Hoje Macau Manchete PolíticaMarcelo elogia “a diferença de Macau” e já fala na “próxima visita” talvez em Dezembro [dropcap]O[/dropcap] Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, elogiou hoje “a diferença de Macau”, último ponto da sua visita de Estado à República Popular da China, e já fala na “próxima visita” ao território, possivelmente em Dezembro. O chefe de Estado, que chegou na terça-feira à noite à Região Administrativa Especial de Macau, onde estará menos de 24 horas, começou o dia na Santa Casa da Misericórdia, e aí deixou a promessa de visitar “todas” as outras instituições macaenses “na próxima visita”. Durante um passeio a pé pelo centro histórico até às Ruínas de São Paulo, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que o Presidente chinês, Xi Jinping, “vem cá em Dezembro”, para as celebrações dos 20 anos da transição da administração do território de Portugal para a China, e adiantou: “Provavelmente eu também virei, veremos”. “Dezembro pode ser um bom pretexto, por causa dos 20 anos. É evidente que a própria República Popular da China entende como naturalíssimo que Portugal esteja representado ao mais alto nível na celebração dos 20 anos, foi assim que aconteceu há 20 anos, é assim que acontece agora”, acrescentou, mais à frente. Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, “isso depende do que for ajustado com o Governo português”. Ao longo deste percurso, o Presidente português elogiou diversas vezes “a diferença de Macau”, onde não vinha há 31 anos, e disse ter falado desse tema com Xi Jinping. “Ele falava nisso mesmo, e falávamos nisso mesmo: o que faz a diferença é o que dá valor, e Macau é diferente”. “Quando se é igual a tudo o resto, o que é maior esmaga o que é mais pequeno. E a diferença significa o quê? Um cruzamento de culturas, de línguas, de tradições, de usos, de gastronomia, é essa a riqueza de Macau, e por isso aqui vem tanta gente e admira essa diferença de Macau, que tem de continuar, na presença da língua portuguesa, na presença dos nomes de ruas portugueses, no património construído, nos hábitos, na gastronomia, em tanta coisa que faz a diferença de Macau”, defendeu. Marcelo Rebelo de Sousa, que como professor de direito deu aulas em Macau nos anos 80, notou as diferenças no território: “Está maior, tem mais património construído, tem mais turismo, muito mais turismo, tem um turismo diferente”. No histórico, porém, reencontrou “aquilo que tinha encontrado há 31 anos”. Junto às Ruínas de São Paulo, um dos monumentos mais emblemáticos de Macau, a comunicação social local perguntou-lhe o que vai resultar desta curta passagem pela região. “Vai resultar mais visitas. Quer dizer, eu não tenciono vir aqui despedir-me de Macau. Eu venho aqui para dizer a Macau até logo”, respondeu Marcelo Rebelo de Sousa. O secretário para os Assuntos Sociais e Cultura de Macau, Alexis Tam, que estava ao seu lado, afirmou que para o seu Governo “é uma honra que o senhor Presidente volte muito em breve”. “Para além do próprio convite, que me honra muito, é irresistível voltar a Macau várias vezes”, respondeu o Presidente português, acrescentando: “Macau está sempre no meu coração”.
Hoje Macau China / ÁsiaGuterres discutiu com Xi Jinping direitos humanos da minoria muçulmana [dropcap]O[/dropcap] secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, discutiu com o Presidente chinês a questão dos direitos humanos em Xinjiang, onde se calcula que um milhão de muçulmanos estejam detidos indefinidamente em campos de reeducação, informou a ONU. Pela primeira vez, o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, confirmou na segunda-feira que Guterres discutiu “a situação em Xinjiang”, com o Presidente da China, Xi Jinping, acrescentando que já houve ” vários outros contactos no passado recente sobre esta mesma questão”, junto das autoridades chinesas. Dujarric apelidou as discussões de Guterres com Xi de “muito cordiais” e “francas”, durante o fórum “Uma Faixa, Uma Rota”, no final desta semana, em Pequim, que se realizou entre 25 e 27 de Abril e que contou com a presença de líderes de 37 países e regiões, incluindo o Presidente da República português. Este anúncio vem na sequência de várias críticas de organizações não-governamentais, entre as quais da Human Rights Watch (HRW), que exortou o secretário-geral das Nações Unidas a denunciar publicamente, em Pequim, a detenção arbitrária de um milhão de muçulmanos. As autoridades chinesas negaram durante muito tempo a existência de campos de internamento, mas, perante a publicação de imagens de satélite e de documentos oficiais na Internet que denunciavam a sua existência, referiram-se a centros educativos que ensinavam a língua chinesa, o desporto ou a dança folclórica para combater o extremismo religioso. Numa carta aberta ao líder da ONU divulgada na semana passada, a Human Rights Watch lamentou o “silêncio” de Guterres sobre a “deterioração dos direitos humanos em Xinjiang, onde uigures e outros muçulmanos turcófonos estão detidos indefinidamente em campos de educação”. “A posição do secretário-geral sobre este tema sempre foi a mesma em privado e público”, balizando esta questão em princípios indivisíveis, como os direitos humanos que devem ser plenamente respeitados na luta contra o terrorismo e na prevenção do extremismo violento e que cada comunidade deve sentir que a sua identidade é respeitada, explicou o porta-voz da ONU. Segundo Dujarric, Guterres declarou às autoridades chinesas que “apoia totalmente as iniciativas” da alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, que tem vindo a pedir a Pequim acesso total à região de Xinjiang para avaliação da situação dos muçulmanos de origem uigur detidos em campos de reeducação. Em Setembro de 2018, Bachelet pediu autorização a Pequim para o envio de uma equipa à região ocidental do país, mas ainda não obteve resposta, sendo que no início de Março voltou a fazer o pedido.
Hoje Macau China / ÁsiaImperador Akihito abdica e deseja “paz e felicidade” para o Japão e o mundo [dropcap]O[/dropcap] imperador Akihito anunciou hoje a sua abdicação, agradeceu ao povo japonês e desejou que a era do seu filho, que na quarta-feira lhe sucede, traga “paz e felicidade” ao Japão e ao mundo. Akihito encerrou hoje as cerimónias de abdicação, após 30 anos de reinado no trono de Crisântemo, que será ocupado agora pelo seu filho mais velho, o príncipe herdeiro Naruhito. Esta foi a primeira abdicação do trono de Crisântemo no Japão em mais de dois séculos. O imperador Akihito disse hoje que se sente “com sorte” por ter cumprido as suas funções “com um profundo sentimento de confiança e respeito para o povo”, nas suas últimas palavras pronunciadas durante a cerimónia de abdicação. “Hoje concluo os meus deveres como imperador”, declarou o imperador do Japão no início de seu breve discurso durante a cerimónia, realizada no Palácio Imperial, em Tóquio, diante de 294 participantes, incluindo representantes da família real e dos três ramos do Governo japonês. Depois de agradecer as palavras do primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, que o precedeu na cerimónia, também agradeceu ao povo japonês “por apoiá-lo e aceitá-lo em seu papel de símbolo do Estado”. Akihito, de 85 anos, dirigiu-se ao público na cerimónia de abdicação, que durou pouco mais de dez minutos e foi realizada no Salão Pino, a maior sala do Palácio Imperial de Tóquio. Antes dos discursos, os camareiros imperiais apresentaram dois dos três tesouros sagrados que Akihito guardou durante as suas três décadas no trono e que simbolizam o poder do cargo, além dos selos imperiais usados para assinar os documentos oficiais. O acto terminou com Akihito a abandonar o salão, acompanhado pelos camareiros que carregavam os baús com os tesouros sagrados, seguido pela imperatriz Michiko e os demais membros adultos da família imperial. De acordo com o protocolo imperial japonês, o imperador Akihito continuará no cargo até à meia-noite de hoje e a proclamação de seu filho mais velho e príncipe herdeiro Naruhito terá lugar na quarta-feira. Akihito anunciou em Agosto de 2016 que a sua idade e problemas de saúde o impediam de cumprir plenamente os seus deveres como imperador. Após esse anúncio na televisão, aconteceram uma série de decisões políticas para a sua abdicação, possibilidade que não estava contemplada no quadro legal então em vigor, até que uma lei específica foi aprovada nesse sentido. O primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, anunciou hoje formalmente a abdicação do imperador Akihito e sublinhou a era de paz que o país tem experimentado nestas três décadas. Shinzo Abe falou em nome do povo japonês no ato de abdicação de Akihito. “O imperador, de acordo com a lei imperial especial, abdica hoje”, disse Abe na cerimónia. Na sua mensagem, o primeiro-ministro sublinhou ainda que Akihito “sempre quis a paz da nação e a felicidade do povo japonês”. O chefe do Governo japonês lembrou o papel desempenhado pelo imperador Akihito e pela imperatriz Michiko para consolar os japoneses pelos desastres naturais que o país sofreu nos últimos trinta anos. O príncipe herdeiro Naruhito subirá ao trono de crisântemo na quarta-feira e, numa cerimónia separada, herdará o privilégio imperial da espada e da joia, bem como os selos imperiais como prova da sua sucessão como o 126.º imperador do Japão.
João Santos Filipe Manchete PolíticaLionel Leong | Ho Iat Seng reúne as condições para ser Chefe do Executivo [dropcap]O[/dropcap] secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, considerou que Ho Iat Seng reúne todas as condições para ser o futuro Chefe do Executivo e, embora não tenha sido totalmente claro, pareceu indicar ter atirado a toalha ao chão. Em declarações, citadas pelo portal All About Macau, à margem de uma cerimónia organizada pela Federação das Associações dos Operários de Macau, Leong apontou que Ho tem os quatro requisitos necessários para o líder do Governo: é patriota, ama Macau, tem a confiança do Governo Central e mostra capacidade governativa. Lionel Leong era tido como o possível adversário de Ho Iat Seng na corrida a Chefe do Executivo, mas sublinhou que pretende desempenhar o seu mandato até ao final, ou seja Dezembro deste ano. Caso pretendesse concorrer a líder da RAEM, Lionel Leong teria de se demitir das funções actuais. Porém, o secretário limitou-se a dizer que está focado em desempenhar bem as suas funções para assegurar uma transição suave e em boas condições para o futuro Governo.
Hoje Macau China / ÁsiaAusência de Bloco e PAN “é um sinal da liberdade que existe em Portugal”, diz Marcelo Por Inês Escobar de Lima, enviada da agência Lusa [dropcap]O[/dropcap] Presidente da República considerou ontem que a ausência de Bloco de Esquerda e PAN na sua visita de Estado à República Popular da China “é um sinal da liberdade que existe em Portugal”. Em resposta à comunicação social, num hotel de Xangai, Marcelo Rebelo de Sousa referiu que “não é a primeira vez que isso acontece” e defendeu que “assim deve ser, a escolha deve ser livre”. Interrogado se não ficaria mais confortável se na China estivesse acompanhado por todos os partidos com representação parlamentar, respondeu: “Não, eu fico confortável com aqueles que vêm. Sabem, o povo português diz uma coisa: dança quem está na roda”. “Portanto, quem quer estar na roda, está na roda. Quem está na roda, dança. Quem não quer estar na roda, não dança daquela vez, dança da próxima”, completou. Bloco de Esquerda e PAN não quiseram integrar a delegação parlamentar que acompanha esta visita de Estado, opção que justificaram com a situação dos direitos humanos e das liberdades na China. Num período de declarações aos jornalistas, acabado de chegar a Xangai, vindo de Pequim, Marcelo Rebelo de Sousa foi questionado sobre a ausência desses dois partidos, se a considera um embaraço ou um sinal. “É um sinal da liberdade que existe em Portugal. Já não é a primeira vez que isso acontece”, retorquiu, acrescentando que houve outras visitas que esses partidos não integraram, “às vezes até por razões meramente de impossibilidade prática” “Mas, tem sucedido que não tenham vindo por considerarem que não faz sentido integrarem a delegação, por uma escolha livre. E assim deve ser, a escolha deve ser livre. Não se impõe a nenhum partido a integração da delegação nestas visitas de Estado”, defendeu. O Bloco de Esquerda não quis participar na visita de Estado do Presidente da República à China, devido às “restrições à liberdade e violação dos direitos humanos” neste país, justificou fonte oficial do partido, em resposta à agência Lusa. O PAN comunicou que o seu único deputado, André Silva, também não iria integrar a comitiva, “em coerência com as posições críticas” que tem assumido “em relação ao regime autoritário chinês, de partido único, onde são constantes as restrições à liberdade e a violação dos direitos humanos, num país onde não existe liberdade de imprensa”. Numa nota enviada à Lusa, o PAN invocou também a “invasão e a violenta ocupação do Tibete pela China, marcada pela repressão, prisão, desaparecimentos, tortura e assassinatos infligidos ao povo tibetano”. Acompanham o Presidente da República na sua visita de Estado à China os deputados Adão Silva, do PSD, Filipe Neto Brandão, do PS, Telmo Correia, do CDS-PP, o líder parlamentar do PCP, João Oliveira, e Heloísa Apolónia, do Partido Ecologista “Os Verdes”. Pela parte do Governo, integram a sua comitiva oficial os ministros dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes, e o secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias. Marcelo Rebelo de Sousa chegou a Pequim na sexta-feira, para participar na segunda edição do fórum “Faixa e Rota”, iniciativa chinesa de investimento em infra-estruturas, e ontem iniciou uma visita de Estado à China, que termina esta quarta-feira, em Macau.
Hoje Macau PolíticaLíderes chineses querem “dar mais força” ao Fórum Macau, diz Marcelo Por João Pimenta, da agência Lusa [dropcap]O[/dropcap] Presidente português disse hoje que a China quer fortalecer o Fórum Macau e admitiu participar nas celebrações dos 20 anos da transição da administração do território para a China, em Dezembro deste ano. “Há o objectivo de dar mais força ao Fórum Macau: isso foi muito sentido em todos os encontros, nomeadamente no encontro com a delegação liderada pelo Presidente [chinês], Xi Jinping”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa. O chefe de Estado português reuniu-se hoje com Xi e o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, no arranque de uma visita de Estado de quatro dias, que inclui ainda passagens por Xangai e Macau. A visita do Presidente da República ocorre no mesmo ano em que se celebra o 20.º aniversário da transição da administração de Macau de Portugal para a China. Xi Jinping deve participar das comemorações, que se realizam em Dezembro. “Há uma grande vontade de Portugal estar também presente”, afirmou Marcelo Rebelo de Sousa, não negando a possibilidade de voltar ao território por essa ocasião. “Veremos. Também poderá ser o primeiro-ministro, por exemplo”, ressalvou. Marcelo Rebelo de Sousa sublinhou ainda a vontade de Pequim em apostar na Comunidade de Países de Língua Portuguesa. “A aposta na CPLP e a aposta conjunta na CPLP: uma via pode e deve ser o fórum Macau, mas todas as vias são boas para apostar na CPLP”, disse.
Sérgio de Almeida Correia VozesPara que não continue em saco fundo Senhor Presidente da República, Estimado Prof. Dr. Marcelo Rebelo de Sousa, [dropcap]C[/dropcap]omo cidadãos, republicanos e democratas, que ambos somos, embora eu um pouco menos cristão por ser desconfiado, certamente que Vossa Excelência não me levará a mal que aproveite o facto de se deslocar a esta terra generosa e lendária, agora integrada numa pujante Região Administrativa Especial da R. P. da China, país amigo que há séculos aqui nos acolhe e com o qual nos temos entendido num relacionamento que, não sendo de concubinato, se afigura cordial, ora mais amistoso, ora mais interesseiro, mas pragmático e espiritualmente enriquecedor, como por aqui se repete à exaustão, para lhe dirigir estas linhas. Quero, contudo, antes de avançar com o que aqui me traz, manifestar-lhe a minha profunda satisfação pelo facto de entre os seus múltiplos afazeres ter conseguido encontrar umas horas, numa deslocação que sei por experiência ser fisicamente cansativa e desgastante, para passar pelo umbral da nossa porta. Estou-lhe agradecido. Seria, por isso mesmo, um desperdício se, por outro lado, não aproveitasse a presença e o natural empenho de Vossa Excelência em cumprir um mandato que do princípio ao fim faça jus à esperança que os portugueses em si depositaram, dando um sentido prático e útil às suas funções, para em meu nome, e tomando por minhas as dores de muitos com quem diariamente contacto no exercício da minha cidadania e da minha profissão – refúgios da minha condição humana e aos quais tenho recorrido, na modesta medida das minhas possibilidades –, para não ficar a dever aos meus aquilo que de mim seria legítimo esperarem por tanto me terem dado quando me confiaram a sua língua, a sua história, a sua cultura e as suas preocupações de gente comum. Não queira com isto Vossa Excelência pensar que, à boa maneira de alguns dos nossos compatriotas, alguns tão milionários, avaros e desavergonhados quanto Abril lhes permitiu para se darem hoje ares de donos dos regimes, em Lisboa e em Macau, passeando-se obesos entre vernissages e chamadas telefónicas de gestão de “cunhas”, “ agradecimentos” e “sugestões”, na gestão das suas relações familiares, empresariais e profissionais, em que por vezes mal se distinguem a ingenuidade da chico-espertice e da tentativa subreptícia de fraude, para lhe apresentar no dia de hoje um lençol de desgraças. Nada disso. Quero tão-só trazer até Vós, Senhor Presidente, meia-dúzia de preocupações que nos afligem, que não serão exclusivo dos expatriados de cá, e que embora difiram das que nos circunscreveriam, com todo o respeito, ao universo de uma Linda de Souza, me parecem fazer sentido, crendo eu que Vossa Excelência não lhes será insensível. Vossa Excelência teve o condão de restituir bom senso e humanismo ao Palácio de Belém, livrando-o do umbiguismo bafiento que o infestava, e só isto seria razão de sobra para que lho dissesse nesta hora. Relevando-se a aridez de encómios, no que sou em regra comedido por tão bem me julgar conhecer a natureza de que somos feitos (presunção minha), gostaria de desde já dizer que, se não de todas, pelo menos de algumas terá ouvido falar. Mas acontece que não tendo voltado a ter notícia de anteriores iniciativas transmitidas a um dos membros da sua comitiva que em tempos por aqui passou numa outra missão, entendi ser altura de renovar publicamente o alinhamento: 1. Passaportes: Numa decisão que teve tanto de infeliz como de compreensível pelo momento que se vivia, o Governo da República decidiu, em 2006, a pretexto da “implementação cabal de uma política de segurança de documentos de identidade e de viagem em consonância com as directrizes fixadas no âmbito da União Europeia e das organizações internacionais competentes”, alterar a legislação relativa à emissão de passaportes. Por via do consagrado (Decreto-Lei n.º 138/2006, de 26/07), os nacionais passaram a ser titulares de um documento de viagem moderno e seguro. O passaporte electrónico PEP de leitura óptica e por radiofrequência, cuja tecnologia viria a ser exportada para outros países, e que incorporou um chip com, entre outros, dados biográficos, imagem facial do titular e informação descritiva da emissão gravada a laser. O problema é que esse documento, para além de se ter tornado significativamente mais caro, o que apesar de tudo se percebe pela necessidade da sua modernização, passou também a ter um prazo de validade de apenas cinco anos, no que constituiu uma “golpada”. A quem tem um passaporte chinês, omitindo, é claro, a nacionalidade portuguesa às autoridades chinesas não causará grande transtorno. Em especial se for gente de elevado sentido patriótico (aqui são quase todos). O seu prazo de validade é manifestamente curto e causa grande transtorno aos cidadãos residentes no estrangeiro, atento o tempo normal que a burocracia normalmente leva a emitir esse documento fora do País. A validade que lhe é conferida, na prática representa um prazo inferior a quatro e meio, visto que muitos países não permitem a entrada com documentos de viagem cuja caducidade ocorra nos seis meses anteriores. Como em relação a alguns países é também necessário obter um visto de entrada, isso significa que, objectivamente, o prazo acaba por ser ainda mais curto. Pior quando podendo-se obter um visto válido por dois ou mais anos (RPC), se é obrigado a solicitar um de apenas um ano porque no segundo ano iria cair nos últimos seis meses de validade do documento. Igualmente com custos acrescidos. A isto soma-se o outro aspecto acima referido que se prende com o tempo normal de emissão de um passaporte num dos muitos consulados, incluindo Macau (e não é por culpa do Dr. Paulo Cunha-Alves, como não era do esforçado Dr. Vítor Sereno), e que pode chegar a ascender a vários meses, período durante o qual uma pessoa se vê impedida de viajar. Salvo se pelo meio lhe “oferecerem” um passaporte de outro país. Também os há. Acresce que em muitos países os emigrantes também não têm os consulados à porta de casa. Os transtornos e despesas provocados pela emissão desse documento passaram a ser mais frequentes, sem que daí advenha outro benefício ao Estado que não seja a maior sobrecarga dos já de si deficientes serviços que presta, e um, não menos despiciendo na perspectiva das finanças públicas, acréscimo de receita. Seria importante que o Governo português, agora que voltou a ter alguma margem para pensar fora da “Geringonça” e antes das eleições legislativas, voltasse a este problema. E que se procurasse alargar o prazo de validade dos passaportes nacionais, se não for para os antigos dez anos, pelo menos para um período não inferior a oito, de maneira a minorar o transtorno que provoca o curto prazo de validade dos actuais. E ainda que isso representasse um custo proporcionalmente acrescido pela emissão por um prazo mais longo – para não prejudicar as contas do ministro Centeno –, o qual seria sempre menor do que aquele que é hoje provocado aos seus titulares residentes no estrangeiro. 2. Mais-Valias: Outro problema que aflige muitos dos nossos concidadãos prende-se com a forma desconsiderada como somos tratados pelo fisco português em matéria de mais-valias. Não sei se Vossa Excelência sabe que sendo nós residentes no estrangeiro acabamos por ser tratados pior do que se fôssemos reformados de luxo na Quinta do Lago. Imagine o caso de um casal, obrigado a mudar de vida e que saiu de Portugal para sobreviver e construir um futuro menos áspero do que o passado que lhes reservara. Estavam a pagar um apartamentozito T2 em Massamá quando emigraram. Graças ao seu trabalho conseguiram saldar as contas com o Banco ao fim de 5 anos. Entretanto, nascem dois filhos e o T2 no regresso será manifestamente insuficiente para a todos acomodar. Resolvem vendê-lo na esperança de reinvestirem as mais-valias na aquisição de um T4 com vista de mar para amenizar os seus dias de reforma. E o que lhes sucede? Não podem reinvestir e são tributados a 100% porque perderam a residência fiscal em Portugal. Como se fossem os directores reformados do banco francês ou alemão que se mudaram para Vale do Lobo graças à generosidade da CGD, S.A.. A tal que é de todos e agora usa as altas comissões que nos cobra pela manutenção das nossas contas bancárias e para guardar as nossas parcas transferências para honrar o espírito cristão e venturoso desse génio da gestão que é o Dr. Paulo Macedo. A sua visão também por aqui se vai fazendo sentir na pele do vetusto BNU, SA, que o meu saudoso amigo J.M. Braz-Gomes ajudou a erguer e prestigiar. Não penso sequer em ver melhorar as taxas de juros da banca nacional para os não-residentes sentirem um estímulo à poupança e transferência divisas para a pátria, mas alguma coisa deve poder ser feita. Que diabo, não somos titulares de golden visas, nem nos podemos dar ao luxo de ir ver o João Félix de 15 em 15 dias. 3. Língua Portuguesa nos Tribunais: Sei que este é um assunto que continua a ser acompanhado e em relação ao qual não poderá haver o mínimo descanso. Como professor de direito e constitucionalista, imagine o que é num processo judicial em que os advogados são já velhotes, nunca aprenderam chinês, o que jamais foi impeditivo do rigoroso exercício da profissão e da reconhecida utilidade pública dos seus serviços, com os articulados todos processados em português, começarem a receber despachos e sentenças de dezenas de páginas apenas com caracteres chineses e sem que os prazos parem para obtenção de traduções? Ninguém quer que os senhores juízes chineses se exprimam em português, não sendo essa a sua vontade. Mas não será possível essas decisões serem notificadas aos interessados – advogados e partes – numa língua oficial que dominem? Sei, por experiência, que alguns senhores magistrados do MP já o fazem, por vontade própria, no que só temos que agradecer-lhes a compreensão. Não haverá hipótese de sensibilizar os senhores juízes, que aliás só o foram por serem bilingues, para que se predisponham a determinar a notificação das decisões que proferem depois de traduzidas pela secretaria? Numa terra cheia de talentos (osgas há menos), e que ainda este ano ocupará o primeiro lugar PIB/per capita do mundo, não seria possível assegurar até 2049 o cumprimento integral da Declaração Conjunta Luso-Chinesa? É que o Presidente Xi Jinping é capaz de ser mais sensível a isto do que alguns dos nossos amigos locais. 4. Acordo Ortográfico: Por aqui o Acordo Ortográfico de 1990 continua a não ser usado. A começar pelo Boletim Oficial. Porém, a Escola Portuguesa segue-o. O Rui Rocha também, mas este sabe porquê. Pensa, e eu não o critico. E a juntar às dificuldades naturais do ensino e aprendizagem da língua temos a confusão instalada. Agora que já se viu que a Guiné-Equatorial nunca irá aprender português, porque a gramática se besuntou de petróleo, e que a Câmara dos Deputados do Brasil aprovou há dias um requerimento para discutir a sua revogação, não seria de elementar bom senso nos deixarmos de aventuras e pararmos um pouco para pensar antes de darmos cabo do que ainda resta de compreensível no nosso idioma? O Madurismo também acabará como o Muro de Berlim. 5. Consulado Geral: Não é tema novo. Importa, contudo, sempre a ele regressar. As condições em que nessa nossa casa se trabalha, e o que dela se retira é tanto motivo para nos sentirmos gratos pelo esforço dos nossos compatriotas que lá laboram como para nos envergonharmos pelas condições que lhes são oferecidas numa terra em que o custo de vida, basicamente alojamento e alimentação, são dos mais altos do mundo. O trabalho começado pelo anterior titular do posto, continuado hoje pelo sucessor, é notável. Todavia, como Vossa Excelência bem sabe, já lá vai o tempo em que os franciscanos milagravam. Agora limitam-se a atestar o depósito do carro para irem comer umas iscas a Évora e a darem uma mãozinha a uma Misericórdia ou a uma associação mutualista. Frutos da qualificação trazida a Portugal pela UE. Politiquices, digo eu. Vou ficar-me por aqui. Não quero abusar da vossa generosidade. Já são muitas coisas para pensar e eu não quero que V. Exa. saia de Macau de relações esfriadas com o Dr. Augusto Santos Silva. Ou que atire o jornal como o outro atirou a garrafa de água vazia durante a entrevista. Já bastam os nossos compatriotas que por aqui se incompatibilizam por questões de lana-caprina à volta dos bilhares ou das fotografias retocadas. Ou que amuam por causa da advocacia para pobres e menos ricos que alguns ainda praticam na esperança de que o reino dos Céus consiga acomodar os que pelo caminho não se perderem num lupanar qualquer entre as colunas de um templo da Praia Grande. Ou, quem sabe, oxalá que não, afogados no meio das acções tóxicas de uns tipos dos casinos. Desejo-lhe uma boa estada e um final de viagem proveitoso. Os seus sucessos serão os nossos. Um regresso sereno. Que a República não lhe pese no sono como a outros lhes pesaram os quadros. E, ainda pesam, as patacas e a fiscalização da Declaração Conjunta Luso-Chinesa. Descanse quanto possa para melhor pensar. Leia Pessanha, caso insone. A Órphão, o arquivo das confissões do Bernardo Vasques. Jornais locais se for a tempo. O IPOR que lhe envie o livro do Luís Melo. Ainda deve ter verba para isso. Irá gostar. E ande de olhos bem abertos. Em especial, tenha cuidado com as “selfies” na Residência Consular. Porque há por aí muitos pelintras, de nacionalidade duvidosa, que não se ensaiarão nada em se pendurarem no pescoço de Vossa Excelência na esperança de amealharem mais uns cobres com a sua generosidade fotogénica para abrilhantarem os investimentos que fazem com o dinheiro dos outros. Tal como tentaram com o Senhor Primeiro-Ministro e quiseram repetir, sem sucesso, com o Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros. Eu espero poder vê-lo. Ainda que ao longe, por causa do protocolo, dos penetras que empurram e da segurança. E prometo que ficarei mais silencioso do que nas reuniões do Conselho Pedagógico da FDL. Ou na nossa festa de finalistas. O que tinha a dizer-lhe, Senhor Presidente, fica aqui. Continuo a não saber falar destas coisas às escondidas e não sou de segredar nas sacristias. Para que o que interessa não corra o risco de se perder entre o sucesso dos papéis dos novos Albuquerques que correm airosos atrás das linhas de crédito da “Grande Baía das Faixas e das Rotas”. Além de que escuso depois de ter de andar a esclarecer por sms, um por um a cada um dos nossos compatriotas, se lhe transmiti as mensagens que me pediram. Com a admiração e o respeito de sempre, queira aceitar, Senhor Presidente, não os triviais e formais cumprimentos e protestos; antes um abraço grato e fraterno, ainda frio da água do Guincho Norte, a única que nestas paragens, a nós, Cascalenses moçambicanos, nos consegue proteger os neurónios da humidade, dos cifrões, da piroseira dos neónes e do ardor que nos provocam os autocarros poluentes a abarrotar. E que nos garante a lucidez da mente e a saúde dos olhos. Para olharmos para os olhos dos outros. Mesmo quando estes na sua pureza lacrimejam. Para os olhos dos que não lhe escrevem mas gostariam de poder fazê-lo, não sabem tirar “selfies” e ainda sonham com o dia em que comerão um arroz doce com muita canela e vista para o Tejo. Apenas confiando na bondade humana. Sem sentirem que lhes estão a ir ao bolso. Em nome da Pátria. Num Primeiro de Maio. Do cidadão, Sérgio de Almeida Correia Macau, 28 de Abril de 2019
Amélia Vieira h | Artes, Letras e IdeiasA antologia do esquecimento [dropcap]M[/dropcap]omento existe na vida dos poetas em que desejam ser antologiadores, o que se compreende muito bem dado o conhecimento da matéria e as vastas horas dos dias debruçados na leitura da causa. Mas alguns que da poesia têm quanto muito uma analogia com o fado, anunciando-se com vários graus de entendimento por designado interesse na expressão, não raro o desejam também, sendo por isso mesmo que há antologias para todos os gostos, que é sempre o tal gosto de gostar de muita coisa e de procurar entender o que corre nos veios delas. Há mesmo antologiadores que em parceria com outros se obrigam, reunidos, em fazer parte do conjunto do seu antologiado. Defendem um princípio de natureza barroca e cada espaço vazio é dado como fórmula desconhecida, se insurgindo então sempre e com mais matéria do que a noção poetizante pode supor ou suportar. Daí que, se todo o cuidado é pouco em juntar, mais cuidado teremos de ter em subtrair. Nas antologias escatológicas existe então um consenso total, uma irreprimível vontade que subjaz à força de uma subversão qualquer e nivela todo o dejecto em causa comum, partilhada, e de todos bem-dita. O que cobre a vasta gama do sermão, entre as virilhas do verbo e o desmando da aleivosia de cada um, é a audácia, que tende para a norma vassala que é o engordar do dislate soberano. Uma grande esteira climatérica, os chamados «Jardins de Inverno», se adensa por entre a floresta tropical dos ensejos onde o léxico coloquial reverbera, e onde as capas das antologias começam por ser duras, para logo afrouxarem lá para as edições seguintes. Sejamos então um pouco mais claros – quem Antologia quem? Geralmente os do mesmo género literário, pois que devem unir assim as peças soltas e separar da curiosidade o destino que lhes é inerente e todo o impulso para a amálgama não será benéfico na expressão que um género traz. Após as reformas e as lutas laborais, metem-se então alguns pelas páginas, adentrando-se numa malha prolífica de “poetas” mas aqui, como em tudo, é preciso começar cedo, estar presente, pois a centelha só brilha em cada um na proporção de um estranho abandono. Quando os não obreiros se manifestam costumam dar nós cegos e estranguladores na linguagem, a pandemia do ofendido empurra para o lixo o próprio termo poético. O talento dos outros começa a ser, não raro, uma arritmia, e se em ousada abnegação de sinais se sabe inquestionável, não sabe contudo o porquê de quererem ocupar um lugar tão difícil quanto o seu. Cuidando dos afetos de proximidade matamos a lira das nossas esferas mais distantes. As Antologias de Eugénio de Andrade e Jorge de Sena são tratados alquímicos elementares, porém, nem sempre se nos apresentam como tal, subjugados que andamos por recentes, novos, novíssimos e interessantíssimas edições descontroladas. […] mera circunstância de igualdade/ infeliz neve que a si própria deve o esforço de pousar… vir corromper o Sol da primavera/ que não esqueça logo o projectar da Esfera – e, só depois, a Sombra essencial.[…] Jorge de Sena. Não raro também assoma aquela frase de Carlos Queiroz «não só com sentimentos se faz poesia, mas também o poema se nega aos ressentidos». A negação que quer provar abnegação também existe, e todas as volúpias mantidas para a chegada à lira de Orpheu do canto antologiador. «Os que vão morrer te saúdam», assim cumprimentavam César! As Antologias de autor são, curiosamente, muito mais elucidativas para o interesse público, que deve reflectir na construção de uma obra e no tratamento de uma linguagem que urge ser reabilitada para que não fique perdido um certo som que educará mais e melhor que todas as narrativas dos muitos enunciados. A língua é uma matéria que se faz na correspondente do vocabulário poético, que ao separar-se dela vai moldando uma arquitetura deficiente na zona da linguagem cerebral. E nunca será com transferes de sangue contaminado que a percepção arranjará espaço para tão demarcada área cuja função mecânica por incrível que pareça se conhece bem menos do que era espectável. Ainda andamos intrigados, foneticamente falando. Antologiamos os profetas, e deles só havia som. Quando a insurgência face aos livros sagrados se dá, gritam então as vozes antológicas da natureza humana, que foi quem as compilou no que pensa ter sido dito, é que ao nomear adquirimos a força precisa para combater mas, na longa matéria dos signos escritos, a Humanidade é um Verbo só. Porém, raros são os que lhes acrescentam mais tempos. Outros tempos. Mais amplexo verbal. Mais realidade, e mais sonhos, portanto. Escutar os Cancioneiros antologiados da voz colectiva, que quando o mutismo vier depois da perda de sinal, os nossos gestos valerão pouco para salvar da ruína todas as coisas reunidas.
Michel Reis h | Artes, Letras e IdeiasO mais eminente concerto para piano jamais escrito [dropcap]O[/dropcap] compositor, pianista e maestro russo Sergei Rachmaninoff (1873-1943) foi um dos últimos grandes expoentes do período Romântico na música clássica europeia e é tido como um dos pianistas mais influentes do Século XX. O total fracasso da sua Primeira Sinfonia, composta entre Janeiro e Outubro de 1895, e estreada apenas no dia 27 de Março de 1897, em S. Petersburgo, esmagou o compositor psicologicamente, causando um hiato de três anos na sua carreira de composição. A obra foi muito mal recebida pelo público e mesmo ridicularizada pela crítica, liderada pelo famoso compositor e crítico musical russo César Cui, membro do célebre Grupo dos Cinco. Pensa-se que este desastre deveu-se, em grande parte, à fraca preparação da orquestra e do seu maestro, o compositor Alexander Glazunov, conforme atestam vários testemunhos, entre os quais o de um outro compositor e maestro famoso na época, Alexander Khessin. A recepção desastrosa da sinfonia, combinada com a preocupação da objecção da Igreja Ortodoxa ao casamento com a sua prima, Natalia Satina, contribuiu para o colapso mental de Rachmaninoff, seguido de um período de profunda depressão. Rachmaninoff escreveu pouca ou quase nenhuma música nos três anos seguintes, até iniciar, em Janeiro de 1900, um tratamento de hipnotismo com o psicólogo Nikolai Dahl, um especialista de Moscovo, por coincidência músico amador, que o fez recuperar rapidamente a auto-confiança. Um importante resultado dessas sessões foi a composição do Concerto para Piano e Orquestra Nº 2 em Dó menor, Op. 18, encomendado por um empresário de Londres, que seria dedicado ao Dr. Dahl, em reconhecimento da recuperação do compositor. O Concerto foi composto entre 1900 e 1901. Durante uma viagem a Itália, Rachmaninoff completou o segundo e terceiro andamentos, que apresentou num concerto em Moscovo, com grande aclamação. Este sucesso deu-lhe confiança para concluir o primeiro andamento do concerto, que é frequentemente considerado o mais eminente concerto para piano jamais escrito. A obra foi muito bem recebida na sua estreia no dia 27 de Outubro de 1901, em Moscovo, na qual foi solista o próprio Rachmaninoff, sob a direcção do seu primo Aleksandr Ziloti. O Concerto para Piano e Orquestra n.º 2 em Dó menor, Op. 18 conferiu um sólido reconhecimento e fama a Rachmaninoff como compositor. A obra veio confirmar que o compositor estava completamente recuperado da depressão clínica e do bloqueio da escrita que o tinham impedido de compor. O longo período que Rachmaninoff demorou a recuperar não foi em vão: cada frase memorável, linha bombástica de violoncelo, e acorde de piano de peso é magnificamente colocado para criar uma verdadeira obra-prima musical. Melodia gloriosa após melodia gloriosa flui do teclado; o diálogo entre a orquestra e solista é divino. A música é ao mesmo tempo virtuosística e lírica, com o piano e a orquestra revezando-se para acariciar a pesada melodia russa. Com os acordes que soam como sinos no andamento de abertura, a serenidade dos arpejos no segundo e o impulso confiante do terceiro, é fácil presumir que esta peça foi obra de um compositor seguro e confiante, enquanto a verdade era muito diferente. Após uma introdução invulgar que consiste numa série de acordes cada vez mais intensos e ricos do piano, a obra desvenda-se de maneira gratificante, cheia de maravilhosos diálogos entre piano e orquestra (sem duelos), melodias crescentes e refinadas reviravoltas de harmonias. Os compassos introdutórios do segundo andamento orientam habilmente o ouvinte da tonalidade de Dó menor do primeiro andamento para a de Mi Maior do segundo. Um nocturno nostálgico, e a introdução de duas cadências não quebra o clima reflexivo do andamento. Outra modulação hábil de Mi Maior para Dó Maior apresenta-nos o finale, um andamento que alterna entre dois temas; o primeiro, que apresenta uma dança vigorosa, e o segundo, um dos mais famosos de Rachmaninoff. A enunciação final deste tema conduz a obra ao seu glorioso final. Sugestão de audição da obra: Sequeira Costa, piano Royal Philharmonic Orchestra, Christopher Seaman – RPO Records, 1993</strong
Raquel Moz EventosTeatro | Cai Fora faz percurso interactivo pela cidade [dropcap]A[/dropcap] companhia teatral local “Cai Fora” apresenta na sexta-feira “A Viagem de Curry Bone 2019”, uma história que se baseia num guia turístico com o mesmo nome e que vai dar a volta pela cidade, todos os dias de 3 a 10 de Maio, pelas 20h. A proposta reúne as experiências de Curry Bone na Terra dos Anões, onde se diz que “há apenas ruas e museus e as ruas tornaram-se lugares populares para descobrir: aqui não há ruínas mas relíquias, e não há morte mas revitalização”, pode ler-se no programa do Instituto Cultural (IC). “A Viagem de Curry Bone” estreou em 2009, causando um profundo impacto no público com a sua sátira ao desenvolvimento urbano e a sua busca de reconhecimento identitário. Após alguns anos de silêncio, Curry Bone está de volta, desta vez passando da sala de espectáculos para o ar livre”. O guia turístico Curry Bone tem também aplicação de telemóvel – Curry Bone’s Travel – que pode ser descarregada e levada para o percurso. Os espectadores, viajantes nesta experiência, devem levar o telemóvel e os auscultadores. O trajecto dura 2 horas e 30 minutos, com áudio em cantonense, para maiores de 13 anos. Os bilhetes custam 150 patacas. A companhia “Cai Fora” tem desenvolvido obras que são um diálogo entre a história e o desenvolvimento urbano. Criada em 2001, não desenvolve apenas trabalhos de teatro e de dança, produzindo trabalhos multidisciplinares que “são caracterizados pelo uso hábil da linguagem teatral poética e estética na composição de fábulas contemporâneas sobre a cidade urbana”, segundo o IC. O grupo macaense já integrou o FAM de 2013, com a peça “Um Mundo de Jogo”.
Raquel Moz EventosFAM 2109 | Inauguração com espectáculo de dança contemporânea É “Vertikal” porque desafia as leis da gravidade e os demais sentidos. O espectáculo que abre a 30ª edição do FAM é uma proposta assinada pelo coreógrafo francês Mourad Merzouki, que traz o hip-hop e a dança contemporânea para o palco do Centro Cultural de Macau. Ainda há bilhetes, mas são poucos [dropcap]A[/dropcap] 30ª edição do Festival de Artes de Macau (FAM) arranca já na sexta feira, 3 de Maio, com o espectáculo de dança contemporânea “Vertikal”, assinado pelo director artístico e coreógrafo Mourad Merzouki, o homem que levou o movimento hip-hop da rua para os palcos no início dos anos 90. O evento está agendado para as 20h, no Grande Auditório do Centro Cultural de Macau (CCM), logo após a cerimónia de inauguração do FAM, marcada para as 19h40. O espectáculo repete no sábado, 4 de Maio, e ainda há alguns bilhetes para as duas sessões. “Vertikal” é uma co-produção do Centro Coreográfico Nacional (CCN) de Créteil & Val-de-Marne e da Compagnie Käfig, onde “dez dançarinos deslizam no ar por cordas, libertando-se dos limites da gravidade para criar elementos coreográficos e produzir sequências de hip-hop únicas e contemporâneas”, segundo o Instituto Cultural de Macau (IC), organizador do FAM. Além de movimentos como inversões, elevações e cambalhotas, os “dançarinos são sustentados por cabos, executando saltos e acrobacias aéreas que desafiam a gravidade, como se estivessem num espaço de gravidade zero ou a flutuar na água. O espectáculo não traz apenas movimentos simples como uma cambalhota para o grande palco, também acrescenta um toque de romance poético à vigorosa e directa linguagem da dança de rua”, informa ainda o IC no material de divulgação. Ao comando da Compagnie Käfig, considerada pela organização do FAM como “uma das principais companhias de dança hip-hop de renome mundial”, Mourad Merzouki vai apresentar no território uma performance onde explora “a relação com o chão, que é essencial para o dançarino de hip hop”, com a introdução de novos elementos, a partir da colaboração de Fabrice Guillot, director artístico da Retouramont, empresa especialista em técnicas aéreas. Este equipamento permite ao coreógrafo um novo campo de possibilidades, libertando-se da dimensão horizontal do palco. “Os jogos de contacto entre os artistas funcionam através de impulsos: o dançarino pode ser alternadamente a base e o transportador ou, ao contrário, um trapezista, uma marioneta animada pelo contrapeso dos seus parceiros no chão”, explica Merzouki. A música do compositor Armand Amar – premiado autor de bandas sonoras para mais de duas dezenas de filmes e detentor de um César para Melhor Música em 2010, com a película “Le Concert” de Radu Mihăileanu – vai acompanhar as acrobacias dos dançarinos, combinando instrumentos electrónicos e de cordas, ao longo do espectáculo, que tem duração aproximada de 1 hora e 10 minutos, sem intervalo. Workshop na vertical A par dos dois espectáculos “Vertikal”, o coreógrafo realizará um workshop de dança no sábado, dia 4, entre as 10h e as 12h, no mesmo palco do CCM, para proporcionar a experiência do hip-hop aéreo a oito dançarinos locais. As inscrições para este evento decorreram até 16 de Abril, limitadas a candidatos com mais de três anos de experiência na área da dança. Outros vinte lugares foram disponibilizados para assistir ao workshop, sem direito a participação, que esgotaram também rapidamente.
Hoje Macau China / ÁsiaMarcelo Rebelo de Sousa aplaude “subida de nível” nas relações bilaterais Marcelo Rebelo de Sousa encontrou-se com Xi Jinping no Grande Palácio do Povo, em Pequim. O Presidente português elogiou a aproximação cada vez mais profícua entre as duas nações com um histórico de amizade de vários séculos [dropcap]O[/dropcap] Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, saudou ontem perante o seu homólogo chinês, Xi Jinping, a “subida de nível” nas relações políticas bilaterais, considerando que existe igualmente “uma aproximação de pontos de vista no plano multilateral”. “Estamos a conseguir converter uma relação de séculos de amizade, de conhecimento e de colaboração entre a China e Portugal numa realidade viva virada para o futuro”, declarou Marcelo Rebelo de Sousa, no início de um encontro com o Presidente chinês, no Grande Palácio do Povo, em Pequim, alargado às respectivas delegações. O chefe de Estado português, que começou ontem uma visita de Estado à República Popular da China, salientou a “subida de nível de cooperação”, com a passagem da “parceria estratégica” estabelecida em 2005 para um “diálogo estratégico” entre os dois países. Esta “subida de nível” no plano das relações políticas bilaterais foi formalizada logo após o encontro entre Marcelo Rebelo de Sousa e Xi Jinping, através de “um memorando de entendimento para o estabelecimento de um diálogo estratégico”, assinado pelos ministros dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, e chinês, Wang Yi. Com este instrumento, Portugal e a China acordam em proceder a consultas políticas regulares sobre temas bilaterais e de política internacional e em aumentar os contactos entre as autoridades governativas, com visitas mútuas, uma vez por ano, ora na China, ora em Portugal, ao nível dos ministros Negócios Estrangeiros. “Ao mesmo tempo, afirmamos pontos de vista, preocupados com a situação internacional, com uma perspectiva multilateral defensora dos direitos internacionais e universais, defensora das organizações internacionais, aberta à construção da paz, da segurança e do diálogo. Preocupada com a liberdade de comércio”, acrescentou o Presidente português. Olhar em frente Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, “assim, soma-se à preocupação e ao aprofundamento bilateral uma troca de pontos de vista e uma aproximação de pontos de vista no plano multilateral e universal”. No plano bilateral, referiu que existe “também um aumento e aprofundamento quanto à importância das relações económicas, financeiras, culturais e sociais entre os dois países”. O Presidente português falava perante a comunicação social, que assistiu às suas declarações iniciais neste encontro, antecedido de uma cerimónia de receção com honras militares, na Praça Tiananmen, em frente ao Grande Palácio do Povo, em que se ouviram os hinos dos dois países. “Ao celebrarmos 40 anos de relações diplomáticas e 20 anos da transferência da administração em Macau, estamos a olhar para o futuro, nas relações bilaterais e no plano multilateral”, resumiu, sentado em frente a Xi Jinping. A seguir a este encontro, o Presidente chinês ofereceu um banquete oficial em honra do chefe de Estado português, que à noite viajou de Pequim para Xangai. Marcelo Rebelo de Sousa chegou à China na sexta-feira, para participar na segunda edição do fórum “Faixa e Rota”, iniciativa chinesa de investimento em infraestruturas da Ásia à Europa, em que interveio, no sábado. Inês Escobar de Lima LUSA
Hoje Macau SociedadeFunção Pública | Apenas 60 por cento dos candidatos a exame comparecerem [dropcap]D[/dropcap]os 6444 candidatos que se inscreveram no concurso de avaliação de competências integradas referente a habilitações académicas de bacharelato dos Serviços de Administração e Função Pública, apenas 3800 compareceram para realizar a prova, o que indica uma taxa de participação de 60 por cento. De acordo com o jornal Ou Mun, houve candidatos que se queixaram da falta de tempo para realizar o exame de admissão e sugeriram que o Governo reveja os regulamentos nesta matéria. No exame em causa os candidatos tiveram uma hora e meia para responder a 60 questões.
Hoje Macau SociedadeTaxa de desemprego com nível igual a 2018 no primeiro trimestre [dropcap]D[/dropcap]ados oficiais da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) revelam que a taxa de desemprego, entre Janeiro e Março deste ano, apresentou valores semelhantes a igual período de 2018. Isto significa que a taxa de desemprego se mantém nos 1,7 por cento, enquanto que a taxa de desemprego dos residentes está nos 2,3 por cento. Já a taxa de subemprego, que se situa nos 0,4 por cento, desceu um ponto percentual. Estes números mostram que Macau mantém uma situação de pleno emprego, o que significa que todos os que estão autorizados a trabalhar conseguiram preencher as vagas livres em pouco tempo. No primeiro trimestre de 2019, o número total de empregados diminuiu em 900 pessoas, além de que o número de residentes empregados desceu em 1.800 pessoas. Em termos de ramos de actividade económica, o número de empregados das actividades imobiliárias e serviços prestados às empresas foi de 33.800 e o de empregados dos hotéis e similares atingiu 31.400, ou seja, mais 1.000 e 1.300 pessoas, respectivamente, face ao quarto trimestre de 2018. Em contrapartida, o número de empregados do comércio a retalho correspondeu a 31.400, menos 2.100 pessoas. No período em análise, a população activa totalizou 393.600 pessoas e a taxa de actividade foi de 70,4 por cento. Salienta-se que a população empregada se fixou em 387.100 pessoas e que o número de residentes empregados atingiu 282.000 pessoas, ou seja, menos 1.000 e 1.600, respectivamente, em comparação com o período precedente. O número de desempregados foi de 6.500 pessoas, menos 200, face ao período transacto. Residentes na mesma A mediana de rendimento mensal situou-se nas 17 mil patacas no primeiro trimestre, o que mostra que os trabalhadores estão a ganhar mais mil patacas, de acordo com os dados revelados pela DSEC. As estatísticas mostram também que “as medianas do rendimento mensal do emprego da população empregada nas lotarias, outros jogos de aposta e actividade de promoção de jogos, bem como na construção foram de 20.000 e 17.000 Patacas, respectivamente”. Por outro lado, a mediana do rendimento mensal dos residentes não sofreu alterações. “A mediana do rendimento mensal dos residentes empregados cifrou-se em 20.000 patacas, sendo idêntica à do trimestre passado”, explica a DSEC. O número de desempregados à procura do primeiro emprego representou 8,5 por cento do total da população desempregada, tendo aumentado 1,9 pontos percentuais”.
Hoje Macau SociedadeApoios sociais | Wynn adere a regime de previdência central não obrigatório [dropcap]A[/dropcap] concessionária de jogo Wynn vai aderir ao regime de previdência central não obrigatório. De acordo com um comunicado emitido pela empresa, o novo programa de contas individuais estará disponível a partir do dia 1 de Julho para novos funcionários da Wynn Macau, Wynn Palace e Wynn Design and Development (WDD) Asia. No que diz respeito aos actuais trabalhadores, que já possuem um outro sistema de segurança social, “podem ter como opção mudar para o novo programa ou manterem-se no programa já criado, que pode funcionar em paralelo”. A Wynn já havia estabelecido um fundo de previdência em 2006, data em que o primeiro resort da concessionária abriu no território, como “uma forma efectiva de apoiar os seus funcionários a pouparem para o futuro”. A concessionária defende que o novo programa de contas individuais abrangido pelo regime de previdência central não obrigatório “vai reforçar a protecção social dos residentes de Macau com uma idade avançada e complementar ao já existente sistema de segurança social”. Para que os funcionários compreendam o novo programa, a Wynn vai organizar sessões de esclarecimento durante três meses. O regime de previdência central não obrigatório entrou em vigor em 2017 e destina-se a empresas privadas que queiram disponibilizar fundos de reforma aos seus funcionários.
Hoje Macau SociedadeEstação Elevatória | Autorizadas obras no Porto Interior para travar cheias [dropcap]U[/dropcap]m despacho assinado pelo Chefe do Executivo e publicado ontem em Boletim Oficial (BO) autoriza a realização das “obras de construção de Box Culvert da Estação Elevatória de Águas Pluviais do Norte do Porto Interior” por parte do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM). De acordo com o despacho, o IAM pode realizar as obras nas Rua de Miguel Aires, Rua Nova do Comércio, Rua do Bispo Enes e Rua do Visconde Paço de Arcos entre as 8 horas e as 22 horas, nos domingos e feriados, no prazo de 30 dias, contados desde ontem. As obras podem também ser feitas entre as 20 horas e as 22 horas, nos restantes dias da semana, no prazo de 30 dias. A obra, anunciada no início deste ano, tinha arranque previsto para o primeiro trimestre do ano e está orçamentada em 90 milhões de patacas.
Sofia Margarida Mota SociedadeEnsino Superior | Número de cursos aumentaram 50 % desde 1999 O ensino superior em Macau está em franco desenvolvimento, de acordo com a Direcção dos Serviços do Ensino Superior. O reflexo disso é o aumento de 50 por cento no número de cursos, do número de alunos e da investigação científica produzida no território [dropcap]O[/dropcap] número de cursos superiores leccionados em Macau duplicou desde 1999. A informação é dada em comunicado pela Direcção dos Serviços do Ensino Superior (DSES) que acrescenta ainda que o número de docentes, investigadores e estudantes quase triplicou. “A taxa de continuação de estudos dos estudantes que concluem o ensino secundário complementar aumentou de cerca de 70 por cento no início do retorno de Macau à Pátria, para mais de 90 por cento nos últimos anos”. Em dígitos, no ano lectivo de 2018/2019, Macau contou com 2.931 docentes e investigadores, 34.279 estudantes e 280 cursos nas instituições de ensino superior. Outra variante que registou um crescimento significativo foi o número de alunos estrangeiros que aumentou nestes 20 anos de RAEM de 5.653 para 17.992, um registo que aponta para o facto de Macau ser “cada vez mais apelativo para os estudantes estrangeiros”, lê-se no comunicado da DSES. Desde o estabelecimento da RAEM, a proporção dos docentes doutorados aumentou de 15 por cento para 64 por cento. Segundo os resultados de uma pesquisa realizada nos últimos três anos, “quase 80 por cento dos estudantes podem encontrar o primeiro emprego em tempo integral dentro de três meses. Por outro lado, cerca de 70 por cento dos estudantes empregados afirmam ter encontrado emprego dentro da área profissional que estudaram. Além disso, 50 por cento dos alunos universitários, depois de terminarem os estudos, “têm um rendimento média mensal superior ao rendimento mediano”, ou seja, a 18 000 patacas mensais. Investigar para saber O desenvolvimento é também visível na área da investigação, nomeadamente nas áreas da Medicina Chinesa e da tecnologia. O crescimento da pesquisa académica é outra das vertentes destacadas pelo DSES, nomeadamente face ao aumento do número de artigos publicados por docentes locais de 726 no ano lectivo de 2011/2012 para 3.712 no ano lectivo de 2017/2018. O apoio à investigação é também revelado pelo investimento financeiro feito. Desde o lançamento do programa de “Financiamento para o desenvolvimento profissional do pessoal docente e de investigação das instituições de ensino superior de Macau”, em 2013 foram financiados 172 docentes e investigadores para se dirigirem ao continente, Portugal, Estados Unidos, Reino Unido, Japão, Singapura e Austrália para intercâmbios académicos, tendo o montante dos apoios chegado aos 2,5 milhões de patacas.
João Luz PolíticaWong Kit Cheng insiste na extensão da licença de maternidade Wong Kit Cheng volta a pressionar o Governo para alterar a lei das relações de trabalho, com especial enfoque para a extensão da licença de maternidade e paternidade. A deputada entende que chegou a altura de o Executivo corresponder às expectativas da sociedade [dropcap]D[/dropcap]esde o início de 2016 que o Executivo se propôs a alterar a legislação que regula as relações laborais. Cerca de três anos volvidos, Wong Kit Cheng questiona o Governo liderado por Chui Sai On, em interpelação escrita, sobre esta matéria, com especial destaque para a extensão das licenças de maternidade e paternidade. Segundo a deputada, seguida à consulta pública, que terminou em 2017, não houve sequência à publicação do relatório da mesma, que aconteceu em Maio de 2018. Apesar do apoio da população, e de estar nos planos legislativos do Governo alargar a licença de maternidade e de paternidade, “infelizmente o Executivo ainda não apresentou uma proposta de lei à Assembleia Legislativa”. Wong Kit Cheng argumenta em interpelação escrita que o aumento da participação das mulheres na sociedade e no mercado de trabalho deve ter correspondência nos apoios à maternidade, de ambos os progenitores, de forma a “promover medidas que beneficiem as famílias e o equilíbrio entre vida familiar e trabalho”. A deputada entende que estas medidas podem encorajar os homens a partilhar as responsabilidades familiares e a fomentar a felicidade da população. Encontro de partes Uma das condições exigidas pelo Executivo para alterar a lei que regula as relações laborais é o consenso em sede de Concertação Laboral na necessidade desta reforma legal. Como a discussão ainda não se concluiu, Wong Kit Cheng pergunta ao Governo se vai cumprir a promessa de respeitar as alterações que nasçam do consenso obtido em Concertação Social. Além disso, a deputada destaca que o número de nascimentos caiu em dois anos, de 7.145 em 2016 para 5.925 no ano passado, valores que a levam a questionar a possibilidade de aprovar, ainda durante o mandato deste Governo, medidas de apoio à natalidade. Ainda quanto ao equilíbrio entre trabalho e família, Wong Kit Cheng pede ao Executivo a extensão de benefícios atribuídos a pequenas e médias empresas no sentido de alargar o período de dois anos agora previsto para compensar a perda de mão-de-obra durante os períodos de licença de maternidade e paternidade.
Hoje Macau PolíticaIlha Verde | 80 por cento de portas corta-fogo substituídas [dropcap]E[/dropcap]stá concluída a substituição de cerca de 80 por cento das portas corta-fogo do auto-silo do Edifício do Bairro da Ilha Verde. A informação foi adiantada ontem pelo delegado do Gabinete para o Desenvolvimento de Infraestruturas, Lam Wai Hou, numa visita do secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário. O membro do Governo fez a visita acompanhado pelos deputados da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Terras e Concessões Públicas da Assembleia Legislativa à obra na Ilha Verde. Lam Wai Hou adiantou ainda que os trabalhos de substituição das 100 portas corta-fogo vai terminar no mês de Junho.
Sofia Margarida Mota PolíticaCoutinho vai questionar Ho Iat Seng sobre incumprimento da Lei Básica A manutenção da nacionalidade portuguesa por Ho Iat Seng enquanto presidente da Assembleia Legislativa vai ser assunto para se esclarecer durante a campanha eleitoral. A ideia é deixada por Pereira Coutinho que aponta que Ho não foi exemplo de cumprimento da Lei Básica [dropcap]O[/dropcap] deputado José Pereira Coutinho garante que a manutenção da nacionalidade portuguesa do presidente da Assembleia Legislativa (AL) e candidato a Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, vai ser debatida na campanha eleitoral. “Serei o primeiro a questionar sobre este assunto, se tiver oportunidade, na campanha eleitoral”, afirmou ao HM. Em causa está o facto de Ho Iat Seng ter permanecido como presidente da AL sem ter renunciado à nacionalidade portuguesa, procedimento que a Lei Básica prevê tanto para os cargos de presidente e como para vice-presidente do hemiciclo. Ho Iat Seng deveria assim ter dado o exemplo de cumprimento da Lei Básica, coisa que não aconteceu, considera o deputado. “Como presidente da AL não deu o bom exemplo de ser cumpridor rigoroso da Lei Básica”, afirmou Coutinho. Esta situação de incumprimento pode ainda vir a “dar muito que falar no Colégio Eleitoral”, acrescentou. Intervenção no hemiciclo O deputado admite ainda levar a questão a plenário, em forma de intervenção no período de antes da ordem-do-dia. Para o deputado, Ho Iat Seng “está a fugir à questão porque cometeu um grande lapso”. Além do incumprimento da Lei Básica, está também em causa a importância que a China dá à questão da nacionalidade, “mais agora que existem muitos cidadãos a pretenderem passaportes para sair do país com as suas fortunas”. O deputado salienta ainda tratar-se de um “assunto que já está a ser muito discutido nas redes sociais”. Recorde-se que o cargo de presidente da AL obriga o seu titular a ter nacionalidade chinesa, sendo que a Lei da Nacionalidade da China, em vigor em Macau, não reconhece a dupla nacionalidade. O processo para a perda da nacionalidade portuguesa de Ho Iat Seng deu entrada no consulado no dia anterior à conferência de imprensa em que anunciou a candidatura ao lugar de Chefe do Executivo. O requerimento já terá sido reencaminhado para Lisboa, onde a decisão vai ser tomada pelo Ministério da Justiça.
Juana Ng Cen PolíticaEconomia | Ho Ion Sang pede medidas de combate às desigualdades [dropcap]O[/dropcap] deputado Ho Ion Sang quer que o Governo implemente medidas para combater as desigualdades económicas no território. O pedido vem na consequência da recente divulgação de dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos quanto à desigualdade social, aferida pelo Índice de Gini. Tendo em conta os dados do ano passado, o fosso entre ricos e pobres aumentou. Segundo este índice 0,00 representa a igualdade perfeita e 1,00 o máximo grau de desigualdade. Macau está actualmente com um valor de 0,36, quando há cinco anos tinha 0,35. Para Ho Ion Sang trata-se de um aumento preocupante, e que “já chegou a uma linha de alerta”. Como tal, o deputado quer saber se o Governo pretende “optimizar o mecanismo de regulação da distribuição de riqueza e trabalhar em políticas” de combate ao fenómeno. Tendo em conta a carga financeira das despesas das famílias com menos rendimentos, Ho questiona o Executivo acerca das medidas que pretende adoptar de modo a diminuir este peso. O objectivo é “construir um ambiente social mais justo”, aponta o deputado.
João Santos Filipe EntrevistaPaulo Cardinal | “Defender a Lei Básica e a Declaração Conjunta já não é conveniente” Passaram-se meses, mas as razões não aparecem. Quase um ano depois de ter sido dispensado da Assembleia Legislativa (AL), o jurista ainda não percebe porque foi despedido. No entanto, recusa ter qualquer plano de vingança contra Ho Iat Seng e admite que poderia haver candidatos a Chefe do Executivo piores do que o actual presidente da AL [dropcap]O[/dropcap] que sentiu quando foi informado que o seu contrato não ia ser renovado? Foi um profundo choque, uma surpresa total, encarnando uma injustiça. Ainda hoje não encontrei uma resposta com a verdadeira razão do que sucedeu. Estive a trabalhar na Assembleia Legislativa 26 anos, como assessor, assessor-coordenador e, estando plenamente de consciência tranquila quanto ao cumprimento dos meus deveres e funções, só posso dizer que foi uma surpresa total. Vivi um sentimento de injustiça profunda relativamente ao sucedido. Como lhe foi comunicado que o seu contrato não ia ser renovado? A forma anónima e indigna como me comunicaram a minha demissão, depois de 26 anos na Assembleia Legislativa, foi através de uma mera carta, que foi entregue por uma pessoa que estava a tremer das mãos, enquanto eu lia o que lá estava. Foi uma decisão que me foi comunicada dois ou três dias antes de ir de férias a Portugal. Houve quem considerasse que a conferência de imprensa em que Ho Iat Seng comentou a sua saída, sugerindo que era o melhor para si e que poderia abrir um escritório de advogados, foi enxovalhante. Concorda? Não me senti enxovalhado porque para isso teria de estar numa situação em que estaria disponível para o sentir. E eu não estava. Sei o que fiz e estou de consciência tranquila […] Mas ninguém gosta de ser empurrado com alguém a dizer: “olhe, você aqui está a desperdiçar os seus talentos. Portanto, leva um pontapé para ir fazer melhor”. Não gostei. A razão apontada foi a reorganização da assessoria jurídica da AL… Não consigo entender esse motivo e não sou apenas eu. A generalidade da comunidade portuguesa, e não só, também recusa esse motivo. É por isso que surge a enorme onda de solidariedade e as respostas que foram sendo dadas, com expressões públicas de apoio do presidente da Associação dos Advogados de Macau, o Dr. Jorge Neto Valente, a presidente da Casa de Portugal. Dra. Amélia António, o Cônsul-Geral, Dr. Vítor Sereno, entre muitos advogados, juristas, jornalistas, comentadores, etc.. FOTO: Sofia Margarida Mota A posterior contratação de dois juristas foi o reconhecimento do erro? Acho que sim, essa justificação caiu quando a mesa da Assembleia Legislativa, ciente do erro que tinha cometido, decidiu contratar mais dois colegas. […] Num momento dizem que há uma reorganização, um rejuvenescimento e que por isso têm de deixar sair duas pessoas. Passado pouco tempo foram contratar mais pessoas e ainda bem que contrataram portugueses. “A verdade é que os despedimentos foram visionados por muita gente que pensa pela sua cabeça como um ataque aos portugueses.” Porque foca o facto de serem portugueses? Claramente que uma das leituras possíveis sobre este caso era sinalizar que, por ventura, os portugueses já não seriam tão necessários neste tipo de cargos. Principalmente se fossem portugueses com a postura adequada ao cargo de assessor jurídico. Que postura é essa? Ser assessor não é apenas dizer que sim antecipadamente ao que é pedido. Um assessor tem que estudar as questões e, independentemente da nossa opinião ser conveniente para quem a pede, nós temos de transmitir a nossa visão tecno-jurídica. Depois o decisor político age em conformidade ou não, consoante o que entender. Faz parte das funções do assessor jurídico dizer que não quando é para dizer que não e justificar e apresentar opiniões. Saneamento Político Em relação à sua saída houve quem falasse em saneamento político. Concorda? Não sei se a decisão terá sido da assembleia ou de outrem. E dada a opacidade do processo, neste momento, é legitimo pensar-se tudo. Dado que a única explicação avançada não colhe e não tem qualquer ligação com a realidade, isso dá origem a várias teses, sobretudo numa comunidade como a de Macau, pequena, uma paróquia, em que toda a gente conhece toda a gente. Mas terá sido um saneamento? Não posso afirmar que sim, porque não conheço o que se passou. Mas é uma possibilidade, nomeadamente tendo em conta o que se vai dizendo por aí… Pode ter a ver com algumas posições que fui tomando, como cidadão. Sempre tive uma intervenção cívica, mas foi uma intervenção feita sempre de cara limpa, aberta, dando o meu nome e chamando a atenção para algumas situações que a meu ver não estavam correctas. Nomeadamente nesta preservação do Segundo Sistema, dos direitos fundamentais, da legalidade, etc.. Tenho de admitir a tese de saneamento político como possível. Essa intervenção cívica foi o principal motivo? É difícil face a esta poluição de ideias, insinuações, escolher uma razão principal. Sei que tinha intervenção cívica e que sempre me assumi publicamente. Criticava quem quer que fosse, o TUI, quando achei que devia criticar, o secretário para a Segurança, quando achei que devia criticar, o Chefe do Executivo, quando achei que devia criticar. Portanto, será que isso causa incómodo? Com certeza. Se achava que me ia custar o trabalho? Não. Obviamente que fazia sempre uma análise, mas achava que era o meu dever enquanto cidadão de Macau não ficar calado. Estava a exercer os meus direitos fundamentais e a minha organização cívica. Era um voz incómoda? Penso que sim. Era uma voz incómoda, mas quem vive em democracia ou proto-democracia tem de saber viver com vozes incómodas, sobretudo quando essas vozes surgem de uma forma aberta, transparente e assumem posições. Não era uma voz incómoda por andar a fazer chegar por portas travessas documentos a A ou a B. As intervenções podem ter sido encaradas de forma negativa? As pessoas precisam de compreender que as poucas intervenções que tive nas televisões ou nos jornais tiveram sempre em vista a defesa da legalidade, da Lei Básica e da Declaração Conjunta. Mas, parece que hoje em dia defender a Lei Básica e a Declaração Conjunta já não é conveniente ou politicamente correcto. FOTO: Sofia Margarida Mota Chegou a falar na existência de Um País, Um Sistema e Meio… Em função das pressões que Macau tem vindo a sofrer, tal como Hong Kong, onde é mais evidente, o Segundo Sistema está a ser atacado, é uma espécie de queijo que vai sendo abocanhado aos bocadinhos e, por ventura, hoje já não se pode falar em Um País, Dois Sistemas, mas em Um País e Um Sistema e Meio. No futuro espero que isto não resulte em Um País, Um Sistema, porque não é isto que está acordado entre Portugal e a República Popular da China. Não é isto que está prometido à comunidade internacional e sobretudo não é isto que está prometido à comunidade de Macau. Ajudas a Sulu Sou? Foi acusado de ajudar Sulu Sou. Aconteceu alguma coisa deste género? Se isto não fosse um caso muito sério, seria uma anedota, mas de mau gosto, e eu ria-me. Mas não me consigo rir. Ajudei muitos deputados ao longo dos meus anos na Assembleia Legislativa. E ajudei porque é o meu dever ajudar. O Sulu Sou não foi um deles. E se o auxílio tivesse sido pedido. Estava obrigado a ajudar Sulu Sou? Nos termos da Lei Orgânica e no Estatuto do Deputado, Sulu Sou teria todo o direito de pedir o meu auxílio para esta questão. Nos termos da Lei Orgânica da AL, à qual eu estava vinculado, seria o meu dever funcional e laboral ter providenciado essa ajuda. É também importante perceber que este conflito não é entre a AL, por um lado, e pessoas de fora, por outro. É um conflito interno. É um conflito entre um deputado legitmamente eleito e alguns órgãos da AL. Aqui não há dúvidas, caso ele tivesse pedido o meu auxílio e a minha cooperação técnica eu tinha o dever de o fazer. Mas garanto aqui que isso não aconteceu. O deputado Sulu Sou não me pediu qualquer auxílio e eu lhe não prestei qualquer auxílio. “Tenho de admitir a tese de saneamento político como possível.” E porque circulou essa informação em Macau? É uma tentativa de assassinato de carácter, mas é algo absolutamente falso. Digo isto olhos nos olhos a quem quer que seja. É absolutamente falso que tenha passado um único documento confidencial ao deputado Sulu Sou. E até digo mais, posso deixar que invadam a minha privacidade e que tenham acesso a telemóveis e computador. Depois apresentem-me qualquer email, mensagens de skype, mensagens de whataspp, telefonemas, o que quer que seja que tenha trocado com o deputado Sulu Sou. Não vão encontrar nada. Não se importa que invadam a sua privacidade? Deixo a minha privacidade cair. E quem eventualmente que tenha acesso às trocas de informações que as traga a público. Só que não vão trazê-las porque é tudo absolutamente falso. Nunca contactei o deputado Sulu Sou. Nunca passei um documento confidencial ao Sulu Sou. Tenho 26 anos de trabalho na AL, estive envolvido em processos altamente complexos, altamente sigilosos, alguns envolvendo o Chefe de Estado português, outros envolvendo altas personalidades da RPC e nestes anos todos nunca houve uma nódoa, nunca houve uma névoa de suspeita, nunca me imputaram que tivesse violado os deveres de sigilo. É tudo absolutamente falso, indigno, é uma tentativa de assassinato de carácter. ATENTADO DE CARÁCTER E como surge esta história? Parte resulta da miséria humana de uma colega. Não tendo mais nada que fazer e vendo-se confrontada com sucessivos erros ou incapacidades, mais não teve do que dizer que afinal havia espiões e sabotadores na Assembleia Legislativa. Dizendo isso com uma total irresponsabilidade, sem o mínimo de provas e não querendo saber de eventuais consequências. Fala de uma colega na assessoria jurídica? Sim, sim. Essa pessoa dizia isso em reuniões da Assembleia Legislativa, em reuniões da Assembleia com pessoas de fora e a pessoas cá fora, quando as encontrava na rua. Ela dizia sempre, a plenos pulmões, que tinha havido um caso em que eu tinha passado documentos confidenciais a um determinado deputado, a Sulu Sou. É uma história de miséria humana. Mas essa pessoa foi responsável pelo seu despedimento? Se esteve na origem do meu despedimento ou dispensa, não sei. Mas quem decidiu a minha dispensa não foi essa senhora, essa colega. A responsabilidade deste afastamento terá de recair sobre aqueles que formalmente desempenham o poder, seja a decisão tomada imediatamente por eles, seja a decisão encomendada e tomada por outrem, fora da AL. Alguma vez apresentou queixa contra essa colega? Não quero falar muito sobre esse assunto, porque acho que é uma questão rasteira. É uma questão quase de esgoto. O que posso dizer é que me foi testemunhado por várias pessoas de diversos sectores. Essa colega dizia e insistia que tinha havido sabotagem e traição e que eu teria passado documentos confidenciais a um deputado, em concreto a Sulu Sou. Quer dizer o nome da colega? Não, não quero sujar a minha boca. Poderia haver uma promoção para a carreira dessa pessoa? Penso que não. Ela já está num patamar elevado. Não sei o que vai na cabeça de pessoas com esta natureza. Felizmente não tenho este perfil. Acho que nem vale a pena dizer que se não fosse eu e o Dr. Paulo Taipa, há uns anos, que ela teria perdido o emprego. Fiz isso e fiz de bom grado. E faria outra vez. PORTAS FECHADAS NA CARA Depois de terminar o seu contrato foi noticiado que estava com dificuldades em encontrar um trabalho na área em Macau. Como está a situação? Ainda não tenho nada firme. Tenho algumas possibilidades, mas nada concretizado. Na altura houve muitas pessoas que me disseram que não haveria nenhum problema, em função do meu currículo, da minha experiência, dos quase 30 anos em Macau, dos 26 anos na Assembleia Legislativa, dos 2 anos no Gabinete de Modernização Legislativa, docente na Faculdade de Direito da Macau, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, etc., etc. As pessoas diziam-me que em Janeiro de 2019 o problema seria escolher sítio onde queria trabalhar, o que seria normal, em função da minha experiência e currículo. Não foi isso que aconteceu. É normal este tipo de situação? Penso que não, sem modéstias exageradas. Tenho quase 30 anos de trabalho em Macau, em funções altamente especializadas e complexas, tenho docência universitária em instituições de ensino, tenho seis ou sete livros publicados, tenho agora mais um que vai sair esta semana… Não é normal que uma pessoa com este tipo de habilitações não encontre emprego. “Sei que tinha intervenção cívica […] Se achava que me ia custar o trabalho? Não.” E qual a razão desta dificuldade? Macau é uma paróquia e não prima propriamente por uma coragem exacerbada. Macau pela sua dinâmica, de comunidade pequena, fechada e por tudo girar à volta do centro gravitacional do poder eventualmente traz estas consequências. Se alguém entra numa zona de desconforto, não quero chamar-lhe lista-negra, depois as portas, as janelas e os portões poderão ficar fechados, ou eventualmente por abrir. Fecharam-lhe muitas portas na cara? Sim, fecharam-me algumas. Algumas pediram currículos e houve tentativas de gente com grande solidariedade… Houve muitas pessoas da comunidade portuguesa e chinesa, pessoas altamente colocadas, que me tentaram ajudar. E acredito que me tentaram mesmo ajudar, mas não foi possível. Existe medo de incomodar aquele que poderá ser o próximo CE? É uma interpretação possível. Não tenho dados que me permitam afirmar que isso aconteceu. E porquê? Não sei. Só posso especular. Talvez não tenham querido colocar em causa uma pessoa com mais poder. Será que a decisão de não renovar os contratos foi de alguém que não é de Macau? Não sei. Como o processo foi extremamente opaco e a única justificação que houve caiu imediatamente, dá azo a toda esta especulação. Terá a ver com a colagem que foi feita ao deputado Sulu Sou? É evidente que quando há uma colagem falsa a um deputado que é visto como uma espécie de quisto, um tumor cancerígeno, como é visto o deputado Sulu Sou, isso não ajuda. Eu nunca percebi porque é que o Sulu Sou foi eleito como a grande ameaça ao regime. Garanto olhos nos olhos que a primeira vez que falei com o deputado Sulu Sou foi já depois de ele ter regressado do processo de suspensão. A primeira vez que falei com o deputado Sulu Sou foi para lhe dar os parabéns por ter regressado à AL. Mas revê-se em algumas posições de Sulu Sou… É uma questão distinta. Se eu como cidadão, na minha intervenção cívica, me revejo em muitas das posições de Sulu Sou, é evidente que sim. Quem gosta da democracia, dos direitos fundamentais obviamente que tem de sentir-se identificado com muitas das propostas de Sulu Sou. Isso significa que estava feito com ele, que atraiçoava ou que era espião, sabotava ou passava informação confidencial? Não faz sentido nenhum. Não tive intervenção nenhuma no processo Sulu Sou. Não fui a nenhuma reunião, não tinha acesso a documentos confidenciais. Não é só a questão de ter passado documentos. Eu nem tinha acesso a qualquer documento confidencial. É uma efabulação triste e com resultados. Como viu o primeiro processo de suspensão da RAEM? Como jurista, acho que se assistiu a uma violação consecutiva de várias normas da Lei Básica, do Estatuto dos Deputados e do Regimento. Esse processo está inquinado porque houve várias violações consecutivas a normas a que se devia obediência e não foram obedecidas. Quem ler com cuidado o acórdão do Tribunal de Segunda Instância nota que o TSI não se coíbe de mostrar insatisfação, ou discordância, com actos da AL. Por exemplo, quando diz que a comissão elaborou um documento a que decidiu chamar parecer, mas parecer vem entre aspas, e decidiu, quer dizer que não é um verdadeiro parecer. É assim que faço a minha interpretação. […] Há vários passos do TSI que permitem aquilo que qualquer aluno mediano do primeiro ano veria, houve várias violações ao Regimento, ao Estatuto do Deputado e à Lei Básica. Não sei com que fins, não compreendo, mas houve. FOTO: Sofia Margarida Mota Porque só decidiu falar agora? À maneira tradicional de Macau, depois de eu sair haveria outro tipo de condições para me dizerem que foi por isto ou aquilo. Outra questão foi a serenidade. Volto a dizer: foi uma surpresa, um choque, houve um sentimento de injustiça profunda. Sei o que fiz e o que não fiz. Não merecia ter saído. Precisava de serenidade e não queria dar uma entrevista para lavar a roupa suja, atacar pessoas, e para me limitar a vomitar vingança. Não queria isso. E houve outra razão. Qual? Tudo indica que Ho Iat Seng é o putativo Chefe do Executivo. Portanto, é o melhor momento para vir falar. Não tenho receio, esqueletos no armário. No momento em que ele está em crescimento ao nível de poder, venho falar. A CORRIDA DE HO IAT SENG Ho Iat Seng é o principal candidato a Chefe do Executivo… Relativamente a Ho Iat Seng tenho que fazer alguns pontos prévios. Nestas circunstâncias, se eu vier dizer mal de Ho Iat Seng não há qualquer credibilidade porque é tido como uma vingança. Dizer bem também não me apetece muito. Mas sobretudo não me apetece dizer bem porque poderia dar a imagem que estava a tentar entrar novamente nas boas graças do futuro Chefe de Macau. Eu não quero entrar nas boas graças dele, nem nas más. Mas, primeiro, fui afastado de uma forma absolutamente injusta. Segundo, eu não estou no meu grande escritório de advocacia. Portanto, era falso e eu não tinha um grande escritório à espera. Também foi dito que concordei em sair. Eu não concordei nem discordei nem sair. Foi-me comunicada a saída. Quanto ao resto, Ho Iat Seng sempre foi uma pessoa muito educada, com um trato muito civilizado. Isso aumenta ainda mais a surpresa. Ho Iat Seng é o candidato ideal para Chefe do Executivo? Penso que haveria outros candidatos que teriam melhores aptidões, melhor potencial, mas também tenho consciência que haveria outros candidatos, que foram falados, que teriam piores aptidões. Caso Ho Iat Seng seja eleito, como cidadão de Macau, tenho necessariamente de lhe desejar as melhores felicidades. Quanto melhor for o desempenho do seu cargo, melhor sai servida a população. O que espera do futuro Governo? Se Ho Iat Seng o eleito Chefe do Executivo, ou outro, gostava de ver esta insalubridade que assola a sociedade de Macau desaparecer, ou pelo menos diminuir. Gostava de ver os direitos fundamentais serem melhor garantidos e que diplomas sobre direitos fundamentais, como o diploma do Direito de reunião e manifestação ou de protecção de dados fundamentais […] não sejam utilizados para persecutórios contra quem exerce esses direitos fundamentais. Gostava de ver o regresso a uma cultura de Rule of Law e não Rule by Law. […] Tivemos essa cultura e está a desaparecer. “Penso que haveria outros candidatos que teriam melhores aptidões. […] Quanto melhor for o desempenho do cargo dele [Ho Iat Seng], melhor sai servida a população.” Preocupa-o a tendência securitária? Era importante que fosse feito um retrocesso desta tendência, que roça a paranóia. Era importante que se vivesse como antes, em que se deixava as pessoas emitirem as suas opiniões, que podem ser distintas das outras, porque tudo isto faz parte da democracia e do segundo sistema. Não temos de ter receio. O facto de Ho Iat Seng ter mantido a nacionalidade portuguesa como presidente da Assembleia Legislativa tem relevância? Não sei. Ele é português? Um português pode ser Chefe do Executivo e presidente da Assembleia Legislativa? Nos termos da Lei Básica e, se a memória não me atraiçoa, para ser Chefe do Executivo é preciso ter nacionalidade chinesa. Esse requisito da nacionalidade também se estende a outros cargos, como o presidente do TUI , por exemplo, ou o presidente da AL. Julgo saber que a lei da nacionalidade da RPC não permite a dupla nacionalidade. Mas não sou um perito e não estou aqui num exercício de vingança contra ninguém, menos ainda contra Ho Iat Seng. Ele encarnou e formalizou a decisão da minha saída. Não esqueço, não perdoo, mas já estou noutra. O facto de Marcelo Rebelo de Sousa visitar brevemente Macau, contribuiu para que falasse nesta altura? É uma coincidência feliz. É o Presidente de uma república que é verdadeiramente democrática e que verdadeiramente elege os direitos fundamentais como prioridade. Também acabámos de celebrar o 25 de Abril há pouco tempo e todos estes factores e coincidências apontaram no sentido de falar. O que espera da visita do Presidente em relação ao seu caso? Nada. O meu caso está decidido. Estive reunido com vários membros do Governo português, dois ou três ministros, falei do meu caso, mas não pedi ajuda para resolverem o assunto. Nunca pedi isso. Tinha consciência que não poderia voltar para a AL e se me convidarem para voltar, eu não volto. Falei no sentido de dizer que há uma situação que sinaliza, que simboliza, que é um sinal de alerta de alarme para quem, independentemente das funções, defende a democracia, os direitos fundamentais e para quem é português. FOTO: Sofia Margarida Mota ATAQUE E RETROCESSO Trata-se de um ataque à comunidade portuguesa? Continuo convicto que na altura houve um ataque a pessoas portuguesas que primavam a sua actuação pela isenção e que não vergavam. É uma leitura possível do caso e foi nesse aspecto geral que falei com, por exemplo, o ministro dos Negócios Estrangeiros, quando ele passou por Macau. Nunca pedi, nem em Portugal nem aqui ao ministro, que me ajudasse a resolver o assunto para eu voltar à AL. Não, penso é que sinaliza e é um sinal de alerta para o que poderá vir a caminho. O objectivo passava por vos mandar para fora de Macau Houve um ponto importante do Cônsul Vitor Sereno, que com uma grande capacidade de antecipação – e na altura nem eu percebi o verdadeiro alcance das declarações dele – disse que Paulo Cardinal e Paulo Taipa saem da assembleia, mas têm muito a dar em Macau e devem continuar em Macau. Na altura achei aquilo um bocadinho estranho. Depois percebeu-se. Não só vão sair da AL, como por ventura há a ideia de os mandar embora. São pessoas incómodas, pessoas que não devem continuar aqui. Ele antecipou isso e deu o recado, em boa hora. Mas depois foram contratados dois portugueses… A verdade é que os despedimentos foram visionados por muita gente que pensa pela sua cabeça como um ataque aos portugueses. Em relação às contratações, tenho de dar os parabéns a Ho Iat Seng, que reconheceu o erro, recuou e foi contratar mais uma ou duas pessoas. Do mal, o menos. Espera continuar por Macau? Enquanto puder estar aqui, estou aqui. Sou cidadão de Macau há quase 30 anos, trabalho aqui, casei aqui, o meu filho nasceu aqui. Fui injustiçado. Mas era o que mais faltava sair com um pontapé no rabo ou tipo chiclete que se usa e deita fora, sem demora. Enquanto puder e tiver condições vou continuar em Macau. Dei muito a Macau e Macau deu-me muito.
Nuno Miguel Guedes Divina Comédia h | Artes, Letras e IdeiasCansaço [dropcap]E[/dropcap]m 1982 um dos grandes cronistas em língua portuguesa – o brasileiro Rubem Braga – publicava mais um daqueles textos que deveriam ser ensinados nas escolas. Na aparência tratava-se da recordação de um jogo de futebol entre amigos, na praia. Braga lembrava, de forma suave e melancólica, um essencial desafio que tinha acontecido trinta e sete anos antes. A crónica é na verdade sobre o efeito da passagem do tempo e da forma como vemos o mundo consoante essa passagem nos afecta. Não resisto em citar este pedaço, para benefício do amigo leitor e do universo em geral: “Ah, roda de amigos e de mulheres, esses momentos de praia serão mais tarde momentos antigos. Um pensamento horrivelmente besta mas doloroso. Aquele amará aquela, aqueles se separarão; uns irão para longe, uns vão morrer de repente, uns vão ficar inimigos. Um atraiçoará, outro fracassará amargamente, outro ainda ficará rico, distante e duro. E de outro ninguém mais ouvirá falar, e aquela mulher que está deitada, rindo tanto sua risada clara, será aflita e feia, azeda e triste”. E terminava com esta frase lapidar e resignada: “Ultimamente têm passado tantos anos.”. Tem razão, o cronista. Pior: parece que os anos que passam ultimamente são cada vez mais. Em pouco mais de uma semana os dias foram ingratos para os amantes das pequenas coisas: a destruição comovente da grande beleza, como aconteceu em Paris (para não falar de outros valores que para aqui deixo de fora); a chacina horrível no domingo pascal no Sri Lanka; e tantas outras atrocidades que não nos chegam ou pelo menos chegam em diferido. Derrotado, cansado, precisei de uma pausa, do regresso àqueles que escreveram e onde me sinto em casa. Nem aí, nem aí: na mais recente edição da revista Spectator – que historicamente albergou muitos dos que formaram e formam o meu modo de ver o mundo, da política às artes e sempre com a possibilidade de debate – aparece um extraordinário artigo assinado por um James Tooley. Chama-se They Tuck You Up (traduzido à pressa, “Eles Aconchegam-te”) e é um trocadilho com o primeiro verso de um célebre poema de Philip Larkin, This Be The Verse: “They fuck you up, your mom and dad”. Este poema, publicado no livro High Windows, é de Abril de 1971. É um exemplo feroz do cepticismo do poeta, neste caso sobre o conflito de gerações – mas mais do que isso, é uma reflexão pessimista sobre a natureza humana. O poema defende que os pais enchem os filhos com os seus defeitos, embora não o desejem, já que os seus pais também o terão feito. E termina com esta extraordinária quadra, que conclui e dá sentido ao poema: “Man hands on misery to man. / It deepens like a coastal shelf./ Get out as early as you can, / And don’t have any kids yourself “. O articulista responsabiliza este poema – e este poeta e outros artistas como ele, afirma – como os responsáveis pela decadência e quase extinção da família tradicional que teria começado no final dos anos 60 e na década seguinte. Não se trata portanto de uma opinião literária: trata-se de um panfleto moralista em que se afirma que alguma arte é responsável pela decadência da sociedade e dos valores “decentes “ que essa sociedade deverá ter. E sempre que há alguém que defende este tipo de argumentação sabemos logo duas coisas: é estúpido e é perigoso. Por coincidência, antes de chegar a este artigo tinha regressado a casa com uma magnífica edição de The North Ship, o primeiro livro de Larkin e que um amigo me ofereceu. A ele regressei imediatamente, como que a procurar santuário. Mas o mal estava feito. Ah, meu Rubem Braga, você continua a ter razão: ultimamente têm passado muitos anos. O problema é que muitos, tantos, têm sido para trás.