentes aos serviços de apoio”, afirmou.

 

Covid-19 | Wong Kit Cheng defende apoio a empresas com elevada taxa de vacinação

No seguimento do início do plano de inoculação da 3.ª dose da vacina contra a covid-19, a deputada Wong Kit Cheng defendeu que o Governo deve aproveitar a oportunidade para atribuir apoios às empresas que apresentem elevadas taxas de vacinação.

“Há que estudar medidas para as empresas em que a taxa de vacinação já tenha atingido um determinado nível, nomeadamente, conceder-lhes apoio ou, caso se registem alterações da situação de pandemia, dispensá-las das medidas restritivas ou da suspensão do funcionamento”, disse no período dedicado às intervenções antes da ordem do dia.

Além disso, a deputada apontou que devem ser concedidos mais incentivos aos vacinados “no dia-a-dia”, tendo por base a aceleração do reconhecimento mútuo e da interligação com o Interior da China e Hong Kong no âmbito dos registos de vacinação.

Com o objectivo de aumentar a taxa de vacinação, Wong Kit Cheng sugere ainda que o Executivo conceda um período de descanso após a vacinação.  

Também Zheng Anting pediu que o Governo crie “o quanto antes” um sistema de reconhecimento mútuo de vacinação com o Interior da China e Hong Kong, para prepare a abertura das fronteiras no futuro. Para que a normalização de movimentos entre Macau e as regiões vizinhas seja uma realidade, o deputado sugere que o Governo concretize o “registo autenticado” dos cartões Macau Pass e implemente a função de rastreamento no código de saúde. “[Estas medidas podem] reduzir os custos sociais, como a realização de testes em massa de ácido nucleico, o confinamento, a suspensão do sector dos serviços e das aulas, etc”, vincou. 

13 Nov 2021

Inês Pedrosa, escritora: “Machismo serve mal mulheres e homens”

O que mudou no papel da mulher desde o ano 2000, ano em que foi lançada a primeira edição de “Vinte grandes mulheres do século XX”? Com uma nova reedição apresentada este ano, Inês Pedrosa defende que mudou muita coisa, mas que há ainda muito por fazer. A escritora, e também editora, acaba de lançar, em português, os escritos do poeta chinês Jidi Majia

O seu último livro fala das grandes mulheres do século XX. Como chegou a esta selecção?

Foi difícil porque, felizmente, no século XX, as mulheres surgiram, e, portanto, há muitas. Na verdade, este livro é uma reedição de um livro publicado em 2000, intitulado “As 20 mulheres para o século XX”. Tudo começou porque colaborava com o Expresso e o jornal pediu-me uma biografia da Eva Péron, e depois comecei a pensar na sua força, que foi maior do que a do marido. Era um populismo específico, ela foi uma das primeiras populistas. Vinha do nada e tornou-se um ícone político. Pensei que seria interessante fazer um livro com as mulheres do século XX e fui pensando nas mais diversas áreas. A selecção é arbitrária, pois procurei mostrar a entrada de mulheres em diversas áreas onde não tinham grande expressão. [A escolha] é arbitrária porque acaba por ser também uma selecção em torno das mulheres que, de alguma maneira, me marcaram. Não tenho nada a ver com a madre Teresa de Calcutá, mas foi muito interessante ver como na Igreja Católica, um centro patriarcal, aquela freira conseguiu ser um Papa, à sua maneira. Não são mulheres com as quais concordo mas são polémicas, controversas, e tinham um projecto de poder sobre a linguagem, como a Virginia Woolf. Uma das críticas que me fizeram quando o livro saiu pela primeira vez foi só ter escolhido cinco portuguesas no meio de 20 mulheres do mundo inteiro.

Como reagiu?

Disse que se fosse norte-americana, as 20 mulheres do século XX seriam, talvez, 19 americanas e uma não americana. Era um livro para sair em Portugal com a força das mulheres de Portugal e, felizmente, quando o publiquei, quase todas elas estavam vivas e agora a Paula Rego e a Maria João Pires ainda estão. O livro estava fora do mercado há muito tempo e por isso fiz uma revisão das biografias. Tem também ensaios biográficos, porque em cada uma das figuras procurei pensar como é que elas tinham contribuído para mudar a imagem das mulheres e para lhes dar poder. Por exemplo, a Bette Davis não cumpria os padrões de Hollywood mas conseguiu fazer um caminho de uma Meryl Streep, o que foi muito mais difícil no seu tempo. Refiz esse livro, mas hoje apetecia-me fazer 40 figuras.

O que mudaria então no livro, caso existisse esse projecto?

Gosto muito do Brasil, e quando escrevi este livro [na primeira edição] não conhecia a Clarice Lispector, que hoje teria incluindo. Teria incluindo uma figura como Carolina Maria de Jesus, que é uma favelada do Brasil que fez uma obra literária que só agora veio a ser descoberta, ou a Billie Holiday. Hoje falta a mulher negra nestas mulheres do século XX, que tiveram muito mais dificuldades. A mulher sempre foi destratada pela outra metade da sociedade e a mulher negra ainda mais, mesmo as que conseguiram ser figuras que se destacaram. Demoraram mais a ter esse destaque durante o século XX e hoje, século XXI, é que lhes estamos a dar esse crédito.

Houve uma evolução do papel da mulher ao longo destes anos?

Apesar de tudo, houve. Quando era jovem, nos anos 80, dizia-se “estamos quase a chegar lá”, e começou a dizer-se que não se podia deixar de contar com as mulheres. Agora oiço um discurso “o que interessa se são homens ou mulheres? O que interessa é a qualidade”. Criei uma editora [Sibila] para publicar mulheres porque têm muito menos visibilidade que os homens. Nas redes sociais, que hoje são um pouco o barómetro do nosso tempo, aparecem-me logo homens e mulheres que dizem não reparar se lêem um escritor ou uma escritora, que só lhes interessa a qualidade.

Não se trata aí de esconder a realidade?

Há uma tentativa de fazer isso. Sinto que, cada vez que há uma crise económica, há uma tentativa de afastar as mulheres dos lugares de visibilidade, sempre que escasseia o trabalho e o dinheiro empurram-se as mulheres. Houve uma certa inversão e agora está também na moda dizer que não há mulheres, que somos todos pessoas. E quando se começa a dizer isso, deixamos de ter estatísticas sobre a violência sobre as mulheres. Sinto que as mulheres começaram a ganhar uma tal presença que agora se tenta apagá-las de diversas maneiras. Há uma discriminação sub-reptícia que é muito mais forte, porque é menos visível. Mas por outro lado vejo uma juventude que não voltará atrás. Claro que é privilegiada, estudou, tem mais mundo do que nós tínhamos. As mulheres da nova geração não se deixarão ultrapassar desta maneira.

O livro “Nas Tuas Mãos” conta três gerações de mulheres, e depois editou “Os Íntimos”, onde os homens falam sobre mulheres. Sente que também faz um trabalho em torno dos sentimentos e da questão do género?

Sinto. É engraçado falar-me do “Nas Tuas Mãos”, porque vou reeditá-lo este mês, já está na gráfica. Esse livro não está a ser editado porque não renovei o contrato com a D. Quixote e vou reeditá-lo eu. Comecei uma editora em 2017 e no ano passado terminei o contrato com a Porto Editora e não faz sentido não editar o meu livro. Assim já não tenho que ouvir que tenho mau feitio, e que sou esquisita com as capas. Portanto vou colocar todos os meus livros no mercado à medida que lanço outras obras de outros autores. Editei agora um livro de um poeta chinês maravilhoso. Mas de facto o mundo das mulheres está em “Nas Tuas Mãos” e de como esse mundo evoluiu ao longo do século XX em Portugal. “Os Íntimos” apareceu depois de eu ter verificado que, quer em Portugal ou no Brasil, e em outros países, existir aquele hábito dos homens que são amigos de infância e que têm o hábito de juntar um grupo para um jantar em dia de futebol, mas como uma espécie de porto de abrigo, e que é muito diferente da relação das mulheres. Verifiquei que vários amigos meus, de idades diferentes, tinham esse hábito. A sociedade patriarcal e o machismo também torna os homens muito inseguros e obriga-os a serem muita coisa que vai contra eles mesmos. O feminismo só ganhará quando perceber que o machismo serve mal as mulheres e os homens. Cria infelicidade, lugares fixos, obrigações, clichés.

O homem não chora…

Sim, ou que o homem tem de estar sempre pronto para o sexo. O homem tem de ir à guerra. Quem viveu em Portugal antes do 25 de Abril sabe disso. O meu irmão cresceu na iminência de que, quando fosse grande, iria para África pegar em armas. Mas contra quê? São temas interessantes porque nada mudou tanto. Dizemos que o século XX foi o século das grandes descobertas do espaço, da tecnologia. Mas foi uma revolução nas relações humanas.

Voltando à edição dos escritos do poeta chinês. Como chegou a esse autor?

O livro acabou de sair [Planeta Dilacerado, de Jidi Majia]. Conheci-o através do poeta Nuno Júdice, um grande amigo meu. Ele leu esse poeta em tradução francesa e espanhola e gostou muito. O livro tem vários poemas, mas tem um poema central que se chama “Planeta Dilacerado”, uma espécie de poema épico sobre o tempo contemporâneo que estamos a trazer ao planeta. Uma espécie de manifesto poético, mas muito, muito bom.

Com o livro “Faz-me Falta” teve a sua afirmação como escritora? Não falo do número de edições vendidas, mas para si própria.

(Hesita). Para mim foi um livro muito especial, muito duro de escrever, mas muito fácil. Demorou muito a sair, mas é o único livro que tenho manuscrito, e foi quase todo sem rasuras, o que é raro, pois eu corrijo imenso. E foi um livro muito forte para mim. Foi talvez a minha afirmação como escritora porque quando entreguei o livro ao editor, ele achou que eu o devia reescrever novamente, porque era muito triste, muito poético, e ele achou que os meus leitores de “Nas Tuas Mãos” não iam gostar. Os críticos também iriam achar que era um lirismo descabelado. E eu disse que o livro era aquilo e que se tinha sido importante para mim iria ser importante para alguém. Lutei pelo livro. Até hoje, quando encontro alguém na rua, me falam desse livro. Não posso se não estar grata a ele. Mas acho que os meus últimos livros são melhores do que todos esses. Talvez goste mais do “Nas Tuas Mãos”, pois foi um livro que me fez viajar muito na minha cabeça. Aquelas personagens não têm a ver comigo mas ajudaram-me a perceber muitas coisas.

O livro é como se fosse uma viagem a Portugal desde meados do século XX.

Sim. A história da Jenny, improvável, do casamento disfarçado, contaram-me como sendo de uma tia de uma amiga, que eu não conheci, que morreu louca, sozinha e virgem. Sonhei com essa velha a dizer “estás a julgar a tua vida com os parâmetros que não são os meus”, e aí comecei a escrever por causa disso. Depois percebi, na minha história, que não é uma vítima, é outra coisa. Depois ela é que chamou as outras personagens. A história da Jenny é do tempo daquele salazarismo denso, do tempo da guerra, e senti que tinha de haver resposta de outras mulheres.

Surge então o período do 25 de Abril, dos anos 80 no Frágil, no Bairro Alto.

Aí foi a minha experiência. O que é que se tinha transformado, o que é que tinham sido aqueles anos 80? Recuperei um bocado isso novamente no último romance que escrevi, “O Processo Violeta”. Os anos 80 foram os anos da minha juventude, mas também de ebulição em Portugal, quando assentou a democracia. Íamos para a Europa e havia um cosmopolitismo um bocado estonteado. Era a experimentação.

11 Nov 2021

Grande Prémio | 133 pilotos participam na edição deste ano

Ao todo, a 68.ª edição do Grande Prémio de Macau vai receber 133 pilotos, que vão estar obrigados a fazer testes à covid-19 a cada 48 horas. O evento, que acontece de 19 a 21 de Novembro, vai afectar o trânsito, levar à alteração de cerca de 50 carreiras de autocarros e mobilizar 400 agentes. A organização apela à população para andar a pé

A organização do Grande Prémio de Macau revelou ontem que serão 133 os pilotos a participar na 68.ª edição do evento, denotando um aumento em relação aos 119 que marcaram presença no ano passado. De acordo com Pun Weng Kun, Coordenador da Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau, os pilotos estão “a pouco e pouco” a chegar a Macau apesar dos recentes surtos de covid-19 registados no Interior da China e, durante a competição, serão submetidos a testes de ácido nucleico a cada 48 horas.

“A situação da pandemia no Interior da China tem vindo a recuperar gradualmente a estabilidade e, até agora, todos os pilotos estão habilitados a vir competir a Macau”, assegurou ontem o responsável durante uma conferência de imprensa dedicada às medidas de tráfego a aplicar devido ao Grande Pémio.

De referir ainda que, durante a conferência de imprensa, a lista de pilotos participantes não era ainda conhecida. No entanto, poucas horas depois, as listas provisórias dos pilotos inscritos nas seis corridas previstas foram divulgadas online, após a questão ter sido lançada pelos jornalistas.

Relativamente às alterações de trânsito, foi dito que entre os dias 19 e 21 de Novembro haverá, como habitualmente, cortes em várias artérias e alterações em dezenas de carreiras de autocarros.

Ao todo, serão cerca de 50 as carreiras afectadas, havendo mudanças nos respectivos percursos. Por seu turno, a carreira H2, ficará suspensa durante esses dias. Também, como de costume, serão criados os percursos especiais 12T, entre o Terminal Marítimo do Porto Exterior e a Praça Ferreira Amaral, e 31T, entre o Terminal Marítimo do Porto Exterior e a Paragem Provisória do Fórum Macau.

Por fazerem parte do circuito, a Avenida de Amizade, Avenida Venceslau Morais, Ramal dos Mouros e Rua dos Pescadores serão cortadas ao trânsito durante a realização das provas.

Antes disso, entre os dias 16 e 18 de Novembro, devido à instalação de 159 barreiras metálicas, haverá constrangimentos em alguns locais da cidade, como na Estrada de Cacilhas, Estrada D. Maria II, Avenida da Amizade e na Rua dos Pescadores.

Patrulha reforçada

Para garantir o bom desenrolar das operações na via pública, serão destacados mais de 400 agentes para os pontos onde se prevê que haja maior pressão na circulação de trânsito, nomeadamente na zona norte e centro da cidade. Dos três dias de competição, o primeiro, por ser sexta-feira é aquele onde se prevêem maiores constrangimentos.

“As vias rodoviárias vão ficar sobrecarregadas sobretudo na sexta-feira [dia 19 de Novembro]”, começou por dizer Lo Seng Chi, subdirector da Direcção de Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT).

“Apelo aos cidadãos para prestarem atenção aos arranjos de trânsito e, se possível, que andem a pé para chegar aos seus destinos. Esperamos que os estudantes saiam de casa mais cedo e que as empresas sejam flexíveis com os horários”, apontou.

A organização revelou ainda que, no ano passado, foram registados 2.000 casos de estacionamento ilegal e foi necessário rebocar 13 veículos durante os três dias de competição.

11 Nov 2021

Património | IC admite alterar trânsito junto à Casa de Portugal

Após o edifício que alberga a Casa de Portugal ter ficado danificado devido a um acidente de viação, o IC admite estudar o controlo do tráfego na zona. Sobre o restauro agendado para Dezembro, António José de Freitas mostra-se feliz, congratula a “acção rápida” do IC, mas lamenta não ter sido notificado pelo organismo

O Instituto Cultural (IC) revelou que, na sequência do acidente de viação que danificou parte da fachada do edifício que alberga a Casa de Portugal, está a estudar medidas de controlo de tráfego na zona, em conjunto com a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT).

“Relativamente aos danos a edifícios patrimoniais provocados por uma condução negligente, o IC irá apresentar a situação à DSAT para estudar a melhoria do tráfego ou medidas de controlo”, admitiu o organismo em resposta enviada ao HM.

Recorde-se, que no passado dia 11 de Setembro, ocorreu um acidente no cruzamento da Rua de Pedro Nolasco da Silva com a Travessa do Padre Soares, que danificou parte do canto do edifício no 24A. Juntamente com os lotes 26 e 28-28A, os dois imóveis germinados de interesse arquitectónico são propriedade Santa Casa da Misericórdia de Macau.

Contactado pelo HM, o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Macau, António José de Freitas, considera que, a concretizarem-se, as alterações de trânsito na zona “são boas notícias” e aponta o encerramento da Travessa do Padre Soares à circulação de veículos como uma possibilidade.

“Considero que fechar aquela rua ao trânsito não coloca qualquer problema em termos de escoamento rodoviário. Não sou perito, mas como conhecedor do ambiente e da rede rodoviária envolvente, [um eventual encerramento] não vai afectar nada. Para chegar à Rua do Campo, os carros que passam pela Rua Nolasco da Silva, ou vão em frente ou viram à direita na Travessa do Padre Soares, pois as duas vão dar ao mesmo sítio”, apontou.

O IC acrescentou ainda que, pelo facto de em Macau existirem muitos edifícios patrimoniais nas zonas antigas onde os troços são estreitos, os condutores devem “permanecer alerta e ter atenção à segurança da condução e do património cultural”.

Ao ritmo da opinião pública

Na mesma resposta, o IC confirmou que as obras de restauro no edifício que alberga a Casa de Portugal vão avançar em Dezembro. Detalhando, o IC sublinhou que “realiza periodicamente” uma avaliação do edifício e que, “neste momento, não se verificam problemas imediatos de natureza estrutural, pelo que (…) está a proceder (…) à realização dos concursos para as obras de reparação das fachadas, dos telhados, das portas e janelas e das infiltrações de água internas”.

Ao HM, António José de Freitas diz estar “feliz” por saber que as obras vão começar em breve e aponta que o caso prova que “os serviços públicos só acordam depois da questão vir a público”. “Este é mais um exemplo de que o IC considera as opiniões veiculadas pela imprensa”, começou por dizer. No entanto, o responsável lamenta não ter sido notificado por escrito sobre o início das obras. “Fico feliz por saber que as obras vão começar, mas o IC não foi capaz de enviar uma notificação por escrito à Santa Casa. Recebemos uma notificação por chamada, mas nem falaram com o provedor”, disse o próprio.

Sobre o facto de o organismo apontar que o edifício não tem “problemas imediatos de natureza estrutural”, António José de Freitas insiste que “as brechas que as imagens mostram são enormes”, mas admite não ser “perito” na matéria. “Ainda bem que nada caiu até agora e oxalá que não haja um problema estrutural. Não sou especialista para dizer se a estrutura corre ou não perigo iminente, mas, a meu ver, há perigo”, partilhou.

Contudo, o provedor fez questão de congratular a “acção rápida do IC”, esperando que o organismo comece a dar “mais atenção” aos prédios classificados pelo Governo.

Recorde-se que em Abril deste ano, a Santa Casa da Misericórdia de Macau enviou uma carta ao IC a alertar para os “graves danos estruturais na fachada” do edifício que alberga a sede da Casa de Portugal e para o “perigo iminente” que o mau estado de algumas estruturas coloca a transeuntes da via pública e utentes.

11 Nov 2021

AL | Pereira Coutinho de fora da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo

Apesar de ter liderado uma das listas mais votadas no sufrágio directo, José Pereira Coutinho não vai fazer parte, como deputado, da comissão que elege o Chefe do Executivo. Entre os 23 deputados que se candidataram ao lugar, o português foi o único a ficar de fora

José Pereira Coutinho falhou a eleição para integrar a Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo, que decorreu ontem na Assembleia Legislativa. Entre os 33 legisladores, apenas 23 se candidataram às 22 vagas existentes e o deputado ligado à Associação de Trabalhadores da Função Pública (ATFPM) foi o menos votado, inclusive atrás do colega de bancada e deputado estreante Che Sai Wang.

No final da votação, Pereira Coutinho desvalorizou o resultado. “Para mim é igual, as minhas funções são as de deputado e é por isso que a população votou em mim”, afirmou. “Não estou desiludido, não era a minha função primordial. Fui eleito para defender os interesses da população de Macau”, sustentou.

Pereira Coutinho recusou ter sido prejudicado devido à nacionalidade. “Não sinto, de maneira nenhuma, que tenha sido penalizado por ser português. O meu colega também é português e foi eleito”, vincou. Contudo, não foi tão categórico na altura de avaliar se tinha sido castigado pelas suas posições políticas. “Não sinto que haja uma mudança no ambiente político. Mas, não posso ser eu a avaliar se fui penalizado [devido às ligações à ala pró-democracia], deixo que os outros avaliem a minha conduta”, desabafou.

Por outro lado, destacou a eleição do número dois da sua lista Che Sai Wang. “Estou contente com a eleição do meu colega de bancada. Era importante que um de nós fosse eleito. Ele foi, por isso, é igual”, considerou.

Com 17 votos

Na eleição de ontem participaram 33 deputados. Cada um tinha 22 votos, para escolher entre 23 candidatos. Porém, muitos deputados não utilizaram todos os votos, o que fez com que dos 726 votos possíveis, só fossem contados 699.

Pereira Coutinho foi o candidato menos votado, com 17 votos, atrás de Che Sai Wang, que obteve 19, e Ron Lam, com 22. Estes legisladores, que não fazem parte das associações tradicionais, foram os únicos com menos de 30 votos.

No polo oposto, os mais votados foram Chan Iek Lap, Ângela Leong, Wong Kit Cheng, Ip Sio Kai, Lam Lon Wai, Ella Lei, Ma Chi Seng, Ho Ion Sang, Pang Chuan e Iau Teng Pio, cada um com 33 votos. Por sua vez, Song Pek Kei, Ma Io Fong, Lei Chan U e Ngan Iek Hang obtiveram 32. Vong Hin Fai, Zheng Anting, Leong Sun Iok tiveram 31 votos, e, finalmente, Lo Choi In, Chan Hou Seng, e Lei Leong Wong somaram 30 votos, cada.

11 Nov 2021

Cinema | Festival entre a China e países de língua portuguesa arranca sexta-feira

O Festival de Cinema entre a China e os Países de Língua Portuguesa começa na sexta-feira e irá exibir 30 filmes ao longo de duas semanas, tendo como o tema central paladares e encontros à mesa. Até 26 de Novembro, serão servidas obras de realizadores oriundos de países como a China, Portugal, Brasil e Angola, nas telas dos Cinemas Galaxy e da Cinemateca Paixão

Vem aí mais uma proposta aliciante para os cinéfilos de Macau. Na sexta-feira arranca o Festival de Cinema entre a China e os Países de Língua Portuguesa, subordinado ao tema “Os Gourmets de Cinema”, com um cartaz que oferece 30 filmes ao longo de duas semanas, até 26 de Novembro, nas salas do Galaxy Cinema e na Cinemateca Paixão.

O evento está integrado no 3.º Encontro em Macau – Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa. Os ingressos já estão à venda e custam 60 patacas.

O filme que inicia o banquete cinematográfico é “This Is Not What I Expected”, do realizador de Hong Kong Derek Hui, e passa às 19h30 de sexta-feira no Galaxy. Esta atribulada comédia romântica centra-se numa relação que cresce através da culinária, entre a chef do restaurante de um hotel e o presidente do grupo hoteleiro, um homem intempestivo e difícil de agradar. No dia seguinte, sábado, o menu fílmico é servido na Cinemateca Paixão, com três sessões. A entrada é o documentário “Meu Querido Supermercado”, uma produção brasileira/dinamarquesa que tem como epicentro, como o nome indica, um supermercado e a vida dos seus trabalhadores. A lente da cineasta Tali Yankelevich capta as mais variadas interacções entre os funcionários, desde declarações de amor, conversas sobre mecânica quântica e literatura, às maravilhas da encenação com disfarces. “Meu Querido Supermercado” torna-se um microcosmo que representa toda a humanidade, uma sociedade aparentemente coesa que vive num equilíbrio precário.

“Mosquito”, de João Nuno Pinto, é exibido às 19h15 (já com lotação esgotada, mas com repetição a 23 de Novembro) é o primeiro filme a passar na Travessa da Paixão ao abrigo do festival. O épico histórico do cineasta português começa com o sonho idealista de um jovem que, com a imaginação salpicada por grandes aventuras e defesa da pátria, se alista no exército durante a Primeira Guerra Mundial. O soldado português acaba por ser enviado para a linha da frente em Moçambique e, após contrair malária, separa-se do seu pelotão e inicia uma caminhada de mais de mil quilómetros entre o delírio febril e visões exóticas. “Mosquito” é baseado na vida do avô do cineasta.

Comes e conversas

Às 21h30 de sábado, também na Cinemateca Paixão, é exibido “Êxtase”, da realizadora brasileira Moara Passoni, um filme que fica algures no limbo entre o documentário, a memória e ficção. Para começar, “Êxtase” tem banda sonora composta por David Lynch e Lykke Li e a estranheza prossegue também na imagem. A narrativa desta película centra-se em torno de uma adolescente, filha de uma congressista, que encontra o completo arrebatamento, prazer e espiritualidade no jejum.

Com um cartaz diversificado, apesar do tema unificador, é impossível não destacar “Swimming Out Till the Sea Turns Blue”, o documentário do realizador chinês Jia Zhangke, uma das figuras de proa da chamada “Sexta Geração”, um movimento cinematográfico nacional. O filme será exibido a 16 de Novembro, às 21h30, e a 20 de Novembro, às 17h30 na Cinemateca Paixão.

Outro dos momentos altos do festival é a exibição de “Diários de Otsoga”, de Miguel Gomes, na Cinemateca Paixão às 19h30 de 23 de Novembro (sessão esgotada). A acção centra-se nas vivências de três jovens amigos que passam as férias de Verão numa quinta, com os dias a serem passados com improvisos de dança, limpeza da piscina, insónias, apanha de fruta e ambiente de engate.

Além dos 30 filmes em cartaz, o festival será complementado com actividades de extensão, como conversas depois de projecções de filmes, palestras e workshops de gastronomia.

10 Nov 2021

Consulado das Filipinas pede a cidadãos que desistam de eventos políticos

O Consulado Geral das Filipinas em Macau apelou ontem aos seus cidadãos para que desistam de actividades e encontros de cariz político. A mensagem foi difundida ontem, depois de no domingo o Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) ter “convidado” 16 pessoas para a esquadra, por estarem envolvidas em actividades relacionadas com as presidenciais de 2022 nas Filipinas.

“O Consulado gostava de recordar a todos os Filipinos em Macau para desistirem de se envolverem em encontros, reuniões e outras actividades com um cariz político ou partidário, incluindo a utilização de faixas e uniformes”, pode ler-se na mensagem, partilhada ontem à tarde. “Aos Filipinos é recordado, mais uma vez, que devem observar de forma rigorosa as leis e regulamentos do Governo de Macau e respeitar as sensibilidades da comunidade local”, foi acrescentado.

A mensagem do consulado, actualmente liderado por Porfirio Mayo Jr, destaca as declarações dos governantes locais que negam aos não-residentes o direito de reunião e manifestação. “As recentes declarações das autoridades de Macau têm enfatizado que o direito de reunião e manifestação em espaços públicos é dos residentes permanentes de Macau e está sujeito às leis e regulamentos aplicáveis, incluindo a necessidade de obter uma autorização prévia”, é indicado.

 

Deportação em causa

O consulado recorda também aos trabalhadores não-residentes que no caso de infringirem a lei podem ver os contratos de trabalho terminados com justa causa e serem deportados, através do cancelamento do título de trabalhador não-residente.

No domingo, as autoridades levaram 16 pessoas da comunidade filipina que estariam nas Ruínas de São Paulo e nas imediações da Torre de Macau para a esquadra a fim de prestarem depoimento. Em causa, estão investigações que podem envolver a violação ao direito de reunião e manifestação e ainda a utilização do símbolo da RAEM na produção de materiais de promoção do candidato presidencial Ferdinand Romualdez Marcos Jr..

As eleições presidenciais das Filipinas estão agendadas para 9 de Maio do próximo ano.

10 Nov 2021

Caso Criptomoeda | Autoridades de Hong Kong ignoraram pedidos de assistência

Um investigador da Polícia Judiciária reconheceu que não há provas de transferências bancárias que demonstrem que Frederico Rosário lucrou com o esquema da criptomoeda. A investigação admite dificuldades, uma vez que as autoridades de Hong Kong não responderam aos pedidos de assistência

A Polícia Judiciária (PJ) desconhece o destino 12 milhões de dólares de Hong Kong enviados para contas bancárias na RAEHK, no âmbito do esquema de investimento em criptomoeda, promovido por Dennis Lau e Frederico Rosário. Segundo um agente da PJ, ouvido ontem no tribunal, a polícia não recebeu qualquer auxílio de Hong Kong durante a investigação, nem depois de ter pedido assistência através de Interpol.

Chamado a depor para explicar a investigação a Dennis Lau e Frederico Rosário pela prática de burla, o agente de apelido Lok confessou que as provas sobre transferências de dinheiro foram entregues pelo próprio Frederico Rosário e as vítimas. Os documentos mostram que num total de 18 milhões de dólares de Hong Kong enviados para a RAEHK, seis regressaram a Macau para pagar “juros” e 12 milhões desapareceram.

Terá sido também através da informação disponibilizada pelo filho de Rita Santos que as autoridades perceberam que Rosário era accionista de 10 por cento da empresa Forgetech. “Nunca recebemos qualquer informação sobre as contas bancárias de Hong Kong. Foi o arguido [Rosário] que nos forneceu os dados da Forgetech e da Genesis”, explicou Lok.

Face à falta de cooperação das autoridades de Hong Kong e do banco DBS, para onde terá sido enviado o montante de 12 milhões de dólares de Hong Kong, o agente Lok reconheceu que não há provas que indiquem que Rosário tenha ficado com qualquer parte do montante. Foi também reconhecido não existirem provas que indiquem se Rosário pode, ou não, aceder às contas e às informações sobre as empresas em que estava envolvido com Dennis Lau.

Questionado pelo advogado de defesa, se isso indicava que o filho de Rita Santos podia ser uma vítima, Lok respondeu que a investigação não seguiu esse caminho, porque Rosário tinha promovido o investimento, era accionista de uma das empresas e não terá conseguido provar que o dinheiro foi efectivamente utilizado para a minerização de criptomoeda.

Por outro lado, o investigador reconheceu que os materiais da investigação indicam que Frederico Rosário terá perdido perto de 450 mil dólares de Hong Kong com o investimento na Forgetech.

Sem informação

Na parte da manhã da sessão de ontem, foram ainda ouvidas três lesadas com o esquema de investimento. Todas elas foram a Hong Kong apresentar queixa contras as empresas de Dennis Lau e Frederico Rosário, em 2018, mas nenhuma tinha recebido, até ontem, qualquer indicação das autoridades vizinhas sobre o desenrolar das investigações.

A sessão serviu ainda para analisar o papel de Manuela, mulher de Frederico Rosário, em todo o processo. Sílvia Mendonça, advogada da única assistente pediu ao Ministério Público (MP) para ponderar avançar com um procedimento criminal contra a esposa do filho de Rita Santos.

“Na queixa inicial a minha cliente tinha visado a Manuela e o Frederico”, começou por revelar Sílvia Mendonça. “O Ministério Público deve ponderar se não deve levantar um procedimento criminal contra a Manuela, e deixar o procedimento contra o Frederico, tendo em conta o que vem deste julgamento”, apelou.

A intervenção da causídica não mereceu qualquer resposta por parte do Ministério Público nem do colectivo de juízes.

No entanto, foi o papel de Manuela que marcou a parte da manhã do julgamento, uma vez que uma testemunha identificada como Violeta revelou ter tratado sempre do “investimento” com a esposa de Frederico. A ouvida somou perdas de 925 mil dólares de Hong Kong, depois de ter investido 1,4 milhões.

A desilusão

Violeta vincou também que Manuela utilizava um grupo de Whatsapp para promover os investimentos na criptomoeda e as sessões na Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau.

No depoimento, Violeta, que admitiu ter sido testemunha do casamento entre Manuela e Frederico, lamentou a forma como o casal se comportou ao longo do processo. “Acho que eles encobriram [informações relevantes]. Não digo que tenham tido a intenção de enganar os investidores, mas tiveram proveitos, como comissões. E eles nunca nos disseram bem como eram as coisas”, considerou. “Só no fim é que soubemos que eles não podiam mexer nas contas [da empresa]”, revelou.

Segundo a testemunha, Frederico terá afirmado ao longo dos seminários de investimentos realizados na Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) que era o patrão da empresa. Contudo, era apenas um accionista com uma participação de 10 por cento, que não lhe daria acesso às contas e movimentos de dinheiros da empresa. “Acho que não é no fim que vem dizer que afinal não tem responsabilidade. Não é assim que se fazem as coisas”, vincou. “Quando nos falaram no início, nunca nos disseram que não podiam gerir. Se tivessem dito não tinha investido”, lamentou.

O papel de Manuela foi reforçado por outras duas testemunhas, Choi Teng e Lei Iok Meng, que também terão tratado dos investimentos através da esposa de Frederico Rosário. Choi Teng mencionou mesmo que Manuela terá reconhecido receber comissões pela captação de investidores.

10 Nov 2021

Veículos Eléctricos | Sector apela à uniformização de baterias e carregadores

O Instituto dos Engenheiros Electrotécnicos e Electrónicos de Macau acredita que o futuro da RAEM passa pelos veículos eléctricos e considera essencial que haja uma uniformização para facilitar as importações

O Instituto dos Engenheiros Electrotécnicos e Electrónicos de Macau (IEEEM) apelou ao Governo para uniformizar as normas para baterias e carregadores dos carros eléctricos, de forma a tornar mais popular este meio de transporte. A posição foi tomada por Michael Choi Tak Meng, vice-presidente do instituto, numa conferência de imprensa realizada ontem.

“Consideramos que o melhor é o Governo definir quanto mais cedo possível as normas, para que as empresas que querem importar ou vender carros electrónicos em Macau tenham uma referência e possam seguir essas normas”, explicou Choi. “Como sabemos actualmente há vários tipos de carros electrónicos no mercado, e faz sentido que os agentes do mercado saibam que tipos devem importar”, acrescentou.

O IEEEM realizou ontem uma palestra sobre as oportunidades e desafios na utilização dos carros eléctricos, assim como a utilização de internet nos veículos. À margem do evento, Michael Choi apelou ao Executivo para uniformizar as normas.

O vice-presidente do IEEEM destacou igualmente os benefícios sociais, económicos e ambientais dos carros eléctricos, e sublinhou integrarem-se nas estratégias de desenvolvimento da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau e no Plano Quinquenal de Desenvolvimento Socioeconómico da RAEM.

Michael Choi revelou ainda acreditar que os eléctricos são o futuro, dando como exemplo os veículos pesados de passageiros em Macau que adoptam a Norma Euro 4 e vão ter de ser abatidos, devido ao nível das emissões que produzem. “É uma direcção inevitável”, considerou, sobre a necessidade de haver uma redução das emissões de carbono.

Desenvolvimento do 5G

Além de vice-presidente da IEEEM, Michael Choi é ainda director executivo da MTEL, empresa de telecomunicações. O responsável foi questionado sobre o lançamento da 5G e a utilização desta rede nos veículos em circulação. “Espero que Macau possa lançar em breve os serviços da rede 5G. Acredito que o prazo para alcançar o nível do Interior no fornecimento de internet aos veículos possa ser curto”, deixou como previsão.

Por acreditar numa rápida recuperação com a implementação da tecnologia 5G, Michael Choi desvalorizou, nesse campo, o atraso para o Interior.

Em Setembro de 2021, de acordo com os dados da Direcção de Serviços de Estatística e Censos (DSEC), havia 112.506 automóveis ligeiros, dos quais 1.505 eléctricos, ou seja, 1,3 por cento.

 

10 Nov 2021

Talentos | Nova lei em consulta pública. Nobel e olímpicos na mira

O Governo anunciou uma nova lei de captação de talentos. Entre quadros altamente qualificados e de excelência, o Executivo não quer exceder as mil quotas e admite ter como objectivo atrair galardoados com prémios Nobel ou medalhas olímpicas. Sem especificar, o documento estabelece ainda que “determinadas nacionalidades” ficam de fora

A reboque da necessidade de desenvolver as áreas da saúde, finanças modernas, tecnologia de ponta e cultura e desporto para construir a zona de cooperação de Hengqin, o Governo apresentou ontem um novo regime dedicado à captação de quadros qualificados. Entre os quais, “indivíduos excepcionais” como prémios Nobel ou medalhados olímpicos que sirvam de “líderes”. Contudo, o novo regime “não é aplicável a indivíduos de determinadas nacionalidades”.

O documento que entrou hoje em consulta pública (que termina a 24 de Dezembro), define três programas de captação de quadros qualificados em diferentes níveis, com o objectivo de fazer frente à concorrência das regiões vizinhas na atracção de talentos e colmatar lacunas de recursos humanos.

“Os quadros qualificados são pilares fundamentais do desenvolvimento socioeconómico de Macau. O Governo (…) pretende adoptar métodos justos, abertos e científicos, criando um regime de captação de quadros qualificados com base no número de quotas, orientação e metas bem definidas, de modo a colmatar a escassez de recursos humanos nos novos sectores e contribuindo para o desenvolvimento da diversificação adequada da economia de Macau”, apontou a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, no discurso de apresentação.

O novo regime de captação de talentos prevê três programas de diferentes níveis, designados como “quadros altamente qualificados”, “quadros de excelência” e “quadros altamente especializados”. Sobre os primeiros, a secretária admitiu ser objectivo do Governo atrair talentos que possam elevar a popularidade de Macau além-fronteiras e a competitividade da população, tais como galardoados com prémios Nobel ou medalhas olímpicas.

“Se conseguirmos importar para Macau prémios Nobel, cientistas e personalidades de renome isso vai servir como cartão de visita e contribuir para melhorar a imagem de Macau. O Governo gostaria de ver estes talentos a viver e servir como líderes em Macau, contribuindo para o desenvolvimento dos novos sectores”, vincou.

Por seu turno, os “quadros de excelência” devem ser líderes nas quatro áreas a desenvolver na zona de cooperação, ao passo que, dos “quadros altamente especializados”, farão parte talentos que compensem a escassez de recursos humanos do território, mas que ainda não tenham atingido o nível de líder.

Segundo Chao Chong Hang, secretário-geral da Comissão de Desenvolvimento de Talentos, o objectivo é que o número total de quotas anuais de todos os programas, não exceda as mil. Isto tendo em conta que para os “quadros altamente qualificados” não há limite de quotas e “Macau precisa de promover um desenvolvimento acelerado”.

Cuidado com o passaporte

Quanto aos factores de ponderação, além de requisitos como idade, experiência profissional e conhecimento linguístico, o documento prevê ainda, sem especificar, que algumas nacionalidades possam excluir candidatos. “O Programa de Captação de Quadros Qualificados não é aplicável a indivíduos de determinadas nacionalidades (caberá aos serviços competentes a apreciação e imposição de restrições)”, é referido no documento.

Concluída a consulta pública, a ideia, revelou a secretária, é submeter o novo regime ao Conselho Executivo no início do próximo ano para que, ainda na primeira metade de 2022, o diploma chegue à Assembleia Legislativa (AL). A partir a entrada em vigor da nova lei, o regime associado à imigração por fixação de residência de técnicos especializados será revogado.

Sobre a articulação entre os dois regimes, Ao Ieong U esclareceu que o novo mecanismo será aplicado às novas candidaturas e que o IPIM continuará a acompanhar a apreciação e renovação das autorizações de residência já iniciadas.

Questionada acerca do que está a ser feito para evitar a saída de quadros qualificados à luz das dificuldades impostas pela pandemia, a secretária pediu “compreensão” e disse que as medidas anti-epidémicas são para continuar a cumprir.

10 Nov 2021

Cinema | Extensão de Macau do Doclisboa arranca amanhã

Está de volta a extensão a Macau do festival de cinema documental Doclisboa, que inclui no cartaz películas premiadas no Festival Internacional de Curtas-Metragens de Macau. Entre quarta-feira e sábado, o Auditório Dr. Stanley Ho, no consulado, vai exibir 13 documentários, num evento organizado pelo Instituto Português do Oriente

A sessão de abertura da extensão a Macau do Doclisboa está marcada para amanhã, às 19h, no Auditório Dr. Stanley Ho do Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, com a exibição do documentário “70 anos depois”, de autoria de He Qianling e “A Entrega”, de Maxim Bessmertny, vencedores do prémio identidade cultural e prémio para melhor filme local, respectivamente, no Festival Internacional de Curtas de Macau.

A acompanhar as duas películas locais será ainda exibido na primeira sessão do dia inaugural do evento “42.ZE.66”, de Eduardo Saraiva, que arrebatou o prémio Fernando Lopes no Doclisboa deste ano.

O filme que dá o tiro de partida, “70 Anos Depois”, é um conjunto de dois retratos pessoais de negócios em luta pela sobrevivência num território em constante mudança. Dirigido pela realizadora He Qianling, este documentário leva o espectador, ao longo de 17 minutos e meio, pela história de duas lojas (Ngan Kong e Ng Teng Kei), em actividade em Macau há mais de sete décadas. Depois de muitos anos de prosperidade, a luta pela sobrevivência de duas casas tradicionais, uma pastelaria e uma casa de têxteis, são o testemunho da Macau que se reinventa constantemente.

O outro filme inaugural da mostra é “A Entrega”, de Maxim Bessmertny, uma curta-metragem, escrita em parceria com Jorge Vale, que relata o dia-a-dia de um casal que luta contra o tempo para deixar a casa limpa antes que o senhorio chegue para fazer a inspecção geral ao apartamento. Com interpretações de Jorge Vale, Mi Lee e Ari Calangi (que também assina a banda sonora), “A Entrega” é um apontamento fílmico bem-humorado de uma vicissitude de Macau, a constante necessidade de mudar de casa.

A fechar a primeira sessão deste ano da extensão a Macau do Doclisboa, é exibida a curta de Eduardo Saraiva “42.ZE.66”, que conta a história de Alexandrina, uma camionista portuguesa que trabalha sozinha na entrega de mercadorias por toda a Europa.  Durante longas viagens, os seus únicos pontos de contacto pessoais são através da Internet e de telefonemas. A sensação de estar presa dentro de uma lata de metal com rodas começa a sufocá-la. “42.ZE.66” é o retrato de uma mulher forte que luta contra a solidão nas estradas do velho continente.

Dia cheio

A segunda sessão da mostra está marcada para as 20h45 de amanhã, também no Auditório Dr. Stanley Ho do consulado, com a exibição de dois filmes. “Fazer pela Vida na Estação Seca”, da autoria de Inês Ponte, é o retrato íntimo da vida quotidiana de uma família que vive da agricultura e da pastorícia na província do Namibe, em Angola. O filme parte de um pedido da realizadora à anfitriã, Madukilaxi, para que lhe mostre os segredos das peças de artesanato que produz, quando a agricultura é colocada em suspenso pelos elementos.

A fechar o dia e a segunda sessão, será exibido, “Treino Periférico”, um filme do realizador guineense Welket Bungué. Ao longo de 20 minutos, a câmara segue dois artistas, Raça e Coragem, que saem para treinar, escapando aos padrões do bairro onde vivem e à padronização culturalmente imposta. O filme foi rodado na periferia da Grande Lisboa, e segue o ritmo do discurso poético, disparando máximas assertivas sobre ocupação territorial, pós-colonialismo e desigualdade social na cultura portuguesa.

A terceira sessão, marcada para quinta-feira às 19h, tem no cartaz apenas uma obra: “Visões do Império”, de Joana Pontes. O filme traça um perfil sobre “a forma como o império português e a sua história foram imaginados, documentados e publicitados a partir do registo fotográfico, desde o final do século XIX até à revolução que, em 1974, pôs fim ao regime político autoritário que governava Portugal”, descreve o cartaz do evento.

Caetano e a resistência

Na sexta-feira, às 19h, o ecrã do Auditório Dr. Stanley Ho acolhe “Narciso em Férias”, de Ricardo Calil e Renato Terra, um documentário que conta os dias de cárcere de Caetano Veloso durante a ditadura militar. O contexto político que compõe a paisagem política da narrativa foi a aprovação do Acto Institucional n.º5, que marcou o começo da fase mais repressiva e violenta do regime, a 13 de Dezembro de 1968. Duas semanas depois, Caetano Veloso foi preso.

Meio século volvido, o incontornável compositor brasileiro faz um retrato íntimo e detalhado dos seus dias na solitária, recorda e interpreta canções que marcaram o período de encarceramento e revisita acontecimentos dolorosos.

Caetano também apresenta informação nova produzida pela ditadura sobre as razões da sua detenção, ajudando a explicar a brutalidade arbitrária desse período da história brasileira.

Finalmente, no último dia da extensão a Macau do Doclisboa, sábado, serão exibidos seis filmes. A primeira sessão, marcada para as 17h, começa com “Avó”, de Iris Fan, uma curta documental familiar que mostra a resiliência e independência da avó da realizadora ao longo da sua vida.

Na mesma toada, segue-se “Resistência Íntima”, do colectivo espanhol Left Hand Rotation, um documentário interrompido por um vírus. A sessão prossegue com “Da Minha Janela”, de Pedro Cabral, um curto diário dos tempos de confinamento, seguindo-se duas películas locais, “Majestosa Macau”, de Jacky Cheong, e “Sai Cá Para Fora”, de Vincent Weng Seng Sin”.

Para encerrar, e saindo um pouco fora dos temas visados no resto da mostra, é exibido a partir das 18h45 “Enterrado na Loucura – Punk em Portugal 78-88 – A Segunda Vaga”. Da autoria de Hugo Conim e Miguel Newton, membros dos Clockwork Boys e Mata-Ratos, respectivamente, este filme mergulha fundo nas raízes do punk rock em Portugal.

9 Nov 2021

Presidenciais filipinas | Polícia admite ter levado 16 pessoas para a esquadra

A Polícia de Segurança Pública afirma ter convidado a ir à esquadra pessoas que usavam t-shirts e exibiam faixas sobre as eleições presidenciais Filipinas. Os “convites” foram feitos no domingo e a estadia na esquadra prolongou-se até ontem. Em causa, pode estar a realização de manifestações ilegais e a utilização indevida do símbolo da RAEM

As autoridades levaram 16 pessoas da comunidade Filipina que estariam nas Ruínas de São Paulo e nas imediações da Torre de Macau para a esquadra para prestarem depoimento. Em causa, estão investigações que podem envolver a violação ao direito de reunião e manifestação e ainda a utilização do símbolo da RAEM na produção de materiais de promoção do candidato presidencial Ferdinand Romualdez Marcos Jr..

O número foi avançado pelo Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), ao HM, depois de a autoridade ter sido questionada sobre detenções nos dois locais e ainda possíveis acusações.

Na resposta, o CPSP recusou ter havido qualquer detenção e sublinhou que as pessoas foram apenas ouvidas como “assistentes na investigação”. “Ainda estamos a trabalhar no relatório que vai ser entregue ao Ministério Público, mas não houve nenhum detido. As pessoas estão envolvidas no caso e foram constituídas assistentes para a investigação”, explicou Lei Tak Fai, o porta-voz do CPSP.

O grupo de pessoas nas Ruínas de São Paulo “convidado”, na tarde de domingo, para uma visita à esquadra era composto por 12 indivíduos. Nesse dia, várias pessoas estiveram juntas na escadaria das Ruínas com t-shirts vermelhas de apoio a Ferdinand Romualdez Marcos Jr., também conhecido como Bongbong Marcos.

O caso nas imediações das Torre de Macau está relacionado com a utilização do logótipo da RAEM em materiais de campanha. Segundo fonte ouvida pelo HM, terão sido quatro os envolvidos. “No domingo à noite houve quatro detidos. Não só as pessoas responsáveis pela elaboração da faixa com o símbolo de Macau, mas também aquelas que estavam apenas a segurar as faixas”, relatou, ao HM, uma fonte que pediu para permanecer anónima. “As detenções foram feitas apenas devido à utilização de forma indevida da faixa com o símbolo de Macau”, foi acrescentado. A polícia confirmou o número de “assistentes”.

Sentimentos difusos

A fonte ouvida pelo HM apresentou o relato dos acontecimentos ainda antes da resposta do CPSP, porém, revelou que “os assistentes” terão deixado a esquadra, já na tarde de ontem, com a sensação de que ficavam a aguardar uma decisão sobre se iriam, ou não, ser acusados.

De acordo com a Lei da Utilização e Protecção da Bandeira e do Emblema Regionais, a bandeira e o emblema regionais “não podem ser exibidos nem utilizados em marcas ou publicidade” e “outras ocasiões ou locais em que o Chefe do Executivo restrinja ou proíba a sua exibição ou uso”. As infracções relacionadas com o símbolo da RAEM são punidas com uma multa que vai das 2 mil às 20 mil patacas.

No caso das infracções à lei de manifestação, os suspeitos arriscam a uma pena que pode chegar aos dois anos de pena de prisão, ou multa.

O método de “convidar” pessoas que se suspeita estarem a infringir a lei de reunião e manifestação não é novo na RAEM. Em Março deste ano, cerca de 13 pessoas foram levadas para a esquadra, depois de se terem recusado a abandonar o Tap Siac, local para onde estava agendada uma manifestação, entretanto cancelada, sobre o cartão de consumo electrónico.  Apesar de levadas nos veículos das autoridades, por se recusarem a abandonar o local, o CPSP veio horas depois negar ter feito quaisquer detenções e tratou as pessoas como “assistentes”.

As eleições presidenciais das Filipinas estão agendadas para 9 de Maio do próximo ano.

9 Nov 2021

Património | Edifício classificado está em “perigo iminente”

A fachada do edifício que alberga a sede da Casa de Portugal foi danificada em Setembro por um veículo. Em causa, está a esquina entre a Rua de Pedro Nolasco da Silva e a Travessa do Padre Soares. IC garante recuperação do edifício, que aguarda obras de fundo desde Abril, após um alerta de “perigo iminente” emanado pela Santa Casa da Misericórdia, proprietária do imóvel
Depois da Casa do Mandarim, foi a vez de outro edifício de interesse arquitectónico sofrer as consequências de uma curva mal calculada ou da passagem de um veículo desmesurado. A parede exterior dos números 24A-26 e 28-28A da Rua de Pedro Nolasco da Silva, conjunto de edifícios classificados que albergam a sede da Casa de Portugal, encontra-se danificada. 
De acordo com o jornal Ou Mun, o acidente terá ocorrido em Setembro, com o Instituto Cultural (IC) a apontar para a possibilidade de os danos terem sido provocados pela passagem de um veículo. A averiguação das causas do acidente, que danificou a esquina adjacente ao cruzamento entre a Rua de Pedro Nolasco da Silva e a Travessa do Padre Soares, já foi entregue às autoridades policiais.
O edifício em questão, propriedade da Santa Casa da Misericórdia de Macau e construído em 1925, está inserido na lista de edifícios de interesse arquitectónico do IC pelo “ecletismo dos elementos que integra” e “estilo arquitectónico clássico de Macau”. Recorde-se que, no espaço de meses, este é o segundo imóvel classificado a sofrer danos provocados pela circulação de veículos, depois de, em Julho, o condutor de um camião betoneira ter sido detido por suspeitas de danificar uma parede exterior da Casa do Mandarim.

Ponta do icebergue

Contactado pelo HM, o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Macau, António José de Freitas, esclareceu que a parede danificada pertence ao imóvel desocupado e espera que o estrago seja reparado “o quanto antes”, sem que, para isso seja preciso esperar pelo final da investigação das autoridades.
“Aquilo é uma rua estreita e leva a que, muitas vezes, os veículos batam naquele canto. A investigação não impede a reparação. Uma coisa é investigar e outra é mandar reparar logo, ou num curto espaço de tempo, pois desde Setembro já se passaram uns meses”, apontou. 
Citado pelo jornal Ou Mun, o IC garantiu que dará seguimento à manutenção do edifício classificado, de acordo com a Lei de Protecção do Património Cultural.
Contudo, o problema aparenta ser mais fundo, dado que os dois imóveis germinados foram identificados em 2017 como estando a precisar de restauro. Passados mais de quatro anos sem que houvesse qualquer tipo de intervenção e após algumas vistorias técnicas, em Abril deste ano, a Santa Casa da Misericórdia de Macau enviou uma carta ao IC a alertar para os “graves danos estruturais na fachada” do edifício que alberga a sede da Casa de Portugal e para o “perigo iminente” que o mau estado de algumas estruturas coloca a transeuntes da via pública e utentes.
“Constataram-se fissuras de alguma gravidade nas paredes exteriores, sobretudo nas balaustradas e nas varandas, bem como descamação da pintura”, pode ler-se na carta enviada ao IC, a que o HM teve acesso.
Passaram-se meses e foram feitas mais vistorias por parte do IC, mas a intervenção nunca chegou a arrancar, ficando apenas a promessa de que a obra seria feita um dia. 
Para o provedor da Santa Casa da Misericórdia, os estragos provocados em Setembro na parede exterior do imóvel são um mal menor em comparação com a degradação estrutural do edifício, que pode colocar em perigo a população. 
“O canto partido é muito menos grave do que as fissuras que se podem ver nas balaustradas. É um problema menor. Se cai qualquer coisa em cima dos transeuntes aí é que a situação é muito complicada. A outra parte pode estar mais partida, mas só perturba a imagem do edifício. Não põe em causa a vida de ninguém”, explicou.

Efeitos colaterais

António José de Freitas considerou ainda que, apesar de tudo, o incidente recente pode contribuir para acelerar o início das obras de fundo necessárias.
“Em Macau há muitas situações em que os serviços públicos só acordam depois de uma situação destas vir a público. Naturalmente que isto serve para apressar a reparação do prédio”, admitiu.
Questionado sobre possíveis soluções a implementar para evitar que, no futuro, mais veículos venham a danificar a fachada do edifício, o responsável começou por sugerir a instalação de câmaras de videovigilância naquela zona e a imposição de limitações à circulação de veículos a partir de determinadas dimensões.
“Devia haver um sinal limitativo a dizer que os veículos a partir de um determinado comprimento estão impedidos de virar nessa rua [Travessa do Padre Soares]. Não é só porque os condutores são azelhas que isto acontece. Acontece porque não dá ou o carro é demasiado comprido para fazer a curva em segurança”, vincou.
Uma solução mais “radical”, aponta António José de Freitas, passaria por transformar a rua numa via exclusivamente pedonal. Isto, dado que a sua capacidade de escoar trânsito é limitada e pouco relevante.
Por seu turno, o deputado José Pereira Coutinho lamentou a repetição de estragos em edifícios classificados e considera fundamental que o IC introduza medidas de prevenção em articulação com outras entidades como o IAM e a DSAT.
“Estou a falar de interditar certas ruas à circulação de trânsito, do alargamento de vias, da eliminação de parques que obstruam a circulação segura dos veículos, de modo a proteger os altos desígnios de Macau e que distinguem esta região de qualquer outra do Interior da China”, partilhou com o HM.
O HM procurou obter uma reacção da parte do IC quanto ao incidente e aos trabalhos de reparação, mas até ao fecho da edição não obteve resposta.
9 Nov 2021

Lei Sindical | Dirigente ligada aos Moradores aponta “motivações políticas”

Chan Fong considera que a lei sindical vai levar ao declínio económico, como diz acontecer no Ocidente. Além disso, a dirigente associativa ligada aos Kaifong entende que o diploma servirá para que uma minoria controle os trabalhadores, sem supervisão do Governo Central

Chan Fong, representante dos Moradores de Macau, criticou a criação de uma Lei Sindical e avisou que caso o projecto vá para a frente que o território corre o risco de seguir exemplo do Ocidente e entrar num ciclo de recessões económicas. A opinião foi partilhada pela representante da associação, falando em nome individual, durante a sessão de consulta de domingo sobre a futura Lei Sindical.
Chan Fong disse que o diploma é desnecessário e que a defesa do proletariado já é garantida pela Lei Básica e a Lei das Relações Laborais.
Porém, alertou para os interesses políticos de uma minoria: “Quais são os objectivos e a motivação política para criar esta lei?”, começou por questionar, de acordo com o jornal Cheng Pou. “Vai fazer com as posições tomadas pelos sindicatos, o direito à greve e a defesa dos interesses dos trabalhadores fique controlados por uma minoria política, que já recorre a recursos e operações sem qualquer supervisão do Governo Central e do Governo de Macau”, defendeu.
Chan defendeu que actual contexto legal permite a defesa dos direitos laborais e que a nova lei coloca Macau no caminho de declínio económico seguido pelo Ocidente há vários anos. Por isso, a dirigente dos Kaifong questionou se a legislação não vai apenas contribuir para ameaçar os postos de trabalho dos residentes.

Sem negociação colectiva

Ella Lei também marcou presença na sessão de consulta pública. A deputada e vice-presidente da Federação das Associações dos Operários defendeu que o diploma deve prever a questão da negociação colectiva, algo que no seu entender não está estabelecido no documento de consulta.
A deputada disse também que funcionários públicos, trabalhadores das empresas públicas e pessoal de saúde não devem ser limitados na participação da reunião e associação sindical, ao contrário do que o Executivo pretende. Em resposta a esta opinião, o director dos Serviços para os Assuntos Laborais, Wong Chi Hang, considerou a proposta justa e adequada ao ambiente de Macau.
Por sua vez, Vong Kok Seng, vice-presidente da Associação Comercial de Macau, recusou a hipótese de criar um sindicato com o número mínimo de sete pessoas, exigindo, pelo menos, 15.
O representante do patronato avisou ainda que a consulta pública corre o risco de ser pouco representativa das entidades patronais, e explicou que em Macau há uma proporção de um empregador para cinco empregados, o que pode levar à falta de voz do.

9 Nov 2021

TCR China | Rodolfo Ávila vence em Xangai e é o novo campeão

O triunfo no Campeonato do TRC China chegou quando a esperança num desfecho vitorioso estava praticamente perdida. Aliás, Rodolfo Ávila já tinha feito o check-out do hotel, para regressar a Macau o mais depressa possível. Com a vitória, a viagem foi adiada, mas na bagagem veio a taça de campeão

Rodolfo Ávila (MG 6 XPower TCR) sagrou-se ontem em Xangai o grande vencedor do Campeonato de Carros de Turismo da China, depois de uma prova em que conseguiu recuperar de uma desvantagem de 14 pontos.

“Tinha de recuperar os 14 pontos e achava que ia ser uma tarefa muito complicada. Até já tinha feito o check-out do hotel, porque pensava que ia hoje [ontem] para casa. Afinal só vou amanhã [hoje]!”, confessou Ávila, em declarações ao HM, momentos depois de se ter sagrado campeão. “É uma vitória muito boa porque tenho 34 anos, faço 35 no próximo ano, e começa a ser uma idade difícil para o desporto automóvel. A nova geração já é muito mais desenvolvida, devido à preparação e aos simuladores, e consegue mostrar resultados muito mais cedo”, reconheceu. “Ser campeão é muito bom, porque termino a época e o campeonato em altas, o que deve possibilitar a minha continuidade no próximo ano com a equipa MG”, acrescentou.

O fim-de-semana nem começou da melhor maneira para Rodolfo Ávila. Partindo para a prova no Circuito de Xangai Tianma na liderança do campeonato, o piloto de Macau não foi além de um sexto e um oitavo lugares à geral, no sábado. Com estes resultados, o colega de equipa, Zhang Zhen Dong, instalou-se no topo do campeonato com 14 pontos.

Contudo, no domingo, tudo mudou. Na corrida matinal, Ávila partiu do sexto posto, mas chegou ao fim em segundo, o que lhe permitiu adiar as decisões para a última corrida. Depois, na prova decisiva, o piloto local arrancou do quarto lugar da grelha, e à segunda volta já liderava, ultrapassando pelo caminho Zhang Zhen Dong.

A entrada em pista do safety-car ainda assustou o novo campeão, devido à aproximação do colega, mas o destino estava traçado e Ávila sagrou-se campeão. “Foi uma época com altos e baixos, e tive alguns problemas ao longo da temporada. Felizmente, no final do campeonato alcançámos o objectivo, e consegui ganhar o campeonato. Sinto que fiz o meu trabalho” indicou.

Este foi o quarto título do piloto que defende as cores da RAEM, após ter conquistado os campeonatos da Ásia e da China de Fórmula Renault (2003) e o Asia SuperCar Challenge (2008).

Ausente de Macau

Apesar de se ter sagrado campeão, o piloto de Macau não vai ter “direito” a uma corrida de consagração no Circuito de Guia. Isto porque a equipa MG 6 XPower optou por não participar no Grande Prémio, uma vez que, e ao contrário do ano passado, a prova não está integrada no calendário do TCR China.

“A equipa compete no Campeonato TCR China. Mas, este ano a prova de Macau não conta para o campeonato, só para o TCR Ásia, por isso a MG não tem interesse. Os custos da participação são elevados, e o mercado de Macau não é um daqueles em que a MG vende mais carros”, explicou. “Nós gostamos de competir, mas para as marcas as corridas são uma forma de marketing, por isso a equipa foca-se mais na China, onde a MG tem vendido bastantes carros nos últimos anos”, justificou.

Rodolfo Ávila ainda esteve para participar no evento de Macau integrado na Taça Porsche Challenge, mas o cancelamento da prova [ver texto secundário] acabou com qualquer esperança. “Estive bastante perto de participar, era para correr na Taça Porsche Challenge, mas a prova foi cancelada há uns dias”, admitiu. “Estava feliz por poder competir de Porsche, uma marca com que competi durante muitos anos e tenho boas ligações. Por isso, fiquei um bocado desiludido com o desfecho”, reconheceu.

Apesar disso, Rodolfo Ávila vai estar presente no Circuito da Guia, não só como espectador, mas integrado na equipa Asia Racing Team (ART), que vai prestar assistência a Li Si Cheng, piloto que compete na Fórmula 4. “É um bocado chato estar presente e não poder correr. Mas espero que seja uma boa edição do Grande Prémio e espero poder regressar no próximo ano”, concluiu o também Team Manager, da ART.

8 Nov 2021

Web Summit | Grande Baía em destaque no evento em Lisboa

O projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau esteve representado na última edição da Web Summit em Lisboa, através do Governo de Hong Kong. Macau ficou de fora da edição deste ano do evento

A última edição da Web Summit em Lisboa, dedicada à tecnologia e startups, contou com uma representação do Governo de Hong Kong, e de outras entidades ligadas ao investimento na região, que levaram o projecto da Grande Baía Guangdong – Hong Kong – Macau ao evento em Portugal.

No caso do Turismo de Hong Kong (Hong Kong Tourism Board – HKTB), o foco incidiu sobre o RISE, um evento tecnológico criado em 2015 e que vai voltar a Hong Kong entre 2022 e 2026. A presença na Web Summit serviu para tentar captar participantes para os próximos anos, conforme disse Dawn Page, directora do Turismo de Hong Kong para os mercados do Reino Unido e norte da Europa.

“Procuramos aqui potenciais delegados para participarem no RISE, além de darmos informações sobre o que a cidade tem para oferecer aos visitantes, com as suas infra-estruturas de excelência e localização estratégica na zona da Grande Baía”, contou ao HM.

Citado por um comunicado, o presidente do HKTB, Yiu Kai Pang, destacou essa mesma localização estratégica [da Grande Baía] que permite que “os participantes do evento possam também capitalizar uma multitude de oportunidades na região”. No mesmo comunicado, Paddy Cosgrave, fundador da Web Summit, destacou “o crescimento tecnológico e da economia de startups” em Hong Kong desde 2015.

“Sempre tentámos regressar a Hong Kong. O RISE tem crescido para o que é hoje depois de cinco bem-sucedidos anos na cidade. O evento estabelece uma importante relação entre o Oriente e o resto do mundo”, frisou.

Tenda para investidores

A Grande Baía esteve também em destaque na tenda da “InvestHK”, uma plataforma governamental que promove o investimento no território. Paula Kant, directora de promoção de investimentos da “InvestHK”, explicou ao HM que foi organizada uma masterclass sobre oportunidades de negócios na Grande Baía, que comporta, além de Macau e Hong Kong, nove cidades do sul da China e que “representa um enorme mercado com 86 milhões de habitantes”, disse a responsável.

” Na Web Summit informamos empresas estrangeiras sobre o que devem fazer para se estabelecerem em Macau ou Hong Kong, com a vantagem de estas serem cidades internacionais. Através [destas regiões] podem facilmente aceder ao mercado da Grande Baía”, frisou a responsável.

Paula Kant adiantou que, em Portugal, a “InvestHK” tem parcerias com a Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Hong Kong, bem como com a Associação de Jovens Empresários Portugal-China.

A “InvestHK” criou também na WebSummit um espaço onde potenciais investidores e empresários puderam partilhar intenções de negócio e ideias, na tenda “Investor do startup meetings”, à qual o HM não teve acesso.

Depois de uma presença inédita na Web Summit em 2019, com uma delegação de 11 pequenas e médias empresas (PME), Macau ficou de fora do evento este ano. O HM confirmou que a Direcção dos Serviços de Turismo não esteve representada, além de que na lista de startups participantes no evento de tecnologia não constava o nome de nenhuma empresa local.

Fonte da Fábrica de Startups, plataforma que, em 2019, trouxe empresas de Macau à Web Summit, em conjunto com a Direcção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico, adiantou ao HM “não ter nenhuma informação oficial acerca da presença de Macau” no evento.

O Instituto de Promoção do Comércio e Investimento de Macau (IPIM) foi também contactado, mas até ao fecho desta edição não foi obtida qualquer resposta. Esta segunda-feira o IPIM garantiu ao HM que não enviou qualquer delegação empresarial a este evento. A Web Summit decorreu entre 2 e 4 de Novembro no Parque das Nações, e regressa a Lisboa no próximo ano.

8 Nov 2021

PSD Macau | Vitório Cardoso acusa Rui Rio de “traição e abandono”

O presidente do Partido Social Democrata (PSD) terá recusado um encontro com os conselheiros das comunidades portuguesas. À Lusa, José Pereira Coutinho, ex-conselheiro, negou qualquer pedido de reunião

A secção de Macau do Partido Social Democrata (PSD) vai votar em Paulo Rangel para líder do partido e acusa Rui Rio de “traição e abandono”, por alegadamente ter recusado um encontro com os Conselheiros das Comunidades Portuguesas da Ásia e da Oceânia.

A posição foi tomada através de um comunicado publicado por Vitório Cardoso, presidente da secção de Macau do PSD, que é igualmente assinado por Laurentino Esteves, presidente da secção do PSD de Toronto.
Segundo o comunicado, citado pela Agência Lusa, o actual presidente do PSD é acusado de “traição e abandono”, por não ter recebido os Conselheiros das Comunidades Portuguesas da Ásia e da Oceânia. Cardoso e Esteves consideraram igualmente que Rui Rio “dificultou a participação política dos militantes do PPD/PSD do [círculo] fora da Europa”.
Face aos desenvolvimentos a secção de Macau do Partido Social Democrata (PSD) anunciou que vai apoiar Paulo Rangel nas eleições partidárias, agendadas para 27 de Novembro. “Estamos certos de que Paulo Rangel será capaz de usar da sua experiência internacional e olhar para os portugueses emigrados, para os portugueses do mundo, integrando-nos e a fazer parte da solução. Longe fisicamente, mas com Portugal no pensamento, sempre”, foi explicado. “O partido e o país precisam de um líder agregador, dinâmico e cosmopolita, um homem com mundo, capaz de devolver ao partido a sua matriz universal e humanista, a visão e o sonho do seu fundador e provavelmente, o melhor de todos nós, Francisco Sá Carneiro”, evocaram.

 O conselheiro sombra

Após ter sido revelada a posição da secção de Macau do PSD, José Pereira Coutinho, deputado da Assembleia Legislativa e ex-conselheiro, declarou à Lusa que nunca houve qualquer pedido de encontro com Rui Rio.
“Nunca solicitámos qualquer encontro, nem verbalmente, nem por escrito, ao presidente do PSD, Rui Rio”, disse José Pereira Coutinho, em nome da Conselheira das Comunidades Portuguesas, Rita Santos.
“Lamentamos este aproveitamento político e aproveitamos esta oportunidade para frisar que não temos nenhuma filiação partidária nem temos interesse nas lutas partidárias”, acrescentou.
Apesar de ter deixado de ser conselheiro das Comunidades Portuguesas desde Fevereiro do ano passado, o deputado não se tem escusado de participar nos encontros com o cônsul nem de comentar os assuntos relativos ao conselho.
Portugal prepara-se para a realização de eleições legislativas a 30 de Janeiro, depois do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, ter dissolvido a Assembleia da República após o chumbo do Orçamento de Estado.
8 Nov 2021