FRC | Sara Augusto em palestra sobre a visão do inferno de Dante

A Fundação Rui Cunha (FRC) apresenta, no próximo dia 7, pelas 18h30, uma palestra sobre os 700 anos da morte do escritor e poeta italiano Dante Alighieri, que terá como oradora Sara Augusto, professora do Instituto Politécnico de Macau (IPM). Esta conferência é uma das primeiras do ciclo “Visões, Imagens e Memórias na Arte e na Literatura”, organizadas e apresentadas pela académica.

A temática do inferno estará patente nesta conversa, que irá remeter para as referências do “sonho dantesco” e da “visão dantesca”. Estas “são expressões que se tornaram sinónimas de visão infernal numa linguagem culta e informada, mas cuja explicação implica uma abordagem mais ampla, que vai da literatura à arte, atravessando séculos de expressão poética e artística”. Dante é, contudo, apontado ainda como o grande responsável das visões do paraíso e do purgatório que nos chegaram.

No IPM desde 2016, Sara Augusto é doutorada em Literatura Portuguesa pela Universidade Católica Portuguesa, tendo trabalhado como professora auxiliar na mesma universidade (1991-2009) e na Universidade de Coimbra (2009-2014), onde cumpriu também funções de investigadora, afecta ao Centro de Literatura Portuguesa.

1 Dez 2021

FRC | Mostra de Artes da ARTM exibe obras de 25 pacientes a partir de hoje

A Galeria da Fundação Rui Cunha acolhe a partir de hoje, até 9 de Dezembro, “Dare to Feel from Inside Out”, a Mostra Anual de Artes da ARTM – Associação de Reabilitação de Dependências de Macau, que reúne trabalhos de mais de 25 pacientes em tratamento. Além das obras expostas, a mostra junta fragmentos, episódios, na jornada a caminho da recuperação

 

De dentro para fora, colocando na tela, na peça de olaria, na escultura, medos e fragilidades, o coração, aquilo que custa a sair em palavras. O resultado emocional da criação artística é o núcleo da exposição “Dare to Feel from Inside Out”, a Mostra Anual de Artes da ARTM – Associação de Reabilitação de Dependências de Macau (ARTM), que é inaugurada hoje, às 18h30, na Galeria da Fundação Rui Cunha.

A mostra, patente até 9 de Dezembro, reúne um conjunto diverso de peças de pintura e artesanato criadas nos últimos 12 meses por mais 25 pacientes, em processo de recuperação na comunidade terapêutica da ARTM.

A expressão artística tem sido uma das vertentes da abordagem terapêutica a problemas de adição desde que a associação existe. “Praticamente desde o início da ARTM, no ano 2000, que usamos a terapia de arte como uma componente para o autoconhecimento e desenvolvimento das capacidades das pessoas”, conta Augusto Nogueira, que preside à associação. A criação permite a busca do sentido de identidade, por vezes perdido entre consumos e vidas duras, a transmissão de sentimentos através da arte, auto-reflexão e a procura de paz interior.

A exposição, patente na Galeria da Fundação Rui Cunha, é um testemunho de um processo que Augusto Nogueira assistiu muitas vezes durante os workshops de terapia da arte. “Vemos a evolução da pessoa, desde a passagem da introversão à extroversão, à capacidade para enfrentar medos, para se soltar”, conta o presidente da ARTM.

Aliado, obviamente, a outras vertentes do processo terapêutico, são trabalhadas valências de comunicação, “musculação” da autoconfiança que atingem o zénite no momento em que as obras são exibidas. “Os pacientes quando vêem os seus trabalhos expostos, com pessoas a gostarem, têm um reforço do ego. Todo este processo resulta em alterações que podemos ver no dia-a-dia”, relata Augusto Nogueira.

Coisas do quotidiano

Os trabalhos manuais e o artesanato aparecem como uma componente importante na vida diária da comunidade da ARTM, como treino vocacional que usa a criatividade.

“A recuperação é uma jornada onde sentimentos e emoções são reconquistados juntamente com a vida de cada um. É o resgate de uma mistura de sentimentos que por vezes é preciso abordar bem devagar. Para muitas pessoas são sentimentos protegidos, muito bem escondidos pela história de cada um. Entender a raiva.

Enfrentar o medo. Sentir a culpa. Aliviar a dor. Conhecer a sensação de segurança e pertença. Descobrir o significado do amor próprio faz parte desta jornada de recuperação. É uma experiência única, feita por cada um que tenha a coragem de reaver a própria vida, ousando sentir”, sublinha a associação no seu projecto de intenções.

Na relação com o poder público, Augusto Nogueira afirma que sempre teve apoio para realizar a componente de terapia de arte no processo de reabilitação. “Foi uma área em que sempre nos apoiaram e motivaram a continuar, também através de apoios financeiros para termos equipamento e materiais, como, por exemplo, rodas de oleiro e o forno para trabalhos de cerâmica”, conta o dirigente da ARTM.

A Associação de Reabilitação de Dependências de Macau é uma organização local sem fins lucrativos, que oferece programas terapêuticos para a recuperação da toxicodependência e outras dependências, como o jogo e o álcool.

1 Dez 2021

Governo cria programa de visitas virtuais a vários museus

O Instituto Cultural (IC) decidiu criar um programa de visitas virtuais a mais quatro museus do território, depois de ter criado o mesmo sistema para o Museu de Macau e o Museu de Arte de Macau. Desta forma, os interessados podem agora visitar online o Museu Vivo Macaense das Casas da Taipa, o Museu da História da Taipa e Coloane, o Museu Memorial de Xian Xinghai e o Espaço Patrimonial Uma Casa de Penhores Tradicional.

Este sistema é composto por salas de exposição virtual com recurso à tecnologia de realidade virtual online, onde os interessados poderão ter acesso a uma visita digital ao museu obtendo um espaço de visualização de 360 graus.

Estas visitas virtuais estão disponíveis em português, chinês tradicional e simplificado, e inglês. Os visitantes podem digitalizar um código QR ou aceder à página de Realidade Virtual (RV) Online do IC, utilizando o rato ou tocando no monitor para circular livremente nos diferentes espaços de exposição. O IC promete continuar a apostar na integração dos recursos de museus com a tecnologia, promovendo as visitas digitais.

29 Nov 2021

Toy Fest | Exposição de brinquedos artísticos arranca segunda-feira

Entre 29 de Novembro e 5 de Dezembro, a Travessa dos Trens, acolhe o “Macau Art Toy Festival 2021”, uma mostra que, além de obras de Taiwan, Hong Kong, China, Escócia e América Latina, inclui workshops e bancas de produtos. Para a curadoria, esta é uma forma de arte que utiliza o brinquedo enquanto meio para contar histórias e expressar sentimentos

 

Não são propriamente brinquedos, mas às vezes parecem. A partir da próxima segunda-feira e até 5 de Dezembro, o Nº6 da Travessa dos Trens, junto á Praça Ponte e Horta, vai acolher a 1ª edição do “Macau Art Toy Festival”, evento dedicado à exibição de cerca de 60 brinquedos artísticos da autoria de criadores locais, do Interior da China, Taiwan, Escócia e América Latina.

O conceito de brinquedo enquanto forma de arte, explica uma das curadoras do evento, Anny Chong, é algo que já existe há algum tempo, pelo menos desde que apareceram artistas como Michael Lau (Hong Kong), que no final dos anos 90 captaram a atenção do circuito comercial e, consequentemente, de uma crescente comunidade de interessados, nas suas criações e noutras que começaram a nascer a partir daí.

Aqui, explica Chong, ao contrário dos brinquedos típicos, é a vertente artística e a expressão criativa que está no centro da equação, já que o brinquedo em si, assume apenas a função de suporte.

“Esta é uma grande indústria que tem já uma vasta comunidade fora de Macau. Aqui, esta é uma área pouco conhecida, pois as pessoas focam-se essencialmente no brinquedo em si e não na vertente artística, mas é precisamente o contrário. Normalmente os coleccionadores e designers focam-se mais na vertente artística e o brinquedo, enquanto objecto, é encarado apenas como meio para expressar as suas histórias e criatividade”, começou por dizer ao HM.

Por isso, acrescentou Anny Chong, o evento tem como principal objectivo “mostrar às pessoas de Macau que os brinquedos artísticos não são brinquedos como as Barbies, que podemos comprar na Toys “R” Us”. “Queremos mostrar a toda a gente que estamos a falar de obras de arte”, rematou.

Ao longo dos setes dias em que decorre a iniciativa, além da exibição de cerca de 60 obras de artistas de Hong Kong, Taiwan, Escócia e países da América Latina como a Colômbia, Argentina e Venezuela, os interessados poderão ainda participar em workshops de criação de brinquedos artísticos entre os dias 4 e 5 de Dezembro ou visitar as bancas de venda de produtos que estarão disponíveis nesses mesmos dias.

Além disso, frisando que todas as peças expostas em Macau são originais, Cassidy Chan, explicou que será ainda possível participar numa visita guiada online ao espaço, numa das sessões agendadas para o dia 5 de Dezembro.

Para todos os gostos

Para Felipe Wong, também curador do “Macau Art Toy Festival”, a iniciativa tem a mais-valia de permitir aos visitantes “perceber os diferentes processos técnicos e criativos associados a este tipo de arte” e “assimilar histórias contadas por pessoas de contextos muito diferentes, através de brinquedos”.

“No nosso festival, os visitantes podem efectivamente conhecer os artistas que fizeram as obras que estão a ver, com as suas próprias mãos em vez de interagir com uma peça feita, muito provavelmente, por uma máquina”, começou por evidenciar.

“Os brinquedos artísticos são para admirar, observar cores e texturas, vivenciar história e experimentar o seu processo de criação até ao resultado final”, acrescentou.

Sobre o processo de selecção dos artistas e obras que podem ser vistas a partir de segunda-feira, Anny Chong vincou a ideia de relegar o aspecto comercial para segundo plano, trazendo à tona, sobretudo a “personalidade forte” dos artistas. “Procurámos, sobretudo, obras de arte que não pareçam demasiado comerciais (…), pois queríamos trazer a Macau obras de artistas e designers independentes. O nosso principal critério passou por mostrar a personalidade dos designers, independentemente do estilo, técnicas ou materiais utilizados”, partilhou a curadora.

Acerca do desenvolvimento do sector em Macau, Anny Chong não tem dúvida de que “as pessoas estão a começar a despertar para a existência dos brinquedos artísticos”, apesar de, muitas vezes, “não saberem exactamente do que se trata”. “Tem havido um crescimento sólido na procura por este tipo de trabalhos e peças”, rematou.

26 Nov 2021

Portugal e Espanha candidatam documentos da viagem de Magalhães à memória da UNESCO

Portugal e Espanha apresentam até terça-feira uma candidatura conjunta de documentos singulares sobre a viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães ao Registo da Memória do Mundo da UNESCO, anunciou o Governo português.

O anúncio foi feito pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, durante uma conferência de imprensa que se seguiu a uma reunião da Comissão Nacional das Comemorações do V Centenário da Circum-Navegação, em Lisboa.

Aos jornalistas, o ministro sublinhou o trabalho realizado nos últimos dois anos para assinalar a primeira volta ao mundo (1519/1522), liderada por Fernão de Magalhães e concluída por Sebastian Elcano, apesar da covid-19, que afetou muitas das iniciativas, como a viagem do navio-escola Sagres, interrompida pela pandemia.

O ministro anunciou que Portugal e Espanha apresentam a candidatura à UNESCO até final deste mês, sublinhando uma particularidade: “É apresentado um conjunto de documentos (15) – o Diário de Pigafetta [cronista desta viagem], um relato indireto por Fernando de Oliveira [português] e 13 documentos que existem nos arquivos nacionais de Portugal e Espanha e que permitem compreender, também de outros pontos de vista, o significado absolutamente inaugural da viagem de circum-navegação”.

Neste registo, recordou Augusto Santos Silva, “estão inscritos documentos e conjuntos documentais portugueses, o mais conhecido dos quais é, merecidamente, a carta do achamento do Brasil (Pedro Vaz de Caminha)”.

Outros bens com participação portuguesa que constam deste registo são o Tratado de Tordesilhas, a Coleção Corpo Cronológico, os Arquivos dos Dembos, o relatório da primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul, por Gago Coutinho e Sacadura Cabral, o roteiro da primeira viagem de Vasco da Gama à Índia e os manuscritos do Comentário do Apocalipse (Beato de Liébana) na Tradição Ibérica.

Também o Codex Calixtinus da Catedral de Santiago de Compostela e outras cópias medievais do Liber Sancti Iacobi: As origens ibéricas da tradição Jacobeia na Europa, o livro de registo de vistos concedidos pelo cônsul de Portugal em Bordéus Aristides de Sousa Mendes e Chapas Sínicas – Registos Oficiais de Macau durante a Dinastia Qing (1693-1886).

Augusto Santos Silva destacou a singularidade do conjunto de documentos que será apresentado a esta candidatura e que inclui, por exemplo, a carta que o rei de Espanha dirige ao rei português, procurando explicar que o facto de ter promovido e financiado uma viagem às Molucas não significava nenhuma tentativa de embaraçar ou prejudicar os interesses da coroa portuguesa”.

“Esperamos que os outros 11 países percorridos pela viagem de circum-navegação se associem. Certamente que apoiarão esta candidatura”, referiu.

Segundo Augusto Santos Silva, estes são os últimos tempos antes da apresentação da candidatura, que termina na terça-feira. Para trás ficou a apresentação do documento às comissões nacionais de Portugal e Espanha.

O programa Memória do Mundo foi criado pela UNESCO em 1992 com o objetivo de proteger e promover o património documental mundial através da conservação e do acesso aos documentos.

As celebrações deste centenário vão passar pela publicação de resultados da investigação científica em curso: “Já publicámos este ano o livro que apresenta sistematicamente os roteiros e os relatos do primeiro século de domínio do estreito de Magalhães. Magalhães descobre a passagem do Atlântico Sul ao Pacífico e no século seguinte (século XVI) os diferentes pilotos e marinheiros vão desbravando esse estreito e aprendendo a dominá-lo”, afirmou o ministro.

“Os roteiros e relatos desse primeiro século de travessia do estreito de Magalhães foram objeto de investigação analítica e erudita da parte do historiador português Henrique Leitão e do investigador espanhol José María Morena”, referiu.

E acrescentou: “Esse trabalho já está editado e agora editaremos um segundo que é a primeira abordagem desse primeiro século de travessias do estreito de Magalhães, mas a partir das representações cartográficas, os mapas e os roteiros que foram sendo construídos para auxiliar os navegantes a atravessar o estreito”.

Prevista para os próximos dias está a publicação da “primeira tradução portuguesa, com os aparatos eruditos necessários, do texto canónico do diário de Pigafetta”, o cronista desta fantástica viagem.

“Desde 1999 que dispomos de um texto fixado filologicamente a partir das várias versões que existem dos diários de Pigafetta. Esse texto ainda não está traduzido em língua portuguesa, passará a estar, mercê do trabalho de estrutura de missão e da equipa científica dirigida pelo professor Henrique Leitão”.

Neste encontro com a comunicação social, o ministro destacou ainda outros projetos para o terceiro e último ano das comemorações do V centenário da viagem, como a organização da “grande exposição” Pelos Mares do Mundo, que tem uma equipa curatorial luso-espanhola e que abrirá no próximo mês de maio no Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto.

“Será o culminar de todo o trabalho que, no domínio das exposições, temos feito e servirá também de ensejo para a organização de uma exposição itinerante com Espanha, por terras de Portugal e de Espanha e que, de algum modo, fará a ligação entre o fecho das comemorações formais e a continuação, num e noutro país, da memória sobre esse feito extraordinário que foi a circum-navegação e o exemplo que representa para nós hoje na atualidade”.

De entre as atividades realizadas em 2021, o ministro destacou o início dos oito projetos de investigação no domínio das ciências do mar e da observação, financiados pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, no valor de 2,4 milhões de euros e que estão em curso, com a apresentação dos primeiros resultados prevista para 2022.

Ao nível da produção editorial, Augusto Santos Silva referiu “o universo das publicações especialmente dirigidas ao público infantojuvenil e de divulgação da viagem de circum-navegação, a importância de Fernão de Magalhães e Juan Sebastián Elcano e o significado da viagem para a história portuguesa”.

25 Nov 2021

Miguel Castro Caldas, dramaturgo: “O teatro é o texto, e o texto é o fantasma”

O dramaturgo e professor universitário Miguel Castro Caldas é o autor da peça “Se eu vivesse tu morrias”, que este fim-de-semana sobe ao palco da BlackBox no Edifício do Antigo Tribunal. A história do triângulo amoroso de Lívia, que parte do epitáfio de Robespierre, espelha o conflito entre a vida e a morte

 

Qual a sensação de ver um texto seu traduzido para cantonês?

Foi o Dinis Chan que contactou com o Rui Trigão, que trabalha na DGArtes. Queriam fazer algo com autores portugueses em teatro e ele sugeriu este texto. Fui depois contactado pelo Dinis e aceitei. Acho extraordinário e não estava nada à espera. Este espectáculo circulou bastante em Portugal e esteve em França e Itália, mas nunca imaginei que fosse parar à China. É extraordinário passar para uma língua que não conheço. Isso tem qualquer coisa a ver com o espectáculo.

Em que sentido?

Quando dizemos “Se eu vivesse tu morrias” é quando qualquer coisa para existir tem de tomar o lugar de outra coisa que tem de abdicar de existir. Esse é o centro. Eu, a Lígia Soares, o Filipe Pinto, o Miguel Loureiro, o Tiago Barbosa e o Gonçalo Alegria, que construímos este espectáculo, tínhamos a ideia central de que os actores quando preparam um texto fazem uma operação de substituição do texto pelo seu corpo, e as palavras ditas pelas suas vozes. Ao vermos isso, e tomarmos essa consciência, resolvemos fazer um espectáculo em que o texto está visível, pois os actores e o público têm um livro. Eu tinha uma intuição, que era quando os actores estão presentes, há qualquer coisa de fantasmagórico. Há algo que também está presente, mas que não se vê. Comecei a conversar com estes meus colegas sobre isto e chegámos a esta constatação: o teatro é o texto, e o texto é o fantasma. Neste momento, traduzido para cantonês, o fantasma é o texto da língua portuguesa.

Mas também poderá ser o texto em língua chinesa.

Exactamente. Tenho pena de não poder assistir, e disseram que me iam enviar a filmagem da peça. Acho isso extraordinário porque a própria filmagem já é um suporte que não é teatro, é um ecrã. O que vou ver é um texto que eu conheço e um espectáculo que eu fiz, mas não vou perceber nada. Mas ao mesmo tempo, na minha cabeça, tenho a referência do texto que escrevi.

Será um embate com um corpo desconhecido.

É desconhecido, mas que tem algo de reconhecível ao mesmo tempo. Isso é um bocadinho o que acontece com a arte, pois gostamos de ver uma coisa, surpreendente, mas para conseguirmos reconhecer esse desconhecido tem de existir algo reconhecível.

Faz falta traduzir mais teatro português, e fazendo essa tradução o texto funciona da mesma forma em palco?

Sim, deve-se traduzir o máximo possível. A actividade de tradução deveria ser a coisa mais normal. Traduzir é também próprio da interpretação e da percepção. Quando estamos a ver, a perceber, estamos a traduzir. É sempre saudável traduzir, mas claro que o resultado é diferente. As obras de arte são todas traduzíveis, por mais difícil que isso seja.

Como começou a escrever este texto e o que procurou transmitir?

Este texto estreou em 2016. Tinha este ponto de partida, a ideia de que o actor afirma a sua presença real e física em palco. E eu andava com isto na cabeça: isso é verdade, mas talvez não seja preciso sublinhar tanto isso. Achava que havia outra coisa, e no teatro mais ainda. Há a presença do corpo e da personagem, mas há outra natureza de presença. O que seria isso? Rapidamente concluímos que no teatro, de maneira muito literal, o que não está presente é o texto, substituído pelos corpos. Tentámos então fazer uma coisa, colocar o texto em evidência, pôr o público com o texto nas mãos, e fizemos um livro. Assim, o público tem de estar constantemente a decidir se prefere ler ou se vê o espectáculo, porque é impossível fazer as duas coisas ao mesmo tempo. E daí o “Se eu vivesse, tu morrias”. Se eu quiser ler o texto, perco o espectáculo. Se eu quiser ver o espectáculo, morre o texto.

Um dilema que permanece.

Claro. E o texto que escrevi para este espectáculo tem um triângulo amoroso, é a mulher que tem um marido e um amante e em que se jogam todas estas coisas. A impossibilidade de poder ter os dois ao mesmo tempo. São coisas que podem parecer disparatadas, mas que ganham relevância pela forma como foram escritas e apresentadas. O epitáfio do Robespierre é um pseudo-epitáfio, tem a ver com isto, e o espectáculo também. No fim de tudo tem a ver com a morte. O epitáfio de Robespierre diz “Passante, não chores a minha morte, se eu vivesse tu morrias”. Este pseudo-epitáfio é o povo a gozar com Robespierre, porque como se sabe matou muita gente. É a ideia de “se eu estivesse vivo tu estarias morto”, mas tem outra profundidade. Se Robespierre estivesse vivo não haveria espaço para muitos vivos virem a seguir, no sentido em que as pessoas têm de morrer para outras nascerem, é a ordem natural da vida.

Porquê um triângulo amoroso? Pensou abordar esta dualidade vida/morte de outra forma?

Essas questões surgem a partir da história, que é corriqueira, mas penso que a partir dela chegamos a questões mais profundas. Acho que só se compreende vendo o espectáculo ou lendo o texto. A Lívia apaixona-se por um homem, mas tem um marido, e surge essa problemática. Este texto tem um certo sentido de humor. A determinada altura, surge um problema de coração e precisa de fazer um transplante, e acaba por ser o amante que lhe dá o seu próprio coração. Parece uma telenovela, mas não é.

Mas é o amante que dá o coração e não o marido. Tinha aqui alguma mensagem em particular a transmitir?

Não tenho mensagens para transmitir. A maneira como eu encaro o meu trabalho como artista, é problematizar algumas coisas que encontro. Neste caso, é “o que é que desaparece para algo de novo aparecer”? O que vai ser sacrificado? Não é uma mensagem, não faço uma apologia do sacrifício. A minha questão foi ver o que está por detrás, ver se é possível pôr as duas coisas em simultâneo e experimentá-las, ver como funcionam. Os espectadores é que decidem o que querem fazer com isso.

 

Primeira vez

Depois de passar por palcos portugueses como a Culturgest, em Lisboa, e o Teatro Académico Gil Vicente, em Coimbra, a peça “Se eu vivesse tu morrias” chega pela primeira vez a Macau, só em chinês, numa tradução inédita em cantonês da autoria de Dinis Chan. O projecto é desenvolvido pelo grupo Theatre Farmers e pela Associação de Irmandade de Teatro Criativo. O espectáculo sobre ao palco no sábado às 15h e às 20h, enquanto que no domingo há uma única sessão às 15h.

25 Nov 2021

Biografia de Pedro José Lobo editada em inglês

O Instituto Internacional de Macau (IIM) vai apresentar no próximo sábado no Salão Nobre do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), uma edição em língua inglesa da biografia de Pedro José Lobo intitulada “Everyday is Mine”.

Lançada originalmente em 2020, a obra da autoria do seu neto, Marco Lobo, retrata a vida do antigo presidente do Leal Senado de Macau (1959-1964), nascido em Timor-Leste e considerado um importante empresário, político, filantropo, funcionário público, músico, dirigente associativo e dinamizador cultural.

A biografia agora integrada na colecção “Suma Oriental”, pode ler-se num comunicado oficial, relata ainda o período de Pedro José Lobo enquanto chefe de Repartição Central dos Serviços Económicos, altura em que se destacou durante a Segunda Guerra Mundial, na resolução do Incidente das Portas do Cerco. A sessão de apresentação acontece pelas 18h00 e requer uma inscrição prévia por parte dos participantes.

24 Nov 2021

Rota das Letras | Festival literário decorre entre 3 e 5 de Dezembro

A 10.ª edição do Rota das Letras realiza-se de 3 a 5 de Dezembro e conta com a participação de José Eduardo Agualusa e João Morgado. Deolinda da Conceição e o papel da mulher na literatura de Macau é o tema de abertura do festival literário, que inclui lançamento de obras, representações, concertos e exposições

O festival literário, Rota das Letras, está de volta a Macau entre os dias 3 e 5 de Dezembro e, como já vem sendo habitual, terá na Casa Garden uma base para homenagear e interagir com autores, apresentar novas obras e providenciar uma série de eventos que vão desde workshops de literatura infantil e concertos, às artes de palco, passando por exposições de fotografia e escrita. José Eduardo Agualusa e João Morgado marcam presença virtual no evento.

Em foco na abertura daquela que é a 10.ª edição do festival literário do território, estará a escritora macaense, Deolinda da Conceição, que dará o mote para se descortinar sobre o papel da mulher na literatura e na sociedade de Macau.

No centenário do nascimento da escritora macaense, o Rota das Letras leva ao palco principal do evento uma série de escritores, académicos e tradutores para “celebrarem a sua vida e obra”. Além disso, pode ler-se numa nota oficial, será levada à cena uma performance baseada no seu livro de contos, “A Cabaia”. A produção, a cargo do grupo de teatro experimental “Artistry of Wind Box” será exibida nos dias 4 e 5 de Dezembro, na Galeria da Livraria Portuguesa.

Entre os escritores que vão participar na edição deste ano do Rota das Letras, destaque para o angolano José Eduardo Agualusa, que falará virtualmente e a partir do exterior, da obra “Paraíso e de Outros Infernos”, um livro de crónicas que vai passar agora a ter edições em língua chinesa e inglesa.

Também à distância, mas com o apoio da tecnologia, o escritor português João Morgado irá marcar presença para apresentar a obra “Contos de Macau”, uma colectânea que resulta da anterior passagem do autor pelo Festival Rota das Letras, em 2017.

 

Entre as obras não editadas pelo Rota das Letras que serão apresentadas no palco da Casa Garden, destaque para “Farol”, da escritora chinesa Wang Yixin, “Amor Incondicional”, romance de ficção científica assinado por Leong Sok Kei, “Eu Desenho a Minha Vida”, da escritora e designer Un Kei; “Desenhando a Minha Cidade”, antologia poética de Arthur Ng, “Para Além da Memória”, do arquitecto André Lui e “Retratos de Luso-Asiáticos do Sri Lanka, do também arquitecto João Palla.

O segundo dia do festival, terminará com uma sessão de poesia, organizada pela associação “Macau Outersky Poets”, que será também responsável por realizar um workshop de literatura infantil. A iniciativa será conduzida por Jojo Wong, vice-presidente da associação.

Outras paragens

De Macau para Praga, o centésimo aniversário do nascimento de Jorge Listopad, escritor, crítico literário e encenador, dá o mote para levar o Rota das Letras até Praga, capital da República Checa, onde Joaquim Coelho Ramos, director do IPOR nos últimos três anos, ficará a cargo de homenagear o autor.

Passando para o palco, estão previstas seis representações da peça “Por Confirmar”, baseada na obra “A Alma Perdida”, da escritora polaca Olga Tokarczuk, Prémio Nobel da Literatura em 2018. Todas as sessões, ainda sem data, terão lugar no terraço do edifício Bela Vista, na Residência do Cônsul de Portugal em Macau. A encenação é da responsabilidade do grupo de teatro “Cai Fora”.

Ao longo de duas noites do festival, o Art Garden vai ainda acolher uma performance da autoria de Isaac Pereira (texto) e François Girouard (música) intitulada “Não-Querer-Saber-de-Nunca-Saber-para-Onde-Ir”.

No quadrante musical, haverá lugar para um concerto da banda “Work Tone” e dos vocalistas Gabriel e Maria Monte, sendo que a ocasião servirá também para a cantora portuguesa estrear em Macau canções do seu mais recente trabalho, o EP “Laços”. O concerto está agendado para a noite de 4 de Dezembro na sede da associação “Art For All”.

Já no campo das artes plásticas, serão apresentadas duas exposições. A primeira, reúne trabalhos vencedores do concurso de fotografia organizado pela Macau Closer, “Uma Estranha Familiaridade”. A segunda, dá pelo nome de “Visto com os Pés, Escrito com os Olhos” e materializa-se numa mostra de trabalhos de fotografia e escrita de Carlos Morais José e Rosa Coutinho Cabral, que estiveram recentemente presentes no Festival Literário de Óbidos (Folio).

De acordo com a organização do Rota das Letras, o programa detalhado do festival será divulgado nos próximos dias.

23 Nov 2021

Exposição de Catarina Castel-Branco inaugurada na quarta-feira no Albergue SCM

“Entre a Flor e a Bruma – Exposição de Catarina Castel-Branco” vai estar patente na Galeria A2 do Albergue SCM, entre quarta-feira e 12 de Dezembro. A mostra é composta por 13 trabalhos inspirados nas formas arredondadas das tradicionais janelas japonesas e no jogo de sombras e mistérios entre espaços exteriores e interiores

 

 

“Entre a Flor e a Bruma – Exposição de Catarina Castel-Branco” vai estar patente ao público a partir de quarta-feira, até 12 de Dezembro, na Galeria A2 do Albergue SCM. A mostra reúne 13 trabalhos de um dos nomes maiores da gravura portuguesa, que também tem obras expostas em “Abraço na Diversidade”, no Centro de Arte Contemporânea de Macau – Oficinas Navais N.º 1, evento enquadrado na Exposição Anual de Artes entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

O conceito visual que traça a linha condutora da mostra é inspirado nas tradicionais janelas redondas de habitações asiáticas, com obras que transmitem a tranquilidade e serenidade da estética oriental.

Numa conversa com a artista, divulgada em comunicado pela organização da exposição, Catarina Castel-Branco revela como chegou a estas obras. “A inspiração de base foram as janelas circulares que penso fazerem parte da tradição japonesa, mas é provável serem comuns no Oriente. Pela janela vê-se o jardim com o seu rigor milimétrico, e os estores de papel e palhinha criam essa fronteira entre o espaço interior da casa, sombreado pelo estore, e o espaço aberto. Cria-se, assim, um jogo de luz entre o aberto e o fechado, entre a luz coada e a luz sem filtro, criando dois espaços, duas formas de ver.”

O jogo de sombras, luz e vegetação revela o que está “Entre a Flor e a Bruma”, mas a artista sublinha que o exterior também pode ser percepcionado através de uma porta entreaberta, “aumentando o poder do seu mistério, mas às vezes parece invadir a casa e apresenta-se numa flor, dominando o interior”.

Para a primeira série de obras “Entre a Flor e a Bruma”, Catarina Castel-Branco usou o imaginário contido na poesia de Wenceslau de Morais, Camilo Pessanha e Gil de Carvalho, extraindo das palavras a simbologia do jardim oriental. A artista destaca “a importância do renascimento e da ressurreição”, e que “é preciso aceitar o Inverno, para que a semente gele e renasça”.

 

 

Faça você mesmo

O processo criativo de Catarina Castel-Branco começa ainda antes da pintura, com o fabrico dos materiais na sua oficina. “A minha especialização foi em técnicas de impressão e o meu trabalho de pós-graduação centrou-se na mistura de técnicas, serigrafia com metal (infogravura), xilogravura com serigrafia, litografia com serigrafia. É uma das explorações que sempre me interessou”, conta a artista.

Para a exposição no Albergue SCM, a artista usou papel japonês, pigmentos naturais, acrílico e serigrafia. “Não sou uma teórica, nunca fui, a minha arte sempre esteve ligada à pesquisa de novas formas de representar através da criação dos meus próprios materiais”, revela Catarina Castel-Branco.

Além de fazer os seus próprios materiais, a artista entende que as suas obras foram feitas para viverem com as pessoas, para estarem integradas nos locais onde a vida acontece. “Não sinto qualquer espécie de atracção pelas obras conceptuais ou pela performance. Não é o meu caminho. Na minha última exposição, no Antiquário Miguel Arruda, já trabalhei a integração das peças nas salas, de maneira a imitar essa pertença a uma casa. Gosto da relação com a casa, com o jardim… o museu é apenas o sítio que vamos visitar. E visitar não é viver”, explica.

Enquanto a artista completa quarenta anos de carreira, o Albergue SCM enquadra esta mostra, apoiada pela Fundação Macau, nas cerimónias do 22.º aniversário da fundação da RAEM.

22 Nov 2021

Teatro | “Projecto d’ Homens” estreia hoje na BlackBox do Antigo Tribunal

A companhia d’As Entranhas Macau apresenta hoje e amanhã no Antigo Tribunal a peça “Projecto d’ Homens”. O HM falou com Vera Paz, responsável pela encenação, direcção artística e dramaturgia, sobre os momentos que antecedem as pancadas de Molière, a adaptação de um guião que passou a ser interpretado a três línguas e a desconstrução de estereótipos

A horas do último ensaio geral antes da estreia de “Projecto d’ Homens”, Vera Paz confirmava que tudo estava a postos para a première hoje às 20h30 na BlackBox do Antigo Tribunal. Em vez de nervosismo, a actriz que tomou as rédeas dramatúrgicas da adapção da peça apresentada em Portugal em 2017, prefere falar do sentimento de responsabilidade que, “à medida que os anos passam, fica cada vez maior”.

“Projecto d’ Homens”, que será apresentado também amanhã no mesmo lugar e hora, tem a duração de uma hora ao longo de um acto único sem interrupção, onde três actores se desdobram enquanto protagonistas, actores secundários e figurinos, numa performance que alia a fisicalidade e monólogos e diálogos em português, inglês e cantonês. Angústias, pensamentos, amores e desamores são elementos emocionais que atravessam a narrativa, exorcizando os demónios das crises de meia idade.

Em palco vão estar Jorge Vale, Kelsey Wilhem e Machi Chon. Antes do ensaio geral, a encenadora descreveu ao HM o processo que culmina mais logo em palco. “Gostei muito desta experiência. Eles são muito generosos, não são actores profissionais. Os actores amadores têm a particularidade de se entregarem e amarem, de facto, aquilo que estão a fazer. Para mim, foi uma descoberta com eles, um crescendo de confiança, de segurança de parte a parte e fomos construindo assim”, conta.

Na impossibilidade de trazer a Macau o formato original de “Projecto d’ Homens”, devido a todas as complicações originadas pela covid-19, a peça foi adaptada com grande entrega dos actores. “Os monólogos foram escritos pelos actores e adaptados por mim. Não têm uma componente biográfica, mas realidade e ficção tocam-se”, conta.

A mulher do leme

Desta vez, Vera Paz não estará em palco, assumindo a direcção artística, dramaturgia e encenação. “A minha experiência profissional é principalmente como actriz, mas herdei este projecto do encenador de Portugal. A encenação é totalmente nova e o guião totalmente diferente. Apenas o conceito se mantém (o que é isto de ser homem).”

Seguindo o método criativo d’As Entranhas, a improvisação é preponderante num processo sem guião estruturado à partida, mas composto em colaboração com os actores.

Além disso, sem tradução simultânea e com três línguas em palco, a peça será um reflexo da cidade. “Macau também é esta realidade que todos conhecemos, este lost in translation, mas onde existe uma identidade própria”, descreve a encenadora, confessando que a confluência de línguas foi uma opção assumida.

“Com certeza que haverá algo que irá escapar a quem não domine as três línguas. Mas o espectáculo também tem uma componente plástica e visual bastante forte, muito física. Portanto, acho que isso não será um problema”, explica Vera Paz.

No que diz respeito ao guião, à mensagem, cada personagem chega ao palco da Blackbox com viagens diferentes e respectivas crises com variações diversas de revolta e angústia. No rescaldo do movimento #Metoo e num mundo ainda intensamente dividido e desigual, Vera Paz não considera que “Projecto d’ Homens” seja uma afirmação. “Não acho que seja um manifesto, acho até que é mais um anti-manifesto, que pretende mais levantar questões do que dar respostas”, afirmou.

Durante uma hora, além de angústias e inquietações masculinas, “Projecto d’ Homens” põe em causa clichés, desconstrói estereótipos, por vezes espelhando-os, expondo as entranhas de um tema eterno e sem resolução.

 

21 Nov 2021

Cinema | Propaganda do Estado Novo analisada em seminários

A Casa Garden é anfitriã de uma série de seminários que mostram como o Estado Novo usou o cinema para impor uma imagem de Portugal enquanto país pluricontinental e multirracial. “Azuis ultramarinos – Re-imaginar o império pela análise das projecções (anti-) coloniais no cinema” é o resultado de anos de pesquisa da académica Maria do Carmo Piçarra

Na próxima quarta-feira, a partir das 18h30, realiza-se a segunda parte de uma série de quatro seminários sobre o papel do cinema na propaganda usada pelo Estado Novo para transmitir uma imagem positiva do exercício do poder nas antigas colónias, incluindo no Oriente. Com o título “Azuis ultramarinos – Re-imaginar o império pela análise das projecções (anti-) coloniais no cinema”, e apresentação da académica Maria do Carmo Piçarra, os seminários estão divididos em quatro partes. A primeira decorreu ontem, e as próximas serão apresentadas na próxima quarta-feira, a partir das 18h30, e nos dias 1 e 9 de Dezembro à mesma hora.

Além da possibilidade de serem seguidos online, através do Zoom, os seminários serão transmitidos em directo na Casa Garden.

As quatro sessões resultam de anos de pesquisa da investigadora da Faculdade de Ciência Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

“Estes seminários são quase uma síntese de uma década e meia de pesquisas, em que andei por arquivos militares, da cinemateca, museu de etnologia, para perceber como o Estado Novo usou o cinema para veicular um determinado tipo de propaganda”, conta ao HM Maria do Carmo Piçarra. No grande ecrã era transmitida uma narrativa estatal, que o espectador recebia, pela via do entretenimento, e assumia como sua, sem se aperceber que o discurso lhe estava a ser incutido.

A produção audiovisual da máquina de propaganda do Estado Novo só começou a promover a realização de filmes no Oriente a partir de 1951, sobretudo documentários. “Em relação a Macau, o discurso era um bocadinho sobre o exotismo e as particularidades do território. Já sobre Goa, os filmes davam muito enfoque à questão dos templos e à suposta aceitação do regime português da diversidade religiosa”, conta a investigadora, que aponta também a intensificação da propaganda nos retratos de Timor-Leste.

A caminho de Oz

Em Macau, e nas restantes colónias a Oriente, Maria do Carmo Piçarra destaca na produção fílmica desta época dois grandes nomes: Ricardo Malheiro e Miguel Spiegel.

Em 1952, estreava “Macau, Cidade do Nome de Deus”. Na locução do filme documental, Fernando Pessa apresentava a cidade desta forma: “Na placidez das águas dos mares do sul da China, animadas pelo exotismo dos seus barcos e rodeadas pelo encanto das suas ilhas e costas verdejantes e coloridas, ergue-se uma velha e maravilhosa cidade portuguesa, rica de colorido e ineditismo, e diferente, muito diferente de todas as outras cidades portuguesas. Essa cidade é Macau, terra de colinas e outeiros, de jardins de sonho e frondoso arvoredo com um governo português que conta quatrocentos anos.”

Era desta forma complacente que se apresentava o território. “Joia do Oriente”, de Miguel Spiegel é outro exemplo do tipo de produção que fez durante o período de pré-guerra colonial.

Estes filmes mostravam as colónias portuguesas, também em África, “focando as especificidades de cada uma, mas também sempre com a ideia luso-tropicalista de que o colonialismo português era diferente, mais brando, de aceitação da diversidade cultural, racial e religiosa”, conta.

No entanto, a académica recorda que eram produzidos outro tipo de filmes, altamente controlados pelas autoridades.

“Por um lado, havia vontade de promover as ofertas turísticas de territórios como Macau, Angola, Moçambique ou Timor. Por outro lado, nunca se queria mostrar (em Macau isso é óbvio) os bairros onde viviam pessoas em situações de grande pobreza”, afirma Maria do Carmo Piçarra.

A académica encontrou nos arquivos de Macau referências expressas, por exemplo, a locais onde era proibido filmar, acrescentando que “havia sempre alguém do Centro de Informação e Turismo, destacado para acompanhar as equipas de rodagem quando iam fazer a repérage[escolha dos locais de rodagem] dos sítios em que se podia filmar”.

Estas produções privadas, muitas vezes estrangeiras (em particular de Hong Kong), eram escrutinadas até ao limite. As próprias histórias não podiam retratar aspectos negativos das colónias. Em Macau, tudo era controlado. Delegados do Centro de Informação e Turismo faziam relatórios detalhados sobre a produção, que iam parar às mãos do Governador, e que incluíam mesmo informação sobre os hotéis onde as equipas de produção ficavam instaladas.

Com organização do Centro de Investigação para Estudos Luso-Asiáticos, Fundação Oriente e Universidade de Macau, o ciclo de seminários será ministrado em português e a entrada é livre. De frisar que as próximas sessões deste seminário, ou seja, da segunda à quarta sessão, serão transmitidas exclusivamente online, via Zoom. As ligações para as sessões podem ser consultadas neste link.

18 Nov 2021

Livraria Portuguesa acolhe exposição de livros de artista

Da pintura à banda desenhada, passando pela escultura, fotografia e arquitectura, a Livraria Portuguesa alberga a partir de sexta-feira uma exposição de livros de artista com trabalhos de mais de 50 autores portugueses e locais. Do conjunto de obras que, muitas vezes, não eram para ser ou serviram de base para criações artísticas, destaque para produções de Julião Sarmento, Blaufuks, Rusty Fox e Chong Hoi

 

 

A partir de sexta-feira, a Livraria Portuguesa acolhe uma exposição dedicada a livros de artista, que junta cerca de 68 obras de mais de 50 autores portugueses e locais. Organizada pela Associação Cultural 10 Marias, a segunda edição da “Book Hop” em Macau vai exibir publicações independentes, de pequena escala, únicas ou que tenham servido de esboço para criações artísticas ou profissionais, nas mais diversas áreas, como a escultura, a pintura, a banda desenhada ou a arquitectura.

Depois de em 2018, a 1.ª edição do evento no território ter servido, sobretudo, para mostrar o que era feito em Portugal na área, a exposição que pode ser apreciada na galeria da Livraria Portuguesa até 5 de Dezembro pretendeu integrar mais artistas locais, especialmente de matriz chinesa.

“A exposição que fizemos em 2018 foi essencialmente para mostrar o ‘estado de arte’ daquilo que se fazia em Portugal ao nível dos livros de artista. Trouxemos para Macau a maior parte dos livros e entrámos em contacto com alguns artistas locais como o Carlos Marreiros, o Alexandre Marreiros, o Konstantin Bessmertny, entre outros. No fundo, arranjámos um núcleo aqui de Macau, mas mais ligado à lusofonia digamos assim”, começou por explicar ao HM o curador da Book Hop, Paulo Côrte-Real.

“Da edição passada para esta (…) temos agora muito mais artistas locais connosco, especialmente chineses. Isto para nós é importante porque há uma diferença em termos de pensamento e de abordagem aos assuntos, entre as pessoas de Macau de matriz portuguesa e de matriz chinesa. Integrá-los neste evento é uma boa maneira de juntarmos toda a gente”, acrescentou.

A exposição conta com a participação de artistas portugueses como Julião Sarmento, Daniel Blaufuks, João Louro, Leonor Antunes, Pedro Valdez Cardoso, Pedro Pousada, Alexandre Baptista, João Miguel Barros e artistas locais como Chong Hoi, Alan Ieon, Rusty Fox, Jack Wong, Tang Kuok Hou, Yolanda Kog ou Yang Sio Maan.

Sublinhando que um dos objectivos da curadoria passa por “ir buscar o maior número possível de disciplinas”, Paulo Côrte-Real destaca a presença do recém-falecido artista multidisciplinar e “internacionalmente reconhecido”, Julião Sarmento, os trabalhos fotográficos de Rusty Fox e Daniel Blaufuks e as criações de João Louro e Pedro Valdez Cardoso nas áreas do desenho e da escultura. De referir ainda, a obra de “corte e colagem” feita a partir de revistas dos anos 20 da autoria do Anonymous Art Project.

 

Faz-se caminhando

 

Para Paulo Côrte-Real, o facto de existir uma exposição em Macau dedicada aos livros de artista pode contribuir para “abrir os horizontes” e fazer com que “mais pessoas percebam que um livro pode ser uma obra de arte”.

“Há pessoas que não fazem ideia que este tipo de objectos pode ser exposto. Tendo cuidado e construindo o conceito como uma ‘obra de arte’, um livro ou um caderno pode até acabar exposto na parede como uma pintura. Pode ser que mais tarde se aventurem a fazer também as suas criações”, acrescentou.

Sobre a exposição propriamente dita, o curador aponta que tanto a disposição como a sequência em que vão ser apreciadas as obras está ainda ser definida, mas a organização poderá respeitar motivações temáticas, cronológicas ou cromáticas. Entre os exemplares expostos, haverá ainda obras originais e outras reproduções de edições inferiores a 300 exemplares.

Perante o apoio demonstrado pelos artistas locais à iniciativa, agora em maior número, no futuro a ideia será levar mais autores locais, sobretudo de matriz chinesa, para Portugal, numa evolução de sentido inverso relativamente às origens do Book Hop, cuja primeira edição portuguesa aconteceu em Coimbra, no Centro de Artes Visuais.

“Com a inclusão de mais artistas locais queremos virar o conceito ao contrário, ou seja, em vez de trazermos os artistas portugueses até Macau, queremos dar a conhecer os artistas de Macau a Portugal. Estamos a começar a pensar nisso e na forma de concretizar esta ideia”, rematou o curador, apontando para a possibilidade de isso acontecer já no próximo ano.

17 Nov 2021

Artistas locais levam a “verdade sobre Macau” a Milão

A Casa degli Artisti em Milão recebe a partir de amanhã uma exposição colectiva de criadores de Macau intitulada “Truly False – Exploring Factualness from Macao”. Com a curadoria de Livia Dubon, os artistas locais Eric Fok, Ieong Man Pan, Leong Chon, Wong Ka Long e Wong Weng Io exibem na capital da Lombardia a verdade artística das terras da Deusa do Mar

 

Que valor e significado têm os conceitos de “realidade” e “verdade” nos conturbados dias que correm? Como podem artistas oriundos de um enclave quase mitológico e contraditório como Macau responder a estas questões através da sua visão?

Estes são alguns dos mistérios no cerne da exposição colectiva de artistas locais “Truly False – Exploring Factualness from Macao”, ou “Verdadeiramente Falso – Explorando a factualidade de Macau, que estará patente na Casa degli Artisti em Milão a partir de amanhã, até 12 de Dezembro. A mostra, com curadoria de Livia Dubon, reúne obras de Eric Fok, Ieong Man Pan, Leong Chon, Wong Ka Long e Wong Weng Io.

A relação nebulosa entre realidade e ficção traça a indefinida fronteira que dá mote à exposição. “A pandemia e as notícias falsas que se seguiram dominaram-nos, confundiram-nos e, em alguns casos, abalaram as relações com outros e a confiança nos nossos governos e valores culturais. Como é que este sentimento de incerteza se repercute num lugar “híbrido” como Macau?”, contextualiza a apresentação da mostra.

“Entre as visões eurocêntricas e a integração na China, Macau representa hoje em dia uma posição de fantasia entre reflexões pós-coloniais e a inovação tecnológica, entre ideais de colectivismo e individualismo, entre as políticas de preservação patrimonial e o diálogo com o Interior da China.” Partindo desta colecção de dicotomias, a curadora apresenta ao público italiano os trabalhos de cinco artistas de Macau.

 

 

Camadas intangíveis

As obras de Eric Fok da série “Paradise” reflectem esta multiplicidade existencial, servida em camadas sobrepostas, com representações cruzadas de horizontes ultramodernos rasgados por arranha-céus, em cima de paisagens ancestrais e edifícios com arquitectura alfacinha.

A curadora descreve o universo visual de Eric Fok como “mundos especulativos e fantásticos que distorcem as linhas entre ficcional e real, figuras renascentistas e personagens fictícios, tornando Oriente e Ocidente, passado e presente, em realidades inseparáveis”.

A estética de contraste é uma linha comum a muitos artistas que, com base na imagem de Macau, esboçaram um local imaginário que capta “desejos de fuga”.

Também o fotógrafo Ieong Man Pan navega por esses mares conceptualmente indefinidos, na série “72 dpi Landscape”.

Escapando da natureza reflexiva que costuma caracterizar a fotografia convencional, Ieong joga com imagens que, à primeira vista, parecem reproduções de paisagens naturais, mas que afinal são fotografias de plantas num cenário pobre em pixels de baixa resolução (72 dpi). Onde estará a factualidade, a verdadeira natureza num cenário falso?

Numa acepção de três dimensões, a instalação “Gate” de Wong Ka Long materializa uma fronteira. Panos vermelhos e brancos, com crus caracteres negros esmurram o espectador com frases como “doenças entram pela boca e adversidades saem pela boca”. Controlo e comportamento são dois pratos da balança artística que constitui “Gate”.

 

 

Paraíso virtual

A Casa do Artista de Milão irá receber ainda trabalhos da jovem artista Wong Weng Io da série “Confusion of Confusions”. Estas obras exploram a relação sensível entre aparelhos digitais, fluxo informativo e a origem dos mitos. A busca identitária é um dos propósitos da expressão artística de Wong. Em “Genesis” a artista junta 600 ecrãs num mosaico que forma um espelho negro, procurando encontrar o ponto entre o mundo perfeito e o paraíso virtual.

Na óptica da curadora, “o ecrã é o caos prévio à criação e o espaço que separa os planos terrestre e celestial”, onde as telas animadas se intrometem no corpo humano, anexando máquina e biologia e multiplicando uma série de gestos e comportamentos nunca antes vistos na espécie humana. Wong Weng Io pergunta onde estará a verdadeira essência humana, num mundo de repetidas acções e de explosões de estímulos artificiais.

Além das obras que compõem “Truly False – Exploring Factualness from Macao”, a Casa degli Artisti irá organizar duas palestras, que podem ser acompanhadas online, no dia 24 de Novembro, às 18h locais, e a 2 de Dezembro à mesma hora.

A primeira é sobre as descrições poéticas de Macau, “entre a realidade e a imaginação”, conduzida por Michela Graziani, professora de literatura portuguesa da Universidade de Florença. A segunda palestra será uma reflexão identitária sobre o conceito de se ser “chinês” e “italiano” e da busca por autenticidade cultural. Valentina Pedone, professora de Estudos Chineses da Universidade de Florença, é a oradora do evento.

16 Nov 2021

Exposições | Tap Seac e Oficinas Navais acolhem arte contemporânea

Duas exposições, com 81 obras de 22 artistas de 9 países. “Abraço na Diversidade” e “Simbiose”, são duas mostras que se tocam na partilha de visões contemporâneas com obras de artistas chineses e de países de língua portuguesa

Dois blocos geográficos, uma língua vanguardista. Estão em exibição duas exposições de arte contemporânea que entre a Galeria do Tap Seac e o Centro de Arte Contemporânea de Macau – Oficinas Navais N.º 1 celebram a expressão artística moderna de artistas oriundos de países de língua portuguesa e criadores Grande Baía de Guangdong – Hong Kong – Macau.

As mostras compõem os dois lados da Exposição Anual de Artes entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

Perto do local onde, reza a lenda, os portugueses atracaram em Macau pela primeira vez, o Centro de Arte Contemporânea de Macau – Oficinas Navais N.º 1 acolhe a mostra “Abraço na Diversidade” até 31 de Dezembro de 2021, onde vão estar expostas 36 obras/conjuntos de arte contemporânea com linguagens artísticas que incluem pintura, instalação, fotografia, escultura e vídeo.

No total, o centro de arte contemporânea recebe obras de 17 artistas da lusofonia. A representar Portugal a mostra reúne trabalhos de Catarina Castel-Branco, Diogo Muñoz, Isabel Nunes, João Santa-Rita, Nuno Nunes-Ferreira, Rita GT e Sarah Ferreira. De Angola chegam obras de Ana Silva e Keyezua, e do Brasil para Macau vem a visão de Fernanda Lago.

A “delegação” artística de Cabo Verde é composta por trabalhos da autoria de Abraão Vicente, David Levy Lima e Euclides Eustáquio Lima. 

Timor-Leste, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe são representados por um artista cada, a saber, Ino Parada, Nú Barreto, Gonçalo Mabunda e Kwame Sousa, respectivamente. 

Baía na Praça

No capítulo local, a Área de Exposição da China e de Macau será a Galeria do Tap Seac, onde está patente, desde ontem e até ao fim do ano, “Simbiose”. A mostra reúne trabalhos de cinco artistas locais e cinco artistas da Grande Baía de Guangdong – Hong Kong – Macau. 

No total, “Simbiose” é o somatório de 45 de criações artísticas numa variedade de meios e formas, incluindo pintura a óleo, pintura acrílica, pintura a tinta em papel, fotografia, instalação interactiva de imagens criada por computador, instalação eléctrica, instalação de escultura tridimensional, instalação de luz LED e espelho, e instalação de arte performativa. 

A arte contemporânea local está representada por Leong Chi Mou, Lei Ka Ieng e Kit Lee, Tang Kuok Hou, Wong Iek e Jeff Wong, Yung Lai Jing e Karen Yung. Do Interior da China, a outra cara metade de “Simbiose” é composta pelas obras de Chen Yuan Long, Jiang An, Liu Xiang Lin, Xu Zi Wei e Zhang Chi. 

13 Nov 2021

Cinema | Festival entre a China e países de língua portuguesa arranca sexta-feira

O Festival de Cinema entre a China e os Países de Língua Portuguesa começa na sexta-feira e irá exibir 30 filmes ao longo de duas semanas, tendo como o tema central paladares e encontros à mesa. Até 26 de Novembro, serão servidas obras de realizadores oriundos de países como a China, Portugal, Brasil e Angola, nas telas dos Cinemas Galaxy e da Cinemateca Paixão

Vem aí mais uma proposta aliciante para os cinéfilos de Macau. Na sexta-feira arranca o Festival de Cinema entre a China e os Países de Língua Portuguesa, subordinado ao tema “Os Gourmets de Cinema”, com um cartaz que oferece 30 filmes ao longo de duas semanas, até 26 de Novembro, nas salas do Galaxy Cinema e na Cinemateca Paixão.

O evento está integrado no 3.º Encontro em Macau – Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa. Os ingressos já estão à venda e custam 60 patacas.

O filme que inicia o banquete cinematográfico é “This Is Not What I Expected”, do realizador de Hong Kong Derek Hui, e passa às 19h30 de sexta-feira no Galaxy. Esta atribulada comédia romântica centra-se numa relação que cresce através da culinária, entre a chef do restaurante de um hotel e o presidente do grupo hoteleiro, um homem intempestivo e difícil de agradar. No dia seguinte, sábado, o menu fílmico é servido na Cinemateca Paixão, com três sessões. A entrada é o documentário “Meu Querido Supermercado”, uma produção brasileira/dinamarquesa que tem como epicentro, como o nome indica, um supermercado e a vida dos seus trabalhadores. A lente da cineasta Tali Yankelevich capta as mais variadas interacções entre os funcionários, desde declarações de amor, conversas sobre mecânica quântica e literatura, às maravilhas da encenação com disfarces. “Meu Querido Supermercado” torna-se um microcosmo que representa toda a humanidade, uma sociedade aparentemente coesa que vive num equilíbrio precário.

“Mosquito”, de João Nuno Pinto, é exibido às 19h15 (já com lotação esgotada, mas com repetição a 23 de Novembro) é o primeiro filme a passar na Travessa da Paixão ao abrigo do festival. O épico histórico do cineasta português começa com o sonho idealista de um jovem que, com a imaginação salpicada por grandes aventuras e defesa da pátria, se alista no exército durante a Primeira Guerra Mundial. O soldado português acaba por ser enviado para a linha da frente em Moçambique e, após contrair malária, separa-se do seu pelotão e inicia uma caminhada de mais de mil quilómetros entre o delírio febril e visões exóticas. “Mosquito” é baseado na vida do avô do cineasta.

Comes e conversas

Às 21h30 de sábado, também na Cinemateca Paixão, é exibido “Êxtase”, da realizadora brasileira Moara Passoni, um filme que fica algures no limbo entre o documentário, a memória e ficção. Para começar, “Êxtase” tem banda sonora composta por David Lynch e Lykke Li e a estranheza prossegue também na imagem. A narrativa desta película centra-se em torno de uma adolescente, filha de uma congressista, que encontra o completo arrebatamento, prazer e espiritualidade no jejum.

Com um cartaz diversificado, apesar do tema unificador, é impossível não destacar “Swimming Out Till the Sea Turns Blue”, o documentário do realizador chinês Jia Zhangke, uma das figuras de proa da chamada “Sexta Geração”, um movimento cinematográfico nacional. O filme será exibido a 16 de Novembro, às 21h30, e a 20 de Novembro, às 17h30 na Cinemateca Paixão.

Outro dos momentos altos do festival é a exibição de “Diários de Otsoga”, de Miguel Gomes, na Cinemateca Paixão às 19h30 de 23 de Novembro (sessão esgotada). A acção centra-se nas vivências de três jovens amigos que passam as férias de Verão numa quinta, com os dias a serem passados com improvisos de dança, limpeza da piscina, insónias, apanha de fruta e ambiente de engate.

Além dos 30 filmes em cartaz, o festival será complementado com actividades de extensão, como conversas depois de projecções de filmes, palestras e workshops de gastronomia.

10 Nov 2021

Cinema | Extensão de Macau do Doclisboa arranca amanhã

Está de volta a extensão a Macau do festival de cinema documental Doclisboa, que inclui no cartaz películas premiadas no Festival Internacional de Curtas-Metragens de Macau. Entre quarta-feira e sábado, o Auditório Dr. Stanley Ho, no consulado, vai exibir 13 documentários, num evento organizado pelo Instituto Português do Oriente

A sessão de abertura da extensão a Macau do Doclisboa está marcada para amanhã, às 19h, no Auditório Dr. Stanley Ho do Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong Kong, com a exibição do documentário “70 anos depois”, de autoria de He Qianling e “A Entrega”, de Maxim Bessmertny, vencedores do prémio identidade cultural e prémio para melhor filme local, respectivamente, no Festival Internacional de Curtas de Macau.

A acompanhar as duas películas locais será ainda exibido na primeira sessão do dia inaugural do evento “42.ZE.66”, de Eduardo Saraiva, que arrebatou o prémio Fernando Lopes no Doclisboa deste ano.

O filme que dá o tiro de partida, “70 Anos Depois”, é um conjunto de dois retratos pessoais de negócios em luta pela sobrevivência num território em constante mudança. Dirigido pela realizadora He Qianling, este documentário leva o espectador, ao longo de 17 minutos e meio, pela história de duas lojas (Ngan Kong e Ng Teng Kei), em actividade em Macau há mais de sete décadas. Depois de muitos anos de prosperidade, a luta pela sobrevivência de duas casas tradicionais, uma pastelaria e uma casa de têxteis, são o testemunho da Macau que se reinventa constantemente.

O outro filme inaugural da mostra é “A Entrega”, de Maxim Bessmertny, uma curta-metragem, escrita em parceria com Jorge Vale, que relata o dia-a-dia de um casal que luta contra o tempo para deixar a casa limpa antes que o senhorio chegue para fazer a inspecção geral ao apartamento. Com interpretações de Jorge Vale, Mi Lee e Ari Calangi (que também assina a banda sonora), “A Entrega” é um apontamento fílmico bem-humorado de uma vicissitude de Macau, a constante necessidade de mudar de casa.

A fechar a primeira sessão deste ano da extensão a Macau do Doclisboa, é exibida a curta de Eduardo Saraiva “42.ZE.66”, que conta a história de Alexandrina, uma camionista portuguesa que trabalha sozinha na entrega de mercadorias por toda a Europa.  Durante longas viagens, os seus únicos pontos de contacto pessoais são através da Internet e de telefonemas. A sensação de estar presa dentro de uma lata de metal com rodas começa a sufocá-la. “42.ZE.66” é o retrato de uma mulher forte que luta contra a solidão nas estradas do velho continente.

Dia cheio

A segunda sessão da mostra está marcada para as 20h45 de amanhã, também no Auditório Dr. Stanley Ho do consulado, com a exibição de dois filmes. “Fazer pela Vida na Estação Seca”, da autoria de Inês Ponte, é o retrato íntimo da vida quotidiana de uma família que vive da agricultura e da pastorícia na província do Namibe, em Angola. O filme parte de um pedido da realizadora à anfitriã, Madukilaxi, para que lhe mostre os segredos das peças de artesanato que produz, quando a agricultura é colocada em suspenso pelos elementos.

A fechar o dia e a segunda sessão, será exibido, “Treino Periférico”, um filme do realizador guineense Welket Bungué. Ao longo de 20 minutos, a câmara segue dois artistas, Raça e Coragem, que saem para treinar, escapando aos padrões do bairro onde vivem e à padronização culturalmente imposta. O filme foi rodado na periferia da Grande Lisboa, e segue o ritmo do discurso poético, disparando máximas assertivas sobre ocupação territorial, pós-colonialismo e desigualdade social na cultura portuguesa.

A terceira sessão, marcada para quinta-feira às 19h, tem no cartaz apenas uma obra: “Visões do Império”, de Joana Pontes. O filme traça um perfil sobre “a forma como o império português e a sua história foram imaginados, documentados e publicitados a partir do registo fotográfico, desde o final do século XIX até à revolução que, em 1974, pôs fim ao regime político autoritário que governava Portugal”, descreve o cartaz do evento.

Caetano e a resistência

Na sexta-feira, às 19h, o ecrã do Auditório Dr. Stanley Ho acolhe “Narciso em Férias”, de Ricardo Calil e Renato Terra, um documentário que conta os dias de cárcere de Caetano Veloso durante a ditadura militar. O contexto político que compõe a paisagem política da narrativa foi a aprovação do Acto Institucional n.º5, que marcou o começo da fase mais repressiva e violenta do regime, a 13 de Dezembro de 1968. Duas semanas depois, Caetano Veloso foi preso.

Meio século volvido, o incontornável compositor brasileiro faz um retrato íntimo e detalhado dos seus dias na solitária, recorda e interpreta canções que marcaram o período de encarceramento e revisita acontecimentos dolorosos.

Caetano também apresenta informação nova produzida pela ditadura sobre as razões da sua detenção, ajudando a explicar a brutalidade arbitrária desse período da história brasileira.

Finalmente, no último dia da extensão a Macau do Doclisboa, sábado, serão exibidos seis filmes. A primeira sessão, marcada para as 17h, começa com “Avó”, de Iris Fan, uma curta documental familiar que mostra a resiliência e independência da avó da realizadora ao longo da sua vida.

Na mesma toada, segue-se “Resistência Íntima”, do colectivo espanhol Left Hand Rotation, um documentário interrompido por um vírus. A sessão prossegue com “Da Minha Janela”, de Pedro Cabral, um curto diário dos tempos de confinamento, seguindo-se duas películas locais, “Majestosa Macau”, de Jacky Cheong, e “Sai Cá Para Fora”, de Vincent Weng Seng Sin”.

Para encerrar, e saindo um pouco fora dos temas visados no resto da mostra, é exibido a partir das 18h45 “Enterrado na Loucura – Punk em Portugal 78-88 – A Segunda Vaga”. Da autoria de Hugo Conim e Miguel Newton, membros dos Clockwork Boys e Mata-Ratos, respectivamente, este filme mergulha fundo nas raízes do punk rock em Portugal.

9 Nov 2021

China é o país mais representado nas coleções não europeias dos museus portugueses, revela inquérito

A China é o país mais representado nas coleções não europeias dos museus portugueses, seguida de Angola, Índia, Moçambique e Brasil, indicam os resultados preliminares de um inquérito realizado pela comissão nacional do Conselho Internacional de Museus (ICOM-Portugal).

O inquérito ‘online’ sobre a presença de património proveniente de territórios não europeus nos museus portugueses, públicos e privados, foi lançado em finais de maio, pelo ICOM Portugal, com o objetivo de promover um maior conhecimento do património destas coleções à sua guarda.

De acordo com os resultados preliminares revelados à agência Lusa, no que diz respeito às proveniências destas coleções, “o continente asiático superioriza-se em relação à África e à América do Sul, existindo também uma prevalência de peças provenientes da América do Norte e Central e, em menor escala, da Oceânia”.

O inquérito – o primeiro no género realizado no país – esteve aberto a todos os museus durante cerca de quatro meses nos canais de comunicação do ICOM-Portugal, “sendo que a adesão acabou por ser moderada”, segundo o museólogo Gonçalo de Carvalho Amaro, responsável pelo inquérito, e membro dos corpos sociais do ICOM-Portugal.

Dos 414 museus em Portugal, de acordo com os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística, receberam 45 respostas, o que representa uma participação na ordem dos 11%.

Apesar de aparentar tratar-se de uma percentagem baixa de adesão, o responsável apontou que “a globalidade dos principais museus com coleções não europeias respondeu ao inquérito”.

“No entanto, surpreendeu-nos a ausência de resposta de alguns museus nacionais dos quais se conhece a presença de coleções com estas características”, apontou.

A perspetiva da iniciativa visa compreender a sua quantificação, distribuição pelo país, estado de conservação, estudo e inventariação, e o modo como foi incorporado nos acervos destes museus.

Relativamente às sub-regiões ou países representados nas coleções dos museus portugueses, a China surge no primeiro lugar (20 respostas), seguida de Angola (15) e Índia, Moçambique e Brasil (ambos com 14), Timor-Leste (11) e Sudeste Asiático (10).

Responderam sobretudo museus cujas coleções teriam um caráter artístico (25 respostas) ou etnográfico (23) seguidos de coleções arqueológicas (11), História Natural e documentais (ambas com sete) e restos humanos (seis), indicam ainda os resultados preliminares do inquérito.

Deste património “destaca-se o facto de 62% conter documentação associada, aspeto relevante para compreender como estas coleções chegaram ao museu, e para conhecer proveniências e características, e 92% está inventariado, contudo somente 60% está estudado”, indicou o técnico superior do Museu de São Roque, em Lisboa, e professor convidado de museologia na Pontifícia Universidade Católica do Chile.

“Convém ainda acrescentar que a maior parte dos bens chegou aos museus por doação (29 respostas), seguido de compra (19), depósito (15), fundo antigo (13) e transferência (nove)”, acrescentou o investigador integrado no Instituto de História Contemporânea.

A maioria das respostas (27) indicou que as tipologias das suas coleções eram artísticas, seguidas das etnográficas (25), arqueológicas (14), de história natural (nove), documentais (oito) e restos humanos (seis).

“É também relevante referir que 76% respondeu que as coleções deram entrada nos museus antes da convenção da UNESCO [Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura] de 1970, uma data importante, uma vez que a partir desta convenção, passou a existir um maior controlo internacional da importação, exportação e transferência ilícita da propriedade de bens culturais”, salientou o historiador e arqueólogo.

Lisboa e Vale do Tejo foi a região com mais respostas (27%), seguida do Algarve (18%) e das regiões Norte (16%) e Autónoma dos Açores (16%).

“Os valores dos Açores são muito interessantes: dos 19 museus existentes na região responderam sete, sendo claramente a região que mais aderiu ao inquérito”, representando cerca de 40% dos museus da região açoriana.

A participação dos museus das duas regiões autónomas representou 22% das respostas totais, e os museus da região Sul do Tejo – Lisboa, com Alentejo e Algarve – corresponderam a 51 % das respostas totais.

No que diz respeito às tutelas destes museus, “notou-se uma participação maioritária dos museus municipais” (24%) e regionais (22%), seguidos dos museus nacionais (16%) – dos quais metade eram afetos à Direção-Geral do Património Cultural -, museus de ciência (11%), seguidos dos museus privados (9%), de fundação (9%) e outros (9%).

Os dados preliminares do inquérito destacam ainda a presença dos três principais museus universitários: Lisboa, Porto e Coimbra.

Os resultados são apresentados no decorrer do “Encontro de Outono” do ICOM-Portugal, subordinado ao tema “Museus com coleções não europeias”, que está a decorrer hoje, e continua na sexta-feira, no Museu Municipal Santos Rocha, na Figueira da Foz, com a presença de especialistas e vários responsáveis portugueses e estrangeiros, nomeadamente, Ana Margarida Ferreira, do Museu Santos Rocha, Luís Raposo, presidente do ICOM-Europa, Elke Kellner, do ICOM Áustria, Guido Gryseels, do Royal Museum for Central Africa (Bélgica), e Luís Pérez, Museo Nacional de Antropologia, ICOM Espanha.

5 Nov 2021

Arquitectura | Atelier de João Ó e Rita Machado distinguido nos Architecture Masterprize

“Chasing Sounds”, desenvolvido em Hong Kong pelo atelier Improptu Projects, acaba de ser distinguido com o prémio “Landscape Architecture”, categoria de “Installation and structures”, dos Architecture Masterprize. João Ó e Rita Machado assumem querer cada vez mais desenvolver iniciativas multidisciplinares que vão além da chamada arquitectura tradicional

 

A inserção da construção tradicional com o bambu numa paisagem natural transformou-se no projecto “Chasing Sounds” e deu o terceiro prémio deste ano ao atelier Improptu Projects, de João Ó e Rita Machado. A dupla, juntamente com Madalena Saldanha e Alexandre Marquês, acaba de vencer o prémio “Landscape Architecture” [Arquitectura de Paisagem], na categoria “Installation and Structures” [Instalações e Estruturas], dos Architecture Masterprize Awards.

“Chasing Sounds” esteve exposto no Hong Kong Zoological and Botanical Gardens onde representava as ondas de música, com o objectivo de desenvolver “um ambiente sonoro para o público entrar e ter uma experiência imersiva”.
A iniciativa partiu de uma parceria com a orquestra Hong Kong New Music Essemble.

Rita Machado assume ao HM que este prémio “é um reconhecimento de todo um percurso que temos vindo a traçar desde a abertura do nosso estúdio”, bem como “uma projecção local e internacional que nos interessa para a divulgação das nossas concepções de espaços e projectos”.

“Chasing Sounds” começou a ser pensado e preparado em 2017 e, devido às restrições da covid-19, levou a equipa a desenvolvê-lo à distância, sem poder estar fisicamente em Hong Kong. O convite formal por parte da Hong Kong New Music Essemble chegou em 2018, mas só este ano é que o projecto foi concebido.

“A intenção era fazer um coreto ou um palco que pudesse albergar uma série de espectáculos no jardim zoológico e botânico de Hong Kong. Depois de várias reuniões percebemos que queríamos experimentar um novo conceito, que passava por o público ir ao encontro da música. Nesse sentido criámos uma onda sonora, um percurso, onde os músicos pudessem estar localizados em pontos rigorosamente escolhidos por eles e que fizesse com que o público fluísse na estrutura indo ao encontro dos diferentes tipos de sons”, adiantou Rita Machado.

Esta estrutura acabou por ganhar transparência, criando “um espaço muito envolvente” e que “cria momentos de visão e de vivência do espaço diferentes”. Rita Machado recorda que nunca se tratou “de um recinto fechado”, mas sim de um local que “permitia esta permeabilidade do espaço”.

Além do convencional

João Ó revela também que este prémio traduz a vontade do atelier em abraçar projectos cada vez mais multidisciplinares, que não passem apenas pela arquitectura mais tradicional, de construção de edifícios.

“Tentamos traçar um percurso paralelo, mas significativo, que é propor instalações num espaço público. Espaços improváveis, alternativas de ocupação. Tudo isso tem vindo a vingar com prémios internacionais, o que é muito bom”, frisou.

Esta acaba por ser uma arquitectura efémera, mas “abre o leque daquilo que [ela] pode ser, com pensamento crítico e do espaço público”, acrescenta o arquitecto.

João Ó fala ainda da importância da dinâmica que se criou no diálogo com a Hong Kong New Essemble para desenvolver “Chasing Sounds”. “Discutimos o projecto com o compositor também. Toda esta sinergia de discussão ajudou-nos a ultrapassar as limitações, para que não estejamos sempre agarrados às mesmas fórmulas. Apesar de se usar o bambu, esta discussão leva a outro tipo de intervenção. Queremos cada vez mais colaborar com diferentes disciplinas”, exemplificou o arquitecto.

O fotojornalista português e ex-editor do HM, Gonçalo Lobo Pinheiro, foi outro dos distinguidos, naquele que foi a primeira edição do prémio virado para a fotografia de arquitectura. Uma imagem do hotel e casino Grand Lisboa, da perspectiva da Rua Nova à Guia, foi a escolhida.

5 Nov 2021

“Hush!” | Festival regressa este sábado com géneros musicais para todos os gostos

Sob o tema “Música ao longo da costa”, o festival “Hush!” regressa já este sábado com concertos e workshops onde a diversidade musical é palavra de ordem. O cartaz conta com músicos locais como os “Free Yoga Mats”, os “Jocking Case” ou o jazz do brasileiro João Mascarenhas, entre muitos outros

 

O festival de música “Hush!” está de regresso este sábado e tem como tema “Música ao longo da costa”. O cartaz integra mais de 50 bandas locais que actuam num festival que termina no dia 28 deste mês. O “Hush!” É organizado pelo Instituto Cultural (IC) em colaboração com o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) e Direcção dos Serviços do Turismo (DST). Este fim-de-semana acontece o evento “Ouvir hush! na Tenda”, na Praça do Centro de Ciência, que oferece um programa musical diverso que inclui rock, jazz ou música electrónica, entre outros géneros musicais. No sábado, os “Free Yoga Mats” sobem ao palco a partir das 15h, seguindo-se nomes como o do músico de jazz João Mascarenhas e “Jocking Case”.

Além dos espectáculos, o programa inclui demonstrações de BMX e skateboard, estando ainda disponíveis quase uma centena de tendas de venda de produtos de merchadising da marca “Hush!”, bem como de produtos criativos e da gastronomia locais. O festival deste ano traz também uma novidade, o “GEG hush! kids”, que inclui um palco e uma zona infantil onde também haverá concertos de grupos como “Water Singers” ou “The Chairs”.

No domingo, dia 7, a música continua a acontecer na Praça do Centro de Ciência com “Filipe Tou & Friends” e “If Monsters Were Men”, entre outros.

Também pela primeira vez este ano, será apresentado o “Concerto de Rock no Litoral”, que se divide em dois espectáculos agendados para o dia 21, e que acontecem no Largo do Pagode da Barra e numa barcaça, propriedade da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), onde a música promete terminar só no final da noite.

A partir das 18h, actuam, dentro do cartaz do “Concerto de Rock no Litoral”, grupos como “Asura”, “Pyjamars”, “Scamper” e “FIDA”.

Dia 19 é a data escolhida para o concerto “Perdido pelas Cidades – À Descoberta do Arco-Íris – Noite de Música Electrónica”, que acontece no Centro de Arte Contemporânea de Macau – Oficinas Navais, n.º 2. No dia seguinte, é a vez do “Concerto Upbeat Power”, com um programa que integra o rock japonês, o heavy metal e a música pop. Neste dia actuam bandas como os NÁV, dupla composta por Manuel Variz e Dave Wan que toca handpan, e ainda o grupo “Girl’s Whisper”.

No Porto Interior

Nos dias 27 e 28 de Novembro acontece o “Concerto no Terraço ao Pôr-do-Sol”, no terraço do espaço Ponte 9, e o espectáculo “Vozes Femininas na Brisa Marítima”, além do evento “O Confortável Mundo da Música”. Estes três espectáculos trazem ao público diferentes géneros musicais, desde a música acústica, música electrónica e taças sonoras. Exemplo disso, é a actuação do grupo Concrete/Lotus, de Joana de Freitas e Kelsey Wilhem, que aposta nas batidas electrónicas, e os “thetiredeyes”, com uma sonoridade mais jazz. Além dos espectáculos, o festival integra ainda um conjunto de workshops no cartaz.

Os eventos do “Hush!” Têm entrada livre mas estão sujeitos à reserva de lugares devido à limitação de espaços. A reserva pode ser feita no website do IC a partir das 10h de amanhã.

4 Nov 2021

Fotografia | Imagem do Grand Lisboa vence prémio do Architecture Photography MasterPrize

O fotojornalista português Gonçalo Lobo Pinheiro, ex-editor do HM, venceu a primeira edição do prémio “Best of Best” de fotografia de arquitectura do Architecture Photography MasterPrize (APMP). A imagem, intitulada “Glitz and Grit”, ligada à temática da paisagem urbana, venceu na categoria “Exterior Photography” (Fotografia de Exterior), no segmento Profissional. Trata-se de uma fotografia tirada ao casino e hotel Grand Lisboa em 2018, mas a partir da perspectiva da Rua Nova à Guia.

A fotografia foi captada em 2018 para uma reportagem sobre inequidade em Macau que foi publicada pelo jornal inglês The Guardian. Posteriormente, um pouco por todo o mundo, participou em diversas exposições colectivas e foi publicada em livro.

“Glitz and Grit” também venceu o Latin American Fotografia 8 e o Umbra International Photography, além de ter sido finalista e a escolha de editores no National Geographic Travel Photo Contest em 2019. A imagem do Grand Lisboa foi também distinguida em muitos outros concursos.

Citado por uma nota de imprensa, Gonçalo Lobo Pinheiro assume que tem vindo a ser “muito feliz” com esta fotografia. “Só tenho de estar muito agradecido com mais esta distinção. É um privilégio, enquanto português, vencer um prémio com uma fotografia de Macau, local onde resido desde 2010. Acabo por, de certo modo, representar os dois territórios nesta que é a primeira edição deste prémio.”

O fotojornalista recorda que esta imagem “não é inédita” mas que “ilustra bem o que é a paisagem urbana de Macau, esta mistura entre o velho e o novo, entre a opulência e o frugal, se assim podemos dizer”. O Architecture MasterPrize foi criado, em 2015, pelo Farmani Group como uma iniciativa do IDA – International Design Awards, que reconhece e celebra o design multidisciplinar inteligente e sustentável desde 2007.

3 Nov 2021

Fotografia | Associação Halftone promove o lançamento de livro e exposição

“This is My Street” é o nome do novo projecto da associação Halftone que se dedica a mostrar o que de melhor se faz na área da fotografia, mesmo por pessoas que não são profissionais. No próximo dia 13 será lançado um livro de fotografia e inaugurada uma exposição no Hotel Artyzen, sendo esta uma iniciativa que visa angariar fundos para uma instituição local de Macau que acolhe crianças com deficiências mentais e físicas.

A ideia para esta iniciativa partiu da criação de uma página no Facebook onde os interessados poderiam colocar uma foto das suas ruas, para que as pessoas pudessem partilhar o que estavam a viver nestes dois anos de pandemia.

A página tem participantes oriundos de mais de 130 países e recebeu mais de sete mil fotos tiradas em 2020 e 2021. É um projecto de Macau para o mundo. Outro dos objectivos do projecto “This is My Street” é “celebrar a humanidade, resiliência e arte de partilha através de uma acção filantrópica”. Além disso, “é um projecto que também pretende falar sobre a responsabilidade social e como as empresas de Macau podem contribuir para o bem-estar da sociedade de uma forma mais eficiente e mais orientada”.

Fundos com embaixadores

Para o processo de recolha de fundos foram nomeados seis embaixadores de Macau que vão apadrinhar uma foto da exposição colocando-a nas suas redes sociais e apelando às para adquirir a foto com uma licitação online. Quem oferecer o montante mais elevado irá receber a foto no dia de inauguração da exposição, dia 13 de Novembro.

Os embaixadores do projecto são personalidades locais de diferentes sectores da sociedade ligados ao mundo empresarial, artístico e não governamental. A mostra pode ser vista até ao dia 28 deste mês. “This is My Street” é apoiado ainda por entidades ou associações como o International Ladies Club of Macau e Zonta Club of Macau, bem como a creche Smart, gerida por esta associação.

3 Nov 2021

Ka-Hó  | Documentos históricos em exposição

Foi inaugurada no sábado a exposição “Lugar de Esperança – Exposição de Documentos Históricos das Leprosarias de Macau”, que terá um carácter permanente e visa contar ao público a história da antiga leprosaria situada na vila de Ka-Hó, em Coloane.

Além da exposição, abriu também portas a Vila de Nossa Senhora de Ka-Hó, após concluído um trabalho de restauro iniciado em 2013. Antes deste processo “as cinco casas e o antigo espaço recreativo encontravam-se em diferentes graus de degradação e envelhecimento”, adianta o Instituto Cultural (IC), que decidiu realizar o restauro de cada edifício “de acordo com os seus materiais e a configuração arquitectónica original”.

A Vila de Nossa Senhora de Ka-Hó foi, entretanto, incluída no terceiro grupo dos bens imóveis, incluindo a Vila de Nossa Senhora (Antiga Leprosaria de Ká-Hó) e a Igreja de Nossa Senhora das Dores.  A exposição, que pode ser visitada no antigo centro de actividades e casa adjacente, apresenta quase uma centena de arquivos e materiais seleccionados das colecções guardadas pelo Arquivo de Macau.  É também apresentado um estudo sobre o desenvolvimento das instalações para o tratamento da lepra no território.

Além disto, a mostra “procura ainda evidenciar o papel pioneiro assumido pela sociedade na promoção de acções de assistência a pacientes leprosos e na difusão do humanitarismo em Macau”.

Está também disponível para visita uma segunda exposição que fecha portas a 6 de Maio do próximo ano. O IC promove ainda várias palestras temáticas sobre este capítulo da história de Macau.

3 Nov 2021

KINO | Festival começa amanhã e traz o clássico “Metropolis”, de Fritz Lang 

Pela sexta vez, o festival de cinema alemão chega a Macau fruto da parceria entre a associação CUT e o Instituto Goethe de Hong Kong. O KINO destaca o movimento expressionista do cinema alemão e traz ao território o clássico “Metropolis”, de Fritz Lang. As exibições têm lugar no Cinema Alegria e na Casa Garden

 

A associação CUT, que geriu anteriormente a Cinemateca Paixão, traz de volta a Macau o festival de cinema alemão KINO. A sexta edição arranca amanhã e apresenta cinco novos filmes além de clássicos do Expressionismo alemão, como “Metropolis”, de Fritz Lang. As exibições acontecem entre esta sexta-feira e domingo, e ainda entre os dias 12 a 14 de Novembro, no Cinema Alegria e na Casa Garden.

Os cinco novos filmes apresentados são a expressão de vários géneros cinematográficos e temas, como ficção científica, comédia, amor ou história. O cartaz inclui também quatro clássicos do Expressionismo alemão, onde, além de “Metropolis”, figuram “The Cabinet of Dr. Caligari”, “Nosferatu” e “The Golem: How He Came into the World”, títulos que acabaram por influenciar realizadores contemporâneos como David Lynch e Tim Burton. Estes clássicos alemães deixaram também a sua marca no clássico de Ridley Scott “Blade Runner”, por exemplo.

Os bilhetes estão à venda desde o dia 25 de Outubro e podem ser adquiridos online, tendo um custo de 70 patacas.
O cartaz começa esta sexta-feira, às 19h30, com a exibição de “Kiss me Before it Blows Up!”, um filme de 2020 de Gershon Klein. Este filme retrata uma história de amor que ultrapassa fronteiras e culturas, com a história de amor de duas mulheres israelitas que se apaixonam por uma mulher alemã e um homem da Palestina. Depressa as diferenças sócio-culturais entre famílias se tornam demasiado evidentes, gerando situações de tensão. No domingo é dia de exibir, também no Cinema Alegria, às 16h30, o filme “The Kangaroo Chronicles”. Ainda neste dia, o público poderá ver, às 19h30 na Casa Garden, o clássico “Nosferatu”, que inspirou muitos outros filme de terror. “Nosferatu” conta a história de um vampiro que vive luxuosamente no seu castelo e que procura o sangue de uma bela mulher, enquanto espera uma oportunidade para regressar ao mundo.

Já “The Cabinet of Dr. Caligari” é exibido no sábado, às 19h30, também na Casa Garden, retrata a vida de um homem sonâmbulo que hipnotizado comete uma série de crimes. Este filme é visto como uma metáfora do crescimento do Nazismo na Alemanha nos anos 30 e sobre os acontecimentos que antecederam a II Guerra Mundial – uma submissão quase irracional a uma nova autoridade fascista.

O KINO prossegue no fim-de-semana seguinte com a exibição, dia 12, de “The German Lesson”, que se baseia num dos mais famosos romances alemães da literatura do pós-II Guerra Mundial.

A história passa-se, portanto, no período pós-1945, quando Siggi Jepsen, um jovem detido, tem de escrever um ensaio, que só consegue ver a luz do dia quando o seu autor se encontra preso. Depressa vêm ao de cima as memórias do seu pai, polícia, que teve de banir uma pintura do artista expressionista Max Ludwig Nansen para responder aos desígnios nazis. Siggi, então com 11 anos de idade, depressa se vê envolvido num conflito que lhe traz as tristes memórias do passado. “The German Lesson” venceu dois prémios e recebeu três nomeações em festivais.

Metropolis no Alegria

O KINO volta a acontecer no sábado dia 13, na Casa Garden, com a exibição, às 15h, do filme “Berlin Alexanderplatz”, seguindo-se, no domingo, “Tides”, exibido no Cinema Alegria às 16h30. Este é um filme que explora a temática actual do abuso de recursos naturais e da necessidade de protecção do meio ambiente, decorrendo numa altura em que o planeta Terra é afectado por uma catástrofe global. É então que a colónia espacial Kepler resolve organizar uma missão para analisar em que condições se encontra o planeta, onde a vida humana se tornou impossível.

Também no dia 13, é exibido “Metropolis”, às 21h30, à volta do qual foi construída toda a imagem gráfica do KINO. Nesta obra-prima do cinema, Fritz Lang experimenta, pela primeira vez, efeitos especiais que mais tarde se tornariam comuns para muitos realizadores. “Metropolis” é um filme distópico e futurista que conta a história de um mundo que se divide em duas classes sociais: os que se divertem e bebem a toda a hora, e os restantes que trabalham até à morte. Em “Metropolis”, Fritz Lang imagina um mundo com robots sem pensamento próprio, que se limitam a cumprir as regras impostas por um regime. Mesmo aqueles que outrora se rebelavam contra o sistema.
Domingo, dia 14, é exibido, na Casa Garden e às 19h30, mais um clássico: “The Golem: How he came into the world”, filmado em Praga. Esta obra foi realizada por Karl Freund e traz novamente para o ecrã leituras sobre o período político da Alemanha à época, marcado pelo anti-semitismo e pelo nazismo.

Além da exibição dos filmes, o KINO apresenta também uma palestra, protagonizada por Derek Lam, onde os amantes do cinema poderão aprender mais sobre o movimento expressionista alemão. Esta palestra será transmitida online e está agendada para sábado, dia 19h, entre as 18h e as 19h.

3 Nov 2021

Poesia | “Salitre”, de Duarte Drumond Braga, editado na RAEM pela Capítulo Oriental

O novo livro do académico Duarte Drumond Braga tem Macau como musa e tema central. “Salitre” será editado este mês pela Capítulo Oriental e é, como descreve o autor, uma metáfora poética sobre as características do território

 

“É que / na aldeia lê-se o que há na papelaria, / vai-se a tudo o que há no Dom Pedro V / desfraldou-se uma vela / e perseguimos o pirata”. O verso do poema “Sal” espelha bem a matéria do mais recente livro de poemas de Duarte Drumond Braga, académico da Universidade de Lisboa que viveu em Macau.

“Sal” é um dos poemas que integra “Salitre”, livro de poesia inteiramente dedicado ao território, com versos escritos entre os anos de 2019 e 2020. Editado este mês no território pela Capítulo Oriental, com apoio da Universidade de Macau, ainda sem data oficial de lançamento devido à pandemia. A obra terá também lançamento em Lisboa.

O livro de poesia é uma ode metafórica ao território que acolheu Duarte Drumond Braga. “Salitre é um fenómeno químico bem conhecido que actua nas paredes das casas. O salitre talvez possa ser uma metáfora da acumulação de sinais, traços, uns legíveis outros menos, que constitui uma cidade como Macau. Poderia ser também o bolor ou o mofo, bem conhecidos dos habitantes de Macau, mas já há um livro de Augusto Abelaira com o título do primeiro e talvez estes remetam menos para a escrita como acumulação de traços ou raspagens”, contou ao HM.

O poeta e investigador escreveu “Salitre” ao mesmo tempo que ia fazendo versos para “Os Sininhos do Inferno”, mas os poemas do livro agora lançado foram “quase exclusivamente” escritos no território. Escrever novamente sobre Macau surgiu como uma necessidade, dado o interesse constante do autor pelas suas “textualidades”.

“É pena termos sempre acesso a um dos lados da moeda apenas, nós que não falamos chinês, porque o texto-Macau tem muitas autorias. O livro procura mostrar, antes de mais graficamente, que esta é uma cidade que é também um conjunto de citações, em línguas diferentes, que se cruzam, formando um texto único, mas de autoria múltipla.”

A Macau histórica

Nestas muitas versões da mesma história, há também espaço para a Macau histórica, consumo de ópio e piratas. Exemplo disso é o verso “No esterquilínio / é a cena do ópio: / um homem / tragicamente hirsuto / de olhos rolados, / dobrado sobre si mesmo / como um feto ao fogo / e uma mulher / que queima bolas”.

Mas, conforme explicou Duarte Drumond Braga, “Salitre” não é apenas isso. Os seus poemas contêm referências “a espaços muito concretos”, e não apenas a eventos históricos.

“Volta-se a esse imaginário para colocá-lo de forma diferente, por vezes de forma cortante. Creio que ainda há marcas de um certo exotismo na literatura em língua portuguesa de/sobre Macau. Este livro demarca-se dele, ainda que não se esgote nisso.”

A Capítulo Oriental indica que a obra contém uma Macau “lida como uma cidade-texto, feita de letras, signos, sinais”, “uma cidade que é também um conjunto de citações, em línguas diferentes, que se cruzam, formando um texto único, mas de autoria múltipla”.

Uma interpenetração

“Salitre” é também uma espécie de “livro-colagem”, onde “os versos à esquerda são da minha autoria e os destacados à direita pertencem a vários livros de literatura e até de história de Macau”, aponta o seu autor. Neste processo, “os lugares, as referências históricas e as personagens dessa cidade constituem um mapa que mobiliza a transformação de Macau em tropo da linguagem”.

Investigador na área da literatura comparada, Duarte Drumond Braga adianta que “a investigação e a poesia são actividades que se interpenetram”. “Interessa-me cada vez mais a poesia como forma de investigação, interessa-me construi-la em simultâneo com as questões que eu estudo, como sendo a Ásia e a produção escrita de língua portuguesa, essencialmente”, frisou.

Editar “Salitre”, o seu terceiro livro de poesia, em Macau é importante para o autor. “Vinte anos depois da transferência da soberania, a publicação de qualquer livro em língua portuguesa em Macau – o que é talvez mais significativo quanto a um livro de literatura – constitui, em si mesmo, um facto cultural de relevo”, rematou.

Fundada em 2019, a Capítulo Oriental é a primeira agência literária a trabalhar entre a Ásia e países ou territórios de língua portuguesa, e que tem sede em Macau. Representa também autores de Macau, China, Hong Kong, Taiwan e Portugal, entre outros territórios.

1 Nov 2021