Trânsito | Exigidas indemnizações por estradas más

O deputado José Pereira Coutinho defende que os condutores deveriam ser indemnizados pelo Instituto para os Assuntos Municipais sempre que sofram acidentes ou danos nas viaturas devido aos problemas na pavimentação de estradas e no desnivelamento das tampas de esgoto

 

“Macau é agora um grande estaleiro” é o título da mais recente interpelação escrita do deputado José Pereira Coutinho que pede o pagamento de indemnizações aos condutores que sofram estragos nas viaturas ou acidentes devido à má qualidade das estradas no território.

Na interpelação dirigida ao Executivo, o deputado pede que “motoristas e pedestres que sofrem prejuízos com a existência de buracos ou irregularidades nos pavimentos das vias públicas deveriam ser indemnizados pelos serviços competentes após apresentação de queixas junto do Instituto para os Assuntos Municipais”, tendo em conta que “a maior parte das ruas têm problemas no asfalto e estão muito desniveladas, o que causa solavancos nas viaturas que passam no local, constituindo, assim, um perigo diário para motociclistas e condutores de automóveis”, à excepção do troço do Circuito da Guia, denota.

Segundo o deputado, “o colapso dos asfaltos das estradas agrava-se com as chuvas devido à má qualidade dos materiais, e basta uma chuvada para que surjam buracos, o que causa enormes transtornos no trânsito”, sendo que os estragos nas viaturas passam por “danos à suspensão, rodas e pneus, podendo gerar colisões e ferimentos graves”.

Chuva de queixas

Pereira Coutinho descreve ainda que no seu gabinete de atendimento aos cidadãos são comuns “reclamações de motoristas e condutores que são forçados a desviar as viaturas de vários buracos e tampas de esgoto que estão desniveladas”.

Neste contexto, torna-se “importante e necessário reforçar a inspecção do processo de pavimentação e de manutenção [das vias públicas], que neste momento é um descalabro, pois existem tampas de esgoto quebradas durante meses sem que ninguém se interesse pelo assunto”.

Na interpelação, é pedido que as autoridades verifiquem “o nivelamento das tampas de esgoto aquando da pavimentação das ruas”, devendo ser garantida a “avaliação e testagem durante o processo de pavimentação [das ruas], nomeadamente quanto à composição da massa asfáltica utilizada, índices de compactação do asfalto, a espessura e a densidade das camadas pavimentadas, bem como os tipos de qualidade dos materiais usados”.

Tendo em conta o aumento do número de visitantes nos últimos meses, José Pereira Coutinho ressalva que “tem aumentado o número de turistas que ficam espantados com a quantidade de escavações nas ruas e a presença de numerosos separadores de plástico, de cor branca e alaranjada, colocados para durar uma eternidade”. É apontado o exemplo dos separadores colocados na Avenida da Amizade e no Porto Interior, bem como nas zonas periféricas, “dando a imagem da cidade como se esta tivesse sido bombardeada”, remata o deputado e presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau.

11 Jan 2024

Cinemateca Paixão | Novo ano traz último filme de Wim Wenders

Com a primeira exibição a acontecer hoje, às 19h30, a Cinemateca Paixão traz ao público de Macau o novo filme do realizador alemão Wim Wenders. “Dias Perfeitos”, realizado no Japão e já aclamado pela crítica, faz parte do cartaz “Encantos de Janeiro”, que inclui ainda “May December”, com Natalie Portman e Julianne Moore

 

“Perfect Day”, de Lou Reed, é uma daquelas músicas que apetece ouvir vezes sem conta. É ela que dá o mote à banda sonora do novo filme de Wim Wenders, “Dias Perfeitos”, exibido hoje na Cinemateca Paixão às 19h30, e também este sábado às 19h.

O novo filme de Wim Wenders marca o regresso do realizador ao país depois de ter produzido, há cerca de 40 anos, o documentário de homenagem a Yausjiro Ozu. Esta é uma história que fala da beleza das coisas simples, contando com a participação do conhecido actor Koji Yakusho, que já participou em filmes como “Babel”, de Alejandro González Iñárritu, e que, com este papel, ganhou o prémio de Melhor Actor no Festival Internacional de Cinema de Cannes.

“Dias Perfeitos” gira em torno da vida de Hirayama, personagem de Koji Yakusho, um empregado de limpeza em casas de banho públicas que leva uma vida tranquila pautada pelo trabalho, apesar de sujo, e pelo desfrutar da sua colecção de música e livros. O filme leva-nos a descobrir as escolhas de vida deste japonês e as suas razões de ser.

O novo filme de Wim Wenders, autor de outros grandes filmes premiados, como “Paris, Texas”, integra o cartaz de Janeiro da Cinemateca Paixão, intitulado “Encantos de Janeiro”. Já com uma nova empresa gestora, o espaço dedicado aos amantes do cinema independente e de autor apresenta ainda um outro filme aclamado a nível internacional: “May December”, com as actrizes Natalie Portman e Julianne Moore.

Este filme retrata a história verídica de uma professora, Mary Kay Letourneau que, nos EUA, se apaixonou pelo seu aluno menor de idade, com apenas 13 anos, tendo com ele tido filhos e uma relação longa, não sem antes ser condenada pelas autoridades por envolvimento sexual com um menor. Este filme será exibido este sábado às 21h30 e na quinta-feira dia 18 às 19h30.

Outras histórias

“Anatomy of a Fall” é mais um dos filmes integrantes de “Encantos de Janeiro”, sendo exibido amanhã pela primeira vez às 19h30, repetindo no domingo às 21h e sábado, dia 20, às 18h30. Este filme da realizadora Justine Triet, venceu a Palma de Ouro do Festival de Cinema de Cannes no ano passado e conta a história de Sandra, uma escritora alemã, e do seu marido francês Samuel, que, juntamente com o seu filho Daniel de 11 anos, vivem numa cidade remota nos Alpes franceses. A morte de Samuel e o facto de Sandra ser considerada a principal suspeita do crime dá início a um processo de redescoberta sobre a relação que ambos mantinham.

“Evil Does Not Exist” é ainda outro dos filmem em cartaz em que o ideário japonês marca presença. Vencedor do Grande Prémio do Júri no Festival de Cinema de Veneza no ano passado, a película de Ryusuke Hamaguchi conta a história de Takumi e a sua filha Hana, que vivem na aldeia de Mizubiki, perto de Tóquio, numa vida semelhante à de gerações anteriores, marcada pela modéstia, com ligação à natureza. Até que a ideia de edificar um projecto na aldeia muda para sempre a sua vida, pois põe em causa a preservação ambiental do local.

A primeira exibição de “Evil Does Not Exist” acontece esta sexta-feira às 21h30, seguindo-se exibições no domingo, quinta-feira, 18, quarta-feira, 24, e domingo, 28. A versão restaurada de “Cidade de Deus”, filme brasileiro de 2002, é exibida pela primeira vez na próxima quarta-feira, dia 17, e depois no sábado, dia 20.

O trabalho de Fernando Meirelles e Kátia Lund, que mudou a política de segurança pública no Brasil, esteve nomeado para vários Óscares da Academia e para um Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro no ano de estreia. Com este filme, o público pode conhecer de perto o perigoso mundo das favelas do Rio de Janeiro através da favela, ou bairro de lata, chamado “Cidade de Deus”, que foi crescendo a partir dos anos 60.

Do Vietname, chega-nos “Inside the Yellow Cocoon Shell”, cuja primeira exibição acontece no dia 23 de Janeiro. Este trabalho do realizador Thien An Pham explora o momento da morte da cunhada de Thien, que morreu num estranho acidente de mota em Saigão. Thien tem de levar o corpo da familiar, bem como o seu filho de cinco anos, Dao, sobrevivente do acidente, para a sua cidade natal no campo.

Thien começa a procurar o seu irmão mais velho, que desapareceu há anos, para lhe entregar Dao. Na estrada, Thien tem uma série de sonhos sublimes e encontros fascinantes que reacendem memórias reprimidas e desejos proibidos. No labirinto dessas buscas fantasmas, Thien luta com sua própria crise existencial sobre o que vale a pena viver. Este filme volta a ser exibido nos dias 27 e 31 de Janeiro.

10 Jan 2024

TNR | Viver em casa dos patrões depende de vários factores

Um estudo académico conclui que a decisão das empregadas domésticas filipinas de viverem com ou sem os patrões depende de vários factores, relacionados com as suas necessidades pessoais ao longo do tempo. Os “constrangimentos económicos e desequilíbrios de poder no ambiente de trabalho” afectam a decisão destas mulheres

 

Não há um padrão estático sobre as razões pelas quais as empregadas domésticas filipinas optam por viver com ou sem os patrões, existindo vários factores relacionados com as suas necessidades pessoais. Esta é a principal conclusão do estudo “(Re)fazer a escolha entre viver em casa ou viver fora: a experiência vivida pelas trabalhadoras domésticas migrantes filipinas em Macau” [(Re)making live-in or live-out choice: the lived experience of Filipina migrant domestic workers in Macao], da autoria de Todd Sandel, docente da Universidade de Macau, Xiao Yang, doutoranda da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST), Xiao Hong Pu, docente da MUST, e Bei Ju, docente da Universidade de Manchester. O estudo foi publicado em Novembro na publicação científica “Gender, Place & Culture – A Journal of Feminist Geography”.

Conclui-se que “as motivações subjacentes às decisões das participantes de viverem dentro ou fora de casa [dos patrões] estão ligadas às suas necessidades pessoais”, que passam pela tolerância ou intolerância em relação à vigilância doméstica na casa do patrão, o tipo de relações que mantêm com os empregadores ou os impactos da pandemia.

Em Macau, as empregadas domésticas não são obrigadas a viver na casa dos patrões, ao contrário de Hong Kong. Contudo, as empregadas domésticas filipinas “enfrentam frequentemente constrangimentos económicos e desequilíbrios de poder no ambiente de trabalho doméstico que limitam a sua liberdade de escolher o seu regime de vida”.

Cria-se, assim, “um processo dinâmico em que as opções de vida das participantes são moldadas por condições variáveis, tais como o surto da pandemia de covid-19 e a evolução das suas relações pessoais com os empregadores”. Desta forma, “a decisão de viver em casa ou fora de casa [dos patrões] não é uma escolha estática, mas sim um processo em curso constante que é influenciado por uma série de factores”.

Sobreviver e poupar

Os autores do estudo entrevistaram, entre Março e Maio de 2022, em locais públicos, fora da supervisão dos patrões, 18 trabalhadoras domésticas filipinas com idades compreendidas entre os 26 e os 58 anos. Desta amostra, “a maioria tinha concluído o ensino secundário e não tinha frequentado qualquer curso superior” e, embora já tivessem estado casadas, tendo dois ou mais filhos, muitas afirmaram terem-se tornado mães solteiras nos anos mais recentes.

Metade delas optou por viver com os patrões, “apesar das condições de vida no apartamento do empregador terem sido descritas como sendo más”. Revela-se o caso de “Merry”, pseudónimo de uma entrevistada, que viveu com uma senhora idosa. “Não é fácil dormir. Durmo no chão e as crianças estão sempre a correr, a gritar e a chorar… Não tenho espaço. De manhã, dobro a cama e ponho-a no armário.”

Quem opta por viver com o patrão “sacrifica a sua subjectividade para poupar dinheiro, enquanto as mulheres que vivem fora criam um espaço de autonomia para a privacidade, as relações românticas e as actividades de saída com os amigos.”

Descreve-se também que a “vigilância rigorosa” adoptada pelas autoridades em plena pandemia “enfraqueceu a capacidade” destas trabalhadoras de definirem onde iam viver.

Muitos empregadores optaram por instalar câmaras de videovigilância em casa, mas nem isto constituiu “o principal estímulo” para as empregadas optarem por viver fora, pois encaram as câmaras “como um compromisso necessário para construir uma boa relação com a entidade patronal”.

“Pressão social” nos patrões

Este trabalho cita dados oficiais onde se revela que 52 por cento dos trabalhadores migrantes filipinos em Macau estão ligados ao trabalho doméstico. O salário mensal deste tipo de trabalhador varia entre as 3.500 e as 6.000 patacas, sendo “sujeito a negociação com os empregadores”. Caso vivam fora da casa dos patrões, as empregadas têm direito a um apoio mínimo de 500 patacas como subsídio de arrendamento. As empregadas devem trabalhar seis dias por semana, de segunda-feira a sábado, 12 horas por dia, das 7h às 19h, sendo que os patrões podem oferecer salários mais elevados ou proporcionar horários de trabalho mais reduzidos. O estudo denota que “existe uma pressão social entre os empregadores para não serem ‘demasiado generosos’, uma vez que isso pode ter impacto” nos valores exigidos por outras empregadas.

Este artigo cita ainda outros estudos já realizados sobre a saúde mental e o bem-estar destas trabalhadoras, que frequentemente são consideradas como “inferiores em Macau” sofrendo de “medo, repugnância e emoções adormecidas”, tendo ainda sido descritos “problemas físicos”, como dores crónicas, ou do foro mental, como depressão e ansiedade, e também “comportamentos aditivos” ligados ao jogo.

10 Jan 2024

Obrigações | Executivo não descarta novas emissões

O secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, adiantou ontem no hemiciclo que não descarta a possibilidade de o Governo emitir novas obrigações financeiras no futuro.

Em resposta à interpelação oral apresentada pelo deputado Ip Sio Kai, o secretário deu conta de que “tendo presente a situação financeira estável do Governo da RAEM, não se revela necessário, presentemente, um financiamento exterior através da emissão de obrigações do Governo, tendo meramente presente a vertente financeira”. No entanto, “não está excluída a possibilidade de, no futuro, emitir obrigações do Governo, em função de necessidades não financeiras, tendo por objectivo principal a articulação com o plano de desenvolvimento do sector financeiro moderno”.

O governante disse ainda, na sessão de respostas a interpelações de deputados, que a Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM) está a realizar um estudo de viabilidade sobre a prestação de apoio financeiro às actividades realizadas, no âmbito das obrigações. Pretende-se “incentivar a emissão de obrigações em Macau, por parte de emissores de diversas naturezas, incluindo as empresas locais”.

10 Jan 2024

DSAL | Governo ajudou quase 14 mil a encontrar trabalho

A Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) ajudou um total de 13.835 residentes a encontrar trabalho no ano passado, graças à realização, até Dezembro, de 152 sessões sectoriais de emparelhamento e 48 sessões com empresas de turismo e lazer, incluindo-se também três feiras de emprego e novos planos elaborados com as concessionárias.

Estes dados constam na resposta dada pelo secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, à interpelação oral colocada pela deputada Song Pek Kei. Na mesma resposta, ficou a promessa de manter “os trabalhadores locais nos quadros de gestão de nível intermédio ou superior das seis empresas de turismo e lazer numa proporção alvo não inferior a 85 por cento”.

O Governo promete ainda “continuar atento à evolução do mercado de trabalho, definindo estratégias de recrutamento, de emparelhamento e de aconselhamento de emprego para equilibrar a procura e oferta do mercado”, ajustando ainda, de forma dinâmica, o número de trabalhadores não residentes, “com o intuito de criar, de forma contínua, condições mais favoráveis para a empregabilidade dos residentes”.

10 Jan 2024

Exigida simplificação da passagem nas Portas do Cerco

Mostrar a identificação no posto fronteiriço das Portas do Cerco continua a ser complexo e a demorar muito tempo, o que levou o deputado Nick Lei a interpelar o Governo sobre a necessidade de implementar o mecanismo de inspecção integral nesta fronteira. Tal significa, que tanto residentes, como turistas, apenas precisariam de passar no corredor e máquina de verificação uma vez, evitando mostrar duas vezes o BIR ou o salvo conduto na ida e volta. O método defendido por Nick Lei já vigora em diversos postos fronteiriços como o posto da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau e de Qingmao.

O deputado, que representa a comunidade de Fujian em Macau, recorda que já tinha anteriormente apresentado esta sugestão às autoridades, tendo-lhe sido dito que é mais fácil aplicar o mecanismo de inspecção integral nos novos postos fronteiriços.

As autoridades disseram ainda que a forma de concepção do posto fronteiriço das Portas do Cerco faz com que “todos os espaços estejam ocupados com os canais destinados à emigração”, sendo que “se alguns destes canais forem suspensos para que se realizem obras na infra-estrutura, haverá um sério impacto aos visitantes”, citou o deputado Nick Lei na interpelação.

Mudanças esperadas

Apesar da posição das autoridades, Nick Lei lembrou que existem várias vozes na sociedade a defender uma mudança na verificação da documentação nas Portas do Cerco, além de que o plano de acção para promover, nos próximos três anos, os negócios na zona da Grande Baía também propõe a aplicação da inspecção integral em mais postos fronteiriços da província de Guangdong e de Macau. De frisar, que este plano foi lançado em Dezembro pela Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma.

Neste contexto, Nick Lei questiona se o Governo pode repensar a sua posição quanto ao posto fronteiriço das Portas do Cerco a fim de corresponder às necessidades da população e às políticas nacionais. Além disso, o deputado quer saber os resultados e o ponto de situação do sistema de reconhecimento da iris (olhos) já implementado nas máquinas automáticas do posto fronteiriço das Portas do Cerco. Nick Lei entende que se deve aumentar o número de corredores com máquinas automáticas neste posto, além de que outros postos fronteiriços deveriam ter máquinas automáticas com o sistema de reconhecimento da iris ocular.

Tendo em conta que, entre os dias 30 de Dezembro e 1 de Janeiro, Macau contou com cerca de 400 mil entradas, Nick Lei questiona quais os planos de resposta das autoridades quanto à segurança, transportes e imigração, dado o aumento do número de turistas.

9 Jan 2024

Metro ligeiro | Ron Lam refuta posição do secretário

Depois do secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, ter acusado o deputado Ron Lam U Tou de divulgar dados falsos sobre a compra de um cabo para o metro ligeiro, eis que o deputado vem rebater as declarações com um comunicado

O deputado Ron Lam reagiu à resposta do secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, que havia acusado anteriormente Ron Lam de divulgar informações falsas sobre o caso da compra de um cabo para a obra do metro ligeiro que originou um relatório do Comissariado de Auditoria (CA).

Segundo um comunicado, o deputado afirmou que o artigo, publicado pelo Jornal do Cidadão, que continha declarações suas, não foi escrito por si, mas sim por um jornalista, que incluiu alguns dos aspectos referidos no relatório do CA. Na sua reacção, o secretário clarificou que “não ocorreu qualquer ‘eliminação’ de informações existentes nos serviços públicos”, mas o deputado dá conta que, no artigo para o qual prestou declarações, não consta a palavra “eliminados”.

Ron Lam U Tou adiantou também que o jornalista usou a frase “irregularidades na realização de tarefas ou no uso de materiais” no artigo, tratando-se, para o deputado, de uma questão de ponto de vista ou perspectiva, considerando a reacção de Raimundo do Rosário como sendo “exagerada”.

“O secretário mostra desconhecer o funcionamento do jornalismo, além de não ter feito qualquer verificação [da situação], achando que o texto tinha sido escrito por mim. O secretário escreveu no comunicado tratar-se de uma ‘especulação meramente intuitiva e sem qualquer fundamento’, pelo que lamento esta faça acusação”, apontou.

Palavras e mais palavras

O comunicado de Raimundo do Rosário sobre o artigo de jornal dá ainda conta de que não ocorreu qualquer “recuperação” de informações por parte dos serviços públicos relacionados com a obra do metro ligeiro, além de que não teve lugar qualquer “eliminação” de documentos.

Ron Lam U Tou reage dizendo que a palavra “recuperação” é referida no relatório do CA. “Relativamente ao facto de o gabinete [do secretário] ter alegado que não ocorreu qualquer ‘recuperação’ de informações, devia ter apresentado esta ideia quando respondeu ao relatório do CA. Agora vem o gabinete alegar que não existiu esta ‘recuperação’, o que significa que o gabinete não estudou nem respeita as questões colocadas pelo CA.”

Uma vez que o Governo nunca entregou os documentos do antigo Gabinete para as Infra-estruturas de Transportes antes 2011 ao CA, para que este fizesse a auditoria à obra do metro, o deputado destaca no mesmo artigo que a população tem razões suficientes para suspeitar da possível eliminação dos documentos anteriores a 2011.

Na conclusão do comunicado, o deputado esclarece que a Lei Básica é responsável por regular as funções do hemiciclo de supervisão e interpelação dos trabalhos do Governo, além de que a função de um deputado é a de pedir melhorias e correcções ao Executivo.

Para Ron Lam, os governantes “têm de confessar os erros cometidos em vez de os esconder até que sejam divulgados pelas instituições de supervisão”. Este escreveu ainda que já exigiu duas vezes ao Governo a apresentação do relatório sobre o erro na compra e instalação do cabo eléctrico para o metro ligeiro, mas que o Governo ignorou sempre os pedidos e respondeu apenas por comunicados.

A investigação do CA em causa diz respeito à falha do cabo eléctrico da linha da Taipa do metro ligeiro, tendo Raimundo do Rosário considerado que as declarações de Ron Lam ao Jornal do Cidadão “afectam gravemente os trabalhos realizados pelo Governo da RAEM” e que “nunca aceitará afirmações feitas fora de contexto que pretendem provocar a discordância da sociedade para com os trabalhos que o Governo desenvolve”.

Metro ligeiro | Raimundo envia “recado” para Ron Lam

Na sessão de interpelações orais que decorreu ontem na Assembleia Legislativa, Raimundo do Rosário não evitou mandar uma “indirecta” ao deputado Ron Lam, em relação ao bate-boca sobre o caso da compra de um cabo que levou à suspensão durante meses do metro ligeiro. A alfinetada foi atirada, depois de uma pergunta sobre o metro ligeiro colocada por Leong Sun Iok: “Agradeço a sua interpelação, que é muito construtiva, e isso reforça a cooperação entre o Governo e a Assembleia Legislativa”, comentou Raimundo do Rosário, depois de no sábado ter acusado Ron Lam de divulgar notícias falsas sobre o assunto.

9 Jan 2024

Hemodiálise | Pereira Coutinho defende tratamento gratuito

O deputado José Pereira Coutinho interpelou o Governo quanto à necessidade de tornar gratuitas as sessões de hemodiálise para quem sofre de insuficiência renal crónica. Na interpelação, Coutinho pede que sejam ainda providenciados “tratamentos ao domicílio, medicamentos necessários gratuitos, passe gratuito para transportes públicos, isenção do imposto profissional e complementar dos rendimentos e também do imposto de selo” para quem padece deste problema de saúde.

Pereira Coutinho descreve que, por norma, um doente necessita de fazer hemodiálise três vezes por semana, sendo que, em Macau, cada sessão custa 700 patacas, “o que totaliza um valor de 2100 patacas por semana, ou 8400 patacas por mês, sem contabilizar as despesas com deslocações, que representam um custo anual superior a 100 mil patacas, bem como outras despesas adicionais com a aquisição de medicamentos”.

O deputado alerta ainda para a existência de “centenas de residentes em lista de espera para transplante renal”, estando dependentes deste tratamento para sobreviver. “Que medidas propõem as autoridades implementar para apoiar os pacientes com doença renal crónica tendo em conta as dificuldades que têm de enfrentar para manter ou regressar ao trabalho devido às suas limitações [de saúde]? Que tipo de benefícios e apoios financeiros poderão ser facultados pelas autoridades, nomeadamente subsídios de invalidez ou incapacidade, ou programas abrangentes de seguro de saúde ou assistência para custear medicamentos?”, questionou.

9 Jan 2024

Quarta ponte | Montagem da estrutura até fim de Março

Lam Wai Hou, director da Direcção dos Serviços de Obras Públicas (DSOP), adiantou, em resposta a uma interpelação escrita do deputado Ron Lam U Tou, que a montagem completa da quarta ponte entre a península de Macau e a ilha da Taipa deverá estar concluída no primeiro trimestre deste ano, enquanto toda a empreitada de construção deverá estar concluída no primeiro semestre.

Quanto ao incidente que gerou a inclinação da peça durante a elevação e montagem no vão principal da ponte, ocorrido em Julho, e que impossibilitou a conclusão desta montagem, deveu-se “à concepção dos equipamentos para este trabalho”, tendo sido “aperfeiçoados e optimizados o procedimento e o projecto dos trabalhos de elevação e montagem”.

O responsável máximo da DSOP esclareceu ainda que foram montadas quatro vigas na futura quarta ponte nos dias 27 de Outubro e ainda 8, 13 e 21 de Novembro. Na mesma resposta, foi ainda esclarecido que as obras da primeira fase do eixo leste da Zona A e a obra de ligação ao Posto Fronteiriço na Ilha Artificial serão concluídas no primeiro trimestre deste ano “devido à obra de construção das galerias técnicas”.

8 Jan 2024

Sands China | Aumentos salariais a partir de Março

A Sands China anunciou ontem que vai aumentar os salários de 99 por cento dos 26 mil funcionários da operadora de jogo a partir do dia 1 de Março, sendo que os trabalhadores a tempo inteiro com salários até um limite máximo de 13 mil patacas passam a ganhar mais 600 patacas, o que representa um aumento salarial de 4,7 a 5,4 por cento. Por sua vez, quem ganha mais de 13 mil patacas terá um aumento salarial de 2,5 por cento.

Além disso, a empresa irá pagar um bónus a todos os trabalhadores que não pertencem às equipas de gestão e que estão na empresa há um ano ou mais. Este bónus corresponde a um mês de salário e será pago pelo “reconhecimento das suas contribuições em 2023”. Para os trabalhadores com funções de gestão, o bónus será pago no âmbito do Plano de Incentivos à Gestão da Sands China.

Por sua vez, todos os funcionários que trabalharam na empresa durante menos de um ano vão também ser contemplados com um bónus caso tenham sido contratados antes do dia 1 de Outubro e estiverem ainda desempregados à data do pagamento do bónus.

Citado pelo mesmo comunicado, Wilfred Wong, presidente da Sands China, destacou o trabalho dos funcionários no período da pandemia. “No coração da nossa empresa está uma equipa notável. Quando o turismo de Macau retomou após a pandemia, foi o seu esforço concertado que fez com que a nossa empresa voltasse a funcionar em pleno.”

5 Jan 2024

Português | Chineses em Macau adoptam diversos modos de aprendizagem

Os estudantes chineses de português em Macau adoptam diversas estratégias de aprendizagem da língua, não existindo um método uniforme. Além disso, o ambiente multilingue do território beneficia os estudantes que vêm da China. As conclusões são de um estudo de Hao Ian Chen, da Universidade Politécnica de Macau

Um estudo de Hao Ian Chen, da Universidade Politécnica de Macau (UPM), conclui que não existe, da parte dos estudantes chineses de português em Macau, um método de aprendizagem uniformizado, sendo que cada um escolhe técnicas que passam pela memorização, uso de materiais didácticos diversos, linguagem usada no dia-a-dia ou ferramentas que ajudam na compreensão oral do idioma, tendo como base, muitas das vezes, estratégias de aprendizagem já usadas com o inglês.

Em “Um Estudo de Caso das Estratégias de Aprendizagem de Estudantes Universitários Chineses no Ambiente Multicultural de Macau”, recentemente publicado no International Journal of Education and Humanities, conclui-se que existe, no ensino superior de Macau, “um carácter dinâmico das estratégias de aprendizagem da língua, bem como a sua variabilidade individual”.

Hao Ian Chen desenvolveu este estudo com base nas experiências de quatro alunos de diferentes universidades locais, vindos da China. Dois deles estiveram em Macau no contexto de um intercâmbio de um ano.

O artigo conclui que “cada um deles implementou ajustamentos estratégicos para ultrapassar as dificuldades de aprendizagem do português com que se deparou face às mudanças no ambiente de aprendizagem e às mudanças cognitivas que daí resultaram”.

O trabalho académico destaca ainda que essas estratégias de aprendizagem eram semelhantes, apresentando, contudo, “trajectórias de desenvolvimento diferentes, reflectindo a natureza dinâmica das estratégias de aprendizagem de línguas, a sua certeza e incerteza”.

Apresenta-se o exemplo da aluna D, que através da leitura e da memorização “de um grande número de artigos em português” conseguiu “a acumulação de vocabulário e aplicações gramaticais”. A estudante usou ainda o vocabulário e estruturas gramaticais na vida real a fim de melhor as memorizar.

Desafios do multilinguismo

O estudo em questão fala ainda dos “desafios colocados pelo ambiente multilingue à aprendizagem e utilização da língua pelos participantes”, sendo que, no caso dos estudantes vindos do continente, esse multilinguismo tão presente em Macau os ajudou no ensino.

“O ambiente multilingue de Macau teve um impacto positivo nos dois participantes do continente que estudaram em Macau, principalmente em termos de ensino multilingue na sala de aula e de comunicação com falantes nativos de português”, lê-se.

O relatório fala ainda de um “certo grau de correlação” entre os métodos de aprendizagem de uma primeira língua estrangeira e de aprendizagem de um segundo idioma, pois “os quatro participantes seguiram as estratégias eficazes de aprendizagem do inglês no passado, combinando-as depois com as suas próprias situações para formar um novo modo de aprendizagem”.

O artigo destaca ainda a necessidade de compreensão por parte dos professores e educadores quanto “à diversidade das estratégias de aprendizagem e diferenças individuais, não para mudar à força as estratégias de aprendizagem dos alunos, mas para os ajudar a compreender o impacto complexo do ambiente de aprendizagem e as características dos seus próprios factores individuais na sua aprendizagem”.

5 Jan 2024

Seguros transfronteiriços | Governo dialoga com interior da China

A Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM) encontra-se em conversações “com ministérios e comissões na área financeira do Interior da China, no sentido de permitir, no futuro, o câmbio de prémios de seguro, através da ‘cerca electrónica’ de fundos constituída na Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin, desde que cumpridos os requisitos de supervisão”.

Esta informação consta numa resposta dos Serviços de Saúde de Macau a uma interpelação escrita do deputado Ho Ion Sang que versa sobre as burocracias e impedimentos inerentes aos seguros de saúde transfronteiriços.

Estas conversações decorrem devido ao facto de as seguradoras de Macau disponibilizarem seguros de saúde transfronteiriços, mas terem dificuldades na renovação de apólices, a regularização de sinistros e o resgate de apólices de seguros devido à “política vigente de gestão cambial do Interior da China”.

Um dos exemplos dessas dificuldades prende-se com o facto de as seguradoras de Macau “não poderem transferir as indemnizações relativas a sinistros directamente para contas no Interior da China”, explicou o director dos SSM, Alvis Lo.

5 Jan 2024

Mulheres | Associação recebeu mais de 150 pedidos de aconselhamento

Os deputados Wong Kit Cheng e Ma Io Fong, que representam a Associação Geral das Mulheres, dizem ter recebido, no ano passado, 156 pedidos de aconselhamento jurídico, de ajuda ou esclarecimento nos 22 dias de recepção a residentes promovidos pela entidade.

Segundo um comunicado, grande parte dos residentes que procuraram ajuda revelaram estar preocupados com a situação económica e com a habitação, sobretudo no que diz respeito às políticas de habitação para idosos, atribuição de casas económicas ou a habitação intermédia, pensada para a classe média. Além disso, muitos representantes de pequenas e médias empresas queixaram-se de que, no ano passado, o panorama de negócios foi ainda pior do que no período da pandemia devido à quebra do consumo, o que levou ao encerramento de muitos espaços comerciais.

Desta forma, os deputados sugerem que o Governo crie medidas de estímulo ao consumo interno, encorajando os residentes a comprarem no território, além de defenderem mais políticas de apoio às PME. No que diz respeito à habitação, Ma Io Fong e Wong Kit Cheng pedem que o Governo tenha em conta a situação real da população na hora de definir políticas habitacionais, bem como o ambiente económico e os factores inerentes ao mercado imobiliário, defendendo a realização de um novo estudo sobre a procura de habitação.

Destaque ainda, no âmbito dos pedidos de ajuda, para a predominância de casos relacionados com o casamento e família, nomeadamente processos de divórcio, direitos parentais, divisão de bens ou casos em que é necessária mediação familiar.

5 Jan 2024

História | Jornalista João Botas descobre diário inédito com cerca de 200 anos

O jornalista João Botas, autor de diversas obras sobre a história de Macau, diz ter descoberto um diário de uma norte-americana, esposa de um comerciante que vinha a Macau e à China com frequência. O acesso a uma versão dactilografada, com muitos anos, permite descobrir relatos de uma época em que o comércio fervilhava no sul da China

 

Chamava-se Sarah, acompanhou o marido, comerciante, nas inúmeras viagens que realizou para fazer negócios em Cantão e deixou um diário que hoje tem cerca de 200 anos. O jornalista João Botas, autor de diversos livros sobre a história de Macau, diz ter descoberto uma versão muito antiga, dactilografada, do documento, graças às constantes pesquisas que realiza para o blogue Macau Antigo. Trata-se, no relato que fez ao HM, de “um diário inédito”, sendo que, até à data, “se desconhece o paradeiro do documento original”.

“Depois de múltiplas verificações posso garantir que se trata de um relato verídico”, conta João Botas, que chegou ao contacto com descendentes de Sarah e do marido que não querem dar o nome. O jornalista espera vir a poder publicar este diário que se revela muito semelhante a tantos outros escritos deixados por estrangeiros, incluindo esposas de comerciantes franceses, ingleses ou americanos que passaram por Macau, graças ao comércio que se praticava na altura com a China.

João Botas diz mesmo que o diário de Sarah se revela semelhante aos escritos já divulgados e estudados de Rebecca Kinsman e Harriet Low, datados das primeiras décadas do século XIX, “mas com informação mais rica a vários níveis”.

Segundo o autor do blogue, este diário “foi escrito com o objectivo de ocupar os tempos livres”, pois o marido de Sarah “passava muito tempo em Cantão”. “Esta não era a primeira vez que viajava até Macau, mas foi a primeira vez que decidiu escrever um diário. Ao todo a viagem, ida e volta, durou 317 dias! Quase um ano. Só em navegação passaram cerca de 200 dias, ida e volta.”

“A estadia em Macau é de cerca de um mês, período em que, além dos passeios diários, eram frequentes as visitas às residências de outros estrangeiros, para beber chá, conversar, ouvir alguém tocar piano ou para participar em jantares mais formais.”

Sarah gostava ainda de ler, referindo, nas páginas do diário, “inúmeros livros, obras históricas de referência sobre a Ásia, o Japão ou a Índia”.

Negócios florescentes

A época a que se remete o diário passa pelos anos em que a Companhia Britânica das Índias Orientais deixou de ter o exclusivo do comércio com a China e outras nações começaram a ter negócios no país, usando Macau como ponto de ligação. Era também a época dos cules, trabalhadores pouco qualificados da China que eram transportados quase como escravos para trabalhar na agricultura em diversos pontos do globo.

“A linguagem utilizada [no diário] é simples, mas o elevado número de pessoas mencionado obriga a muita pesquisa de contextualização, nomeadamente, sobre quem eram e o que faziam naquela época. É o que estou a fazer nesta altura, e está quase pronto”, relata João Botas, que diz estar em conversações com entidades públicas de Macau para a edição do livro.

Os escritos de Sarah permitem-nos “viajar até à Macau de meados do século XIX, com muitas descrições de espaços, ruas e edifícios, permitindo fazer o retrato da comunidade de estrangeiros ocidentais que viviam no território, que eram poucas dezenas” numa população que, à data, não tinha mais do que 35 mil pessoas, a maioria chineses, e com apenas 4.500 portugueses e macaenses.

“Como os estrangeiros ocidentais não podiam comprar propriedades no território, arrendavam casas aos portugueses e macaenses mais abastados. Esta era uma importante fonte de rendimentos numa altura em que já se fazia sentir algum declínio na actividade comercial fruto do surgimento de Hong Kong em 1842”, explica o jornalista.

Passear na rua

Sarah escreveu sobre os passeios que realizou em Macau, um deles bem perto da fortaleza do Bom Parto, no sopé da Colina da Penha. “Desde que aqui cheguei tenho-me divertido muito. Todos os dias, às cinco e meia, saímos para passear. (…). À tarde fomos todos para a baía do Bispo*, um lugar lindo, com praia para caminhar e muitas conchas. (…) No domingo fui com eles à igreja. Confundimos a hora e só chegamos lá mais de meia hora depois do início do culto. O regresso da igreja para casa foi encantador já passava um pouco das seis da tarde. Esta cidade de Macau é um local encantador, repleto de cenários pitorescos. (…)”, lê-se, segundo tradução feita pelo próprio João Botas de um excerto do diário.
Sarah descreve ainda um outro passeio, feito numa segunda-feira, quando jantaram e tomaram chá “na casa da Sra. Nye”.

“(…) Levei a minha cadeira até à Praia porque as ruas são estreitas demais para uma carruagem. Fizemos um passeio bastante longo e agradável, conhecemos vários grupos que andavam a cavalo e duas ou três outras carruagens. (…)”, escreveu ainda a americana.

Não falta ainda um relato da Casa Garden, onde hoje funciona a sede da Fundação Oriente (FO), e a Gruta de Camões. “À tarde visitamos a Casa Garden. É de facto um local encantador – abundância de belas árvores que sombreiam os belos passeios sinuosos e é constante o encontro com imensas rochas, por vezes isoladas, outras vezes empilhadas umas sobre as outras. A gruta de Camões, poeta português, é um local de grande atracção. É um sítio curioso, composto por três rochas imensas – duas em pé, a vários metros de distância uma da outra, a terceira repousando imediatamente sobre a abertura, formando uma divisão fresca e protegida, aberta em cada extremidade. (…)” À data, a Casa Garden pertencia ao comendador Lourenço Marques que a arrendava aos comerciantes estrangeiros.

A americana descreve ainda no diário o ambiente de Cantão, cidade do sul da China. “Chegamos a Cantão por volta das cinco da manhã. (…) Depressa desembarcamos e fomos até à residência dos Parker. (…) Passamos três dias e três noites muito agradáveis na casa do médico. Saí para fazer compras em Cantão, mas apenas uma vez e fui com a Sra. Parker. Estas compras perderam para mim muito da novidade. Este ano foi muito desagradável por causa das multidões nas ruas que se preparavam para duas das suas festas religiosas – o ‘Festival das Lanternas’ e uma outra, de que não me lembro o nome, embora a tenha testemunhado no ano passado, quando estive em Cantão. (…)”

Segundo João Botas, a referência feita a Parker remete para Peter Parker, nascido em 1804 e falecido em 1888, médico e missionário dos EUA. Este chegou à China em 1834 onde deu a conhecer pela primeira vez as técnicas da medicina ocidental, incluindo a anestesia. Em 1838 criou um hospital ligado à oftamologia em Macau, onde viveu durante algum tempo.

Por sua vez, Harriet Colby Webster Parker era esposa de Peter Parker, tendo sido a primeira mulher ocidental a viver na China.

4 Jan 2024

Diáspora portuguesa | Macau presente em núcleo regional de Conselho

Macau está representado no recém-criado Núcleo Regional da Ásia e Oceânia do Conselho da Diáspora Portuguesa através de António Menano, secretário-geral da MGM China, e do CEO do BNU, Carlos Cid Álvares. Este espera efeitos ao nível do crescimento económico português e aumento de exportações e importações

 

São 13 os conselheiros ligados ao recém-criado Núcleo Regional da Ásia e Oceânia do Conselho da Diáspora Portuguesa, uma entidade fundada em 2012 com o objectivo de potenciar negócios e a presença portuguesa em todo o mundo. Macau está representado neste grupo de conselheiros com António Menano, secretário-geral da MGM China Holdings, e Carlos Cid Álvares, CEO do Banco Nacional Ultramarino (BNU).

Ao HM, o responsável adiantou apenas ter “todo o interesse” que “Portugal veja o seu nome enaltecido no estrangeiro e que o trabalho dos elementos do Núcleo tenha efeitos práticos ao nível do crescimento económico, aumento das exportações e importações”.

Carlos Cid Álvares acrescentou também que Macau desempenha um papel importante para se desenvolver enquanto “plataforma de negócios entre os países de língua portuguesa e a China”. “Tudo o que podermos fazer para aumentar esse papel [de Macau] será francamente positivo para as empresas portuguesas e dos países de língua portuguesa que queiram aumentar o volume de negócios na China”, frisou.

Segundo um comunicado do Conselho da Diáspora Portuguesa, um dos principais objectivos da criação do Núcleo Regional é “fortalecer as conexões entre os actores económicos da região”, bem como “estabelecer uma extensa rede de parceiros dentro da comunidade portuguesa em toda a Ásia e Oceânia”. Pretende-se ainda “estimular uma compreensão mais profunda da região para promover os interesses de Portugal de modo eficaz”.

Eventos e documentos

Constituído em 2012, o Conselho da Diáspora Portuguesa foi criado com o apoio da Presidência da República portuguesa e do Ministério dos Negócios Estrangeiros. João Graça Gomes, coordenador do Núcleo Regional, considera que o objectivo da criação de três núcleos regionais foi o de “descentralizar” e agilizar o trabalho que vinha sendo feito na organização de eventos e outras actividades promocionais de Portugal.

“A Ásia é uma região muito dinâmica, temos grandes economias como a China, Índia ou Japão, e o Núcleo Regional pretende reflectir sobre o que está a ser feito na Ásia e pode ser aplicado em Portugal. Estamos a planear a realização de vários seminários online para este ano e a produzir uma espécie de ‘documento branco’ sobre [o panorama de desenvolvimento] da região nos próximos cinco ou dez anos, identificando as grandes áreas económicas nos países. A China, por exemplo, destaca-se nas energias renováveis, e em Portugal o país é um dos maiores investidores no sector energético.”

Relativamente à ligação com Macau, João Graça Gomes entende ser “o centro” na Ásia dada a histórica presença portuguesa de quase 500 anos. “A comunidade portuguesa em Macau é numerosa. Portugal tem muitas parcerias com universidades locais e persiste o Direito de Macau de inspiração portuguesa. Queremos envolver-nos na área da investigação científica, podendo construir pontes entre universidades de Macau e com zonas onde haja diáspora portuguesa.”

Em termos de actividades, os conselheiros de Macau podem potenciar “reflexões mais teóricas ou actividades mais práticas na área da investigação científica e parcerias com universidades”.

Essencialmente, o Conselho pretende “atrair novos investimentos para Portugal contribuindo para o que já existe”. “Temos uma visão de abertura e colaboração [com outras entidades]. Estamos dispostos a criar um polo agregador com as comunidades portuguesas, órgãos governamentais, a rede consular e até a AICEP [Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal], fazendo uma ponte sem nos substituirmos a ninguém”, rematou.

João Graça Gomes afirmou ainda que o Conselho pretende “auxiliar Portugal a aumentar a sua imagem no estrangeiro e a alargar o softpower”.

4 Jan 2024

Ambiente | Ron Lam diz ser difícil atingir metas de descarbonização antes de 2050

O deputado Ron Lam U Tou considera ser difícil alcançar o objectivo traçado pelo Governo de atingir a meta da descarbonização antes de 2050 e a fasquia de quase zero emissões de carbono, objectivos definidos na “Estratégia de Descarbonização a Longo Prazo de Macau” publicada pela Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA).

Segundo o jornal Ou Mun, o deputado concorda com este plano, mas exige que sejam criadas mais políticas concretas para que se cumpram estes objectivos, entendendo que não existe um calendário para a concretização desta estratégia.

O deputado destacou que o maior problema para o aumento da circulação de veículos eléctricos, um dos meios para a descarbonização, é a falta de postos de carregamento nas zonas residenciais, pois actualmente mais de 100 mil habitações privadas não possuem estes postos de carregamento.

Apesar de se tratar de um processo de instalação simples, Ron Lam U Tou entende que há muita burocracia da Direcção dos Serviços de Solos e Construção Urbana (DSSCU), sendo que esta diz estar limitada pelo Código Civil. O deputado considera que o Governo deve resolver esta matéria a fim de fomentar o uso generalizado de carros eléctricos.

4 Jan 2024

DSAMA | Incentivada promoção de negócios de cruzeiros

Dirigentes da Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e da Água sugeriram ontem no programa matinal do canal chinês da Rádio Macau que empresas e concessionárias de jogo devem desenvolver mais negócios relacionados com passeios temáticos em cruzeiros para o desenvolvimento das zonas costeiras do território

 

Kuok Kin, subdirector da Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA), disse ontem no Fórum Macau, programa matinal do canal chinês da Rádio Macau, que existe um incentivo para que empresas e concessionárias de jogo desenvolvam mais passeios temáticos com cruzeiros em torno das zonas costeiras de Macau, no contexto da consulta pública sobre a gestão das áreas marítimas em curso.

A informação foi avançada depois de um ouvinte sugerir a realização de mais passeios de cruzeiro no programa que debatia os conteúdos sobre as propostas do Governo relativas ao Zoneamento Marítimo Funcional, o Plano das Áreas Marítimas e a Lei de Uso das Áreas Marítimas.

“Estimulamos a que haja uma maior cooperação com empresas ligadas à área da navegação, bem como empresas de jogo. Os passeios de cruzeiro em Macau podem ter características próprias, e temos, por exemplo, a zona histórica do Porto Interior com a ligação à pesca como actividade tradicional. Temos também zonas de turismo e lazer modernas na parte traseira do Canal de Macau”, disse. Esta zona, situada entre os canais da Taipa e do Porto Exterior, é também conhecida como o canal de acesso ao Porto Interior, estando perto de vários resorts.

Saber aproveitar

Kuok Kin apontou ainda que as paisagens situadas entre a Zona de Cooperação Aprofundada e Macau podem ser aproveitadas, com as empresas a terem “várias oportunidades” de exploração dos negócios ligados aos cruzeiros. Estas podem “apostar na diversificação dos sectores da restauração e entretenimento” através dos cruzeiros, apontou o dirigente da DSAMA.

Uma vez que a presença de cruzeiros ou a realização de regatas acontecem a curto prazo, não envolvendo uma utilização permanente das zonas marítimas, Kuok Kin assegura que há uma maior facilidade de utilização desses locais pois não é necessário pedir uma licença.

“O Zoneamento Marítimo Funcional e o Plano das Áreas Marítimas [são propostas] que pensam nestas questões, delimitando as zonas para fins turísticos, culturais e desportivos para projectos de turismo e lazer”, explicou ainda.

Recorde-se que a consulta pública em curso diz respeito à gestão dos 85 quilómetros de área marítima atribuídos pelo Governo Central a Macau. Kuok Kin aponta que as propostas do Executivo neste âmbito visam o bem-estar da população e o futuro desenvolvimento do território. A consulta pública termina dia 16 de Fevereiro.

Ilha ecológica só em 2040

Kuok Kin, subdirector da DSAMA, adiantou também, no contexto da sua ida ao programa radiofónico Fórum Macau, que a ilha ecológica pensada para servir de aterro a resíduos de construção urbana só deverá ser uma realidade em 2040. Segundo a TDM Rádio Macau, o dirigente frisou que o objectivo da ilha artificial é solucionar o problema do actual aterro em Coloane que praticamente já não tem capacidade para acolher mais resíduos.

4 Jan 2024

DSPA apresenta estratégia de descarbonização para Macau

A Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) divulgou no sábado a “Estratégia de Descarbonização a Longo Prazo de Macau”, que está em consonância com o plano da “Dupla Meta de Carbono” adoptada pelas autoridades na China. O objectivo desta Estratégia é “impulsionar os diversos sectores sociais de Macau a implementarem acções de descarbonização”, considerando o Executivo que “os trabalhos de combate às alterações climáticas são inadiáveis”.

Esta Estratégia visa “implementar medidas de descarbonização em diferentes áreas e fases”, além de “atingir o pico de emissões de carbono antes de 2030”. O Governo quer ainda “promover as áreas de electricidade e transportes terrestres para alcançar uma profunda descarbonização antes de 2050 e atingir quase zero emissões” de carbono.

O plano estabelece seis abordagens principais, nomeadamente a “construção de um sistema de energia de baixo carbono”, “transformação verde dos transportes terrestres”, “conservação de energia e substituição por energia limpa”, “redução de resíduos a partir da fonte, transformação de resíduos em energia”, “o público pratica, em conjunto, a vida de baixo carbono” e “inovação tecnológica e cooperação regional”.

Em busca de eléctricos

A DSPA elaborou ainda o “Plano de Promoção de Veículos Eléctricos em Macau”, que visa atingir, em 2035, a meta do uso, a 100 por cento, de veículos ligeiros e motociclos novos movidos a energia eléctrica, com emissões de carbono zero.

O objectivo com esta iniciativa é que a sociedade “possa conhecer, o mais cedo possível, o rumo e os objectivos da futura promoção dos veículos eléctricos”.

O Governo destaca também medidas de protecção ambiental adoptadas até à data, apontando que, em 2020, a taxa de emissão de carbono atingiu a meta definida em 2011, com a redução de 40 a 45 por cento em relação ao ano de 2005.

Em 2021, o Governo voltou a fixar uma meta de redução da taxa de emissão de carbono de mais de 55 por cento para 2025, relativamente ao ano de 2005, tendo ainda proposto “fazer um bom trabalho em relação ao pico de carbono e à neutralidade carbónica”.

3 Jan 2024

Concerto | Lia Sophia traz sons da Amazónia na passagem de ano

Pela primeira vez em Macau e na China, a cantora brasileira Lia Sophia traz ao território um “show especial” na noite de passagem de ano junto à Torre de Macau. Conhecida por cantar o carimbó, género musical típico da região da Amazónia, povoado por influências africanas, Lia Sophia promete apresentar um concerto que homenageia essa região brasileira em risco de deflorestação

Tudo começou por acaso, porque, na verdade, Lia Sophia queria ser psicóloga. Mas o facto de estar ligada à música desde cedo e a necessidade de ganhar dinheiro fê-la começar a tocar em bares, e daí até construir uma carreira musical foi um passo. A artista brasileira, conhecida por cantar géneros musicais brasileiros tão diversos, assume-se como a mensageira das sonoridades do Carimbó, um estilo nascido na floresta da Amazónia, zona em risco de extinção pela intensa desflorestação de que tem sido vítima nos últimos anos.

Desta forma, o concerto de Lia Sophia em Macau, agendado para a noite de passagem de ano entre as 22h e as 00h10, junto à Torre de Macau, na praça do Lago Sai Van, promete chamar a atenção para a musicalidade tão própria dos povos indígenas que habitam este lugar.

“Esta é a primeira vez que actuo em Macau e fico muito feliz. Estou muito empolgada por poder levar um pouco da música que fazemos na Amazónia, com todas as referências afro, sobretudo neste momento em que se fala tanto da Amazónia e da preservação da floresta, e também dos povos indígenas que vivem neste lugar”, contou ao HM.

Lia Sophia diz ter preparado um “show especial” para Macau. “Vai ser um momento muito especial e levo comigo uma história, referências importantíssimas destes povos na música. Levo referências ao nível da repercussão, tendo escolhido músicas do meu repertório para que o povo de Macau entenda de onde eu venho.”

A cantora brasileira, que ficou surpreendida ao saber que no território persiste uma pequena comunidade brasileira, disse ainda que “Macau vai ser um momento especial” na sua carreira.

“Fico feliz em saber que existe essa semelhança, pois parte da população fala português. Vai ser bom demais encontrar compatriotas.”

Mescla de ritmos

Lia Sophia lançou o primeiro disco em 2005, “Livre”, seguindo-se “Castelo de Luz”, em 2009 e, mais recentemente, “Não Me Provoca”, com participações especiais de Ney Matogrosso, Paulinho Moska e Sebastião Tapajós. O single “Ai Menina”, de um outro álbum, fez parte da banda sonora da telenovela da Rede Globo “Amor, Eterno Amor”, catapultando a artista ainda mais para a fama.

“Nunca foi um projecto ou influência embarcar na música como profissão”, confessa. O violão começou a ser tocado aos nove anos de idade, mas depois foi tudo fruto do acaso. “Sou formada em psicologia na Universidade Federal do Pará, mas precisei de trabalhar, pois venho de uma família humilde e pobre, e comecei a tocar em bares, algo comum no Brasil. De repente, em 2005, lancei o meu primeiro álbum, que foi um sucesso. A minha vida seguiu esse rumo e sou muito feliz.”

A cantora descreve o Carimbó como “um ritmo tradicional com raiz no Belém do Pará, onde me situo”, e que mistura música africana com indígena. “Na dança desta música os pés arrastam-se como nas coreografias indígenas, usa-se um tambor enorme onde se senta em cima para tocar, batem-se palmas, mistura-se a dança, estilos de roupa e de vida. É uma cultura muito presente na Amazónia profunda”, descreveu.

O carimbó é ainda “uma dança em que as mulheres usam saias festivas, e quando se toca é irresistível em qualquer lugar”. “Estou levando um pouco do carimbó para Macau, tal como outros ritmos, como o brega, muito típico da região norte [do Brasil], ou a guitarrada. É importante que o povo de Macau conheça um pouco sobre estes géneros musicais e que eu possa projectar imagens da Amazónia, da sua exuberância e riquezas natural e humana.”

Lia Sophia diz esperar que, com este concerto, internacionalize mais a sua carreira, que já contou com espectáculos em Londres ou Nova Iorque. “É fantástico ter a chance de poder levar a nossa cultura para um lugar tão diferente de onde você vive”, rematou.

29 Dez 2023

Casa de Macau | Carlos Piteira fala em “nova fase histórica”

Recentemente eleito presidente da Casa de Macau em Lisboa, o antropólogo Carlos Piteira defende que a entidade “entrou numa nova fase histórica e não se encontrou”, mantendo uma “continuidade do pós-25 de Abril”. O novo presidente fala ainda do património oral dos sócios da Casa que pode ser aproveitado por investigadores

 

Foi no passado dia 16 que Carlos Piteira, macaense e antropólogo, venceu as eleições para a presidência da Casa de Macau em Lisboa, tendo formado a única lista candidata que trouxe alguns novos rostos aos órgãos dirigentes. Em declarações ao HM, o também académico considera que a Casa deve repensar bem o seu papel e adaptá-lo aos novos tempos.

“Não percebemos ainda que a Casa de Macau entrou numa nova fase histórica e não se encontrou. A Casa teve um papel importante no período do Estado Novo e na representação do império colonial [português], e fechou esse ciclo entre 1974 e 1975, tendo sobrevivido porque a China não quis a entrega de Macau [no pós-25 de Abril]. Aí renasceu a Casa que fez a ponte entre o Governo português de Macau e a pertença à China.”

Carlos Piteira lamenta que a Casa “continue a trabalhar como se fosse uma continuidade do pós-25 de Abril”, sendo que o “paradigma da RAEM não foi intercruzado” nas actividades da entidade.

“Formalmente é uma casa da RAEM em Portugal (…). Temos de reavaliar qual o nosso papel neste processo histórico e até que ponto esta continuidade exige adaptações, no sentido em que lidamos com uma Macau que está a integrar-se na China”, explicou ainda.

O novo presidente acredita que, numa lógica de crescente diluição dos macaenses na comunidade chinesa, caberá às diversas Casas de Macau espalhadas pelo mundo “fazer a ponte com os macaenses de Macau”, preservando uma cultura e história muito próprias, bem como “a lógica das tradições e do processo histórico”.

Chamar a academia

Com 260 sócios activos, Carlos Piteira considera que o número é baixo e pretende congregar mais pessoas, não apenas macaenses, mas todos os que se sintam ligados a Macau, nomeadamente ex-residentes portugueses.

O novo presidente chama ainda a atenção para o património oral constituído pelos sócios mais antigos da Casa que têm muitas histórias para contar, fundamentais para investigações na área da história ou antropologia, por exemplo.

“A Casa tem um espólio muito interessante para quem estuda Macau ou os macaenses e essa vertente não está muito explorada. Temos gente com histórias de vida interessantíssimas. Quero sensibilizar mais os centros de investigação para que incluam esta componente [das histórias orais].”

Um dos projectos prementes da nova direcção prende-se com a necessidade de renovação da sede, que fica numa moradia a precisar de pinturas e obras. Tal faz com que a Casa “não tenha a dignidade suficiente para ser um espaço para os sócios e para a sociedade civil”.

“Há necessidade de uma restauração de fundo para que a imagem da Casa mude e para que se possam preparar mais uns bons anos de actividade com uma dinâmica mais intensa. Essa é a questão estrutural que leva ao financiamento.”

Actualmente financiada pela Fundação Casa de Macau, Carlos Piteira defende que devem ser procuradas novas formas de obtenção de fundos. “Devemos avaliar com parceiros e com a Fundação quais as hipóteses que existem, e até que ponto não haverá empresas ou associações, ou sócios beneméritos, que queiram associar o seu nome à Casa, dando-lhe prestígio. Essa é uma matéria a explorar.”

Debate necessário

Tendo em conta que 2024 é o ano da realização de um novo Encontro das Comunidades Macaenses, Carlos Piteira pede uma intervenção mais assertiva.

“Gostaria que o Encontro fosse mais pró-activo no sentido da tomada de posições, o que não tem acontecido muito. O Encontro tem sido mais festivo do que interventivo, e se calhar o modelo é esse, mas por parte dos presidentes das Casas de Macau poderia haver algum diálogo sobre o nosso papel no futuro.”

Para o responsável, trata-se de uma “questão central”, pois “os macaenses estão em Macau e ainda bebemos da representação da comunidade no território, mas desconhece-se qual a tendência, se os filhos dos actuais macaenses terão a perspectiva da comunidade e representação da identidade dos seus pais e avós. Não sei como vai ser a preservação se não houver macaenses a fazê-lo, ou se estes tiverem numa matriz diferenciada. Este seria um debate interessante”, rematou.

29 Dez 2023

Metro | Relatório aponta “omissões evidentes” na gestão do GIT

Foi ontem divulgado um relatório do Comissariado de Auditoria que aponta “omissões evidentes” na gestão do antigo Gabinete de Infra-estruturas de Transportes. Em causa, estão as avarias num cabo eléctrico que levaram à paragem de cinco meses da linha da Taipa e que se deveram a falhas na verificação de padrões técnicos

 

O Comissariado de Auditoria (CA) entende que o antigo Gabinete de Infra-estruturas de Transportes (GIT), extinto em Outubro de 2019, praticou “omissões evidentes de gestão” na aquisição do cabo eléctrico para a linha da Taipa do metro ligeiro. Esta foi feita “sem correspondente verificação” relativamente a padrões técnicos de funcionamento, o que levou a 18 avarias em menos de dois anos, a partir de 13 de Janeiro de 2020, e à suspensão do metro ligeiro por cinco meses, em 2021, para a substituição do cabo.

O relatório do CA aponta que “a causa directa da falha no cabo se deveu a um enrugamento na blindagem de fita de cobre, defeito este que vem de origem, levando à danificação da blindagem ao fim de um certo tempo, originando a ruptura da camada de isolamento e, consequentemente, falhas no cabo eléctrico”.

O CA entende ainda que as “especificações técnicas da camada de blindagem da fita de cobre foram pouco exigentes, fazendo com que esta camada não fosse capaz de resistir ou reduzir o problema dos danos causados pelo seu enrugamento que, consequentemente, levou à ruptura da camada de isolamento”.

Pouca fiscalização

O CA alerta também para falhas cometidas pelo antigo GIT na hora de adoptar padrões e especificações técnicas, pois o concurso público determinava que os cabos deveriam estar em conformidade com a norma IEC, que estabelece os requisitos técnicos mínimos para a estrutura dos cabos eléctricos.

Contudo, quanto à blindagem dos cabos, a norma em questão não “estabelece quaisquer requisitos, deixando, assim, à legislação nacional a regulação do tipo de material a usar, o tamanho e método de enrolamento da blindagem”. Desta forma, “as especificações técnicas podiam ser definidas pelo fornecedor”.

Assim sendo, quanto à blindagem da fita de cobre, “o fornecedor apenas propôs especificações técnicas quanto ao método de enrolamento e à sua espessura, que o GIT aceitou”, além de que “as especificações adoptadas pelo fornecedor não são tão exigentes como as do padrão nacional”.

O CA conclui, neste contexto, que o GIT, relativamente à escolha das normas técnicas, “devia ter tido em consideração o contexto concreto em que Macau se encontra inserido”, pois “o cabo efectivamente utilizado no sistema de metro ligeiro foi instalado sem ser sujeito aos ensaios conforme previsto na norma IEC e no contrato de fornecimento”, bem como “sem a correspondente certificação, o que reflecte a existência de omissões evidentes na gestão do GIT”.

De destacar que tanto o consultor do projecto como o GIT alertou o fornecedor para a questão do cabo, mas depois “não se insistiu junto do fornecedor o envio do relatório” sobre esse material, não sendo possível avaliar “se o fornecedor fez ou não os ensaios requeridos ao tipo de cabo que foi utilizado no sistema do metro ligeiro, e se estavam em conformidade com a norma IEC”.

O relatório alerta ainda que, na área das obras públicas, o trabalho não termina com a adjudicação e a contratação de entidades externas de fiscalização, tendo o Governo de ser “responsável pela salvaguarda dos interesses da RAEM”. Deve, por isso, “tomar as devidas medidas de correcção e regulação”.

29 Dez 2023

Exposição mutante da BABEL dá primeiro passo em Alcobaça

A BABEL – Associação Cultural desenvolveu uma nova exposição “Que Mar se Vê Afinal da Minha Língua”, inaugurada no passado dia 16 em Alcobaça, Portugal, no Armazém das Artes e na Central-Periférica, onde fica patente até ao dia 3 de Março.

Trata-se de uma mostra com curadoria de Margarida Saraiva, co-fundadora da BABEL, e que reúne cerca de 50 obras de 20 artistas de territórios onde se fala português, incluindo nomes de artistas ligados a Macau, nomeadamente Aline Motta, Ana Battaglia Abreu, Ana Jacinto Nunes e Carlos Morais José, Bianca Lei, Catarina Simão, Cecília Jorge, Eliana N’Zualo, Eric Fok, Filipa César e Sónia Vaz Borges, José Aurélio, José Drummond, José Maçãs de Carvalho, Konstantin Bessmertny, Luigi Acquisto e Bety Reis, Mónica de Miranda, Nuno Cera, Peng Yun, Rui Rasquinho, Sofia Yala, Subodh Kerkar, Thierry Ferreira, Tiago Sant’Ana e Wong Weng Io.

Pretende-se que esta exposição seja depois itinerante, passando por diversos lugares onde se fala português, nomeadamente nas cidades do Mindelo, Luanda, Maputo e Macau.

Numa publicação na rede social Linkedin, Margarida Saraiva descreveu este projecto como tendo nascido de “um processo de investigação ainda em curso”, da sua autoria, “sobre práticas artísticas contemporâneas dos mundos de expressão portuguesa”. Apresentam-se, nesta exposição “obras no domínio dos cruzamentos disciplinares”, nas áreas da fotografia, vídeo, cinema, poesia, pintura, escultura e novos media.

Memória e futuro

Segundo o Jornal de Leiria, Margarida Saraiva explicou que “esta é a primeira de uma série de exposições mutantes”. “A pergunta [que lhe dá título] manter-se-á em aberto, e a mostra renovar-se-á a cada apresentação através da participação de artistas e autores locais”, adiantou.

No texto de apresentação da exposição, citado pelo portal “Comunidade Cultura e Arte”, descreve-se que a investigação que dá origem a este projecto explora questões como a memória e a história, a colonização e a descolonização, as identidades e a globalização no período do pós-25 de Abril de 1974. Colocam-se, no entanto, questões a partir do estudo do passado recente de Portugal e das suas antigas colónias, nomeadamente quanto à evolução do universo de expressão portuguesa.

“No espaço desta galeria, a exposição desenha-se justapondo contrastes, tensões, divergências, permitindo-se transgressões disciplinares e a criação de uma constelação relativamente inesperada da qual emerge o caráter ensaístico de uma proposta que entrelaça geografias, temporalidades e diversas disciplinas artísticas, como quem desenha, apaga e redesenha, já sem medo de errar”, descreve a curadora no mesmo texto.

A BABEL nasceu em Macau em 2013, tendo-se estabelecido na cidade portuguesa de Alcobaça no ano passado, e tem também como missão o apoio a artistas em situação de risco.

28 Dez 2023

Talentos | Ma Io Fong acusa Governo de passividade

O deputado Ma Io Fong interpelou o Executivo sobre a política de atracção de talentos para o território, apontando alguma inacção da parte das autoridades em comparação com outras cidades.

“Vale a pena a Administração ponderar se a flexibilidade e a diversidade de financiamento são suficientes para apoiar as necessidades de desenvolvimento das indústrias emergentes no futuro, sobretudo as que estão ligadas à tecnologia”, apontou.

Para Ma Io Fong, além das medidas na área da prestação de serviços de consultadoria a empresas, “não se registaram, por enquanto, quaisquer progressos” em termos de apoios e serviços prestados a empresas que se queiram estabelecer no território e desenvolver.

Relativamente ao desenvolvimento do sector financeiro, o deputado entende que outras cidades conseguiram desenvolver fundos de investimento privados e outras plataformas com maior maturidade, enquanto em Macau “não se verificou qualquer melhoria ou actualização” das medidas já adoptadas para fomentar o sector financeiro.

Ma Io Fong critica ainda o facto de o Governo estar à espera “passivamente” que os recursos humanos qualificados decidam estabelecer-se em Macau, no âmbito do novo regime de captação de quadros qualificados da RAEM, devendo, pelo contrário, apoiar, de forma “pró-activa”, a admissão de novos talentos através da criação de incentivos e subsídios às empresas, adoptando modelos já estabelecidos em cidades do interior da China.

28 Dez 2023

DSEC | Restaurantes japoneses com quebra de 24,9 %

Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) apontam para uma quebra do volume de negócios dos restaurantes japoneses em 24,9 por cento em Outubro deste ano, situação também verificada nos restaurantes coreanos. Pelo contrário, verificou-se um aumento do volume de negócios de 69,7 por cento nos restaurantes ocidentais e 52,1 por cento nos restaurantes chineses, sendo que, em termos globais, o sector da restauração cresceu 35,7 por cento em Outubro.

A DSEC aponta também que, em Outubro, o volume de negócios dos proprietários entrevistados da restauração registou um crescimento de 2,9 por cento face a Setembro, impulsionado pelas férias da Semana Dourada de Outubro. Destaque para o facto de o volume de negócios dos restaurantes ocidentais ter subido 12,3 por cento face a Setembro.

Ouvidos pela DSEC, 46 por cento dos proprietários de restaurantes previram ainda uma quebra do volume de negócios em Novembro, após a Semana Dourada, sendo que os restaurantes japoneses esperam que o negócio baixe em 56 por cento.

Relativamente ao comércio a retalho, observou-se que no mês em análise o volume de negócios dos retalhistas entrevistados cresceu 38,4 por cento em termos anuais.

21 Dez 2023