Foshan | Nova exposição com trabalhos de fotógrafos de Macau

“The Land of Transcendence” é o nome da nova exposição de fotografia em Foshan que junta profissionais ligados a Macau. Nomes como João Miguel Barros, Francisco Ricarte ou António Duarte Mil-Homens juntam-se a Xu Pei Wu, Xu Nochuan, Yan Chen, Yu Tao e Ye Xiangang para exibir as imagens de um projecto com um cunho internacional

 

É mais um episódio na carreira de João Miguel Barros como fotógrafo e também na curta vida da galeria Art on Space em Foshan, sobretudo na ligação com artistas e fotógrafos internacionais. “The Land of Transcendence” [A Terra da Transcendência] é a nova exposição patente na cidade chinesa de Foshan a partir deste sábado e até 19 de Maio. João Miguel Barros foi convidado a participar como autor pelos curadores Iion Ho e Wing Wong, apresentando, ele próprio, um tríptico de imagens, ao lado de nomes bem conhecidos da fotografia de Macau, como é o caso do também arquitecto Francisco Ricarte e António Duarte Mil-Homens, que recentemente comemorou, no festival literário Rota das Letras, 50 anos de carreira.

Numa publicação da autoria dos curadores da exposição publicada no WeChat, lê-se que esta mostra “apresenta a fotografia como um meio que transcende o eu individual, explorando o significado filosófico da fotografia em relação ao eu sem forma e com interconexão de todas as coisas”.

Desta forma, o público é convidado a entrar “numa realidade que vai além da realidade concreta”, que “explora temas profundos da emoção humana, da realidade social e da paisagem natural, permitindo experimentar uma sensação de beleza e poder que transcende o eu”.

Olhares e alucinações

Barros escolheu para esta iniciativa o tríptico “Entre o Olhar e a Alucinação” [Between Gaze and Hallucination”, com cães no paredão deserto, que se apresentam no formato original.

Na descrição das imagens fala-se do “paredão imenso, cheio de pessoas, numa quantidade por vezes insuportável, outras nem tanto, mas quase sempre cheio”, enquanto os animais, “alguns de estimação, outros, vadios”, vagueiam junto a esse paredão, anónimos, perdidos, observadores.

“Hesitei na proposta a apresentar, mas acabei por voltar às origens, tal como fiz no início do meu mais recente livro, ‘Incidental Moments’. Sei que há uma variedade de propostas, e sei que também vão estar patentes trabalhos de Xu Pei Wu, que neste momento tem uma fantástica exposição em Macau, na Casa Garden, sobre os lugares percorridos por Li Bai [poeta chinês]. É algo que, só por si, é razão de qualidade deste projecto”, contou.

Esta é, para Barros, uma “exposição de ‘individualidades'” dentro de um colectivo, onde as imagens de Francisco Ricarte ou António Mil-Homens são bastante diferentes.

No caso de Francisco Ricarte, a participação faz-se pela via das imagens intituladas “EmCasa / HomeLand” # 1 & #2″, que não é mais do que uma “invocação emocional e visual introspectiva dos territórios” redescobertos pelo autor nos últimos cinco anos em viagens realizadas em Portugal.

Trata-se de “registos de um tempo e de um espaço imprecisos”, onde se regista “não só o que se vê, mas também o que se sente”.

Ligações e conexões

“Land of Transcendence” é a mostra que marca a segunda colaboração de Barros com a Art on Space. Da primeira vez, houve não só uma colaboração com o fotógrafo e advogado português, radicado há vários anos em Macau, como também uma ligação à associação local Halftone que, assim, também transpôs as fronteiras do pequeno território.

“Correu muito bem e [a colaboração] suscitou muita curiosidade”, declarou João Miguel Barros ao HM. “A galeria tem tido a preocupação de juntar nas exposições que organiza nomes internacionais com artistas chineses. Como é um espaço novo, a capacidade de captação ainda é limitada, vivendo muito do dinamismo da sua curadora e proprietária. Essa preocupação tem o sentido de permitir diálogos multiculturais e a troca de experiências que não podem deixar de se louvar.”

Para João Miguel Barros, Macau, ao ser um espaço multicultural por excelência, como também a associação Halftone, são lugares “de recrutamento importante” em termos de autores e artistas participantes. Coube aos curadores chineses a decisão de incluir imagens de Francisco Ricarte e Mil-Homens, além do tríptico de João Miguel Barros.

Apesar de considerar que esta relação não é ainda significativa para uma verdadeira internacionalização do universo fotográfico de Macau, a verdade é que, segundo o fotógrafo “os artistas de Macau precisam de sair deste espaço minúsculo”, sendo que alguns “têm-no feito pelo esforço e méritos individuais”.

João Miguel Barros entende também que “as instituições de Macau têm feito pouco pela fotografia, podendo fazer bastante mais com uma verba pouco significativa”. “A fotografia é uma forma de arte que atrai muita gente e que é muito popular. Bastava que o Instituto Cultural alocasse um espaço ou galeria só vocacionado para a fotografia, que permitisse mostrar o trabalho de gente nova e onde se fizessem exposições de artistas consagrados, com um programa curatorial dividido por pessoas de várias comunidades. Este espaço podia ser um bom impulsionador para levar a fotografia de Macau para o exterior”, sugere.

Barros fala sobretudo da falta de uma “visão estratégica” ou uma “dinâmica acertada com os grandes centros internacionais” para que isso não tenha ainda acontecido. “Gastam-se rios de dinheiro em exposições que por vezes não têm o retorno adequado em termos de relevância social e que servem apenas para inscrever acções no programa de actividades do Governo. E com muito menos dinheiro poder-se-ia fazer muitas outras coisas e ter mais eficácia na afirmação de artistas de Macau”, remata.

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