Exposição de caligrafia chinesa patente em Aveiro

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] exposição de caligrafia chinesa intitulada “Um Janus Cultural: A Complexidade de Macau em exibição caligráfica” foi inaugurada no passado dia 18 no Museu de Santa Joana de Aveiro. De acordo com um comunicado, “as obras expostas versam sobre temas de Macau, poemas ou escritos antigos sobre a cidade que o artista fez bem em evocar, especialmente poemas e comentários de letrados chineses sobre a coexistência pacífica entre as comunidades e sobre o modo de vida de macaenses”.

O evento foi co-organizado com a Fundação Jorge Álvares e o Instituto Milénio de Macau, uma instituição de ensino superior privada.

29 Mai 2018

Presidente da República elogia arquitecto Souto de Moura pelo engenho e rigor que levaram a prémio

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, felicitou o arquiteto Eduardo Souto Moura por ter recebido o Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza.

“Felicito o arquiteto Eduardo Souto Moura, a quem foi atribuído o Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza”, lê-se no site da Presidência da República.

“A participação portuguesa nesta edição da Bienal inclui doze edifícios públicos projetados por arquitetos de várias gerações, cuja criatividade e reconhecimento tenho assinalado em diversas circunstâncias”, refere, realçando ainda que “Souto Moura apresentou fotografias aéreas do seu projeto, demonstrando o engenho e o rigor presentes tanto numa ideia como na sua concretização”.

O arquiteto Eduardo Souto de Moura recebeu hoje um Leão de Ouro na 16.ª Exposição Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza, que abriu hoje ao público naquela cidade italiana.

O projeto distinguido pelo júri da exposição foi o complexo turístico de São Lourenço do Barrocal, a recuperação de um monte alentejano e a sua adaptação a hotel.

“Já fiz outros projetos mais modernos, mais antigos, este era a procura de um tom que não destruísse o ambiente do edifício e da paisagem. É um projeto de risco porque estava quase no limite do pastiche [obra em que se imita abertamente o estilo de outros artistas], era uma imitação do antigo”, explicou Souto de Moura à agência Lusa.

A exposição da Bienal de Veneza estará patente ao público até 25 de novembro naquela cidade italiana e na qual Portugal participa através da exposição “Public Without Rethoric”.

O certame dedicado à arquitetura – cujo prémio máximo é o Leão de Ouro – recebeu 65 participações nacionais, divididas entre os pavilhões históricos do Giardini, do Arsenale e do centro histórico de Veneza.

Souto de Moura foi um dos 100 arquitetos convidados pelas curadoras da Bienal da Arquitetura de Veneza, Yvonne Farrell e Shelley McNamara, do Grafton Architects, para a exposição principal, espaço expositivo além dos pavilhões nacionais.

Doze edifícios públicos criados por arquitetos portugueses de várias gerações, nos últimos dez anos, e filmes de quatro artistas constituem a representação de Portugal na Bienal de Arquitetura de Veneza, intitulada “Public Without Rethoric”, a inaugurar hoje.

28 Mai 2018

Lisboa | Lançado livro sobre Gastronomia Macaense

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Auditório Adriano Moreia da Sociedade de Geografia de Lisboa vai ser o palco, no dia 27 de Junho, do lançamento do livro A Gastronomia Macaense – Reforço de uma identidade singular, que tem como autor Manuel Fernandes Rodrigues.

A apresentação está marcada para as 17h e vai estar a cargo de Carlos Piteira, professor no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Nova de Lisboa. Também a professora Maria Ferreira vai proferir uma conferência sobre a temática no mesmo evento.

“É sempre bom realçar o interesse e o empenho com que Macaenses da diáspora se empenham na investigação e divulgação da nossa herança cultural imaterial. Falar da gastronomia macaense, é recordar que ela é o derradeiro estádio na construção da nossa identidade, através da alimentação”, pode ler-se no convite para o evento.

28 Mai 2018

Bienal | Macau leva “Arquitectura Não Intencional” a Veneza

É uma carta de jogo o elemento que atravessa transversalmente a exposição “Arquitectura Não Intencional” que representa Macau na Bienal de Arquitectura de Veneza. A mostra, que inaugurou na sexta-feira, remete para a importância do espaço livre

 

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] a terceira vez que Macau se faz representar na Bienal de Arquitectura de Veneza. “Arquitectura Não Intencional”, que abriu na sexta-feira ao público, remete para a importância de se deixar espaço livre suficiente para as pessoas intervirem.

A mostra, da autoria de três jovens arquitectos (Eddie Ieong Chong Tat, Vong Ka Ian e Benny Chu Hou San), com a curadoria de Manuel Lam, ganha forma através de diferentes arranjos de cartas de jogo que, por via de uma abordagem abstracta, reinterpretam os espaços de Macau.

Organizada pelo Museu de Arte de Macau, em colaboração com a Associação dos Arquitectos de Macau (AAM), a exposição “procura explorar elementos e espaços locais mais representativos que permitam reflectir a relação interactiva entre o design e as pessoas, quebrando o habitual estereótipo sobre Macau”, realça o IC. Neste sentido, a mostra “provoca uma reflexão mais profunda sobre a participação humana e as necessidades humanísticas no processo de planeamento urbano”, acrescenta em comunicado.

Até Novembro

A cerimónia de inauguração foi oficiada pelo Embaixador da China em Itália, Li Ruiyu, pela vice-presidente do IC, Leong Wai Man, pela representante para os Assuntos Económicos e do Comércio de Hong Kong na União Europeia, Shirley Lam Shuet Lai, pelo presidente da Assembleia-Geral da AAM, Leong Chong In, pelo curador da exposição, Manuel Lam Lap Yan, e pelos três jovens arquitectos.

Inserida na 16.ª edição da Bienal de Arquitectura de Veneza, a exposição “Arquitectura Não Intencional” vai ficar patente ao público até dia 25 de Novembro.

28 Mai 2018

Arquiteto Souto de Moura ganha Leão de Ouro na Bienal de Arquitetura de Veneza

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] arquiteto Eduardo Souto de Moura foi distinguido na Bienal de Arquitetura de Veneza com um Leão de Ouro.

A 16.ª Exposição Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza abriu hoje ao público, na cidade italiana, com a participação de Portugal através da exposição “Public Without Rethoric”.

O certame dedicado à arquitetura – cujo prémio máximo é o Leão de Ouro – recebe 65 participações nacionais, divididas entre os pavilhões históricos do Giardini, do Arsenale e do centro histórico de Veneza.

Souto de Moura foi um dos 100 arquitetos convidados pelas curadoras da Bienal da Arquitetura de Veneza, Yvonne Farrell e Shelley McNamara, do Grafton Architects, para a exposição principal, espaço expositivo além dos pavilhões nacionais.

Doze edifícios públicos criados por arquitetos portugueses de várias gerações, nos últimos dez anos, e filmes de quatro artistas constituem a representação de Portugal na Bienal de Arquitetura de Veneza, intitulada “Public Without Rethoric”.

O projeto, apresentado em Abril último pelos curadores, Nuno Brandão Costa e Sérgio Mah, no Palácio da Ajuda, em Lisboa, está instalado no Palazzo Giustinian Lolin, sede da Fundação Ugo e Olga Levi, junto ao Grande Canal, em Veneza, entidade com a qual a Direção-Geral das Artes, organizadora da representação portuguesa, assinou um protocolo de utilização para este ano.

André Cepeda, Catarina Mourão, Nuno Cera e Salomé Lamas foram os quatro artistas convidados a criar filmes sobre os edifícios selecionados.

Os 12 edifícios de arquitetos portugueses incluídos na exposição dividem-se pelo país e pelo estrangeiro, com três localizados nos Açores: Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas, na Ribeira Grande (João Mendes Ribeiro e Menos é Mais – Cristina Guedes e Francisco Vieira de Campos), Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo (Inês Lobo) e Centro de Visitantes da Gruta das Torres, no Pico (SAMI – Inês Vieira da Silva e Miguel Vieira).

De Lisboa estão incluídos na lista o Teatro Thalia (Gonçalo Byrne e Barbas Lopes Arquitetos, Diogo Seixas Lopes e Patrícia Barbas) e o Terminal de Cruzeiros (João Luís Carrilho da Graça).

Do Porto, são vários os edifícios que vão constar da representação portuguesa: I3S – Instituto de Inovação e Investigação em Saúde (Serôdio Furtado Associados – Isabel Furtado e João Pedro Serôdio), Molhes do Douro (Carlos Prata), Pavilhões Expositivos Temporários, “Incerteza Viva: Uma exposição a partir da 32.ª Bienal de São Paulo”, Parque de Serralves (depA – Carlos Azevedo, João Crisóstomo e Luís Sobral, Diogo Aguiar Studio, FAHR 021.3 – Filipa Fróis Almeida e Hugo Reis, Fala Atelier – Ana Luísa Soares, Filipe Magalhães e Ahmed Belkhodja e Ottotto, Teresa Otto).

A lista de obras selecionadas inclui ainda o Hangar Centro Náutico, em Montemor-o-Velho (Miguel Figueira), e o Parque Urbano de Albarquel, em Setúbal (Ricardo Bak Gordon).

Fora de Portugal encontram-se o Centro de Criação Contemporânea Olivier Debré, em Tours, França (Aires Mateus e Associados – Manuel e Francisco Aires Mateus), e a Estação de Metro Município, em Nápoles, Itália (Álvaro Siza Vieira, Eduardo Souto Moura e Tiago Figueiredo).

A 16.ª Exposição Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza estará patente ao público até ao dia 25 de novembro.

A reacção

O arquiteto Eduardo Souto de Moura considerou o prémio “o reconhecimento do valor e do nível da arquitetura portuguesa”, que “cada vez é mais reconhecida nos sítios que exigem mais qualidade”.

“É mais uma [distinção], estou contente pela arquitetura portuguesa, que cada vez é mais reconhecida nos sítios que exigem mais qualidade”, afirmou Souto de Moura em declarações à agência Lusa após ter sido distinguido com um Leão de Ouro na 16.ª Exposição Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza, que abriu hoje ao público naquela cidade italiana.

Considerando que “o pavilhão de Portugal [na exposição] era dos melhores, com um conjunto de arquitetos que não é fácil encontrar”, Souto de Moura encara esta nova distinção como “o reconhecimento do valor e do nível da arquitetura portuguesa”.

“Isto tudo vem de uma tradição do Siza [Vieira], do [Fernando] Távora e de outros arquitetos”, sustentou, salientando que atualmente “a arquitetura portuguesa é muito bem vista” e tem “uma qualidade superior à da maior parte dos países europeus”.

“E já não é de agora, estamos fartos de ganhar prémios, o que para mim é uma vaidade, ficamos orgulhosos”, acrescentou.

Relativamente ao projeto distinguido pelo júri da exposição – o complexo turístico de São Lourenço do Barrocal, a recuperação de um monte alentejano e a sua adaptação a hotel – Souto de Moura disse que foi “um projeto muito difícil, porque não é radical”: “Já fiz outros projetos mais modernos, mais antigos, este era a procura de um tom que não destruísse o ambiente do edifício e da paisagem. É um projeto de risco porque estava quase no limite do pastiche [obra em que se imita abertamente o estilo de outros artistas], era uma imitação do antigo”, explicou.

Muito otimista quanto à nova geração de arquitetos em Portugal – que descreve como “excecional, quer no Porto, quer em Lisboa”, e que começa agora a recuperar do período mais difícil vivido com a crise económica – Eduardo Souto de Moura diz que o que falta hoje à arquitetura é “tempo”.

“A arquitetura cada vez está mais difícil, está a mudar. Os clientes pedem os projetos para ontem, não há tempo, e a falta de tempo é um convite à mediocridade”, sustentou.

“Portanto – disse à Lusa – gostava que este projeto [do Barrocal], que demorou algum tempo, o tempo justo, servisse de receita a outros projetos que pedem a uma velocidade que não é possível fazer”.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, já felicitou o arquiteto Eduardo Souto Moura por ter recebido o Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza.

“Felicito o arquiteto Eduardo Souto Moura, a quem foi atribuído o Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza”, lê-se no site da Presidência da República.

“A participação portuguesa nesta edição da Bienal inclui doze edifícios públicos projetados por arquitetos de várias gerações, cuja criatividade e reconhecimento tenho assinalado em diversas circunstâncias”, refere, realçando ainda que “Souto Moura apresentou fotografias aéreas do seu projeto, demonstrando o engenho e o rigor presentes tanto numa ideia como na sua concretização”.

27 Mai 2018

Entrevista | Eduardo Lourenço marca 95º aniversário com o documentário “O labirinto da saudade”

“O labirinto da saudade” é o filme de Miguel Gonçalves Mendes baseado na obra homónima do ensaísta português que celebrou, na passada quarta-feira, o 95º aniversário. Em entrevista à agência LUSA, Eduardo Lourenço fala do filme em que participou inadvertidamente, da vida e da morte, e do que é ser português. Além disso, o ensaísta sublinha que o passado colonizador do país não é motivo para que o país seja “crucificado”

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] ensaísta Eduardo Lourenço, actor dele próprio no filme “O Labirinto da Saudade”, que teve ante-estreia na quarta-feira na RTP1, no dia em que fez 95 anos, afirma-se feliz com esta homenagem, mas confessa que lhe é “difícil assumir” este aniversário.

“O Labirinto da Saudade”, de Miguel Gonçalves Mendes, adapta a obra homónima de Eduardo Lourenço e transporta os espectadores por uma viagem através da cabeça do pensador português, com o próprio como protagonista e narrador da história, percorrendo os caminhos da memória e cruzando-se com personalidades da cultura, com quem troca breves diálogos em busca da resposta à questão “o que é ser português”.

No entanto, Eduardo Lourenço admitiu, em entrevista à Lusa, que “entrou no filme sem saber que estava a entrar num filme” e considera haver uma “tal incompatibilidade” entre ele e ser actor, que não se vê nesse papel, embora ainda não tenha visto o resultado final e nem tenha “vontade particular” de se “mirar nesse espelho”.

“Aquilo era uma espécie de visita ao Buçaco [ambiente onde é filmado], sem programa propriamente dito, e a gente tinha que inventar umas situações e umas falas com muitas personagens, meus amigos ou não, quase todos eles meus amigos, e eu não podia adivinhar o que é que saía dali e continuo na mesma porque ainda não o vi”, disse.

Desses diálogos, gostou particularmente do que teve com Álvaro Siza Vieira, que faz de empregado do “Bar Eternidade”, por este ser “um criador no sentido forte do termo”.

“É um criador em si e isso impõe um respeito absoluto, eu estava a falar com alguém que a gente tem impressão que o que ele está, o que ele faz, o que ele propõe, o que ele fará ainda é qualquer coisa que merece atenção e que nós temos a certeza que são coisas que o futuro olhará e guardará como dignas do tempo presente que estamos vivendo”, afirmou.

Relações bem dispostas

Outro diálogo que achou particularmente curioso foi o que teve com o actor e humorista brasileiro Gregório Duvivier sobre a relação de Portugal com o Brasil.

Eduardo Lourenço teve de responder à questão “como é que a perda do Brasil não nos tinha traumatizado”, uma pergunta que o obrigou a admitir que de facto a perda do Brasil não representou “um traumatismo no sentido forte do termo”. “Mas também nós não perdemos o Brasil, não perdemos nenhum sítio onde estivemos, perdemos o que devíamos perder, em relação a actos que cometemos enquanto colonizadores ao longo dos séculos”, disse, sublinhando a relação que existe com aquele país, para onde os portugueses emigravam em busca de fortuna.

Sobre a ante-estreia do filme no mesmo dia em que faz 95 anos, Eduardo Lourenço considera que “será uma coincidência, que as pessoas diriam uma coincidência festiva”. “[É também] uma gentileza da parte do cineasta, de se lembrar disso, e eu parti para isso sem saber o que estava ali a fazer, pensando que fazia parte de uma leitura específica de um cineasta a respeito de uma pessoa que não é um ícone cultural propriamente dito, mas tive de me resignar a envergar esse facto durante algum tempo”, acrescentou.

Eduardo Lourenço admite que é “um bom presente de aniversário”, ainda para mais tendo a ideia do filme partido de um grupo de amigos, mas confessa que, para ele, fazer 95 anos é uma “coisa sempre rara e difícil de assumir, porque é o princípio do fim”.

“Todos nós estamos confrontados com essa exigência, não encaro isso como uma coisa trágica, era só o que faltava. A tragédia já é em si nós não podermos escapar àquilo que nos espera, seria uma injustiça para todas as outras pessoas, que eram os nossos, que já morreram, que nós não fossemos capazes de suportar aquilo que eles suportaram quando chegou o fim deles. É ir para a morte como se todos aqueles que nos conheceram e nós amámos estivessem connosco”.

Não é preciso “crucificar” Portugal

Relativamente ao país, o ensaísta afirma não compreender a necessidade de “crucificar” Portugal por causa do seu passado de colonizador, sublinhando que não houve maldade na génese e que o mal feito já não pode ser reparado.

Eduardo Lourenço comentava, em entrevista à agência Lusa, a polémica relacionada com um possível “Museu das Descobertas”, em Lisboa, que motivou uma carta aberta, publicada em Abril no jornal Expresso, de dezenas de historiadores que se opõem ao conceito por trás da designação, e teve já várias outras – a favor e contra – desde então.

“Não sei por que é que neste momento parece haver uma necessidade de crucificar este velho país em função de uma intenção louvável, mas que ainda não redime aqueles que querem realmente a redenção, aqueles que foram objecto de uma pressão forte como o do nosso domínio enquanto colonizadores, de uma certa época”, afirmou.

O filósofo confessou ainda não entender este movimento, quando, independentemente das consequências negativas, como a escravidão, as descobertas tiveram na génese uma motivação “louvável” e quando tantos outros países da Europa cometeram “crueldades” muito maiores.

“Já não podemos reparar nada, que essas coisas não têm reparação, mas podia ser [este movimento] um gesto que se justificasse por uma espécie de maldade particular e única que nos afastasse da consideração de país civilizado, de um continente civilizado chamado Europa, mas não”, afirmou.

Na opinião de Eduardo Lourenço, as “crueldades” de Portugal não podem ser queimadas “na mesma fogueira” de outros, para salvar o país ‘a posteriori’ daquilo que já não se pode emendar.

“Uma parte desses senhores que subscrevem esse documento têm as suas razões, são historiadores, conhecem, mas houve tragédias na Europa que não são da nossa alçada, que fomos os mais pacíficos, dos povos do sul da Europa”, disse, lembrando “outras nações, outras culturas, que fizeram passar a Europa por períodos de facto muito difíceis de aprovar nas suas intenções, caso da Alemanha, da França e de outros países”.

O ensaísta, que comemora 95 anos, no mesmo dia em que se deu a ante-estreia de um documentário inspirado na aua obra “O Labirinto da Saudade”, acrescentou ainda nunca ter visto “um grande discurso a autojustificar aquilo que se passou no Leste durante mais de 100 anos e que também não foi nada de que [se possam gloriar] enquanto europeus, ou simplesmente enquanto seres humanos”.

“Mas enfim, cada um faz a penitência que julga mais adequada à visão que tem da História. Eles são historiadores, terão as suas razões, eu tenho a minha: acho extraordinário, num momento em que a Europa é quase toda ela democrática, que, de facto, um país com menos problemas graves e de difícil resolução no mundo seja objecto desta espécie de penitência pública”, afirmou.

Evocando ainda colonizações mais violentas, como a dos espanhóis no México ou no Peru, disse: “nunca vi este acto quase de tribunal de inquisição ser convocado metaforicamente para pôr na pira a história do nosso pequeno país, que não o merece”.

27 Mai 2018

Artes Plásticas | Alice Kok apresenta a exposição “Emptiness is form” na AFA

É inaugurada hoje, na AFA, a exposição “Emptiness is form” da artista local, Alice Kok. A mostra reúne um conjunto de trabalhos que pretende questionar a percepção do público acerca do que existe. Vídeo, fotografia, instalações e formas geométricas são os veículos usados pela artista para abordar a espiritualidade que encontrou no budismo

[dropcap style≠’circle’]”E[/dropcap]mptiness is form” é o nome da exposição individual de Alice Kok que é inaugurada hoje nas instalações da Art for All society (AFA).

O conceito que deu nome a esta mostra foi inspirado numa frase dos escritos budistas tibetanos. “Form is emptiness and emptiness is form”, transmite a ideia completa a partir da qual  exploro a relação entre o vazio e a forma”, conta Alice Kok ao HM.

Para a artista, importa trabalhar o modo como as formas são percebidas, sendo que “a ideia budista de vazio não tem que ver com a inexistência, ou com o nada, mas com o facto de que tudo o que existe se relaciona entre si”, explica.

É esta relação contínua que dá origem ao mundo e à natureza como um todo, considera Alice Kok. “O nada acontece quando alguma coisa está só e independente de tudo o resto. A natureza que é uma só, está em inter-acção com tudo”, refere.

Conceito permanente

A exploração do conceito de vazio não é novo no trabalho da artista. Há cinco anos criou “Nada acontece”. A peça “é uma instalação que pretendia criar o efeito de uma miragem”, refere. “Nada acontece” vai estar exposta também na AFA acompanhada de outros trabalhos.

Um dos destaques da exposição é uma instalação em forma de pirâmide. Para a produção desta peça, Alice Kok convidou alguns amigos para meditarem com ela, durante seis minutos, no estúdio onde trabalha. As sessões foram filmadas e o resultado foi a produção de um vídeo que integra esta peça. A estrutura da pirâmide é feita num ângulo de 51 graus, a razão para este detalhe geográfico está relacionado com as teorias acerca da construção das pirâmides do Egipto. “Muitos creem serem construções receptoras de energia”, comenta. Para a artista, a obra reflecte uma expressão de unicidade das coisas e da sua relação constante.

Geometria sagrada

Por outro lado, a ideia de construir uma pirâmide vai de encontro ao que Alice Kok tem por hábito usar nas suas peças – a geometria. “Achei esta ideia muito interessante até porque tenho trabalhado muito com formas geométricas”, refere.

É também na conjugação geométrica que a artista recriou um carácter chinês que será exibido em grande escala. “Por detrás das linhas há o significado, há uma forma muito geométrica e isto também está relacionado com a possibilidade de reconhecer algo  através da forma”, explica.

Foi ainda com a forma em mente que foi desenvolvido outro trabalho que integra a exposição que abre hoje ao público. “A montanha de plástico” é uma obra em que Alice Kok usa sacos de plástico para criar a forma de uma montanha. “O objectivo aqui foi dar a ideia de plasticidade artística ao mesmo tempo que se usa o próprio material”. O resultado é a criação de “uma montanha que não é uma montanha, mas apenas a sua imagem”. De acordo com Kok, é possível perceber a ideia pensando no trabalho de René Magritte, “Ceci n’est pas une pipe”.

A mostra conta ainda com um trabalho em que a artista usa polaroides. “Este tipo de fotografia não é reproduzível, só se pode tirar uma vez”, conta. Nesta peça, Alice Kok coloca as imagens instantâneas em água. “A sua dissolução transmite a impermanência das coisas que é aplicável a tudo”, esclarece.

Inspiração Budista

Alice Kok começou a interessar-se pelos conceitos budistas, que agora explora, depois de se formar, em 2004, em França. “Fiz uma viagem à Índia e ao Tibete que me mudou a vida”, aponta.

Na Índia, a artista visitou uma comunidade tibetana onde conheceu refugiados tibetanos que não estavam autorizadas a regressar a casa para visitar os seus familiares. Ao deparar-se com esta situação resolveu fazer um trabalho em vídeo. “Coloquei estas pessoas a falarem em frente a uma câmara para comunicarem com as suas famílias. Depois levei esses vídeos comigo ao Tibete. Encontrei uma das famílias envolvidas e mostrei-lhe estas imagens. Filmei a resposta e trouxe-a de novo à Índia, a estas pessoas refugiadas”, recorda Alice Kok.

O vídeo foi feito há cerca de dez anos, mas até hoje, é para a criadora local, o seu mais importante trabalho. “Encheu-me a vida e a minha perspectiva do que é arte”, aponta.

Foi também nesta altura que teve o primeiro contacto com o budismo tibetano. A vida em Macau tinha-lhe transmitido uma visão diferente daquela que encontrou nas montanhas da Índia. “A ideia que tinha de budismo em Macau era errada. Aqui as pessoas vão ao templo pedir para terem dinheiro e isso para mim era uma superstição. Não conhecia realmente o que o budismo dizia, nem a sua filosofia. Em Macau, o budismo não tem relação propriamente com a filosofia que o criou”, refere. Desde então, a inspiração de Alice Kok tem sido, independentemente da forma, inspirada nesta filosofia.

25 Mai 2018

IIM | Personalidades da diáspora macaense ganham Prémio Identidade

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]rederico Alberto Silva (Jim Silva), ex-presidente da União Macaense Americana, e António Manuel Pacheco Jorge da Silva, ex-presidente do Lusitano Clube da Califórnia, foram os distinguidos pelo Instituto Internacional de Macau (IIM) para a edição deste ano do Prémio Identidade.

De acordo com um comunicado, esta distinção aconteceu dado que estas personalidades, a residir nos Estados Unidos há muitos anos, deram a “contribuição para o reforço do sentimento de pertença a Macau”.

Jim Silva foi profissional da área financeira em Hong Kong e, depois de se radicar nos EUA, preparou textos que foram publicados em livros sobre as suas memórias da guerra do Pacífico e os seus conhecimentos sobre o patuá, a religião, a culinária e o legado cultural dos seus avós, elementos esses agregadores de uma comunidade. Este macaense publicou seis livros e redigiu em inglês uma introdução à História de Portugal para divulgação entre a juventude macaense da diáspora.

Por sua vez, António Pacheco Jorge da Silva, que exerceu funções de arquitecto em Macau, Hong Kong, Reino Unido e EUA, dedicou-se, após a sua aposentação, a escrever a geração dos descendentes dos portugueses em Macau, incluindo as suas experiências em muitas regiões da China e integração nos países da diáspora, analisando as suas implicações sociais e culturais. O IIM adianta que “de forma desinteressada e persistente têm ambos dedicado grande parte da sua vida a este esforço consequente de divulgação da história e da cultura de Macau, impulsionando a valorização e o reforço da Identidade Macaense”.

24 Mai 2018

Óbito| Philip Roth morreu aos 85 anos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] escritor norte-americano Philip Roth morreu de insuficiência cardíaca na terça-feira, aos 85 anos, disse o agente literário, Andrew Wilie, à agência noticiosa Associated Press. Natural de Newark, Nova Jérsia, o premiado romancista, habitualmente mencionado como candidato ao Nobel da Literatura, era considerado um dos maiores escritores norte-americanos da segunda metade do século XX. Autor de cerca de três dezenas de livros, tinha anunciado a decisão de deixar de escrever a partir de 2012, aos 78 anos. Entre várias distinções, Philip Roth foi premiado com dois National Book Awards, dois National Book Critics Circle e, em 1998, com o Pulitzer a partir da ficção “Pastoral Americana”. Roth foi ainda galardoado com o Prémio Internacional Man Booker em 2011 e, um ano depois, venceu o Prémio Príncipe das Astúrias de Literatura. O livro “O Complexo de Portnoy” teve grande impacto junto do grande público em 1969, devido às cruas descrições sexuais e à maneira de abordar a vivência judaica.

24 Mai 2018

Óbito | O artista plástico Júlio Pomar morreu aos 92 anos em Lisboa

O incontornável Júlio Pomar faleceu ontem aos 92 anos. O artista, por muitos classificado como indomável, deixa um vasto legado. Para Carlos Marreiros, além do génio artístico, a inteligência e a luta por ideais marcaram a sua vida e obra. Rui Rasquinho considera que Pomar é um exemplo de obstinação de um grande artista que viveu totalmente para o seu trabalho

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] artista Júlio Pomar faleceu na quarta-feira aos 92 anos. Tanto o homem como a obra deixam um legado de talento e luta pela liberdade.

Algumas das sua obras passaram por Macau pelo menos duas vezes. A última aconteceu em Setembro de 2015 numa mostra no Albergue SCM – “A jornada de um mestre – Júlio Pomar e amigos”.

“Era um artista muito coerente. Um artista indomável e de uma inteligência acutilante” começa por dizer o arquitecto Carlos Marreiros ao HM. Muitas vezes os artistas plásticos expressam-se bem nos seus trabalhos, mas verbalmente encontram algumas dificuldades. Não era o caso de Pomar. “O artista tinha um discurso poderoso, penetrante e sabia ser muito duro quanto o tinha que ser e ser muito sedutor e doce quando também o queria ser, sem nunca abdicar da sua posição”, refere o também responsável pelo Albergue.

Perseguido durante o Estado Novo, o artista fugiu para França. De acordo com Marreiros, esta necessidade de fuga acabou por ser uma mais valia: “Se calhar foi bom, porque desta forma Júlio Pomar pode abrir os seus horizontes de forma acelerada e qualitativa, mais do que se estivesse em Portugal”.

Uma das características da sua visão artística é a versatilidade. Homem que passou por várias fases ao longo da carreira, Pomar não deixou que nenhuma das suas facetas retirasse qualidade à globalidade da sua obra. Muito pelo contrário. Em cada mudança revelava a solidez. No entender de Carlos Marreiros, esta é uma afirmação não só de talento, mas também de inteligência. “Além do génio, o artista tem de ser culto, tem de ser inteligente e tem de ser muito trabalhador”. Júlio Pomar, aponta, reunia, pelo menos esta três, sem se ficar por aqui. Juntam-se às virtudes do pintor, o facto de Pomar utilizar a arte para indicar situações de injustiça social e de luta pela liberdade. “O facto de se conseguir reinventar a si próprio é uma das características mais notáveis e brilhantes do Júlio Pomar”, afirma.

Também para Rui Rasquinho, a morte de Pomar é a perda irreparável. Na visão do artista local o que mais se destacava em Júlio Pomar era o facto do artista viver intensamente a sua prática. “Ele só pensava em trabalhar e já há poucos assim”, refere.

Para o futuro, fica a obra que Carlos Marreiros considera que deve agora passar por um cuidadoso processo de catalogação, sendo que, afirma, seria de toda a pertinência criar um museu em sua homenagem. “Este espólio tem que ser organizado e classificado de forma a um dia integrar um museu digno da sua qualidade, ou que seja mesmo construído um museu dedicado a Júlio Pomar”.

Reacções oficiais

O Presidente da República Portuguesa lembrou Júlio Pomar como um “criativo irreverente” e considerou que a sua morte deixa a cultura portuguesa “muitíssimo mais pobre”, manifestando a certeza de que o Governo proporá “o luto nacional correspondente”.

O chefe de Estado descreveu Júlio Pomar como “um inovador e criativo irreverente, profundamente rebelde”, que “esteve sempre à frente do seu tempo” e “marcou boa parte do século XX, marcou a transição para o século XXI” em Portugal, “mantendo-se sempre jovem”.

“Nós devemos a Júlio Pomar a abertura de Portugal ao mundo e a entrada do mundo em Portugal, desde logo, durante a ditadura, não apenas como pintor, não apenas como desenhador, mas como grande personalidade da cultura”, afirmou.

Para ilustrar a irreverência de Júlio Pomar, Marcelo Rebelo de Sousa recordou “o seu retrato do Presidente Mário Soares que figura na galeria dos retratos no Museu da Presidência da República, e que na altura chocou tantos bem pensantes”, observando: “Porque ele era assim”.

O Presidente da República referiu ainda que o seu trabalho artístico “percorreu todas as fases, mais figurativo, menos figurativo, mais abstracto, menos abstracto” e definiu-o como “um desconstrutor” que olhava “para a outra realidade das coisas” e a retratava.

Por seu lado, o primeiro-ministro português, António Costa, afirmou que Portugal perdeu “um dos seus mais icónicos artistas”, numa primeira reacção à morte do artista plástico Júlio Pomar.

“Com a morte de Júlio Pomar, Portugal perde um dos seus mais icónicos artistas”, disse Costa, numa mensagem publicada na rede social Twitter.

“Ficará para sempre a sua obra, comprometida apenas com a cultura portuguesa e com a liberdade criativa”, acrescentou o chefe do Governo português.

Pintor e escultor, nascido em Lisboa em 1926, Júlio Pomar é considerado um dos criadores de referência da arte moderna e contemporânea portuguesa.

O artista deixa uma obra multifacetada que percorre mais de sete décadas, influenciada pela literatura, a resistência política, o erotismo e viagens a lugares como a Amazónia, no Brasil.

O homem

Nascido em Lisboa, em 1926, Júlio Pomar, que gostava mais de desenhar do que de jogar à bola quando era criança, vendeu o primeiro quadro a Almada Negreiros por seis escudos, numa época em que era impensável viver da pintura.

Tornou-se um dos artistas mais conceituados do século XX português, com uma obra marcada por várias estéticas, do neorrealismo ao expressionismo e abstracionismo, e uma profusão de temáticas abordadas e de suportes artísticos experimentados.

A obra foi dedicada, sobretudo, à pintura e ao desenho, mas realizou igualmente trabalhos de gravura, escultura e ‘assemblage’, ilustração, cerâmica e vidro, tapeçaria, cenografia para teatro e decoração mural em azulejo.

Desde muito jovem começou a escrever sobre arte, tem obra poética publicada, alguma musicada e interpretada por cantores como Carlos do Carmo e Cristina Branco.

Estudou na Escola de Artes Decorativas António Arroio e nas Escolas de Belas-Artes de Lisboa e Porto, tendo participado em 1942, em Lisboa, convidado por Almada Negreiros, na VII Exposição de Arte Moderna do Secretariado de Propaganda Nacional/Secretariado Nacional de Informação.

Fez parte da Comissão Central do Movimento de Unidade Democrática Juvenil (MUD), e participou activamente nas lutas estudantis, o que lhe custou a expulsão das Belas Artes do Porto.

Em 1947, realizou a primeira exposição individual, no Porto, onde apresentou desenhos, e colaborou com os jornais A Tarde, Seara Nova, Vértice, Mundo Literário e Horizonte, participando no movimento artístico “Os Convencidos da Morte”, assim denominado por oposição aos célebres “Os Vencidos da Vida”, grupo marcante na história da literatura portuguesa.

A oposição ao regime de Salazar leva-o a passar quatro meses na prisão, a apreensão de um dos seus quadros – “Resistência” – pela polícia política, e a ocultação dos frescos com mais de 100 metros quadrados, realizados para o Cinema Batalha, no Porto.

Mesmo assim, Júlio Pomar conseguiu desenhar e pintar na prisão – onde circulavam papel, lápis e caneta.

Num período inicial, neorrealista, foram marcantes algumas das suas obras, como “O Almoço do Trolha” ou a “Menina com um Gato Morto”.

Dos tempos que viveu em Paris, destaca-se a série de quadros a preto e branco para ilustrar a versão de “D. Quixote”, de Aquilino Ribeiro.

Em Portugal, a primeira retrospectiva da obra de Pomar foi organizada em 1978 pela Fundação Gulbenkian e exibida na sua sede em Lisboa, também no Museu Soares dos Reis, no Porto e, parcialmente, em Bruxelas.

Júlio Pomar também ilustrou várias obras, como “Guerra e Paz”, de Tolstoi, “O Romance de Camilo, de Aquilino Ribeiro, a obra “D. Quixote”, de Cervantes, “A Divina Comédia”, de Dante “Pantagruel”, de Rabelais, “Rose et Bleu”, de Jorge Luís Borges, e “Mensagem”, de Fernando Pessoa.

24 Mai 2018

António Lobo Antunes vence Prémio Bottari Lattes Grinzane 2018

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] escritor António Lobo Antunes venceu o Prémio Bottari Lattes Grinzane 2018, organizado pela fundação italiana com o mesmo nome, e vai recebê-lo em outubro, anunciou a sua editora.

O Prémio Bottari Lattes Grinzane 2018 teve como júri intelectuais, professores universitários, jornalistas culturais e escritores, segundo a mesma fonte.

António Lobo Antunes, de 75 anos, recebe o galardão no próximo dia 20 de outubro, no Castelo Grinzane Cavour, nos arredores de Turim, no norte de Itália.

O ano passado este prémio foi entregue ao escritor britânico Ian McEwan, de 69 anos, e em edições anteriores distinguiu autores como Enrique Vila-Matas, Patrick Modiano, Alberto Arbasino, Martin Amis, Javier Marias e Amos Oz.

Entretanto, o autor português viu o seu romance “Os Cus de Judas” ser selecionado, em França, para o Exame Nacional de Agregação para professores e investigadores do Ensino Secundário em Literaturas Modernas.

“Os Cus de Judas” foi publicado pela primeira vez em 1979, e atualmente já na 36.ª edição, segundo as Publicações D. Quixote.

Ao lado de António Lobo Antunes, que se tornou o primeiro escritor português vivo selecionado, estão Joseph Conrad (1857-1924) e Claude Simon (1913-2005).

O escritor António Lobo Antunes recebeu no passado dia 14 o Grande Prémio do Centenário da Reunificação da Roménia, onde foi o convidado de honra do Festival Internacional de Poesia de Bucareste.

Lobo Antunes estreou-se literariamente em 1979, com “Memória de Elefante”, obra que vai na 30.ª edição, segundo a mesma fonte.

Em pouco mais de um ano, seguiram-se “Cus de Judas” (1979), “Conhecimento do Inferno” (1980) e “Explicação dos Pássaros” (1981).

De “Fado Alexandrino” (1983) e “Auto dos Danados” (1985), até “Da Natureza dos Deuses” (2015) e “Para Aquela Que Está Sentada no Escuro à Minha Espera” (2016), António Lobo Antunes soma mais 23 romances, num total de 27, incluindo vários livros de crónicas e um livro para crianças – “A História do Hidroavião” (1994), ilustrado por Vitorino -, entre outras obras.

O escritor foi distinguido com o Prémio Camões, o Grande Prémio de Romance da Associação Portuguesa de Escritores, que recebeu por duas vezes (por “Auto dos Danados” e “Exortação aos crocodilos”), o Prémio de Literatura Europeia da República Austríaca, o Prémio da União Latina, pelo conjunto da obra, os prémios Juan Rulfo e Rosalía de Castro, o Prémio Melhor Livro Estrangeiro publicado em França (“Manual dos Inquisidores”), entre outras distinções.

Na Feira do Livro de Lisboa, que abre na sexta-feira, Lobo Antunes vai estar presente em três momentos, no dia 27 de maio, e nos dias 03 e 10 de junho.

22 Mai 2018

Escritor Germano Almeida é o vencedor do Prémio Camões 2018

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] escritor cabo-verdiano Germano Almeida é o vencedor do Prémio Camões 2018, foi anunciado, no Hotel Tivoli, em Lisboa, após reunião do júri.

Nascido em 1945 na ilha da Boavista e a viver atualmente no Mindelo, Germano Almeida é autor de obras como “A ilha fantástica”, “Os dois irmãos” e “O testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo”, estes dois últimos já adaptados para cinema.

“O fiel defunto” é o mais recente romance de Germano Almeida, cuja obra literária está traduzida em países como Itália, França, Alemanha, Suécia, Noruega e Dinamarca.

Formado em Direito em Lisboa, é advogado e foi procurador da República de Cabo Verde. Deu os primeiros passos na literatura na década de 1980, numa altura em que cofundou a revista Ponto & Vírgula.

Germano Almeida, um dos escritores mais lidos e traduzidos de Cabo Verde, é o segundo autor cabo-verdiano a ser distinguido com o Prémio Camões, depois de o galardão ter sido atribuído em 2009 ao poeta Arménio Vieira.

Horas antes do anúncio do prémio, em declarações à agência Lusa, o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas de Cabo Verde, Abraão Vicente, assumia estar a torcer pela escolha de Germano Almeida.

“O nome cabo-verdiano mais próximo de se consagrar como Prémio Camões é Germano Almeida, pelo seu percurso e a sua obra”, disse Abraão Vicente.

O júri desta 30.ª edição do Prémio Camões, que distinguiu Germano Almeida por unanimidade, foi composto por Maria João Reynaud (Portugal), Manuel Frias Martins (Portugal), Leyla Perrone-Moisés (Brasil), José Luís Jobim (Brasil), Ana Paula Tavares(Angola) e José Luís Tavares (Cabo Verde).

Para Abraão Vicente, o Prémio Camões é “um contributo extraordinário de um país como Portugal” que “dá para incentivar a crítica, a produção”.

O Prémio Camões, considerado o maior prémio da Língua Portuguesa, foi instituído por Portugal e pelo Brasil em 1988 com o objetivo de distinguir um autor “cuja obra contribua para a projeção e reconhecimento do património literário e cultural da língua comum”.

O Prémio Camões foi atribuído pela primeira vez em 1989 ao escritor Miguel Torga e em 2017 ao poeta Manuel Alegre.

22 Mai 2018

Expo98: Vulcões e Gil lembram ainda hoje a Exposição Mundial de há 20 anos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s vulcões, o Oceanário e a figura do Gil recordam a quem hoje passa pelo Parque das Nações a realização da Exposição Mundial, que há 20 anos centrou as atenções em Lisboa e transformou aquela zona da cidade.

A Expo’98 decorreu entre 22 de maio e 30 de setembro de 1998, teve como tema “O Futuro dos Oceanos” e foi visitada por 9.637.451 pessoas. Só no último dia da exposição, visitaram o recinto 200 mil pessoas.

A área industrial, cheia de contentores e lixo, a parte oriental de Lisboa foi totalmente revitalizada para receber a Expo e transformada num novo bairro quando o evento fechou portas.

Desse tempo permanecem vários equipamentos que mostram apontamentos da Expo aos mais novos e deixam saudades desse tempo aos mais velhos.

Exemplo disso são os icónicos vulcões de água, que faziam as delícias de crianças e adultos de cada vez que explodiam. Depois de alguns anos sem trabalhar, voltaram a jorrar água e, agora, voltaram a ‘explodir’.

A trabalhar sem parar desde 22 de maio de 1998, dia em que a Expo abriu portas, está o teleférico, que faz uma viagem de 1.230 metros ao longo do rio Tejo, entre o Passeio de Neptuno, perto do Oceanário, e o Passeio das Tágides, perto da Torre Vasco da Gama.

Os pavilhões mais emblemáticos da Exposição permanecem até aos dias de hoje em atividade, como é o caso do Altice Arena, que era o Pavilhão da Utopia.

Quando a Expo terminou foi transformado numa sala de espetáculos e eventos, e batizado de Pavilhão Atlântico, tendo sido vendido em 2013 ao Consórcio Arena Atlântico, que lhe mudou o nome para Meo Arena. Entretanto, foi rebatizado e atualmente chama-se Altice Arena.

Permanecem também o Oceanário, o Teatro Camões, o Pavilhão do Conhecimento – Ciência Viva (que era o do Conhecimento dos Mares), o Casino de Lisboa (era o Pavilhão do Futuro), a Torre Vasco da Gama, que foi um restaurante durante a exposição e é agora um hotel, e três bonecos do Gil espalhados pelo Parque das Nações.

O ex-líbris da exposição – o Pavilhão de Portugal, desenhado pelo premiado arquiteto Siza Vieira – continua sem destino certo. Depois de ter recebido eventos e de servir de apoio ao Altice Arena, foi recentemente vendido à Universidade de Lisboa, que pretende revitalizá-lo.

Em declarações à Lusa, Carlos Ardisson, da associação de moradores ‘A Cidade Imaginada Parque das Nações’, disse esperar que “finalmente seja dado um uso digno ao pavilhão”, porque “é uma pena que uma estrutura com aquela beleza e a qualidade não esteja a ser utilizada e não tenha sido utilizada durante 20 anos”.

Completamente abandonada está a antiga Praça Sony, que recebeu concertos e espetáculos.

Carlos Ardisson explicou à Lusa que o espaço foi dividido em dois lotes, um dos quais (onde estava o ecrã gigante) pertence à Feira Internacional de Lisboa (FIL) e está vazio. O outro ia ter um hotel, mas as obras pararam quando “surgiu a crise financeira que afetou o país e ainda não houve a retoma dos trabalhos”.

“O terreno está vedado, é um buraco, um lago de águas estagnadas, com problemas de mosquitos e coisas assim. Esperemos que seja só isso”, disse o representante dos moradores.

Para lembrar a atividade industrial que existia naquela zona antes da Exposição Mundial ficou a Torre da Galp, da primeira refinaria portuguesa – a Refinaria de Cabo Ruivo –, que se encontra na parte sul do Parque das Nações.

Vinte anos depois, Oceanário está “mais natural” e ultrapassou expectativas

O Oceanário de Lisboa, inaugurado por altura da Expo’98, está atualmente “mais natural, com todos os animais a viverem em equilíbrio”, e “ultrapassou fortemente tudo o que era esperado em 1998”, disse à agência Lusa o diretor executivo (CEO).

Há precisamente 20 anos, Lisboa foi palco, ao longo do verão, de uma exposição mundial cujo tema foi “Os oceanos, um património para o futuro”, a Expo’98, que abriu portas no dia 22 de maio.

Nesse âmbito, nasceu o Oceanário de Lisboa, que desde essa altura leva miúdos e graúdos num mergulho pelos mares e habitats, entre peixes, pinguins, tubarões, aves ou lontras marinhas.

Desde que abriu portas, este equipamento situado na zona oriental de Lisboa, rodeado pelo rio Tejo, mudou em vários aspetos, disse à agência Lusa o CEO, João Falcato.

“Eu julgo que quem visita hoje o Oceanário, e quem visitou há 20 anos, encontra um ecossistema muito mais equilibrado, muito mais natural, com todos os animais a viverem em equilíbrio, e consegue-se visionar muito bem o que são os oceanos, consegue-se ter uma perceção muito bonita do que é que se passa debaixo de água, que nós normalmente não temos essa possibilidade”, disse o responsável.

E esta é “uma das missões do Oceanário”, acrescenta, “fazer com que um grande número de pessoas perceba como é bonito o oceano debaixo de água”.

Segundo João Falcato, foram ultrapassadas “todas as expectativas”.

“Em quase tudo a que o Oceanário se propôs, ultrapassou fortemente tudo o que era esperado em 1998”, precisou, salientando que em “1998 era uma grande incógnita, como seria o futuro era uma incógnita, […] mas hoje é uma certeza”.

Atualmente, o Oceanário de Lisboa conta com mais de um milhão de visitantes, que todos os anos observam os mais de 26 mil animais (de 500 espécies diferentes), mas os responsáveis destacam que tem capacidade para receber mais.

Um desses animais é a lontra marinha Maré, filha das lontras mais famosas do país, a Amália e o Eusébio, que nasceu 20 dias antes da abertura daquele espaço ao público e da inauguração da Expo98, e que ainda hoje nada de um lado para o outro, de barriga para cima, fazendo as delícias de quem passa.

Mas o total de animais à data da inauguração era bem diferente.

Segundo, Elsa Santos, bióloga supervisora das galerias, o Oceanário contava há duas décadas com oito mil animais, número que tem vindo a aumentar devido “a uma evolução a nível das próprias técnicas” e dos “equipamentos de manutenção que têm evoluído e que têm permitido sempre uma melhor qualidade da água”.

Também a troca de informações com outras instituições envolvidas na conservação dos oceanos e a interação entre os aquários “tem permitido a evolução ao longo dos anos”, explicou Elsa Santos.

“O Oceanário tem-se distinguido ao longo dos anos e nós podemos também perceber isso por todo este caminho que o Oceanário tem tido desde a Expo’98, em que era um equipamento de exposição, até hoje em dia, que faz parte de uma fundação tão importante como é a Fundação Oceano Azul, de conservação dos oceanos”, salientou.

Para o futuro, esta estrutura “espera continuar a cumprir cada vez melhor a sua missão e a sua missão é a conservação dos oceanos”, apontou João Falcato.

“Nós existimos para que quem nos visita perceba que tem um património único, um património pelo qual é responsável também, e se todos nós dermos um pequeno contributo, os nossos filhos e os nossos netos provavelmente vão conseguir ter este oceano melhor, ou tão bom, como hoje. E é isso que o Oceanário pretende fazer cada vez mais no futuro, ter cada vez mais capacidade de influenciar o futuro dos oceanos e contribuir para que este futuro seja um futuro positivo, e não negativo”, acrescentou.

Atualmente, o Oceanário é, na opinião do CEO, “um equipamento de referência a nível nacional”.

“Damos todos os dias o nosso melhor para que assim seja e parece-me que, ao longo dos últimos 20 anos, temos cumprido com a nossa quase obrigação quanto à sociedade portuguesa de trazer o oceano de volta para a vida das pessoas e torná-lo cada vez mais presente”, destacou.

22 Mai 2018

Cinema | “San Va Hotel – Os Bastidores” regressa à Cinemateca Paixão

[dropcap style=’circle’] P [/dropcap] ara além da última obra de Ivo Ferreira, intitulada “Hotel Império” e que ainda não chegou aos cinemas, há uma outra película que revela os bastidores das filmagens, enquanto conta a história da hospedaria mais antiga de Macau. “San Va Hotel – Os Bastidores”, de Vanessa Pimentel e Yves Sonolet, volta a ser exibido esta semana.

As pequenas escadas de madeira, o ambiente que nos remete para o início do século XX a Oriente e os quartos onde apenas equipados com uma velha cama e um lavatório já apareceram em muitos filmes de realizadores orientais, sendo o mais conhecido Wong Kar-wai. O Hotel San Va, localizado na Rua da Felicidade, carrega consigo a sua própria história de Macau.
Um dos últimos filmes rodados na histórica pensão foi o de Ivo Ferreira, intitulado “Hotel Império”, que ainda não chegou às salas de cinema. Este foi o mote para Vanessa Pimentel e Yves Sonolet se juntarem e fazerem o projecto “San Va Hotel – Os Bastidores”, exibido pela primeira vez em Dezembro e que esta semana regressa à Cinemateca Paixão, inserido no ciclo Panorama do Cinema de Macau, nos dias 22 e 26.
Apesar de estar catalogado como documentário, a verdade é que Vanessa Pimentel não consegue dar-lhe uma definição concreta. É certo que tudo começou com “Hotel Império”, mas depois a imensa história do hotel acabou por levá-los a explorar um outro lado.
“É uma mistura entre making off e documentário. Mas o lado documental foi uma coisa que fizemos posteriormente, com a dona do hotel e a sua história muito ligada ao início de tudo”, contou ao HM.
Vanessa Pimentel decidiu concorrer a um concurso aberto pelo Instituto Cultural para a atribuição de subsídios, e chamou Yves Sonolet para trabalhar consigo. Se no início do projecto tinham uma ideia vaga do que iam fazer, depressa ela ganhou forma. “Tudo partiu da ideia de fazer o making off do filme do Ivo Ferreira, e coincidiu com a abertura desse concurso. Não sabíamos muito bem como ia ser, mas queríamos apresentar qualquer coisa. Filmámos o making off, o resultado saiu entretanto e ganhamos o subsídio. Fizemos mais filmagens e acabámos por nos centrar no hotel, que é o cenário principal do filme do Ivo.”
À medida que as filmagens de “Hotel Império” foram avançando, ficou claro para Vanessa e Yves que o Hotel San Va seria o protagonista do seu primeiro filme, não só a título individual, como em termos de parceria.
“A equipa do Ivo [Ferreira] passou grande parte da rodagem dentro do edifício. Nessa altura, acabámos por conhecer a dona do hotel, estabelecemos contacto e combinámos depois da rodagem falar com ela mais calmamente, perceber se poderíamos fazer as filmagens ou não. Foi aí que nos pareceu muito óbvio que existia esta ligação com o lado documental, pegando no nosso interesse pelo edifício e o facto do filme do Ivo ser rodado lá.”

Aposta documental
Apesar do Hotel San Van já ter servido de cenário a muitos filmes, a verdade é que são poucos os trabalhos cinematográficos sobre a sua história e singularidade, sobretudo se olharmos para a história que a Rua da Felicidade tem no panorama da cidade.
Vanessa Pimentel explicou ao HM que nunca quis filmar um making off da maneira mais óbvia ou tradicional. “O ponto de partida para ter esta sinergia, para ir filmar para a rua, foi de facto fazer o making off, mas a minha perspectiva sobre isso nunca foi uma coisa de filmar a câmara e ter um realizador a dizer acção, e corta. Sempre quis abordar um tema do ponto de vista documental sobre o acto de filmar, como é que as pessoas filmam, o que escolhem para filmar, por aí.”
Apesar de querer levar o filme para festivais de cinema na China, Hong Kong ou mesmo Portugal, Vanessa Pimentel tem a percepção de que será difícil dar-lhe uma etiqueta fixa.
“Só mesmo vendo o filme é que dá para falar sobre isso, porque sinto que o filme está muito preso ao Hotel Império, no sentido em que a rodagem do Ivo [Ferreira] está muito presente. Não consigo definir o filme como sendo um making off ou um documentário. E acho que ele pode sofrer com isso, até em termos de circulação e de participação em festivais.”
Para a realizadora, “é um bocado difícil fazê-lo circular sem o filme do Ivo, mas, por outro lado, poderá suscitar interesse porque tem um lado muito específico, que é o da rodagem e da abordagem documental. Depois há uma linguagem universal que pode ser difundida em qualquer altura.”
Vanessa Pimentel vive há alguns anos em Macau e trabalha na área do cinema desde o ano 2000. Para este projecto, fez tudo a quatro mãos com Yves, apesar de se ter debruçado de forma individual sobre a montagem final. Já Yves Sonolet é um artista visual que vive em Macau há oito anos, e que se dedica à mistura de comunicação digital utilizando a paisagem urbana enquanto temática e suporte.

21 Mai 2018

“Manbiki Kazoku” do japonês Kore-Eda venceu a Palma de Ouro do Festival de Cannes

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] filme “Manbiki Kazoku”, do japonês Kore-Eda, venceu a Palma de Ouro da 71.ª edição do Festival de Cinema de Cannes, cujo júri é presidido pela atriz australiana Cate Blanchett, foi anunciado.

“Manbiki Kazoku”, a primeira Palma de Ouro japonesa desde 1997 (ano em que foi distinguido “A enguia”, de Shohei Imamura), conta a história de uma família que vive de roubos em lojas e acolhe uma menina vítima de abusos.

O júri, que além de Cate Blanchett inclui, entre outros, as atrizes Kristen Stewart e Léa Seydoux, decidiu atribuir o Grande Prémio a “BlacKkKlasman”, do norte-americano Spike Lee.

Em “BlacKkKlansman”, filme passado na década de 1970, o realizador aborda temas como o racismo e a extrema-direita e termina com imagens dos confrontos de agosto do ano passado em Charlotesville, no estado norte-americano da Virginia, entre nacionalistas brancos e antifascistas.

A Palma de Ouro especial foi atribuída ao cineasta franco-suíço Jean-Luc Godard, que estava em competição pela Palma de Ouro com o filme “Le livre d’image”, e o prémio de Melhor Realizador ao polaco Pawel Pawlikowski por “Cold War”.

O prémio de melhor ator foi para o italiano Marcello Fonte (pelo papel que interpreta em “Dogman”, de Matteo Garrone) e o de melhor atriz para a cazaque Samal Esljamova (“Ayka”, de Sergueï Dvortsevoï).

O Festival de Cinema de Cannes contou este ano com vários filmes portugueses, nomeadamente “Diamantino”, de Gabriel Abrantes e Daniel Schmidt, distinguido com o Grande Prémio da Semana da Crítica, e o documentário “Chuva é cantoria na aldeia dos mortos”, de João Salaviza e Renée Nader Messora, que conquistou o prémio especial do júri da secção ‘Un Certain Regard’, onde foi estreado.

Na Semana da Crítica esteve também a curta-metragem “Amor, Avenidas Novas”, de Duarte Coimbra.

No programa dedicado aos clássicos, foi exibida uma versão restaurada de “A ilha dos amores”, de Paulo Rocha, e, fora de competição, estreou-se “O grande circo místico”, do realizador brasileiro Cacá Diegues, rodado em Portugal.

A 71.ª edição do Festival de Cinema de Cannes encerra hoje com a estreia mundial de “O homem que matou D. Quixote”, de Terry Gilliam.

Ainda com um processo judicial em curso, Terry Gilliam terá agora oportunidade de mostrar no grande ecrã um projeto que o acompanha há quase trinta anos, numa adaptação livre do romance “D. Quixote de la Mancha”, de Miguel Cervantes.

“O homem que matou Dom Quixote” é um projeto antigo de Terry Gilliam, que remonta a 1989 e cuja produção sofreu sucessivos solavancos e interrupções, com problemas com elenco e com financiamento, sendo descrito pela imprensa especializada como um filme amaldiçoado.

Palmarés da 71.ª edição do Festival de Cinema de Cannes

Palma de Ouro: “Manbiki Kazoku”, de Hirokazu Kore-Eda

Grande Prémio: “BlacKkKlansman”, de Spike Lee

Prémio do júri: “Capharnaüm”, de Nadine Labaki

Palma de Ouro especial: Jean-Luc Godard

Prémio de Melhor Realizador: Pawel Pawlikowski, “Cold War”

Prémio de Melhor Argumento (ex-aequo): Alice Rohrwacher, “Lazzaro Felice” e Jafar Panahi e Nader Saeivar, “Trois visages”

Melhor Atriz: Samal Esljamova, “Ayka”

Melhor Ator: Marcello Fonte, “Dogman”

Câmara de Ouro: “Girl”, de Lukas Dhont

Palma de Ouro de curta-metragem: “All these creatures”, Charles Williams

Menção especial em curta-metragem: “Yan Bian Shao”, Wei Shujun

20 Mai 2018

IC recolhe obras a partir de 8 de Junho para exposição colectiva

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC) vai proceder, a partir do próximo dia 8 e até dia 12, à recolha de obras para a Exposição Colectiva das Artes Visuais de Macau. A mostra, que substitui a Exposição Anual de Artes Visuais, vai passar a ser organizada de dois em dois anos. Os concorrentes podem participar a título individual ou colectivo.

Cada participante pode submeter um número máximo de três peças/conjuntos de trabalhos, sendo que as séries podem ter um máximo de quatro itens. As obras a apresentar precisam ter sido produzidas nos últimos dois anos e nunca terem sido expostas ao público em Macau.

No que diz respeito a galardões, vai ser atribuído o grande prémio do júri, em que o autor da obra premiada será convidado a realizar uma exposição individual e a produzir uma publicação especial a ela dedicada, com o apoio do IC; serão distinguidas dez Obras Excelentes e dez Obras Seleccionadas; e ainda um Prémio Juventude para o melhor trabalho entre os concorrentes com idade até 29 anos.

Todas as obras de candidatos serão avaliadas e seleccionadas por um júri constituído por profissionais do mundo da arte de Macau e do exterior, esperando-se que a selecção tenha lugar até Julho. A Exposição Colectiva das Artes Visuais de Macau é dedicada aos meios de expressão ocidentais, nomeadamente pintura, fotografia, gravura, cerâmica, escultura, instalações, vídeo e outras criações em interdisciplinaridade. Segundo o IC, a mostra visa, “através de uma fusão de espírito inovador e criações de meios de expressão ocidentais, explorar a possibilidade do desenvolvimento e inovação dos trabalhos relativamente à categoria de expressão plástica ocidental, impulsionar o desenvolvimento de arte visual de Macau e criar uma plataforma de intercâmbio cultural e artística”.

18 Mai 2018

Obras de mestres do cinema asiático marcam agenda do próximo mês

A Cinemateca Paixão vai exibir, ao longo do próximo mês, dez obras de mestres do cinema asiático. O cartaz inclui “O Vendedor”, do realizador iraniano Asghar Farhadi, vencedor do Óscar de melhor filme estrangeiro no ano passado

 

[dropcap style≠‘circle’]É[/dropcap] um ciclo dedicado ao que melhor se faz no plano da sétima arte na Ásia. A Cinemateca Paixão apresenta, entre os próximos dias 9 e 26 de Junho, dez obras-primas de dez realizadores oriundos de Taiwan (Ang Lee, Hou Hsiao-hsien e Tsai Ming-liang), Tailândia (Apichatpong Weerasethakul), Filipinas (Brillante Mendoza), Coreia do Sul (Kim Ki-duk, Lee Chang-dong e Park Chan-wook) e Irão (Asghar Farhadi e Abbas Kiarostami).

Os filmes a serem exibidos são “Comer, Beber e Viver” (Ang Lee), “Tempo de Viver, Tempo de Morrer” (Hou Hsiao-hsien), “Que Horas São Aí?” (Tsai Ming-liang), “O Tio Boonmee Que Recorda As Suas Vidas Passadas” (Apichatpong Weerasethakul), “KINATAY” (Brillante Mendoza), “Pietà” (Kim Ki-duk), “Poesia” (Lee Chang-dong), “A Criada” (Park Chan-wook), “O Vendedor” (Asghar Farhadi) e “Onde É A Casa do Amigo?” (Abbas Kiarostami). Cada filme tem duas sessões de exibição (VER TABELA). “Estas dez obras-primas permitirão ao público experienciar por completo o poder do cinema”, realça a Cinemateca Paixão em comunicado.

 

Palestras sobre os filmes

O ciclo de cinema terá ainda como convidado especial Wen Tien-hsiang, director executivo do Festival de Cinema Cavalo Dourado de Taiwan que vai apresentar quatro palestras que, segundo a organização, irá permitir ao público “apreciar maior número de filmes de qualidade e compreender mais profundamente as características do cinema asiático”.

Sob o tema “Mestres do Cinema Asiático e o Desenvolvimento do Cinema Asiático”, a palestra a cargo do conhecido crítico taiwanês vai cobrir quatro tópicos. “De Kiarostami a Farhadi: Drama Quotidiano no Irão”; “Rituais Familiares em Taiwan: Ang Lee, Hou Hsiao-hsien e Tsai Ming-liang”; “Rapsódia Tropical: Weerasethakul e Mendoza”; “Amor e Desgosto Falam Alto no Cinema Coreano”.

As conversas vão decorrer na sala de projecção da Cinemateca Paixão das 10h às 13h e das 14h às 17h nos dias 9 e 10 de Junho, respectivamente. As quatro “aulas”, em mandarim e com interpretação simultânea em inglês, custam 200 patacas, sendo que os primeiros vinte participantes a efectuar o pagamento serão presenteados com dois bilhetes para o Festival de Cinema Asiático 2018.

Os bilhetes para os filmes, a um preço unitário de 60 patacas, ficam disponíveis para venda a partir de amanhã. Estudantes e idosos beneficiam de um desconto de 50 por cento, sendo que a compra de dez ou mais bilhetes tem direito a uma dedução de 20 por cento.

18 Mai 2018

Iniciativa chinesa “uma Faixa, uma Rota” analisada em livro publicado em Macau

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] presidente do Instituto Internacional de Macau defendeu hoje que a iniciativa “uma faixa, uma rota” é, além de um processo de desenvolvimento e integração, a visão chinesa da globalização.

Jorge Rangel falava na apresentação do livro “A iniciativa chinesa ‘uma Faixa, uma Rota’ – O papel de Macau e dos Países de Língua Portuguesa”, também a cargo do presidente do Instituto de Estudos Europeus, José Luís de Sales Marques, e do professor da Universidade de São José Francisco Leandro.

A iniciativa de infraestruturas, que Pequim apresentou ao mundo em 2013, tem como objetivo refazer o mapa económico e político mundial, ao mesmo tempo que procura reformular o modelo de desenvolvimento eurocêntrico convencional, de acordo com um dos artigos que integram a publicação.

O livro, publicado pelo Instituto Internacional de Macau e produzido pelo grupo de media Macaulink, apresenta os desafios e o papel de Macau e dos países lusófonos no âmbito de um dos projetos diplomático e económico mais importante da atualidade.

Simultaneamente, pretende explicar o papel de Macau e dos países de língua portuguesa (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste) naquela iniciativa e no projeto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, outro plano chinês para o século XXI.

Anunciada pelo Presidente chinês, Xi Jinping, a iniciativa “Faixa económica da rota da seda e a Rota da seda marítima do século XXI”, mais conhecida como “uma Faixa, uma Rota”, está avaliada em 900 mil milhões de dólares e visa reativar as antigas vias comerciais entre a China e a Europa através da Ásia Central, África e Sudeste Asiático.

Redes ferroviárias intercontinentais, portos, aeroportos, centrais elétricas e zonas de comércio livre estão a ser construídos em mais de 60 países, abrangendo 65% da população mundial.

No lançamento foi anunciado que o livro, publicado em inglês, vai ter em breve versões em chinês e em português.

17 Mai 2018

Eduardo Ribeiro, investigador camoniano, lança versão inglesa de “Camões na Ásia”

A versão em língua inglesa do livro “Camões na Ásia”, de Eduardo Ribeiro, vai ser apresentada na Livraria Portuguesa no próximo domingo pelas 17h30. Ao HM, o autor falou da paixão que tem pela obra do poeta português, das provas a que chegou acerca da sua presença em Macau e da importância que o poeta teve para dar a conhecer o que por cá se passava

 

Como é que se começou a interessar por Camões?

Sempre gostei de Camões, desde o liceu. Quando estava na Universidade, encontrei uma edição da Nova Aguilar, da obra completa, uma edição belíssima encadernada. Foi quando disse para mim que ia ler “Os Lusíadas” por prazer e não por obrigação. Adorei. Naquela altura, a coisa ficou por ali.

Mais tarde acabou por se dedicar à investigação.

Vim para Macau em 85. Andava por aqui, tranquilo e quedo, até que um dia em conversa com o Rui Manuel Loureiro, ele, a certa altura, diz que não havia certezas de que Camões tivesse estado em Macau. Já na altura não concordava com a tese dele e por uma razão muito simples: a historiografia que ele ataca é a historiografia antiga, que é aquela que defende que Camões esteve em Macau nos anos 50 do século XVI. A historiografia nova não diz isso. Não podemos dizer que Camões estava cá nos anos 50, porque nessa altura os portugueses ainda não se tinham fixado definitivamente aqui. A partir de 1560 é que isso aconteceu. Comecei logo por atacar esta falha na construção da crítica à historiografia camoniana relativa a esta altura. Além disso, há outros autores que defendem que Camões esteve em Macau, sem referir anos. Por exemplo, a Catarina Michaelis Vasconcelos afirmou que o poeta esteve em Macau e aqui escreveu três dos seus cantos, pelo menos o V, o VI e o VII. E Canto V é fantástico, é o canto que se refere ao episódio do Adamastor, que é um episódio autobiográfico e onde é que isso se passa? Este episódio foi escrito ali nos Penedos de Camões. O Adamastor é o Camões e tudo o que ele lá conta passou-se com ele. Entretanto, em 2007 a COD editou um livro meu e a partir daí nunca mais parei. Não me limitei a discordar do Rui Manuel Loureiro e comecei a defender a historiografia nova.

E o que nos diz essa historiografia?

Comecei a suspeitar e a defender a historiografia nova, aquela que defende que Camões esteve em Macau na década de 60. A partir daí, fui em busca de mais informação. Havia um livro do José Hermano Saraiva que referia que Camões tinha vindo para Macau em 1563 com os jesuítas. Já havia um precedente. Este homem dizia que era em 1563, ou seja, exactamente na década que eu também defendia. A partir daí, a minha tarefa era ir mais além, ou seja, descobrir com exactidão em que ano Camões aqui tinha estado. De repente, descobri ao ler Diogo de Couto, o cronista da Ásia, que dizia com quem é que o Camões tinha vindo para cá. Tinha sido com o Pedro Barreto. Estava lá escrito, bastava ler. Sei que não é fácil ler aquela escrita do nossos autores quinhentistas, mas estava lá tudo.

Então Camões veio para Macau efectivamente com Pedro Barreto?

Camões veio na viagem de Pedro Barreto a Macau como provedor de defuntos. Todas as viagens naquela altura tinham um provedor de defuntos. Normalmente, este provedor era também o capitão do navio por inerência.

E que função era essa?

Quando morria um português a bordo, na guerra, de escorbuto etc, era necessário arrecadar os seus bens para que fossem entregues no regresso aos parentes, à viúva, aos órfãos. Era um cargo de pouca importância na época de Camões e só veio a adquirir alguma importância a partir dos anos de 1580, mas nessa altura era um cargo, digamos, pouco rentável. O provedor tinha uma percentagem da venda dos bens arrecadados quando se fazia a licitação para que o dinheiro fosse entregue às famílias. Na verdade, Camões acabou por ter esta função porque o Pedro Barreto não queria saber dos réditos provenientes deste cargo. Para trazer Camões, Pedro Barreto acedeu ao pedido do vice-rei da Índia Francisco Coutinho que, por sua vez, estaria a responder a um pedido do próprio Camões feito em poema para que desta forma se livrasse da cadeia. Camões estava preso por dívida a um fulano que era parente do vice-rei. Naquela altura, também já toda agente sabia que andava de volta da escrita de um poema épico a enaltecer os feitos portugueses no Oriente. Camões era um folião e, provavelmente, estas dívidas até poderiam ser de jogo. Naquela época, os portugueses jogavam muito. Ora bem, chegam a Macau, o capitão-mor da viagem era por inerência o capitão-mor de Macau e o provedor dos defuntos, por inerência, era também o provedor dos portugueses mortos ou desaparecidos de Macau. Camões esteve dois anos em Macau.

Esta estadia de Luís de Camões em Macau não poderia ser mais explorada pelo próprio Governo e aproveitada na promoção tanto da obra do autor aqui em Macau?

Macau pode fazer isso e, se fosse inteligente, deveria aproveitar a estadia do primeiro europeu a vir para Oriente e que denunciou os desmandos de poder neste encontro com o outro. E mais, recentemente apresentei uma tese no Instituto Confúcio da Universidade e Aveiro onde explico muito bem, e em detalhe, a influência que se pode ver em Camões com a vinda ao Império do Meio. Camões, enquanto esteve aqui, não se deu só com jesuítas e com a fidalguia, ele dava-se com toda a gente e recebeu muita informação sobre a China.

Isso nota-se nas obras dele?

Claro e a começar pelos Lusíadas. Os três últimos cantos já são imbuídos de aspectos deste lado do mundo. Nesses cantos percebemos perfeitamente que Camões já está imbuído de outro mundo, de outro universo, de um mundo onde se subia não à conta do sangue da fidalguia. O intelecto, o saber, o conhecimento é que era tido em conta através do mandarinato estava muito desenvolvido naquele altura. Qualquer pessoa de bem, desde que mostrasse força intelectual e esforço escolar podia ir subindo de estatuto até um dia ser mandarim. Podia ser filho de ninguém e Camões denuncia isto mesmo. Camões foi realmente o primeiro europeu a fazer eco desta civilização e a denunciar os desmandos dos nossos aqui. Se Fernão Mendes Pinto o faz com sátira, escárnio e com humor, o Camões faz com seriedade, com aquele ar professoral e com aquele estatuto que ele sabia que tinha: ele sabia que era um homem superior.

Qual vai ser o seu próximo projecto?

Estou já a preparar um livro que vai tratar das minha memórias em Angola.

17 Mai 2018

IIM lança “O Oriente na Literatura Portuguesa – Antero de Quental e Manuel da Silva Mendes”

O papel que Antero de Quental e Manuel da Silva Mendes desempenharam no diálogo cultural entre a Europa e o Oriente figura no centro da obra que vai ser apresentada amanhã no Clube Militar. O livro, que resulta de um trabalho de investigação de Carlos Botão Alves, tem a chancela do Instituto Internacional de Macau (IIM)

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] que têm em comum Antero de Quental (1842-1891) e Manuel da Silva Mendes (1867-1931)? Além de pertencerem a “uma geração de grande empenhamento político e social” e “fecunda do ponto de vista literário”, partilharam “uma busca por correntes sapienciais” do Oriente, “com o objectivo pedagógico de regenerar o Homem e, por conseguinte, a sociedade”.

Quem é o diz é Carlos Botão Alves, autor d’ “O Oriente na Literatura Portuguesa – Antero de Quental e Manuel da Silva Mendes” que, embora publicada em 2016, vai ser oficialmente apresentada amanhã no Clube Militar. O livro, que mergulha na área do pensamento e da literatura, visa “a compreensão de como é que os dois autores activaram um conjunto de estratégias e de instrumentos para efectivarem uma real tradução cultural”. Uma acção com a qual pretenderam “inserir elementos da sabedoria e da filosofia orientais (budista e taoísta) nos seus sistemas de interpretação do mundo e do Homem”, lê-se na sinopse da obra que integra a colecção Suma Oriental do IIM.

Em entrevista ao HM, o professor e investigador do Instituto Politécnico de Macau (IPM) coloca a tónica precisamente na “reflexão profunda” que ambos fizeram, apesar das diferentes formas de contacto com a cultura oriental. Isto porque, no caso de Antero de Quental, a exposição ocorre por via dos livros, sobretudo das traduções francesas, enquanto Manuel da Silva Mendes estabeleceu um contacto directo em Macau.

A Carlos Botão Alves interessou acima de tudo “esse passo de ir conhecer o outro – esse traço de atitude” – mais do que a forma de contacto. “As primeiras grandes traduções da história do encontro com o Oriente foram feitas nos mosteiros por pessoas que, apesar de nunca terem visto o Oriente, o compreendiam. O ver é no século XX e XXI”, sublinha o investigador, apontando que o contacto directo pode ter, aliás, desvantagens: “Pode dar a ilusão de proximidade e de maior potenciação de um conhecimento, mas pode fazer sobretudo com que se resolva essa necessidade que o homem tem de encontrar o outro por estar perto”. Com efeito, “muitas vezes, o que sucede, como na Macau actual, é que, de facto, nunca se encontram realmente, vivendo em paralelo”, sustenta Carlos Botão Alves, para quem que o contacto directo pode levar ainda ao “desencanto”.

A Antero de Quental e a Manuel da Silva Mendes interessou “o Oriente intelectual que permite emprestar determinados conceitos ao Ocidente para este se regenerar”, o que mostra “uma ideia global do Homem que hoje em dia parece muito óbvia, mas que não seria tanto no final do século XIX”, sublinha o investigador.

Mergulho a Oriente

“Estes dois homens atravessaram culturas e línguas e foram buscar conceitos que fazem todo o sentido, criando eles próprios uma súmula. Trata-se de uma enormíssima novidade”, observou o autor. Carlos Botão Alves é, por isso, peremptório ao afirmar que as obras de ambos acabam por “contradizer” a mensagem do famoso poema do britânico Rudyard Kipling à luz da qual “O Oriente é o Oriente e o Ocidente é o Ocidente e nunca os dois se encontrarão”.

“Ambos tentam fazer com que o homem não se perca na contingência de um mundo que perece e que muda e fazem-no através dessa aproximação a Oriente, realça o autor, para quem os dois republicanos confessos “perceberam exactamente que a actividade política que nunca negaram e continuaram só se faz se houver uma riqueza espiritual que o permita. Era o que faltava ser devidamente cultivado na cultura ocidental que eles vêm buscar às correntes orientais”, destaca Carlos Botão Alves.

“Pode-se perguntar como homens tão empenhados na vida sociopolítica do momento (Antero de Quental sempre em Portugal e Manuel da Silva Mendes em Portugal e em Macau) se interessaram por questões como o budismo ou o taoísmo. Ora, tal faz todo o sentido”, enfatiza. Isto porque “não lhes interessa estudar o budismo como budismo, ou o taoísmo como taoísmo, ou mesmo a raiz de todos eles: o hinduísmo. Não lhes interessam só por si, mas antes na medida em que podem ser esclarecedoras para a sua própria cultura”, complementa. “É a ideia de que se está a ganhar no material e a perder no espiritual que os leva a lançarem um apelo a outras culturas onde podem encontrar ainda uma flama de espiritualidade”.

Carlos Botão Alves dá o exemplo concreto do poeta da geração de 70. “Lidos que estão Saint-Simon, Owen ou Proudhon, ou seja, todos aqueles teóricos do socialismo do século XIX, nomeadamente as correntes francesas, [fica patente] que a reforma sociopolítica só se fará se puderem criar condições inerentes a cada um dos indivíduos para que eles próprios se reencontrem”, contextualiza. Ora, é precisamente essa “preocupação pedagógica”, de que “é preciso reformar o Homem antes de reformar a sociedade do Homem”, que “faz com que Antero de Quental se interesse pelo budismo” que, como aliás escreveu, “traz consigo toda a satisfação, toda a consolação e toda a alegria”.

Carlos Botão Alves, radicado em Macau desde 1985, iniciou os estudos que culminaram na obra em apreço na década de 1990, a partir da leitura de uma conferência, que lhe “despertou a atenção”, dada por Manuel da Silva Mendes no Clube Militar, onde, precisamente por isso, vai ser apresentado o livro. Em causa, “talvez o mais longo texto de Silva Mendes sobre o ‘Tao Te King’ [clássico de Lao Tse] e a via da verdade e da virtude”.

O interesse do autor por Silva Mendes começou naquele momento, mas viria a amadurecer de forma particularmente profícua quando foi dar aulas na Universidade Jawaharlal Nehru, em Nova Deli, durante dois anos, como professor convidado. “Foi ali que tive contacto directo com os textos em edições muito cuidadas das correntes de sabedoria indiana, que estão na base de tudo”, explica o autor.

Esse trabalho acabou por conduzir a uma tese de doutoramento em literatura comparada, no âmbito da qual se debruçou sobre a obra sonetística de Antero de Quental (com a qual “convivia já há várias décadas por via dos estudos) e a produção ensaística de Manuel da Silva Mendes. “Queria encontrar uma forma de puxar o Silva Mendes para as luzes da ribalta e a forma que encontrei foi fazer um trabalho de literatura comparada com Antero de Quental”.

Carlos Botão Alves acabou por ir mais longe, entrando num contexto mais alargado dos estudos orientalistas quando, na busca por conceitos que permitissem analisar os textos de ambos e aproximá-los, encontrou no domínio da chamada tradução cultural um campo fértil para pôr então Antero de Quental e Manuel da Silva Mendes lado a lado.

16 Mai 2018

Segundo volume de obra escrita de Álvaro Siza é apresentado sexta-feira no Porto

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] beleza, interpretada pelo arquiteto Álvaro Siza, “é a própria razão e garantia da funcionalidade, a mais eficaz, de resto”, afirma Carlos Campos Morais, no prefácio do livro “02 Textos”, de Álvaro Siza Vieira, que é apresentado na sexta-feira, no Porto.

O livro, publicado pela Parceria A.M. Pereira, sucede a “Textos 01”, de 2009, e reúne 68 artigos selecionados pelo arquiteto, distinguido com o Prémio Pritzker, em 1992. O livro é apresentado na sexta-feira, às 18:00, na Casa da Prelada, no Porto.

Cronologicamente, os textos vão de 2001 a 2016. O mais recente é sobre o arquiteto José Carlos Nunes Oliveira, que trabalha no ateliê de Álvaro Siza, e que se destina a um outro “livro em publicação”, segundo se lê na obra.

Em “02 Textos”, que também inclui o discurso de Álvaro Siza, feito em finais de 2015, na atribuição do grau de Doutor Honoris Causa, pela Universidade de Évora, o arquiteto cita, entre outros, Alvar Aalto, Oscar Niemeyer, Aldo Rossi, Mies van der Rohe, Frank Gehry, Eduardo Souto de Moura, Nuno Portas e Le Corbusier.

O coordenador de “02 Textos”, Campos Morais, afirma que, na obra de Álvaro Siza, se a beleza “é a própria razão e garantia da funcionalidade, a mais eficaz, de resto”, “o sentido social da beleza e a própria saúde mental atestam, eloquentemente, a sua imprescindibilidade”.

Todavia, no entender de Campos Morais, é “consensual render homenagem ao papel da luz como acessório (sempre proeminente, nada acessório) na arquitetura de Álvaro Siza”, algo que o próprio arquiteto atesta, referindo “a importância que lhe concede em toda a arquitetura”. A luz é referenciada em onze dos 68 textos selecionados.

Todos os artigos de “02 Textos” estão identificados com um número de catalogação, data, local e, sempre que conhecido, onde foi publicado. Cada texto está ainda identificado com a temática que aborda, uma palavra chave, e em cada um Carlos Campos Morais realça frases, destacando-as no final, em separado, do texto em itálico ou com um sublinhado.

São 12 as temáticas nas quais os textos do arquiteto Álvaro Siza estão catalogados, de arquitetos à revolução de 25 de Abril de 1974, que se combinam com outras quatro temáticas de arrumação: Discursos ‘Honoris Causa’, “Homenagens” prestadas, “Outros”, que agrupa textos sobre pessoas ou prefácios que redigiu, “Textos livres”, que incluem reflexões, apontamentos, memórias, e “Vária”, que Campos Morais define como “arrumação fora da sistematização enunciada”.

Campos Morais atesta que, “na sua obra, Siza irradia inteireza”. “Na arquitetura, na escrita, no desenho, na escultura, noutras artes em que prolifera”.

O acervo do arquiteto, que recebeu em 2012 o Leão de Ouro de Carreira na Bienal Internacional de Arquitetura de Veneza, está disponível, desde fevereiro último, nas páginas da Internet das fundações de Serralves e Calouste Gulbenkian, e do Centro Canadiano de Arquitetura.

Nascido há 84 anos em Matosinhos, onde em agosto de 2009 o Governo português lhe entregou a Medalha de Mérito Cultural, Álvaro Siza Vieira estudou na Faculdade de Belas Artes do Porto, onde foi professor, e criou em Portugal obras emblemáticas como a Casa de Chá da Boa Nova, em Leça da Palmeira, a reconstrução da zona do Chiado, em Lisboa, após o incêndio de 1988, o Museu de Arte Contemporânea de Serralves, no Porto, ou o Pavilhão de Portugal, com a sua emblemática pala, no Parque das Nações, no âmbito da Exposição Mundial de 1998, em Lisboa.

No estrangeiro, são da sua autoria o museu para a Fundação Iberê Camargo, em Porto Alegre, no Brasil, o Centro Meteorológico da Vila Olímpica, em Barcelona, e a reitoria da Universidade de Alicante, ambos em Espanha, entre outros projetos.

Doutor Honoris Causa de várias universidades, o trabalho de Álvaro Siza tem sido internacionalmente galardoado. Além do Pritzker, recebeu os prémios Mies van der Rohe, em 1988, o Wolf, em 2001, a Real Medalha de Ouro do Instituto Britânico de arquitetos, em 2009, a Medalha Alvar Aalto, do Museu de Arquitetura e da Associação Finlandesa de Arquitetos, em 1988, e a Medalha de Ouro da União Internacional dos Arquitetos, em 2011.

No passado dia 25 de abril, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, condecorou-o com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública, distinção que junta à de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, recebida em 1992, e à Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique de Portugal (1999).

Relativamente ao livro “01 Textos”, que reúne 153 artigos, abrangendo o período de 1968 a junho de 2008, afirma Campos Morais que “razões de infortúnio editorial levaram a que esse volume, embora com edição quase esgotada em 2009, tenha dado origem, quanto aos escassos exemplares restantes, a uma deplorável clandestinidade”, e anuncia que a sua reedição.

Fonte editorial adiantou à Lusa, que “deverá acontecer ainda este ano”, estando também previsto pela Parceria A.M. Pereira, a publicação de “03 Textos”, no próximo ano.

15 Mai 2018

Música | Bob Dylan com concerto marcado para 4 de Agosto em Hong Kong

Recebeu o Nobel da Literatura em silêncio provocando uma onda de especulação. Robert Allen Zimmerman, nascido há 76 anos em Duluth, regressa sete anos depois a Hong Kong para um concerto. Zimmerman não será o nome impresso nos cartazes, uma vez que é mais conhecido como Bob Dylan

 

[dropcap style≠’circle’]B[/dropcap]ob Dylan, cantor, compositor e Nobel da Literatura, está de regresso a Hong Kong para um espectáculo no dia 4 de Agosto. O evento, classificado como “histórico” pela organização, vai ter lugar no Centro de Convenções e Exposições e os bilhetes foram colocados ontem à venda.

Este será o primeiro concerto de Bob Dylan em Hong Kong já com o estatuto de Nobel da Literatura, distinção conquistada em 2016, e que foi justificada pela academia por o artistas norte-americano “ter criado novas formas de expressão poéticas no quadro da grande tradição da música americana”.

Do alinhamento nada se sabe, mas se mantivermos em conta a sequência de canções dos últimos concertos, Bob Dylan deverá interpretar, entre outras, “Highway 61 revisited” e “Ballad of a thin man”, de 1965, “Tangled up in blues”, de 1975, ou “Summer days”, de 2001, além de versões e revisitações de temas de outros artistas. “Bowling in the wind” é uma hipótese que pode ficar para um encore.

Em 2017, Bob Dylan editou “Triplicate”, o primeiro triplo álbum de carreira, com 30 versões de clássicos da música norte-americana, mas nos últimos anos tem vindo também a publicar álbuns com gravações ao vivo de muitos dos concertos que tem dado nas últimas décadas.

Da crítica, os maiores aplausos vão para os últimos oito álbuns.

O sucesso de Lisboa

A referência musical que tem vindo a marcar décadas desde os anos 60 esteve no passado mês de Abril em Lisboa. Se havia cépticos quanto à qualidade dos espectáculo do nem sempre muito consensual músico, as dúvidas ficaram resolvidas. Depois do espectáculo lia-se no Público: “num pavilhão com lotação esgotada, esteve a lenda, o músico determinante na história da música popular urbana do pós-guerra, o senhor Nobel da literatura – tudo isso conferiu à ocasião uma certa solenidade e uma palpável expectativa”.

Mais do que uma estrela, quem ali estava “a nu”, era o músico “naquele palco sóbrio, despido dos ecrãs e tecnologia de ponta hoje tão habituais, sob a luz dos holofotes de outros tempos que criavam um efeito misto de salão de baile e set cinematográfico”, refere a mesma fonte.

Dylan é um mestre. Uma figura incontornável da música do último meio século, com uma carreira que oscilou com naturalidade entre o rock e o blues, com um salto no folk.

Tal como no filme “I´m Not There” o senhor que não ficou conhecido pelo nome Zimmerman pode ser muitos homens e em cada um surpreender. A soma de todos os artistas que contém a imensa personalidade musical que é Bob Dylan poderá ser testemunhada em Hong Kong no próximo dia 4 de Agosto.

15 Mai 2018

História de Macau | IIM arranca com ciclo de conferências

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Instituto Internacional de Macau (IIM) vai levar a cabo um ciclo de conferências sobre a História de Macau. A primeira sessão intitula-se “Serão Macaense sobre a Invasão Holandesa de 1622” e tem lugar no próximo dia 24 de Maio, pelas 18h15, no auditório da Escola Portuguesa de Macau (EPM).

A sessão conta com o contributo do jornalista e autor de livros históricos João Guedes e ainda José Basto da Silva, presidente da Associação dos Antigos Alunos da Escola Comercial Pedro Nolasco.

De acordo com um comunicado, o objectivo desta iniciativa é “estimular o conhecimento dos alunos do ensino secundário, de acontecimentos importantes que moldaram Macau”. A primeira sessão contará “com a projecção de vídeos sobre o acontecimento e distribuição de material de leitura aos presentes”. Vai ainda ser lançado “um concurso entre os estudantes da EPM, em forma de pequenos contos de história, a fim de reunir posteriormente os melhores trabalhos para serem incluídos numa publicação do IIM”.

É também objectivo do IIM, presidido por Jorge Rangel, “levar posteriormente esta iniciativa aos jovens das escolas de matriz luso-chinesa e inglesa de Macau”. O projecto conta com o apoio da Fundação Macau.

15 Mai 2018

Artes Plásticas | Bienal de mulheres artistas com “espaço para crescer”

A 1.ª bienal internacional de mulheres artistas de Macau, determinada a ocupar um lugar na história das artes plásticas na região, chega quase ao fim com “espaço para crescer”, disse à Lusa o organizador Carlos Marreiros

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] ‘ArtFem Mulheres Artistas’ nasceu para preencher uma lacuna que existia em Macau: “A falta de grandes exposições de importância internacional”, explicou o presidente do Albergue SCM, co-organizador do evento, que chegou ontem ao fim.

Para se destacar das “grandes bienais” das regiões vizinhas, Carlos Marreiros teve de avançar com uma ideia original: uma bienal dedicada inteiramente a mulheres artistas. “Tinha de ser uma coisa totalmente diferente e pareceu-nos que assim poderia ter um chamativo”, afirmou, destacando o objectivo central de “valorizar a mulher”.

Embora projectada há 18 anos, a exposição foi organizada em apenas três meses. “Partimos com um orçamento pequeno e em muito pouco tempo fizemos uma bienal com a representação de 100 artistas e mais uma – Paula Rego”, realçou. A artista portuguesa de 83 anos foi a madrinha desta edição, que teve a presença da filha Victoria Willing, em representação da mãe.

“Contamos com artistas de mais de 20 países dos cinco continentes. A lusofonia está toda representada – desde o Brasil a Timor, Macau, Angola, Moçambique”, o que contribuiu para “superar largamente as expectativas”, sublinhou.

Não há ainda números oficiais dos visitantes do Museu de Arte de Macau, mas o também arquitecto disse que conseguiram “movimentar bastante gente”. A exposição patente no Albergue SCM, da artista portuguesa Raquel Gralheiro, recebeu em média 3.000 pessoas por mês.

Questionado sobre a possibilidade de crescimento do evento, o presidente do Albergue SCM mostrou “um optimismo moderado”. “Estou com os pés bem assentes na terra. Temos de dar o salto, mas para isso precisamos de mais orçamento para apostar na publicidade internacional e conseguir trazer mais instalações”, enfatizou, lembrando que a projecção deste tipo de eventos depende de pessoas influentes da área da crítica internacional.

Alargar horizontes

A bienal pretende agora alargar horizontes, garante. “Em futuras edições pensamos estender a Cantão, no antigo Delta das Pérolas, agora integrado na Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau”.

A iniciativa “Uma faixa, uma rota” não retrata só trocas económicas, também se trata de trocas culturais e artísticas. “Se puder contribuir para que haja um verdadeiro mercado de arte em Macau – que não há – a bienal também pode contribuir neste domínio”, sublinhou.

“O mundo precisa de saber que Macau é fascinante e se preocupa com a valorização da mulher. Espero que isso continue, mas está muito nas mãos das instituições do Governo”, concluiu.

Organizada pelo Albergue SCM e pelo Museu de Arte de Macau, a ArtFem Mulheres Artistas – a 1.ª bienal internacional de Macau – foi inaugurada a 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, tendo estado patente ao público até ontem.

A mostra juntou 142 obras de 132 mulheres realizadas desde os anos 70 até aos dias de hoje, incluindo o quadro “Nossa Senhora das Dores” de Paula Rego.

14 Mai 2018