Ambiente | Pedida publicação de “estudo confidencial” sobre aterro-lixeira

O líder da associação Green Students Union, Joe Chan entregou uma petição ao Governo com mais de 1.600 assinaturas contra a chamada Ilha Ecológica, o aterro destinado a servir de lixeira junto às praias em Coloane

 

 

Joe Chan, que na sexta-feira entregou uma petição contra a criação de um aterro para depósito de lixo, defende que o Governo deve tornar público um relatório científico sobre a vida marinha na área.

Um estudo sobre golfinhos brancos nas águas de Macau, conduzido pelas autoridades do território e a Universidade de Zhongshan, na província de Guangdong, em 2018, atesta a existência destes mamíferos numa zona onde agora o Governo está a estudar a criação da chamada ilha ecológica, disse à Lusa o ambientalista Joe Chan Chon Meng.

“Mantiveram alguma investigação confidencial, não a publicaram e consideramos inaceitável. Propõem algo, mas não há transparência (…) nós também recebemos o relatório, mas eles [Governo] não nos deixam divulgar junto do público, precisamos de autorização”, lamentou o líder da associação Green Students Union.

Num documento que esteve em consulta pública entre 29 de Dezembro e a semana passada, com os planos para a gestão das áreas marítimas de Macau, as autoridades referem que, com o contínuo desenvolvimento do território, “haverá uma quantidade significativa de resíduos de construção que precisam de ser aterrados”.

A “ilha ecológica”, a sul de Coloane, vai resolver “efectivamente o problema de disposição de resíduos urbanos”, afirma-se no documento.

Mas Joe Chan, que lançou uma petição contra a construção desta ilha, defendeu que há falta de “provas, dados científicos ou investigação que sustentem a ideia”.

 

Discussão às escuras

Sem esses dados nem o “estudo confidencial” de 2018, o ambientalista acredita que a população não está devidamente informada sobre o que está em causa.

“Dizem que não há golfinhos na área, que não vai ter impacto marítimo. É completamente falso. Não só académicos de Macau, mas também biólogos marinhos de Hong Kong fizeram investigação (…) naquela área aparecem muitos golfinhos brancos e este é um dos seus principais habitats”, assegura.

A Lusa pediu um comentário ao Instituto para os Assuntos Municipais, mas não obteve uma resposta até ao momento.

Ao Canal Macau da Teledifusão de Macau (TDM), o director dos Serviços de Protecção Ambiental, Raymond Tam Vai Man, disse no final de Janeiro que um estudo de impacto ambiental feito pelas autoridades concluiu que “os golfinhos brancos chineses reúnem-se sobretudo a sul do final da pista do aeroporto e não na área onde vai ficar a zona ecológica”.

De acordo com a emissora pública, o Governo já anunciou que os estudos sobre o impacto ambiental e na navegação vão ser entregues ainda este ano ao Governo Central.

Antes disso, apelou Joe Chan, deve ser realizada uma nova consulta pública “em que haja acesso a toda a informação” para “uma solução científica”.

A petição entregue na sede do Governo ultrapassou as 1.600 assinaturas e é, segundo o responsável, o último acto desta campanha contra a zona ecológica.

“Queremos apenas chamar a atenção das pessoas e que o Governo veja que na verdade há algumas pessoas que estão realmente atentas às suas acções e que também tomam medidas para tentar defender a natureza”, referiu.

 

Decisão por tomar

O secretário para os Transportes e Obras Pública, Raimundo do Rosário, garante que ainda não foi tomada uma decisão sobre a construção do aterro-lixeira, denominado Ilha Ecológica. “Quanto à Ilha Ecológica, estamos a fazer tudo de acordo com os procedimentos. Estamos a fazer estudos e na altura própria vamos dizer qual é o resultado dos estudos”, afirmou Raimundo do Rosário. “Faremos todo o tipo de estudos necessários com vista à construção desta ilha. Estamos na fase de elaboração de estudos e ainda não chegámos à conclusão. Os estudos vão servir para fundamentar a nossa decisão”, acrescentou o governante, aos microfones do Canal Macau. As declarações foram prestadas na sexta-feira, com Rosário a garantir que nessa altura ainda não tinha recebido a petição com mais 1.400 assinaturas contra o projecto. Por outro lado, o secretário recusou igualmente comentar a situação dos golfinhos chineses, ameaçados pelo projecto. “Tanto quanto me lembro ainda não me pronunciei sobre os golfinhos”, insistiu.

26 Fev 2024

China pede que EUA não vendam armas a Taiwan

A China pediu aos Estados Unidos que interrompam a venda de armas e o contacto militar com Taiwan, disse esta quinta-feira Mao Ning, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.
Segundo notícias que vieram a público, o Departamento de Defesa norte-americano informou num comunicado que o Departamento de Estado aprovou a venda de um sistema avançado de link de dados táctico para Taiwan no valor de 75 milhões de dólares norte-americanos, informa a agência estatal Xinhua.
Em resposta, a porta-voz apontou numa conferência de imprensa que as vendas de armas dos EUA para a região chinesa de Taiwan violam seriamente o princípio de Uma Só China e as estipulações dos três comunicados conjuntos China-EUA, especialmente o Comunicado de 17 de Agosto de 1982.
“Essas vendas minam a soberania e os interesses de segurança da China e prejudicam as relações China-EUA, bem como a paz e a estabilidade através do Estreito de Taiwan”, afirmou Mao, observando que Pequim se opõe firmemente a isso, acrescenta a Xinhua.
O país pede que os Estados Unidos respeitem o princípio de Uma Só China e os três comunicados conjuntos China-EUA, interrompam a venda de armas e o contacto militar com Taiwan e parem de criar factores que possam aumentar as tensões através do Estreito.
“A China tomará medidas resolutas e fortes para salvaguardar sua soberania e integridade territorial”, acrescentou a porta-voz.

Congressistas de visita
Uma delegação da comissão da Câmara dos Representantes, a câmara baixa do parlamento dos Estados Unidos, chegou ontem a Taiwan para uma visita de três dias. A comitiva de cinco deputados é liderada pelo presidente da comissão, o republicano Mike Gallagher, e pelo democrata sénior na comissão, Raja Krishnamoorthi. A delegação irá permanecer em Taiwan por três dias e reunir-se com Tsai Ing-wen, com o líder eleito, William Lai Ching-te, e com o responsável dos Negócios Estrangeiros, Joseph Wu Jaushieh, disse a diplomacia taiwanesa, num comunicado.

25 Fev 2024

Ucrânia| China e Rússia têm posturas globais opostas – analistas

A aproximação à Rússia é estrategicamente “benéfica” para a China, face à crescente volatilidade nas zonas costeiras do país asiático, segundo analistas chineses, que excluem uma aliança formal, face a visões “divergentes” do mundo.
A China recusou condenar a Rússia pela invasão da Ucrânia e criticou a imposição de sanções contra Moscovo. O país asiático tem prestado importante apoio político, diplomático e económico à Rússia. O comércio bilateral registou, em 2023, um crescimento homólogo de 26,3 por cento, para 240 mil milhões de dólares.
Em Dezembro passado, o Presidente chinês, Xi Jinping, voltou a frisar que manter relações robustas com a Rússia é uma “escolha estratégica” da China, durante uma reunião com o primeiro-ministro russo, Mikhail Mishoustin, em Pequim.
Zhao Huasheng, professor do Centro de Estudos Russos e da Ásia Central da Universidade de Fudan, em Xangai, justificou a opção política com a “crescente pressão estratégica” que a China está a sentir no Estreito de Taiwan e no Mar do Sul da China.
“Boas relações sino-russas podem garantir que a China tem uma retaguarda estratégica relativamente estável”, escreveu Zhao, num ensaio, notando que os “enormes benefícios” da relação parecem ser irrelevantes em tempos de paz, mas que seriam “muito importantes” no caso de conflito com o exterior.
As reivindicações territoriais sobre Taiwan e o Mar do Sul da China suscitaram tensões entre Pequim e quase todos os países vizinhos, desde o Japão às Filipinas. A crescente assertividade da China no Indo-Pacífico levou já à formação de parcerias regionais lideradas pelos Estados Unidos, incluindo o grupo Quad ou o pacto de segurança AUKUS.
Manter boas relações com Moscovo é assim vista pelos especialistas em política externa da China como forma de assegurar estabilidade na fronteira terrestre com a Rússia, que tem mais de 4.300 quilómetros de extensão, e fornecimento estável de energia.
Isto permite a Pequim concentrar recursos nas áreas costeiras e mares circundantes, onde os Estados Unidos mantêm várias bases militares em países aliados, concordaram analistas.
A China quer afirmar-se como a principal potência no leste da Ásia e diluir o domínio geoestratégico norte-americano na região. A reunificação de Taiwan, localizado entre o mar do Sul da China e o mar do Leste da China, no centro da chamada “primeira cadeia de ilhas”, é um objectivo primordial no projecto chinês.
“Se o continente for um dia obrigado a reunificar [Taiwan] por meios militares, a China encontraria então um ambiente internacional extremamente difícil e complexo”, escreveu Zhao.

Ponto de ordem
Pequim considera também a parceria com a Rússia fundamental para contrapor a ordem democrática liberal, liderada pelos Estados Unidos.
Os analistas chineses destacaram o papel da Rússia na internacionalização da moeda chinesa, o yuan, e na procura por uma alternativa credível aos sistemas de pagamentos transfronteiriços ocidentais.
“China e Rússia são ‘metade do céu’ para a segurança e o desenvolvimento uma da outra”, descreveu Wang Xiaoquan, especialista da Academia Chinesa de Ciências Sociais.
Os analistas consideraram, porém, que o conflito na Ucrânia é negativo para Pequim.
O economista Xu Mingqi observou, num artigo, que a guerra “dificultou a recuperação [pós-pandemia] da economia mundial; alimentou a tendência ideológica para a desglobalização e colocou em risco a governação económica global”.
A estabilidade global continua a ser “fundamental” para sustentar o desenvolvimento económico da China, realçou.
Os analistas reconhecem que a recusa de Pequim em distanciar-se do agressor é também prejudicial.
Yan Xuetong, um dos maiores especialistas em relações internacionais do país, reconheceu que a “recusa em condenar a Rússia prejudicou as relações da China com alguns dos seus vizinhos e distanciou Pequim de muitas nações em desenvolvimento”.
Zhou Bo, um conhecido antigo coronel do Exército chinês, lamentou o impacto que a guerra teve nas relações da China com a Europa.
Nos ensaios e discursos dos académicos chineses constam também críticas à Rússia pelas suas alegadas “tendências imperialistas” e “imprudência”.
Feng Yujun, director do Centro de Estudos Russos e da Ásia Central da Universidade de Fudan, sublinhou que “a lógica imperial subjacente tanto à rejeição da Ucrânia como entidade nacional como à pretensão manifesta de restaurar os territórios tradicionais [da Rússia] é alarmante”.
Esta postura reflecte ressentimentos históricos face ao passado expansionista da Rússia no nordeste asiático. Em particular, a cedência da cidade de Vladivostoque à Rússia czarista, como parte dos “Tratados Desiguais”, que a China foi obrigada a assinar com as potências europeias no século XIX, é frequentemente lembrada com revolta no país asiático.
No pico da Guerra Fria, o rompimento sino-soviético e disputas fronteiriças estiveram também perto de resultar numa guerra entre as duas potências.
Apesar de os dois países se oporem à “hegemonia” norte-americana nas relações internacionais, os académicos chineses salientaram que a visão russa para uma nova ordem mundial difere muito da de Pequim.

Posturas distintas
Zhao Long, investigador no Instituto de Xangai para Estudos Internacionais, observou que “enquanto a China enfatiza a reforma cuidadosa e a melhoria da ordem mundial [actual], a Rússia almeja a sua completa desintegração”.
Huang Jing, outro académico, acrescentou que o desejo de Moscovo de confrontar e enfraquecer o Ocidente não está de acordo com os interesses de desenvolvimento da China.
Os analistas acreditam assim que uma aliança formal criaria riscos desnecessários para a relação, que continua a ser inerentemente frágil, e poderia exacerbar a bipolarização da política mundial, arrastando Pequim para conflitos que não são seus.
A China está melhor com um quadro de cooperação mais vago e mais maleável, concordaram.

25 Fev 2024

Gaza | Pequim estima que veto dos EUA torne situação ainda mais perigosa

Os EUA, apesar dos apelos a uma pausa humanitária na guerra em Gaza, continuam a dar luz verde ao massacre israelita

 

A China criticou ontem o veto americano a um projecto de resolução da ONU que exige um cessar-fogo humanitário imediato em Gaza, o que, segundo Pequim, torna a situação “ainda mais perigosa” no território.

“Os Estados Unidos distinguiram-se mais uma vez por se oporem com o seu veto, tornando a situação em Gaza ainda mais perigosa. As partes envolvidas, incluindo a China, expressaram a sua forte decepção e insatisfação”, disse durante um ‘briefing’ à imprensa, o porta-voz para a diplomacia chinesa, Mao Ning.

Os Estados Unidos vetaram na terça-feira um projecto de resolução proposto pela Argélia no Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) que exigia um cessar-fogo humanitário imediato em Gaza.

A resolução, que teve amplo apoio dos países árabes, recebeu 13 votos a favor, um voto contra (Estados Unidos) e uma abstenção (Reino Unido).

Trata-se da terceira vez que, desde o início da guerra, os Estados Unidos – um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança e com poder de veto – bloqueiam uma resolução sobre Gaza.

 

Dedos apontados

A Faixa de Gaza está mergulhada numa situação humanitária catastrófica, na sequência dos ataques mortais israelitas.

Quase um milhão e meio de pessoas, segundo a ONU, estão concentradas na cidade de Rafah, localizada no sul do território palestiniano, junto à fronteira fechada com o Egipto.

Foi neste contexto que os Estados Unidos vetaram o projecto de resolução proposto pela Argélia.

O veto norte-americano não apanhou o Conselho de Segurança da ONU de surpresa, uma vez que a embaixadora dos EUA, Linda Thomas-Greenfield, já havia anunciado no domingo que iria votar contra o texto da Argélia, argumentando que a proposta apoiada pelos países árabes poderia interferir nas negociações em prol de um acordo pela libertação de todos os reféns detidos pelo movimento islamita palestiniano Hamas.

Estas negociações, especificou, estão a ser levadas a cabo pelo seu país, juntamente com o Egipto e o Qatar, e incluem ainda uma pausa de seis semanas nos combates.

A embaixadora norte-americana justificou o seu veto com o argumento de que o texto da Argélia “colocava em risco as delicadas negociações” em curso, considerando ainda que proceder à votação foi um ato “irresponsável”.

O veto americano “irresponsável e perigoso” envia a mensagem de que Israel pode “continuar a fazer qualquer coisa impunemente”, criticou, por seu lado, o embaixador palestiniano, Riyad Mansour.

Também numa reacção ao veto norte-americano, o movimento islamita Hamas considerou a posição dos EUA como uma “luz verde” para Israel realizar mais “massacres”.

“A posição americana é um sinal verde para a ocupação [israelita] cometer mais massacres (…). Isto só aumentará o sofrimento do nosso povo”, afirmou o movimento islamita palestiniano num comunicado.

22 Fev 2024

Ano Novo Lunar | Viagens e consumo superam níveis de 2019

As movimentações e os gastos dos chineses durante Ano Novo Lunar ultrapassaram pela primeira vez os registos do período pré-pandemia

 

A China registou 474 milhões de viagens e gastos turísticos de 632,7 mil milhões de yuans durante as férias do Ano Novo Lunar, acima dos níveis de 2019.

O Ministério da Cultura e Turismo chinês disse, no domingo, que as viagens realizadas durante a chamada ‘semana dourada’ de oito dias, terminada no sábado, subiram 34,3 por cento em termos homólogos e 19 por cento em relação a 2019.

Esta foi a primeira vez desde o fim da política ‘zero covid, em Dezembro de 2022, e depois quase três anos de rigorosas restrições, que as viagens na China durante o Ano Novo Lunar excederam os níveis pré-pandemia.

Já os gastos com o turismo aumentaram 47,3 por cento em termos homólogos e 7,7 por cento em comparação com o último ano antes do início da pandemia de covid-19, disse o Ministério.

Entre os destinos mais populares estiveram a província de Yunnan e a ilha de Hainão, no sul, ou a cidade de Harbin, no nordeste do país, onde as reservas aumentaram 40 por cento graças ao popular festival de esculturas de gelo.

“O mercado do turismo está vibrante e o consumo durante as férias aumentou. Impulsionado por políticas favoráveis, como a isenção mútua de vistos ou a retoma das rotas aéreas, o turismo (…) também acelerou a recuperação”, indicou.

O Ministério acrescentou que os chineses realizaram cerca de 3,6 milhões de viagens ao estrangeiro durante as férias, enquanto a China continental recebeu cerca de 3,23 milhões de visitantes.

No entanto, de acordo com o portal financeiro Yicai, os voos internacionais recuperaram apenas 69 por cento do nível pré-pandemia durante as férias.

Por outro lado, a agência de viagens Trip.com destacou que os principais destinos estrangeiros, que incluem Singapura, Tailândia e Malásia, registaram um crescimento superior a 30 por cento nas reservas feitas por chineses.

 

 

Turismo revitalizado

O período do Ano Novo Lunar, o maior movimento de massas do mundo, é a principal festa tradicional das famílias chinesas e acontece em Janeiro ou Fevereiro, consoante o calendário lunar. Este ano, o primeiro dia do ano celebrou-se a 10 de Fevereiro.

Depois de um Ano Novo Lunar de 2022 marcado por uma enorme vaga de covid-19, havia uma “considerável procura reprimida” em termos de consumo, disse Ting Lu, um analista do banco Nomura.

Além disso, os feriados duraram oito dias este ano, contra sete em 2019, o que favorece a comparação. Isto “contribuiu para mais viagens”, sublinhou o banco de investimento Goldman Sachs.

Mais de um milhão de chineses visitou Macau na semana do Ano Novo Lunar, entre 10 a 17 de Fevereiro, de acordo com dados publicados pela Direcção dos Serviços de Turismo do território.

20 Fev 2024

Londres | Pequim pede mais “comunicação estratégica” para “manter paz” mundial

As diplomacias chinesa e britânica tentam encontrar pontos de convergência em defesa da paz global

 

O ministro dos Negócios Estrangeiros chinês pediu ao homólogo britânico que fortaleça a “comunicação estratégica” bilateral para “promover a segurança e manter a paz” mundiais, noticiou no sábado a televisão estatal chinesa CGTN.

“Perante os actuais desafios globais, como a emergência de uma mentalidade de Guerra Fria, o proteccionismo desenfreado e a lenta recuperação económica, a China e o Reino Unido (…) devem reforçar a comunicação estratégica e desempenhar o devido papel na promoção da segurança e na manutenção da paz”, disse Wang Yi, de acordo com a CGTN.

Sobre as relações bilaterais, Wang defendeu que Pequim e Londres devem “trabalhar em conjunto para alargar a convergência de interesses, reforçar os intercâmbios e a cooperação e gerir adequadamente as diferenças e os conflitos”.

Para o responsável chinês, os dois países devem ir ao encontro “dos interesses fundamentais e a longo prazo” bilaterais, bem como “das expectativas da comunidade internacional”, tanto mais que ambos estão entre os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU.

No encontro, o chefe da diplomacia britânica, David Cameron, disse estar disposto a encarar as relações com a China “de uma perspectiva estratégica”, a desenvolver laços bilaterais “mais construtivos” e a gerir as diferenças e resolver os desacordos “de uma forma mutuamente respeitosa”.

A televisão estatal chinesa referiu ainda que Cameron manifestou vontade de reforçar o diálogo com Pequim sobre questões como as energias renováveis, a economia, o comércio e a educação, e apelou aos dois países para “protegerem a paz e a segurança”.

 

 

Inspiração oriental

Na sexta-feira, antes da abertura da Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha, Cameron disse que existem “muitas coisas” que o Reino Unido e o Ocidente podem fazer com a China, como trabalhar para combater as alterações climáticas.

“O que eu diria é que é importante estabelecer contactos com a China. Há muitas coisas em que discordamos (…) não há dúvida de que a China se tornou mais assertiva do que quando eu era primeiro-ministro. Isso não significa que não devamos tentar envolver-nos”, disse Cameron que, como primeiro-ministro britânico (2010-2016), manteve uma aproximação a Pequim.

O actual chefe da diplomacia britânica acrescentou que o Reino Unido e os países ocidentais precisam de ter “conversas francas” com a China, quando esta representa um “grande desafio estratégico”.

O encontro entre Wang e Cameron ocorreu, depois de a embaixada chinesa em Londres ter protestado contra uma declaração do chanceler britânico na Câmara dos Lordes, na qual incluiu o estreito de Taiwan e o mar Vermelho nas zonas onde defenderia a liberdade de navegação em encontros com as autoridades chinesas.

“É completamente errado que o Reino Unido compare o mar Vermelho com o estreito de Taiwan. Opomo-nos firmemente a isso”, afirmou a representação diplomática, que reiterou a posição oficial de que “Taiwan é uma parte inalienável do território chinês” e “a China tem soberania, direitos legítimos e jurisdição sobre o estreito de Taiwan”.

19 Fev 2024

Justiça | Acordo Hong Kong-China positivo para portugueses

O presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Hong Kong, Bernardo Mendia, mostrou satisfação face à medida que entrou em vigor no final de Janeiro e que, diz, facilita a protecção dos interesses portugueses em casos de disputas sobre propriedade intelectual

 

 

Empresários disseram à Lusa que o reconhecimento recíproco de decisões civis entre Hong Kong e a China continental, em vigor desde o final de Janeiro, poderá beneficiar os portugueses, sobretudo em disputas sobre propriedade intelectual.

Um decreto que permite que os tribunais da região semiautónoma chinesa adjacente a Macau reconheçam e executem decisões civis da justiça do interior da China e vice-versa entrou em vigor a 29 de Janeiro.

O presidente da Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Hong Kong (PHKCCI, na sigla em inglês) disse à Lusa que a medida é positiva, embora restrita a danos civis em processos criminais e disputas sobre direitos de propriedade intelectual.

Bernardo Mendia disse acreditar que o decreto vai permitir que os empresários portugueses “protejam os seus interesses” e executem dívidas “de forma eficiente”, tanto na China como em Hong Kong.

 

Dos benefícios

O representante da delegação da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa (CCILC) em Xangai, Diogo Garcês Reis, disse à Lusa que a medida pode ajudar empresários que assinaram contratos de importação ou exportação com empresas chinesas.

O advogado disse conhecer casos em que o contrato foi assinado não com a empresa-mãe, mas com subsidiárias em Hong Kong, “normalmente por opção do próprio parceiro chinês e desconhecimento das diferenças por parte da empresa estrangeira”.

“Depois em caso de litígio, quem está vinculado a determinado contrato não é a fábrica, por exemplo (…) mas sim a sua ‘holding’ ou subsidiária em Hong Kong, que muitas vezes não tem sequer ativos significativos”, explicou Garcês Reis.

Neste cenário, um empresário português teria de primeiro recorrer aos tribunais de Hong Kong e só depois tentar reconhecer e executar a sentença na China continental, disse o representante da CCILC.

Bernardo Mendia, também secretário-geral da CCILC, disse que o decreto “aumenta a flexibilidade na selecção da jurisdição” em caso de litígio e pode ajudar os empresários portugueses a “pouparem nas custas judiciais e acelerar a velocidade da decisão”.

Isto porque o novo regime impede o surgimento de “litígios dos mesmos casos nos tribunais de Hong Kong e da China Continental, oferecendo maior protecção e previsibilidade nas transações transfronteiriças”, explicou o empresário.

Mendia sublinhou, no entanto, que o acordo exclui decisões em áreas como “relações pessoais, sucessão, falência, qualificação de eleitores, validade de acordos de arbitragem e reconhecimento de sentenças arbitrais”.

18 Fev 2024

Diplomacia | Embaixador chinês reforça sentimento de amizade e entendimento entre as duas nações

O representante da diplomacia chinesa em Portugal, Zhao Bentang, salienta a confiança política e a compreensão mútua entre os dois países de que Macau é um bom exemplo

O embaixador da China em Portugal, Zhao Bentang, destacou à Lusa “a confiança sólida” entre os dois países, resultante da transferência pacífica da administração de Macau, e afirma que a “compreensão” prevalece mesmo na “mais crítica” situação global actual.

“Temos uma confiança política bastante sólida entre os dois países porque o tema de regresso de Macau à República Popular da China é um exemplo de países que resolvem o problema da soberania através de negociações pacíficas”, considerou, em entrevista à agência Lusa.

Por isso, adiantou, são mantidas relações de “intercâmbio, coordenação e apoio à estabilidade e desenvolvimento de Macau”.

Além da avaliação positiva do processo de Macau, o diplomata elencou os contactos frequentes e visitas entre governantes dos dois países, como aconteceu na recente troca de mensagens entre presidentes e os chefes de Diplomacia no âmbito da celebração dos 45 anos de relações diplomáticas oficiais entre Lisboa e Pequim.

“Podemos dizer que os 45 anos [de relações diplomáticas oficiais] têm tido resultados muito positivos. E agora, frente à situação mundial mais crítica, os dois países unem-se, comunicamos e compreendemo-nos para encarar desafios e temos uma estratégia parecida de desenvolvimento da economia.

Mudança de velocidade

A China, frisou, tem agora novos conceitos de desenvolvimento”, ao trocar o modelo antigo de “velocidade, de quantidade” por um de “qualidade”.

O novo modelo inclui ainda inovação, de tecnologia e de recursos renováveis e, assim, há também “pontos de consenso para cooperar” com Portugal.

O embaixador indicou as “mais de 30 empresas” chinesas em Portugal cobrem sectores de “quase todas as áreas, desde a energia à banca, e “há uma cooperação muito boa” no sector da cultura, como provam as actividades agora programadas no âmbito do Festival da Primavera (ano novo chinês), além de “três laboratórios conjuntos” ao abrigo da estratégia da “nova rota da seda”.

As 40 universidades chinesas que ensinam a língua portuguesa e as “13 escolas portuguesas que ensinam chinês” também foram enumeradas.

A China quer iniciativas para um “mundo de futuro compartilhado”, tendo Zhao Bentang recordado as propostas do Presidente Xi Jinping para a “multipolarização e globalização económica”.

“Uma multipolarização [assente] sobre princípios da igualdade e ordem”, sublinhou o embaixador fazendo eco da visão chinesa de que “todos os países são iguais, pequenos ou grandes, pobres ou ricos” e que a globalização económica deve “respeitar princípios de benefícios mútuos e também deve ser inclusiva”.

Lisboa e Pequim partilham visões comuns, segundo Zhao Bentang, sobre o “conceito de desenvolvimento económico” e acerca de “manter a amizade e cooperação com princípios reconhecidos por ambas partes”.

“Temos um fundamento e uma complementaridade muito grande e acreditamos que o futuro de relações será ainda maior”, considerou.

15 Fev 2024

MGM China bateu recorde de lucros no ano passado

A operadora de jogo MGM China anunciou lucros recorde de 7,24 mil milhões de dólares de Hong Kong em 2023, após três anos de prejuízos devido à pandemia.

A empresa sublinhou que “o novo recorde histórico” de lucros antes de juros, impostos, depreciação, amortização e custos de reestruturação ou de arrendamento (EBITDAR, na sigla em inglês) bateu por 18 por cento o anterior máximo fixado em 2019.

A MGM China sublinhou que inverteu um prejuízo de 1,27 mil milhões de dólares de Hong Kong registado em 2022, em comunicado enviado à bolsa de valores de Hong Kong.

Os dois hotéis-casinos operados pela MGM, o MGM Macau e MGM Cotai, registaram receitas de 2,44 mil milhões de dólares de Hong Kong em receitas, quatro vezes mais do que em 2022 e mais 9 por cento do que em 2019, antes do início da pandemia da covid-19.

Seis concessionárias do jogo, MGM, Galaxy, Venetian, Melco, Wynn e SJM, operam em Macau, único local na China onde o jogo em casino é legal.

Os casinos fecharam o ano de 2023 com receitas totais de 183,1 mil milhões de patacas, quatro vezes mais do que no ano anterior e 62,6 por cento do montante registado no mesmo período de 2019.

Os casinos MGM Macau e MGM Cotai registaram receitas de 21,4 mil milhões de dólares de Hong Kong no mercado de massas, enquanto o chamado jogo bacará VIP atingiu 3,96 mil milhões de dólares de Hong Kong.

As grandes apostas, que em 2019 representavam 46,2 por cento das receitas dos casinos de Macau, foram afectadas pela detenção do líder da maior empresa angariadora de apostas VIP do mundo, em Novembro de 2021.

O antigo director executivo da Suncity Alvin Chau Cheok Wa foi condenado, em Janeiro de 2023, a 18 anos de prisão por exploração ilícita de jogo e sociedade secreta, num caso que fez cair de 85 para 18 o número de licenças de promotores de jogo emitidas em Macau.

Expansão global

A MGM China disse que no ano passado abriu escritórios nas capitais da Malásia, das Filipinas e da Coreia do Sul e em Osaka, no Japão, e que apostou no turismo cultural ao colaborar com a artista portuguesa Joana Vasconcelos.

A aposta em elementos não jogo e em visitantes estrangeiros foram algumas das exigências das autoridades de Macau para a renovação por 10 anos das licenças das seis concessionárias a operar no território, que entraram em vigor a 01 de Janeiro de 2023.

A empresa sublinhou ainda que o volume de negócios “continuou a crescer em Janeiro”, com a média diária de receitas a subir 4 por cento em comparação com Dezembro e 67 por cento em relação ao mesmo mês de 2023.

15 Fev 2024

Diplomacia | Marcelo e Xi trocaram mensagens sobre relações sino-portuguesas

Por ocasião do 45.º aniversário das relações diplomáticas entre Portugal e a China, os dois Presidentes trocaram saudações e salientaram a amizade secular que une as duas nações

O Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa lembrou as relações seculares com a China, enquanto o homólogo chinês Xi Jinping mostrou-se disponível para continuar a desenvolver as relações sino-portuguesas.
Marcelo Rebelo de Sousa e Xi Jinping trocaram ontem mensagens de felicitações, por ocasião do 45.º aniversário das relações diplomáticas entre os dois países, que foram divulgadas na página na Internet da Presidência portuguesa.
O chefe de Estado português lembrou que este ano se evocam “quase cinco séculos de descoberta recíproca, quarenta e cinco anos de relações diplomáticas, vinte e cinco anos de solução acordada sobre Macau e vinte anos do Fórum Macau”.
“Poucos Povos e Estados no mundo podem afirmar, como Portugal e China, que mantêm, ininterruptamente, há cinco séculos, uma relação de convivência territorial, cultural, económica, social e política, apesar da distância geográfica”, vincou.
Marcelo Rebelo de Sousa apontou que as relações nasceram no tempo dos impérios e que as relações diplomáticas decorrem há 45 anos, lembrando que nestes anos decorreram visitas de todos os Presidentes de Portugal à República Popular da China e Presidentes da China à República Portuguesa.
“Viram, em 1999, a negociada, pacífica e bem-sucedida transferência da soberania de Macau para a China. Viram o desenvolvimento de relações bilaterais e também envolvendo a Comunidade de Países de Língua Portuguesa, nomeadamente através do Fórum Macau”, sublinhou o chefe de Estado português.
O Presidente da República recordou também “áreas de actuação comum a nível multilateral, como a acção climática, os oceanos, as migrações, o desenvolvimento sustentável ou a atenção ao papel de relevantes organizações internacionais”.
“Viram, é certo, perspectivas muito diversas em princípios fundamentais, sem desperdiçar as lições de séculos de partilha de vivências, bem como de décadas de diálogo constante”, destacou ainda.

De mãos dadas
O Presidente da China realçou, na sua missiva endereçada ao chefe de Estado português, as relações orientadas pelo “respeito mútuo, abertura e inclusão”.
Xi Jinping salientou que estas relações permitiram resolver “de forma apropriada a questão de Macau através de consultas amigáveis, estabeleceram a Parceria Estratégica Global China-Portugal em resposta à situação na altura, conjugaram esforços para enfrentar a crise financeira internacional e os desafios de saúde pública global”.
“Os dois países têm expandido a cooperação de benefícios mútuos entre as empresas, avançado de mãos dadas na cooperação Uma Faixa, Uma Rota, promovido em conjunto o desenvolvimento das relações China-União Europeia e salvaguardado o multilateralismo. Trata-se de uma vívida demonstração do caminho correcto de relacionamento entre os países”, frisou o governante chinês.
Xi Jinping garantiu também que atribui “grande importância ao desenvolvimento das relações sino-portuguesas” e que está disposto a trabalhar em conjunto com Marcelo Rebelo de Sousa “para conduzir a Parceria Estratégica Global China-Portugal a aprofundar-se constantemente”, para melhor beneficiar os povos, fomentar o desenvolvimento saudável e estável das relações China-União Europeia e “contribuir para a paz, a estabilidade e a prosperidade do mundo”.
“Que a amizade sino-portuguesa dure para sempre”, concluiu Xi Jinping, na sua carta.

10 Fev 2024

Portugal-China 45 anos | Carmen Amado Mendes, presidente do CCCM

Há 45 anos, Portugal e a China estabeleciam relações diplomáticas. A data foi assinalada no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), em Lisboa, num evento que teve como oradores os ex-embaixadores portugueses na China, José Duarte de Jesus e Jorge Torres Pereira, e o embaixador chinês em Portugal, Zhao Bentang. Carmen Amado Mendes, presidente do CCCM, recordou ao HM episódios que levaram à estabilização das relações entre os dois países e o papel que Macau desempenhou no processo

 

Há 45 anos, Portugal e a China estabeleciam relações diplomáticas. A data foi assinalada no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), em Lisboa, num evento que teve como oradores os ex-embaixadores portugueses na China, José Duarte de Jesus e Jorge Torres Pereira, e o embaixador chinês em Portugal, Zhao Bentang. Carmen Amado Mendes, presidente do CCCM, recordou ao HM episódios que levaram à estabilização das relações entre os dois países e o papel que Macau desempenhou no processo.

Celebramos o 45.º aniversário das relações diplomáticas entre Portugal e a República Popular da China (RPC). Foi um processo fácil?
Não, pelo contrário. Foi um processo moroso e complicado. Na verdade, não estamos a falar do estabelecimento de relações diplomáticas com a China, mas sim do restabelecimento… ou, se quisermos, do estabelecimento de relações diplomáticas com a República Popular da China. As relações diplomáticas existiam há séculos, mas quando Mao fundou a RPC em 1949, o regime comunista esbarrou com o regime ditatorial de Salazar que, por motivos ideológicos, nunca aceitou formalizar o relacionamento com o regime comunista chinês, apesar das várias tentativas da parte chinesa, nomeadamente no seguimento do estabelecimento de relações diplomáticas sino-francesas em 1964. Depois de 1974, o novo regime português mudou radicalmente de postura e o Primeiro Ministro Mário Soares propôs o reatar das relações, mas nesta fase a China já não demonstrou grande receptividade.

Porquê?
A RPC ainda não tinha definido a política de reunificação nacional e não sabia bem como resolver a questão de Macau. Macau tinha um estatuto ambíguo desde os incidentes do ‘1,2,3’ de 1966… E havia expectativa sobre o processo de descolonização português e, principalmente, sobre a posição de Portugal em relação à União Soviética, numa altura de grande tensão nas relações sino-soviéticas. O início da guerra civil angolana no momento em que Pequim cancelou a ajuda militar aos movimentos de libertação e o apoio de uma das facções pela União Soviética, contribuiu para o alargamento da sua esfera de influência em África. O regime comunista chinês via com apreensão a influência soviética no nosso processo revolucionário e estava pouco disposta a normalizar relações com os comunistas portugueses. Os chineses não tinham informação suficiente sobre a esquerda portuguesa para conseguir entender a natureza da mudança de regime, mas com a formação da Aliança Democrática em 1979, perceberam que a União Soviética não tinha qualquer impacto no panorama político português. A candidatura portuguesa à CEE (1977) também ajudou, porque revelava as intenções de integração portuguesa na Europa Ocidental.

Referiu há pouco a questão de Macau. Teve, de facto, influência no processo?
Sem dúvida. O primeiro passo para a aproximação entre os dois países foi o reconhecimento, do Governo português, de que a questão de Macau poderia ser negociada quando ambos os governos considerassem apropriado. Nesta Nota Diplomática do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal de 6 de Janeiro de 1975, Portugal também reconhecia o Governo da República Popular da China como o único representante legítimo do povo chinês, sendo Taiwan uma parte integrante do território chinês. Foram duas concessões políticas unilaterais importantes, assumidas pelo novo regime português sem obter qualquer contrapartida chinesa, prova de que o estabelecimento de relações diplomáticas era bem mais importante do que a soberania de Macau. Não podemos esquecer que a posição chinesa da altura era que, sendo Macau parte integrante do território chinês, não deveria ser alvo de negociações com outro país. Zhou Enlai chegou a dizer que um dia a China iria libertar Macau dos portugueses. A RPC considerava-se soberana sobre Macau. Macau era território chinês e por isso não teria direito à descolonização. Mais tarde o processo seria descrito como uma transferência de administração.

Macau não deveria ser um obstáculo para o reatar de relações?
Exacto. Portugal não questionava a soberania da China sobre Macau: tratava-se de território sob Administração portuguesa. Isto é visível na Nota Diplomática que referi há pouco, mas também no Estatuto Orgânico de Macau, que foi aprovado no Conselho da Revolução em Lisboa em 1976, e na nova Constituição Portuguesa de 25 de Abril de 1976, que não considerava Macau como território português, mas sim “Território sob Administração Portuguesa”. O facto de não se debater a questão da soberania facilitou o relacionamento com a China. E, em bom rigor, convém dizer que Macau não era uma colónia. A retrocessão de Macau teria de passar sempre por alguma espécie de negociação e, naquele momento, a RPC não estava interessada em negociar.

Mas depois mudou de ideias, não foi?
O processo foi lento. A RPC confrontava-se com grandes mudanças internas. A crise de sucessão na liderança chinesa impedia a adopção de grandes iniciativas. Os líderes mais importantes, como Zhou Enlai e Mao, tinham falecido em 1976 e o Bando dos Quatro radicalizou a cena política chinesa. Hua Guofeng sucedeu a Mao e o Bando dos Quatro e outros Maoistas radicais foram presos. Só no final da década de 70 Deng Xiaoping traz a estabilidade, com uma postura mais pragmática e menos ideológica, pondo os objectivos nacionalistas acima de concepções marxistas ou maoistas. E delineou a estratégia para a retrocessão de Macau. Uma coisa é certa: a China não queria reatar relações diplomáticas com Portugal antes de ter a estratégia para Macau bem definida. Durante todo o processo negocial Macau foi considerada questão “prévia” pela parte chinesa, defendendo sempre a sua posição de princípio relativamente à soberania sobre o território. Portugal não se opôs, mas exigiu o reconhecimento da importância da história – Macau era “um problema herdado da história”. As duas partes chegaram a um entendimento: Macau era parte do território chinês, administrado pelos portugueses, e o status quo não poderia ser unilateralmente alterado; a questão seria unicamente resolvida pela via negocial. Este entendimento permitiu que as conversações para o estabelecimento de relações diplomáticas prosseguissem sem quaisquer condicionalismos, como se Macau não existisse. O comunicado conjunto sobre o estabelecimento de relações diplomáticas não faz qualquer referência directa ou indirecta a Macau, embora Macau fosse a questão mais delicada das negociações. As declarações sobre Macau foram impressas numa Ata, que, no fundo, foi um acordo entre dois Estados que reconheciam direitos e estabeleciam obrigações recíprocas, mas optou-se por usar a palavra “Ata” ao invés de “acordo” para minimizar a sua importância. A “Ata Secreta”, como ficaria conhecida na imprensa, permaneceria secreta por acordo de ambas as partes, invocando a manutenção da estabilidade de Hong Kong.

O que dizia a “Ata Secreta”?
Que Macau fazia parte do território chinês e seria restituído à China, no momento julgado oportuno, pelos governos dos dois países e por meio de negociações. Durante o período de negociações da Declaração Conjunta, entre 1986 e 1987, a existência da “Ata Secreta” gerou muita polémica, porque alguns dos líderes políticos nunca tinham tido acesso à Ata e alguns até duvidavam da sua existência. O próprio Governador de Macau Pinto Machado admitiu à imprensa que a Ata nunca lhe tinha passado pelas mãos. Só passado algum tempo se encontrou a Ata no Ministério dos Negócios Estrangeiros e o Primeiro Ministro Cavaco Silva decidiu revelar parcialmente o seu conteúdo, evidenciando as responsabilidades assumidas pelos anteriores governos em relação a Macau. De facto, a “Ata Secreta” foi a base negocial da retrocessão de Macau.

Voltando às negociações das relações diplomatas. Uma vez negociada a “Ata Secreta”, as conversações já decorreram sem sobressaltos?
Mais ou menos. Depois de três anos de reuniões informais, a China propôs a abertura de negociações oficiais para o reatamento de relações diplomáticas luso-chinesas ao nível de embaixador, em Janeiro de 1978, e decorreram em Paris – local privilegiado de negociações com a China na Europa desde que em 1964 o General de Gaulle reconheceu a RPC. De Janeiro a Junho de 1978 decorreram conversações formais entre os embaixadores Han Kehua e Coimbra Martins, e as negociações ficaram praticamente concluídas. Mas em Portugal, a instabilidade política interna levou à formação de três governos diferentes no espaço de um ano (liderados, respectivamente, por Mário Soares, Nobre da Costa e Mota Pinto). E Coimbra Martins aguardava em Paris pela definição da política portuguesa relativamente à normalização de relações diplomáticas com a RPC. O comunicado conjunto sobre o estabelecimento de relações diplomáticas só seria assinado a 8 de Fevereiro de 1979.

O Centro Científico e Cultural de Macau em Lisboa assinalou ontem o 45º aniversário das relações diplomáticas com um evento que moderou. Em que consistiu a sessão?
O evento teve entrada livre e, para além do Embaixador da República Popular da China em Portugal, contámos com intervenções de dois diplomatas portugueses. O tema da intervenção de José Manuel Duarte de Jesus, embaixador de Portugal na República Popular da China entre 1993 e 1997, foi “45 Anos de novas Relações Diplomáticas e 5 séculos de Relações Amigáveis”. Jorge Torres Pereira, embaixador em Pequim entre 2013 e 2017, apresentou a comunicação “2029: Perspectivas para a comemoração do Cinquentenário das relações Portugal-República Popular da China”. E o Embaixador Zhao Bentang falou sobre os “45 Anos de cooperação em mãos dadas: a amizade China-Portugal cresce com resultados frutíferos”. O encerramento esteve a cargo da Senhora Ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Professora Elvira Fortunato. Recordo que o Centro Científico e Cultural de Macau é um Instituto Público que pertence ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior e tem por missão divulgar em Portugal conhecimento sobre a Ásia, em particular sobre a China, com destaque para o papel de Macau.

10 Fev 2024

BNU | Alerta para fraudes na internet

O Banco Nacional Ultramarino (BNU) alertou para a existência de páginas fraudulentas na Internet e redes sociais que se fazem passar pelo banco para supostamente oferecer empréstimos na hora.
Numa nota publicada no portal do BNU, o banco disse acreditar que estas páginas “publicitam serviços de empréstimo imediatos como meio de solicitação para atrair clientes”. O BNU aconselhou os clientes a ligarem para o banco ou pedirem ajuda à polícia, se encontrarem “‘websites’, anúncios ou mensagens suspeitas”.
A Autoridade Monetária de Macau (AMCM), regulador financeiro local, indicou que o público deve “ter cuidado com páginas da Internet, redes sociais e comunicações bancárias falsas para evitar ser enganado e sofrer perdas desnecessárias”.
As burlas com recurso às telecomunicações e à Internet em Macau subiram 59,4 por cento em termos anuais nos primeiros nove meses de 2023 e provocaram perdas superiores a 200 milhões de patacas.
De acordo com dados divulgados, em Dezembro, pelo secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, as autoridades policiais de Macau registaram 872 burlas cometidas através do telefone ou online entre Janeiro e Setembro, mais 325 casos do que em igual período de 2022. Grande parte das burlas (599, mais 29,7 por cento) aconteceram com recurso à Internet, embora o maior aumento tenha ocorrido nas burlas telefónicas (273), que mais do que quadruplicaram.

10 Fev 2024

Wynn Macau | De volta aos lucros em 2023 após três anos

A concessionária de jogo Wynn Macau apresentou ontem os resultados financeiros referentes a 2023 com lucros de 465,7 milhões de dólares, registo que significou o retorno ao terreno positivo depois de prejuízos acumulados durante a pandemia.
A empresa sublinhou que “um aumento das receitas operacionais” ajudou a inverter um prejuízo de 627,6 milhões de dólares em 2022, de acordo com um comunicado enviado à bolsa de valores de Hong Kong.
Os dois projectos operados pela Wynn Macau registaram receitas de 3,36 mil milhões de dólares em 2023, cinco vezes mais do que no ano anterior. Os casinos Wynn Macau e Wynn Palace foram responsáveis pela maioria do volume de negócios da empresa, arrecadando 2,44 mil milhões de dólares em receitas, seis vezes mais do que em 2022.
Os casinos da região fecharam o ano de 2023 com receitas totais de 183,1 mil milhões de patacas, quatro vezes mais do que no ano anterior e 62,6 por cento do montante registado no mesmo período de 2019.
Tendo em conta a análise aos segmentos de jogo, a Wynn Macau registou receitas por 2,28 mil milhões de dólares no mercado de massas, enquanto o bacará VIP atingiu 575,3 milhões de dólares. Recorde-se que em 2019 as grandes apostas geravam quase metade das receitas totais dos casinos do território.

Estrelas no céu
“O forte impulso que ganhámos ao longo de 2023 continuou durante o quarto trimestre”, disse, na mesma nota Craig Billings, o director executivo da empresa-mãe, a Wynn Resorts, que inclui propriedades nos Estados Unidos.
“Estes resultados impressionantes realçam o compromisso incessante das nossa equipas em proporcionar um serviço de hospitalidade de cinco estrelas, que continua a elevar as nossas propriedades acima dos seus pares enquanto destino de clientes que procuram luxo em Las Vegas, Boston e Macau”, acrescentou o responsável da concessionária de jogo.
Craig Billings sublinhou que o lucro da Wynn Resorts antes de juros, impostos, depreciação, amortização e custos de reestruturação ou de arrendamento (EBITDAR, na sigla em inglês) atingiu “um novo recorde histórico”. O EBITDAR da Wynn Macau atingiu 953,9 milhões de dólares em 2023, invertendo o prejuízo de 220,6 milhões de dólares no ano anterior.
Os resultados das concessionárias de jogo no ano passado beneficiaram com grande empurrão do retorno à normalidade nas fronteiras. O território recebeu em 2023 mais de 28,2 milhões de visitantes, cinco vezes mais do que no ano anterior e um valor que representa 71,6 por cento do registado antes do início da pandemia de covid-19.

10 Fev 2024

Diplomacia | Pequim e EUA conversam enquanto questões comerciais aquecem

As taxas alfandegárias e as restrições ao investimento bilateral continuam a ser temas centrais nas discussões entre as autoridades das duas nações à medida que as eleições norte-americanas se aproximam

 

Autoridades chinesas e norte-americanas reuniram-se esta semana em Pequim para debater questões que dividem as duas maiores potências mundiais, numa altura em que o comércio bilateral é tema de destaque no debate eleitoral nos Estados Unidos.

O ministério das Finanças da China afirmou que Pequim levantou objecções ao aumento das taxas alfandegárias sobre produtos oriundos da China, as restrições ao investimento nos dois sentidos e outras políticas que limitam o comércio e intercâmbio de tecnologia, durante as conversações do Grupo de Trabalho Económico dos dois países.

Em comunicado, o ministério caracterizou as conversações de segunda e terça-feira como construtivas.

As conversações enviaram um “sinal positivo”, afirmou o Global Times, jornal oficial do Partido Comunista da China, num artigo publicado ontem.

“Esta tendência positiva, apesar das disputas persistentes, oferece uma garantia muito necessária para as empresas dos dois países, bem como para a comunidade internacional, face aos crescentes desafios globais”, indicou.

O departamento do Tesouro dos EUA disse que as autoridades norte-americanas reiteraram as preocupações com as práticas da política industrial chinesa e o excesso de capacidade, e o impacto resultante sobre os trabalhadores e empresas norte-americanas.

Isto reflecte as preocupações de que, à medida que a economia chinesa abranda, em parte devido a uma crise prolongada no seu mercado imobiliário, mas também a tendências a longo prazo, como o envelhecimento da população, os seus líderes vão provavelmente depender mais do aumento das exportações para compensar a fraca procura interna.

Dadas as já enormes quotas de mercado da China em muitas indústrias, isso poderia aumentar a capacidade para níveis insustentáveis e eliminar fabricantes estrangeiros de muitas indústrias, dizem alguns economistas.

Na indústria dos painéis solares fotovoltaicos, por exemplo, um investimento maciço permitiu à China controlar cerca de 80 por cento da quota de mercado em todas as fases de fabrico, de acordo com um relatório recente da Agência Internacional da Energia.

 

Caminho acidentado

A rápida ascensão dos fornecedores chineses suscitou na Europa propostas para restringir as importações, mas estas poderiam atrasar os progressos da região no combate às alterações climáticas.

As duas partes afirmaram que as conversações em Pequim também abordaram questões como os problemas da dívida dos países em desenvolvimento, a cooperação financeira e as políticas económicas.

“As autoridades norte-americanas reafirmaram que os EUA não pretendem desassociar as duas economias e que, em vez disso, procuram uma relação económica saudável que proporcione condições equitativas para as empresas e os trabalhadores norte-americanos”, afirmou o Departamento do Tesouro.

As duas partes concordaram em reunir-se novamente em Abril.

Os intercâmbios entre as duas potências aumentaram no ano passado, ganhando impulso depois de o Presidente norte-americano, Joe Biden, ter reunido com o líder chinês, Xi Jinping, numa cimeira realizada em Novembro em São Francisco, na Califórnia.

Mas, apesar da ligeira melhoria das relações, as tensões continuam elevadas, nomeadamente em relação a Taiwan. Biden manteve em vigor a maior parte das taxas alfandegárias sobre as importações chinesas que o ex-presidente Donald Trump impôs quando lançou uma guerra comercial em 2018.

A sua administração também reforçou os controlos sobre o acesso chinês a ‘chips’ semicondutores avançados e à tecnologia para os fabricar, juntamente com outras tecnologias estrategicamente sensíveis.

As notícias de que Trump aumentará ainda mais as taxas se for eleito abalaram o frágil sentimento dos investidores na China.

A reunião do Grupo de Trabalho Económico foi a terceira desde a sua criação em Setembro e a primeira em Pequim. Uma delegação do Tesouro reuniu-se com o vice-primeiro-ministro chinês He Lifeng em Pequim e transmitiu a mensagem de que Yellen esperava visitar a China numa “altura apropriada”.

8 Fev 2024

Kevin Ho diz que solução para Global Media ainda está longe

A solução para as dificuldades financeiras do Global Media Group (GMG), que inclui o Diário de Notícias, o Jornal de Notícias e a TSF, ainda está longe, disse ontem o accionista Kevin Ho King Lun.

Um acordo “está ainda numa fase muito prematura”, disse Kevin Ho aos jornalistas em Macau, à margem de um evento na Fundação Rui Cunha.

“Estivemos muito perto de assinar um memorando de entendimento, mas ainda estamos longe de um acordo”, explicou o empresário.

Na sexta-feira, o empresário Diogo Freitas, da Officetotal Food Brands, disse à Lusa que o acordo para a compra de alguns jornais e revistas do GMG e da rádio TSF “está fechado”, mas que faltava ainda ser assinado.

Diogo Freitas lidera um grupo de investidores e empresários de Portugal que tinha manifestado interesse em 12 de Janeiro em comprar o Jornal de Notícias (JN), O Jogo, JN História, Notícias Magazine, Evasões e Volta do Mundo, assim como a maioria do capital da Sociedade Notícias Direct, bem como a TSF.

Kevin Ho não confirmou esta informação, sublinhando que “há muitas diferentes opções” em cima da mesa, que serão discutidas “ao longo das próximas semanas”.

O empresário garantiu, no entanto, que os actuais accionistas pretendem “continuar fortemente envolvidos nas marcas” do GMG.

Por outro lado, Ho não garantiu que os salários em atraso seriam pagos até quarta-feira, 07 de Fevereiro.

“Esperamos até amanhã”, disse o empresário.

Na sexta-feira, Ho e os outros accionistas do GMG, Marco Galinha, Mendes Ferreira e José Pedro Soeiro tinham dito que estava “previsto o pagamento dos salários até ao dia 07 de Fevereiro, estando a ser avaliados mecanismos para a regularização do subsídio de Natal”.

Na sexta-feira, a assembleia de trabalhadores da TSF discutiu a “possibilidade da suspensão dos contratos de trabalho” caso o pagamento dos salários não for efetuado nos prazos previstos.

Face à promessa dos accionistas, os trabalhadores do Diário de Notícias suspenderam, até 07 de Fevereiro, uma greve que estava marcada para a passada sexta-feira, 02 de Fevereiro.

Por outro lado, Kevin Ho negou ontem que o GMG tenha uma dívida no valor de 2,1 milhões de euros em Macau.

“Temos simplesmente, como qualquer empresa, fornecedores a quem é preciso, empréstimos de accionistas”, disse.

Outros passos

A 10 de Janeiro, o presidente da Comissão Executiva do GMG, José Paulo Fafe, disse na comissão parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto que o grupo tinha dívidas no valor de 2,1 milhões de euros em Macau e de 700 mil euros em Malta, “em empresas de jogo ‘online’ que nunca funcionaram, ou melhor, de licenças de jogo ‘online'”.

Em 31 de Janeiro, Fafe apresentou a demissão por considerar “estarem esgotadas” as condições para exercer as funções.

Está marcada para 19 de Fevereiro uma assembleia-geral extraordinária de accionistas do GMG, a pedido da KNJ, empresa de Kevin Ho, e de José Pedro Soeiro, com cinco pontos na ordem de trabalhos, entre eles a destituição do actual Conselho de Administração e um aumento de capital de cinco milhões de euros.

O empresário Marco Galinha detém uma participação efetiva de 50,25 por cento no GMG, através da Páginas Civilizadas (41,51 por cento) e da Grandes Notícias (8,74 por cento), enquanto a KNJ detém 29,35 por cento e José Pedro Soeiro 20,4 por cento.

7 Fev 2024

Bolsa | Acções disparam após fundo soberano prometer apoiar mercados

O anúncio do apoio chegou como um bálsamo ao mercado financeiro a negociar em mínimos de cinco anos

 

As acções em Xangai e Hong Kong subiram ontem após um fundo soberano chinês, que detém bancos estatais chineses e outras grandes empresas controladas pelo governo, ter prometido apoiar o mercado através da compra de fundos de índices.

O Central Huijin Investment intensificou a compra de acções de grandes bancos estatais e de outras empresas para contrariar a forte pressão de venda nos mercados chineses, que estão a negociar em mínimos de cinco anos.

O índice Shanghai Composite subiu 3,2 por cento e o Hang Seng, de Hong Kong, subiu 3,9 por cento. O índice Shenzhen A-Share registou uma subida de 4,6 por cento.

Os maiores ganhos em Hong Kong foram registados em acções de grupos de tecnologia, como as dos gigantes do comércio electrónico Alibaba, que subiu 7,8 por cento, e JD.com, que subiu 7 por cento.

A medida foi tomada na sequência de avisos da autoridade reguladora do mercado da China de que vai combater a manipulação, o abuso de informação privilegiada e outras infracções, visando proteger os pequenos investidores, que normalmente representam a maioria das transacções nos mercados chineses.

A Comissão de Regulação dos Valores Mobiliários da China, que supervisiona o mercado bolsista, congratulou-se com o anúncio do fundo de investimento, afirmando que os preços das acções a um “nível historicamente baixo” constituem uma oportunidade a médio e longo prazo.

“Apoiamos firmemente a Central Huijin para que continue a aumentar a escala e a intensidade das suas participações, e criaremos condições mais convenientes e canais mais suaves para as suas operações de entrada no mercado”, afirmou em comunicado. O regulador prometeu “envidar todos os esforços para manter o funcionamento estável do mercado”.

 

Medidas críticas

Na segunda-feira, os índices de referência em Xangai e Shenzhen oscilaram entre pequenos ganhos e grandes perdas, enquanto os preços das acções dos bancos estatais e de outras grandes empresas subiram.

O regulador afirmou ainda que vai facilitar a aquisição de acções por parte de investidores institucionais, tais como fundos públicos, fundos de investimento privados, empresas de valores mobiliários, fundos de segurança social, instituições de seguros e fundos de pensões, e encorajar as empresas a aumentarem as recompras de acções.

Não é claro se estas medidas serão suficientes para inverter a tendência que levou os mercados a atingir mínimos de cinco anos, apesar de uma série de medidas destinadas a incutir confiança e a apoiar as construtoras imobiliárias, cujos problemas financeiros, depois de o Governo ter reprimido o endividamento excessivo, têm sido um grande entrave à economia.

7 Fev 2024

Pequim diz que condenação de Yang Hengjun está de acordo com a lei

A China afirmou ontem que a decisão de um tribunal do país de punir com pena de morte suspensa o escritor australiano de origem chinesa Yang Hengjun, acusado de espionagem, está “de acordo com a lei”.

O porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Wenbin, confirmou a sentença por espionagem proferida por um tribunal de Pequim contra o escritor, que o governo australiano já tinha comunicado algumas horas antes.

De acordo com Wang, o tribunal tratou o caso “estritamente de acordo com a lei” e “protegeu os direitos processuais de Yang” durante o julgamento.

A sentença inclui também a confiscação de todos os objectos pessoais do escritor, afirmou.

As autoridades chinesas “permitiram que os representantes australianos estivessem presentes durante a sentença”, acrescentou o porta-voz.

A ministra australiana dos Negócios Estrangeiros, Penny Wong, disse ontem que convocou o embaixador chinês na Austrália, Xiao Qian, para protestar contra a sentença, que poderá ser comutada para prisão perpétua se Yang não cometer nenhum crime grave no prazo de dois anos.

“O governo australiano está chocado com o facto de o cidadão australiano Yang Hengjun ter recebido hoje (ontem), em Pequim, a pena de morte suspensa”, afirmou Wong numa declaração ontem, acrescentando que se tratava de uma decisão “desoladora” e “chocante”.

A Austrália apelou a Pequim para a sua libertação “em todas as oportunidades e ao mais alto nível” e “apelou sistematicamente à aplicação de normas básicas de equidade, justiça processual e tratamento humano a Yang”, em conformidade com “as normas internacionais e as obrigações legais da China”, afirmou Wong.

 

Revés nas relações

Yang, que nasceu na China em 1965 e obteve posteriormente a cidadania australiana em 2002, residia com a sua família em Nova Iorque quando foi detido na cidade chinesa de Cantão, no início de 2019, durante uma escala a caminho da Austrália.

O escritor e activista pró-democracia, antigo funcionário do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, manifestou em Agosto passado, numa carta, o receio de que as autoridades de Pequim o deixassem morrer na prisão, depois de lhe ter sido diagnosticado um enorme quisto renal.

A detenção de Yang e de outros cidadãos australianos tem sido uma fonte de tensão entre a Austrália e a China, que cimentaram um degelo diplomático e comercial com a visita do primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, a primeira de um líder australiano à China desde 2016.

A sentença do escritor é um revés após meses de melhoria nas relações bilaterais sob o governo trabalhista australiano, com a retirada de algumas tarifas por Pequim e a libertação, em Outubro passado, do jornalista sino-australiano Cheng Lei, detido em 2020.

6 Fev 2024

Tempo | Pequim aumenta fornecimento de energia face a vaga de frio

O frio não dá tréguas e as autoridades de diversas províncias do país, como Henan e Shandong, lutam para garantir aquecimento às populações durante o período festivo do Ano Novo Lunar

Várias localidades chinesas intensificaram os esforços para assegurar o fornecimento de electricidade durante as férias do Ano Novo Lunar, face às vagas de frio que atingiram parte do país.

O chefe da Administração Nacional de Energia (NEA), Zhang Jianhua, sublinhou, durante uma visita a uma central eléctrica, a importância de “garantir o fornecimento de electricidade e calor, bem como a segurança da produção” durante os próximos feriados, informou o portal oficial da NEA.

A província de Henan, onde vivem cerca de 98 milhões de pessoas, vai ser o “centro” desta vaga de chuva, neve e geada, com acumulações de neve que deverão bater recordes, informou o jornal local Global Times.

O sector eléctrico local reforçou a protecção das instalações de abastecimento de água, aquecimento e gás natural e deu prioridade ao “abastecimento das estações de comboios e autocarros e dos hospitais”, a fim de “assegurar um abastecimento de electricidade regular e fiável”, afirmou o jornal.

A província de Shandong também foi atingida por uma vaga de temperaturas negativas, o que levou cidades como Weihai, Dongying e Zibo a mobilizar equipas especializadas em descongelamento.

Os meteorologistas prevêem que as temperaturas negativas nestas regiões se mantenham até sexta-feira.

 

Milhões em movimento

Esta situação meteorológica adversa ocorre na mesma altura em que se celebra o Ano Novo Lunar, durante o qual se espera um número recorde de 9 mil milhões de deslocações internas.

A imprensa local apontou um desafio “sem precedentes” devido a este número e recordou que desde 2008 não se registava uma previsão tão adversa que coincide com o período de pico das viagens para o Ano Novo Lunar, que se prolongará até 5 de Março.

Peritos citados pela imprensa afirmaram que a China fez preparativos suficientes para garantir um abastecimento estável de carvão, a principal fonte de energia do país, do qual a China importou um total de 474,4 milhões de toneladas em 2023, mais 61,8 por cento do que no ano anterior, um recorde histórico, de acordo com os dados aduaneiros chineses.

Até 2024, a capacidade instalada acumulada de produção de novas energias na China deverá exceder a do carvão pela primeira vez, afirmou o Conselho de Electricidade da China em Janeiro.

Em Setembro de 2020, a China comprometeu-se a atingir o pico das emissões de CO2 até 2030 e a neutralidade carbónica até 2060.

6 Fev 2024

Lucros da banca em Macau caem para menos de metade em 2023

Os bancos de Macau registaram lucros de 6,14 mil milhões de patacas em 2023, menos 53,5 por cento do que no ano anterior, de acordo com dados oficiais divulgados ontem.

Segundo dados da Autoridade Monetária de Macau (AMCM), a queda deveu-se a um desempenho negativo no último trimestre do ano passado, período em que a banca da região chinesa perdeu 4,09 mil milhões de patacas.

Nos primeiros nove meses de 2023, os bancos de Macau tinham acumulado lucros de 10,2 mil milhões de patacas, mais 10,2 por cento do que em igual período do ano anterior.

A principal razão para a diminuição dos lucros foi uma queda de 11,4 por cento, para 19,5 mil milhões de patacas, na margem de juros, a diferença entre as receitas dos empréstimos e as despesas com depósitos.

Isto apesar da AMCM ter aprovado três aumentos da principal taxa de juro de referência em 2023, a última das quais uma subida de 0,25 pontos percentuais, introduzida em maio, seguindo a Reserva Federal norte-americana.

Os empréstimos ao sector privado em Macau, a principal fonte de receitas da banca a nível mundial, diminuíram 14,2 por cento em comparação com o final de 2022, fixando-se em 1,09 biliões de patacas.

Também os depósitos junto dos bancos do território caíram 3,1 por cento durante o ano de 2023, para 1,22 biliões de patacas.

 

Em recuperação

O Produto Interno Bruto (PIB) de Macau cresceu 116,1 por cento nos primeiros nove meses de 2023, em comparação com igual período de 2022, após quase dois anos consecutivos em queda, uma recuperação “impulsionada pelo desempenho” do turismo e do jogo.

Ainda assim, a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos sublinhou em Novembro que a economia da região administrativa especial chinesa ainda só representa 77,4 por cento dos níveis registados antes da pandemia de covid-19.

A região administrativa especial de Macau tem dois bancos emissores de moeda: a sucursal local do banco estatal chinês Banco da China e o Banco Nacional Ultramarino (BNU), que pertence ao Grupo Caixa Geral de Depósitos.

O BNU anunciou em Outubro lucros de 459,9 milhões de patacas nos primeiros nove meses de 2023, um aumento homólogo de 102 por cento, apesar de “incertezas no crescimento económico”.

6 Fev 2024

Direitos Humanos | Timor-Leste enfrenta “enormes desafios”

Virgílio Guterres, provedor dos Direitos Humanos e da Justiça, alerta para o muito que ainda está por fazer em matéria de direito económico, social e cultural

O provedor dos Direitos Humanos e da Justiça de Timor-Leste, Virgílio Guterres, afirmou à Lusa que o país continua a enfrentar “enormes desafios” ao nível dos direitos humanos, defendendo que para os ultrapassar é preciso “mudar mentalidades”.

“Temos um índice muito bom na região quando se fala de democracia e liberdade, de direitos civis e políticos, mas quando se entra num outro nível e falamos de direito económico, social e cultural começamos a enfrentar desafios enormes”, disse Virgílio Guterres.

Um dos exemplos dados pelo provedor dos Direitos Humanos timorense são os casos relacionados com a violência doméstica, que considera estarem directamente ligados com a “ausência de direitos económicos, sociais e culturais na família”.

“Nas queixas que recebemos anualmente temos um número muito elevado de violência doméstica. A violência doméstica envolve elementos de todas as franjas da sociedade. Surge por causa das condições de vida da família”, salientou Virgílio Guterres.

Mas, disse, por outro lado, há também o fator educação.

“Já instaurámos a independência há 22 anos e podemos dizer que falhámos em investir com seriedade na educação. Não só nas escolas, mas também a informal, que também forma o caráter das pessoas”, disse, salientando que só vê avanços nas escolas privadas.

 

Em transição

Segundo o Comité para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres, mais de metade das mulheres com idades compreendidas entre os 15 e os 49 anos já sofreu violência.

Para Virgílio Guterres, os timorenses ainda estão na fase de transição para uma “nova mentalidade”.

Questionado sobre se a “nova mentalidade” já se começa a sentir nas mulheres mais jovens, o provedor dos Direitos Humanos afirmou que em Díli as “coisas já começaram a mudar” e que “já têm coragem” para questionar e discutir assuntos como o “barlaque” (dote dados pelas famílias das mulheres às famílias dos homens com quem vão casar).

Outro assunto que contribui para essa abertura, segundo o provedor dos Direitos Humanos, foi a questão do abuso sexual por parte de um elemento da igreja.

Segundo Virgílio Ferreira foi “uma campanha aberta”, com muitas ameaças, principalmente a jornalistas, mas um “passo importante para a abertura”, com os jovens a questionarem coisas do passado que eram tabu, tradições e costumes e práticas religiosas.

Salientando que também recebe críticas dos “colegas da igreja”, que o consideram um “liberal”, Virgílio Guterres defende que a actual sociedade não é a “1945 ou 1975”.

“Antigamente o que Roma falava só chegava aqui ao fim de 10 anos. Agora não, os jovens acompanham melhor o que o Papa está a fazer em Roma, do que os padres aqui. Penso que a Igreja Católica tem de continuar a envolver-se na formação e educação dos jovens, mas deve ajustar-se às novas mentalidades e valores e princípios do mundo novo”, defendeu o provedor.

Para Virgílio Guterres um dos exemplos da “nova mentalidade” passar pela alteração da lei do planeamento familiar, que só dá direitos às mulheres casadas e não às mulheres solteiras.

“E as casadas têm de ter autorização do marido para usar contracetivos e isto é uma violação dos direitos humanos. A mulher é que tem o direito de defender o seu corpo. Não é freira, nem o padre. A igreja tem de estar aberta à discussão”, salientou.

Questionado sobre a comunidade LGBTI+, Virgílio Guterres disse que “felizmente em Timor-Leste há uma pessoa corajosa como Bella Galhos”, referindo-se a uma activista daquela comunidade, que se “levantou contra a família, publicou os maus-tratos que sofreu” e organizou aquela comunidade.

“Isto significa que mesmo que aqui a igreja católica não fale, está a reconhecer a existência. Creio que algum dia a igreja tem de falar, porque estas pessoas também são parte da igreja e cidadãos de Timor e têm o direito de gozar os direitos que a Constituição lhes dá”, afirmou o provedor.

Timor-Leste, com cerca de 1,3 milhões de habitantes a maior parte dos quais católicos, já tem várias organizações não-governamentais que defendem os direitos daquela comunidade, que ainda é olhada com bastante preconceito e alvo de críticas.

5 Fev 2024

Evergrande | Liquidação é teste para investidores estrangeiros

A ordem de liquidação da imobiliária Evergrande por um tribunal de Hong Kong constitui um teste para investidores internacionais expostos a activos na China continental via territórios ‘offshore’, sem jurisdição no país, consideram analistas.

Embora as acções e as obrigações em dólares da Evergrande sejam transaccionadas em Hong Kong, a esmagadora maioria dos seus activos, avaliados em 242 mil milhões de dólares, estão no continente chinês. A liquidação ordenada pela juíza Linda Chan depende assim da vontade das autoridades chinesas.

“Boa sorte na execução”, reagiu Anne Stevenson-Yang, fundadora da J Capital Research, empresa de pesquisa de mercado focada na China, citada pelo jornal The Guardian.

Um resultado desfavorável para os investidores estrangeiros arrisca-se a exacerbar o pessimismo em relação à China e a comprometer o papel de Hong Kong como praça financeira de referência para as empresas chinesas angariarem fundos.

O lançamento por Pequim de uma campanha regulatória contra a indústria privada, incluindo os sectores imobiliário, educação ou tecnologia, suscitou já preocupação entre os investidores de que os seus interesses serão sempre secundários em relação aos planos do Partido Comunista.

O índice da Bolsa de Valores de Hong Kong que reúne empresas do continente chinês, o Hang Seng China Enterprises, caiu esta semana para o seu nível mais baixo desde 2005. As vendas por investidores estrangeiros de acções cotadas na China continental ascenderam, em 2023, a 29 mil milhões de dólares, uma queda de 87 por cento no investimento estrangeiro líquido. Em Janeiro as vendas ascenderam a 2 mil milhões de dólares.

 

Queda do gigante

George Magnus, economista e associado da Universidade SOAS de Londres, advertiu que os detentores de obrigações estrangeiros vão ser “deixados ao abandono”.

O Governo chinês “não quer certamente dar prioridade à compensação das perdas dos credores estrangeiros em detrimento dos cidadãos nacionais”, considerou Magnus. “Na medida em que alguém vai pagar um preço, serão os detentores de obrigações estrangeiras”, disse.

Citado pela agência Bloomberg, Brock Silvers, director executivo da empresa de capitais privados Kaiyuan Capital, considerou também que a “ordem de liquidação deve ter um impacto imediato muito limitado nas operações ou nos activos da Evergrande situados no continente chinês”.

“Embora o liquidatário possa provavelmente exercer controlo sobre activos ‘offshore’, a sua autoridade não será reconhecida ‘onshore’”, disse.

O termo ‘offshore’ refere-se a uma zona financeira que não está sujeita à legislação do país onde a empresa tem os seus activos e operações.

Na década que se seguiu à entrada da Evergrande na bolsa, as suas acções subiram 800 por cento.

Em 2021, no entanto, os reguladores chineses passaram a exigir às construtoras um tecto de 70 por cento na relação entre passivo e activos e um limite de 100 por cento da dívida líquida sobre o património, visando desalavancar o sector.

Isto suscitou uma crise de liquidez. Com um passivo de 300 mil milhões de dólares – superior ao Produto Interno Bruto de Portugal – o grupo perdeu acesso ao crédito e entrou em incumprimento.

5 Fev 2024

Chinesas culpam expectativas tradicionais pela queda da natalidade

Uma maior consciência sobre desigualdade de género e os altos custos associados a criar um filho explicam a queda abrupta no número de nascimentos na China, apesar dos esforços de Pequim para incentivar a natalidade.

“As mulheres estão mais conscientes”, explicou Zhao Hua, uma chinesa de 28 anos natural de Pequim, à agência Lusa. “A desigualdade de género continua a ser profunda na China: os homens querem uma família tradicional, na qual a mulher toma conta dos filhos e das tarefas domésticas”, acrescentou.

Várias jovens mulheres chinesas ouvidas pela Lusa sublinharam essa discrepância nas expectativas, numa sociedade que se modernizou a um ritmo sem paralelo na História moderna. Segundo o Banco Mundial, em 1980, apenas 19,4 por cento da população chinesa vivia em zonas urbanas. Em 2023, a taxa ascendeu a cerca de 66 por cento.

As expectativas sobre o papel da mulher na sociedade, no entanto, mantiveram-se.

“Muitas das minhas amigas que casaram e têm filhos queixam-se que acabam por ter que criar os filhos e o marido”, explicou Yang Qian, chinesa natural da província de Hebei, adjacente a Pequim, à Lusa.

“Mas as mulheres têm agora a sua própria carreira e rendimentos e não querem desempenhar esse papel”, notou.

Outra razão “importante” é uma maior sensibilização sobre o desgaste físico causado pela gravidez e trabalho de parto, disse à Lusa uma chinesa natural da província de Guangdong, no sudoeste da China. “Com as redes sociais as mulheres passaram a partilhar mais informação sobre o impacto da gravidez. É um tema de grande importância”, vincou.

 

Declínio inevitável

Segundo dados oficiais, em 2023, a população chinesa diminuiu em dois milhões de pessoas, a segunda queda anual consecutiva, face à descida dos nascimentos e aumento das mortes, após o fim da estratégia ‘zero casos’ de covid-19.

O número marca o segundo ano consecutivo de contracção, depois de a população ter caído 850.000 em 2022, quando se deu o primeiro declínio desde 1961.

A queda e o envelhecimento da população estão a preocupar Pequim, à medida que privam o país de pessoas em idade activa necessárias para manter o ímpeto económico. A crise demográfica, que chegou mais cedo do que o esperado, está já a afectar o sistema de saúde e de pensões, destacaram observadores.

A China acelerou o problema com a política do filho único, que reprimiu a taxa de natalidade, entre 1980 e 2015.

“Era inevitável”, comentou à Lusa o funcionário de um órgão estatal chinês sobre o fim daquela política, aludindo à crescente pressão no sistema de pensões do país, fruto do rápido envelhecimento da sociedade. “A questão é saber quem é que tem tempo e dinheiro para criar duas crianças”, acrescentou.

O fim da política de filho único resultou num leve repique no número de nascimentos em 2016, mas, nos anos seguintes, as cifras continuaram a cair.

O número de nascimentos no país asiático caiu de 17,86 milhões, em 2016, para 9,02 milhões, em 2023, uma queda superior a 50 por cento.

Estas tendências demográficas tornam duvidosas as perspectivas económicas a longo prazo da China, indicou num relatório o grupo de reflexão (‘think tank’) Peterson Institute for International Economics, que tem sede em Washington.

“Até que ponto é credível aumentar o consumo das famílias chinesas quando o número real de consumidores está a diminuir em milhões todos os anos e o grupo de consumo mais intensivo, os recém-nascidos, está a diminuir tão rapidamente”, questionou.

“A longo prazo, as perspectivas de que a China ultrapasse a dimensão da economia dos Estados Unidos devem ser descartadas”, vincou.

5 Fev 2024

Angola | Alteração no investimento chinês gera oportunidades

O investimento chinês na antiga colónia portuguesa está a virar-se para fontes de energia limpas em detrimento do financiamento de projectos de combustíveis fósseis

 

Analistas defendem que a reconfiguração do modelo de financiamento ao exterior pela China, visando reduzir riscos de incumprimento e apoiar a transição energética, resultou numa queda no investimento em África, mas pode gerar oportunidades para Angola.

No âmbito da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, a China cimentou a sua posição como credora dos países africanos, através do financiamento e construção de portos, aeroportos, linhas ferroviárias ou autoestradas.

No entanto, a crise de dívida entre os países em desenvolvimento, as alterações climáticas e o abrandamento da economia chinesa, levaram Pequim a mudar o paradigma, com apostas em projectos mais pequenos e nas energias renováveis.

Investigadores do Global China Initiative (GCI), no Centro de Política de Desenvolvimento Global da Universidade de Boston, nos Estados Unidos, apontam um declínio persistente dos novos empréstimos por entidades chinesas a mutuários governamentais africanos, que se acentuou nos últimos anos.

O valor dos novos empréstimos caiu de um pico de 28,5 mil milhões de dólares, em 2016, para pouco menos de mil milhões de dólares, em 2022 – o segundo ano consecutivo em que os empréstimos caíram abaixo dos dois mil milhões de dólares.

“A iniciativa ‘Uma Faixa, Uma Rota’ parece estar num período de reconfiguração”, observou Oyintarelado Moses, analista de dados no GCI, à agência Lusa, numa entrevista por escrito.

Também Michael Pettis, professor de teoria financeira na Faculdade de Gestão Guanghua, da Universidade de Pequim, apontou um formato de pirâmide no gráfico do investimento chinês a nível mundial, com uma ascensão repentina que atinge o pico em 2016 e regista, logo de seguida, uma descida abrupta.

O ponto de viragem foi a entrada em incumprimento da Venezuela, explicou Pettis à agência Lusa. Segundo diferentes estimativas, Caracas deve actualmente 10 mil milhões de dólares a diferentes instituições chinesas.

“Isto foi um choque muito grande para Pequim”, referiu o economista, que vive no país asiático há mais de duas décadas. “Foi a primeira vez que [a China] percebeu que conceder empréstimos a países em desenvolvimento é bastante arriscado e que, quando há uma expansão demasiado rápida, é provável que surjam problemas”.

A pandemia da covid-19 e o aumento das taxas de juros nos últimos anos, em resposta à inflação galopante na economia mundial, terão tornado a China ainda mais cautelosa.

“A maior mudança que temos de reconhecer é que a era das taxas de juro baixas e do dinheiro barato que saía da China para estes países acabou”, disse Ammar A. Malik, investigador da unidade de investigação AidData do Instituto de Investigação Global de William & Mary, nos EUA.

“O desafio [para a China] é agora garantir que estes países têm liquidez suficiente e que estes projectos são suficientemente funcionais para que [Pequim] possa cobrar os seus reembolsos com juros e atempadamente”, afirmou.

Aposta verde

Nos últimos anos, vários governos beneficiários solicitaram aos credores, incluindo a China, um adiamento ou alívio da dívida.

No caso de Angola, um dos principais mutuários da China em África, a queda no investimento pode estar associada à decisão das autoridades chinesas de reduzir o financiamento de projectos de combustíveis fósseis e direccionar o dinheiro para fontes de energia mais limpas.

O Presidente chinês, Xi Jinping, anunciou, em 2021, que a China vai passar a apoiar “fortemente” o desenvolvimento verde nos países mais pobres.

“Este compromisso provavelmente resultará em apoio financeiro ao desenvolvimento das energias renováveis em Angola”, frisou Oyintarelado Moses.

“Futuras oportunidades de financiamento da China podem apoiar a transição energética de Angola e diversificar a sua economia, altamente dependente das exportações de petróleo”, disse.

5 Fev 2024

SMG | Temperaturas devem subir 1,3 graus entre 2041 e 2060

Com a temperatura em Macau a aumentar, os SMG prevêem que os “fenómenos meteorológicos de temperatura elevada” também se tornem mais frequentes. As previsões foram realizadas com base no relatório sobre alterações climáticas 2023, do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas

 

As temperaturas médias máximas anuais em Macau, em meados do século XXI (2041-2060), devem subir cerca de 1,3°C e 1,6°C, respectivamente, em relação à média de 1995-2014, de acordo com as autoridades locais.

Os Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) de Macau afirmaram que a temperatura global em Macau vai continuar a aumentar e os fenómenos meteorológicos de temperatura elevada vão tornar-se mais frequentes no século XXI.

Os serviços de meteorologia basearam-se no relatório sobre alterações climáticas 2023, do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), para projectar as alterações climáticas de Macau no século XXI sob diferentes cenários de emissões, de acordo com a informação publicada no ‘site’ da DSMG na quinta-feira.

Assim, no futuro, o número de dias muito quentes em Macau vai aumentar à medida que a temperatura global subir.

“No cenário de emissões médias, o número de dias muito quentes em meados do século XXI (2041-2060) vai aumentar para 77,7 dias por ano, em comparação com a média de 27,8 dias por ano em 1995-2014, e o número de dias muito quentes no final do século XXI (2081-2100) deverá ultrapassar os 100 dias por ano”, indicaram.

 

Menos CO2 só após 2050

Os SMG previram ainda que, com base nas actuais medidas globais de redução de emissões, se verifique um declínio gradual das emissões de CO2, depois de um pico em meados do século XXI.

“No entanto, se o público for pró-activo na redução das emissões de gases com efeito de estufa e atingir os objectivos do Acordo de Paris o mais rapidamente possível, ainda é possível limitar o aquecimento futuro de Macau a um nível mais baixo”, consideraram.

O Acordo de Paris é um tratado internacional juridicamente vinculativo sobre as alterações climáticas.

Foi adoptado por 196 Partes na Conferência da ONU sobre Alterações Climáticas (COP21), em Paris, França, a 12 de Dezembro de 2015, tendo entrado em vigor a 4 de Novembro de 2016.

O objectivo global é manter “o aumento da temperatura média global bem abaixo dos 2°C” em relação aos níveis pré-industriais.

No entanto, nos últimos anos, os líderes mundiais têm sublinhado a necessidade de limitar o aquecimento global a 1,5°C até ao final deste século, de acordo com a ONU.

5 Fev 2024