Imprensa | CE diz que media estrangeiros estão “virados para o mundo”

Ho Iat Seng, Chefe do Executivo, defende que os órgãos de comunicação social em português e inglês, “por estarem sediados na RAEM, estão próximos da China e virados para o mundo”. Palavras proferidas no almoço de Ano Novo Chinês com os representantes dos media de língua não chinesa

 

Mais um ano, mais uma ronda de almoços do Governo com os representantes dos órgãos de comunicação social do território a propósito da chegada do Ano Novo Chinês. Desta feita, foi com os profissionais dos jornais, revistas, rádio e televisão em português e inglês, tendo o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, falado das vantagens destes títulos estarem sediados em Macau.

O governante falou da “vantagem singular dos órgãos de comunicação social de língua portuguesa e inglesa de Macau, pois estando sediados na RAEM, estão próximos da China e virados para o mundo”.

Isto a propósito das últimas viagens oficiais organizadas com jornalistas a cidades da Grande Baía e também ao Tibete. Segundo o Chefe do Executivo, os repórteres que participaram puderam “apresentar aos leitores o desenvolvimento actual e de alta qualidade da China, a longa história da cultura chinesa e a vida do povo chinês”.

De resto, não faltaram elogios a Ho Iat Seng aos títulos em língua portuguesa e inglesa existentes no mercado. Estes são “veículos importantes de proximidade para a comunidade portuguesa e inglesa local e no exterior aceder à informação”, além de que “têm vindo a noticiar extensivamente as novas dinâmicas e os novos desenvolvimentos na RAEM, bem como as actividades de intercâmbio do Governo com o exterior”.

Além disso, “os profissionais dos órgãos de comunicação social de língua portuguesa e inglesa de Macau assumem as suas responsabilidades com profissionalismo”, tendo “desempenhado o papel de ponte, reflectindo as vozes da população, apresentam sugestões e achegas e dão colaboração, o que contribui relevantemente para o trabalho do Governo nas diferentes tutelas”, adiantou.

O governante acredita que os media de língua não chinesa ajudam ainda a “contribuir de forma mais empenhada para a exploração de mercados de turistas no estrangeiro”, bem como de oportunidades na área económica.

Em preparação

Falando aos representantes destes media, Ho Iat Seng não deixou de destacar a visita oficial feita a Portugal em Abril do ano passado, a primeira de três viagens a países europeus. Tratou-se de uma visita com “um significado muito importante, pois para além de ter intensificado o contacto de Macau com o exterior, reflectiu ainda mais o papel de Macau como plataforma entre a China e os países de língua portuguesa”. Foram ainda concretizados os “objectivos de reforçar as relações amigáveis, aprofundar a cooperação em diferentes áreas e explorar novas oportunidades de cooperação”.

O governante destaca que, este ano, se celebram os 75 anos da implantação da República Popular da China, mas também o 25.º aniversário da transição da administração portuguesa de Macau para a China.

Nesta fase, o Executivo diz estar a “participar, de forma activa, nos trabalhos preparatórios da VI Conferência Ministerial do Fórum Macau”, além de se empenhar “na organização de actividades importantes, nomeadamente a 7.ª reunião da Comissão Mista Macau-Portugal”.

Ficou prometida a defesa “com um esforço acrescido e firmeza, a segurança nacional e a estabilidade social”, além de se apostar na contínua melhoria “do bem-estar da população” e “promoção da harmonia social”.

Ho Iat Seng não esqueceu a continuação da salvaguarda da liberdade de imprensa bem como o apoio “à comunicação social no exercício das suas funções e responsabilidades, dando apoio de forma activa ao trabalho de cobertura noticiosa”.

24 Jan 2024

Global Media | José Leitão em silêncio sobre representação do fundo

Coube ao advogado José Leitão, dos escritórios de advogados MdME em Portugal, a representação do World Opportunity Fund, sediado nas Bahamas, na compra do capital maioritário do grupo Global Media. Informação foi divulgada por Marco Galinha, ex-presidente da comissão executiva do grupo, no parlamento português, mas, ao HM, o causídico não prestou mais esclarecimentos

 

O advogado José Leitão, do escritório de advocacia MdME em Portugal, foi o representante legal na aquisição do capital maioritário do grupo Global Media por parte do World Opportunity Fund (WOF), sediado nas Bahamas e do qual pouco se sabe, isto numa altura em que o grupo enfrenta uma grave crise financeira.

Contudo, ao HM o causídico não quis prestar mais esclarecimentos face ao que já foi dito na Assembleia da República portuguesa. “Estou deontologicamente impedido de fazer quaisquer comentários, nos termos dos Artigos 92o No. 1, alínea a) e 93o No. 1, ambos do Estatuto da Ordem dos Advogados Portugueses, que, respectivamente, sujeitam a sigilo profissional qualquer informação de clientes e suas transacções e impedem a discussão pública de assuntos profissionais, nomeadamente nos meios de comunicação social.”

Recorde-se que, segundo o Jornal Económico, o nome de José Leitão como representante do WOF no negócio foi avançado no passado dia 9 por Marco Galinha, ex-presidente da comissão executiva da Global Media, por ocasião da sua ida à Assembleia da República para prestar declarações sobre a situação que o grupo, detentor de títulos como o Diário de Notícias, Jornal de Notícias, O Jogo, Açoriano Oriental ou a rádio TSF, vive.

Na sessão com os deputados, Marco Galinha disse que “o normal nestas situações é falar com os representantes destes fundos”. “Neste caso foi o José Leitão, do MdME, o segundo maior escritório de Macau”, disse o fundador do grupo BEL, que até ao passado mês de Outubro foi o maior accionista da Global Media.

Conversas antigas

Os trabalhadores da Global Media estão com salários em atraso e sem um calendário para os cumprimentos salariais por parte da empresa. O facto de não se conhecerem os rostos por detrás do WOF tem sido uma das grandes questões desta polémica que coloca em risco a sobrevivência de vários órgãos de comunicação social em Portugal. Tal levou a Entidade Reguladora para a Comunicação Social a abrir um processo de averiguações sobre a identidade dos detentores deste fundo sediado num território offshore.

Na sessão parlamentar, Marco Galinha acusou o WOF de não cumprir os compromissos prometidos, prometendo agir legalmente contra o fundo.

O empresário disse ainda que as conversações com o WOF começaram em Outubro de 2022, tendo o negócio sido concretizado em Julho do ano seguinte após Marco Galinha vender o controlo da holding Páginas Civilizadas ao WOF.

Numa entrevista concedida ao HM em Outubro de 2022, José Leitão, responsável pelas áreas de compliance e Direito público da MdME, explicou os planos de um escritório que, depois de anos a operar em Macau, decidiu estabelecer-se em nome próprio em Portugal.

“Queremos recrutar mais profissionais, crescer e fazer o percurso normal de uma sociedade de advogados internacional em expansão”, disse o causídico, referindo o “ADN chinês e português, quer pela proximidade dos dois países e pelo fluxo de investimento que existe nos dois sentidos”. “Achamos que uma sociedade internacional nascida em Macau está tendencialmente posicionada nestes dois fluxos de investimento”, rematou.

De frisar que o grupo Global Media está também ligado a Macau graças ao empresário Kevin Ho, actual administrador e um dos investidores.

23 Jan 2024

Teatro | Peça sobre suicídio cancelada em dia de caso concretizado e de tentativa

A associação Artistry of Wind Box Community Development Association planeava apresentar este mês a peça de teatro “The Morning As Usual”, com foco na temática do suicídio. Contudo, o espectáculo acabou cancelado, num dia em que ocorreu um suicídio e houve também uma outra tentativa

 

Foi cancelada a peça de teatro “The Morning As Usual”, um projecto da associação Artistry of Wind Box Community Development Association [Associação de Desenvolvimento das Artes Comunitárias Windy Box] que abordava o suicídio e que seria apresentada entre os dias 26 e 28 deste mês. O cancelamento aconteceu num dia em que ainda antes de ser anunciado o cancelamento houve uma tentativa de suicídio, e depois do cancelamento houve um caso concretizado.

Segundo o jornal Ou Mun, uma mulher de 60 anos decidiu pôr termo à vida saltando de um edifício na Estrada do Governador Albano de Oliveira, na Taipa. Os bombeiros chegaram ao local e ainda colocaram uma rede protectora para amparar a queda, sem sucesso. A mulher, que estava bastante agitada psicologicamente, acabou por se desequilibrar e cair, tendo ainda chegado ao hospital com fracos batimentos cardíacos, acabando por falecer momentos depois, com o diagnóstico de múltiplas fraturas no corpo e insuficiência respiratória.

Horas antes, tinha sido registado uma tentativa de suicídio na zona norte da península, junto à Avenida do Hipódromo, e envolveu um homem de 40 anos que acabou por desistir de se atirar de um prédio. O caso obrigou à suspensão temporária de uma paragem de autocarro e mudanças no trânsito.

A divulgação do espectáculo já estava a gerar controvérsia antes das duas situações, o que obrigou a Windy Box a reagir com um comunicado logo na sexta-feira. “Recentemente apercebemo-nos que a nossa peça tem suscitado a preocupação do público. Em primeiro lugar, ninguém da equipa de produção conhece quaisquer pessoas envolvidas neste tipo de incidente e não são reveladas no espectáculo histórias pessoais concretas ou informações privadas.”

A associação adianta também que a peça de teatro não fazia “a reconstituição de uma história ou caso específicos, não sendo esse o objectivo do espectáculo”. “O objectivo inicial do projecto é, simplesmente, demonstrar a nossa tristeza e preocupação sobre os casos ocorridos nos últimos anos. Esperamos que haja uma discussão e que, através do teatro, possamos abrir um campo comum [de debate] junto da sociedade e estabelecer uma comunicação positiva. Pedimos desculpa por qualquer perturbação ou ofensa que este espectáculo possa ter causado junto do público devido à falta de clareza no seu conteúdo e na publicidade feita ao mesmo”, lê-se ainda.

Do cancelamento

AA associação decidiu mesmo avançar para o cancelamento da peça, tendo divulgado no sábado, nas redes sociais, uma segunda nota. “O espectáculo ‘The Morning As Usual’, inicialmente previsto para as datas de 26 a 28 de Janeiro, foi cancelado. Após a sua divulgação, a atenção prestada ao espectáculo por parte do público ultrapassou a nossa capacidade e experiência, pelo que, após discussão no seio da equipa, decidimos cancelá-lo.”

A associação agradece ainda “o encorajamento e conselhos profissionais” recebidos, afirmando também que o cancelamento da peça “não põe termo à preocupação sobre o fenómeno do suicídio em Macau”.

“Temos reflectido sobre a situação. Esperamos que mais organizações colaborem connosco no futuro, para que possamos prestar mais atenção às almas escondidas na nossa sociedade que não são encontradas a tempo, permitindo que o público se solidarize com esta dor inexplicável. A Windy Box pede desculpas por todo o incómodo causado por este incidente”, remata o comunicado de sábado.

Todos aqueles que estejam emocionalmente angustiados ou considerem que se encontram numa situação de desespero devem ligar para ligar para a Linha Aberta “Esperança de vida da Caritas” através do telefone n.º 28525222 de forma a obter serviços de aconselhamento emocional.

22 Jan 2024

CCCM | Macau antigo patente em exposição virtual

“Macau: Diferentes olhares em tempos diferentes. Fotografias de Raquel Soeiro de Brito e da colecção do Centro Científico e Cultural de Macau” é a mostra online patente nesta entidade sediada em Lisboa. Trata-se de uma exposição virtual com imagens de Macau dos anos 60 organizada em parceria com a Universidade de Lisboa

Consegue imaginar a Macau do período da Administração portuguesa, mas na década de 60, quando não havia qualquer ponte entre a península de Macau e as ilhas e as travessias eram feitas de barco? Esse exercício de memória visual é o mote para a mais recente exposição virtual disponível no website do Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM).

“Macau: Diferentes olhares em tempos diferentes. Fotografias de Raquel Soeiro de Brito e da colecção do Centro Científico e Cultural de Macau” é o nome da mostra que pode ser visitada a partir de qualquer lugar e à distância de um clique, sendo organizada em parceria com o Centro de Estudos Geográficos do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa.

A ideia é destacar as imagens captadas pela geógrafa portuguesa Raquel Soeiro de Brito no início dos anos 60 juntamente com outras fotografias feitas por outros profissionais entre os anos de 1980 e 1990.

A exposição divide-se nas categorias “Vistas”, “Ruas e Gente”, “As Hortas” e a “Vida Marítima”, convidando quem a vê a conhecer melhor uma Macau que hoje em dia apenas vive no imaginário de alguns.

Em “Ruas e Gente”, por exemplo, percepciona-se “a vida urbana de Macau” centrada no “Bairro do Bazar” e prolonga-se até às zonas do Porto Interior e Rua do Almirante Sérgio. Comercializava-se artigos de pesca e outros artigos marítimos tendo em conta a proximidade do Delta do Rio das Pérolas, e na área ainda viviam pessoas nos barcos.

Logo ali, bem perto, permanecia a avenida Almeida Ribeiro, o coração da península, a borbulhar de comércio. Segundo a descrição da exposição, a geógrafa portuguesa registou, em 1961, “as últimas imagens do antigo aldeamento chinês de Mong-Há, espaço agrícola recém-sacrificado pela abertura de novas avenidas”.

Os restantes profissionais que trouxeram imagens para esta exposição são Álvaro Tavares, Eduardo Tomé, Cheong Io Tong e o jornalista Rogério Beltrão Coelho, mostrando uma Macau mais contemporânea, mas talvez já distante da actualidade.

Mostram-se, ainda assim, novas roupas e modos de vida mais urbanos que substituem “as cabais e os grandes chapéus de palha”, mantendo-se “muita da ambiência de rua dada pelo comércio tradicional chinês, seja nas lojas, seja nas inúmeras vendas ambulantes”.

Vida a Oriente

Raquel Soeiro de Brito, actualmente com quase 100 anos de idade, é uma reputada geógrafa portuguesa da chamada “Escola de Geografia de Lisboa”, tendo realizado a sua primeira viagem a Macau em 1961 na qualidade de investigadora do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa.

A mostra virtual patente no CCCM constrói-se a partir de uma selecção de 90 imagens retiradas de um conjunto de 300 fotografias e dispositivos dessa viagem realizada nos anos 60.

Macau tinha, à data, pouco mais de 150 mil habitantes, cuja economia já era marcada pelo jogo, mas onde havia bastante actividade marítima, muitas hortas e habitações ilegais graças à vinda de muitos refugiados do continente. A descrição da exposição aponta para o facto de “o olhar fotográfico da geógrafa” sobre “a duradoura imutabilidade do mundo tradicional chinês”.

Existem ainda outras 66 fotografias que fazem parte do acervo do CCCM, já dos anos 80 e 90, destacando-se “o enquadramento da cidade, o pormenor das ruas e das gentes, os espaços rurais periféricos e, por último, as áreas portuárias e a pesca”.

Outra exposição virtual que pode ser vista no website do CCCM é da autoria de Jorge Veiga Alves, fotógrafo amador que viveu e trabalhou no território na década de 80. “À Procura de Macau – I, II e III” é a selecção de imagens também de uma Macau de outrora, feitas pelo próprio Jorge Veiga Alves.

19 Jan 2024

Zonas marítimas | Consulta pública destaca segurança nacional

Até ao dia 16 de Fevereiro, será possível opinar sobre a forma como serão geridas as zonas costeiras de Macau. Uma coisa é certa: no documento de consulta disponibilizado pelo Governo relativo à definição do “Zoneamento Marítimo Funcional”, o “Plano das Áreas Marítimas” e a “Lei de Uso das Áreas Marítimas” coloca-se a segurança nacional como questão primordial para a definição de políticas.

Quanto ao futuro “Plano das Áreas Marítimas”, o Executivo propõe que este deve “salvaguardar a segurança da defesa nacional e garantir o uso do mar para fins militares e de segurança interna”. Já o “Zoneamento Marítimo Funcional”, traçado até 2040, deve “aderir ao conceito geral de segurança nacional”, dando-se “prioridade às necessidades do uso das áreas marítimas no âmbito da defesa nacional e militar”.

Deve-se, sobretudo, “promover uma conjuntura global de cooperação de benefícios mútuos entre Guangdong e Macau, dando prioridade à salvaguarda dos interesses nacionais, tendo também em consideração os interesses de todas as partes envolvidas, promover a estabilidade socioeconómica e união entre Guangdong e Macau”.

Ecologia importa

O plano prevê a distinção de zonas consoante funções económicas, turísticas, sociais e de construção, mas importa destacar a vontade das autoridades em preservar o meio marítimo junto à ilha de Coloane, pois a parte sul surge classificada como zona especial protegida, enquanto para a zona costeira junto ao Cotai, e perto do campus da Universidade de Macau em Hengqin, é proposta a classificação de zona natural protegida.

Pretende-se, assim, assegurar “a protecção de seres marinhos raros e ameaçados e seus habitats, bem como paisagens naturais marítimas, ecossistemas e sítios históricos de grande valor científico, cultural, paisagístico e ecológico”.

Quanto às zonas naturais protegidas, deve-se “limitar rigorosamente os usos que afectem e interfiram nos objectos da conservação, como por exemplo mangais e colhereiros-de-cara-preta”, bem como “autorizar a execução adequada de obras que tenham como fins a conservação e restauro dos ecossistemas típicos, como por exemplo mangais e zonas húmidas costeiras”.

Nestas zonas não são ainda permitidos projectos que “poluam o ambiente ou danifiquem a paisagem”, sendo também proibido o lançamento de “efluentes ou outras fontes poluidoras” nas águas, sendo que “as águas residuais, industriais ou domésticas só podem ser lançadas depois de atingir um critério definido”, entre outros critérios.

19 Jan 2024

Zonas marítimas | Criticada baixa percentagem de áreas ecológicas

A associação Macau Green Student Union, liderada pelo ambientalista Joe Chan, afirma que a percentagem territorial destinada às zonas ecológicas protegidas na proposta do Governo para a gestão das zonas marítimas do território é baixa. Joe Chan defende ainda a criação de ostras e questiona a ilha destinada a resíduos a sul de Coloane

 

O documento sobre a gestão das áreas marítimas de Macau, em consulta pública até ao dia 16 de Fevereiro, prevê a definição de duas zonas ecológicas protegidas, nomeadamente a sul de Coloane e na zona costeira perto do Cotai e do campus da Universidade de Macau em Hengqin.

Contudo, ouvido pelo jornal Ou Mun, Joe Chan, presidente da associação Macau Green Student Union, entende que a percentagem de terrenos com preservação ambiental e de espécies é mínima, abaixo dos dez por cento e das tendências mundiais.

O responsável entende que as zonas ecológicas protegidas representam cerca de três por cento dos 85 quilómetros quadrados de zona marítima cedidos a Macau por Pequim, sendo uma área de pequenas dimensões. Para Joe Chan, apenas se pode garantir que esta zona não será poluída, não sendo garantida a melhoria do sistema ecológico marítimo em prol da recuperação de espécies que venham a desaparecer gradualmente.

Joe Chan criticou também o facto de as propostas do Governo não incluírem medidas concretas para a protecção dos golfinhos brancos chineses, fazendo pouca menção ao intercâmbio com a província de Guangdong relativamente à protecção destas espécies.

Sim à aquacultura

O representante da Macau Green Student Union considera ainda que o Governo deveria promover a criação de ostras em frente à praia de Hac-Sá, apesar das autoridades admitirem que a qualidade da água em Macau não é adequada para o desenvolvimento da aquacultura.

Contudo, Joe Chan acredita existirem condições para desenvolver a produção interna argumentando que a má qualidade da água advém da poluição, e a criação de ostras poderia promover a sua purificação. Joe Chan pensa ainda que se podem usar estas zonas ecológicas para produzir bentos, comunidade de organismos vivos que vivem em ambientes aquáticos.

Na visão do ambientalista, Macau fica numa zona com a junção de água doce e salgada, sendo que, no passado, era um território conhecido pela produção de ostras. Além de ajudar a purificar as águas do delta do rio das pérolas, Joe Chan crê que a criação de ostras em Coloane pode ainda servir como experiência pedagógica com crianças, para que estas conheçam mais sobre a vida marítima e a história deste tipo de cultura em Macau.

Contra a ilha

A proposta do Governo para a gestão das áreas marítimas de Macau prevê ainda a construção de uma ilha artificial a sul de Coloane, perto da praia de Hac-Sá, para depósito de resíduos. Joe Chan pensa que o ideal era evitar, a todo o custo, poluir as águas com este projecto, uma vez que a ilha vai travar o curso natural da corrente da água do rio, levando a uma degradação da sua qualidade.

O ambientalista diz entender que o Governo quis ir buscar o exemplo de Singapura, uma vez que a cidade Estado apostou na construção de ilhas artificiais para gerir os resíduos, mas o Joe Chan destaca que a região não tinha mais alternativas em termos de espaço.

O responsável recorda que há cerca de dez anos as autoridades já admitiam o esgotamento da capacidade de gestão de resíduos, mas nunca foram aplicadas medidas. “Caso esta ilha atinja o limite máximo da capacidade de resíduos, vai o Governo continuar a depositar lixo? A ilha não recebeu ainda aprovação da parte do Governo central, nem há dados científicos que sustentem o projecto. Será que os grupos ambientais apoiam esta proposta?”, questionou.

19 Jan 2024

Corredor que liga ponte às Portas do Entendimento apresentado ontem

Foi ontem anunciado pelo Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) que o Corredor Verde da Margem Sul, que liga a ponte Governador Nobre de Carvalho e o monumento das Portas do Entendimento, junto ao lago Sai Van, vai começar a ser construído no final deste ano, devendo estar concluído em dois anos.

A ideia é, segundo um comunicado do IAM, corresponder “às exigências da sociedade sobre o aproveitamento adequado do espaço costeiro”, sendo que este novo corredor verde terá 60 mil metros quadrados e “três eixos principais”, com “diversões para pais e filhos, lazer e recreio, interacção com a água e [aproveitamento da] paisagem aquática”.

O projecto divide-se em zonas funcionais interligadas com uma zona pedonal à beira-rio, sem barreiras arquitectónicas, e ainda uma ciclovia. O passeio tem uma largura mínima de cinco metros e a ciclovia 1300 metros de comprimento, quatro metros de largura por uma faixa e, no total, uma volta de cerca de 2600 metros de comprimento.

O IAM promete ainda construir “um espaço de diversão infantil”, com equipamentos urbanos e de diversão como escorregas, zonas de escalada e ainda passagens superiores, incluindo ainda pistas de bicicletas para toda a família, “com condições para proporcionar percursos mais longos, com um comprimento total de 250 metros”.

No local, serão ainda edificadas uma zona de campo livre, outra para a prática de ginástica, uma pista de skate polivalente e uma praça multifuncional. A praça multifuncional, situada junto à entrada principal do corredor, terá também um palco para a realização de espectáculos à beira-rio e diversos corredores paisagísticos.

Pretende-se que nesta praça se possam realizar eventos como o Festival de Gastronomia, podendo o espaço ficar definido como “zona de queima de panchões em determinados dias do Ano Novo Lunar”. Será também construído um campo de futsal, de basquetebol e de treino, com zonas de manutenção física e de convívio para idosos, entre outras.

Observar a água

O projecto apresentado ontem pelo IAM inclui a edificação de diferentes espaços de observação de água, incluindo a praça central e o miradouro, ficando a plataforma superior ligada à ponte para bicicletas, enquanto o piso inferior irá destinar-se a espaços multifuncionais ou comerciais.

O corredor terá, assim, um espaço de restauração e um miradouro, sendo ainda criadas zonas de pesca “em locais apropriados ao longo da costa”, a fim de garantir uma maior interacção com a zona costeira. Serão também instalados espaços para refeições leves, com quiosques e máquinas automáticas de venda, mesas e cadeiras para refeições ao ar livre e sanitários públicos.

O IAM pretende construir também uma via provisória no lado norte da zona de lazer, com entrada e saída pela Rua da Torre de Macau, passando depois para as entradas e saídas principais e secundárias da zona de lazer. Ao mesmo tempo, serão disponibilizados cerca de 80 lugares de estacionamento nas bermas das vias públicas, lugares adequados de estacionamento para motociclos e uma zona de tomada e largada de passageiros para autocarros.

18 Jan 2024

Festival Fringe | Actividades para todos os gostos este fim-de-semana

Arrancou a 22.ª edição do Festival Fringe. Este fim-de-semana não faltam espectáculos e actividades para participar, como projectos de dança com idosos, teatro físico, que explora a relação com o corpo e com a inteligência artificial, ou ainda concertos com músicos locais em vários recantos do território

 

Realizado em vários pontos do mundo, a organização do festival Fringe em Macau já faz parte do cartaz cultural do território. A 22.ª edição arrancou esta semana e para os próximos dias estão agendados vários espectáculos que oferecem ao público diversas mensagens e expressões artísticas.

Um dos pontos de atracção desta edição do Fringe é a “Exposição de Arte para Todos” [Art Exhibition for All], onde os participantes são convidados a realizar obras de arte à sua escolha depois de uma inscrição prévia junto do Instituto Cultural. A organização do festival considera que “qualquer um é um artista único, podendo ser pintores, fotógrafos ou escultores”, sendo que “não há limite em termos de formatos ou temas, e a criatividade é a chave”.

A ideia é que os participantes realizem as suas obras nos locais de exposição. Numa primeira fase, a mostra com todos estes trabalhos pode ser vista na antiga Fábrica de Panchões Iec Long, na Taipa velha, até segunda-feira, passando depois, entre terça e o dia 28, para o Parque Urbano da Areia Preta, junto ao Centro de Saúde.

Até sexta-feira decorre, no espaço “Laika Land”, a actividade “Likewise”, entre as 11h e as 20h, repetindo-se depois no fim-de-semana, sábado e domingo, entre as 11h e as 22h. Os participantes são convidados a levarem os seus animais de estimação e a contar as suas histórias através da fotografia.

Com ligação a esta actividade acontece, até sábado, no “Laika Land”, às 20h30, o espectáculo de teatro, música ao vivo e multimédia “Goodbye, See You Soon”, com a actriz e autora Lei Sam I. Sobre este espectáculo, Lei Sam I descreve a história em torno da descoberta de Taro, um gato vadio. “Através da minha voz interior, quero partilhar a nossa história com o público.

A existência é como um raio de luz, cujo brilho por vezes partilhamos, e outras vezes recebemos quando nos falta o brilho. Quando a luz de Taro regressar finalmente à natureza, a sua sombra permanecerá no meu coração e continuará a fazer-me companhia, enquanto sigo em frente. Os animais de estimação têm uma vida curta, e nós somos o mundo aos seus olhos”, descreve-se no website do Fringe.

Depois de uma primeira sessão esta quarta-feira, decorre hoje a última sessão do espectáculo “25Pés” [25Feet], que mistura dança, teatro físico e interacção com o público. Trata-se de uma produção das equipas de “The100Hands”, da Holanda, com adaptação chinesa pela “More Production”, acontecendo às 19h45 no teatro Black Box II do Centro Cultural de Macau (CCM).

Trata-se de uma peça inteiramente falada em mandarim que explora os conceitos em torno de relações e sentimentos envolvidos. “Dois bailarinos vão transportar o público a explorar as noções de intimidade, individualidade e privacidade” num pequeno espaço, onde “acontece o contacto físico, a confrontação e a proximidade”.

O espectáculo “25Pés” terá corpos nus em palco, mostrando-se “a relação entre o espaço e o corpo humano”, sendo que a audiência será convidada a “jogar jogos” com os bailarinos. Haverá ainda um debate posterior ao espectáculo, protagonizado por Liao Shuyi e Wu Xiaobo.

Sonhos e danças

Com a assinatura de Su Wei-Chia, coreógrafa de Taiwan, chega-nos para esta edição do Fringe o espectáculo de dança “FreeSteps – Swinging Years”, que acontece amanhã às 20h no Teatro Caixa Preta I no CCM, numa sessão dedicada a escolas secundárias. Seguem-se dois espectáculos para o público em geral no sábado e domingo, primeiro às 20h e depois às 15h.

Neste projecto, lançado em 2013, a coreógrafa decidiu “explorar novas possibilidades físicas e coreográficas”. “Usando puramente a dança física como material, Su explora uma relação entre a performance e o público na área da dança contemporânea, pretendendo revelar uma experiência visual alternativa”, lê-se na descrição do espectáculo. Depois de uma colaboração com cerca de 100 idosos numa versão do espectáculo de 2022, a coreógrafa traz de Taiwan dez idosos que vão dançar em palco, mostrando as histórias dos seus corpos. Convida-se o público a tirar os sapatos quando entrar na sala.

Também esta sexta-feira, mas na Casa do Mandarim, às 16h e 19h30, decorre o evento de dança “Let the Flower in Your Heart Bloom”, com coreografias de Stella Ho e Leong Iek Kei. A mensagem deste espectáculo, de apenas 35 minutos, é que “todos os momentos na vida são igualmente belos”. O espectáculo explora a vontade de dançar dos mais velhos que nunca tiveram essa oportunidade, levando-os a concretizar alguns dos seus sonhos. “Através desta nova experiência os participantes terão a oportunidade de expressar os sentimentos através da arte da dança.”

O espectáculo, com a participação de Kou Ngok Chun, Chan In, Choi Soi Chan, Chan Chi Oi, U Kit Fong, Chan Sio Mel, Cheng Ching Han, Lai Fong I, Fong Sin Man e Choi Weng Lai, conta com o apoio da associação Soda-City Experimental Workshop Arts. Com concepção e direcção de Stanley Ma, em colaboração com Cheang Hio Lam, apresenta-se ainda no Fringe a peça de teatro “Hello, Welcome, Goodbye!”, amanhã às 20h30 e no sábado às 14h30, 17h e 20h30, no espaço “2 Legit Ltd”.

Aqui explora-se, através dos cortes de cabelo, a relação entre a humanidade e a tecnologia, com a inteligência artificial a assumir um papel de destaque de forma experimental. Durante 45 minutos o público pode optar por participar no evento ou simplesmente observá-lo, existindo dois tipos de bilhetes à venda.

Explosões musicais

O cartaz do Fringe apresenta também, este fim-de-semana, a realização da exposição “At Your Doorstep”, patente no Pavilhão Branco do Jardim da Flora. Incluem-se ainda sessões musicais com o instrumento handpan este domingo, às 12h e 16h.

Esta exposição revela “os versos e letras incluídos em ‘Travelling at Your Doorstep’, espectáculo de dança e narração de voz que integra esta edição do Fringe, bem como pinturas e imagens criadas em conjunto por jardineiros e residentes”. Depois de cada performance artística, haverá uma sessão musical com o handpan, onde os participantes são convidados a mergulhar numa junção de arte com música. O conceito e coordenação deste evento são da autoria de Chole Lao.

“A City of Visible Music” é o nome da iniciativa artística e musical que também se realiza este fim-de-semana da autoria de Vincent Cheang, artista local, Guo Xiaohan e Kang Meow. No sábado o evento acontece às 12h e 14h junto à Ponte 16, seguindo-se a apresentação, às 16h, na praça junto ao anfiteatro romano na Doca dos Pescadores. Às 20h, o espectáculo decorre na Broadway Food Street, no empreendimento Broadway Macau, no Cotai.

Neste evento “três almas para sempre jovens encontram-se”, nomeadamente “uma rainha do punk, um influencer musical e uma estrela de rock local”. A ideia é que num só dia haja uma explosão de sonoridades musicais, com concertos ao vivo e música a tocar numa estação de rádio pop-up, em que o trio de artistas irá relacionar-se com a cultura local e as respectivas comunidades. Vários músicos locais participam, nomeadamente Ari Calangi às 12h, IronSon às 14h, Julio Acconci às 16h e Bye Bye Fish às 20h.

Os falantes de mandarim ou cantonês que queiram explorar outro tipo de actividade dentro do Fringe podem ainda, este domingo, participar na mesa-redonda em torno do tema “Dançando e Vivendo com o Corpo ao Longo dos Anos” [Dancing and Living with the Body Through the Years], que conta com artistas de Macau, Hong Kong e Taiwan que vão falar das suas ideias e processos criativos através do trabalho desenvolvido com idosos. O debate será moderado por Stella Ho e decorre domingo no auditório do Museu de Arte de Macau às 12h e 13h30. O cartaz do Fringe deste fim-de-semana completa-se com mais espectáculos.

18 Jan 2024

Casinos | Actualizações salariais e bónus considerados insuficientes

As operadoras de jogo anunciaram recentemente aumentos salariais e pagamento de bónus aos trabalhadores depois de anos de congelamentos, mas um deputado e uma dirigente associativa entendem que os valores estão longe de ser suficientes tendo em conta a crise económica gerada pela pandemia e a inflação

 

Os trabalhadores do jogo em cargos de não gestão vão passar a ganhar mais este ano, sendo que as operadoras de jogo decidiram também atribuir bónus salariais a uma grande percentagem dos funcionários. Trata-se da maior ronda de actualizações desde a pandemia, tendo em conta que apenas a Sands aumentou os ordenados em 2020.

Contactados pelo HM, um deputado e uma dirigente associativa do sector consideram que estes aumentos são insuficientes tendo em conta a crise económica prolongada originada pela pandemia e a inflação.

“A decisão de aumentar os salários é uma boa notícia, tendo em conta que as empresas de jogo tinham os salários congelados há cerca de cinco anos. Mas sinto-me desapontada em relação à percentagem do aumento, porque os bónus estiveram suspensos e os preços subiram muito durante a pandemia, o que significa que os salários reais anuais sofreram uma redução”, disse Cloee Chao, presidente da Associação Novo Macau pelos Direitos dos Trabalhadores do Jogo.

A responsável frisou também que nos anos de pandemia as concessionárias “cortaram muito nos recursos humanos e colocaram mais trabalhadores a tempo parcial. Sei que actualmente os recursos humanos ainda não registaram uma recuperação e os funcionários têm um maior volume de trabalho. Recordo-me da expressão usada durante a pandemia pelas empresas de jogo, ‘enfrentarmos o mau tempo juntos’. E agora que as empresas voltaram a ganhar dinheiro, será que podem partilhar os frutos com os funcionários?”, questionou.

Questão de percentagem

No caso de Leong Sun Iok, deputado ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), os aumentos não são ainda suficientes, na sua óptica.

“A maioria das empresas de jogo aumentaram os salários em cerca de 2,5 por cento, mas algumas posições na mesma empresa têm maiores aumentos. A decisão de aumentar salários pode ter um papel positivo e servir de incentivo para que empresas de outros sectores sigam o exemplo”, frisou. O deputado destaca que o aumento salarial de 2,5 por cento está ainda longe da fasquia dos 3,3 por cento de aumento anunciado na Função Pública.

Leong Sun Iok destacou os casos das empresas que prestam serviços de utilidade pública ou ainda as operadoras de autocarros, que já anunciaram aumentos salariais, sendo algo que “pode elevar a moral da população e dos funcionários”. “Neste ambiente económico duro, apesar do negócio das empresas de jogo ter melhorado e de as operadoras terem regressado aos lucros, [os trabalhadores] passaram um período difícil.”

O responsável adiantou que os trabalhadores do jogo enfrentam maior stress no trabalho, dada a recuperação do número de turistas e jogadores e a escassez de recursos humanos, uma problemática que tem vindo a ser solucionada pelas operadoras graças à reabertura de fronteiras e consequente melhoria económica. “Os funcionários pedem uma melhoria ao nível dos recursos humanos”, referiu Leong Sun Iok.

As concessionárias Galaxy e MGM foram as últimas a anunciar, esta segunda-feira, aumentos a partir de Abril. No caso da Galaxy, por exemplo, os aumentos abrangem cerca de 98 por cento dos trabalhadores, sendo que aqueles que receberem cerca de 16 mil patacas mensais são aumentados em 2,5 por cento.

No caso da MGM, os aumentos entram em vigor a 25 de Março e são de 600 patacas para quem ganhe 16 mil patacas ou menos, e também de 2,5 por cento para quem ganhe acima desse valor. No passado dia 5 a Sands China anunciou aumentos a partir de Março, tal como a Wynn, sendo que também a Sociedade de Jogos de Macau vai atribuir bónus salariais aos funcionários.

18 Jan 2024

Macau Jockey Club | O fim esperado e as preocupações com os cavalos

Marcado há muito por sucessivas perdas financeiras, o Macau Jockey Club tentava aguentar-se há vários anos até que esta segunda-feira foi anunciada a rescisão do contrato de concessão. Especialistas jurídicos na área do jogo falam num desfecho há muito esperado, enquanto a ANIMA promete estar atenta ao bem-estar dos cavalos

 

Macau vai deixar de ter apostas em corridas de cavalos ao fim de 40 anos de actividade em virtude da rescisão do contrato de concessão deste tipo de jogo ao Macau Jockey Club, anunciada esta segunda-feira. Há muito que o burburinho negativo em torno da situação financeira da empresa se fazia sentir na comunicação social tendo em conta a quebra sucessiva das receitas.

O fim destas apostas tradicionais é agora uma realidade, e segundo o docente universitário, e especialista em Direito do jogo, Jorge Godinho, já nada havia a fazer por parte do Governo e entidade reguladora para salvar a empresa.

“A procura [pelas apostas] foi diminuindo ao longo dos anos, uma tendência com cerca de 20 anos, e neste momento [o encerramento] era completamente previsível. Os reguladores, em algumas jurisdições, decidem encerrar o negócio, que foi o que aconteceu, ou salvar a operação, juntando uma tipologia de jogo altamente lucrativa a uma tipologia de jogo já moribunda. Mas penso que estas manipulações de salvamento não salvam nada. Em termos racionais o Governo fez a única coisa que era possível”, defendeu ao HM.

O docente universitário entende que “é uma parte da história [de Macau] que se apaga”, embora seja necessário encarar o assunto “de forma filosófica”. “Onde não há procura não há nada que se possa fazer. O sector do jogo é um pouco dinâmico e as preferências vão mudando, além de que surgiram as novas tecnologias. No caso das corridas de cães [no Canídromo] houve mesmo uma oposição frontal”, recordou.

Jorge Godinho deu o exemplo da Pelota Basca, que funcionava no casino Jai Alai, “que teve interesse nos primeiros anos e em que depois as pessoas se foram desinteressando”.

Com história

As apostas em corridas de cavalos começaram a realizar-se em Macau em 1842. Contudo, só em 1927, com a inauguração do Hipódromo no bairro da Areia Preta é que começaram a organizar-se corridas de maior dimensão, tendo a concessão sido entregue à empresa “Club Internacional de Recreio e Corridas de Macau, Limitada”.

Em 1989, a Sociedade de Turismo e Diversões de Macau passou a estar ligada às apostas em corridas de cavalos, “que sempre foram influenciadas pela tradição inglesa”, tendo de competir “ao lado das grandes corridas de cavalo como as de Hong Kong, uma das maiores operações de jogo do mundo”.

Na hora de rescindir o contrato, o secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, referiu que desde 2002 que o Macau Jockey Club, liderado pela deputada Angela Leong, registava perdas financeiras, não tendo conseguido encontrar “uma solução para a operação”, sobretudo durante os três anos da pandemia de covid-19, altura em que “as apostas desceram muito”, sublinhou.

De acordo com dados oficiais, citados pela Lusa, nos primeiros nove meses de 2023, as apostas em corridas de cavalos atingiram 32 milhões de patacas. Em 2019, antes do início da pandemia, as apostas fixaram-se em 98 milhões de patacas. O Macau Jockey Club detinha o monopólio das corridas de cavalos até Agosto de 2042, depois de se ter comprometido em 2018 a fazer investimentos até 3,4 mil milhões de patacas.

Que destino?

Estava previsto construir, até 2026, no extenso terreno concessionado à empresa no centro da Taipa, um projecto turístico com, pelo menos, dois hotéis, zonas verdes, áreas desportivas, restaurantes, lojas, um museu e uma escola de equitação. Agora, tudo cai por terra, questionando-se qual será o destino do terreno.

Jorge Godinho gostaria que o espaço fosse entregue à expansão do ensino superior.

“Trata-se de um espaço enorme, bem localizado, com bons transportes públicos. É possível fazer variadíssimas coisas e imagino que o destino do terreno não seja um só, criando-se um espaço com várias valências. Vejo ali um terreno para expandir o sector da educação, pois sem boas instalações não podem existir universidades, que precisam de um espaço que não seja completamente urbano. Poderá haver alguma componente turística. Deveria haver consultas públicas e debates” sobre o tema, apontou.

O advogado Carlos Coelho entende que “será muito interessante ver os futuros planos para este espaço prime no centro da Taipa”, que deveria ser usado “como espaço de lazer e recreativo para a população”.

“O nosso Governo estará a olhar para o que se passou muito recentemente em Singapura, quando o Governo da cidade-Estado decidiu terminar com as apostas em corridas de cavalos a partir deste ano. O propósito assumido foi o de desenvolver o terreno do hipódromo para finalidades habitacionais, incluindo de construção de habitação pública, estando a ser também considerados propósitos de lazer e recreacionais”, lembrou.

Desinteresse geral

Carlos Coelho considera que este é um “desfecho há muito antecipado e que faz sentido”, tendo em conta que “a operação das corridas de cavalos era deficitária há muito tempo, existindo um claro desinteresse do público nesta modalidade de apostas e uma concorrência muito feroz do Hong Kong Jockey Club”.

Carlos Coelho disse ainda ao HM que a própria concessionária parecia ter algum “desinteresse em reavivar esta operação”.

“O plano de investimentos extremamente ambicioso apresentado pela concessionária em 2018, quando foi renovada a concessão por mais 24 anos, implicava que determinados projectos imobiliários com uma escala relevante estivessem desenvolvidos a partir do final do presente ano, como a construção de bancadas públicas ou restaurantes, seguindo-se a construção de dois hotéis, dois blocos de apart-hotéis e campo de ténis até final de 2026.”

O advogado entende que “se a exploração comercial das corridas já era deficitária, o cumprimento de tais obrigações contratuais poderia colocar a concessionária numa situação líquida ainda mais difícil”, pelo que “a concessionária tomou a decisão comercial que lhe fazia mais sentido ao apresentar voluntariamente um pedido de rescisão do contrato de concessão”.

Aguenta os cavalos

Contactada pelo HM, Zoe Tang, presidente da ANIMA, considera ser importante dar agora atenção ao destino que será dado aos cavalos de corrida. “Estamos muito contentes [com a rescisão do contrato], pois segundo a ANIMA há muito tempo que não fazia sentido manter esta concessão. Foi uma boa decisão para a comunidade e para os cavalos, que estavam em condições muito más, sobretudo os cavalos reformados” das pistas.

Zoe Tang acredita que o próximo encerramento deve ser o do Matadouro de Macau, a funcionar na zona da Ilha Verde e “uma actividade sem sentido”, lembrando também o processo do fecho do Canídromo.

“O encerramento [do Macau Jockey Club] é obviamente mais adequado em relação ao tratamento dado aos galgos aquando do encerramento do Canídromo em 2018, pois há um ano para tratar dos processos de exportação dos cavalos. No entanto, estamos mais preocupados com o consenso que se irá gerar entre os donos dos animais e o Macau Jockey Club, sobretudo quanto ao risco de os cavalos reformados e feridos poderem ser eutanasiados.”

Zoe Tang questiona se um ano será suficiente para exportar 289 cavalos, que sempre foram tratados por veterinários profissionais que fazem uma avaliação regular de saúde aos animais. Cabe ao Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) dar uma segunda opinião no caso da morte de cavalos, existindo um protocolo que define a presença de veterinários da empresa e do IAM para a eutanásia destes animais.

“Acredito que os cavalos saudáveis não serão submetidos a eutanásia”, declarou Zoe Tang, que também chamou a atenção para a existência de centenas de gatos vadios no terreno do Jockey Club. Estes animais não são esterilizados, existindo o risco de reprodução.

“Tanto quanto sabemos, nos últimos anos os funcionários do Macau Jockey Club têm alimentado regularmente estes gatos vadios. A ANIMA irá contactá-los rapidamente para tentar ajudar a resolver os problemas relacionados com esta questão”, disse.

Segundo informações disponíveis no website da empresa, o Macau Jockey Club tem cerca de 800 empregados, mais de 300 pessoas a tempo parcial. O ano de corridas começa em Setembro e termina em Agosto, com duas corridas por semana.

Para Carlos Coelho, com o fim das corridas de cavalos e galgos, seria interessante se as autoridades “se focassem no apoio ao desenvolvimento das operações das restantes concessionárias que não aquelas de jogos de fortuna ou azar”. O causídico destaca os casos da Macau SLOT, que opera as lotarias desportivas, com “uma operação lucrativa e que emprega centenas de residentes”. A ideia é que “se mantenha alguma variedade nas modalidades de jogo oferecidas em Macau”.

Sugerido parque temático no terreno

Lei Chun Kwok, vice-presidente da Associação Económica de Macau, sugeriu a criação de um parque temático no terreno actualmente destinado ao Macau Jockey Club, que esta segunda-feira firmou a rescisão do contrato de concessão das apostas em corridas de cavalos com o Governo. O terreno será revertido para a Administração no dia 1 de Abril e, segundo o jornal Ou Mun, o dirigente da associação destaca o Plano Director para o território, que refere o terreno em causa como pertencendo à zona Taipa Central – 1, destinada a ser uma zona turística e de diversões. Tal significa que grande parte dos projectos a desenvolver na zona devem estar ligados às áreas do turismo, entretenimento e restauração.

Lei Chun Kwok entende que a edificação de um parque temático no terreno é a melhor opção tendo em conta que naquela zona da Taipa já existem muitas instalações desportivas, como o estádio ou uma piscina municipal. O vice-presidente da associação considera que o futuro parque temático pode ser mais um exemplo da presença lusófona em Macau e uma ponte cultural entre a China e o Ocidente.

17 Jan 2024

CONTEMPO | Primeira edição do festival japonês entre Fevereiro e Março

A primeira edição do CONTEMPO – Festival da Primavera do Japão de Macau decorre entre os dias 1 de Fevereiro e 30 de Março com diversas iniciativas culturais, que passam por uma aposta na música, arte e gastronomia. Apoiado pelas autoridades locais e de Quioto, e organizado por diversas empresas, este festival pretende criar uma nova dinâmica de intercâmbio cultural

 

Celebrar as várias valências da cultura japonesa em Macau é aquilo a que se propõe o CONTEMPO – Festival da Primavera do Japão de Macau, que terá a primeira edição a decorrer entre os dias 1 de Fevereiro e 30 de Março em vários locais e salas de espectáculos. A ideia, segundo um comunicado, é que este novo evento de cariz anual possa “combinar turismo e cultura para criar uma nova plataforma de intercâmbio cultural”.

O CONTEMPO é organizado pela empresa Silk Entertainment Limited e por diversas empresas locais, nomeadamente a Macau Beer ou a Air Macau, recebendo não só apoio da Direcção dos Serviços de Turismo e da Sands China como também das próprias autoridades da cidade de Quioto, no Japão. O Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM) está também envolvido no evento.

Pretende-se que este seja “um grande evento anual durante a época da Primavera”, celebrando “a uma escala sem precedentes o turismo e a cultura japonesa”, construindo-se, assim, “uma ponte cultural entre Macau e o Japão, mostrando ao mundo o rico património cultural, as tendências, a moda, a música, as artes culinárias e o património cultural” japonês.

O cartaz do CONTEMPO promete incluir “famosos grupos de ídolos japoneses, colecções únicas de arte contemporânea de galerias de renome e experiências gastronómicas”, revelando-se ainda “o cativante património cultural de Quioto”, cidade conhecida pelas tradicionais gueixas e pelas árvores em flor que desabrocham precisamente na Primavera.

Serão, assim, convidados vários representantes de “marcas japonesas bem conhecidas, bem como empresas, coleccionadores e investidores para virem a Macau”, existindo o objectivo de “atrair muitos turistas japoneses para experienciarem esta festa cultural”.

Música no Londoner

O programa do CONTEMPO arranca logo no dia 1 de Fevereiro com a cerimónia de abertura a ser marcada pelo espectáculo “CONTEMPO Volume 1”, com o grupo musical Takane No Nadeshiko, formado em Agosto de 2022 e que fez a sua estreia no Festival Toky Idol 2022. Durante todo o festival irá decorrer uma exposição com peças de arte contemporânea seleccionadas pela galeria UG5, apresentada na Sands Gallery.

Entre os dias 24 e 25 de Fevereiro, o grupo musical Karen Na Ivory irá actual no Londoner Theatre, seguindo-se uma experiência gastronómica no restaurante HIRO, no Venetian, comissariada pelo proprietário e chefe do Hyotei1, um restaurante em Quioto com mais de 400 anos de existência e detentor de estrelas Michelin.

Também no Venetian, acontece uma outra actividade entre os dias 15 e 30 de Março que mistura arte, moda, cultura e artes culinárias de Quioto, apresentando-se os mais característicos quimonos e a cultura muito própria das gueixas. Entre os dias 22 e 24 de Março decorre o evento “Art Japan @ Macao 2024” com a presença do embaixador da Agência de Turismo do Japão e diversas personalidades japonesas.

Finalmente, o cartaz encerra com o concerto “CONTEMPO Volume 2”, com dois espectáculos entre os dias 23 e 24 de Março no Venetian Theatre, novamente com os Takane No Nadeshiko, tendo em conta a “sua ascensão astronómica no Japão”, potenciada pela nova editora discográfica, a HMV/Victor Entertainment.

Citada pelo comunicado sobre o evento, Helena de Senna Fernandes, directora da Direcção dos Serviços de Turismo, considerou que o Japão “é um destino turístico popular em todo o mundo”, além de que o festival “irá atrair os residentes locais e os turistas que gostam da cultura japonesa”.

Tendo em conta que a DST pretende divulgar o turismo de Macau além-fronteiras, este festival “irá promover o intercâmbio e a compreensão mútua dos recursos turísticos do Japão e de Macau, o que poderá reforçar a publicidade e a promoção no futuro, fomentar o intercâmbio de fontes turísticas e optimizar a estrutura diversificada de visitantes”, rematou.

Adrian Ngan, co-presidente e director-executivo da Silk Entertainment, disse que o CONTEMPO foi criado “para unir a cultura cativante do Japão com o palco global de Macau, encantando os visitantes de todo o mundo”.

16 Jan 2024

Estudo | PIB recuperou 80 por cento face aos níveis de 2019

A Associação Económica de Macau acredita que o Produto Interno Bruto de 2023 já registou uma recuperação em cerca de 80 por cento para níveis pré-pandemia. As previsões falam num cenário de estabilidade económica para o primeiro trimestre deste ano

 

O mais recente Índice de Prosperidade da Associação Económica de Macau entende que o Produto Interno Bruto (PIB) relativo ao ano de 2023 já registou uma recuperação de cerca de 80 por cento para níveis pré-pandemia. Além disso, tendo em conta que Macau continua a ser o principal destino turístico para os visitantes do interior da China, a associação estima ainda que o primeiro trimestre deste ano será marcado por um cenário de estabilidade económica.

No Índice ontem divulgado, e tendo em conta cálculos preliminares, a associação apontou que o PIB do último trimestre de 2023 terá rondado as 98,9 mil milhões de patacas, um aumento de 88 por cento face ao último trimestre de 2022. Por sua vez, em comparação com o quarto trimestre de 2019, o PIB de 2023 terá atingido 87 por cento do PIB registado nesse período pré-pandemia.

Desta forma, a associação acredita que o PIB do ano passado seja de 350 mil milhões de patacas, mais 80 por cento em relação a 2022, e também cerca de 80 por cento do PIB registado em todo o ano de 2019.

Relativamente ao jogo, a associação destacou o facto de as receitas brutas do sector terem sido melhores em Dezembro face a Novembro, com cerca de 600 milhões de patacas de receitas brutas diárias, o que constituem números bastante positivos para o final de 2023.

Quanto ao sector turístico e hoteleiro, as previsões apontam para o facto de o mercado de consumo do interior da China, principal fonte de visitantes de Macau, bem como os investidores internacionais, não registar ainda sinais de estabilidade. As previsões recordam que o índice de confiança do consumidor no interior da China e os valores das acções das operadoras de jogo em bolsa estão ainda num nível baixo.

Tendo em conta este cenário, a associação atribuiu 6,1 pontos, de zero a dez, ao índice de prosperidade de Macau em Novembro, enquanto o índice de Dezembro ficou-se pelos 6,2 pontos, estando numa situação considerada “estável”.

A entidade considera ser possível que Macau continue a ser o destino principal de visitas para os turistas do interior da China este ano, prevendo que o Índice de Prosperidade no primeiro trimestre deste ano seja de 6,3 pontos em Janeiro, 6,4 para Fevereiro e ainda 6,5 pontos para Março, atingindo um nível de “estabilidade”.

Alerta mundial

As previsões da associação completam-se ainda com as influências da economia global, tendo em conta as “imensas incertezas que podem impedir a sua evolução”, nomeadamente o conflito israelo-palestiniano que tem levado ao aumento dos custos de transporte e dos preços.

Foi também referido o exemplo da Reserva Federal (FED) dos EUA que se tem mostrado prudente quanto à redução das taxas de juro, o que faz com que estas se mantenham mais tempo elevadas do que o previsto inicialmente. Segundo a associação, a FED poderá descer as suas taxas de juro apenas no segundo trimestre deste ano.

Mesmo com todas estas incertezas económicas a nível mundial, a associação entende que os dados económicos de Macau revelam um cenário de estabilidade e evolução positivas, sem esquecer que o Governo tem explorado os mercados internacionais de turistas e promovido a diversificação do sector.

16 Jan 2024

Junkets | Diploma sobre crédito é “prego no caixão” para sector

O advogado Rui Pinto Proença entende que o regime jurídico da concessão de crédito para jogos de fortuna ou azar em casino, em análise no hemiciclo, constitui “o último prego no caixão” para o sector dos junkets. O causídico participou ontem num debate na Fundação Rui Cunha sobre o primeiro ano das novas concessões de jogo

 

O novo regime jurídico da concessão de crédito para jogos de fortuna ou azar em casino, actualmente em análise pelos deputados da segunda comissão permanente da Assembleia Legislativa (AL), constitui “o último prego no caixão” para o sector os junkets em Macau. A ideia é defendida pelo advogado Rui Pinto Proença, que foi um dos oradores na conferência de ontem promovida pela Fundação Rui Cunha (FRC) a propósito do balanço do primeiro ano após a entrada em vigor das novas concessões de jogo às seis operadoras.

“A grande questão que se coloca relativamente à lei sobre o crédito ao jogo é saber se os junkets serão proibidos de conceder crédito ao jogo. Esta questão não constava da proposta de lei original apresentada à Assembleia, mas sabemos que está a ser considerada. Na minha opinião, este é o último prego no caixão da indústria de junkets, mas provavelmente não terá um grande impacto no que diz respeito às receitas dos operadores”, destacou.

O advogado destacou ainda, quanto aos diplomas em processo legislativo este ano, a lei do jogo ilegal, que não foi ainda admitida na AL. “O objectivo [do Governo] parece ser o de criminalizar certos tipos de actividades ou comportamentos associados ao desaparecimento dos junkets, como as apostas paralelas e a exploração de jogos em linha, bem como permitir que as forças policiais tenham poderes de investigação reforçados e impor sanções mais pesadas. A grande questão que se coloca é se a actividade de troca não autorizada de dinheiro por jogos de azar será criminalizada, tal como indicado pelo secretário da Segurança em Setembro do ano passado”, frisou.

Virar de página

Sobre o primeiro ano passado sobre as novas concessões, Rui Pinto Proença destacou que estão a ser atingidos “os objectivos de política pública que foram definidos”, percorrendo-se “o caminho em prol de uma indústria mais limpa e sustentável, o que contribui para a diversificação da economia”.

Além disso, relativamente à aplicação das disposições da nova lei e dos contratos, o advogado entende que tanto o Governo como as concessionárias “ainda estão a aprender e a encontrar um equilíbrio entre o que é a letra da lei e dos contratos, bem como a realidade da sua aplicação no dia a dia”.

Olhando para o passado da indústria, Rui Pedro Proença destaca que “podemos discordar da forma como as coisas foram feitas ou de algumas decisões tomadas, mas não podemos negar que agora o caminho é mais claro”.

“Todas as partes interessadas sabem qual a direcção que a indústria deve seguir e o quadro em que operam. Assim, o sector do jogo virou uma esquina, mas é apenas o começo”, rematou.

Sobre a vontade do Governo em diversificar as fontes de turistas além da China continental, o responsável pensa que está na hora de se apostar numa “estratégia de longo prazo” e que Macau tem de “competir na cena mundial com muitos outros destinos turísticos”.

“As operadoras já estão a investir recursos significativos para atrair jogadores de outros mercados, mas a concorrência é feroz. Acredito que aqui o Governo deveria fazer mais. Claro que há infra-estruturas, transportes ou vistos de trabalho, e tudo leva o seu tempo, exigindo-se alguns investimentos substanciais. Mas há também outras medidas que o Governo poderia facilmente adoptar e que apenas requerem papel e caneta”, concluiu.

A conferência na FRC, moderada pelo jornalista José Carlos Matias e também promovida pela revista Macau Business, contou com as participações de Davis Fong, ex-deputado e académico especialista em jogo, o analista Niall Murray e o economista José I. Duarte.

16 Jan 2024

SSM | Alertas de pico de gripe e aumento de casos de covid-19

Os Serviços de Saúde de Macau alertam que Macau já está a enfrentar um pico de gripe, estando ainda previsto um aumento do número de casos. Além disso, as ocorrências de covid-19 registam também uma tendência de subida

 

Um comunicado dos Serviços de Saúde de Macau (SSM) emitido na sexta-feira dá conta de que o território está a enfrentar um pico de gripe, registando-se uma tendência de aumento do número de casos. Os SSM referiram o exemplo da primeira semana do ano, quando se registou um aumento do número de doentes com sintomas de gripe que se dirigiram às urgências, cuja proporção foi de cerca de 12,5 pessoas, em média, por cada 100 doentes, enquanto na urgência pediátrica esse número foi de 37,7 utentes por cada 100 crianças.

Os SSM dão conta de que estes dados são mais altos do que os números registados habitualmente fora dos picos de gripe, “estes dados são mais altos do que os números registados habitualmente fora dos picos de gripe, representando mais oito por cento face ao mês de Dezembro do ano passado e mais 33 por cento em relação à semana passada”.

De frisar que, segundo as autoridades de saúde, o vírus A H3N2 representa a maioria dos casos de gripe, com 73,4 por cento, enquanto os restantes casos dizem respeito ao vírus influenza B, com 25,2 por cento, enquanto o vírus influenza A H1N1 constitui apenas 1,4 por cento das ocorrências.

Desde o início de Janeiro, já ocorreram em Macau 43 casos de infecções colectivas de gripe em jardins de infância e escolas, envolvendo 360 pessoas, sendo que 22 dos casos foram provocados pela infecção com o vírus influenza A, seis causados pelo vírus influenza B, quatro causados por adenovírus e apenas um caso de covid-19. Os restantes dez casos tiveram resultados negativos ou estão ainda a ser analisados. Ocorreram ainda oito casos de doença grave gerada pela gripe, em que apenas três pessoas estavam vacinadas.

Covid a subir

Relativamente à covid-19, os SSM alertaram também para a tendência de aumento do número de casos, passando a taxa de detecção positiva da doença de zero para 11 por cento na última semana. A variante XBB do vírus que gera a covid-19 ocupou 69 por cento dos casos, enquanto a variante BA.2.86 representou 31 por cento. Já a variante JN.1, significou 13 por cento dos casos detectados pelas autoridades em Dezembro.

Os SSM voltam a fazer um apelo à vacinação, sobretudo da parte de doentes de alto risco, idosos, mulheres grávidas ou já com doenças crónicas. Entre 2023 e as primeiras semanas de Janeiro, foram administradas cerca de 161 mil vacinas da gripe, enquanto a taxa de vacinação nos lares ultrapassou os 90 por cento.

Já a taxa de vacinação de crianças e jovens, também foi de cerca de 80 por cento, enquanto a taxa de vacinação de idosos com mais de 65 anos ou de crianças com menos de três anos atingiu os 50 por cento.

Os SSM oferecem a vacina monovalente de mRNA contra a variante XBB da covid-19 aos indivíduos com idade igual ou superior a 12 anos, destacando ainda que esta vacina tem mais efeitos preventivos contra as diversas variantes da covid, sobretudo quando existe o risco de ocorrer doença com sintomas graves que podem levar à morte.

15 Jan 2024

Centro Histórico | Concluída análise do Plano de Salvaguarda e Gestão

Está concluída, da parte do Conselho Executivo, a análise ao Plano de Salvaguarda e Gestão do Centro Histórico de Macau, proposto pelo Governo, após a realização de duas consultas públicas em 2014 e 2018.

A proposta de regulamento administrativo define o território por fases consoante o seu património e zonas históricas, propondo-se 11 corredores visuais, 19 “ruas pitorescas” e ainda 24 “zonas de tecido urbano”, sendo ainda definidos os princípios orientadores para a preservação das características destes locais.

São também estabelecidas “condições restritivas de construção” tendo em conta o valor cultural de cada edifício, bem como os “critérios para o restauro arquitectónico”, que abrangem 22 edifícios históricos que fazem parte do Centro Histórico de Macau. No regulamento, determinam-se ainda medidas de salvaguarda e gestão relativas à “avaliação dos impactos sobre o património” e “sustentabilidade”.

No âmbito de “outras medidas”, definem-se 11 aspectos relacionados com a gestão do Centro Histórico para uso corrente, equipamentos municipais, arborização ou sistema de transportes. O regulamento administrativo vai ter de ser votado no hemiciclo para entrar em vigor a 1 de Junho deste ano.

15 Jan 2024

Corredor pedonal do NAPE | Associação Geral de Mulheres apresenta sugestões

Chu Oi Lei, dirigente da Associação Geral das Mulheres de Macau, entende que o desenvolvimento da segunda fase do corredor pedonal na zona marginal do NAPE poderá ser uma obra benéfica para turistas e residentes. A responsável entende que o projecto em causa vai também desempenhar um papel importante no desenvolvimento da indústria integrada de turismo e lazer, e espera que as autoridades possam incorporar no plano mais elementos relacionados com a água e criar diferentes ofertas recreativas para diferentes idades, a pensar nas famílias, nomeadamente pontos de observação da zona costeira, por exemplo.

O comunicado da Associação Geral das Mulheres aponta ainda para a necessidade de se criarem mais espaços abertos e zonas de recreio para os mais novos e respectivas famílias, além de pedir mais paragens de autocarros no local e a melhoria dos acessos para a zona pedonal.

Chu Oi Lei pede ainda que sejam criados mais espaços subterrâneos para o estacionamento de viaturas e que haja uma maior interconexão com outras infra-estruturas de transportes, nomeadamente o Centro Modal de Transportes da Barra e o metro ligeiro.

15 Jan 2024

Magnus Wennman, fotojornalista: A verdade numa imagem

Natural da Suécia, Magnus Wennman é fotojornalista, com uma carreira iniciada aos 17 anos no jornal sueco DalaDemokraten. Ao HM, à margem da última edição do festival de fotografia português Êxodus, em Aveiro, Magnus falou das imagens que fez sobre o despejo de roupas da H&M em países pobres, com um enorme impacto ambiental, ou do projecto “Where The Children Sleep”, que expõe um lado emotivo da guerra

 

Porque decidiu tornar-se fotógrafo, focando-se em contar este tipo de histórias através da imagem?

Tenho duas respostas para estas perguntas. Tornei-me fotógrafo quando era muito jovem, e nunca tive de pensar muito sobre aquilo que queria ser quando crescesse porque decidi muito cedi que queria tornar-me fotógrafo. Não sei porque gostava tanto de desenhar e de arte quando era mais novo, e descobri a câmara quando tinha cerca de 16 ou 17 anos. Simplesmente meti na cabeça que queria ser fotógrafo e fotojornalista. Essa é basicamente a minha história e comecei a trabalhar pouco tempo depois de ter terminado a escola secundária. Comecei literalmente a trabalhar no dia seguinte a terminar a escola, num jornal local do local de onde sou.

Então nunca foi para a universidade ou fez um curso de fotografia?

Nunca fui para a universidade, pode-se dizer que sou um auto-didacta. Estava muito apaixonado por esta área, e gastei grande parte do meu tempo a tentar aprender a melhor maneira de contar histórias e tirar fotografias.

Aprendeu tudo o que sabe na redacção.

Sim, no jornal da minha cidade, com todos os fotógrafos que lá trabalhavam. Tenho 44 anos e quando comecei era um tempo diferente para os jornais, pois havia muitos fotógrafos na equipa, em que se usava a máquina analógica. Era um tempo diferente, um trabalho diferente, talvez mais técnico do que é hoje. Mesmo que eu nunca me tenha interessado muito pela técnica, era de facto um trabalho mais árduo do ponto de vista técnico do que é hoje. Comecei a trabalhar na área do desporto e ao longo de dez anos fotografei muito essa área. Os tempos mudaram, envelheci, e o fotojornalismo desportivo já não era a mesma coisa.

Deixou de ser desafiante?

Sim, pode-se dizer isso. Foi nessa altura que comecei a focar-me mais nas questões sociais, em projectos de longo prazo. Passaram a enviar-me para trabalhos cada vez maiores, tal como conflitos e problemáticas a nível mundial.

Fale-me sobre o projecto fotográfico que fez no Gana, após ter descoberto que a marca de roupa H&M colocava roupa no lixo enviada para África.

Tudo começou com uma reportagem no jornal. O repórter com quem trabalhei recebeu uma queixa anónima sobre o facto de as roupas recolhidas pela H&M nas lojas da marca terminarem em terrenos de vários países como depósito de lixo, e isso tornava-se num enorme desastre natural. Não acreditámos dada a imagem que a marca tem, e a ideia que era transmitida era de que a marca se preocupa com a produção de roupa, sabendo que esse é um grande problema para a indústria da moda. Muitas pessoas usam uma peça de roupa sete vezes e depois põe-na de lado. Então a marca desenvolveu esta iniciativa de recolher roupas que já não são usadas pelos seus clientes nas lojas, prometendo que iriam reciclá-las de uma forma ecológica. A queixa que recebemos indicou-nos que isso não era verdade.

Como começaram então a investigar?

Colocámos etiquetas de ar em dez peças de vestuário que comprámos e devolvemo-las às lojas H&M em Estocolmo, para que pudéssemos acompanhar o seu destino. Percebemos que essas roupas são vendidas a outras empresas que as coleccionam e seleccionam, sendo que parte fica na Europa e outra parte simplesmente desaparece, aparecendo meses depois em países como África do Sul, Benim ou Índia. Quando olhamos para muitos dos países onde estas roupas acabam depositadas, percebemos que existem muitos problemas.

Pode dar exemplos?

No caso do Benim é um país com imensos problemas [sociais e económicos], onde são compradas toneladas de roupa que depois são vendidas às pessoas nas ruas. Mas apenas se consegue vender ou usar cerca de 50 por cento da roupa que é enviada, e a restante simplesmente fica junto às praias ou em terrenos vazios, em lixeiras. Pudemos comprovar isso mesmo quando nos deslocámos a estes lugares. Vimos que as roupas que a H&M recolhe nas lojas acaba em lixeiras de vários países, tornando-se num problema ambiental enorme.

Quais as consequências deste projecto, qual foi a reacção da marca?

A publicação da reportagem gerou, de facto, algum debate. Todos falaram desse assunto durante um tempo e tornou-se algo em grande. A H&M não mostrou muita disponibilidade para falar sobre o assunto, tendo tentado, claro, proteger a marca. Consigo compreender a sua frustração porque estavam a fazer algo que consideravam bom. O problema maior é que não se trata apenas da H&M, mas sim de toda a indústria da moda produzida muito rapidamente. De certeza que há muitas marcas e lojas que têm um comportamento pior do que a H&M. Acontece que nós trabalhamos na Suécia e a H&M é uma das maiores empresas de moda do mundo, tendo a responsabilidade de garantir que as roupas terminam num bom lugar ou são tratadas da forma mais ecológica possível.

Quanto tempo demorou até concluírem este projecto?

Viajámos muito e é preciso referir que fomos dois a trabalhar nisto, eu e o jornalista, que tem uma mente brilhante. Sem dúvida que não fui só eu. Ele adorou acompanhar esta história, percorrendo todos os detalhes, e eu pude contar com a sua experiência. Primeiro viajámos até ao Benim e depois fomos ao Gana, que é ainda um país pior onde se pode despejar roupas que já não são usadas.

Pior em que sentido?

Não viajámos assim tanto para este projecto, apenas fomos até Benim e ao Gana porque vimos que foram os locais para onde foram enviadas as roupas que nós depositámos. Mas o Gana é famoso por isso, é um país onde a situação do despejo de roupa é muito má. Quando lá chegámos, percebemos que o cenário era muito pior do que aquele de que estávamos à espera, destruindo zonas costeiras e a indústria pesqueira. É algo que tem enormes consequências para o ambiente.

Como é o dia-a-dia das pessoas que vivem esta situação?

Afecta a população porque há demasiadas roupas a chegar, e estas pessoas não conseguem usar todas as toneladas de roupa que chegam ao país com frequência, é pura e simplesmente impossível. Como não têm infra-estruturas para fazer a gestão das roupas que chegam, estas vão parar a rios, oceanos, nas zonas costeiras, tornando-se um problema social. Há lixo nas ruas, enormes mercados onde vendem as roupas, e todas as semanas se compra um fardo, tipo com 500 peças de roupa, e não se sabe o que vai lá dentro, que tipo de peças contém. Abre-se o fardo e pode, por exemplo, só ter roupa de criança, e grande parte das peças de roupa não servirem, e metade da roupa não pode ser vendida. As roupas que não são vendidas não se conseguem armazenar, então são deitadas fora, e as autoridades não conseguem fazer nada quanto a isso. São mesmo muitas quantidades de roupa, tornando-se um enorme problema para eles. Não existem recursos para lidar com isso. É todo um sistema, não é um problema de uma só pessoa.

Reduzir o consumo de roupa nova é uma das soluções.

Sim, cada um de nós tem responsabilidade em relação à indústria da moda e ao consumo. Trabalhei na área do jornalismo ambiental muitos anos, de diferentes formas, e sei que esta é uma área com a qual as pessoas se preocupam, porque se sentem culpadas. Eu, você, é todo um sistema. O nosso trabalho coloca o dedo na ferida em relação a um problema que não percebemos que existe. Não é sustentável continuar a comprar novas roupas que vestimos apenas uma vez ou duas, e que são muito baratas. Claro que toda a indústria da moda reconhece isso, mas acabam por encontrar novas formas de nos fazer comprar roupa.

Outro projecto que desenvolveu foi “Where The Children Sleep”. O que aprendeu com esta experiência?

Tudo aconteceu durante a guerra na Síria e durou cerca de cinco anos. No jornal questionávamo-nos porque é que as pessoas na Suécia não estavam a prestar a devida atenção a este conflito, porque não havia muitas coisas escritas sobre ele. Tratava-se de um conflito muito difícil de compreender. Quem eram os maus da fita? Não sabíamos muito bem. Na Suécia era de facto difícil termos pessoas preocupadas com o conflito. Decidimos então ir para os países vizinhos da Síria e contar a história da guerra através do olhar das crianças, porque são as mais vulneráveis, as que mais sofrem com o conflito, independentemente de quem são os maus ou os bons da fita. Na altura, o meu filho de cinco anos tinha muitos pesadelos e vinha frequentemente para a nossa cama. No jornal discutíamos a melhor forma de fazer este projecto, e pensei como é que as crianças poderiam escapar da guerra, onde dormiam, se é que dormiam. Quais seriam os seus sonhos. Essa ideia começou a surgir na minha cabeça e pensei em fotografar os sítios onde as crianças dormiam. O primeiro país onde fomos foi o Líbano.

Antes da explosão que destruiu parte de Beirute?

Sim. Parámos o táxi e começámos a falar com as famílias enquanto as crianças dormiam, e foi aí que tirei as primeiras fotografias. Aí é que percebi que poderia ser um projecto bastante interessante, e comecei a procurar crianças a dormir em vários locais, tentando diferentes foto-reportagens, histórias diferentes, passei a ter a minha própria agenda. Trabalhei nessa história seis ou sete meses, e depois a situação dos refugiados explodiu na Europa, em meados de 2015, e muitas pessoas queriam ir para a Alemanha, a Suécia e diferentes países no norte da Europa. De repente todos se preocupavam, porque passava também a ser um problema nosso, as pessoas queriam entrar no nosso país. Foi quando comecei a ter um poderoso corpo de trabalho com cerca de 30 crianças a dormir em vários locais na Europa. Obtivemos com “Where The Children Sleep” reacções bastante extremas. Quando vemos imagens de refugiados a escapar nas fronteiras, não nos relacionamos com elas, mas se virmos uma criança a dormir numa floresta, todos se relacionam com a situação ou têm sentimentos sobre ela. Da minha parte nunca me preocupei em estar na linha da frente, fotografar bombardeamentos, por exemplo. O desafio, para mim, era encontrar formas de os nossos leitores compreenderem o que se estava a passar. É mais poderoso encontrar alguém num determinado ambiente do que ver o desastre como um todo.

12 Jan 2024

Livro | Publicação relata propaganda do Estado Novo em Macau através do cinema

“Vento Leste – ‘Lusoorientalismo (s)’ nos filmes da ditadura” é o novo livro da académica Maria do Carmo Piçarra sobre a utilização do cinema pelo Estado Novo para propaganda nos antigos territórios ultramarinos a Oriente, nomeadamente a Índia portuguesa, Timor e Macau. Eis a história dos primeiros filmes que ilustravam o lado bom de Macau, face às películas internacionais que retratavam a região como uma terra de jogo, ópio e sexo

 

Acaba de ser editado em Portugal, com a chancela da Tinta da China, o livro “Vento Leste – ‘Lusoorientalismo (s)’ nos filmes da ditadura”, da autoria de Maria do Carmo Piçarra, que aborda a propaganda do regime do Estado Novo em Portugal, que vigorou entre 1933 e 1974, feita através do cinema nas antigas colónias portuguesas a Oriente, nomeadamente a Índia portuguesa (Goa, Damão e Diu), Macau e Timor.

Maria do Carmo Piçarra, estudiosa da história do cinema português, já com trabalhos publicados sobre o cinema usado como máquina de propaganda, relata nesta obra o caso concreto de Macau, tida como “uma cidade aberta ao cinema”, com “escassez e reactividade”. Revelam-se exemplos da produção portuguesa de filmes no território com maior ênfase a partir dos anos 50 e da preocupação do regime de Salazar em promover uma imagem de Macau “luso-tropical” em contraste com a “imagem do ‘inferno do jogo'” tão espelhada em filmes internacionais feitos à época, como Macao, realizado em 1952 por Josef von Sternberg.

Macau nunca foi uma terra de grande produção cinematográfica, ao contrário de Hong Kong. Mas desde cedo que se revelou como um território de exibições cinematográficas, tendo 12 salas de cinema, um número bastante elevado se considerarmos que Díli, por exemplo, tinha apenas uma.

“A produção de cinema no território é muito tardia e só acontece na década de 20 do século XX com Antunes Amor, que vai trabalhar para Macau no ensino e que chega a ser contemporâneo de Camilo Pessanha. Ainda na década de 20 há uma tentativa da parte da família de Tancredo Borges de produzir cinema e de registar a actualidade da cidade, mas acabou por não conseguir manter o exclusivo da produção cinematográfica que, a dada altura, tiveram”, conta Maria do Carmo Piçarra ao HM.

Depois dessas primeiras produções, dá-se um interregno sem produções cinematográficas em Macau até à década de 50. O fim da II Guerra Mundial, em 1945, e o surgimento do debate mundial sobre o colonialismo e a descolonização, numa altura em que Salazar tentava a todo o custo manter o império ultramarino português (com a Guerra Colonial a começar em 1961), obrigam o regime fascista português a repensar a sua propaganda. É então que se começa a recorrer ao cinema para contar o lado bom das colónias portuguesas a Oriente.

“Até à década de 50 não há registos de produção portuguesa de cinema, mas isso muda por causa da emergência da República Popular da China, e também porque são exibidos filmes internacionais em que Macau é projectada de uma maneira negativa, como uma cidade de jogo, de prostituição, de consumo de ópio, em que os funcionários portugueses eram preguiçosos”, adianta a académica.

O surgimento da China comunista traz “alguma tensão” relativamente a Macau, que era administrada por portugueses, mas Portugal não reconhecia o novo regime de Mao Tsé-tung, não mantendo relações diplomáticas com o país.

“Procurava-se mostrar que não havia problemas semelhantes aos que poderiam estar a acontecer na China comunista. Portugal vai conseguindo esgrimir a sua posição muito por causa disso. À China interessava ter Macau e Hong Kong como locais para exportar produtos chineses e para o Ocidente a existência desses territórios era importante, pois servia para manter a proximidade ao comunismo, que via com alguma desconfiança.”

Além disso, “relativamente a Timor, a independência da Indonésia dita que haja algumas subelevações, que não eram conhecidas na metrópole [em Portugal], e dá-se ainda, em 1961, a perda da Índia portuguesa. Isso faz com que o regime tenha de estar mais atento às colónias a Oriente e, progressivamente, passe a usar o cinema para mostrar essas colónias e afirmar a sua portugalidade”.

Maria do Carmo Piçarra descreve estes filmes de cariz mais documental como sendo “muito diferentes entre si, com uma narração que esbate essas diferenças”. “É curioso que há sempre essa imagem de cada colónia é sempre a província mais portuguesa do Oriente. Em relação a Macau não se diz tanto isso, mas em relação à Índia portuguesa e Timor diz-se sempre.”

O investimento de Pedro Lobo

Além dos filmes que relatam o lado de Macau onde o jogo, prostituição e consumo de ópio não aparecem, o regime de António de Oliveira Salazar preocupa-se em fazer filmes “científicos” com um foco sobretudo económico. A Agência Geral do Ultramar encomendava e financiava os filmes, mas na maioria houve poucos apoios financeiros das entidades locais.

O livro relata ainda que, no período do movimento “1,2,3”, a expressão da Revolução Cultural em Macau, que durou de Dezembro de 1966 aos primeiros meses de 1967, o motim nunca foi revelado em nenhum filme de propaganda portuguesa.

Uma das primeiras produções do Estado Novo sobre Macau data do início da década de 50 e é da autoria de Ricardo Malheiro, que acompanha o então ministro das Colónias, Sarmento Rodrigues, numa viagem ao Oriente português, devidamente documentada em filme.

Relata-se ainda no livro de Maria do Carmo Piçarra o caso do investimento feito em cinema por Pedro José Lobo, importante empresário e político de Macau, que presidiu ao Leal Senado e que chefiou os Serviços de Economia e Estatística Geral de Macau”. Pedro José Lobo fazia também composições musicais nas horas vagas, tendo estado ligado à criação da rádio Vila Verde.

Esta personalidade contratou o realizador Miguel Spiegel para fazer filmes sobre Macau, passando este a ser “o realizador radicado em Portugal que mais filmou o Oriente português”.

Maria do Carmo Piçarra descreve um dos filmes por si realizado, graças à encomenda de Pedro José Lobo, intitulado “Os Pescadores de Macau”, exibido na oitava edição do Festival de Cinema de Berlim.

“Existem várias versões desse filme, uma delas com composição musical de Pedro Lobo, tendo uma narração típica da propaganda portuguesa. Mostra uma outra Macau, com as pessoas que viviam às centenas em juncos e em barcos”, recorda a autora.

Projecção e imagem

Após concluir o doutoramento, também na área da história do cinema, Maria do Carmo Piçarra compreendeu que em Portugal “não se dava importância à relação com o chamado ‘Oriente Português'”, sendo esta uma designação criada a partir do século XIX para designar os territórios que, no século XX, se limitavam a Goa, Damão, Diu, Macau e Timor.

Assim, este livro “apresenta vários estudos relativos a cada um destes casos que são novos”, sendo influenciado pelo estudo anterior da autora, de como o Estado Novo usou o cinema para se representar e projectar.

De destacar que, logo a partir de 1933, e apesar do país estar a atravessar uma crise financeira, “a preocupação é mandar equipas para filmarem as colónias portuguesas para, de algum modo, projectar o regime português”. Depois, quando o cinema passa gradualmente de mudo para sonoro, começam a ser feitos novos filmes, com novas equipas enviadas para os territórios ultramarinos. “Depois da II Guerra Mundial houve um novo esforço para fazer documentários com um foco sobretudo económico”, conclui Maria do Carmo Piçarra.

11 Jan 2024

Ella Lei pede maior frequência do autocarro 21A

A deputada Ella Lei interpelou o Governo quanto à necessidade de aumentar a frequência do autocarro 21A por ser o único com ligação directa entre a península e a vila de Ka-Hó, em Coloane. A deputada ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) destaca que a pequena povoação tem tido mais pontos turísticos de interesse nos últimos anos, além de ser necessário facilitar as deslocações da população aí residente.

“Actualmente, existe apenas uma carreira de autocarros entre a península de Macau e o Terminal de Combustíveis do Porto de Ká-Hó, com paragens em instalações de serviços sociais e locais de interesse turístico e paisagístico. Contudo, é necessário percorrer 37 paragens de autocarro, com a viagem de regresso [a Macau] a ter 39 paragens, o que faz do 21A o autocarro com maior número de paragens do território. É também a segunda carreira de autocarros mais longa.”

Baixas frequências

Além de ser uma carreira com muitas paragens, “cobrindo metade do território de Macau”, a deputada Ella Lei indica que a frequência dos autocarros “é relativamente baixa”, tendo em conta que o volume de passageiros “é muito elevado, transportando muitos turistas para a zona do Cotai ou a praia de Hac-Sá”.

Segundo a deputada, o incómodo torna-se maior para os residentes que desejam visitar os seus familiares ao cuidado de instalações sociais na zona de Ka-Hó ou Coloane, visto que “os autocarros estão muitas vezes cheios e é difícil entrar neles”. “Caso haja congestionamento de trânsito em horas de ponta, uma viagem de ida e volta demora quase três horas”, sendo que muitos residentes optam por se deslocar à vila de carro, “devido aos inconvenientes causados pelos transportes públicos”.

Neste sentido, Ella Lei questiona “as propostas concretas que o Governo tem para melhorar as condições dos transportes públicos para as deslocações às instalações de serviços sociais de Ka-Hó”.

A deputada fala ainda da experiência do autocarro temporário 21AS, que passava no túnel de Ka-Hó, pedindo ao Governo para “incentivar as concessionárias de autocarros a criarem mais carreiras da península para o Terminal de Combustíveis do Porto de Ká-Hó através do túnel de Ka-Hó”. Ella Lei exige ainda um aumento do número de lugares de estacionamento nesta zona.

11 Jan 2024

Trânsito | Exigidas indemnizações por estradas más

O deputado José Pereira Coutinho defende que os condutores deveriam ser indemnizados pelo Instituto para os Assuntos Municipais sempre que sofram acidentes ou danos nas viaturas devido aos problemas na pavimentação de estradas e no desnivelamento das tampas de esgoto

 

“Macau é agora um grande estaleiro” é o título da mais recente interpelação escrita do deputado José Pereira Coutinho que pede o pagamento de indemnizações aos condutores que sofram estragos nas viaturas ou acidentes devido à má qualidade das estradas no território.

Na interpelação dirigida ao Executivo, o deputado pede que “motoristas e pedestres que sofrem prejuízos com a existência de buracos ou irregularidades nos pavimentos das vias públicas deveriam ser indemnizados pelos serviços competentes após apresentação de queixas junto do Instituto para os Assuntos Municipais”, tendo em conta que “a maior parte das ruas têm problemas no asfalto e estão muito desniveladas, o que causa solavancos nas viaturas que passam no local, constituindo, assim, um perigo diário para motociclistas e condutores de automóveis”, à excepção do troço do Circuito da Guia, denota.

Segundo o deputado, “o colapso dos asfaltos das estradas agrava-se com as chuvas devido à má qualidade dos materiais, e basta uma chuvada para que surjam buracos, o que causa enormes transtornos no trânsito”, sendo que os estragos nas viaturas passam por “danos à suspensão, rodas e pneus, podendo gerar colisões e ferimentos graves”.

Chuva de queixas

Pereira Coutinho descreve ainda que no seu gabinete de atendimento aos cidadãos são comuns “reclamações de motoristas e condutores que são forçados a desviar as viaturas de vários buracos e tampas de esgoto que estão desniveladas”.

Neste contexto, torna-se “importante e necessário reforçar a inspecção do processo de pavimentação e de manutenção [das vias públicas], que neste momento é um descalabro, pois existem tampas de esgoto quebradas durante meses sem que ninguém se interesse pelo assunto”.

Na interpelação, é pedido que as autoridades verifiquem “o nivelamento das tampas de esgoto aquando da pavimentação das ruas”, devendo ser garantida a “avaliação e testagem durante o processo de pavimentação [das ruas], nomeadamente quanto à composição da massa asfáltica utilizada, índices de compactação do asfalto, a espessura e a densidade das camadas pavimentadas, bem como os tipos de qualidade dos materiais usados”.

Tendo em conta o aumento do número de visitantes nos últimos meses, José Pereira Coutinho ressalva que “tem aumentado o número de turistas que ficam espantados com a quantidade de escavações nas ruas e a presença de numerosos separadores de plástico, de cor branca e alaranjada, colocados para durar uma eternidade”. É apontado o exemplo dos separadores colocados na Avenida da Amizade e no Porto Interior, bem como nas zonas periféricas, “dando a imagem da cidade como se esta tivesse sido bombardeada”, remata o deputado e presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau.

11 Jan 2024

Cinemateca Paixão | Novo ano traz último filme de Wim Wenders

Com a primeira exibição a acontecer hoje, às 19h30, a Cinemateca Paixão traz ao público de Macau o novo filme do realizador alemão Wim Wenders. “Dias Perfeitos”, realizado no Japão e já aclamado pela crítica, faz parte do cartaz “Encantos de Janeiro”, que inclui ainda “May December”, com Natalie Portman e Julianne Moore

 

“Perfect Day”, de Lou Reed, é uma daquelas músicas que apetece ouvir vezes sem conta. É ela que dá o mote à banda sonora do novo filme de Wim Wenders, “Dias Perfeitos”, exibido hoje na Cinemateca Paixão às 19h30, e também este sábado às 19h.

O novo filme de Wim Wenders marca o regresso do realizador ao país depois de ter produzido, há cerca de 40 anos, o documentário de homenagem a Yausjiro Ozu. Esta é uma história que fala da beleza das coisas simples, contando com a participação do conhecido actor Koji Yakusho, que já participou em filmes como “Babel”, de Alejandro González Iñárritu, e que, com este papel, ganhou o prémio de Melhor Actor no Festival Internacional de Cinema de Cannes.

“Dias Perfeitos” gira em torno da vida de Hirayama, personagem de Koji Yakusho, um empregado de limpeza em casas de banho públicas que leva uma vida tranquila pautada pelo trabalho, apesar de sujo, e pelo desfrutar da sua colecção de música e livros. O filme leva-nos a descobrir as escolhas de vida deste japonês e as suas razões de ser.

O novo filme de Wim Wenders, autor de outros grandes filmes premiados, como “Paris, Texas”, integra o cartaz de Janeiro da Cinemateca Paixão, intitulado “Encantos de Janeiro”. Já com uma nova empresa gestora, o espaço dedicado aos amantes do cinema independente e de autor apresenta ainda um outro filme aclamado a nível internacional: “May December”, com as actrizes Natalie Portman e Julianne Moore.

Este filme retrata a história verídica de uma professora, Mary Kay Letourneau que, nos EUA, se apaixonou pelo seu aluno menor de idade, com apenas 13 anos, tendo com ele tido filhos e uma relação longa, não sem antes ser condenada pelas autoridades por envolvimento sexual com um menor. Este filme será exibido este sábado às 21h30 e na quinta-feira dia 18 às 19h30.

Outras histórias

“Anatomy of a Fall” é mais um dos filmes integrantes de “Encantos de Janeiro”, sendo exibido amanhã pela primeira vez às 19h30, repetindo no domingo às 21h e sábado, dia 20, às 18h30. Este filme da realizadora Justine Triet, venceu a Palma de Ouro do Festival de Cinema de Cannes no ano passado e conta a história de Sandra, uma escritora alemã, e do seu marido francês Samuel, que, juntamente com o seu filho Daniel de 11 anos, vivem numa cidade remota nos Alpes franceses. A morte de Samuel e o facto de Sandra ser considerada a principal suspeita do crime dá início a um processo de redescoberta sobre a relação que ambos mantinham.

“Evil Does Not Exist” é ainda outro dos filmem em cartaz em que o ideário japonês marca presença. Vencedor do Grande Prémio do Júri no Festival de Cinema de Veneza no ano passado, a película de Ryusuke Hamaguchi conta a história de Takumi e a sua filha Hana, que vivem na aldeia de Mizubiki, perto de Tóquio, numa vida semelhante à de gerações anteriores, marcada pela modéstia, com ligação à natureza. Até que a ideia de edificar um projecto na aldeia muda para sempre a sua vida, pois põe em causa a preservação ambiental do local.

A primeira exibição de “Evil Does Not Exist” acontece esta sexta-feira às 21h30, seguindo-se exibições no domingo, quinta-feira, 18, quarta-feira, 24, e domingo, 28. A versão restaurada de “Cidade de Deus”, filme brasileiro de 2002, é exibida pela primeira vez na próxima quarta-feira, dia 17, e depois no sábado, dia 20.

O trabalho de Fernando Meirelles e Kátia Lund, que mudou a política de segurança pública no Brasil, esteve nomeado para vários Óscares da Academia e para um Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro no ano de estreia. Com este filme, o público pode conhecer de perto o perigoso mundo das favelas do Rio de Janeiro através da favela, ou bairro de lata, chamado “Cidade de Deus”, que foi crescendo a partir dos anos 60.

Do Vietname, chega-nos “Inside the Yellow Cocoon Shell”, cuja primeira exibição acontece no dia 23 de Janeiro. Este trabalho do realizador Thien An Pham explora o momento da morte da cunhada de Thien, que morreu num estranho acidente de mota em Saigão. Thien tem de levar o corpo da familiar, bem como o seu filho de cinco anos, Dao, sobrevivente do acidente, para a sua cidade natal no campo.

Thien começa a procurar o seu irmão mais velho, que desapareceu há anos, para lhe entregar Dao. Na estrada, Thien tem uma série de sonhos sublimes e encontros fascinantes que reacendem memórias reprimidas e desejos proibidos. No labirinto dessas buscas fantasmas, Thien luta com sua própria crise existencial sobre o que vale a pena viver. Este filme volta a ser exibido nos dias 27 e 31 de Janeiro.

10 Jan 2024

TNR | Viver em casa dos patrões depende de vários factores

Um estudo académico conclui que a decisão das empregadas domésticas filipinas de viverem com ou sem os patrões depende de vários factores, relacionados com as suas necessidades pessoais ao longo do tempo. Os “constrangimentos económicos e desequilíbrios de poder no ambiente de trabalho” afectam a decisão destas mulheres

 

Não há um padrão estático sobre as razões pelas quais as empregadas domésticas filipinas optam por viver com ou sem os patrões, existindo vários factores relacionados com as suas necessidades pessoais. Esta é a principal conclusão do estudo “(Re)fazer a escolha entre viver em casa ou viver fora: a experiência vivida pelas trabalhadoras domésticas migrantes filipinas em Macau” [(Re)making live-in or live-out choice: the lived experience of Filipina migrant domestic workers in Macao], da autoria de Todd Sandel, docente da Universidade de Macau, Xiao Yang, doutoranda da Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST), Xiao Hong Pu, docente da MUST, e Bei Ju, docente da Universidade de Manchester. O estudo foi publicado em Novembro na publicação científica “Gender, Place & Culture – A Journal of Feminist Geography”.

Conclui-se que “as motivações subjacentes às decisões das participantes de viverem dentro ou fora de casa [dos patrões] estão ligadas às suas necessidades pessoais”, que passam pela tolerância ou intolerância em relação à vigilância doméstica na casa do patrão, o tipo de relações que mantêm com os empregadores ou os impactos da pandemia.

Em Macau, as empregadas domésticas não são obrigadas a viver na casa dos patrões, ao contrário de Hong Kong. Contudo, as empregadas domésticas filipinas “enfrentam frequentemente constrangimentos económicos e desequilíbrios de poder no ambiente de trabalho doméstico que limitam a sua liberdade de escolher o seu regime de vida”.

Cria-se, assim, “um processo dinâmico em que as opções de vida das participantes são moldadas por condições variáveis, tais como o surto da pandemia de covid-19 e a evolução das suas relações pessoais com os empregadores”. Desta forma, “a decisão de viver em casa ou fora de casa [dos patrões] não é uma escolha estática, mas sim um processo em curso constante que é influenciado por uma série de factores”.

Sobreviver e poupar

Os autores do estudo entrevistaram, entre Março e Maio de 2022, em locais públicos, fora da supervisão dos patrões, 18 trabalhadoras domésticas filipinas com idades compreendidas entre os 26 e os 58 anos. Desta amostra, “a maioria tinha concluído o ensino secundário e não tinha frequentado qualquer curso superior” e, embora já tivessem estado casadas, tendo dois ou mais filhos, muitas afirmaram terem-se tornado mães solteiras nos anos mais recentes.

Metade delas optou por viver com os patrões, “apesar das condições de vida no apartamento do empregador terem sido descritas como sendo más”. Revela-se o caso de “Merry”, pseudónimo de uma entrevistada, que viveu com uma senhora idosa. “Não é fácil dormir. Durmo no chão e as crianças estão sempre a correr, a gritar e a chorar… Não tenho espaço. De manhã, dobro a cama e ponho-a no armário.”

Quem opta por viver com o patrão “sacrifica a sua subjectividade para poupar dinheiro, enquanto as mulheres que vivem fora criam um espaço de autonomia para a privacidade, as relações românticas e as actividades de saída com os amigos.”

Descreve-se também que a “vigilância rigorosa” adoptada pelas autoridades em plena pandemia “enfraqueceu a capacidade” destas trabalhadoras de definirem onde iam viver.

Muitos empregadores optaram por instalar câmaras de videovigilância em casa, mas nem isto constituiu “o principal estímulo” para as empregadas optarem por viver fora, pois encaram as câmaras “como um compromisso necessário para construir uma boa relação com a entidade patronal”.

“Pressão social” nos patrões

Este trabalho cita dados oficiais onde se revela que 52 por cento dos trabalhadores migrantes filipinos em Macau estão ligados ao trabalho doméstico. O salário mensal deste tipo de trabalhador varia entre as 3.500 e as 6.000 patacas, sendo “sujeito a negociação com os empregadores”. Caso vivam fora da casa dos patrões, as empregadas têm direito a um apoio mínimo de 500 patacas como subsídio de arrendamento. As empregadas devem trabalhar seis dias por semana, de segunda-feira a sábado, 12 horas por dia, das 7h às 19h, sendo que os patrões podem oferecer salários mais elevados ou proporcionar horários de trabalho mais reduzidos. O estudo denota que “existe uma pressão social entre os empregadores para não serem ‘demasiado generosos’, uma vez que isso pode ter impacto” nos valores exigidos por outras empregadas.

Este artigo cita ainda outros estudos já realizados sobre a saúde mental e o bem-estar destas trabalhadoras, que frequentemente são consideradas como “inferiores em Macau” sofrendo de “medo, repugnância e emoções adormecidas”, tendo ainda sido descritos “problemas físicos”, como dores crónicas, ou do foro mental, como depressão e ansiedade, e também “comportamentos aditivos” ligados ao jogo.

10 Jan 2024

Obrigações | Executivo não descarta novas emissões

O secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, adiantou ontem no hemiciclo que não descarta a possibilidade de o Governo emitir novas obrigações financeiras no futuro.

Em resposta à interpelação oral apresentada pelo deputado Ip Sio Kai, o secretário deu conta de que “tendo presente a situação financeira estável do Governo da RAEM, não se revela necessário, presentemente, um financiamento exterior através da emissão de obrigações do Governo, tendo meramente presente a vertente financeira”. No entanto, “não está excluída a possibilidade de, no futuro, emitir obrigações do Governo, em função de necessidades não financeiras, tendo por objectivo principal a articulação com o plano de desenvolvimento do sector financeiro moderno”.

O governante disse ainda, na sessão de respostas a interpelações de deputados, que a Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM) está a realizar um estudo de viabilidade sobre a prestação de apoio financeiro às actividades realizadas, no âmbito das obrigações. Pretende-se “incentivar a emissão de obrigações em Macau, por parte de emissores de diversas naturezas, incluindo as empresas locais”.

10 Jan 2024

DSAL | Governo ajudou quase 14 mil a encontrar trabalho

A Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) ajudou um total de 13.835 residentes a encontrar trabalho no ano passado, graças à realização, até Dezembro, de 152 sessões sectoriais de emparelhamento e 48 sessões com empresas de turismo e lazer, incluindo-se também três feiras de emprego e novos planos elaborados com as concessionárias.

Estes dados constam na resposta dada pelo secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, à interpelação oral colocada pela deputada Song Pek Kei. Na mesma resposta, ficou a promessa de manter “os trabalhadores locais nos quadros de gestão de nível intermédio ou superior das seis empresas de turismo e lazer numa proporção alvo não inferior a 85 por cento”.

O Governo promete ainda “continuar atento à evolução do mercado de trabalho, definindo estratégias de recrutamento, de emparelhamento e de aconselhamento de emprego para equilibrar a procura e oferta do mercado”, ajustando ainda, de forma dinâmica, o número de trabalhadores não residentes, “com o intuito de criar, de forma contínua, condições mais favoráveis para a empregabilidade dos residentes”.

10 Jan 2024