João Luz SociedadeGoverno garante que reservas de sangue são suficientes “Actualmente, as reservas de sangue em Macau são suficientes”, indicaram os Serviços de Saúde (SS), acrescentando que vão “continuar a monitorizar e avaliar a situação de procura e oferta de sangue em Macau, de modo a garantir a suficiência e a segurança das reservas de sangue em Macau”. A informação consta de uma resposta a interpelação do deputado Ma Io Fong respondida pelo director substituto dos SS, Cheang Seng Ip. O deputado mostrou preocupação sobre o aumento constante da procura de sangue, agravado pelo envelhecimento da população, a necessidade de cuidados médicos durante a pandemia e o curto prazo de conservação do sangue. Factores que levam à necessidade de aumentar a percentagem de doadores para “manter a estabilidade da reserva de sangue”. O responsável dos SS destacou a importância do mecanismo de monitorização de fornecimento de sangue, que estabeleceu diferentes graus de critérios para o nível de armazenamento de sangue. Quando o “Centro de Transfusões de Sangue prevê uma tendência de escassez nas reservas de sangue, apela de imediato, através dos meios de comunicação social e envio de mensagens aos dadores para participarem na dádiva de sangue”. Em 2022, o Centro de Transfusões de Sangue organizou cerca de 170 actividades de doação de sangue em grupo, tendo registado a doação de sangue de mais de 3.700 pessoas. O Governo indica também que os principais destinatários das campanhas de recolha de sangue são jovens estudantes do ensino secundário e funcionários públicos, que “têm direito a dispensa de serviço no dia da colheita”.
André Namora Ai Portugal VozesA TAP voa baixinho Um comandante da aviação comercial disse-me um dia que o mais perigoso no voo de uma aeronave era quando a mesma voava baixo, porque ao mínimo poço de ar podia acontecer a tragédia. Tragédia é o que tem acontecido na companhia nacional TAP. Os diversos governos e os administradores da TAP têm-se servido da companhia aérea de bandeira nacional de uma forma que mais parece o jogo do monopólio. A TAP vende, compra, perde, ganha e faz bluff. A TAP já esteve à beira da falência e a dada altura passou a uma empresa público-privada. Entraram pelo gabinete da administração dois “cómicos”, o Barraqueiro e o Neeleman. Este último, antes de o Governo decidir-se pela nacionalização e acabar com esta dupla, decidiu vender os aviões boeing e comprar airbus, mas com uma facturação que lhe proporcionou cerca de 400 milhões de euros e com esse dinheiro pagou a sua propriedade no novo estatuto público-privado. A TAP dava para tudo, mas o prejuízo era constante. Quando o Governo decidiu nacionalizar a empresa tudo começou mal. Com a treta de que a companhia estava numa situação de bancarrota, o ministro Pedro Nuno Santos e o seu comparsa das Finanças introduziram 3,2 mil milhões de euros na companhia, dinheiro dos portugueses, com a lamúria de que era dinheiro para recuperar a empresa e que esse dinheiro haveria de ser recuperado. Tudo balelas. O mesmo ministro com a tutela da TAP, que apenas em pequenino deve ter brincado com um aviãozinho, nomeou uma senhora francesa para CEO da TAP, como se não existisse em Portugal um cidadão competente para o cargo. Mesmo com a francesa Christine Ourmières-Widener a TAP continuou a voar baixinho. Como vogal da administração tinha uma amiga da esposa de Fernando Medina – ex-presidente da Câmara de Lisboa e actual ministro das Finanças – Alexandra Reis, a qual começou a discordar da CEO francesa. Bem, nem imaginam o que a partir daí tem dado que falar. Alexandra Reis sai da TAP para a Nav Portugal, empresa do mesmo ramo aeronáutico e da mesma tutela, recebendo uma escandalosa indemnização de meio milhão de euros. A mesma Alexandra Reis, assim que Fernando Medina tomou posse do cargo de ministro das Finanças, nomeou a amiga da sua esposa para secretária de Estado do Tesouro. Nem chegou a aquecer a cadeira do gabinete governamental. A bronca dos 500 mil euros de indemnização rebentou na comunicação social e Alexandra Reis pediu a demissão e agora um relatório da Inspecção Geral de Finanças indica que a indemnização de Alexandra Reis foi ilegal e que deve devolver o dinheiro ao Estado. No entretanto, o ministro Pedro Nuno Santos e o seu secretário de Estado, Hugo Mendes, meteram os pés pelas mãos e primeiro disseram que nada sabiam sobre Alexandra Reis na TAP, depois foi o secretário de Estado que anunciou ter recebido uma mensagem sobre o assunto e que nada disse ao ministro e por fim o ministro demitiu-se dizendo que, afinal, tinha tido conhecimento do sucedido. Uma vergonha, disse o povo e revoltou-se nos programas de rádio onde o público pode opinar. Mas, a TAP sempre a voar baixinho, ainda na semana passada esteve nas bocas do mundo. Agora, o Governo quer privatizar novamente a empresa e vendê-la totalmente. Há ministros que não concordam com a venda total do património. A Lufthansa parece ser a grande interessada e quase o único grupo de aviação com poder financeiro para se chegar à frente. E a telenovela TAP não irá terminar tão cedo. O Governo tem actualmente como ministro a tutelar a TAP, um fulano, João Galamba, que não tem nível intelectual e técnico para ser assessor de um secretário de Estado, quanto mais, ministro das Infraestruturas. O homem não sabe o que faz nem o que diz. Os jornalistas perguntaram-lhe sobre se era verdade que a CEO francesa tinha sido demitida. O ministro respondeu que a senhora sairia da TAP dentro de dias e nomeou o presidente da SATA, dos Açores, para CEO da TAP. Tudo muito em cima do joelho e sem pensar que a senhora francesa não se chama Alexandra Reis porque já anunciou que vai para tribunal entendendo que o despedimento é sem justa causa. E pelas contas feitas por um fiscalista meu amigo, a senhora Christine irá receber mais de dois milhões de euros como indemnização. Isto é a TAP que já despediu mais de dois mil trabalhadores e tem administradores e directores a ganhar salários estrondosos e inimagináveis. É a TAP que deixa passageiros sem receber o dinheiro dos bilhetes quando cancela voos. É a TAP que tem mais aeronaves estacionadas do que a voar. É a TAP que vê pilotos-comandantes constantemente a saírem para outras companhias aéreas. É a TAP que agora irá ter uma nova administração bem paga e sem saber por quanto tempo. Na Comissão Europeia sempre que aparece por Bruxelas um ministro português logo lhe perguntam o que se passa na TAP. É uma vergonha. Voar baixinho é realmente a parte mais perigosa do voo…
Hoje Macau EventosLiteratura | Escritor Paul Auster diagnosticado com cancro O escritor norte-americano Paul Auster está em tratamentos por causa de um cancro diagnosticado em Dezembro, revelou sábado a mulher do autor, a escritora Siri Hustvedt. Numa mensagem na rede social Instagram, Siri Hustvedt explica que Paul Auster foi diagnosticado com cancro em Dezembro passado, depois de vários meses doente, estando actualmente a fazer tratamentos de quimioterapia e imunoterapia em Nova Iorque. “Tenho vivido num lugar ao qual passei a chamar ‘Cancerland’ [país do cancro, em tradução livre]. Muita gente atravessou as suas fronteiras, ou porque esteve ou está doente, ou porque ama alguém, um parente, um filho, cônjuge ou amigo que tem ou já teve cancro”, escreveu a autora. Romancista, ensaísta, argumentista, Paul Auster tem 76 anos e uma extensa obra literária publicada em mais de 40 línguas. Em Janeiro deste ano publicou “Bloodbath Nation”, inédito ainda no mercado português, com fotografia de Spencer Ostrander, no qual reflecte sobre a violência nos Estados Unidos e a relação dos norte-americanos com as armas. Em Portugal, Paul Auster tem grande parte da obra literária publicada, em particular os romances, como “Mr. Vertigo”, “Palácio da Lua”, “Música do Acaso”, “Leviathan”, “Trilogia de Nova Iorque”, “Timbuktu”, “O livro das ilusões”, “As loucuras de Brooklyn”, “O homem na escuridão” e “4 3 2 1”, com o qual foi finalista ao Booker Prize. Assinou a realização de um par de filmes, o último dos quais “A vida interior de Martin Frost” (2007), rodado parcialmente em Portugal. Paul Auster foi já amplamente reconhecido, nomeadamente o Prémio Médicis, o International Dublina Literary Award ou o Prémio Príncipe das Astúrias.
Hoje Macau EventosFestival da Eurovisão | Mimicat vai representar Portugal A cantora Mimicat, com a música “Ai Coração”, venceu sábado o Festival da Canção e vai representar Portugal no Festival Eurovisão da Canção, previsto para Maio em Liverpool, Reino Unido. Mimicat é o nome artístico da cantora portuguesa Marisa Mena, de 38 anos, que se candidatou ao Festival da Canção, submetendo “Ai Coração”. A cantora já tinha participado em 2001 numa das semifinais do festival, com o nome Izamena. Mimicat vai representar Portugal no 67.º Festival Eurovisão da Canção, cuja final está marcada para 13 de Maio em Liverpool, no Reino Unido. A final é antecedida por duas semifinais nos dias 09 e 11 de Maio e Portugal está na primeira semifinal. Na final do Festival da Canção,em Lisboa, competiram 13 canções. Na votação do júri regional, houve um empate entre as canções de Mimicat e de Edmundo Inácio, mas na votação do público, os 12 pontos foram para a canção “Ai Coração”. Em 2022, Portugal participou na Eurovisão com “Saudade, Saudade”, composta e interpretada por Maro, tendo ficado em nono lugar. A vitória da Eurovisão em 2022 coube à Ucrânia com a canção “Stefania”, pelo grupo Kalush Orchestra. A Ucrânia deveria ser este ano o país anfitrião do festival, mas por causa da invasão militar da Rússia no país, a organização decidiu que a cerimónia seria no Reino Unido, em Liverpool. Portugal participou no Festival Eurovisão da Canção pela primeira vez em 1964 e venceu pela primeira e única vez em 2017, com “Amar pelos dois”, interpretado por Salvador Sobral e composto por Luísa Sobral.
Andreia Sofia Silva EventosExposição | “In-Between”, de José Drummond, na galeria ATTN até Junho José Drummond, artista e ex-residente de Macau, expõe “In-Between” na galeria ATTN, sediada em Guangzhou, até 4 de Junho, numa mostra que introduz a representação do artista na China. A exposição faz uma espécie de retrospectiva do trabalho de Drummond realizado nos últimos anos através de oito séries de peças que divergem entre pintura, instalação ou vídeo. Destaque para a nova instalação “So the darkness shall be the light” A nova exposição de José Drummond junta uma ponta de ironia a um pedaço de coincidência. “In-Between”, patente na galeria ATTN, em Guangzhou, até 4 de Junho, marca o início da representação do artista na região, logo agora que Drummond decidiu deixar temporariamente Xangai, onde vivia há alguns anos depois de um longo período a viver em Macau. “Até tem alguma piada, porque a partir do momento em que decidi regressar a Portugal apareceram uma série de coisas, como que a quererem prender-me à China. Esta colaboração é muito recente e não sei muito bem o que vai sair daqui”, confessou ao HM. “In-Between” faz uma espécie de retrospectiva do trabalho artístico multidisciplinar que José Drummond tem realizado nos últimos anos na área das artes plásticas. A curadoria é de Lijun Liu e Ryan Wang e foram eles que escolheram todas as peças. Assim, o público chinês poderá ver peças já expostas. A única novidade é mesmo “So the darkness shall be the light”, uma instalação com espelhos baseada numa outra peça já apresentada em Macau entre 2017 e 2018 e inspirada no verso de um poema de T.S. Elliot. Há aqui um lado interactivo, pois o público será convidado a ir colando fita adesiva nos espelhos até não restar mais nenhum outro espaço livre. “Em Macau tinha um corredor com espelhos dos dois lados que iam acendendo e apagando. Esta instalação é uma variação desse tema e tem a ver com essa necessidade ou sujeição a que estamos dispostos, como pessoas, às redes sociais, com a extrema visibilidade. Tem também a ver com a forma como os Governos cada vez mais nos controlam e a forma como tratamentos a nossa persona, daí a presença do espelho.” A “escolha ecléctica” de trabalhos presente em Guangzhou é o início de uma parceria que traz “boas perspectivas” a José Drummond. “Esta é uma galeria bastante recente, revelaram interesse no meu trabalho e eu aceitei. É importante ter uma galeria que represente o meu trabalho na China. Há outras galerias e museus que durante este ano e início do próximo ano vão mostrar o meu trabalho.” “Estamos ainda numa fase pós-pandemia e as coisas economicamente ainda estão a ser feitas com algum cuidado, porque especialmente o último ano já foi complicado para a economia chinesa. Assim, a exposição vai estar patente mais tempo do que é habitual. Gosto do projecto, das pessoas que estão por detrás dele, e tenho boas expectativas”, adiantou ainda sobre a parceria com a galeria ATTN. Em Portugal o artista já tem projectos agendados, mas não quer, para já, revelar mais detalhes. “Não acredito que o meu trabalho seja especial ou se destaque de outros. Acho que trabalhamos todos mais ou menos com o mesmo tipo de linguagem, uma linguagem contemporânea. Mas uma coisa é certa: eu sou a soma das minhas experiências, aquilo que vivi tem sempre influência naquilo que faço e no modo como abordo as coisas. No meu trabalho isso até é bastante nítido, porque é a tal história do estado intermédio entre culturas. Tenho trabalhado bastante esse tema da influência de uma outra cultura na minha própria cultura, criando esta entidade mista.” Ser e estar O nome da exposição, “In-Between”, nasce precisamente de um estado intermédio em que o artista português tem vivido nos últimos anos desde que emigrou para Macau, uma terra da qual tem saudades, mas que nunca foi verdadeiramente sua, tal como não foi Xangai. “Sempre trabalhei este estado intermédio, o ‘In-Between’, com muita consciência, pelo menos nos últimos dois anos. É um estado que geograficamente diz respeito a alguém que passa muito tempo fora da sua terra natal e depois acaba sempre por viver nesse espaço intermédio, de não fazer parte do sítio para onde se vai e deixar de fazer parte do sítio de onde se veio. Daí as minhas referências ao Camilo Pessanha, por exemplo.” De frisar que o poeta português, considerado o expoente máximo do Simbolismo na poesia portuguesa, viveu entre Lisboa e Macau por longos períodos, mas foi a Oriente que morreu, em 1926, depois de anos dedicado às letras e ao Direito, estando sepultado em Macau. “Este tema foi-se acentuando no meu trabalho, mas não se esgota nesse sentido existencial. Tem também a ver com a minha prática artística, que também é, em si, uma prática ‘in between’, que se move de um lado para o outro, entre pintura, vídeo ou instalação. É uma prática que vive no meio destas disciplinas”, acrescentou José Drummond. Assumindo que está “numa fase de maturação ao nível de temas” para trabalhar artisticamente, e que já não fogem muito “do trabalho em torno deste lado existencial e de espaço intermédio, com a ligação à poesia e filosofia”. “Penso que as coisas vão seguir por esse caminho”, concluiu.
Hoje Macau China / Ásia MancheteChina | Xi Jinping eleito por unanimidade para terceiro mandato Eleito por unanimidade para um terceiro mandato de cinco anos, algo sem precedentes na história do país, Xi Jinping prometeu, jurando sob a Constituição chinesa, “ser leal para com o país e a população”, além de estar permanentemente “comprometido e ser honesto para com o dever” de governar, aceitando “a supervisão da população” e trabalhando em prol “de uma sociedade socialista moderna” O Presidente da China foi reeleito na sexta-feira, por unanimidade pelos 2.900 delegados da Assembleia Popular Nacional (APN) para um terceiro mandato de cinco anos. Xi Jinping, de 69 anos, tinha já obtido em Outubro um prolongamento de cinco anos na chefia do Partido Comunista Chinês (PCC) e da Comissão Militar, os dois mais importantes cargos do poder no país. Depois de cantar o hino da República Popular da China, uma guarda de honra escoltou uma cópia da Constituição do país até ao Grande Palácio do Povo. Aí, Xi Jinping jurou sob a Constituição “ser leal para com o país e a população”, além de estar sempre “comprometido e honesto para com o dever”. O Presidente disse ainda “aceitar a supervisão da população”, prometendo trabalhar “para [a construção] de uma sociedade socialista moderna próspera, forte, democrática, avançada culturalmente, harmoniosa e bonita”. O Presidente consolidou o poder depois de a APN, órgão máximo legislativo do país, o nomear para um terceiro mandato, até 2028, sem precedentes entre os antecessores, no seguimento de uma emenda constitucional realizada em 2018 em que foi eliminado o limite de dois mandatos consecutivos de cinco anos para os chefes de Estado chineses. O controlo do Presidente sobre os três braços do poder – o Estado, o PCC e o exército – foi assim reforçado. Na sessão plenária foram igualmente aprovadas as nomeações de Han Zheng (vice-presidente) e Zhao Leji (presidente do Comité Permanente da APN). A renovação do mandato de cinco anos acontece numa altura em que o país enfrenta vários desafios económicos e crescente rivalidade com os EUA. Li Qiang eleito O encerramento da sessão anual da APN serviu ainda para a eleição dos restantes dirigentes chineses, como é o caso de Li Qiang, que foi eleito no sábado como o novo primeiro-ministro com 2.936 votos a favor, três contra e oito abstenções. Sem concorrência de outros candidatos, Li Qiang sucede, assim, a Li Keqiang, que estava no cargo desde 2013, sendo considerado um dos aliados mais próximos de Xi Jinping. Li Qiang, de 63 anos, tornou-se conhecido no Ocidente por ter imposto o bloqueio na zona leste de Xangai na primavera passada no contexto da implementação da política de zero casos covid enquanto chefe do PCC na cidade. O primeiro-ministro chinês é o chefe do Conselho de Estado. O cargo está tradicionalmente associado à gestão quotidiana do país e à condução da política macroeconómica. Li Qiang, que foi promovido ao segundo lugar no PCC, no congresso do partido em Outubro, não tem experiência a nível do governo central, ao contrário de quase todos os antigos primeiros-ministros. No entanto, tem experiência em governos locais, tendo ocupado posições de liderança nas ricas províncias costeiras de Zhejiang (leste) e Jiangsu (leste). Li Qiang foi chefe de gabinete de Xi Jinping, enquanto líder do partido em Zhejiang, entre 2004 e 2007. As rápidas promoções de Li, desde então, reflectem o elevado nível de confiança nele depositado pelo líder da China. Para este ano o Governo fixou um objectivo de crescimento do produto interno bruto (PIB) de “cerca de 5 por cento”, um dos mais baixos em décadas, ainda assim superior aos 3% do ano passado. Como primeiro-ministro, Li será encarregado de reavivar uma economia ainda a emergir da pandemia da covid-19 e confrontada com uma fraca procura global de exportações, aumentos de tarifas dos EUA, uma mão-de-obra cada vez mais reduzida e uma população envelhecida. Contudo, é sabido que uma das orientações será o aumento do consumo interno, o que implica um maior acesso a bens por parte da população chinesa. Também o facto de milhões de pessoas terem sido retiradas da pobreza extrema durante a última década, criou um novo mercado de consumidores que a imprensa especializada ocidental, nomeadamente a Harvard Business Review, considerou o mais importante mercado emergente nos próximos cinco anos. Entretanto, Yi Gang foi mantido como governador do Banco Central. Com 65 anos, o responsável vai continuar no cargo, numa altura em que o país anunciou a criação de uma agência reguladora do sector financeiro chinês para “reforçar a vigilância” sobre a actividade. Governo remodelado Ontem foi aprovada, também pela APN, a nomeação do general Li Shangfu como novo ministro da Defesa. Foi também nomeado Wang Xiaohong como ministro da Segurança Pública e Chen Yixin como ministro da Segurança do Estado, que vai chefiar a administração interna e os serviços secretos chineses. A APN aprovou também a continuação de Liu Kun como ministro das Finanças e Wang Wentao como ministro de Comércio. Zheng Shanjie, próximo do Presidente chinês, Xi Jinping, foi nomeado director da Comissão de Desenvolvimento e Reforma, órgão de planeamento económico máximo do país. Os mais de 2.900 deputados da ANP designaram como vice-primeros-ministros Ding Xuexiang, He Lifeng, Zhang Guoqing y Liu Guozhong. Li Shangfu, Wang Xiaohong, Wu Zhenglong, Shen Yiqin e Qin Gang foram nomeados Conselheiros de Estado, responsáveis pelo desenvolvimento dos princípios e das políticas promovidas pelo PCC no Executivo. Desta maneira, a APN concluiu a remodelação do Governo, depois da eleição de Li Qiang. Os desafios Com esta renovação de mandato, Xi Jinping está prestes a tornar-se o chefe de Estado com mais tempo no poder na história da República Popular da China, na era pós-Mao. Xi ascendeu ao poder com a promessa de concretizar o “grande rejuvenescimento da nação chinesa”. Ou seja, repor a posição histórica da China como grande potência. Xi Jinping tem liderado uma política externa assertiva, que resultou em crescentes tensões com os EUA e alguns países europeus. Esta semana, acusou os “países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos” de “implementarem uma estratégia de contenção, cerco e repressão total contra a China”, o que gerou “desafios sem precedentes” para o desenvolvimento do país. Isto devido a medidas proteccionistas do Ocidente que desafiam as leis da Organização Mundial do Comércio, na medida em que não conseguem competir com a China em termos paritários. Também o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Qin Gang, alertou para a possibilidade de os atritos entre a China e os EUA resultarem num confronto, “caso os Estados Unidos não travarem, e continuarem a acelerar no sentido errado”. Em causa estão as restrições impostas por Washington no acesso a tecnologia e a política dúbia e de “duas caras” dos americanos face a Taiwan, que visa conter a ascensão da China na região da Ásia Pacífico e travar os planos industriais de Pequim para transformar o país numa potência tecnológica, com capacidades em sectores de alto valor agregado, como inteligência artificial, ‘chips’ semicondutores, robótica e carros eléctricos. A economia chinesa deve recuperar este ano, depois de, no ano passado, o ritmo de crescimento ter abrandado para o segundo nível mais baixo em pelo menos quatro décadas, à medida que a estratégia de ‘zero casos’ de covid-19, que incluiu o bloqueio de cidades inteiras, durante semanas ou meses, interrompeu a atividade económica. O sector imobiliário e os governos locais estão também a lutar contra níveis de endividamento excessivo. Os esforços para encetar uma transição no modelo de crescimento do país, visando maior ênfase no consumo interno, em detrimento das exportações e investimento em grandes obras públicas, também ainda não deram frutos, a não ser melhorar a olhos vistos a qualidade de vida das populações. Xi Jinping deve intensificar as deslocações ao exterior este ano, em parte para amenizar tensões geopolíticas, após um hiato de quase três anos, induzido pelo encerramento das fronteiras do país asiático, no âmbito da estratégia ‘zero covid’. Xi deverá visitar Moscovo nos próximos meses e alguns países europeus, segundo informações difundidas pela imprensa internacional. Uma “liderança centralizada” Nenhum chefe de Estado chinês ocupou o cargo por mais de dez anos, desde que Mao Zedong fundou a República Popular, há mais de sete décadas. Isto deveu-se, em parte, ao limite de mandatos, introduzido na Constituição da China, em 1982, quando Pequim procurou institucionalizar a sucessão do poder político e basear a tomada de decisão num processo de consulta colectiva. O PCC eliminou o limite de dois mandatos, em 2018, para o cargo de chefe de Estado. Os cargos mais poderosos, de chefe do Partido Comunista e presidente da Comissão Militar Central nunca estiveram sujeitos a limites formais. As autoridades argumentaram que a mudança visa garantir que Xi pode exercer uma “liderança centralizada e unificada”, necessária para a China enfrentar desafios complexos, alcançar os objetivos de ‘rejuvenescimento nacional’ e apresentar uma frente unida face às pressões internacionais, nomeadamente dos EUA. Para Xi, assegurar o terceiro mandato “assegura a manutenção de uma plataforma política que poderia ser usada para que outro líder aumentasse o seu perfil, influenciasse a formulação de políticas e se apresentasse, implicitamente, como uma potencial alternativa”, afirmou Neil Thomas, analista de assuntos da China, da consultora Eurasia Group. “Seria improvável que um outro líder que ocupasse o cargo de presidente constituísse um desafio à autoridade de Xi, mas não impossível”, acrescentou. “Então, por que iria ele correr esse risco”, questionou. O tempo, entendem os chineses, nomeadamente a própria estrutura do PCC, não é para desunião e indecisões, mas sim para unidade e cortar a direito rumo aos objectivos traçados. Novo governo, tarefas novas e antigas Os deputados da APN e os membros do Comité Nacional do CPPCC disseram nas duas sessões que, na sequência da reforma das instituições, a China iria gradualmente estabelecer um sistema de mercado mais unificado e aberto baseado na concorrência ordenada, lançando as bases institucionais para o actual impulso do país na construção de um mercado nacional unificado, que é considerado fundamental para acelerar o padrão de desenvolvimento da dupla circulação. O plano de reforma enfatiza várias áreas importantes, tais como ciência e tecnologia, supervisão financeira, gestão de dados, revitalização rural, direitos de propriedade intelectual, e cuidados aos idosos. Os observadores sublinharam que a reforma representa um passo importante no reforço da capacidade e eficiência da governação no meio do esforço de modernização da China, refutando o que alguns meios de comunicação social ocidentais têm apontado como “um aperto do governo” sobre o mercado. Os observadores chineses acreditam que a principal agenda do novo governo central chinês estará a orientar a recuperação da economia e a aumentar a confiança no mercado, e o público chinês tem grande expectativa de que a nova liderança cumpra estas importantes tarefas e conduza o país numa nova jornada em unidade e confiança. Xue Lan, professora e ex-reitora na Escola de Política Pública e Gestão da Universidade de Tsinghua em Pequim, disse no sábado que a principal tarefa do novo governo central é aumentar a confiança do público e elevar a economia, dado que a economia global e doméstica foram significativamente afectadas pela pandemia nos últimos três anos. “A reforma no sector financeiro, que é destacada no plano de reforma, é indicativa de uma mudança mais ampla das instituições do Conselho de Estado e mostra que a China irá fazer avançar ainda mais a sua capacidade de governação nacional para a modernização”, observou Xue. “A inovação científica e tecnológica está no centro do esforço de modernização da China e deve ser apoiada por um sistema sólido de governação”, acrescentou Xue. Os analistas chineses também prevêm que o novo governo irá também impulsionar o desenvolvimento em sectores industriais com potencial significativo, tais como a economia digital e as novas energias, e explorar como integrar melhor a indústria transformadora nestes sectores. Segundo afirmam, “o público chinês espera que uma rápida e constante recuperação económica constituirá a base para o desenvolvimento da China e a melhoria da subsistência das pessoas”.
Hoje Macau Via do MeioA evolução sociopolítica e jurídica da mulher chinesa: passado e presente de um caminho de luta (I) Por Ana Maria Saldanha Quando pensamos na evolução sociopolítica e jurídica da mulher chinesa, somos, de imediato, remetidos para valores, ideias e construções socio-imagéticas que buscam as suas raízes no confucionismo (o qual se impõe como sistema de valores e de pensamento na China Imperial, em particular no período da Dinastia Han (206-220 AEC)). É, deste modo, fundamental compreender aquela proposta de sistematização do pensamento para que possamos refletir, por exemplo, sobre o nascimento, nos finais do século XIX, de um movimento feminista chinês e o porquê de este se erguer, precisamente, como oposição aos valores confucionistas. Aliás, a ideia de submissão patriarcal remonta, precisamente, ao século XIX, quando Karl Marx e Friedrich Engels refletem sobre este tema, estabelecendo que aquela nos remete para uma relação ilimitada de dominação exercida por homens. Sobre a relação entre patriarcado e confucionismo, já Alfred Doeblin, estudioso do confucionismo, considerava que, na China, a subordinação secular das mulheres chinesas advinha de uma organização patriarcal imposta pelo sistema de pensamento confucionista. Da China Imperial à Revolução de 1949: pequenos passos para o grande salto que virá Ainda que na China Antiga tenham existido, como afirma Capdeville (2018), sistemas matrilineares (como é o caso da minoria étnica Na), predominaram, até ao século XX, sistemas patrilineares; o confucionismo, pela sua parte, virá acrescentar a este princípio patrilinear o princípio da hierarquia social. A união do princípio patrilinear com o princípio confucionista advogador de um sistema social, hierarquicamente organizado, relegará, em definitivo, a mulher chinesa, para um patamar inferior, colocando-a num papel subalternizado onde predomina, nos diversos domínios da vida, a figura masculina. A linhagem da família era, então, assegurada pelos membros masculinos, o que fazia com que as funções atribuídas à mulher se circunscrevessem ao círculo familiar. Por conseguinte, a mulher dever-se-ia submeter à autoridade masculina – primeiro, do pai, depois do marido e, finalmente, do(s) filho(s) -, sendo-lhe social e imageticamente atribuídas virtudes específicas, das quais se destacam a obediência, a docilidade, a piedade, a devoção e a castidade. Neste contexto, à subalternização social da mulher, advogada pela proposta confucionista, juntar-se-ão atributos de beleza, especificamente femininos, os quais, por sua vez, implicavam a mutilação corporal. Referimo-nos, por exemplo, à prática – que se expandiu durante a Dinastia Song (970-1279) – de quebrar os ossos do pé das crianças do sexo feminino, mormente das classes mais abastadas, para que, depois, se procedesse ao seu enfaixamento, com vista a manter, para o resto da vida, um pé de tamanho extremamente reduzido. Não deixa de ser significativo o facto de um ato mutilador e provocador de sofrimento, a uma criança do sexo feminino, ser no plano social, indicador de riqueza de uma família, já que o enfaixamento dos pés indiciava que a mesma se encontrava num plano económico-social superior ao das demais. Seria, no entanto, necessário esperar pelo século XIX para que reivindicações femininas vejam a luz do dia. Com efeito, é neste século que assistimos ao nascimento, de facto, de um movimento feminista chinês: fortemente influenciado pelo exterior, este movimento terá como ponto de partida contactos de mulheres chinesas (sobretudo, de classes abastadas, que têm a oportunidade de estudar no exterior), com mulheres e organizações sociopolíticas de outros espaços sociogeográficos, nomeadamente japonesas, europeias e estadunidenses. Surgem, então, revistas femininas, que se debruçam sobre o ser mulher. Ainda que surja quase duzentos anos depois da sua congénere europeia (a primeira revista feminina europeia é publicada em Inglaterra, em 1693), a China verá publicada a primeira revista chinesa destinada às mulheres, em 1898. As primeiras jornalistas chinesas vão, por seu lado, ter um papel fundamental na reflexão e denúncia do papel subalterno da mulher chinesa e será nas revistas nas quais participam que surgem plasmadas as primeiras reivindicações, especificamente femininas: educação das mulheres, abolição dos pés enfaixados e direitos iguais entre homens e mulheres. Numa aliança entre feminismo e patriotismo, a educação das mulheres é defendida numa perspetiva nacional: partindo-se do pressuposto que a educação das mulheres é fundamental para uma educação de qualidade dos filhos daquelas, a educação das mulheres teria um impacto qualitativamente importante na melhoria do nível geral do povo chinês e, por conseguinte, tornaria a China num país mais forte. A educação das mulheres era, neste sentido, apresentada como uma necessidade para os próprios homens, já que, caso as mulheres não tenham acesso à Educação, os homens terão um papel de somenos importância, na sociedade. A reflexão sobre o papel sociopolítico da mulher prosseguirá, sendo posteriormente impulsionada pela revolução de 1911 e pela sequente instauração da República, em 1912. Com efeito, este momento histórico marcará uma alteração qualitativa na condição das mulheres, na China: basta referir, a título de exemplo, a proibição do enfaixamento dos pés e a abertura de escolas mistas. Ainda assim, seja no plano sociopolítico, seja no plano jurídico, a mulher continuava a ter um papel subalternizado, pelo que a Constituição elaborada pela Assembleia Legislativa de Nanjing (tornada pública a 11 de março de 1912), não prevê, por exemplo, o sufrágio feminino ou a elegibilidade das mulheres – para desapontamento, aliás, das então sufragistas chinesas. Pensar o papel da mulher, nas várias esferas da sociedade, tinha-se, contudo, tornado num tema que não mais poderia ser ignorado. É assim que, neste início de século, revistas e outras publicações abordarão o tema da condição feminina, denunciando a subalternidade da mulher e refletindo sobre uma igualdade desejada, então ainda não alcançada. Neste âmbito, destaca-se a revista Xin Qingnian (Nouvelle Jeunesse), publicada em 1915 e cujos editores – Chen Duxiu e Li Dazhao – se tornariam, mais tarde, líderes históricos do Partido Comunista Chinês (PCC). A emancipação das mulheres vai, assim, encontrar-se no centro de vários debates, sendo abordadas temáticas até então silenciadas, como a (denúncia da) moral confucionista, o casamento, o concubinato, a noção unilateral de castidade, os preconceitos contra o casamento de viúvas e o encorajamento do suicídio feminino (que então se fazia, em nome da virtude e da lealdade). Na denúncia e debate que a partir de então se enceta, o tema da desigualdade entre homens e mulheres, nos diferentes planos da sociedade, volta a ser abordado, em 1919, no decorrer do Movimento 4 de Maio (que havia tido como pano de fundo a defesa da territorialidade chinesa, face às pretensões japonesas, na sequência dos acordos de Versalhes). Este momento constituirá um clímax na história do feminismo na China, sendo marcado pela publicação de revistas de melhor qualidade, nas quais têm um papel ativo um grande número de mulheres. Publicam-se, a partir de então, várias traduções da literatura ocidental, abandonando-se a publicação de artigos que exaltavam os méritos das boas esposas e das boas mães, reivindicando-se, ao invés, o direito ao amor, à educação, à independência económica, uma educação igual entre rapazes e raparigas, o direito à herança e o controlo da natalidade. Muitos daqueles que viriam a tornar-se destacados militantes comunistas colaboraram na imprensa que nasceu com o Movimento 4 de Maio: Chen Duxiu, Chen Wangdao, Li Dazhao, Qu Qiubai, Deng Yingchao ou Xiang Jingyu. Gradualmente, contudo, muitos destes autores chegarão à conclusão de que apenas uma mudança sociopolítica permitirá alcançar uma nova posição social da mulher, na China. Ainda que os anos entre 1915 e 1919 tenham correspondido a uma idade de ouro do feminismo na China e que, nos grandes centros urbanos, as mulheres educadas defendessem a igualdade sexual, o direito das mulheres à educação, o direito das mulheres ao amor e o direito das mulheres ao casamento livre, a escolarização, mesmo nas escolas públicas, continuava a ser apanágio de uma elite sociocultural que se limitava, sobretudo, aos membros femininos de famílias urbanas privilegiadas. Na realidade, a posição das mulheres chinesas, fora dos grandes centros urbanos, permanecia inalterada, enquanto estruturas e práticas morais da China Imperial persistiam: a prática de enfaixar os pés, por exemplo, prolongou-se até à década de 1950, nomeadamente em espaços rurais remotos. As reivindicações das mulheres chinesas continuarão, anos depois, a fazer-se ouvir, desta vez no interior do Partido Comunista Chinês (PCC), fundado em 1921. O PCC passará, a partir de então, a ter um papel de relevo na denúncia da condição feminina e na necessidade de se repensarem os valores sobre os quais a desigualdade da mulher assentava. É assim que, no final da década de 1930, o PCC, nas zonas rurais por si controladas, vai, gradualmente, integrar as mulheres nas atividades políticas e económicas. Este envolvimento das mulheres vai ter como consequência a sua libertação da esfera patriarcal e familiar, trazendo-as, finalmente, para um domínio que, secularmente, lhes havia sido negado: o da esfera pública. Vale a pena relembrar que data de 1931 o Regulamento sobre o Casamento, publicado na então República Soviética da China (nome dado aos territórios que, então, se encontravam sob o controlo do PCC). Estipula-se, então, uma idade mínima para o casamento (18 anos, para as mulheres, e 20 anos, para os homens), a obrigação de declarar o casamento às autoridades, a proibição da poligamia e do concubinato, a autorização para que os filhos escolham, entre os sobrenomes dos pais, aqueles que atribuirão aos filhos, e o divórcio por mútuo consentimento. Segundo Mallet-Jiang (2018), trata-se, precisamente, do primeiro texto legal que codifica a prática do casamento, entre indivíduos livres e iguais. Na Lei Fundamental da República Chinesa Soviética, publicada em 1934, fixam-se as oito horas, como jornada máxima de trabalho para adultos (enquanto se regulamentam as seis horas de trabalho, para adolescentes de dezasseis a dezoito anos, e as quatro horas de trabalho, para crianças de catorze a dezasseis anos). Consagra-se o princípio de pagamento igual para trabalho igual e disposições especiais regulam as condições do trabalho feminino e infantil. Em 1934, o PCC foi, contudo, forçado a deixar o Soviete de Jiangxi, então sob os ataques dos Nacionalistas do Kuomintang, e os comunistas iniciam uma fuga, de mais de um ano, através das montanhas, para as regiões mais remotas do oeste do país, que ficaria conhecida como Longa Marcha. Cerca de duzentas mulheres fizeram parte desta Longa Marcha (ainda que apenas algumas dezenas tivessem chegado ao destino final – Yan’na), tendo contribuído para a organização e operações quotidianas, cuidando da comunicação com os camponeses (educação, médica, propaganda) e de serviços de logística para os soldados. Estas mulheres são, então, consideradas modelos de virtude comunista, nascendo a concepção da mulher virtuosa revolucionária (concepção esta que procura integrar todas as mulheres proletárias). Este modelo seria, a partir de então, incansavelmente transmitido através de todos os tipos de ferramentas de propaganda. A criação da China Popular: um passo de gigante para uma igualdade secularmente negada No campo da historiografia do movimento feminista chinês, da semiótica e da representação, é importante ressaltar a obra de Julia Kristeva, publicada em 1974, Des Chinoises. Este trabalho resulta de uma viagem que a autora realizara à China, na companhia de Rolland Barthes e de Philippe Sollers, no qual Kristeva, depois de analisar a situação analítica e histórica das mulheres ocidentais (a qual considera resultar do monoteísmo e do capitalismo), nos conduz pela família chinesa e pela situação das mulheres chinesas. Assinala, então, que, no início do século XX, as chinesas haviam participado no ataque à velha moral confucionista, a qual, assentando em valores feudais e patriarcais, se encontrava no cerne do domínio secular masculino. Kristeva assinala, deste modo, que a participação daquelas mulheres, nas lutas sociais e políticas, ao longo do século XX, havia influenciado profundamente as massas estudantis e camponesas (ainda que, segundo Kristeva, uma vez criado o Partido Comunista Chinês, as ativistas feministas tivessem optado pela luta de classes, em detrimento da luta pelos direitos das mulheres). A autora assinala, ainda, que foi sob a influência de Mao Zedong que as mulheres obtiveram mais direitos (no plano jurídico) e um maior relevo social, assumindo, crescentemente, na República Popular, cargos e tarefas de responsabilidade. Kristeva enceta, na realidade, um estudo do movimento feminista chinês, considerando que o mesmo não se deve desligar do movimento revolucionário posterior, assinalando não apenas a relevância do papel sociopolítico da mulher chinesa, ao longo do século XX, como a sua ligação indiscutível com as transformações ocorridas na China, nomeadamente depois de 1949. Com efeito, ao permitir uma rutura definitiva com a China feudal, a Revolução de 1949 permitiria dar um salto qualitativo na igualdade entre homens e mulheres, quer no plano político, quer no plano familiar, quer, ainda, no plano religioso. Neste sentido, a mudança organizativa sociopolítica chinesa, operada na segunda metade do seculo XX, é concomitante com uma evolução do papel da mulher no plano sociopolítico, e consequentemente jurídico. Já no Livro Vermelho, Mao Zedong assinalava que, ao longo da história chinesa, o homem havia estado sujeito à dominação de três sistemas de autoridade: a autoridade política, a autoridade familiar e a autoridade religiosa. A mulher, por seu lado, para além de estar submetida a estes três sistemas de autoridade, encontrava-se, ainda, submetida à autoridade masculina. O exercício destas quatro autoridades constituía, aliás, segundo Mao, a própria essência ideológica e moral do sistema feudal-patriarcal. A República Popular iria, deste modo, contrariar a base ideológica da organização socioeconómica anterior, levando avante profundas transformações no plano simbólico, material e jurídico, com o objetivo de pôr fim aos mecanismos políticos e sociais que se encontravam subjacentes à desigualdade histórica entre o homem e a mulher. Assim, por exemplo, aquando do Grande Salto em Frente (1958-1960), a força de trabalho representada pelas mulheres vai revelar-se fundamental, sendo crescente a sua participação no trabalho produtivo. Aliás, para que a coletivização do setor agrícola se operasse, era essencial a plena inserção da mulher no trabalho produtivo, pelo que urgia socializar todas as tarefas necessárias e libertar as mulheres das incumbências domésticas. Neste contexto, são criadas creches e cantinas, o que permitirá que, não apenas no plano doméstico, mas também (macro)económico, homens e mulheres, cada vez mais, se aproximem. A lei da reforma agrária, promulgada em 1950, garantia os direitos de propriedade às mulheres, na mesma base que os homens, enquanto outros dispositivos legislativos promoviam o casamento democrático, baseado na livre escolha entre parceiros monogâmicos, com direitos iguais para ambos os sexos e a proteção dos interesses legítimos das mulheres. Em 1953, e de acordo com os regulamentos da era Yan’an, a lei do voto foi publicada: garantia-se, deste modo, o direito de voto das mulheres. A Lei Eleitoral da República Popular da China estipulava, aliás, que as mulheres gozavam dos mesmos direitos de voto e de eleição que os homens. Por outro lado, como parte da força de trabalho, as mulheres são chamadas a participar na construção da nova sociedade socialista e estipula-se que devem receber o mesmo pagamento que os homens, pelo mesmo trabalho: por meio da transformação da sociedade, buscava-se a verdadeira igualdade entre homens e mulheres. Ainda assim, a igualdade nas várias esferas (social, política, económica, jurídica) ainda estava por alcançar. Será necessário esperar pela Constituição de 1982 da RPC para que fiquem juridicamente consagradas, na Lei Fundamental do país, medidas em defesa dos direitos das mulheres. Consagra-se, então, a igualdade entre mulheres e homens, em todas as esferas da vida: mesmos direitos no acesso a um trabalho, salário igual para trabalho igual e promoção do acesso das mulheres a cargos de responsabilidade. O artigo 48.º da Constituição da RPC estipula que “as mulheres na República Popular da China gozam dos mesmos direitos dos homens em todas as esferas da vida política, económica, cultural, social e familiar”, que “O Estado protege os direitos e interesses das mulheres, aplica a homens e mulheres sem distinção o princípio de “a trabalho igual salário igual” e forma e escolhe quadros de entre as mulheres”, enquanto o artigo 49.º consagra o princípio de que “O casamento, a família, a mãe e a criança são protegidos pelo Estado” e que “tanto o marido como a mulher têm o dever de praticar o planeamento familiar”. Estabelecem-se, igualmente, regulamentações específicas relativas à proteção das mulheres no trabalho, dando-se o passo necessário para que, posteriormente, várias outras disposições legais fossem aprovadas. No plano jurídico, destacam-se, assim, os Regulamentos de saúde pública (1986), os Regulamentos de proteção do trabalho (1988) e a Lei para a proteção e defesa dos direitos e interesses das mulheres (1992). Presente e futuro: o caminho ainda não terminou Relativamente à evolução sociopolítica da mulher, na China contemporânea, importa atentar numa alteração legislativa que teve fortes implicações no papel socioeconómico e político da mulher chinesa. Com efeito, não podemos ignorar o ano de 1978 e as mudanças que, desde então, ocorreram no plano económico. Kren Oppenheim Mason (2000) assinala que a autonomia da mulher, no seio da família, se relaciona, desde 1979, com a política do filho único (cujo fim é anunciado em 2015) e a consequente redução do número de filhos. Aponta, ainda, que, após três décadas de controle de natalidade, a China atingiu uma taxa de fecundidade cujos níveis são comparáveis aos de países ocidentais e que, ainda que a China sofra de um crescimento demográfico desigual (uma vez que o número de homens é superior ao número de mulheres), o contexto de transição demográfica influiu quer no papel da mulher chinesa, quer na sua autonomia no seio familiar. Astrid S. Tuminez (2012), por seu lado, assinala que a proporção de mulheres, em cargos altos executivos, em todas as áreas da sociedade (educação, administração, economia), é maior na China continental do que no resto da Ásia, bem como em algumas sociedades ocidentais. A autora argumenta que a este facto subjazem certas propostas sobre os direitos da mulher defendidos por Mao Zedong. Isabel Attané (2012), por seu lado, alerta para o que ainda é necessário fazer. A autora considera que a sociedade chinesa permanece, em muitos aspetos, apegada às tradições sociais e familiares, o que cria um paradoxo no seu seio: se, em certos aspetos – em particular no que diz respeito à educação e à saúde -, encontramos melhorias na situação das mulheres, por outro lado, no que concerne as relações com os homens, ainda permanecem disparidades, para mais num contexto demográfico que lhes é desfavorável. O governo chinês, reconheceu, aliás, na década de 1990, que parte das mulheres permanecia à margem do processo de modernização e que a sua situação – sobretudo depois das reformas económicas – se havia tornado heterogénea, variando de acordo com as regiões, mas também de acordo com os estratos sociais (principalmente, no que diz respeito às necessidades em termos de subsistência, desenvolvimento e preservação de direitos e interesses). Neste sentido, nas últimas duas décadas, a China tem tido como objetivo político quer reduzir as desigualdades quer procurar que a sociedade harmoniosa possa beneficiar as mulheres, permitindo uma melhor aplicação das leis que as protegem e que facilitam o seu acesso à saúde, educação, proteção social e trabalho. O governo reconheceu, igualmente, que estereótipos tradicionais persistem, pelo que ainda há um caminho a percorrer com vista à melhoria da situação das mulheres chinesas e à garantia de uma efetiva igualdade. Apesar de grandes avanços na situação social, política e económica das mulheres, sobretudo depois de 1949, e da autonomia crescente que aquelas têm vindo a ganhar, em todos os domínios da vida em sociedade (em particular, graças ao desenvolvimento da educação e de sucessivas leis protetoras dos seus direitos e interesses), desigualdades persistem, quer no acesso à educação, ao trabalho e à saúde, quer no que concerne questões de herança, salário, representação política ou tomada de decisões no seio da família. Perpetuam-se, deste modo, disparidades, quer na esfera pública quer na esfera privada. Paralelamente (um facto que não é de somenos importância), persistem desigualdades entre as próprias mulheres, consoante vivam na cidade ou no campo, a Oeste ou a Este do país. O desequilíbrio numérico entre os sexos pode, por outro lado, afetar quer a própria condição da mulher quer as (ainda desequilibradas) relações de género. Neste contexto, equacionar mecanismos que permitam preservar as conquistas alcançadas, em termos de igualdade, assim como práticas que permitam alterar, em definitivo, as normas que regem as (ainda desiguais) relações de poder e os valores que as fundamentam, poderão ajudar a construir caminhos possíveis, com vista a uma efetiva igualdade plena, nas diferentes esferas da vida, entre homens e mulheres. Embora o fim do caminho não tenha sido alcançado, são os avanços realizados, sobretudo, ao longo da segunda metade do século XX, que permitiram transformações profundas no estatuto da mulher chinesa, concedendo-lhe níveis de autonomia e de reconhecimento que lhe haviam sido secularmente negados. Esses avanços e conquistas constituem, ademais, um elemento fundamental para a decifração da sociedade chinesa nossa contemporânea, assim como da sua trajetória, construção, mudanças e aspirações. Bibliografia citada: ATTANÉ, Isabelle (2005). La femme chinoise dans la transition économique : un bilan mitigé. Revue Tiers Monde, 182, pp. 329-357. ATTANÉ, Isabelle (2012). Être femme en Chine aujourd’hui : une démographie du genre, Perspectives chinoises, 4, pp. 5-16. KRISTEVA, Julia (1974). Des chinoises. Paris : Éditions des Femmes. MALLET-JIANG, Shuaijun (2018). Mao Zedong et l’évolution des droits de la femme en Chine. Revista E- CRINI, 10, pp. 1-13. NIVARD, Jacqueline (1986). L’évolution de la presse féminine chinoise de 1898 à 1949. Études Chinoises, Association française d’études chinoises, 5 (1-2), pp.157-184. OPPENHEIM, Mason Karen (2000). Influence du statut familial sur l’autonomie et le pouvoir des femmes mariées dans cinq pays asiatiques. In Statut des femmes et dynamiques familiales, dir. de Maria Eugenia Cosio-Zavala et Éric Vilquin, Paris, CICRED, pp. 357-376. SANTOS, Gonçalo & HARRELL, Stevan (eds.) (2017). Transforming Patriarchy Chinese Families in the Twenty-First Century. Londres: University of Washington. TUMINEZ, Astrid Segovia (2012). Rising to the Top? A Report on Women’s Leadership in Asia, Université Nationale de Singapore. URL: <http://sites.asiasociety.org/womenleaders/wpcontent/uploads/2012/04/Rising-to-the-Top.pdf>
João Luz Manchete SociedadeCrime | Idoso português burla mulher em 1,8 milhões Uma residente foi burlada ao longo de dois anos, seduzida pela promessa de riquezas feita por um cidadão português de 74 anos. Depois de dar sinais de levar uma vida de opulência, o homem propôs um negócio de venda de relógios de luxo, que acabaria por desfalcar a vítima em 1,78 milhões de dólares de Hong Kong Uma vida fácil de abundância e luxos quotidianos. Foi esta a expectativa que um cidadão português transmitiu a uma residente no dia em que se conheceram, em Novembro de 2018, num restaurante de yum cha na zona central da península de Macau. A aparência do indivíduo, ostentando marcas luxuosas e relógios caros, passou a ser a imagem transmitida à vítima em encontros posteriores. O português, de 74 anos de idade, vangloriava-se da vida de luxo e riqueza que levava na Tailândia, imagem que seria determinante para o golpe que já estava em acção e que culminou com a sua detenção na passada quinta-feira, depois de aterrar no Aeroporto Internacional de Macau. Segundo informações veiculadas pela Polícia Judiciária, o suspeito terá alegadamente convencido a vítima a participar num esquema de venda de relógios de luxo. Sob o pretexto de pagar portes de envio, despesas alfandegárias e de transporte, a vítima começou a fazer transferências de dinheiro para uma conta bancária num banco tailandês. Mais tarde, o suspeito alegou estar retido em Guangzhou devido às restrições resultantes do combate à pandemia na cidade, motivo pelo qual precisava de dinheiro para cobrir as despesas do dia-a-dia, até conseguir regressar à Tailândia. Milhões invisíveis Convencida de que estaria a ajudar um homem abastado, entre Novembro de 2019 e Junho de 2021, a residente, com idade na casa dos 50 anos, fez 55 transferências bancárias para a conta do suspeito, num total de 1,78 milhões de dólares de Hong Kong. Além da promessa de enviar artigos de relojoaria de luxo, nas comunicações via WeChat o suspeito convenceu a vítima de que teria ganho um prémio avultado numa lotaria e recebido dividendos de investimentos, razões que levaram a residente a confiar que seria ressarcida das despesas feitas. A meio de Junho de 2021, sem reembolso das despesas pagas e sem os relógios prometidos, a residente finalmente apercebeu-se de que teria sido vítima de uma burla e apresentou queixa às autoridades. Depois de ser detido, na passada quinta-feira, a PJ indicou que o suspeito admitiu os crimes praticados e que terá gasto o dinheiro transferido pela residente com despesas do quotidiano na Tailândia. O suspeito, um reformado de apelido Lei, detentor de passaporte português, terá nascido em Macau, fala fluentemente cantonês, mas não tem título de residente da RAEM. O caso foi enviado para o Ministério Público e o indivíduo é suspeito da prática do crime de burla, que devido ao prejuízo patrimonial de valor consideravelmente elevado pode resultar na pena de prisão de dois a 10 anos.
Hoje Macau SociedadeEnsino | APIM vai financiar alunos em Portugal A Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) assinou um protocolo com a Associação Promotora da Instrução Pós-Secundária de Macau (APIM) para promover “a formação de talentos qualificados de língua portuguesa em Macau”. De acordo com o comunicado da DSEDJ, o protocolo visa o “desenvolvimento dos trabalhos relacionados com o prosseguimento dos estudos em Portugal dos estudantes de Macau” e dar resposta ao que o Governo diz ser a “cada vez maior procura de talentos bilingues em chinês e português”. Esta procura foi justificada pelos serviços liderados por Kong Chi Meng com o “aprofundamento contínuo do intercâmbio entre a China e os Países de Língua Portuguesa”. O protocolo foi assinado na sexta-feira, dias depois de Well Lai, presidente da Associação dos Estudantes Luso-Macaenses, com sede em Lisboa, ter revelado ao HM que estudantes da RAEM em Portugal estão a sofrer com o aumento das rendas, sobretudo em Lisboa. A estudante de Direito sugeriu que o Governo de Macau aumente o subsídio de alojamento. Segundo os moldes do novo acordo, a “APIM apoiará, a fundo perdido, estes estudantes, na organização, formação e apoio à sua aprendizagem em Portugal”. A DSEDJ destacou ainda a “vasta experiência da associação liderada por Tong Chi Kin na organização de estudantes para prosseguirem os seus estudos em Portugal”.
João Santos Filipe Manchete PolíticaTrabalho | Governo recusa aumentar montante por despedimentos O Executivo liderado por Ho Iat Seng vai manter a compensação máxima por despedimento e acidentes de trabalho nos valores actuais. A decisão foi justificada com “o ambiente de negócios” e “a evolução do mercado de emprego” Os montantes máximos utilizados para calcular a indemnização rescisória e os limites da indemnização por acidentes de trabalho e doenças profissionais vão manter-se congelados. O anúncio foi feito pelo Governo, na sexta-feira, através de um comunicado da Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL). De acordo com a lei laboral e a lei de acidentes de trabalho, o montante máximo utilizado para calcular a indemnização por despedimento sem justa causa e os limites da indemnização por acidentes de trabalho têm de ser revistos de dois em dois anos. Por essa razão, o Governo teve de tomar uma posição sobre o assunto, que vai ser agora entregue ao Conselho Permanente de Concertação Social, para cumprir o requisito de “discussão e auscultação das opiniões das partes laboral e patronal”. “O Governo da RAEM, depois de ter auscultado as opiniões das partes laboral e patronal e no pressuposto de alcançar o equilíbrio entre os direitos e interesses das duas partes, decidiu manter inalterados os montantes”, foi anunciado. Depois logo se vê O actual montante máximo da remuneração de base mensal utilizado para calcular a indemnização rescisória está fixado em 21 mil patacas. Quanto ao acidente de trabalho que exija diferentes tipos de tratamentos, o limite máximo de compensação está fixado em 3,15 milhões de patacas. No caso de morte ou incapacidade total, os pagamentos máximos são de 1,35 milhões e 1,08 milhões, respectivamente. Os mínimos são de 405 mil patacas e 324 mil patacas. Apesar de o Governo apontar a Concertação Social vai promover a “discussão e auscultação das opiniões das partes laboral e patronal”, pelo menos metade deste processo já foi feito. Assim que consta no comunicado da DSAL, quando indica que a proposta de manter tudo como está foi feita “depois de ter auscultado as opiniões das partes laboral e patronal”. Além disso, a recusa em aumentar os valores das indemnizações foi ainda explicado com “o ambiente de negócios, a evolução do mercado de emprego e a situação de indemnização por acidentes de trabalho”. Quanto a futuras revisões, ou possíveis aumentos, o Governo diz que só vão acontecer “tendo em conta a evolução da situação real”.
Hoje Macau PolíticaMaternidade | Wong Kit Cheng quer que o Governo pague subsídio A deputada Wong Kit Cheng defende que o Governo deve continuar a financiar parte do subsídio de maternidade pago pelas empresas privadas. Em 2020, quando a licença de maternidade no sector privado foi estendida de 56 dias para 70 dias, o Governo assumiu durante três anos o pagamento dos 14 dias extra. No entanto, a três meses do fim da medida de transição, a deputada ligada à Associação das Mulheres defende que o Governo deve prolongar o subsídio às empresas privadas. Wong criticou ainda o Executivo por ainda não ter tomado uma decisão sobre a possibilidade de o financiamento do subsídio de maternidade continuar em vigor. No documento, a deputada mostra-se preocupada com a diminuição da natalidade em Macau, e apela ao Executivo para tomar “medidas favoráveis à família”, apontando como exemplo a necessidade de tornar uniforme a licença de maternidade para sector público e privado. Actualmente, a licença de maternidade no sector público é de 90 dias, enquanto que no privado é de 70 dias.
João Santos Filipe Manchete PolíticaApoios | Ron Lam destaca desemprego e pede cartão de consumo O deputado argumenta que apesar da aparente recuperação do turismo, o desemprego continua em níveis muito elevados e que os turistas apenas consumem em algumas zonas do território. Factores que justificam uma nova ronda de apoios à economia Apesar dos sinais de recuperação económica, Ron Lam defende a necessidade de mais uma ronda do cartão de consumo, devido à elevada taxa de desemprego e baixos níveis de consumo nos bairros fora das zonas turísticas. A posição foi tomada numa interpelação escrita, divulgada ontem pelo gabinete do legislador. De acordo com Ron Lam, os efeitos da recuperação económica ainda não se fazem sentir junto da população e entre Novembro e Janeiro a taxa de desemprego dos residentes estava nos 4,3 por cento. Este valor é apontado como sendo “quase o dobro” em comparação com igual período de 2019, antes da pandemia, quando a taxa de desemprego de residentes era de 2,3 por cento. O deputado indica também que o nível do subemprego está nos 3,2 por cento. Este indicador estatístico mede a proporção de pessoas que pretendiam trabalhar, a receber, mais horas do que aquelas que efectivamente trabalham. Porém, antes da pandemia a taxa de subemprego era de 0,4 por cento, o que o legislador afirma reflectir “um crescimento de oito vezes”. Ron Lam indica também que grande parte dos residentes afectados pelo desemprego e subdesemprego encontram-se nessas situações devido ao encerramento de várias empresas relacionadas com o sector do jogo. Por isso, o deputado quer que as autoridades adoptem “medidas concretas” ao longo deste ano para lidar com o “desemprego estrutural ligado aos ex-trabalhadores do sector do jogo”. O deputado pede também que lhe sejam facultados dados sobre o número de desempregados que frequentaram as formações promovidas pela Direcção de Serviços para os Assuntos Laborais e que depois conseguiram encontrar um emprego novo. Problemas de consumo Por outro lado, o deputado mostra-se igualmente preocupado com os níveis do consumo nos bairros comunitários, ou seja, nas zonas da cidade que não vivem do comércio alimentado pelo turismo. “Muitos comerciantes queixam-se que os turistas apenas consomem nas zonas tradicionais, como a Avenida Almeida Ribeiro, Largo do Senado, Ruínas de São Paulo, na Taipa Velha e no Cotai”, indica Ron Lam. “Com a adopção de novas políticas, como a abertura das fronteiras do Interior a veículos de Macau, os residentes optam por deixar o território durante os fins-de-semana e períodos de férias, o que faz com que as lojas nos bairros comunitários tenham cada vez menos clientes. A situação é pior do que durante a pandemia”, atirou. Neste cenário, Ron Lam quer saber se o Governo vai seguir o exemplo de Hong Kong, que recentemente anunciou o lançamento de mais uma ronda de cartão de consumo electrónico. “Será que o Governo vai lançar este ano uma ronda do cartão de consumo electrónico, para ajudar a população a adaptar-se ao período da renovação económica a promover o consumo interno?”, questionou.
João Luz PolíticaMembros de Macau na APN afirmam vontade popular na reeleição de Xi Logo após a reeleição de Xi Jinping como Presidente do Estado e da Comissão Militar Central, os membros de Macau na primeira sessão da 14.ª Assembleia Popular Nacional (APN) celebraram a renovação dos mandatos no topo da hierarquia política nacional. O chefe da delegação de Macau à APN, Lao Ngai Leong, afirmou que a reeleição do Presidente Xi Jinping é a via correcta para corresponder aos desejos dos 1,4 mil milhões de chineses, incluindo dos compatriotas da RAEM. Lao Ngai Leong deixou ainda, em declarações ao jornal Ou Mun, elogios à governação de Xi Jinping, que sempre demonstrou elevada à atenção ao desenvolvimento de Macau, ao bem-estar da população, e à forma como o território aproveita as suas vantagens específicas no contexto da integração no desenvolvimento nacional. O presidente da Assembleia Legislativa, e subchefe da delegação de Macau na APN, Kou Hoi In destacou a reeleição do Presidente da República Popular da China como a demonstração da vontade colectiva e personificação da esperança e voz de todos os chineses, incluindo os compatriotas de Macau. O recém-eleito para o Comité Permanente da Assembleia Popular Nacional afirmou ainda que, desde o 18.º Congresso Nacional do Partido Comunista da China Xi Jinping tem liderado o país na resolução de problemas. Ovação colectiva O deputado Chui Sai Peng, também subchefe da delegação da RAEM, sublinhou o facto de que depois do resultado da eleição ser divulgado, todos os participantes na APN ovacionaram Xi Jinping durante muito tempo, “mostrando a defensa e o amor do partido e das pessoas para com o Presidente Xi Jinping”, afirmou citado pelo jornal Ou Mun. Por sua vez, o membro de Macau e presidente da União Geral das Associações dos Moradores de Macau Ng Sio Lai afirmou que Xi Jinping é o núcleo do Governo Central, e que sob as suas orientações Macau atingirá a recuperação económica, resolver os assuntos que afectam o bem-estar da população e manter a estabilidade social. O membro de Macau à APN Ho Sut Heng, que preside à Federação das Associações dos Operários de Macau, a pátria sempre apoiou fortemente o desenvolvimento de Macau, e que cabe à RAEM cumprir absolutamente as estratégias do 20.º Congresso Nacional e das duas sessões magnas, concretizando o princípio “Um País, Dois Sistemas” e “Macau governada por patriotas”.
Hoje Macau Manchete PolíticaAPN | Ho Iat Seng saúda reeleição “histórica” do Presidente Xi Jinping Antes de partir para Pequim, para assistir o encerramento da primeira sessão da 14.ª Assembleia Popular Nacional, Ho Iat Seng saudou “calorosamente” o Presidente Xi Jinping pela reeleição unânime. Leonel Alves perspectiva crescimento nos próximos cinco anos e realça o contexto internacional que exige uma liderança forte A reeleição de Xi Jinping como Presidente da República Popular da China (RPC) e da Comissão Militar Central foi recebida pela classe política de Macau com regozijo e votos de apoio incondicional. Na véspera de seguir para Pequim, para assistir ao encerramento da primeira sessão da 14ª Assembleia Popular Nacional (APN), “o Chefe do Executivo, em representação do Governo da RAEM e dos compatriotas de Macau, saudou, sincera e calorosamente, o Presidente Xi Jinping pela reeleição unânime”. A saudação de Ho Iat Seng foi alargada aos “novos líderes de Estado eleitos” na sexta-feira durante a sessão da APN. Ho Iat Seng destacou a oficialização do terceiro mandato de Xi Jinping como “uma escolha da história” e “o desejo comum de todo o povo chinês, incluindo dos compatriotas de Macau. Citado pelo Gabinete de Comunicação Social, Ho Iat Seng declarou que o Presidente Xi, desde o 18.º Congresso Nacional do Partido Comunista da China, liderou “o povo de todas as etnias na inovação do socialismo com características chinesas na nova era, demonstrando plenamente a sabedoria política, determinação estratégica, a missão e responsabilidade e a compaixão pelo povo de um líder de um grande país”. O Chefe do Executivo tem marcada para amanhã a viagem de regresso a Macau, mas hoje “irá visitar vários ministérios e comissões para debater sobre assuntos de interesse comum e reforçar a cooperação”. Eleição positiva Em declarações ao HM, Leonel Alves, ex-deputado e membro da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, encara o terceiro mandato de Xi Jinping ao leme dos destinos da China como um sinal dos tempos e da necessidade de uma liderança forte. “A eleição resulta do contexto que se vive a nível internacional e interno na RPC. É uma eleição positiva, e que corresponde aos interesses nacionais. O contexto internacional não é o mais tranquilizador, por isso é necessária uma liderança forte, que é o que resulta desta eleição”, afirmou o advogado em declarações ao HM. Em termos internos, Leonel Alves prevê “cinco anos de desenvolvimento, estabilidade e crescimento”, alicerçados numa “liderança que vai alimentar a vontade de todo o povo de prosseguir um maior desenvolvimento social, económico, e aposta na educação”. Em relação a Macau, o advogado considera que o Executivo e Ho Iat Seng têm o apoio de Xi Jinping e um “ambiente favorável” para “promover a diversificação económica e construir habitação condigna de qualidade para toda a população”. O histórico deputado da Assembleia Legislativa espera também que os próximos cinco anos se traduzam numa “maior interacção com os Países de Língua Portuguesa” concretizada na presença “destes países na construção da Grande Baía”.
Hoje Macau Grande Plano MancheteDiplomacia | China apadrinhou restabelecimento das relações diplomáticas entre Irão e Arábia Saudita Para surpresa geral da comunidade internacional, a diplomacia chinesa conseguiu mediar na passada sexta-feira o que parecia impossível: o restabelecimento das relações entre a Arábia Saudita e o Irão. O acordo entre as duas potências do Médio Oriente foi assinado na China, onde as duas partes mantiveram negociações com o apoio de Pequim, segundo um comunicado conjunto dos três países “A República Islâmica do Irão e o Reino da Arábia Saudita decidiram retomar as relações diplomáticas e reabrir as suas embaixadas no prazo de dois meses”, pode ler-se no inesperado comunicado, assinado em Pequim, que deixou o Médio Oriente na expectativa de uma diminuição dos conflitos na região. As conversações para retomar as relações diplomáticas foram conduzidas em Pequim de 6 a 10 de Março, de acordo com uma declaração trilateral da China, Arábia Saudita e Irão, informou a Xinhua. “Tanto a Arábia Saudita como o Irão manifestaram o seu apreço e agradecimento ao Iraque e a Omã por acolherem múltiplas rondas de diálogo entre 2021 e 2022, e aos líderes chineses e ao governo chinês por acolherem, apoiarem e contribuírem para o sucesso das conversações”, lê-se na declaração final. O papel que a China desempenhou na ajuda aos dois países, que são velhos rivais, suscitou elogios generalizados após o seu anúncio, com uma esperada excepção. Segundo Pequim, “isto mostra que a filosofia diplomática chinesa, que visa promover a paz e o desenvolvimento, é muito mais apelativa do que a táctica de alguns países de alimentar o confronto para expandir o seu próprio domínio político na região do Golfo”. “Esta é também uma das melhores práticas no âmbito da Iniciativa de Segurança Global (ISG) que a China propôs e que poderia ter implicações de grande alcance e um efeito demonstrativo noutras regiões que enfrentam problemas semelhantes de confrontação e conflito”, acrescentaram fontes próximas da diplomacia chinesa. Já o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China afirmou no sábado que “a China espera ver uma comunicação e um diálogo mais estreitos entre a Arábia Saudita e o Irão e está pronta a continuar a desempenhar um papel positivo e construtivo na facilitação de tais esforços”. “O seu diálogo e o acordo estabelecem um bom exemplo de como os países da região podem resolver disputas e diferenças e alcançar uma boa vizinhança e amizade através do diálogo e da consulta. Isto ajudará os países regionais a livrarem-se da interferência externa e a tomarem o futuro nas suas próprias mãos”, disse o porta-voz, observando que a China continuará a contribuir com os seus conhecimentos e propostas para a realização da paz e tranquilidade no Médio Oriente. Ao mesmo tempo que felicita as duas partes por terem dado um passo histórico em frente, Wang Yi, director do Gabinete da Comissão dos Negócios Estrangeiros do Comité Central do Partido Comunista da China (PCC), disse que a China apoia as duas partes a darem passos firmes, tal como acordado no acordo, para trabalharem para o futuro brilhante comum com paciência e sabedoria. “Como amigo de confiança dos dois países, a China continuará a desempenhar um papel construtivo”, disse Wang. Hussein Ibish, um académico residente no Instituto dos Estados Árabes do Golfo em Washington, afirmou numa entrevista à CNN que “o facto de ter sido acordado em Pequim é muito significativo para a China e a sua ascensão como actor diplomático e estratégico na região do Golfo”. “Isto parece reconhecer o papel único da China em ser capaz de intermediar as relações entre Teerão e Riade, entrando numa posição que tinha sido anteriormente ocupada por países europeus, se não pelos Estados Unidos, e isto não será particularmente agradável para Washington”, disse Ibish. Redução de conflitos O acordo entre o Irão e a Arábia Saudita para a retoma dos laços diplomáticos pode ter efeitos a longo prazo em todo o Médio Oriente e não só, reduzindo as hipóteses de conflitos armados entre rivais regionais. Uma análise da agência Associated Press (AP), sobre os países afectados por este acordo, refere o Iémen, país onde quer a Arábia Saudita, quer o Irão, estão profundamente envolvidos na sua longa guerra civil. A Arábia Saudita entrou no conflito em 2015, apoiando o Governo exilado do país, enquanto o Irão apoiou os rebeldes houthis, que em 2014 tomaram a capital, Sanaa. Diplomatas têm procurado uma forma de encerrar o conflito, que gerou um dos piores desastres humanitários do mundo e que se transformou numa guerra por procuração entre Riade e Teerão. O acordo saudita-iraniano pode dar um impulso aos esforços para acabar com o conflito. Já no Líbano, há muito que o Irão apoia a poderosa milícia xiita libanesa Hezbollah, enquanto a Arábia Saudita apoia os políticos sunitas do país. O alívio das tensões entre Riade e Teerão pode levar os dois a procurarem uma reconciliação política no Líbano, que enfrenta um colapso financeiro sem precedentes. Por outro lado, na Síria, o Irão apoiou o Presidente sírio, Bashar al-Assad, na longa guerra civil deste país, enquanto a Arábia Saudita apoiou os rebeldes que procuram derrubá-lo. No entanto, nos últimos meses, principalmente após o terremoto que devastou a Síria e a Turquia, as nações árabes aproximaram-se de Al-Assad. O acordo diplomático desta sexta-feira pode tornar mais apelativo para Riade interagir com Al-Assad. O americano intranquilo No ‘outro lado do mundo’, o Governo norte-americano, liderado por Joe Biden, não quer acreditar no que se passou sob “as suas barbas” e sublinha que está “céptico” de que o Irão irá honrar os seus compromissos e garantem que estarão atentos. O papel da China na mediação feriu o papel dos EUA na região e, no que se refere à batalha entre Washington e Pequim pela influência na região e não só. Temerosas, as autoridades norte-americanas realçam que “não está claro” se os esforços chineses serão bem-sucedidos. O acordo com a Arábia Saudita pode fornecer a Teerão novos caminhos para contornar as sanções, depois de já ter aprofundado laços com a Rússia e até armado Moscovo com ‘drones’ de ataque utilizados contra a Ucrânia. Já na Arábia Saudita, o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman pretende gastar dezenas de milhões de dólares em megaprojetos para reformular o reino rico em petróleo perante as ameaças impostas pelas alterações climáticas. Preocupações com ataques e conflitos regionais apenas colocaria esses projectos em dúvida. Sem “agenda escondida” Entretanto, perante as dúvidas e o mal-estar dos EUA, a China garantiu que o seu papel no restabelecimento das relações diplomáticas entre o Irão e a Arábia Saudita não tem uma agenda escondida e que não pretende preencher um vazio no Médio Oriente. “A China não persegue qualquer interesse egoísta” e vai continuar a apoiar os países do Médio Oriente “a resolver as suas diferenças através do diálogo e em consultas para promover a paz e estabilidade duradouras em conjunto”, lê-se numa declaração colocada no site do Ministério dos Negócios Estrangeiros. A posição da China surge depois de ter mediado a reaproximação entre os dois países, e na sequência de preocupações de vários analistas e países, como os Estados Unidos, sobre as reais intenções da mediação chinesa. A intervenção chinesa no reatamento das relações diplomáticas entre os dois países, incluindo a reabertura de embaixadas depois de sete anos, foi vista como uma grande vitória diplomática da China, com os países do Golfo a considerarem que os Estados Unidos reduziam a sua intervenção na região. “Respeitamos o estatuto dos países do Médio Oriente como senhores desta região e opomo-nos à concorrência geopolítica no Médio Oriente”, lê-se ainda na declaração. “A China não tem intenção e não vai procurar ocupar o chamado vazio ou erguer blocos exclusivos”, afirma-se ainda, numa aparente referência aos Estados Unidos. A diplomacia chinesa, no Médio Oriente, é encarada como um parte neutra, com fortes laços quer ao Irão, quer à Arábia Saudita, bem como com Israel e a Autoridade Palestiniana. ONU, Europa e países do Golfo saúdam o acordo A União Europeia (UE) considerou positivo o acordo para o restabelecimento de relações diplomáticas entre o Irão e a Arábia Saudita e espera que possa contribuir para a estabilização do Médio Oriente. “A UE saúda o acordo para o restabelecimento das relações diplomáticas entre o Reino da Arábia Saudita e a República Islâmica do Irão e aguarda agora a sua implementação. Uma vez que ambos são fundamentais para a segurança da região, o restabelecimento das suas relações bilaterais pode contribuir para a estabilização da região como um todo”, declarou, em comunicado, o Serviço Europeu de Ação Externa. A UE, que reconheceu “os esforços diplomáticos que levaram a este importante passo”, destacou que a promoção da paz e da estabilidade, bem como a redução das tensões na região, são prioridades do bloco comunitário e declarou-se “preparada para estar em contacto com todos os actores da região de forma inclusiva e com total transparência”. Também o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, saudou o acordo e elogiou a China, Omã e o Iraque por promoverem as conversações. Países como o Qatar, os EAU, Iraque, Omã, Líbano, Bahrein, entre muitos outros, também expressaram sentimentos positivos em relação à decisão dos dois países de retomar os laços diplomáticos, informou a Reuters. Séculos de tensões entre Irão e Arábia Saudita As relações entre o Irão (indo-europeu) e a Arábia Saudita (semita), dois “pesos-pesados” do Médio Oriente, são tensas há séculos devido a rivalidades religiosas e à luta de influências na região. Seguem-se alguns pontos essenciais na história de relações tensas entre os dois países. Século VII Povos árabes invadem o Irão (império sassânida) impondo o Islão e eliminando o zoroastrismo. Século VIII Irão adopta o xiismo, criado na sequência do massacre a uma caravana onde seguia Ali (quarto califa), a sua mulher Fátima (filha do profeta Maomé) e o filho de ambos. Século XX Revolução iraniana e guerra Após a criação da República Islâmica do Irão, em abril de 1979, na sequência da revolta popular desse ano, os países sunitas acusaram Teerão de pretender “exportar” a revolução xiita para os abafar. Em 1980, o Iraque atacou o Irão, desencadeando uma guerra de oito anos durante a qual a Arábia Saudita apoiou financeiramente o regime iraquiano. Peregrinos mortos, relações rompidas Em 1987, as forças de segurança em Meca, na Arábia Saudita, reprimem uma manifestação anti-norte-americana não autorizada organizada por peregrinos iranianos. Mais de 400 pessoas, na maioria iranianas, são mortas. Iranianos, furiosos, saquearam a Embaixada Saudita em Teerão e, em 1988, Riade cortou relações diplomáticas, o que se prolongaria até 1991. Oposição na Síria e no Iémen Enquanto os protestos da Primavera Árabe atingem a região em 2011, Riade envia soldados para o Bahrein, onde os xiitas estão a manifestar-se em apoio à revolução. A Arábia Saudita acusa o Irão de alimentar tensões. Os dois países rivais confrontam-se novamente em 2012, quando irrompe a crise síria. O Irão apoia o Presidente sírio, Bashar al-Assad, enquanto a Arábia Saudita sai em defesa dos rebeldes. No Iémen, em 2015, Riade formou uma coligação árabe sunita para intervir em favor do Presidente iemenita para tentar derrotar os rebeldes xiitas Houthi, apoiados por Teerão. Debandada mortal em Meca Uma debandada durante a grande peregrinação anual a Meca, em 2015, matou cerca de 2.300 peregrinos estrangeiros, incluindo centenas de iranianos. O líder supremo do Irão, ayatollah Ali Khamenei, diz que a Arábia Saudita não merece administrar os locais mais sagrados do Islão. Relações novamente rompidas Em 2016, a Arábia Saudita executou o proeminente clérigo xiita Nimr al-Nimr, uma dos principais líderes dos protestos antigovernamentais, por “terrorismo”. A execução deixa o Irão furioso. Manifestantes atacam missões diplomáticas sauditas no Irão. Riade rompe novamente as relações com Teerão. Hezbollah, Qatar Em 2016, as monarquias árabes do Golfo consideram a poderosa milícia xiita libanesa Hezbollah, aliada do Irão, como uma “organização terrorista”. Em 2017, foi em Riade que o primeiro-ministro libanês, Saad Hariri, anunciou a renúncia ao cargo, argumentando com o “controlo” do Irão no Líbano através do Hezbollah. Mais tarde, Hariri irá retratar-se. No mesmo ano, a Arábia Saudita e aliados cortam relações diplomáticas com o Qatar, acusando-o de manter laços “muito estreitos” com o Irão e de apoiar o extremismo, o que Doha nega. A Arábia Saudita e respectivos aliados restabelecem as relações em 2021. Nuclear iraniano Em 2018, numa entrevista a uma cadeia de televisão norte-americana, o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman avisou que, se Teerão adquirir armas nucleares, a Arábia Saudita fará o mesmo “o mais rápido possível”.
Hoje Macau Eventos24.º aniversário do MAM celebrado com actividades culturais O Museu de Arte de Macau (MAM) celebra 24 anos de existência no próximo dia 19 e, a pensar na efeméride, foram organizadas uma série de actividades culturais para esse dia e também para o dia 18. Será, assim, promovida a iniciativa “Fim-de-semana com Artes 2023”, com o tema “Artes sem Limites”, que significa que “a exploração das artes chinesa e estrangeira, a criatividade e a partilha das artes não têm fronteiras”. O evento agendado para os dias 18 e 19 inclui programas culturais como “Artes Visuais x Música — Performance Interdisciplinar ao Vivo”, “Visuais × Imagens ― Exibição de Documentários”, “Encontro no MAM”, “Domingo de Arte em Família”, bem como a actividade “Tire uma Foto de Grupo e Compartilhe!” e a visita guiada sobre a exposição de Fang Lijun, patente no MAM. Música e companhia No programa “Artes Visuais x Música — Performance Interdisciplinar ao Vivo” os curadores Pal Lok, Fan Sai Hong e três músicos de Macau, Iat U Hong, Akitsugu Fukushima e Ivan Wing, inspirados pela mostra de Fang Lijun, criaram um “espectáculo interdisciplinar” de nome “De Sombra e Luz”, baseado “num conjunto diversificado de músicas originais e efeitos visuais abstractos”. Trata-se de um espectáculo que apresenta “ao público, de forma curiosa, a luz e a escuridão de um universo caótico” no mesmo espaço onde são exibidos os trabalhos do artista chinês. Na iniciativa “Visuais X Imagens – Exibição de Documentários” apresenta três documentários representativos do universo das artes, intitulados “Papel & Cola”, “As vidas chinesas de Uli Sigg” e “Ascensão”. Estes vão “permitir ao público sentir as infinitas possibilidades da criatividade artística, do coleccionismo e dos efeitos visuais a partir do prisma do famoso artista francês JR, do coleccionador de artes modernas chinesas Uli Sigg e da jovem realizadora de documentários Jessica Kingdon”. As exposições “Alegoria dos Sonhos”, do colectivo YiiMa, composto por Guilherme Ung Vai Meng e Chan Hin Io e “Luz Poeirenta”, de Fang Lijun, serão exploradas com mais detalhe no programa “Encontro no MAM”, bem como a mostra “Prelúdio do Estilo Moderno de Macau”. Neste “Encontro” participam a directora do MAM, Un Sio San, o coordenador da exposição, Tong Chong, o curador Ng Fong Chao e a investigadora Kan Pui Ian. Além disso, serão ainda realizados, sucessivamente, os programas “Domingo de arte em família: Humanos e Figuras, “Tire uma foto de grupo e compartilhe!,“Flash, Flash para Amigos do MAM – Presentes surpresa a serem resgatados com selos Flashing, bem como visitas guiadas, criando um ambiente artístico ao público. A participação nos programas do evento “Fim-de-Semana de Artes 2023” é gratuita, sendo necessária a inscrição prévia para alguns programas. As inscrições podem ser feitas desde ontem na plataforma da Conta Única.
Andreia Sofia Silva EventosCinemateca Paixão | Festival do Cinema Holandês arranca amanhã É já amanhã que tem início um novo festival de cinema na Cinemateca Paixão, desta vez dedicado ao cinema holandês, feito inteiramente por realizadores do país ou em co-produção. Até dia 25, o público poderá ver curtas e longas-metragens, das produções mais recentes às antigas “Fazer o caminho holandês” é o nome do novo festival de cinema da Cinemateca Paixão inteiramente dedicado às produções cinematográficas holandesas. Entre amanhã e o dia 25 deste mês, será possível ver curtas e longas-metragens de diversos realizadores. O filme mais antigo data de 2001. Incluem-se ainda co-produções produzidas por realizadores holandeses e de outros países. Numa nota divulgada no seu website, a direcção da Cinemateca Paixão aponta que os filmes europeus são conhecidos por “revelarem culturas ricas e por apelarem à consciência do público para com diversas questões”, sendo que os filmes da Holanda, ou Países Baixos, “são conhecidos por apresentarem um ponto de vista único e diversificado”, bem como “críticas às questões sociais”. Alguns os filmes que se apresentam nesta iniciativa foram parte integrante do Festival de Cinema de Roterdão, considerado um dos maiores festivais de cinema do mundo. Com este festival, será possível “vaguear por esta nação livre com uma rica atmosfera artística”, conhecida pela sua “progressividade, igualdade, pragmatismo, abertura, diversidade cultural e inovação”. Viagens e histórias pessoais O primeiro filme a ser exibido, já esta sexta-feira, é o mais antigo de todos, datando de 2001, e é uma produção totalmente holandesa, do realizador Nanouk Leopold. Exibido também no dia 22, “Îles Flottantes”, uma comédia, conta a história de três mulheres na casa dos 30 anos que querem mudar de vida, mas acabam por fazê-lo de forma errada. Nas vidas de Sasha, Kaat e Isa contam-se separações dolorosas, casos de violência doméstica e paixões que se transformam em densos labirintos, onde a amizade é ponto fulcral nesta história. No sábado, e também no dia 21, será exibido “Zurich”, de Sacha Polak, uma co-produção entre a Holanda, Alemanha e Bélgica. Este filme de 2015 revela a história de Nina que inicia uma viagem de carro sem destino certo para deixar o passado para trás. Pelo meio, encontra-se com um camionista alemão, Matthias, com quem decide prosseguir viagem. No entanto, opta por esconder a sua identidade e a sua vida, mas esta será uma viagem que lhe dará muitas das respostas que ela procura para si mesma. No domingo, e também no dia 18, será dia de exibir “Splendid Isolation”, de Urszula Antoniak, uma produção do ano passado feita totalmente na Holanda. Esta é a história de Anna e Hannah e de uma catástrofe pouco conhecida à qual escaparam. É numa ilha algo isolada, e vivendo numa casa abandonada, que Anna toma conta de Hannah, que se encontra numa condição muito frágil. Têm uma relação, mas aquele período fá-las pensar na forma como a vivência entre as duas evoluiu. Quando Hannah vê alguém na praia, que representa a Morte, tudo muda. A co-produção com a Bósnia e Herzegovina, “Take Me Somewhere Nice”, de Ena Sendijarevic, integra também o cartaz do festival. A película poderá ser vista nos dias 15 e 19 de Março. Destaque ainda para os títulos “Layla M.”, de Mijke de Jong, exibido nos dias 17 e 23 de Março, e ainda “Three Minutes: A Lengthening”, de Bianca Steiger, um trabalho mais recente, de 2021. Este filme será exibido nos dias 14 e 25 de Março. A Cinemateca Paixão optou ainda por exibir uma selecção de quatro curtas-metragens, nos dias 19 e 24 de Março. São elas “Noor”, de Louka Hoogendijk, “Spotless”, de Emma Branderhorst, “The Walking Fish”, de Thessa Meijer, e “Harbour”, de Stefanie Kolk.
Sérgio Fonseca Desporto MancheteF3 em negociações e mais novidades para a 70ª edição do Grande Prémio O programa do 70.º Grande Prémio Macau vai ser preenchido certamente com várias competições internacionais e existe a possibilidade de o evento acolher provas de monologares de Fórmula 3, Fórmula Regional e Fórmula 4 O regresso da Taça do Mundo de Fórmula 3 é uma das metas mais desejadas pelas entidades organizadoras do evento em Macau e também pela própria federação internacional. Contudo, a revista inglesa Autosport, noticiou na sua última edição que existe uma barreira por ultrapassar: o transporte dos carros para Macau. A última corrida da temporada do Campeonato FIA de Fórmula 3 está agendada para o fim de semana de 2 e 3 de Setembro, no circuito italiano de Imola. Habitualmente, a disciplina realiza um ou dois testes oficiais antes de dar por concluída a temporada, o que não limita o envio dos carros para Macau. A grande dúvida é o regresso dos carros, que não poderá ser feito por via marítima, pois a Mecachrome precisa de começar a fazer a morosa manutenção regular dos motores ainda no mês de Dezembro. “Estamos a tentar ver se conseguimos organizar isto, porque ainda há interesse e apetite pela corrida”, disse François Sicard, o director da Mecachrome, a empresa francesa que fornece todos os motores da actual F3. “É uma situação delicada – a única forma de fazê-lo é de transporte aéreo de Macau para a Europa. Devido ao elevado custo, estamos à procura de uma solução e não é uma tarefa fácil. Estamos confiantes de que irá acontecer e ficaremos felizes por encontrar uma solução, mas ainda é cedo para dizê-lo”. Novidades a caminho A publicação britânica também adianta que mais duas competições poderão fazer a sua estreia na RAEM pelas mãos da Top Speed, empresa com sede em Xangai que no 60.º Grande Prémio de Macau ajudou a trazer a Volkswagen Scirocco Cup, o Lamborghini Super Trofeo Asia e a Formula Masters China. Seis das dez equipas do campeonato FIA de F3 correm na Fórmula Regional do Médio Oriente (ex-Campeonato Asiático de F3) e na Fórmula 4 dos Emirados Árabes Unidos, duas competições organizadas pela Top Speed. “Estamos em discussões para termos ambos os campeonatos, e estou confiante que possamos ter entre 25 a 28 carros em cada corrida”, disse Davide DeGobbi, o responsável pela Top Speed. A Fórmula Regional foi concebida para estar um degrau abaixo da F3 e um degrau acima da F4, enquanto a competição de F4 organizada pela Top Speed já utiliza os novos monolugares aprovados pela FIA, ao contrário do Campeonato da China de Fórmula 4, que vimos correr no Circuito da Guia nos últimos três anos, que ainda usa maquinaria antiga. Apesar de ainda não ser oficial, a Top Speed deverá a partir deste ano assumir as rédeas do Campeonato de Fórmula 4 do Sudeste Asiático, daí o interesse da participação no evento de Macau. Euroformula Open de fora Entretanto, o campeonato de matriz espanhola Euroformula Open, que durante a pandemia foi apontado para substituir a Fórmula 3 no Grande Prémio de Macau, não tem planos nem interesse em visitar a RAEM agora que o território regressou à normalidade. “Não para este ano: para incluir Macau num calendário, é necessário um tempo significativo para o planeamento, orçamentos, etc, tanto para os organizadores como para as equipas. Não está claro quais seriam também os requisitos em matéria de saúde e segurança”, disse fonte oficial do campeonato gerido pela empresa GT Sport ao portal de automobilismo português SportMotores.com.
Hoje Macau China / ÁsiaExército | Xi Jinping quer desenvolvimento “mais rápido” para “padrões mundiais” O Presidente da China sublinhou ontem a necessidade de “coordenar e aprimorar” as “capacidades estratégicas” do país, visando “elevar mais rapidamente as Forças Armadas para padrões de classe mundial”, num encontro com representantes do Exército. Xi Jinping disse que “melhorar as capacidades estratégicas integradas” é fundamental para o objectivo da China de se tornar uma potência global, num mundo cada vez “mais competitivo” e “cheio de desafios”. A delegação incluiu representantes militares e da Polícia Armada Popular, uma unidade paramilitar. A reunião ocorreu durante a sessão anual da Assembleia Popular Nacional, o órgão máximo legislativo da China. “Devemos integrar planos, recursos e forças para enfrentar riscos estratégicos, salvaguardar os nossos interesses e alcançar os nossos objectivos”, disse Xi, citado pela imprensa oficial. O líder chinês pediu ao Exército que siga as últimas directrizes estabelecidas pelo Partido Comunista Chinês (PCC), incluindo no “impulso da inovação em ciência e tecnologia”, com foco na “inovação independente e original”. “Devemos alcançar um alto nível de autoconfiança e força nos sectores ciência e tecnologia a um ritmo mais rápido. A resiliência das cadeias industriais e de abastecimento também deve ser melhorada”, acrescentou. “Uma boa implementação desta política tem profundo significado para a construção de um país socialista moderno, e impulsionará o nosso sonho de ‘rejuvenescimento nacional’, acelerando a modernização do nosso Exército como uma força armada de classe mundial”, apontou Xi. Os apelos para acelerar o desenvolvimento autossuficiente em ciência e tecnologia, reforçar as capacidades estratégicas ou tornar as cadeias industriais e de abastecimento mais resilientes integram-se numa série de estratégias nacionais, já em andamento, incluindo a iniciativa “Made in China 2025”, para transformar o país numa potência tecnológica, com capacidades em setores de alto valor agregado, como inteligência artificial, ‘chips’ semicondutores, robótica e carros eléctricos. Maximizar estratégias O conceito estratégico para as Forças Armadas referido pelo líder chinês – oficialmente designado “Melhorar as Estratégias Nacionais Integradas e as Capacidades Estratégicas” -, promovido após o 20.º Congresso do PCC, destaca um planeamento mais amplo e a “alocação integrada de recursos e coordenação sob uma liderança unificada”. “A chave (…) é a integração”, apontou Xi. “O [seu êxito] vai decidir se podemos maximizar as nossas capacidades estratégicas gerais”, apontou. Os comentários de Xi ressaltaram a determinação de Pequim em acelerar a modernização das Forças Armadas, num período de crescentes tensões com os Estados Unidos e vários países vizinhos, face a reivindicações territoriais, que vão desde os mares do Leste e do Sul da China às fronteiras com a Índia, na região dos Himalaias.
Carlos Morais José Via do MeioAnalectos – o principal livro do confucionismo Tradução de Rui Cascais Revisão e notas de Carlos Morais José LIVRO I 學而 (Xue Er)1 ESTUDAR 1.1. O Mestre disse: “Estudar para aplicar na altura certa2 aquilo que se aprendeu – não será isto uma fonte de prazer? Ter amigos que chegam de partes distantes – não será isto uma fonte de alegria? Suportar sem acrimónia não ser reconhecido pelos outros – não será isto a marca de uma pessoa exemplar (君子 junzi)?”3 1.2. Mestre You4 disse: “Desafiar a autoridade é algo muito raro em alguém que tem o sentido do dever filial e fraternal (孝弟xiaodi). E nunca se ouviu que aqueles que não têm gosto em desafiar a autoridade apreciem dar início a rebeliões. As pessoas exemplares concentram os seus esforços na raiz, pois quando a raiz se fixa, a partir dela a Via (道 dao) crescerá. E não será o dever filial e fraternal a raiz da benevolência (仁 ren)?”5 1.3. O Mestre disse: “Hábeis palavras e faces afáveis raramente albergam verdadeira humanidade (仁ren).” 1.4. Mestre Zeng disse: “Todos os dias examino a minha pessoa relativamente a três aspectos. Nos meus trabalhos para bem dos outros, terei lealmente oferecido o meu melhor? No meu convívio com colegas e amigos, terei sido sincero? Aquilo que me foi transmitido, tê-lo-ei realmente aprendido?6 1.5. O Mestre disse: “A via para reger um reino de mil carros de combate com eficácia é desempenhar os deveres oficiais com respeito e cumprir a sua palavra; ser frugal nas despesas e amar os seus pares; e usar o povo apenas na estação apropriada do ano.”7 1.6. O Mestre disse: “Enquanto irmão mais novo e enquanto filho, sê filial (孝xiao) em casa e age com deferência (弟di) na comunidade; sê reservado no que dizes e cumpre sempre a tua palavra; sê amável com todos mas apenas íntimo daqueles cuja conduta é benevolente (仁 ren). Se depois de assim te comportares ainda te sobrar energia, usa-a para te cultivares através do estudo.”8 1.7. Zixia9 disse: “Quanto às pessoas que prezam mais o carácter do que a beleza, que no serviço de seus pais são capazes de se aplicar devotadamente, que se colocam sem reservas ao serviço do seu soberano, e que no convívio com colegas e amigos cumprem a sua palavra – mesmo que delas fosse dito que não tinham frequentado qualquer escola, eu insistiria que são deveras bem educadas.” 1.8. O Mestre disse: “As pessoas exemplares a quem faltasse gravidade não teriam dignidade e o seu saber seria frágil. Que o teu fio condutor seja fazeres o teu melhor e cumprires a tua palavra. Não tenhas como amigo ninguém que não valha tanto como tu.10 E, quando errares, não hesites em emendar a tua conduta.” 1.9. Mestre Zeng disse: “Sê circunspecto nos serviços funerários, mantém os sacrifícios aos antepassados distantes e a virtude (德 de) do povo comum florescerá.” 1.10. Ziqin perguntou a Zigong11: “Quando o Mestre chega a um dado Estado e precisa de saber como este é governado, será que procura a informação ou esta é-lhe oferecida?” Zigong respondeu: “O Mestre obtém tudo o que necessita sendo cordial, contido, deferente, frugal e despretensioso. É provável que este modo de procurar informação seja diferente do modo como outros a obtêm.” 1.11. O Mestre disse: “Estando o pai vivo, julgue-se o filho pelas suas intenções; quando o pai morre, julgue-se o filho pelo que faz. Alguém que, durante três anos, se abstém de reformar os modos de seu falecido pai pode ser chamado um descendente filial.”12 1.12. Mestre You disse: “Na prática dos ritos (禮 li), atingir a harmonia (和he), através dos correctos procedimentos, é o mais precioso. Ela faz a beleza da Via e das instituições dos antigos reis, sendo um padrão de conduta em todas as coisas, grandes e pequenas. Mas realizar a harmonia pela harmonia sem respeitar as regras cerimoniais dos ritos (禮 li) não trará quaisquer resultados.”13 1.13. Mestre You disse: “É na medida em que o respeito à palavra dada corresponde à rectidão (義 yi) que as promessas devem ser cumpridas. Se a deferência seguir o rito (禮 li) mantém à distância a desgraça e o insulto. Quem age sem ofender e perder os que lhe são próximos também é merecedor de estima.”14 1.14. O Mestre disse: “As pessoas exemplares contentam-se com uma alimentação frugal e uma habitação humilde. São ardentes a agir e reticentes com as suas palavras. Andam junto a homens virtuosos e na sua companhia se corrigem. De tais pessoas deveras se pode dizer que têm amor pelo estudo.”15 15. Zigong disse: “O que pensas do ditado: Pobre mas não inferior, rico mas não superior?” O Mestre respondeu: “Não é mau, mas não é tão bom quanto: ‘Pobre mas desfrutando a Via, rico mas amando os ritos’.”16 Zigong disse: “O Livro das Odes afirma: ‘Como osso esculpido e limado, / como jade cortado e polido.’ Não é isso que tens em mente?” O Mestre disse: “Ci, só com alguém como tu posso discutir as Odes! Com base no que foi dito, tu sabes o que está para vir.” 16. O Mestre disse: “Não te preocupes com não seres reconhecido pelos outros, preocupa-te com o facto de não os reconheceres.”17 Notas Não é por acaso que o primeiro capítulo dos “Analectos” surge subordinado ao tema “estudar”. Com efeito, Confúcio encara a educação dos indivíduos como o meio para atingir a reforma da sociedade e assim se construir um modelo ideal de relações humanas, na qual o indivíduo possa desenvolver ao limite as suas naturais capacidades. Não se trata, no entanto, de uma mera aquisição de conhecimentos, algo que o Mestre considera insuficiente. Como é referido logo nas primeiras sentenças, o mais importante será saber quando e como aplicar esses conhecimentos. E se é na prática que o conhecimento se revela precioso, a sua eficácia só adquirirá valor se for balizado por uma ética cuja objectivo é dotar cada sujeito da capacidade de agir com benevolência (仁ren), sustentada pela rectidão (義yi) e pelo cumprimento de pressupostos rituais (禮li) modelados nos valores e hierarquias da piedade filial (孝xiao). A rectificação da natureza moral (xing) de cada sujeito passa então pelo cultivo de si (修身 xiushen), por uma educação que permitirá expurgar de cada coração (性 xin) os desejos egoístas e participar plenamente na construção de uma sociedade onde, quando realizada, predominará a harmonia. 2. “na altura certa”, shi 時. Este caracter tem sido interpretado de dois modos diferentes: por vezes, significa “repetidamente”; doutras “momento oportuno” ou “altura certa” porque também se refere às estações do ano e ao momento em que o Filho do Céu ritualmente as marcava. 3. Neste primeiro terceto de afirmações imediatamente se aflora o perfume hedonista do confucionismo, a saber, a importância da satisfação e do prazer que resulta da prática informada pelo estudo; da socialização com pessoas que partilham a mesma Via, trocando experiências e informação; e de, interiormente, para si mesmo, não depender do reconhecimento alheio. Esta abertura assume o gesto de uma promessa de felicidade. Assim, a existência de uma pessoa exemplar (junzi) será pautada por sensações de satisfação e prazer. Estas advêm, em primeiro lugar, da realização prática dos seus estudos, não bastando a aquisição de conhecimentos mas, sobretudo, saber quando os aplicar com eficácia. Em segundo lugar, a fruição da companhia de amigos, provavelmente gente que chegava de sítios distantes para o seguirem como discípulos. O caracter 朋(peng) significa, etimologicamente desde o tempo de Confúcio, alunos de um mesmo mestre, seguidores de uma Via ou membros de uma confraria. Mas esta interpretação é contrariada por alguns comentadores que vêm na expressão de Confúcio uma simples referência a “amigos” sem que estes tenham forçosamente de se sentar à sombra das suas ideias. Em terceiro lugar, o Mestre refere-se a movimentos do coração e ao facto de uma pessoa exemplar não albergar sentimentos negativos por não ter reconhecimento social. A pessoa exemplar não sentirá ódio, nem inveja, nem ciúme ou sequer desapontamento. Este mergulho na interioridade e a presumível construção de uma harmonia interna serão o culminar do cultivo de si (修身 xiushen)e da posterior prática da benevolência (仁 ren). 4. O círculo mais interior de discípulos tratava You pelo título honorífico de “mestre”, devido à sua excepcional memória e amor pelos textos antigos, o que, de algum modo, o assemelhava a Confúcio. 5. O dever filial baseia-se no que é devido aos pais (a vida) e a fraternal no respeito devido aos irmãos mais velhos. Ambas implicam uma série de modelos de obediência e submissão, deveres, formas específicas de tratamento, etc.. Tendo sido estendido ao contexto extrafamiliar, o conceito adquire um valor político, na medida em que prescreve uma extensão do modelo familiar, logo indica a necessidade de aceitação, obediência e submissão à hierarquia social. Neste sentido, a harmonia familiar reflecte-se na sociedade como é explicado no “Estudo Maior” (II, cap. 9). Contudo, alguns comentadores acrescentam que, apesar da piedade filial e fraternal estar na raiz da benevolência, na raiz da piedade filial estão, por seu lado, a rectidão (yi), o padrão (li) e um coração rectificado pelo cultivo de si. No Jardim das Persuasões (說苑 Shuo Yuan), de Liu Xiang (77-6 a.C.E.) está escrito: “Se as raízes não forem rectas, os ramos serão certamente tortuosos, e se os inícios não florescerem, os fins certamente murcharão. Uma ode diz: ‘As terras altas e as terras baixas foram pacificadas/ As nascentes e ribeiros foram tornados límpidos/ Uma vez que as raízes estão firmemente estabelecidas, a Via crescerá’”. 6. Zeng Zi, um dos mais importantes discípulos de Confúcio, com quem ele terá composto o “Clássico da Piedade Filial”, e a quem alguns atribuem os comentários do “Estudo Maior” (大學 Da Xue). Talvez não tão dotado quanto outros, Zeng ganhou a estima do Mestre pela sua piedade filial e outras qualidades morais. Já no Estudo Maior, Zeng Zi citava a inscrição da banheira de Tang: “Renova-te com rigor dia após dia. Que haja uma renovação diária” (Estudo Maior, II,1). Aqui explica os passos que percorre para efectuar a referida renovação. Primeiro, a extensão máxima da benevolência. Segundo, uma honesta autenticidade. Terceiro, a séria disposição para apreender os ensinamentos do Mestre. 7. Instruções sobre a governação. Um reino de mil carros é uma mediana, ou seja, um dos que não é dos maiores, nem dos menores, do império, talvez como o reino de Lu de onde Confúcio é originário, dotado de um exército de médio porte. “Usar o povo na estação apropriada do ano” significa recrutar gente para o exército ou para os grande trabalhos públicos tendo em conta o calendário agrícola. 8. Confúcio sublinha aqui a prioridade de enquadrar num comportamento ético a aquisição de conhecimentos. 9. Zixia 子夏 (507– c.420 a.E.C.), nome de cortesia de Bu Shang 卜商, foi um dos dez principais discípulos de Confúcio (Kong men shi zhe 孔門十哲). Zixia era 44 anos mais novo que Confúcio e conhecido como um dos mais inteligentes e educados dos seus seguidores. O Mestre elogiou frequentemente Zixia pela sua inteligência e capacidade para explicar o significado dos clássicos como o “Livro das Odes”. No entanto, Confúcio era da opinião de que Zixia ainda não tinha alcançado a máxima plenitude de virtude, de modo que lhe disse: “Sê um estudioso segundo o estilo da pessoa exemplar e não da pessoa menor”. Após a morte de Confúcio, Zixia voltou para sua casa, em Wei, onde fundou a sua própria escola e transmitiu os ensinamentos do Mestre. Deixou de trabalhar como professor quando o seu próprio filho morreu. Certos comentadores entendem que os ensinamentos de Zixia continham princípios legistas. Esta é a razão pela qual o mestre legista Han Fei 韓非 não considerava Zixia entre as oito escolas confucionistas do seu tempo. Contudo, durante a dinastia Han (206-220 a.E.C.), Zixia foi considerado como um dos mais importantes confucionistas, na medida em que contribuiu para a canonização dos Clássicos. Para Hong Mai 洪邁 (1127-1279), de todos os discípulos de Confúcio, só Zixia era perito nos escritos antigos que mais tarde se tornariam nos Seis Clássicos. Alguns comentadores acreditam que se trata aqui de uma referência à adequação das quatro relações: entre marido e mulher, filho e pai, soberano e ministro e entre amigos. Como You Zuo 游酢 (1053-1123), por exemplo: “Durante as Três Dinastias, estudar tinha apenas a ver com iluminar relações humanas. Uma pessoa capaz de dominar as quatro relações (mencionadas nesta passagem) pode dizer-se que tem uma profunda compreensão das relações humanas. Ao aprender isto como a Via, poder-lhe-á ser acrescentada alguma coisa? Zixia era famoso pela sua cultura e aprendizagem, por isso, se falava assim dá-nos uma boa noção do que os antigos queriam dizer quando falavam de estudar.” 10. Aqui trata-se, segundo os comentadores, claramente, de uma questão de virtude e não de filiação. Ou seja, o valor dos amigos escolhidos reside no grau da sua virtude e não na nobreza da sua linhagem. A ideia de que não se deve aceitar um amigo que não nos é um “igual” pode parecer um pouco estranha se não conhecermos a “amizade virtuosa” no sentido que lhe dá Aristóteles. Para o Estagirita, “A amizade perfeita é a de dois homens bons e iguais em virtude. (…) Pois a igualdade e a semelhança, sobretudo a semelhança na virtude, porque, sendo constantes em si mesmos, assim permanecem a respeito do outro.” (Ética a Nicómaco, VIII) Segundo Confúcio “um amigo” (友you) é uma pessoa que partilha as mesmas aspirações morais. Devemo-nos comparar com outras pessoas em geral para avaliar o nosso progresso moral, mas o convívio virtuoso proporcionado por um amigo produz um poderoso impulso para um maior desenvolvimento moral e uma importante sensação de solidariedade, também como consolo, durante o árduo processo do cultivo de si. 11. Zigong (子貢), nome de cortesia de Duanmu Ci (端木賜) era um distinto estadista e mercador, tão apreciado como criticado por Confúcio. Se, por um lado, originário de uma família rica, Zizong possuía uma esmerada educação e era extremamente eloquente; por outro lado, denotava um grande amor ao dinheiro e pouco se preocupava com a situação dos outros. Confúcio regularmente lhe chama a atenção para a discrepância entre as suas palavras e os seus actos. No entanto, os comentadores consideram-no o segundo favorito, depois de Yan Hui. Para Zhu Xi, são os governantes que, atraídos pelo poder da virtude do Mestre, o procuram para discutir problemas de governação. Em todo o caso, a questão é que Confúcio “procura em si mesmo, não nos outros”, ou seja, “o sábio procura por meio da sua virtude, ao contrário das pessoas comuns que procuram as coisas com a mente”. Enquanto as pessoas comuns perseguem consciente e deliberadamente objectivos externos, o sábio concentra a sua atenção na sua própria virtude interior e permite que as coisas externas cheguem a ele naturalmente. Confúcio não se intromete activamente ou procura informação, mas é tão perfeito na sua virtude que tudo lhe chega sem que ele precise de agir. 12. Três anos é o período de luto pelo pai. Como Kong Anguo 孔安國 (156-74 a.E.C.) explica: “Quando o seu pai ainda está vivo, o filho não é capaz de agir como quer [porque tem de obedecer às ordens do pai, pelo que só se pode observar as suas intenções como meio de julgar o seu carácter. Só quando o seu pai tiver falecido, é que o filho pode aprender sobre o seu carácter através das suas próprias acções. Enquanto o filho filial estiver de luto, a sua tristeza e saudade são tais que é como se o pai ainda estivesse presente, e é por isso que ele não altera os caminhos de seu pai”. Yin Tun 尹焞 (1071–1142) esclarece: “Se os caminhos do seu pai estiverem de acordo com a Via, é perfeitamente aceitável que passe a sua vida inteira sem os mudar. Mas se não estão de acordo com a Via, porque há-de ele esperar três anos para os mudar? Mesmo neste último caso, o filho filial passa três anos sem fazer quaisquer alterações porque o seu coração está bloqueado por uma certa relutância”. 13. O respeito pelas regras na prática dos ritos, que finalmente perpassam praticamente todos os comportamentos sociais, assegura não apenas a harmonia mas a manutenção da posição social de cada sujeito e da ordem estabelecida. Através da observância das regras rituais, cada um sabe como manter um comportamento adequado. Se cada um mantiver um comportamento adequado, atinge-se a harmonia. É importante notar que aqui não se refere apenas os rituais propriamente ditos, como os sacrifícios, por exemplo, mas a ritualização de todos os comportamento, em todas as situações. 14. Mêncio diz: “O governante nem sempre é necessariamente fiel à sua palavra, porque só está preocupado com a rectidão.” Portanto, estabelece-se que se pode faltar à palavra dada se isso for necessário para implementar a justiça ou a benevolência. Uma historieta exemplifica esta situação, embora de modo leviano: Wei Sheng prometeu encontrar-se com uma rapariga debaixo de uma ponte. Infelizmente, houve uma grande tempestade no dia seguinte e a água do rio subiu desmesuradamente. A rapariga ficou em casa, mas Wei Sheng recusou-se obstinadamente a não cumprir a sua palavra e foi ao local do encontro onde morreu afogado. “Este é um exemplo de apego à palavra que não está de acordo com o que é adequado à situação. De facto, seria melhor não ter cumprido a sua palavra”, conclui o comentador. 15. O elogio da frugalidade, a desvalorização dos bens materiais e a crítica da ostentação, bem como a qualidade das companhias escolhidas e a acção eficaz perpassam neste ponto, que complementa as afirmações iniciais deste livro. Ao concluir que tal ser humano demonstra um verdadeiro amor pelo estudo, Confúcio sublinha a prioridade da ética e da eficácia sobre a mera aquisição de conhecimentos. Estudar, em si mesmo, não chega. É preciso saber como e quando aplicar os conhecimentos adquiridos. De algum modo, poder-se-á dizer que “estudar” significa aprender a aplicar os conhecimentos. 16. Zhu Xi comenta: “As pessoas comuns ficam atoladas na pobreza ou na riqueza, sem saberem como se comportarem em tais circunstâncias, conduzindo necessariamente a dois erros: obsequiosidade ou arrogância. Uma pessoa que é capaz de se libertar de ambas sabe como se comportar, mas ainda não atingiu o ponto de transcender completamente a pobreza e a riqueza… Quando uma pessoa é alegre, relaxa a sua mente e o seu corpo, esquecendo a pobreza; quando gosta dos ritos, está em paz onde quer que vá e segue os princípios de uma forma alegre e bem-humorada, não querendo saber da riqueza. Zigong era um homem de negócios, provavelmente começou pobre e depois tornou-se rico, e por isso teve de se esforçar para se controlar. É por isso que ele faz esta pergunta em particular. A resposta do Mestre foi provavelmente destinada a reconhecer o que Zigong já tinha conseguido e ao mesmo tempo encorajá-lo a continuar a lutar pelo que ainda não tinha alcançado.” Mais do que afirmar o valor intrínseco de alguém, independentemente da sua situação financeira, como pretendia Zigong, Confúcio sublinha a importância da prática, no caso do rico ou do pobre. Este poderá retirar satisfação da Via, enquanto o outro deverá, apesar da sua riqueza, cumprir os procedimentos rituais se quiser tornar-se numa pessoa exemplar. 17. Esta sentença final do primeiro capítulo realça a primazia do conhecimento sobre o reconhecimento social, da sabedoria sobre a vaidade pessoal ou mesmo a aquisição de poder político, pois os alunos de Confúcio, a quem se destina, procuravam geralmente cargos públicos onde poderiam aplicar a doutrina do Mestre e, concomitantemente, alcançar um estatuto social superior. Mas o que convém sublinhar é a alteração que, a partir de Confúcio, se processa no próprio conceito de 學 (xue). De facto, em língua portuguesa a palavra “estudar” não abrange o significado que os Analectos lhe dão, pois não se trata apenas de uma mera aquisição de conhecimentos nem da disposição interior de um sujeito que se compraz com meros acrescentos de saberes e de sentidos. O caracter 學 (xue), na sua origem, representaria um salão de tiro ao arco, onde a aristocracia Zhou estudava e aprendia essa arte. Daí terá adquirido um sentido mais geral, passando a designar todo o tipo de estudo ou educação, eivado de um conteúdo cerimonial e religioso. O confucionismo, mantendo o seu sentido de aquisição de conhecimentos, elevou 學 (xue) à dignidade de um aperfeiçoamento moral e, ao mesmo tempo, de uma realização pessoal, na medida em que o define como o caminho para o cultivo de si e consequente recuperação da natureza original e única de cada indivíduo.
Hoje Macau SociedadeUPM | Artigo científico publicado em reputada revista académica A equipa de Liu Huanxiang, professora do Centro de Descoberta de Fármacos impulsionada por Inteligência Artificial da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Politécnica de Macau (UPM), acaba de ver publicado um artigo científico numa importante revista científica da área da biologia matemática e computacional, a “Briefings in Bioinformatics”. O artigo em questão, intitula-se “Predicting molecular properties based on the interpretable graph neural network with multistep focus mechanism” e propõe “uma nova rede neural de gráficos para a predição de propriedades moleculares” nos medicamentos. A UPM explica que, no processo de fabrico de novos fármacos, procede-se a uma “optimização gradual das diversas propriedades dos compostos” para garantir a sua segurança e eficácia, daí a importância da predição. “Nos últimos anos, as técnicas de aprendizagem têm sido aplicadas amplamente em áreas como a predição de propriedades moleculares e a geração de moléculas. No entanto, com os actuais métodos de previsão de propriedades moleculares baseados na aprendizagem aprofundada, a maioria dos modelos são como caixas pretas, que não podem fornecer orientações claras para o design de medicamentos e a optimização molecular.” Este artigo, veio mostrar, com base “num grande número de resultados experimentais em oito conjuntos de benchmarks”, que o modelo IFGN “tem um melhor desempenho de previsão em tarefas de classificação e tarefas de regressão”. Provou-se ainda que esse modelo “pode identificar com sucesso, em moléculas, os nós-chave que estão intimamente relacionadas com as propriedades previstas, aumentando assim a interpretabilidade do modelo”.
João Santos Filipe Manchete SociedadeEstudo | Trabalhadoras não residentes em risco de vício de jogo Mais de 1.200 trabalhadoras das filipinas viveram “situações propensas a criar um trauma” devido a condições precárias de trabalho, longos períodos de separação da família e dificuldades de sustento As condições das trabalhadoras não residentes em Macau fazem com estejam mais vulneráveis a desenvolverem comportamentos de vício e a experimentarem stress pós-traumático. A conclusão faz parte de um estudo elaborado por vários académicos, entre os quais Mou Ngai Lam e Brian Hall, da Universidade de Macau, com o título “A ligação entre Sintomas de Doenças Pós-traumáticas e Comportamentos de Vício em Macau entre uma Amostra de Trabalhadoras Migrantes Filipinas”, publicado na Revista Europeia de Psicotraumatalogia. “As conclusões deste estudo sublinham a vulnerabilidade das trabalhadoras migrantes a experiências de stress pós-traumático e comportamentos de vício. Estas trabalhadoras correm o risco de serem expostos a episódios potencialmente traumatizantes antes, durante e depois da migração” é explicado. “As situações comuns de stress incluem as condições precárias de trabalho, os longos períodos de separação da família e as dificuldades de sustento”, é justificado. O estudo teve por base uma amostra de 1.200 trabalhadoras domésticas com nacionalidade filipina em Macau, com pelo menos 18 anos, e a trabalhar legalmente. Contudo, numa primeira fase, os académicos abordaram, através de inquéritos, cerca de 1.375 trabalhadoras, e concluíram que mais de 90 por cento, ou seja 1.238, tinham estado expostas a situações propensas a criar traumas. Nem todas estas trabalhadoras foram consideradas para a amostra final. Jogo e bebida Entre os comportamentos de vícios analisados, o estudo focou principalmente o jogo e o consumo de bebidas alcoólicas. Em relação à ligação entre o jogo e o stress pós-traumático, os investigadores concluíram que esta actividade é utilizada para “escapar” às emoções negativas criadas pela experiência traumática. Com um impacto semelhante, a investigação conclui que quanto mais emoções negativas as trabalhadoras experimentam, mais tendem a consumir álcool, o que também sugere que este comportamento de vício é uma forma de “aliviar o stress”. Este não é o primeiro trabalho que associa a comunidade filipina a problemas de saúde e sociais devido às condições que encontram no território. Em 2019, o estudo “Vida profissional, relações e determinantes para a política de saúde e bem-estar entre os trabalhadores Filipinos na China”, que também contou com a participação de Brian Hall, tinha chegado à conclusão que os não residentes das Filipinas “experimentaram desafios de saúde físicos e mentais extremamente graves”. A privação de sono, hipertensão, diabetes, atrites, alergias na pele, constipações e febres, assim como o stress, o vício do jogo e do álcool, foram alguns dos problemas apontados anteriormente.
João Santos Filipe Manchete SociedadeColoane | José Tavares promete “combater” carros abandonados Há cada vez mais carros a serem abandonados nos estacionamentos e nas estradas de Coloane. Este é um problema já resolvido no passado, mas que o presidente do IAM reconhece estar de volta O presidente do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), José Tavares, admitiu que o problema dos carros abandonados se voltou a agravar e que é preciso tomar novas medidas. O assunto foi abordado durante a reunião do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários das Ilhas, que decorreu na quarta-feira, após queixas dos moradores da zona. Durante o encontro, José Tavares reconheceu que este é um problema antigo, que tinha deixado de acontecer, mas que está de volta às Ilhas, principalmente a Coloane. “Infelizmente este problema voltou a aparecer. Espero que os nossos colegas da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego tomem nota da ocorrência para que o problema não se torne ainda mais grave”, afirmou o presidente do IAM. Tavares indicou que os terrenos à volta da entrada do Bairro das Missões e o parque de estacionamento gratuito perto do Kartódromo de Coloane concentram um grande número de carros abandonados. “Acredito que vamos ter de visitar os locais para ver se há necessidade de fazer uma operação de remoção de veículos” adiantou. O responsável do IAM explicou que os abandonos não se limitam apenas aos terrenos e ao estacionamento. Segundo o governante, a natureza montanhosa de Coloane também faz com que os proprietários encarem aquelas estradas como um bom local para abandonar os veículos. Mudanças no teleférico José Tavares abordou também a manutenção do teleférico da Guia. No ano passado ficaram concluídos os trabalhos para substituir um dos cabos do equipamento. Agora, os lugares dos teleféricos estão a ser substituídos após 20 anos de utilização. José Tavares prevê que tudo fique terminado no próximo mês de Abril. E embora não tenha avançado com um preço para a manutenção, o responsável considerou que “não deve ser muito caro”. Até quarta-feira, a substituição dos lugares tinha sido feita em dois dos nove teleféricos daquele que é um dos equipamentos mais icónicos do território. Por último, Tavares abordou a situação do incêndio de Janeiro no Fai Chi Kei, que afectou 19 bancas de venda. Segundo o responsável do IAM, as obras de recuperação devem ficar concluídas até ao final do mês e os comerciantes poderão nessa altura voltar a ocupar os lugares de venda.
Hoje Macau SociedadeTurismo | Influenciadores digitais tailandeses visitam Macau A Direcção dos Serviços de Turismo (DST) convidou um grupo de 20 influenciadores digitais da Tailândia e jornalistas para mostrar o que de melhor Macau tem para oferecer na área do turismo. A visita teve início na segunda-feira e terminou ontem, sendo que entre os próximos dias 13 e 16 haverá uma nova visita, mas, desta vez, com mais de 20 operadores turísticos do país do sudeste asiático. Segundo um comunicado, o Governo pretende, com estas iniciativas, “atrair os visitantes tailandeses a escolherem Macau para viajar, diversificar o mercado de visitantes e promover a recuperação do turismo e da economia”. O grupo incluiu cinco influenciadores digitais de viagens e de gastronomia, bem como apresentadores de quatro grandes canais de televisão. A delegação visitou os principais monumentos do território e resorts, incluindo locais como o Museu do Grande Prémio de Macau, a MinM Plaza, o Museu Marítimo, a Torre de Macau e a Doca dos Pescadores. Houve ainda tempo para explorar os melhores pratos oferecidos aos turistas, tendo em conta que Macau é uma Cidade Criativa da Gastronomia da UNESCO. Os influenciadores e apresentadores de televisão convidados pelo Governo têm 30 milhões de seguidores nos seus perfis nas redes sociais, esperando-se, assim, da parte da DST, que os turistas tailandeses tenham mais interesse em visitar a RAEM. Antes da pandemia, a Tailândia constituía o décimo maior mercado de visitantes para Macau, sendo que, em 2019, o território recebeu mais de 150 mil turistas. “Com a retoma gradual dos voos entre Macau e a Tailândia, a DST aproveita a oportunidade para reforçar a promoção através de diferentes meios”, aponta ainda a mesma nota.