João Santos Filipe PolíticaLam Lon Wai defende uso eficaz do Metro Ligeiro em grandes eventos O deputado Lam Lon Wai defende que o Governo deve promover uma maior integração do Metro Ligeiro com os autocarros públicos, principalmente nos dias de grandes eventos turísticos, como o Concurso Internacional de Fogo-de-Artifício de Macau. A opinião foi defendida numa interpelação de 3 de Novembro, divulgada ontem pelo gabinete do legislador ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau. Segundo Lam, o concurso foi um grande sucesso e atraiu multidões tanto para zona dos Lagos de Nam Van, como na Marginal da Taipa, junto aos Jardins do Oceano. Todavia, para quem tentou apanhar autocarros, depois de assistir ao espectáculo, a situação foi caótica. “Quem tiver lido os jornais do dia seguinte, percebe que os autocarros estavam excessivamente cheios, principalmente depois do fogo-de-artifício. A situação foi pior na paragem de autocarro junto aos Jardins do Oceano, onde mais de mil pessoas tiveram de se empurrar para entrar nos autocarros, que seguiam na direcção da Península”, escreve o deputado. “Apesar da polícia ter sido enviada ao local, para manter a ordem, foi muito difícil controlar a situação. As redes sociais também nos mostraram que muita gente optou por sair do local para apanhar transportes”, é acrescentado. Planos de integração Face a este cenário, Lam Lon Wai quer saber se as autoridades planeiam “fazer uma melhor utilização do sistema de Metro Ligeiro”, principalmente quando há “eventos de grande escala”, e promover mais o transporte junto dos turistas ou criar melhores ligações com os autocarros. Por outro lado, o deputado pergunta se existem planos para lançar meios de pagamento combinados, que permitam viajar no Metro Ligeiro e nos autocarros públicos. Lam Lon Wai lembra que no ano passado o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, admitiu que vários procedimentos e a existência de diferentes concessionárias tornavam difícil a integração dos sistemas de pagamento. Porém, indica que a abertura integral do centro modal da Barra, que deve acontecer ainda este ano, é a oportunidade ideal para lançar um sistema integrado de pagamentos.
João Santos Filipe Manchete PolíticaCreches | Ho Ion Sang quer novas regras após morte de bebé O deputado e membro da associação que detém a creche onde aconteceu o polémico incidente apela ao Governo para ponderar a instalação obrigatória de videovigilância nas creches Ho Ion Sang defende que o Governo deve ponderar instalar câmaras de videovigilância nas creches e rever a legislação para o funcionamento destes serviços. Foi desta forma que o deputado, vice-presidente da União Geral das Associações dos Moradores, reagiu à morte de uma criança de quatro meses na Creche Fong Chong, gerida pela associação que integra. Segundo o deputado, as “Normas Reguladoras da Instalação e Funcionamento de Creches” estão em vigor há mais de 20 anos, e embora tenham sido parcialmente revistas, têm falhas, estão desactualizadas e precisam de ser “adaptadas” às práticas mais modernas. “Será que as autoridades relevantes vão estudar uma revisão abrangente e alterar as leis para aumentar ainda mais a qualidade dos serviços de creche?”, pergunta. Por outro lado, o deputado aponta que deve ser estudada a criação de uma lei para instalar equipamento de videovigilância para controlar as actividades das creches. “Actualmente, apenas algumas creches pediram ao Gabinete de Protecção de Dados Pessoais para instalar videovigilância, mas por motivos de segurança das suas instalações. Será que as autoridades vão estudar como fazer um equilíbrio entre a segurança das crianças e a privacidade?”, questiona. “O estudo deve indicar muito bem como instalar os equipamentos, regular rigorosamente a compra, processamento e divulgação das imagens, sons, e condições de acesso às mesmas”, foi acrescentado. O pedido de instalação de sistemas de videovigilância para controlar as crianças e o pessoal que trabalha em creches, tem sido uma constante de várias associações tradicionais, depois do incidente ocorrido na Creche Fong Chong. Soluções de longo prazo No texto da interpelação escrita partilhada ontem, Ho Ion Sang considera ainda que o encerramento da creche onde morreu a bebé de quatro meses “não é uma solução permanente”. O legislador pede assim ao Governo que apoie as famílias afectadas pelo encerramento: “A população está muito preocupada com o caso e com a forma como fornecer apoio em todos os aspectos às famílias afectadas”, indicou. Por outro lado, apelou para que na sequência do caso o Governo reveja o número de trabalhadores por criança nas creches, e maior rigor na formação dos profissionais do sector. A Creche Fong Chong da Taipa anunciou que vai fechar portas no final do ano. A instituição subordinada à Associação dos Moradores, uma das principais forças políticas do território, tem como directora Tang Iao Kio e foi estabelecida em Fevereiro de 1962. Disponibiliza o serviço para crianças dos três meses aos três anos. A morte da bebé de quatro meses está a ser investigada pelas autoridades, mas, apesar de ter ocorrido a 19 de Outubro e estar sob a alçada da Polícia Judiciária, ainda não se conhecem conclusões sobre o incidente. Creches | GPDP admite câmaras de vigilância O coordenador do Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais (GPDP), Yang Chongwei, admite que é necessário voltar a avaliar a instalação de sistemas de vigilância dentro de creches. As declarações foram proferidas depois de ter recebido o presidente do Instituto de Acção Social, Hon Wai, de acordo com o jornal Ou Mun. Segundo o relato apresentado, os dirigentes reconheceram que actualmente existe uma grande vontade na sociedade de instalar câmaras de vigilância nas creches, por ser considerada a melhor forma de proteger as crianças. Face a este desenvolvimento, o GPDP admite a instalação dos equipamentos, mas promete encontrar um equilíbrio, para proteger a privacidade dos menores.
Andreia Sofia Silva Grande Plano ManchetePrevidência Central | Defendido pagamento de subsídio com retroactivos O anúncio do regresso do subsídio de sete mil patacas nas contas de previdência no Orçamento do próximo ano é uma notícia bem-recebida pelo deputado Pereira Coutinho e outros dirigentes associativos. No entanto, tanto Coutinho como Jorge Fão, da APOMAC, exigem o pagamento de retroactivos relativos aos anos de pandemia A pandemia trouxe défice às contas públicas do território e durante o período da covid-19 os idosos deixaram de receber as sete mil patacas anuais nas suas contas individuais do sistema de previdência central do Fundo de Segurança Social (FSS), ao abrigo do regime de repartição extraordinária de saldos orçamentais. É de salientar que a atribuição do apoio social é retomada ainda num orçamento marcado pela contenção de custos. Há muito que diversas vozes exigiam o regresso deste apoio, considerado fundamental a quem, com mais de 65 anos, sente dificuldades económicas, e finalmente foi anunciado no hemiciclo, esta semana, que o Orçamento de 2024 contemplará o pagamento deste montante, o que implica uma despesa total de 3,1 mil milhões de patacas. Contactado pelo HM, Jorge Fão, dirigente da Associação dos Aposentados, Pensionistas e Reformados de Macau (APOMAC), mostrou-se contente com a medida, mas exige o pagamento dos retroactivos que não foram transferidos para as contas dos beneficiários durante a pandemia. “Para nós, trata-se de uma grande notícia e temos de dar os parabéns ao Governo, porque é reposto finalmente o que já deveria ter sido pago. Não é uma dádiva, mas sim uma dívida que o Governo tem para connosco. E para ser justo deveriam ser pagos retroactivos. O Governo tem tido um saldo positivo [nas contas públicas] e para o ano vai ser ainda mais positivo. Portanto, não basta falar e ter muita retórica em relação aos apoios dados aos idosos. É preciso acção.” Jorge Fão salienta que “todos tivemos dificuldades” nos anos de pandemia e que as sete mil patacas fizeram falta. Semelhante posição tem o deputado José Pereira Coutinho, também presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM). “Trata-se de uma medida por nós reivindicada há mais de três anos, desde a pandemia. O Governo veio, finalmente, dar-nos razão ao conceder as sete mil patacas anuais aos idosos que pertencem a uma camada da sociedade que mais tem sofrido, não apenas com as rígidas restrições da pandemia, mas também com a subida vertiginosa dos preços dos principais bens essenciais”, confessou ao HM. Para Coutinho, deveriam ser pagos retroactivos relativamente aos anos de pandemia “por uma questão de reconhecimento pelo contributo que estes idosos deram para a economia de Macau e pelos sacrifícios que suportaram enquanto antigos operários fabris”. O deputado recorda que grande parte dos beneficiários do subsídio são antigos trabalhadores do sector industrial das décadas de 70 e 80, quando Macau tinha um importante sector fabril que era um grande empregador. “Não nos podemos esquecer que muitos destes idosos que têm hoje 65 anos trabalharam as fábricas de vestuário e de malhas, cujos produtos eram exportados para os principais mercados da Europa e dos EUA. Muitos destes idosos trabalharam também em fábricas de brinquedos, flores artificiais, sapatos e malas, sem esquecer [a produção] de pivetes e panchões.” Governo em boa posição Paul Pun, secretário-geral da Caritas Macau, assume uma postura mais compreensiva e não defende o pagamento com retroactivos. “Não concordo que este montante deva ser pago com retroactivos. Já foi anunciado que [o valor] será pago novamente no próximo ano. Sinto que as pessoas esperavam receber os retroactivos deste montante, mas na realidade, nos últimos tempos, Macau não esteve numa boa situação económica. Foi, portanto, compreensível que o Governo tenha deixado de atribuir este apoio social. O regresso da injecção do dinheiro corresponde às expectativas da maior parte das pessoas e está dentro das actuais possibilidades do Governo.” O responsável pela Caritas Macau, que lida de perto com pessoas em carência económica, muitas delas a necessitar da ajuda do Banco Alimentar da Caritas, descreve que “ter menos sete mil patacas por ano tornou mais difícil a vida diária de muitas pessoas, que esperavam voltar a receber o apoio o mais depressa possível”. O anúncio do regresso do pagamento do subsídio de repartição extraordinária de saldos orçamentais “mostra que o Governo se preocupa com as pessoas com mais necessidades”, adiantou. “A medida vai ajudar a reduzir a pressão económica que sentem no dia-a-dia, tendo em conta as previsões positivas para a recuperação económica do território. O facto de o Governo poder agora suportar esta despesa é positivo, sabemos que desta vez [a atribuição de sete mil patacas] não vai prejudicar as contas públicas e irá ajudar bastante os residentes.” Negas e mais negas De frisar que no debate, que decorreu na terça-feira, a deputada Lo Choi In defendeu que o regresso do subsídio para as contas de previdência será “aplaudido pela população e irá provocar grande alegria”. No entanto, o Executivo não vai aumentar as pensões para os idosos, que se manterão nas 3.740 patacas. Na Assembleia Legislativa foram várias as vozes que clamaram pelo regresso deste apoio. No ano passado, aquando da apresentação das Linhas de Acção Governativa (LAG) para a área dos Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U afastou totalmente a possibilidade deste montante vir a ser pago, alegando que a Administração já disponibilizava uma série de apoios sociais. “Fiz as contas e, com os subsídios recebidos desde 2020 até este ano, os idosos não receberam menos se compararmos com 2019. Este ano, receberam duas vezes o vale de saúde, um montante de oito mil patacas”, começou por dizer. “No caso de existirem desempregados jovens nas famílias, podendo ter algumas dificuldades económicas, temos o subsídio de desemprego, bem como os apoios do Instituto de Acção Social e o Banco Alimentar”, acrescentou. Um dos deputados que, nesse debate, pediu o regresso das sete mil patacas nas contas individuais do Fundo de Previdência Central foi Zheng Anting. “O Governo disse que não vai injectar as sete mil patacas por não haver fundos suficientes, mas os idosos também estão a sofrer dificuldades económicas. Quantos são os idosos com dificuldades que não recebem este dinheiro?”, questionou. Recorde-se que, em Abril deste ano, o próprio Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, clarificou que este pagamento só seria feito aos residentes num cenário de excedente orçamental de 300 milhões de patacas. “Temos cerca de 400 mil beneficiários que não são apenas idosos, e essa comparticipação extraordinária implica cerca de 200 milhões de patacas [no orçamento]. No próximo ano, quando elaborarmos o nosso orçamento, veremos se conseguimos chegar a um equilíbrio orçamental, e aí poderemos ponderar. Sem um saldo de, pelo menos, 300 milhões, não poderemos avançar com essa contribuição.” O governante afastou a possibilidade de se recorrer à Reserva Financeira para pagar estes subsídios. “Não vamos esgotar a nossa Reserva Financeira. Precisamos da premissa de ter um saldo orçamental que nos permita avançar com essa verba. Somando todos os apoios, os idosos podem receber cerca de cinco mil patacas por mês. Caso seja necessário, existem outros programas de apoio”, disse. Recorde-se que, nos tempos de pandemia, as autoridades recorreram por diversas vezes à Reserva Financeira para equilibrar as contas públicas, tendo em conta a quebra dos impostos sobre as receitas do jogo devido à pandemia.
Hoje Macau China / ÁsiaG7 | EUA reafirmam que Israel não deve reocupar Faixa de Gaza O secretário de Estado norte-americano declarou ontem que Israel não deveria reocupar a Faixa de Gaza no final do conflito em curso com o Hamas, após uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros do G7 em Tóquio. “A única forma de alcançar uma paz sustentável será através do não deslocamento de palestinianos em Gaza, da não reocupação da Faixa [de Gaza] e da não realização do bloqueio ou da redução do território”, disse Antony Blinken numa conferência de imprensa. Os Estados Unidos já tinham manifestado a sua oposição a uma possível reocupação do território palestiniano na terça-feira, depois de o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, ter declarado no dia anterior que o seu país assumiria “a responsabilidade geral pela segurança” de Gaza “por um período indefinido”. “Fomos muito claros desde o primeiro dia: Gaza não pode ser governada pelo Hamas, Israel não pode ocupar Gaza e não pode haver deslocamento de palestinianos”, afirmou Blinken, acrescentando que encontrou uma “grande unidade” entre o G7. De acordo com o secretário de Estado norte-americano, será necessário também “colocar as vozes e aspirações do povo palestiniano no centro da governação em Gaza” depois da guerra e tornar este território “unificado” com a Cisjordânia sob o controlo da Autoridade Palestiniana. Deve ainda ser criado, segundo Blinken, um “mecanismo sustentável para a reconstrução de Gaza” e será necessário encontrar “uma forma de permitir que israelitas e palestinianos vivam lado a lado nos seus próprios espaços, nas mesmas condições de segurança, liberdade, oportunidades e dignidade”. Blinken destacou o papel do Japão – país que ocupa actualmente a presidência e é o anfitrião da reunião de dois dias do grupo, que terminou ontem -, nomeadamente pelos seus esforços no alívio das tensões no Médio Oriente e na ajuda humanitária a Gaza.
Hoje Macau SociedadeEspectáculo “House of Dancing Waters” volta em 2024 A Melco Resorts & Entertainment vai voltar a acolher o espectáculo residente “House of Dancing Waters” a partir do último trimestre de 2024. Segundo o portal Macau News Agency (MNA), a notícia foi avançada ontem à margem da conferência de imprensa de apresentação dos resultados financeiros da operadora de jogo. David Sisk, director de operações dos resorts de Macau da Melco, disse que já arrancaram campanhas publicitárias em Hong Kong e na China sobre o evento a fim de atrair os turistas para um espectáculo que, durante anos, atraiu muitos visitantes até ser suspenso em 2020 devido à covid, levando a que 137 trabalhadores não residentes tenham perdido o emprego. “Estamos agora a remontar o espectáculo e temos estado a trabalhar muito no teatro que irá acolher o ‘House of Dancing Waters’ para o preparar. Começámos agora a fazer os nossos primeiros espectáculos lá”, disse David Sisk. O responsável adiantou que, neste momento, decorre uma produção nesse teatro, com alguns espectáculos musicais a acontecer semanalmente. “Em meados de Novembro, voltaremos a sair de lá e a remontar o ‘House of Dancing Waters'”. Mais gastos Os dirigentes da Melco anunciaram o regresso do espectáculo no momento em que foram questionados sobre as despesas operacionais da empresa, que atingiram cerca de 2,5 milhões de dólares por dia no último trimestre face aos 2,4 milhões registados no segundo trimestre deste ano. Geoffrey Davis, vice-presidente executivo e director financeiro da Melco, garantiu que a previsão é de que “no quarto trimestre esse número se aproxime dos 2,6 milhões de dólares”. “Quando pensamos em como isso pode mudar no próximo ano, a única coisa que posso destacar é a reabertura do espectáculo The House of Dancing Water”, acrescentou. “Isso acrescentaria cerca de 0,1 por dia [aos gastos operacionais] quando isso acontecer”, rematou.
Andreia Sofia Silva EntrevistaJoaquim Magalhães de Castro, autor de “Portugueses no Extremo Oriente”: “A investigação é sempre um trabalho inacabado” Eterno viajante e investigador por conta própria da presença portuguesa nos países e regiões do Sudeste Asiático, Joaquim Magalhães de Castro acaba de lançar um novo livro, resultado de crónicas e textos dispersos. “Portugueses no Extremo Oriente – Antes e Depois de Fernão de Magalhães” revela os sinais da presença portuguesa no século XVI nas Filipinas, norte da ilha de Java e no actual Brunei no contexto da viagem de Circum-Navegação do navegador Fernão de Magalhães Como foi o percurso traçado até à edição desta obra? Este livro deveria ter saído em 2021, porque foi nesse ano que se celebraram os 500 anos da [rota de] Circum-Navegação [de Fernão de Magalhães], mas a covid ofuscou todo este processo. Iria participar num projecto que implicava integrar a viagem da Circum-Navegação feita pelo navio [português] Sagres, mas a operação foi abortada. Só agora consegui editar o livro, daí o título ter a parte “Antes e Depois de Fernão de Magalhães”. Isso tem também a ver com o facto de a obra revelar aspectos menos conhecidos da presença portuguesa no Extremo Oriente e o Sudeste Asiático, em zonas como as Filipinas, o Mar de Java e o Bornéu [actual Brunei]. A obra divide-se, precisamente, em três partes. Sim. Primeiramente falo da presença portuguesa nas Filipinas. Fernão de Magalhães deu inicialmente ao território o nome de Ilhas de São Lázaro, tendo este sido adoptado oficialmente pelos portugueses até existir a denominação Filipinas, em honra de Filipe de Espanha. A segunda parte do livro aborda o Bornéu, que logo depois da conquista de Malaca [1511] passou a ser frequentado pelos portugueses, que o utilizavam com frequência, sempre com boas relações com o sultão local. Isso explica que Fernão de Magalhães tenha sido recebido depois de forma amistosa por ele. Na terceira parte do livro continuo, no fundo, o trabalho que comecei no meu primeiro livro, “Mar das Especiarias”, sobre a presença portuguesa na ilha de Java, na Indonésia. Desta vez concentro-me no norte da ilha e no que restou dos contactos com os portugueses, algo que está pouco estudado. Naqueles portos da costa norte fazia-se comércio, pois não havia portos no sul de Java. Todo o livro reúne, essencialmente, crónicas de viagens. Em que período as realizou? Tenho viajado nos últimos anos. Trata-se de [uma compilação] de crónicas que fui publicando n’O Clarim. Começando pelas Filipinas, o livro aborda a figura de Bartolomeu Landeiro, que esteve em Macau a investir na obra dos jesuítas. Fale-me mais sobre esta personalidade. Era de origem judaica e digamos que foi um elo fundamental na posterior relação entre Macau, China, Japão e Filipinas. Os espanhóis tentaram, sem sucesso, entrar na China, e só conseguiram fazê-lo através de Macau. Bartolomeu Landeiro desempenhou um papel importante nessa ligação entre Manila, Macau, China e Japão, mas sobretudo entre Manila e Macau. Foi o personagem mais importante como comerciante e diplomata, jogava um pouco em ambos os mundos, era alguém muito astuto. Contribuiu bastante para essa relação que ainda hoje é visível em muitos aspectos. Esses pormenores da influência portuguesa nas Filipinas via Macau são muito pouco conhecidos. Aliás, [a influência] é patente na toponímia, mas também nos apelidos de filipinos, que sabem dessa origem portuguesa. Isso vai de encontro à primeira parte do livro, que mostra que os portugueses já andavam por aquela região antes de Fernão de Magalhães lá ter chegado. Malaca foi um importante ponto de partida para esta presença comercial? A partir do estabelecimento de Malaca os portugueses começaram a estabelecer acordos com a Indonésia e outros lugares e passaram a ser respeitados, até pelo temor que as pessoas lhes tinham desde a posse de Malaca. Houve depois um interregno de vários anos em que os espanhóis não voltaram às Filipinas, até que houve uma expedição [liderada por] Miguel Logaspi, que ficou em Cebu, tendo os portugueses questionado [essa presença]. Porque é que os portugueses não ficaram nas Filipinas? Porque não havia especiarias, como o cravo e noz-moscada, que existiam na zona nas ilhas Molucas. Mas há provas [da presença portuguesa nas Filipinas], com acordos e pactos de sangue. Houve uma série de viagens feitas pelos portugueses que antecederam a presença definitiva dos espanhóis no país. A presença da pimenta em Java é então o grande factor explicativo para a presença dos portugueses nessa zona da Indonésia. Quanto tempo durou essa presença? Sim. Cerca de 150 anos até à chegada dos holandeses, que nos afastaram de lá. Macau foi de facto o único sítio em que não conseguiram afastar os portugueses. Java não era uma colónia nossa, mas o Sri Lanka [antigo Ceilão] poderia considerar-se praticamente uma colónia portuguesa. Sempre fizemos comércio em Java, juntámo-nos aos hindus para combater os muçulmanos e fizemos acordos consoante os interesses, mas nunca estabelecemos uma colónia. Ficámos lá a partir de 1513 e durante cerca de 150 anos. A capa do livro faz referência a uma comunidade de lusodescendentes que são os Bayingyi, no Myanmar. É também um grupo étnico muito pouco conhecido. Sim. Tenho falado bastante sobre essa comunidade, mas ela continua a ser pouco conhecida. Digamos que [o seu maior reconhecimento] tem sido uma das minhas bandeiras. Essa comunidade foi-se formando a partir de portugueses forasteiros que andavam por ali à revelia da Coroa portuguesa. Tinham objectivos comerciais, eram pessoas com os seus negócios, mas estavam fora do controlo da Coroa. Vendiam os serviços aos reinos locais, houve miscigenação. Porque é que esta é a sua bandeira? Porque foi aí que começou o meu trabalho de investigação sobre alguns aspectos portugueses da expansão. Tudo começou com uma conversa com Luís Sá Cunha [académico e residente em Macau] que me falou dessa comunidade. Visitei-a nos anos 90 e comecei a escrever sobre ela, a fotografar e a fazer documentários. O meu primeiro livro, de fotografia, foi sobre esta comunidade também. Editar esta obra chama a atenção para estes portugueses perdidos a Oriente? O meu foco é sempre o mesmo: dar a conhecer aspectos que não são conhecidos do grande público e que talvez só o sejam junto da academia. Tento mostrar sempre [as informações] com base num conhecimento feito no terreno. Actualmente vivo na Indonésia, na zona de Java, a minha esposa é, precisamente, de uma zona que foi um entreposto de comércio de portugueses, por volta de 1525. Há ainda muito a explorar no seio destas comunidades? Há ainda muito por investigar, é sempre um trabalho inacabado. As ilhas Molucas [na Indonésia], por exemplo, é uma zona muito rica em presença portuguesa. Penso visitá-las um dia destes.
Hoje Macau China / ÁsiaXi pede que internet beneficie melhor pessoas de todos os países O Presidente chinês, Xi Jinping, pediu esta quarta-feira que a internet beneficie melhor as pessoas de todos os países ao discursar na cerimónia de abertura da Cimeira Wuzhen da Conferência Mundial da Internet 2023 (WIC) através de videoconferência. Xi afirmou que a visão de construir conjuntamente uma comunidade com um futuro compartilhado no ciberespaço, que propôs na segunda WIC em 2015, tem obtido amplo reconhecimento internacional e respostas positivas. A visão responde às questões de nossos tempos relacionadas à solução do déficit de desenvolvimento, ao enfrentamento dos desafios de segurança e ao fortalecimento do aprendizado mútuo entre as civilizações, explicou, citado pelo Diário do Povo. O Presidente chinês enfatizou que a comunidade internacional precisa de aprofundar os intercâmbios e a cooperação prática para promover conjuntamente a construção de uma comunidade com um futuro compartilhado no ciberespaço para uma nova etapa. O líder chinês pediu também que se priorize o desenvolvimento para que os frutos do desenvolvimento da internet beneficiem mais países e pessoas. Xi enfatizou a necessidade de melhorar o acesso público a serviços baseados em informação, superar a barreira digital e melhorar a subsistência das pessoas com o desenvolvimento da internet. Pedindo a construção de um ciberespaço mais pacífico e seguro, sublinhou a necessidade de se respeitar a soberania cibernética, a forma de governação da internet e a necessidade de cada país para se opor à busca de hegemonia, ao confronto de blocos e à corrida armamentista no ciberespaço. Ética e segurança Xi ressaltou ainda a necessidade de se reprimir os crimes cibernéticos, fortalecer a segurança de dados e a protecção de informações pessoais e responder adequadamente aos riscos e desafios trazidos pelo desenvolvimento científico e tecnológico às regras, à sociedade e à ética. A China está disposta a trabalhar com todas as partes para implementar a Iniciativa Global de Governança da Inteligência Artificial e promover o desenvolvimento seguro da IA, garantiu. O Presidente chinês pediu ainda a construção de um ciberespaço mais igualitário e inclusivo, destacando que é preciso promover melhor os valores compartilhados da humanidade. Xi sublinhou a importância de mais produtos culturais online de alta qualidade e esforços para mostrar plenamente as realizações excepcionais das civilizações humanas e promover activamente a preservação e o desenvolvimento da civilização.
Hoje Macau China / ÁsiaBanco central | China vai atingir meta de crescimento de “cerca de 5%” A China vai atingir a meta de crescimento económico oficial de “cerca de 5 por cento” este ano, enfatizou ontem o governador do Banco do Povo da China (banco central), Pan Gongsheng. Pan afirmou que, com o “efeito continuado das políticas de ajustamento macroeconómico”, a dinâmica de crescimento “reforçou-se”, com a “recuperação estável da produção e do consumo”, uma “melhoria global do emprego e dos preços”, um “saldo base da balança de pagamentos” e uma “tendência positiva dos indicadores principais”. As declarações do governador foram feitas durante um fórum económico realizado em Pequim, no qual sublinhou que a China “manteve uma posição de liderança entre as principais economias do mundo”. O responsável afirmou ainda que a transformação económica da China “tem avançado de forma constante”, com um “rápido crescimento do investimento nas indústrias de alta tecnologia” e uma “contribuição do consumo para o crescimento económico de 83 por cento”, durante os três primeiros trimestres do ano, o que “cria condições para manter a estabilidade económica e dos preços”. “A economia chinesa precisa de um ritmo razoável, mas o mais importante é alcançar um desenvolvimento sustentável e de alta qualidade, e mudar o tipo de crescimento económico é mais importante do que perseguir altas taxas de crescimento”, disse Pan. A economia da China vai crescer 5,4 por cento este ano, mas abrandará para 4,6 por cento, em 2024, devido à “contínua fraqueza” do mercado imobiliário e à “fraca” procura do exterior, previu na terça-feira o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Hoje Macau China / ÁsiaComércio | Cuba quer voos directos para Pequim O primeiro-ministro cubano, Manuel Marrero Cruz, manifestou ontem interesse em estabelecer voos directos entre Pequim e Havana, uma medida destinada a facilitar o comércio e os negócios entre as duas nações. “Espero que possamos lançar o voo directo amanhã. Mas infelizmente ainda não temos um calendário claro. Penso que poderá começar no próximo ano”, disse Marrero num fórum empresarial em Pequim. A proposta surge numa altura em que a cooperação económica e comercial entre China e Cuba se intensifica, gerando uma procura crescente de voos directos, disse Marrero, de acordo com o jornal oficial Global Times. O líder cubano também enfatizou a importância de atrair investimento estrangeiro e aprimorar a autonomia na produção de alimentos, afirmando ainda que Cuba está a trabalhar na transformação do seu sistema energético, incluindo projectos de energia eólica e solar, e na digitalização da televisão cubana em colaboração com o gigante chinês das telecomunicações Huawei. Relativamente ao encontro na segunda-feira com o Presidente chinês, Xi Jinping, Marrero sublinhou a “relação especial de amizade inquebrável” entre a nação insular e o país asiático e o crescimento progressivo destes laços. O primeiro-ministro cubano agradeceu o apoio contínuo da China e reiterou a oposição ao embargo norte-americano. “Posso garantir, e posso dizer com confiança, que sem um bloqueio, Cuba seria um país que teria alcançado um grande desenvolvimento económico”, declarou Marrero. O líder cubano iniciou a viagem oficial à China em Xangai, a “capital” económica do país, onde este fim de semana participou na 6.ª Exposição Internacional de Importação da China e se reuniu com o homólogo chinês, Li Qiang. Esta é a primeira visita de Marrero à China desde que foi nomeado primeiro-ministro, em 2019.
Hoje Macau China / ÁsiaAmbiente | Pequim anuncia medidas para reduzir emissões de metano As medidas implementadas para reduzir as emissões do gás com efeito de estufa incidem em áreas como a exploração mineira e a agricultura A China, o maior emissor mundial de metano, anunciou ontem que vai reforçar a monitorização, a comunicação de informações e a transparência dos dados para reduzir as emissões deste gás com efeito de estufa. O ministério da Ecologia e do Meio Ambiente detalhou ontem num documento as estratégias para reduzir as emissões de metano de sectores como a exploração mineira e a agricultura. De acordo com a declaração, a China tenciona criar um sistema de monitorização, contabilidade, comunicação e verificação das emissões de metano, melhorar a legislação, as normas e as políticas de incentivo económico e promover a inovação tecnológica e a cooperação internacional neste domínio, embora não estabeleça objectivos específicos de redução. O metano é um gás com efeito de estufa com “elevado potencial de aquecimento” e “o controlo das emissões de metano tem benefícios climáticos, económicos, ambientais e de segurança”, lê-se no documento. O plano reconheceu os desafios à sua implementação, incluindo a “falta de uma base estatística e de monitorização sólida, a inadequação do sistema de regulação e normativo e a necessidade de melhorar a capacidade técnica”. Combate em curso Em Julho passado, o enviado dos Estados Unidos para as questões climáticas, John Kerry, instou a China, durante uma visita oficial ao país, a descarbonizar o sector energético, reduzir as emissões de metano e diminuir a desflorestação. A fonte da grande maioria das emissões de metano da China relacionadas com a produção de energia é o carvão, que produz mais de metade da electricidade do país asiático. A China é o maior emissor mundial de metano relacionado com produção energética, com 28 milhões de toneladas por ano, seguida da Rússia (18 milhões de toneladas) e dos Estados Unidos (17 milhões de toneladas), de acordo com a Agência Internacional da Energia.
Hoje Macau SociedadeAACM | Drones proibidos durante o Grande Prémio A Autoridade de Aviação Civil (AACM) anunciou ontem que o Governo vai proibir “as actividades com aeronaves não tripuladas (drones) na Península de Macau durante o 70º Grande Prémio de Macau, a fim de garantir a segurança da actividade”. A proibição é alicerçada legalmente no Regulamento de Navegação Aérea de Macau, em que se determina que “a AACM proíbe a operação de drones na Península de Macau nos dias 11 e 12 de Novembro e de 16 a 19 de Novembro de 2023, a fim de garantir a segurança do ambiente das corridas”. Os infractores podem ser punidos com multa de 2.000 a 20.000 patacas pela AACM.
Hoje Macau SociedadeSaúde | Infecção atinge em cinco crianças no Costa Nunes Os Serviços de Saúde de Macau (SSM) foram informados da ocorrência de um caso de infecção por enterovírus, conhecida como a doença das mãos, pés e boca, esta terça-feira, que afectou cinco crianças do jardim de infância D. José da Costa Nunes. Segundo um comunicado dos SSM, os sintomas começaram a manifestar-se em quatro meninos e uma menina na última sexta-feira, tendo alguns recebido tratamento médico. Os SSM apontam que “não houve registo de casos críticos nem complicações graves ou casos de internamento”. A infecção também não gerou “sintomas anormais ao nível do sistema nervoso”. O jardim de infância já reforçou a limpeza e o sistema de ventilação das instalações. A infecção por enterovírus pode ser causada pelo grupo de Coxsackievírus, Echovírus ou Enterovirus 71, afectando crianças com menos de cinco anos. Além deste caso, ocorreram ainda três casos colectivos de gripe em diversas escolas, também registados pelos SSM esta terça-feira. No caso da Escola de Aplicação Anexa à Universidade de Macau, foram infectados oito alunos, enquanto na Escola Secundária Ilha Verde se registaram infecções em seis alunos. Já o terceiro caso ocorreu na Escola de Talentos Anexa à Escola Hou Kong, onde se contabilizaram =oito casos. Os sintomas, nomeadamente febre, tosse e dor de garganta, começaram a manifestar-se no dia 1. No caso da Escola de Aplicação Anexa à Universidade de Macau houve um caso de internamento devido à ocorrência de febre alta, mas “o seu estado clínico está estável”.
João Luz Manchete SociedadeZona norte | População pede mais centros para idosos Um inquérito da FAOM revelou que a população da zona norte de Macau quer o reforço das estruturas de apoio a idosos, com mais centros de dia e auxílio a cuidadores. Apesar do tempo de espera, horário reduzido e inconveniência da localização, mais de 80 por cento estão satisfeitos com a qualidade dos serviços Com o envelhecimento populacional e a baixa taxa de natalidade em Macau, os serviços públicos dedicados à terceira idade ganham cada vez mais preponderância na qualidade de vida dos residentes. A Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) apresentou ontem os resultados de um inquérito sobre a cobertura e qualidade dos serviços da rede de apoio a idosos. Mais de metade dos inquiridos respondeu que gostaria de ver alargado o alcance e cobertura dos centros de dia e dos serviços. No cômputo geral, mais de 80 por cento dos inquiridos estão satisfeitos com a qualidade dos serviços prestados à população idosa, apesar de reconhecerem existir margem para melhorias, nomeadamente devido ao elevado tempo de espera para aceder a serviços, localizações inconvenientes e horários de funcionamento demasiado curtos. Outra conclusão tirada do inquérito apresentado ontem pela FAOM, foi a esperança de que o Governo reveja as regulamentações do sector para permitir a prestação de serviços de cuidados temporários de forma a atenuar a pressão de cuidadores. No plano oposto, quando questionados se alguma vez ponderaram trabalhar no sector, mais de 80 por cento dos inquiridos recusou a carreira devido à “falta de atractividade” em termos profissionais. Ao mesmo tempo, quase metade admitiu não ter uma compreensão alargada sobre os serviços em causa. O que fazer A FAOM explica que o estudo incidiu sobre a zona norte da península de Macau por ser uma zona com elevada densidade populacional e onde se concentra uma larga parte da população idosa. Na conferência de imprensa de ontem, conduzida pela deputada Ella Lei, foi sugerido o reforço da cobertura dos serviços para idosos com cuidados temporários quando o cuidador estiver indisponível ou a trabalhar. Neste caso, foi indicado que os horários de funcionamento dos centros de dia devem ser alargados, alteração que pode marcar a diferença entre a vida e a morte em casos de emergência. A deputada reconheceu ainda que apesar da enorme e crescente procura de serviços de cuidados a idosos não existem empresas privadas do sector em Macau, o que leva a população a depender do Governo. Assim sendo, foi exigida uma análise rigorosa ao sistema regulatório do sector para apurar se existem restrições que limitem o sector privado. Ella Lei referiu ainda que o Executivo devia estudar a possibilidade de simplificar o processo de estabelecimento de empresas que prestem serviços de cuidados a idosos, para encorajar o desenvolvimento do sector. Além disso, foi aconselhado o alargamento de serviços a cuidados de enfermagem para idosos em locais geridos por associações comunitárias. O inquérito foi realizado na zona norte da península de Macau entre Agosto e Outubro deste ano e contou com 1.557 respostas válidas.
Hoje Macau SociedadeMelco volta aos lucros no 3.º trimestre após três anos de prejuízos A operadora de jogo em Macau Melco Resorts and Entertainment anunciou lucro de 94,7 milhões de dólares no terceiro trimestre do ano, o primeiro resultado positivo desde o início da pandemia. O lucro registado pela empresa entre Julho e Setembro contrasta com os prejuízos no segundo trimestre deste ano (23,4 milhões de dólares) e em igual período de 2022 (198,5 milhões de dólares). De acordo com um comunicado enviado à bolsa de valores Nasdaq, em Nova Iorque, as receitas da Melco mais que quadruplicaram em comparação com o terceiro trimestre do ano passado, atingindo 1,02 mil milhões de dólares. No comunicado, a operadora de quatro casinos em Macau atribuiu o aumento das receitas “ao relaxamento das restrições relacionadas com a covid-19 em Macau em Janeiro de 2023” e à abertura da segunda fase do empreendimento integrado Studio City. Com as receitas a subir, a Melco registou, pelo terceiro trimestre consecutivo, um lucro operacional, neste caso de 280,6 milhões de dólares, mais 4,9 por cento do que no período entre Abril e Junho deste ano. O presidente da empresa, Lawrence Ho Yau-lung, disse em comunicado que “a recuperação de Macau continuou a acelerar no terceiro trimestre de 2023, especialmente durante os meses de Verão”. O filho do falecido magnata do jogo Stanley Ho disse que a Melco teve “um desempenho sólido” durante a chamada Semana Dourada do 1.º de Outubro, um dos picos turísticos da China continental, e no resto do mês. Panorama geral Entre Janeiro e Outubro, as receitas do jogo em Macau mais que quadruplicaram em comparação com igual período de 2022, atingindo 148,4 mil milhões de patacas. As seis concessionárias, MGM, Galaxy, Venetian, Melco, Wynn e SJM, acumularam durante a pandemia prejuízos sem precedentes em Macau. Apesar disso, as seis operadoras renovaram, em 16 de Dezembro de 2022, o contrato de concessão para os próximos dez anos e que entrou em vigor em 1 de Janeiro de 2023. As autoridades exigiram no concurso público a aposta em elementos não jogo e visitantes estrangeiros, na expectativa de diversificar a economia do território. A Melco prevê gastar cerca de 10 mil milhões de patacas no segmento além-casino numa década, incluindo no “único parque aquático em Macau com instalações interiores abertas durante todo o ano”.
João Luz Manchete SociedadeBNU | Lucros duplicam apesar de “incertezas” O Banco Nacional Ultramarino anunciou ontem lucros de 459,9 milhões de patacas nos primeiros nove meses do ano, mais do dobro do verificado no mesmo período de 2022, apesar de “incertezas no crescimento económico” Nos primeiros nove meses de 2023, o Banco Nacional Ultramarino (BNU) registou lucros de 459,9 milhões de patacas, valor que representa um crescimento, face a 2022, de 102 por cento. A subida dos lucros do banco foi impulsionada “principalmente pelo aumento de 205,2 milhões de patacas, ou 38 por cento, nas receitas líquidas de juros, devido ao aumento das taxas de juro”, indicou o banco em comunicado. A Autoridade Monetária de Macau aprovou três aumentos da principal taxa de juro de referência este ano, a última das quais uma subida de 0,25 pontos percentuais, introduzida em Maio, seguindo a Reserva Federal norte-americana. “No entanto, as receitas líquidas de taxas e comissões caíram 13,1 milhões de patacas ou 16 por cento em relação ao ano anterior, reflectindo as incertezas no crescimento económico” da cidade, disse o BNU. O Produto Interno Bruto de Macau cresceu 71,5 por cento na primeira metade de 2023, em comparação com igual período de 2022, após quase dois anos consecutivos em queda, uma recuperação “impulsionada pelo desempenho” do turismo e do jogo. Ainda assim, a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos sublinhou que a economia da região ainda só representa 71 por cento dos níveis registados antes da pandemia de covid-19. Cofres robustos O BNU revelou ainda que sofreu perdas de 21,8 milhões de patacas com crédito malparado e aplicações financeiras entre Janeiro e Setembro, menos 74,4 por cento do que em igual período de 2023. O banco afirmou que as despesas operacionais cresceram 2 por cento em comparação com os primeiros nove meses de 2022, sobretudo devido ao “aumento das despesas com a digitalização”, apesar da “redução de custos”. O aumento das despesas operacionais também se ficou a dever à “reengenharia de agências, incluindo a agência principal, que se tornou mais moderna, interativa e alinhada com o novo paradigma bancário”, declarou o banco em comunicado. O BNU referiu que mantém “um robusto rácio de solvabilidade de 24 por cento (…), bem acima do requisito regulatório mínimo de 8 por cento, e fortes níveis de liquidez” e que o desempenho financeiro demonstra “a sua força e resiliência, apesar da volatilidade económica”. O banco tinha apresentado lucros de 288,4 milhões de patacas na primeira metade do ano, um aumento homólogo de 125,2 por cento. O BNU tem sede em Macau e pertence ao Grupo Caixa Geral de Depósitos (CGD), sendo, juntamente com o Banco da China, banco emissor de moeda na região administrativa especial da China. Com Lusa
Hoje Macau PolíticaTaipa | Governo anula concurso para atribuição de terreno O concurso público para a atribuição do terreno LoteBT8, situado na Avenida de Kwong Tung, na Taipa, foi oficialmente anulado, de acordo com a informação publicada ontem no Boletim Oficial. “Por despacho do Senhor Secretário para os Transportes e Obras Públicas, de 26 de Outubro de 2023, foi anulado o concurso público para a adjudicação […] de um terreno, situado na ilha da Taipa, na Avenida de Kwong Tung, designado por lote BT8, por ter ficado deserto”, foi justificado. O terreno tem uma área de 3.509 metros quadrados e o Governo tinha definido um preço mínimo de licitação de 1,136 mil milhões de patacas, no concurso que decorreu em Setembro. O espaço BT8 foi recuperado pelo Governo, à luz da polémica Lei de Terras, num processo que ficou finalizado em 2018, depois de uma longa “batalha” judicial. Concessionado pela primeira vez em Outubro de 1964, por um prazo de 50 anos, à Fábrica de Artigos de Vestuário Estilo Limitada, em Dezembro de 1999, a concessão foi transmitida para a Sociedade Fomento Predial Socipré. Como o novo prazo de aproveitamento de 42 meses que também não foi cumprido, em Maio de 2015, o então Chefe do Executivo, Fernando Chui Sai On, declarou a caducidade da concessão.
Hoje Macau PolíticaGrande Baía | Ho Iat Seng apela à fixação de empresas O Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, apelou ontem à fixação de empresas em Macau. Num discurso proferido virtualmente na conferência da Conferência Global de Promoção do Investimento para a Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau 2023, o Chefe do Executivo adiantou que “todas as empresas de excelência e de qualidade são bem-vindas a instalarem-se em Macau e a participarem na construção e exploração de Hengqin”, além de “partilharem os benefícios provenientes do desenvolvimento da Zona de Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau”. Ficou ainda prometido que Macau, “sendo uma das quatro principais cidades da Grande Baía, irá continuar a melhorar o seu ambiente comercial e a estrutura industrial, no sentido de demonstrar mais iniciativas e responsabilidades” neste contexto. No mesmo discurso, Ho Iat Seng prometeu ainda “optimizar os trabalhos de captação de investimento, permitindo que os investidores estrangeiros utilizem Macau e Hengqin como ponto de partida para explorar oportunidades provenientes do enorme mercado do Interior da China”. A Conferência Global de Promoção do Investimento para a Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau 2023 termina hoje e foi co-organizada pelos governos da província de Guangdong, da Hong Kong e da RAEM. O evento tem lugar em Guangzhou.
João Santos Filipe Manchete PolíticaID | Luís Gomes escolhido para vice-presidente Desde 2020, Luís Gomes foi chefe de três divisões diferentes na DSEDJ e ainda chefe de Departamento do Ensino Não Superior. A posição deixada em aberto vai ser ocupada por Choi Man Chi Luís Gomes, até agora chefe do Departamento do Ensino Não Superior da Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ), é o novo vice-presidente do Instituto do Desporto (ID). A informação foi divulgada ontem através do Boletim Oficial. De acordo com o despacho de Elsie Ao Ieong U, secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, o novo vice do ID é nomeado “em comissão de serviço” pelo prazo de um ano. A secretária justificou a escolha com o facto de considerar que o novo vice “possui competência profissional e aptidão para o exercício do cargo”. Licenciado em Educação Física e Desporto pela Universidade Politécnica de Macau, e com um mestrado em Ciência da Educação, na vertente Educação Física e Desporto, pela Universidade de Macau, Luís Gomes assumiu maior relevo na Administração, a partir de 2020 com a pandemia de covid-19. Gomes participou em várias conferências de imprensa diárias sobre a pandemia para anunciar e detalhar os planos de algumas medidas, como organização das escolas e a realização de testes em massa. Percurso na Educação Desde que ingressou na Administração, em 2011, o percurso de Luís Gomes foi feito na actual DSEDJ, onde assumiu primeiramente as funções de técnico superior. Cerca de cinco ano depois, o novo vice do ID, passou a ser director do Centro de Actividades Juvenis da Areia Preta, cargo que manteve até 2018. A partir desse ano, assumiu as mesmas funções, mas no Centro de Actividades Juvenis do Bairro do Hipódromo, onde permaneceu até 2019. A partir de Abril de 2019, Luís Gomes subiu a chefe da Divisão de Desporto Escolar e Ocupação de Tempos Livres, seguindo-se, em 2020, o cargo de chefe da Divisão de Formação e Apoio ao Associativismo Juvenil. Em Fevereiro de 2021, é escolhido para a posição de chefe da Divisão de Desenvolvimento de Jovens, onde ficou sete meses, até que em Setembro passou a ser o chefe da Divisão de Desenvolvimento Geral de Estudantes. Por último, em Fevereiro de 2022, foi nomeado como chefe do Departamento do Ensino Não Superior, primeiro, como substituto, e depois com uma nomeação definitiva, em Maio de 2022. Novas oportunidades Com a ida de Luís Gomes para o ID, o cargo de chefe do Departamento do Ensino Não Superior vai ser assumido por Choi Man Chi, que desde 2010 faz parte da DSEDJ e desempenhava as funções de chefe da Divisão de Ensino Primário e de Ensino Infantil. Choi Man Chi é licenciada em Serviço Social, pela Universidade Politécnica de Macau, e ao longo da carreira na DSEDJ assumiu as posições de técnica, directora do Centro de Actividades Juvenis da Areia Preta, chefe da Divisão de Desporto Escolar e Ocupação de Tempos Livres, técnica superior e ainda chefe da Divisão de Ensino Primário e de Ensino Infantil.
Hoje Macau PolíticaNatalidade | Wong Kit Cheng pede mais medidas A deputada Wong Kit Cheng está preocupada com a redução da taxa de natalidade e o impacto na sociedade e economia, e questiona o Governo sobre as medidas que pretende lançar. A legisladora ligada à Associação Geral das Mulheres de Macau quer saber que medidas podem ser lançadas para apoiar mais as famílias e melhorar “o ambiente de vida” no território. Ao mesmo tempo, defende que o Governo deve considerar uma prioridade encontrar incentivos mais eficazes que levem as famílias locais a terem “vários filhos”. Por outro lado, Wong sugere que se siga o exemplo de várias províncias do Interior e de alguns países desenvolvidos onde são disponibilizados mais apoios às famílias, como o prolongamento da licença de maternidade, ou o pagamento de subsídios mais altos, como Hong Kong vai fazer no próximo ano. “Que planos existe a este nível nas linhas de acção governativa do próximo ano?”, pergunta.
João Santos Filipe Manchete PolíticaSalário Mínimo | Aprovada proposta de subida para 7.072 patacas Na apresentação da proposta, Lei Wai Nong comprometeu o Governo com uma nova revisão do salário em Novembro do próximo ano. O secretário para a Economia e Finanças recusou comparações com regiões vizinhas, devido às características únicas de Macau Os deputados aprovaram ontem, na generalidade, a proposta do Governo para aumentar o salário mínimo mensal para 7.072 patacas, face às actuais 6.656 patacas, o que significa um incremento de 6,25 por cento. O novo montante deve ser votado a tempo de entrar em vigor no início do próximo ano. Apesar da aprovação por unanimidade, a sessão ficou marcada por algumas intervenções de deputados como Leong Sun Iok, dos Operários, ou Che Sai Wang, ligado à Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau, que pediram ao secretário para a Economia e Finanças explicações sobre os critérios que levam o Governo a decidir quando aumentar o salário mínimo. O secretário respondeu que a Direcção de Serviços Estatística e Censos (DSEC) faz a recolha de vários dados, que depois são ponderados, sem especificar quais os critérios. Ao invés, Lei Wai Nong apontou que daria mais pormenores nas reuniões à porta fechada da comissão permanente que vai discutir o diploma na especialidade. “Em sede de comissão vamos entrar em pormenores”, prometeu o governante, repetindo a fórmula usada no plenário de terça-feira. Outra das críticas prendeu-se com o facto de o Governo ter atrasado a revisão do aumento salarial, ao contrário do que seria expectável, uma vez que a lei do salário mínimo indica que tem de haver uma revisão do valor a cada dois anos. “As pessoas preocupam-se que a revisão seja feita num período mais curto, mas temos de ver os dados e outros factores, para podermos estudar [o aumento]. Nem sempre pode haver aumentos ou reduções”, afirmou Lei Wai Nong. Ainda assim, o Governo prometeu que a próxima revisão vai avançar a “1 de Novembro de 2024”. Maior distância para Hong Kong Por sua vez, Ron Lam fez a comparação entre o salário mínimo em Macau e Hong Kong, Taiwan e Singapura. “Há um atraso evidente no valor do salário mínimo em Macau face a outras regiões. Como podemos resolver esta diferença?”, questionou. “Ao ritmo actual, a diferença para Hong Kong vai ser cada vez maior”, vincou. No entanto, o secretário para a Economia e Finanças recusou comparações. “Cada região tem as suas regalias e regime fiscal, cada cidade e região tem a sua estrutura económica. Nós também temos a nossa que é muito única, porque mais de 95 por cento das empresas são pequenas, médias ou micro”, argumentou Lei Wai Nong. O aumento do salário mínimo significa também uma actualização do subsídio complementar aos rendimentos do trabalho para trabalhadores portadores de deficiência. Estes trabalhadores não são abrangidos pela lei do salário mínimo, mas têm um apoio do Governo. Lei Wai Nong revelou ainda que no segundo trimestre deste ano, houve 222 pedidos de trabalhadores para receber o subsídio especial, sendo que 212 foram aprovados. Estes subsídios representaram um montante de 1,58 milhões de patacas. Patrões pediram apoios Vários deputados ligados ao patronato focaram a necessidade de o Governo promover medidas de apoio às empresas, dado o ambiente económico difícil. “A pandemia causou grandes impactos nas PME, o Governo tem dado ajuda, mas nesta fase as PME ainda estão a enfrentar muitas pressões e a actualização do salário pode trazer certas pressões”, disse Ângela Leong, numa intervenção feita também em nome do deputado e empresário Chan Chak Mo. “Espera-se que o Governo possa adoptar medidas para apoiar as empresas, especialmente para as empresas com sede nos bairros antigos”, acrescentou. Chui Sai Peng fez um pedido semelhante: “Na especialidade, esperamos que o Governo tenha em conta as dificuldades das PME, e que tenha medida de alívio”, frisou. Com as alterações, o salário mínimo mensal passa para 7.072 patacas, o semanal para 1.632 patacas e o diário para 272 patacas. O pagamento por hora passa para 34 patacas.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteTurismo | “Macau é um laboratório de consumo”, diz académico Tim Simpson, docente da Universidade de Macau, acaba de lançar o livro “Betting Macau – Casino Capitalism and China’s Consumer Revolution”, que foi apresentado na última edição do festival literário Rota das Letras. O académico analisa como Macau se tornou um epicentro de consumo, à medida que o turismo chinês se modifica e expande A partir da liberalização do jogo nada ficou igual, muito menos a partir da política dos vistos individuais para cidadãos chineses que passaram a poder viajar para Macau e Hong Kong. Verificou-se então um boom económico e de consumo em Macau associado à mudança de paradigma do turismo chinês. Esta é uma das ideias essenciais do novo livro do académico da Universidade de Macau (UM) Tim Simpson, intitulado “Betting Macau – Casino Capitalism and China’s Consumer Revolution”, uma edição da Imprensa da Universidade do Minnesota, nos Estados Unidos, e recentemente lançado na última edição do festival literário Rota das Letras. Ao HM, Tim Simpson explica que a obra aborda as questões “do consumo e da transformação que ocorreu nos consumidores e sociedade chineses, e no papel que Macau teve em toda essa mudança”. “Não me apresento aqui como um analista da área dos estudos de consumo, mas estou de facto mais interessado [em perceber] o lugar que Macau tem no capitalismo mundial. [O território] é, de facto, um laboratório para os consumidores chineses e uma componente da transformação pós-economia socialista que ocorreu na China.” O académico estabelece mesmo um paralelismo com a própria história de Macau como entreposto comercial desde o século XVI, “envolvido na economia mundial devido ao comércio com a China”. “Macau foi criada graças a essa ligação à extensão do capitalismo no seu início. De certa maneira, acabou depois por cair na obscuridade, em que houve um período em que as pessoas se esqueceram de Macau, voltando depois a emergir para desempenhar um novo papel no capitalismo global, que será provavelmente dominado pela China.” Em “Betting Macau” é analisado “o crescimento de Macau nos últimos 20 anos”. “O que vemos é um exemplo exagerado das mudanças que ocorrem na China nos dias de hoje”. Trata-se de um país que, aos olhos do autor, “está a movimentar a economia mundial e os turistas chineses são um factor essencial para a economia chinesa”. Neste contexto, Macau “é um dos principais sítios para onde os turistas vão”, pelo que analisar o território permite “perceber o comportamento dos turistas chineses”. Projecto com dez anos Este livro começou a ser desenhado e pensado em meados de 2003 e 2004, quando o académico iniciou a vida profissional em Macau e teve acesso privilegiado a um mundo em mudança relativamente ao jogo e ao turismo do território. “Três anos depois de me mudar para Macau abriu o Sands, o primeiro casino inaugurado no território depois da liberalização do jogo. Subsequentemente, tudo em Macau mudou dramaticamente e de forma muito rápida. Tive a oportunidade de assistir a todos esses episódios e à transformação que ocorreu em Macau, tanto a nível cultural como da própria paisagem da cidade. Então comecei a interessar-me por escrever sobre isso e documentar toda essa transformação”, contou. Tim Simpson recorda-se do período em que começou a trabalhar na UM quando o campus estava ainda situado na Taipa. “Via diariamente centenas de turistas que frequentavam o hotel New Century. Tentava compreender esse fenómeno quando ia trabalhar, então comecei a investigar mais sobre o turismo em Macau.” É para este tipo de turistas que o território “é uma espécie de laboratório de consumo, porque essa função não existe para os locais”, sendo uma componente que “faz parte da transformação económica da China, que passou de uma economia socialista para uma economia de mercado”. “É nesse ponto que Macau se integra, na criação das zonas económicas especiais, que se tornaram laboratórios de produção. Macau e Hong Kong tornaram-se laboratórios de consumo”, ressalvou. Os efeitos da SARS Tim Simpson recorda que o consumo desenfreado que começou a verificar-se no território foi espoletado pelo arranque da política dos vistos individuais para os turistas chineses, destinados a Macau e Hong Kong. “Desde meados do século XIX, Macau tem sido um lugar onde o jogo é legal. Não penso que seja um exemplo exagerado de uma sociedade de consumo. As pessoas vinham para jogar e não havia muitas actividades que estivessem separadas do jogo. Mas com a ocorrência da SARS [Síndrome Respiratória Aguda Grave], em 2002, prejudicou a economia de Macau e de Hong Kong, porque os turistas não viajavam para estas duas regiões com o medo de contágio. O Governo Central criou então o esquema de vistos individuais que, pela primeira vez, permitiu a cidadãos chineses comuns visitar as duas regiões.” A SARS teve um impacto bastante mais negativo, em matéria de saúde pública, em Hong Kong, mas a verdade é que os vistos individuais levaram à recuperação económica das duas regiões administrativas especiais. “A China tentou estimular ambas as economias ao criar os vistos individuais, e foi aí que se deu o boom: havia mais jogadores, mais visitantes em restaurantes e a adquirir produtos de luxo.” Questionado sobre a existência de semelhanças ou diferenças face ao período da pandemia, Tim Simpson recorda que “a covid-19 representou uma crise de saúde pública muito mais grave, no sentido em que teve contornos globais”. “Houve o encerramento de fronteiras e muitas restrições às viagens. O que vemos agora é o regresso dos turistas e, de repente, as pessoas estão a gastar dinheiro de novo, mas é um processo gradual. Parece-me que esta fase não vai mudar Macau para a fase anterior em que estava, antes da covid-19”, salientou. Depois de vários anos de implementação da política de vistos individuais, e com todas as mudanças ocorridas no sector do jogo, Tim Simpson destaca que hoje “os turistas já não jogam como jogavam antes da covid-19, parte da explicação para isso é que a indústria está a mudar, limitando o jogo VIP”. Relativamente ao consumo, o académico recorda que já não se observa apenas o típico turista que compra roupas, joias e outros produtos de luxo. “Há uma nova geração de jovens que visita Macau e que está menos interessada no jogo, preferindo outras actividades de entretenimento. Provavelmente, há ainda um grande número de pessoas a comprar produtos de luxo e a gastar dinheiro nesse tipo de comércio, mas tudo depende da confiança que existe na economia chinesa. Quanto mais confiantes estiverem os turistas chineses, mais vão gastar. Em termos gerais, temos mais turistas, mas se calhar não gastam tanto como antes da pandemia.” O académico entende que, mesmo com a recuperação da economia, há pontos a melhorar. “Caminho pelos resorts e vejo ainda muitos espaços fechados. Parece-me que as grandes marcas ainda estão presentes, mas negócios mais pequenos ainda não conseguiram recuperar. Esse é o desafio, fazer com que os negócios regressem ao que eram. Mas não tenho mais dados sobre se as principais marcas de moda e de luxo estão a fazer mais dinheiro agora ou antes da covid-19.” Tempo de solidificar Relativamente ao futuro, Tim Simpson considera que é tempo de as concessionárias consolidarem os investimentos feitos e trazer novos produtos ao mercado. “Todas as seis concessionárias conseguiram ver as licenças renovadas, e desta vez por um período de dez anos. As empresas têm pequenas janelas de oportunidades com uma concessão de dez anos, então há que consolidar os negócios, gastando menos em novas propriedades, pois esse investimento irá demorar mais tempo a ser recuperado. Além disso, não há tantos terrenos disponíveis para a extensão de projectos, pelo que alguns resorts vão tentar consolidar os projectos que já têm.” O académico considera que as maiores mudanças prendem-se com as “expectativas em relação à diversificação daquilo que as operadoras oferecem aos turistas, com mais elementos não jogo por exigência do Governo. Todas as concessionárias têm esse compromisso de investir noutro tipo de atracções, como concertos, exposições e convenções ou eventos desportivos.” Tim Simpson destaca também os acordos assinados pelas concessionárias com o Executivo para revitalizar bairros históricos, passando a ter “mais responsabilidades pelo seu desenvolvimento”.
Hoje Macau EventosEscritora Lídia Jorge vence Prémio Literário Fernando Namora com o romance “Misericórdia” A escritora Lídia Jorge venceu o Prémio Literário Fernando Namora, no valor de 15.000 euros, com o romance “Misericórdia” (2022), anunciou hoje a Estoril-Sol, que promove o galardão. A obra foi escolhida por unanimidade, tendo o júri, ao qual presidiu Guilherme D’Oliveira Martins, assinalado que se trata de “um romance, numa escrita marcada por singular criatividade, [que] transfigura ficcionalmente a matéria do real que o suscita e, na construção da personagem nuclear como de outras, nos múltiplos momentos da efabulação, nos planos em torno dos seus universos sociais, emocionais, afetivos, e nas notações de um processo de perda sem excessos descritivos, exprime uma voz com atributos incomuns de generosidade e humanismo”, segundo nota enviada à agência Lusa. “Trata-se, com efeito, de uma obra maior na bibliografia da escritora”, enfatizam os jurados. O júri realçou “a manifesta qualidade literária de vários dos livros a concurso”, salientando as obras “W. B. Yeats, Onde Vão Morrer os Poetas”, de Cristina Carvalho, “Um Cão no Meio do Caminho”, de Isabela Figueiredo, “História de Roma”, de Joana Bértholo, e “Cadernos de Água”, de João Reis. Com o romance “Misericórdia”, a autora de 77 anos venceu, em agosto passado, o Prémio para Melhor Livro Lusófono publicado em França, atribuído pela redação da revista literária Transfuge, e foi uma das candidatas ao Prémio Femina, na categoria de melhor romance estrangeiro publicado em França. Ganhou também o Grande Prémio de Romance e Novela/2022 da Associação Portuguesa de Escritores (APE). “Misericórdia” foi escrito por Lídia Jorge quando a mãe, internada numa instituição para idosos, no Algarve, várias vezes lhe pediu que escrevesse um livro com este título. A história decorre entre abril de 2019 e abril de 2020, data da morte da mãe da autora, que foi uma das primeiras vítimas da covid-19 no sul do país. “A minha mãe pediu-me várias vezes para escrever um livro que se chamasse ‘misericórdia’, porque ela achava que havia um desentendimento no tratamento das pessoas, achava que as pessoas procuravam ser amadas, mas não as entendiam. Pediu-me que escrevesse um livro chamado ‘misericórdia’, para que se tivesse compaixão pelas pessoas e as tratássemos como se fossem pessoas na plenitude da vida”, revelou a autora em entrevista à agência Lusa, quando da publicação do romance. Segundo a escritora, este não é um livro “mórbido” e a sua escrita não lhe suscitou sentimentos de tristeza ou dor. Antes, é um “livro sobre o esplendor da vida que acontece quando as pessoas estão para partir”, sobre os “atos de resistência magníficos, que as pessoas têm no fim da vida”. Lídia Jorge nasceu a 18 de junho de 1946, em Boliqueime, Loulé, no Algarve, no seio de uma família de agricultores. Obteve uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian para fazer os seus estudos universitários, tendo-se licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. O tema da mulher e da sua solidão é uma preocupação central da obra de Lídia Jorge, como nos romances “Notícia da Cidade Silvestre” (1984), “A Costa dos Murmúrios” (1988) ou “O Dia dos Prodígios” (1979). No romance “O Vento Assobiando nas Gruas” (2002) aborda a relação entre uma mulher branca e um homem africano e o seu comportamento perante uma sociedade de contrastes. Este livro venceu o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores em 2003 e o Prémio Correntes d’Escritas, no ano seguinte. Lídia Jorge foi membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social e fez parte do Conselho Geral da Universidade do Algarve, instituição de ensino superior que lhe atribuiu, a 15 de dezembro de 2010, o doutoramento Honoris Causa. O júri desta 26.ª edição do Prémio Literário Fernando Namora, além de Oliveira Martins, foi constituído por José Manuel Mendes, pela APE, Manuel Frias Martins, pela Associação Portuguesa dos Críticos Literários, Maria Carlos Gil Loureiro, pela Direção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas, Ana Paula Laborinho, Liberto Cruz e José Carlos de Vasconcelos, convidados a título individual, e por Dinis de Abreu, pela Estoril Sol.
Hoje Macau PolíticaPortugal | Primeiro-ministro António Costa apresentou a demissão O primeiro-ministro português, António Costa, apresentou esta terça-feira a demissão ao Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, após o Ministério Público revelar que é alvo de investigação do Supremo Tribunal sobre projetos de lítio e hidrogénio. “Obviamente, apresentei a minha demissão ao senhor Presidente da República”, declarou António Costa, numa comunicação ao país, a partir da sua residência oficial, onde destacou que o cargo de primeiro-ministro não é compatível com a “suspeita da prática de qualquer ato criminoso”. Costa apresentou a demissão na sequência de buscas no Palácio de São Bento, visando o seu chefe de gabinete, Vítor Escária, e membros do Governo, ao fim de quase oito anos em funções como primeiro-ministro. “Fui hoje surpreendido com a informação oficialmente confirmada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) que já foi ou irá ser instaurado um processo-crime contra mim. Quero dizer olhos nos olhos aos portugueses que não me pesa na consciência a prática de qualquer ato ilícito ou censurável”, declarou António Costa. O socialista informou ainda que Marcelo Rebelo de Sousa aceitou a sua demissão e que não se vai recandidatar ao cargo de primeiro-ministro. O chefe de Estado já convocou os partidos com assento parlamentar para quarta-feira, dia 8, e o Conselho de Estado para esta quinta-feira, dia 9, falando depois ao país. Buscas e detenções A polícia portuguesa fez, na terça-feira, buscas em mais de 40 locais, incluindo vários ministérios e na residência oficial do primeiro-ministro, e deteve várias pessoas, numa operação que investiga empresas do setor do hidrogénio e do lítio. O processo decorria no mais absoluto sigilo por envolver membros do Governo, embora a revista Sábado, publicação semanal portuguesa, já tivesse publicado uma reportagem sobre as investigações em curso. “No decurso das investigações surgiu, além do mais, o conhecimento da invocação por suspeitos do nome e da autoridade do primeiro-ministro e da sua intervenção para desbloquear procedimentos no contexto suprarreferido. Tais referências serão autonomamente analisadas no âmbito de inquérito instaurado no Supremo Tribunal de Justiça, por ser esse o foro competente”, lê-se numa nota hoje divulgada pela PGR portuguesa. As inspeções da polícia estenderam-se aos Ministérios do Ambiente e das Infraestruturas e levaram a várias detenções. Foram detidos o chefe de gabinete do primeiro-ministro, Vítor Escária, o presidente da Câmara Municipal de Sines, Nuno Mascarenhas, o consultor Lacerda Machado e dois administradores da sociedade Start Campus. De frisar que Lacerda Machado tem ligações a Macau onde esteve nos anos 80 na qualidade de membro da equipa do advogado Magalhães e Silva, que assumiu a pasta de secretário-adjunto para a Administração e Justiça em 1988. Da equipa faziam ainda parte outros nomes ligados ao PS, nomeadamente Eduardo Cabrita e Pedro Siza Vieira, ex-ministros do Governo de Costa. A imprensa portuguesa também noticiou que os ministros do Ambiente, Duarte Cordeiro, e das Infraestruturas, João Galamba, bem como o ex-ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, foram constituídos arguidos pelo Ministério Público. O caso que está a ser investigado envolve projetos de extração de lítio em Montalegre, no norte de Portugal, por possíveis favores concedidos pelo governo português a empresas.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaDeputados pedem reforço de segurança em creches Os deputados Lo Choi In e José Pereira Coutinho recorreram ontem ao período de interpelações antes da ordem do dia para apelar a um reforço da segurança nas creches depois do caso da morte de uma bebé. Lo Choi In defendeu que as autoridades devem “proceder à avaliação dos actuais manuais de funcionamento das creches e modelo de fiscalização, e reforçar a respectiva fiscalização e gestão”. Além disso, deve ainda ser ponderado “o reforço do apoio às creches subsidiadas, atribuindo mais recursos para aumentar o rácio do número de crianças por educadores para um educador para cada cinco crianças ou cuidadores”, a fim de “evitar a repetição de tragédias”. A deputada defendeu também a revisão do regulamento administrativo relativo à distribuição do pessoal das creches, exigindo “o aumento adequado do número de cuidadores de saúde, tendo em conta o rácio de crianças, com vista a optimizar os recursos humanos necessários para cuidar das crianças até aos 18 meses”. Câmaras são necessárias No caso de José Pereira Coutinho, foi defendido que “as creches devem oferecer cursos de formação profissional para lidar com emergências, além de contar com enfermeiras e cuidadores de saúde em número suficiente, que possuam conhecimentos básicos de primeiros socorros”. O deputado entende que as creches devem garantir a contratação de “profissionais de segurança e enfermagem qualificados e habilitados, com as competências necessárias para cuidar dessas crianças de tenra idade”. O responsável lembrou que está a decorrer um abaixo-assinado, “assinado por pais com filhos menores, exigindo que as autoridades competentes trabalhem mais para garantir a segurança nas creches”. Neste documento, é proposta a adopção de medidas preventivas, “como a instalação de câmaras de vigilância nas creches públicas, e privadas, utilizando a tecnologia de vídeos das câmaras inteligentes com armazenamento em ‘nuvem'”. O caso em questão ocorreu a 19 de Outubro na creche Fong Chong, na Taipa, ligada à Associação de Moradores, que vai encerrar portas no final deste ano por decisão do Instituto de Acção Social. A bebé perdeu os sentidos quando estava a dormir a sesta, tendo posteriormente falecido no hospital. A Polícia Judiciária ainda está a investigar o caso.