Educação | Escola Internacional inaugura “black box”

Entre o diálogo e a arte

É uma “caixa preta” capaz de revelar as actividades artísticas feitas pelos alunos, e de promover diálogos entre os estudantes e entidades para um melhor entendimento do mundo. É a “black box” da Escola Internacional de Macau que abriu portas ontem e contou com a presença de Joan Latta

[dropcap]N[/dropcap]ão é apenas um auditório – trata-se de um novo espaço que se assume como mais do que isso. Uma caixa preta em que alunos, docentes e convidados são chamados a partilhar experiências, é a ideia que fundamenta a criação da “black box” da Escola Internacional de Macau (TIS, na sigla inglesa).

“Este teatro possibilita uma área em que podemos mostrar o trabalho dos estudantes nas áreas artísticas que frequentam e criar oportunidades de diálogo. Mais do que um teatro tradicional, é uma estrutura muito simples e amovível capaz de preencher vários tipos de funcionalidades”, explicou ao HM o director da TIS, Howard Stribbell.
Para a instituição, expressão e diálogo andam paralelamente e são dois pilares fundamentais no que respeita à educação.

A importância das artes reside na capacidade em encontrar beleza nas coisas e em possibilitar uma forma de expressão individual. “Independentemente do meio escolhido para o efeito, qualquer processo criativo desenvolvido pelos estudantes está ligado à descoberta de uma voz pessoal e à capacidade de a exprimir”, explicou o responsável.

No dia da abertura da nova valência da TIS, o pontapé de saída foi dado com a presença de Joan Latta. A jovem de 24 anos é portadora de paralisia cerebral e tem dedicado a sua vida adulta a dar palestras nas escolas acerca da inclusão e superação de obstáculos. Recorrendo à sua experiência pessoal, Joan Latta pretende mostrar aos mais novos que as dificuldades são ultrapassáveis e que, quando se fala de pessoas especiais, se está a falar de todos. Ao mesmo tempo que, com a sua presença e alegria, demonstra que “todos têm lugar no mesmo espaço e todos podem aprender”, refere a oradora ao HM.

É também com a vertente da inclusão que Howard Stribbell etiqueta a “black box”. “Com este palco podemos possibilitar outra forma de os estudantes encontrarem a sua voz e uma área de excelência”, afirmou. A ideologia da TIS assenta numa educação em que cada um tem o seu lugar: “Alguns estudantes podem não ter capacidade para se dedicarem a estudos mais académicos e podem descobrir, neste teatro, áreas em que podem brilhar e em que as diferenças são mutuamente apreciadas”.

A falar é que nos entendemos

A questão do diálogo entre estudantes, e entre estes e convidados da instituição é a segunda função da caixa preta. Para o director, a capacidade de conversar, de colocar questões e ter respostas num mundo cada vez mais complexo é fundamental no processo educacional, e de formação de pessoas preparadas e conscientes. “Num mundo cada vez mais mutável não encontramos soluções para os problemas de amanhã, no dia de ontem. Temos de as criar hoje. É essencial que os alunos tenham a capacidade de se questionarem e de perceberem, numa sociedade em movimento, como se adaptar para que possam, eles, criar as soluções.”

“Por outro lado, é fundamental que as crianças tenham um pensamento, cada vez mais, à escala global”, afirmou ao HM John Crawford, co-fundador e presidente da TIS.

24 Fev 2017

Carla Lourenço, Arquitecta | Macau, por acaso

[dropcap]C[/dropcap]arla Lourenço tem 28 anos e está há duas semanas em Macau, integrada no programa de estágios INOV. Arquitecta recente no território, tem nas descrições que faz desta sua mais recente experiência a surpresa de uma Ásia que ainda não sabe bem descrever, além da “diferença atroz” que sente quando comparada com outras paragens por onde já passou.

A arquitectura apareceu na vida de Carla Lourenço de uma forma “estranha”. As decisões que têm de ser tomadas “demasiado cedo” levam, por vezes, a escolhas que não seriam as de hoje. “Somos obrigados a decidir com 15 anos parte do nosso futuro e, hoje, acho que escolheria outra coisa: engenharia de ambiente, talvez”, diz ao HM. No entanto, apesar da ainda indecisão na carreira que um dia poderá escolher, recorda que a opção pela profissão que a traz a Macau agora teve na origem “o fascínio pelas artes, sobretudo pela escultura”. A engenharia do ambiente e o interesse pela área vêm da curiosidade que sentia, desde pequena, por cenários que a “intrigavam”. “Não entendia porque é que não existia mais reciclagem em Alcochete, porque é que nas idas para Lisboa cada carro apenas levava uma pessoa”, ilustra a natural da margem sul. Para Carla Lourenço, estas são “coisas absurdas” do dia-a-dia. 

A escolha da arquitectura mostrou ser uma possibilidade em juntar a arte e o ambiente. “Sentia que era uma mistura das duas coisas, podia mudar o ambiente em que vivo através do urbanismo.”

Foi com o desenho de casas e cidades que veio para Macau. Carla Lourenço integra o programa de estágios do INOV e Macau “não foi bem uma escolha, porque os candidatos não sabem onde vão parar, foi mais uma coincidência”. Dos cerca de três mil candidatos ao programa a arquitecta, foi dos pouco mais de 300 seleccionados.

A experiência em viver no estrangeiro não é nova. “Fui um ano em Erasmus para a Argentina, mas quando voltei já nada era a mesma coisa”, recorda. “Quando voltamos está tudo igual e nós é que mudámos.”

A experiencia na América Latina “foi incrível”. Com 21 anos foi para Buenos Aires, “uma cidade com mais gente que o meu próprio país e para uma faculdade com mais gente que Alcochete”. Foi viver num outro mundo. “É também uma cidade muito europeia.” 

Seguiram-se sete anos no Porto e chegada a hora de mudar. “O INOV era uma boa maneira de o fazer, porque alguém decide o destino por nós. É estranho, mas cómodo porque me alheio da responsabilidade e me limito a ir”, aponta.

Um feliz acaso

Macau foi a sorte que o INOV ditou. Quando chegou a altura de saber as colocações apareceu primeiro a bandeira da China. “Assustei-me, pensei que ia para Pequim ou uma outra grande cidade chinesa e, infelizmente, estamos cheios de preconceitos acerca do país”, refere. Depois da bandeira apareceu a cidade, “era Macau e fiquei em êxtase.” 

A chegada a Macau é, acima de tudo, cheia de estranheza e novidades. “A primeira coisa que estranhei foi entrar num autocarro e ver as coisas escritas em chinês e em português. Depois foi o sentir a humidade que, aqui, pesa. Socialmente foi sentir que as comunidades se dividem em grupos e eu fazia já parte de um, o dos portugueses. Foi muito estranho porque não pensei que existisse esta separação, pensei que fosse uma coisa mais integrada.” 

Os contrastes do território também marcaram e ainda são fonte de espanto para a recém-chegada. “Os edifícios enormes, as mega estruturas dos casinos com plantas naturais, aquilo parecia um cenário todo plástico e depois passamos nos jardins e as pessoas estão a fazer tai chi”, diz.

Há duas semanas em Macau, a arquitecta está “a adorar o desconhecido”, das comidas aos cheiros, o “ir ao mercado e ver o peixe vivo”. 

Em comparação com a América Latina, as diferenças são muitas, mas a linguagem marca o abismo. “Aqui não percebo o que se passa à nossa volta e não consigo comunicar”, afirma. 

Enquanto arquitecta, salvaguarda a “opinião de duas semanas em Macau” e, mais uma vez, são os contrastes que sobressaem. Um centro histórico muito consolidado e muito característico que, parece, estagnou no tempo, mas, de repente, surgem os grandes condomínios e casinos que constituem um grande paradoxo. “É demasiado diferente.” 

24 Fev 2017

Correntes D’Escrita | Macau em estreia

“A Sombra do Mar” de Armando Silva Carvalho foi o vencedor do prémio literário Casino da Póvoa no festival Correntes D’Escrita. O anuncio foi feito na quarta-feira numa cerimónia que contou com a presença do Presidente da República de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, e a referência à estreia da literatura de Macau no certame

[dropcap]O[/dropcap] escritor Armando Silva Carvalho venceu o prémio literário Casino da Póvoa deste ano com a obra “A Sombra do Mar”, anunciou a organização do encontro de escritores de expressão ibérica Correntes D’Escrita.

De acordo com a acta do júri, “A Sombra do Mar” foi a obra escolhida “pela força imagética da sua escrita e pela tensão conseguida entre ironia e melancolia”.

O júri refere ainda que a nomeação deste livro “resultou da demorada análise e discussão deste e de outros livros finalistas”, tendo sido esta opção deliberada “por maioria”.

Entre as obras finalistas, “particular atenção mereceram” também “Bisonte”, de Daniel Jonas, e “O Fruto da Gramática”, de Nuno Júdice.

““[O festival] continua a alargar o âmbito geográfico, incluindo autores de Macau e da Venezuela.”
Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República Portuguesa

Na declaração de voto é dito ainda que “A Sombra do Mar” é uma obra que “traz um conjunto de poemas formando um corpo orgânico de grande unidade estilística e temática, no qual as alusões ao mar e à água constituem um ‘leitmotiv’ que percorre todo o livro em sucessivas variações: água ‘criteriosa e diária’, água ‘arrepiada’ e ‘águas sobreviventes’”.

Entre os finalistas do prémio, no valor de 20 mil euros, estavam também “Outro Ulisses regressa a casa”, do actual ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, “Animais Feridos”, de António Carlos Cortez, “Auto-retratos”, de Paulo José Miranda, “Persianas”, de Miguel-Manso, e “Vem à Quinta-Feira”, de Filipa Leal.

O júri foi constituído por Almeida Faria, Ana Gabriela Macedo, Carlos Quiroga, Inês Pedrosa e Isaque Ferreira.

O prémio literário Papelaria Locus 2017 foi atribuído a “Simplesmente Parecidos”, de Juliana da Silva Barbosa, que concorreu com o pseudónimo de Miura Yigurashi; o prémio Literário Fundação Dr. Luís Rainha a “No Silêncio das Marés”, de Helena Luísa Miranda Coentro; e o primeiro prémio Conto Infantil Ilustrado a “Uma Limpeza Necessária”, do 4.º A da Escola Básica José Manuel Durão Barroso, de Armamar.

O Correntes d’Escritas prolonga-se até amanhã, na Póvoa de Varzim, com uma sessão agendada para segunda-feira no Instituto Cervantes, em Lisboa, reunindo dezenas de escritores em conferências, exposições e sessões em escolas.

Prata da casa

“A Póvoa é um sítio mítico da literatura portuguesa. É onde nasceu Eça de Queirós, e por onde passaram Raul Brandão e muitos outros.”
Carlos Morais José, escritor

A cerimónia em foi feito a anúncio do vencedor contou com a presença de Marcelo Rebelo de Sousa, que destacou não só a importância da leitura e do trabalho feito com as escolas, como ainda a presença de Macau que, este ano e pela primeira vez, está representado com o “Arquivo das Confissões – Bernardo Vasques e a Inveja”, de Carlos Morais José. O evento é “não só apenas uma festa dos portugueses e lusófonos, convida também escritores de expressão ibérica”, destacou, acrescentando que esta iniciativa “funciona como porta de entrada da literatura do mundo em Portugal” e que este continuou ainda a “alargar o âmbito geográfico, incluindo autores de Macau e da Venezuela”.

Para Carlos Morais José, este é um festival de referência e não podia ser feito noutro local. “A Póvoa é um sítio mítico da literatura portuguesa. É onde nasceu Eça de Queirós, e por onde passaram Raul Brandão e muitos outros”, referiu o autor ao HM, salientando que, “sendo uma terra junto ao mar, é um sítio magnífico para reactivar a tradição literária que a terra tem”.

O destaque do evento vai, de acordo com o autor que se encontra na Póvoa para participar numa mesa redonda, para “as conversas que se vão tendo e para a boa organização do festival, que corre normalmente e bem”.

Relativamente à presença da literatura feita em Macau, o trabalho a fazer ainda é muito. “Como não temos uma máquina de marketing, tudo isto depende da boa vontade do editor, Rogério Beltrão Coelho. No entanto, e comparando com outras literaturas presentes, obviamente que ainda não temos muita visibilidade e também não sou um autor consagrado”.

24 Fev 2017

Paulo Reis, ceramista: “Não há cultura no que respeita ao consumo de arte”

Mestre de cerâmica e da arte da azulejaria portuguesa, Paulo Reis dá aulas e tem atelier na escola da Casa de Portugal. Há ano e meio em Macau, sente que falta a ligação à comunidade chinesa, apesar do sucesso com os japoneses que já têm agências de viagens que incluem nos programas aulas com o artista. Ao HM falou da experiência, enquanto professor e artista no território

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] cerâmica é uma arte que vem desde cedo?

Comecei a trabalhar na área da cerâmica há cerca de 30 anos. Foi com a minha irmã que, já na altura, trabalhava na área. Depois surgiram os cursos do Ar.Co e acabei por fazer a formação. A partir daí, montei uma oficina de cerâmica com mais três colegas em que realizávamos o nosso trabalho e, ao mesmo tempo, dávamos aulas. Lembro-me da primeira vez que dei aulas porque foi uma experiência marcante, dado ter sido a detidos na prisão de Vale dos Judeus. Por incrível que pareça, eu tinha 20 e poucos anos e estava à espera de uma recepção que poderia ser agressiva. No entanto, a formação teve uma grande adesão, as pessoas queriam fazer coisas e o relacionamento foi muito interessante. Achei piada que pessoas muito mais velhas do que eu me tratassem por mestre, a mim, que era um miúdo.

Como é que apareceu Macau?

Estou cá há cerca de um ano e meio. A minha vinda resultou de um convite por parte de Amélia António, presidente da Casa de Portugal, para vir substituir o Paulo Valentim. Fui chamado para dar um workshop e acabei por ser convidado a ficar. As condições agradaram-me, não só ao nível financeiro, como também as condições que este espaço tem, para o ensino e para o desenvolvimento do meu trabalho pessoal. Este local funciona como a minha sala de aulas e como atelier.

Que alunos se inscrevem nestas formações?

Tenho um espaço dedicado, por exemplo, só à pintura de azulejo. Normalmente, quem o costuma frequentar são alunos da Casa de Portugal que já tinham aulas com o professor Paulo Valentim. Como grande mestre que era da azulejaria portuguesa, formou pessoas mais viradas para esta arte. Depois há as aulas dos cursos que são dados no horário pós-laboral. Tenho alunos que chegam e que nunca tocaram em barro e outras pessoas que já trabalham comigo há algum tempo, e querem desenvolver os seus projectos.

As pessoas podem ter aqui um espaço de desenvolvimento de projectos pessoais sob a sua supervisão?

Sim. Mesmo estando integradas num dos cursos em que há um tema específico, podem continuar a desenvolver outros projectos e explorar outro tipo de técnicas não relacionadas com a formação que estão a fazer.

Estamos a falar essencialmente de alunos portugueses?

Estamos a falar de portugueses e de estrangeiros também. Neste momento tenho uma aluna americana, uma brasileira, já tive alunos chineses, apesar de neste momento ter maioritariamente macaenses e portugueses. Tenho tido alguma diversidade cultural na participação dos cursos, mas gostava de ter mais.

O que falta?

Divulgação. Tem de existir mais divulgação por parte das entidades e mesmo da imprensa.

Tiveram recentemente um workshop de pintura em azulejo dirigido a japoneses com muita adesão.

Temos sempre actividades e nessa trabalhámos directamente com agências de viagens. É a terceira ou quarta vez que temos grupos de japoneses. No mês passado vieram 120. É um pacote que as agências têm em que, em vez de levarem os clientes aos casinos, têm mais visitas a Macau e uma passagem pela Casa de Portugal para aprenderem a pintar azulejos. Explicamos o que é a azulejaria portuguesa, a técnica, e depois eles fazem o seu trabalho tendo em conta os processos tradicionais do séc. XVII. A pintura do azulejo tem várias fases: o desenho picotado em papel vegetal e depois passado a carvão, a pintura em que usamos o azul que tem três tonalidades diferentes. São características típicas desta que é, talvez, a maior imagem de marca do país no estrangeiro. Temos trabalhos no mundo inteiro.

Sente que há interesse em manter esta arte no território?

Sim, mas não sei até que ponto podemos chegar ao Governo ou aos arquitectos que podiam, por exemplo, incorporar alguns painéis de azulejo português nos seus projectos. Há muita coisa que se poderia fazer para integrar a azulejaria portuguesa em Macau. É também muito complicado entrar na comunidade chinesa. Acabei de ter uma experiência interessante num concurso organizado pelo Sands China. Concorri com uma escultura e, quando saiu a lista dos premiados na categoria em que tinha participado, o único português era eu. Senti que me receberam, senti-me acolhido. Penso que talvez se deva ir por aí, por tentativas, para tentar criar mais contacto com as comunidades locais. Sinto que as comunidades aqui estão todas muito dispersas e sem grande ligação.

Enquanto artista, como tem desenvolvido a sua carreira?

Tenho tido oportunidade de pôr em prática projectos que há muitos anos estavam na gaveta. Aos poucos, vou tentando entrar no mercado local.

Sente que há mercado em Macau?

Acho que, realmente, não há cultura no que respeita ao consumo de arte. Não há o hábito de sair ao fim-de-semana para ver exposições. Acho que é criando esses hábitos, através da educação, que as pessoas se começam a habituar. Há muita coisa do jogo, é por isso que Macau é conhecido lá fora, mas considero que tem muito mais do que isso e, para o pequeno espaço que é, estão sempre a acontecer coisas.

Quais os próximos desafios?

Gostava de começar a preparar formações dirigidas a projectos sociais, especialmente aqui, na Areia Preta, onde há, segundo me consta, mais pobreza e gente com necessidades financeiras. A ideia já está aprovada. Tenho muita vontade em colaborar com orfanatos e outras associações de apoio para que possam vir aqui. A Casa de Portugal dá o espaço e os materiais, eu dou a mão-de-obra. É um projecto que está a marinar e já estou a estabelecer contactos.

 

23 Fev 2017

Tráfego | Kaifong apelam a “primazia dos transportes públicos”

Ho Ion Sang pede medidas eficazes para um melhor funcionamento dos transportes públicos em Macau. Um planeamento geral, melhores condições para os trabalhadores do sector e uma avaliação real das necessidades da sociedade são algumas das sugestões deixadas pelo deputado

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] aperfeiçoamento do funcionamento dos transportes públicos é o tema de mais uma interpelação ao Executivo. O deputado Ho Ion Sang pede ao Governo que estabeleça medidas efectivas de modo a dar lugar à “primazia dos transportes públicos” em Macau.

Para o tribuno, as acções que têm vindo a ser tomadas têm-se mostrado ineficazes e insuficientes. Os problemas continuam a manter-se e a acumular-se. “Os serviços de autocarros não correspondem à realidade da sociedade nem às suas expectativas, nomeadamente quanto à razoabilidade das carreiras, à insuficiência da sua frequência e ao longo tempo de espera pelo autocarro. Estes problemas não foram resolvidos com a entrada em funcionamento do novo modelo de serviços”, lê-se no documento.

As situações de insuficiência são confirmadas em algarismos. “Em 2016, o número de passageiros de autocarros ultrapassou os 200 milhões e, diariamente, foram efectuados mais de 555 mil transportes de passageiros.”

Paralelamente às deficiências dos transportes públicos, Ho Ion Sang frisa o aumento de veículos e a desactualização do planeamento enquanto “factores desfavoráveis” à implementação eficaz da “primazia dos transportes públicos”.

De uma vez por todas

O deputado não deixa de recordar as tentativas falhadas que o Executivo já terá tomado, desde 2011, de modo a optimizar o sistema público. As acções mostraram-se “sem resultado, não conseguindo alcançar os efeitos previstos, antes pelo contrário”. Com a implementação do modelo, uma das operadoras faliu e a detecção de ilegalidades por parte do Comissariado contra a Corrupção não tardou.

Por outro lado, o dirigente dos Kaifong, associação que representa os moradores, alerta para o término dos contratos com as operadoras, sendo que questiona o Governo se já tem algum plano quanto ao futuro modelo de exploração de autocarros a adoptar.

De modo a melhorar definitivamente a rede de transportes públicos, Ho Ion Sang apela ao Executivo que debruce mais a sua atenção sobre as reais necessidades da população, que proceda ao reforço de um planeamento geral da rede e crie condições de mobilidade acessível. Ao mesmo tempo, é necessária, dada a demanda, a criação de melhores condições de trabalho para os motoristas, de modo a atrair profissionais para o sector.

22 Fev 2017

Art Basel | Christo e Kiarostami em Hong Kong

Março é o mês da terceira edição da Art Basel de Hong Kong. O programa já começa a ser conhecido e os destaques apontam para a presença de trabalhos de Christo e Abbas Kiarostami. O certame promete, acima de tudo, a diversidade e o foco na temática do tempo

 

[dropcap style≠’circle’]I[/dropcap]nstalações, exposições e interactividade são três dos pilares de mais uma edição da Art Basel de Hong Kong. Com data marcada entre 23 e 25 de Março, a feira de arte, que se afirma já como uma das mais proeminentes da Ásia, não tem mãos a medir.

As novidades começam com a estreia de Kabinett, bandeira estandarte da edição de 2017. A secção é uma das mais aclamadas do evento em Miami e a organização visa, com ela, lançar às galerias o desafio de exibirem trabalhos que, normalmente, estão fora da sua alçada. “Esta é uma forma de trazer mais conteúdo histórico e acrescentar profundidade ao evento”, afirmam os responsáveis pelo evento. A ideia é apresentar projectos capazes de incluir tanto as criações individuais, como colectivas.

Este ano, entre muitos nomes, sobressaem os do realizador iraniano Abbas Kiarostami ou do interventor na paisagem de origem búlgara Christo que, após dez anos afastado da criação artística, regressou em 2016 à produção. Para o certame, a organização promete a exibição de três obras raras que integram o trabalho “Christo: the essencial ideas”, a cargo da Galerie Gmurzynska.

Kiarostami, que morreu no ano passado e deixou um legado muito para além do cinema, terá na vizinha Hong Kong uma exposição individual de fotografia. Os trabalhos fazem parte da “Snow Series” de 2002 e trazem imagens de um Irão natural “sob uma estética minimalista”, explica a organização. A exposição estará a cargo da Galeria Rossi & Rossi.

Já do Oriente, a Art Basel vai lembrar o trabalho do artista chinês Sanyu com a apresentação de uma série de desenhos que retratam o contexto histórico do modernismo da China no início do séc. XX.

No total são 19 projectos, “cuidadosamente curados”, que marcam o início do Kabinnet na região vizinha. Os artistas a serem representados incluem ainda Etel Adnan, Cao Yu, Piero Dorazio, Candida Höfer, Kwon Young-Woo, Kit de Lee, Yuko Mohri, OSGEMEOS, Bettina Pousttchi, Qiu Xiaofei, SHIMURAbros, Song Ta, Keiichi Tanaami, Wang Qingsong, Ming Wong e Heimo Zobernig.

Tempo adentro

A abordagem do conceito de tempo marca ainda a edição deste ano. A informação, já adiantada pela organização do certame ao HM, é concretizada com a exibição de trabalhos em larga escala e marca a secção “Encontros”, com a curadoria de Alexie Glass-Kantor.

“Sendo o terceiro ano como curador da secção, quis explorar a relação entre o tempo e a experiência e, especificamente, de que forma o tempo se poderia relacionar com os encontros”, explica Glass-Kantor. A experiência não se fica pela simples exibição e vai rumo à relação com o público. O resultado é um conjunto de obras e instalações que permite a interacção. “Fiz a curadoria da selecção de instalações que incentivam os visitantes a interagir com cada peça, a fim de encontrarem as suas próprias interpretações”, lê-se em nota de imprensa.

“Encontros” é um dos mais prestigiados sectores do evento e pretende ser “uma plataforma única de apresentação de instalações em grande escala que transcendem o conceito tradicional de uma feira de arte”.

Este ano a secção integra 17 trabalhos, entre repetentes e estreantes, em que constam nomes como Rasheed Araeen, Katharina Grosse, Gonkar Gyatso, Joyce Ho, Hu Qingyan, Waqas Khan, Alicja Kwade, Dinh Q. Lê, Li Jinghu, Sanné Mestrom, Rirkrit Tiravanija and Wang Wei.

Ainda dentro do programa conhecido até à data, e sob a alçada do “tempo”, está a apresentação de “Twenty five minutes older” do artista radicado em Hong Kong Kingsley Ng. A ideia é apresentar a cidade de “uma outra forma” através de imagens capturadas nos icónicos eléctricos locais, acompanhadas com excertos de textos de Liu Yichang.

 

 

Do mundo para Hong Kong

Fundada em 1970 por galeristas de Basileia, a Art Basel é responsável pela organização das exposições internacionais de arte contemporânea actualmente realizadas em Basileia, Miami e Hong Kong. O princípio do evento é a criação, em cada edição, de uma cooperação com as galerias da cidade anfitriã, em que a programação e produção são feitas sempre em conjunto com as entidades locais. Um exemplo é a Art Basel Cities, lançada em 2016, em que o trabalho é desenvolvido tendo em conta os conteúdos específicos de cada cidade. O objectivo é a criação de uma rede global com o contributo dos elementos culturais inerentes a cada lugar. Em Hong Kong, a Art Basel local veio substituir a ART HK e mostra, com mais uma edição, o sucesso do evento que junta artistas, indústria e público.

22 Fev 2017

AL | Serviço de atendimento a residentes com pouca adesão

O serviço de atendimento de cidadãos prestado pela Assembleia Legislativa recebeu menos de três dezenas de casos no ano passado. A população prefere apresentar as queixas aos deputados directamente eleitos e dirigir-se aos escritórios dos que consideram os seus representantes

 

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oram 26 os atendimentos a cidadãos pelos deputados na Assembleia Legislativa (AL) realizados na passada sessão legislativa. O número reduzido na adesão da população ao serviço prestado pelo organismo não surpreende deputados e analistas. Os residentes preferem apresentar directamente as preocupações nos escritórios dos deputados eleitos por via directa e a deslocação ao edifício da AL pode representar muito tempo de espera, bem como um processo moroso e ineficaz.

Para o deputado Pereira Coutinho, representante da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), o sistema de atendimento ao público não resulta porque os objectivos que levam os cidadãos a requisitarem a intervenção da AL não levam a uma intervenção efectiva do organismo junto do Executivo. “A Assembleia limita-se a fazer o endosso das questões apresentadas ao Governo, a matéria que normalmente é apresentada pelos queixosos não é alvo de uma intervenção eficaz, e muitas vezes, fica sem resposta. Não passa de um serviço de pombo-correio” explicou ao HM.

O resultado é a preferência pela deslocação aos escritórios dos deputados com quem os residentes mais se identificam – ou, pelo menos, aqueles em relação aos quais têm maiores expectativas. “Tenho muito trabalho para fazer e o atendimento é dos mais árduos, o que exige uma maior disponibilidade física e temporal”, referiu o também presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau. “O meu gabinete parece um consultório médico em que a agenda está sempre completa. Trabalho sete dias por semana”, ilustrou.

Por outro lado, “a maioria das questões que levam os residentes a procurar apoio ou a denunciarem casos está maioritariamente ligada a acontecimentos de bairro e, como em Macau não existem representantes dos municípios, o trabalho fica na totalidade destinado ao deputado eleito”, explicou. “Se rebenta um cano de esgoto ou se há uma situação de violência doméstica, é o deputado e a associação que são procurados no imediato e o agendamento de atendimento na AL não é considerado.”

A opinião é partilhada por Song Pek Kei, deputada que representa a Associação Aliança do Povo de Instituição de Macau. “Os tribunos têm os seus próprios escritórios em que podem atender as solicitações dos residentes e, como tal, não precisam de se deslocar à AL para pedir ajuda. A alternativa é conveniente para os cidadãos porque podem escolher o local onde podem ser atendidos e que fique mais próximo da sua residência”, apontou ao HM.

Sobre os apenas 26 casos que chegaram ao edifício da AL na passada sessão legislativa, Song Pek Kei considera que o serviço de atendimento prestado “só faz uma parte do que é a totalidade de serviços que competem aos deputados”, sendo que é necessário que sejam tidos em conta os casos tratados nos escritórios dos próprios tribunos. Song Pek Lei acrescentou ainda que, no seu gabinete, recebe “anualmente milhares de solicitações”.

Perda de tempo

“O número de atendimentos é baixo devido à preferência da população em apresentar as situações directamente aos deputados”, reiterou o analista político Larry So. A escolha, segundo o académico, é porque as associações a que estão ligados estão mais próximas das pessoas. “A ida à AL representa uma grande perda de tempo, não só pelo agendamento da reunião como devido ao próprio processo de deslocação que pode, muitas vezes, não ser cómodo para os residentes”, explicou. É também uma questão que apenas se prende com os deputados eleitos pela via directa “porque os deputados nomeados representam o pensamento do Governo e, como tal, não são escolhidos para denunciar situações ou fazer queixas relativas ao Executivo”, apontou.

Para Larry So, apesar da fraca adesão ao serviço, esta é uma valência que deve continuar a existir tal como está, sendo sempre um mecanismo de comunicação entre população e órgão legislativo.

21 Fev 2017

Laura Nyögéri, directora artística da Artfusion | A arte de aprender a ser livre

A Artfusion existe há quase três anos para ensinar a criar em liberdade. A direcção artística é assumida por Laura Nyögéri que, um dia, substituiu a publicidade pela criatividade e agora encaminha os mais novos na descoberta

[dropcap]C[/dropcap]omo é que descreve o projecto Artfusion?
O Artfusion é um grupo de artes performativas que existe em Macau desde 2014. Surgiu exactamente nesta altura, no ano novo chinês. Era o ano do Cavalo e a formação apareceu de uma colaboração com o grupo de capoeira Axé. Tivemos a ideia de juntar a capoeira e os batuques com dança contemporânea, ginástica e muita criatividade. O resultado foi surpreendente. Nasceu o conceito de fusão de artes, de onde apareceu o nosso nome.

Não ficaram por aí.
Não. Com a experiência resolvemos começar a organizar workshops onde desenvolvemos várias áreas das artes performativas. Optámos, desde logo, por diversas vertentes: a expressão dramática, a dança, técnicas de improviso e até as próprias artes plásticas. Este trabalho permitiu aos alunos que se inscreveram o contacto com várias valências e, a nós, percebermos quais as competências das crianças e jovens para delinearmos qual seria o caminho a seguir. A partir daí, iniciámos as aulas de artes performativas em que as inscrições foram muitas. Tivemos alunos dos quatro aos 17 anos, o que fez com que começássemos a dividir as formações por turmas, consoante as idades. Actualmente temos cerca de 50 alunos, divididos em três grupos.

São também uma escola?
Acabamos por ser. Uma das nossas principais missões é a formação através das artes orientada para o desenvolvimento da expressão da criatividade e, acima de tudo, para a noção de liberdade. Outro aspecto importante é o desenvolvimento da expressão individual e de grupo. Pontualmente funcionamos com grupos de adultos para eventos específicos. Neste momento, cerca de 80 por cento dos alunos são portugueses e os restantes dividem-se entre macaenses e chineses. Também aqui há uma fusão de culturas que torna a experiência muito interessante.

Como são organizadas as aulas?
Exploramos e seguimos muitos modelos e técnicas criativas aliadas à expressão corporal e dramática. Queremos também permitir a exploração da consciência do eu e do outro para que não só desenvolvam conhecimentos nas diversas áreas artísticas, mas que encontrem também aqui um lugar de divertimento e de criação. Sinto que muitos jovens têm um plano curricular com muitas actividades e uma das maiores dificuldades é terem tempo para fazerem as coisas. É por isso também que temos aulas apenas uma vez por semana e, mesmo assim, os alunos têm, frequentemente, de fazer alguma ginástica com a agenda para conseguirem fazer tudo. Por outro lado, isto também implica algum trabalho das próprias famílias para coordenar os vários horários, mas é possível. Eles gostam muito das aulas.

O Artfusion tem aulas e espectáculos?
Sim. Muitas vezes aproveitamos as aulas para o ensaio de espectáculos, mas também sinto que temos de parar esse processo de produção para que tenham espaço para se libertarem. Sinto que precisam deste espaço.

Não são uma associação. Como é que se organizam?
Somos um grupo que colabora com a associação “Macau no coração”, o que nos permite participar em actividades organizadas por instituições governamentais. Quando participamos em determinados eventos, como a Lusofonia, fazemos questão de levar conteúdos, de alguma forma, lusófonos. Já dançamos o fado, por exemplo.

Como é que chegam à ideia para um espectáculo?
Os alunos também têm aí um papel muito importante. Tentamos perceber quais são os seus interesses e de que forma a nossa cultura pode ser interessante para ser explorada por eles. O nosso público é, essencialmente, familiar e o nosso universo muito vasto pelo que, para agradarmos a todos, temos de fazer um espectáculo o mais completo possível. Tentamos explorar conceitos que inicialmente podem parecer mais abstractos e torná-los mais simples.

E como é que fazem isso?
Posso mesmo dizer que os alunos são a principal fonte de inspiração. Antes da concepção de qualquer espectáculo exploramos os temas que queremos abordar com os estudantes. Eles dão ideias, que não são só verbais, mas também ao nível do corpo. Procuro sempre que, por exemplo, através do grafismo ou do desenho, também possam expressar o seu universo. Depois fazemos a nossa pesquisa e levamos ideias do nosso contacto com grupos que não são de cá.

O Cirque du Soleil é um exemplo?
Sim. Passei o Verão de 2016 nos Estados Unidos a acompanhar o Cirque du Soleil num dos seus espectáculos. Juntei-me a eles desde a criação do espectáculo à digressão. Era uma outsider, mas acompanhei todos os departamentos, vi como aconteciam as coisas e como se fazia a produção, e aprendi com os excelentes profissionais que fazem parte daquela equipa. Foi uma experiência única, apesar de assustadora. É uma equipa muito grande e que envolve uma logística que a maioria das pessoas não faz ideia.

O que trouxe do Cirque du Soleil para Macau?
Trouxe um bocadinho de tudo aquilo. Trouxe ideias, daquelas que muitas vezes nos assustam por acharmos que não são possíveis, mas depois pensamos que existe sempre alguma forma de as concretizar ou adaptar à nossa realidade. Também tive, nos Estados Unidos, oportunidade de conhecer vários grupos de jovens em que o trabalho deles era sem qualquer limite. Ali tudo era possível e é este universo de possibilidades infinitas que acho importante trazer para Macau. Quase nunca é fácil, mas não é impossível.

Quais são as maiores dificuldades que têm sentido?
Os alunos mudam todos os semestres. Crescem e saem de Macau ou experimentam outras actividades. A diferença é que o Artfusion acontece aqui mas poderia acontecer em qualquer lado. Recentemente estivemos em Portugal e fizemos um intercâmbio com vários municípios. Na mira está Taipé onde pretendo que nos juntemos, além de integrar outras actividades, ao Cirque du Soleil na sua digressão asiática da companhia. Esta actividade permitirá mostrar o que é fazer produção em grande escala e com uma equipa em que trabalham profissionais de várias áreas. Quero organizar um programa de residência artística em que poderão participar não só alunos do Artfusion, mas todos os interessados: uma semana de workshops com os artistas do Cirque vindos de diferentes backgrounds, visitas a espaços culturais e artísticos, visitas aos bastidores, etc. Enfim, é dar oportunidade aos jovens de terem contacto com esta realidade e conhecerem o percurso daqueles artistas.

E o seu percurso até aqui, como foi?
Sou formada em Publicidade e Marketing e, da minha experiência, foi a criatividade que mais me chamou a atenção. Acabei por trabalhar em cinema e em televisão, fiz formação em teatro e, com os conteúdos que fui assimilando, descobri que o que mais gostava de fazer era estar na produção, nomeadamente na direcção artística. O facto de ter passado por vários departamentos foi para mim muito importante: deu-me consciência do que é o trabalho de equipa.

Trabalham essencialmente com jovens. Porquê esta população?
O que vejo de especial nestas pessoas é a espontaneidade e a capacidade de trabalhar os medos. As crianças e os jovens são também muito criativos e verdadeiros, o que para mim é um desafio. Cada um tem de ser trabalhado de uma forma individual e, depois, quando colocados em trabalho de equipa, mostram uma grande transformação. Acabo também por desenvolver as minhas competências para poder chegar até eles.

O que vamos ter no espectáculo integrado no Fringe?
Este espectáculo é uma estreia em Macau, a primeira vez que foi apresentado foi em Shenzhen. Mas são espectáculos diferentes. Aqui tive de fazer várias adaptações. Ter o Nam Van como palco foi um desafio enorme, é um palco muito grande. Chama-se “Connection” e o objectivo foi explorar o próprio conceito da palavra, ou seja, como é que o ser humano está ligado aos outros, à natureza, ao mundo à sua volta, muitas vezes de forma inconsciente. Este é um trabalho de alerta para a inconsciência das ligações que existem. São laços muitas vezes invisíveis ou ignorados e, cada vez mais no mundo real, esta falta de consciência transforma-se em intolerância. Todo o trabalho de concepção é neste sentido e os protagonistas têm de sentir tudo isto para fazerem um bom espectáculo, que só acontece se conseguirem fazer com que o público sinta o mesmo.

18 Jan 2017

Husam Abed, artista: “Não sei o que é ter uma casa”

Husam Abed é palestiniano, mas podia ser da Jordânia. Nasceu em Baka, um campo de refugiados a norte de Amã, e não conhece as origens. Está em Macau para apresentar hoje, sábado e domingo, o espectáculo “Uma Vida Suave”, com Réka Deák, mulher e directora de cenografia. A peça junta realidade, marionetas e público à mesa

[dropcap]É[/dropcap] palestiniano, mas nasceu na Jordânia.
Nasci num campo de refugiados. Em 1949, a minha família fugiu de uma pequena aldeia e ficaram num campo em Jericó. Em 1967, tiveram de mudar de novo e foram para Karama, para um campo de palestinianos. No ano seguinte mudaram para o campo de Baka, a norte de Amã. Hoje é um campo que acolhe cerca de 150 mil pessoas. Foi lá que nasci. No início, as pessoas viviam em tendas mas, aos poucos, foi mudando e agora têm casas. Mas é ainda sobrepovoado e vive numa situação ambígua. Não é reconhecido pelo estado da Jordânia, nem as Nações Unidas prestam lá cuidados. As pessoas estão no meio de dois fogos.

Como é crescer num campo de refugiados?
Vivia na Jordânia, mas só conheci alguém de lá já deveria ter uns 20 anos. É viver numa comunidade muito fechada onde se levanta a questão da identidade de uma forma muito forte. Muitas pessoas não sentem que são da Jordânia, mesmo depois de 60 anos a ali viverem, nem que são da Palestina, que já não passa de uma memória longínqua. Eu, por exemplo, conheci a minha avó há apenas dois anos. Ela ficou em Jericó e nunca a tinha visto. O meu pai morreu e a minha mãe foi lá buscá-la. É uma senhora muito velhinha, com o corpo cheio de cicatrizes da guerra. Ali, a guerra é diária. Por outro lado, toda a gente fala da Palestina e no direito de regressar. Não sei o que é ter uma casa. Nunca pude construir essa ideia. Há um sentimento nostálgico de que a “casa” existe, mas eu não sei o que é, nunca lá estive. É mais um sentimento de diáspora ou de exílio. Quando queremos ter educação ou saúde, não somos de lá, e não temos direito a nada.

Como é que fez para estudar?
A questão da educação na Palestina sempre foi muito forte. E esse foi o meu caso também. Apesar de o meu avô paterno ser talhante, teve o cuidado de possibilitar educação superior aos filhos e eu fui educado nessa perspectiva. A única hipótese era ir estudar para as mesquitas na Síria. O meu professor de inglês costumava dizer que, quando uma catástrofe atinge algumas pessoas, haverá outras a beneficiar com isso. Na Síria, que foi colonizada pelos franceses, o ensino do inglês era muito mau mas, com o regresso dos palestinianos, vieram muitos académicos que acabaram por se tornar professores de inglês e colmataram uma falha. A educação sempre foi uma questão essencial para os palestinianos.

Como é que apareceram as marionetas?
Quando estava a estudar Química tornei-me voluntário no orfanato que existia no campo de Baka. Não havia actividades para os mais jovens e não havia como libertar a energia. Existia um clube de desporto em que as pessoas se encontravam e a associação dos órfãos. Para conhecer a dinâmica da comunidade era necessário fazer algum trabalho voluntário ou social. Fazia campos de Verão e programas educacionais com as crianças. Queria também fazer qualquer coisa que ajudasse as crianças na formação do seu carácter e lembrei-me de fazer algo mais artístico. Foi quando apareceu a ideia das marionetas. Até então, só tinha visto os bonecos na televisão e nem sabia como fazer. Falei com os meus colegas e discutimos como fazer um guião, fazer os bonecos, etc.. Começou aí. Na altura, tinha uma ideia baseada no budismo, em que, depois de não existirem árvores, água e animais, o homem descobre que não pode comer dinheiro. Era essa a reflexão que queria passar. Fui ao mercado, comprei umas bonecas e precisava de uma personagem que fosse o contador de histórias. Num desses dias de compras vi um homem a vender melão. É um fruto que tem uma espécie de rugas e achei interessante. Tirei o interior e transformei-o num boneco. Foi a minha primeira marioneta. No entanto, acabei o curso em Química Aplicada, trabalhei numa refinaria de petróleo durante dois anos e depois comecei a dar aulas. Passado um ano decidi que não era aquilo que queria. Foi um choque para a minha família o facto de estar a perder uma oportunidade de estabilizar e ter um futuro. Decidi que queria trabalhar com marionetas.

Estudou em Praga.
Sim, mas foi uma coincidência. Quando fiz a minha escolha, em 2009, tive o meu próprio espectáculo e fiz alguns workshops para campos de refugiados. Em 2010 comecei a trabalhar com refugiados iraquianos. Trabalhei em Zaatari com a comunidade em geral e já fazia coisas também para adultos. Mas sentia que ninguém estava convencido com o meu trabalho e que precisava de algum tipo de reconhecimento internacional. Comecei à procura de opções. Apareceu-me uma formação na Alemanha, mas não podia ingressar sem um curso de língua. Ainda comecei a estudar mas só me aceitariam por meio ano porque já tinha mais de 26 anos. Continuei à procura e encontrei cursos em inglês em Praga.

A capital internacional das marionetas…
Sim, mas eu não sabia. Foi o que me apareceu. É uma história muito estranha. Descobri quando lá cheguei e nem queria acreditar. Os bonecos que tinha visto na televisão, que eram os meus favoritos, tinham sido criados ali, e eu estava ali. Fui admitido numa escola de teatro e estavam marionetas em todo o lado. Fiz o curso, durante três semanas, e o meu professor, responsável pelo programa, perguntou-me se não me queria candidatar ao programa de mestrado. Foi muito complicado. Não tinha um background no teatro e sentia-me completamente perdido. Sentia que não conseguia encontrar a minha forma de expressão. Vinha de uma cultura muito diferente e não me sentia pronto. Fui à Índia, onde vi alguns festivais que me inspiraram e me proporcionaram uma abordagem diferente das coisas. Regressei a Praga e consegui fazer um projecto mais pessoal. Aprofundei a área do teatro documental, que conta histórias.

O que é que vamos ter com “Uma Vida Suave” aqui em Macau?
Comecei a sentir que tinha de fazer teatro em que pudesse jogar com os limites da realidade e da fantasia, e em que pudesse juntar alguma actividade. Nesta peça estamos em casa, à mesa, e as pessoas vêm ouvir algumas histórias acerca da minha infância. A mesa tem estampado o mapa da Palestina e, ao mesmo tempo que vou contando as histórias, as pessoas vão bebendo chá. A peça acaba com a partilha de uma refeição tipicamente palestiniana que, traduzindo, se chama “de pernas para o ar”. É uma refeição especial que se faz especialmente ao fim-de-semana. A cenografia está a cargo da Réka Deák. Concebeu uma mesa com gavetas e as histórias vão saindo delas. É também uma peça sobre a família e as memórias. Acima de tudo, o que quero mostrar é que cada pessoa tem a sua história que deve ser contada. Estamos num tempo em que as pessoas se reduzem a números. Lidamos como as pessoas como se fossem algarismos. Por exemplo, diz-se que três mil pessoas foram mortas, mas quem são estas pessoas? As pessoas tornam-se números e os números esquecem-se. Mas as histórias não. As histórias devem fazer a diferença, e ficar no coração e na memória das pessoas.

17 Jan 2017

Moçambique | Ciclo de cinema na FRC para dar a conhecer o país real

O cinema moçambicano vai estar em destaque do dia 21 a 26 na Fundação Rui Cunha. A iniciativa é organizada pela Associação dos Amigos de Moçambique. A ideia é permitir a quem vive cá conhecer o cinema e a cultura daquele país

 

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ão cinco os filmes que vão integrar a terceira edição do ciclo de cinema feito em Moçambique. O evento tem lugar entre 21 e 26 deste mês no auditório da Fundação Rui Cunha e no cartaz traz quatro filmes de Licínio Azevedo e um da realizadora Teresa Prata.

“Não podemos chamar a iniciativa de festival”, disse ao HM Helena Brandão, “porque não é uma coisa grande”. Para a responsável pela Associação dos Amigos de Moçambique, entidade organizadora, esta é antes “uma forma de alargar as actividades de forma sustentável”.

“O dinheiro não é muito e fazemos o que podemos”, explicou. A iniciativa teve a primeira edição em 2012 e a ideia de projectar filmes surgiu como sendo a mais viável, de modo a que possam ser levadas a cabo outras actividades além da semana gastronómica.

Para a organizadora, “basta ter cerca de 15 pessoas a assistir que podemos considerar um sucesso”. Mas certo é que a adesão tem vindo a crescer a cada edição.

A ideia é mostrar à população de Macau um pouco mais da cultura moçambicana. Vasta e diversificada, Helena Brandão lamenta que não seja possível trazer mais actividades. “Gostava muito de ter cá teatro, que é uma área de relevo em Moçambique, mas é difícil trazer os actores, é muito dispendioso.”

Com empenho, a associação consegue trazer, mais uma vez a Macau, o realizador Licínio Azevedo. Brasileiro de origem, Licínio Azevedo está radicado em Moçambique há mais de 40 anos e é hoje uma das maiores referências da sétima arte do país. O reconhecimento internacional aconteceu no âmbito do programa “Open Doors” do Festival de Cinema de Locarno, com o destaque que foi dado a “Comboio de Sal e Açúcar”. A película conta a história de um comboio e dos seus passageiros, que embarcam numa viagem perigosa durante a guerra civil moçambicana.

Quatro histórias

Do cineasta serão exibidos em Macau “A Ponte”, “Ferro em Brasa”, “A Ilha dos Espíritos” e “Desobediência”.

“A Ponte” é a história do esforço colectivo para fazer uma travessia. De acordo com a apresentação da película, na estação das chuvas os rios enchem, e Chimanimami, uma das mais bonitas regiões de Moçambique, fica isolada do resto do país. No entanto, com a intenção de criar ali uma reserva natural, cuja principal atracção é o Monte Binga, o ponto mais alto de Moçambique, é necessário construir uma ponte e é a aldeia que se une para contribuir para a concretização do projecto.

Um documentário sobre o fotojornalista Ricardo Rangel é a proposta de “Ferro em Brasa”. O fotógrafo, de 80 anos, é o símbolo vivo da geração que, no fim dos anos 40, iniciou as primeiras denúncias contra a situação colonial. Enquanto fotografava a cidade dos colonos, “Ricardo revelava a desumanidade e a crueldade do colonialismo”, lê-se na mesma apresentação. Desde então, e até ao fim da guerra civil pós-independência, o protagonista fotografou 60 anos da história de Moçambique. Neste filme, o fotógrafo conduz o público pela sua vida e obra, onde a cidade de Maputo, a boémia e o jazz têm um lugar especial.

Também em formato documental é “A Ilha dos Espíritos”. Muito antes de dar nome ao país, a ilha de Moçambique teve um papel fundamental no Oceano Índico. “Foi um ponto de paragem de caravelas, de encontro de piratas, lugar de mistura de raças.” Os seus habitantes, orgulhosos do passado glorioso da ilha, são aqui personagens excêntricas que deambulam pelas ruas.

Ainda de Licínio Azevedo é “A Desobediência”. Um filme real interpretado pelos protagonistas da história que conta. A película documenta a saga de Rosa, uma camponesa moçambicana que é acusada pela família do marido de ser a causadora do seu suicídio, por se recusar a obedecer-lhe. Para provar a inocência, e recuperar os filhos e os poucos bens que o casal possuía, Rosa submete-se a dois julgamentos: o primeiro num curandeiro e o segundo num tribunal. É absolvida em ambos.

Durante a filmagem, o realizador decidiu instalar uma segunda câmara para seguir a história até ao fim. Segundo a apresentação da película, “uma montagem desta complexidade não tem paralelo no cinema africano.”

Todas as projecções contam com a presença de Licínio Azevedo, que vai estar em Macau para falar não só dos filmes que faz, mas também da situação actual do país onde vive, do cinema que por lá existe e da cultura que o acolhe.

A vida na tela

Realizado por Teresa Prata é “Terra Sonâmbula”, uma longa-metragem premiada. Entre outras distinções, ganhou, em 2008, o FIPRESCI do International Film Festival Kerala, na Índia.

O filme conta a história do velho Tuahir que encontrou Muidinga ainda com vida enquanto ajudava a enterrar crianças assassinadas numa aldeia. Tuahir cuidou da criança e viajou com ela para fugir da guerra. Cansados e com fome, encontraram um autocarro atacado pouco tempo antes, onde descobriram um diário. O achado leva as personagens à história de Kindzu, um jovem que teve a família assassinada e que estava em viagem à procura de uma criança.

De acordo com a organização, “com o correr dos anos o cinema moçambicano ganhou experiência, tornou-se maduro e hoje, ainda sem actores profissionais, mais do que cinema político, conta histórias de factos como o drama humano, em histórias de ficção baseadas em factos reais, e é um cinema que, acima de tudo, revela a sociedade moçambicana pós-colonial e as suas contradições”.

16 Jan 2017

CCM | Ballet de Hong Kong apresenta nova versão do Quebra-Nozes

O “Quebra-nozes” está, até domingo, no Centro Cultural de Macau. Interpretada pelo Ballet de Hong Kong, a apresentação marca o fim de oito anos de direcção artística da sueca Madelaine Onne. O espectáculo é dirigido a todas as idades, numa recriação do clássico de Tchaikovsky

 

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]adelaine Onne está de saída da direcção artística do Ballet de Hong Kong, não sem antes passar por Macau para uma apresentação especial do clássico “Quebra-nozes”. “É uma versão diferente porque foi feita especialmente para nós, pelo australiano Terence Kohler, e foi concebida enquanto forma de celebração do Natal. Como em Hong Kong não celebramos, efectivamente, a época, o sentimento foi misto e o resultado foi a construção de uma história passada num mundo de sonho através de uma casa de bonecas”, explicou Madelaine Onne num encontro com a imprensa.

A presente edição do “Quebra-nozes” é dirigida a um público vasto em que as crianças são bem-vindas. No entanto, esta não é razão para que as plateias não sejam preenchidas com adultos. Se a experiência com os mais novos tem sido gratificante, para Madelaine Onne a peça não é menos positiva para os adultos. “Hoje em dia todos temos uma vida cheia de stress, com famílias e trabalho, e também nós precisamos de entrar nos teatros e ver outros mundos”, justificou.

Além do clássico

A “bailarina” do “Quebra-nozes” é interpretada por Yao Jin, que veio do Ballet Nacional de Pequim. Para a agora bailarina principal da companhia de Hong Kong, a mudança “concretizou um sonho”. A formação na capital foi de excelência, mas “não era suficiente”. “Queria sair e ter a oportunidade de tocar, de uma forma mais directa, o que vinha da cultura ocidental”, explicou. “Encontrei isso aqui: a companhia integra o factor liberdade e foi aí que consegui juntar a formação clássica a um ballet novo e mais contemporâneo.”

Madelaine Onne reitera as palavras da primeira bailarina. Um dos grandes objectivos aquando do ingresso na direcção da companhia, há oito anos, era esse mesmo: possibilitar a criação de um estilo pessoal nos seus bailarinos. “Quando cheguei encontrei profissionais magníficos que se copiavam uns aos outros na perfeição e de onde eu vinha era muito diferente: não tínhamos a mesma excelência técnica e, por isso, éramos obrigados a desenvolver outras capacidades”, recordou.

Ryo Kato interpreta o “Quebra-nozes” e não podia estar mais de acordo: “é realmente muito diferente trabalhar aqui.” O bailarino japonês passou por Portugal e pela Rússia ao longo da formação. Do primeiro trouxe a liberdade de movimentos e uma abertura ao ballet contemporâneo; do segundo, a formação clássica tradicional. Agora junta ambas.

Para Onne, o desafio de juntar o lado artístico e criativo à perícia era grande, e hoje é possível ver com facilidade o estilo de cada um. Por outro lado, a valência criativa é notória em palco. “Todos os espectáculos são diferentes porque há sempre coisas a acontecer e a serem adaptadas naquele momento.”

O caminho não terá sido fácil e levou cerca de dois anos a conseguir sair da cópia para a concriação. “No início eles achavam que eu era louca em pedir para fazerem algo diferente, e hoje tenho de pedir para pararem porque já têm o seu processo criativo individual de forma natural.”

Para o efeito, a directora tentou, sempre que possível, trazer coreógrafos que trabalhassem directamente com os bailarinos, com uma peça definida ou com recurso a temas. O desenvolvimento foi significativo e agora, nas digressões, a diferença é reconhecida.

O Ballet de Hong Kong conta actualmente com cerca de 50 bailarinos vindos de 11 países. Sem residência, o trabalho é duplamente difícil. “Alugamos estúdios mas, às 18h, temos de sair, o que impede o desenvolvimento de determinadas opções que vão aparecendo”, esclareceu Madelaine Onne. No entanto, a companhia aguarda a concessão de um local de trabalho nos novos espaços de West Kowloon.

O “Quebra-nozes” está no Centro Cultural de Macau hoje e amanhã, às 19h30, e domingo às 15h.

 

13 Jan 2017

Teatro físico, da companhia checa Spitfire, abre o festival Fringe

O festival Fringe começa hoje e no cartaz tem o espectáculo “Antiwords” da companhia checa Spitfire. A peça é inspirada nos textos autobiográficos de Václav Havel e retrata a conversa entre dois homens. No entanto, “em vez das duas personagens masculinas, o diálogo é entre duas mulheres”, explicou o director artístico Petr Bohac ao HM.

A situação é passada numa cervejaria e representa uma conversa entre um intelectual – proibido de escrever, trabalha numa cervejaria – e o proprietário do estabelecimento. A interacção é absurda, cómica e dramática. Para a actriz Sonia Feriencikova, o que sobressai na peça é o humor que camufla o desenlace final. “É um trabalho com muitas camadas, das mais superficiais às mais profundas”, referiu.

O grupo que se dedica à representação do absurdo através do teatro físico assume que esta é uma forma de evitar enganos. “O corpo não consegue mentir. As palavras podem fazê-lo, e com muita facilidade, mas o corpo não”, defendeu Petr Bohac. Por outro lado, o movimento é uma linguagem universal que não depende de idiomas.

Para a actriz, também o corpo é um elemento de comunicação especial que “usa outros níveis de pensamento para comunicar com o público”.

A China chegou com as digressões e “Antiwords” permitiu o contacto com públicos diferentes. “Estivemos em Pequim e Xangai, por exemplo, e mesmo dentro do mesmo país, a ‘Antiwords’ teve um acolhimento distinto. Por exemplo, o público de Pequim é muito mais aberto do que o de Xangai, o que é um pouco surpreendente”, considerou o director. No entanto, sublinhou, o mais interessante é que “a audiência chinesa consegue sempre entender muito bem situações que envolvam o absurdo”.

A passagem por Macau não acarreta expectativas, mas antes curiosidade. Em cada espectáculo a companhia procura “o contacto com o público numa tentativa de mudar as pessoas”, rematou Petr Bohac.

13 Jan 2017

Teresa Fernandes, estudante: “Há muita coisa a mudar neste mundo”

 

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]eresa Fernandes tem 16 anos e a convicção de que um futuro melhor é possível. A adolescente, que frequenta o 11.º ano na área das Ciências Económicas, não anda a ver o mundo de longe. As acções e decisões que já toma reflectem um olhar atento para as necessidades, actuais e futuras. A escolha académica é também um exemplo disso. Se a prioridade seriam as humanidades, a “economia pode dar mais oportunidades”. “É também uma área que me interessa muito e fundamental na actualidade”, disse ao HM. O objectivo é possuir ferramentas capazes para, na medida do possível, “intervir no mundo e poder trabalhar, por exemplo, em organizações não-governamentais que se dediquem a ajudar quem precisa”.

Para a adolescente a saída é clara: “Um economista pode trabalhar em áreas além do universo financeiro e intervir activamente para a justiça”. Teresa Fernandes sublinha que “há muita coisa a mudar neste mundo porque roda tudo à volta do dinheiro”. “Gostava que não houvesse tanta injustiça social, gostava que acabasse o comércio de armas, por exemplo”, diz. No entanto, a esperança é maior que a desilusão: “O mundo é muito imperfeito mas, se houver mais controlo nalgumas áreas, poderá ser melhor. Isso parte muito de nós enquanto jovens, porque somos o futuro”.

E porque o dia de amanhã se prepara hoje, Teresa Fernandes embarcou, no Verão passado, naquela que foi a experiência da sua vida. A mais nova da equipa “Meninos do Mundo” passou uma semana em São Tomé e Príncipe, integrada numa missão de intervenção junto das escolas. A ideia foi dar a conhecer os direitos das crianças porque “elas muitas vezes não sabem que os têm e, se sabem, não sabem quais são”.

A experiência não foi a de umas férias num sítio bonito. Foi antes uma realidade que, apesar de mais ou menos esperada, “jamais será esquecida”. Antes de embarcar, fez o trabalho de casa. “Imaginei de tudo um pouco: como vivem as pessoas, o que comem, como me iriam tratar, como seria a pobreza, etc.”, recorda. No entanto, a realidade supera a imaginação, os livros ou os documentários televisivos. “Uma coisa é ver na televisão, outra é ver com os próprios olhos. Ver as coisas à nossa frente muda tudo, dá-nos a verdadeira noção da realidade e isso mudou a minha vida”, considera.

Das diferenças que nota do antes e depois de uma acção humanitária em São Tomé, a maior é o valor dado às coisas que possui. “Aprendi a valorizar o que tenho. Aquilo que as mães dizem desde que somos pequenas, para comer tudo porque há gente a morrer à fome, é verdade”. Na altura não entendia como é que a comida que deixava no prato poderia suprir as necessidades dos outros que, “tão longe”, não tinham com que se alimentar. Agora não tem dúvidas que, “acima de tudo, é uma questão de respeito”. “Depois de São Tomé, não faço questão de ter muitas coisas em casa e não compro por sistema aquilo de que não necessito verdadeiramente.”

A adolescente não deixou de fazer a analogia com Macau, “esta bolha que é tão rica”. “Aqui é tudo muito fácil. Viajo, vou a restaurantes, passeio, mas isto é um mundo à parte”, reflecte.

Esta, espera, foi a primeira de muitas missões que quer fazer no futuro porque acredita que, “mesmo com tão pouco, é possível mudar alguma coisa”.

Fotografias para contar histórias

Da missão ficou uma exposição de fotografia que Teresa Fernandes quer mostrar. “Já tinha ideia de fazer uma exposição depois da viagem para dar a conhecer a experiência de outra forma. Tive necessidade de guardar aquelas imagens que nos entraram pelos olhos”, recorda.

Depois de uma apresentação na Escola Portuguesa, a adolescente tem na mira a Fundação Rui Cunha, a Casa de Portugal ou o Consulado, em suma, “algum lugar visível para partilhar a experiência”.

A ideia da fotografia é, para a jovem, “importante para que se possa captar os momentos”. A experiência fica para sempre, “mas as imagens ilustram e comunicam com os outros: é como se fossem um livro”.

Mais do que momentos, a exposição foi concebida para criar uma linha de pensamento, para construir uma narrativa. Uma história que “retrate uma realidade distante e muito dura”. “Estamos a falar de pessoas que, apesar de muito pobres, conseguem ter em si a alegria.”

13 Jan 2017

IFT | Ted Summit divulga investigação dos alunos

Foi ontem lançada a terceira edição do Ted Summit, do Instituto de Formação Turística. A plataforma pretende mostrar as investigações dos alunos a académicos e à própria indústria. A ideia é contribuir para que haja pensamento crítico

[dropcap style≠’circle’]“A[/dropcap] percepção dos residentes do impacto sociocultural do Oktoberfest do MGM” é o título de umas das teses ontem apresentadas no Instituto de Formação Turística (IFT), no âmbito da terceira edição do Ted Summit. A investigação, da autoria da aluna Leong Weng U, finalista em Organização de Eventos, incidiu na identificação dos aspectos positivos e negativos do festival para a população local.

O objectivo, disse Leong Weng U ao HM, é compreender como actuar para minimizar as percepções menos positivas. No caso em particular, em que os residentes consideram que o Oktoberfest não é uma tradição local, uma das soluções pode passar pela oferta de bilhetes, de modo a que se sintam mais integrados.

O trabalho da aluna foi um dos 13 que fazem parte de um evento que pretende mostrar algumas das investigações finais dos alunos, sublinhar a importância da pesquisa e da aquisição de pensamento.

A presidente do IFT, Fanny Vong, espera que a edição seja caracterizada pela apresentação de trabalhos relevantes e que o programa do IFT tenha reconhecimento crescente por parte dos agentes turísticos e da sociedade. Para a dirigente, é uma forma de responder às necessidades, numa sociedade em transformação constante. “Os temas seleccionados são, sem dúvida, do interesse geral”, disse.

A iniciativa pretende treinar os alunos para a criação de um pensamento crítico, esclareceu Fanny Vong. “Com o desenvolvimento do turismo no território, enfrentamos frequentemente novos desafios, pelo que a questão é quem pode ajudar na resolução das situações que se levantam e propor soluções”, apontou.

Para Fanny Vong, a resposta está na formação para o pensamento. “Os alunos têm de ser observadores, capazes de entender o que se passa à sua volta e serem investigadores para descobrir as raízes dos problemas e propor soluções com novas perspectivas”, reiterou.

Laurie Baker-Malungu, coordenadora das teses de final de curso, não podia estar mais de acordo. “Enquanto instituição de ensino superior, a realização de uma tese de investigação para os cursos da área científica é fundamental, não tanto pelo resultado, mas pelas capacidades que os alunos adquirem durante o processo. O Ted Summit é a celebração do caminho até aqui.”

“Queremos que os estudantes consigam identificar problemas e sejam capazes de, activamente, resolver as situações com que podem vir a ser confrontados, de uma forma sustentável”, frisou a académica.

Património a não esquecer

Para Fanny Vong, o maior desafio que Macau enfrenta actualmente “é a qualidade que se pode oferecer na experiência aos visitantes”. “O sector é composto por vários aspectos e os profissionais têm de apostar em todos eles”, alerta. Por outro lado, “há que elevar a fasquia de modo a não perder a autenticidade e a herança cultural, porque tudo faz parte da experiência turística”.

A presidente do IFT considerou ainda que Macau é um lugar especial sob o ponto de vista da indústria do turismo. O facto de juntar o “brilho dos casinos do Cotai e a verdadeira Macau” faz com que o território possua aspectos particulares. Ainda assim, Fanny Vong defende que há que proteger o património para que não venha a ser “uma sombra das luzes do Cotai”. A própria instituição a que preside tem um programa de ensino especialmente dedicado ao tema. “Começou em 2005, antes de ser reconhecida pela UNESCO, por já considerarmos a importância da protecção da herança cultural e esperarmos que os residentes não se esqueçam do seu passado.” Fanny Vong frisou que é tempo de colocar os planos do Governo em acção.

12 Jan 2017

Fringe | Edição de 2017 começa na próxima sexta-feira

A edição deste ano do Fringe fica marcada pela busca de uma direcção para os artistas locais. Há cada vez mais gente de Macau a querer participar num festival que pretende ser alternativo

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m cartaz cheio com nomes vindos de Portugal, Jordânia, República Checa, China e Macau, e espectáculos que podem acontecer numa sala de espectáculos, mas também no mercado, no salão de cabeleireiro, numa estrada ou num jardim. É esta a proposta para a edição de 2017 do Fringe.

Mas, este ano, o objectivo da organização vai além da programação: a ideia é apontar uma direcção para abrir portas aos artistas locais. “Queremos que o Fringe se transforme numa plataforma para os artistas do território terem acesso a outros destinos e, neste sentido, estamos a tentar criar uma direcção para o festival”, disse o membro da organização Billy Hui.

Para o efeito, o cartaz inclui uma sessão de partilha onde estarão presentes sete representantes de festivais que, de alguma forma, estão relacionados com o Fringe e que vão apresentar o que fazem, explicou Paula Lei, que também organiza o evento a cargo do Instituto Cultural (IC).

O Fringe começou em 1999. “Era uma altura de mudança e pensámos em fazer um festival que trouxesse uma lufada de ar fresco e pronto para receber a nova era”, recorda Hui. A organização, na altura, deslocou-se a algumas cidades europeias para ver o que por lá se fazia. Voltou com ideias da Europa distante que deram o tema à primeira edição: “European Small Theater Window”. “Vieram artistas de Portugal e Inglaterra, e só tínhamos três grupos de Macau. Ninguém sabia o que era ou como se juntar ao evento”, recordou Billy Hui.

Festival fora de portas

Com a experiência, os horizontes mudaram e o objectivo passou a ser a criação de algo realmente diferente. O primeiro passo a dar foi a saída dos espaços fechados e assumir a rua como palco. Billy Hui não deixa de mostrar o contentamento com a iniciativa: “Queríamos sair do teatro e fomos para as ruas, para a praia, lojas e mercados, queríamos aproveitar a beleza e a mistura cultural de Macau”.

Se em 1999 apenas participaram três grupos locais, 18 anos depois a presença da prata da casa é notável. São vários os artistas que, em nome individual ou em grupo, associados a colegas da terra ou da vizinhança, apresentam as ideias concretizadas. Agora, os interessados podem enviar os projectos no mês de Junho para o IC e, para este ano, a organização recebeu cerca de 20 propostas de Macau.

Para o IC, é também lema do festival a motivação para a produção e o Fringe terá, à sua maneira, contribuído para o incentivo à liberdade criativa. “Por vezes, os artistas apenas têm uma ideia mas não sabem como concretizá-la, e é aí que aparece o festival: uma entidade que apoia qualquer ideia que apareça, por mais louca que possa parecer, e que ajuda na sua materialização”, afirma Billy Hui. Por outro lado, é esta liberdade que atrai os artistas, “porque sabem que o Fringe apoia sem limitações”.

Muitos anos com algumas histórias

“Lembro-me que, em 2001, havia uma ideia de um criativo de fazer uma produção apenas iluminada pelas luzes das motas. Encontrámos uma companhia de dança que aceitou o desafio e o resultado foi surpreendente pelas possibilidades que criou: o palco era a rua e a coreografia foi criada para este tipo de iluminação ainda experimental”, exemplificou o membro da organização.

As memórias são muitas e, a par das “estrelas”, o caminho do Fringe foi marcado pela ajuda da própria população. “Lembro-me de uma produção feita num local sem luz eléctrica e precisávamos de lá fazer chegar cabos. O curioso foi que, sem nos darmos conta, a população ajudou: abriu as portas de casa e dos carros para que pudéssemos passar os cabos e fazer o espectáculo naquele lugar”, recorda Hui.

No entanto, a sociedade mudou muito e os desafios para a organização também. Se, em tempos, os residentes eram os primeiros a colaborar, até na cedência de espaços, actualmente a situação é bem diferente. “Encontrar locais alternativos agora é muito difícil. Os espaços são caros e, mesmo que queiramos arrendar ou pedir, deparamo-nos com outra situação: os donos dos locais já não são de cá e nem conseguimos chegar a eles”.

Billy Hui recorda uma edição em que uma das apresentações foi feita no Largo do Senado: “Tínhamos exposições em algumas lojas e DJs a tocar em varandas que davam para a praça. Agora, se queremos pedir, ou não temos acesso ao gerente ou quando temos a resposta é sempre a mesma, o dono está em Hong Kong ou na China, ou em qualquer outro lado, porque não é daqui. Antigamente o patrão era de cá, entrávamos e pedíamos para falar com ele. Agora isso é impossível”, lamentou.

Ainda assim, para os organizadores, o estado da criação artística local actual é caracterizado pelo optimismo. As mudanças são muitas e, para Billy Hui e Paula Lei, há esperança também, até porque “agora as pessoas estudam artes”. “Estou muito entusiasmado por ver o futuro”, concluiu Hui.

11 Jan 2017

Get Shape, roupa desportiva | “Queremos atingir o público chinês”

A Get Shape é uma marca de roupa desportiva que vem do Brasil e que chegou a Macau pela mão de Cácio Borges Inhaia. Desde há três anos para cá que as roupas fazem sucesso, existindo planos para a expansão em Hong Kong e na China

[dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]oje em dia não basta fazer desporto, há que fazê-lo também com estilo. Foi a pensar nessa tendência que o brasileiro Cácio Borges Inhaia resolveu trazer a marca brasileira “Get Shape” para Macau há três anos. O negócio tem estado a correr tão bem que há até planos para a sua expansão para além das fronteiras da RAEM.

“Quando a marca chegou a Macau, a ideia era vender as roupas apenas na loja de depilação brasileira ‘We love wax’. Mas como a marca está a registar um grande fluxo de vendas, estamos a pensar em expandir e vender para Hong Kong e China”, contou o importador ao HM.

Cácio Borges Inhaia garante que os clientes sentem de imediato a diferença das roupas. “Ao início não reagem, mas depois o que acontece é que, em vez de levarem uma peça, levam muitas mais. A malha e o corte brasileiro são muito bons. Além de proporcionarem conforto, são peças que ajudam a definir a silhueta, o que faz com que sejam diferentes daquilo que se conhece, não só na Europa, como também em Macau.”

A ideia de trazer a representação da marca para Macau partiu da vontade de mostrar o que de diferente existe no mercado do outro lado do mundo. “Hoje em dia temos uma gama de produtos para tentar atingir o público chinês e os estrangeiros que cá vivem. Achamos necessário trazer algo novo para Macau, para além do que existia, baseado num conceito um pouco retro. Quisemos trazer um design completamente novo, tanto no que respeita ao corte e às malhas de confecção, como aos estampados”, explicou Cácio Borges Inhaia.

“Estamos a fazer uma nova campanha publicitária e a montar o catálogo para este ano, que já contém colecções para o Verão e o Inverno. A ideia é, com isto, entrar de cabeça no mercado chinês. No início vamos à procura de lojas e ginásios para que possamos tentar chegar directamente ao público-alvo, que são as mulheres”, disse ainda o responsável.

Cácio Borges Inhaia garante que os seus produtos prometem aliar o conforto ao lado estético. “Umas calças de ganga não terão o mesmo conforto de umas leggings. As nossas malhas são de elastano que, por serem de elástico, dão muito conforto e são práticas de usar. Como é um design brasileiro, são confortáveis e encaixam bem no corpo, acabando por corrigir algumas imperfeições, como estrias ou celulite.”

O responsável garante que esta junção melhora o estado de espírito de quem usa estas roupas. “Quem veste fica em forma, molda o corpo e também o estado de espírito, porque a pessoa se sente bem vestida, fica mais bem disposta e com uma maior auto-estima.”

A China e o desporto

É certo que a moda há muito que entrou no mundo do desporto, mas só recentemente é que a China aderiu a essa tendência. Para Cácio Borges Inhaia, trata-se de um “mercado pouco misto”, com uma gradual abertura.

“Sinto que vamos lentamente introduzindo e mostrando novos conceitos, e os chineses estão à procura de novidades de outros mercados. É uma coisa boa para um país que esteve tanto tempo fechado ao mundo, e agora está a ter esta oportunidade de aceder a coisas e conceitos novos.”

Apesar de considerar a moda desportiva retro, Cácio Borges Inhaia nota um aumento da prática de desporto. “Os hábitos desportivos estão a crescer cada vez mais. Temos o Crossfit e maratonas também. Este é já um mercado forte no estrangeiro e isso começa a reflectir-se por cá, não apenas para melhorar a saúde, como também a aparência”, rematou.

11 Jan 2017

IAS | Lei da violência doméstica revista semestralmente

O Instituto de Acção Social admite mexer em breve na lei da violência doméstica, que entrou em vigor em Outubro último. Um caso de um agressor que reincidiu veio gerar um novo debate, desta feita sobre lacunas no diploma

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo pondera rever a lei da violência doméstica com uma frequência semestral. A ideia foi lançada pela presidente do Instituto de Acção Social (IAS) ao Jornal do Cidadão. Celeste Vong referiu, no entanto, que “ainda é demasiado cedo para admitir a existência de lacunas legais no diploma”.

Era suposto o diploma ser revisto de três em três anos. A presidente do IAS referiu que a primeira alteração pode vir a ser realizada em Fevereiro ou Março. Em análise estarão os possíveis problemas que tenham decorrido na aplicação da legislação.

A necessidade de uma revisão prematura partiu de um caso registado no passado mês de Dezembro, em que as autoridades policiais detiveram o primeiro homem suspeito de um crime de violência doméstica. O arguido foi condenado, tendo ficado proibido de manter contacto com a vítima. No entanto, o agressor acabou por voltar a agredir a vítima. O episódio veio levantar a questão da existência de lacunas no diploma.

Celeste Vong considerou que ainda será cedo para confirmar a existência de fragilidades e apontou que o caso em questão será devidamente acompanhado. “É necessário mais tempo para avaliar a situação”, disse, sendo que “a lei oferece às vítimas plena protecção e prevê medidas de restrição de contacto por parte do agressor com carácter obrigatório, ao mesmo tempo que incentiva o recurso à denúncia e pedido de ajuda voluntário por parte das vítimas”.

Um problema geral

Para Melody Lu, representante da Coligação Anti-Violência Doméstica, o caso registado pode não ser uma consequência de uma lacuna legal. “Penso que não é um problema da lei em si, mas uma situação que requer uma revisão constante das acções que são tomadas”, disse ao HM. A activista, que lutou pela passagem da violência doméstica a crime público, refere como exemplo Taiwan, onde a lei já tem cerca de 20 anos e está em revisão praticamente todos os anos porque é descoberta alguma falha ou situação que necessita de mais atenção.

“No entanto, a questão é sempre complexa”, ressalvou, e em Macau ainda mais, visto os processos relativos ao delito envolverem vários departamentos diferentes.

Melody Lu recorda que, aquando da fase final do processo legislativo, a coligação que representa mostrou-se apreensiva quanto à protecção das vítimas: “Em particular nos casos em que já foi feita queixa à polícia, muitas vezes não existe uma acção imediata das autoridades, pelo que o crime acaba por se repetir”.

Para a representante da coligação, uma das questões que se levantam é o facto de o agressor poder mesmo continuar a conviver com a vítima. “Seria suposto que a polícia se encarregasse da protecção de potenciais vítimas que já tenham sofrido agressões, mas isso ainda não está claro no diploma”, disse, salientando que “está escrito na lei, mas ainda não é possível perceber bem como é que a polícia colabora com o IAS”.

Ao HM, Juliana Devoy, directora do Centro do Bom Pastor, afirmou desconhecer a intenção do Governo, pelo que não quis fazer qualquer comentário.

10 Jan 2017

Taxas de veículos | Vozes e cartazes invadiram as ruas contra aumento

Os números não são consensuais, mas seriam entre 1600, segundo a polícia e 5000, segundo a organização, os manifestantes que ontem se fizeram ouvir contra o aumento de taxas anunciado pelos Serviços de Tráfego. A liderar a manifestação esteve o deputado José Pereira Coutinho que considera a medida uma punição social

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] moldura humana era de perder de vista na chegada da manifestação de ontem à Sede do Governo. Um aglomerado de cartazes com palavras de ordem contra o recente aumento de taxas sobre os veículos impunha-se no ar e para que não existissem mal entendidos, as frases estavam em chinês, português e inglês. Era uma manifestação para ser bem percebida por todos: Executivo e população. A acompanhar os dizeres soavam as vozes que gritavam “retirada” e seguiam o nitidamente satisfeito organizador, José Pereira Coutinho.

Segundo o deputado, eram cerca de cinco mil os manifestantes. “Uma adesão muito boa  e que nos deixa muito satisfeitos”, disse à comunicação social após a entrega da petição. No entanto, Pereira Coutinho não deixou de sublinhar que “seriam  muito mais se muitos não tivessem de estar de serviço”.

Para o dirigente da Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), uma das entidades promotoras do protesto, o facto de chamar multas, e não taxas, à recente medida do Governo, é simples de explicar. “Esta forma de aumentar drasticamente os valores do que chamam de taxas é uma penalização e, como tal, não está correcto penalizar a população. Por isso são multas”, disse. Para o deputado trata-se de uma penalização que “vai directamente aos bolsos dos cidadãos” e como tal, deve ser previamente analisada junto da população.

A ATFPM findou a manifestação com a entrega da petição no Governo. Trata-se de “uma missiva a pedir a retirada do despacho que aumentou substancialmente as multas”.

As razões apontadas pelo líder da ATFPM são sumariadas em três pontos: “a falta de consulta pública, as multas exorbitantes que vão para o bolso de empresas privadas e, por último, alguém tem de assumir responsabilidades por todo esta imbróglio”. Para Pereira Coutinho os residentes não devem, no primeiro dia de Janeiro “sofrer consequências tão drásticas”.

O deputado frisou ainda que considera outras formas de intervenção contra a medida tomada no ano novo. “Não estão fora de questão outras formas de acção mais drásticas como expressão de vontade dos cidadãos”. Coutinho avisou já que, no caso de não existir cooperação por parte do Governo, está a organizar uma marcha lenta de automóveis e motociclos.

No entanto, não deixa de apresentar soluções para que estas situações não se repitam no futuro, ou seja,  “quando existir o problema, é necessário consultar a sociedade e as associações que a representam, e, só depois, tomar as decisões”.

Da revolta

Na multidão que se fazia ouvir estava Lou. Com cerca de 50 anos, considera que esta é “uma questão muito ligada à vida quotidiana dos residentes “ e, como tal, sentiu-se no dever de participar no protesto. “O meu marido foi multado quatro vezes no mês passado por estacionamento ilegal apesar de ter colocado a mota em locais que não influenciavam o trânsito”. O motivo, apontou Lou ao HM, foi o facto de não existirem lugares suficientes nos parques de estacionamento, não dando outra alternativa ao marido que não fosse optar por um lugar onde conseguisse e que em nada afectasse o transito. “As multas já são dadas com um carácter intensivo, e como se não bastasse, aumentaram”, reclamou.

Os Serviços de Tráfego (DSAT) não fizeram o anúncio do aumento com a devida antecedências, considerou o jovem manifestante de 20 anos , George Tong. Revoltado, afirma que os salários, pelo contrário, não tiveram aumentos pelo que questiona a possibilidade de viver o dia a dia desta forma.

“Se o Governo conseguir melhorar os transportes públicos estou disposto a deixar de conduzir, disse ao HM. Para o jovem, a solução passaria tão somente por uma boa rede pública de transportes.

De entre as vozes do protesto estava também Sam, de 30 anos. Participava na manifestação por considerar que, “além do grande aumento das multas, também o preço dos veículos foi fortemente inflacionado com a medida”

Para a manifestante é essencial marcar presença e dizer que não àquilo que considera um abuso na medida em que “todos os residentes acabam por ser afectados”.

O Chefe do Executivo prometeu “servir o povo” e não é isso que se está a passar, considerou Mok, um residente com cerca de 50 anos visivelmente zangado com aquilo que considera “uma injustiça”.

Em português falou ao HM, L. que considera que arranjar um lugar num parque “é muito difícil e o aumento das multas é exagerado”. Para o residente, “se o Governo que fazer um aumento tem, em primeiro lugar de arranjar alternativas”.

A manifestação de ontem foi mais um protesto contra a medida anunciada pela DSAT no início do ano e que dita aumentos das taxas para veículos que variam entre os 50 por cento e os 1233 por cento, sendo que a taxa de remoção de veículos registou uma subida de valor entre os 400 por cento e 1233 por cento.

Segundo os dados da Polícia de Segurança Pública, participaram na manifestação cerca de 1600 pessoas.

PSP desocupou 91 lugares estacionamento em seis dias

Um comunicado oficial revela que a Polícia de Segurança Pública (PSP) desocupou 91 lugares de estacionamento em parques públicos entre os dias 1 e 6 de Janeiro, os quais estavam ocupados ilegalmente por veículos há algum tempo. Citado por outro comunicado, o secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, garantiu que os trabalhos da PSP no cumprimento das novas taxas de veículos tem sido efectuado “de uma forma mais complacente”. Wong Sio Chak respondeu ainda que “o cumprimento da lei é uma responsabilidade da polícia, apesar de algumas acções serem tomadas de uma forma mais complacente, tal como os primeiros cinco dias após a entrada em vigor da nova tabela de taxas”. O secretário adiantou ainda que as novas medidas reforçaram “o cumprimento da lei para os veículos abandonados sob estacionamento ilegal”.

9 Jan 2017

FRC | Exposição mostra trabalhos feitos com elementos naturais

“Pó e Pedra” é um conjunto de esculturas e pinturas feitas com pigmentos e materiais naturais. A proposta é da Fundação Rui Cunha (FRC) que convidou Fernando Simões e Rafaela Silva para mostrarem os seus mais recentes trabalhos

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma série de pinturas e esculturas feitas com pigmentos e matérias naturais é o conteúdo da exposição “Pó e Pedra” com obras de Rafaela Silva e Fernando Simões.

A pintora, que tem marcado o seu trabalho com peças em que utiliza o óleo, técnicas mistas e colagens, está agora com os olhos postos na natureza e os materiais que dela nascem. “Trabalhei durante muitos anos com a pintura a óleo e era nesse âmbito que me sentia completamente em casa a trabalhar”, disse ao HM. Há três anos frequentou um workshop no Algarve onde “a recolha de rochas e outros elementos da terra” a deixaram encantada com as possibilidades que poderia trazer.

Rafaela Silva começou por trabalhar os pigmentos naturais em papel de aguarela utilizando a água-cola como elemento aglutinador. Mais tarde optou pela cortiça porque “é um elemento novo e que está em fase de grande desenvolvimento de finalidades”. Apesar de ser uma base onde nem sempre é fácil trabalhar por absorver os pigmentos de imediato e exigir uma ideia concreta, é também um desafio por não permitir correcções.

É “com o recurso a elementos naturais e biológicos, e segundo os métodos mais antigos e tradicionais” que a artista pretende continuar o seu trabalho, até porque considera que o contexto artístico está num momento de “voltar à origem por proporcionar novas descobertas”.

Para o futuro prevê outras bases para explorar: “A seguir quero tentar a madeira e depois o papel japonês”, referiu.

A exposição com o escultor Fernando Simões foi produzida separadamente. “Os trabalhos estavam feitos quando recebemos o convite da FRC e acabou por resultar muito bem”.

Espaço para a escultura

Já Fernando Simões continua a criar sobre a representação da própria natureza. “São esculturas que podem representar ondas ou outros elementos naturais que identificamos facilmente” explicou ao HM. A intenção é “transmitir a ideia de movimento e a inspiração vem da própria natureza”.

Este é um método que, para o artista, representa uma forma livre de trabalhar por não seguir “qualquer desenho pré-concebido”. “Começo a fazer uma peça e quando vejo que gosto, está terminada”, sublinhou.

Para Fernando Simões, uma obra de arte tem de possuir definição, movimento e surpresa. No seu trabalho, o inesperado é parte integrante do processo criativo. Com peças que têm de ir ao forno, o resultado pode, muitas vezes, ser o mais inesperado. “É um trabalho que tem uma parte do processo controlada, mas há coisas que depois da cozedura, por exemplo, aparecem e que acabam por ser aproveitadas para valorizar a própria peça”.

A junção das esculturas de Fernando Simões à pintura de Rafaela Silva, foi, para o artista uma boa aposta. “Em Macau, há muita pintura ou fotografia, mas não há muita escultura e esta é uma oportunidade de a mostrar também”, disse. “Pó e Pedra” está patente até 15 de Fevereiro.

9 Jan 2017

Turismo | Alojamento em residências familiares continua sem consenso

 

O alojamento em residências de família continua a não ser uma ideia bem recebida pela população local. O estudo mais recente indica que está a cair o interesse pelo assunto. Aqueles que concordam com a ideia não a querem ver colocada em prática no local onde moram
[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s dados divulgados ontem pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST) mostram, mais uma vez, que as opiniões não são consensuais e que os residentes têm menos interesse na possibilidade de haver alojamento em residências familiares.

O inquérito mais recente sobre a matéria, realizado entre 28 de Julho e 29 de Agosto do ano passado, revelou que 55 por cento dos residentes já ouviram falar no tema, enquanto em 2014, altura em que foi feito o primeiro estudo do género, eram 58 por cento. Paralelamente, o número de inquiridos que mostraram não ter opinião sobre este tipo de alojamento subiu de 42 para 84 por cento.

No que respeita ao uso de terrenos, e tendo em conta os itens que avaliaram a “modificação de terrenos e edifícios de finalidade habitacional” e a “utilização de terrenos e edifícios de fins não-hoteleiros” para o uso de alojamento familiar por visitantes, os resultados mantiveram-se semelhantes. “Menos de metade dos residentes – 42 por cento em 2016 e 48 por cento em 2014 – considera que alojamento em residências de família pode ser criado em terrenos ou edifícios para fins habitacionais, revelando hesitação dos residentes em relação à modificação do uso dos terrenos”, lê-se na nota enviada à comunicação social.

Dados sem conclusão

Quanto à implementação da medida na freguesia de residência, no ano passado, apenas os residentes da Taipa e da freguesia da Sé concordaram com a ideia, mas os apoiantes não ultrapassam os 60 por cento. Em 2014, os entrevistados da freguesia da Sé e de Coloane tinham optado, em primeiro lugar, pela implementação de alojamento em residências de família na sua área envolvente.

Em suma, os resultados de ambos os estudos mostraram a tendência dos residentes de escolher o desenvolvimento do plano em zonas fora da freguesia onde vivem. As razões, indicam os resultados, demonstram preocupação com o impacto na segurança pública, na higiene e no trânsito.

O Governo considera, assim, que os dados continuam a não ser conclusivos.

A pesquisa de opinião realizou-se através de inquéritos de rua e on-line. Os inquéritos de rua abrangeram várias zonas da cidade, tendo como alvo indivíduos com idade igual ou superior a 18 anos a residir em Macau nos últimos 12 meses. No total foram recolhidos 2146 inquéritos, entre os quais 2102 inquéritos de rua e 44 inquéritos on-line. A DST afirma ainda que “continuará a prestar atenção ao desenvolvimento deste assunto, consoante a evolução da sociedade”.

6 Jan 2017

Conselho de Consumidores | Queixas diminuíram em 2016

As queixas recebidas pelo Conselho de Consumidores diminuíram no ano passado. As telecomunicações continuam a liderar as reclamações. A compra de casas na China Continental está a revelar-se problemática

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] volume de queixas dirigido ao Conselho de Consumidores (CC) desceu 12 por cento no ano passado, comparativamente ao ano anterior. Em 2016, foram 6420 os casos que chegaram ao organismo: 1673 queixas, 4711 pedidos de informação e 36 sugestões.

Os residentes mostraram que, durante o ano passado, a área de maior descontentamento foi a relacionada com “Equipamento de Telecomunicações” seguida de perto pela dos “Imóveis”, com 198 e 184, respectivamente. Ainda no topo do desagrado ficaram os serviços de telecomunicações (144), os transportes públicos (99) e o sector das comidas e bebidas (92). No total, estes foram os tópicos que reuniram cerca de 43 por cento das queixas, correspondentes a 717 dos casos registados.

No entanto, segundo a nota divulgada pelo CC, as queixas relativas ao “Equipamento de Telecomunicações”, área no topo do ranking, diminuíram cerca de 35 por cento.

O problema da casa

O CC refere ainda que as queixas em relação às restantes áreas, no seu todo, também foram menos, com excepção do item correspondente aos “Imóveis”, que assinalou cerca de 100 conflitos na primeira metade do ano. Na origem destes casos está, diz o organismo, a aquisição de habitação na China Continental por residentes. O Conselho faz ainda saber que, com o conhecimento da situação, “lançou, por iniciativa, um mecanismo de comunicação com as associações comerciais ou cívicas das citadas áreas, realizando reuniões e encontros com as mesmas no sentido de se debater sobre o motivo dos conflitos de consumo”.

As queixas denunciadas por turistas somaram 683 casos que correspondem a dez por cento do total recebido pelo CC. O descontentamento dos visitantes incidiu na qualidade e no preço dos relógios, jóias e equipamentos de telecomunicações.

O organismo diz também que, em breve, irá mais detalhes sobre os casos recebidos em 2016.

6 Jan 2017

Fotografia | International Photo Awards & Convention em Macau

 

A quinta edição da iniciativa International Photo Awards & Convention, organizada pela Associação de Fotógrafos Profissionais da Ásia, tem lugar em Macau e parece ter chegado para ficar. A organização pretende fazer do território o anfitrião permanente do evento, para transformar Macau num centro de encontro da fotografia internacional

 

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]acau pode vir a ser palco regular do International Photo Awards & Convention da Associação de Fotógrafos Profissionais da Ásia (PPCA, na sigla inglesa), a partir deste ano. A iniciativa, que assinalará a 5.ª edição na próxima semana, chegou ao território depois de ter passado por Cantão, Hong Kong e Xangai.

“A intenção é fazer, em Macau, o que já se faz em Las Vegas num encontro anual organizado pela Associação de Fotógrafos Profissionais Americana, dedicada a fotografia de casamento”, disse ao HM Allison Chan, directora da PPCA. No entanto, a ideia para a associação asiática é a de que, por cá, “seja dedicada à fotografia em geral e não limitada a um tema”, disse ainda.

Macau parece ser, para a organização, um local de excelência para transformar o evento num acontecimento estável porque “tem muita coisa em comum com Las Vegas”. Uma das razões apontadas é a existência de espaços que permitem expor as fotografias finalistas.

Na edição que decorre a 10 e 11 deste mês, a sala de exposições do Conrad Hotel vai acolher as 500 fotografias que foram escolhidas por decisão do júri. “Em Hong Kong, por exemplo, seria impossível encontrar um espaço assim.” No total, a PPCA recebeu cerca de 10 mil imagens de cerca de três mil profissionais de todo o mundo.

A ideia é “partilhar as últimas tendências da fotografia mundial e inspirar uma maior criatividade, ao mesmo tempo que é esperada a promoção de um intercâmbio com os criadores locais e um incentivo à indústria em Macau”, referiu.

Por outro lado, a Associação de Indústrias Culturais e Criativas, que colabora na organização do evento, considera que esta é uma forma de enquadrar as políticas de diversificação turística e incluir a fotografia numa indústria local a desenvolver. Gary Tang, presidente da associação, considera ainda que “o evento será a plataforma perfeita para motivar os talentos locais, ao mesmo tempo que promove a imagem do próprio território no estrangeiro”.

Espaço para os de cá

Outra novidade é o concurso local que integra a convenção. Dedicado aos fotógrafos do território, os interessados, profissionais ou amadores, podem submeter as suas imagens numa competição especial.

O evento conta ainda com a realização de masterclasses (dia 11), com a orientação de alguns dos melhores fotógrafos internacionais. Fazem parte da lista de oradores Liang Chen, de Taiwan, que ministra a palestra dedicada ao tema “a alma na fotografia”, o americano David Beckstead, que vai falar acerca dos elementos fotográficos, e Dave Koh, de Singapura, que traz o tema da criatividade para discussão.

O primeiro dia, 10 de Janeiro, é dedicado à realização de vários fóruns dos quais a organização destaca: “Latest Photography Trends”, com Allison Chan (Hong Kong), Victor Tong (Malásia), Zhang Huabin (China), Jack Chan (Hong Kong) e Liang Chen (Taiwan); e “Criatividade e Impacto”, com Victor Tong (Malásia), Jason Groupp (EUA), Erich Caparas (EUA), Anthony Mendoza Barlan (Filipinas) e Prito Reza (Bangladesh).

A competição geral é dividida em oito categorias que incluem o retrato, retrato criativo, crianças, paisagens, casamento, pré-casamento, retrato e paisagem captados por telefone. O painel do júri seleccionará os 32 vencedores através de um processo ao vivo e a apresentação do prémio será realizada no dia 10 de Janeiro. O destaque da competição será o anúncio dos dez melhores fotógrafos internacionais durante a apresentação dos premiados na noite de terça-feira.

6 Jan 2017

Si Ka Lon pede ao Governo que exerça papel de vigilância

 

[dropcap style≠’circle’]G[/dropcap]astos exagerados do erário público e derrapagens nos projectos de obras continuam a causar descontentamento no hemiciclo. O deputado Si Ka Lon voltou ontem a exigir ao Governo mais fiscalização, pedindo ainda que faça o seu papel de “guarda-redes”.

Si Ka Lon recorreu a alguns exemplos para fundamentar a ideia. O custo total do Parque Central da Taipa foi de mais de 440 mil milhões de patacas e, desde a sua entrada em funcionamento, em 2012, muitos foram os problemas nas instalações relacionados com envelhecimento, avarias e má conservação. Apesar das obras de reparação efectuadas pelas autoridades, os problemas mantêm-se.

O deputado afirmou ainda que o Executivo gastou 20 milhões de patacas para melhorar o ambiente e as instalações na zona de lazer para crianças, “o que voltou a suscitar a atenção da sociedade”.

Para Si Ka Lon, a população “não só está preocupada com os gastos do erário público, como também está muito atenta à qualidade e às lacunas existentes na área das obras públicas”.

Paralelamente, os últimos anos são marcados por “derrapagens nas obras públicas no que respeita a preços e prazos e, após a conclusão das obras, surgiram ainda diversos tipos de falhas que precisaram de reparação e onde se tem gasto muito tempo e dinheiro”.

A explicação do Governo tem sido a falta de recursos humanos para fazer uma fiscalização mais rigorosa. No entanto, para Si Ka Lon, este não pode ser argumento para justificar a ineficácia. “A falta de mão-de-obra não pode ser uma desculpa para os problemas na qualidade das obras públicas”, disse, enquanto pediu responsabilização. O deputado espera que o Executivo “faça uma avaliação aprofundada e mude a mentalidade incorrecta, e venha a remediar irregularidades frequentes e absurdas nas obras públicas”.

5 Jan 2017

AL | Chan Hong pede medidas para combater cyberbullying

Macau apresenta os números mais preocupantes de um estudo que avaliou o cyberbullying entre os jovens de cinco jurisdições. A deputada Chan Hong mostrou-se preocupada e pede ao Executivo medidas para combater o fenómeno

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s últimos dados relativos às taxas de cyberbullying juvenil em Macau revelaram números merecedores de atenção. O alerta foi dado ontem por Chan Hong na Assembleia Legislativa (AL), tendo a deputada pedido ao Executivo medidas de combate à violência virtual.

A taxa de vítimas de cyberbullying no território atinge os 86 por cento e a de agressores os 82 por cento, valores acima dos dados registados em Cantão, Hong Kong, Taiwan e Singapura. Para Chan Hong, trata-se de “um problema grave em Macau”, pelo que sugere a implementação de medidas para o combate ao fenómeno.

Durante o período de antes da ordem do dia, a deputada destacou a necessidade de reforçar a sensibilização e o conhecimento da população relativamente ao tema. “Os conhecimentos dos jovens são insuficientes quanto à definição e ao conteúdos dos actos de violência virtual, e poucos no caso da respectiva legislação, pelo que há que reforçar a educação sobre os valores.”

Por outro lado, é ainda fundamental que se invista na formação. “Sugere-se às autoridades da área da educação que definam instruções e procedimentos para o tratamento do ciberbullying e que reforcem as acções de formação sobre a matéria junto dos docentes e encarregados de educação”, disse.

A par das medidas de sensibilização, Chan Hong apelou ainda ao reforço no aconselhamento e apoio psicológico. Segundo os dados da mesma investigação, apenas 20 por cento das vítimas procuram apoio e cerca de 61 por cento dos jovens inquiridos são simultaneamente agressores e vítimas. Independentemente do papel que exercem no acto de cyberbullying, são sempre jovens que denotam elevados graus de depressão e ansiedade pelo que, considera, urge o devido acompanhamento psicológico. Para a deputada, e de forma a mudar comportamentos, “o apoio psicológico deve ter como destinatários tanto as vítimas, como os agressores e as escolas têm de reforçar esta valência porque, se não actuam de forma adequada, podem causar graves danos psicológicos tanto às vítimas como aos agressores”.

Menos tempo na rede

Além da intervenção directa, Chan Hong deixou no ar a necessidade de prevenir o fenómeno tendo em conta “o vício da Internet dos jovens de Macau”. Para a deputada, o facto de se passar demasiado tempo a “navegar” diminui as competências interpessoais, pelo que o Governo deve apoiar as escolas na criação de instrumentos destinados a avaliar o grau deste vício e no estabelecimento de normas para o acesso à Internet”, de modo a “criar bons hábitos para a utilização saudável” da web.

A investigação referida foi levada a cabo pela União Geral das Associações de Moradores de Macau (Kaifong), em colaboração com organizações de Cantão, Hong Kong, Taiwan e Singapura, e baseou-se na recolha de cerca de quatro mil opiniões de jovens com idades inferiores a 24 anos. Do total, 468 inquéritos foram recolhidos em Macau.

5 Jan 2017