Competição Internacional | Quando o cinema local abre as portas do mundo

No primeiro dia do Festival Internacional de Cinema de Macau (IFFAM na sigla inglesa) Mike Goodridge fez as honras da apresentação formal do júri da competição internacional do Festival, presidido pelo aclamado realizador de Hong Kong, Peter Chan. Diversos nas suas opiniões, o júri destacou a “primavera” do cinema asiático, a importância da genuinidade local e da forma como o cinema pode vir a encarar um futuro destinado aos “pequenos ecrãs”

 

[dropcap]P[/dropcap]ara conseguirmos fazer um filme excepcional, mais importante do que ouvir a nossa própria voz, é ouvir uma voz especial, uma voz que seja diferente das outras nesta indústria e estar atento às gerações mais novas”, as palavras são de Peter Chan, Presidente do júri dedicado à competição internacional do IFFAM e que terá a árdua tarefa de eleger aquele que será o vencedor, de entre os 10 filmes em concurso.

Tendo a sua obra sido rotulada inúmeras vezes de “ocidentalizada”, Peter Chan diz ter tido a sorte de ter vivido de perto a fase mais desafiante e interessante do cinema feito em Hollywood, que o inspirou irremediavelmente durante a década de 70. O realizador diz continuar a transportar essa mesma sensação, mas agora relativamente ao cinema feito na China, para o qual se encontra a trabalhar, mas também um pouco por toda a Ásia, onde cada vez mais obras começam a ganhar um lugar de destaque.

“A China é um novo horizonte e uma nova indústria onde tudo é possível. Vivemos tempos muito interessantes na Ásia e em diferentes partes da Ásia. Existem realizadores coreanos, tailandeses, indonésios. Achei o filme indonésio que vi esta manhã muito interessante, o que é uma coisa completamente nova para mim. Sinceramente, acho que o mundo se está a tornar cada vez mais interessante”, partilhou Peter Chan.

Relativamente a “Better Days”, filme realizado por  Kwok Cheung Tsang, a concurso no IFFAM, mas na competição dedicada ao Novo Cinema Chinês, o presidente do painel do júri considerou que “apesar de ser comercial, é um daqueles filmes que nos têm de dar esperança acerca da China e da censura no cinema.”

“Este filme para mim foi um processo muito difícil. No interior da China é preciso passar muito tempo para ultrapassar a censura, e isto demorou mais de um ano. Mas depois, apesar de não termos grandes expectativas quando lançámos este filme, os números da venda de bilhetes ascenderam aos 250 milhões de dólares no final, o que é bom em qualquer parte do mundo”, explicou Peter Chan.

Também Midi Z, actor e realizador nascido no Myanmar, mostrou optimismo acerca do processo e deixou um conselho para os realizadores em início de carreira.

“Acho que os jovens realizadores não devem impor limites a si próprios em termos do que é um filme e o que é o cinema. Eu faço documentários, ficção e curtas metragens e para mim não há qualquer diferença. Devemos deixar a imaginação entrar nos nossos filmes”.

Eco global

“Gosto muito da ideia de fazer um filme a partir da vontade de contar algo muito genuíno, que se relaciona com o contexto e com as vivências de uma forma directa com o público local, mas que, ao mesmo tempo, é algo tão universal que pode ser partilhado em qualquer lugar do mundo”, disse Dian Sastrowardoyo, actriz e produtora originária da Indonésia que diz estar orgulhosa do filme da Competição Internacional, “Homecoming”, realizado pelo seu conterrâneo Adriyanto Dewo.

Sobre “Homecoming”, Dian Sastrowardoyo mostrou um “orgulho enorme” por ver um filme 100 por cento feito na Indonésia, no IFFAM e destacou a capacidade que a obra tem de abordar “temas locais e histórias com um background claramente indonésio”, como o papel das mulheres na sociedade e em casa ou as diferenças existentes entre classes sociais, já que a obra coloca frente a frente duas realidades muito diferentes neste aspecto. “Acho que passa uma mensagem comum, não só na Indonésia, mas também a uma escala mundial”, explicou. “Acho que o grande desafio para todos agora, é como é que podemos realizar filmes que tenham simultâneamente características locais e globais”, rematou Dian Sastrowardoyo.

Já no seu breve papel como realizadora, Dian Sastrowardoyo, apontou a importância de utilizar o cinema para promover uma mensagem social importante, ao mesmo tempo que consegue cativar o público e levá-lo a identificar-se com as personagens.

“Fizemos um filme histórico que fala sobre o sistema de ensino na Indonésia, mas que contém também vários elementos de comédia e isto acontece porque se tivéssemos realizado o filme de forma demasiado séria, o mais certo era não chegarmos à audiência relativamente às questões políticas que queríamos abordar”, explicou.

Reiterando que “não é possível dizer se um filme está certo ou se está errado, pois todos os têm diferentes características”, Peter Chan lembrou a propósito do tema, que um filme que pode parecer uma comédia, pode perfeitamente apresentar um tema social ao público.

“Temos de ter filmes de hollywood mas também outro tipo de filmes para que o público possa ter acesso a diferentes conteúdos. Filmes que façam o público rir ou chorar, mas que permitam perceber o que está a acontecer na sociedade e estabelecer pontes com os acontecimentos que estão na ordem do dia”, explicou.

Cinema de bolso?

Outro dos temas em debate entre o júri da competição internacional foi o futuro esperado para o cinema enquanto meio, que enfrenta hoje o desafio de se adaptar a uma era digital cada vez mais dominada por pequenos e poderosos ecrãs, capazes de alojar plataformas de streaming como a Netflix.

Pegando no exemplo de “O Irlandês”, filme de Martin Scorsece que estreou em exclusivo naquela plataforma, o actor e produtor Tom Cullen vincou que o benefício da passagem para o pequeno ecrã é que “permite que os conteúdos cheguem a audiências que de outra forma ficariam excluídas. Por exemplo, onde eu cresci, existia apenas uma sala de cinema e ficava a uma hora de distância de carro”, argumentou.

O actor, conhecido pelo papel de Anthony Gillingham em Downtown Abbey, frisou ainda que os produtores e realizadores “têm sabido adaptar-se às mudanças produzidas pelas novas tecnologias”, procurando ser mais específicos dado que agora a audiência pode ser o próprio mundo.

9 Dez 2019

Competição Internacional | Quando o cinema local abre as portas do mundo

No primeiro dia do Festival Internacional de Cinema de Macau (IFFAM na sigla inglesa) Mike Goodridge fez as honras da apresentação formal do júri da competição internacional do Festival, presidido pelo aclamado realizador de Hong Kong, Peter Chan. Diversos nas suas opiniões, o júri destacou a “primavera” do cinema asiático, a importância da genuinidade local e da forma como o cinema pode vir a encarar um futuro destinado aos “pequenos ecrãs”

 
[dropcap]P[/dropcap]ara conseguirmos fazer um filme excepcional, mais importante do que ouvir a nossa própria voz, é ouvir uma voz especial, uma voz que seja diferente das outras nesta indústria e estar atento às gerações mais novas”, as palavras são de Peter Chan, Presidente do júri dedicado à competição internacional do IFFAM e que terá a árdua tarefa de eleger aquele que será o vencedor, de entre os 10 filmes em concurso.
Tendo a sua obra sido rotulada inúmeras vezes de “ocidentalizada”, Peter Chan diz ter tido a sorte de ter vivido de perto a fase mais desafiante e interessante do cinema feito em Hollywood, que o inspirou irremediavelmente durante a década de 70. O realizador diz continuar a transportar essa mesma sensação, mas agora relativamente ao cinema feito na China, para o qual se encontra a trabalhar, mas também um pouco por toda a Ásia, onde cada vez mais obras começam a ganhar um lugar de destaque.
“A China é um novo horizonte e uma nova indústria onde tudo é possível. Vivemos tempos muito interessantes na Ásia e em diferentes partes da Ásia. Existem realizadores coreanos, tailandeses, indonésios. Achei o filme indonésio que vi esta manhã muito interessante, o que é uma coisa completamente nova para mim. Sinceramente, acho que o mundo se está a tornar cada vez mais interessante”, partilhou Peter Chan.
Relativamente a “Better Days”, filme realizado por  Kwok Cheung Tsang, a concurso no IFFAM, mas na competição dedicada ao Novo Cinema Chinês, o presidente do painel do júri considerou que “apesar de ser comercial, é um daqueles filmes que nos têm de dar esperança acerca da China e da censura no cinema.”
“Este filme para mim foi um processo muito difícil. No interior da China é preciso passar muito tempo para ultrapassar a censura, e isto demorou mais de um ano. Mas depois, apesar de não termos grandes expectativas quando lançámos este filme, os números da venda de bilhetes ascenderam aos 250 milhões de dólares no final, o que é bom em qualquer parte do mundo”, explicou Peter Chan.
Também Midi Z, actor e realizador nascido no Myanmar, mostrou optimismo acerca do processo e deixou um conselho para os realizadores em início de carreira.
“Acho que os jovens realizadores não devem impor limites a si próprios em termos do que é um filme e o que é o cinema. Eu faço documentários, ficção e curtas metragens e para mim não há qualquer diferença. Devemos deixar a imaginação entrar nos nossos filmes”.

Eco global

“Gosto muito da ideia de fazer um filme a partir da vontade de contar algo muito genuíno, que se relaciona com o contexto e com as vivências de uma forma directa com o público local, mas que, ao mesmo tempo, é algo tão universal que pode ser partilhado em qualquer lugar do mundo”, disse Dian Sastrowardoyo, actriz e produtora originária da Indonésia que diz estar orgulhosa do filme da Competição Internacional, “Homecoming”, realizado pelo seu conterrâneo Adriyanto Dewo.
Sobre “Homecoming”, Dian Sastrowardoyo mostrou um “orgulho enorme” por ver um filme 100 por cento feito na Indonésia, no IFFAM e destacou a capacidade que a obra tem de abordar “temas locais e histórias com um background claramente indonésio”, como o papel das mulheres na sociedade e em casa ou as diferenças existentes entre classes sociais, já que a obra coloca frente a frente duas realidades muito diferentes neste aspecto. “Acho que passa uma mensagem comum, não só na Indonésia, mas também a uma escala mundial”, explicou. “Acho que o grande desafio para todos agora, é como é que podemos realizar filmes que tenham simultâneamente características locais e globais”, rematou Dian Sastrowardoyo.
Já no seu breve papel como realizadora, Dian Sastrowardoyo, apontou a importância de utilizar o cinema para promover uma mensagem social importante, ao mesmo tempo que consegue cativar o público e levá-lo a identificar-se com as personagens.
“Fizemos um filme histórico que fala sobre o sistema de ensino na Indonésia, mas que contém também vários elementos de comédia e isto acontece porque se tivéssemos realizado o filme de forma demasiado séria, o mais certo era não chegarmos à audiência relativamente às questões políticas que queríamos abordar”, explicou.
Reiterando que “não é possível dizer se um filme está certo ou se está errado, pois todos os têm diferentes características”, Peter Chan lembrou a propósito do tema, que um filme que pode parecer uma comédia, pode perfeitamente apresentar um tema social ao público.
“Temos de ter filmes de hollywood mas também outro tipo de filmes para que o público possa ter acesso a diferentes conteúdos. Filmes que façam o público rir ou chorar, mas que permitam perceber o que está a acontecer na sociedade e estabelecer pontes com os acontecimentos que estão na ordem do dia”, explicou.

Cinema de bolso?

Outro dos temas em debate entre o júri da competição internacional foi o futuro esperado para o cinema enquanto meio, que enfrenta hoje o desafio de se adaptar a uma era digital cada vez mais dominada por pequenos e poderosos ecrãs, capazes de alojar plataformas de streaming como a Netflix.
Pegando no exemplo de “O Irlandês”, filme de Martin Scorsece que estreou em exclusivo naquela plataforma, o actor e produtor Tom Cullen vincou que o benefício da passagem para o pequeno ecrã é que “permite que os conteúdos cheguem a audiências que de outra forma ficariam excluídas. Por exemplo, onde eu cresci, existia apenas uma sala de cinema e ficava a uma hora de distância de carro”, argumentou.
O actor, conhecido pelo papel de Anthony Gillingham em Downtown Abbey, frisou ainda que os produtores e realizadores “têm sabido adaptar-se às mudanças produzidas pelas novas tecnologias”, procurando ser mais específicos dado que agora a audiência pode ser o próprio mundo.

9 Dez 2019

Óscares | As grandes apostas também passam por aqui

[dropcap]“O[/dropcap] IFFAM está posicionado de forma perfeita em termos de timing para os Óscares”, as palavras foram ditas ao HM por Mike Goodridge, que assume pelo terceiro ano consecutivo, o cargo de Director Artístico do Festival de Cinema de Macau. Alargando o espectro para além da competição internacional do IFFAM, e tendo em conta que filmes como “Shape of the Water” e “Greenbook”, que figuravam no cartaz de edições passadas do festival, acabaram mesmo por ser galardoados com o Óscar de melhor filme, existem também este ano, segundo Mike Goodridge, algumas obras com aspirações legítimas a uma nomeação, ou mesmo até, a alcançar uma vitória nos Óscares.

O primeiro destaque vai directamente para o filme de abertura, “Jojo Rabbit”. Realizado pelo neo-zelandês Taika Waititi, Jojo Rabbit conta a história de uma criança que luta contra o nazismo alemão e que tem um amigo imaginário chamado Adolf Hitler. Segundo o director artístico do IFFAM, Taika Waititi “conseguiu fazer algo magnífico”, pois é um filme “capaz de pôr qualquer um a rir desalmadamente, enquanto aborda um tema trágico que é Segunda Grande Guerra Mundial”.

Outra obra em destaque é “Dark Waters”. Realizado por Todd Haynes e integrado na secção de Apresentações especiais do IFFAM, conta uma história arrepiante de um advogado que entra num processo judicial com um gigante da indústria química chamado DuPont, que acabou por encobrir alguns factos hediondos. Mark Ruffalo e Anne Hathaway fazem parte do elenco deste filme. “É extraordinário, adorei Dark Waters”, disse Mike Goodridge ao HM.

Mais palpites

Também apontado por Mike Goodridge “à conversa dos Óscares” é o novo filme de Terrence Malik, “A Hidden Life”, que conta a história verídica de um casal austríaco, que se recusa a prestar vassalagem ao regime de Adolf Hitler após a anexação da Áustria. “É um filme sobre princípios, honra, fé e espiritualidade, e fala de tudo isto numa altura em que o mundo tem dificuldade em reconhecer essas qualidades”, partilhou o director artístico do IFFAM.

Em português, mereceu ainda destaque o filme brasileiro “The Invisible Life of Eurídice Gusmão”, realizado Karim Aïnouz. Para Mike Goodridge esta é uma das obras que podem vir a ser nomeadas para a categoria de “Melhor Filme Estrangeiro”.

Por fim, temos também “Judy”, com Renée Zellweger no papel de Judy Garland. “Ela está simplesmente magnífica. Sinceramente não imagino que Renée Zellweger não vença o Óscar de melhor actriz”, acredita Mike Goodridge.

5 Dez 2019

Óscares | As grandes apostas também passam por aqui

[dropcap]“O[/dropcap] IFFAM está posicionado de forma perfeita em termos de timing para os Óscares”, as palavras foram ditas ao HM por Mike Goodridge, que assume pelo terceiro ano consecutivo, o cargo de Director Artístico do Festival de Cinema de Macau. Alargando o espectro para além da competição internacional do IFFAM, e tendo em conta que filmes como “Shape of the Water” e “Greenbook”, que figuravam no cartaz de edições passadas do festival, acabaram mesmo por ser galardoados com o Óscar de melhor filme, existem também este ano, segundo Mike Goodridge, algumas obras com aspirações legítimas a uma nomeação, ou mesmo até, a alcançar uma vitória nos Óscares.
O primeiro destaque vai directamente para o filme de abertura, “Jojo Rabbit”. Realizado pelo neo-zelandês Taika Waititi, Jojo Rabbit conta a história de uma criança que luta contra o nazismo alemão e que tem um amigo imaginário chamado Adolf Hitler. Segundo o director artístico do IFFAM, Taika Waititi “conseguiu fazer algo magnífico”, pois é um filme “capaz de pôr qualquer um a rir desalmadamente, enquanto aborda um tema trágico que é Segunda Grande Guerra Mundial”.
Outra obra em destaque é “Dark Waters”. Realizado por Todd Haynes e integrado na secção de Apresentações especiais do IFFAM, conta uma história arrepiante de um advogado que entra num processo judicial com um gigante da indústria química chamado DuPont, que acabou por encobrir alguns factos hediondos. Mark Ruffalo e Anne Hathaway fazem parte do elenco deste filme. “É extraordinário, adorei Dark Waters”, disse Mike Goodridge ao HM.

Mais palpites

Também apontado por Mike Goodridge “à conversa dos Óscares” é o novo filme de Terrence Malik, “A Hidden Life”, que conta a história verídica de um casal austríaco, que se recusa a prestar vassalagem ao regime de Adolf Hitler após a anexação da Áustria. “É um filme sobre princípios, honra, fé e espiritualidade, e fala de tudo isto numa altura em que o mundo tem dificuldade em reconhecer essas qualidades”, partilhou o director artístico do IFFAM.
Em português, mereceu ainda destaque o filme brasileiro “The Invisible Life of Eurídice Gusmão”, realizado Karim Aïnouz. Para Mike Goodridge esta é uma das obras que podem vir a ser nomeadas para a categoria de “Melhor Filme Estrangeiro”.
Por fim, temos também “Judy”, com Renée Zellweger no papel de Judy Garland. “Ela está simplesmente magnífica. Sinceramente não imagino que Renée Zellweger não vença o Óscar de melhor actriz”, acredita Mike Goodridge.

5 Dez 2019

IFFAM | Festival Internacional de cinema de Macau arranca hoje

A quarta edição do Festival Internacional de Cinema de Macau começa hoje e, até ao próximo dia 10 de Dezembro irá exibir 48 filmes, em cinco espaços diferentes, divididos em várias secções. Destas, apenas três entram em competição, nomeadamente, “Competição Internacional”, “Novo Cinema Chinês” e ”Competição de Curtas”. O aclamado Jojo Rabbit fará as honras de abertura do festival hoje, no Centro Cultural de Macau, pelas 20h30

 

Competição Internacional

 

[dropcap]A[/dropcap] competição internacional conta com 10 filmes a ser avaliados por um painel de júris presidido por Peter Chan Ho-sun, conhecido realizador e produtor de Hong Kong. Fazem também parte do júri da competição internacional Ella Eliasoph, Dian Sastrowardoyo, Midi Z e Tom Cullen.

Goldie

Goldie é uma estrela em ascensão, pelo menos à vista das irmãs mais novas, Supreme e Sherrie. Os desafios são hercúleos e, enquanto luta para evitar que as irmãs sejam levadas pelos serviços sociais, após a mãe das três ter sido presa, Goldie persegue o sonho de conseguir um papel num vídeo de hip-hop. E para isso, no seu mundo ideal, precisa apenas do“empurrão” do casaco de pele cor de ouro que viu numa loja e que há muito tem debaixo de olho. Porque o seu atrevimento e talento parecem começar a suscitar a atenção do resto do mundo. Goldie é um filme norte-americano, realizado pelo holandês Sam De Jong e conta com Slick Woods no papel principal.

Exibição

6 de Dezembro
CCM | 19h30

Lynn+Lucy

Lynn e Lucy são uma dupla desde sempre. Amigas desde os tempos da escola, acabam por desenvolver uma relação tão intensa como qualquer romance. Confinadas ao local onde cresceram, a ligação entre as duas muda quando Lynn, que havia casado com o seu primeiro namorado e cuja filha cresce a olhos vistos, fica deslumbrada quando a carismática Lucy tem também o seu primeiro bebé. No entanto, Lucy não é a mãe que Lynn esperava e rapidamente a sua amizade é testada de forma trágica, envolvente e asfixiante. Lynn+Lucy é uma co-produção britânica e francesa e conta com a realização do londrino Fyzal Boulifa. Roxanne Scrimshaw e Nichola Burley são as actrizes que dão vida às personagens principais.

Exibição
6 de Dezembro
CCM | 21h45

Bellbird

Do neo-zelandês Hamish Bennett, Bellbird conta a história de Ross, um agricultor parco em palavras, que parece perder o rumo da vida, a partir do momento em que a sua mulher, Beth, morre inesperadamente. Sem ninguém por perto interessado em ajudar nos trabalhos diários da quinta, nem mesmo o seu filho Bruce, surge Marley uma jovem disposta a apoiar e a mudar o rumo da vida do ainda mais mal-humorado Ross. Ross dispensa a ajuda de Marley, mas Marley lá vai aparecendo e ajudando na ordenha, enquanto ignora a má disposição do velho Ross, até que, quase um ano após a morte de Beth, a questão se torna incontornável e a necessidade de encontrar o seu lugar no mundo tende a vir ao de cima. Belbird é um filme falado em inglês e conta no elenco com Marshall Napier, Cohen Holloway, Rachel House, Kahukura Retimana, Stephen Tamarapa e Annie Whittle.

Exibição
7 de Dezembro
CCM | 17h

Family Members

A Argentina, desportos de combate e um último adeus, no mínimo, caricato. São estes os pilares que dão o mote para Family Members. Lucas e Gilda viajam para uma pequena cidade costeira do país para espalhar no oceano, as cinzas da sua recém-falecida mãe, que se suícidou. No entanto, para cumprir este último desejo, em vez de cinzas, os únicos restos mortais que têm para lançar, resumem-se à mão protética da mãe. Mais aliviados, embora conformados com o seu destino, os dois adolescentes vêem-se impossibilitados de regressar a casa, quando começa uma greve nacional de autocarros que paralisa a Argentina. Durante o impasse, Lucas, obcecado por musculação e desportos de combate encontra na cidade mais próxima uma oportunidade para explorar os limites do seu corpo, enquanto que Gilda procura inteirar-se das terapias existentes e de métodos de adivinhação para encontar um significado para o mundo. Presos no limbo, os dois enfrentam, longe de casa, o vazio deixado pelo suicídio da mãe, enquanto se despedem da adolescência e enfrentam a ambiguidade que a vida pode trazer. Family Members conta com a realização do argentino Mateo Bendesky e com Tomás Wicz e Laila Maltz nos papéis principais.

Exibição
7 de Dezembro
CCM | 19h

Two/One

Kaden e Khai estão estranhamente ligados um ao outro mas não sabem. Os dois vivem em lados opostos do globo. Embora sonhem um com o outro, quando um dorme o outro está acordado. Kaden é um atleta de esqui de classe mundial em Whistler, no Canadá e Khai, um executivo numa empresa de Xangai. Na mesma janela temporal, Kaden tem a oportunidade de se reconectar com uma antiga namorada dos seus tempos de adolescência, ao mesmo tempo que Khai descobre que a mulher com quem fantasia, começou a trabalhar no mesmo escritório. Os dois homens passam a vida sem saber que estão ligados e, embora nunca se devessem encontrar, estão destinados a fazê-lo. Two/One é realizado pelo argentino Juan Cabral e conta no elenco com Boyd Holbrook, Beau Bridges e Maddie Phillips.

Exibição
7 de Dezembro
CCM | 21h30

Give me liberty

O lado menos glamoroso do sonho americano encontra eco no Milwaukee, cidade do nordeste dos Estados Unidos onde milhares de imigrantes chegam em busca de melhorar as suas vidas. Vic, um americano descendente de uma família russa, ganha a vida, de forma infeliz diga-se, a conduzir uma carrinha de transporte de deficientes e pessoas com dificuldade de locomoção. Atrasado para cumprir os seus afazeres e numa altura em que irrompem protestos nas ruas do Milwaukee, o dia de Vic parece ir de mal a pior quando, comprometido em levar um grupo de idosos russos a um funeral, decide ajudar Tracy, uma jovem diagnosticada com esclerose lateral amiotrófica, que vive num bairro afro-americano. Give me liberty conta com a realização do russo Kirill Mikhanovsky e com Chris Galust, Lauren “Lolo” Spencer, Maksim Stoyanov no elenco principal.

Exibição
8 de Dezembro
CCM | 19h15

Buoyancy

Camboja. Chakra tem 14 anos e trabalha nos campos de arroz com a família. Ansiando por independência, procura um intermediário que lhe ofereça a oportunidade de ter um trabalho remunerado numa fábrica tailandesa. No entanto, após ter vivido uma jornada atribulada juntamente com outros cambojanos, quando chega à Tailândia apercebe-se que o intermediário mentiu, acabando por vender Chakra e o seu colega Kea como escravos ao capitão de um barco de pesca. Forçados a trabalhar 22 horas por dia, arrastando lixo, em troca apenas de uma taça de arroz frio, Chakra apercebe-se daquilo que terá de passar para alcançar a liberdade. Buoyancy é realizado pelo australiano Rodd Rathjen e conta no elenco com Sarm Heng, Thanawut Kasro, Mony Ros e Saichia Wongwirot nos principais papéis.

Exibição
8 de Dezembro
CCM | 21h45

Bombay Rose

As ruas de Bombaím revelam a história de três contos sobre amores proíbidos, nesta longa-metragem de animação, baseada em factos reais: o amor entre uma menina hindu e um menino muçulmano, o amor entre duas mulheres e o amor de uma cidade inteira por estrelas de Bollywood. “Bombay Rose” assume-se como uma crónica de lutas íntimas e colectivas de pessoas que migraram de pequenas cidades rumo à grande cidade de Bombaím em busca de condições mínimas de vida. Bombay Rose é um musical, detalhado, colorido, em certa medida paradoxal e conta com a realização da indiana Gitanjali Rao. Do elenco vocal fazem parte Cycli Khare, Amit Deondi, Gargi Shitole e Makrand Deshpande.

Exibição
8 de Dezembro
CCM | 15h30

Homecoming

Tentando encontrar soluções para os conflitos do seu casamento, Aida faz uma viagem com o marido de volta a casa. Durante o percurso envolvem-se num acidente de viação e, involuntariamente, acabam por matar um homem. Um homem que era marido de alguém. Após o sucedido, o casal faz um desvio para a aldeia de onde é originário o homem, para prestar homenagem à viúva. É aqui que tudo acontece, numa jornada inesperada de busca por respostas às grandes questões da vida e pela inevitabilidade de enfrentar um futuro diferente, este é um regresso a casa que acaba também por ser uma metamorfose em todos os sentidos da palavra. Homecoming é realizado por Adriyanto Dewo e conta no elenco com Putri Ayudya Asmara Abigail, Ibnu Jamil e Yoga Pratama nos papéis principais deste filme 100 por cento indonésio.

Exibição
9 de Dezembro
CCM | 19h15

Two of us

Nina e Madeleine são duas mulheres reformadas e secretamente apaixonadas há várias décadas. À vista de todos, incluindo a família de Madeleine, são pura e simplesmente vizinhas que vivem no último andar do mesmo prédio. No entanto, longe dos olhares indiscretos, as duas mulheres vão e vêm, alternando espaços entre os seus dois apartamentos que acabam por ser lugares de partilha dos prazeres e da vida que levam em conjunto. Naturalmente que a relação entre as duas acaba por ficar virada do avesso quando um acontecimento inesperado, que coloca mesmo as suas vidas em risco, revela involuntariamente, toda a verdade da relação. Two of us é uma co-produção francesa, belga, holandesa e luxemburguesa e conta com a realizaçao do italiano Filippo Meneghetti. Martine Chevallier é Madeleine e Barbara Sukowa é Nina e neste filme falado em francês.

Exibição
9 de Dezembro
CCM | 21h30

5 Dez 2019

IFFAM | Festival Internacional de cinema de Macau arranca hoje

A quarta edição do Festival Internacional de Cinema de Macau começa hoje e, até ao próximo dia 10 de Dezembro irá exibir 48 filmes, em cinco espaços diferentes, divididos em várias secções. Destas, apenas três entram em competição, nomeadamente, “Competição Internacional”, “Novo Cinema Chinês” e ”Competição de Curtas”. O aclamado Jojo Rabbit fará as honras de abertura do festival hoje, no Centro Cultural de Macau, pelas 20h30

 

Competição Internacional

 
[dropcap]A[/dropcap] competição internacional conta com 10 filmes a ser avaliados por um painel de júris presidido por Peter Chan Ho-sun, conhecido realizador e produtor de Hong Kong. Fazem também parte do júri da competição internacional Ella Eliasoph, Dian Sastrowardoyo, Midi Z e Tom Cullen.
Goldie
Goldie é uma estrela em ascensão, pelo menos à vista das irmãs mais novas, Supreme e Sherrie. Os desafios são hercúleos e, enquanto luta para evitar que as irmãs sejam levadas pelos serviços sociais, após a mãe das três ter sido presa, Goldie persegue o sonho de conseguir um papel num vídeo de hip-hop. E para isso, no seu mundo ideal, precisa apenas do“empurrão” do casaco de pele cor de ouro que viu numa loja e que há muito tem debaixo de olho. Porque o seu atrevimento e talento parecem começar a suscitar a atenção do resto do mundo. Goldie é um filme norte-americano, realizado pelo holandês Sam De Jong e conta com Slick Woods no papel principal.
Exibição
6 de Dezembro
CCM | 19h30

Lynn+Lucy

Lynn e Lucy são uma dupla desde sempre. Amigas desde os tempos da escola, acabam por desenvolver uma relação tão intensa como qualquer romance. Confinadas ao local onde cresceram, a ligação entre as duas muda quando Lynn, que havia casado com o seu primeiro namorado e cuja filha cresce a olhos vistos, fica deslumbrada quando a carismática Lucy tem também o seu primeiro bebé. No entanto, Lucy não é a mãe que Lynn esperava e rapidamente a sua amizade é testada de forma trágica, envolvente e asfixiante. Lynn+Lucy é uma co-produção britânica e francesa e conta com a realização do londrino Fyzal Boulifa. Roxanne Scrimshaw e Nichola Burley são as actrizes que dão vida às personagens principais.
Exibição
6 de Dezembro
CCM | 21h45

Bellbird

Do neo-zelandês Hamish Bennett, Bellbird conta a história de Ross, um agricultor parco em palavras, que parece perder o rumo da vida, a partir do momento em que a sua mulher, Beth, morre inesperadamente. Sem ninguém por perto interessado em ajudar nos trabalhos diários da quinta, nem mesmo o seu filho Bruce, surge Marley uma jovem disposta a apoiar e a mudar o rumo da vida do ainda mais mal-humorado Ross. Ross dispensa a ajuda de Marley, mas Marley lá vai aparecendo e ajudando na ordenha, enquanto ignora a má disposição do velho Ross, até que, quase um ano após a morte de Beth, a questão se torna incontornável e a necessidade de encontrar o seu lugar no mundo tende a vir ao de cima. Belbird é um filme falado em inglês e conta no elenco com Marshall Napier, Cohen Holloway, Rachel House, Kahukura Retimana, Stephen Tamarapa e Annie Whittle.
Exibição
7 de Dezembro
CCM | 17h

Family Members

A Argentina, desportos de combate e um último adeus, no mínimo, caricato. São estes os pilares que dão o mote para Family Members. Lucas e Gilda viajam para uma pequena cidade costeira do país para espalhar no oceano, as cinzas da sua recém-falecida mãe, que se suícidou. No entanto, para cumprir este último desejo, em vez de cinzas, os únicos restos mortais que têm para lançar, resumem-se à mão protética da mãe. Mais aliviados, embora conformados com o seu destino, os dois adolescentes vêem-se impossibilitados de regressar a casa, quando começa uma greve nacional de autocarros que paralisa a Argentina. Durante o impasse, Lucas, obcecado por musculação e desportos de combate encontra na cidade mais próxima uma oportunidade para explorar os limites do seu corpo, enquanto que Gilda procura inteirar-se das terapias existentes e de métodos de adivinhação para encontar um significado para o mundo. Presos no limbo, os dois enfrentam, longe de casa, o vazio deixado pelo suicídio da mãe, enquanto se despedem da adolescência e enfrentam a ambiguidade que a vida pode trazer. Family Members conta com a realização do argentino Mateo Bendesky e com Tomás Wicz e Laila Maltz nos papéis principais.
Exibição
7 de Dezembro
CCM | 19h

Two/One

Kaden e Khai estão estranhamente ligados um ao outro mas não sabem. Os dois vivem em lados opostos do globo. Embora sonhem um com o outro, quando um dorme o outro está acordado. Kaden é um atleta de esqui de classe mundial em Whistler, no Canadá e Khai, um executivo numa empresa de Xangai. Na mesma janela temporal, Kaden tem a oportunidade de se reconectar com uma antiga namorada dos seus tempos de adolescência, ao mesmo tempo que Khai descobre que a mulher com quem fantasia, começou a trabalhar no mesmo escritório. Os dois homens passam a vida sem saber que estão ligados e, embora nunca se devessem encontrar, estão destinados a fazê-lo. Two/One é realizado pelo argentino Juan Cabral e conta no elenco com Boyd Holbrook, Beau Bridges e Maddie Phillips.
Exibição
7 de Dezembro
CCM | 21h30

Give me liberty

O lado menos glamoroso do sonho americano encontra eco no Milwaukee, cidade do nordeste dos Estados Unidos onde milhares de imigrantes chegam em busca de melhorar as suas vidas. Vic, um americano descendente de uma família russa, ganha a vida, de forma infeliz diga-se, a conduzir uma carrinha de transporte de deficientes e pessoas com dificuldade de locomoção. Atrasado para cumprir os seus afazeres e numa altura em que irrompem protestos nas ruas do Milwaukee, o dia de Vic parece ir de mal a pior quando, comprometido em levar um grupo de idosos russos a um funeral, decide ajudar Tracy, uma jovem diagnosticada com esclerose lateral amiotrófica, que vive num bairro afro-americano. Give me liberty conta com a realização do russo Kirill Mikhanovsky e com Chris Galust, Lauren “Lolo” Spencer, Maksim Stoyanov no elenco principal.
Exibição
8 de Dezembro
CCM | 19h15

Buoyancy

Camboja. Chakra tem 14 anos e trabalha nos campos de arroz com a família. Ansiando por independência, procura um intermediário que lhe ofereça a oportunidade de ter um trabalho remunerado numa fábrica tailandesa. No entanto, após ter vivido uma jornada atribulada juntamente com outros cambojanos, quando chega à Tailândia apercebe-se que o intermediário mentiu, acabando por vender Chakra e o seu colega Kea como escravos ao capitão de um barco de pesca. Forçados a trabalhar 22 horas por dia, arrastando lixo, em troca apenas de uma taça de arroz frio, Chakra apercebe-se daquilo que terá de passar para alcançar a liberdade. Buoyancy é realizado pelo australiano Rodd Rathjen e conta no elenco com Sarm Heng, Thanawut Kasro, Mony Ros e Saichia Wongwirot nos principais papéis.
Exibição
8 de Dezembro
CCM | 21h45

Bombay Rose

As ruas de Bombaím revelam a história de três contos sobre amores proíbidos, nesta longa-metragem de animação, baseada em factos reais: o amor entre uma menina hindu e um menino muçulmano, o amor entre duas mulheres e o amor de uma cidade inteira por estrelas de Bollywood. “Bombay Rose” assume-se como uma crónica de lutas íntimas e colectivas de pessoas que migraram de pequenas cidades rumo à grande cidade de Bombaím em busca de condições mínimas de vida. Bombay Rose é um musical, detalhado, colorido, em certa medida paradoxal e conta com a realização da indiana Gitanjali Rao. Do elenco vocal fazem parte Cycli Khare, Amit Deondi, Gargi Shitole e Makrand Deshpande.
Exibição
8 de Dezembro
CCM | 15h30

Homecoming

Tentando encontrar soluções para os conflitos do seu casamento, Aida faz uma viagem com o marido de volta a casa. Durante o percurso envolvem-se num acidente de viação e, involuntariamente, acabam por matar um homem. Um homem que era marido de alguém. Após o sucedido, o casal faz um desvio para a aldeia de onde é originário o homem, para prestar homenagem à viúva. É aqui que tudo acontece, numa jornada inesperada de busca por respostas às grandes questões da vida e pela inevitabilidade de enfrentar um futuro diferente, este é um regresso a casa que acaba também por ser uma metamorfose em todos os sentidos da palavra. Homecoming é realizado por Adriyanto Dewo e conta no elenco com Putri Ayudya Asmara Abigail, Ibnu Jamil e Yoga Pratama nos papéis principais deste filme 100 por cento indonésio.
Exibição
9 de Dezembro
CCM | 19h15

Two of us

Nina e Madeleine são duas mulheres reformadas e secretamente apaixonadas há várias décadas. À vista de todos, incluindo a família de Madeleine, são pura e simplesmente vizinhas que vivem no último andar do mesmo prédio. No entanto, longe dos olhares indiscretos, as duas mulheres vão e vêm, alternando espaços entre os seus dois apartamentos que acabam por ser lugares de partilha dos prazeres e da vida que levam em conjunto. Naturalmente que a relação entre as duas acaba por ficar virada do avesso quando um acontecimento inesperado, que coloca mesmo as suas vidas em risco, revela involuntariamente, toda a verdade da relação. Two of us é uma co-produção francesa, belga, holandesa e luxemburguesa e conta com a realizaçao do italiano Filippo Meneghetti. Martine Chevallier é Madeleine e Barbara Sukowa é Nina e neste filme falado em francês.
Exibição
9 de Dezembro
CCM | 21h30

5 Dez 2019

IFFAM | Dois filmes em língua portuguesa exibidos este fim-de-semana 

O filme português “A Herdade” e o brasileiro “The Invisible Life of Eurídice Gusmão” são as duas únicas películas na língua de Camões e podem ser vistas este fim-de-semana no âmbito do Festival Internacional de Cinema de Macau. Mike Goodrigde destaca a qualidade destes filmes e convida a comunidade portuguesa a vê-los

 

[dropcap]O[/dropcap] Portugal profundo do Estado Novo, metaforizado numa propriedade rural no Alentejo, é o pano de fundo do filme “A Herdade”, de Tiago Guedes e produzido por Paulo Branco. Este é um dos grandes destaques em língua portuguesa da edição deste ano do Festival Internacional de Cinema de Macau (IFFAM, na sigla inglesa), que será exibido esta sexta-feira, dia 6, no Centro Cultural de Macau, às 20h00.

Sobre este filme, Mike Goodrigde, director do IFFAM, falou, em entrevista ao HM, da sua enorme qualidade. “Acompanho o cinema feito em Portugal porque queremos passar aqui bons filmes para quem fala português.

‘A Herdade’ é um filme realmente bom, é um grande épico. Acho que todos os portugueses o vão achar interessante porque aborda uma janela temporal de quase 60 anos da história de Portugal, desde os anos 40, passando pela revolução de 1974, até aos dias de hoje. Adorei-o quando o vi na competição de Veneza e em Toronto. Não é um filme fácil pois é longo, mas é épico e altamente apelativo.”

Mike Goodridge destacou ainda o papel do produtor Paulo Branco, por quem diz ter “uma grande admiração”. “A Herdade” é uma “grande saga com grandes actores portugueses” e, por isso, o director do festival espera que “a comunidade portuguesa apareça em peso para o ver.”

O cartaz do IFFAM, no que diz respeito aos filmes em língua portuguesa, fica completo com a produção brasileira “The Invisible Life of Eurídice Gusmão”, de Karim Aïnouz, exibido no domingo, dia 8, na Cinemateca Paixão.

Sobre este filme, o director do festival adiantou que se trata de “um fabuloso épico realizado pelo realizador brasileiro Karim Aïnouz”. “É realmente bom e, ou muito me engano, ou será nomeado para os Óscares”, frisou.

Para residentes

Na mesma entrevista, Mike Goodrigde lembrou o facto de “A Herdade” ser “um grande melodrama que tem por base uma família disfuncional, mas que está maravilhosamente bem feito. Adorei-o quando o vi na competição de Veneza e em Toronto e disse logo que o tínhamos de passar aqui.”

O director do IFFAM referiu ainda que o cinema português poderia ter mais destaque a nível internacional. “É uma pena, porque Portugal tem um legado cultural tão rico que gostaria que o cinema português fosse mais entusiasmante, e não acho que seja.”

O filme “The Invisible Life of Eurídice Gusmão”, do realizador brasileiro, a viver actualmente na Alemanha, conta a história de duas irmãs inseparáveis, Eurídice e Guida. No Rio de Janeiro, no ano de 1950, as duas possuem sonhos bem diferentes da vida tradicional que levam: enquanto Eurídice deseja ser uma pianista famosa, Guida espera encontrar o amor verdadeiro. Um relacionamento de Guida, que a faz ir para a Grécia com um marinheiro, acaba por se tornar num ponto de partida para dois destinos separados, uma vez que, quando Guida regressa ao Brasil, solteira e grávida, o novo marido da irmã comunica-lhe que esta foi estudar música para Viena, não querendo mais manter o contacto com ela.

5 Dez 2019

IFFAM | Dois filmes em língua portuguesa exibidos este fim-de-semana 

O filme português “A Herdade” e o brasileiro “The Invisible Life of Eurídice Gusmão” são as duas únicas películas na língua de Camões e podem ser vistas este fim-de-semana no âmbito do Festival Internacional de Cinema de Macau. Mike Goodrigde destaca a qualidade destes filmes e convida a comunidade portuguesa a vê-los

 
[dropcap]O[/dropcap] Portugal profundo do Estado Novo, metaforizado numa propriedade rural no Alentejo, é o pano de fundo do filme “A Herdade”, de Tiago Guedes e produzido por Paulo Branco. Este é um dos grandes destaques em língua portuguesa da edição deste ano do Festival Internacional de Cinema de Macau (IFFAM, na sigla inglesa), que será exibido esta sexta-feira, dia 6, no Centro Cultural de Macau, às 20h00.
Sobre este filme, Mike Goodrigde, director do IFFAM, falou, em entrevista ao HM, da sua enorme qualidade. “Acompanho o cinema feito em Portugal porque queremos passar aqui bons filmes para quem fala português.
‘A Herdade’ é um filme realmente bom, é um grande épico. Acho que todos os portugueses o vão achar interessante porque aborda uma janela temporal de quase 60 anos da história de Portugal, desde os anos 40, passando pela revolução de 1974, até aos dias de hoje. Adorei-o quando o vi na competição de Veneza e em Toronto. Não é um filme fácil pois é longo, mas é épico e altamente apelativo.”
Mike Goodridge destacou ainda o papel do produtor Paulo Branco, por quem diz ter “uma grande admiração”. “A Herdade” é uma “grande saga com grandes actores portugueses” e, por isso, o director do festival espera que “a comunidade portuguesa apareça em peso para o ver.”
O cartaz do IFFAM, no que diz respeito aos filmes em língua portuguesa, fica completo com a produção brasileira “The Invisible Life of Eurídice Gusmão”, de Karim Aïnouz, exibido no domingo, dia 8, na Cinemateca Paixão.
Sobre este filme, o director do festival adiantou que se trata de “um fabuloso épico realizado pelo realizador brasileiro Karim Aïnouz”. “É realmente bom e, ou muito me engano, ou será nomeado para os Óscares”, frisou.

Para residentes

Na mesma entrevista, Mike Goodrigde lembrou o facto de “A Herdade” ser “um grande melodrama que tem por base uma família disfuncional, mas que está maravilhosamente bem feito. Adorei-o quando o vi na competição de Veneza e em Toronto e disse logo que o tínhamos de passar aqui.”
O director do IFFAM referiu ainda que o cinema português poderia ter mais destaque a nível internacional. “É uma pena, porque Portugal tem um legado cultural tão rico que gostaria que o cinema português fosse mais entusiasmante, e não acho que seja.”
O filme “The Invisible Life of Eurídice Gusmão”, do realizador brasileiro, a viver actualmente na Alemanha, conta a história de duas irmãs inseparáveis, Eurídice e Guida. No Rio de Janeiro, no ano de 1950, as duas possuem sonhos bem diferentes da vida tradicional que levam: enquanto Eurídice deseja ser uma pianista famosa, Guida espera encontrar o amor verdadeiro. Um relacionamento de Guida, que a faz ir para a Grécia com um marinheiro, acaba por se tornar num ponto de partida para dois destinos separados, uma vez que, quando Guida regressa ao Brasil, solteira e grávida, o novo marido da irmã comunica-lhe que esta foi estudar música para Viena, não querendo mais manter o contacto com ela.

5 Dez 2019

Fotografia | Museu do Oriente apresenta “O Caminho Chinês”, de Paolo Longo 

A exposição de fotografia “O Caminho Chinês”, com imagens de Paolo Longo, fica patente no Museu do Oriente, em Lisboa, até Fevereiro do próximo ano. Esta mostra revela um percurso feito pelo fotógrafo e jornalista italiano na China, a partir do ano de 2004, na qualidade de correspondente do canal televisivo Rai

 

[dropcap]S[/dropcap]ão 56 imagens que revelam o quotidiano de homens e mulheres chineses tal como ele é, captadas pela lente de Paolo Longo, jornalista e fotógrafo italiano. A viagem na China começou em 2004, devido a uma proposta de trabalho, para ser correspondente do canal italiano Rai, e resultou em múltiplas descobertas de uma cultura diferente.

“O Caminho Chinês” é o nome desta mostra que estará patente no Museu do Oriente, em Lisboa, até Fevereiro do próximo ano. A 17 de Janeiro, Paolo Longo dará uma palestra, com entrada gratuita. Esta iniciativa conta com a colaboração do Instituto Italiano da Cultura em Lisboa.

De acordo com uma nota oficial escrita pelo próprio Paolo Longo, esta exposição “é uma ‘viagem do coração’ na vida quotidiana do povo chinês na época do boom económico e da grande transformação económica, social e cultural”.

“Quando cheguei à China, num gélido dia de Janeiro de 2004, para começar a trabalhar como correspondente da Rai, tinha uma imagem da transformação da China baseada nos grandes sinais económicos e políticos. Um sexto da população do planeta passava pela maior experiência política e económico-social da História. Comecei então a olhar mais profundamente para o quadro completo e a descobrir não “o povo chinês”, mas “os chineses”, e comecei a compreender o que havia lido nas páginas de Lu Xun, um grande escritor chinês do século XX”, descreve o fotógrafo.

Um país diferente

Para Paolo Longo, “cada fotografia torna-se, portanto, numa história que faz referência a outras histórias ou que vive por si mesma”. O público poderá, assim, ter contacto, através da imagem, com “histórias de pessoas, histórias verídicas, imagens do quotidiano na China do boom económico”. “A vida do dia a dia que à primeira vista pode parecer enfadonha, mas que encerra a política, a história, a cultura, as emoções, os desejos e os segredos de uma sociedade”, acrescenta o autor.

Na hora de escolher as fotografias que iriam fazer parte de “O Caminho Chinês”, o fotógrafo disse ter eliminado “tudo o que estava relacionado com a ‘crónica’ e do que tinha o sabor do exótico, do ‘Extremo e Misterioso Oriente’”.

Paolo Longo diz ter visto “uma China diferente” em relação ao passado, “onde a história da comunidade se dissolve numa infinidade de histórias individuais, de vitórias e de derrotas, de riqueza e de pobreza, de descobertas, de batalhas, de desperdício, de protestos, mas sempre histórias de indivíduos debatendo-se com um novo caminho que se abria”.

Para o repórter, “muitos caminhos têm sido abertos na China nos últimos anos”. “Os jornalistas que trabalharam na China na década de 1960 falavam de como os chineses eram todos iguais. Durante 30 anos, desde a vitória da revolução até à morte de Mao, o país habituou-se a pensar em termos do colectivo, grupos de trabalho, movimentos de massas”, frisou.

Sendo assim, “O Caminho Chinês” revela uma sequência de imagens que começa “com aquilo que resta da China comunista (Nanjiecun, a última aldeia comunista) e o mito de Mao, transformado num ícone sem cabeça ou numa personagem passível de ser imitada, como Elvis”. Segue-se um percurso feito através das “ruínas das cidades imperiais, pelas vielas de Pequim, pela mítica cidade de Lijiang com os seus telhados de lousa; olha para a metrópole futurista projectada no século XXI e para os seus habitantes, que recordam muito pouco do passado e olham para o Ocidente para encontrar um caminho chinês para a modernidade”.

É também captada uma “mistura do passado e o presente nos jovens da nova classe média que se disfarçam para serem fotografados como protagonistas da antiga ópera chinesa, tal como fazem os camponeses de uma aldeia não muito longe de Pequim, que seguem dos campos para a caracterização, e daí para o palco”.

4 Dez 2019

Fotografia | Museu do Oriente apresenta “O Caminho Chinês”, de Paolo Longo 

A exposição de fotografia “O Caminho Chinês”, com imagens de Paolo Longo, fica patente no Museu do Oriente, em Lisboa, até Fevereiro do próximo ano. Esta mostra revela um percurso feito pelo fotógrafo e jornalista italiano na China, a partir do ano de 2004, na qualidade de correspondente do canal televisivo Rai

 
[dropcap]S[/dropcap]ão 56 imagens que revelam o quotidiano de homens e mulheres chineses tal como ele é, captadas pela lente de Paolo Longo, jornalista e fotógrafo italiano. A viagem na China começou em 2004, devido a uma proposta de trabalho, para ser correspondente do canal italiano Rai, e resultou em múltiplas descobertas de uma cultura diferente.
“O Caminho Chinês” é o nome desta mostra que estará patente no Museu do Oriente, em Lisboa, até Fevereiro do próximo ano. A 17 de Janeiro, Paolo Longo dará uma palestra, com entrada gratuita. Esta iniciativa conta com a colaboração do Instituto Italiano da Cultura em Lisboa.
De acordo com uma nota oficial escrita pelo próprio Paolo Longo, esta exposição “é uma ‘viagem do coração’ na vida quotidiana do povo chinês na época do boom económico e da grande transformação económica, social e cultural”.
“Quando cheguei à China, num gélido dia de Janeiro de 2004, para começar a trabalhar como correspondente da Rai, tinha uma imagem da transformação da China baseada nos grandes sinais económicos e políticos. Um sexto da população do planeta passava pela maior experiência política e económico-social da História. Comecei então a olhar mais profundamente para o quadro completo e a descobrir não “o povo chinês”, mas “os chineses”, e comecei a compreender o que havia lido nas páginas de Lu Xun, um grande escritor chinês do século XX”, descreve o fotógrafo.

Um país diferente

Para Paolo Longo, “cada fotografia torna-se, portanto, numa história que faz referência a outras histórias ou que vive por si mesma”. O público poderá, assim, ter contacto, através da imagem, com “histórias de pessoas, histórias verídicas, imagens do quotidiano na China do boom económico”. “A vida do dia a dia que à primeira vista pode parecer enfadonha, mas que encerra a política, a história, a cultura, as emoções, os desejos e os segredos de uma sociedade”, acrescenta o autor.
Na hora de escolher as fotografias que iriam fazer parte de “O Caminho Chinês”, o fotógrafo disse ter eliminado “tudo o que estava relacionado com a ‘crónica’ e do que tinha o sabor do exótico, do ‘Extremo e Misterioso Oriente’”.
Paolo Longo diz ter visto “uma China diferente” em relação ao passado, “onde a história da comunidade se dissolve numa infinidade de histórias individuais, de vitórias e de derrotas, de riqueza e de pobreza, de descobertas, de batalhas, de desperdício, de protestos, mas sempre histórias de indivíduos debatendo-se com um novo caminho que se abria”.
Para o repórter, “muitos caminhos têm sido abertos na China nos últimos anos”. “Os jornalistas que trabalharam na China na década de 1960 falavam de como os chineses eram todos iguais. Durante 30 anos, desde a vitória da revolução até à morte de Mao, o país habituou-se a pensar em termos do colectivo, grupos de trabalho, movimentos de massas”, frisou.
Sendo assim, “O Caminho Chinês” revela uma sequência de imagens que começa “com aquilo que resta da China comunista (Nanjiecun, a última aldeia comunista) e o mito de Mao, transformado num ícone sem cabeça ou numa personagem passível de ser imitada, como Elvis”. Segue-se um percurso feito através das “ruínas das cidades imperiais, pelas vielas de Pequim, pela mítica cidade de Lijiang com os seus telhados de lousa; olha para a metrópole futurista projectada no século XXI e para os seus habitantes, que recordam muito pouco do passado e olham para o Ocidente para encontrar um caminho chinês para a modernidade”.
É também captada uma “mistura do passado e o presente nos jovens da nova classe média que se disfarçam para serem fotografados como protagonistas da antiga ópera chinesa, tal como fazem os camponeses de uma aldeia não muito longe de Pequim, que seguem dos campos para a caracterização, e daí para o palco”.

4 Dez 2019

Sound & Image | Festival internacional de curtas arranca hoje

Ao todo são 112 os filmes finalistas que fazem parte daquela que é já a décima edição do Festival de curtas-metragens de Macau. Entre 3 e 10 de Dezembro vão ser exibidas 63 ficções, 26 animações e 23 documentários. O HM foi saber mais, junto da coordenadora do Creative Macau, Lúcia Lemos

 

[dropcap]“U[/dropcap]ma curta-metragem é um conto não é um romance”. É desta forma que Lúcia Lemos, Coordenadora do Centro de Indústrias Criativas, Creative Macau, faz a ponte entre o cinema de curta duração que vai ser exibido a partir do próximo dia 3 de Dezembro no Teatro Dom Pedro V e uma obra literária.

“Há pessoas que são capazes de contar um conto fantástico numa página A4 e há outros que contam um conto em 30 ou 60 páginas. Nós já vimos filmes que têm apenas um minuto, absolutamente fantásticos, e onde não é preciso dizer mais nada. Está tudo relacionado com a maneira de contar a hitória por parte do realizador”, explicou a coordenadora.

Assim, aquela que é a décima edição do festival internacional de curtas-metragens Sound & Image Image Challenge vai apresentar, ao todo 112 filmes finalistas, nomeadamente 63 ficções, 26 animações e 23 documentários, que são candidatos aos prémios de Melhor Filme, Melhor Ficção, Melhor Animação, Melhor Documentário, Melhor Identidade Cultural de Macau, Melhor entrada local e ainda “Escolha da audiência”.

Além destes, no âmbito da celebração do 10º aniversário, o Sound & Image Image festival irá exibir 59 filmes e vídeos musicais, uma retrospectiva de uma década dos vencedores entre 2010 e 2018 e também 15 filmes convidados, provenientes da Dinamarca, Guiné-Bissau, Lituânia, Macau, Suécia, Ucrânia e oito realizados por mulheres do Srilanka.

De entre os filmes de Macau, vencedores de edições passadas do Sound & Image Challenge o destaque vai para “Motivation”, do realizador português António Caetano de Faria, “Drugs are Good”, de Kenny Leong, ou “The Facebookers of Macau”, de Óright. Estes filmes serão exibidos na tarde do dia 4 de Dezembro.

Sobre o cinema feito em Macau, Lúcia Lemos vê com bom grado a evolução cinematográfica a que se tem assistido na região.“O cinema de Macau está cada vez melhor. De há 20 anos para cá o cinema de Macau tem-se aproximado do cinema internacional e já conta histórias que podem perfeitamente concorrer em festivais com histórias internacionais”.

Acerca das temáticas apresentadas em tela, Lúcia Lemos considera que “são sempre muito interessantes e estão sempre relacionadas com causas, com temas sociais e algumas são mais do tipo existencialista”.

Trampolim para o grande ecrã

Afirmando que a produção de curtas-metragens funciona para muitos cineastas “como um começo” de uma história que depois é transportada para o grande-ecrã, a coordenadora da Creative Macau reforçou que o formato curto dos filmes ajuda, em muito aspectos, os realizadores em início de carreira a dar o salto. “Acho que em termos de economia de meios e em termos de orçamento é absolutamente mais fácil”, explica.

“É muito gratificante porque as pessoas estão nisto de uma forma séria. Isto é cinema. Envolve equipas, baixo orçamento e muitas vezes são os próprios amigos que ajudam a fazer as obras. Mas o que sobressai nisto é definitivamente a forma como contaram a história”, conclui.

Todos os filmes são exibidos no Teatro D.Pedro V até ao próximo dia 10 de Dezembro. O festival arranca hoje às 17h30 com um Cine-concerto da banda da Casa de Portugal em Macau e, simultaneamente, com a pré-estreia de 13 filmes gravados em Macau, em formato 8MM, por 13 artistas e realizadores de Macau.

3 Dez 2019

Sound & Image | Festival internacional de curtas arranca hoje

Ao todo são 112 os filmes finalistas que fazem parte daquela que é já a décima edição do Festival de curtas-metragens de Macau. Entre 3 e 10 de Dezembro vão ser exibidas 63 ficções, 26 animações e 23 documentários. O HM foi saber mais, junto da coordenadora do Creative Macau, Lúcia Lemos

 
[dropcap]“U[/dropcap]ma curta-metragem é um conto não é um romance”. É desta forma que Lúcia Lemos, Coordenadora do Centro de Indústrias Criativas, Creative Macau, faz a ponte entre o cinema de curta duração que vai ser exibido a partir do próximo dia 3 de Dezembro no Teatro Dom Pedro V e uma obra literária.
“Há pessoas que são capazes de contar um conto fantástico numa página A4 e há outros que contam um conto em 30 ou 60 páginas. Nós já vimos filmes que têm apenas um minuto, absolutamente fantásticos, e onde não é preciso dizer mais nada. Está tudo relacionado com a maneira de contar a hitória por parte do realizador”, explicou a coordenadora.
Assim, aquela que é a décima edição do festival internacional de curtas-metragens Sound & Image Image Challenge vai apresentar, ao todo 112 filmes finalistas, nomeadamente 63 ficções, 26 animações e 23 documentários, que são candidatos aos prémios de Melhor Filme, Melhor Ficção, Melhor Animação, Melhor Documentário, Melhor Identidade Cultural de Macau, Melhor entrada local e ainda “Escolha da audiência”.
Além destes, no âmbito da celebração do 10º aniversário, o Sound & Image Image festival irá exibir 59 filmes e vídeos musicais, uma retrospectiva de uma década dos vencedores entre 2010 e 2018 e também 15 filmes convidados, provenientes da Dinamarca, Guiné-Bissau, Lituânia, Macau, Suécia, Ucrânia e oito realizados por mulheres do Srilanka.
De entre os filmes de Macau, vencedores de edições passadas do Sound & Image Challenge o destaque vai para “Motivation”, do realizador português António Caetano de Faria, “Drugs are Good”, de Kenny Leong, ou “The Facebookers of Macau”, de Óright. Estes filmes serão exibidos na tarde do dia 4 de Dezembro.
Sobre o cinema feito em Macau, Lúcia Lemos vê com bom grado a evolução cinematográfica a que se tem assistido na região.“O cinema de Macau está cada vez melhor. De há 20 anos para cá o cinema de Macau tem-se aproximado do cinema internacional e já conta histórias que podem perfeitamente concorrer em festivais com histórias internacionais”.
Acerca das temáticas apresentadas em tela, Lúcia Lemos considera que “são sempre muito interessantes e estão sempre relacionadas com causas, com temas sociais e algumas são mais do tipo existencialista”.

Trampolim para o grande ecrã

Afirmando que a produção de curtas-metragens funciona para muitos cineastas “como um começo” de uma história que depois é transportada para o grande-ecrã, a coordenadora da Creative Macau reforçou que o formato curto dos filmes ajuda, em muito aspectos, os realizadores em início de carreira a dar o salto. “Acho que em termos de economia de meios e em termos de orçamento é absolutamente mais fácil”, explica.
“É muito gratificante porque as pessoas estão nisto de uma forma séria. Isto é cinema. Envolve equipas, baixo orçamento e muitas vezes são os próprios amigos que ajudam a fazer as obras. Mas o que sobressai nisto é definitivamente a forma como contaram a história”, conclui.
Todos os filmes são exibidos no Teatro D.Pedro V até ao próximo dia 10 de Dezembro. O festival arranca hoje às 17h30 com um Cine-concerto da banda da Casa de Portugal em Macau e, simultaneamente, com a pré-estreia de 13 filmes gravados em Macau, em formato 8MM, por 13 artistas e realizadores de Macau.

3 Dez 2019

20 Anos | Fogo-de-artifício entre Macau e Zhuhai a 22 de Dezembro

[dropcap]M[/dropcap]ais de 160 mil disparos de fogo-de-artifício e efeitos especiais com desenhos das famosas Ruínas de São Paulo vão compor o espectáculo entre Macau e Zhuhai para celebrar o 20.º aniversário do território.

“Um total de 160 mil disparos de fogo-de-artifício durante 30 minutos, lançados de quatro barcaças e 16 plataformas de efeitos especiais, e envolvendo também pela primeira vez barcos não tripulados e drones, para apresentar uma noite de exibição pirotécnica festiva de grande impacto”, anunciou o Governo, em comunicado.

O espectáculo que vai acontecer no dia 22 de Dezembro, dois dias depois da data que assinala o 20.º aniversário da passagem da administração de Macau de Portugal para a China, vai ter ainda 56 barcos não tripulados e 600 drones que através de efeitos especiais vão “formar as palavras ‘Macau e Zhuhai Unidos em Família’ (em caracteres chineses), o número 20, o desenho das Ruínas de São Paulo, da Ponte HKZM, entre outras imagens”, lê-se na mesma nota.

Em conferência de imprensa, o director do Conselho de Gestão da Nova Zona de Hengqin em Zhuhai, Yang Chuan, sublinhou que esta “cooperação assume-se de um profundo significado”. O objectivo é “construir uma ponte amigável entre os residentes dos dois locais e comemorar em conjunto o 20.º Aniversário do Retorno de Macau à Pátria”, enfatizou o responsável chinês.

3 Dez 2019

20 Anos | Fogo-de-artifício entre Macau e Zhuhai a 22 de Dezembro

[dropcap]M[/dropcap]ais de 160 mil disparos de fogo-de-artifício e efeitos especiais com desenhos das famosas Ruínas de São Paulo vão compor o espectáculo entre Macau e Zhuhai para celebrar o 20.º aniversário do território.
“Um total de 160 mil disparos de fogo-de-artifício durante 30 minutos, lançados de quatro barcaças e 16 plataformas de efeitos especiais, e envolvendo também pela primeira vez barcos não tripulados e drones, para apresentar uma noite de exibição pirotécnica festiva de grande impacto”, anunciou o Governo, em comunicado.
O espectáculo que vai acontecer no dia 22 de Dezembro, dois dias depois da data que assinala o 20.º aniversário da passagem da administração de Macau de Portugal para a China, vai ter ainda 56 barcos não tripulados e 600 drones que através de efeitos especiais vão “formar as palavras ‘Macau e Zhuhai Unidos em Família’ (em caracteres chineses), o número 20, o desenho das Ruínas de São Paulo, da Ponte HKZM, entre outras imagens”, lê-se na mesma nota.
Em conferência de imprensa, o director do Conselho de Gestão da Nova Zona de Hengqin em Zhuhai, Yang Chuan, sublinhou que esta “cooperação assume-se de um profundo significado”. O objectivo é “construir uma ponte amigável entre os residentes dos dois locais e comemorar em conjunto o 20.º Aniversário do Retorno de Macau à Pátria”, enfatizou o responsável chinês.

3 Dez 2019

Turismo | Festival de Luz começou este domingo e conta Histórias de Macau 

[dropcap]O[/dropcap] Festival de Luz, que vai decorrer este mês, vai “contar histórias” da cidade através “da interação da luz com o público”, disse este domingo, na inauguração, a directora dos Serviços de Turismo, Helena de Senna Fernandes. “Nos últimos cinco anos, o festival foi continuamente melhorado, procurando inovar o conteúdo do programa, integrando a arte da iluminação não só com a tecnologia, como com construções características, história e cultura, indústrias culturais e criativas, Macau enquanto Cidade Criativa da Gastronomia, entre outros elementos”, afirmou.

O objectivo é potencializar “a criatividade interdisciplinar, para em cada edição renovar o Festival de Luz de Macau”, acrescentou a responsável, na cerimónia que decorreu, ao fim da tarde, junto ao lago Nam Van, no centro da cidade.

O espectáculo de ‘vídeo mapping’ da equipa portuguesa Ocubo é a primeira exibição do festival. Intitulado “Jornada de Luz de Macau”, aborda momentos históricos do território e vai ser exibido até à próxima terça-feira na igreja do seminário de São José.

As restantes exibições de ‘vídeo mapping’ das equipas de Espanha, do Japão, de Shenzhen (cidade adjacente a Hong Kong) e de duas do território vão ser feitas nas ruínas de São Paulo e na igreja do seminário de São José. Os espectáculos concebidos pelas duas equipas de Macau vão também ser mostrados na zona norte da cidade, pela primeira vez incluída no roteiro do festival.

Instalações luminosas e jogos interactivos, entre outras actividades, vão celebrar, em 15 locais da cidade, ao longo deste mês e até à meia noite do dia 1 de Janeiro de 2020, os 20 anos do estabelecimento da RAEM. O Festival de Luz é organizado pela Direção dos Serviços de Turismo, Instituto Cultural, Instituto para os Assuntos Municipais e Instituto do Desporto.

3 Dez 2019

Turismo | Festival de Luz começou este domingo e conta Histórias de Macau 

[dropcap]O[/dropcap] Festival de Luz, que vai decorrer este mês, vai “contar histórias” da cidade através “da interação da luz com o público”, disse este domingo, na inauguração, a directora dos Serviços de Turismo, Helena de Senna Fernandes. “Nos últimos cinco anos, o festival foi continuamente melhorado, procurando inovar o conteúdo do programa, integrando a arte da iluminação não só com a tecnologia, como com construções características, história e cultura, indústrias culturais e criativas, Macau enquanto Cidade Criativa da Gastronomia, entre outros elementos”, afirmou.
O objectivo é potencializar “a criatividade interdisciplinar, para em cada edição renovar o Festival de Luz de Macau”, acrescentou a responsável, na cerimónia que decorreu, ao fim da tarde, junto ao lago Nam Van, no centro da cidade.
O espectáculo de ‘vídeo mapping’ da equipa portuguesa Ocubo é a primeira exibição do festival. Intitulado “Jornada de Luz de Macau”, aborda momentos históricos do território e vai ser exibido até à próxima terça-feira na igreja do seminário de São José.
As restantes exibições de ‘vídeo mapping’ das equipas de Espanha, do Japão, de Shenzhen (cidade adjacente a Hong Kong) e de duas do território vão ser feitas nas ruínas de São Paulo e na igreja do seminário de São José. Os espectáculos concebidos pelas duas equipas de Macau vão também ser mostrados na zona norte da cidade, pela primeira vez incluída no roteiro do festival.
Instalações luminosas e jogos interactivos, entre outras actividades, vão celebrar, em 15 locais da cidade, ao longo deste mês e até à meia noite do dia 1 de Janeiro de 2020, os 20 anos do estabelecimento da RAEM. O Festival de Luz é organizado pela Direção dos Serviços de Turismo, Instituto Cultural, Instituto para os Assuntos Municipais e Instituto do Desporto.

3 Dez 2019

Nova exposição de José Estorninho para visitar no Largo do Senado 

[dropcap]I[/dropcap]naugurou no passado dia 23 mais uma exposição da autoria do macaense José Luís Estorninho, intitulada “Abstraccionismo & (+)”, no âmbito das actividades comemorativas do terceiro aniversário da Associação para a Promoção e Desenvolvimento dos Circuito da Guia de Macau (APDCGM), e que está patente na Galeria Ritz, no Largo do Senado.

O público poderá contemplar 18 quadros, 14 dos quais telas, cujas obras se inserem na corrente do Expressionismo abstracto. Destaque para as obras “Traçado”, “Time Machine I” e “Time Machine II”, de maior dimensão, bem como um quadro mural intitulado “Puzzle 65 Years”. Esta última obra é feita com tela de madeira, “cuja técnica se baseia no trabalho de montagem de várias imagens de fotografias, representando as diferentes épocas de corridas” do Grande Prémio de Macau, aponta um comunicado.

“No conjunto dessas imagens, destaca-se a cena do desembarque do piloto ao volante do seu carro de cor encarnada, aquele que viria a ser o primeiro carro vencedor do primeiro Grande Prémio de Macau em 1954. Um efeito especial obtido pela sobreposição de duas imagens de fotografia, uma antiga e outra recente”, acrescenta a mesma nota de imprensa.

As duas telas gémeas, com os nomes “Time Machine I e II”, “apesar de obedecerem à mesma técnica de composição e enquadramento, são distintas pelas próprias cores e tons, ou pela luminosidade e perspectiva, assim como a geometria dos traços e das cores em manchas”, descreve o autor em comunicado.

Já na obra “Traçado”, José Estorninho afirma ter-se pautado pelo “background, as manchas de cores quentes esbatidas e fluidas”, enquanto que no primeiro plano “a tela é sobreposta e rematada por traços fortes e firmes de cores diversas com alguns tons fluorescentes, sobressaindo o branco, para dar o equilíbrio e contraste necessário”.

Tributos

Alguns trabalhos presentes nesta exposição fazem também uma homenagem aos pilotos que habitualmente correm no Grande Prémio de Macau, tal como Stuart Easton. Nesta obra, com o mesmo nome, “foi utilizada uma técnica collage, a sobrepôr numa pintura abstracta, cuja combinação das duas técnicas foi fundamental e decisiva, através das cores escolhidas com objecto representado, sendo por isso essencial para toda a sua composição final”.

Em “Homenagem ao André Couto” o artista assume ter usado “técnicas mistas em acrílico e a óleo, tendo por base o transfer dos elementos escolhidos e da própria composição, o essencial para todo o enquadramento”.

2 Dez 2019

Casa Garden | ES.TAB.LISH.MENT, de Pedro Pascoinho, inaugura sexta-feira 

A Casa Garden prepara-se para receber a exposição ES.TAB.LISH.MENT, do artista plástico Pedro Pascoinho. A mostra é inaugurada sexta-feira e revela um trabalho intenso de “apropriação e descontextualização da própria imagem”, onde o passado está presente como referencial e onde o cinema também tem uma palavra a dizer

 

[dropcap]O[/dropcap] novo projecto D’As Entranhas Macau – Associação Cultural é inaugurado na próxima sexta-feira na Casa Garden, sede da Fundação Oriente em Macau. Trata-se de ES.TAB.LISH.MENT, exposição que mostra o trabalho do artista plástico português Pedro Pascoinho na Ásia e que estará patente até ao dia 6 de Janeiro do próximo ano.

O vermelho é a linha condutora destes trabalhos que parecem querer captar momentos específicos, conforme denota a curadora, Frederica Jordão, nas suas notas sobre a mostra. “Na série ES.TAB.LISH.MENT elementos arquitecturais como a escala ou a estrutura são mais certeiramente colocados ao serviço da encenação de um dramatismo a que as personagens se vêm furtando: hipnotizadas, cépticas ou dopadas, alegres iconoclastas, vêm as coisas e as paisagens deformar-se aos seus olhos enquanto, impassíveis, são vítimas de um mudar-se nelas.”

Trata-se de uma exposição com uma “narrativa eminentemente cinematográfica”, apresentando uma “tensão dramática adensada pela descontextualização”, apesar de o gesto ser “mais claro, quase universal, e o recurso a certos símbolos – a farda, o livro, a bata – parece querer provocar a designação da coisa em si”.

Ao HM, Pedro Pascoinho explica a presença do cinema na sua obra, algo que o acompanha desde criança. “Considero a minha pintura silenciosa”, assume, numa referência ao cinema mudo. “O poder da imagem é essencial, apesar de ter o som e o movimento, mas neste caso é o lado parado de uma cena. A questão do cinema na obra é a presença de um determinado plano na imagem. É o que me interessa, ir buscar esse momento.”

Apesar disso, o artista explica que, nesta mostra, o cinema não é primordial. “As imagens são uma forma de trabalho e não há um contexto assim tão cinematográfico, apesar de, em termos de planos e de composições, pensar-se um bocado nesse sentido. Mas o meu sentido não é bem isso”, disse.

De resto, o artista assume pegar nas imagens e dar-lhe outro rumo. “Digamos que o meu trabalho é entre o conteúdo da imagem e aquilo que irei apresentar depois. Tenho muito acesso a imagens de arquivos e a arquivos fotográficos da memória colectiva e a lógica do meu trabalho é de apropriação e descontextualização da própria imagem, remover-lhes um bocado a sua génese e criando um novo contexto.”

De 2014 até agora

As imagens que o público poderá visitar na Casa Garden começaram a ser feitas em 2014, embora haja alguns trabalhos novos feitos de propósito para esta mostra. “Faço uma abordagem referencial em aproximação à pintura antiga do século XV. Uso o vermelho como uma linha condutora nos trabalhos, é uma cor muito presente.”

Pedro Pascoinho assume ter curiosidade de ver a reacção dos orientais face a imagens que representam um cânone ocidental. “A abordagem que faço aqui é referencial em aproximação à pintura antiga, tanto no carácter da dimensão da própria imagem como no sentido pictórico. Uso pigmentos, tintas, e depois em termos de composição são imagens contidas, como se vê na pintura antiga. Há uma visão bastante europeia e ocidental e é essa parte que estou curioso de ver, essa percepção que se tem em relação às cores e composição.”

Para Pedro Pascoinho, o passado “é super referencial”, apesar de dizer que não tem de se aproximar demasiado dele. “Hoje em dia não se conseguem construir imagens novas e, como criadores de arte, acabamos por ficar formatados. Isso [o passado] acaba por surgir como necessidade, o reutilizar o já feito dentro do nosso contexto”, rematou.

Frederica Jordão, nas suas notas, explica ainda o uso da cor vermelha nestas imagens. “Nesta exploração dos limites do ideológico na representação, o discurso de ES.TAB.LISH.MENT faz um interessante uso do vermelho como linha condutora. Sendo a cor primordial da percepção, ele preside à série como à entrada no mundo dos vivos, reminiscente de um despertar; na Bíblia, de forma recorrente o vermelho é equacionado com as qualidades da clarividência, da pureza e do Bem criador – sangue, fogo, amor.”

Mas o vermelho pode significar também “a morte, quando não a salvífica, a outra, carregada de horror”, ou ainda ser uma “sugestão de poder”, onde “a paisagem aparentemente aberta que é cárcere; as ferramentas que designam o ofício com que se domina o mundo; a farda, que podia ser batina de clérigo, agigantando-se sobre o mundo”.

Para Frederica Jordão, ES.TAB.LISH.MENT “é uma coerente colecção de meta-representações que, não se equacionando externamente enquanto tal, no conjunto operam um movimento de revolução, tocando os pontos máximos de aproximação e afastamento entre vibração e estase, perigeu e apogeu.”

2 Dez 2019

Casa Garden | ES.TAB.LISH.MENT, de Pedro Pascoinho, inaugura sexta-feira 

A Casa Garden prepara-se para receber a exposição ES.TAB.LISH.MENT, do artista plástico Pedro Pascoinho. A mostra é inaugurada sexta-feira e revela um trabalho intenso de “apropriação e descontextualização da própria imagem”, onde o passado está presente como referencial e onde o cinema também tem uma palavra a dizer

 
[dropcap]O[/dropcap] novo projecto D’As Entranhas Macau – Associação Cultural é inaugurado na próxima sexta-feira na Casa Garden, sede da Fundação Oriente em Macau. Trata-se de ES.TAB.LISH.MENT, exposição que mostra o trabalho do artista plástico português Pedro Pascoinho na Ásia e que estará patente até ao dia 6 de Janeiro do próximo ano.
O vermelho é a linha condutora destes trabalhos que parecem querer captar momentos específicos, conforme denota a curadora, Frederica Jordão, nas suas notas sobre a mostra. “Na série ES.TAB.LISH.MENT elementos arquitecturais como a escala ou a estrutura são mais certeiramente colocados ao serviço da encenação de um dramatismo a que as personagens se vêm furtando: hipnotizadas, cépticas ou dopadas, alegres iconoclastas, vêm as coisas e as paisagens deformar-se aos seus olhos enquanto, impassíveis, são vítimas de um mudar-se nelas.”
Trata-se de uma exposição com uma “narrativa eminentemente cinematográfica”, apresentando uma “tensão dramática adensada pela descontextualização”, apesar de o gesto ser “mais claro, quase universal, e o recurso a certos símbolos – a farda, o livro, a bata – parece querer provocar a designação da coisa em si”.
Ao HM, Pedro Pascoinho explica a presença do cinema na sua obra, algo que o acompanha desde criança. “Considero a minha pintura silenciosa”, assume, numa referência ao cinema mudo. “O poder da imagem é essencial, apesar de ter o som e o movimento, mas neste caso é o lado parado de uma cena. A questão do cinema na obra é a presença de um determinado plano na imagem. É o que me interessa, ir buscar esse momento.”
Apesar disso, o artista explica que, nesta mostra, o cinema não é primordial. “As imagens são uma forma de trabalho e não há um contexto assim tão cinematográfico, apesar de, em termos de planos e de composições, pensar-se um bocado nesse sentido. Mas o meu sentido não é bem isso”, disse.
De resto, o artista assume pegar nas imagens e dar-lhe outro rumo. “Digamos que o meu trabalho é entre o conteúdo da imagem e aquilo que irei apresentar depois. Tenho muito acesso a imagens de arquivos e a arquivos fotográficos da memória colectiva e a lógica do meu trabalho é de apropriação e descontextualização da própria imagem, remover-lhes um bocado a sua génese e criando um novo contexto.”

De 2014 até agora

As imagens que o público poderá visitar na Casa Garden começaram a ser feitas em 2014, embora haja alguns trabalhos novos feitos de propósito para esta mostra. “Faço uma abordagem referencial em aproximação à pintura antiga do século XV. Uso o vermelho como uma linha condutora nos trabalhos, é uma cor muito presente.”
Pedro Pascoinho assume ter curiosidade de ver a reacção dos orientais face a imagens que representam um cânone ocidental. “A abordagem que faço aqui é referencial em aproximação à pintura antiga, tanto no carácter da dimensão da própria imagem como no sentido pictórico. Uso pigmentos, tintas, e depois em termos de composição são imagens contidas, como se vê na pintura antiga. Há uma visão bastante europeia e ocidental e é essa parte que estou curioso de ver, essa percepção que se tem em relação às cores e composição.”
Para Pedro Pascoinho, o passado “é super referencial”, apesar de dizer que não tem de se aproximar demasiado dele. “Hoje em dia não se conseguem construir imagens novas e, como criadores de arte, acabamos por ficar formatados. Isso [o passado] acaba por surgir como necessidade, o reutilizar o já feito dentro do nosso contexto”, rematou.
Frederica Jordão, nas suas notas, explica ainda o uso da cor vermelha nestas imagens. “Nesta exploração dos limites do ideológico na representação, o discurso de ES.TAB.LISH.MENT faz um interessante uso do vermelho como linha condutora. Sendo a cor primordial da percepção, ele preside à série como à entrada no mundo dos vivos, reminiscente de um despertar; na Bíblia, de forma recorrente o vermelho é equacionado com as qualidades da clarividência, da pureza e do Bem criador – sangue, fogo, amor.”
Mas o vermelho pode significar também “a morte, quando não a salvífica, a outra, carregada de horror”, ou ainda ser uma “sugestão de poder”, onde “a paisagem aparentemente aberta que é cárcere; as ferramentas que designam o ofício com que se domina o mundo; a farda, que podia ser batina de clérigo, agigantando-se sobre o mundo”.
Para Frederica Jordão, ES.TAB.LISH.MENT “é uma coerente colecção de meta-representações que, não se equacionando externamente enquanto tal, no conjunto operam um movimento de revolução, tocando os pontos máximos de aproximação e afastamento entre vibração e estase, perigeu e apogeu.”

2 Dez 2019

Mike Goodridge, director do Festival Internacional de Cinema: “Acho que as pessoas nos estão a levar a sério”

Pelo terceiro ano consecutivo, Mike Goodridge assume as rédeas da direcção artística do Festival Internacional de Cinema de Macau (MIFF) que arranca já na próxima semana. A poucos dias do início do evento, o britânico que continua fascinado por Macau, faz um apelo à comunidade portuguesa e aponta várias obras da programação deste ano aos Óscares

 

O que vamos poder esperar desta quarta edição do MIFF?

[dropcap]D[/dropcap]ezembro vai ser um mês muito importante para Macau por causa das celebrações dos 20 anos da RAEM e, por isso, quisemos criar uma edição realmente marcante. Este ano, o MIFF tem algumas das melhores obras chinesas e internacionais de 2019, a começar pelo filme de abertura, Jojo Rabbit, que é simplesmente maravilhoso. Por isso acho que estamos em grande forma.

Estamos a poucos dias do início do festival. Está tudo pronto?

Sim, mas foi um grande desafio. Acaba sempre por ser tudo em cima da hora porque a nossa intenção é precisamente trazer as últimas novidades a Macau. No festival não são exibidos, por exemplo, filmes que tenham sido lançados no início do ano. O problema é que, como acabaram de ser lançados, temos pouco tempo para tratar de toda a logística, como arranjar as cópias e mostrá-las aos responsáveis pela atribuição dos ratings, até porque não podemos vender bilhetes sem essa classificação.

Porquê Jojo Rabbit para começar o festival e o que há de especial na abordagem de Taika Waititi?

Já trabalhei com o Taika Waititi e sempre gostei deste tipo de filmes em que existe uma combinação brilhante entre comédia e tragédia. Dá para ver isso no filme que fizemos juntos “Hunt for the Wilderpeople”, mas também em “Boy”, que foi o primeiro grande sucesso de bilheteira dele na Nova Zelândia. Por isso, estou muito expectante em relação a Jojo Rabbit mas, ao mesmo tempo, nervoso porque este era um projecto que o Taika Waititi queria fazer há muito tempo e porque conta a história de um alemão que mata nazis na Alemanha e que tem um amigo imaginário chamado Adolf Hitler. Mas a verdade é que acabou por conseguir fazer algo magnífico, pois é um filme capaz de pôr qualquer um a rir desalmadamente, enquanto aborda um tema trágico que é Segunda Grande Guerra Mundial.

É possível definir um festival tão peculiar como o MIFF?

O MIFF é um Festival de Cinema internacional, não chinês ou asiático, e era isso que o Governo queria que acontecesse, ou seja, que houvesse um evento com um foco internacional e que seguisse os mesmos padrões dos outros festivais internacionais. Quando comecei a trabalhar no MIFF, a minha grande ambição era cativar o público de Macau, porque é impossível haver um festival se não existir uma audiência local. E isso não foi facilmente conseguido porque se trata de uma população que não se envolve muito e há toneladas de coisas a acontecer ao mesmo tempo. Por isso, para nós o desafio passa por trazer todo o tipo de filmes de diferentes partes do mundo, incluindo uma dose saudável de filmes chineses de Macau, Hong Kong, Taiwan, Malásia, Singapura e da China Interior claro.

Que vantagens há em realizar o festival em Macau comparativamente com outras partes da China?

Obviamente que Macau é um país muito mais liberal em termos culturais. Muito especificamente falando de filmes, não existe o nível de escrutínio e de censura que existe no interior da China. Aqui quando vais ao cinema consegues encontrar filmes recentes de Hollywood, que nunca seriam lançados na China, por exemplo. O mesmo se passa em Hong Kong. Por isso é uma oportunidade fantástica para partilhar filmes, mas sempre com a liberdade que Macau oferece.

A edição deste ano marca o 20º aniversário da RAEM. Como vês Macau nos dias que correm?

É muito interessante termos vários filmes de Macau este ano. Um deles chama-se “Years of Macau”. Obviamente que, e eu só comecei a vir a Macau há cerca de três anos, após 1999 existiu um enorme desenvolvimento económico e daí cresceu a enorme indústria dos casinos, que tem sido espetacular. E isso teve tudo um enorme impacto na cidade e na população local. É um lugar que tem experimentado um crescimento económico muito rápido, vasto e dinâmico. Faz parte da China e ao mesmo tempo não faz. É uma porta de entrada para a China em diversos sentidos e, embora habite a mesma casa, consegue ser autónomo em muitos aspectos e ter uma identidade própria. Fico fascinado pela quantidade de pessoas no ocidente que não sabem o que é Macau.

Este ano existem cinco filmes de Macau. Como encara a evolução do cinema aqui?

Macau é uma industria muito pouco desenvolvida, mas é interessante notar que os jovens realizadores daqui estão a contar histórias sobre Macau, ou seja de como é viver neste ambiente extraordinário. Acho que há um longo caminho a percorrer e existem muitos desafios, no que diz respeito à cultura de produção cinematográfica. Macau é muito pequena, tem cerca de 650 mil pessoas e sempre viveu na sombra da indústria cinematográfica de Hong Kong que tem já uma tradição grande. Se olharmos para realizadores como Wong Kar-wai ou Jonnie To vemos grandes mestres que foram muito influenciados pelo estilo de John Woo. Hong Kong foi capaz de criar o seu próprio tipo de cinema o que é verdadeiramente extraordinário, com a agravante de ser reconhecido a nível mundial por ter alguns dos melhores realizadores de todos os tempos. Isso não existe em Macau, por isso como disse, há ainda um longo caminho a percorrer.

Sendo esta a terceira vez à frente da direcção artística do MIFF, como vê o caminho que está a ser percorrido pelo festival?

Acho sinceramente que está a correr muito bem. Quando comecei estava expectante e preocupado sobre se isto iria funcionar, porque queria saber se existia realmente mercado para o festival. E agora acho que há. Até pelo número de bilhetes que já vendemos para a edição deste ano conseguimos perceber que as pessoas sabem que o festival existe, querem fazer parte dele e ver os filmes. Mas ao mesmo tempo, estou muito entusiasmado porque a nível internacional sei que o Festival está a atrair muita atenção e que há muita gente interessada. É uma sorte para qualquer cidade ter um bom festival de cinema. E o nível da programação que conseguimos trazer aqui é muito elevado, temos convidados estonteantes a visitar Macau.

Qual a sua opinião sobre o filme português, “A Herdade”?

Acompanho o cinema feito em Portugal porque queremos passar aqui bons filmes para quem fala português. “A Herdade” é um filme realmente bom, é um grande épico. Acho que todos os portugueses o vão achar interessante porque aborda uma janela temporal de quase 60 anos da história de Portugal, desde os anos 40, passando pela revolução de 1974, até aos dias de hoje. Adorei-o quando o vi na competição de Veneza e em Toronto. Não é um filme fácil pois é longo, mas é épico e altamente apelativo. É uma grande saga com grandes actores portugueses e que é produzido pelo Paulo Branco, por quem tenho uma grande admiração. Por isso tem uma marca portuguesa clara. Espero que a comunidade portuguesa apareça em peso para o ver. Em relação ao cinema português acho que infelizmente não é o mais apaixonante do mundo, o que é uma pena, porque Portugal tem um legado cultural tão rico que adorava que o cinema português fosse mais entusiasmante. Em português temos ainda “The Invisible Life of Eurídice Gusmão” que é também um fabuloso épico realizado pelo realizador brasileiro Karim Aïnouz. É realmente bom e, ou muito me engano, será nomeado para os Óscares.

Da programação do MIFF, quais são as suas apostas quando pensamos em Óscares?

As nossas escolhas não são feitas nessa base obviamente. Mas temos filmes em língua inglesa que são verdadeiramente soberbos e que serão falados e apontados para óscares, nomeadamente Jojo Rabbit, o fantástico Dark Waters, realizado por Todd Haynes, que é uma história arrepiante, que conta também com Mark Ruffalo e Anne Hathaway no elenco. Outro, onde apostaria também as minhas fichas, é o novo filme de Terrence Malik, “A hidden life”, que conta a história real de um casal austríaco, que se recusa a prestar vassalagem ao regime de Adolf Hitler após a anexação da Áustria. É sobre princípios, honra, fé e espiritualidade, e fala de tudo isto numa altura em que o mundo tem dificuldade em reconhecer essas qualidades. Acho que este filme vai também ser apontado muitas vezes à conversa dos óscares. Por último, temos também Judy, onde Renée Zellweger está sublime no papel de Judy Garland. Sinceramente não imagino que Renée Zellweger não vença o óscar de melhor actriz. Está simplesmente magnífica.

E como é ver “The Long Walk” na edição deste ano?

Foi um projecto que foi desenvolvido no MIFF Project Market em 2016 e que vai ser exibido no festival, o que é um cenário de sonho. E se não fosse um bom filme não o passávamos aqui. É um filme magnífico que também já esteve em Veneza e Toronto e é realizado por Mattie Do.

Como será o MIFF no futuro?

Espero que seja abraçado pelo novo Governo e pelo novo Chefe do Executivo porque acho que desempenha um papel importante no lado cultural de Macau e apoia verdadeiramente a construção da cultura e dos hábitos cinematográficos da região. Acho que Macau pode vir a estar muito mais vezes nos ecrãs de todo o Mundo, e não apenas de uma forma glamorosa como nos filmes do James Bond, porque é um sitio realmente especial e único, com um lado profundo também. Qualquer festival quando começa, leva o seu tempo até ganhar tracção e até que grandes estrelas de cinema comecem a vir. E nesse aspecto penso que estamos a ir muito bem e acho que as pessoas nos estão a levar a sério porque nós somos sérios. Acho que os produtores e os realizadores da indústria reconhecem o trabalho feito e penso que isso trará muitos benefícios a longo prazo.

29 Nov 2019

Mike Goodridge, director do Festival Internacional de Cinema: "Acho que as pessoas nos estão a levar a sério"

Pelo terceiro ano consecutivo, Mike Goodridge assume as rédeas da direcção artística do Festival Internacional de Cinema de Macau (MIFF) que arranca já na próxima semana. A poucos dias do início do evento, o britânico que continua fascinado por Macau, faz um apelo à comunidade portuguesa e aponta várias obras da programação deste ano aos Óscares

 
O que vamos poder esperar desta quarta edição do MIFF?
[dropcap]D[/dropcap]ezembro vai ser um mês muito importante para Macau por causa das celebrações dos 20 anos da RAEM e, por isso, quisemos criar uma edição realmente marcante. Este ano, o MIFF tem algumas das melhores obras chinesas e internacionais de 2019, a começar pelo filme de abertura, Jojo Rabbit, que é simplesmente maravilhoso. Por isso acho que estamos em grande forma.
Estamos a poucos dias do início do festival. Está tudo pronto?
Sim, mas foi um grande desafio. Acaba sempre por ser tudo em cima da hora porque a nossa intenção é precisamente trazer as últimas novidades a Macau. No festival não são exibidos, por exemplo, filmes que tenham sido lançados no início do ano. O problema é que, como acabaram de ser lançados, temos pouco tempo para tratar de toda a logística, como arranjar as cópias e mostrá-las aos responsáveis pela atribuição dos ratings, até porque não podemos vender bilhetes sem essa classificação.
Porquê Jojo Rabbit para começar o festival e o que há de especial na abordagem de Taika Waititi?
Já trabalhei com o Taika Waititi e sempre gostei deste tipo de filmes em que existe uma combinação brilhante entre comédia e tragédia. Dá para ver isso no filme que fizemos juntos “Hunt for the Wilderpeople”, mas também em “Boy”, que foi o primeiro grande sucesso de bilheteira dele na Nova Zelândia. Por isso, estou muito expectante em relação a Jojo Rabbit mas, ao mesmo tempo, nervoso porque este era um projecto que o Taika Waititi queria fazer há muito tempo e porque conta a história de um alemão que mata nazis na Alemanha e que tem um amigo imaginário chamado Adolf Hitler. Mas a verdade é que acabou por conseguir fazer algo magnífico, pois é um filme capaz de pôr qualquer um a rir desalmadamente, enquanto aborda um tema trágico que é Segunda Grande Guerra Mundial.
É possível definir um festival tão peculiar como o MIFF?
O MIFF é um Festival de Cinema internacional, não chinês ou asiático, e era isso que o Governo queria que acontecesse, ou seja, que houvesse um evento com um foco internacional e que seguisse os mesmos padrões dos outros festivais internacionais. Quando comecei a trabalhar no MIFF, a minha grande ambição era cativar o público de Macau, porque é impossível haver um festival se não existir uma audiência local. E isso não foi facilmente conseguido porque se trata de uma população que não se envolve muito e há toneladas de coisas a acontecer ao mesmo tempo. Por isso, para nós o desafio passa por trazer todo o tipo de filmes de diferentes partes do mundo, incluindo uma dose saudável de filmes chineses de Macau, Hong Kong, Taiwan, Malásia, Singapura e da China Interior claro.
Que vantagens há em realizar o festival em Macau comparativamente com outras partes da China?
Obviamente que Macau é um país muito mais liberal em termos culturais. Muito especificamente falando de filmes, não existe o nível de escrutínio e de censura que existe no interior da China. Aqui quando vais ao cinema consegues encontrar filmes recentes de Hollywood, que nunca seriam lançados na China, por exemplo. O mesmo se passa em Hong Kong. Por isso é uma oportunidade fantástica para partilhar filmes, mas sempre com a liberdade que Macau oferece.
A edição deste ano marca o 20º aniversário da RAEM. Como vês Macau nos dias que correm?
É muito interessante termos vários filmes de Macau este ano. Um deles chama-se “Years of Macau”. Obviamente que, e eu só comecei a vir a Macau há cerca de três anos, após 1999 existiu um enorme desenvolvimento económico e daí cresceu a enorme indústria dos casinos, que tem sido espetacular. E isso teve tudo um enorme impacto na cidade e na população local. É um lugar que tem experimentado um crescimento económico muito rápido, vasto e dinâmico. Faz parte da China e ao mesmo tempo não faz. É uma porta de entrada para a China em diversos sentidos e, embora habite a mesma casa, consegue ser autónomo em muitos aspectos e ter uma identidade própria. Fico fascinado pela quantidade de pessoas no ocidente que não sabem o que é Macau.
Este ano existem cinco filmes de Macau. Como encara a evolução do cinema aqui?
Macau é uma industria muito pouco desenvolvida, mas é interessante notar que os jovens realizadores daqui estão a contar histórias sobre Macau, ou seja de como é viver neste ambiente extraordinário. Acho que há um longo caminho a percorrer e existem muitos desafios, no que diz respeito à cultura de produção cinematográfica. Macau é muito pequena, tem cerca de 650 mil pessoas e sempre viveu na sombra da indústria cinematográfica de Hong Kong que tem já uma tradição grande. Se olharmos para realizadores como Wong Kar-wai ou Jonnie To vemos grandes mestres que foram muito influenciados pelo estilo de John Woo. Hong Kong foi capaz de criar o seu próprio tipo de cinema o que é verdadeiramente extraordinário, com a agravante de ser reconhecido a nível mundial por ter alguns dos melhores realizadores de todos os tempos. Isso não existe em Macau, por isso como disse, há ainda um longo caminho a percorrer.
Sendo esta a terceira vez à frente da direcção artística do MIFF, como vê o caminho que está a ser percorrido pelo festival?
Acho sinceramente que está a correr muito bem. Quando comecei estava expectante e preocupado sobre se isto iria funcionar, porque queria saber se existia realmente mercado para o festival. E agora acho que há. Até pelo número de bilhetes que já vendemos para a edição deste ano conseguimos perceber que as pessoas sabem que o festival existe, querem fazer parte dele e ver os filmes. Mas ao mesmo tempo, estou muito entusiasmado porque a nível internacional sei que o Festival está a atrair muita atenção e que há muita gente interessada. É uma sorte para qualquer cidade ter um bom festival de cinema. E o nível da programação que conseguimos trazer aqui é muito elevado, temos convidados estonteantes a visitar Macau.
Qual a sua opinião sobre o filme português, “A Herdade”?
Acompanho o cinema feito em Portugal porque queremos passar aqui bons filmes para quem fala português. “A Herdade” é um filme realmente bom, é um grande épico. Acho que todos os portugueses o vão achar interessante porque aborda uma janela temporal de quase 60 anos da história de Portugal, desde os anos 40, passando pela revolução de 1974, até aos dias de hoje. Adorei-o quando o vi na competição de Veneza e em Toronto. Não é um filme fácil pois é longo, mas é épico e altamente apelativo. É uma grande saga com grandes actores portugueses e que é produzido pelo Paulo Branco, por quem tenho uma grande admiração. Por isso tem uma marca portuguesa clara. Espero que a comunidade portuguesa apareça em peso para o ver. Em relação ao cinema português acho que infelizmente não é o mais apaixonante do mundo, o que é uma pena, porque Portugal tem um legado cultural tão rico que adorava que o cinema português fosse mais entusiasmante. Em português temos ainda “The Invisible Life of Eurídice Gusmão” que é também um fabuloso épico realizado pelo realizador brasileiro Karim Aïnouz. É realmente bom e, ou muito me engano, será nomeado para os Óscares.
Da programação do MIFF, quais são as suas apostas quando pensamos em Óscares?
As nossas escolhas não são feitas nessa base obviamente. Mas temos filmes em língua inglesa que são verdadeiramente soberbos e que serão falados e apontados para óscares, nomeadamente Jojo Rabbit, o fantástico Dark Waters, realizado por Todd Haynes, que é uma história arrepiante, que conta também com Mark Ruffalo e Anne Hathaway no elenco. Outro, onde apostaria também as minhas fichas, é o novo filme de Terrence Malik, “A hidden life”, que conta a história real de um casal austríaco, que se recusa a prestar vassalagem ao regime de Adolf Hitler após a anexação da Áustria. É sobre princípios, honra, fé e espiritualidade, e fala de tudo isto numa altura em que o mundo tem dificuldade em reconhecer essas qualidades. Acho que este filme vai também ser apontado muitas vezes à conversa dos óscares. Por último, temos também Judy, onde Renée Zellweger está sublime no papel de Judy Garland. Sinceramente não imagino que Renée Zellweger não vença o óscar de melhor actriz. Está simplesmente magnífica.
E como é ver “The Long Walk” na edição deste ano?
Foi um projecto que foi desenvolvido no MIFF Project Market em 2016 e que vai ser exibido no festival, o que é um cenário de sonho. E se não fosse um bom filme não o passávamos aqui. É um filme magnífico que também já esteve em Veneza e Toronto e é realizado por Mattie Do.
Como será o MIFF no futuro?
Espero que seja abraçado pelo novo Governo e pelo novo Chefe do Executivo porque acho que desempenha um papel importante no lado cultural de Macau e apoia verdadeiramente a construção da cultura e dos hábitos cinematográficos da região. Acho que Macau pode vir a estar muito mais vezes nos ecrãs de todo o Mundo, e não apenas de uma forma glamorosa como nos filmes do James Bond, porque é um sitio realmente especial e único, com um lado profundo também. Qualquer festival quando começa, leva o seu tempo até ganhar tracção e até que grandes estrelas de cinema comecem a vir. E nesse aspecto penso que estamos a ir muito bem e acho que as pessoas nos estão a levar a sério porque nós somos sérios. Acho que os produtores e os realizadores da indústria reconhecem o trabalho feito e penso que isso trará muitos benefícios a longo prazo.

29 Nov 2019

Conan Osíris, músico | Ligado por Bluetooth

Chegou e está à procura de rede. Conan Osíris, o artista português que ganhou mediatismo depois de “Telemóveis”, canção com a qual representou Portugal no Festival da Eurovisão da Canção em Israel, vai estar hoje, em Zhuhai, e no sábado, em Macau, para dois concertos integrados no cartaz do festival “This is my city”

 

[dropcap]E[/dropcap]ram duas da tarde em Portugal quando a chamada aconteceu. Entre viagens, o HM conversou com Conan Osíris (Tiago Miranda) numa altura em que o artista estava já no aeroporto a caminho de Macau. Entre um encontro furtuito com um conhecido e a pressa de estar na porta de embarque a horas, a voz “expectante mas sem expectativas” de Conan Osíris revelou vontade de ser surpreendido e o desejo de se emparelhar com a Ásia, Macau e o público.

 

Como vês Macau e o que esperas encontrar aqui?

Não sei. Não vou com nenhuma expectativa nem nenhuma imagem pré-definida. Acho que isso é algo que me ajuda sempre quando vou conhecer algum sítio pela primeira vez, como aliás tem acontecido muito ao longo deste ano. Então, em Macau, basicamente, vou com essa mesma atitude, ou seja, vamos ver o que vamos encontrar! Estou curioso com a cultura e sobre as coisas em geral. Gosto também do facto de ser uma região pequena, que dá para explorar com facilidade.

De que forma encaras o teu encontro com os portugueses que vivem em Macau?

Sinceramente não sei, vou de mente aberta. Estou expectante mas sem expectativa em relação ao que quero que aconteça, mas não tenho nenhuma pré-definição. Quero ser surpreendido também. Estou nessa!

Como te sentes por fazer parte do cartaz do festival “This is my City” que, além de música, inclui também cinema e fotografia?

Não sabia que o festival também incluía cinema e fotografia mas sinto-me lisonjeado por estar em Macau, por fazer parte do festival e por ter a oportunidade de mostrar, eventualmente, alguma coisa de novo.

O ano de 2019 ficará para sempre marcado na tua vida pela participação no festival da Eurovisão. Sentes que isso mudou a forma de actuar ou como te apresentas ao público?

Acho que já estou com a distância suficiente para saber que foi uma marca, um momento forte, mas pelo qual não me guio muito. Até pela forma como o nosso espectáculo está sempre a evoluir. Acho que conseguimos distanciarmo-nos de maneira a não nos tornarmos dependentes do próprio momento.

Sentes atracção pela Ásia? Achas que podes voltar para casa inspirado de maneira diferente por este lado do mundo?

Não quero ser demasiado generalista, mas sempre foi uma zona que me atraiu bastante, inclusivamente quando estávamos a planear os concertos. Ao início esta tour tinha contornos completamente diferentes. Envolvia também Tóquio e Taiwan e estava super expectante, mas as coisas acabaram por não ir na direcção que estava delineada e vamos fazer só os concertos em Zhuhai e Macau. O continente asiático é uma grande referência para mim. Diria mesmo que é aquele que mais me atrai directamente ao nível da curiosidade e, por isso, acho que vai ser uma boa troca digamos assim, até porque tenho bastantes influências musicais que vêm da Ásia. Aliás, entre os próprios músicos que costumam tocar comigo em Portugal, um deles é macaense e o outro é nepalês, então acho que faz todo o sentido.

A que fontes musicais asiáticas já te vieste inspirar?

Sempre fui muito influenciado pela música de Bolywood, as bandas sonoras e tudo mais. Para quem conhece um bocadinho de Portugal e de Lisboa, mais durante os anos 70 e 80 talvez, houve um grande “boom” do Bolywood e as pessoas iam todas as semanas ao cinema ver estes filmes e andavam a ouvir os discos. Havia um grande consumo e troca de influências nesse tempo. Lembro-me da minha mãe dizer que todas as semanas ia ver um filme indiano novo e isso, de alguma forma, ficou inserido na minha musicalidade, I guess. Houve uma altura também, em que estudei alguma animação chinesa e andei a fazer alguma “recolecção” sobre animação no geral. Para além disso, como trabalhei muitos anos na zona do Martim Moniz e do Intendente, onde essa cultura está super presente e enraizada há bastante tempo, acho que essa interacção já existia naturalmente em Lisboa para mim e acho que torna tudo isto um bocado mais familiar.

Tens um processo fixo para compor?

Tenho vários processos. Basicamente tenho um onde faço primeiro o beat e depois parto para o resto. Tenho outro onde só há ideia e não tenho beat nem letra e então construo tudo à volta daquela ideia. Por último, tenho ainda um processo onde existe letra e só depois vou fazer um beat para essa letra. Portanto tenho essas três vias e qualquer uma delas vai pretty much parar ao mesmo, só que a sua génese é muito diferente.

E quando identificas essa génese, sabes logo à partida a que fontes vai beber para as compor?

Não, até porque essa parte da composição nasce quase sozinha. Quando estás por dentro do projecto acaba por sair dali um ritmo de uma certa forma, um estilo ou até um ritmo da batida que começa por parecer random e depois muda, e o que às vezes era para ser uma música lenta, passa a ser uma música rápida… esta parte é sempre muito aleatória. Tanto que eu, por exemplo, tenho sempre dentro do mesmo projecto três músicas diferentes, porque eram mesmo para ter sido três coisas diferentes. Então, acaba por ser muito por aí, é muito aleatório: o universo do sistema de composição acaba por ganhar uma vida própria.

Para quem não conhece ou nunca te ouviu, achas que é fácil encontrar nos teus ritmos elementos tipicamente portugueses?

Claro, acho que sim! Até porque dá para encontrar nalgumas músicas o género de uma cítara que é tocada como se fosse uma guitarra portuguesa. Mas acaba por haver sempre imensas referências e até tenho o Malhão nalguns ritmos também. Quando consegues detectar esses elementos sonoros encontras sempre maneira de fazer uma ponte entre alguma coisa portuguesa. No “Celulitite” também é possível encontrar quase um ritmo de Vira.

Quando estás em palco, como te sentes?

Costumo pensar que sou uma cena que está ligada por Bluetooth e que depois emparelha com o público. Depois conforme a reacção, às vezes fico mais enérgico, outras vezes mais focado ou mais calmo, ou então acabo a abandalhar tudo. É muito aleatório também. Antes de entrar em palco tento não pensar em muita coisa para não ficar irritado. Já aprendi a ter mecanismos que me permitem fazer tudo o que posso para ficar mesmo tranquilo.

28 Nov 2019

Conan Osíris, músico | Ligado por Bluetooth

Chegou e está à procura de rede. Conan Osíris, o artista português que ganhou mediatismo depois de “Telemóveis”, canção com a qual representou Portugal no Festival da Eurovisão da Canção em Israel, vai estar hoje, em Zhuhai, e no sábado, em Macau, para dois concertos integrados no cartaz do festival “This is my city”

 
[dropcap]E[/dropcap]ram duas da tarde em Portugal quando a chamada aconteceu. Entre viagens, o HM conversou com Conan Osíris (Tiago Miranda) numa altura em que o artista estava já no aeroporto a caminho de Macau. Entre um encontro furtuito com um conhecido e a pressa de estar na porta de embarque a horas, a voz “expectante mas sem expectativas” de Conan Osíris revelou vontade de ser surpreendido e o desejo de se emparelhar com a Ásia, Macau e o público.
 
Como vês Macau e o que esperas encontrar aqui?
Não sei. Não vou com nenhuma expectativa nem nenhuma imagem pré-definida. Acho que isso é algo que me ajuda sempre quando vou conhecer algum sítio pela primeira vez, como aliás tem acontecido muito ao longo deste ano. Então, em Macau, basicamente, vou com essa mesma atitude, ou seja, vamos ver o que vamos encontrar! Estou curioso com a cultura e sobre as coisas em geral. Gosto também do facto de ser uma região pequena, que dá para explorar com facilidade.
De que forma encaras o teu encontro com os portugueses que vivem em Macau?
Sinceramente não sei, vou de mente aberta. Estou expectante mas sem expectativa em relação ao que quero que aconteça, mas não tenho nenhuma pré-definição. Quero ser surpreendido também. Estou nessa!
Como te sentes por fazer parte do cartaz do festival “This is my City” que, além de música, inclui também cinema e fotografia?
Não sabia que o festival também incluía cinema e fotografia mas sinto-me lisonjeado por estar em Macau, por fazer parte do festival e por ter a oportunidade de mostrar, eventualmente, alguma coisa de novo.
O ano de 2019 ficará para sempre marcado na tua vida pela participação no festival da Eurovisão. Sentes que isso mudou a forma de actuar ou como te apresentas ao público?
Acho que já estou com a distância suficiente para saber que foi uma marca, um momento forte, mas pelo qual não me guio muito. Até pela forma como o nosso espectáculo está sempre a evoluir. Acho que conseguimos distanciarmo-nos de maneira a não nos tornarmos dependentes do próprio momento.
Sentes atracção pela Ásia? Achas que podes voltar para casa inspirado de maneira diferente por este lado do mundo?
Não quero ser demasiado generalista, mas sempre foi uma zona que me atraiu bastante, inclusivamente quando estávamos a planear os concertos. Ao início esta tour tinha contornos completamente diferentes. Envolvia também Tóquio e Taiwan e estava super expectante, mas as coisas acabaram por não ir na direcção que estava delineada e vamos fazer só os concertos em Zhuhai e Macau. O continente asiático é uma grande referência para mim. Diria mesmo que é aquele que mais me atrai directamente ao nível da curiosidade e, por isso, acho que vai ser uma boa troca digamos assim, até porque tenho bastantes influências musicais que vêm da Ásia. Aliás, entre os próprios músicos que costumam tocar comigo em Portugal, um deles é macaense e o outro é nepalês, então acho que faz todo o sentido.
A que fontes musicais asiáticas já te vieste inspirar?
Sempre fui muito influenciado pela música de Bolywood, as bandas sonoras e tudo mais. Para quem conhece um bocadinho de Portugal e de Lisboa, mais durante os anos 70 e 80 talvez, houve um grande “boom” do Bolywood e as pessoas iam todas as semanas ao cinema ver estes filmes e andavam a ouvir os discos. Havia um grande consumo e troca de influências nesse tempo. Lembro-me da minha mãe dizer que todas as semanas ia ver um filme indiano novo e isso, de alguma forma, ficou inserido na minha musicalidade, I guess. Houve uma altura também, em que estudei alguma animação chinesa e andei a fazer alguma “recolecção” sobre animação no geral. Para além disso, como trabalhei muitos anos na zona do Martim Moniz e do Intendente, onde essa cultura está super presente e enraizada há bastante tempo, acho que essa interacção já existia naturalmente em Lisboa para mim e acho que torna tudo isto um bocado mais familiar.
Tens um processo fixo para compor?
Tenho vários processos. Basicamente tenho um onde faço primeiro o beat e depois parto para o resto. Tenho outro onde só há ideia e não tenho beat nem letra e então construo tudo à volta daquela ideia. Por último, tenho ainda um processo onde existe letra e só depois vou fazer um beat para essa letra. Portanto tenho essas três vias e qualquer uma delas vai pretty much parar ao mesmo, só que a sua génese é muito diferente.
E quando identificas essa génese, sabes logo à partida a que fontes vai beber para as compor?
Não, até porque essa parte da composição nasce quase sozinha. Quando estás por dentro do projecto acaba por sair dali um ritmo de uma certa forma, um estilo ou até um ritmo da batida que começa por parecer random e depois muda, e o que às vezes era para ser uma música lenta, passa a ser uma música rápida… esta parte é sempre muito aleatória. Tanto que eu, por exemplo, tenho sempre dentro do mesmo projecto três músicas diferentes, porque eram mesmo para ter sido três coisas diferentes. Então, acaba por ser muito por aí, é muito aleatório: o universo do sistema de composição acaba por ganhar uma vida própria.
Para quem não conhece ou nunca te ouviu, achas que é fácil encontrar nos teus ritmos elementos tipicamente portugueses?
Claro, acho que sim! Até porque dá para encontrar nalgumas músicas o género de uma cítara que é tocada como se fosse uma guitarra portuguesa. Mas acaba por haver sempre imensas referências e até tenho o Malhão nalguns ritmos também. Quando consegues detectar esses elementos sonoros encontras sempre maneira de fazer uma ponte entre alguma coisa portuguesa. No “Celulitite” também é possível encontrar quase um ritmo de Vira.
Quando estás em palco, como te sentes?
Costumo pensar que sou uma cena que está ligada por Bluetooth e que depois emparelha com o público. Depois conforme a reacção, às vezes fico mais enérgico, outras vezes mais focado ou mais calmo, ou então acabo a abandalhar tudo. É muito aleatório também. Antes de entrar em palco tento não pensar em muita coisa para não ficar irritado. Já aprendi a ter mecanismos que me permitem fazer tudo o que posso para ficar mesmo tranquilo.

28 Nov 2019

FRC | Palestra revela profunda amizade de Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner 

No âmbito das comemorações do centenário do nascimento de uma das maiores poetisas portuguesas, recorda-se hoje, na Fundação Rui Cunha, a sua amizade com outro poeta português, Jorge de Sena. Liliana Pires e Pedro D’Alte vão ler a correspondência trocada pelos dois autores, já publicada em livro, enquanto que a académica Ana Paula Dias modera a apresentação

 

[dropcap]A[/dropcap]contece hoje ao final do dia, na Fundação Rui Cunha (FRC), uma sessão de leitura das cartas que comprovam a amizade entre dois dos mais importantes autores de língua portuguesa, Sophia de Mello Breyner e Jorge de Sena. O evento, moderado pela académica Ana Paula Dias, contará com a participação dos académicos Liliana Pires e Pedro D’Alte, que serão responsáveis pela leitura das cartas.

Nascidos ambos em 1919, com apenas quatro dias de diferença, Sophia de Mello Breyner e Jorge de Sena “partilharam vários traços identitários”, como denota Ana Paula Dias no seu texto introdutório, que será hoje lido na FRC. Os dois autores conheceram-se entre 1949 e 1951 quando colaboravam na revista Cadernos de Poesia, por intermédio de Mécia Lopes, irmã do crítico literário Óscar Lopes, que seria depois casada com Jorge de Sena.

Na sua apresentação, Ana Paula Dias faz referência a este encontro, citando a nota prévia de Mécia Lopes na obra “Correspondência 1959-1978”, livro editado em Portugal pela Guerra & Paz. “Eu conhecera a Sophia desde muito jovem, quando vivíamos na mesma área da Boavista e ela frequentava o Colégio de Nossa Senhora do Rosário (onde o professor de Canto Coral era meu pai) e que frequentei por algum tempo”, escreveu Mécia. Nesse mesmo livro, a filha de Sophia de Mello Breyner refere que Jorge de Sena era visita semanal da casa da autora e de Francisco Sousa Tavares, com quem foi casada durante vários anos.

O exílio

Jorge de Sena, essencialmente poeta e tradutor, mas também autor de um único romance, “Sinais de Fogo”, acabaria por exilar-se para o Brasil, onde viveu até ao fim da vida. A partida do casal Sena acontece em 1959, não sem antes o autor receber um convite do Governo brasileiro por recomendação de Eduardo Lourenço, grande ensaísta português, que então era professor na Universidade da Bahia, para participar no IV “Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros”.

Seria a entrada de um mundo novo para a família Sena, e a partir daí os dois autores começaram a trocar cartas. “A primeira troca de missivas entre os dois acontece em Janeiro de 1960, poucos meses depois de os Sena terem ido para o Brasil”, descreve Ana Paula Dias, que volta a citar a nota prévia de Mécia Lopes. “Os breves encontros que depois nos foram dados eram sempre um atropelo de conversa, com o tempo sempre insuficiente para o tanto que havia que dizer.”

Numa das cartas enviadas pelo casal Sena quando este ainda está no Brasil, Sophia de Mello Breyner confessaria a Jorge de Sena: “Que saudades tenho de o ver aparecer para almoçar naquelas suas visitas que eram para nós sempre uma festa”.

Sena faleceu em 1978, mas durante anos trocaram bastantes cartas onde se “elogiavam, discutiam a situação do país e criticavam (e muito) os restantes escritores portugueses”, escreve Ana Paula Dias. A académica, doutorada pela Universidade Aberta, afirma que “a publicação da correspondência entre Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner só foi possível graças à veia de ‘arquivista’ do autor (Jorge de Sena) e de Mécia”.

Maria Andresen Tavares, irmã do escritor e jornalista Miguel Sousa Tavares, recordou na mesma obra que a sua mãe “não arquivava as cartas recebidas, havendo poucos exemplares disponíveis. Se foi possível dar a conhecer esta troca epistolar foi por Jorge guardar todas as cartas recebidas, bem como o rascunho das enviadas”, descreve Ana Paula Dias no seu texto introdutório.

Os dois escritores também se envolveram no activista político dada a existência do Estado Novo em Portugal, regime ditatorial liderado por António de Oliveira Salazar, que só terminaria a 25 de Abril de 1974. “A pulsão para o activismo político, por imperativo ético, também uniu estes dois escritores que só aos 50 anos, na sequência de uma breve deslocação de Sena a Portugal (já Marcelo Caetano substituíra Salazar) começam a tratar-se por ‘tu’”, escreve Ana Paula Dias.

Para a académica, o activismo político de Sena e Sophia “é um dos aspectos documentalmente interessantes” do livro que reúne as cartas trocadas entre os dois. “De lamentar, além da perda de algumas cartas de Sena apreendidas pela PIDE (Polícia de Intervenção e Defesa do Estado, a polícia do Estado Novo) na casa de Sophia e jamais recuperadas, é a omissão total de correspondência no biénio 1974-75, tão decisivo para Portugal.”

A sessão de hoje na FRC contará ainda com a exibição de um excerto do documentário realizado por Rita Azevedo, feito a partir do livro “Correspondência – Sophia de Mello Breyner e Jorge de Sena”.

27 Nov 2019