José Manuel Simões, director de comunicação da Universidade de São José

“O Sétimo Sentido”, romance de José Manuel Simões vai ser apresentado no próximo dia 21 no Porto e marca um passo do autor rumo a uma escrita desvinculada do jornalismo. O lançamento do livro em Macau está agendado para Setembro

[dropcap]E[/dropcap]ste é o seu primeiro romance?
O livro “Deus Tupã” já é um romance histórico. Foi lançado em 2016 e é um livro que tem características de romance porque a visão que os indígenas têm da realidade, do seu modus vivendi, do habitat e das relações com as divindades são romanceadas com dados a partir das minhas vivências no seio daquela tribo. Confesso que fiquei admirado quando a editora considerou este livro um romance. É, mas é um romance que tem uma ligação à realidade.

Em que sentido?
As vivências da Glória Meireles, a personagem central deste livro. Ela vive uma experiência muito marcante na Índia. É uma vivência que tem por base uma viagem que fiz por aquele país em 2002, uma viagem extensa de quase seis meses. Aí, recolhi imensa informação, ou seja há um trabalho de pesquisa meu que depois é absorvido por esta personagem à sua maneira. Sim, é um romance neste sentido, embora tenha esta ligação com dois lugares que existem efectivamente. Um é a Índia, e depois um outro que é Xai Xai, em Moçambique, onde Glória é médica e vive com outras pessoas, poetas, artistas, colegas e pacientes. Pessoas que existem também na realidade.

Podemos dizer que é um livro que, à semelhança de anteriores, tem um cariz biográfico?
Não. Tem um ponto de partida onde recorri às minhas experiências pessoais. Mas, neste caso, não tem nada a ver comigo. Eu diria que a Glória vai muito mais além da minha experiência. Vai mais além do que o próprio autor. Acho que a Glória é uma pessoa maravilhosa e admirável. É uma pessoa que vive profundos silêncios e momentos de meditação, e que fala muito pouco, ou seja, particularidades que são completamente antagónicas às minhas. Diria mesmo que a Glória vai mais além de mim em vários níveis, nomeadamente comportamentais porque é, de facto, uma pessoa incrível. Um exemplo para todas as sociedades enquanto modelo de respeito, de responsabilidade, de valores, de integridade que coloca ao serviço da medicina. A Glória, às tantas, estava-me a ditar situações que nunca me tinha deparado na escrita, com uma voz fora de mim que quase me ditava passagens. Eu fico fascinado com a beleza desta pessoa e com o seu exemplo de vida, com a forma como trata os pacientes, com tudo.

A Glória parece ser uma pessoa real.
Sim, eu imagino-a fisicamente. Ela é pequena, magra. Na narração ela aparece como uma figura concreta e tem toda uma componente física e psicológica muito vincada. Tem características de personalidade muito fortes e, de facto, parece muito real. É uma pessoa que não conheço.

Mas que gostava de conhecer?
Muito. Há uma passagem em que eu vou a Xai Xai, em Moçambique, no ano passado convidado pelo festival de poesia onde participei nalgumas palestras. Antes de ir apercebi-me que era lá que a Glória iria colocar a acção ao serviço da medicina. Às tantas, nesta passagem do livro, eu estou no festival de poesia e a Glória está lá também e interage com o José Manuel Simões. Fala com ele ao jeito dela. Há uma questão entre os dois, quase início de romance, em que ela coloca os pontos muito bem vincados da impossibilidade de relação e em que eu saio a perder claramente nesta tentativa de relação. Havia ali indícios que pareciam, da parte dos dois, que havia um envolvimento, mas ela disse que não, que é uma confusão e quando se fala de transcendência, de karmas e de chacras é uma coisa, mas quando se fala de coisas mais íntimas, ela não concebe essa possibilidade entre os dois.

Estamos a falar de um livro ligado a aspectos mais transcendentes e espirituais?
Sim. A Glória vai para a Índia depois de ser traída pelo Marcos, com quem tinha uma relação desde os tempos da universidade. Ela vai para a Índia para tentar compreender a transcendência e a passagem para outros mundos, até porque lhe tinha morrido uma criança com leucemia nos braços, a Ophélia. Este acontecimento foi muito perturbante. Vai para a Índia e tem uma viagem muito difícil e cheia de revelações nomeadamente em contextos de insalubridade, de pobreza extrema que a magoam. Ela não encontrou essa espiritualidade que procurava, sobretudo nos primeiros tempos. Até que há um momento em que conhece um grupo de raparigas que estão num templo e que a convidam a lá ir. Ela vai e passa lá 23 dias. É aí que descobre, de facto, como se aproximar dessa transcendência. Descobre um lado ecuménico que passa por vária religiões. Há uma personagem que ali está e que lhe diz que ela tem uma missão nesta vida e que, mais cedo ou mais tarde, a vai encontrar até pelo seu papel enquanto médica, pela sua bondade e pelo comportamento. Aliás, o primeiro titulo do livro até era “A Missionária”. Mas depois achei que tinha um cariz demasiado religioso. Ela tem uma ligação à transcendência, às divindades mas também tem o lado da medicina com o seu contacto com as curandeiras, com a homeopatia. Descobre uma lado holístico na sua acção que é extremamente útil enquanto médica.

Está a escrever no feminino. Porquê?
Não sei.

Onde é que descobriu a Glória?
Também não sei dizer. Por vezes, os livros pedem coisas. Fui jornalista e enquanto tal tenho uma ligação à realidade e aos factos muito forte e talvez por isso ainda não me consiga totalmente desvincular da minha escrita nessa perspectiva. Este livro é uma tentativa nesse sentido. Quero assumir-me como escritor. Já escrevi dez livros e é altura de me assumir como escritor. A Glória já é um passo muito grande nesse sentido. Não é ainda total porque tem essa ligação à Índia onde vivi, sendo que ela vê essa realidade à maneira dela. Mas as personagens pedem-nos comportamentos e acções que são muito inesperadas, que são quase ditadas pela voz delas. Ela começa a ter uma vida própria. Foi vindo, foi aparecendo e criando uma atmosfera real sem o ser. É um ser vivo, mas que não existe. O nome, curiosamente, acho que é muito apropriado e surgiu logo. Não podia ser outro porque o comportamento dela é de Glória. Lembra-me o tema da Patti Smith.

Quando é que o livro vai ser apresentado em Macau?
Em Setembro, não tem ainda dia definido mas vai ser nesse mês.

13 Jul 2018

Drake bate recorde dos Beatles com sete músicas no Top 10 da tabela da Billboard

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] cantor e compositor canadiano Drake tem sete temas no Top 10 da Billboard em simultâneo, batendo os Beatles que chegaram a ter cinco em 1964.

O tema “Nice For What” volta agora ao topo da tabela depois de ter ficado em sexto na semana passada. Em segundo lugar estreia-se “Nonstop” e seguem-se, por ordem, “God’s Plan”, “In My Feelings”, “I’m Upset”, “Emotionless” e “Don’t Matter to Me”, que conta com arranjos vocais de Michael Jackson previamente gravados.

Os outros três lugares do Top 10 estão guardados para Cardi B, em terceiro, Maroon 5, em quinto, e para o ‘rapper’ XXXTentacion, morto a tiro em junho, que ocupa o décimo lugar com “Sad!”.

A lista da Billboard reúne as canções mais ouvidas da semana nos Estados Unidos, por popularidade, compilando dados de vendas e transmissões.

O cantor conta agora com 31 êxitos no Top 10, ficando empatado com Rihanna, no terceiro lugar, sendo que à sua frente se encontram os Beatles com 34 êxitos e Madonna com 38.

Drake lançou, no final de junho, o álbum “Scorpion” e, até ao momento, todas as 25 músicas do álbum estão na tabela `Hot 100´ da Billboard.

Desde 2009, Drake, conta com 186 músicas na tabela do Top 100 da Billboard, ficando assim em segundo, atrás do elenco da série americana “Glee”, que teve 207 das suas músicas na tabela.

O cantor e compositor estreou-se com 17 anos na série televisiva “Degrassi: A próxima geração”, tendo participado em 138 episódios. Em 2006, Drake, lançou a sua primeira `mixtape´, “Room for Improvement”, sendo que o seu primeiro álbum de estúdio “Thank me Later” foi lançado em 2010.

12 Jul 2018

CCM apresenta bailado baseado no clássico “Hansel e Gretel”

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] coreografia do clássico conto dos Irmãos Grimm, “Hansel e Gretel” vai ser apresentada nos próximos dias 13 e 14 no grande auditório do Centro Cultural de Macau. O espectáculo é encenado pela companhia premiada Ballet Escocês e promete “levar tanto as crianças como o público mais crescido a girar num carrossel de deliciosas guloseimas e destreza, contando uma história plena de magia e argúcia”. A coreografia será dividida em dois actos, refere um comunicado da organização.

Mantendo-se fiel às ideias mestras do conto original, a interpretação da companhia escocesa “reteve os elementos principais desta história infantil, procurando encontrar um novo público”, aponta. O coreógrafo Hampson substituiu o tradicional cenário medieval por um enquadramento inspirado em meados do século XX, “algures entre os anos 50 e 70”.

No que respeita à música que acompanha a coreografia, a peça foi escrita originalmente para a ópera homónima composta por Engelbert Humperdinck em 1891. Para este espectáculo foi rearranjada pelo maestro principal do Ballet Escocês, Richard Honner.

Uma história de sucesso

Fundada em 1957 por Peter Darrell e Elizabeth West, em Bristol, sob a designação de Western Theatre Ballet, a companhia mudou-se para Glasgow em 1969 e foi rebaptizada como Ballet Teatro Escocês, mudando para Ballet Escocês em 1974.

A companhia actua por todo o mundo, tendo como base do seu trabalho uma forte componente técnica clássica. O seu vasto repertório inclui tanto trabalhos clássicos como peças contemporâneas.

De entre os muitos prémios ganhos pelo Ballet Escocês, o destaque vai para o prémio do Círculo de Críticos 2008 “pelo seu Repertório de Excelência (Clássico), bem como a nomeação para o prémio de Companhia de Excelência pelos Prémios do Círculo de Críticos em 2009 e 2010”, refere o mesmo comunicado.

Como complemento às suas actividades de produção e digressão, o Ballet Escocês disponibiliza um vasto programa educacional e de apoio à comunidade. Estas iniciativas educativas incluem trabalhos com pessoas de todas as idades e níveis de capacidade. Como parte do seu empenho para chegar a um público mais alargado, o Ballet Escocês foi a primeira companhia do Reino Unido a disponibilizar descrição áudio ao vivo para os invisuais, mantendo actualmente um programa regular de espectáculos audiodescritos. Os bilhetes têm valores entre as 150 e as 380 patacas.

12 Jul 2018

Wushu | Macau acolhe Encontro de Mestres entre 3 e 5 de Agosto

Transformar Macau num palco de exibição de artes marciais é o objectivo de mais uma edição do “Encontro de Mestres de Wushu” que decorre entre 3 e 5 de Agosto. Além de juntar os melhores praticantes desta arte, o evento pretende promover a cultura ancestral junto de residentes e turistas

 

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]les tanto voam como meditam em movimentos lentos. A gravidade parece ser irrelevante para os praticantes de Wushu, também conhecido por Kung Fu, a arte marcial da China que vai muito além da prática desportiva.

De 2 a 5 de Agosto, Macau vai ser palco internacional desta modalidade com a realização da 3ª edição do Encontro de Mestres de Wushu.

Este ano a iniciativa está repleta de novidades. Nas novas actividades que vão preencher o encontro de mestres de artes marciais destaca-se a estreia do campeonato mundial universitário da modalidade da FISU. “Em cada edição apresentamos alterações e este ano temos a primeira edição do campeonato mundial para estudantes universitários que praticam Wushu”, referiu ontem o presidente do Instituto do Desporto (ID), Pun Weng Kun à margem da conferência de imprensa de apresentação do evento. Por outro lado, “temos recebido o convite de várias federações a pedir colaboração, como tal, este ano temos a decorrer em paralelo o campeonato do IBF que foi inserido também no nosso programa”, acrescentou. Pun referia-se à parceria com a “2018 IBF Silk Road Champions Tournament”, organizado pela Federação Internacional de Boxe das regiões pertencentes ao projecto “Uma Faixa, Uma Rota”.

Acresce ainda às novidades desta edição, o campeonato de danças do dragão e leão também apresentados por regiões inseridos no projecto de cooperação.

Além das exibições de Wushu tradicional, está também previsto o Festival Wushu de Verão e o campeonato de Taolu. Consta ainda do programa as competições de sanda, uma versão de kickboxe chinesa, e paradas que juntam demonstrações de Wushu e a Dança do Leão e do Dragão.

No evento vão estar presentes vários especialistas de renome, nomeadamente Zhu Tancai, herdeiro da décima geração de Taijiquan – estilo Chen e um dos “quatro Grandes Mestres, La Bin, Zhu Xianghua, e o campeão nacional de Taijiquan estilo Wu, Liu Wei. Macau vai-se fazer representar pelos mestres Lei Man Iam, Lam Hong Sang, Leong Sio Nam e Hoi Io Kong.

Encontro total

De acordo com o responsável pelo ID, o objectivo da edição de 2018 é o mesmo do das edições anteriores: “ter uma combinação de características desportivas, turísticas e culturais (…) para transmitir a cultura ancestral chinesa”.

Para facilitar o acesso do público, este ano apenas a sessão de encerramento terá bilhetes à venda, sendo que para as restantes actividades o ID disponibiliza ingresso a partir de hoje.

De acordo com a organização, a terceira edição reflecte o sucesso da organização em atrair a participação de mestres e praticantes estrangeiros. “Com as edições passadas ganhámos o reconhecimento das comunidades que praticam Wushu”, disse Pun.

Por outro lado, e além das artes marciais, o presidente do ID gostaria de ver o encontro de mestres de Wushu como um chamariz para atrair mais turistas. “Além do Wushu queremos integrar outros elementos e dar a conhecer outros aspectos da cultura local de modo a atrair mais turistas para o território”, acrescentou o presidente do ID.

O orçamento, à semelhança das edições anteriores, ronda os 18 milhões de patacas e Pun Weng Kun espera “com o mesmo dinheiro fazer ainda melhor”.

A iniciativa é organizada em conjunto pelo Instituto do Desporto e a Associação Geral de Wushu de Macau, com a colaboração da Direcção dos Serviços de Turismo, do Instituto Cultural e do Fundo das Indústrias Culturais.

12 Jul 2018

Maqueta de “Dragão” de João Cutileiro exposta em Évora

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s maquetas de esculturas públicas de João Cutileiro vão estar expostas em Évora até ao dia 15 de Outubro. Uma delas pertence ao projecto “Dragão”, criado em 1999 a pedido do arquitecto Francisco Caldeira Cabral para uma iniciativa no Canal dos Patos.

No total, mais de 60 maquetas, sobretudo em mármore, produzidas pelo escultor para obras destinadas ao espaço público estão reunidas no Museu Nacional Frei Manuel do Cenáculo. A mostra resulta do projecto “Pedras na Praça”, promovido pela Direcção Regional de Cultura do Alentejo (DRCAlen), que conta com o apoio de fundos comunitários, para dar a conhecer a obra para o espaço público “assinada” por João Cutileiro, de 81 anos.

Intitulada “A Pedra Não Espera – Maquetas e escultura para espaço urbano”, a exposição inclui, além das maquetas, fotografias de grandes dimensões das esculturas finais de Cutileiro e o documentário “A Pedra Não Espera”, da realizadora Graça Castanheira, sobre o mesmo tema, explicou ontem a DRCAlen.

A Direcção Regional de Cultura adiantou à Lusa que estão reunidas “63 maquetas do escultor, a maioria pertencente à sua colecção”, que foram criadas “entre 1968 e 2017”.

As peças, “cujo material predominantemente utilizado é o mármore”, foram concebidas pelo escultor no âmbito do processo de desenvolvimento de obras suas “destinadas a diversos espaços públicos, a nível nacional e internacional”, acrescentou a DRCAlen.

Em Outubro do ano passado, quando revelou à Lusa a intenção de expor as maquetas de Cutileiro, a directora regional de Cultura do Alentejo, Ana Paula Amendoeira, realçou que este método de trabalho do escultor “não é vulgar” entre “outros artistas”.

“Mas o João [Cutileiro] tem o hábito de fazer maquetas reais, em pedra, das suas obras. No fundo, são esculturas, obras originais, a uma escala menor do que aquelas que ficam nos locais públicos”, indicou.

A exposição, disse, na altura, foca “uma componente relevante do trabalho” do escultor e pretende igualmente “reconstruir, de forma didáctica, o percurso de criatividade do artista e de produção da obra de arte”, ou seja, “da ideia à maqueta, da obra ao local”.

“D. Sebastião” (1972), uma das quatro maquetas executadas para a estátua de D. Sebastião, que o escultor doou à cidade de Lagos, no distrito de Faro, onde se encontra, é uma das obras que podem ser apreciadas no museu em Évora.

Outras das peças que integram a mostra são “Luís de Camões” (1980), instalada na Biblioteca Pública de Cascais, no distrito de Lisboa, “D. Sancho I” (1990), encomendada pela Câmara de Torres Novas, no distrito de Santarém, e “Inês de Castro” (1993), em resposta a uma encomenda de José Miguel Júdice para a Quinta das Lágrimas, em Coimbra. “Ibn Marwan II” (2016–2017), a 2.ª versão para o monumento de homenagem a Ibn Marwan, em Marvão (Portalegre), encomendada pela respectiva câmara municipal, é também outra das maquetas expostas.

O projecto “Pedras na Praça” faz parte dos trabalhos em curso pela DRCAlen no âmbito da doação ao Estado do espólio de João Cutileiro e da criação, em Évora, da Casa/Ateliê do escultor.

A doação, anunciada em Fevereiro de 2016, numa cerimónia com o então ministro da Cultura João Soares, encontra-se, “desde essa altura, a aguardar despacho do secretário de Estado do Tesouro e Finanças”, segundo Ana Paula Amendoeira, que assinalou que, entretanto, a DRCAlen tem estado “a trabalhar no inventário e a organizar o arquivo” do escultor.

11 Jul 2018

História | Instituto Internacional quer lançar livro sobre padre Gaetano Nicosia

O Instituto Internacional de Macau tem em mãos o projecto de fazer a biografia do padre Gaetano Nicosia, falecido o ano passado e que dedicou grande parte da sua vida a ajudar os leprosos que viviam em Ka-Hó. Ontem foram lançados três livros em chinês sobre D. Arquimínio da Costa, padre Lancelote Rodrigues e padre Mário Acquistapace

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] vida de missionário em Macau do padre Gaetano Nicosia vai ser passada a escrito. A garantia foi dada ontem por Rufino Ramos, secretário-geral do Instituto Internacional de Macau (IIM), a entidade que será responsável pela publicação da obra sobre o incontornável sacerdote, que faleceu no ano passado.

“Vamos fazer um livro, mas é sempre difícil arranjar quem escreva. Houve pessoas que aceitaram, mas depois vieram com a justificação de que não podiam”, disse ontem o responsável à margem do lançamento das versões em chinês de três obras sobre sacerdotes que desenvolveram trabalho missionário e social no território: D. Arquimínio da Costa, padre Lancelote Rodrigues e padre Mário Acquistapace.

Nascido em Itália em 1915, Gaetano Nicosia ficou conhecido por trabalhar de perto com os leprosos que viviam na leprosaria de Ka-Hó, em Coloane, numa altura em que se temia a aproximação a estes doentes. Antes disso, Gaetano Nicosia também passou por Hong Kong.

Rufino Ramos adiantou ainda que é objectivo do IIM, presidido por Jorge Rangel, publicar mais livros sobre outras figuras da Igreja Católica que passaram por Macau e que ainda são lembrados por muita gente. Contudo, existem dificuldades de ordem editorial.

“A nossa dificuldade reside em encontrar alguém com a capacidade de escrever bem. Hoje mencionei aqui dois missionários, um deles o padre António Roliz, que muitos chineses ainda devem conhecer, porque passaram por dificuldades e foi o padre Roliz que os ajudou”, explicou.

Para o secretário-geral do IIM, Macau teve “outros padres que se destacaram na área da música e da sinologia, mas vamos aos poucos tentar dar a conhecer”. “Há muitos chineses que não conheceram bem os padres portugueses e a comunidade portuguesa actual pode não conhecer muitos párocos. Haveria padres chineses que trabalharam mais com uma comunidade”, acrescentou.

Chegar aos chineses

Os três livros que têm agora uma edição chinesa fazem parte de uma colecção de dez manuais. Rufino Ramos frisou que é objectivo dar a conhecer a história de vida destes padres a toda a população de Macau.

“Temos esta colecção já há algum tempo e achamos que era importante a comunidade chinesa inteirar-se do que estamos a fazer, e também que conhecessem o trabalho que certos missionários fizeram em Macau no século passado. O IIM não existe apenas para os falantes de português, também queremos que a comunidade chinesa perceba os valores culturais de Macau.”

Os livros estão à venda no website do IIM e poderão ser distribuídos no mercado livreiro de Hong Kong, mas Rufino Ramos alerta para as dificuldades de penetração no mercado chinês. “É difícil distribuir na China porque estamos mais preparados para lidar com o chinês tradicional do que o simplificado [na tradução das obras]. Vamos tentar distribuir os livros em Hong Kong. Não garanto que na China consigam receber os livros se os comprarem online.”Arquimínio da Costa foi um bispo português “muito popular, que se expressava em cantonês e que se dava muito bem com toda a gente”, disse Rufino Ramos quando questionado sobre a importância que estas figuras da Igreja tiveram para as comunidades locais. “Esteve muitos anos em Macau e trabalhou no sector da educação, foi uma figura muito consensual.” Já o padre Mário Acquistapace, italiano, era “simpatiquíssimo”. “Trabalhou com pobres e viveu uma vida quase de santo na missão de Coloane. Fez muitas obras sociais”, disse o secretário-geral do IIM.

O mais conhecido de todos eles será o padre Lancelote Rodrigues. “Era conhecido de todos os diplomatas de Hong Kong, bebia whisky com eles. Cuidou dos refugiados vietnamitas quando eles estiveram cá, e creio que muita gente fora de Macau conhece bem o padre Lancelote porque ele ajudou muita gente.”

11 Jul 2018

Exposição | “Aprofundar” está patente no Art Garden até Setembro

“Aprofundar” é a exposição que junta seis artistas locais no Art Garden para apresentarem as suas reflexões acerca de Macau. A mostra é curada por James Chu que classifica a iniciativa como uma espécie de fio vermelho, que coloca em comunicação várias expressões visuais

 

[dropcap style≠’circle’]“A[/dropcap]profundar” apresenta trabalhos de seis artistas que vivem em Macau: Nick Tai, Cai Guo Jie , Eugénio Novikoff Sales, Peng Yun, Zhang Ke e Wong Weng Io. De acordo com o curador, James Chu, os criadores que compõe o elenco do evento que decorre no espaço do Art Garden “estão ligados por um fio vermelho que os atravessa”.

De acordo com o curador, os artistas propõem uma interpretação das características culturais da cidade partindo da sua própria percepção da realidade e do pensamento associativo usado para transcender os limites da aparência dos objectos. O objectivo é mostrar a “tentativa de conciliar a aparência e a consciência subjectiva através da arte contemporânea”, aponta no texto de apresentação do evento.

Para o efeito, os trabalhos presentes na galeria da Art for All Society , resultam de a uma variedade de técnicas e formas de expressão artística, “com base na reflexão sobre o tempo e o espaço, as emoções e o poder, a dissociação e a comunicação , bem como sobre o texto escrito e a tecnologia”, explica o curador.

Palavras trocadas

Natural de Macau, Nick Tai estudou arte e domina a língua portuguesa escrita. Nesta mostra Tai, em cada uma das suas peças, apresenta uma figura associada a uma frase em português escrita com erros comuns de forma a criar um conjunto de situações relativas a temas como a história e a identidade. O objectivo do artista é “transcender a realidade através do humor”, refere Chu.

“Aprofundar” conta com quatro obras de pintura a óleo nascidas da imaginação de Nick Tai. Uma delas apresenta uma figura que conta a sua história quase em formato monólogo. “Em conjunto, as obras perfazem uma sitcom que se desenrola debaixo de um mesmo tecto”, menciona o texto do curador. De acordo com a mesma fonte, a conexão entre os elementos das várias obras não é óbvia mas existe através de “elo mental em que o criador procurou explorar a relação entre a conveniência predeterminada e a alienação solitária, em que o espaço aproxima as pessoas, mas não o suficiente para estreitar os laços mentais e emocionais entre elas”.

Tinta de água

Natural de Taiwan, Cai Guo Jie vive em Macau desde 2011 onde começou a dedicar-se à reflexão sobre a cidade. Inspirado pelas suas deambulações pelas ruas da cidade, bem como pela cultura e emoção que permeiam o território, Cai recorre a “um estilo oriental contemporâneo e à aguarela chinesa como técnica para destilar com linhas suaves plenas de cambiantes, a essência da arquitectura e do traçado urbano de Macau”, lê-se na apresentação da exposição.

Em exibição na “Aprofundar” estão também obras inéditas apresentadas em forma de tríptico, uma opção baseada no formato associado ao cristianismo “muito utilizado como elemento decorativo junto aos altares das igrejas durante a Idade Média”. De acordo com Chu, “nesta obra foram aplicadas técnicas da pintura chinesa, permitindo o curvar do tempo e viajar ao passado para fundir novamente a cultura oriental e a cultura ocidental através da arte”.

A interculturalidade e a mulher

Filho de um artista local e de mãe bielorrussa, Eugénio Novikoff Sales passou parte da vida em Moçambique onde teve o primeiro contacto com as peças de escultura locais e começou o seu interesse pelo trabalho em madeira negra africana.

“Inspirados na experiência pessoal e vida quotidiana, os seus trabalhos são influenciados pela cultura e arte africanas”, aponta Chu. As obras patentes na exposição do Art Garden exprimem não só estas origens mas a sua conciliação com materiais e técnicas do oriente.

A obra da artista de Sichuan, Peng Yun é focada no feminino. “É uma das poucas artistas de Macau cuja obra foca a feminilidade, especialmente a complexidade, acuidade e emoções que são particulares nas mulheres”, aponta James Chu.

Em “Aprofundar”, a artista apresenta “uma força obstinada e paranoica, fundindo meticulosamente várias experiencias emocionais e consubstanciando-as numa forma de expressão e resistência objectiva e equânime”.

Nesta mostra, Peng Yun apresenta três obras de vídeo com mulheres como protagonistas que reflectem um dialogo entre as personagens e a sua experiência de vida ao mesmo tempo que “expressam o seu processo mental de crescimento (…) para revelar o sofrimento latente que têm vindo a acumular interiormente”, diz James Chu.

Em suma, “as obras retratam o processo através do qual emoções íntimas são convertidas, num piscar de olhos, em forças externas“. Em última instância, o objectivo é “explorar o processo de transformação da dor física e mental num regresso gradual à serenidade conquistada com o passar do tempo”, aponta.

Reinterpretação da nudez

Zhang Ke estudou arte contemporânea e experimental no continente. As obras que produz são pautadas por um “profundo sentido de curiosidade” e abordam “de forma ousada” o sexo. Para o efeito, a artista recorre a técnicas como a colagem e à reorganização de figuras antigas de nus “numa tentativa de libertar o instinto universal que á a sexualidade”.

Embora a sexualidade esteja patente em obras de arte e na literatura desde a antiguidade até aos dias de hoje, o tema continua a ser tabu junto do público em geral, sublinha o curador.

Com os trabalho de Zhang Ke, “transcendem-se os limites do tempo e do espaço estabelecendo um elo entre a Antiguidade e a Modernidade”, remata.

A incerteza do futuro

Da chamada geração Z, esta exposição apresenta os trabalhos de Wong Weng Io. “Tendo crescido entre o mundo real e o mundo virtual a artista foi profundamente influenciada pela era digital”, diz o curador.

O resultado, é a criação de obras que exploram identidade, a existência e a relação entre a consciência humana a tecnologia, num mundo onde cada vez mais o real e o virtual se confundem.

“Os caracteres originais foram convertidos em imagens digitais, alterando o seu significado simbólico para produzir criações subjectivas improvisadas que reflectem sobre a ligação e a influência mútua entre a sociedade actual e o mundo do futuro”, refere o texto de apresentação do evento.

A exposição está aberta ao público no Art Garden até 9 de Setembro e insere-se na iniciativa “Encontro em Macau – Festival de Artes e Cultura entre a China e os países de língua portuguesa”.

10 Jul 2018

Livro “O Doente Inglês” de Michael Ondaatje escolhido melhor prémio Booker de sempre

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] livro “O Doente Inglês” (1992), de Michael Ondaatje, foi anunciado como o melhor prémio Man Booker dos últimos 50 anos, numa altura em que aquele galardão literário se encontra a celebrar as suas cinco décadas.

O livro foi editado pela primeira vez em Portugal pela Dom Quixote em 1996, coincidindo com o ano de lançamento do filme com o título “O paciente inglês”.

O filme, realizado por Anthony Minghella a partir da obra de Ondaatje, venceu nove de 12 Óscares para os quais esteve nomeado.

“’O Doente Inglês’ é o raro livro que sentimos sob a nossa pele e insiste que voltemos a ele uma e outra vez, sempre com uma nova surpresa. Move-se sem dificuldades entre o épico e o íntimo – num momento estamos perante a vastidão do deserto e noutro a assistir a uma enfermeira colocar um pedaço de ameixa na boca do paciente”, afirmou, em comunicado, a jurada Kamila Shamsie.

A organização do prémio literário Man Booker decidiu atribuir este ano um “Booker Dourado” ao livro que fosse escolhido como o melhor das 51 edições já realizadas. Primeiro, um júri selecionou um livro por década de entre os que haviam vencido o prémio no passado e, depois de divulgados os finalistas, o público votou no seu preferido.

“Poucos livros merecem o adjetivo de transformativo. Este é um deles”, acrescentou Shamsie, a jurada que teve a seu cargo a década de 1990.

“Nos derradeiros meses da Segunda Guerra Mundial, reúnem-se numa villa italiana quatro pessoas: uma jovem enfermeira alquebrada que concentra todas as energias no seu último doente moribundo, um inglês desconhecido, sobrevivente de um desastre de avião, cujo espírito navega à deriva numa vida de segredos e paixões; um ladrão cujos ‘talentos’ o transformam em herói de guerra, e numa das suas vítimas; e um soldado indiano do exército britânico, perito na neutralização de bombas, a quem três anos de guerra ensinaram que «a única coisa segura é ele próprio”, pode ler-se na sinopse do livro.

Multipremiado ao longo da carreira, Ondaatje lançou este ano o seu mais recente livro, intitulado “Warlight”.

Entre os finalistas para a edição “de ouro” do Man Booker encontravam-se ainda V. S. Naipaul, com “Num Estado Livre” (1971), Penelope Lively, com “Moon Tiger” (1987), Hilary Mantel, com “Wolf Hall” (2009), e George Saunders, com “Lincoln no Bardo” (2017).

9 Jul 2018

Exposição | “Alter Ego” patente em vários locais do território até 9 de Setembro

São vários os espaços em Macau que acolhem “Alter Ego”, o projecto composto por seis exposições e uma intervenção de arte urbana que reune 27 artistas de Portugal, países lusófonos e da China

 

[dropcap style≠’circle’]“A[/dropcap]lter Ego” é o conjunto de seis exposições colectivas distribuidas por diversos espaços em Macau e que conta com a curadoria de Pauline Foessel e Alexandre Farto.

O fio que liga as seis exposições é uma “reflexão sobre o ser humano”, daí o conceito que dá nome à mostra, ‘alter ego’, “o segundo eu”, explicou a francesa Pauline Foessel, curadora da mostra com o artista português Alexandre Farto (Vhils), em declarações à agência Lusa. Apesar de serem seis exposições diferentes, com artistas diferentes, “idealmente o público deve visitar todas”.

Entre os trabalhos expostos há “pintura, instalação, serigrafia, escultura”, estando algumas peças “ainda em produção, porque estão a ser feitas no local, são ‘site specific'”, referiu Alexandre Farto.

“Há muita diversidade de meios e isso também vem do facto de se juntarem aqui 27 artistas, cada um com o seu percurso, o seu trabalho”, disse. Apesar disso, acrescentou Pauline Foessel, “há diálogo e interligação entre o trabalho dos artistas”.

Do eu ao outro

A ‘rota’ das exposições começa com “O Eu”, que estará patente no Museu de Arte de Macau, “que é basicamente ‘eu tenho que me conhecer para começar a conhecer o outro'”, descreveu Pauline Foessel.

Aqui estarão expostas obras do são-tomense Herberto Smith, da dupla de portugueses João Ó & Rita Machado, do chinês Li Hongbo, do moçambicano Mauro Pinto, de Vhils e do artista de Hong Kong Wing Shya.

De “O Eu”, segue-se para “O Outro”, partindo da premissa de que “para existir preciso do outro”. Esta exposição, que reúne trabalhos do guineense Abdel Queta Tavares, da macaense Ann Hoi, do cabo-verdiano Fidel Évora, dos portugueses Estúdio Pedrita e Ricardo Gritto, dos timorenses Tony Amaral e Xisto Soares, do chinês Zhang Dali e do artista de Hong Kong Yiu Chi Leung, estará patente no Edifício do Antigo Tribunal.

Na terceira exposição, “Da Linguagem à Viagem” passa-se “à interação – entre mim e alguém preciso de linguagem –, com uma dupla de artistas [o brasileiro Marcelo Cidade e o angolano Yonamine] a refletir sobre esse conceito”.

GCS

Na quarta exposição, que estará patente na Galeria de Exposições Temporárias do IACM, dá-se o “Choque Cultural”, que “pode acontecer nas trocas e nas viagens, por diferenças culturais”. Aqui será possível apreciar-se obras do moçambicano Gonçalo Mabunda, dos angolanos Kiluanji Kia Henda e Nástio e do português Miguel Januário.

“Depois disso passamos à ‘Globalização’ [patente nas Casas de Taipa], o conceito mais abrangente que surgiu de todas as interações entre os diferentes países”, contou Pauline Foessel. Aqui estarão expostos trabalhos do brasileiro Guilherme Gafi e da portuguesa Wasted Rita.

A sexta e última exposição, patente nas Oficinais Navais n.º1 — Centro de Arte Contemporânea, foi baptizada com o nome da mostra. “Alter Ego” e é uma exposição individual do luso-angolano Francisco Vidal.

Arte na rua

Além das seis exposições dentro de portas, “Alter Ego” conta também com uma intervenção de arte urbana, “transportando os temas explorados no espaço museológico para a esfera pública”, da autoria do português Add Fuel.

Os curadores, segundo Alexandre Farto, tentaram “reunir um conjunto de trabalhos fortes e que se interligassem uns com outros, porque também é uma oportunidade única de mostrar o trabalho destes artistas em Macau, que é uma porta de entrada para a China e para a Ásia em geral”.

“Criar e ganhar espaço para que estes artistas tenham visibilidade”, acrescentou.

A mostra “Alter Ego” faz parte da Exposição Anual de Artes entre a China e os Países de Língua Portuguesa, integrada no Encontro em Macau — Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa, organizado pelo Instituto Cultural do Governo da Região Administrativa Especial de Macau.

9 Jul 2018

Morreu o realizador Claude Lanzmann aos 92 anos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] realizador francês Claude Lanzmann, cujo nome será sempre associado ao documentário de nove horas “Shoah” (palavra hebraica para “catástrofe”), morreu esta quinta-feira aos 92 anos, em Paris, revelou o jornal Le Monde.

O vespertino francês classificou-o como “um cineasta maior, um dos que marcarão para sempre a história do cinema, mas foi também escritor, jornalista, filósofo, diretor [da revista] Temps Modernes, amigo de Sartre, companheiro de Simone de Beauvoir”.

“Morrer não tem nada de grande. É o fim da possibilidade de ser grande, pelo contrário. A impossibilidade de toda a possibilidade”, afirmou ao Le Monde em 2015, quando assinalou 90 anos de vida.

Lanzmann nasceu na capital francesa em 27 de novembro de 1925, no seio de uma família secular judaica, que assistiu à chegada ao poder de Adolf Hitler na vizinha Alemanha. Segundo a biografia disponibilizada pela Enciclopédia Britânica, toda a sua família sobreviveu à Segunda Guerra Mundial.

Membro da Resistência, foi estudar filosofia para a cidade alemã de Tubinga após o final do conflito e começou a dar aulas na Universidade Livre de Berlim, onde se iniciou no jornalismo para o Le Monde.

Lanzmann realizou uma série de filmes sobre Israel e o Holocausto, sendo o mais famoso destes o documentário “Shoah” (1985), que lhe tomou 11 anos da vida.

Questionado sobre a relação de Israel com a violência, dado o passado do povo judeu e no contexto do filme que realizou sobre o exército israelita – de nome “Tsahal” –, Lanzmann respondeu a um jornalista britânico que “há verdadeira integridade neste exército”, sem que se tratasse “apenas da sobrevivência de Israel, mas sim da singularidade do destino do país”. E da noção de que o conflito “não tem fim à vista”.

Em sequência nesta conversa, Lanzmann pergunta ao jornalista se ele era contra o estado de Israel, dando o exemplo do pianista e maestro israelo-argentino Daniel Barenboim, “que é contra o estado de Israel”.

Vencedor de um Urso de Ouro honorário em Berlim, em 2013, e de um prémio César honorário, em 1986, Lanzmann venceu vários outros galardões com “Shoah”, que dizia ser a palavra adequada para o que se chama Holocausto.

6 Jul 2018

Pequim pretende inscrever 14 monumentos como património da UNESCO

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Câmara de Pequim tenciona propor um grupo de 14 monumentos à Organização das Nações Unidas para a Ciência, Educação e Cultura (UNESCO), fez saber o responsável pelo património cultural da cidade, Shu Xiaofeng, em declarações publicadas pelo diário em inglês Global Times.

Na lista dos monumentos escolhidos, encontra-se o mausoléu de Mao Tse-Tung, construído após a morte em 1976 do fundador do regime comunista.

Este túmulo é visitado todos os dias por centenas de pessoas, que se reúnem junto dos restos mortais do governante, cujas imposições políticas e económicas resultaram na morte de milhões de chineses, depois de ter tomado o poder em 1949.

O mausoléu fica no lado sul da Praça Tiananmen, a maior praça do mundo e que será também candidata a património mundial da UNESCO.

A praça construída no século XV foi o local de vários marcos na história chinesa, como os protestos de 1989 para a democracia, que foram seguidos da repressão que custou a vida de centenas de pessoas.

O objetivo do município é de inscrever até 2035 um conjunto de 14 monumentos históricos, situados no “eixo norte-sul” da capital, na lista de património mundial.

A Cidade Proibida, antiga residência dos imperadores chineses, localizada a norte da Praça Tiananmen, assim como o Templo do Céu, são considerados como património individual da UNESCO desde 1987 e 1998, respetivamente.

Alguns moradores da cidade serão obrigados a mudar-se, de forma a transformar estes locais de acordo com o seu estado original, afirmou Shu, de acordo com o jornal Global Times.

6 Jul 2018

Exposição | AIYA é inaugurada amanhã na Fundação Oriente

A exposição AIYA junta cinco artistas locais que dão a conhecer ao público as suas interpretações das complexidades de Macau. Com curadoria de José Drummond, AIYA integra a 1ª Exposição Anual de Artes entre a China e os Países de Língua Portuguesa e é inaugurada amanhã na Fundação Oriente

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]IYA é a exposição integrada na 1ª Exposição Anual de Artes entre a China e os Países de Língua Portuguesa com inauguração marcada para amanhã às 17h30 na Fundação Oriente. A mostra junta obras e visão de cinco artistas locais. Fortes Pakeong Sequeira, Joaquim Franco, João Miguel Barros, Rui Rasquinho e Yves Etienne Sonolet são os artistas que integram a exposição e que trazem em diferentes suportes formas diversas de viver a cidade.

De acordo com o curador, José Drummond, as obras foram a resposta despretensiosa dos convidados ao desafio de criar novos trabalhos capazes de reflectir sobre Macau e sobre a variedade de expressões e paisagens sentidas na cidade.

O próprio nome da exposição é uma referência à palavra homónima local que traduz surpresa, dor, prazer e raiva, explica José Drummond.

Para o curador, o feedback foi positivo sobretudo devido a situações ‘site-specific’ e porque vários os trabalhos dos cinco artistas estabelecem, entre si, “uma conversa única, ao mesmo tempo mantendo o vocabulário e linha autoral de cada um”.

O resultado pode ser considerado uma “interpretação vernacular” artística deste território, até porque, “historicamente, é um lugar onde diferentes culturas se encontram e misturam numa atmosfera sem paralelo”, refere.

Venham mais cinco

Pakeong Sequeira participa na exposição colectiva com “Buraco Vazio”, um trabalho que aborda uma espécie de auto-exílio do artista local.

Já João Miguel Barros traz fotografias que recordam um combate de boxe em Macau. “‘Sangue, Suor e Lágrimas‘ é o título de um projecto mais vasto centrado num combate de boxe que se realizou em Macau, em Outubro de 2017, para atribuição do título “IBF Light Heavyweight Championship”, lê-se na apresentação da organização. Nesta exposição, estarão presentes 16 imagens deste projecto.

Uma visão de um mundo externo é a proposta de Joaquim Franco. “É um espelho onde o acto criativo, intuição e emoções coexistem como reflexão”, refere o curador. Sem julgamentos nem respostas, as pinturas de Joaquim Franco “são um terreno aberto”, onde o artista “projecta as emoções e elas, por seu turno, sugerem aos outros o sentir nos seus próprios termos. São liberdade para uma mente aberta”, lê-se.

O ilustrador e artista plástico Rui Rasquinho apresenta um conjunto de desenhos “extraídos de uma constante hesitação entre o abstracto e o figurative”. Sem retratar uma realidade física, a expressão artística dos trabalhos de Rui Rasquinho têm alicerces num “modo quase caligráfico, uma linguagem secreta da mente, uma janela críptica para o universo referencial do autor”. Representam o testemunho de um processo, um caminho de experimentação que não requer nenhum objectivo, nenhum fim, nenhuma forma final, descodifica José Drummond.

“Notas da cidade” é o trabalho de Yves Etienne Sonolet que associa som a superfícies de ambientes urbanos. “As paisagens panorâmicas mapeiam os padrões das ruas para se tornarem subdivisões em que a soma das escolhas individuais feitas pelos habitantes de cada espaço de vida cria um quadro maior e em que os sons interpretados nestas subdivisões urbanas são as de uma imagem efémera que eternamente se transforma com a passagem do tempo”, remeta Drummond.

6 Jul 2018

Rita Gomes, ou Wasted Rita, participa na exposição “AlterEgo” | Absolutamente irónica

Os seus trabalhos estão povoados de sarcasmo e ironia. Às vezes são uma expressão do que pensa sobre o mundo, outras são apenas um exercício “egoísta”. Em todas elas podemos conhecer as várias facetas de Rita Gomes. Ela é Wasted Rita, a jovem artista portuguesa admirada por Madonna. Wasted Rita está em Macau para participar na “AlterEgo”, exposição que reúne 27 artistas chineses e de língua portuguesa

 

Falemos desta exposição. Tem algumas referências ou críticas ao jornalismo que se faz hoje em dia e também a Donald Trump. É uma crítica aos tempos modernos, à sociedade contemporânea?

Vou dar um bocado de contexto: estas duas exposições na Taipa [nas Casas Museu da Taipa] estão inseridas no tema Globalização. Durante a pesquisa pensei no tipo de coisas que existem em todo o mundo e as que poderia comentar, não criticar. Pensei em seres humanos, nas questões existencialistas que nos são inerentes e depois fui um bocado influenciada pelo turismo massivo que está a começar a existir na Europa, e provavelmente na Ásia também. Fui influenciada pelas lojas de lembranças e quis fazer uma falsa loja de lembranças mas tendo o existencialismo como tema, e não o turismo, a cidade. Sim, abordo muito os temas mas mais a nível individual, da existência, da ansiedade, de procura, significado, do que propriamente o jornalismo ou o Trump, embora essas coisas estejam incluídas.

É a sua visão sobre essas questões.

Sim. O meu trabalho é sempre a minha visão sobre o que quer que esteja a falar.

Considera que o seu trabalho é muito intimista e que revela muito de si?

Estava a pensar nalguma peça nesta exposição que não seja intimista e não me lembro, por isso sim, acho que tudo é bastante eu. Como são tantos bocadinhos de eu, acabas por não perceber grande coisa, ficas só confusa. Eu ficaria confusa porque lanço muita informação sobre mim, e muitas vezes contraditória. 

Participa nesta exposição colectiva. O que acha da experiência de estar numa exposição que junta artistas de língua portuguesa e também chineses?

Essa experiência só está a começar agora, porque só agora é que estão a chegar os outros artistas. Cheguei muito cedo porque tenho uma exposição que acaba por ser a solo, então precisei de mais tempo, mas ainda não estive com ninguém, a não ser pessoas que já conhecia.

Esperava esta oportunidade de vir expor em Macau?

Não, de todo. Mas eu também não espero nada do que me acontece na vida. Vou vivendo e às vezes acontecem coisas fixes e eu fico “wow, que giro”. 

Em 2015 recebeu um email de Bansky e a partir daí tudo mudou. Acha que a sua carreira tem tido um percurso surpreendente?

Não foi bem a partir do convite do Bansky. Já antes fazia bastantes exposições em Lisboa e na Europa, mas sim esse convite trouxe uma credibilidade e procura pelo meu trabalho um pouco mais forte. Mas não penso muito no meu percurso, tento não fazer isso. Se calhar penso nisso no último dia do ano mas arrependo-me. Não quero muito estar a pensar no meu percurso, o que é que já fiz e o que vou fazer, porque isso cria uma pressão além daquela que eu já tenho em mim, de viver todos os dias e tentar estar bem. Não preciso dessa pressão, vou só tentando apreciar o que acontece e divertir-me com as oportunidades que tenho.

Disse numa entrevista que ainda não tinha chegado à conclusão se é artista ou ilustradora, uma vez que a sua formação de base é na área do design. Já tem mais certezas relativamente ao que é como profissional?

Não, mas espero nunca ter, porque acho que estar sempre aberta a explorar tantos suportes diferentes e maneiras de expressar é o que me faz também continuar a ter vontade de fazer coisas e de criar. Sim, acho que tudo isto se pode englobar, de uma forma muito geral, na ideia de artista plástica, mas muito do trabalho que fiz para esta exposição está ligado ao design gráfico. Rótulos e pressão é uma coisa que eu não quero colocar em mim própria. 

Consegue explicar o seu processo criativo, do momento em que começou a desenhar e percebeu aquilo que queria de facto fazer?

Comigo, a maior parte das vezes, é precisamente ao começar a fazer algo que começo a ter ideias. Daí que o meu trabalho tem muitos erros e muitas coisas apagadas, porque todo o meu processo criativo sou eu a fazer na altura uma ideia que estou a ter e vou sempre mudando de ideias. É uma coisa bastante ansiosa e acho que a maior parte das pessoas não consegue lidar muito bem [com isso]. Não artistas, mas galeristas, pessoas que estão envolvidas no processo não conseguem perceber muito bem.

É difícil explicar aquilo que está a fazer? Já aconteceu não ser compreendida?

Espero acabar um trabalho e depois as pessoas se quiserem perceber percebem, se não, não interessa. Não estou a tentar que toda a gente perceba. Não faz parte de mim fazer propaganda para as pessoas perceberem tudo o que eu estou a fazer.

Tem uma obra que diz “Girls just want to cum and have fundamental rights and then cum again”. Tem como objectivo ser interventiva na sua expressão artística?

Tenho o objectivo de criar coisas que me ajudam a compreender e a transmitir a minha compreensão do mundo. Isso acaba por fazer com que as minhas obras chamem a atenção para assuntos actuais. Também só costumo usar no meu trabalho coisas que estão a acontecer no mundo, é muito um trabalho diário do que acontece. Tenho esse objectivo mas também não o tenho. Acho que acaba por ser isso, mas o objectivo principal é estar só a desanuviar coisas. O meu objectivo principal se calhar é bastante mais egoísta, mas se o resultado final não tivesse um significado para as outras pessoas, se não fosse importante para um público já teria desistido de passar mensagens.

Fez uma exposição em Lisboa em Outubro, com o título “As happy as sad can be”, que expressa o facto de que nem todos nós temos de estar sempre felizes. Está em Macau, com uma exposição ligada ao tema da globalização. Que outros temas quer explorar?

Esta exposição também aborda muito o existencialismo, a depressão e a ansiedade, precisamente por ser uma coisa global. Como disse quis abordar duas coisas que fossem globais, as lojas de turismo e o existencialismo. Não gosto muito de falar do que ainda não está completamente confirmado. Mas nesse intervalo também fiz uma instalação de um falso funeral do patriarcado em Roma, com uma coroa de flores, velas e uma instalação sonora e imagens de Donald Trump e outros elementos feministas. 

Quando acabou o curso não queria ser designer e os seus pais disseram-lhe para ser independente. Ao fim de uns anos está a construir uma carreira internacional. Foi surpreendente?

Para os meus pais foi de certeza (risos). A primeira vez que fui a Paris lembro-me do meu pai estar no carro, levar-me ao aeroporto e perguntar-me se aquelas pessoas eram mesmo galeristas, se não me iam roubar. Foi uma surpresa enorme para eles e para mim também. Mas também não me consigo imaginar a fazer outra coisa.

Até a Madonna elogiou o seu trabalho.

É. Não tenho muito a dizer sobre isso. É só surreal. Há coisas que acontecem que são indescritíveis e que eu nunca pensei que fossem acontecer. Tipo o Bansky e a Madonna. Se me dissessem que aquela cantora que estava a cantar na MTV ia comprar trabalhos meus e que ia elogiar-me eu ia achar que não era possível, que queria outra pessoa. 

Acha que trouxe algo de diferente ou inovador?

Não sei, nunca pensei nisso. Não acho que isso de ser inovador seja assim tão importante, até soa a uma coisa de alguém que é empreendedor.

Aliás, já defendeu não ter muito jeito para a gestão da sua carreira em termos de finanças e imagem. Deixa que as coisas andem ao seu rumo.

Sim, às vezes se calhar demais. (risos). Às vezes poderia aproveitar muito mais a vida, às vezes não tenho uma exposição e deixo que nada aconteça, e deixo-me cair por caminhos perigosamente negros, e depois preciso de algo para me puxar. Acho que qualquer pessoa que trabalha como freelancer lida com isto.

Calculo que ainda não tenha tido muito tempo para conhecer Macau, porque acaba hoje de montar a sua exposição, mas acha que é um lugar que a vai inspirar para os próximos trabalhos?

Qualquer sítio que não seja “white people related” é tudo o que eu quero neste momento. Falo da Ásia e de outras culturas que na Europa não são tão conhecidas. 

Porquê o nome Wasted Rita?

Essa é uma história muito triste do fim de uma relação de quatro anos, com um jovem que só me fez mal, e eu vivia na sombra dele. Além disso, tinha estudado num colégio de freiras e era uma pessoa muito tímida, sem qualquer poder de dar opiniões. Estava a acabar a faculdade e queria ser eu. A palavra Wasted é absolutamente irónica.

5 Jul 2018

Vídeo | Present Future Film Festival aberto a candidaturas

O Present Future Film Festival está de volta para apresentar ao público de Macau trabalhos de vídeo e cinema de animação. A 5ª edição do festival, que ocorrerá em Setembro, já mexe e abriu a fase de submissão de candidaturas. Os projectos selecionados serão exibidos em Macau, Taiwan e Japão

 

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stão abertas as candidaturas para a 5ª edição do festival de vídeo Present Future Film Festival. A iniciativa organizada pelo ICenter visa “facilitar a criação de vídeos e animações”, refere a responsável pelo projecto, Sou Zoe.

Paralelamente, o evento propõe-se a levar as produções de autores locais a outros destinos, garantindo a divulgação além-fronteiras do que se faz em Macau.

Os filmes candidatos vão ser seleccionados por um júri composto por especialistas do território, Taiwan e Japão. Os vencedores , além de garantirem um lugar no programa da edição deste ano do festival, têm a oportunidade de verem os seus trabalhos distribuídos por parceiros do evento que se encontram nas três regiões. “A ideia deste festival é também construir uma plataforma para a troca de vídeos entre as três áreas geográficas e apresentar os mais recentes trabalhos em vídeo e animação que recebemos”, apontou.

Para Sou Zoe “há muitos talentos nesta área, tanto internacionais como locais” que precisam de espaço para mostrarem os seus trabalhos.

As candidaturas estão abertas até ao próximo dia 10 de Agosto e o festival no território tem data apontada para Setembro.

Nesta edição, “além do cinema do ICentre, também vamos expandir as exibições a vários cafés locais, nomeadamente, ao Macau Design Center, ao Che Che e ao Café Voyage”, esclareceu Sou Zoe.

De acordo com a responsável, a ideia é chegar a mais público e promover o interesse por este tipo de produções artísticas.

Caminho andado

Além da promoção dos criadores e públicos locais, o Present Future Film Festival tem como fim encontrar interessados na distribuição dos trabalhos premiados. Mas há objectivos maiores. Se até agora a iniciativa tem estado concentrada em Macau, Taiwan e Japão, no futuro a organização pretende passar por outros destinos. “Esperamos expandir o projecto a outros países e por vários locais do mundo”, afirmou Sou Zoe.

Por outro lado, com a apresentação de trabalhos internacionais, a organização espera que a produção local fique mais rica e que os criadores de Macau se sintam motivados a investir mais nos seus trabalhos.

4 Jul 2018

Festival | Sound&Image já recebeu quatro mil candidaturas de vários países

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] 9.ª edição do Sound&Image Challenge de Macau, festival internacional de música e curtas-metragens, já recebeu mais de quatro mil candidaturas provenientes das mais “variadas regiões”, anunciou ontem a organização.

Organizado pela Creative Macau, espaço cultural que comemora este ano o 15.º aniversário, o festival avança para a oitava edição com filmes provenientes da Grécia, Egipto, Estados Unidos, Reino Unido, Irão, Portugal, Brasil, entre outros.

A organização anunciou que entre 26 de Julho e 24 de Agosto serão exibidas as curtas-metragens vencedoras das últimas edições (2010-2017).

Por ocasião do 15.º aniversário, a Creative Macau decidiu organizar este ano a exposição colectiva “Open Future”, que estará patente naquele espaço cultural entre os dias 28 de Agosto e 22 de Setembro, lê-se na nota.

“O que o futuro reserva para nós?” ou “Como podemos mudar o futuro?” são algumas das questões abordadas nas exposições de escultura, pintura, instalação, fotografia e poesia.

Em Maio, a coordenadora da Creative Macau, Lúcia Lemos, afirmou à Lusa já ter recebido pelo menos 27 candidaturas de filmes portugueses.

À data, a responsável aproveitou para revelar que um dos directores do festival internacional de Curtas de Vila do Conde, Miguel Dias, vai ser grande júri do Festival.

O Sound&Image Challenge International Festival divide-se em duas competições: a de curtas-metragens, nas categorias de Ficção, Documentário e Animação, e a de vídeos musicais. A estes prémios, a organização decidiu acrescentar este ano novas nomeações: Prémios de melhor realizador, melhor cinematografia, melhor edição, melhor música, melhor banda sonora, melhores efeitos visuais para a competição de curtas, e de melhor canção e melhores efeitos visuais para a competição de vídeos musicais, que por enquanto não têm valor monetário.

Os trabalhos finalistas vão ser apresentados de 4 a 9 de Dezembro no Teatro Dom Pedro V.

4 Jul 2018

Espectáculo de danças de Gansu e países de língua portuguesa esta sexta-feira

Esta sexta-feira decorre o “Serão de Espectáculos entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, que reúne no Centro Cultural de Macau, pelas 20h, o Grupo de Artes Performativas de Gansu, da China, e mais oito grupos artísticos

 

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] plataforma cultural entre a China e os Países de Língua Portuguesa ganha uma nova expressão esta sexta-feira com o espectáculo “Serão de Espectáculos entre a China e os Países de Língua Portuguesa reúne em Macau o Grupo de Artes Performativas de Gansu e profissionais das artes performativas e grupos artísticos de oito Países de Língua Portuguesa. Trata-se de um evento organizado pelo Instituto Cultural (IC) e que se insere na primeira edição do “Encontro em Macau – Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa”.

Às 20h, no grande auditório do Centro Cultural de Macau (CCM), terá lugar o espectáculo que revela o trabalho do Centro de Pesquisa da Arte do Canto e Dança de Tianshui, da Província de Gansu, na China, que foi fundado em 1949 e que tem estado focado na pesquisa da cultura do canto, dança e música da província de Gansu.

De acordo com um comunicado do IC, “ao longo de quase 70 anos de existência o centro encenou uma série de óperas, peças teatrais e espectáculos de música e dança”, sendo que os seus espectáculos “receberam elogios de todas as esferas da sociedade dentro e fora da província”, além de que “as peças artísticas criadas pelo Centro são constituídas essencialmente por elementos da Cultura Fuxi da China antiga”.

Do lado dos países de língua portuguesa o público poderá assistir à presença do grupo de música tradicional angolana Nguami Makaa, que foi fundado em Abril de 2002 por um grupo de jovens liderados por Jorge Mulumba, que decidiu enveredar pelo mundo da música de raiz. O objectivo do grupo é resgatar os valores culturais e artísticos de Angola e têm o lema “Tocando os instrumentos tradicionais da Terra, dançamos os nossos ritmos”.

 

Do Brasil a Cabo Verde

“Raspa de Tacho” é o nome do grupo oriundo do Brasil que também actua neste espectáculo conjunto. Fundado em Setembro de 2001, tem como objectivo “levar este género musical brasileiro aos mais diferentes povos, culturas e gerações”.

Do repertório do grupo faz parte todo o universo do choro, nomeadamente o samba, a bossa nova, o baião, a marcha, a valsa, o frevo e também incursões pelo fado, jazz e pelos clássicos do género, além dos originais do grupo.

De Cabo Verde chega o grupo Tradison di Terra, criado no ano 2000, e que é considerado uma das referências do batuque tradicional da cidade da Praia e de Cabo Verde, tendo sido vencedor dos Cabo Verde Music Awards, na categoria de melhor batuque. O grupo é constituído na sua maioria por mulheres que utilizam o batuque tradicional como forma de preservar a cultura local, como factor de união da comunidade e no combate à pobreza que as rodeia.

O grupo Netos de Bandim, da Guiné-Bissau, foi criado no ano 2000 pela Associação dos Amigos da Criança da Guiné-Bissau. Tem como finalidade criar um ambiente de integração sócio-cultural para as crianças, jovens e mulheres do Bairro de Bandim que vivem no limiar de pobreza, oferecendo-lhes um espaço de convívio e partilha de boas práticas de cidadania através da música, do teatro e da dança tradicional. Com o passar dos anos o grupo cresceu e ganhou grande notoriedade na divulgação da música e da dança tradicional da Guiné-Bissau a nível nacional e internacional.

Outro dos países que também está representado neste evento é Moçambique, através do Grupo de Música e Dança Tradicional Hodi, integrado na Associação Cultural Hodi Maputo Afro Swing, uma agremiação de carácter cultural fundada em 2014.

A missão da Hodi é trabalhar na pesquisa, preservação e divulgação das danças tradicionais moçambicanas, dança contemporânea, música e instrumentos tradicionais, bem como as danças afro-americanas. O grupo toca instrumentos tipicamente tradicionais tais como a timbila, mbira, toges, likutes, nhatiti e outros. Hodi tornou-se uma das mais empenhadas companhias de dança em Moçambique que representam danças de todo o país.

 

Miranda do Douro em Macau

Portugal faz-se representar com o grupo Galandum Galundaina, ligado à música tradicional do norte do país, da zona de Miranda do Douro. Criado em 1996, esta formação tem como objectivo recolher, investigar e divulgar o património musical, as danças e a língua das terras de Miranda, o mirandês.

De São Tomé e Príncipe chega o cantor Felício Mendes. Apesar dos seus 69 anos, é ainda considerado um dos mais consagrados cantores de música tradicional de São Tomé e Príncipe. Ao longo da sua carreira musical, que teve inicio em 1970 quando integrou o conjunto militar “Os Quicos Verdes”, participou em espectáculos sem conta onde através da sua potente voz levou os ritmos tradicionais de São Tomé e Príncipe a muitos países africanos e europeus, entre eles Angola, Cuba, França, e Portugal, entre outros.

Por último, Timor-Leste apresenta-se em palco com o grupo Timor Furak, fundado por jovens artistas timorenses em 2006. O principal objectivo do grupo é promover a singularidade da cultura de Timor-Leste através da sua dança e música tradicional. Os bilhetes para este espectáculo já se encontram à venda e custam 50 patacas.

3 Jul 2018

Cinemateca Paixão | 3º Festival do Documentário começa este mês

“Imagina o Mundo” é o tema da terceira edição do Festival Internacional de Documentário de Macau, que começa no próximo dia 14 e termina a 4 de Agosto. O público poderá assistir a um total de 28 documentários, no evento que conta com a parceria com a associação local Comuna de Han-Ian. Hara Kazuo será o “realizador em foco” desta iniciativa

 

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]epois de apresentar uma série de filmes que mostram como a China e os Países de Língua Portuguesa podem andar de mãos dadas, a Cinemateca Paixão prepara-se para apresentar este mês uma programação dedicada ao género documentário.

Em parceria com a associação local Comuna de Han-Ian, o terceiro Festival Internacional de Documentário de Macau (FIDM) começa este mês, com o tema “Imagina o Mundo”. A ideia é que os 28 documentários europeus, americanos ou japoneses, entre outros, mostrem como “não nos sujeitaremos às dificuldades da realidade”, mas sim “deixar que a imaginação se torne numa nova visão do mundo, usando-a como um sólido bloco de construção da nossa cidade”, aponta um comunicado.

Hara Kazuo, realizador japonês independente, será o rosto principal deste evento, sendo considerado o mais importante documentarista asiático contemporâneo. Kazuo irá partilhar as suas experiências com o público, além de que os seus cinco documentários farão também parte do programa, com os nomes “Goodbye CP”, “Eros Extremamente Privado: Canção de Amor 1974”, “O Exército Nu do Imperador Continua a Marchar”, “Uma Vida Dedicada” e “O Desastre de Amianto de Sennan”.

Coreia a abrir

O filme de abertura será o “Dia da Libertação”, que é “uma obra sobre a famosa banda arte rock ex-jugoslava Laibach e a sua viagem a Pyongyang para tocar no concerto de celebração do Dia da Libertação da Coreia do Norte”.

O primeiro dia do festival vai também contar com dois convidados de Hong Kong, de nome Yuen Chi-Chung e Dennis Wong, que irão protagonizar um espectáculo musical e uma conversa sobre a banda Laibach. Este evento começa às 16h30, tendo entrada livre.

O festival conta ainda com outros filmes como “A Vida É Frutada”, “Os Van Goghs da China”, “Kedi”, “Morrer Amanhã”, “Comunhão”, “Light Up”, “Rostos Lugares” e “Ryuichi Sakamoto: CODA”.

“A Vida É Frutada” (realizado por Kenshi Fushihara), é sobre as vidas e filosofia do arquitecto japonês Shuichi Tsubata e sua esposa Hideko e a sua busca de harmonia entre a humanidade e a natureza.

“Os Van Goghs da China” (realizado pela parceria pai-filha de Yu Haibo e Yu Tianqi) retrata a vida de Zhao Xiaoyong, um camponês tornado pintor em Dafen, uma das “aldeias de pintura a óleo” de Shenzhen, que produziu réplicas de Van Gogh durante toda a vida e finalmente realiza o seu sonho de viajar até à Holanda para seguir as pisadas do mestre.

“Light Up” (realizado por Deniece Law, uma conhecida investigadora social de Hong Kong) regista quatro pessoas deficientes que perseguem os seus sonho através do teatro. O realizador encontrar-se-á com o público depois da sessão.

“Rostos Lugares” é um encantador e interessante documentário sobre Agnès Varda, a madrinha da Nova Vaga francesa, que se junta a JR, um artista contemporâneo, para viajar por aldeias francesas numa missão de ligar o público e a comunidade artística através da fotografia. O filme ganhou o Prémio Golden Eye (Melhor Documentário) no Festival de Cinema de Cannes 2017.

“Ryuichi Sakamoto: CODA” é o primeiro documentário sobre Ryuichi Sakamoto, o compositor premiado pela Academia e um dos mais importantes músicos japoneses.

Continuaremos também a contar com a “Secção Portuguesa” este ano e alargamos o horizonte para incluir mais filmes de países lusófonos, tais como o Brasil e Cabo Verde. Vamos olhar mais longe em busca da visão criativa do universo lusófono.

O “Realizador em Foco” HARA Kazuo dará uma master class, passando em revista mais de quatro décadas de prática documental. O próprio mestre explicará o seu método de “documentário de acção” e o seu entendimento da genealogia do “extremamente privado” no cinema documental asiático e mundial.

O festival encerra com um espectáculo musical da banda Cicada, de Taiwan, que vai tocar uma banda sonora ao vivo. De acordo com o mesmo comunicado, os Cicada são conhecidos por “dedicarem a sua música ao retrato da relação entre a humanidade e o ambiente. O concerto decorre dia 4 de Agosto no Teatro D. Pedro V.

Os bilhetes para este festival estão à venda na bilheteira da Cinemateca Paixão e também no website. Cada bilhete custa 60 patacas.

2 Jul 2018

Historiador Fernando Rosas alerta para perigo do conhecimento sem cultura

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] historiador português Fernando Rosas alerta para a “desculturalização do conhecimento”, promovida pelas novas tecnologias, e considera que “a substituição do Homem pela máquina só se resolve no quadro de uma sociedade socialista”.

Fernando Rosas, autor, entre outras obras, de “Portugal Século XX: Pensamento e Ação Política” (2004), faz estas declarações a encerrar o novo volume, a si dedicado, da série “Fio da Memória”, de autoria de José Jorge Letria, editada pela Guerra e Paz.

Esta série publica entrevistas a personalidades da cultura, contando com títulos dedicados à escritora Lídia Jorge, ao maestro Álvaro Cassuto, ao cineasta António-Pedro Vasconcelos, ao catedrático de filosofia Manuel Maria Carrilho, ou o ensaísta Eduardo Lourenço.

No último capítulo do novo volume, intitulado “Nas Minhas Velhas Convicções de Militante Socialista”, o historiador comenta que quando alguém quer saber quem foi Vladimir Lenine (1870-1924), político que liderou os sucessivos Governos russos desde o derrube da monarquia, em 1917, até 1924, resolve o problema de “telemóvel em punho”.

Rosas afirma que “há uma ‘desculturalização’ do conhecimento” e, noutro capítulo da obra, numa resposta a Letria, argumenta que “nada substitui o livro e o papel”, referindo que, no atual contexto, “há é uma desistência da leitura, da reflexão crítica e da controvérsia”.

O historiador Fernando Rosas, de 72 anos, é apontado pelo escritor José Jorge Letria como um exemplo de como o combate político se tornou “numa intensa e apaixonada carreira académica” na historiografia.

Licenciado em Direito, pela Universidade de Lisboa, Rosas “constitui um exemplo de como o combate político, que implicou detenções nas prisões da ditadura, mas também a experiência da clandestinidade, acabou por se converter numa intensa e apaixonada carreira académica que lhe permite falar da História como uma paixão e do pensamento político como uma porta aberta para o que há de vir e que ninguém sabe ao certo o que será e como irá ser”.

Nesta conversa, colocada em letra de forma, Fernando Rosas dá conta de como o seu avô materno, Filipe Mendes, um republicano, o influenciou, tendo-se tornado militante do Partido Comunista Português (PCP) aos 15 anos e, mais tarde, depois da Revolução de Abril, militante do MRPP e diretor do seu órgão oficial, o jornal Luta Popular, “num tempo turbulento e violento”, escreve Letria.

Sobre si, afirma Fernando Rosas: “Nasci com a política à mesa”. E recorda os brindes de natal, em que o avô finalizava com “Viva a República, viva a liberdade”, ou como a casa da sua tia Cândida Ventura, funcionava como apoio aos militantes clandestinos do PCP.

No texto sobre as suas “velhas convicções de militante socialista”, o autor regressa às teorias de Karl Marx, filósofo sobre qual nota assistir-se “uma pujança editorial” de trabalhos sobre o pensador.

Considerando “muito importante”, no contexto social atual, “a substituição do Homem pela máquina”, Rosa afirma que esta questão “só se resolve no quadro duma sociedade socialista, ou seja, só se resolve “no quadro da coletivização dos meios de produção”, e quando se puder “planear os meios de produção para que o inevitável e necessário progresso da máquina traga ao Homem mais tempo de lazer e de bem-estar e não o desemprego e a miséria”.

Uma questão, argumenta, que “tem tudo a ver com o capitalismo e com a superação do capitalismo”.

“A coletivização tem de ter poder sobre os meios de produção, para que possa programar em seu proveito o progresso da técnica”, defende.

1 Jul 2018

UNESCO classifica lugares clandestinos do cristianismo no Japão

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s sítios cristãos clandestinos da região de Nagasaki, no Japão, onde comunidades missionárias ibéricas tiveram um papel determinante, no século XVI, foram classificados como Património Mundial da UNESCO.

A reunião do Comité do Património Mundial da organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), em Manama, no Bahrein, vai no segundo dia de análise de uma lista de 30 candidaturas à classificação, que também inclui o cemitério militar português de Richebourg, em França, onde estão enterrados cerca de 1800 soldados, mortos na Grande Guerra de 1914-1918.

A candidatura japonesa foi aprovada no sábado, a par de edificado vitoriano de Mumbai, na Índia, do sítio arqueológico de Fars, no Irão, e dos mosteiros budistas da Coreia do Sul. A classificação dos sítios cristãos clandestinos da região de Nagasaki tivera já indicação positiva do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (ICOMOS, sigla da designação inglesa), organismo consultivo do processo. O processo de classificação envolve 12 elementos: dez localidades da região de Nagasaki, o castelo de Hara, na península de Shimara, e a catedral de Oura, construída no século XIX.

No conjunto, estes locais envolvem toda a história do cristianismo no Japão, dos mais antigos testemunhos, que vão da chegada dos missionários, no século XVI (1548/1550), passando pela interdição, no início do século XVII, que veio culminar um clima de perseguição já instalado, até à reabilitação, com o levantamento da interdição, em 1873.

Inicialmente, a instalação da Companhia de Jesus, no Japão, foi uma história de sucesso – Nagasaki chegou a ser administrada pela ordem -, mas em 1590, o clima era já de confronto com poderes feudais.

A interdição do cristianismo viria a ser decretada em 1614, as relações com Portugal seriam suspensas e os europeus seriam expulsos.

Durante a primeira metade do século XVII, 75 missionários foram executados e estima-se que mais de um mil cristãos foram mortos.

Entre os locais classificados estão Arima e Amakusa, locais da revolta cristã de 1637.

Na ilha de Kuroshima, outro dos locais classificados, o templo budista ocupa hoje o lugar da antiga igreja Shuntokuji (Dos Santos), fundada por portugueses, exemplo atual de tolerância religiosa, onde uma imagem de Maria está ao lado de um Buda.

O escritor Shusako Endo escreveu sobre a perseguição aos cristãos japoneses no romance “Silêncio”, que o realizador norte-americano Martin Scorsese, levou ao cinema, centrado na história dominante do missionário Cristóvão Ferreira, de Torres Vedras, que foi morto no Japão, no século XVII.

João Mário Grilo dirigiu “Os Olhos da Ásia”, filme que combina reconstrução de época com a actualidade, num tom documental, que visita os locais agora sujeitos a classificação.

O Comité de Património Mundial da UNESCO iniciou na sexta-feira a análise de novas candidaturas a património mundial, entre as quais se encontra a franco-belga “Lugares funerários e memoriais da I Guerra Mundial na Frente Ocidental”, que envolve mais de meio milhão de sepulturas, de mais de uma centena de cemitérios, necrópoles e monumentos.

O cemitério militar português de Richebourg pode, assim, vir a fazer parte da lista de lugares classificados como Património Mundial, no ano em que se assinala o centenário da Batalha de La Lys, a maior derrota militar portuguesa.

As classificações feitas contemplam as construções tradicionais de Thimlich Ohinga, no Quénia, a antiga cidade muralhada de Qalhât, em Omã, e o oásis de Al Ahsa, na Arábia Saudita, o maior do mundo.

O Comité da UNESCO reúne-se até quarta-feira no Bahrein. Entre as candidaturas em análise encontram-se também a Catedral de Naumburgo, na Alemanha, as Colónias de Beneficência da Bélgica e da Holanda, a Medina de Azahara, em Espanha, o conjunto urbano histórico de Nimes, em França, as minas de Rosia Montana, na Roménia, e o sítio megalítico de Göbekli Tepe, na Turquia.

1 Jul 2018

Chapas Sínicas | Correspondência entre Portugal e China retrata cooperação em Macau

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] combate aos piratas em Macau é um exemplo das realidades retratadas numa exposição que torna pública a correspondência diplomática trocada entre Portugal e a China naquele território, disse à agência Lusa a directora do Arquivo de Macau. A mostra intitulada de Chapas Sínicas – Histórias de Macau da Torre do Tombo está patente a partir de 7 de Julho, sábado, no Museu das Ofertas Sobre a Transferência de Soberania de Macau.

“As Chapas Sínicas reflectem quase 300 anos de relações harmoniosas entre os chineses e os portugueses, onde havia um diálogo constante para resolver os problemas locais e regionais que iam aparecendo”, disse à Lusa a directora Lau Fong.

Esta correspondência relata, entre outras coisas, a “actuação e colaboração concertada entre os portugueses de Macau e as autoridades chinesas na luta contra os piratas que infestavam esta região e que punham em perigo a população de Macau e até da própria coroa chinesa”, considerou a responsável pelo Arquivo de Macau.

Lau Fong relatou ainda a troca de mensagens entre Miguel José de Arriaga, conhecido como ‘Ouvidor de Arriaga’, e a sua “acção determinante e definitiva para esta causa, em que se movimentou e trocou muita correspondência com as autoridades chinesas para resolver o problema” da pirataria.

O Ouvidor – magistrado enviado por Portugal para Macau no início do século XIX que superintendia a justiça naquele território – teve um papel preponderante na luta contra a pirataria no delta do rio das Pérolas e nas negociações que culminaram na rendição de muitos piratas.

“A solidariedade de ambas as partes para com os náufragos e a ajuda no regresso aos seus países de origem, foi outro exemplo dado por Lau Fong para comprovar este “retrato fidedigno das harmoniosas relações de Portugal através de Macau com a China”.

As Chapas Sínicas – assim chamadas devido ao carimbo que era colocado na correspondência – são um conjunto de documentos em chinês de correspondência oficial trocada entre as autoridades chinesas e as portuguesas em Macau. Estas integram desde 2016 o Programa Memória do Mundo da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), na sequência de uma candidatura apresentada em conjunto por Macau e Portugal.

Compreendem um total de 3.600 documentos, referentes ao período entre 1693 e 1886, que se encontram na Torre do Tombo, em Lisboa. A partir de sábado, 102 destes documentos vão estar patentes em Macau, sendo que 35 destes foram traduzidos, na época, do chinês para português, explicou a directora, que é também a curadora desta mostra.

O principal objectivo desta exposição é “celebração do sucesso da candidatura conjunta do Arquivo de Macau e do Arquivo Nacional da Torre do Tombo para a inscrição das Chapas Sínicas no Registo da Memória do Mundo da UNESCO”, considerou.

Esta exposição testemunha ao longo da história o “papel fundamental de Macau como plataforma de interacção entre o Oriente e o Ocidente”, concluiu a curadora.

1 Jul 2018

LMA | Temporada de concertos de Julho abre com post-punk e continua com folk

[dropcap style=’circle’] O [/dropcap] post-punk feito no continente vai tomar conta do palco do LMA no próximo domingo para um concerto gratuito às 21h. A festa deste fim-de-semana tem como objectivo continuar a oferecer a Macau o que de melhor se faz na região em termos de música alternativa.

A Live Music Association (LMA) continua a dedicar-se à mostra de sons que não passam nas rádios locais, nem se encontram nas colecções de discos mais convencionais. O incontornável espaço que marca a diferença na oferta musical de Macau vai receber, no próximo domingo, o post-punk dos Lonely Leary.
A banda de Pequim estará pela primeira vez em Macau para um concerto gratuito. A ideia é “fazer de tudo para que as pessoas possam ver e conhecer o que está a ser feito, neste género, em Pequim”, revelou ao HM o gerente do LMA, Vincent Cheang. “Vamos fazer o espectáculo e não vamos cobrar qualquer entrada porque estamos muito empenhados na promoção dos Lonely Leary”, acrescentou.
As sonoridades produzidas pela banda podem ser descritas como post-punk, um estilo musical que, de acordo com o responsável pelo LMA, é muito pouco conhecido no território. “Penso que as pessoas em Macau em geral não estão familiarizadas com música independente e os que a ouvem, não ouvem post-punk”, afirmou.
O pouco público local que se interessa pelas sonoridades mais alternativas mantém uma característica que marca as suas opções desde há muito e que se rege pelo virtuosismo musical. “As pessoas quando vão ver um concerto aqui em Macau, ou mesmo quando ouvem um disco estão à procura de excelência nalgum tipo de interpretação”, apontou. Esta mestria pode ser facilmente reconhecida em estilos musicais fora do mainstream como é o caso do heavy metal. “No metal as pessoas aguardam pelos momentos em que a guitarrista se destaca com a interpretação de um solo exemplar”, diz. Esta premissa é válida para o público amante de música e para os próprios músicos locais que, desta forma não dão importância ao que Cheang chama de “feeling musical”, sendo que falta a capacidade de apreciar canções só pelo que elas transmitem, “pelo sentimento”. Com a vinda dos Lonely Leary, Cheong espera que se abram caminhos neste sentido. “Trata-se de uma banda muito boa, com canções cheias de ‘feeling’, um aspecto que as pessoas devem aprender a apreciar em Macau”, apontou.

Apostas de risco

No entanto, outra característica do público de Macau prende-se com o facto da vasta maioria dos melómanos estarem mais abertos a estilos de música mais comercial. “É por isso que fazemos este tipo de concertos e queremos fazer com que a cena alternativa comece a ser conhecida e apreciada pelo público local”, referiu.
A ideia é boa mas a sua concretização tem sido difícil, porque “não há quem aposte na produção discográfica e divulgação de quem se queira dedicar aos sons fora do circuito comercial”, disse.
Já na China continental a esfera alternativa é rica em bandas e público. “Em Pequim, por exemplo, há muitos músicos, há muito público e há editoras que apostam com seriedade neste mercado”, explica Vincent Cheang. Reflexo desse vigor alternativo é a própria editora Maybe Mars, sediada na capital chinesa e que tem a seu cargo várias bandas de todo o país que tenta levar a públicos além fronteiras.
O mês de Julho abre com post-punk mas continua com a música folk também vinda do continente. “Neste momento, o folk moderno é cada vez mais popular e vamos ter dois concertos deste género aqui no LMA, um dos espectáculo conta com a colaboração de uma intérprete local”, revela.
No entender de Cheang, o sucesso da nova vaga de música folk do continente relaciona-se com a sua capacidade de retratar o quotidiano das gerações mais jovens. É uma sonoridade “mais verde, com significado cultural para os mais novos que gostam de ir para os cafés conversar e ler”, disse, sublinhando que esta é uma tendência que gostaria de ver emergir em Macau.

29 Jun 2018

Festividades junto ao Templo de Na Tcha acontecem este fim-de-semana

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]uma altura em que aproxima a data de celebração do aniversário de Na Tcha, Deus da Terra, os representantes da associação que gere o templo reuniu com o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, no sentido de discutir acções de promoção das actividades do templo localizado ao lado das Ruínas de São Paulo, construído em 1901 e muito visitado por turistas.

A festa de Na Tcha decorre este fim-de-semana, mas os gestores do templo aproveitaram o encontro com o secretário para apresentar o “plano de desenvolvimento deste evento para o futuro”. Serão organizadas “actividades religiosas, desfiles da festividade, ópera religiosa, jantar de Poon Choi (comida servida em bacias), assim como o Fórum ‘Crença de Na Tcha e a cultura da sociedade’”. Este fórum é uma novidade este ano, contando com a presença de “académicos e representantes do sector cultural”.

Quanto ao plano a desenvolver no futuro, os responsáveis da associação pretendem promover a “cultura ‘Yut Lou’ [deus do amor na cultura taoista] na Travessa da Paixão, perto das Ruínas de São Paulo. Desta forma podem ser explorados “novos recursos turísticos. Está também a ser pensada a criação de “uma associação que se dedica exclusivamente aos estudos e investigação, com vista a promover o intercâmbio e estudo académico”.

No encontro com Alexis Tam, foi também referida a intenção de “desenvolver as indústrias culturais e criativas associadas à religião, criando produtos que congregam elementos culturais e religiosos, por forma a suceder e divulgar as ‘Crenças e Costumes de Na Tcha’ próprias de Macau”.

Mais turismo religioso

Ku, um dos dirigentes da associação, defendeu uma maior promoção do turismo religioso no território, uma vez que Macau “é um local onde existe harmonia entre as crenças religiosas do oriente e ocidente”. A ideia seria “ampliar os tipos de turistas, aumentando o tempo de permanência dos visitantes em Macau”.

Alexis Tam garantiu que a “cultura religiosa é um dos mais importantes recursos da sociedade e que as ‘Crenças e Costumes de Na Tcha’ é uma das mais representativas festividades populares”. Além disso, o secretário frisou que as tradições de Na Tcha “são classificadas como património cultural intangível a nível nacional e revestem-se de importantes valores culturais e características locais”.

Para o secretário, a associação deve dedicar-se “à preservação e transmissão das referidas crenças e costumes, tendo assegurado a colaboração da parte do Governo nas acções promocionais para que a população e os turistas possam sentir o ambiente da festividade”.

28 Jun 2018

Filmes portugueses regressam à Cinemateca Paixão

Começa hoje mais um ciclo de cinema português na Cinemateca Paixão. A mostra que vai até sexta-feira traz ao ecrã películas que passaram pelo IndieLisboa e que têm sido aclamadas internacionalmente. “Amor, Amor” o filme que abre as hostes, tem no elenco a actriz portuguesa, que reside em Macau, Margarida Vila-Nova

 

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]elo terceiro ano consecutivo, a Portugal Film traz à Cinemateca Paixão uma selecção de filmes portugueses que marcaram o último ano no circuito internacional.

O programa abre hoje, às 20h, com a exibição do filme “Amor Amor”, de Jorge Cramez e que tem como uma das protagonistas Margarida Vila-Nova. “Amor Amor” é uma história que gira em torno das múltiplas relações entre um grupo de amigos e as promessas que se fazem na passagem de ano.

Em “Amor Amor”, as personagens Marta e Jorge namoram há sete anos, naquela que parece aos olhos de todos uma relação “perfeita”. De acordo com a sinopse da película, a relação é “demasiado perfeita, para desespero de todos: de Bruno, muito mais novo que Marta, mas loucamente apaixonado por ela; de Lígia, irmã de Bruno e melhor amiga de Marta, que adoraria ver o irmão feliz; de Carlos, amigo de Jorge, que mantendo um namoro superficial com Lígia, ama secretamente Marta; e de Jorge, ele próprio que, por medo que tal idílio seja a sua prisão, convencido de que o seu amor e o desejo de casamento da sua amada inibam a sua liberdade”. “‘Amor Amor’ é a história deste grupo de amigos que entre a madrugada de 31 de Dezembro e a madrugada de 1 de Janeiro, em Lisboa, vivem os ziguezagues do amor e em que há quem venha a descobrir-se a si próprio e há quem venha mesmo a descobrir o amor”. Há ainda os que vão descobrir o preço limite da liberdade num fim de ano que pode mudar tudo de uma forma completamente inesperada.O filme, que estreou no festival IndieLisboa 2017, participou em competições nacionais e internacionais e é a segunda longa metragem de Jorge Cramez.

Regresso ao passado

Amanhã, a mostra apresenta o documentário de Susana de Sousa Dias, “Luz Obscura”. O filme, que tem sido reconhecido internacionalmente, aponta a organização, é um documento fundamental para reflectir sobre os aspectos mais obscuros do Estado Novo. “Como dar corpo a quem desapareceu sem nunca ter tido existência histórica?” é a questão que se coloca neste documentário que procura revelar como um sistema autoritário opera na intimidade familiar, fazendo emergir, simultaneamente, zonas de recalcamento actuantes no presente.

A mostra termina na sexta-feira, dia 29, com uma sessão de curtas metragens composta por quatro películas. “Limoeiro”, uma animação de Joana Silva realizada em contexto escolar na Royal College of Art de Londres, é um filme que pretende reconstruir uma personagem fictícia, através da fisicalidade de um espaço em ruína.

Segue-se “O Homem de Trás-os-Montes”, de Miguel Moraes Cabral, uma ficção que parte do Guia de Portugal de Raul Proença, uma edição histórica, conhecida pela qualidade literária das descrições do país. Apaixonado por Trás-os-Montes e inspirado pelo guia, Miguel procura histórias para realizar este documentário. O imprevisto marca a produção, sendo que “um dia, a aparição de um homem montado num burro vai mudar o seu destino”, revela a organização.

“Flores”, de Jorge Jácome, um dos filmes portugueses que mais prémios arrecadou no último ano em festivais de cinema, é uma ficção que imagina um cenário de crise natural nos Açores provocada por uma incontrolável praga de hortênsias. Perante um cenário de crise natural, a população açoriana vê-se forçada a abandonar as ilhas. Entretanto, dois jovens soldados, “sequestrados pela beleza da paisagem, guiam-nos pelas narrativas dos que partiram e o inerente desejo de resistirem, ficando”, lê-se em comunicado. Com esta deambulação, “o filme assume uma reflexão nostálgica e política sobre território e identidade, bem como sobre o papel que assumimos nos lugares aos quais pertencemos”.

A sessão termina com “Os Humores Artificiais”, de Gabriel Abrantes, curta que estreou no festival de cinema de Berlim no ano passado, onde ganhou uma nomeação para os European Film Awards. O filme conta a história de uma menina indígena do Estado do Mato Grosso, Brasil, que se apaixona por um robô. “Os Humores Artificiais” foi rodado no Mato Grosso (Canarana e nas aldeias Yawalapiti e Kamayura dentro do Parque Indígena do Xingu) e em São Paulo e mistura uma “certa estética hollywoodiana com abordagens típicas do registo documental”.

27 Jun 2018

Fadista Teresinha Landeiro estreia-se em disco com “Namoro”

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] fadista Teresinha Landeiro, de 22 anos, que começou a cantar aos 12, por mero acaso e sem qualquer tradição fadista na família, edita na sexta-feira o seu primeiro álbum, “Namoro”, produzido pelo guitarrista Pedro de Castro.

Em entrevista à agência Lusa, a fadista afirmou que a sua opção, ainda tão jovem, pelo fado, se deveu ao facto de gostar de cantar em português e da temática dos poemas, maioritariamente interpretados no fado, aliando-se “à magia de ser cantado à noite”.

“Foi uma amiga da minha mãe que me despertou o interesse pelo fado e, aos 12 anos, como prenda de aniversário fui pela primeira vez a uma casa de fados, e a magia, pela sonoridade, foi imediata. E encantou-me de tal forma, que me despertou a vontade de querer ouvir e aprender mais”, disse a intérprete.

Teresinha Landeiro é autora da maioria dos onze poemas que gravou no CD, aos quais juntou um tema que lhe ofereceram, “Lisboa Marcha Assim”, de Fernando Jorge Alves e António José Alves, e quatro temas do repertório fadista.

Referindo-se aos temas que recria, Teresinha Landeiro disse que “é sempre um desafio cantar, até porque vai haver sempre termos de comparação, mas tem de se andar para a frente”, e daí ter gravado, entre outros, “Raminhos de Violeta”, de Carlos Alberto França, “que cantava desde pequenina”, e que foi gravado por Hermínia Silva e Rodrigo.

Outros temas recriados são “Gota Abandonada”, de Maria de Lourdes de Carvalho e Martinho d’Assunção, que foi gravado, entre outras fadistas, por Maria Valejo e Maria Dilar, e ainda “O Riso que Me Deste”, de autoria e criação de Teresa Tarouca, que Teresinha Landeiro gravou no denominado “Fado Penha de França”, de Pedro Castro, um fado que Pedro Moutinho também recriou no seu álbum “O Amor não Pode Esperar” (2013), e, por último, a marcha “Noite de Santo António”, de Norberto de Araújo e Raul Ferrão, gravada por Amália Rodrigues, que Landeiro apontou como “a melhor voz, de sempre, de Portugal”.

Para a fadista aos temas recriados procurou dar o seu “cunho pessoal” e a sua “graça”, e se é “um desafio enorme” recriar temas que outros artistas já gravaram, “tem um gostinho especial” interpretar as suas próprias letras.

Sobre a sua faceta de autora afirmou: “Eu sempre gostei muito de escrever quadras simples, com rimas básicas, e quando senti o primeiro desgosto de amor, tentei expressá-lo de alguma maneira, refugiei-me na escrita e, no final de contas, quando comecei a olhar para eles, pensei que os podia cantar”.

Segundo a fadista, como muitas pessoas até a aconselhavam a não cantar certos fados, alegando que não eram para a sua jovem idade, optou pelas suas letras.

“Se eu cantasse os meus próprios poemas, ninguém poderia dizer que os não compreendia, e foi uma forma de me defender”, argumentou.

O CD abre com “Sonhos Meus”, de sua autoria, que gravou na melodia do Fado Carlos da Maia de Sextilhas, e interpreta ainda com letras suas, “Amor aos Molhos”, com música de Pedro de Castro, “Teus Olhos nos Meus”, que gravou no fado Perseguição, de Carlos da Maia, “Dias Sempre Iguais”, que canta no Fado Bizarro, de Acácio Gomes da Silva, e “Santo António Traiçoeiro”, que gravou no denominado “Fado Fininho”, de Alfredo Mendes.

A fadista gravou também, no Fado S. Miguel, de Armandinho, “Naquele Dia”, em que juntou duas quadras de Fernando Pessoa, a uma estrofe sua.

Teresinha Landeiro considera que o “tempo foi essencial” para gravar este CD, “nomeadamente num género musical, em que é necessário um grande amadurecimento”, e daí ter esperado dez anos desde a sua estreia, para gravar o primeiro CD, acrescentando: “Ainda hoje ponho em dúvida se seria a melhor altura, se realmente estou preparada, debato-me sempre com questões e dúvidas, mas passei muitos anos a ouvir outros fadistas a cantar, e fui amadurecendo, foram dez anos de aprendizagem, ouvindo até outros estilos musicais para meu enriquecimento, e um dia poder vir a gravar um disco”.

“Não sei se estou totalmente preparada, mas olho para aquilo que fiz e acho que é um bom reflexo do meu trabalho e daquilo que eu gosto”, sentenciou.

Para o seu percurso qualificou como “muito importante a presença constante de Pedro de Castro”, guitarrista que a acompanha desde que começou a cantar e que admira como músico, guitarrista, fadista e como pessoa.

Além de Pedro de Castro, na guitarra portuguesa, a fadista é acompanhada por André Ramos, na viola, e Francisco Gaspar, na viola baixo.

26 Jun 2018