Armazém do Boi | Exposições de He Liping e Zha Ba a partir de segunda-feira

Resultado de duas residências artísticas, o Armazém do Boi acolhe, a partir de segunda-feira, duas exposições dos artistas He Liping e Zha Ba. No antigo Estábulo Municipal de Gado Bovino será possível ver os “livros de artista” de Zha Ba e as suas mensagens, bem como as memórias de Macau espelhadas na arte de He Liping

 

O Armazém do Boi inaugura, na próxima segunda-feira, duas exposições dos artistas He Liping e Zha Ba que resultam de duas residências artísticas realizadas no território. Ambos os projectos podem ser vistos, de forma gratuita, no antigo Estábulo Municipal do Gado Bovino, na intersecção entre a Avenida do Coronel Mesquita e Avenida Almirante Lacerda.

“My Nostalgic Memories” [As Minhas Memórias Nostálgicas], da autoria de He Liping, conta com curadoria de Tian Meng. Esta é uma mostra de trabalhos que remetem, como o nome indica, para as lembranças do artista em relação ao território.

Segundo um comunicado do Armazém do Boi, estão em causa “as memórias nostálgicas de He Liping”, tratando-se de uma “narrativa sobre uma pessoa e um lugar”, já que “muitas vezes recordamos o que nos escapou, acontecimentos e objectos”.

“Talvez as pessoas se perguntem se He Liping já viveu em Macau e se teve alguma experiência memorável na cidade. As memórias nostálgicas de He Liping não dizem respeito às suas breves viagens e participação em eventos artísticos em Macau, mas a algo mais distante e abstracto. A sua adolescência e início da idade adulta decorreram durante as décadas de 1980 e 1990, um período caracterizado pelo rápido desenvolvimento económico da China através de reformas e abertura. No domínio da cultura popular, as influências de Hong Kong, Macau e Taiwan foram substanciais”, descreve a organização.

Assim, a primeira ligação de He Liping a Macau “foi estabelecida através de filmes, produções televisivas e música popular”.

Assim, na sua perspectiva, “Macau é, ao mesmo tempo, familiar e desconhecido, tangível e intangível”. “He Liping utiliza um tema aparentemente nostálgico e as sete canções antigas, outrora populares, para reexaminar a relação entre um indivíduo e um lugar, que são os seus laços com Macau, à sua maneira única”, descreve o Armazém do Boi. Esta mostra está patente até ao dia 10 de Dezembro.

O livro do artista

Outra exposição acolhida pelo Armazém do Boi, intitula-se “Turn the Page” [Virar a Página], da autoria de Zha Ba. Esta é uma mostra sobre os chamados “livros de artista” do autor, revelando a relação deste com páginas que não são um “mero conjunto de papéis”.

Esta exposição prova como o “livro se apresenta numa gama ilimitada de suportes e com todas as interacções cognitivas envolvidas”, sendo que “o ‘livro do artista’ é uma forma de expressão concebida como arte por direito próprio.”

Este tipo de peça “utiliza a forma ou a função de ‘livro’ como inspiração, abrindo as fronteiras que definiriam a ontologia de um livro”, pelo que “o que faz verdadeiramente um ‘livro de artista’ é a intenção deste de explorar e investigar”.

Os últimos “livros de artista” de Zha Ba fazem a conexão entre a literatura e as artes visuais, tratando-se de “obras que revelam novas possibilidades, abrindo-se a discussões” e “reflectindo as suas decisões de incluir ou omitir certos elementos”.

“O que ele escolheu dar, tirar ou preservar vai permanecer para que o público possa desfrutar. A sua prática artística passa, sobretudo, por modificações, em que livros publicados e materiais impressos são escritos por cima, rasgados e cortados, reconfigurados e incorporados” nas obras de Zha Ba. Esta mostra também está patente, no mesmo local, até ao dia 10 de Dezembro.

17 Nov 2023

Xi Jinping pede construção de “mais pontes” com EUA

O Presidente chinês apelou ontem para a construção de “mais pontes” com os Estados Unidos, num jantar com empresários norte-americanos em São Francisco, no qual participaram Elon Musk e Tim Cook, entre outros. “Temos de construir mais pontes e pavimentar mais estradas para que os povos dos dois países interajam. Não devemos erguer barreiras (…)”, afirmou o líder chinês, citado pela agência de notícias oficial chinesa Xinhua.

Xi considerou que Washington não devia ver a China como o principal concorrente e garantiu que o país está pronto para ser um “parceiro e amigo” dos EUA, com base nos princípios fundamentais do “respeito, coexistência pacífica e cooperação para benefício mútuo”.

“Se uma das partes encarar a outra como o principal concorrente, desafio geopolítico e ameaça, isto só conduzirá a políticas desinformadas, acções mal orientadas e resultados indesejáveis”, afirmou. “A China não vai travar uma guerra fria ou quente com ninguém. Independentemente do nível de desenvolvimento que alcançar, a China nunca vai procurar a hegemonia ou a expansão e nunca vai impor a sua vontade aos outros”, explicou.

O líder chinês mencionou igualmente as principais iniciativas multilaterais de Pequim, incluindo o gigantesco projecto de infra-estruturas internacional Faixa e Rota e as iniciativas de Desenvolvimento Global, Segurança Global e Civilização Global, “sempre abertas a todos os países”.

Anunciou igualmente que o país está disposto a convidar 50 mil jovens norte-americanos a viajar para a China, nos próximos cinco anos, no âmbito de programas de intercâmbio e académicos destinados a reforçar as relações entre os dois povos.

O jantar, realizado à margem do fórum da Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC), que termina hoje em São Francisco, reuniu magnatas e presidentes executivos como Elon Musk, da Tesla e da SpaceX, Tim Cook, da Apple, Jane Fraser, em representação do banco Citigroup, Darren Woods, da petrolífera ExxonMobil, e Satya Nadella, da Microsoft. O preço por cada mesa de oito lugares foi de 40.000 dólares.

Más apostas

O Presidente chinês, Xi Jinping, instou ontem os Estados Unidos a “não apostarem contra a China” e “não interferirem nos assuntos internos” do seu país, durante um jantar com empresários norte-americanos em São Francisco. “A China nunca aposta contra os Estados Unidos e nunca interfere nos seus assuntos internos.

A China não tem qualquer intenção de desafiar os Estados Unidos ou de destituir o país. Pelo contrário, ficaremos felizes por ver os Estados Unidos confiantes, abertos, em constante crescimento e prósperos”, afirmou o líder chinês, citado pela agência noticiosa oficial Xinhua. Xi expressou a esperança de que Washington “dê as boas-vindas a uma China pacífica, estável e próspera”.

O líder chinês considerou que é um “erro” ver a China, que está “empenhada no desenvolvimento pacífico”, como uma ameaça, e alinhar num pensamento de “tudo ou nada” contra o seu país. “A China está a procurar um desenvolvimento de alta qualidade e os Estados Unidos estão a revitalizar a sua economia. Há muito espaço para a nossa cooperação e somos plenamente capazes de nos ajudarmos mutuamente a ter sucesso e a alcançar resultados mutuamente benéficos”, afirmou o Presidente chinês.

17 Nov 2023

Encontro | Biden e Xi concordam em restaurar comunicações militares

O Presidente norte-americano, Joe Biden, e o homólogo chinês, Xi Jinping, concordaram na quarta-feira em restaurar algumas comunicações militares entre as duas Forças Armadas, numa reunião em São Francisco.

Ambos os lados prometeram uma cooperação para aproximar os Estados Unidos e a China do regresso a conversações regulares no âmbito do que é conhecido como Acordo Consultivo Marítimo Militar, que até 2020 foi usado para melhorar a segurança aérea e marítima.

No final do encontro, Biden considerou que a reunião com Xi levou a “progressos importantes”, de acordo com uma mensagem do Presidente norte-americano, divulgada na rede social X (antigo Twitter). “Acabei de concluir um dia de reuniões com o Presidente Xi e acredito que foram algumas das discussões mais construtivas e produtivas que tivemos”, disse.

“Baseámo-nos no trabalho de base estabelecido ao longo dos últimos meses de diplomacia entre os nossos países e fizemos progressos importantes”, concluiu.

Xi Jinping afirmou, depois da reunião, que os dois líderes concordaram em retomar os diálogos militares de alto nível com base na equidade e no respeito, de acordo com um comunicado divulgado pela emissora estatal chinesa. Os responsáveis militares norte-americanos têm vindo a manifestar repetidas preocupações sobre a falta de comunicações com a China, especialmente porque o número de incidentes entre os navios e aeronaves dos dois países aumentou.

Um funcionário dos EUA, que pediu para não ser identificado, disse, após o fim da reunião entre Biden e Xi, que os acordos de comunicação militar significam que o secretário de Defesa norte-americano, Lloyd Austin, poderá reunir-se com o homólogo chinês, assim que este for nomeado.

Isto também abre a porta para acordos a outros níveis, incluindo permitir que o comandante das forças dos EUA no Pacífico, com base no Havai, se envolva em conversações com comandantes homólogos, disse o funcionário. O acordo provavelmente significará ainda compromissos operacionais entre os condutores de navios e outros a níveis muito mais baixos em cada país.

Relações essenciais

Os EUA consideram as relações militares com a China essenciais para evitar erros e manter em paz a região do Indo-Pacífico. Os dois líderes reuniram-se na quarta-feira numa bucólica propriedade rural nos arredores de São Francisco, à margem do fórum da Cooperação Económica Ásia – Pacífico (APEC).

A reunião é a primeira no espaço de um ano entre os dois líderes, depois de um encontro de cerca de três horas, em Novembro de 2022, em Bali, na Indonésia, à margem da cimeira do G20. A última vez que Xi se deslocou aos Estados Unidos foi em 2017, altura em que se reuniu com o então Presidente Donald Trump (2017-2021), na mansão do empresário em Mar-a-Lago, na Florida.

17 Nov 2023

Seda (8) – Deusas e Festas

Mausoléu da deusa da Seda Lei Zu (嫘 祖)

Ainda na província de Sichuan, em Qing Long shan no lugar de Jin Ji (Galo Dourado), após a visita à escola onde existira o importante e antiquíssimo templo de Lei Xuan Gong (嫘轩宫), em honra de Lei Zu e cujo nome a conecta ao marido Xuan Yuan (Huang Di), seguimos entre campos agrícolas por um carreiro ao mesmo nível, mas para o outro lado do monte, a visitar o Mausoléu de Lei Zu. Passamos por casas agrícolas feitas de terra onde, por vezes se vê um casal de idosos. Com os filhos fora, o trabalho do campo ainda é feito, mas as forças não dão já para a produção do bicho-da-seda.

Acompanha-nos o Senhor Wang Shao Mo, zelador do mausoléu desde 2001 quando este foi reconstruído, pois ficara destruído durante o período da Revolução Cultural. Nesta nossa visita em 2009, já o pórtico estava edificado, tendo à frente um altar e para trás o cume do monte. Nele incrustado, uma pedra escurecida com os caracteres do nome de Leizu enquadrada em caixilho com o mesmo tipo de pedra a tornear a esse nível o monte que alberga a sepultura. As obras estavam paradas e inacabadas ficando duas pilhas de blocos de pedra, a mesma usada em todo o recinto, parecendo criar os limites para o projecto, que foi depois desenvolvido. Segundo informações encontra-se já realizado, com a encosta a levar ao pórtico toda terraplanada e retiradas as árvores aparece uma alameda com escadas e uma rotunda escultórica alusiva a quem ali vivera e está sepultada.

Ainda então, para chegar ao mausoléu subia-se uma ladeira a colocar-nos perante uma estrutura feita em pedra, onde se iniciavam as escadas que por duas vias conduzem a um excelente miradouro. Após a passagem de um pequeno túnel, a fazer de porta, outro lanço de escadas diverge em outras duas escadarias laterais. Por fim atingimos a plataforma empedrada, com o altar de frente para um pequeno monte de terra e conforme regista uma placa colocada no mausoléu, aí repousa Lei Zu. Está escondida pela enorme estela onde se lê Lei Zu Fen, a confirmar assim, novamente, ali ser o monte-túmulo de Lei Zu. A estela está pousada numa estranha, mas bela figura de um ‘bixi’, um dos filhos do Dragão, em forma de tartaruga e envolvido por uma ampla estrutura de pedra feita em 2001 como escultura, onde emergem grandes rostos esculpidos, qual figuração amerindia.

Segundo uma lembrança do Sr. Wang, em frente ao Mausoléu de Lei Zu em 1998 foi realizada a dança do Dragão, mas em vez de serem os homens a transportar o dragão foram as mulheres a segurá-lo, tendo a cabeça a forma de bicho-da-seda.

Colocadas as oferendas na longa mesa de pedra, acendemos os enormes paus de incenso vendidos no local pelo nosso interlocutor e que nos corrige a posição, pois “a mulher deve situar-se no lado direito do homem”. Pegando no incenso com as duas mãos, inclinamos a cabeça três vezes em homenagem à Deusa da Seda, depositando-os em seguida no incensório.

Muito do projecto do mausoléu ficou por concretizar pois o dinheiro faltou. Laterais ao mausoléu, as grandes piras de pedra para o fogo estão por completar e a possante vegetação já delas tomou conta, escondendo-as. Diz haver mais de cem templos nas redondezas dedicados a Lei Zu.

INSTITUTO DAOISTA

Já no regresso a Yanting, virado para a estrada reparamos no grande templo situado no sopé do monte, com uma enorme imagem da mãe da seda Lei Zu no muro das escadarias exteriores, tendo dois dragões a fazer de corrimão, o do lado esquerdo amarelo e azul no direito.

Era o Instituto Daoista, onde nas paredes do interior de um salão estão colados papéis narrando histórias lendárias relacionadas com o trabalho da deusa iniciadora da produção de seda. Numa lemos existir uma grande e lisa pedra onde Lei Zu costumava trabalhar, quando à mão fazia o tecido de seda. A Deusa Wang Mu Liang Liang, mãe do Imperador Celeste, ao assistir a esse árduo trabalho no confeccionar tal tecido, pediu ao filho para enviar a Deusa das Tecedeiras a ensinar a promissora rapariga a fazer o tear e com ele tecer a seda.

Outra história relata haver um lugar conhecido por “Pote de Três Pés”, onde no local existiam três pedras. Lei Zu costumava aí desfiar os casulos. No início, o trabalho era muito vagaroso, levando-a a pensar como improvisar um meio mais rápido. Um dia, muito cansada adormeceu e sonhou com um idoso a caminhar lentamente com a ajuda de uma bengala e a dirigir-se a ela dizendo para não se preocupar, pois era o Tu Di (deus local da terra) da montanha, enquanto lhe entregava três pedras para servirem de suporte ao pote onde deveria colocar água do poço antigo e aí cozer os casulos, pois desse modo os conseguiria desfiar rapidamente.

Acordando, Lei Zu dirigiu-se à montanha onde viu colocadas em triângulo as três grandes pedras e assim seguiu os conselhos transmitidos pelo protector ancião.

Muitas outras histórias pela parede se encontram e contá-las todas tornar-se-ia fastidioso, mas não resistindo deixo traduzida uma outra. Lei Zu andava aflita pois os ratos comiam-lhe as lagartas e por isso, quedava-se de guarda à entrada da gruta onde produzia já o bicho-da-seda. Certa vez apareceu um estranho animal e devido à sua presença os ratos não se aventuravam a lá entrar e assim Lei Zu colocou-o de guarda à sua produção. Essa estranha criatura não era mais do que um gato, animal que segundo a História só apareceu na China durante a Dinastia Zhou do Leste (771-256 a.n.E.). Daí o gato não pertencer ao grupo de doze animais que responderam ao chamamento do Imperador Celeste e formam o zodíaco chinês.

Estas algumas das histórias que cobrem as paredes do Templo daoista, reescritas em diferentes épocas. Na teoria do Feng-Shui, o Dragão tanto representa o Imperador, como uma invulgar montanha e por isso, não é de estranhar ser Qing Long shan (Montanha do Dragão de Jade) o local da sepultura de Lei Zu, esposa de Huang Di e Deusa da Seda.

Pela perspicácia das observações de Lei Zu (Lui-Tch’ôu em cantonense), no olhar uma lagarta a construir o casulo para nele se transmutar e renascer como borboleta, percebemos a Natureza simbólica do Ser Vivo e chegados ao humano, vestimos com seda esse estar e continuamos a viagem pela China.

A cada ano, entre o oitavo dia do primeiro mês e o décimo dia do segundo mês lunar, o Imperador e os seus súbditos celebram Xian Can, a dar início à produção de seda. O oitavo dia do primeiro mês lunar é o aniversário do bicho-da-seda e o décimo dia do segundo mês lunar o aniversário de Lei Zu. Celebrações tão grandes que se comparam às do Aniversário dos Imperadores, lembra-nos na dinastia Tang (618-907) Zhao Rui (赵蕤, c.659-742).

A Professora Ana Maria Amaro refere: “pelos antigos registos chineses realizavam-se em Shu (Sichuan) todos os anos, do primeiro ao terceiro mês do calendário lunar, feiras de Bombix mori que passavam por quinze cidades e tinham muitos compradores.”

ESPÍRITO PROTECTOR

Na viagem para Yanting, o nosso olhar cruza-se por três vezes com blocos de pedra colocados na berma da estrada e onde a população local realiza oferendas. Traz-nos à memória as alminhas espalhadas por muitas estradas do Norte de Portugal, normalmente a marcar lugares onde devido a um acidente alguém morrera. Estes blocos de pedra esculpidos com rostos algo monstruosos podem ser observados pela China em muitas povoações, normalmente a proteger as esquinas das casas.
“Pedra Transcendente e Preservativa, costuma estar colocada em lugares sujeitos a más influências”, segundo o padre Manuel Teixeira que refere, “A cabeça da pedra é habitualmente talhada à maneira da cabeça dum tigre, em cuja fronte se grava o carácter Wóng (王), Rei.

É este o transcendente tigre real, o emblema do poder do espírito protector, Sék Kôm Tóng” (石敢当, Shi Gandang em mandarim). “Data das primeiras dinastias o costume de outorgar títulos honoríficos (como marquês) às pedras e outros objectos inanimados. Crê-se que a bravura de certas pessoas corajosas pode passar para a pedra com a cabeça de tigre.”

Chegamos à vila de Yanting já de noite e pago o quarto do talvez único hotel da pequena povoação, arrumadas as bagagens logo saímos para conseguir apanhar ainda aberta alguma cozinha, das que na praça se preparam para fechar, tal o adiantado da hora. São nove da noite e num dos cantos da praça um ecrã gigante passa um filme. Celebra-se nesse dia uma festa no Templo de Guanyin e atraídos pelos foguetes para aí seguimos já com o estômago aconchegado. Estafados regressamos ao hotel após um dia pleno. Preparamo-nos para deitar quando nos batem à porta.

O recepcionista vem acompanhado por dois homens que se apresentam como da polícia e ali nos questionam da razão da visita àquele lugar tão recôndito do país. Numa vistoria rápida às bagagens, despedem-se pedindo desculpa pelo incómodo. Só mais tarde soubemos ser frequente virem estrangeiros a estes longínquos locais à procura de antiguidades e levarem peças roubadas dos túmulos para serem vendidas em Hong Kong e Macau, seguindo daí para fora da China.

17 Nov 2023

Masdaw | Sorteio para angariar fundos no dia 3 de Dezembro

A Associação para os Cães de Rua e o Bem-estar Animal de Macau, mais conhecida por Masdaw, vai organizar no próximo dia 3 de Dezembro, às 14h, um sorteio para angariar fundos no abrigo para animais da associação, na Estrada Dona Maria II, nº6, na zona norte de Macau.

As “rifas” podem também ser compradas através de MPay e da aplicação de pagamentos do Banco da China. Os prémios podem ser levantados até 31 de Dezembro.

Serão sorteados mais de uma centena de prémios e todas as receitas revertem para o tratamento de cães de rua e para o funcionamento do abrigo da associação. A Masdaw tem à sua guarda 121 cães e uma missão sempre complicada pela frente, face às permanentes dificuldades financeiras que atravessa e as despesas que acumula.

Numa publicação no Facebook, a associação deu conta de ter recebido quase 26,5 mil patacas em doações durante o mês de Outubro, quantia que não chega sequer para pagar a renda do espaço onde está o abrigo, no valor de 42 mil patacas mensais, sem contar com os custos com alimentação, veterinários, limpeza, água e electricidade.

17 Nov 2023

SJM | Custo de mão-de-obra excedentária baixou 12%

A correctora China International Capital Corporation (CICC) afirma que os custos da Sociedade de Jogos de Macau (SJM) com mão-de-obra excedentária baixou 12 por cento no terceiro trimestre face ao trimestre anterior, noticiou o portal GGR Asia.

Grande parte desta mão-de-obra, associada na maioria aos casinos-satélite detidos pela operadora que deixaram de funcionar no ano passado, saiu da empresa através de diversas negociações laborais. Por sua vez, os salários desta fatia de mão-de-obra foram de 148 milhões de dólares de Hong Kong no terceiro trimestre face aos 169 milhões registados no trimestre anterior.

Segundo o GGR Asia, alguns analistas entendem que o ritmo de recolocação destes trabalhadores tem sido “muito mais lento” do que o esperado pelos accionistas e demais investidores.

A correctora, em comunicado divulgado na quarta-feira e que cita a própria SJM, explica que a situação dos trabalhos excedentários da operadora de jogo deverá ficar resolvida até 2025, sendo estes redistribuídos para outros cargos e resorts da operadora, ou saindo da empresa mediante negociação.

De frisar que, no terceiro trimestre, a SJM registou um EBITDA [resultados antes do pagamento de juros, impostos, depreciações e amortizações] de 566 milhões de dólares de Hong Kong, melhor do que o valor negativo de EBITDA de 968 milhões de dólares de Hong Kong registado no ano anterior. A correctora aponta que o desempenho da SJM actual se deve “a uma perda contínua de EBITDA no Grand Lisboa Palace e nos casinos satélite”, existindo, no entanto, “um equilíbrio com a recuperação gradual do Grand Lisboa” e outros espaços de jogo da operadora.

17 Nov 2023

EPM | Filipe Regêncio Figueiredo volta a liderar associação de pais

A lista única para liderar a Associação de Pais da Escola Portuguesa de Macau foi ontem a votos, contando com algumas caras novas, mas mantendo Filipe Regêncio Figueiredo na presidência. O advogado considera que esta é uma “altura chave” para a escola implementar mudanças essenciais no ensino secundário

O advogado Filipe Regêncio Figueiredo continua a ser presidente da Associação de Pais da Escola Portuguesa de Macau (APEPM). A lista única que liderou, com “pessoas novas, nomeadamente macaenses, para espelhar a diversidade dos encarregados de educação dos alunos da EPM”, foi ontem a votos.

Ao HM, o responsável disse que esta é uma “altura chave para se implementarem medidas que há muito são desejadas pelos encarregados de educação”, tendo em conta “as recentes alterações na fundação e a próxima alteração da direcção”. Uma dessas mudanças consideradas essenciais é a “melhoria substancial no ensino da língua chinesa e no rácio professor/aluno”.

Além disso, Filipe Regêncio Figueiredo entende que “o espaço da escola e o currículo do ensino secundário” são também assuntos que “necessitam de reflexão”. Isto porque “o currículo do secundário, nomeadamente do 12º ano, é extremamente pesado num ano tão importante e já por si intenso na vida escolar dos alunos”.

“Impor, neste ano, mais disciplinas do que aquelas que existem no currículo de Portugal não nos parece razoável, devendo encontrar-se soluções para uma melhor adequação e conjugação entre os requisitos impostos pelo Ministério da Educação de Portugal e a Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude”, adiantou.

Em causa está o facto de o currículo da EPM, para se adequar à legislação de Macau, ter disciplinas como História, Música e Matemática em todas as áreas do ensino secundário. “Em vez de serem leccionadas no 12º ano, poderiam ser dadas no 10º e 11º anos”, aponta o responsável.

Chamar mais pais

A nova APEPM tem também como prioridade “aumentar o número de associados e promover a participação dos encarregados de educação na associação, uma vez que, de acordo com a nova legislação, esta passa a estar representada no conselho de administração da escola”. Desta forma, explica Filipe Regêncio Figueiredo, a APEPM torna-se num “meio de comunicação privilegiado entre encarregados de educação e a escola”.

O novo papel irá permitir à APEPM “uma maior renovação dos seus órgãos, algo que se deseja fortemente”, além de tornar este organismo “mais representativo da diversidade que actualmente compõe a comunidade educativa”.

17 Nov 2023

Despesa de turistas aumenta quase 300% em termos anuais

A despesa dos visitantes em Macau aumentou, em termos anuais, 290,3 por cento nos três primeiros trimestres deste ano por comparação a igual período do ano passado. Relativamente aos primeiros três meses de 2019, ou seja, antes da pandemia, verifica-se um aumento na ordem dos 8,8 por cento. Nos três trimestres de 2023, os turistas gastaram no território 52,06 mil milhões de patacas, apontam dados da Direcção dos Serviços de Estatísticas e Censos (DSEC).

Só no terceiro trimestre as despesas dos visitantes foram de 19,60 mil milhões de patacas, mais 576,7 por cento em termos anuais. O valor explica-se, segundo a DSEC, pelo facto de o “número de visitantes em Macau ter aumentado 821,3 por cento face ao trimestre homólogo de 2022”. Em comparação com o terceiro trimestre de 2019, esta despesa subiu 28,9 por cento.

No trimestre de referência os visitantes despenderam predominantemente em compras, representando 44,3 por cento da despesa per capita, seguindo-se gastos em alojamento, com uma fatia de 29,3 por cento, e alimentação, 20,1 por cento. A despesa per capita dos visitantes em compras cifrou-se em 1.048 patacas, menos 49,7 por cento em termos anuais.

Menos satisfação

O inquérito da DSEC aos turistas revela ainda uma maior insatisfação face a alguns serviços e infra-estruturas do sector. Relativamente ao terceiro trimestre, a satisfação dos visitantes com os equipamentos ou instalações públicas baixou 2,5 por cento em termos trimestrais, sendo que 86 por cento dos turistas disseram estar satisfeitos com este ponto. Quanto aos transportes públicos, 72,4 por cento disseram estar satisfeitos com o serviço, uma quebra trimestral de 5,5 pontos.

Enquanto isso, a proporção dos visitantes que considerou serem suficientes os pontos turísticos de Macau foi de 68,5 por cento, menos 6,2 por cento face ao segundo trimestre. Por sua vez, 82,2 por cento dos turistas disseram estar satisfeitos com os estabelecimentos de jogo, mais 1,1 por cento, enquanto 80,9 por cento mostraram-se agradados com o serviço das agências de viagens, mais 10,9 por cento face ao trimestre precedente.

17 Nov 2023

SMG | Acordo com UM reforça uso de inteligência artificial

A Universidade de Macau e os Serviços Meteorológicos e Geofísicos assinaram um acordo de cooperação para reforçar a resposta a desastres e a aplicação de inteligência artificial. Um laboratório da universidade construiu uma plataforma de simulação para prever inundações e um modelo de identificação de tufões

 

O director dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG), Leong Weng Kun, e o reitor da Universidade de Macau (UM), Song Yonghua, assinaram o “Acordo-Quadro de Cooperação entre a Universidade de Macau e a Direcção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos”. O acordo tem como objectivo “melhorar ainda mais a capacidade de monitorização, previsão e alerta de desastres meteorológicos e reforçar a aplicação da tecnologia de inteligência artificial (…) nas áreas de previsão e alerta meteorológico antecipado, segurança pública urbana e prevenção de desastres, prestando, em conjunto, apoio técnico para a construção de Macau como uma cidade inteligente e resiliente”, indicaram, em comunicado, os Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG).

A Universidade de Macau (UM) “tem feito progressos notáveis na prevenção e redução de desastres em cidades costeiras, nomeadamente, tufões e chuvas intensas extremas”, acrescentou.

Coisas da vida

O Laboratório de Referência do Estado de Internet das Coisas para a Cidade Inteligente da UM “desenvolveu uma plataforma de simulação de desastres urbanos referentes às águas e um modelo de identificação de tufões de alta eficiência desenvolvido pelo sistema de aprendizagem com base na integração de características”, sublinhou a mesma nota.

A assinatura do acordo, na terça-feira, é, por isso, considerada “um bom início para um mecanismo de cooperação a longo prazo”, pelo que “ambas as partes vão trabalhar em conjunto nas áreas de ‘storm surge’ [inundações], tsunami, previsão meteorológica antecipada, aplicação de tecnologia de inteligência artificial e aprendizagem automatizada, pesquisa e desenvolvimento de sistemas de previsão operacional, avaliação de risco de catástrofes, equipamentos de monitorização e intercâmbio e visitas recíprocas de pessoal, entre outros”.

Além da assinatura do acordo, realizou-se o primeiro colóquio de intercâmbio, para discutir e trocar impressões sobre a cooperação da primeira fase.

17 Nov 2023

IH | Arnaldo Santos faleceu ontem de manhã aos 63 anos

O presidente do Instituto de Habitação, Arnaldo Santos, faleceu ontem de manhã no Hospital Kiang Wu, aos 63 anos de idade, vítima de doença prolongada. Depois de duas décadas em posições de direcção na TDM, Arnaldo Santos passou para administração e tornou-se numa das principais figuras das políticas de habitação pública

 

Arnaldo Santos morreu ontem de manhã aos 63 anos de idade, depois de uma batalha árdua contra uma doença prolongada que obrigou a internamento no Hospital Kiang Wu, onde acabaria por falecer.

Arnaldo Santos, que presidiu desde o início de 2016 ao Instituto de Habitação, fez a licenciatura em Engenharia Electrotécnica do Instituto Superior Técnico da Universidade Técnica de Lisboa e prosseguiu a formação académica com a parte curricular do Curso de Mestrado em Ciências Empresariais da Universidade de Macau.

Entre 1985 e 2005, a vida profissional de Arnaldo Santos passou pela Teledifusão de Macau, desempenhando as funções de chefe dos serviços de transmissões, director técnico, director técnico da rádio e director técnico e de produção.

Ao mesmo tempo, entre 1990 e 2004, acumulou tarefas na TDM com trabalhos de engenheiro projectista, enquanto profissional liberal, assim como professor a tempo parcial do curso de Engenharia da Universidade de Macau (entre 1990 e 1996).

Presente nos conselhos

Depois da fundação da RAEM, Arnaldo Santos foi nomeado para vários postos de relevo dentro da administração. Em 2002, tornou-se membro do Conselho de Ciência e Tecnologia e três anos depois foi nomeado coordenador do Gabinete para o Desenvolvimento do Sector Energético.

Em 2009, passou a ser membro do Conselho Consultivo do Ambiente em representação do Gabinete para o Desenvolvimento do Sector Energético e dois anos depois foi nomeado para o Conselho Administrativo do Fundo para a Protecção Ambiental e a Conservação Energética, também em representação do Gabinete para o Desenvolvimento do Sector Energético.

Além destes cargos, Arnaldo Santos foi também delegado do Governo na Companhia de Electricidade de Macau. Quando foi nomeado pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas para presidir ao Instituto de Habitação, Raimundo do Rosário declarou que Arnaldo Santos possuía “competência profissional e aptidão para o exercício do cargo”.

A última vez que apareceu numa ocasião pública foi no final de Setembro, conduzindo uma conferência de imprensa sobre os processos de candidatura à habitação pública.

17 Nov 2023

IAM | Concursos públicos para mercados com quase 400 propostas

Terminou ontem o prazo de entrega de propostas ao concurso público para 15 bancas no Mercados da Horta e Mitra e no Centro de Comidas do Mercado do Patane. Segundo informação divulgada ontem pelo Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), foram recebidas 393 propostas para as cinco bancas no Mercado de Horta e Mitra e dez bancas no Centro de Comidas do Patane, destinadas à exploração de 13 tipos de produtos ou gastronomias.

As propostas dos concorrentes serão avaliadas com base em cinco critérios principais. Estratégia de operação, experiência e qualificação, horário diário de exploração da banca, diversidade da tipologia de mercadorias e conveniência dos instrumentos de pagamento. O IAM indica que a selecção dos operadores terá também em conta a capacidade para injectar novo vigor nos mercados.

O IAM sublinhou que tentará concluir o processo de atribuição de todas as bancas e celebrar os contratos no prazo de três meses após a publicação da lista definitiva.

É ainda indicado que mudança de paradigma da distribuição das bancas desocupadas do antigo regime de sorteio para concurso público eleve “o entusiamo nos negócios e a qualidade dos serviços dos mercados, disponibilizando assim opções de compras mais diversificadas aos residentes”.

17 Nov 2023

LAG | Académicos da UM aplaudem Governo e dão sugestões

Académicos do Centro de Estudos de Macau analisaram as Linhas de Acção Governativa para 2024, concordando na generalidade com o rumo político tomado. Consolidar a recuperação e estabilizar a economia num contexto de elevadas taxas de juro dominaram as intervenções. As críticas focaram-se nas políticas de juventude e planos de revitalização de zonas turísticas

 

O caminho para a prosperidade da RAEM passa primeiro por consolidar a recuperação económica e estabilizar as finanças, mantendo os apoios sociais, para contornar os desafios que se avizinham. Esta foi a tónica principal do seminário organizado pelo Centro de Estudos de Macau da Universidade de Macau para analisar as Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2024.

Apesar de algumas sugestões, as vozes críticas foram escassas, com os académicos a louvarem e a prestarem apoio às decisões do Governo de Ho Iat Seng.

O presidente do Instituto de Gestão de Macau, Samuel Tong Kai Chung, salientou que o tema principal das LAG é “consolidar o desenvolvimento e reforçar a diversificação”, focado na economia pós-pandémica e na recuperação social em linha com o previsível o ambiente global de elevadas taxas de juro. O académico entende que as medidas delineadas nas LAG para a estratégia “1+4” tem um planeamento claro, com um esquema razoável para as pequenas e médias empresas (PME), assim como para a economia comunitária.

O professor da Faculdade de Ciências Sociais Kwan Fung é da opinião de que as LAG transmitem uma mensagem de busca do progresso e estabilidade, salvaguardando a qualidade de vida dos residentes, com apoios sociais e habitação pública. O docente considera que estas LAG dão à população uma grande confiança em relação ao futuro.

Ficar à margem

O professor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UM Lok Man Hoi alertou para o efeito das elevadas taxas de juro, em particular no acesso ao crédito, que pode impactar o mercado obrigacionista de Macau.

Por sua vez, Wong Seng Fat enfatizou que o cultivo e retenção de talentos deve ser uma prioridade para sectores que dependem da inovação industrial. Além disso, sugeriu que o Governo aposte na popularização da ciência nas escolas secundárias e nas universidades. O académico apelou ainda à construção de uma quinta ponte entre Macau e Taipa para resolver os problemas ligados ao desenvolvimento urbano.

A professora So Siu Ian foi mais acutilante na sua intervenção, focando os planos de revitalização dos bairros antigos, com o apoio das operadoras de jogo. A académica alertou para a necessidade de não serem elaborados planos de desenvolvimento idênticos para as várias zonas e respeitar as características culturais de cada área. Será também fundamental ter em conta o impacto destes planos na vida da população, em particular no trânsito, e fazer contínuas reavaliações dos projectos.

Contrariando a narrativa dominante, o secretário-geral da Caritas Macau expressou preocupações com as políticas de bem-estar dos jovens. Paul Pun argumentou que a evolução demográfica alterou os padrões de vida e, por exemplo, de acesso à habitação, com os jovens obrigados a ponderarem as futuras responsabilidades de cuidar os pais, factor que pode tornar menos apetecível uma candidatura à habitação económica.

Paul Pun referiu também que a localização do Novo Bairro de Macau e a competição laboral com profissionais de fora da RAEM são fontes de preocupação das gerações mais novas. Como tal, o responsável vincou a necessidade de o Governo prestar atenção aos problemas enfrentados pelos jovens de Macau.

Apesar das críticas e sugestões, Paul Pun ainda aplaudiu a decisão do Executivo de Ho Iat Seng em tornar permanente o subsídio aos cuidadores.

17 Nov 2023

Camané, fadista: “O Fado é uma música para a vida”

É já amanhã, pelas 20h, que Camané irá actuar em Macau, desta vez no Centro Cultural de Macau ao lado da Orquestra Chinesa de Macau (OCM). Em conversa com o HM, o fadista revela que o fado tradicional faz parte do seu ADN e do mais recente álbum, “Horas Vazias”, gravado em plena pandemia

 

O primeiro espectáculo que deu em Macau foi em 1997, portanto esta é a quinta vez que actua no território. É como voltar a uma espécie de casa?

Sim. É voltar a um sítio que ficou sempre na minha memória, graças aos portugueses, chineses e macaenses que conheci em Macau e com quem contactei na altura. De todas as vezes que estive em Macau gostei imenso do ambiente, os concertos correram todos muito bem. Esta é uma oportunidade de fazer um segundo espectáculo com esta orquestra, algo que também gostei muito da primeira vez que tocámos, em 2007. Depois actuei no Venetian em 2013, num espectáculo em que os fados foram traduzidos para chinês e inglês, e foi fantástico.

O fado é uma música traduzível?

O fado vive muito da palavra, da poesia. As pessoas identificam-se com os sentimentos, com as descrições sentimentais, da vida, da dor, do quotidiano. Pessoas de todo o mundo identificam-se com isso. As palavras também são traduzíveis, apesar de tudo, mas há uma parte que passa, que é o sentimento, a emoção, que não se explica. Quando era miúdo ouvia música francesa e não percebia uma palavra, mas emocionava-me. Muita da poesia não se explica, mesmo traduzida. São pequenas coisas que as pessoas vão, aos poucos, percebendo. A poesia não é para perceber, é para se ir percebendo.

É mais para ser sentida, talvez. O fado também é assim?

Acho que toda a música é para ser sentida. Aos poucos vamos identificando esses sentimentos que associamos à música e depois, mais tarde, tiramos conclusões, ou não. São coisas muito do momento, e acho que a música é isso. Toda a arte tem essa particularidade, de encontrarmos pequenas coisas com as quais nos identificamos.

Como é cantar com uma orquestra chinesa? Como é a conjugação de sonoridades e instrumentos diferentes com a sua voz?

Já houve uma experiência que resultou muito bem com a OCM. O alinhamento baseia-se no meu repertório. Há temas que são tocados apenas com os guitarristas e depois passamos para um tema com orquestra, fazemos esta intercalação. Em vinte temas que vou cantar, dez serão com arranjos de orquestra e com a orquestra. Acho que vai funcionar muito bem [a ligação] desta orquestra com o meu repertório. Já fizemos dois espectáculos juntos e experimentei passar uns arranjos de uma outra orquestra com a qual actuei para a orquestra de Macau e as coisas funcionaram muito bem.

Como é constituído esse repertório?

É constituído com a maior parte dos temas que tenho cantado. Tenho feito muitos concertos com orquestras e guitarristas. Mesmo em Portugal, quando vou fazer espectáculos, convido sempre uma filarmónica para tocar comigo, pois tenho os arranjos feitos. Muitas vezes são miúdos entre os 8 e os 14 anos que vão tocar comigo. É sempre muito interessante haver outras gerações a entenderem e a perceberem o fado. Neste caso, [os músicos] da OCM percebem e ficam a conhecer o fado, e acho isso fantástico. O repertório vai ser uma espécie de retrospectiva daquilo que é um percurso, com fados que têm feito parte da minha carreira. Vai haver temas diferentes daqueles que foram apresentados no último espectáculo, mas haverá outros repetidos, também.

Tal como a relação entre Portugal e China que sempre se manifestou em Macau, com alguns desentendimentos e compreensões, também é essa a relação do seu fado com a OCM? Ultrapassam-se diferenças de comunicação e de linguagem musical?

Sim. A música tem essa particularidade, é também uma linguagem universal. Os músicos vão ter os arranjos feitos e entendem perfeitamente. Claro que vão existir algumas complexidades, porque o fado tem muitas paragens que fazem parte da música, tal como no jazz, por exemplo. Muitas vezes a paragem, no fado, acaba numa sílaba. Cantei, da última vez que estive em Macau, o “Fado da Sina” que, como costumo dizer, tem paragens em todas as estações, e é incrível como o maestro conseguiu perceber, decorando as palavras com as paragens, e não houve uma falha num tema que é difícil. Acho que desta vez o maestro também vai perceber. Teremos vários dias de ensaios para que não existam falhas. De certeza que vamos encontrar uma forma de alinharmos as coisas.

Editou, em 2021, o álbum “Horas Vazias”, o seu mais recente trabalho. Porquê este nome?

Horas vazias é quando estamos livres, quando temos tempo e preenchemos um vazio. E preenchemo-lo com muitas coisas, com arte, música, coisas que nos alimentam a alma. Por acaso foi gravado na altura da pandemia, mas o nome não surgiu por essa razão. De facto, as horas vazias é também quando temos ideias para fazer um disco, e as coisas foram surgindo com o tempo. É o disco em que tive uma produção de um grande músico, que é o Pedro Moreira, que também está ligado ao jazz. Pontualmente, fomos trabalhando juntos, ele conhecia muito bem o meu trabalho, e então teve um grande entendimento do que poderia ser o álbum. É um disco de fado, mas ele percebeu, graças a todos estes anos, a forma como estou no fado.

E que forma é essa?

É uma forma em que as músicas, mesmo quando não são fáceis, transporto-as para este ambiente musical que é o fado. Não gosto de aproximar o fado das outras músicas, pois esta é uma música especial, como é o flamengo e o tango. Não é preciso aproximar-me de outras músicas, tenho é de fazer fado. Cresci a aprendê-lo e a viver com ele, e não tenho essa necessidade. Ele [Pedro Moreira] percebeu isso e foi fantástica a forma como trabalhámos juntos. É um disco que tem muitos compositores, como Pedro Abrunhosa, Jorge Palma, Vitorino, cujas composições eu transportei para este ambiente musical. Depois tem os fados tradicionais, as letras novas que fui descobrindo. É um disco que gostei muito de fazer. Neste espectáculo vou cantar alguns temas deste disco. Vou cantar temas de outros trabalhos anteriores que têm orquestrações feitas, mas vou incluir um pouco de tudo. Como é um trabalho com orquestra, faz sentido ir buscar alguns temas mais antigos, com arranjos muito bonitos de Mário Laginha, José Mário Branco, também do Pedro Moreira e de uma série de pessoas que me têm acompanhado.

Há fados que não podem escapar ao alinhamento dos seus espectáculos. Muitas vezes impõe o seu repertório, ou vai um pouco na onda daquilo que o público quer?

Não. Incluo, acima de tudo, o meu repertório e alguns temas que as pessoas conhecem, como “Sei de um Rio” ou “Ela Tinha uma Amiga”, mas há vários que gosto de cantar. Mas, normalmente, faço as coisas em que acredito, dou às pessoas aquilo que quero e em que acredito. Tenho sempre a esperança de que se identifiquem ou gostem. Claro que há temas que vão de encontro aquilo que as pessoas querem ouvir, e às vezes há dois ou três temas do meu repertório que gosto de cantar e que fazem parte de coisas que gosto muito de cantar, porque tenho tanto prazer a fazê-lo que acho que isso passa para o público. Mas são poucos.

Quando actua no estrangeiro sente que não leva apenas o nome Camané, mas também a língua e a cultura portuguesa? Sente essa responsabilidade?

Este ano aconteceram-me coisas fantásticas [com espectáculos] em que não havia muitos portugueses nas salas, nomeadamente na República Checa, na Polónia, na Áustria. Mas não penso muito nisso. Faço a mesma coisa quando vou tocar nestas salas fora de Portugal, em que sei que não existem portugueses, do que faço em Portugal. A música emociona e essa é a tal coisa que não se explica, e a barreira da língua ultrapassa-se com a música.

Como acha que os chineses percepcionam o fado?

Não sei. É como quando oiço música e sinto que há qualquer coisa que é verdade, que é muito expressiva e emociona-me. Evidentemente há muita música no mundo que gosto e da qual não percebo a língua. Quando ouvi música chinesa em Macau [ópera], e outras coisas mais populares, gostei imenso. A língua é mesmo uma barreira ultrapassável. Conta muito a entrega e a capacidade que temos de transmitir as emoções. Isso é o mais importante, e tenho tido sorte até hoje. Não gosto de falar de mim nesse aspecto, mas a verdade é que as pessoas se emocionam e não percebem uma palavra do que estou a dizer em palco.

Continua sempre ligado ao fado tradicional? É contra dar novas roupagens ao fado?

Não sou contra nada. Há coisas que estão muito bem feitas nessas áreas, mas a minha forma de estar no fado é que tem a ver com esse percurso que tive. Cresci no meio do fado, comecei a ouvi-lo com seis anos, tenho 57 anos. Não quero mudar nada porque é algo que tem a ver comigo, e o fado é uma música para a vida. Acontece com pessoas mais novas do que eu, ou que estão agora a começar, que tendem a tentar que o fado se aproxime das outras músicas, porque querem chegar a um público maior. É uma opção, mas para mim não. Também há quem faça música inspirada no fado, mas isso é outra coisa. A Ana Moura fez discos de fado fantásticos e teve outras opções. Não digo que sou contra, mas eu não mudo. Percebo que as outras pessoas tenham outras influências. Claro que já fiz outras coisas, fiz uma participação nos Humanos [grupo que gravou canções de António Variações], participei em discos dos Xutos & Pontapés. No final deste disco, por exemplo, tenho um conjunto de cordas inserido num tema, mas o ambiente musical, para mim, é muito importante, e esse é o fado.

Ao fim de tantos anos de carreira, o fado tem representado coisas diferentes para si?

Tem toda a importância na minha vida, é uma forma de estar na vida. Tem sido sempre uma motivação.

Em Macau, há grupos que tentam manter o fado ou o folclore vivo. São importantes estas expressões de portugalidade noutros lugares?

Super importante. Isso acontece em várias partes do mundo em que há uma ligação muito forte com Portugal e com a língua. Em Macau, na altura em que estive aí, assisti a algumas coisas ligadas ao fado, e achei fantástico. É importante que essa ligação cultural se mantenha.

17 Nov 2023

70º Grande Prémio | O menu do segundo fim-de-semana

Depois do aperitivo servido no fim de semana passado, nestes próximos quatro dias vamos degustar do melhor que o automobilismo nos pode oferecer no Circuito da Guia, com duas Taças do Mundo da FIA, as provas finais da competição de carros de Turismo com maior expressão a nível mundial e do maior campeonato de automobilismo da China, e ainda a única prova de motociclismo de estrada do continente asiático

 

Grande Prémio de Macau de F3 – Taça do Mundo de F3 da FIA

Colheita excepcional

Os novos F3 mostraram toda a sua espectacularidade e rapidez em 2019, e depois de três anos de F4 como “prato principal”, Macau já merecia algo mais requintado para este banquete automobilístico. Contudo, esta não foi uma corrida fácil de colocar de pé pela FIA, com as equipas a debaterem-se com algumas dificuldades em viajar até Macau, a começar com a falta de peças sobressalentes e exigente logística. Nove das dez equipas do Campeonato de F3 da FIA aceitaram viajar, cada uma com três monolugares Dallara, até à RAEM para a mais icónica corrida de F3 do panorama mundial e entre 27 concorrentes há muita qualidade e caras conhecidas.

Richard Verschoor venceu em 2019 e foi chamado pela Trident para liderar a equipa italiana. Agora a competir na F2, o neerlandês vai tentar obter um “bis” nas ruas de Macau. Contudo, o nome mais sonante da grelha de partida é certamente o de Dan Ticktum, por duas vezes vencedor do Grande Prémio de Macau de F3, ou então, Marcus Armstrong e Callum Ilott, actuais pilotos da IndyCar Series. O irreverente piloto britânico, que agora milita na Fórmula E, venceu em 2017 e 2018, regressando com o objectivo de se tornar o primeiro a vencer a corrida três vezes desde a introdução da F3 em 1983. Já o neozelandês e o compatriota que emigrou para os EUA querem “vingar” performances passadas no Circuito da Guia.

A super-equipa SJM Theodore Prema Racing alinha com três carros para vencer, com Paul Aron, Dino Beganovic e Gabriele Minì, enquanto a Red Bull Junior Academy – Zane Maloney, Isack Hadjar e Pepe Martí – espalhou o seu talento por várias equipas. Com um teste de F1 no bolso, Franco Colapinto, apoiado pela Williams F1, é outro talento nato que certamente vai dar nas vistas. Outros nomes familiares, mesmo para aqueles que não seguem a disciplina, são certamente os de Sophia Flörsch, que dispensa apresentações em Macau, Sebastián Montoya, filho do colombiano ex-F1 Juan Pablo Montoya, ou Charlie Wurz, o filho do austríaco ex-F1 Alexander Wurz.

Pilotos com ligações a equipas de F1:

Red Bull Junior Team

Dennis Hauger, Zane Maloney, Isack Hadjar, Pepe Martí, Oliver Goethe

Ferrari Driver Academy

Dino Beganovic

Mercedes Junior Team

Paul Aron

Williams Driver Academy

Luke Browning

McLaren Driver Development Programme

Ugo Ugochukwu

Alpine Academy

Gabriele Minì, Sophia Flörsch, Nikola Tsolov

Taça GT Macau – Taça do Mundo de GT da FIA

Duelo de titãs

Muito provavelmente esta vai ser a melhor edição de sempre de uma corrida que se iniciou em 2008 para “Gentleman Drivers” locais e que é hoje um feudo dos grandes construtores e de pilotos profissionais. A Audi, a BMW, a Ferrari, a Mercedes-AMG e a Porsche estão representadas na grelha de partida, com equipas oficiais, ou estruturas apoiadas pela fábrica, e pilotos cedidos pelas marcas.

A grelha de partida de duas dezenas de carros da categoria FIA GT3 conta com todos os vencedores das Taças do Mundo disputadas até aqui – Maro Engel, Laurens Vanthoor, Edoardo Mortara, Augusto Farfus e Raffaele Marciello – mais o vencedor da Taça GT Macau de 2020, Ye Hongli, dois campeões do DTM, Sheldon van der Linde e Thomas Preining, dois vencedores do Grande Prémio de Macau de F3, Daniel Juncadella e Mortara (de novo), e o vencedor das três maiores provas de resistência de GT3 da actualidade, Jules Gounon.

Os grandes construtores não se pouparam a esforços, a BMW trouxe duas equipas europeias para estrear o seu M3 GT3 nas ruas de Macau, a Mercedes-AMG fez o mesmo para a despedida de Marciello da marca (o próximo destino ainda é incerto, mas a rival BMW é uma forte probabilidade), a Audi foi contratar Mortara só para esta corrida, e até a Ferrari, que é sempre aquela marca que menos precisa de investir no “customer racing”, enviou o rápido brasileiro Daniel Serra para o confronto deste fim de semana.

Pilotos de fábrica:

Audi

Christopher Haase

BMW

Augusto Farfus

Sheldon van der Linde

Ferrari

Daniel Serra

Mercedes-AMG

Raffaele Marciello

Maro Engel

Jules Gounon

Daniel Juncadella

Porsche

Kevin Estre

Thomas Preining

Alessio Picariello

Matteo Cairolli

Laurens Vanthoor

55º Grande Prémio de Motos de Macau

Duelo a dois … ou a três!

A 55.ª edição da corrida de motociclismo de Macau vai ter como principal protagonistas o duo da FHO Racing BMW Motorrad, Michael Rutter e Peter Hickman. Ambos os britânicos vão tripular motos BMW M1000RR com as cores da equipa de Faye Ho, a neta de Stanley Ho. O australiano Josh Brookes é o terceiro membro da equipa e provavelmente o único, na teoria, capaz de se intrometer na luta destes dois multi-vencedores do evento.

O finlandês Erno Kostamo, venceu a edição de 2022, e o alemão David Datzer foi o segundo, mas o nível do plantel da corrida do ano passado era muito mais humilde. O regresso em força do contingente anglófono traz consigo pilotos com currículo e andamento, como Davey Todd, quatro classificado em 2019, para além de Rob Hodson, Michael Evans, Paul Jordan, Dominic Herbertson ou David Johnson.

Destaque também para a presença da holandesa Nadieh Schoots, que no ano passado se tornou na primeira mulher a competir no evento principal de duas rodas de Macau, que vai pilotar uma Yamaha da Basomba Racing em honra ao amigo falecido este ano na Ilha de Man, o espanhol Raul Torras.

Excluindo os dois anos da pandemia que não se realizou o Grande Prémio de Motos, esta será a primeira vez desde 1986 que não virá de Portugal qualquer piloto para competir numa corrida de duas rodas do evento. Aliás, é preciso recuar até aos anos 1960s, nos primórdios das corridas de motos no território, para não se encontrar um nome português numa prova de motos do Grande Prémio de Macau.

Corrida da Guia – TCR World Tour

Melhores da especialidade

Ao longo da sua história de mais de cinquenta anos, a Corrida da Guia sempre foi um ponto de encontro entre os melhores pilotos de Turismo internacionais e alguns dos habituais da modalidade deste ponto do globo. Este ano a história repete-se.

Quando o Discovery Sports Events decidiu dar a machadada final na Taça do Mundo de Turismos da FIA – WTCR no final do ano passado, o WSC Group, que tem os direitos do TCR, não perdeu tempo e lançou o TCR World Tour. O fim de semana do 70.º aniversário de Macau encerrará uma época de grande sucesso para o conceito que se situa no topo da pirâmide mundial dos carros de turismo e que, em 2023, a caminho de Macau, teve corridas na Europa, América do Sul e Austrália.

Três pilotos, que representam três marcas diferentes, vão lutar por este troféu. A equipa Cyan Racing Lynk & Co venceu as três corridas na sua última participação na Corrida da Guia Macau em 2019, conta com a estrela chinesa Ma Qing Hua, vencedor do título do WTCC de 2017, Thed Björk, e pelo duplo campeão do WTCR, Yann Ehrlacher, para além do uruguaio Santiago Urrutia. Ehrlacher lidera na tabela de pontos, mas em igualdade pontual com Rob Huff.

A privada Audi Sport Team Comtoyou conta com o inglês, que detém o recorde de maior número de vitórias na Corrida da Guia, e outro vencedor desta corrida, Frédéric Vervisch, no seu alinhamento de Audi RS 3 LMS da segunda geração.

A Hyundai estará presente com “Norbi” Michelisz, o campeão do WTCR de 2019 e vencedor da Corrida da Guia Macau em 2010, que está apenas um ponto atrás de Ehrlacher e Huff. O húngaro será acompanhado pelo companheiro de equipa Mikel Azcona – campeão do WTCR do ano passado – e por um terceiro piloto ainda não nomeado para um Hyundai Elantra N TCR.

Sem a força de outros tempos, a Honda escolheu o argentino Nestor Girolami para guiar o seu novo Honda Civic Type R FL5 TCR. A estes juntam-se os pilotos que se qualificaram para esta corrida via o TCR Asia Challenge da passada semana: Lo Sze Ho (Hyundai), Paul Poon (Audi), Deng Bao Wei (Honda), Yan Chuang (Lynk & Co), Osborn Li (Hyundai) e Ken Tian Kai (Audi).

Classificação – TCR World Tour: 1. Y. Ehrlacher, 384 pontos; 2. R. Huff, 384; 3. N. Michelisz, 383

Taça de Carros de Turismo de Macau – CTCC

Couto, Souza e um campeonato por decidir

Este ano, o Campeonato Chinês de Carros de Turismo assumiu-se como um dos mais fortes campeonatos nacionais de Turismo. Agora adoptando a cem por cento o regulamento técnico do TCR, a competição nacional chinesa conta com equipas oficiais da Dongfeng Honda, Hyundai e Link & Co. O Circuito da Guia vai ser o palco de todas as decisões de uma competição liderada pelo norte-irlandês Jack Young da Dongfeng Honda.

Para as gentes de Macau, o interesse nesta corrida vai concentrar-se em duas histórias: o regresso há muito esperado de André Couto ao Grande Prémio e o fim de carreira de Filipe Souza. Numa corrida em que as “ordens de equipa” podem pesar e muito, Couto pode ser a chave na luta pelo título da marca japonesa. Por outro lado, Souza, o único piloto de Macau a vencer a Corrida da Guia, quer despedir-se com um resultado de vulto num circuito que conhece como a sua palma da mão.

Desafio do 70.º Aniversário do Grande Prémio de Macau

Homenagem aos locais

Para muitos será provavelmente “mais do mesmo”; uma corrida com os carros do troféu bimarca Subaru BRZ e Toyota GR86, conduzidos por pilotos da região. Contudo, esta será uma justa homenagem às provas locais, que durante os setenta anos foram sempre um pilar do Grande Prémio, ajudando a manter o interesse no evento entre a população local e das regiões vizinhas.

A lista de inscritos inclui nada menos do que uma dúzia pilotos de Macau, liderados por Rui Valente e Lei Kit Meng, dois históricos do automobilismo de Macau, aos quais se juntam Mou Chi Fai, Cheung Hing Wah, Chan Chi Ha, Lo Kai Tin, Leong Iok Choi, Carson Tang, Sou Ieng Hong, Leong Keng Hei, Wong Ka Hong e Cheang Kin Sang.

Programa de corridas – Quinta-Feira, 16 de Novembro

06h00: Fecho do Circuito

06h30-07h00: Inspecção do Circuito

07h45-08h30: 55.º Grande Prémio de Motos de Macau – Treinos Livres

09h00-09h40: Grande Prémio de Macau de Fórmula 3 – Taça do Mundo de F3 da FIA – Treinos Livres 1

09h55-10h20: Taça de Carros de Turismo de Macau – China Touring Car Championship – Treinos Livres 1

10h30-10h55: Desafio do 70° Aniversário do Grande Prémio de Macau – Treinos Livres 1

11h10-11h40: Corrida da Guia Macau – Kumho TCR World Tour Event of Macau – Treinos Livres 1

12h15-12h45: Taça GT Macau – Taça do Mundo de GT da FIA – Treinos Livres 1

13h00-13h25: Taça de Carros de Turismo de Macau – China Touring Car Championship – Treinos Livres 2

13h35-14h00: Desafio do 70° Aniversário do Grande Prémio de Macau – Treinos Livres 2

14h15-14h45: Corrida da Guia Macau – Kumho TCR World Tour Event of Macau – Treinos Livres 2

15h15-15h55: Grande Prémio de Macau de Fórmula 3 – Taça do Mundo de F3 da FIA – Qualificação 1

16h10-16h40: Taça GT Macau – Taça do Mundo de GT da FIA – Treinos Livres 2

18h00: Abertura do Circuito

16 Nov 2023

70º Grande Prémio | Filipe Souza despede-se da prova

Filipe Souza cumpre o seu vigésimo segundo e último Grande Prémio de Macau este ano. E o piloto macaense recorda ao HM olha rapidamente para trás.

Melhor recordação

“Foi sem dúvida a edição do ano passado em que ganhei a Corrida da Guia. Foi a primeira vez que um piloto de Macau ganhou este título, para além de também ter ganho as duas corridas dessa prova. É disso que me orgulho.”

Pior recordação

“O pior de tudo foi uma vez em que fui desclassificado após uma sessão de qualificação. Recebi uma penalização que me impediu de participar no dia da corrida. Isto foi há quase dez anos e foi muito marcante para mim. Aprendi muito nessa altura e foi uma lição muito boa para mim.”

O que mudou

“Para mim, o que mais mudou desde a estreia até hoje foi a minha atitude e a seriedade com que penso nas corridas e, claro, o facto de dedicar mais tempo à preparação física e ao tempo em pista. Foi por isso que consegui muitos bons resultados na minha carreira de piloto.”

16 Nov 2023

EUA | China é principal origem de estudantes estrangeiros

A China continua a ser o maior emissor de estudantes estrangeiros para universidades dos Estados Unidos, segundo dados do Instituto de Educação Internacional (IIE) divulgados ontem. No total, mais de 289 mil chineses estudam actualmente nos EUA, de acordo com a mesma fonte.

O número de estudantes norte-americanos na China caiu, no entanto, para o nível mais baixo em mais de uma década. Apenas 211 norte-americanos estudaram na China continental, que exclui Hong Kong e Macau, no ano lectivo 2021/2022. Isto pode reflectir em parte o efeito da política de ‘zero casos’ de covid-19 adoptada pelo país asiático, que ditou o encerramento das fronteiras ao longo de quase três anos.

A posição da China como principal país de origem dos alunos estrangeiros nos EUA surge apesar da preocupação com um maior escrutínio nas fronteiras pelas autoridades norte-americanas. De acordo com a embaixada chinesa em Washington, nos últimos dois anos, pelo menos 70 estudantes chineses com vistos legais foram “interrogados, assediados e deportados” pela polícia norte-americana após aterrarem no país.

Apesar de existirem alguns indícios de que os estudantes chineses estão a procurar alternativas face ao deteriorar das relações, os EUA continuam a acolher quase o dobro de chineses em comparação com o segundo maior anfitrião, o Reino Unido. Cerca de metade dos alunos chineses nos EUA estudaram matemática, ciências informáticas, engenharia e outras disciplinas do ramo ciência e tecnologia.

Os alunos oriundos da Índia, a segunda maior fonte de estudantes estrangeiros nos EUA, atingiram um recorde histórico de 268.923, no ano lectivo 2022/2023, um aumento de 35 por cento, em relação ao ano lectivo anterior.

16 Nov 2023

Competição em Macau quer ‘startups’ de Moçambique na final

O 929 Challenge, uma competição para ‘startups’ e universidades entre os países lusófonos e a China, em Macau, quer garantir a presença de uma equipa de Moçambique na final, disse à Lusa um dos organizadores. A Associação de Empreendedorismo e Inovação Macau-China e Países de Língua Portuguesa, gestora do 929 Challenge, assinou ontem um acordo de cooperação com a Universidade Eduardo Mondlane (UEM), de Moçambique.

O protocolo tem como objectivo dar aos empreendedores moçambicanos, já em 2024, a oportunidade de participarem de forma directa na fase final do 929 Challenge, disse Marco Duarte Rizzolio, co-fundador da competição.

O docente da Universidade Cidade de Macau explicou que está a ser ponderada “uma pré-selecção feita em Moçambique através da incubadora [da UEM], para a equipa seleccionada para a final” do 929 Challenge. Num comunicado, a associação disse que a parceria “resulta da colaboração estreita já existente com a incubadora da UEM” e sublinhou que várias equipas da universidade foram seleccionadas como finalistas nas últimas edições do 929 Challenge.

Promoção e intercâmbio

O projecto de uma equipa da UEM, de produção de biogás a partir de desperdício em explorações avícolas, alcançou em Outubro de 2022 o segundo lugar na segunda edição da competição. “Explorar as oportunidades” em Macau vai permitir a Moçambique “internacionalizar as soluções empreendedoras feitas no país, bem como promover Moçambique enquanto plataforma para o mercado africano”, disse a associação.

A parceria com a UEM prevê ainda programas de intercâmbio, “acesso a recursos e mentoria”, assim como a fundos, eventos e programas direccionados para os empreendedores, tanto em Macau como em Moçambique, sublinhou-se no comunicado. A associação prometeu também apoiar as ‘startups’ moçambicanas a participar em “iniciativas de impacto e de promoção do empreendedorismo realizadas em Macau, nomeadamente no domínio da aceleração e desenvolvimento de competências”.

O 929 Challenge assinou este ano acordos semelhantes, que garantem um lugar na final da competição em Macau à vencedora da categoria de ‘startups’ do Angola Innovation Summit e a ‘startups’ de Cabo Verde. Na terceira edição do 929 Challenge, que terminou em 28 de outubro, as 16 equipas finalistas, oito ‘startups’ e oito de universidades chinesas e lusófonas, puderam pela primeira vez deslocar-se a Macau.

O território seguiu até Dezembro de 2022 a política chinesa de ‘zero covid’, com a imposição de restrições e quarentenas à chegada, algo que impediu os finalistas das duas primeiras edições da competição de irem a Macau apresentar os projectos. O concurso tem a organização conjunta do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Macau) e de várias universidades de Macau e da Grande Baía e da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.

16 Nov 2023

Curvas e contracurvas

EMPANQUEI no étimo “calamento” por mero acaso e tenho consciência de que não é fácil explicar-me, até a mim mesmo, de forma cabal e satisfatória. A primeira vez que vi esta palavra escrita foi quando a encontrei a nomear um romance notável de Romeu Correia, que só li anos depois.

Apenas mais tarde vim a saber que calamento era também o que muitos presos políticos faziam nos interrogatórios da PIDE, sob tortura – cerrar os dentes e nada dizer. “Nem um pio”, explicou-me certo dia no Museu do Neorrealismo, em Vila Franca de Xira, o então director do “Avante!”, Dias Lourenço.

Mas não foi com esta significação que Romeu Correia utilizou essa palavra terrível. É que calamento era, desde séculos antes, um pedaço de corda de sisal que tinha numa ponta um barquito de pesca ou as mãos de um pescador e, na outra, um peso que prendia a precária embarcação desses famintos violadores do mar onde fosse preciso.

As comunidades de ílhavos e de algarvios que vieram, respectivamente, do mar salgado e da ria de Aveiro, bem como do sotavento algarvio, instalaram-se lado a lado com uma inultrapassável faixa de separação entre ele, perpendicular à costa, instaurando rivalidades e correspondentes lutas e violências recíprocas que a miséria gerava. Ao ponto de um rapaz de marca ílhava que ousasse namorar uma rapariga proveniente de Portimão poder ser perseguido e às vezes até sovado.

No século XX, o escritor almadense ainda verificou comportamentos colectivos destes e eu, num engasgamento das minhas emoções, a acabei por ser encaminhado para topónimos como Trafaria e Caparica, redutos destas atávicas tradições.

Há quem diga que o nome Trafaria deriva do facto de ter havido ali muitas redes de pesca, designadas localmente como tarrafas.

Terá chegado ao conhecimento do Marquês Pombal que, na chusma de cabanas miseráveis da povoação piscatória, se escondiam muitos refratários à tropa e que, por isso, a mandou incendiar, missão que coube ao chefe da Polícia, um tal Pina Manique, poupando apenas os que se integrassem legalmente nas fileiras militares e assim deixassem de sobreviver por expedientes perigosos para as populações e para o Reino.

Não parando na minha pesquisa, descobri que Trafaria significava o fim da terra conhecida dos algarvios e, muito antes disso, viera de Almaraza – do árabe al-maraje, ou seja, lugar por onde se sobe.

Já Caparica terá resultado de étimos latinos – cappar, cappari ou capparis, provindos do grego kapparis que significa alcaparra. Terá, portanto, sido um alcaparral, sendo que, em vários lugares de Trás-os-Montes, alcaparra é uma saborosa azeitona descaroçada que já comi em Miranda e recomendo.

Também se admite que o topónimo resulte de aí ter existido um cabo de areia, (“parte final”), lodo ou outro material macio – “rk” , “ser mole, macio” – pelo que aqaberik pode ter evoluído para qaberik e por fim para qaperik.

Calcula-se que a cidade da Costa de Caparica, onde já visitei o Convento dos Capuchos, a Igreja de Nossa Senhora do Monte de Caparica e a Fortaleza da Torre Velha, tenha tido para os romanos uma importância semelhante às de Alcochete, Montijo e Sesimbra.

Lá no alto, fica Sobreda, a antiga Suvereda rodeada de sobreiros de que falou Fernão Lopes e é hoje uma vila arejada ao lado da Capa Rica (Costa e Charneca de Caparica) onde morou, quase até à morte, um velho amigo meu, o Gabriel Raimundo, que frequentou a Sorbonne, a Aliance Française e a Universidade de Lovaina, tendo andado pelo maio de 68.

Fundador em Paris de “Portugal Cá & Lá”, foi mais tarde jornalista do “Diário de Notícias” no tempo de Saramago e seguidamente de “o diário”, comigo, antes de partir para Cabo Verde como formador e redator da “Voz di Povo”.

Este rijo beirão de Tortosendo foi preso em 1971, perto de Vilar Formoso, pela Guardia Civil, com mais cinco companheiros portugueses e logo encarcerado em Salamanca. Vinha para Portugal, integrado na luta clandestina antifascista.

O que são as curvas e contracurvas da memória…

Martinhando

ESTE ano, o Dia de S. Martinho mais parecia, logo de manhã, o Dia de S. João – a madrugada evoluiu para um nascer do sol amarelíssimo e durante as trevas tinha havido estrelas incontáveis, brisas suaves e cantigas de festa facultadas pelos pássaros noturnos. Depois, já quase ao fim da manhã, o céu ficou cinzento e a chuva não se fez rogada.

Pelas onze horas, mastigando umas castanhas assadas quase a escaldar, já estávamos na esplanada do costume, nos nossos fins de semana. Íamos temperando o calor na boca com uns goles aspirados de um tinto novo que este ano é de excelente qualidade, celebrando o Dia de S. Martinho, quando chegou o filho do mais careca de nós todos. Vinha a arfar, armado com um computador portátil.

Sacudiu o capuz e os ombros molhados, para logo se sentar na mesa que continuava livre, ao nosso lado. Assobiou para o balcão, fez uns acenos com as duas mãos e, quando a empregada coxa se aproximou, pediu-lhe uma bica dupla e um copo de água. Esta, com uma vénia e uma tossidela inexplicável, deu meia volta e, quando voltou com a bandeja quase ao nível dos joelhos, trazia também um pires com duas castanhas assadas e um rebuçado.

Disse-lhe:

– Oferta da casa.

– Obrigadíssimo.

O pai, apontando-lhe a maquineta, ordenou:

– Larga isso e senta-te com a gente.

– Tenho umas coisas para ver, enquanto a chuva não para. Posso?

Foi evidente uma certa arrogância na asserção do jovem. Martinho, julgo eu. Na nossa mesa, trocámos olhares uns com os outros e voltámos a atacar o prato das castanhas e as taças de tintol.

Nisto, apareceu a namorada do Martinho que se ocupou a esvaziar uma garrafa de cerveja preta e lhe atirou:

– Afinal, hoje não é só o teu dia. Vai ao Google.

E ele foi. Descobriu e disse-nos que na China se estava no Dia dos Solteiros, ou Guanggun Jie (em chinês 光棍节), um festival de entretenimento que celebra o orgulho em ser solteiro e já se transformou num dos principais dias de comércio on-line no mundo. Em casa, fui também ao Google e fiquei a saber que a coisa começou na Universidade de Nanquim, em 1993, inicialmente só entre os homens, sendo logo a seguir um evento popular em várias universidades chinesas durante a década.

O milionário festival continua cada vez mais a servir para a socialização entre solteiros, contando com eventos de encontro às cegas para que os interessados abandonem, à sorte e sem culpar ninguém, a vida de solteiros. O ano de 2011 marcou o chamado Dia dos Solteiros do Século com várias ações promocionais do evento, visando, principalmente, atrair jovens consumidores acríticos e ávidos de novidade.

Já no Reino Unido, o que se celebra é o Dia do Armistício, visto que no dia 11 de novembro de 1918, a na “undécima hora do undécimo dia do undécimo mês”, foi assinado pelos Aliados e pelo Império Otomano, em Compiègne, França, o fim das hostilidades na Frente Ocidental. Após a Segunda Guerra Mundial, o Reino Unido e a maior parte dos países da Commonwealth decidiram unir as celebrações do Dia do Armistício e estabelecer o Dia da Lembrança (Remembrance Day), um feriado criado para honrar os militares e civis envolvidos no maior conflito do século XX.

Nos EUA a data também é comemorada junto com o feriado do Dia dos Veteranos.

16 Nov 2023

Fundação Oriente | “Plagiarise”, de Wong Sio Hang, conquista prémio

Wong Sio Hang é o artista vencedor da edição deste ano do prémio da Fundação Oriente atribuído na área das artes plásticas. “Plagiarise” é o nome da obra que lhe dá o passaporte para uma residência artística em Lisboa e ainda um prémio monetário de dez mil patacas. Foram ainda atribuídas duas menções honrosas a Wu Hao Zheng e Lai Ka Weng

 

Já são conhecidos os vencedores do prémio anual da Fundação Oriente (FO) atribuído aos melhores talentos locais na área das artes plásticas. O artista vencedor é Wong Sio Hang, autor de “Plagiarise”, tendo sido entregues duas menções honrosas a Wu Hao Zheng, autor da obra fotográfica “The Realm of Oyster” e a Lai Ka Weng, que apresentou a obra de pintura acrílica “A Nocturnal Walk”. Segundo um comunicado da FO, as três obras promovem uma reflexão “sobre a evolução humana na contemporaneidade”.

“Plagiarise” é uma réplica dos desenhos que o artista fez na infância, quando tinha três a cinco anos de idade, demonstrando “uma exploração conceptual do significado e do valor da criação artística, particularmente no contexto de tecnologias emergentes como a Inteligência Artificial”.

Segundo a FO, a decisão do artista de “revisitar as obras da sua infância e incorporá-las na sua prática, utilizando o método tradicional da cópia, mostra uma abordagem estimulante que desafia as noções convencionais de expressão artística”.

Além disso, “a proficiência técnica e a capacidade de Wong Sio Hang para criar obras de arte delicadas e realistas, também seleccionadas e apresentadas no Salão de Outono, são o pilar das suas explorações mais conceptuais”, é descrito no comunicado da FO.

Macau antigo

Relativamente às menções honrosas, a fotografia de Wu Haozheng “transforma-se numa névoa distante na exposição da câmara, testemunhando a acumulação e o crescimento de ostras e objectos abandonados”. Trata-se de uma forma de apresentar a quem vê a imagem a antiga Macau “que se desvaneceu na maré da história”. A fotografia revela “um ambiente calmo e desbotado entre as colinas de ostras e o mar enevoado”.

Já a série de pinturas “A Nocturnal Walk”, de Lai Ka Wing, retrata “uma cena solitária e melancólica à meia-noite em Macau, uma ideia que teve origem na percepção da artista da importância de acalmar as emoções e do seu desejo de dar um passeio para aliviar as emoções quotidianas reprimidas”.

Desta forma, “o seu quadro é pintado em tons de azul para criar uma atmosfera melancólica”, representando também “a calma interior, com uma sensação de tranquilidade”.

Na obra destacada pelo júri, “os candeeiros de rua em cada quadro contrastam com o seu ambiente, iluminando as fachadas dos edifícios”, enquanto “o brilho da luz na escuridão simboliza a esperança e o calor, que podem lavar os pensamentos negativos”.

Viagem a Lisboa

Os prémios FO para as artes plásticas foram atribuídos este domingo. O grande vencedor irá ganhar dez mil patacas, além de ter a oportunidade de realizar uma residência artística em Portugal durante um mês para criar obras de arte. O montante total do prémio, incluindo passagens aéreas, alojamento e alimentação, não será inferior a 40 mil patacas.

Este prémio foca-se nos jovens artistas locais com uma idade igual ou inferior a 35 anos, realizando-se em conjunto com a mostra do Salão de Outono. Segundo a organização, este evento anual “constitui uma oportuna oportunidade para mostrar a vitalidade da cena artística de Macau no período de recuperação da pandemia”.

Tanto a AFA como a FO afirmam que têm vindo a “trabalhar no sentido de criar plataformas para artistas locais e estrangeiros, proporcionando-lhes oportunidades de interagir e aprender uns com os outros”.

Prova de vida

A exposição do Salão de Outono tem, este ano, a sua 14.ª edição, contando com um total de 45 artistas e 92 obras seleccionadas, datadas de 2021. Todos eles são artistas que trabalham, estudam e vivem em Macau.

As obras desta edição do Salão do Outono, organizada pela AFA – Art for All Society, reflectem “as actuais experiências artísticas da vitalidade criativa local”, sendo que “cerca de um terço das obras de arte centradas em expressões figurativas em meios tradicionais como a pintura sobre tela, aguarelas, tinta da China e cerâmica”. Outro terço dos trabalhos expostos, foca-se mais “em expressões abstractas e principalmente na pintura”. Além disso, a mostra tem também muitas obras no formato digital, nomeadamente nas áreas da fotografia, ilustrações digitais, modelação, vídeo e instalações.

16 Nov 2023

Taiwan/Presidenciais | Forças da oposição concorrem unidas

O Kuomintang (KMT) e o Partido Popular de Taiwan (TPP), as duas principais forças da oposição em Taiwan, chegaram ontem a um acordo para apresentar um candidato conjunto às eleições presidenciais, marcadas para 12 de Janeiro.

O acordo foi comunicado após uma reunião de duas horas e meia entre o candidato do KMT, Hou Yu-ih, o candidato do TPP, Ko Wen-je, e o presidente do KMT, Eric Chu, tendo como testemunha o antigo Presidente de Taiwan Ma Ying-jeou (KMT), noticiou o canal de televisão local SETN News.

Os dois partidos tencionam desafiar o candidato do Partido Democrático Progressista, no poder, e actual vice-Presidente, William Lai, que as sondagens indicam ser o favorito.

O acordo estabelece que cada um dos partidos vai nomear um perito em estatística para examinar e avaliar as sondagens publicadas por vários meios de comunicação social e as sondagens internas dos partidos, embora a forma como as avaliações vão ser efectuadas não tenha sido explicada em pormenor.

Se houver uma diferença superior à margem de erro estatística entre os dois candidatos, o que tiver mais apoio será o candidato presidencial e o outro será apresentado como candidato a vice-Presidente.

No caso de a diferença estar dentro da margem de erro, Hou será o candidato presidencial e Ko a vice-Presidente. Os resultados vão ser anunciados no sábado, após o que os dois partidos devem criar uma comissão de campanha para apoiar a nomeação de um ou outro candidato.

Os dois partidos também se comprometeram a formar um Governo de coligação se ganharem as eleições, em que o quarto concorrente, também em último lugar nas intenções de voto, é o milionário Terry Gou, fundador da empresa tecnológica Hon Hai Precision Industry, que monta o iPhone e outros aparelhos eletrónicos e é conhecida internacionalmente como Foxconn. O resultado destas eleições vai definir o rumo da política de Taiwan em relação à China.

16 Nov 2023

Dados pessoais | Europa “optimista” com projecto transfronteiriço

Um grupo empresarial europeu disse ontem ter acolhido “com optimismo” o projecto sobre regulação e promoção do fluxo transfronteiriço de dados da Administração do Ciberespaço da China, “um passo importante” para optimizar as normas no país.

A Câmara Europeia afirmou, na apresentação do projecto de estudo, em Pequim, que a avaliação completa vai depender do texto final e da aplicação prática dos limiares relevantes. “Trata-se de uma evolução positiva, mas a verdadeira medida virá com a aplicação efectiva dos regulamentos”, afirmou o vice-presidente da Câmara Europeia, Stefan Bernhart.

O inquérito mostrou que 96 por cento das empresas europeias na China transferem dados internamente, sobretudo informações pessoais de empregados e clientes. Sobre os regulamentos planeados, Bernhart disse que, embora “aprecie as isenções propostas”, é “necessária mais clareza”, especialmente em termos como “grandes volumes de dados” e “informações pessoais”.

As empresas defenderam um limiar mais elevado para a avaliação da segurança, visando permitir a transferência dos dados necessários para a gestão dos contratos e dos recursos humanos, e sugeriram a revisão das isenções relativas ao fluxo destes dados, a fim de incluir, entre outros, os familiares dos funcionários, que veriam benefícios associados comprometidos.

Mais de 40 por cento dos inquiridos salientaram a necessidade de sincronizar as novas regras com as regras existentes em matéria de transferência transfronteiriça de dados. O inquérito mostrou também que a regulação actual aumentou os custos de conformidade, mas 31 por cento das empresas declararam que, em contrapartida, reforçaram os mecanismos de protecção de dados.

16 Nov 2023

UE | Pequim pede melhor ambiente para empresas chinesas

A China instou ontem a União Europeia (UE) a ouvir as sugestões das empresas chinesas que operam no bloco e a oferecer-lhes um ambiente de negócios “justo, transparente, estável e previsível”.

A porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Mao Ning, referiu um relatório da Câmara de Comércio Chinesa na UE, que analisa o desenvolvimento das empresas chinesas no mercado europeu e propõe uma série de medidas para melhorar a sua situação.

A responsável enfatizou as preocupações das empresas chinesas, incluindo a tendência da UE para “politizar” questões económicas e comerciais, o impacto da política de redução de riscos (‘derisking’) do bloco, os “obstáculos à cooperação científica” e a “falta de eficiência e comunicação” no ambiente empresarial.

“As empresas chinesas estão a manter um crescimento sólido na Europa e a contribuir para a recuperação e transformação do continente com os seus projectos em áreas como o ambiente, economia digital, inovação e cooperação sustentável”, frisou.

A porta-voz sublinhou que as empresas do país asiático “assumem a sua responsabilidade social” e “promovem o emprego e o bem-estar local”, tornando-se “partes interessadas importantes” na UE.

A China e a UE são “forças importantes” na construção de uma “economia mundial aberta” e ambas as partes devem “manter a direcção certa da globalização económica, facilitar o comércio livre e o investimento, reduzir e evitar a criação de novas barreiras”, frisou.

“Esperamos que a parte europeia ouça atentamente as sugestões razoáveis das empresas chinesas e satisfaça as suas exigências legítimas”, disse. O comissário europeu para o mercado interno, Thierry Breton, afirmou na semana passada, em Pequim, que a China e a UE estão a trabalhar para realizar uma cimeira, a primeira do género em quatro anos, nos dias 7 e 8 de Dezembro.

16 Nov 2023

Economia chinesa dá sinais de retoma apesar da persistente debilidade no imobiliário

A economia da China deu sinais de retoma, em Outubro, com as vendas a retalho e a indústria transformadora a crescerem, embora o sector imobiliário continue a contrair, indicam dados oficiais ontem divulgados. Em Outubro, a produção industrial aumentou 4,6 por cento, em termos homólogos. As vendas a retalho subiram 7,6 por cento, ajudadas pelo forte consumo durante a semana de férias do Dia Nacional.

O investimento em imobiliário caiu 9,3 por cento e as autoridades reconheceram que o sector ainda se encontra em “plena fase de ajustamento”, depois de, há dois anos, uma campanha de desalavancagem lançada por Pequim ter suscitado uma crise de liquidez.

As perturbações na indústria transformadora, nos transportes, nas viagens e em praticamente toda a actividade económica durante a pandemia terminaram há quase um ano, quando os dirigentes chineses abandonaram a estratégia ‘zero casos’ de covid-19.

A melhoria dos dados económicos de Outubro reflecte também o efeito base de comparação face à paralisia da actividade no ano anterior. Os recentes indícios de que a segunda economia mundial está novamente a ganhar força surgem numa altura em que o Presidente chinês, Xi Jinping, se prepara para se reunir com o homólogo dos EUA, Joe Biden, na Califórnia.

Novos ritmos

Liu Aihua, porta-voz do Gabinete Nacional de Estatísticas chinês, sublinhou repetidamente a transição da China para novos modelos de crescimento, após décadas de rápida industrialização e grandes investimentos em fábricas, portos e outras infra-estruturas, para um ritmo mais sustentável, liderado pelo consumo interno.

A economia continua a melhorar com “políticas eficazes”, embora a recuperação esteja a passar por um “desenvolvimento semelhante a uma onda e um progresso tortuoso”, afirmou. “A pressão externa ainda é grande, os constrangimentos suscitados pela insuficiente procura interna ainda são proeminentes, as empresas têm muitas dificuldades na produção e operação, e os riscos ocultos em alguns domínios exigem muita atenção”, descreveu Liu.

Os dados indicam que o consumo está a desempenhar um papel cada vez mais importante no crescimento económico. O consumo contribuiu em 83,2 por cento para o crescimento do produto interno bruto (PIB) entre Janeiro e Outubro, mais 6 por cento do que no mesmo período do ano anterior. Dado o grande fosso entre os rendimentos dos habitantes das cidades e os das pessoas que vivem nas zonas rurais, há grande margem para crescer, disse Liu.

O desemprego manteve-se em 5 por cento em Outubro. O Governo chinês deixou de anunciar a taxa de desemprego dos jovens trabalhadores há alguns meses, quando esta atingiu os 20 por cento. Liu disse que o gabinete de estatísticas e outros departamentos relevantes estão a estudar a questão e a trabalhar para melhorar a recolha de estatísticas e que serão publicadas actualizações sobre a situação “no momento oportuno”.

16 Nov 2023

O mal

Existe o mal? Porque é que há gente má para si própria, para os amigos e para os outros em geral? Problemas como este diz-nos a filosofia pertencem ao domínio da ética. No oriente chinês os problemas éticos foram tratados com especial cuidado primeiro pelos pensadores confucionistas e numa fase posterior pelos neo-confucionistas.

Se Confúcio nunca se pronunciou abertamente sobre a origem do bem e do mal na natureza humana, já o mesmo não se pode dizer sobre os seus dois maiores discúpulos: Mengzi e Xunxi. Este último terá vivido, tal como Mâncio, durante o conturbado período dos Estados combatentes (475-221 aC), mas ainda é questão controversa as datas da sua biografia.

Estes dois filósofos são, e pela ordem exposta, o segundo e terceiro maiores filósofos confucionistas. Ambos elegeram, como não podia deixar de ser, sendo discípulos de quem eram, as questões ético-políticas para o centro das suas filosofias. Mâncio fez da benevolência o pilar da sua filosofia e, por isso, defendeu sempre que a natureza humana é boa. Nós possuímos duas virtudes universais, ou inatas, a benevolência e a rectidão ou justiça: “amar os pais é benevolência e respeitar o irmão mais velho é justo.

Só estas duas virtudes, a benevolência e a justiça, virtudes universais” (Mencius, Sinolingua, Jinxin, 1ª Parte, 11, 1999). Aliadas às duas virtudes surgem outras, quase em pé de igualdade: a propriedade ou os ritos, e a sabedoria, porque muito embora todos nós possuamos a virtude inata da benevolência, explica o filósofo, ela é como uma semente, que precisa de amadurecer para dar os seus frutos, ora o amadurecimento faz-se precisamente através dos ritos e da sabedoria (Gaozi, 1ª Parte, 19).

Muitos são aqueles que discordam desta teoria e, por isso, o filósofo vê-se forçado a defendê-la em vários passos da sua obra, como aquele onde explica o mal e compara da bondade natural do homem à natureza da água: “A natureza humana tende para o bem como a água tende para baixo. Não há natureza humana que não seja boa, assim como não há água que não corra para baixo. Claro que se batermos na água esta pode saltar até à nossa testa e se escoarmos a água ela pode correr em sentido contrário ou fluir até às montanhas. Mas até que ponto podem estes fenómenos ser atribuídos à natureza da água? A causa são as forças exteriores. O homem pode fazer mal porque a natureza, tal como a água, pode ser modificada por forças exteriores” (Gaozi, 1ª Parte, 2).

Para Mengzi, nós somos bons, não podíamos ser melhores. A bondade é, como tal, uma virtude inata, que nos acompanha desde sempre e que, correctamente desenvolvida, a saber através dos ritos e da sabedoria, prepara e fortalece o nosso ser interior, no combate que este se vê forçado a travar contra as forças exteriores: os outros, enfim, todos os menos bons, mas, especialmente, aqueles que voltaram costas ou recusaram cultivar-se, e, também, como é óbvio, contra as circunstâncias. Diz-nos o filósofo que em anos de crise estatal os jovens tendem a ser rebeldes e em períodos de bonança, preguiçosos, não por causa da sua natureza, mas sim devido a influências exteriores, agudizadas por um grande desleixo no desenvolvimento do bem, a semente que todos transportamos.

Como já tive oportunidade de referir num outro artigo, para qualquer filósofo que parta da defesa do bem inato ficará sempre por explicar a origem do mal, porque a tese das causas exteriores não justifica a entrada do mal no mundo. E a inversa também é verdadeira, quem parta da defesa de uma natureza humana má, tal como Xunzi, não conseguirá avançar com um argumento sólido para a origem e presença do bem entre nós.

Xunzi faz um ataque cerrado a Mâncio, no que respeita às características originais da natureza humana. Para este filósofo, como viria a suceder mais tarde com Hobbes, somos inatamente maus. Não há nada a fazer de início. Começamos egoístas e em estado de guerra permanente, pois só pensamos no nosso próprio umbigo ou benefício. Além disso, somos invejosos e odiamo-nos uns aos outros.

Por isso “quando cada um segue a sua natureza e liberta as suas inclinações naturais, a agressividade e a ganância desenvolvem-se. O que é acompanhado pela violação das distinções entre classes sociais e pelo lançar da ordem natural em anarquia, donde resulta uma tirania cruel” (Xunzi, Human People´s Publishing House, Foreign Languages, Press, 1999, A Natureza do Homem é má, 23.2).

São, portanto, necessários modelos, regras, leis, princípios e ritos estabelecidos pelos reis-sábios e bons professores para transformar a maldade inata em bondade adquirida ou social. Daí também que seja preciso um bom tirano, um sábio, claro, a quem todos devem obedecer incondicionalmente, para pôr ordem no mundo.

Chegamos à ordem social e política, aos princípios e valores morais pelo exercício da razão. Todos nascemos com uma matéria, que nos é dada através do corpo: os desejos e as emoções e com uma mente, ou poder formal, que tem a capacidade de criar modelos, regras ou leis tanto naturais como morais e, por isso, se define como a capacidade de distinguir entre o virtuoso e o baixo e, também, entre o certo e o errado.

Xunzi considerava que vivia num período onde reinava incondicionado o mal, porque faltavam professores sérios, ninguém seguia as boas teorias ou modelos dos reis-sábios, logo os homens portavam-se de um modo perverso, rebelde, desordenado. Poucos eram os que escapavam. Ainda assim havia alguns.

“Os homens de hoje que são transformados pelos seus professores e pelo modelo, que acumulam uma boa forma e aprendizagem e que são guiados pelo Caminho dos princípios rituais e pelo dever moral tornam-se homens de bem (junzi).” (A Natureza Humana é Má, 23.3).

O homem de bem de Xunzi é capaz de operar o milagre, com a ajuda do sábio, de transmutar uma matéria má numa obra boa, à maneira do oleiro, como adianta o filósofo, que faz do barro um bela vasilha por causa da sua arte (23.7), sem que isso signifique que possua quaisquer virtudes inatas.

O problema é essencialmente o mesmo que se coloca a Mengzi. Mas para Xunzi a pergunta é diferente: Como é que os primeiros modelos de bem surgiram no mundo? Ora esta pergunta só surge porque ambos os filósofos tentam explicar as origens daquilo que lhes interessa, a um, o bem, a outro, o mal.

Na verdade, é difícil explicar como começou o bem ou o mal na natureza humana. Pela minha experiência pessoal, posso garantir, que, ao nível meramente fenomenal, nunca lidei nem com os anjos de Mâncio, nem com os demónios de Xunzi. Somos todos mais ou menos e eu não me excluo do rol. Sem abandonar o critério da minha experiência, há pessoas com quem me dou melhor e que, por isso, tendem a desenvolver o meu lado virtuoso e há criaturas com quem me dou pior, essas provocam-me grandes alterações de humor, sabe deus, e a idade, controladas com que esforço.

Por isso, e abandonando a tentativa de explicar as origens do bem e do mal, ou refugiando-me numa perspectiva filosófica mais moderada, e mais à maneira do que sabemos que o próprio Confúcio defendeu, temos um corpo e uma mente, enfim, somos seres com faculdades, ou antes, acrescento, dotados de energia inteligente. Essa energia permite-nos, pela sua própria especificidade, desenvolver teorias, modos de ser, comportamentos quer bons, quer maus. Logo podemos sempre optar por praticar o bem ou o mal.

Se calhar, e voltando às origens – essa grande tentação metafísica – somos neutros à nascença. Daí que, em primeira e última análise, a responsabilidade seja nossa, porque acredito que temos liberdade para ser aquilo que quisermos e é essa liberdade, apesar de todos os condicionalismos, que nos dá o direito de optar, tornando-nos diferentes dos outros seres naturais.

16 Nov 2023