Hoje Macau PolíticaAL | Pró-democratas lembraram Tiananmen no hemiciclo Três deputados pró-democracia lembraram no final da semana passada os 30 anos do massacre de Tiananmen na Assembleia Legislativa de Macau e pediram a Pequim para não “fugir à verdade histórica”, considerando que a sociedade exige “verdade, indemnização e responsabilização” [dropcap]V[/dropcap]erdade, indemnização e responsabilização (…) sem isto, esta história não terá fim”, afirmou o deputado Au Kam San. “Depois de 30 anos, ainda não há justiça para as vítimas, que continuam a ser apelidadas de bandidos, e os seus familiares continuam a enfrentar esta miséria sem fim. É isto que não conseguimos esquecer”, referiu o deputado pró-democrata, de 62 anos, no plenário da passada quinta-feira. Na declaração logo depois de Au Kam San, o deputado mais novo de Macau, Sulu Sou, usou da palavra para criticar o comportamento do poder central: “nestes 30 anos, o país e o mundo conheceram mudanças vertiginosas, e olhar para a frente tornou-se desculpa para fugir à verdade histórica, que foi substituída por uma falácia que inverte a relação causa-efeito, insinuando que sem repressão sangrenta não haveria crescimento económico”. “Estas afirmações ultrapassam os limites mínimos da moralidade e ameaçam erodir a memória e as feridas”, considerou o pró-democrata. Questão de família Já Ng Kuok Cheong pediu a criação de uma comissão de investigação para “se proceder a uma averiguação independente e imparcial (…) dar uma satisfação aos familiares das vítimas e dos desaparecidos” e, por fim “indemnização às vítimas e às suas famílias”. Na semana passada, mais de 200 pessoas em Macau lembraram as vítimas e disseram à Lusa temer que no futuro não possam fazer esta homenagem, que é silenciada e proibida na China continental. Entre as 19h30 e as 22h manifestantes e turistas foram-se juntando em frente a um palco onde os organizadores passaram filmagem dos acontecimentos de há 30 anos em Pequim. Muitos dos manifestantes sentaram-se no chão e acenderam velas em memória às vítimas que o Governo Central nunca admitiu. Em Hong Kong mais de 100 mil pessoas homenagearam as vítimas.
Hoje Macau PolíticaTerreno | Ng Kuok Cheong pede aproveitamento do edifício da Imprensa Oficial [dropcap]O[/dropcap] deputado Ng Kuok Cheong interpelou o Governo a pedir explicações quanto à reutilização do terreno e antigo edifício da Imprensa Oficial, situado na Rua da Imprensa Nacional. O pró-democrata refere que depois de a Imprensa Oficial se ter mudado para o Centro de Serviços da RAEM em Pac On, Taipa, no fim do mês passado, o antigo edifício passou a representar um desperdício de recursos públicos. Além disso, Ng Kuok Cheong pergunta ao Governo o valor da renda do escritório do Gabinete do secretário para a Economia e Finanças e da Secretaria para os Transportes e Obras Públicas, sugerindo que eles se podiam mudar para aquele antigo edifício. O objectivo desta mudança seria o uso eficaz dos terrenos públicos e minimizar o desperdício de recursos. Sofia Margarida Mota PolíticaChefe do Executivo | Novo candidato “sem hipóteses”, segundo Larry So Leung Kuok Chao pretende candidatar-se a Chefe do Executivo. Para Larry So, a candidatura do empresário não terá sucesso e será difícil conseguir os votos necessários para ser nomeado candidato pelo Colégio Eleitoral [dropcap]S[/dropcap]em hipóteses!” É desta forma que o comentador político Larry So definiu ao HM a possibilidade de Leung Kuok Chao ser nomeado candidato ao cargo de Chefe do Executivo, depois de mostrar intenção de entrar na corrida. Uma das razões que “derrota” o empresário à partida tem que ver com a altura em que a demonstra a sua intenção. Para Larry So, já é uma candidatura tardia, porque o candidato até agora conhecido, Ho Iat Seng, tem trabalhado no sentido de reunir vários apoios. “Quando todos já pensavam que não iria haver mais ninguém interessado em concorrer para as nomeações de candidatos a Chefe do Executivo, surgiu Leung Kuok Chao. Ele já apareceu demasiado tarde. Ho Iat Seng apresentou muito cedo a sua intenção e tem trabalhado no sentido de reunir apoios e tem conseguido e isto tudo antes do período destinado à nomeação de candidatos”, aponta o académico. Recorde-se que os candidatos ao cargo de Chefe do Executivo podem ser apresentados conjuntamente por, pelo menos, 66 membros da Comissão Eleitoral, sendo que cada membro pode propor um só candidato. “Este candidato novo, se quiser ter 66 ou mais votos para que possa ser nomeado, vai ter que trabalhar arduamente para isso e ainda assim vai ser muito difícil. Duvido que consiga ter nomeações suficientes”, refere So. O colégio, composto por 400 membros e que ainda não está definido, é eleito a 16 de Junho. Já as eleições para o Chefe do Executivo ainda não têm data marcada, sendo vontade de Pequim que se realizem em Agosto. Sem o apoio maior A dificultar o processo de Leung Kuok Chao acresce ainda o já conhecido apoio do Governo Central à candidatura do também presidente da Assembleia Legislativa que, considera Larry So, vai influenciar a concordância dos membros da Comissão Eleitoral. “Penso que o facto de o Governo Central apoiar Ho Iat Seng vai condicionar as nomeações dos membros [do colégio Eleitoral] e estes vão tentar estar alinhados com Pequim”, disse. No entanto, para Larry So, a possibilidade de um novo candidato pode dar outra dinâmica ao período eleitoral. “A eleição para o Chefe do Executivo é tida como uma coisa garantida. Aparecer alguém a dizer que vai desafiar esse sistema é uma coisa boa”, disse. Em contrapartida, os desafios não são bem vistos por Pequim, pelo que Leung terá que estar preparado para não ter qualquer apoio por parte do Governo Central que “vai tentar manter Macau longe de qualquer distúrbio que possa ameaçar a harmonia social”. Candidato confiante Por seu lado, Leung Kuok Chao, que anunciou na passada sexta-feira a intenção de se candidatar a Chefe do Executivo, está confiante em conseguir o apoio necessário, de acordo com informação veiculada pela Rádio Macau. O objectivo de Leung é representar a população, nomeadamente das camadas mais desfavorecidas, refere a mesma fonte. Leung Kuok Chao, tem 45 anos e é director de uma empresa de investimento. Participou em 2005 nas eleições legislativas, como número 2 da lista da Associação Pela Democracia e Bem-Estar Social de Macau, onde arrecadou cerca de quatro mil votos, representando 3,5 por cento, resultado que não foi suficiente para ser eleito como deputado. A lista, que corria com o número 10, era liderada por Wong Cheong Nam, um dos nomes da primeira geração de pró-democratas de Macau. João Santos Filipe Desporto MancheteMacau recusa jogar no Sri Lanka por motivos de segurança e jogadores revoltam-se O presidente da Associação de Futebol de Macau, Chong Coc Veng, impediu os atletas de irem para o Sri Lanka, por temer atentados terroristas, mas os jogadores não se conformam. O dirigente diz que a AFM está preparada para assumir a punição da FIFA, que pode passar pela suspensão de todas as competições regionais e internacionais de selecção e clubes [dropcap]A[/dropcap] selecção de Macau está em risco de ser proibida de participar nas competições com a chancela da FIFA e da Confederação Asiática de Futebol (AFC, em inglês). Em causa está a decisão da Associação de Futebol de Macau (AFM) de não ir ao Sri Lanka disputar o jogo agendado para amanhã, evocando motivos de segurança na sequência dos atentados terroristas da passada Páscoa. Como a partida faz parte da primeira ronda de qualificação para o Campeonato Mundial de 2022, a falta de comparência pode ter consequências muito pesadas para o futuro da selecção. Por esta razão, os próprios atletas revoltaram-se e ameaçam, caso não sejam autorizados a jogar, não voltar a representar a selecção da Flor do Lótus. A decisão foi comunicada aos jogadores logo na sexta-feira, pouco mais de um dia da vitória por 1-0 frente ao Sri Lanka, em Zhuhai, e oficializada na noite de sábado. Ontem, a AFM voltou a confirmar a decisão, através de uma conferência de imprensa, mesmo depois da Federação de Futebol do Sri Lanka ter emitido um comunicado a garantir que todas as condições estavam reunidas. “Tomámos esta decisão porque a AFM coloca a segurança dos jogadores acima de tudo. Não podemos correr riscos e colocar a vida dos atletas em risco. Foi por isso que tomámos a decisão de não enviar a nossa equipa para o Sri Lanka”, afirmou Chong Coc Veng, presidente da MFA. “Pedimos a compreensão. Não foi uma decisão fácil, mas tivemos de tomar esta medida difícil para proteger os jogadores. Temos de pensar nos jogadores, nas suas famílias e amigos”, acrescentou. Chong Coc Veng negou que as condições de segurança para o jogo em Colombo estivessem reunidas, apesar da Federação de Futebol do Sri Lanka garantir que haveria protecção especial para os atletas. “Sabemos que eles emitiram o comunicado. Mas nós temos como referência o alerta de viagem do Governo. E foi devido a esse alerta que tomámos a decisão de não comparecer”, apontou. Revolta interna Entretanto, a decisão causou revolta entre os jogadores. Como tal, foi enviada uma carta aberta à associação e ao Governo, assinada por 48 atletas das equipas A, sub-21 e sub-18, a dizer que caso não entrem em campo amanhã deixam de estar disponíveis para a selecção. “Sentimos que o futebol de Macau não tem sido respeitado nos últimos anos. Mas, finalmente, temos uma hipótese de dar um motivo de orgulho aos cidadãos de Macau, aos fãs, famílias e amigos como selecção. Estamos mais perto que nunca de atingir o objectivo e não queremos deixá-lo escapar entre os dedos”, podia ler-se no documento. Também Nicholas Torrão, capitão, explicou ao HM o ambiente que o plantel vive. “Estamos desiludidos. Percebemos que não podem garantir a segurança, mas nós queríamos ir e estávamos prontos para assinar um termo de responsabilidade sobre as consequências”, contou o atleta. “Se não nos deixam representar a selecção neste momento em que podemos alcançar uma fase que nunca se conseguiu alcançar antes também não faz sentido representar a selecção… É só para os amigáveis? Se é para abdicar do Mundial e do Asiático e apenas para jogar os amigáveis, que convoquem outros”, desabafou. O internacional por Macau protestou também contra o facto de os jogadores não terem sido ouvidos: “O futebol são os jogadores. Os dirigentes, intermediários e outros vêm por acréscimo. As decisões não deviam ser tomadas nos corredores”, sublinhou. Também os jogadores Cheong Hoi San, Leong Ka Hang, Lam Ngai Tong e Ho Man Fai vieram a público criticar a decisão, através de uma conferência de imprensa coordenada pelo deputado Sulu Sou. “Perder uma oportunidade como esta vai ter um grande impacto no futebol de Macau e nas gerações futuras. Há muitos jogadores locais que têm o sonho de jogar profissionalmente. Mas a AFM abdica da participação no Mundial de uma forma muito ligeira. É um mau exemplo”, afirmou Cheong Hoi San. “O plano de segurança já foi aprovado pela FIFA e pelo AFC… Esta decisão vai ser muito negativa e mostra que não há futuro no futebol local”, acrescentou. Cheong Hoi San lamentou igualmente o facto de não poder representar a China, através das cores de Macau. “Pessoalmente, fico desiludido e com alguma vergonha. Como é que uma situação destas nos pode impedir de representar o nosso país?”, perguntou. Treinador desiludido Na conferência da AFM, o seleccionador de Macau confessou sentir-se desiludido com a situação e estar preparado para contar, no futuro, apenas com os atletas que se mostrem disponíveis para representar a AFM. “Estou desiludido, claro que sim. Compreendo melhor do que ninguém o esforço feito pela equipa e na preparação deste encontro”, afirmou Iong Cho Ieng. “Estou desiludido, mas não posso aceitar que se coloque em risco a segurança dos jogadores”, acrescentou. Iong referiu igualmente respeitar a opinião dos atletas de se afastarem e apontou que nas outras selecções também há jogadores que abdicam das respectivas selecções. Se em público foi esta a posição tomada por Iong, em privado o cenário poderá ter sido diferente. Falando em impressões pessoais, o jogador Cheong Hoi San diz ter sentido que Iong queria estar ao lado dos atletas. “Nós achamos que o treinador queria tomar a mesma posição e estar ao nosso lado. Mas, como sabemos, ele é empregado da associação…”, começou por dizer. A minha impressão é que ele gostava de estar ao nosso lado, mas sabemos como é a mentalidade de Macau. As pessoas podem ter uma ideia contrária, mas não podem vir a público mostrar que são contra a instituição que os emprega”, referiu. AFM desconhece penalizações Neste momento, a FIFA ainda não publicou as regras para o Mundial de 2022 no Qatar. O regulamento está a ser finalizado depois de ter sido decidido que não haveria alargamento do número de equipas a participar na fase final. Contudo, tanto as regras do mundial de 2014, no Brasil, como da Rússia, em 2018, são semelhantes. Tendo o Mundial da Rússia como referência, caso uma equipa abandone a competição na fase em que Macau se encontra vê-se obrigada a pagar uma multa de 40 mil francos suíços, o que corresponde a 325 mil patacas. Já o código de conduta da FIFA define uma multa de pelo menos 10 mil francos, ou seja, cerca de 81 mil patacas para as faltas de comparência. Além da multa, a Federação de Futebol do Sri Lanka e a própria FIFA podem exigir compensações monetárias por perda de receitas, despesas com a organização, entre outras. Contudo, o mais grave é a possibilidade de ser instaurado um processo pelo Comité de Disciplina da FIFA contra a AFM. Neste caso, a associação pode ser suspensa, o que implica o afastamento da selecção e dos clubes de Macau das competições oficiais. Ontem, Chong Coc Veng admitiu que ainda não sabia quais as consequências para a AFM. “Ainda estamos a conversar com a FIFA e a AFC sobre as penalizações. A AFM está disponível para cumprir o castigo”, limitou-se a dizer sem explicar as possibilidades, além da multa. Quando questionado se se demite caso as equipas de Macau fiquem impedidas de participar nas competições internacionais, Chong recusou tomar uma posição: “A decisão foi da AFM. Mas o cenário ainda não está confirmado e não posso responder”, apontou. Segurança aprovada Segundo a AFM, as discussões com a Federação de Futebol do Sri Lanka, com a FIFA e AFC para que fosse encontrado um campo neutro para o encontro já decorriam há algum tempo. A própria AFM terá mostrado disponibilidade para cobrir todas as despesas da Federação do Sri Lanka com a organização em terreno neutro. Porém, ao contrário de Macau, que disputou o encontro em Zhuhai, os adversários não quiseram abdicar do factor casa como forma de mostrar respeito perante os adeptos. “Tem a importância máxima para qualquer selecção poder jogar em casa diante dos seus adeptos, especialmente quando se trata de uma ronda de apuramento para o Mundial FIFA, o que só acontece uma vez a cada quatro anos”, explicou a FFSL. “Cumprimos todos os requisitos de segurança e tanto a AFC como a FIFA aceitaram os nossos planos de segurança para o jogo”, foi acrescentado. Já sobre o sistema de alerta de viagens, ao Sri Lanka pediu a Macau que olhe para o Interior da China, em que o Governo Central já baixou o nível de alerta, ao contrário da RAEM. “O Sri Lanka também tem o direito de organizar os jogos no Sri Lanka, e todos os países devem respeitar este direito”, foi acrescentado. Ainda de acordo com o comunicado oficial da Federação do Sri Lanka, os responsáveis da AFC, que vão supervisionar a partida, já estão no território e os dirigentes de Macau são aguardados durante o dia de hoje, para os compromissos normais antes de uma partida oficial. Sulu Sou fala em “vergonha” Depois conhecida a decisão da Associação de Futebol de Macau em não autorizar a deslocação da selecção ao Sri Lanka, o deputado Sulu Sou organizou uma conferência com um grupo de jogadores para pedir o adiamento do encontro. O legislador lamentou todo o sucedido: “É um dia de vergonha para o futebol de Macau. Ninguém consegue compreender a decisão da Associação de Futebol de Macau”, afirmou. “Como deputado, apelo à AFM que mostre toda a informação, os documentos e correspondência dos últimos dois meses com a FIFA, AFC e entidades do Sri Lanka a pedir o adiamento do encontro”, frisou. Duarte Alves: Se fosse eu, levava os jogadores No ano passado, o Benfica de Macau realizou dois jogos na Coreia do Norte a contar para a Taça AFC. A Coreia do Norte é um Estado que se encontra em “guerra” com a Coreia do Sul e a matéria levantou questões aos dirigentes. Porém, segundo Duarte Alves, dirigente do clube, foram cumpridas as exigências da AFC e tudo correu bem. “Falámos com a AFC sobre eventuais receios. Mas eles disseram que a Federação da Coreia do Norte cumpria todos os requisitos, que os planos de segurança eram seguidos e que no passado nunca tinha havido problemas”, contou, ontem, ao HM. “Acabámos por ir e correu tudo bem. Não houve problemas”. Duarte Alves considerou também que perante a aprovação, tanto da AFC como da FIFA, que não resta a Macau outra alternativa que não seja comparecer no encontro, mesmo que a selecção considere que seria mais seguro jogar em terreno neutro. Finalmente, Duarte Alves referiu que a associação devia respeitar a opinião dos jogadores, uma vez que quase todos se mostraram disponíveis para viajar. ID lava as mãos Na carta aberta, os jogadores pediram ao Governo ajuda para resolver a situação, de forma a poderem participar no encontro. Caso contrário, os atletas diziam não estar mais disponíveis para representar Macau. Contudo, contactado pelo HM, o Instituto do Desporto limitou-se a dizer não ter qualquer declaração a fazer sobre a situação. Hoje Macau China / ÁsiaQuase um milhão de pessoas protestam em Hong Kong contra lei das extradições [dropcap]Q[/dropcap]uase um milhão de pessoas estiveram hoje ruas de Hong Kong em protesto contra plano do Governo que visa permitir extradições para a China continental. O parque Vitória foi o local convocado para o protesto e, segundo relata a agência noticiosa Efe, esteve lotado durante várias horas. O branco foi a cor predominante e a escolhida para este protesto, bem como guarda-chuvas amarelos, símbolo das manifestações em favor da democracia em 2014. O plano do executivo chinês também já foi criticado pelo último governador de Hong Kong, o britânico Chris Patten, que disse na semana passada que se trata de um “terrível revés” para a reputação daquele território. O Governo de Hong Kong apresentou ao Conselho Legislativo (parlamento) uma proposta de lei que autoriza a extradição de condenados em fuga para vários países, incluindo a China continental, com os quais não tem actualmente acordos de extradição. As alterações à lei da extradição – que muitos críticos afirmam colocar a população à mercê de um sistema judicial chinês opaco e politizado – motivou, em Abril, a maior manifestação em Hong Kong desde o “Movimento dos Guarda-chuvas”, em 2014. Esse protesto foi liderado por organizações de defesa dos direitos humanos, como a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch, e reuniu meio milhar de pessoas. “Esta proposta inflige um terrível golpe no Estado de Direito, na estabilidade e segurança de Hong Kong e no seu estatuto de importante centro de comércio internacional”, disse Pattern, governador de Hong Kong até 1997, quando a administração passou para a China. A fórmula ‘Um País, Dois Sistemas’ serviu para a integração de Hong Kong e Macau na República Popular da China, em 1997 e em 1999, respectivamente, com o estatuto de regiões administrativas especiais, e garante que as políticas socialistas em vigor no resto da China não se aplicam nos territórios, que gozam de “um alto grau de autonomia”, à excepção da Defesa e das Relações Externas, que são da competência exclusiva do Governo Central chinês. Hoje Macau China / ÁsiaJapão e EUA discutem desequilíbrios comerciais entre os dois países [dropcap]O[/dropcap] secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, e o ministro das Finanças do Japão, Taro Aso, discutiram hoje como lidar com o desequilíbrio no comércio entre os dois países. “Discutimos a cooperação entre os Estados Unidos e o Japão em diferentes questões económicas e de segurança”, disse o secretário do Tesouro dos EUA através de sua conta no Twitter. Ambos os representantes discutiram essas questões à margem da reunião dos ministros das Finanças e governadores dos bancos centrais do G20 que decorre neste fim de semana em Fukuoka, no sudoeste do Japão. Os dois países aliados, estão actualmente a negociar um tratado comercial bilateral. No final do mês de maio, o Presidente norte-americano, Donald Trump, voltou a criticar o “tremendo desequilíbrio” no comércio entre o Japão e os Estados Unidos, uma alusão ao excedente japonês, uma das razões que motiva Washington a negociar um novo acordo com Tóquio. “Temos que alcançar o Japão, eles têm feito muito mais negócios connosco, mas gostaríamos de fazer um pouco mais de negócios” com eles, insistiu. Nestas negociações, os Estados Unidos procuram garantir um maior acesso ao mercado japonês em produtos como carne bovina e suína e trigo. O Japão importa grande parte destes produtos da Austrália e da Nova Zelândia, graças ao acordo comercial transpacífico, conhecido como TPP, do qual a administração Trump decidiu retirar os Estados Unidos. Tóquio, por sua vez, pede tarifas mais baixas para produtos industriais japoneses, incluindo veículos, uma das principais exportações para os EUA. Na reunião de hoje, o ministro das Finanças do Japão informou o representante norte-americano que posição japonesa é de que o acordo de comércio não deve incluir qualquer disposição sobre a sua política monetária. Donald Trump, tem acusado repetidamente o Japão de desvalorizar o iene para impulsionar as suas exportações de automóveis para os Estados Unidos e ameaçou impor limitações ao sector industrial japonês. A moeda japonesa permaneceu fraca em relação ao dólar, ao euro e a outras moedas nos últimos anos, como resultado de várias medidas de flexibilização monetária aplicadas pelo Banco do Japão, uma estratégia projectada para tirar o país asiático do seu longo ciclo de deflação. Essa desvalorização do iene favoreceu as exportações japonesas, tornando as empresas nipónicas mais competitivas no exterior. Durante a reunião dos ministros do G20, que será concluída neste domingo, espera-se analisar os efeitos sobre a economia global do surgimento de políticas proteccionistas, os crescentes desequilíbrios entre os fluxos comerciais e os impactos da tecnológica. Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeLuís Amorim | Decisão “não oferece ideia de seriedade” do sistema jurídico O Tribunal de Segunda Instância considerou “inútil” a acção dos pais do jovem Luís Amorim, que foi encontrado sem vida aos 17 anos debaixo da Ponte Nobre de Carvalho, em 2007. O advogado dos pais, Pedro Redinha, lamenta uma decisão demasiado tardia e diz que o acórdão do tribunal “não oferece uma ideia de seriedade do sistema em que estamos inseridos” [dropcap]A[/dropcap] longa batalha judicial que os pais do jovem Luís Amorim travam nos tribunais da RAEM parece ter chegado ao fim sem que uma decisão lhes tenha sido favorável. Um acórdão recentemente divulgado do Tribunal de Segunda Instância (TSI) considera que o recurso contra a RAEM é “absolutamente inútil”. “Não cabe ao tribunal presumir nem ficcionar os motivos do inconformismo dos recorrentes”, pode ler-se. O colectivo de juízes considerou ainda “absolutamente inútil o conhecimento do recurso” e que, caso o fizesse, “seria desrespeito pelo que decidido e transitado em julgado está”. Contactado pelo HM, o advogado dos pais de Luís Amorim, Pedro Redinha, acusa o sistema jurídico de falta de seriedade. “Ao fim de tantos anos, o TSI veio afirmar que esta acção não tem acolhimento no sistema jurídico de Macau. Como é que é possível este tribunal ter pendente esta acção durante anos, para justamente nesta altura virem dizer que esta acção não tem fundamento legal? Parece que estamos todos a brincar uns com os outros”, acusou. Redinha disse ainda que “a decisão não oferece uma ideia de seriedade do sistema em que estamos inseridos”, lembrando que esta foi “uma das acções com mais tempo nos tribunais”, cerca de três anos. Pedro Redinha frisou que “esta era sempre uma acção complexa para o sistema”, tendo em conta que “mexe com o sistema”. “Ao fim deste tempo o nosso TSI entende que esta acção não tem base legal no ordenamento jurídico. Só tenho pena que esta descoberta tenha sido feita agora, tinha poupado tempo e dinheiro”, adiantou. O causídico afasta também a possibilidade de os pais intentarem mais acções legais contra a RAEM. “É preferível os advogados dedicarem-se as acções que merecem o gosto do sistema”, ironizou. O HM tentou ainda chegar à fala com os pais de Luís Amorim, sem sucesso. Um longo processo O caso de Luís Amorim arrasta-se nos tribunais desde 2012, ano em que os pais decidiram recorrer ao Tribunal Administrativo (TA) para intentar uma acção de responsabilidade civil extracontratual contra a RAEM, exigindo das autoridades uma indemnização de 15 milhões de patacas por “danos não patrimoniais sofridos por falhas ou deficiências de investigação das autoridades de investigação criminal da RAEM”. Antes disso, já o Ministério Público (MP) havia arquivado o processo de inquérito para fins de investigação por três vezes, uma vez que não se conseguiu apurar “a causa da morte do falecido, se foi por motivo de suicídio, de homicídio ou de acidente”. O acórdão do TSI agora divulgado recorda que os pais apontaram como falhas das autoridades criminais uma “anómala catalogação do caso, inicialmente, como suicídio, o que desviou a investigação em detrimento da verdade”, além de ter sido cometidos “erros grosseiros na autópsia realizada em Macau e na metodologia de inquirição das testemunhas”. Além disso, “foram recusados a segunda autópsia e o exame laboratorial do vestuário do falecido para o recolhimento das provas essenciais e houve interpretação indevida das provas como as palavras escritas na coxa do falecido”. A sentença do TA foi conhecida em 2016, tendo os juízes decidido que não havia “fundamento legal para suportar uma indemnização pela responsabilidade civil resultante dos actos lícitos ou ilícitos praticados no desempenho de função judicial” por parte do MP. O corpo de Luís Amorim foi encontrado a 30 de Setembro de 2007, “deitado na Avenida Dr. Sun Yat-Sen, sob a Ponte Nobre de Carvalho, tendo-se verificado lesões em várias partes do seu corpo”. O corpo seria encaminhado para o Centro Hospitalar Conde de S. Januário, onde foi declarada a morte. Na altura, “o médico do Centro Hospitalar Conde de S. Januário, com base no relatório da autópsia, identificou a laceração da aorta provocada pela queda de lugar elevado como causa da sua morte”. Hoje Macau China / ÁsiaFilipinas recusam qualquer inquérito da ONU sobre os direitos humanos [dropcap]A[/dropcap] Presidência filipina rejeitou o apelo a uma investigação às violações dos direitos humanos, lançado na sexta-feira por 11 especialistas da ONU, considerando tratar-se de uma “interferência” nos assuntos do país. Os especialistas pediram, na sexta-feira, aos membros do Conselho de Direitos Humanos da ONU, abertura de um inquérito sobre as graves violações de direitos humanos, notando em particular “o grande número de pessoas mortas pela polícia no quadro da alegada luta contra o tráfico de droga”. Segundo dados oficiais, mais de 5.300 suspeitos foram mortos pela polícia desde o início da “guerra contra a droga”, lançada pelo presidente Rodrigo Duarte após a sua eleição, há três anos. Os defensores dos direitos humanos estimam que o número real seja três vezes mais elevado. Este apelo dos especialistas da ONU “é não só idiota, mas uma ingerência inadmissível na soberania das Filipinas”, afirmou hoje, em comunicado, o porta-voz da Presidência filipina Salvador Panelo. O responsável acusa estes especialistas de “difundirem informações parciais e absolutamente falsas”, antes de sublinhar que, nas Filipinas, “aqueles que falam contra a campanha antidroga e acusam o presidente de violações dos direitos humanos foram rejeitados pelo eleitorado filipino”. Os aliados do Presidente venceram as eleições no mês passado, assumindo o controle do Senado e da Câmara dos Representantes. A “guerra contra a droga” é a bandeira política do Presidente Duterte, que a defende vigorosamente contra todas as acusações vindas do exterior. Os seus críticos consideram que esta luta se tornou uma “guerra contra os pobres”, alimentando um clima de ilegalidade e impunidade no país. Hoje Macau PolíticaTeto Preto – “Gasolina” “Gasolina” Gasolina, gasolina neles Gasolina, gasolina neles Gasolina, gasolina neles Gasolina neles Gasolina, gasolina neles Quando eu voltei para El Dourado Não sei se antes ou depois Quando eu vi a paisagem mutável, a natureza A mesma gente perdida em sua infinita grandeza Eu trazia uma forte amargura dos encontros perdidos E outra vez me perdia no fundo dos meus sentidos Eu não acreditava em sonhos, em mais nada Apenas a carne me ardia E eu não me encontrava Apenas a carne me ardia Gasolina, gasolina neles Gasolina neles Gasolina, gasolina neles Gasolina neles Gasolina, gasolina neles Gasolina neles Gasolina, gasolina neles Eu sou o pão vivo que desceu do céu E quem comer deste pão para sempre viverá E esse, esse é o meu sangue Eu andarei por aí Pela vida a fundo E quem come da minha carne e bebe do meu sangue permanece em mim e eu nele Gasolina, gasolina neles Gasolina, gasolina neles Gasolina neles Gasolina, gasolina neles Gasolina, gasolina neles Gasolina neles! Eu sou uma metralhadora em estado de graça Teto Preto ZOPELAR, ANGELA CARNEOSO, BICA Hoje Macau China / ÁsiaPutin e Xi Jinping em consonância sobre Venezuela e outros temas internacionais [dropcap]O[/dropcap]s presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jinping, apelaram hoje ao diálogo para a resolução da crise política na Venezuela e anunciaram medidas para contrariar as restrições às exportações de altas tecnologias. A declaração emitida no final de um encontro que durou várias horas entre Putin e Xi no Kremlin apela a todas as partes envolvidas no conflito venezuelano a “apoiar uma solução pacífica dos problemas no país através de um diálogo político inclusivo” e rejeitaram uma possível “intervenção militar” na Venezuela. “Seguimos atentamente o desenvolvimento dos acontecimentos na Venezuela e apelamos a todas as partes a cumprir com a Carta da ONU, assim como as normas do direito internacional e as relações entre os Estados”, acrescenta o documento. Putin e Xi, líderes de dois países que possuem importantes interesses económicos na Venezuela, expressam também a intenção de continuar a manter consultas sobre a América Latina e reforçar os contactos e acções conjuntas para aprofundar as relações com os países da região. Numa alusão à actual guerra comercial entre o gigante asiático e os Estados Unidos, a declaração russo-chinesa assinala que as duas partes se propõem “contrariar a imposição de restrições infundadas ao acesso aos mercados de produtos de tecnologia da informação com a desculpa de garantir a segurança nacional, assim como a exportação de produtos e altas tecnologias”, assinala a declaração conjunta emitida no final das negociações entre os dois estadistas. O documento também sublinha a disposição de se “oporem à ditadura política e à chantagem na cooperação comercial e económica internacional, e condenar a aspiração de alguns países de se arrogarem no direito de decidir os parâmetros da cooperação entre outros países”. Putin e Xi Jinping, acusados de promoveram a censura no universo digital, também prometem “garantir o funcionamento pacífico e seguro da Internet na base da igualdade de condições de todos os países no dito processo”. “E também contribuir para instaurar a regularização de um espaço informativo global”, acrescenta. Num contexto de fortes tensões entre a Rússia e os Estados Unidos, as trocas comerciais entre Moscovo e Pequim aumentaram 25% em 2018, para atingir um nível recorde de 108 mil milhões de dólares (96 mil milhões de euros), um aspecto também sublinhado no comunicado conjunto. Estes números contrastam com a actual guerra comercial entre a China e os Estados Unidos, que ocorre também após Moscovo acusar Washington de competência desleal no caso do gasoduto Nordstream-2 entre a Rússia e a Alemanha, um projecto que hoje voltou a ser criticado por Washington. O líder russo enfatizou a perspectiva comum de Moscovo e Pequim sobre numerosos temas internacionais, em particular a oposição conjunta à retirada os Estados Unidos do Tratado sobre Forças nucleares de alcance intermédio (INF), um decisivo pacto sobre o controlo de armamento firmado no final da Guerra fria. Os dois presidentes consideraram que esta decisão dos EUA “corrói a estabilidade estratégica”, e também manifestaram preocupação pela crescente ameaça de uma corrida ao armamento no espaço, apelando à abolição global do envio de armamento para a órbita terrestre. Putin e Xi Jinping também enfatizaram a necessidade de preservar o acordo nuclear com o Irão, e prometeram contribuir para o avanço das conversações sobre a desnuclearização da Coreia do Norte. Hoje, os dois líderes também assistiram à inauguração de uma fábrica de automóveis chinesa no sul de Mosovo, e à oferta de dois pandas ao zoo da capital russa. Após o programa moscovita, Xi Jinping, que prolonga por vários dias a sua visita à Rússia, desloca-se à antiga capital dos czares e da Revolução de Outubro, onde entre quinta e sexta-feira será convidado de honra no Fórum económico de São Petersburgo, o principal encontro empresarial da Rússia, que deverá reunir 17.000 pessoas. A economia russa tem sido duramente atingida pelas sanções europeias e norte-americanas desde 2014, na sequência da crise ucraniana e da anexação da Crimeia. Hoje Macau China / ÁsiaParlamento tailandês elege líder do golpe de Estado de 2014 como primeiro-ministro [dropcap]O[/dropcap] parlamento da Tailândia elegeu esta quarta-feira o líder do golpe de Estado de 2014 como primeiro-ministro, reforçando o domínio militar da política desde que o país se tornou uma monarquia constitucional há quase nove décadas. O partido apoiado pelos militares que nomeou Prayuth Chan-ocha conquistou o segundo maior número de assentos na Câmara dos Representantes numa eleição geral em Março. Contudo, a escolha ficou praticamente assegurada porque o primeiro-ministro é escolhido numa votação conjunta da Câmara de Representantes (500 assentos) e do Senado (250), cujos membros foram nomeados pela junta militar liderada por Prayuth. Prayuth foi eleito para servir um segundo mandato por um voto de 500 a 244, derrotando o líder do grupo Futuro Novo, Thanathorn Juangroongruangkit. Prayuth, um ex-comandante do Exército, era o candidato do partido Palang Pracharath, apoiado pelos militares, que detém 116 assentos na Câmara, bem como de deputados de partidos menores. A nomeação de Prayuth torna-se oficial quando é endossada pelo rei Maha Vajiralongkorn. “As pessoas ainda pedem liberdades. As pessoas ainda pedem justiça”, disse Thanathorn após a votação. “Este não é o momento para perder a esperança. A esperança ainda está do nosso lado. O tempo ainda está do nosso lado. Quero agradecer a todas as 244 pessoas que amam a democracia por votarem em mim”, acrescentou. Prayuth não disputou o cargo nas eleições de março – a constituição promulgada sob a junta militar que liderou não exige que o primeiro-ministro seja eleito entre os deputados do parlamento. Leis aprovadas durante o seu mandato visaram a existência de partidos políticos estabelecidos, levantando preocupações de que a eleição não foi realizada em igualdade de condições. Os críticos também questionaram a imparcialidade da comissão eleitoral, alegando que as regras foram adulteradas após a votação para beneficiar Palang Pracharath. As novas leis eleitorais visavam especialmente o partido Pheu Thai, que liderou o Governo derrubado pelo golpe de 2014 e venceu a maioria dos assentos da Câmara em março. Hoje Macau DesportoTrês portugueses nos quadros principais do Open de Hong Kong em ténis de mesa [dropcap]A[/dropcap] portuguesa Fu Yu e a dupla Tiago Apolónia/João Monteiro qualificaram-se ontem para o quadro principal do Open de Hong Kong, prova do circuito Mundial de ténis de mesa. Nas rondas preliminares de singulares femininos, Fu Yu impôs-se por 4-0 (11-6, 11-6, 11-4, 11-9) à indiana Madhurika Patkar, e por 4-3 (3-11, 11-6, 11-8, 4-11, 11-6, 6-11, 11-6) à coreana Kim Hayeong. Na mesma fase da competição, Jieni Shao não conseguiu passagem ao quadro principal, tendo perdido com a holandesa Jie Li por 4-0 (4-11, 9-11, 10-12, 9-11), depois de se ter imposto à indiana Archana Girish Kamath por 4-1 (11-5, 10-12, 11-8, 12-10 e 11-9) Na variante de pares masculinos Tiago Apolónia e João Monteiro garantiram a passagem ao quadro principal da prova ao derrotarem os italianos Mihai Bobocica e Niagol Stoyanov por 3-0 (11-8, 13-11, 11-9). Portugal ficou fora da competição de pares mistos, depois de Tiago Apolónia e Jieni Shao terem perdido com a dupla francesa Tristan Flore/Laura Gasnier por 3-2 (11-8, 4-11, 8-11,11-6, 9-11). Hoje Macau SociedadeAMCM | Depósitos e empréstimos de residentes a subir [dropcap]D[/dropcap]ados estatísticos da Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM) revelam que tanto os depósitos como os empréstimos dos residentes registaram um aumento. No que diz respeito aos depósitos, houve um aumento de 0,5 por cento face a Maio, tendo atingido um total de 648,5 mil milhões de patacas. Já os empréstimos concedidos no sector privado aumentaram apenas 0,3 por cento, tendo atingido as 512,3 mil milhões de patacas. Pelo contrário, os depósitos dos não-residentes decresceram 2,7 por cento, atingindo as 251,0 mil milhões de patacas. De acordo com um comunicado, no final de Abril, o rácio entre empréstimos e depósitos de residentes desceu de 57,7 por cento no final de Março para 57,5 por cento, enquanto que o volume que incluiu o rácio empréstimos/depósitos de não-residentes decresceu de 95,0 para 94,0 por cento. Os depósitos do sector público na actividade bancária aumentaram um por cento, o que equivale a 242,0 mil milhões de patacas. Olavo Rasquinho VozesO meteorologista de Estaline – O homem que viveu duas vezes [dropcap]A[/dropcap]o ler a biografia de José Estaline, de Simon Sebag Montefiore, a minha curiosidade foi aguçada pelo facto de ser mencionado que ele (Estaline) trabalhara como meteorologista no Instituto Meteorológico de Tbilisi, na Geórgia. Procurei mais informação mas não consegui saber quais as suas funções no Instituto Meteorológico. Tudo indica que não teria sido meteorologista na medida em que não consta que tivesse estudado matemática e física em profundidade que lhe permitissem compreender os fenómenos meteorológicos. Provavelmente limitar-se-ia a ler os instrumentos e a registar periodicamente os valores das variáveis meteorológicas, tais como a pressão atmosférica, a temperatura do ar, a precipitação e a avaliar visualmente outros parâmetros como a nebulosidade, visibilidade, nevoeiro, neblina, bruma seca, etc. Quanto muito teria exercido as funções de observador meteorológico. Continuando a busca de algo que relacionasse Estaline com a meteorologia, deparou-se-me o livro “O Meteorologista”, do escritor francês Olivier Rolin. O meteorologista não era Estaline, mas sim o seu contemporâneo Alexei Feodossievitch Vangengheim. Além de ambos terem tido profissões na área da meteorologia e de serem entusiastas das novas ideias que alastravam pela Rússia no início do século XX, nada mais de comum teria havido entre eles. Estaline era filho de um sapateiro e nascera em 1878 em Gori, na Geórgia (Cáucaso) e Alexei descendia de uma família da pequena nobreza e nascera em 1881 numa pequena aldeia, na Ucrânia. No entanto o destino ligou-os de maneira trágica. Enquanto Estaline enveredou pelo envolvimento político ativo, Alexei dedicou-se a uma carreira nas áreas da física e da matemática. Frequentou, no início do século XX, o Departamento de Matemática da Faculdade de Física e Matemática da Universidade de Moscovo. Depois do serviço militar frequentou o Instituto Politécnico de Kiev e o Instituto Agrícola de Moscovo. Casou em 1906, tendo ingressado mais tarde no Serviço Hidrometeorológico do Mar Cáspio. Ainda antes da revolução é mobilizado como chefe do Serviço Meteorológico do VIII Exército, tendo os seus conhecimentos de meteorologia sido aproveitados em batalhas entre russos e austríacos, em que eram empregues gases, arma de guerra cujo uso era muito dependente da direção e intensidade do vento. Após a revolução de Outubro de 1917 e da guerra civil que se lhe seguiu entre Brancos e Vermelhos trabalhou no Observatório Geofísico em Petrogrado, onde foi o responsável pela previsão do tempo a longo prazo. O interesse pela meteorologia foi-lhe provavelmente transmitido pelo seu pai, que montara uma estação meteorológica nas suas terras. Apesar do seu pai pertencer à pequena nobreza, o que poderia fazer cair suspeitas de comportamento reacionário, Alexei optou por permanecer na Ucrânia após a revolução de outubro de 1917, contrariamente a um seu irmão que emigrou. Foi membro do partido bolchevique e, como tal, fez parte de numerosos comités e conselhos científicos. Foi nomeado para a direção do recém-formado Serviço Hidrometeororológico Unificado da URSS, a que chamava em alguns dos seus escritos “o meu querido filho soviético”. Foi o responsável pela instalação da rede de estações meteorológicas nas vastas regiões abrangidas pela URSS. Exerceu ainda outras funções, nomeadamente presidente do Comité Hidrometeorológico junto do Soviete dos Comissários do povo, diretor do Gabinete do Tempo e presidente do Comité Soviético para a organização do segundo ano polar. Contribuiu para a obtenção do recorde mundial de altura atingida pelo homem, com a subida do estratóstato designado por URSS1, que atingiu dezanove mil e quinhentos metros, em plena estratosfera, onde foram levadas a cabo observações de grande valor científico. Alexei participou em discussões iniciadas na década de 1930, conjuntamente com os diretores de serviços meteorológicos de outros países, em que se preconizava que a Organização Meteorológica Internacional (International Meteorological Organization – IMO), organização não governamental fundada em 1873, evoluísse no sentido da criação de um organismo internacional que coordenasse as atividades meteorológicas a nível mundial e cujos membros fossem os Estados aderentes. Tal veio a acontecer algumas décadas mais tarde, em 23 de março de 1950, com a entrada em vigor da Convenção Meteorológica Mundial, criando-se assim a Organização Meteorológica Mundial (World Meteorological Organization – WMO), agência especializada das Nações Unidas. Como fruto do seu trabalho, no primeiro dia do ano 1930, foi emitido o primeiro boletim meteorológico através da rádio. Era com orgulho que contribuía assim, na sua maneira de pensar, para a construção do socialismo. As previsões do tempo poderiam contribuir grandemente para o êxito da agricultura. E provavelmente assim seria, se houvesse uma rede de estações suficientemente densa não só na URSS mas também nos países a oeste, na medida em que nessas latitudes os fenómenos meteorológicos se deslocam com forte componente de oeste para leste. Na realidade os serviços meteorológicos não estavam tão bem organizados como atualmente e o sistema de telecomunicações não era suficientemente expedito que permitisse a transmissão dos comunicados meteorológicos com eficiência em tempo real, o que motivou que a fiabilidade das previsões do tempo não fosse muito elevada. Entretanto, a coletivização da propriedade rural levou à desmotivação dos camponeses o que provocou, juntamente com outras causas, uma baixa dramática da produção agrícola. A coletivização não se limitou às imensas propriedades dos latifundiários, que tanto exploraram os camponeses antes da revolução de outubro de 1917, mas também às propriedades dos camponeses que praticavam agricultura de sobrevivência. Um camponês com uma ou duas vacas era considerado Kulak e, portanto, inimigo da revolução. A coletivização forçada e as requisições de cereais decretadas por Estaline levaram em 1932 e 1933 a milhões de mortos na Ucrânia. Para justificar o insucesso na agricultura havia que encontrar bodes expiatórios. E assim Alexei foi acusado de propositadamente difundir previsões meteorológicas erradas com o intuito de sabotar a revolução. A sua ascendência nobre e ser irmão de um emigrado também contribuíram para que as suspeitas do Comissariado do Povo para Assuntos Internos (abreviadamente designado por NKVD) caíssem sobre ele. Ainda por cima tinha contactos com personalidades estrangeiras. O convite ao meteorologista escandinavo Tor Bergeron para apresentar palestras na URSS contribuiu para que caíssem sobre ele suspeitas de contactos com estrangeiros não só sobre meteorologia mas também sobre outros assuntos. Bergeron foi um dos criadores da teoria norueguesa sobre a evolução de depressões associadas a superfícies frontais que separam massas de ar polar de massas de ar tropical, teoria essa que adotou representações gráficas das frentes que ainda hoje são usadas nas cartas meteorológicas. Alexei foi preso pela polícia política em 1934 e condenado a dez anos num campo de trabalhos forçados. Mais tarde, em 1937, foi-lhe agravada a pena para fuzilamento. O Campo de trabalhos forçados situava-se no nas ilhas Solovetsky, no Mar Branco, próximo da Finlândia e do círculo polar ártico. Foi nestas ilhas que se instalou o primeiro campo, em 1923, do que veio a tornar-se na Direção Central dos Campos (Glavnoye Upravleniye Lagurey), cujo acrónimo GULAC se tornou célebre. Ironicamente, em dez de agosto de 1956, três anos após a morte de Estaline, o presidente do Colégio Militar do Supremo Tribunal da URSS, assinou um decreto através do qual foram canceladas a decisão do Colégio da OGPU (Direção Política Conjunta do Estado) tomada em 7 de março de 1934 (condenação a dez anos em campo de trabalhos forçados) e a decisão da troika especial do NKVD de Leninegrado de 9 de outubro de 1937 (condenação à morte por fuzilamento). É pena que o cancelamento dessas decisões não devolvesse a vida do meteorologista… A esposa de Alexei, Varvara Ivanovna, faleceu em 1977 sem saber onde nem quando e em que circunstâncias o seu marido fora assassinado. A versão oficial que lhe fora entregue em 1957 foi a de que o seu marido morrera em 17 de agosto de 1942, de uma peritonite. Olivier Rolin, seu biógrafo, decidiu investigar a sua história quando consultava documentos reunidos pela ONG Memorial, associação russa dos direitos humanos criada durante a Perestroika. A sua curiosidade foi despertada por uns desenhos enviados por um deportado para sua filha, Eleanora, tirando assim do anonimato uma das muitas vítimas inocentes dos tempos conturbados vividos na URSS durante a década dos anos trinta do século passado. Esse deportado, que oficialmente morrera de uma peritonite em 1942, mas que na realidade fora fuzilado em 1937, era Alexei Feodossievitch Vangengheim. Luís Carmelo h | Artes, Letras e IdeiasE o que é a normalidade? [dropcap]P[/dropcap]erceber no nosso tempo onde começa e acaba o território da normalidade é como separar o vinho da água num mesmo copo. Nem sempre foi assim. O. Niccoli relembrou que, em finais do quattrocento e no século seguinte, a palavra “segno” – não confundir com signo, nas suas variadíssimas acepções – traduzia a ideia de tudo aquilo que escapava ao “curso natural das coisas”. O “segno” definia, pois, a fronteira entre o que se impunha como normalidade e o vasto reino das coisas desavindas e seguramente condenáveis. O diabo, as metamorfoses inexplicáveis, as excrescências da natureza, uma parte significativa das práticas sexuais, os textos (hoje ditos) seculares, os monstros que habitariam a periferia do planeta, os eventos não catalogáveis, os animais fabulosos que respiravam nos relatos de Preste João ou no imaginário trágico-marítimo integravam, cada um a seu modo, esse negro e nefasto mundo do “segno”. No entanto, para que o “segno” pudesse tornar-se reconhecível, era necessária a existência de uma ordem bem definida que permitisse distinguir o seu mundo de trevas do mundo caracterizado como normal. Sem esse crivo, as bruxarias, os textos proféticos considerados anómalos, as apostasias, os símbolos dissociados da tradição, as heresias e outros “horrores” jamais teriam sido perseguidos. Curiosamente, o mundo utópico e o mundo ideológico, que irromperam um e outro – com experiências e naturezas diversas – no século XIX, acabaram por trazer consigo, nas geografias do ocidente cristão, a antiga marca das civilizações escatológicas. Só que, em vez de paraíso, convocaram a ideia de um igualitarismo terreno, do mesmo modo que a natureza racional do dogma substituiu o “Livro” divino e a luta “por um mundo melhor” passou a encarnar os exigentes preceitos da antiga fé. Nesta nova geometria, o “segno” adquiriu outras formas e soube adequar-se ao modo estanque com que a modernidade se passou a organizar, na medida em que as mais variadas esferas de actividade se autonomizaram a partir do final do século XVIII (fosse a esfera jurídica, científica, estética, mediática, ética, constitucional, social, clínica, etc. etc.). Em todas estas esferas, a racionalidade moderna instituiu contrastes férreos entre a normalidade e a não-normalidade. Pode mesmo dizer-se que a antiga tradição do “segno” acabou por persistir, mas agora tornando-se numa peça de polémica e arremesso em pleno espaço público. Em cada uma das áreas da sociabilidade moderna, os contrários passaram a digladiar-se com alguma violência, tentando definir do outro lado o campo do “segno” (foi assim nos sistemas políticos, nas modalidades jurídicas, na sucessão vertiginosa de vanguardas artísticas, no debate científico, etc., etc.). Esta sistemática metodologia de oposições trouxe o “segno” para dentro da vida social, libertando-o da sua génese divina, cujas finalidades escapariam à compreensão humana (era esta a explicação de Santo Agostinho para a existência de monstros). Deste modo, quer no mundo cristão pré-moderno, quer no mundo (cristão) moderno, ainda que com matizes diversas, a separação entre a ordem do “segno” e a ordem do “não-segno” foi preservada. Uma tal continuidade impediu a banalização de valores e de apologias entre visões que sempre se haviam digladiado. Ora o que mudou abruptamente no Ocidente, no final do século XX e no início do século XXI, foi precisamente este aspecto. A grande mudança dos últimos trinta e poucos anos ficou a dever-se a dois factos: por um lado, a diluição e perda de eficácia (e até de sentido) das grandes referências pesadas e doutrinais de carácter ideológico e similares (o fenómeno atravessou domínios muito distintos e não se circunscreveu apenas ao esboroar da guerra-fria) e, por outro lado, a entrada em cena de uma globalização hipertecnológica associada a um nova morfologia de espaço público aberto, livre e não regulável (ou de difícil regulação). A nossa era, cada vez mais policentrada, tem-se vindo a revelar através de um apagar gradual dessa fronteira que sempre havia distinguido o “segno” do “não-segno”. Para o bem ou para o mal, uma relativização galopante invadiu todos os debates contemporâneos. Mais: a separação entre “segno” e “não-segno” não só adquiriu novos sentidos como deixou de ser uma questão (ou um problema), da mesma maneira que a superação da divisão clássica entre real e ficcional começou a ser baptizada sob o desígnio da hiper-realidade. Os efeitos desta transição meteórica estão ainda por determinar. Sem uma distância face ao presente é difícil avaliá-los. Todavia há aspectos que se destacam a olhos vistos, tais como a banalização do mal, as várias faces do hiperterrorismo, as manipulações genéticas ou as pesquisas que nos estão a conduzir ao pós-humano. A correctness tem sido uma das fugas para a frente que as nossas sociedades inventaram para suprir os muitos vazios de sentido em que vamos vivendo. Fora da arena da correcção, tudo, ou quase tudo parece sair da sua órbita: veja-se o mandato Trump, veja-se a linguagem de Bolsonaro, vejam-se os impactos do Brexit, veja-se a vacuidade doutrinal dos nacionalismos europeus, veja-se o modo como a questão climática é globalmente negligenciada (seremos dez mil milhões de pessoas no final do presente século). Fernando Pessoa ou, se se preferir, Ricardo Reis, parece ter compreendido tudo isto muito antes: “Basta-me que me baste, e o resto gire/ Na órbita prevista, em que até os deuses/ Giram, sois centros servos/ De um movimento externo.” Niccoli, Ottavia. Prophecy and People in Renaissance Italy. Princeton, New Jersey: Princeton University Press, 1990, p. 31. Tít. orig. Profeti e Popolo nell’Italia del Renascimento. Roma; Bari: GIUS, Laterza & Figli SPA, 1987. Pessoa, Fernando. Poemas de Ricardo Reis. Edição Crítica de Luiz Fagundes Duarte, Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1994. António Cabrita Diários de Próspero h | Artes, Letras e IdeiasEu, os polacos e a Mona Lisa [dropcap]É[/dropcap] a terceira vez que mando um aluno ler A Casa Tomada, de Julio Cortázar, e que depois me surpreendo a dar uma interpretação do conto diferente em relação à que havia desenvolvido anteriormente. Isto acontece por não ser muito sistematizado e, em vez de fichas, ter as notas de leitura espalhadas por cadernos, os quais depois dá um trabalhão localizar. Por isso, em vez de repetir as fórmulas, abordo de novo o texto, medindo-lhe o pulso. Agrada-me o que me surgiu agora: os dois irmãos agem não como proprietários, mas como locatários das suas próprias memórias. E essa relação heterónoma com a vida é-lhes de tal forma confortável que, em vendo-se expulsos por invasores invisíveis e achando-se fora do portão da moradia, têm a delicadeza de fechar o portão para prevenir o risco dos novos proprietários serem assaltados. Passou simplesmente o tempo daquelas memórias serem suas. Contra o assombro dos leitores, eles não sofrem com o que lhes aconteceu porque talvez dentro de casa apenas estivessem em êxodo. A nível macro, evidentemente que Cortázar fala do colonialismo das mentes, numa altura em que a Argentina vivia fascinada pelo imperialismo americano. Também se pode ler o conto – e já o trabalhei com alunos, nesse sentido – como metáfora da situação moçambicana, representando os dois irmãos a alienada elite política moçambicana, que entrega o território e as matérias-primas do país ao saque alheio (e, porque não-dito, invisível), em nome do brando esquecimento que traz a alguns a espuma das coisas materiais. A literatura tem esta capacidade camaleónica de, enquanto forma singular, poder ser lida por lentes universais. Teria curiosidade em saber como Gombrowicz leu este conto, o polaco que viveu 23 anos exilado na Argentina e que facilmente aqui encontraria ressonâncias para o seu país invadido pelos soviéticos. Vem-me esta deriva na banheira, onde me entretenho a ler um livro divertido que o insuspeito Edgar Pera dedicou a Hollywood, e onde resgato a deliciosa história do roubo do cadáver de Chaplin por dois polacos famélicos que depois não conseguiram obter nenhum resgate, porque a viúva foi tesa, e além de ter dito que o marido haveria de divertir-se com a situação propôs, “querem ficar com o cadáver, fiquem!”. Depois dos ladrões terem baixado de um milhão e picos para os cem mil euros, a viúva aceitou, no fito de lhes estender uma armadilha. Apanhados na ratoeira, foram perdoados e lá confessaram onde se encontrava o cadáver, enterrado num campo de milho. Oona O’Neill, a viúva, achou tão bonito o local que teve pena de ter de trasladar dali o cadáver, mas o proprietário foi intransigente. Contudo, até este, passado o tumulto, assinalou o ocorrido com uma tabuleta, onde se lê: “Aqui repousou Charlie Chaplin, Brevemente!”. Outro roubo caricato, sendo história menos conhecida, é a de um pobre emigrante em Paris que tomou como objecto de furto a Mona Lisa. Foi em Agosto de 1911. O quadro era tão pouco visitado, no Louvre, que o ladrão teve tempo para o tirar da parede e enfiá-lo num saco a tiracolo, saindo do museu pela porta da frente. E depois enviou a notificação para o resgate. Só que esse roubo, nesse mesmo país que, até aí, não ligava peva ao retrato de Leonardo, desencadeou uma histeria nacionalista, no agitado clima político-social da época, já prenhe do que se transpiraria na I Guerra Mundial; o roubo motivaria manifestações concorridíssimas, vários quadros de teatro de revista, um sem número de capas e dossiers em revistas e jornais, e de repente, aquilo que era do domínio dos especialistas tornou-se público. Inclusive, para recuperar a perda, as actrizes de variedades mais conhecidas do momento e as cantoras de ópera posaram de Mona Lisa para as revistas ilustradas, penteadas como ela e com roupas mais ou menos similares. E o pobre do ladrão, que guardava o quadro debaixo da cama e viu a escala assimétrica que as coisas adquiriam, compreendeu que seria linchado se fosse apanhado e então reverteu a coisa e empreendeu num acto altruísta: devolveu o quadro, três anos depois. E assim a Mona Lisa ganhou um estatuto que não tinha. Estava até agora mesmo absolutamente convencido, e por isso contei a história, que o roubo tinha sido da autoria de um polaco. Armei-me de escrúpulos e fui verificar: afinal não, foi vilania de italiano. Mas tenho fé de que com origem polaca, não há outra hipótese. Voltemos aos polacos, que estão na minha vida desde que os cinemas de Lisboa começaram a passar os filmes de Wadja e, sobretudo, de Walerian Borowczyk, cujos Contos Imorais e O Monstro, me deram a volta à cabeça. Mais tarde veio o maldito Poborsky, aviar Portugal, num campeonato da Europa, e uma miúda que eu desejava muito cortou-me as vazas, sentenciando que, se eu havia trocado um encontro amoroso com ela pelas vistas desse jogo (de má memória), nenhum outro encontro amoroso haveria de acontecer. E não aconteceu. Juro-vos: gostava muito mais dela que de Poborsky, mesmo quando se tornou a alegria dos benfiquistas. Pela mesma altura, partilhei uma casa com um escritor surrealista, o Virgílio Martinho, e durante pelo menos um mês alimentámos uma rábula com polacos como protagonistas, uma louca fantasia sobre um polaco que tinha um mapa do tesouro no sovaco esquerdo. E a pedal das cervejas imaginávamos o que lhe acontecia numa pensão de menina no Cais do Sodré. E, bem aviados, na cervejaria, líamos em voz alta o Testament, de Dominique le Roux, um longo e extraordinário livro-entrevista com Gombrowicz, que me levaria à leitura sistematizada da sua obra. Depois chegaram os restantes poetas, sobretudo o Czeslaw Milosz, o Zbigniew Herbert, o Tadeusz Rózewicz e o Adam Zagajewski – grandes! O Milosz, uma vez escreveu este verso: «Que longe está a voz humana da mudez dos poemas!». É o que vos digo, os polacos, na poesia, são foda! Gisela Casimiro Estendais h | Artes, Letras e IdeiasTrapezista temporária O MEU CORPO Este é o meu corpo, mas ainda não é o meu corpo. Este já não é o meu corpo e nunca voltará a ser o meu corpo. Mas este já foi o meu corpo e ainda virá a ser o meu corpo. Este já parece o meu corpo, mas eu não sei se o meu corpo ainda se lembra do meu corpo ou se terá de esculpir outro. Gisela Casimiro in Erosão (Urutau, 2018) [dropcap]Q[/dropcap]uando escrevi este poema, O meu corpo, estava muito longe de imaginar que um dia estaria em palco, no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, pendurada numa barra, qual Cristo crucificado. Este poema vem de longe, de um lugar de memória permanente. Agora que o espectáculo terminou posso, aos poucos, começar a descer do trapézio e a olhá-lo, como fazia em palco mas, agora, sem deixar de fazer a inevitável analogia ao meu percurso de vida. Abril marca que foi há quatro anos que me submeti a uma cirurgia bariátrica, um sleeve gástrico, em que nos retiram 80% do estômago, que depois volta a crescer mas nunca a retomar o seu tamanho original. Apesar de tornar-se mais sensível, também passa do modo avestruz para algo mais evoluído e inteligente: tudo o que não pertence ali, não fica muito tempo. Fossem os nossos cérebros e corações tão capazes de reagir com a mesma rapidez e parcialidade. Talvez seja uma questão de sobrevivência, talvez o estômago seja mais difícil de enganar ou mais eficiente em matéria de autoprotecção. Talvez o amor-próprio seja um super poder que é despoletado por situações extremas. Outro poema meu, 2015, confessa: “O que perdi em estômago, ganhei em coração.” Que é como quem diz, no caminho para voltar a reconhecer-me, ou talvez para conhecer-me de uma vez por todas, aprendi a respeitar o outro e a colocar-me no lugar dele, e apenas posso esperar que tantas provações me tenham tornado um grama melhor que seja enquanto pessoa. Há a versão de Hamburgo, em que os meus papéis são desempenhados por uma moça robusta e loira. Como ela, levo o cálice para o palco. Como ela, carrego uma bandeira branca. Faço piadas com outra colega, agora uma nova amiga, cabelo escuro e pele alva, cuja antecessora era, também, loira. Com ela partilho o trapézio, momento em que a cor invade o palco por momentos, pois praticamente tudo é branco neste cenário. Não pergunto a quem me escolheu porque é que o fez, mas sinto essa graça e esse peso, mais do que o meu, a comover-me. Há muitos contrastes, uma capa vermelha e uma azul. Uma criança-esqueleto e um autocarro que invade o palco em altura de terrível e lamentável tragédia na Madeira e da agora menos relevante, face a isso, falta de combustível. Há as línguas portuguesa, italiana, francesa, alemã e há o silêncio e a dedicatória da estreia a Notre Dame, onde infelizmente nunca fui. Há um entendimento, harmonia e caos, orquestra e coro, técnicos e produtores. Há uma árvore, já destinada ao abate, e os seus ramos cortados no momento. Há quem lhe leve flores, à árvore, num dos mais bonitos quadros vivos que já vi. As folhas atenuam os cheiros dos químicos usados neste laboratório improvisado, pois que nada foi deixado ao acaso, desde o amoníaco à electrólise. Há uma pedra que se racha, e que outro dia ficou com um formato de coração partido. Há aqui tanto que me comove que anda ali estou, incapaz de falar noutro tempo que não o presente, ou de ouvir outra música que não a que me tem acompanhado nos últimos meses mas sobretudo nas últimas semanas. Há uma obra inspirada na religião que é a minha, e que é imperfeita como eu, mas da qual não consigo desvincular-me, por acreditar demasiado em algo que é como eu, e maior que eu, tal como eu também sou capaz de ser, sobretudo quando me faço mais e mais pequena e me lembro de que servir é o mais importante. Contar histórias seria inútil se não servisse ninguém. Uma religião é obsoleta se não se alicerçar no amor, e o amor não tem fronteiras, ou passa a ser outra coisa. Nos corredores, nos bastidores, cronometra-se o tempo que cada um resiste e fazem-se ajustes, enquanto se abusa do pó de magnésio nas mãos, para horror da produção, e se observa os colegas, um de cada vez, alguns dedicados inteiramente a este momento e outros com mais funções. Mas quase toda a gente gostaria de fazer também esta parte. Há quem venha precavido com ligaduras ou pensos, há quem descaia a cabeça para a esquerda e quem o faça para a direita. Há homens e mulheres, há outra criança. A mim, observam e parabenizam muitas vezes: “És quem aguenta mais tempo”, ou “Tens um ar tão natural”, ou “A mulher do trapézio”. Rio e respondo que a minha vida me preparou para este momento; que não sei como isto aconteceu, e é verdade; que a minha hérnia inguinal, operada em 2017, e que ultimamente tem voltado a chatear-me, não acha muita graça. No dia da estreia, também o meu estômago não parece querer colaborar, e passo horas agoniada. Há quem vá correr uma ou duas vezes por dia durante os ensaios mas que não consiga deixar de pensar em bolos, mesmo se traz uma caixa gigante com cenouras cruas para ir petiscando. Há quem se conheça pela primeira vez e quem já se tenha cruzado neste e noutros palcos. Respirações conscientes e profundas, yoga aproveitando que existe um tapete de luta no cenário, alongamentos e uma panóplia de pequenos exercícios e rituais de preparação. Há ainda quem leia ou durma e quem não consiga estar calado ou afastar-se do telemóvel por muito tempo, ou de um cigarro. No Capítulo XVI, Crucificação, podemos ler: “O peso do corpo dos condenados à crucificação provocava a morte por asfixia. (…) O condenado mantinha-se plenamente consciente até ao momento da morte.” A Paixão segundo São Mateus, de Bach, dirigida por Romeo Castellucci, inclui, ainda, no libreto, o peso, nome, idade e altura dos figurantes a quem foi pedido que suportassem o peso do seu corpo o máximo de tempo que conseguissem. Nenhum de nós, figurantes, fala em palco, não fosse esta uma ópera, a primeira a que assisti na vida, e da qual tive ainda a honra de fazer parte. Falam os nossos gestos, os nossos olhares e as nossas pálpebras fechadas. Falam os braços que tremem por vezes ou as mãos que ajustamos. Falam o baloiçar dos nossos corpos suspensos, e a posição das nossas pernas. Falam os nossos pensamentos, ou o que quer que nos ajude a permanecer por cá. Há quem deteste que lhe perguntem a idade. Eu detesto que me perguntem ou tentem adivinhar o peso, mesmo se na verdade me dão menos peso (e idade, vá, afinal sou negra) do que o que tenho. Eu já tive orgulho do meu peso e já tive vergonha do meu peso. Mas agora sei que consigo suportá-lo, seja ele qual for, e até vê-lo exposto assim, impresso: os 70 kg que tinha e que me ficavam tão bem mas ocultavam o peso equivalente a uma pessoa em escuridão, peso esse que foi passando tão para fora de mim que deixei de poder ignorá-lo, ao chegar aos 133 kg certa vez. Há o Joel, que sobreviveu a uma hipotermia no mar, perdido que esteve durante cinco horas. Tinha ido surfar. Há o Carlos, que se viu de pernas presas debaixo de um tractor; consciente durante todo o tempo do acidente, que forçou a amputação de ambas, agora usa próteses. Há a entrada leve e cómica do Joel nos agradecimentos e o sorriso e as brincadeiras constantes do Carlos. O nosso peso, interior ou exterior, parece muito pouco, perante a coragem e a alegria de ambos. O amor à vida de ambos, penso, numa semana em que ouvi de alguém próximo que queria muito morrer. Diz o libreto: 78kg – Gisela Casimiro, 34 anos, 172 cm. Trapezista temporária no palco, permanente fora dele. Ainda com muitos pesos para deixar cair. Ainda tendo de me lembrar de respirar, ao fim de todos estes anos. Olá, eu sou a Gisela. Muito gosto em conhecer-vos. Talvez possamos conversar quando eu recuperar os sentidos, o equilíbrio e a voz. Andreia Sofia Silva EventosReedição de “Anastasis”, de Carlos Morais José, apresentada sábado na Feira do Livro de Lisboa “Anastasis”, livro de poesia de Carlos Morais José, é lançado este sábado em Lisboa na Feira do Livro, pela mão da editora Abysmo. O autor, também director do HM, fala de uma obra que não estava completa sem as suas impressões sobre o Egipto e Jerusalém [dropcap]D[/dropcap]epois de “O Arquivo das Confissões – Bernardo Vasques e a Inveja” ganhar uma nova vida, eis que surge nas livrarias portuguesas “Anastasis”, um livro de Carlos Morais José, escritor e director do HM. A obra será lançada oficialmente este sábado pela editora Abysmo na Feira do Livro de Lisboa. Em declarações ao HM, Carlos Morais José falou de uma obra que, apesar de ter sido lançada em 2013, não estava completa sem dois capítulos dedicados ao Egipto e a Jerusalém. “O livro é agora editado em Portugal e tem outra capacidade de divulgação no espectro da lusofonia”, apontou. “Sempre senti que este livro não estaria completo sem mais dois capítulos, que se referem ao Egipto e à Terra Santa, além de mais uns acrescentos nos capítulos já existentes.” Para Carlos Morais José, estamos perante “dois lugares muito diferentes”, uma vez que o Egipto “remete-nos para as pré-origens da nossa civilização”. “O Egipto é um mistério ainda. Quando os gregos começaram a aprender a escrever já os egípcios se tinham esquecido de como isso se fazia. O Egipto tem uma grande importância como fonte de uma sabedoria primeira.” Na “viagem interior” que é “Anastasis”, Carlos Morais José descreve o país como “um reencontro com as origens”, “as mais primárias possível, os desejos mais escondidos”. “Como digo no meu livro, descer o Nilo é quase como uma descida aos sentidos, às delícias, aos sentimentos e emoções mais básicas”, acrescentou. No que diz respeito a Jerusalém, o autor estabelece uma ligação poética entre o sofrimento de Jesus Cristo e o homem moderno. “Quis perceber que cidade é aquela, que não tem nada, que está no meio do deserto e que é tão disputada por tanta gente. No meu livro encontram-se alguns aspectos do que eu chamo a cidade de um só Deus, porque é o Deus dos judeus e dos árabes, o Deus ciumento.” Há também a chamada “cartografia da dor, que é um mapa da descrição da paixão de Cristo”, onde o autor encara “Cristo como a emergência do Homem contemporâneo, pois as dores de Cristo serão as nossas dores, de alguma maneira”. O autor e jornalista descreve Jerusalém como “um dos centros emissores da nossa cultura e um dos mais importantes, pois a cultura europeia divide-se entre Atenas e Jerusalém”. “O que vou à procura em Jerusalém é isso, mas não só a parte cristã, mas também judaica e muçulmana. A parte comum a tudo isto que faz com que aquela terra seja considerada sagrada por uma série de religiões diferentes, com a mesma origem, mas com uma perspectiva diferente.” Um privilégio Com a Abysmo, Carlos Morais José vê, pela segunda vez, um livro seu ser reeditado em Portugal depois de um primeiro lançamento em Macau, e isso faz dele um “super privilegiado”, confessa. “Nos últimos tempos tenho sido extremamente acarinhado por pessoas de Macau. Os académicos têm feito o favor de reconhecer o meu trabalho e apreciar a minha obra, e tenho tido muito boa recepção.” O autor acredita que, com esta reedição, possa aumentar o interesse da literatura que é produzida em Macau. “Tenho visto alguns textos académicos e as pessoas começam a olhar de uma forma mais séria para aquilo que se produz em Macau, não apenas como uma curiosidade. Percebe-se que houve nas ultimas décadas alguns escritores de Macau que têm uma postura ou um lugar na literatura portuguesa contemporânea. Penso que isto irá continuar”, concluiu. Raquel Moz EventosCompositor Rui Massena toca este sábado no CCM [dropcap]O[/dropcap] compositor e maestro português Rui Massena senta-se ao piano do Auditório do Centro Cultural de Macau este sábado, dia 8 de Junho às 20h, para apresentar trabalhos do seu repertório de música contemporânea ao público local. Figura de destaque na actual cena musical, a crítica especializada coloca já o músico de 47 anos ao nível de reputados nomes, como Philip Glass, Michael Nyman, Wim Mertens, Ludovico Einaudi ou Ólafur Arnolds. A convite da Casa de Portugal em Macau e da Fundação Oriente, no âmbito das comemorações de “Junho, Mês de Portugal”, o compositor soma já três álbuns de originais e é hoje ouvido em mais de 60 países, conforme revela a nota de divulgação à imprensa local. Rui Massena começou a tocar piano aos cinco anos de idade e é maestro desde os 27. O seu primeiro álbum de originais, “Solo”, foi lançado em 2015 e chegou a número dois do top nacional de vendas, com “uma linguagem intimista e centrada”, que Rui Massena afirmou já publicamente ter surgido “como um retiro espiritual necessário ao seu próprio equilíbrio”. As composições são ao piano, exceptuando uma em dueto com um violino, depois de uma carreira de mais de uma década à frente de várias formações orquestrais. Com o segundo álbum de originais, “Ensemble” de 2016, teve entrada directa para o top 1 de vendas português, conciliando neste disco melodias mais “dóceis” ou “agitadas”, “de acordo com a inspiração e as necessidades do momento”, pode ler-se na sua homepage. “É uma música poética e positiva, mas também estruturada e envolvente. Depois de se ouvir “Ensemble ”, nasce uma nova dimensão, com a ajuda da secção de cordas da Czech National Symphonic Orchestra”. A valsa eleita “Ensemble” começa com um “Abraço” e despede-se com uma “Valsa”, peça esta que foi escolhida para integrar a dupla colectânea da editora Deutsche Grammophon – intitulada “Expo 1” – que “identifica as tendências e talentos contemporâneos dos últimos 20 anos, numa corrente que a etiqueta apelidada de neo-classicismo”. O mais recente disco, “III”, foi lançado em Novembro de 2018, e “é o mais progressivo” de todos, onde “por um lado se percebe que a electrónica e a vanguarda sonora se alojaram no seu caminho, por outro, percebemos ao fim de breves segundos que os valores da sua música estão presentes: tranquila, desafiadora e emotiva”, refere a biografia da sua página web. “O permanente espírito inquieto e em constante busca de causas, sempre fez Rui Massena procurar novas linguagens”, tanto na criação musical, como na capacidade de dialogar com o público nos concertos e não só. A passagem como jurado pelo popular programa nacional, a “Operação Triunfo”, fez dele uma celebridade e ajudou a catapultar a sua obra para os tops de vendas e para os palcos cheios. Raquel Moz EventosCinema | Curtas portuguesas de animação na Casa Garden Quatro filmes portugueses de animação vão entreter os mais pequenos, este sábado à tarde, no Auditório da Casa Garden. As fitas são para maiores de quatro anos e enquadram-se nas celebrações de “Junho, Mês de Portugal” [dropcap]A[/dropcap] Casa Garden vai exibir a 8 de Junho, sábado à tarde pelas 16h00, uma “Mostra de Cinema para Crianças”, com uma selecção de filmes do New York Portuguese Short Film Festival, organizado pelo Arte Institute e apoiado pela Fundação Oriente. O cartaz apresenta quatro curtas-metragens de animação, numa sessão que terá a duração de uma hora, para maiores de 4 anos de idade. A iniciativa faz parte das comemorações de “Junho, Mês de Portugal” e reúne os filmes portugueses “Quando Os Monstros Se Vão Embora”, de Bernardo Gramaxo (2010) , “O Cágado”, de Pedro Lino (2012), “O Candeeiro e a Ventoinha”, de Filipe Fonseca (2012), e “O Gigante”, de Júlio Vanzeler e Luís da Matta Almeida (2012). A escolha é da responsabilidade do Arte Institute, que organiza o NY Portuguese Short Film Festival, “uma janela para mostrar cinema português a todo o mundo”, que se realiza anualmente em Nova Iorque. A primeira edição aconteceu em 2011, com uma mostra simultânea nas capitais norte-americana e portuguesa. O sucesso do evento permitiu aos organizadores, entretanto, levar extensões da mostra a outras cidades, como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Londres, Luanda ou, agora, Macau, divulgando o trabalho dos jovens realizadores nacionais. Pequenas histórias O primeiro filme é sobre monstros. “Madalena é uma rapariga de seis anos, e como qualquer criança na sua idade, adora desenhar, brincar e meter-se em sarilhos, mas acima de tudo, nunca fazer o que os pais dizem. Contudo Madalena tem o que nem todas as crianças têm, a ajuda dos seus monstros, que a acompanham durante todo o dia”. Um dia recebe más notícias do seu melhor amigo monstro, avisando que a irá deixar quando ela crescer, pois os adultos não necessitam da sua presença. “Madalena fica triste e tudo fará para não crescer, assim evitando a perda dos amigos imaginários”, segundo conta a sinopse. O filme “Quando Os Monstros Se Vão Embora” tem 13 minutos e meio e foi realizado por Bernardo Gramaxo em 2010. Participou em inúmeros festivais nacionais, como o Fantasporto 2010, o Fest-in 2011, o ShortCutz ou o Festróia, entre outros, e fez também carreira em festivais internacionais na Índia, Sérvia, Itália, China, Taiwan, Rússia, Reino Unido, Austrália e Cabo Verde, onde conseguiu o Prémio de Melhor Curta Metragem no Festival de Cinema Internacional do arquipélago em 2012. A segunda fita é “O Cágado”, realizada por Pedro Lino em 2012, uma animação portuguesa inspirada num conto de Almada Negreiros, que em 10 minutos conta “a estranha aventura de um homem muito senhor da sua vontade” que, um dia ao passear pela rua, dá de caras com “um estranho ser nunca antes visto: um cágado.” Depois de o examinar em detalhe, o homem corre a casa para contar a descoberta à família, mas não é fácil convencê-la. Para provar a existência física daquele “estranho animal da zoologia, vai até ao outro lado do mundo, num esforço inútil e sem sentido”, é o que se lê na sinopse. Esta fábula contemporânea estreou em Março de 2012 no Animac, em Espanha, e fez parte do programa do IndieLisboa, em Abril. Foi também um dos primeiros trabalhos resultantes da colaboração de Pedro Lino com outro realizador português em Londres, Luis Matta de Almeida, com quem criou o estúdio na capital britânica, Sparkle Animations. E duas curtinhas Ainda mais curta é a terceira película “O Candeeiro e a Ventoinha”, de Filipe Fonseca (2012), uma animação com apenas 3 minutos. É o tempo suficiente para mostrar como “um candeeiro apaixonado faz tudo para estar perto da sua amada, uma bela ventoinha. Num ambiente de ilustração e animação, este pequeno filme romântico leva-nos a um desfecho hilariante”, promete a sinopse da fita, que participou na secção do IndieJúnior do Festival de Cinema Independente de Lisboa (IndieLisboa) em 2013. Em quarto lugar chega o “O Gigante”, de Júlio Vanzeler e Luís da Matta Almeida (2012), que em 7 minutos propõe uma visão do que significa crescer. “Um gigante transporta no coração uma menina”, sendo este órgão “uma janela imensa, através da qual a menina descobre e decifra toda a realidade. Um dia ela terá que partir. Com a sacola cheia de sonhos e de esperança, ela criará um novo mundo sobre o legado que os seus pais lhe transmitiram”, explica a sinopse, lembrando que “os filhos traçam as suas próprias rotas, com erros de interpretação, com desvios de perspectiva, mas que são seus e é com eles que têm de viajar”. A proposta está feita. No sábado a entrada é livre e estão todos convidados. Hoje Macau China / ÁsiaFMI revê em baixa crescimento da economia chinesa face à guerra comercial [dropcap]O[/dropcap] Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu ontem em baixa as perspectivas de crescimento da economia chinesa, nos próximos anos, face à guerra comercial com os Estados Unidos, e encorajou Pequim a acelerar as reformas estruturais. Num relatório, o organismo estima um crescimento de 6,2 por cento, para este ano, e de 6 por cento, em 2020 – uma décima abaixo da previsão anterior. O ritmo de crescimento da economia chinesa continuará a desacelerar e fixar-se-á nos 5,5 por cento, em 2024. “A incerteza em torno das disputas comerciais permanece alta e os riscos empurram a economia para baixo”, lê-se na mesma nota. Os governos da China e Estados Unidos impuseram já taxas alfandegárias sobre centenas de milhares de milhões de dólares de bens importados um do outro, numa disputa motivada pelas ambições de Pequim para o sector tecnológico. O vice-director do FMI, David Lipton, que integrou a delegação numa visita à China, afirmou que o crescimento “estabilizou”, durante os primeiros meses de 2019, após medidas de estímulo adoptadas pelo Governo chinês. No entanto, a incerteza gerada pelo agravamento das disputas comerciais afeta o ambiente de negócios, apontou. “As políticas de estímulo anunciadas até à data são suficientes para estabilizar o crescimento em 2019 e 2020, apesar do recente aumento das taxas nos Estados Unidos. Contudo, se as disputas comerciais se agravarem, e colocarem a estabilidade económica e financeira em risco, recomendamos alguma flexibilidade política adicional”, advertiu. O responsável citou, como exemplo, reduções fiscais adicionais para famílias com baixos rendimentos. “As nossas discussões, nas últimas duas semanas, focaram-se na agenda das autoridades para apoiar a economia, face ao aumento das tensões comerciais, enquanto [a China] continua a progredir na mudança de um crescimento de alta velocidade para um crescimento de alta qualidade”, afirmou. Sobre a guerra comercial, Lipton afirmou que “deve ser resolvida rapidamente, através de um acordo abrangente, que suporte o sistema internacional”. As previsões do Fundo apontam ainda um aumento de 2,3 por cento da inflação, em 2019, devido ao aumento dos preços dos alimentos. Boas medidas A economia da China, a segunda maior do mundo, cresceu 6,6 por cento, em 2018, ou seja, ao ritmo mais lento dos últimos 28 anos, mas o dobro da média mundial, e acima da meta oficial, definida pelo Governo chinês, de 6,5 por cento. Para este ano, o Governo chinês estabeleceu como meta um crescimento “entre 6 e 6,5 por cento”. Lipton enalteceu ainda as medidas adoptadas por Pequim para restringir o ‘boom’ no endividamento corporativo, mas voltou a recomendar ao país “maior abertura” e “outras reformas estruturais que aumentem a concorrência”, diminuindo o peso e as “garantias implícitas” das empresas estatais. Hoje Macau China / ÁsiaEspanha | Comboios chineses já transportaram 500 mil contentores [dropcap]O[/dropcap]s comboios de mercadorias entre a cidade chinesa de Yiwu, leste da China, e Madrid, fizeram 600 viagens e transportaram 500.000 contentores, desde a inauguração, em 2014, como parte da iniciativa chinesa “Uma Faixa, Uma Rota”. Citado pela agência EFE, o embaixador chinês em Espanha, Lyy Fan, explicou que aquela ligação ferroviária é um “marco importante” do gigantesco projecto de infraestruturas internacional lançado por Pequim, e que visa reforçar a conectividade entre o Sudeste Asiático, Ásia Central, África e Europa. Lyy destacou ainda que a China é o maior parceiro comercial de Espanha fora da União Europeia, com as trocas anuais a fixarem-se, no ano passado, em 33.700 milhões de dólares. As autoridades portuguesas querem incluir uma rota atlântica no projecto, o que permitiria ao porto de Sines ligar as rotas do Extremo Oriente ao oceano Atlântico, beneficiando do alargamento do canal do Panamá. Nesse caso, Madrid deixaria ser a ligação ao extremo ocidental, passando antes a ser Lisboa, reforçando a ligação portuguesa ao mercado chinês. Hoje Macau China / ÁsiaGraça Fonseca inicia no domingo deslocação oficial a Pequim A ministra vai inaugurar o Festival de Cultura Portuguesa na China marcado por exposições, concertos, espectáculos e encontros literários e que integra aristas como a maestrina Joana Carneiro, a soprano Elisabete Matos e os escritores portugueses Isabela Figueiredo, Bruno Vieira Amaral e José Luís Peixoto, entre outros [dropcap]A[/dropcap] ministra da Cultura de Portugal, Graça Fonseca, inicia no domingo uma visita oficial a Pequim, no âmbito do Festival Cultura Portuguesa na China, anunciou ontem o Ministério da Cultura. Num comunicado ontem divulgado, o ministério adianta que Graça Fonseca estará em Pequim entre domingo e o dia 12 de Junho. Na segunda-feira, a ministra presidirá à cerimónia do Dia de Portugal, no Beijing Concert Hall, “onde serão ouvidos o Hino Nacional e o Hino da República Popular da China”. “No programa das comemorações estão previstas as exibições de filmes sobre Portugal e sobre o Festival de Cultura Portuguesa na China, e a cerimónia encerrará com o concerto da Orquestra Sinfónica Nacional da China, dirigido pela maestrina Joana Carneiro, e com actuação da soprano Elisabete Matos”, lê-se no comunicado. Ainda na segunda-feira, Graça Fonseca irá inaugurar a exposição “Histórias da Torre do Tombo/Chapas Sínicas”, na Biblioteca Nacional de Pequim. O conjunto das Chapas Sínicas, recorda a tutela, é “um dos mais importantes documentos do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa”. Na terça-feira, a ministra irá reunir-se, no Museu do Palácio Imperial, com o homólogo chinês, o ministro da Cultura e do Turismo da República Popular da China, Luo Shugang. Mais tarde, no mesmo local, estará presente na inauguração da exposição “A Evolução do Azulejo em Portugal dos séculos XVI ao XX”. Ao final da tarde de terça-feira, Graça Fonseca assistirá ao espectáculo “Quinze Bailarinos e Tempo Incerto”, da Companhia Nacional de Bailado (CNB), no Teatro Tiangiao. No último dia da visita oficial, 12 de Junho, a governante fará a intervenção de abertura do II Fórum Literário Portugal-China, no Museu Nacional da Literatura Moderna Chinesa, no qual participam os escritores portugueses Isabela Figueiredo, Bruno Vieira Amaral e José Luís Peixoto. Nessa ocasião, Graça Fonseca “pretende destacar iniciativas de promoção internacional da literatura em língua portuguesa, nomeadamente os apoios à tradução, mas também o ‘Catálogo Gram Bem Querer’ que o Ministério da Cultura, em cooperação com outras entidades, vai conceber, editar, publicar e divulgar, como uma grande mostra de literatura em língua portuguesa”. Depois de uma primeira edição em Lisboa, em Junho de 2017, o Fórum Literário vai cruzar os três autores portugueses com os chineses Lu Min, Liu Zhenyun e Xu Zechen, numa conversa que será moderada por outro escritor, Qiu Huadong, de acordo com a informação já divulgada pela Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas. José Luís Peixoto participou igualmente na primeira edição, então ao lado de Gonçalo M. Tavares e Dulce Maria Cardoso. Programa paralelo À margem do II Fórum Literário Portugal-China, a ministra tem agendado um encontro com a presidente da Associação de Escritores da China, Tie Ning. Ainda no dia 12, Graça Fonseca irá realizar uma visita ao Distrito Artístico 798, e assistirá à entrega dos Prémios Tomás Pereira, que distinguem os melhores alunos de Língua Portuguesa, em universidades chinesas. Este ano, Portugal e China assinalam os 40 anos das relações diplomáticas e os 20 anos da retrocessão de Macau. “Na lógica de intercâmbio destas comemorações”, este ano irá realizar-se também, em Portugal, o Festival da Cultura Chinesa. O Festival de Cultura Portuguesa na China inclui a realização, ao longo do ano, de “diversos eventos culturais em domínios tão variados como a música clássica, o fado, o teatro, as artes plásticas, a dança contemporânea, o canto lírico, o cinema e a tradução de obras literárias portuguesas para mandarim”. Inaugurado em Março, na Cidade Proibida, em Pequim, com o guitarrista português Pedro Jóia, e Duan Chao, virtuosa de huqin, o Festival de Cultura Portuguesa na China. Hoje Macau SociedadeAuxílio à Imigração | Polícias em prisão preventiva e com processo disciplinar [dropcap]O[/dropcap]s dois agentes do Corpo Polícia de Segurança Pública (CPSP) detidos na segunda-feira por suspeita de corrupção passiva e de forjar registos de imigração, para prolongar a permanência em Macau de um junket, estão em prisão preventiva, de acordo com informação prestada ao HM pelo CPSP. As autoridades revelaram também que foram instaurados processos disciplinares aos dois agentes. A PJ revelou na passada terça-feira que um indivíduo de apelido Wu, oriundo do Interior da China, terá desembolsado um total de 900 mil dólares de Hong Kong para comprar a complacência dos agentes do CPSP e os serviços dos três intermediários. As autoridades revelaram ainda ao HM que os dois agentes terão alegadamente recebido cada um menos de 100 mil dólares de Hong Kong. O remanescente terá sido distribuído entre os três intermediários. Segundo informação prestada pelas autoridades, os dois agentes policiais fazem parte do CPSP desde 1992 e 1995. «1...164165166167168169170...272»
Sofia Margarida Mota PolíticaChefe do Executivo | Novo candidato “sem hipóteses”, segundo Larry So Leung Kuok Chao pretende candidatar-se a Chefe do Executivo. Para Larry So, a candidatura do empresário não terá sucesso e será difícil conseguir os votos necessários para ser nomeado candidato pelo Colégio Eleitoral [dropcap]S[/dropcap]em hipóteses!” É desta forma que o comentador político Larry So definiu ao HM a possibilidade de Leung Kuok Chao ser nomeado candidato ao cargo de Chefe do Executivo, depois de mostrar intenção de entrar na corrida. Uma das razões que “derrota” o empresário à partida tem que ver com a altura em que a demonstra a sua intenção. Para Larry So, já é uma candidatura tardia, porque o candidato até agora conhecido, Ho Iat Seng, tem trabalhado no sentido de reunir vários apoios. “Quando todos já pensavam que não iria haver mais ninguém interessado em concorrer para as nomeações de candidatos a Chefe do Executivo, surgiu Leung Kuok Chao. Ele já apareceu demasiado tarde. Ho Iat Seng apresentou muito cedo a sua intenção e tem trabalhado no sentido de reunir apoios e tem conseguido e isto tudo antes do período destinado à nomeação de candidatos”, aponta o académico. Recorde-se que os candidatos ao cargo de Chefe do Executivo podem ser apresentados conjuntamente por, pelo menos, 66 membros da Comissão Eleitoral, sendo que cada membro pode propor um só candidato. “Este candidato novo, se quiser ter 66 ou mais votos para que possa ser nomeado, vai ter que trabalhar arduamente para isso e ainda assim vai ser muito difícil. Duvido que consiga ter nomeações suficientes”, refere So. O colégio, composto por 400 membros e que ainda não está definido, é eleito a 16 de Junho. Já as eleições para o Chefe do Executivo ainda não têm data marcada, sendo vontade de Pequim que se realizem em Agosto. Sem o apoio maior A dificultar o processo de Leung Kuok Chao acresce ainda o já conhecido apoio do Governo Central à candidatura do também presidente da Assembleia Legislativa que, considera Larry So, vai influenciar a concordância dos membros da Comissão Eleitoral. “Penso que o facto de o Governo Central apoiar Ho Iat Seng vai condicionar as nomeações dos membros [do colégio Eleitoral] e estes vão tentar estar alinhados com Pequim”, disse. No entanto, para Larry So, a possibilidade de um novo candidato pode dar outra dinâmica ao período eleitoral. “A eleição para o Chefe do Executivo é tida como uma coisa garantida. Aparecer alguém a dizer que vai desafiar esse sistema é uma coisa boa”, disse. Em contrapartida, os desafios não são bem vistos por Pequim, pelo que Leung terá que estar preparado para não ter qualquer apoio por parte do Governo Central que “vai tentar manter Macau longe de qualquer distúrbio que possa ameaçar a harmonia social”. Candidato confiante Por seu lado, Leung Kuok Chao, que anunciou na passada sexta-feira a intenção de se candidatar a Chefe do Executivo, está confiante em conseguir o apoio necessário, de acordo com informação veiculada pela Rádio Macau. O objectivo de Leung é representar a população, nomeadamente das camadas mais desfavorecidas, refere a mesma fonte. Leung Kuok Chao, tem 45 anos e é director de uma empresa de investimento. Participou em 2005 nas eleições legislativas, como número 2 da lista da Associação Pela Democracia e Bem-Estar Social de Macau, onde arrecadou cerca de quatro mil votos, representando 3,5 por cento, resultado que não foi suficiente para ser eleito como deputado. A lista, que corria com o número 10, era liderada por Wong Cheong Nam, um dos nomes da primeira geração de pró-democratas de Macau.
João Santos Filipe Desporto MancheteMacau recusa jogar no Sri Lanka por motivos de segurança e jogadores revoltam-se O presidente da Associação de Futebol de Macau, Chong Coc Veng, impediu os atletas de irem para o Sri Lanka, por temer atentados terroristas, mas os jogadores não se conformam. O dirigente diz que a AFM está preparada para assumir a punição da FIFA, que pode passar pela suspensão de todas as competições regionais e internacionais de selecção e clubes [dropcap]A[/dropcap] selecção de Macau está em risco de ser proibida de participar nas competições com a chancela da FIFA e da Confederação Asiática de Futebol (AFC, em inglês). Em causa está a decisão da Associação de Futebol de Macau (AFM) de não ir ao Sri Lanka disputar o jogo agendado para amanhã, evocando motivos de segurança na sequência dos atentados terroristas da passada Páscoa. Como a partida faz parte da primeira ronda de qualificação para o Campeonato Mundial de 2022, a falta de comparência pode ter consequências muito pesadas para o futuro da selecção. Por esta razão, os próprios atletas revoltaram-se e ameaçam, caso não sejam autorizados a jogar, não voltar a representar a selecção da Flor do Lótus. A decisão foi comunicada aos jogadores logo na sexta-feira, pouco mais de um dia da vitória por 1-0 frente ao Sri Lanka, em Zhuhai, e oficializada na noite de sábado. Ontem, a AFM voltou a confirmar a decisão, através de uma conferência de imprensa, mesmo depois da Federação de Futebol do Sri Lanka ter emitido um comunicado a garantir que todas as condições estavam reunidas. “Tomámos esta decisão porque a AFM coloca a segurança dos jogadores acima de tudo. Não podemos correr riscos e colocar a vida dos atletas em risco. Foi por isso que tomámos a decisão de não enviar a nossa equipa para o Sri Lanka”, afirmou Chong Coc Veng, presidente da MFA. “Pedimos a compreensão. Não foi uma decisão fácil, mas tivemos de tomar esta medida difícil para proteger os jogadores. Temos de pensar nos jogadores, nas suas famílias e amigos”, acrescentou. Chong Coc Veng negou que as condições de segurança para o jogo em Colombo estivessem reunidas, apesar da Federação de Futebol do Sri Lanka garantir que haveria protecção especial para os atletas. “Sabemos que eles emitiram o comunicado. Mas nós temos como referência o alerta de viagem do Governo. E foi devido a esse alerta que tomámos a decisão de não comparecer”, apontou. Revolta interna Entretanto, a decisão causou revolta entre os jogadores. Como tal, foi enviada uma carta aberta à associação e ao Governo, assinada por 48 atletas das equipas A, sub-21 e sub-18, a dizer que caso não entrem em campo amanhã deixam de estar disponíveis para a selecção. “Sentimos que o futebol de Macau não tem sido respeitado nos últimos anos. Mas, finalmente, temos uma hipótese de dar um motivo de orgulho aos cidadãos de Macau, aos fãs, famílias e amigos como selecção. Estamos mais perto que nunca de atingir o objectivo e não queremos deixá-lo escapar entre os dedos”, podia ler-se no documento. Também Nicholas Torrão, capitão, explicou ao HM o ambiente que o plantel vive. “Estamos desiludidos. Percebemos que não podem garantir a segurança, mas nós queríamos ir e estávamos prontos para assinar um termo de responsabilidade sobre as consequências”, contou o atleta. “Se não nos deixam representar a selecção neste momento em que podemos alcançar uma fase que nunca se conseguiu alcançar antes também não faz sentido representar a selecção… É só para os amigáveis? Se é para abdicar do Mundial e do Asiático e apenas para jogar os amigáveis, que convoquem outros”, desabafou. O internacional por Macau protestou também contra o facto de os jogadores não terem sido ouvidos: “O futebol são os jogadores. Os dirigentes, intermediários e outros vêm por acréscimo. As decisões não deviam ser tomadas nos corredores”, sublinhou. Também os jogadores Cheong Hoi San, Leong Ka Hang, Lam Ngai Tong e Ho Man Fai vieram a público criticar a decisão, através de uma conferência de imprensa coordenada pelo deputado Sulu Sou. “Perder uma oportunidade como esta vai ter um grande impacto no futebol de Macau e nas gerações futuras. Há muitos jogadores locais que têm o sonho de jogar profissionalmente. Mas a AFM abdica da participação no Mundial de uma forma muito ligeira. É um mau exemplo”, afirmou Cheong Hoi San. “O plano de segurança já foi aprovado pela FIFA e pelo AFC… Esta decisão vai ser muito negativa e mostra que não há futuro no futebol local”, acrescentou. Cheong Hoi San lamentou igualmente o facto de não poder representar a China, através das cores de Macau. “Pessoalmente, fico desiludido e com alguma vergonha. Como é que uma situação destas nos pode impedir de representar o nosso país?”, perguntou. Treinador desiludido Na conferência da AFM, o seleccionador de Macau confessou sentir-se desiludido com a situação e estar preparado para contar, no futuro, apenas com os atletas que se mostrem disponíveis para representar a AFM. “Estou desiludido, claro que sim. Compreendo melhor do que ninguém o esforço feito pela equipa e na preparação deste encontro”, afirmou Iong Cho Ieng. “Estou desiludido, mas não posso aceitar que se coloque em risco a segurança dos jogadores”, acrescentou. Iong referiu igualmente respeitar a opinião dos atletas de se afastarem e apontou que nas outras selecções também há jogadores que abdicam das respectivas selecções. Se em público foi esta a posição tomada por Iong, em privado o cenário poderá ter sido diferente. Falando em impressões pessoais, o jogador Cheong Hoi San diz ter sentido que Iong queria estar ao lado dos atletas. “Nós achamos que o treinador queria tomar a mesma posição e estar ao nosso lado. Mas, como sabemos, ele é empregado da associação…”, começou por dizer. A minha impressão é que ele gostava de estar ao nosso lado, mas sabemos como é a mentalidade de Macau. As pessoas podem ter uma ideia contrária, mas não podem vir a público mostrar que são contra a instituição que os emprega”, referiu. AFM desconhece penalizações Neste momento, a FIFA ainda não publicou as regras para o Mundial de 2022 no Qatar. O regulamento está a ser finalizado depois de ter sido decidido que não haveria alargamento do número de equipas a participar na fase final. Contudo, tanto as regras do mundial de 2014, no Brasil, como da Rússia, em 2018, são semelhantes. Tendo o Mundial da Rússia como referência, caso uma equipa abandone a competição na fase em que Macau se encontra vê-se obrigada a pagar uma multa de 40 mil francos suíços, o que corresponde a 325 mil patacas. Já o código de conduta da FIFA define uma multa de pelo menos 10 mil francos, ou seja, cerca de 81 mil patacas para as faltas de comparência. Além da multa, a Federação de Futebol do Sri Lanka e a própria FIFA podem exigir compensações monetárias por perda de receitas, despesas com a organização, entre outras. Contudo, o mais grave é a possibilidade de ser instaurado um processo pelo Comité de Disciplina da FIFA contra a AFM. Neste caso, a associação pode ser suspensa, o que implica o afastamento da selecção e dos clubes de Macau das competições oficiais. Ontem, Chong Coc Veng admitiu que ainda não sabia quais as consequências para a AFM. “Ainda estamos a conversar com a FIFA e a AFC sobre as penalizações. A AFM está disponível para cumprir o castigo”, limitou-se a dizer sem explicar as possibilidades, além da multa. Quando questionado se se demite caso as equipas de Macau fiquem impedidas de participar nas competições internacionais, Chong recusou tomar uma posição: “A decisão foi da AFM. Mas o cenário ainda não está confirmado e não posso responder”, apontou. Segurança aprovada Segundo a AFM, as discussões com a Federação de Futebol do Sri Lanka, com a FIFA e AFC para que fosse encontrado um campo neutro para o encontro já decorriam há algum tempo. A própria AFM terá mostrado disponibilidade para cobrir todas as despesas da Federação do Sri Lanka com a organização em terreno neutro. Porém, ao contrário de Macau, que disputou o encontro em Zhuhai, os adversários não quiseram abdicar do factor casa como forma de mostrar respeito perante os adeptos. “Tem a importância máxima para qualquer selecção poder jogar em casa diante dos seus adeptos, especialmente quando se trata de uma ronda de apuramento para o Mundial FIFA, o que só acontece uma vez a cada quatro anos”, explicou a FFSL. “Cumprimos todos os requisitos de segurança e tanto a AFC como a FIFA aceitaram os nossos planos de segurança para o jogo”, foi acrescentado. Já sobre o sistema de alerta de viagens, ao Sri Lanka pediu a Macau que olhe para o Interior da China, em que o Governo Central já baixou o nível de alerta, ao contrário da RAEM. “O Sri Lanka também tem o direito de organizar os jogos no Sri Lanka, e todos os países devem respeitar este direito”, foi acrescentado. Ainda de acordo com o comunicado oficial da Federação do Sri Lanka, os responsáveis da AFC, que vão supervisionar a partida, já estão no território e os dirigentes de Macau são aguardados durante o dia de hoje, para os compromissos normais antes de uma partida oficial. Sulu Sou fala em “vergonha” Depois conhecida a decisão da Associação de Futebol de Macau em não autorizar a deslocação da selecção ao Sri Lanka, o deputado Sulu Sou organizou uma conferência com um grupo de jogadores para pedir o adiamento do encontro. O legislador lamentou todo o sucedido: “É um dia de vergonha para o futebol de Macau. Ninguém consegue compreender a decisão da Associação de Futebol de Macau”, afirmou. “Como deputado, apelo à AFM que mostre toda a informação, os documentos e correspondência dos últimos dois meses com a FIFA, AFC e entidades do Sri Lanka a pedir o adiamento do encontro”, frisou. Duarte Alves: Se fosse eu, levava os jogadores No ano passado, o Benfica de Macau realizou dois jogos na Coreia do Norte a contar para a Taça AFC. A Coreia do Norte é um Estado que se encontra em “guerra” com a Coreia do Sul e a matéria levantou questões aos dirigentes. Porém, segundo Duarte Alves, dirigente do clube, foram cumpridas as exigências da AFC e tudo correu bem. “Falámos com a AFC sobre eventuais receios. Mas eles disseram que a Federação da Coreia do Norte cumpria todos os requisitos, que os planos de segurança eram seguidos e que no passado nunca tinha havido problemas”, contou, ontem, ao HM. “Acabámos por ir e correu tudo bem. Não houve problemas”. Duarte Alves considerou também que perante a aprovação, tanto da AFC como da FIFA, que não resta a Macau outra alternativa que não seja comparecer no encontro, mesmo que a selecção considere que seria mais seguro jogar em terreno neutro. Finalmente, Duarte Alves referiu que a associação devia respeitar a opinião dos jogadores, uma vez que quase todos se mostraram disponíveis para viajar. ID lava as mãos Na carta aberta, os jogadores pediram ao Governo ajuda para resolver a situação, de forma a poderem participar no encontro. Caso contrário, os atletas diziam não estar mais disponíveis para representar Macau. Contudo, contactado pelo HM, o Instituto do Desporto limitou-se a dizer não ter qualquer declaração a fazer sobre a situação.
Hoje Macau China / ÁsiaQuase um milhão de pessoas protestam em Hong Kong contra lei das extradições [dropcap]Q[/dropcap]uase um milhão de pessoas estiveram hoje ruas de Hong Kong em protesto contra plano do Governo que visa permitir extradições para a China continental. O parque Vitória foi o local convocado para o protesto e, segundo relata a agência noticiosa Efe, esteve lotado durante várias horas. O branco foi a cor predominante e a escolhida para este protesto, bem como guarda-chuvas amarelos, símbolo das manifestações em favor da democracia em 2014. O plano do executivo chinês também já foi criticado pelo último governador de Hong Kong, o britânico Chris Patten, que disse na semana passada que se trata de um “terrível revés” para a reputação daquele território. O Governo de Hong Kong apresentou ao Conselho Legislativo (parlamento) uma proposta de lei que autoriza a extradição de condenados em fuga para vários países, incluindo a China continental, com os quais não tem actualmente acordos de extradição. As alterações à lei da extradição – que muitos críticos afirmam colocar a população à mercê de um sistema judicial chinês opaco e politizado – motivou, em Abril, a maior manifestação em Hong Kong desde o “Movimento dos Guarda-chuvas”, em 2014. Esse protesto foi liderado por organizações de defesa dos direitos humanos, como a Amnistia Internacional e a Human Rights Watch, e reuniu meio milhar de pessoas. “Esta proposta inflige um terrível golpe no Estado de Direito, na estabilidade e segurança de Hong Kong e no seu estatuto de importante centro de comércio internacional”, disse Pattern, governador de Hong Kong até 1997, quando a administração passou para a China. A fórmula ‘Um País, Dois Sistemas’ serviu para a integração de Hong Kong e Macau na República Popular da China, em 1997 e em 1999, respectivamente, com o estatuto de regiões administrativas especiais, e garante que as políticas socialistas em vigor no resto da China não se aplicam nos territórios, que gozam de “um alto grau de autonomia”, à excepção da Defesa e das Relações Externas, que são da competência exclusiva do Governo Central chinês.
Hoje Macau China / ÁsiaJapão e EUA discutem desequilíbrios comerciais entre os dois países [dropcap]O[/dropcap] secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, e o ministro das Finanças do Japão, Taro Aso, discutiram hoje como lidar com o desequilíbrio no comércio entre os dois países. “Discutimos a cooperação entre os Estados Unidos e o Japão em diferentes questões económicas e de segurança”, disse o secretário do Tesouro dos EUA através de sua conta no Twitter. Ambos os representantes discutiram essas questões à margem da reunião dos ministros das Finanças e governadores dos bancos centrais do G20 que decorre neste fim de semana em Fukuoka, no sudoeste do Japão. Os dois países aliados, estão actualmente a negociar um tratado comercial bilateral. No final do mês de maio, o Presidente norte-americano, Donald Trump, voltou a criticar o “tremendo desequilíbrio” no comércio entre o Japão e os Estados Unidos, uma alusão ao excedente japonês, uma das razões que motiva Washington a negociar um novo acordo com Tóquio. “Temos que alcançar o Japão, eles têm feito muito mais negócios connosco, mas gostaríamos de fazer um pouco mais de negócios” com eles, insistiu. Nestas negociações, os Estados Unidos procuram garantir um maior acesso ao mercado japonês em produtos como carne bovina e suína e trigo. O Japão importa grande parte destes produtos da Austrália e da Nova Zelândia, graças ao acordo comercial transpacífico, conhecido como TPP, do qual a administração Trump decidiu retirar os Estados Unidos. Tóquio, por sua vez, pede tarifas mais baixas para produtos industriais japoneses, incluindo veículos, uma das principais exportações para os EUA. Na reunião de hoje, o ministro das Finanças do Japão informou o representante norte-americano que posição japonesa é de que o acordo de comércio não deve incluir qualquer disposição sobre a sua política monetária. Donald Trump, tem acusado repetidamente o Japão de desvalorizar o iene para impulsionar as suas exportações de automóveis para os Estados Unidos e ameaçou impor limitações ao sector industrial japonês. A moeda japonesa permaneceu fraca em relação ao dólar, ao euro e a outras moedas nos últimos anos, como resultado de várias medidas de flexibilização monetária aplicadas pelo Banco do Japão, uma estratégia projectada para tirar o país asiático do seu longo ciclo de deflação. Essa desvalorização do iene favoreceu as exportações japonesas, tornando as empresas nipónicas mais competitivas no exterior. Durante a reunião dos ministros do G20, que será concluída neste domingo, espera-se analisar os efeitos sobre a economia global do surgimento de políticas proteccionistas, os crescentes desequilíbrios entre os fluxos comerciais e os impactos da tecnológica.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeLuís Amorim | Decisão “não oferece ideia de seriedade” do sistema jurídico O Tribunal de Segunda Instância considerou “inútil” a acção dos pais do jovem Luís Amorim, que foi encontrado sem vida aos 17 anos debaixo da Ponte Nobre de Carvalho, em 2007. O advogado dos pais, Pedro Redinha, lamenta uma decisão demasiado tardia e diz que o acórdão do tribunal “não oferece uma ideia de seriedade do sistema em que estamos inseridos” [dropcap]A[/dropcap] longa batalha judicial que os pais do jovem Luís Amorim travam nos tribunais da RAEM parece ter chegado ao fim sem que uma decisão lhes tenha sido favorável. Um acórdão recentemente divulgado do Tribunal de Segunda Instância (TSI) considera que o recurso contra a RAEM é “absolutamente inútil”. “Não cabe ao tribunal presumir nem ficcionar os motivos do inconformismo dos recorrentes”, pode ler-se. O colectivo de juízes considerou ainda “absolutamente inútil o conhecimento do recurso” e que, caso o fizesse, “seria desrespeito pelo que decidido e transitado em julgado está”. Contactado pelo HM, o advogado dos pais de Luís Amorim, Pedro Redinha, acusa o sistema jurídico de falta de seriedade. “Ao fim de tantos anos, o TSI veio afirmar que esta acção não tem acolhimento no sistema jurídico de Macau. Como é que é possível este tribunal ter pendente esta acção durante anos, para justamente nesta altura virem dizer que esta acção não tem fundamento legal? Parece que estamos todos a brincar uns com os outros”, acusou. Redinha disse ainda que “a decisão não oferece uma ideia de seriedade do sistema em que estamos inseridos”, lembrando que esta foi “uma das acções com mais tempo nos tribunais”, cerca de três anos. Pedro Redinha frisou que “esta era sempre uma acção complexa para o sistema”, tendo em conta que “mexe com o sistema”. “Ao fim deste tempo o nosso TSI entende que esta acção não tem base legal no ordenamento jurídico. Só tenho pena que esta descoberta tenha sido feita agora, tinha poupado tempo e dinheiro”, adiantou. O causídico afasta também a possibilidade de os pais intentarem mais acções legais contra a RAEM. “É preferível os advogados dedicarem-se as acções que merecem o gosto do sistema”, ironizou. O HM tentou ainda chegar à fala com os pais de Luís Amorim, sem sucesso. Um longo processo O caso de Luís Amorim arrasta-se nos tribunais desde 2012, ano em que os pais decidiram recorrer ao Tribunal Administrativo (TA) para intentar uma acção de responsabilidade civil extracontratual contra a RAEM, exigindo das autoridades uma indemnização de 15 milhões de patacas por “danos não patrimoniais sofridos por falhas ou deficiências de investigação das autoridades de investigação criminal da RAEM”. Antes disso, já o Ministério Público (MP) havia arquivado o processo de inquérito para fins de investigação por três vezes, uma vez que não se conseguiu apurar “a causa da morte do falecido, se foi por motivo de suicídio, de homicídio ou de acidente”. O acórdão do TSI agora divulgado recorda que os pais apontaram como falhas das autoridades criminais uma “anómala catalogação do caso, inicialmente, como suicídio, o que desviou a investigação em detrimento da verdade”, além de ter sido cometidos “erros grosseiros na autópsia realizada em Macau e na metodologia de inquirição das testemunhas”. Além disso, “foram recusados a segunda autópsia e o exame laboratorial do vestuário do falecido para o recolhimento das provas essenciais e houve interpretação indevida das provas como as palavras escritas na coxa do falecido”. A sentença do TA foi conhecida em 2016, tendo os juízes decidido que não havia “fundamento legal para suportar uma indemnização pela responsabilidade civil resultante dos actos lícitos ou ilícitos praticados no desempenho de função judicial” por parte do MP. O corpo de Luís Amorim foi encontrado a 30 de Setembro de 2007, “deitado na Avenida Dr. Sun Yat-Sen, sob a Ponte Nobre de Carvalho, tendo-se verificado lesões em várias partes do seu corpo”. O corpo seria encaminhado para o Centro Hospitalar Conde de S. Januário, onde foi declarada a morte. Na altura, “o médico do Centro Hospitalar Conde de S. Januário, com base no relatório da autópsia, identificou a laceração da aorta provocada pela queda de lugar elevado como causa da sua morte”.
Hoje Macau China / ÁsiaFilipinas recusam qualquer inquérito da ONU sobre os direitos humanos [dropcap]A[/dropcap] Presidência filipina rejeitou o apelo a uma investigação às violações dos direitos humanos, lançado na sexta-feira por 11 especialistas da ONU, considerando tratar-se de uma “interferência” nos assuntos do país. Os especialistas pediram, na sexta-feira, aos membros do Conselho de Direitos Humanos da ONU, abertura de um inquérito sobre as graves violações de direitos humanos, notando em particular “o grande número de pessoas mortas pela polícia no quadro da alegada luta contra o tráfico de droga”. Segundo dados oficiais, mais de 5.300 suspeitos foram mortos pela polícia desde o início da “guerra contra a droga”, lançada pelo presidente Rodrigo Duarte após a sua eleição, há três anos. Os defensores dos direitos humanos estimam que o número real seja três vezes mais elevado. Este apelo dos especialistas da ONU “é não só idiota, mas uma ingerência inadmissível na soberania das Filipinas”, afirmou hoje, em comunicado, o porta-voz da Presidência filipina Salvador Panelo. O responsável acusa estes especialistas de “difundirem informações parciais e absolutamente falsas”, antes de sublinhar que, nas Filipinas, “aqueles que falam contra a campanha antidroga e acusam o presidente de violações dos direitos humanos foram rejeitados pelo eleitorado filipino”. Os aliados do Presidente venceram as eleições no mês passado, assumindo o controle do Senado e da Câmara dos Representantes. A “guerra contra a droga” é a bandeira política do Presidente Duterte, que a defende vigorosamente contra todas as acusações vindas do exterior. Os seus críticos consideram que esta luta se tornou uma “guerra contra os pobres”, alimentando um clima de ilegalidade e impunidade no país.
Hoje Macau PolíticaTeto Preto – “Gasolina” “Gasolina” Gasolina, gasolina neles Gasolina, gasolina neles Gasolina, gasolina neles Gasolina neles Gasolina, gasolina neles Quando eu voltei para El Dourado Não sei se antes ou depois Quando eu vi a paisagem mutável, a natureza A mesma gente perdida em sua infinita grandeza Eu trazia uma forte amargura dos encontros perdidos E outra vez me perdia no fundo dos meus sentidos Eu não acreditava em sonhos, em mais nada Apenas a carne me ardia E eu não me encontrava Apenas a carne me ardia Gasolina, gasolina neles Gasolina neles Gasolina, gasolina neles Gasolina neles Gasolina, gasolina neles Gasolina neles Gasolina, gasolina neles Eu sou o pão vivo que desceu do céu E quem comer deste pão para sempre viverá E esse, esse é o meu sangue Eu andarei por aí Pela vida a fundo E quem come da minha carne e bebe do meu sangue permanece em mim e eu nele Gasolina, gasolina neles Gasolina, gasolina neles Gasolina neles Gasolina, gasolina neles Gasolina, gasolina neles Gasolina neles! Eu sou uma metralhadora em estado de graça Teto Preto ZOPELAR, ANGELA CARNEOSO, BICA
Hoje Macau China / ÁsiaPutin e Xi Jinping em consonância sobre Venezuela e outros temas internacionais [dropcap]O[/dropcap]s presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da China, Xi Jinping, apelaram hoje ao diálogo para a resolução da crise política na Venezuela e anunciaram medidas para contrariar as restrições às exportações de altas tecnologias. A declaração emitida no final de um encontro que durou várias horas entre Putin e Xi no Kremlin apela a todas as partes envolvidas no conflito venezuelano a “apoiar uma solução pacífica dos problemas no país através de um diálogo político inclusivo” e rejeitaram uma possível “intervenção militar” na Venezuela. “Seguimos atentamente o desenvolvimento dos acontecimentos na Venezuela e apelamos a todas as partes a cumprir com a Carta da ONU, assim como as normas do direito internacional e as relações entre os Estados”, acrescenta o documento. Putin e Xi, líderes de dois países que possuem importantes interesses económicos na Venezuela, expressam também a intenção de continuar a manter consultas sobre a América Latina e reforçar os contactos e acções conjuntas para aprofundar as relações com os países da região. Numa alusão à actual guerra comercial entre o gigante asiático e os Estados Unidos, a declaração russo-chinesa assinala que as duas partes se propõem “contrariar a imposição de restrições infundadas ao acesso aos mercados de produtos de tecnologia da informação com a desculpa de garantir a segurança nacional, assim como a exportação de produtos e altas tecnologias”, assinala a declaração conjunta emitida no final das negociações entre os dois estadistas. O documento também sublinha a disposição de se “oporem à ditadura política e à chantagem na cooperação comercial e económica internacional, e condenar a aspiração de alguns países de se arrogarem no direito de decidir os parâmetros da cooperação entre outros países”. Putin e Xi Jinping, acusados de promoveram a censura no universo digital, também prometem “garantir o funcionamento pacífico e seguro da Internet na base da igualdade de condições de todos os países no dito processo”. “E também contribuir para instaurar a regularização de um espaço informativo global”, acrescenta. Num contexto de fortes tensões entre a Rússia e os Estados Unidos, as trocas comerciais entre Moscovo e Pequim aumentaram 25% em 2018, para atingir um nível recorde de 108 mil milhões de dólares (96 mil milhões de euros), um aspecto também sublinhado no comunicado conjunto. Estes números contrastam com a actual guerra comercial entre a China e os Estados Unidos, que ocorre também após Moscovo acusar Washington de competência desleal no caso do gasoduto Nordstream-2 entre a Rússia e a Alemanha, um projecto que hoje voltou a ser criticado por Washington. O líder russo enfatizou a perspectiva comum de Moscovo e Pequim sobre numerosos temas internacionais, em particular a oposição conjunta à retirada os Estados Unidos do Tratado sobre Forças nucleares de alcance intermédio (INF), um decisivo pacto sobre o controlo de armamento firmado no final da Guerra fria. Os dois presidentes consideraram que esta decisão dos EUA “corrói a estabilidade estratégica”, e também manifestaram preocupação pela crescente ameaça de uma corrida ao armamento no espaço, apelando à abolição global do envio de armamento para a órbita terrestre. Putin e Xi Jinping também enfatizaram a necessidade de preservar o acordo nuclear com o Irão, e prometeram contribuir para o avanço das conversações sobre a desnuclearização da Coreia do Norte. Hoje, os dois líderes também assistiram à inauguração de uma fábrica de automóveis chinesa no sul de Mosovo, e à oferta de dois pandas ao zoo da capital russa. Após o programa moscovita, Xi Jinping, que prolonga por vários dias a sua visita à Rússia, desloca-se à antiga capital dos czares e da Revolução de Outubro, onde entre quinta e sexta-feira será convidado de honra no Fórum económico de São Petersburgo, o principal encontro empresarial da Rússia, que deverá reunir 17.000 pessoas. A economia russa tem sido duramente atingida pelas sanções europeias e norte-americanas desde 2014, na sequência da crise ucraniana e da anexação da Crimeia.
Hoje Macau China / ÁsiaParlamento tailandês elege líder do golpe de Estado de 2014 como primeiro-ministro [dropcap]O[/dropcap] parlamento da Tailândia elegeu esta quarta-feira o líder do golpe de Estado de 2014 como primeiro-ministro, reforçando o domínio militar da política desde que o país se tornou uma monarquia constitucional há quase nove décadas. O partido apoiado pelos militares que nomeou Prayuth Chan-ocha conquistou o segundo maior número de assentos na Câmara dos Representantes numa eleição geral em Março. Contudo, a escolha ficou praticamente assegurada porque o primeiro-ministro é escolhido numa votação conjunta da Câmara de Representantes (500 assentos) e do Senado (250), cujos membros foram nomeados pela junta militar liderada por Prayuth. Prayuth foi eleito para servir um segundo mandato por um voto de 500 a 244, derrotando o líder do grupo Futuro Novo, Thanathorn Juangroongruangkit. Prayuth, um ex-comandante do Exército, era o candidato do partido Palang Pracharath, apoiado pelos militares, que detém 116 assentos na Câmara, bem como de deputados de partidos menores. A nomeação de Prayuth torna-se oficial quando é endossada pelo rei Maha Vajiralongkorn. “As pessoas ainda pedem liberdades. As pessoas ainda pedem justiça”, disse Thanathorn após a votação. “Este não é o momento para perder a esperança. A esperança ainda está do nosso lado. O tempo ainda está do nosso lado. Quero agradecer a todas as 244 pessoas que amam a democracia por votarem em mim”, acrescentou. Prayuth não disputou o cargo nas eleições de março – a constituição promulgada sob a junta militar que liderou não exige que o primeiro-ministro seja eleito entre os deputados do parlamento. Leis aprovadas durante o seu mandato visaram a existência de partidos políticos estabelecidos, levantando preocupações de que a eleição não foi realizada em igualdade de condições. Os críticos também questionaram a imparcialidade da comissão eleitoral, alegando que as regras foram adulteradas após a votação para beneficiar Palang Pracharath. As novas leis eleitorais visavam especialmente o partido Pheu Thai, que liderou o Governo derrubado pelo golpe de 2014 e venceu a maioria dos assentos da Câmara em março.
Hoje Macau DesportoTrês portugueses nos quadros principais do Open de Hong Kong em ténis de mesa [dropcap]A[/dropcap] portuguesa Fu Yu e a dupla Tiago Apolónia/João Monteiro qualificaram-se ontem para o quadro principal do Open de Hong Kong, prova do circuito Mundial de ténis de mesa. Nas rondas preliminares de singulares femininos, Fu Yu impôs-se por 4-0 (11-6, 11-6, 11-4, 11-9) à indiana Madhurika Patkar, e por 4-3 (3-11, 11-6, 11-8, 4-11, 11-6, 6-11, 11-6) à coreana Kim Hayeong. Na mesma fase da competição, Jieni Shao não conseguiu passagem ao quadro principal, tendo perdido com a holandesa Jie Li por 4-0 (4-11, 9-11, 10-12, 9-11), depois de se ter imposto à indiana Archana Girish Kamath por 4-1 (11-5, 10-12, 11-8, 12-10 e 11-9) Na variante de pares masculinos Tiago Apolónia e João Monteiro garantiram a passagem ao quadro principal da prova ao derrotarem os italianos Mihai Bobocica e Niagol Stoyanov por 3-0 (11-8, 13-11, 11-9). Portugal ficou fora da competição de pares mistos, depois de Tiago Apolónia e Jieni Shao terem perdido com a dupla francesa Tristan Flore/Laura Gasnier por 3-2 (11-8, 4-11, 8-11,11-6, 9-11).
Hoje Macau SociedadeAMCM | Depósitos e empréstimos de residentes a subir [dropcap]D[/dropcap]ados estatísticos da Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM) revelam que tanto os depósitos como os empréstimos dos residentes registaram um aumento. No que diz respeito aos depósitos, houve um aumento de 0,5 por cento face a Maio, tendo atingido um total de 648,5 mil milhões de patacas. Já os empréstimos concedidos no sector privado aumentaram apenas 0,3 por cento, tendo atingido as 512,3 mil milhões de patacas. Pelo contrário, os depósitos dos não-residentes decresceram 2,7 por cento, atingindo as 251,0 mil milhões de patacas. De acordo com um comunicado, no final de Abril, o rácio entre empréstimos e depósitos de residentes desceu de 57,7 por cento no final de Março para 57,5 por cento, enquanto que o volume que incluiu o rácio empréstimos/depósitos de não-residentes decresceu de 95,0 para 94,0 por cento. Os depósitos do sector público na actividade bancária aumentaram um por cento, o que equivale a 242,0 mil milhões de patacas.
Olavo Rasquinho VozesO meteorologista de Estaline – O homem que viveu duas vezes [dropcap]A[/dropcap]o ler a biografia de José Estaline, de Simon Sebag Montefiore, a minha curiosidade foi aguçada pelo facto de ser mencionado que ele (Estaline) trabalhara como meteorologista no Instituto Meteorológico de Tbilisi, na Geórgia. Procurei mais informação mas não consegui saber quais as suas funções no Instituto Meteorológico. Tudo indica que não teria sido meteorologista na medida em que não consta que tivesse estudado matemática e física em profundidade que lhe permitissem compreender os fenómenos meteorológicos. Provavelmente limitar-se-ia a ler os instrumentos e a registar periodicamente os valores das variáveis meteorológicas, tais como a pressão atmosférica, a temperatura do ar, a precipitação e a avaliar visualmente outros parâmetros como a nebulosidade, visibilidade, nevoeiro, neblina, bruma seca, etc. Quanto muito teria exercido as funções de observador meteorológico. Continuando a busca de algo que relacionasse Estaline com a meteorologia, deparou-se-me o livro “O Meteorologista”, do escritor francês Olivier Rolin. O meteorologista não era Estaline, mas sim o seu contemporâneo Alexei Feodossievitch Vangengheim. Além de ambos terem tido profissões na área da meteorologia e de serem entusiastas das novas ideias que alastravam pela Rússia no início do século XX, nada mais de comum teria havido entre eles. Estaline era filho de um sapateiro e nascera em 1878 em Gori, na Geórgia (Cáucaso) e Alexei descendia de uma família da pequena nobreza e nascera em 1881 numa pequena aldeia, na Ucrânia. No entanto o destino ligou-os de maneira trágica. Enquanto Estaline enveredou pelo envolvimento político ativo, Alexei dedicou-se a uma carreira nas áreas da física e da matemática. Frequentou, no início do século XX, o Departamento de Matemática da Faculdade de Física e Matemática da Universidade de Moscovo. Depois do serviço militar frequentou o Instituto Politécnico de Kiev e o Instituto Agrícola de Moscovo. Casou em 1906, tendo ingressado mais tarde no Serviço Hidrometeorológico do Mar Cáspio. Ainda antes da revolução é mobilizado como chefe do Serviço Meteorológico do VIII Exército, tendo os seus conhecimentos de meteorologia sido aproveitados em batalhas entre russos e austríacos, em que eram empregues gases, arma de guerra cujo uso era muito dependente da direção e intensidade do vento. Após a revolução de Outubro de 1917 e da guerra civil que se lhe seguiu entre Brancos e Vermelhos trabalhou no Observatório Geofísico em Petrogrado, onde foi o responsável pela previsão do tempo a longo prazo. O interesse pela meteorologia foi-lhe provavelmente transmitido pelo seu pai, que montara uma estação meteorológica nas suas terras. Apesar do seu pai pertencer à pequena nobreza, o que poderia fazer cair suspeitas de comportamento reacionário, Alexei optou por permanecer na Ucrânia após a revolução de outubro de 1917, contrariamente a um seu irmão que emigrou. Foi membro do partido bolchevique e, como tal, fez parte de numerosos comités e conselhos científicos. Foi nomeado para a direção do recém-formado Serviço Hidrometeororológico Unificado da URSS, a que chamava em alguns dos seus escritos “o meu querido filho soviético”. Foi o responsável pela instalação da rede de estações meteorológicas nas vastas regiões abrangidas pela URSS. Exerceu ainda outras funções, nomeadamente presidente do Comité Hidrometeorológico junto do Soviete dos Comissários do povo, diretor do Gabinete do Tempo e presidente do Comité Soviético para a organização do segundo ano polar. Contribuiu para a obtenção do recorde mundial de altura atingida pelo homem, com a subida do estratóstato designado por URSS1, que atingiu dezanove mil e quinhentos metros, em plena estratosfera, onde foram levadas a cabo observações de grande valor científico. Alexei participou em discussões iniciadas na década de 1930, conjuntamente com os diretores de serviços meteorológicos de outros países, em que se preconizava que a Organização Meteorológica Internacional (International Meteorological Organization – IMO), organização não governamental fundada em 1873, evoluísse no sentido da criação de um organismo internacional que coordenasse as atividades meteorológicas a nível mundial e cujos membros fossem os Estados aderentes. Tal veio a acontecer algumas décadas mais tarde, em 23 de março de 1950, com a entrada em vigor da Convenção Meteorológica Mundial, criando-se assim a Organização Meteorológica Mundial (World Meteorological Organization – WMO), agência especializada das Nações Unidas. Como fruto do seu trabalho, no primeiro dia do ano 1930, foi emitido o primeiro boletim meteorológico através da rádio. Era com orgulho que contribuía assim, na sua maneira de pensar, para a construção do socialismo. As previsões do tempo poderiam contribuir grandemente para o êxito da agricultura. E provavelmente assim seria, se houvesse uma rede de estações suficientemente densa não só na URSS mas também nos países a oeste, na medida em que nessas latitudes os fenómenos meteorológicos se deslocam com forte componente de oeste para leste. Na realidade os serviços meteorológicos não estavam tão bem organizados como atualmente e o sistema de telecomunicações não era suficientemente expedito que permitisse a transmissão dos comunicados meteorológicos com eficiência em tempo real, o que motivou que a fiabilidade das previsões do tempo não fosse muito elevada. Entretanto, a coletivização da propriedade rural levou à desmotivação dos camponeses o que provocou, juntamente com outras causas, uma baixa dramática da produção agrícola. A coletivização não se limitou às imensas propriedades dos latifundiários, que tanto exploraram os camponeses antes da revolução de outubro de 1917, mas também às propriedades dos camponeses que praticavam agricultura de sobrevivência. Um camponês com uma ou duas vacas era considerado Kulak e, portanto, inimigo da revolução. A coletivização forçada e as requisições de cereais decretadas por Estaline levaram em 1932 e 1933 a milhões de mortos na Ucrânia. Para justificar o insucesso na agricultura havia que encontrar bodes expiatórios. E assim Alexei foi acusado de propositadamente difundir previsões meteorológicas erradas com o intuito de sabotar a revolução. A sua ascendência nobre e ser irmão de um emigrado também contribuíram para que as suspeitas do Comissariado do Povo para Assuntos Internos (abreviadamente designado por NKVD) caíssem sobre ele. Ainda por cima tinha contactos com personalidades estrangeiras. O convite ao meteorologista escandinavo Tor Bergeron para apresentar palestras na URSS contribuiu para que caíssem sobre ele suspeitas de contactos com estrangeiros não só sobre meteorologia mas também sobre outros assuntos. Bergeron foi um dos criadores da teoria norueguesa sobre a evolução de depressões associadas a superfícies frontais que separam massas de ar polar de massas de ar tropical, teoria essa que adotou representações gráficas das frentes que ainda hoje são usadas nas cartas meteorológicas. Alexei foi preso pela polícia política em 1934 e condenado a dez anos num campo de trabalhos forçados. Mais tarde, em 1937, foi-lhe agravada a pena para fuzilamento. O Campo de trabalhos forçados situava-se no nas ilhas Solovetsky, no Mar Branco, próximo da Finlândia e do círculo polar ártico. Foi nestas ilhas que se instalou o primeiro campo, em 1923, do que veio a tornar-se na Direção Central dos Campos (Glavnoye Upravleniye Lagurey), cujo acrónimo GULAC se tornou célebre. Ironicamente, em dez de agosto de 1956, três anos após a morte de Estaline, o presidente do Colégio Militar do Supremo Tribunal da URSS, assinou um decreto através do qual foram canceladas a decisão do Colégio da OGPU (Direção Política Conjunta do Estado) tomada em 7 de março de 1934 (condenação a dez anos em campo de trabalhos forçados) e a decisão da troika especial do NKVD de Leninegrado de 9 de outubro de 1937 (condenação à morte por fuzilamento). É pena que o cancelamento dessas decisões não devolvesse a vida do meteorologista… A esposa de Alexei, Varvara Ivanovna, faleceu em 1977 sem saber onde nem quando e em que circunstâncias o seu marido fora assassinado. A versão oficial que lhe fora entregue em 1957 foi a de que o seu marido morrera em 17 de agosto de 1942, de uma peritonite. Olivier Rolin, seu biógrafo, decidiu investigar a sua história quando consultava documentos reunidos pela ONG Memorial, associação russa dos direitos humanos criada durante a Perestroika. A sua curiosidade foi despertada por uns desenhos enviados por um deportado para sua filha, Eleanora, tirando assim do anonimato uma das muitas vítimas inocentes dos tempos conturbados vividos na URSS durante a década dos anos trinta do século passado. Esse deportado, que oficialmente morrera de uma peritonite em 1942, mas que na realidade fora fuzilado em 1937, era Alexei Feodossievitch Vangengheim.
Luís Carmelo h | Artes, Letras e IdeiasE o que é a normalidade? [dropcap]P[/dropcap]erceber no nosso tempo onde começa e acaba o território da normalidade é como separar o vinho da água num mesmo copo. Nem sempre foi assim. O. Niccoli relembrou que, em finais do quattrocento e no século seguinte, a palavra “segno” – não confundir com signo, nas suas variadíssimas acepções – traduzia a ideia de tudo aquilo que escapava ao “curso natural das coisas”. O “segno” definia, pois, a fronteira entre o que se impunha como normalidade e o vasto reino das coisas desavindas e seguramente condenáveis. O diabo, as metamorfoses inexplicáveis, as excrescências da natureza, uma parte significativa das práticas sexuais, os textos (hoje ditos) seculares, os monstros que habitariam a periferia do planeta, os eventos não catalogáveis, os animais fabulosos que respiravam nos relatos de Preste João ou no imaginário trágico-marítimo integravam, cada um a seu modo, esse negro e nefasto mundo do “segno”. No entanto, para que o “segno” pudesse tornar-se reconhecível, era necessária a existência de uma ordem bem definida que permitisse distinguir o seu mundo de trevas do mundo caracterizado como normal. Sem esse crivo, as bruxarias, os textos proféticos considerados anómalos, as apostasias, os símbolos dissociados da tradição, as heresias e outros “horrores” jamais teriam sido perseguidos. Curiosamente, o mundo utópico e o mundo ideológico, que irromperam um e outro – com experiências e naturezas diversas – no século XIX, acabaram por trazer consigo, nas geografias do ocidente cristão, a antiga marca das civilizações escatológicas. Só que, em vez de paraíso, convocaram a ideia de um igualitarismo terreno, do mesmo modo que a natureza racional do dogma substituiu o “Livro” divino e a luta “por um mundo melhor” passou a encarnar os exigentes preceitos da antiga fé. Nesta nova geometria, o “segno” adquiriu outras formas e soube adequar-se ao modo estanque com que a modernidade se passou a organizar, na medida em que as mais variadas esferas de actividade se autonomizaram a partir do final do século XVIII (fosse a esfera jurídica, científica, estética, mediática, ética, constitucional, social, clínica, etc. etc.). Em todas estas esferas, a racionalidade moderna instituiu contrastes férreos entre a normalidade e a não-normalidade. Pode mesmo dizer-se que a antiga tradição do “segno” acabou por persistir, mas agora tornando-se numa peça de polémica e arremesso em pleno espaço público. Em cada uma das áreas da sociabilidade moderna, os contrários passaram a digladiar-se com alguma violência, tentando definir do outro lado o campo do “segno” (foi assim nos sistemas políticos, nas modalidades jurídicas, na sucessão vertiginosa de vanguardas artísticas, no debate científico, etc., etc.). Esta sistemática metodologia de oposições trouxe o “segno” para dentro da vida social, libertando-o da sua génese divina, cujas finalidades escapariam à compreensão humana (era esta a explicação de Santo Agostinho para a existência de monstros). Deste modo, quer no mundo cristão pré-moderno, quer no mundo (cristão) moderno, ainda que com matizes diversas, a separação entre a ordem do “segno” e a ordem do “não-segno” foi preservada. Uma tal continuidade impediu a banalização de valores e de apologias entre visões que sempre se haviam digladiado. Ora o que mudou abruptamente no Ocidente, no final do século XX e no início do século XXI, foi precisamente este aspecto. A grande mudança dos últimos trinta e poucos anos ficou a dever-se a dois factos: por um lado, a diluição e perda de eficácia (e até de sentido) das grandes referências pesadas e doutrinais de carácter ideológico e similares (o fenómeno atravessou domínios muito distintos e não se circunscreveu apenas ao esboroar da guerra-fria) e, por outro lado, a entrada em cena de uma globalização hipertecnológica associada a um nova morfologia de espaço público aberto, livre e não regulável (ou de difícil regulação). A nossa era, cada vez mais policentrada, tem-se vindo a revelar através de um apagar gradual dessa fronteira que sempre havia distinguido o “segno” do “não-segno”. Para o bem ou para o mal, uma relativização galopante invadiu todos os debates contemporâneos. Mais: a separação entre “segno” e “não-segno” não só adquiriu novos sentidos como deixou de ser uma questão (ou um problema), da mesma maneira que a superação da divisão clássica entre real e ficcional começou a ser baptizada sob o desígnio da hiper-realidade. Os efeitos desta transição meteórica estão ainda por determinar. Sem uma distância face ao presente é difícil avaliá-los. Todavia há aspectos que se destacam a olhos vistos, tais como a banalização do mal, as várias faces do hiperterrorismo, as manipulações genéticas ou as pesquisas que nos estão a conduzir ao pós-humano. A correctness tem sido uma das fugas para a frente que as nossas sociedades inventaram para suprir os muitos vazios de sentido em que vamos vivendo. Fora da arena da correcção, tudo, ou quase tudo parece sair da sua órbita: veja-se o mandato Trump, veja-se a linguagem de Bolsonaro, vejam-se os impactos do Brexit, veja-se a vacuidade doutrinal dos nacionalismos europeus, veja-se o modo como a questão climática é globalmente negligenciada (seremos dez mil milhões de pessoas no final do presente século). Fernando Pessoa ou, se se preferir, Ricardo Reis, parece ter compreendido tudo isto muito antes: “Basta-me que me baste, e o resto gire/ Na órbita prevista, em que até os deuses/ Giram, sois centros servos/ De um movimento externo.” Niccoli, Ottavia. Prophecy and People in Renaissance Italy. Princeton, New Jersey: Princeton University Press, 1990, p. 31. Tít. orig. Profeti e Popolo nell’Italia del Renascimento. Roma; Bari: GIUS, Laterza & Figli SPA, 1987. Pessoa, Fernando. Poemas de Ricardo Reis. Edição Crítica de Luiz Fagundes Duarte, Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1994.
António Cabrita Diários de Próspero h | Artes, Letras e IdeiasEu, os polacos e a Mona Lisa [dropcap]É[/dropcap] a terceira vez que mando um aluno ler A Casa Tomada, de Julio Cortázar, e que depois me surpreendo a dar uma interpretação do conto diferente em relação à que havia desenvolvido anteriormente. Isto acontece por não ser muito sistematizado e, em vez de fichas, ter as notas de leitura espalhadas por cadernos, os quais depois dá um trabalhão localizar. Por isso, em vez de repetir as fórmulas, abordo de novo o texto, medindo-lhe o pulso. Agrada-me o que me surgiu agora: os dois irmãos agem não como proprietários, mas como locatários das suas próprias memórias. E essa relação heterónoma com a vida é-lhes de tal forma confortável que, em vendo-se expulsos por invasores invisíveis e achando-se fora do portão da moradia, têm a delicadeza de fechar o portão para prevenir o risco dos novos proprietários serem assaltados. Passou simplesmente o tempo daquelas memórias serem suas. Contra o assombro dos leitores, eles não sofrem com o que lhes aconteceu porque talvez dentro de casa apenas estivessem em êxodo. A nível macro, evidentemente que Cortázar fala do colonialismo das mentes, numa altura em que a Argentina vivia fascinada pelo imperialismo americano. Também se pode ler o conto – e já o trabalhei com alunos, nesse sentido – como metáfora da situação moçambicana, representando os dois irmãos a alienada elite política moçambicana, que entrega o território e as matérias-primas do país ao saque alheio (e, porque não-dito, invisível), em nome do brando esquecimento que traz a alguns a espuma das coisas materiais. A literatura tem esta capacidade camaleónica de, enquanto forma singular, poder ser lida por lentes universais. Teria curiosidade em saber como Gombrowicz leu este conto, o polaco que viveu 23 anos exilado na Argentina e que facilmente aqui encontraria ressonâncias para o seu país invadido pelos soviéticos. Vem-me esta deriva na banheira, onde me entretenho a ler um livro divertido que o insuspeito Edgar Pera dedicou a Hollywood, e onde resgato a deliciosa história do roubo do cadáver de Chaplin por dois polacos famélicos que depois não conseguiram obter nenhum resgate, porque a viúva foi tesa, e além de ter dito que o marido haveria de divertir-se com a situação propôs, “querem ficar com o cadáver, fiquem!”. Depois dos ladrões terem baixado de um milhão e picos para os cem mil euros, a viúva aceitou, no fito de lhes estender uma armadilha. Apanhados na ratoeira, foram perdoados e lá confessaram onde se encontrava o cadáver, enterrado num campo de milho. Oona O’Neill, a viúva, achou tão bonito o local que teve pena de ter de trasladar dali o cadáver, mas o proprietário foi intransigente. Contudo, até este, passado o tumulto, assinalou o ocorrido com uma tabuleta, onde se lê: “Aqui repousou Charlie Chaplin, Brevemente!”. Outro roubo caricato, sendo história menos conhecida, é a de um pobre emigrante em Paris que tomou como objecto de furto a Mona Lisa. Foi em Agosto de 1911. O quadro era tão pouco visitado, no Louvre, que o ladrão teve tempo para o tirar da parede e enfiá-lo num saco a tiracolo, saindo do museu pela porta da frente. E depois enviou a notificação para o resgate. Só que esse roubo, nesse mesmo país que, até aí, não ligava peva ao retrato de Leonardo, desencadeou uma histeria nacionalista, no agitado clima político-social da época, já prenhe do que se transpiraria na I Guerra Mundial; o roubo motivaria manifestações concorridíssimas, vários quadros de teatro de revista, um sem número de capas e dossiers em revistas e jornais, e de repente, aquilo que era do domínio dos especialistas tornou-se público. Inclusive, para recuperar a perda, as actrizes de variedades mais conhecidas do momento e as cantoras de ópera posaram de Mona Lisa para as revistas ilustradas, penteadas como ela e com roupas mais ou menos similares. E o pobre do ladrão, que guardava o quadro debaixo da cama e viu a escala assimétrica que as coisas adquiriam, compreendeu que seria linchado se fosse apanhado e então reverteu a coisa e empreendeu num acto altruísta: devolveu o quadro, três anos depois. E assim a Mona Lisa ganhou um estatuto que não tinha. Estava até agora mesmo absolutamente convencido, e por isso contei a história, que o roubo tinha sido da autoria de um polaco. Armei-me de escrúpulos e fui verificar: afinal não, foi vilania de italiano. Mas tenho fé de que com origem polaca, não há outra hipótese. Voltemos aos polacos, que estão na minha vida desde que os cinemas de Lisboa começaram a passar os filmes de Wadja e, sobretudo, de Walerian Borowczyk, cujos Contos Imorais e O Monstro, me deram a volta à cabeça. Mais tarde veio o maldito Poborsky, aviar Portugal, num campeonato da Europa, e uma miúda que eu desejava muito cortou-me as vazas, sentenciando que, se eu havia trocado um encontro amoroso com ela pelas vistas desse jogo (de má memória), nenhum outro encontro amoroso haveria de acontecer. E não aconteceu. Juro-vos: gostava muito mais dela que de Poborsky, mesmo quando se tornou a alegria dos benfiquistas. Pela mesma altura, partilhei uma casa com um escritor surrealista, o Virgílio Martinho, e durante pelo menos um mês alimentámos uma rábula com polacos como protagonistas, uma louca fantasia sobre um polaco que tinha um mapa do tesouro no sovaco esquerdo. E a pedal das cervejas imaginávamos o que lhe acontecia numa pensão de menina no Cais do Sodré. E, bem aviados, na cervejaria, líamos em voz alta o Testament, de Dominique le Roux, um longo e extraordinário livro-entrevista com Gombrowicz, que me levaria à leitura sistematizada da sua obra. Depois chegaram os restantes poetas, sobretudo o Czeslaw Milosz, o Zbigniew Herbert, o Tadeusz Rózewicz e o Adam Zagajewski – grandes! O Milosz, uma vez escreveu este verso: «Que longe está a voz humana da mudez dos poemas!». É o que vos digo, os polacos, na poesia, são foda!
Gisela Casimiro Estendais h | Artes, Letras e IdeiasTrapezista temporária O MEU CORPO Este é o meu corpo, mas ainda não é o meu corpo. Este já não é o meu corpo e nunca voltará a ser o meu corpo. Mas este já foi o meu corpo e ainda virá a ser o meu corpo. Este já parece o meu corpo, mas eu não sei se o meu corpo ainda se lembra do meu corpo ou se terá de esculpir outro. Gisela Casimiro in Erosão (Urutau, 2018) [dropcap]Q[/dropcap]uando escrevi este poema, O meu corpo, estava muito longe de imaginar que um dia estaria em palco, no Grande Auditório do Centro Cultural de Belém, pendurada numa barra, qual Cristo crucificado. Este poema vem de longe, de um lugar de memória permanente. Agora que o espectáculo terminou posso, aos poucos, começar a descer do trapézio e a olhá-lo, como fazia em palco mas, agora, sem deixar de fazer a inevitável analogia ao meu percurso de vida. Abril marca que foi há quatro anos que me submeti a uma cirurgia bariátrica, um sleeve gástrico, em que nos retiram 80% do estômago, que depois volta a crescer mas nunca a retomar o seu tamanho original. Apesar de tornar-se mais sensível, também passa do modo avestruz para algo mais evoluído e inteligente: tudo o que não pertence ali, não fica muito tempo. Fossem os nossos cérebros e corações tão capazes de reagir com a mesma rapidez e parcialidade. Talvez seja uma questão de sobrevivência, talvez o estômago seja mais difícil de enganar ou mais eficiente em matéria de autoprotecção. Talvez o amor-próprio seja um super poder que é despoletado por situações extremas. Outro poema meu, 2015, confessa: “O que perdi em estômago, ganhei em coração.” Que é como quem diz, no caminho para voltar a reconhecer-me, ou talvez para conhecer-me de uma vez por todas, aprendi a respeitar o outro e a colocar-me no lugar dele, e apenas posso esperar que tantas provações me tenham tornado um grama melhor que seja enquanto pessoa. Há a versão de Hamburgo, em que os meus papéis são desempenhados por uma moça robusta e loira. Como ela, levo o cálice para o palco. Como ela, carrego uma bandeira branca. Faço piadas com outra colega, agora uma nova amiga, cabelo escuro e pele alva, cuja antecessora era, também, loira. Com ela partilho o trapézio, momento em que a cor invade o palco por momentos, pois praticamente tudo é branco neste cenário. Não pergunto a quem me escolheu porque é que o fez, mas sinto essa graça e esse peso, mais do que o meu, a comover-me. Há muitos contrastes, uma capa vermelha e uma azul. Uma criança-esqueleto e um autocarro que invade o palco em altura de terrível e lamentável tragédia na Madeira e da agora menos relevante, face a isso, falta de combustível. Há as línguas portuguesa, italiana, francesa, alemã e há o silêncio e a dedicatória da estreia a Notre Dame, onde infelizmente nunca fui. Há um entendimento, harmonia e caos, orquestra e coro, técnicos e produtores. Há uma árvore, já destinada ao abate, e os seus ramos cortados no momento. Há quem lhe leve flores, à árvore, num dos mais bonitos quadros vivos que já vi. As folhas atenuam os cheiros dos químicos usados neste laboratório improvisado, pois que nada foi deixado ao acaso, desde o amoníaco à electrólise. Há uma pedra que se racha, e que outro dia ficou com um formato de coração partido. Há aqui tanto que me comove que anda ali estou, incapaz de falar noutro tempo que não o presente, ou de ouvir outra música que não a que me tem acompanhado nos últimos meses mas sobretudo nas últimas semanas. Há uma obra inspirada na religião que é a minha, e que é imperfeita como eu, mas da qual não consigo desvincular-me, por acreditar demasiado em algo que é como eu, e maior que eu, tal como eu também sou capaz de ser, sobretudo quando me faço mais e mais pequena e me lembro de que servir é o mais importante. Contar histórias seria inútil se não servisse ninguém. Uma religião é obsoleta se não se alicerçar no amor, e o amor não tem fronteiras, ou passa a ser outra coisa. Nos corredores, nos bastidores, cronometra-se o tempo que cada um resiste e fazem-se ajustes, enquanto se abusa do pó de magnésio nas mãos, para horror da produção, e se observa os colegas, um de cada vez, alguns dedicados inteiramente a este momento e outros com mais funções. Mas quase toda a gente gostaria de fazer também esta parte. Há quem venha precavido com ligaduras ou pensos, há quem descaia a cabeça para a esquerda e quem o faça para a direita. Há homens e mulheres, há outra criança. A mim, observam e parabenizam muitas vezes: “És quem aguenta mais tempo”, ou “Tens um ar tão natural”, ou “A mulher do trapézio”. Rio e respondo que a minha vida me preparou para este momento; que não sei como isto aconteceu, e é verdade; que a minha hérnia inguinal, operada em 2017, e que ultimamente tem voltado a chatear-me, não acha muita graça. No dia da estreia, também o meu estômago não parece querer colaborar, e passo horas agoniada. Há quem vá correr uma ou duas vezes por dia durante os ensaios mas que não consiga deixar de pensar em bolos, mesmo se traz uma caixa gigante com cenouras cruas para ir petiscando. Há quem se conheça pela primeira vez e quem já se tenha cruzado neste e noutros palcos. Respirações conscientes e profundas, yoga aproveitando que existe um tapete de luta no cenário, alongamentos e uma panóplia de pequenos exercícios e rituais de preparação. Há ainda quem leia ou durma e quem não consiga estar calado ou afastar-se do telemóvel por muito tempo, ou de um cigarro. No Capítulo XVI, Crucificação, podemos ler: “O peso do corpo dos condenados à crucificação provocava a morte por asfixia. (…) O condenado mantinha-se plenamente consciente até ao momento da morte.” A Paixão segundo São Mateus, de Bach, dirigida por Romeo Castellucci, inclui, ainda, no libreto, o peso, nome, idade e altura dos figurantes a quem foi pedido que suportassem o peso do seu corpo o máximo de tempo que conseguissem. Nenhum de nós, figurantes, fala em palco, não fosse esta uma ópera, a primeira a que assisti na vida, e da qual tive ainda a honra de fazer parte. Falam os nossos gestos, os nossos olhares e as nossas pálpebras fechadas. Falam os braços que tremem por vezes ou as mãos que ajustamos. Falam o baloiçar dos nossos corpos suspensos, e a posição das nossas pernas. Falam os nossos pensamentos, ou o que quer que nos ajude a permanecer por cá. Há quem deteste que lhe perguntem a idade. Eu detesto que me perguntem ou tentem adivinhar o peso, mesmo se na verdade me dão menos peso (e idade, vá, afinal sou negra) do que o que tenho. Eu já tive orgulho do meu peso e já tive vergonha do meu peso. Mas agora sei que consigo suportá-lo, seja ele qual for, e até vê-lo exposto assim, impresso: os 70 kg que tinha e que me ficavam tão bem mas ocultavam o peso equivalente a uma pessoa em escuridão, peso esse que foi passando tão para fora de mim que deixei de poder ignorá-lo, ao chegar aos 133 kg certa vez. Há o Joel, que sobreviveu a uma hipotermia no mar, perdido que esteve durante cinco horas. Tinha ido surfar. Há o Carlos, que se viu de pernas presas debaixo de um tractor; consciente durante todo o tempo do acidente, que forçou a amputação de ambas, agora usa próteses. Há a entrada leve e cómica do Joel nos agradecimentos e o sorriso e as brincadeiras constantes do Carlos. O nosso peso, interior ou exterior, parece muito pouco, perante a coragem e a alegria de ambos. O amor à vida de ambos, penso, numa semana em que ouvi de alguém próximo que queria muito morrer. Diz o libreto: 78kg – Gisela Casimiro, 34 anos, 172 cm. Trapezista temporária no palco, permanente fora dele. Ainda com muitos pesos para deixar cair. Ainda tendo de me lembrar de respirar, ao fim de todos estes anos. Olá, eu sou a Gisela. Muito gosto em conhecer-vos. Talvez possamos conversar quando eu recuperar os sentidos, o equilíbrio e a voz.
Andreia Sofia Silva EventosReedição de “Anastasis”, de Carlos Morais José, apresentada sábado na Feira do Livro de Lisboa “Anastasis”, livro de poesia de Carlos Morais José, é lançado este sábado em Lisboa na Feira do Livro, pela mão da editora Abysmo. O autor, também director do HM, fala de uma obra que não estava completa sem as suas impressões sobre o Egipto e Jerusalém [dropcap]D[/dropcap]epois de “O Arquivo das Confissões – Bernardo Vasques e a Inveja” ganhar uma nova vida, eis que surge nas livrarias portuguesas “Anastasis”, um livro de Carlos Morais José, escritor e director do HM. A obra será lançada oficialmente este sábado pela editora Abysmo na Feira do Livro de Lisboa. Em declarações ao HM, Carlos Morais José falou de uma obra que, apesar de ter sido lançada em 2013, não estava completa sem dois capítulos dedicados ao Egipto e a Jerusalém. “O livro é agora editado em Portugal e tem outra capacidade de divulgação no espectro da lusofonia”, apontou. “Sempre senti que este livro não estaria completo sem mais dois capítulos, que se referem ao Egipto e à Terra Santa, além de mais uns acrescentos nos capítulos já existentes.” Para Carlos Morais José, estamos perante “dois lugares muito diferentes”, uma vez que o Egipto “remete-nos para as pré-origens da nossa civilização”. “O Egipto é um mistério ainda. Quando os gregos começaram a aprender a escrever já os egípcios se tinham esquecido de como isso se fazia. O Egipto tem uma grande importância como fonte de uma sabedoria primeira.” Na “viagem interior” que é “Anastasis”, Carlos Morais José descreve o país como “um reencontro com as origens”, “as mais primárias possível, os desejos mais escondidos”. “Como digo no meu livro, descer o Nilo é quase como uma descida aos sentidos, às delícias, aos sentimentos e emoções mais básicas”, acrescentou. No que diz respeito a Jerusalém, o autor estabelece uma ligação poética entre o sofrimento de Jesus Cristo e o homem moderno. “Quis perceber que cidade é aquela, que não tem nada, que está no meio do deserto e que é tão disputada por tanta gente. No meu livro encontram-se alguns aspectos do que eu chamo a cidade de um só Deus, porque é o Deus dos judeus e dos árabes, o Deus ciumento.” Há também a chamada “cartografia da dor, que é um mapa da descrição da paixão de Cristo”, onde o autor encara “Cristo como a emergência do Homem contemporâneo, pois as dores de Cristo serão as nossas dores, de alguma maneira”. O autor e jornalista descreve Jerusalém como “um dos centros emissores da nossa cultura e um dos mais importantes, pois a cultura europeia divide-se entre Atenas e Jerusalém”. “O que vou à procura em Jerusalém é isso, mas não só a parte cristã, mas também judaica e muçulmana. A parte comum a tudo isto que faz com que aquela terra seja considerada sagrada por uma série de religiões diferentes, com a mesma origem, mas com uma perspectiva diferente.” Um privilégio Com a Abysmo, Carlos Morais José vê, pela segunda vez, um livro seu ser reeditado em Portugal depois de um primeiro lançamento em Macau, e isso faz dele um “super privilegiado”, confessa. “Nos últimos tempos tenho sido extremamente acarinhado por pessoas de Macau. Os académicos têm feito o favor de reconhecer o meu trabalho e apreciar a minha obra, e tenho tido muito boa recepção.” O autor acredita que, com esta reedição, possa aumentar o interesse da literatura que é produzida em Macau. “Tenho visto alguns textos académicos e as pessoas começam a olhar de uma forma mais séria para aquilo que se produz em Macau, não apenas como uma curiosidade. Percebe-se que houve nas ultimas décadas alguns escritores de Macau que têm uma postura ou um lugar na literatura portuguesa contemporânea. Penso que isto irá continuar”, concluiu.
Raquel Moz EventosCompositor Rui Massena toca este sábado no CCM [dropcap]O[/dropcap] compositor e maestro português Rui Massena senta-se ao piano do Auditório do Centro Cultural de Macau este sábado, dia 8 de Junho às 20h, para apresentar trabalhos do seu repertório de música contemporânea ao público local. Figura de destaque na actual cena musical, a crítica especializada coloca já o músico de 47 anos ao nível de reputados nomes, como Philip Glass, Michael Nyman, Wim Mertens, Ludovico Einaudi ou Ólafur Arnolds. A convite da Casa de Portugal em Macau e da Fundação Oriente, no âmbito das comemorações de “Junho, Mês de Portugal”, o compositor soma já três álbuns de originais e é hoje ouvido em mais de 60 países, conforme revela a nota de divulgação à imprensa local. Rui Massena começou a tocar piano aos cinco anos de idade e é maestro desde os 27. O seu primeiro álbum de originais, “Solo”, foi lançado em 2015 e chegou a número dois do top nacional de vendas, com “uma linguagem intimista e centrada”, que Rui Massena afirmou já publicamente ter surgido “como um retiro espiritual necessário ao seu próprio equilíbrio”. As composições são ao piano, exceptuando uma em dueto com um violino, depois de uma carreira de mais de uma década à frente de várias formações orquestrais. Com o segundo álbum de originais, “Ensemble” de 2016, teve entrada directa para o top 1 de vendas português, conciliando neste disco melodias mais “dóceis” ou “agitadas”, “de acordo com a inspiração e as necessidades do momento”, pode ler-se na sua homepage. “É uma música poética e positiva, mas também estruturada e envolvente. Depois de se ouvir “Ensemble ”, nasce uma nova dimensão, com a ajuda da secção de cordas da Czech National Symphonic Orchestra”. A valsa eleita “Ensemble” começa com um “Abraço” e despede-se com uma “Valsa”, peça esta que foi escolhida para integrar a dupla colectânea da editora Deutsche Grammophon – intitulada “Expo 1” – que “identifica as tendências e talentos contemporâneos dos últimos 20 anos, numa corrente que a etiqueta apelidada de neo-classicismo”. O mais recente disco, “III”, foi lançado em Novembro de 2018, e “é o mais progressivo” de todos, onde “por um lado se percebe que a electrónica e a vanguarda sonora se alojaram no seu caminho, por outro, percebemos ao fim de breves segundos que os valores da sua música estão presentes: tranquila, desafiadora e emotiva”, refere a biografia da sua página web. “O permanente espírito inquieto e em constante busca de causas, sempre fez Rui Massena procurar novas linguagens”, tanto na criação musical, como na capacidade de dialogar com o público nos concertos e não só. A passagem como jurado pelo popular programa nacional, a “Operação Triunfo”, fez dele uma celebridade e ajudou a catapultar a sua obra para os tops de vendas e para os palcos cheios.
Raquel Moz EventosCinema | Curtas portuguesas de animação na Casa Garden Quatro filmes portugueses de animação vão entreter os mais pequenos, este sábado à tarde, no Auditório da Casa Garden. As fitas são para maiores de quatro anos e enquadram-se nas celebrações de “Junho, Mês de Portugal” [dropcap]A[/dropcap] Casa Garden vai exibir a 8 de Junho, sábado à tarde pelas 16h00, uma “Mostra de Cinema para Crianças”, com uma selecção de filmes do New York Portuguese Short Film Festival, organizado pelo Arte Institute e apoiado pela Fundação Oriente. O cartaz apresenta quatro curtas-metragens de animação, numa sessão que terá a duração de uma hora, para maiores de 4 anos de idade. A iniciativa faz parte das comemorações de “Junho, Mês de Portugal” e reúne os filmes portugueses “Quando Os Monstros Se Vão Embora”, de Bernardo Gramaxo (2010) , “O Cágado”, de Pedro Lino (2012), “O Candeeiro e a Ventoinha”, de Filipe Fonseca (2012), e “O Gigante”, de Júlio Vanzeler e Luís da Matta Almeida (2012). A escolha é da responsabilidade do Arte Institute, que organiza o NY Portuguese Short Film Festival, “uma janela para mostrar cinema português a todo o mundo”, que se realiza anualmente em Nova Iorque. A primeira edição aconteceu em 2011, com uma mostra simultânea nas capitais norte-americana e portuguesa. O sucesso do evento permitiu aos organizadores, entretanto, levar extensões da mostra a outras cidades, como Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Londres, Luanda ou, agora, Macau, divulgando o trabalho dos jovens realizadores nacionais. Pequenas histórias O primeiro filme é sobre monstros. “Madalena é uma rapariga de seis anos, e como qualquer criança na sua idade, adora desenhar, brincar e meter-se em sarilhos, mas acima de tudo, nunca fazer o que os pais dizem. Contudo Madalena tem o que nem todas as crianças têm, a ajuda dos seus monstros, que a acompanham durante todo o dia”. Um dia recebe más notícias do seu melhor amigo monstro, avisando que a irá deixar quando ela crescer, pois os adultos não necessitam da sua presença. “Madalena fica triste e tudo fará para não crescer, assim evitando a perda dos amigos imaginários”, segundo conta a sinopse. O filme “Quando Os Monstros Se Vão Embora” tem 13 minutos e meio e foi realizado por Bernardo Gramaxo em 2010. Participou em inúmeros festivais nacionais, como o Fantasporto 2010, o Fest-in 2011, o ShortCutz ou o Festróia, entre outros, e fez também carreira em festivais internacionais na Índia, Sérvia, Itália, China, Taiwan, Rússia, Reino Unido, Austrália e Cabo Verde, onde conseguiu o Prémio de Melhor Curta Metragem no Festival de Cinema Internacional do arquipélago em 2012. A segunda fita é “O Cágado”, realizada por Pedro Lino em 2012, uma animação portuguesa inspirada num conto de Almada Negreiros, que em 10 minutos conta “a estranha aventura de um homem muito senhor da sua vontade” que, um dia ao passear pela rua, dá de caras com “um estranho ser nunca antes visto: um cágado.” Depois de o examinar em detalhe, o homem corre a casa para contar a descoberta à família, mas não é fácil convencê-la. Para provar a existência física daquele “estranho animal da zoologia, vai até ao outro lado do mundo, num esforço inútil e sem sentido”, é o que se lê na sinopse. Esta fábula contemporânea estreou em Março de 2012 no Animac, em Espanha, e fez parte do programa do IndieLisboa, em Abril. Foi também um dos primeiros trabalhos resultantes da colaboração de Pedro Lino com outro realizador português em Londres, Luis Matta de Almeida, com quem criou o estúdio na capital britânica, Sparkle Animations. E duas curtinhas Ainda mais curta é a terceira película “O Candeeiro e a Ventoinha”, de Filipe Fonseca (2012), uma animação com apenas 3 minutos. É o tempo suficiente para mostrar como “um candeeiro apaixonado faz tudo para estar perto da sua amada, uma bela ventoinha. Num ambiente de ilustração e animação, este pequeno filme romântico leva-nos a um desfecho hilariante”, promete a sinopse da fita, que participou na secção do IndieJúnior do Festival de Cinema Independente de Lisboa (IndieLisboa) em 2013. Em quarto lugar chega o “O Gigante”, de Júlio Vanzeler e Luís da Matta Almeida (2012), que em 7 minutos propõe uma visão do que significa crescer. “Um gigante transporta no coração uma menina”, sendo este órgão “uma janela imensa, através da qual a menina descobre e decifra toda a realidade. Um dia ela terá que partir. Com a sacola cheia de sonhos e de esperança, ela criará um novo mundo sobre o legado que os seus pais lhe transmitiram”, explica a sinopse, lembrando que “os filhos traçam as suas próprias rotas, com erros de interpretação, com desvios de perspectiva, mas que são seus e é com eles que têm de viajar”. A proposta está feita. No sábado a entrada é livre e estão todos convidados.
Hoje Macau China / ÁsiaFMI revê em baixa crescimento da economia chinesa face à guerra comercial [dropcap]O[/dropcap] Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu ontem em baixa as perspectivas de crescimento da economia chinesa, nos próximos anos, face à guerra comercial com os Estados Unidos, e encorajou Pequim a acelerar as reformas estruturais. Num relatório, o organismo estima um crescimento de 6,2 por cento, para este ano, e de 6 por cento, em 2020 – uma décima abaixo da previsão anterior. O ritmo de crescimento da economia chinesa continuará a desacelerar e fixar-se-á nos 5,5 por cento, em 2024. “A incerteza em torno das disputas comerciais permanece alta e os riscos empurram a economia para baixo”, lê-se na mesma nota. Os governos da China e Estados Unidos impuseram já taxas alfandegárias sobre centenas de milhares de milhões de dólares de bens importados um do outro, numa disputa motivada pelas ambições de Pequim para o sector tecnológico. O vice-director do FMI, David Lipton, que integrou a delegação numa visita à China, afirmou que o crescimento “estabilizou”, durante os primeiros meses de 2019, após medidas de estímulo adoptadas pelo Governo chinês. No entanto, a incerteza gerada pelo agravamento das disputas comerciais afeta o ambiente de negócios, apontou. “As políticas de estímulo anunciadas até à data são suficientes para estabilizar o crescimento em 2019 e 2020, apesar do recente aumento das taxas nos Estados Unidos. Contudo, se as disputas comerciais se agravarem, e colocarem a estabilidade económica e financeira em risco, recomendamos alguma flexibilidade política adicional”, advertiu. O responsável citou, como exemplo, reduções fiscais adicionais para famílias com baixos rendimentos. “As nossas discussões, nas últimas duas semanas, focaram-se na agenda das autoridades para apoiar a economia, face ao aumento das tensões comerciais, enquanto [a China] continua a progredir na mudança de um crescimento de alta velocidade para um crescimento de alta qualidade”, afirmou. Sobre a guerra comercial, Lipton afirmou que “deve ser resolvida rapidamente, através de um acordo abrangente, que suporte o sistema internacional”. As previsões do Fundo apontam ainda um aumento de 2,3 por cento da inflação, em 2019, devido ao aumento dos preços dos alimentos. Boas medidas A economia da China, a segunda maior do mundo, cresceu 6,6 por cento, em 2018, ou seja, ao ritmo mais lento dos últimos 28 anos, mas o dobro da média mundial, e acima da meta oficial, definida pelo Governo chinês, de 6,5 por cento. Para este ano, o Governo chinês estabeleceu como meta um crescimento “entre 6 e 6,5 por cento”. Lipton enalteceu ainda as medidas adoptadas por Pequim para restringir o ‘boom’ no endividamento corporativo, mas voltou a recomendar ao país “maior abertura” e “outras reformas estruturais que aumentem a concorrência”, diminuindo o peso e as “garantias implícitas” das empresas estatais.
Hoje Macau China / ÁsiaEspanha | Comboios chineses já transportaram 500 mil contentores [dropcap]O[/dropcap]s comboios de mercadorias entre a cidade chinesa de Yiwu, leste da China, e Madrid, fizeram 600 viagens e transportaram 500.000 contentores, desde a inauguração, em 2014, como parte da iniciativa chinesa “Uma Faixa, Uma Rota”. Citado pela agência EFE, o embaixador chinês em Espanha, Lyy Fan, explicou que aquela ligação ferroviária é um “marco importante” do gigantesco projecto de infraestruturas internacional lançado por Pequim, e que visa reforçar a conectividade entre o Sudeste Asiático, Ásia Central, África e Europa. Lyy destacou ainda que a China é o maior parceiro comercial de Espanha fora da União Europeia, com as trocas anuais a fixarem-se, no ano passado, em 33.700 milhões de dólares. As autoridades portuguesas querem incluir uma rota atlântica no projecto, o que permitiria ao porto de Sines ligar as rotas do Extremo Oriente ao oceano Atlântico, beneficiando do alargamento do canal do Panamá. Nesse caso, Madrid deixaria ser a ligação ao extremo ocidental, passando antes a ser Lisboa, reforçando a ligação portuguesa ao mercado chinês.
Hoje Macau China / ÁsiaGraça Fonseca inicia no domingo deslocação oficial a Pequim A ministra vai inaugurar o Festival de Cultura Portuguesa na China marcado por exposições, concertos, espectáculos e encontros literários e que integra aristas como a maestrina Joana Carneiro, a soprano Elisabete Matos e os escritores portugueses Isabela Figueiredo, Bruno Vieira Amaral e José Luís Peixoto, entre outros [dropcap]A[/dropcap] ministra da Cultura de Portugal, Graça Fonseca, inicia no domingo uma visita oficial a Pequim, no âmbito do Festival Cultura Portuguesa na China, anunciou ontem o Ministério da Cultura. Num comunicado ontem divulgado, o ministério adianta que Graça Fonseca estará em Pequim entre domingo e o dia 12 de Junho. Na segunda-feira, a ministra presidirá à cerimónia do Dia de Portugal, no Beijing Concert Hall, “onde serão ouvidos o Hino Nacional e o Hino da República Popular da China”. “No programa das comemorações estão previstas as exibições de filmes sobre Portugal e sobre o Festival de Cultura Portuguesa na China, e a cerimónia encerrará com o concerto da Orquestra Sinfónica Nacional da China, dirigido pela maestrina Joana Carneiro, e com actuação da soprano Elisabete Matos”, lê-se no comunicado. Ainda na segunda-feira, Graça Fonseca irá inaugurar a exposição “Histórias da Torre do Tombo/Chapas Sínicas”, na Biblioteca Nacional de Pequim. O conjunto das Chapas Sínicas, recorda a tutela, é “um dos mais importantes documentos do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa”. Na terça-feira, a ministra irá reunir-se, no Museu do Palácio Imperial, com o homólogo chinês, o ministro da Cultura e do Turismo da República Popular da China, Luo Shugang. Mais tarde, no mesmo local, estará presente na inauguração da exposição “A Evolução do Azulejo em Portugal dos séculos XVI ao XX”. Ao final da tarde de terça-feira, Graça Fonseca assistirá ao espectáculo “Quinze Bailarinos e Tempo Incerto”, da Companhia Nacional de Bailado (CNB), no Teatro Tiangiao. No último dia da visita oficial, 12 de Junho, a governante fará a intervenção de abertura do II Fórum Literário Portugal-China, no Museu Nacional da Literatura Moderna Chinesa, no qual participam os escritores portugueses Isabela Figueiredo, Bruno Vieira Amaral e José Luís Peixoto. Nessa ocasião, Graça Fonseca “pretende destacar iniciativas de promoção internacional da literatura em língua portuguesa, nomeadamente os apoios à tradução, mas também o ‘Catálogo Gram Bem Querer’ que o Ministério da Cultura, em cooperação com outras entidades, vai conceber, editar, publicar e divulgar, como uma grande mostra de literatura em língua portuguesa”. Depois de uma primeira edição em Lisboa, em Junho de 2017, o Fórum Literário vai cruzar os três autores portugueses com os chineses Lu Min, Liu Zhenyun e Xu Zechen, numa conversa que será moderada por outro escritor, Qiu Huadong, de acordo com a informação já divulgada pela Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas. José Luís Peixoto participou igualmente na primeira edição, então ao lado de Gonçalo M. Tavares e Dulce Maria Cardoso. Programa paralelo À margem do II Fórum Literário Portugal-China, a ministra tem agendado um encontro com a presidente da Associação de Escritores da China, Tie Ning. Ainda no dia 12, Graça Fonseca irá realizar uma visita ao Distrito Artístico 798, e assistirá à entrega dos Prémios Tomás Pereira, que distinguem os melhores alunos de Língua Portuguesa, em universidades chinesas. Este ano, Portugal e China assinalam os 40 anos das relações diplomáticas e os 20 anos da retrocessão de Macau. “Na lógica de intercâmbio destas comemorações”, este ano irá realizar-se também, em Portugal, o Festival da Cultura Chinesa. O Festival de Cultura Portuguesa na China inclui a realização, ao longo do ano, de “diversos eventos culturais em domínios tão variados como a música clássica, o fado, o teatro, as artes plásticas, a dança contemporânea, o canto lírico, o cinema e a tradução de obras literárias portuguesas para mandarim”. Inaugurado em Março, na Cidade Proibida, em Pequim, com o guitarrista português Pedro Jóia, e Duan Chao, virtuosa de huqin, o Festival de Cultura Portuguesa na China.
Hoje Macau SociedadeAuxílio à Imigração | Polícias em prisão preventiva e com processo disciplinar [dropcap]O[/dropcap]s dois agentes do Corpo Polícia de Segurança Pública (CPSP) detidos na segunda-feira por suspeita de corrupção passiva e de forjar registos de imigração, para prolongar a permanência em Macau de um junket, estão em prisão preventiva, de acordo com informação prestada ao HM pelo CPSP. As autoridades revelaram também que foram instaurados processos disciplinares aos dois agentes. A PJ revelou na passada terça-feira que um indivíduo de apelido Wu, oriundo do Interior da China, terá desembolsado um total de 900 mil dólares de Hong Kong para comprar a complacência dos agentes do CPSP e os serviços dos três intermediários. As autoridades revelaram ainda ao HM que os dois agentes terão alegadamente recebido cada um menos de 100 mil dólares de Hong Kong. O remanescente terá sido distribuído entre os três intermediários. Segundo informação prestada pelas autoridades, os dois agentes policiais fazem parte do CPSP desde 1992 e 1995.