Tam Chi Chun, encenador de “Sonho de um aroma”: “Gostaria que a RAEM fosse mais competitiva”

É hoje apresentada a primeira ópera de câmara feita em Macau. “Sonho de Um Aroma” está no Teatro D. Pedro V pelas 20h00, no âmbito do Festival Internacional de Macau, para mostrar o quotidiano de uma sociedade que acompanha o romance entre um homem chinês e uma mulher portuguesa no séc. XVI, numa produção a cargo da prata da casa. Tam Chi Chun é o encenador local que participa na iniciativa, que considera representar um marco nas artes feitas no território

Integra a primeira ópera de câmara de Macau e a sua primeira produção…
Todos os anos o cartaz do FIMM engloba a apresentação de óperas vindas de vários locais. Este ano, e para comemorar o trigésimo aniversário do evento, penso que a organização encontrou a data mais adequada para inserir uma ópera local. Até agora, as produções de ópera locais têm sido feitas em colaboração com a China continental e mesmo com outros países, o que também nos tem trazido muita experiência. Mas agora é a “nossa vez”. Por outro lado, apesar de estar a participar nesta primeira produção de ópera enquanto encenador, não sou, nem me vejo, como profissional do género. Acima de tudo, sou encenador de teatro que aplicou os conhecimentos e os desenvolveu neste estilo particular.

A peça que vão apresentar é uma história de amor entre um homem chinês que se apaixona, em Macau, por uma mulher portuguesa. Um reflexo de Macau?
Penso que actualmente Macau mantém essa tradição multicultural, mas mais do que entre Portugal e China, convivemos também com as Filipinas, Indonésia ou Austrália. Nesta história que se reporta a 400 anos, é realmente a interacção entre a China e Portugal que assume maior relevo, mas é também, e acima de tudo, uma viagem à vida quotidiana daquela época e que comporta um forte traço humanista e de representação social.

Quais as expectativas para o futuro das produções em Macau?
Com este primeiro passo e o trabalho que tem sido desenvolvido já se sente que há pessoas que estão muito interessadas em colaborar e que são oriundas de áreas diferentes, desde músicos a dramaturgos. Por outro lado, e neste momento, estamos todos muito nervosos com esta estreia. Temos que o fazer e fazer bem, de modo a que possamos mostrar e representar este salto nas produções locais e poder começar a investir na ópera de câmara local. E este é um espectáculo que, de alguma forma, dita o futuro, por ser o primeiro.

Que desafios maiores encontrou neste projecto?
Sou encenador de teatro e a ópera tem a componente dramática. O que sinto, pessoalmente, é que neste tipo de trabalho as dificuldades de representação estão associadas ao esforço que é exigido, por exemplo a nível do canto. Aqui, os intervenientes em palco são cantores e actores ao mesmo tempo. Como encenador, tenho que conjugar as vozes com os gestos. É muito bonito, mas é um grande desafio. Para interpretar e representar uma ópera é necessário encontrar uma nova linguagem de representação. Há que ter ainda em atenção o uso do palco que, neste caso, também é particular. Encontrar uma linguagem para transferir a ideia musical ao espaço e movimento foi outro desafio em que, aqui, os cantores ainda podem ser encarados como bailarinos porque os movimentos representam e acompanham a música. A ópera precisa de transformar e conjugar diferentes formas de arte e acho que é esta característica multi-artística e de muito rigor que tem contribuído para o estatuto do género.

Como é que aparece a ópera na vida do encenador de teatro?

Não gosto de ópera desde sempre (risos). Há uns anos encarava este género como uma representação aborrecida por ser lenta e, talvez, por não a entender. Agora sinto o oposto. Esta é uma arte que me permite usufruir de uma maior liberdade de encenação. Por outro lado, e ao contrário do teatro realista, por exemplo, na ópera afastamo-nos do mundo real e é criado um mundo mais exagerado acompanhado de vozes lindíssimas. O que mais me impressiona, é que aqui são histórias absolutamente irreais em que a encenação, tenta, de alguma forma, dar um carácter real.

Entre a encenação de teatro e de ópera, para onde pende o coração?
Para mim a ópera é uma forma de teatro. Com esta experiência em particular, gostava de no futuro repetir encenações deste género, especialmente aqui em Macau. Outra coisa que me atrai é a possibilidade de juntar outras músicas ao teatro em si. Fazer música em teatro. Não é teatro musical, mas utilizar outros registos, como por exemplo recorrer ao uso de instrumentos que não se limitassem à orquestra. Experimentar a marimba talvez.

Tem formação da Academia de Xangai, trabalhou no continente, passou por Berlim e agora está de regresso à terra onde é director do Teatro Experimental de Macau. Como é que está a ser o regresso a casa?
O que tento encontrar aqui é a minha satisfação pessoal. Claro que gostaria que a RAEM já tivesse um ambiente mais competitivo, mas isso ainda não se encontra. Passei dez anos fora e agora gostaria de me reencontrar aqui em Macau. Voltei para encontrar a minha posição em casa. Mas ainda falta muito. Falta uma educação para a arte. Acho que neste momento, se falarmos de actores, o que se encontra aqui é gente à procura de sucesso, da fama em formato “fast food” e não de um trabalho contínuo e com qualidade. Gostava que isso começasse a mudar.

14 Out 2016

Laurentina da Silva, produtora de eventos: “Já não se sonha em Macau”

[dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]aurentina da Silva é “orgulhosamente” macaense. Nascida e criada em Macau, lamenta nunca ter saído da terra para conhecer as suas raízes lusas. “Sempre vivi aqui, nunca daqui saí e tenho pena por não conhecer a terra do meu pai e as minhas origens portuguesas, pelo que a ideia que tenho daquele país é apenas das histórias que o meu pai contava”, explica ao HM.

Enquanto filha da terra, sente-se um verdadeiro fruto da mistura de culturas. “Também tenho a cultura chinesa muito vincada por causa da minha mãe e no fundo não sou nem uma coisa nem outra e ao mesmo tempo sou as duas.”
Laurentina da Silva festeja com a mesma intensidade as duas grandes festas da família, uma de cada cultura: “Festejo sempre o Natal e o ano novo chinês e nem podia ser de outra maneira. São duas datas muito importantes para mim, precisamente porque sou filha deste cruzamento.”

O dia-a-dia da macaense é passado a lidar com arte. Trabalha na Fundação Rui Cunha e faz a ponte entre linguagens, a chinesa e a portuguesa, no que respeita à produção de exposições e eventos. “Finalmente tenho um trabalho ligado à arte”, desabafa enquanto explica que na sua formação na Escola Portuguesa de Macau fez o secundário na área artística, mas a vida não permitiu o seguir dos estudos.

A paixão pelas “coisas bonitas” sempre a acompanhou e vem desde pequena. “Gosto de criar coisas”, explica Laurentina da Silva. Numa viagem às memórias, a jovem vai a um infância em que via a mãe a costurar e com o tempo e a proximidade começou a interessar-se pelo ofício. Na adolescência pediu para que lhe ensinasse os dotes da agulha e dedal e começou a fazer roupas para si e para quem quisesse. De tal forma que quando casou foi ela que fiz os vestidos das amigas.

As línguas aproximam

Paralelamente, Laurentina Silva é uma poliglota. Nasceu bilingue a comunicar entre o Português e o Cantonês. Apesar de nunca ter tido ensino oficial de Mandarim, a infância encarregou-se de a amestrar na escrita e leitura de caracteres por obrigação materna.

“A minha mãe obrigou-me a aprender caracteres e eu tinha que passar horas a fazer cópias, porque é a única maneira de os memorizar”, relembra ao pensar nos dias, não tão felizes, de calo no dedo. “Nas férias, por exemplo, tinha, diariamente, que decorar um número de caracteres que a minha mãe definia e não podia sair de casa sem os saber.”

Se na altura foi duro, agora Laurentina da Silva “agradece”. Na oralidade, percebe-se o sotaque de Taiwan, num Mandarim mais doce. “Gostava de ver programas daquela região e fui assim que fui aprendendo a falar”, confessa.
Mas a formação linguística continua, porque “falando em diferentes idiomas, não só as oportunidades de emprego se abrem, como as relações sociais também podem ser mais e melhores”, como explica. Foi assim que o Inglês, disciplina a que não era muito boa na escola, também foi desenvolvido e, recentemente, resolveu abraçar o Coreano, porque “conhecimento não ocupa espaço”.

Macau, a terra que a viu nascer e onde vive é, actualmente, sentida com um ligeiro amargo de boca. “Já não se sonha em Macau”, afirma com tristeza ao olhar para o crescimento do território e as suas consequências. Macau deixou de ser um sítio pequeno onde as pessoas são próximas, agora é um lugar em que os jovens se desinteressam porque pensam que têm o futuro assegurado com um trabalho no Governo ou nos casinos, ilustra a macaense com alguma tristeza.

Mas nem tudo são espinhos e o crescimento galopante da terra fez com que “mais pessoas conhecessem Macau”. Outro aspecto de relevo e que acompanhou a evolução da terra foi a criação de mais empregos e uma maior acessibilidade a determinados cargos por parte dos locais. “Antigamente quem não soubesse Português não tinha acesso a determinados empregos e agora isso já não é assim, o que faz com que as pessoas de cá tenham outras oportunidades.”

Mas Laurentina continua a sonhar e os desejos que tem não se desvinculam da sua própria identidade. “Gostava que Macau protegesse o Patuá por ser um dialecto de cá e porque transmite esta coisa do que é ser macaense”, remata.

14 Out 2016

Lai Sut Weng apresenta primeira exposição individual

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]artista local Lai Sut Weng inaugura hoje a sua primeira exposição, a solo, no Macau Art Garden sob o nome “Interposition – Works by Lai Sut Weng”. Recém-licenciada pela Escola de Artes Visuais do Instituto Politécnico de Macau, e já vencedora do Prémio de Artes Plásticas da Fundação Oriente em 2014, Lai Sut Weng tende a tratar os edifícios por tu, numa representação da sua desconstrução em que planos, linhas e cruzamentos representam um mundo maior, o do quotidiano humano na sua dimensão e interacção espacial.
Na apresentação da artista, na Galeria Arte Periférica, Lai Sut Weng introduz o seu trabalho enquanto representação das “vistas de ruas e os arredores do lugar onde nasceu e foi criada”, em que Macau, as suas misturas e transformações são fortemente exploradas. “As minhas pinturas retratam a aparência desta pequena cidade, explorando também a sua constante mudança.”
Por outro lado, e face às constantes mutações do espaço que a viu nascer e crescer, o abandono e o vazio são também uma forte componente do seu trabalho, em que “vemos sempre algumas antigas instalações abandonadas, esquecidas no tempo, mas preservando, contudo, vagos vestígios de vida dos seus antigos habitantes”. afa
Das particularidades das suas obras, Lai Sut Weng sublinha que os quadros, “vistos de longe”, permitem apercebermo-nos dos cenários, mas à medida que nos aproximamos, “vemos as coisas ficarem desfocadas em blocos de diferentes tons e cores”. E é esta imprecisão e ambiguidade que, de alguma forma, “representa a indiferença e a ignorância das pessoas perante o seu meio ambiente – e, principalmente, a sua própria cultura”, questão a que a artista não é alheia.
Lai Sut Weng quer, ao mesmo tempo, alertar para a contemporaneidade acelerada em que “os edifícios e a história estão a ser demolidos em detrimento do desenvolvimento económico”.
São estas paisagens que estarão expostas até 6 de Novembro, numa iniciativa da Art For All Society (AFA), que conta com a curadoria de Lai Sio Kit, para “permitir que estas as paisagens urbanas e históricas se tornem mais conhecidas para as pessoas, que poderão assim revisitar aquilo que já esqueceram”.

13 Out 2016

China proporciona desenvolvimento do sector financeiro

A vinda para a RAEM do Fundo de Desenvolvimento permitirá a Macau apostar na criação de mais serviços comerciais e financeiros, diversificando a economia

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]sede do fundo chinês de mil milhões de dólares destinado a investimentos de e para o universo lusófono vai ser transferida de Pequim para Macau para facilitar a divulgação e o contacto junto dos potenciais interessados. A informação foi confirmada pelo presidente do Fundo de Cooperação para o Desenvolvimento entre a China e os Países de Língua Portuguesa (PLP), Chi Jianxin, à margem da Conferência dos Empresários e dos Quadros da Área Financeira inserida no programa da reunião deste ano do Fórum Macau, que terminou ontem.
“Tomámos a decisão, por isso, agora precisamos de discutir com o Governo de Macau como organizar, trabalhar, as regulações para os impostos, por exemplo, ou que tipo de estrutura vai funcionar aqui”, afirmou Chi Jianxin, indicando esperar que a transferência da sede para Macau possa acontecer ainda este ano.
“Espero que sim, vamos tentar o nosso melhor”, disse, explicando que a mudança para Macau do fundo de mil milhões pretende fazer com que seja “mais fácil” aos potenciais interessados “entenderem como podem operar o fundo” pensado para apoiar as empresas do interior da China e de Macau no investimento nos países de língua portuguesa e atrair o de lusófonas na China.
Activado no final de Junho de 2013, o Fundo aprovou o financiamento de apenas dois projectos: um proveniente da Angola e um chinês para Moçambique. Chi Jianxin revelou que, no total, ou seja, nos dois únicos projectos aprovados, o fundo concedeu um financiamento de 16,5 milhões de dólares, valor que, reconheceu, “não é muito grande”.
“Este Fundo é orientado para o mercado. É totalmente operado comercialmente, por isso, precisamos de avaliar o valor do projecto. Algumas empresas discutiram connosco o investimento, mas não conseguiram facultar os planos básicos de negócios ou estudos de viabilidade, [mas] nós precisamos de analisar estes documentos e de avaliar o projecto, pelo que essas empresas não estavam muito familiarizadas relativamente à operacionalidade do fundo”, sustentou Chi Jianxin.

Finanças não chega

Assim, terminada a V Conferência Ministerial do Fórum Macau, fica uma certeza: Macau, com um tecido empresarial reduzido, deve virar-se para a criação de novos serviços financeiros e apostar no desenvolvimento de serviços comerciais para empresas e investidores. É esta a conclusão de três personalidades do sector que estiveram ontem presentes na conferência.
“Penso que o papel de plataforma deve ir além do apoio financeiro”, disse ao HM Davis Fong, director do Instituto para os Estudos de Jogos Comerciais da Universidade de Macau (UM). “Se olharmos para os detalhes do que foi anunciado pelo primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, há uma forma objectiva de apoiar essa plataforma. Os empresários estão virados para o sector financeiro, mas também há um foco no comércio. Deveria olhar-se para essas áreas em Macau.”
O especialista em Jogo lembrou que a recente entrada do renmimbi no cabaz de moedas do Fundo Monetário Internacional (FMI) traz a oportunidade de Macau poder desenvolver o seu sistema financeiro.
“O renmimbi tornou-se uma moeda internacional e as transacções vão acontecer em maior número. Macau, que está no meio dos dois blocos (China e países de língua portuguesa), pode tirar partido disso. Vai haver uma enorme necessidade em termos de apoio a essas transacções e Macau pode ser um centro para as transacções em renmimbi. Se há mais dinheiro a passar por Macau, o território vai tornar-se num importante centro para financiar outros negócios. Podemos desenvolver mais produtos financeiros para servir os negócios sino-lusofónos, para que Macau se torne uma espécie de centro financeiro ao lado de Hong Kong.”
Davis Fong referiu, contudo, que o território não vai conseguir competir com a região vizinha, dada a pequena dimensão do mercado, mas pode fazer a diferença. “Podemos desenvolver produtos financeiros como pacotes de gestão de riqueza. Tudo para que possamos captar os fluxos de dinheiro para Macau.”

A lei diferente

Ricardo Siu, professor de Gestão da UM, defendeu que é necessário que os apoios financeiros comecem a chegar às Pequenas e Médias Empresas (PME) de Macau. “No início as empresas maiores saem beneficiadas, mas com o passar do tempo queremos que esse apoio chegue às PME de Macau. O desenvolvimento económico deve passar por diferentes conexões e as empresas devem ter mais apoio.”
O docente defende também o desenvolvimento do sector financeiro. “Macau pode ter esse papel e criar mais pacotes de gestão de riqueza, bem como lançar mais produtos financeiros no mercado.”
Ricardo Siu alertou, contudo, para o facto de vigorar na RAEM a legislação portuguesa. “No mercado financeiro global, muitos dos países que disponibilizam estes pacotes financeiros também seguem a Common Law. Foram feitos alguns comentários de que o mercado financeiro de Hong Kong pode ter mais experiência no processamento destes casos, mas com mais apoio Macau pode começar a pensar na criação de mais pacotes financeiros, no sentido de diversificar a economia local”, considerou.
Pedro Cardoso, presidente-executivo do Banco Nacional Ultramarino (BNU), defendeu ao HM que “o sector financeiro ainda tem um papel bastante relevante no futuro em relação a esta plataforma de cooperação”.

Mais e melhor comércio

Pedro Cardoso defende ainda que Macau deve apostar numa melhoria dos serviços que potenciem mais comércio. “Há duas áreas a destacar no sector das exposições e convenções. A área das convenções é bastante importante, sendo que na área das exposições é importante que o centro onde elas se realizem seja um centro de trading (comércio) relevante. Ora Macau tem que potenciar as suas potencialidades em termos de plataforma de trading, de produtos e serviços, para que efectivamente estas exposições tenham sucesso e atraiam verdadeiros profissionais e não apenas meros amadores e interessados de fim-de-semana.”
O responsável do BNU acrescentou ainda que a construção da ponte Hong Kong-Macau-Zhuhai vai facilitar a vinda de empresários e do investimento. “As acessibilidades serão infinitamente maiores para quem aterra no aeroporto de Hong Kong, e que poderá estar em Macau em meia hora. Actualmente uma pessoa tem de esperar algumas horas pelo próximo ferry ou ter o transtorno de ir apanhá-lo ao centro de Hong Kong. Esse é um sector que no futuro se irá desenvolver ainda mais”, frisou.

Lionel Leong | Fundo de Desenvolvimento em Macau é fundamental

Se Macau já conta com um papel estratégico de relevo na relação entre a China e os Países de Língua Portuguesa (PLP), agora com a transferência do Fundo de Desenvolvimento (FD) para a RAEM esse papel conhecerá um outro destaque, nomeadamente porque o poder de decisão será exercido localmente.
Segundo declarações proferidas ontem pelo Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, o objectivo é que os processos relacionados com os PLP, e que incluem a participação de empresários da RAEM, passem a ser “mais simples e mais rápidos”. A concretização da transferência, que está a cargo do Banco de Desenvolvimento da China, ainda não é clara. “Para avançar, é necessário recorrer à opinião dos empresários, por exemplo, que são os maiores interessados nesta medida, para que a possamos concretizar da melhor forma”, avançou Lionel Leong.
Até agora o Instituto de Promoção do Comércio e Investimento de Macau (IPIM) tem sido a instituição de ligação e apoio no acesso dos empresários locais ao Fundo mas, com a nova medida, “existirá um acesso mais directo”.
É, essencialmente, com a transferência do Fundo de Desenvolvimento do Fórum Macau para a RAEM que “vamos poder prestar um melhor serviço aos empresários e será mais fácil fornecer apoio a todo o tipo de empresas, nomeadamente às pequenas e médias empresas”. Por outro lado, é também uma medida que “reflecte Macau como centro financeiro”.
Lionel Leong frisa ainda o papel do Banco da China como banco de liquidação do yuan. A instituição tem tido um papel fundamental “no apoio e prestação de serviços a empresas lusófonas”, sendo que Macau poderá passar a integrar o centro deste processo. A forma, data ou planos nesse sentido ainda não estão definidos, mas é esse o objectivo do Executivo, tendo em conta as relações comerciais entre a RAEM e os PLP.
No seu discurso, o Secretário para a Economia e Finanças não deixou de frisar que em 2015 o volume de trocas entre Macau e PLP atingiu o valor de 603 milhões de patacas, o que representa um aumento de 279% se comparado com os valores de 2003. Por outro lado, o banco de liquidação do yuan em Macau ajudou, também em 2015, os bancos dos PLP a processar a liquidação de operações em yuans, no valor total de 7,6 mil milhões.
Lionel Leong não deixou de salientar as possibilidades que se abrem no sector do emprego e diversificação na RAEM. “Macau enquanto plataforma de serviços financeiros vai necessitar de profissionais qualificados nestas áreas”, afirma o Secretário. Contabilistas e especialistas em finanças serão profissões a considerar e para as quais abrirão vagas. O desafio cabe agora à área da Educação, no sentido de acompanhar esta necessidade que se antevê e que, segundo Lionel Leong, prestará um grande contributo para a diversificação da economia da RAEM.

Macau vai ser o centro de compensação do yuan

Li Keqiang, Primeiro-Ministro, tem planos para que Macau faça parte do processo de internacionalização do yuan, já em marcha desde que a moeda faz parte do cabaz do Fundo Monetário Internacional (FMI). Segundo a agência noticiosa Xinhua, citada pelo jornal Ponto Final, o Governo Central deseja que Macau se transforme num centro para câmaras de compensação nas trocas comerciais realizadas em yuan entre a China e os países de língua portuguesa. As autoridades chinesas querem, assim, que a RAEM assuma uma posição de intermediário nos contratos comerciais assinados, sendo que as instituições financeiras envolvidas, as “câmaras de compensação” receberão depois uma percentagem sobre o montante acordado das transacções. Sobre o território, o primeiro-ministro chinês disse ainda ser um “solo precioso da Flor de Lótus na Pátria”, defendendo que Macau é um exemplo de sucesso da concretização da política “Um país, dois sistemas”.

13 Out 2016

Deputados reagem a presença de Li Keqiang

A visita do primeiro-ministro chinês e a sua participação no Fórum Macau é vista pelos deputados locais de diferentes perspectivas: as opiniões extremam-se, da “total concordância” à “vergonha”

[dropcap style=’circle’]L[/dropcap]i Keqiang, primeiro-ministro chinês, terminou ontem a visita a Macau e deixa um rasto agridoce no que respeita às consequências futuras. Entre a zanga, a farsa e os apoios, as opiniões dos deputados da terra dividem-se.
A aposta na educação deveria ser a meta actual do Governo, frente ao desafio da diversificação económica da região. É o que diz o deputado José Pereira Coutinho, que vê a concretização dos objectivos propostos por Pequim com alguma relutância e responsabiliza o Executivo local por os levar, ou não, a bom porto.
“Não obstante as motivações que temos vindo a receber, que acontece sempre que um alto dirigente do Governo Central vem a Macau, é também preciso que a população e, principalmente o Governo, se empenhe mais em criar os alicerces para a consolidação das medidas e expectativas que Pequim deposita no território”, afirma o deputado ao HM.
Um dos pontos de maior relevo e preocupação reside, para o deputado, na dependência do sector do Jogo. “Fomos, somos e seremos dependentes do Jogo”, afirma, enquanto avança que Macau tem, neste momento, um problema estrutural em que “cerca de 60 mil pessoas estão a distribuir cartas nas salas dos casinos”.
O investimento na qualidade de ensino e na criação de outro tipo de postos de trabalhos aliados a outros sectores é imperativo e “sem isso não há boa intenções que possam ser concretizadas”, frisa.
As medidas anunciadas por Li Keqiang são, para Chan Meng Kam, reflexo pleno do apoio por parte de Pequim na construção de Macau enquanto um centro e plataforma únicos. O deputado mostra a confiança na determinação do território no desenvolvimento conjunto.
“Estas medidas e este apoio são essenciais para o território”, refere ao HM. Numa perspectiva de continuidade dos princípios de “um país dois sistemas”, esta visita foi mais um apoio claro também dirigido à sociedade civil de Macau. “Apesar de ser uma visita curta, há que valorizar a distribuição do seu tempo no contacto mais próximo com os habitantes de Macau o que reflecte o seu desejo de proximidade à população”, afirmou Chan.
Wong Kit Cheng, por seu lado, considera que as medidas divulgadas no Fórum Macau podem ajudar a região na continuidade do seu projecto para diversificação da economia. Por outro lado, “são iniciativas que irão, com certeza, promover a expansão das empresas locais para o exterior”, afirma a deputada. “Macau pode fazer uso da particularidade de ser uma janela para o mundo.”
No entanto, a deputada não deixa de dar sugestões à RAEM. “O desenvolvimento previsto da economia marítima é repleto de vantagens e Macau não pode ser indiferente a isso”, sublinha, no sentido de que é obrigatório que o território aproveite a sua extensão de área marítima.
Outro aspecto é o aproveitamento das associações locais e o incentivo às mesmas para uma maior e mais profícua comunicação com os PLP. Esta medida atrela uma outra, a do “desenvolvimento de relações na área da educação, ainda mais fortes, na formação de quadros bilingues”.

Espectáculo e vergonha

Já para Ng Kuok Cheong, tanto a visita de Li Keqiang como a ideia de consolidação de Macau enquanto plataforma não passam de “um bom espetáculo”. O deputado, insatisfeito com os acontecimentos que encheram a RAEM nos últimos dias, considera que “esta visita alcançou os objectivos do Governo Central, nomeadamente no que concerne ao encontro com líderes de outros países, mas não passou de um grande espectáculo”. Ng Kuok Cheong não deixa de mencionar as medidas de controlo e segurança que acompanharam toda a visita do Primeiro Ministro chinês.
Também o pró-democrata Au Kam San partilha da mesma opinião. Ao HM, o deputado afirma que o Fórum “responde às políticas diplomáticas do Governo Central mas não traz muito impacto ao território”.
Confrontado com as medidas anunciadas, Au Kam San é claro: “não estou optimista relativamente ao efeito das 18 medidas anunciadas no Fórum para estreitar os laços entre os Países de Língua Portuguesa (PLP) e a China, principalmente no que possa envolver a RAEM porque é um território que não está intimamente nem directamente ligado aos PLP”. No entanto, Au Kam San não deixa de considerar que Pequim “tem a sua razão quando atribui o papel de plataforma a Macau”.
Dos resultados que poderão advir, Au Kam San não tem certezas e considera que os mesmos dependem do acompanhamento do cumprimento dessas medidas por parte do próprio Governo Central. No entanto, no meio de muitas dúvidas, considera a possibilidade de que as iniciativas do Fórum venham a contribuir para um aumento dos postos de trabalho no território, nomeadamente com a operacionalização dos três centros associados ao Fórum de Macau.
Au Kam San não deixa de comparar a visita de Li Keqiang com a do seu homólogo português, António Costa. “Com o primeiro-ministro chinês foi tudo muito divertido, mas foi também encenado”, afirma referindo-se às fortes medidas de segurança implementadas durante a estadia do chefe de governo. Já com António Costa, foi completamente diferente e o dirigente conseguiu, dessa forma, uma maior aproximação com a população que estava a visitar, lamenta o deputado.
Para o pró-democrata, “sempre que os líderes de Pequim vêm a Macau, pretendem criar a ilusão de que contactam directamente com o povo, mas foi tudo preparado e não conseguimos ver nada verdadeiro, foi apenas um espectáculo político. Sou chinês e sinto-me envergonhado”, remata Au Kam San.

13 Out 2016

Gao Hucheng quer que a RAEM assuma as suas responsabilidades

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]edidas completamente cumpridas e mais um molhe delas a caminho reflectem o sucesso que se mantém desde a IV à V Conferência Ministerial do Fórum. No entanto, Macau é chamado às suas responsabilidades enquanto plataforma que necessita de continuar a reunir esforços para um bom desempenho. Este é o balanço de Gao Hucheng, Ministro do Comércio da República Popular da China, expresso ontem em conferência de imprensa.
Na opinião do ministro chinês, nem a conjuntura menos positiva da economia global ou o abrandamento da economia chinesa interferiram para que a cooperação, que se tem vindo a registar e personificar através do Fórum Macau, abrandasse.
Entre 2013 e 2015, o volume de negócios entre a China e os Países de Língua Portuguesa foi superior a 360 mil milhões de dólares americanos e até agora, todos os tipos de investimento chinês nos PLP já ultrapassa os 50 mil milhões.
Em termos de cooperações no que respeita a infra-estruturas, agricultura e medicina tradicional, o volume de negócios feitos pelas empresas chinesas para a empreitadas de obras públicas foi superior a 70 milhões de dólares, quase mais 50% do que o valor registado no último Fórum.
O intercâmbio cultural não está esquecido e desde 2013, a China já construiu dois novos Institutos Confúcio em Portugal, tendo actualmente um total de 17 Institutos e 3 salas de aula associadas à instituição espalhadas pelos PLP.
Por último, mas não menos importante para o Ministro do Comércio, é o papel de Macau que tem vindo, neste processo, a promover sistematicamente a construção de plataforma de serviços de cooperação.
Gao Hucheng deixou ainda uma proposta com quatro pontos sobre como implementar os consenso acordados por líderes e estreitar ainda mais as cooperações entre a China e os Países Lusófonos. Destes pontos faziam parte a implementação de consensos pragmáticos, a promoção e facilitação do comércio e investimento, o apoio ao desenvolvimento sócio económico e a intensificação do papel de Macau como plataforma de intercâmbio.

12 Out 2016

Fórum Macau | Li Keqiang com discurso importante e unificador, apresenta 18 medidas

O discurso de Li Keqiang foi marcado por metáforas que denotam a importância de Macau enquanto elo de ferro entre a China e os PLP. O Primeiro-Ministro chinês apresentou 18 medidas de Pequim para Macau e visitou a cidade

[dropcap style=’circle’]”[/dropcap]Uma ponte intangível”, foram as palavras escolhidas pelo Primeiro Ministro da República Popular da China, Li Keqiang, para descrever a relação entre China continental, Macau e os Países de Língua Portuguesa (PLP). A metáfora deu, ontem, o mote à cerimónia de abertura da V Conferência Ministerial do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, numa comparação com a estrutura triangular concretizada pela ponte que liga Hong Kong Zhuhai e a RAEM. “Esta (a ligação invisível entre China, Macau e PLP) é uma ponte transoceânica ainda maior, porque liga línguas e culturas e por isso com um carácter único”, ilustra o chefe de estado chinês. Por outro lado, e no território, foi a Ponte da Amizade o símbolo da relação próxima sino portuguesa.
Li Keqiang, num discurso que foi para além das medidas anunciadas e que estão planeadas para os próximos três anos, não se esqueceu de ter sempre Macau e a sua história enquanto ponto de ligação entre Portugal e China. Por outro lado recorreu também à música, sendo que “fado, samba ou música tradicional chinesa, o que interessa é ligar os povos pelo coração”.

Estas línguas que nos unem

O bilinguismo da região foi exultado, não só pela sua história, como enquanto característica particular de Macau, que só rema a seu favor. É na RAEM que as línguas chinesa e portuguesa convivem quotidianamente e, como tal, é aqui que a possibilidade de investir em Macau como plataforma bilingue atinge o seu auge.
“O Governo Central apoia totalmente a cooperação entre a China e os PLP através desta grande plataforma que é a RAEM”, frisa Li Keqiang não deixando de referir que Macau deve aproveitar da melhor maneira este apoio.
O investimento na continuidade da presença das duas línguas o território é inserido numa medida maior. Num dos pontos anunciados pelo Primeiro Ministro chinês, destaca-se a intenção de concretizar uma plataforma de apoio financeiro aos países de língua portuguesa. Em Macau, esta iniciativa é dirigida precisamente ao desenvolvimento da continuidade bilingue da região, por um lado, e por outro, no aproveitamento das suas características únicas nomeadamente no facto de “ter um bom ambiente de negócios”, para promover o empreendedorismo jovem.

Apoio total

De modo a acelerar uma estrutura local capaz de concretizar os objectivos propostos, o Governo Central dará todo o apoio ao Governo RAEM, para que este último aligeire a construção da plataforma de serviços de cooperação económica e comercial entre a China e os países lusófonos, com o objectivo de promover os “Três Centros”, que se preveem integrar a estrutura do Fórum Macau.
É esta a estrutura que terá a seu cargo o assegurar de uma boa coordenação e que personifica a plataforma que a China deseja ver a funcionar em pleno. Dos Centros previstos fazem parte o Centro de Serviços Comerciais para as PME´s da China e dos Países de Língua Portuguesa, o Centro de Distribuição dos Produtos Alimentares dos Países de Língua Portuguesa e o Centro de Convenções e Exposições para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa.
Foi com esta ideia que Li Keqiang lembrou que o Complexo da Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e osPLP, inaugurado também na manhã de ontem, vai concentrar a exposição de produtos alimentares e culturais, um serviço empresarial, o centro de informações, o intercâmbio económico, turístico e comercial, sendo um edifício emblemático de serviços para a cooperação entre a China, Macau e países de língua portuguesa.
Nos próximos três anos, o Governo Central irá reforçar as suas iniciativas de apoio, e são 18 as medidas que vão entrar em acção numa conjugação de esforços e vontades entre a China e PLP.

As 18 medidas e o seu alcance

1. Promover a conexão das indústrias e a cooperação da capacidade produtiva com os PLP do Fórum de Macau, estimular as empresas a construírem ou renovarem as zonas de cooperação económica e comercial nos referidos Países, para além de promover o processo da industrialização na Ásia e em África, e intensificar as cooperações nas áreas de planeamento e construção das infra-estruturas, no sentido de melhorar sua interligação.

A China compromete-se em apoiar a modernização e desenvolvimento industrial dos países mais necessitados, nomeadamente em África e Timor, garantindo igualmente prestar apoio na construção de infra-estruturas, como aliás tem feito em alguns destes países. Exemplo: Guiné-Bissau e Cabo Verde.

2. Explorar o mercado terceiro em conjunto com as empresas dos PLP do Fórum de Macau.

A China pretende atingir outros mercados, através de empresas dos PLP, como já acontece com a EDP e os investimentos realizados nos EUA, na área das energias renováveis.

3. Empréstimos no valor não inferior a 2 mil milhões de yuans aos PLP da Ásia e África, destinados a promover a conexão industrial e capacidade produtiva, bem como reforçar ainda mais cooperação na área da construção de infra-estruturas com os PLP da Asia e África.

A China propõe-se assim financiar a construção ou melhoramento de infra-estruturas nos referidos países. Presume-se um investimento destinado à formação de um tecido fabril, redes de estradas, caminhos-de-ferro, aeroportos, etc..

4. Um donativo de 2 mil milhões de yuans aos PLP da Ásia e África para projectos nas áreas de agricultura, facilitação do comércio e investimento, prevenção e combate da malária, pesquisa de medicina tradicional, etc.

Para além dos empréstimos, a China pretende doar a referida soma de dinheiro para o desenvolvimento do que classifica como “qualidade de vida”, uma soma que será preferencialmente dirigida aos países mais pobres e com maior necessidade de liquidez.

5. Isentar os PLP da Ásia e África do pagamento das dívidas já vencidas provenientes de empréstimos sem juro no valor de 500 milhões de yuans.

Mais uma medida que favorece os países carenciados e a quem a China emprestara vultosas somas no passado. Estas dívidas serão, pois, perdoadas. É o caso, da Guiné-Bissau, Cabo Verde e Timor, por exemplo.

6. Intercâmbio e a cooperação na área da Saúde com os PLP, cooperação entre hospitais, e desenvolvimento de projectos de saúde materna e infantil e diagnóstico grátis de curto prazo.

Eis uma área muito interessante para os países envolvidos, na medida em que torna possível a troca de conhecimentos e de tecnologias na área da Saúde, podendo facilitar o desenvolvimento da investigação, quer nos PLP, quer na China. Nesta área, Portugal e Brasil, por exemplo, detêm conhecimentos científicos que podem ser muito úteis às China.

7. Envio para os PLP da Ásia e África equipas médicas num total de 200 pessoas.

Uma medida de grande alcance para países onde é baixo o rácio de médicos por habitante, mas que poderá encontrar problemas se esses médicos não compreenderem o Português. É, no entanto, conhecida a existência de uma faculdade de medicina na China onde a língua portuguesa é ensinada.

8. Criação de 2000 vagas para formação, destinadas aos PLP, em diversas áreas.

Este tipo de medida, além de ser crucial para alguns, no desenvolvimento das capacidades dos seus povos, ganha uma enorme importância na medida em que coloca em contacto real cidadãos de todos estes países com a China e os chineses, proporcionando um melhor conhecimento e amizade.

9. Criação de 2500 vagas de bolsas de estudo governamental.

Se bem entendemos esta medida, deverá destinar-se a formar gente qualificada em administração pública.

10. Ajuda aos PLP da Ásia e África na reabilitação e renovação de instalações de educação e cultura.

De facto, um dos grandes problemas destes países passa pela prestação de serviços educativos, o que depois se traduz na ausência de quadros qualificados, massa crítica e dependência do exterior.

11. Estabelecimento de um Centro Cultural da China nos vários PLP, entre outras plataformas de intercâmbio cultural.

Eis uma medida muito importante para Pequim, que tem descurado o imenso potencial da sua cultura milenar neste processo de internacionalização em curso do país. Acusada de pretender apenas matérias-primas e comércio, a China deverá obrigatoriamente divulgar a sua cultura e a sua visão do mundo, das coisas e das pessoas nos PLP, de modo a despertar interesse pela sua História, Língua e Cultura, aproximando assim as pessoas e levando-as a compreender melhor os seus valores.

12. Construção nos PLP da Ásia e de África de instalações contra desastres marítimos e mudanças climáticas, tal como o Observatório Meteorológico Marítimo.

Um apoio muito importante aos mais carenciados, no sentido de garantir a protecção das populações e garantir a emancipação dos países em relação a uma constante ajuda externa nesta área.

13. Cooperação com os PLP nas áreas de exploração da pesca marítima, protecção do meio marinho e pesquisa do ecossistema marinho.

Portugal e a China poderão colaborar intensamente nesta área, na medida em que o primeiro precisa de financiamento para o desenvolvimento da investigação e aproveitamento da sua posição estratégica; já o segundo poderá usufruir largamente da experiência acumulada pelos portugueses e da experiência dos cientistas e biólogos marítimos lusos.

14. Apoio à RAEM de modo a que se transforme numa plataforma de serviços financeiros entre a China e os PLP, a fim de fornecer o apoio financeiro para a cooperação empresarial.

Algo que Macau já deveria ter desenvolvido desde 2003, quando Pequim designou a RAEM como ponte para os PLP. O desenvolvimento deste tipo de serviços seria fulcral na diversificação económica local.

15. Criação em Macau da Confederação dos Empresários da China e dos PLP.

Mais uma instituição que se poderá revelar importante para os contactos entre os países do Fórum. O problema que surge, normalmente nestes casos, passa pela real capacidade e mérito de que é colocado à frente destes organismos. Seria muito importante que estas entidades, incluindo o próprio Fórum Macau fosse liderado por pessoas ambiciosas, activas e capazes de tomar decisões.

16. Criação em Macau de uma base de formação de profissionais bilingues em chinês e português. A China abrirá 30 vagas de educação continuada com diploma, através da formação conjunta no continente e em Macau.

Era uma das ideias lançada pelo Governo local, um Centro de Tradução de grande envergadura na RAEM. A primeira pedra está por lançar. Esta pretensão de Pequim poderá mesmo ser muito importante e melhorar a qualidade da formação nas duas línguas, para além de dotar Macau de mais um espaço de encontro de culturas e diversificação laboral.

17. Estabelecimento em Macau do Centro de Intercâmbio Cultural e do Centro de Intercâmbio sobre a Inovação e o Empreendedorismo dos Jovens entre a China e os PLP.

Mais uma iniciativa que garante a aproximação e troca de experiências, além de incentivar o comércio e a diversificação. Estes jovens constituem o futuro das relações entre a China e os PLP. O seu contacto é fulcral para a manutenção das relações seculares.

18. Estabelecimento em Macau do Complexo da Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e os PLP, de forma a fornecer apoio nas áreas de comércio, investimento, convenções e exposições, cultura, entre outras.

É fundamental que a China e os PLP troquem experiências em áreas além da economia, como as artes, as letras, as humanidades, na medida em que estas áreas permitem um conhecimento mais profundo dos povos e uma extensa compreensão mútua. Espera-se que esta entidade se preocupe pelo apoio a acções concretas e trocas efectivas entre todos os países, incluindo a própria RAEM, onde existem valores pouco ou nada oficialmente reconhecidos.

Li Keqiang visitou uma família e vários lugares de Macau

O Primeiro-Ministro chinês tirou uns largos minutos da sua agenda oficial para passear em Macau, mas apenas algumas pessoas tiveram o privilégio de falar e até tirar fotografias com Li Keqiang. Segundo os comunicados oficiais ontem divulgados, o representante do Governo Central visitou as Ruínas de São Paulo, tendo encontrado “um ambiente de grande agitação”. Aí, local que foi vedado permitindo apenas acesso a algumas pessoas, terá conversado “de forma cordial com os cidadãos e mostrado a sua afabilidade e popularidade”.
No Museu de Macau, onde começou todo o passeio, Li Keqiang assinou o livro de visita e cruzou-se com um casal de idosos de 80 anos, o qual se mostrou “extremamente feliz com o seu encontro”. Estes disseram-lhe que nadam todos os dias, tendo o Primeiro-Ministro desejado “uma longa vida” ao casal. Mais tarde, o encontro fortuito com um grupo de cidadãos no café do museu deixou-os “em euforia”. xi jinping
Mas o passeio não se ficou por aqui. Li Keqiang fez questão de visitar uma família “onde aproveitou para ter uma conversa cordial sobre a vida quotidiana e a realidade de Macau”. A família Mak, composta por quatro pessoas, estava acompanhada também pelos avós. O seu chefe de família é, segundo o mesmo comunicado, gerente de uma empresa de software, com negócios em Zhuhai e na RAEM. A mulher é professora de informática. Aí o Primeiro-Ministro terá estado “atento a questões ligadas à habitação e profissão assim como assuntos sobre a aposentação dos mais idosos na família”.
A visita não ficaria completa sem a oferta de dois computadores portáteis e alguns avisos. “O Primeiro-Ministro também sugeriu ao casal educar as crianças de acordo com as suas aspirações e interesses, para que sejam não só o orgulho na família como também contribuam para o futuro de Macau. Antes de partir, Li Keqiang congratulou a harmonia e a longevidade familiar e desejou muito sucesso profissional”, conclui o mesmo comunicado.

PM conhece ponte em Y

O Primeiro-Ministro assistiu ontem a uma apresentação sobre a construção da ponte Hong Kong – Zhuhai – Macau. Li Keqiang esteve no terraço da Torre de Controlo do Edifício do Grande Prémio de Macau, onde o coordenador do Gabinete de Desenvolvimento de Infra-estruturas (GDI), Chau Vai Man, explicou o projecto do lado de Macau e os desenvolvimentos dos respectivos trabalhos. Na ocasião, Chau Vai Man explicou que a obra está dividida em três partes, nomeadamente, o túnel submarino, posto fronteiriço das três regiões e a ilha artificial. “Sublinhou a dimensão do edifício alfandegário e a capacidade de resposta ao movimento de pessoas entre Guangdong, Hong Kong e Macau e o Primeiro-Ministro mostrou-se muito interessado colocando várias questões sobre o projecto e aproveitado para apresentar várias opiniões”, refere um comunicado.

Li Keqiang inaugura o futuro Complexo do Fórum

Ainda não existe fisicamente, mas já foi inaugurado pelo primeiro-ministro chinês. Li Keqiang descerrou ontem a placa que mostra o arranque das obras do futuro Complexo da Plataforma de Serviços para a Cooperação Comercial entre a China e Países de Língua Portuguesa, o qual vai funcionar junto à Nam Van, em dois terrenos já reservados pelo Governo.
Segundo um comunicado oficial, Li Keqiang fez-se acompanhar do Chefe do Executivo, Chui Sai On, o qual referiu que a futura construção visa “acelerar a concretização da meta estratégica sobre a criação da plataforma”. As conferências ministeriais do fórum deverão realizar-se no novo Complexo, que também irá albergar o Centro de Exposição dos Produtos Alimentares dos Países de Língua Portuguesa, o Centro de Serviço Empresarial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, o Centro de Formação, o Centro de Informações, Pavilhão sobre Relações Económica, Comercial e Cultural entre a China e os Países de Língua Portuguesa e o pavilhão de exposição alusivos ao desenvolvimento urbanístico de Macau. segundo um comunicado, as autoridades referem-se a este como sendo um “edifício emblemático” em prol de uma maior cooperação.

Segurança | Disputas entre polícias e cidadãos

Foram muitas as críticas à extrema segurança porque Macau passa nestes dias da visita de Li Keqiang a Macau, tendo sido registados alguns conflitos entre cidadãos e polícia. Um vídeo, publicado pela página de Facebook “Love Macau”, mostra alguns cidadãos que pretendiam voltar a casa serem impedidos de passar devido à suposta passagem do Primeiro-Ministro pela rua.
Um outro vídeo publicado pela publicação All About Macau, mostra que, antes da chegada do Primeiro-Ministro à Escola Kiang Peng ontem à tarde, cerca de dez espectadores, principalmente idosos, foram obrigados a entrar num mini-autocarro da PSP, depois dos seus documentos de identificação terem sido verificados pela polícia.
Os cidadãos, que queriam ver Li Keqiang, foram levados do sítio conduzidos pelas autoridades. A PSP chegou a emitir um comunicado onde pede desculpa pelos incómodos causados, até porque diversas ruas foram cortadas e diversos veículos – mesmo estacionados em locais permitidos – rebocados.

12 Out 2016

Pintura | Exposição da Lusofonia abre hoje no Clube Militar

Inaugura hoje a “Exposição de Pintura Lusófona 2016” na Galeria Comendador Ho Yin, no Clube Militar. É a segunda edição do evento e traz a Macau, mais uma vez, um “quase filho da terra”. José Vicente chega para tratar essencialmente da logística associada à produção, num evento que conta com 27 trabalhos vindos de nove países da lusofonia e que traz a Macau nomes conhecidos e novidades na arte contemporânea

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]osé Vicente vem, desta vez a Macau, não como curador, mas sim para prestar um serviço à Associação de Promoção de Actividades Culturais (APAC), entidade responsável pela exposição que inaugura hoje no Clube Militar e que é dedicada à arte que se faz na lusofonia. Este é um evento que traz não só artistas portugueses mas de toda a lusofonia, informa com satisfação o responsável, enquanto descreve o processo pelo qual normalmente passa até chegar às obras que traz a esta ou outras exposições que têm feito parte do seu CV.
“A APAC está com a produção executiva do evento e vim, apenas, dar o apoio necessário à produção da exposição”, explica ao HM. “Tive, mais uma vez, oportunidade de ter conseguido estar com todos os artistas que aqui são representados, de conviver dentro do atelier, aquele sítio especial onde o mundo acaba porque só existe aquele lugar”, explica enquanto adianta que é naquela intimidade que o também curador “se sente mais à vontade para trabalhar”.
José Vicente tem ligações a Macau desde 2001 e tudo começou com uma exposição no Hotel Mandarim “ainda o mar batia naquelas paredes”. O laço fechou-se, mas com isso marcaram-se muitos retornos sempre no sentido de “trocar culturas”. Se, por um lado, tudo começou com o trazer artistas de Portugal para se darem a conhecer por cá, com o tempo, os projectos foram mudando. Agora, José Vicente traz artistas lusófonos e dedica-se à prata da casa.

Mudar não quer dizer piorar

As mudanças que o curador tem vindo a assistir desde 2001 no território têm sido mais que muitas, e se, no início, “as exposições eram muito viradas para a comunidade portuguesa, esse facto não era intencional mas sim algo que acabava por acontecer espontaneamente”. Com o tempo e “de porta aberta para toda a gente” começou-se a registar uma cada vez mais afluente vaga de público da terra que não só demonstrou curiosidade, como passou a registar uma crescendo de interesse pelo que vinha de além mar.
“O que fazemos é para os locais, sejam eles de que nacionalidade for, porque a arte é para ser para todos”, afirma José Vicente.
Relativamente aos artistas locais, o curador relembra a título de exemplo a exposição da lusofonia do ano passado em que fizerem parte da sua selecção obras de Ung vai Meng, presidente do Instituto Cultural. “Estas exposições têm esta característica essencialmente agregadora e esta, que está a inaugurar, é mais um exemplo disso.
São muitos anos e muitas as diferenças que José Vicente tem assistido na RAEM. No entanto, “a mudança não tem que ser obrigatoriamente negativa, pode trazer desenvolvimentos positivos, sendo que é fundamental que se tenha em mente a sustentabilidade desse crescimento”, explica.
A arte, por seu lado, tem acompanhado este crescimento. E não só em Macau, mas na Ásia.
“O que se faz por cá é cada vez mais visto em todo o lado porque o crescimento traz diferença, a diferença traz novos pontos de vista e isso traz outro imaginário e outra criatividade.”
O evento que inaugura hoje traz Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, Timor Leste, S. Tomé e, claro, Macau. Da casa estará representado o reconhecido Ieong Tai Meng, de Moçambique Malangatana e de Portugal João Paulo. A exposição conta com entrada livre e estará patente até 23 de Outubro.

12 Out 2016

Fórum Macau | Cabo Verde destaca investimento de David Chow

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]discurso do Primeiro-Ministro de Cabo Verde, José Ulisses Correia e Silva, foi marcado por palavras de humildade e gratidão. Se, por um lado, Cabo Verde é “um pequeno país que sabe que para compensar os constrangimentos da pequenez do mercado interno, tem que ser confiável, eficiente, dotado de capital humano de excelência e orientado para o mercado externo”; por outro, o investimento chinês é bem vindo, reconhecido e já começou com o mais recente projecto de construção de um empreendimento hoteleiro com casino de David Chow.
“Neste sentido, permitam-me uma especial referencia ao investidor David Chow que acreditou, persistiu e investiu no maior projecto turístico em curso em Cabo Verde: o complexo Gamboa Djeu Resort na cidade da Praia”, refere o chefe do Governo.
Em reacção à referência de Correia e Silva, David Chow disse ao HM que “infelizmente na tradução que lhe foi dada a saber este referência não foi citada”. No entanto, não deixa de expressar gratidão mútua na medida em que viu o seu projecto de investimento naquele país ser “muito bem recebido”.
Para David Chow, Cabo Verde tem muitas características a seu favor, desde a abertura do seu povo, às paisagens e localização estratégica. Por outro lado, o arquipélago está em movimento para abraçar o investimento do novo empreendimento. Actualmente, já há uma turma universitária de alunos locais a prepararem-se para o futuro e a fazer, em Macau, a licenciatura em gestão de jogo.
Antecipando a ida de consumidores e turistas da China para Cabo Verde, também há cada vez mais cabo-verdianos no território a estudar mandarim. “Até eu estou agora a aprender mandarim”, continua David Chow, ao mesmo tempo que explica que o bilinguismo é muito importante e que para acompanhar o crescimento da China é necessário saber a sua língua.
A considerar também, para o empresário, é a língua portuguesa presente em Macau e que tem que ser também tida em conta nesta aposta em novos mercados. “Cabo Verde tem tudo para poder vir a ser uma lenda do turismo”, remata David Chow.

Angola | Empresários precisam de “acções de divulgação”

O ministro de Economia de Angola, Abranhão Gourgel, pediu “acções de divulgação” junto dos empresários da plataforma criada em Macau para incentivar a cooperação entre a China e os países de língua portuguesa. “Reconhecemos a necessidade de adoptar acções para a divulgação da iniciativa ‘uma plataforma, três centros’ no seio da comunidade empresarial dos PLP a fim de incrementar o nível de cooperação comercial entre a China e os países que falam português”, afirmou, em Macau, na cerimónia de abertura da V Conferência Ministerial do Fórum Macau. Para Abranhão Gourgel, que chefiou a delegação de Angola enviada a esta reunião, o Fórum Macau é já “um importante mecanismo de cooperação económica e comercial entre a China e os PLP, aproveitando as potencialidades e vantagens dos países participantes”.

Brasil | Governo golpista quer “acções concretas”

O ministro da Indústria, Comércio Exterior e Serviços do Brasil, Marcos Pereira, instou a China e os países de língua portuguesa a transformarem intenções em acções concretas. “Não percamos a oportunidade de transformar intenções em acções concretas. Este é, portanto, o momento de engajamento de todos nós, espero podermos criar condições que possibilitem mais comércio, mais investimento entre nós, assim como mais cooperação entre todos os nossos países, gerando emprego e renda [receita]”, disse. Marcos Pereira lançou o apelo após destacar a assinatura do plano de acção 2017-2019, saído da conferência, e do memorando de entendimento com a China no sector de serviços, o primeiro documento assinado entre o Brasil e o seu principal parceiro comercial depois da confirmação do governo golpista de Michel Temer. Marcos Pereira dedicou a grande parte da sua intervenção ao “momento especial”, pós-golpe, que o Brasil atravessa: “Temos consciência do tamanho e do peso da responsabilidade que nós carregamos mas também estou convicto de que o momento é de esperança e de retomada da confiança no Brasil. O caminho que temos pela frente é desafiador, mas conforta saber que o pior já passou”. “Superamos a crise política e estamo-nos esforçando para fazer a roda da economia girar”, disse o ministro, defendendo que, em pouco mais de cinco meses, o presidente golpista, tem demonstrado um compromisso “notório e corajoso com as medidas necessárias à criação de um ambiente económico mais favorável aos negócios”.

Guiné-Bissau | Remediar impacto negativo da crise política

O primeiro-ministro guineense reconheceu que a situação política e social na Guiné-Bissau tem dificultado a concretização de projectos de cooperação com a China e outros países lusófonos, mas defendeu também “ajustamentos” nestas relações. “Embora o ambiente sociopolítico difícil do meu país não tenha favorecido a implementação das nossas políticas de desenvolvimento, assim como dos compromisso por nós assumidos, o Governo da Guiné-Bissau sempre soube reconhecer a importância do Fórum Macau”, disse Baciro Djá. “Não deixamos porém de realçar as necessidades de ajustamento, face a novas realidades do mundo”, acrescentou ainda, manifestando a disponibilidade da Guiné-Bissau para uma maior abertura, de forma a serem consolidados “os ganhos até aqui conseguidos”.

Moçambique | À espera de um “novo ímpeto”

O primeiro-ministro de Moçambique, Carlos Agostinho do Rosário, afirmou acreditar que a futura Confederação dos Empresários da China e dos Países de Língua Portuguesa vai dar “um novo ímpeto” às relações sino-lusófonas. O estabelecimento da Confederação dos Empresários da China e dos Países de Língua Portuguesa, cujo secretariado vai ficar em Macau, foi uma das medidas anunciadas ontem pelo primeiro-ministro da China, Li Keqiang, durante a V Conferência Ministerial do Fórum Macau. “Os resultados alcançados neste Fórum encorajam-nos a continuar focalizados nas áreas que contribuem para o desenvolvimento económico do nosso país, sendo deveras crucial a contribuição activa do sector empresarial neste processo”, destacou Carlos Agostinho do Rosário, manifestando a sua “convicção” de que a criação da confederação de empresários dará “um novo ímpeto” à interacção entre os homens e mulheres de negócios da China e dos países de língua portuguesa.

Timor-Leste | “Pronto” para acolher investimentos

O ministro da Agricultura e Pescas de Timor-Leste afirmou que o país está “pronto” para acolher e facilitar investimentos dos membros do Fórum Macau. “Participamos nesta quinta conferência [ministerial] do Fórum de Macau com a mensagem de que Timor-Leste está pronto para acolher e facilitar investimentos de todos os países membros deste Fórum. Estamos prontos para apoiar e facilitar negócios de todas as regiões onde estamos inseridos tanto com a ASEAN [Associação de Nações do Sudeste Asiático], como com os demais países do Pacífico Sul”, afirmou Estanislau da Silva, durante o seu discurso, na cerimónia inaugural. O Fórum Macau constitui “um espaço sublime de convergência de vontades e articulação de vias para o aprofundamento e reforço de relações económicas e comerciais entre os nove países da CPLP [Comunidade de Países de Língua Portuguesa] e a China, tendo Macau como plataforma da dinâmica empresarial que desejamos incrementar”, defendeu, disponibilizando-se para “apoiar e ajudar a reforçar a posição de Macau como plataforma económica e comercial entre a nossa Comunidade e a China”. “Perfilham já importantes projectos cuja construção terá início dentro em breve e muito gostaríamos de poder contar, também, com projectos da China e dos Países de Língua Portuguesa”, disse o ministro da Agricultura e Pescas.

12 Out 2016

Cinco mil acusações nos primeiros nove meses de 2016

[dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oram mais de cinco mil as acusações por incumprimento da Lei do Tabaco registadas nos primeiros nove meses de 2016. A informação é dada em comunicado de imprensa que avança ainda que, este ano, a média diária de inspecções a estabelecimentos foi de 882 num total de quase 250 mil.
Dos casos registados, a grande maioria dos infractores é oriundo de Macau com 62,5% das multas aplicadas e um total de 3195. Seguem-se os turistas, com cerca de 1700 multas, e os trabalhadores não residentes, a quem foram aplicadas 214 sanções.
No que respeita ao género, é ainda avançado em comunicado que 92,4% dos infractores são do sexo masculino, sendo que os espaços onde foram detectados mais casos de ilegalidades associadas ao tabaco foi nos cibercafés, com 944 casos, seguidos dos parques e espaços de lazer com 623 casos.
A necessidade de recorrer às Forças de Segurança para apoio às equipas de inspecção registou-se em 188 casos e até à data 82,6% das multas foram pagas.
Nos casinos
No que concerne ao cumprimento da lei nos casinos, desde o dia 1 de Janeiro de 2016 até ao dia 30 de Setembro de 2016 foram efectuadas, em conjunto pelos Serviços de Saúde e pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos, 368 inspecções. Neste contexto, foram alvo de acusação 450 indivíduos que fumavam ilegalmente, sendo 420 infractores do sexo masculino (93,3%) e 30 infractores do sexo feminino (6,7%).
Relativamente às acções efectuadas pelo Gabinete para a Prevenção e Controlo do Tabagismo, no mesmo período de tempo, foram atendidas mais de duas mil chamadas, na sua maioria motivadas por pedidos de esclarecimento.  
Já os Serviços de Saúde, desde a entrada em vigor da Lei de Prevenção e Controlo do Tabagismo a 1 de Janeiro de 2012, realizaram, mais de um milhão de inspecções a estabelecimentos e registaram 36.262 acusações a pessoas que foram identificadas a fumar em locais proibidos. Até ao passado dia 30 de Setembro de 2016, foram realizadas em média, 702 inspecções diárias a estabelecimentos.
 

11 Out 2016

LMA vai fechar no final do ano sem perspectivas para reabrir

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Muito trabalho e pouco retorno são as premissas que ditam o destino, ainda incerto, da Live Music Association (LMA). O espaço dedicado à música ao vivo, que há pouco anunciou um mês de Outubro mais cheio que o costume, dá a conhecer agora o seu fim agendado para o final do ano. “Vamos manter o programa que temos, mas para o ano já não estaremos a trabalhar”, afirmou Vincent Cheong, responsável pelo espaço, ao HM.
Na génese da decisão estará o muito trabalho que é necessário para organizar um espaço com as características da LMA e que, sendo uma associação sem fins lucrativos, não tem um “retorno visível”. vincent cheong lma
O balanço destes anos de actividade são “muito positivos mas está na altura de dar um passo atrás e fazer uma retrospectiva”, avança o responsável. Por outro lado, a questão que estará em causa para Vincent Cheong é se deve “continuar a utilizar esta forma de acção para promover o que é importante: a produção de concertos que tragam a Macau outros nomes e outras músicas”, refere ao HM. O fim definitivo ainda não é uma certeza, mas uma a paragem impõe-se e é ponto assente.
O espaço situado no 11º andar da Av. Coronel Mesquita tem sido palco de uma panóplia de concertos com nomes mais e menos conhecidos vindos de vários cantos do mundo e mesmo locais. Outubro tinha sido recentemente anunciado com um cartaz que o responsável definiu como “um programa de luxo e um arranque para uma nova fase do LMA com cada vez mais concertos e actividades”. A música continua mas agora por pouco tempo.

11 Out 2016

Biblioteca aberta dia e noite

A Biblioteca do Mercado Vermelho está aberta 24 horas desde o passado dia 7 de Outubro. A iniciativa promovida pelo Instituto Cultural (IC) tem como objectivo adaptar-se aos diferentes ritmos de vida dos residentes daquela zona, de modo a que independentemente de horários os habitantes possam aceder aos serviços disponibilizados. A medida, para já, tem um carácter experimental e todos os dias entre as 20h00 e as 10h00 do dia seguinte será implementada a possibilidade de auto-inscrição para os utilizadores, podendo os residentes aceder ao interior da biblioteca mediante a digitalização dos BIR ou bluecard.

11 Out 2016

Tuvshinsaikhan Delgersaikhan, Maestro da Mongolian State Morin Khuur Ensemble

Os sons das estepes da longínqua Mongólia encheram a Fortaleza do Monte no passado sábado, num concerto do Festival Internacional de Música de Macau. Entre os violinos de cabeça de cavalo e o canto gutural, foi a história cultural de um país que o maestro Tuvshinsaikhan Delgersaikhan quis dar a conhecer através da universalidade musical

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]omo é que começou a sua carreira enquanto maestro desta formação?
Comecei por estudar o violino cabeça de cavalo com um dos grandes mestres mongóis e integrei a orquestra como intérprete em 1992. Continuei a trabalhar arduamente e em 2007 assumi o cargo de maestro. Seja como intérprete ou como maestro, o meu objectivo é conseguir promover a tradição da música mongol, o gosto por ela e o virtuosismo entre quem a interpreta, para que a possamos melhor dar a conhecer na sua essência. Isto é um trabalho constante entre músicos e maestro e que agora integro com satisfação.

O som das estepes do norte tem instrumentos e técnicas particulares. Por um lado temos o violino de cabeça de cavalo e por outro o chamado canto gutural…
A música tradicional é sempre muito específica. Penso que o que faz a particularidade dos nossos instrumentos e técnicas começa no facto da sociedade mongol ser constituída por tribos nómadas. Fomos e somos um povo nómada. Por isso mesmo, estamos especialmente ligados e dependentes da natureza e isso fez com que desenvolvêssemos formas de nos relacionarmos e integrarmos nela. É este intercâmbio com o que nos é natural que, na minha opinião, concretiza a nossa maior herança histórico-cultural e que depois se reflecte na nossa música.

Qual é a história do vosso violino?

O violino de cabeça de cavalo é um instrumento criado pelos cavaleiros nómadas e é o nosso instrumento clássico. Tudo na sua concepção, e mesmo técnica usada para ser interpretado, é associado aos sons que estes cavaleiros ouviam e tentavam recriar. Nas suas melodias estavam a reflectir o som entre as viagens a cavalo e a relação com as paisagens percorridas, por um lado, e por outro a própria interacção que acontecia com as pessoas nestas viagens.

Único, portanto…
Sim. Na China, por exemplo, este instrumento tem um equivalente: é o conhecido “er hu”, que significa duas cordas. O nosso é mais vivo e mais próximo do seu nome, cabeça de cavalo, não só pela sua forma, mas também pela sua aproximação a um estado vivo. O que lhe é particular não é o facto de ter (duas) cordas feitas da crina da cauda de cavalo, mas sim porque estas cordas provinham de cavalos ainda vivos, para que seja atribuído ao instrumento um carácter igualmente vivo. A ideia é de que quando as pessoas ouvem aquela música, de alguma forma, sintam a sua diferença porque é “um som vivo” e por isso único. Por outro lado também é uma sonoridade que tem correspondência, por exemplo, ao próprio galopar, à sua velocidade e ritmo.

E o canto gutural?
O canto gutural é, a meu ver, um dos maiores legados que a cultura mongol pode deixar ao mundo. É uma espécie de arte única que foi criada nas tribos das montanhas. É uma técnica que permite que sejam emitidos dois sons em simultâneo pela mesma pessoa. Penso que o objectivo inicial aquando da sua criação era o de poder imitar os sons da natureza para com ela poder comunicar. Por detrás da criação desta técnica estaria uma forte convicção de que falando a língua da natureza se poderia comunicar com ela. Considero que são estas as duas características mais especiais da nossa cultura musical que está intimamente ligada à nossa história.
Têm tocado um pouco por todo o mundo. No Ocidente é efectivamente um som diferente. Como tem sido a recepção?
A música é, talvez, a única linguagem capaz de ser entendida por todos. É um facto conhecido e concordo em absoluto com a sua universalidade. A música da Mongólia, por razões geográficas, está muito próxima da própria cultura do continente asiático. Penso que, e na Ásia, essa é uma das razões por que a audiência entende mais facilmente ou imediatamente as emoções que expressamos e que estão associadas à nossa música. Mas, quando tocamos, por exemplo, na Europa, apesar da distância, e de sentirmos que estamos efectivamente a tocar sons que não são comuns às audiências, sentimos que nos entendem, que nos olham e ouvem com interesse e que conseguimos comunicar da mesma forma.

No que respeita às peças a ser tocadas, têm feito intercâmbios com várias orquestras com diferentes tradições. Como é que entra a música tradicional da Mongólia nestes intercâmbios?
Sim, temos tido muitas experiências em que peças clássicas ocidentais são acompanhadas por nós e vice-versa. Fazemos uma combinação. Temos participado com orquestras clássicas da Rússia, Japão ou França. Também temos experiência com outras orquestras tradicionais, desde chinesas a russas, por exemplo. E tudo isso tem sido muito gratificante. A nossa música consegue acompanhar a música clássica contemporânea e os nossos instrumentos também, o que faz como que sejamos mais e mais conhecidos.

Na sua opinião, qual o estado da música tradicional na Mongólia?
Penso que neste momento, e no que respeita a produção de música tradicional, estamos muito bem. Temos formação universitária de muita qualidade e orquestras para acolher os músicos. Temos muito bons profissionais e o que se está a passar neste momento é que há cada vez mais músicos ocidentais a quererem estudar os nossos instrumentos. Vemos crescer o número de intérpretes que chegam à Mongólia para aprender a tocar, por exemplo, o violino de cabeça de cavalo. Temos neste momento um nível de qualidade muito elevado no que respeita à formação musical. Outro aspecto importante é que a música tradicional integra músicos de formação clássica.
Por outro lado, os nossos cantores já são internacionalmente reconhecidos e são cada vez mais convidados a participar em formações estrangeiras para dar o seu contributo. Outra circunstância interessante e que cada vez acontece mais é que o nosso violino é cada vez mais procurado para integrar orquestras de música clássica europeia. Penso que esta capacidade de transportar a música clássica para este instrumento tradicional também é um aspecto contemporâneo muito interessante. Sabe muito bem ver este “nosso” instrumento ser tão explorado e a concretizar tantas possibilidades. A música tem essa magia: permite interagir com um grande leque de estilos e é por isso que agora vemos os nossos instrumentos tradicionais aplicados a música contemporânea clássica. E isso é muito gratificante.

Esse interesse e estudo também se aplica ao canto gutural?
Na Mongólia essa técnica, apesar de vocal, acaba por ser um instrumento de acompanhamento quando inserida numa orquestra. Esta é uma técnica verdadeiramente única e mesmo em si apresenta características diferentes, ou seja, varia também consoante as tribos de onde vem. Isto é muito difícil de ensinar. Mas já temos pessoas, mais próximas geograficamente, que querem aprender e que vêm da China ou da Rússia. Considero que a proximidade também os ajuda a compreender melhor toda esta técnica.

Porquê?
É uma arte muito difícil de aprender e acho que é necessário que as pessoas estejam também sintonizadas com os próprios hábitos mongóis. Têm que dormir como nós, respirar como nós, ter os costumes à mesa porque são exemplos que também nos moldam a voz e como comunicamos. É necessário estar dentro deles para que possam aprender a “interpretar” esse cântico tão especial.

Como está a ser esta vinda a Macau?
Estamos muito contentes por poder participar neste Festival Internacional de Música. Como o nome indica é uma oportunidade de estar entre culturas diferentes com sons igualmente diferentes. Por outro lado, a paisagem também nos surpreende. Conhecemos Portugal porque fomos pesquisar as raízes da RAEM e, de facto, vemos as características de um país tão distante aqui. Vemos isso em todo o lado, nos monumentos, ruas ou edifícios.
Estão a dar um concerto num desses monumentos, aqui na Fortaleza do Monte…
Sim e é um local muito especial por várias razões. Para além de ser um ponto histórico, normalmente tocamos em teatros e salas de concerto fechadas, o que faz com que este concerto seja ainda mais particular. Estamos a tocar ao ar livre podemos sentir o vento. Se quisermos imaginar e por estarmos também num monte podemos, por momentos, pensar que estamos numa das nossas montanhas mongóis.

Voltando a Macau, o que mais procuraram?
Sempre que vamos para fora fazemos a nossa pesquisa. Queremos perceber qual a identidade e a verdadeira raiz dos sítios que nos esperam. E queríamos encontrar isso aqui.
Encontraram essa “real” identidade de Macau?
Não, isso acho que não encontrámos. Encontramos sempre esta mistura mas sem chegarmos a uma essência.

Que planos tem na manga para o futuro desta formação?
Vamos continuar a fazer os esforços necessários e com o trabalho em que temos estado empenhados, de forma a promover a nossa música tradicional e preservar a nossa herança história e cultural.

11 Out 2016

Veículos | Governo obriga a mais inspecções para um melhor ambiente

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]periodicidade da inspecção obrigatória anual dos veículos ligeiros e motociclos está agora fixada em oito anos, em vez dos dez até agora indicados, após a primeira inspecção para atribuição de matrícula. A medida faz parte de uma alteração ao Regulamento do Trânsito Rodoviário, aprovada na passada sexta-feira pelo Governo e que tem como finalidade um controlo mais adequado da emissão de gases de escape. Ainda no que concerne ao ambiente, a presente alteração prevê a medição da intensidade dos ruídos provocados pelo motor com o veículo ainda estacionado.
Para além das medidas ecológicas, o Executivo prevê modificações no que respeita às características dos veículos e à habilitação de condução. Para o primeiro ponto os motociclos passam a ter que estar equipados com dois espelhos retrovisores enquanto que os restantes veículos têm que estar dotados de protectores laterais entre os eixos. Tendo em conta a existência de um período transitório para a aplicação legal das mais recentes directivas, os residentes têm um ano para colocar as exigências em prática.
Cuidado com o ir abaixo
No que respeita à habilitação para conduzir, os titulares de licença para veículos pesados de passageiros passarão a estar habilitados a conduzir pesados de passageiros articulados.
Por outro lado, e quanto aos exames de condução, as regras apertaram. A partir de agora são causas de reprovação no exame o não conseguir arrancar numa rampa após duas tentativas e o parar do motor mais de duas vezes, em vez de três tentativas em ambas as situações, conforme as disposições vigentes.
Públicos como solução
Para Lam U Tou, mais alternativas de transporte são melhor solução para os problemas de tráfego e ambientais do que aumento da periocidade da inspecção periódica de veículos. O vice-secretário-geral da Associação Choi In Tong Sam, ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau, diz que apesar de concordar com a redução de veículos através da obrigatoriedade de inspecção num menor período de tempo, fundamental seria resolver os problemas de trânsito através da criação de mais alternativas de transporte público, especialmente durante os períodos mais congestionados.
Para Lam U Tou esta seria, sim, uma medida capaz de evitar com que os residentes sentissem necessidade de recorrer ao veículo privado.
“Mais medidas, como esta da inspecção, que também acarretam encargos financeiros, vão apenas impedir que as pessoas venham a comprar um segundo ou terceiro carro, mas não impedem que abdiquem do que têm”, afirma. Lam U Tou volta ainda a questionar acerca do fim da conclusão das obras do acesso pedonal entra a ZAPE e a Guia e sugere que o Governo se dedique mais ao estudo de medidas de protecção ambiental.

11 Out 2016

Habitação pública | Especialistas apontam crescentes índices de marginalização

A construção de habitações públicas, longe de lugares centrais da RAEM, poderá levar a uma maior marginalização dos seus habitantes, algo que já se começa a fazer sentir. Mais medidas de apoio social precisam-se

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ão muitos os estudos que, um pouco por todo o mundo, se dedicam à análise das condições geográficas e sociais que dizem respeito à habitação pública. Muitas vezes um espaço associado aos mais desfavorecidos, ao estigma, ao gueto ou a actividades criminosas, a habitação pública é o cerne da preocupação de estudiosos de várias áreas.
Uma das questões levantadas prende-se com as áreas geográficas destinadas a este tipo de habitação e as suas condições de acesso, podendo isso ser a causa de alguns dos problemas sociais que se vão registando.
Basta olhar para o mapa do território para perceber que, na sua maioria, as zonas de habitação pública da RAEM estão localizadas na zona norte da península. Por outro lado, Seac Pai Van está no outro extremo, em Coloane, e a excepção é o Edifício do Lago, situado na Taipa.
A forma como tem sido gerida a construção deste tipo de lares em Macau apresenta particularidades inerentes às características do território, sendo que, ainda assim, o assunto não tem sido de relevo para o Executivo e, com as mudanças rápidas e profundas do território, apresenta problemas que necessitam de resolução.

Gueto da idade

“Na RAEM, os bairros sociais não podem ser vistos como afastados do centro, não porque não o estejam, mas porque Macau é pequena e apresenta uma grande densidade populacional”, afirma o arquitecto Francisco Vizeu Pinheiro ao HM.
No entanto, os problemas advindos da má concepção deste tipo de habitação já se fazem sentir. “O problema está essencialmente ligado à área social”, afirma o arquitecto, ao mesmo tempo que explica que já se começa a sentir uma marginalização destes espaços, não por estarem associados a actividades marginais, como acontece nos países ocidentais, mas porque este tipo de habitação está a transformar as famílias.
“Se antigamente o espaço de habitação era multigeracional, neste momento, o que está a acontecer é que os membros da família estão cada vez mais afastados uns dos outros”, adianta Vizeu Pinheiro, enquanto exemplifica o aumento do número de idosos que, por este motivo, vivem cada vez mais sozinhos na sua casa “social”.
“Estão a existir muitos casos de idosos a viver sozinhos neste tipo de habitação porque, na sua maioria, o espaço é muito reduzido e não alberga mais elementos da família que vai aumentando”, ilustra.
A opinião é partilhada pelo sociólogo Larry So. “Há cerca de 40 anos teríamos em Macau uma primeira geração de habitação pública. Mas, após a segunda geração, devido ao desenvolvimento económico e, especialmente, à indústria do jogo, que veio empregar muita gente, assistimos ao aumento dos rendimentos” começa por contextualizar o sociólogo.
A descendência, agora com mais possibilidades económicas, foi procurar outras casas, noutras áreas da cidade e consequentemente, “um dos maiores problemas que existe agora, principalmente nos edifícios mais antigos, é uma população que no seu geral, é marcada pelo envelhecimento”.
A situação é de gueto, não no sentido delinquente como é conhecido no Ocidente, mas no sentido de integrar um espaço confinado e sem saída. “Não estamos no gueto marginal, mas estamos na velhice isolada que é vivida nestes espaços e, neste sentido, podemos falar de um outro tipo de “marginalização”, sublinha Larry So, enquanto adianta que “nós não estamos a enfrentar o gueto como o local marginal ou espaço áureo para o desenvolvimento de actividades ilegais mas, por outro lado, começamos a ter um problema que deve ser devidamente tratado pelos serviços sociais e que se delimita especificamente nas zonas antigas de habitação pública de Macau”.
Associado à antiguidade dos espaços, está a pobreza, ignorada pelas gerações mais jovens que vão, gradualmente, deixando os seus “mais velhos” a viver em condições “menos desejáveis”.
“O que está a acontecer em Macau também é uma mudança social em que os jovens que viviam no seio familiar, que tinha tido acesso à habitação pública, começam a sair de casa para viver de forma independente, antes de casar”, considera Peter Thomas Zabieslskis, professor do Departamento de Sociologia da Universidade de Macau (UM). No entanto, o investigador não deixa de salientar que, também associado à habitação, está um problema maior: a possibilidade dos jovens locais saírem do território.

Em cima do joelho

As soluções não serão fáceis, mas Macau tem exemplos à volta em que a construção social já é dotada de estratégias de planeamento que visam antever os problemas, tanto de acesso como de isolamento.
“É difícil perceber que, quando se decide fazer habitação pública em escala absolutamente exorbitante, como o caso de Seac Pai Van, não se pense em ter lá uma linha de metro a passar”. A afirmação é do arquitecto Mário Duque que justifica os problemas associados a este tipo de projectos a “uma ausência total de planeamento”.
Mas a situação não é feita propositadamente. A RAEM opera segundo o que Mário Duque denomina de necessidade de “pão para a boca”. “Macau utiliza os terrenos para fazer aquilo que não tem e de que precisa urgentemente, o que é uma situação precária”, justifica, exemplificando que por cá, quando há terra, constrói-se sem pensar em muito mais.
O arquitecto não deixa de dar exemplos próximos e que são feitos de outra forma. Tendo em conta a vizinha RAEHK, Mário Duque refere que “quando é preciso fazer um empreendimento social, este está dependente da promoção do próprio Metro em que é ainda pensada toda a estrutura que naquela cidade está normalmente associada à abertura de uma estação, como é o caso dos espaços comerciais e restauração”.
Em Macau, o planeamento, ou a falta dele, é o aspecto também sublinhado por Peter Thomas Zabieslskis. Os estudos são claros e a investigação feita no continente asiático é reflexo da necessidade de criação de melhores espaços, essencialmente dirigidos à população idosa que tende, cada vez mais, ao isolamento. O catedrático considera que quando as populações idosas são obrigadas a “viver num apartamento longe dos lugares equipados com estruturas sociais nas quais têm ao seu dispor dispositivos de convívio, a sua vida fica, naturalmente mais difícil”.
Quando se faz um projecto para um espaço de habitação pública é fundamental que não se pense apenas no factor casa. “Há todo um espaço público que deve ser tido em conta”, refere Peter Thomas Zabieslskis ao HM. Jardins, locais de convívio e lazer são fundamentais e os arquitectos começam a pensar nestes aspectos.
Num gesto de esperança para a RAEM, o professor da UM dá, curiosamente, o exemplo da habitação pública situada na Taipa. Não só é o núcleo de casas que se situa mais próximo dos centro e com mais facilidades de acesso, como “tem já parques para fazer piqueniques”. “Isto são factores a ter em conta e fundamentais para um bom funcionamento dos espaços de habitação pública e uma forma de evitar problemas de foro social”, reafirma.
Também para Vizeu Pinheiro, o futuro não é continuar com o arredar da pobreza ou da idade mas sim na sua integração com o estabelecimento de canais de comunicação, entre a casa e a cidade e ainda, dentro de casa, na família.
Mais além vai Larry So para quem a “mudança de cara e uma possível demolição destes espaços, poderia ser uma solução”, não sem ser acompanhada de outro tipo de projectos. “É necessário olhar a terra e ver como se pode reaproveitar de uma forma moderna e capaz de sustentar estruturas familiares maiores e com mais dignidade”, afirma.

De olho em Singapura

Singapura é dada como exemplo não só enquanto cidade que usufrui de um cuidadoso planeamento urbanístico, mas como espaço que antevê problemas e que já está no caminho da sua resolução. A habitação pública não é excepção.
“Singapura, que tem uma enorme experiência em habitação pública, quando faz o planeamento, por exemplo de uma torre, assegura de antemão a mescla de culturas que o edifício vai albergar de modo a que seja assegurada a convivência com as diferentes etnias que representam o tecido social daquele lugar”, ilustra Mário Duque, sublinhando o carácter inclusivo destas iniciativas.
Também no que respeita à família, Singapura poderá servir de exemplo. Para Larry So, querendo avançar com a verdadeira adaptação social da habitação pública, poder-se-ia construir edifícios em que fosse prevista a convivência familiar. “Há, neste momento, planeamento urbanístico que integra casas maiores, com entradas independentes, de modo a que mais que uma geração possa estar próxima”, ilustra o sociólogo.

7 Out 2016

Lusofonia | Três milhões para a festa que traz HMB, Don Kikas e Os Tubarões

As cores, sons e sabores dos países lusófonos vão animar a zona das Casas Museu da Taipa de 20 a 23 de Outubro. O evento, que este ano custa três milhões de patacas, continua a querer ser um marco na agenda turística local

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] sítio é o do costume e a data marcada é de 20 a 23 de Outubro. É a 19.ª edição do Festival da Lusofonia que aí vem e que está orçamentada em três milhões de patacas. Esta edição promete trazer, mais uma vez, os sons dos quatro cantos do mundo que têm em comum a ligação lusa.
À semelhança das edições anteriores, um dos pontos fortes do evento é a realização de espetáculos que juntam artistas locais a outros, oriundos dos países que integram a edição. Das nações integrantes fazem parte Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné Bissau, Goa, Damão e Diu, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste. O anfiteatro das Casas Museu da Taipa vai receber desde a Tuna Macaense, à capoeira brasileira, danças e cantares portugueses, performances e fados, entre artistas locais e outros convidados, de modo a mostrar as raízes desta “comunidade imensa que é a comunidade lusófona”.
De destaque, para a organização, são espectáculos de música e dança de artistas lusófonos ou os de música ligeira de artistas de Macau. Entre os nomes em cartaz estão agendados, para dia 21, a actuação de Don Kikas que vem de Angola, Knananuk de Timor e os Latin Connection, que representam Goa, Damão e Diu.
Vindos de Portugal estão os HMB e de Cabo Verde “Os Tubarões”. “Os Garimpeiros” de Moçambique também cá chegam e todos têm concertos agendados para o dia 22 das 20h00 às 23h00. A fechar a edição está Margareth Menezes, do Brasil, Tino Trimó da Guiné-Bissau e Tonecas Prazeres de São Tomé e Príncipe.

Comes e bebes

O petisco não falta e o Jardim Municipal do Carmo e o Largo homónimo voltam a ser palco dos chefs que ali vão mostrar a gastronomia dos países da lusofonia. Feijoadas do Brasil, moambá de Angola ou cachupa de S. Tomé são só algumas das iguarias que os interessados vão poder pôr à boca durante o evento. A acompanhar a edição vai ainda estar no ar a Rádio Carmo , uma edição especial que acompanha, em directo, convidados, visitantes e actividades.
Relativamente à edição do ano passado – cujo orçamento estava situado nos 3,3 milhões de patacas – os números deste ano são inferiores porque o “Instituto Cultural (IC) poupou essencialmente na publicidade, tendo agora uma maior divulgação online”, explica o responsável. O programa está preparado para acolher cerca de 20 mil pessoas, “mais ou menos o mesmo número do ano passado”, segundo a apresentação por parte do IC realizada ontem.
Porque é um evento a pensar em todos, para o mais pequenos estão disponíveis passeios de pónei e espaços especiais com a realização de workshops a eles dedicados.
Também para todos estão, como em anos anteriores, a ser preparados torneios de jogos tradicionais e matraquilhos com direito a prémios monetários aos melhores classificados e uma pequena aventura num simulador do Grande prémio. À festa justam-se vários stands de exposições que integram o que se faz nos países com ligação a Portugal.

Acessos mais fáceis

O Festival da Lusofonia acontece desde 1998 e tem como objectivo a promoção e divulgação das culturas e costumes dos países lusófonos bem como a homenagem às comunidades de expressão portuguesa sendo que faz parte das metas do IC “transformar o festival num marco das efemérides locais de modo a que se concretize enquanto ponto da agenda turística da região”.
De modo a facilitar o acesso ao local, tema que tem vindo a ser polémico, o IC garante que está em comunicação com a Direcção dos Assuntos de Tráfego, de modo a que esta estabeleça as devidas medidas para o aumento da frequência dos transportes públicos enquanto decorre o festival. Por outro lado, e para os que pretendem aceder à zona das Casas Museu da Taipa de carro, estará disponível o silo perto da zona do Carmo.

7 Out 2016

Violência Doméstica | Lei entrou ontem em vigor mas números já subiram

Apesar das denúncias de violência doméstica terem aumentado exponencialmente no primeiro semestre de 2016, os dados não revelam um aumento de casos, mas a consequência do debate acerca do tema. É a conclusão de Celeste Vong, presidente do IAS

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s denúncias de violência doméstica registados no primeiro semestre de 2016 já ultrapassam o total de casos de 2015. A informação foi adiantada ontem pela presidente do Instituto de Acção Social (IAS), Celeste Vong, que não considera os números alarmantes nem reflexo do aumento de casos. Os dados, diz, apontam antes para o resultado dos esforços que têm vindo a ser implementados pelo IAS nos últimos meses, entre os quais a entrada em funcionamento da linha aberta de apoio à vítima e as acções informativas e de sensibilização da população promovidas pelo organismo a que preside. Tudo por causa da entrada em vigor, ontem, da Lei de Prevenção e Combate à Violência Doméstica.
“Com a divulgação que tem sido feita pelo IAS, os resultados que temos conseguido são satisfatórios, o que leva a que o número de casos tenha subido bastante”, explica Celeste Vong, enquanto adianta que “este é também o fruto da colaboração entre o IAS e muitas instituições”.
No total, e de Janeiro a Junho deste ano, foram apresentadas 96 queixas que incluem um total de 97 vítimas contra os 80 casos, com 82 vítimas, do ano passado. A maioria envolve violência entre casais (65 casos), seguidos de violência que envolve crianças, com um total de 22 queixas.
As expectativas, com a entrada em vigor do novo diploma, são em direcção a um aumento dos números no sentido destes representarem que, de facto, há mais informação e que as pessoas “vão perdendo o medo e a vergonha de denunciarem os seus agressores”.

Mais estruturas de apoio

Celeste Vong adianta ainda que o IAS tem na agenda a abertura de mais um centro de acolhimento para vítimas de violência doméstica, sendo que os dois que neste momento estão sob a sua tutela não se encontram, contudo, com “lotação esgotada”.
Por outro lado, com a entrada em funcionamento do Mecanismo de Cooperação sobre a Lei de Prevenção e Combate à Violência Doméstica, também inaugurado ontem, o IAS terá a seu cargo um papel coordenador. Entrelaçadas estarão as comunicações e acções entre o organismo e as sete entidades públicas envolvidas e que envolvem as Forças de Segurança, a área da educação e juventude ou a Secretaria para a Justiça. Paralelamente, continuarão as cooperações “essenciais com as instituições privadas que reúnem as condições necessárias para actuar neste tipo de casos”.

Próxima estação: adopção

Juliana Devoy, presidente do Centro do Bom Pastor, entidade que tem a seu cargo, entre outras funções, o acolhimento e apoio a vítimas de violência doméstica, não escondeu o contentamento pela entrada em vigor da Lei da Violência Doméstica. A religiosa, que assistia ontem à cerimónia que marcou a entrada em vigor do diploma, estava visivelmente satisfeita com a vitória na luta para a qual deu a cara e que, finamente, está no papel. No entanto, o caminho não acaba e outras metas se levantam. O próximo passo é lutar por uma revisão da lei das adopções. Para Juliana Devoy é inconcebível que as mães menores não possam dar as suas crianças para adopção, nem que a legislação não facilite este processo e com isso mantenha as crianças a crescer em abrigos quando poderiam ser acolhidas por uma família.

6 Out 2016

Tuna Macaense comemora 80 anos com novo álbum

Os 80 anos foram em 2015 mas a festa da Tuna Macaense é hoje, com o lançamento do sexto álbum do grupo na Fundação Rui Cunha. O grupo promete crescer num futuro próximo e continuar a “cantar Macau”

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]eis de Outubro foi a data marcada para lançar o sexto álbum da Tuna Macaense em jeito de comemoração do seu 80º aniversário. O local é a Fundação Rui Cunha e o momento promete uma pequena actuação por parte da Tuna, como forma de agradecimento pelo apoio tido ao longo dos anos.
A alegria e orgulho sentem-se nas palavras de Jorge Russo, nome pelo qual é conhecido o presidente da Tuna Macaense, ao falar do CD que é lançado hoje. “É um conjunto de 16 temas compostos propositadamente para assinalar a data e cantados em Português e Patuá”, refere o representante ao HM.
Tinha data marcada para o ano passado, visto a Tuna “ter tido início em 1935”, mas, devido a problemas técnicos, a gravação do disco só foi possível no passado mês de Abril.
O agrupamento tem atravessado gerações e Jorge Russo faz parte dele desde 1990. Passou pela administração portuguesa da actual RAEM, sentiu as mudanças da transição e hoje assume que “a actividade da Tuna Macaense actualmente é muito melhor do que antigamente”.
Se no passado faziam parte do repertório, essencialmente, temas instrumentais que misturavam os sons de bandolins, violas e cavaquinhos, actualmente acresce à sonoridade uma preocupação com a composição das letras. “Antes das transição, o pouco que era cantado era em Português e as nossas apresentações eram mais restritas”, refere Jorge Russo, enquanto justifica que a actividade da Tuna, antes da transição do território, era limitada a convites pontuais feitos por parte do então governo luso.
Depois de 1999 “mudou muita coisa e para melhor”, salienta. “Começamos a cantar em mais locais e a ter uma actividade mais livre, por um lado, e por outro começamos a trabalhar com as línguas que se falavam cá e a compor letras em Patuá, Cantonês e mesmo Mandarim, o que foi de encontro aos desejos da população.”
Outra opção foi adoptar temas de origem inglesa às línguas da terra. “As pessoas ouviam coisas que conheciam, mas na sua língua, e foi assim que a Tuna foi adquirindo mais popularidade nos últimos anos entre a população local”, explica Jorge Russo.
Mais do que a linguagem, é conteúdo que Jorge Russo pretende dar às canções da Tuna. É um “cantar Macau”, em que as palavras e as sonoridades pretendem transportar para os palcos “as ruas de Macau, as suas pessoas, o património e a história da terra de modo a conservar as memórias”.

Futuro risonho

Actualmente a Tuna é composta por apenas seis elementos. No entanto, o reduzido número de músicos não é factor desmoralizante para o presidente do grupo musical. A Tuna Macaense já está em processo de renovação com a recente colaboração com os alunos do curso de Música do Instituto Politécnico de Macau. A ideia é que no próximo ano estes pupilos integrem a formação e, desta forma, tragam a desejada continuidade à Tuna Macaense. Tudo isto porque, para Jorge Russo, as dificuldades “não são assim muitas e o grupo conta com o apoio do Governo e autonomia de espaço, o que ajuda no seu bom funcionamento”.
O lançamento do CD que comemora as 80 primaveras da Tuna Macaense tem lugar hoje, às 18h30, na Galeria da Fundação Rui Cunha e conta com entrada livre.

6 Out 2016

Óbito | Adeus Alberto Alecrim

“Um grande amigo de Macau” parece ser a frase que melhor descreve, pelos que lhe eram mais próximos, o homem que, desde 1965, fez desta terra a sua casa. Alberto Magalhães Alecrim faleceu no passado dia 3 de Outubro, vítima de doença prolongada. Com a partida, aos 84 anos, deixa as saudades do companheirismo e das gargalhadas que proporcionava com as suas histórias

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hegava a Macau em 1965 para marcar, com a sua assinatura, a história dos portugueses por terras do Sul da China. Na actual RAEM, a lembrança de Alberto Alecrim é uma memória feliz e já carregada de saudade.
Fervoroso adepto sportinguista, sócio nº 4 do Sporting Clube de Macau, Alberto Alecrim é descrito por Luís Machado, como um “coração e alma de leão e um verdadeiro contador de estórias”. Relembrando os relatos feitos de “uma forma empolgante e ao mesmo tempo hilariante”, dirige-se ao amigo falecido em tom de recordação: “Estiveste para ser fuzilado na ‘guerra do caril’ e aí aprendeste o Pai Nosso de trás para a frente! Noutra guerra, a do ‘chau min’, deste o teu melhor para alegrar as hostes e, na Rádio Confusion (ou confusão) de Macau, como a apelidaste, fazias 30 por uma linha e das tripas coração para pôr aquilo a funcionar, a princípio ainda na Torre do Edifício dos Correios ao Leal Senado perto da tua casa e depois na Francisco Xavier Pereira”, frisa em discurso directo, referindo-se às peripécias da vida de Alecrim.
Mas não há clubismo que separe Alberto Alecrim dos amigos. Bolas à parte, Santos Pinto, que no futebol joga do lado oposto e é conhecido pela sua dedicação ao Benfica, lembra o companheiro de mesa e de conversa. É com voz combalida e sorriso triste que afirma ao HM que Alecrim “era um senhor que era do Sporting mas um senhor espetacular”. Relembra também o contador de histórias que era, as guerras por que passou, e acima de tudo, o facto de ser “uma pessoa muito ligada a Macau”. Segundo Santos Pinto, Alecrim era um homem que “não nasceu para trabalhar, mas sim para falar”, facto admitido pelo próprio, sempre adepto de mais uma conversa.
Desde camarada a amigo de todos, era o homem que, como por magia, espalhava sorrisos por Macau com as suas histórias e anedotas. “Mais que um artista, era uma figura popular e incontornável”, afirma o benfiquista rendido à perda enquanto acrescenta que “era uma pessoa muito especial e que vai deixar muitas saudades em Macau”.

O homem da rádio

Alberto Alecrim veio, em 1965, integrar a Emissora da Radiodifusão de Macau. É na rádio que também é recordado pelo actual gestor de programação, Gilberto Lopes, que com ele privou.
“Alberto Alecrim, juntamente com outros nomes, faz parte das pessoas que mudaram, à sua maneira, com a sua personalidade e estilo de vida, a presença portuguesa em Macau, na segunda metade do Séc. XX”, diz Gilberto Lopes. “O seu testemunho foi fundamental para conhecer melhor a nossa própria memória colectiva, sobretudo para nós portugueses que temos o costume de não registar o que a comunidade vai construindo.”
“Inteligente e de uma ironia implacável”, Alecrim foi o homem que marcou, na sua época, a rádio que por cá se fazia. Reformado, continuava a ser um ouvinte atento e sempre a comentar com o humor que lhe era característico o que se faz hoje na emissão da Rádio Macau.
Das colaborações com o jornal Clarim e com a Revista Macau ficaram muitos textos que Gilberto Lopes considera que seria bom serem reunidos em livro a ser publicado em breve.

Aventureiro em extinção

Alberto Magalhães Alecrim é o arquétipo do valente português aventureiro que em Macau, infelizmente, tem tendência a desaparecer. Nascido tripeiro, em Março de 1932, na típica freguesia do Bonfim, filho de pai ourives e mãe dona de casa, Alberto Alecrim cresceu no Bairro Alto, em Lisboa, onde completou os estudos secundários.
Chegada a hora de trabalhar para o seu sustento, empregou-se na secretaria notarial dos protestos de letras, livranças e cheques de Lisboa. Com 20 anos foi chamado para a tropa e mobilizado para a Índia portuguesa. Em Goa, iniciou-se na Rádio, com um programa militar na emissora local, pela mão de João Benamor. Terminada a comissão militar, regressou a Portugal, reocupando o lugar no serviço de origem. Em poucos meses estava, de novo, a caminho da Índia. O então major António Areias Peixoto, presidente da Junta de Comércio Externo de Goa, que apreciava o desembaraço e o à vontade do jovem Alecrim, convidara-o para reingressar na Emissora local.
Alberto Alecrim manteve-se em Goa desde 1956 até aos dramáticos acontecimentos da invasão das tropas da União Indiana, no início dos anos 60. Pelo meio fizera um intervalo de semanas em Portugal para se casar.
Quando começou o movimento nacionalista pró-integração de Goa na União Indiana, Alecrim, em vez de se pôr a recato, alistou-se como voluntário nas Forças Armadas portuguesas. Nessa altura já tinha uma filha, mas o fervor patriótico falou-lhe alto.
O primeiro alvo dos bombardeamentos indianos em Goa foram os emissores da Rádio. Num cenário quase surrealista, Alecrim recorda que saiu da Emissora arrastando uma metralhadora pela rua fora, até se quedar na esquadra da polícia. Tal como todos os portugueses recalcitrantes, no dia seguinte estava preso às mãos do exército da Índia.
No cárcere provisório, instalado no ginásio da polícia, suportando estoicamente um calor danado, esteve quatro dias sem beber água. Constava que os nacionalistas indianos tinham envenenado a água potável. Mas o pior estava para vir.

No fio da navalha

Transferido para o campo de concentração de Ponda, esteve para ser fuzilado no dia 19 de Março de 1962. Alecrim mantinha a moral entre os companheiros de infortúnio, contando anedotas. No culminar de cinco meses de prisão, e numa antevisão do trágico destino que lhe tinha sido marcado, esteve quatro horas e meia à torreira do sol, aguardando a ordem de execução.
Alberto Alecrim e os companheiros foram salvos in extremis, graças aos esforços persuasivos do padre Ferreira da Silva junto das autoridades indianas, que assim demonstrou as virtudes do diálogo.

Destino trocado

O grupo de prisioneiros foi enviado para Carachi e dali repatriado para Portugal a bordo do Vera Cruz. Chegado a Lisboa, Alecrim foi colocado na Emissora Regional de Angola. A sua nomeação já tinha saído no Boletim Oficial, mas o destino haveria de lhe dar uma volta de 180 graus e Macau acaba por ser a origem, a convite do então tenente-coronel Jaime Silvério Marques aquando da sua nomeação para Governador de Macau.
No dia 3 de Janeiro de 1965 embarcou no navio Timor. Dois meses depois, após uma escala em Timor, chegava ao enclave português do Sul da China, com um emprego à sua espera na Emissora da Rádiodifusão de Macau, que veio a dirigir em 1978.
Na velha Rádio de Macau, que funcionava na torre do relógio, no edifício dos Correios, Alecrim fez da sua profissão um espectáculo. Chegaria a director da Emissora de Radiodifusão de Macau em 1978. Saiu em 1985, quando a telefonia local passou a chamar-se Rádio Macau e saiu da alçada do funcionalismo público. Alecrim foi então colocado no Gabinete de Comunicação Social, por onde se reformaria em 1995.

5 Out 2016

Natacha Fidalgo, locutora

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]voz de Natacha Fidalgo não será estranha ao público de Macau. É ela que ocupa as tardes de sábado com o programa “Dois Dedos de Música” da Rádio Macau. Mas a cara por detrás da voz é iluminada por um sorriso que não significa facilidades na vida, mas antes uma força que lhe é intrínseca.
Esta menina da rádio está em Macau há cinco anos, mas a história é diferente da maior parte dos portugueses que vieram para a RAEM. “A minha história é tipo filipina”, ilustra ao recordar a sua chegada ao território.
A mãe de dois filhos (na altura com quatro e três anos) foi apanhada pela crise em terras lusas tendo deixado a família para trás. “Não era uma questão de opção, não havia alternativa se não pegar nas malas e ir em busca de sustento. Vim literalmente sem nada, aflita”, afirma com uma expressão que não esconde a forte memória.
O que lhe terá valido foi o bom acolhimento por parte de um casal amigo com quem viveu os primeiros meses. O início não foi fácil, já que Natacha “não tinha nada e passava os dias a bater de porta em porta”. Com formação em Recursos Humanos, mas com experiências de trabalho em várias áreas, “o que viesse à rede era peixe”.
Chegou no início de Junho para apanhar o final do ano escolar e tentar a sua sorte enquanto professora de Inglês. “Foi muito complicado”, recorda, enquanto fala das tentativas sucessivas e a distância dos filhos. O que fez “não foi um acto de coragem, foi sim um acto de desespero porque era a única alternativa”.
Ao mesmo tempo que lembra as saudades, Natacha Fidalgo conta uma história que não esquecerá e que acompanha a altura em que arranjou emprego e voltou a ter a prole perto de si.
“Fui a uma sapataria para comprar uns sapatos e consegui sair de lá com dois pares, um para cada um dos meus filhos. Lembro-me que, quando dei por mim, já na rua, as lágrimas abundavam por ter conseguido voltar a ter para as necessidades fundamentais, sem ter que decidir o que era mais urgente, estava feliz.”
Tinha arranjado emprego enquanto professora de Inglês numa escola chinesa e já “podia pôr o miúdo na bola e a menina no teatro”.
“Há muita gente que fala muito mal disto (Macau), mas eu não tenho nada que o fazer. Quando cheguei bati muitas vezes com a cara nas portas mas, agora, devo tudo a Macau”, afirma ao mesmo tempo que expressa que não entende o facto de outros cá estarem sem vontade. “Tenho um trabalho digno, tenho os meus filhos e faço o que gosto. Em Portugal, aos 35 anos, não me davam emprego por ser ‘velha’ e aqui senti que continuava a ter valor para ser digna e poder trabalhar. Estarei sempre grata por isso a Macau.”

“Portugueses tenho em Portugal”

A vida tem continuado e os projectos alargado. Até ao ano passado dava aulas de Inglês na escola chinesa de matriz cristã. Este ano mudou de rumo: está numa pequena escola chinesa de matriz confuciana e esta experiência com a comunidade local de origem chinesa só tem trazido “mais valias à vida”.
Quando refere que é professora, as pessoas presumem de imediato que está na Escola Portuguesa de Macau, ao que Natacha Fidalgo responde prontamente que “portugueses há em Portugal”, não lhe fazendo sentido que estar numa comunidade sem a entender, sendo este tipo de experiência fundamental.
Por outro lado, no ensino chinês, o professor é respeitado e a própria metodologia está a mudar. Não é contratada para “despejar e mais nada, as coisas estão a mudar e cada vez mais, dentro de alguns limites, uma das exigências que se fazem é mesmo que, por entre os conteúdos curriculares se ensinem estratégias de pensamento e de capacidade crítica por um lado, e por outro que se desenvolva a criatividade nas crianças. “Na comunidade chinesa não é fácil, mas é muito desafiante fazer parte desta mudança”, frisa.

Para além da rádio

Não contente em ser apenas a menina da rádio, mete-se em todo o tipo de projectos, desde a educação ambiental à sensibilização para a pobreza e a implementação de acções de solidariedade. São várias as áreas em que investe o seu tempo.
“As pessoas têm que fazer aquilo que gostam”, avança Natacha Fidalgo. Quando se fala na rádio relembra a “garota de 16 anos que animava uma pequena rádio pirata”. Com o passar do tempo, em Macau, quis encontrar este amor antigo.
“Não podia ser nada a sério porque não tenho formação e ninguém me aceitaria com um currículo cuja experiência era na adolescência em rádio pirata”, ilustra com uma gargalhada. “Para um programa de autor até podia dar”, confessou. Por gostar de pessoas e considerar que “todos são especiais” criou o “Dois Dedos de Música”, onde convida para cada edição alguém que fica encarregue de fazer a playlist do programa. “Com a música as pessoas ‘despem-se’ e acabamos por ficar a conhecer uma centelha da alma de cada um enquanto passamos uma boa tarde de sábado”, explica. Por outro lado, diz, esta é uma oportunidade para todos experimentarem “a magia da rádio”, da qual gosta tanto.

30 Set 2016

Eleições | Democratas da RAEM aceitariam pré-aprovação de candidatos

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]possibilidade de Macau ter um sistema de eleição do Chefe do Executivo semelhante ao previsto no Livro Branco, que regula a política da vizinha Hong Kong, é vista pela ala pró-democrata da RAEM como um processo distante da realidade. Contudo, as figuras deste campo da política local dizem que poderia ser uma medida intermédia capaz de catapultar a região para a essência da democracia, começando pelo direito a uma participação activa na escolha do Chefe do Governo.
Jason Chao, vice-presidente da Associação Novo Macau (ANM), considera que um sistema idêntico ao da RAEHK – em que o Chefe do Executivo pode ser eleito por sufrágio directo desde que os candidatos sejam previamente aprovados por Pequim – não é opção quando se fala em democracia.
“Esta é a minha opinião pessoal e não enquanto dirigente associativo”, frisa enquanto adianta que “se falamos de sufrágio universal, devemos também ter direito a escolher o candidato”.
Para o activista, o que se está a passar em Hong Kong é apenas uma forma de manipulação do próprio sistema. “A partir do momento em que a escolha dos candidatos é condicionada à aprovação do Governo Central, já se está com limitações ao próprio conceito de democracia”, diz, acrescentando que tal confere, na prática, um carácter de farsa ao próprio processo eleitoral.
No entanto, enquanto dirigente da ANM, Jason Chao afirma a necessidade de ter mais cautela e considerar o assunto como tópico de discussão. “Nesse caso, como entidade, temos que discutir os contornos e o que se poderia pensar enquanto planos para o futuro”, frisa.

A meio caminho

“Uma medida intermédia e a ter em conta.” É a resposta de Scott Chiang, presidente da ANM, ao HM quando abordado por esta possibilidade. “De facto, estamos abertos a uma situação desse género, sendo que não é esse o nosso objectivo último”, diz, enquanto adianta que, no caso de existir aceitação de candidatos aprovados por Pequim, tal medida só faz sentido for pensada uma meta diferente e se for encarada enquanto uma situação de transição.
Já o deputado Ng Kuok Cheong concebe a possibilidade do Chefe do Executivo de Macau poder vir a ser eleito como uma espécie de “sonho”. Para o também pró-democrata, a situação actual de Macau é “muito estável e os poderes locais nunca vão permitir que os seus privilégios estejam, de alguma forma, limitados”. “As eleições não vão, com certeza, acontecer nem ser uma possibilidade a curto ou médio prazo.”
No entanto, tendo em conta um horizonte temporal mais distante, a adopção de um sistema idêntico ao de Hong Kong poderá “um dia vir a fazer parte da organização da RAEM”, defende. “Claro que as pessoas deveriam ter direito a votar e a escolher em quem votar. O que podemos imaginar, ainda num futuro longínquo, é a possibilidade de poder um dia ter um sistema que permita aos residentes votarem nos escolhidos de Pequim.”
Foi ontem assinalado em Hong Kong o segundo aniversário do movimento “Occupy Central”, que reuniu em 2015 milhares de manifestantes que se pronunciavam contra a limitação imposta por Pequim face aos candidatos às eleições para o cargo de Chefe do Governo da RAEHK.

30 Set 2016

Lai Ieng, presidente da Sociedade de Belas-Artes: “Há mais necessidade de espaços para exposições”

Lai Ieng é o actual presidente da Associação de Artistas de Belas-Artes de Macau, entidade que comemora este ano o seu sexagésimo aniversário. O dirigente considera que, com o volume de trabalhos que já se faz por cá, é fundamental pensar num espaço integrado e de grande dimensão para acolher os artistas e dar mais formação. Por outro lado, as indústrias criativas são área que necessita de esclarecimento e investimento

Como é que começou esta aventura enquanto presidente da Associação de Artistas de Belas Artes de Macau?
Sou apenas um amante desta área e com a associação podemos mostrar ao mundo as obras de arte que se fazem em Macau e que contam com o estilo próprio desta terra. Quero com esta associação e com o meu desempenho dar a conhecer a emoção artística da RAEM.

A AABAM comemora este ano o seu sexagésimo aniversário. Qual é o balanço que faz?
Penso que o trabalho que tem sido levado a cabo pela AABAM é muito representativo no desenvolvimento artístico do território. No início, quando da sua criação, Macau ainda era uma cidade muito pequena e com muito pouca gente. Era também uma cidade muito velha e sem movimento artístico, penso que devido aos poucos habitantes. Começámos por ter 30 membros entre artistas profissionais e amadores.
Agora contamos com cerca de 300 membros. Na sua maioria são de Macau mas também temos estrangeiros que cá viveram.

Quais são as vossas principais actividades?
O nosso empenho está directamente relacionado com a promoção do trabalhos dos nossos membros. Se, antigamente, a arte feita em Macau era muito diminuta e cerca de dois terços do que podia ser visto era feito por ocidentais, agora já temos um corpo de profissionais de relevo que queremos expor, levar para fora e ao mesmos tempo trazer artistas de outros lados para mostrarem o que fazem aos “nossos”.

Qual o estado das Belas-Artes em Macau e da sua divulgação?
Neste momento são cerca de 70 a 80 as associações em Macau ligadas à produção e divulgação artística, nomeadamente à pintura. Por outro lado, há cada vez mais necessidade de espaços para a realização de exposições. Há muita produção mas começam a não existir espaços suficientes para a divulgação do que se faz. Por exemplo, uma das dificuldades que estas associações estão a passar é precisamente o facto de precisarem de mais espaços para apresentar os trabalhos dos associados e convidados.

Tem alguma sugestão em concreto?
Por exemplo, a ideia de transformar o Hotel Estoril num espaço de desenvolvimento artístico ou o aproveitamento do antigo edifício do tribunal para a construção da Biblioteca Central são ideias com as quais concordo porque estas entidades são necessárias. Mas, para a pintura, também há necessidade de mais. O ideal, e o que realmente considero importante, é que pudesse existir uma estrutura integrada capaz de reunir em si toda a actividade artística tanto a nível de produção e apresentação como ainda, e fundamentalmente, na área da formação. Um local onde música, belas-artes, dança, teatro, nas suas diversas componentes, do Oriente e do Ocidente e da mistura entre os dois lados do mundo, tão característica de Macau, pudessem ser desenvolvidas e aprendidas.

E como é que essa ideia poderia ser operacionalizada?
Acho que Macau precisa de uma área específica para o desenvolvimentos das artes. Este tipo de espaço que considero tão necessário, pode ser construído nas novas zonas de desenvolvimento e nos novos aterros. Esta é uma ideia consensual entre as várias associações ligadas à actividade artística e coloquei em nome da AABA a sugestão da criação de um espaço deste género aquando da recolha de opiniões para o actual plano quinquenal. No entanto, a decisão cabe apenas ao Governo. Mas insisto que seria uma medida que traria muitos benefícios à população de Macau.

Qual deve ser então a prioridade do Executivo?

Uma das prioridades deve ser, sem dúvida, uma maior aposta na formação. É um trabalho lento e que vai durar muito tempo mas é fundamental que se aposte realmente nas indústrias criativas em Macau, uma vez que se fala tanto delas e que podem vir a ser o motor do território. Este tipo de formação deve, num momento inicial, dar a conhecer às pessoas a distinção entre criatividade e indústria criativa. Há muitas pessoas na região que confundem as duas coisas e não têm informação suficiente acerca disso. Indústria criativa é algo muito específico e está associado à produção artística. Por outro lado, há muita gente que integra apenas a área do design nas indústrias criativas, o que corresponde a uma visão deturpada das coisas. O design é uma das áreas destas indústrias mas penso que o essencial é também ter formação específica na gestão de indústrias criativas.

Por quê a referência especial ao design?

Quando falamos de indústrias criativas, actualmente, a ideia está muito associada ao design e aos seus profissionais. Na minha opinião, isso não está certo e considero que não deve haver esta limitação quando se fala em indústrias criativas. Falar de indústria nesta área é falar de todas as componentes que integram a produção e gestão do que nela é feito. E, neste sentido, considero ainda que Macau está com muita falta de profissionais.

Mas as pessoas não querem enveredar por aí?
Já temos um programa de formação profissional nesse sentido e mais ligada às belas-artes e o que falta a Macau não é talentos artísticos mas sim talentos no que respeita às indústrias criativas no geral. Actualmente, estamos dependentes de profissionais da China continental ou de outras regiões vizinhas, como Hong Kong ou Taiwan. Acho que os jovens, à excepção do design, nem consideram a área da gestão de indústrias criativas como uma opção a ter em conta.

E como é que se podem motivar as pessoas?
É necessário que as vagas de emprego também esteja mais dirigidas a esta área. Há necessidade de pessoas mas depois não se chamam as pessoas para empregos com este nome. Notei também que, nos últimos anos, o Governo tem realizado alguns esforços, nomeadamente para fazer intercâmbios e promover a troca de conhecimento com áreas vizinhas e mais experientes de modo a formar e dar mais “know-how” às pessoas de cá. Mas o que precisamos, efectivamente, é de formação específica e, essencialmente, que esta nova geração denote interesse e que seja capaz de ver as áreas de saída no futuro.

O que pretendem continuar a fazer?
Queremos continuar com o caminho que temos vindo a percorrer. Apresentar os de cá e trazer os de outros lados mas sempre a ter em mente os benefícios do intercâmbio e o enriquecimento que isso traz. Macau é especial porque sempre foi um ponto de encontro entre culturas e isso reflecte-se na arte e é uma mais valia.

E quanto aos apoios que têm… são suficientes?

A nível financeiro não nos podemos queixar. Antes de 1999 era muito complicado porque dependíamos somente das quotas dos sócios. Hoje em dia temos um forte apoio por parte de várias entidades do Governo e, apesar das cotas continuarem a ser pagas, não dependemos delas para o desenvolvimento das nossas actividades. E apesar dos espaços não serem suficientes, o Governo tem-nos cedido alguns para que possamos expor. Este ano, em concreto, foi mais complicado dado ser o nosso aniversário. As despesas foram acrescidas e pedimos ajuda aos nossos presidentes honorários, mas normalmente isso não é necessário.

O que é preciso para fazer parte da Associação?
Qualquer residente se pode candidatar. Tem que enviar o CV, preencher um formulário e mandar imagens de 10 trabalhos seus para que a AABAM reúna e decida acerca da sua aceitação ou não.

Que conselho deixa aos jovens artistas?
Muito trabalho, muita garra e muito empenho.

29 Set 2016

FIMM | Sons locais abrem trigésima edição do festival de música

Músicos da terra, uma ópera de Puccini e cordas de Berlim, acompanhadas a erhu, compõem a ementa de entradas da trigésima edição do Festival Internacional de Música de Macau

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]omemora-se este ano o trigésimo aniversário do Festival Internacional de Música de Macau (FIMM) e, apesar da data agendada para a grande abertura coincidir com o Dia Nacional da China, nada como o devido prelúdio dedicada à terra anfitriã. Sob a rúbrica “Bravo Macau!”, os concertos de abertura do evento são com o de melhor que a cidade de Macau tem no que respeita a virtuosismo musical.
O palco da sala do Teatro D. Pedro V abre o pano a 29 e 30 de Setembro com uma série de nomes locais: na quinta-feira, a agenda aponta para um dueto de piano, composto por Poon Ho Suet e Poon Ho Tung, seguido da actuação de um quinteto de metais. As obras a interpretar serão composições de Tchaikovsky, Saint-Saens e Rachmaninoff ao piano; e Ewazen, Lafosse e Nagel nos metais.
O último dia de Setembro apresentará a pianista Cindy Ho a acompanhar os solistas Cheong Hoi Leong (piano), Chan Sin (piano) e Timothy Sun (saxofone), com interpretações de Kurt Weil, George Gershwin, Prokoviev e Rachmaninoff. Os bilhetes custam 120 ou 150 patacas e os concertos são às 20h00.

Amor ou morte

O primeiro destaque da presente edição do FIMM vai para a denominada “grande abertura” do evento: o palco do Centro Cultural de Macau acolhe a ópera “Turandot”. Composta pelo italiano Giacomo Puccini, esta famosa peça traz a história da princesa chinesa que, na busca de um marido, sujeita os pretendentes a um processo de selecção fatal. São três os enigmas que podem significar amor ou morte.
A peça terá sido terminada pelo compositor Franco Alfano e vem agora a Macau pela batuta do maestro Lu Jia, numa encenação de Giancardo del Monaco. A agenda coincide com a semana dourada e de 1 a 4 de Outubro, pelas 20h00, o palco acolherá “Turandot”. O valor dos bilhetes vai das 250 às 800 patacas.
Em simultâneo, de volta ao Teatro D. Pedro V, o Quinteto de Cordas da Filarmónica de Berlim traz dois espectáculos à RAEM. Dia 3 o grupo alemão apresenta adaptações de obras clássicas onde se registam os nomes de compositores que vão desde Mozart a Piazzola. No dia seguinte, juntam-se-lhe no palco o intérprete chinês de erhu, Xu Ke, com quem o Quinteto colabora há cerca de uma década. O espectáculo tem como finalidade dar a conhecer as conversas entre as cordas dos dois lados do mundo. Os concertos têm hora marcada para as 20h00 e os bilhetes são de 250 e 300 patacas.

Enigmas de amor e morte

Turandot é a última composição para ópera de Giacomo Puccini. A peça, em três actos, que veio a ser terminada por Franco Alfano, traz a história de uma princesa chinesa de nome Turandot que, a certa altura, é obrigada pelo pai a casar por motivos dinásticos. Turandot acaba por aceitar a imposição sem, no entanto, deixar de exigir uma outra condição: o homem que virá a ser seu marido terá que responder acertadamente a três enigmas por ela colocados, sendo que, em caso de erro, estará destinado à morte. A crueldade da condição acaba por não conseguir afastar a admiração do Príncipe Desconhecido que decide arriscar a própria vida para conseguir a mão da orgulhosa princesa. Após a derrota dos candidatos que o antecederam e a conquista do direito à mão de Turandot, não é intenção do príncipe ter a princesa contra a sua vontade e acaba por lhe devolver um outro enigma para que Turandot decida o seu destino.

28 Set 2016

Saúde | Obesidade cresce em crianças em idade escolar

As crianças e adolescentes de Macau estão cada vez mais gordos. O fenómeno não surpreende os especialistas mas alarma para a má alimentação, aumento do consumo de açúcares e o facto desta faixa etária estar cada vez mais “sentada”

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s crianças e adolescentes de Macau estão significativamente mais obesos do que em 2010. Este é o resultado essencial divulgado ontem na reunião de apresentação do Relatório de Avaliação da Condição Física da População de Macau de 2015. Comparativamente à última avaliação, realizada em 2010, as crianças e adolescentes do sexo masculino entre os seis e os 22 anos representam 19,9 % desta população registando um aumento em 3,4 pontos percentuais comparativamente a 2010. As raparigas representam 14,5% do mesmo grupo etário e registam um aumento em cerca de 2,9%.
O presidente do Instituto do Desporto (ID), Pun Weng Kun, informou os jornalistas que o organismo pretende dar início a um conjunto de iniciativas capazes de combater esta tendência e que irá ter em especial atenção a educação escolar na área da alimentação.
“Agora come-se o que se quer e não o que se pode”, afirma Fernando Gomes, médico, ao HM sem qualquer surpresa perante os resultados. O profissional de saúde adianta ainda que é esse o caminho que “infelizmente está a ser seguido pelos países desenvolvidos e diz respeito a pessoas de todas as idades”.
Os açúcares e o sedentarismo estão na base deste fenómeno crescente, considera, enquanto explica que a glicose acaba por fazer parte dos hábitos de consumo diário e o corpo, com a continuidade e o hábito, começa a pedir mais açúcar. “Não é à toa que as pessoas gordinhas são gulosas”, ilustra o médico.
A opinião é partilhada pela psicóloga Goreti Lima. Pela experiência da sua prática clínica, este aumento do índice de obesidade em crianças e adolescentes faz-se sentir no consultório. “Não é por mal, mas os pais muitas vezes nem sabem o que estão a dar de comer aos filhos”, afirma, atribuindo a responsabilidade à desinformação no que respeita à alimentação.
“É o chocolate aqui e o bolinho ali, e depois a actividade física actualmente não é a mesma que se registava há uns anos. Para a psicóloga, as crianças agora saem da escola e não vão brincar, “fecham-se antes em casa a fazer os trabalhos escolares e depois, para relaxar, sentam-se no sofá a brincar com iPad.” E são estas as condições “óbvias” que levam à obesidade e aos problemas consequentes.

Maldita cadeira

O sedentarismo é o outro pilar do aumento dos índices de obesidade nomeadamente nestas faixas etárias. “As criança não brincam e as brincadeiras que têm não implicam queima de calorias”, ilustra Fernando Gomes. Por outro lado, esta faixa da população tem cada vez menos tempo e se o tem “ou estão sentados a tocar piano, ou viola ou a fazer outra coisa do género”.
Este é um problema que apresenta contornos preocupantes e, para o médico, é necessária uma intervenção do Governo. À semelhança a do que já se faz noutros países, é altura de proibir ou de taxar determinados produtos, nomeadamente bebidas ricas em açúcar. “Tirando a água, tudo o que bebemos tem açúcar”, afirma, e por isso é fundamental uma educação preventiva para que pais e crianças tenham noção do que põe à mesa todos os dias.
À parte o aumento da obesidade, os resultados do relatório apontam para um melhoramento, no geral, da condição física da população de Macau, à excepção dos idosos que revelam um ligeiro decréscimo no que respeita ao estar em forma. A saúde dentária também é causa de alarme: os números nunca foram os melhores e continuam sem registar mudanças.

28 Set 2016