Juana Ng Cen SociedadeHabitação social | Casal oculta activos milionários em candidatura [dropcap]U[/dropcap]m casal é suspeito de “ocultar” cerca de nove milhões de activos e falsificar documentos para obtenção de habitação social, comportamento que fez com que fossem acusados de burla e falsificação de documento de especial valor, num processo que está à espera de decisão judicial. Segundo notícia avançada pelo jornal Ou Mun, além da falsa declaração de rendimentos, durante o período de espera, os candidatos obtiveram abono provisório de residência no valor total de 45 mil patacas. Os dois arguidos confessaram os crimes de que vinham acusados no Tribunal Judicial de Base, mas a mulher de apelido Wong ressalvou ter devolvido todos os ganhos ilegais, e argumentou que “não sabia que o meu marido tinha tanto dinheiro”. O marido, de apelido Fong, argumentou em tribunal que a relação entre ambos era conturbada e que o dinheiro que tinha era proveniente da sucessão depois da morte da sua mãe. Durante o julgamento, a mulher de 44 anos de idade revelou ser dona de casa, e que o marido, de 47 anos de idade, estava, de momento, desempregado. Segundo o processo, em 18 de Agosto de 2013, a mulher solicitou habitação social em nome do agregado familiar. No formulário de inscrição apresentado, relatou que uma conta bancária com cerca de 10 mil patacas e que a família, incluindo quatro filhos menores de idade, dependia do salário do marido, que era de cerca de 10 mil patacas. No formulário da candidatura contava a assinatura de ambos. Após a aprovação do Instituto de Habitação (IH), a família ficou em lista de espera. Como tal, a partir de 18 de Março de 2015, o IH concedeu ao agregado familiar um abono mensal de 2.500 patacas como subsídio provisório de residência. No total receberam 45 mil patacas. Mais tarde, veio a descobrir-se que o espólio da família era de 9,07 milhões de patacas e que Fong tinha seis milhões de patacas numa conta bancária.
João Santos Filipe Manchete SociedadeTribunais | Decisão sobre ETARs da Taipa e Aeroporto vai ser reformulada Uma decisão que contradiz os argumentos utilizados e que não julga todas as matérias pertinentes. Foi esta a razão dada pelo Tribunal de Última Instância para reenviar a primeira decisão tomada e mandar o concurso público das ETARs da Taipa e Aeroporto de volta ao Tribunal de Segunda Instância [dropcap]D[/dropcap]epois da decisão que anulou o concurso de atribuição das concessões para a exploração das Estações de Tratamento das Águas Residuais da Taipa e do Aeroporto Internacional de Macau, o Tribunal de Segunda Instância (TSI) vai ter de reformular o acórdão. A mais recente decisão sobre o caso foi tomada pelo Tribunal de Última Instância (TUI) e tornada pública ontem. Depois do consórcio constituído pelas empresas Waterleau e Originwater ter vencido o concurso público para a exploração das ETARs, o consórcio igualmente concorrente constituído pelas empresas Focus Aqua, CITIC Envirotech e NewLand recorreu da decisão para o TSI. Na análise do caso, o TSI atribuiu a razão ao recurso e optou por decidir que o concurso público deveria ser repetido. No entanto, a decisão não convenceu nenhuma das partes e ambas apresentaram um novo recurso para o TUI. Além dos concorrentes, também o Chefe do Executivo, responsável pelo concurso, contestou a decisão. Na análise aos argumentos do consórcio da Focus Aqua, CITIC Envirotech e NewLand o TUI considerou que as empresas não tinham direito a interpor recurso, uma vez que lhes tinha sido dado razão pelo TSI. Por esse motivo, recusou analisar os argumentos das três empresas. Recurso vencedor Contudo, no que diz respeito aos argumentos da Waterleau e Originwater, o TUI acabou por considerar que tinham razão. Por um lado, a decisão da juíza Song Man Lei considerou que o TSI não analisou todos os argumentos apresentados e que alguns eram importantes para o desfecho do caso, ou seja, o TUI considerou que houve o que no Direito se designa por “omissão de pronúncia”. Por outro, no que diz respeito às contradições entre a decisão e os argumentos, tal ficou a dever-se ao facto do TSI ter confundido a 3.ª e a 5.ª propostas apresentadas no concurso. Assim, o TSI argumentou na decisão que a proposta vencedora tinha sido aceite condicionalmente, no início, quando esse facto dizia respeito a uma outra concorrente. Posteriormente, o TSI ainda emitiu uma correcção ao acórdão, mas não foi suficiente para clarificar a situação. “Por outras palavras, a proposta do concorrente n.º 3, ora recorrente a quem foi adjudicada a prestação dos serviços em causa, nunca foi admitida condicionalmente”, é sublinhado. Face a estes fundamentos, o TUI optou por reenviar o caso para o TSI, que vai reformular a decisão. Caso alguma das partes fique inconformada poderá haver um novo recurso para o TUI. Finalmente, o recurso do Chefe do Executivo, acabou por não ser analisado, por se considerar escusado face à necessidade de reformular a decisão inicial.
Sofia Margarida Mota PolíticaAgnes Lam pede ao Governo medidas para combater lixo na costa [dropcap]A[/dropcap] má qualidade e o lixo que se acumula nas águas costeiras de Macau é o mote para que Agnes Lam questione o Governo acerca das medidas que tenciona tomar para combater a poluição. Em interpelação escrita, a deputada salienta o aumento dos resíduos que diariamente se acumulam na praia de Hac Sa, em especial depois de na semana passada a situação ter sido particularmente grave. Além do lixo, acresce o problema da propagação de bactérias. A situação não é nova, apontou, e “no passado, após tempestades, existia muito lixo na praia e encontravam-se muitos resíduos a flutuar nas águas”. No entanto, as autoridades estão em falta, quer por não investigarem as fontes destes resíduos, quer por não apresentarem nenhum plano para a resolução da situação a longo prazo. Entretanto, este tipo de incidentes, em que existe grande afluência de resíduos na costa local, normalmente passam despercebidos e à margem da agenda do Executivo, sendo apenas alvo atenção quando a população ou os órgãos de comunicação social fazem queixa, algo que para a deputada é lamentável. De acordo com Lam, o Governo deve fazer um acompanhamento constante no que respeita à situação da poluição das praias e águas de Macau de modo a evitar que estas marés poluentes atinjam o território. Mas, a atitude do Governo tem sido a de “’chorar sobre leite derramado’ sem acção de combate e prevenção de situações idênticas no futuro”. Qualidade em baixas Lam recorda a classificação dos relatórios à qualidade da água de 2017 e 2018 que classificam as águas costeiras como sendo “de má qualidade”, admitindo mesmo “alguns casos de muito má qualidade”. Tendo em conta estes dados, é fácil concluir que o Governo tem “muito que fazer para melhorar o estado de conservação da natureza costeira” e que deve implementar medidas com urgência. Lam deixa ainda algumas sugestões a este respeito, sublinhando a importância de se proceder à monitorização constante, a pesquisas e à sensibilização social. O objectivo é “proteger a saúde do público e dos visitantes e a percepção que têm das praias de Macau”. Neste sentido, Agnes Lam quer saber claramente quais as medidas que o Governo pretende implementar para averiguar as fontes dos resíduos que têm dado à costa na última semana, bem como as acções previstas para prevenir este tipo de situações a longo prazo. Além disso a deputada pede esclarecimentos acerca do que tem sido feito, em conjunto com as regiões vizinhas, para promover mais cooperação na área da protecção ambiental.
João Santos Filipe PolíticaFutebol | Sulu Sou pede à FIFA nova oportunidade para Macau O deputado pró-democrata enviou uma carta a Gianni Infantino, presidente da FIFA, a pedir que o jogo com o Sri Lanka seja novamente agendado. Sulu Sou procura impedir que os jogadores da selecção percam a oportunidade de uma vida [dropcap]O[/dropcap] deputado Sulu Sou enviou uma carta ao presidente da FIFA, Gianni Infantino, a pedir uma nova oportunidade que possibilite aos jogadores de Macau disputar o jogo de apuramento com o Sri Lanka. O documento foi feito público ontem pelo legislador, que tem sido o membro da Assembleia Legislativa mais envolvido no apoio aos atletas locais. “‘Nunca podemos dizer quem é o vencedor e o derrotado de um jogo até ao fim do último minuto’. Esta é uma lição profunda que aprendemos a assistir aos encontros de futebol. Por isso, gostava, com esta carta, de apelar à FIFA e à AFC [sigla inglesa para Confederação de Futebol Asiática] que fizessem todos os esforços possíveis para discutir com a Federação de Futebol do Sri Lanka [FFSL] e com a Associação de Futebol de Macau [AFM] a possibilidade de reagendar o jogo entre as equipas”, pode ler-se no documento. Em causa está o facto de a Associação de Futebol de Macau (AFM) ter recusado que os jogadores se deslocassem ao Sri Lanka para participar na 2.ª mão da fase de pré-apuramento, depois de terem ganho em Zhuhai por 1-0. A justificação para esta medida prendeu-se com a falta de garantias de segurança, devido aos atentados terroristas da Páscoa. No documento, Sulu Sou destaca que há muito que a questão deixou de ser puramente desportiva e que se alastrou ao campo político. Contudo, pede a Gianni Infantino que tenha em consideração o sacrifício dos atletas, que sonham em estar nos grandes palcos do apuramento para o Mundial. “Apesar de Macau ser vista como uma região onde o futebol não é o desporto mais popular, há muitas pessoas que têm uma grande paixão pelo jogo, quer seja como espectadores ou como praticantes”, começa por realçar Sulu Sou. “Os jogadores que são seleccionados em Macau precisam de fazer uma escolha muito dolorosa, entre jogar ou trabalhar, e alguns têm mesmo de fazer as duas actividades”, acrescentou. Suor dos atletas É com base no sacrifício dos atletas, que o deputado apela ao presidente da FIFA: “Como todos sabem, o Mundial é o principal troféu do sector do futebol. Todos os que amam futebol desejam ver Macau participar na competição, assim como esperam ver bons resultados”, defendeu. “Mas hoje, devido a um erro de julgamento da AFM, ou para ser mais preciso, devido a questões administrativas ou decisões pessoais que em nada estão relacionadas com o desporto, os jogadores de Macau perderam a oportunidade de uma vida, e alguns talvez nunca mais voltem a ter algo semelhante ao longo da sua carreira”, destacou. “Esperamos que o jogo possa ser reagendado de forma satisfatória, para que ambas as partes possam defrontar-se dentro do espírito sagrado do ‘Fair Play’, que é o sonho dos jogadores de Macau”, deixou como desejo. A carta foi enviada com conhecimento do presidente da AFC, Salman Bin Ibrahim Al-Khalifa, o presidente da FFSL, Anura de Silva e do presidente da Associação de Futebol de Macau, Chong Coc Veng.
Sofia Margarida Mota PolíticaSede de candidatura de Ho Iat Seng custou 1,3 milhões em renovações e equipamentos [dropcap]F[/dropcap]oram gastos 1,3 milhões de patacas para renovar e equipar o sexto andar do Edifício Comercial Rodrigues, situado na Praia Grande, onde está agora em funcionamento a sede de campanha de Ho Iat Seng, candidato a Chefe do Executivo. A par desta despesa, Ho gasta “mais de 100 000 patacas pela utilização do espaço” somando renda e despesas mensais. A informação foi ontem dada num encontro do mandatário da candidatura de Ho, e também deputado nomeado, Iau Teng Pio com a comunicação social. Trabalham na sede de candidatura 24 pessoas, mas apenas oito são remuneradas auferindo um salário mensal de 15 mil patacas. Os restantes são voluntários, na sua maioria estudantes universitários e jovens, apontou Iau. Questionado acerca de uma estimativa de gastos para a campanha, o mandatário refere que “ainda não há certezas” garantindo que não vão ultrapassar os 6,43 milhões de patacas que a RAEM põe à disposição de qualquer candidato. Aliás, o próprio Ho Iat Seng garantiu aquando da apresentação do seu manifesto que todos os gastos serão pagos pelo seu próprio bolso. A estrutura serve não só para organizar a campanha do candidato favorito ao mais alto cargo do Governo, como é equipada com salas de reuniões para receber associações, representantes dos sectores sociais, e eventualmente residentes houver disponibilidade para tal. “Em princípio podemos agendar entrevistas, mas depende do tempo do candidato”, disse o mandatário. Mais de 66 São necessárias 66 assinaturas de apoio por parte dos membros do Colégio Eleitoral , que será composto por 400 membros. No entanto, é intenção de Ho Iat Seng reunir mais apoiantes do que os estritamente necessários para que seja aceite como candidato. “Tenho confiança que Ho Iat Seng consiga ter mais do que as 66 assinaturas”, disse o mandatário. Além de querer atrair os futuros eleitores do Colégio Eleitoral, Ho tem ainda como objectivo “chegar mais perto da população”. Para o efeito, nos períodos de campanha, “vai sair à rua”, acrescentou o Iau. Questionado se existe conflito de interesses por ser deputado nomeado pelo actual Chefe do Executivo e desempenhar funções de mandatário da candidatura daquele que poderá ser o próximo líder do Governo, Iau Teng Pio apontou que não “há problema”. “Fui nomeado pelo actual Governo por ser professor na faculdade de direito e conheço o Ho Iat Seng há muito tempo, estudámos juntos no ensino secundário”, explicou. Estiveram ainda presentes no encontro de ontem com a comunicação social António Chio, coordenador de candidatura e Lam Heong Seng, coordenador adjunto. As eleições para o cargo de Chefe do Executivo estão agendadas para 25 de Agosto.
Hoje Macau PolíticaCooperação jurídica e judiciária valeu 93 acções de formação [dropcap]D[/dropcap]esde 2001, o Centro de Formação Jurídica e Judiciária do Governo realizou 93 acções de formação com pessoas vindas de Portugal, que contaram com a participação de 5.180 profissionais, entre magistrados, notários públicos e privados, oficiais de justiça ou advogados. A informação foi disponibilizada pelo director da Direcção de Serviços para os Assuntos Jurídicos Liu Dexue, em resposta a interpelação do deputado José Pereira Coutinho. Ainda de acordo com Liu Dexue – que não conseguiu responder a duas das três perguntas do deputado, por dizer que não há dados sobre o Acordo de Cooperação Jurídica e Judiciária entre a RAEM e Portugal – desde 2003 o Governo realizou cinco cursos de formação para o ingresso nos quadros da magistratura judicial e do Ministério Público. Nestes cursos, 76 formados foram a Portugal participar em seminários temáticos e visitar instituições portuguesas, como o Supremo Tribunal de Justiça, a Procuradoria-Geral da República, entre outras. A Pátria não se discute Outra das questões levantadas por José Pereira Coutinho relacionou-se com a ausência de consultas no âmbito do acordo entre Macau e o exterior para a entrega recíproca de infractores em fuga. No entanto, o director da DSAJ explicou que as questões que implicam a “soberania nacional” não podem ser alvo de consulta. “Uma vez que a cooperação judiciária com o exterior implica questões de soberania nacional, o conteúdo que consta neste acordo tem de ser autorizado pelo Governo Central e as negociações devem ter por base os princípios jurídicos consagrados na Lei n.º 6/2006 (Lei da cooperação judiciária em matéria penal), daí que não se tenha efectuado qualquer consulta”, sustentou. Foi na quarta-feira que o acordo entre Macau e Portugal relativo à entrega de infractores foi dado a conhecer através da publicação em Boletim Oficial. O acordo também é mencionado por Liu Dexue, mas como na altura, a 28 de Maio, o texto ainda não era conhecido, o responsável não se alongou sobre o conteúdo.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaAL | Defendida renúncia ao lugar de Chui Sai Cheong no Conselho do MP Com a saída de Ho Iat Seng da presidência da Assembleia Legislativa, Chui Sai Cheong, actual vice-presidente, poderá ser eleito para esse cargo. Contudo, volta a questionar-se uma possível incompatibilidade com o facto de pertencer ao Conselho de Magistrados do Ministério Público. O deputado José Pereira Coutinho e o advogado Sérgio de Almeida Correia defendem uma renúncia de Chui Sai Cheong a esse cargo [dropcap]C[/dropcap]hui Sai Cheong, actual vice-presidente da Assembleia Legislativa (AL), é um dos nomes que poderá ser eleito para a presidência do hemiciclo, que, de acordo com o Regimento da AL, devem acontecer dentro de 15 dias. Contudo, o deputado José Pereira Coutinho defende que Chui Sai Cheong deveria renunciar ao seu cargo no Conselho de Magistrados do Ministério Público (MP) caso venha a ser eleito presidente da AL, para que se garanta uma clara separação de poderes. “Acho que o deputado Chui Sai Cheong será o próximo presidente da AL, mas não nos podemos esquecer que este ainda é membro do Conselho de Magistrados do MP, o que poderá constituir uma incompatibilidade do cargo no âmbito do princípio de separação de poderes (Executivo, Legislativo e Judicial)”, defendeu ao HM. Também o advogado Sérgio de Almeida Correia defende que Chui Sai Cheong deve renunciar ao referido órgão caso seja eleito presidente da AL. “Claro que devia renunciar, aliás nunca deveria ter sido nomeado (por uma questão de decoro). Razões atinentes ao princípio da separação de poderes, transparência e seriedade a isso obrigam”, disse ao HM. Para o causídico, é “discutível se não há mesmo uma situação de conflito de interesses entre a sua posição na AL e a do Conselho sempre que estejam em causa matérias relacionadas com o MP ou de política legislativa que tenham de ser discutidas na AL”. “Para protecção das duas instituições e dele próprio, até porque é irmão do incumbente que vai cessar funções e iriam ambos coincidir durante um período, caso fosse eleito, um como Chefe do Executivo e o outro como Presidente da AL, ele devia ser o primeiro a querer sair do Conselho”, acrescentou Sérgio de Almeida Correia, admitindo, contudo, que Chui Sai Cheong até pode pedir para sair caso seja eleito pelo hemiciclo. “Mas cada um é como é, e se até agora não sentiu que devesse sair…”, frisou. Aquando da sua eleição para a vice-presidência, em 2017, Chui Sai Cheong rejeitou qualquer incompatibilidade. “Consultei os meus conselheiros jurídicos e eles disseram-me que não existe um conflito de interesse entre os dois cargos. Por essa razão vou continuar a desempenhá-los”, disse, em Outubro desse ano. O bom nome Além da eleição, daqui a 15 dias, do novo presidente da AL, será também escolhido um novo deputado em substituição de Ho Iat Seng. Wu Chou Kit, deputado nomeado, disse esperar que o novo presidente do hemiciclo seja experiente e creditado. Sobre a candidatura de Ho Iat Seng, os membros do hemiciclo apresentam diversas opiniões. Ng Kuok Cheong defendeu que a pronta renúncia ao cargo de presidente revela que Ho Iat Seng está confiante e certo do caminho político escolhido. O deputado do campo pró-democrata acredita que a integração de Macau no projecto da Grande Baía é um tema importante para o Governo Central e para as pessoas que fazem parte do “pequeno círculo”. No entanto, aquando dessa integração, Ng Kuok Cheong acredita ser necessário que os jovens de Macau tenham uma noção de compromisso. “O Governo precisa de promover o conceito de ‘terras de Macau destinadas a residentes de Macau’, senão a próxima geração vai estar dispersa na região da Grande Baía”, esclareceu. Para Ng Kuok Cheong, “se o próximo Chefe do Executivo quiser realizar conquistas políticas, deve ter sucesso na área da habitação e desenvolver o sistema político democrático” disse. Já Wu Chou Kit disse que o facto de Ho Iat Seng ser candidato ao cargo de Chefe do Executivo é uma boa informação para todos os cidadãos de Macau, uma vez que ele prometeu tratar dos assuntos ligados aos residentes, tal como o problema do trânsito e da falta de habitação. Sobre os nomes para o cargo de presidente da AL, o deputado acredita que o actual vice-presidente da AL e os secretários (Kou Hoi In e Chan Hong) são bons candidatos.
Hoje Macau EntrevistaPortugueses cada vez mais irrelevantes na política local, aponta Neto Valente A crescente irrelevância dos portugueses na vida política local, a ameaça à independência de poderes no território e a diluição da identidade local dentro do projecto da Grande Baía são algumas das ideias deixadas por Jorge Neto Valente em entrevista à agência LUSA. O presidente da AAM lamenta ainda o número cada vez maior de advogados que vêm do continente para Macau, não para aplicar o direito local, mas para ganhar dinheiro [dropcap]O[/dropcap]s portugueses são cada vez mais irrelevantes na política local e a comunidade chinesa já ocupou quase todos os cargos de poder, disse o presidente da Associação de Advogados de Macau (AAM), Jorge Neto Valente, em entrevista à agência Lusa. Vinte anos após a transição de Macau para a administração da China, “há uma erosão muito grande em relação aos portugueses participarem na política local”, afirmou Neto Valente, referindo-se àqueles nascidos em Portugal. “Hoje em dia, os portugueses (…) são praticamente irrelevantes na política local”, até porque, justificou, “não estão integrados na política local”. Nos últimos 20 anos, “os chineses tomaram praticamente conta de tudo o que é lugar político… e os portugueses têm funções de assessoria, têm negócios (…), mas em relação à política são cada vez mais irrelevantes”, reforçou. Neto Valente dá o seu caso como exemplo: “penso que sou o único membro do colégio eleitoral que nasceu em Portugal”, afirmou, referindo-se à comissão eleitoral que vai eleger o próximo chefe do Governo, numa votação agendada para 25 de Agosto. O paradigma democrático a partir do qual deve ser visto Macau é, para o presidente da AAM, sobretudo uma questão pragmática: “É a China que nomeia e não vai prescindir disso. Não há outro esquema previsto na Lei Básica”. “Temos de viver com isso e não vale a pena, por mais barulho que haja, por mais gente contra este sistema e a exigir um maior esforço democrático na escolha do Chefe do Executivo, este esquema vai manter-se na Lei Básica”, defendeu. O advogado, em Macau há 49 anos e que preside à associação desde 2002, depois de ter ocupado o cargo entre 1995 e 2000, reforçou a ideia de que “não há dúvida nenhuma que, no sistema que é definido pela lei básica, as possibilidades de escolha não são muitas”. Por isso, sublinhou, “quando alguém lembra à China que isto não é democrático, porque não é uma votação universal, a China diz – e diz baixinho porque nem está para se preocupar com isso -, que no tempo da administração portuguesa nem isto havia. Porque o governador era nomeado (…) pelo Estado e sem haver eleições”. Independência ameaçada Jorge Neto Valente, avançou ainda, que algumas das novas leis recentemente aprovadas “são machadadas” na separação e independência de poderes no território. “Uma das maiores machadadas no segundo sistema e no sistema jurídico de Macau foi a aprovação recente da lei que diz que para julgar crimes contra a segurança do Estado só poderão intervir juízes chineses”, precisou. Em causa está a alteração efectuada à Lei de Bases da Organização Judiciária, que limita apenas a magistrados e juízes com cidadania chinesa a investigação e os julgamentos de casos relacionados com a Segurança Nacional. “Os juízes não se podem distinguir entre patrióticos e outros”, defendeu o presidente da AAM. “Qualquer juiz tem de ler a lei e aplicá-la. Não pode haver juízes que são determinados pelo seu fervor patriótico”, acrescentou o responsável. Esta alteração legislativa “foi terrível”. “Objectivamente é um péssimo sinal que se deu para os residentes e para fora de Macau”, opinou Neto Valente, sublinhando que “o que se tem assistido é a uma certa erosão da maneira de viver” no território e que “a aprovação de alguma legislação (…) é preocupante em termos de subsistência do segundo sistema”. Riscos à boleia Por outro lado, trazer advogados da China à ‘boleia’ do projecto de cooperação regional da Grande Baía é um risco para a advocacia portuguesa e para o sistema jurídico do território, sublinhou Neto Valente. Em causa estão, destacou, a escala de Macau e os interesses antagónicos das partes envolvidas face ao projecto de Pequim que prevê a criação de uma metrópole mundial que envolve as regiões administrativas especiais chinesas de Hong Kong e Macau e nove cidades da província de Guangdong. A Grande Baía tem um Produto Interno Bruto que ronda os 1,3 mil milhões de dólares, maior que o PIB da Austrália, Indonésia e México, países que integram o G20. “Há advogados que defendem a integração na Grande Baía porque estão convencidos de que vão ter mais oportunidades de negócio”, afirmou. “Querem trazer para Macau os advogados da China. (…) Trazer estes advogados significa acabar com a advocacia de língua materna portuguesa e significa mais do que isso, esses advogados que vêm do interior da China não vêm para cá entusiasmados com o direito de Macau, eles vêm entusiasmados com o direito da China”, sublinhou, lembrando que só em Guangdong há 100 mil e em Hong Kong mil, contra pouco mais de 400 em Macau. “Alguns [advogados], sobretudo os mais medíocres, têm uma perspectiva de ganhar mais dinheiro, ao serviço de advogados da China, e com negócios da China”, explicou. Tal “significa que não é só a advocacia que está em perigo, mas o sistema jurídico de Macau”, alertou o advogado. Identidade em risco “Há um risco de diluição da identidade” de Macau, “tão pequenina” em relação à população de mais de 70 milhões que vivem na região da Grande Baía, ressalvou. A mais-valia para Macau “depende do que o Governo central resolver fazer (…). Se não for o Governo central a querer manter Macau com identidade própria Macau desaparece, diluiu-se rapidamente”, opinou. “Dos cerca de 430 advogados que há hoje, sei quem é capaz de prosseguir uma linha que acho que deve ser seguida, com independência, (…) com sabedoria para não criar divisões inultrapassáveis e para não criar blocos que se dividam e prejudiquem a classe”, explicou. Neto Valente sublinhou o crescimento da associação desde 1999, quando existiam cerca de uma centena de advogados: “Agora são 427, (…) Um salto grande. No fim dos anos 1990 havia cinco ou seis estagiários, agora há 127. A curto prazo, vai haver mais de 600 advogados. É um instante”, prevê. Mobilização reduzida Abordado sobre a possibilidade de existir em Macau uma mobilização social como a que se assistiu recentemente em Hong Kong contra a lei da extradição, Neto Valente descarta a possibilidade. “Acho que em Macau não é possível mobilizar as pessoas, nem pagando, até porque não vai haver ninguém a pagar para fazer barulho”, ironizou Neto Valente, depois de recordar palavras de um “fanático defensor do Partido [Comunista] que toda a gente foi paga com duas mil patacas, por cabeça, para se apresentar na manifestação” que juntou milhões de pessoas nas ruas de Hong Kong. “Isso é um insulto a dois milhões de pessoas, quase um terço da população de Hong Kong” que saiu à rua, sustentou. As emendas à lei da extradição que causaram tanta polémica em Hong Kong podem ser vistas de duas formas: uma “mais simpática” e outra “mais perversa”, disse. “A forma simpática de ver isto é: entre o virem buscar pessoas em Hong Kong por baixo da mesa, à socapa, e levá-las para a China, e haver regras estabelecidas claramente a definir em que condições são entregues à China, eu, talvez por deformação profissional, prefiro que haja regras”, defendeu. “Mas tem o lado perverso: (…) com essas regras e com a amplitude com que as autoridades chinesas apreciam qualquer crítica como sendo contra o Estado, como sendo um ataque ao partido (…) também pode acontecer que a China diga que pretende a entrega de determinadas pessoas para serem acusadas de crimes que são crimes de opinião, que não são crimes perante a lei de Hong Kong ou de Macau”, explicou.
Hoje Macau EventosQuadro de Caravaggio, encontrado num sótão em França, mostrado em Toulouse antes de leilão [dropcap]O[/dropcap] quadro “Judite e Holofernes” do pintor italiano Caravaggio, encontrado em 2014, num sótão da cidade francesa de Toulouse, está em exposição na casa de leilões de Marc Labarbe até ser vendido no próximo dia 27 de Junho. A obra deverá entrar no mercado por um valor mínimo de 30 milhões de euros, segundo uma estimativa base da leiloeira, citada pela agência EFE, mas espera-se que o preço final supere os 100 milhões de euros. “Judite e Holofernes”, datado de 1607, desapareceu em 1617 e a sua existência tem sido comprovada por cartas entre comerciantes e pelo testemunho de época do pintor Louis Finson, amigo e agente de Caravaggio. Marc Labarbe, proprietário da casa de leilões, localizou a obra, em bom estado de conservação, no sótão de um cliente que desconhecia a origem do quadro, lê-se na notícia da EFE. Os proprietários apresentaram uma petição para obter o certificado de exportação, aprovado pelo governo francês, que classificou a obra como tesouro nacional, dando origem a propostas de compra provenientes, principalmente, dos Estados Unidos da América, de Espanha e de países do Médio Oriente. Os especialistas, na avaliação da pintura, consideraram “a qualidade dos traços” como factor determinante da autoria de Caravaggio, ainda que a “autenticidade” tenha levantado algumas dúvidas, explica a EFE. “Não tenho qualquer dúvida, porque trabalhei nele [no quadro] durante cinco anos. Considero que posso falar tanto como aqueles que o viram e dão as suas opiniões. Quando apresentámos o quadro em Itália sabíamos que estávamos a iniciar uma ‘guerra’ entre escolas [de arte], pois os especialistas odeiam-se uns aos outros”, afirma Marc Labarbe à EFE. “Judite e Holofernes”, um quadro de inspiração bíblica que representa a decapitação do general Holofernes, já passou em exposição por Milão, Londres e Nova Iorque, e encontra-se agora em Toulouse. O Palácio Barberini, em Roma, possui na sua colecção uma pintura anterior de Caravaggio, dedicada ao mesmo tema – “Judite decapitando Holofernes” -, que se encontra datada de 1598–1599, e que constitui um dos mais conhecidos quadros do pintor da “alma humana”. O leilão, no dia 27 de Junho, pode ser acompanhado em direto no ‘site’ “Caravaggio em Toulouse” (thetoulousecaravaggio.com).
Hoje Macau China / ÁsiaPresidente chinês diz esperar que Coreia do Norte e EUA reiniciem negociações [dropcap]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, citado pela imprensa chinesa, disse ao líder norte-coreano Kim Jong que a comunidade internacional espera que os Estados Unidos e a Coreia do Norte reiniciem um diálogo produtivo. A emissora estatal CCTV referiu que Xi Jinping terá feito este comentário hoje durante uma reunião realizada durante a sua visita à Coreia do Norte. Os líderes da China e da Coreia do Norte reuniram-se hoje, em Pyongyang, numa altura em que os dois países, aliados tradicionais, enfrentam um impasse nas negociações com Washington, em torno do comércio e desnuclearização, respectivamente. Antes da reunião, Xi Jinping e a sua mulher, Peng Liyuan, e altos quadros do regime chinês, foram recebidos com uma cerimónia de boas vindas no aeroporto de Pyongyang, com guarda de honra, salvas de canhão e os hinos nacionais de cada um dos dois países tocados por uma banda militar, segundo imagens difundidas pela televisão estatal chinesa CCTV. Cerca de 10 mil pessoas, agitando flores e entoando frases de boas-vindas, receberam Xi, detalha a Xinhua. Trata-se da primeira deslocação de um chefe de Estado chinês àquele país desde 2005, e surge numa altura em que ambos, Xi e Kim, travam lutas separadas com o Presidente norte-americano, Donald Trump, por motivos diferentes. As negociações entre Washington e Pyongyang parecem ter chegado a um impasse depois de, em Fevereiro passado, a cimeira entre o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e Kim Jong-un, em Hanói, ter terminado sem um acordo. Pyongyang propôs abdicar gradualmente do seu arsenal nuclear, à medida que as sanções económicas fossem levantadas, enquanto Washington quer um desarmamento completo. Também as negociações entre Washington e Pequim, para pôr fim a uma guerra comercial que despoletou no verão passado, se encontram num impasse, após a administração Trump acusar os negociadores chineses de recuarem nos seus compromissos e aumentado as taxas alfandegárias sobre quase metade das importações oriundas da China. Trump e Xi vão abordar as disputas comerciais, na próxima semana, durante o G20, no Japão. A visita coincide com o 70.º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e a Coreia do Norte e ocorre nas vésperas do 69.º aniversário do início da devastadora Guerra da Coreia (1950-53), que terminou com a assinatura de um armistício que não foi ainda substituído por um tratado formal de paz. Nos manuais escolares chineses, a Guerra da Coreia é designada “Guerra para Resistir à Agressão Imperialista Americana e Ajudar a Coreia”. A visita de Xi foi anunciada, na segunda-feira, pelo Departamento da Ligação Internacional do Comité Central do Partido Comunista da China, ao invés do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, como é costume nas deslocações do chefe de Estado chinês.
Hoje Macau EventosEspectáculo de Ricardo Araújo Pereira ganha sessão extra dia 30 deste mês [dropcap]O[/dropcap] Instituto Politécnico de Macau (IPM) será palco de uma sessão extra do espectáculo do humorista português Ricardo Araújo Pereira, e que acontece no próximo dia 30 de Junho às 18h00. De acordo com um comunicado, a sessão extra acontece dado o “interesse que a realização de um espectáculo do humorista” e também pela “celeridade com que se esgotaram os bilhetes colocados gratuitamente à disposição dos interessados”. Nesse sentido, a organização da iniciativa “Junho – Mês de Portugal na RAEM” decidiu “dar a oportunidade a mais pessoas de acompanharem o trabalho do também escritor”. Este segundo espectáculo, também de entrada gratuita, tem produção do Instituto Português do Oriente o apoio da Casa de Portugal em Macau, do Banco Nacional Ultramarino e do Instituto Politécnico de Macau. O levantamento dos bilhetes para esta segunda sessão, sujeito a um limite de três por pessoa, poderá ser feito a partir do próximo de segunda-feira, 24 de junho, às 10.30h, nas instalações do IPOR (entrada da Rua do Pato). Terão prioridade as pessoas cujo nome se encontra em lista de espera e que não conseguiram bilhete para a primeira sessão por ter sido atingido o limite da capacidade da sala.
admin h | Artes, Letras e IdeiasPlano director [dropcap]O[/dropcap] arquitecto veio a correr escada acima, atropelando a porta, a rugir que a obra estava toda malfeita. Que não era nada daquilo que vinha nas plantas que me tinha dado ou nos modelos tridimensionais que tínhamos passado a pente fino no seu computador e aprovados pelo município. Eu achei impossível e disse que ia com ele. Ainda a semana passada a vistoria tinha sido feita pela sua equipa, eu passo lá todos os dias ao fim da tarde e não me pareceu ver nada fora do lugar, aliás, não havia tempo para realizar uma transformação assim tão profunda e radical que levasse àquela algazarra. Por isso, achei que ele estava a ser demasiado meticuloso e que um desvio de alguns decímetros que fosse não seria caso para tanto chinfrim. Tentei acalmá-lo, mas não me deu ouvidos. Passámos por cima da porta, ele pediu-me desculpa pelo sucedido e lá fomos. Estava exaltado como nunca o tinha visto, parecia até outra pessoa, completamente esbaforido, com outro tom de pele, que desalinhava toda a sua figura. Ele que primava pelo recato. A cara então parecia estar a entrar em estado de combustão. “Isto não pode ser!”, dizia. “Não é possível! Como permitiu?” O edifício ficava numa zona de relevo irregular, traçado sobre a encosta de uma colina escarpada, aligeirando as diferenças entre as curvas de nível como uma volumetria de luva. Tinha uns andares mais em baixo e outros a um nível superior, como qualquer edifício, que acompanhavam as linhas da encosta, mas nos quais não se podia determinar qual era o piso térreo. Nos pontos altos deslocámos algum do terreno e fizemos aplanações. Transladámos o verde autóctone. Fizemos interligações à superfície e perfurámos alguns túneis que acolhiam escadarias várias, a escoltar toda a rede eléctrica, as canalizações e fibras ópticas e todo o mundo paralelo da malha de esgotos, das caixas para a circulação de ar e do aquecimento central. Por cima, um sem-fim de telhas solares e zonas ajardinadas no topo da construção e nas paredes laterais. O uso de materiais ecológicos e a toxicidade de toda a estrutura tinham sido definidos há muito e eram o pré-requisito principal no caderno de encargos. O plano era uma construção limpa e orgânica, que se imiscuísse na natureza sem ferir tanto o ambiente como a paisagem. Era um edifício e peras. O traçado era enraivecido e singular, inovador em muitos aspectos e auto-sustentável na eficiência energética. A sua abertura iria mudar por completo o figurino da nossa pequena urbe, em termos visuais, de habitação e nos elementos que iria acrescentar ao quotidiano da população. Estava tudo a correr como planeado, com os prazos cumpridos à risca. A satisfação era plena. Mas quando lá chegámos e me deparei com a situação, quase que ia tendo um ataque. Deitei a primeira porta que vi abaixo e desatei por ali aos gritos. Não faltava muito para explodir e entrar em combustão. A minha figura toda desalinhada. Tentei tranquilizar-me. Olhei para o arquitecto, para o mestre da obra, para os pedreiros e carpinteiros que se encontravam no local. Para o operador da buldózer estacionada no topo da colina que, quase a chegar à hora de almoço, abria a sua marmita, preparada em casa por uma companheira inquieta, tentando concentrar-se noutra coisa que não a realidade que tinha à sua frente. Todos de igual modo estarrecidos com a situação, nenhum deles tinha um esclarecimento e nem se atreviam a alvitrar o que quer que fosse. Gritaram, ao princípio, como os demais, mas depois, dada a complexidade do acontecimento, deixaram que o silêncio lhes tomasse conta do goto. Não havia outra forma de encarar aquilo, senão com a mudez e o benefício da meditação pura. Visualmente, era impossível de descrever. À primeira vista, poderia supor-se que o edifício tinha sido acometido por uma doença ou um fungo gigantesco, encontrando-se por isso metastizado. O próprio empreiteiro não sabia como continuar com a obra, nem que ordens dar aos seus empregados. De mãos na cabeça revirava os olhos e olhava para as plantas de pormenor, tentando encontrar aquela distopia desenhada no traçado original. Como se por baixo existisse um plano mestre desenhado a lápis que tinha sido sobreposto à rectidão das linhas técnicas. Escondido nas cofragens, nas caixas de electricidade ou nas anotações para o reboco. Não dava conta de si e exasperava-se, ao mesmo tempo que procurava dissimular a sua exaltação. Um homem é de ferro, pensava, enquanto engolia mais uma baforada de ar. Decidimos reunir na tarde seguinte, para que pudéssemos encontrar uma solução ou tão-pouco uma pequena desculpa para aquele curto-circuito. Acolhidas as coisas, assim à primeira vista, e de modo intuitivo, o facto que decorria desse olhar ignaro era de que o edifício tinha ganho uma vida própria. À roda de uma mesa, cada um divagou por teorias inventivas, repuxando a sua criatividade ao extremo, para que se encontrasse algum pequeno fio perdido no canto da sala, que levasse a uma equação mínima de bom senso por onde pudéssemos prosseguir. Sim, a edificação era agora uma criatura. Ninguém usou o termo monstro, por um lado porque o dicionário se tornara curto; por outro, porque a beleza – também não seria bem esse o termo a empregar – permanecia na essência da composição resultante. De resto, falámos e ouvimos, mas continuámos na escuridão. A casa estava viva. Como se por baixo existisse um plano mestre desenhado a lápis que tinha sido sobreposto à rectidão das linhas técnicas. Escondido nas cofragens, nas caixas de electricidade ou nas anotações para o reboco. Era complexa a vida, olhávamos para o céu e procurávamos na luz, um motivo que nos indicasse a razão de estarmos ainda ali. Vivos e a respirar. De um momento para o outro, até o simples trolha, que dias antes salivava por uma estagiária que passava perto dos seus andaimes, se tornara um filósofo. Fazia contas à vida, remastigava a sua existência. Tentava encontrar uma abertura de evasão para outra realidade, que não aquela de gritar para uma mulher bonita, como um regedor troglodita, se “aquilo” era tudo dela. Não se podia induzir apenas pela hipnose que tinha entre as pernas, não era um animal, e o seu cérebro não podia estar castigado na ponta dos braços. Era preciso agir de outra forma. Essa era a única conclusão a que todos tínhamos chegado. Nenhuma outra era mais clara. Para tornar o processo de avaliação rigoroso era necessário analisar o problema com profundidade. Como tal, instalámos uma série de câmaras de vigilância, entre outros instrumentos de telemetria, para reunir dados precisos para a investigação. Queríamos chegar à origem daquele tumulto, à espoleta da granada. O que nos era sugerido, algo também ventilado na reunião anterior, era o conceito de que ao tentarmos organizar aquela construção em sintonia com a natureza a tínhamos plantado. Ao abrirmos as fundações, a escavadoras estavam a acamar a semente; ao elaborarmos a malha de ferro e vertermos o betão nos moldes, estávamos a iniciar um processo de irrigação que ignorávamos por completo. Como uma árvore, os alicerces desprenderam-se da sua massa corpórea e lançaram sinais para os outros seres em proliferação por baixo do solo. O edifício pejado de verde autóctone e de fibra óptica enraizava-se no subsolo e nutria-se, ganhando viço. Crescendo numa biossíntese de betão armado e vidro e provido de metabolismo próprio. As imagens recolhidas não nos deram sequer uma vereda por onde entrelaçar os sentidos. O ADN arquitectónico saltou para os escaparates e era agora uma ciência discutida por todo o mundo. O evento tinha sido elevado aos antípodas e depressa se tentou replicar noutros lugares, ainda sem sucesso, a ocorrência na nossa terra, sendo o motivo de inúmeras teses e capas de revista. Sim, aquela obra mudara por completo o figurino da nossa pequena urbe. A todo o momento, sujeito à imprevisibilidade do tempo, surgia uma nova janela, um adelgaçar dos tectos, um andar dissimulado. Não pudemos inaugurá-lo, nem dar-lhe a vida interior que organizáramos nos fundamentos do plano, mas em termos visuais era uma peça única, que nos enchia de orgulho. Era mais do que uma num milhão, era o supra-sumo da arquitectura e da engenharia. Da ordenação e da estética. Do acto divino da criação. Onde se encontrara o Santo Graal que ordenava o Homem no espaço e na sua natureza, em composta melodia celular. Mais, era impossível de ambicionar. No fundo, estava tudo a correr como planeado.
Hoje Macau China / ÁsiaActivistas de Hong Kong anunciam novos protestos caso lei de extradição não caia [dropcap]R[/dropcap]epresentantes de movimentos de oposição em Hong Kong fizeram hoje um ultimato à chefe do Governo do território, Carrie Lam, para que abandone totalmente a proposta de lei de extradição, caso contrário haverá novos protestos a partir desta sexta-feira. Se até às 17.00 horas locais, Lam não abandonar definitivamente a lei da extradição, representantes de vários movimentos de oposição vão apelar a novos protestos, que, segundo a agência EFE, já estão a ser amplamente difundidos nas redes sociais. O líder estudantil Joshua Wong disse à agência Efe que, apesar de não ter sido ele a definir o ultimato, vai apoiá-lo. “Nós não definimos um prazo, mas vamos apoiar os outros que o fizeram. Este movimento agora já não tem líderes”, afirmou o jovem activista. Wong previu que nas próximas duas semanas são esperados novos protestos para exigir que a proposta de lei que permitiria extraditar suspeitos de crimes para territórios sem acordo prévio, como é o caso da China continental, a demissão de Lam e a libertação dos detidos durante os confrontos registados na quarta-feira da semana passada. “Carrie Lam tem que começar a ouvir as pessoas e não os líderes políticos”, enfatizou. Na terça-feira, a chefe do Governo de Hong Kong declarou que vai continuar no cargo e voltou a pedir “as mais sinceras desculpas” à população pela crise desencadeada com as emendas à lei da extradição. Em conferência de imprensa, Carrie Lam explicou também não existir uma data para retomar o debate das emendas à lei da extradição, suspenso no sábado passado na sequência dos violentos protestos registados na quarta-feira anterior. Numa semana, Hong Kong viveu três protestos contra as emendas à lei da extradição e a exigirem a demissão da chefe do Governo, com números recorde de participação, um deles marcado por violentos confrontos entre a polícia e manifestantes que causaram mais de uma centena de feridos e pelo menos 11 detenções. Cerca de dois milhões de pessoas, quase um terço da população da região administrativa especial chinesa, saiu às ruas da cidade no domingo, de acordo com os organizadores. A polícia estimou a adesão em 338 mil.
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesA poluição plástica “Around 12.7 million tonnes of plastic are entering the ocean every year, killing over 1 million seabirds and 100,000 marine mammals. By 2050 there could be more plastic in the ocean than fish by weight. Plastic pollution is the environmental scourge of our age.” How to Give Up Plastic: A Guide to Changing the World, One Plastic Bottle at a Time Will McCallum [dropcap]O[/dropcap]s nossos belos oceanos estão a ser transformados em uma sopa de plástico, pois cerca de oito milhões de toneladas de plástico entram no mar todos os anos e, a continuar a este ritmo, enfrentamos um futuro com mais plástico nos oceanos do que peixes até 2050. O nosso vício pelo plástico e má gestão de resíduos está a condenar incontável número de espécies de aves e animais marinhos à morte por emaranhamento ou envenenamento e levando à contaminação química dos peixes que comemos. Os vastos redemoinhos de lixo plástico visíveis na superfície do mar por mais apavorantes que sejam representam apenas a ponta do iceberg. O que está por baixo são as massas de microesferas e partículas quebradas de plástico que são facilmente ingeridas por criaturas do mar e impossíveis de as remover. A solução urgente e necessária exige uma combinação de maior conscientização, menor uso de plástico e melhoria massiva da gestão de resíduos. O plástico envolve os nossos alimentos, casas e tecnologia. O plástico é uma substância notável que contribuiu para os avanços nos cuidados de saúde e ajudou a tirar milhões de pessoas da pobreza, mas os bens de consumo descartáveis acabam, muitas vezes depois de um único uso fugaz em aterros sanitários, conspurcando as paisagens e poluindo os oceanos, sendo que 80 por cento da poluição por plástico marinho é originária de fontes terrestres. O plástico é definitivamente a propaganda de tudo o que está errado com os oceanos, e as palhinhas de plástico são talvez o exemplo mais comovente da cultura descartável que criámos. Os americanos usam quinhentos milhões de palhinhas de plástico todos os dias, o suficiente para cobrir o mundo duas vezes e nem todas terminam nos aterros, pois enchem os canais, rios, lagos e oceanos. Os cento e noventa e dois países com costa nos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico, ou Mar Negro e Mediterrâneo, produziram dois mil milhões e quinhentos milhões de toneladas de resíduos e prevê-se que duzentos e setenta e cinco milhões de toneladas foram de plástico e trinta e um milhões e novecentas mil toneladas de resíduos plásticos costeiros. O consumo global de plásticos deve crescer dramaticamente, chegando a quase quatrocentos milhões de toneladas por ano até 2025. Se a taxa na qual os detritos plásticos entram no Oceano não for controlada, é possível que os oceanos possam conter um quilograma de plástico para cada três quilogramas de peixe até 2025. A gestão inadequada de resíduos é um desafio significativo no mundo em desenvolvimento, particularmente em países com populações em rápido crescimento em áreas costeiras. Os estudos revelam que cinco países (China, Indonésia, Filipinas, Tailândia e Vietname) são responsáveis por cerca de 60 por cento dos resíduos plásticos que entram no oceano. A África e a América do Sul permanecem relativamente desconhecidas em termos da sua contribuição geral para os resíduos plásticos nos oceanos. As pesquisas recentes indicam que, dada a expansão urbana projectada e o crescimento económico, a África tem o potencial de seguir o mesmo caminho que a Ásia. As pesquisas mostram que a cada minuto um camião de resíduos de plástico é despejado no mar, e que 90 por cento de todo plástico dos oceanos é proveniente de apenas dez sistemas fluviais. Os rios são as artérias do planeta e de pequenos riachos caudalosos a vastos deltas, os rios são o elo entre a atmosfera, a terra e os oceanos. Desde tempos imemoriais, as pessoas aglomeram-se perto dos rios, aproveitando a água fresca, terra fértil, ligações de transporte e os peixes abundantes. Os rios são excelentes meios transportadores de remoção do lixo. Ao analisar a quantidade de plástico transportado por diferentes rios em todo o mundo e avaliar a quantidade de lixo nas áreas circundantes, os estudos concluíram que os grandes sistemas fluviais actuam como super estradas no transporte de plástico para o mar. Os dez sistemas fluviais, estão localizados em regiões densamente povoadas, onde o lixo é comum, sendo que dois se encontram na África (Nilo e Níger), enquanto os outros oito estão na Ásia (Ganges, Indo, Amarelo, Yangtze, Haihe, Pearl, Mekong e o Amur). Se for reduzido pela metade a entrada de plástico das áreas de captação desses rios seria um grande sucesso, sendo de investigar a velocidade a que o plástico viaja da terra para o mar. Os detritos de plástico flutuando na superfície dos oceanos são responsáveis por apenas 5 por cento de todo o plástico despejado no mar; os outros 95 por cento estão submersos sob a superfície. Os detritos de plástico foram encontrados no Árctico e na Antárctida, incluindo os milhares de milhões de minúsculos pedaços de plástico, chamados microesferas, que são frequentemente adicionados a produtos como pastas de dentes, produtos de limpeza facial e abrasivos, e são suficientemente pequenos para passar facilmente pelos sistemas de filtração de água e tratamento de esgoto e poluir. A contaminação por microplásticos foi encontrada na água da torneira em países de todo o mundo, levando o pedido de cientistas para pesquisas urgentes sobre as implicações para a saúde. Os cientistas analisaram dezenas de amostras de água da torneira de mais de uma dúzia de países, sendo que 83 por cento das mesmas estavam contaminadas com fibras plásticas. Os Estados Unidos apresentaram a maior taxa de contaminação, de 94 por cento, com fibras plásticas encontradas na água da torneira amostrada em locais como os edifícios do Congresso, a sede da Agência de Protecção Ambiental e a Trump Tower em Nova Iorque. O Líbano e a Índia tiveram as taxas mais altas seguintes. Os países europeus, incluindo o Reino Unido, a Alemanha e a França, tiveram a menor taxa de contaminação, que era de 72 por cento. O número médio de fibras encontradas em cada amostra de 500ml variou de 4,8 nos Estados Unidos a 1,9 na Europa. As novas análises indicam a extensão omnipresente da contaminação por microplásticos no ambiente global. Trabalhos anteriores têm sido amplamente focados na poluição de plásticos nos oceanos, o que sugere que as pessoas estão a ingerir microplásticos através de frutos do mar contaminados. Um pequeno estudo separado na República da Irlanda, também encontrou contaminação por microplásticos em uma série de amostras de água da torneira e de poços não sendo possível saber qual o impacto na saúde, pelo que se deve seguir o princípio da precaução e descobrir o mais rápido possível os seus riscos. Assim, existem duas preocupações, o das partículas muito pequenas de plástico e os produtos químicos ou patógenos que os microplásticos podem abrigar. Se as fibras existem, é possível que as nanopartículas também se encontrem e não se possam medir, uma vez que estão na faixa nanométrica e podem penetrar em uma célula o que significa que podem invadir os órgãos o que seria preocupante. As análises capturaram partículas de mais de 2,5 mícron, duas mil e quinhentas vezes maiores que um nanómetro. Os microplásticos podem atrair bactérias encontradas no esgoto. Alguns estudos mostraram que há mais patógenos nocivos em microplásticos a jusante de estações de tratamento de águas residuais. Os microplásticos também são conhecidos por conter e absorver produtos químicos tóxicos e a pesquisa em animais selvagens mostrou que são libertados no corpo. Ficou claro desde o início, que o plástico libertaria essas substâncias químicas e que, na verdade, as condições no intestino facilitariam uma libertação rápida, facto encontrado em um terço dos peixes capturados no Reino Unido. A escala global de contaminação por microplásticos está apenas a ser esclarecida com estudos na Alemanha que descobriu fibras e fragmentos em todas as vinte e quatro marcas de cerveja testadas, bem como em mel e açúcar. Os pesquisadores, em 2015, descobriram em Paris, que o microplástico caía do ar, prevendo a existência de depósitos de três a dez toneladas de fibras na cidade cada ano, e que também estava presente no ar e nas habitações. A pesquisa determina que a ingestão de partículas de plástico é um risco para a saúde, pois ao respirar poderiam entrar substâncias químicas nas partes inferiores dos pulmões e talvez até na circulação sanguínea. Os microplásticos acabam por ser usados na água potável o que constitui um mistério, mas a atmosfera é uma fonte óbvia, com fibras libertadas pelo desgaste diário de roupas e carpetes. Os secadores de roupa são outra fonte potencial, com quase 80 por cento das habitações americanas com secadores que normalmente têm saída para o exterior. É de acreditar que os lagos e outras massas de água podem ser contaminados por elementos atmosféricos cumulativos. O que se observa em Paris tende a demonstrar que uma enorme quantidade de fibras está presente na precipitação atmosférica. As fibras plásticas também podem ser lavadas em sistemas de água, com um estudo recente a descobrir que cada ciclo de uma máquina de lavar roupa poderia libertar setecentas mil fibras para o meio ambiente. As chuvas também poderiam dispersar a poluição por microplásticos, o que poderia explicar o motivo pela qual os poços domésticos usados na Indonésia foram contaminados. O abastecimento de água, em Beirute, no Líbano, provêm de fontes naturais, mas 94 por cento das amostras estavam contaminadas. Os actuais sistemas de tratamento de água não filtram todos os microplásticos, não existindo algum local onde se possa afirmar que são capturados 100 por cento. Em termos de fibras, o diâmetro é de 10 mícron e seria muito incomum encontrar esse nível de filtragem nos sistemas de água potável. A água engarrafada pode não fornecer uma alternativa isenta de microplásticos para a água da torneira, uma vez que também foram encontradas em algumas amostras de água engarrafada comercial testada nos Estados Unidos. Quase trezentos de toneladas de plástico são produzidas a cada ano e, com apenas 20 por cento de material reciclado ou incinerado, muitas delas acabam envolvendo o ar, terra e mar. Prevê-se que oito mil milhões e trezentos milhões de toneladas de plástico foram produzidas desde a década de 1950, e que os resíduos de plástico tornaram-se omnipresentes no meio ambiente e a sufocar os ecossistemas. Os plásticos são muito úteis, mas a gestão dos resíduos deve ser drasticamente melhorado. O plástico é um bem necessário, mas o ser humano é o criador do prejuízo ao descartar da forma mais descuidada e irresponsável. Os plásticos biodegradáveis (particularmente os feitos de plantas) são promissores sob certas condições, que geralmente não são encontradas no ambiente natural, e especialmente nos oceanos sendo energeticamente intensivos, caros e têm o potencial de tornar o problema do lixo ainda pior, encorajando as pessoas a pensarem que não existe qualquer tipo de problema ao descartar recursos valiosos. Além disso, mesmo em condições ideais, a biodegradabilidade não resolve questões críticas como o entrelaçamento ou a ingestão por animais marinhos. Mesmo que a sociedade banisse todos os sacos de plástico, por exemplo, isso representaria apenas cerca de 1 por cento da produção total de plásticos. É de lembrar que existe uma consciência crescente acerca da epidemia de plástico no planeta, que levou a crescentes compromissos e acções globais para combater a poluição por plásticos marinhos, tanto a nível nacional, como internacional e por exemplo, em 2017, a ONU lançou a “Campanha Clean Seas: Turn the tide on plastic” para transformar a maré em plástico. Em Dezembro de 2017, duzentos países da Assembleia Ambiental da ONU, que é o maior órgão de decisão do mundo em termos de meio ambiente, adoptaram uma resolução pedindo que muito mais fosse feito sobre os resíduos plásticos, e alguns países afirmaram que querem que a acção conduza a um compromisso legal sob a forma de tratados. A União Europeia (UE) travou uma guerra contra os resíduos de plástico como parte do seu plano de limpeza e garantir que todas as embalagens produzidas na Europa sejam reutilizáveis ou recicláveis até 2030. Em Junho de 2018, os líderes do G7 também adoptaram a “Carta dos Plásticos nos Oceanos”. O Japão está a pressionar pela adopção de uma estrutura de acção obrigatória para combater a poluição marinha por plástico na “Cimeira do G20” que se realizará em Osaka, a 28 e 29 de Junho de 2019. É de te der em conta que um número crescente de cento e cinquenta países e cidades proibiram o uso de sacos plásticos em todos os continentes e microesferas ou que estão a planear fazer. O mundo dos negócios também está a começar a agir, como parte do “Compromisso Global da Nova Economia de Plásticos”, e as empresas que são colectivamente responsáveis por produzir 20 por cento de todas as embalagens plásticas, globalmente, comprometeram-se a erradicar os resíduos de plástico e a poluição. As limpezas do litoral estão a ser organizadas em todo o mundo e filmes de conscientização pública no “YouTube” com a denominação “Plastic Change” estão a ajudar a levar a mensagem. As consequências são muito sérias pois o plástico nos oceanos tem um impacto desproporcionalmente grande na sua vida selvagem e pequenos pedaços de plástico são ingeridos por peixes, tartarugas e aves marinhas, muitas vezes resultando na sua morte. Os animais e pássaros também podem ficar aprisionados em detritos plásticos, sofrendo sérios ferimentos e com o tempo, o material plástico não se biodegrada, mas decompõe-se em minúsculas partículas conhecidas como microplásticos, que podem ser comidos por pequenos animais marinhos e entrar na cadeia alimentar. Os microplásticos nos oceanos são comummente definidos como tendo menos de 5 mm. Os detritos de plástico contêm frequentemente produtos químicos adicionados durante o fabrico que podem absorver e concentrar contaminantes, tais como pesticidas, metais pesados e poluentes orgânicos persistentes (por exemplo, bifenilos policlorados ou PCB). Esta poluição é extremamente difícil de remover do meio ambiente. Um crescente corpo de pesquisa científica e de evidências, sugere que essas substâncias nocivas podem ser transferidas para o tecido de espécies aquáticas, como peixes que são consumidos. Torna-se necessário assumir que a maré de plásticos que entram nos oceanos exigirá uma combinação de abordagens, incluindo, a mais importante, que é reduzir e limitar a quantidade de plástico que usamos, melhorando a recolha, infra-estrutura e gestão de resíduos, e expandindo a reciclagem, particularmente nos países onde a maior parte do lixo de plástico é criada. Deve-se fazer a transição de uma economia linear (fazer, usar, descartar) para uma economia circular em que os recursos, como os plásticos, são usados, recuperados e reutilizados vários vezes, ao invés de irem directamente para o aterro. A forma mais eficaz de ter menos plástico nos oceanos é usar menos plástico. A acção corporativa é importante pois é necessário reduzir urgentemente o plástico de uso único e, embora o apoio das empresas a iniciativas que ajudam a reciclar e limpar plásticos seja importante, a solução é introduzir com urgência embalagens alternativas e sustentáveis. A liderança dos governos é fundamental, pois mais esforços são necessários para assumir a liderança na política ambiental e para cooperar no combate a este flagelo global. A acção é necessária actualmente, não daqui a dez anos. Uma medida imediata e necessária é a redução de barreiras ao financiamento de uma melhor gestão de resíduos, particularmente na China, Indonésia, Filipinas, Tailândia e Vietname. A responsabilidade pessoal é de ter em conta, pois todos nós precisamos de limitar significativamente o uso do plástico. Por exemplo, podemos levar uma garrafa de água ou copo de café reutilizável, trazer a nossa sacola de pão ou outra reutilizável nas compras, reduzir drasticamente o nosso consumo de plástico de uso único, como alimentos contidos em embalagens plásticas ou palhinhas de plástico nas bebidas “take-away”, e certificar de que são recicladas sempre. A educação e conscientização pública são essenciais pois alguns governos incorporaram a educação sobre plásticos, gestão de resíduos e reciclagem nos seus currículos escolares. Esta é uma estratégia útil e os esforços de educação pública devem ser alargados, mas precisam de ir mais longe e rápido para incentivar as empresas a mudar e adoptar políticas de aquisição que reduzam a sua pegada de plástico.
Luís Carmelo h | Artes, Letras e IdeiasTerá deus os carimbos em dia? [dropcap]N[/dropcap]a escola primária aprendi a escrever a palavra “História” com maiúscula. Era uma questão de respeito, creio eu. A letra levada até quase ao tecto da página dava a sensação de tocar no céu. E sentia-se um calafrio, por vezes até um pouco de bafo divino que logo iluminava todo o tampo da carteira. Nesse tempo, os sopros do presente ainda não se sobrepunham ao peso da longa cadeia de heróis que eu decorava com a devida altivez, a par dos caminhos de ferro de Angola. Nem seria preciso recorrer à farda impoluta e bem vincada de Mouzinho de Albuquerque, bastava abrir cartapácios um pouco mais antigos para o entender. Repare-se como um texto com quase três mil anos soa praticamente do mesmo modo que um outro – por baixo – apenas com cerca de quatro séculos: “Tal como quando aos marinheiros aparece a chama/ do fogo ardente, que arde no alto de uma montanha/ num ermo redil, mas as rajadas à sua revelia os levam/ sobre o mar piscoso para longe dos que lhes são queridos – assim do escudo de Aquiles a chama chegou ao céu, escudo belo…” (Ilíada, canto XIX/ vs. 375-380*). Vejamos agora este passo de um texto profético de autor anónimo, escrito na região de Aragão na segunda metade do século XVI (e encontrado, no séc. XIX, dentro da parede de um ‘pueblo’): “Na Bretanha, fazer-se-á ouvir um novo David por argúcia do Encoberto (Encubi(y)erto) (investido) com alto e cristianíssimo poder*, para que todos os agarenhos saiam de Espanha, limpos (linpi(y)ados) com os hebreus, e lagostas, e lobos roubadores esfomeados e gatos religiosos; todos padecerão (junto) com os agarenhos e virá o encoberto com os da linhagem de Etor e limpará as tumbas (ku(w)evas) e a cidade de Hércules e dar-se-á (volverse á) grande guerra entre os lobos e os raposos com os gatos religiosos que são os conversos, e (ke) será tão grande e tanto o sangue que se derramará até próximo da fonte do ferro, e (ke) chegará à cintura dos cavalos, e (ke) será grande dor de (lo) o ver” (Ms.774 B.N.Paris- Fol 299v-300v*). Em ambos os textos temos heróis a construir a sina da humanidade, seja Aquiles no primeiro caso, seja David e o Encoberto (é um outro, não é o do Bandarra, não) no segundo caso. Nos dois textos, é ainda patente uma ideia de salvação ou de completude que remete para transcendências, aliás diversas. Este mundo de ‘ligações perigosas’, em que a legitimidade andava de mãos dadas com a expiração desastrada dos deuses e dos seus simpáticos silabários, ainda foi o mundo que eu respirei em criança, imagine-se. Vem este rememorar duma suave tarde de Junho a propósito do romance ‘Às Cegas’* de Claudio Magris que acabei de ler na passada semana. Ao longo do enredo (que mistura períodos diferentes da “História” com um relato biográfico situado numa experiência limite), deparei-me com diversas asserções sobre essa barra pesada que fazia do tempo uma espécie de guilhotina amestrada. Deixo quatro exemplos curiosos que falam por si: “A História é uma câmara de reanimação e é fácil errar nas doses e mandar desta para melhor os pacientes que se queria salvar” (p.24). “A História é um telescópio encostado ao olho vendado” (p.76). “A História é uma mesa operatória para cirurgiões de pulso firme” (p.151). “A História é como a mesa de jogo, primeiro ganha-se depois perde-se, alguém faz uma aposta em Austerlitz a dobrar, mas na vez seguinte calha Waterloo” (pp.177/8). Sinal dos tempos: a “História” com maiúscula surge no livro de Magris parodiada, enquanto “câmara de reanimação” que soterra e faz desaparecer, deixando à mostra apenas o que interessa a quem a confecciona (os tais “cirurgiões de pulso firme”) e, por isso, terá sempre cavalgado de olhos vendados, transformando-se numa lotaria prestes a ser ‘bem’ orientada. Impelida por dogmas e pela gesta dos territórios, a “História” quase se esvaiu, de um momento para o outro, enquanto mochila obrigatória. Isso aconteceu no momento em que as sociedades massificadas pelos media e pela rede nos condenaram àquela aparente leveza de ‘self-service’ que só tem razão de ser no coração (instantâneo) do presente. E lá se foi o “H” grande da minha escola primária em menos de três décadas. Com um grelo se colhem com um grelo se esmoem, diz (ou devia dizer) o povo. Conviria então perguntar: O que existirá hoje em vez da ‘História com letra grande’ que desapareceu literalmente do mapa? E o que existirá hoje em vez da salvação que também se esvaiu do horizonte em três tempos? Talvez não tenha sido a “História” que acabou, foi antes o auscultá-la com réguas e tabuadas cheias de medidas e guinadas precisas que se finou. E talvez não tenha sido a salvação que se esvaiu de vez, mas antes as bizarras criações que imaginámos, durante séculos e séculos, a ritualizá-la e a realizá-la. O que não quer dizer que tenhamos atingido já o ponto-ómega. Bem pelo contrário. O que se atingiu no nosso tempo foi apenas um ‘pasodoble’ de irrequieta descrença. Ficámos sozinhos no palco, de um momento para o outro, a gritar que ‘aquilo’ afinal já não era teatro. Terá toda a razão Claudio Magris, quando escreve na derradeira página do romance: “O cibernauta naufragou, acabou na boca dos peixes, mastigado, digerido, evacuado, cessou de existir.” (…) “Deus está em toda a parte, em lugar nenhum, o certificado de suposto óbito tem os carimbos em dia e fará vacilar todos os que desejam ansiosamente tomá-lo como válido” (p. 300). *Homero, ‘Ilíada’ (Tradução: Frederico Lourenço) Cotovia, Lisboa, 2007, p. 396. *Sánchez Alvarez, Mercedes, ‘El Manuscrito misceláneo 774 de la Biblioteca Nacional de París’, Gredos, Madrid, 1982. Tradução Portuguesa: Carmelo, L. ‘La Représentation du Réel dans des Textes Prophétiques’, Universidade de Utreque, Utreque, 1995. *Magris, C.. ‘Às Cegas’, Quetzal, Lisboa, (2005) 2012, pp. 24, 76,151, 177/8 e 300.
António Cabrita Diários de Próspero h | Artes, Letras e IdeiasBrasas do fundo impróprio [dropcap]E[/dropcap]screve Leonel Ray, no prefácio ao livro de Jean Portante, A ÁRVORE DO DESAPARECIMENTO, poeta luxemburguês, que a Exclamação, do Porto, lançará amanhã, na Férin, em Lisboa, às 18h30, com apresentação do Nuno Júdice: «Jean Portante, num lirismo muito pessoal, mesmo se ele escreve como um eco às leituras dos poetas de que gosta, reencontra uma das funções exemplares da poesia: dizer o que escapa, o que se apaga, o que mexe na memória e nas palavras, trazer uma resposta possível à desordem inicial do universo e dos pensamentos e construir, mesmo com “a cinza das palavras”, juntar ramos sempre novos à árvore do desaparecimento.» Este poeta é muito particular e foi-me útil a coincidência de o ler ao mesmo tempo do que um volume de entrevistas a John Cage, recolhidas por Richard Kostelanetz. Neste, conta o músico que num curso que fez com Schoenberg, o compositor alemão o fez ir ao quadro transcrever um dado problema num contraponto. Quando tiver uma solução, volte aqui e mostre-ma, disse o mestre. O que Cage fez. Schoenberg pediu então, Uma outra solução, se faz favor. E o Cage propôs outra e outra e outra solução, até que aí pela oitava, enfrentou o mestre e foi assertivo: Não há outra solução. Replicou Schoenberg: Ok, qual é o princípio que se subentende em todas estas soluções? Associo esta história ao engenhoso fecho deste livro, o capítulo a história acabou (soneto desaparecendo), uma sequência de quinze variantes-ocelos que tiveram a sua ignição num verso do argentino Juan Gelman: a noite passa num dorso de gato, e na qual o soneto, no seu “trajecto” para a invisibilidade, passa do MENOS NADA (onde se sepulta o dia) ao MENOS TUDO (que evolou o poema), ou seja, em cada uma das catorze variações desaparece um verso ao soneto até que o ar o toma de assalto. Lê-se em (MENOS NADA): comecemos por sepultar o /dia debaixo de um monte de horas / desordenadas. por pôr tudo no / cimo da pilha para que seque a // primeira hora do mistério. é / loira e inútil? ou silenciosa / como a viagem entre a vida e / o catálogo das imagens adormecidas? //é de um enterro que se / trata. quando chega ao fim /constrói edifícios sólidos. //o betão da negligência confere-lhe /asas pesadas. ao longo da areia /das nuvens fica o deserto do porquê. E em (MENOS TREZE): às vezes atrás da porta um silêncio que se despe.» Porque escreve sonetos aquele que os sabe condenados a desaparecer? Está dito neste último verso, mas também podemos reapropriarmo-nos de uma resposta de Cage: “Para mim, a significação essencial do silêncio é abandonar toda a intenção”. E eis o princípio que subtende, esta poética. Portante, um nómada, é igualmente um tradutor de dois poetas sul-americanos que traduzi numa antologia, nos prelos: o argentino Juan Gelman e o chileno Gonzalo Rojas. Para ambos, a reapropriação (ou seja: a intertextualidade) é uma palava chave. E o que redigi para o prefácio da antologia, ajusta-se a Portante: «Rojas escreveu com insistência que o seu exercício poético não se fundava num projecto de invenção mas antes numa ideia de resgate e nunca descurou uma dimensão reflexiva constante, daí ser a sua poesia levedada pelo pensamento crítico. Nos seus poemas-remontagem apropriava-se dos seus poetas, como Celan, para entabular entrançamentos poéticos com que aclarava as suas visões e superava a sua amnésia global transitória. É deste modo que leio a profusão dos relâmpagos na sua poesia: são flagrantes em que a memória se reconstitui. Folheando o volumoso La poesía de Gonzalo Rojas, de Hilda R. May, descubro que o poeta corrobora a minha intuição, e declara: “o relâmpago saca à luz, num sentido profundo, as muitas coisas na sua união articulada.”» Para Portante os relâmpagos são os poetas com quem dialoga, de quem se reapropria, tal como os pré-socráticos se apoiavam nos elementos naturais como núcleos de conjunção unitária. Embora, com o tremendo desassossego de saber que as presenças que se testemunham exigem despojamento: «quem deixa uma pegada, deixa uma praga HENRI MICHAUX /nada mais fácil do que /rodar a chave na fechadura. /o norte diz caminha e o sul /levanta-se. a viagem será longa. /chamemos a essa pegada uma epidemia. /inútil calçar luvas. /AS RAÍZES SÃO A PRAGA DA ÁRVORE.» (pág. 21). Volto ao prefácio de Leonel Ray, que explica bem a urgência de ler este poeta: «A arte de Jean Portante relembra a dos poetas barrocos, é um teatro de surpresas da linguagem, uma fusão alegre de imagens, de minúsculos enigmas e de hipérboles. Há qualquer coisa de inesperado, de flamejante, a estranheza do jogo de palavras, não excluindo nunca que os véus se rasguem, que o ser surja da aparência e deixe aparecer o verdadeiro rosto, a angústia de viver, o retomar da subida feliz para o lugar irradiante das origens familiares.» Pegando na epígrafe da primeira parte do livro, o carvão desce (a cinza), de CHAWKI ABDELAMIR: “às minhas fronteiras/ pedi uma/ fronteira”, apetecia ler o livro à luz do “sujeito do limite” e do “pensamento transfronteiriço” de Eugenio Trías, mas nem sempre é vantajoso que a beleza que jaz sob os fragmentos seja explicada, sobretudo se o que se ilumina não é tanto uma expressão subjectiva mas um fundo impróprio, o que fugazmente nos salva e se revela quando se abandona “a intenção” e radiosas e impessoais as brasas se reatam, na cinza das palavras. «na verdade a cinza nada sabe dos nossos /CÁLCULOS. QUANDO TEM DÚVIDAS ABRE O /pára-quedas da luz. a queda assim / amortecida desenha sobre o caminho as duas /direcções do dia. de uma vem a mais-valia // do sacrifício. Vivemos mais /tempo que nós mesmos. na outra / está pendurada a pele que seca ao sol.» Há ainda algo de mágico por aqui. O melhor é comprar e ler. Em silêncio.
Gisela Casimiro Estendais h | Artes, Letras e IdeiasRelicário de sonhos II [dropcap]C[/dropcap]hove. A cover que Cat Power fez do tema “Dream”, de Johnny Mercer, vem-me à cabeça com a sua beleza simples. Talvez eu esteja a sentir-me blue, nesta manhã de chuva miúda. Não acordei de sonhos intranquilos, não vou ouvir o charmoso Otto e o seu álbum maravilhoso com título kafkiano; poderia, afinal faço-o com frequência. Mas hoje é a Chan Marshall quem dá o mote ao texto. Acordei de mais um sonho bonito. Bonito mas proibido. Como diria Ricardo Araújo Pereira (a fazer de Marcelo Rebelo de Sousa naquele mítico sketch de Gato Fedorento), é proibido, mas pode-se fazer. Mas é proibido. Mas pode-se fazer. Substituir fazer por sonhar, que ainda ninguém mos confisca. Ainda sou do tempo em que se dizia que não devemos contar os sonhos se queremos que eles se realizem. Os motivational coaches dirão o mesmo de outros tipos de sonhos, e pergunto-me se algum deles alguma vez comeu os de cenoura ou abóbora, but I digress. Os sonhos ocuparão cerca de 25 por cento do sono, um duodécimo da existência da maior parte das pessoas. Ao fim de uma vida, teremos vivido pelo menos duas horas por noite em modo de simbologia onírica. Dizia Freud que A interpretação dos sonhos é a via real para atingir o conhecimento da alma. Ainda segundo o “Dicionário de Símbolos” de Chevalier e Gheerbrant, no antigo Egipto acreditava-se no poder premonitório dos sonhos como instrumentos divinos, mensagens de deus, janelas para ver um futuro que de outro modo estaria vedado à Humanidade. Existem os sonhos proféticos, os sonhos que nos avisam sobre algo ou alguém, como um pressentimento, os sonhos que reflectem as nossas preocupações quotidianas, os sonhos telepáticos, os sonhos que contribuem para o equilíbrio da nossa flora biológica e emocional, na tentativa de resolvermos enfim nesse mundo o que não conseguimos fazer acordados, por incapacidade própria ou falta de cooperação alheia. Quem nunca tentou acordar de um sonho ou continuar um sonho? Quanto não seria resolvido se nos conseguíssemos recordar de todos eles e interpretá-los. Sonhar é tão importante como dormir, respirar ou comer. Se o estado em que a nossa casa se encontra diz muito sobre o momento da vida em que estamos e reflecte as nossas emoções, o bem ou mal que com elas lidamos, os sonhos não são menos relevantes e reveladores enquanto instrumento de avaliação e percepção desse mesmo estado do Eu. Jung alertava que Não devemos esquecer que se sonha em primeiro lugar, e quase exclusivamente, consigo mesmo e através de si mesmo. A internet está repleta de interpretações de sonhos sobre dinheiro, morte, amor. Temos de nos lembrar de quem morria e como, quem encontrava o dinheiro, se notas ou moedas, se roubado ou perdido, se era com o/a ex, ou um novo amor. Cada detalhe com implicações diferentes na nossa vida futura e significações distintas na vida actual. Há interpretações para todos os gostos, dos mais práticos aos mais místicos. Deixo aqui mais alguns dos meus. Freud que explique, se conseguir. Eu vou rever a belíssima série “Dreams of Flying”, do fotógrafo Jan Von Helleben, que é o melhor que faço. Sonhei que tinha casado com alguém que não conheço lá muito bem, um casamento recomendado, e ele ia fazer anos em breve e eu nem sabia o dia. Queria fazer-lhe um bolo. Mas até nos dávamos bem. A nossa casa era péssima. Eu recebia a visita de uma amiga finlandesa… Não me recordo do resto. Sonhei que eu e um conhecido éramos colegas de trabalho mas nunca tinhamos falado. Um dia íamos beber café, só que o dele tinha muita frescura, tinha de ser preparado quase como um ritual. E não era café, era um cappuccino qualquer, cheio de coisas e coisinhas. Enquanto esperávamos que nos servissem, eu era chamada pelo meu ex marido na ficção e na vida real, Reinaldo Giannechinni, porque tínhamos voltado a viver na mesma casa, e ele estava super aborrecido porque os meus livros estavam todos trocados por dentro. O conhecido acabava por ir falar com ele para o acalmar, mas depois nunca mais voltava. Sonhei com uns gatinhos, mas não eram meus, eu apenas brincava com eles. Estava em casa de alguém, uma casa muito marcada pelo tempo, mas que não tinha paredes e sim varandas; era uma casa ao ar livre, e havia uma espécie de cama gigante. Um dos gatos era às riscas pretas e laranja… Era como o Hobbes Sonhei com ginastas vestidas de cor-de-rosa, a fazer formações em pirâmide na praia. Sonhei que estava numa mansão no meio da floresta, da Lana del Rey, e trabalhava na minha escola primária, que não estava no sítio original. Um dia a Lana decidiu fazer uma creche lá em casa, ocupando os quartos vazios com tudo do bom e do melhor, e chamando as educadoras de infância e os miúdos para a inauguração. À medida que andava de quarto em quarto a ver aquela obra fantástica (ela esmerou-se), só fiz um reparo: Lana, acho que temos de mudar a música ambiente. É que só se ouvia a música dela em todas as divisões da casa.
Raquel Moz EventosFitas portuguesas preenchem fim-de-semana da Cinemateca [dropcap]T[/dropcap]rês dias de filmes portugueses, curtos e longos, chegam esta sexta-feira à Cinemateca Paixão e ficam até domingo. A “Mostra de Cinema Português” traz a Macau, pela quarta vez consecutiva, os principais títulos produzidos e realizados por autores nacionais, que no ano anterior fizeram um percurso relevante em festivais e circuitos de exibição internacionais. É o caso das fitas seleccionadas para 2019. A iniciativa, organizada pela Fundação Oriente e pela agência de cinema Portugal Film – uma extensão do Festival de Cinema Independente de Lisboa – seleccionou este ano para apresentar no território três longas-metragens e duas sessões de curtas. A primeira longa será o anunciado documentário “A Dama de Chandor” (1998), de Catarina Mourão, dia 21 de Junho às 20h30. As longas de sábado e domingo, dias 22 e 23, são o documentário “Bostofrio, où le ciel rejoint la terre” (2018), de Paulo Carneiro, no sábado às 19h30, e o filme “Peregrinação” (2018), de João Botelho, no domingo às 20h30. O primeiro narra, em 70 minutos, a tentativa de um jovem realizador quebrar a lei do silêncio e desenterrar a história dos seus avós, que ninguém ousa comentar, numa remota vila de Trás-os-Montes. Os filhos de pai incógnito são uma realidade ainda presente em muitas regiões do país. O segundo é uma ficção sobre a lendária viagem de Fernão Mendes Pinto a terras orientais, a partir do seu livro escrito em 1570 e publicado a título póstumo em 1614. A obra, algo controversa, tem a duração de 105 minutos. Curtas a meio da tarde As duas sessões de curtas passam mais cedo, às 17h30 da tarde, no sábado e no domingo. No dia 22, a sessão “Curtas 1 – Amor e Juventude” reúne os primeiros filmes de cinco jovens realizadores, feitos ainda na escola de cinema ou já fora dela, com a duração total de 79 minutos. O destaque vai para os dois últimos, “Miragem Meus Putos”, de Diogo Baldaia, e “Amor, Avenidas Novas”, de Duarte Coimbra, que recolheram grandes elogios em dezenas de festivais europeus por onde passaram. No dia 23, a sessão “Curtas 2 – Visões do Mundo”, junta quatro fitas de realizadores já à procura do seu lugar no panorama cinematográfico, e dura 84 minutos. O destaque neste grupo é “Farpões Baldios”, de Marta Mateus, que conta histórias alentejanas através dos protagonistas, resistentes da luta da reforma agrária contra os patrões latifundiários. O filme fez também longa carreira em muitos festivais europeus, asiáticos, e norte-e-sul-americanos. As sessões da Mostra de Cinema Português são gratuitas. O público deverá aparecer à hora dos filmes, garantindo o lugar por ordem de chegada.
Raquel Moz EventosDocumentário | “A Dama de Chandor” mostra contradições de Goa “A Dama de Chandor” abre o ciclo de cinema português, que decorre de sexta a domingo na Cinemateca Paixão, com uma história sobre a herdeira de uma casa senhorial e de um passado histórico em declínio numa pequena aldeia goesa. A realizadora apresenta o filme em Macau [dropcap]A[/dropcap]ida de Menezes Bragança tem oitenta e um anos e vive sozinha num palácio perdido numa aldeia goesa. O esforço diário para preservar a casa onde vive, e as memórias que nela guarda de uma época em declínio, encontram-se ali cristalizadas no tempo, numa mistura de resistência e nostalgia que contrasta com o aparente desinteresse da comunidade, após a libertação do poder colonial português. “A Dama de Chandor” é o documentário que amanhã inaugura a Mostra de Cinema Português em Macau, pelas 20h30 na Cinemateca Paixão, organizada pela quarta vez pela Fundação Oriente e pela agência de cinema Portugal Film, do Festival IndieLisboa, que decorre de 21 a 23 de Junho no âmbito das comemorações de “Junho, Mês de Portugal”. Realizado em 1998 pela cineasta portuguesa Catarina Mourão, que estará em Macau para apresentar a sessão e conversar com o público após o visionamento, o filme tem já vinte anos de existência e continua a surpreender pela subtileza do olhar e pelo retrato humano de força e fragilidade, num contexto histórico em que a consciência da identidade se agarra ao presente para sobreviver, e se prende à casa como um símbolo visível contra a ameaça do tempo. “Esta aventura começou em 1995. Nessa altura eu fui à Índia, um pouco como turista, com o meu namorado da altura, que é fotógrafo. Ele ia fotografar Goa, Damão e Diu” e Catarina Mourão, tendo acabado de fazer o mestrado em Cinema e Televisão da Universidade de Bristol, na Inglaterra, levou consigo uma pequena câmara de filmar para registar impressões da viagem e vestígios da presença portuguesa no continente indiano. Até que, em conversas com pessoas que foi conhecendo, soube da história de Aida e daquela casa senhorial na aldeia goesa de Chandor. “E apaixonei-me. Pela casa e pela personagem. Sobretudo porque senti que ela encapsulava todas aquelas contradições de Goa, por um lado indiana, por outro lado portuguesa. É uma personagem presa a um passado, mas ao mesmo tempo muito preocupada no presente, em fazer com que a casa vivesse, interagindo com os turistas de forma muito pragmática. Achei que era uma personagem muito rica. E na altura filmei umas coisas com ela”. Regressou depois a Portugal e começou “a alimentar este sonho de fazer um filme lá, só com ela, fechada naquela casa. Fazer um retrato de Goa, mas através dela e daquela casa”. Foi assim que lançou mãos à obra, procurou financiamentos, continuou a corresponder-se com Aida e “finalmente consegui um dinheiro de pesquisa e fui a Goa, outra vez, em 1997. Estive lá um mês e tal”, conta. “Nessa altura comecei a pesquisar também quem era aquela família, que era muito importante e teve um papel político grande a favor da autonomia de Goa. E, apesar de pertencer a uma elite, era bastante progressista em certos aspectos. Não eram só católicos, também havia hindus, era uma família muito sincrética”. Regresso à Índia Apesar de se mover como uma personagem imortal pelas relíquias dos salões da vivenda, de estilo colonial indo-português edificado há três séculos, Aida de Menezes Bragança viria a falecer em 2012, aos 95 anos de idade. A realizadora, que em Março deste ano voltou à Índia para filmar o seu próximo trabalho, aproveitou para visitar Chandor e rever a casa que tão bem conheceu. “Já lá não ia há vinte anos! E quando cheguei estava uma senhora à janela, que me pareceu a Aida, mas que eu sabia que tinha morrido e não poderia ser. Foi como se tivesse visto uma espécie de fantasma”, revelou. “Mas a casa mantém-se, que era a preocupação dela. O trabalho de recuperação e restauro foi continuado, de certa forma, só que não está lá ninguém a viver. Há um filho que vai de vez em quando, que aparece no filme e tinha vontade de continuar a obra, mas hoje é uma senhora que está lá a receber os turistas e a mostrar a casa. Mas é tudo de uma forma muito precária”. O futuro continua a ser uma incerteza, “esta senhora também já se queixa de não ter muita saúde para continuar a ir, não houve nunca uma instituição que tomasse conta daquilo e tem sido apenas a vontade dos particulares de manter viva aquela memória”. A recente viagem à Índia levou Catarina Mourão ao norte do país, à região do Uttar Pradesh. “É um projecto completamente diferente, também sobre uma mulher com 70 anos. Esta é uma artista viajante, que anda pelo mundo. E um dos sítios importantes, para o trabalho e para a identidade dela, é Benares, no norte da Índia”. O documentário encontra-se, entretanto, em fase de montagem, com o título provisório “Os Cadernos de Benares”, que deverá estrear em meados de 2020. Olhos de Macau Catarina Mourão estará também em Macau para fazer um workshop de cinema documental, a convite da Fundação Oriente, de 22 a 27 de Junho. Pela primeira vez no território, a realizadora espera ser surpreendida pela cidade e pelos seus habitantes, nomeadamente aqueles com quem irá partilhar saber e experiências durante a oficina. “Eu adoro fazer este tipo de workshops. Dou aulas há 20 anos e acho que o mais interessante é essa troca que acontece, ou seja, tenho um programa daquilo que gostava de desenvolver com os participantes, mas estou muito disponível para ir adaptando, porque não conheço a realidade de Macau e conto aprender também muita coisa”. O título do workshop – “A Casa e o Mundo” – não surgiu por acaso, “é uma piscadela de olho ao Satyajit Ray, que é um realizador que eu adoro, porque também trabalho muito essa abordagem do microcosmo para, a partir dele, falar sobre o mundo”, recorda o filme de 1984, para explicar o que pretende com as aulas que aí vêm. “Acho que nessa busca podem acontecer muitas coisas engraçadas, eu posso conhecer Macau através dos olhos dos participantes. Vou ter o privilégio de ter acesso a um olhar muito mais interior. Isso também me atrai muito”, remata a realizadora.
Hoje Macau SociedadeAir Macau fecha 2018 com lucros pelo nono ano consecutivo [dropcap]A[/dropcap] Air Macau encerrou o ano de 2018 com lucros acima das 212,96 milhões de patacas, mais 134 milhões face a 2017, registando “o nono ano consecutivo com rentabilidade”, aponta o relatório do conselho de administração da companhia aérea ontem publicado em Boletim Oficial (BO). O mesmo relatório dá conta que a Air Macau “superou a pressão do aumento dos custos de combustível e perdas cambiais decorrentes da depreciação da moeda chinesa”. Apesar dos lucros, o mesmo relatório dá conta de que, o ano passado, “o ambiente operacional dos negócios de transporte aéreo enfrentou muitos desafios”. “Não obstante o crescimento contínuo do preço de combustíveis e dos custos operacionais, a direcção tomou activamente várias medidas, como a optimização da eficiência do funcionamento, o melhoramento da qualidade de serviços prestados e reforço das medidas de controlo de custos”, lê-se. Isso permitiu à operadora aérea “um desempenho em 2018 muito melhor que o de 2017 e um aumento drástico das rendas”. Em 2018 foi inaugurada, no dia 29 de Agosto, a ligação entre Macau e Qingdao, na China, acrescentando a um total de 26 voos. No que diz respeito ao recrutamento de pilotos, a Air Macau refere ainda que o “primeiro grupo de formandos seleccionados concluiu o curso de treinamento em França e retornou à Air Macau para receber treino adicional.” No final da instrução, os formandos tornar-se-ão formalmente co-pilotos em 2019”. “O terceiro grupo de formandos qualificados seleccionados já se deslocou à Escola Nacional de Aviação Civil em Toulouse em França, para receberem treino, teórico e prático, a partir de Outubro de 2018, com a duração de dois anos”, descreve a empresa no relatório. Controlar os custos O relatório do conselho de administração da Air Macau assegura também que, este ano, a companhia “vai continuar a enfrentar os desafios de factores económicos incertos, trazidos pela concorrência intensificada da indústria, do aumento do preço de combustíveis, da grande flutuação na taxa de câmbio e das questões do comércio global”. Nesse âmbito, é referido que a empresa “deve continuamente buscar controlo de custos para manter as suas vantagens em termos de custos, esforçando-se também em explorar mercados novos e aperfeiçoar a qualidade de produtos e serviços oferecidos, o que contribuirá para competitividade da companhia”. A Air Macau deve ainda “esforçar-se por alcançar progresso contínuo em todos os aspectos dos negócios, de modo a assegurar que os negócios da companhia possam ter um desempenho a longo prazo e o desenvolvimento estável e sustentável”, conclui-se.
João Santos Filipe SociedadeUM ultrapassa Universidade de Coimbra no Ranking Mundial de Universidades 2020 [dropcap]A[/dropcap] Universidade de Macau ultrapassou a Universidade de Coimbra no Ranking Mundial de Universidades 2020, publicado pela empresa Quacquarelli Symonds, especializada no ensino superior. Os resultados foram revelados ontem e a Universidade de Macau surge na 387.ª posição do ranking, o que representa uma subida de 56 lugares, face à edição de 2019, quando estava em 443.º. Com esta subida a Universidade de Macau conseguiu ficar pela primeira à frente da Universidade de Coimbra. A instituição portuguesa subiu um lugar no ranking do 407.º lugar para o 406.º, mas mesmo assim acabou ultrapassada pela UM. Ao nível da pontuação geral no ranking, a instituição de Macau conseguiu 28,7 pontos, em 100 possíveis. Ao nível do rácio de número de professores para os estudantes, a UM teve 24,3 pontos, enquanto a pontuação para o número de trabalho da UM citados em estudos internacionais foi de 43,9 pontos. No critério da internacionalização das faculdades e rácio de alunos estrangeiros, a UM somou 100 pontos e 96,2 pontos, respectivamente. Ao nível da reputação académica, a UM somou 11,2 pontos. Mesmo assim, o critério com pior resultado foi a preparação para o mundo do trabalho em que a instituição local não foi além dos 6,4 pontos, em 100 possíveis. A UM confirma assim a tendência de subida no ranking e desde que entrou pela primeira na tabela das 1000 universidades para a QS, em 2015, nunca mais parou de subir. A UM é a única instituição do território presente no ranking. Questão coimbrã Já a Universidade de Coimbra somou 24,1 pontos. O rácio de estudantes internacionais foi o critério em que somou melhores resultados, com uma pontuação de 57,2 pontos. Ao nível de citações em estudos internacionais e reputação académica, a UC somou 37,1 e 30,1 pontos, respectivamente. Já no rácio de professores para alunos, a instituição portuguesa teve 19 pontos. Os critérios em que a UC teve um pior desempenho foram na preparação para o mundo do trabalho, com 13,1 pontos e internacionalização das faculdades, com 12,4 pontos. A melhor universidade do ranking foi o Massachusetts Institute of Technology (MIT) com um total de 100 pontos, enquanto a Universidade de Tsinghua, em Pequim, foi a melhor chinesa, com 88,6 pontos. Ao nível de Portugal, a Universidade de Lisboa foi a melhor com 31,9 pontos.
Sofia Margarida Mota SociedadeDSEJ | Mais de 100 casos de bullying até Fevereiro deste ano lectivo As agressões físicas entre colegas lideram os casos de bullying nas escolas de Macau seguidas dos ataques verbais e do isolamento social. No presente ano lectivo, a DSEJ registou, até Fevereiro, 112 casos e o número poderá aumentar até ao final do período de aulas [dropcap]F[/dropcap]oram 112 os casos de bullying nas escolas de Macau neste ano lectivo, tendo em conta os dados até Fevereiro. Destes, a maioria dizem respeito a agressões físicas, seguidos de ‘bullying’ verbal e, por último, os casos que implicam isolamento social por parte de colegas. Os números foram divulgados ontem, pela chefe funcional do Centro de Apoio Psicopedagógico e Ensino Especial da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), Chao Pui Leng. “Focam-se mais no bullying corporal, depois está o bullying verbal e depois o isolamento”, disse, após a reunião plenária do Conselho de Educação para o ensino não superior da DSEJ. De acordo com o relatório do Pisa referente ao ano de 2015, o ‘bullying’ psicológico é tido como o mais preocupante entre os estudantes de Macau, no entanto, segundo os dados, as agressões físicas assumem maior predominância. A razão, apontou a responsável, deve-se aos diferentes métodos de avaliação utilizados nesta matéria. “O PISA fez o seu estudo através de inquéritos, enquanto a DSEJ faz o registo de todos os casos”, disse. Recorde-se que no ano passado foi criado um grupo de trabalho para a prevenção do ‘bullying’ que tem como missão seguir os métodos do PISA. A par do acompanhamento das vítimas de bullying, a DSEJ faz questão de ter como prioridade a prevenção. “Para nós é muito importante prevenir e sensibilizar para os vários tipos de bullying” afirmou Chao salientando que a ideia geral é de que se trata de agressões físicas, sendo necessário sensibilizar para o facto de existirem outras situações como a agressão psicológica e a verbal ou mesmo os ataques pela internet”, ilustrou. À prevenção segue-se a aposta anos processos de reconciliação. Para o efeito, a DSEJ está a levar a cabo acções de formação de assistentes sociais para que possam conduzir este tipo de reuniões. No passado ano lectivo, 2017/2018, foram registados 175 casos de ‘bullying’ nas escolas, no entanto ainda é cedo para fazer comparações, referiu Chao Pui Leng visto ainda não serem conhecidos os dados totais do actual ano lectivo. Educação para todos Na reunião de ontem da DSEJ foi ainda avaliado o programa de educação contínua, sendo que na fase actual, entre 2017-2019, foram registadas 35 infracções até ao passado mês de Maio. A maioria dos casos envolveu a falsificação de documentos, referiu Wong Chi Iong, Chefe de Divisão de Extensão Educativa do organismo. Tendo em conta os cerca de 100.000 cursos levados a cabo dentro do programa de aperfeiçoamento contínuo, o número de infracções “é muito reduzido”. O responsável fez ainda questão de sublinhar que a DSEJ faz “uma fiscalização rigorosa através de visitas ‘in loco’ aos centros escolares e de inquéritos ou de entrevistas após a realização dos cursos de aperfeiçoamento contínuo, e que também acompanham o tratamento de queixas” de modo a garantir que o programa seja levado a cabo com a maior transparência. Nesta terceira fase aderiram a cursos e formações 150.000 participantes o que representa 40 por cento da população, sendo que o número tenderá a aumentar visto ainda faltarem seis meses para o seu término. Na segunda fase, participaram 167 pessoas – 41 por cento e na primeira fase, que teve início, em 2011, cerca de 36 por cento da população local aderiu ao programa, num total de 140 mil residentes. De acordo com Wong Chi Iong, das 6000 patacas disponíveis para cada residente de modo a financiarem as suas formações, 30 por cento dos participantes utilizou o montante total. Com a integração no projecto de cooperação regional da Grande Baía a DSEJ pondera estender o programa às cidades vizinhas. Para o efeito, os governos locais e DSEJ têm que aprovar os respectivos programas.
Hoje Macau SociedadeMacau Water | Abastecimento aumentou três por cento face a 2017 [dropcap]A[/dropcap] Sociedade de Abastecimento de Águas de Macau (SAAM), ou Macau Water, registou um aumento na ordem de três por cento no abastecimento de água no território em 2018, num total de 100 milhões de metros cúbicos. De acordo com o relatório do conselho de administração da empresa, ontem publicado em Boletim Oficial (BO), o aumento deve-se à “abertura da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau e ao estabelecimento de grandes hotéis e instalações recreativas”, pelo que “o número total anual de visitantes atingiu cerca de 36 milhões, resultando num volume anual recorde de água abastecida”. A Macau Water afirma ainda estar atenta às políticas de protecção ambiental, tendo em conta a publicação do Relatório Especial sobre o Aquecimento Global de 1,5ºC por parte das Nações Unidas. Nesse sentido, a empresa tem “aderido à política global de protecção ambiental da empresa matriz, a Suez Environment”. Além disso, a concessionária “tem também procurado avançar destemidamente no sentido de encontrar novas soluções para o funcionamento global da empresa, nomeadamente, a nível da conservação energética, do aumento da eficiência e da reutilização de águas residuais, com vista a reduzir o impacto das operações sobre o meio ambiente e a contribuir para o desenvolvimento sustentável do planeta”, lê-se no mesmo documento. Este ano será “cheio de desafios e oportunidades” para a Macau Water, com previsão de investimento ao nível da “inovação a nível tecnológico e cultural para liderar a equipa, no sentido de contribuir para uma Macau mais próspera e harmoniosa”.
João Santos Filipe Manchete SociedadeCorrupção | Cheong Sio Kei deixa cargo nos Serviços de Cartografia e Cadastro O Ex-director da DSCC vai integrar os quadros como “técnico superior assessor principal”. A decisão surge na sequência da investigação do CCAC, que revelou que Cheong tinha usado dinheiros públicos para pagar as “escapadas românticas” [dropcap]N[/dropcap]a sequência da investigação do Comissariado Contra a Corrupção (CCAC), Cheong Sio Kei deixou o cargo de director dos Serviços de Cartografia e Cadastro (DSCC). A informação foi publicada, ontem, em Boletim Oficial, numa declaração assinada por Vicente Luís Gracias, que assume o cargo como director substituto. “Para os devidos efeitos se declara que Cheong Sio Kei, cessou, a seu pedido, a comissão de serviço, como director destes Serviços, o mesmo regressou ao lugar de origem, como técnico superior assessor principal, 2.º escalão, do quadro do pessoal destes Serviços, a partir de 11 de Junho de 2019”, pode ler-se na declaração publicada ontem em Boletim Oficial. A despromoção foi pedida por Cheong, que se viu envolvido num escândalo de corrupção revelado pelo CCAC, no relatório de 2018, e cuja identidade foi revelada pelo portal All About Macau. Contudo, quando a situação aconteceu, em 2013, Cheong era Director dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA). “O CCAC descobriu que o ex-dirigente da DSPA tinha mantida uma relação extraconjungal de longo prazo com uma colega do mesmo serviço, arranjando sempre deslocações ao exterior em conjunto a título de missão oficial de serviço. De entre essas deslocações conta-se uma, a Portugal, em 2013, cujo âmbito não tinha qualquer relação com os trabalhos da responsabilidade da referida colega”, revelou o CCAC. “As respectiva despesas de hospedagem, alimentação e ajudas de custo foram pagas pelo Governo da RAEM”, foi acrescentado. Longa carreira Cheong Sio Kei é licenciado em Engenharia Geográfica e em Direito. Além disso, é mestrado em Gestão Administrativa e doutorado em Gestão de Solos. Ingressou na Direcção dos Serviços de Cartografia e Cadastro em Novembro de 1993, onde fez grande parte da carreira pública. Em Novembro de 1998 chegou a subdirector deste serviço e com a transferência da Soberania de Macau passou a ocupar o cargo de director, em regime de substituição, onde se manteve até 2009. Em Junho de 2009, assume o cargo de Director da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental, que ocupou até 2014. É ainda nesse ano que regressa aos DSCC, onde passou a maior parte da carreira, para a posição de director. Após a investigação do CCAC caiu em desgraça e agora regressa aos quadros, deixando as posições de chefia.