Docomomo | Documentário de José Maneiras regista carreira do arquitecto

Chama-se simplesmente “Maneiras” e faz o registo audiovisual de uma obra única que não só marcou uma geração de arquitectos como deixou a sua marca no modernismo em Macau. O documentário de António Sanmarful, produzido pela Docomomo em memória de José Maneiras, começou a ser pensado em 2018 e contém testemunhos do próprio sobre aquilo que projectou

Falecido no passado dia 24 de Novembro, com 90 anos, José Maneiras, arquitecto macaense, fez muito mais do que simplesmente projectar edifícios num território exíguo e cheio de particularidades. Foi também uma figura com relevante participação cívica.

Mas a fim de deixar um registo audiovisual da sua obra como arquitecto, a Docomomo Macau começou a pensar e a planear, a partir de 2018, a produção de um documentário sobre o legado de José Maneiras, tendo convidado o realizador local António Sanmarful para o fazer. Maneiras não viveu já tempo suficiente para assistir ao documentário sobre si, apresentado esta terça-feira no auditório Stanley Ho, no Consulado-geral de Portugal, mas deixou registados bastantes testemunhos sobre aquilo que projectou.

Ao HM, Rui Leão, presidente da Docomomo Macau, diz ter trabalho de forma estreita com António Sanmarful neste projecto, a partir da exposição dedicada a José Maneiras apresentada em 2018 no jardim Lou Lim Ieoc.

“Nessa altura fizemos um levantamento das suas obras. Tratava-se de uma exposição simples, em que pretendíamos mostrar o conjunto dessa obra construída em Macau e perceber a sua importância, e percebemos que estava pouco estudada. Fazia sentido deixar o registo porque, no caso de Macau, por causa da escala da cidade e da falta de massa crítica, é praticamente inexistente o estudo de obras construídas.”

Há muito que Rui Leão se debruça a estudar e olhar a arquitectura modernista que se fez em Macau, de que José Maneiras foi um dos autores. Chama, por isso, de “ingrato” ao território, devido a essa ausência de auto-análise. “As pessoas têm um desconhecimento quase total sobre a arquitectura modernista de Macau, e nesse sentido acho que é um sítio bastante ingrato, porque não há uma cultura que celebre a memória.”

Imperava, pois, a importância de fazer este documentário, por não existir essa “diferenciação” entre as coisas boas e más que se vão fazendo, por não existir uma catalogação e análise. “Foi com essa perspectiva, e com um sentimento de uma certa tristeza por parte do arquitecto Maneiras [que se fez o documentário]”, disse ainda Rui Leão, acrescentando que “pelo facto de a obra estar tão danificada, e não se falar dela, apercebemo-nos de que era importante fazer algo que tivesse um carácter de maior permanência”.

Algumas amarguras

Formado na Escola de Belas Artes do Porto, José Maneiras trouxe maneiras diferentes de fazer arquitectura ao território. “O documentário baseia-se nas filmagens de algumas das suas obras e nos seus depoimentos. Percebemos o que um arquitecto, chegado de fresco a Macau, e com formação feita em Portugal, via de importante nas obras. Havia, digamos, uma formação modernista e coisas que Maneiras trouxe [à prática da arquitectura] de forma bastante científica, e que tinha a ver com a exposição solar [dos edifícios]. Isso era mais urgente em Macau, em relação a Portugal, por estarmos num sítio subtropical.”

Um dos primeiros projectos foi o edifício residencial São Francisco, em frente ao Clube Militar, destacando Rui Leão a preocupação de Maneiras em deixar um espaço livre em conjugação com o edifício histórico em frente.

“Ele fala um pouco sobre essa intervenção no documentário, e que de certa maneira salvaguarda o Clube Militar, ao permitir que haja ali um espaço não construído à frente [do edifício São Francisco]. Isso tem a ver com a dimensão cívica que ele também teve, de ter a preocupação com o património. Aí ele foi chamado para resolver um problema que ninguém sabia como tratar, que era aquele confronto com o Clube Militar.”

José Maneiras “teve o cuidado de rodar a torre para não ocupar a frente do Clube Militar, criando uma abertura visual e um bloco mais pequeno do outro lado, pelo que se fez ali uma praceta”, o que constitui “uma preocupação cívica notável”, defendeu Rui Leão.

O presidente da Docomomo confessou ainda algumas amarguras com que partiu José Maneiras, por ver muita da sua obra já danificada ou sem a manutenção devida. No caso do edifício São Francisco, pode ser alvo de demolição ou de obras, e “ele viveu um bocado infeliz com isso”.

“Não sei muito bem como está a situação, mas falei com o José Maneiras sobre a possibilidade de os blocos mais baixos desse edifício estarem na iminência de ser demolidos, e ele estava muito triste com isso”, acrescentou Rui Leão.

Ainda assim, “há outros edifícios dele que foram recuperados, como as residências junto ao Centro Hospitalar Conde de São Januário”, ou a residência para invisuais na zona da Areia Preta.

Projectar com pouco

José Maneiras começa a projectar em Macau ainda nos anos da administração portuguesa, quando em Portugal vigorava o regime do Estado Novo e o território estava sujeito, tal como os restantes territórios ultramarinos, aos Planos de Fomento para as questões orçamentais. O dinheiro era, por isso, pouco e controlado.

“No documentário ele fala também de coisas que eram importantes na altura, como o começar a construir em altura, o que era uma novidade, e também a economia de construção, porque nos anos 50 e 60 não havia muito dinheiro e havia uma necessidade muito maior se fazer essa economia de construção.”

José Maneiras pertenceu ao rol de arquitectos macaenses que deixaram marca, como Canavarro Nolasco da Silva e Aureliano Guterres Jorge, apesar da formação de base destes ser em engenharia; ou ainda José Lei.

“Eram pessoas integradas na sociedade de uma maneira completamente diferente [em relação a quem vinha de fora], e que entendiam as questões, estando mais perto do cliente, partilhando o mundo e modos de criar. Não digo que, teoricamente, a arquitectura de uns e outros fosse estilisticamente diferente, mas falo do facto de fazerem propostas e colocarem questões diferentes”, rematou Rui Leão.

17 Dez 2025

Christian Montag, Instituto de Inovação Colaborativa da UM: “A IA não consegue imitar o toque humano”

Pode a inteligência artificial ajudar a combater a solidão? A questão foi analisada num estudo da Universidade de Macau, dirigido pelo académico Christian Montag. O director do Instituto de Inovação Colaborativa sublinha que as ferramentas de IA “não são soluções a longo prazo” a nível psicológico

De que forma a inteligência artificial (IA) pode ajudar a contornar sensações de solidão, se as redes sociais não conseguem atingir esse fim?

A “teoria das necessidades e gratificações” afirma que a tecnologia só pode ter sucesso se o seu uso satisfizer necessidades humanas, como, por exemplo, a necessidade de interação social. Com os companheiros de IA, quer como produtos autónomos, quer integrados em plataformas de redes sociais, atingimos um novo patamar, porque os seres humanos passam a conversar com uma pessoa artificial e não com outra pessoa humana, como acontece nas redes sociais. Surgem problemas específicos com estes novos companheiros de IA, em que há sistemas de IA excessivamente agradáveis e encantadores que não desafiam as visões enviesadas do mundo de uma pessoa. Além disso, muitas pessoas em todo o mundo já se tornaram excessivamente dependentes destes produtos, utilizando-os sem reflexão crítica.

Uma das conclusões do vosso estudo é que a IA não consegue, por si só, resolver sentimentos de solidão. Que passos na investigação foram seguidos para chegar a esta conclusão?

Existem estudos bem conduzidos que mostram que as interações com companheiros de IA podem, de facto, reduzir sentimentos de solidão. Não duvidamos destes resultados nem negamos o potencial que pode advir dessas interações entre o ser humano e a IA, desde que tais sistemas sejam concebidos de forma segura e quando não há um humano disponível. Dito isto, acreditamos que essas interações entre humanos e IA não representam uma solução a longo prazo.

Porquê?

Isso deve-se à ausência de contacto social e da presença real de outro ser humano quando se recorrem a companheiros de IA baseados em modelos de linguagem de grande escala, especialmente em momentos de desespero. Revimos uma vasta literatura que demonstra que precisamos levar a sério a nossa herança evolutiva, com a necessidade real de outros seres humanos, particularmente na era da IA. A nossa perspectiva baseia-se em muitos anos de investigação na área da neurociência afectiva. Ainda assim, é claramente necessário desenvolver mais estudos empíricos novos que abordem directamente as interações com IA e sustentem esta visão.

Corremos o risco de a IA provocar mudanças cognitivas profundas nas pessoas. Em que medida? Podemos mudar enquanto seres humanos, especialmente no que diz respeito à necessidade que temos dos outros?

A mesma discussão surgiu com o aparecimento dos smartphones. Importa notar que essa discussão mais antiga ainda não foi resolvida: o que acontece ou aconteceu às nossas capacidades cognitivas quando passámos a externalizar permanentemente a aprendizagem de números de telefone, a orientação de A para B, entre outras tarefas, para uma máquina? Uma investigação recente do MIT [Massachusetts Institute of Technology] sugere que o cérebro fica menos activado quando é utilizado o ChatGPT para tarefas de escrita, em comparação com a escrita sem esse apoio. Para mim, isto não é surpreendente e também não deveria conduzir a pânicos morais. Temos outros problemas mais urgentes, como quando surgem dificuldades reais quando aumentam as desigualdades na sociedade, isto porque algumas pessoas utilizam a IA e outras não investem nesta área.

Quais os impactos concretos?

Algumas pessoas poderão tornar-se muito, muito produtivas em breve, enquanto aquelas que não forem educadas para usar a IA adequadamente não conseguirão acompanhar [o ritmo]. Curiosamente, observámos em investigações recentes que pessoas com um estilo de aprendizagem profundo estão mais dispostas a envolver-se com a IA para se tornarem mais produtivas. Quanto à pergunta sobre se mudamos em relação à nossa necessidade dos outros, duvido muito disso, pois estes impulsos evolutivos estão geneticamente ancorados na nossa espécie e não podemos simplesmente eliminá-los. As necessidades sociais são uma parte essencial do que significa ser humano.

Estas mudanças cognitivas, a ocorrer, podem ser mais significativas nos jovens do que nos adultos, por exemplo?

Questão interessante. Sabemos, a partir de alguns estudos sobre atitudes em relação à IA, que os utilizadores mais jovens tendem a ter visões mais positivas sobre a IA e, por isso, são mais propensos a adoptá-la no quotidiano. No entanto, actualmente observamos algo bastante problemático, como o facto de a IA estar frequentemente a eliminar empregos para jovens que acabam de sair da universidade. Assim, a IA parece dificultar a entrada no mercado de trabalho após a obtenção de um diploma universitário. Em outras palavras, a falta de experiência profissional torna as coisas difíceis para muitos jovens. No final, isso também pode levar a que a perceção dos jovens sobre a IA se torne mais negativa, em breve.

Como devem os governos legislar ou adoptar políticas para promover uma aceitação e utilização saudável da IA na sociedade e nas escolas?

Observamos abordagens muito diferentes em todo o mundo para responder à revolução da IA. Sou alemão e, na Europa, assistimos a fortes esforços regulatórios com o chamado Regulamento da Inteligência Artificial (Artificial Intelligence Act). Pessoalmente, não estou convencido de que o actual esquema regulatório europeu esteja bem planeado, pois penso que é demasiado rigoroso e que, em alguns pontos, utiliza termos juridicamente indefinidos, embora aplauda o objectivo de promover uma IA fiável e de tentar reduzir danos. Penso que a actual regulamentação da IA na União Europeia pode ir longe demais e acabar por prejudicar a economia europeia, ao sufocar uma inovação muito necessária. Mas há perigos reais associados à IA e é necessária alguma regulamentação.

Que perigos?

Falo, por exemplo, da fusão não regulamentada entre biotecnologia e IA que poderia resultar em danos, caso as pessoas passem a “criar” novos vírus nos seus quintais. Considero muito interessante a abordagem de Singapura baseada na aprendizagem ao longo da vida como resposta à revolução da IA. O Governo de Singapura oferece aos seus cidadãos a possibilidade de obter um grau académico em IA a partir dos 40 anos, com apoio financeiro do próprio Estado. O que gosto nesta abordagem é que precisamos de lembrar às pessoas que também é sua responsabilidade adquirir novas competências ao longo da vida. Esta mentalidade deve ser incutida desde cedo nas escolas.

Em que áreas das nossas vidas os modelos de linguagem de grande escala (LLMs) podem trazer mais benefícios do que prejuízos?

Existem muitas tarefas rotineiras e repetitivas em que a IA será realmente útil para os seres humanos. No entanto, sabemos pela literatura científica que os humanos experienciam o que se chama “aversão aos algoritmos”: em algumas áreas das nossas vidas, as pessoas não gostam que a IA desempenhe um papel. Por exemplo, quando falamos de terapia de casal, as pessoas preferem claramente falar com um ser humano do que com um sistema de IA. Talvez quanto mais nos aproximamos da nossa herança evolutiva em termos de cuidar uns dos outros, mais o papel da IA deva ser cuidadosamente monitorizado e reflectido, se quisermos que ela tenha um lugar aí. Pessoalmente, não gostaria de ver o meu filho a ser cuidado no jardim de infância por um robô alimentado por IA.

Como deve a psicologia adaptar-se à IA, tendo em conta o número crescente de pessoas que a utilizam para esse fim?

Existem diferentes perspectivas sobre este tema. Em primeiro lugar, nem toda a gente sabe que a psicologia é uma disciplina que depende fortemente de dados. Por isso, os estudantes de psicologia são treinados para se tornarem excelentes cientistas de dados. Nesse contexto, é lógico que a nossa disciplina adopte a IA como ferramenta de análise de dados. No entanto, penso que se refere à forma como os psicólogos veem o uso crescente da IA nas relações humanas. Como acontece com muitas coisas, isto é complexo. Se a IA permitir uma melhor comunicação humana, como, por exemplo, melhorando aparelhos auditivos para pessoas com problemas de audição, isso é muito bem-vindo. Se a IA substituir relações humanas, na minha perspectiva isso causará problemas. Como expusemos no nosso trabalho mais recente, neste momento a IA não consegue imitar com sucesso o toque social humano nem a presença real de outra pessoa.

No Centro de Ciência Cognitiva e Cerebral da Universidade de Macau, quais são os principais projectos desenvolvidos nesta área?

Dispomos de oportunidades únicas de investigação na Universidade de Macau para estudar interações entre humanos e IA, com técnicas neurocientíficas. Espero que possamos divulgar descobertas muito interessantes num futuro próximo.

A humanidade ainda mora aqui

Publicado recentemente na revista científica “Trends and Cognitive Sciences”, o artigo “Can AI really help solve the loneliness epidemic?” [Pode a IA realmente ajudar a resolver a epidemia da solidão?] conta com Christian Montag, director associado do Instituto de Inovação Colaborativa da Universidade de Macau (UM) como autor principal, seguindo-se os académicos Michiel Spapé, professor associado do Centro de Ciências Cognitivas e Cerebrais da UM, e Benjamin Becker, professor do Departamento de Psicologia da Universidade de Hong Kong, como co-autores.

Segundo uma nota de imprensa divulgada pela UM a propósito desta investigação, uma das principais conclusões é de que a IA “provavelmente não será solução de longo prazo para a solidão humana”. Citado nesta nota, Christian Montag declarou que “se uma pessoa está solitária, anseia pela presença física de alguém próximo”, sendo que isso “é muito difícil de imitar com os chatbots disponíveis”.

“Os grandes modelos de linguagem operam principalmente por meio da comunicação por texto. Claramente, isso não é suficiente para fornecer às pessoas solitárias a melhor cura para a solidão: o apoio directo em pessoa”, declarou. Segundo a Organização Mundial de Saúde, “a solidão afecta uma em cada seis pessoas em todo o mundo”, tendo sido “identificada como uma preocupação de saúde pública global”.

Apesar do sinal, o estudo aponta para um lado positivo deste universo, referindo-se que “a tecnologia de IA tem um potencial significativo para apoiar os seres humanos em momentos de crise psicológica, especialmente quando a intervenção humana não está disponível”. Porém, “os investigadores defendem que a tecnologia deve ser tornada mais segura antes de poder ser utilizada neste contexto”, enfatizando “a importância de recordar a nossa herança evolutiva e a necessidade de conexões interpessoais genuínas”.

17 Dez 2025

Cinemateca Paixão | Clássico de Kubrick para ver no dia de Natal

Um clássico distópico sobre comportamento e sociedade, pela mente criativa de Stanley Kubrick, é o que propõe a Cinemateca Paixão para o dia de Natal. O filme “A Laranja Mecânica” será exibido nos dias 25 e 27 de Dezembro. Mas, até lá, há muitos filmes para ver, como “Köln 75”, “Girl” ou “Ressurection”

Stanley Kubrick, um dos mais aclamados realizadores de cinema, fez em 1971 aquele que será um dos mais polémicos filmes da sua carreira, e que pode agora ser visto, ou revisto, na Cinemateca Paixão. Trata-se de “A Laranja Mecânica”, lançado em 1971, que será exibido no dia 25 de Dezembro, a partir das 19h30, e também no dia 27.

Para quem quer fugir ao espírito natalício da época e apostar em histórias bem distantes desse panorama, pode ver de novo a obra-prima de Kubrick que se passa na sociedade de Inglaterra, mas em cenários completamente marcadamente exagerados face à realidade que conhecemos.

“A Laranja Mecânica” centra-se em torno de um jovem sociopata, violento, que é sujeito a uma terapia de reabilitação experimental, alterando o seu comportamento. Sobre este filme, o próprio Kubrick descreveu-o como “uma obra de arte”.
“Nunca nenhuma obra de arte causou danos sociais, embora aqueles que pretendem proteger a sociedade contra as obras de arte que eles próprios acham perigosas, esses sim, têm provocado enormes danos sociais”, disse.

O realizador, que deu nome a tantos outros clássicos bem conhecidos do cinema, como o filme de terror e suspense “Shining” ou, bem mais actual, “De Olhos Bem Fechados”, inspirou-se, para esta produção de 1971, na obra do escritor Anthony Burgess. O livro “A Laranja Mecânica” foi lançado em 1962 atingindo estatuto de livro de culto sem escapar à polémica, tal como o filme anos depois. Nascido em Manchester em 1917, Burgess viria a falecer em Londres, em 1993, tendo feito carreira militar e dado aulas na Ásia, em lugares como Malásia ou Brunei.

Aqui, o leitor acompanha uma sociedade futurista em que a violência se torna muito presente, gerando respostas também agressivas por parte de um Governo totalitário que domina a sociedade.

Amizade e animais

A programação da Cinemateca Paixão traz também “Encantos de Dezembro”, a habitual secção mensal de filmes pautada pela diversidade. Muitos dos filmes escolhidos exibem-se nos próximos dias, como é o caso de “Paws Land”, película de Hong Kong exibida amanhã, a partir das 19h30, e depois nos dias 21, 23 e também no dia de Natal.

“Paws Land” é um documentário do realizador Au Cheuk-man que aborda a temática dos animais abandonados, focando-se nas histórias de voluntários locais que, durante quatro anos (de 2019 a 2023), acompanharam mais de 40 animais abandonados na região vizinha.

Segue-se “Girl”, uma produção deste ano oriunda de Taiwan, com uma única exibição na quinta-feira a partir das 19h30. Trata-se da apresentação, em Macau, do filme que ganhou o prémio de “Melhor Realizador” no Festival Internacional de Cinema de Busan, na Coreia do Sul, neste caso atribuído a Shu Qi.

Este é um filme sobre amizade, em que uma jovem se torna amiga de outra com um nome parecido, e que personifica os sonhos que ela própria escondeu. É então que o passado da sua mãe desafia as suas aspirações, levando-a a um ciclo de desespero.

Da Europa chega “Köln 75”, exibido esta sexta-feira, na véspera de Natal, às 21h30, e domingo, dia 28, a partir das 16h30. Indicado ao Prémio Alemão de Cinema deste ano, nas categorias de “Melhor Filme”, “Melhor Actriz Principal”, “Melhor Edição” e “Melhor Actor Secundário”, o filme passa-se em Colónia, cidade alemã, em 1975, contando a história verídica de Vera Brandes.

Esta, contra tudo e todos, reservou a Ópera de Colónia para levar à cidade um concerto de Keith Jarrett, lutando até contra os pais conservadores. A improvisação que Jarrett fez ao piano acabaria por ficar para a história, surpreendendo a própria Vera, culminando na gravação do histórico disco ao vivo “The Köln Concert”.

Outro destaque da Cinemateca Paixão para este mês é “Ressurrection”, uma co-produção da China e França, deste ano, que ganhou o “Prémio Especial do Júri” do Festival de Cinema de Cannes. Tem uma única exibição, a 21 de Dezembro, às 19h30, e foca-se na figura de um monstro agarrado a visões que mais ninguém consegue ver, até que aparece uma mulher que entra nos seus sonhos e visões, procurando descobrir a sua verdade. A realização está a cargo de Bi Gan.

Ainda na véspera de Natal exibe-se “Die, My Love”, com Jennifer Lawrence e Robert Pattinson nos papéis principais. Estes desempenham os papéis de um casal que, depois de uma vida agitada em Nova Iorque, decide mudar-se para a zona rural de Montana. O isolamento a que ficam sujeitos leva a que as suas vidas se tornem psicologicamente desafiantes.

16 Dez 2025

Documentário sobre José Maneiras exibido amanhã no Consulado

A DOCOMOMO Macau apresenta amanhã no auditório Stanley Ho, no Consulado-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, o novo documentário de António Sanmarful sobre a vida do arquitecto José Maneiras, recentemente falecido. A sessão começa às 18h45 e visa recordar uma “figura incontornável do modernismo em Macau”. Apresenta-se neste filme “uma visão aprofundada sobre o contributo singular de José Maneiras para a arquitectura moderna no território”.

Com recurso a entrevistas, imagens de arquivo e visitas às obras mais emblemáticas, o documentário produzido pela DOCOMOMO “regista e valoriza o legado de um criador cuja influência permanece visível na paisagem urbana de Macau”.
Segundo uma nota da DOCOMOMO, José Maneiras, macaense nascido em 1935, formado na Escola de Belas Artes do Porto, “destacou-se pela sua abordagem inovadora, pela integração sensível entre forma e função e pela capacidade de interpretar o espírito do modernismo num contexto multicultural e em rápida transformação”.

“A sua obra constitui hoje um testemunho fundamental da evolução arquitectónica de Macau na segunda metade do século XX”, defende ainda a DOCOMOMO, que, com este documentário, pretende “reforçar o compromisso com a documentação, conservação e divulgação da arquitectura moderna, promovendo o debate público sobre a importância do património construído e da memória colectiva”.

Uma vida preenchida

Além da actividade profissional como arquitecto, Maneiras foi, ainda antes do 25 de Abril de 1974, uma figura ligada à política local, tendo depois estado ligado à criação do Centro Democrático de Macau. Foi também presidente da então Câmara Municipal do Leal Senado, entre os anos de 1989 e 1993. Na sua área de formação, integrou o grupo de fundadores da Associação de Arquitectos de Macau, em 1987, de que também foi presidente.

Colaborou, anos mais tarde, com nomes como Carlos Marreiros, e o engenheiro José Chui Sai Peng, nomeadamente na requalificação da praça do Tap Seac. Em termos de obra feita, destaca-se um dos primeiros conjuntos habitacionais com a sua assinatura, de 1964, o São Francisco, em frente ao Clube Militar; ou ainda o bloco Fon Wong, de 1966, junto às Ruínas de São Paulo. Na Areia Preta existe ainda a “Casa para Cegos”, construída em 1971.

16 Dez 2025

AMCM | Compras online sem autorizações com códigos por SMS

A Autoridade Monetária de Macau anunciou ontem o fim dos códigos enviados por SMS para autorizar transacções online e pediu aos bancos que criem autorizações nas aplicações de telemóvel. Para aceder aos novos métodos basta actualizar as aplicações

A Autoridade Monetária de Macau (AMCM) alterou as regras de segurança para as transacções online, seja transferência de dinheiro ou compras digitais. Até agora o cliente recebia, por SMS, um código para autorizar essa transferência de fundos da conta, mas agora cabe aos bancos criar um mecanismo de autorização na própria aplicação de telemóvel.

Segundo um comunicado divulgado ontem pela AMCM, as novas funções visam aumentar “a segurança das transacções online mediante cartão bancário” e “salvaguardar os direitos dos titulares de cartões”. Assim, fica determinado que os bancos devem “introduzir uma funcionalidade de autorização de transacções online nas suas aplicações de ‘banco móvel’ a partir do final deste mês”, que vai substituir “os códigos de verificação SMS únicos para autorizar tais transacções”.

Ainda assim, os clientes que não tenham activado o serviço de “banco móvel” podem continuar a receber códigos por SMS para autorizar compras online.

Para a AMCM, as novas regras vão dar aos clientes dos bancos “informações mais claras sobre as transacções”, além de proporcionar “um canal mais seguro para autorizar transações online mediante cartão bancário, ajudando a impedir que fraudadores realizem transacções não autorizadas por meio do roubo de códigos de verificação por SMS”. Reduz-se, assim, “o risco de perdas financeiras para os titulares de cartões”, num território onde as burlas informáticas são um crime comum.

Sem links ou códigos

Face às novas regras de segurança, é explicado que os titulares dos cartões apenas necessitam actualizar as aplicações dos bancos para terem acesso às novas funcionalidades, sem terem de fazer novos registos.

“No futuro, quando os titulares dos cartões introduzirem os dados dos seus cartões bancários no site de um comerciante, a página irá solicitar que abram e acedam à sua aplicação do ‘banco móvel’ para concluir a verificação de identidade necessária”, apresentando-se depois “as informações da transacção, incluindo os últimos quatro dígitos do cartão de crédito, o nome do comerciante, a moeda da transação e o montante”.

A AMCM revela preocupação a travar casos de burla, tendo referido na mesma nota que desde Junho do ano passado que instruiu a banca a fornecer “canais convenientes, como linhas directas e serviços bancários online ou móveis” a clientes, permitindo que “activem ou desactivem funções de transacções online, ajustem limites de crédito e congelem ou comuniquem imediatamente o extravio dos seus cartões bancários”.

Fica ainda determinado que os bancos não enviam aos clientes “qualquer tipo de ‘hyperlinks ou códigos QR para estes clicarem ou digitalizarem em SMS, ou emails enviados a clientes, a partir de Dezembro” deste ano. Além disso, no combate aos crimes de burla, é descrito que “as instituições financeiras também são obrigadas a reforçar as suas campanhas de sensibilização”.

16 Dez 2025

Trânsito | Deputado quer sinais adaptados a carros com volante à esquerda

Chan Lai Kei interpelou o Governo sobre a necessidade de reorganizar o planeamento do trânsito porque os veículos do Interior têm o volante do lado esquerdo. O deputado justificou a necessidade de mudança com a integração na Grande Baía e o reconhecimento das cartas de condução

A futuro do trânsito passa pela esquerda. É esta a ideia deixada por Chan Lai Kei numa interpelação escrita enviada ao Governo, onde descreve que esta será uma tendência tendo em conta a integração de Macau no projecto da Grande Baía, sem esquecer o reconhecimento mútuo das cartas de condução com o Interior da China.

Por esta razão, o deputado ligado à comunidade de Fujian espera que os veículos com o volante do lado esquerdo sejam tidos em conta no futuro planeamento do trânsito e na instalação de infra-estruturas urbanas, como por exemplo a colocação de sinais de trânsito e de espelhos rodoviários nas ruas.

Na interpelação escrita o deputado cita dados oficiais relativos aos últimos anos, que demonstram que o número de veículos com volante do lado esquerdo tem aumentado. Até Dezembro deste ano houve 5.731 inscrições de automóveis ligeiros e de 435 automóveis pesados com as características mencionadas. No entanto, o deputado argumenta que as ruas de Macau são estreitas e que, ao longo dos anos, as infra-estruturas têm-se focado na condução à direita. “Com o ambiente de condução do lado direito os condutores que conduzem do lado esquerdo podem cometer mais erros de avaliação”, disse.

A direita é um risco

Para o deputado, as infra-estruturas que só favorecem quen conduz com o volante do lado direito não só arriscam os condutores, mas também os peões, afectando todo o sistema de segurança rodoviária.

“Se o Governo fizer uma avaliação, para 2026, dos riscos de segurança no que diz respeito aos ângulos da condução à esquerda, tendo em conta as vias nos bairros antigos, será que pode aumentar a sensibilização dos condutores para os potenciais riscos, a fim de ser assegurada a segurança dos peões”, questionou.

Chan Lai Kei defendeu ainda que, a fim de garantir que todos os condutores sujeitos à política do mútuo reconhecimento das cartas de condução se adaptam ao ambiente e regras de trânsito de Macau, as autoridades devem obrigá-los a realizar testes e frequentar sessões educativas sobre o panorama do trânsito e regras de segurança rodoviária do território.

Tendo em conta que o planeamento dos novos aterros e demais construções ainda estão em curso, o deputado espera que o Governo inclua concepções de segurança que tenham também em consideração os veículos com volante do lado esquerdo.

16 Dez 2025

Governo cria centro para gerir revitalização de seis zonas antigas

Foi ontem inaugurado o Centro de Desenvolvimento Local, uma plataforma de planificação e gestão de projectos relacionados com a revitalização das seis zonas históricas, e que vai ser gerido pela União Geral das Associações de Moradores de Macau (Kaifong). Recorde-se que estes projectos de renovação urbana, cultural e turística serão desenvolvidos em parceria com as operadoras de jogo.

Segundo um comunicado oficial ontem divulgado, o Executivo pretende, através do centro, a “supervisão e coordenação governamental do investimento de recursos por parte das empresas de lazer”, bem como promover “o planeamento e organização pela sociedade civil”. As operações do centro ficam sob alçada dos Kaifong.

O Centro de Desenvolvimento Local terá um comité de orientação, composto por 14 representantes do Governo, associações e de círculos empresariais e industriais, “sendo responsável pela apreciação e orientação dos projectos de desenvolvimento local”. Por sua vez, haverá um grupo de consultores, com 18 representantes das empresas de lazer, sectores empresarial e industrial, turístico, cultural e de comunicação, planeamento urbano e académico. No caso deste grupo, a responsabilidade será fornecer “sugestões profissionais e apoio técnico para o desenvolvimento local”.

Cabe ao centro a realização de tarefas como a investigação sobre actividades comunitárias, “a concepção e execução de projectos, a promoção da cooperação multissectorial, o incentivo à participação da sociedade civil”, tudo a pensar na revitalização das seis áreas e numa maior conexão com os moradores.

Passo a passo

Numa primeira fase de funcionamento do centro, será criado “um estudo de planeamento do desenvolvimento local” a fim de lançar um “plano de cooperação, actividades emblemáticas” e a execução de uma “estratégia de promoção”. Serão depois “optimizadas as instalações das [seis] áreas, reforçada a sua articulação e criadas zonas comerciais características, visando um desenvolvimento sustentável”.

Yau Yun Wah, director dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico (DSEDT), explicou que o centro constitui “uma importante iniciativa do Governo para promover a economia comunitária”, numa “conjugação de esforços entre o Governo, empresas de lazer e sociedade civil”.

Caberá ao Governo aprovar projectos, coordenar recursos e fiscalizar resultados, explicou, sendo que as “empresas de lazer investem os recursos conforme comprometido e executam, conforme necessário, alguns projectos de revitalização”. A sociedade civil, através do novo centro, “agrega forças dos vários sectores, planeia e organiza diversas actividades, impulsionando em conjunto o desenvolvimento local”, disse ainda.

16 Dez 2025

Livraria Portuguesa | “Macau’s Reflections – Now and Then” até ao fim do mês

A Livraria Portuguesa acolhe, até ao final do mês, a exposição “Macau’s Reflections – Now and Then”, de Pedro Ramos, um fotógrafo muito ligado ao território, onde viveu em criança. Nesta mostra, observa-se o seu olhar particular atrás da lente sobre um território em grande mudança, tendo como ponto de partida o livro do jornalista José Pedro Castanheira, “Macau – Os Últimos Cem Dias do Império”

Dezembro é sempre um mês de memória. Foi nesse mês que Macau mudou de rumo e passou a ter administração chinesa a partir do dia 20 de Dezembro de 1999, transformando-se na Região Administrativa Especial de Macau (RAEM). Em jeito de memória desse momento histórico, mas não só, apresenta-se até ao final do mês a exposição “Macau’s Reflections – Now and Then”, na Livraria Portuguesa. A iniciativa, com organização e curadoria das 10 Marias – Associação Cultural, mostra o trabalho do fotógrafo Pedro Ramos.

Segundo uma nota, trata-se de um projecto que “oferece um olhar profundo e sensível sobre Macau num período decisivo da sua história: desde a transição do final da administração portuguesa para a integração na China, a partir de 1999, até aos dias de hoje”.

A mostra é uma “reflexão e um olhar muito pessoal sobre Macau”, captando-se “a essência de uma cidade em fluxo, preservando visualmente o seu caráter híbrido único”.

Aqui, as fotografias “funcionam como um portal para o passado, documentando a arquitectura histórica, os mercados vibrantes, o quotidiano das ruas e as tradições culturais que definiram Macau no crepúsculo do seu estatuto anterior”. Porém, esta mostra é também “um portal para um futuro ‘colorido'”, tratando-se, para as 10 Marias, de um “trabalho esteticamente cativante” e que serve “como um registo histórico e cultural de valor inestimável, destacando o delicado equilíbrio entre a tradição e a modernidade”.

Do livro nasce a mostra

Nascido em 1976, Pedro Ramos viveu em Macau, onde fez o ensino básico e secundário. Depois de se formar em fotografia em Portugal, Pedro Ramos procurava trabalho na área, até que se deparou com a oportunidade de colaborar com o livro “Macau – Os Últimos Cem Dias do Império”, da autoria do jornalista José Pedro Castanheira, que se encontrava no território para escrever a reportagem sobre a passagem de testemunho de Portugal para a China.

“Algumas foram publicadas no livro, outras não. Fiquei com este arquivo fotográfico dos últimos dias da presença portuguesa em Macau. Desde o início de 2000 só voltei a Macau em 2024, fui de férias, e como ando sempre com a máquina resolvi fazer uma cobertura daquilo que gosto em Macau, mas nos tempos mais modernos”, confessou ao HM.

Um contacto com Mónica Coteriano, fundadora das 10 Marias, foi suficiente para trazer cá para fora este projecto, espelhado “na vontade de mostrar um pouco o antes e o depois” do território. Ainda assim, Pedro Ramos explica que esta não é “uma exposição comparativa do antes e depois de determinada zona, ou edifício, não é um trabalho de comparação em que as pessoas vêm uma fotografia do antes e do depois”.

“A exposição está organizada com um grande conjunto de imagens da altura da transição, de 1999. No dia da inauguração senti que estas foram as fotografias que mais tocaram grande parte das pessoas que estiveram presentes, porque puderam rever uma Macau que já não existe da mesma forma. Há depois uma parte com fotografias tiradas no meu regresso”, frisou.

Pedro Ramos diz voltar sempre aos lugares onde foi feliz, e aqui existem “muitos paralelismos visuais”, nomeadamente com sítios mais icónicos como o Hotel Lisboa e Ruínas de São Paulo.

Rever imagens, olhar de novo para alguns momentos e organizar esta mostra constituiu “um dos grandes desafios”. “Tinha todo o trabalho de 1999 impresso, e custou olhar para algumas imagens e, por um lado, houve um acto muito sentimental, mas foi bom poder viajar um bocadinho no tempo.”

Pedro Ramos destaca uma fotografia “muito forte e marcante”, de quando o antigo Liceu de Macau tinha sido transformado numa base militar. “Ainda hoje, quando olho para a imagem, sinto estranheza. Não digo que foi difícil, mas foi estranho, e é uma imagem que me diz muito.”

Vínculo com Macau

Apesar de ter vivido parte da infância e adolescência em Macau, Pedro Ramos mantém um vínculo afectivo ao território desde esses anos. “Sinto sempre que estou de volta a casa e posso dizer que me sinto macaense, porque cresci em Macau e vivi lá um período importante. Quando as pessoas me perguntam como vejo as mudanças, digo que para quem conhece Macau há 30 ou 40 anos como eu, o centro de Macau não mudou assim tanto. O mercado vermelho, as Ruínas de São Paulo, o jardim Lou Lim Ieoc, são locais que continuam a ser muito familiares e se mantêm semelhantes. Acho que, nesse sentido, Macau continua a ser muito igual à cidade que conhecia, embora esteja maior e mais moderna.”

Pedro Ramos disse ainda que a exposição pode prolongar-se um pouco mais em Macau, estando nos planos uma extensão a Portugal. “Estou a tentar apresentar este trabalho em Portugal, mas ainda não iniciei os contactos necessários. Fui incentivado a fazer isso porque a comunidade macaense a viver em Portugal é grande e muitas pessoas, que souberam da exposição, tiveram pena de não conseguir ver.” Destaque ainda para o facto de as imagens estarem disponíveis para venda.

15 Dez 2025

Crime | Governo não divulga dados sobre suicídios e tentativas

Depois de os Serviços de Saúde, também a tutela da Segurança deixou de divulgar os dados de suicídio e tentativas, ao fim de dez anos de publicação. A ausência foi notada na divulgação dos dados da criminalidade relativos aos meses de Janeiro a Setembro deste ano, que mostram o aumento de abusos sexuais de menores para quase o dobro

 

O Governo deixou de divulgar os dados sobre os casos de suicídio ocorridos em Macau, assim como as tentativas. A ausência destes números foi notada pelo jornal Cheng Pou aquando da divulgação na sexta-feira dos dados da criminalidade entre os meses de Janeiro e Setembro deste ano.

A publicação questiona mesmo se “os dados sobre o suicídio se tornaram ‘no segredo que não se pode dizer’ das autoridades, empenhadas em construir uma Macau feliz”, lembrando ainda que estes dados começaram a ser divulgados em 2015. Destaque para o facto de os Serviços de Saúde também terem deixado de divulgar a estatística, algo que era feito a cada três meses. No caso da secretaria para a Segurança, os dados eram mensais e era feita a discriminação por sexo, grupo etária e métodos utilizados.

A ausência de números surge depois de Macau ter batido os recordes em termos de casos de suicídio em 2024, registando 90 mortes, mais 2,27 por cento em relação aos casos de 2023. Face a 2022, o aumento foi de 12,5 por cento. Dos 90 casos, 48 diziam respeito a vítimas do sexo masculino e 42 feminino, com idades compreendidas entre 12 e 76 anos. Os dados mais recentes, relativos ao primeiro semestre deste ano, revelam 41 mortes por suicídio e 101 tentativas.

Na divulgação das estatísticas de crime, na sexta-feira, surge apenas um caso de morte por suicídio em relação a um episódio de homicídio entre irmãos, ocorrido em Agosto deste ano, na zona norte. Aqui, o irmão mais velho terá saltado da varanda, sendo suspeito de ter morto o irmão mais novo devido a disputas financeiras.

Quebra no crime

Olhando para o panorama da criminalidade em termos gerais, regista-se uma queda de 7,1 por cento nos meses em análise, em comparação com o mesmo período do ano passado. As autoridades do território sublinharam a queda acentuada dos delitos informáticos. O secretário para a Segurança, Chan Tsz King, disse que a quebra se deve à “tendência de diminuição” dos “crimes que despertam mais atenção da sociedade”, incluindo criminalidade violenta grave, furto, roubo, burla e crimes informáticos.

Nos primeiros nove meses do ano, foram contabilizados 187 crimes violentos, o que traduz uma queda de 11 por cento face ao período homólogo de 2024 (210). Já os furtos, roubos, burlas caíram 7,7, 5,9 e 23,6 por cento, respectivamente. A criminalidade informática, que contou nos nove primeiros meses de 2024 com 770 casos, apresentou no período em análise uma descida de 52,1 por cento, com 369 casos.

A descida nos casos das burlas com recurso às telecomunicações, burlas cibernéticas e burlas informática, referiu Chan Tsz King, “reflecte a eficácia dos trabalhos de prevenção e combate desenvolvidos pela polícia, e o aumento significativo da consciência do público sobre a prevenção de burla”, disse.

O Governo sinalizou também que a criminalidade relacionada com jogo ilícito disparou entre Janeiro e Setembro deste ano 985 por cento, com mais 394 casos em relação ao mesmo período de 2024. A subida deve-se à entrada em vigor, em Outubro do ano passado, da lei de combate aos crimes de jogo ilícito, que introduziu “o novo crime de ‘exploração de câmbio ilícito para jogo’ e alargou o âmbito de cobertura de alguns crimes conexos com o jogo ilícito”.

Pela mesma razão, disse o secretário, dispararam nos três primeiros trimestres de 2025 os crimes relacionados com o jogo – 1.737 casos, mais 70,1 por cento do que no período homólogo. No passado, referiu o responsável, burlas cometidas por pessoas que trocam ilegalmente dinheiro fora dos casinos “não podiam ser identificadas como relacionadas com o jogo”. “No entanto, com a criminalização da ‘troca ilegal de dinheiro’ e o aperfeiçoamento das disposições legais”, estes casos “são agora incluídos nas estatísticas de crimes de jogo, aumentando assim o número de crimes”, indicou.

Mais abusos de menores

Chan Tsz King, que entrou em funções em Outubro e apresentou na sexta-feira pela primeira vez o balanço da criminalidade, referiu ainda uma subida de 6,1 por cento dos crimes contra a pessoa, com o abuso sexual de crianças a aumentar 86,7 por cento, de 15 casos nos primeiros nove meses de 2024 para 28 casos no mesmo período deste ano.

O secretário explicou que se tratam, essencialmente, de “actos sexuais voluntários entre pessoas da mesma idade”, ocorrendo ainda a “transmissão de fotografias e imagens pornográficas”, sem esquecer casos de “importunações sexuais de gravidade menor”.

Foram ainda “identificados casos que envolveram pessoas com relações familiares, o que merece a atenção da sociedade”, referiu Chan Tsz King, que divulgou os dados das acções de sensibilização para este problema: mais de 70 actividades realizadas pela polícia, que contaram com a participação de mais de 12.000 pessoas, incluindo alunos, encarregados de educação e pessoal docente.

O tráfico e venda de drogas e o consumo de estupefacientes registaram, por sua vez, um aumento de 37,1 por cento, com mais 13 casos, e 72,7 por cento, mais oito casos, respectivamente. Segundo a apresentação do secretário, os 48 casos registados nos três trimestres e o respectivo aumento deve-se “à descoberta de vários casos de tráfico transfronteiriço de droga através do reforço da cooperação policial interna e externa”, destacando-se um caso ocorrido em Setembro, quando foram apreendidos 31 quilos de flor de canábis no valor de 31,77 milhões de patacas. Chan Tsz King referiu que este foi “o maior caso de contrabando de canábis apreendido na história de Macau”.

Entre paredes

No caso do crime de violação, assistiu-se a um recuo do número crimes de violação, para um total de 24 casos, menos 40 por cento do que no mesmo período do ano anterior.

O secretário para a Segurança adiantou que “mais de 70 por cento das vítimas não eram residentes de Macau”, sendo que “a maioria destes crimes ocorreu em quartos de hotel”, enquanto “uma parte destes envolveram conflitos pecuniários entre as vítimas e os suspeitos, não sendo de afastar a hipótese de que alguns dos casos tenham ocorrido num contexto de transacção sexual”.

Neste contexto, o secretário esclareceu que as autoridades policiais têm estado “em comunicação estreita com o sector hoteleiro”, tendo sido reforçados “os dispositivos policiais e inspecções nas zonas periféricas de hotéis e casinos”. Entre Janeiro e Setembro foram realizadas mais de 160 acções policiais de combate à prostituição, tendo sido interceptadas 192 pessoas suspeitas da prática de actividade de prostituição.

Além disso, no período em causa foram resolvidos 17 casos da prática dos crimes de lenocínio ou de exploração de prostituição, com a detenção de 26 suspeitos.

Silêncio de sempre

Questionado pela Lusa durante a conferência de imprensa sobre o primeiro caso a ser investigado em Macau no âmbito da segurança nacional, o secretário não fez comentários. “O caso (…) está a ser tratado pelas entidades judiciais e, devido ao sigilo, não seria adequado ao secretário da Segurança comentar”, completou Chan Tsz King, que era Procurador do Ministério Público quando o ex-deputado Au Kam San foi detido.

A polícia do território anunciou, no final de Julho, a detenção de Au Kam San, a primeira ao abrigo da lei de defesa da segurança do Estado, que entrou em vigor em 2009, tendo o âmbito sido alargado 14 anos depois. Ainda não é conhecida a acusação e não há informações sobre quem vai defender o ex-deputado. Com Lusa

15 Dez 2025

ZAPE | Comerciantes temem pelo futuro

A pouco mais de duas semanas do encerramento total dos casinos- satélite, os comerciantes da Zona de Aterros do Porto Exterior continuam a demonstrar preocupação sobre o futuro dos seus negócios, dado o decréscimo de turistas naquela área. A queda de vendas tem-se acentuado nos últimos meses, segundo testemunhos dados ao jornal Ou Mun

O encerramento gradual dos casinos-satélite na Zona de Aterros do Porto Exterior (ZAPE), que decorre até ao final do ano, está a deixar os comerciantes dessa área da península muito preocupados quanto ao futuro dos seus empreendimentos. Os testemunhos ouvidos pelo jornal Ou Mun falam de quebra nos negócios e de um sentimento de incerteza quanto ao futuro, isto apesar de o Governo e uma associação comercial já terem organizado actividades para dinamizar aquela zona.

Uma das pessoas ouvidas, foi um proprietário de um restaurante, que não quis ser identificado, tendo destacado que, nos últimos meses, o volume de negócios caiu cerca de 30 a 40 por cento face ao passado. Este homem, apontou como uma das principais razões a quebra de clientes com grande poder de compra dos casinos-satélites situados nas proximidades.

O comerciante confessou que a capacidade de compra de residentes locais é limitada, pagando entre 30 a 50 patacas por um pequeno-almoço ou almoço, ou 50 a 80 patacas por um jantar. Disse ainda que os apostadores dos casinos é que sustentam a economia do ZAPE, sobretudo depois das 22h.

O proprietário de um restaurante frisou que mesmo que o Governo coloque no ZAPE decorações sazonais para melhorar o ambiente de negócio e atrair visitantes, ou mesmo com o trabalho realizado por associações comerciais com plataformas locais e da China, os comerciantes da zona continuam pessimistas quanto ao futuro.

Isto porque, na prática, não vêm a tendência de quebra de negócios alterar-se, acreditando que quando todos os casinos-satélite da zona fecharem portas, a perda de clientes será ainda maior. Outro problema que têm de enfrentar, é o custo da renda, pois nesta fase a única discussão que pode ser feita com os proprietários dos espaços comerciais é no sentido de uma redução do valor.

Quebra para metade

Outro dono de restaurante na zona, confessou que também viu o negócio baixar em cerca de 50 por cento nos últimos meses, mostrando-se igualmente pessimista. Porém, garante que consegue manter o negócio caso o Governo conceda apoios.

Este proprietário espera, por isso, que as autoridades concedam mais recursos para atrair os visitantes ao ZAPE, desejando ainda mais actividades realizadas pelo Governo ou pela associação comercial que representa a zona. Caso o volume de receitas continue a sofrer reduções, só lhe resta desistir do negócio, confessou ao Ou Mun.

Numa área de actividade diferente, desta vez um supermercado, um funcionário apontou que o dono já demonstrou a intenção de trespassar o negócio devido à queda das vendas. O entrevistado reconheceu que o ZAPE vai receber, no futuro, diversas actividades e eventos, mas entende que não vão trazer muito impacto no negócio porque o ambiente da zona não é atractivo, não existindo atracções para que os turistas tirem fotografias. Além disso, o funcionário do supermercado lembrou que também não existem lojas com características próprias, ou mais tradicionais.

12 Dez 2025

IN SITU | Seis instalações para pensar o uso de espaços públicos

Chama-se “IN SITU Placemaking Biennale” e, até domingo, traz diversas perspectivas de utilização de espaços públicos em Macau, em locais como o Pátio da Claridade ou a Praça Ponte e Horta. A iniciativa do CURB – Centro de Arquitectura e Urbanismo apresenta, a partir de hoje, workshops e seis instalações: “Letters to Macau”, “UnPlan”, “Multi-Place”, “Resonatorium”, “Furniture Where Life Begins” e “Where Time Crystalizes”

Num território exíguo como Macau, onde turistas e a população local deambula entre a história e o fulgor diário, nem sempre é possível imaginar outras utilizações do espaço público e comum a todos. Mas é precisamente isso que propõe o CURB – Centro de Arquitectura e Urbanismo, com uma nova bienal. A “IN SITU Placemaking Biennale” decorre entre hoje e domingo, trazendo seis instalações desenvolvidas por arquitectos ou artistas locais, bem como workshops que visam a conexão do público com estes projectos.

O programa é variado, mas as seis instalações centram-se na zona mais antiga da península de Macau. Depois de um período de submissão de projectos, não apenas de Macau, mas do estrangeiro, a curadoria da IN SITU decidiu-se por “Letters to Macau”, apresentado na Travessa do Aterro; “UnPlan”, no Largo de Santo Agostinho; “Multi-Place”, que pode ser visto no Largo do Lilau; “Resonatorium”, perto da praça Ponte e Horta; “Furniture Where Life Begins”, no Largo do Aquino; e “Where Time Crystalizes”, no antigo Pátio da Claridade.

O que esta bienal propõe é explorar o conceito de “placemaking”, ou seja, o debate em torno das várias opções para planear e gerir espaços públicos. Segundo uma nota do CURB, trata-se de um “projecto pioneiro” que não é “apenas um festival”, mas sim “uma conversa que envolve toda a cidade”.

O “placemaking” não é mais do que uma teoria em torno das ideias de melhoria da gestão do espaço público com uma abordagem multifacetada, em que a ideia é que todos se sentam e discutem o que é melhor para determinado lugar ou o que poderia ser feito face a uma realidade menos boa.

Durante este fim-de-semana, o IN SITU pretende que “as ruas e praças icónicas de Macau se transformem numa tela viva para o design, diálogo e imaginação colectiva”, com as seis instalações que “irão ligar e activar espaços públicos icónicos”, transformando-os em “espaços para reunir, reflectir e interagir”.

Projectos locais e não só

A bienal foi oficialmente inaugurada ontem, mas só hoje abre portas com diversas actividades. As sessões arrancam às 10h30 com “Where Time Crystalizes”, no Pátio da Claridade, seguindo-se, a partir das 11h, uma actividade de “placemaking”, no mesmo local, intitulada “Time Crystal Lab”.

No caso desta instalação, é desenvolvida por uma equipa local, oriunda do programa de mestrado em Design de Comunicação da Faculdade de Humanidades e Artes da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau. Trata-se de um grupo composto por Lei Mei Ian, Wang Shumeng, Jiang Xintong e Xu Huiyao.

“Where Time Crystalizes” é uma instalação “composta por nove formas cristalinas espelhadas e um tapete ondulante que evoca um rio de tempo”, sendo que cada cristal contém fotografias, fragmentos de vídeo e objectos do quotidiano, recolhidos na documentação da autoria de Jason Lei sobre o bairro, ainda antes da saída dos moradores.

Além disso, nesta instalação, as partes exteriores “reflectem a rua actual e os transeuntes, enquanto os interiores encerrados convidam os espectadores a espreitar vestígios do passado”. Pretende-se, com esta obra, conduzir “os espectadores a sentir o fluxo do espaço e a sedimentação da memória”, promovendo “a reflexão sobre a transformação do Pátio da Claridade, de comunidade habitada a espaço vazio, reconsiderando a relação entre pessoas, lugar e tempo”.

Hoje à tarde, a partir das 15h30, apresenta-se “Multi-Place”, no Largo do Lilau, da autoria de Yik Sze Wong, de Hong Kong. Esta instalação apresenta-se como “uma experiência espacial em resposta à mudança urbana”.

“Como podemos questionar e renovar os modelos estabelecidos dos espaços públicos? E como podemos incentivar o público a participar mais activamente na construção e na prática desses espaços? Durante muito tempo, o planeamento e a distribuição dos espaços públicos foram predominantemente conduzidos por designers. No entanto, as cidades são organismos dinâmicos e em constante evolução”, descreve a organização da bienal.

Com “Multi-Place” propõe-se “explorar como os espaços públicos podem responder de forma eficaz às mudanças dinâmicas nas actividades urbanas e nas necessidades da sua utilização”, sendo que a instalação pretende servir “como um terreno experimental para explorar novas formas de espaços públicos, procurando utilizar modelos espaciais flexíveis para estimular a interação comunitária”.

Explorar o centro histórico

Amanhã, o dia da bienal começa também às 10h30, mas desta vez com a apresentação de “Resonatorium”, no Porto Interior, instalação da autoria de Lau Josephn On King e Lawrence Liu.

Tratando-se de uma equipa local, mas com ligações a Hong Kong, em “Resonatorium” a dupla resolveu inspirar-se “nos ecos e reverberações no interior das igrejas, bem como na imagem histórica da capela de madeira que outrora se erguia no local da Igreja de São Lourenço”.

Trata-se, assim, de uma obra que “constrói uma ressonância pertencente exclusivamente ao passado e ao presente do sítio”, sendo composta por módulos sonoros em madeira, “formando um espaço arquitectónico semi-aberto, no qual a própria estrutura se torna um corpo ressonante”. As sonoridades e a estrutura acarretam simbolismos ligados à Igreja de São Lourenço, o cais do Porto Interior, o bairro do Largo de Santo Agostinho, a Avenida de Almeida Ribeiro, sem esquecer “o futuro de Macau”.

A tarde de sábado fica reservada para uma instalação oriunda de Portugal, “UnPlan”, do atelier FAHR 021.3, criado por Filipa Frois Almeida e Hugo Reis. A partir das 15h30 pode ser visitada esta instalação temporária “concebida para oferecer uma nova perspectiva sobre o espaço público”, estando inserida “num tecido urbano denso, marcado pela circulação, vigilância e rotina”.

Desta forma, é uma “peça que introduz um momento de pausa, como um objecto simultaneamente familiar e estranhamente deslocado”, em que “em vez de prescrever comportamentos, propõe uma superfície aberta que convida a novas formas de planear, ocupar e imaginar”.

Domingo, é dia de explorar “Letters to Macau”, um projecto internacional da Chaal Chaal Agency (CCA), um colectivo de design e investigação fundado pelos arquitectos e investigadores Kruti Shah, da India, e Sebastián Trujillo-Torres, de Espanha.

Aqui pretende-se reinterpretar “o marco de correio tradicional da cidade como um dispositivo urbano de reflexão, correspondência e imaginação cívica”. Descreve a organização da bienal que “Letters to Macau” inspira-se “no vocabulário espacial estratificado de Macau, com portas lunares, pátios, becos e passagens de jardim, para criar uma estrutura simultaneamente familiar e reinventada”.

Desta forma, “os visitantes são convidados a escrever cartas dirigidas à cidade, partilhando memórias, desejos ou propostas de renovação”, sendo que “cada carta é depositada na estrutura, acumulando-se ao longo da Bienal e transformando gradualmente a instalação num arquivo cívico colectivo”.

Esta instalação foi construída a partir de dez painéis de contraplacado cortados por CNC, sendo a estrutura fabricada através de métodos simples e reversíveis, como o encaixe, a fixação e o empilhamento, que permitem uma montagem, desmontagem e reutilização rápidas. “Os seus planos interligados geram diferentes graus de abertura e de encerramento, enquadrando vistas longitudinais e transversais em resposta à verticalidade estreita do tecido urbano do Porto Interior”, descreve-se ainda.

Além das seis instalações centrais, esta bienal traz diversos eventos complementares. Hoje à tarde, entre as 16h e as 17h, decorre, na Ponte 9, o “Pressed Echoes of the Inner Harbour – Urban Flora Workshop”, sendo que entre as 18h e as 19h acontece, na praça Ponte e Horta, o “AAFK x Resonatorium Sound & Paint”. Amanhã, entre as 16h e as 17h, é tempo de acontecer o “Three Lamps of Inclusion: Culture Experience and Dialogue Workshop”, no Largo de Santo Agostinho, seguindo-se o evento “The City Breathes”, no Largo do Lilau. À noite, entre as 20h30 e as 21h20, é tempo de música e meditação com uma performance dos NÁV, no Largo de Santo Agostinho.

No domingo, tem lugar uma actividade de “placemaking” entre as 11h e as 12h no Largo do Aquino, intitulada “Love Me? Destroy Me!”, seguindo-se uma leitura colectiva em torno da instalação “Letters to Macau” entre as 16h e as 17h, na Travessa do Aterro Novo. A bienal termina com a actividade, entre as 18h e as 18h30, intitulada “Furniture Adoption”, no Largo do Aquino. O programa inclui ainda diversas visitas guiadas.

12 Dez 2025

Salários | Patrões queriam aumento no “mínimo possível”

O patronato defendeu a manutenção do actual valor do salário mínimo, de 34 patacas por hora, e no caso de ter de haver uma actualização, que esta ocorresse no mínimo valor possível. Já os trabalhadores, pediam um aumento de três patacas, para 37 patacas por hora.

Estas informações constam no parecer da Assembleia Legislativa (AL) relativo à revisão da lei do salário mínimo, que será votada na especialidade na quinta-feira da próxima semana, juntamente com o Orçamento para 2026. Em Novembro, os deputados aprovaram na generalidade, com três abstenções, a actualização do salário mínimo em apenas uma pataca, de 34 para 35 patacas à hora. Trata-se de um aumento de 2,9 por cento, o que, por mês, perfaz 7.280 patacas.

As informações fornecidas pelo Governo aos deputados, sobre as posições demonstradas em sede de concertação social, mostram que os representantes dos trabalhadores defenderam que “o valor sugerido [pelo Executivo] era demasiado baixo e não conseguia garantir o rendimento dos trabalhadores com baixos salários”. Por isso, “o mesmo deveria ser aumentado três patacas, passando o salário mínimo, por hora, a ser de 37 patacas”.

Pelo contrário, “a opinião dos representantes da parte patronal era de que, nesta fase, não era adequado aumentar o nível do salário mínimo, e se o Governo acabasse por considerar necessária a actualização, os mesmos esperavam que o aumento fosse mínimo”.

Ainda do lado dos trabalhadores, apontou-se que “a actualização do salário mínimo não consegue acompanhar a evolução real do custo de vida, pelo que os procedimentos da revisão devem ser aperfeiçoados, com a implementação de uma verdadeira ‘revisão bienal’ e o estabelecimento de um mecanismo de actualização baseado em fórmulas”.

Defendeu-se também “que o aumento do salário mínimo tem um efeito de reacção em cadeia, podendo contribuir para impulsionar a actualização da remuneração dos trabalhadores que não auferem salários baixos”.

O medo das PME

Ainda face ao que foi dito na concertação social, os patrões “consideraram que, devido à recuperação desequilibrada da economia, as Pequenas e Médias Empresas enfrentam pressões significativas ao nível de custos”, pelo que, com o aumento do salário “as empresas podiam precisar de transferir custos, levando ao aumento dos preços”.

“Não se excluía a possibilidade de as mesmas diminuírem o número de trabalhadores não permanentes para reduzir as despesas, resultando na redução de oportunidades de emprego e no aumento da carga de trabalho dos trabalhadores a tempo inteiro”, foi defendido pelo patronato.

Da parte dos deputados da primeira comissão permanente, responsável pela análise do diploma na especialidade, pediu-se que o Governo “tome como referência a prática das regiões vizinhas para aperfeiçoar o mecanismo de revisão” do salário mínimo, definindo-se “critérios quantitativos e fórmulas de cálculo mais científicas para a actualização do valor”.

O Governo explicou aos deputados que “passaram apenas cinco anos desde a implementação da lei” do salário mínimo, pelo que é “preciso tempo para observar as alterações trazidas pela sua implementação”. “No futuro vai ser ponderado o aperfeiçoamento do mecanismo de revisão do valor do salário mínimo de acordo com a situação real” de Macau.

Na prática, 18.200 trabalhadores serão abrangidos por este aumento salarial, o que, excluindo os trabalhadores domésticos, representa 4,4 por cento do total da força laboral de Macau. Desta fatia, 2.200 são trabalhadores locais e 16.000 não residentes, ligados a actividades imobiliárias, hotelaria. “Os principais grupos de beneficiários são os trabalhadores que exercem funções de segurança e limpeza”, descreve o parecer.

12 Dez 2025

Albergue SCM | Trabalhos de Zhang Lanpo, um dos maiores fotógrafos da China, em exposição

“Above the Abyss” [Acima do Abismo] apresenta em Macau o trabalho fotográfico de Zhang Lanpo, tido como um dos maiores fotógrafos da actualidade na China. A abertura ao público deu-se ontem, no Albergue da Santa Casa da Misericórdia de Macau, e as imagens podem ser vistas até Fevereiro do ano que vem. Mas nem só de imagens captadas se faz esta exposição, que inclui também trabalhos de pintura

A programação cultural do Albergue da Santa Casa da Misericórdia (SCM) inclui nova exposição a semanas de o ano de 2025 chegar ao fim. Trata-se de “Above the Abyss – Exposição Individual de Zhang Lanpo”, considerado um dos maiores fotógrafos da China, apesar desta exposição trazer também obras de pintura.

A inauguração decorreu ontem, podendo esta mostra ser vista na Galeria A2 do Albergue SCM até 15 de Fevereiro. Trata-se de um projecto que visa celebrar os 26 anos de criação da RAEM, e também da transferência de administração portuguesa de Macau para a China.

Zhang Lanpo nasceu em Lanzhou, possui um mestrado em Belas-Artes pela Academia de Belas-Artes de Guangzhou e reside em Zhaoqing, Guangdong. O comunicado do Albergue SCM destaca que este é “reconhecido entre os 20 melhores fotógrafos contemporâneos emergentes da China”, sendo também “considerado uma das figuras mais representativas no campo da fotografia conceptual chinesa”.

“A sua prática distingue-se pela sua profunda profundidade intelectual e pela sua ampla investigação sobre os limites da existência e da consciência humanas. Indo além da estética pura, as obras de Zhang envolvem-se em discursos críticos e filosóficos que as posicionam no centro do debate sobre a arte contemporânea chinesa”, lê-se ainda.

Os temas do seu trabalho fotográfico centram-se na morte, mas sempre “com o objectivo de reconstruir uma visão da vida”. No Albergue SCM, podem ver-se 16 trabalhos de Zhang, pintura e fotografia, apresentando “uma linguagem visual única”, em que “o artista conduz o público numa viagem flutuando acima do abismo”.

“A obra não é meramente uma apresentação visual, mas uma reflexão profunda sobre a história, a memória e a humanidade, reexaminando criticamente a realidade percebida pelo público”, descreve-se.

Vida Vs Morte

A carreira de Zhang Lanpo já vai longa e foram muitos os espaços museológicos onde expôs, nomeadamente no Museu Internacional de Design da China, o Museu YOUART de Suzhou, o Museu de Arte Times de Chengdu ou ainda o Museu de Arte de Guangdong.

Numa nota biográfica sobre o artista e fotógrafo, refere-se que em cada peça de grande escala, tendo em conta que alguns projectos podem demorar até oito meses a ficar concluídos, Zhang “incorpora um trabalho meticuloso e camadas intricadas de metáforas e detalhes visuais”.

Ainda sobre as temáticas do seu trabalho, a morte e a vida, é referido que “num mundo de vida eterna, que é muito mais distante e extenso do que o mundo da vida, ele enfrenta uma escolha difícil ao reexplorar as profundezas da natureza humana”.

No seu trabalho, observa-se “a história contraditória da funcionalidade e do excesso, do crime e da punição, da humanidade e da divindade, do pensamento e do julgamento, da ocultação e da revelação”, sendo “esta série de contradições que o leva a continuar a reflectir e a descobrir este tema”.

11 Dez 2025

Pagamentos online | Crescimento anual de 2,4% em restaurantes

O sector da restauração registou, em Outubro deste ano, um aumento de 12 por cento em termos mensais e 2,4 por cento em termos anuais no que diz respeito a pagamentos electrónicos.

Segundo os dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), tal deve-se aos dias de feriados da Semana Dourada de Outubro. O montante das transacções neste sector foi, em Outubro, de 1,16 mil milhões de patacas, sendo que apenas nos dez primeiros meses deste ano se gastaram em restaurantes 11,26 mil milhões de patacas, um aumento anual de 2,2 por cento.

Ainda em Outubro, o volume de transacções dos proprietários de todos os sub-ramos da restauração subiu face a Setembro de 2025. Destaca-se que o volume de transacções dos restaurantes ocidentais e o dos restaurantes chineses aumentaram 25,3 e 20,7 por cento, respectivamente. Em comparação com Outubro de 2024, o volume de transacções dos proprietários de todos os sub-ramos da restauração também subiu.

De realçar que o volume de transacções dos restaurantes de comida rápida e o dos restaurantes ocidentais cresceram 13,5 e 7,3 por cento, respectivamente. Por sua vez, as transacções digitais no sector do retalho aumentaram ainda mais em termos mensais, 27 por cento, mas, em termos anuais, o aumento foi menor, de apenas 0,6 por cento.

11 Dez 2025

Burlas | TSI mantém pena de quatro anos de prisão

O Tribunal de Segunda Instância (TSI) decidiu manter a pena de quatro anos de prisão efectiva, sem possibilidade de suspensão na sua execução, de um homem que causou um prejuízo de 300 mil patacas a idosos pela prática de burla telefónica, ao fazer-se passar por familiar das vítimas.

O caso remonta a Junho do ano passado, quando o arguido ” e demais parceiros planearam telefonar a idosos em Macau, fingindo ser familiares, a fim de lhes pedir dinheiro, com o fundamento na necessidade urgente de fundos para pagamento de uma indemnização”.

O acórdão do TSI, ontem divulgado, dá conta que o homem foi condenado, em primeira instância, pela prática, na forma consumada, de um crime de burla de valor elevado, um crime de burla de valor consideravelmente elevado e um crime de usurpação de funções. Foi também condenado, “na forma tentada, de um crime de burla de valor consideravelmente elevado”, com o cúmulo jurídico de quatro anos de prisão. O homem foi ainda condenado a pagar 200 mil patacas e 100 mil dólares de Hong Kong a duas pessoas como indemnização por danos patrimoniais. O acusado recorreu da decisão, mas o TSI rejeitou o recurso, mantendo a pena inicial.

11 Dez 2025

CCAC | Chefe de cozinha solicitou subornos em acções de recrutamento

O Comissariado contra a Corrupção descobriu um caso de solicitação de subornos por parte de um cozinheiro chefe em acções de recrutamento. O funcionário em questão trabalhava para uma operadora de jogo e é agora suspeito do crime de corrupção passiva no sector privado, enquanto quatro trabalhadores são suspeitos de corrupção activa

Um homem, na função de cozinheiro chefe numa operadora de jogo, é suspeito da prática do crime de corrupção passiva no sector privado por ter pedido subornos em acções de recrutamento de trabalhadores. É o que diz uma nota do Comissariado contra a Corrupção (CCAC), que investigou o caso, e concluiu existir a suspeita da prática deste crime, previsto na Lei de Prevenção e Repressão da Corrupção no Sector Privado, sem esquecer o crime de corrupção activa alegadamente praticado por mais quatro trabalhadores da mesma empresa. O caso já foi encaminhado para o Ministério Público para mais investigação.

A matéria em questão começou a ser analisada pelo CCAC depois da apresentação de uma denúncia. O cozinheiro chefe visado estava ligado ao departamento de restauração de uma operadora de jogo.

É suspeito de “ter solicitado suborno para autorizar a contratação, aprovação no período experimental ou a renovação de contratos de trabalho”, tendo o CCAC concluído que, nos anos de 2023 e 2024, o homem, “abusando dos poderes inerentes às suas funções, aproveitou várias vezes as oportunidades de recrutamento, de períodos experimentais, de avaliações de desempenho e de renovação de contratos dos trabalhadores para solicitar, de forma expressa ou implícita, junto dos conterrâneos e seus subordinados, benefícios em numerário ou outras ofertas”.

Essas exigências eram feitas para dar “autorizações de contratação ou renovações de contratos de trabalho, violando assim os deveres funcionais”.

Casos desleais

Na mesma nota, o CCAC dá conta de que, nos últimos anos, “têm sido resolvidos casos semelhantes envolvendo práticas desleais no sector, situação esta que merece a atenção da sociedade”.

“Estes casos envolvem direitos e interesses relacionados com o emprego e afectam um ambiente de comércio e trabalho justo e íntegro em Macau, pelo que se apela uma vez mais à sociedade para agir com integridade e no cumprimento da lei, não desafiando a lei para obter benefícios”, aponta ainda o organismo.

O CCAC acrescenta, na mesma nota, que “se os trabalhadores do sector privado se depararem com actos ilícitos, tais como a solicitação de subornos, não devem ceder, devendo antes apresentar de imediato denúncia”.

11 Dez 2025

Função pública | Governo sem planos para actualizar subsídios

Leong Weng In, directora dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), assegura que não existem planos para actualizar subsídios para funcionários públicos. A informação consta numa resposta dada a uma interpelação escrita colocada pela deputada Wong Kit Cheng.

“O Governo da RAEM tem estado atento às necessidades dos trabalhadores dos serviços públicos, mas, até à data, não tem planos para proceder à actualização dos subsídios”, nomeadamente o prémio de antiguidade, subsídio de residência, subsídio de família, subsídio de casamento e o subsídio de nascimento, ou ainda subsídio de subsistência, “para trabalhadores dos serviços de base ou com necessidades”.

Na mesma resposta, é referido que estes apoios “são calculados com base no índice salarial e aumentados automaticamente desde que haja actualização salarial”.

11 Dez 2025

Casa de Vidro | Bruno Gaspar apresenta “Macau, um Encontro de Culturas”

Um “encontro de culturas”, ou da arte com a literatura portuguesa, é o que Bruno Gaspar, artista português, apresenta até ao final do mês na Casa de Vidro do Tap Seac. “Macau, um Encontro de Culturas” é um projecto acolhido pela Casa de Portugal em Macau que revela pinturas sobre escritores portugueses

A literatura portuguesa é pródiga em grandes obras e escritores e muitos deles passaram por Macau ou tiveram uma ligação muito forte com o território. Foi a pensar nessa dimensão literária que o artista português Bruno Gaspar desenvolveu um projecto, a convite da Casa de Portugal em Macau (CPM), que contou com o apoio da Fundação Macau.

“Macau, um Encontro de Culturas” traz pinturas sobre escritores portugueses à Casa de Vidro do Tap Seac, uma mostra que pode ser visitada, de forma gratuita, até ao final do mês.

Ao HM, Bruno Gaspar confessou que retratar os autores das maiores obras em língua portuguesa não é um tema novo no seu trabalho. “Há muitos anos que uso a literatura como ponto de partida para criar. Curiosamente, trouxe também desenhos que tinha feito em Macau, quando vivi cá entre 2016 e 2018, sobre a ‘Clepsidra’ de Camilo Pessanha, mas que acabaram por não ser expostos nesta exposição.”

Na Casa de Vidro, podem ver-se trabalhos mais recentes, “que têm a ver com uma série inspirada na literatura lusófona”. “Alguns desses trabalhos retratam escritores que depois são envolvidos pelo ritmo das suas palavras, pintadas por mim”, descreveu. Depois, há outra série de trabalhos “que é o seguimento desses retratos”, onde Bruno Gaspar diz ter “mergulhado na linguagem pictórica tendencialmente abstracta”, dando “primazia ao instinto artístico, como se o pincel fosse seduzido pela beleza de cada poema”.

O público pode, portanto, ver imagens de Camilo Pessanha ou do macaense Henrique de Senna Fernandes, numa selecção de nomes “bastante pessoal”. “Era importante que sentisse algo por cada escritor. Em relação a Macau, fiz questão de investigar a obra de cada um deles para depois transportá-los para o papel.”

Entre Herberto e Pessanha

Bruno Gaspar confessa que o autor que mais gostou de retratar foi Camilo Pessanha, expoente máximo do simbolismo português, e que morreu em Macau em 1926, depois de muitos anos a trabalhar como jurista e docente.

Essa primazia deve-se “ao facto de ser a primeira pintura” de uma das séries. “Como as obras estão encadeadas, não posso deixar de referir o retrato de Deolinda da Conceição, pela vibração das cores, e de Henrique Senna Fernandes, pelo sorriso bondoso que consegui registar.”

Na qualidade de leitor ou admirador, Bruno Gaspar também destaca Camilo Pessanha e o poeta Herberto Hélder. “Em cada poema surgem múltiplos caminhos para criar. A carga simbólica de ambos é perfeita para divagar com as cores e até mesmo em escultura. Criei várias esculturas sobre alguns poemas de Camilo Pessanha, mas não vieram até Macau pelo facto de a logística ser mais complicada para as transportar.”

Bruno Gaspar confessa ter gostado “bastante de contactar com a comunidade portuguesa de Macau”, tendo encontrado “pessoas muito interessadas” no seu trabalho. “A exposição tem sido bem acolhida”, refere, destacando o trabalho que se vai fazendo na promoção da literatura portuguesa no território.

“Nunca devemos achar que está tudo feito. Pelo que percebi, há gente muito empenhada na divulgação da literatura portuguesa. No meu caso, orientei dois workshops na CPM e a sala estava cheia de participantes muito interessados. Também tenho visitas guiadas à exposição, agendadas por escolas de Macau, e por isso os sinais são muito positivos.”

Porém, o artista ressalva que é necessário “continuar a tentar aproximas as duas línguas, Portugal com a China”. “Se queremos que conheçam a nossa literatura, também devemos conhecer a literatura chinesa”, rematou.

Bruno Gaspar nasceu em França, na cidade de Paris, em 1979, crescendo depois na aldeia de Torrinhas, já em Portugal. Licenciou-se em História da Arte na Universidade Nova de Lisboa. Formou-se em Cinema de Animação na Fundação Calouste Gulbenkian e desde os 15 anos que participa em diversos projectos artísticos nas áreas do cinema de animação, fotografia, design, publicidade e marketing, escultura, ilustração, murais e artes plásticas.

Bruno Gaspar trabalhou como ilustrador e cronista de viagens na imprensa portuguesa, tendo sido por diversas vezes finalista do Prémio Stuart Carvalhais, organizado pelo El Corte Inglés. Venceu o Prémio Maria Alberta Menéres em 2011. Em 2017, conquistou o segundo prémio de Artes Plásticas, no concurso a propósito do 25 de Abril de 1974, organizado pela CPM.

É ainda director do cinANTROP (Festival Internacional de Cinema Etnográfico de Portugal) e fundador dos projectos artístico-solidários, como “Olhares sem Abrigo/Homeless Heys”, “Bibliotecas com Vida” e “Natal numa Caixa de Sapatos”. Conta com várias exposições nacionais e internacionais e tem obras presentes em colecções públicas e privadas.

10 Dez 2025

Saúde | Mais de 70 alunos infectados com vírus da gripe

Os Serviços de Saúde (SS) receberam, na última sexta-feira, a notificação da ocorrência de sete casos de gripe em várias escolas do território, nomeadamente a Escola Xin Hua, a creche Tung Sin Tong III, a Escola Secundária Pui Ching, a Escola Kao Yip, Escola Secundária Luso-Chinesa de Luís Gonzaga Gomes, Escola Tong Sin Tong e Colégio de Santa Rosa de Lima (Secção Chinesa). Foram infectadas um total de 66 crianças, sendo que os sintomas, nomeadamente febre, tosse e dor de garganta, começaram a manifestar-se a 30 de Novembro.

Segundo uma nota dos SS, uma criança da creche Tung Sin Tong III necessitou de internamento, apresentando agora um estado clínico estável. Não foram registados casos graves ou outras complicações relativamente aos restantes doentes. A investigação revelou que 19 doentes dos sete casos colectivos de infecção, obtiveram um resultado positivo para a gripe do tipo A num teste rápido, não tendo sido detectado qualquer agente patogénico noutros alunos.

Outro caso de gripe, detectado pelos SS no sábado, dia 6, ocorreu numa turma do Colégio Diocesano de São José, com 11 alunos infectados. Estes começaram a manifestar sintomas de infecção do tracto respiratório superior no dia 3. Não há casos graves, sendo que quatro doentes testaram positivo à gripe A.

10 Dez 2025

Turismo | Previstas mais viagens de residentes para o exterior

Andy Wu, presidente da Associação da Indústria Turística de Macau, acredita que os residentes possam viajar mais nesta época natalícia que se aproxima, falando em aumentos das viagens na ordem dos 20 por cento. O interior da China deverá estar no topo das preferências

O presidente da Associação da Indústria Turística de Macau, Andy Wu, garantiu, segundo o jornal Ou Mun, que as viagens de residentes ao exterior possam aumentar cerca de 20 por cento nesta época natalícia. O responsável explicou que, segundo o calendário deste ano, as férias combinam com a data do estabelecimento da RAEM, 20 de Dezembro, sendo que os períodos do solstício de Inverno, a véspera de Natal e o Natal são de seis dias, entre as datas de 20 e 25 de Dezembro. Caso uma pessoa peça o dia de férias para sexta-feira, 26 de Dezembro, o período de férias pode estender-se a nove dias, entre as datas de 20 a 28 de Dezembro, por incluir o fim-de-semana.

Andy Wu acredita que, com este calendário, as pessoas terão mais vontade de viajar, nomeadamente para fazer percursos mais longos. Quanto ao destino da viagem, o dirigente associativo acredita que a zona do interior da China deverá ocupar o topo das preferências, mais de 60 por cento, para os residentes de Macau, tendo em conta que a popularidade das viagens ao Japão sofreu uma redução. Pelo contrário, Andy Wu destaca que as viagens à China e Sudeste Asiático se tornaram as alternativas preferenciais.

Japão com menos procura

Face aos preços das viagens, Andy Wu disse que a época do Natal não faz parte das fases dos grandes períodos de férias para o interior da China, pelo que os valores tendem a estabilizar. Enquanto isso, face à menor procura pelas viagens ao Japão, um cenário diferente em relação ao ano passado, quando os preços subiram muito, este ano verifica-se o oposto: uma estabilidade de valores.

Andy Wu afirma que as escolhas de destinos na China mais populares são locais com neve e gelo, nomeadamente cidades em Chongqing ou na província de Jiangxi, que recentemente passou a ter uma rota aérea directa com Macau. O responsável adiantou que o facto de existirem, no país, recursos turísticos abundantes e a conveniência dos meios de transporte faz com que o interior da China se torne muito atractivo, como destino, para os residentes de Macau.

Além disso, Andy Wu observou que há uma nova tendência no mercado de viagens de longa distância, já que há muitos residentes a preferir viajar sozinhos para destinos na Europa ou Dubai.

No cenário oposto, ou seja, quanto ao número de visitantes de Macau na semana do Natal, Andy Wu acredita que o número possa registar um aumento em termos anuais. O presidente da associação descreve que, apesar de o Natal não ser celebrado no interior da China, o ambiente festivo é bastante popular e atractivo, nomeadamente para visitantes mais jovens. Por esta razão, Andy Wu explicou que os turistas mais jovens do interior da China, e também os que vêm de Hong Kong, são dois grupos essenciais para trazerem dinâmica ao turismo nesta época natalícia.

10 Dez 2025

Finanças | Secretário diz estar a optimizar plataformas e leis

O secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip, declarou ontem que o Executivo está a trabalhar na optimização de plataformas e leis ligadas ao sector financeiro, a fim de o desenvolver. Um dos projectos prende-se com a melhoria, “de forma faseada”, da Central de Depósito de Valores Mobiliários de Macau (CSD), ligada ao mercado das obrigações, pretendendo-se, com isso, “aprofundar o serviço de rede e interligação com Hong Kong”.

O Governo diz também estar a avançar “com os trabalhos preparatórios da Lei de Valores Mobiliários, visando o aceleramento da criação de um mercado de obrigações que ‘sirva de ponte para o Interior da China e crie conexões com o mercado internacional’, de forma a responder melhor às necessidades de financiamento e investimento da Zona de Cooperação e da Grande Baía”, destacou o secretário num discurso proferido na cerimónia de abertura da 4.ª Edição do Fórum Financeiro da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau 2025, ocorrido ontem.

O governante acrescentou também que na área da gestão de fortunas, “a nova Lei dos Fundos de Investimento entrará em vigor no próximo mês, reforçando ainda mais as bases legais e o ambiente de desenvolvimento da indústria de fundos em Macau”. Quanto ao projecto da pataca digital, a “e-MOP”, foi já concluída a construção do sistema central, tendo sido realizados “testes de transacções em pequena escala, visando o aperfeiçoamento contínuo das infraestruturas financeiras digitais”, rematou o secretário.

10 Dez 2025

Taipa Art Village | Exposição de Elizabeth Briel encerra programação do ano

Com “Waves of Influence” [Ondas de Influência], mostra que apresenta trabalhos de Elizabeth Briel, a Associação Cultural da Vila da Taipa encerra a programação para este ano. Trata-se de uma instalação artística feita com materiais como ganga e t-shirts transformados em azulejos com características locais. Para ver até Fevereiro

Numa altura em que a RAEM se prepara para celebrar mais um aniversário de existência, a 20 de Dezembro, a Associação Cultural da Vila da Taipa apresenta, até Fevereiro, uma exposição relacionada com os conceitos de transição, cultura local e identidades que por aqui permanecem desde 1999 ou que sempre fizeram parte do território.

“Waves of Influence” [Ondas de Influência], da artista Elizabeth Briel, que trabalha essencialmente com pintura, instalação e gravura, resolveu pegar em materiais recicláveis, como ganga e pedaços de t-shirts, transformando-os “numa parede fluída de azulejos azuis e brancos macaenses”. São como “imagens usadas para definir um lugar em transição”, questionando-se quais as “correntes culturais que estão por detrás da transmissão de ideias que revitalizam as artes de uma era”.

Segundo uma nota da própria artista sobre esta mostra, “Ondas de Influência” teve origem “em horas de trabalho na mesa de estúdio em Macau e ao redor dela, incrustada com porcelana chinesa azul e branca pintada à mão, criada para o mercado de exportação e trazida pelos americanos para Hong Kong”.

“Tracei os desenhos intrincados da porcelana, lembrando-me dos azulejos portugueses de cobalto nos espaços públicos de Macau e das formas como esta forma de arte ligava culturas díspares da China ao Ocidente. Estes azuis eram a arte dos impérios, que, tal como o papel e a ganga, foram transportados através de continentes e séculos através da migração e do comércio, do poder e do conflito, transformados por pessoas de todos os níveis da sociedade à medida que incorporavam estes objectos nas suas vidas.”

A artista confessa ter-se interessado, ao longo deste processo criativo, pelas “transmissões culturais entre os impérios chineses, os califados mediterrânicos e as potências da união ibérica que catalisaram as artes do papel e da porcelana azul e branca durante o último milénio”.

Olhos nos azulejos

No território, Elizabeth Briel examinou azulejos com motivos portugueses colocados pela cidade, “azulejos do século XX que retratavam temas históricos do Mar da China Meridional; e outros recentemente pintados em ‘trompe l’oeil’ directamente nas paredes de estuque”.

“Enquanto experimentava maneiras de traduzir azulejos em papel denim feito a partir do ‘uniforme americano’ global de calças de ganga azuis, examinei as pinceladas individuais dos azulejos para entender as decisões que os pintores haviam tomado. Embora as pinturas de cobalto possam assemelhar-se a aguarelas, os esmaltes são frequentemente mais calcários e mais difíceis de manusear, e era evidente que os pintores tinham concebido soluções alternativas ao recriar esboços e outras imagens nos azulejos.”

Além disso, descreve a artista, a fim de “compreender melhor as mãos e as mentes que os criaram”, Elizabeth foi até Portugal e China “para experimentar as sensações de pintar e imprimir esmaltes directamente do pincel, os toques, os aromas e os sons do processo, o rigor implacável dos esmaltes metálicos e a potencial destruição inerente à queima a 1300 °C.”

Todo este projecto nasceu “do fascínio pela materialidade dos impérios”, transformando-se “numa forma de traçar uma viagem pessoal do Ocidente à Ásia e de volta, gravando papéis com baús de madeira esculpidos de Guangdong usados para transportar uma vida através dos mares, plantas como dispositivos retóricos usados para descrever os imigrantes como espécies invasoras, detalhes arquitectónicos da vida num continente transpostos para outro”.

Outras séries

Em “Ondas de Influência” apresentam-se também trabalhos da artista de uma série anterior, intitulada “Impressions: What Lies Beneath Paris & Hong Kong”, tratando-se de um “projecto da Grande Baía desenvolvido num centro de arte em papel” em Guangzhou.

Elizabeth sempre tentou fazer papel com outros materiais, nomeadamente linho ou algodão, tentando depois “criar instalações modulares em grande escala” com essa base. “O seu trabalho começa com materiais imbuídos de significado, como papel batido por tufões ou feito de uniformes militares e tintas de osso e chumbo.”

A artista nasceu na Califórnia e foi criada em Minneapolis, tendo-se formado em Belas Artes e especializado em pintura na Universidade de Minnesota. Viveu em cidades como Nova Iorque e Boston, deixando os EUA em 2003. Residiu na Ásia por 20 anos.

9 Dez 2025

DSEDJ | Ex-funcionário vê pena de prisão reduzida

Um antigo funcionário da Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ), que à data dos factos, 2006, era Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, viu a sua pena de prisão ser reduzida de sete anos de prisão efectiva para cinco.

Em causa, está o facto de este funcionário se ter aproveitado do trabalho que fazia, analisando pedidos de apoio financeiro, para criar uma associação, em 2017, e concorrer a subsídios para proveito próprio. Entre essa data e 2020, o homem usou a associação “para se candidatar a uma série de apoios financeiros a actividades”, apresentando relatórios falsos.

Na primeira instância, foi condenado, em 2023, a sete anos de prisão pela prática de 18 crimes de burla, 19 crimes de falsificação de documento, sete crimes de abuso de poder, dois crimes de falsificação praticada por funcionário, três crimes de falsificação informática e um crime de obtenção, utilização ou disponibilização ilegítima de dados informáticos. O Tribunal de Segunda Instância reduziu agora a pena e absolveu o homem dos quatro crimes de abuso de poder.

9 Dez 2025

Timor-Leste | Recordações da vida de um homem reflectem a resistência de um povo

O livro “Regresso a Uaidora, a infância e juventude de Domingos Gusmão” relata os testemunhos do timorense sobre os anos da resistência de Timor-Leste à ocupação indonésia. O testemunho foi escrito em Macau pelo ex-residente e professor universitário Duarte Trigueiros. 50 anos depois da ocupação, o autor recordou ao HM a obra lançada em 2022

Este ano tem sido marcado pelas celebrações de aniversários dos 50 anos de independências de muitas antigas colónias portuguesas. Timor-Leste foi a um desses territórios. Porém, logo a seguir à proclamação unilateral da independência, em 28 de Novembro de 1975, seguiu-se um período de confronto que culminou com a ocupação indonésia, a 7 de Dezembro do mesmo ano.

Este domingo passaram 50 anos da invasão que marcou o destino do jovem país. A propósito dessa data, saiu, em 2022, o livro “Regresso a Uaidora, a infância e juventude de Domingos Gusmão”, que revela a história do timorense, que foi estudante em Macau e aluno do autor Duarte Trigueiros, ex-economista e professor na Universidade de São José. O HM falou com o autor sobre o reflexo da dor e luta pela autodeterminação de um povo que se vislumbra na vida de um homem e da sua família.

“Quando ensinava em Macau recolhi o testemunho desse timorense de Baucau. Domingos Gusmão, sabendo que tinha ensinado na Universidade Nacional de Timor-Leste durante vários anos, contou-me como ele e a sua família viveram todos esses terríveis acontecimentos”.

Nasceu assim o livro, sendo que Trigueiros foi meramente relator do testemunho, depois corrigido em parceria com Domingos Gusmão. A obra tem apenas versão online, mas na altura do lançamento contou com o apoio da Fundação Oriente na impressão de alguns exemplares.

Matebian, Timor-Leste

O contacto de Duarte Trigueiros, que viveu vários anos em Macau, com Domingos Gusmão deu-se na Festa da Lusofonia, em 2015. “Fui à barraca de Timor-Leste e ele disse-me que tinha coisas interessantes para me contar, mas que não conseguia falar bem português, e que gostava de deixar o seu testemunho escrito. A dada altura propus fazer-lhe perguntas a partir da sua infância, como era a vida na aldeia, e assim nasceu o livro, com nove capítulos.”

O início da obra descreve, “pelos olhos de uma criança, o dia-a-dia dos agricultores das montanhas de Baucau em Timor-Leste, a determinação como reagiram à invasão do seu país em 1975 e a brutal repressão que se seguiu”. “O livro acompanha não apenas a vida dele, mas também da família e dos poucos que restaram. Acabou por não restar praticamente ninguém”, descreve Duarte Trigueiros.

Segundo a obra, Domingos Gusmão terá nascido a 1 de Novembro de 1969 na aldeia de Uaidora, pertencente ao município de Baucau, filho de Julião, agricultor, e Juliana, doméstica. “Mas só o local onde nasci está correcto. A data de nascimento não passa de uma conjectura e os nomes que aparecem na certidão como sendo os meus pais, Julião e Juliana, também não são os de meu verdadeiro pai e mãe, mas de parentes que me adoptaram quando fiquei órfão. Na verdade, sou filho de Martinho Gusmão, cujo nome de código foi ‘Maunoco’ e era o chefe da aldeia Uaidora até à sua morte em 1983; e a minha mãe foi Ricardina, a segunda mulher de Martinho Gusmão, aquela que lhe deu descendência.” Assim começa a história de Domingos.

A ida para Baucau

A obra relata anos muito difíceis, de fugas de milhares de timorenses para o mato para escapar aos indonésios, organizando a luta armada. Um dos capítulos, destaca Duarte Trigueiros, relata como Domingos e familiares “foram deportados e ficaram sem qualquer tipo de apoio, sem médico ou comida. “Morreu uma quantidade enorme de gente nessa altura, até inícios dos anos 80, e eles [a família de Domingos Gusmão], já no sítio onde estavam a cultivar a terra, começaram a ter frutos da terra, e a enviar crianças para a escola. Este rapaz [Domingos Gusmão], durante esse tempo, começou a preparar-se para ir para Baucau estudar, algo que não era fácil, pois era preciso arranjar um lugar, e havia muitas crianças.”

Domingos e Xanana Gusmão

É aí que a família decide sair da aldeia e ir para Baucau, encontrando empregos “ao serviço da tropa, dos juízes, enfermeiros e médicos”, que lhes valeram os primeiros contactos com a resistência timorense.

“Ele [Domingos Gusmão] começou a organizar aquilo a que chamam uma frente clandestina com os colegas. O livro relata todas essas peripécias que revelam, claramente, como funcionava a resistência. Este rapaz sentiu depois vontade de continuar os estudos e fez uma candidatura a um seminário católico”, lembrou Duarte Trigueiros.

A ligação à religião católica não era um acaso. “O propósito era ir para fora, porque a única coisa que os indonésios respeitavam realmente era a Igreja Católica, não respeitavam mais nada. E ele foi-se embora, esteve uma quantidade de anos a formar-se. Esteve nas Filipinas, onde também participou em actividades da resistência, e voltou já feito padre, em 2012.”

Escrever este livro importava para Domingos Gusmão pois ele “queria referir os nomes dos comandantes [timorenses] da primeira fase, quando a tropa indonésia entrou por Baucau, para o interior, e houve uma quantidade grande de comandantes da resistência que se opuseram, quase sem armas, e foram mortos”. “Quando me falou desse assunto, insistiu muito, disse-me ‘Escreve aí o nome do comandante tal’. Tudo para os nomes não caírem no esquecimento”, recordou.

“O que ele me disse é que hoje em dia, em Timor-Leste, as pessoas estão a compensar os membros da resistência que estão vivos, mas há muitos mortos que deram a vida por isso e estão a ser esquecidos. Mas este livro fala também de tudo a nível pessoal, do que aconteceu ao tio, de como o pai morreu nessa fase, atirado ao chão, com uma coronhada, com pontapés, porque se recusou a aceitar uma ordem e atiraram-no ao chão. Ele era chefe da aldeia e tinha de aceitar a ordem [dos indonésios], mas recusou”, frisou Duarte Trigueiros.

Para o autor, a obra conta “uma versão mais verdadeira” daquilo que foi a ocupação indonésia, e muito concretamente sobre as experiências da povoação de Uaidora e do interior do país.

No livro, lê-se o testemunho de Domingos sobre esta fase de resistência em Baucau, a partir de 1986. “Eu devo o meu alistamento na resistência às frentes clandestinas e também ao meu colega Domingos de Oliveira. (…) Poucas semanas depois, a 16 ou 17 de Setembro de 1991, celebrava-se o centenário da catedral de Díli e os jovens foram convidados a participar. De Baucau partiram 14 camionetas cheias de adolescentes e eu era um deles. No dia seguinte, durante o regresso, apareceram bandeiras da FRETILIN e todos nós cantámos hinos à independência.

Ao passarmos em Manatuto a tropa mandou-nos parar, mas depois disseram-nos para seguirmos; e já à entrada de Baucau, antes do aeroporto, a estrada encontrava-se bloqueada e fomos cercados por um forte dispositivo militar. Só carros de assalto eram três!”

Gusmão prossegue o relato deste momento tenso. “Depois de nos terem assim encurralado, a tropa, com os carros de assalto do lado direito, ocupou o lado esquerdo. As 14 camionetas ficaram alinhadas com o dispositivo militar, o qual tinha as armas em posição, prontas a disparar. Eram como um pelotão de fuzilamento muito comprido. Ali ficámos, com todas aquelas armas apontadas para nós, em silêncio enquanto o tempo decorria e nada acontecia.”

Apoio de portugueses

Duarte Trigueiros e Domingos Gusmão foram mantendo contacto, mas um AVC tirou qualidade de vida ao timorense. “Quase não me responde aos emails. Talvez tenha outra visão da vida”, confessa o autor.

Outra perspectiva que a obra dá, segundo Trigueiros, é o posicionamento das autoridades portuguesas nos anos da ocupação indonésia, afastando a ideia de que tenha havido abandono depois da independência. “Limito-me a mostrar aquilo que o Domingos me disse, e ele disse-me que muitos dos comandantes da resistência tinham sido militares portugueses e que, por isso, sabiam manejar armas. Disse-me, além disso, que eram extremamente patriotas. Há o relato de que nos anos 90 tentaram conseguir de Portugal um telefone satélite para entregar à resistência, e há referências ao apoio da Embaixada de Portugal em Manila. Acho que ficámos bem na fotografia”, conclui.

Duarte Trigueiros deu aulas em Timor entre 2004 e 2009, onde encontrou um ensino superior muito fraco. “Os alunos praticamente não sabiam português e nós tínhamos de ensinar em português. Só isso já era um grande esforço. Em geral, os alunos eram fracos, estavam muito mal preparados. A preparação [educativa] dos indonésios tinha sido de baixo nível, pois havia discriminação dos alunos por serem timorenses. O livro descreve isso, como só os bons alunos tinham direito a subir, digamos assim, e isso nem sequer significava ir para a universidade.”

Ainda assim, Duarte Trigueiros destaca a formação “de uma boa quantidade de pessoas, engenheiros, licenciados em Direito, economistas”. “Deu muito trabalho e esse foi o grande apoio que Portugal conseguiu dar”, acrescentou.

Hoje, o ex-economista diz que os timorenses olham para os portugueses com imensa gratidão. “É espantoso, pois quando vamos numa rua com um australiano, eles desprezam o australiano e não falam com ele, mas com o português cobrem-no com todo o tipo de carinho. Isso acontece muitíssimo em Timor-Leste”, rematou.

9 Dez 2025