MIFFA | Shekhar Kapur considera o cinema asiático “dos melhores do mundo”

Teve início ontem a primeira edição do Festival Internacional de Cinema de Macau. A abertura foi marcada pela conferência de imprensa com o júri da secção de competição. À comunicação social falaram essencialmente das diferenças e particularidades do cinema asiático

[dropcap style≠’circle’]“O[/dropcap] cinema asiático é mais melodramático, é místico”. A ideia foi deixada ontem pelo presidente do júri do festival internacional de cinema de Macau (MIFFA, na sigla em inglês), Shekhar Kapur. “Às vezes tento explicar aos meus amigos em Hollywood que, o que eles entendem por melodrama, nós (na Ásia) chamamos de misticismo”, explicou na conferência de imprensa que marcou a abertura do festival. Para o cineasta indiano, que tem desenvolvido carreira em Hollywood, a forma como a vida é encarada na Ásia também é diferente da do mundo ocidental. “Penso que aqui aceitamos a ideia que o nascer, o morrer, a traição, o ter filhos, etc, são um conjunto de temas místicos pelos quais temos de passar e acho que é a isto que o ocidente chama de melodrama”, salientou.

Se há traço unificador no cinema asiático, será esta ligação mística, e que abrange não só o cinema, mas é ainda comum à própria cultura. “Aqui temos uma grande ligação ao misticismo e não temos medo disso. Eles chamam-lhe melodrama e nós misticismo”, reiterou.

Já para Giovanna Fulvi, membro do júri e que tem no currículo a programação do Festival de Cinema de Toronto, “comparado com o cinema ocidental, o cinema asiático tem a capacidade de contra uma história através das imagens em que os guiões não são tão importantes como são no ocidente.”

A ideia é partilhada por Kapur que considera que “no ocidente as pessoas esperam que o guião seja o filme, e isso nunca deveria acontecer”.

Outra questão de relevo entre as diferenças do cinema asiático e o ocidental, para o cineasta indiano, é que “na Ásia um filme não tem de ter sempre uma história completa”. Muitas vezes o filme faz mais questões do que dá respostas”, disse.

Desejo versus destino

O cinema ocidental é, muitas vezes, sobre desejo e o asiático é mais acerca do destino, considerou. “Há, claro, diferenças entre a forma de contar histórias japonesa e indiana, mas ainda assim, são mais próximas entre si do que com o cinema ocidental”, explicou, referindo-se aos traços comuns entre tanta diversidade no continente asiático.

Ainda em contraponto com o ocidente, nomeadamente com Hollywood, onde Kapur tem estado mais presente, o cineasta considera que “agora há uma tendência para que os filmes sejam menos melodramáticos. O objectivo é que os filmes sejam uma experiência agradável para o público”. No entanto é com esta tendência que quem quer contar histórias está a distanciar-se das grandes produções feitas com orçamentos elevados e a dirigir-se para produções com custos mais baixos e que venham a ser distribuídas pela televisão.

“É por isso que vemos cada vez mais bons filmes nas plataformas OTT – distribuição de conteúdos de áudio e vídeo através da Internet”.

O cinema asiático está a caminho do ocidente e “o MIFFA já é um passo importante nesse sentido” salientou Kapur.

A primeira edição do MIFFA começou ontem e acaba no próximo dia 13. Fazem parte do júri da secção de competição Shekhar Kapur, Giovanna Fulvi, Stanley Kwan, Jung Woo Sung e Makiko Watanabe.

Um coreógrafo no cinema

Foi ontem exibido “Polina, danser sa vie” de Valerie Muller e Angelin Preljocai . O filme que marcou a abertura do festival Internacional de Cinema de Macau é também a primeira aventura cinematográfica do coreógrafo Angelin Preljocai. Para o agora realizador, “foi muito interessante realizar um filme especialmente em conjunto com Valérie Muller”. O facto de ter a vida associada à dança e agora integrar a realização cinematográfica, não é de estranhar. “Penso que fazer um filme é, tradicionalmente, um acto que inclui música e dança, podemos ver o Fred Astaire por exemplo”, ilustrou. Mas o mais importante, é a ligação óbvia que se sente entre a música e o cinema: “dança é movimento e na minha opinião o cinema também. São ambos movimento e ritmo”.

A bailarina do facebook

Anastasia Shevtsova, dá corpo a “Polina”. A actriz russa estreou-se no grande ecrã com este filme porque a “encontraram no facebook”. Bailarina da Mariinsky Theater, foi convidada através da rede social a participar nos castings para “Polina”. Foram três selecções na Rússia e uma em França. Conseguiu o papel, aprendeu francês e movimentou-se, pela primeira vez, na dança contemporânea. Se a personagem do filme, desde pequena, sentia que a dança ia além do clássico, a actriz descobriu isso mesmo com as rodagens de “Polina”. “Foi uma óptima experiência enquanto actriz e também enquanto bailarina. Tenho formação clássica e não estava habituada à dança contemporânea”, disse em conferência de imprensa. Aprendeu ao longo das filmagens e tal como a personagem, agora prefere a dança contemporânea. “Com este filme também se abriu qualquer coisa nova dentro de mim e espero que resulte”, afirmou.   

9 Dez 2016

PISA | Estudantes locais no top do ranking internacional

 

 

O relatório internacional de avaliação de desempenho dos alunos, divulgado ontem pela OCDE, coloca os estudantes do território nos lugares cimeiros. Com os alunos entre as 15 melhores posições nas três áreas de avaliação, Macau é ainda uma das cinco regiões com os níveis mais altos de equidade nos resultados

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s alunos de Macau conseguiram ficar entre os 15 melhores lugares no ranking das classificações médias em literacia científica, matemática e literatura no Programme for International Student Assessment (PISA, na sigla inglesa). Os resultados referentes aos testes de 2015 do programa de avaliação internacional promovido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) foram ontem divulgados pelos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), em simultâneo com o anúncio mundial que ocorria às 11 da manhã em Paris.

Os alunos de Macau ficaram em 12.° lugar no que respeita a competências de leitura, com 509 pontos, em 6.° lugar na literacia científica, com 529 pontos, e em 3.° lugar na literacia matemática, com 544 pontos.

O teste do PISA teve lugar em todas as escolas do território e avaliou o desempenho de 4476 alunos que, no ano passado, tinham 15 anos. “Os alunos nascidos em 1999 fizeram o teste em Maio de 2015. A avaliação ocorreu em 45 escolas de Macau e abrangeu o ensino das escolas chinesas, inglesas e portuguesa”, disse a responsável máxima pela DSEJ, Leong Lai. Em Macau, a realização da avaliação ficou a cargo da Universidade de Macau (UM) que também fez a primeira interpretação e análise de resultados.

Segundo Cheung Kwok Cheung, administrador do projecto nacional do PISA de Macau e investigador na UM, os dados agora conhecidos revelam que, “comparativamente com o teste do PISA em 2006, a literacia científica teve um aumento estável em que mais de 90 por cento dos alunos locais foram aprovados”.

Já na matemática, os alunos de Macau obtiveram o melhor resultado entre todos os ciclos anteriores em que participaram. Registou-se uma subida significativa da percentagem de alunos nos níveis médio e superior, bem como na literacia em leitura, em que as melhorias foram registadas “de forma contínua”. Simultaneamente, os alunos com baixo desempenho diminuíram.

Meninas à frente

Da análise do relatório, Cheung Kwok Cheung destacou ainda o facto de os estudantes de sexo feminino terem apresentado, nas três áreas de avaliação, médias superiores aos do sexo masculino.

Macau é ainda, de entre os 72 países e regiões participantes na avaliação, a região que menos associa a variação dos resultados ao estatuto socioeconómico e cultural das famílias o que mostra que, “de acordo com o relatório da OCDE, o Canadá, a Dinamarca, a Estónia, Hong Kong e Macau são os cinco países e regiões que apresentam uma educação de alta qualidade e justa”.

Apesar de os resultados mostrarem Singapura no primeiro lugar do pódio em todas as áreas de avaliação, em Macau, bem como nos restantes quatro países e regiões, os resultados não são condicionados pelo estatuto socioeconómico dos alunos, o que faz com que “não se registem diferenças de resultados baseadas neste factor e que a região esteja apontada como tendo “altos níveis de equidade”.

De entre as escolhas profissionais que os alunos de Macau projectam para o futuro, as carreiras científicas, não obstante o aumento do desempenho feminino, continuam a ser as mais antevistas pelos rapazes. Já as raparigas preferem carreiras ligadas aos cuidados de saúde.

7 Dez 2016

Lai Sio Kit, artista plástico: “Macau precisa de pessoas que gostem de arte”

Lai Sio Kit inaugura hoje “O tempo corre”, uma exposição que reúne cerca de 4500 pequenas peças. São em formato de azulejo e retratam a passagem do tempo nos painéis que, um dia, fizeram parte dos terraços de Macau. O artista falou ao HM do projecto, da opção por ficar em Macau depois da formação na Academia de Pequim e das portas que se abriram quando, em 2012, foi o vencedor do prémio de Artes Plásticas da Fundação Oriente

 

Como é que “O tempo corre” apareceu?

Comecei este tópico há alguns anos. É, acima de tudo, acerca da cidade de Macau vista de uma forma abstracta. A ideia veio dos azulejos que ainda se encontram em muitos dos terraços de Macau. Nestes espaços, temos o chão coberto por padrões, principalmente nos edifícios mais antigos. Já há cerca de cinco ou seis anos que exploro estes edifícios e os processos de envelhecimento que atravessam ao longo do tempo. Em especial, estou atento à degradação dos azulejos e às transformações que sofrem na cor e textura com a passagem do tempo e para esta exposição fiz painéis em grande escala.

Em que sentido este trabalho espelha a cidade de Macau?

Porque Macau é uma cidade que, além das transformações, conserva ainda espaços antigos e é aí que podemos encontrar a verdadeira cidade e os traços da sua história. Por exemplo, os azulejos, pequenos e quadrados, são parte da história de Macau. Os padrões que formam marcam épocas específicas do território. Mas a coisa mais importante que realmente quero mostrar, e que está logo no nome da exposição, é a passagem do tempo e como se reflecte no território. É com o tempo que desaparecem características e que aparecem outras.

O projecto é constituído por cerca de nove mil peças…

Eu fiz realmente nove mil mas, como não há espaço suficiente nestas paredes (da sala de exposições da Casa Garden) para todas, acabei por trazer para cá cerca de metade. A intenção é cobrir as paredes destas salas com os painéis de modo a transportar as pessoas para dentro de um outro espaço. Acabei por adaptar o que tinha feito às características do local e escolhi os painéis que mais se adaptariam aqui.

Demorou quanto tempo a produzir este projecto?

Mais de um ano. Usei placas e óleo. O óleo pareceu-me o meio mais adequado. Além de gostar especialmente de trabalhar com óleo, é uma técnica com características próprias, nos brilhos ou texturas, que vão ao encontro do que quero transmitir, nomeadamente da mudança de estados.

Ganhou o prémio de artes plásticas da Fundação Oriente em 2012. Em que é que isso contribuiu para que mais portas se abrissem enquanto artista?

Foi uma distinção que me permitiu sair de Macau e, mais concretamente, ir para a Europa. Fui para Lisboa onde encontrei outros artistas com quem pude trocar ideias. Aprendi muito com essa experiência.

Em que sentido?

Em Macau a vida é muito rápida. As pessoas andam sempre muito ocupadas e sem tempo para nada. Há uma espécie de stress no ar. Já em Portugal, tive uma experiência completamente diferente. As pessoas são mais relaxadas. Senti calma. Penso que essa forma de estar, a que senti em Portugal, é muito melhor para quem queira trabalhar a criar. Foi muito bom ter sentido isso.

Estudou na Academia de Belas Artes de Pequim, onde também fez o mestrado. Porquê o regresso a Macau e sair de um grande centro?

Porque os meus pais já são idosos. Estive oito anos em Pequim, e senti que tinha de vir para estar próximo deles e poder cuidar deles. Por outro lado, a arte pode ser feita em qualquer lugar. Outra vantagem de Macau é, precisamente, estar longe de um grande centro. Enquanto artista sinto que quando estamos um pouco mais afastados dos grandes centros ganhamos mais liberdade para criar. Aqui não preciso de me preocupar com a minha família porque estou perto dela e não tenho de me preocupar com tendências artísticas porque estou longe dos centros que as criam. Tenho muito mais liberdade.

Este projecto, que já vem de há algum tempo, vai continuar ou tem projectos novos?

Vou continuar com este. É uma ideia que pode ser sempre desenvolvida de formas diferentes. Mesmo no que toca a exposições, é muito versátil porque tratando-se de padrões e trabalhos acerca de padrões pode ser mudada consoante o espaço ou o contexto. Mas tenho outra ideia para começar a trabalhar. Ao longo dos últimos anos, e com as viagens que tenho feito, fui a muitas florestas. Por isso, depois desta ideia que aborda a cidade, quero abordar a floresta. Vou continuar a utilizar a pintura, mas quero explorar o que conseguir dentro dela. É pintura, mas não será só isso, será uma exploração do que é que a pintura pode ser.

Como é ser artista em Macau?

É muito difícil. Macau precisa de pessoas que gostem, se interessem e conheçam arte. As pessoas estão sempre demasiado ocupadas e não se preocupam com isso. Uma das grandes diferenças que encontro, comparando com a Europa, por exemplo, é que lá as pessoas, de alguma forma, têm sempre algum contacto com expressões artísticas e sabem sempre alguma coisa. Em Macau quando alguém pensa em ser artista ou fazer coisas criativas, a mentalidade ainda é de que é uma perda de tempo.

7 Dez 2016

Talentos | Comissão vai financiar a qualificação dos residentes

A formação de pilotos de aviões, a avaliação de necessidades e os incentivos à formação especializada são alguns dos sectores que a Comissão de Desenvolvimento de Talentos debateu ontem. Sou Chio Fai está satisfeito com o trabalho que tem sido desenvolvido pela entidade e em 2017 arrancam novos projectos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] programa de apoio à formação de pilotos de aviação vai avançar no próximo ano. A informação foi ontem dada pelo secretário-geral da Comissão de Desenvolvimento de Talentos, Sou Chio Fai, à saída da reunião plenária do organismo. “Foi aprovado um programa em que o Governo vai subsidiar a formação de mais quadros qualificados. Estamos a trabalhar com a Autoridade de Aviação Civil para promover a formação de pilotos e mecânicos no sector. Estamos já em diálogo com a Fundação Macau e com a Autoridade de Aviação Civil e, em 2017, vamos ter um programa piloto no apoio à formação de pilotos”, afirmou.

A necessidade de formação e desenvolvimento de quadros especializados locais foi o tema central da reunião, sendo que a responsabilidade não caberá apenas ao Governo. Para Sou Chio Fai, a população e as entidades empregadoras têm de ser cúmplices neste projecto. “É também importante que as entidades empregadoras possam lançar alguns planos para acompanhar o que a comissão está a fazer. Por exemplo, criar programas do tipo ‘mestre aprendiz’ em que as pessoas com mais experiência podem liderar e acompanhar pessoas com menos experiência.”

De olhos postos no futuro

O secretário-geral frisou ainda que, no processo de apoio à qualificação de residentes, é necessário ter em conta as necessidades locais e antever o futuro dos sectores económicos de Macau. “Um dos membros do conselho fez questão de salientar que não basta apenas investir na formação de quadros especializados, há que perceber qual vai ser o futuro dos diversos sectores de modo a poder antecipar necessidades e formar talentos para as áreas mais adequadas”, referiu.

A comissão tem cinco áreas em que tenciona investir no sentido de perceber as necessidades que as afectam. Segundo Sou Chio Fai, o jogo, a hotelaria, a venda a retalho, a restauração e o sector das exposições são áreas com as quais a comissão tem desenvolvido um trabalho mais intenso. “Não podemos dizer que são as cinco áreas com mais necessidades mas sim que são áreas de muita importância e que podemos investir numa primeira fase”, explicou.

A banca e os seguros também estão na agenda da comissão e o Governo está em diálogo com o sector da construção civil. “Estamos também a pensar colaborar com a criação de cursos de engenharia, na área da construção. É uma área que abarca muitos postos de emprego numa hierarquia muito grande e estamos a pensar em todos eles”, referiu.

Um mestrado especial

A comissão já firmou acordos com a Universidade de Coimbra para apoio a pós-graduações e está em conversações com a Universidade Nova de Lisboa.

O objectivo é a formação de “quadros bilingues que tenham na sua experiência outras especializações”. “Precisamos não só de tradutores intérpretes como de habilitar técnicos superiores que já têm uma determinada especialização, uma profissão, e que saibam português e chinês. Por isso, celebrámos um acordo com a Universidade de Coimbra para motivar os residentes a fazerem cursos de pós-graduação.”

Com a Universidade Nova, o acordo é dirigido aos trabalhadores na área de gestão que podem fazer um MBA num programa conjunto entre aquela instituição, a Universidade Católica e o MIT americano. O acordo estará firmado no próximo ano, apontou Sou Chio Fai: “Não será neste mês devido a ser altura de férias, mas será em 2017”.

6 Dez 2016

Livro | João Botas investiga a vida de Manuel da Silva Mendes

O jornalista e vice-presidente da Casa de Macau em Portugal, João Botas, passou por cá para apresentar o livro “Wartime Macau – Under the Japanese Shadow”. Ao HM, falou do novo trabalho que tem em mãos e em que aborda a vida de Manuel da Silva Mendes, figura da história local que, considera, tem sido “menosprezada”

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]om fortes ligações a Macau, onde nasceu e viveu até ir para a universidade em Portugal, João Botas está a preparar mais um livro sobre a história de Macau. O jornalista, que tem dedicado os últimos anos à exploração do passado local, vai dedicar a próxima obra a Manuel da Silva Mendes que, considera, é uma figura histórica cuja importância tem sido menosprezada. “A certos níveis, e é possível perceber nos livros, comparando com Camilo Pessanha, [Manuel da Silva Mendes] é muito mais significativo”, referiu ao HM.

A ideia de abordar a história de Manuel da Silva Mendes tem já alguns anos. “Em 2013, a última vez que cá estive, vim fazer pesquisas relacionadas com a história da vida de uma personalidade, para mim marcante, do primeiro quartel do século XX em Macau. É Manuel da Silva Mendes, que viveu entre 1867 e 1931”, explicou.

Com o andar da pesquisa, Silva Mendes foi-se revelando enquanto “personagem curiosa: chegou cá em 1901 e era uma pessoa discreta, formada em advocacia em Coimbra”. Já em Portugal, o advogado tinha sido o primeiro autor de um livro acerca do socialismo e do anarquismo. “A partir de certa altura, sentiu-se desintegrado: a monarquia não mudava e, ao mesmo tempo que defendia um certo anarquismo, não era um homem de ir à luta de forma muito prática. De repente, teve a oportunidade de ter um exílio para clarificar as ideias e vir para Macau. Concorreu para professor do liceu e ganhou” o lugar. De professor do ensino secundário passou a advogado, um percurso que era comum a muitos “bacharéis que, na altura, chegavam a Macau”, explica João Botas.

O primeiro sinólogo português

A relevância para Macau deste homem de início de século XX é, para o investigador, óbvia. “É um homem que, a partir de certa altura, embrenhou-se na cultura chinesa, no gosto e na ânsia de querer aprender e apreender a cultura chinesa, aos mais variados níveis.”

De entre as preferências de Silva Mendes estavam as manifestações artísticas e a filosofia, nas quais “se embrenha de tal forma que se torna um sinólogo de forma praticamente autodidacta e tão exigente para com ele próprio que não há ninguém que o tenha rebatido naquilo que ele foi escrevendo”.

Paralelamente, foi um homem que viveu os problemas do território e “ajudou a fundar alguns dos jornais de Macau, escreve centenas e centenas de artigos ao longo dos 30 anos que aqui viveu, e escreveu também os primeiros livros sobre cultura e filosofia chinesa”.

A vida política também não passaria indiferente ao advogado, e “há quem diga que foi presidente do Leal Senado”, sendo que João Botas refere que, da sua investigação, acredita que possa ter exercido o cargo mas apenas de forma interina.

Manuel da Silva Mendes não é o único vulto que João Botas considera “esquecido” na história de Macau. Ao HM referiu exemplos que mereciam mais destaque. “José Neves Catela é também um homem do início do século XX que veio para Macau. Era da marinha mercante e aqui transformou-se em fotógrafo e agente turístico, tendo trabalhado nos serviços de turismo. Tem umas fotografias brilhantes da década de 20, 30 e 40”, ilustrou o jornalista.

Uma história ímpar

Acerca da colaboração no livro “Wartime Macau – Under the Japanese Shadow”, uma obra que junta, em inglês, trabalhos de João Botas, Roy Eric Xavier e Stuart Braga, com a coordenação e edição de Geoffrey C. Gunn, João Botas conta que a ideia surgiu na sequência do livro que lançou em 2012: “Macau 1937-1945, os Anos da Guerra”.

“Na sequência disso, Geoffrey Gunn, que está em Nagasaki, desafiou-me a dar um pequeno contributo para uma edição da Hong Kong University Press.” O capítulo de que é autor “versa sobre as consequências económicas do território fruto da invasão japonesa na China, primeiro, em 1937, e depois quando a Segunda Guerra Mundial se alastra à Ásia”.

“Em Dezembro de 1941, o Japão fez o ataque a Pearl Harbour, os Estados Unidos entraram na guerra. Poucos dias depois, o Japão tinha as tropas às portas de Hong Kong e começa a invasão daquele território, que é consumada a 24 de Dezembro desse ano. A partir dessa altura, as coisas aqui mudam radicalmente”, contextualiza.

Apesar de Macau não ter sido invadido pelos japoneses, as consequências foram inevitáveis. “O anel de tropas japonesas à volta de Macau impôs um bloqueio económico total, por via marítima e também por via terrestre. Isso fez com que, por via do grande fluxo de refugiados, a população tenha quase triplicado – não há números muito fidedignos em termos oficiais –, mas terá passado de 200 mil antes da guerra para mais de 600 mil”, recordou João Botas.

6 Dez 2016

LAG 2017 | Macau pode vir a ter professores no ensino de chinês em Portugal

Ter professores de Macau a ensinar mandarim nas escolas portuguesas pode vir a acontecer. A sugestão deixada na Assembleia Legislativa foi bem acolhida por Alexis Tam. A introdução do ensino de português nas escolas de ensino geral e a promoção do ensino do cantonês também foram consideradas

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] desejo de levar os professores de Macau a ensinar chinês em Portugal foi manifestado por alguns deputados no segundo e último dia de debate das Linhas de Acção Governativa na área dos Assuntos Sociais e Cultura. Alexis Tam considerou tratar-se de “uma boa sugestão”.

A deputada Angela Leong questionou Alexis Tam acerca da formação de quadros bilingues, além do ensino do português aos alunos de Macau. “Tem havido a promoção da área para criar um centro de intercâmbio entre a China e os países de língua portuguesa. O secretário falou na colaboração com instituições da China Continental e no incentivo dos estudantes do Continente para aprenderem português em Macau, mas podemos reforçar a aprendizagem do chinês para estudantes de língua portuguesa”, sugeriu.

Na resposta, o secretário reiterou que “Macau é um lugar privilegiado para o ensino das duas línguas, português e chinês”. “Perguntaram-me se é possível levarmos professores de Macau para ensinar chinês em Portugal. Acho que é boa sugestão. Sei que Portugal já acolhe professores chineses vindos da China para ensinarem mandarim”, disse o governante.   

O desenvolvimento do ensino do português já pode ser constatado, segundo Alexis Tam, que dá como exemplo o papel do Instituto Politécnico de Macau (IPM). “Este ano autorizei ao IPM a admissão de alunos dos países de língua portuguesa para virem frequentar cursos de mandarim. O resultado é muito bom, cerca de cem alunos estão a frequentar cursos de chinês em Macau. A Universidade de Macau também vai criar um centro de bilingues de chinês e português”, ilustrou.

Preocupações súbitas

O deputado José Pereira Coutinho questionou o Governo acerca da recente preocupação com a ausência de tradutores. O secretário para os Assuntos Sociais e a Cultura respondeu que o Executivo “dá muita importância ao ensino do português e o facto de dar mais importância agora tem que ver com a necessidade”. “Em Macau precisamos de 200 tradutores, mas a China vai precisar de muito mais e não queremos formar pessoas só para Macau. Queremos que os nossos formandos sejam a ponte entre a China e os países lusófonos”, reiterou.

Alexis Tam alertou, porém, que a formação de quadros qualificados não é um processo imediato. “Não se conseguem numa geração, são precisas mais. Vamos atribuir mais meios e recursos para o ensino de português e não é um objectivo só do Governo de Macau, mas sim um projecto que conta com o apoio do Governo Central e dos países de língua portuguesa.”

Português opcional

A inclusão da língua portuguesa nos currículos das escolas do ensino não superior é bem acolhida pelo Governo, desde que em regime opcional, porque a língua portuguesa é cada vez mais considerada como uma boa saída profissional por parte dos próprios pais das crianças.

“A disciplina de português não será obrigatória nas escolas, mas sim opcional, e vamos dar o apoio para que todos tenham oportunidade de fazer cursos de português porque é uma opção valiosa”, afirmou Leong Lai, directora dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ).

Leong Lai admitiu ainda que o ensino do português, chinês e inglês era visto como um grande encargo para as crianças. No entanto, são os pais que “têm cada vez mais interesse em levar os seus filhos a aprender português porque sabem que tem um bom futuro”.

O Governo menciona ainda o ensino de cantonês salientando a necessidade da sua promoção em Portugal. “Na altura da Administração portuguesa, a missão de Macau em Portugal tinha já cursos de cantonês para portugueses, não sei se ainda estão a funcionar. Se não, espero que os serviços competentes pensem nisto”, rematou Alexis Tam.

5 Dez 2016

LAG 2017 | Aumento de despesa justificado com compra de novos medicamentos

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] subida do orçamento para a saúde é justificada pelo Governo com as despesas em medicamentos. O deputado José Pereira Coutinho foi um dos críticos do crescimento do orçamento destinado aos Serviços de Saúde de Macau (SSM). “O aumento é muito grande, será que devemos gastar assim o nosso dinheiro?”, questionou o deputado. Pereira Coutinho falou também das despesas que envolvem o Hospital das Ilhas em que “um hospital já vai no custo de dois”.

Song Pek Kei, depois de elogiar o trabalho da tutela dos Assuntos Sociais e Cultura, também apontou a saúde como uma das maiores preocupações. “Temos 8,1 milhões de investimento na área da saúde. Se o Governo conseguir prestar todos os cuidados de que a população necessita, ninguém vai reclamar, mas se não conseguir, vai ser muito criticado”, avisou. A deputada chamou ainda a atenção para o aumento de casos de cancro que precisam de assistência e para a necessidade de médicos e enfermeiros, salientando que “há um desequilíbrio no sector”.

Mais dinheiro para tratar melhor

Alexis Tam referiu que as grandes despesas da saúde são, em muito, devido à aquisição de novos medicamentos, nomeadamente para o tratamento da Hepatite C. “Queremos que a população consiga ser curada através da administração de medicamentos de alta qualidade. Por isso, aumentámos as nossas as despesas e no orçamento verifica-se esta intenção de melhorar os serviços médicos”, apontou.

O secretário não deixou de referir que o seu departamento “tem em conta o controlo do erário público, em que o sistema de saúde respeita os diplomas legais que já constavam da Administração portuguesa”. “Temos os cuidados primários que são universais e abrangem toda a população”, explicou.

Alexis Tam salvaguardou que o dinheiro público não anda a ser mal gasto. “O que estamos a fazer é um trabalho que vai ao encontro das expectativas da população. Os residentes querem mais investimento público e é aí que estamos a fazer mais”, sendo que “não estamos a meter dinheiro público no bolso – pelo contrário, estamos a gastá-lo na vida da população”.

5 Dez 2016

Macau vai ser candidata a cidade gastronómica da UNESCO

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] candidatura de Macau a cidade gastronómica da UNESCO vai para a frente. A informação foi adiantada, na Assembleia Legislativa, por Alexis Tam.

“Vamos candidatar-nos à lista de cidades gastronómicas da UNESCO”, afirmou. Para o secretário dos Assuntos Sociais e da Cultura, Macau beneficia de várias condições vantajosas para o projecto, porque tem uma “posição geográfica muito vantajosa e muitas entidades ligadas à gastronomia”. A diversidade das receitas do território é uma mais-valia, bem como a ajuda da própria comunidade macaense.

A questão da candidatura de Macau a cidade gastronómica já tinha sido abordada por vários deputados na quinta-feira. A resposta veio no dia seguinte, na sequência da intervenção do deputado Leonel Alves.

“O que tenciona o Governo fazer para a promoção e internacionalização da gastronomia de Macau, com a UNESCO, por exemplo?”, questionou o deputado.

Para Leonel Alves é necessário preservar a gastronomia local e promover a cozinha de Macau dentro do projecto de diversificação cultural e turística do território. “É preciso atrair as pessoas para virem a Macau ensinar os macaenses. Outrora era uma cozinha familiar e hoje pode ser encarada enquanto indústria”, afirmou, de modo a salientar a urgência no ensino nesta área.

Ensinar para preservar

O deputado notou ainda que “já há várias compilações com receitas macaenses e que são mais de 200 as já incluídas em livro”. “Há que aproveitar esta riqueza cultural que temos, e encontrar caminhos para promover e divulgar a comida macaense no resto do mundo”, rematou.

Alexis Tam referiu ainda que, “através desta candidatura, Macau pode mostrar que é uma cidade pacífica, coesa e multicultural, e que é desejo do Governo a passagem do conhecimento gastronómico para as gerações vindouras. “Também queremos que a cultura gastronómica seja passada de geração em geração, e que a gastronomia macaense, portuguesa e mesmo do Sudeste Asiático sejam tidas como de Macau.”

História ausente

No debate de sexta-feira das Linhas de Acção Governativa, o deputado Leonel Alves levantou a questão do ensino da história de Macau nas escolas. Referindo-se à importância da preservação da memória colectiva, Leonel Alves perguntou “qual o ponto de situação do ensino da história de Macau e o que é que o Governo tenciona fazer”. Para o deputado, e no caso do Governo sentir dificuldade em encontrar material didáctico, a sugestão é que “seja ensinada pelo menos a história dos monumentos”.

5 Dez 2016

LAG 2017 | Apoios a idosos e a portadores de deficiência aumentam

Mais apoio à população idosa, aos portadores de deficiência e às suas famílias foi a promessa deixada pelo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura. Um novo regime de protecção aos mais velhos, mais vagas em lares e apoio domiciliário são algumas das medidas de Alexis Tam

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] regime de protecção dos direitos dos idosos já foi aprovado pelo Conselho Executivo e dará entrada em breve na Assembleia Legislativa. A informação foi adiantada na sexta-feira pelo Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam.

Com a criação do diploma, o governante pretende juntar as leis avulsas numa só, mais abrangente. “Conseguimos fazer uma optimização de diplomas dispersos e agrupámos num só documento, de modo a abranger todas as matérias que se encontravam dispersas em diplomas avulsos”, explicou o secretário.

A resposta é dada aos deputados que se manifestaram, no debate das Linhas de Acção Governativa, preocupados com o envelhecimento da população e com as medidas para proteger esta faixa etária.

“Os serviços prestados aos idosos são suficientes e satisfazem as necessidades de todos os utilizadores? Como é que fazemos um plano melhor de apoio aos idosos?”, questionou o deputado Au Kam San.

Na resposta, Alexis Tam disse que Macau já tem infra-estruturas para o acolhimento de idosos, mas admite que ainda há trabalho a ser feito. “Temos lares de idosos, mas ainda não são em número suficiente e por isso vamos construir mais”, apontou.

Actualmente existem dez lares subsidiados pelo Governo e dez instituições não subsidiadas. “Os que são apoiados pelo Executivo têm 1180 vagas e os particulares têm 505, mas temos um plano que visa acrescentar mais vagas: prevemos ter mais 700 lugares até 2017 de modo a atingir um total de 2300”, referiu.

Outros cuidados

Os cuidados aos portadores de deficiência e o apoio às suas famílias foram também alvo de preocupação dos deputados, sendo que Alexis Tam apontou as medidas que a sua tutela tem vindo a tomar. “Temos reforçado as medidas para apoiar as famílias que cuidam dos seus idosos, o que também acontece com aquelas que têm elementos portadores de deficiência”, disse o secretário.

Em números, o Governo apoia sete instituições que acolhem portadores de deficiência, e que prestam apoio a 560 pessoas. Na calha está a criação de mais 186 lugares, o que engloba 70 por cento dos portadores de deficiência adultos no território.

De destaque foi também o papel do Executivo no apoio domiciliário. Alexis Tam deixou a promessa de “um estudo de prestação de assistência ao domicílio para reduzir a pressão das famílias com membros portadores de deficiência”.

Questionado pela deputada Angela Leong acerca das medidas para as crianças e da possível inclusão de instalações de ensino especial no projecto “céu azul”, o secretário confirmou que a iniciativa já está em curso e que a escola da Cáritas já tem instalações dentro do projecto. “Além das crianças que não tem deficiências, queremos que os portadores de deficiências também beneficiem deste projecto”, rematou.

O “céu azul” é uma iniciativa que se encontra a decorrer e que tem por objectivo a deslocação das escolas que funcionam em pódios para instalações mais adequadas.

5 Dez 2016

LAG 2017 | Governo promete continuar a ser exigente com salas de fumo nos casinos

As salas de fumo dos casinos, se vierem a ser autorizadas, terão de cumprir exigências restritas. Para Alexis Tam, é necessário tomar uma decisão sobre o assunto o mais rapidamente possível, sendo que, neste momento, o Executivo está a ouvir a opinião dos trabalhadores do sector

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] secretário para os Assuntos Sociais e Cultura está empenhado na implementação de regras mais apertadas no que respeita ao tabaco. A ideia foi deixada ontem na Assembleia Legislativa (AL), quando vários deputados solicitaram mais esclarecimentos acerca da proposta de revisão da Lei de Prevenção e Controlo do Tabagismo, que se encontra em análise na especialidade na segunda comissão permanente.

Para muitos dos deputados que analisam o diploma, é necessário que sejam instaladas salas de fumo nos casinos. Até agora, o secretário tinha-se mostrado intransigente, defendendo o fim do tabaco em todos os espaços públicos fechados, mas agora admite ceder.

O secretário entende que a instalação de salas para o efeito “é um projecto de alta qualidade e alta tecnicidade para evitar que o fumo saia desses locais”. Alexis Tam referiu ainda que o Governo pretende ser exigente neste assunto. “Vamos acelerar os estudos para ver se o padrão mais exigente de salas de fumadores pode ser aceite por nós”, disse.

A prioridade de Alexis Tam é a auscultação da opinião dos trabalhadores das salas de jogo. “Antes de aprovarmos, ainda temos de ouvir os trabalhadores dos casinos para ver se conseguimos, ou não, ter uma concordância. O objectivo é que a revisão da nova lei não perca a sua validade e iremos apressar os trabalhos para que seja aprovada o mais depressa possível.”

Fumo clandestino

A deputada Ella Lei levantou a questão do incumprimento do diploma em vigor. A representante dos Operários considera que “os casinos, neste momento, estão a violar a lei ao utilizarem outras salas, não destinadas a fumadores”.

Lei Chin Ion, director dos Serviços de Saúde de Macau (SSM), considera que a lei tem sido aplicada, sendo que o ideal é a prevenção. “Temos aplicado a lei mas o melhor é prevenir. Temos os nossos inspectores que trabalham diariamente e temos uma taxa de multas atribuídas que é muito mais elevada do que nas regiões vizinhas”, explicou.

O director dos SSM sublinhou ainda que, “na reunião da comissão especializada, há pessoas do hemiciclo que entendem que devem existir salas de fumadores nos hospitais”.

No que respeita à proibição de tabaco nas paragens de autocarros, Lei Chin Ion referiu que o assunto ainda está em estudo e que será apresentado á comissão “em momento oportuno”.

2 Dez 2016

LAG 2017 | Alexis Tam prometeu melhorias no ensino do português

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] secretário para os Assuntos Sociais e Cultura de Macau defendeu ontem a posição privilegiada da cidade para o ensino do português e lembrou que, “dominando o português, facilmente se aprendem outras línguas” e se “alargam horizontes”.

“Temos todas as vantagens e condições para isso [ensino do português], conseguimos ver o valor da língua. O português é uma língua latina, dominando o português consegue-se facilmente aprender outras línguas estrangeiras, mesmo para aprender o inglês é facílimo. Dominando o português alargam-se os horizontes”, disse Alexis Tam, durante o debate sectorial das Linhas de Acção Governativa, na Assembleia Legislativa.

O governante recordou a visita do primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, ao território, em Outubro, que “deu ordens à equipa governante de Macau para melhorar o ensino do português”.

O inglês, disse, “é muito promovido na China”, mas no português Macau tem vantagem, já que conta com um “legado histórico e uma ligação muito estreita com a língua”.

“Temos uma comunidade portuguesa em Macau, comunicação social em língua portuguesa, português como língua oficial. Nenhuma cidade da China tem as vantagens de Macau”, frisou.

Mais escolas gratuitas

A educação foi um dos temas centrais do debate de ontem, em que o Governo anunciou o alargamento da rede de escolaridade gratuita nos próximos dois anos. O número de escolas integradas na rede vai atingir 101, o que equivale a uma taxa de cobertura de 94 por cento, em vez da actual 89 por cento.

O secretário falou ainda do projecto ‘Céu Azul’, com que pretende transferir 15 escolas que actualmente funcionam em andares de prédios – e cujos alunos não gozam de instalações ao ar livre. Além de reduzir o prazo para as mudanças de 20 para 15 anos, Alexis Tam reiterou ainda que as escolas serão colocadas nos terrenos não aproveitados que o Governo tem tentado recuperar.

“Depois do despejo da ocupação ilegal desses terrenos, mais de uma dezena de escolas poderão funcionar ali. Mas temos de ser realistas: neste momento não temos terrenos suficientes para a construção das escolas. O Governo já começou a recuperar os terrenos não aproveitados e espero que muito em breve possamos dar início às obras e assim concretizar todo o projecto da obra ‘Céu Azul’”, disse.

Em 2011, o Governo identificou 48 terrenos para reversão para o domínio público por não estarem a ser aproveitados de acordo com os seus contratos de concessão. Em Novembro, o Chefe do Executivo afirmou que, até Setembro, “foram proferidos 38 despachos de declaração de caducidade das concessões de terrenos, que envolvem uma área que ultrapassa 400 mil metros quadrados”, apesar de vários casos estarem ainda em tribunal.

Em Agosto, a prioridade definida para estes terrenos foi o pagamento de 88.806 metros quadrados de dívida de terras, e em Setembro a habitação pública foi dada como essencial para esse fim.

2 Dez 2016

LAG 2017 | Educação especial pode ser obrigatória nos cursos de professores

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] disciplina dedicada ao ensino especial, até agora prevista enquanto opcional nos cursos de educação locais, poderá vir a ser obrigatória. A medida pretende ajudar a colmatar a falta de profissionais habilitados nas escolas de Macau.

“Estamos a pensar alterar a cadeira dedicada ao ensino especial. O objectivo é que deixe de ser uma disciplina de opção para passar a ser obrigatória no curso superior de Educação”, disse ontem Alexis Tam.

O secretário para os Assuntos Sociais e Cultura respondeu assim às preocupações dos deputados com a necessidade em ter pessoas preparadas para trabalhar com as crianças com necessidades especiais. A falta de pessoal habilitado é admitida pelo próprio secretário: “Ainda não temos formação suficiente e adequada”.

O Governo já está a tomar medidas no apoio à formação de profissionais no estrangeiro. “Temos um plano de formação contínua para as pessoas prosseguirem os seus estudos neste ramo e conseguirem fazer os seus cursos no exterior. O objectivo é que estes alunos regressem a Macau e, desta forma, conseguirmos criar um quadro de profissionais”, afirmou.

Segundo o secretário, a iniciativa já fez com que “18 pessoas que aderiram regressassem ao território no programa que está a ser levado a cabo pela Direcção dos Assuntos da Educação e Juventude (DSEJ)”.

Ao nível local, já há professores que, antes de iniciarem a carreira profissional, podem frequentar cursos na área do ensino especial.

O secretário sublinha ainda que foi criada “uma equipa de trabalho para o tratamento precoce das necessidades das crianças com a integração de vários serviços”, e foram criados cursos para terapeutas, nomeadamente da fala, com início no próximo ano lectivo.

No debate das Linhas de Acção Governativa de ontem, a deputada Chan Hong manifestou-se especialmente preocupada com esta área. O problema, diz, agrava-se com o desenvolvimento do ensino pré-primário em que urge a detecção de problemas de desenvolvimento tão cedo quanto possível, de forma a que as crianças tenham um acompanhamento mais adequado às suas necessidades.

2 Dez 2016

LAG 2017 | Revisão do regime de carreiras no ensino privado está a ser elaborada

A revisão do regime de carreiras do ensino privado está já em andamento. A informação foi dada ontem por Alexis Tam, em resposta aos deputados que consideram injustas as condições de trabalho e a remuneração dos professores destas escolas

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] regime de carreiras dos professores do ensino não superior privado pode vir a ser revisto. A ideia foi deixada nas Linhas de Acção Governativa de ontem por Alexis Tam, secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, em resposta aos deputados que consideram injustas as condições destes profissionais. Segundo o governante, “a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) está a ponderar a revisão do diploma que abrange o ensino privado e a elaborar o projecto de alteração da lei para apresentar à Assembleia Legislativa”.

A questão das condições precárias dos professores do ensino privado partiu da deputada Chan Hong, que considera “existir ainda uma diferença de um terço na remuneração, comparando com os ordenados das escolas públicas”. Além dos salários, quando chega a altura da aposentação, os professores do ensino particular não têm os seus direitos bem definidos. “O fundo de previdência ainda é muito reduzido e os professores mais velhos que estão prestes a ir para a reforma não vão fazer face às despesas depois de aposentados com o que vão receber”, afirmou.

Chan Hong sugere a criação de um mecanismo de contribuição para o fundo de previdência com uma contribuição tripartida que conte com a participação do Governo, da escola e do próprio professor.

A importância dos professores

As contratações de professores com contrato a termo certo também é um aspecto a ser revisto. “Os professores têm um contrato com condições muito precárias e, na maioria das vezes, não conseguem passar para contrato sem termo, o que transmite insegurança”, explicou a deputada.

Na resposta, Alexis Tam recordou que em 2010 foi revisto o regime de carreiras de professores do ensino não superior público de modo a “melhor salvaguardar os seus direitos e definir os seus deveres”.

No que respeita ao sector privado, o Secretário adiantou que está a ser elaborada já uma revisão do regime para apresentação à Assembleia Legislativa. Alexis Tam disse que “a profissão de professor é muito especial, sendo uma questão de interesse público e que conta com o apoio do Governo”. O Secretário manifestou ainda que “o ensino é muito importante para formar a nova geração e os professores merecem dignidade, e devem ter uma regulamentação especial”.

Por outro lado, e além dos docentes, “há um problema de garantias para os outros trabalhadores das escolas, como técnicos de laboratório ou gestores de equipamentos informáticos”, apontou Chan Hong. Estes funcionários são, para a deputada, de extrema importância para o bom funcionamento e desenvolvimento dos estabelecimentos de ensino e “não têm uma boa remuneração nem planeamento de evolução profissional”.

2 Dez 2016

Jane Camens | Macau pode vir a acolher encontro internacional de escritores e tradutores

A escritora australiana Jane Camens esteve em Macau numa sessão na Livraria Portuguesa que assinalou o final do encontro anual da associação que dirige. Ao HM falou dos desafios da escrita e da tradução, e do desejo de que a iniciativa venha a acontecer no território

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]acau pode vir a acolher o encontro anual promovido pela Asia Pacific Writers & Translators Inc (APWT). A iniciativa, que tem como objectivo promover o contacto entre profissionais do meio literário, nomeadamente escritores e tradutores da região asiática, vê o território como especialmente atractivo para o efeito.

O desejo foi manifestado por Jane Camens, directora da entidade, que vê na possível realização da iniciativa em Macau uma forma de ter presentes mais autores portugueses, ao mesmo tempo que considera que é um lugar especial no que respeita às competências da tradução.

Para Jane Camens, Macau é um lugar isolado no que respeita à internacionalização literária. O facto não se deve à falta de autores ou de tradutores, mas porque as obras dos escritores locais, na sua maioria, não estão traduzidas. “Em Macau vejo muito poucos trabalhos a serem traduzidos para inglês, quer escritos em língua portuguesa, quer em língua chinesa”. A falta de acesso a trabalhos em inglês faz com que se sinta “bloqueada”. “Parece que Macau é um mundo privado e essa também é uma das características que me fascina aqui.”

Mas é também em Macau que Jane Camens vê a profissão do tradutor como uma das mais bem desenvolvidas. A autora e ex-residente do território considera que, dada esta característica de “excelência na tradução”, a cidade reúne condições para receber o encontro internacional da associação que dirige. “Estivemos aqui e conversámos com representantes da Universidade de Macau acerca da possibilidade de organizar o encontro no território. Pode ser uma oportunidade de trazer mais escritores portugueses e, francamente, penso que, aqui, existem profissionais com capacidades de tradução incríveis”, explica ao HM.

A coexistência de duas línguas e as consequências profissionais que isso traz podem ter benefícios para aprendizagem da própria APWT: “Penso que, a esse nível, também podemos aprender muito do que é feito aqui em Macau ao nível da tradução”.

A tradução não é preguiçosa

O trabalho de tradutor não é o de um transcritor numa outra língua. Jane Camens salvaguarda que esta não é a sua área mas, enquanto autora, vê o tema da tradução profundamente debatido nos encontros que organiza e fala do seu passado. “Tive uma experiência com profissionais que traduziram textos meus para espanhol e o conselho dado por um poeta italiano presente foi de que os tradutores não se devem sentir obrigados a ficar presos ao texto. Também são criadores e o texto final é de alguma forma deles, pelo que é necessário que se sintam livres para trabalhar isso mesmo”, ilustra Jane Camens.

No entanto, a missão não é simples, especialmente no que respeita a traduções literárias. A função exige um trabalho árduo e merecedor de mais reconhecimento. Jane Camens refere que “a escolha e o leque de vocabulário são os elementos mais importantes quando se fala de tradução literária. Um tradutor não pode ser preguiçoso no seu trabalho nem com as palavras que utiliza e a correspondência entre palavras tem de ser muito clara”.

Já Sanaz Fotouhi, assistente executiva da APWT, diz ao HM que um dos maiores desafios enfrentados pelos tradutores, até há pouco tempo, foi a falta de reconhecimento. “Muitas vezes as pessoas, ao lerem um trabalho traduzido, fazem-no como se estivessem a ler o original e não têm noção de que existe um tradutor que transpôs e recriou aquela obra para que pudesse ser lida por outras pessoas, noutras línguas”, explica.

Para Sanaz Fotouhi, “quando um livro é traduzido, é transformado numa outra obra e é por isso que agora os grandes prémios literários consideram a tradução”.

Da China para a China

No final do encontro anual que teve lugar em Cantão, Janes Camens não podia estar mais satisfeita. “Este encontro foi surpreendentemente gratificante. Teve a presença de muitos escritores internacionais e foi um sucesso tremendo. Tivemos participações da Islândia, de Itália e mesmo de Portugal. Mas o que mais surpreendeu foi a adesão de escritores chineses”, referiu ao HM.

Relativamente à presença de literatura feita na China Continental e dos seus autores nas iniciativas promovidas pela APWT, a participação ainda não é muita, mas já se começa a fazer sentir. A iniciativa de Cantão “proporcionou um espaço para que os autores chineses comunicassem com outros de outras origens porque achamos que isso não acontece com frequência”, apontou Jane Camens. A autora considera ainda que não existem muitas plataformas internacionais de encontro de autores do Continente porque “já existe um mercado interno massivo na China e, por isso, os autores podem tender a dizer que não precisam de sair do país. No entanto, qualquer escritor gosta de ser lido o mais alargadamente possível”.

1 Dez 2016

Emily Chan, realizadora de “Our Seventeen”, destacada nos filmes asiáticos do MIFF

Emily Chan estreia “Our Seventeen” na secção dedicada ao cinema asiático do Festival Internacional de Cinema de Macau. A realizadora local, que divide o tempo e a profissão entre Pequim e Macau, fala acerca das expectativas, da película e do futuro

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] estreia de “Our Seventeen”, de Emily Chan, está agendada para dia 9 na Torre de Macau. O filme integra a secção “Hidden Dragons”, que aborda a produção asiática.

Emily Chan, realizadora e produtora de Macau, não deixa de manifestar satisfação com o acontecimento. “Estou feliz porque é um evento internacional e é bom fazer parte dos dois filmes realizados por autores locais e que vão estar em exibição”, explica ao HM.

O convite para a participação foi súbito. “Cheguei a pensar que o filme não estaria pronto a tempo, visto ter sido acabado este Verão, mas conseguimos, apesar de passar muito tempo em Pequim”, explica. Também foi devido a um encontro em Pequim que soube do festival. E foi assim que o ex-director do evento, Marco Muller, a desafiou a participar.

A realizadora, que já passa grande parte do tempo dividida entre a capital chinesa e Macau, considera que é necessário que as produções locais se dividam entre filmes artísticos e filmes comerciais. Apesar de referir que o Governo se mostra empenhado em apoiar a indústria, acha que “o que é realmente necessário é que exista público para ver os filmes”. Por outro lado, e de forma a dar lugar à profissionalização, “os artistas locais também precisam de sair e fazer coisas fora de Macau”.

“Our Seventeen”, que se passa na altura da transferência de Administração, trata de um grupo de jovens que procuram a concretização do sonho de serem músicos, ao mesmo tempo que exploram os seus processos de auto-descoberta e de definição de valores. A realizadora diz que é uma película que trata sobretudo da ausência. “Neste filme estamos perante qualquer coisa que falta. As pessoas não estão satisfeitas, há sempre alguma coisa que não está presente”, menciona.

Para Emily Chan, a questão da ausência é uma característica de Macau. “O território está a evoluir demasiado rápido e, neste contexto, o meu objectivo é chamar a atenção para a necessidade de as pessoas pararem um pouco e se encontrarem a si mesmas.” Emily Chan opta por uma abordagem com uma baixa intensidade emocional, transversal à película. “Na verdade, a emoção do filme nunca é demasiado alta ou baixa e a ideia é que a atmosfera seja sempre caracterizada por uma calma relativa, porque a vida em Macau também tem uma certa calma, sendo que falta sempre qualquer coisa.”

As expectativas para a estreia de “Our Seventeen” não são exacerbadas. “É uma boa oportunidade para ter mais um filme em portfólio e dar a conhecer o meu trabalho, visto que o evento pode atrair muitas pessoas, nomeadamente ligadas à indústria internacional. Não tenho qualquer expectativa em especial, estou calma e receptiva ao que aparecer”, ilustra, até porque “enquanto realizadora, o que há a fazer é sempre dar o melhor que se pode”.

Uma oportunidade aos locais

Tal como a realizadora de Macau Tracy Choi (ver texto nestas páginas), a inclusão de artistas de Hong Kong na produção deste trabalho de Emily Chan acontece porque, “dada a sua experiência, são muito profissionais”. No entanto, a realizadora fez questão de “incluir e proteger a participação de elementos locais na equipa”, sendo a maioria.

O orçamento de cerca de três milhões de patacas que, apesar de situar a película numa produção de baixo custo, poderia contribuir para a contratação de mais gente da China Continental ou mesmo de Hong Kong, foi essencialmente usado para “a construção de uma equipa constituída em 90 por cento por pessoas de Macau, porque são estas que precisam de uma oportunidade, nomeadamente de poderem participar num filme dito a sério”.

“Algumas das pessoas que acabaram por financiar este filme são da China e também pediram para integrar mais elementos de Hong Kong, mas fiz questão de proteger a minha equipa maioritariamente constituída por profissionais locais”, refere ao HM.

Rebelde e contadora de histórias

O cinema apareceu na vida de Emily Chan quando ainda era muito nova. “Era muito rebelde, mas fui-me apercebendo que conseguia escrever histórias e expressar-me através de meios ligados à imagem”, recorda.

Ainda na faculdade, onde tirava um curso em Comunicação, começou por fazer alguns documentários mas, com o tempo, começou a criar histórias de ficção. Com a paixão pela realização acordada percebeu que Macau não era o lugar para a desenvolver. “Descobri que aqui não existia espaço para poder ser realizadora. Fui para Pequim e, até agora, a minha vida é de idas e vindas entre Pequim e Macau”, refere.

No geral, a maior inspiração para as histórias que conta “é a vida do quotidiano, no presente”. “Considero-me uma escritora e realizadora de histórias de amor”, diz, enquanto adianta que já está a trabalhar num novo guião que trata a história de um homem natural da China Continental que vive em Macau.

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30 Nov 2016

Tracy Choi, realizadora: “É um filme acerca de memórias”

“Sisterhood”, a primeira longa-metragem da realizadora de Macau, estreia na edição inaugural do Festival Internacional de Cinema. Tracy Choi mostra-se especialmente satisfeita por ser o público de Macau o primeiro a ver a obra que entra na secção de competição do evento

[dropcap]C[/dropcap]Como é ter a estreia do primeiro filme no Festival Internacional de Cinema de Macau, logo na primeira edição?
É uma situação que me deixa especialmente feliz. Além de ser a minha cidade natal, é um filme que também teve parte das rodagens no território e que fala dele. Também tenho aqui os meus amigos e família, e é uma oportunidade de assistirmos juntos à estreia. Estou muito contente que isso tenha acontecido.

É um dos filmes que está em competição na principal secção do festival.
Sim. Ainda não vi os restantes filmes em competição, mas já vi os trailers. Parecem ser filmes muito bons e é uma honra poder partilhar esta secção com eles.

Quais são as expectativas que tem para esta competição?
Nenhumas.

Porquê?
Porque, apesar de não ter visto ainda os filmes, penso que já têm um carácter muito internacional. Parecem todos muito bons.

Vai apresentar “Sisterhood”. Como é que apareceu este trabalho?
Foi o projecto do meu mestrado em Hong Kong. Já tinha esta história na cabeça e quando me graduei candidatei-me a um fundo de apoio do Governo de Macau. Na altura não tinha ainda este nome, penso que se chamava “Sweet Home”, mas a história era muito idêntica. Acabei por ter um financiamento de 1,5 milhões de patacas e fui bater à porta de outras produtoras em Hong Kong para acabar de financiar o filme. Consegui, juntamente com o meu orientador de mestrado, produtoras interessadas e começámos por contratar um guionista para tratar melhor da história e escrevê-la de uma forma mais complexa e densa. Depois, o resto do processo foi acontecendo.

E que história conta?
É sobre uma mulher natural de Macau que foi para Taiwan onde viveu 15 anos. Acaba por regressar ao território, mas já não consegue dizer que se sente em casa porque não sente uma ligação à terra. Macau também tinha mudado muito ao longo desses 15 anos de ausência, pelo que não mais reconhecia a “casa”. Mas o filme também se chama “sisterhood” porque aborda a história de uma relação entre a personagem principal e uma amiga antes de ir para Taiwan, ainda nos anos 90, e da percepção de como essa relação tinha mudado ao longo do tempo.

Um paralelismo entre as mudanças de Macau e das relações?
Sim. A história começa quando a personagem principal, que se chama Sisi, mas é sempre tratada com o número 19, o número de massagista que tinha antes de ir embora, recebe a notícia de que a sua melhor amiga de juventude tinha morrido. É então que regressa a Macau no intuito de “rever” a companheira pela última vez. No regresso, encontra amigos em comum e o filho da tal amiga, que tinha ajudado a cuidar enquanto bebé. São estes encontros que lhe trazem as memórias da relação e da vida antes da partida. É um filme acerca de memórias.

Que assuntos motivam os seus filmes?
São essencialmente questões acerca de mulheres e de género. Acabam por ser os temas que mais me atraem.

A escolha de Gigi Leung, a conhecida actriz de Hong Kong, foi uma estratégia?
Sim, para atrair outro público, mas foi também uma coincidência. Enviámos o guião e ela gostou muito, pelo que aceitou fazer o papel sem pedir o cachet normal. No início foi estranho para mim trabalhar com ela, sentia-me nervosa. Mas ela é muito profissional e vinha sempre muito bem preparada para as filmagens.

Passou de uma produção muito independente para um filme de uma maior produção. Teve de fazer alguma alteração significativa ao que queria inicialmente?
No geral, não. Tive acima de tudo oportunidade de trabalhar numa escala maior e contar com profissionais de Hong Kong. Mas, e tal como pretendia, consegui envolver na equipa pessoas de Macau. Sempre quis que fosse uma produção partilhada com Macau.

Qual é o problema da indústria cinematográfica em Macau?
Penso que o maior deles é não ter audiências. Por exemplo, se foram filmes mais independentes é muito difícil conseguir algum retorno em Macau porque nunca há público suficiente. Daí a necessidade de que o filme seja vendido para outros mercados. Mas, se pensarmos no mercado continental, ficamos limitados, porque nem todos os temas são aceites. Se pensarmos em Hong Kong, temos sempre de conseguir a presença de uma estrela da indústria local de modo a que tenha público. Taiwan é outra alternativa. Mas é muito difícil o cinema de Macau encontrar um caminho. No entanto, e à semelhança da realizadora Emily Chan, a colaboração com a China Continental pode ser uma opção para o cinema de Macau.

Considera que o festival pode vir a contribuir para a indústria do cinema em Macau?
Ainda não sabemos. Claro que é uma boa oportunidade para encontrarmos profissionais de outras partes do mundo. Mas, na verdade, ainda não sabemos o que vai acontecer no festival. Estamos também ansiosos por ver o que vai acontecer.

Planos para o futuro?
Estou a trabalhar em novos projectos. A concretização de “Sisterhood” acabou por abrir muitas portas. Estou também a escrever um novo guião. A história vai ser sobre Macau e sobre a vida de uma mulher que trabalha num casino. Quero trabalhar acerca do mundo actual, e dos constrangimentos e preconceitos que ainda se vivem em Macau, especialmente por parte das mulheres.

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30 Nov 2016

Curtas | Migrações pelo olhar dos alunos da UM

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] tema “As Migrações” dinamizou os alunos da Universidade de Macau (UM) e deu origem a 20 filmes que vão participar na terceira edição do concurso de curtas-metragens. A iniciativa é do Programa Académico da União Europeia para Macau, em colaboração com o departamento de Comunicação da Faculdade de Ciências Sociais da UM. “Os alunos da disciplina de produção de vídeo são convidados a fazerem curtas-metragens de cinco minutos acerca de um tema seleccionado”, explica ao HM Rui Flores, elemento da organização e do júri do concurso.

No ano passado, o tema foi “O Desenvolvimento”, em que a escolha teve por base “o alinhamento com o ano europeu do desenvolvimento”. A edição de 2016 teve em conta a situação actual da Europa e do que se passa um pouco por todo o mundo. “Achámos que seria interessante sugerir aos alunos que falassem sobre migrações também sob a perspectiva de Macau”, explica o organizador.

Para Rui Flores, o tema é actual e encaixa no próprio contexto da região. “É um território que ao longo dos anos tem sido construído com migrantes e a sua presença é extremamente importante para o seu próprio desenvolvimento.”

As razões do sucesso do número de filmes recebidos podem ter que ver, segundo o organizador, com a visibilidade que os alunos sentem que os trabalhos têm com a sua participação. Por outro lado, o tema em si poderá ter contribuído para a grande participação até porque “mesmo a grande parte dos nossos alunos chineses têm pais que não são de Macau, pelo que é uma temática que acaba por lhes dizer muito”. “Segundo sei, a técnica que foi mais usada foi a do documentário em que os alunos recorreram a familiares e amigos que são migrantes em Macau”, refere.

As películas vão ser exibidas na quinta-feira pelas 19h e o prémio para o vencedor será de cinco mil patacas, com a oportunidade de ver o filme exibido na extensão de Macau do conhecido festival Doclisboa.

O júri é constituído por Timothy Simpson, director adjunto da Faculdade de Ciências Sociais da UM, Patrícia Ribeiro, do Instituto Português do Oriente, João Francisco Pinto, da TDM e Rui Flores, gestor executivo do Programa Académico da União Europeia para Macau.

 

29 Nov 2016

Debate propõe reflexão sobre o rumo da imprensa portuguesa

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] estado actual e o futuro da imprensa portuguesa em Macau são o foco do debate agendado para a próxima sexta-feira no Clube Militar. A iniciativa integra a comemoração dos 25 anos do jornal Ponto Final e este é o primeiro grande tema que a publicação se propõe debater.

Apesar de ter como conteúdo principal a imprensa, dada a sua pertinência social, a iniciativa é dirigida a todos. “É um momento não só para o encontro de jornalistas, como também da comunidade civil, até porque a questão da liberdade de imprensa é uma questão que acaba por ser transversal àquilo que é o segundo sistema de Macau”, explica Marco Carvalho, director do Ponto Final, ao HM.

A data escolhida não foi ao acaso e teve como fim poder integrar a presença de João Figueira. O professor da Universidade de Coimbra é também o autor da obra que “passa em revista os últimos 15 anos da imprensa portuguesa na região”. Da análise que fez, João Figueira conclui que, ao contrário do que teria sido de esperar, o jornalismo português em Macau está cada vez mais dinâmico.

Marco Carvalho recorda que a imprensa em língua portuguesa de Macau tinha sido “praticamente condenada à morte” ainda em 1999, num artigo publicado pelo jornal Público. “No entanto, 17 anos depois, o que vemos é o contrário”, refere. “Não só mostra uma dinâmica própria e que era difícil de prever, mas também tem vindo a multiplicar-se.”

O director do jornal ilustra a situação actual que, para além dos três diários, apareceram recentemente novas publicações, como é o caso do semanário Plataforma Macau e de uma série de projectos que, apesar de não serem em língua portuguesa, são feitos por jornalistas portugueses.

“Possivelmente, nunca como neste momento, quase 17 anos depois da transferência de administração, se abordou tanto e de uma forma tão científica o estado da imprensa de língua portuguesa em Macau”, sublinha, enquanto faz referência aos apontamentos dispersos acerca do assunto que existiam no passado.

O terceiro elemento do debate é José Carlos Matias, representante da Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau e que está a organizar um inquérito local acerca da liberdade de imprensa. “É um tema que está na ordem do dia e que começa a ter alguma pertinência tendo em conta a evolução em termos políticos que sucede em Hong Kong e mesmo em Macau”, defende Marco Carvalho.

Em suma, “é para saber o rumo da imprensa portuguesa que o Ponto Final organiza este debate”.

29 Nov 2016

IPM | Lançado primeiro concurso internacional de tradução

 

O primeiro concurso mundial de tradução de português-chinês vai acontecer pela mão do Instituto Politécnico de Macau. A ideia é motivar alunos de todo o mundo para a aprendizagem do par linguístico e chamar a atenção para a importância de Macau como plataforma bilingue

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Instituto Politécnico de Macau (IPM) vai promover o primeiro concurso mundial de tradução português-chinês. A iniciativa, que conta com o apoio do Gabinete para o Ensino Superior de Macau (GAES), pretende usar o território enquanto plataforma para preconizar uma das características de Macau – a coexistência e entendimento entre duas línguas.

“O tema da tradução é uma constante desde a chegada dos portugueses ao território e actualmente assume especial importância não só no que respeita à Administração e à área jurídica, como também para um melhor entendimento do quotidiano da cidade”, explicou ontem Lei Heong Iok, presidente do IPM, na conferência de imprensa de apresentação do concurso.

Já para Sou Chio Fai, coordenador do GAES, a iniciativa tem como principal função a atracção de estudantes interessados no par linguístico em causa e chamar a atenção para o território. O dirigente alerta ainda para a constante necessidade de tradutores, sendo que “é preciso formar mais quadros bilingues não só na área da tradução, mas com experiência em algum tipo e especialização. Por exemplo, pessoas com experiência na área empresarial, financeira, em engenharia ou em arquitectura”, referiu ao HM, à margem da conferência.

São todos bem-vindos

O concurso é dirigido às instituições de todo o mundo que façam parte da Associação de Megadados Linguísticos (LBDA, na sigla inglesa), às instituições de ensino superior de Macau e de Portugal, e àquelas que integrem cursos de tradução ou de áreas afins.

A distinção dos vencedores tem uma recompensa que se espera apetecível. O primeiro prémio leva para casa 100 mil patacas, o segundo 80 mil e o terceiro 50 mil. Foi ainda criado um prémio especial para as equipas das instituições de Macau em que o primeiro classificado tem direito a 50 mil patacas e o segundo a metade do valor.

Para participar, os alunos interessados deverão constituir uma equipa que poderá ter dois ou três estudantes e devem ter um orientador da sua escola. O professor que irá orientar os trabalhos premiados tem também direito a um prémio.

As inscrições podem ser feitas até 31 de Janeiro no site do IPM, sendo que vão ser dados três meses para a concretização dos trabalhos de tradução. Os vencedores são conhecidos no próximo mês de Agosto.

29 Nov 2016

LAG 2017 | Importação de mão-de-obra divide opiniões

É um clássico da Assembleia Legislativa: vários deputados manifestaram ontem preocupações antagónicas no que respeita aos trabalhadores vindos de fora. O secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, deu a entender que não há alterações nesta matéria

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] questão da importação de trabalhadores não residentes (TNR) foi ontem um dos assuntos de relevo em mais um debate das Linhas de Acção Governativa para 2017. Sem conclusões, os deputados manifestaram-se contra estes trabalhadores ou no sentido de consolidar a necessidade de importação de exterior, de modo a garantir o desenvolvimento do território.

Para a deputada Ella Lei, representante dos Operários, os TNR são uma ameaça ao emprego dos residentes, sendo que a situação é tanto mais grave quando se fala de empregos de gestão, nomeadamente na área dos casinos. “São poucos os trabalhadores locais que trabalham nas áreas de gestão das operadoras de jogo e deviam ser mais. Nas áreas de restauração e hotelaria há muitos empregos, mas muitos são TNR”, afirmou ontem na Assembleia Legislativa.

Para Lei, a questão já não se prende com a “falta de talentos, porque Macau já está a formar a população que depois não tem oportunidades de emprego”.

Segundo a representante dos Operários, é necessário “impedir a contratação de TNR e criar um mecanismo de retirada dos trabalhadores estrangeiros”, ao mesmo tempo que é necessário assegurar os direitos dos locais. Ella Lei sustenta a posição com números que, garante, afectam os salários da população. “Também temos cerca de 45 mil empregados com salário abaixo das cinco mil patacas. Que políticas e medidas é que o Governo pode tomar para estas pessoas?”, perguntou. “Também temos trabalhadores na restauração com salários pouco acima das 10 mil patacas. Como é que estas pessoas conseguem suportar a inflação com estes salários que são condicionados pela contratação de mão-de-obra estrangeira?”. Para a deputada, é necessário tomar medidas, entre as quais requerer um salário mínimo na contratação ao exterior capaz de competir com o dos locais.

Macau precisa deles

Do outro lado da bancada está Kou Ho In. O deputado e empresário afirma, baseado numa pesquisa levada a cabo pela sua companhia, que “há falta de trabalhadores em Macau”. Por outro lado, ao ser sugerido por Ella Lei um aumento de salários médios de modo a restringir a contratação de pessoas de fora, “a média que vai ser exigida pode vir a ser considerada a referência para o salário mínimo no território”.

Se a medida pode não ser um problema para áreas como o jogo, já para as pequenas e médias empresas que necessitam de mão-de-obra especializada tal requisito pode impedir o seu desenvolvimento. “As operadoras de jogo têm um mercado e as PME têm outro. As grandes podem contratar com grandes salários, mas as outras não”, explicou.

Para Kou Ho In não é admissível que, com a falta de trabalhadores locais, se possa exigir a saída dos que existem. “Depois ainda dizem que os TNR têm de sair e como é que as empresas vão desenvolver os seus negócios?”, questionou.

As medidas apresentadas por Ella Lei “só vão aumentar os custos suportados pela entidade patronal e não vejo nenhumas medidas que favoreçam a parte patronal”, destacou o empresário. “Não conseguimos ter aqui nada para combater a falta de recursos humanos”, rematou.

TNR, apenas os necessários

Lionel Leong, em resposta, afirmou que “em relação à política de importação de mão-de-obra estrangeira, os TNR que existem estão a suprir as faltas de trabalhadores locais”.

O secretário da Economia e Finanças justifica a contratação de TNR como necessidade no processo e diversificação da economia. “Temos de dar oportunidade às indústrias emergentes que vão precisar de recursos humanos”, afirmou.

Para o governante, a integração de TNR em cargos de topo não vai influenciar as possibilidades de ascensão de carreira dos residentes. “Algumas destas indústrias podem não ter profissionais desde o nível mais básico ao intermédio ou ao mais alto, pelo que temos de facultar a ascensão de carreira para que os locais possam agarrar as suas oportunidades para subir nos quadros. Ao mesmo tempo, temos de identificar as necessidades e dar oportunidade para que possam ter os melhores profissionais”, explicou Lionel Leong.

O secretário para a Economia e Finanças não deixou de mencionar que o facto de Macau registar uma baixa taxa de desemprego, que atinge apenas 1,9 por cento, “não o deixa satisfeito” sendo uma taxa nula o ideal a atingir.

O Governo salienta ainda que já “tem um mecanismo de intervenção para os TNR que saem de Macau em 2017 e 2018, de modo a preencher as vagas por trabalhadores locais”.

 

Lionel Leong em Lisboa na próxima semana

O secretário para a Economia revelou ontem que na próxima semana vai a Portugal, mas não deu detalhes sobre a visita. “Muito em breve, na próxima semana, irei a Portugal e também irei ter contactos com as autoridades portuguesas, irei manifestar o nosso desejo de melhorar esses trabalhos protocolares, aquando da recepção de autoridades da outra parte. (…) Vamos continuar a manter uma boa relação entre Portugal e Macau”, disse, ao justificar a falta de presença oficial na recepção do primeiro-ministro António Costa na sua vinda a Macau. No âmbito da cooperação, Lionel Leong afirmou aos deputados que, no próximo ano, o Governo vai apoiar a organização de “uma visita ao Brasil para os representantes das províncias e regiões do Pan-Delta do Rio das Pérolas”.

25 Nov 2016

LAG 2017 | PME podem ter novos subsídios e formação adequada

A aposta nos apoios a pequenas e médias empresas é vista pelos deputados como estratégia a seguir para a diversificação económica. Na sequência dos apoios que têm sido dados, Lionel Leong não deixa de lado a ideia de atribuir, uma segunda vez, subsídios àqueles que não tiveram sucesso aquando da criação do primeiro negócio

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o debate sectorial das linhas de Acção Governativa de ontem, dedicado à Economia e Finanças, Lionel Leong, secretário da tutela, admite a possibilidade de criar um segundo programa de apoios às pequenas e médias empresas. Desta vez, e para além dos apoios para a criação de negócios, a medida pode representar uma segunda oportunidade para aqueles que, em caso de insucesso na primeira iniciativa, pretendam agora, com formação e experiência, ter uma nova oportunidade.

“Estamos a pensar criar um segundo programa de apoios às PME”, afirmou Lionel Leong. No entanto, a medida não pode ser tomada sem avaliação de outros factores. “Temos de ter muito cuidado porque o primeiro fracasso pode ser desmotivador e o segundo pode agravar ainda mais a situação”, sublinha, sendo que afirma estar disposto a “ouvir propostas e repensar sobre este eventual programa acerca da atribuição do segundo subsídio a jovens empreendedores”.

A ideia de criar uma segunda oportunidade aos empreendedores locais foi dada pelo deputado Ma Chi Seng que contou ter conhecimento de casos que faliram no primeiro investimento e numa segunda tentativa obtiveram sucesso. “Houve um empreendedor que queria apoios para cerimónias de casamento. Depois de montado o negócio, não teve sucesso e agora, numa segunda oportunidade em que alargou a oferta, está a ser bem-sucedido”, explicou.

O deputado solicita ainda um maior apoio no que respeita a serviços de consultadoria oferecidos pelo Executivo, à semelhança do que se passa noutras regiões.

Formar para investir

Outra questão levantada por Ma Chi Seng foi a necessidade de formar os jovens que querem vir a ser empreendedores. “Quando os jovens querem ter negócios precisam de ser formados tanto moralmente, como no que respeita a contas, finanças e modos de expansão do negócio”, explicou. A sugestão justifica-se com o facto de que “as pessoas terem dificuldades em perceber como gerir as suas empresas”.

Por outro lado, Ma Chi Seng sugere ainda a cooperação entre os diferentes gabinetes do Governo, de modo a dar aos empreendedores “uma mentalidade e pensamento mais diversificados e a saberem melhor em que saídas apostar”.

Com números na mesa, o deputado questionou Lionel Leong sobre as medidas que tenciona tomar: “Sabemos que 32 por cento dos inquiridos que tiveram fracasso no primeiro negócio querem abrir o segundo”.

O governante não deixou de sublinhar que os candidatos vão ter como requisito de candidatura a formação adequada e garantiu “pensar na ideia” deixada por Ma Chi Seng. “O Executivo tem dado muitos incentivos e apoios aos jovens para terem o seu negócio. Ao verificar que os candidatos apresentam alguma inexperiência, vamos implementar cursos de formação para os ajudar a saber como realizar os seus sonhos.”

25 Nov 2016

AMCM: Pearl Horizon não afecta sistema financeiro

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] questão da sustentabilidade do sistema financeiro foi levantada pelo deputado Mak Soi Kun, que argumentou que o facto de existirem mais de três mil proprietários do Pearl Horizon lesados com os investimentos feitos pode vir a afectar a estabilidade bancária local. “Pode atacar a estabilidade bancária porque as pessoas podem não pagar atempadamente aos bancos, o que implica riscos financeiros”, justificou.

Em resposta, Anselmo Teng, presidente da Autoridade Monetária de Macau (AMCM), tentou relativizar as preocupações afirmando que o caso em questão “não afecta muito o sistema financeiro de Macau”. De modo a clarificar a situação, Anselmo Teng apresentou dados: os empréstimos contraídos para aquisições no empreendimento representam 0,58 por cento dos empréstimos bancários, pelo que “não é um número muito elevado e não temos qualquer caso de risco nos bancos”.

No entanto, o presidente da AMCM sublinhou que a situação está a ser devidamente acompanhada, de forma a que as respostas aos lesados possam ser dadas atempadamente.

25 Nov 2016

Njo Kong Kie, director musical: “Estamos a sair das fronteiras da arte”

 

“Um Piquenique no Cemitério” é o nome da peça que vai estar no Centro Cultural de Macau a 2 e 3 de Dezembro. O espectáculo conta com a direcção musical de Njo Kong Kie que, apesar de radicado em Toronto, aproveita as vindas a Macau para trabalhar em projectos locais. O compositor falou ao HM do espectáculo, dos desafios que enfrentou e do mundo da arte alternativa local

 

O que é que vamos ver neste “Um Piquenique no Cemitério”?

A peça é, na sua essência, um concerto. Por isso vamos ouvir música. Numa outra camada do espectáculo temos diferentes elementos que incluem vídeos e interpretação dramática e, por último, é uma peça em que tivemos o cuidado de incluir o público.

Contracenam com a audiência?

Quando começámos esta peça, há três anos no LMA, enquanto parte do Festival de Artes de Macau, tivemos o cuidado de desenhar um espaço em que o público e os artistas partilhassem a mesma área, o que possibilita a interacção e a integração de novos elementos. Agora, estamos a transferir a ideia para o pequeno auditório do Centro Cultural de Macau (CCM) em que a sala, dadas as suas características, implica uma certa separação dos espectadores mas, ainda assim, queremos manter o espírito de partilha do espectáculo entre as duas partes. Há vários aspectos que estamos a tentar contornar com novas escolhas cénicas em que as interacções com a audiência serão mantidas, e vamos tentar fazer com que o público sinta que estamos a dialogar e que está no mesmo espaço. Mas, acima de tudo, esperamos que as pessoas tenham oportunidade de assistir a um bom espectáculo e de ouvir boa música.

Que música é que foi, especificamente, concebida para o espectáculo?

Vamos ter um conjunto de composições que integram a música clássica e contemporânea com um toque experimental, misturadas com alguns sons mais comerciais e populares. Gosto de pensar que, algures neste espaço musical, estamos perto da música clássica, mas não demasiado perto. Tem raízes clássicas, o que faz parte da minha formação, mas algumas pessoas poderão pensar que é música minimalista e não estarão erradas. Temos também tido feedback de que o som se assemelha a música para cinema, o que quer que isso seja. Acho que, possivelmente, é porque o som desta peça, de alguma forma, evoca algumas imagens e, por isso, o mais próximo dos adjectivos que as pessoas encontram para a descrever é a de ‘música para cinema’. Certamente que tem muito ritmo e ao mesmo tempo é muito lírica. É um instrumental para piano, violino e violoncelo, que são o coração da orquestra, mas também temos guitarra clássica e eléctrica, por exemplo.

Qual foi o maior desafio na concepção desta peça?

Penso que o maior desafio foi enquadrar as interpretações dramáticas num espectáculo musical. Muitos dos temas saíram de um álbum que criei há uns anos e escrevi as peças enquanto estava em digressão. Estivemos na estrada durante dois anos e a fazer sempre o mesmo repertório. Depois de alguns meses, comecei a tentar encontrar formas de manter a orquestra motivada, de modo a combater a rotina, e comecei a escrever pequenas peças para que nos divertíssemos. Incorporei essas peças nos ensaios para manter as pessoas entusiasmadas e isso foi um sucesso. Após um tempo, tinha acumulado uma dúzia de pequenas peças musicais em que cada uma tinha a sua própria personalidade. A parte musical acabou por ser relativamente simples na medida em que estava praticamente composta. Mas os músicos não estavam muito habituados a tocar música mais minimalista. É um género em que é difícil manter a concentração e alguns dos músicos acharam, por exemplo, difícil a precisão rítmica que tinha de ser mantida quase como se se tratasse de uma máquina para que a peça se mantivesse una. Isto foi um desafio nos ensaios: manter a peça coesa. No entanto, sem dúvida que o maior dos desafios foi manter esta coesão em formato teatral. Incorporar todos os elementos, os músicos com os actores com quem estou a trabalhar e toda a encenação. É como conceber toda uma história nova porque apenas a música seria uma abordagem muito abstracta.

Um piquenique no cemitério não é uma imagem ou tema comum…

Quando temos um título, especialmente um título como este, as pessoas esperam encontrar algum tipo de respostas no espectáculo. Quando estamos a apresentar a peça num espaço alternativo, é mais fácil as pessoas sentirem a peça e enquanto a sentem não fazem perguntas que poderiam, eventualmente, fazer. Apesar de a peça ser, muitas vezes, pouco clara, essa característica também permite às pessoas terem a liberdade de sentir. “Um Piquenique no Cemitério”, apesar de ser acerca da morte é, acima de tudo, acerca da vida e de como é que pode ser abordada num cenário como o sugerido pelo nome. A peça acaba por ser irónica e questiona um pouco o que é que fazemos durante a viagem que nos leva da vida à morte.

A peça tem andado em digressão há três anos.

Sim, temos estado em vários sítios e estivemos em Portugal também, por exemplo. Penso que a recepção em Portugal foi muito especial por termos estado em diferentes tipos de espaços – desde espaços convencionais, como a Fundação Oriente e o Centro Cultural de Famalicão, a um restaurante em Vila Real. Estivamos também no Maus Hábitos, no Porto. Cada um destes espaços era muito diferente e tinha características próprias, e com audiências também características. No restaurante, por exemplo, o público que tínhamos era de pessoas que iam lá regularmente. Era um público muito pequeno e em que estávamos todos muito próximos e correu muito bem. Por outro lado, quando estivemos no Maus Hábitos, o ambiente era muito idêntico ao do LMA, muito independente e correu tudo muito bem, acabámos por integrar objectos que apareciam no espaço na própria encenação, o que também resulta. Esta é uma peça muito dinâmica. Gostamos de transferir a energia que sentimos no espaço para o espectáculo e queremos estar relaxados. Afinal, estamos a falar de um piquenique num espaço inusitado: o cemitério, por não se saber o que se passa além da morte, é sempre um lugar do desconhecido. É uma espécie de humor negro.

Uma peça para todos e em todo o lado?

Sim, até porque não tem um idioma. É universal. É uma coisa que tem, acima de tudo, que ver com tempo. Há um sentimento de nostalgia na peça. Usamos em alguns pontos legendas idênticas às que se usam no cinema mudo com pequenos trechos de texto, em inglês e chinês que, basicamente, servem para guiar o pensamento consoante o que se vai ouvindo.

Tem sido um grande caminho até ao CCM…

Agora sentimos que já podemos ir a esta sala sem correr o risco de sermos mal entendidos. Já é uma peça conhecida e temos alguma experiência em preparar o público antes da sua entrada, para que não entendam mal o nosso trabalho.

O que têm planeado para o futuro?

Vamos continuar com “Um Piquenique no Cemitério”. Já temos um espectáculo agendado para o Japão na continuação das nossas apresentações internacionais.

Estamos na presença de um espectáculo alternativo e experimental. Da sua experiência, como é que Macau olha para este tipo de criações?

Quando comecei a colaborar mais regularmente com artistas locais, em 2008, fiquei logo surpreendido com a quantidade de pessoas ligadas a trabalhos experimentais. Parece existir um grande fosso entre os clássicos tradicionais, que já não fazemos muito, e aquilo que muitos artistas contemporâneos estão a fazer e que são as suas próprias criações. Por exemplo, em Macau não há muita gente a fazer Shakespeare ou, tirando um ou dois que tenha visto, peças do Tchekhov. As pessoas estão a apostar em trabalhos contemporâneos e o público está na mesma linha. Temos ainda, no mundo da dança, coisas muito interessantes a ser feitas. A Comuna de Pedra, por exemplo: desloca-se aos bairros antigos de Macau para apresentar coreografias contemporâneas. O público olha para eles com um ar intrigado, mas eles fazem-no e é uma forma de mostrar o desejo de que a arte chegue a todos. O público, mesmo sem saber muito do assunto, acaba por se aproximar, ver e falar disso. Podem não entender mas acabam por gostar. Da mesma forma, fizemos uma apresentação desta peça em Taiwan num mercado, o que é também um cenário inesperado. Quando estávamos a actuar, as pessoas deixavam o que estavam a fazer e vinham ver-nos. Ter este tipo de proximidade com o público é muito especial. Aquilo que fazemos com a arte, às vezes, é tão limitado demograficamente que sabe muito bem podermos expandir-nos e chegar a mais pessoas. Por exemplo, quando pensamos no CCM não estamos a pensar que estas pessoas – dos mercados e da rua – venham ver o nosso trabalho e, com apresentações alternativas, estamos a sair das fronteiras da arte.

25 Nov 2016

Tradutores | Governo pondera contratar pessoas que não são licenciadas em tradução

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] necessidade de tradutores-intérpretes e a escassez de profissionais no par linguístico chinês-português está na possibilidade da contratação de funcionários que, sem a licenciatura em Tradução, mostrem capacidades linguísticas capazes do exercício de funções. A explicação foi dada ontem pela Secretária para os Assuntos da Administração e Justiça, quando questionada pelos deputados acerca dos critérios de contratação de tradutores-intérpretes.

“Quanto à necessidade de tradutores, só os que têm licenciatura em tradução é que se podem candidatar a vagas de tradutor-intérprete. O que detectámos é que há pessoas que não têm licenciatura em Tradução, mas têm boas capacidades linguísticas. Estamos a dar oportunidade a estes trabalhadores para exercerem essas funções”, explica.

Para a governante, a falta de intérpretes é um problema, mas garante que para atrair elites para ingressão na carreira “irá efectuar uma triagem”. A intenção é perceber que tipo de características o candidato possui que o habilitam a exercer um cargo tão específico como o de intérprete.

Questionada sobre a situação do programa de aprendizagem de tradução e interpretação de língua chinesa para língua portuguesa, Sónia Chan sublinhou a abertura de cursos gerais, mas também de formações específicas dirigidas aos quadros da função pública. “Temos o curso de Tradução que tem um plano de aprendizagem em colaboração com a uma entidade da União Europeia”, explica.

No que diz respeito à absorção de tradutores-intérpretes, a Secretária para a Administração e Justiça garante que o Governo está atento. “Nas escolas em geral temos criado cursos de estágio para os alunos de línguas e temos concedido bolsas para os finalistas do secundário poderem continuar com estudos superiores em língua portuguesa”, refere.

No entanto, e dada a necessidade prevista de cerca de 200 intérpretes “no futuro”, Sónia Chan pensa abrir mais cursos para atrair mais talentos para esta área. Na calha estão ainda formações em áreas específicas como a jurídica.

 

24 Nov 2016