Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeHengqin | Empresa de Chan Chak Mo ainda não decidiu se vende participação A empresa do deputado Chan Chak Mo ainda não concluiu as negociações para a venda total ou parcial das acções relativas a um projecto comercial que está a ser desenvolvido na Ilha de Hengqin. O grupo planeia abrir este ano um restaurante com o nome “Azores” em Macau e Hong Kong [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s investimentos que a empresa do deputado Chan Chak Mo pretende fazer na Ilha de Hengqin têm sofrido vários contratempos. Isto porque, de acordo com o comunicado da Future Bright Holdings enviado à bolsa de valores de Hong Kong, a empresa está ainda a negociar com uma terceira parte a venda total ou parcial da participação da empresa num projecto ligado ao sector da restauração, que inclui a concessão de um terreno e a respectiva renda mensal. “Tal como já foi anunciado, o grupo continua em negociações com uma potencial parte, que é uma terceira parte independente, para a venda parcial ou total das acções do grupo no desenvolvimento de um projecto na Ilha de Hengqin. Essas negociações continuam”, alerta a empresa, que também avisa os accionistas de que o acordo pode não ter quaisquer resultados. “Os accionistas e potenciais investidores na empresa devem ter em conta que as negociações podem ou não materializar-se, e que não existem quaisquer garantias de que este acordo venha a concretizar-se. Potenciais investidores devem ter cautela na hora de lidar com as acções da empresa”, lê-se no comunicado. Em Dezembro do ano passado, a empresa comunicou à bolsa de valores de Hong Kong que tinha ficado isenta do pagamento de multas relativa ao terreno em Hengqin. Isto porque a Future Bright Holdings chegou a acordo com o Comité Administrativo para o Planeamento e Desenvolvimento de Terras de Zhuhai e ficou “exonerada” do pagamento de multas diárias de 628 mil yuan. A empresa corria o risco de ter de pagar multas devido aos atrasos na construção das fundações do futuro empreendimento comercial. O contrato assinado com as autoridades do interior da China obrigava a Bright Sucess Property, uma subsidiária da Future Bright Holdings, a obter uma licença para a construção das fundações até 28 de Novembro de 2015. Contudo, a empresa teve de esperar pela aprovação do projecto por parte das autoridades da Ilha da Montanha. Este atraso poderia ter originado a quebra do contrato e o pagamento das referidas multas, mas a empresa sempre contestou a acusação, apontando que tudo se deveu ao longo período de tempo gasto com trocas de ideias sobre o projecto, com diferentes departamentos governamentais. Açores na Ásia A empresa do deputado eleito pela via indirecta tem ainda planos para abrir este ano um restaurante de comida portuguesa, com o nome “Azores” (Açores), em Hong Kong e também em Macau. Espera-se que no terceiro trimestre deste ano, o restaurante abra portas em Shatin, Hong Kong, e também no Aeroporto Internacional de Macau e no Parisian, inserido num espaço de restauração com outras marcas. Além disso, a Future Bright Holdings pretende abrir mais dois restaurantes no aeroporto, três restaurantes no empreendimento Parisian e mais dois espaços em Hong Kong, em Tsim Sha Tsui e West Kowloon Terminal. O grupo, proprietário da “Casa Amarela”, espaço comercial localizado perto das Ruínas de São Paulo, terá registado perdas no primeiro semestre de 21,2 milhões de dólares de Hong Kong, um aumento anual das perdas de 143,7 por cento. Um dos motivos prende-se com o facto da “Casa Amarela” não estar a ser arrendada. Antes de “ser” um café e uma loja de lembranças, a “Casa Amarela” acolheu uma loja de roupa da marca Forever 21, o que representava uma renda mensal superior a dois milhões de dólares de Hong Kong.
Andreia Sofia Silva PolíticaAutocarros | Coutinho questiona fusão a um ano de eleições [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado José Pereira Coutinho entregou uma interpelação escrita ao Governo onde questiona a fusão de duas operadoras de autocarros, a Nova Era e a Sociedade de Transportes Colectivos de Macau (TCM) a um ano da realização de eleições para o cargo de Chefe do Executivo. “A menos de um ano de eleição do novo Chefe do Executivo, quais as razões para a precipitada autorização da fusão das duas concessionárias de autocarros, [algo que prejudicou] a concorrência saudável que deveria existir para uma prestação de serviços de maior qualidade aos cidadãos e turistas?”, questionou. O também presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) afirma que não só a população ficou surpreendida com esta fusão, como também alguns deputados da Assembleia Legislativa (AL). “Até a Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Terras e Concessões Públicas, e a maioria dos deputados que normalmente acompanham de perto as questões relacionadas com as concessões públicas foram apanhados desprevenidos com a fusão previamente discutida e autorizada pelo Governo, dando agora o assunto como facto consumado.” Por esse motivo, o deputado questiona porque é que não foi realizada uma consulta pública sobre o assunto. “Que razões levaram o Governo a não proceder a uma alargada auscultação da população, aos conselhos consultivos do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, bem como a comissão de acompanhamento?”, questionou. José Pereira Coutinho teme também que venha a ocorrer uma segunda fusão de operadoras. “Tenciona o Governo, a médio e longo prazo, autorizar mais fusões das concessionárias de autocarros?”, inquiriu.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaCarta de Pereira Coutinho que fala de “ataques pessoais” a Sulu Sou não foi traduzida [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado José Pereira Coutinho revelou ontem ao HM que a carta que enviou ao presidente da Assembleia Legislativa (AL), Ho Iat Seng, a criticar a sua postura numa sessão plenária contra o deputado Sulu Sou, ainda não foi traduzida de português para chinês. “O presidente Ho Iat Seng está preocupado com a imagem que quer manter, até porque vai ser candidato a futuro Chefe do Executivo. Ele limitou-se a dizer que não têm tempo para traduzir. Estamos a falar de um documento que foi entregue há 10 dias”, contou. Coutinho acrescentou que a carta continua no gabinete do presidente da AL apenas na versão original. “Ele só diz que não tempo. Foi o que me disse pessoalmente. Diz que os tradutores não têm tempo.” De frisar que, no hemiciclo, apenas três deputados dominam o português: José Pereira Coutinho, Iau Teng Pio e Vong Hin Fai. Os restantes dominam apenas o chinês ou o chinês e inglês. Na carta enviada a Ho Iat Seng, Pereira Coutinho acusa-o de ter dado uma “bronca” a Sulu Sou e de lançar um “ataque pessoal” contra o pró-democrata. “Inadequada, injusta e claramente para além do papel que está incumbido de cumprir”. É desta forma que o deputado José Pereira Coutinho define a “bronca” de Ho Iat Seng a Sulu Sou, quando o presidente da Assembleia Legislativa (AL) frisou no Plenário que o legislador tinha recebido o salário sempre, apesar de estar suspenso. Este debate, sobre a lei de reunião e manifestação, aconteceu no passado dia 30 de Julho. Ho Iat Seng criticou fortemente Sulu Sou, recordou ao deputado que lhe tinha sido pago o salário, apesar de estar suspenso, frisou que o legislador tinha criado trabalho extra aos funcionários da AL e terminou a pedir-lhe que fosse ler as regras do hemiciclo. Na origem da reprimenda esteve o facto de Sulu Sou ter sugerido que a lei voltasse para a comissão de análise, após ter apresentado um requerimento rejeitado, na manhã do próprio dia, a sugerir que fosse o Chefe do Executivo a autorizar as manifestações, em vez do Corpo de Polícia de Segurança de Pública.
Andreia Sofia Silva PolíticaAL | Si Ka Lon diz que Governo não tem “determinação” para resolver problemas Terminado o ano legislativo, os deputados Si Ka Lon e Song Pek Kei afirmam que o actual sistema de produção de leis não funciona. Si Ka Lon diz mesmo que o Governo usa sempre as expressões “estudo”, “o mais cedo possível” ou “envidar esforços” mas que, na prática, não é determinado a resolver os problemas [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s deputados Si Ka Lon e Song Pek Kei fizeram ontem o balanço da primeira legislatura após as eleições de Setembro de 2017, continuando a ter como principais críticas a inacção do Governo e a lentidão no processo de produção de leis por parte do Executivo. Em conferência de imprensa, Si Ka Lon, que em 2013 foi eleito como número dois de Chan Meng Kam no hemiciclo, referiu que um dos problemas mais graves da Administração prende-se com a falta de determinação para resolver questões difíceis. Na sua visão, apesar dos membros do Executivo parecerem ocupados, não existem resultados visíveis e satisfatórios. Além disso, o deputado defendeu que alguns membros do Governo têm conhecimento dos problemas que existem, mas simplesmente acabam por não divulgar a verdade e utilizam sempre expressões como “o mais cedo possível”, “vamos estudar o assunto” e “vamos envidar esforços”, quando questionados pelos jornalistas ou deputados. Para Si Ka Lon, isso é sinal de que muitos membros do Governo trabalham de forma passiva, o que acaba por dificultar o trabalho dos deputados na Assembleia Legislativa (AL). Neste sentido, a colega de bancada, Song Pek Kei, deu um exemplo de como o calendário da entrega dos propostas de lei acaba por afectar de forma negativa o trabalho dos 33 deputados. “Há insuficiências ao nível da organização, porque algumas propostas de lei só chegam à AL quando se aproxima o fim da legislatura. Isso faz com que não haja tempo suficiente para apreciar todas as propostas. Apesar dos deputados terem pedido melhorias por diversas vezes, a situação continua, e isso faz com que não haja tempo suficiente para apreciar todos os projectos de lei. Para Song Pek Kei, isso faz com que muitas leis não tenham a qualidade que deveriam, o que impacta negativamente a AL e a estabilidade dos sistemas. Existem limitações Song Pek Kei não deixou de apontar o dedo ao actual sistema de produção legislativa, em que todos os projectos de lei são transferidos dos diferentes departamentos para a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ), que passou a ter um papel de coordenação. Nesse sentido, a deputada pede mudanças. “A DSAJ deve continuar a coordenar os diplomas mais relevantes, que possam causar impacto na vida das pessoas ou na economia. Mas as outras propostas de lei, com um menor impacto, deveriam ser coordenadas pelos respectivos serviços, para que se possa aumentar a eficiência do processo”, frisou. Para Song Pek Kei, a ideia de base do actual sistema é boa, mas na prática existem obstáculos. “Como há várias propostas de lei, os recursos humanos de que dispõe a DSAJ não chegam para garantir que tudo é feito com a devida qualidade.” Além disso, “as orientações em termos de centralização não têm um efeito vinculativo, o que faz com que a DSAJ não tenha uma relação de pertença ou um papel fiscalizador em relação aos restantes serviços públicos, levando a que os resultados em termos de coordenação sejam limitados”. Durante o ano legislativo, o gabinete dos deputados registou quase cinco mil pedidos de ajuda por parte dos cidadãos. A maior parte dos casos dizem respeito à habitação, administração predial, consulta jurídica, assuntos na China e reuniões familiares.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeCriptomoeda | Frederico do Rosário acusa Dennis Lau de difamação Frederico do Rosário, filho de Rita Santos, envolvido no escândalo de alegada fraude em criptomoeda, emitiu ontem um comunicado onde afirma estar inocente. Além disso, garante que vai processar por difamação Dennis Lau, empresário de Hong Kong e director da Forger Tech. “Tendo em consideração os danos infligidos pelo senhor Dennis Lau ao meu nome e à minha reputação, através da sua campanha de desinformação, vou iniciar um processo junto das autoridades judiciais de Macau de forma a mover uma acção judicial pelo crime de difamação. Já constituí um representante legal para defender os meus direitos até aos máximos limites previstos na lei.” Frederico do Rosário assume ter na sua posse “documentos que comprovarão integralmente a falsidade das imputações”, prometendo continuar a “cooperar com as investigações judiciais em curso contra o senhor Dennis Lau e a Forger Tech, em Hong Kong e Macau”. O filho de Rita Santos protagonizou, na sede da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), em Janeiro, um seminário onde se falou sobre jogos electrónicos e a criptomoeda. Contudo, o que seria, à partida, uma sessão de esclarecimento, revelou-se uma sessão de convite ao investimento em criptomoeda, que terá defraudado 70 pessoas em Macau. Foi-lhes prometida uma devolução de 25 por cento dos juros sobre o investimento feito para a aquisição de máquinas para a actividade de mineração de criptomoeda, mas muitos afirmam terem deixado de receber o dinheiro em Junho. Dennis Lau também disse à TDM que os contratos terão sido forjados para que os familiares de Frederico do Rosário recebessem mais juros do que os restantes investidores. No seu comunicado, Frederico do Rosário menciona o facto do empresário de Hong Kong estar “a ser investigado pelas autoridades judiciais de Hong Kong e Macau por suspeita de ter defraudado clientes da Forger Tech”. O que este disse à TDM serviu, na visão de Rosário, para “desviar a atenção das graves acusações de que é alvo e que estão a ser investigadas pelas autoridades competentes”. “Não sou sócio” Frederico do Rosário adiantou também não ter qualquer ligação à Forger Tech, mas a outra empresa. “Ao contrário do que o senhor Dennis Lau fez saber aos meios de comunicação social, eu não sou sócio nem estou de maneira alguma associado com a Forger Tech ou com as suas operações. Sou sócio minoritário (10 por cento) da Genesis Hong Kong Limited, que é uma empresa detida maioritariamente pelo Sr. Dennis Lau, cujo objecto social é co-investir na actividade de mineração de criptomoeda juntamente com a Forger Tech, e na venda de computadores.” O filho de Rita Santos acrescentou que foi “convencido a investir na Genesis Hong Kong Limited e, de boa-fé, levado a crer que as suas actividades eram legítimas”. “Na qualidade de sócio minoritário não detenho qualquer poder de decisão nem poderes para outorgar documentos da empresa. Por exemplo, não detenho poderes para assinar e aprovar quaisquer pagamentos ou representar a sociedade através da minha assinatura.” À TDM, Dennis Lau explicou que Frederico do Rosário o tinha convencido a trazer o negócio da criptomoeda para Macau e que tinha poderes para gerir os contratos assinados e todos os investimentos feitos. Algo que Frederico do Rosário vem agora negar no comunicado. “O meu envolvimento na actividade comercial do Sr. Dennis Lau em Macau limitava-se a apresentar clientes à Forger Tech para celebração de contratos de compra de “hardware” para mineração de criptomoeda.” Mais uma vez, Frederico do Rosário garante ser também umas das vítimas. “Eu próprio e vários membros da minha família próxima fomos convencidos a assinar estes contratos acreditando que representavam uma oportunidade de investimento sólida, pelo que também nós fomos defraudados com um significativo montante de fundos investidos.” Sem alterações Frederico do Rosário também rejeita a acusação de ter alterado os contratos. “Não falsifiquei nem alterei ilegalmente qualquer dos contratos celebrados com a Forger Tech. Estes contratos foram verificados pelas partes envolvidas, nomeadamente as vítimas (incluindo eu próprio e membros da minha família) e Dennis Lau. Os retornos ou rendimentos (pagamentos de aluguer) das sete rondas de investimentos nos quais as vítimas estão envolvidas, incluindo quaisquer alterações aos mesmos, foram preparados, propostos, enviados e reverificados pelo senhor Dennis Lau, antes de serem assinados pelo próprio senhor Dennis Lau e selados pela Forger Tech.”
Andreia Sofia Silva China / Ásia MancheteActivista pró-independência discursou em Hong Kong numa palestra que desafiou Pequim Com agência Lusa Um activista independentista discursou hoje no Clube de Correspondentes Estrangeiros de Hong Kong, apesar de Pequim ter pedido o cancelamento da palestra que foi marcada por manifestações pró-independência, pró-China e pró-democracia Um pequeno grupo intitulado de União da Independência dos Estudantes manifestou-se em apoio ao discurso proferido no Clube de Correspondentes Estrangeiros de Hong Kong (FCC, na sigla em inglês) por Andy Chan, líder do Partido Nacional e defensor da independência desta região especial administrada pela China. Manifestantes pró-democracia, apesar de serem contra a independência, afirmaram ser a favor do direito de liberdade de imprensa e liberdade de expressão em Hong Kong. Os activistas pró-independência chegaram a entrar em confronto com a polícia, enquanto dezenas de partidários pró-Pequim gritaram palavras de ordem contra os ativistas. “Mandem gás contra os espiões!”, foi um dos slogans que os manifestantes a favor de Pequim entoaram, de acordo com a agência de notícias France-Presse. A palestra de Andy Chan sobre “O nacionalismo de Hong Kong: um guia politicamente incorrecto para Hong Kong sob o governo chinês”, foi criticada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros de Pequim que chegou a pedir o seu cancelamento. Este pedido, o primeiro deste tipo desde 1997, data da transferência de soberania do Reino Unido para a China, surge numa altura em que Pequim continua a reforçar o domínio sobre aquele território que, ao abrigo da lei básica local, goza de liberdade de expressão e poder judicial independente. O FCC recusou-se a aceder ao pedido de Pequim, reiterando que as opiniões de diferentes, em qualquer debate, devem ser ouvidas. Durante a palestra, Andy Chan agradeceu ao FCC por defender a liberdade de expressão e por não ter cedido às pretensões chinesas. Governo repudia palestra O FCC decidiu avançar com a realização da palestra apesar das críticas já apontadas pela Chefe do Executivo, Carrie Lam, e o anterior governante, CY Leung. Ontem foi emitido um comunicado oficial onde o Executivo da região vizinha “lamenta profundamente a realização da palestra e o convite feito a um orador que evoca a independência de Hong Kong”. Citado pelo mesmo comunicado, um porta-voz do Governo adiantou que “é totalmente inapropriado e inaceitável para qualquer pessoa promover abertamente e invocar a independência de Hong Kong”. É também “totalmente inapropriado e inacetitável para qualquer entidade providenciar uma plataforma pública que promova tais opiniões”. As autoridades invocam ainda a Lei Básica de Hong Kong, que “estipula clatamente que a RAEHK é parte inalianável da República Popular da China (RPC)”, pelo que “invocar a independência de Hong Kong é uma violação clara da Lei Básica e é uma afronta directa à soberania nacional, à segurança e integridade regional da RPC”. Apesar destas críticas, o Governo frisou a importância que dá à liberdade de expressão e de imprensa. “Temos apoiado de forma continuada o trabalho do FCC nas últimas décadas. Contudo, providenciar uma plataforma pública para um orador que publicamente defende a independência do território desconsidera os deveres constitucionais de Hong Kong tendo em conta a soberania nacional.” A transferência da soberania britânica de Hong Kong para a China ocorreu a 1 de julho de 1997. Pequim garantiu, tal como em Macau, o princípio “um país, dois sistemas”, um período de transição de 50 anos durante o qual o território manterá uma autonomia alargada. Trinta e cinco dos 70 lugares no Conselho Legislativo de Hong Kong são eleitos através de sufrágio universal, enquanto os restantes são diretamente designados por grupos de poder, muitos deles considerados próximos de Pequim. As pretensões independentistas e pró-democracia ganharam força após a chamada Revolução dos Guarda-Chuvas, em 2014, e que paralisou o centro financeiro de Hong Kong.
Andreia Sofia Silva PolíticaAL | Sulu Sou diz que deputados nomeados são “sequela nociva” da Administração portuguesa Sulu Sou exigiu ontem no hemiciclo o fim do sistema de nomeação de deputados pelo Chefe do Executivo, pois considera que esta é uma consequência “nociva” do período pré-1999 e que faz com que o hemiciclo continue a ser uma “Assembleia do lixo”. Os deputados Song Pek Kei e Vong Hin Fai protestaram e a intervenção será analisada pela Comissão de Regimento e Mandatos [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]intervenção de ontem de Sulu Sou na Assembleia Legislativa (AL) voltou a gerar reacções negativas por parte dos seus colegas de bancada. Sulu Sou, ligado à Associação Novo Macau e ao movimento pró-democrata, pediu o fim do sistema de nomeação de sete deputados por parte do Chefe do Executivo e apontou o dedo à Administração portuguesa. “A Administração portuguesa excluiu a participação política dos chineses, e só os de nacionalidade portuguesa e os que sabiam ler e escrever é que tinham direito ao voto. Os chineses só começaram a participar no sufrágio directo após a dissolução da AL pelo governador, em 1984.” Por este motivo, “a Administração portuguesa deixou alguns sistemas políticos ‘nocivos’ e injustos”, pois “um dos meios para evitar que a comunidade chinesa fiscalizasse e controlasse o Governo colonial era o regime de nomeação dos deputados à AL pelo Governador, protegendo assim os interesses instalados da metrópole”. Para Sulu Sou, “a injustiça destas sequelas da colonização persiste”, uma vez que “o resíduo da nomeação mantém-se até hoje, passando a proteger os interesses instalados do Governo”. “Por um lado aplicam-se os princípios ‘Um País, Dois Sistemas’ e de Macau governada pelas suas gentes com alto grau de autonomia. Mas, por outro lado, há a nomeação pelo Chefe do Executivo, isto é, uma só pessoa na posse de sete boletins de voto. Isto sim é a maior ofensa à democracia”, acrescentou. O deputado é da opinião de que se a AL continua a ser considerada “lixo” por muitos residentes, isso deve-se ao legado político que os portugueses deixaram. “Não há necessidade de manter o regime de nomeação, uma relíquia da colonização que contribui para a AL continuar a ser, nas palavras dos cidadãos, a ‘Assembleia do lixo’ e se transformar numa ‘chancela de borracha’.” Sulu Sou referiu também que, na última legislatura, os deputados nomeados apresentaram pouco mais de três interpelações questionando o Executivo. “Não há dúvidas de que o regime de nomeação contribui para salvaguardar os interesses adquiridos. Cidadãos, que tal adivinharmos quantas interpelações foram apresentadas pelos sete deputados nomeados na passada legislatura? A resposta é três interpelações e meia, por uma delas foi apresentada em conjunto com um deputado eleito pela via indirecta.” Comissão analisa Depois destas acusações, o deputado eleito pela via indirecta Vong Hin Fai decidiu intervir, invocando o Regimento da AL em sinal de protesto pelo vocabulário utilizado, pois defendeu que alguns termos são “discriminatórios”. “Isso cria uma má imagem para a AL. Os deputados devem respeitar a AL e contribuir com todos os esforços para o seu bom nome. Aproveito para protestar e evocar aqui reclamação e protesto, exigindo resposta ou justificação a estas afirmações.” Perante esta intervenção, o presidente da AL, Ho Iat Seng, garantiu que a intervenção de Sulu Sou será analisada pela Comissão de Regimento e Mandatos, da qual faz parte o deputado Vong Hin Fai. Outra deputada que repudiou estas afirmações do deputado pró-democrata foi Song Pek Kei, apesar de ter sido eleita por sufrágio directo. “Lamento imenso que alguns colegas, mais do que uma vez, tenham vindo ultrajar o nosso Regimento. Quando não é do seu agrado dizem logo que é um Regimento de lixo. Devemos defender a dignidade e autoridade da AL. Há pouco, um deputado sugeriu a eliminação do regime de nomeação por parte do Governo, mas devo afirmar que esta afirmação não se coaduna com o que está consagrado na Lei Básica.” Fui atacado Após ter exigido o fim dos deputados nomeados, Sulu Sou acusou os seus colegas de o terem atacado no plenário que aprovou, na especialidade, a lei que cria o Instituto para os Assuntos Municipais. “No último plenário, os deputados nomeados atacaram um deputado eleito pelos cidadãos, uma situação que foi bastante ridícula. O público compreende que se trata apenas de uma vingança por parte dos titulares dos interesses adquiridos sob este regime político, que visou reprimir as vozes com poder delegado pela população, impedindo-as de continuar a criticar e a promover as acções governativas.” “Apesar disso, compreendo completamente que tenham a responsabilidade de ‘cumprir as suas funções’ perante quem os nomeou e em frente às câmaras”, rematou Sulu Sou.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaChefe do Executivo | Pró-democratas questionam legalidade das últimas eleições A questão foi levantada pelo deputado Sulu Sou: a inexistência de órgãos municipais sem poder político pode ter originado inconstitucionalidades nas últimas três eleições para Chefe do Executivo. A razão prende-se com a falta de membros na Comissão Eleitoral ligados a este órgão. Governo e alguns colegas de bancada afastaram esta possibilidade [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]criação do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) vai obrigar à alteração da lei eleitoral para a eleição do Chefe do Executivo, para que se possam incluir os dois membros do conselho de administração do IAM. A alteração ao diploma foi ontem aprovada na generalidade, apesar dos quatro votos contra do campo pró-democrata, onde se incluem os deputados Sulu Sou, Ng Kuok Cheong, Au Kam San e José Pereira Coutinho. Um dos argumentos utilizados por Sulu Sou para votar contra foi o facto de, desde 2001, não ter existido um órgão municipal sem poder político (o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais não tinha esse estatuto), o que, na prática, significava que faltavam dois membros desta entidade na Comissão Eleitoral que elege o Chefe do Executivo. Por essa razão, Sulu Sou questionou a possibilidade das últimas três eleições, que elegeram Edmund Ho e Chui Sai On, terem sido inconstitucionais. “A lei eleitoral foi revista mas faltaram sempre os membros dos órgãos municipais sem poder político. Existem ou não vícios? Nesses três mandatos, o Chefe do Executivo foi eleito não tendo sido cumprida a Lei Básica”, referiu. Os pró-democratas lembraram também que os membros do IAM serão nomeados pelo próprio Chefe do Executivo, participando depois no colégio que o vai eleger. Na visão de Sulu Sou, “o IAM tem de ter uma participação cívica e não deve ser apenas uma entidade incumbida pelo Governo”. As próximas eleições para Chefe do Executivo acontecem já no próximo ano e, para Sulu Sou, “alguns residentes já têm preocupações sobre o alegado ambiente de corrupção das próximas eleições”. Isto porque “no seio de 400 membros é mais fácil esconder determinados interesses. Não falamos apenas de oferecer um pequeno-almoço como no sufrágio directo, mas podemos falar da oferta de um terreno”. Para Au Kam San, “os quatro sectores profissionais da comissão eleitoral tiveram falta de representantes e, em termos constitucionais, há falhas”. O deputado entende que estamos perante “um problema, pois houve falhas na eleição do Chefe do Executivo e agora os dois membros do IAM visam colmatar as lacunas, mas estes não são eleitos pela população”, frisou. Agnes Lam foi a única deputada a apontar que Sulu Sou e Au Kam San tinham ido longe demais. “O nosso sistema tem as suas falhas e há falta de democracia e abertura. Espero que o Governo possa, no âmbito do IAM, reforçar o teor democrático. Mas dizer que as últimas eleições foram ilegais, penso que é uma afirmação muito gravosa e que ultrapassa a nossa competência.” No campo político, a deputada frisou que “estamos a ser influenciados por aquilo que se passa em Hong Kong e o Governo deve saber quais são as opiniões da nossa sociedade”. Os membros do Governo presentes na sessão plenária rejeitaram as acusações. “Esta lei (da eleição do Chefe do Executivo) contou com a maioria dos votos a favor dos deputados. A criação do IAM foi feita de acordo com a Lei Básica, e a ideia é aperfeiçoar a comissão eleitoral para que melhor corresponda à Lei Básica. Dizer que as eleições foram ilegais não tem lógica”, apontou a secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan. Segue Hong Kong? Esta questão voltou a suscitar debate sobre a eleição do Chefe do Executivo pela via do sufrágio universal, razão pela qual Sulu Sou foi acusado por vários deputados nomeados de se desviar do tema da proposta de lei. Chan Wa Keong chegou mesmo a questionar se Sulu Sou pretende seguir o movimento pró-democracia que existe em Hong Kong. “Não podemos impedir que um deputado intervenha, mas não se afaste do tema de discussão. Se o poder de intervenção não é bem exercido então passa a ser um abuso. Não sei se é pelo caminho de Hong Kong que quer enveredar”, interrogou o deputado nomeado pelo Chefe do Executivo à beira de perder a paciência. Já Ma Chi Seng, também nomeado, defendeu que “o avanço democrático em Macau deve ser feito passo a passo”, mas que é algo que “não está previsto nesta proposta de lei”. Iau Teng Pio, deputado nomeado e professor de Direito na Universidade de Macau, lembrou que para se aferir “se a eleição do Chefe do Executivo é ou não democrática, temos de olhar para as normas da Lei Básica”. “Não são as eleições que vão trazer repercussões para a nossa estabilidade política. Há três forças, como o Governo Central, a AL, o Governo da RAEM e a população, e não podemos descurar nenhuma destas vertentes. Estes princípios ainda estão actualizados.” Já Sónia Chan garantiu que apenas o Executivo “vai continuar a desenvolver os regimes eleitorais”.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeCriptomoeda | Pereira Coutinho investiu cerca de 700 mil dólares de HK Documentos a que a Macau News Agency teve acesso revelam que o deputado José Pereira Coutinho investiu 700 mil dólares de Hong Kong no negócio da criptomoeda promovido pelo filho de Rita Santos. O contrato do deputado terá sido alterado ao nível da taxa de juro [dropcap]A[/dropcap]firma nada ter a ver com o assunto, que esteve presente no seminário de Janeiro “de passagem”, mas a verdade é que o deputado José Pereira Coutinho também investiu nas criptomoedas, num caso que envolve a Forger Tech, detida em 10 por cento pelo filho de Rita Santos, Frederico Rosário, e a Genesis Hong Kong Ltd.. Feitas as contas, a negociata poderá ter lesado cerca de 60 investidores em Macau. A agência de notícias teve acesso a alguns contratos assinados, onde se inclui o contrato do deputado e presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM). O contrato em questão data de 18 de Março e diz respeito a um investimento de 500 mil dólares de Hong Kong feitos por Pereira Coutinho na Forger CCMS, empresa ligada à Forger Tech que trata das operações de mining de criptomoeda. Este contrato terá sido alterado, pois inicialmente continha uma taxa de retorno de juro de 18 por cento por mês, esse valor foi riscado a caneta para ser substituído por uma taxa de retorno de 20 por cento, escreve a agência de notícias. No mencionado seminário sobre criptomoedas, que acabou por se transformar numa sessão para captar investidores, foi prometida uma taxa de retorno de 25 por cento ao mês. Depois desse contrato de 500 mil dólares de Hong Kong, Pereira Coutinho terá feito um segundo, no valor de 200 mil dólares de Hong Kong. Dennis Lau, empresário de Hong Kong ligado à Forger Tech, disse à TDM que também foi enganado por Frederico do Rosário, que terá alterado vários contratos para que os membros da sua família ganhassem mais juros que os restantes investidores. Dennis Lau, que fez queixa do caso às autoridades policiais de Hong Kong, adiantou que terá perdido, com este caso, cerca de três milhões de dólares norte-americanos. A Rádio Macau noticiou no sábado que a Polícia Judiciária (PJ), em Macau, já contactou um total de 25 residentes que investiram um montante total de 9,2 milhões de dólares de Hong Kong. Os investimentos individuais devem situar-se entre os dez mil e os dois milhões de dólares de Hong Kong. Confiança perdida Uma lesada com quem o HM falou, e que optou pelo anonimato, confidenciou ser próxima de Frederico do Rosário e da sua esposa, e que foi aliciada a investir através de mensagens enviadas via Whatsapp. “Eles promoveram bastante o plano de venda do Frederico e disseram-me que ele era director da empresa [Forger Tech]. No início não sabíamos que ele só tinha 10 por cento da empresa, e garanto que se todos soubéssemos que ele não detinha a empresa em cem por cento, não teríamos investido”, afirmou a lesada. Esta investidora participou no seminário que a Associação dos Trabalhadores da Função Pública (ATFPM) acolheu, em Janeiro. Lá, o filho de Rita Santos “disse ao microfone que era o proprietário da empresa juntamente com Dennis Lau”. “Nesse seminário, tanto o Frederico como a sua mãe, Rita Santos, disseram-nos que o investimento não tinha quaisquer riscos. Disseram-nos que, como o Frederico controlava o negócio, se houvesse algum problema ele e a sua mãe iriam devolver-nos o dinheiro em caso de alguma perda.” A lesada defendeu não saber a razão por detrás desse discurso, pois “a maior parte das pessoas que participam na segunda parte do seminário eram familiares ou amigos muito próximos deles”. “Todos os que investiram na criptomoeda fizeram-no confiando no Frederico e na Rita Santos”, frisou. Dennis Lau contou à TDM que tem vindo a falar com investidores de Macau, incluindo “pessoas famosas do Governo”. Esta lesada referiu que também tem mantido contacto com o empresário de Hong Kong para conseguir reaver o juro prometido, pois em Junho deixou de receber. “Perguntei ao Frederico e à sua esposa e eles disseram-me que não sabiam de nada e que eu deveria pedir informações ao Dennis e deram-me o seu contacto. Não sei se eles receberam mais de juro do que eu, eu enquanto recebi, recebi de acordo com o que ficou assinado”, rematou.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaONU | Peritos exigem ratificação de tratado sobre trabalhadores migrantes Peritos da Organização das Nações Unidas questionaram quando é que a China, Macau e Hong Kong vão aderir à convenção internacional sobre os direitos dos trabalhadores e suas famílias. Discriminação de minorias no acesso a alojamento foi outro dos temas abordados no relatório da ONU [dropcap style=’circle’]U[/dropcap]ma equipa do Governo da RAEM, onde se inclui o director da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ), Liu Dexue, esteve sexta-feira a discutir com os peritos da Organização das Nações Unidas (ONU) o relatório submetido pelas autoridades relativo à implementação da convenção internacional para a eliminação de todas as formas de discriminação racial. No encontro, os peritos questionaram quando é que a China e as respectivas regiões administrativas especiais (Macau e Hong Kong) vão ratificar a convenção internacional sobre os direitos dos trabalhadores migrantes e suas famílias. Esta convenção demorou mais de 20 anos a ser implementada e a sua ratificação por vários países não tem sido fácil, sobretudo aqueles que são destino de muitos trabalhadores migrantes. Caberá à China tomar esta decisão por se tratar de um Estado, não podendo a RAEM ratificar de forma independente a convenção. Na sessão, que se realizou em Genebra, Suíça, e que foi transmitida em directo nas redes sociais pelo website Hong Kong Free Press, o perito da ONU também questionou a China, Macau e Hong Kong sobre alegados casos de discriminação racial no acesso ao alojamento. “Recebemos informações de que as minorias étnicas enfrentam pressões e discriminação quando buscam por alojamento. Que tipo de discriminação enfrentam quanto procuram casa em Macau, Hong Kong e China?”, questionou o perito. O mesmo profissional lembrou que “a discriminação racial na área laboral é muito difícil de provar”. “Será sempre difícil para a vítima reportar casos. Estão a planear tomar medidas nesse sentido?”, questionou. Na resposta à apresentação dos relatórios do país e das duas regiões administrativas especiais, o mesmo perito fez referência à política “Uma Faixa, Uma Rota”, no sentido de saber se as minorias étnicas do Tibete e da região autónoma de Xinjiang, entre outras, terão a mesma igualdade de acesso. “Que medidas vão adoptar, dentro da política “Uma Faixa, Uma Rota”, para garantir que as minorias étnicas serão protegidas e incluídas nesta política? Têm dados estatísticos de emprego, desemprego das minorias étnicas?”, foi referido, sem esquecer que “as minorias étnicas continuam a sofrer de extrema pobreza e desigualdade”. Igualdade de género Na sua apresentação, Liu Dexue, director da DSEJ, deixou claro que todos os residentes e não residentes têm igualdade de direitos à luz da Lei Básica, tendo frisado que na sociedade local existe igualdade de género. O exemplo? Duas mulheres, Florinda Chan e Sónia Chan, ocuparam o cargo de secretária para a Administração e Justiça desde 1999. “As mulheres têm ocupado o lugar de secretária para a Administração e Justiça desde o estabelecimento da RAEM. O Governo de Macau vai continuar a fazer esforços para promover a igualdade de género, sobretudo no que diz respeito às condições de trabalho e igualdade salarial.” Apesar disso, “a proporção de homens e mulheres é mais equilibrada em trabalhos qualificados, mas há ainda diferenças salariais em trabalhos que não são qualificados”, frisou o director da DSAJ. Liu Dexue referiu que, como território fortemente ligado ao turismo e à cultura, Macau “é um lugar onde muitas comunidades vivem em conjunto”. “Todos os grupos têm a mesma dignidade, o direito a usar a sua língua e a sua religião. O progresso tem sido atingido ao nível dos direitos humanos”, disse, tendo acrescentado o facto de que o Governo “tem vindo a reforçar a sua supervisão relativamente aos direitos dos trabalhadores não residentes, contra potenciais abusos e situações de exploração”. As associações de Macau não submeteram quaisquer relatórios para a análise dos peritos da ONU, ao contrário de Hong Kong, onde mais de 50 ONG assinaram um documento conjunto.
Andreia Sofia Silva SociedadeCanídromo | ANIMA deverá ficar com galgos que não podem ser adoptados [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]presidente da Sociedade Protectora dos Animais de Macau (ANIMA), Albano Martins, disse ontem aos jornalistas que é muito provável que a associação fique com os galgos mais velhos ou com graves problemas de saúde e que, por esses motivos, não conseguem ser adoptados. “Vamos ficar com o remanescente. A ANIMA, nesta fase, está apenas a avaliar as potencialidades de todos os adoptantes, e não é nosso interesse ficar com galgo algum a não ser aqueles que sabemos que não podem ser adoptados. Isso dá-nos algum tempo.” Contudo, Albano Martins não soube precisar o número de galgos que poderão ficar em Macau. Ontem os jornalistas foram convidados a visitar as instalações do Canídromo para ver as condições em que os mais de 500 galgos estão a ser tratados, depois de ter sido feita uma queixa junto do Comissariado contra a Corrupção (CCAC). Os animais que foram operados ou que sofrem problemas de saúde foram filmados e fotografados, bem como os restantes que estão alojados num outro canil à parte. Os veterinários da Companhia de Corridas de Galgos Yat Yuen já não se encontram no local, que se encontra limpo e organizado. “A ANIMA não tem nada a ver com a queixa do CCAC, e foi o IACM que quis organizar esta visita. Pior do que estavam [os animais] é impossível. As coisas têm de melhorar, mas claro que em 15 dias não se fazem milagres. Só agora é que começamos a notar que alguns animais não estão bem”, acrescentou Albano Martins. De frisar que Zoe Tang, membro da direcção da ANIMA que estava a coordenar as operações no Canídromo, saiu da associação em discordância com a forma como o processo de tratamento dos animais está a decorrer, tendo apresentado queixa junto do CCAC [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeCriptomoeda | “Pessoas famosas do Governo” também investiram Dennis Lau, empresário de Hong Kong, disse à TDM que “pessoas famosas do Governo” investiram no caso da criptomoeda e que Frederico Rosário alterou os contratos para os familiares ganharem mais juros. A Associação Growup eSports afirma nada ter a ver com o negócio [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]caso de investimento em criptomoedas que terá lesado 70 pessoas em Macau tem novos desenvolvimentos. Ontem, em declarações à TDM, Dennis Lau, director da empresa Forger Tech, afirmou que Frederico Rosário está a mentir neste processo e que também houve membros do Governo como investidores. “Alguns dos clientes de Macau têm o contacto connosco (…) incluindo algumas pessoas famosas do Governo”, referiu Dennis Lau, sem adiantar nomes. O HM tentou obter uma reacção do Executivo a estas declarações, mas até ao fecho desta edição não foi possível. De frisar que esta semana a Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM) emitiu um comunicado a alertar para o facto da criptomoeda ser “mercadoria virtual, não sendo uma moeda legal ou um instrumento financeiro”. Frederico Rosário é membro da direcção da associação Growup eSports, que surgiu como organizadora do evento de Janeiro ocorrido na sede da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM). Mas é também detentor de 10 por cento da Forget Tech, tendo-se tornado, de acordo com Dennis Lau, responsável pela expansão da empresa em Macau e pela coordenação dos investimentos. O empresário acusa-o de estar a mentir e de ter forjado contratos para que a sua família ganhasse mais juros do que os outros investidores. Importa salientar que, no seminário, terão sido prometidos 25 por cento de juros ao mês. “Os contratos foram modificados e nós nunca confirmamos essas modificações. Enganou-nos de modo a pagarmos juros a mais às primeiras duas rondas de clientes. Os clientes das duas primeiras rondas são maioritariamente membros da sua família, incluindo a mãe dele, a mulher, a irmã e o marido da irmã. E também algumas pessoas que têm o mesmo apelido que o Frederico (do Rosário). Isso fez-nos suspeitar que estavam a tentar fazer alguma coisa. Denunciámos o caso à polícia, mas não posso dizer mais.” Dennis Lau adiantou à TDM que tem “confiança” que pode provar que “o senhor Frederico cometeu um crime”. “Também somos vítimas porque perdemos cerca de três milhões de dólares por causa do erro ou crime dele”, acrescentou. José Pereira Coutinho, presidente da ATFPM, esteve presente no seminário e chegou a discursar, mas frisou à TDM que nada tem a ver com este assunto. “Participei numa actividade da Growup eSports, o que não tem a ver com as criptomoedas. Outra coisa é investimento que não tem nada a ver com jogos electrónicos, e são duas coisas que não se podem misturar. A ATFPM cede as instalações sem quaisquer contrapartidas e não há maneira de controlar o que é feito e dito lá. Estamos à vontade e de consciência tranquila.” Growup eSports nega envolvimento Um dos lesados falou com o HM e frisou que foi aliciado por Frederico Rosário. “Infelizmente, investi na criptomoeda através deste seminário na ATFPM. Sou uma das vítimas e estou muito desapontado.” Quem se demarca desta polémica é a associação Growup eSports, da qual Frederico Rosário faz parte mas que é presidida por Fernando Pereira. Este contou ao HM que nada pagou pela utilização da sede da ATFPM, em Janeiro, e que não sabia que o seminário seria usado para captar investimento. A ideia era falar sobre jogos electrónicos e depois sobre a criptomoeda, mas Fernando Pereira acredita que, no final, a sessão de esclarecimento transformou-se num evento de captação de investimento. “Não sabíamos que seria uma sessão de captação de investimento em criptomoedas, e creio que isso tenha sido feito no final da sessão. Estive lá no início e depois saí, e não ouvi nada sobre isso.” “Esta sessão era feita em parceria com essa empresa de Hong Kong que veio para Macau fazer uma apresentação. Aquela foi uma sessão de esclarecimento dividida em dois, na primeira parte falámos sobre os videojogos e as valências que pode ter na vida positiva dos jovens, e uma segunda sessão a seguir à nossa sobre criptomoedas, sobre o que são e como se poderia tirar partido disso. Essa parte foi feita pela empresa de Hong Kong.” Frederico Pereira também nada sabe da forma como foram angariadas pessoas para o seminário de Janeiro. “O poster foi feito pela empresa de Hong Kong e creio que o convite terá sido feito nas redes sociais.” A ligação da Growup eSports à Forger Tech existia além da ligação empresarial de Frederico Rosário. “O ano passado tínhamos uma equipa feminina que competia nos videojogos e que era composta por elementos de Macau e de Hong Kong. Essa equipa apresentou-nos à empresa e elas já tinham o patrocínio da Forger. Na proposta que nos fizeram apresentavam essa tal empresa como o patrocinador oficial dessa equipa, mas não sabíamos que tinha a ver com criptomoedas”, rematou o presidente da associação.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeAeroporto | CAM não sabe quando acaba de pagar empréstimo ao Governo A Sociedade do Aeroporto Internacional de Macau – CAM não tem um calendário para concluir o pagamento do empréstimo de 1,65 mil milhões de patacas concedido pelo Governo. Até agora, foram pagos apenas 300 milhões de patacas de um empréstimo cedido para a construção do aeroporto [dropcap style=’circle’]É[/dropcap]uma dívida de anos e ainda não há prazo para a conclusão do pagamento. A concessionária que gere o aeroporto, a Sociedade do Aeroporto Internacional de Macau (CAM), garantiu ao HM que não tem um calendário para concluir o pagamento do empréstimo de 1,65 mil milhões de patacas que o Governo concedeu, na qualidade de accionista da empresa, em 2012, quando adquiriu acções não preferenciais para resolver a situação financeira da concessionária. “Uma vez que o pagamento desse empréstimo se baseia na situação financeira anual da CAM, não conseguimos apresentar um calendário exacto para a finalização do pagamento”, garantiu a Autoridade de Aviação Civil de Macau (AACM) em resposta ao HM. A Direcção dos Serviços de Finanças (DSF) adiantou que, até Abril deste ano, a CAM fez quatro pagamentos, que representam uma devolução de cerca de 300 milhões de patacas. Resta ainda pagar cerca de 1,3 mil milhões, adiantou o Executivo. Apesar de não ter calendário para concluir este processo, a CAM garante estar agora com uma situação financeira mais estável. “A situação financeira da CAM melhorou muito com o pagamento dos empréstimos bancários através da emissão de acções preferenciais e iniciou-se o reembolso do empréstimo dos accionistas para os accionistas (incluindo o Governo de Macau) desde 2015, de acordo com o plano aprovado pela direcção da empresa.” Em 2012, quando adquiriu as acções da empresa, no valor de 1,3 mil milhões de patacas, o Governo passou a ter 67 por cento da concessionária. A Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM) passou a ter 33 por cento. A medida tomada na assembleia-geral teve origem nos prejuízos acumulados pela CAM e calculados em cerca de mil milhões de patacas e nas necessidades de tesouraria para fazer face a encargos com a liquidação total de empréstimos bancários ainda existentes e que são referentes à construção da infra-estrutura. Meu querido Agosto O caso do empréstimo à CAM foi notícia em 2015, quando a Direcção dos Serviços de Economia adiantou ao ex-deputado Leong Veng Chai que a concessionária ainda iria estudar como devolver o dinheiro emprestado na forma da compra de acções. Esta resposta a uma interpelação de Leong Veng Chai data de Maio de 2015, sendo que a primeira prestação foi logo paga em Agosto desse ano. Além do Governo e da STDM, a CAM tinha, em 2012, como accionistas de referência o empresário Ng Fok, através das suas empresas, que detém uma participação de dois por cento. Stanley Ho detinha, à data, um por cento.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeCriptomoeda | Pereira Coutinho esteve presente em seminário na ATFPM Diz que não está envolvido no alegado caso de fraude e que a associação a que preside cedeu apenas o espaço para o seminário sobre investimentos em criptomoeda, mas fotos enviadas ao HM revelam que o presidente da ATFPM e deputado esteve presente no seminário e até discursou [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]utilização da sede da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) para um seminário de promoção ao investimento na criptomoeda, que defraudou 70 pessoas de Macau que investiram milhões, continua a gerar polémica. Fotos a que o HM teve acesso, e que já foram apagadas das redes sociais, revelam que José Pereira Coutinho, presidente da ATFPM e deputado à Assembleia Legislativa, esteve presente no seminário e até discursou ao lado de Rita Santos, membro da direcção da ATFPM e uma das lesadas. Confrontado com estas imagens, o deputado voltou a referir que nada tem a ver com este assunto e que marcou presença no seminário, mas que esteve “de passagem”. Pereira Coutinho também não fez quaisquer comentários sobre o facto da imagem da ATFPM estar associada aos materiais promocionais do seminário. O HM tentou também chegar à fala com Rita Santos, que durante o dia não atendeu o telefone ou respondeu às chamadas. Contudo, a presidente da assembleia-geral da ATFPM reagiu na sua página pessoal de Facebook, bem como na página do Conselho das Comunidades Portuguesas, do qual faz parte. “Ultimamente, os meios de comunicação social têm mencionado o meu nome sobre o caso de Cryptocurrency Mining. Gostaria de vos informar que apresentei queixa na qualidade de investidora na compra de máquinas de Crytocurrency Mining e estou a colaborar com as autoridades policiais de Macau e Hong Kong , a pedido delas, no sentido de apurar as responsabilidades da empresa e pessoas que nos causaram estes prejuízos.” Pereira Coutinho (primeiro à direita) marcou presença no seminário. Foto: DR Rita Santos afirma nada mais ter a acrescentar porque o caso está a ser investigado pelas autoridades policiais de Macau e Hong Kong. “Não é apropriado prestar declarações públicas. Devemos deixar as autoridades trabalharem e concretizarem as medidas adequadas para a salvaguarda dos direitos de todos os investidores, incluindo eu própria e vários membros da minha família. Muito obrigada pela vossa compreensão e continuo a contar com o vosso apoio moral para que eu possa enfrentar esta fase tão difícil da minha vida.” Ontem o fundador da ATFPM, Jorge Fão, revelou estar muito incomodado com a utilização da sede que ajudou a fundar, e que visa defender os direitos dos funcionários públicos. Mas não é apenas Jorge Fão que está importunado: vários associados também não estão contentes. Apesar disso, apenas um associado de longa data aceitou falar com o HM, mas sob anonimato. “Estou mais que amargurado e incomodado com esta atitude de Pereira Coutinho e Rita Santos”, confessou. “Prega-se a moralidade a outros, critica-se o Governo, e agora estamos nisto. Sinto-me encurralado por estes comportamentos e agora vem a ATFPM sacudir a água do capote”, adiantou. Empresa queria expandir-se O HM teve também acesso ao teor das mensagens que foram enviadas e partilhadas nas redes sociais. Uma delas faz referências aos planos de expansão da empresa Forger Tech, de Hong Kong, a qual é detida em 10 por cento por Frederico Rosário. “Estamos a lançar novos planos para apoiar a nossa expansão e necessidades de crescimento. O mercado da criptomoeda tem estado em desenvolvimento (…) para manter a nossa competitividade, estamos a adquirir sistemas mais avançados, pois não somos mais uma pequena empresa. Vamos necessitar de mais funcionários, espaço arrendado, electricidade e a finalização do projecto requer gestão de micro risco. O nosso objectivo é tornarmo-nos um emissor de títulos de criptomoeda!”, lê-se na mensagem publicada no Facebook. Rita Santos assinou por baixo de mensagens, na qualidade de membro da direcção da ATFPM, que convidava à participação no evento que lhes iria dar ensinamentos na área das finanças. Mais uma vez, o nome da ATFPM aparece. “A ATFPM e a progressive electronic arena vão em conjunto organizar um colóquio técnico sobre criptomoeda no dia 14 de Janeiro”, lê-se. Artigo editado com a alteração do nome da associação Growup eSports para a empresa Forger Tech
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaTUI | AL contra ausência de recurso de co-arguidos com Chefe do Executivo [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]3ª comissão permanente da Assembleia Legislativa (AL) voltou a reunir ontem para debater a revisão da lei de bases de organização judiciária, tendo sido discutida a possibilidade dos co-arguidos em processos onde o Chefe do Executivo seja também arguido perderem a possibilidade de recurso, pois a proposta de lei prevê que estes casos sejam directamente reencaminhados para o Tribunal de Última Instância (TUI). Os deputados mostraram-se contra esta possibilidade, apesar do Governo ainda não ter adiantado mais explicações. “Em relação a este ponto a comissão tem outras opinião”, adiantou o deputado e advogado Vong Hin Fai. “Esses co-arguidos vão deixar de ter essa possibilidade de recurso e temos de esclarecer junto do proponente se é mesmo essa a intenção legislativa do Governo.” Vong Hin Fai lembrou que a revisão da lei de bases de organização judiciária visava dar a possibilidade de recurso a mais pessoas, nomeadamente aos titulares dos principais cargos, como por exemplo os secretários, que, com o novo diploma, passam a ser julgados no Tribunal de Segunda Instância (TSI), podendo, assim, recorrer para o TUI. “Pretende-se, de acordo com a nota justificativa da proposta de lei, conferir um duplo grau de jurisdição, conferindo direito ao recurso. Então como poderemos interpretar esta alteração?”, questionou Vong Hin Fai. Apesar de estarem contra, os deputados não fizeram ainda qualquer sugestão para que seja criado um regime de excepção. “A comissão não apresentou nenhuma proposta ou sugestão sobre isto. Tendo em conta o que está na proposta de lei, parece que há uma contradição, porque a intenção legislativa é alargar esse direito de recurso. As pessoas que antes não tinham possibilidade de recurso vão passar a tê-lo, esse é o espírito da proposta de lei. Então esses artigos não se coadunam com o que vemos na nota justificativa.” Numa reunião que contou com deputados que não pertencem a esta comissão, houve um membro da AL que questionou o facto dos julgados pelo TSI não poderem recorrer caso sejam condenados ao pagamento de multa ou a uma pena de prisão inferior a oito anos. Esta é a regra ditada pelo Código do Processo Penal, embora seja previsto o direito ao recurso a todos os que são julgados no TSI. “Também vamos colocar esta questão ao Governo sobre essa norma”, frisou Vong Hin Fai. Quem paga? Os deputados abordaram também a falta de pagamento de advogados oficiosos, um tema que mereceu a discórdia dos tribunos face à solução proposta. “Se o condenado não pagar os honorários ao defensor nomeado, cabe ao gabinete do presidente do TUI fazer o adiantamento desses honorários. Alguns membros da comissão discordaram desta medida e perguntaram porque é que cabe ao gabinete fazer o pagamento. Também houve deputados que tiveram outra opinião.” Vong Hin Fai adiantou que “esses honorários têm sido pagos com o dinheiro dos cofres da justiça, mas houve situações em que o juiz considerou que não deveria ser o cofre a fazer esse adiantamento, mesmo que o condenado não pague os honorários”. O deputado lembrou que a Associação dos Advogados de Macau sempre foi a favor de uma resolução rápida deste assunto. “O montante dos honorários não é muito grande, mas os advogados nunca receberam os seus honorários. Houve deputados que sugeriram que essa norma deve ser mantida, com retroactividade dos pagamentos em falta, com adiantamentos do gabinete do presidente do TUI”, esclareceu o presidente da comissão. Apesar da discordância, os mesmos legisladores não apresentaram alternativas. Ontem os deputados concluíram o essencial da proposta de lei, mas há questões relacionadas com outras legislações cuja análise ainda não terminou. A segunda parte da discussão na especialidade só deverá ter início depois das férias dos deputados. “A assessoria irá apresentar uma lista de questões que foram levantadas na reunião. A partir de 16 de Outubro é que devem ser feitas as reuniões para discutir esta proposta de lei”, concluiu Vong Hin Fai.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeCriptomoeda | Fundador da ATFPM descontente com uso do espaço da associação [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]recente caso de fraude por investimentos em criptomoeda prejudicou 70 pessoas em Macau, incluindo Rita Santos e o filho, Frederico do Rosário. Rita Santos faz parte da direcção da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), que acolheu, em Janeiro deste ano, várias palestras que promoveram o investimento em criptomoeda, com o título “Forging Dreams with eSports e Sports and cryptocurrency”. Frederico do Rosário é, de acordo com a sua página na rede social Linkedin, presidente da direcção da associação Growup eSports, que visa promover a indústria dos jogos no território. Foram enviadas várias mensagens a associados e ao público em geral a apelar à participação nestes eventos. Jorge Fão, fundador da ATFPM e antigo presidente, lamenta que uma entidade que visa defender os direitos dos que trabalham na Função Pública veja o seu nome envolvido neste caso, que está a ser investigado pela Polícia Judiciária. “Isto não me incomoda pouco, incomoda bastante”, disse ao HM. “É uma instituição com algum bom passado, interessante, e que foi criada por macaenses e portugueses. Ter chegado onde chegou deixa-me muito triste.” Jorge Fão confirma os convites feitos através do envio de mensagens de telemóvel. “Sei que várias pessoas foram convidadas, entre as quais alguns amigos meus. Alguns foram, outros não. Convidaram pessoas que têm alguma riqueza para poderem fazer investimento.” “Achei muito feio e impensado o facto de se terem servido das instalações da ATFPM para fazerem uma coisa daquelas. O processo em si acho que é pueril, pelo que li na imprensa. Como é que seria possível obter um pagamento de 25 por cento de juros por mês? Em quatro meses eu iria recuperar o capital que tinha investido”, acrescentou. Imagem em causa Para Jorge Fão, está em causa a imagem e credibilidade da ATFPM, que é presidida pelo deputado José Pereira Coutinho. “A ATFPM, hoje em dia, só tem mesmo o nome, pois servem-se dela para angariarem todo o tipo de associados e não apenas funcionários públicos. Agora, se se servem da associação para outros eventos, seminários ou palestras, podem vender de tudo, e penso que isso tem de ser filtrado. É evidente que o nome da ATFPM ficou manchado.” O antigo dirigente, que também foi deputado, deixa claro que a ATFPM dispõe “de muitos contactos”, “não só de associados como de outros; andaram sempre a amealhar estes contactos”. O seu uso, por parte da ATFPM, “pode ser muito variado, e não apenas para a caça aos votos”. “É para outras finalidades também e esta é a prova de uma das finalidades. Isto veio trazer a lume o que nós já sabíamos”, adiantou Jorge Fão. Contactado pelo HM, José Pereira Coutinho garantiu que a ATFPM nada tem a ver com a fraude e remeteu mais questões para Rita Santos, que durante todo o dia não se mostrou disponível via telefone. “Tanto a ATFPM como o meu gabinete de atendimento não receberam quaisquer queixas. Não tenho nada a ver com isso. Todos os anos temos centenas de associações e indivíduos que usam as nossas instalações”, disse apenas. Pedidos e mais pedidos Não é apenas Jorge Fão que se queixa, uma vez que o assunto tem sido debatido em fóruns online. Uma internauta escreveu ontem no Facebook que “o facto da ATFPM negar o envolvimento, quando apareceu como organizador do evento, ou co-organizador, é fazer dos outros parvos”. “A ATFPM apareceu em material impresso, com logótipo, apareceu no evento no Facebook, e eu recebi o alerta do evento com dados da ATFPM e não da Grow uP eSports a quem supostamente a ATFPM cedeu o espaço. Também recebi pedidos e mais pedidos para uma sondagem para aderir ao investimento”, escreveu a mesma internauta, com quem o HM não conseguiu estabelecer contacto. Além disso, a internauta recorda que “o próprio email da ATFPM apareceu no material promocional do seminário, não fosse alguém ter dúvidas e querer contactar os organizadores, bem como os contactos telefónicos. E não se envolveram?”. O HM questionou Frederico Rosário sobre o recurso às instalações da ATFPM, mas este apenas adiantou que já remeteu o caso para as autoridades policiais de Hong Kong. “Fiz queixa deste caso à polícia de Hong Kong e instrui representantes legais para iniciar um processo nos tribunais contra Dennis Lau [empresário de Hong Kong que estará envolvido no caso de fraude]. Com base no conselho dos meus advogados, não vou fazer mais comentários aos media sobre este assunto”, referiu.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadePatrimónio | Atelier de Maria José de Freitas desenvolve projecto para Wuhan [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]reabilitação de uma cidade muralhada em Wuhan, capital da província de Hebei, tem ocupado os dias de uma equipa de arquitectos do atelier de Maria José de Freitas e do Wuhan Research Center of Shared Built Heritage, ligado à UNESCO. É a primeira vez que a arquitecta portuguesa trabalha num projecto para a China, em parceria com profissionais chineses Os dias têm apenas 24 horas, mas deveriam ter mais. As reuniões sucedem-se todas as manhãs e também à tarde, para que os dias que passam a correr no calendário não atrapalhem o objectivo de concluir o projecto de reabilitação de uma antiga cidade muralhada de Wuhan, na China. A entrega é já no dia 21 deste mês. Por estes dias, o atelier da arquitecta Maria José de Freitas anda num rebuliço para terminar o primeiro projecto feito em parceria com arquitectos chineses. São jovens já com doutoramentos e que fazem parte do Wuhan Research Center of Shared Built Heritage, uma entidade da cidade de Wuhan, na China, que se dedica à preservação do património. Esta entidade pertence ao Conselho Internacional de Monumentos e Sítios, ligado à UNESCO. No total, uma equipa de sete pessoas trabalha sem parar para participar num concurso público que o município de Wuhan abriu há um mês para a preservação de uma cidade muralhada secular, onde ainda vivem pessoas. Numa pausa entre desenhos e programas de computador, os participantes explicaram ao HM os desafios de se lançarem num projecto desta natureza. “Está em causa um local com muita história e com problemas estruturais, tal como o excesso de população com más condições de vida. As dificuldades são grandes no que diz respeito à concepção e planeamento que vamos propor ao Governo. Temos de nos preocupar com várias coisas, é um projecto difícil”, contou Li Jie, arquitecto ligado ao Wuhan Research Center of Shared Built Heritage. É a primeira vez que Li Jie está em Macau. Um dos grandes desafios que enfrenta prendem-se com trabalhar com colegas estrangeiros, que têm diferentes perspectivas da arquitectura. “Nunca tinha trabalhado com uma equipa internacional. Acho que para mim é uma nova oportunidade de aprendizagem.” Tiago Rebocho, arquitecto do atelier de Maria José de Freitas, também fala do lado desafiante deste tipo de projectos, que nunca lhe tinha passado pelas mãos. “Tem uma escala urbana e é muito diferente daquilo a que estou habituado a trabalhar. Dificilmente trabalharia com isto na Europa. Na China é tudo muito diferente e às vezes a linguagem pode ser uma barreira, mas ultrapassa-se, e o facto de trabalhar com locais chineses dá-me uma experiência incrível”, apontou. O encontro em Lisboa Maria José de Freitas, que está a fazer um doutoramento em Portugal na área do património, conheceu Ding Yuan, secretário-geral do Wuhan Research Center of Shared Built Heritage, em Lisboa, há dois anos, quando ambos participavam num seminário sobre o tema. De uma conversa inicial surgiu um convite para trabalharem em conjunto, primeiro com o desenvolvimento do projecto em Macau e depois com a sua apresentação oficial junto das autoridades e do público de Wuhan. O contacto inicial levou-os à conclusão de que eram ambos apaixonados por património e a sua preservação face aos desenvolvimentos das sociedades actuais, mas surgiram alguns receios de que a diferença de idiomas e de horários pudesse deitar tudo a perder. “Na China conhecemos muitos arquitectos alemães, franceses, e são muito activos e populares na China, incluindo arquitectos japoneses, mas não temos muitos arquitectos portugueses. Era isso que me preocupava, achava que a Maria não teria a verdadeira noção de como as coisas acontecem na China. Não posso dizer que tenha um conhecimento a cem por cento, mas é rápida a aprender.” Tudo está no início, uma vez que a equipa de arquitectos chineses chegou a Macau este fim-de-semana e há muitas ideias que ainda estão a ser debatidas. “É uma cidade com centenas de anos, muralhada, com várias portas”, explicou Maria José de Freitas ao HM. “Do lado de fora, uma das portas está protegida, mas dentro da cidade parece que a vida parou, e queremos que as pessoas que vivam lá consigam viver dentro das circunstâncias do século XXI. Também queremos que estas muralhas sejam mais permeáveis às influências e também que desempenhem um papel a nível internacional.” Há três grupos a trabalhar em simultâneo para este projecto, um deles está em Lisboa a fazer investigação sobre o local. “Pensamos na questão da mobilidade do trânsito, ao nível dos carros e da bicicletas. Queremos ter uma cidade ecológica e desenvolvida de forma sustentável. Queremos garantir um grande equilíbrio, trabalhamos com consultores, porque este projecto abrange um grande número de actividades.” Maria José de Freitas adianta que a cidade muralhada de Wuan e a sua renovação pode constituir um estudo de caso. “Queremos partilhar [o projecto] com outras universidades e cidades do mundo que enfrentem o mesmo tipo de problemas”, frisou. A participação neste concurso público também é sinónimo de competitividade. “O município tem vindo a receber vários projectos, mas a maior parte tem vindo a focar-se na muralha que circunda a cidade. Há cerca de um mês o município resolveu realizar um concurso público, que é difícil. Por qualquer motivo o Governo não está contente com o que tem recebido”, adiantou Maria José de Freitas. Mais preocupação Este projecto nasce numa altura em que na China há cada vez uma maior preocupação pela preservação do património. Em Wuhan há diferenças que não podem ser ignoradas, como notou Ding Yuan. “Wuhan tem um património partilhado, uma vez que temos cinco concessões: uma britânica, francesa, alemã, japonesa e russa. É uma questão política também. Por outro lado, a China está a conhecer um desenvolvimento muito rápido.” Ding Yuan notou também que “Wuhan é uma grande cidade no centro do país que também se está a desenvolver muito depressa, e há muito património que pode estar em perigo”. “Alguns não querem [que isso aconteça], incluindo os locais, e pedem que sejam melhoradas as condições de vida”, apontou. Apesar de trabalhar em Macau, Tiago Rebocho também nota que, nos últimos anos, já não se destrói tudo na China sem uma preocupação sobre o passado. “A China começa agora a ter uma preocupação em relação à protecção do património e isso tem-se notado nos últimos anos. Basicamente, construía-se a imitar aquilo que tinha sido demolido, que é o que estamos a evitar fazer. Estamos a tentar fazer uma reinterpretação da arquitectura local, contribuir com algo de novo e não fazer uma cópia.” O próprio caderno de encargos do concurso público aberto pelas autoridades do município de Wuhan revela “uma preocupação da China em crescer para o exterior, atrair turismo internacional e preservar o património que eles têm e mostrá-lo”. “Essa preocupação é recente e tem aumentado a largos passos. Já têm vários locais classificados e, além de quererem ser uma potência económica, querem também ser uma potência ao nível do turismo”, frisou Tiago Rebocho
Andreia Sofia Silva SociedadeCanídromo | Doze galgos esterilizados com sucesso [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) adiantou ontem, através de um comunicado, que na passada sexta-feira e sábado foram esterilizados 12 galgos que “apresentam bom estado de recuperação”. Além disso, “nos últimos dias, nas consultas de acompanhamento, [os profissionais do IACM] verificaram que alguns galgos estavam com doença periodontal, trauma de pele, artrite e outros sintomas”. Como tal, 40 animais “estão a receber tratamento veterinário devido a feridas antigas, gestão da criação e ambiente da criação”. Apesar dos problemas detectados, “a situação da vida e saúde dos galgos no Canídromo foi considerada normal e o ambiente de criação do local corresponde às respectivas normas previstas na Lei de Protecção dos Animais”.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaDireitos civis e políticos | Associações locais não submeteram relatórios à ONU É já esta sexta-feira que os peritos da ONU vão avaliar a implementação da convenção internacional para a eliminação de todas as formas de discriminação racial em vários países, que abrange direitos políticos, igualdade de acesso ao emprego, segurança social e habitação, entre outros. As associações de Macau não entregaram qualquer relatório. Em Hong Kong, mais de 50 submeteram documentos [dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]acau vai ser alvo do escrutínio dos peritos da Organização das Nações Unidas (ONU) esta sexta-feira, em Genebra, relativamente à garantia de uma série de direitos civis e políticos, tal como a China e Hong Kong. Contudo, a única base para essa análise será um relatório oficial do Governo de Macau, pois nenhuma associação local submeteu documentos, nem mesmo a Associação Novo Macau (ANM). Pelo contrário, um total de 54 organizações não governamentais (ONG) de Hong Kong enviaram para a Suíça um relatório. Os peritos da ONU vão, esta sexta-feira, avaliar a implementação da Convenção Internacional para a Eliminação de todas as formas de Discriminação Racial (CERD, na sigla inglesa), firmada na década de 60. Esta conta com um corpo de 18 peritos em direitos humanos que são escolhidos a cada quatro anos. O HM contactou todas as associações que, em 2013, submeteram relatórios sobre o panorama dos direitos civis e políticos em Macau, mas apenas obteve resposta da ANM quanto à não entrega do documento. Jason Chao, activista ligado à associação que sempre foi co-autor de todos os relatórios entregues, adiantou que, por sua sugestão, a ANM deixou de entregar relatórios anuais. “Actualmente, a Novo Macau submete relatórios em resposta aos ciclos de revisão dos tratados internacionais. Em Março deste ano submetemos um relatório em resposta à Revisão Periódica Universal do Conselho dos Direitos Humanos da ONU”, referiu apenas. Sulu Sou, deputado da Novo Macau, garantiu não ter qualquer conhecimento sobre os planos de envio dos relatórios, tendo remetido quaisquer questões para Jason Chao. Silvia Quan, responsável pela International Disability Alliance (IDA), que submeteu um relatório em 2013, adiantou ao HM que o trabalho desta ONG é mais virado para o Comité dos Direitos das Pessoas com Deficiência. “O comité fez um trabalho de revisão [da convenção] em 2013, e a IDA colaborou com a sociedade civil a partir da China, Hong Kong e Macau para fazer submissões para esse processo. A IDA não trabalha com o Comité contra a Discriminação Racial, daí a nossa ausência de submissão.” Eloise Di Gianni, responsável pela ONG Global Initiative to End All Corporal Punishment of Children, adiantou que não tem por hábito fazer submissão de relatórios para este Comité da ONU, porque “não trabalha directamente com questões de punição corporal contra crianças, nas quais nos focamos”. No entanto, esta ONG vai submeter informações relativas a Macau para a Universal Periodic Review of China, que acontece em Novembro deste ano. Os tópicos de 2013 Em 2013, a ANM reportou a detenção de Jason Chao aquando da visita de Wu Banguo, ex-presidente do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional (APN), acusando a Polícia Judiciária de “abusar do seu poder para deter um jornalista”, algo que revelou violação à “liberdade de imprensa e uma privação arbitrária das liberdades individuais”. Já a Aliança Internacional para a Deficiência (IDA, na sigla inglesa) questionava “que passos estão a ser dados face ao risco de mulheres e crianças com deficiência se tornarem vítimas de violência doméstica e abusos”. A mesma ONG perguntava também à ONU o que estava a ser feito “para proibir a esterilização de pessoas com deficiência com autorização de terceiras partes, como membros da família ou tutores”. A IDA pediu ainda ao Governo da RAEM a adopção de “medidas efectivas para promover a integração de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, incluindo a atribuição de incentivos aos empregadores e o reforço do sistema de quotas laborais para as pessoas com deficiência”. De frisar que recentemente foi aprovada a lei que dá benefícios fiscais às empresas que contratam portadores de deficiência. No que diz respeito aos direitos da comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgénero), o grupo LGBT Rights Concern Group submeteu um documento onde alertava para a questão dos casais do mesmo sexo não estarem contemplados na lei de prevenção e combate à violência doméstica, que foi revista e implementada sem incluir esse ponto. A não entrega dos relatórios nesta 96ª sessão anual de revisão da convenção significa que as associações locais ficam afastadas da possibilidade de ter uma voz em questões políticas e cívicas, além de não poderem participar no debate sobre esses assuntos em Genebra. Além disso, o envio do relatório em Março não impedia as associações de submeterem novamente documentos este mês, pois estão em causa organismos diferentes da ONU. As análises feitas no âmbito da 96ª sessão anual terminam no dia 30 de Agosto. Governo ignora lei sindical No relatório submetido aos peritos da ONU, o Governo da RAEM ignora os pedidos de implementação de uma lei sindical e garante que residentes e trabalhadores não residentes (TNR) têm igualdade de acesso ao emprego. No que diz respeito ao “direito a formar a aderir a sindicatos”, o Executivo aponta que, de acordo com a Lei Básica, “os residentes da RAEM chineses e não chineses, e os TNR têm o mesmo direito de formar ou aderir a sindicatos, e também de realizar greves”. Além disso, lê-se que “a lei 4/98/M [define as bases da política de emprego e dos direitos laborais] estipula que os trabalhadores têm o direito de se tornarem membros de associações que representam os seus interesses. A lei 7/2008 [lei das relações do trabalho] e a lei 21/2009 [lei da contratação de TNR] expressam a proibição de um empregador de dissuadir, de qualquer forma, de exercitar os seus direitos”. Não existe, portanto, qualquer referência ao estudo sobre a implementação da lei sindical que está a ser feito pela Associação de Estudo de Economia Política, presidida por Kevin Ho. Na área do “Direito ao trabalho”, o Executivo lembra que “os TNR, tenham ou não nacionalidade chinesa, têm igualdade de acesso aos direitos e garantias que os residentes têm à luz da lei”. “Esses direitos e garantias incluem a provisão de horas de trabalho e períodos de folgas, descanso semanal e férias anuais”, lê-se no relatório oficial submetido à ONU. É também referido que “os TNR têm direitos especiais, expressamente estipulados na lei das relações do trabalho, que incluem a garantia de alojamento adequado e repatriação no caso do término das relações laborais”. O Governo frisa ainda que “tem vindo a prestar atenção às condições de vida e de trabalho dos recém-chegados, de diferentes raças, a Macau (incluindo os TNR), providenciando-lhes serviços nos diferentes departamentos governamentais e organizações de serviço social não governamentais, que de forma persistente disponibilizam diferentes formas e canais de assistência para que possam saber mais sobre os diferentes serviços e estruturas da RAEM”. No que diz respeito às eleições ou outras questões ligadas à área dos direitos humanos, o relatório deixa a ressalva de que, desde 2013, não houve mudanças significativas, quer em termos de leis implementadas quer ao nível de casos ocorridos. Os dados mais recentes apresentados sobre vários tópicos, tal como os apoios financeiros e sociais dados a refugiados, datam de 2014. Autonomia e independência abordadas por Hong Kong Ao contrário de Macau, as ONG de Hong Kong, incluindo o Centro de Direito Público e Comparado da Universidade de Hong Kong, submeteram relatórios que alertaram a ONU sobre questões judiciais, a pouca protecção dos direitos dos trabalhadores migrantes no território e a desqualificação de seis deputados do Conselho Legislativo. De acordo com o South China Morning Post, um grupo de várias ONG apresentaram algumas das conclusões dos documentos submetidos, defendendo que os “direitos políticos são inseparáveis dos direitos humanos” que, por isso, têm afectado as liberdades básicas dos naturais de Hong Kong desde 2008, altura em que foram enviadas as últimas informações. “Quando os defensores de um ponto de vista político não conseguem garantir uma posição de influência através das eleições ou em outros processos democráticos, então sabemos que os direitos humanos não passam de meras casualidades”, disse o professor de Direito da Universidade de Hong Kong, Puja Kapai. O documento, com 55 páginas, alerta ainda para o facto de a “China ter vindo a colocar em risco o elevado grau de autonomia prometido a Hong Kong”, apontando para a necessidade do continente respeitar “a delineação de responsabilidades entre o Governo de Hong Kong e o Governo chinês”. Um dos exemplos apontados refere a instalação de pontos de verificação no terminal de Hong Kong do metro que estabelece uma ligação com Shenzen. A falta de direitos dos trabalhadores migrantes é um dos pontos abordados no relatório submetido pelo Centro de Direito Público e Comparado da Universidade de Hong Kong. “O Governo de Hong Kong continua a aplicar o sistema de empregadas internas e a regra das duas semanas que obriga as empregadas domésticas a viverem com os seus patrões e a deixar o território duas semanas depois do fim do contrato. Relatórios recentes sugerem que casos de abusos e discriminação contra as empregadas domésticas acontecem por vários motivos, incluindo a sua nacionalidade, algo que continua a ser um problema sério”, lê-se. Além disso, “os nacionais do continente continuam a enfrentar uma discriminação significativa em Hong Kong que é semelhante à discriminação em relação a outras nacionalidades, devido clima único histórico e político e também devido às diferenças entre Hong Kong e o continente”, defendem os responsáveis deste relatório, que foi feito com base num inquérito. Artigo editado. Inclusão das declarações das responsáveis pelas ONG International Disability Alliance (IDA) e Global Initiative to End All Corporal Punishment of Children
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeEduardo Ascensão, antropólogo urbano: “A Ilha Verde é um lugar totalmente à margem” Investigador do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, Eduardo Ascensão está a realizar um trabalho de investigação sobre o antigo bairro de lata da Ilha Verde, demolido em 2010. O académico fala de um lugar que serviu de acolhimento de imigrantes chineses ilegais em duas fases distintas, nos anos 60 e 80, e do papel da Administração portuguesa nas tentativas de realojamento dos moradores Como é que surgiu o interesse pelo bairro de lata da Ilha Verde? É um interesse particular dentro de um enquadramento mais geral. O meu projecto de investigação é sobre diferentes formas de intervenção de estruturas do Estado em bairros de barracas ou populares, em diversas cidades de língua portuguesa. Faço uma abordagem histórica e também geográfica. Histórica no sentido em que pego em alguns exemplos de locais e nas suas transformações ao longo do tempo, o que implica contextos que eram coloniais e depois uma passagem para os contextos pós-coloniais. Tenho olhado para intervenções como as favelas do Rio de Janeiro ou uma série de programas de melhoramentos de bairros periféricos que houve na Guiné-Bissau nos anos 90. Em Lisboa, também temos uma história longa de habitação informal desde os anos 50. Macau aparece aqui porque vivi cá em criança e adolescente e lembrava-me bem do bairro da Ilha Verde, onde eu às vezes me perdia a andar de bicicleta. Lembro-me que era um lugar bastante diferente em relação ao resto da cidade e sempre me despoletou a curiosidade de como é que o bairro ali tinha nascido. Era um lugar à margem. Era um lugar totalmente à margem, notava-se até pouca presença de polícia ou de outras instituições mais oficiais e tive agora confirmação disso. Entrevistei alguns moradores que me falaram desse carácter muito peculiar do bairro. Alguma pesquisa histórica e de arquivo foi desfiando uma história muito interessante, um local que sempre, desde os anos 20 do século XX, foi aquilo que os estudos de emigração chamam de área de recepção de migrantes pobres e ilegais, que cá se denominam refugiados da China continental. Isso é muito interessante porque já na altura era denominado bairro dos indigentes chineses, ou seja, das classes operárias mais baixas. Eram pessoas que trabalhavam ali perto, em fábricas de cimento, de panchões, e tinham ali uma habitação precária relativamente perto do local de trabalho. No final dos anos 50 há referências de que em toda a zona em redor da Ilha Verde, e também a norte do Canídromo, ou Fai Chi Kei, houve um enorme afluxo de refugiados da China, antes ou depois da Revolução Cultural, e era uma imigração económica mas também mais complexa, ligada à Revolução Cultural. Muitos chineses da província de Guangdong, mas também de outras províncias chinesas, vinham a nado pelo Canal dos Patos e depois instalavam-se no bairro de lata em barracas por eles construídas. E é este período que está a estudar? Não. O foco da minha investigação é o momento sucessivo a este, quando a Administração portuguesa, ainda administração colonial, estabelece comunicações com Lisboa, com o governo colonial de Hong Kong e com agências da ONU para os refugiados quanto à necessidade de providenciar alguma habitação menos precária para este enorme afluxo de refugiados. Quantas pessoas viviam nessa altura no bairro? Entre duas a cinco mil pessoas, seria uma população muito flutuante e difícil de enumerar. A população de Macau nessa altura rondaria as 100 mil pessoas, no princípio dos anos 60, e houve um afluxo massivo de refugiados que poderiam ser cerca de 60 mil pessoas. Também havia bairros de barracas na Taipa e na parte do Porto Exterior, mas a maior parte deles estava na zona do Fai Chi Kei, Doca do Lam Mau, Ilha Verde, bairro Tamagnini Barbosa. Já tinha havido a necessidade de habitação social nos anos 50 com o bairro Tamagnini Barbosa na sua primeira versão, que era constituído por blocos térreos onde foram depois feitos edifícios mais altos. A pergunta que fui fazendo sobre o bairro da Ilha Verde é porque é que este plano da Administração colonial portuguesa, que implicava a construção de alguns prédios de habitação de altura média, não foi construído e, em vez disso, foi subsistindo um bairro de barracas pré-fabricadas relativamente melhoradas até 2010. Havia infra-estruturas, tal como esgotos ou electricidade? Sim. Não havia inicialmente, mas depois houve a provisão de esgotos e pontos de água. Alguns moradores optavam, ainda assim, por aceder apenas aos pontos de água colectivos para não pagarem. Segundo relatos de ex-moradores, estas casas tinham uma baixa renda, de cerca de três patacas ao mês, o que, na prática, fazia com que as pessoas não tivessem custos com a habitação. Este é um factor que se repete nos bairros precários pelo mundo fora. Essa renda era paga a quem? Era paga ao Governo ou à Câmara Municipal do Leal Senado. Há coisas que ainda não consegui apurar. Uma das respostas que quero obter é se as antigas casas do bairro de lata foram feitas através da despensa de materiais iguais pelo Leal Senado ou se eram modelos iguais porque havia empreiteiros locais que reproduziam os modelos. Alguns elementos arquitectónicos destas casas são semelhantes, tirando as palafitas e algumas casas da ilha de Coloane. No segundo andar as famílias dormiam e quase tudo acontecia no piso térreo. Mas ainda vou ter que deslindar melhor essa dúvida que, para o projecto, é a mais importante. Isto porque o alinhamento das ruas no bairro é resultado de um processo de planeamento. As ruas tinham número e tudo provém do plano de refugiados do início dos anos 60. Essa topografia foi feita por moradores, ou pelas autoridades? Foi feita pelo Governo. Era uma malha típica de planeamento racional e moderno por parte das autoridades e depois foi sendo preenchida com a construção das casas feita ao longo do tempo. Havia um plano residencial e moderno, da década de 60, que nunca chegou a ser feito. Porquê? Haverá uma razão mas ainda não consegui apurar, mas essa situação repetiu-se em diversos contextos no final do colonialismo português. Criaram-se planos para populações ditas autóctones ou indígenas, e que estiveram ligados à pressão internacional que houve sobre o colonialismo português quando todos os outros impérios já tinham dado origem a países independentes. O caso de Macau é sempre particular, mas é neste quadro de desenvolvimento de planos que nem sempre eram postos em prática que se pode incluir este plano. A Administração portuguesa, na altura, afirmava em documentos que não tinha capacidade para providenciar habitação para tantas pessoas. Aí é feita uma comunicação com Lisboa para ter algum apoio nesse sentido, o que mostra que não é surpreendente que os planos para as populações pobres não tenham sido implementados. Após a revolução de 1974 em Portugal a Administração portuguesa deixa de ser do tipo colonial e passa a ser de transição. A partir daí, no início dos anos 80, há um esforço muito grande para levar avante planos de habitação social para as classes mais vulneráveis chinesas. Portanto, não podemos falar de uma falta de investimento de Portugal em Macau ao nível da habitação social, mas sim de dificuldades técnicas e legais de implementação. Não. O bairro de Tamagnini Barbosa já era uma tentativa de habitação social para classes sociais e não apenas para funcionários públicos. Já nos anos 50 havia a percepção de que havia essa necessidade. Não me parece que tenham existido dificuldades técnicas ou legais na implementação desses planos. Em Macau havia menos a compulsão dos poderes coloniais em querer exercitar o poder civilizacional sobre as populações chinesas [por oposição ao que aconteceu nas ex-colónias portuguesas em África] porque havia uma espécie de separação sem essa compulsão de civilizar. Admitia-se que os chineses tinham uma civilização muito rica e havia um pacto de co-habitação. Já na altura as comunidades viviam completamente separadas. Um pouco separadas. A partir dos anos 80 foram feitos enormes investimentos e aí a Administração portuguesa tem, se calhar, uma história feliz, pois dá-se início a uma verdadeira política de habitação social. É também no início dos anos 80 que se dá um novo fluxo de imigrantes chineses. Entrevistei muitos que entravam em Macau pela zona do Canal dos Patos. Uma residente, por exemplo, veio a nado, como era muito comum nessa altura, por razões económicas e também porque queria fugir da política do filho único. O bairro da Ilha Verde serve então, pela segunda vez, como área de recepção de imigrantes ilegais e que se foram estabelecendo por ali. O que percorre muitas memórias e histórias dos habitantes com que falei é a existência de um espírito comunitário bastante particular, que é, mais uma vez, uma característica que se repete em muitos assentamentos informais do mundo. Depois dessa segunda vaga de imigração, não houve mais nenhuma até à sua total demolição? Sim, e nesse intervalo estamos a falar de um período de 30 anos. Houve tentativas de destruir o bairro e realojar as pessoas ao longo desse período? No início dos anos 80, o Instituto de Acção Social e as Obras Públicas construíram os centros temporários de habitação (CTH) para retirarem algumas pessoas, numa óptica de erradicação de barracas, que depois iriam ser canalizadas para as listas de espera de habitação social. Havia aqui uma política pensada e com algum impacto oficial. A Administração portuguesa terá muitos aspectos negativos mas julgo que neste período, anos 80, foi um dos períodos de maior desenvolvimento. Alguma legislação que sai no Boletim Oficial, em 1993, é em muito semelhante ao plano especial de alojamento do Programa Especial de Realojamento (PER) português de 1993, que tinha como objectivo erradicar as barracas nas áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto. Houve então essa influência portuguesa. Foi-se buscar essa legislação para, de alguma forma, existirem instrumentos legais para proceder de forma justa administrativamente, ou seja, sem o despejo violento de moradores. Tudo isso foi um pouco suspenso, e no início dos anos 2000 há uma parte do bairro que é demolida para construir um viaduto que liga o Fai Chi Kei e a zona de acesso à Ponte da Amizade. Em 2010 dá-se o processo final de demolição. Mas se no início as pessoas eram encaminhadas para os CTH e habitação social, no final umas famílias foram realojadas na zona da Areia Preta, mas outros foram indemnizados com um valor mais baixo do que aquele que iria permitir adquirir uma habitação. Este processo final já foi mais discricionário e é uma pergunta que fica para as autoridades locais à qual não tenho resposta. O bairro da Ilha Verde tem uma história muito rica, percorre todo o século XX e percorre-o de uma forma importante e positiva.
Andreia Sofia Silva EventosExposição | “Inner Harbour Zine” mostra Porto Interior através da arte Chama-se “Inner Harbour Zine” e pretende mostrar, até Outubro, as vivências e histórias do Porto Interior, sem esquecer o seu futuro. Si Kei é a curadora da iniciativa da associação Community Art Project que acontece nas bibliotecas dos bairros do Patane e de São Lourenço [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]eebates, experiências artísticas e sessões de storytelling acontecem a partir de amanhã, até ao dia 31 de Outubro, para contar os detalhes das histórias que povoam a zona do Porto Interior, lugar que outrora vivia da pesca e da indústria. É esta a proposta da associação Community Art Project, que organiza várias actividades com o apoio do Instituto Cultural e que se inserem na iniciativa “Inner Harbour Zine”. Estas acontecem entre amanhã e o dia 30 deste mês na biblioteca do Patane, enquanto que a biblioteca de São Lourenço acolhe outra série de eventos entre o dia 1 de Setembro e 31 de Outubro. Pelo meio há o “Zine Storytelling”, que visa a participação de moradores, no dia 11 deste mês, sem esquecer um workshop pensado para famílias no dia 18 deste mês. Si Kei, curadora da iniciativa e uma das responsáveis da Community Art Project, contou ao HM que o objectivo principal do projecto é não deixar as memórias do Porto Interior morrer. “Vamos organizar diferentes tipos de eventos sobre temas como a pesca ou as indústrias que têm vindo a desaparecer nos últimos anos, sem esquecer o futuro do Porto Interior e das restantes áreas litorais do território. Vamos falar de diferentes temas para que o público possa conhecer melhor o Porto Interior”, frisou. O workshop e a sessão de storytelling terá a participação de artistas, mas não só. “Pedimos a artistas e a pessoas que não têm experiência artística para participar no evento. Estas vão fazer criações individuais que terão edições limitadas para venda ao público.” A ideia é que esses materiais revelem “a sua visão sobre o Porto Interior, o que sentem em relação a essa zona e as suas experiências no local”. Esses trabalhos vão responder a três temas, tais como “a linha costeira e as mudanças e o futuro, as vivências na zona do Porto Interior e as indústrias da zona”. Zona perdeu voz Si Kei contou ao HM a decisão de focar a zona aconteceu depois de perceberem as consequências do tufão Hato, ocorrido há um ano e que causou inundações graves no Porto Interior. “Percebemos que o tufão do ano passado trouxe sérios impactos à zona e depois disso, alguns meses depois, não houve mais vozes sobre a zona, que voltou a ficar esquecida. No desenvolvimento económico de Macau esta área sempre ficou para trás, apesar de ter elementos históricos únicos.” Para Si Kei, o Porto Interior representa “a era dourada de Macau de há séculos atrás”, pelo que “é muito importante voltar a levantar a voz sobre esta zona e mostrar às pessoas o que está a acontecer aqui”. Mais do que apostar na vertente artística, a associação Community Art Project pretende aumentar a consciência das pessoas sobre os desafios que o Porto Interior enfrenta actualmente. “É importante que as pessoas saibam mais e falem sobre a zona, para que o Governo esteja atento em termos de implementação de políticas de desenvolvimento urbanístico.” Si Kei lamenta que apenas o projecto de integração regional da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau seja destaque na opinião pública. “Ninguém quer saber da zona do Porto Interior, e é por isso que queremos aumentar a consciência de quem continua a viver nesta zona e cujas vidas poderiam mudar e melhorar.” Para a curadora do projecto, quem continua a residir na área já não acredita em mudanças. “Muitos locais estão a sair da zona e os trabalhadores migrantes estão a mudar-se para lá, o que significa, por um lado, que os locais conseguem viver num lugar melhor mas a nossa investigação mostra que os residentes continuam a ficar, vivem lá desde jovens e a maior dificuldade para eles é que podem ter dificuldades, sem canais para falar, e nem sabem como falar.” “Não estão muito optimistas quanto ao futuro, e pensam que já passaram dez e quinze sem que tenha havido mudanças significativas. Gostaríamos de levá-los a pensar que a sua situação pode melhorar”, rematou a curadora.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaTribunais | Advogados criticam fim de recurso para co-arguidos no TUI A negação do direito a recurso de co-arguidos em processos onde o Chefe do Executivo seja também arguido, pelo facto dos casos serem julgados no Tribunal de Última Instância, gera críticas entre alguns membros da comunidade jurídica. A medida é categorizada como uma “bizarria” e vista como “aumento político do controlo do Governo” [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]lguns advogados contactados pelo HM afirmam não compreender a razão porque se está a colocar em cima da mesa a possibilidade de retirar o direito ao recurso dos co-arguidos que se vejam envolvidos em processos onde o Chefe do Executivo seja também arguido. Consideram tratar-se de uma “bizarria”, de um “retrocesso” face à intenção inicial da revisão da lei e até consideram ser um “aumento político do controlo do Governo”. “O simples facto de se admitir essa hipótese já é uma bizarria”, começa por referir Sérgio de Almeida Correia. “Não sei de que cabeça é que saiu essa ideia peregrina, mas um dos objectivos que estava por detrás da revisão desta lei era exactamente a extensão do direito de recurso no sentido de corrigir uma deficiência do sistema. Essa era uma contradição e algo que necessitava de ser corrigido”, acrescenta o causídico. Uma vez que o direito de recorrer das decisões do juiz “está consagrado no sistema jurídico de Macau e está previsto na Lei Básica”, esta nova possibilidade, que ainda está a ser analisada pelos deputados e pelo Governo, significa a existência de “um número ainda mais alargado de pessoas em relação às quais fica vedado o direito de recurso”, o que é “um disparate”. “Isso não está na natureza do sistema jurídico de Macau e aquilo que deveria ser feito era alargar o âmbito do recurso e não restringi-lo ainda mais”, frisa Sérgio de Almeida Correia. Aquando dos processos que levaram o ex-procurador do Ministério Público, Ho Chio Meng, e o ex-secretário para os Transportes e Obras Públicas, Ao Man Long, litigar na barra dos tribunais, houve processos conexos julgados em instâncias inferiores e não se registaram problemas de ordem processual, em termos de competência dos tribunais, que levassem a esta necessidade legislativa. “Quando é feita a separação de processos não advém qualquer problema”, adiantou o advogado. “O que faria sentido é que também o Chefe do Executivo tivesse direito ao recurso e não que todos os que sejam apanhados na corrente deixem de ter direito ao recurso. Imaginemos um caso piramidal de corrupção, que vai desde a base ao Chefe do Executivo, e imaginemos que estão envolvidas 200 pessoas. Faz sentido que centenas de pessoas sejam julgadas na última instância sem direito a recurso?”, questiona. Passo atrás O HM tentou chegar à fala com o presidente da Associação dos Advogados de Macau (AAM), Jorge Neto Valente, que não quis fazer comentários por não estar no território. No entanto, aquando da elaboração do parecer com opiniões sobre a revisão da lei de bases da organização judiciária, a AAM não se pronunciou sobre esta matéria, uma vez que não estava, sequer, prevista. Jorge Menezes, também advogado, considera que a medida pode implicar “um aumento político do controlo do Governo”. “É mais um passo atrás e representa um aumento político do controlo do Governo. O Chefe do Executivo controla o Governo, a falta de recurso retira-lhe um direito fundamental em violação da Lei Básica, e implica, por esta via, um maior controlo sobre o Chefe do Executivo.” Para o advogado, “não só há controlo na sua designação, como há controlo sobre o modo de governação, pois a falta de recurso – como a história da RAEM e de outros (poucos) países revela – diminui a qualidade da justiça e os direitos do arguido. Saber que as suas decisões não vão ser reavaliadas por outro tribunal aumenta a possibilidade de violação de direitos”. Jorge Menezes considera que “arrastarem pessoas comuns, retirando-lhes direitos que todos os cidadão deverão ter, pela circunstância de estarem envolvidos no mesmo processo que o Chefe do Executivo, é injustificável”. Sulu Sou, deputado que pertence à 3ª comissão permanente da Assembleia Legislativa, que actualmente analisa este diploma na especialidade, também se revela contra esta possibilidade. “Penso que todos devem ter direito ao recurso e acesso a julgamentos justos, incluindo o Chefe do Executivo”, frisou.
Andreia Sofia Silva Manchete ReportagemEfeméride | Há 50 anos Salazar caía da cadeira. Macau soube um mês depois Faz hoje 50 anos que António de Oliveira Salazar caiu de uma cadeira na sua casa de férias no Estoril. Um momento que marcou o início do fim do Estado Novo. Em Macau só soube do ocorrido em Setembro e chegou a celebrar-se uma missa onde os crentes pediram as rápidas melhoras do presidente do Conselho. O incidente não aligeirou a força do regime no território, onde censura persistiu até depois de 1974 [dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]omem de hábitos e regras escrupulosamente seguidas, António de Oliveira Salazar passava habitualmente férias no Forte de Santo António do Estoril. Há 50 anos, no dia 3 de Agosto, aconteceu o que ninguém esperava: o presidente do Conselho de Ministros, que havia instaurado o Estado Novo em 1933, caía de uma cadeira de lona. O episódio marcou o início do fim não só da sua carreira política e revestiu-se de simbolismo. O regime fascista entrava no derradeiro declínio. Em Macau, as notícias chegavam a conta-gotas e estavam dependentes da vontade da censura. Por isso, só em Setembro o jornal Gazeta Macaense, dirigido por Damião Rodrigues, deu a notícia da queda de Salazar publicando o seu boletim clínico na primeira página. Aquando da publicação do terceiro boletim, Salazar tinha uma “função renal normal” e mostrava “sinais de franca recuperação motora e sensorial”. Como era um diário “visado pela censura”, o Gazeta Macaense publicava, três edições depois, o sexto boletim clínico de António de Oliveira Salazar na íntegra, acompanhado de um telegrama que havia sido enviado pelo governador Nobre de Carvalho ao Ministério do Ultramar. Neste lia-se que na sessão da Câmara Municipal das Ilhas se tinha falado do nome de Salazar, tendo sido apresentados “desejos ardentes dum completo e rápido estabelecimento”. Nessa mesma reunião decidiu-se pela realização de uma missa no dia seguinte, “pelas nove horas” e “pela evolução favorável do convalescente”. HM As imagens da missa voltaram a fazer manchete do Gazeta Macaense na sua edição de 20 de Setembro de 1968 com o título “Macau reza por Salazar”. “Promovido pelo Leal Senado da Câmara de Macau, realizou-se ontem na Igreja de São Domingos uma missa pelo pronto restabelecimento do presidente do conselho, o professor doutor António Oliveira Salazar. Uma grande multidão, gentes de todas as camadas sociais, desde as mais altas individualidades até aos mais humildes funcionários, bem como o numeroso público, português, chinês e de outras nacionalidades, encheu o vasto templo assistindo à missa celebrada pelo reverendo padre José Barcelos Mendes”, pode ler-se. Cidadão de Macau Dois anos antes, no dia 24 de Maio de 1966, Salazar foi proclamado, por unanimidade, “cidadão honorário da cidade de Macau”, e “quatro dias depois o seu retrato tinha sido descerrado nos Paços do Conselho”, escreveu o jornal. Além de umas breves notícias do matutino, que incluíam a reprodução de telegramas, sem assinatura de qualquer jornalista, pouco se escreveu sobre o incidente que levaria ao fim do regime e à substituição de Salazar por Marcello Caetano na presidência do Conselho de Ministros. De acordo com António Cambeta, que à época tinha deixado a Marinha e trabalhava numa empresa chinesa, pouco se falava do assunto no seio das comunidades portuguesa e macaense. “Poucas notícias foram dadas sobre o assunto”, garantiu ao HM. “Não houve diferenças nenhumas, mesmo depois do 25 de Abril de 1974. A censura continuou até depois dessa data, continuou a existir a polícia secreta e a polícia judiciária. E se perguntar a outros portugueses que na altura já residiam cá, vão dizer-lhe exactamente a mesma coisa.” No que diz respeito à comunidade chinesa, esta “não fazia ideia do que se passava”, uma vez que “os chineses nunca ligaram à política portuguesa”, adiantou António Cambeta. João Guedes, jornalista e autor de vários livros sobre a história de Macau, garantiu que “o impacto desse acontecimento foi nulo” e só existiu “no coração dos defensores do salazarismo, que estavam todos no poder aqui”. “De resto não houve alterações visíveis nenhumas. As coisas sabiam-se mais tarde e a censura só deixava sair as coisas na altura que o Governo entendia que deveriam sair, nem que fosse um ano depois. Não se notou nenhuma diferença, a censura perdurou até ao 25 de Abril, sem alterações.” A última notícia do estado de saúde de Salazar, vinda da “Lusitânia”, dava conta de que “o presidente do Conselho estava gravemente doente”. Novamente com grande destaque na primeira página, lia-se que “o professor Salazar foi esta manhã observado pelo neurologista americano, doutor Huston Merritt, especialista do Instituto Neurológico de Nova Iorque, que se deslocou propositadamente a Lisboa a fim de tratar o presidente do Conselho, após o oferecimento do Governo dos Estados Unidos para enviar a Portugal o especialista que os neuro-cirurgiões portugueses julgassem mais indicado para observar o ilustre enfermo”. Marcello, o “aluno excepcional” A 27 de Setembro de 1968 tornou-se inevitável o afastamento de Salazar do poder, uma vez que o acidente provocou-lhe graves danos cerebrais que viriam a culminar na sua morte, em 1970. Marcello Caetano tomou posse nesse dia, mas, segundo declarações ao Diário de Notícias do historiador Filipe Ribeiro de Meneses, autor de “Salazar – Biografia Política”, “Salazar não tinha a mais pequena intenção de largar o poder”. A Gazeta Macaense publicou a notícia da substituição e uma breve biografia de Marcello Caetano cheia de elogios. Num texto sem assinatura, o último presidente do Conselho de Ministros foi descrito como um “aluno excepcional que sempre se impôs à admiração dos mestres e condiscípulos pela lucidez da sua inteligência e apego ao trabalho, que lhe valeram elevadas classificações”. Licenciado em Direito “com raro brilho”, em 1931, Marcello Caetano publicou o Manual de Direito Administrativo em 1937. Tal como o seu antecessor, era um nome bastante considerado na classe jurídica portuguesa. Jorge Fão, hoje dirigente da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau, recorda-se que, em Macau, aceitou-se bem a chegada de Marcello Caetano como o novo dirigente do Executivo da metrópole. “As comunidades portuguesa e macaense reagiram bem à entrada do Marcello Caetano no Governo, porque o Salazar tinha a fama de ser um ditador. O Marcello Caetano, para nós, tinha uma outra imagem, não era tão ditador como o outro. A comunidade aceitou-o de bom grado, mas passados uns anos as pessoas fartaram-se dele, porque em Portugal continuou a existir um partido único.” Depois do invernoso acidente de mobiliário que alerou a história de Portugal, seguiu-se a “Primavera Marcelista”, que trouxe uma muito ligeira aragem à Assembleia Nacional, hoje Assembleia da República. O parlamento passou a ter, depois de 1969, deputados da ala liberal, que lutavam por uma abertura do regime à democracia. Contudo, em Macau, nenhuma mudança se fez notar com essa abertura. “Havia uma maior liberdade em Portugal mas em Macau sentiu-se muito pouco essa liberdade. Mesmo depois do 25 de Abril a liberdade era relativa. No caso da chegada de Marcello Caetano, para nós significou exactamente a mesma coisa. Continuava a existir o partido único e o governador era o homem máximo, ditava todas as regras e ninguém ia contra o governador”, recorda Jorge Fão. O presidente da APOMAC destaca, no entanto, a influência que o novo presidente do Conselho tinha na área do Direito, mesmo a quilómetros de distância. “O Marcello Caetano tinha uma certa vantagem, era muito bom em Direito. Nós [na Função Pública] tínhamos de estudar certos manuais de Direito e ele era um homem de cabeça. Ainda hoje se cita o manual de Direito Administrativo de Marcello Caetano”, frisou. Na mesma entrevista que concedeu ao Diário de Notícias, o autor da biografia de Salazar lembrou que o tratamento depois da queda da cadeira demorou a chegar, pois poucos tiveram noção das consequências. O ex-dirigente do Estado Novo nunca havia perdido a consciência. “Houve naturalmente alguma consternação depois da queda, mas só alguns dias mais tarde foi Salazar visto pelo seu médico, e isso em função de uma consulta previamente marcada – e o Dr. Eduardo Coelho nada notou de anormal.” Filipe Ribeiro de Meneses adiantou ainda que, a 3 de Setembro, o ditador ainda presidiu à reunião do Conselho de Ministros. “Segundo Franco Nogueira, Salazar estava claramente afectado nessa reunião, durante a qual pouco falou. Esta deterioração é aliás bem visível no diário de Salazar – a escrita deteriorou-se muito nestes dias de Setembro. Mas ninguém ousou sugerir que o ditador precisava de cuidados médicos”, referiu o historiador.
Andreia Sofia Silva EventosExposição | Espaço Casa do Povo acolhe “Sangiorgiari”, de Sásquia Salgado Sásquia Salgado acabou recentemente o curso de fotografia e prepara-se para expor pela primeira vez em Macau, no espaço artístico Casa do Povo. “Sangiorgiari” assenta numa série de fotografias que contam a história de uma procissão na Sicília, em que os crentes carregam, durante um dia inteiro, a estátua de São Giorgio [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]urante um dia inteiro a estátua de São Giorgio é carregada a cavalo, no meio de vozes e fúrias de uma população que, durante o ano, aguarda por aquela procissão. Todos os que carregam a estátua do santo protector ganham o nome de “sangiorigarios”. Foi este ritual religioso, muito famoso na Sicília, que captou a atenção da fotógrafa Sásquia Salgado. Recentemente licenciada em fotografia, Sásquia Salgado decidiu pegar neste trabalho documental para realizar a sua primeira exposição no lugar que a viu nascer: Macau. O espaço criativo Casa do Povo, em Coloane, foi o local escolhido para acolher a mostra inaugural. O embate com a festividade religiosa aconteceu um pouco por acaso. “Estive a estagiar durante cinco meses em Itália quando acabei o curso o ano passado, em fotografia, no Porto. Estava a estagiar perto de Milão, não estava na Sicília, e fui lá uma primeira vez, em trabalho. Aí disseram-me que ia haver uma festa onde as pessoas carregavam uma estátua enorme durante um dia inteiro e que é esperada pelas pessoas o ano todo.” Quando regressou a Milão, Sásquia Salgado pesquisou mais sobre este acontecimento e decidiu que seria um bom tema para fotografar. As emoções das pessoas foram um dos pontos de partida para este trabalho. “Não fui fotografar o festival em si, mas queria apanhar as expressões das pessoas, sobre o que sentiam naquele momento. Acabei por voltar à Sicília de propósito para fotografar o festival. Este acontece em várias cidades pequenas da Sicília, mas a maior parte das pessoas vão para Modica, uma das cidades mais antigas da Sicília”, contou. Sásquia Salgado revelou que ela própria se deixou envolver na emotividade colectiva da procissão. “Quando cheguei deparei-me com algo que não estava à espera. Esperava muita euforia porque sei que as pessoas sentem muito aquilo. Quando se fala de religião há sempre um certo fanatismo, e acabei por me sentir também eufórica. Não consegui chegar muito perto da estátua, porque estavam bastantes pessoas, mas senti-me como se estivesse também ali a carregar a estátua. As pessoas estavam completamente fora de si”, recorda. Apesar da procissão na Sicília ter sido o tema escolhido para a sua primeira exposição em Macau, Sásquia Salgado chegou a ponderar mostrar as imagens que captou nas muitas viagens que fez no sudeste asiático. “Tinha em mente umas fotografias de viagens, porque a maior parte do trabalho fotográfico que faço é documental. O ano passado viajei pelo Vietname, Cambodja e Tailândia e também queria expor essas fotografias como algo mais documental de viagem e de cultura. Contudo, nunca tive essa oportunidade porque depois comecei a trabalhar e não tinha tempo. Depois é que surgiu esse projecto e achei mais interessante expor.” Entre a Europa e Macau Com um pai fotógrafo e uma mãe jornalista, Sásquia Salgado sempre esteve muito ligada à imagem, seja através do audiovisual ou da fotografia. A escolha do percurso profissional acabou por ser quase imediata, sem grandes indecisões. “Acabei o meu curso no Porto mas já tenho contacto com a fotografia desde muito nova. Ir para a universidade estudar fotografia de uma forma mais profunda foi mais uma etapa da minha caminhada”, frisou. Depois da experiência em Milão e após estar na Magnum, em Paris, Sásquia Salgado gostaria de regressar a Macau e aqui fazer carreira, apesar de se tratar de um território de pequena dimensão. “Queria fazer fotografia documental e poder viajar, retratar o que vivi naquele momento. Ainda estou um bocado à procura daquilo que posso fazer com a fotografia, porque é uma disciplina muito vasta, não é só captar uma imagem, é mais do que isso.” Expor em Macau e na Europa é uma possibilidade de futuro, mas a Casa do Povo representou a possibilidade de Sásquia Salgado expor num lugar que é a sua casa. “Já sabia da existência da Casa do Povo. Nasci em Macau, fui-me embora para estudar mas depois comecei a pesquisar alguns sítios onde podia expor. Sempre morei em Coloane e até digo que nasci em Coloane e não em Macau. Então também queria expor num sítio onde me sentisse em casa”, concluiu.