Relações luso-chinesas entre 1644 e 1911 tema de curso na Fundação Oriente em Macau

[dropcap]A[/dropcap]s relações entre Portugal e a China entre 1644 e 1911 vão estar em foco num curso, na próxima semana, que vai realizar-se na delegação de Macau da Fundação Oriente.

“Dois Impérios, Cinco Tempos”, ministrado por Jorge Santos Alves, vai analisar as relações luso-chinesas, durante as duas últimas dinastias imperiais, a de Bragança em Portugal, e a Qing na China, em articulação com a evolução histórica de Macau, porto entre os dois impérios e com a história geral da Ásia oriental na transição para o período colonial, de acordo com um comunicado da delegação de Macau da Fundação Oriente.

“A compreensão desse quadro geral será repartida em Cinco Tempos, que correspondem a outros tantos processos históricos, alguns dos quais com forte ligação à época contemporânea”, indicou.

Este curso de formação avançada terá quatro sessões de duas horas, que vão decorrer entre 8 e 12 de Julho, na Casa Garden, em Macau. Jorge Santos Alves é professor auxiliar da Faculdade de Ciências Humanas e Coordenador do Instituto de Estudos Asiáticos, da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa.

Além de investigador sénior do Centro de Estudos de Comunicação e Cultura (FCH-UCP), Jorge Santos Alves dirige a Revista Oriente, da Fundação Oriente. Foi professor convidado da Universidade de Macau (2006-2010), onde tinha ensinado a título permanente entre 1990 e 1996.

1 Jul 2019

Festival | Cinema premiado da China e dos PLP estreia esta quinta-feira

Vêm aí duas semanas de filmes premiados, em língua chinesa e portuguesa. Dezoito longas-metragens, três curtas e seis pequenas animações, compõem o ciclo de cinema que, de 4 a 17 de Julho, pode ser visto em Macau

 

[dropcap]O[/dropcap] Festival de Cinema entre a China e os PLP está prestes a iniciar a segunda edição, com mais de 20 filmes em cartaz no Centro Cultural de Macau (CCM) e na Cinemateca Paixão (CP), a partir da próxima quinta-feira, de 4 até 17 de Julho. Organizados em três categorias – “Retrospectiva de Clássicos”, “Nova Visão da China e dos Países de Língua Portuguesa” e “Olá Macau” –, os filmes serão complementados por conversas pré ou pós-projecção, com curadores e convidados, que irão contextualizar as obras de acordo com as diferentes épocas, geografias e culturas apresentadas.

Lançado como parte integrante da primeira edição do “Encontro em Macau – Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa” em 2018, o 2º Festival de Cinema arranca este ano com uma versão digitalmente remasterizada da longa-metragem “Primavera Numa Cidade Pequena”, de 1948, uma obra emblemática do cinema chinês pelo poeta e realizador Fei Mu. A sessão conta com uma palestra final, intitulada “A Paisagem Mutante do Cinema Chinês”, apresentada pela curadora convidada Joyce Yang e pela conhecida crítica de cultura e cinema Dai Jinhua, professora de Literatura Comparada e Cultura da Universidade de Pequim.

Numa pequena cidade do sul da China, a jovem Yuwen atravessa uma realidade depressiva com o marido doente Liyan, mas a sua vida vai ser perturbada pela visita do antigo amante, Zhichen. Na conversa pós-projecção, “a narratividade urbana do cinema chinês será explorada historicamente, desde a fundação da RPC até ao presente”, pode ler-se no programa do Instituto Cultural (IC).

A longa-metragem do realizador chinês Jia Zhangke, “Natureza Morta” (Still Life, 2006), é outro dos destaques do ciclo, vencedor do Leão de Ouro do 63º Festival de Cinema de Veneza. Com o projecto da barragem das Três Gargantas por cenário, no rio Yangtze, o filme segue um mineiro e uma enfermeira de Shanxi, em busca dos respectivos cônjuges na cidade prestes a ser demolida. Thomas Shin, crítico cinematográfico de Hong Kong, falará com o público após a sessão, marcada para 5 de Julho, às 19h30.

“A Caminho de casa” (Getting Home, 2007), do realizador chinês Zhang Yang, foi o vencedor do Prémio do Júri Ecuménico (Panorama) do Festival de Cinema de Berlim 2007 e é um filme que narra uma história de viagem com “gente hilariante e incidentes surpreendentes”, a 11 de Julho.

“Antônio das Mortes” (The Dragon of Evil Against the Saint Warrior”, 1969), do cineasta brasileiro Glauber Rocha, um dos pais do chamado “Cinema Novo”, passa no dia 12. Trata-se de um antigo western que explora o fenómeno da decadência do “coronelismo”, naquela época conturbada do país, tendo Glauber Rocha conseguido o prémio de Melhor Realizador no Festival de Cannes em 1969.

Mais alguns clássicos, incluídos nesta mostra, são “A Ilha dos Amores” (The Island of Love, 1982), de Paulo Rocha (Portugal, Japão), nomeado para a Palma de Ouro do Festival de Cannes nesse ano, sobre o escritor português Venceslau de Moraes; “Chuveiro” (Shower, 1999), de Zhang Yang (China), que foi prémio da Crítica Internacional (FIPRESCI) no Festival Internacional de Cinema de Toronto; e “Mortu Nega” (Death Denied, 1988), de Flora Gomes (Guiné-Bissau), que daria ao realizador duas menções especiais no Festival de Cinema de Veneza. Passam a 6, 7 e 14 de Julho, respectivamente.

Filmes recentes

Entre o conjunto de filmes mais recentes, que dão uma visão do que tem sido feito na China e nos Países de Língua Portuguesa (PLP), encontram-se “Âmbar Azul” (Blue Amber, 2018), de Zhou Jie (China), que ganhou o prémio novo talento asiático no Festival de Cinema de Xangai; e “Jinpa” (2018), de Pema Tseden (Tibete, China), que contou com a produção de Wong Kar-Wai e venceu o Melhor Argumento do 75º Festival de Veneza. Os filmes são exibidos a 6 e 7 de Julho.

Também a 7 de Julho é projectado “Divino Amor” (Divine Love, 2019), de Gabriel Mascaro (Brasil), que foi nomeado para os Festivais de Sundance e de Berlim de 2019. O filme “Serpentário” (Serpentarius, 2019), de Carlos Conceição (Angola, Portugal), foi nomeado para o último Festival de Cinema de Berlim; “Cão Ladrando à Lua” (A Dog Barking at the Moon, 2019), de Xiang Zi, venceu de um Teddy Award, prémio especial do júri do 69º Festival de Berlim; e “Adeus, Meu Filho” (So Long, My Son, 2019), de Wang Xiaoshuai (China), arrebatou dois Ursos de Prata – Melhor Actor e Melhor Actriz – no último Festival de Berlim 2019. Os três filmes passam a 10, 13 e 14 de Julho.

Cinema de Macau

As longas de Macau chegam à tela nos dias 9, 10, 11 e 13 de Julho, dando oportunidade ao público de rever “Irmãs” (Sisterhood, 2016), da realizadora Tracy Choi; “O Amor é Frio” (Love is Cold, 2016), de Fei Ho; “Chuva Passageira” (Passing Rain, 2017), de Ka Keong Chan; e “Hotel Império” (Empire Hotel, 2018), de Ivo M. Ferreira, uma co-produção entre Portugal e Macau. Numa única sessão de curtas locais, a 16 de Julho, vai ser possível assistir aos filmes “Geração Ressaca” (The Age of Hangover, 2017), de Mike Ieong; “Ilegais” (Ilegalist, 2017), de Penny Lam; e “G.D.P.” (Grandma’s Dangerous Project, 2018), de Peeko Wong. A sessão tem 106 minutos.

Filmes de animação também fazem parte deste Festival. No dia 13 de Julho, sábado às 15h, os mais pequenos vão poder ver numa sessão única, de 37 minutos, “O Almoço de Meu Pai” (My Father’s Lunch), de Jason Pun; “O Farol” (The Lighthouse), de Jay Lei; “Céu Estrelado” (Starry Sky), de Zue Ku; “Pundusina”, de Ka Choi Lou; “Delicioso” (Delicious), de Su Kei Lam; e “O Coelho e o Crocodilo” (Rabbit Meets Crocodile), de Kin Hang Sam. As obras, de 2018 e 2019, são assinadas por realizadores locais.

O filme de encerramento é uma recente produção nacional, que fez parte dos nomeados para os Festivais Mar del Plata 2018 e Berlim 2019. “A Portuguesa” (The Portuguese Woman, 2018), de Rita Azevedo Gomes, é uma adaptação do romance do austríaco Robert Musil para um drama de época, passado no século XVI, sobre a história de uma mulher lusa que vive com o marido aristocrata no norte de Itália, até que este decide partir para a guerra. Esta sessão, a 17 de Julho às 19h30, termina o ciclo de duas semanas que passa na Cinemateca Paixão. Os filmes de abertura e de encerramento são exibidos no pequeno auditório do CCM. Os bilhetes custam 60 patacas, com diversos descontos, e já se encontram à venda.

1 Jul 2019

Renascimento italiano | Seminário marca últimos dias de exposição no MAM

“Desenhos da Renascença Italiana do British Museum” é o nome da exposição que tem estado patente no Museu de Arte de Macau e que chega ao fim este domingo. Margarida Saraiva, curadora da mostra, explica a essência dos desenhos com foco na figura humana, sem esquecer o movimento do corpo, a luz e as sombras que dele emanavam

 

[dropcap]A[/dropcap] exposição “Desenhos da Renascença Italiana do British Museum” chega ao fim este domingo, mas, antes disso, o Museu de Arte de Macau (MAM) organiza um seminário, este sábado às 16h, que explica precisamente a origem da mostra. A apresentação estará a cargo de Margarida Saraiva, curadora, que vai “explorar aos primeiros estágios de elaboração e planeamento até o papel do curador em projectos itinerantes”.

Além disso, Margarida Saraiva “apresentará as obras de arte seleccionadas exclusivamente para a exposição em Macau e os conceitos do renascimento italiano que inspiraram tanto o design gráfico, quanto o de galeria”. Serão ainda feitas duas visitas guiadas em cantonense, no sábado e no domingo.

Ao HM, a curadora traça um retrato das imagens patentes no MAM desde o passado dia 18, e que tem como principal objecto a figura humana.

“A arte da renascença italiana foi dominada pelo desejo de representar com precisão a figura humana. O objectivo era envolver o espectador na narrativa apresentada na pintura e, para alcançar esse objectivo, as figuras tinham que ser naturalistas e expressivas”, adiantou a curadora.

Desta forma, “a prática artística dos jovens que ambicionavam tornar-se grandes artistas concentrou-se progressivamente no desenho à vista do corpo masculino”.

As descobertas arqueológicas acabaram por influenciar o trabalho destes artistas que começaram a “desenhar a partir das estátuas originais ou de gessos, procurando alcançar a musculatura característica da arte clássica”. Nesse período, eram também realizados “estudos mais detalhados de certas partes do corpo, como a cabeça de amigos ou colegas de várias idades, que mais tarde podiam ser usados para representar santos, personagens mitológicas ou heróis clássicos em obras acabadas”.

Nem sempre o corpo humano era retratado tal como ele era. Nesse aspecto, Margarida Saraiva dá como exemplo as imagens com a assinatura de Leonardo Da Vinci, com retratos mais exagerados ou extravagantes, nas quais “uma compreensão profunda da forma humana constitui um trampolim para uma exploração mais criativa da personagem e do seu carácter”.

A caricatura e a luz

Um dos exemplos do exagero de que fala Margarida Saraiva pode ser visto nas duas obras “Caricaturas de um homem e uma mulher idosos”, e que foram feitas entre os anos 1482 e 1499, pintadas com caneta e tinta castanha.

Neste período, Leonardo Da Vinci estava ao serviço do duque de Milão, sendo que as imagens em apreço “podem ter sido concebidas tanto como divertimentos para corte quanto como explorações da fisionomia, a partir da crença segundo a qual o personagem poderia ser interpretado através dos seus traços faciais”.

Margarida Saraiva acrescenta que “ao longo da vida, o artista explorou obsessivamente os contrastes entre o novo e o velho, a fealdade e a beleza, em esboços rápidos de perfis, frequentes nos seus cadernos de anotações: os seus anjos e rostos femininos incorporavam a beleza ideal, mas a essa perfeição Leonardo contrapunha os extremos do ‘grotesco’”.

A curadora diz ainda que “o humor das caricaturas vem em parte da apresentação incongruente dessas figuras exageradas no formato digno do perfil, associado aos retratos de imperadores e reis antigos, em medalhas e camafeus”.

Segue-se “Estudos para o Juízo Final”, de Michelangelo Buonarroti, que data do ano 1534, uma imagem pintada a giz preto. Este desenho foi “especialmente requisitado pelo MAM ao British Museum para a exposição” e estão ligados à “grande obra da maturidade de Michelangelo”, que é o “Juízo Final” da Capela Sistina, no Vaticano, diz Margarida Saraiva. A obra em causa “representa o momento final da história cristã, no qual Deus julga as almas humanas para admiti-las no céu ou condená-las ao inferno”.

Nesse sentido, “a imagem de Michelangelo é consolidada pelos contrastes dinâmicos das figuras, subindo e descendo, e neste desenho ele estuda figuras que se tornarão anjos no fresco final. O ambicioso esforço de detalhe das poses e a poderosa musculatura aumenta a intensidade dramática do tema”.

Além da presença acentuada do movimento, o jogo de luz e sombras também fez parte da visão artística do Renascimento Italiano. “Da mesma forma que a representação naturalista do mundo se tornou fulcral para artistas da Renascença, a compreensão adequada da luz também”, lembra Margarida Saraiva.

“Pelo uso eficaz de luz e sombra, numa combinação chamada em italiano chiaroscuro, um artista poderia chamar a atenção para partes específicas de uma cena, sugerir volume e solidez, e representar presenças sagradas através do brilho da luz divina. As gradações de luz serviam igualmente para criar, numa composição, a sensação de distância e perspectiva”, acrescenta.

Artistas como Leon Battista Alberti, entre outros, “levaram os seus estudos de luz mais longe”, uma vez que Alberti “escreveu exaustivamente sobre a base matemática da luz”, enquanto que Leonardo da Vinci “dedicou-se a compreender a ciência da luz e da visão”, ao estudar “a óptica, a anatomia do olho e a difusão da luz na atmosfera”.

Este trabalho acabaria por ter impacto no trabalho de artistas posteriores como é o caso de Ticiano, Raphael e Caravaggio, como se observa na obra “Estudos de uma jovem segurando um livro”.

28 Jun 2019

Entradas para filmes e concerto do Festival das Artes à venda a partir de sábado

[dropcap]A[/dropcap] partir de sábado, dia 22, e terça-feira, 25, estão disponíveis para venda os bilhetes para o 2.º Encontro em Macau – Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, mais concretamente para duas actividades que fazem parte do cartaz do evento, nomeadamente o festival de cinema e o concerto “Instrumentos Tradicionais Chineses de Corda e Fado”, da Orquestra Chinesa de Macau.

Os bilhetes para o cinema estarão à venda na Cinemateca Paixão a partir de sábado às 10h, ao preço de 60 patacas por sessão, enquanto que os bilhetes para o espectáculo musical estarão à venda na bilheteira online a partir das 10h30 de terça-feira.

O “Festival de Cinema entre a China e os Países de Língua Portuguesa” realiza-se de 4 a 17 de Julho no Pequeno Auditório do Centro Cultural de Macau (CCM) e na Cinemateca Paixão, contando com a projecção de 26 filmes em três sessões. São eles “Retrospectiva de Clássicos”,

“Nova Visão da China e dos Países de Língua Portuguesa” e “Olá Macau”, complementada por conversas pré e pós-projecção.

O filme de abertura “Primavera Numa Cidade Pequena”, do poeta e realizador chinês Fei Mu, será exibido no dia 4 de Julho, pelas 19:45 horas, no Pequeno Auditório do CCM.

Após a projecção do filme, Dai Jinhua, Professor da Universidade de Pequim, é convidado a conduzir uma conversa para falar do cinema chinês e seu enfoque duplo na paisagem rural e na perspectiva urbana.

Será também exibido o filme “A Portuguesa”, uma obra experimental da realizadora portuguesa Rita Azevedo Gomes. A película será projectada como evento de encerramento do capítulo dedicado à sétima arte. Este filme é uma adaptação do romance do austríaco Robert Musil, sendo nomeado para prémios no Festival Internacional de Cinema de Berlim 2018 e Festival de Cinema de Mar del Plata 2018. Além disso, serão também exibidas diversas curtas-metragens locais.

Moutinho dia 5

Os bilhetes para o concerto com Hélder Moutinho e a Orquestra Chinesa de Macau começam a ser vendidos na terça-feira, sendo que o espectáculo acontece a 5 de Julho pelas 20h no Grande Auditório do CCM. De acordo com o Instituto Cultural (IC), que organiza este festival, este concerto “irá evidenciar o impacto do intercâmbio cultural e artístico entre a China e Portugal, reflectindo o charme único da integração harmoniosa das culturas chinesa e portuguesa”. A orquestra “irá apresentar uma variedade de belas obras clássicas da música chinesa, proporcionando ao público uma experiência musical absolutamente nova”.

27 Jun 2019

Orquestra de Macau convida maestro português para digressão à China e Portugal

A celebração dos 40 anos de relações diplomáticas entre Portugal e a China foi o mote para o convite feito ao maestro Pedro Neves, que vai colaborar com a Orquestra Sinfónica Jovem de Macau numa digressão à China e Portugal

 

[dropcap]O[/dropcap] maestro português Pedro Neves disse à Lusa que vai colaborar com a Orquestra Sinfónica Jovem de Macau numa digressão à China e Portugal para assinalar os 40 anos de relações diplomáticas entre os dois países. O convite surgiu porque a Orquestra Sinfónica Jovem de Macau “gostaria de trabalhar com um maestro português nesta digressão”, que inclui três concertos em Portugal, explicou Pedro Neves, maestro principal da Orquestra Clássica de Espinho.

O objectivo da digressão é celebrar não apenas o 20.º aniversário da transferência de administração de Macau, mas também o 40.º aniversário do restabelecimento de relações diplomáticas entre Portugal e a China. Pedro Neves está já em Macau para os ensaios antes do primeiro concerto, que no sábado assinala o 22.º aniversário da Associação Orquestra Sinfónica Jovem de Macau, marcado para as 20h no Grande Auditório do Centro Cultural de Macau.

Numa orquestra jovem, “o maior desafio é sempre aproveitar da melhor forma a energia e a vivacidade que são próprias dessa faixa etária, colocando essa motivação ao serviço da música”, explicou Pedro Neves. A orquestra é formada por jovens músicos chineses de Macau, com a excepção do lusodescendente Júlio Miguel dos Anjos. Mas Pedro Neves acredita que “a barreira da língua é um problema quase insignificante porque o código musical é universalmente muito forte e o entendimento entre os músicos vai muito para além das palavras”.

Mais concertos em Julho

A colaboração de Pedro Neves continua em Julho, com o segundo espectáculo, no dia 19, às 19h30 na sala de concertos da National Library Arts Center, em Pequim.

O programa do concerto na capital chinesa inclui música clássica ocidental, mas também “O Mundo dos Insectos”, da autoria de Doming Ngok-pui Lam, compositor nascido em Macau, e ainda uma canção inspirada pela lenda milenar chinesa “Os Amantes Borboleta”.

“Espero que o público nos possa acolher da melhor forma, possa compreender a mensagem das obras que vamos interpretar”, disse Pedro Neves. Após visitar Pequim, a digressão continua em Portugal.

A Orquestra Sinfónica Jovem de Macau toca a 21 de Julho, pelas 21h30 horas no Festival ao Largo, em Lisboa, antes de ir ao Festival das Artes em Coimbra, a 24 de Julho. A digressão termina a 27 de Julho no Festival do Marvão.

27 Jun 2019

Exposição | Aniversário da RAEM em mostra fotográfica

[dropcap]R[/dropcap]ecordações Memoráveis de 1999 ― Exposição de Arquivos Comemorativos do 20.º Aniversário do Retorno de Macau à Pátria” é o título da exposição fotográfica, que reúne mais de uma centena de registos, que inaugura na sexta-feira no Arquivo de Macau. A apresentação do registo de “memórias históricas” surge no âmbito do 2.º Encontro em Macau – Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa, organizado pelo Instituto Cultural.

A acompanhar a exposição fotográfica está prevista uma palestra temática no próximo sábado, às 15h, também no Arquivo de Macau sobre as atividades da Comissão dos Diversos Sectores de Macau para as Actividades de Celebração do Retorno de Macau à Pátria (CDMSP), entidade responsável pela recolha da mais de uma centena de fotografias expostas. O objectivo da exposição é “partilhar momentos marcantes e importantes da reunificação e reviver uma memória colectiva”. A mostra vai estar patente ao público até 27 de Dezembro e tem entrada livre.

26 Jun 2019

Exposição | Pintura de Hong Wai a partir de amanhã no Museu do Oriente

“Paisagens Femininas, Luar e Segredos de Boudoir” é o nome da exposição da artista de Macau Hong Wai que abre ao público amanhã no Museu do Oriente. Com uma linguagem suave que transporta a tinta-da-china para a contemporaneidade, a mostra divide-se em três séries onde a sensualidade conquista o espaço natural

 
[dropcap]A[/dropcap] voluptuosidade dos contornos femininos, envoltos em rendas e transparências, coabitam naturalmente com paisagens de cordilheiras típicas da pintura tradicional chinesa nos quadros de Hong Wai, que podem ser vistos no Museu do Oriente, em Lisboa, a partir de amanhã até 15 de Setembro.

“Paisagens Femininas, Luar e Segredos de Boudoir” é o título da exposição da artista local, a viver em Paris desde 2005, que multiplica a visão artística de Hong Wai em três séries.

Na série “Paisagem Feminina”, horizontes tradicionais compostos por montanhas e águas, “a mais elevada metáfora espiritual e moral da pintura chinesa”, são desconstruídos pelo pincel de Hong Wai com a introdução de formas voluptuosas de corpos femininos na paisagem natural.

“As montanhas, outrora vistas como forças energéticas que materializam o dragão, transformam-se agora em corpos femininos ondulantes, e a vegetação, na mais sensual lingerie”, lê-se no texto que apresenta a exposição.

A intimidade e a lingerie voltam a assumir o papel principal na série “Segredos de Boudoir”, numa sucessão de quadros que captam fantasmagoria, mistério e sensualidade. Além da estética, esta série representa a manifestação filosófica central à artista. Em entrevista ao HM em 2017, Hong Wai descodificava a sua perspectiva feminista como próxima da vaga “Lipstick” no século XX. “O chamado feminismo do batom é uma variedade de feminismo de terceira geração que procura abraçar conceitos tradicionais de feminilidade, incluindo o poder sexual das mulheres. Ao contrário das primeiras campanhas feministas que se concentraram nos direitos fundamentais das mulheres, e que começaram pela exigência do direito ao voto, o feminismo do batom procura perceber se as mulheres podem ser feministas sem ignorar ou negar a sua feminilidade, nomeadamente no que respeita à sexualidade”, enquadrava a pintora.

Outro lado da Lua

Na série “Luar”, Hong Wai cria uma atmosfera calma e poética de floresta sobre o brilho prateado do luar. Estes trabalhos são exemplares na forma como as linhas desenhadas pela artista traduzem a meticulosa paciência e o total foco de atenção no mais ínfimo detalhe.

Até 15 de Setembro, o Museu do Oriente apresenta esta fusão de pintura tradicional chinesa com o olhar moderno e profundamente feminino de Hong Wai. A sua visão artística transporta a tinta-da-china para a arte contemporânea através dos desenhos de linhas finas e elegantes, “numa técnica que durante séculos era apenas destinada ao universo masculino”. Segundo a artista, “enquanto que os homens representam o poder da conquista e um mundo de fronteiras, este mesmo mundo aos olhos das mulheres é mais terno e delicado, um mundo em que o humano e a natureza são plenos de possibilidades de conexão e transformação”.

Nascida em Xangai em 1982, Hong Wai cresceu em Macau e desde 2005 reside e trabalha em Paris. Debruçou-se, enquanto estudante na École des Hautes Études en Sciences Sociales, sobre a forma contemporânea do espírito artístico dos literati chineses. Expôs as suas obras um pouco por todo o mundo, incluindo na Sotheby´s Gallery, em Hong Kong e no Museu de Arte, em Macau, e participou em feiras de arte internacionais como a Art Sage de Singapura e a Art Taipei.

26 Jun 2019

João Santa-Rita apresenta seminário hoje à tarde no Albergue

[dropcap]O[/dropcap] arquitecto português João Santa-Rita será o orador convidado de um seminário dedicado ao tema “Que Identidade? Qual o Lugar da Identidade da Cultura Arquitectónica no Contexto da Globalização? – Uma determinada Coisa, num determinado Tempo, pertence a um determinado Lugar”, que acontece hoje, 25 de Junho, pelas 19h00 no Albergue SCM.

No último sábado, o professor universitário, que foi presidente da Ordem dos Arquitectos entre 2014 e 2016, apresentou esta questão da identidade, numa sessão aberta ao público, onde procurou definir a relação entre o conceito e a arquitectura que criou, ao longo da sua carreira, em diversos locais do mundo.

O seminário de hoje à tarde, sendo uma formação mais específica para profissionais da área – arquitectos, engenheiros e outros interessados – trará uma abordagem mais aprofundada sobre a questão identitária nas obras de arquitectura e na criação artística ao longo dos tempos. “A sessão vai ser sobretudo para procurar reflectir sobre o tema que foi lançado. O que eu proponho é, através da História, perceber como é que a identidade foi sendo entendida em diversos momentos, por diversas personalidades do mundo das artes e da arquitectura, em várias geografias do mundo”, revelou João Santa-Rita ao HM.

Os grandes no mundo

O arquitecto irá ilustrar, através de pinturas, gravuras e obras edificadas, a evolução da arquitectura em termos históricos, “para depois me aproximar do que se passou no século XX e até à actualidade, passando pelos grandes arquitectos modernos e os que provocaram rupturas”, dando exemplos diversos em Portugal, no Brasil, nas regiões da Ásia e da Europa.

“Vamos tentar perceber como é que a identidade (ou aquilo que entendemos como tal), se pode ver espelhada num determinado projecto. E como é que, desse ponto de vista, os arquitectos vão utilizando técnicas que podem ser ancestrais e tradicionais, mas depois as transformam naquilo que é a sua obra”, exemplifica.

João Santa-Rita é licenciado pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa. Entre 1986 e 1988 colaborou no atelier do arquitecto Manuel Vicente, em Macau, antes de criar o seu atelier “Santa-Rita Arquitectos” com José Santa-Rita. Foi premiado em concursos nacionais e internacionais e tem trabalhos em Portugal, Espanha, Itália, Inglaterra, Holanda, Alemanha, Argentina, Chile e Japão.

O seminário terá a duração de três horas e integra o programa de certificação de créditos profissionais CDP.

25 Jun 2019

Temporada da Orquestra de Macau homenageia Beethoven em 2020

A próxima temporada de concertos da Orquestra de Macau vai homenagear os 250 anos do compositor Ludvig van Beethoven em 2020, trazendo ao território os melhores intérpretes mundiais de música clássica. O programa arranca a 31 de Agosto e os bilhetes estarão à venda a partir de 30 de Junho

[dropcap]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC) apresentou ontem o programa da temporada de concertos de 2019-2020 da Orquestra de Macau (OA), que terá início a 31 de Agosto, dedicado ao 250º Aniversário do Nascimento de Ludwig van Beethoven, que se celebra em 2020. Solistas de classe mundial foram convidados a interpretar as obras clássicas completas do grande compositor alemão, incluindo as mais raramente escutadas, uma oportunidade única para “proporcionar ao público uma experiência abrangente das obras-primas do génio musical”, que perdeu a audição por volta dos 30 anos, conforme anunciou a organização.

A homenagem ao compositor começou logo na conferência de imprensa, realizada ontem à tarde no Hotel Mandarim Oriental, onde o quinteto de sopros de madeira da Orquestra de Macau interpretou um excerto da Sinfonia Nº5 em Dó Menor, também denominada Sinfonia do Destino, com arranjos em estilo Bossa Nova. Mas as obras de Beethoven só vão chegar aos palcos de Macau no próximo ano, onde se poderá ouvir as nove sinfonias completas, inclusive as Nº3 e Nº8, menos interpretadas e conhecidas.

O primeiro grande nome a pegar na obra do compositor será o austríaco Rainer Honeck, regente e violinista da Orquestra Filarmónica de Viena, que fará dois concertos no mês de Março, dias 21 e 27, um no Centro Cultural de Macau e outro na Igreja de São Domingos, gratuito, onde junta Beethoven e Mozart num espectáculo sobre os grandes mestres.

Pelo meio, ao maestro e director da Orquestra de Macau, Lu Gia, juntam-se também os maestros Roberto Gianola, Qian Junping, Francis Kan, Jason Lai, entre outros, que ao longo da temporada apresentarão sinfonias e sonatas de Bethoven, acompanhados por conceituados violinistas, violoncelistas e pianistas convidados.

A grande prova de fôlego será o encerramento da temporada, com a presença em Macau do pianista austríaco Rudolf Buchbinder, considerado dos melhores do mundo na actualidade, que apresentará os cinco concertos completos para piano de Ludwig van Beethoven, em dois dias consecutivos, a 24 e 25 de Julho de 2020, no grande auditório do Centro Cultural de Macau.

Outros compositores

O cartaz é variado e não se resume apenas à obra musical de Beethoven. O Concerto de Abertura da Temporada 2019-2020, já a 31 de Agosto de 2019, contará com a presença do internacionalmente aclamado Alban Gerhardt, violoncelista alemão oriundo de uma família musical que, sob a batuta do maestro Lu Jia, irá interpretar Dvorák, Shostakovitch e Tchaikovski, às 20h no CCM.

A 30 de Outubro de 2019, no âmbito do “XXXIII Festival Internacional de Música de Macau”, a OM junta-se à Orquestra e Coro NCPA da China para apresentarem em conjunto a “Cantata do Rio Amarelo”, um concerto com sabor histórico que pretende assinalar o 70º Aniversário da República Popular da China e o 20º Aniversário do retorno de Macau à Pátria.

O Ano novo será assinalado pelo concerto “Estrelas em Viena”, com o maestro austríaco Thomas Rosner e a soprano alemã Marysol Chalit, interpretando peças da família Johann Strauss I e II, além de árias de Otto Nikolai, Eduard Kunneke e Franz Lehar, a 31 de Dezembro de 2019, às 20h no CCM.

No Dia dos Namorados, 14 de Fevereiro de 2020, é a vez do concerto “Paixão Latina”, sob a orientação do maestro polaco Michael Nesterowicz, com a acordeonista lituana Ksenija Sidorova, que tocará suites de Bizet e um concerto para bandoneón de Astor Piazzolla, também às 20h no CCM.

Um dos principais destaques será o Concerto de Páscoa, onde a famosa “Stabat Mater” de Pergolesi, que poucas vezes foi tocada na Ásia, vai ser interpretada na Igreja de São Domingos, pela mão do maestro Lu Jia, com entrada gratuita ao público. O director da Orquestra de Macau será acompanhado pelas vozes da soprano Anna Karmasin e da meio-soprano Susan Zarrabi, ambas alemãs.

As novidades da próxima temporada de concertos foram apresentadas ontem pela presidente substituta do Instituto Cultural, Leong Wai Man, que se fez acompanhar pelos muitos parceiros e patrocinadores da edição, este ano orçamentada em 10 milhões de patacas, tal como indicou a responsável.

25 Jun 2019

André Carrilho lançou “Atrito”, um olhar meditativo sobre a sua realidade

O cartoonista André Carrilho acaba de lançar “Atrito”, um novo livro de desenhos pessoais que dá seguimento à obra “Inércia”, publicada em 2014. Com esta nova obra, Carrilho abraça uma realidade meditativa sobre as viagens que fez, e que incluem Macau e Hong Kong, para culminar em desenhos sobre a sua própria família

[dropcap]A[/dropcap] Feira do Livro de Lisboa, que terminou no passado dia 16, foi palco do lançamento do mais recente livro do cartoonista André Carrilho, intitulado “Atrito”. A obra nasce cinco anos depois de “Inércia”, um outro livro com desenhos e escritos pessoais do artista habituado a ver os seus cartoons em publicações de topo, como a revista Vanity Fair ou o jornal New York Times. Em Portugal, André Carrilho publica no Diário de Notícias.

“Atrito” contém desenhos e escritos de viagens que aconteceram em sítios tão diferentes como Nova Iorque, Macau e Hong Kong, sendo que Portugal assume um lugar de destaque, conforme disse André Carrilho ao HM.

“Este livro tem o dobro dos desenhos e corresponde a um virar mais para dentro e para Portugal. Viajei muito, depois fui abandonando as viagens, fui ficando mais tempo em Portugal, e no final do livro começo outro tipo de viagem, que é a paternidade. Concluo o livro com desenhos de família”, referiu.
Com “Atrito”, André Carrilho assume também ter feito uma viagem interior para se descobrir a si próprio como artista. “No ‘Inércia’ andava muito à procura de um estilo, de como desenhava à vista e de como desenhava depois a realidade. No ‘Atrito’ já estou mais maduro e mais seguro de mim próprio a desenhar e a escrever. Neste caso escrevi menos do que desenhei, no ‘Inércia’ escrevi mais.”

“Andei pelos sítios onde já tinha estado, mas com desenhos mais cuidados e evoluídos. Nos outros desenhos ainda estava um pouco à procura do meu estilo e estes desenhos já estão mais maduros e elaborados”, acrescentou Carrilho.

Macau surge retratada tanto pelos seus casinos como pelas suas ruas antigas e tradicionais. “No primeiro livro centrei-me mais em andar à noite por Macau, ver as sombras e as ruas, mas agora andei por Hong Kong a desenhar a zona de Lan Kwai Fong e Temple Street, quis andar pelas ruas, a olhar os prédios. Fui até onde estava inspirado”, acrescentou.

Apesar do lançamento em Portugal, André Carrilho não põe de parte uma apresentação em Macau, embora não esteja ainda prevista uma data concreta.

Novos trabalhos

Além de “Atrito”, André Carrilho assume estar agora mais virado para publicações com outra densidade. Na calha está um livro com ilustrações para a infância e outros dois dedicados aos poetas Fernando Pessoa e Luís de Camões.

Estes trabalhos dão ao artista “a oportunidade de fazer obras um pouco mais de fôlego e que não são baseadas num desenho ou dois”. “Quando trabalho para imprensa faço uns desenhos e passo para outro assunto, agora interessa-me fazer ilustrações que me permitam criar séries mais alargadas e trabalhos mais alongados”, frisou.

Desenhar aquilo que vê sem estar preso à realidade noticiosa permite a André Carrilho atingir um estado perto da meditação, assegura.

“Quando estou a desenhar o que vejo é quase um acto de meditação que me permite abstrair da realidade. Cheguei à conclusão que desenhar à vista é o mais próximo que consigo estar da meditação, para esvaziar a cabeça e alcançar alguma paz.”

Quando desenha um cartoon “a atitude é exactamente a contrária”, uma vez que trabalha “com base em indignações ou reflexões daquilo que me rodeia”.

“Um cartoon é, acima de tudo, o produto de eu processar o que acontece à minha volta, de um ponto de vista mais racional e de convicções políticas.

Desenhar à vista é um acto da tradução daquilo que eu vejo sem ter o foco na análise intelectual. Por isso mesmo fico mais relaxado e em paz”, rematou.

24 Jun 2019

Doces de Sintra reinventam-se em Macau sem trair origens

[dropcap]N[/dropcap]um mercado onde o pastel de nata é ‘rei’, a doçaria de Sintra vai entrar “sem pressa” e “fiel às origens”, com as queijadas e outros doces a apresentarem-se, na segunda-feira, em Macau, para criar raízes antes da expansão.

Na cidade onde, há 30 anos, a reinvenção do pastel de nata se tornou um sucesso generalizado, os doces tradicionais de Sintra vão “manter-se fiéis à receita original”, disse à Lusa Francisco D’Almeida, responsável pela primeira “apresentação formal” destes doces na Ásia.

“Como é que um produtor anglo-saxónico reinventa o pastel de nata aqui, em Macau, e nós, os portugueses, não o defendemos? A ideia foi um bocado essa, foi essa a ética”, afirmou o empresário, que abre na segunda-feira o primeiro espaço dedicado à doçaria de Sintra no território.

Francisco referia-se a Andrew Stow, farmacêutico industrial que em 1989 reinventou o pastel de nata e transformou o “pu shi dan ta”, ou “tarte de ovo de estilo português”, num emblema do território chinês.

À boleia da Ramalhão, a doçaria de Sintra – com mais de oito séculos – aterra pela primeira vez em Macau no dia de São João. “A ideia é partir com poucos, mas bons produtos. Vamos embrulhar as queijadas ao vivo”, explicou.

Porquê Macau? À “longa história e influência portuguesas” juntam-se as próprias características ‘anatómicas’ do território. “A queijada é um produto que chega a todo o lado, que se pode guardar, gosta de humidade, de calor, de suar, como qualquer queijo. Por isso, Macau”, explicou Francisco, apontando que as “receitas conventuais também mudam no verão e no inverno”.

No primeiro contacto com Macau, deu-se logo o fascínio: “Não só pelas multidões, mas por tudo o que está inserido. Temos os melhores ‘chefes’, as melhores cozinhas do mundo, por que não a queijada?”, sustentou.

A entrada no mercado local que, segundo o Fundo Monetário Internacional, deve registar em 2020 o maior rendimento ‘per capita’ do mundo, foi “relativamente fácil”, apontou, enfatizando o apoio de entidades do território.

Se a Casa de Portugal, associação local de matriz portuguesa, tem ajudado na divulgação e até nas contratações locais para a Ramalhão, o primeiro contacto, ao nível das licenças, foi estabelecido com o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM).

“O IPIM tem experiência e foi uma boa plataforma, fomos muito bem recebidos e não houve qualquer complicação até agora”, disse o empresário sobre a entidade que tem como objectivo promover o comércio externo e atrair investimento estrangeiro.

Entre queijadas, pão-de deus e travesseiros, os produtos são quase todos portugueses, mas servem-se também de ingredientes “cuja qualidade só se encontra na Ásia”, como é o caso da canela.

“Tivemos apoio das entidades e expressão para fazer o negócio, para vir montar produtos portugueses, que é a nossa ideia. A ideia é mesmo essa, sem ser fanático, usar o bom nome de Portugal, que hoje em dia é um país de moda”, reconheceu.

Além dos produtos, também a decoração do espaço vai ser fiel a terras lusas: calçada portuguesa, cortiça, um toldo tipicamente do Porto e gravuras sintrenses, “o mais próximo possível de uma loja portuguesa”.

“A loja é decorada em três movimentos de cortiça, mármore, calçada portuguesa e a entrada em tijolo industrial. Quisemos misturar a industrialização e decoração portuguesa o mais possível”, adiantou.

Nos primeiros tempos, o objectivo é a implementação em detrimento “da massificação”, sublinhou Francisco D’Almeida. “Queremos Macau, os residentes de Macau, queremos mercado. Trazer um mercado de qualidade para as pessoas que não tiverem este produto durante muitos anos”, defendeu.

Apesar da expansão para outros mercados asiáticos estar em cima da mesa – já há convites de Pequim – Francisco d’Almeida disse estar focado, para já, no mercado local. “A expansão depende de Macau. O nosso foco é Macau, investimos muito, queremos que o sucesso seja enraizado em Macau. A lei da natureza quase que faz o mercado”, concluiu.

23 Jun 2019

Lusofonia | Semana Gastronómica de Moçambique “pode ser a última”

[dropcap]M[/dropcap]oçambique volta a promover, entre amanhã e dia 29 deste mês, a sua cultura gastronómica em Macau, num evento organizado há mais de dez anos para “celebrar a independência” do país africano, disse à Lusa a organizadora. Apesar da Semana Gastronómica ser “muito bem recebida todos os anos”, a organização teme que esta seja a última edição, tendo em conta as “dificuldades logísticas” e os apoios, que “nem sempre são suficientes”.

“Temos encontrado cada vez mais dificuldades, mas este ano foi pior (…) O problema é arranjar um espaço que nos dê condições para organizar esta semana, tudo o que o evento exige. Pedimos apoios, mas às vezes não são suficientes”, indicou à Lusa a directora da Associação dos Amigos de Moçambique, Helena Brandão. “Pode ser a última edição”, lamentou.

Desde 2007 que a Semana Gastronómica de Moçambique traça o mesmo objectivo: pôr a comunidade de Macau em contacto com os “sabores, as danças e as músicas” tradicionais moçambicanas, na mesma altura em que se “celebra a independência”, apontou Helena Brandão.

Moçambique comemora a 25 de Junho o 44.º aniversário como país livre e soberano, independência conquistada em 1975 após cinco séculos de domínio português.

“[Todos os anos] convidamos um ‘chef’ moçambicano que prepara, durante uma semana, num restaurante de Macau, pratos típicos de Moçambique”, explicou Helena Brandão. Este ano, a Associação de Amigos de Moçambique convidou a ‘chef’ Orlanda Barbosa, que trará ao Varandas Restaurante & Bar “alguns condimentos e produtos” moçambicanos que não estão disponíveis no território.

21 Jun 2019

LMA | Música tropical para dançar este sábado

[dropcap]O[/dropcap]s sons tropicais chegam este sábado, dia 22, ao LMA – Live Music Association, a partir das 22h. A pista de dança do 11º andar na Rua do Coronel Mesquita, vai contar com a presença dos portugueses DJ Limes (Hélder De Lima), DJ S.Rola (Sérgio Rola) e do japonês DJ Ryoma (Ryoma Ochiai).

Desta vez, as sonoridades House, Tecno, Transe Psicadélico e Rock&Roll dão lugar aos sons mais leves e descontraídos da World Music, Tribal, Indie-Disco, Reggae e Latina. O organização revelou que a escolha é propositada, “para brindar ao Verão”, com um estilo de música menos pesada e para um público mais jovem e variado, agora que as férias escolares estão à porta.

Este é o único espaço de música ao vivo e dança, com programação regular e variada, que funciona como clube fora dos circuitos hoteleiros há mais de dez anos. A festa de sábado tem entrada gratuita e promete apresentar as novidades mais recentes do que se ouve por aí nos festivais internacionais, onde os disco-jóqueis têm participado com regularidade, confirmou Ryoma Ochiai ontem ao HM.

21 Jun 2019

The KVB ao vivo esta quarta-feira em Hong Kong

Na próxima quarta-feira, a partir das 20h, o duo britânico The KVB sobe ao palco do MOM Livehouse, em North Point Hong Kong para um concerto que promete fazer as delícias dos apreciadores de sonoridades mais negras do post-punk electrónico e do shoegaze

 
[dropcap]M[/dropcap]elómanos com guarda-roupa onde o preto predomina, rejubilem! The KVB tocam esta quarta-feira em North Point, em Hong Kong. O concerto está marcado para as 20h no MOM Livehouse, um clube escondido na cave de um centro comercial antigo, rodeado por cabeleireiros e manicures.

São previstas batidas pulsantes, guitarra barulhenta cheia de reverb, teclados que criam ambientes de sonho e vozes desleixadas e graves carregadas de eco. Tudo estes ingredientes servidos num cozinhado que convida à dança lânguida e concentrada dos apreciadores de sonoridades a resvalar para o gótico.

Os The KVB são constituídos por Nicholas Wood e Kat Day, a dupla que começou a dar nas vistas em 2011, desde que se formaram em Londres, depois do projecto a solo de Wood se ter transformado num dueto. Depois de dois anos à procura de um conceito sonoro, algures entre o electro minimal, post-punk, shoegaze e a música psicadélica, os The KVB lançam o disco de estreia “Always Then”.

Os ritmos electrónicos entre a fragilidade e a rigidez, aliados às explosões sónicas, evocavam os estilos musicais de bandas como Cabaret Voltaire e Jesus and Mary Chain.

Quando The KVB deixou de ser o projecto a solo Nicholas Wood, apenas com algumas demos lançadas e edições limitadas em cassete, com a aquisição de Kat Day, o dueto lançou-se em intensa produção discográfica. Depois do disco de estreia, a dupla lançou “Immaterial Visions” e “Minus One” em 2013, “Mirror Being” em 2015, “Of Desire” em 2016 e “Only Now Forever” no ano passado. Pelo meio, lançaram ainda dois EPs.

Agora sempre

O último disco da dupla britânica, que deve contribuir fortemente para o alinhamento de quarta-feira, é um registo com abordagem muito independente e livre, algo que pode ter surgido do facto de ter sido gravado no apartamento de Berlim onde a dupla viveu em 2017. Apesar do contexto caseiro, “Only Now Forever” tem uma sonoridade encantatória, uma tela com pinceladas de pop, sempre prestes a ser rasgada por uma guitarrada sónica. O último registo dos The KVB é um bom paliativo para os fãs que sofrem com saudades de discos dos Depeche Mode, The Soft Moon, New Order, Nine Inch Nails ou My Bloody Valentine.

Quem estiver interessado em dançar e ser abanado pela guitarra estridente dos The KVB terá de desembolsar 280 HKD se comprar o bilhete antecipadamente ou 350 HKD se comprar à porta do MOM Livehouse.

21 Jun 2019

Quadro de Caravaggio, encontrado num sótão em França, mostrado em Toulouse antes de leilão

[dropcap]O[/dropcap] quadro “Judite e Holofernes” do pintor italiano Caravaggio, encontrado em 2014, num sótão da cidade francesa de Toulouse, está em exposição na casa de leilões de Marc Labarbe até ser vendido no próximo dia 27 de Junho.

A obra deverá entrar no mercado por um valor mínimo de 30 milhões de euros, segundo uma estimativa base da leiloeira, citada pela agência EFE, mas espera-se que o preço final supere os 100 milhões de euros. “Judite e Holofernes”, datado de 1607, desapareceu em 1617 e a sua existência tem sido comprovada por cartas entre comerciantes e pelo testemunho de época do pintor Louis Finson, amigo e agente de Caravaggio.

Marc Labarbe, proprietário da casa de leilões, localizou a obra, em bom estado de conservação, no sótão de um cliente que desconhecia a origem do quadro, lê-se na notícia da EFE.

Os proprietários apresentaram uma petição para obter o certificado de exportação, aprovado pelo governo francês, que classificou a obra como tesouro nacional, dando origem a propostas de compra provenientes, principalmente, dos Estados Unidos da América, de Espanha e de países do Médio Oriente.

Os especialistas, na avaliação da pintura, consideraram “a qualidade dos traços” como factor determinante da autoria de Caravaggio, ainda que a “autenticidade” tenha levantado algumas dúvidas, explica a EFE.

“Não tenho qualquer dúvida, porque trabalhei nele [no quadro] durante cinco anos. Considero que posso falar tanto como aqueles que o viram e dão as suas opiniões. Quando apresentámos o quadro em Itália sabíamos que estávamos a iniciar uma ‘guerra’ entre escolas [de arte], pois os especialistas odeiam-se uns aos outros”, afirma Marc Labarbe à EFE.

“Judite e Holofernes”, um quadro de inspiração bíblica que representa a decapitação do general Holofernes, já passou em exposição por Milão, Londres e Nova Iorque, e encontra-se agora em Toulouse.

O Palácio Barberini, em Roma, possui na sua colecção uma pintura anterior de Caravaggio, dedicada ao mesmo tema – “Judite decapitando Holofernes” -, que se encontra datada de 1598–1599, e que constitui um dos mais conhecidos quadros do pintor da “alma humana”. O leilão, no dia 27 de Junho, pode ser acompanhado em direto no ‘site’ “Caravaggio em Toulouse” (thetoulousecaravaggio.com).

20 Jun 2019

Espectáculo de Ricardo Araújo Pereira ganha sessão extra dia 30 deste mês

[dropcap]O[/dropcap] Instituto Politécnico de Macau (IPM) será palco de uma sessão extra do espectáculo do humorista português Ricardo Araújo Pereira, e que acontece no próximo dia 30 de Junho às 18h00. De acordo com um comunicado, a sessão extra acontece dado o “interesse que a realização de um espectáculo do humorista” e também pela “celeridade com que se esgotaram os bilhetes colocados gratuitamente à disposição dos interessados”.

Nesse sentido, a organização da iniciativa “Junho – Mês de Portugal na RAEM” decidiu “dar a oportunidade a mais pessoas de acompanharem o trabalho do também escritor”.

Este segundo espectáculo, também de entrada gratuita, tem produção do Instituto Português do Oriente o apoio da Casa de Portugal em Macau, do Banco Nacional Ultramarino e do Instituto Politécnico de Macau.

O levantamento dos bilhetes para esta segunda sessão, sujeito a um limite de três por pessoa, poderá ser feito a partir do próximo de segunda-feira, 24 de junho, às 10.30h, nas instalações do IPOR (entrada da Rua do Pato). Terão prioridade as pessoas cujo nome se encontra em lista de espera e que não conseguiram bilhete para a primeira sessão por ter sido atingido o limite da capacidade da sala.

20 Jun 2019

Fitas portuguesas preenchem fim-de-semana da Cinemateca

[dropcap]T[/dropcap]rês dias de filmes portugueses, curtos e longos, chegam esta sexta-feira à Cinemateca Paixão e ficam até domingo. A “Mostra de Cinema Português” traz a Macau, pela quarta vez consecutiva, os principais títulos produzidos e realizados por autores nacionais, que no ano anterior fizeram um percurso relevante em festivais e circuitos de exibição internacionais.

É o caso das fitas seleccionadas para 2019. A iniciativa, organizada pela Fundação Oriente e pela agência de cinema Portugal Film – uma extensão do Festival de Cinema Independente de Lisboa – seleccionou este ano para apresentar no território três longas-metragens e duas sessões de curtas. A primeira longa será o anunciado documentário “A Dama de Chandor” (1998), de Catarina Mourão, dia 21 de Junho às 20h30.

As longas de sábado e domingo, dias 22 e 23, são o documentário “Bostofrio, où le ciel rejoint la terre” (2018), de Paulo Carneiro, no sábado às 19h30, e o filme “Peregrinação” (2018), de João Botelho, no domingo às 20h30. O primeiro narra, em 70 minutos, a tentativa de um jovem realizador quebrar a lei do silêncio e desenterrar a história dos seus avós, que ninguém ousa comentar, numa remota vila de Trás-os-Montes. Os filhos de pai incógnito são uma realidade ainda presente em muitas regiões do país. O segundo é uma ficção sobre a lendária viagem de Fernão Mendes Pinto a terras orientais, a partir do seu livro escrito em 1570 e publicado a título póstumo em 1614. A obra, algo controversa, tem a duração de 105 minutos.

Curtas a meio da tarde

As duas sessões de curtas passam mais cedo, às 17h30 da tarde, no sábado e no domingo. No dia 22, a sessão “Curtas 1 – Amor e Juventude” reúne os primeiros filmes de cinco jovens realizadores, feitos ainda na escola de cinema ou já fora dela, com a duração total de 79 minutos. O destaque vai para os dois últimos, “Miragem Meus Putos”, de Diogo Baldaia, e “Amor, Avenidas Novas”, de Duarte Coimbra, que recolheram grandes elogios em dezenas de festivais europeus por onde passaram.

No dia 23, a sessão “Curtas 2 – Visões do Mundo”, junta quatro fitas de realizadores já à procura do seu lugar no panorama cinematográfico, e dura 84 minutos. O destaque neste grupo é “Farpões Baldios”, de Marta Mateus, que conta histórias alentejanas através dos protagonistas, resistentes da luta da reforma agrária contra os patrões latifundiários. O filme fez também longa carreira em muitos festivais europeus, asiáticos, e norte-e-sul-americanos.

As sessões da Mostra de Cinema Português são gratuitas. O público deverá aparecer à hora dos filmes, garantindo o lugar por ordem de chegada.

20 Jun 2019

Documentário | “A Dama de Chandor” mostra contradições de Goa

“A Dama de Chandor” abre o ciclo de cinema português, que decorre de sexta a domingo na Cinemateca Paixão, com uma história sobre a herdeira de uma casa senhorial e de um passado histórico em declínio numa pequena aldeia goesa. A realizadora apresenta o filme em Macau

 
[dropcap]A[/dropcap]ida de Menezes Bragança tem oitenta e um anos e vive sozinha num palácio perdido numa aldeia goesa. O esforço diário para preservar a casa onde vive, e as memórias que nela guarda de uma época em declínio, encontram-se ali cristalizadas no tempo, numa mistura de resistência e nostalgia que contrasta com o aparente desinteresse da comunidade, após a libertação do poder colonial português.

“A Dama de Chandor” é o documentário que amanhã inaugura a Mostra de Cinema Português em Macau, pelas 20h30 na Cinemateca Paixão, organizada pela quarta vez pela Fundação Oriente e pela agência de cinema Portugal Film, do Festival IndieLisboa, que decorre de 21 a 23 de Junho no âmbito das comemorações de “Junho, Mês de Portugal”.

Realizado em 1998 pela cineasta portuguesa Catarina Mourão, que estará em Macau para apresentar a sessão e conversar com o público após o visionamento, o filme tem já vinte anos de existência e continua a surpreender pela subtileza do olhar e pelo retrato humano de força e fragilidade, num contexto histórico em que a consciência da identidade se agarra ao presente para sobreviver, e se prende à casa como um símbolo visível contra a ameaça do tempo.

“Esta aventura começou em 1995. Nessa altura eu fui à Índia, um pouco como turista, com o meu namorado da altura, que é fotógrafo. Ele ia fotografar Goa, Damão e Diu” e Catarina Mourão, tendo acabado de fazer o mestrado em Cinema e Televisão da Universidade de Bristol, na Inglaterra, levou consigo uma pequena câmara de filmar para registar impressões da viagem e vestígios da presença portuguesa no continente indiano.

Até que, em conversas com pessoas que foi conhecendo, soube da história de Aida e daquela casa senhorial na aldeia goesa de Chandor. “E apaixonei-me. Pela casa e pela personagem. Sobretudo porque senti que ela encapsulava todas aquelas contradições de Goa, por um lado indiana, por outro lado portuguesa. É uma personagem presa a um passado, mas ao mesmo tempo muito preocupada no presente, em fazer com que a casa vivesse, interagindo com os turistas de forma muito pragmática. Achei que era uma personagem muito rica. E na altura filmei umas coisas com ela”.

Regressou depois a Portugal e começou “a alimentar este sonho de fazer um filme lá, só com ela, fechada naquela casa. Fazer um retrato de Goa, mas através dela e daquela casa”. Foi assim que lançou mãos à obra, procurou financiamentos, continuou a corresponder-se com Aida e “finalmente consegui um dinheiro de pesquisa e fui a Goa, outra vez, em 1997. Estive lá um mês e tal”, conta.

“Nessa altura comecei a pesquisar também quem era aquela família, que era muito importante e teve um papel político grande a favor da autonomia de Goa. E, apesar de pertencer a uma elite, era bastante progressista em certos aspectos. Não eram só católicos, também havia hindus, era uma família muito sincrética”.

Regresso à Índia

Apesar de se mover como uma personagem imortal pelas relíquias dos salões da vivenda, de estilo colonial indo-português edificado há três séculos, Aida de Menezes Bragança viria a falecer em 2012, aos 95 anos de idade. A realizadora, que em Março deste ano voltou à Índia para filmar o seu próximo trabalho, aproveitou para visitar Chandor e rever a casa que tão bem conheceu. “Já lá não ia há vinte anos! E quando cheguei estava uma senhora à janela, que me pareceu a Aida, mas que eu sabia que tinha morrido e não poderia ser. Foi como se tivesse visto uma espécie de fantasma”, revelou.

“Mas a casa mantém-se, que era a preocupação dela. O trabalho de recuperação e restauro foi continuado, de certa forma, só que não está lá ninguém a viver. Há um filho que vai de vez em quando, que aparece no filme e tinha vontade de continuar a obra, mas hoje é uma senhora que está lá a receber os turistas e a mostrar a casa. Mas é tudo de uma forma muito precária”. O futuro continua a ser uma incerteza, “esta senhora também já se queixa de não ter muita saúde para continuar a ir, não houve nunca uma instituição que tomasse conta daquilo e tem sido apenas a vontade dos particulares de manter viva aquela memória”.

A recente viagem à Índia levou Catarina Mourão ao norte do país, à região do Uttar Pradesh. “É um projecto completamente diferente, também sobre uma mulher com 70 anos. Esta é uma artista viajante, que anda pelo mundo. E um dos sítios importantes, para o trabalho e para a identidade dela, é Benares, no norte da Índia”. O documentário encontra-se, entretanto, em fase de montagem, com o título provisório “Os Cadernos de Benares”, que deverá estrear em meados de 2020.

Olhos de Macau

Catarina Mourão estará também em Macau para fazer um workshop de cinema documental, a convite da Fundação Oriente, de 22 a 27 de Junho. Pela primeira vez no território, a realizadora espera ser surpreendida pela cidade e pelos seus habitantes, nomeadamente aqueles com quem irá partilhar saber e experiências durante a oficina. “Eu adoro fazer este tipo de workshops. Dou aulas há 20 anos e acho que o mais interessante é essa troca que acontece, ou seja, tenho um programa daquilo que gostava de desenvolver com os participantes, mas estou muito disponível para ir adaptando, porque não conheço a realidade de Macau e conto aprender também muita coisa”.

O título do workshop – “A Casa e o Mundo” – não surgiu por acaso, “é uma piscadela de olho ao Satyajit Ray, que é um realizador que eu adoro, porque também trabalho muito essa abordagem do microcosmo para, a partir dele, falar sobre o mundo”, recorda o filme de 1984, para explicar o que pretende com as aulas que aí vêm. “Acho que nessa busca podem acontecer muitas coisas engraçadas, eu posso conhecer Macau através dos olhos dos participantes. Vou ter o privilégio de ter acesso a um olhar muito mais interior. Isso também me atrai muito”, remata a realizadora.

20 Jun 2019

Segundo encontro do Festival de Artes e Cultura arranca a 28 de Junho

Macau volta a ser lugar de encontro entre culturas. Um grande cabaz de eventos, para degustar entre Junho e Julho, traz à cidade o fadista Hélder Moutinho, música, dança, cinema, livros e petiscos de chefes como Chakall, Cyril Rouquet ou Marlena Spieler

 
[dropcap]O[/dropcap] 2º Encontro em Macau do Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa foi ontem apresentado pela presidente do Instituto Cultural de Macau, Mok Ian Ian, em conferência de imprensa no Centro Cultural de Macau (CCM).

À semelhança de 2018, a iniciativa reúne este ano um conjunto de seis grandes eventos, que vão decorrer entre os meses de Junho e Julho, em diversos pontos da cidade. Há feiras, concertos, cinema, exposições de arte, espectáculos de música e dança, e uma mostra dos arquivos locais com os momentos mais marcantes da transferência de soberania em 1999.

O primeiro evento, “Recordações Memoráveis de 1999 – Exposição de Arquivos Comemorativos do 20.º Aniversário do Retorno de Macau à Pátria”, acontece já no dia 28 de Junho, com inauguração pelas 18h, no Arquivo de Macau. O público poderá rever mais de cem registos das “memórias inestimáveis deste evento histórico único”, nas palavras da responsável. No dia seguinte, haverá ali também uma palestra, às 15h, com os oradores convidados Ung Vai Meng e Lei Pui Lam, respectivamente ex-presidente honorário e ex-secretário-geral do Comité Executivo para as Actividades de Celebração do Retorno de Macau à Pátria, que irão partilhar histórias sobre o planeamento, coordenação e organização das comemorações que decorreram há duas décadas atrás.

Nos fins-de-semana, de 29 a 30 de Junho e de 6 a 7 de Julho, é a vez da música e das danças animarem a Feira do Carmo, na Taipa, e o Jardim do Mercado do Iao Hon, em Macau. Durante os quatro dias, entre as 18h30 e as 20h30, diversos artistas da província de Hubei, na China, e dos países de língua portuguesa, vão actuar nos dois locais, mostrando a tradição da ópera chinesa e das sonoridades musicais de Portugal, Cabo Verde, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Angola, Brasil, Timor-Leste e Guiné-Bissau. Os espectáculos são livres e visam “proporcionar à comunidade um intercâmbio cultural entre os diferentes países participantes”, segundo a organização.

Livros e Cinema

A “Feira Internacional do Livro de Macau” é o evento que se segue, que vai decorrer entre 4 e 7 de Julho, no Hotel Venetian do Cotai, das 10h às 20h, encerrando no domingo às 16h30. Esta edição é dedicada à gastronomia e vinhos, contando com inúmeras obras sobre o tema e cozinheiros chefes de craveira internacional, que marcarão presença em palestras, lançamentos de livros, seminários de cultura gastronómica e apresentações culinárias. Nomes como Chakall, Xu Long, Marie Sauce Bourreau, Luís Simões, Tâmara Castelo, Cyril Rouquet, Marlena Spieler, Zola Nene, Chua Lam, Ge Liang ou Cecília Jorge, entre outros, fazem parte dos convidados. Haverá ainda lugar para a cerimónia de entrega dos famosos Gourmand World Cookbook Awards, que distinguem anualmente os melhores livros dedicados ao tema, na sua 24ª edição, este ano realizada em Macau.

Outro evento a destacar é o “Festival de Cinema entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, que arranca a 4 de Julho e encerra a 17. As sessões de abertura e de encerramento vão ser exibidas no pequeno auditório do Centro Cultural de Macau, os restantes – mais de 20 filmes e vídeos – serão projectados na Cinemateca Paixão, onde estão também previstas sessões de pós-projecção e palestras relacionadas. A película de abertura é um clássico chinês de 1949, “Primavera Numa Cidade Pequena”, do realizador e poeta Fei Mu. No encerramento estará “A Portuguesa”, um filme nacional de época, realizado por Rita Azevedo Gomes em 2018. Os bilhetes para todas as sessões estarão à venda por 60 patacas, com diversos descontos, nas habituais bilheteiras online ou na Cinemateca.

Fado e Artes visuais

O “Concerto de Instrumentos Tradicionais Chineses de Cordas e Fado”, no dia 5 de Julho às 20h, no grande auditório do CCM, junta a Orquestra Chinesa de Macau e o fadista português Hélder Moutinho, irmão de outro nome incontornável da música nacional, o fadista Camané. Será um espectáculo único, casando os instrumentos tradicionais chineses com a herança melódica da saudade lisboeta, que promete ao público local “uma experiência musical absolutamente nova”.

Nas palavras de Mok Ian Ian, “o Erhu e o Fado são amantes há muito perdidos das suas vidas passadas e nesta noite reúnem-se em Macau”. Os bilhetes para este evento custam entre 150 e 250 patacas, mas os residentes de Macau têm desconto de 40 por cento.

A “Exposição Anual de Artes entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, que acontece este ano pela segunda vez, é a oportunidade de mostrar o extenso acervo do Museu de Artes de Macau (MAM), com mais de 90 obras de arte de 60 pintores e artistas, que este ano também celebra o seu 20º aniversário. Na Galeria de Exposições Especiais do 3º piso, a exposição “Poesia Lírica – Artistas de Macau e Portugal da Colecção do MAM” retira dos depósitos o valioso conjunto museológico, entre os meses de Julho e Outubro, exibindo peças e pinturas a óleo, acrílicos, aguarelas, técnicas mistas, esculturas e instalações que reflectem a criatividade de artistas contemporâneos da China, Portugal e Macau.

As recém-inauguradas Vivendas Verdes e o Antigo Estábulo Municipal de Gado Bovino, situados na Avenida do Coronel Mesquita, vão ainda fazer parte do evento, como extensão das actividades e da mostra de arte contemporânea. Os quadros estreiam assim os novos espaços culturais, que podem ser visitados livre e gratuitamente pelo público.

O 2º Encontro de Macau é organizado pelo Instituto Cultural e co-organizado pela Direcção dos Serviços de Turismo, sob a égide da Secretaria para os Assuntos Sociais e Cultura. O orçamento para a edição de 2019 será de 15 milhões de patacas, após a despesa de 2018 ter ascendido aos 19 milhões. O objectivo deste ano é gastar menos, declarou a presidente do IC, que deixou o convite à população, lembrando que “todos os encontros são reuniões que dão continuidade aos laços de tempos passados”.

19 Jun 2019

Vencedor da Palma de Ouro Cannes na Cinemateca Paixão

[dropcap]O[/dropcap] filme sul-coreano que venceu a Palma de Ouro do Festival de Cinema de Cannes 2019 vai ser exibido durante a próxima semana, em diversos horários, na Cinemateca Paixão. “Parasita” é o título da obra do realizador Bong Joon-ho, que foi considerada pela crítica internacional como “uma sátira social em esteróides” ou mesmo um “épico brilhante dos dias de hoje”.

Trata-se de um drama familiar que retrata bem o tema das desigualdades sociais, com um enfoque intimista e uma alta dose de suspense. O humor negro, em porções por vezes tímidas, outras vezes transbordantes, tornou o filme imprevisível e inteligente, “aplaudido calorosamente” pelo público da 72ª edição de Cannes.

Para não estragar a surpresa, os relatos da imprensa sobre as voltas que o guião dá são enigmáticos. E aconselham até o público a “saborear a preciosidade com um mínimo de informação”. Bong Joon-ho chegou mesmo a escrever uma carta aos críticos internacionais, implorando que não revelassem partes importantes do seu filme, para não arruinar a experiência aos demais espectadores.

O argumento conta a história da família unida de Ki-taek, em que todos os elementos são muito próximos, mas estão desempregados e receiam ter apenas um futuro negro pela frente. Até que o seu filho Ki-woo consegue um emprego, como professor particular de inglês de uma jovem de família rica, os Park. Enquanto os primeiros habitam numa escura e sórdida cave, infestada de baratas, os Park vivem numa sumptuosa casa com jardim e respectivas mordomias.

Ki-woo rapidamente se aproveita da situação, conseguindo através de subterfúgios contratar a irmã, o pai e a mãe para servirem na mansão dos Park, mas a chegada da família de golpistas precipita situações incontroláveis e nem tudo correrá como previsto para os novos parasitas.

“Escrito, realizado e interpretado na perfeição”, segundo a crítica de Cannes, o “argumento é excelente e os actores são globalmente extraordinários”. Bong Joon-ho assina não só a realização do filme, mas também o argumento em parceria com Han Jin-won. Os actores são Song Kang-ho no papel do patriarca, Jang Hye-jin interpreta a mulher deste, Choi Woo-sik e Park So-dam são respectivamente o filho e a filha do casal.

Cineasta sociólogo

O realizador Bong Joon-ho, que nasceu numa família da elite coreana, começou por se formar como Mestre em Sociologia antes de seguir a sua verdadeira vocação, o cinema. Após passar pela Academia Coreana de Artes Cinematográficas, começou a realizar filmes em 1994. Os mais conhecidos títulos da sua carreira eram, até à Palma de Ouro de 2019, os filmes “Cão Que Ladra Não Morde” de 2000 e “Okja” de 2017, um surrealista e o outro fantástico, este último chegando a gerar alguma polémica.

A controvérsia de “Okja” aconteceu também em Cannes, por ser uma fita apresentada na plataforma Netflix, na altura muito criticada sobre se poderia ser considerada um “verdadeiro filme”.

“Parasita” tem a duração de 132 minutos e chega agora à sala da Cinemateca Paixão. As sessões decorrem de 22 de Junho a 7 de Julho, em diferentes horários, e os bilhetes encontram-se à venda no local e na página web oficial.

18 Jun 2019

Cinema | 4ª edição do IFFAM conta com parceria de Xangai

São muitas as novidades do próximo Festival Internacional de Cinema de Macau, que este ano acontece de 5 a 10 de Dezembro. A colaboração com o Festival de Cinema de Xangai e as presenças do realizador Peter Chan e da actriz Carina Lau são algumas delas

[dropcap]A[/dropcap] 4ª edição do Festival Internacional de Cinema de Macau (IFFAM, na sigla inglesa) vai decorrer este ano entre 5 e 10 de Dezembro, no Centro Cultural de Macau, e conta com a parceria do Festival Internacional de Cinema de Xangai (SIFF) e da Academia de Artes e Cinema de Xangai (SFAA), foi anunciado no domingo passado, na cerimónia de assinatura dos acordos de colaboração que decorreu naquela cidade.

“Com o objectivo de impulsionar a indústria cinematográfica local”, o IFFAM une este ano esforços com o festival congénere de Xangai, além de “lançar pela primeira vez uma Competição de Curtas-Metragens”, que “terá uma selecção de dez narrativas curtas assinadas por jovens realizadores da região. No primeiro ano desta nova secção, trabalharemos em concreto com escolas de cinema e instituições da China Interior, de Hong Kong e de Macau. Iremos aumentar também o número de prémios na categoria de Novo Cinema Chinês, que passam a incluir galardões para Melhor Filme, Melhor Realizador, Melhor Argumento, Melhores Actor e Actriz”, anunciou o Director Artístico do IFFAM, Mike Goodridge.

O produtor e realizador do vizinho território, Peter Chan, foi este ano convidado para presidente do Júri da Competição Internacional do IFFAM. “É um dos cineastas mais talentosos e bem sucedidos da história recente do cinema de Hong Kong. A grande qualidade dos seus filmes pan-asiáticos tem vindo a estimular o desenvolvimento da indústria cinematográfica de toda região em geral. Acredito que ele irá partilhar a sua enorme experiência e sabedoria com os membros do júri e com os realizadores no próximo mês de Dezembro”, acrescentou.

Como embaixadora de talentos do IFFAM 2019 foi, igualmente, convidada a veterana actriz de Hong Kong, Carina Lau, conhecida pela sua longa carreira e participação em filmes de realizadores consagrados, como Wong Kar-Wai, que a dirigiu nos filmes “Days Of Being Wild” (1990) e “2046” (2004), a sequela do muito premiado “In The Mood For Love” (2000).

A ela juntar-se-ão, também como embaixadores do IFFAM 2019, o realizador e argumentista sul-coreano Kim Yong-Hwa, o actor, produtor e realizador indiano Karan Johar, e o realizador e argumentista chinês Wang Xiaoshuai.

Incubadora de realizadores

O objectivo de impulsionar o renascimento do cinema local é uma preocupação do IFFAM, que justificou o lançamento do programa de estágios para realizadores de Macau com a prestigiada TorinoFilmLab, permitindo a deslocação de três equipas do território a Turim, em Itália, para participar em dois workshops – Elaboração de Argumentos e Produção Criativa – e a possibilidade de estarem presentes no Festival de Cinema de Turim no próximo mês de Novembro.

“A participação de múltiplos realizadores e dos seus projectos em Turim, para interagirem com outros jovens participantes a nível internacional, é uma aposta para alavancar a construção de bases sólidas para uma indústria cinematográfica local. A intenção deste programa é estabelecer o IFFAM como uma plataforma para novos realizadores de cinema asiáticos, com vista a apoiar a indústria, na qualidade de incubadora dos seus primeiros e segundos filmes”, pode ler-se na nota de imprensa da cerimónia de domingo em Xangai.

Com o mesmo propósito, as conhecidas realizadoras locais Tracy Choi e Harriet Wong foram convidadas a participar nas actividades do SIFF NEXT, um evento paralelo ao 22º Festival Internacional de Cinema de Xangai que se realiza por estes dias, entre 16 e 24 de Junho.

18 Jun 2019

Armazém do Boi | “Everywhere and Anywhere”, a nova mostra de Yang

[dropcap]É[/dropcap] inaugurada no próximo dia 26 deste mês, no espaço Armazém do Boi, a exposição de ilustração “Everywhere and Anywhere”, do artista Yang, e que estará patente até ao dia 4 de Agosto.

A exposição está incluída no projecto intitulado “New Art People Project”, que visa “nutrir uma nova geração de jovens artistas ao providenciar-lhes um espaço para as suas tentativas e experimentações”.

A curadoria da exposição está a cargo de Leong Fei In e oferece ao público “uma nova aproximação visual, com as possibilidades que a ilustração oferece ao nível da linguagem artística”.

Yang, natural de Macau, é formado em literatura inglesa e tem um mestrado em ilustração da University for Creative Arts, do Reino Unido. Esta exposição revela uma “interacção da ilustração com o espaço em diálogo com si mesmo”, ao mesmo tempo que Yang “apresenta as suas experiências emocionais tal como um estado mental de solidão e alienação partilhado com os moradores urbanos”.

17 Jun 2019

Apresentado livro sobre Porcelanas Ming em Lisboa

[dropcap]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC) lançou recentemente, em parceria com o Centro de Estudos Históricos e o CHAM – Centro de Humanidades da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, a obra “De Macau a Lisboa – Na Rota das Porcelanas Ming”. O lançamento aconteceu no Palácio Nacional da Ajuda.

De acordo com um comunicado, o livro é da autoria do já falecido arqueólogo Armando J. G. Sabrosa (1979-2006) e é resultado de uma das bolsas de investigação académica atribuídas pelo IC. O conteúdo deste trabalho centra-se principalmente no estudo detalhado de porcelanas provenientes das escavações arqueológicas realizadas em Macau, na zona do Colégio de São Paulo e na Fortaleza do Monte, em 1995.

O autor realizou uma análise tipológica detalhada das porcelanas encontradas na altura e comparou-as com outras recuperadas em Portugal, com o intuito de discutir o importante papel de Macau como porto de comércio marítimo Oriente-Ocidente. Para o IC, “estes resultados são de grande importância para o estudo do fluxo de porcelana da Dinastia Ming para a Europa através de Macau”.

O autor faleceu em 2006 num acidente de trabalho, deixando para trás inúmeros resultados de pesquisas inéditas, que devido à cooperação entre o IC e a Universidade Nova de Lisboa foram, finalmente, publicadas na forma de monografia.

Trabalho pioneiro

No lançamento da obra o Professor André Teixeira, do Departamento de História da Universidade Nova de Lisboa e investigador no CHAM, apresentou o livro e reconheceu as contribuições pioneiras do autor para a arqueologia dos séculos XVI a XVIII, uma área que tem ainda limitada expressão em Portugal e a nível internacional. Este salientou também que a monografia tem o grande mérito de dar a conhecer parte dos resultados daquelas intervenções arqueológicas. Jorge Raposo, Director do Centro de Arqueologia de Almada, fez uma retrospectiva da vida do autor e da sua carreira como investigador.

A monografia De Macau a Lisboa – A Rota das Porcelanas Ming encontra-se à venda ao preço de 180 patacas e pode ser adquirida na Livraria Plaza Cultural Macau, no Centro de Informações ao Público, no Arquivo de Macau e no Centro Ecuménico Kun Iam.

17 Jun 2019

Crónicas do Hoje Macau vão ser publicadas pela Abysmo

João Paulo Cotrim, editor da Abysmo, garantiu ao HM que as crónicas que diariamente são publicadas no suplemento H serão editadas em livro ainda este ano. O HM esteve também presente na Feira do Livro de Lisboa graças ao lançamento de um suplemento especial subordinado ao tema das nuvens, que foi distribuído apenas no espaço da feira

 

[dropcap]T[/dropcap]odos os dias autores portugueses como António Cabrita, António de Castro Caeiro ou Valério Romão, entre outros, desfiam palavras e pensamentos para as páginas do HM, no suplemento H que diariamente se publica com o jornal. Mas em breve estas crónicas poderão ser lidas em formato livro, conforme adiantou ao HM João Paulo Cotrim, editor da Abysmo, uma editora portuguesa.

“Essa é a primeira coisa que iremos fazer e que temos previsto para acontecer rapidamente este ano, talvez em Outubro. Iremos publicar uma antologia das crónicas do HM”, referiu.

Este ano, e pela primeira vez, a Abysmo fez-se acompanhar da Livros do Meio, editora de Carlos Morais José, também director do HM, na Feira do Livro de Lisboa, que chegou ontem ao fim. A publicação do livro não será o único projecto que ambas as editoras irão desenvolver.

“Percebemos que havia um conjunto de autores da Abysmo que estavam a colaborar com o HM e às tantas percebemos que não era por acaso, que havia aqui muitas afinidades que interessavam explorar. Há ideias de colaboração para uma série de projectos, tal como a edição de livros em conjunto que reflictam o facto de termos um pedaço de Portugal naquele lugar (Macau).”

Para João Paulo Cotrim, “há-de haver alguma diferença pelo facto de termos esta presença centenária em Macau”, sendo que “já mudou muito do nosso entendimento sobre Camilo Pessanha”. Nesse sentido, “há um conjunto de coisas que podemos fazer, a bem dos livros e da leitura, e de uma certa ideia de Portugal, que acho que vai continuar e vai dar frutos”.

As nuvens

A presença da Abysmo e da Livros do Meio na Feira do Livro de Lisboa ficou também marcada pelo lançamento de um suplemento especial do H dedicado ao tema das nuvens. São várias páginas em que os habituais colaboradores do HM são convidados a escrever textos ou poesia sobre as várias dimensões das nuvens, além da participação de artistas plásticos, como é o caso de Rui Rasquinho, ilustrador.

Carlos Morais José falou ao HM de um projecto que serviu também para mostrar um pouco do HM além fronteiras. “Hoje já não há essa distância, uma vez que temos estes colaboradores de Portugal e acabamos por ser lidos e divulgados na Internet. Apesar disso, a existência física do suplemento é importante. É tão poluente o papel que estamos a usar que as pessoas não o devem deitar fora, devem guardá-lo em casa”, ironizou.

Quanto ao tema escolhido, as nuvens são, para Carlos Morais José, “um tema transversal a várias culturas, nomeadamente à chinesa e portuguesa”. “Todas as culturas se deixaram impressionar, de qualquer das formas, pela questão das nuvens e existem poemas sobre nuvens, desenhos, pinturas. As nuvens são algo que impressiona o ser humano”, acrescentou.

Para João Paulo Cotrim, fazer um suplemento sobre as nuvens não foi apenas um símbolo da parceria entre a Abysmo e a Livros do Meio como também “uma metáfora boa da relação com o oriente”.

Isto porque “o oriente tem um tratamento específico na poesia da nuvem, e nós, além da poesia, temos também uma tradição científica de relacionamento com a nuvem.”

“Parecia-me, portanto, um símbolo bastante interessante desta relação sempre meio fugidia e nunca igual entre o oeste e oriente”, adiantou.

Através do suplemento estabelece-se a ideia de que a nuvem “não é um símbolo, é um bocadinho mais, é o suscitar de uma reflexão e pensamento à sua volta”.

“Fizemos isso com um eixo na entrevista ao Carlos Fiolhais e João Queirós, um cientista e pintor, e à volta disso temos um conjunto de textos dos escritores que são colaboradores do HM. Mesmo no caso dos poemas há bastante pensamento por detrás disto, porque, no fundo, há muito pensamento e filosofia, leitura que conclui que as nuvens são um grande espelho da nossa vida em sociedade, das nossas inquietações.”

João Paulo Cotrim destaca o facto de a nuvem recordar a especificidade do trabalho de editar, quer sejam livros ou jornais. “É essa mesma inquietação de perceber o que se passa à nossa volta.

Essa mesma curiosidade em relação ao mundo, e por isso também funcionamos como uma espécie de nuvem, ora de nuvem ora de gente que olha a nuvem”, rematou.

17 Jun 2019