Cooperação | Sónia Chan destaca contributo da comunidade filipina

[dropcap]A[/dropcap] secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, destacou o contributo da comunidade filipina em Macau numa cerimónia que lembrou os 121 anos da proclamação da independência do país.

“Reconhecemos a contribuição valiosa do Consulado-Geral da República das Filipinas e das comunidades filipinas para o progresso da RAEM nas últimas duas décadas. Com esforços concertados, procuramos estabelecer novas perspectivas de cooperação em vários aspectos nos próximos anos”, referiu a secretária em discurso proferido no Clube Militar.

Sónia Chan fez ainda referencia à presença do presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, no último Fórum em Pequim dedicado à política “Uma Faixa, Uma Rota”.

14 Jun 2019

ATFPM | Contratação de médicos e tradutores marca reunião com Alexis Tam

Os SAFP são muitos rápidos a emitir pareceres para a contratação de tradutores do Interior, mas quando se trata de médicos portugueses, os procedimentos são mais lentos. A impressão é do deputado Pereira Coutinho que pede explicações sobre a diferença nos critérios

 

[dropcap]A[/dropcap] dualidade na rapidez da contratação de intérpretes-tradutores português chinês do Interior da China face à lentidão na contratação de médicos vindos de Portugal foi um dos tópicos discutidos entre José Pereira Coutinho e o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura. A troca de ideias aconteceu ontem na recepção de Alexis Tam aos órgãos dirigentes da Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), após a reeleição em Março deste ano. Os dirigentes defendem que devem vir mais médicos que falem português para Macau.

“Não percebemos esta dualidade de critérios. Quando é para virem intérpretes-tradutores de Pequim, os pareceres dos Serviços de Administração e Função Pública sobem como foguete. Mas quando é para vir médicos de Portugal, os pareceres tardam a chegar”, disse José Pereira Coutinho, deputado, depois do encontro, que decorreu na Sede do Governo.

“A questão que foi levantada porque fizemos chegar a informação ao secretário que gostaríamos de ter mais médicos portugueses. Ele concorda com a sugestão, mas diz que está dependente dos pareceres dos SAFP. Os pareceres, a nosso ver, estão bastante atrasados”, acrescentou.

No que diz respeito aos médicos, a ATFPM defendeu ainda a necessidade de uma revisão no salário dos médicos dos centros de saúde. “Os médicos dos Centro de Saúde ganham menos que os técnicos superiores de saúde, acrescidos horas extraordinárias. Isso é extremamente injusto porque um médico ganhar menos que um técnico superior não faz sentido nenhum”, justificou o presidente da ATFPM.

Como resposta a esta preocupação, segundo Coutinho, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura terá mostrado abertura para avençar com a revisão dos salários do pessoal médico. Porém, não houve compromissos no que toca a datas.

Intérpretes do Interior

Em relação aos intérpretes-tradutores de chinês-português, José Pereira Coutinho defendeu junto de Alexis Tam que é necessário melhorar a formação e criar melhores condições para a contratação de trabalhadores locais, em vez de profissionais do Interior. Em causa está a política de contratação do Fórum Macau, que empregou não-residentes para o cargo de tradutores, sem ter havido concursos para a contratação interna. Coutinho protestou contra esta contratação, anteriormente, e denunciou a situação.

“Como sabem temos uma lei de bases do trabalho que diz que a importação de mão-de-obra não-residente só é permitida nas situações em que não existe pessoas para esse tipo de profissão, ou então quando o número de pessoas não é suficiente em Macau”, sublinhou. “Todo este processo que decorreu no Fórum Macau precisa de ser bem explicado. Gostaríamos que houvesse um planeamento na área da interpretação e tradução na medida em que o Fórum de Macau vai-se transformar numa direcção de serviços públicos”, defendeu.

Em relação a este assunto, Coutinho pediu ainda explicações porque é que parece haver cada vez mais dificuldades na contratação de tradutores para os serviços públicos.

Ainda no final da reunião, o também deputado elogiou Alexis Tam por ser uma pessoa “que aceita opiniões diferentes”.

14 Jun 2019

Extradição | Au Kam San vai pedir ao Governo de Macau para não legislar

Na eventualidade, provável, da Lei da Extradição avançar em Macau, o deputado Au Kam San vai pedir ao Governo para não seguir o exemplo do Executivo de Carrie Lam. O pró-democrata não prevê muita resistência da população local, ao contrário do que se verifica em Hong Kong

 

[dropcap]A[/dropcap]u Kam San vai pedir ao Governo de Macau para não avançar com legislação semelhante àquela que tem causado violenta reacção em Hong Kong. Em declarações ao HM, o pró-democrata defende que a erosão entre os sistemas judiciais de Macau e da China pode levar a “uma situação em que os mais fortes comem os mais fracos”, e que é essencial proteger o princípio “Um País, Dois Sistemas”. Algo que, entende, pode estar em causa com a Lei da Extradição.

Em relação a possíveis reacções da população de Macau caso o Executivo siga o exemplo do Governo de Carrie Lam, Au Kam San não espera grande oposição popular. O deputado recorda a fraca contestação face à regulamentação do artigo 23.º da Lei Básica, referente aos crimes de traição à pátria, secessão, subversão, sedição, desvio de segredos de Estado, e proibição de contactos internacionais de associações políticas. Algo que contrasta com o activismo político verificado na região vizinha. “Acho que será igual quando foi aprovada a Lei da defesa da segurança do Estado. Vão haver cidadãos em Macau contra a lei de extradição, mas não serão tão unidos como em Hong Kong e serão em menos quantidade. A aprovação da lei aqui será mais fluente”, acrescentou Au.

Lei contra a Lei

Lei Man Chao, representante da União de Macau para o Desenvolvimento da Democracia, também pediu a Carrie Lam que respeita o princípio “Um País, Dois Sistema” e que recue na proposta de alteração à lei da extradição. O dirigente associativo enviou uma nota às redacções a manifestar profunda preocupação face à agitação social provocada pela proposta do Executivo de Hong Kong.

Lei realça também a promessa solene feita pelo Governo da República Popular da China, aquando da transferência de Hong Kong, face ao princípio “Um País, Dois Sistemas”, e destaca a distinção dos regimes jurídicos como uma forma de garantir a estabilidade e prosperidade das regiões administrativas especiais.

Para o dirigente da União de Macau para o Desenvolvimento da Democracia, o argumento da lacuna legal no que toca à extradição é apenas uma desculpa para alterar a lei. Nesse sentido, Lei Man Chao apelou também ao Governo Central para que respeite o compromisso de “Um País, Dois Sistemas”, garantindo os 50 anos de “manutenção” do sistema original judicial de Hong Kong e do seu estilo de vida.

14 Jun 2019

Qualidade do ar | Ron Lam pede padrões mais elevados na medição

[dropcap]R[/dropcap]on Lam, presidente da Associação de Sinergia de Macau, deixou críticas ao Governo devido aos padrões utilizados para medir a qualidade do ar na RAEM. Em causa está a classificação da Direcção de Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) para a qualidade do ar.

De acordo com as declarações citadas pelo All About Macau, segundo o dirigente da associação a classificação é muito pouco clara e o facto de os dias classificados com qualidade do ar “boa” poderem representar um risco acrescido de 15 por cento de morte é altamente questionável.

Também a localização dos pontos de medição é questionada. Segundo Ron Lam “as estações não reflectem de forma adequada a relação entre a qualidade do ar e a saúde pública”.

Sobre os padrões de medição, Ron Lam dá o exemplo das partículas PM2,5, as mais perigosas para o corpo humano, uma vez que conseguem penetrar no sistema respiratório, sendo depois absorvidas nos pulmões e pela corrente sanguínea. O presidente da Associação de Sinergia de Macau apontou que Macau está muito longe dos padrões mundiais. Enquanto internacionalmente só se considera que as partículas PM2,5 não afectam a saúde, quando se tem um valor inferior a 25 microgramas por metro quadrado, em Macau as autoridades assumem que o valor de 35 microgramas por metro quadrado já não afecta a saúde dos residentes. Ou seja, em Macau o valor necessário para considerar um dia bom é menos rigoroso.

Sobre as medições na estrada, Ron Lam diz que os sensores para a medição estão demasiado distantes das artérias da cidade, o que faz com que não haja uma verdade reflexão dos níveis de poluição. O ex-candidato às eleições legislativas pede assim ao Executivo que seja mais rigoroso, em nome da saúde dos cidadãos.

14 Jun 2019

IGCP | Mercado da dívida em renmimbis será o segundo maior ainda este ano

Cristina Casalinhos, presidente da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública – IGCP, defende, em entrevista ao HM, que o mercado de dívida em renmimbis será o segundo maior no final deste ano, aproximando-se dos Estados Unidos. A responsável deslocou-se à China na semana passada para a concretização da operação “Obrigações Panda”

 

[dropcap]P[/dropcap]ortugal tornou-se recentemente no primeiro país da União Europeia (UE) a emitir dívida pública em renmimbis, com juros de quatro por cento, uma taxa superior à dívida emitida em euros. Cristina Casalinhos, presidente da Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública – IGCP, defendeu ao HM que a aposta na operação relacionada com as “Obrigações Panda”, também conhecidas como “Panda Bonds”, prende-se com objectivos específicos de Portugal. “O interesse na presente emissão consiste no alargamento da base de investidores em dívida portuguesa. Neste caso, é importante a entrada num mercado que, no final do ano, será o segundo maior mercado de dívida depois dos EUA”, adiantou a responsável, que garante que foi feita a total cobertura dos riscos cambiais com a operação.

Questionada sobre quando o yuan poderá vir a ser uma moeda tão forte como o dólar americano, Cristina Casalinhos apenas disse acreditar que “o papel internacional da moeda chinesa tem tendência para aumentar”.

A operação da emissão de “Obrigações Panda” foi concretizada recentemente, com a deslocação de Cristina Casalinhos à China, numa viagem que teve como único objectivo finalizar a operação.

Antes disso, a presidente da IGCP marcou presença na última edição do Fórum Internacional de Infra-estruturas.

Operação com dois anos

Apesar de Portugal só agora ter emitido dívida pública em renmimbis, a verdade é que a operação arrancou em 2017. “A autorização por parte do PBOC (Banco Central Chinês) aconteceu no Verão de 2018, apesar dos primeiros esforços para realização da emissão terem começado mais cedo.

No primeiro trimestre de 2017, foram nomeados os bancos organizadores da emissão. A preparação da documentação, a realização de roadshow, levam tempo. Por outro lado, o certificado do registo apenas foi emitido pela NAFMII a semana anterior à emissão (20 de Maio de 2018)”, adiantou Cristina Casalinhos.

Confrontada com a possibilidade de a operação poder abrir um novo precedente no que às relações estratégicas entre a China e União Europeia diz respeito, Cristina Casalinhos pouco adiantou. “Polónia e Hungria já emitiram Panda Bonds e Áustria e Itália sinalizaram o seu interesse neste mercado.”

A responsável não fez comentários sobre a compra de dívida pública portuguesa por parte da RAEM, uma operação que se realizou em 2011.

Vários analistas citados pela agência Lusa analisaram a operação de emissão das “Obrigações Panda”, que acontece numa altura em que se intensifica a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos. Polónia, Hungria e Portugal endividaram-se na China através das ‘Panda Bonds’, em breve será Áustria e Itália, e os especialistas indicam que é uma forma de demonstrar os laços com Pequim em plena crise com os Estados Unidos.

No total, Portugal colocou dois mil milhões de renmimbis (o equivalente a 260 milhões de euros) em obrigações a três anos. Foi a primeira emissão em moeda chinesa de um país da zona euro e a terceira de um país europeu, depois da Polónia, em 2016, e da Hungria, em 2017.

O mercado das ‘Panda Bonds’ existe desde 2005, mas o verdadeiro ‘pontapé de saída’ deu-se há quatro anos quando o banco central da China decidiu facilitar o acesso a este tipo de financiamento, escreve a AFP. E tudo tendo como pano de fundo o projecto “Uma Faixa, Uma Rota”, no qual a China procura expandir a sua influência económica e tecnológica. “Pouco a pouco, a China está a tentar atrair investidores para o seu mercado e transformar a sua moeda numa moeda de referência”, afirmou Frédéric Rollin, assessor de estratégias de investimentos da Pictet AM, em declarações à AFP. “Existem poucos emissores estrangeiros que chegam ao mercado do yuan” porque “não é particularmente atractiva”, referiu Frédéric Gabizon, responsável para o mercado de obrigações do HSBC, um dos bancos que orientou a emissão portuguesa.

Os peritos frisam que o interesse puramente financeiro é limitado para um país europeu, que beneficia de melhores condições no seu mercado doméstico. De recordar que Portugal, numa emissão de dívida em euros, paga menos de um por cento a 10 anos.

No mercado das ‘Panda Bonds’, “67 por cento das emissões são feitas com maturidades entre zero e três anos e apenas cinco por cento têm maturidades acima de cinco anos”, o que é “sinal de um mercado bastante jovem”, comentou Pierre-Yves Bareau, responsável pela gestão de dívida emergente no J.P. Morgan AM.

No entanto, se a atractividade financeira permanece limitada, “existem importantes interesses políticos ou de reputação: emitir em ‘Panda Bonds’ pode ser visto como um gesto político positivo para desenvolver os laços com a China” num contexto de escalada das tensões comerciais entre a China e os Estados Unidos, afirmou Liang Si, responsável para a Ásia das emissões de dívida no BNP Paribas.

A Itália também anunciou a intenção de emitir ‘Panda Bonds’, assim como a Áustria, que comunicou no final de Abril que também se quer lançar naquele mercado.

“Desde 2009/2010 que a China começou uma política para encontrar ‘cavalos de Troia’ na Europa”, explicou Christopher Dembik, chefe do departamento de pesquisa económica no Saxo Bank. O mesmo especialista adiantou que Pequim tem como alvos “países que muitas vezes têm uma maior necessidade de investimentos e aceitam em troca um acordo implícito” de passar pelo mercado das ‘Panda Bonds’.

14 Jun 2019

China declara apoio à forma como a polícia de Hong Kong lidou com manifestantes

[dropcap]A[/dropcap] China disse hoje apoiar a forma como Hong Kong lidou com a manifestação contra a proposta de lei que permite extradições para o continente chinês, após a polícia usar gás lacrimogéneo e balas de borracha.

O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros Geng Shuang considerou que os protestos na Região Administrativa Especial chinesa de Hong Kong “não são uma manifestação pacífica”, mas antes um “flagrante tumulto organizado”.

O porta-voz acrescentou que “nenhuma sociedade civilizada, regida pela lei, toleraria acções ilegais que perturbam a paz e a tranquilidade”. Geng condenou ainda a “interferência” da União Europeia (UE) nos assuntos internos da China.

A UE apelou na quarta-feira, em comunicado, para que os direitos fundamentais da população de Hong Kong “sejam respeitados” e que “a moderação seja exercida por todos os lados”. O protesto em Hong Kong forçou a legislatura a cancelar as sessões de quarta-feira e de hoje, adiando o debate sobre a lei de extradição.

No domingo, centenas de milhares de pessoas protestaram contra aquela proposta de lei, com os organizadores a falaram de mais de um milhão de pessoas na rua e as forças policiais a admitirem apenas a participação de 240 mil.

Os defensores da lei argumentam que, caso se mantenha a impossibilidade de extraditar suspeitos de crimes para países como a China, tal poderá transformar Hong Kong num “refúgio para criminosos internacionais”.

Os manifestantes dizem temer que Hong Kong fique à mercê do sistema judicial chinês como qualquer outra cidade da China continental e de uma justiça politizada que não garanta a salvaguarda dos direitos humanos.

A imprensa estatal chinesa só hoje referiu os protestos, caracterizando-os como um “tumulto” e acusando os manifestantes de “actos violentos”. Num editorial acompanhado da foto de um polícia ensanguentado, o jornal estatal China Daily acusa os manifestantes de estarem a usar o projecto de lei “para manchar a imagem do governo”.

A agência noticiosa oficial chinesa Xinhua afirma que os manifestantes usaram “barras de ferro afiadas” e atiraram tijolos contra a polícia. O Global Times, jornal oficial do Partido Comunista Chinês (PCC), descreveu também como “violentos” os protestos em Hong Kong e atribuiu-os à interferência de “poderosas forças estrangeiras”.

O jornal em inglês do grupo do Diário do Povo, o órgão central do PCC, considerou que “sem a interferência de poderosas forças estrangeiras, especialmente dos Estados Unidos, os grupos da oposição não teriam a capacidade de protagonizar incidentes tão violentos em Hong Kong”.

O jornal cita vários portais noticiosos de Hong Kong, próximos do Governo central, para descrever os manifestantes como “separatistas extremistas”, armados com “garrafas cheias de gás e tinta, ferramentas, barras de ferro e catapultas, para atacar a polícia”.

A polícia usou gás lacrimogéneo, ‘spray’ de pimenta e balas de borracha para dispersar os manifestantes, na quarta-feira.

13 Jun 2019

Onze manifestantes detidos e 22 agentes feridos durante protesto em Hong Kong

[dropcap]A[/dropcap] polícia de Hong Kong informou hoje que 11 manifestantes foram detidos e 22 agentes ficaram feridos no protesto contra emendas à proposta de lei que prevêem a extradição de suspeitos de crimes para a China. O comissário Stephen Lo Wai-chung disse que os detidos foram acusados de conduta desordeira e de crimes relacionados com tumultos.

Lo sustentou que a polícia deu espaço de manobra para os manifestantes expressarem a sua oposição às mudanças legais propostas, mas justificou o uso da força com o facto de terem sido arremessados objectos às forças de segurança.

O responsável policial confirmou ainda a utilização de gás lacrimogéneo, gás pimenta e armas anti-motim para dispersar os manifestantes.

Este foi o segundo protesto em quatro dias a causar o caos no centro da ex-colónia britânica, agora administrada pela China, com esta última manifestação a ser marcada também pelo confronto entre jovens e as forças de segurança.

Os acontecimentos obrigaram o Executivo a adiar o debate e a encerrar até sexta-feira as instalações da sede do Governo.

13 Jun 2019

‘App’ de mensagens sofreu ataques cibernéticos durante protestos em Hong Kong

[dropcap]U[/dropcap]ma aplicação de mensagens encriptadas informou hoje ter sido alvo de um ataque cibernético oriundo da China, à medida que decorriam protestos em Hong Kong, contra a proposta de lei que permite extradições para o continente chinês.

A ‘app’ de mensagens instantâneas Telegram revelou ter sofrido na quarta-feira problemas de conectividade, quando milhares de pessoas protestavam nas imediações do Conselho Legislativo de Hong Kong, que se preparava para debater a proposta de lei da extradição.

Os manifestantes foram dispersados pela polícia, que usou gás lacrimogéneo, spray pimenta e balas de borracha. O CEO da Telegram, Pavel Durov, revelou no Twitter que a maioria dos autores do ataque têm endereços de IP oriundos da China. “Todos os ataques da dimensão de um actor estatal que sofremos coincidiram com os protestos em Hong Kong”, disse.

Activistas em Hong Kong e na China continental costumam usar o Telegram para organizar protestos, na esperança de que a criptografia permita que escapem do controlo do regime sobre redes sociais chinesas, como o serviço de mensagens instantâneas WeChat.

Enquanto usuários do WeChat informaram esta semana que fotos dos protestos não puderam ser visualizadas, aplicativos como o Telegram oferecem mais privacidade e independência.

O Telegram está bloqueado na China continental, mas os seus usuários podem aceder através do uso de uma VPN (Virtual Proxy Network), um mecanismo que permite aceder à Internet através de um servidor localizado fora da China.

Aplicativos de mensagens encriptadas, como o Telegram, dizem que as mensagens enviadas através dos seus sistemas não podem ser interceptadas por terceiros durante a entrega ao remetente.

“Podemos garantir que nenhum governo ou país podem intrometer-se na privacidade e liberdade de expressão das pessoas”, lê-se no portal oficial do Telegram.

Os gestores do aplicativo de mensagens disseram na noite de quarta-feira que o sistema se normalizou, entretanto.

O protesto em Hong Kong forçou a legislatura a cancelar as sessões de quarta e quinta-feira, adiando o debate sobre a lei de extradição. No domingo, centenas de milhares de pessoas protestaram contra aquela proposta de lei, com os organizadores a falarem de mais de um milhão de pessoas na rua e as forças policiais a admitirem apenas a participação de 240 mil.

Os defensores da lei argumentam que, caso se mantenha a impossibilidade de extraditar suspeitos de crimes para países como a China, tal poderá transformar Hong Kong num “refúgio para criminosos internacionais”.

Os manifestantes dizem temer que Hong Kong fique à mercê do sistema judicial chinês como qualquer outra cidade da China continental e de uma justiça politizada que não garanta a salvaguarda dos direitos humanos.

13 Jun 2019

Bairro Alto do Pina vence Marchas Populares de Lisboa

[dropcap]O[/dropcap] bairro do Alto da Pina foi o vencedor da edição deste ano das Marchas Populares de Lisboa, anunciou hoje a Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC), responsável pela organização da iniciativa. O segundo lugar foi atribuído ao vencedor do ano passado, Alfama, e o terceiro a Penha de França.

Com centenas de participantes, o 87.º concurso das marchas contou com 20 grupos: Alfama (vencedora em 2018), S. Vicente, Carnide, Bica, Bela Flor-Campolide, Ajuda, Baixa, Madragoa, Penha de França, Graça, Beato, Marvila, Bairro da Boavista, Olivais, Mouraria, Parque das Nações, Castelo, Alto do Pina, Alcântara e Bairro Alto.

Em extracompetição, desfilaram pela Avenida da Liberdade as marchas Infantil “A Voz do Operário”, Mercados, Santa Casa e, como convidada, a Marcha Popular de Ribeira de Frades (Coimbra).A véspera do Dia de Santo António (feriado municipal na capital lisboeta) foi ainda marcada, como é tradição, pelos Casamentos de Santo António, com 16 casais que se juntaram às marchas à noite, e com vários arraiais pela cidade.

13 Jun 2019

Bolsas europeias seguem negativas com tensões comerciais entre EUA e China

[dropcap]A[/dropcap]s principais bolsas europeias estavam hoje negativas, com as tensões entre EUA e China a manterem-se na ordem do dia, após Trump já ter afirmado que o acordo entre as duas potências não vai acontecer durante a cimeira do G20.

Pelas 08:10, o Eurostoxx 50 cedia 0,29%, para 3.377,15 pontos. Entre as principais bolsas europeias, Milão cedia 0,71%, Madrid 0,47%, Londres 0,42%, Paris 0,25% e Frankfurt 0,33%. Em Lisboa, o PSI20, regrediu 0,54%, para 5.179,13 pontos.

Na terça-feira, o secretário do Comércio norte-americano indicou que Estados Unidos da América (EUA) e China não vão anunciar um tratado comercial durante a cimeira do G20, que decorrerá no final de Junho no Japão. “A cimeira do G20 não é o lugar para concluir um acordo comercial definitivo”, declarou Wilbur Ross em declarações à CNBC, salientando, contudo, que se pode chegar a um entendimento sobre “o caminho a seguir”.

Na segunda-feira, o Presidente norte-americano, Donald Trump, afirmou que “está previsto” encontrar-se com o Presidente chinês, Xi Jinping, durante a cimeira do G20 que vai decorrer a 28 e 29 de Junho no Japão.

Trump, também em declarações à CNBC, ameaçou mesmo impor novas taxas alfandegárias à China se o encontro não tivesse lugar. O Presidente norte-americano tem vindo a subir gradualmente as taxas alfandegárias impostas a produtos chineses, com o pretexto de querer reduzir o gigantesco défice comercial dos Estados Unidos com a China.

Washington quer também uma série de compromissos de Pequim quanto ao respeito pela propriedade intelectual e o fim das subvenções do Estado a empresas chinesas.

A China, que tem retaliado as medidas dos Estados Unidos, afirma que quer continuar as negociações comerciais, mas recusa a pressão norte-americana.

Em 7 de Junho, O Facebook deixou de permitir que as suas aplicações sejam pré-instaladas nos telemóveis da multinacional chinesa Huawei, em linha com as restrições impostas pelos Estados Unidos.

Citada pela agência AP, a rede social anunciou, na altura, que suspendeu o fornecimento de ‘software’ para a Huawei enquanto analisa as sanções impostas pela administração de Donald Trump.

Recentemente, o Governo dos Estados Unidos proibiu as empresas norte-americanas de utilizarem equipamentos da Huawei, tendo também ameaçado vários países europeus de deixar de partilhar informações militares e de segurança, caso seja autorizada a tecnologia da multinacional chinesa.

13 Jun 2019

Presidente de Taiwan vence primárias e tenta novo mandato nas eleições de 2020

[dropcap]A[/dropcap] Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, venceu as primárias do Partido Progressista Democrático (DPP), pelo que irá tentar ser eleita para um segundo mandato, na eleição presidencial de 2020, informou hoje a imprensa local.

Segundo a agência de notícias espanhola EFE, que cita a imprensa local, Tsai obteve 35,67% dos votos, contra os 27,48% do ex-primeiro ministro William Lai Ching-te, anunciou o secretário do DPP Cho Jung-tai.

Taiwan, a ilha onde se refugiou o antigo Governo chinês depois de o Partido Comunista tomar o poder no continente, em 1949, assume-se como República da China e funciona como uma entidade política soberana.

Actualmente, é alvo de uma pressão sem precedentes da China, que defende a “reunificação pacífica”, mas ameaça “usar a força” caso Taiwan declare independência.

Desde 2016, após as eleições da Presidente Tsai Ing-wen, do DPP (pró-independência), em Taiwan, e de Donald Trump, nos Estados Unidos da América, Washington tem tomado várias medidas para apoiar Taiwan nos campos político e militar.

Além disso, a partir de 2018 – ano em que a China rompeu laços diplomáticos com Burkina Faso, República Dominicana e El Salvador – os Estados Unidos declararam repetidamente a sua oposição a que outros países rompessem as suas relações com Taiwan.

13 Jun 2019

Protestos em Hong Kong | Jornalista de Macau atacado com gás pimenta

[dropcap]O[/dropcap] jornalista Chan Ka Chun, oriundo de Macau, foi atacado com gás pimenta pela polícia de Hong Kong, quando estava a fazer a cobertura das manifestações, pela manhã, ainda antes das autoridades terem começado a carregar nos manifestantes.

A situação foi divulgada num post numa rede social pelo próprio. Chan entrevistava uma pessoa na linha da frente dos protestos quando acabou por ser atingido pela polícia. Nessa altura, com auxílio dos outros repórteres, Chan recuou para uma zona tampão, onde outras pessoas também recebiam assistência. Foi nessa altura que soaram gritos alertando para o facto de que a polícia estava a arremessar para a zona tampão gás pimenta.

Chan ainda tentou levantar-se e correr, mas o facto de ter de agarrar no equipamento, fez com que perdesse tempo. Apesar de gritar constantemente que era jornalista acabou por ser atacado pela polícia.

Como consequência, o jornalista de Macau teve de saltar para a zona dos manifestantes, onde foi auxiliado. Segundo Chan, durante o ataque esteve sempre identificável, uma vez que tinha o cartão de jornalista ao pescoço, assim como também tinha consigo a máquina fotográfica.
Ainda no post, Chan partilhou uma foto a mostrar as consequências físicas do ataque da polícia de Hong Kong.

13 Jun 2019

Protestos em Hong Kong | Alemanha avalia acordo de extradição, UE reage

[dropcap]O[/dropcap] Governo alemão anunciou ontem que está a examinar se o acordo de extradição existente com Hong Kong será afectado, se uma lei de extradição fortemente contestada for aprovada naquele território chinês.

O projecto de lei proposto permitiria que suspeitos em Hong Kong fossem mandados para julgamento na China continental. Segundo a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão, Maria Adebahr, Berlim e os seus parceiros da União Europeia expressaram a sua preocupação às autoridades de Hong Kong.

“Também estamos a examinar se o acordo existente de extradição bilateral entre a Alemanha e Hong Kong poderia continuar a ser aplicado na sua forma actual se o projecto de lei de extradição for aprovado”, explicou Adebahr.

Entretanto, a União Europeia (UE) pediu ontem às autoridades de Hong Kong que respeitem os direitos de reunião e livre expressão dos manifestantes contra a proposta de lei da extradição, defendendo que se evite a violência nos protestos.

O porta-voz do Serviço Europeu de Acção Externa defendeu, em comunicado, explicou que a UE “compartilha muitas das preocupações” expressadas pelas pessoas nas manifestações contra a reforma da lei da extradição, temendo que activistas locais, jornalistas ou dissidentes residentes em Hong Kong possam ser enviados para a China continental para serem julgados.

“Trata-se de um assunto sensível, com amplas implicações potenciais para Hong Kong e para o seu povo, para a UE e para os cidadãos estrangeiros, bem como para a confiança dos empresários em Hong Kong”, disse o porta-voz, que pediu para se iniciar uma ” consulta pública profunda “para encontrar uma solução construtiva.

Em relação às manifestações, que levaram a polícia de Hong Kong a usar balas de borracha e gás lacrimogéneo, pelo menos 22 pessoas ficaram feridas, com a UE a apelar para que se evite “violência e respostas que agravem a situação”, enquanto os cidadãos “exercem os direitos fundamentais de reunião e expressão” de maneira pacífica.

13 Jun 2019

Parlamento de Hong Kong ainda sem nova data para discutir lei de extradição

[dropcap]O[/dropcap] presidente do Conselho Legislativo de Hong Kong, Andrew Leung, adiou hoje novamente o debate sobre a controversa proposta de lei de extradição, que motivou dois maciços protestos na cidade em menos de uma semana.

“O Presidente do Conselho Legislativo decidiu que a reunião de 12 de Junho de 2019 não terá lugar hoje (dia 13)”, de acordo com o ‘site’ oficial do LegCo, o parlamento local. Na quarta-feira, milhares de manifestantes juntaram-se nas imediações do Conselho Legislativo, que se preparava para debater a polémica proposta de lei que visa permitir extradições para a China continental.

Perante os protestos, que culminaram com uma forte acção policial, o Executivo viu-se obrigado a adiar o debate e a encerrar hoje e na sexta-feira as instalações da sede do Governo.

“Por razões de segurança, os gabinetes do Governo permanecerão temporariamente encerrados hoje e amanhã [sexta-feira]”, lê-se num comunicado do portal do Governo do território.

Proposto em Fevereiro e com uma votação final prevista para antes do final de Julho, o texto permitiria que a chefe do executivo e os tribunais de Hong Kong processassem pedidos de extradição de jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.

Os defensores da lei argumentam que, caso se mantenha a impossibilidade de extraditar suspeitos de crimes para países como a China, tal poderá transformar Hong Kong num “refúgio para criminosos internacionais”.

Os manifestantes dizem temer que Hong Kong fique à mercê do sistema judicial chinês como qualquer outra cidade da China continental e de uma justiça politizada que não garanta a salvaguarda dos direitos humanos.

13 Jun 2019

FSS | Mais de 370 mil pessoas recebem sete mil patacas de bónus

[dropcap]O[/dropcap] Fundo de Segurança Social (FSS) publicou ontem a lista de atribuição de verbas extraordinárias no âmbito do regime de previdência central não obrigatório, verbas essas que saem dos saldos orçamentais.

De acordo com um comunicado, há mais de 371 mil pessoas incluídas na lista, sendo que mais de 155 mil pessoas estão excluídas. Será, portanto, acreditado um valor de sete mil patacas às contas individuais, sendo que as pessoas que irão receber este montante não necessitam de tratar de nenhuma formalidade.

Além disso, os titulares que têm direito à atribuição de verba pela primeira vez podem ter ao mesmo tempo o direito à atribuição da verba de incentivo básico no valor de 10 mil patacas. Os indivíduos não incluídos na lista vão receber a notificação em caso de terem completado 65 anos de idade ou não sejam incluídos na lista pela primeira vez.

Para se estar incluído, é necessário ser residente permanente da RAEM e ter completado 22 anos de idade até 31 de Dezembro de 2018, encontrar-se sobrevivo em 1 de Janeiro de 2019 e ter permanecido, pelo menos, 183 dias na RAEM no ano passado. Os indivíduos excluídos podem reclamar caso considerem ter direito a este montante extraordinário. O direito ao montante atribuído este ano prescreve no prazo de três anos.

13 Jun 2019

TUI | Wong Sio Chak perde caso de trabalho ilegal

[dropcap]O[/dropcap] Tribunal de Última Instância decidiu que o facto de uma mulher de uma empresa de Hong Kong ter vindo cerca de 61 dias, durante dois anos, a Macau prestar apoio e serviços técnicos a uma companhia local não é considerado trabalho ilegal. A decisão confirma a mesma leitura do Tribunal de Segunda Instância, mas é contrária à posição de Wong Sio Chak, secretário para a Segurança, e do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP).

O caso foi detectado pela CPSP que considerou que se tratava de trabalho ilegal e revogou a permissão da mulher para estar em Macau. Além disso, aplicou a proibição de entrada durante três anos à mulher. Ao mesmo tempo, a DSAL havia aplicado uma multa de cinco mil patacas.

Porém, segundo o TUI, o CPSP e o secretário para a Segurança não tiveram em conta que o regulamento sobre a proibição do trabalho ilegal tem excepções. Assim, as pessoas podem trabalhar nas condições da mulher desde que haja um acordo entre empresas fora de Macau e outras sediadas na RAEM, como acontecia, e desde que o período de trabalho não exceda os 45 dias, no período de seis meses.

“A arguida foi destacada para a prestação, ocasional, de serviços técnicos a uma sociedade em Macau, no âmbito de um acordo celebrado, entre uma empresa de Hong Kong e outra de Macau […] sendo a sua permanência na RAEM apenas, em média, de cerca de 2.5 dias por mês e não superior a 45 dias, consecutivos ou interpolados, por cada 6 meses”, destacou o TUI. “Assim, não é de considerar trabalho ilegal essa prestação de serviços técnicos”, foi acrescentado na decisão.

13 Jun 2019

Urgente lei que limite idade de consumo de álcool, diz Lam Lon Wai

[dropcap]O[/dropcap] deputado Lam Lon Wai quer mais controlo do consumo de álcool no território, especialmente por parte dos jovens. Para o efeito, interpela o Governo acerca da calendarização precisa da consulta pública a este respeito, agendada para o segundo semestre deste ano, pois teme que com as eleições para o Chefe do Executivo e com as comemorações dos 20 anos da RAEM e do 70.º aniversário da República Popular da China, a medida venha a ser indefinidamente adiada.

Para o tribuno com ligações à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), trata-se de uma medida urgente tendo em conta a forte exposição dos jovens ao consumo de bebidas alcoólicas que, considera estará na base de consumos excessivos na idade adulta.

Estatística aplicada

Para sustentar o pedido, Lam recorre aos dados estatísticos. “Em 2018, um inquérito feito aos jovens levado pelo Governo revelava que 21,75 por cento dos inquiridos já tinham ingerido bebidas alcoólicas, o que representa um aumento de 1,31 por cento em relação aos 20,44 por cento registados em 2016”, lê-se.

Uma outra pesquisa acerca do comportamento dos alunos do ensino secundário indicou que “quase 80 por cento dos estudantes já tinham sido expostos a bebidas alcoólicas”, sendo que “cerca de um terço disse que tinha bebido antes dos 13 anos”.

Para Lam Lon Wai, os jovens que saem à noite estão mais sujeitos a riscos sendo que “90 por cento destes jovens têm hábitos de abuso de álcool”.

Neste contexto, Lam conclui que “os números mostram que a exposição dos jovens ao álcool tem efeitos negativos e é necessário fortalecer o controlo para manter os jovens longe do consumo de bebidas alcoólicas”.

Lam recorda que os Serviços de Saúde já têm planos para realizar uma consulta pública sobre o limite mínimo de idade para consumo de álcool e a proibição da promoção de bebidas alcoólicas junto dos mais novos, mas teme que dadas as efemérides deste ano, o processo possa ser adiado.

Para o deputado, trata-se de uma medida urgente que que coloca Macau a par de outros países nesta matéria. “Em Hong Kong, a implementação da nova lei de controlo de álcool, no final do ano passado, proíbe qualquer pessoa de vender e fornecer bebidas a menores de 18 anos através de distribuição presencial ou remota, sendo as empresas infractoras condenadas a uma multa de 50.000 yuan”, exemplifica.

Já “em Macau, não existem regulamentos relevantes pelo que o trabalho de controlo de álcool tem uma certa urgência, e as autoridades precisam de recuperar o atraso nesta matéria”, lamenta.

O aumento do imposto sobre as bebidas alcoólicas é outras das sugestões deixadas por Lam Lon Wai de modo a restringir a sua compra. “A fim de fortalecer o exercício de controlo de bebidas alcoólicas, o Governo vai considerar aumentar o imposto sobre as bebidas alcoólicas e mesmo implementar taxas especiais sobre bebidas alcoólicas?”, questiona.

13 Jun 2019

O Brexit e a China

“China is ready to take advantage of a divided Europe and weakened UK after Brexit.”
China and Brexit: what’s in it for us?
François Godement & Angela Stanzel

 

[dropcap]O[/dropcap] polémico político, académico, escritor e poeta britânico, John Enoch Powell, que foi deputado pelo Partido Conservador do Reino Unido de 1950 a 1974, do Partido Unionista do Ulster de 1974 a 1987, e ministro da Saúde do Reino Unido de 1960 a 1963, afirmou que todas as carreiras políticas na Grã-Bretanha terminam em lágrimas. A primeira-ministra demissionária Theresa May, não falhou à regra e as suas palavras mostraram essa verdade não apenas figurativamente, mas literalmente. A primeira-ministra demissionária anunciou em 24 de Maio de 2019 que deixaria o cargo a 7 de Junho de 2019, e viu-se o seu rosto consumido de emoção e lágrimas nos seus olhos. Foi um balde de água fria para terminar um período caótico e, para muitos, inglório.

A primeira-ministra demissionária foi derrotada quando sucedeu a David Cameron em 2016, mas jogou de forma notavelmente funesta. Os seus quase três anos no cargo foram consumidos pela questão do Brexit. Apesar disso, deixa ao seu sucessor a questão de como será alcançado. Theresa May cometeu sérios erros estratégicos ao tentar cumprir o resultado do referendo de Junho de 2016 para o Reino Unido sair da União Europeia (UE). A primeira-ministra demissionária tinha um mandato para começar as negociações infames, mas ninguém sabia exactamente qual o caminho a percorrer.

A primeira-ministra demissionária descobriu que havia uma enorme gama de opções, e nenhuma delas teve amplo apoio público. Theresa May provou ser uma vendedora pobre para uma forma de Brexit que todos poderiam, até certo ponto, aceitar. Quando Theresa May se tornou primeira-ministra, sem oposição, no verão de 2016, mesmo os que haviam votado para permanecer na UE estavam dispostos a admitir a contragosto, que o enorme exercício democrático havia produzido um resultado que precisava de ser implementado. Naqueles primeiros meses, Theresa May teve a oportunidade de persuadir, e fazer o que os políticos deveriam ter feito, que era promover um resultado político específico através de uma boa comunicação e convicção.

O movimento inicial de Theresa May, no entanto, como um eleitor remanescente foi tentar provar ao seu partido que era uma verdadeira convertida à causa do Brexit. Os seus comentários tipo linha dura na conferência do Partido Conservador, no Outono de 2016, foram o “Brexit significa Brexit” e não poderia haver compromissos, sendo o primeiro aviso de que seria uma refém da fortuna. Os eventos deveriam desdobrar-se com uma inevitabilidade trágica quase grega depois disso. Primeiro foi a decisão de accionar o desprezível artigo 50 do Tratado de Lisboa de 2009 que, muito brevemente, estabelece o mecanismo pelo qual os Estados-membros da UE podem sair.

A única estipulação é que o processo levaria dois anos, sem detalhes sobre como exactamente seria alcançado. Antes de ter um plano de batalha claro, e em grande parte pressionado pela linha dura do seu partido, Theresa May accionou o artigo 50 em Março de 2017. A partir desse momento, perdeu o controlo de uma das poucas alavancas que tinha, que era o tempo. O seu segundo erro foi subestimar a complexidade da questão da fronteira com a Irlanda do Norte. A Irlanda do Norte, consumida por conflitos sectários durante boa parte de 1969 e anos seguintes, teve o Acordo de Sexta-Feira Santa de 1998, que consolidou uma paz sustentável. Mas dependia de não haver uma fronteira rígida entre a Irlanda do Norte, que permanecia sob domínio britânico, e a República da Irlanda, no sul.

O desejo de se separar completamente do mercado comum e da união alfandegária da UE, fizeram os negociadores de Theresa May enfrentar o problema intratável da necessidade de uma fronteira rígida com os controlos alfandegários na Irlanda, ou não ter, mas conseguir algum tipo de adesão ao mercado da UE. Tratava-se de um mecanismo para lidar com tal facto e que se comprometeu com uma fronteira suave, mas em um período de tempo indefinido, sendo um dos muitos aspectos do acordo final que conseguiu negociar com a UE e apresentar ao parlamento no final de 2018.

A rejeição pela maior votação de sempre significaria o fim da maioria dos líderes. Mas tão extraordinários foram os tempos em que foi primeira-ministra, tendo efectivamente sido capaz de fazer o mesmo acordo perante a Câmara dos Comuns, o principal órgão legislativo, mais duas vezes. A sua queda final foi devido a uma nova tentativa de tentar aprovar esse acordo, o que tornou inaceitável até para os seus defensores mais fiéis. Apesar do Reino Unido ser uma sociedade dividida, Theresa May demonstrou uma incrível resiliência diante de um parlamento e de um partido muitas vezes em guerra consigo mesmo, com profundas divisões que pareciam piorar em vez de melhorar.

O Partido Conservador está dividido desde há muitas décadas entre os que apoiam a UE e os seus membros, e os que consideram uma afronta à soberania por um super-estado liderado por Bruxelas, ao estilo continental, na esperança de reduzir o Reino Unido à servidão. Por um lado, o ónus está no pragmatismo, olhando para os benefícios económicos que a adesão à UE dá e por outro, no entanto, na identidade que é importante. Tais divisões são reflectidas na sociedade em geral. E com efeito, enfrentam-se em dois grupos que simplesmente não falam a mesma língua.

Não admira que tenha sido difícil para Theresa May chegar a negociar um compromisso.
A sua posição mudou durante o breve período da sua liderança, quando reconheceu os enormes desafios enfrentados pelo Reino Unido no modelo de saída. Longe de se fragmentar, o resto da UE permaneceu consistente no seu conjunto de desafios, dando a Theresa May pouco espaço para negociação. Theresa May não foi ajudada pelos independentes, e muitas vezes com a liderança inútil nos Estados Unidos após 2017 e a chegada do presidente Donald Trump ao poder.

As grandes declarações do presidente Trump aconselhando-a de que só necessitava de sair da UE sem medo das consequências não eram os sentimentos da maioria do povo britânico, que mostrou que se importava com a sua prosperidade económica no futuro e a ameaça não é um acordo. Para outros, a sua crença sincera era de que havia oportunidades fora do mercado que a UE oferecia, mas a partir de meados de 2019, estes parecem esquivos. A saída de Theresa May deixará o Brexit mais próximo de uma solução do que há quase três anos.

O seu sucessor precisará de encontrar o consenso que não conseguiu, ou lidar com a implementação de algo que não seja tão propenso a antagonizar e irritar quantas pessoas desejar.

Ainda pior, há toda a possibilidade de que o resultado final desaponte todo o mundo. Trata-se de uma sucessão espinhosa, mas que fez sair Theresa May no momento certo. Há claramente um enorme acerto de contas para os políticos que são vistos como incompetentes e movidos pelo interesse próprio e não pelo bem da nação.

É de considerar no entanto, que a mais profunda raiva talvez seja para aqueles cujas promessas, argumentos e declarações, dados com tanta confiança nos últimos anos, sobre como é fácil deixar a UE e como as negociações acabarão por terminar terão um enorme impacto. Se o Brexit for forçado a não negociar, e houver consequências económicas negativas imediatas, então a era de Theresa May poderá ser vista com alguma nostalgia e, ao contrário de alguns dos seus antecessores, como Tony Blair e David Cameron, pelo menos desfrutará de alguma simpatia, como uma pessoa que tentou fazer o melhor possível em circunstâncias impossíveis.

Tal indulgência caritativa quase certamente não será concedida ao seu sucessor e há todas as possibilidades de que o Partido Conservador, depois de três séculos como uma força política no Reino Unido, possa ser consignado ao estatuto de partido minoritário, ou mesmo ao completo esquecimento. Se o sucessor de Theresa May falhar em um Brexit suave, pode significar o fim do Partido Conservador britânico. A Grã-Bretanha sofrerá pesadas perdas económicas com a iminente saída, já que está economicamente e altamente integrada na UE. Embora possa procurar mercados alternativos, o custo será alto e não será realizado imediatamente, sendo que uma das vantagens notáveis ​​da Grã-Bretanha é o estatuto de Londres como centro financeiro internacional.

Mas a saída da UE pode diminuir o papel do país nas finanças globais e é provável que afaste os investidores estrangeiros. O Citigroup estimou que o PIB anual da Grã-Bretanha pode diminuir entre 3 a 4 por cento nos próximos três anos devido à saída. O relacionamento da Grã-Bretanha com o resto do mundo também será afectado. Tem de recuperar de alguma forma a voz única e ressonante nos assuntos mundiais, uma vez rompidos os laços com a UE. No que diz respeito aos assuntos europeus, pelo contrário, a Grã-Bretanha terá menos direitos a participar na tomada de decisões no futuro.

Os Estados Unidos também perdem um canal para exercer influência na UE por meio da sua estreita parceria com a Grã-Bretanha. A “relação especial” entre os dois países mudará de maneira subtil. A divisão política na sociedade britânica ampliou-se após o referendo. Os eleitores do “Pro-Leave” derrotaram os que apoiaram a campanha do “Remain” por menos de 4 por cento ou seja um milhão e duzentos mil eleitores. Além disso, muitos cidadãos podem enfrentar incertezas quanto à sua vida, emprego e rendimento devido ao referendo, agravando ainda mais os “remanescentes”.

O primeiro-ministro escocês afirmou que um segundo referendo sobre a independência da Escócia era “altamente provável”. A Escócia, Irlanda do Norte e Londres são três áreas em que a maioria dos eleitores apoiou a campanha “Remain”. A ameaça à unidade nacional da Grã-Bretanha está a crescer. O Brexit é também um duro golpe para a UE e uma grande conquista da integração regional que os europeus fizeram nas últimas décadas. Dentro da UE, há livre circulação de pessoas, mercadorias, serviços e capital, o que muitas vezes é considerado o ápice dos esforços para alcançar a unidade humana no mundo.

No entanto, o eurocepticismo tem vindo a aumentar no continente ao longo dos últimos anos. Depois do referendo sobre a adesão da Grã-Bretanha à UE, as pessoas temem que mais Estados-membros sigam o exemplo, embora essa reacção em cadeia pareça improvável, o processo de integração europeia sofreu um revés significativo. Actualmente, tanto a economia europeia como a mundial permanecem frágeis, com o Brexit apenas a aumentar a incerteza global e como uma das maiores economias do mundo, o impacto da Grã-Bretanha permanece perceptível. No dia em que o resultado foi anunciado, a libra esterlina caiu, resultando em flutuações cambiais internacionais e vendas de acções recorde.

A China mantém estreitos laços económicos com a Grã-Bretanha e a UE, pelo que o Brexit inevitavelmente terá alguma influência nas relações China-Reino Unido. Se o Reino Unido deixar de fazer parte do mercado único da Europa, deve reforçar os laços comerciais com outras regiões.

Nesse contexto, o fortalecimento das relações chinesas seria uma opção lucrativa para a Grã-Bretanha, especialmente se o comércio britânico se desviar significativamente da UE. Além disso, a Grã-Bretanha estaria livre para acordar com a China sobre livre comércio e investimentos bilaterais sem as restrições impostas pelas leis da UE. De acordo com o Tratado de Lisboa, os membros da UE não estão autorizados a firmar acordos de livre comércio ou acordos bilaterais de investimento com terceiros.

Todavia, a China perderia a Grã-Bretanha como uma porta de entrada para aceder ao mercado da UE e promover o uso do renminbi na Europa. Além disso, a Grã-Bretanha poderia ser menos atraente para o investimento estrangeiro depois de sair da UE, mas não perderia a sua vantagem competitiva nas indústrias. O investimento directo da China na Grã-Bretanha pode ser influenciado negativamente, mas não deve cair drasticamente. É bastante simples a China interpretar a estratégia da Grã-Bretanha. O Reino Unido pode parecer um local de investimento muito mais aberto para as empresas da China, ainda que desvinculado dos mercados europeus e, muito menos atraente como uma possível porta de entrada para o continente.

Além disso, a influência internacional do sector de serviços financeiros de Londres deve ser significativamente reduzida pela perda dos chamados direitos de passaporte, e isso tem o potencial de afectar a ambição da cidade de assumir um papel de liderança na internacionalização da moeda chinesa. Para os cidadãos chineses que desejam estudar ou trabalhar no Reino Unido, a situação mudará.

A Grã-Bretanha removida da Europa poderia oferecer mais oportunidades, ou poderia ser menos atraente; sendo menos internacional e mais paroquial. Tendo-se tornado mais isolado diplomaticamente, o Reino Unido será visto no pensamento político chinês como um actor muito menor e menos importante. Infelizmente, essa atitude em particular e o que conduzirá não foi tida em consideração por muitos eleitores britânicos em 23 de Junho de 2016 e se contentarem em viver com as consequências, teremos que esperar e ver, independentemente da situação.

Os ingleses defendem que a Grã-Bretanha e a China devem aproveitar oportunidades excepcionais para forjar uma parceria global mais próxima na era pós-Brexit. Os dois países poderiam aumentar ainda mais a sua cooperação nos campos do comércio, investimento, energia limpa e outros, enfrentando desafios globais. A Grã-Bretanha está disposta a renovar o seu entusiasmo pelas relações internacionais, especialmente com a China.

O Reino Unido no mundo depois do Brexit, continuará a negociar com a UE e para muitas empresas chinesas e investidores que estão sediados na Grã-Bretanha, ainda é um bom local para fazer parte da Europa. O relacionamento da Grã-Bretanha com a China é um bom exemplo do seu internacionalismo, que entrou em uma nova fase na “era de ouro” e na sua estratégia industrial recém-lançada, tendo o governo britânico identificado a transição energética como um dos principais desafios globais e a melhor solução para os solucionar é quando os países podem trabalhar juntos, sendo de recordar que ambos construíram uma base sólida de cooperação nessa matéria.

O projecto Hinkley Point C não é apenas o maior investimento em energia do Reino Unido, mas também o maior projecto de investimento em infra-estrutura na Europa, sendo um bom exemplo de como a cooperação em energia limpa pode funcionar como um pilar da parceria internacional.

O projecto de dezoito mil milhões de dólares, com um terço do investimento feito pela China, foi descrito como a primeira nova central nuclear da Grã-Bretanha em uma geração. Através do Acordo de Paris, tanto a Grã-Bretanha quanto a China assumiram compromissos muito significativos sobre as alterações climáticas e um dos desafios é ter certeza de que a Grã-Bretanha pode cumprir os seus compromissos a um custo acessível.

O propósito da Grã-Bretanha participar no Diálogo Europeu de Energia é o de procurar oportunidades para a cooperação de energia renovável em uma ampla gama, incluindo a energia eólica offshore, pois estabeleceu uma posição de liderança neste campo, e o custo de energia foi efectivamente reduzido com a aplicação da tecnologia eólica offshore, esperando que a energia limpa seja acessível tanto para os consumidores quanto para as empresas, tendo a ambição de reduzir o custo da energia. A Grã-Bretanha está também interessada na iniciativa Made in China 2025, pois o mundo testemunhou mudanças maciças e empolgantes que ocorrem onde grandes revoluções tecnológicas têm vindo a transformar quase todos os sectores da economia, assim como a vida das pessoas. A China e o Reino Unido têm visões idênticas sobre as tendências globais, como o envelhecimento da população, e ambos elaboraram planos de acção para desenvolver a inteligência artificial, análise de dados e outros sectores para abraçar mudanças tecnológicas e construir forças económicas.

13 Jun 2019

Quando me pus a semear lebres

[dropcap]C[/dropcap]omeço a crónica de hoje com o depoimento de Inácio Crespim, antigo acarretador de São Romão (Vila Viçosa), entrevistado nos anos de 1994-1995 por Luís Silva para um livro que foi publicado em Maio do ano passado, intitulado ‘Os Moinhos e os moleiros do rio Guadiana’*.

“O meu pai nunca abalava do moinho, só estando doente é que não dormia lá.” (…) “Tinha uma tarimba lá dentro do moinho” (…) “era ali a tarimba, era ali que ele dormia e encantado da vida. A cama era uma esteira de buinho [com] uma manta ali em cima da esteira. Em ouvindo o chocalho, lá se levantava para encher a moega. Enchia, punha a argola do chocalho na cegonha e, depois, ficava descansado até que se acabasse aquele trigo na moega”.

A vida dos seareiros, moleiros, farineiros, atafoneiros e acarretadores (ou maquilões) é hoje totalmente desconhecida. A ignorância avança ao lado dos cultos do saber. Eram vidas muito duras e particularmente solitárias. Antes de a indústria da moagem se ter desenvolvido, era dentro dos moinhos que o cereal se moía, produzindo-se a farinha que é essencial para o pão. A água dos rios era a fonte de energia e o resto equivalia a um intenso episódio braçal, claustrofóbico, quase místico.

Em 1786, três anos antes da revolução francesa, um “Código de Posturas” publicado em Mourão dava conta das restrições a que a actividade dos moleiros (e dos atafoneiros) estava sujeita:

“Os moleiros e atafoneiros serão examinados com juramento de fazerem verdade, e os moleiros e atafoneiros tomarão também juramento de fazerem verdade e ninguém poderá ver moleiro em moinho ou acenha, ou atafona sua… nem terão suas molheres nas ditas moendas, nem ainda em taes fazendas que tragão arrendadas, nem terão cão, nem galinhas, nem porco, nem cavalgadura sua nas ditas moendas, nem ao redor dellas, nem em suas casas. E terão gato ou gata para os ratos, e terão alqueire de.., meio alqueire de pão, e maquieiro e meio maquieiro e tudo aferido e affillado pello aferidor do Concelho nos primeiros oito dias de Janeiro e Julho de cada anno, de que tirarão sequestro, e terão sempre panais postos nas moendas e… de farinhas, e nas moendas andarão descalços, e no principio de cada anno darão fiança sob pena de pagarem por qualquer desttas couzas não cumpridas quinhentos reis e sob a mesma pena não comprarão vinho aos vinhateiros que forem aos moinhos, e nelles não venderão trigo nem farinha a pessoa alguma com pena de mil reis, e salvo emprazadores e senhorios dos moinhos, que tomem conhecimento do tal trigo e farinha que venderem, e duitamente do seu ganho”.

É curioso como esta actividade estava sob juramento. Além do carácter votivo, não havia direito à sexualidade, ao vinho e à companhia de animais. Os gatos eram a excepção, o que se ficava a dever às exigências de higiene (onde se incluía, também, o uso de panos sobre a moenda – ou pedra mó – e a obrigação de não usar calçado). A fiscalização e a vigilância externas incidiam nas medidas a usar, na proibição de venda directa (a não ser com conhecimento dos donos dos moinhos) e ainda na caução a que os moleiros estavam obrigados (e cujos montantes eram subtraídos em caso de incumprimento).

É difícil encontrar nos dias de hoje um contrato de trabalho com estas condições, a começar logo pelo juramento. No entanto, o triângulo aqui presente – baseado no cariz solitário da actividade, nas imposições de ‘higiene’ (que definiam o meio) e na vigilância externa – não é assim tão estranho às patologias, passe a metáfora, da vida contemporânea.

Pensemos no modo como o mundo em rede, aparentemente um esteio de partilhas, é sobretudo um mundo solitário que se move ao jeito de um vaivém impessoal entre a perdição do olhar e os ecrãs tecnológicos. Trata-se de uma patologia a que ninguém consegue deixar de aderir (e até com a devida pulsão eufórica).

Pensemos, por outro lado, na correcção que visa codificar a nossa vida através de regras rígidas (a maior parte não escritas) que liofilizam e ‘veganizam’ a higiene e o meio em que vivemos: nada de fumo, nada de gorduras, nada de touradas, nada de tabernas manhosas que dispensem as asaes.

Trata-se de uma patologia a que o ‘mainstream’ tende a aderir com o apego das antigas ‘grandes causas’ (hoje parte das novas arqueologias).

Pensemos, por fim, no modo como a tecnologia nos vigia e nos espia, tema, aliás, de uma das últimas crónicas aqui publicadas (“Lavadeiras, privacidade e ameaças”**). Trata-se de uma patologia que tudo e todos tendem a fingir que não existe.

Não estamos assim tão longe de Mourão dos idos 1786. As clausuras do nosso tempo pós-Orwell caracterizam-se (vistas de cima com a ajuda de um drone) por uma correria paradoxal: os passeios enchem-se de multidões a correrem desenfreadamente sem saberem bem porquê e para onde.

De tal modo assim é que, como dizia o antigo acarretador Inácio Crespim, ninguém parece ficar “descansado até que se acabe todo o trigo na moega”. Só que, hoje em dia, o trigo é imaterial e, quer o pão, quer os hamburguers já completos (e higiénicos até à medula), aparecem nas nossas mesas fresquinhos, como se tivessem acabado de sair da árvore do quintal. Eu, ao pé da minha, até costumo semear lebres – para não ter que as matar com uma boa estocada – e depois misturo-lhes alho, cebola, louro, alecrim, cravinho, chouriço (com muito sangue), nabo, 6 dl de vinho da Pêra-manca e, claro está, um belo arroz carolino, pois o integral – disse-me o senhor Crespim – faz mal às artroses.

Bons feriados!


*Silva, Luís,  ‘Os Moinhos e os moleiros do rio Guadiana – Uma visão antropológica’. Colibri, 2018, Lisboa. [Em linha]. (s/d). Disponível em https://run.unl.pt/bitstream/10362/50442/1/Livro_completo.pdf [Consult. 07-06-2019].
**Carmelo, Luís, ‘Lavadeiras,  privacidade e ameaças’ em Hoje Macau. 23/05/2019. [Em linha]. (23-05-2019. Disponível em https://hojemacau.com.mo/2019/05/23/lavadeiras-privacidade-e-ameacas/ [Consult. 07-06-2019].

13 Jun 2019

Quarentena: uma narrativa

[dropcap]N[/dropcap]ascidos a bordo de um navio
em quarentena, ao fim de uns anos
engolfa-nos a ausência,
ansiamos um abraço de sangue.

A raros se concedeu – presumo
que a suborno – soltura.

O navio ficou ao largo
por um período a prumo,
que não cessa de indeterminar-se
e aí a língua é o algeroz
de onde pingam a esperança
e o alfabeto do inferno.

Divisamos de longe as luzes
da cidade, adivinhando até ao sabugo
os seus perfumes, a desabrida
floração dos cometas
no peito das raparigas,

o rasto de anfetaminas com que
os rapazes metem a terceira
e repelem os mortos.
Enquanto na nossa cabine
ou no desabrigado convés
tudo se repete, unânime, caliginoso.

Dás conta, já não batem os sinos
na cidade! Emudece a via
láctea nos salmos
que tingem o WhatsApp?

No dia da boda uma borboleta,
das que migra, transatlântica,
veio ressacar ao corrimão
do tombadilho e depois alumiou
as bordas da piscina
com a sua valsa imatura.
Tudo quanto vislumbrámos
das flores da costa.

Ocorre o amor
entre os convalescentes?
Tudo indica que o homem é capaz
de amar no próprio inferno,

embora a solidão na proa
não deixe de lembrar-nos
que nunca mergulharemos
duas vezes no mesmo vento.

Ancorados ao largo da alegria,
de quarentena,
o capcioso brinde final
destinar-te-á um breve
toque de clarim,
antes de amortalhado
numa bandeira o teu cadáver
ir lancetar o mar.

Mataste o tempo,
lendo a Oresteia e conviveste
com as deambulações de Ulisses,
também ele tardio e como tu
enleado nos novelos
da idade que ensimesma,
e já reconheces na enlanguescida
inteligência do antigo amante
de Circe o declinar da tua.

Estaria tudo bem se não visses
que os teus filhos
também nasceram a bordo
e como se lhes emaranha nas veias
uma bilha de gás e uma cabeça
de fósforo. Aí revoltas-te!
Apontas o canhão da proa e
inflamas o horizonte
com a tua veia derramada.

Alba. O barrete realça,
não esconde a cabeça de cachalote
do marinheiro que subiu à gávea.
Padeceriam igualmente os anjos
desse peso transbordante,
acima do pescoço rútilo?

Um veleiro airosamente descalço
adeja ao largo.

No rádio passam Zappa,
conduzido por Boulez
– tudo se desloca nos meridianos
aquosos. A quem devemos
a quarentena do planeta?

É tão escasso o pensamento,
nestas anfractuosas tonelagens
de ferro, que nos serve de guarida
contra o íngreme
entenebrecimento, contra
a cegarrega que nos atou,

é fugaz, mas dactilografa estrelas
à superfície das águas,
lépida doma dos néones,
e aí intuímos:
cada palavra é uma ilha
e procura arquipélago.

Saberá o urso que hiberna?
Não tem clímax a noite,
só tem ápice na queda.
A noite é o seixo que rola
no leito da tua vida; rola
para a foz ou para a nascente?

Alarma-te o enigma
do teu corpo e da tua sombra
bifurcarem na língua da cobra.
Como traduzir a inconciliável
corrente que os aparta
em amuos incandescentes,
não obstante partilharem
o que tolda no copo de gim?

Solução para o dilema: talvez
em terra, mas, entretanto, retido
em quarentena, apesar
de desconheceres a combustão
antropofágica da doença,
a dúvida que não cala encapela-te
os páramos do sangue.

A inocência é que te tramou,
enredou-te nas ramagens
da noite – embora na orla
das escotilhas já a luz da alba
se ice, vagarosa, e a algazarra
das cores se adiante, esta outra

luz é mais um alinhavo
frágil na bainha da mesma
e idêntica noite que te
ofusca, espectral.

Contudo, por décadas
a fio de quarentena
encrespada nos gargalos,
pode lá a escassez encaixar-se
nas tuas linhas de sombra:

basta ouvirmos o latido
de um cão na costa
e restituímos a pedra que sonha
à tepidez da mão que enxagua
a sua matéria exausta.

Transpira o navio contra
a quarentena, ondula.
Lês na fornalha de Dante
os glóbulos brancos do teu nome.
Quanto tempo demora o limbo
a fazer-nos compreender
que desenhar as letras
não nos emenda a escuridão?

Tanto que vejo, sem
adivinhar o quanto ensejo
no que vejo.
De quarentena, a vida
de nós não se aproxima
nem para a despedida.
Embora tudo indique
que o homem seja capaz
de amar no próprio inferno.

08/06/2018

13 Jun 2019

Relicário de sonhos I

[dropcap]H[/dropcap]á alguns anos a esta parte, enquanto lhe contava um sonho, dos muitos que tenho, ou melhor, dos muitos que recordo, diagnosticou ou melhor, perguntou-me o Rui Zink se eu sabia que era grafomaníaca. Eu não sabia. Nem sabia o que isso era. Mas o Priberam explicou que era uma necessidade patológica de escrever ou de fazer registos gráficos, o hábito de escrever ou de registar graficamente muitas coisas. Poderia dizer que nunca mais fui a mesma mas mentir é feio. Continuei a sonhar e a registar os meus sonhos, e até os sonhos que amigos tiveram comigo, como o faço com os diálogos e peripécias que me acontecem, apenas agora exibindo esta condição incurável como uma curiosidade exótica. Não é muito melhor do que ter um transtorno obsessivo-compulsivo? Eu acho que sim. Mas na verdade, não poderia isto, também, ser considerado como tal? Adiante. A poucos dias do seu aniversário, deixo aqui uma pequena colecção, sem grande organização, análise ou interpretação, clínica ou mística, a este querido amigo e antigo professor meu (que não tem memória dos seus e estará, provavelmente, grato por isso) de alguns sonhos dos últimos anos. Há pessoas mesmo estranhas, não há?

2019

Sonhei que andava a mudar plantas mas, apesar de ter bastante à disposição, constantemente me enganava e colocava cacau em pó em vez de terra nos vasos.

2018

Sonhei que Jesus Cristo me visitava. Era um sonho agradável. Dizia-me o dia da minha morte, mas não do mês ou do ano. Em seguida, tive um sonho muito violento, mas acalmava-me dizendo: não é hoje que eu vou morrer.

2017

A noite passada sonhei que me ofereciam um trabalho de fim de semana como domadora/treinadora de elefantes e a formação consistia em passar tempo com o elefante mas sobretudo via lá no horário yoga yoga yoga yoga.

2016

Sonhei com sonhos.

Esta noite sonhei que o meu romance estava terminado.

Sonhei que ia passar o verão a Hong Kong. Mas antes estava nas traseiras do prédio dos meus pais a andar de bicicleta. E tinha um saco de viagem que não queria perder, então pensei, vou andar de bicicleta à volta do saco. Nas notícias falavam de um fugitivo.

Outra noite sonhei que uma mãe e seu filho queriam ir para minha casa; tinham chaves e tudo, convencidos de que lhes pertencia. Recebia ainda um grupo de Masai em casa, e a minha tia. Discutimos e eu estava preocupada porque não sabia como acomodar tantas visitas inesperadas. E tinha de pensar nas minhas colegas de casa. Só que a minha casa não era a actual. Era a casa de uma ex-amiga minha.

Sonhei que estava a vir de onde costumo lanchar às vezes no trabalho mas agora de repente, a meio do caminho, estava grávida, já em estado avançado, e conseguia ver o meu bebé através da barriga e da roupa, como se fosse transparente de algum modo. Sorria para mim.

2015

(Depois de ser operada ao estômago) Sonhei que me via a comer comida normal antes de tempo e ficava com medo de morrer. Tentava avisar-me a mim mesma para parar, mas era como se estivesse a pairar no tecto e não me ouvia. Uma visão do horror. Cheia de medo que me rebentasse o estômago.

Sonhei que tinha cancro. Era um sonho muito atribulado. Eu sabia que tinha porque os meus médicos queriam reunir-se comigo e um deles deixou a noiva no altar à espera para ir à reunião.

Por algum motivo tinham de me amputar as duas pernas. Eu ia lá para a o fazerem, e quando a médica começava a preparar tudo eu dizia que não queria e que não conseguia lidar com aquilo. E percebia que também não tinha dito a ninguém, porque me imaginava a aparecer em casa dos meus pais, era o dia do aniversário do meu pai,, e a cara da minha mãe ao ver-me com próteses.

Sonhei que havia uma pessoas que queriam encomendar rissóis e croquetes à minha mãe. Mas era só uma desculpa para nos fazerem mal. A minha mãe não estava em casa e eu e mais pessoas (?) fazíamos de tudo para afastá-las. Só sei que, quando finalmente mandei mensagem à minha mãe a avisar, de repente a vi a caminho, mas estava careca. Entretanto um miúdo e uma miúda que eu sabia fazerem parte do tal grupo vieram ter comigo, agora sim só comigo, e conversámos muito mas eu continuava sem querer confiar neles. Que sonho parvo. A parte dos miúdos, contudo, era pesada, intensa. Não me lembro da conversa, apenas da sensação. Eventualmente a minha mãe chegava a casa. Não me lembro de mais nada.

Sonhei que a minha mãe nunca mais se levantava e o meu pai queria dar-lhe umas prendas. Ele estava sentado à mesa, cabisbaixo. Havia coisas para ela mas também havia um helicóptero dourado, enorme. Ele dava uma boneca que andava e falava à minha irmã. No sonho eu via a minha irmã no escuro, sentada na cama, com a boneca gigante ao lado, do tamanho dela. Apesar de o helicóptero estar lá e ser parecido com um que tive, eu percebia que nada daquilo era para mim. E então ficava muito magoada e ia embora para a Finlândia durante três meses, que passaram em segundos, e depois voltava para dizer que me ia embora novamente por mais tempo e usava um mestrado como desculpa.

13 Jun 2019

Sui generis

[dropcap]Q[/dropcap]uando viu o Sidónio nu à sua frente ficou sem jeito e sem capacidade de reacção. Estava farto de ver homens naquele estado, isso não era o problema, bastava olhar-se ao espelho ou ir ao balneário do ginásio, mas assim naquele registo tão íntimo, pronto-a-comer, nunca tinha acontecido. Deixava-o desconfortável. Esta sua decisão de se tornar homossexual ainda não era cem-por-cento consensual dentro de si, tinha ainda as suas dúvidas. Nem todos os seus genes tinham aprovado essas regras em uníssono, por isso caminhava um pouco a medo, em terreno desprovido de qualquer cor. Não, não era nenhum arco-íris, por enquanto. Sempre gostara de mulheres e, apesar de estar a entrar nos cinquentas, era um homem sexualmente bastante activo. Esteve casado duas vezes, a última quase dez anos, com muitas aventuras nos entretantos, mas chegara a altura de sair do armário, como se costuma dizer. Bom, ele nunca tinha estado a viver numa prateleira, tinha a certeza disso, sempre fizera tudo às claras, não tinha nada a esconder. Mas a heterossexualidade também não fazia o seu género, no sentido em que gostava de dar um passo à frente. Era um experimentalista e apetecia-lhe mudar de ares.

A primeira coisa que disse ao Sidónio foi: “vai devagar”. Era um comprimido dos grandes que tinha de engolir. Lembrava-se de quando tinha de tomar coisas assim quando era miúdo. Deitava tudo cá para fora e a sua mãe ficava com os cabelos em pé e gritava com ele. Mas aquele espécime não o atraía minimamente, tinha um ar a dar para o abichanado que o irritava. Sempre o irritou, para ser sincero. Por diversas vezes, em pensamento, tinha troçado um pouco dele, apesar de naquela figura se apresentar com um corpo tonificado e com uma cara laroca. Tratava-se bem, o Sidónio. E até era um gajo porreiro, mas era para ir beber uns copos e apanhar uma grande tosga, não era para estar com o pila dele na boca.

Mas tinha de ser e a ideia até tinha sido sua. Trabalhavam juntos há muitos anos e sempre teve um à-vontade extremo com o Sidónio para falar das coisas, vá-se lá saber porquê. Era um facilitador. E quando começaram a trocar ideias sobre o assunto, de como ele não se importava de experimentar “aquilo”, o colega ficou logo de antenas no ar e mostrou-se híper interessado, convencendo-o de que gostaria de ser a cobaia. Até chegarem a esta situação embaraçosa, não demorou muito tempo. Duas semanas?

Agora, era preciso relaxar e ultrapassar de uma vez por todas o complexo que se tinha atravessado à sua frente, senão não ia conseguir cumprir os seus objectivos. Dantes, quando precisava de se abstrair pensava em matrículas de automóveis. Estava sem recursos. Precisava de uma mão divina. À medida que o Sidónio fazia tenções de o acarinhar ele afastava-se compulsivamente. Dizia: “espera!”, enquanto colocava uma musiquinha a tocar, na esperança de que aquilo ajudasse, criando um ambiente mais propício, não diria ao romance, mas whatever. Queria era ver-se livre daquela situação e prosseguir com a sua vida.

Ele que não era nada esquisito com a comida, comia tudo o que lhe pusessem no prato e gostava sempre de se lançar de estômago alegre para gastronomias desconhecidas. E se as mulheres, de quem ele tanto gostava, o faziam com tanta facilidade, não havia de ser ele que iria agora voltar para trás e desistir. Mas havia ainda a outra parte, o factor essencial para que a contenda desse certo, entre as suas pernas parecia existir uma letargia completa. “49-BO-13”. Na casa-de-banho tinha usado um lubrificante adequado, para não estar a interromper nada mais à frente, o que ainda iria ser pior, e achava que estava preparado, que não ia custar. Já tinha beijado amigos em noites de bebedeira e ali tinha pensado em todos os pormenores, mas estava demasiado tenso, era preciso libertar-se daquele torpor, fosse de que maneira fosse. Então achou que se desse um beijo ao Sidónio, daqueles à antiga, imaginando-se inebriado com uma lufada de vento, talvez tudo se resolvesse. Sim, era isso que iria fazer. Iria abraçá-lo e beijá-lo com estrondo.

Depois logo se veria.

O que aconteceu, em concreto, não sabemos. O que é certo é que deu o grande salto em frente e com naturalidade enfrentou sem encerros a sua nova condição perante a sociedade. Do modo como os colegas de trabalho o entreolharam nas semanas seguintes, só confirmava que o seu outro eu já não era segredo. Mas ele gostava disso. Gostava da assumpção.

Encontramo-lo tempos mais tarde, já com o coração a bater a um ritmo semi-descontrolado. Começara a namorar com um homem, ou era o que ele achava, que aquilo era uma relação à séria. De início, estava confiante que tinha finalmente encontrado o seu primeiro namorado, extremando ainda mais a corda para a sua vida passada. Mas a história tinha outros contornos e revela-se aqui num excerto roubado do seu diário.

“Quando conheci o Eddy ele não me contou a verdade, não me disse que afinal não era bem assim. Conhecemo-nos numa noite, num festival de cinema. Ele fazia parte de uma equipa de produção de um documentário premiado, um documentário sobre a extinção do género, e a partir daí fomos falando quase todos os dias. Até que noutra noite mais acalorada, sem câmaras pelo meio, nos envolvemos de modo íntimo. Aconteceu tudo muito rápido. Bem que lhe meti logo a mão entre as pernas, mas ele afastou-me, dizendo que ainda não. Queria primeiro aguçar-me o apetite, pensei. E quando passámos ao acto em si – já não aguentávamos mais! – baixou as calças e virou-se de costas para mim. Tínhamos trocado beijos clamorosos, ficámos agarrados como duas tomadas, em curto circuito, com as nossas línguas derretidas uma na outra. Tudo corria bem. Todo o meu ser efervescia de paixão. Finalmente, estava com os dois pés no caminho que tinha começado a traçar com o palerma do Sidónio. Mas quanto a esse caso, nem me quero lembrar desse momento, aquilo foi um suplício.

Nunca tive qualquer dúvida quanto ao Eddy. Vira-o de tronco nu e, apesar de profusamente depilado, é uma mania que não pratico, tinha um bonito peito de homem. Seja lá o que isso quer dizer. Eu sei lá, pelo menos foi o que supus. A minha ideia nunca tinha puxado para o outro lado. Quando se vê uma coisa não se vê a outra e o toldo tapa o horizonte por completo. Mesmo depois de ele engolir o auge do meu prazer e continuarmos com aquilo noite fora, eu gritava: ‘Eddy! Eddy!’ E abraçava-o, como se não houvesse mais mundo.

Mas não demorou muito até descobrir a realidade, de que afinal o rapaz por quem me tinha apaixonado era afinal uma mulher. Raios! Não havia como evitá-lo, fiquei estupefacto e chorei. O que me tinha levado a gostar de homens tinha sido uma vontade imensa de experimentalismo e ao dar esse passo queria aprofundar a minha nova postura, assumindo-a. Na verdade, passei a ter uma atracção genuína por pessoas do mesmo sexo, e só por elas, achava eu. Limitava-me a saborear aquela fruta tropical. Agora, parece que me egasguei. Terá sido o caroço? Quando conheci o Eddy, era indiscutível de que ele era um homem. Nem foi tema de que alguma vez tenhamos falado, a dúvida, era tudo claro como a água. Mas a extinção do género tinha ganho um prémio, esse tinha sido o nosso ponto de encontro, e quando deparei com aquilo, não soube como reagir. Uma pessoa ama o indivíduo, para além da inscrição do género, seja ela qual for? O que é isto da sexualidade e do corpo que nos calhou? Depois de tanto esforço, eu não podia andar com uma mulher, ia contra os meus novos desígnios. Ai, Sidónio, eu vi logo que isto não podia dar certo.

Mas eu adoro o Eddy. É uma paixão sem fim, como nunca tinha sentido. E quero passar a vida nos braços dele – dela! – para sempre. E se descobrirem, depois de tanto vergar a corda, que afinal eu não sou homossexual? Também o que me havia de calhar na rifa, o Monsieur Butterfly. Não sei o que pensar, mas também não me interessa saber. Dê por onde der, mesmo sem arco-íris, sigo em frente.”

Ficamos descansados, não há cenas dos próximos capítulos.

13 Jun 2019

Coimbra | Chissano realça papel de Academia nas relações sino-lusófonas

O novo organismo, apresentado esta terça-feira em Coimbra, a Academia Sino-Lusófona, visa reforçar as relações entre os países de língua portuguesa e a China. Na apresentação marcaram presença, entre outros, o antigo Presidente de Moçambique, Joaquim Chissano e o embaixador chinês em Portugal, Cai Run

 

[dropcap]O[/dropcap] antigo Presidente da República de Moçambique Joaquim Chissano disse esta terça-feira em Coimbra que a Academia Sino-Lusófona (ASL), agora apresentada, vai contribuir para o fortalecimento das relações entre os países de língua portuguesa e a China.

Para Joaquim Chissano, a Academia Sino-Lusófona, apresentada na Universidade de Coimbra (UC), na presença do embaixador da República Popular da China em Portugal, Cai Run, “é uma parte de uma dinâmica” que deve ser aproveitada pelos membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e pela China, no relacionamento entre si.

O novo organismo, dirigido por Rui de Figueiredo Marcos, director da Faculdade de Direito da UC, “vai impulsionar” essas relações e o trabalho que vier a desenvolver ajudará a “descobrir novas maneiras” de Portugal, demais parceiros lusófonos e a própria China se “relacionarem também com outros países” no mundo, declarou o ex-presidente moçambicano aos jornalistas.

Chissano interveio numa sessão, no auditório do Colégio da Trindade, na Alta de Coimbra, em que a UC apresentou a ASL, com o objectivo de “reforçar os laços” com a China e os países de língua portuguesa.

Língua de crescimento

No seu discurso, Joaquim Chissano realçou “o papel que a Academia pode jogar no desenvolvimento” dos países envolvidos, com “uma visão inovadora” e com vista “de uma maximização das vantagens para todos”.

“O mundo académico pode e deve jogar um papel muito relevante” neste domínio, disse, ao realçar que o Português é quarta língua mais falada “e a terceira com maior crescimento no mundo”.

Joaquim Chissano pediu aos doadores para continuarem a ajudar Moçambique, na sequência do ciclone tropical Idai, que atingiu o país em Março, causando centenas de mortos e avultados danos materiais.

A ajuda internacional recebida “ainda é insuficiente”, disse depois aos jornalistas. Na cerimónia, em que actuou o coro dos Antigos Orfeonistas da Universidade de Coimbra, usaram também da palavra o professor Rui Marcos, o reitor da Universidade, Amílcar Falcão, e o embaixador Cai Run.

O diplomata chinês valorizou o aprofundamento das relações entre a China e os países da CPLP, em geral, vincando que o relacionamento entre Lisboa e Pequim vive “a sua melhor fase”.

13 Jun 2019

Inscrições para workshop com Catarina Mourão só até amanhã

[dropcap]A[/dropcap]s inscrições para o Workshop de Documentário da cineasta portuguesa Catarina Mourão, que vai decorrer de 22 a 27 de Junho na Casa Garden, estão abertas só até amanhã, sexta-feira, dia 14. A iniciativa é gratuita, para maiores de 16 anos, até um limite de 20 participantes.

Organizado pela Fundação Oriente, com o apoio da Casa de Portugal em Macau, o projecto insere-se nas comemorações de “Junho, Mês de Portugal” e é aberto ao público em geral. Durante seis dias, os interessados vão poder experimentar o processo criativo de filmar um documentário, a partir de filmes que irão introduzir os tópicos de trabalho para cada sessão.

Trata-se de uma oficina de produção e realização para iniciantes e amadores, intitulada “A Casa e o Mundo”, onde durante 3 horas diárias os alunos vão desenvolver obras de acordo com a sua inspiração e a orientação da realizadora.

Tal como descreve Catarina Mourão, na nota de apresentação, “neste workshop vou partilhar com os estudantes o meu processo criativo na filmagem de documentários. É essencialmente um trabalho que se inicia no microcosmos da família, da casa, da rua. Começamos por viajar por entre aquilo que nos é familiar, e acabamos por encontrar estranheza e novas estórias além da nossa zona de conforto”.

E especifica, “cada um dos meus filmes desencadeou um desafio diferente. E cada desafio irá estimular os participantes a trabalhar num determinado projecto de filme, para o qual deverão encontrar o seu ângulo pessoal e a sua solução”.

À procura de respostas

As oficinas terão um total de 18 horas. A 22 e 23 de Junho, sábado e domingo, o horário é das 14h às 17h, e nos seguintes dias, de 24 a 27, em horário pós-escolar ou laboral, das 18h às 21h.

Cada sessão de workshop terá como ponto de partida a exibição de um filme: “Daguerreótipos” (1976), de Agnès Varda, o “primeiro documentário que teve um verdadeiro impacto na minha forma de filmar”, e “À Flor da Pele” (2006), “Pelas Sombras” (2010) e “A Toca do Lobo” (2015), de Catarina Mourão.

O programa procurará respostas à questão sobre o que é o documentário, como género, no actual mundo da imagem. Através de exercícios práticos na escolha dos temas, personagens, localizações, roteiros e pesquisa em arquivos, os alunos irão ensaiar e discutir em conjunto técnicas de filmagem e de edição, antes da apresentação final dos trabalhos.

As inscrições deverão ser feitas através do email workshopcatarinamourao@gmail.com. Mais informações podem ser solicitadas à Fundação Oriente e à Casa de Portugal.

13 Jun 2019