Maria Tomé em 24.º na Taça do Mundo de triatlo em Hong Kong

A portuguesa Maria Tomé terminou hoje no 24.º lugar a Taça do Mundo de triatlo disputada em Hong Kong, numa competição que foi ganha pela britânica Rainsley Sean.

Na prova que foi disputada da distância sprint, com 750 de natação, 20 quilómetros de bicicleta e cinco quilómetros de corrida, Maria Tomé terminou a competição com o tempo de 01.01,20 horas, enquanto Melanie Santos, outra lusa presente, foi 38.ª, com 01.02,30.

A competição foi ganha pela britânica Rainsley Sian, em 59,44 minutos, com as norte-americanas Katie Zaferes e Kirsten Kasper a terminarem em segundo e terceiro, respetivamente. A competição masculina, que não contou a presença de atletas portugueses, foi ganha pelo espanhol Alberto González Garcia.

24 Mar 2024

CCCM assina acordo com Universidade Politécnica de Macau

Uma delegação da Universidade Politécnica de Macau (UPM) assinou esta quarta-feira com o Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) um acordo de cooperação na área académica, dias depois de ter feito o mesmo com a Universidade de Lisboa.

Citada por um comunicado, Vivian Lei, vice-reitora da UPM, destacou que o acordo assinado pode levar a uma maior “cooperação das duas partes no desenvolvimento de mais projectos de investigação científica, na promoção dos resultados da investigação académica e na organização de conferências académicas ou actividades culturais a nível internacional”. A ideia é “impulsionar em conjunto o desenvolvimento da educação e da cultura da China e de Portugal”.

Já Carmen Amado Mendes, presidente do CCCM, disse considerar “do maior interesse o protocolo agora assinado com a UPM”, tendo em conta prévias parcerias com as universidades de Macau e de São José.

“Esta parceria vai reforçar a investigação, a formação, a publicação e a divulgação cultural no contexto das relações interculturais e internacionais entre Portugal e a China, através da organização conjunta de várias actividades, como conferências, cursos, exposições ou edições.”

A responsável falou ainda da importância da “difusão do conhecimento entre Portugal e a China através de Macau” como sendo “da maior importância, devendo ser incrementada”.

Boas relações

Esta parceria foi assinada no último dia das Conferências da Primavera, evento anual que decorreu nas últimas semanas e que serviu para a apresentação do trabalho de vários investigadores. Carmen Amado Mendes lembrou as múltiplas colaborações que o centro tem efectuado com Macau nos últimos anos, que passaram pela organização de exposições com o Instituto Cultural ou a colaboração com o Instituto Português do Oriente na elaboração do catálogo do museu do CCCM.

Além das edições conjuntas com a Universidade de Macau, a académica salientou a colaboração com a Universidade de São José no “desenvolvimento de um hub académico e científico” ou do acolhimento de vários estagiários em Lisboa oriundos do Instituto de Estudos Europeus de Macau.

22 Mar 2024

O jumento, o boi e os pássaros

A fábula de Esopo, “O Jumento, o Boi e os Pássaros”, conta-nos a história do boi que se debatia para puxar a carroça do pastor e do jumento que se recusava a ajudá-lo. Quando o boi morreu de exaustão o jumento puxou a carroça sozinho e também morreu de esgotamento, até porque também tinha de carregar o cadáver do boi.

Os pássaros desceram, começaram a debicar o corpo do jumento e disseram, “Se te tivesses apiedado do boi, não nos terias servido de alimento e não terias tido uma morte prematura”. A fábula termina aqui, mas eu gostaria de completar a história com o seguinte: enquanto os pássaros se alimentavam, o pastor segurou uma rede. Quando estavam todos reunidos, o pastor lançou a rede e capturou-os a todos, transformando-os assim no seu jantar, e exclamou, “Nenhum floco de neve se considera responsável pela avalanche”.

Recentemente, o discurso do Papa Francisco sobre a guerra entre a Rússia e a Ucrânia provocou muita polémica. Na verdade, já foi há mais de dois anos que a Rússia deu início à operação militar especial contra a Ucrânia. Para além do controlo russo sobre os territórios do leste da Ucrânia, a guerra teve outra consequência importante: a mudança de atitude da Finlândia e da Suécia em relação à NATO. Estes países que tinham uma posição de não alinhados passaram a desejar integrar a Organização do Tratado do Atlântico Norte,

Actualmente, o líder da Ucrânia não quer cometer o pecado de ceder a sua Pátria a troco de uma paz de curta duração. A ascensão e queda do Terceiro Reich ensinou muito aos europeus e deixou-lhes uma marca duradoura. O conflito entre a Rússia e a Ucrânia continua, mas resta a dúvida se a Rússia poderá vir a usar armas nucleares para salvaguardar os seus interesses, ou se irá aceitar a proposta de outros países (incluindo a China) para a realização de conversações de paz que conduzam ao fim das hostilidades. A opção por uma destas soluções vai depender do Jumento ter ou não vontade de colaborar com o Boi.

O jejum islâmico do Ramadão, com a duração de um mês, teve início a 11 de Março. Como as negociações para o cessar-fogo entre Israel e o Hamas falharam, a guerra em Gaza continua. Felizmente, as autoridades israelitas permitiram finalmente que os muçulmanos da Cisjordânia fossem rezar à Mesquita de Al-Aqsa, no Monte do Templo, em Jerusalém, o que aliviou as tensões religiosas e evitou o alastramento do conflito a todo o mundo árabe, trazendo uma acalmia temporária a Jerusalém, a Cidade da Paz!

Algumas pessoas temem que se a Rússia usar armas nucleares, se desencadeie a III Guerra Mundial. No entanto, na minha opinião, enquanto as regiões asiáticas se mantiverem estáveis, não há motivo para preocupação. O famoso historiador inglês Arnold Joseph Toynbee previu que o Século XXI seria o século chinês. A China é uma nação que ama a paz e também o primeiro país que prometeu nunca vir a usar armamento nuclear. Em relação à questão russo-ucraniana a posição da China é de respeito pela soberania destes países, de rejeição da mentalidade da Guerra Fria, e de promoção das conversações que conduzam ao cessar-fogo e ao fim da guerra. Se todos os países puderem abraçar os princípios de equidade e justiça e trabalhar em conjunto para manter a paz mundial, a guerra russo-ucraniana virá a terminar.

Embora Macau seja uma cidade pequena e o Governo Central se ocupe da defesa nacional e dos negócios estrangeiros, deve maximizar as suas potencialidades para não se tornar um fardo para o Governo Central ou naqueles pássaros que só se alimentam de cadáveres.

Este ano, no início de Fevereiro, muita gente estava optimista e esperava que a receita bruta mensal dos jogos de fortuna ou azar para esse mês pudesse exceder os 20 mil milhões de patacas, mas este valor ficou-se pelos 18,5 mil milhões de patacas, um decréscimo mensal de 4 por cento. O facto de o total da receita bruta mensal não ter atingido os valores esperados estará certamente relacionado com a situação macro-económica interna e internacional, bem como com a situação de Macau propriamente dito.

Ao mesmo tempo que se integra na Área da Grande Baía, Macau terá de fazer bom uso dos recursos disponíveis para incrementar a economia da RAEM, atrair mais turistas internacionais, que venham a gastar dinheiro na cidade, e encorajar os seus residentes a comprarem localmente. Estas devem ser as principais prioridades do Governo da RAEM. Quando o Boi morreu de exaustão e o Jumento lhe seguiu as pisadas, o destino dos pássaros que se alimentavam de cadáveres não foi melhor.

22 Mar 2024

Albergue SCM apresenta mostra do arquitecto João Santa-Rita

Será inaugurada na próxima quarta-feira, 27, a partir das 18h30, uma exposição da autoria do arquitecto português João Santa-Rita, que estará patente no Albergue da Santa Casa da Misericórdia (SCM). “Desenhar para Revelar” é organizada pelo CAC – Círculo dos Amigos da Cultura de Macau e visa assinalar os 25 anos da transferência de administração portuguesa de Macau para a China.

Este evento faz-se ainda acompanhar de um seminário que decorrerá na Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau no dia 26 entre as 19h e 21h15, intitulado “A Relevância da Representação da Arquitectura” [The Relevance of Architectural Representation”.

No caso de “Desenhar para Revelar” apresentam-se ao público de Macau 200 desenhos da autoria de João Santa-Rita feitos nos últimos cinco anos. Segundo palavras da arquitecta Bárbara Silva, “não são desenhos referentes a projectos de arquitectura”, mas sim “desenhos que revelam um imaginário complexo, povoados por um emaranhado de traços, que deslizam sobre o papel branco, como uma dança labiríntica que deseja ganhar vida”.

Possibilidades infinitas

A arquitecta considera que podemos encontrar, em “Desenhar para Revelar”, “afinidades e sequências possíveis”, onde se percepciona que “cada um deles tem a sua própria autonomia, a sua personalidade, que se reflecte na impossibilidade de se deixar dominar pelos outros”.

“A expressão de cada desenho é encontrada pelo olhar do observador que é também protagonista. As possibilidades de descoberta são inesgotáveis, e são sempre renovadas cada vez que voltamos a olhar para um desenho que acabámos de ver há momentos atrás. É então quando intuímos que o nosso modo de entender depende do modo como recebemos algo e do quanto estamos dispostos a ser transformados”, lê-se ainda no texto sobre a exposição.

Os esquissos de Santa-Rita “estão, assim, povoados de traços que revelam cheios, vazios, equilíbrios, desequilíbrios, formas, tensões, energias; mas somos nós, com o nosso olhar, que os enchemos de significados”, descreve ainda Bárbara Silva.

João Santa-Rita é um conhecido arquitecto português que já esteve nomeado para o prémio Mies Van der Rohe, em Espanha, em 2012, tendo alcançado muitas outras distinções na sua área. É formado em arquitectura pela Escola Superior de Belas Artes e trabalhou em Macau, ao lado de Manuel Vicente, entre os anos de 1986 e 1988. Além de docente, entre os anos de 2014 e 2016 presidiu à Ordem dos Arquitectos portugueses.

22 Mar 2024

AMAGAO | Exposição celebra dois anos de mostras de arte

“YearTWO” é o nome da mostra hoje inaugurada no Artyzen Grand Lapa com vista a celebrar os dois anos de existência da galeria de arte AMAGAO, que tem organizado diversos eventos culturais no território. Até ao dia 5 de Maio podem ser vistos trabalhos de diversos quadrantes artísticos de figuras ligadas à arte, mas não só

 

A aventura de trazer artistas internacionais, incluindo lusófonos, a Macau para mostrar a sua arte arrancou há dois anos e promete não ficar por aqui. O segundo aniversário da galeria de arte AMAGAO, no Artyzen Grand Lapa, celebra-se hoje com a inauguração de uma exposição, a “YearTWO”, que pretende ser uma ode à arte, mas também a rostos das pessoas que vivem no território e que, há anos, foram dando cartas a nível profissional e criativo.

Incluem-se no rol de 34 artistas escolhidos nomes como o do pintor Denis Murrell, o arquitecto Alexandre Marreiros, o ilustrador Rui Rasquinho ou ainda o fotógrafo Gonçalo Lobo Pinheiro. A presidente da Fundação Oriente em Macau, Catarina Cottinelli da Costa, é outro dos nomes escolhidos, ao lado da joalheira Cristina Vinhas ou de Lai Sio Kit, Wilson Chi Ian Lam ou o designer Victor Hugo Marreiros.

Em declarações ao HM, José Isaac Duarte, co-fundador da AMAGAO, faz um “balanço positivo” da actividade cultural desenvolvida, ainda que tenham tido de enfrentar os desafios da pandemia.

“O período covid não foi fácil para nenhuma área de actividade, mas não nos impediu de lançar as bases do projecto”, apontou. Um dos eventos mais recentes promovidos pela AMAGAO, em colaboração com a Arte Macau: Bienal Internacional de Arte de Macau, foi, no ano passado, a exposição “Paisagens Interiores”, em que, pela primeira vez, se apresentou no território o trabalho da artista plástica Suzy Bila, natural de Moçambique.

De destacar também a organização, em 2022, de “Lusografia”, mostra inaugurada a propósito das celebrações do 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões das Comunidades Portuguesas.

José Isaac Duarte está ligado à inauguração de exposições há bastante tempo, apesar da formação e trabalho como economista. Considera que a “YearTWO” não é mais do que “um pretexto para um encontro de celebração com o público e artistas, sublinhando a continuidade do projecto”.

Traços lusófonos

Uma vez que a AMAGAO se tem pautado, desde os primeiros sinais de existência, por revelar o que de melhor se faz na arte em língua portuguesa, José Isaac Duarte confessa que esse continua a ser o principal paradigma no trabalho desenvolvido.

“A ligação especial ao mundo lusófono constitui um dos traços distintivos da nossa identidade que queremos continuar a manter, contribuindo, assim o achamos, para a vivacidade do diálogo artístico na região.”

Confrontado sobre o panorama de exposições e artístico depois da pandemia, o responsável pensa que “a oferta expositiva aumentou, mas ainda não assistimos a uma consolidação ou estabilização do mercado local ou dos fluxos de visitantes mais direccionados para as actividade culturais”.

22 Mar 2024

Indonésia | Xi Jinping felicita vencedor das presidenciais

O Presidente chinês, Xi Jinping, felicitou ontem o antigo general Prabowo Subianto, que foi declarado vencedor das eleições presidenciais indonésias realizadas a 14 de Fevereiro. Xi destacou a “amizade tradicional” entre China e Indonésia, sublinhando o “rápido desenvolvimento dos laços bilaterais”, a “crescente confiança política” e o “aprofundamento da cooperação” entre os dois países.

O líder chinês expressou a “grande importância” que atribui às relações com a nação insular e o seu desejo de trabalhar em conjunto com o Presidente eleito para “alcançar um maior sucesso” e “dar um impulso à prosperidade e estabilidade regional e global”. Após mais de um mês de contagem dos votos, a Comissão Eleitoral da Indonésia declarou na quarta-feira que o controverso antigo general, acusado de violações dos Direitos Humanos durante o regime militar, obteve 58 por cento dos votos.

Desde as eleições, registaram-se vários protestos denunciando alegadas fraudes eleitorais e outros candidatos anunciaram a sua intenção de contestar legalmente os resultados, alegando que Prabowo recebeu apoio não oficial do Presidente cessante, Joko Widodo.

22 Mar 2024

Taiwan | China reitera “reunificação pacífica” e ‘linha vermelha’ da independência

O ministério dos Negócios Estrangeiros chinês afirmou ontem que Pequim quer a “reunificação pacífica” de Taiwan “com total boa-fé” e que a ‘linha vermelha’ é a oposição firme a qualquer tentativa da ilha de obter independência.

O porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Lin Jian, disse em conferência de imprensa que a “região Ásia – Pacífico deve ser uma zona de desenvolvimento pacífico” e “não um palco de confrontos geopolíticos”, lembrando que Taiwan “faz parte da China” e é um “assunto interno” do país asiático.

Lin reagiu assim às declarações do chefe do Comando Indo-Pacífico dos Estados Unidos, o almirante John Aquilino, que declarou na quarta-feira acreditar que o Exército chinês estará pronto para invadir Taiwan em 2027 e que as Forças Armadas chinesas simulam há anos operações contra a ilha, incluindo bloqueios marítimos e aéreos.

O porta-voz da diplomacia chinesa advertiu que a “determinação, vontade e capacidade do povo chinês” para “defender a sua soberania nacional e integridade territorial” não devem “ser subestimadas”.

22 Mar 2024

Xangai | Ministro angolano acompanha construção de navio para Agogo

O ministro dos Recursos Minerais, Petróleo e Gás de Angola, Diamantino Azevedo, deslocou-se ontem aos estaleiros navais de Xangai para acompanhar os trabalhos de construção de um navio flutuante que vai ser utilizado no campo petrolífero Agogo.

Trata-se de um navio para produção, armazenamento e descarga (FPSO, na sigla em inglês) que vai ser utilizado no bloco 15/06 do campo Agogo. A embarcação permitirá o processamento e armazenamento do crude até que possa ser transferido para um navio-tanque para transporte e refinação adicional.

No estaleiro naval situado na ilha de Chongming, a cerca de 100 quilómetros do centro de Xangai, a “capital” económica da China, Diamantino Azevedo frisou a importância do projecto para alavancar a produção petrolífera em Angola, “contribuindo assim, em grande parte, para contrariar o declínio natural da produção” do país.

“Queremos que este projecto promova também a transferência de conhecimento para os angolanos, para que a seu tempo constituam a força motriz para alavancar cada vez mais o desenvolvimento da indústria do petróleo e gás em Angola”, apontou o ministro, segundo uma nota a que a agência Lusa teve acesso.

No evento estiveram presentes os presidentes dos conselhos de administração da Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis de Angola e da Sonangol e representantes da estatal chinesa Sinopec.

Diamantino Azevedo enfatizou o significado da construção do navio FPSO no estaleiro em Chongming para o reforço da aposta de Angola e China no “alargamento da cooperação”. “Isto evidencia o compromisso mútuo dos nossos países, com o desenvolvimento económico e social dos nossos povos”, disse.

Práticas presidenciais

A deslocação do ministro angolano a Xangai decorre após uma visita oficial à China de três dias do Presidente angolano, João Lourenço.

Em Pequim, Lourenço frisou o esforço de Luanda para executar um conjunto de reformas que visam “melhorar o ambiente de negócios do país, ajustando-o às boas práticas internacionais” e convidou os investidores chineses a investirem na refinaria do Lobito, em fase de construção, e em blocos petrolíferos ‘offshore’ e ‘onshore’.

A China é o maior destino para o petróleo angolano. O Presidente angolano disse também querer atrair mais investimento privado e público da China, “desde que seja sem o petróleo a servir como colateral”, como foi prática nas últimas décadas.

22 Mar 2024

Segredos da seda (17) – Construção do casulo e a crisálida

Até aqui, os conhecimentos sobre a seda resumiam-se ao Museu da Seda de Hangzhou e por isso decidimos ir a Tongxiang (桐乡), no distrito de Jiaxing (嘉兴) ainda na província de Zhejiang, visitar locais de produção e as muitas fábricas de transformação dessa fibra. Para aí chegar, duas horas de autocarro partindo do terminal Oeste de Hangzhou e durante a viagem, já próximo do destino, pela janela descortinámos ao Sol no pátio de uma casa de campo instrumentos usados pelos sericicultores e à frente, um pequeno amoreiral podado.

No terminal de Tongxiang, a uns bons quilómetros do centro da cidade, mostramos o caractere de seda (丝绸) a um taxista, que sem nos perceber questiona o polícia de serviço e ali procuramos dar a entender o pretendido. Após a adição do caractere fábrica (工厂) chegam a acordo e o taxista logo se faz à estrada. Passando o centro, segue para Sul onde se encontra a parte industrial.

Em frente ao portão de uma fábrica, o taxista prepara-se para nos deixar. Percebendo o quão longe estamos do centro da cidade e sem táxis à disposição, sabendo já este condutor o nosso interesse dizemos-lhe pretender com ele continuar e assim alugamos o carro à hora.

É período do almoço e o sinal sonoro da fábrica apita. Dois homens passam e abordamo-los sobre a possibilidade de a visitar. Como não nos entendem, o taxista explica-lhes o que queremos. Levam-nos ao escritório onde somos apresentados ao patrão e após trocar umas palavras com o responsável máximo, este leva-nos a visitar uma ala da fábrica, onde as máquinas trabalham sozinhas na feitura do tecido de seda.

Aqui apenas se tece a gaze! Tentamos obter permissão para visitar outros edifícios, mas com a pressa de ter de ir a casa almoçar, rapidamente parte sem mais explicações, deixando-nos à saída da fábrica. O taxista, percebendo o nosso ar desconsolado pela cara que apresentamos, chama-nos para dentro do VW-Santana, onde o ar condicionado está a todo o vapor e leva-nos a um depósito, onde os agricultores vêm descarregar grandes sacos de casulos.

O FILAMENTO DA SEDA

Procurávamos perceber como é criada a fibra da seda, depois de ver a lagarta agarrada a uma tenra folha de amoreira com as unhas das patas [situadas aos pares em cada um dos três anéis que formam o tórax] a acompanhar o movimento da cabeça, enquanto aos lados da boca as mandíbulas trituram as folhas.

Segundo uma tabela do princípio do século XX, nos primeiros quinze dias de vida da lagarta são as folhas dadas seis vezes ao dia (às 6 e 10 horas da manhã e às 13, 16, 19 e 23 horas) e após a terceira muda, servidas às 4, 10, 16 e 22 horas. Constante é a necessidade de fazer o espaçamento ao longo do baixo e largo tabuleiro de verga, recolher as carcomidas folhas já impróprias para consumo e também a descamação.

Quando no final dos quatro sonos e após sete a nove dias de alimentação, as lagartas deixam subitamente de comer, sendo preciso agora mudá-las dos tabuleiros para palha de arroz entrelaçada e ter cuidado com as distâncias, para os casulos não se enredarem. Acontece por vezes, por descuido do sericicultor, duas lagartas construírem-nos a tão curta distância que os fios se emaranham, complicando o trabalho de quem os fia.

Uma rede plástica enrolada, com espaços propícios à construção dos casulos, é actualmente utilizada em muitas sirgarias. Em Freixo de Espada à Cinta, Trás-os-Montes, usam-se ramos de arçã (rosmaninho) para a lagarta fazer o casulo. Em Suzhou, vemos velhas caixas de papelão, com divisórias à medida do casulo, arrumadas a um canto do Museu de Seda.

O alimento, que serve para fazer crescer a lagarta, é transformado por acção glandular em líquido proteico, composto por 18 aminoácidos que formam, na secção posterior das glândulas da seda, a fibroína. Esta é o constituinte principal da seda natural, sendo produzida por duas glândulas sericígenas tubulares, longas e volteantes situadas nas partes laterais anteriores do abdómen da lagarta. Os dois canais laterais juntam-se num compartimento mais largo, na parte média do abdómen e os dois filamentos compostos pela fibroína são envolvidos por uma substância gomosa, a sericina, um líquido glandular. Já num único filamento é expelido por um tubo situado na parte inferior da boca e quando exposto ao ar endurece, tornando-se resistente. A lagarta ao girar vai-se envolvendo nele e construir o casulo.

O filamento da espessura de um cabelo pode atingir de 700 a 1200 metros de comprimento e é constituído por 75 a 78% de fibroína e 22 a 25% de sericina. Visto ao microscópio, é composto por dois filamentos finos paralelos colados entre si, revelando em corte transversal ter uma forma triangular.

O CASULO E A CRISÁLIDA

A lagarta ao girar vai com um único filamento durante três a cinco dias envolver-se e fechada num compartimento constrói o casulo, de cor creme, amarelada ou branca, cimentado com a ajuda da goma. À medida que esvazia todo o líquido proteico e glandular na construção do casulo, o seu corpo diminui de tamanho.

A formação do casulo inicia-se pela movimentação da cabeça a libertar uma baba, criando uma cadeia de pontos de apoio em diferentes planos para montar uma teia a definir o volume. Essa baba forma um filamento, no início pouco homogéneo e consistente, – conhecida por anafaia e por isso não utilizado na fabricação de tecidos finos – mas à medida que o casulo se vai estruturando, o filamento conquista uniformidade e já com um ritmo regular nos movimentos da cabeça cria uma disposição em fiadas sucessivas e paralelas que, acamadas, preenchem a forma ovalada do casulo. A construção do casulo demora normalmente de três a cinco dias e atinge os quatro centímetros pela parede exterior, onde a Bombix mori passa entre catorze e vinte dias. No interior do casulo, abrigo resistente e isotérmico, a lagarta prepara o compartimento onde durante aproximadamente três semanas vai com a perda de peso e tamanho sofrer metamorfoses. Cinco a seis dias após terminar o casulo inicia a transformação, primeiro até crisálida e quatro a cinco dias depois para mariposa (borboleta).

A metamorfose em crisálida começa com a lagarta a descartar a camada que a envolve, diminuindo de tamanho devido à perda de água e daí os anéis do peito transformam-se numa carapaça a cobrir a cabeça. No tórax da lagarta, as seis patas, verdadeiras pois articuladas, continuam a existir na crisálida. Já no abdómen, apesar da sua redução, os anéis mantêm-se distintos, ganhando o corpo uma forma oval alongada, agora revestido por um líquido viscoso. Assim está formada a crisálida, cuja cor é de um castanho avermelhado. No quarto, quinto e sexto anel apercebem-se vestígios do que virão a ser as asas.

O casulo após terminado tem a massa de dois a 2,5 gramas pois contém ainda a crisálida, mas descontando esta, varia entre 0,4 a 0,5 gramas. Antigamente a produção de casulos realizava-se cinco vezes ao ano: na Primavera, entre o mês de Maio e Junho; no Verão, entre Junho e Julho e três vezes no Outono. Hoje faz-se durante todo o ano.

Os casulos produzidos em diferentes partes do mundo têm diferentes formas e cores. Os casulos chineses são ovais, longos e espigados, enquanto os produzidos pelos japoneses são delgados na cintura e os europeus ligeiramente cintados. A maioria dos casulos são brancos, mas também os há amarelos e verdes e hoje em dia, com a ajuda da biotecnologia, produz-se casulos coloridos de muitas cores e de grande qualidade.

Em todo o processo, a temperatura ambiente é determinante e, por isso, os períodos de tempo variam, é muito diferente se for realizado na China ou em Portugal. As lagartas na Tailândia, devido ao calor, apenas produzem de quinhentos a seiscentos metros de filamento por casulo, mas na China e no Japão, estes envolvem-se em cerca de mil e duzentos metros de um único filamento. Como os casulos se querem inteiros, para haver um bom fio de seda, antes da crisálida se transformar em mariposa, interrompe-se o ciclo da Bombix mori.

22 Mar 2024

Hotéis | Andy Wu acha que preços afastam turistas

O presidente da Associação de Indústria Turística de Macau, Andy Wu, considera que os elevados preços dos hotéis de Macau levam a que os excursionistas passem a noite do outro lado da fronteira.

Em declarações ao Jornal Ou Mun, Andy Wu explicou que as excursões são maioritariamente frequentadas por idosos, que para controlarem os custos da viagem escolhem os hotéis no Interior, onde os preços são mais baratos. Foi desta forma que o presidente da associação reagiu aos dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) que mostram que a entrada de visitantes recuperou para 92,9 por cento dos níveis de 2019.

No entanto, a estadia dos visitantes em Macau diminuiu para 1,1 dias, o que se deveu à maior entrada de excursões. Andy Wu também apontou que os preços de quartos em Macau são mais caros em comparação com outras regiões vizinhas.

Todavia, como actualmente a taxa de ocupação hoteleira se mantém em 80 por cento, o responsável considerou que os hotéis não precisam diminuir os preços para atrair mais clientes. Para aumentar o período de estadia em Macau, o líder associativo sugeriu o reforço da cooperação entre Hengqin e Macau, de forma a atrair turistas com maior capacidade de consumo, que consigam suportar os custos da hotelaria de Macau.

22 Mar 2024

Ovibeja | Empresários locais vão procurar produtos para a China

Uma delegação de empresários de Macau, liderada pelo IPIM, vai à feira agropecuária Ovibeja procurar produtos alimentares para o mercado chinês. A missão tem como objectivo reforçar o papel de Macau enquanto ponto de distribuição de produtos dos países de língua portuguesa para a China

 

Empresários de Macau vão participar na feira agropecuária portuguesa Ovibeja em busca de mais produtos alimentares de qualidade para introduzir na China, disse o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM).

O IPIM vai organizar uma delegação empresarial para participar na Ovibeja, entre 30 de Abril e 5 de Maio, e ajudar Macau a reforçar o papel de “centro de distribuição alimentar dos países de língua portuguesa” para toda a China, referiu o departamento do Governo de Macau em comunicado.

O instituto pretende introduzir no mercado chinês mais “produtos alimentares e vinho de elevada qualidade” vindos dos países lusófonos, assim como ajudar as empresas de Macau a explorar oportunidades de cooperação no estrangeiro. A 40.ª edição da Ovibeja, organizada pela ACOS – Associação de Agricultores de Portugal, vai ter lugar como habitualmente no Parque de Feiras e Exposições Manuel de Castro e Brito, em Beja.

Tanto mar

O IPIM disse ainda que, após a Ovibeja, a delegação vai a São Paulo participar, no APAS Show, descrita pela organização como “a maior feira do mundo” para supermercados. O evento decorre na cidade brasileira entre 13 e 16 de Maio.

O instituto sublinhou que em 2023 ajudou 161 companhias e empresários da China e dos países lusófonos, incluindo empresas portuguesas que queriam expandir negócios em Macau e empresas da região chinesa interessadas em comprar carne no Brasil.

Na quarta-feira, o IPIM e a Câmara Internacional de Negócios do Brasil promoveram em Macau uma sessão de negócios para fomentar a cooperação entre produtores brasileiros de café e sete empresas de torrefação de café locais.

As exportações de mercadorias dos países de língua portuguesa para a China atingiram 147,5 mil milhões de dólares (136,1 mil milhões de euros) no ano passado, num novo recorde histórico, de acordo com dados oficiais. Este é o valor mais elevado desde que o Fórum Permanente para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum de Macau) começou a apresentar este tipo de dados dos Serviços de Alfândega da China, em 2013.

As exportações aumentaram 6,2 por cento em comparação com 2022, sobretudo devido ao maior fornecedor lusófono do mercado chinês, o Brasil, cujas vendas subiram 11,9 por cento, para 122,4 mil milhões de dólares (112,9 mil milhões de euros), um novo máximo histórico. Já as vendas de mercadorias de Portugal para a China decresceram 4,1 por cento para 2,91 mil milhões de dólares (2,69 mil milhões de euros).

22 Mar 2024

Metro | Ron Lam critica silêncio face a queixa de trabalhadores

O deputado Ron Lam criticou ontem a postura do Governo, por não ter recebido resposta a uma carta que entregou com queixas de trabalhadores do Metro Ligeiro. Ouvido pelo jornal do Cidadão, Ron Lam explicou que na origem das queixas esteve a transferências dos recursos humanos da empresa MTR Operações Ferroviárias (Macau) para a Sociedade do Metro Ligeiro de Macau. Com a mudança, os trabalhadores não foram compensados por deixar a primeira empresa e o tempo de trabalho para efeito de direitos laborais foi eliminado e não será reconhecido.

Segundo o deputado, esta prática viola o princípio da boa-fé, havendo igualmente suspeitas de violar a lei laboral. O deputado apelou à intervenção da Direcção dos Serviços de Supervisão e da Gestão dos Activos Públicos e do Comissariado contra a Corrupção, por considerar que têm a obrigação de investigar o caso.

Por outro lado, Ron Lam condenou o caso por ter acontecido com concessionárias ou empresas de capitais público, porque considera que a obrigação do Governo é dar o exemplo em matérias de direitos laborais dos funcionários do Metro Ligeiro, em vez de adoptar posições muito duvidosas que prejudicam os trabalhadores.

O Metro Ligeiro respondeu ontem às críticas de Ron Lam, afirmando ter pedido várias vezes à MTR para cumprir a lei laboral e indicou ainda ter realizado uma sessão para esclarecer os funcionários.

22 Mar 2024

ATFPM | CNE envia queixa para o Ministério Público contra Rita Santos

O Ministério Público português vai analisar as queixas do Partido Socialista que acusa Rita Santos e a Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau de irregularidades nas eleições. Segundo os socialistas, Rita Santos foi vista à frente dos correios a pedir aos eleitores que lhe dessem os boletins de votos

 

A queixa do Partido Socialista contra Rita Santos e contra a Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) por irregularidades nas eleições legislativas foi enviada pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) para o Ministério Público (MP). A notícia foi avançada na quarta-feira pela CNN Portugal. José Pereira Coutinho, presidente da ATFPM, recusou fazer comentários sobre o assunto, enquanto Rita Santos se mostrou incontactável.

Segundo o canal de televisão português, a queixa dos socialistas visa pessoalmente Rita Santos, conselheira das Comunidades Portuguesas, e a ATFPM, onde a líder associativa é presidente da Assembleia-Geral.

Na perspectiva do PS, a actuação tanto de Rita Santos como da ATFPM “poderá pôr em causa a confidencialidade e pessoalidade do voto”.

O PS relatou também que várias pessoas “disseram ter recebido chamadas” telefónicas, com os interlocutores a apresentarem-se como membros da ATFPM, e a dizerem aos eleitores “que podiam trazer as cartas com os boletins de voto à sede da ATFPM, que eles tratavam de tudo”.

Os socialistas denunciaram que algumas das chamadas “terão sido realizadas em língua chinesa, o que indiciará uma tentativa de se aproveitar da boa-fé dos que, sendo portadores da cidadania portuguesa, já perderam, porém, o vínculo linguístico com Portugal”.

Quanto à conselheira Rita Santos, o PS alega que foi vista “à porta dos correios, a abordar os eleitores para que estes lhe entregassem o seu voto”.

Em silêncio

Após a informação ter circulado em Portugal, o HM contactou José Pereira Coutinho, presidente da direcção da ATFPM sobre o encaminhamento da queixa para o MP. “Não tenho qualquer comentário a fazer”, limitou-se a responder o também deputado da Assembleia Legislativa de Macau, que indicou estar ocupado a receber um cidadão.

Por sua vez, Rita Santos foi contactada pelo HM, através de telefonemas e envio de mensagens, mas até ao fecho da edição mostrou-se incontactável.

A queixa surgiu depois de em Fevereiro, ainda antes das eleições, a secção local do Partido Socialista se ter queixado publicamente da actuação da ATFPM. Na altura, a secção acusou a associação de fazer apelos ao voto numa lista que não identificou, mas que mais tarde se veio a saber tratar-se da Aliança Democrática, até pelo conteúdo de vídeos que circularam online.

Também em 2019, a Secção de Macau do PS apresentou uma queixa à Comissão Nacional de Eleições a acusar a ATFPM de alegadas “situações anómalas” relacionadas com o envio dos votos por correspondência para as legislativas. Na altura, o mandatário pelo círculo eleitoral Fora da Europa, Paulo Pisco, pediu à CNE a abertura de um inquérito para apurar os factos.

Efeitos limitados

Apesar de o processo ter sido encaminhado para o Ministério Público, no que respeito à ATFPM os efeitos deverão ser praticamente nulos.

Em Outubro do ano passado, quando se preparavam as eleições para o Conselho das Comunidades Portuguesas, a ATFPM aprovou uma resolução interna a declarar apoio à então candidata Rita Santos. A decisão contrariou os regulamentos das eleições, porém, a CNE reconheceu não ter jurisdição em Macau. “Não há previsão de pena para quem infrinja esta disposição e, mesmo que houvesse, o Estado português não tem jurisdição sobre a pessoa coletiva em causa e no território em que está sediada e onde terão ocorrido os factos”, foi considerado.

22 Mar 2024

Eleições Legislativas | AD vence fora da Europa e Chega elege um deputado

Se tivesse dependido dos postos Consulares da China, o Partido Socialista teria mantido o lugar conquistado nas eleições de 2022. No entanto, não foi assim, e Augusto Santos Silva, presidente da Assembleia da República, está fora do hemiciclo

 

A coligação Aliança Democrática (AD) foi a lista mais votada no círculo da emigração Fora da Europa, de acordo com os resultados publicados ontem pela Comissão Nacional de Eleições. A grande surpresa foi a perda do mandato do Partido Socialista (PS), que deixa Augusto Santos Silva de fora do parlamento, enquanto Manuel Magno Alves do Chega foi eleito deputado, assim como José Cesário (AD).

No que diz respeito aos resultados na China, a AD foi a lista mais votada com 2.306 votos, o que representa 37,45 por cento do eleitorado, seguida pelos socialistas, com 745 votos (12,10 por cento). O Chega ficou em terceiro lugar com 330 votos (5,36 por cento).

A votação por correspondência terá levantado problemas a uma grande parte dos eleitores com 1.936 votos nulos (31,46 por cento). A taxa de abstenção na China foi de 87,43 por cento, uma vez que apenas 6.157 dos 48.982 inscritos votaram.

Os resultados apurados ontem pela CNE mostram os resultados na China reflectem a tendência que tinha sido verificada no voto presencial em Macau, em que a coligação constituída por Partido Social Democrata, CDS-Partido Popular e Partido Popular Monárquico conseguiu 59 votos (41,8 por cento) entre os 213 recenseados. A segunda lista mais votada foi a do PS, com 43 votos (30,5 por cento), seguida pelo Chega, com 14 votos (9,9 por cento).

No entanto, quando é considerado todo o círculo fora da Europa, o PS perde o mandato que mantinha desde 2019. No geral, a AD foi a vencedora com 22.636 votos (22,90 por cento), seguida pelo Chega com 18.067 (18,27 por cento) e o PS, que teve 14.1410 votos (14,58 por cento).

Nos resultados gerais do círculo fora da Europa, se o voto nulo fosse uma força política teria ficado em primeiro lugar, com 32.008 votos nulos, uma proporção de 32,39 por cento. A taxa de abstenção foi de 83,76 por cento, com 98.866 votantes entre os 609.436 inscritos. O Chega torna-se, assim, no quarto partido a ser eleito pelo círculo fora da Europa desde 1976, como haviam feito PSD, PS e CDS.

Um velho regressado

Com estes resultados, José Cesário está de regresso à Assembleia da República, um lugar onde passou grande parte da vida adulta, ou seja, 39 anos. O representante da AD entrou pela primeira vez na AR como deputado por Viseu, círculo pelo qual foi eleito até 2005. A partir desse ano começou a integrar as listas do PSD pelo círculo fora da Europa, que encabeçou até 2022, quando foi substituído por Maló de Abreu.

Além de deputado, Cesário desempenhou as funções de secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, nos Governo de Durão Barro e Pedro Passos Coelho.

Por sua vez, Manuel Magno Alves, nasceu em Chaves, é advogado de formação e vive desde os seis anos no Brasil, em São Paulo. É empresário ligado à área do imobiliário. Em 2022 foi candidato a deputado pelo círculo Fora da Europa, na lista do PSD. Alves era para ser o segundo candidato da lista do Chega nestas eleições, depois de ter mudado de partido, assim como Maló de Abreu.

No entanto, Maló de Abreu foi afastado das listas do Chega, devido ao escândalo com a declaração da residência em Angola, para efeitos de ajudas de custos, e Alves acabou promovido a um lugar que o coloca na Assembleia da República.

Resultados Eleições

China

Lista Votos  Percentagem

1 Aliança Democrática 2.306 37,45%

2 Partido Socialista 745 12,10%

3 Chega 330 5,36%

4 PAN 152 2,47%

5 Iniciativa Liberal 110 1,79%

6 Bloco de Esquerda 87 1,41%

7 CDU 81 1,32%

8 Livre  62 1,01%

9 ADN 60 0,97%

10 Nós 47 0,76%

Votos em Branco 128 2,08%

Votos Nulos 1.937 31,46%

Taxa de Abstenção 87,43%

Círculo Fora da Europa

Lista - Votos – Percentagem

1 Aliança Democrática 22.636  22,90%

2 Chega 18.067  18,27%

3 Partido Socialista 14.410  14,58%

4 PAN 2.332 2,36%

5 Iniciativa Liberal 1.902 1,92%

6 Bloco de Esquerda 1.847 1,87%

7 Nova Direita 1.461 1,48%

8 ADN 1.128 1,14%

9 CDU 748 0,76%

10 Livre 697 0,70%

Votos em Branco 487 0,49%

Votos Nulos 32.008  32,38%

Taxa de Abstenção 83,76%

Rita Santos agradece votos em José Cesário

Rita Santos agradeceu ontem os votos em Macau na lista da Aliança Democrática, através de uma mensagem deixada na página do Facebook do “Conselho das Comunidades Portuguesas da China, Macau e HK”.

“A Aliança Democrática ganhou em Macau com 2.306 Votos que foram importantes para a eleição do deputado José Cesário. Ele agradeceu a todos os portugueses residentes na China, Macau e Hong Kong que votaram nele – Aliança Democrática”, pode ler-se na mensagem. “O Luís Montenegro da Aliança Democrática que nos recebeu vai ser o Primeiro Ministro em Portugal. Obrigada a todos”, acrescentou Rita Santos. A mensagem surge escrita em português e chinês tradicional.

22 Mar 2024

Banco Luso Internacional | Ho Iat Seng pede cooperação para a diversificação económica

Ho Iat Seng espera que o Banco Luso Internacional “apoie proactivamente a inovação e a prática financeira em Macau e na Zona de Cooperação Aprofundada, dando maiores contributos para a diversificação adequada da economia local”.

As declarações foram prestadas pelo Chefe Executivo na quarta-feira, quando recebeu uma delegação do Banco Luso Internacional, liderada pelo presidente Huang Laizhi. O grupo celebra ao longo de 2024 50 anos de actividade.

Ho Iat Seng considerou ainda que “a indústria financeira é um pilar importante para o desenvolvimento da economia da RAEM” e que “com um sistema bancário seguro e sólido cria-se uma boa base para o desenvolvimento sustentável”. Como faz quase sempre em todos os encontros relatados pelo Gabinete de Comunicação de Social, Ho voltou a repetir que Macau aposta na estratégia de diversificação 1+4 e que “a indústria financeira moderna”, vai ser uma das áreas desenvolvidas com o dinheiro do jogo.

Por sua vez, o presidente do Conselho de Administração do Banco Luso Internacional, Huang Laizhi, depois de prestar declarações políticas, como juras de apoio ao princípio ‘um país, dois sistemas’, perspectivou o futuro da instituição. Neste capítulo, o presidente do Banco Luso Internacional apontou que vai promover a transformação dos negócios financeiros em quatro áreas: serviços financeiros destinados aos chineses ultramarinos, finanças transfronteiriças, finanças industriais e digitais.

22 Mar 2024

Portadores de deficiência | Denunciada lentidão na renovação de cartões

Segundo o deputado Ho Ion Sang, o processo de renovação do cartão de Registo de Avaliação da Deficiência demora demasiado tempo, e tem gerado queixas por parte dos utilizadores, que perdem o acesso aos benefícios, quando não tratam da renovação com bastante antecedência.

O assunto é abordado numa interpelação oral, que vai ser colocada ao Governo na próxima segunda-feira, na Assembleia Legislativa. “Segundo algumas opiniões, o prazo de renovação do cartão de Registo de Avaliação da Deficiência é longo e para as pessoas portadoras de deficiência mental é ainda mais longo” indica a interpelação oral. “Se o cartão não for renovado atempadamente, ou seja, antes do termo do seu prazo de validade, os titulares são afectados nos diversos tipos de benefícios e nos serviços médicos gratuitos”, é acrescentado.

“Quanto tempo demora, em média, a renovação do cartão para os diferentes tipos de deficiência? Será que há falta de pessoal para este trabalho? A fim de reduzir o impacto para os titulares, o Governo vai pensar em simplificar as formalidades, aumentar o pessoal, e sobre como acelerar o processo de renovação?” pergunta.

Além disso, o deputado dos Moradores quer saber se o Executivo tem planos para expandir os benefícios deste cartão para outros locais da China, como na Zona de Cooperação Aprofundada, em Hengqin.

22 Mar 2024

Segurança Nacional | Associações querem que Macau siga Hong Kong

Associações tradicionais e juristas locais membros da Assembleia Popular Nacional elogiam a nova lei de segurança nacional de Hong Kong e consideram que Macau deveria ter a legislação como referência para o futuro. O vice-presidente da FAOM fala mesmo em arma legislativa

 

O jornal Ou Mun publicou ontem um artigo que reúne opiniões de dirigentes de algumas das principais associações tradicionais de Macau e membros da Comissão da Lei Básica de Macau do Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional (APN) que teceram rasgados elogios à nova lei de segurança nacional aprovada no Conselho Legislativo de Hong Kong na terça-feira.

O advogado e membro da Comissão da Lei Básica de Macau do Comité Permanente da APN Lei Wun Kong referiu que a legislação foi tecnicamente bem concebida e teve em consideração as características do sistema jurídico e a história da RAEHK, assim como a vontade popular. O jurista elogiou a capacidade prospectiva de artigos que punem, por exemplo, as actividades de espionagem.

Além disso, Lei Wun Kong defendeu que Macau deverá ter como referência futura a nova lei de Hong Kong, que veio preencher lacunas relacionadas com a segurança nacional, abrindo caminho à “construção de uma fortaleza sólida para evitar actos que prejudicam a segurança nacional e a intervenção das forças estrangeiras”.

O vice-presidente da Associação de Agentes da Área Jurídica de Macau e também membro da mesma comissão da APN Tong Io Cheng apontou que a aprovação desta lei de segurança nacional mostrou a determinação da sociedade de Hong Kong em avançar da estabilidade para a prosperidade.

Tradição incondicional

As associações tradicionais, por exemplo, a Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), a União Geral das Associações dos Moradores de Macau (UGAMM) e a Associação Geral das Mulheres de Macau juntaram-se ao coro de elogios à legislação aprovada na terça-feira em Hong Kong.

O vice-presidente da FAOM, Fong Ka Fai, entende que Macau será beneficiada com a lei de Hong Kong porque, na sua opinião, quando as forças estrangeiras tentarem intervir na RAEM terão de ter em conta que as leis podem ser usadas como armas jurídicas.

O dirigente associativo aconselhou o Governo de Macau a rever e alterar periodicamente as leis relacionadas com segurança nacional devido à complexidade da situação internacional e aos avanços constantes da tecnologia.

Em representação dos Kaifong, o vice-presidente da UGAMM, Cheng Son Meng demonstrou o total apoio ao Governo na divulgação de segurança nacional e de amor à pátria.

Por sua vez, a vice-presidente da Associação Geral das Mulheres de Macau Luo Ping indicou que a protecção da segurança nacional vai construir um ambiente justo e imparcial para que os residentes de Hong Kong e Macau se integrem no desenvolvimento nacional.

22 Mar 2024

China-UE | Embaixador chinês deixa alertas em conferência no Porto

Zhao Bentang, embaixador chinês em Portugal, deixou vários recados numa conferência na Universidade do Porto sobre o relacionamento entre a China e a União Europeia, alertando para o facto de questões como o afastamento da Huawei nos concursos da rede 5G ou a maior supervisão face ao investimento estrangeiro trouxeram “desnecessárias turbulências e obstáculos ao desenvolvimento das relações” entre os dois campos

 

Os recentes episódios menos positivos no relacionamento comercial e diplomático entre a China e a União Europeia (UE) foram abordados num discurso de Zhao Bentang, embaixador chinês em Portugal, esta terça-feira, no âmbito da “Conferência Relações China-UE” que decorreu no Porto promovida pela Associação dos Amigos da Nova Rota da Seda (ANRS) e pela Universidade Lusófona.

No evento, que não contou com a presença física do diplomata, foi lido o discurso do embaixador onde se chama a atenção para a ocorrência de “desnecessárias turbulências e obstáculos ao desenvolvimento das relações entre a China e a UE” graças a episódios como o afastamento da Huawei de leilões da rede 5G por parte de alguns Estados-membros da UE, nomeadamente Portugal, ou a chegada de uma nova legislação promovida pela Comissão Europeia que vai reforçar a supervisão do investimento estrangeiro que chega ao mercado da UE, incluindo da China.

“O lado europeu tomou recentemente uma série de iniciativas na área do 5G, na revisão do investimento estrangeiro ou na política competitiva que geram grandes preocupações para o Governo chinês, empresas e media.”

Segundo Zhao Bentang, “a China sempre encarou a UE como parceira estratégica, tendo desenvolvido o relacionamento com a Europa com a maior sinceridade e boa vontade. Há uns anos, um documento político oficial europeu elevou a China a grande parceiro, um dos maiores competidores e, ao mesmo tempo, uma variável sistémica [no relacionamento]. Contudo, tem vindo a ser provado que essa posição tripartida não está em linha com os factos e não é viável.”

Recorrendo à metáfora, Zhao Bentang comparou esta relação ao acto de “conduzir um carro numa zona com três sinais: vermelho, verde e amarelo, tudo ao mesmo tempo”. “Como pode um carro conduzir nestas condições?”, questionou.

“Esperamos que tanto a China como a UE possam estabelecer uma percepção correcta, manter um entendimento mútuo e confiança, bem como respeito, não fomentando uma relação como rivais apenas devido às diferenças existentes nos seus sistemas, nem reduzir a cooperação apenas devido à competição, ou entrar em confrontos apenas devido à existência de diferenças. O desenvolvimento da China constitui uma oportunidade, não um risco, para a Europa”, frisou.

Destacando os diversos encontros que Xi Jinping, Presidente chinês, manteve com líderes europeus nos últimos anos, nomeadamente Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, e Ursula Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, ou ainda “líderes da Alemanha, França, Espanha e outros países europeus”, Zhao Bentang destacou que “os dois lados transmitiram sinais positivos em prol de mais esforços para fomentar essa força relacional”.

Assumindo uma visão pragmática, o embaixador frisou que “quanto mais profunda for a cooperação entre a China e a UE, mais inevitável será o crescimento de visões e diferenças”.

“Não deveremos evitar os problemas, mas temos de admitir que essas diferenças significativas em termos de sistemas sociais e níveis de desenvolvimento podem não ser solucionados a curto prazo. A chave é procurar campos comuns [para a cooperação] no meio dessas diferenças, e não ignorar eventuais consensos devido a diferenças a título individual. Não podemos também deixar que a cooperação, em termos gerais, sofra constrangimentos devido a diferenças locais”, disse ainda.

Portugal, aquele modelo

O embaixador não esqueceu o facto de Portugal “desempenhar um modelo a seguir na cooperação entre a China e a UE”.

“Tendo como ponto de partida a perspectiva histórica, China e Portugal deveriam juntar as mãos e aprender com as experiências dos últimos 45 anos de desenvolvimento, trabalhando em conjunto para promover um progresso ainda maior, sendo um parceiro estratégico global na relação entre a China e a UE. Tal está em linha com os interesses de longo prazo da China e da Europa, bem como as expectativas comuns da comunidade internacional”, adiantou.

O diplomata citou também, no discurso, um inquérito realizado pela Câmara de Comércio da UE na China que fala da importância que o país continua a desempenhar para a visão estratégica das empresas europeias.

Este inquérito “revela que grande parte das empresas europeias na China continuam a ter lucros, e mais de 90 por cento das empresas inquiridas continuam a olhar para a China como um destino de investimento”.

Enquanto isso, disse Zhao Bentang, “59 por cento das empresas entrevistadas considera a China como um dos três principais destinos de investimento”.

“Mais importante é criar um sistema e ambiente de mercado aberto, justo e não discriminatório para os intervenientes de ambos os lados. Os esforços da China para expandir a abertura e melhorar o ambiente de negócios são óbvios para todos, mas tal não se verifica no lado europeu”, acusou.

O responsável entende que se deve fomentar “uma cooperação aberta e com mútuos benefícios”, sendo que “aprofundar o relacionamento entre a China e a UE não é apenas uma medida paliativa, mas uma escolha estratégica com benefícios mútuos, numa situação que proporciona ganhos mútuos”.

Ainda referindo alguns dados estatísticos, o embaixador lembrou, como prova da bem-sucedida relação comercial entre a China e a UE, que entre 2013 e 2022 o comércio entre os dois lados aumentou de 125.2 biliões de USD para 847.3 biliões.

Abaixo o unilateralismo

Zhao Bentang aproveitou também para referir algumas ideias em matéria de diplomacia que são, aliás, bastante referidas nas orientações de política externa chinesa, incluindo pelo próprio Xi Jinping.

Foi referida, nomeadamente, a ideia de que “a China e a UE devem opor-se ao unilateralismo, mantendo o sistema internacional com a ONU [Organização das Nações Unidas]” como o centro desse mesmo sistema.

Além disso, Zhao Bentang acredita que a China e a UE devem unir esforços no apoio a países africanos em desenvolvimento não apenas em termos económicos, mas também noutras áreas, nomeadamente a saúde.

“A China já apresentou à Europa algumas ideias em prol de uma cooperação tripartida, esperando também que cooperações relevantes possam ser implementadas o mais cedo possível para o benefício das populações dos países em questão.”

Dentro desta cooperação, “o lado estratégico da relação China-UE vai ser importante”, salientou. “Ambos os lados estão comprometidos com o multilateralismo, e a favor de uma gestão correcta das disputas mundiais em termos diplomáticos e políticos. Ambos os lados estão também contra o uso da força em resposta à ameaça da força”, disse, defendendo que o mundo “está hoje a atravessar uma grande mudança como não é vista há 100 anos”.

O recado para o futuro ficou dado. “À medida que a turbulência aumenta, mais é necessário trabalharmos em conjunto para enfrentar os desafios. A China e a UE são duas forças principais, dois grandes mercados e duas grandes civilizações. Quanto mais conturbado for o panorama internacional e quanto mais desafios globais surgirem, mais importante e indispensável é a cooperação entre a China e a UE”, rematou Zhao Bentang.

22 Mar 2024

O inimigo da paz

“Bibi Netanyahu has an innocent-sounding first name. But he is the danger man for a dangerous region. Even an avid supporter like Trump knows that Bibi doesn’t want peace. On and off, for the 16 years he has occupied Israel’s highest office, he has butchered tens of thousands of Palestinians. Under him, Gaza has endured a 16-year blockade, with itsa 2 million-plus population languishing in a virtual concentration camp. Now, Netanyahu threatens to Hiroshima it with a massive non-nuclear ground invasion.”
Hendrick Kung

Em 2009, Israel regressa às urnas e o Kadima voltou a ganhar com Tzipi Livni, mas não tinha os assentos necessários para governar. Em vez disso, Netanyahu (conhecido por Bibi) consegue-o, graças a um acordo com o líder da extrema-direita Avigdor Lieberman. É o seu segundo governo, ao qual se seguirão outros quatro, que lhe permitirão bater o recorde de Ben Gurion como o primeiro-ministro com mais anos de governo da história de Israel, ou seja, mais de 14 anos de poder, desde 2009, excepto o interlúdio dos governos Bennett e Lapid (Junho de 2021-Dezembro de 2022). Em 2010, Obama reiniciou as negociações à distância entre Netanyahu e Abu Mazen, que foram interrompidas quando Bibi retomou a colonização da Cisjordânia a toda a velocidade. E volta a atacar Gaza em 2012 com a “Operação Coluna de Nuvem”.

Em 2013, ganha novamente as eleições e regressa ao cargo de primeiro-ministro pela terceira vez. No ano seguinte, lança um novo ataque violento contra Gaza para atingir o Hamas. É a “Operação Margem Protectora” (dois mil e duzentos palestinianos e setenta e um israelitas mortos). Em 2015, Netanyahu consegue declarar no “Congresso Sionista Mundial”, como qualquer negacionista, que “Hitler não queria exterminar os judeus, apenas expulsá-los”, mas depois foi atraiçoado pelo Mufti de Jerusalém (tio de Arafat). Mas a maioria dos eleitores continuou a votar nele. Nas eleições antecipadas do mesmo ano, volta a ganhar e forma o seu quarto governo, novamente entre o Likud e a extrema-direita nacionalista e religiosa. No entanto, já estava a ser investigado em três processos diferentes por corrupção, fraude fiscal e quebra de confiança (correspondente ao nosso abuso de poder).

E, ao contrário de Olmert, ataca frontalmente o poder judicial, acusando-o de fabricar falsas acusações contra ele. Em 2018, faz aprovar uma lei constitucional que altera a natureza secular e multiétnica de Israel, transformando-o num “Estado-Nação do Povo Judeu”. No mesmo ano, Netanyahu concorda que o Qatar deve transferir milhões de dólares por ano para o governo do Hamas em Gaza. Numa reunião do Likud, chega mesmo a confessar que “quem quiser impedir a criação de um Estado palestiniano tem de apoiar o reforço do Hamas. Isto faz parte da nossa estratégia, de isolar os palestinianos de Gaza dos palestinianos da Judeia e da Samaria” (mesmo com o famoso muro de separação, que ele prolonga com uma barreira subterrânea muito cara).

Um conceito que ele irá mesmo reiterar perante a polícia que o interroga num dos seus julgamentos, dizendo “Temos vizinhos que são nossos arqui-inimigos… Envio-lhes mensagens a toda a hora, engano-os, desestabilizo-os, provoco-os e bato-lhes na cabeça… Controlamos a altura das chamas”. Ele ilude-se, como um aprendiz de feiticeiro, para guiar as chamas do Hamas para queimar Abu Mazen. Tal como pensa que está a remover o furúnculo palestiniano sem o curar, mas ignorando-o enquanto espera que desapareça por si próprio. Em 2019, Israel regressa às urnas e Netanyahu volta a ganhar, mas não consegue formar governo e obriga o Knesset a “dissolver-se” por lei e a mandar o país de novo às urnas. Mas nem mesmo desta vez surge uma maioria clara, antes o partido centrista “Azul e Branco” do antigo chefe do Estado-Maior do Exército, Binyamin “Benny” Gantz, ultrapassa o Likud por alguns pontos.

E ninguém consegue quebrar o impasse. Em 21 de Novembro, o procurador-geral Avichai Mandelblit decidiu acusar (ou seja, colocar em prisão preventiva) Netanyahu, que se tornou assim o primeiro primeiro-ministro israelita a ser acusado no exercício do cargo (embora apenas por assuntos correntes). As acusações são de fraude e abuso de confiança em dois casos; e de suborno, fraude e abuso de confiança num terceiro caso. O primeiro caso (fraude e abuso de confiança) diz respeito a presentes muito caros oferecidos a Bibi por dois amigos ricos (o magnata de Hollywood Arnon Milchan e o bilionário australiano James Packer) em troca de favores como a ajuda na obtenção de vistos, facilitação e promoção de interesses comerciais.

Segundo a acusação, os dois terão oferecido ao primeiro-ministro e à sua terceira mulher Sara (uma antiga hospedeira de bordo com quem casou em 1991) mais de duzentos e sessenta mil euros, bem como viagens e estadias em hotéis. No segundo caso (fraude e abuso de confiança), Netanyahu deve responder por ter usado a sua influência política sobre o editor do diário gratuito “Israel Hayom” para favorecer o seu principal concorrente, o jornal “Yedioth Ahronoth”, que deveria retribuir escrevendo bem sobre ele. Mas o acordo acabou por não se concretizar. O terceiro caso é o mais grave (corrupção, fraude e abuso de confiança) e diz respeito às decisões de Netanyahu enquanto ministro das telecomunicações e nessa qualidade, teria favorecido o “guru dos média” Shaul Elovitch, proprietário do primeiro colosso editorial “Bezeq”, para obter boa imprensa no seu site “Walla News”.

De acordo com os investigadores, o primeiro-ministro e a sua mulher Sara, bem como Elovitch e a sua mulher, intervieram continuamente para influenciar o conteúdo do sítio, chegando mesmo a controlar as nomeações de jornalistas. Em troca, Netanyahu terá aprovado regulamentos pró-Elovitch e várias facilidades que renderam ao magnata mais de quinhentos milhões de dólares. Em Israel, os arguidos não podem ser ministros e, se os ministros acabam por ser julgados, o Supremo Tribunal obriga-os a demitir-se. Mas uma lacuna na lei permite salvar os primeiros-ministros que estão a ser julgados, até porque ninguém antes de Bibi tinha estado nessa posição (Olmert tinha-se demitido antes), no pressuposto de que devem sair se forem condenados no recurso. No entanto, é sempre possível que o Supremo Tribunal se pronuncie sobre o caso de Bibi, preenchendo essa lacuna, pois de facto, Netanyahu está a começar a colocá-lo na mira.

Em 2020, como não há acordo, Israel volta às urnas. Desta vez, Netanyahu e Gantz chegam a acordo sobre um “governo de emergência” em forma de estafeta, ou seja, Bibi assume a sua liderança, à espera de passar o testemunho a Benny. A 13 de Agosto, em plena emergência Covid, Netanyahu assina na Casa Branca os “Acordos de Abraão”, mediados pelo seu amigo Donald Trump, com os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein, estabelecendo relações diplomáticas com estes países (à semelhança das sancionados com o Egipto e a Jordânia). Seguiram-se acordos semelhantes com Marrocos e o Sudão. E está a ser preparado o muito mais decisivo com a Arábia Saudita. Tudo sobre a cabeça e a pele dos palestinianos. A grande ideia prevê, pelo menos numa primeira fase, a luz verde para a anexação de 30 por cento da Cisjordânia, ou seja, dos territórios que rodeiam as colónias judaicas. Uma dupla provocação para o povo dos Territórios e para a Autoridade Nacional Palestiniana (ANP) do cada vez mais fraco Abu Mazen.

E mais um favor inesperado para os extremistas do Hamas. Em 2021, o governo de amplo acordo desmorona-se e tanto Gantz como Netanyahu optam por mais uma votação antecipada. O Likud volta a ser o partido líder, mas Bibi não consegue encontrar o número de assentos para governar. E, desta vez, a oposição une-se contra ele, interrompendo o seu reinado após 12 anos ininterruptos. A 13 de Junho, Naftali Bennett, líder da “Yamina” (a nova federação da direita anti-Likud), aliou-se aos centristas liderados por Gantz e Yair Lapid, mas também a grupos de esquerda e (pela primeira vez) a um partido árabe, e tornou-se primeiro-ministro. A fórmula do revezamento regressa, e os dois primeiros anos da legislatura para Bennett, os outros dois para Lapid. Em Março de 2022, Bennett declara a neutralidade de Israel na guerra desencadeada pela Rússia contra a Ucrânia.

Apesar da pressão de Biden, apenas envia aos ucranianos armas defensivas, capacetes e escudos militares. E oferece-se como mediador entre Moscovo e Kiev. Mas justamente quando um cessar-fogo parece próximo, (ele próprio o diz) o veto conjunto dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha chega para bloquear tudo. Entretanto, em Telavive, a coligação governamental desmorona-se ao fim de apenas um ano. Em Julho, Bennett passa o testemunho a Lapid, na expectativa de eleições antecipadas em Novembro. As sondagens dão a Bibi o favoritismo, com uma maioria relativa de lugares no Knesset. Mas ele, consciente do desaire do ano anterior, não quer arriscar e continua a ter a espada de Dâmocles de um julgamento sobre a sua cabeça. Por isso, apresenta às urnas uma ampla coligação de extrema-direita com os partidos religiosos “Shas” e “Judaísmo Unido da Torá” e, pior ainda, com a direita fundamentalista “Sionismo Religioso”, uma lista encabeçada por Bezalel Smotrich e Itamar Ben-Gvir.

Este último, líder do “Poder Judaico”, é um supremacista fanático e fascistóide, repetidamente acusado e uma vez mesmo condenado por incitar ao racismo contra os palestinianos, também famoso por ter ameaçado publicamente Rabin duas semanas antes do seu assassinato. Um aliado indesejável até para os seus amigos americanos na administração de Joe Biden. Nas eleições de 1 de Novembro de 2022, a coligação de Netanyahu venceu com sessenta e cinco dos cento e, após dois meses de negociações frenéticas, Bibi formou o seu sexto governo. O mais à direita de toda a sua história e da história de Israel. Anuncia imediatamente uma reforma contra a justiça para colocar o Supremo Tribunal sob a alçada do governo. Nomeia Aryeh Deri, líder do “Shas”, condenado por suborno e fraude fiscal, para Ministro do Interior, mas o Tribunal obriga-o a demiti-lo. Em vez disso, Ben Gvir torna-se nada menos que Ministro da Segurança Nacional e, a 3 de Janeiro de 2023, estreia-se com uma caminhada na “Esplanada das Mesquitas” em Jerusalém, imitando a caminhada de Sharon que desencadeou a segunda Intifada em 2000.

Poucos dias depois, o exército invade Jenin, na Cisjordânia, onde morrem uma dúzia de palestinianos. No dia seguinte, um ataque palestiniano mata nove israelitas em frente a uma sinagoga em Jerusalém Oriental. E os confrontos voltam a explodir tanto na Cisjordânia como em Gaza. Na política externa, Netanyahu confirma a linha de Bennett com nenhum envio de armas ofensivas para a Ucrânia. Na política interna, o seu verdadeiro inimigo são os magistrados que o julgam e o Supremo Tribunal que o pode expulsar se for condenado. De facto, já em Janeiro, apresentou a sua anunciada reforma judicial, que dá ao governo (ou seja, a si próprio) mais poder na nomeação dos juízes e ao parlamento (ou seja, à sua maioria) o poder de anular as decisões do tribunal com uma votação de 50 por cento +1. É um ataque à divisão de poderes, a pedra angular de todas as democracias, incluindo a israelita.

E, desde Fevereiro, as pessoas saem à rua praticamente todos os dias em Telavive, Jerusalém e em todas as principais cidades do país, protestando contra essa lei, mas também contra outra que é a criação de uma força policial especial, a “Guarda Nacional de Israel”, directamente dependente do ministro Ben-Gvir.

Netanyahu foi em frente, mas a 27 de Março, o ministro da Defesa, Yoav Gallant, criticou a reforma do Tribunal e o primeiro-ministro expulsou-o na mesma noite, decapitando efectivamente as forças armadas (um gesto de que se arrependeria amargamente alguns meses mais tarde). As ruas e praças ficam ainda mais inflamadas com manifestações pró-Gallant, greves, barricadas, confrontos, marchas, até de soldados e reservistas enfurecidos. Bibi é forçado a voltar atrás no despedimento do ministro. Mas, em Julho, fez com que o Knesset aprovasse a lei anti-judiciária em etapas forçadas, lançando mais achas para a fogueira.

Nessa altura, o Presidente da República Isaac Herzog interveio, apelando a Netanyahu para que retirasse a reforma. Israel nunca esteve tão dividido biblicamente em quarenta semanas de protestos ininterruptos. No final, o primeiro-ministro concordou em congelar a medida enquanto se aguarda uma mesa redonda com as oposições, mas não a da Guarda Nacional. Entretanto, continua a financiar novos colonatos na Cisjordânia como antes e mais do que antes, pois em apenas seis meses, o seu governo aprova a construção de mais treze mil casas do outro lado da fronteira. Trata-se de um recorde desde 2012. E uma escolha tão cínica quanto suicida. Os dados demográficos são impiedosos, dado a taxa de natalidade dos palestinianos ser superior à dos judeus israelitas e uma anexação da Cisjordânia (com o direito automático de voto para os seus habitantes) entregaria em breve a maioria parlamentar à população árabe e “Adeus Estado Judaico”.

Mesmo a ideia de uma anexação parcial é insustentável, porque dizer adeus à fórmula “dois povos, dois Estados” deixaria Israel cercado e sitiado por populações ainda mais hostis do que é actualmente. É impensável imaginar um paraíso rodeado de inferno. Sharon compreendeu-o em 2005. Netanyahu não o entendeu agora e varre o pó velho para debaixo do tapete e acumula pó novo. Em 1993, ano de Oslo, havia cento e trinta e seis mil colonos na Cisjordânia. Depois, Rabin reduziu-os e Sharon também, desde 2004. Actualmente, são cerca de quatrocentos e setenta mil na Cisjordânia e duzentos e trinta mil em Jerusalém Oriental, distribuídos por duzentos e setenta e nove colonatos em que metade deles nem sequer são reconhecidos pelo governo, ou seja, duplamente abusivos. Ocupando os territórios palestinianos mais férteis e ricos em água, os colonos são mal vistos pelos invasores, despojados de terra e água, muitas vezes expulsos das suas casas, não raro destruídas para os mandar embora.

Por isso, Israel é obrigado a fazer enormes esforços para os proteger, com cerca de quinhentos postos de controlo e grande parte do exército reduzido à sua escolta armada. Na frente norte da Cisjordânia, o governo de Netanyahu mantém vinte e seis batalhões do exército, deixando os serviços secretos (outrora os melhores do mundo) sem bússola, e a frente sul de Gaza, guarnecida por apenas duas companhias de recrutas e a polícia local, desprotegida. Para Netanyahu, o Hamas já não é uma emergência, dado que em 2023, o Governo deixa de pôr os seus dirigentes sob escuta para “não desperdiçar recursos”. E logo na frente sul, às 06h30 de 7 de Outubro de 2023, no dia seguinte ao 50.º aniversário da guerra do “Yom Kippur”, enquanto Israel festeja a “Simchat Torah” (Alegria da Torah), o Hamas lança a operação “Dilúvio de Al Aqsa” com dois mil e quinhentos terroristas que se infiltram de Gaza em Israel, atravessando a fronteira a bordo de carrinhas, camionetas, motos, asas-delta e parapentes.

E atingem vários “kibutzim” na fronteira com a Faixa de Gaza e uma festa Rave. O Estado judaico é apanhado totalmente desprevenido, exactamente como no Kippur, cinquenta anos antes, e apesar dos avisos dos serviços secretos egípcios e americanos sobre o perigo iminente de Gaza. É uma carnificina, um ” pogrom”, o pior massacre de civis jamais sofrido por Israel com cerca de mil e quatrocentos mortos num dia (incluindo muitas crianças, rapazes e mulheres) e duzentos e trinta e nove reféns. Netanyahu, agora no fim da corda, proclama o estado de guerra, como não fazia desde 1973. Tenta recompor o país que ele próprio dividiu, com um governo de unidade nacional a que se junta Benny Gantz. E desencadeia a operação “Espada de Ferro na Faixa de Gaza” que é um cerco com lançamentos indiscriminados de mísseis, ataques aéreos e incursões por terra, mar e ar, que cheira a retaliação decidida com raiva, a “vingança colectiva” contra a população, uma vez que os dirigentes do Hamas estão quase todos no estrangeiro, entre o Qatar e a Síria.

Os relatórios da ONU são aterradores e indicam sete mil palestinianos mortos, incluindo três mil crianças, só nos primeiros vinte dias; 40 por cento das casas destruídas; cerca de seiscentos mil deslocados (mais de um quarto da população) em fuga para a parte sul da Faixa de Gaza e para o deserto do Negev; uma catástrofe humanitária e sanitária; ajuda alimentar em abundância que demora muito a chegar aos destinatários (as fronteiras com o Egipto e Israel estão seladas, salvo algumas brechas esporádicas). E uma catadupa de anúncios loucos de invasão de terras sem um plano ou uma saída. Até à data, o número de mortos subiu para trinta e um mil e trezentos e de feridos para setenta e três mil e cem. Todos os dias estes números aumentam e a comunidade internacional não tem uma solução imediata para parar a carnificina.

Entretanto, o Hamas, longe de estar enfraquecido, continua a atacar o Estado judaico com quase dez mil rockets em três semanas. E atinge dois dos seus objectivos com o “pogrom” que é o congelamento dos novos “Acordos Abraâmicos entre Israel e a Arábia Saudita” e uma guerra aberta com o Estado judaico na selva de Gaza. Se, a 7 de Outubro de 2023, Israel tinha regressado por um dia ao lado da direita, ou pelo menos do agredido, em poucas horas Netanyahu conseguiu a árdua tarefa de o fazer regressar ao lado errado, ou pelo menos do agressor. A profecia de Gandhi torna-se realidade pois à força de “olho por olho”, ficaram todos cegos.

21 Mar 2024

Instituto Camões revela estratégia para Sudeste Asiático

O Camões – Instituto da Cooperação e da Língua está a desenvolver uma “aposta grande” no Sudeste Asiático, utilizando Macau como plataforma, para “dinamizar mais na Ásia a presença do português”, disse à Lusa a presidente do instituto.

“Há uma aposta grande que estamos a tentar desenvolver com o Sudeste Asiático, aproveitando a nossa presença em Macau através do IPOR [Instituto Português do Oriente], podemos também dinamizar mais na Ásia a presença do português”, afirmou à Lusa Ana Paula Fernandes, à margem da inauguração de uma cátedra em homenagem à escritora portuguesa Lídia Jorge na Universidade Federal brasileira de Goiás, a primeira cátedra da rede Camões no Brasil a homenagear uma escritora, a nona no Brasil e a 63.ª no mundo.

“Temos recebido pedidos da Coreia do Sul, mas também do Japão, onde irei em Abril, também para anunciarmos uma nova cátedra”, anunciou a responsável máxima pelo instituto que promove a língua e a cultura portuguesa no exterior.

Cátedras a caminho

Na mesma ocasião, Ana Paula Fernandes sublinhou ter a ambição de protocolar mais cátedras, mas admitiu existir um “processo de transição com o próximo Governo relativamente às prioridades que vão ser estabelecidas”.

Mas o que estava planeado para 2024 “no contexto do Orçamento de Estado que foi aprovado era efectivamente o reforço das cátedras”, frisou.

“Obviamente que temos de fazer isto de uma forma sustentável”, disse, acrescentando que em Julho tem lugar o primeiro encontro anual que servirá, entre outras coisas, para avaliar o impacto e analisar resultados.

“Em função disso perceber onde é que estão os mercados e posicionarmo-nos nesses mercados”, reforçou, acrescentando ser necessário estar atento a novas dinâmicas, como os novos fluxos migratórios de portugueses. Mas também “permitir o acesso para a língua portuguesa para outros que não têm nada a ver com Portugal, nada a ver com a cultura portuguesa, mas que querem aprender português”, disse.

21 Mar 2024

China / Austrália | Relações cimentadas após anos de tensões

A viagem do ministro dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, a Camberra visou restaurar os laços de cooperação afectados por várias disputas nos últimos anos

 

Os chefes da diplomacia da Austrália e da China reforçaram ontem as relações bilaterais, apesar de anos de tensão e divergências sobre a região do Indo-Pacífico, comércio e direitos humanos.

“Através dos esforços de ambas as partes, a China e a Austrália quebraram o gelo e estão a navegar juntas novamente, e os intercâmbios e a cooperação em muitos domínios foram gradualmente restaurados”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, em comunicado.

Wang, o primeiro responsável da diplomacia chinesa a visitar o território australiano desde 2017, participou no sétimo Diálogo Estratégico Austrália-China, em Camberra, no âmbito das medidas de normalização das relações bilaterais, enquadradas num contexto de competição na região do Indo-Pacífico entre Pequim e Washington, parceiro do país oceânico.

“Cada vez que nos encontramos, a confiança mútua é reforçada e as relações China-Austrália avançam. A comunicação estratégica é positiva e um passo em frente para dissipar dúvidas e construir confiança”, considerou Wang.

No final do encontro, a ministra dos Negócios Estrangeiros australiana disse que as conversações se centraram nos australianos detidos na China, nos direitos humanos na região chinesa de Xinjiang, no Tibete e em Hong Kong, na segurança marítima e regional, na invasão da Ucrânia pela Rússia e no Médio Oriente.

Penny Wong sublinhou a importância de respeitar o direito internacional no mar do Sul da China, uma zona rica em recursos e fundamental para o comércio internacional, palco de disputas territoriais entre Pequim e os países da região.

“Manifestei a nossa grande preocupação com a conduta insegura no mar, o nosso desejo de paz e estabilidade no estreito de Taiwan e na nossa região”, disse Wong, numa conferência de imprensa, no final do encontro com Wang.

O responsável chinês sublinhou que a Austrália e a China “não têm disputas ou conflitos históricos” e os “interesses comuns ultrapassam de longe as diferenças”, instando ambas as partes a respeitarem a “soberania nacional e a integridade territorial” uma da outra.

Neste contexto, Wong afirmou que Camberra procura “uma relação estável, produtiva e madura com a China”. Os dois países estão a preparar uma visita à Austrália do primeiro-ministro chinês, Li Qiang, em data a divulgar.

A responsável australiana destacou ainda os passos dados pela China, o principal parceiro comercial, no levantamento das tarifas sobre vários produtos australianos impostas por Pequim em 2020, na sequência de um pedido feito pelo anterior Governo do conservador Scott Morrison de uma investigação internacional sobre a origem da covid-19.

Ponto de viragem

Pequim tem vindo a levantar as restrições comerciais a uma série de produtos e as relações bilaterais têm progredido desde que o primeiro-ministro australiano, Anthony Albanese, no poder desde Maio de 2022, visitou a China em Novembro.

“A previsibilidade nos negócios e no comércio é do interesse de todos”, observou Wong, esperando a resolução de “questões pendentes”, como o levantamento das tarifas sobre o vinho e a lagosta australianos.

Mas uma das questões prementes para a Austrália que ficou sem resposta é a situação do escritor australiano nascido na China, Yang Hengjun, condenado à morte por um tribunal chinês, com pena suspensa, por espionagem, no mês passado. “Não abandonaremos a defesa de Yang Hengjun”, prometeu Wong. A deslocação de Wang começou no domingo na Nova Zelândia e termina na quinta-feira na Austrália.

21 Mar 2024

Foshan | Nova exposição com trabalhos de fotógrafos de Macau

“The Land of Transcendence” é o nome da nova exposição de fotografia em Foshan que junta profissionais ligados a Macau. Nomes como João Miguel Barros, Francisco Ricarte ou António Duarte Mil-Homens juntam-se a Xu Pei Wu, Xu Nochuan, Yan Chen, Yu Tao e Ye Xiangang para exibir as imagens de um projecto com um cunho internacional

 

É mais um episódio na carreira de João Miguel Barros como fotógrafo e também na curta vida da galeria Art on Space em Foshan, sobretudo na ligação com artistas e fotógrafos internacionais. “The Land of Transcendence” [A Terra da Transcendência] é a nova exposição patente na cidade chinesa de Foshan a partir deste sábado e até 19 de Maio. João Miguel Barros foi convidado a participar como autor pelos curadores Iion Ho e Wing Wong, apresentando, ele próprio, um tríptico de imagens, ao lado de nomes bem conhecidos da fotografia de Macau, como é o caso do também arquitecto Francisco Ricarte e António Duarte Mil-Homens, que recentemente comemorou, no festival literário Rota das Letras, 50 anos de carreira.

Numa publicação da autoria dos curadores da exposição publicada no WeChat, lê-se que esta mostra “apresenta a fotografia como um meio que transcende o eu individual, explorando o significado filosófico da fotografia em relação ao eu sem forma e com interconexão de todas as coisas”.

Desta forma, o público é convidado a entrar “numa realidade que vai além da realidade concreta”, que “explora temas profundos da emoção humana, da realidade social e da paisagem natural, permitindo experimentar uma sensação de beleza e poder que transcende o eu”.

Olhares e alucinações

Barros escolheu para esta iniciativa o tríptico “Entre o Olhar e a Alucinação” [Between Gaze and Hallucination”, com cães no paredão deserto, que se apresentam no formato original.

Na descrição das imagens fala-se do “paredão imenso, cheio de pessoas, numa quantidade por vezes insuportável, outras nem tanto, mas quase sempre cheio”, enquanto os animais, “alguns de estimação, outros, vadios”, vagueiam junto a esse paredão, anónimos, perdidos, observadores.

“Hesitei na proposta a apresentar, mas acabei por voltar às origens, tal como fiz no início do meu mais recente livro, ‘Incidental Moments’. Sei que há uma variedade de propostas, e sei que também vão estar patentes trabalhos de Xu Pei Wu, que neste momento tem uma fantástica exposição em Macau, na Casa Garden, sobre os lugares percorridos por Li Bai [poeta chinês]. É algo que, só por si, é razão de qualidade deste projecto”, contou.

Esta é, para Barros, uma “exposição de ‘individualidades'” dentro de um colectivo, onde as imagens de Francisco Ricarte ou António Mil-Homens são bastante diferentes.

No caso de Francisco Ricarte, a participação faz-se pela via das imagens intituladas “EmCasa / HomeLand” # 1 & #2″, que não é mais do que uma “invocação emocional e visual introspectiva dos territórios” redescobertos pelo autor nos últimos cinco anos em viagens realizadas em Portugal.

Trata-se de “registos de um tempo e de um espaço imprecisos”, onde se regista “não só o que se vê, mas também o que se sente”.

Ligações e conexões

“Land of Transcendence” é a mostra que marca a segunda colaboração de Barros com a Art on Space. Da primeira vez, houve não só uma colaboração com o fotógrafo e advogado português, radicado há vários anos em Macau, como também uma ligação à associação local Halftone que, assim, também transpôs as fronteiras do pequeno território.

“Correu muito bem e [a colaboração] suscitou muita curiosidade”, declarou João Miguel Barros ao HM. “A galeria tem tido a preocupação de juntar nas exposições que organiza nomes internacionais com artistas chineses. Como é um espaço novo, a capacidade de captação ainda é limitada, vivendo muito do dinamismo da sua curadora e proprietária. Essa preocupação tem o sentido de permitir diálogos multiculturais e a troca de experiências que não podem deixar de se louvar.”

Para João Miguel Barros, Macau, ao ser um espaço multicultural por excelência, como também a associação Halftone, são lugares “de recrutamento importante” em termos de autores e artistas participantes. Coube aos curadores chineses a decisão de incluir imagens de Francisco Ricarte e Mil-Homens, além do tríptico de João Miguel Barros.

Apesar de considerar que esta relação não é ainda significativa para uma verdadeira internacionalização do universo fotográfico de Macau, a verdade é que, segundo o fotógrafo “os artistas de Macau precisam de sair deste espaço minúsculo”, sendo que alguns “têm-no feito pelo esforço e méritos individuais”.

João Miguel Barros entende também que “as instituições de Macau têm feito pouco pela fotografia, podendo fazer bastante mais com uma verba pouco significativa”. “A fotografia é uma forma de arte que atrai muita gente e que é muito popular. Bastava que o Instituto Cultural alocasse um espaço ou galeria só vocacionado para a fotografia, que permitisse mostrar o trabalho de gente nova e onde se fizessem exposições de artistas consagrados, com um programa curatorial dividido por pessoas de várias comunidades. Este espaço podia ser um bom impulsionador para levar a fotografia de Macau para o exterior”, sugere.

Barros fala sobretudo da falta de uma “visão estratégica” ou uma “dinâmica acertada com os grandes centros internacionais” para que isso não tenha ainda acontecido. “Gastam-se rios de dinheiro em exposições que por vezes não têm o retorno adequado em termos de relevância social e que servem apenas para inscrever acções no programa de actividades do Governo. E com muito menos dinheiro poder-se-ia fazer muitas outras coisas e ter mais eficácia na afirmação de artistas de Macau”, remata.

21 Mar 2024

Exercícios de tradução em torno da poesia amorosa chinesa

No mês da Primavera falemos de amor, e quem melhor para o fazer do que os poetas? Não quaisquer poetas, mas sim os da idade de ouro da poesia chinesa, aqueles que viveram na dinastia Tang (唐,618-907), grande em tudo, mas sobretudo no encontro de culturas e na poesia. Pela sua capital, Chang´an (长安) passeava-se todo o tipo de gente, nacionais e estrangeiros, incluindo estudantes. Eram tantos os que acorriam à capital chinesa que o governo Tang criou gabinetes especiais para acolher os residentes internacionais. Esta dinastia foi a única tão aberta e liberal, a viabilizar a chegada ao poder de uma imperadora, Wu Zetian (武则天, 624-705), e conheceu grandes imperadores como Xuanzong (玄宗皇帝, 685 762).

É a dinastia de Li Bai (李白,701-762), Wang Wei (王维,701-761), Du Fu (杜甫,712-770), Bai Juyi (白居易,772-846) e tantos outros ilustríssimos poetas que entoaram as alegrias e penas do amor como este merecia ser cantado.

Nesta idade de ouro literária, há, como em tantas outras manifestações artísticas, um estilo antigo gutishi ou gufeng (古体诗gǔtǐshī ou 古风gǔfēng) e um estilo moderno jintishi ou gelüshi (近体诗 Jìntǐshī ou 格律诗gélǜshī), sendo o mais moderno característico da dinastia Tang, onde abundam quadras de 5 ou 7 caracteres, denominadas jueju (绝句Juéjù), sendo as quadras de cinco caracteres as wujue (五绝wǔjué) e as de sete caracteres as qijue (七绝qījué), há ainda uma outra forma poética popular constituída por poemas de 8 versos, os lüshi( 律诗lǜshī), também eles de 5 caracteres, os wulü (五律Wǔlǜ)ou de 7 caracteres os qilü (七律Qīlǜ ), seguindo esquemas rimados rigorosos, em que normalmente as sílabas finais rimam. Nas estrofes de oito versos, é habitual as 2ª, 4ª, 6ª e 8ª linha rimarem, ao passo que nas quadras são os 2ºs e 4ºs versos, incluindo por vezes o primeiro verso, sem que tal seja um requisito obrigatório. A rima pode ainda incluir jogos tonais, com alternância entre o 1º e o 2º tons, por um lado, e o 3º e o 4º por outro. Nos lüshi é frequente que os 3ºs e 4ºs versos entrem em relação complementar ou antitética com os 5ºs e os 6ºs. Com a utilização destes recursos estilísticos, no fundo o que se pretende, como nos explicam Wang Guozhang e Wang Anlu (1995, 143): “é tornar os poemas musicais, encantadores, fluentes e fáceis de ler em voz alta”

Recorda-nos Zerbo Freire na sua tradução das Quadras Chinesas (2022) que a poesia Tang conheceu vários períodos, um inicial (618-713) sob a influência da Dinastia do Sul (420-589) repleto de sensibilidade e leveza, seguido de um período ascendente (713-766), no qual o desenvolvimento económico e cultural da dinastia se repercute em vários estilos poéticos e temáticas, encontrando no mesmo período, poetas “românticos” como Li Bai e realistas como Du Fu, ou de espírito ecológico como Wang Wei. Há ainda um período médio (766-836) onde desabrocham vários estilos individuais e um período de declínio (836-907), no qual a poesia acompanha a instabilidade dos tempos, provocada pelas guerras e crises políticas, que Bai Juyi, por exemplo, pôde experimentar.

Certo é que em todos estes períodos foi cantado o amor, correspondido, perdido, achado, distanciado, desaparecido, renovado, abandonado, fatal. Enfim, qualquer expressão amorosa pôde encontrar eco no sentimento fixado na escrita dos poetas, que tão bem souberam apresentar as tonalidades do coração humano.

Comecemos por um poema de Wang Wei, poeta do período ascendente, nascido numa família de mandarins, mas que teve alguns reveses na sua carreira oficial pelo que optou por terminar os seus dias em retiro, enquanto meditava sobre o sofrimento e transitoriedade do mundo, apoiando-se nas escrituras budistas e dedicando-se na sua eremitagem à pintura. Como era um bom pintor, conseguiu conjugar com grande mestria poesia e pintura, angariando fama na tradição chinesa de pintar poeticamente e realizar uma poesia pictórica. (Foreign Language Press, 2008: 109)

Em muitos casos, pode-se pensar no amor terreno como uma flor, dura pouca, desponta, é belo e murcha, ou pior, desparece deixando os amantes infelizes, muito embora seja uma maravilha enquanto dure, mas Wang Wei nesta quadra de cinco caracteres recorda o quanto faz sofrer, já que nos traz uma mulher que chorou sob uma árvore até morrer, após ter perdido o marido em combate, tendo das suas lágrimas em contacto com a terra despontado a ervilha do rosário, abrus precatorius, que é vermelha e redonda:

相思

红豆生南国,

春来发几枝?

愿君多采撷

此物最相思

(Freire, 2022: 22)

Apresento a minha tradução:

Saudoso padecer

Nas terras do Sul cresce a ervilha do rosário,

Quantos ramos despontaram na primavera?

Colhe até mais não poder,

Eis o meu saudoso padecer.

Ainda que não pertença à dinastia Tang, não resisto a apresentar, como complementar a esta quadra, um dos mais belos poemas de amor chineses. Este pertence a Su Dongpo (苏东坡), heterónimo que significa “A Encosta do Leste”, tendo como nome próprio Su Shi (苏轼, 1037-1101). Foi um poeta da dinastia Song (宋朝, 960 – 1279). Este mandarim teve uma carreira oficial muito problemática, porque, como nos recorda Graça de Abreu em Su Dongpo, Poemas (2023: 20) foi honesto e tolo, esquecendo-se de aplicar a si próprio a máxima confucionista de dizer a verdade, mas não toda. Tal imprudência valeu-lhe o epíteto de “Mandarim nómada”, já que passou grande parte da vida a viajar, impelido pelos ventos que sopravam contrafeição da corte.

Eis ao poema de 8 versos e sete caracteres, qilü (七律) em memória da sua terceira mulher, 王朝云(1062年—1096年)deixando o poeta cá na terra sempre triste:

《悼朝云》

苗而不秀岂其天,不使童乌与我玄。

驻景恨无千岁药,赠行惟有小乘禅。

伤心一念偿前债,弹指三生断后缘。

归卧竹根无远近,夜灯勤礼塔中仙。

Em Memória de Zhaoyun

Se o broto não for excelente como poderá ser digno do Céu?

É para mim um mistério tanta virginal pureza.

Ofereço-me a pequena via do meditar,

Por não encontrar na paisagem remédio para o meu mal.

Pago um karma passado com tristeza,

Em futuro de terceira vida interrompida,

Regresso ao repouso da próxima e distante raiz do bambu,

No templo à noite, presto culto diligente à bela imortal.

Bai Juyi, que já viveu nos tempos conturbados da dinastia Tang, foi um mandarim, erudito e eremita, dedicado aos estudos do budismo e do taoismo, que sabia amar a vida. Ele, como refere António Graça de Abreu em Poemas de Bai Juyi foi o poeta mais no coração do povo chinês” (1991: 13). Apresenta uma das mais belas canções de amor da dinastia Tang, triste já que relata os amores fatais do imperador Xuanzong pela concubina, Yang Guifei (楊貴妃, 719-756). Esta intitulada 《长恨歌》foi traduzida para português por Graça de Abreu sob o título de “Canto do Remorso Perpétuo” (1991: 78-84). O amor foi fatal a ambos, porque o imperador negligenciou os assuntos do império em benefício da companhia da concubina. Coincidindo o romance com o início das turbulências na dinastia Tang, mais especificamente, com a revolta do general An Lushan (安禄山), entre 755-763. Esta mergulhou o país numa guerra civil e o imperador viu-se obrigado a abandonar a capital, levando com ele Yang Guifei. Porém, as tropas amotinaram-se, pedindo a morte da amada do soberano, à qual atribuíam todos os males da China. Na sequência da morte da beldade, o imperador abdicou em favor do filho, passando o que restavam dos seus dias entre delírios e esperança de reencontrar a amada no reino dos imortais.

Há mil e uma formas de amar, positivas e alegres, negativas e dolorosas, imaginadas, reais, mas todas sinalizam a presença do amor. Os versos destes grandes poetas sucedem-se, muitos deles dedicados ao amor triste, saudoso, abandonado, descurado e ressentido.

Leia-se esta quadra de cinco versos que nos traz o amor não correspondido e o ressentimento que provoca, tão bem captado na sensibilidade poética, quando alguém gosta de uma outra pessoa, sem o/a excluídos possam entender a razão de tal opção, que nada tem de racional, já que se trata de sentimentos, genuínos na sua espontaneidade. Acompanhemos o eu poético proporcionado por Li Bai:

怨情

美人卷珠帘

深坐颦蛾眉。

但见泪痕显,

不知心恨谁。

(Freire, 2022: 29)

Proponho a seguinte tradução:

Ressentimento

Beldade pregueada, entre cortinas,

Alheada, de sobrancelhas franzidas,

Embora note os vestígios de suas lágrimas,

Desconheço quem lhe provoca as feridas.

Ao queixoso não lhe basta amar, gostaria de ser amado, possivelmente para concretizar uma relação amorosa, desejada, que satisfizesse o seu coração, pelo que ao reconhecer a agitação da dama, lastima-se por não ser ele o alvo das atenções da amada.

Daqui não se segue que Li Bai possua um eu poético ressentido, pelo contrário, era um espírito livre, cavaleiro errante, que pouco aqueceu o lugar na corte como redator da Academia de Hanlin, por não suportar os jogos de poder, inclinado a uma profunda comunhão com a natureza, à maneira taoista, o seu nome próprio Bai (白), “branco” mereceu-lhe o epíteto de Taibai (太白), que significa “muito branco” ou iluminado, relacionando-o com a Estrela da Manhã, o nome que os chineses encontraram para Vénus, que ele honrou à sua maneira, casando quatro vezes e vivendo com escassos bens materiais mas repleto de aventuras e riqueza espiritual.

A Primavera é a estação do despertar de toda a natureza e, por isso, também dos sentimentos amorosos que um outro poeta Tang Liu Fangping (? – 782刘方平) descreve com subtileza associando-os com suavidade e discrição à brisa e ao luar primaveris:

《月夜》

更深月色半人家,

北斗阐干南斗斜,

今夜偏知春气暖,

虫声新透绿窗纱。

(Freire, 2022: 62)

Sugiro a seguinte tradução para esta quadra:

Noite de luar

Noite alta, o luar, quase sem vivalma,

As estrelas da Ursa Maior na sua trajetória bela,

Noite inclinada à suave brisa de Primavera,

Escutando os insetos cantando de novo junto à janela.

O poeta Liu Fangping relata a vontade de amar que surge na primavera, nas noites de luar onde insetos e brisa dedilham as cordas sensíveis do eu poético, que encontra na natureza o seu parceiro amoroso, e não precisa de mais para sentir o calor das sensações a despontar tão juvenis como a quadra natural.

Todos os poetas chineses aqui trazidos têm um traço comum, a subtileza sensível no canto amoroso, figurando-o com o auxílio de elementos naturais, seja a lua, as flores, os pássaros, particularmente os patos mandarim, que simbolizam a relação amorosa, ou as aves que entram em comunhão de alma com o eu poético, como os papa-figos, mensageiros de um amor distante, ou ainda outros seres mitológicos, as fénix. As declarações, as saudades, alegrias e amarguras nunca são apresentadas de uma forma direta, mas através dos elementos da natureza que melhor se conjugam com o sentir poético.

Hoje, tempo de grande exposição de sentimentos, holofotes e espetáculo, poderá ser um bálsamo e um consolo para o mundo termos à disposição este reservatório poético clássico chinês, onde se pode comungar de pequenos gestos criativos que recordam e acompanham, com imenso gáudio, a paisagem primaveril do coração. Termino a partilha do amor de antigos poetas chineses com o homem de estado, poeta e letrado Tang, Zhang Jiuling (张九岭678-740), que expressa a saudade amorosa através de uma amada distante pela força das circunstâncias, comunicando os seus sentimentos em comunhão com a lua:

《望月怀远》

海上生明月,天涯共此时。

情人怨遥夜,竟夕起相思。

灭烛怜光满,披衣觉露滋。

不堪盈手赠,还寝梦佳期。

Pensando no Amado ao Luar

A lua brilhante sobre o mar,

Distantes, mas a partilhar o mesmo olhar.

Sofrem os amantes com a separação,

Toda a noite o mesmo penar no coração.

Ao apagar a vela, surge a lua cheia apiedada,

Envolta em roupa, sinto-a orvalhada,

Sem conseguir ofertar uma mão cheia de lua,

Regresso ao quarto, sonhando contigo de alma pura.

Bibliografia

Freire, Zerbo. 2022. Quadras Chinesas. Macau: Livros do Meio.

Foreign Language Press. 2008. Quick Access to Chinese History. Beijing: Foreign Language Press.

Graça de Abreu, António (Org. Trad. ). 1991. Poemas de Bai Juyi. Macau: Instituto Cultural de Macau.

______________1993. Poemas de Wang Wei. Macau: Instituto Cultural.

______________.2023. Su Dongpo, Poemas. Lisboa: Grão-Falar.

Su Shi (苏轼). 2024.《悼朝云》(Em Memória de Zhaoyun). Baike.Baidu.com

Wang Guozhang, Wang Anlu. 1995. 《唐诗60首今语浅译》. Sixty Annoted Tang Poems. Beijing: Sinolingua.

Zhang Bingxing (Trad.). 2002. 英译中国古典诗词名篇白首 100 Best Chinese Classical Poems.北京:中华书局.

Zhang Jiuling. 2024.《望月怀远》(Pensando no Amado ao Luar) Baike.Baidu.com

21 Mar 2024

Turistas | Quase 3,3 milhões em Fevereiro, apenas 5,3% de estrangeiros

No mês passado, entraram em Macau 3.293.564 turistas, total que representou quase o dobro em relação a Fevereiro de 2023, com uma subida de 106,7 por cento. Face ao período pré-pandemia, a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) aponta que o registo do mês passado ficou a 92,9 por cento do volume de entradas de turistas em Fevereiro de 2019, e mais 15,1 por cento face a Janeiro deste ano.

A maior diferença sentiu-se ao nível dos excursionistas (1.867.660), que registaram um aumento anual de 148,9 por cento, enquanto os turistas aumentaram 69,1 por cento para um total de 1.425.904.

Apesar do crescimento do volume de turistas, o período médio de permanência diminuiu 0,2 dias para 1,1 dias, face a Fevereiro de 2023, diferença que a DSEC atribuiu ao decréscimo da proporção de excursionistas em relação ao total de visitantes ter subido ligeiramente. Os excursionistas ficam em Macau, em média, 0,3 dias.

Em termos de origem, entraram em Macau em Fevereiro 176.192 turistas internacionais, volume que a DSEC assinala como “uma recuperação de 71,6 por cento do número registado em Fevereiro de 2019”. Porém, no plano global, os turistas internacionais foram apenas 5,3 por cento de todos os visitantes. Destes, os países de origem com mais entradas ao nível do Sudeste Asiático foram as Filipinas (39.837) e Indonésia (12.471), duas das maiores comunidades que residem e trabalham na RAEM.

Em relação ao Nordeste Asiático, os países mais representativos foram a Coreia do Sul (41.844 turistas) e o Japão (11.442 turistas), seguido dos Estados Unidos (9.903 turistas).

21 Mar 2024