Hoje Macau EventosProdutor Paulo Branco distinguido com prémio mundial das artes Leonardo da Vinci [dropcap]O[/dropcap] produtor português Paulo Branco foi distinguido com o prémio mundial das artes Leonardo da Vinci, atribuído pelo Conselho Cultural Mundial, anunciou hoje o Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA). Em comunicado, o ICA sublinha que o galardão “vem reconhecer a dedicação do produtor português com novas visões de expressões cinematográficas e o seu compromisso em cultivar uma intensa comunicação e actividade entre as diferentes áreas da Cultura, como a Literatura, as Belas-artes e a Música”. O prémio, dado pela primeira vez a um português, vai ser entregue numa cerimónia em Outubro, na cidade japonesa de Tsukuba, onde também receberá o prémio mundial de ciência Albert Einstein o investigador Zhong Lin Wang. O Conselho Cultural Mundial é uma organização internacional fundada em 1981 e sediada no México com uma composição inicial de 124 cientistas e académicos, presidentes de universidades e executivos de cinco continentes, segundo a descrição patente na sua página. “A sua missão é promover uma cultura de tolerância, paz e fraternidade ao reconhecer modelos de inspiração através dos seus prémios”, acrescenta o mesmo texto. O prémio Leonardo da Vinci foi entregue pela primeira vez em 1989 ao grupo de preservação da Acrópole, na Grécia. De acordo com a biografia publicada pelo Conselho Cultural Mundial, Paulo Branco, nascido em 1950, já produziu ou co-produziu mais de 300 filmes, tendo sido premiado pelo Festival de Cinema de Locarno, entre outros, e condecorado pela República Francesa. Em 2017, foi homenageado pelo Festival de Cinema de Guadalajara. “O trabalho de Paulo Branco deu um enorme contributo para aprofundar o horizonte estético do cinema, em Portugal e pelo mundo, para além de aumentar a formação cultural de audiências e do público em geral”, pode ler-se no anúncio oficial. Desde 2017, que Paulo Branco está envolvido num diferendo judicial em vários países devido à produção do filme “O homem que matou D. Quixote”, de Terry Gilliam. Hoje Macau EventosMónica Ferraz estreia-se em Timor-Leste com concerto em Díli [dropcap]A[/dropcap] cantora portuguesa Mónica Ferraz, ex-vocalista do grupo Mesa, apresenta no próximo dia 22 de Junho os seus novos trabalhos, incluindo o single “Fool”, num concerto de estreia em Timor-Leste. Mónica Ferraz, 39 anos e natural do Porto, começou a sua carreira aos 15 anos, estreando-se em 2003 como vocalista da sua primeira banda de originais, o projecto Mesa. Sete anos depois, em 2010, iniciou uma carreira a solo com o primeiro álbum “Start Stop”, com participações em alguns dos principais festivais em Portugal. Em 2012 e 2013 foi nomeada para a categoria de ‘Best Portuguese Act’, nos MTV Europe Music Awards e em 2014 editou o seu segundo álbum. Actualmente a viver na Suíça, Mónica Ferraz está a trabalhar com vários músicos e produtores europeus, lançando este ano o single “Fool”. A cantora, que veio para Timor-Leste numa iniciativa da NoLimit, actua no Hotel Timor na noite de 22 de Junho.</p Hoje Macau EventosAlmodóvar vai receber Leão de Ouro pela Carreira no Festival de Cinema de Veneza [dropcap]O[/dropcap] cineasta espanhol Pedro Almodóvar vai receber o Leão de Ouro pela Carreira no 76.º Festival Internacional de Cinema de Veneza, que vai decorrer de 28 de Agosto a 7 de Setembro. Segundo o comunicado, a decisão foi tomada pela direcção da Bienal de Veneza, presidida por Paolo Baratta, após a proposta do director do festival, Alberto Barbera. Pedro Almodóvar, realizador e argumentista espanhol, admite sentir-se “muito animado e honrado pelo Leão de Ouro” e recorda a sua estreia internacional no Festival de Cinema de Veneza, em 1983, com o filme “Negros Hábitos”, lê-se no comunicado. O cineasta agradece: “Este Leão irá tornar-se no meu animal de estimação, juntamente com os meus dois gatos. Obrigada do fundo do coração por me atribuírem este prémio”, pode ler-se no comunicado. A propósito desta atribuição, Alberto Barbera considera que “Almodóvar não é apenas o maior e mais influente realizador espanhol desde [Luis] Buñuel, mas um cineasta que oferece retratos multifacetados, controversos e provocadores da Espanha pós-franquista.” O director acrescenta que “Almodóvar se destaca, acima de tudo, por pintar retratos femininos incrivelmente originais, graças a uma empatia excepcional que lhe permite representar o seu poder, riqueza emocional e fraquezas inevitáveis com uma autenticidade rara e comovente”. Pedro Almodóvar, que nasceu em Calzada de Calatrava na região autónoma de Castilha-La Mancha e aos 17 anos foi para Madrid estudar cinema, realizou filmes como “Má Educação”, “A Pele Onde eu Vivo”, “Julieta”, “Volver”, entre outros, e algumas das suas produções foram adaptadas para peças de teatro e musicais. Almodóvar voltou a ser premiado nos Óscares com “Fala com Ela”, de 2002, pelo argumento original do filme. O filme “Dor e Glória” saiu este ano e é a última produção de Pedro Almodóvar com os actores António Banderas e Penélope Cruz no elenco principal. Recentemente a Cinemateca Paixão dedicou um dos seus ciclos de cinema ao cineasta espanhol, tendo sido exibidos em Macau filmes como “A Lei do Desejo” ou “Tudo Sobre a Minha Mãe”, entre outros. Hoje Macau EventosMais de cem obras de Picasso expostas em Pequim [dropcap]M[/dropcap]ais de cem obras de Pablo Picasso podem ser vistas em Pequim na maior mostra dedicada ao pintor espanhol já alguma vez realizada na China. A exposição “Picasso, o nascimento de um génio” reúne, entre pinturas, esculturas e desenhos, mais de uma centena de obras do acervo do Museu Picasso, em Paris, de acordo com a agência France-Presse (AFP). O museu parisiense transportou as obras a bordo de sete aviões – uma exigência das seguradoras para cobrirem a viagem, segundo os organizadores da exposição. O valor total do seguro ultrapassa os 800 milhões de euros. A primeira exposição de Picasso na China remonta a 1983, por ocasião de uma visita a Pequim do então Presidente francês François Mitterrand. Apenas 33 obras do inventor da arte moderna foram exibidas naquela época. Desta vez, a exposição centra-se nas obras dos primeiros trinta anos de Pablo Picasso (1881-1973). Hoje Macau China / ÁsiaPequim diz ter chegado a “amplo consenso” com ONU após visita a Xinjiang [dropcap]O[/dropcap] Governo chinês afirmou hoje ter chegado a um “amplo consenso” com a ONU em termos de cooperação antiterrorista, após a polémica viagem de um alto funcionário das Nações Unidas à região de Xinjiang. Uma breve nota do Ministério dos Negócios Estrangeiros refere que “as duas partes trocaram pontos de vista sobre o combate ao terrorismo e a cooperação antiterrorista entre a China e a ONU, tendo chegado a um amplo consenso” nesta matéria. A visita a Xinjiang do chefe do gabinete da luta contra o terrorismo da ONU, Vladimir Voronkov, foi fortemente criticada pelos EUA e por organizações não-governamentais, por desviar a atenção para a violação dos direitos humanos naquela região. Pequim enfrenta crescente pressão diplomática devido às acusações de que mantém detidos, naquela região ocidental, cerca de um milhão de membros da minoria étnica chinesa de origem muçulmana uigure em centros de doutrinação política. O Governo chinês, que primeiro negou a existência destes campos, afirmou, entretanto, tratarem-se de centros de formação vocacional que visam integrar os uigures na sociedade. Voronkov visitou Pequim e Xinjiang de 13 a 15 de Junho e reuniu-se com diplomatas de topo da China, incluindo o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Le Yucheng. “A China e o mundo devem unir-se para combater o terrorismo e a China apoia o trabalho do gabinete anti-terrorismo da ONU”, lê-se ainda na nota de Pequim. Desde que, em 2009, a capital de Xinjiang, Urumqi, foi palco dos mais violentos conflitos étnicos registados nas últimas décadas na China, entre os uigures e a maioria han, predominante em cargos de poder político e empresarial regional, a China tem levado a cabo uma agressiva política de policiamento dos uigures.</p Hoje Macau China / Ásia MancheteMilhares nas ruas de Hong Kong para terceiro protesto numa semana [dropcap]D[/dropcap]ezenas de milhar de pessoas estão reunidas no centro de Hong Kong para o terceiro protesto numa semana, quatro dias depois de confrontos entre manifestantes e a polícia, que usou gás pimenta e lacrimogéneo e balas de borracha. A esmagadora maioria são jovens, vestidos de preto, envergando o símbolo da paz preso às ‘t-shirts’ e empunhando flores em memória de um dos manifestantes que morreu este fim de semana, constatou a Lusa no local. Numa conferência de imprensa, os líderes do protesto sublinharam hoje que a população de Hong Hong não quer viver sob o medo de que seja semeado o terror com detenções. Questionados pelos jornalistas, sustentaram que a suspensão do debate sobre a lei da extradição é apenas uma táctica política motivada pela pressão pública e voltaram a exigir o abandono da lei, um pedido de desculpas da chefe do Governo, Carrie Lam, bem como a sua demissão. O anúncio de sábado da chefe do Governo de suspender as emendas à lei que permitiriam a extradição para países sem acordo prévio, como é o caso da China continental, não desmobilizou os opositores, que continuam a pedir um recuo total das propostas e a demissão da própria Carrie Lam, a líder do Executivo. Depois de no último domingo, segundo os organizadores, mais de um milhão se ter manifestado, e após um protesto na quarta-feira que cercou o quartel-general do Governo no qual se registou mais de uma centena de feridos e a detenção de onze pessoas, dezenas de milhar de pessoas preparam-se para uma marcha de protesto que vai começar em Victoria Park e terminar de novo no complexo do Conselho Legislativo (LegCo). Os ‘media’ locais noticiaram hoje a morte de um dos manifestantes, que caiu de um prédio depois de afixar uma lona de protesto, uma informação confirmada pela Civil Human Rights Front (CHRF), a organização não-governamental que se tem assumido como a principal organizadora dos protestos. A polícia de Hong Kong já informara durante a semana que durante os confrontos de quarta-feira foram detidas 11 pessoas, acusadas de crimes como o de participação num motim, cuja moldura penal prevê uma pena máxima de dez anos de prisão. As forças de segurança confirmaram também a utilização de gás lacrimogéneo, gás pimenta e armas anti-motim para dispersar os manifestantes, bem como ferimentos em 22 polícias. Pelo menos 80 pessoas foram obrigadas a receber tratamento hospitalar, segundo a imprensa local que cita números fornecidos pelas unidades de saúde. Algumas das detenções efectuadas pela polícia aconteceram nas instalações das unidades de saúde, uma situação que mereceu críticas tanto de responsáveis hospitalares como da CHRF. Os acontecimentos obrigaram o Executivo a adiar o debate e a encerrar as instalações da sede do Governo, numa primeira fase. No sábado, Carrie Lam, que no próprio dia dos confrontos tinha reafirmado a sua intenção de prosseguir com as alterações à lei da extradição apesar dos protestos, acabou por anunciar a suspensão do debate sobre a proposta. Os opositores defendem que tal não é suficiente e, por isso, mantiveram a mobilização de hoje, garantindo que os protestos vão continuar até que a proposta de lei seja definitivamente retirada, ao mesmo tempo que pedem a demissão da líder do Executivo, que enfrenta fortes críticas da sociedade e, de acordo com os ‘media’ locais, uma divisão política no próprio Governo. Proposto em Fevereiro e com uma votação final prevista para antes do final de Julho, as alterações propostas permitiriam que a chefe do Executivo e os tribunais de Hong Kong processassem pedidos de extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental. Os defensores da lei argumentam que, caso se mantenha a impossibilidade de extraditar suspeitos de crimes para países como a China, tal poderá transformar Hong Kong num “refúgio para criminosos internacionais”. Os manifestantes dizem temer que Hong Kong fique à mercê do sistema judicial chinês como qualquer outra cidade da China continental e de uma justiça politizada que não garanta a salvaguarda dos direitos humanos. Andreia Sofia Silva SociedadeProtestos em Hong Kong | AIPIM solidária com jornalistas [dropcap]A[/dropcap] Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM) emitiu hoje um comunicado onde “expressa solidariedade” pelo trabalho feito pelos jornalistas de Hong Kong na cobertura dos protestos contra a lei da extradição. De acordo com o comunicado ontem enviado à Associação de Jornalistas de Hong Kong, é frisada a forma como os jornalistas foram “agredidos e empurrados” pela polícia, que usou ainda gás pimenta para dispersar a multidão durante o protesto. Entretanto, a Chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, anunciou hoje a suspensao da proposta de lei da extradição, uma medida à qual o Governo Central já deu o seu apoio. Contudo, os protestos agendados para este domingo deverão manter-se. Hoje Macau China / Ásia ManchetePequim “apoia” decisão de Hong Kong de suspender proposta de lei da extradição [dropcap]P[/dropcap]equim afirmou hoje que apoia a decisão de Hong Kong de suspender a polémica proposta de lei de extradição, entendendo que a suspensão visa ouvir várias opiniões sobre o projecto. “Apoiamos, respeitamos e entendemos essa decisão”, afirmou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Geng Shuang, em comunicado citado pelas agências internacionais de notícias. A suspensão visa “ouvir mais amplamente” as várias opiniões sobre este projecto e “restaurar a calma o mais rapidamente possível” no território, acrescenta a nota. A líder do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, anunciou hoje em conferência de imprensa a suspensão da legislação sobre extradição, sem estabelecer qualquer prazo. Protestos continuam As organizações cívicas de Hong Kong afirmaram hoje que vão continuar com os protestos até que a chefe do executivo retire definitivamente a sua proposta de lei de extradição. A organização Civil Human Rights Front [Frente Civil de Direitos Humanos] apelou aos cidadãos de Hong Kong para que acorram em massa no domingo ao protesto que já estava previsto. Jimmy Sham, porta-voz da organização que defende os direitos humanos, pede a Carrie Lam que retire o projecto e que peça desculpas pelo uso da força policial nos protestos desta semana. Outro protesto está previsto para este domingo, depois de na quarta-feira, dia em que devia ter começado o debate no parlamento local da proposta de lei, a sessão ter acabado por ser suspensa, na sequência de uma manifestação não autorizada de milhares de pessoas, durante a qual pelo menos 80 ficaram feridas em confrontos com a polícia, que usou balas de borracha, granadas de gás lacrimogéneo e gás pimenta para dispersar os manifestantes. João Santos Filipe China / Ásia MancheteSing Tao noticia que Carrie Lam vai anunciar suspensão da Lei de Extradição [dropcap]C[/dropcap]arrie Lam, Chefe do Executivo de Hong Kong, vai anunciar durante o dia de hoje a suspensão da Lei da Extradição entre o Interior da China e a RAEHK. A informação foi avançada em exclusivo pelo jornal Sing Tao, conhecido pelas posições pró-Pequim. Segundo a publicação, a decisão de suspender o processo e fazer uma nova consulta pública terá sido tomada depois de Carrie Lam se ter encontrado com Han Zheng, responsável do Governo Central pela unidade de coordenação para os assuntos de Hong Kong e Macau. Han é igualmente um dos grandes decisores do projecto da Grande Baía. Ainda de acordo com o Sing Tao, a Chefe do Executivo de Hong Kong vai agora encontrar-se com os deputados pró-Sistema antes de anunciar a decisão. Nas informações que vão ser transmitidas aos legisladores que apoiam o Governo e que estavam preparados para votar a favor da extradição, Carrie Lam vai explicar que o processo vai voltar ao início, mas que a longo prazo não vai abandonar a intenção de aprovar o documento. Apesar das notícias, os organizadores do protesto de amanhã continuam a apelar às pessoas que participem e definem a jogada do Governo como uma “armadilha”, com o propósito de afastar os cidadãos da manifestação. João Santos Filipe China / ÁsiaCarrie Lam quer distribuir cheques pecuniários face a protestos [dropcap]A[/dropcap] Chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, está a equacionar começar o mais brevemente possível a distribuir um cheque pecuniário, à semelhança do que Macau faz, aos residentes. A oferta de dinheiro aos residentes é vista como uma forma de serenar os ânimos dos residentes, depois da proposta de lei entre Hong Kong e o Interior da China, que levou mais de um milhão de pessoas à rua. Além deste protesto, também na quarta-feira, altura em que a lei ia ser discutida pelo deputados no Conselho Legislativa (LegCo), houve um novo protesto, que ficou marcado pela agressividade da resposta da polícia, com várias queixas, inclusive de um jornalista de Macau. A falta de condições fez mesmo com que o presidente do LegCo tivesse optado por adiar a discussão do diploma para uma data a ser anunciada posteriormente. Segundo uma coluna de opinião do jornal Hong Kong Economic Journal a medida poderá ser anunciada já nas próximas Linhas de Acção Governativa, que estão previstas para Outubro deste ano. De acordo com este modelo, todos os residentes recebem um determinado valor pago pelo Governo, que no caso de Macau é de 10 mil patacas para residentes permanentes e de 6 mil patacas para não-permanentes. Em relação ao valor para o Hong Kong, o HKEJ não avança com valores. Apesar de não haver uma nova data para a discussão do diploma, para este Domingo está agendada uma nova manifestação, às 14h30. Hoje Macau EventosActor portugues Nuno Lopes integra nova série de “La Casa de Papel” [dropcap]O[/dropcap] actor português Nuno Lopes vai integrar o elenco da nova série do criador de “La Casa de Papel”, Álex Pina, intitulada “White Lines”, também com selo da Netflix, foi ontem anunciado. Nas redes sociais, o próprio actor partilhou um texto da agência Subtitle Talent que anunciava que o português será um dos protagonistas da nova série, com 10 episódios, escrita por Pina e produzida pela Left Bank, a mesma empresa por trás de “The Crown”. Segundo a mesma publicação, o elenco da série, que já está em processo de filmagens, vai incluir também Laura Haddock, Marta Milans, Juan Diego Botto e Daniel Mays. De acordo com a Deadline, “White Lines” vai ser falada em inglês e filmada até Outubro, nas Ilhas Baleares, em Espanha. A sinopse, divulgada também pela publicação especializada Variety, revela que o enredo parte da descoberta do corpo de um DJ de Manchester, 20 anos depois do seu desaparecimento em Ibiza. “Quando a sua irmã regressa à ilha espanhola de Ibiza para descobrir o que aconteceu, a sua investigação leva-a a um mundo de discotecas, mentiras e encobrimentos”, adianta a Deadline. Segundo a Variety, “White Lines” resulta de um acordo assinado entre a Netflix e Álex Pina, após o sucesso de “La Casa de Papel”. Nuno Lopes, 41 anos, destacou-se no filme “São Jorge”, de Marco Martins, com o qual recebeu o prémio de melhor actor no festival de Veneza, em 2016. O filme foi o candidato português a uma nomeação para o Óscar de melhor filme estrangeiro, não tendo sido nomeado. Hoje Macau InternacionalTrump anuncia saída de Sarah Sanders, porta-voz da Casa Branca [dropcap]O[/dropcap] Presidente norte-americano Donald Trump anunciou ontem a saída em finais de Junho de Sarah Sanders, a porta-voz da Casa Branca. “A nossa maravilhosa Sarah Sanders vai deixar a Casa Branca e regressar a sua casa no Arkansas no final do mês”, referiu Trump, numa mensagem na rede social Twitter. O milionário norte-americano acrescentou esperar que venha a ser candidata à função de governadora daquele estado, um posto que já foi ocupado por seu pai, Mike Huckabee.“Ela seria fantástica”, assinalou. Trump não forneceu qualquer indicação sobre o nome do sucessor de Sarah Sanders como porta-voz da Casa Branca, um cargo estratégico e muito exposto. Os norte-americanos ficaram a conhecer Sarah Sanders, que nasceu na pequena cidade de Hope, no início da administração de Donald Trump e na qualidade de adjunta do porta-voz Sean Spicer, que substituiu em Julho de 2017. Desde jovem que Sarah Sanders se envolveu na política por influência do seu pai, de quem foi directora de campanha nas primárias norte-americanas de 2016, antes de se juntar à equipa de Donald Trump. Raquel Moz SociedadeEpidemia de dengue na região asiática ameaça alastrar a Macau [dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Saúde (DSS) alertou ontem a população do território para o aumento da febre de dengue na região do Sudeste e Sul da Ásia. A situação é já considerada epidémica, dado o surgimento de mais casos graves nas regiões vizinhas da RAEM, nomeadamente em Zhuhai e Taiwan, mas também na Malásia, Vietname, Singapura, Camboja, entre outros, do que em igual período do ano anterior. As autoridades, em comunicado aos órgãos de comunicação, “apelam aos residentes para prestarem atenção à higiene ambiental e removerem a água estagnada nos locais de trabalho e nas áreas periféricas de residência, de modo a fortalecer a prevenção”, lembrando que “Macau tem registado a ocorrência de chuvas e existem inúmeros recipientes, ao ar livre, propensos à acumulação de água”, sendo a possibilidade de multiplicação de mosquitos muito elevada. Em Macau, desde o início do ano, foram registados 3 casos de febre de dengue, todos importados do Sudeste Asiático. A preocupação dos Serviços de Saúde sobe à medida que os elevados níveis epidémicos das regiões vizinhas aumentam e o risco de propagação se adensa com condições climatéricas favoráveis. Na vizinha cidade de Zhuhai, até ao dia 10 de Junho, foram registados 15 casos de febre de dengue, entre os quais um caso com origem local, segundo os serviços de saúde da região. Em Taiwan são já 16 casos locais e 163 casos importados de febre de dengue, desde o início de 2019, sendo os números mais elevados dos últimos dez anos. Entretanto, na Malásia, Vietname e Singapura, os casos registados de dengue duplicaram em relação ao período homólogo de 2018, sendo o Camboja o país mais atingido da região, segundo a informação divulgada pela DSS, com 1.300 ocorrências suspeitas de dengue registadas em apenas uma semana. No mundo Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a incidência da febre provocada pelo vírus da dengue, cresceu dramaticamente a nível mundial nas últimas décadas. Na grande maioria dos casos, a infecção é assintomática, daí ser muitas vezes mal diagnosticada e registada abaixo dos valores reais. Uma das estimativas apresentadas aponta para uma média anual de 390 milhões de casos de infecção em todo o mundo, dos quais 96 milhões são os clinicamente diagnosticados, com maior ou menor gravidade. O número de casos reportados à OMS, pelos estados membros de três regiões mundiais onde a incidência é maior, passou de 2,2 milhões em 2010 para mais de 3,34 milhões em 2016. Por saber está o motivo do aumento destes casos, se por epidemia reincidente e gradualmente mais severa, se pelo facto de cada vez haver mais registos para efeitos de controlo e prevenção das autoridades, nacionais e internacionais. Depois de uma quebra no número de casos registados, entre 2017 e 2018, pela OMS em toda a região asiática, uma acentuada subida tem vindo a ser monitorizada em 2019, nomeadamente em países como a Austrália, Camboja, China, Laos, Malásia, Filipinas, Singapura e Vietname. Até 1970, apenas 9 países haviam reportado epidemias severas de dengue, segundo aquela instituição, sendo a doença hoje endémica em mais de 100 países em todo o mundo. A América e a Ásia são as regiões mais afectadas. Carlos Morais José A outra face VozesMuch ado about everything [dropcap]A[/dropcap] proposta de lei do Governo de Hong Kong, que facilita a extradição de pessoas para a China continental (RPC), é um documento estranho e lamentável, pelo menos de dois pontos de vista. O primeiro prende-se com a promessa de manutenção do mesmo sistema durante 50 anos depois da transferência de soberania e o respeito pela Lei Básica. O segundo tem a ver com o timing da apresentação da proposta. Como se pode constatar pela reacção da população de Hong Kong, a questão da extradição para a China não é um problema menor. De algum modo, o facto de até hoje ela não ter existido constitui um dos pilares invisíveis do segundo sistema, pois garante que ali podem habitar, usufruindo dos direitos cívicos expressos na Lei Básica, pessoas acusadas pela RPC de “crimes” derivados da liberdade de expressão, de reunião, de contestação pacífica, da defesa dos direitos humanos, etc.. Os tais “crimes” são, geralmente, classificados de “subversão social”, “terrorismo”, “sedição”, ou seja, implicando uma moldura penal duríssima. Como relatam os próprios jornais regionais chineses, ao longo de toda a enorme China, deparamos com casos locais de abuso de poder, de corrupção, de alienação dos valores de sobriedade e contenção. Na maior parte dos eventos, essas autoridades locais perseguem ferozmente quem as denuncia, talvez à revelia do próprio Governo central. A ausência de separação de poderes leva à desconfiança na justiça, a nível local e nacional, desconfiança essa que há muito atravessou a fronteira e se repercute nas mentes dos cidadãos de Hong Kong, que obviamente fazem questão de não se encontrarem à mercê de um sistema judicial não independente. O caso foi de tal modo aberrante que a Chefe do Executivo soluçou na televisão que não estava a “vender (sold out) Hong Kong”, depois de a polícia ter precisado de bater em manifestantes provocadores e pouco pacíficos, admitindo com as suas lágrimas que compreendia a dissensão do seu povo e a distância real que existe, em termos de valores cívicos, entre a ex-colónia e a RPC. Assistimos ao espectáculo de uma mulher estilhaçada entre o que sabe ser a cidade que governa e o “dever patriótico” de fazer aprovar uma legislação. Carrie Lam, pouco depois, anunciava suspender, adiar para as calendas, o debate sobre a malfadada proposta de lei. É inevitável lembrarmo-nos de algo idêntico, ocorrido quando o Governo de Hong Kong pretendeu implementar o artigo 23º da Lei Básica, referente à sedição e traição à Pátria. Proposta absurda, porque contrária às expectativas populares, independentemente das cambalhotas jurídicas que se executem para a justificar, viu-se igualmente obrigada a recolher ao covil do esquecimento, esperando por outros dias para voltar a emergir. Tal como deverá acontecer no caso da lei da extradição… O que leva então o Governo de Hong Kong, empurrado ou não por Pequim, a apresentar a proposta, nesta altura do campeonato? Ninguém previu a reacção popular? Além do mais, com a RPC envolvida numa guerra comercial com os Estados Unidos e com outros problemas mundo fora, seria a altura certa para provocar estas previsíveis ondas e logo na cidade conhecida pela erupção regular de dissidência e irreverência? Um país que joga go certamente que pensa em questões territoriais e na procura do equilíbrio interno como condição para a procura de poder. Pois não parece. A RPC demonstra uma incapacidade teimosa quando na mesa está Hong Kong, um bloqueio, um trauma, uma aflição. Esvai-se a sapiente e milenar paciência, ruge uma urgência de mando que pela mão suave seria mais simples de adquirir. Pequim espuma à menor travessura deste seu desejado filho. E talvez este facto devesse ser caso de reflexão profunda e de auto-análise no seio de vários comités, centrais ou periféricos. Com certeza que não é a necessidade premente de prender e extraditar perigosos agitadores na ex-colónia que motiva a acção, resulta em tanto barulho e uma mão-cheia de novos problemas e antipatias. O caso dos livreiros já nos ilustrou sobre os métodos e a matéria. É que para a população parece tratar-se, além de uma questão de liberdade, de um problema de segurança. O medo incrusta-se não apenas no político, no activista, mas também no comerciante, no industrial, no banqueiro, no especulador. E este medo, esta reacção pronta de um milhão de pessoas não era de prever? Bem pode o Global Times atribuir os protestos a uma intervenção estrangeira que, neste caso, a própria dimensão da manifestação o desmente. É certo que em Hong Kong existe uma quantidade enorme de agentes estrangeiros (só os EUA têm cerca de mil funcionários no seu consulado), alguns talvez com a missão de desestabilizar as relações com a RPC. Mas, na verdade, com propostas destas, não precisam de exibir uma grande performance. E o Governo de Carrie Lam? Não previa esta maré de protestos? Por quê avançar com esta medida, nesta altura? Depois de alguma reflexão, só encontro uma explicação para a apresentação desta proposta de lei: chama-se Grande Baía. O projecto da Grande Baía é uma das grandes apostas do Governo Central, com o objectivo expresso de intensificar a comunicação entre Macau, Hong Kong e as cidades da província de Guandong, de modo a que no futuro constituam uma região unificada; comercialmente, culturalmente, talvez politicamente, se pensarmos no pós-2047/49. Afinal, pensar-se-á em Pequim, Cantão sempre foi uma porta para o exterior, lugar de estrangeiros, tal como Macau e Hong Kong, portanto não será difícil a esta gente do Sul entender-se. A Grande Baía é um modo de potenciar a região mas, inevitavelmente, também diluirá as diferenças entre as três regiões presentes. E que diferenças… Para o caso vertente, foquemo-nos nos sistemas jurídicos: temos três e todos bem diferentes. Em Macau predomina o chamado “continental”, europeu, um corpo legal façanhudo e romano-germânico. Em Hong Kong, pratica-se a dita Common Law, o direito anglo-saxónico, fundado principalmente na jurisprudência e no “confusionismo”. Já na RPC, estamos perante um direito baseado no direito continental europeu, mas atravessado de derivas incompatíveis com os outros dois, sendo o elefante maior o facto de não existir separação de poderes entre o judicial e o executivo. Ora ao pretender uma união comercial, facilitar a circulação de pessoas e bens nesta Grande Baía, torna-se óbvio que surgirão conflitos legais, duros de roer e de resolver. Burlas, fraudes, golpes, golpadas e golpinhos por essa Grande Baía fora. Como controlar isto sem uma lei da extradição, que permita uma acção rápida e coordenada das autoridades em questão? É virtualmente impossível, um controlo condenado ao fracasso. Daí a emergência extemporânea desta proposta de lei, ainda que dela tenham sido excluídos a maior parte dos crimes económicos. Trata-se, é bom de ver, de um caso em que o carro é colocado à frente dos bois. Estranhamente, a RPC parece ter pressa de integrar Hong Kong, assumindo uma atitude pouco condicente com a postura reflectida e equidistante que tem exibido no actual palco das relações internacionais. Contudo, o que aqui demonstra é uma inusual incapacidade de compreender onde fica a linha da harmonia ou até onde pode o bambu vergar sem se partir. É verdade que a RPC está debaixo de fogo. Os Estados Unidos de Trump alargam as esferas da guerra comercial e, obviamente, procuram descredibilizar a China em diversas áreas. Hong Kong é, todos o sabem, um espaço onde esses “inimigos” pululam e agem. Mas, para contrariar essa acção, a RPC tem de contar com o apoio da população local e não com a sua animosidade. Tem de lhe instilar o “novo sonho chinês”, de uma nova Grande China, forte, plena e una, em 2047/49. Uma China de características globais, onde a liberdade dos cidadãos não entra em conflito nem põe em causa a autoridade do Estado, onde predomine a meritocracia, a justiça seja independente e a criatividade abençoada. A proposta de lei do Governo de Hong Kong, as manifestações populares, a carga policial, a entrevista de Carrie Lam, finalmente, a suspensão do debate e da consequente aprovação da lei parecem invocar a máxima de Shakespeare: “much ado about nothing”. Mas não. Aqui estamos perante um caso de “much ado about everything”. E este “everything” é a forma de sociedade prometida, a liberdade do cidadão, o estado de direito, a crença na irredutibilidade do indivíduo e no valor supremo da sua vida.</p João Romão VozesCidades, felicidade, casas e processos participativos [dropcap]T[/dropcap]alvez a mais elementar sensatez sugerisse que este fosse assunto deixado exclusivamente ao livre arbítrio dos poetas, ou quando muito de alguns filósofos mais versáteis, mas pelos vistos também há economistas e outros analistas de contabilidades várias a dedicar-se ao tema: a felicidade, nem mais, por estes artífices (entre os quais me conto, já agora) brutalmente transformada em objecto de medida, com as suas engenhosas classificações e os seus inevitáveis “rankings” internacionais, superiormente decretados sob os auspícios da ONU (quem mais nos poderia valer nesta tão premente necessidade civilizacional e planetária, aliás?) e validados por cientistas de renome internacional. Meça-se a felicidade, então, assim por atacado, em cada país, para podermos comparar-nos enquanto povos mais ou menos felizes. Desde 2012 que isso é feito pela “Sustainable Development Solutions Network”, das Nações Unidas, e daí resulta o “World Happiness Report”, publicado desde 2012. Nesta quantificada – mas nem por isso menos subjectiva – contabilidade da felicidade dos povos, ganham sistematicamente, e com apreciável vantagem, os do norte da Europa: na mais recente versão deste gracioso “ranking”, publicada há um mês e com dados referentes a 2018 – Finlândia, Dinamarca, Noruega e Islândia ocupavam os quatro primeiros lugares, ficando a Suécia pelo 7º. Holanda, Suíça, Nova Zelândia, Canadá e Áustria completam o “top-10” desta tabela, posições manifestamente inacessíveis para os povos da Europa do Sul (a França está no 24º lugar e a Espanha no 30º), da América Latina (com excepção da particular Costa Rica, num magnífico 12º lugar, o melhor é o Chile, em 26%) ou da tragicamente infeliz África (a Líbia ocupa a mais destacada posição, no 72º lugar, ainda assim atrás de Portugal, na mui modestamente feliz 66º posição). Tem sido mais ou menos assim desde que o relatório é publicado. Verdade seja dita, mesmo que esta contabilidade só muito remotamente possa ser vista como uma aferição relevante da felicidade nacional (seja lá isso o que for), não deixa de sintetizar alguma informação interessante sobre a satisfação de cada povo com a vida que leva – assim numa média relativamente grosseira, que dentro de cada país as diferenças são muitas. O índice é construído tendo em conta indicadores socioeconómicos (riqueza, apoios sociais ou esperança de vida) e de confiança nas instituições (liberdade de associação e de voto, percepção sobre corrupção ou sensação de segurança), cujo impacto nas nossas efémeras existências não é certamente negligenciável. A cultura é que não traz felicidade – isso já se sabia – e talvez por isso não precise de ser contabilizada nesta medida da felicidade humana segundo a ONU. Vem isto a propósito de ter tido por estes dias a oportunidade de visitar a Finlândia, o país que lidera este ranking, terra de generalizada felicidade segundo os critérios cientificamente avalizados que a ONU utiliza. Participando numa conferência em que o tema geral era a planificação de cidades contemporâneas, o dito ranking foi várias vezes objecto de conversa – e ocasionalmente de sarcasmo, tendo em conta a generalizada circunspecção nórdica e a relativa escassez de sorrisos, já para não falar em abertas gargalhadas. E se havia algum consenso em relação à impossibilidade de se medir a felicidade com base nestes atributos, também se ia concordando que os ditos indicadores oferecem pistas relevantes em relação à forma como as pessoas se relacionam – de forma mais ou menos satisfatória – com os contextos socioeconómicos e institucionais em que vivem. Acabei por ter um exemplo clarificador numa visita guiada a uma zona portuária em profunda renovação no sul da cidade de Helsínquia. Um arquitecto da autarquia explicou com detalhe pormenores relativos ao desenho de espaços e edifícios, que incluem, por exemplo, caminhos a ligar blocos residenciais, espaços verdes e escolas que permitem a qualquer criança deslocar-se entre estas áreas sem ter que atravessar ruas com tráfego automóvel. Este desenho corresponde, naturalmente, a uma opção política sobre o que deve ser a cidade, mas há outras, tão ou mais relevantes: por exemplo, das habitações que vão servir cerca de 20.000 novos residentes, apenas 45% são transaccionadas no mercado (as restantes são atribuídas por concurso com rendas sociais ou sorteadas e vendidas a um preço a que não supera os custos de produção). Visitando a zona, não se consegue distinguir os vários tipos de habitação, que parecem bastante semelhantes independentemente do regime de comercialização ou utilização. Uma intervenção desta natureza e dimensão tem também o efeito de reduzir a procura de casas no circuito comercial e, por essa via, contraria a tendência para a subida preços. Quem nos mostra esta nova parte da cidade é um jovem investigador de doutoramento na Universidade de Helsínquia, também pertencente a uma organização de residentes que participa frequentemente nas discussões sobre planos urbanísticos na cidade. Em resultado dessa participação sistemática, foi convidado – com outras pessoas de perfil semelhante – a servir de “mediador” entre grupos organizados de residentes e a Câmara Municipal nos diversos processos de planeamento urbanístico em curso (entre os quais, o desta zona da cidade). Estas práticas institucionais que envolvem as pessoas nos processos de planeamento das suas cidades são radicalmente diferentes das práticas a que costumamos assistir, por exemplo, em Portugal. Da mesma forma, intervir na questão da habitação disponibilizando milhares de casas fora dos circuitos comerciais promove a defesa das pessoas contra o poder das empresas imobiliárias e financeiras. São opções políticas possíveis. E se calhar até ajudam a que se tenha alguma felicidade, afinal de contas. Pelo menos será mais fácil estar satisfeito com a economia e a democracia. Hoje Macau Folhetim h | Artes, Letras e IdeiasA dama do chá [dropcap]O[/dropcap] Inferno não existe. Não é preciso. A vida é que é uma longa agonia. O velho padre Afonso dos Reis dissera isso a Cândido Vilaça, quando este tentara confessar-se pela primeira vez. E pela última. O padre, depois de ter percorrido o Extremo-Oriente tentando converter todas as almas possíveis, também parecia desiludido e cansado. Cândido tinha um saxofone para poder respirar. Ao padre restava a fé. Afonso dos Reis nunca voltaria às sua Beira-Alta portuguesa. Ficaria ali, na poeira que um dia quisera transformar no caminho para o paraíso. Cândido Vilaça lembrou-se do padre quando saiu da casa de pasto “O Alvoroço” e sentiu o choque sufocante do calor. Ao contrário dos chineses, que comiam peixe frito ou arroz com galinha, pedira cogumelos em molho de caranguejo. Isto enquanto bebia várias cervejas. Agora voltava a deparar-se com o inferno do calor. Ajeitou o chapéu e começou a percorrer a rua que o levava até à loja de Jin Shixin, na Avenida Almeida Ribeiro. Sorriu ao lembrar-se das palavras do padre: – Deus está interessado na Terra tal como no Céu. Na luz do Céu como na de uma vela, nos discípulos como nos anjos. Ou nos diabos. No ordinário e comum, como na santidade. Às vezes duvidava, mas quem era ele para questionar o que era muito mais complicado do que tocar saxofone ou pôr as pessoas a dançar? Viu riquexós, mas decidiu continuar a caminhar ao sol, como se quisesse expiar ali todos os seus pecados. Até chegar à loja não deveria conseguir esse intento. Por ele passaram chineses com caixas de bambu ao ombro, gente pobre, sem nada, que apenas procurava sobreviver. Nisso, não eram tão diferentes dos portugueses. As mulheres portuguesas, sempre solitárias, caminhavam de guarda-sol para se protegerem do calor e da luz. Vinham de diferentes locais, para a missa ou para a confissão, que as esperava numa das muitas igrejas de Macau. Sentiu, por vezes, o odor do ópio, enquanto se afastava dos cães e galinhas que percorriam a rua em busca de comida. Continuou a caminhar calmamente até ao “Jardim Celestial”, a loja de chá de Jin. Quando chegou, ficou do outro lado da rua, à sombra. Perto estava um chinês magro, vestido com uma cabaia de ganga, que olhava fixamente para a porta da loja, enquanto conversava com um homem mais velho, vestido com um fato de linho. Quando este levantou a cara, reparou que era japonês. Disse qualquer coisa e afastou-se. Então o chinês voltou-se para Cândido. Este não deixou de se surpreender. Apesar do cabelo curto, de rapaz, a face dele traía-o. Era uma rapariga, ainda jovem, que o fulminou com o olhar. Como se ele estivesse ali a mais. O português sentiu-se intimidado. Antes dela se virar e começar a andar até outro ponto da rua, Cândido percebeu: a rapariga não era chinesa. Era japonesa. Deixou passar uns minutos, mas quando atravessou a avenida não viu sinal da japonesa. Entrou e deparou-se com Wen Xiao. Este inquiriu-o com o olhar, sem dizer nada. Cândido disse apenas: – Venho falar com a menina Jin Shixin. Depois decido se levo chá. Wen Xiao olhou para ele com desdém. Mas, quando ia responder, surgiu Jin. Sorriu e disse: – O senhor Cândido pode entrar. É um amigo. O chinês não pareceu convencido, mas desviou-se e deixou Cândido caminhar até junto de Jin e depois segui-la para uma pequena sala interior. Ela sentou-se num pequeno banco e fez-lhe sinal para ele se sentar noutro, que estava perto. – Quer um chá? – Para já não. – Qual é o motivo da sua visita, então? – Mera cortesia. Estava aqui perto e decidi vir comprar chá. Dizem que aqui é possível encontrar o melhor que há em Macau. Ela sorriu, mas os seus olhos estavam alerta. Cândido disse então: – Talvez por isso tem clientes japoneses. Ou terá brevemente. – Porquê? – Um, ou melhor, uma japonesa que parece um rapaz, estava aqui defronte a espiar. E outro estava a conversar com ela, mas fugiu assim que me viu. O olhar dela não revelou nenhum pânico. – Eu sei que eles estão ali. – Acredito. Mas, depois do que aconteceu nas Ruínas de São Paulo, e do que agora vi à entrada, pergunto-me: o que querem os japoneses de si? Claramente estão em choque. – Ainda não percebeu, Cândido. É ingénuo? – Às vezes sou. Por isso é que preciso que me expliquem o que não entendo. Macau é uma terra pacata. – Só na superfície. A guerra está aqui. E separa-nos, chineses e japoneses. Sabe o que eles fizeram em Xangai, não? Cândido fechou os olhos, como se não quisesse recordar-se. – Então sabe o que nós combatemos aqui, em Macau. Só os portugueses não repararam na rede de espiões que eles aqui têm, tal como em Hong Kong, na Malásia ou em Batávia. E seguem-me. Tal como eu os sigo a eles. – E quem são eles? – Um, conheceste nas Ruínas de São Paulo. Chama-se Toshio Nomura, e tem uma empresa de importação e exportação, no Largo do Leal Senado. Viveu muito tempo no Brasil e fala português. Depois há outros que vagueiam entre Macau, Hong Kong e Xangai. E há alguns portugueses, que lhes dão informações importantes. – Portugueses? – Alguns sim. Não te espantes, Cândido. Face ao dinheiro, todos têm fraquezas. Um deles é o teu amigo Prazeres da Costa. Era ele que estava com o Nomura, caso não tenhas percebido. Cândido sondou os olhos de Jin. Ela não mentia. Mesmo que não dissesse toda a verdade. – O perigo nem sempre está nos recifes, muitas vezes está no mar aberto. À vista de todos. A guerra não é um jogo de mahjong. E está agora a desenrolar-se nas ruas de Macau. E tu, sem o quereres, fazes parte dela. Deixaste de poder esconder-te na sombra, à espera que a tempestade acalme. Que lados vais escolher? Ou, simplesmente, vais tentar fingir que nada é contigo? Cândido percebeu. De nada lhe valia agora dizer que era português. Ou músico. Ou que só queria a paz. Os japoneses já o tinham colocado ao lado dos chineses de Jin. Levantou-se devagar e a chinesa fez o mesmo. Aproximaram-se e, quase sem querer, Cândido beijou a face de Jin. Esta não se afastou, como se o esperasse. E quisesse. Ficaram durante alguns segundos a olhar um para o outro, sem saber o que fazer. E Cândido voltou a beijá-la, agora nos lábios. Quando se afastaram, ele virou-se e saiu. Quando chegou à rua inspirou o ar pesado. O calor não pareceu ser tão infernal. Viu a rapariga japonesa que tinha voltado para o lugar onde reparara nela pela primeira vez. E, sem saber porquê, relembrou algumas palavras do padre Afonso dos Reis. – Sabes, Cândido, os homens residem num mundo que não governam. São os imortais, os deuses, que velam por nós. Foram eles que deram forma ao mundo. Os homens não conheciam a morte, mas quando se encerraram no seu círculo, começaram a morrer. O Céu é agora o refúgio dos imortais, os deuses que, como os gregos acreditavam, vivem no Olimpo. A Terra foi legada aos homens que envelhecem e morrem. E o Inferno é o abrigo dos que já morreram. Por isso importa viver e estar do lado da verdade. Para que um dia possamos perceber a razão dos imortais. Valério Romão h | Artes, Letras e IdeiasLisboa, capital do barulho [dropcap]N[/dropcap]a ínfima possibilidade de Lisboa um dia se tornar uma cidade minimamente civilizada, este tempo em que vivemos será lembrado com um travo de repugnância ao falar-se dele e sem pinga de saudade. Embora a massificação do turismo tenha tido o condão de estimular a reabilitação de muitos edifícios devolutos em Lisboa (e com isso os sectores muito específicos da construção e hotelaria), diria que foi das pouquíssimas coisas boas que o turismo trouxe. Não lhe subjaz no entanto qualquer intenção benemérita: uma cidade com tanta afluência turística vê-se obrigada a aproveitar todo o espaço disponível se quer incrementar as vendas dos típicos patos de borracha ou dos milenares pastéis de bacalhau com queijo da serra. No fundo, a reabilitação imobiliária é apenas uma externalidade positiva, um efeito colateral do turismo, algo que as empresas do sector dispensariam de bom grado se outra forma de garantir o mesmo lucro houvesse. De resto, a albufeirização em curso tem sido pródiga a produzir efeitos negativos: escassos transportes públicos sobrelotados (os nativos ainda levaram algum tempo a aceitar o confisco turístico do eléctrico 28), subida olímpica dos valores das rendas, multiplicação descontrolada dos alojamentos locais, descaracterização progressiva da cidade, dos seus bairros, extinção lenta mas inexorável de um modo de vida incapaz de sobreviver sem aqueles que nele participavam, implosão gradual do comércio de proximidade, substituído por lojas de bugigangas inúteis e botecos gourmet nos quais se comercializa uma banalidade sobreadjectivada a preço de estrela Michelin, lixo, confusão e barulho. Muito barulho. Lisboa nunca foi generosa para com os seus no que diz respeito à permissividade com que lida com o ruído produzido, nomeadamente o nocturno. Quando não o estimula directamente, mediante a organização ou promoção de eventos, autoriza-o com a emissão de licenças. Em Junho, então, é freestyle. São os santos, as barraquinhas de farturas com colunas do tamanho de barris de cerveja a debitarem um medley dos peitos da cabritinha e da garagem da vizinha em loop, os gritos ébrios na rua às tantas da manhã e os múltiplos transportes que levam esta gente dos sítios onde se embebedam para os sítios onde dormem. Quem se pode legitimamente queixar quando em doze meses de sono possível só um lhe é perturbado? Há pouco tempo foi criado um grupo público de discussão no Facebook, chamado Menos barulho em Lisboa, no qual os seus participantes escrevem sobre a poluição sonora que, muito por via do crescimento exponencial do turismo, tem retirado tranquilidade às suas vidas. São relatos de ruído caucionado ou estimulado pelas autoridades que deviam proteger aqueles cuja ecologia vital se encontra ameaçada das mais diversas formas. Percebe-se a natureza displicente do fenómeno: a Câmara, como uma loja da Bershka, quer dar a impressão de que a cidade está sempre em festa, e quando não é ela própria a promover as mais diversas aberrações sonoras – a última delas um barco junto à Ribeira das Naus a debitar um tecno de after de má memória a tarde toda de um domingo – faz vista grossa a quem ultrapassa os limites em vigor. The show must go on. E é disso que se trata, de limites. E é nisso que esta gestão municipal tem sido péssima. Em entrando dinheiro, tudo o resto sofre de um efeito de desfoco ou de desvalorização de importância. A vida das pessoas, de Lisboa e dos seus habitantes, está indexada a uma dimensão apenas: a forma como podem não perturbar a ordenha da vaca leiteira em que a cidade se converteu. António de Castro Caeiro h | Artes, Letras e IdeiasLiberdade [dropcap]D[/dropcap]estino e fado são palavras muito antigas. O sítio onde se vai parar. A vida que foi predita. Se assim é, haverá margem de manobra para a escolha? Schelling diz o que Heidegger repete: deixar-se actuar pela liberdade. Ser livre é possível se temos um destino e um fado? Se temos uma destinação e uma predição como é possível escolher. Quantas vezes escolhemos na vida? Temos grandes superfícies para escolher o que queremos? Não queremos já antes de escolher? Podemos escolher vidas diferentes? Podemos fazer que o que não queríamos que acontecesse não tivesse acontecido? Podemos fazer acontecer aquilo que queríamos que tivesse acontecido? Lembro-me de, quando a sul, em Agosto, via uma estrela cadente. Pedia-se um desejo. Eu sei o que pedia. O mesmo se passava, quando soavam as doze badaladas na passagem do ano. Engolíamos doze passas e pedíamos um desejo. Eu sabia o que pedia. Pedir significa que não temos escolha. Gostaríamos de ter o que não temos ou ser quem não somos. Ainda. Há grandes escolhas na vida que estão feitas para nós. Assim, não as escolhemos: mãe e pai, família, país, época do ano em que nascemos, amigos que encontramos, gostos, desportos se for caso disso e livros que é o caso. Sem ler não há viver. Mas como se fazem as pequenas escolhas? Como é possível escolher? Sobretudo, quando podemos perder e dizer não ou não dizer sim? Lembro-me muito bem de como, infante, não queria estar no próprio corpo nem fazer o que me diziam para fazer ou então só viver a vida que viviam para mim. Como ser livre? E como ter uma ânsia de liberdade? O que é ser livre se somos obrigados a ser livres? Querer uma coisa implica trabalho. Os gregos achavam que se queríamos alguma coisa ela não viria sem trabalho. Hércules e Jasão ou Perseu, o meu herói de sempre, sabiam disso. Para libertar uma mãe, um País, ou alguém ou até só o próprio. Ser livre é também livrar-se de qualquer coisa ou do alguém que não gostamos de ser. Como nos libertamos para nós próprios? Como pode o rei Édipo não se cegar, depois de partilhar a cama com a sua mãe e matar o seu pai? Como podemos nós não ser quem nós somos, quando não queremos ser os próprios? Os próprios são os outros que somos. Temos um apego a nós e não queríamos ser outros. Contudo, a vida pode ser outra, diferente, um mega gato que não quer e nós não somos donos de nada. Quando aparece um amor, é uma escolha? É a possibilidade de ser livre? Primeiro, há a beleza, que tanto queremos ter por perto. Depois, a liberdade política, deixar e querer ser livre, fazer livre. Depois, talvez a morte, quando não temos escolha. Mas a vida é para a escolha. Tanto que morrer pode ser opção. Ficar livre de si para sempre. Ou assim Hamlet pensa. Ser ou não ser, não ser é ser ainda do lado de cá da vida. O acto criativo por mais mínimo que seja é o que liberta. A gentileza liberta. A amabilidade liberta. Mas um poema alinhado ou então uma canção que se diz a medo também liberta. Um beijo liberta. Um livro lido ou ensaiado liberta. E passamos a vida inteira a ser o que os outros querem que sejamos ou então só nós para nós. Muda de vida! Como se pode mudar de vida? Só numa escolha complexa. Não é intelectual. É prática. É ser a fazer. Quem não faz o que é não compreende o que é para ser. Quem não compreende não explica. E queremos que tudo seja diferente ou que tudo seja exactamente como é e tem sido até agora. Que escolha? Como escolher quando não se pode escolher? Só escolhemos quando não podemos ser o que somos ou não queremos ter o que temos? Há uma ânsia de liberdade que é uma ânsia de amor. A verdade há-de nos libertar. A verdade revela-se. Ser outro, ser diferente, ser de outra maneira consigo e com os outros. O mundo é outro quando o amor se revela. Uma estrela dançante ou cintilante ou atirada para o céu, quando todos os outros estão aí connosco e saem de cena ou entram em cena. Como gostaria de compor um poema, quando o poema vem e pede para ser escrito. Como eu gostaria de compor uma canção no trânsito quando pede para ser cantada. Como eu gostaria de ensaiar um pensamento quando ele se forma tão consistente à espera de ser pensado e dito. Ou só ter uma rapariga. Falar com ela à beira mar, mesmo quando é inverno, entrar pelas águas frias da Fonte da Telha. Falaríamos dos nossos pais e lutas e futuro. Escolher é ter futuro. Não. Escolher é fazer o futuro. É tão bom não estar só e não ser só. E ver alguém que connosco é livre. Ser livre é também ser feito livre. Ser livre é libertar. Como o combatente que não mata para matar mas para libertar pessoas. O amor, a verdade, são os elementos da escolha. Sem escolher não somos. Não há igualdade de oportunidades. Há uma talvez. E escolher faz de nós quem somos. Somos o que escolhemos. E se for em nome do amor, então, fomos! José Navarro de Andrade h | Artes, Letras e IdeiasCrepúsculos [dropcap]S[/dropcap]erá da idade ou dos tempos, ou do adquirido entendimento que ela me repassou deles – o que sucede é cada vez gostar mais de menos coisas. Por um fenómeno de paralaxe, a quem rebola no encalço das sazonalidades e suas centrifugações há-de parecer isto um horizonte que se estreita. Descreiam-se disso, que não sois falcões atentos, antes avezitas atordoadas e voláteis; é garimpo, ó estrábicos, e mais enxerguem que de tanto descer à mina se alcança o privilégio de esgravatar um filão incessante em ceder pepitas de fino quilate, que nem um par de vidas chegaria para esgotá-lo. Há quem chame a isso “cultura”, mas é palavra (e conceito) falaz e corroída como nenhuma outra. Numa dessas noites não menos trivial do que outras, aconteceu tropeçar televisivamente no mal enterrado “The Sun Also Rises.” O filme passou ao largo dos êxitos e referências de 1957 e foi sumamente desconsiderado pela história e até da melhor crítica. Vale contudo a pena reparar em certas obras falhadas, sobretudo nas que resultam aquém da sua ambição. Esse hiato entre o que pretendiam e o que lograram deixa à mostra a sua mecânica e a sua dinâmica. Se além disso a opulência dos meios de que dispuseram mais não segregou do que lugares-comuns (é sabido que quanto maior o investimento, menor o risco que se deseja correr), tanta vulnerabilidade acaba por fazer de “The Sun Also Rises” o exemplo indiscreto e desprevenido da declinante Hollywood dos anos 50. Vai o filme andando e nós percebendo que a realização foi endossada a Henry King, garante de uma cómoda competência industrial, isenta das então larvares lérias do autorismo (dele caberiam num clip do Youtbe os highlights de toda uma carreira). Por todo o lado o que se vê é a mãozinha de Darryl Zanuck o omnipotente faraó dos estúdios da Fox – ”Don’t say yes until I finish talking” – e por esta altura a parear com Jack Warner como o último moicano do modus operandi da Hollywood dos bons velhos tempos. Não deixa de ser delicioso o aroma falsandé de “The Sun Also Rises”, a crença cega no velho e relho jeito de encher o olho com todo o luxo que o dinheiro pode dar e de almejar caução artística por via da nobre literatura. (Se os aprendizes de hoje pusessem os olhos nestes fiascos talvez não debitassem tantos iguais…) Hemingway, tão tolo quanto tonto em coisas do cinema, odiou o filme pelas razões erradas. Achou que traía a letra do romance sem entender que só avacalhada e revolvida da literatura surtem bons filmes. Nisto o cinema é implacável como tão bem o demonstrou “To Have and Have Not”, belamente deturpado o original de Hemingway pelo argumento de Faulkner e pela câmara de Howard Hawks. Mas o mais perturbante, e perturbadoramente esplêndido, de “The Sun Also Rises” é o elenco. O filme é um invulgar exercício de crueldade. Falhos de direcção Tyrone Power e Mel Ferrer, caras de pau, aborrecem por se levarem demasiado a sério. Mas Errol Flynn e Ava Gardner apoderam-se das personagens como o diabo de uma alma, e expõem despudoradamente a sua decadência. Intumescido e balofo, degradado pelo alcoolismo, Flynn abandona-se ao papel de um bêbado com a desinibição e o sarcasmo de quem já nada espera dos filmes e nada tem neles a provar. Vê-lo aqui é divertido e aterrador ao mesmo tempo. O seu último plano do filme encerra todas as premonições de uma morte iminente: põe os olhos em alvo para o infinito e é tão patético quanto a pose de pé estribado para que o graxa lhe dê lustro aos sapatos. Ele lá sabia que dali a dois anos, com 50 de idade, desceria à cova. O guião pedia a Ava Gardner que em determinada cena seduzisse o imberbe toureiro. Numa época em que às mulheres se exigia o recalcamento de uma Doris Day, o que ela nos proporciona é o devasso espectáculo de si mesma. Gardner solta uma descarga de feromonas sem qualquer fingimento, executa um assédio de pantera liberto do véu da representação. Duvida-se que não seja autêntico o susto exibido por Tyrone Power, reduzido nessa cena à função de pau-de-cabeleira. Se pelo artificio “The Sun Also Rises” queria dizer umas coisas importantes, das que os filmes gostam de proclamar quando se põem em pontas, pelos seus defeitos ele acaba por nos revelar outras coisas bem mais interessantes. Não há glória nem regalia nisto, apenas mais realidade. Sofia Margarida Mota EventosArtfusion | Associação celebra sexto aniversário com evento inclusivo O sexto aniversário da Artfusion vai ser marcado pela realização de um conjunto de actividades que reúnem alunos da associação e pessoas portadoras de deficiência mental, numa iniciativa “verdadeiramente inclusiva”. Exposições, performances e um flashmob estão no programa do evento que tem lugar domingo, entre as 17h e as 19h no CURB – Centro de Arquitectura e Urbanismo [dropcap]A[/dropcap] associação Artfusion assinala o seu aniversário com a promoção do (He)Art, um evento que usa o trocadilho feito com a palavra coração em inglês. O objectivo é, desde logo, reflectir “a arte e amor” com que foi produzido, conta a responsável pela Artfusion, Laura Nyögéri, ao HM. O evento está marcado para o próximo domingo, entre as 17h e as 19h, no CURB – Centro de Arquitectura e Urbanismo, junto à Ponte 9. Tal como em outros projectos levados a cabo pela associação que aposta na educação pela arte, o (He)Art pretende impulsionar a inclusão de pessoas portadoras de deficiência através da sua integração artística. O evento junta assim, o trabalho dos alunos da associação e de membros da IC2 – I Can too – a primeira organização de Macau dedicada ao apoio a pessoas com incapacidades intelectuais. Entre a organização e os participantes, estão envolvidas cerca de 70 pessoas na iniciativa: 40 crianças alunas do Artfusion, 20 membros do IC2 com idades compreendidas entre os cinco e os vinte anos, e 10 elementos que coordenam as actividades, esclarece Laura Nyögéri. Para o efeito o (He)Art vai desdobrar-se em várias iniciativas que vão da exposição das criações artísticas, a “algumas pequenas performances de dança e expressão corporal”. A actividade “mistura as artes performativas com as artes visuais através de pinturas, desenhos, ilustrações, colagens, origamis, fotografia e instalações de arte, onde a exploração monocromática, entre o preto e o branco são a tónica dominante enquanto símbolos da própria associação”. Para terminar, está programado um flashmobe “que envolverá todos os participantes num momento único e divertido”, garante a organizadora. Homenagem a um amigo A acompanhar o evento fica a homenagem ao recentemente falecido fotógrafo local, Nico Fernandes, que colaborou com a Artfusion. A contrastar com as outras actividades monocromáticas “a cor também acontece nesta pequena exposição fotográfica”. “’O MEU AMIGO NICO’, é uma simbólica homenagem e exposição de fotografia de um grande artista e amigo que nos deixou recentemente”, sublinha Laura Nyögéri. O agradecimento é assim deixado ao fotógrafo que “através da sua lente, conferiu um estatuto visual, uma identidade à Artfusion”. No mostra vão constar os trabalhos fotográficos de Nico Fernandes que mais representam estes seis anos de actividade da associação. Caminho sinuoso Laura Nyögéri orgulha-se de conseguir criar aquilo que considera “uma iniciativa verdadeiramente inclusiva”. No entanto as dificuldades para levar a cabo este tipo de actividades em Macau ainda são muitas. A responsável destaca a necessidade de “potenciar recursos humanos, financeiros e materiais que permitam a sustentabilidade destes projectos educativos, artísticos e inclusivos”, salientando que para se atingirem resultados é necessário que estes projectos deixem de ser pontuais e assumam um estatuto de continuidade. Acrescem ainda as situações em que “os apoios são difíceis, há dificuldades para encontrar espaços para realização de aulas e ensaios, as respostas a propostas apresentadas que chegam tardiamente, além da existência de uma ‘ponte’ de preconceitos que é preciso atravessar”. Por outro lado, e não menos importante é a necessidade de mais envolvimento por parte da comunidade. Mas entretanto, a Artfusion não podia estar mais satisfeita com os objectivos alcançados em seis anos de uma actividade baseada na “liberdade de expressão e pela expressão de liberdade, de todos”. Note-se que o evento serve também para apoiar a IC2. Os “trabalhos artísticos estão ao dispor do público, e podem ser adquiridos com doações dos interessados” que revertem integralmente para a organização de apoio a pessoas com deficiência mental para que possam “dar continuidade às aulas de artes visuais e performativas”. Hoje Macau SociedadeCarne de porco | Macau volta a ter venda de animais vivos [dropcap]A[/dropcap] empresa Nam Yue, Nam Kwong e a Companhia de Produtos e Produções especiais da China declararam nesta quarta-feira, que o fornecimento de carne de porco vivo em Macau é estável. Depois da instabilidade no sector devido à epidemia de Peste Suína Africana no continente, na semana passada foram fornecidos mais de 300 porcos vivos por dia a Macau, um número acima do que acima do que era usual antes da doença. Se for detectado algum problema com os animais que vêm para Macau, toda a carga do veículo em que estiverem transportados regressa ao continente. De modo a evitar os custos associados a este tipo de operação as empresas estão a considerar instalar um local de transbordo em Zhuhai. Raquel Moz EventosSão João | Arraial volta a São Lázaro mesmo que a chuva caia Sardinhas, bifanas e cerveja não vão faltar no Arraial de São João, marcado para o fim de semana de 22 e 23 de Junho. O Bairro de São Lázaro volta a crescer, este ano com mais barracas e mais grupos musicais [dropcap]O[/dropcap] Arraial de São João volta ao Bairro de São Lázaro nos dias 22 e 23 de Junho, sábado e domingo, uma iniciativa que se repete pela 13ª vez e conta com mais adesão a cada ano. A organização apresentou ontem, em conferência de imprensa, o programa da festa, que este ano terá mais barracas de artesanato e de “comes-e-bebes”, cerca de 45 contra as 30 de 2018, e mais grupos musicais no elenco, que este ano serão à volta de uma dezena. O formato é semelhante aos anos anteriores e as preocupações são as mesmas. “Esperamos que a chuva não atrapalhe, como é costume nesta época. Nos últimos três anos houve sempre sol, mas no ano passado choveu um pouco”, começou por referir o presidente da Associação dos Macaenses (ADM), Miguel de Senna Fernandes. A festa de ano para ano “tem conquistado mais gente” e “começa a ser referida nos vários meios de comunicação do território, marcando o calendário turístico da cidade”, não só da comunidade portuguesa e macaense, mas da própria população chinesa local. “O Arraial já não é aquela festa dos outros, as pessoas já sabem que em Junho vai haver ali qualquer coisa no bairro. Mesmo amigos chineses já me perguntam muitas vezes, por esta altura, se não temos uma festa para aqueles lados…”, comentou. Este ano cresceu também o número de interessados em participar, tanto na exploração das barracas, como nas actuações musicais. Foi necessário avaliar bem o tipo de produtos artesanais e dos petiscos em oferta, para que fossem adequados ao espírito da festa popular que se pretende. “É uma festa de rua, uma festa das comunidades”, disse Miguel de Senna Fernandes, e não um “local para apresentação de produtos importados ou para revenda de artigos comprados nalguns desses sites online, que não são típicos de um arraial,”, acrescentou a presidente da Casa de Portugal em Macau (CPM), Amélia António. E o recado fica dado, “vamos estar atentos à decoração das barracas, para ver se estão apresentáveis e festivas”, e “eventualmente vamos nomear algumas pessoas, tipo inspectores da Michelin”, para passarem revista aos enfeites das barracas. “No futuro, os que não tiverem essa preocupação, talvez venham a ter consequências, como ir parar ao fundo da lista, caso o número de interessados aumente”, ameaçou com graça a responsável. Venha o bailarico O programa de sábado e domingo começa por volta das 14h30 e vai até às 22h00, hora a que o som da música acaba, por obrigações legais relacionadas com o ruído numa zona habitacional. A abertura das festividades contará com a tradicional Bênção e Missa de São João, no sábado, seguida durante os dois dias pelas participações de escolas, actuações de grupos musicais amadores, bandas jovens de rap e de jazz, e a apresentação ao vivo dos Senza, que vêm de Portugal a convite da organização para animar a festa local. É um “grupo de música portuguesa inspirado em viagens”, como são identificados nas redes sociais, formado pelo par Catarina Duarte e Nuno Caldeira. A expectativa dos organizadores é que o público continue a aumentar, como tem acontecido todos os anos. Quanto a estatísticas, é impossível saber ao certo. “É um feeling que temos”, brinca o presidente da ADM, “é que no Bairro de São Lázaro o espaço é exíguo, quando nos sentimos mais apertados ficamos felizes, porque é sinal de que há mais gente!”. Mas os indicadores são também outros: a velocidade a que desaparecem as sardinhas, as bifanas e as cervejas. “Costumamos falar também com as pessoas que vendem comida, sobretudo a mais tradicional, que são os mesmos que ali estão desde que há arraial. São eles que sabem melhor como foi o movimento, se a procura foi maior, se venderam mais. Temos assim uma noção da afluência das pessoas, são estas as nossas estatísticas”, reforça a presidente da CPM. Orçamento e parcerias O orçamento da iniciativa rondará este ano as 500 mil patacas, um pouco acima, dado o enorme aumento dos preços praticados pelos fornecedores dos serviços necessários para montar a festa. No ano passado, a verba prevista era entre 400 e 500 mil patacas. O principal apoio é da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), as restantes associações têm ainda verbas atribuídas pela Fundação Macau para a sua participação na iniciativa, segundo os organizadores. Os parceiros, além da ADM e da CPM, são também a Associação Promotora da Instrução dos Macaenses, o Instituto Internacional de Macau, a Associação dos Jovens Macaenses e a APOMAC – Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau –, sem esquecer a participação especial da Escola Portuguesa, não a nível institucional, mas com assento sempre presente na organização do evento. A festa é garantida, “faça chuva ou faça sol”, e apenas se pede às famílias que estejam de olho nas crianças, já que todos os anos têm havido receios de que alguém se possa magoar nas correrias e subidas de escadas, que a organização não pode vedar ou controlar. Concurso | Melhores vídeos dão prémios “Os Melhores Momentos do Arraial de São João em Vídeo – IIM 2019” é o título do concurso que o Instituto Internacional de Macau lança este ano a todos os jovens interessados em participar. A ideia é retratar e captar as melhores imagens da festa, durante os dois dias, com qualquer tipo de dispositivo, incluindo telemóvel. Podem ser utilizadas aplicações criativas e efeitos especiais, não devendo os trabalhos exceder os dois minutos de duração. O vídeo deverá ser publicado na página de Facebook do Arraial de São João (@MacauSaintJohnFestival), após ser feito o “like” à página e o “upload” do ficheiro. O concurso encerra às 17h horas de domingo, dia 23 de Junho, e o anúncio dos prémios será realizado na mesma tarde pelas 19h através do Facebook. Os vencedores terão que estar presentes no Arraial para receberem os prémios: 1º Lugar – 2 mil patacas, 2º e 3ºLugares – 500 patacas. Os vídeos premiados e respectivas imagens serão utilizadas para o anúncio promocional do Arraial de São de João do próximo ano. Hoje Macau SociedadeAACM | Aprovados novos procedimentos para aterrar em Macau [dropcap]A[/dropcap] Autoridade de Aviação Civil de Macau (AACM) anunciou ontem, em comunicado, que foram aprovados novos procedimentos para aterragens no Aeroporto Internacional de Macau, um processo para o qual a Air Macau contribuiu. Desta forma, os operadores aéreos “podem diminuir o número de voltas e desvios de voos resultantes de condições meteorológicas desfavoráveis quando fazem aterragens (do lado norte para o sul) na pista 16”, pode ler-se. Os novos procedimentos “garantem a segurança operacional e a eficiência das aeronaves quando aterram na pista 16” e estão relacionados com a implementação de padrões internacionais que começaram a ser analisados em 2017 entre a AACM e a Air Macau, com o contributo de uma consultora internacional. Sofia Margarida Mota PolíticaFilipinas | Declarações de cônsul desiludem empregadas domésticas As empregadas domésticas filipinas estão zangadas e desiludidas com a falta de apoio por parte da cônsul-geral das Filipinas em Macau, Lilybeth R. Deapera. Em causa estão as palavras ditas pela diplomata em que declarou que se estiverem insatisfeitas com as leis locais, como a exclusão do salário mínimo, não têm que vir para o território [dropcap]I[/dropcap]nsensível e sem empatia”, são as palavras usadas pela presidente do Sindicato Verde dos Trabalhadores Migrantes das Filipinas em Macau, Nedie Taberdo, para descrever a Cônsul-Geral das Filipinas em Macau, Lilybeth R. Deapera. A caracterização surge em reacção às declarações proferidas pela diplomata na passada quarta-feira. Lilybeth R. Deapera afirmou que as trabalhadoras domésticas que considerem injusta a exclusão da proposta de salário mínimo têm sempre a opção de não trabalharem em Macau. “São as forças de mercado que ditam e, claro, os trabalhadores podem fazer escolhas, se acham que não é justo para eles, têm a opção de não vir trabalhar para Macau. Eles devem considerar todas as possibilidades e pensar em como podem garantir que os seus direitos sejam protegidos”, disse Deapera à margem da comemoração do 121ª aniversário das Filipinas, citada pelo Jornal Tribuna de Macau. A intervenção da diplomata foi recebida com tristeza e ira por quem a via como representante e defensora de direitos. “Estamos zangadas e desiludidas”, sublinhou Nedie Taberdo ao HM. Ao invés, tiveram como resposta às preocupações “uma declaração sem nenhuma sensibilidade à realidade das pessoas que deveria estar a representar e a defender”, apontou Nedie Taberdo. “Somos empregadas domésticas, e se estamos aqui é porque estamos a tentar ter melhores condições de vida para dar à nossa família”, justificou. Para Nedie Taberdo “ouvir que não temos que trabalhar em Macau é uma falta de respeito por estas trabalhadoras que nem têm direito ao salário mínimo”. Discriminação regional A opinião é generalizada às colegas de Nedie Taberdo, que se sentem marginalizadas pela diplomata, aponta a responsável falando em nome da associação que representa. A descriminação não tem apenas que ver com as recentes declarações da diplomata que já tem historial no destrate das conterrâneas que trabalham na RAEM. Lilybeth R. Deapera “tem protegido as empregadas de Hong Kong, mas de Macau nunca ajudou em nada”, sublinha a activista. A razão que leva à ausência de apoio diplomático é desconhecida de Nedie Taberdo e das suas compatriotas, mas a cônsul-geral “em Hong Kong apoiou as empregadas domésticas imigrantes e agora naquele território, elas não pagam taxas de contratação às agências de emprego”, disse. Por cá, encontra-se em discussão na especialidade a lei que vai regulamentar o funcionamento das agências de emprego que não isenta as trabalhadoras do pagamento de taxa. Além disso, tem de pagar duplamente, primeiro na entidade das Filipinas e depois na agência de Macau. “Vamos estar sujeitas a pagar duas vezes”, lamenta. Entrada limitada A novo diploma para as agências de emprego não se fica por aqui em termos de restrições à contratação de trabalhadores filipinos. “Não podemos vir para Macau como turistas e temos sempre de nos submeter às agências. Seria muito mais fácil tratar das coisas cara a cara com os patrões e vir por recomendação. Por outro lado, como é que os empregadores podem ter acesso a um período à experiência de dois ou três dias para que possam avaliar o trabalho da candidata?”, questiona. A associação a que preside entregou uma petição à Assembleia Legislativa (AL) contra o novo diploma, no entanto ainda não têm qualquer feedback nem houve nenhuma chamada por parte dos deputados que disseram publicamente que pretendiam ouvir as opiniões das empregadas domésticas. “Estamos à espera para ver o que acontece na sequência da entrega da petição e depois logo pensamos no que podemos fazer. A AL aceitou a petição, penso que estejam a considerar e que voltem atrás quanto às taxas”, disse. Entretanto, o diploma que prevê o salário mínimo universal foi aprovado na generalidade e deixa de fora empregadas domésticas e pessoas portadoras de deficiência. «1...159160161162163164165...272»
Hoje Macau EventosMónica Ferraz estreia-se em Timor-Leste com concerto em Díli [dropcap]A[/dropcap] cantora portuguesa Mónica Ferraz, ex-vocalista do grupo Mesa, apresenta no próximo dia 22 de Junho os seus novos trabalhos, incluindo o single “Fool”, num concerto de estreia em Timor-Leste. Mónica Ferraz, 39 anos e natural do Porto, começou a sua carreira aos 15 anos, estreando-se em 2003 como vocalista da sua primeira banda de originais, o projecto Mesa. Sete anos depois, em 2010, iniciou uma carreira a solo com o primeiro álbum “Start Stop”, com participações em alguns dos principais festivais em Portugal. Em 2012 e 2013 foi nomeada para a categoria de ‘Best Portuguese Act’, nos MTV Europe Music Awards e em 2014 editou o seu segundo álbum. Actualmente a viver na Suíça, Mónica Ferraz está a trabalhar com vários músicos e produtores europeus, lançando este ano o single “Fool”. A cantora, que veio para Timor-Leste numa iniciativa da NoLimit, actua no Hotel Timor na noite de 22 de Junho.</p
Hoje Macau EventosAlmodóvar vai receber Leão de Ouro pela Carreira no Festival de Cinema de Veneza [dropcap]O[/dropcap] cineasta espanhol Pedro Almodóvar vai receber o Leão de Ouro pela Carreira no 76.º Festival Internacional de Cinema de Veneza, que vai decorrer de 28 de Agosto a 7 de Setembro. Segundo o comunicado, a decisão foi tomada pela direcção da Bienal de Veneza, presidida por Paolo Baratta, após a proposta do director do festival, Alberto Barbera. Pedro Almodóvar, realizador e argumentista espanhol, admite sentir-se “muito animado e honrado pelo Leão de Ouro” e recorda a sua estreia internacional no Festival de Cinema de Veneza, em 1983, com o filme “Negros Hábitos”, lê-se no comunicado. O cineasta agradece: “Este Leão irá tornar-se no meu animal de estimação, juntamente com os meus dois gatos. Obrigada do fundo do coração por me atribuírem este prémio”, pode ler-se no comunicado. A propósito desta atribuição, Alberto Barbera considera que “Almodóvar não é apenas o maior e mais influente realizador espanhol desde [Luis] Buñuel, mas um cineasta que oferece retratos multifacetados, controversos e provocadores da Espanha pós-franquista.” O director acrescenta que “Almodóvar se destaca, acima de tudo, por pintar retratos femininos incrivelmente originais, graças a uma empatia excepcional que lhe permite representar o seu poder, riqueza emocional e fraquezas inevitáveis com uma autenticidade rara e comovente”. Pedro Almodóvar, que nasceu em Calzada de Calatrava na região autónoma de Castilha-La Mancha e aos 17 anos foi para Madrid estudar cinema, realizou filmes como “Má Educação”, “A Pele Onde eu Vivo”, “Julieta”, “Volver”, entre outros, e algumas das suas produções foram adaptadas para peças de teatro e musicais. Almodóvar voltou a ser premiado nos Óscares com “Fala com Ela”, de 2002, pelo argumento original do filme. O filme “Dor e Glória” saiu este ano e é a última produção de Pedro Almodóvar com os actores António Banderas e Penélope Cruz no elenco principal. Recentemente a Cinemateca Paixão dedicou um dos seus ciclos de cinema ao cineasta espanhol, tendo sido exibidos em Macau filmes como “A Lei do Desejo” ou “Tudo Sobre a Minha Mãe”, entre outros.
Hoje Macau EventosMais de cem obras de Picasso expostas em Pequim [dropcap]M[/dropcap]ais de cem obras de Pablo Picasso podem ser vistas em Pequim na maior mostra dedicada ao pintor espanhol já alguma vez realizada na China. A exposição “Picasso, o nascimento de um génio” reúne, entre pinturas, esculturas e desenhos, mais de uma centena de obras do acervo do Museu Picasso, em Paris, de acordo com a agência France-Presse (AFP). O museu parisiense transportou as obras a bordo de sete aviões – uma exigência das seguradoras para cobrirem a viagem, segundo os organizadores da exposição. O valor total do seguro ultrapassa os 800 milhões de euros. A primeira exposição de Picasso na China remonta a 1983, por ocasião de uma visita a Pequim do então Presidente francês François Mitterrand. Apenas 33 obras do inventor da arte moderna foram exibidas naquela época. Desta vez, a exposição centra-se nas obras dos primeiros trinta anos de Pablo Picasso (1881-1973). Hoje Macau China / ÁsiaPequim diz ter chegado a “amplo consenso” com ONU após visita a Xinjiang [dropcap]O[/dropcap] Governo chinês afirmou hoje ter chegado a um “amplo consenso” com a ONU em termos de cooperação antiterrorista, após a polémica viagem de um alto funcionário das Nações Unidas à região de Xinjiang. Uma breve nota do Ministério dos Negócios Estrangeiros refere que “as duas partes trocaram pontos de vista sobre o combate ao terrorismo e a cooperação antiterrorista entre a China e a ONU, tendo chegado a um amplo consenso” nesta matéria. A visita a Xinjiang do chefe do gabinete da luta contra o terrorismo da ONU, Vladimir Voronkov, foi fortemente criticada pelos EUA e por organizações não-governamentais, por desviar a atenção para a violação dos direitos humanos naquela região. Pequim enfrenta crescente pressão diplomática devido às acusações de que mantém detidos, naquela região ocidental, cerca de um milhão de membros da minoria étnica chinesa de origem muçulmana uigure em centros de doutrinação política. O Governo chinês, que primeiro negou a existência destes campos, afirmou, entretanto, tratarem-se de centros de formação vocacional que visam integrar os uigures na sociedade. Voronkov visitou Pequim e Xinjiang de 13 a 15 de Junho e reuniu-se com diplomatas de topo da China, incluindo o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Le Yucheng. “A China e o mundo devem unir-se para combater o terrorismo e a China apoia o trabalho do gabinete anti-terrorismo da ONU”, lê-se ainda na nota de Pequim. Desde que, em 2009, a capital de Xinjiang, Urumqi, foi palco dos mais violentos conflitos étnicos registados nas últimas décadas na China, entre os uigures e a maioria han, predominante em cargos de poder político e empresarial regional, a China tem levado a cabo uma agressiva política de policiamento dos uigures.</p Hoje Macau China / Ásia MancheteMilhares nas ruas de Hong Kong para terceiro protesto numa semana [dropcap]D[/dropcap]ezenas de milhar de pessoas estão reunidas no centro de Hong Kong para o terceiro protesto numa semana, quatro dias depois de confrontos entre manifestantes e a polícia, que usou gás pimenta e lacrimogéneo e balas de borracha. A esmagadora maioria são jovens, vestidos de preto, envergando o símbolo da paz preso às ‘t-shirts’ e empunhando flores em memória de um dos manifestantes que morreu este fim de semana, constatou a Lusa no local. Numa conferência de imprensa, os líderes do protesto sublinharam hoje que a população de Hong Hong não quer viver sob o medo de que seja semeado o terror com detenções. Questionados pelos jornalistas, sustentaram que a suspensão do debate sobre a lei da extradição é apenas uma táctica política motivada pela pressão pública e voltaram a exigir o abandono da lei, um pedido de desculpas da chefe do Governo, Carrie Lam, bem como a sua demissão. O anúncio de sábado da chefe do Governo de suspender as emendas à lei que permitiriam a extradição para países sem acordo prévio, como é o caso da China continental, não desmobilizou os opositores, que continuam a pedir um recuo total das propostas e a demissão da própria Carrie Lam, a líder do Executivo. Depois de no último domingo, segundo os organizadores, mais de um milhão se ter manifestado, e após um protesto na quarta-feira que cercou o quartel-general do Governo no qual se registou mais de uma centena de feridos e a detenção de onze pessoas, dezenas de milhar de pessoas preparam-se para uma marcha de protesto que vai começar em Victoria Park e terminar de novo no complexo do Conselho Legislativo (LegCo). Os ‘media’ locais noticiaram hoje a morte de um dos manifestantes, que caiu de um prédio depois de afixar uma lona de protesto, uma informação confirmada pela Civil Human Rights Front (CHRF), a organização não-governamental que se tem assumido como a principal organizadora dos protestos. A polícia de Hong Kong já informara durante a semana que durante os confrontos de quarta-feira foram detidas 11 pessoas, acusadas de crimes como o de participação num motim, cuja moldura penal prevê uma pena máxima de dez anos de prisão. As forças de segurança confirmaram também a utilização de gás lacrimogéneo, gás pimenta e armas anti-motim para dispersar os manifestantes, bem como ferimentos em 22 polícias. Pelo menos 80 pessoas foram obrigadas a receber tratamento hospitalar, segundo a imprensa local que cita números fornecidos pelas unidades de saúde. Algumas das detenções efectuadas pela polícia aconteceram nas instalações das unidades de saúde, uma situação que mereceu críticas tanto de responsáveis hospitalares como da CHRF. Os acontecimentos obrigaram o Executivo a adiar o debate e a encerrar as instalações da sede do Governo, numa primeira fase. No sábado, Carrie Lam, que no próprio dia dos confrontos tinha reafirmado a sua intenção de prosseguir com as alterações à lei da extradição apesar dos protestos, acabou por anunciar a suspensão do debate sobre a proposta. Os opositores defendem que tal não é suficiente e, por isso, mantiveram a mobilização de hoje, garantindo que os protestos vão continuar até que a proposta de lei seja definitivamente retirada, ao mesmo tempo que pedem a demissão da líder do Executivo, que enfrenta fortes críticas da sociedade e, de acordo com os ‘media’ locais, uma divisão política no próprio Governo. Proposto em Fevereiro e com uma votação final prevista para antes do final de Julho, as alterações propostas permitiriam que a chefe do Executivo e os tribunais de Hong Kong processassem pedidos de extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental. Os defensores da lei argumentam que, caso se mantenha a impossibilidade de extraditar suspeitos de crimes para países como a China, tal poderá transformar Hong Kong num “refúgio para criminosos internacionais”. Os manifestantes dizem temer que Hong Kong fique à mercê do sistema judicial chinês como qualquer outra cidade da China continental e de uma justiça politizada que não garanta a salvaguarda dos direitos humanos. Andreia Sofia Silva SociedadeProtestos em Hong Kong | AIPIM solidária com jornalistas [dropcap]A[/dropcap] Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM) emitiu hoje um comunicado onde “expressa solidariedade” pelo trabalho feito pelos jornalistas de Hong Kong na cobertura dos protestos contra a lei da extradição. De acordo com o comunicado ontem enviado à Associação de Jornalistas de Hong Kong, é frisada a forma como os jornalistas foram “agredidos e empurrados” pela polícia, que usou ainda gás pimenta para dispersar a multidão durante o protesto. Entretanto, a Chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, anunciou hoje a suspensao da proposta de lei da extradição, uma medida à qual o Governo Central já deu o seu apoio. Contudo, os protestos agendados para este domingo deverão manter-se. Hoje Macau China / Ásia ManchetePequim “apoia” decisão de Hong Kong de suspender proposta de lei da extradição [dropcap]P[/dropcap]equim afirmou hoje que apoia a decisão de Hong Kong de suspender a polémica proposta de lei de extradição, entendendo que a suspensão visa ouvir várias opiniões sobre o projecto. “Apoiamos, respeitamos e entendemos essa decisão”, afirmou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Geng Shuang, em comunicado citado pelas agências internacionais de notícias. A suspensão visa “ouvir mais amplamente” as várias opiniões sobre este projecto e “restaurar a calma o mais rapidamente possível” no território, acrescenta a nota. A líder do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, anunciou hoje em conferência de imprensa a suspensão da legislação sobre extradição, sem estabelecer qualquer prazo. Protestos continuam As organizações cívicas de Hong Kong afirmaram hoje que vão continuar com os protestos até que a chefe do executivo retire definitivamente a sua proposta de lei de extradição. A organização Civil Human Rights Front [Frente Civil de Direitos Humanos] apelou aos cidadãos de Hong Kong para que acorram em massa no domingo ao protesto que já estava previsto. Jimmy Sham, porta-voz da organização que defende os direitos humanos, pede a Carrie Lam que retire o projecto e que peça desculpas pelo uso da força policial nos protestos desta semana. Outro protesto está previsto para este domingo, depois de na quarta-feira, dia em que devia ter começado o debate no parlamento local da proposta de lei, a sessão ter acabado por ser suspensa, na sequência de uma manifestação não autorizada de milhares de pessoas, durante a qual pelo menos 80 ficaram feridas em confrontos com a polícia, que usou balas de borracha, granadas de gás lacrimogéneo e gás pimenta para dispersar os manifestantes. João Santos Filipe China / Ásia MancheteSing Tao noticia que Carrie Lam vai anunciar suspensão da Lei de Extradição [dropcap]C[/dropcap]arrie Lam, Chefe do Executivo de Hong Kong, vai anunciar durante o dia de hoje a suspensão da Lei da Extradição entre o Interior da China e a RAEHK. A informação foi avançada em exclusivo pelo jornal Sing Tao, conhecido pelas posições pró-Pequim. Segundo a publicação, a decisão de suspender o processo e fazer uma nova consulta pública terá sido tomada depois de Carrie Lam se ter encontrado com Han Zheng, responsável do Governo Central pela unidade de coordenação para os assuntos de Hong Kong e Macau. Han é igualmente um dos grandes decisores do projecto da Grande Baía. Ainda de acordo com o Sing Tao, a Chefe do Executivo de Hong Kong vai agora encontrar-se com os deputados pró-Sistema antes de anunciar a decisão. Nas informações que vão ser transmitidas aos legisladores que apoiam o Governo e que estavam preparados para votar a favor da extradição, Carrie Lam vai explicar que o processo vai voltar ao início, mas que a longo prazo não vai abandonar a intenção de aprovar o documento. Apesar das notícias, os organizadores do protesto de amanhã continuam a apelar às pessoas que participem e definem a jogada do Governo como uma “armadilha”, com o propósito de afastar os cidadãos da manifestação. João Santos Filipe China / ÁsiaCarrie Lam quer distribuir cheques pecuniários face a protestos [dropcap]A[/dropcap] Chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, está a equacionar começar o mais brevemente possível a distribuir um cheque pecuniário, à semelhança do que Macau faz, aos residentes. A oferta de dinheiro aos residentes é vista como uma forma de serenar os ânimos dos residentes, depois da proposta de lei entre Hong Kong e o Interior da China, que levou mais de um milhão de pessoas à rua. Além deste protesto, também na quarta-feira, altura em que a lei ia ser discutida pelo deputados no Conselho Legislativa (LegCo), houve um novo protesto, que ficou marcado pela agressividade da resposta da polícia, com várias queixas, inclusive de um jornalista de Macau. A falta de condições fez mesmo com que o presidente do LegCo tivesse optado por adiar a discussão do diploma para uma data a ser anunciada posteriormente. Segundo uma coluna de opinião do jornal Hong Kong Economic Journal a medida poderá ser anunciada já nas próximas Linhas de Acção Governativa, que estão previstas para Outubro deste ano. De acordo com este modelo, todos os residentes recebem um determinado valor pago pelo Governo, que no caso de Macau é de 10 mil patacas para residentes permanentes e de 6 mil patacas para não-permanentes. Em relação ao valor para o Hong Kong, o HKEJ não avança com valores. Apesar de não haver uma nova data para a discussão do diploma, para este Domingo está agendada uma nova manifestação, às 14h30. Hoje Macau EventosActor portugues Nuno Lopes integra nova série de “La Casa de Papel” [dropcap]O[/dropcap] actor português Nuno Lopes vai integrar o elenco da nova série do criador de “La Casa de Papel”, Álex Pina, intitulada “White Lines”, também com selo da Netflix, foi ontem anunciado. Nas redes sociais, o próprio actor partilhou um texto da agência Subtitle Talent que anunciava que o português será um dos protagonistas da nova série, com 10 episódios, escrita por Pina e produzida pela Left Bank, a mesma empresa por trás de “The Crown”. Segundo a mesma publicação, o elenco da série, que já está em processo de filmagens, vai incluir também Laura Haddock, Marta Milans, Juan Diego Botto e Daniel Mays. De acordo com a Deadline, “White Lines” vai ser falada em inglês e filmada até Outubro, nas Ilhas Baleares, em Espanha. A sinopse, divulgada também pela publicação especializada Variety, revela que o enredo parte da descoberta do corpo de um DJ de Manchester, 20 anos depois do seu desaparecimento em Ibiza. “Quando a sua irmã regressa à ilha espanhola de Ibiza para descobrir o que aconteceu, a sua investigação leva-a a um mundo de discotecas, mentiras e encobrimentos”, adianta a Deadline. Segundo a Variety, “White Lines” resulta de um acordo assinado entre a Netflix e Álex Pina, após o sucesso de “La Casa de Papel”. Nuno Lopes, 41 anos, destacou-se no filme “São Jorge”, de Marco Martins, com o qual recebeu o prémio de melhor actor no festival de Veneza, em 2016. O filme foi o candidato português a uma nomeação para o Óscar de melhor filme estrangeiro, não tendo sido nomeado. Hoje Macau InternacionalTrump anuncia saída de Sarah Sanders, porta-voz da Casa Branca [dropcap]O[/dropcap] Presidente norte-americano Donald Trump anunciou ontem a saída em finais de Junho de Sarah Sanders, a porta-voz da Casa Branca. “A nossa maravilhosa Sarah Sanders vai deixar a Casa Branca e regressar a sua casa no Arkansas no final do mês”, referiu Trump, numa mensagem na rede social Twitter. O milionário norte-americano acrescentou esperar que venha a ser candidata à função de governadora daquele estado, um posto que já foi ocupado por seu pai, Mike Huckabee.“Ela seria fantástica”, assinalou. Trump não forneceu qualquer indicação sobre o nome do sucessor de Sarah Sanders como porta-voz da Casa Branca, um cargo estratégico e muito exposto. Os norte-americanos ficaram a conhecer Sarah Sanders, que nasceu na pequena cidade de Hope, no início da administração de Donald Trump e na qualidade de adjunta do porta-voz Sean Spicer, que substituiu em Julho de 2017. Desde jovem que Sarah Sanders se envolveu na política por influência do seu pai, de quem foi directora de campanha nas primárias norte-americanas de 2016, antes de se juntar à equipa de Donald Trump. Raquel Moz SociedadeEpidemia de dengue na região asiática ameaça alastrar a Macau [dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Saúde (DSS) alertou ontem a população do território para o aumento da febre de dengue na região do Sudeste e Sul da Ásia. A situação é já considerada epidémica, dado o surgimento de mais casos graves nas regiões vizinhas da RAEM, nomeadamente em Zhuhai e Taiwan, mas também na Malásia, Vietname, Singapura, Camboja, entre outros, do que em igual período do ano anterior. As autoridades, em comunicado aos órgãos de comunicação, “apelam aos residentes para prestarem atenção à higiene ambiental e removerem a água estagnada nos locais de trabalho e nas áreas periféricas de residência, de modo a fortalecer a prevenção”, lembrando que “Macau tem registado a ocorrência de chuvas e existem inúmeros recipientes, ao ar livre, propensos à acumulação de água”, sendo a possibilidade de multiplicação de mosquitos muito elevada. Em Macau, desde o início do ano, foram registados 3 casos de febre de dengue, todos importados do Sudeste Asiático. A preocupação dos Serviços de Saúde sobe à medida que os elevados níveis epidémicos das regiões vizinhas aumentam e o risco de propagação se adensa com condições climatéricas favoráveis. Na vizinha cidade de Zhuhai, até ao dia 10 de Junho, foram registados 15 casos de febre de dengue, entre os quais um caso com origem local, segundo os serviços de saúde da região. Em Taiwan são já 16 casos locais e 163 casos importados de febre de dengue, desde o início de 2019, sendo os números mais elevados dos últimos dez anos. Entretanto, na Malásia, Vietname e Singapura, os casos registados de dengue duplicaram em relação ao período homólogo de 2018, sendo o Camboja o país mais atingido da região, segundo a informação divulgada pela DSS, com 1.300 ocorrências suspeitas de dengue registadas em apenas uma semana. No mundo Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a incidência da febre provocada pelo vírus da dengue, cresceu dramaticamente a nível mundial nas últimas décadas. Na grande maioria dos casos, a infecção é assintomática, daí ser muitas vezes mal diagnosticada e registada abaixo dos valores reais. Uma das estimativas apresentadas aponta para uma média anual de 390 milhões de casos de infecção em todo o mundo, dos quais 96 milhões são os clinicamente diagnosticados, com maior ou menor gravidade. O número de casos reportados à OMS, pelos estados membros de três regiões mundiais onde a incidência é maior, passou de 2,2 milhões em 2010 para mais de 3,34 milhões em 2016. Por saber está o motivo do aumento destes casos, se por epidemia reincidente e gradualmente mais severa, se pelo facto de cada vez haver mais registos para efeitos de controlo e prevenção das autoridades, nacionais e internacionais. Depois de uma quebra no número de casos registados, entre 2017 e 2018, pela OMS em toda a região asiática, uma acentuada subida tem vindo a ser monitorizada em 2019, nomeadamente em países como a Austrália, Camboja, China, Laos, Malásia, Filipinas, Singapura e Vietname. Até 1970, apenas 9 países haviam reportado epidemias severas de dengue, segundo aquela instituição, sendo a doença hoje endémica em mais de 100 países em todo o mundo. A América e a Ásia são as regiões mais afectadas. Carlos Morais José A outra face VozesMuch ado about everything [dropcap]A[/dropcap] proposta de lei do Governo de Hong Kong, que facilita a extradição de pessoas para a China continental (RPC), é um documento estranho e lamentável, pelo menos de dois pontos de vista. O primeiro prende-se com a promessa de manutenção do mesmo sistema durante 50 anos depois da transferência de soberania e o respeito pela Lei Básica. O segundo tem a ver com o timing da apresentação da proposta. Como se pode constatar pela reacção da população de Hong Kong, a questão da extradição para a China não é um problema menor. De algum modo, o facto de até hoje ela não ter existido constitui um dos pilares invisíveis do segundo sistema, pois garante que ali podem habitar, usufruindo dos direitos cívicos expressos na Lei Básica, pessoas acusadas pela RPC de “crimes” derivados da liberdade de expressão, de reunião, de contestação pacífica, da defesa dos direitos humanos, etc.. Os tais “crimes” são, geralmente, classificados de “subversão social”, “terrorismo”, “sedição”, ou seja, implicando uma moldura penal duríssima. Como relatam os próprios jornais regionais chineses, ao longo de toda a enorme China, deparamos com casos locais de abuso de poder, de corrupção, de alienação dos valores de sobriedade e contenção. Na maior parte dos eventos, essas autoridades locais perseguem ferozmente quem as denuncia, talvez à revelia do próprio Governo central. A ausência de separação de poderes leva à desconfiança na justiça, a nível local e nacional, desconfiança essa que há muito atravessou a fronteira e se repercute nas mentes dos cidadãos de Hong Kong, que obviamente fazem questão de não se encontrarem à mercê de um sistema judicial não independente. O caso foi de tal modo aberrante que a Chefe do Executivo soluçou na televisão que não estava a “vender (sold out) Hong Kong”, depois de a polícia ter precisado de bater em manifestantes provocadores e pouco pacíficos, admitindo com as suas lágrimas que compreendia a dissensão do seu povo e a distância real que existe, em termos de valores cívicos, entre a ex-colónia e a RPC. Assistimos ao espectáculo de uma mulher estilhaçada entre o que sabe ser a cidade que governa e o “dever patriótico” de fazer aprovar uma legislação. Carrie Lam, pouco depois, anunciava suspender, adiar para as calendas, o debate sobre a malfadada proposta de lei. É inevitável lembrarmo-nos de algo idêntico, ocorrido quando o Governo de Hong Kong pretendeu implementar o artigo 23º da Lei Básica, referente à sedição e traição à Pátria. Proposta absurda, porque contrária às expectativas populares, independentemente das cambalhotas jurídicas que se executem para a justificar, viu-se igualmente obrigada a recolher ao covil do esquecimento, esperando por outros dias para voltar a emergir. Tal como deverá acontecer no caso da lei da extradição… O que leva então o Governo de Hong Kong, empurrado ou não por Pequim, a apresentar a proposta, nesta altura do campeonato? Ninguém previu a reacção popular? Além do mais, com a RPC envolvida numa guerra comercial com os Estados Unidos e com outros problemas mundo fora, seria a altura certa para provocar estas previsíveis ondas e logo na cidade conhecida pela erupção regular de dissidência e irreverência? Um país que joga go certamente que pensa em questões territoriais e na procura do equilíbrio interno como condição para a procura de poder. Pois não parece. A RPC demonstra uma incapacidade teimosa quando na mesa está Hong Kong, um bloqueio, um trauma, uma aflição. Esvai-se a sapiente e milenar paciência, ruge uma urgência de mando que pela mão suave seria mais simples de adquirir. Pequim espuma à menor travessura deste seu desejado filho. E talvez este facto devesse ser caso de reflexão profunda e de auto-análise no seio de vários comités, centrais ou periféricos. Com certeza que não é a necessidade premente de prender e extraditar perigosos agitadores na ex-colónia que motiva a acção, resulta em tanto barulho e uma mão-cheia de novos problemas e antipatias. O caso dos livreiros já nos ilustrou sobre os métodos e a matéria. É que para a população parece tratar-se, além de uma questão de liberdade, de um problema de segurança. O medo incrusta-se não apenas no político, no activista, mas também no comerciante, no industrial, no banqueiro, no especulador. E este medo, esta reacção pronta de um milhão de pessoas não era de prever? Bem pode o Global Times atribuir os protestos a uma intervenção estrangeira que, neste caso, a própria dimensão da manifestação o desmente. É certo que em Hong Kong existe uma quantidade enorme de agentes estrangeiros (só os EUA têm cerca de mil funcionários no seu consulado), alguns talvez com a missão de desestabilizar as relações com a RPC. Mas, na verdade, com propostas destas, não precisam de exibir uma grande performance. E o Governo de Carrie Lam? Não previa esta maré de protestos? Por quê avançar com esta medida, nesta altura? Depois de alguma reflexão, só encontro uma explicação para a apresentação desta proposta de lei: chama-se Grande Baía. O projecto da Grande Baía é uma das grandes apostas do Governo Central, com o objectivo expresso de intensificar a comunicação entre Macau, Hong Kong e as cidades da província de Guandong, de modo a que no futuro constituam uma região unificada; comercialmente, culturalmente, talvez politicamente, se pensarmos no pós-2047/49. Afinal, pensar-se-á em Pequim, Cantão sempre foi uma porta para o exterior, lugar de estrangeiros, tal como Macau e Hong Kong, portanto não será difícil a esta gente do Sul entender-se. A Grande Baía é um modo de potenciar a região mas, inevitavelmente, também diluirá as diferenças entre as três regiões presentes. E que diferenças… Para o caso vertente, foquemo-nos nos sistemas jurídicos: temos três e todos bem diferentes. Em Macau predomina o chamado “continental”, europeu, um corpo legal façanhudo e romano-germânico. Em Hong Kong, pratica-se a dita Common Law, o direito anglo-saxónico, fundado principalmente na jurisprudência e no “confusionismo”. Já na RPC, estamos perante um direito baseado no direito continental europeu, mas atravessado de derivas incompatíveis com os outros dois, sendo o elefante maior o facto de não existir separação de poderes entre o judicial e o executivo. Ora ao pretender uma união comercial, facilitar a circulação de pessoas e bens nesta Grande Baía, torna-se óbvio que surgirão conflitos legais, duros de roer e de resolver. Burlas, fraudes, golpes, golpadas e golpinhos por essa Grande Baía fora. Como controlar isto sem uma lei da extradição, que permita uma acção rápida e coordenada das autoridades em questão? É virtualmente impossível, um controlo condenado ao fracasso. Daí a emergência extemporânea desta proposta de lei, ainda que dela tenham sido excluídos a maior parte dos crimes económicos. Trata-se, é bom de ver, de um caso em que o carro é colocado à frente dos bois. Estranhamente, a RPC parece ter pressa de integrar Hong Kong, assumindo uma atitude pouco condicente com a postura reflectida e equidistante que tem exibido no actual palco das relações internacionais. Contudo, o que aqui demonstra é uma inusual incapacidade de compreender onde fica a linha da harmonia ou até onde pode o bambu vergar sem se partir. É verdade que a RPC está debaixo de fogo. Os Estados Unidos de Trump alargam as esferas da guerra comercial e, obviamente, procuram descredibilizar a China em diversas áreas. Hong Kong é, todos o sabem, um espaço onde esses “inimigos” pululam e agem. Mas, para contrariar essa acção, a RPC tem de contar com o apoio da população local e não com a sua animosidade. Tem de lhe instilar o “novo sonho chinês”, de uma nova Grande China, forte, plena e una, em 2047/49. Uma China de características globais, onde a liberdade dos cidadãos não entra em conflito nem põe em causa a autoridade do Estado, onde predomine a meritocracia, a justiça seja independente e a criatividade abençoada. A proposta de lei do Governo de Hong Kong, as manifestações populares, a carga policial, a entrevista de Carrie Lam, finalmente, a suspensão do debate e da consequente aprovação da lei parecem invocar a máxima de Shakespeare: “much ado about nothing”. Mas não. Aqui estamos perante um caso de “much ado about everything”. E este “everything” é a forma de sociedade prometida, a liberdade do cidadão, o estado de direito, a crença na irredutibilidade do indivíduo e no valor supremo da sua vida.</p João Romão VozesCidades, felicidade, casas e processos participativos [dropcap]T[/dropcap]alvez a mais elementar sensatez sugerisse que este fosse assunto deixado exclusivamente ao livre arbítrio dos poetas, ou quando muito de alguns filósofos mais versáteis, mas pelos vistos também há economistas e outros analistas de contabilidades várias a dedicar-se ao tema: a felicidade, nem mais, por estes artífices (entre os quais me conto, já agora) brutalmente transformada em objecto de medida, com as suas engenhosas classificações e os seus inevitáveis “rankings” internacionais, superiormente decretados sob os auspícios da ONU (quem mais nos poderia valer nesta tão premente necessidade civilizacional e planetária, aliás?) e validados por cientistas de renome internacional. Meça-se a felicidade, então, assim por atacado, em cada país, para podermos comparar-nos enquanto povos mais ou menos felizes. Desde 2012 que isso é feito pela “Sustainable Development Solutions Network”, das Nações Unidas, e daí resulta o “World Happiness Report”, publicado desde 2012. Nesta quantificada – mas nem por isso menos subjectiva – contabilidade da felicidade dos povos, ganham sistematicamente, e com apreciável vantagem, os do norte da Europa: na mais recente versão deste gracioso “ranking”, publicada há um mês e com dados referentes a 2018 – Finlândia, Dinamarca, Noruega e Islândia ocupavam os quatro primeiros lugares, ficando a Suécia pelo 7º. Holanda, Suíça, Nova Zelândia, Canadá e Áustria completam o “top-10” desta tabela, posições manifestamente inacessíveis para os povos da Europa do Sul (a França está no 24º lugar e a Espanha no 30º), da América Latina (com excepção da particular Costa Rica, num magnífico 12º lugar, o melhor é o Chile, em 26%) ou da tragicamente infeliz África (a Líbia ocupa a mais destacada posição, no 72º lugar, ainda assim atrás de Portugal, na mui modestamente feliz 66º posição). Tem sido mais ou menos assim desde que o relatório é publicado. Verdade seja dita, mesmo que esta contabilidade só muito remotamente possa ser vista como uma aferição relevante da felicidade nacional (seja lá isso o que for), não deixa de sintetizar alguma informação interessante sobre a satisfação de cada povo com a vida que leva – assim numa média relativamente grosseira, que dentro de cada país as diferenças são muitas. O índice é construído tendo em conta indicadores socioeconómicos (riqueza, apoios sociais ou esperança de vida) e de confiança nas instituições (liberdade de associação e de voto, percepção sobre corrupção ou sensação de segurança), cujo impacto nas nossas efémeras existências não é certamente negligenciável. A cultura é que não traz felicidade – isso já se sabia – e talvez por isso não precise de ser contabilizada nesta medida da felicidade humana segundo a ONU. Vem isto a propósito de ter tido por estes dias a oportunidade de visitar a Finlândia, o país que lidera este ranking, terra de generalizada felicidade segundo os critérios cientificamente avalizados que a ONU utiliza. Participando numa conferência em que o tema geral era a planificação de cidades contemporâneas, o dito ranking foi várias vezes objecto de conversa – e ocasionalmente de sarcasmo, tendo em conta a generalizada circunspecção nórdica e a relativa escassez de sorrisos, já para não falar em abertas gargalhadas. E se havia algum consenso em relação à impossibilidade de se medir a felicidade com base nestes atributos, também se ia concordando que os ditos indicadores oferecem pistas relevantes em relação à forma como as pessoas se relacionam – de forma mais ou menos satisfatória – com os contextos socioeconómicos e institucionais em que vivem. Acabei por ter um exemplo clarificador numa visita guiada a uma zona portuária em profunda renovação no sul da cidade de Helsínquia. Um arquitecto da autarquia explicou com detalhe pormenores relativos ao desenho de espaços e edifícios, que incluem, por exemplo, caminhos a ligar blocos residenciais, espaços verdes e escolas que permitem a qualquer criança deslocar-se entre estas áreas sem ter que atravessar ruas com tráfego automóvel. Este desenho corresponde, naturalmente, a uma opção política sobre o que deve ser a cidade, mas há outras, tão ou mais relevantes: por exemplo, das habitações que vão servir cerca de 20.000 novos residentes, apenas 45% são transaccionadas no mercado (as restantes são atribuídas por concurso com rendas sociais ou sorteadas e vendidas a um preço a que não supera os custos de produção). Visitando a zona, não se consegue distinguir os vários tipos de habitação, que parecem bastante semelhantes independentemente do regime de comercialização ou utilização. Uma intervenção desta natureza e dimensão tem também o efeito de reduzir a procura de casas no circuito comercial e, por essa via, contraria a tendência para a subida preços. Quem nos mostra esta nova parte da cidade é um jovem investigador de doutoramento na Universidade de Helsínquia, também pertencente a uma organização de residentes que participa frequentemente nas discussões sobre planos urbanísticos na cidade. Em resultado dessa participação sistemática, foi convidado – com outras pessoas de perfil semelhante – a servir de “mediador” entre grupos organizados de residentes e a Câmara Municipal nos diversos processos de planeamento urbanístico em curso (entre os quais, o desta zona da cidade). Estas práticas institucionais que envolvem as pessoas nos processos de planeamento das suas cidades são radicalmente diferentes das práticas a que costumamos assistir, por exemplo, em Portugal. Da mesma forma, intervir na questão da habitação disponibilizando milhares de casas fora dos circuitos comerciais promove a defesa das pessoas contra o poder das empresas imobiliárias e financeiras. São opções políticas possíveis. E se calhar até ajudam a que se tenha alguma felicidade, afinal de contas. Pelo menos será mais fácil estar satisfeito com a economia e a democracia. Hoje Macau Folhetim h | Artes, Letras e IdeiasA dama do chá [dropcap]O[/dropcap] Inferno não existe. Não é preciso. A vida é que é uma longa agonia. O velho padre Afonso dos Reis dissera isso a Cândido Vilaça, quando este tentara confessar-se pela primeira vez. E pela última. O padre, depois de ter percorrido o Extremo-Oriente tentando converter todas as almas possíveis, também parecia desiludido e cansado. Cândido tinha um saxofone para poder respirar. Ao padre restava a fé. Afonso dos Reis nunca voltaria às sua Beira-Alta portuguesa. Ficaria ali, na poeira que um dia quisera transformar no caminho para o paraíso. Cândido Vilaça lembrou-se do padre quando saiu da casa de pasto “O Alvoroço” e sentiu o choque sufocante do calor. Ao contrário dos chineses, que comiam peixe frito ou arroz com galinha, pedira cogumelos em molho de caranguejo. Isto enquanto bebia várias cervejas. Agora voltava a deparar-se com o inferno do calor. Ajeitou o chapéu e começou a percorrer a rua que o levava até à loja de Jin Shixin, na Avenida Almeida Ribeiro. Sorriu ao lembrar-se das palavras do padre: – Deus está interessado na Terra tal como no Céu. Na luz do Céu como na de uma vela, nos discípulos como nos anjos. Ou nos diabos. No ordinário e comum, como na santidade. Às vezes duvidava, mas quem era ele para questionar o que era muito mais complicado do que tocar saxofone ou pôr as pessoas a dançar? Viu riquexós, mas decidiu continuar a caminhar ao sol, como se quisesse expiar ali todos os seus pecados. Até chegar à loja não deveria conseguir esse intento. Por ele passaram chineses com caixas de bambu ao ombro, gente pobre, sem nada, que apenas procurava sobreviver. Nisso, não eram tão diferentes dos portugueses. As mulheres portuguesas, sempre solitárias, caminhavam de guarda-sol para se protegerem do calor e da luz. Vinham de diferentes locais, para a missa ou para a confissão, que as esperava numa das muitas igrejas de Macau. Sentiu, por vezes, o odor do ópio, enquanto se afastava dos cães e galinhas que percorriam a rua em busca de comida. Continuou a caminhar calmamente até ao “Jardim Celestial”, a loja de chá de Jin. Quando chegou, ficou do outro lado da rua, à sombra. Perto estava um chinês magro, vestido com uma cabaia de ganga, que olhava fixamente para a porta da loja, enquanto conversava com um homem mais velho, vestido com um fato de linho. Quando este levantou a cara, reparou que era japonês. Disse qualquer coisa e afastou-se. Então o chinês voltou-se para Cândido. Este não deixou de se surpreender. Apesar do cabelo curto, de rapaz, a face dele traía-o. Era uma rapariga, ainda jovem, que o fulminou com o olhar. Como se ele estivesse ali a mais. O português sentiu-se intimidado. Antes dela se virar e começar a andar até outro ponto da rua, Cândido percebeu: a rapariga não era chinesa. Era japonesa. Deixou passar uns minutos, mas quando atravessou a avenida não viu sinal da japonesa. Entrou e deparou-se com Wen Xiao. Este inquiriu-o com o olhar, sem dizer nada. Cândido disse apenas: – Venho falar com a menina Jin Shixin. Depois decido se levo chá. Wen Xiao olhou para ele com desdém. Mas, quando ia responder, surgiu Jin. Sorriu e disse: – O senhor Cândido pode entrar. É um amigo. O chinês não pareceu convencido, mas desviou-se e deixou Cândido caminhar até junto de Jin e depois segui-la para uma pequena sala interior. Ela sentou-se num pequeno banco e fez-lhe sinal para ele se sentar noutro, que estava perto. – Quer um chá? – Para já não. – Qual é o motivo da sua visita, então? – Mera cortesia. Estava aqui perto e decidi vir comprar chá. Dizem que aqui é possível encontrar o melhor que há em Macau. Ela sorriu, mas os seus olhos estavam alerta. Cândido disse então: – Talvez por isso tem clientes japoneses. Ou terá brevemente. – Porquê? – Um, ou melhor, uma japonesa que parece um rapaz, estava aqui defronte a espiar. E outro estava a conversar com ela, mas fugiu assim que me viu. O olhar dela não revelou nenhum pânico. – Eu sei que eles estão ali. – Acredito. Mas, depois do que aconteceu nas Ruínas de São Paulo, e do que agora vi à entrada, pergunto-me: o que querem os japoneses de si? Claramente estão em choque. – Ainda não percebeu, Cândido. É ingénuo? – Às vezes sou. Por isso é que preciso que me expliquem o que não entendo. Macau é uma terra pacata. – Só na superfície. A guerra está aqui. E separa-nos, chineses e japoneses. Sabe o que eles fizeram em Xangai, não? Cândido fechou os olhos, como se não quisesse recordar-se. – Então sabe o que nós combatemos aqui, em Macau. Só os portugueses não repararam na rede de espiões que eles aqui têm, tal como em Hong Kong, na Malásia ou em Batávia. E seguem-me. Tal como eu os sigo a eles. – E quem são eles? – Um, conheceste nas Ruínas de São Paulo. Chama-se Toshio Nomura, e tem uma empresa de importação e exportação, no Largo do Leal Senado. Viveu muito tempo no Brasil e fala português. Depois há outros que vagueiam entre Macau, Hong Kong e Xangai. E há alguns portugueses, que lhes dão informações importantes. – Portugueses? – Alguns sim. Não te espantes, Cândido. Face ao dinheiro, todos têm fraquezas. Um deles é o teu amigo Prazeres da Costa. Era ele que estava com o Nomura, caso não tenhas percebido. Cândido sondou os olhos de Jin. Ela não mentia. Mesmo que não dissesse toda a verdade. – O perigo nem sempre está nos recifes, muitas vezes está no mar aberto. À vista de todos. A guerra não é um jogo de mahjong. E está agora a desenrolar-se nas ruas de Macau. E tu, sem o quereres, fazes parte dela. Deixaste de poder esconder-te na sombra, à espera que a tempestade acalme. Que lados vais escolher? Ou, simplesmente, vais tentar fingir que nada é contigo? Cândido percebeu. De nada lhe valia agora dizer que era português. Ou músico. Ou que só queria a paz. Os japoneses já o tinham colocado ao lado dos chineses de Jin. Levantou-se devagar e a chinesa fez o mesmo. Aproximaram-se e, quase sem querer, Cândido beijou a face de Jin. Esta não se afastou, como se o esperasse. E quisesse. Ficaram durante alguns segundos a olhar um para o outro, sem saber o que fazer. E Cândido voltou a beijá-la, agora nos lábios. Quando se afastaram, ele virou-se e saiu. Quando chegou à rua inspirou o ar pesado. O calor não pareceu ser tão infernal. Viu a rapariga japonesa que tinha voltado para o lugar onde reparara nela pela primeira vez. E, sem saber porquê, relembrou algumas palavras do padre Afonso dos Reis. – Sabes, Cândido, os homens residem num mundo que não governam. São os imortais, os deuses, que velam por nós. Foram eles que deram forma ao mundo. Os homens não conheciam a morte, mas quando se encerraram no seu círculo, começaram a morrer. O Céu é agora o refúgio dos imortais, os deuses que, como os gregos acreditavam, vivem no Olimpo. A Terra foi legada aos homens que envelhecem e morrem. E o Inferno é o abrigo dos que já morreram. Por isso importa viver e estar do lado da verdade. Para que um dia possamos perceber a razão dos imortais. Valério Romão h | Artes, Letras e IdeiasLisboa, capital do barulho [dropcap]N[/dropcap]a ínfima possibilidade de Lisboa um dia se tornar uma cidade minimamente civilizada, este tempo em que vivemos será lembrado com um travo de repugnância ao falar-se dele e sem pinga de saudade. Embora a massificação do turismo tenha tido o condão de estimular a reabilitação de muitos edifícios devolutos em Lisboa (e com isso os sectores muito específicos da construção e hotelaria), diria que foi das pouquíssimas coisas boas que o turismo trouxe. Não lhe subjaz no entanto qualquer intenção benemérita: uma cidade com tanta afluência turística vê-se obrigada a aproveitar todo o espaço disponível se quer incrementar as vendas dos típicos patos de borracha ou dos milenares pastéis de bacalhau com queijo da serra. No fundo, a reabilitação imobiliária é apenas uma externalidade positiva, um efeito colateral do turismo, algo que as empresas do sector dispensariam de bom grado se outra forma de garantir o mesmo lucro houvesse. De resto, a albufeirização em curso tem sido pródiga a produzir efeitos negativos: escassos transportes públicos sobrelotados (os nativos ainda levaram algum tempo a aceitar o confisco turístico do eléctrico 28), subida olímpica dos valores das rendas, multiplicação descontrolada dos alojamentos locais, descaracterização progressiva da cidade, dos seus bairros, extinção lenta mas inexorável de um modo de vida incapaz de sobreviver sem aqueles que nele participavam, implosão gradual do comércio de proximidade, substituído por lojas de bugigangas inúteis e botecos gourmet nos quais se comercializa uma banalidade sobreadjectivada a preço de estrela Michelin, lixo, confusão e barulho. Muito barulho. Lisboa nunca foi generosa para com os seus no que diz respeito à permissividade com que lida com o ruído produzido, nomeadamente o nocturno. Quando não o estimula directamente, mediante a organização ou promoção de eventos, autoriza-o com a emissão de licenças. Em Junho, então, é freestyle. São os santos, as barraquinhas de farturas com colunas do tamanho de barris de cerveja a debitarem um medley dos peitos da cabritinha e da garagem da vizinha em loop, os gritos ébrios na rua às tantas da manhã e os múltiplos transportes que levam esta gente dos sítios onde se embebedam para os sítios onde dormem. Quem se pode legitimamente queixar quando em doze meses de sono possível só um lhe é perturbado? Há pouco tempo foi criado um grupo público de discussão no Facebook, chamado Menos barulho em Lisboa, no qual os seus participantes escrevem sobre a poluição sonora que, muito por via do crescimento exponencial do turismo, tem retirado tranquilidade às suas vidas. São relatos de ruído caucionado ou estimulado pelas autoridades que deviam proteger aqueles cuja ecologia vital se encontra ameaçada das mais diversas formas. Percebe-se a natureza displicente do fenómeno: a Câmara, como uma loja da Bershka, quer dar a impressão de que a cidade está sempre em festa, e quando não é ela própria a promover as mais diversas aberrações sonoras – a última delas um barco junto à Ribeira das Naus a debitar um tecno de after de má memória a tarde toda de um domingo – faz vista grossa a quem ultrapassa os limites em vigor. The show must go on. E é disso que se trata, de limites. E é nisso que esta gestão municipal tem sido péssima. Em entrando dinheiro, tudo o resto sofre de um efeito de desfoco ou de desvalorização de importância. A vida das pessoas, de Lisboa e dos seus habitantes, está indexada a uma dimensão apenas: a forma como podem não perturbar a ordenha da vaca leiteira em que a cidade se converteu. António de Castro Caeiro h | Artes, Letras e IdeiasLiberdade [dropcap]D[/dropcap]estino e fado são palavras muito antigas. O sítio onde se vai parar. A vida que foi predita. Se assim é, haverá margem de manobra para a escolha? Schelling diz o que Heidegger repete: deixar-se actuar pela liberdade. Ser livre é possível se temos um destino e um fado? Se temos uma destinação e uma predição como é possível escolher. Quantas vezes escolhemos na vida? Temos grandes superfícies para escolher o que queremos? Não queremos já antes de escolher? Podemos escolher vidas diferentes? Podemos fazer que o que não queríamos que acontecesse não tivesse acontecido? Podemos fazer acontecer aquilo que queríamos que tivesse acontecido? Lembro-me de, quando a sul, em Agosto, via uma estrela cadente. Pedia-se um desejo. Eu sei o que pedia. O mesmo se passava, quando soavam as doze badaladas na passagem do ano. Engolíamos doze passas e pedíamos um desejo. Eu sabia o que pedia. Pedir significa que não temos escolha. Gostaríamos de ter o que não temos ou ser quem não somos. Ainda. Há grandes escolhas na vida que estão feitas para nós. Assim, não as escolhemos: mãe e pai, família, país, época do ano em que nascemos, amigos que encontramos, gostos, desportos se for caso disso e livros que é o caso. Sem ler não há viver. Mas como se fazem as pequenas escolhas? Como é possível escolher? Sobretudo, quando podemos perder e dizer não ou não dizer sim? Lembro-me muito bem de como, infante, não queria estar no próprio corpo nem fazer o que me diziam para fazer ou então só viver a vida que viviam para mim. Como ser livre? E como ter uma ânsia de liberdade? O que é ser livre se somos obrigados a ser livres? Querer uma coisa implica trabalho. Os gregos achavam que se queríamos alguma coisa ela não viria sem trabalho. Hércules e Jasão ou Perseu, o meu herói de sempre, sabiam disso. Para libertar uma mãe, um País, ou alguém ou até só o próprio. Ser livre é também livrar-se de qualquer coisa ou do alguém que não gostamos de ser. Como nos libertamos para nós próprios? Como pode o rei Édipo não se cegar, depois de partilhar a cama com a sua mãe e matar o seu pai? Como podemos nós não ser quem nós somos, quando não queremos ser os próprios? Os próprios são os outros que somos. Temos um apego a nós e não queríamos ser outros. Contudo, a vida pode ser outra, diferente, um mega gato que não quer e nós não somos donos de nada. Quando aparece um amor, é uma escolha? É a possibilidade de ser livre? Primeiro, há a beleza, que tanto queremos ter por perto. Depois, a liberdade política, deixar e querer ser livre, fazer livre. Depois, talvez a morte, quando não temos escolha. Mas a vida é para a escolha. Tanto que morrer pode ser opção. Ficar livre de si para sempre. Ou assim Hamlet pensa. Ser ou não ser, não ser é ser ainda do lado de cá da vida. O acto criativo por mais mínimo que seja é o que liberta. A gentileza liberta. A amabilidade liberta. Mas um poema alinhado ou então uma canção que se diz a medo também liberta. Um beijo liberta. Um livro lido ou ensaiado liberta. E passamos a vida inteira a ser o que os outros querem que sejamos ou então só nós para nós. Muda de vida! Como se pode mudar de vida? Só numa escolha complexa. Não é intelectual. É prática. É ser a fazer. Quem não faz o que é não compreende o que é para ser. Quem não compreende não explica. E queremos que tudo seja diferente ou que tudo seja exactamente como é e tem sido até agora. Que escolha? Como escolher quando não se pode escolher? Só escolhemos quando não podemos ser o que somos ou não queremos ter o que temos? Há uma ânsia de liberdade que é uma ânsia de amor. A verdade há-de nos libertar. A verdade revela-se. Ser outro, ser diferente, ser de outra maneira consigo e com os outros. O mundo é outro quando o amor se revela. Uma estrela dançante ou cintilante ou atirada para o céu, quando todos os outros estão aí connosco e saem de cena ou entram em cena. Como gostaria de compor um poema, quando o poema vem e pede para ser escrito. Como eu gostaria de compor uma canção no trânsito quando pede para ser cantada. Como eu gostaria de ensaiar um pensamento quando ele se forma tão consistente à espera de ser pensado e dito. Ou só ter uma rapariga. Falar com ela à beira mar, mesmo quando é inverno, entrar pelas águas frias da Fonte da Telha. Falaríamos dos nossos pais e lutas e futuro. Escolher é ter futuro. Não. Escolher é fazer o futuro. É tão bom não estar só e não ser só. E ver alguém que connosco é livre. Ser livre é também ser feito livre. Ser livre é libertar. Como o combatente que não mata para matar mas para libertar pessoas. O amor, a verdade, são os elementos da escolha. Sem escolher não somos. Não há igualdade de oportunidades. Há uma talvez. E escolher faz de nós quem somos. Somos o que escolhemos. E se for em nome do amor, então, fomos! José Navarro de Andrade h | Artes, Letras e IdeiasCrepúsculos [dropcap]S[/dropcap]erá da idade ou dos tempos, ou do adquirido entendimento que ela me repassou deles – o que sucede é cada vez gostar mais de menos coisas. Por um fenómeno de paralaxe, a quem rebola no encalço das sazonalidades e suas centrifugações há-de parecer isto um horizonte que se estreita. Descreiam-se disso, que não sois falcões atentos, antes avezitas atordoadas e voláteis; é garimpo, ó estrábicos, e mais enxerguem que de tanto descer à mina se alcança o privilégio de esgravatar um filão incessante em ceder pepitas de fino quilate, que nem um par de vidas chegaria para esgotá-lo. Há quem chame a isso “cultura”, mas é palavra (e conceito) falaz e corroída como nenhuma outra. Numa dessas noites não menos trivial do que outras, aconteceu tropeçar televisivamente no mal enterrado “The Sun Also Rises.” O filme passou ao largo dos êxitos e referências de 1957 e foi sumamente desconsiderado pela história e até da melhor crítica. Vale contudo a pena reparar em certas obras falhadas, sobretudo nas que resultam aquém da sua ambição. Esse hiato entre o que pretendiam e o que lograram deixa à mostra a sua mecânica e a sua dinâmica. Se além disso a opulência dos meios de que dispuseram mais não segregou do que lugares-comuns (é sabido que quanto maior o investimento, menor o risco que se deseja correr), tanta vulnerabilidade acaba por fazer de “The Sun Also Rises” o exemplo indiscreto e desprevenido da declinante Hollywood dos anos 50. Vai o filme andando e nós percebendo que a realização foi endossada a Henry King, garante de uma cómoda competência industrial, isenta das então larvares lérias do autorismo (dele caberiam num clip do Youtbe os highlights de toda uma carreira). Por todo o lado o que se vê é a mãozinha de Darryl Zanuck o omnipotente faraó dos estúdios da Fox – ”Don’t say yes until I finish talking” – e por esta altura a parear com Jack Warner como o último moicano do modus operandi da Hollywood dos bons velhos tempos. Não deixa de ser delicioso o aroma falsandé de “The Sun Also Rises”, a crença cega no velho e relho jeito de encher o olho com todo o luxo que o dinheiro pode dar e de almejar caução artística por via da nobre literatura. (Se os aprendizes de hoje pusessem os olhos nestes fiascos talvez não debitassem tantos iguais…) Hemingway, tão tolo quanto tonto em coisas do cinema, odiou o filme pelas razões erradas. Achou que traía a letra do romance sem entender que só avacalhada e revolvida da literatura surtem bons filmes. Nisto o cinema é implacável como tão bem o demonstrou “To Have and Have Not”, belamente deturpado o original de Hemingway pelo argumento de Faulkner e pela câmara de Howard Hawks. Mas o mais perturbante, e perturbadoramente esplêndido, de “The Sun Also Rises” é o elenco. O filme é um invulgar exercício de crueldade. Falhos de direcção Tyrone Power e Mel Ferrer, caras de pau, aborrecem por se levarem demasiado a sério. Mas Errol Flynn e Ava Gardner apoderam-se das personagens como o diabo de uma alma, e expõem despudoradamente a sua decadência. Intumescido e balofo, degradado pelo alcoolismo, Flynn abandona-se ao papel de um bêbado com a desinibição e o sarcasmo de quem já nada espera dos filmes e nada tem neles a provar. Vê-lo aqui é divertido e aterrador ao mesmo tempo. O seu último plano do filme encerra todas as premonições de uma morte iminente: põe os olhos em alvo para o infinito e é tão patético quanto a pose de pé estribado para que o graxa lhe dê lustro aos sapatos. Ele lá sabia que dali a dois anos, com 50 de idade, desceria à cova. O guião pedia a Ava Gardner que em determinada cena seduzisse o imberbe toureiro. Numa época em que às mulheres se exigia o recalcamento de uma Doris Day, o que ela nos proporciona é o devasso espectáculo de si mesma. Gardner solta uma descarga de feromonas sem qualquer fingimento, executa um assédio de pantera liberto do véu da representação. Duvida-se que não seja autêntico o susto exibido por Tyrone Power, reduzido nessa cena à função de pau-de-cabeleira. Se pelo artificio “The Sun Also Rises” queria dizer umas coisas importantes, das que os filmes gostam de proclamar quando se põem em pontas, pelos seus defeitos ele acaba por nos revelar outras coisas bem mais interessantes. Não há glória nem regalia nisto, apenas mais realidade. Sofia Margarida Mota EventosArtfusion | Associação celebra sexto aniversário com evento inclusivo O sexto aniversário da Artfusion vai ser marcado pela realização de um conjunto de actividades que reúnem alunos da associação e pessoas portadoras de deficiência mental, numa iniciativa “verdadeiramente inclusiva”. Exposições, performances e um flashmob estão no programa do evento que tem lugar domingo, entre as 17h e as 19h no CURB – Centro de Arquitectura e Urbanismo [dropcap]A[/dropcap] associação Artfusion assinala o seu aniversário com a promoção do (He)Art, um evento que usa o trocadilho feito com a palavra coração em inglês. O objectivo é, desde logo, reflectir “a arte e amor” com que foi produzido, conta a responsável pela Artfusion, Laura Nyögéri, ao HM. O evento está marcado para o próximo domingo, entre as 17h e as 19h, no CURB – Centro de Arquitectura e Urbanismo, junto à Ponte 9. Tal como em outros projectos levados a cabo pela associação que aposta na educação pela arte, o (He)Art pretende impulsionar a inclusão de pessoas portadoras de deficiência através da sua integração artística. O evento junta assim, o trabalho dos alunos da associação e de membros da IC2 – I Can too – a primeira organização de Macau dedicada ao apoio a pessoas com incapacidades intelectuais. Entre a organização e os participantes, estão envolvidas cerca de 70 pessoas na iniciativa: 40 crianças alunas do Artfusion, 20 membros do IC2 com idades compreendidas entre os cinco e os vinte anos, e 10 elementos que coordenam as actividades, esclarece Laura Nyögéri. Para o efeito o (He)Art vai desdobrar-se em várias iniciativas que vão da exposição das criações artísticas, a “algumas pequenas performances de dança e expressão corporal”. A actividade “mistura as artes performativas com as artes visuais através de pinturas, desenhos, ilustrações, colagens, origamis, fotografia e instalações de arte, onde a exploração monocromática, entre o preto e o branco são a tónica dominante enquanto símbolos da própria associação”. Para terminar, está programado um flashmobe “que envolverá todos os participantes num momento único e divertido”, garante a organizadora. Homenagem a um amigo A acompanhar o evento fica a homenagem ao recentemente falecido fotógrafo local, Nico Fernandes, que colaborou com a Artfusion. A contrastar com as outras actividades monocromáticas “a cor também acontece nesta pequena exposição fotográfica”. “’O MEU AMIGO NICO’, é uma simbólica homenagem e exposição de fotografia de um grande artista e amigo que nos deixou recentemente”, sublinha Laura Nyögéri. O agradecimento é assim deixado ao fotógrafo que “através da sua lente, conferiu um estatuto visual, uma identidade à Artfusion”. No mostra vão constar os trabalhos fotográficos de Nico Fernandes que mais representam estes seis anos de actividade da associação. Caminho sinuoso Laura Nyögéri orgulha-se de conseguir criar aquilo que considera “uma iniciativa verdadeiramente inclusiva”. No entanto as dificuldades para levar a cabo este tipo de actividades em Macau ainda são muitas. A responsável destaca a necessidade de “potenciar recursos humanos, financeiros e materiais que permitam a sustentabilidade destes projectos educativos, artísticos e inclusivos”, salientando que para se atingirem resultados é necessário que estes projectos deixem de ser pontuais e assumam um estatuto de continuidade. Acrescem ainda as situações em que “os apoios são difíceis, há dificuldades para encontrar espaços para realização de aulas e ensaios, as respostas a propostas apresentadas que chegam tardiamente, além da existência de uma ‘ponte’ de preconceitos que é preciso atravessar”. Por outro lado, e não menos importante é a necessidade de mais envolvimento por parte da comunidade. Mas entretanto, a Artfusion não podia estar mais satisfeita com os objectivos alcançados em seis anos de uma actividade baseada na “liberdade de expressão e pela expressão de liberdade, de todos”. Note-se que o evento serve também para apoiar a IC2. Os “trabalhos artísticos estão ao dispor do público, e podem ser adquiridos com doações dos interessados” que revertem integralmente para a organização de apoio a pessoas com deficiência mental para que possam “dar continuidade às aulas de artes visuais e performativas”. Hoje Macau SociedadeCarne de porco | Macau volta a ter venda de animais vivos [dropcap]A[/dropcap] empresa Nam Yue, Nam Kwong e a Companhia de Produtos e Produções especiais da China declararam nesta quarta-feira, que o fornecimento de carne de porco vivo em Macau é estável. Depois da instabilidade no sector devido à epidemia de Peste Suína Africana no continente, na semana passada foram fornecidos mais de 300 porcos vivos por dia a Macau, um número acima do que acima do que era usual antes da doença. Se for detectado algum problema com os animais que vêm para Macau, toda a carga do veículo em que estiverem transportados regressa ao continente. De modo a evitar os custos associados a este tipo de operação as empresas estão a considerar instalar um local de transbordo em Zhuhai. Raquel Moz EventosSão João | Arraial volta a São Lázaro mesmo que a chuva caia Sardinhas, bifanas e cerveja não vão faltar no Arraial de São João, marcado para o fim de semana de 22 e 23 de Junho. O Bairro de São Lázaro volta a crescer, este ano com mais barracas e mais grupos musicais [dropcap]O[/dropcap] Arraial de São João volta ao Bairro de São Lázaro nos dias 22 e 23 de Junho, sábado e domingo, uma iniciativa que se repete pela 13ª vez e conta com mais adesão a cada ano. A organização apresentou ontem, em conferência de imprensa, o programa da festa, que este ano terá mais barracas de artesanato e de “comes-e-bebes”, cerca de 45 contra as 30 de 2018, e mais grupos musicais no elenco, que este ano serão à volta de uma dezena. O formato é semelhante aos anos anteriores e as preocupações são as mesmas. “Esperamos que a chuva não atrapalhe, como é costume nesta época. Nos últimos três anos houve sempre sol, mas no ano passado choveu um pouco”, começou por referir o presidente da Associação dos Macaenses (ADM), Miguel de Senna Fernandes. A festa de ano para ano “tem conquistado mais gente” e “começa a ser referida nos vários meios de comunicação do território, marcando o calendário turístico da cidade”, não só da comunidade portuguesa e macaense, mas da própria população chinesa local. “O Arraial já não é aquela festa dos outros, as pessoas já sabem que em Junho vai haver ali qualquer coisa no bairro. Mesmo amigos chineses já me perguntam muitas vezes, por esta altura, se não temos uma festa para aqueles lados…”, comentou. Este ano cresceu também o número de interessados em participar, tanto na exploração das barracas, como nas actuações musicais. Foi necessário avaliar bem o tipo de produtos artesanais e dos petiscos em oferta, para que fossem adequados ao espírito da festa popular que se pretende. “É uma festa de rua, uma festa das comunidades”, disse Miguel de Senna Fernandes, e não um “local para apresentação de produtos importados ou para revenda de artigos comprados nalguns desses sites online, que não são típicos de um arraial,”, acrescentou a presidente da Casa de Portugal em Macau (CPM), Amélia António. E o recado fica dado, “vamos estar atentos à decoração das barracas, para ver se estão apresentáveis e festivas”, e “eventualmente vamos nomear algumas pessoas, tipo inspectores da Michelin”, para passarem revista aos enfeites das barracas. “No futuro, os que não tiverem essa preocupação, talvez venham a ter consequências, como ir parar ao fundo da lista, caso o número de interessados aumente”, ameaçou com graça a responsável. Venha o bailarico O programa de sábado e domingo começa por volta das 14h30 e vai até às 22h00, hora a que o som da música acaba, por obrigações legais relacionadas com o ruído numa zona habitacional. A abertura das festividades contará com a tradicional Bênção e Missa de São João, no sábado, seguida durante os dois dias pelas participações de escolas, actuações de grupos musicais amadores, bandas jovens de rap e de jazz, e a apresentação ao vivo dos Senza, que vêm de Portugal a convite da organização para animar a festa local. É um “grupo de música portuguesa inspirado em viagens”, como são identificados nas redes sociais, formado pelo par Catarina Duarte e Nuno Caldeira. A expectativa dos organizadores é que o público continue a aumentar, como tem acontecido todos os anos. Quanto a estatísticas, é impossível saber ao certo. “É um feeling que temos”, brinca o presidente da ADM, “é que no Bairro de São Lázaro o espaço é exíguo, quando nos sentimos mais apertados ficamos felizes, porque é sinal de que há mais gente!”. Mas os indicadores são também outros: a velocidade a que desaparecem as sardinhas, as bifanas e as cervejas. “Costumamos falar também com as pessoas que vendem comida, sobretudo a mais tradicional, que são os mesmos que ali estão desde que há arraial. São eles que sabem melhor como foi o movimento, se a procura foi maior, se venderam mais. Temos assim uma noção da afluência das pessoas, são estas as nossas estatísticas”, reforça a presidente da CPM. Orçamento e parcerias O orçamento da iniciativa rondará este ano as 500 mil patacas, um pouco acima, dado o enorme aumento dos preços praticados pelos fornecedores dos serviços necessários para montar a festa. No ano passado, a verba prevista era entre 400 e 500 mil patacas. O principal apoio é da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), as restantes associações têm ainda verbas atribuídas pela Fundação Macau para a sua participação na iniciativa, segundo os organizadores. Os parceiros, além da ADM e da CPM, são também a Associação Promotora da Instrução dos Macaenses, o Instituto Internacional de Macau, a Associação dos Jovens Macaenses e a APOMAC – Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau –, sem esquecer a participação especial da Escola Portuguesa, não a nível institucional, mas com assento sempre presente na organização do evento. A festa é garantida, “faça chuva ou faça sol”, e apenas se pede às famílias que estejam de olho nas crianças, já que todos os anos têm havido receios de que alguém se possa magoar nas correrias e subidas de escadas, que a organização não pode vedar ou controlar. Concurso | Melhores vídeos dão prémios “Os Melhores Momentos do Arraial de São João em Vídeo – IIM 2019” é o título do concurso que o Instituto Internacional de Macau lança este ano a todos os jovens interessados em participar. A ideia é retratar e captar as melhores imagens da festa, durante os dois dias, com qualquer tipo de dispositivo, incluindo telemóvel. Podem ser utilizadas aplicações criativas e efeitos especiais, não devendo os trabalhos exceder os dois minutos de duração. O vídeo deverá ser publicado na página de Facebook do Arraial de São João (@MacauSaintJohnFestival), após ser feito o “like” à página e o “upload” do ficheiro. O concurso encerra às 17h horas de domingo, dia 23 de Junho, e o anúncio dos prémios será realizado na mesma tarde pelas 19h através do Facebook. Os vencedores terão que estar presentes no Arraial para receberem os prémios: 1º Lugar – 2 mil patacas, 2º e 3ºLugares – 500 patacas. Os vídeos premiados e respectivas imagens serão utilizadas para o anúncio promocional do Arraial de São de João do próximo ano. Hoje Macau SociedadeAACM | Aprovados novos procedimentos para aterrar em Macau [dropcap]A[/dropcap] Autoridade de Aviação Civil de Macau (AACM) anunciou ontem, em comunicado, que foram aprovados novos procedimentos para aterragens no Aeroporto Internacional de Macau, um processo para o qual a Air Macau contribuiu. Desta forma, os operadores aéreos “podem diminuir o número de voltas e desvios de voos resultantes de condições meteorológicas desfavoráveis quando fazem aterragens (do lado norte para o sul) na pista 16”, pode ler-se. Os novos procedimentos “garantem a segurança operacional e a eficiência das aeronaves quando aterram na pista 16” e estão relacionados com a implementação de padrões internacionais que começaram a ser analisados em 2017 entre a AACM e a Air Macau, com o contributo de uma consultora internacional. Sofia Margarida Mota PolíticaFilipinas | Declarações de cônsul desiludem empregadas domésticas As empregadas domésticas filipinas estão zangadas e desiludidas com a falta de apoio por parte da cônsul-geral das Filipinas em Macau, Lilybeth R. Deapera. Em causa estão as palavras ditas pela diplomata em que declarou que se estiverem insatisfeitas com as leis locais, como a exclusão do salário mínimo, não têm que vir para o território [dropcap]I[/dropcap]nsensível e sem empatia”, são as palavras usadas pela presidente do Sindicato Verde dos Trabalhadores Migrantes das Filipinas em Macau, Nedie Taberdo, para descrever a Cônsul-Geral das Filipinas em Macau, Lilybeth R. Deapera. A caracterização surge em reacção às declarações proferidas pela diplomata na passada quarta-feira. Lilybeth R. Deapera afirmou que as trabalhadoras domésticas que considerem injusta a exclusão da proposta de salário mínimo têm sempre a opção de não trabalharem em Macau. “São as forças de mercado que ditam e, claro, os trabalhadores podem fazer escolhas, se acham que não é justo para eles, têm a opção de não vir trabalhar para Macau. Eles devem considerar todas as possibilidades e pensar em como podem garantir que os seus direitos sejam protegidos”, disse Deapera à margem da comemoração do 121ª aniversário das Filipinas, citada pelo Jornal Tribuna de Macau. A intervenção da diplomata foi recebida com tristeza e ira por quem a via como representante e defensora de direitos. “Estamos zangadas e desiludidas”, sublinhou Nedie Taberdo ao HM. Ao invés, tiveram como resposta às preocupações “uma declaração sem nenhuma sensibilidade à realidade das pessoas que deveria estar a representar e a defender”, apontou Nedie Taberdo. “Somos empregadas domésticas, e se estamos aqui é porque estamos a tentar ter melhores condições de vida para dar à nossa família”, justificou. Para Nedie Taberdo “ouvir que não temos que trabalhar em Macau é uma falta de respeito por estas trabalhadoras que nem têm direito ao salário mínimo”. Discriminação regional A opinião é generalizada às colegas de Nedie Taberdo, que se sentem marginalizadas pela diplomata, aponta a responsável falando em nome da associação que representa. A descriminação não tem apenas que ver com as recentes declarações da diplomata que já tem historial no destrate das conterrâneas que trabalham na RAEM. Lilybeth R. Deapera “tem protegido as empregadas de Hong Kong, mas de Macau nunca ajudou em nada”, sublinha a activista. A razão que leva à ausência de apoio diplomático é desconhecida de Nedie Taberdo e das suas compatriotas, mas a cônsul-geral “em Hong Kong apoiou as empregadas domésticas imigrantes e agora naquele território, elas não pagam taxas de contratação às agências de emprego”, disse. Por cá, encontra-se em discussão na especialidade a lei que vai regulamentar o funcionamento das agências de emprego que não isenta as trabalhadoras do pagamento de taxa. Além disso, tem de pagar duplamente, primeiro na entidade das Filipinas e depois na agência de Macau. “Vamos estar sujeitas a pagar duas vezes”, lamenta. Entrada limitada A novo diploma para as agências de emprego não se fica por aqui em termos de restrições à contratação de trabalhadores filipinos. “Não podemos vir para Macau como turistas e temos sempre de nos submeter às agências. Seria muito mais fácil tratar das coisas cara a cara com os patrões e vir por recomendação. Por outro lado, como é que os empregadores podem ter acesso a um período à experiência de dois ou três dias para que possam avaliar o trabalho da candidata?”, questiona. A associação a que preside entregou uma petição à Assembleia Legislativa (AL) contra o novo diploma, no entanto ainda não têm qualquer feedback nem houve nenhuma chamada por parte dos deputados que disseram publicamente que pretendiam ouvir as opiniões das empregadas domésticas. “Estamos à espera para ver o que acontece na sequência da entrega da petição e depois logo pensamos no que podemos fazer. A AL aceitou a petição, penso que estejam a considerar e que voltem atrás quanto às taxas”, disse. Entretanto, o diploma que prevê o salário mínimo universal foi aprovado na generalidade e deixa de fora empregadas domésticas e pessoas portadoras de deficiência. «1...159160161162163164165...272»
Hoje Macau China / ÁsiaPequim diz ter chegado a “amplo consenso” com ONU após visita a Xinjiang [dropcap]O[/dropcap] Governo chinês afirmou hoje ter chegado a um “amplo consenso” com a ONU em termos de cooperação antiterrorista, após a polémica viagem de um alto funcionário das Nações Unidas à região de Xinjiang. Uma breve nota do Ministério dos Negócios Estrangeiros refere que “as duas partes trocaram pontos de vista sobre o combate ao terrorismo e a cooperação antiterrorista entre a China e a ONU, tendo chegado a um amplo consenso” nesta matéria. A visita a Xinjiang do chefe do gabinete da luta contra o terrorismo da ONU, Vladimir Voronkov, foi fortemente criticada pelos EUA e por organizações não-governamentais, por desviar a atenção para a violação dos direitos humanos naquela região. Pequim enfrenta crescente pressão diplomática devido às acusações de que mantém detidos, naquela região ocidental, cerca de um milhão de membros da minoria étnica chinesa de origem muçulmana uigure em centros de doutrinação política. O Governo chinês, que primeiro negou a existência destes campos, afirmou, entretanto, tratarem-se de centros de formação vocacional que visam integrar os uigures na sociedade. Voronkov visitou Pequim e Xinjiang de 13 a 15 de Junho e reuniu-se com diplomatas de topo da China, incluindo o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Le Yucheng. “A China e o mundo devem unir-se para combater o terrorismo e a China apoia o trabalho do gabinete anti-terrorismo da ONU”, lê-se ainda na nota de Pequim. Desde que, em 2009, a capital de Xinjiang, Urumqi, foi palco dos mais violentos conflitos étnicos registados nas últimas décadas na China, entre os uigures e a maioria han, predominante em cargos de poder político e empresarial regional, a China tem levado a cabo uma agressiva política de policiamento dos uigures.</p
Hoje Macau China / Ásia MancheteMilhares nas ruas de Hong Kong para terceiro protesto numa semana [dropcap]D[/dropcap]ezenas de milhar de pessoas estão reunidas no centro de Hong Kong para o terceiro protesto numa semana, quatro dias depois de confrontos entre manifestantes e a polícia, que usou gás pimenta e lacrimogéneo e balas de borracha. A esmagadora maioria são jovens, vestidos de preto, envergando o símbolo da paz preso às ‘t-shirts’ e empunhando flores em memória de um dos manifestantes que morreu este fim de semana, constatou a Lusa no local. Numa conferência de imprensa, os líderes do protesto sublinharam hoje que a população de Hong Hong não quer viver sob o medo de que seja semeado o terror com detenções. Questionados pelos jornalistas, sustentaram que a suspensão do debate sobre a lei da extradição é apenas uma táctica política motivada pela pressão pública e voltaram a exigir o abandono da lei, um pedido de desculpas da chefe do Governo, Carrie Lam, bem como a sua demissão. O anúncio de sábado da chefe do Governo de suspender as emendas à lei que permitiriam a extradição para países sem acordo prévio, como é o caso da China continental, não desmobilizou os opositores, que continuam a pedir um recuo total das propostas e a demissão da própria Carrie Lam, a líder do Executivo. Depois de no último domingo, segundo os organizadores, mais de um milhão se ter manifestado, e após um protesto na quarta-feira que cercou o quartel-general do Governo no qual se registou mais de uma centena de feridos e a detenção de onze pessoas, dezenas de milhar de pessoas preparam-se para uma marcha de protesto que vai começar em Victoria Park e terminar de novo no complexo do Conselho Legislativo (LegCo). Os ‘media’ locais noticiaram hoje a morte de um dos manifestantes, que caiu de um prédio depois de afixar uma lona de protesto, uma informação confirmada pela Civil Human Rights Front (CHRF), a organização não-governamental que se tem assumido como a principal organizadora dos protestos. A polícia de Hong Kong já informara durante a semana que durante os confrontos de quarta-feira foram detidas 11 pessoas, acusadas de crimes como o de participação num motim, cuja moldura penal prevê uma pena máxima de dez anos de prisão. As forças de segurança confirmaram também a utilização de gás lacrimogéneo, gás pimenta e armas anti-motim para dispersar os manifestantes, bem como ferimentos em 22 polícias. Pelo menos 80 pessoas foram obrigadas a receber tratamento hospitalar, segundo a imprensa local que cita números fornecidos pelas unidades de saúde. Algumas das detenções efectuadas pela polícia aconteceram nas instalações das unidades de saúde, uma situação que mereceu críticas tanto de responsáveis hospitalares como da CHRF. Os acontecimentos obrigaram o Executivo a adiar o debate e a encerrar as instalações da sede do Governo, numa primeira fase. No sábado, Carrie Lam, que no próprio dia dos confrontos tinha reafirmado a sua intenção de prosseguir com as alterações à lei da extradição apesar dos protestos, acabou por anunciar a suspensão do debate sobre a proposta. Os opositores defendem que tal não é suficiente e, por isso, mantiveram a mobilização de hoje, garantindo que os protestos vão continuar até que a proposta de lei seja definitivamente retirada, ao mesmo tempo que pedem a demissão da líder do Executivo, que enfrenta fortes críticas da sociedade e, de acordo com os ‘media’ locais, uma divisão política no próprio Governo. Proposto em Fevereiro e com uma votação final prevista para antes do final de Julho, as alterações propostas permitiriam que a chefe do Executivo e os tribunais de Hong Kong processassem pedidos de extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental. Os defensores da lei argumentam que, caso se mantenha a impossibilidade de extraditar suspeitos de crimes para países como a China, tal poderá transformar Hong Kong num “refúgio para criminosos internacionais”. Os manifestantes dizem temer que Hong Kong fique à mercê do sistema judicial chinês como qualquer outra cidade da China continental e de uma justiça politizada que não garanta a salvaguarda dos direitos humanos.
Andreia Sofia Silva SociedadeProtestos em Hong Kong | AIPIM solidária com jornalistas [dropcap]A[/dropcap] Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM) emitiu hoje um comunicado onde “expressa solidariedade” pelo trabalho feito pelos jornalistas de Hong Kong na cobertura dos protestos contra a lei da extradição. De acordo com o comunicado ontem enviado à Associação de Jornalistas de Hong Kong, é frisada a forma como os jornalistas foram “agredidos e empurrados” pela polícia, que usou ainda gás pimenta para dispersar a multidão durante o protesto. Entretanto, a Chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, anunciou hoje a suspensao da proposta de lei da extradição, uma medida à qual o Governo Central já deu o seu apoio. Contudo, os protestos agendados para este domingo deverão manter-se.
Hoje Macau China / Ásia ManchetePequim “apoia” decisão de Hong Kong de suspender proposta de lei da extradição [dropcap]P[/dropcap]equim afirmou hoje que apoia a decisão de Hong Kong de suspender a polémica proposta de lei de extradição, entendendo que a suspensão visa ouvir várias opiniões sobre o projecto. “Apoiamos, respeitamos e entendemos essa decisão”, afirmou o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Geng Shuang, em comunicado citado pelas agências internacionais de notícias. A suspensão visa “ouvir mais amplamente” as várias opiniões sobre este projecto e “restaurar a calma o mais rapidamente possível” no território, acrescenta a nota. A líder do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, anunciou hoje em conferência de imprensa a suspensão da legislação sobre extradição, sem estabelecer qualquer prazo. Protestos continuam As organizações cívicas de Hong Kong afirmaram hoje que vão continuar com os protestos até que a chefe do executivo retire definitivamente a sua proposta de lei de extradição. A organização Civil Human Rights Front [Frente Civil de Direitos Humanos] apelou aos cidadãos de Hong Kong para que acorram em massa no domingo ao protesto que já estava previsto. Jimmy Sham, porta-voz da organização que defende os direitos humanos, pede a Carrie Lam que retire o projecto e que peça desculpas pelo uso da força policial nos protestos desta semana. Outro protesto está previsto para este domingo, depois de na quarta-feira, dia em que devia ter começado o debate no parlamento local da proposta de lei, a sessão ter acabado por ser suspensa, na sequência de uma manifestação não autorizada de milhares de pessoas, durante a qual pelo menos 80 ficaram feridas em confrontos com a polícia, que usou balas de borracha, granadas de gás lacrimogéneo e gás pimenta para dispersar os manifestantes.
João Santos Filipe China / Ásia MancheteSing Tao noticia que Carrie Lam vai anunciar suspensão da Lei de Extradição [dropcap]C[/dropcap]arrie Lam, Chefe do Executivo de Hong Kong, vai anunciar durante o dia de hoje a suspensão da Lei da Extradição entre o Interior da China e a RAEHK. A informação foi avançada em exclusivo pelo jornal Sing Tao, conhecido pelas posições pró-Pequim. Segundo a publicação, a decisão de suspender o processo e fazer uma nova consulta pública terá sido tomada depois de Carrie Lam se ter encontrado com Han Zheng, responsável do Governo Central pela unidade de coordenação para os assuntos de Hong Kong e Macau. Han é igualmente um dos grandes decisores do projecto da Grande Baía. Ainda de acordo com o Sing Tao, a Chefe do Executivo de Hong Kong vai agora encontrar-se com os deputados pró-Sistema antes de anunciar a decisão. Nas informações que vão ser transmitidas aos legisladores que apoiam o Governo e que estavam preparados para votar a favor da extradição, Carrie Lam vai explicar que o processo vai voltar ao início, mas que a longo prazo não vai abandonar a intenção de aprovar o documento. Apesar das notícias, os organizadores do protesto de amanhã continuam a apelar às pessoas que participem e definem a jogada do Governo como uma “armadilha”, com o propósito de afastar os cidadãos da manifestação.
João Santos Filipe China / ÁsiaCarrie Lam quer distribuir cheques pecuniários face a protestos [dropcap]A[/dropcap] Chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, está a equacionar começar o mais brevemente possível a distribuir um cheque pecuniário, à semelhança do que Macau faz, aos residentes. A oferta de dinheiro aos residentes é vista como uma forma de serenar os ânimos dos residentes, depois da proposta de lei entre Hong Kong e o Interior da China, que levou mais de um milhão de pessoas à rua. Além deste protesto, também na quarta-feira, altura em que a lei ia ser discutida pelo deputados no Conselho Legislativa (LegCo), houve um novo protesto, que ficou marcado pela agressividade da resposta da polícia, com várias queixas, inclusive de um jornalista de Macau. A falta de condições fez mesmo com que o presidente do LegCo tivesse optado por adiar a discussão do diploma para uma data a ser anunciada posteriormente. Segundo uma coluna de opinião do jornal Hong Kong Economic Journal a medida poderá ser anunciada já nas próximas Linhas de Acção Governativa, que estão previstas para Outubro deste ano. De acordo com este modelo, todos os residentes recebem um determinado valor pago pelo Governo, que no caso de Macau é de 10 mil patacas para residentes permanentes e de 6 mil patacas para não-permanentes. Em relação ao valor para o Hong Kong, o HKEJ não avança com valores. Apesar de não haver uma nova data para a discussão do diploma, para este Domingo está agendada uma nova manifestação, às 14h30.
Hoje Macau EventosActor portugues Nuno Lopes integra nova série de “La Casa de Papel” [dropcap]O[/dropcap] actor português Nuno Lopes vai integrar o elenco da nova série do criador de “La Casa de Papel”, Álex Pina, intitulada “White Lines”, também com selo da Netflix, foi ontem anunciado. Nas redes sociais, o próprio actor partilhou um texto da agência Subtitle Talent que anunciava que o português será um dos protagonistas da nova série, com 10 episódios, escrita por Pina e produzida pela Left Bank, a mesma empresa por trás de “The Crown”. Segundo a mesma publicação, o elenco da série, que já está em processo de filmagens, vai incluir também Laura Haddock, Marta Milans, Juan Diego Botto e Daniel Mays. De acordo com a Deadline, “White Lines” vai ser falada em inglês e filmada até Outubro, nas Ilhas Baleares, em Espanha. A sinopse, divulgada também pela publicação especializada Variety, revela que o enredo parte da descoberta do corpo de um DJ de Manchester, 20 anos depois do seu desaparecimento em Ibiza. “Quando a sua irmã regressa à ilha espanhola de Ibiza para descobrir o que aconteceu, a sua investigação leva-a a um mundo de discotecas, mentiras e encobrimentos”, adianta a Deadline. Segundo a Variety, “White Lines” resulta de um acordo assinado entre a Netflix e Álex Pina, após o sucesso de “La Casa de Papel”. Nuno Lopes, 41 anos, destacou-se no filme “São Jorge”, de Marco Martins, com o qual recebeu o prémio de melhor actor no festival de Veneza, em 2016. O filme foi o candidato português a uma nomeação para o Óscar de melhor filme estrangeiro, não tendo sido nomeado.
Hoje Macau InternacionalTrump anuncia saída de Sarah Sanders, porta-voz da Casa Branca [dropcap]O[/dropcap] Presidente norte-americano Donald Trump anunciou ontem a saída em finais de Junho de Sarah Sanders, a porta-voz da Casa Branca. “A nossa maravilhosa Sarah Sanders vai deixar a Casa Branca e regressar a sua casa no Arkansas no final do mês”, referiu Trump, numa mensagem na rede social Twitter. O milionário norte-americano acrescentou esperar que venha a ser candidata à função de governadora daquele estado, um posto que já foi ocupado por seu pai, Mike Huckabee.“Ela seria fantástica”, assinalou. Trump não forneceu qualquer indicação sobre o nome do sucessor de Sarah Sanders como porta-voz da Casa Branca, um cargo estratégico e muito exposto. Os norte-americanos ficaram a conhecer Sarah Sanders, que nasceu na pequena cidade de Hope, no início da administração de Donald Trump e na qualidade de adjunta do porta-voz Sean Spicer, que substituiu em Julho de 2017. Desde jovem que Sarah Sanders se envolveu na política por influência do seu pai, de quem foi directora de campanha nas primárias norte-americanas de 2016, antes de se juntar à equipa de Donald Trump.
Raquel Moz SociedadeEpidemia de dengue na região asiática ameaça alastrar a Macau [dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Saúde (DSS) alertou ontem a população do território para o aumento da febre de dengue na região do Sudeste e Sul da Ásia. A situação é já considerada epidémica, dado o surgimento de mais casos graves nas regiões vizinhas da RAEM, nomeadamente em Zhuhai e Taiwan, mas também na Malásia, Vietname, Singapura, Camboja, entre outros, do que em igual período do ano anterior. As autoridades, em comunicado aos órgãos de comunicação, “apelam aos residentes para prestarem atenção à higiene ambiental e removerem a água estagnada nos locais de trabalho e nas áreas periféricas de residência, de modo a fortalecer a prevenção”, lembrando que “Macau tem registado a ocorrência de chuvas e existem inúmeros recipientes, ao ar livre, propensos à acumulação de água”, sendo a possibilidade de multiplicação de mosquitos muito elevada. Em Macau, desde o início do ano, foram registados 3 casos de febre de dengue, todos importados do Sudeste Asiático. A preocupação dos Serviços de Saúde sobe à medida que os elevados níveis epidémicos das regiões vizinhas aumentam e o risco de propagação se adensa com condições climatéricas favoráveis. Na vizinha cidade de Zhuhai, até ao dia 10 de Junho, foram registados 15 casos de febre de dengue, entre os quais um caso com origem local, segundo os serviços de saúde da região. Em Taiwan são já 16 casos locais e 163 casos importados de febre de dengue, desde o início de 2019, sendo os números mais elevados dos últimos dez anos. Entretanto, na Malásia, Vietname e Singapura, os casos registados de dengue duplicaram em relação ao período homólogo de 2018, sendo o Camboja o país mais atingido da região, segundo a informação divulgada pela DSS, com 1.300 ocorrências suspeitas de dengue registadas em apenas uma semana. No mundo Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a incidência da febre provocada pelo vírus da dengue, cresceu dramaticamente a nível mundial nas últimas décadas. Na grande maioria dos casos, a infecção é assintomática, daí ser muitas vezes mal diagnosticada e registada abaixo dos valores reais. Uma das estimativas apresentadas aponta para uma média anual de 390 milhões de casos de infecção em todo o mundo, dos quais 96 milhões são os clinicamente diagnosticados, com maior ou menor gravidade. O número de casos reportados à OMS, pelos estados membros de três regiões mundiais onde a incidência é maior, passou de 2,2 milhões em 2010 para mais de 3,34 milhões em 2016. Por saber está o motivo do aumento destes casos, se por epidemia reincidente e gradualmente mais severa, se pelo facto de cada vez haver mais registos para efeitos de controlo e prevenção das autoridades, nacionais e internacionais. Depois de uma quebra no número de casos registados, entre 2017 e 2018, pela OMS em toda a região asiática, uma acentuada subida tem vindo a ser monitorizada em 2019, nomeadamente em países como a Austrália, Camboja, China, Laos, Malásia, Filipinas, Singapura e Vietname. Até 1970, apenas 9 países haviam reportado epidemias severas de dengue, segundo aquela instituição, sendo a doença hoje endémica em mais de 100 países em todo o mundo. A América e a Ásia são as regiões mais afectadas.
Carlos Morais José A outra face VozesMuch ado about everything [dropcap]A[/dropcap] proposta de lei do Governo de Hong Kong, que facilita a extradição de pessoas para a China continental (RPC), é um documento estranho e lamentável, pelo menos de dois pontos de vista. O primeiro prende-se com a promessa de manutenção do mesmo sistema durante 50 anos depois da transferência de soberania e o respeito pela Lei Básica. O segundo tem a ver com o timing da apresentação da proposta. Como se pode constatar pela reacção da população de Hong Kong, a questão da extradição para a China não é um problema menor. De algum modo, o facto de até hoje ela não ter existido constitui um dos pilares invisíveis do segundo sistema, pois garante que ali podem habitar, usufruindo dos direitos cívicos expressos na Lei Básica, pessoas acusadas pela RPC de “crimes” derivados da liberdade de expressão, de reunião, de contestação pacífica, da defesa dos direitos humanos, etc.. Os tais “crimes” são, geralmente, classificados de “subversão social”, “terrorismo”, “sedição”, ou seja, implicando uma moldura penal duríssima. Como relatam os próprios jornais regionais chineses, ao longo de toda a enorme China, deparamos com casos locais de abuso de poder, de corrupção, de alienação dos valores de sobriedade e contenção. Na maior parte dos eventos, essas autoridades locais perseguem ferozmente quem as denuncia, talvez à revelia do próprio Governo central. A ausência de separação de poderes leva à desconfiança na justiça, a nível local e nacional, desconfiança essa que há muito atravessou a fronteira e se repercute nas mentes dos cidadãos de Hong Kong, que obviamente fazem questão de não se encontrarem à mercê de um sistema judicial não independente. O caso foi de tal modo aberrante que a Chefe do Executivo soluçou na televisão que não estava a “vender (sold out) Hong Kong”, depois de a polícia ter precisado de bater em manifestantes provocadores e pouco pacíficos, admitindo com as suas lágrimas que compreendia a dissensão do seu povo e a distância real que existe, em termos de valores cívicos, entre a ex-colónia e a RPC. Assistimos ao espectáculo de uma mulher estilhaçada entre o que sabe ser a cidade que governa e o “dever patriótico” de fazer aprovar uma legislação. Carrie Lam, pouco depois, anunciava suspender, adiar para as calendas, o debate sobre a malfadada proposta de lei. É inevitável lembrarmo-nos de algo idêntico, ocorrido quando o Governo de Hong Kong pretendeu implementar o artigo 23º da Lei Básica, referente à sedição e traição à Pátria. Proposta absurda, porque contrária às expectativas populares, independentemente das cambalhotas jurídicas que se executem para a justificar, viu-se igualmente obrigada a recolher ao covil do esquecimento, esperando por outros dias para voltar a emergir. Tal como deverá acontecer no caso da lei da extradição… O que leva então o Governo de Hong Kong, empurrado ou não por Pequim, a apresentar a proposta, nesta altura do campeonato? Ninguém previu a reacção popular? Além do mais, com a RPC envolvida numa guerra comercial com os Estados Unidos e com outros problemas mundo fora, seria a altura certa para provocar estas previsíveis ondas e logo na cidade conhecida pela erupção regular de dissidência e irreverência? Um país que joga go certamente que pensa em questões territoriais e na procura do equilíbrio interno como condição para a procura de poder. Pois não parece. A RPC demonstra uma incapacidade teimosa quando na mesa está Hong Kong, um bloqueio, um trauma, uma aflição. Esvai-se a sapiente e milenar paciência, ruge uma urgência de mando que pela mão suave seria mais simples de adquirir. Pequim espuma à menor travessura deste seu desejado filho. E talvez este facto devesse ser caso de reflexão profunda e de auto-análise no seio de vários comités, centrais ou periféricos. Com certeza que não é a necessidade premente de prender e extraditar perigosos agitadores na ex-colónia que motiva a acção, resulta em tanto barulho e uma mão-cheia de novos problemas e antipatias. O caso dos livreiros já nos ilustrou sobre os métodos e a matéria. É que para a população parece tratar-se, além de uma questão de liberdade, de um problema de segurança. O medo incrusta-se não apenas no político, no activista, mas também no comerciante, no industrial, no banqueiro, no especulador. E este medo, esta reacção pronta de um milhão de pessoas não era de prever? Bem pode o Global Times atribuir os protestos a uma intervenção estrangeira que, neste caso, a própria dimensão da manifestação o desmente. É certo que em Hong Kong existe uma quantidade enorme de agentes estrangeiros (só os EUA têm cerca de mil funcionários no seu consulado), alguns talvez com a missão de desestabilizar as relações com a RPC. Mas, na verdade, com propostas destas, não precisam de exibir uma grande performance. E o Governo de Carrie Lam? Não previa esta maré de protestos? Por quê avançar com esta medida, nesta altura? Depois de alguma reflexão, só encontro uma explicação para a apresentação desta proposta de lei: chama-se Grande Baía. O projecto da Grande Baía é uma das grandes apostas do Governo Central, com o objectivo expresso de intensificar a comunicação entre Macau, Hong Kong e as cidades da província de Guandong, de modo a que no futuro constituam uma região unificada; comercialmente, culturalmente, talvez politicamente, se pensarmos no pós-2047/49. Afinal, pensar-se-á em Pequim, Cantão sempre foi uma porta para o exterior, lugar de estrangeiros, tal como Macau e Hong Kong, portanto não será difícil a esta gente do Sul entender-se. A Grande Baía é um modo de potenciar a região mas, inevitavelmente, também diluirá as diferenças entre as três regiões presentes. E que diferenças… Para o caso vertente, foquemo-nos nos sistemas jurídicos: temos três e todos bem diferentes. Em Macau predomina o chamado “continental”, europeu, um corpo legal façanhudo e romano-germânico. Em Hong Kong, pratica-se a dita Common Law, o direito anglo-saxónico, fundado principalmente na jurisprudência e no “confusionismo”. Já na RPC, estamos perante um direito baseado no direito continental europeu, mas atravessado de derivas incompatíveis com os outros dois, sendo o elefante maior o facto de não existir separação de poderes entre o judicial e o executivo. Ora ao pretender uma união comercial, facilitar a circulação de pessoas e bens nesta Grande Baía, torna-se óbvio que surgirão conflitos legais, duros de roer e de resolver. Burlas, fraudes, golpes, golpadas e golpinhos por essa Grande Baía fora. Como controlar isto sem uma lei da extradição, que permita uma acção rápida e coordenada das autoridades em questão? É virtualmente impossível, um controlo condenado ao fracasso. Daí a emergência extemporânea desta proposta de lei, ainda que dela tenham sido excluídos a maior parte dos crimes económicos. Trata-se, é bom de ver, de um caso em que o carro é colocado à frente dos bois. Estranhamente, a RPC parece ter pressa de integrar Hong Kong, assumindo uma atitude pouco condicente com a postura reflectida e equidistante que tem exibido no actual palco das relações internacionais. Contudo, o que aqui demonstra é uma inusual incapacidade de compreender onde fica a linha da harmonia ou até onde pode o bambu vergar sem se partir. É verdade que a RPC está debaixo de fogo. Os Estados Unidos de Trump alargam as esferas da guerra comercial e, obviamente, procuram descredibilizar a China em diversas áreas. Hong Kong é, todos o sabem, um espaço onde esses “inimigos” pululam e agem. Mas, para contrariar essa acção, a RPC tem de contar com o apoio da população local e não com a sua animosidade. Tem de lhe instilar o “novo sonho chinês”, de uma nova Grande China, forte, plena e una, em 2047/49. Uma China de características globais, onde a liberdade dos cidadãos não entra em conflito nem põe em causa a autoridade do Estado, onde predomine a meritocracia, a justiça seja independente e a criatividade abençoada. A proposta de lei do Governo de Hong Kong, as manifestações populares, a carga policial, a entrevista de Carrie Lam, finalmente, a suspensão do debate e da consequente aprovação da lei parecem invocar a máxima de Shakespeare: “much ado about nothing”. Mas não. Aqui estamos perante um caso de “much ado about everything”. E este “everything” é a forma de sociedade prometida, a liberdade do cidadão, o estado de direito, a crença na irredutibilidade do indivíduo e no valor supremo da sua vida.</p
João Romão VozesCidades, felicidade, casas e processos participativos [dropcap]T[/dropcap]alvez a mais elementar sensatez sugerisse que este fosse assunto deixado exclusivamente ao livre arbítrio dos poetas, ou quando muito de alguns filósofos mais versáteis, mas pelos vistos também há economistas e outros analistas de contabilidades várias a dedicar-se ao tema: a felicidade, nem mais, por estes artífices (entre os quais me conto, já agora) brutalmente transformada em objecto de medida, com as suas engenhosas classificações e os seus inevitáveis “rankings” internacionais, superiormente decretados sob os auspícios da ONU (quem mais nos poderia valer nesta tão premente necessidade civilizacional e planetária, aliás?) e validados por cientistas de renome internacional. Meça-se a felicidade, então, assim por atacado, em cada país, para podermos comparar-nos enquanto povos mais ou menos felizes. Desde 2012 que isso é feito pela “Sustainable Development Solutions Network”, das Nações Unidas, e daí resulta o “World Happiness Report”, publicado desde 2012. Nesta quantificada – mas nem por isso menos subjectiva – contabilidade da felicidade dos povos, ganham sistematicamente, e com apreciável vantagem, os do norte da Europa: na mais recente versão deste gracioso “ranking”, publicada há um mês e com dados referentes a 2018 – Finlândia, Dinamarca, Noruega e Islândia ocupavam os quatro primeiros lugares, ficando a Suécia pelo 7º. Holanda, Suíça, Nova Zelândia, Canadá e Áustria completam o “top-10” desta tabela, posições manifestamente inacessíveis para os povos da Europa do Sul (a França está no 24º lugar e a Espanha no 30º), da América Latina (com excepção da particular Costa Rica, num magnífico 12º lugar, o melhor é o Chile, em 26%) ou da tragicamente infeliz África (a Líbia ocupa a mais destacada posição, no 72º lugar, ainda assim atrás de Portugal, na mui modestamente feliz 66º posição). Tem sido mais ou menos assim desde que o relatório é publicado. Verdade seja dita, mesmo que esta contabilidade só muito remotamente possa ser vista como uma aferição relevante da felicidade nacional (seja lá isso o que for), não deixa de sintetizar alguma informação interessante sobre a satisfação de cada povo com a vida que leva – assim numa média relativamente grosseira, que dentro de cada país as diferenças são muitas. O índice é construído tendo em conta indicadores socioeconómicos (riqueza, apoios sociais ou esperança de vida) e de confiança nas instituições (liberdade de associação e de voto, percepção sobre corrupção ou sensação de segurança), cujo impacto nas nossas efémeras existências não é certamente negligenciável. A cultura é que não traz felicidade – isso já se sabia – e talvez por isso não precise de ser contabilizada nesta medida da felicidade humana segundo a ONU. Vem isto a propósito de ter tido por estes dias a oportunidade de visitar a Finlândia, o país que lidera este ranking, terra de generalizada felicidade segundo os critérios cientificamente avalizados que a ONU utiliza. Participando numa conferência em que o tema geral era a planificação de cidades contemporâneas, o dito ranking foi várias vezes objecto de conversa – e ocasionalmente de sarcasmo, tendo em conta a generalizada circunspecção nórdica e a relativa escassez de sorrisos, já para não falar em abertas gargalhadas. E se havia algum consenso em relação à impossibilidade de se medir a felicidade com base nestes atributos, também se ia concordando que os ditos indicadores oferecem pistas relevantes em relação à forma como as pessoas se relacionam – de forma mais ou menos satisfatória – com os contextos socioeconómicos e institucionais em que vivem. Acabei por ter um exemplo clarificador numa visita guiada a uma zona portuária em profunda renovação no sul da cidade de Helsínquia. Um arquitecto da autarquia explicou com detalhe pormenores relativos ao desenho de espaços e edifícios, que incluem, por exemplo, caminhos a ligar blocos residenciais, espaços verdes e escolas que permitem a qualquer criança deslocar-se entre estas áreas sem ter que atravessar ruas com tráfego automóvel. Este desenho corresponde, naturalmente, a uma opção política sobre o que deve ser a cidade, mas há outras, tão ou mais relevantes: por exemplo, das habitações que vão servir cerca de 20.000 novos residentes, apenas 45% são transaccionadas no mercado (as restantes são atribuídas por concurso com rendas sociais ou sorteadas e vendidas a um preço a que não supera os custos de produção). Visitando a zona, não se consegue distinguir os vários tipos de habitação, que parecem bastante semelhantes independentemente do regime de comercialização ou utilização. Uma intervenção desta natureza e dimensão tem também o efeito de reduzir a procura de casas no circuito comercial e, por essa via, contraria a tendência para a subida preços. Quem nos mostra esta nova parte da cidade é um jovem investigador de doutoramento na Universidade de Helsínquia, também pertencente a uma organização de residentes que participa frequentemente nas discussões sobre planos urbanísticos na cidade. Em resultado dessa participação sistemática, foi convidado – com outras pessoas de perfil semelhante – a servir de “mediador” entre grupos organizados de residentes e a Câmara Municipal nos diversos processos de planeamento urbanístico em curso (entre os quais, o desta zona da cidade). Estas práticas institucionais que envolvem as pessoas nos processos de planeamento das suas cidades são radicalmente diferentes das práticas a que costumamos assistir, por exemplo, em Portugal. Da mesma forma, intervir na questão da habitação disponibilizando milhares de casas fora dos circuitos comerciais promove a defesa das pessoas contra o poder das empresas imobiliárias e financeiras. São opções políticas possíveis. E se calhar até ajudam a que se tenha alguma felicidade, afinal de contas. Pelo menos será mais fácil estar satisfeito com a economia e a democracia. Hoje Macau Folhetim h | Artes, Letras e IdeiasA dama do chá [dropcap]O[/dropcap] Inferno não existe. Não é preciso. A vida é que é uma longa agonia. O velho padre Afonso dos Reis dissera isso a Cândido Vilaça, quando este tentara confessar-se pela primeira vez. E pela última. O padre, depois de ter percorrido o Extremo-Oriente tentando converter todas as almas possíveis, também parecia desiludido e cansado. Cândido tinha um saxofone para poder respirar. Ao padre restava a fé. Afonso dos Reis nunca voltaria às sua Beira-Alta portuguesa. Ficaria ali, na poeira que um dia quisera transformar no caminho para o paraíso. Cândido Vilaça lembrou-se do padre quando saiu da casa de pasto “O Alvoroço” e sentiu o choque sufocante do calor. Ao contrário dos chineses, que comiam peixe frito ou arroz com galinha, pedira cogumelos em molho de caranguejo. Isto enquanto bebia várias cervejas. Agora voltava a deparar-se com o inferno do calor. Ajeitou o chapéu e começou a percorrer a rua que o levava até à loja de Jin Shixin, na Avenida Almeida Ribeiro. Sorriu ao lembrar-se das palavras do padre: – Deus está interessado na Terra tal como no Céu. Na luz do Céu como na de uma vela, nos discípulos como nos anjos. Ou nos diabos. No ordinário e comum, como na santidade. Às vezes duvidava, mas quem era ele para questionar o que era muito mais complicado do que tocar saxofone ou pôr as pessoas a dançar? Viu riquexós, mas decidiu continuar a caminhar ao sol, como se quisesse expiar ali todos os seus pecados. Até chegar à loja não deveria conseguir esse intento. Por ele passaram chineses com caixas de bambu ao ombro, gente pobre, sem nada, que apenas procurava sobreviver. Nisso, não eram tão diferentes dos portugueses. As mulheres portuguesas, sempre solitárias, caminhavam de guarda-sol para se protegerem do calor e da luz. Vinham de diferentes locais, para a missa ou para a confissão, que as esperava numa das muitas igrejas de Macau. Sentiu, por vezes, o odor do ópio, enquanto se afastava dos cães e galinhas que percorriam a rua em busca de comida. Continuou a caminhar calmamente até ao “Jardim Celestial”, a loja de chá de Jin. Quando chegou, ficou do outro lado da rua, à sombra. Perto estava um chinês magro, vestido com uma cabaia de ganga, que olhava fixamente para a porta da loja, enquanto conversava com um homem mais velho, vestido com um fato de linho. Quando este levantou a cara, reparou que era japonês. Disse qualquer coisa e afastou-se. Então o chinês voltou-se para Cândido. Este não deixou de se surpreender. Apesar do cabelo curto, de rapaz, a face dele traía-o. Era uma rapariga, ainda jovem, que o fulminou com o olhar. Como se ele estivesse ali a mais. O português sentiu-se intimidado. Antes dela se virar e começar a andar até outro ponto da rua, Cândido percebeu: a rapariga não era chinesa. Era japonesa. Deixou passar uns minutos, mas quando atravessou a avenida não viu sinal da japonesa. Entrou e deparou-se com Wen Xiao. Este inquiriu-o com o olhar, sem dizer nada. Cândido disse apenas: – Venho falar com a menina Jin Shixin. Depois decido se levo chá. Wen Xiao olhou para ele com desdém. Mas, quando ia responder, surgiu Jin. Sorriu e disse: – O senhor Cândido pode entrar. É um amigo. O chinês não pareceu convencido, mas desviou-se e deixou Cândido caminhar até junto de Jin e depois segui-la para uma pequena sala interior. Ela sentou-se num pequeno banco e fez-lhe sinal para ele se sentar noutro, que estava perto. – Quer um chá? – Para já não. – Qual é o motivo da sua visita, então? – Mera cortesia. Estava aqui perto e decidi vir comprar chá. Dizem que aqui é possível encontrar o melhor que há em Macau. Ela sorriu, mas os seus olhos estavam alerta. Cândido disse então: – Talvez por isso tem clientes japoneses. Ou terá brevemente. – Porquê? – Um, ou melhor, uma japonesa que parece um rapaz, estava aqui defronte a espiar. E outro estava a conversar com ela, mas fugiu assim que me viu. O olhar dela não revelou nenhum pânico. – Eu sei que eles estão ali. – Acredito. Mas, depois do que aconteceu nas Ruínas de São Paulo, e do que agora vi à entrada, pergunto-me: o que querem os japoneses de si? Claramente estão em choque. – Ainda não percebeu, Cândido. É ingénuo? – Às vezes sou. Por isso é que preciso que me expliquem o que não entendo. Macau é uma terra pacata. – Só na superfície. A guerra está aqui. E separa-nos, chineses e japoneses. Sabe o que eles fizeram em Xangai, não? Cândido fechou os olhos, como se não quisesse recordar-se. – Então sabe o que nós combatemos aqui, em Macau. Só os portugueses não repararam na rede de espiões que eles aqui têm, tal como em Hong Kong, na Malásia ou em Batávia. E seguem-me. Tal como eu os sigo a eles. – E quem são eles? – Um, conheceste nas Ruínas de São Paulo. Chama-se Toshio Nomura, e tem uma empresa de importação e exportação, no Largo do Leal Senado. Viveu muito tempo no Brasil e fala português. Depois há outros que vagueiam entre Macau, Hong Kong e Xangai. E há alguns portugueses, que lhes dão informações importantes. – Portugueses? – Alguns sim. Não te espantes, Cândido. Face ao dinheiro, todos têm fraquezas. Um deles é o teu amigo Prazeres da Costa. Era ele que estava com o Nomura, caso não tenhas percebido. Cândido sondou os olhos de Jin. Ela não mentia. Mesmo que não dissesse toda a verdade. – O perigo nem sempre está nos recifes, muitas vezes está no mar aberto. À vista de todos. A guerra não é um jogo de mahjong. E está agora a desenrolar-se nas ruas de Macau. E tu, sem o quereres, fazes parte dela. Deixaste de poder esconder-te na sombra, à espera que a tempestade acalme. Que lados vais escolher? Ou, simplesmente, vais tentar fingir que nada é contigo? Cândido percebeu. De nada lhe valia agora dizer que era português. Ou músico. Ou que só queria a paz. Os japoneses já o tinham colocado ao lado dos chineses de Jin. Levantou-se devagar e a chinesa fez o mesmo. Aproximaram-se e, quase sem querer, Cândido beijou a face de Jin. Esta não se afastou, como se o esperasse. E quisesse. Ficaram durante alguns segundos a olhar um para o outro, sem saber o que fazer. E Cândido voltou a beijá-la, agora nos lábios. Quando se afastaram, ele virou-se e saiu. Quando chegou à rua inspirou o ar pesado. O calor não pareceu ser tão infernal. Viu a rapariga japonesa que tinha voltado para o lugar onde reparara nela pela primeira vez. E, sem saber porquê, relembrou algumas palavras do padre Afonso dos Reis. – Sabes, Cândido, os homens residem num mundo que não governam. São os imortais, os deuses, que velam por nós. Foram eles que deram forma ao mundo. Os homens não conheciam a morte, mas quando se encerraram no seu círculo, começaram a morrer. O Céu é agora o refúgio dos imortais, os deuses que, como os gregos acreditavam, vivem no Olimpo. A Terra foi legada aos homens que envelhecem e morrem. E o Inferno é o abrigo dos que já morreram. Por isso importa viver e estar do lado da verdade. Para que um dia possamos perceber a razão dos imortais. Valério Romão h | Artes, Letras e IdeiasLisboa, capital do barulho [dropcap]N[/dropcap]a ínfima possibilidade de Lisboa um dia se tornar uma cidade minimamente civilizada, este tempo em que vivemos será lembrado com um travo de repugnância ao falar-se dele e sem pinga de saudade. Embora a massificação do turismo tenha tido o condão de estimular a reabilitação de muitos edifícios devolutos em Lisboa (e com isso os sectores muito específicos da construção e hotelaria), diria que foi das pouquíssimas coisas boas que o turismo trouxe. Não lhe subjaz no entanto qualquer intenção benemérita: uma cidade com tanta afluência turística vê-se obrigada a aproveitar todo o espaço disponível se quer incrementar as vendas dos típicos patos de borracha ou dos milenares pastéis de bacalhau com queijo da serra. No fundo, a reabilitação imobiliária é apenas uma externalidade positiva, um efeito colateral do turismo, algo que as empresas do sector dispensariam de bom grado se outra forma de garantir o mesmo lucro houvesse. De resto, a albufeirização em curso tem sido pródiga a produzir efeitos negativos: escassos transportes públicos sobrelotados (os nativos ainda levaram algum tempo a aceitar o confisco turístico do eléctrico 28), subida olímpica dos valores das rendas, multiplicação descontrolada dos alojamentos locais, descaracterização progressiva da cidade, dos seus bairros, extinção lenta mas inexorável de um modo de vida incapaz de sobreviver sem aqueles que nele participavam, implosão gradual do comércio de proximidade, substituído por lojas de bugigangas inúteis e botecos gourmet nos quais se comercializa uma banalidade sobreadjectivada a preço de estrela Michelin, lixo, confusão e barulho. Muito barulho. Lisboa nunca foi generosa para com os seus no que diz respeito à permissividade com que lida com o ruído produzido, nomeadamente o nocturno. Quando não o estimula directamente, mediante a organização ou promoção de eventos, autoriza-o com a emissão de licenças. Em Junho, então, é freestyle. São os santos, as barraquinhas de farturas com colunas do tamanho de barris de cerveja a debitarem um medley dos peitos da cabritinha e da garagem da vizinha em loop, os gritos ébrios na rua às tantas da manhã e os múltiplos transportes que levam esta gente dos sítios onde se embebedam para os sítios onde dormem. Quem se pode legitimamente queixar quando em doze meses de sono possível só um lhe é perturbado? Há pouco tempo foi criado um grupo público de discussão no Facebook, chamado Menos barulho em Lisboa, no qual os seus participantes escrevem sobre a poluição sonora que, muito por via do crescimento exponencial do turismo, tem retirado tranquilidade às suas vidas. São relatos de ruído caucionado ou estimulado pelas autoridades que deviam proteger aqueles cuja ecologia vital se encontra ameaçada das mais diversas formas. Percebe-se a natureza displicente do fenómeno: a Câmara, como uma loja da Bershka, quer dar a impressão de que a cidade está sempre em festa, e quando não é ela própria a promover as mais diversas aberrações sonoras – a última delas um barco junto à Ribeira das Naus a debitar um tecno de after de má memória a tarde toda de um domingo – faz vista grossa a quem ultrapassa os limites em vigor. The show must go on. E é disso que se trata, de limites. E é nisso que esta gestão municipal tem sido péssima. Em entrando dinheiro, tudo o resto sofre de um efeito de desfoco ou de desvalorização de importância. A vida das pessoas, de Lisboa e dos seus habitantes, está indexada a uma dimensão apenas: a forma como podem não perturbar a ordenha da vaca leiteira em que a cidade se converteu. António de Castro Caeiro h | Artes, Letras e IdeiasLiberdade [dropcap]D[/dropcap]estino e fado são palavras muito antigas. O sítio onde se vai parar. A vida que foi predita. Se assim é, haverá margem de manobra para a escolha? Schelling diz o que Heidegger repete: deixar-se actuar pela liberdade. Ser livre é possível se temos um destino e um fado? Se temos uma destinação e uma predição como é possível escolher. Quantas vezes escolhemos na vida? Temos grandes superfícies para escolher o que queremos? Não queremos já antes de escolher? Podemos escolher vidas diferentes? Podemos fazer que o que não queríamos que acontecesse não tivesse acontecido? Podemos fazer acontecer aquilo que queríamos que tivesse acontecido? Lembro-me de, quando a sul, em Agosto, via uma estrela cadente. Pedia-se um desejo. Eu sei o que pedia. O mesmo se passava, quando soavam as doze badaladas na passagem do ano. Engolíamos doze passas e pedíamos um desejo. Eu sabia o que pedia. Pedir significa que não temos escolha. Gostaríamos de ter o que não temos ou ser quem não somos. Ainda. Há grandes escolhas na vida que estão feitas para nós. Assim, não as escolhemos: mãe e pai, família, país, época do ano em que nascemos, amigos que encontramos, gostos, desportos se for caso disso e livros que é o caso. Sem ler não há viver. Mas como se fazem as pequenas escolhas? Como é possível escolher? Sobretudo, quando podemos perder e dizer não ou não dizer sim? Lembro-me muito bem de como, infante, não queria estar no próprio corpo nem fazer o que me diziam para fazer ou então só viver a vida que viviam para mim. Como ser livre? E como ter uma ânsia de liberdade? O que é ser livre se somos obrigados a ser livres? Querer uma coisa implica trabalho. Os gregos achavam que se queríamos alguma coisa ela não viria sem trabalho. Hércules e Jasão ou Perseu, o meu herói de sempre, sabiam disso. Para libertar uma mãe, um País, ou alguém ou até só o próprio. Ser livre é também livrar-se de qualquer coisa ou do alguém que não gostamos de ser. Como nos libertamos para nós próprios? Como pode o rei Édipo não se cegar, depois de partilhar a cama com a sua mãe e matar o seu pai? Como podemos nós não ser quem nós somos, quando não queremos ser os próprios? Os próprios são os outros que somos. Temos um apego a nós e não queríamos ser outros. Contudo, a vida pode ser outra, diferente, um mega gato que não quer e nós não somos donos de nada. Quando aparece um amor, é uma escolha? É a possibilidade de ser livre? Primeiro, há a beleza, que tanto queremos ter por perto. Depois, a liberdade política, deixar e querer ser livre, fazer livre. Depois, talvez a morte, quando não temos escolha. Mas a vida é para a escolha. Tanto que morrer pode ser opção. Ficar livre de si para sempre. Ou assim Hamlet pensa. Ser ou não ser, não ser é ser ainda do lado de cá da vida. O acto criativo por mais mínimo que seja é o que liberta. A gentileza liberta. A amabilidade liberta. Mas um poema alinhado ou então uma canção que se diz a medo também liberta. Um beijo liberta. Um livro lido ou ensaiado liberta. E passamos a vida inteira a ser o que os outros querem que sejamos ou então só nós para nós. Muda de vida! Como se pode mudar de vida? Só numa escolha complexa. Não é intelectual. É prática. É ser a fazer. Quem não faz o que é não compreende o que é para ser. Quem não compreende não explica. E queremos que tudo seja diferente ou que tudo seja exactamente como é e tem sido até agora. Que escolha? Como escolher quando não se pode escolher? Só escolhemos quando não podemos ser o que somos ou não queremos ter o que temos? Há uma ânsia de liberdade que é uma ânsia de amor. A verdade há-de nos libertar. A verdade revela-se. Ser outro, ser diferente, ser de outra maneira consigo e com os outros. O mundo é outro quando o amor se revela. Uma estrela dançante ou cintilante ou atirada para o céu, quando todos os outros estão aí connosco e saem de cena ou entram em cena. Como gostaria de compor um poema, quando o poema vem e pede para ser escrito. Como eu gostaria de compor uma canção no trânsito quando pede para ser cantada. Como eu gostaria de ensaiar um pensamento quando ele se forma tão consistente à espera de ser pensado e dito. Ou só ter uma rapariga. Falar com ela à beira mar, mesmo quando é inverno, entrar pelas águas frias da Fonte da Telha. Falaríamos dos nossos pais e lutas e futuro. Escolher é ter futuro. Não. Escolher é fazer o futuro. É tão bom não estar só e não ser só. E ver alguém que connosco é livre. Ser livre é também ser feito livre. Ser livre é libertar. Como o combatente que não mata para matar mas para libertar pessoas. O amor, a verdade, são os elementos da escolha. Sem escolher não somos. Não há igualdade de oportunidades. Há uma talvez. E escolher faz de nós quem somos. Somos o que escolhemos. E se for em nome do amor, então, fomos! José Navarro de Andrade h | Artes, Letras e IdeiasCrepúsculos [dropcap]S[/dropcap]erá da idade ou dos tempos, ou do adquirido entendimento que ela me repassou deles – o que sucede é cada vez gostar mais de menos coisas. Por um fenómeno de paralaxe, a quem rebola no encalço das sazonalidades e suas centrifugações há-de parecer isto um horizonte que se estreita. Descreiam-se disso, que não sois falcões atentos, antes avezitas atordoadas e voláteis; é garimpo, ó estrábicos, e mais enxerguem que de tanto descer à mina se alcança o privilégio de esgravatar um filão incessante em ceder pepitas de fino quilate, que nem um par de vidas chegaria para esgotá-lo. Há quem chame a isso “cultura”, mas é palavra (e conceito) falaz e corroída como nenhuma outra. Numa dessas noites não menos trivial do que outras, aconteceu tropeçar televisivamente no mal enterrado “The Sun Also Rises.” O filme passou ao largo dos êxitos e referências de 1957 e foi sumamente desconsiderado pela história e até da melhor crítica. Vale contudo a pena reparar em certas obras falhadas, sobretudo nas que resultam aquém da sua ambição. Esse hiato entre o que pretendiam e o que lograram deixa à mostra a sua mecânica e a sua dinâmica. Se além disso a opulência dos meios de que dispuseram mais não segregou do que lugares-comuns (é sabido que quanto maior o investimento, menor o risco que se deseja correr), tanta vulnerabilidade acaba por fazer de “The Sun Also Rises” o exemplo indiscreto e desprevenido da declinante Hollywood dos anos 50. Vai o filme andando e nós percebendo que a realização foi endossada a Henry King, garante de uma cómoda competência industrial, isenta das então larvares lérias do autorismo (dele caberiam num clip do Youtbe os highlights de toda uma carreira). Por todo o lado o que se vê é a mãozinha de Darryl Zanuck o omnipotente faraó dos estúdios da Fox – ”Don’t say yes until I finish talking” – e por esta altura a parear com Jack Warner como o último moicano do modus operandi da Hollywood dos bons velhos tempos. Não deixa de ser delicioso o aroma falsandé de “The Sun Also Rises”, a crença cega no velho e relho jeito de encher o olho com todo o luxo que o dinheiro pode dar e de almejar caução artística por via da nobre literatura. (Se os aprendizes de hoje pusessem os olhos nestes fiascos talvez não debitassem tantos iguais…) Hemingway, tão tolo quanto tonto em coisas do cinema, odiou o filme pelas razões erradas. Achou que traía a letra do romance sem entender que só avacalhada e revolvida da literatura surtem bons filmes. Nisto o cinema é implacável como tão bem o demonstrou “To Have and Have Not”, belamente deturpado o original de Hemingway pelo argumento de Faulkner e pela câmara de Howard Hawks. Mas o mais perturbante, e perturbadoramente esplêndido, de “The Sun Also Rises” é o elenco. O filme é um invulgar exercício de crueldade. Falhos de direcção Tyrone Power e Mel Ferrer, caras de pau, aborrecem por se levarem demasiado a sério. Mas Errol Flynn e Ava Gardner apoderam-se das personagens como o diabo de uma alma, e expõem despudoradamente a sua decadência. Intumescido e balofo, degradado pelo alcoolismo, Flynn abandona-se ao papel de um bêbado com a desinibição e o sarcasmo de quem já nada espera dos filmes e nada tem neles a provar. Vê-lo aqui é divertido e aterrador ao mesmo tempo. O seu último plano do filme encerra todas as premonições de uma morte iminente: põe os olhos em alvo para o infinito e é tão patético quanto a pose de pé estribado para que o graxa lhe dê lustro aos sapatos. Ele lá sabia que dali a dois anos, com 50 de idade, desceria à cova. O guião pedia a Ava Gardner que em determinada cena seduzisse o imberbe toureiro. Numa época em que às mulheres se exigia o recalcamento de uma Doris Day, o que ela nos proporciona é o devasso espectáculo de si mesma. Gardner solta uma descarga de feromonas sem qualquer fingimento, executa um assédio de pantera liberto do véu da representação. Duvida-se que não seja autêntico o susto exibido por Tyrone Power, reduzido nessa cena à função de pau-de-cabeleira. Se pelo artificio “The Sun Also Rises” queria dizer umas coisas importantes, das que os filmes gostam de proclamar quando se põem em pontas, pelos seus defeitos ele acaba por nos revelar outras coisas bem mais interessantes. Não há glória nem regalia nisto, apenas mais realidade. Sofia Margarida Mota EventosArtfusion | Associação celebra sexto aniversário com evento inclusivo O sexto aniversário da Artfusion vai ser marcado pela realização de um conjunto de actividades que reúnem alunos da associação e pessoas portadoras de deficiência mental, numa iniciativa “verdadeiramente inclusiva”. Exposições, performances e um flashmob estão no programa do evento que tem lugar domingo, entre as 17h e as 19h no CURB – Centro de Arquitectura e Urbanismo [dropcap]A[/dropcap] associação Artfusion assinala o seu aniversário com a promoção do (He)Art, um evento que usa o trocadilho feito com a palavra coração em inglês. O objectivo é, desde logo, reflectir “a arte e amor” com que foi produzido, conta a responsável pela Artfusion, Laura Nyögéri, ao HM. O evento está marcado para o próximo domingo, entre as 17h e as 19h, no CURB – Centro de Arquitectura e Urbanismo, junto à Ponte 9. Tal como em outros projectos levados a cabo pela associação que aposta na educação pela arte, o (He)Art pretende impulsionar a inclusão de pessoas portadoras de deficiência através da sua integração artística. O evento junta assim, o trabalho dos alunos da associação e de membros da IC2 – I Can too – a primeira organização de Macau dedicada ao apoio a pessoas com incapacidades intelectuais. Entre a organização e os participantes, estão envolvidas cerca de 70 pessoas na iniciativa: 40 crianças alunas do Artfusion, 20 membros do IC2 com idades compreendidas entre os cinco e os vinte anos, e 10 elementos que coordenam as actividades, esclarece Laura Nyögéri. Para o efeito o (He)Art vai desdobrar-se em várias iniciativas que vão da exposição das criações artísticas, a “algumas pequenas performances de dança e expressão corporal”. A actividade “mistura as artes performativas com as artes visuais através de pinturas, desenhos, ilustrações, colagens, origamis, fotografia e instalações de arte, onde a exploração monocromática, entre o preto e o branco são a tónica dominante enquanto símbolos da própria associação”. Para terminar, está programado um flashmobe “que envolverá todos os participantes num momento único e divertido”, garante a organizadora. Homenagem a um amigo A acompanhar o evento fica a homenagem ao recentemente falecido fotógrafo local, Nico Fernandes, que colaborou com a Artfusion. A contrastar com as outras actividades monocromáticas “a cor também acontece nesta pequena exposição fotográfica”. “’O MEU AMIGO NICO’, é uma simbólica homenagem e exposição de fotografia de um grande artista e amigo que nos deixou recentemente”, sublinha Laura Nyögéri. O agradecimento é assim deixado ao fotógrafo que “através da sua lente, conferiu um estatuto visual, uma identidade à Artfusion”. No mostra vão constar os trabalhos fotográficos de Nico Fernandes que mais representam estes seis anos de actividade da associação. Caminho sinuoso Laura Nyögéri orgulha-se de conseguir criar aquilo que considera “uma iniciativa verdadeiramente inclusiva”. No entanto as dificuldades para levar a cabo este tipo de actividades em Macau ainda são muitas. A responsável destaca a necessidade de “potenciar recursos humanos, financeiros e materiais que permitam a sustentabilidade destes projectos educativos, artísticos e inclusivos”, salientando que para se atingirem resultados é necessário que estes projectos deixem de ser pontuais e assumam um estatuto de continuidade. Acrescem ainda as situações em que “os apoios são difíceis, há dificuldades para encontrar espaços para realização de aulas e ensaios, as respostas a propostas apresentadas que chegam tardiamente, além da existência de uma ‘ponte’ de preconceitos que é preciso atravessar”. Por outro lado, e não menos importante é a necessidade de mais envolvimento por parte da comunidade. Mas entretanto, a Artfusion não podia estar mais satisfeita com os objectivos alcançados em seis anos de uma actividade baseada na “liberdade de expressão e pela expressão de liberdade, de todos”. Note-se que o evento serve também para apoiar a IC2. Os “trabalhos artísticos estão ao dispor do público, e podem ser adquiridos com doações dos interessados” que revertem integralmente para a organização de apoio a pessoas com deficiência mental para que possam “dar continuidade às aulas de artes visuais e performativas”. Hoje Macau SociedadeCarne de porco | Macau volta a ter venda de animais vivos [dropcap]A[/dropcap] empresa Nam Yue, Nam Kwong e a Companhia de Produtos e Produções especiais da China declararam nesta quarta-feira, que o fornecimento de carne de porco vivo em Macau é estável. Depois da instabilidade no sector devido à epidemia de Peste Suína Africana no continente, na semana passada foram fornecidos mais de 300 porcos vivos por dia a Macau, um número acima do que acima do que era usual antes da doença. Se for detectado algum problema com os animais que vêm para Macau, toda a carga do veículo em que estiverem transportados regressa ao continente. De modo a evitar os custos associados a este tipo de operação as empresas estão a considerar instalar um local de transbordo em Zhuhai. Raquel Moz EventosSão João | Arraial volta a São Lázaro mesmo que a chuva caia Sardinhas, bifanas e cerveja não vão faltar no Arraial de São João, marcado para o fim de semana de 22 e 23 de Junho. O Bairro de São Lázaro volta a crescer, este ano com mais barracas e mais grupos musicais [dropcap]O[/dropcap] Arraial de São João volta ao Bairro de São Lázaro nos dias 22 e 23 de Junho, sábado e domingo, uma iniciativa que se repete pela 13ª vez e conta com mais adesão a cada ano. A organização apresentou ontem, em conferência de imprensa, o programa da festa, que este ano terá mais barracas de artesanato e de “comes-e-bebes”, cerca de 45 contra as 30 de 2018, e mais grupos musicais no elenco, que este ano serão à volta de uma dezena. O formato é semelhante aos anos anteriores e as preocupações são as mesmas. “Esperamos que a chuva não atrapalhe, como é costume nesta época. Nos últimos três anos houve sempre sol, mas no ano passado choveu um pouco”, começou por referir o presidente da Associação dos Macaenses (ADM), Miguel de Senna Fernandes. A festa de ano para ano “tem conquistado mais gente” e “começa a ser referida nos vários meios de comunicação do território, marcando o calendário turístico da cidade”, não só da comunidade portuguesa e macaense, mas da própria população chinesa local. “O Arraial já não é aquela festa dos outros, as pessoas já sabem que em Junho vai haver ali qualquer coisa no bairro. Mesmo amigos chineses já me perguntam muitas vezes, por esta altura, se não temos uma festa para aqueles lados…”, comentou. Este ano cresceu também o número de interessados em participar, tanto na exploração das barracas, como nas actuações musicais. Foi necessário avaliar bem o tipo de produtos artesanais e dos petiscos em oferta, para que fossem adequados ao espírito da festa popular que se pretende. “É uma festa de rua, uma festa das comunidades”, disse Miguel de Senna Fernandes, e não um “local para apresentação de produtos importados ou para revenda de artigos comprados nalguns desses sites online, que não são típicos de um arraial,”, acrescentou a presidente da Casa de Portugal em Macau (CPM), Amélia António. E o recado fica dado, “vamos estar atentos à decoração das barracas, para ver se estão apresentáveis e festivas”, e “eventualmente vamos nomear algumas pessoas, tipo inspectores da Michelin”, para passarem revista aos enfeites das barracas. “No futuro, os que não tiverem essa preocupação, talvez venham a ter consequências, como ir parar ao fundo da lista, caso o número de interessados aumente”, ameaçou com graça a responsável. Venha o bailarico O programa de sábado e domingo começa por volta das 14h30 e vai até às 22h00, hora a que o som da música acaba, por obrigações legais relacionadas com o ruído numa zona habitacional. A abertura das festividades contará com a tradicional Bênção e Missa de São João, no sábado, seguida durante os dois dias pelas participações de escolas, actuações de grupos musicais amadores, bandas jovens de rap e de jazz, e a apresentação ao vivo dos Senza, que vêm de Portugal a convite da organização para animar a festa local. É um “grupo de música portuguesa inspirado em viagens”, como são identificados nas redes sociais, formado pelo par Catarina Duarte e Nuno Caldeira. A expectativa dos organizadores é que o público continue a aumentar, como tem acontecido todos os anos. Quanto a estatísticas, é impossível saber ao certo. “É um feeling que temos”, brinca o presidente da ADM, “é que no Bairro de São Lázaro o espaço é exíguo, quando nos sentimos mais apertados ficamos felizes, porque é sinal de que há mais gente!”. Mas os indicadores são também outros: a velocidade a que desaparecem as sardinhas, as bifanas e as cervejas. “Costumamos falar também com as pessoas que vendem comida, sobretudo a mais tradicional, que são os mesmos que ali estão desde que há arraial. São eles que sabem melhor como foi o movimento, se a procura foi maior, se venderam mais. Temos assim uma noção da afluência das pessoas, são estas as nossas estatísticas”, reforça a presidente da CPM. Orçamento e parcerias O orçamento da iniciativa rondará este ano as 500 mil patacas, um pouco acima, dado o enorme aumento dos preços praticados pelos fornecedores dos serviços necessários para montar a festa. No ano passado, a verba prevista era entre 400 e 500 mil patacas. O principal apoio é da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), as restantes associações têm ainda verbas atribuídas pela Fundação Macau para a sua participação na iniciativa, segundo os organizadores. Os parceiros, além da ADM e da CPM, são também a Associação Promotora da Instrução dos Macaenses, o Instituto Internacional de Macau, a Associação dos Jovens Macaenses e a APOMAC – Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau –, sem esquecer a participação especial da Escola Portuguesa, não a nível institucional, mas com assento sempre presente na organização do evento. A festa é garantida, “faça chuva ou faça sol”, e apenas se pede às famílias que estejam de olho nas crianças, já que todos os anos têm havido receios de que alguém se possa magoar nas correrias e subidas de escadas, que a organização não pode vedar ou controlar. Concurso | Melhores vídeos dão prémios “Os Melhores Momentos do Arraial de São João em Vídeo – IIM 2019” é o título do concurso que o Instituto Internacional de Macau lança este ano a todos os jovens interessados em participar. A ideia é retratar e captar as melhores imagens da festa, durante os dois dias, com qualquer tipo de dispositivo, incluindo telemóvel. Podem ser utilizadas aplicações criativas e efeitos especiais, não devendo os trabalhos exceder os dois minutos de duração. O vídeo deverá ser publicado na página de Facebook do Arraial de São João (@MacauSaintJohnFestival), após ser feito o “like” à página e o “upload” do ficheiro. O concurso encerra às 17h horas de domingo, dia 23 de Junho, e o anúncio dos prémios será realizado na mesma tarde pelas 19h através do Facebook. Os vencedores terão que estar presentes no Arraial para receberem os prémios: 1º Lugar – 2 mil patacas, 2º e 3ºLugares – 500 patacas. Os vídeos premiados e respectivas imagens serão utilizadas para o anúncio promocional do Arraial de São de João do próximo ano. Hoje Macau SociedadeAACM | Aprovados novos procedimentos para aterrar em Macau [dropcap]A[/dropcap] Autoridade de Aviação Civil de Macau (AACM) anunciou ontem, em comunicado, que foram aprovados novos procedimentos para aterragens no Aeroporto Internacional de Macau, um processo para o qual a Air Macau contribuiu. Desta forma, os operadores aéreos “podem diminuir o número de voltas e desvios de voos resultantes de condições meteorológicas desfavoráveis quando fazem aterragens (do lado norte para o sul) na pista 16”, pode ler-se. Os novos procedimentos “garantem a segurança operacional e a eficiência das aeronaves quando aterram na pista 16” e estão relacionados com a implementação de padrões internacionais que começaram a ser analisados em 2017 entre a AACM e a Air Macau, com o contributo de uma consultora internacional. Sofia Margarida Mota PolíticaFilipinas | Declarações de cônsul desiludem empregadas domésticas As empregadas domésticas filipinas estão zangadas e desiludidas com a falta de apoio por parte da cônsul-geral das Filipinas em Macau, Lilybeth R. Deapera. Em causa estão as palavras ditas pela diplomata em que declarou que se estiverem insatisfeitas com as leis locais, como a exclusão do salário mínimo, não têm que vir para o território [dropcap]I[/dropcap]nsensível e sem empatia”, são as palavras usadas pela presidente do Sindicato Verde dos Trabalhadores Migrantes das Filipinas em Macau, Nedie Taberdo, para descrever a Cônsul-Geral das Filipinas em Macau, Lilybeth R. Deapera. A caracterização surge em reacção às declarações proferidas pela diplomata na passada quarta-feira. Lilybeth R. Deapera afirmou que as trabalhadoras domésticas que considerem injusta a exclusão da proposta de salário mínimo têm sempre a opção de não trabalharem em Macau. “São as forças de mercado que ditam e, claro, os trabalhadores podem fazer escolhas, se acham que não é justo para eles, têm a opção de não vir trabalhar para Macau. Eles devem considerar todas as possibilidades e pensar em como podem garantir que os seus direitos sejam protegidos”, disse Deapera à margem da comemoração do 121ª aniversário das Filipinas, citada pelo Jornal Tribuna de Macau. A intervenção da diplomata foi recebida com tristeza e ira por quem a via como representante e defensora de direitos. “Estamos zangadas e desiludidas”, sublinhou Nedie Taberdo ao HM. Ao invés, tiveram como resposta às preocupações “uma declaração sem nenhuma sensibilidade à realidade das pessoas que deveria estar a representar e a defender”, apontou Nedie Taberdo. “Somos empregadas domésticas, e se estamos aqui é porque estamos a tentar ter melhores condições de vida para dar à nossa família”, justificou. Para Nedie Taberdo “ouvir que não temos que trabalhar em Macau é uma falta de respeito por estas trabalhadoras que nem têm direito ao salário mínimo”. Discriminação regional A opinião é generalizada às colegas de Nedie Taberdo, que se sentem marginalizadas pela diplomata, aponta a responsável falando em nome da associação que representa. A descriminação não tem apenas que ver com as recentes declarações da diplomata que já tem historial no destrate das conterrâneas que trabalham na RAEM. Lilybeth R. Deapera “tem protegido as empregadas de Hong Kong, mas de Macau nunca ajudou em nada”, sublinha a activista. A razão que leva à ausência de apoio diplomático é desconhecida de Nedie Taberdo e das suas compatriotas, mas a cônsul-geral “em Hong Kong apoiou as empregadas domésticas imigrantes e agora naquele território, elas não pagam taxas de contratação às agências de emprego”, disse. Por cá, encontra-se em discussão na especialidade a lei que vai regulamentar o funcionamento das agências de emprego que não isenta as trabalhadoras do pagamento de taxa. Além disso, tem de pagar duplamente, primeiro na entidade das Filipinas e depois na agência de Macau. “Vamos estar sujeitas a pagar duas vezes”, lamenta. Entrada limitada A novo diploma para as agências de emprego não se fica por aqui em termos de restrições à contratação de trabalhadores filipinos. “Não podemos vir para Macau como turistas e temos sempre de nos submeter às agências. Seria muito mais fácil tratar das coisas cara a cara com os patrões e vir por recomendação. Por outro lado, como é que os empregadores podem ter acesso a um período à experiência de dois ou três dias para que possam avaliar o trabalho da candidata?”, questiona. A associação a que preside entregou uma petição à Assembleia Legislativa (AL) contra o novo diploma, no entanto ainda não têm qualquer feedback nem houve nenhuma chamada por parte dos deputados que disseram publicamente que pretendiam ouvir as opiniões das empregadas domésticas. “Estamos à espera para ver o que acontece na sequência da entrega da petição e depois logo pensamos no que podemos fazer. A AL aceitou a petição, penso que estejam a considerar e que voltem atrás quanto às taxas”, disse. Entretanto, o diploma que prevê o salário mínimo universal foi aprovado na generalidade e deixa de fora empregadas domésticas e pessoas portadoras de deficiência. «1...159160161162163164165...272»
Hoje Macau Folhetim h | Artes, Letras e IdeiasA dama do chá [dropcap]O[/dropcap] Inferno não existe. Não é preciso. A vida é que é uma longa agonia. O velho padre Afonso dos Reis dissera isso a Cândido Vilaça, quando este tentara confessar-se pela primeira vez. E pela última. O padre, depois de ter percorrido o Extremo-Oriente tentando converter todas as almas possíveis, também parecia desiludido e cansado. Cândido tinha um saxofone para poder respirar. Ao padre restava a fé. Afonso dos Reis nunca voltaria às sua Beira-Alta portuguesa. Ficaria ali, na poeira que um dia quisera transformar no caminho para o paraíso. Cândido Vilaça lembrou-se do padre quando saiu da casa de pasto “O Alvoroço” e sentiu o choque sufocante do calor. Ao contrário dos chineses, que comiam peixe frito ou arroz com galinha, pedira cogumelos em molho de caranguejo. Isto enquanto bebia várias cervejas. Agora voltava a deparar-se com o inferno do calor. Ajeitou o chapéu e começou a percorrer a rua que o levava até à loja de Jin Shixin, na Avenida Almeida Ribeiro. Sorriu ao lembrar-se das palavras do padre: – Deus está interessado na Terra tal como no Céu. Na luz do Céu como na de uma vela, nos discípulos como nos anjos. Ou nos diabos. No ordinário e comum, como na santidade. Às vezes duvidava, mas quem era ele para questionar o que era muito mais complicado do que tocar saxofone ou pôr as pessoas a dançar? Viu riquexós, mas decidiu continuar a caminhar ao sol, como se quisesse expiar ali todos os seus pecados. Até chegar à loja não deveria conseguir esse intento. Por ele passaram chineses com caixas de bambu ao ombro, gente pobre, sem nada, que apenas procurava sobreviver. Nisso, não eram tão diferentes dos portugueses. As mulheres portuguesas, sempre solitárias, caminhavam de guarda-sol para se protegerem do calor e da luz. Vinham de diferentes locais, para a missa ou para a confissão, que as esperava numa das muitas igrejas de Macau. Sentiu, por vezes, o odor do ópio, enquanto se afastava dos cães e galinhas que percorriam a rua em busca de comida. Continuou a caminhar calmamente até ao “Jardim Celestial”, a loja de chá de Jin. Quando chegou, ficou do outro lado da rua, à sombra. Perto estava um chinês magro, vestido com uma cabaia de ganga, que olhava fixamente para a porta da loja, enquanto conversava com um homem mais velho, vestido com um fato de linho. Quando este levantou a cara, reparou que era japonês. Disse qualquer coisa e afastou-se. Então o chinês voltou-se para Cândido. Este não deixou de se surpreender. Apesar do cabelo curto, de rapaz, a face dele traía-o. Era uma rapariga, ainda jovem, que o fulminou com o olhar. Como se ele estivesse ali a mais. O português sentiu-se intimidado. Antes dela se virar e começar a andar até outro ponto da rua, Cândido percebeu: a rapariga não era chinesa. Era japonesa. Deixou passar uns minutos, mas quando atravessou a avenida não viu sinal da japonesa. Entrou e deparou-se com Wen Xiao. Este inquiriu-o com o olhar, sem dizer nada. Cândido disse apenas: – Venho falar com a menina Jin Shixin. Depois decido se levo chá. Wen Xiao olhou para ele com desdém. Mas, quando ia responder, surgiu Jin. Sorriu e disse: – O senhor Cândido pode entrar. É um amigo. O chinês não pareceu convencido, mas desviou-se e deixou Cândido caminhar até junto de Jin e depois segui-la para uma pequena sala interior. Ela sentou-se num pequeno banco e fez-lhe sinal para ele se sentar noutro, que estava perto. – Quer um chá? – Para já não. – Qual é o motivo da sua visita, então? – Mera cortesia. Estava aqui perto e decidi vir comprar chá. Dizem que aqui é possível encontrar o melhor que há em Macau. Ela sorriu, mas os seus olhos estavam alerta. Cândido disse então: – Talvez por isso tem clientes japoneses. Ou terá brevemente. – Porquê? – Um, ou melhor, uma japonesa que parece um rapaz, estava aqui defronte a espiar. E outro estava a conversar com ela, mas fugiu assim que me viu. O olhar dela não revelou nenhum pânico. – Eu sei que eles estão ali. – Acredito. Mas, depois do que aconteceu nas Ruínas de São Paulo, e do que agora vi à entrada, pergunto-me: o que querem os japoneses de si? Claramente estão em choque. – Ainda não percebeu, Cândido. É ingénuo? – Às vezes sou. Por isso é que preciso que me expliquem o que não entendo. Macau é uma terra pacata. – Só na superfície. A guerra está aqui. E separa-nos, chineses e japoneses. Sabe o que eles fizeram em Xangai, não? Cândido fechou os olhos, como se não quisesse recordar-se. – Então sabe o que nós combatemos aqui, em Macau. Só os portugueses não repararam na rede de espiões que eles aqui têm, tal como em Hong Kong, na Malásia ou em Batávia. E seguem-me. Tal como eu os sigo a eles. – E quem são eles? – Um, conheceste nas Ruínas de São Paulo. Chama-se Toshio Nomura, e tem uma empresa de importação e exportação, no Largo do Leal Senado. Viveu muito tempo no Brasil e fala português. Depois há outros que vagueiam entre Macau, Hong Kong e Xangai. E há alguns portugueses, que lhes dão informações importantes. – Portugueses? – Alguns sim. Não te espantes, Cândido. Face ao dinheiro, todos têm fraquezas. Um deles é o teu amigo Prazeres da Costa. Era ele que estava com o Nomura, caso não tenhas percebido. Cândido sondou os olhos de Jin. Ela não mentia. Mesmo que não dissesse toda a verdade. – O perigo nem sempre está nos recifes, muitas vezes está no mar aberto. À vista de todos. A guerra não é um jogo de mahjong. E está agora a desenrolar-se nas ruas de Macau. E tu, sem o quereres, fazes parte dela. Deixaste de poder esconder-te na sombra, à espera que a tempestade acalme. Que lados vais escolher? Ou, simplesmente, vais tentar fingir que nada é contigo? Cândido percebeu. De nada lhe valia agora dizer que era português. Ou músico. Ou que só queria a paz. Os japoneses já o tinham colocado ao lado dos chineses de Jin. Levantou-se devagar e a chinesa fez o mesmo. Aproximaram-se e, quase sem querer, Cândido beijou a face de Jin. Esta não se afastou, como se o esperasse. E quisesse. Ficaram durante alguns segundos a olhar um para o outro, sem saber o que fazer. E Cândido voltou a beijá-la, agora nos lábios. Quando se afastaram, ele virou-se e saiu. Quando chegou à rua inspirou o ar pesado. O calor não pareceu ser tão infernal. Viu a rapariga japonesa que tinha voltado para o lugar onde reparara nela pela primeira vez. E, sem saber porquê, relembrou algumas palavras do padre Afonso dos Reis. – Sabes, Cândido, os homens residem num mundo que não governam. São os imortais, os deuses, que velam por nós. Foram eles que deram forma ao mundo. Os homens não conheciam a morte, mas quando se encerraram no seu círculo, começaram a morrer. O Céu é agora o refúgio dos imortais, os deuses que, como os gregos acreditavam, vivem no Olimpo. A Terra foi legada aos homens que envelhecem e morrem. E o Inferno é o abrigo dos que já morreram. Por isso importa viver e estar do lado da verdade. Para que um dia possamos perceber a razão dos imortais. Valério Romão h | Artes, Letras e IdeiasLisboa, capital do barulho [dropcap]N[/dropcap]a ínfima possibilidade de Lisboa um dia se tornar uma cidade minimamente civilizada, este tempo em que vivemos será lembrado com um travo de repugnância ao falar-se dele e sem pinga de saudade. Embora a massificação do turismo tenha tido o condão de estimular a reabilitação de muitos edifícios devolutos em Lisboa (e com isso os sectores muito específicos da construção e hotelaria), diria que foi das pouquíssimas coisas boas que o turismo trouxe. Não lhe subjaz no entanto qualquer intenção benemérita: uma cidade com tanta afluência turística vê-se obrigada a aproveitar todo o espaço disponível se quer incrementar as vendas dos típicos patos de borracha ou dos milenares pastéis de bacalhau com queijo da serra. No fundo, a reabilitação imobiliária é apenas uma externalidade positiva, um efeito colateral do turismo, algo que as empresas do sector dispensariam de bom grado se outra forma de garantir o mesmo lucro houvesse. De resto, a albufeirização em curso tem sido pródiga a produzir efeitos negativos: escassos transportes públicos sobrelotados (os nativos ainda levaram algum tempo a aceitar o confisco turístico do eléctrico 28), subida olímpica dos valores das rendas, multiplicação descontrolada dos alojamentos locais, descaracterização progressiva da cidade, dos seus bairros, extinção lenta mas inexorável de um modo de vida incapaz de sobreviver sem aqueles que nele participavam, implosão gradual do comércio de proximidade, substituído por lojas de bugigangas inúteis e botecos gourmet nos quais se comercializa uma banalidade sobreadjectivada a preço de estrela Michelin, lixo, confusão e barulho. Muito barulho. Lisboa nunca foi generosa para com os seus no que diz respeito à permissividade com que lida com o ruído produzido, nomeadamente o nocturno. Quando não o estimula directamente, mediante a organização ou promoção de eventos, autoriza-o com a emissão de licenças. Em Junho, então, é freestyle. São os santos, as barraquinhas de farturas com colunas do tamanho de barris de cerveja a debitarem um medley dos peitos da cabritinha e da garagem da vizinha em loop, os gritos ébrios na rua às tantas da manhã e os múltiplos transportes que levam esta gente dos sítios onde se embebedam para os sítios onde dormem. Quem se pode legitimamente queixar quando em doze meses de sono possível só um lhe é perturbado? Há pouco tempo foi criado um grupo público de discussão no Facebook, chamado Menos barulho em Lisboa, no qual os seus participantes escrevem sobre a poluição sonora que, muito por via do crescimento exponencial do turismo, tem retirado tranquilidade às suas vidas. São relatos de ruído caucionado ou estimulado pelas autoridades que deviam proteger aqueles cuja ecologia vital se encontra ameaçada das mais diversas formas. Percebe-se a natureza displicente do fenómeno: a Câmara, como uma loja da Bershka, quer dar a impressão de que a cidade está sempre em festa, e quando não é ela própria a promover as mais diversas aberrações sonoras – a última delas um barco junto à Ribeira das Naus a debitar um tecno de after de má memória a tarde toda de um domingo – faz vista grossa a quem ultrapassa os limites em vigor. The show must go on. E é disso que se trata, de limites. E é nisso que esta gestão municipal tem sido péssima. Em entrando dinheiro, tudo o resto sofre de um efeito de desfoco ou de desvalorização de importância. A vida das pessoas, de Lisboa e dos seus habitantes, está indexada a uma dimensão apenas: a forma como podem não perturbar a ordenha da vaca leiteira em que a cidade se converteu. António de Castro Caeiro h | Artes, Letras e IdeiasLiberdade [dropcap]D[/dropcap]estino e fado são palavras muito antigas. O sítio onde se vai parar. A vida que foi predita. Se assim é, haverá margem de manobra para a escolha? Schelling diz o que Heidegger repete: deixar-se actuar pela liberdade. Ser livre é possível se temos um destino e um fado? Se temos uma destinação e uma predição como é possível escolher. Quantas vezes escolhemos na vida? Temos grandes superfícies para escolher o que queremos? Não queremos já antes de escolher? Podemos escolher vidas diferentes? Podemos fazer que o que não queríamos que acontecesse não tivesse acontecido? Podemos fazer acontecer aquilo que queríamos que tivesse acontecido? Lembro-me de, quando a sul, em Agosto, via uma estrela cadente. Pedia-se um desejo. Eu sei o que pedia. O mesmo se passava, quando soavam as doze badaladas na passagem do ano. Engolíamos doze passas e pedíamos um desejo. Eu sabia o que pedia. Pedir significa que não temos escolha. Gostaríamos de ter o que não temos ou ser quem não somos. Ainda. Há grandes escolhas na vida que estão feitas para nós. Assim, não as escolhemos: mãe e pai, família, país, época do ano em que nascemos, amigos que encontramos, gostos, desportos se for caso disso e livros que é o caso. Sem ler não há viver. Mas como se fazem as pequenas escolhas? Como é possível escolher? Sobretudo, quando podemos perder e dizer não ou não dizer sim? Lembro-me muito bem de como, infante, não queria estar no próprio corpo nem fazer o que me diziam para fazer ou então só viver a vida que viviam para mim. Como ser livre? E como ter uma ânsia de liberdade? O que é ser livre se somos obrigados a ser livres? Querer uma coisa implica trabalho. Os gregos achavam que se queríamos alguma coisa ela não viria sem trabalho. Hércules e Jasão ou Perseu, o meu herói de sempre, sabiam disso. Para libertar uma mãe, um País, ou alguém ou até só o próprio. Ser livre é também livrar-se de qualquer coisa ou do alguém que não gostamos de ser. Como nos libertamos para nós próprios? Como pode o rei Édipo não se cegar, depois de partilhar a cama com a sua mãe e matar o seu pai? Como podemos nós não ser quem nós somos, quando não queremos ser os próprios? Os próprios são os outros que somos. Temos um apego a nós e não queríamos ser outros. Contudo, a vida pode ser outra, diferente, um mega gato que não quer e nós não somos donos de nada. Quando aparece um amor, é uma escolha? É a possibilidade de ser livre? Primeiro, há a beleza, que tanto queremos ter por perto. Depois, a liberdade política, deixar e querer ser livre, fazer livre. Depois, talvez a morte, quando não temos escolha. Mas a vida é para a escolha. Tanto que morrer pode ser opção. Ficar livre de si para sempre. Ou assim Hamlet pensa. Ser ou não ser, não ser é ser ainda do lado de cá da vida. O acto criativo por mais mínimo que seja é o que liberta. A gentileza liberta. A amabilidade liberta. Mas um poema alinhado ou então uma canção que se diz a medo também liberta. Um beijo liberta. Um livro lido ou ensaiado liberta. E passamos a vida inteira a ser o que os outros querem que sejamos ou então só nós para nós. Muda de vida! Como se pode mudar de vida? Só numa escolha complexa. Não é intelectual. É prática. É ser a fazer. Quem não faz o que é não compreende o que é para ser. Quem não compreende não explica. E queremos que tudo seja diferente ou que tudo seja exactamente como é e tem sido até agora. Que escolha? Como escolher quando não se pode escolher? Só escolhemos quando não podemos ser o que somos ou não queremos ter o que temos? Há uma ânsia de liberdade que é uma ânsia de amor. A verdade há-de nos libertar. A verdade revela-se. Ser outro, ser diferente, ser de outra maneira consigo e com os outros. O mundo é outro quando o amor se revela. Uma estrela dançante ou cintilante ou atirada para o céu, quando todos os outros estão aí connosco e saem de cena ou entram em cena. Como gostaria de compor um poema, quando o poema vem e pede para ser escrito. Como eu gostaria de compor uma canção no trânsito quando pede para ser cantada. Como eu gostaria de ensaiar um pensamento quando ele se forma tão consistente à espera de ser pensado e dito. Ou só ter uma rapariga. Falar com ela à beira mar, mesmo quando é inverno, entrar pelas águas frias da Fonte da Telha. Falaríamos dos nossos pais e lutas e futuro. Escolher é ter futuro. Não. Escolher é fazer o futuro. É tão bom não estar só e não ser só. E ver alguém que connosco é livre. Ser livre é também ser feito livre. Ser livre é libertar. Como o combatente que não mata para matar mas para libertar pessoas. O amor, a verdade, são os elementos da escolha. Sem escolher não somos. Não há igualdade de oportunidades. Há uma talvez. E escolher faz de nós quem somos. Somos o que escolhemos. E se for em nome do amor, então, fomos! José Navarro de Andrade h | Artes, Letras e IdeiasCrepúsculos [dropcap]S[/dropcap]erá da idade ou dos tempos, ou do adquirido entendimento que ela me repassou deles – o que sucede é cada vez gostar mais de menos coisas. Por um fenómeno de paralaxe, a quem rebola no encalço das sazonalidades e suas centrifugações há-de parecer isto um horizonte que se estreita. Descreiam-se disso, que não sois falcões atentos, antes avezitas atordoadas e voláteis; é garimpo, ó estrábicos, e mais enxerguem que de tanto descer à mina se alcança o privilégio de esgravatar um filão incessante em ceder pepitas de fino quilate, que nem um par de vidas chegaria para esgotá-lo. Há quem chame a isso “cultura”, mas é palavra (e conceito) falaz e corroída como nenhuma outra. Numa dessas noites não menos trivial do que outras, aconteceu tropeçar televisivamente no mal enterrado “The Sun Also Rises.” O filme passou ao largo dos êxitos e referências de 1957 e foi sumamente desconsiderado pela história e até da melhor crítica. Vale contudo a pena reparar em certas obras falhadas, sobretudo nas que resultam aquém da sua ambição. Esse hiato entre o que pretendiam e o que lograram deixa à mostra a sua mecânica e a sua dinâmica. Se além disso a opulência dos meios de que dispuseram mais não segregou do que lugares-comuns (é sabido que quanto maior o investimento, menor o risco que se deseja correr), tanta vulnerabilidade acaba por fazer de “The Sun Also Rises” o exemplo indiscreto e desprevenido da declinante Hollywood dos anos 50. Vai o filme andando e nós percebendo que a realização foi endossada a Henry King, garante de uma cómoda competência industrial, isenta das então larvares lérias do autorismo (dele caberiam num clip do Youtbe os highlights de toda uma carreira). Por todo o lado o que se vê é a mãozinha de Darryl Zanuck o omnipotente faraó dos estúdios da Fox – ”Don’t say yes until I finish talking” – e por esta altura a parear com Jack Warner como o último moicano do modus operandi da Hollywood dos bons velhos tempos. Não deixa de ser delicioso o aroma falsandé de “The Sun Also Rises”, a crença cega no velho e relho jeito de encher o olho com todo o luxo que o dinheiro pode dar e de almejar caução artística por via da nobre literatura. (Se os aprendizes de hoje pusessem os olhos nestes fiascos talvez não debitassem tantos iguais…) Hemingway, tão tolo quanto tonto em coisas do cinema, odiou o filme pelas razões erradas. Achou que traía a letra do romance sem entender que só avacalhada e revolvida da literatura surtem bons filmes. Nisto o cinema é implacável como tão bem o demonstrou “To Have and Have Not”, belamente deturpado o original de Hemingway pelo argumento de Faulkner e pela câmara de Howard Hawks. Mas o mais perturbante, e perturbadoramente esplêndido, de “The Sun Also Rises” é o elenco. O filme é um invulgar exercício de crueldade. Falhos de direcção Tyrone Power e Mel Ferrer, caras de pau, aborrecem por se levarem demasiado a sério. Mas Errol Flynn e Ava Gardner apoderam-se das personagens como o diabo de uma alma, e expõem despudoradamente a sua decadência. Intumescido e balofo, degradado pelo alcoolismo, Flynn abandona-se ao papel de um bêbado com a desinibição e o sarcasmo de quem já nada espera dos filmes e nada tem neles a provar. Vê-lo aqui é divertido e aterrador ao mesmo tempo. O seu último plano do filme encerra todas as premonições de uma morte iminente: põe os olhos em alvo para o infinito e é tão patético quanto a pose de pé estribado para que o graxa lhe dê lustro aos sapatos. Ele lá sabia que dali a dois anos, com 50 de idade, desceria à cova. O guião pedia a Ava Gardner que em determinada cena seduzisse o imberbe toureiro. Numa época em que às mulheres se exigia o recalcamento de uma Doris Day, o que ela nos proporciona é o devasso espectáculo de si mesma. Gardner solta uma descarga de feromonas sem qualquer fingimento, executa um assédio de pantera liberto do véu da representação. Duvida-se que não seja autêntico o susto exibido por Tyrone Power, reduzido nessa cena à função de pau-de-cabeleira. Se pelo artificio “The Sun Also Rises” queria dizer umas coisas importantes, das que os filmes gostam de proclamar quando se põem em pontas, pelos seus defeitos ele acaba por nos revelar outras coisas bem mais interessantes. Não há glória nem regalia nisto, apenas mais realidade. Sofia Margarida Mota EventosArtfusion | Associação celebra sexto aniversário com evento inclusivo O sexto aniversário da Artfusion vai ser marcado pela realização de um conjunto de actividades que reúnem alunos da associação e pessoas portadoras de deficiência mental, numa iniciativa “verdadeiramente inclusiva”. Exposições, performances e um flashmob estão no programa do evento que tem lugar domingo, entre as 17h e as 19h no CURB – Centro de Arquitectura e Urbanismo [dropcap]A[/dropcap] associação Artfusion assinala o seu aniversário com a promoção do (He)Art, um evento que usa o trocadilho feito com a palavra coração em inglês. O objectivo é, desde logo, reflectir “a arte e amor” com que foi produzido, conta a responsável pela Artfusion, Laura Nyögéri, ao HM. O evento está marcado para o próximo domingo, entre as 17h e as 19h, no CURB – Centro de Arquitectura e Urbanismo, junto à Ponte 9. Tal como em outros projectos levados a cabo pela associação que aposta na educação pela arte, o (He)Art pretende impulsionar a inclusão de pessoas portadoras de deficiência através da sua integração artística. O evento junta assim, o trabalho dos alunos da associação e de membros da IC2 – I Can too – a primeira organização de Macau dedicada ao apoio a pessoas com incapacidades intelectuais. Entre a organização e os participantes, estão envolvidas cerca de 70 pessoas na iniciativa: 40 crianças alunas do Artfusion, 20 membros do IC2 com idades compreendidas entre os cinco e os vinte anos, e 10 elementos que coordenam as actividades, esclarece Laura Nyögéri. Para o efeito o (He)Art vai desdobrar-se em várias iniciativas que vão da exposição das criações artísticas, a “algumas pequenas performances de dança e expressão corporal”. A actividade “mistura as artes performativas com as artes visuais através de pinturas, desenhos, ilustrações, colagens, origamis, fotografia e instalações de arte, onde a exploração monocromática, entre o preto e o branco são a tónica dominante enquanto símbolos da própria associação”. Para terminar, está programado um flashmobe “que envolverá todos os participantes num momento único e divertido”, garante a organizadora. Homenagem a um amigo A acompanhar o evento fica a homenagem ao recentemente falecido fotógrafo local, Nico Fernandes, que colaborou com a Artfusion. A contrastar com as outras actividades monocromáticas “a cor também acontece nesta pequena exposição fotográfica”. “’O MEU AMIGO NICO’, é uma simbólica homenagem e exposição de fotografia de um grande artista e amigo que nos deixou recentemente”, sublinha Laura Nyögéri. O agradecimento é assim deixado ao fotógrafo que “através da sua lente, conferiu um estatuto visual, uma identidade à Artfusion”. No mostra vão constar os trabalhos fotográficos de Nico Fernandes que mais representam estes seis anos de actividade da associação. Caminho sinuoso Laura Nyögéri orgulha-se de conseguir criar aquilo que considera “uma iniciativa verdadeiramente inclusiva”. No entanto as dificuldades para levar a cabo este tipo de actividades em Macau ainda são muitas. A responsável destaca a necessidade de “potenciar recursos humanos, financeiros e materiais que permitam a sustentabilidade destes projectos educativos, artísticos e inclusivos”, salientando que para se atingirem resultados é necessário que estes projectos deixem de ser pontuais e assumam um estatuto de continuidade. Acrescem ainda as situações em que “os apoios são difíceis, há dificuldades para encontrar espaços para realização de aulas e ensaios, as respostas a propostas apresentadas que chegam tardiamente, além da existência de uma ‘ponte’ de preconceitos que é preciso atravessar”. Por outro lado, e não menos importante é a necessidade de mais envolvimento por parte da comunidade. Mas entretanto, a Artfusion não podia estar mais satisfeita com os objectivos alcançados em seis anos de uma actividade baseada na “liberdade de expressão e pela expressão de liberdade, de todos”. Note-se que o evento serve também para apoiar a IC2. Os “trabalhos artísticos estão ao dispor do público, e podem ser adquiridos com doações dos interessados” que revertem integralmente para a organização de apoio a pessoas com deficiência mental para que possam “dar continuidade às aulas de artes visuais e performativas”. Hoje Macau SociedadeCarne de porco | Macau volta a ter venda de animais vivos [dropcap]A[/dropcap] empresa Nam Yue, Nam Kwong e a Companhia de Produtos e Produções especiais da China declararam nesta quarta-feira, que o fornecimento de carne de porco vivo em Macau é estável. Depois da instabilidade no sector devido à epidemia de Peste Suína Africana no continente, na semana passada foram fornecidos mais de 300 porcos vivos por dia a Macau, um número acima do que acima do que era usual antes da doença. Se for detectado algum problema com os animais que vêm para Macau, toda a carga do veículo em que estiverem transportados regressa ao continente. De modo a evitar os custos associados a este tipo de operação as empresas estão a considerar instalar um local de transbordo em Zhuhai. Raquel Moz EventosSão João | Arraial volta a São Lázaro mesmo que a chuva caia Sardinhas, bifanas e cerveja não vão faltar no Arraial de São João, marcado para o fim de semana de 22 e 23 de Junho. O Bairro de São Lázaro volta a crescer, este ano com mais barracas e mais grupos musicais [dropcap]O[/dropcap] Arraial de São João volta ao Bairro de São Lázaro nos dias 22 e 23 de Junho, sábado e domingo, uma iniciativa que se repete pela 13ª vez e conta com mais adesão a cada ano. A organização apresentou ontem, em conferência de imprensa, o programa da festa, que este ano terá mais barracas de artesanato e de “comes-e-bebes”, cerca de 45 contra as 30 de 2018, e mais grupos musicais no elenco, que este ano serão à volta de uma dezena. O formato é semelhante aos anos anteriores e as preocupações são as mesmas. “Esperamos que a chuva não atrapalhe, como é costume nesta época. Nos últimos três anos houve sempre sol, mas no ano passado choveu um pouco”, começou por referir o presidente da Associação dos Macaenses (ADM), Miguel de Senna Fernandes. A festa de ano para ano “tem conquistado mais gente” e “começa a ser referida nos vários meios de comunicação do território, marcando o calendário turístico da cidade”, não só da comunidade portuguesa e macaense, mas da própria população chinesa local. “O Arraial já não é aquela festa dos outros, as pessoas já sabem que em Junho vai haver ali qualquer coisa no bairro. Mesmo amigos chineses já me perguntam muitas vezes, por esta altura, se não temos uma festa para aqueles lados…”, comentou. Este ano cresceu também o número de interessados em participar, tanto na exploração das barracas, como nas actuações musicais. Foi necessário avaliar bem o tipo de produtos artesanais e dos petiscos em oferta, para que fossem adequados ao espírito da festa popular que se pretende. “É uma festa de rua, uma festa das comunidades”, disse Miguel de Senna Fernandes, e não um “local para apresentação de produtos importados ou para revenda de artigos comprados nalguns desses sites online, que não são típicos de um arraial,”, acrescentou a presidente da Casa de Portugal em Macau (CPM), Amélia António. E o recado fica dado, “vamos estar atentos à decoração das barracas, para ver se estão apresentáveis e festivas”, e “eventualmente vamos nomear algumas pessoas, tipo inspectores da Michelin”, para passarem revista aos enfeites das barracas. “No futuro, os que não tiverem essa preocupação, talvez venham a ter consequências, como ir parar ao fundo da lista, caso o número de interessados aumente”, ameaçou com graça a responsável. Venha o bailarico O programa de sábado e domingo começa por volta das 14h30 e vai até às 22h00, hora a que o som da música acaba, por obrigações legais relacionadas com o ruído numa zona habitacional. A abertura das festividades contará com a tradicional Bênção e Missa de São João, no sábado, seguida durante os dois dias pelas participações de escolas, actuações de grupos musicais amadores, bandas jovens de rap e de jazz, e a apresentação ao vivo dos Senza, que vêm de Portugal a convite da organização para animar a festa local. É um “grupo de música portuguesa inspirado em viagens”, como são identificados nas redes sociais, formado pelo par Catarina Duarte e Nuno Caldeira. A expectativa dos organizadores é que o público continue a aumentar, como tem acontecido todos os anos. Quanto a estatísticas, é impossível saber ao certo. “É um feeling que temos”, brinca o presidente da ADM, “é que no Bairro de São Lázaro o espaço é exíguo, quando nos sentimos mais apertados ficamos felizes, porque é sinal de que há mais gente!”. Mas os indicadores são também outros: a velocidade a que desaparecem as sardinhas, as bifanas e as cervejas. “Costumamos falar também com as pessoas que vendem comida, sobretudo a mais tradicional, que são os mesmos que ali estão desde que há arraial. São eles que sabem melhor como foi o movimento, se a procura foi maior, se venderam mais. Temos assim uma noção da afluência das pessoas, são estas as nossas estatísticas”, reforça a presidente da CPM. Orçamento e parcerias O orçamento da iniciativa rondará este ano as 500 mil patacas, um pouco acima, dado o enorme aumento dos preços praticados pelos fornecedores dos serviços necessários para montar a festa. No ano passado, a verba prevista era entre 400 e 500 mil patacas. O principal apoio é da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), as restantes associações têm ainda verbas atribuídas pela Fundação Macau para a sua participação na iniciativa, segundo os organizadores. Os parceiros, além da ADM e da CPM, são também a Associação Promotora da Instrução dos Macaenses, o Instituto Internacional de Macau, a Associação dos Jovens Macaenses e a APOMAC – Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau –, sem esquecer a participação especial da Escola Portuguesa, não a nível institucional, mas com assento sempre presente na organização do evento. A festa é garantida, “faça chuva ou faça sol”, e apenas se pede às famílias que estejam de olho nas crianças, já que todos os anos têm havido receios de que alguém se possa magoar nas correrias e subidas de escadas, que a organização não pode vedar ou controlar. Concurso | Melhores vídeos dão prémios “Os Melhores Momentos do Arraial de São João em Vídeo – IIM 2019” é o título do concurso que o Instituto Internacional de Macau lança este ano a todos os jovens interessados em participar. A ideia é retratar e captar as melhores imagens da festa, durante os dois dias, com qualquer tipo de dispositivo, incluindo telemóvel. Podem ser utilizadas aplicações criativas e efeitos especiais, não devendo os trabalhos exceder os dois minutos de duração. O vídeo deverá ser publicado na página de Facebook do Arraial de São João (@MacauSaintJohnFestival), após ser feito o “like” à página e o “upload” do ficheiro. O concurso encerra às 17h horas de domingo, dia 23 de Junho, e o anúncio dos prémios será realizado na mesma tarde pelas 19h através do Facebook. Os vencedores terão que estar presentes no Arraial para receberem os prémios: 1º Lugar – 2 mil patacas, 2º e 3ºLugares – 500 patacas. Os vídeos premiados e respectivas imagens serão utilizadas para o anúncio promocional do Arraial de São de João do próximo ano. Hoje Macau SociedadeAACM | Aprovados novos procedimentos para aterrar em Macau [dropcap]A[/dropcap] Autoridade de Aviação Civil de Macau (AACM) anunciou ontem, em comunicado, que foram aprovados novos procedimentos para aterragens no Aeroporto Internacional de Macau, um processo para o qual a Air Macau contribuiu. Desta forma, os operadores aéreos “podem diminuir o número de voltas e desvios de voos resultantes de condições meteorológicas desfavoráveis quando fazem aterragens (do lado norte para o sul) na pista 16”, pode ler-se. Os novos procedimentos “garantem a segurança operacional e a eficiência das aeronaves quando aterram na pista 16” e estão relacionados com a implementação de padrões internacionais que começaram a ser analisados em 2017 entre a AACM e a Air Macau, com o contributo de uma consultora internacional. Sofia Margarida Mota PolíticaFilipinas | Declarações de cônsul desiludem empregadas domésticas As empregadas domésticas filipinas estão zangadas e desiludidas com a falta de apoio por parte da cônsul-geral das Filipinas em Macau, Lilybeth R. Deapera. Em causa estão as palavras ditas pela diplomata em que declarou que se estiverem insatisfeitas com as leis locais, como a exclusão do salário mínimo, não têm que vir para o território [dropcap]I[/dropcap]nsensível e sem empatia”, são as palavras usadas pela presidente do Sindicato Verde dos Trabalhadores Migrantes das Filipinas em Macau, Nedie Taberdo, para descrever a Cônsul-Geral das Filipinas em Macau, Lilybeth R. Deapera. A caracterização surge em reacção às declarações proferidas pela diplomata na passada quarta-feira. Lilybeth R. Deapera afirmou que as trabalhadoras domésticas que considerem injusta a exclusão da proposta de salário mínimo têm sempre a opção de não trabalharem em Macau. “São as forças de mercado que ditam e, claro, os trabalhadores podem fazer escolhas, se acham que não é justo para eles, têm a opção de não vir trabalhar para Macau. Eles devem considerar todas as possibilidades e pensar em como podem garantir que os seus direitos sejam protegidos”, disse Deapera à margem da comemoração do 121ª aniversário das Filipinas, citada pelo Jornal Tribuna de Macau. A intervenção da diplomata foi recebida com tristeza e ira por quem a via como representante e defensora de direitos. “Estamos zangadas e desiludidas”, sublinhou Nedie Taberdo ao HM. Ao invés, tiveram como resposta às preocupações “uma declaração sem nenhuma sensibilidade à realidade das pessoas que deveria estar a representar e a defender”, apontou Nedie Taberdo. “Somos empregadas domésticas, e se estamos aqui é porque estamos a tentar ter melhores condições de vida para dar à nossa família”, justificou. Para Nedie Taberdo “ouvir que não temos que trabalhar em Macau é uma falta de respeito por estas trabalhadoras que nem têm direito ao salário mínimo”. Discriminação regional A opinião é generalizada às colegas de Nedie Taberdo, que se sentem marginalizadas pela diplomata, aponta a responsável falando em nome da associação que representa. A descriminação não tem apenas que ver com as recentes declarações da diplomata que já tem historial no destrate das conterrâneas que trabalham na RAEM. Lilybeth R. Deapera “tem protegido as empregadas de Hong Kong, mas de Macau nunca ajudou em nada”, sublinha a activista. A razão que leva à ausência de apoio diplomático é desconhecida de Nedie Taberdo e das suas compatriotas, mas a cônsul-geral “em Hong Kong apoiou as empregadas domésticas imigrantes e agora naquele território, elas não pagam taxas de contratação às agências de emprego”, disse. Por cá, encontra-se em discussão na especialidade a lei que vai regulamentar o funcionamento das agências de emprego que não isenta as trabalhadoras do pagamento de taxa. Além disso, tem de pagar duplamente, primeiro na entidade das Filipinas e depois na agência de Macau. “Vamos estar sujeitas a pagar duas vezes”, lamenta. Entrada limitada A novo diploma para as agências de emprego não se fica por aqui em termos de restrições à contratação de trabalhadores filipinos. “Não podemos vir para Macau como turistas e temos sempre de nos submeter às agências. Seria muito mais fácil tratar das coisas cara a cara com os patrões e vir por recomendação. Por outro lado, como é que os empregadores podem ter acesso a um período à experiência de dois ou três dias para que possam avaliar o trabalho da candidata?”, questiona. A associação a que preside entregou uma petição à Assembleia Legislativa (AL) contra o novo diploma, no entanto ainda não têm qualquer feedback nem houve nenhuma chamada por parte dos deputados que disseram publicamente que pretendiam ouvir as opiniões das empregadas domésticas. “Estamos à espera para ver o que acontece na sequência da entrega da petição e depois logo pensamos no que podemos fazer. A AL aceitou a petição, penso que estejam a considerar e que voltem atrás quanto às taxas”, disse. Entretanto, o diploma que prevê o salário mínimo universal foi aprovado na generalidade e deixa de fora empregadas domésticas e pessoas portadoras de deficiência. «1...159160161162163164165...272»
Valério Romão h | Artes, Letras e IdeiasLisboa, capital do barulho [dropcap]N[/dropcap]a ínfima possibilidade de Lisboa um dia se tornar uma cidade minimamente civilizada, este tempo em que vivemos será lembrado com um travo de repugnância ao falar-se dele e sem pinga de saudade. Embora a massificação do turismo tenha tido o condão de estimular a reabilitação de muitos edifícios devolutos em Lisboa (e com isso os sectores muito específicos da construção e hotelaria), diria que foi das pouquíssimas coisas boas que o turismo trouxe. Não lhe subjaz no entanto qualquer intenção benemérita: uma cidade com tanta afluência turística vê-se obrigada a aproveitar todo o espaço disponível se quer incrementar as vendas dos típicos patos de borracha ou dos milenares pastéis de bacalhau com queijo da serra. No fundo, a reabilitação imobiliária é apenas uma externalidade positiva, um efeito colateral do turismo, algo que as empresas do sector dispensariam de bom grado se outra forma de garantir o mesmo lucro houvesse. De resto, a albufeirização em curso tem sido pródiga a produzir efeitos negativos: escassos transportes públicos sobrelotados (os nativos ainda levaram algum tempo a aceitar o confisco turístico do eléctrico 28), subida olímpica dos valores das rendas, multiplicação descontrolada dos alojamentos locais, descaracterização progressiva da cidade, dos seus bairros, extinção lenta mas inexorável de um modo de vida incapaz de sobreviver sem aqueles que nele participavam, implosão gradual do comércio de proximidade, substituído por lojas de bugigangas inúteis e botecos gourmet nos quais se comercializa uma banalidade sobreadjectivada a preço de estrela Michelin, lixo, confusão e barulho. Muito barulho. Lisboa nunca foi generosa para com os seus no que diz respeito à permissividade com que lida com o ruído produzido, nomeadamente o nocturno. Quando não o estimula directamente, mediante a organização ou promoção de eventos, autoriza-o com a emissão de licenças. Em Junho, então, é freestyle. São os santos, as barraquinhas de farturas com colunas do tamanho de barris de cerveja a debitarem um medley dos peitos da cabritinha e da garagem da vizinha em loop, os gritos ébrios na rua às tantas da manhã e os múltiplos transportes que levam esta gente dos sítios onde se embebedam para os sítios onde dormem. Quem se pode legitimamente queixar quando em doze meses de sono possível só um lhe é perturbado? Há pouco tempo foi criado um grupo público de discussão no Facebook, chamado Menos barulho em Lisboa, no qual os seus participantes escrevem sobre a poluição sonora que, muito por via do crescimento exponencial do turismo, tem retirado tranquilidade às suas vidas. São relatos de ruído caucionado ou estimulado pelas autoridades que deviam proteger aqueles cuja ecologia vital se encontra ameaçada das mais diversas formas. Percebe-se a natureza displicente do fenómeno: a Câmara, como uma loja da Bershka, quer dar a impressão de que a cidade está sempre em festa, e quando não é ela própria a promover as mais diversas aberrações sonoras – a última delas um barco junto à Ribeira das Naus a debitar um tecno de after de má memória a tarde toda de um domingo – faz vista grossa a quem ultrapassa os limites em vigor. The show must go on. E é disso que se trata, de limites. E é nisso que esta gestão municipal tem sido péssima. Em entrando dinheiro, tudo o resto sofre de um efeito de desfoco ou de desvalorização de importância. A vida das pessoas, de Lisboa e dos seus habitantes, está indexada a uma dimensão apenas: a forma como podem não perturbar a ordenha da vaca leiteira em que a cidade se converteu.
António de Castro Caeiro h | Artes, Letras e IdeiasLiberdade [dropcap]D[/dropcap]estino e fado são palavras muito antigas. O sítio onde se vai parar. A vida que foi predita. Se assim é, haverá margem de manobra para a escolha? Schelling diz o que Heidegger repete: deixar-se actuar pela liberdade. Ser livre é possível se temos um destino e um fado? Se temos uma destinação e uma predição como é possível escolher. Quantas vezes escolhemos na vida? Temos grandes superfícies para escolher o que queremos? Não queremos já antes de escolher? Podemos escolher vidas diferentes? Podemos fazer que o que não queríamos que acontecesse não tivesse acontecido? Podemos fazer acontecer aquilo que queríamos que tivesse acontecido? Lembro-me de, quando a sul, em Agosto, via uma estrela cadente. Pedia-se um desejo. Eu sei o que pedia. O mesmo se passava, quando soavam as doze badaladas na passagem do ano. Engolíamos doze passas e pedíamos um desejo. Eu sabia o que pedia. Pedir significa que não temos escolha. Gostaríamos de ter o que não temos ou ser quem não somos. Ainda. Há grandes escolhas na vida que estão feitas para nós. Assim, não as escolhemos: mãe e pai, família, país, época do ano em que nascemos, amigos que encontramos, gostos, desportos se for caso disso e livros que é o caso. Sem ler não há viver. Mas como se fazem as pequenas escolhas? Como é possível escolher? Sobretudo, quando podemos perder e dizer não ou não dizer sim? Lembro-me muito bem de como, infante, não queria estar no próprio corpo nem fazer o que me diziam para fazer ou então só viver a vida que viviam para mim. Como ser livre? E como ter uma ânsia de liberdade? O que é ser livre se somos obrigados a ser livres? Querer uma coisa implica trabalho. Os gregos achavam que se queríamos alguma coisa ela não viria sem trabalho. Hércules e Jasão ou Perseu, o meu herói de sempre, sabiam disso. Para libertar uma mãe, um País, ou alguém ou até só o próprio. Ser livre é também livrar-se de qualquer coisa ou do alguém que não gostamos de ser. Como nos libertamos para nós próprios? Como pode o rei Édipo não se cegar, depois de partilhar a cama com a sua mãe e matar o seu pai? Como podemos nós não ser quem nós somos, quando não queremos ser os próprios? Os próprios são os outros que somos. Temos um apego a nós e não queríamos ser outros. Contudo, a vida pode ser outra, diferente, um mega gato que não quer e nós não somos donos de nada. Quando aparece um amor, é uma escolha? É a possibilidade de ser livre? Primeiro, há a beleza, que tanto queremos ter por perto. Depois, a liberdade política, deixar e querer ser livre, fazer livre. Depois, talvez a morte, quando não temos escolha. Mas a vida é para a escolha. Tanto que morrer pode ser opção. Ficar livre de si para sempre. Ou assim Hamlet pensa. Ser ou não ser, não ser é ser ainda do lado de cá da vida. O acto criativo por mais mínimo que seja é o que liberta. A gentileza liberta. A amabilidade liberta. Mas um poema alinhado ou então uma canção que se diz a medo também liberta. Um beijo liberta. Um livro lido ou ensaiado liberta. E passamos a vida inteira a ser o que os outros querem que sejamos ou então só nós para nós. Muda de vida! Como se pode mudar de vida? Só numa escolha complexa. Não é intelectual. É prática. É ser a fazer. Quem não faz o que é não compreende o que é para ser. Quem não compreende não explica. E queremos que tudo seja diferente ou que tudo seja exactamente como é e tem sido até agora. Que escolha? Como escolher quando não se pode escolher? Só escolhemos quando não podemos ser o que somos ou não queremos ter o que temos? Há uma ânsia de liberdade que é uma ânsia de amor. A verdade há-de nos libertar. A verdade revela-se. Ser outro, ser diferente, ser de outra maneira consigo e com os outros. O mundo é outro quando o amor se revela. Uma estrela dançante ou cintilante ou atirada para o céu, quando todos os outros estão aí connosco e saem de cena ou entram em cena. Como gostaria de compor um poema, quando o poema vem e pede para ser escrito. Como eu gostaria de compor uma canção no trânsito quando pede para ser cantada. Como eu gostaria de ensaiar um pensamento quando ele se forma tão consistente à espera de ser pensado e dito. Ou só ter uma rapariga. Falar com ela à beira mar, mesmo quando é inverno, entrar pelas águas frias da Fonte da Telha. Falaríamos dos nossos pais e lutas e futuro. Escolher é ter futuro. Não. Escolher é fazer o futuro. É tão bom não estar só e não ser só. E ver alguém que connosco é livre. Ser livre é também ser feito livre. Ser livre é libertar. Como o combatente que não mata para matar mas para libertar pessoas. O amor, a verdade, são os elementos da escolha. Sem escolher não somos. Não há igualdade de oportunidades. Há uma talvez. E escolher faz de nós quem somos. Somos o que escolhemos. E se for em nome do amor, então, fomos!
José Navarro de Andrade h | Artes, Letras e IdeiasCrepúsculos [dropcap]S[/dropcap]erá da idade ou dos tempos, ou do adquirido entendimento que ela me repassou deles – o que sucede é cada vez gostar mais de menos coisas. Por um fenómeno de paralaxe, a quem rebola no encalço das sazonalidades e suas centrifugações há-de parecer isto um horizonte que se estreita. Descreiam-se disso, que não sois falcões atentos, antes avezitas atordoadas e voláteis; é garimpo, ó estrábicos, e mais enxerguem que de tanto descer à mina se alcança o privilégio de esgravatar um filão incessante em ceder pepitas de fino quilate, que nem um par de vidas chegaria para esgotá-lo. Há quem chame a isso “cultura”, mas é palavra (e conceito) falaz e corroída como nenhuma outra. Numa dessas noites não menos trivial do que outras, aconteceu tropeçar televisivamente no mal enterrado “The Sun Also Rises.” O filme passou ao largo dos êxitos e referências de 1957 e foi sumamente desconsiderado pela história e até da melhor crítica. Vale contudo a pena reparar em certas obras falhadas, sobretudo nas que resultam aquém da sua ambição. Esse hiato entre o que pretendiam e o que lograram deixa à mostra a sua mecânica e a sua dinâmica. Se além disso a opulência dos meios de que dispuseram mais não segregou do que lugares-comuns (é sabido que quanto maior o investimento, menor o risco que se deseja correr), tanta vulnerabilidade acaba por fazer de “The Sun Also Rises” o exemplo indiscreto e desprevenido da declinante Hollywood dos anos 50. Vai o filme andando e nós percebendo que a realização foi endossada a Henry King, garante de uma cómoda competência industrial, isenta das então larvares lérias do autorismo (dele caberiam num clip do Youtbe os highlights de toda uma carreira). Por todo o lado o que se vê é a mãozinha de Darryl Zanuck o omnipotente faraó dos estúdios da Fox – ”Don’t say yes until I finish talking” – e por esta altura a parear com Jack Warner como o último moicano do modus operandi da Hollywood dos bons velhos tempos. Não deixa de ser delicioso o aroma falsandé de “The Sun Also Rises”, a crença cega no velho e relho jeito de encher o olho com todo o luxo que o dinheiro pode dar e de almejar caução artística por via da nobre literatura. (Se os aprendizes de hoje pusessem os olhos nestes fiascos talvez não debitassem tantos iguais…) Hemingway, tão tolo quanto tonto em coisas do cinema, odiou o filme pelas razões erradas. Achou que traía a letra do romance sem entender que só avacalhada e revolvida da literatura surtem bons filmes. Nisto o cinema é implacável como tão bem o demonstrou “To Have and Have Not”, belamente deturpado o original de Hemingway pelo argumento de Faulkner e pela câmara de Howard Hawks. Mas o mais perturbante, e perturbadoramente esplêndido, de “The Sun Also Rises” é o elenco. O filme é um invulgar exercício de crueldade. Falhos de direcção Tyrone Power e Mel Ferrer, caras de pau, aborrecem por se levarem demasiado a sério. Mas Errol Flynn e Ava Gardner apoderam-se das personagens como o diabo de uma alma, e expõem despudoradamente a sua decadência. Intumescido e balofo, degradado pelo alcoolismo, Flynn abandona-se ao papel de um bêbado com a desinibição e o sarcasmo de quem já nada espera dos filmes e nada tem neles a provar. Vê-lo aqui é divertido e aterrador ao mesmo tempo. O seu último plano do filme encerra todas as premonições de uma morte iminente: põe os olhos em alvo para o infinito e é tão patético quanto a pose de pé estribado para que o graxa lhe dê lustro aos sapatos. Ele lá sabia que dali a dois anos, com 50 de idade, desceria à cova. O guião pedia a Ava Gardner que em determinada cena seduzisse o imberbe toureiro. Numa época em que às mulheres se exigia o recalcamento de uma Doris Day, o que ela nos proporciona é o devasso espectáculo de si mesma. Gardner solta uma descarga de feromonas sem qualquer fingimento, executa um assédio de pantera liberto do véu da representação. Duvida-se que não seja autêntico o susto exibido por Tyrone Power, reduzido nessa cena à função de pau-de-cabeleira. Se pelo artificio “The Sun Also Rises” queria dizer umas coisas importantes, das que os filmes gostam de proclamar quando se põem em pontas, pelos seus defeitos ele acaba por nos revelar outras coisas bem mais interessantes. Não há glória nem regalia nisto, apenas mais realidade. Sofia Margarida Mota EventosArtfusion | Associação celebra sexto aniversário com evento inclusivo O sexto aniversário da Artfusion vai ser marcado pela realização de um conjunto de actividades que reúnem alunos da associação e pessoas portadoras de deficiência mental, numa iniciativa “verdadeiramente inclusiva”. Exposições, performances e um flashmob estão no programa do evento que tem lugar domingo, entre as 17h e as 19h no CURB – Centro de Arquitectura e Urbanismo [dropcap]A[/dropcap] associação Artfusion assinala o seu aniversário com a promoção do (He)Art, um evento que usa o trocadilho feito com a palavra coração em inglês. O objectivo é, desde logo, reflectir “a arte e amor” com que foi produzido, conta a responsável pela Artfusion, Laura Nyögéri, ao HM. O evento está marcado para o próximo domingo, entre as 17h e as 19h, no CURB – Centro de Arquitectura e Urbanismo, junto à Ponte 9. Tal como em outros projectos levados a cabo pela associação que aposta na educação pela arte, o (He)Art pretende impulsionar a inclusão de pessoas portadoras de deficiência através da sua integração artística. O evento junta assim, o trabalho dos alunos da associação e de membros da IC2 – I Can too – a primeira organização de Macau dedicada ao apoio a pessoas com incapacidades intelectuais. Entre a organização e os participantes, estão envolvidas cerca de 70 pessoas na iniciativa: 40 crianças alunas do Artfusion, 20 membros do IC2 com idades compreendidas entre os cinco e os vinte anos, e 10 elementos que coordenam as actividades, esclarece Laura Nyögéri. Para o efeito o (He)Art vai desdobrar-se em várias iniciativas que vão da exposição das criações artísticas, a “algumas pequenas performances de dança e expressão corporal”. A actividade “mistura as artes performativas com as artes visuais através de pinturas, desenhos, ilustrações, colagens, origamis, fotografia e instalações de arte, onde a exploração monocromática, entre o preto e o branco são a tónica dominante enquanto símbolos da própria associação”. Para terminar, está programado um flashmobe “que envolverá todos os participantes num momento único e divertido”, garante a organizadora. Homenagem a um amigo A acompanhar o evento fica a homenagem ao recentemente falecido fotógrafo local, Nico Fernandes, que colaborou com a Artfusion. A contrastar com as outras actividades monocromáticas “a cor também acontece nesta pequena exposição fotográfica”. “’O MEU AMIGO NICO’, é uma simbólica homenagem e exposição de fotografia de um grande artista e amigo que nos deixou recentemente”, sublinha Laura Nyögéri. O agradecimento é assim deixado ao fotógrafo que “através da sua lente, conferiu um estatuto visual, uma identidade à Artfusion”. No mostra vão constar os trabalhos fotográficos de Nico Fernandes que mais representam estes seis anos de actividade da associação. Caminho sinuoso Laura Nyögéri orgulha-se de conseguir criar aquilo que considera “uma iniciativa verdadeiramente inclusiva”. No entanto as dificuldades para levar a cabo este tipo de actividades em Macau ainda são muitas. A responsável destaca a necessidade de “potenciar recursos humanos, financeiros e materiais que permitam a sustentabilidade destes projectos educativos, artísticos e inclusivos”, salientando que para se atingirem resultados é necessário que estes projectos deixem de ser pontuais e assumam um estatuto de continuidade. Acrescem ainda as situações em que “os apoios são difíceis, há dificuldades para encontrar espaços para realização de aulas e ensaios, as respostas a propostas apresentadas que chegam tardiamente, além da existência de uma ‘ponte’ de preconceitos que é preciso atravessar”. Por outro lado, e não menos importante é a necessidade de mais envolvimento por parte da comunidade. Mas entretanto, a Artfusion não podia estar mais satisfeita com os objectivos alcançados em seis anos de uma actividade baseada na “liberdade de expressão e pela expressão de liberdade, de todos”. Note-se que o evento serve também para apoiar a IC2. Os “trabalhos artísticos estão ao dispor do público, e podem ser adquiridos com doações dos interessados” que revertem integralmente para a organização de apoio a pessoas com deficiência mental para que possam “dar continuidade às aulas de artes visuais e performativas”. Hoje Macau SociedadeCarne de porco | Macau volta a ter venda de animais vivos [dropcap]A[/dropcap] empresa Nam Yue, Nam Kwong e a Companhia de Produtos e Produções especiais da China declararam nesta quarta-feira, que o fornecimento de carne de porco vivo em Macau é estável. Depois da instabilidade no sector devido à epidemia de Peste Suína Africana no continente, na semana passada foram fornecidos mais de 300 porcos vivos por dia a Macau, um número acima do que acima do que era usual antes da doença. Se for detectado algum problema com os animais que vêm para Macau, toda a carga do veículo em que estiverem transportados regressa ao continente. De modo a evitar os custos associados a este tipo de operação as empresas estão a considerar instalar um local de transbordo em Zhuhai. Raquel Moz EventosSão João | Arraial volta a São Lázaro mesmo que a chuva caia Sardinhas, bifanas e cerveja não vão faltar no Arraial de São João, marcado para o fim de semana de 22 e 23 de Junho. O Bairro de São Lázaro volta a crescer, este ano com mais barracas e mais grupos musicais [dropcap]O[/dropcap] Arraial de São João volta ao Bairro de São Lázaro nos dias 22 e 23 de Junho, sábado e domingo, uma iniciativa que se repete pela 13ª vez e conta com mais adesão a cada ano. A organização apresentou ontem, em conferência de imprensa, o programa da festa, que este ano terá mais barracas de artesanato e de “comes-e-bebes”, cerca de 45 contra as 30 de 2018, e mais grupos musicais no elenco, que este ano serão à volta de uma dezena. O formato é semelhante aos anos anteriores e as preocupações são as mesmas. “Esperamos que a chuva não atrapalhe, como é costume nesta época. Nos últimos três anos houve sempre sol, mas no ano passado choveu um pouco”, começou por referir o presidente da Associação dos Macaenses (ADM), Miguel de Senna Fernandes. A festa de ano para ano “tem conquistado mais gente” e “começa a ser referida nos vários meios de comunicação do território, marcando o calendário turístico da cidade”, não só da comunidade portuguesa e macaense, mas da própria população chinesa local. “O Arraial já não é aquela festa dos outros, as pessoas já sabem que em Junho vai haver ali qualquer coisa no bairro. Mesmo amigos chineses já me perguntam muitas vezes, por esta altura, se não temos uma festa para aqueles lados…”, comentou. Este ano cresceu também o número de interessados em participar, tanto na exploração das barracas, como nas actuações musicais. Foi necessário avaliar bem o tipo de produtos artesanais e dos petiscos em oferta, para que fossem adequados ao espírito da festa popular que se pretende. “É uma festa de rua, uma festa das comunidades”, disse Miguel de Senna Fernandes, e não um “local para apresentação de produtos importados ou para revenda de artigos comprados nalguns desses sites online, que não são típicos de um arraial,”, acrescentou a presidente da Casa de Portugal em Macau (CPM), Amélia António. E o recado fica dado, “vamos estar atentos à decoração das barracas, para ver se estão apresentáveis e festivas”, e “eventualmente vamos nomear algumas pessoas, tipo inspectores da Michelin”, para passarem revista aos enfeites das barracas. “No futuro, os que não tiverem essa preocupação, talvez venham a ter consequências, como ir parar ao fundo da lista, caso o número de interessados aumente”, ameaçou com graça a responsável. Venha o bailarico O programa de sábado e domingo começa por volta das 14h30 e vai até às 22h00, hora a que o som da música acaba, por obrigações legais relacionadas com o ruído numa zona habitacional. A abertura das festividades contará com a tradicional Bênção e Missa de São João, no sábado, seguida durante os dois dias pelas participações de escolas, actuações de grupos musicais amadores, bandas jovens de rap e de jazz, e a apresentação ao vivo dos Senza, que vêm de Portugal a convite da organização para animar a festa local. É um “grupo de música portuguesa inspirado em viagens”, como são identificados nas redes sociais, formado pelo par Catarina Duarte e Nuno Caldeira. A expectativa dos organizadores é que o público continue a aumentar, como tem acontecido todos os anos. Quanto a estatísticas, é impossível saber ao certo. “É um feeling que temos”, brinca o presidente da ADM, “é que no Bairro de São Lázaro o espaço é exíguo, quando nos sentimos mais apertados ficamos felizes, porque é sinal de que há mais gente!”. Mas os indicadores são também outros: a velocidade a que desaparecem as sardinhas, as bifanas e as cervejas. “Costumamos falar também com as pessoas que vendem comida, sobretudo a mais tradicional, que são os mesmos que ali estão desde que há arraial. São eles que sabem melhor como foi o movimento, se a procura foi maior, se venderam mais. Temos assim uma noção da afluência das pessoas, são estas as nossas estatísticas”, reforça a presidente da CPM. Orçamento e parcerias O orçamento da iniciativa rondará este ano as 500 mil patacas, um pouco acima, dado o enorme aumento dos preços praticados pelos fornecedores dos serviços necessários para montar a festa. No ano passado, a verba prevista era entre 400 e 500 mil patacas. O principal apoio é da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), as restantes associações têm ainda verbas atribuídas pela Fundação Macau para a sua participação na iniciativa, segundo os organizadores. Os parceiros, além da ADM e da CPM, são também a Associação Promotora da Instrução dos Macaenses, o Instituto Internacional de Macau, a Associação dos Jovens Macaenses e a APOMAC – Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau –, sem esquecer a participação especial da Escola Portuguesa, não a nível institucional, mas com assento sempre presente na organização do evento. A festa é garantida, “faça chuva ou faça sol”, e apenas se pede às famílias que estejam de olho nas crianças, já que todos os anos têm havido receios de que alguém se possa magoar nas correrias e subidas de escadas, que a organização não pode vedar ou controlar. Concurso | Melhores vídeos dão prémios “Os Melhores Momentos do Arraial de São João em Vídeo – IIM 2019” é o título do concurso que o Instituto Internacional de Macau lança este ano a todos os jovens interessados em participar. A ideia é retratar e captar as melhores imagens da festa, durante os dois dias, com qualquer tipo de dispositivo, incluindo telemóvel. Podem ser utilizadas aplicações criativas e efeitos especiais, não devendo os trabalhos exceder os dois minutos de duração. O vídeo deverá ser publicado na página de Facebook do Arraial de São João (@MacauSaintJohnFestival), após ser feito o “like” à página e o “upload” do ficheiro. O concurso encerra às 17h horas de domingo, dia 23 de Junho, e o anúncio dos prémios será realizado na mesma tarde pelas 19h através do Facebook. Os vencedores terão que estar presentes no Arraial para receberem os prémios: 1º Lugar – 2 mil patacas, 2º e 3ºLugares – 500 patacas. Os vídeos premiados e respectivas imagens serão utilizadas para o anúncio promocional do Arraial de São de João do próximo ano. Hoje Macau SociedadeAACM | Aprovados novos procedimentos para aterrar em Macau [dropcap]A[/dropcap] Autoridade de Aviação Civil de Macau (AACM) anunciou ontem, em comunicado, que foram aprovados novos procedimentos para aterragens no Aeroporto Internacional de Macau, um processo para o qual a Air Macau contribuiu. Desta forma, os operadores aéreos “podem diminuir o número de voltas e desvios de voos resultantes de condições meteorológicas desfavoráveis quando fazem aterragens (do lado norte para o sul) na pista 16”, pode ler-se. Os novos procedimentos “garantem a segurança operacional e a eficiência das aeronaves quando aterram na pista 16” e estão relacionados com a implementação de padrões internacionais que começaram a ser analisados em 2017 entre a AACM e a Air Macau, com o contributo de uma consultora internacional. Sofia Margarida Mota PolíticaFilipinas | Declarações de cônsul desiludem empregadas domésticas As empregadas domésticas filipinas estão zangadas e desiludidas com a falta de apoio por parte da cônsul-geral das Filipinas em Macau, Lilybeth R. Deapera. Em causa estão as palavras ditas pela diplomata em que declarou que se estiverem insatisfeitas com as leis locais, como a exclusão do salário mínimo, não têm que vir para o território [dropcap]I[/dropcap]nsensível e sem empatia”, são as palavras usadas pela presidente do Sindicato Verde dos Trabalhadores Migrantes das Filipinas em Macau, Nedie Taberdo, para descrever a Cônsul-Geral das Filipinas em Macau, Lilybeth R. Deapera. A caracterização surge em reacção às declarações proferidas pela diplomata na passada quarta-feira. Lilybeth R. Deapera afirmou que as trabalhadoras domésticas que considerem injusta a exclusão da proposta de salário mínimo têm sempre a opção de não trabalharem em Macau. “São as forças de mercado que ditam e, claro, os trabalhadores podem fazer escolhas, se acham que não é justo para eles, têm a opção de não vir trabalhar para Macau. Eles devem considerar todas as possibilidades e pensar em como podem garantir que os seus direitos sejam protegidos”, disse Deapera à margem da comemoração do 121ª aniversário das Filipinas, citada pelo Jornal Tribuna de Macau. A intervenção da diplomata foi recebida com tristeza e ira por quem a via como representante e defensora de direitos. “Estamos zangadas e desiludidas”, sublinhou Nedie Taberdo ao HM. Ao invés, tiveram como resposta às preocupações “uma declaração sem nenhuma sensibilidade à realidade das pessoas que deveria estar a representar e a defender”, apontou Nedie Taberdo. “Somos empregadas domésticas, e se estamos aqui é porque estamos a tentar ter melhores condições de vida para dar à nossa família”, justificou. Para Nedie Taberdo “ouvir que não temos que trabalhar em Macau é uma falta de respeito por estas trabalhadoras que nem têm direito ao salário mínimo”. Discriminação regional A opinião é generalizada às colegas de Nedie Taberdo, que se sentem marginalizadas pela diplomata, aponta a responsável falando em nome da associação que representa. A descriminação não tem apenas que ver com as recentes declarações da diplomata que já tem historial no destrate das conterrâneas que trabalham na RAEM. Lilybeth R. Deapera “tem protegido as empregadas de Hong Kong, mas de Macau nunca ajudou em nada”, sublinha a activista. A razão que leva à ausência de apoio diplomático é desconhecida de Nedie Taberdo e das suas compatriotas, mas a cônsul-geral “em Hong Kong apoiou as empregadas domésticas imigrantes e agora naquele território, elas não pagam taxas de contratação às agências de emprego”, disse. Por cá, encontra-se em discussão na especialidade a lei que vai regulamentar o funcionamento das agências de emprego que não isenta as trabalhadoras do pagamento de taxa. Além disso, tem de pagar duplamente, primeiro na entidade das Filipinas e depois na agência de Macau. “Vamos estar sujeitas a pagar duas vezes”, lamenta. Entrada limitada A novo diploma para as agências de emprego não se fica por aqui em termos de restrições à contratação de trabalhadores filipinos. “Não podemos vir para Macau como turistas e temos sempre de nos submeter às agências. Seria muito mais fácil tratar das coisas cara a cara com os patrões e vir por recomendação. Por outro lado, como é que os empregadores podem ter acesso a um período à experiência de dois ou três dias para que possam avaliar o trabalho da candidata?”, questiona. A associação a que preside entregou uma petição à Assembleia Legislativa (AL) contra o novo diploma, no entanto ainda não têm qualquer feedback nem houve nenhuma chamada por parte dos deputados que disseram publicamente que pretendiam ouvir as opiniões das empregadas domésticas. “Estamos à espera para ver o que acontece na sequência da entrega da petição e depois logo pensamos no que podemos fazer. A AL aceitou a petição, penso que estejam a considerar e que voltem atrás quanto às taxas”, disse. Entretanto, o diploma que prevê o salário mínimo universal foi aprovado na generalidade e deixa de fora empregadas domésticas e pessoas portadoras de deficiência. «1...159160161162163164165...272»
Sofia Margarida Mota EventosArtfusion | Associação celebra sexto aniversário com evento inclusivo O sexto aniversário da Artfusion vai ser marcado pela realização de um conjunto de actividades que reúnem alunos da associação e pessoas portadoras de deficiência mental, numa iniciativa “verdadeiramente inclusiva”. Exposições, performances e um flashmob estão no programa do evento que tem lugar domingo, entre as 17h e as 19h no CURB – Centro de Arquitectura e Urbanismo [dropcap]A[/dropcap] associação Artfusion assinala o seu aniversário com a promoção do (He)Art, um evento que usa o trocadilho feito com a palavra coração em inglês. O objectivo é, desde logo, reflectir “a arte e amor” com que foi produzido, conta a responsável pela Artfusion, Laura Nyögéri, ao HM. O evento está marcado para o próximo domingo, entre as 17h e as 19h, no CURB – Centro de Arquitectura e Urbanismo, junto à Ponte 9. Tal como em outros projectos levados a cabo pela associação que aposta na educação pela arte, o (He)Art pretende impulsionar a inclusão de pessoas portadoras de deficiência através da sua integração artística. O evento junta assim, o trabalho dos alunos da associação e de membros da IC2 – I Can too – a primeira organização de Macau dedicada ao apoio a pessoas com incapacidades intelectuais. Entre a organização e os participantes, estão envolvidas cerca de 70 pessoas na iniciativa: 40 crianças alunas do Artfusion, 20 membros do IC2 com idades compreendidas entre os cinco e os vinte anos, e 10 elementos que coordenam as actividades, esclarece Laura Nyögéri. Para o efeito o (He)Art vai desdobrar-se em várias iniciativas que vão da exposição das criações artísticas, a “algumas pequenas performances de dança e expressão corporal”. A actividade “mistura as artes performativas com as artes visuais através de pinturas, desenhos, ilustrações, colagens, origamis, fotografia e instalações de arte, onde a exploração monocromática, entre o preto e o branco são a tónica dominante enquanto símbolos da própria associação”. Para terminar, está programado um flashmobe “que envolverá todos os participantes num momento único e divertido”, garante a organizadora. Homenagem a um amigo A acompanhar o evento fica a homenagem ao recentemente falecido fotógrafo local, Nico Fernandes, que colaborou com a Artfusion. A contrastar com as outras actividades monocromáticas “a cor também acontece nesta pequena exposição fotográfica”. “’O MEU AMIGO NICO’, é uma simbólica homenagem e exposição de fotografia de um grande artista e amigo que nos deixou recentemente”, sublinha Laura Nyögéri. O agradecimento é assim deixado ao fotógrafo que “através da sua lente, conferiu um estatuto visual, uma identidade à Artfusion”. No mostra vão constar os trabalhos fotográficos de Nico Fernandes que mais representam estes seis anos de actividade da associação. Caminho sinuoso Laura Nyögéri orgulha-se de conseguir criar aquilo que considera “uma iniciativa verdadeiramente inclusiva”. No entanto as dificuldades para levar a cabo este tipo de actividades em Macau ainda são muitas. A responsável destaca a necessidade de “potenciar recursos humanos, financeiros e materiais que permitam a sustentabilidade destes projectos educativos, artísticos e inclusivos”, salientando que para se atingirem resultados é necessário que estes projectos deixem de ser pontuais e assumam um estatuto de continuidade. Acrescem ainda as situações em que “os apoios são difíceis, há dificuldades para encontrar espaços para realização de aulas e ensaios, as respostas a propostas apresentadas que chegam tardiamente, além da existência de uma ‘ponte’ de preconceitos que é preciso atravessar”. Por outro lado, e não menos importante é a necessidade de mais envolvimento por parte da comunidade. Mas entretanto, a Artfusion não podia estar mais satisfeita com os objectivos alcançados em seis anos de uma actividade baseada na “liberdade de expressão e pela expressão de liberdade, de todos”. Note-se que o evento serve também para apoiar a IC2. Os “trabalhos artísticos estão ao dispor do público, e podem ser adquiridos com doações dos interessados” que revertem integralmente para a organização de apoio a pessoas com deficiência mental para que possam “dar continuidade às aulas de artes visuais e performativas”.
Hoje Macau SociedadeCarne de porco | Macau volta a ter venda de animais vivos [dropcap]A[/dropcap] empresa Nam Yue, Nam Kwong e a Companhia de Produtos e Produções especiais da China declararam nesta quarta-feira, que o fornecimento de carne de porco vivo em Macau é estável. Depois da instabilidade no sector devido à epidemia de Peste Suína Africana no continente, na semana passada foram fornecidos mais de 300 porcos vivos por dia a Macau, um número acima do que acima do que era usual antes da doença. Se for detectado algum problema com os animais que vêm para Macau, toda a carga do veículo em que estiverem transportados regressa ao continente. De modo a evitar os custos associados a este tipo de operação as empresas estão a considerar instalar um local de transbordo em Zhuhai. Raquel Moz EventosSão João | Arraial volta a São Lázaro mesmo que a chuva caia Sardinhas, bifanas e cerveja não vão faltar no Arraial de São João, marcado para o fim de semana de 22 e 23 de Junho. O Bairro de São Lázaro volta a crescer, este ano com mais barracas e mais grupos musicais [dropcap]O[/dropcap] Arraial de São João volta ao Bairro de São Lázaro nos dias 22 e 23 de Junho, sábado e domingo, uma iniciativa que se repete pela 13ª vez e conta com mais adesão a cada ano. A organização apresentou ontem, em conferência de imprensa, o programa da festa, que este ano terá mais barracas de artesanato e de “comes-e-bebes”, cerca de 45 contra as 30 de 2018, e mais grupos musicais no elenco, que este ano serão à volta de uma dezena. O formato é semelhante aos anos anteriores e as preocupações são as mesmas. “Esperamos que a chuva não atrapalhe, como é costume nesta época. Nos últimos três anos houve sempre sol, mas no ano passado choveu um pouco”, começou por referir o presidente da Associação dos Macaenses (ADM), Miguel de Senna Fernandes. A festa de ano para ano “tem conquistado mais gente” e “começa a ser referida nos vários meios de comunicação do território, marcando o calendário turístico da cidade”, não só da comunidade portuguesa e macaense, mas da própria população chinesa local. “O Arraial já não é aquela festa dos outros, as pessoas já sabem que em Junho vai haver ali qualquer coisa no bairro. Mesmo amigos chineses já me perguntam muitas vezes, por esta altura, se não temos uma festa para aqueles lados…”, comentou. Este ano cresceu também o número de interessados em participar, tanto na exploração das barracas, como nas actuações musicais. Foi necessário avaliar bem o tipo de produtos artesanais e dos petiscos em oferta, para que fossem adequados ao espírito da festa popular que se pretende. “É uma festa de rua, uma festa das comunidades”, disse Miguel de Senna Fernandes, e não um “local para apresentação de produtos importados ou para revenda de artigos comprados nalguns desses sites online, que não são típicos de um arraial,”, acrescentou a presidente da Casa de Portugal em Macau (CPM), Amélia António. E o recado fica dado, “vamos estar atentos à decoração das barracas, para ver se estão apresentáveis e festivas”, e “eventualmente vamos nomear algumas pessoas, tipo inspectores da Michelin”, para passarem revista aos enfeites das barracas. “No futuro, os que não tiverem essa preocupação, talvez venham a ter consequências, como ir parar ao fundo da lista, caso o número de interessados aumente”, ameaçou com graça a responsável. Venha o bailarico O programa de sábado e domingo começa por volta das 14h30 e vai até às 22h00, hora a que o som da música acaba, por obrigações legais relacionadas com o ruído numa zona habitacional. A abertura das festividades contará com a tradicional Bênção e Missa de São João, no sábado, seguida durante os dois dias pelas participações de escolas, actuações de grupos musicais amadores, bandas jovens de rap e de jazz, e a apresentação ao vivo dos Senza, que vêm de Portugal a convite da organização para animar a festa local. É um “grupo de música portuguesa inspirado em viagens”, como são identificados nas redes sociais, formado pelo par Catarina Duarte e Nuno Caldeira. A expectativa dos organizadores é que o público continue a aumentar, como tem acontecido todos os anos. Quanto a estatísticas, é impossível saber ao certo. “É um feeling que temos”, brinca o presidente da ADM, “é que no Bairro de São Lázaro o espaço é exíguo, quando nos sentimos mais apertados ficamos felizes, porque é sinal de que há mais gente!”. Mas os indicadores são também outros: a velocidade a que desaparecem as sardinhas, as bifanas e as cervejas. “Costumamos falar também com as pessoas que vendem comida, sobretudo a mais tradicional, que são os mesmos que ali estão desde que há arraial. São eles que sabem melhor como foi o movimento, se a procura foi maior, se venderam mais. Temos assim uma noção da afluência das pessoas, são estas as nossas estatísticas”, reforça a presidente da CPM. Orçamento e parcerias O orçamento da iniciativa rondará este ano as 500 mil patacas, um pouco acima, dado o enorme aumento dos preços praticados pelos fornecedores dos serviços necessários para montar a festa. No ano passado, a verba prevista era entre 400 e 500 mil patacas. O principal apoio é da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), as restantes associações têm ainda verbas atribuídas pela Fundação Macau para a sua participação na iniciativa, segundo os organizadores. Os parceiros, além da ADM e da CPM, são também a Associação Promotora da Instrução dos Macaenses, o Instituto Internacional de Macau, a Associação dos Jovens Macaenses e a APOMAC – Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau –, sem esquecer a participação especial da Escola Portuguesa, não a nível institucional, mas com assento sempre presente na organização do evento. A festa é garantida, “faça chuva ou faça sol”, e apenas se pede às famílias que estejam de olho nas crianças, já que todos os anos têm havido receios de que alguém se possa magoar nas correrias e subidas de escadas, que a organização não pode vedar ou controlar. Concurso | Melhores vídeos dão prémios “Os Melhores Momentos do Arraial de São João em Vídeo – IIM 2019” é o título do concurso que o Instituto Internacional de Macau lança este ano a todos os jovens interessados em participar. A ideia é retratar e captar as melhores imagens da festa, durante os dois dias, com qualquer tipo de dispositivo, incluindo telemóvel. Podem ser utilizadas aplicações criativas e efeitos especiais, não devendo os trabalhos exceder os dois minutos de duração. O vídeo deverá ser publicado na página de Facebook do Arraial de São João (@MacauSaintJohnFestival), após ser feito o “like” à página e o “upload” do ficheiro. O concurso encerra às 17h horas de domingo, dia 23 de Junho, e o anúncio dos prémios será realizado na mesma tarde pelas 19h através do Facebook. Os vencedores terão que estar presentes no Arraial para receberem os prémios: 1º Lugar – 2 mil patacas, 2º e 3ºLugares – 500 patacas. Os vídeos premiados e respectivas imagens serão utilizadas para o anúncio promocional do Arraial de São de João do próximo ano. Hoje Macau SociedadeAACM | Aprovados novos procedimentos para aterrar em Macau [dropcap]A[/dropcap] Autoridade de Aviação Civil de Macau (AACM) anunciou ontem, em comunicado, que foram aprovados novos procedimentos para aterragens no Aeroporto Internacional de Macau, um processo para o qual a Air Macau contribuiu. Desta forma, os operadores aéreos “podem diminuir o número de voltas e desvios de voos resultantes de condições meteorológicas desfavoráveis quando fazem aterragens (do lado norte para o sul) na pista 16”, pode ler-se. Os novos procedimentos “garantem a segurança operacional e a eficiência das aeronaves quando aterram na pista 16” e estão relacionados com a implementação de padrões internacionais que começaram a ser analisados em 2017 entre a AACM e a Air Macau, com o contributo de uma consultora internacional. Sofia Margarida Mota PolíticaFilipinas | Declarações de cônsul desiludem empregadas domésticas As empregadas domésticas filipinas estão zangadas e desiludidas com a falta de apoio por parte da cônsul-geral das Filipinas em Macau, Lilybeth R. Deapera. Em causa estão as palavras ditas pela diplomata em que declarou que se estiverem insatisfeitas com as leis locais, como a exclusão do salário mínimo, não têm que vir para o território [dropcap]I[/dropcap]nsensível e sem empatia”, são as palavras usadas pela presidente do Sindicato Verde dos Trabalhadores Migrantes das Filipinas em Macau, Nedie Taberdo, para descrever a Cônsul-Geral das Filipinas em Macau, Lilybeth R. Deapera. A caracterização surge em reacção às declarações proferidas pela diplomata na passada quarta-feira. Lilybeth R. Deapera afirmou que as trabalhadoras domésticas que considerem injusta a exclusão da proposta de salário mínimo têm sempre a opção de não trabalharem em Macau. “São as forças de mercado que ditam e, claro, os trabalhadores podem fazer escolhas, se acham que não é justo para eles, têm a opção de não vir trabalhar para Macau. Eles devem considerar todas as possibilidades e pensar em como podem garantir que os seus direitos sejam protegidos”, disse Deapera à margem da comemoração do 121ª aniversário das Filipinas, citada pelo Jornal Tribuna de Macau. A intervenção da diplomata foi recebida com tristeza e ira por quem a via como representante e defensora de direitos. “Estamos zangadas e desiludidas”, sublinhou Nedie Taberdo ao HM. Ao invés, tiveram como resposta às preocupações “uma declaração sem nenhuma sensibilidade à realidade das pessoas que deveria estar a representar e a defender”, apontou Nedie Taberdo. “Somos empregadas domésticas, e se estamos aqui é porque estamos a tentar ter melhores condições de vida para dar à nossa família”, justificou. Para Nedie Taberdo “ouvir que não temos que trabalhar em Macau é uma falta de respeito por estas trabalhadoras que nem têm direito ao salário mínimo”. Discriminação regional A opinião é generalizada às colegas de Nedie Taberdo, que se sentem marginalizadas pela diplomata, aponta a responsável falando em nome da associação que representa. A descriminação não tem apenas que ver com as recentes declarações da diplomata que já tem historial no destrate das conterrâneas que trabalham na RAEM. Lilybeth R. Deapera “tem protegido as empregadas de Hong Kong, mas de Macau nunca ajudou em nada”, sublinha a activista. A razão que leva à ausência de apoio diplomático é desconhecida de Nedie Taberdo e das suas compatriotas, mas a cônsul-geral “em Hong Kong apoiou as empregadas domésticas imigrantes e agora naquele território, elas não pagam taxas de contratação às agências de emprego”, disse. Por cá, encontra-se em discussão na especialidade a lei que vai regulamentar o funcionamento das agências de emprego que não isenta as trabalhadoras do pagamento de taxa. Além disso, tem de pagar duplamente, primeiro na entidade das Filipinas e depois na agência de Macau. “Vamos estar sujeitas a pagar duas vezes”, lamenta. Entrada limitada A novo diploma para as agências de emprego não se fica por aqui em termos de restrições à contratação de trabalhadores filipinos. “Não podemos vir para Macau como turistas e temos sempre de nos submeter às agências. Seria muito mais fácil tratar das coisas cara a cara com os patrões e vir por recomendação. Por outro lado, como é que os empregadores podem ter acesso a um período à experiência de dois ou três dias para que possam avaliar o trabalho da candidata?”, questiona. A associação a que preside entregou uma petição à Assembleia Legislativa (AL) contra o novo diploma, no entanto ainda não têm qualquer feedback nem houve nenhuma chamada por parte dos deputados que disseram publicamente que pretendiam ouvir as opiniões das empregadas domésticas. “Estamos à espera para ver o que acontece na sequência da entrega da petição e depois logo pensamos no que podemos fazer. A AL aceitou a petição, penso que estejam a considerar e que voltem atrás quanto às taxas”, disse. Entretanto, o diploma que prevê o salário mínimo universal foi aprovado na generalidade e deixa de fora empregadas domésticas e pessoas portadoras de deficiência. «1...159160161162163164165...272»
Raquel Moz EventosSão João | Arraial volta a São Lázaro mesmo que a chuva caia Sardinhas, bifanas e cerveja não vão faltar no Arraial de São João, marcado para o fim de semana de 22 e 23 de Junho. O Bairro de São Lázaro volta a crescer, este ano com mais barracas e mais grupos musicais [dropcap]O[/dropcap] Arraial de São João volta ao Bairro de São Lázaro nos dias 22 e 23 de Junho, sábado e domingo, uma iniciativa que se repete pela 13ª vez e conta com mais adesão a cada ano. A organização apresentou ontem, em conferência de imprensa, o programa da festa, que este ano terá mais barracas de artesanato e de “comes-e-bebes”, cerca de 45 contra as 30 de 2018, e mais grupos musicais no elenco, que este ano serão à volta de uma dezena. O formato é semelhante aos anos anteriores e as preocupações são as mesmas. “Esperamos que a chuva não atrapalhe, como é costume nesta época. Nos últimos três anos houve sempre sol, mas no ano passado choveu um pouco”, começou por referir o presidente da Associação dos Macaenses (ADM), Miguel de Senna Fernandes. A festa de ano para ano “tem conquistado mais gente” e “começa a ser referida nos vários meios de comunicação do território, marcando o calendário turístico da cidade”, não só da comunidade portuguesa e macaense, mas da própria população chinesa local. “O Arraial já não é aquela festa dos outros, as pessoas já sabem que em Junho vai haver ali qualquer coisa no bairro. Mesmo amigos chineses já me perguntam muitas vezes, por esta altura, se não temos uma festa para aqueles lados…”, comentou. Este ano cresceu também o número de interessados em participar, tanto na exploração das barracas, como nas actuações musicais. Foi necessário avaliar bem o tipo de produtos artesanais e dos petiscos em oferta, para que fossem adequados ao espírito da festa popular que se pretende. “É uma festa de rua, uma festa das comunidades”, disse Miguel de Senna Fernandes, e não um “local para apresentação de produtos importados ou para revenda de artigos comprados nalguns desses sites online, que não são típicos de um arraial,”, acrescentou a presidente da Casa de Portugal em Macau (CPM), Amélia António. E o recado fica dado, “vamos estar atentos à decoração das barracas, para ver se estão apresentáveis e festivas”, e “eventualmente vamos nomear algumas pessoas, tipo inspectores da Michelin”, para passarem revista aos enfeites das barracas. “No futuro, os que não tiverem essa preocupação, talvez venham a ter consequências, como ir parar ao fundo da lista, caso o número de interessados aumente”, ameaçou com graça a responsável. Venha o bailarico O programa de sábado e domingo começa por volta das 14h30 e vai até às 22h00, hora a que o som da música acaba, por obrigações legais relacionadas com o ruído numa zona habitacional. A abertura das festividades contará com a tradicional Bênção e Missa de São João, no sábado, seguida durante os dois dias pelas participações de escolas, actuações de grupos musicais amadores, bandas jovens de rap e de jazz, e a apresentação ao vivo dos Senza, que vêm de Portugal a convite da organização para animar a festa local. É um “grupo de música portuguesa inspirado em viagens”, como são identificados nas redes sociais, formado pelo par Catarina Duarte e Nuno Caldeira. A expectativa dos organizadores é que o público continue a aumentar, como tem acontecido todos os anos. Quanto a estatísticas, é impossível saber ao certo. “É um feeling que temos”, brinca o presidente da ADM, “é que no Bairro de São Lázaro o espaço é exíguo, quando nos sentimos mais apertados ficamos felizes, porque é sinal de que há mais gente!”. Mas os indicadores são também outros: a velocidade a que desaparecem as sardinhas, as bifanas e as cervejas. “Costumamos falar também com as pessoas que vendem comida, sobretudo a mais tradicional, que são os mesmos que ali estão desde que há arraial. São eles que sabem melhor como foi o movimento, se a procura foi maior, se venderam mais. Temos assim uma noção da afluência das pessoas, são estas as nossas estatísticas”, reforça a presidente da CPM. Orçamento e parcerias O orçamento da iniciativa rondará este ano as 500 mil patacas, um pouco acima, dado o enorme aumento dos preços praticados pelos fornecedores dos serviços necessários para montar a festa. No ano passado, a verba prevista era entre 400 e 500 mil patacas. O principal apoio é da Direcção dos Serviços de Turismo (DST), as restantes associações têm ainda verbas atribuídas pela Fundação Macau para a sua participação na iniciativa, segundo os organizadores. Os parceiros, além da ADM e da CPM, são também a Associação Promotora da Instrução dos Macaenses, o Instituto Internacional de Macau, a Associação dos Jovens Macaenses e a APOMAC – Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau –, sem esquecer a participação especial da Escola Portuguesa, não a nível institucional, mas com assento sempre presente na organização do evento. A festa é garantida, “faça chuva ou faça sol”, e apenas se pede às famílias que estejam de olho nas crianças, já que todos os anos têm havido receios de que alguém se possa magoar nas correrias e subidas de escadas, que a organização não pode vedar ou controlar. Concurso | Melhores vídeos dão prémios “Os Melhores Momentos do Arraial de São João em Vídeo – IIM 2019” é o título do concurso que o Instituto Internacional de Macau lança este ano a todos os jovens interessados em participar. A ideia é retratar e captar as melhores imagens da festa, durante os dois dias, com qualquer tipo de dispositivo, incluindo telemóvel. Podem ser utilizadas aplicações criativas e efeitos especiais, não devendo os trabalhos exceder os dois minutos de duração. O vídeo deverá ser publicado na página de Facebook do Arraial de São João (@MacauSaintJohnFestival), após ser feito o “like” à página e o “upload” do ficheiro. O concurso encerra às 17h horas de domingo, dia 23 de Junho, e o anúncio dos prémios será realizado na mesma tarde pelas 19h através do Facebook. Os vencedores terão que estar presentes no Arraial para receberem os prémios: 1º Lugar – 2 mil patacas, 2º e 3ºLugares – 500 patacas. Os vídeos premiados e respectivas imagens serão utilizadas para o anúncio promocional do Arraial de São de João do próximo ano.
Hoje Macau SociedadeAACM | Aprovados novos procedimentos para aterrar em Macau [dropcap]A[/dropcap] Autoridade de Aviação Civil de Macau (AACM) anunciou ontem, em comunicado, que foram aprovados novos procedimentos para aterragens no Aeroporto Internacional de Macau, um processo para o qual a Air Macau contribuiu. Desta forma, os operadores aéreos “podem diminuir o número de voltas e desvios de voos resultantes de condições meteorológicas desfavoráveis quando fazem aterragens (do lado norte para o sul) na pista 16”, pode ler-se. Os novos procedimentos “garantem a segurança operacional e a eficiência das aeronaves quando aterram na pista 16” e estão relacionados com a implementação de padrões internacionais que começaram a ser analisados em 2017 entre a AACM e a Air Macau, com o contributo de uma consultora internacional.
Sofia Margarida Mota PolíticaFilipinas | Declarações de cônsul desiludem empregadas domésticas As empregadas domésticas filipinas estão zangadas e desiludidas com a falta de apoio por parte da cônsul-geral das Filipinas em Macau, Lilybeth R. Deapera. Em causa estão as palavras ditas pela diplomata em que declarou que se estiverem insatisfeitas com as leis locais, como a exclusão do salário mínimo, não têm que vir para o território [dropcap]I[/dropcap]nsensível e sem empatia”, são as palavras usadas pela presidente do Sindicato Verde dos Trabalhadores Migrantes das Filipinas em Macau, Nedie Taberdo, para descrever a Cônsul-Geral das Filipinas em Macau, Lilybeth R. Deapera. A caracterização surge em reacção às declarações proferidas pela diplomata na passada quarta-feira. Lilybeth R. Deapera afirmou que as trabalhadoras domésticas que considerem injusta a exclusão da proposta de salário mínimo têm sempre a opção de não trabalharem em Macau. “São as forças de mercado que ditam e, claro, os trabalhadores podem fazer escolhas, se acham que não é justo para eles, têm a opção de não vir trabalhar para Macau. Eles devem considerar todas as possibilidades e pensar em como podem garantir que os seus direitos sejam protegidos”, disse Deapera à margem da comemoração do 121ª aniversário das Filipinas, citada pelo Jornal Tribuna de Macau. A intervenção da diplomata foi recebida com tristeza e ira por quem a via como representante e defensora de direitos. “Estamos zangadas e desiludidas”, sublinhou Nedie Taberdo ao HM. Ao invés, tiveram como resposta às preocupações “uma declaração sem nenhuma sensibilidade à realidade das pessoas que deveria estar a representar e a defender”, apontou Nedie Taberdo. “Somos empregadas domésticas, e se estamos aqui é porque estamos a tentar ter melhores condições de vida para dar à nossa família”, justificou. Para Nedie Taberdo “ouvir que não temos que trabalhar em Macau é uma falta de respeito por estas trabalhadoras que nem têm direito ao salário mínimo”. Discriminação regional A opinião é generalizada às colegas de Nedie Taberdo, que se sentem marginalizadas pela diplomata, aponta a responsável falando em nome da associação que representa. A descriminação não tem apenas que ver com as recentes declarações da diplomata que já tem historial no destrate das conterrâneas que trabalham na RAEM. Lilybeth R. Deapera “tem protegido as empregadas de Hong Kong, mas de Macau nunca ajudou em nada”, sublinha a activista. A razão que leva à ausência de apoio diplomático é desconhecida de Nedie Taberdo e das suas compatriotas, mas a cônsul-geral “em Hong Kong apoiou as empregadas domésticas imigrantes e agora naquele território, elas não pagam taxas de contratação às agências de emprego”, disse. Por cá, encontra-se em discussão na especialidade a lei que vai regulamentar o funcionamento das agências de emprego que não isenta as trabalhadoras do pagamento de taxa. Além disso, tem de pagar duplamente, primeiro na entidade das Filipinas e depois na agência de Macau. “Vamos estar sujeitas a pagar duas vezes”, lamenta. Entrada limitada A novo diploma para as agências de emprego não se fica por aqui em termos de restrições à contratação de trabalhadores filipinos. “Não podemos vir para Macau como turistas e temos sempre de nos submeter às agências. Seria muito mais fácil tratar das coisas cara a cara com os patrões e vir por recomendação. Por outro lado, como é que os empregadores podem ter acesso a um período à experiência de dois ou três dias para que possam avaliar o trabalho da candidata?”, questiona. A associação a que preside entregou uma petição à Assembleia Legislativa (AL) contra o novo diploma, no entanto ainda não têm qualquer feedback nem houve nenhuma chamada por parte dos deputados que disseram publicamente que pretendiam ouvir as opiniões das empregadas domésticas. “Estamos à espera para ver o que acontece na sequência da entrega da petição e depois logo pensamos no que podemos fazer. A AL aceitou a petição, penso que estejam a considerar e que voltem atrás quanto às taxas”, disse. Entretanto, o diploma que prevê o salário mínimo universal foi aprovado na generalidade e deixa de fora empregadas domésticas e pessoas portadoras de deficiência.