Hong Kong | Votação em Carrie Lam supera expectativas

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m deputado do principal partido pró-Pequim em Hong Kong e membro da campanha de Carrie Lam disse ontem que a votação na próxima chefe do Executivo superou as expectativas.

Horace Cheung, do partido DAB, disse que quando a plataforma eleitoral estava a tentar obter nomeações, perceberam que a batalha ia ser dura e que não seria fácil conseguir os votos dos membros do colégio eleitoral, informou a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong.

“Por isso adoptámos uma abordagem conservadora e considerámos que não seriam mais do que 700 [votos]. Mas ontem [domingo] (…) o resultado foi melhor do que o esperado”, disse Cheung.

Carrie Lam, “número dois” do actual governo e apontada como favorita de Pequim, foi eleita com a maior votação de sempre: 777 votos, quase mais uma centena do que os 689 votos alcançados em 2012 pelo actual chefe do Executivo, Leung Chun-ying, também conhecido por CY Leung.

Donald Tsang, que em Fevereiro foi condenado a 20 meses de prisão depois de ter sido declarado culpado de conduta indevida enquanto liderou a cidade, foi eleito em 2007 com 649 votos.

Já Tung Chee-wha foi nomeado chefe do Executivo de Hong Kong, no âmbito da transição para a soberania chinesa, e foi declarado vencedor das eleições de 2002, depois de ter obtido 714 nomeações escritas por um colégio eleitoral nessa altura composto por 800 pessoas, o que impossibilitava que qualquer outro candidato conseguisse as 100 nomeações à data necessárias para a formalização oficial de uma candidatura.

Horace Cheung disse que os 777 votos vão ajudar Carrie Lam a estabelecer a plataforma para comunicar com diferentes sectores, incluindo os pró-democratas.

Outras visões

Mas o deputado do Partido Democrático James To disse que os pró-democratas não partilham os mesmos valores que Lam no que diz respeito às grandes questões políticas.

Carrie Lam é associada pelos pró-democratas como a figura do governo de CY Leung que promoveu a reforma política defendida pelo governo central chinês, a qual aceitava o voto por sufrágio universal para o cargo de chefe do Executivo mas com a condição de os candidatos serem pré-seleccionados pelo colégio eleitoral.

Essa proposta de reforma política conduziu aos protestos que paralisaram as ruas de Hong Kong durante 79 dias no final de 2014 e foi chumbada em Junho de 2015 no Conselho Legislativo (parlamento) de Hong Kong, com o voto contra do bloco pró-democrata.

Apesar de reunir o maior apoio entre a população e de grande parte dos pró-democratas, John Tsang, o segundo classificado na votação de domingo com 365 votos, enfrentava a oposição de alguns membros desse mesmo campo e dos chamados grupos ‘localists’ que emergiram após os protestos pró-democracia em 2014.

Numa declaração divulgada no domingo, o Partido Cívico apelou aos apoiantes pró-democratas para “porem de lado as suas diferenças” e manterem-se unidos.

A maioria dos 3,8 milhões de eleitores de Hong Kong não vota nas eleições para o chefe do Executivo, estando o voto restrito a um colégio eleitoral composto por cerca de 1.200 membros de vários sectores, a maioria associada a posições pró-Pequim. O campo pró-democracia detém cerca de 300 lugares neste colégio.

O jovem activista Joshua Wong – o rosto dos protestos pró-democracia de 2014 – que entretanto co-fundou o Partido Demosisto, foi um dos cerca de 200 ou 300 manifestantes que no domingo protestaram no exterior do centro de convenções, onde decorreu a votação, a pedir o sufrágio universal.

Joshua Wong antecipou mais protestos para o dia da posse de Carrie Lam como chefe do Executivo, uma cerimónia habitualmente realizada a 1 de Julho, data que este ano marca também o vigésimo aniversário da transição da antiga colónia britânica para a soberania chinesa.

28 Mar 2017

Pequim e Moscovo querem investigação a uso de armas químicas no Iraque

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Rússia e a China propuseram que a comissão das Nações Unidas que investiga o uso de armas químicas na Síria alargue os trabalhos ao Iraque, uma proposta rejeitada imediatamente pelo Reino Unido.

Os dois países sugeriram a possibilidade de alargar o âmbito do Mecanismo de Investigação Conjunta durante uma reunião sobre a batalha de Mossul, onde forças iraquianas combatem extremistas do Estado Islâmico.

Os membros do Conselho de Segurança expressaram “preocupação unânime” com as últimas informações sobre o uso de armas químicas pelo Estado Islâmico, de acordo com o embaixador britânico Matthew Rycroft, que presidiu às negociações.

A Rússia e a China apresentaram uma proposta de resolução que “pretende expandir o trabalho do Mecanismo de Investigação Conjunta ao Iraque”, disse Rycroft, acrescentando que o Reino Unido se opõe à medida.

“O Reino Unido assinalou que há muitas diferenças entre a situação no Iraque e na Síria”, afirmou.

Nada a esconder

Ao contrário do Governo sírio, o Executivo iraquiano “está a cooperar totalmente com o OPCW”, indicou Rycroft, referindo-se à sigla inglesa da Organização intergovernamental para a Proibição de Armas Químicas, que trabalha com a ONU para implementar o Mecanismo de Investigação Conjunta.

“Não há alegações” de que o Governo iraquiano use armas químicas, afirmou.

O conselho não tomou qualquer decisão sobre a proposta na sexta-feira. Rycroft não indicou se a Rússia e a China vão submeter a sua resolução a votos no futuro.

A disputa evidenciou uma discordância fundamental entre os países ocidentais e a Rússia sobre a Síria.

O Mecanismo de Investigação Conjunta – que Moscovo ajudou a estabelecer como membro do Conselho de Segurança – concluiu que o Governo sírio, aliado da Rússia, usou armas químicas pelo menos três vezes.

No entanto, em Fevereiro a Rússia e a China vetaram uma proposta de resolução para sancionar o Governo sírio devido ao uso de armas químicas.

27 Mar 2017

Hong Kong | Carrie Lam eleita Chefe do Executivo com 777 votos

O discurso de vitória foi feito em prol da união de uma sociedade considerada dividida. Carrie Lam, ex-número dois do Governo de CY Leung, toma posse como Chefe do Executivo de Hong Kong dia 1 de Julho. Dois jovens residentes falam das suas expectativas sobre o novo Executivo

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m total de 777 votos, oriundos de um colégio eleitoral com 1194 membros, bastaram para eleger a Chefe do Executivo de um território com cerca de sete milhões de habitantes. Carrie Lam, antiga número dois do Governo de CY Leung, em Hong Kong, já era considerada favorita para vencer as eleições de ontem. Para trás ficaram John Tsang, ex-secretário para as Finanças, que obteve 365 votos, e Woo Kwok-hing, juiz jubilado, com apenas 21 votos.

Ainda assim, houve ecos de contestação. Anunciada a vitória de Lam, um grupo de activistas pró-democracia, munidos de cartazes e guarda-chuva amarelos, deu uma volta à sala a entoar palavras de ordem a exigir o sufrágio universal. Mais protestos ocorreram em Hong Kong no dia anterior às eleições.

Centenas de pessoas manifestaram-se no sábado “em prol do sufrágio universal e contra a interferência de Pequim”. “Seja qual for o candidato que seja eleito, isto não é democracia, isto é apenas uma eleição [feita] por um pequeno círculo”, disse Au Nok-hin, coordenador da Frente dos Direitos Humanos e Cívicos, que organizou o protesto, em referência ao facto de o direito de voto estar restrito a um comité eleitoral composto por cerca de 1.200 pessoas.

A manifestação juntou vários partidos políticos do campo pró-democrata, que estava dividido entre o voto em John Tsang e o voto em branco, como sinal de protesto pela ausência de sufrágio universal. Alan Leong, líder do Civic Party, marcou presença na manifestação “para protestar contra a interferência do Governo Central na eleição do chefe do Executivo de Hong Kong”.

“Esta eleição está dentro [das competências] da autonomia de Hong Kong e o Gabinete de Ligação [do Governo Central da China] tem usado meios (…) para aumentar a pressão sobre os membros do comité eleitoral para votarem em Carrie Lam”, disse à agência Lusa.

O jovem activista político Joshua Wong, que ficou conhecido como o rosto da revolução dos guarda-chuvas, não tem direito de voto na eleição do Chefe do Executivo, mas se tivesse também votava em branco. “Os três candidatos concordam ou mantêm silêncio sobre a interferência do governo de Hong Kong e também concordam com a implementação do artigo 23, por isso é difícil para nós apoiar qualquer um dos candidatos pró-China”, disse.

União sim, democracia depois

Carrie Lam escondeu do seu discurso a questão da reforma democrática, tendo defendido outras prioridades. “Hong Kong, a nossa casa, está a sofrer uma grave divisão e acumulou muitas frustrações. A minha prioridade vai ser sarar a divisão, aliviar a frustração, e unir a nossa sociedade para seguir em frente.”

“Muita gente (…) disse-me que estava agora preocupada, porque Hong Kong parece estar a perder a competitividade”, disse ainda, falando da existência de “muitos problemas” ao nível da habitação, educação e saúde. “A minha prioridade é tentar demonstrar que podemos unir as pessoas com posições diferentes para seguir em frente e, com o ambiente propício, recomeçar o processo de reforma política”, afirmou.

Que futuro?

Firmino da Silva Khan é macaense mas desde criança que vive em Hong Kong. Em entrevista por email horas antes das eleições, o jovem empreendedor afirma que o futuro não será muito diferente face à era CY Leung.

“Independentemente daquele que será o próximo Chefe do Executivo de Hong Kong o futuro será o mesmo, a não ser que alguém esteja disposto a ir contra os desejos da República Popular da China.”

Firmino da Silva Khan explica a antipatia que muitos cidadãos sentem pela recém-eleita Chefe do Executivo. “Admito que Carrie Lam irá provavelmente acelerar o processo de morte da democracia em Hong Kong. Fez parte da Administração 689 (número de votos que elegeu CY Leung em 2012). É também bastante pró-República Popular da China. Estes dois factores fazem com que seja ainda mais odiada. É também hipócrita, pois, por um lado, diz que quer comunicar mais com as gerações mais jovens, mas por outro lado critica essa mesma geração pelas suas acções e recusa responder a várias questões”, acrescentou o jovem.

John Tsang poderia receber mais apoio dos que têm menos de 30 anos, mas, ainda assim, faltava algo. “Muitos apoiaram John Tsang e muitas pessoas próximas de mim me falaram dele nos últimos dias antes das eleições”, explicou Firmino da Silva Khan. “Não havia um apoio forte, mas as pessoas odeiam tanto Carrie Lam que não lhes restava outra alternativa se não apoiar Tsang. Foi um candidato mais amigável e aberto, disposto a fazer um esforço de ligação das pessoas, sobretudo das gerações mais jovens”, acrescentou.

Tâmara Liu Ying Ying, que está a realizar o estágio em advocacia, diz não estar certa se “Carrie Lam é verdadeiramente odiada pela população”.

“As pessoas da minha idade e do meu circulo de amigos preferiam John Tsang, porque fez uma boa campanha e foi um dos que serviu o Governo por um longo período de tempo e, ainda assim, recebe apoio tanto dos democratas como de alguns apoiantes de Pequim. Seria o único a conseguir unir a sociedade nesta altura”, explica a jovem advogada.

Para Tâmara Liu Ying Ying, caso o sufrágio universal já estivesse implementado, os resultados eleitorais teriam sido bem diferentes. “Esse sistema seria melhor do que aquele que temos actualmente. Caso essa reforma política estivesse já implementada, John Tsang teria recebido mais votos.”

Amada ou odiada, a escolha está feita. Para a estagiária em advocacia Carrie Lam tem, acima de tudo, experiência governativa. “Ela fez parte do Governo (desde a sua graduação na Universidade de Hong Kong) e penso que será uma Chefe do Executivo bastante capaz. Penso até que estará mais disposta a ouvir os democratas do que CY Leung, já que, por exemplo, convidou todos os partidos para um jantar na residência oficial para discutir a questão da reforma política, há uns anos”, concluiu.

Em comunicado, Chui Sai On, Chefe do Executivo de Macau, deu os parabéns pela vitória de Carrie Lam. “Estou certo de que, com base nos bons fundamentos de cooperação já existentes, os dois Governos devem dar as mãos e continuar a aprofundar as relações amigáveis, inclusive para incrementar a eficácia.”

27 Mar 2017

Stephen Hawking surge em holograma em Hong Kong

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] célebre astrofísico Stephen Hawking falou na sexta-feira a uma audiência em Hong Kong através de um holograma, numa sessão em que discutiu ciência e também política.

O cientista britânico surgiu perante uma audiência de centenas de pessoas que aplaudiram e tiraram fotografias, num evento em que Hawking falou da sua carreira e respondeu a perguntas sobre a possibilidade de existência de vida noutros planetas, o uso da tecnologia na educação e o impacto do ‘brexit’ no Reino Unido.

Hawking, de 75 anos, disse que a eleição do Presidente norte-americano Donald Trump faz parte de uma cadeia de “sucessos da extrema-direita” que vão ter implicações graves para o futuro da inovação científica.

“Com o ‘brexit’ e Trump (…) estamos a assistir a uma revolta global contra os especialistas”, disse, naquela que foi a sua primeira aparição em Hong Kong desde 2006.

A viragem à direita surge numa altura em que o mundo enfrenta múltiplas crises ambientais, do aquecimento global à desflorestação, acrescentou.

“As respostas a estes problemas vão surgir da ciência e da tecnologia”, disse.

Hawking sofre de esclerose lateral amiotrófica, uma doença neurodegenerativa que afecta os nervos que controlam os movimentos voluntários, que o deixou paralisado, só conseguindo comunicar através de um sintetizador de voz.

O evento foi organizado pela empresa de jogos chinesa NetDragon Websoft, em parceria com a ARHT Media, que cria hologramas digitais humanos de celebridades, incluindo o guru espiritual Deepak Chopra, o orador motivacional Tony Robbins e o ‘rapper’ The Notorious B.I.G.

A tecnologia que permite a um humano aparecer e interagir com audiências em múltiplas localizações em simultâneo está a expandir-se.

27 Mar 2017

China | Confirmada interdição de carne de vaca do Brasil

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m porta-voz do ministério chinês do Comércio disse ontem que o país decidiu suspender as importações de carne de vaca oriundas do Brasil, na primeira confirmação oficial de Pequim sobre a interdição de carne brasileira.

O ministro da Agricultura do Brasil tinha já anunciado a decisão da China de suspender as importações, mas até agora os funcionários chineses limitaram-se a dizer que o país adoptara precauções.

O porta-voz do ministério do Comércio da China, Sun Jiwen, confirmou ontem que “os departamentos competentes do Governo chinês adoptaram medidas atempadas e temporárias para suspender as importações de carne de vaca oriunda do Brasil”.

Uma operação policial no Brasil detectou um esquema de facilitação de licenças e fiscalização irregular de frigoríficos.

De acordo com a polícia federal brasileira, funcionários públicos eram subornados por directores de empresas para darem aval a carnes com prazos de validade já ultrapassados e adulteradas.

Entre as práticas, foi comprovado o uso de químicos para melhorar o aspecto das carnes, a falsificação de etiquetas com a data de validade ou a inclusão de alimentos não adequados para consumo na elaboração de enchidos.

União Europeia, Japão e México anunciaram, entretanto, limites ou a interdição total da importação de carne brasileira.

25 Mar 2017

Li Keqiang adverte Austrália contra o proteccionismo

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, advertiu ontem contra o proteccionismo, afirmando que o seu país planeia reduzir o défice comercial com a Austrália através do aumento das trocas comerciais, ao invés da sua redução.

Li afirmou num discurso no parlamento australiano que a globalização gerou “alguns problemas”, mas que não se pode culpar o livre-comércio.

A China “não pode fechar as portas” para resolver os seus desequilíbrios comerciais com a Austrália, afirmou Li Keqiang, após em 2016 o país ter registado um défice no comércio com a Austrália no valor de 50.000 milhões de dólares, sobretudo devido à alta procura chinesa por carvão e ferro.

“Acreditamos que para resolver o desequilíbrio, temos de continuar a expandir as trocas comerciais”, afirmou o primeiro-ministro chinês.

Li e o seu homólogo australiano, Malcolm Turnbull, vão discutir os detalhes do alargamento do seu acordo de livre-comércio, vigente por dois anos, nas áreas investimento e serviços.

Numa das suas primeiras decisões após tomar posse, o Presidente norte-americano, Donald Trump, retirou os Estados Unidos do Acordo Transpacífico (TPP, na sigla em inglês), um ambicioso bloco comercial na Ásia Pacífico e um pilar central da estratégia de Obama na região.

A Austrália era um dos principais defensores do bloco, que Pequim considera ter como objectivo travar a sua crescente influência na região.

A visita de Li à Austrália e Nova Zelândia, que começou na quarta-feira, é a primeira de um primeiro-ministro chinês em onze anos.

Li é também o mais alto responsável chinês a visitar a Austrália desde 2014, quando o Presidente Xi Jinping, fechou o acordo de livre-comércio.

Questões marítimas

Turnbull sugeriu que dois lideres vão ainda abordar a questão do Mar do Sul da China, reclamado quase na totalidade por Pequim, apesar dos protestos dos países vizinhos.

“O primeiro-ministro Li e eu vamos discutir, como fizemos antes, a importância de proteger a manter a estabilidade na nossa região”, disse Turnbull.

“Acreditamos que a China tem uma grande contribuição a fazer para a paz global e prosperidade, numa era de rápidas mudanças”, afirmou.

Li disse que a China vai cooperar com a Austrália para garantir a liberdade de navegação nas regiões divididas.

A China “nunca vai procurar a hegemonia e domínio”, disse.

24 Mar 2017

Hong Kong | Carrie Lam é a favorita das eleições de domingo

Vinte anos depois da transferência de soberania, Hong Kong deverá passar a ser liderado por uma mulher. Dos três candidatos às eleições para o Chefe do Executivo, Carrie Lam é a mais forte, apesar de ser a menos popular. Para este sufrágio, pouco interessa se o povo gosta ou não. Já depois, a história pode ser outra

[dropcap style≠’circle’]L[/dropcap[á saberá o que diz. Esta semana, o magnata Li Ka-shing resumia, em declarações aos jornalistas, o que vai acontecer no próximo domingo: quando chega a hora de escolher o Chefe do Executivo, “o candidato que detém a confiança do Governo Central derrota o candidato mais popular”.

Sem revelar expressamente o sentido de voto, o milionário deu a entender que vai votar na antiga secretária-chefe Carrie Lam. Tudo aponta que seja a escolha de Pequim, apesar de, nos exercícios de auscultação dos desejos populares, o ex-secretário para as Finanças John Tsang ser bastante mais popular.

Acontece que, à semelhança de Macau – ou, para sermos mais rigorosos, em sentido inverso, porque o método foi inventado para Hong Kong e depois copiado para Macau –, o Chefe do Executivo da região vizinha é escolhido por um reduzido número de eleitores. O colégio que, a 26 de Março, vai escolher o sucessor de C.Y. Leung reúne apenas 1194 pessoas. São representantes de grupos de interesses e, na maioria, são pró-regime.

O sufrágio deste ano é acompanhado com particular interesse pelos analistas políticos. É o primeiro desde os grandes protestos de 2014 a favor da reforma do sistema, um movimento que deu em coisa nenhuma. E acontece numa altura em que Hong Kong passou a ter, assumidamente, defensores da independência em relação à China.

Além de Carrie Lam e de John Tsang, na corrida está também Woo Kwok-hing, um magistrado de 71 anos, independente, um homem que apareceu sem que ninguém estivesse à espera e que deverá inscrever o seu nome na história política da região apenas por ter sido candidato. Não tem hipóteses de sair vencedor mas, ainda assim, salienta o politólogo Éric Sautedé, foi o único a apresentar um programa político verdadeiramente diferente.

A vantagem dos 49 por cento

Os últimos dias não têm sido fáceis para a Carrie Lam. “Têm corrido rumores de que a Comissão Independente contra a Corrupção está a levar a cabo uma investigação. Terá havido uma denúncia de que tem residência no Reino Unido, uma vez que o marido é britânico, o que poderia invalidar a candidatura”, contextualiza Éric Sautedé. O politólogo francês a viver em Hong Kong não acredita que tal venha a acontecer, até porque “Lam não tem passaporte do Reino Unido”, pelo que acredita que a ex-secretária-chefe sairá vencedora da corrida. Porém, o facto não deixa de marcar a recta final da campanha.

Vista como uma mulher fria e determinada, Carrie Lam foi alvo de duras críticas por parte dos seus adversários recentes. John Tsang e Woo Kwok-hing disseram esta semana que “age como um ditador”. Tsang, antigo colega de Lam na equipa de C.Y. Leung, entende que é preciso mantê-la “bem-disposta” caso seja eleita. “É preciso ter a certeza de que actua de forma benigna.”

Na apresentação da candidatura, do universo de quase 1200 eleitores, 580 estiveram ao lado da antiga secretária-chefe. É ela a que conta, em teoria, com mais apoiantes entre aqueles que efectivamente decidem. São 49 por cento contra os 15 por cento de Woo Kwok-hing e os modestos 14 por cento de John Tsang.

Existem rumores de que Carrie Lam teria ainda mais membros da comissão eleitoral a apoiá-la, mas que os terá deixado de lado para tentar mostrar que se trata de uma verdadeira eleição, de que pode ser desafiada”, conta Sautedé. “Se apresentasse mais de 600 apoios pareceria muito mal, porque o assunto estaria arrumado.”

Pringles e ‘selfies’

Conhecido como “Uncle Pringles”, por se assemelhar ao ícone das batatas fritas desta marca, John Tsang não deverá ser eleito no próximo domingo, mas há uma batalha de que já saiu vencedor: é o mais popular dos candidatos nas sondagens e estudos que foram sendo feitos. Apesar de ser do mesmo quadrante político de Carrie Lam, tem uma imagem mais suave, em linha com a geração mais nova.

A questão é mesmo quem vota. Éric Sautedé salienta que a maioria dos apoios dados à candidatura do ex-secretário para as Finanças é proveniente do campo pró-democrata. No início desta semana, os membros pró-democracia do colégio eleitoral prometeram dar 290 votos a John Tsang.

Todas as declarações dos independentes e pró-democratas a favor de Tsang tiveram impacto junto da população. Fez uma campanha mais virada para as pessoas comuns. Tirou ‘selfies’ com toda a gente. Não há um equivalente para Carrie Lam.” Para a popularidade do ex-secretário para as Finanças conta ainda o facto de ter feito promessas em que parece atender às exigências dos residentes.

Há quem entenda que a forma como John Tsang tem sido acolhido poderá ser contraproducente para Carrie Lam. Tal não influenciará a votação, mas poderá “causar alguma tensão”, concorda Sautedé. “Mas, feitas as contas, é como diz Li Ka-shing: ganha quem tem mais importância, não o mais popular. E, afinal, os dois candidatos são muito próximos. Não tenho a ilusão de que existam diferenças substanciais entre eles. Tudo o que fizerem, um ou outro, será altamente constrangido pelas pessoas que votaram neles.”

Para o analista, uma coisa é, no entanto, certa: Carrie Lam, a ser eleita, será alvo de um escrutínio muito maior. É aí que a popularidade – ou a falta dela – passa a ser um factor relevante.

Edmund Cheng, analista político e professor da Universidade Baptista de Hong Kong, partilha do mesmo entendimento, até porque há já uma certa tradição entre popularidade e escolha do vencedor. “Passa a ser um maior desafio para um governante ter de lidar com a falta de apoio popular.”

O que vem do Norte

À semelhança de Éric Sautedé, também Edmund Cheng encontra mais semelhanças do que diferenças entre os dois candidatos mais bem posicionados, a começar pelo facto de serem ambos funcionários públicos há mais de 30 anos. “Mas, ainda assim, existem diferenças”, ressalva.

Porque é que Tsang é tão popular? Parece ter capacidade e vontade de estabelecer uma relação de proximidade com a população. Acredita que o maior problema de Hong Kong é político e que é preciso reduzir as diferenças sociais numa sociedade muito polarizada.” Já Carrie Lam demonstra acreditar que, ao resolver os problemas do quotidiano, conseguirá minimizar as reivindicações de natureza política.

O ex-secretário para as Finanças, continua o professor universitário, não terá o apoio do Gabinete de Ligação do Governo Central, o que, “para muitas pessoas de Hong Kong, é uma vantagem, porque significa que pode proteger a autonomia da região”. Edmund Cheng salienta que um dos principais problemas da antiga colónia britânica é “o aparente controlo excessivo” da representação de Pequim, “em todas as questões políticas e sociais”.

Carrie Lam, por seu turno, “deverá beneficiar em muito do apoio do Gabinete de Ligação”, no que diz respeito ao número de eleitores que vão depositar nela a tarefa de governar Hong Kong. “Mas quando for eleita, terá de ouvir o que o Gabinete e isso preocupa a população.”

As preocupações da população não deverão influenciar o sentido de voto de homens como Li Ka-shing. Mas se, por hipótese académica, houver uma segunda volta, John Tsang deverá poder contar com os votos dos eleitores de Woo Kwok-hing, uma vez que o magistrado já prometeu apoio incondicional ao antigo secretário para as Finanças.

Os analistas não acreditam que Tsang tenha uma segunda oportunidade. Carrie Lam já deverá ter alinhavado o discurso da vitória. Não tem popularidade, mas tem poder.

24 Mar 2017

Li Keqiang de visita à Austrália e Nova Zelândia

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] primeiro-ministro da China, Li Keqiang, iniciou ontem uma visita oficial à Austrália, seguindo depois para a Nova Zelândia, com a missão de aumentar as relações bilaterais, em particular, as comerciais, com os dois países.

A visita de Li Keqiang, que teve início ontem ao final do dia, figura como a primeira realizada por um primeiro-ministro chinês aos dois países oceânicos em 11 anos.

Além disso, Li surge como o mais alto membro do Governo da China a visitar a Austrália desde 2014, quando o Presidente Xi Jinping fechou um acordo de comércio livre com Camberra, que teve início em 2015.

O primeiro-ministro australiano, Malcolm Turnbull, afirmou que os dois líderes vão anunciar a próxima fase do acordo durante os quatro dias da visita de Li.

Em 2016, o comércio bilateral ascendeu a 103,5 mil milhões de dólares norte-americanos, fazendo com que a China se mantivesse, pelo oitavo ano consecutivo, como o maior parceiro comercial da Austrália, segundo dados publicados pela agência oficial chinesa Xinhua.

A Austrália, por seu turno, figurou como o oitavo maior parceiro comercial da China no ano passado.

A bem da região

Naquela que é também a primeira viagem ao estrangeiro que realiza desde o início do ano, Li reunir-se-á com os chefes de Governo de ambos os países, o australiano Malcolm Turnbull e o neozelandês Bill English, que fazem parte, a par com a China e outras nações, de uma das iniciativas regionais que está a ser negociada: a Associação Económica Regional Integral (RCEP).

Esta iniciativa “é uma das negociações mais importantes para o desenvolvimento do comércio livre na região”, afirmou na terça-feira, em conferência de imprensa, o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Zheng Zeguang, ao explicar os objectivos da viagem de Li.

“Esperamos, a par com a Austrália e a Nova Zelândia, continuar a promover o RCEP e conseguir relações comerciais mais abertas e inclusivas que gerem benefícios mútuos na zona e promovam a economia mundial”, sublinhou o mesmo responsável.

A China não figurava entre os 12 países que, no início de 2016, firmaram o Acordo de Associação Transpacífico (TPP), formando antes parte da RCEP, que surgiu como bloco alternativo quando Washington anunciou a retirada dos Estados Unidos do TPP.

Além da China, a RCEP agrupa outras três importantes economias da Ásia – o Japão, a Índia e a Coreia do Sul -, além dos dez membros da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) e da Austrália e da Nova Zelândia.

23 Mar 2017

Ex-Presidente sul-coreana regressa a casa após 21 horas de interrogatório

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] ex-Presidente sul-coreana regressou ontem a casa, depois de passar mais de 21 horas na Procuradoria, onde esteve a ser interrogada sobre o papel no escândalo de corrupção “Rasputina” que levou à sua destituição.

Park Geun-hye, que se submeteu pela primeira vez às perguntas do Ministério Público após ter perdido a imunidade, ao ser destituída a 10 de Março, foi interrogada durante 14 horas e passou outras sete a rever a declaração.
Já tinha amanhecido quando Park, de 65 anos, abandonou a sede da procuradoria, em Seul, com um ar cansado e sem falar com os jornalistas concentrados no local.
Durante o processo, a antiga Presidente negou as 13 acusações das quais é suspeita, incluindo suborno e abuso de poder, mas não foram facultadas mais informações.
No exterior da sede da procuradoria, vários partidários de Park – que passaram toda a noite no local – saudaram a ex-Presidente à saída, agitando bandeiras.
Outro grupo recebeu-a de forma idêntica quando chegou à residência privada, na luxuosa zona de Gangnam, em Seul, com parte da rua que dá acesso à casa coberta com cartazes e mensagens de apoio.

A queda

Park foi a primeira chefe de Estado a ser destituída desde que a Coreia do Sul voltou a realizar eleições democráticas em 1987, algo que os defensores, quase todos nostálgicos da ditadura liderada pelo pai (Park Chung-hee), dizem ser uma conspiração da esquerda e dos meios de comunicação social sul-coreanos.
A antiga chefe de Estado perdeu a imunidade em 10 de Março, após o Tribunal Constitucional ratificar a destituição, aprovada pelo parlamento, controlado pela oposição, em Dezembro.
Após a destituição de Park, foram convocadas eleições presidenciais para 9 de Maio, as primeiras antecipadas na Coreia do Sul.
O Ministério Público considerou, no início do processo, que Park terá actuado como cúmplice no caso de corrupção e tráfico de influências que tem como protagonista Choi Soon-sil, conhecida como a “Rasputina” sul-coreana por ser próxima da ex-chefe de Estado.
Park é acusada de ter permitido a intervenção de Choi em assuntos de Estado, apesar de não deter qualquer cargo público.
Já Choi Soon-sil foi acusada de ter extorquido aos principais conglomerados do país 77.400 milhões de won (cerca de 61 milhões de euros) a favor de em duas fundações que controlava, em troca de favores.
Ao todo, 30 pessoas foram até agora indiciadas no escândalo, que também afectou 53 empresas, incluindo gigantes como a LG, Hyundai ou Samsung.
Park Geun-hye foi a primeira mulher a ser eleita chefe de Estado na Coreia do Sul.

23 Mar 2017

Hong Kong | Activista aceita prisão por agredir polícias

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m activista dos protestos pró-democracia de 2014 em Hong Kong, que foi atacado por sete polícias condenados pela agressão, aceitou ontem a pena de cinco semanas de prisão por atacar as forças de segurança.

Ken Tsang, que trabalha na área da assistência social, renunciou à possibilidade de recorrer da decisão – de Maio de 2016 – que o condena a cinco semanas de prisão por ter agredido a polícia e resistido à detenção durante as manifestações de finais de 2014 na antiga colónia britânica.

O activista apresentou-se ontem diante de um tribunal de Hong Kong, à entrada do qual se concentraram duas dezenas de manifestantes para expressar o seu apoio com guarda-chuvas amarelos – símbolo dos protestos pró-democracia – e uma dezena de simpatizantes das forças de segurança da Região Administrativa Especial chinesa.

Sete contra um

O caso de Tsang voltou à actualidade em 14 de Fevereiro quando um juiz de Hong Kong condenou a dois anos de prisão os sete polícias que o agrediram por ter atacado antes outros agentes da autoridade.

O incidente teve lugar durante uma das noites mais violentas dos quase três meses de ocupação nas ruas e foi tornado público pelo canal de televisão local TVB que transmitiu no dia seguinte as imagens.

As imagens de vídeo mostravam os sete agentes a arrastar Tsang, algemado, para longe da multidão, para um canto escuro num parque público, onde foi agredido. Um homem estava por cima do activista infligindo-lhe golpes enquanto três outros o pontapeavam repetidamente.

Na gravação também se via Ken Tsang, então membro do Partido Cívico, um dos principais grupos políticos pró-democracia, a atirar um líquido – que o activista insiste que era água – contra polícias antes de ser agredido.

Tsang tornou ontem pública a sua decisão de não recorrer da sentença através de um comunicado no Facebook: “Sei que algumas das coisas que fiz infringem a lei e tenho de ser responsável por isso – nunca o neguei”.

Com esta condenação encerra-se outro dos casos que correm na justiça sobre a fase de desobediência civil em que degenerou o movimento que levou inúmeros activistas a sentarem-se no banco dos réus nos meses que seguiram ao fim dos protestos populares que tomaram as ruas de Hong Kong durante 79 dias.

Agora, Ken Tsang pode vir a tornar-se no primeiro recluso a votar na eleição para o chefe do Executivo de Hong Kong, marcada para domingo, dado que é um dos 1.194 membros do restrito colégio que vai escolher o líder do Governo entre os três actuais candidatos ao cargo.

Tsang, que integra o colégio eleitoral como representante do sector da assistência social, afirmou, citado pelos ‘media’ locais, que espera que as autoridades competentes o ajudem a exercer o seu direito de voto na cadeia.

22 Mar 2017

Lu-Olo eleito Presidente de Timor-Leste com 57,08% dos votos válidos

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]rancisco Guterres Lu-Olo foi eleito esta segunda-feira como Presidente da República em Timor-Leste, obtendo 57,08% dos votos válidos, à frente do segundo classificado, António da Conceição, com 32,47%, segundo dados finais provisórios.

Quando estavam escrutinados 100% dos 696 centros de votação, Lu-Olo somou 294.938 votos, contra os 167.760 de António da Conceição, num sufrágio em que participaram 528.813 eleitores, ou 71,16% do total recenseado, segundo o Secretariado Técnico de Administração Eleitoral (STAE).

Em terceiro, a grande distância dos dois primeiros, surge José Luís Guterres, que obteve 13.513 votos (2,62%), à frente de José Neves, que obteve 11.662 votos ou 2,26 por cento dos votos válidos (que totalizaram 516.727).

Em quinto entre os oito candidatos surge Luís Tilman, que obteve 11.124 votos ou 2,15% do total, seguindo-se António Maher Lopes, com 9.098 votos ou 1,76% do total.

Nas últimas duas posições surgem Ângela Freitas, que obteve 4.353 votos ou 0,84%, e Amorim Vieira que se ficou pelos 4.279 votos ou 0,83%.

Os seis candidatos menos votados somaram entre si 54.029 votos, ou 10,46% do total.

Dos números

Lu-Olo venceu em nove dos 12 municípios (Aileu, Baucau, Bobonaro, Covalima, Díli, Lautem, Manatuto, Manufahi e Viqueque), com António da Conceição a vencer nos municípios de Ainaro, Ermera e Liquiçá e na Região Administrativa Especial de Oecusse-Ambeno (RAEOA).

O Presidente eleito, que tomará posse a 20 de Maio, obteve o seu melhor resultado em Viqueque, na ponta leste do país, onde conseguiu 82,79% dos votos e o seu pior em Liquiçá, onde se ficou pelos 41,35%.

Já António da Conceição registou a sua maior percentagem de apoio em Liquiçá (49,82%) e a pior em Viqueque (9.67%).

Lu-Olo venceu nos três centros de votação fora de Timor-Leste, obtendo 65,61% dos votos em Lisboa, 64% dos votos em Sydney e 47,88% em Darwin.

Os dados provisórios, que têm agora de ser validados oficialmente, mostram que Lu-Olo ficou acima dos 50% em sete dos 12 municípios do país e que António da Conceição não conseguiu a maioria absoluta em nenhuma região do país.

A maior taxa de participação registou-se em Aileu, a sul de Díli, onde votaram 81,49% e a menor ocorreu em Manufahi, também a sul da capital, onde votaram apenas 68,05% dos eleitores inscritos.

22 Mar 2017

Eleições | Presidência de Timor-Leste entre Guterres Lu-Olo e António da Conceição

Fecharam as urnas em Timor-Leste para a eleição do próximo Presidente da República. A grande interrogação que se coloca, enquanto não chegam os resultados, é se Francisco Guterres Lu-Olo é eleito à primeira. A acontecer uma segunda volta, o candidato da Fretilin deve ter António da Conceição como adversário
Com agência Lusa

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s eleições presidenciais em Timor-Leste ocorreram sem incidentes, com toda a tranquilidade e transparência, com a sensatez a ser a imagem de marca do primeiro sufrágio sem a organização das Nações Unidas. Os elogios marcaram as reacções internacionais ao acto eleitoral que vai eleger o quarto Presidente da República timorense, sucessor do actual Taur Matan Ruak. O presidente da Comissão Nacional de Eleições (CNE), Alcino de Araújo Baris, disse à Agência Lusa que “não houve nada de grave a registar e as coisas funcionaram normalmente em praticamente todo o lado”. Já a campanha eleitoral havia decorrido sem acidentes de maior, facto que, para o investigador Rui Flores, foi uma “mostra da maturidade democrática do país”.

A contenda tem como nomes cimeiros nos boletins de voto Francisco Guterres Lu-Olo, apoiado pelos dois principais partidos, e António da Conceição, que concorre sob a égide do Partido Democrático, com o apoio do Presidente cessante Taur Matan Ruak.

No sufrágio anterior, a afluência às urnas foi elevada, 78,2 por cento do eleitorado, com largas filas de eleitores a aguardar oportunidade para votar, já bem depois da hora prevista para o fecho das urnas. Ainda assim, Alcino de Araújo Baris espera que a taxa de participação seja ainda mais maior que a registada em 2012, apesar de, até à hora de fecho desta edição, ainda não terem sido apresentados dados concretos da participação eleitoral. Portanto, uma democracia vibrante em termos eleitorais, apesar de todas as dificuldades logísticas, mas ainda imune às maleitas da abstenção.

“Os eleitores mostraram bastante ânimo, queriam participar neste processo e as coisas estão a funcionar em todo o território”, revelou o presidente da CNE à Lusa na altura em que as urnas eram encerradas.

Pela primeira vez na história da jovem democracia timorense, foi dada a oportunidade à diáspora para participar no acto eleitoral, mas apenas em Lisboa, Sydney e Darwin. Assim sendo, os primeiros dados de participação vieram da Austrália, onde o entusiasmo eleitoral foi oposto ao verificado em Timor-Leste. Em Sydney, dos 658 eleitores registados, apenas 75 foram às urnas, sendo que o candidato mais votado foi Francisco Guterres Lu-Olo, com 48 votos, não tendo sido ainda apurados os resultados das restantes candidaturas.

Em Darwin a afluência foi muito superior. Das 228 pessoas registadas para participarem no sufrágio votaram 168, tendo o candidato apoiado pela Fretilin obtido 79 votos, contra os 58 de António da Conceição, segundo os dados revelados pela Lusa. Os resultados referentes à votação de Lisboa ainda não tinham sido divulgados até ao fecho da edição.

Apesar de ainda serem prematuros, uma vez que os resultados finais podem ser apurados apenas daqui a 48 horas, os votos contados na Austrália podem ser lidos politicamente, uma vez que dão vantagem ao candidato favorito. “A dúvida é se Francisco Guterres Lu-Olo ganha à primeira, se houver segunda volta há aqui uma surpresa, uma vez que a Fretilin e CNRT não chegarão aos 50 por cento”, projecta Rui Flores, investigador que viveu em Timor-Leste durante três anos.

Observadores satisfeitos

Timor votou ontem para eleger o quarto Presidente. Será uma segunda volta necessária?

Durante a eleição registaram-se apenas pequenos problemas. O presidente da CNE relatou aos jornalistas um caso de atraso na abertura de uma mesa de voto em Dom Caileto, no município de Bobonaro, assim como a detenção de um eleitor que se tentou passar por outra pessoa para votar de novo. Ocorreram ainda alguns erros de impressão de boletins de voto e mesas de voto em más condições. Tirando isso, a quarta eleição presidencial de Timor-Leste correu bem – é essa a opinião generalizada dos observadores internacionais no local.

A eurodeputada basca Izaskun Bilbao Barandica, que lidera a missão oficial de observadores da União Europeia, mostrou-se agradada com a correcção e transparência do processo. Numa primeira avaliação, a observadora descreveu que, “nos maiores centros urbanos, especialmente em Díli, os membros das mesas demoraram algum tempo a consultar os nomes dos eleitores nos cadernos”, o que resultou em algumas filas. Em declarações aos jornalistas, a eurodeputada realçou que o essencial é que tenha sido garantido o sigilo da votação e que o acto se tenha realizado sem impedimentos.

Estiveram em Timor-Leste 15 equipas, compostas por 35 pessoas, a acompanhar o processo em 10 dos 13 municípios timorenses, que continua com a contagem dos votos. Ana Gomes e Marisa Matias estão entre os sete eurodeputados no terreno.

“Onde estive a observar está tudo calmíssimo, tranquilíssimo, com muita afluência e sinais de que as pessoas, mesmo os jovens, são muito conhecedoras do processo e do que têm a fazer”, afirmou a eurodeputada do PS à agência Lusa em Díli.

À primeira

A presidência parece estar dividida entre Francisco Guterres Lu-Olo e António da Conceição. O primeiro candidato, apoiado pelos dois principais partidos timorenses, parece ter alguma vantagem. Lu-Olo chega às urnas com o aval político da Fretilin, liderada por Mari Alkatiri, e pelo Congresso Nacional de Reconstrução Timorense (CNRT), do histórico Xanana Gusmão. Ambos os partidos tinham nas últimas sondagens a preferência do eleitorado, granjeando, respectivamente, 29 por cento e 17 por cento. É, claramente, o candidato que encarna o sentido de unidade nacional expresso pelas elites políticas timorenses, segundo os dados recolhidos pela sondagem da Asia Foundation, realizada em Dezembro último.

A candidatura de António da Conceição é apoiada pelo actual Presidente e pelo Partido Democrático. No total, as últimas sondagens sugerem que o candidato deverá reunir cerca de 10 por cento das intenções de voto.

Apesar da tranquilidade na ida às urnas, esta eleição tem como pano de fundo alguma turbulência política e as futuras legislativas.

Neste aspecto, Rui Flores adianta que “a grande questão é ver se a convergência de interesses da Fretilin e da CNRT se vai verificar nas legislativas”. O investigador considera improvável que haja uma coligação pré-eleitoral entre as duas grandes forças partidárias timorenses.

Uma das maiores incógnitas é saber quem encabeçará as listas às eleições legislativas, sendo que a única certeza é que Taur Matan Ruak será candidato, através de um pequeno partido que criou mas que parece não descolar nas sondagens apuradas até agora. A ida às urnas para eleger o próximo Governo deverá ocorrer no mês de Julho.

Neste contexto, é de salientar que o Presidente cessante, eleito com o apoio de Xanana Gusmão em 2012 depois de derrotar Francisco Guterres Lu-Olo, entrou em ruptura com o Executivo apoiado pela Fretilin e a CNRT. As desavenças políticas chegaram ao ponto de Taur Matan Ruak ter tentado chumbar o Orçamento de Estado de 2016, mas a frente política de unidade nacional dos dois maiores partidos timorenses forçaram a promulgação.

O actual Presidente e antigo líder da resistência armada à ocupação indonésia, FALINTIL, lançou acusações ao Executivo que o modelo de desenvolvimento económico seguido é contraproducente. Matan Ruak insurge-se contra a política de aposta em megaprojectos e nas concessões a petrolíferas, em detrimento do investimento em áreas sociais, como a saúde, educação, agricultura e pescas.

Dois caminhos

A jovem democracia timorense parece separada em duas facções, sendo que os partidos históricos continuam a conseguir a simpatia da maioria do eleitorado.

Porém, esse apoio popular já conheceu melhores dias. Segundo um estudo da Asia Foundation, em 2014, 73 por cento dos inquiridos mostraram contentamento com o rumo seguido pelo país. Esta margem de manobra da elite política timorense viu-se reduzida a 58 por cento em 2016. A discrepância é ainda maior entre o eleitorado com menos 25 anos, com uma redução de 80 por cento para 50.

Um dos factores de descontentamento popular, que Taur Matan Ruak tenta capitalizar, é o fantasma da corrupção que paira sobre o bloco central timorense, num pequeno país muito dependente das rendas do petróleo. Outro ponto é o alegado investimento em grandes projectos, como o complexo petroquímico e de tratamento de gás natural de Tasi Mane e o terminal de contentores de Tibar, nos subúrbios de Díli. No ano passado, o complexo petroquímico recebeu um investimento de cerca de 193 milhões de dólares, um valor equivalente a todos os gastos do Estado com saúde, educação e agricultura. Isto num jovem país ainda com grandes dificuldades estruturais onde parece começar a fermentar algum ressentimento na população, criando uma atmosfera de crescente insatisfação social.

A corrupção é assim um dos problemas latentes em Timor-Leste, algo que surge quase como uma consequência natural numa democracia recente e onde foram descobertos significantes jazigos de combustíveis fósseis. No início deste mês, o Departamento de Estado norte-americano divulgou um relatório onde alertou para a “corrupção endémica” no sector público.

Estes são os cenários de fundo em Timor-Leste. Enquanto os resultados das presidenciais não chegam, os dados para as legislativas já rolam numa das mais jovens democracias mundiais.

21 Mar 2017

Pequim adverte Washington sobre venda de armas a Taiwan

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China reiterou ontem a sua firme oposição à venda de armamento a Taiwan pelos Estados Unidos, face às informações de que Washington está a preparar um grande carregamento de armas para a ilha.

“A China opõe-se firmemente à venda de armas a Taiwan pelos EUA. Isto é consistente e claro”, disse a porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros Hua Chunying, em conferência de imprensa.

“Esperamos que o lado norte-americano reconheça plenamente a elevada sensibilidade e graves danos das suas vendas a Taiwan”, acrescentou.

Hua apelou a Washington para que obedeça ao princípio “Uma só China” e “suspenda a venda de armas a Taiwan”, de forma a preservar as relações entre os dois países e a estabilidade no Estreito de Taiwan.

Os comentários, feitos um dia após o secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, concluir uma visita oficial a Pequim, são uma reacção às informações veiculadas pela imprensa norte-americana de que a administração de Donald Trump prepara uma venda de larga escala de armamento a Taiwan.

Pequim considera Taiwan uma província chinesa e defende a reunificação pacífica, mas ameaça usar a força caso a ilha declare independência.

As relações voltaram a deteriorar-se após a tomada de posse em Taipé da Presidente Tsai Ing-wen, do Partido Democrata Progressista, que defende a independência do território.

O amigo americano

Os EUA são o aliado mais importante da ilha e o seu principal fornecedor de armas, apesar dos dois lados não terem relações diplomáticas, desde 1979.

A vitória de Trump nas eleições norte-americanas suscitou a preocupação de que este utilize a questão de Taiwan como moeda de troca em disputas comerciais com Pequim.

Trump chegou mesmo a aceitar uma chamada telefónica de Tsai, felicitando-o pela vitória nas eleições, e por várias vezes disse que poderia reconsiderar a política “Uma só China” – vista como uma garantia de que a ilha é parte da República Popular e não uma entidade política soberana.

Após essa chamada, o Governo de São Tomé e Príncipe anunciou o corte das relações diplomáticas com Taipé e o reconhecimento da República Popular da China, numa decisão que a imprensa estatal chinesa disse ser um castigo para Tsai.

Na semana passada, Taiwan reconheceu pela primeira vez publicamente que tem capacidade para lançar mísseis contra a China.

Segundo Taipé, a China tem mais de 1.500 mísseis apontados para Taiwan.

21 Mar 2017

China | Parceiros comerciais protestam contra novas medidas de inspecção de alimentos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s parceiros comerciais da China vão trazer a Pequim o responsável máximo da ONU pelas normas alimentares, numa tentativa de persuadir as autoridades a recuar com um plano que visa reforçar o controlo sobre as importações alimentares.

Segundo as medidas anunciadas por Pequim, que devem entrar em efeito em Outubro, todos os produtos alimentares – incluindo de baixo risco, como vinhos e chocolates – vão precisar de um certificado que prove que satisfazem os padrões de qualidade chineses.

Outros países exigem apenas aquele certificado para importações de carne, lacticínios e outras mercadorias perecíveis.

Europa e Estados Unidos consideram que as novas regras visam proteger os produtores chineses, em detrimento das suas exportações.

A medida pode ainda agravar as tensões entre Pequim e a administração norte-americana de Donald Trump, que prometeu subir os impostos sobre as importações chinesas.

A China é ainda um mercado cada vez mais importante para os produtos alimentares europeus, incluindo portugueses.

Em 2015, o sector dos alimentares português foi o que mais aumentou as vendas para a China: 161,1%, em termos homólogos. Diplomatas e empresários estão apreensivos face às novas medidas.

“Pode reduzir as importações de forma dramática”, afirmou o embaixador da Alemanha em Pequim, Michael Clauss, citado pela Associated Press.

“Parece mais uma forma de proteger os produtores chineses do que os padrões de segurança alimentar”, disse.

As regras vão acrescentar “uma complexidade de regulamentos desnecessária”, num período em que Pequim prometeu reduzir os regulamentos, afirmou Jake Parker, vice-presidente do Conselho Empresarial EUA-China, citado pela AP.

Os reguladores chineses consideram que é necessário um reforço do controlo, à medida que as importações aumentam.

As autoridades chinesas argumentam que a inspecção está de acordo com o Codex Alimentarius, as “regras para produtos alimentares” definidas pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura e a Organização Mundial de Saúde.

O presidente do Conselho, Awilo Ochieng Pernet, um advogado suíço, vai estar em Pequim, em Abril, num seminário com funcionários chineses para explicar as normas, segundo fonte não identificada citada pela AP.

Peso desnecessário

Em Janeiro passado, os embaixadores dos EUA e vários países da União Europeia (UE) expressaram a sua preocupação numa carta enviada a Wang Yang, o vice-primeiro-ministro chinês encarregue da agricultura e comércio.

Em comunicado, a delegação da UE na China afirmou também que exigir certificados sanitários para todos os produtos “não é cientificamente necessário”.

As regras seriam um peso para as empresas estrangeiras e um desperdício de “recursos preciosos de inspecção, que deviam focar-se em produtos de risco”, acrescenta a mesma nota.

As medidas surgem após uma série de escândalos alimentares envolvendo fornecedores chineses apanhados a vender produtos alimentares contrafeitos.

Funcionários ocidentais dizem ainda que as novas regras visam também desresponsabilizar a Administração para Inspecção de Qualidade, Supervisão e Quarentena, que os consumidores chineses culpam pelas falhas na segurança alimentar.

21 Mar 2017

Donos do grupo sul-coreano Lotte julgados por corrupção

[dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uatro membros da família que controla o gigante retalhista sul-coreano Lotte, incluindo o seu fundador, de 93 anos, foram presentes ontem a tribunal onde começaram a ser julgados por desvio de dinheiro, evasão fiscal e fraude.

O processo contra o presidente da empresa, Shin Dong-Bin, de 61 anos, o seu irmão, irmã e pai – e também a amante do patriarca quase 40 anos mais nova – surge numa altura em que o quinto maior conglomerado da Coreia do Sul enfrenta boicotes por parte da China.

A empresa facultou terrenos a Seul para acolher um sistema de defesa antimíssil norte-americano THAAD, e quase 90% das lojas Lotte Mart na China foram desde então obrigadas a fechar portas ou pelas autoridades ou devido a manifestações populares.

O julgamento é o mais recente golpe na reputação de conglomerados controlados por famílias que nas últimas décadas impulsionaram o crescimento da quarta economia da Ásia.

Mais recentemente tornaram-se num crescente foco de descontentamento popular contra a corrupção e desigualdade como ocorreu no escândalo que resultou, no início do mês, na destituição definitiva da Presidente sul-coreana, Park Guen-Hye.

O presidente da Lotte, Shin Dong-Bin, é acusado de ter custado à firma 175 mil milhões de won (145 milhões de euros) através de uma série de evasões fiscais, esquemas financeiros e outras irregularidades.

Foi ainda acusado de negligência por conceder lucrativos negócios ou pagar “salários” no valor de milhões de dólares a parentes que pouco contribuíram para a gestão.

“Sinto muito ter causado preocupação. Vou cooperar sinceramente no julgamento”, afirmou Shin, aos jornalistas, antes de entrar ontem na sala de audiências.

Tudo em família

Idênticas acusações pendem contra o seu irmão mais velho, Shin Dong-Joo, a sua irmã mais velha, Shin Young-Ja, bem como contra o seu pai, Shin Kyuk-Ho.

Não ficou claro se o fundador nonagenário compareceu em tribunal, mas não passou pelos jornalistas que se encontravam à entrada do edifício em Seul.

A sua amante, de 57 anos, também foi acusada por desvio de dinheiro por ter encaixado avultadas somas em “salários” apesar de ter um pequeno papel na gestão da empresa.

Os cinco foram formalmente indiciados pelo Ministério Público em Outubro.

As acusações não estão directamente relacionadas com o escândalo de corrupção e tráfico de influências que levou à queda de Park.

O grupo Lotte, sediado em Seul e fundado em Tóquio em 1948, tem uma vasta rede de negócios na Coreia do Sul e no Japão, com activos combinados avaliados em mais de 90 mil milhões de dólares norte-americanos.

A decisão de Seul de destacar o sistema antimíssil norte-americano THAAD como forma de se proteger contra ameaças da Coreia do Norte desencadeou a ira da China, que receia que belisque as suas próprias capacidades militares.

As primeiras partes do sistema THAAD chegaram à Coreia do Sul há duas semanas depois de a Lotte ter assinado um acordo de troca de terrenos oferecendo um campo de golfe no condado de Seongju, no sul, para a instalação do sistema.

Desde então, as autoridades fecharam dezenas de lojas da Lotte, devido a “questões de segurança”, com manifestantes a realizar protestos em todo o país denunciando o grupo e outros negócios sul-coreanos.

A Lotte, focada em alimentos, retalho e hotelaria, investiu mais de 8 milhões de dólares nas suas operações na China e tem mais de 120 estabelecimentos no país, empregando 26 mil funcionários locais.

A família Shin tornou-se alvo de investigação estatal depois de 2015, quando uma azeda disputa pública entre os dois irmãos pelo controlo do grupo desencadeou a ira pública sobre como os conglomerados administrados por famílias conduzem os seus negócios.

21 Mar 2017

Hong Kong | Manifestantes condenados a três anos de prisão por motins de 2016

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]rês jovens manifestantes de Hong Kong foram condenados sexta-feira a uma pena de três anos de prisão cada devido à sua participação nos tumultos que degeneraram em violentos confrontos em Fevereiro do ano passado.

Os estudantes Hui Ka-ki, de 23 anos, e Mak Tsz-hei, de 20, e o cozinheiro Sit Tat-wing, de 33, foram os primeiros a serem condenados pelos motins ocorridos na zona comercial bastante movimentada de Mong Kok em Fevereiro do ano passado por ocasião do Ano Novo chinês.

Os distúrbios, que surgiram na sequência de uma operação policial contra venda ambulante ilegal de comida, resvalaram em confrontos considerados os mais violentos dos últimos anos e a maior demonstração de descontentamento popular na antiga colónia britânica desde os protestos pró-democracia do final de 2014.

Mais de 100 pessoas ficaram feridas, incluindo polícias, manifestantes e jornalistas, e 65 foram detidas naquele que foi um raro surto de violência em Hong Kong.

A defesa alegou que os três manifestantes agora condenados – e que incorriam numa pena máxima de dez anos de cadeia – estavam a expressar o seu descontentamento para com o governo de Hong Kong que activistas afirmam ser uma marioneta de Pequim.

“Qualquer pessoa que participe nesse tipo de motins precisa de compreender que há um preço a pagar”, afirmou o juiz Sham Siu-man, apontando que “violência é violência”.

A sentença tem lugar quando falta pouco mais de uma semana para as eleições para o chefe do Executivo de Hong Kong, marcadas para o próximo dia 26.

O líder da Região Administrativa Especial de Hong Kong é escolhido por um comité eleitoral formado por 1.200 membros, representativos de diferentes sectores da sociedade, que é dominado por elites ou interesses pró-Pequim.

20 Mar 2017

HRW | China usa lei anti-terrorismo como instrumento político

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) culpou sexta-feira o Governo chinês por instrumentalizar a lei antiterrorista do país, visando “perseguir” actividades pacíficas incómodas para o regime.

“Nenhuma informação pública disponível sobre as pessoas que foram punidas, em 2016, por crimes relacionados com terrorismo indica que estas perpetuaram, ou estiveram vinculadas a qualquer acção violenta”, afirmou a directora da HRW para a China, Sophie Richardson, em comunicado.

“Enquanto os processos penais continuarem a ser opacos (…) as penas por terrorismo no país continuarão a gerar desconfiança”, lê-se na mesma nota.

A HRW afirma que a luta antiterrorista na China, principalmente na região do Xinjiang, palco frequente de conflitos étnicos, permite abusos pela sua “ampla definição de terrorismo, falta de transparência e violações do direito a um julgamento justo”.

Com uma área quase 18 vezes superior à de Portugal, a região do Xinjiang, onde habita a minoria muçulmana uigur, faz fronteira com o Afeganistão, Paquistão e Índia.

Pequim vincula os conflitos que frequentemente ocorrem na região com grupos separatistas, como o Movimento do Turquestão Oriental, enquanto peritos e grupos de defesa dos direitos humanos consideram que a política repressiva das autoridades relativamente à cultura e religião dos uigures alimenta as tensões.

O Supremo Tribunal Popular da China revelou este mês, no seu relatório anual apresentado na Assembleia Nacional Popular, o legislativo chinês, que 1.419 pessoas foram condenadas, em 2015, por “ameaçar a segurança nacional, incitar ao separatismo e participar de actividades terroristas”.

Acesso bloqueado

“O Governo assegura estar a combater as ameaças terroristas, sobretudo na região do Xinjiang, mas oferece poucos detalhes, enquanto exerce um controlo severo sobre a imprensa e outros actores independentes”, lamentou a responsável da HRW.

A organização denunciou que o Executivo chinês bloqueia o acesso a investigadores independentes, tanto chineses como estrangeiros, incluindo aqueles que integram as Nações Unidas.

A HRW revela que “apenas” quatro sentenças por casos relacionados com o terrorismo foram tornadas públicas, em 2016.

Segundo os dados difundidos, os quatro condenados foram acusados por posse, acesso ou distribuição de material audiovisual relacionado com o terrorismo, através da Internet, redes sociais ou correio electrónico.

O Supremo Tribunal obriga a publicar os veredictos judiciais, mas exclui todos aqueles que envolvam segredos de Estado, violem a privacidade pessoal ou sejam “desadequados” a tornarem-se de domínio público.

A HRW detalha que houve uma dezena de casos no ano passado que envolveram multas e detenções por assistir, descarregar ou armazenar conteúdo audiovisual relacionado com terrorismo, “algo que não é suficientemente grave para constituir um acto criminal”.

20 Mar 2017

Xi Jinping e Rex Tillerson prometem fortalecer laços entre os países

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente chinês Xi Jinping e o secretário de Estado norte-americano Rex Tillerson comprometeram-se este domingo, em Pequim, a trabalhar para fortalecer os laços entre os seus países.

Xi e Tillerson encontraram-se horas depois de a Coreia do Norte ter lançado um ‘rocket’ e quando decorrem negociações para uma cimeira no próximo mês com Xi e Donald Trump, nos Estados Unidos.

Xi disse a Tillerson que ele e Trump decidiram, num telefonema no mês passado, “fazer um esforço conjunto para desenvolver a cooperação China-Estados Unidos”. “Acreditamos que podemos garantir que a relação vai avançar de forma construtiva para uma nova era”, afirmou.

“Estou confiante que, desde que consigamos fazer isto, a relação pode certamente avançar na direcção certa”, acrescentou o Presidente chinês.

A caminho de Pequim, Tillerson visitou o Japão e a Coreia do Sul, onde declarou que Washington vai abandonar a estratégia “falhada” de paciência diplomática com Pyongyang, algo que pode desagradar à China. Na sexta-feira, Trump escreveu no Twitter que a China não está a fazer o suficiente para controlar o vizinho e aliado histórico norte-coreano.

As relações com Pequim foram também postas à prova com a instalação de um sistema de defesa antimísseis na Coreia do Sul, a que a China se opõe.

Ainda assim, Tillerson adoptou uma postura conciliatória: “Sabemos que através do diálogo chegaremos a uma melhor compreensão, que conduzirá a um reforço dos laços entre a China e os Estados Unidos e definirá o tom da nossa futura relação de cooperação”.

Alta tensão

Washington e Pequim concordaram ainda que a tensão na península coreana alcançou um nível “bastante perigoso” e comprometeram-se a fazer “todo o possível” para evitar um conflito, afirmou o secretário de Estado dos Estados unidos.

“Penso que partilhamos a opinião de que as tensões na península são agora bastante elevadas e de que as coisas alcançaram um nível bastante perigoso”, afirmou Tillerson numa conferência de imprensa depois de se reunir com o ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi.

“Comprometemo-nos a fazer tudo o que possamos para prevenir o rebentamento de qualquer conflito”, adiantou.

Tillerson disse ainda que Washington e Pequim iriam trabalhar para ver se conseguiam convencer Pyongyang a corrigir o percurso a afastar-se do desenvolvimento das armas nucleares.

O secretário de Estado dos Estados Unidos debateu com o Governo chinês uma nova estratégia para lidar com a Coreia do Norte, naquela que é a primeira visita ao país asiático de um membro do gabinete de Trump.

Rex Tillerson chegou este sábado a Pequim proveniente da Coreia do Sul e do Japão, onde lembrou a necessidade de mudar a estratégia de Washington em relação a Pyongyang e assegurou que todas as “opções estão abertas”.

Em outras escalas desta viagem à Ásia, o secretário de Estado defendeu um novo plano para fazer frente aos avanços norte-coreanos após os seus últimos ensaios, mas não deu quaisquer detalhes.

Na sexta-feira, o secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson disse que uma acção militar dos Estados Unidos contra o regime de Pyongyang era “uma opção que está em cima da mesa”, após visitar a zona desmilitarizada que divide a península coreana.

“Nós não queremos que as coisas cheguem a um conflito militar”, disse Tillerson, acrescentando que se a Coreia do Norte incrementar “as ameaças”, as opções passam a ser militares.

“Se eles [Coreia do Norte] elevarem a ameaça através do programa de armamento a um nível que, acreditamos, pode obrigar a uma acção [militar], então essa opção fica em cima da mesa”, afirmou o secretário de Estado norte-americano.

20 Mar 2017

Taiwan pede à China que respeite a sua democracia 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Gabinete de Taiwan para os Assuntos da China Continental apelou ontem a Pequim para que respeite a democracia de Taiwan, reconheça a sua existência e não exija condições políticas prévias para os contactos bilaterais.

“Manter a paz e estabilidade no estreito da Formosa é a política estabelecida pelo governo desde que assumiu o poder, em 20 de Maio passado”, afirmou em comunicado o organismo de Taipé encarregue dos contactos com Pequim.

O comunicado surgiu em resposta ao apelo do primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, para que Taipé aceite o principio “Uma só China”, visto como uma garantia de que a ilha é parte da República Popular e não uma entidade política soberana.

A nota emitida por Taipé refere ainda que a China continental deve aceitar as diferenças no desenvolvimento dos regimes políticos de cada lado do estreito de Taiwan e reconhecer e respeitar a existência da democracia e da sua opinião pública.

“Só então as relações entre os dois lados do estreito [de Taiwan] poderão desenvolver-se de forma construtiva”, lê-se.

Tempos difíceis

As relações entre Pequim e Taipé atravessam um período de renovadas tensões, desde a eleição da Presidente de Tsai Ing-wen, do Partido Democrata Progressista, que defende a independência do território.

Uma conversa por telefone entre Tsai e o então presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, que por várias vezes disse que poderia reconsiderar a política “Uma só China”, levou ao pico das tensões.

Após essa chamada, o Governo são-tomense anunciou o corte das relações diplomáticas com Taipé e o reconhecimento da República Popular da China, numa decisão que a imprensa estatal chinesa disse tratar-se de um castigo para Tsai.

Pequim considera Taiwan uma província chinesa e defende a reunificação pacífica, mas ameaça usar a força caso a ilha declare independência.

Taiwan, a ilha onde se refugiou o antigo governo chinês depois de o Partido Comunista (PCC) tomar o poder no continente, em 1949, assume-se como República da China.

17 Mar 2017

China e Arábia Saudita com projectos até 60.500 milhões de euros

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China e a Arábia Saudita acordaram ontem estudar projectos conjuntos, em diferentes áreas, num valor total de 60.500 milhões de euros, durante a vista do rei Salman bin Abdulaziz a Pequim.

O Presidente chinês, Xi Jinping, recebeu o monarca no Grande Palácio do Povo, numa visita em que ambos os lados estiveram acompanhados por uma larga comitiva empresarial e ministerial.

Os dois líderes presidiram à assinatura de 14 memorandos de entendimento em várias áreas, desde o comércio, energia ou cultura, que poderão resultar em projectos no valor total de 60.500 milhões de euros, segundo o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Zhang Ming.

Entre os acordos anunciados consta um memorando de entendimento entre a firma chinesa Norinco e a gigante da Arábia Saudita Aramco, a firma estatal que controla a indústria do petróleo no país.

A petroquímica Sabic e a principal refinaria da China, a Sinopec, acordaram também estudar o desenvolvimento de projectos em ambos os países.

“Xi e o rei Salman são velhos amigos. Têm uma relação muito boa”, destacou Zhang Ming.

Alianças reforçadas

A visita de três dias surge depois de Xi se ter deslocado no ano passado à Arábia Saudita, na primeira vista de Estado de um líder chinês ao Médio Oriente nos últimos sete anos.

O rei Salman bin Abdulaziz Al Saud, 81 anos, aterrou na quarta-feira em Pequim, com uma comitiva composta por 1.000 pessoas, e já depois de ter estado no Japão, Malásia e Indonésia, parte de um périplo de um mês pela Ásia.

A China tem procurado aproximar-se do Médio Oriente, enquanto a Arábia Saudita reforça as suas alianças no leste asiático, face à incerteza quanto à política externa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

Pequim é um dos principais clientes do petróleo dos países do Médio Oriente, mas tradicionalmente opta por uma postura de não intervenção na região.

Porém, desde que Xi ascendeu ao poder, em 2012, o país adoptou uma nova abordagem, que inclui mediar a discussão entre diferentes partes envolvidas no conflito sírio.

O Presidente chinês lançou também a iniciativa Nova Rota da Seda, um plano que visa reforçar as rotas comerciais entre a China e a Europa, através da construção de estradas e linhas ferroviárias de alta-velocidades entre as duas regiões.

“Esta visita irá impulsionar e continuar a melhorar a qualidade das nossas relações”, disse ontem Xi ao rei, no início do encontro entre os dois.

A China é, desde 2015, o principal parceiro comercial da Arábia Saudita, que durante vários anos foi o principal fornecedor de petróleo do país asiático.

É a primeira visita do monarca à China, desde que assumiu o trono, em 2015, após a morte do seu meio-irmão Abdullah.

17 Mar 2017

Banco do Japão mantém política monetária intacta

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Banco do Japão manteve ontem intacto o seu programa de flexibilização monetária, cuja meta é conseguir uma subida estável dos preços de cerca de 2% para pôr fim a uma década de deflação.

A reunião mensal do banco japonês terminou um dia depois de a Reserva Federal norte-americana ter subido as taxas de juro em 0,25 pontos percentuais pela primeira vez desde Dezembro, exercendo uma pressão nas taxas de longo prazo nos Estados Unidos e no Japão.

Ainda assim, o Banco do Japão não considerou necessário modificar o seu programa baseado na flexibilização “quantitativa e qualitativa” e no controlo da curva dos rendimentos.

O banco vai continuar a adquirir dívida soberana japonesa no valor de 80 biliões de ienes por ano para que o rendimento dos títulos japoneses a dez anos permaneça perto dos 0%.

No que toca às taxas a curto prazo, o organismo vai continuar a investir em depósitos dos bancos a uma taxa de referência de -0,1%.

As compras massivas de activos vão continuar a centrar-se na aquisição de fundos cotados e imobiliários para que a sua carteira aumente a um ritmo anual de seis biliões e 90 mil milhões de ienes (49.314 milhões e 739 milhões de euros), respectivamente.

Vai também continuar a aumentar o valor do seu portfólio no que toca a títulos corporativos a curto e longo prazo, a um ritmo anual de 2,2 e 3,2 biliões de ienes (18.083 e 26.303 milhões de euros).

Boas tendências

O Banco do Japão considera que a terceira economia mundial mantém a sua “tendência de recuperação moderada” e que o consumo, pilar do PIB nacional, se mantém sólido.

As exportações e a produção industrial estão a recuperar, indica o comunicado divulgado no final da reunião. O investimento imobiliário e público mantém-se “mais ou menos plano”, enquanto a inflação continua perto de 0%, longe da meta de 2%.

O Banco do Japão tenta desde 2013 promover a subida dos preços, mas a recente queda do preço do petróleo que reduziu os efeitos do seu programa e obrigou a adiar a data de conclusão dos seus objectivos para depois de 2018.

Ainda assim, o IPC (Índice de Preços no Consumidor) subiu em Janeiro, pela primeira vez em 13 meses, o que pode indicar uma recuperação futura dos preços.

17 Mar 2017

Kim Jong-Nam | ADN dos filhos ajuda a confirmar identidade

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s autoridades da Malásia utilizaram o ADN do filho de Kim Jong-Nam, residente em Macau, para confirmar a identidade do corpo do meio-irmão do líder da Coreia do Norte, disse hoje o vice-primeiro-ministro da Malásia.

Os investigadores “confirmaram a identidade do corpo de Kim Jong-Nam, através da análise de ADN obtida ao filho”, da vítima, disse, Ahmad Zahid Hamidi.

O vice-primeiro-ministro da Malásia não divulgou mais informações sobre as investigações que decorrem em Kuala Lumpur.

O filho de Kim Jong-Nam, de 21 anos, e a família vivem na Região Administrativa Especial de Macau, na China.

Segundo a AFP a família exilada em Macau, receia novos ataques.

Kim Jong-Nam morreu depois de ter sido atingido na cara com veneno, supostamente agente VX, no momento em que se encontrava no Aeroporto Internacional de Kuala Lumpur, no dia 13 de fevereiro.

A Coreia do Sul já responsabilizou o regime de Pyongyang pelo crime mas a Coreia do Norte rejeitou as acusações e nunca chegou a confirmar de forma oficial a identidade da vítima que no dia do ataque estava na posse de um passaporte com o nome de Kim Chol.

Na sexta-feira, a Malásia confirmou oficialmente a identidade do corpo mas ainda não tinha especificado o processo de obtenção do ADN.

O caso está a deteriorar as relações diplomáticas entre Kuala Lumpur e Pyongyang.

O regime norte-coreano já afirmou que a investigação que decorre na Malásia pretende denegrir Pyongyang insistindo que se tratou de um ataque cardíaco.

Até ao momento, duas mulheres, uma de nacionalidade vietnamita e a outra indonésia, foram presas na sequência do crime.

16 Mar 2017

Li Keqiang diz que Pequim não quer guerra comercial com Washington

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] primeiro-ministro da China, Li Keqiang, disse ontem que os líderes chineses não querem travar uma guerra comercial com os Estados Unidos da América e manifestou optimismo numa melhoria das relações.

“Não desejamos uma guerra comercial entre os dois países. Isso não tornará as nossas trocas comerciais mais justas”, disse Li, na conferência de imprensa de encerramento da sessão anual da Assembleia Nacional Popular, afirmando que as duas potências devem “defender interesses estratégicos”.

O Presidente dos EUA, Donald Trump, prometeu subir os impostos sobre as importações oriundas da China, visando retaliar o que considera serem práticas comerciais injustas de Pequim.

As afirmações do líder norte-americano suscitaram preocupações em relação a uma resposta por parte da China, que poderia destabilizar uma das relações comerciais mais importantes do mundo.

“Independentemente dos choques que esta relação sofra, a China espera que continue a avançar na direcção certa”, afirmou Li Keqiang que revelou ainda que funcionários dos dois países estão a discutir um encontro entre Trump e o Presidente chinês, Xi Jinping.

O primeiro-ministro da China reafirmou o compromisso de Pequim com o comércio livre, numa reacção à postura proteccionista de Trump e em contraste com as denúncias de que a China permanece o país mais fechado entre as principais economias do mundo.

A China vai abrir mais os seus mercados, apesar das “fricções no comércio e investimento”, disse Li.

“Damos as boas-vindas aos nossos parceiros para partilhar connosco as oportunidades criadas pelo desenvolvimento da China”, afirmou.

16 Mar 2017

China | Redução de poluição pode evitar três milhões de mortes prematuras

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China pode evitar três milhões de mortes prematuras em cada ano, se reduzir a poluição atmosférica para o nível recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), segundo um estudo publicado ontem na The British Medical Journal (BMJ).

O estudo foi realizado por investigadores chineses, que estudaram os efeitos da poluição atmosférica sobre as mortes registadas em 38 grandes cidades do país, que têm uma população de 200 milhões de pessoas no total, entre Janeiro de 2010 e Junho de 2013.

Durante este período, a concentração diária de partículas finas PM10, emitidas sobretudo pelo tráfego rodoviário, sistemas de aquecimento e agricultura) atingiu, em média os 92,9 microgramas (µg) por metro cúbico (m3) nas 38 cidades, com um máximo de 136 µg/m3 em Urumqi, situada no noroeste, e um mínimo de 66,9 µg/m3 em Qinhuangdao, 300 quilómetros a leste de Pequim.

A OMS recomenda que o valor médio anual seja reduzido para os 20µg/m3, quando, na realidade, mais de 80% das pessoas que vivem nas cidades, à escala mundial, estão expostas a níveis de poluição que ultrapassam este limite.

As partículas PM10 (cujo diâmetro é inferior a 10 microns) são particularmente perigosas, porque podem alojar-se nas vias respiratórias.

Ao estudarem as 350 mil mortes ocorridas nas 38 cidades entre 2010 e 2013, os investigadores, dirigidos por Zhou Maigeng, do Centro de Controlo de Doenças de Pequim, descobriram que uma subida da concentração em PM10 de 10µg/m3 estava associada a um aumento do número diário de mortes na ordem dos 0,44%.

Mais expostos

A exposição às PM10 revelou-se particularmente mais nefasta para as mulheres e os adultos com mais de 60 anos, segundo o estudo.

Teve também um impacto mais importante sobre as doenças cardiovasculares, com um aumento das mortes em 0,62% por cada aumento das PM10 em 10µg/m3, enquanto nas outras patologias a subida foi só de 0,26%.

Os investigadores chegaram ao número de três milhões de mortes prematuras que se poderiam evitar cada ano na China fazendo um “cálculo básico”, baseado designadamente numa população chinesa de 1,33 mil milhões de habitantes.

Mas sublinharam que este número está subestimado, “porque o efeito da poluição atmosférica pode ser mais importante nas zonas rurais (que não fruam estudadas) e porque as PM10 têm um efeito sobretudo no longo prazo”.

16 Mar 2017