Governo promove actividades para divulgar história do Colégio de S. Paulo

O Instituto Cultural (IC) promove, a partir do dia 6, várias actividades que visam dar a conhecer a história do Colégio de S. Paulo e as descobertas arqueológicas na Rua de D. Belchior Carneiro, situada atrás das Ruínas de São Paulo. Entre os meses de Novembro e Dezembro decorrem visitas guiadas, workshops e jogos digitais.

“A realização desta iniciativa tem como objectivo enriquecer a forma de exposição e de educação sobre os vestígios históricos encontrados no referido fosso e optimizar o nível de conhecimento e experiência do público sobre a história e o valor destes vestígios e das Ruínas do Colégio de S. Paulo”, explica o IC.

As visitas guiadas incluem um itinerário na zona das Ruínas do Colégio de S. Paulo, que abrange os vestígios históricos encontrados no fosso sito na Rua de D. Belchior Carneiro, as ruínas da antiga Igreja da Madre de Deus e os vestígios do Colégio e antigo muro, entre outros elementos. O limite máximo de participação é de 20 pessoas por cada sessão, com uma duração de cerca de 45 minutos.

As visitas guiadas decorrem aos fins-de-semana e feriados públicos, pelas 11, 12, 14 e 15 horas, com apresentação feita em cantonês ou mandarim. Já as visitas guiadas exclusivas terão lugar pelas 11 horas dos dias 27 e 28 de Novembro e nos dias 4 e 5 de Dezembro Ainda é possível reservar vagas para as visitas guiadas de grupo, disponíveis em cantonês, mandarim, inglês e português. As reservas são feitas através do número 2836 6320.

O “Workshop Familiar de Exploração do Colégio de S. Paulo” nos dias 20, 21, 27 e 28 de Novembro, às 15h, e às 10h30 e 15h do dia 5 de Dezembro. Esta actividade inclui visitas guiadas às zonas arqueológicas do Colégio de S. Paulo e a demonstração de actividades artesanais temáticas. A ideia é que toda a família possa participar neste workshop.

Lançadas moedas comemorativas

Além destas actividades o IC lança ainda uma colecção de novas moedas comemorativas a propósito da abertura ao público da área de conservação e exposição dos Vestígios Arqueológicos do Fosso do Colégio de S. Paulo. As moedas, com edição limitada, são inspiradas no Colégio de S. Paulo e nos vestígios históricos da Rua de D. Belchior Carneiro.

Os interessados podem dirigir-se presencialmente à referida área, entre 6 de Novembro e 31 de Dezembro, à zona das Ruínas de S. Paulo ou à área dos vestígios históricos do Colégio de S. Paulo, para efectuarem a leitura do código QR disponibilizado na placa de informação disposta nestes locais, de modo a acederem ao website. Nessa plataforma, os concorrentes que concluírem com sucesso dois dos três desafios apresentados terão oportunidade de receber uma moeda comemorativa.

Os interessados em participar nas visitas guiadas exclusivas e nos workshops familiares podem efectuar a sua inscrição a partir do dia 6 de Novembro através do website www.icm.gov.mo/eform/event.

31 Out 2021

Orquestra Chinesa de Macau | Concerto “Dança de Cordas” acontece dia 20

A Orquestra Chinesa de Macau (OCM) apresenta no próximo sábado, dia 20, o concerto “Dança de Cordas”, que acontece no Teatro D. Pedro V por volta das 20h. Chen Jun irá actuar com a OCM e apresentar a música chinesa em cordas friccionadas.

Neste concerto Chen Jun irá colaborar com intérpretes da secção de cordas da OCM para apresentar “Cenas de Uma Aldeia na Montanha”, composta por Chen Yaoxing, que apresenta uma bela melodia lírica com um ritmo alegre e simples, característica do tipo de música de Shandong. Zhang Yueru, concertino da OCM, apresentará “Na Pradaria com Zhonghu”, de Liu Mingyuan, que revela “a deslumbrante paisagem dos vastos campos, bem como o temperamento caloroso e cheio de energia do povo”.

Por sua vez, o chefe de Zhonghu, Li Feng, fará uma interpretação de “Melodia Paizi” da Ópera Qinqiang e adaptada por Guo Futuan, acompanhada por Banhu. Com esta actuação o público poderá apreciar o estilo da música de Qinqiang.

A OCM vai também interpretar o repertório de Erhu, presente no recente documentário “Um Travo da China”.
Chen Jun é considerado o “Guerreiro Taichi de Erhu” e é a segunda geração da família Chen que tem Chen Yaoxing como mestre de Erhu. Além disso, é um dos principais músicos de Erhu da China e um intérprete de primeira classe, tendo actuado em países e regiões como os EUA, Japão, Rússia ou Alemanha, entre outros. Os bilhetes para o concerto encontram-se à venda desde sábado e custam entre 100 e 120 patacas.

31 Out 2021

Lusofonia | Inaugurada exposição de Reginaldo Pereira

Foi inaugurada na sexta-feira a exposição “O Homem e a Floresta”, de Reginaldo Pereira, artista brasileiro, e que se insere no ciclo de exposições “Policromias lusófonas”, inserido na 13.ª Semana Cultural da China e dos Países de Língua Portuguesa. A mostra estará patente na sede do Fórum Macau e pretende “revisitar a grande cultura do Brasil que se estende pelas florestas profundas da Amazónia, pelo ecológico Pantanal ou ainda pelas gigantescas metrópoles como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília ou Belo Horizonte”.

Reginaldo Pereira nasceu em 1971 na região do Maranhão, no Brasil, tendo vivido a sua infância “num meio bucólico”. O artista começou a fazer arte sozinho, tendo desenvolvido as suas técnicas de desenho e pintura na cidade de Imperatriz, em Maranhão, onde viveu oito anos.

Em 1994 Reginaldo Pereira mudou-se para São Paulo e iniciou os estudos na escola Academia Brasileira de Artes (ABRA). Em 1997 o artista foi viver para em Uberaba, Minas Gerais, onde começou a dar aulas. Com um grupo de alunos abriu um estúdio e galeria de arte, onde pesquisa, estuda e ensina pintura a óleo sobre tela. Desde 1992 que Reginaldo Pereira participou em diversas exposições colectivas e individuais, nomeadamente no Brasil e em Portugal.

Com “O Homem e a Floresta” Reginaldo Pereira “integra as diversas cores de uma forma superior ao seu entendimento, é a sua alma em paz que faz toda essa fusão entre o Homem e a Floresta”. Desta forma, “quando as várias cores se tocam e bailam aos sons dos pássaros e do riacho que corre, em palavras em favor das árvores, e animais, e da vida.” A exposição pode ser visitada até ao dia 14 de Novembro, tendo entrada livre. Neste período serão realizados três workshops ministrados pela Casa do Brasil em Macau.

31 Out 2021

Lusofonia | Festival de 10 a 12 de Dezembro. IC garante ter dialogado com associações

O Festival da Lusofonia vai acontecer entre 10 a 12 de Dezembro integrado no Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa”. A Presidente do IC garante ter dialogado com as associações participantes. Amélia António diz que a Casa de Portugal apenas foi informada da decisão, mas que “o importante é fazer”

 

Está confirmado. O Instituto Cultural (IC) anunciou ontem que o Festival da Lusofonia será realizado no fim-de-semana de 10 a 12 de Dezembro, integrado na 3.ª edição do “Encontro em Macau – Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa”.

Depois de os novos surtos de covid-19 registados em Macau terem levado ao adiamento do evento para uma data a confirmar em Dezembro, facto que causou algum descontentamento às associações lusófonas participantes devido à sobreposição com actividades natalícias, a presidente do IC, Mok Ian Ian garantiu que houve sempre diálogo e que a decisão de alterar a data “não foi fácil”.

“Há sempre coordenação e diálogo. Temos mantido uma boa comunicação [com todas as associações]”, começou por dizer à margem da apresentação do Festival de Artes e Cultura.

“O Festival de Artes está na 3.ª edição e foi interrompido no ano passado. Esperamos que organizando os dois festivais em conjunto, possamos criar uma sinergia, dinamizar melhor os eventos e trazer um ambiente artístico melhor para a cidade em prol da promoção do intercâmbio cultural”, acrescentou.

Caso a evolução da pandemia assim o permita, Mok Ian Ian garantiu que, no próximo ano, a ideia será retomar o modelo habitual, que passa pela autonomização do Festival da Lusofonia em relação ao festival de artes.

“Para o próximo ano, se tivermos melhores condições com a estabilização da epidemia, esperamos retomar o plano anterior, ou seja realizar (…) o Festival de Lusofonia à parte”, assegurou.

Sobre aquela que será a 24.ª edição do Festival da Lusofonia, foi dito que o espaço das Casas da Taipa vai receber 10 expositores culturais das comunidades lusófonas: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Goa, Damão e Diu, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor-Leste, e também da comunidade local.

Além disso, não estando prevista uma redução do número de stands, haverá ainda espaço, como habitual, para mostras culturais, espetáculos de música e dança, jogos tradicionais portugueses e gastronomia típica.

É o que temos

Contactada pelo HM, a presidente da Casa de Portugal em Macau, Amélia António, confirmou que houve comunicação por parte do IC sobre as datas, mas que esta foi em sentido único e apresentada “como sendo a alteração possível”. “Não era uma data para ser analisada ou discutida”, apontou.

Segundo Amélia António, que não esconde a frustração com as novas datas, a justificação apresentada para que o festival não aconteça em Novembro prende-se com o facto de o espaço estar reservado “há muito tempo” pelos serviços de turismo (DST). Contudo, frisa, “fazer é sempre o mais importante”.

“Há muitas actividades em Dezembro por causa dos eventos de Natal e, por isso, é preciso fazer uma ginástica muito grande para conciliar tudo, mas é o que há e é preciso fazer o esforço”, rematou.

Por seu turno, o presidente da Associação dos Macaenses (ADM), Miguel de Senna Fernandes, diz “compreender a situação” e não ter ficado surpreendido com as datas anunciadas. Para o responsável, que confirmou ter havido um “diálogo informal” por parte do IC, apesar de estarmos a falar de “datas limite”, é positivo que o evento vá mesmo acontecer.

“Entre 10 e 12 de Dezembro são datas limite para se celebrar a Lusofonia este ano. Mas ainda bem que vai haver Lusofonia, faça frio ou não. A comunidade precisa de uma festa deste género”, acrescentou Senna Fernandes.

“A ADM vai fazer 25 anos [a 11 de Dezembro] e é praticamente impossível estar a 100 por cento [na Lusofonia], mas faremos o melhor possível, porque não faz muito sentido a Lusofonia ser em Macau e a tenda de Macau não ter representação”, rematou.

29 Out 2021

ARTM | Nova exposição inaugura este sábado 

“Art of Healing II” é o nome da nova exposição que a Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau (ARTM) inaugura este sábado, por volta das 16h, na galeria ARTM H2H, situada nas casas amarelas da antiga leprosaria de Ka-Hó, em Coloane.

Esta mostra revela as obras feitas pelas pessoas em recuperação da dependência de drogas não apenas da ARTM, mas também de vários centros de tratamento da China, localizados em 20 províncias do país. É a segunda vez que a associação de Macau colabora com a Comissão de Narcóticos da China para este projecto.

Augusto Nogueira, presidente da ARTM, adiantou que as 90 peças estarão disponíveis para venda, sendo que esta mostra pretende revelar “a importância e valorização da capacidade das pessoas que estão em tratamento de poderem exprimir os seus sentimentos através da arte”.

Para o presidente da entidade, é também importante que estas pessoas “se sintam valorizados” e que haja uma desmistificação da ideia de que estes pacientes são criminosos apenas por consumirem estupefacientes.

Nesse sentido, é importante “fazer entender que a recuperação é possível e que estas pessoas precisam de ajuda e não devem ser punidas”, existindo em Macau “canais próprios em Macau para ajudar pessoas com problemas”, frisou Augusto Nogueira. A mostra celebra também o Dia Nacional da República Popular da China.

27 Out 2021

TEDX Senado Square | Saúde mental marca edição deste ano 

Acontece este sábado, no Teatro D. Pedro V, mais uma edição do TEDX Senado Square, desta vez de forma presencial. O programa é composto por seis oradores que vão falar dos seus projectos e experiências, sempre dentro do tema “Despertar”. Venus Loi, curadora do evento, revela que a saúde mental é a grande problemática desta edição, tendo em conta o contexto da pandemia

 

O TEDX Senado Square está de regresso a Macau de forma presencial. Este sábado o evento acontece entre as 13h30 e as 18h no Teatro D. Pedro V com seis oradores locais e dois artistas musicais que vão actuar nos intervalos das palestras.

Sob o tema “Despertar” participam personalidades como Danny Leong, biólogo e um dos seleccionados pela National Geographic para integrar um grupo de 15 exploradores emergentes a nível global. O painel conta também com a presença do arquitecto André Lui, a curadora e artista Alice Kok e ainda o psicólogo Elvo Sou, que irá falar sobre “Sentimentos. Palavras. Diálogo com as Emoções”. Em palco, haverá ainda espaço para a partilha das experiências com o teatro físico, graças à presença de Yukie Lai, e da meditação, com Hio Lou Chang.

Ao HM, a curadora do evento, Venus Loi, referiu que o TEDX Senado Square terá apenas 160 lugares disponíveis, devido às restrições pandémicas. A escolha do tema “Despertar” pareceu natural tendo em conta o panorama da covid-19 que ainda se vive no território, com as fronteiras quase fechadas ao exterior.

“A pandemia entrou nas nossas vidas nos últimos dois anos e temos passado por um período de incertezas. Espero que com esta edição do TEDX Senado Square possamos partilhar algo que nos ajude a repensar o nosso estilo de vida e de como nos podemos adaptar à pandemia. Esta edição tem temas que pretendem levar as pessoas a pensar sobre isso”, apontou.

Desta forma, as palestras apresentadas pelos oradores convidados versam sobre as emoções, mas também sobre temáticas relacionadas com a protecção ambiental. “Este evento é uma plataforma importante para Macau. Uma vez que não conseguimos trazer oradores internacionais é importante partilhar ideias locais.”

Exemplo disso é o convite feito ao biólogo e investigador Danny Leong “Ele foi seleccionado pela National Geographic e, para Macau, é algo impressionante. Queremos que o mundo conheça os nossos feitos e também queremos partilhar discussões ligadas à protecção ambiental, tendo em conta o rápido desenvolvimento de Macau”, adiantou Venus Loi.

A sós

Venus Loi não tem dúvidas de que a questão da saúde mental é central no cartaz deste ano. “Durante a pandemia passámos mais tempo connosco próprios e reflectimos mais sobre quem somos e que tipo de desenvolvimento pessoal queremos. Aprendemos a lidar com as emoções e sobretudo com as incertezas.”

A curadora do evento chama a atenção para o aumento de problemas psicológicos junto dos jovens. “Não estou certa das razões, mas penso que isso talvez se deva ao facto de passarmos mais tempo sozinhos ou com as nossas famílias, devido ao confinamento, o que levou a problemas de comunicação entre pais e filhos. Também houve uma adaptação a um outro estilo de vida”, concluiu.

27 Out 2021

História | “De Portugal a Macau – A viagem do Pátria” com edição bilingue

“De Portugal a Macau – A viagem do Pátria”, livro do aviador Sarmento de Beires sobre a primeira viagem de avião entre Portugal e Macau, em 1924, é agora reeditado e traduzido para mandarim. Poeta e personalidade ligada ao grupo Seara Nova, crítico do regime da Ditadura Militar, Sarmento de Beires é hoje um herói da aviação caído em esquecimento

 

Acaba de ser reeditado em Portugal “De Portugal a Macau – A viagem do Pátria”, livro da autoria do aviador José Manuel Sarmento de Beires sobre a primeira travessia aérea entre Portugal e Macau, em 1924, na companhia de Brito Paes e Manuel Gouveia. O projecto tem a chancela da Edições Afrontamento e do CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar “Cultura, Espaço e Memória”, da Universidade do Porto. As coordenadoras da obra juntaram esforços numa série de felizes acasos, uma vez que Rita Pina Brito já tinha as ilustrações e a tradução para mandarim da autoria de Yu Yong, enquanto que a académica Isabel Morujão tinha o projecto em mente.

Ao HM, Rita Pina Brito explica “a longa viagem” para a reedição deste livro, iniciada em 2014 e 2015. “A Isabel [Morujão] tem uma ligação familiar a Sarmento de Beires, e queria traduzir o livro de português para inglês, que será agora o próximo passo, já estamos a trabalhar nisso. Mas depois alguém sugeriu a tradução para mandarim. E nós já tínhamos a tradução feita. O meu pai foi há muitos anos ao Oriente e foi ele que me disse que este livro tinha de ser traduzido para mandarim.”

Esta não é uma mera reedição dos escritos de Sarmento de Beires, mas um livro de viagens com ilustrações. “Desde o início queríamos fazer um livro que não fosse tão sério. Sempre disse que eu levaria [para este projecto] as traduções e ilustrações, e a Isabel levou os textos académicos para dar contexto. Ela é uma estudiosa do Sarmento de Beires e faz uma análise do apoio que o país lhe deu e que o Estado acabou por não dar. Há, por exemplo, registos do apoio da imprensa.”

Rita Pina Brito tem também ligações familiares com Sarmento de Beires, que chegou a enviar uma carta ao seu avô. “O primeiro contacto que tive [com a história de Sarmento Beires] foi através do meu pai. Já todos ouvimos falar do Gago Coutinho e Sacadura Cabral, que são heróis nacionais, mas o meu pai falou-me de Sarmento de Beires e Brito Paes. Há ainda um grande desconhecimento, quase ninguém conhece estes aviadores.”

Realizado em 1924, a primeira viagem de avião Portugal-Macau aconteceu graças a uma intensa campanha de recolha de fundos num país prestes a abraçar uma Ditadura Militar, a que se seguiria o Estado Novo, a partir de 1933. São anos em que o Estado decide não apoiar financeiramente esta viagem, sendo ela feita com apoios da sociedade e de jornais da época, que muito publicitaram o feito de Sarmento de Beires e Brito Paes.

Um crítico do regime

Sarmento de Beires foi mais do que um aviador. Foi poeta e membro da revista Seara Nova, fundada em 1921, uma publicação que foi uma arma crítica contra a ditadura.

“Esteve muito associado a esse grupo e chegou a pertencer ao corpo directivo da revista. Pretendia um Portugal com opinião, era um cidadão consciente e esclarecido das suas decisões e com capacidade de intervenção”, recordou Isabel Morujão.

A primeira edição do livro de Sarmento de Beires foi publicada em 1925, seguindo-se a segunda edição em 1953 e a terceira em 1968, já uma edição de autor. Para Isabel Morujão, esta reedição, feita em pleno período do Estado Novo, prova que a viagem entre Portugal e Macau já tinha caído no esquecimento.

“[Sarmento de Beires] teve a necessidade de corrigir algumas informações e dedicar o livro a Brito Paes. Esta dedicatória mostra, em 1968, que esta viagem estava apagada da memória dos portugueses pelo facto de Sarmento de Beires ter sido um opositor ao regime. Esteve exilado na década de 30, viveu no Brasil e França. Teve de viver das traduções que fazia e passou mal economicamente.”

Aquando da terceira reedição, já Brito Paes havia falecido em 1934, e Manuel Gouveia, em 1966. Sarmento de Beires morreria no ano da Revolução dos Cravos 1974.

A travessia aérea entre Portugal e Macau “foi uma tentativa de preparar uma volta ao mundo de avião”, recorda Isabel Morujão. “Gago Coutinho, sendo um homem do regime de Salazar, manteve sempre imparcialidade muito digna em relação a estes aviadores, tendo dito sempre que eles fizeram metade da volta ao mundo em quilómetros.”

Nas primeiras décadas do século XX não se vivia apenas um intenso período político marcado pela instabilidade da primeira República. Porém, finda a I Guerra Mundial, em 1918, a aviação estava ao serviço da paz. “Nestes primeiros 30 anos da aviação mundial, a aviação tinha um desígnio de paz e isso vem muito referido na obra de Sarmento de Beires.”

No Oriente, com a recente instauração da República e queda do poder imperial na China, em 1911, também se viviam tempos conturbados e de profunda mudança. “Esta viagem tem um contexto especial, de efervescência dos anos pós-República. Na China existia um certo turbilhão, e o local onde o avião aterra era um terreno incrustado numa zona que tinha sido recentemente conquistada pelo exército de Sun Yat-sen”, recorda Isabel Morujão.

Rita Pina Brito não tem dúvidas. Sarmento de Beires foi, acima de tudo, “um homem corajoso”, cuja audácia não se mede apenas pela viagem que realizou. “Alguém que não se encaixa nos moldes que a sociedade dita naquele momento é uma pessoa corajosa. Como se incompatibilizou com o regime, foi esquecido”, rematou.

Apesar do esquecimento, restaram em Portugal pedaços desta memória, tal como um monumento em Vila Nova de Milfontes, onde teve início a viagem, e a exibição de vários objectos testemunha da travessia no Museu do Ar.

26 Out 2021

Autorizado curso de Língua, Literatura e Cultura Chinesa na Universidade de Cabo Verde

A Agência Reguladora do Ensino Superior (ARES) cabo-verdiano autorizou a Universidade de Cabo Verde (Uni-CV) a ministrar a primeira licenciatura em Língua, Literatura e Cultura Chinesa, conforme despacho publicado hoje.

No despacho, com data de 21 de outubro, a ARES “reconhece estarem reunidas as condições para o registo e funcionamento” do ciclo de estudos, de cinco anos (6.620 horas), da licenciatura em Línguas, Literaturas e Culturas – Estudos Chineses.

O curso funcionará “a partir do ano académico 2021/2022”, já iniciado, e será ministrado na Faculdade de Ciências Sociais, Humanas e Artes (FCSHA), na cidade da Praia, já no novo campus da Uni-CV, precisamente construído e financiado em 5.600 milhões de escudos (50,7 milhões de euros) pela China, que o entregou ao Governo cabo-verdiano em julho passado.

Naquela cerimónia, realizada em 23 de julho, o embaixador da China na Praia, Du Xiaocong, referiu que este novo campus, construído ao longo de quatro anos, é o “maior projeto” financiado por Pequim em Cabo Verde, com capacidade para mais de 5.000 alunos e professores.

O diplomata anunciou que o campus da universidade estatal cabo-verdiana vai receber também o Instituto Confúcio – que já está instalado em Cabo Verde desde 2015 e que promove a extensão universitária, através da língua e da cultura da China – e “albergar” desta forma um curso de língua chinesa.

Du Xiaocong afirmou na altura tratar-se de “um grande progresso no ensino da língua chinesa em Cabo Verde”.

Recordou que Cabo Verde e a China assinalam em 2021 os 45 anos do estabelecimento de relações diplomáticas entre os dois países (25 de abril de 1976) e elogiou a “política de amizade com a China” do atual Governo, liderado por Ulisses Correia e Silva, garantindo que Pequim “não poupou esforços” em projetos para melhorar a vida do arquipélago.

Segundo informação do Governo cabo-verdiano, o novo campus ocupa uma área de 28.000 metros quadrados na zona do Palmarejo Grande, arredores da capital, com um total de 18 edifícios e 61 salas de aula, 16 laboratórios informáticos, 34 laboratórios e biblioteca com oito salas de estudo, para receber 4.890 estudantes e 476 docentes.

Uma obra que está “à altura da ambição” cabo-verdiana para o ensino superior no arquipélago, destacou Ulisses Correia e Silva durante a cerimónia de entrega da obra, sublinhando que representa ainda o “ponto alto” nas relações entre Cabo Verde e a China, pelo volume do investimento e “qualidade da obra”, mas também pelo impacto que representará para o futuro da educação no país, em todo os níveis de escolaridade e gerações.

O novo campus da universidade pública cabo-verdiana, cuja primeira pedra da obra foi lançada oficialmente em 20 de junho de 2017, conta ainda com uma residência de estudantes com 142 quartos e cinco auditórios com capacidade para 150 lugares.

Integra igualmente um salão multiusos com 654 lugares, edifícios de administração, edifícios pedagógicos, centro de serviços, incluindo refeitórios, e campos desportivos.

A obra vai ainda transformar a área envolvente numa zona de expansão onde se situa ainda a Universidade Jean Piaget, a Escola de Hotelaria e Turismo, o Centro de Energias Renováveis e Manutenção Energética, estando previstas outras infra-estruturas.

Com 14 anos de existência, a Universidade de Cabo Verde tem três polos de ensino, nomeadamente na Praia e em Assomada, todos na ilha de Santiago, e um na ilha de São Vicente, com mais de 4.000 estudantes, em cursos profissionalizantes, licenciaturas, especializações, mestrados e doutoramentos.

25 Out 2021

Equipa de filme de Baldwin queixou-se de falta de segurança antes de acidente

Sete pessoas que trabalhavam num filme protagonizado por Alec Baldwin, que matou acidentalmente uma pessoa durante a rodagem, demitiram-se antes deste incidente invocando, entre outras, questões de segurança, noticiou a agência de notícias Associated Press.

Também os jornais norte-americanos Los Angeles Times e The New York Times noticiaram, citando membros da equipa do filme não identificados, que dias antes do incidente fatal, Baldwin já tinha feito dois disparos com balas reais, acidentalmente, por ter usado uma arma que lhe tinham dito que não estava carregada com munições.

Protestos e conflitos surgiram no seio da equipa do filme “Rust”, um ‘western’ protagonizado e coproduzido pelo actor Alec Baldwin, quase desde o início das filmagens, no começo deste mês, em Santa Fé, no Novo México, EUA, revelou a AP no sábado, citando uma das sete pessoas que se demitiu.

A última pessoa a demitir-se, segundo o relato da agência de notícias, foi um operador de câmara, em protesto contra as condições de trabalho, incluindo as de segurança, horas antes de Alex Baldwin ter matado, na quinta-feira passada, a directora de fotografia do filme, Halyna Hutchins, e de ter ferido o realizador, Joel Souza, por ter disparado uma arma carregada com balas reais, ao contrário da indicação que lhe tinham dado, segundo os relatos conhecidos até agora.

Fontes citadas pela AP revelaram que os protestos na equipa que trabalha no filme iam desde condições de alojamento até aos procedimentos de segurança.

Gatilho frio

Segundo a agência de notícias, são usadas por vezes armas reais nos filmes, que podem estar carregas com balas ou cartuchos de pólvora com o objectivo de produzirem um efeito mais real, existindo protocolos de segurança para a sua utilização.

Uma das pessoas que se demitiu afirmou à AP que nunca recebeu ou assistiu à transmissão de orientações sobre a utilização das armas nas filmagens, como normalmente acontece.

Na quinta-feira, segundo os registos da investigação a que a AP teve acesso, no momento em que equipa de filmagem se preparava para ensaiar uma cena, o assistente de realização Dave Halls foi buscar uma arma de adereço que entregou a Alec Baldwin gritando a expressão ‘cold gun’, o que significa que era seguro usar a arma, por não estar carregada com munições verdadeiras.

Quando Baldwin premiu o gatilho atingiu fatalmente a directora de fotografia e feriu o realizador.
A arma disparada era uma de três colocadas num carrinho de adereços, de onde foi retirada por Halls, que a entregou a Baldwin sem saber que estava carregada com cartuchos verdadeiros, segundo os registos da investigação.

Não há ainda certezas sobre quantos cartuchos foram disparados e um invólucro foi retirado da arma depois do acidente pela responsável pelo armeiro no local de rodagem, Hannah Gutierrez. A arma foi entregue à polícia quando chegou ao local.

A agência de notícias AFP escreveu hoje que a investigação está centrada no papel de Hannah Gutierrez, a quem coube preparar as armas para serem usadas no filme, e em Dave Halls. Não foi feita qualquer detenção ou acusação, disse um porta-voz policial citado pela AFP.

25 Out 2021

Exposição | “Voyage”, de Konstantin Bessmertny, patente no Clube Militar

O Clube Militar abre hoje portas a uma nova exposição individual de Konstantin Bessmertny. “Voyage” é o somatório de 17 quadros e uma escultura, quase todos trabalhos inéditos, que remetem para viagens imaginárias a partir de um só lugar. As obras que compõem “Voyage” materializam artisticamente a crítica humorada ditada pelos tempos actuais

 

Konstantin Bessmertny, artista há muito radicado em Macau, nunca teve por hábito expor com frequência em nome próprio. No entanto, as restrições de viagem impostas pelas autoridades devido à pandemia mudaram esse panorama. A prova disso é que abre hoje portas, no Clube Militar, uma nova exposição de Bessmertny, composta quase na totalidade por quadros novos, alguns iniciados este ano, outros terminados agora. Além dos quadros, a mostra conta também com uma escultura em madeira, intitulada “Naked Yoga on the Beach”. A exposição pode ser vista até 6 de Novembro.

Em “Voyage” o artista lançou-se em viagens imaginárias e, ao mesmo tempo, exercícios de viagens no tempo. É assim com os quadros “Battle of Macau. 1622”, que remete para a Batalha de Macau, travada a 24 de Junho de 1622, e que celebrou a vitória dos portugueses sobre os holandeses. Este exercício de história através do pincel é também feito no quadro “The View of Praia Grande before arrival of Jorge Álvares in 1513”, que espelha a visão do artista sobre o momento da chegada dos portugueses ao território.

“Há a ideia de que não estamos a viajar, mas podemos continuar a fazê-lo de forma imaginária ou virtualmente”, contou ao HM.

“Na maior parte dos trabalhos desta exposição construí a imagem de que podemos viajar para qualquer lado, permanecendo num lugar. Acabo por também fazer humor, mas tem muito a ver com a forma como as coisas estão a acontecer à nossa volta”, acrescentou.

Questionado se estes quadros contêm também críticas às restrições em vigor, Konstantin Bessmertny assume que sim, mas que são também “uma análise à situação que temos”. “Não podemos criticar porque vivemos com erros, tentativas. Escolhemos o caminho de saída, cometemos erros e ninguém está livre de os cometer. Mas há países mais avançados que outros ao nível da vacinação. Macau, de certa forma, está atrás comparando com a Europa e outros países em matéria de vacinação, mas aprendemos com os tempos. Quanto mais depressa nos vacinarmos mais depressa podemos passar para a fase seguinte. Apenas espero que Macau possa acelerar esse processo.”

Metáforas e questões

Konstantin Bessmertny não tem viajado porque é claustrofóbico e não quer fazer mais de 14 dias de quarentena num quarto de hotel. Assim sendo, permaneceu em Macau nos últimos meses, facto que naturalmente influenciou a sua produção artística. Para esta mostra pegou em quadros que começaram a ser pintados há muitos anos, alguns na década de 90. Konstantin Bessmertny recuperou-os e terminou-os, quando há muito se tinha esquecido dos seus detalhes.

“Não estamos a viajar fisicamente, mas viajamos numa outra dimensão. Tento mostrar outras formas de viajar, diferentes formas de ver terras longínquas.”

Em “Voyage” há paisagens tropicais, explicadas pelo facto de, no ano passado, o artista ter ficado confinado dois meses na Tailândia. “Comecei a pintar a natureza pois tinha um estúdio no meio da selva. Então surgem labirintos, imagens tropicais, algo completamente diferente.”

O artista explica que esta exposição também olha para o futuro. Konstantin fala da metáfora da sala escura com uma porta que todos desejamos abrir. A pandemia fê-lo criar mais narrativas nos seus quadros, mais interrogações, inclusivamente sobre o que se passa no mundo e no seu país, a Rússia.

“Ando a ler mais do que nunca, tenho mais tempo para me concentrar nos livros que sempre estiveram empilhados no meu estúdio. Há mais narrativas no que estou a fazer. O meu país está a passar por um período complicado. Quando é que a Rússia se vai tornar num país democrático? Quando termina esta autocracia, a ideia louca de pessoas a concentrarem o poder? É uma fase diferente da União Soviética.”

Ler tornou-se, nos últimos tempos, um elixir inspirador para pintar. “Poderia dizer que me sinto mais criativo devido à pandemia. Não tenho experiências a viajar, não vou a museus, não visito amigos. A minha fonte de inspiração vem da literatura.”

Outra das obras que o público pode rever nesta exposição é o quadro “Yam Cha. Grand Finale”, já presente numa das mostras da Bienal de Macau.

“Gosto de fazer coisas que nunca fiz antes, por isso tenho tantas séries de quadros. Não acredito que um artista tenha um só estilo, de propósito, porque é chato pintar sempre da mesma maneira. Quero desafiar-me a mim próprio, fazer algo que nunca fiz”, contou.

Uma espécie de exercício

Fazer “Voyage” foi, para Konstantin Bessmertny, o resultado de uma espécie de exercício físico. “Escolhi salas digitais, feiras de arte e galerias online, mas não é a mesma coisa. Continuo a ter de fazer [exposições presenciais], como uma espécie de exercício físico. Macau é um local muito pequeno, e penso que ter uma exposição a cada cinco anos, ou três, é mais do que suficiente, mas agora faço uma exposição por ano.”

Konstantin Bessmertny dá também aulas e também aí teve de se adaptar à nova realidade. Os quadros de “Voyage” são, portanto, o espelho das constantes adaptações que o mundo teve de fazer perante a pandemia.

“Dar aulas através do Zoom é quase como se fosse realidade virtual. Como podemos ensinar a misturar cores através do Zoom? Estamos a enfrentar uma situação absurda na maior das vezes e temos de aprender a viver com isso”, conclui.

25 Out 2021

Salão de Outono | Nova edição arranca este sábado com obras de 80 artistas locais

É já este sábado que se inaugura mais uma edição do Salão de Outono, uma exposição promovida pela Fundação Oriente e pela AFA e que se pauta por mostrar o que de melhor se faz no panorama local das artes. Nomes como Alexandre Marreiros, Francisco Ricarte, Alice Kok ou Ricardo Meireles fazem parte da mostra deste ano

 

A Fundação Oriente (FO) inaugura este sábado, na Casa Garden, o Salão de Outono 2021 e anuncia o vencedor do prémio para as Artes Plásticas, um programa de intercâmbio artístico de um mês em Portugal.

A iniciativa, organizada em parceria com a Art For All Society (AFA), apresenta 84 obras de quase outros tantos artistas que vivem e trabalham em Macau. As obras seleccionadas incluem pintura a óleo e a acrílico, vídeo, desenho, escultura, fotografia, gravura e instalação. O evento tem como objectivo “estabelecer uma plataforma entre os artistas” locais e o público.

Um dos artistas participantes nesta mostra é Francisco Ricarte, arquitecto que tem feito incursões na área da fotografia. Desta vez, o autor apresenta três imagens que funcionam como um conjunto, e que se intitula “Quiet Days”.

“São fotos tiradas no final de 2017 no Vietname, mas só este ano é que trabalhei nelas. São fotos que estão em linha de conta com o que tem sido a minha prática fotográfica corrente e que traduzem a minha perspectiva sobre os locais, naquilo que é uma certa relação e observação dos locais feita de uma forma específica”, contou ao HM.

Francisco Ricarte está ligado ao Salão de Outono desde 2013. “É uma forma de participar nos eventos e na actividade cultural de Macau que é algo que me dá muito gosto.”

O arquitecto diz também que a sua fotografia não constitui um meio de reportagem e que as imagens que captura “não são bilhetes postais”. “São reflexões sobre os locais e sentimentos que podemos ter a olhar para determinados espaços e realidades visuais. A luz, o contraste, as sombras, e é algo que me dá muito gosto em interpretar”, frisou.

Um contraponto

Outro artista português que participa na edição deste ano do Salão de Outono é Ricardo Meireles, também arquitecto. O autor apresenta a sua peça “Waste Land”, onde trabalha a montagem da imagem recorrendo ao software digital.

“Posteriormente usei outra técnica que tem a ver com algo que tenho feito noutras peças, a colagem manual da imagem na tela. [Esta peça] tem a ver com a nossa actualidade e com o que tem acontecido nos últimos dias. É uma imagem figurativa de um robot, que representa a parte tecnológica no futuro, a propensão de desenvolver mais a tecnologia, relações virtuais. Entra em contraponto com aquilo que acontece ao estarmos a fazer isto, o que fica para trás, a marca carbónica que deixamos.”

“Waste Land” data de 2018 e revela esta “ambivalência e contraponto das duas situações”, onde, no nosso dia-a-dia, recorremos às últimas tecnologias nas nossas relações sociais ignorando “o desperdício que fazemos”. Existe, nesta obra de Ricardo Meireles, “a ideia de um consumismo sem que olhemos para o que está à nossa volta”.

A sua presença na exposição do Salão de Outono “é mais um marco positivo a nível pessoal, pelo facto de entender que aquilo que eu faço tem gerado uma reacção positiva nos outros”.

Alexandre Marreiros, arquitecto macaense, é também outro dos artistas que participa nesta edição do Salão de Outono com a obra “Intercepted Agregation”, constituída por três painéis de grandes dimensões.

“É um trabalho que explora a dúvida que fui tendo em Macau, sobre os recuos e avanços da globalização e o panorama que vivemos em Macau”, adiantou ao HM o artista.

Trata-se de um novo trabalho desenvolvido por Alexandre Marreiros que afirma ter regressado à gravura, apesar de continuar a “gostar muito de trabalhar em papel de grandes dimensões”.

Participam ainda nesta mostra nomes como Alice Kok, Angel Chan, Álvaro Barbosa, Celeste C. da Luz, Chan Ka Lok, Chan San San, Chan Sze Wai, Chan Yat Wan, Cheong Chan Kit, Cheong Leong, Chiang Wai Lan, David Shao, Derrick Loi, Durate Esmeriz, Edmundo Remédios Lameiras, Fan Sai Cheong, Fong Hoi Lam e Ieong Man Hin, entre outros.

22 Out 2021

Literatura | Paulina Chiziane dedica Prémio Camões 2021 às mulheres

O Prémio Camões 2021 serve para valorizar o papel das mulheres numa altura em que o seu trabalho ainda é subvalorizado, disse na quarta-feira à Lusa a escritora moçambicana Paulina Chiziane, depois de receber a distinção.

“Afinal a mulher tem uma alma grande e tem uma grande mensagem para dar ao mundo. Este prémio serve para despertar as mulheres e fazê-las sentir o poder que têm por dentro”, referiu a autora.

Chiziane foi a primeira mulher a publicar um romance em Moçambique, com “Balada de amor ao vento”, em 1990. “Quando eu comecei a escrever, ninguém acreditava naquilo que eu fazia. Porque eram escritos de mulher”, referiu, numa alusão à temática do género, um dos fios condutores da sua obra.

Paulina Chiziane, 66 anos, confessou-se confusa com a notícia do prémio. “Eu nem sequer me lembrava que o prémio Camões existia”, porque os confinamentos provocados pela COVID-19 deixaram-na “bem fechada em casa, desligada de tudo”.

O prémio surgiu como uma surpresa bem-vinda. “Uma surpresa muito boa para mim, para o meu povo, para a minha gente”, que em África escreve “o português, aprendido de Portugal”. “E eu sempre achei que o meu português não merecia tão alto patamar. Estou emocionada”, acrescentou.

O seu último trabalho foi “A voz do cárcere” escrito em conjunto com Dionísio Bahule, lançado este ano, em Maputo, depois de ambos entrarem nas prisões e ouvirem os reclusos – ela a escutar as mulheres, ele, os homens.

“Há tantas ideias”, disse à Lusa sobre o futuro, ideias que “nem sempre o corpo consegue realizar”.

Mas pode ser que “este prémio seja um motor para eu me sentir um pouco mais de pé, porque às vezes fico cansada”, seja pela idade, referiu, ou pelo impacto “da COVID, que impede tudo”, disse, numa alusão à pandemia.

Paulina Chiziane disse que o Prémio Camões pode ser “um alento novo”, um símbolo que de que a sua caminhada “valeu a pena” e de que “é preciso continuar a lutar”.

A escolha da escritora moçambicana foi feita por unanimidade pelo júri do Prémio Camões 2021, anunciou na quarta-feira a ministra portuguesa da Cultura, Graça Fonseca.

A decisão destaca a “vasta produção e receção crítica, bem como o reconhecimento académico e institucional” da obra, segundo nota que anunciou a distinção.

A autora esteve em Macau em 2013 como um dos nomes integrantes do cartaz do Festival Literário Rota das Letras.

22 Out 2021

Portugal | Pauliteiros de Miranda querem reforçar candidatura a Património da Humanidade no Dubai

Os Pauliteiros de Miranda querem reforçar candidatura a Património da Humanidade no Dubai.
“Os Pauliteiros de Miranda do Douro, cuja candidatura a Património Imaterial da Humanidade está a ser preparada, vão representar o destino Porto e Norte de Portugal na Expo 2020 Dubai, com duas atuações no domingo, Dia das Nações Unidas numa ação conjunta do Turismo do Porto e Norte [TPNP] e da AICEP [Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal]”, indicou a TPNP em nota enviada a Lusa.

Como é tradição, os Pauliteiros serão acompanhados por um grupo de músicos, nomeadamente um gaiteiro, um tocador de bombo e um tocador de caixa, num total de 15 elementos em atuação.

“Esta é uma iniciativa conjunta entre o Turismo do Porto e Norte de Portugal, o Município de Miranda do Douro e a AICEP, com o objetivo de promover esta prática ancestral e dar visibilidade à candidatura dos Pauliteiros de Miranda do Douro a Património Imaterial da Humanidade da UNESCO, na categoria de manifestações musicais e correlacionadas. Esta tradição de Miranda do Douro, remonta ao século III e, inicialmente, era uma espécie de preparação para a guerra. Hoje é um manifesto de celebração das colheitas e do Solstício de Verão e uma dança de paz”, descreve a mesma nota.

O presidente do Turismo do Porto e Norte, Luís Pedro Martins, explica que levar o destino Porto e Norte de Portugal ao palco da Expo 2020 Dubai “representa a ambição do destino em marcar uma posição no Médio Oriente, a região turística mundial que é apontada como a que irá ter maior crescimento até 2030, e é igualmente uma excelente oportunidade para realizar um conjunto de encontros com operadores e órgãos de comunicação social do Médio Oriente”.

Nesta ação promocional, o Turismo do Porto e Norte posiciona a sua oferta junto de um mercado de “alto rendimento”, com “alto poder de compra”, que contribui para o desempenho do destino em indicadores de crescimento em valor, como são os que representam a sustentabilidade económica concretamente a estada média, os proveitos, e a diminuição da sazonalidade, mas também para os indicadores que representam a sustentabilidade sócio-cultural, como a coesão territorial, o reforço da identidade local e a valorização das tradições.

A presidente da Câmara Municipal de Miranda do Douro, Helena Barril, vê nesta ação uma oportunidade para impulsionar a candidatura dos Pauliteiros a Património da UNESCO.

“Estamos a falar de um evento de projeção mundial numa das economias mais dinâmicas da atualidade e por isso só podemos ficar satisfeitos por podermos divulgar esta tradição tão autêntica e genuína, junto de um vasto auditório”, afirma, citada na nota, acrescentando que é convicção do município que “esta atuação no recinto da feira ficará na memória de todos, nesta fusão de música, danças e cantares que transmite uma energia e uma alegria contagiantes e, de certeza, será também uma experiência marcante para os membros dos Pauliteiros de Miranda”, concluiu.

Por seu turno, Francisca Guedes de Oliveira, vice-comissária de Portugal para a Expo 2020-Dubai, considera que o Pavilhão de Portugal na Expo 2020 Dubai é uma montra do que de melhor há no país.

“Faz todo o sentido promover as tradições portuguesas que nos tornam únicos e são símbolos da nossa Portugalidade, neste placo de projeção mundial”, assinala.

A tradição dos Pauliteiros e Gaiteiros de Miranda do Douro tem especial enfoque nas festas de São João Evangelista (em Constantim) e de Nossa Senhora do Rosário (São Martinho e Palaçoulo), que partilham entre si a participação de grupos de Pauliteiros Mirandeses, executando danças e rituais que se demarcam por completo dos âmbitos e limites da mera exibição folclórica que caracteriza todos outros grupos de pauliteiros mirandeses.

Com efeito, assumem um protagonismo determinante e imprescindível para a estruturação de todo o ritual festivo.

22 Out 2021

Português aprovado como língua oficial dos tribunais de contas da CPLP

O português foi ontem aprovado como língua oficial dos tribunais de contas da CPLP e vai ser proposto para ter o mesmo papel na organização mundial destes organismos, conforme decidido num encontro em Lisboa.

A XXI assembleia geral da organização das Instituições Superiores de Controle (ISC) da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) foi a primeira presencial desde o início da pandemia e juntou em Lisboa todos os representantes dos tribunais de contas dos países da comunidade e de Macau, como observador.

No final do encontro, o secretário-geral da ISC da CPLP, Walton Alencar Rodrigues, disse à agência Lusa que a dimensão do português no mundo é de tal forma que justifica ser a língua oficial da organização, além de facilitar os trabalhos dos tribunais de contas e o acesso dos documentos às instituições nos vários países lusófonos da comunidade.

“O português é uma língua riquíssima que merece ser difundida e mais divulgada por todo o mundo. Além disso, existe uma solicitação natural dos países africanos e do mundo que fala português no sentido de tornar o português a língua oficial da organização, o que permitirá que todos os textos que são aprovados pela organização sejam em português, sem necessidade de tradução”, referiu.

Gonçalo Leitão, porta-voz do Tribunal de Contas de Angola, disse à Lusa que um dos “grandes desafios” destas organizações é o acesso aos conteúdos produzidos, o que poderá ser muito facilitado se os mesmos estiverem na língua portuguesa.

“Será uma forma de colocar em pé de igualdade os países lusófonos de África”, referiu.

Em Angola, disse, um dos grandes desafios do Tribunal de Contas tem sido o reforço da política de comunicação da instituição, de modo a combater a “fraca divulgação” do trabalho produzido.

Na reunião de hoje da ISC da CPLP foi ainda aprovada uma proposta para que o português seja a língua oficial da Organização Mundial dos Tribunais de Contas (Intosai), que reúne todos os tribunais de contas do mundo e que tem como línguas oficiais o inglês, o francês, o espanhol, o alemão e o árabe.

Esta proposta será debatida na reunião que se realizará no próximo ano, altura em que o Brasil, que atualmente assume a vice-presidência da Intosai, assumirá a presidência da organização.

Para o presidente do Tribunal de Contas português, anfitrião do encontro, esta oficialização do português na organização mundial é uma evolução natural, uma vez que se trata de uma língua “cada vez mais forte no mundo”.

“Na Intosai já era reconhecido como língua de trabalho, mas queremos que seja uma língua oficial. Isso significa que toda a documentação, todas as reuniões da organização mundial passam a ser traduzidas e interpretadas em português, com benefício para todos os países de língua portuguesa”, disse.

Para José Tavares, a medida hoje aprovada, ao nível da CPLP, vai “facilitar muito e poupar recursos às instituições, aos tribunais de contas” da comunidade.

No encontro foi debatido “o papel que os cidadãos esperam dos tribunais de contas” que, segundo José Tavares, passa pelo cumprimento da agenda 2030 e dos seus 16 objetivos de desenvolvimento sustentável em áreas tão abrangentes como a educação, ambiente, igualdade de género, combate à pobreza.

“Cabe ao tribunal de contas verificar se cada um dos nossos está a conseguir desenvolver as medidas necessárias para atingir esses objetivos”, disse.

Durante a reunião, muitos países de língua portuguesa manifestaram preocupação pela necessidade do controlo das obras públicas, além da preocupação permanente do combate à fraude e à corrupção.

José Tavares sublinhou a importância do “fortalecimento interno” das instituições e da “capacitação dos auditores”, anunciando que Portugal vai acolher, no próximo ano, o primeiro congresso de jovens auditores de cada um dos países da organização.

Como exemplo das possibilidades da cooperação entre as instituições dos vários países, referiu que as contas da CPLP, que durante anos foram auditadas por empresas privadas de auditoria, são agora auditadas pelos tribunais de contas dos países da comunidade.

Todos os anos, dois tribunais de contas de dois países da CPLP assumem esta tarefa, de forma gratuita, cabendo atualmente às instituições de Portugal e São Tomé e Príncipe.

Está igualmente a ser preparada uma auditoria a nível mundial, com a participação dos Tribunais de Contas dos países que compõem a Intosai, a qual deverá realizar-se em 2023, e que terá como tema o ambiente, anunciou José Tavares.

22 Out 2021

IIM | Exposição com imagens de concurso dia 26 no Lou Lim Ieoc 

É inaugurada na próxima terça-feira, dia 26, no pavilhão Chun Chou Tong, jardim Lou Lim Ieoc, a exposição de fotografias do concurso “A Macau que eu mais amo!”, promovido pelo Instituto internacional de Macau (IIM) em parceria com a Associação de Fotografia Digital de Macau, o Clube Leo Macau Central e a Associação dos Embaixadores do Património de Macau.

As imagens que integram esta exposição foram captadas pelos vencedores do concurso. Na categoria estudantes, venceram Cheong Man Hou, Ao Wai Ieng e Wang Jun Jing, enquanto que na categoria geral foram premiadas as fotografias de Cheong Chi Fong, Lei Heong Ieong e Lei Wai Leong.

Além disso, foi atribuída uma menção honrosa a uma dezena de obras, tendo sido também entregue um prémio especial a sócio da Associação de Fotografia Digital de Macau. Esta mostra estará patente até ao dia 30 deste mês.

Segundo um comunicado do IIM, o concurso contou com “uma participação significativa de jovens estudantes e do público”, tendo recebido mais de 222 imagens.

21 Out 2021

Festival da Lusofonia | Escolha do mês de Dezembro não agrada a associações 

Está confirmada a realização do Festival da Lusofonia em Dezembro, mas duas associações ouvidas pelo HM discordam da data, por ser um mês cheio de eventos e obrigar a ajustes financeiros e de pessoal. Caso continuem os cortes orçamentais e as alterações à organização do evento, a participação da Associação dos Macaenses nas próximas edições está em risco

 

A Casa de Portugal em Macau (CPM) e a Associação dos Macaenses (ADM) discordam da escolha do mês de Dezembro para a realização da 24.ª edição do Festival da Lusofonia. Segundo a TDM Rádio Macau, o evento deverá realizar-se no fim-de-semana de 10 a 12 de Dezembro.

O descontentamento prende-se com a realização de vários eventos e actividades nesse mês, associados ao Natal, além de que permanecem os cortes orçamentais que trazem maiores dificuldades na realização do evento conforme os moldes dos anos anteriores.

“Dezembro é um mês péssimo”, disse ao HM Amélia António, presidente da CPM. “Isso obriga a que tenhamos de dar a volta a muita coisa. Temos as vendas de Natal, há jantares. Temos de reorganizar o calendário e há coisas que não se podem mudar”, frisou a responsável.

No caso da ADM, o calendário fica ainda mais apertado, pois nesse mês, além de realizar o habitual jantar de Natal, a associação celebra 25 anos de existência. “Não sei como vamos fazer isto e que tipo de representação vamos ter nesse dia [sábado], porque também temos falta de pessoal. Ou estamos na Lusofonia ou na festa de Natal”, disse o seu presidente, Miguel de Senna Fernandes.

O também advogado referiu que há a possibilidade de a ADM estar representada de forma simbólica no sábado, dia em que acontece a festa de Natal, para que depois possa ter o seu espaço no festival a funcionar como habitualmente. “Mesmo assim vai ser complicado estarmos lá na sexta-feira. Temos falta de apoios financeiros e humanos e isso pesa no sucesso da festa.”

Miguel de Senna Fernandes vai mais longe e diz que o que se passa “é uma aberração”. “As autoridades têm de pensar como querem o Festival da Lusofonia. Este tipo de actividades são fundamentais para Macau, um território multicultural, como querem mostrar para todo o mundo. Se continua assim para o próximo ano não pomos os pés no festival. Este tipo de pensamento é uma aberração e é não ter a mínima consideração pelas pessoas que querem fazer de Macau um local cultural de sucesso.”

Amélia António confirmou ao HM que as associações não foram contactadas previamente sobre a escolha da nova data para o festival e lamenta aquilo que leu no comunicado oficial, que refere que “o Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa deste ano incluirá o Festival da Lusofonia”.

“O festival de artes e cultura é uma coisa nova, aconteceu duas vezes, não tem tradição e é um acontecimento com um outro nível cultural e artístico, organizado oficialmente pelo Instituto Cultural. Não tem nada a ver com o espírito popular do Festival da Lusofonia.”

Para Amélia António “é preocupante esta visão, porque a ideia que é transmitida é que se pretende minguar uma coisa que é grande e que as pessoas não gostam que seja grande”.

Pouco dinheiro

Em termos financeiros as associações são apoiadas pelo IC com 50 mil patacas, não podendo usar outros subsídios no mesmo evento. Isso traz grandes entraves à presença da ADM, pois Miguel de Senna Fernandes garante que esse orçamento serve apenas para construir e decorar a barraca, sem incluir as comidas, bebidas e restantes actividades.

“A impossibilidade de duplicar o apoio deixa a ADM absolutamente fragilizada. Se continuar esta maneira de ver as associações da Lusofonia, fica comprometido o êxito do festival nos próximos anos, porque ninguém vai ter dinheiro e paciência para estar na Lusofonia. Pelo menos nós, ADM, já estamos aflitos com falta de dinheiro e ainda nos cortam todas essas coisas. A continuar com esta política fica comprometida, da parte da ADM, a nossa participação nos próximos anos.”

Miguel de Senna Fernandes acrescentou ainda que as autoridades devem ter “muita sensibilidade e condescendência nos apoios financeiros, tendo em conta as finalidades a que se destinam e as condições debilitadas em que se encontram as associações que se batem pelo sucesso desta actividade cultural”.

No caso da CPM, que todos os anos oferece no seu espaço alguns petiscos, isso vai deixar de acontecer, ficando apenas garantida, nesta edição, a oferta de sangria. “É evidente que não queremos deixar de participar, porque são mais de 20 anos de um festival popular que cada vez trazia mais pessoas e que é muito apoiado pela população.”

“A Lusofonia, além de ser um momento de convívio, é rico para Macau, marca a maneira de viver e de estar em Macau, das suas diferentes comunidades. A festa da Lusofonia é extremamente importante e não pode morrer. Temos de fazer todo o esforço para continuar, mas há coisas que são preocupantes”, rematou a presidente da CPM.

21 Out 2021

Breve nota sobre o Governador José Carlos da Maia (1878-1921)

Tereza Sena apresenta no HM uma nota biográfica de José Carlos da Maia, Governador de Macau entre 1914 e 1916 e assassinado em Lisboa há 100 anos, no âmbito do episódio “Noite Sangrenta”. A historiadora está a preparar um livro sobre estes anos marcados pela implantação da República em Portugal e na China, sem esquecer a I Guerra Mundial. A autora disse que o livro “está muito avançado”, mas o projecto encontra-se , para já, suspenso, não podendo ser adiantada uma data para a sua conclusão

São de todos conhecidos o carácter idealista, a filiação maçónica e a prática carbonária, bem como a acção revolucionária que tornou Carlos da Maia num dos heróis da República, convicções essas que, uma vez à frente dos destinos de Macau, o fizeram apoiante da jovem República chinesa e, muito particularmente, de Sun Yat Sen (1866-1925), seu fundador e primeiro Presidente, como é testemunhado na por demais conhecida carta de agradecimento que este lhe endereçou em 23 de Junho de 1916. Motivada pelo facto de Maia ter recusado a extradição dos apoiantes de Sun Yat Sen fugidos para Macau após o afastamento deste da Presidência e a reviravolta de Yuan Shikai (1914-1966), atribuindo-lhes o estatuto de “refugiados políticos” e negando o de “criminosos” — por via do qual deveriam ser entregues, ao abrigo do estipulado no Tratado de 1887 —, poderá, na opinião de alguns autores, testemunhar uma relação bem mais activa e empenhada por parte do Governador português na causa revolucionária chinesa.

Da sua curta governação, que se estendeu efectivamente de 10 de Junho de 1914 a 5 de Setembro de 1916, sabe-se ter sido tão próspera e empreendedora que obteve grande apoio da comunidade chinesa, à qual deu pela primeira vez assento no Conselho de Governo, onde veremos então pontuar o primeiro grande magnata do jogo, Lou Lim Ioc (Lu Lianruo) (1884-1955). Mas também, que se preocupou com a segurança de Macau em tempo de guerra, onde inclusivamente criou o Batalhão de Voluntários de Macau, e com o fomento da colónia impulsionando diversas infraestruturas e empreendimentos que mudaram para sempre a vida da cidade. Entre estes, e entre outros, temos o início da construção da Avenida Almeida Ribeiro, ligando a Praia Grande ao Porto Interior, dando o pontapé de saída no tão almejada e sempre adiado projecto do porto de Macau, só concretizado na década seguinte. Foi também no seu mandato, e durante a chefia de José Vicente Jorge (1872-1848) — e sob a proposta deste —, que a Repartição do Expediente Sínico foi reformulada e regulamentada, tal como a respectiva Escola, o que tudo demonstra uma activa interacção com o meio, passem embora as tensões suscitadas aquando da tentativa de criação da Carta Orgânica de Macau, cujo primeiro projecto elaborou.

Contudo, graves divergências com a Metrópole, e nomeadamente com Afonso Costa (1871-1937), que, de Presidente do Executivo passara à pasta das Finanças no Ministério da União Sagrada, levaram-no a pedir a exoneração em 18 de Junho de 1916.

Recusada esta, Carlos da Maia anuncia a partida em 30 de Julho, e seguirá para Portugal — via Japão, Américas e com escala em Xangai onde Sun Yat Sen reorganizava as suas forças —, em 5 de Setembro de 1916, donde nunca regressará. Vai, oficialmente e devidamente autorizado, para conferenciar com o Ministro das Colónias — que era também o Presidente do Ministério —, deixando o Governo de Macau entregue a Manuel Ferreira da Rocha (1885-1951), que o assegurou até 21 de Junho de 1917, quando se constituiu um Conselho Governativo.

Na origem do descontentamento de Carlos da Maia parecem estar quer a ampliação dos poderes judiciais dos cônsules portugueses — nomeadamente no caso do escândalo dos passaportes portugueses passados a chineses em Xangai —, quer divergências quanto ao destino a dar aos dinheiros de Macau que, segundo reza a tradição, abundariam por essa época nos seus cofres. Não sendo autorizado a depositá-los nos bancos de Hong Kong para virem a suportar as obras do porto de Macau como pretendia, Maia vira-se até obrigado a remeter 100 contos de réis para Lisboa, a título de empréstimo, para socorrer outras colónias. Embora o recurso aos saldos positivos de Macau não fosse inédito, as finanças públicas portuguesas estariam então ainda mais exauridas do que habitualmente com as avultadas “despesas de guerra”.

O processo de exoneração de Carlos da Maia foi algo atribulado e reflecte a grande instabilidade governativa resultante da forte agitação e conflitualidade políticas que Portugal então vivia — que acabarão por o vitimar —, sem também deixar de espelhar rivalidades e visões antagónicas que perpassavam a vida político-administrativa de Macau, em sede parlamentar, e pela mão do tenente Francisco Gonçalves Velhinho Correia (1882-1943), eleito deputado por Macau em 1916, cuja candidatura Maia não patrocinara. Ressalvando-lhe embora a “honorabilidade pessoal”, colocará este correligionário de Afonso Costa sob escrutínio toda a actividade governativa de Carlos da Maia, que acusava de autoritário, prepotente, perdulário, questionando-lhe a falta de capacidade governativa e alguma permeabilidade aos chineses, ou, talvez melhor, falta de firmeza para com eles. Reproduzindo o discurso das forças conservadoras macaenses, que o apoiavam, elegerá para tema principal da sua interpelação os gastos com as obras do porto de Macau — cuja prossecução levava Maia a Portugal —, mas requeria também o acesso integral a uma série de processos existentes no Ministério envolvendo Carlos da Maia.

O Governador — que voltara a pedir e a ver recusada a demissão em Dezembro de 1916 — contará no parlamento com o apoio de Alexandre Botelho de Vasconcelos e Sá (1872-1929), de João Tamagnini Barbosa (1883-1948) e de Abílio Marçal, todos eles republicanos desiludidos que em breve adeririam à “República Nova” de Sidónio Paes (1872-1918).

Fosse ou não uma campanha orquestrada para derrubar Carlos da Maia, a que eventualmente Velhinho da Costa se prestaria também movido por razões pessoais — como o acusara Vasconcelos e Sá —, o certo é que, menos de um mês depois, em 12 de Junho de 1917, e no mesmo 3º governo de Afonso Costa, em exercício de 25 de Abril a 8 de Dezembro de 1917, é decretada a exoneração de Carlos da Maia. Viria ela, no entanto, a ser declarada sem efeito por Decreto de 9 de Fevereiro de 1918, já no tempo de Sidónio Paes. De facto, só se tornará definitiva com outro diploma, de 1 de Junho de 1918, depois de, na Metrópole, Maia já ter presidido à Comissão Administrativa da Câmara Municipal de Lisboa, entre Janeiro e Março de 1918, e de ter sido nomeado Ministro da Marinha em 9 de Março. Não obstante ter deixado o cargo em 7 de Setembro do mesmo ano conseguiu nesse curto mandato introduzir reformas de vulto na organização do Ministério, logo se demitindo e pondo fim à sua efémera adesão activa ao Sidonismo, a que o levara a desilusão e a humilhação atrás descrita. E provavelmente também a influência do grupo que então o defendia, e onde também pontuava o histórico herói da Rotunda Machado Santos (1875-1921), seu companheiro, o que nunca lhes será perdoada pelas alas mais radicais, como a História virá a demonstrar.

No executivo de José Relvas (1858-1929) — aquele mesmo que da varanda da Câmara Municipal de Lisboa proclamara a implantação da República —, Maia teve uma igualmente brevíssima passagem, desta vez pelo Ministério das Colónias, entre 27 de Janeiro e 21 de Março de 1919. Não se esqueceu, mesmo assim, de uma série de indivíduos de Macau e da diáspora macaense, com destaque para os seus corpos militares, nomeadamente os Corpos de Voluntários de Macau e de Xangai, condecorando-os pelos feitos na conjuntura de beligerância pela qual se acabava de passar. Em 8 de Março de 1919 também fará atribuir a Comenda da Ordem de Sant´iago da Espada pelos “serviços prestados às letras e artes de Macau” a Camilo Pessanha, seu irmão maçónico e indivíduo por quem nutria especial estima e admiração e a quem muita apoiara no processo de doação de parte da sua colecção de arte chinesa a Portugal.

Pouco mais de dois anos depois Carlos da Maia encontrará a morte, sendo barbaramente assassinado ao lado de outros heróis da República como Machado de Santos, e do presidente do Ministério já demissionário, António Granjo (1881-1921), naquela que ficou para a História como a noite sangrenta de 19 de Outubro de 1921, em circunstâncias nunca convenientemente averiguadas.

Não o esqueceram, no entanto, os homens do Batalhão de Voluntários de Macau, por ele criado como se referiu, que, na passagem do 3º aniversário da sua morte, em 19 de Outubro de 1924, farão colocar uma lápide no seu jazigo na Rua 21 do Cemitério dos Prazeres em Lisboa, então erigido, juntando-se assim àqueles que, com tal homenagem, pretendiam acima de tudo fazer justiça à memória de Carlos da Maia, que ficaria para a História como um herói e romântico revolucionário.

Excerto de um livro em preparação

 

Tereza Sena

Investigadora Adjunta Sénior do Centro Xavier de Investigação para a Memória e Identidade, da Universidade de São José, Macau
Macau, 19 de Outubro de 2021

20 Out 2021

José Luís Peixoto, escritor: “Cada livro é um degrau para os próximos”

O mais recente romance de José Luís Peixoto, “Almoço de Domingo”, à venda em Macau, tem como figura central Rui Nabeiro, o pai dos cafés Delta. Apresentado no fim-de-semana passado no FOLIO – Festival Internacional de Literatura de Óbidos, Portugal, o romance foi construído a partir de entrevistas com Rui Nabeiro e representa o interesse do escritor em explorar a fronteira “dúbia” entre ficção e realidade

 

Há pouco, na sessão de autógrafos, falava com uma leitora sobre o livro “Uma Casa na Escuridão”, que já faz 20 anos. Esperava ter chegado até aqui?

Sempre tive essa esperança. Ainda assim, nunca foi muito garantido. É por isso que hoje, quando constato que, passados 20 anos, ainda aqui estou, a publicar livros num caminho sempre ascendente, com cada vez mais leitores e mais reconhecimento, é muito gratificante. Dá-me também muito entusiasmo para o que aí vem, porque na escrita olhamos sempre para o futuro, a trabalhar em algo que está por vir.

Isso passa por uma evolução como escritor, na forma de escrita? Já se aventurou pela poesia e pela literatura de viagens com o livro sobre a Coreia do Norte. Pretende agora trazer algo de novo?

Às vezes tenho a sensação de que cada livro é como um degrau que depois me leva aos próximos. Na verdade, quando olho para cada livro que escrevo, como é o caso deste último, [Almoço de Domingo], tenho sempre a sensação de olhar para os anteriores e de encontrar neles o que me levou a escrever esse livro. Neste momento, estou num ponto em que tem sido muito interessante para mim trabalhar a fronteira muito dúbia entre a ficção e o factual.

E a não ficção.

Entre a ficção e o que é o histórico, de certa forma. Tenho vindo a tratar disso noutros livros com relações autobiográficas assumidas, como no caso do livro da Coreia do Norte ou no “Caminho Imperfeito”, que fala da Tailândia e que também tem essa dimensão de não ficção. Também já inclui figuras e pessoas conhecidas que todos sabemos que existem ou que existiram, como é o caso de José Saramago no romance “Autobiografia” ou de Rui Nabeiro neste último livro. Tem sido muito interessante, porque passear nessa fronteira assenta um pouco quase neste mal-entendido, que existe desde há séculos, sobre o que é real e não é, o que é verdade e não é. Muitas vezes são colocadas essas questões assentando-as no debate ficcional e autobiográfico quando, de facto, esta questão não se prende com esses temas, porque existe uma verdade na ficção também. Ainda assim, é um tema que recorrentemente é trazido e que hoje em dia se encontra muito em múltiplos aspectos da nossa sociedade. Lembro-me dos reality shows, por exemplo.

Uma realidade um bocado construída.

Sim, um bocado fabricada. Acho interessante reflectir sobre isso, porque as ficções, na vida, são muitas, e de vários tipos. É muito comum, no nosso dia-a-dia, darmos por ficcionais coisas que têm uma dimensão biográfica importante, e darmos como concretas coisas que são muito trabalhadas ficcionalmente.

No caso de “Almoço de Domingo”, o que é real e ficcional na “personagem” de Rui Nabeiro?

É muito curioso porque, sendo o Rui Nabeiro uma pessoa tão concreta, presente, puxa-nos logo para essa dimensão do quotidiano, do real. Mas, por outro lado, neste livro vemos que ele está dividido em três partes que correspondem a três dias concretos, que são 26, 27 e 28 de Março de 2021. O livro chegou às livrarias antes dessas datas, então claro que tudo o que aconteceu foi ficcionado. Mas quando construí esses episódios tive em consideração os hábitos e as características do Rui Nabeiro. Mas é uma construção. O mesmo acontece, talvez de uma forma mais subtil, em relação aos acontecimentos do passado. Esses detalhes parecem insignificantes, mas são eles que constituem a experiência de estar e de ser. Este livro é, na sua essência, um texto de ficção. Para mim é muito interessante todos os vínculos que ele estabelece com o real, por muito que isso depois acrescenta à própria leitura e identidade do texto, até sob ponto de vista prático. O facto de o próprio Rui Nabeiro sentir que a sua história é contada ali, acho fascinante.

Ele transmitiu-lhe isso?

Recebi essa informação sempre um bocadinho indirectamente. Sempre que lhe fiz essa pergunta directamente ele escapou. Ele nunca foi muito objectivo, mas ouvi ele responder a essa pergunta a várias pessoas e a dizer que estava contente. E isso para mim é suficiente.

Fizeram várias entrevistas.

Sim, tivemos conversas em que eu chegava com as minhas questões e temas preparados, e normalmente falava sobre assuntos sobre os quais tinha mais dúvidas e sobre detalhes. São eles que dão vida às descrições e precisava muitas vezes que ele me desses detalhes. Mas em alguns momentos a minha memória e as minhas referências também foram muito úteis. Descrever, por exemplo, a pequena mercearia que a mãe do Rui Nabeiro tinha quando ele era criança contou muito com as memórias que tinhas das mercearias na minha aldeia.

“Almoço de Domingo” remete para quê?

Para já, “Almoço de Domingo” tem a ver com um momento importante do romance que é, na verdade, o coração do livro, em que existe um cruzamento de vários momentos da vida de Rui Nabeiro e daquela família, as gerações do passado e do presente, e até do futuro. A minha ideia era que esse título exprimisse imediatamente a ideia de família, porque esse é um aspecto muitíssimo importante na vida do Rui Nabeiro, o seu projecto e na forma como ele estruturou toda a sua vida. Ao mesmo tempo, como patriarca, é uma figura que está num ponto em que olha para um lado e vê uma quantidade de gerações do passado que ele testemunhou, e olha para outro e vê as gerações do presente e do futuro que não conheceram essa realidade, e ele é a única ponte entre os dois.

Escreveu o romance “Galveias”, uma aldeia no Alentejo de onde é natural, e este último romance é sobre Rui Nabeiro, uma figura também da região. Este é um livro que faz uma nova homenagem ao Alentejo?

Escrever sobre aquele Alentejo foi uma grande oportunidade que este livro em proporcionou. Porque tem muitas realidades. No caso de Campo Maior é impossível contar a história daquele lugar ignorando a fronteira. É marcante a todos os níveis. Tinha alguns ecos da fronteira quando era criança, chegava ali a televisão espanhola, mas não se compara com essa vida [do tempo de Rui Nabeiro]. Foi interessante acrescentar esse Alentejo ao que eu já escrevi. Vem na sequência do meu interesse por ir alargando o meu retrato desta região. No caso do livro “Galveias”, falando especificamente de espaços, acaba por se encontrar uma forma de ser bastante genérica também. Uma das coisas mais engraçadas, e que me acontece muito, é quando encontro pessoas que me dizem “a minha Galveias chama-se tal”. Galveias passa a ser um exemplo, uma referência. E o Rui Nabeiro tem os seus elementos concretos, mas pode ser a referência de um homem, daquela idade, numa outra região.

19 Out 2021

Novo livro de Maria Helena do Carmo conta a vida de Pedro Gastão Mesnier, secretário do Governador Visconde de São Januário

Se dominasse a língua chinesa, Maria Helena do Carmo escreveria sobre Deng Xiaoping, que segundo a sua óptica mudou a China para sempre. Por enquanto, é sobre a história de Macau que se debruça. O seu mais recente livro, “Macau no tempo áureo do comércio”, conta a história de Pedro Gastão Mesnier, secretário do Governador Correia de Almeida, Visconde de São Januário, e do fim do comércio de cules

 

Como chegou a Pedro Gastão Mesnier, uma figura histórica ligada a Macau e que é quase desconhecida?

Eu também a desconhecia, até que António Aresta escreveu sobre o Pedro Gastão Mesnier e finaliza com a frase “quem sabe se um dia Maria Helena do Carmo não faz daqui um romance”. Fiquei intrigada. Foi um desafio, um estímulo ele escrever isso. Fui verificar quem era o sujeito e vi que tinha morrido muito novo, com 37 anos. Questionei-me como alguém que morreu tão novo se tornou numa figura tão importante. Investiguei em Macau e na Biblioteca Nacional em Portugal coisas que escreveu. Durante a pandemia tive a sorte de encontrar online os boletins da província de Macau e Timor nos anos em que Pedro Gastão Mesnier lá esteve. Ele era um dos escritores dos boletins. Consegui saber o que ele fez na Índia. Soube da história anterior, da ida para Londres aos 17 anos, e que já estudava línguas orientais ainda em miúdo. Tive acesso a extractos da sua vida, porque ele escreveu nesses boletins sobre a viagem que fez com o então vice-rei da Índia, que depois foi Governador de Macau, Januário Correia de Almeida, Visconde de São Januário. Deram uma volta pela Índia e depois encontrei testemunhos sobre tudo o que se passou em Macau. Achei extraordinário, um homem que conviveu com o príncipe da Rússia, futuro Czar, com o rei do Sião. Mas houve outro aspecto que me intrigou bastante.

Qual foi?

Estudei a história de Macau desde os seus primórdios e sempre achei que Macau era uma cidade muito pobre, mesmo já tendo entrado no negócio do ópio.

Falamos de que data?

Até ao século XVII Macau não estava muito mal porque havia negócios de Goa para o Japão. A partir de 1640 tudo se transformou, deixámos de ter Malaca e em Macau começa a sentir-se um certo empobrecimento. A minha tese foi sobre a primeira metade do século XVIII, sobre a pobreza que se prolongou até à segunda metade do mesmo século. E estranhei que no século XIX tenha surgido imensa riqueza.

Deu-se então o “tempo áureo do comércio”, que dá nome ao livro.

Exacto. Os chineses que levavam uma vida muito humilde, mas alguns construíram palacetes, e isso intrigou-me. Dei então com o comércio dos cules, que já tinha começado em Amoy, com uma firma francesa, que, entretanto, foi seguido por outros portos, inclusivamente por Hong Kong. Mas foi sendo proibido o comércio por outros portos, devido aos tratados de comércio assinados com a China. Só Macau não concluiu o tratado.

Não foi ratificado.

Sim. E assim aproveitaram Macau para ter uma porta de escoamento dos cules. Eram feitos contratos por oito anos, e claro que os chineses estavam interessados em sair [do país], porque no tempo dos imperadores pagavam muitos impostos e eram extremamente pobres. Como acabou a escravatura, a necessidade de mão-de-obra levou os franceses a buscarem trabalhadores [chineses] com contrato de trabalho. No início não havia problemas, mas depois quando virou negócio encontrámos uma série de chineses a aliciarem outros, porque ganhavam com isso.

Gerou-se um caso diplomático e de violação de direitos humanos.

Macau era o único porto onde continuava esse comércio e aquilo começou a ser abusivo. Havia macaenses e chineses envolvidos no negócio, donos de embarcações e com armazéns. Nessa altura, os pobres lavradores [chineses] já iam para as Américas, Cuba, África, sobretudo América Central, para os caminhos-de-ferro na Califórnia. Era mão-de-obra barata. E depois começa um comércio de quase escravatura, porque quem os recebia ficava com as suas cédulas e não os deixavam ir embora.

Qual o papel do Visconde de São Januário para travar este comércio, já na qualidade de Governador?

Teve de facto atitudes muito correctas, mas não foi o primeiro a tentar formas disciplinadas de negócio. O Visconde da Praia Grande foi talvez o primeiro. Mas o Visconde de São Januário conseguiu terminar com o negócio dos cules.

Mas quem teve a mão mais forte para a proibição deste comércio? Foi o Governador de Macau ou o ministro da metrópole, à época, Andrade Corvo?

Tenho a impressão de que os ministros aqui em Portugal não tinham muito a ideia do que se passava noutros locais. Não estavam presentes e sabiam apenas o que lhes era contado. É natural que tenha sido o Visconde de São Januário, através do correio diplomático, que tenha levado à decisão de Andrade Corvo.

O comércio dos cules era uma pedra no sapato nas relações entre Portugal e a China?

Era, apesar de o Visconde de São Januário já acordado verbalmente em 1872… e penso que o Pedro Gastão Mesnier também teve um papel importantíssimo porque investigou muita coisa e foi emissário do Visconde de São Januário a Cantão, com outros sinólogos. Fez um trabalho de investigação muito importante sobre o que se estava a passar. E era ele que informava o Governador.

O que mais a surpreendeu na figura de Pedro Gastão Mesnier?

O facto de ser um aventureiro, de ser extremamente inteligente. Nunca concluiu um curso, mas esteve cinco anos em Coimbra. Devia ser uma daquelas pessoas que queria saber tudo. Ele retornou a Coimbra [depois de sair do Oriente] para ir novamente com o Visconde de São Januário para as Américas, largou de novo a sua licenciatura. Mas era um escritor admirável. Os extractos que encontrei sobre o tufão [um dos maiores que assolou Macau] mostra como era admirável na sua escrita. Admiro as pessoas cultas e ele era muito culto. Algumas coisas inventei, como o amor que teve [no Japão]. Mas há um enredo amoroso verdadeiro.

O romance macaense?

Sim, o do barão que se apaixonou pela cunhada e teve uma filha com ela. O nome dela está registado nas Famílias Macaenses. A filha ficaria em Hong Kong órfã, porque os pais morreram cedo, quando tinha 13 anos. E era ilegítima, o que naquela época era igual a ser renegada. Falo da Madre Teresina, que no livro é Teresa de Trento, e coloco-a a falar com a amante do barão. Há uma rua em Macau com o nome Madre Teresina.

O livro acaba por abordar também como era a comunidade macaense na época, mais conservadora.

Exacto, e logo pelo facto de serem cristãos. Tinham posições elevadas, porque os macaenses eram os únicos intérpretes dos europeus e nasceram na terra, dominavam o terreno. E a maioria dos macaenses eram ricos. Na altura, muitos chineses preferiam pertencer a Macau e serem considerados macaenses, dava um certo estatuto. Mas claro que a China mudou imenso desde então. Admiro imenso Deng Xiaoping. Se tivesse capacidade para ter acesso a fontes chinesas, se soubesse traduzir, era para mim um homem excepcional [para escrever sobre].

Fala de um romance?

Não, uma biografia. Eu vou muito para o real.

Escrever sobre Macau e a sua história continua a ser um desafio? Ainda existem muitos temas por explorar?

De facto, existem. Não sei se vou continuar devido a vários factores. O primeiro tem a ver com a minha idade, a visão, a saúde. Tenho também de encontrar um tema muito apaixonante que consiga investigar.

18 Out 2021

FOLIO | Exposição de Rosa Coutinho Cabral e Carlos Morais José em Óbidos

“Visto com os pés, escrito com os olhos” é o nome da exposição de rua que integra a edição deste ano do FOLIO – Festival Literário Internacional de Óbidos, e que conta com fotografias de Rosa Coutinho Cabral e textos de Carlos Morais José. As imagens foram capturadas na Rua Direita, em Óbidos, e remetem para outras perspectivas da realidade

 

Serão poucas as vezes que olhamos para baixo e encaramos as coisas sob a perspectiva dos nossos pés, ignorando o que os nossos olhos vêem. Foi com este pensamento que a realizadora e encenadora Rosa Coutinho Cabral fotografou pedaços da Rua Direita, em Óbidos, imagens que podem agora ser vistas na rua principal da histórica vila portuguesa, numa exposição que integra a edição deste ano do Festival Literário Internacional de Óbidos (FOLIO) ontem inaugurada.

Carlos Morais José, director do HM e escritor, é o autor dos textos que acompanham as imagens. “Os textos não são explicativos mas sim alusivos às imagens que a Rosa captou, acrescentam coisas que não estão nas imagens mas que se podem imaginar a partir delas ou que se podem ver num outro plano. Quer seja um plano do realmente visível, ou um plano simbólico e imaginário”, referiu ao HM.

As imagens foram captadas na última edição do FOLIO, conforme contou Rosa Coutinho Cabral ao HM. “Fiquei atraída pelas texturas quase pictóricas das paredes, os restos e as marcas dos equipamentos, como caixas de electricidade e bueiros, as faixas de azul anil e amarelo. São marcas que conferem à Rua Direita de Óbidos uma fisionomia particular mas que é praticamente invisível aos olhos, porque está ao nível dos pés.”

A cineasta e encenadora descreve que, nesta exposição, “como em tudo na arte, não há uma mensagem em particular”, mas sim “uma forma de abordar o real ou aquilo que nos rodeia”. “Eu tive essa vontade de, de certa maneira, tornar visível uma matéria que é bastante invisível”, apontou.

Esta mostra nasceu também graças ao apoio da editora portuguesa Ler Devagar. Foi a própria Rosa Coutinho Cabral que convidou Carlos Morais José para a elaboração dos textos, dando continuidade a uma colaboração antiga.

“Pareceu-me, quando estava a fotografar, que seria muito interessante ter temas que não coincidissem com o que se via, mas com o que não se vê ao nível dos olhos”, afirmou.

O lugar do outro

A edição deste ano do FOLIO tem como tema “O Outro” e esta mostra pretende, aliás, ser o reflexo de isso mesmo, criando outras perspectivas. Até porque, como escreve Carlos Morais José a propósito da mostra, “em cada lugar há uma outra imagem”.

“A ideia que ficou desta experiência de escrita e de fotografia é que, de alguma maneira, cada uma das imagens é um outro a partir do outro, são experiências de produção artística e literária. Não só aquilo que se vê a partir dos pés é uma outra forma de ver, é um outro olhar, e depois há uma parte invisível que vem das próprias palavras”, disse a autora das imagens.

Acima de tudo, Rosa Coutinho Cabral diz ter ficado “muito feliz” pela aceitação do projecto e pela oportunidade de colaborar novamente com Carlos Morais José. O autor do texto acaba por ser “a outra pessoa, neste caso o meu outro, nesta proposta de alteridade entre as imagens e as palavras”.

Para Carlos Morais José, é sobretudo “muito gratificante” o facto de esta mostra estar patente na rua e não num espaço expositivo fechado.

Óbidos e Pessanha

Muito mais do que abordar os inúmeros outros, esta exposição acaba por também estabelecer uma ligação com a relação que o poeta português Camilo Pessanha tem com a vila de Óbidos, onde viveu e trabalhou antes de ir para Macau, nos primórdios do século XX.

“A memória da sua passagem pela cidade ficou registada, entre outros documentos, no poema ‘Castelo d’Óbidos’, incluído [na obra] Clepsydra. Mais recentemente, o FOLIO convidou-me, enquanto escritor de Macau, para estar presente. Este ano a nossa relação continuou. Seria interessante manter esta ligação entre as duas cidades, os seus escritores e talvez entre os seus festivais literários”, adiantou Carlos Morais José. A mostra “Visto com os pés, escrito com os olhos” está patente até 24 de Outubro.

Portas abertas

O FOLIO começou ontem e promete dar ao público 11 dias de literatura, música e arte com a presença de 175 autores e escritores. Esta edição marca o regresso do FOLIO aos eventos presenciais depois da pandemia, com um programa que inclui 160 actividades e 16 mesas de autor e debates, além de outras iniciativas.

A título de exemplo, a conversa de ontem juntou autores como Leïla Slimani e Juan Gabriel Vasquez e foi o ponto de partida para as mesas por onde passarão Isabel Lucas, Itamar Vieira Júnior, Jeferson Tenório, Paulo Scott, Fernando Rosas, Lilia Schwarcz e Richard Zimler.

A escritora chinesa Jung Chang também estará presente, juntamente com autores como Mário Lúcio, Mário de Carvalho, Alberto Manguel, Pedro Mexia, Ricardo Araújo Pereira, Dulce Maria Cardoso, João Paulo Borges Coelho, Ana Margarida de Carvalho, Ana Luísa Amaral, Amália Bautista e Tatiana Levy, entre outros. O tema da edição deste ano é “O Outro”, com a inclusão de uma novidade: a banda desenhada. O programa celebra também a obra do escultor José Aurélio e os 50 anos da galeria Ogiva, em Óbidos, da qual foi fundador.

15 Out 2021

Novo livro de Astérix foi lançado esta segunda-feira 

O álbum de banda desenhada “Astérix e o Grifo”, lançado esta segunda-feira, mostra os gauleses Astérix e Obélix numa viagem ao encontro dos nómadas Sármatas, anunciou o grupo editorial francês Hachette Livre.

“Astérix e o grifo” é assinado pelo argumentista Jean-Yves Ferri e pelo desenhador Didier Conrad, a dupla que tem dado continuidade à série criada há mais de 60 anos por René Goscinny e Albert Uderzo.

Este é o 39.º álbum de BD protagonizado pelos gauleses Astérix e Obélix e terá uma tiragem mundial de cinco milhões de exemplares, com edição simultânea em vários países.

Sobre “Astérix e o Grifo”, a filha do desenhador, Sylvie Uderzo, revelou que esta é a derradeira história que o pai ainda acompanhou, nos primeiros esboços e trabalho de escrita, antes de morrer em Março de 2020.

Na nova banda desenhada, Astérix e Obélix rumam a Leste no encalce do exército romano, que quer capturar um grifo por ordem do imperador Júlio César. É num território desconhecido e gelado, de paisagens brancas na Ásia Central, que os gauleses encontram os Sármatas, povo da antiguidade que é considerado antepassado dos Eslavos.

Além da galeria habitual de personagens, a narrativa conta ainda com um geógrafo romano que tem de partir com a expedição militar, e a quem os autores da BD emprestaram a fisionomia do escritor francês Michel Houellebecq.

Abordagem ecológica

Na apresentação do álbum à imprensa, em Vanves, região de Paris, o argumentista Jean-Yves Ferri explicou que “Astérix e o Grifo” tem ainda uma abordagem sobre ecologia.

“Os romanos representam um pouco a atitude, digamos, ocidental em relação à natureza e à maneira como se servem dela, enquanto os Sármatas são apresentados como respeitadores do ambiente, em particular dos animais. Os gauleses estão ali no meio, entre ambos”, afirmou Ferri.

Além de Astérix e Obélix, entre as personagens que povoam o imaginário criado por Uderzo e Goscinny, contam-se ainda o druida Panoramix, o bardo Cacofonix e o pequeno cão Ideafix, entre muitas outras.

O irredutível guerreiro gaulês apareceu pela primeira vez em Portugal, nas páginas da revista Foguetão, no dia 4 de Maio de 1961. A primeira edição portuguesa de um álbum de Astérix data de 1967, e foi “Astérix, o Gaulês”.

12 Out 2021

FCM | Cultura macaense revelada a alunos em Portugal

Os alunos de uma turma do ensino primário da Escola EB1 São João de Deus, em Lisboa, vão saber mais sobre a cultura macaense graças ao projecto “Macau: Entre o Oriente e o Ocidente”, levado a cabo pela Fundação Casa de Macau. Esta iniciativa tem a duração de três anos e poderá contar com a participação da Escola Portuguesa de Macau

Ensinar a cultura macaense aos mais pequenos é aquilo a que se propõe a Fundação Casa de Macau (FCM) no seu mais recente projecto, intitulado “Macau: Entre o Oriente e o Ocidente”, desenvolvido em parceria com o agrupamento de escolas D. Filipa de Lencastre, em Portugal. O protocolo foi assinado no passado dia 24 de setembro.

O projecto, que arrancou já este mês, começou com uma turma do ensino primário da escola EB1 São João de Deus, em Lisboa, podendo ser alargado a outras escolas. A ideia é que esta iniciativa dure até 2024, ou seja, durante três anos lectivos, conforme explicou ao HM a secretária-geral da FCM, Joana Silva.

“A professora [Elisabete Correia Marques] definiu áreas que serão trabalhadas, sempre com a temática de Macau no horizonte. Vamos trabalhar com os alunos a culinária macaense, as festividades e os costumes. Também vamos procurar ter uma interacção com outras disciplinas. Vamos tentar, por exemplo, que na disciplina de expressão plástica os alunos possam fazer réplicas de cerâmica chinesa.”

Para já, a única entidade que está associada a este projecto é o Centro Cultural e Científico de Macau, mas há também a ideia de juntar a Casa de Macau em Lisboa. Está também na calha a realização de um intercâmbio com a Escola Portuguesa de Macau (EPM), sendo que poderá ser realizada uma visita de estudo ao território, ainda sem data prevista.

“Como é um projecto para ser feito em três anos temos tempo para ir inserindo outros parceiros”, adiantou Joana Silva.

Visitas e pesquisas

A primeira actividade deste projecto passou por uma visita de estudo às instalações da FCM, na zona do Príncipe Real, no passado dia 8. “A Fundação acaba por ser, ela própria, um mostruário [da cultura macaense]. Depois, os alunos vão trabalhar em aula outros temas mais específicos.”

Além dos estudantes do ensino primário, alunos mais velhos também poderão participar neste projecto que poderá chegar a outras escolas de Lisboa e do país.

“Já antes da pandemia tínhamos esta ideia de que há falta de conhecimento de Macau junto do público infanto-juvenil português, devido à renovação de gerações e falta de ligação. Uma das acções da FCM é precisamente essa [dar a conhecer a cultura]. Já antes fazíamos algumas actividades pontuais com as escolas.”

Joana Silva assume que é “responsabilidade” da FCM mostrar esta cultura “muito ímpar, mas também diferente”. “O facto de as crianças serem muito novas é a idade ideal para absorver [novas coisas] e despertar a curiosidade”, rematou.

Além das visitas, será feita a apresentação de trabalhos, que inclui também a participação dos encarregados de educação dos alunos, e ainda a realização de pesquisa e investigação sobre Lisboa e a RAEM. Entre Outubro de 2022 e Junho de 2024 está agendado um intercâmbio entre turmas. Não está, para já, definido um orçamento para este projecto, sendo que caberá à docente “contactar diferentes organismos públicos e privados com vista a que se estabeleçam parcerias e, eventualmente, alguns patrocínios”.

12 Out 2021

UNESCO | Gravações de Amália Rodrigues candidatas a “Memória do Mundo”

O Ministério da Cultura vai candidatar as gravações de Amália Rodrigues ao programa da UNESCO “Memória do Mundo”, pelo “valor universal excepcional do registo da sua voz e da sua música”

[dropcap]“N[/dropcap]o ano em que se celebra o centenário de Amália Rodrigues, queremos sublinhar a importância e o valor universal excepcional do registo da sua voz e da sua música, fazendo jus à sua carreira de dimensão mundial, através do reconhecimento pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) das gravações da cantora como “Memória do Mundo””, afirmou ontem a ministra Graça Fonseca, em comunicado.

A candidatura será promovida através da equipa do Arquivo Nacional do Som, em colaboração com a empresa Edições Valentim de Carvalho, proprietários da colecção de fitas-magnéticas gravadas pela intérprete entre 1951 e 1990 e de outras gravações, algumas nunca publicadas, como ensaios, diferentes ‘takes’, experiências de gravação, gravações informais, entre outras.

Segundo a tutela, a candidatura surge na sequência do trabalho há muito desenvolvido pela Valentim de Carvalho na preservação e divulgação deste fundo documental, e do início de um trabalho conjunto com a equipa do Arquivo Nacional do Som. O ministério sublinha que esta candidatura não só afirma a importância do fundo documental como reforça, na prática, a visibilidade destes documentos.

Amália Rodrigues, intérprete associada a um repertório português como é o Fado, foi responsável pelo conhecimento e projecção deste género além-fronteiras, sem ter deixado de se preocupar com a sua renovação.

Quando fala em fronteiras, o Governo refere-se a “todas as fronteiras”, ultrapassando as meramente territoriais, que ficaram marcadas pela apresentação da cantora “ao vivo” e pela publicação dos seus discos “praticamente em todo o mundo, da Austrália ao Azerbaijão”, com actuações tanto em palcos de pequenas aldeias italianas, como no Lincoln Center de Nova Iorque.

Linguagem universal

Amália Rodrigues ultrapassou também as fronteiras linguísticas, interpretando repertório em diversas línguas, como português, castelhano, italiano, francês, ou inglês, mas sobretudo as fronteiras do género musical, “afirmando-se como intérprete do fado, mas também das rancheras mexicanas, do flamenco ou da canção italiana, entre outros repertórios, inspirando autores como Charles Aznavour ou Vinicius de Moraes que para ela compuseram”.

Graças a uma capacidade musical “fora de série”, a cantora “revolucionou o género nas suas múltiplas dimensões: musical, poética, estilo interpretativo”.

A candidatura das gravações de Amália Rodrigues à UNESCO tem uma forte vertente patrimonial, de reconhecer a importância universal destes documentos, de os preservar e divulgar. Mas o Ministério da Cultura pretende também “reafirmar inequivocamente o compromisso nacional de desenhar, implementar e fortalecer uma política consolidada para o património sonoro”.

“Estamos a trabalhar para instalar as infraestruturas tecnológicas do Arquivo Nacional de Som, encerrando definitivamente uma história já com 85 anos. E estamos a fazê-lo e vamos sempre fazê-lo com todos os agentes detentores de património sonoro”, destaca o comunicado.

O programa “Memória do Mundo” é uma iniciativa da UNESCO que visa realçar e preservar documentos ou conjuntos de documentos com especial significado e valor para a humanidade, documentos (também fonográficos) com “importância mundial e valor universal excepcional”.

Passado preservado

As primeiras inscrições tiveram lugar em 1997, e até hoje já foram inscritos como “Memória do Mundo” mais de 400 documentos ou conjuntos de documentos, da Magna Carta, à Bíblia de Gutenberg.

Portugal inscreveu até hoje 10 documentos, entre os quais o Tratado de Tordesilhas, o Diário da primeira viagem de Vasco da Gama à Índia, a Carta de Pêro Vaz de Caminha, ou o registo de vistos atribuídos pelo cônsul português Aristides Sousa Mendes.

No domínio do património documental sonoro, são vários os documentos inscritos: o disco com a gravação do apelo à resistência francesa na II Guerra Mundial pelo General de Gaulle; as colecções históricas dos arquivos de som de Viena, de Berlim e de São Petersburgo; as 103 fitas-magnéticas com a gravação do julgamento de Frankfurt – Auschwitz; ou uma colecção de discos comerciais de Carlos Gardel.

A candidatura das gravações de Amália Rodrigues será a primeira candidatura portuguesa de um documento audiovisual.

7 Out 2021

Cruzeiro Seixas em destaque na feira de arte internacional Frieze

O percurso e obra do mestre do surrealismo português, falecido há cerca de um ano, voltam a ser objecto de homenagem numa prestigiada feira de arte intenacional

[dropcap]A[/dropcap] obra de Cruzeiro Seixas vai estar em destaque na feira de arte internacional Frieze, em Londres, entre 13 e 17 de Outubro, enquanto trabalhos dos portugueses Hugo Lami e Pedro Sousa Louro vão ser expostos em eventos paralelos.

Documentos, cartas, desenhos, poesia e desaforismos, alguns dos quais inéditos, do surrealista português, que morreu no ano passado aos 99 anos, vão estar entre trabalhos raramente vistos de figuras pouco conhecidas mas consideradas pioneiras da arte de vanguarda do século XX.

A exposição chega pela mão da Perve Galeria, que fez a selecção de trabalhos produzidos ao longo de cinco décadas, com especial ênfase no trabalho desenvolvido pelo artista enquanto viveu em Angola, ao longo de 12 anos, entre 1952 e 1964.

O período em Angola destaca-se não só pelo uso de materiais nativos que na altura causaram fricções com o regime e a polícia política de Salazar, mas também por ter sido quando “descobriu a poesia”, influenciando a sua produção artística posterior, disse à agência Lusa o diretor artístico da Perve Galeria, Carlos Cabral Nunes.

A mostra é a segunda exposição internacional do Ciclo de Celebração do Centenário de Cruzeiro Seixas, que a Perve tem vindo a promover desde 2020.

“Cruzeiro Seixas não é só um artista português, é um extraordinário artista internacional. A sua obra transcende a nossa própria condição de país periférico. Ele é o artista português na história que mais obra realizou, com uma linguagem própria, muito multifacetada e surpreendente”, defende.

A Secção Spotlight tem curadoria da norte-americana Laura Hoptman, actual diretora do museu Drawing Center em Nova Iorque, e que durante anos dirigiu o Museu de Arte Moderna da mesma cidade (MoMA), e é dedicada a artistas vanguardistas do século XX.

Este ano vai incluir obras de artistas como Woody Vasulka, Franca Sonnino, Obiora Udechukwu, Feliciano Centurión, Santi Alleruzzo, entre muitos outros.

A galeria de Lisboa é a única portuguesa entre 130 galerias internacionais na Frieze Masters, a parte da feira internacional dedicada a artistas anteriores ao século XXI.

Ouras presenças

O evento “irmão”, Frieze London, dedica-se à arte contemporânea e artistas ainda vivos, com obra posterior ao ano 2000.

Juntas, atraem anualmente cerca de 60 mil visitantes, como programadores, artistas, coleccionadores, galeristas e críticos, bem como o público em geral, mas em 2020 realizou-se num formato digital devido à pandemia covid-19.

Aproveitando a presença de especialistas internacionais em Londres, muitas galerias realizam exposições paralelas para coincidir com a Frieze, como é o caso da Neon Art Gallery, que vai promover uma exposição individual do português Hugo Lami.

Intitulada “Life Found on the Moon” (“Encontrada Vida na Lua”, em tradução do inglês), a exposição decorre entre 11 e 17 de Outubro.

Lami vive entre Lisboa, onde estudou Pintura na Escola Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, e Londres, onde concluiu um mestrado em Escultura no Royal College of Art.

Também residente e formado em Londres, no Chelsea College of Arts, o português Pedro Sousa Louro participa numa exposição colectiva de mais de 70 artistas de 25 países na Saatchi Gallery.

A StART Fair pretende marcar o lançamento da StART.art, uma plataforma de comércio electrónico para artistas.

Já no âmbito da Frieze Sculpture, uma das maiores exposições de escultura ao ar livre de Londres, que decorre até 31 de Outubro, expõe o português José Pedro Croft.

A exposição tem curadoria, pelo nono ano consecutivo, de Clare Lilley, directora do programa no Parque de Esculturas de Yorkshire, e apresentará também trabalhos das artistas brasileiras Solange Pessoa e Vanessa da Silva.

6 Out 2021