António Lobo Antunes vence Prémio Bottari Lattes Grinzane 2018

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] escritor António Lobo Antunes venceu o Prémio Bottari Lattes Grinzane 2018, organizado pela fundação italiana com o mesmo nome, e vai recebê-lo em outubro, anunciou a sua editora.

O Prémio Bottari Lattes Grinzane 2018 teve como júri intelectuais, professores universitários, jornalistas culturais e escritores, segundo a mesma fonte.

António Lobo Antunes, de 75 anos, recebe o galardão no próximo dia 20 de outubro, no Castelo Grinzane Cavour, nos arredores de Turim, no norte de Itália.

O ano passado este prémio foi entregue ao escritor britânico Ian McEwan, de 69 anos, e em edições anteriores distinguiu autores como Enrique Vila-Matas, Patrick Modiano, Alberto Arbasino, Martin Amis, Javier Marias e Amos Oz.

Entretanto, o autor português viu o seu romance “Os Cus de Judas” ser selecionado, em França, para o Exame Nacional de Agregação para professores e investigadores do Ensino Secundário em Literaturas Modernas.

“Os Cus de Judas” foi publicado pela primeira vez em 1979, e atualmente já na 36.ª edição, segundo as Publicações D. Quixote.

Ao lado de António Lobo Antunes, que se tornou o primeiro escritor português vivo selecionado, estão Joseph Conrad (1857-1924) e Claude Simon (1913-2005).

O escritor António Lobo Antunes recebeu no passado dia 14 o Grande Prémio do Centenário da Reunificação da Roménia, onde foi o convidado de honra do Festival Internacional de Poesia de Bucareste.

Lobo Antunes estreou-se literariamente em 1979, com “Memória de Elefante”, obra que vai na 30.ª edição, segundo a mesma fonte.

Em pouco mais de um ano, seguiram-se “Cus de Judas” (1979), “Conhecimento do Inferno” (1980) e “Explicação dos Pássaros” (1981).

De “Fado Alexandrino” (1983) e “Auto dos Danados” (1985), até “Da Natureza dos Deuses” (2015) e “Para Aquela Que Está Sentada no Escuro à Minha Espera” (2016), António Lobo Antunes soma mais 23 romances, num total de 27, incluindo vários livros de crónicas e um livro para crianças – “A História do Hidroavião” (1994), ilustrado por Vitorino -, entre outras obras.

O escritor foi distinguido com o Prémio Camões, o Grande Prémio de Romance da Associação Portuguesa de Escritores, que recebeu por duas vezes (por “Auto dos Danados” e “Exortação aos crocodilos”), o Prémio de Literatura Europeia da República Austríaca, o Prémio da União Latina, pelo conjunto da obra, os prémios Juan Rulfo e Rosalía de Castro, o Prémio Melhor Livro Estrangeiro publicado em França (“Manual dos Inquisidores”), entre outras distinções.

Na Feira do Livro de Lisboa, que abre na sexta-feira, Lobo Antunes vai estar presente em três momentos, no dia 27 de maio, e nos dias 03 e 10 de junho.

22 Mai 2018

Escritor Germano Almeida é o vencedor do Prémio Camões 2018

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] escritor cabo-verdiano Germano Almeida é o vencedor do Prémio Camões 2018, foi anunciado, no Hotel Tivoli, em Lisboa, após reunião do júri.

Nascido em 1945 na ilha da Boavista e a viver atualmente no Mindelo, Germano Almeida é autor de obras como “A ilha fantástica”, “Os dois irmãos” e “O testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo”, estes dois últimos já adaptados para cinema.

“O fiel defunto” é o mais recente romance de Germano Almeida, cuja obra literária está traduzida em países como Itália, França, Alemanha, Suécia, Noruega e Dinamarca.

Formado em Direito em Lisboa, é advogado e foi procurador da República de Cabo Verde. Deu os primeiros passos na literatura na década de 1980, numa altura em que cofundou a revista Ponto & Vírgula.

Germano Almeida, um dos escritores mais lidos e traduzidos de Cabo Verde, é o segundo autor cabo-verdiano a ser distinguido com o Prémio Camões, depois de o galardão ter sido atribuído em 2009 ao poeta Arménio Vieira.

Horas antes do anúncio do prémio, em declarações à agência Lusa, o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde, Abraão Vicente, assumia estar a torcer pela escolha de Germano Almeida.

“O nome cabo-verdiano mais próximo de se consagrar como Prémio Camões é Germano Almeida, pelo seu percurso e a sua obra”, disse Abraão Vicente.

O júri desta 30.ª edição do Prémio Camões, que distinguiu Germano Almeida por unanimidade, foi composto por Maria João Reynaud (Portugal), Manuel Frias Martins (Portugal), Leyla Perrone-Moisés (Brasil), José Luís Jobim (Brasil), Ana Paula Tavares(Angola) e José Luís Tavares (Cabo Verde).

Para Abraão Vicente, o Prémio Camões é “um contributo extraordinário de um país como Portugal” que “dá para incentivar a crítica, a produção”.

O Prémio Camões, considerado o maior prémio da Língua Portuguesa, foi instituído por Portugal e pelo Brasil em 1988 com o objetivo de distinguir um autor “cuja obra contribua para a projeção e reconhecimento do património literário e cultural da língua comum”.

O Prémio Camões foi atribuído pela primeira vez em 1989 ao escritor Miguel Torga e em 2017 ao poeta Manuel Alegre.

22 Mai 2018

Expo98: Vulcões e Gil lembram ainda hoje a Exposição Mundial de há 20 anos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s vulcões, o Oceanário e a figura do Gil recordam a quem hoje passa pelo Parque das Nações a realização da Exposição Mundial, que há 20 anos centrou as atenções em Lisboa e transformou aquela zona da cidade.

A Expo’98 decorreu entre 22 de maio e 30 de setembro de 1998, teve como tema “O Futuro dos Oceanos” e foi visitada por 9.637.451 pessoas. Só no último dia da exposição, visitaram o recinto 200 mil pessoas.

A área industrial, cheia de contentores e lixo, a parte oriental de Lisboa foi totalmente revitalizada para receber a Expo e transformada num novo bairro quando o evento fechou portas.

Desse tempo permanecem vários equipamentos que mostram apontamentos da Expo aos mais novos e deixam saudades desse tempo aos mais velhos.

Exemplo disso são os icónicos vulcões de água, que faziam as delícias de crianças e adultos de cada vez que explodiam. Depois de alguns anos sem trabalhar, voltaram a jorrar água e, agora, voltaram a ‘explodir’.

A trabalhar sem parar desde 22 de maio de 1998, dia em que a Expo abriu portas, está o teleférico, que faz uma viagem de 1.230 metros ao longo do rio Tejo, entre o Passeio de Neptuno, perto do Oceanário, e o Passeio das Tágides, perto da Torre Vasco da Gama.

Os pavilhões mais emblemáticos da Exposição permanecem até aos dias de hoje em atividade, como é o caso do Altice Arena, que era o Pavilhão da Utopia.

Quando a Expo terminou foi transformado numa sala de espetáculos e eventos, e batizado de Pavilhão Atlântico, tendo sido vendido em 2013 ao Consórcio Arena Atlântico, que lhe mudou o nome para Meo Arena. Entretanto, foi rebatizado e atualmente chama-se Altice Arena.

Permanecem também o Oceanário, o Teatro Camões, o Pavilhão do Conhecimento – Ciência Viva (que era o do Conhecimento dos Mares), o Casino de Lisboa (era o Pavilhão do Futuro), a Torre Vasco da Gama, que foi um restaurante durante a exposição e é agora um hotel, e três bonecos do Gil espalhados pelo Parque das Nações.

O ex-líbris da exposição – o Pavilhão de Portugal, desenhado pelo premiado arquiteto Siza Vieira – continua sem destino certo. Depois de ter recebido eventos e de servir de apoio ao Altice Arena, foi recentemente vendido à Universidade de Lisboa, que pretende revitalizá-lo.

Em declarações à Lusa, Carlos Ardisson, da associação de moradores ‘A Cidade Imaginada Parque das Nações’, disse esperar que “finalmente seja dado um uso digno ao pavilhão”, porque “é uma pena que uma estrutura com aquela beleza e a qualidade não esteja a ser utilizada e não tenha sido utilizada durante 20 anos”.

Completamente abandonada está a antiga Praça Sony, que recebeu concertos e espetáculos.

Carlos Ardisson explicou à Lusa que o espaço foi dividido em dois lotes, um dos quais (onde estava o ecrã gigante) pertence à Feira Internacional de Lisboa (FIL) e está vazio. O outro ia ter um hotel, mas as obras pararam quando “surgiu a crise financeira que afetou o país e ainda não houve a retoma dos trabalhos”.

“O terreno está vedado, é um buraco, um lago de águas estagnadas, com problemas de mosquitos e coisas assim. Esperemos que seja só isso”, disse o representante dos moradores.

Para lembrar a atividade industrial que existia naquela zona antes da Exposição Mundial ficou a Torre da Galp, da primeira refinaria portuguesa – a Refinaria de Cabo Ruivo –, que se encontra na parte sul do Parque das Nações.

Vinte anos depois, Oceanário está “mais natural” e ultrapassou expectativas

O Oceanário de Lisboa, inaugurado por altura da Expo’98, está atualmente “mais natural, com todos os animais a viverem em equilíbrio”, e “ultrapassou fortemente tudo o que era esperado em 1998”, disse à agência Lusa o diretor executivo (CEO).

Há precisamente 20 anos, Lisboa foi palco, ao longo do verão, de uma exposição mundial cujo tema foi “Os oceanos, um património para o futuro”, a Expo’98, que abriu portas no dia 22 de maio.

Nesse âmbito, nasceu o Oceanário de Lisboa, que desde essa altura leva miúdos e graúdos num mergulho pelos mares e habitats, entre peixes, pinguins, tubarões, aves ou lontras marinhas.

Desde que abriu portas, este equipamento situado na zona oriental de Lisboa, rodeado pelo rio Tejo, mudou em vários aspetos, disse à agência Lusa o CEO, João Falcato.

“Eu julgo que quem visita hoje o Oceanário, e quem visitou há 20 anos, encontra um ecossistema muito mais equilibrado, muito mais natural, com todos os animais a viverem em equilíbrio, e consegue-se visionar muito bem o que são os oceanos, consegue-se ter uma perceção muito bonita do que é que se passa debaixo de água, que nós normalmente não temos essa possibilidade”, disse o responsável.

E esta é “uma das missões do Oceanário”, acrescenta, “fazer com que um grande número de pessoas perceba como é bonito o oceano debaixo de água”.

Segundo João Falcato, foram ultrapassadas “todas as expectativas”.

“Em quase tudo a que o Oceanário se propôs, ultrapassou fortemente tudo o que era esperado em 1998”, precisou, salientando que em “1998 era uma grande incógnita, como seria o futuro era uma incógnita, […] mas hoje é uma certeza”.

Atualmente, o Oceanário de Lisboa conta com mais de um milhão de visitantes, que todos os anos observam os mais de 26 mil animais (de 500 espécies diferentes), mas os responsáveis destacam que tem capacidade para receber mais.

Um desses animais é a lontra marinha Maré, filha das lontras mais famosas do país, a Amália e o Eusébio, que nasceu 20 dias antes da abertura daquele espaço ao público e da inauguração da Expo98, e que ainda hoje nada de um lado para o outro, de barriga para cima, fazendo as delícias de quem passa.

Mas o total de animais à data da inauguração era bem diferente.

Segundo, Elsa Santos, bióloga supervisora das galerias, o Oceanário contava há duas décadas com oito mil animais, número que tem vindo a aumentar devido “a uma evolução a nível das próprias técnicas” e dos “equipamentos de manutenção que têm evoluído e que têm permitido sempre uma melhor qualidade da água”.

Também a troca de informações com outras instituições envolvidas na conservação dos oceanos e a interação entre os aquários “tem permitido a evolução ao longo dos anos”, explicou Elsa Santos.

“O Oceanário tem-se distinguido ao longo dos anos e nós podemos também perceber isso por todo este caminho que o Oceanário tem tido desde a Expo’98, em que era um equipamento de exposição, até hoje em dia, que faz parte de uma fundação tão importante como é a Fundação Oceano Azul, de conservação dos oceanos”, salientou.

Para o futuro, esta estrutura “espera continuar a cumprir cada vez melhor a sua missão e a sua missão é a conservação dos oceanos”, apontou João Falcato.

“Nós existimos para que quem nos visita perceba que tem um património único, um património pelo qual é responsável também, e se todos nós dermos um pequeno contributo, os nossos filhos e os nossos netos provavelmente vão conseguir ter este oceano melhor, ou tão bom, como hoje. E é isso que o Oceanário pretende fazer cada vez mais no futuro, ter cada vez mais capacidade de influenciar o futuro dos oceanos e contribuir para que este futuro seja um futuro positivo, e não negativo”, acrescentou.

Atualmente, o Oceanário é, na opinião do CEO, “um equipamento de referência a nível nacional”.

“Damos todos os dias o nosso melhor para que assim seja e parece-me que, ao longo dos últimos 20 anos, temos cumprido com a nossa quase obrigação quanto à sociedade portuguesa de trazer o oceano de volta para a vida das pessoas e torná-lo cada vez mais presente”, destacou.

22 Mai 2018

Cinema | “San Va Hotel – Os Bastidores” regressa à Cinemateca Paixão

[dropcap style=’circle’] P [/dropcap] ara além da última obra de Ivo Ferreira, intitulada “Hotel Império” e que ainda não chegou aos cinemas, há uma outra película que revela os bastidores das filmagens, enquanto conta a história da hospedaria mais antiga de Macau. “San Va Hotel – Os Bastidores”, de Vanessa Pimentel e Yves Sonolet, volta a ser exibido esta semana.

As pequenas escadas de madeira, o ambiente que nos remete para o início do século XX a Oriente e os quartos onde apenas equipados com uma velha cama e um lavatório já apareceram em muitos filmes de realizadores orientais, sendo o mais conhecido Wong Kar-wai. O Hotel San Va, localizado na Rua da Felicidade, carrega consigo a sua própria história de Macau.
Um dos últimos filmes rodados na histórica pensão foi o de Ivo Ferreira, intitulado “Hotel Império”, que ainda não chegou às salas de cinema. Este foi o mote para Vanessa Pimentel e Yves Sonolet se juntarem e fazerem o projecto “San Va Hotel – Os Bastidores”, exibido pela primeira vez em Dezembro e que esta semana regressa à Cinemateca Paixão, inserido no ciclo Panorama do Cinema de Macau, nos dias 22 e 26.
Apesar de estar catalogado como documentário, a verdade é que Vanessa Pimentel não consegue dar-lhe uma definição concreta. É certo que tudo começou com “Hotel Império”, mas depois a imensa história do hotel acabou por levá-los a explorar um outro lado.
“É uma mistura entre making off e documentário. Mas o lado documental foi uma coisa que fizemos posteriormente, com a dona do hotel e a sua história muito ligada ao início de tudo”, contou ao HM.
Vanessa Pimentel decidiu concorrer a um concurso aberto pelo Instituto Cultural para a atribuição de subsídios, e chamou Yves Sonolet para trabalhar consigo. Se no início do projecto tinham uma ideia vaga do que iam fazer, depressa ela ganhou forma. “Tudo partiu da ideia de fazer o making off do filme do Ivo Ferreira, e coincidiu com a abertura desse concurso. Não sabíamos muito bem como ia ser, mas queríamos apresentar qualquer coisa. Filmámos o making off, o resultado saiu entretanto e ganhamos o subsídio. Fizemos mais filmagens e acabámos por nos centrar no hotel, que é o cenário principal do filme do Ivo.”
À medida que as filmagens de “Hotel Império” foram avançando, ficou claro para Vanessa e Yves que o Hotel San Va seria o protagonista do seu primeiro filme, não só a título individual, como em termos de parceria.
“A equipa do Ivo [Ferreira] passou grande parte da rodagem dentro do edifício. Nessa altura, acabámos por conhecer a dona do hotel, estabelecemos contacto e combinámos depois da rodagem falar com ela mais calmamente, perceber se poderíamos fazer as filmagens ou não. Foi aí que nos pareceu muito óbvio que existia esta ligação com o lado documental, pegando no nosso interesse pelo edifício e o facto do filme do Ivo ser rodado lá.”

Aposta documental
Apesar do Hotel San Van já ter servido de cenário a muitos filmes, a verdade é que são poucos os trabalhos cinematográficos sobre a sua história e singularidade, sobretudo se olharmos para a história que a Rua da Felicidade tem no panorama da cidade.
Vanessa Pimentel explicou ao HM que nunca quis filmar um making off da maneira mais óbvia ou tradicional. “O ponto de partida para ter esta sinergia, para ir filmar para a rua, foi de facto fazer o making off, mas a minha perspectiva sobre isso nunca foi uma coisa de filmar a câmara e ter um realizador a dizer acção, e corta. Sempre quis abordar um tema do ponto de vista documental sobre o acto de filmar, como é que as pessoas filmam, o que escolhem para filmar, por aí.”
Apesar de querer levar o filme para festivais de cinema na China, Hong Kong ou mesmo Portugal, Vanessa Pimentel tem a percepção de que será difícil dar-lhe uma etiqueta fixa.
“Só mesmo vendo o filme é que dá para falar sobre isso, porque sinto que o filme está muito preso ao Hotel Império, no sentido em que a rodagem do Ivo [Ferreira] está muito presente. Não consigo definir o filme como sendo um making off ou um documentário. E acho que ele pode sofrer com isso, até em termos de circulação e de participação em festivais.”
Para a realizadora, “é um bocado difícil fazê-lo circular sem o filme do Ivo, mas, por outro lado, poderá suscitar interesse porque tem um lado muito específico, que é o da rodagem e da abordagem documental. Depois há uma linguagem universal que pode ser difundida em qualquer altura.”
Vanessa Pimentel vive há alguns anos em Macau e trabalha na área do cinema desde o ano 2000. Para este projecto, fez tudo a quatro mãos com Yves, apesar de se ter debruçado de forma individual sobre a montagem final. Já Yves Sonolet é um artista visual que vive em Macau há oito anos, e que se dedica à mistura de comunicação digital utilizando a paisagem urbana enquanto temática e suporte.

21 Mai 2018

“Manbiki Kazoku” do japonês Kore-Eda venceu a Palma de Ouro do Festival de Cannes

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] filme “Manbiki Kazoku”, do japonês Kore-Eda, venceu a Palma de Ouro da 71.ª edição do Festival de Cinema de Cannes, cujo júri é presidido pela atriz australiana Cate Blanchett, foi anunciado.

“Manbiki Kazoku”, a primeira Palma de Ouro japonesa desde 1997 (ano em que foi distinguido “A enguia”, de Shohei Imamura), conta a história de uma família que vive de roubos em lojas e acolhe uma menina vítima de abusos.

O júri, que além de Cate Blanchett inclui, entre outros, as atrizes Kristen Stewart e Léa Seydoux, decidiu atribuir o Grande Prémio a “BlacKkKlasman”, do norte-americano Spike Lee.

Em “BlacKkKlansman”, filme passado na década de 1970, o realizador aborda temas como o racismo e a extrema-direita e termina com imagens dos confrontos de agosto do ano passado em Charlotesville, no estado norte-americano da Virginia, entre nacionalistas brancos e antifascistas.

A Palma de Ouro especial foi atribuída ao cineasta franco-suíço Jean-Luc Godard, que estava em competição pela Palma de Ouro com o filme “Le livre d’image”, e o prémio de Melhor Realizador ao polaco Pawel Pawlikowski por “Cold War”.

O prémio de melhor ator foi para o italiano Marcello Fonte (pelo papel que interpreta em “Dogman”, de Matteo Garrone) e o de melhor atriz para a cazaque Samal Esljamova (“Ayka”, de Sergueï Dvortsevoï).

O Festival de Cinema de Cannes contou este ano com vários filmes portugueses, nomeadamente “Diamantino”, de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt, distinguido com o Grande Prémio da Semana da Crítica, e o documentário “Chuva é cantoria na aldeia dos mortos”, de João Salaviza e Renée Nader Messora, que conquistou o prémio especial do júri da secção ‘Un Certain Regard’, onde foi estreado.

Na Semana da Crítica esteve também a curta-metragem “Amor, Avenidas Novas”, de Duarte Coimbra.

No programa dedicado aos clássicos, foi exibida uma versão restaurada de “A ilha dos amores”, de Paulo Rocha, e, fora de competição, estreou-se “O grande circo místico”, do realizador brasileiro Cacá Diegues, rodado em Portugal.

A 71.ª edição do Festival de Cinema de Cannes encerra hoje com a estreia mundial de “O homem que matou D. Quixote”, de Terry Gilliam.

Ainda com um processo judicial em curso, Terry Gilliam terá agora oportunidade de mostrar no grande ecrã um projeto que o acompanha há quase trinta anos, numa adaptação livre do romance “D. Quixote de la Mancha”, de Miguel Cervantes.

“O homem que matou Dom Quixote” é um projeto antigo de Terry Gilliam, que remonta a 1989 e cuja produção sofreu sucessivos solavancos e interrupções, com problemas com elenco e com financiamento, sendo descrito pela imprensa especializada como um filme amaldiçoado.

Palmarés da 71.ª edição do Festival de Cinema de Cannes

Palma de Ouro: “Manbiki Kazoku”, de Hirokazu Kore-Eda

Grande Prémio: “BlacKkKlansman”, de Spike Lee

Prémio do júri: “Capharnaüm”, de Nadine Labaki

Palma de Ouro especial: Jean-Luc Godard

Prémio de Melhor Realizador: Pawel Pawlikowski, “Cold War”

Prémio de Melhor Argumento (ex-aequo): Alice Rohrwacher, “Lazzaro Felice” e Jafar Panahi e Nader Saeivar, “Trois visages”

Melhor Atriz: Samal Esljamova, “Ayka”

Melhor Ator: Marcello Fonte, “Dogman”

Câmara de Ouro: “Girl”, de Lukas Dhont

Palma de Ouro de curta-metragem: “All these creatures”, Charles Williams

Menção especial em curta-metragem: “Yan Bian Shao”, Wei Shujun

20 Mai 2018

IC recolhe obras a partir de 8 de Junho para exposição colectiva

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC) vai proceder, a partir do próximo dia 8 e até dia 12, à recolha de obras para a Exposição Colectiva das Artes Visuais de Macau. A mostra, que substitui a Exposição Anual de Artes Visuais, vai passar a ser organizada de dois em dois anos. Os concorrentes podem participar a título individual ou colectivo.

Cada participante pode submeter um número máximo de três peças/conjuntos de trabalhos, sendo que as séries podem ter um máximo de quatro itens. As obras a apresentar precisam ter sido produzidas nos últimos dois anos e nunca terem sido expostas ao público em Macau.

No que diz respeito a galardões, vai ser atribuído o grande prémio do júri, em que o autor da obra premiada será convidado a realizar uma exposição individual e a produzir uma publicação especial a ela dedicada, com o apoio do IC; serão distinguidas dez Obras Excelentes e dez Obras Seleccionadas; e ainda um Prémio Juventude para o melhor trabalho entre os concorrentes com idade até 29 anos.

Todas as obras de candidatos serão avaliadas e seleccionadas por um júri constituído por profissionais do mundo da arte de Macau e do exterior, esperando-se que a selecção tenha lugar até Julho. A Exposição Colectiva das Artes Visuais de Macau é dedicada aos meios de expressão ocidentais, nomeadamente pintura, fotografia, gravura, cerâmica, escultura, instalações, vídeo e outras criações em interdisciplinaridade. Segundo o IC, a mostra visa, “através de uma fusão de espírito inovador e criações de meios de expressão ocidentais, explorar a possibilidade do desenvolvimento e inovação dos trabalhos relativamente à categoria de expressão plástica ocidental, impulsionar o desenvolvimento de arte visual de Macau e criar uma plataforma de intercâmbio cultural e artística”.

18 Mai 2018

Obras de mestres do cinema asiático marcam agenda do próximo mês

A Cinemateca Paixão vai exibir, ao longo do próximo mês, dez obras de mestres do cinema asiático. O cartaz inclui “O Vendedor”, do realizador iraniano Asghar Farhadi, vencedor do Óscar de melhor filme estrangeiro no ano passado

 

[dropcap style≠‘circle’]É[/dropcap] um ciclo dedicado ao que melhor se faz no plano da sétima arte na Ásia. A Cinemateca Paixão apresenta, entre os próximos dias 9 e 26 de Junho, dez obras-primas de dez realizadores oriundos de Taiwan (Ang Lee, Hou Hsiao-hsien e Tsai Ming-liang), Tailândia (Apichatpong Weerasethakul), Filipinas (Brillante Mendoza), Coreia do Sul (Kim Ki-duk, Lee Chang-dong e Park Chan-wook) e Irão (Asghar Farhadi e Abbas Kiarostami).

Os filmes a serem exibidos são “Comer, Beber e Viver” (Ang Lee), “Tempo de Viver, Tempo de Morrer” (Hou Hsiao-hsien), “Que Horas São Aí?” (Tsai Ming-liang), “O Tio Boonmee Que Recorda As Suas Vidas Passadas” (Apichatpong Weerasethakul), “KINATAY” (Brillante Mendoza), “Pietà” (Kim Ki-duk), “Poesia” (Lee Chang-dong), “A Criada” (Park Chan-wook), “O Vendedor” (Asghar Farhadi) e “Onde É A Casa do Amigo?” (Abbas Kiarostami). Cada filme tem duas sessões de exibição (VER TABELA). “Estas dez obras-primas permitirão ao público experienciar por completo o poder do cinema”, realça a Cinemateca Paixão em comunicado.

 

Palestras sobre os filmes

O ciclo de cinema terá ainda como convidado especial Wen Tien-hsiang, director executivo do Festival de Cinema Cavalo Dourado de Taiwan que vai apresentar quatro palestras que, segundo a organização, irá permitir ao público “apreciar maior número de filmes de qualidade e compreender mais profundamente as características do cinema asiático”.

Sob o tema “Mestres do Cinema Asiático e o Desenvolvimento do Cinema Asiático”, a palestra a cargo do conhecido crítico taiwanês vai cobrir quatro tópicos. “De Kiarostami a Farhadi: Drama Quotidiano no Irão”; “Rituais Familiares em Taiwan: Ang Lee, Hou Hsiao-hsien e Tsai Ming-liang”; “Rapsódia Tropical: Weerasethakul e Mendoza”; “Amor e Desgosto Falam Alto no Cinema Coreano”.

As conversas vão decorrer na sala de projecção da Cinemateca Paixão das 10h às 13h e das 14h às 17h nos dias 9 e 10 de Junho, respectivamente. As quatro “aulas”, em mandarim e com interpretação simultânea em inglês, custam 200 patacas, sendo que os primeiros vinte participantes a efectuar o pagamento serão presenteados com dois bilhetes para o Festival de Cinema Asiático 2018.

Os bilhetes para os filmes, a um preço unitário de 60 patacas, ficam disponíveis para venda a partir de amanhã. Estudantes e idosos beneficiam de um desconto de 50 por cento, sendo que a compra de dez ou mais bilhetes tem direito a uma dedução de 20 por cento.

18 Mai 2018

Iniciativa chinesa “uma Faixa, uma Rota” analisada em livro publicado em Macau

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] presidente do Instituto Internacional de Macau defendeu hoje que a iniciativa “uma faixa, uma rota” é, além de um processo de desenvolvimento e integração, a visão chinesa da globalização.

Jorge Rangel falava na apresentação do livro “A iniciativa chinesa ‘uma Faixa, uma Rota’ – O papel de Macau e dos Países de Língua Portuguesa”, também a cargo do presidente do Instituto de Estudos Europeus, José Luís de Sales Marques, e do professor da Universidade de São José Francisco Leandro.

A iniciativa de infraestruturas, que Pequim apresentou ao mundo em 2013, tem como objetivo refazer o mapa económico e político mundial, ao mesmo tempo que procura reformular o modelo de desenvolvimento eurocêntrico convencional, de acordo com um dos artigos que integram a publicação.

O livro, publicado pelo Instituto Internacional de Macau e produzido pelo grupo de media Macaulink, apresenta os desafios e o papel de Macau e dos países lusófonos no âmbito de um dos projetos diplomático e económico mais importante da atualidade.

Simultaneamente, pretende explicar o papel de Macau e dos países de língua portuguesa (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste) naquela iniciativa e no projeto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, outro plano chinês para o século XXI.

Anunciada pelo Presidente chinês, Xi Jinping, a iniciativa “Faixa económica da rota da seda e a Rota da seda marítima do século XXI”, mais conhecida como “uma Faixa, uma Rota”, está avaliada em 900 mil milhões de dólares e visa reativar as antigas vias comerciais entre a China e a Europa através da Ásia Central, África e Sudeste Asiático.

Redes ferroviárias intercontinentais, portos, aeroportos, centrais elétricas e zonas de comércio livre estão a ser construídos em mais de 60 países, abrangendo 65% da população mundial.

No lançamento foi anunciado que o livro, publicado em inglês, vai ter em breve versões em chinês e em português.

17 Mai 2018

Eduardo Ribeiro, investigador camoniano, lança versão inglesa de “Camões na Ásia”

A versão em língua inglesa do livro “Camões na Ásia”, de Eduardo Ribeiro, vai ser apresentada na Livraria Portuguesa no próximo domingo pelas 17h30. Ao HM, o autor falou da paixão que tem pela obra do poeta português, das provas a que chegou acerca da sua presença em Macau e da importância que o poeta teve para dar a conhecer o que por cá se passava

 

Como é que se começou a interessar por Camões?

Sempre gostei de Camões, desde o liceu. Quando estava na Universidade, encontrei uma edição da Nova Aguilar, da obra completa, uma edição belíssima encadernada. Foi quando disse para mim que ia ler “Os Lusíadas” por prazer e não por obrigação. Adorei. Naquela altura, a coisa ficou por ali.

Mais tarde acabou por se dedicar à investigação.

Vim para Macau em 85. Andava por aqui, tranquilo e quedo, até que um dia em conversa com o Rui Manuel Loureiro, ele, a certa altura, diz que não havia certezas de que Camões tivesse estado em Macau. Já na altura não concordava com a tese dele e por uma razão muito simples: a historiografia que ele ataca é a historiografia antiga, que é aquela que defende que Camões esteve em Macau nos anos 50 do século XVI. A historiografia nova não diz isso. Não podemos dizer que Camões estava cá nos anos 50, porque nessa altura os portugueses ainda não se tinham fixado definitivamente aqui. A partir de 1560 é que isso aconteceu. Comecei logo por atacar esta falha na construção da crítica à historiografia camoniana relativa a esta altura. Além disso, há outros autores que defendem que Camões esteve em Macau, sem referir anos. Por exemplo, a Catarina Michaelis Vasconcelos afirmou que o poeta esteve em Macau e aqui escreveu três dos seus cantos, pelo menos o V, o VI e o VII. E Canto V é fantástico, é o canto que se refere ao episódio do Adamastor, que é um episódio autobiográfico e onde é que isso se passa? Este episódio foi escrito ali nos Penedos de Camões. O Adamastor é o Camões e tudo o que ele lá conta passou-se com ele. Entretanto, em 2007 a COD editou um livro meu e a partir daí nunca mais parei. Não me limitei a discordar do Rui Manuel Loureiro e comecei a defender a historiografia nova.

E o que nos diz essa historiografia?

Comecei a suspeitar e a defender a historiografia nova, aquela que defende que Camões esteve em Macau na década de 60. A partir daí, fui em busca de mais informação. Havia um livro do José Hermano Saraiva que referia que Camões tinha vindo para Macau em 1563 com os jesuítas. Já havia um precedente. Este homem dizia que era em 1563, ou seja, exactamente na década que eu também defendia. A partir daí, a minha tarefa era ir mais além, ou seja, descobrir com exactidão em que ano Camões aqui tinha estado. De repente, descobri ao ler Diogo de Couto, o cronista da Ásia, que dizia com quem é que o Camões tinha vindo para cá. Tinha sido com o Pedro Barreto. Estava lá escrito, bastava ler. Sei que não é fácil ler aquela escrita do nossos autores quinhentistas, mas estava lá tudo.

Então Camões veio para Macau efectivamente com Pedro Barreto?

Camões veio na viagem de Pedro Barreto a Macau como provedor de defuntos. Todas as viagens naquela altura tinham um provedor de defuntos. Normalmente, este provedor era também o capitão do navio por inerência.

E que função era essa?

Quando morria um português a bordo, na guerra, de escorbuto etc, era necessário arrecadar os seus bens para que fossem entregues no regresso aos parentes, à viúva, aos órfãos. Era um cargo de pouca importância na época de Camões e só veio a adquirir alguma importância a partir dos anos de 1580, mas nessa altura era um cargo, digamos, pouco rentável. O provedor tinha uma percentagem da venda dos bens arrecadados quando se fazia a licitação para que o dinheiro fosse entregue às famílias. Na verdade, Camões acabou por ter esta função porque o Pedro Barreto não queria saber dos réditos provenientes deste cargo. Para trazer Camões, Pedro Barreto acedeu ao pedido do vice-rei da Índia Francisco Coutinho que, por sua vez, estaria a responder a um pedido do próprio Camões feito em poema para que desta forma se livrasse da cadeia. Camões estava preso por dívida a um fulano que era parente do vice-rei. Naquela altura, também já toda agente sabia que andava de volta da escrita de um poema épico a enaltecer os feitos portugueses no Oriente. Camões era um folião e, provavelmente, estas dívidas até poderiam ser de jogo. Naquela época, os portugueses jogavam muito. Ora bem, chegam a Macau, o capitão-mor da viagem era por inerência o capitão-mor de Macau e o provedor dos defuntos, por inerência, era também o provedor dos portugueses mortos ou desaparecidos de Macau. Camões esteve dois anos em Macau.

Esta estadia de Luís de Camões em Macau não poderia ser mais explorada pelo próprio Governo e aproveitada na promoção tanto da obra do autor aqui em Macau?

Macau pode fazer isso e, se fosse inteligente, deveria aproveitar a estadia do primeiro europeu a vir para Oriente e que denunciou os desmandos de poder neste encontro com o outro. E mais, recentemente apresentei uma tese no Instituto Confúcio da Universidade e Aveiro onde explico muito bem, e em detalhe, a influência que se pode ver em Camões com a vinda ao Império do Meio. Camões, enquanto esteve aqui, não se deu só com jesuítas e com a fidalguia, ele dava-se com toda a gente e recebeu muita informação sobre a China.

Isso nota-se nas obras dele?

Claro e a começar pelos Lusíadas. Os três últimos cantos já são imbuídos de aspectos deste lado do mundo. Nesses cantos percebemos perfeitamente que Camões já está imbuído de outro mundo, de outro universo, de um mundo onde se subia não à conta do sangue da fidalguia. O intelecto, o saber, o conhecimento é que era tido em conta através do mandarinato estava muito desenvolvido naquele altura. Qualquer pessoa de bem, desde que mostrasse força intelectual e esforço escolar podia ir subindo de estatuto até um dia ser mandarim. Podia ser filho de ninguém e Camões denuncia isto mesmo. Camões foi realmente o primeiro europeu a fazer eco desta civilização e a denunciar os desmandos dos nossos aqui. Se Fernão Mendes Pinto o faz com sátira, escárnio e com humor, o Camões faz com seriedade, com aquele ar professoral e com aquele estatuto que ele sabia que tinha: ele sabia que era um homem superior.

Qual vai ser o seu próximo projecto?

Estou já a preparar um livro que vai tratar das minha memórias em Angola.

17 Mai 2018

IIM lança “O Oriente na Literatura Portuguesa – Antero de Quental e Manuel da Silva Mendes”

O papel que Antero de Quental e Manuel da Silva Mendes desempenharam no diálogo cultural entre a Europa e o Oriente figura no centro da obra que vai ser apresentada amanhã no Clube Militar. O livro, que resulta de um trabalho de investigação de Carlos Botão Alves, tem a chancela do Instituto Internacional de Macau (IIM)

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] que têm em comum Antero de Quental (1842-1891) e Manuel da Silva Mendes (1867-1931)? Além de pertencerem a “uma geração de grande empenhamento político e social” e “fecunda do ponto de vista literário”, partilharam “uma busca por correntes sapienciais” do Oriente, “com o objectivo pedagógico de regenerar o Homem e, por conseguinte, a sociedade”.

Quem é o diz é Carlos Botão Alves, autor d’ “O Oriente na Literatura Portuguesa – Antero de Quental e Manuel da Silva Mendes” que, embora publicada em 2016, vai ser oficialmente apresentada amanhã no Clube Militar. O livro, que mergulha na área do pensamento e da literatura, visa “a compreensão de como é que os dois autores activaram um conjunto de estratégias e de instrumentos para efectivarem uma real tradução cultural”. Uma acção com a qual pretenderam “inserir elementos da sabedoria e da filosofia orientais (budista e taoísta) nos seus sistemas de interpretação do mundo e do Homem”, lê-se na sinopse da obra que integra a colecção Suma Oriental do IIM.

Em entrevista ao HM, o professor e investigador do Instituto Politécnico de Macau (IPM) coloca a tónica precisamente na “reflexão profunda” que ambos fizeram, apesar das diferentes formas de contacto com a cultura oriental. Isto porque, no caso de Antero de Quental, a exposição ocorre por via dos livros, sobretudo das traduções francesas, enquanto Manuel da Silva Mendes estabeleceu um contacto directo em Macau.

A Carlos Botão Alves interessou acima de tudo “esse passo de ir conhecer o outro – esse traço de atitude” – mais do que a forma de contacto. “As primeiras grandes traduções da história do encontro com o Oriente foram feitas nos mosteiros por pessoas que, apesar de nunca terem visto o Oriente, o compreendiam. O ver é no século XX e XXI”, sublinha o investigador, apontando que o contacto directo pode ter, aliás, desvantagens: “Pode dar a ilusão de proximidade e de maior potenciação de um conhecimento, mas pode fazer sobretudo com que se resolva essa necessidade que o homem tem de encontrar o outro por estar perto”. Com efeito, “muitas vezes, o que sucede, como na Macau actual, é que, de facto, nunca se encontram realmente, vivendo em paralelo”, sustenta Carlos Botão Alves, para quem que o contacto directo pode levar ainda ao “desencanto”.

A Antero de Quental e a Manuel da Silva Mendes interessou “o Oriente intelectual que permite emprestar determinados conceitos ao Ocidente para este se regenerar”, o que mostra “uma ideia global do Homem que hoje em dia parece muito óbvia, mas que não seria tanto no final do século XIX”, sublinha o investigador.

Mergulho a Oriente

“Estes dois homens atravessaram culturas e línguas e foram buscar conceitos que fazem todo o sentido, criando eles próprios uma súmula. Trata-se de uma enormíssima novidade”, observou o autor. Carlos Botão Alves é, por isso, peremptório ao afirmar que as obras de ambos acabam por “contradizer” a mensagem do famoso poema do britânico Rudyard Kipling à luz da qual “O Oriente é o Oriente e o Ocidente é o Ocidente e nunca os dois se encontrarão”.

“Ambos tentam fazer com que o homem não se perca na contingência de um mundo que perece e que muda e fazem-no através dessa aproximação a Oriente, realça o autor, para quem os dois republicanos confessos “perceberam exactamente que a actividade política que nunca negaram e continuaram só se faz se houver uma riqueza espiritual que o permita. Era o que faltava ser devidamente cultivado na cultura ocidental que eles vêm buscar às correntes orientais”, destaca Carlos Botão Alves.

“Pode-se perguntar como homens tão empenhados na vida sociopolítica do momento (Antero de Quental sempre em Portugal e Manuel da Silva Mendes em Portugal e em Macau) se interessaram por questões como o budismo ou o taoísmo. Ora, tal faz todo o sentido”, enfatiza. Isto porque “não lhes interessa estudar o budismo como budismo, ou o taoísmo como taoísmo, ou mesmo a raiz de todos eles: o hinduísmo. Não lhes interessam só por si, mas antes na medida em que podem ser esclarecedoras para a sua própria cultura”, complementa. “É a ideia de que se está a ganhar no material e a perder no espiritual que os leva a lançarem um apelo a outras culturas onde podem encontrar ainda uma flama de espiritualidade”.

Carlos Botão Alves dá o exemplo concreto do poeta da geração de 70. “Lidos que estão Saint-Simon, Owen ou Proudhon, ou seja, todos aqueles teóricos do socialismo do século XIX, nomeadamente as correntes francesas, [fica patente] que a reforma sociopolítica só se fará se puderem criar condições inerentes a cada um dos indivíduos para que eles próprios se reencontrem”, contextualiza. Ora, é precisamente essa “preocupação pedagógica”, de que “é preciso reformar o Homem antes de reformar a sociedade do Homem”, que “faz com que Antero de Quental se interesse pelo budismo” que, como aliás escreveu, “traz consigo toda a satisfação, toda a consolação e toda a alegria”.

Carlos Botão Alves, radicado em Macau desde 1985, iniciou os estudos que culminaram na obra em apreço na década de 1990, a partir da leitura de uma conferência, que lhe “despertou a atenção”, dada por Manuel da Silva Mendes no Clube Militar, onde, precisamente por isso, vai ser apresentado o livro. Em causa, “talvez o mais longo texto de Silva Mendes sobre o ‘Tao Te King’ [clássico de Lao Tse] e a via da verdade e da virtude”.

O interesse do autor por Silva Mendes começou naquele momento, mas viria a amadurecer de forma particularmente profícua quando foi dar aulas na Universidade Jawaharlal Nehru, em Nova Deli, durante dois anos, como professor convidado. “Foi ali que tive contacto directo com os textos em edições muito cuidadas das correntes de sabedoria indiana, que estão na base de tudo”, explica o autor.

Esse trabalho acabou por conduzir a uma tese de doutoramento em literatura comparada, no âmbito da qual se debruçou sobre a obra sonetística de Antero de Quental (com a qual “convivia já há várias décadas por via dos estudos) e a produção ensaística de Manuel da Silva Mendes. “Queria encontrar uma forma de puxar o Silva Mendes para as luzes da ribalta e a forma que encontrei foi fazer um trabalho de literatura comparada com Antero de Quental”.

Carlos Botão Alves acabou por ir mais longe, entrando num contexto mais alargado dos estudos orientalistas quando, na busca por conceitos que permitissem analisar os textos de ambos e aproximá-los, encontrou no domínio da chamada tradução cultural um campo fértil para pôr então Antero de Quental e Manuel da Silva Mendes lado a lado.

16 Mai 2018

Segundo volume de obra escrita de Álvaro Siza é apresentado sexta-feira no Porto

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] beleza, interpretada pelo arquiteto Álvaro Siza, “é a própria razão e garantia da funcionalidade, a mais eficaz, de resto”, afirma Carlos Campos Morais, no prefácio do livro “02 Textos”, de Álvaro Siza Vieira, que é apresentado na sexta-feira, no Porto.

O livro, publicado pela Parceria A.M. Pereira, sucede a “Textos 01”, de 2009, e reúne 68 artigos selecionados pelo arquiteto, distinguido com o Prémio Pritzker, em 1992. O livro é apresentado na sexta-feira, às 18:00, na Casa da Prelada, no Porto.

Cronologicamente, os textos vão de 2001 a 2016. O mais recente é sobre o arquiteto José Carlos Nunes Oliveira, que trabalha no ateliê de Álvaro Siza, e que se destina a um outro “livro em publicação”, segundo se lê na obra.

Em “02 Textos”, que também inclui o discurso de Álvaro Siza, feito em finais de 2015, na atribuição do grau de Doutor Honoris Causa, pela Universidade de Évora, o arquiteto cita, entre outros, Alvar Aalto, Oscar Niemeyer, Aldo Rossi, Mies van der Rohe, Frank Gehry, Eduardo Souto de Moura, Nuno Portas e Le Corbusier.

O coordenador de “02 Textos”, Campos Morais, afirma que, na obra de Álvaro Siza, se a beleza “é a própria razão e garantia da funcionalidade, a mais eficaz, de resto”, “o sentido social da beleza e a própria saúde mental atestam, eloquentemente, a sua imprescindibilidade”.

Todavia, no entender de Campos Morais, é “consensual render homenagem ao papel da luz como acessório (sempre proeminente, nada acessório) na arquitetura de Álvaro Siza”, algo que o próprio arquiteto atesta, referindo “a importância que lhe concede em toda a arquitetura”. A luz é referenciada em onze dos 68 textos selecionados.

Todos os artigos de “02 Textos” estão identificados com um número de catalogação, data, local e, sempre que conhecido, onde foi publicado. Cada texto está ainda identificado com a temática que aborda, uma palavra chave, e em cada um Carlos Campos Morais realça frases, destacando-as no final, em separado, do texto em itálico ou com um sublinhado.

São 12 as temáticas nas quais os textos do arquiteto Álvaro Siza estão catalogados, de arquitetos à revolução de 25 de Abril de 1974, que se combinam com outras quatro temáticas de arrumação: Discursos ‘Honoris Causa’, “Homenagens” prestadas, “Outros”, que agrupa textos sobre pessoas ou prefácios que redigiu, “Textos livres”, que incluem reflexões, apontamentos, memórias, e “Vária”, que Campos Morais define como “arrumação fora da sistematização enunciada”.

Campos Morais atesta que, “na sua obra, Siza irradia inteireza”. “Na arquitetura, na escrita, no desenho, na escultura, noutras artes em que prolifera”.

O acervo do arquiteto, que recebeu em 2012 o Leão de Ouro de Carreira na Bienal Internacional de Arquitetura de Veneza, está disponível, desde fevereiro último, nas páginas da Internet das fundações de Serralves e Calouste Gulbenkian, e do Centro Canadiano de Arquitetura.

Nascido há 84 anos em Matosinhos, onde em agosto de 2009 o Governo português lhe entregou a Medalha de Mérito Cultural, Álvaro Siza Vieira estudou na Faculdade de Belas Artes do Porto, onde foi professor, e criou em Portugal obras emblemáticas como a Casa de Chá da Boa Nova, em Leça da Palmeira, a reconstrução da zona do Chiado, em Lisboa, após o incêndio de 1988, o Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, ou o Pavilhão de Portugal, com a sua emblemática pala, no Parque das Nações, no âmbito da Exposição Mundial de 1998, em Lisboa.

No estrangeiro, são da sua autoria o museu para a Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, no Brasil, o Centro Meteorológico da Vila Olímpica, em Barcelona, e a reitoria da Universidade de Alicante, ambos em Espanha, entre outros projetos.

Doutor Honoris Causa de várias universidades, o trabalho de Álvaro Siza tem sido internacionalmente galardoado. Além do Pritzker, recebeu os prémios Mies van der Rohe, em 1988, o Wolf, em 2001, a Real Medalha de Ouro do Instituto Britânico de arquitetos, em 2009, a Medalha Alvar Aalto, do Museu de Arquitetura e da Associação Finlandesa de Arquitetos, em 1988, e a Medalha de Ouro da União Internacional dos Arquitetos, em 2011.

No passado dia 25 de abril, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou-o com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública, distinção que junta à de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, recebida em 1992, e à Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique de Portugal (1999).

Relativamente ao livro “01 Textos”, que reúne 153 artigos, abrangendo o período de 1968 a junho de 2008, afirma Campos Morais que “razões de infortúnio editorial levaram a que esse volume, embora com edição quase esgotada em 2009, tenha dado origem, quanto aos escassos exemplares restantes, a uma deplorável clandestinidade”, e anuncia que a sua reedição.

Fonte editorial adiantou à Lusa, que “deverá acontecer ainda este ano”, estando também previsto pela Parceria A.M. Pereira, a publicação de “03 Textos”, no próximo ano.

15 Mai 2018

Música | Bob Dylan com concerto marcado para 4 de Agosto em Hong Kong

Recebeu o Nobel da Literatura em silêncio provocando uma onda de especulação. Robert Allen Zimmerman, nascido há 76 anos em Duluth, regressa sete anos depois a Hong Kong para um concerto. Zimmerman não será o nome impresso nos cartazes, uma vez que é mais conhecido como Bob Dylan

 

[dropcap style≠’circle’]B[/dropcap]ob Dylan, cantor, compositor e Nobel da Literatura, está de regresso a Hong Kong para um espectáculo no dia 4 de Agosto. O evento, classificado como “histórico” pela organização, vai ter lugar no Centro de Convenções e Exposições e os bilhetes foram colocados ontem à venda.

Este será o primeiro concerto de Bob Dylan em Hong Kong já com o estatuto de Nobel da Literatura, distinção conquistada em 2016, e que foi justificada pela academia por o artistas norte-americano “ter criado novas formas de expressão poéticas no quadro da grande tradição da música americana”.

Do alinhamento nada se sabe, mas se mantivermos em conta a sequência de canções dos últimos concertos, Bob Dylan deverá interpretar, entre outras, “Highway 61 revisited” e “Ballad of a thin man”, de 1965, “Tangled up in blues”, de 1975, ou “Summer days”, de 2001, além de versões e revisitações de temas de outros artistas. “Bowling in the wind” é uma hipótese que pode ficar para um encore.

Em 2017, Bob Dylan editou “Triplicate”, o primeiro triplo álbum de carreira, com 30 versões de clássicos da música norte-americana, mas nos últimos anos tem vindo também a publicar álbuns com gravações ao vivo de muitos dos concertos que tem dado nas últimas décadas.

Da crítica, os maiores aplausos vão para os últimos oito álbuns.

O sucesso de Lisboa

A referência musical que tem vindo a marcar décadas desde os anos 60 esteve no passado mês de Abril em Lisboa. Se havia cépticos quanto à qualidade dos espectáculo do nem sempre muito consensual músico, as dúvidas ficaram resolvidas. Depois do espectáculo lia-se no Público: “num pavilhão com lotação esgotada, esteve a lenda, o músico determinante na história da música popular urbana do pós-guerra, o senhor Nobel da literatura – tudo isso conferiu à ocasião uma certa solenidade e uma palpável expectativa”.

Mais do que uma estrela, quem ali estava “a nu”, era o músico “naquele palco sóbrio, despido dos ecrãs e tecnologia de ponta hoje tão habituais, sob a luz dos holofotes de outros tempos que criavam um efeito misto de salão de baile e set cinematográfico”, refere a mesma fonte.

Dylan é um mestre. Uma figura incontornável da música do último meio século, com uma carreira que oscilou com naturalidade entre o rock e o blues, com um salto no folk.

Tal como no filme “I´m Not There” o senhor que não ficou conhecido pelo nome Zimmerman pode ser muitos homens e em cada um surpreender. A soma de todos os artistas que contém a imensa personalidade musical que é Bob Dylan poderá ser testemunhada em Hong Kong no próximo dia 4 de Agosto.

15 Mai 2018

História de Macau | IIM arranca com ciclo de conferências

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Instituto Internacional de Macau (IIM) vai levar a cabo um ciclo de conferências sobre a História de Macau. A primeira sessão intitula-se “Serão Macaense sobre a Invasão Holandesa de 1622” e tem lugar no próximo dia 24 de Maio, pelas 18h15, no auditório da Escola Portuguesa de Macau (EPM).

A sessão conta com o contributo do jornalista e autor de livros históricos João Guedes e ainda José Basto da Silva, presidente da Associação dos Antigos Alunos da Escola Comercial Pedro Nolasco.

De acordo com um comunicado, o objectivo desta iniciativa é “estimular o conhecimento dos alunos do ensino secundário, de acontecimentos importantes que moldaram Macau”. A primeira sessão contará “com a projecção de vídeos sobre o acontecimento e distribuição de material de leitura aos presentes”. Vai ainda ser lançado “um concurso entre os estudantes da EPM, em forma de pequenos contos de história, a fim de reunir posteriormente os melhores trabalhos para serem incluídos numa publicação do IIM”.

É também objectivo do IIM, presidido por Jorge Rangel, “levar posteriormente esta iniciativa aos jovens das escolas de matriz luso-chinesa e inglesa de Macau”. O projecto conta com o apoio da Fundação Macau.

15 Mai 2018

Artes Plásticas | Bienal de mulheres artistas com “espaço para crescer”

A 1.ª bienal internacional de mulheres artistas de Macau, determinada a ocupar um lugar na história das artes plásticas na região, chega quase ao fim com “espaço para crescer”, disse à Lusa o organizador Carlos Marreiros

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] ‘ArtFem Mulheres Artistas’ nasceu para preencher uma lacuna que existia em Macau: “A falta de grandes exposições de importância internacional”, explicou o presidente do Albergue SCM, co-organizador do evento, que chegou ontem ao fim.

Para se destacar das “grandes bienais” das regiões vizinhas, Carlos Marreiros teve de avançar com uma ideia original: uma bienal dedicada inteiramente a mulheres artistas. “Tinha de ser uma coisa totalmente diferente e pareceu-nos que assim poderia ter um chamativo”, afirmou, destacando o objectivo central de “valorizar a mulher”.

Embora projectada há 18 anos, a exposição foi organizada em apenas três meses. “Partimos com um orçamento pequeno e em muito pouco tempo fizemos uma bienal com a representação de 100 artistas e mais uma – Paula Rego”, realçou. A artista portuguesa de 83 anos foi a madrinha desta edição, que teve a presença da filha Victoria Willing, em representação da mãe.

“Contamos com artistas de mais de 20 países dos cinco continentes. A lusofonia está toda representada – desde o Brasil a Timor, Macau, Angola, Moçambique”, o que contribuiu para “superar largamente as expectativas”, sublinhou.

Não há ainda números oficiais dos visitantes do Museu de Arte de Macau, mas o também arquitecto disse que conseguiram “movimentar bastante gente”. A exposição patente no Albergue SCM, da artista portuguesa Raquel Gralheiro, recebeu em média 3.000 pessoas por mês.

Questionado sobre a possibilidade de crescimento do evento, o presidente do Albergue SCM mostrou “um optimismo moderado”. “Estou com os pés bem assentes na terra. Temos de dar o salto, mas para isso precisamos de mais orçamento para apostar na publicidade internacional e conseguir trazer mais instalações”, enfatizou, lembrando que a projecção deste tipo de eventos depende de pessoas influentes da área da crítica internacional.

Alargar horizontes

A bienal pretende agora alargar horizontes, garante. “Em futuras edições pensamos estender a Cantão, no antigo Delta das Pérolas, agora integrado na Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau”.

A iniciativa “Uma faixa, uma rota” não retrata só trocas económicas, também se trata de trocas culturais e artísticas. “Se puder contribuir para que haja um verdadeiro mercado de arte em Macau – que não há – a bienal também pode contribuir neste domínio”, sublinhou.

“O mundo precisa de saber que Macau é fascinante e se preocupa com a valorização da mulher. Espero que isso continue, mas está muito nas mãos das instituições do Governo”, concluiu.

Organizada pelo Albergue SCM e pelo Museu de Arte de Macau, a ArtFem Mulheres Artistas – a 1.ª bienal internacional de Macau – foi inaugurada a 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, tendo estado patente ao público até ontem.

A mostra juntou 142 obras de 132 mulheres realizadas desde os anos 70 até aos dias de hoje, incluindo o quadro “Nossa Senhora das Dores” de Paula Rego.

14 Mai 2018

Literatura | Obras sobre Silva Mendes lançadas na próxima quinta-feira

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Clube Militar vai ser palco, na próxima quinta-feira, pelas 18h30, do lançamento de dois livros com a chancela do Instituto Internacional de Macau (IIM). As obras em questão são “O Oriente na Literatura Portuguesa – Antero de Quental e Manuel da Silva Mendes”, de Carlos Botão Alves e “Manuel da Silva Mendes”, de António Aresta, indicou o IIM em comunicado.

As apresentações vão ser realizadas por Ana Cristina Dias, professora de língua e literatura da Universidade de Macau, José Rocha Diniz, administrador do Jornal Tribuna de Macau, Carlos Botão Alves, autor de um dos livros e professor do Instituto Politécnico de Macau, com a coordenação de Jorge Rangel, presidente do IIM.

14 Mai 2018

MAM | “Marc Chagall, Luz e Cor no Sul de França” inaugura no próximo dia 31

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Museu de Arte de Macau (MAM) vai acolher, a partir de 31 de Maio, a exposição “Marc Chagall, Luz e Cor no Sul de França”. Trata-se da primeira mostra em Macau dedicada àquele que é um dos principais artistas do século XX.

Na exposição, que figura como um dos destaques do XXIX Festival de Artes de Macau e do Le French May, vão ser exibidas obras que Marc Chagall (1887-1985) criou a partir dos anos 1950, altura em que se instalou no sul de França, após deixar a terra natal (actual Bielorrússia), até aos anos 1970.

A mostra reúne uma selecção composta por pinturas, guaches, litografias, figurinos e tapeçarias que destacam a preeminência da luz e da cor das suas obras, indica um comunicado do Instituto Cultural (IC). A mostra, com entrada livre, vai ficar patente ao público entre 1 de Junho e 26 de Agosto,

Com o objectivo de dar a conhecer ao público a carreira do pintor, o MAM organizou, na sexta-feira, um seminário especial intitulado “Marc Chagall e Seus Tempos”, conduzido por Gigi Lo, coordenadora da exposição e investigadora do MAM.

14 Mai 2018

Israel venceu 63.ª edição da Eurovisão e Portugal ficou em último lugar

[dropcap style≠’circle’]I[/dropcap]srael venceu este sábado, pela quarta vez, o Festival Eurovisão da Canção, com o tema “Toy”, interpretado por Netta, enquanto a canção portuguesa, “O Jardim”, defendida por Cláudia Pascoal e escrita por Isaura, ficou em último lugar.

Israel foi o país que obteve maior pontuação (529 pontos), atribuída pelos espetadores de cada país e pelos júris nacionais dos 43 países que participaram na edição deste ano, embora apenas 26 canções tenham competido na final.

A final da 63.ªedição do Festival Eurovisão da Canção decorreu hoje à noite na Altice Arena, em Lisboa.

No segundo lugar ficou o Chipre, com 436 pontos, e na terceira posição a Áustria, com 342 pontos.

A canção da Áustria liderava a tabela de pontuação após a votação dos júris nacionais, com 271 pontos, enquanto a de Israel era 3.ª, com 212 pontos, e a do Chipre 5.ª, com 183 pontos.

Na votação do público, Israel obteve 317 pontos, suficientes para vencer, sendo a canção do Chipre a segunda mais votada pelos espetadores. O tema da Áustria não foi além da 13.ª posição na votação do público.

Esta foi a quarta vez que Israel venceu o concurso, depois dos triunfos em 1978, 1979 e 1998, neste último ano com o tema “Diva”, interpretado pela transsexual Dana International.

O desfile das canções ficou marcado pela invasão do palco por um elemento do público durante a atuação do Reino Unido. Um homem retirou o microfone à cantora SuRie quando esta defendia o tema “Storm”, impedindo-a de cantar durante cerca de 20 segundos.

O ‘invasor’ ainda conseguiu dizer algumas palavras ao microfone, mas acabou por ser retirado por seguranças.

A organização, em comunicado divulgado através do ‘twitter’, lamentou o sucedido e anunciou que o homem se encontra “sob custódia policial”.

Foi dada a possibilidade ao Reino Unido de repetir a atuação, mas a delegação inglesa decidiu não o fazer “por estar extremamente orgulhosa da atuação” e considerar não haver “razão absolutamente nenhuma para apresentar a canção novamente”.

Nos ensaios da primeira semifinal, a tentativa de fazer um mortal em palco acabou por levar o interprete da República Checa, Mikolas Josef, ao hospital. Na primeira semifinal, na terça-feira, foi impedido pelos médicos de voltar a tentar repetir a façanha, mas hoje arriscou e correu bem.

Além de Cláudia Pascoal e Isaura, estiveram em palco mais dois portugueses em competição, já que Ricardo Soler e Kiko Pereira fizeram parte do coro que acompanhou o concorrente da Áustria, Cesar Sampson.

Durante a final, atuou o vencedor do ano passado, Salvador Sobral, primeiro a solo, acompanhado ao piano por Júlio Resende, para apresentar ao vivo o seu novo ‘single’ “Mano a Mano”.

Depois, Caetano Veloso juntou-se à dupla em palco, para cantar com Salvador Sobral “Amar pelos Dois”, tema que valeu a Portugal no ano passado a primeira vitória no concurso.

Pelo palco da Altice Arena passaram ainda as fadistas Ana Moura e Mariza, a dupla Beatbombbbers, campeões mundiais de ‘scratch’, e ‘Som de Lisboa’, que junta Branko, Mayra Andrade, Sara Tavares, Plutónio e Dino D’Santiago.

A assistir à final esteve o primeiro-ministro, António Costa, e os ministros da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, das Finanças, Mário Centeno, e da Administração Interna, Eduardo Cabrita.

Portugal, por ser o país anfitrião, teve entrada direta na final, bem como Espanha, Reino Unido, Alemanha, Itália e França, os países que contribuem com mais verbas para a União Europeia de Radiodifusão (EBU, na sigla em inglês), que organiza o concurso, ficando assim isentos das semifinais.

A organização estimou previamente que cerca de 200 milhões telespetadores assistiriam à final.

A 63.ª edição do Festival Eurovisão da Canção tem um orçamento estimado entre os 19,7 milhões e os 20,1 milhões de euros e é a mais barata desde 2008, segundo a organização.

13 Mai 2018

FAM | Companhia sul-coreana traz Franz Kafka ao Centro Cultural

[dropcap style=’circle’] O [/dropcap] palco do Centro Cultural recebe a peça de teatro baseada na obra de Franz Kafka, “O Processo” nos próximos dias 26 e 27. A encenação é da companhia sul-coreanos “Sadari Movement Laboratory” que aposta no teatro cinético e no jogo entre a luz e o som para dar espaço às interpretações.
“O Processo” de Franz Kafka vai ser apresentado no grande auditório do Centro Cultural de Macau nos próximos dias 26 e 27 através da visão e encenação da companhia sul-coreana “Sadari Movement Laboratory”. O espectáculo integra a 29ª edição do Festival de Artes de Macau e constitui um dos momentos altos do evento.
Para quem está familiarizado com a obra do autor checo, “O Processo” é uma reflexão acerca do absurdo da existência e do que acontece quando esta, por si, se torna num crime, refere a apresentação oficial do evento. O romance, considerado como a obra-prima do autor, retrata um tema recorrente no universo kafkiano: o esmagamento do ser humano pela máquina estatal.
Numa adaptação do clássico romance de Franz Kafka, a companhia sul-coreana traz a vida do homem moderno na sua coexistência com uma ansiedade permanente. Um cerco que se encerra pela força da pressão da competitividade, dos jogos de violência, da vivência entre sofrimentos, sacrifícios e prazeres que colocam o homem moderno em confronto com a sua própria existência e o seu auto-julgamento. É este tribunal da vida que Kafka escreveu e que a “Sadari Movement Laboratory” reinterpreta numa linguagem que mistura movimento às palavras.

Teatros vários
A companhia é conhecida pelo trabalho que faz recorrendo a técnicas como o teatro físico. Uma via artística assente na ideia de “que os actores podem expressar os estados sociais e psicológicos das suas personagens de forma mais pungente, através de espaços separados e ritmos dinâmicos”, lê-se num comunicado do Instituto Cultural.
A “Sadari Movement Laboratory” foi fundada pelo seu director artístico, Im Do-Wan, que também é uma referência do teatro cinético na Coreia do Sul. Um dos métodos cénicos centra-se em jogos de luz e de som para acompanhar e dar mais profundidade às interpretações levadas a palco.
Depois de completar os estudos na L’École Internationale de Théâtre Jacques Lecoq, em Paris, Im Do-Wan fundou a companhia em 1998. Ali, todos os membros são treinados no método de Jacques Lecoq, assim como na dança tradicional coreana. O objectivo é maximizar as potencialidades dos trabalhos que resultam “num empenho único em cada experiência em palco”, fazendo com que o teatro vá além do diálogo e das convenções mais realistas desta arte.

11 Mai 2018

Música | IIM lança obra de Enio de Souza focada em instrumentos chineses

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Instituto Internacional de Macau (IIM) vai lançar a obra “Instrumentos Musicais Chineses – Colecção do Museu do Centro Científico e Cultural de Macau/Lisboa”, da autoria de Enio de Souza, no próximo dia 21 de Maio pelas 18h30.

Trata-se da dissertação de mestrado realizada na Universidade de Católica Portuguesa (UCP) por Enio de Souza, “uma personalidade ligada há mais de três décadas a instituições culturais e centros de investigação académica cujo objecto principal tem a ver com estudos de Macau e das relações interculturais de Portugal com a China, nas suas diversificadas vertentes, sendo hoje um reconhecido especialista em diversas matérias neste domínio”.

Este projecto tem o apoio da Fundação Jorge Álvares e Albergue SCM, e revela “o contexto histórico da música chinesa e respectiva organologia, a que se segue um outro em que é divulgada a história da colecção que constitui objecto principal deste trabalho”. “São depois classificados e caracterizados os instrumentos, cada um dos quais é mostrado através de bonitas fotografias coloridas, sendo também referidos os selos, marcas e inscrições neles existentes”, acrescenta o comunicado do IIM.

A obra faz parte da colecção “Suma Oriental”, do IIM, e já foi lançado pela UCP no passado dia 11 de Abril, contando com a “numerosa participação de professores, estudantes, entidades ligadas a Macau, colegas e amigos do autor”.

10 Mai 2018

FAM | Mísia e Pedro Moutinho actuam com Orquestra Chinesa de Macau

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s fadistas Mísia e Pedro Moutinho vão actuar com a Orquestra Chinesa de Macau num concerto integrado nesta edição do Festival de Artes de Macau (FAM). O espectáculo, intitulado “Concerto de Fado”, acontece a 31 de Maio no grande auditório do Centro Cultural de Macau.

O programa deste concerto inclui temas como “Fado Adivinha”, “Fogo Preso”, “Lágrima”, “Tive um Coração, Perdi-o”, “Garras dos Sentidos”, “Ao Deus Dará”, “Veio a Saudade”, “Alfama”, entre outros. De acordo com o Instituto Cultural, “está apenas disponível um número limitado de bilhetes para este concerto”, já estando disponíveis para venda.

10 Mai 2018

FAM |“A Noite antes da Floresta” sobe ao palco no próximo dia 18

A Associação de Arte Teatral Dirks apresenta nos próximos dias 18, 19 e 20, “A Noite antes da Floresta”. A peça, integrada no Festival de Artes de Macau, é dirigida pela encenadora irlandesa Sinéad Rushe que deu nova vida ao monólogo homónimo do dramaturgo francês Bernard-Marie Koltès. A história gira em torno da sensação de se ser estrangeiro no lugar onde se vive

 

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] das experiências de alguém que não pertence, ou não se encaixa, no lugar onde vive que fala “A Noite antes da Floresta”. Levada à cena pela Associação local de Arte Teatral Dirks, a peça tem aos comandos Sinéad Rushe para quem a obra homónima de Bernard-Marie Koltès reflecte os tempos de hoje. “É realmente uma peça dos nossos tempos”, observa a encenadora irlandesa, em entrevista ao HM, após um ensaio.

“Sinto que fala, de facto, do momento que atravessamos, de pessoas desesperadamente alienadas e sem opções que deixam a sua terra-natal – por não poderem mais permanecer ou por terem poucas oportunidades para regressar – e que enfrentam constantemente a experiência não serem bem-vindas”, sublinhou. A encenadora referia-se em particular ao “clima político” em todo o mundo, citando os exemplos dos refugiados ou da saída do Reino Unido da União Europeia que, apesar de figurarem em planos incomparáveis, remetem para “o estranho que sente não ter lugar no sítio onde vive”.

Com efeito, a peça, que não é política, oferece uma perspectiva “mais existencialista”, sendo-lhe conferido “um lado mais universal, que toda a gente pode compreender, sobre as experiências de quem não se sente integrado”. Esta foi, aliás, uma das razões pelas quais decidiu converter o monólogo original num trabalho polifónico. “Foi, de certa forma, por isso que segui este impulso de desdobrar a personagem em cinco corpos, tornando-a dispersa, fragmentada e inconstante, porque há uma inquietude no texto que eu queria transpor literalmente”.

Essa universalidade fica também patente no facto de em palco estarem diferentes nacionalidades e géneros. “Quando estávamos a discutir a peça pensamos na possibilidade de ter pessoas de lugares diferentes, porque é uma realidade que temos em Macau, mas que acontece um pouco por todo o mundo, pelo que quisemos abrir essa janela para a audiência”, sublinhou Ip Ka Man, co-director artístico da Associação de Arte Teatral Dirks, e um dos cinco actores d’ “A Noite antes da Floresta”. Ip Ka Man representa Macau num palco que conta ainda com May Bo (de Hong Kong e Macau), Koh Wan Ching (Singapura), Kim Shin Rock (Coreia do Sul) e Chan Tai Yin (Hong Kong), numa peça interpretada em inglês, com pequenas incursões pelo cantonense, mandarim e coreano.

“É muito interessante termos esta diversidade. Eu sou estrangeira e estou aqui a tentar fazer-me entender pelos actores, os actores a tentarem entender-me a mim, todos a tentar entender o texto. Tudo isto com pessoas de lugares diferentes e com línguas diferentes, em que nem tudo é realmente directo ou explícito”, considera Sinéad Rushe. “Esperamos que [o resultado] fique interessante para o público, porque faz parte do processo tentar passar a mensagem do personagem que, muitas vezes, não é clara, ou seja, furar essa obscuridade”, realça a encenadora, para quem a linguagem através da qual nos “encontramos a nós próprios e nos conectamos com os outros é muito relevante para o autor, para a peça e para a sociedade contemporânea”.

“Bernard-Marie Koltès viajou durante grande parte da vida e tem a experiência de ser um estrangeiro em diferentes lugares. Aliás, ele vai para a América Latina e para África para escrever tudo, sair do ponto de vista da classe média branca do primeiro mundo. Ele fala do encontro ou da relação particular que se estabelece quando não estás no lugar donde és, ou onde não te sentes confortável e travas uma luta para comunicar, acabando por estabelecer diferentes tipos de contacto”, descreve, apontando que o dramaturgo acaba, “em certa medida, por ter horror à situação em que todos nos compreendemos totalmente”.

A peça sobe ao palco durante três dias no âmbito do FAM, mas o trabalho iniciou-se no Verão passado, quando Sinéad Rushe iniciou a tradução da obra de francês para inglês, a qual viria a ser vertida, depois, para cantonense, dado que a produção é local.

Um acaso afortunado

O caminho da encenadora cruzou-se com a Associação de Arte Teatral Dirks há meia dúzia de anos quando Ip Ka Man e May Bo foram estudar teatro para uma universidade de Londres, onde Sinéad Rushe leccionava. “Ela abordava a biomecânica e as técnicas de representação de Michael Chekhov [sobrinho de Anton Chekhov], muito baseada na imaginação, bastante raras em Macau, pelo que quando regressamos decidimos convidá-la para partilhar os seus conhecimentos. Dois anos depois, em 2016, repetimos o convite para um workshop e foi quando abordamos a possibilidade de trabalharmos juntos numa performance para aplicar o que aprendemos”, explica Ip Ka Man. A encenadora aceitou: “Eu viajo e ensino em todo o mundo e, de facto, é muito raro eu voltar a um lugar para fazer um espectáculo. Mas este caso é muito especial, porque primeiro vim dar formação e agora esses conhecimentos podem ser desenvolvidos num contexto real de performance”.

“Ip Ka Man e May Bo têm um compromisso com a formação contínua, uma dedicação que, por vezes, não se encontra a nível profissional e isso também é parte do motivo pelo qual quis vir, porque senti que o trabalho vem do sítio certo, que há um interesse em realmente explorar as coisas de forma adequada e não apenas de montar um espectáculo ou algo do género”, acrescenta.

“Em cinco semanas não treino os actores que, aliás, são experientes. Eu apenas sugiro exercícios e guio-os no sentido de todos tentarmos compreender melhor o texto e descobrir e explorar de formas diferentes o mundo da personagem e ir mais a fundo no mundo da personagem. Sinto que o meu papel é trabalhar com eles o texto em pormenor, ou seja, compreender a sua jornada interior”, complementou.

O restante elenco Sinéad Rushe conheceu apenas em Macau, o que, “em certa medida, acaba por ser muito libertador”. De facto, a única sugestão que deu em termos da equipa foi ao nível do desenho de som, a cargo do alemão Niels Lanz. “A peça foi escrita como uma composição musical, como uma fuga de Bach, criando um espaço denso. Eu queria seguir o impulso de Koltès para libertar a audiência da possibilidade de ficar aborrecida por ter de seguir os actores. Depois, quando lês a peça há uma clara musicalidade: parece começar com um ária e acabar com uma sinfonia”. Para tentar invocar esse cenário contactei o Niels, que trabalhou muito tempo com o coreógrafo William Forsythe, porque sabia que precisava de alguém que realmente dominasse microfones e espaço e ele aceitou. É uma enorme oportunidade para mim e para eles e para explorar o que o som pode oferecer em termos de caracterização”.

“Em geral, não acho que o Koltès quereria algo do género, mas espero que ele nos perdoe, mas pelo menos estamos a agarrar o texto dele e a homenageá-lo”, sublinhou Sinéad Rushe que, pela primeira vez, tem um encontro marcado com o público chinês.

10 Mai 2018

Carlos Farinha, artista plástico e representante de Portugal na Art Beijing: “Olhar como se estivesse de lado”

Foi um dos dois artistas portugueses que estiveram presentes, no final de Abril, na Art Beijing. Carlos Farinha encerra nos seus quadros o mundo que vê e faz questão de misturar e as influências que vai recolhendo. Macau e o Oriente não são excepção

 

O que representa para si ter sido um dos dois artistas portugueses seleccionados para a Art Beijing?

Foi uma honra e uma enorme responsabilidade representar Portugal. Queria aproveitar a ocasião para agradecer à Galeria Arte Periférica e à Embaixada de Portugal por me ter proporcionado esta oportunidade. Estar nesta feira representa uma presença da arte portuguesa num mercado difícil mas de uma extraordinária dimensão e visibilidade. A título pessoal foi uma experiência curiosa e enriquecedora perceber a forma como o público chinês se relaciona com as minhas obras.

Quando vemos os seus trabalhos há uma espécie de tragicomédia presente. Concorda?

É curioso que me faça essa pergunta. Realmente tenho uma propensão para uma certa dramatização dos assuntos que pinto, [as pinturas] são muitas vezes criadas pela ironia, e uma certa abordagem despreocupada de um contador de histórias. As várias leituras que se pode fazer sobre as minhas pinturas são um sinal dos vários níveis de compreensão que pretendo criar, sem no entanto ser moralista ou generalista. Por exemplo, quando uso a caricatura, ela retira uma carga simbólica às histórias que conto levando-me para um campo onde posso desenvolver uma ironia que, se não fosse desse modo, poderia ganhar contornos melindrosos e ineficazes.

Qual o ponto de partida quando começa um trabalho?

Depende se é apenas um exercício ou o desenvolvimento de um conceito para uma exposição mas, muitas vezes, o dia-a-dia é o meu grande referente (político e social).

Quais são as suas referências?

São várias. Ultrapassam a própria pintura do Millet ou da Paula Rego, mas também passam pela actualidade e pelas redes sociais.

Passou por Macau. O que lhe ficou do território a nível pessoal? E a nível artístico?

Muito: Sentir um pouco de Portugal no Oriente e a sensação de que Macau tem uma identidade própria. Ficaram-me amigos, memórias e um desejo de conhecer melhor o Oriente. Conheci artistas, o trabalho da AFA e gosto particularmente do trabalho do Erick Fok.

Conseguimos identificar elementos de várias experiências culturais por onde vai passando. Como é que os interliga? Em que cultura se localiza para o fazer? Se é que isso acontece.

Bem, o meu processo criativo parte muito do facto de ter crescido fora de Portugal e de ter uma visão muito própria do meu presente. Olhar como se estivesse de lado para criar um espaço de crítica criativa.

Considera o seu trabalho como tendo, de alguma forma, uma componente interventiva?

Sim. Aliás, tive diversas experiências que me levaram a compreender melhor o mundo em que vivemos. Já tive vários quadros virais, partilhados centenas de vezes nas redes sociais. Sem essa necessidade de perceber o mundo em que vivemos, nunca seria um artista. Intervir é uma necessidade visceral no meu mundo.

Qual é a sua opinião da arte que se faz na China?

Bem, é uma potência em estado bruto, muito diversificada mas com características muito próprias. Daquilo que tive oportunidade de ver existe um encontro com a arte que é apresentada nos grandes centros culturais do mundo mas, ao mesmo tempo, procuram uma identidade própria.

Das suas obras, pode-nos contar a história de duas que tenham que ver com o Oriente?

“A tradutora” é um quadro que retrata as relações entre Portugal e a China através da representação simbólica de uma caravela portuguesa e de um junco chinês. A mulher que transporta os barcos serve para equilibrar e criar laços entre as duas culturas tão diferentes através do seu papaguear e do domínio das duas línguas. A tradutora é a garante da comunicação. “Lucky Man” é um quadro que retrata uma mesa de jogo num casino em Macau. Este quadro tem numa das figuras um boneco de boa sorte ao ombro, [porque] todos os jogadores procuram a sorte no jogo.

Neste momento, encontra-se a trabalhar em algum projecto?

Por acaso, estou a preparar uma cartografia plástica do mundo português, focada sobretudo no Oriente. É um projecto que ambiciono desde a minha primeira presença em Macau.

9 Mai 2018

Escritor Mário Vargas Llosa participa pela 1.ª vez no Hay Festival

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] escritor Mario Vargas Llosa, de 82 anos, distinguido com o Prémio Nobel da Literatura em 2010, participa pela primeira vez no Hay Festival, que se realiza em Novembro, em Arequipa, sua cidade natal, anunciou a organização.

Nas três edições enteriores, participaram no Hay Festival cerca de 25.000 pessoas, noticiou a Efe, segundo a qual além do autor de “Elogio da Madrasta”, no certame participam também o indo-britânico Salman Rushdie, que recentemente publicou “A Casa Golden”, e a escritora e jornalista argentina Leila Guerriero, que em 2010 venceu o Prémio de Jornalismo Gabriel García Márquez.

Leila Guerriero participa pela segunda vez no festival, que teve a sua primeira edição, em Arequipa, em 2015.

O IV Hay Festival de Artes y Literatura realiza-se de 8 a 11 de Novembro, no centro histórico da denominada “Cidade Branca”, pelos seus edifícios construídos em cantaria vulcânica de cor branca, e onde Vargas Llosa, nobilitado como marquês pelo rei João Carlos de Espanha, tem a sua casa museu.

O Hay Festival, que junta escritores, filósofos, cientistas e jornalistas, é originário do País de Gales, e além do Peru, tem edições na Colômbia, México, Dinamarca, e Espanha, designadamente em Segóvia.

O escritor Mario Vargas Llosa esteve em Lisboa, em Outubro de 2016, para apresentar o seu mais recente romance, “Cinco esquinas”, na sala Almada Negreiros, no Centro Cultural de Belém.

Referência literária

Mario Vargas Llosa nasceu em 1936, em Arequipa, no Peru e actualmente tem dupla nacionalidade, peruana e espanhola, tendo recebido vários prémios literários internacionais, entre eles, o Prémio P.E.N./Nabokov, o Cervantes, o Príncipe das Astúrias e o Grinzane Cavour.

Em 2010, foi distinguido com o Prémio Nobel de Literatura pela “sua cartografia das estruturas de poder e pelas imagens pungentes da resistência, revolta e derrota dos indivíduos”, segundo fonte editorial.

Dos seus títulos refira-se “A cidade e os cães”, que lhe valeu o Prémio Biblioteca Breve, em 1962 e o da Crítica Espanhola, em 1963).

Autor de mais de uma dezena de romances, Vargas Llosa é também autor de peças de teatro, nomeadamente “A menina de Tacna”, e de obras de ensaio, como “A Civilização do espetáculo”, editada em 2012.

Entre outras condecorações estrangeiras, o Governo francês distinguiu o escritor com a Medalha de Honra, em 1985, e, em Fevereiro de 2011, o rei de Espanha nobilitou-o com o título hereditário de Marquês de Vargas Llosa.

Vargas Llosa obteve a nacionalidade espanhola em Março de 1993, sem nunca renunciar à peruana.

8 Mai 2018

USJ | Gregory B. Lee traz a Macau a China imaginada

[dropcap style≠’circle’]“C[/dropcap]hina Imagined: From Western Fantasy to Spectacular Power” é a palestra a cargo de Gregory B. Lee que vai decorrer na Universidade e São José (USJ) no próximo dia 29 de Maio pelas 18h30.

De acordo com a organização, a China tem sido um país estudado e explorado por sinólogos e escritores, mas sempre dentro do âmbito de um país imaginado. “Entenda-se por imaginário, o conjunto de frases, imagens e crenças que compõem a compreensão partilhada de um grupo ou de comunidade (seja uma etnia ou uma nação, a nossa ou de outra pessoa)”, refere a apresentação do evento.

Mas, os tempos estão a mudar e o imaginário ocidental da China começa a ficar situado num ponto sem descrição com a sua posição reconhecida enquanto potência mundial. A palestra pretende responder à questão “De onde vem a China?”

Gregory B. Lee é um académico e autor, professor de Estudos Chineses e Transculturais na Universidade Jean Moulin. De entre as suas publicações, a organização destaca “Dai Wangshu: A vida e a poesia de um modernista chinês (1989)” e a “Década perdida da China (2009, 2012)”.

8 Mai 2018