Rita Santos diz não ter sido reeleita para poder dar oportunidade aos jovens

Rita Santos, a única macaense que não foi reeleita para fazer parte do colégio eleitoral, apontou que a sua intenção era essa mesmo para que pudesse dar uma oportunidade aos jovens, avançando ainda que já existia um acordo prévio com a ATFPM para que ficasse de fora

[dropcap]E[/dropcap]u queria dar oportunidade aos jovens”, apontou Rita Santos para justificar o facto de ter ficado de fora, pela primeira vez desde 1999, da colégio eleitoral que vai ter a seu cargo a eleição do próximo Chefe do Executivo. A ideia foi deixada à margem da cerimónia de assinatura do acordo quadro de cooperação estratégica no projecto que envolve a promoção de Macau nos comboios de alta velocidade chineses. “Verifiquei que efectivamente, no dia em que fui fazer a promoção, estavam muitos jovens a subir no palco. Depois estive a reflectir: é melhor não discutir para obter este lugar embora eu tenha apoios que não são só da parte da China. Vou participar mas deixo-vos [aos jovens] avançar”, disse.
Foi o dever para com o sub-sector que representava – laboral, que fez com que Rita Santos avançasse.
Entretanto, a presidente da Assembleia Geral da Associação dos Trabalhadores da Função Pública (ATFPM) já teria feito um acordo a este respeito com a associação. “Foi acordado previamente [com a ATFPM] e eu como parte do sector laboral tive que que participar”.
Uma das razões para este acordo terá sido o excesso de trabalho que Rita Santos tem em mãos. “Falei com a ATFPM porque quero debruçar-me na implementação da plataforma de Macau e tenho tantas solicitações das associações que não consigo dar vazão a tudo isso”, acrescentou.
Recorde-se que Rita Santos foi a segunda candidata menos votada no subsector do trabalho, pelo qual concorria. No total eram 63 candidatos a 59 lugares. Rita Santos arrecadou 285 votos.

Muito amigos

Questionada acerca da reação de Jorge Fão, ex-dirigente da ATFPM, que admitiu ter “quase” chorado quando soube da sua exclusão, Rita Santos, mostrou-se sen sensibilizada. “Agradeço ao Jorge Fão porque somos muito amigos. Ele é muito querido, ajudou-me na minha carreira profissional e eu fiquei contente”, disse.
No que respeita à comunicação futura com o próximo Chefe do Executivo a presidente da assembleia geral da ATFPM acredita que a associação vai continuar a manter o contacto que tem sido comum, de duas reuniões anuais. Tendo em conta que Ho Iat Seng é o forte candidato a ocupar o lugar, as expectativas são de que este tipo de trabalho se mantenha. “Este futuro Chefe do Executivo, que conhecemos muito bem, vai continuar com esta forma de trabalho com a ATFPM que é a mais representativa de todas as associações ligadas aos trabalhadores da função pública para podermos transmitir as nossas preocupações e os direitos dos trabalhadores”, sublinhou Rita Santos, acrescentando que acredita que Ho vá “ser um bom”, líder do Governo local.
Além de ser um conhecido de há longa data, Ho Iat Seng tem ainda experiência legislativa que lhe pode ser favorável na análise dos problemas de Macau. “Como trabalhou na Assembleia Legislativa, espero que tenha sensibilidade suficiente para resolver os problemas de Macau, nomeadamente na questão da habitação, na resolução dos problemas de transporte e solução do salário mínimo”, apontou, sem deixar de referir que espera que Ho Iat Seng, venha também “elevar a moral dos trabalhadores da função pública”, tratando das questões acerca do subsidio de residência.

24 Jun 2019

Fernanda Gil Costa: “Universidade de Macau não tem interesse no português”

Fernanda Gil Costa defende ao HM que a Universidade de Macau deveria assumir um papel mais preponderante na ligação com a sociedade civil, papel esse que tem sido protagonizado pelo IPM. A académica conta que chegou a propor a criação de um centro de pós-graduação destinado a professores de português na China, semelhante ao que existe no IPM, mas o projecto ficou na gaveta

[dropcap]L[/dropcap]ança este ano um livro sobre autores contemporâneos de Macau. Fazem falta mais estudos por parte do Instituto Politécnico de Macau (IPM) e da Universidade de Macau (UM) nesta área?
Por parte da UM sem dúvida, porque na UM faz-se muito pouco ou nada. E não há incentivos nenhuns.

Como explica essa inacção?
A explicação que encontro é que a UM não tem interesse no fortalecimento da língua portuguesa, não investe na interacção entre o departamento de português e a comunidade macaense. Assisti a isso várias vezes e participei de alguns episódios. As autoridades da UM não entendem que a universidade deve ter esse papel. Aliás, esse papel é reclamado pelo IPM constantemente e a UM não faz nada. Isso está muito bem definido na sociedade de Macau, pois quando se fala do português é o IPM que toma a iniciativa e aparece como o rosto.

Há também maior ligação do IPM ao poder político da China.
Sim, na China e em Portugal também. Não conheço o novo reitor da UM, mas o reitor que conheci, Wei Zhao, não tinha como prioridade desenvolver o português, apesar de me ter dito pessoalmente várias vezes. É possível dar aulas de português com mais ou menos alunos, mas o que falta é uma ligação com outras comunidades académicas e com a sociedade civil de Macau, sobretudo com as instituições do espaço público.

Chegou a apresentar projectos específicos que foram negados?
Não foram negados directamente, mas não me disseram que sim. Houve uma altura que tive um projecto e pareceu-me que o reitor gostou muito dele, e que consistia em criar na universidade um centro de pós-graduação destinado aos professores de português na China. O IPM pegou nisso como pode, pois não me parece que, até hoje, tenha uma acção muito visível. Mas isso nunca avançou (na UM) por várias razões.

Como por exemplo?
Algumas dessas razões são políticas e tem a ver com o facto de os professores chineses não poderem estar em Macau mais do que um determinado período por ano, porque precisam de vistos especiais e isso não é possível de obter, ou é muito difícil. Cheguei a falar com o doutor Sou Chio Fai (director do Gabinete de Apoio ao Ensino Superior), que se mostrou interessado em resolver o problema, mas disse-me que isso tinha de ir ao Ministério da Educação Chinês e percebi que era difícil.

Com o reitor Wei Zhao, a UM virou costas a Macau?
Quando cheguei ele já lá estava, e havia opiniões muito divergentes sobre a acção dele e as suas preferências. Comigo foi sempre muito simpático, não tenho razões de queixa dele em termos pessoais. Provavelmente não foi por causa dele, mas o que se passa na UM é que há níveis, sobretudo do intermédio para cima, em que a informação não passa. Havia um projecto, feito com base numa avaliação internacional que foi feita ao mais alto nível, e que iria servir para desenvolver o departamento de português, que nunca avançou. Isso aconteceu apesar de, no Senado, Wei Zhao ter dito que o projecto era muito interessante e que tinha o seu apoio. Mas depois, sabe como é, nunca mais se fala nisso. Ninguém fala, ninguém se lembra.

Lamenta o facto de ter sido feito um grande investimento em termos de instalações e, ao mesmo tempo, a UM não desempenhar devidamente o seu papel de formação de quadros em língua portuguesa?
Sei que a universidade tem áreas de ponta ao nível da engenharia e informática, mas noutras áreas não tem e é bastante deficiente em relação a quadros, a professores de uma certa carreira internacional. Mas, como digo, não sei qual foi o plano estratégico da universidade. Quando fui para lá (em 2012) disseram-me que queriam desenvolver o português. Wei Zhao chegou a dizer-me que os departamentos de português e de inglês, logo a seguir ao de chinês, deveriam ser os mais importantes. Depois dividiram a faculdade, algo com o qual eu não contava, e isso mudou tudo, incluindo as prioridades.

Aconteceu a polémica redução do número de turmas dos cursos opcionais de português, em meados de 2015. Essa questão foi negada pela directora da faculdade.
Ela negou, mas isso não é verdade. São factos. Se no ano anterior tinha havido, por exemplo, 27 turmas, e naquele ano iriam abrir 20, estamos perante uma redução. Como é que se desmentem factos? Não se pode. Isso era em relação aos alunos da faculdade que frequentam o português como língua opcional, e isso é importante. Muitas vezes os alunos optam depois por fazer um minor ou por continuar a estudar português de outra maneira. Havia um prejuízo colectivo quanto à difusão do português.

À altura foi-lhe explicado porque é que essas turmas iriam ser reduzidas?
Uma das razões apontadas foi a redução do número daqueles professores, que chegaram a ser muitos e que eram necessários para manter estas turmas a funcionar. Não tinham contrato com a universidade e eram pagos à hora. Estes professores foram muito reduzidos na altura. Hoje não sei quantas turmas há, mas não parece que sejam entre 27 a 30 turmas como abriram nessa altura. Espero que a UM esteja a cumprir os objectivos que entende serem o seu desígnio maior. Como portuguesa gostaria de ver o departamento crescer o mais possível, até porque há muito interesse por parte dos jovens chineses. Verifiquei isso, escreviam-me a pedir para abrir turmas. Isso era uma constante.


Novo livro sai dentro de um mês

“Recuperar Macau – A sobrevida das letras em português na cidade chinesa de Macau” é o novo livro de Fernanda Gil Costa. Actualmente no Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, Fernanda Gil Costa contou ao HM que começou a trabalhar de forma mais profunda na obra quando saiu de Macau.

“Enquanto estive na UM tive acesso e direito a um projecto de investigação, que no caso de ser aceite seria financiado. Fui mantendo os contactos mas não consegui escrever nada, porque o trabalho que desenvolvia lá e a forma como a universidade encara esse tipo de funções não é compatível com a reclusão necessária para escrever uma coisa assim, mais longa.”

O objectivo do livro, segundo a autora, é “tentar contextualizar a situação daquilo que eu chamaria de espaço público da língua portuguesa em Macau”. Este espaço “é muito escasso, mas, apesar de tudo, tem uma grande vitalidade”.

Fernanda Gil Costa dedica capítulos à obra de vários autores, tal como Carlos Morais José e Fernanda Dias, dois autores que, para si, mais espelham o retrato de autor de língua portuguesa com uma carreira consagrada no período pós 1999.

Há também a análise a “escritores de transição entre o português e o chinês, e do chinês traduzidos em português, como é o caso de Yao Jingming e o Joe Tang, que tem essencialmente duas obras bastante interessantes”. Uma das obras de Joe Tang que Fernanda Gil Costa destaca é “O Assassino”, traduzida para português por Ana Cristina Alves, e que interessa à académica porque enfabula “uma figura histórica controversa, que é o Governador de Macau do século XIX”.

Quanto a Yao Jingming é “mais poeta no sentido tradicional do termo”, apesar das traduções que já fez, de autores portugueses como Camilo Pessanha e Eugénio de Andrade.

Ainda assim, o livro de Fernanda Gil Costa retrata a mistura de géneros literários da obra de Carlos Morais José, incluindo as suas crónicas publicadas nos jornais. “O Carlos, quando escreve crónicas, escreve também prosa rítmica, com muitos traços de ficcionalidade. Poesia e prosa na obra dele estão completamente misturadas e é um caso extremamente interessante de olhar para a literatura de uma maneira que é tudo menos tradicional. Não estou a dizer que é o único que faz isso, mas em Macau será mesmo o único.”

Produção literária após a transferência

Fernanda Gil Costa destaca o facto de Fernanda Dias e Carlos Morais José terem conseguido cimentar a sua obra após a transferência de soberania. “São duas figuras que não iniciaram o seu perfil literário depois de 1999, mas confirmaram-no. As grandes publicações de um e de outro situam-se mais no depois do que no antes, isso para mim é um facto e é algo que deve ser olhado tentando buscar um sentido. A vontade e o interesse de o fazer é uma forma de afirmação da língua e da cultura portuguesa, o que é muito interessante.” Para a autora, “o que se publica em português é muito importante por parte dos autores que escrevem directamente em português, mas também para o facto de se publicarem traduções em português de autores chineses”. “É muito pouco, mas apesar de tudo faz-se alguma coisa. O livro trata, além das questões teóricas, do facto de Macau ser uma cidade pós-colonial, dessa grande contextualização que se faz ao que aconteceu depois do handover”, acrescentou.

24 Jun 2019

Trump garante que não quer guerra com Irão e está disponível para contactos

[dropcap]O[/dropcap] Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, garantiu ontem, em entrevista, que não procura uma guerra com o Irão e está disponível para contactos, condições prévias.

Em entrevista difundida este domingo pela NBC News, Donald Trump reconheceu que, “se houvesse [uma guerra], causaria uma destruição nunca vista”. Trump disse estar convencido de que as autoridades iranianas “querem negociar e chegar a um acordo” com Washington.

“[Os iranianos) querem falar? Muito bem. Se não, preparem-se para ter uma má economia nos próximos três anos”, avisou, referindo-se ao efeito das sanções económicas dos Estados Unidos contra o Irão.

O clima de tensão entre o Irão e os Estados Unidos dura há bastante tempo, mas a crispação tem aumentado desde que Donald Trump retirou os Estados Unidos, há um ano, do acordo nuclear internacional assinado, em 2015, entre os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança – Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia e China (mais a Alemanha) – e o Irão, restaurando sanções devastadoras para a economia iraniana.

Questionado sobre as condições para um contacto diplomático entre os dois pises, clarificou: “No que me diz respeito, não há condições prévias.” Mas acrescentou que Teerão tem de esquecer as armas nucleares.

Também em entrevista emitida hoje pela CNN, o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, sublinhou que a mensagem da Administração Trump “é muito clara”: não permitir que o Irão obtenha armas nucleares.

Pence adiantou que Trump vai anunciar “sanções adicionais contra o Irão” na segunda-feira. Na entrevista à NBC News, Trump confirmou que vai “aumentar as sanções”, sem mais detalhes.

Os Estados Unidos exortaram ontem “todos os países a convencerem o Irão a aliviar a tensão” no Golfo Pérsico. Na sexta-feira, os Estados Unidos pediram a realização de uma reunião à porta fechada do Conselho de Segurança das Nações Unidas, para falar sobre os últimos desenvolvimentos relacionados com o Irão, o que deverá acontecer na segunda-feira.

A tensão entre Estados Unidos e Irão está a escalar, com registo de vários incidentes aéreos e marítimos nos últimos tempos. Em finais de Maio, a Administração do Presidente Donald Trump anunciou o destacamento de 1.500 soldados para o Golfo Pérsico, depois de enviar um navio de guerra e uma bateria de mísseis Patriot.

Ontem, o ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano, Muhammad Javad Zarif, fez referência a outro drone “espião” americano, abatido em finais de maio, portanto antes do incidente de quinta-feira, quando Teerão derrubou um aparelho não tripulado que alegadamente violou o espaço aéreo nacional.

Washington contraria esta indicação, garantindo que o drone estava em espaço aéreo internacional. Posteriormente, em resposta, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump anunciou um ataque contra três locais no Irão, que abortou, à última hora, alegando querer evitar um elevado número de mortos.

“Não quero matar 150 iranianos. Não quero matar 150 pessoas de sítio nenhum, a não ser que seja absolutamente necessário”, disse aos jornalistas. Porém, Trump clarificou que ainda pondera uma acção militar contra o Irão. “[O uso da força] está sempre em cima da mesa, até resolvermos isto”, avisou, citado pela agência americana AP.

Ontem, o Presidente iraniano, Hassan Rouhani, acusou os Estados Unidos de estarem a alimentar as tensões na região, através de uma “jogada invasora”.

24 Jun 2019

Países do Sudeste Asiático comprometem-se a combater poluição dos oceanos

[dropcap]O[/dropcap]s países da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), assinaram no sábado um compromisso, sem precedentes, para lutarem em conjunto contra a poluição dos oceanos.

A ASEAN, que inclui Indonésia, Malásia, Singapura, Tailândia, Filipinas, Brunei, Vietname, Laos, Myanmar e Camboja, é o 5.º maior bloco do mundo, atrás da União Europeia, dos Estados Unidos, da China e do Japão. Esta associação representa 9% da população mundial, quase 650 milhões de habitantes.

Apenas cinco países asiáticos (China, Indonésia, Filipinas, Vietname e Tailândia) são responsáveis por mais da metade dos oito milhões de toneladas de plástico descartados anualmente nos oceanos no mundo, de acordo com um relatório de 2017 da organização não-governamental Ocean Conservancy.

Na “Declaração de Banguecoque sobre a luta contra a poluição marinha na ASEAN”, adoptada este sábado, os dez países da organização comprometem-se a “reduzir significativamente os detritos marinhos” produzidos nos seus territórios.

Contudo, como frequentemente acontece nos documentos da ASEAN, não está estabelecida nenhuma medida concreta. Activistas ambientais, que denunciam há anos a falta de uma política de preservação ambiental, incluindo o compromisso dos governos da região contra o uso de produtos plásticos, estão cépticos em relação a este documento

“Se não reduzirmos o uso de plásticos descartáveis esta declaração não vai funcionar, disse à AFP a activista do Greenpeace Tailândia Tara Buakamsri.

23 Jun 2019

Kim Jong-un diz ter recebido carta de Trump com um “conteúdo excelente”

[dropcap]O[/dropcap] líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, recebeu uma carta “pessoal” do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com um “conteúdo excelente”, informou hoje a agência de notícias oficial norte-coreana, KCNA.

A informação não detalha a data em que a carta foi recebida, nem escrita, mas sustenta que, depois de ler, Kim disse ter mostrado a sua “satisfação”. De acordo com a KCNA, Trump mostrou uma “coragem extraordinária”. Kim aprecia o “julgamento político” da carta e acrescentou que “analisará” seriamente o “conteúdo excelente” da mensagem.

Esta carta parece ser uma resposta a uma outra mensagem que Kim recentemente enviou a Trump para comemorar o primeiro aniversário da histórica cimeira entre os dois líderes realizada em Singapura em 12 de Junho de 2018.

No final de Fevereiro houve uma segunda cimeira, em Hanói, concluída sem qualquer acordo e sem uma declaração comum, devido à impossibilidade de um entendimento em relação ao desmantelamento do programa nuclear de Pyongyang em troca de um levantamento das sanções económicas impostas ao país asiático. A data e o local de uma possível terceira cimeira entre os dois ainda não foram definidos.

23 Jun 2019

ASEAN e seis países da Ásia-Pacífico querem novo tratado comercial, promovido pela China

[dropcap]O[/dropcap]s líderes da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) ultimaram hoje uma posição comum, juntamente com outros seis países da Ásia-Pacífico, para a criação de um megatratado comercial que resultará no maior bloco económico do mundo.

O encontro da ASEEAN, que começou oficialmente na sexta-feira com os trabalhos preparatórios, acolheu os ministros da economia da ASEAN para discutir o projecto, promovido por Pequim, denominado Parceria Económica Regional (RCEP), que junta dezasseis Estados na região da Ásia-Pacífico e que tem como objectivo fortalecer influência da China nesta região, numa altura de disputas comerciais entre Pequim e Washington.

Para além dos países membros da ASEAN (Malásia, Indonésia, Brunei, Vietname, Camboja, Laos, Myanmar, Singapura, Tailândia e Filipinas) e da China, o acordo inclui ainda a Índia, Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia, que, juntos, representam aproximadamente 40% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e quase metade da população do planeta.

O primeiro-ministro da Tailândia, Prayut Chan-ocha, assumiu, no seu discurso de encerramento do encontro, a responsabilidade pela unidade da ASEAN contra o proteccionismo crescente em alguns países na economia mundial, uma alusão às políticas norte-americanas e à guerra comercial entre os EUA e a China. Prayut observou que até o final do ano eles esperam finalizar o RCEP.

O bloco do Sudeste Asiático completou, até o momento, sete dos 20 pontos do RCEP p, que começaram a ser negociados em 2012 e sofreram vários atrasos devido às discrepâncias entre os membros.

A ASEAN forma um bloco de 647 milhões de pessoas que aspira a aumentar o seu PIB combinado para 4,7 triliões em 2025 e tornar-se a quarta potência económica do mundo.

23 Jun 2019

Doces de Sintra reinventam-se em Macau sem trair origens

[dropcap]N[/dropcap]um mercado onde o pastel de nata é ‘rei’, a doçaria de Sintra vai entrar “sem pressa” e “fiel às origens”, com as queijadas e outros doces a apresentarem-se, na segunda-feira, em Macau, para criar raízes antes da expansão.

Na cidade onde, há 30 anos, a reinvenção do pastel de nata se tornou um sucesso generalizado, os doces tradicionais de Sintra vão “manter-se fiéis à receita original”, disse à Lusa Francisco D’Almeida, responsável pela primeira “apresentação formal” destes doces na Ásia.

“Como é que um produtor anglo-saxónico reinventa o pastel de nata aqui, em Macau, e nós, os portugueses, não o defendemos? A ideia foi um bocado essa, foi essa a ética”, afirmou o empresário, que abre na segunda-feira o primeiro espaço dedicado à doçaria de Sintra no território.

Francisco referia-se a Andrew Stow, farmacêutico industrial que em 1989 reinventou o pastel de nata e transformou o “pu shi dan ta”, ou “tarte de ovo de estilo português”, num emblema do território chinês.

À boleia da Ramalhão, a doçaria de Sintra – com mais de oito séculos – aterra pela primeira vez em Macau no dia de São João. “A ideia é partir com poucos, mas bons produtos. Vamos embrulhar as queijadas ao vivo”, explicou.

Porquê Macau? À “longa história e influência portuguesas” juntam-se as próprias características ‘anatómicas’ do território. “A queijada é um produto que chega a todo o lado, que se pode guardar, gosta de humidade, de calor, de suar, como qualquer queijo. Por isso, Macau”, explicou Francisco, apontando que as “receitas conventuais também mudam no verão e no inverno”.

No primeiro contacto com Macau, deu-se logo o fascínio: “Não só pelas multidões, mas por tudo o que está inserido. Temos os melhores ‘chefes’, as melhores cozinhas do mundo, por que não a queijada?”, sustentou.

A entrada no mercado local que, segundo o Fundo Monetário Internacional, deve registar em 2020 o maior rendimento ‘per capita’ do mundo, foi “relativamente fácil”, apontou, enfatizando o apoio de entidades do território.

Se a Casa de Portugal, associação local de matriz portuguesa, tem ajudado na divulgação e até nas contratações locais para a Ramalhão, o primeiro contacto, ao nível das licenças, foi estabelecido com o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM).

“O IPIM tem experiência e foi uma boa plataforma, fomos muito bem recebidos e não houve qualquer complicação até agora”, disse o empresário sobre a entidade que tem como objectivo promover o comércio externo e atrair investimento estrangeiro.

Entre queijadas, pão-de deus e travesseiros, os produtos são quase todos portugueses, mas servem-se também de ingredientes “cuja qualidade só se encontra na Ásia”, como é o caso da canela.

“Tivemos apoio das entidades e expressão para fazer o negócio, para vir montar produtos portugueses, que é a nossa ideia. A ideia é mesmo essa, sem ser fanático, usar o bom nome de Portugal, que hoje em dia é um país de moda”, reconheceu.

Além dos produtos, também a decoração do espaço vai ser fiel a terras lusas: calçada portuguesa, cortiça, um toldo tipicamente do Porto e gravuras sintrenses, “o mais próximo possível de uma loja portuguesa”.

“A loja é decorada em três movimentos de cortiça, mármore, calçada portuguesa e a entrada em tijolo industrial. Quisemos misturar a industrialização e decoração portuguesa o mais possível”, adiantou.

Nos primeiros tempos, o objectivo é a implementação em detrimento “da massificação”, sublinhou Francisco D’Almeida. “Queremos Macau, os residentes de Macau, queremos mercado. Trazer um mercado de qualidade para as pessoas que não tiverem este produto durante muitos anos”, defendeu.

Apesar da expansão para outros mercados asiáticos estar em cima da mesa – já há convites de Pequim – Francisco d’Almeida disse estar focado, para já, no mercado local. “A expansão depende de Macau. O nosso foco é Macau, investimos muito, queremos que o sucesso seja enraizado em Macau. A lei da natureza quase que faz o mercado”, concluiu.

23 Jun 2019

Polícia chinesa resgatou mais de mil mulheres estrangeiras vendidas no país

[dropcap]A[/dropcap] polícia chinesa resgatou 1.130 mulheres estrangeiras na China, na segunda metade de 2018, em diferentes operações coordenadas com as autoridades de cinco países do Sudeste Asiático, anunciou ontem o Ministério da Segurança Pública chinês.

Na operação, foram detidos 1.322 suspeitos, incluindo 262 estrangeiros, por alegadamente atraírem e raptarem mulheres, depois de lhes prometer emprego ou casamento com locais, detalhou o ministério, no que parece ser a maior operação deste género na China, até à data.

“Nos últimos anos, locais e estrangeiros conspiraram para sequestrar mulheres de países vizinhos e vendê-las como esposas na China”, revelou o porta-voz do ministério, Guo Lin, numa conferência de imprensa, em Pequim.

“Trata-se de uma violação grave dos direitos e dos interesses dessas mulheres”, realçou.
A procura por noivas estrangeiras na China aumentou nos últimos anos, alimentada, em parte, pela política de filho único.

Fruto da tradição feudal que dá preferência a filhos do sexo masculino, aquela política, que vigorou entre 1980 e 2016, gerou um excedente de 33 milhões de homens na China.

A dificuldade em ‘seduzir’ noivas chinesas, especialmente para homens do interior da China sem carro, casa ou emprego estável, leva-os a procurar mulheres no sudeste asiático, alimentando o tráfico humano.

Agentes matrimoniais que apresentam homens e mulheres solteiros é prática legal e aceite na China. No entanto, a lei chinesa proíbe as agências matrimoniais de introduzir noivas estrangeiras, para impedir o tráfico humano.

Ao longo das fronteiras do sudeste da China, os contrabandistas atraem as mulheres fazendo-se passar por homens atraentes nas redes sociais e seduzindo-as com empregos bem remunerados em hotéis ou restaurantes.

Quando cruzam a fronteira para a China, os contrabandistas costumam drogar as mulheres, roubar o seu dinheiro, telemóvel e documentos de identificação, e levam-nas para o interior da China.

As mulheres acabam isoladas em aldeias, incapazes de comunicar, devido a barreiras linguísticas.
Em 2004, a China assinou memorandos com Myanmar (antiga Birmânia), Vietname, Camboja, Laos e Tailândia, visando combater o tráfico oriundo do Sudeste Asiático. A campanha do ano passado envolveu a polícia dos seis países.

A China estabeleceu oito escritórios de ligação que coordenam com a polícia em Myanmar, Vietname e Laos para combater o tráfico e devolver as mulheres raptada, segundo Chen Shiqu, vice-director do Ministério da Segurança Pública.

Chen revelou que a China intensificou as patrulhas junto à fronteira e inspecções para capturar contrabandistas. Críticos afirmam que um dos desafios são as duras restrições que Pequim impõe a activistas e organizações independentes, sufocando a ajuda da sociedade civil às mulheres.

22 Jun 2019

China defende deportação de ex-ministro filipino que denunciou PR chinês

[dropcap]A[/dropcap] China defendeu ontem os “seus direitos legítimos” após ter proibido a entrada em Hong Kong do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros das Filipinas, que pôs uma acção contra o Presidente chinês no Tribunal Penal Internacional (TPI).

“Como em qualquer outro país, o Governo chinês e o Governo da Região Administrativa Especial de Hong Kong é que decidem se permitem ou não a entrada de qualquer pessoa, segundo a sua lei”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês Lu Kang, em conferência de imprensa.

Albert Del Rosario denunciou, em declarações à estação de rádio filipina dzMM, que funcionários da Imigração o mantiveram por seis horas no aeroporto de Hong Kong e, em seguida, ordenaram a sua deportação, sem explicarem o motivo, e apesar de ele ter “passaporte diplomático”.

Lu Kang enviou um recado para o ex-ministro: “Aconselho-o a ler atentamente a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas para ver se encontra alguma cláusula que lhe permita entrar livremente em outros países com passaporte diplomático”.

Del Rosario disse que o veto tem a ver com a acusação contra o Presidente chinês, Xi Jinping, e outros quadros do regime chinês, por cometerem “crimes envolvendo danos ambientais imensos, quase permanentes e devastadores em várias nações”, pela ocupação de ilhotas e recifes no Mar do Sul da China.

Pequim reclama a soberania sobre a quase totalidade do Mar do Sul da China, região rica em recursos, apesar das queixas e reivindicações dos países vizinhos do sudeste asiático, e rapidamente construiu ilhas artificiais capazes de receberem instalações militares, incluindo aviões.

“A China dá grande importância às suas relações com as Filipinas e vamos dialogar com todas as pessoas envolvidas para que os laços bilaterais possam avançar de forma sólida e sustentável”, concluiu Lu.

Del Rosario apresentou a acusação, em março passado, perante o TPI, afirmando que os danos ambientais começaram quando o Governo de Xi empreendeu “um plano sistemático para tomar conta do Mar do Sul da China”, de vital importância geoestratégica, já que ali circula 30% do comércio global e 12% da pesca mundial, contendo ricas reservas de petróleo e gás.

O signatário argumenta que o TPI tem jurisdição sobre o caso porque os “crimes” da China ocorreram quando as Filipinas eram ainda membros do Tribunal.

Em 17 de Março, Manila saiu do TPI por ordem do Presidente do país, Rodrigo Duterte, que foi acusado na mesma instância de crimes contra a humanidade, devido à sua guerra contra as drogas.

O Tribunal Internacional de Haia atribuiu às Filipinas, em 2016, a soberania de parte do Mar do Sul da China, numa decisão que a China não reconhece. Pequim continuou a expandir a sua presença no território, sem que o governo de Duterte reclamasse, já que este reorientou a sua política externa para o gigante asiático, em troca de investimento no seu país.

No início de Junho, uma colisão entre uma embarcação pesqueira filipina e uma embarcação chinesa em águas disputadas provocou a ira de vários grupos nacionalistas filipinos, apesar de Manila e Pequim terem minimizado o incidente.

22 Jun 2019

Polícia de Hong Kong anuncia abertura de investigação contra manifestantes

[dropcap]A[/dropcap] polícia de Hong Kong anunciou hoje que vai abrir uma investigação contra os manifestantes que bloquearam a sede da polícia na sexta-feira, considerando esta acção como “ilegal e irracional”.

“A polícia mostrou a maior tolerância para com os manifestantes que se reuniram em frente à sede, mas a forma como se expressaram tornou-se ilegal e irracional”, apontou em comunicado a polícia de Hong Kong.

“A polícia investigará rigorosamente essas actividades ilegais”, sublinharam as autoridades, acrescentando que por causa do “bloqueio” cerca de sessenta chamadas de emergência não puderam ser processadas. A polícia disse ainda que treze agentes foram “enviados ao hospital para tratamento”, mas não especificaram as razões.

Na sexta-feira, milhares de pessoas reuniram-se em frente à sede da polícia exigindo a retirada definitiva da lei da extradição e libertação dos detidos no protesto de 12 de Junho e a demissão da chefe do Governo, Carrie Lam.

Os jovens vestidos com ‘t-shirts’ e máscaras negras espalharam-se por Harcourt Road, uma via entre Admiralty e Central, montaram barreiras nas estradas e bloquearam a circulação de viaturas, exigindo a libertação daqueles que foram detidos no protesto de 12 de junho, marcado por violentos confrontos entre manifestantes e a polícia, que usou gás lacrimogéneo, gás pimenta e balas de borracha para dispersar os manifestantes.

Por outro lado, pediram que esse protesto deixe de ser classificado como um motim, cujo crime associado prevê uma pena até dez anos de prisão.

Os manifestantes Kong terminaram hoje de manhã pacificamente o cerco à sede da polícia e as autoridades limparam as ruas e retiraram as barreiras postas pelos manifestantes. O protesto de sexta-feira acontece depois de três protestos que levaram milhões de pessoas a protestarem nas ruas contra as alterações a uma lei que permitiria a extradição de suspeitos de crimes, a chefe do Governo, Carrie Lam, foi obrigada a suspender o debate sobre as emendas planeadas e a pedir desculpas em duas ocasiões, mas não retirou a proposta.

22 Jun 2019

Wynn | Boston reduz dependência face a Macau

[dropcap]A[/dropcap] conclusão e a operação de um casino em Boston, nos Estados Unidos, vai fazer com que a operadora Wynn fique menos dependente dos resultados de Macau. A conclusão é de um relatório do banco de investimento Sanford C Bernstein, assinado por Vitaly Umansky, Kelsey Zhu e Eunice Lee, e citado pelo portal Inside Asian Gaming.

De acordo com os números apresentados, o “Encore Boston Harbor” vai fazer com que os ganhos da empresa antes de juros, impostos, depreciação e amortização (em inglês EBITDA) alcancem 41 por cento das receitas brutas. Entre este valor, 16 por cento virão directamente de Boston.

Por este motivo, o relatório frisa que com o novo casino a empresa Wynn Resorts pode começar a ser vista como algo mais do que uma operadora a depender principalmente de Macau.

21 Jun 2019

IPM | Curso de tradução e interpretação para alunos portugueses não vai abrir

[dropcap]A[/dropcap] TDM-Rádio Macau noticiou ontem que o curso de Licenciatura em Tradução e Interpretação Chinês-Português/Português-Chinês, destinada aos alunos que tem o português como língua materna, não vai abrir no próximo ano lectivo 2019/2020.

O Instituto Politécnico de Macau (IPM), que opera o curso, explicou à rádio que houve apenas três candidaturas, um “número insuficiente e limitado” para abrir uma turma. A TDM Rádio-Macau falou ainda com outras fontes que garantiram que este curso nunca teve muitos candidatos, sendo que, para abrir uma turma “era quase um ponto de honra”.

Han Lili, directora da Escola Superior de Línguas e Tradução do IPM, referiu que os três candidatos foram informados de que o curso, que funciona em horário pós-laboral, não vai abrir no próximo ano lectivo, algo que estes “compreenderam e aceitaram”. Pelo contrário, a licenciatura destinada a alunos com a língua materna chinesa vai continuar a funcionar sem alterações.

21 Jun 2019

Túnel que vai ligar Novos aterros não irá afectar ambiente, diz relatório

[dropcap]U[/dropcap]m relatório de impacto ambiental relativo à construção do túnel subaquático que vai ligar as zonas A e B dos Novos Aterros aprova o projecto e assegura que, durante o processo de construção, será protegido o meio ambiente envolvente, aponta um comunicado da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT). O documento foi encomendado ao Instituto de Oceanologia do Mar do Sul da China da Academia Chinesa de Ciências.

O comunicado dá conta que “a conclusão geral do relatório de avaliação do impacto ambiental refere que durante o período de execução da obra, e no período de funcionamento do túnel, a entidade responsável pela construção irá tomar as devidas medidas no âmbito de protecção ambiental e de prevenção da poluição, de modo a atenuar o impacto ambiental provocado”.

Além disso, será feita uma “implementação rigorosa das várias estratégias e medidas”, o que “fará com que o impacto ambiental seja aceitável”. Desta forma, “não haverá uma redução significativa da qualidade do ambiente na área”, pelo que “do ponto de vista da protecção ambiental, a presente obra de construção é viável”, defende o relatório.

Segunda consulta

O túnel subaquático terá aproximadamente 1.300 metros de comprimento, passa pela área subaquática onde fica a Ponte da Amizade e o canal de navegação do Porto Exterior, e visa interligar as zonas A e B dos Novos Aterros Urbanos, podendo ainda fazer a ligação à ilha artificial do posto fronteiriço Zhuhai-Macau, através da rede rodoviária da zona A dos Novos Aterros Urbanos. Além disso, a obra irá prever uma solução para a ligação à quarta Ponte Macau-Taipa.

O comunicado da DSSOPT aponta que “de acordo com os critérios técnicos, o túnel vai adoptar quatro faixas de dois sentidos, sendo a velocidade máxima permitida de 60 quilómetros por hora”.

Até ao dia 3 de Julho decorre a segunda consulta pública sobre esta avaliação de impacto ambiental, que tem como objectivo ouvir as opiniões da sociedade sobre este relatório.

21 Jun 2019

Nunca montes o dorso do tigre

[dropcap]N[/dropcap]um dos meus últimos artigos, mencionei que a RAE de Hong Kong tem escolhido sistematicamente mal os seus Chefes do Executivo. E, infelizmente, a minha opinião acabou por revelar-se absolutamente certa face à realidade que vivemos e que ninguém teria imaginado possível.

Existem muitas pessoas a montar cavalos e vacas por esse mundo fora. Mas já alguém viu um tigre a ser montado? Há um velho ditado chinês que diz “quando uma pessoa monta um tigre é muito difícil apear-se”, o que é uma forma de nos aconselhar a nunca embarcar em projectos que não estão ao nosso alcance.

A Chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, tem 40 anos de serviço público, um excelente curriculum académico e notabilizou-se pela sua extraordinária determinação. Para ela, a palavra “dificuldade” não consta do dicionário. Desde que acredite que qualquer coisa está “certa”, defende-a até ao fim. Este tipo de atitude faz dela o exemplo perfeito do servidor público, mas, como líder, este traço de personalidade não ajuda. Devido ao seu espírito autocrático, os subordinados têm dificuldade em expressar os seus pontos de vista e acabam por permanecer em silêncio. Os sábios da antiga China afirmaram que quando temos a certeza de estar a agir correctamente devemos lutar pelas nossas convicções, mesmo que seja preciso enfrentar milhares de opositores, mas esta atitude só deve ser tomada depois de muita introspeção e na posse de um total auto-conhecimento. Se um líder faz orelhas moucas aos conselhos de terceiros, incluindo aos dos peritos, e age de acordo com simpatias pessoais ou a partir de uma perspectiva meramente legalista, o desfecho pode ser desastroso. As duas últimas manifestações massivas em Hong Kong foram em muito desencadeadas pela personalidade de Carrie Lam e pela sua forma de lidar com as situações. Ela é sem dúvida uma pessoa bem-intencionada, mas de boas intenções está o Inferno cheio.

A obra, “As Viagens de Lao Can”, do escritor Liu E (劉鶚), que viveu durante a Dinastia Qing, parece falar apenas sobre os vários locais da China e sobre os costumes locais, mas de facto reflecte sobre o período final da administração Qing. Num dos capítulos, o autor escreve, “os oficiais corruptos, embora abomináveis, são reconhecidos por todos; os oficiais incorruptos, mas não menos desagradáveis, são reconhecidos apenas por alguns. Os oficiais corruptos, conscientes de que as suas acções podem ser denunciadas, não se atrevem a mostrá-las em público; os oficiais incorruptos, que não se deixam influenciar por subornos, tornam-se imparáveis. Determinados e convencidos da sua razão, os oficiais incorruptos matam pessoas e, em situações extremas, colocam em perigo o País. Já conheci demasiados exemplares desta espécie”.

Afirmar que os antigos Chefes do Executivo preferiram “esconder a cabeça como a avestruz” em relação à questão da lei dos condenados em fuga, revela falta de sensatez política e vaidade pessoal. O que está a acontecer actualmente em Hong Kong deita por terra os esforços desenvolvidos nos últimos dois anos e abre as portas a uma dissenção social irreversível. A polícia foi apanhada no meio do caos, os jovens tornaram-se descartáveis e apoiantes e detractores do projecto de lei tornaram-se inimigos. Um pequeno movimento provocou uma reacção em cadeia!

Ninguém duvida que os criminosos devem ser condenados em nome da justiça. Mas também ninguém vai engolir pesticida porque tem parasitas no estômago. Por isso, as pessoas devem abordar as questões de forma correcta, com bom senso e sensibilidade.

Na entrevista que deu à televisão a 12 de Junho, Carrie Lam apelou aos sentimentos dos espectadores para explicar as suas acções. No entanto, este momento emocional foi secundado, nesse mesmo dia, pela operação em larga escala contra os manifestantes. As duas acções combinadas colocaram a Chefe do Executivo num patamar de fama nada invejável. Mas a responsabilidade não é só dela, deve ser partilhada com todos aqueles que lhe ocultaram a verdade.

A insubordinação social em Hong Kong tinha decrescido imenso após o Movimento dos Chapéus de Chuva. Os activistas que desafiaram a legislatura da cidade foram sucessivamente presos, vários deputados do campo pró-democracia foram afastados do Parlamento e o campo pró-governamental ganhou as eleições. Parecia que a ordem estava estabelecida. No entanto, o excesso de confiança e a falta de atenção à opinião e às queixas das pessoas criaram um clima que proporcionou a mudança do autoritarismo para o totalitarismo. Ninguém é invencível quando existe uma multidão de opositores.

Qualquer acção que venha a afectar o desenvolvimento político de Taiwan, a negociação comercial sino-americana ou o interesse nacional da China está interdito. Sobre a reeleição dos deputados do campo pró-governamental, só avançarei uma previsão quando eles se decidirem a descer do dorso do tigre.

21 Jun 2019

F1 | Grande Baía fora do roteiro do campeonato

[dropcap]O[/dropcap] Campeonato do Mundo de Fórmula 1 procura uma segunda corrida na República Popular da China e a organização do maior campeonato está em conversações com governos de seis cidades chinesas, mas nenhuma destas é da Grande Baía.

No passado mês de Abril, a AFP revelou que uma representação da Liberty Media, a empresa norte-americana que gere dos destinos da Fórmula 1 desde 2017, visitou seis cidades chinesas para negociar a possibilidade de realizar uma segunda prova no país que acolheu 1000º Grande Prémio de Fórmula 1 este ano no Circuito Internacional de Xangai.

A China integra o calendário da Fórmula 1 desde 2004 e a Liberty Media, proprietária da Fórmula, não esconde o interesse em expandir a sua presença no mercado asiático. No próximo ano, Hanói receberá o primeiro Grande Prémio do Vietname, “uma corrida realmente especial que oferecerá uma competição excitante”, prometeu o chefe máximo da Fórmula, Chase Carey.

Apesar da República Popular da China possuir mais de uma dezena e meia de circuitos espalhados por todo o país, apenas o Circuito Internacional de Xangai tem as infra-estruturas para acolher um evento desta natureza. A solução passaria por organizar uma prova num circuito provisório numa das grandes cidades do pais.

“A Fórmula E tem duas provas na China, porque não ir a Hong Kong ou Pequim?” afirmou Toto Wolff, o responsável máximo da equipa de Fórmula 1 da Mercedes ao canal televisivo alemão Sport1. “Este é um dos mercados mais importantes para a Mercedes e para a Fórmula 1.”

Em declarações à AFP, Sean Bratches, o director comercial da Liberty Media, não confirmou, nem negou, a vontade que a Fórmula 1 tem em realizar uma prova nas ruas de Pequim, como tem vindo a ser falado insistentemente nos bastidores do “Grande Circo”.

Longe daqui

Uma prova de Fórmula 1 na região da Grande Baía poderia ter impacto negativo na relevância do Grande Prémio de Macau, o maior evento desportivo de carácter anual da RAEM. Contudo, essa questão nem sequer se coloca por agora.

A Liberty Media não comenta as negociações em curso, mas segundo o que o HM apurou as seis cidades chinesas que terão recebido a representação da Liberty Media foram Pequim, Chengdu, Xian, Tianjin, Wuhan e Hangzhou. Nenhuma das cidades da Grande Baía, nomeadamente Guangzhou, Shenzhen, Zhuhai, Foshan, Huizhou, Dongguan, Zhongshan, Jiangmen, Zhaoqing, Hong Kong e Macau – estará, por agora, no roteiro da Fórmula 1.

Hoje em dia, quem ambicione entrar no exclusivo calendário do Grande Prémio de Fórmula 1 terá que estar disposto em gastar pelo menos 320 milhões de patacas e encontrar um patrocinador principal capaz de desembolsar mais 40 milhões de patacas.

Zhuhai é passado

O Circuito Internacional de Zhuhai foi o primeiro circuito permanente construído na República Popular da China e inicialmente pensado para acolher a Fórmula 1, numa ideia que Bernie Ecclestone, o então dono do campeonato, andou a conjecturar durante nove anos.

A cidade chinesa adjacente a Macau chegou mesmo a fazer parte do calendário provisório do mundial de Fórmula 1 em 1998, mas a Federação Internacional do Automóvel (FIA) optou por cancelar a corrida por falta de condições da infra-estrutura. A prova ainda foi adiada para 1999, mas voltou a ser anulada pelas mesmas razões. Foram precisos mais cinco anos para a caravana da Fórmula 1 visitar o país da Grande Muralha. Hoje o circuito de Zhuhai não tem a homologação mínima necessária e continua sem ter uma infra-estrutura para receber os monolugares mais rápidos do planeta.

21 Jun 2019

Desarrumações

[dropcap]A[/dropcap] desarrumação é forma de disfunção. Não é só o quarto da infância que está desarrumado. Há muitas coisas sem rumo. Se desarrumar for impossibilidade de encontrar o rumo na direcção de X, Y ou Z ou na orientação por A, B ou C, não são só os objectos que estão desarrumados. Os objectos não estão no sítio certo ou no sítio habitual objectiva ou subjectivamente. Se livro estiver fora de sítio, está desarrumado, embora ocupe uma posição no espaço. Numa casa, as coisas têm sítios certos e muitas vezes diferentes, para as pessoas que habitam a casa. O açucareiro pode estar apenas a dois dedos de distância do sítio certo do açucareiro para alguém. Mas para uma outra pessoa pode estar perdido sem poder ser encontrado, porque uma pessoa não vai à procura de uma coisa num sítio onde ela não poderia estar nunca. Mas é a ideia de ausência ou de impossibilidade de rumo que importa perceber aqui.

A desarrumação das coisas num quarto, em vários quartos, na casa de banho e na cozinha, em todas as divisões de uma casa podem tornar uma casa inabitável. Não é apenas o quarto que está desarrumado, quando todas as outras divisões podem oferecer acolhimento. É a casa inteira que não dá rumo à vida. Não se consegue trabalhar no gabinete de trabalho, não se consegue tirar um copo para beber água, porque todos estão acumulados no lava-loiças. Toda a loiça está suja e por lavar. E basta pensar que não falta a água por umas horas apenas e de que nos vale uma casa de banho? A casa toda afunda o rumo da existência. Nada pode ser usado. Torna-se disfuncional. Há diversos tipos de disfuncionalidade, claro. Para uma criança que mal ande a casa é diferente da que um adulto habita, bem como é diferente a casa para um sénior que já anda com dificuldades, o mesmo vale, é óbvio, para pessoas com deficiência. Os espaços têm de melhorar para poderem ser “vestidos”, “habitados” de modo funcional, para que as divisões ofereçam as possibilidades que habitualmente oferecem o melhor possível. Que bom que era ter casas excelentes, sempre arrumadas, a oferecer rumos, onde vamos para fazer o que lá fazemos ou só para lá estarmos.

Mas também há formas de disfuncionalidade e falta de rumo, quando perdemos uma entrevista, quando perdemos uma consulta, quando não fomos a um encontro, por haver trânsito, por termos ficado a dormir, por nos termos esquecido. Tudo o que podia acontecer não aconteceu.

Não se fala apenas de consequências. Fala-se de não ter havido X, Y e Z que poderiam ter acontecido. Em todas as formas de cancelamento, de falta de comparência, verifica-se também este não ter acontecido que não deu rumo, não abriu portas, não se sabe o que teria sido. É difícil invocar esses momentos, que ficaram vida fora. Podem ser muitos ou poucos, mas estão a constituir tensão na nossa vida. Pergunta-se o que faltou, o que não aconteceu, a que encontro não fomos, o que falhou? Mas pode não ser apenas a, b, c, d, ou tudo até ao z das oportunidades perdidas por falta de comparência. Tudo pode ser assim mesmo quando não falhamos em nada, tivemos sempre presença assinalada, fomos assíduos. Já não se percebe como é que a assiduidade nos possa marcar falta de comparência, como se lá tivéssemos estado mas tivéssemos sido transparentes e a oportunidade que estava em ocasião não foi vista e por isso não foi agarrada.

O mesmo se passa com os dias perdidos. Quantos dias perdidos sem fazer nada? Quantas férias grandes a gastar tempo? Quantos dias? Poucos, muitos, nenhuns? Como na doença da infância, saímos para fora do quotidiano mais ou menos complexo da escola. Ficamos em casa, com quem nos tem em casa. Os dias são mágicos cheios de febre, cowboys, jogos, muito tédio. Os outros continuam as suas vidas na escola, nos ginásios, na saúde dos dias. Quando regressamos ganha-se de novo o fluxo do sentido da vida em direcção a exames, provas, que nos façam passar de um ano para o outro de épocas escolares para épocas escolares, tudo está regulado. Perdem-se os momentos mágicos em que o entardecer de inverno traz a chuva a bater nas janelas do quarto da infância. Quantos dias perdidos sem fazer nada? O que acontece quando toda a gente trabalha, exerce competências, desempenha funções, tem trabalho, tem vida, e nós não temos trabalho ou não queremos ter trabalho, e nada apetece?

Pode ser uma vida inteira em greve de zelo, sem querer fazer nada, em desobediência total às regras que mandam trabalhar, à disciplina, ao cumprimento que nos faz não brincar em serviço. E pode ser uma vida ao Deus dará. Conheci algumas pessoas, não muitas, assim, quando o sentido da vida, o quotidiano tem precisamente esta forma de desobediência. Poderei dizer que há uma desarrumação ou disfuncionalidade, quando se sente a liberdade de alguém que é absoluto, que está absolvido das amarras dos outros próximos e afastados. Há seres impermeáveis a qualquer sociedade e não são foras da lei. São errantes, mas não são criminosos. Viram qualquer coisa diferente da que eu vejo, que não tolero um quarto desarrumado e quando não encontro um livro me apetece chorar depois de o ter procurado com o zelo intenso de um concupiscente?

Sem nunca ter feito greve de zelo, sem nunca ter desobedecido, tendo sido cumpridas todas as regras, trabalhando como se não houvesse amanhã também pode ser disfuncional, quando tudo parece ser sem rumo. O desenraizamento, a desarrumação, o desnorteamento dá-se quando todas as coisas, tudo sem excepção parece estar arrumado. Mas quando não chega um pensamento até nós, daqueles de que fala Hofmannsthal que é como uma jovem águia a voar, não até nós mas para nos levar nas suas asas, então, sim: tudo se sente desarrumado.

E espera-se que de novo chegue esse pensamento como asas de jovens águias.

21 Jun 2019

Fatalismo, fatalidade

[dropcap]N[/dropcap]o período apelidado de Belle Époque não havendo guerras que empregassem os exércitos europeus, nem por isso a diplomacia arrefeceu as suas premências como forma de se fazer importante.

Simpatias, entendimentos e tratados foram amarrando as nações, mas se o intuito jurado era o apaziguamento, o verdadeiro incentivo para estas alianças acoitava-se nas suspeitas e animosidades que cada país sustinha pelos vizinhos. Impantes de positivismo as secretarias exerciam a sua plenipotência com cálculo e resolução; sentiam-se triunfantes, predestinadas mesmo – “A diplomacia é a guerra por outros meios.”.

Moloch, a divindade canaãnita que se cevava de carne humana, despertou então da sua letargia no centro de uma teia de compromissos quando no fim de Junho de 1914 Gravilo Princip, rancoroso e temerário como só o podem ser os patriotas, emboscou numa esquina de Sarajevo o Arquiduque Franz Ferdinand e a sua mulher Sofia. Com dois singelos tiros reduziu-os a cadáver.

Uma semana depois a 1.440 kms dali, em Potsdam, o Kaiser Guilherme recebe ao almoço um memorandum e uma carta pessoal do Imperador Habsburgo reclamando vingança pela morte do herdeiro com a extinção da ignóbil Sérvia, a seu ver uma charneca que só dava ameixas, merda de cabra e assassinos. Guilherme quis prorrogar, recomendar-se com o seu Chanceler, mas a rogos do enviado de Viena persuadiu-se na hora a dar “carte blanche” à acção punitiva do Império Austro-Húngaro.

Sabe-se hoje que nem a prudência nem a perspicácia eram os primeiros atributos do Guilherme prussiano, ainda menos a clarividência. Mas há-de ter captado quão brusco e desavisado fora o seu beneplácito. Assim que as baterias austro-húngaras começaram a bombardear Belgrado a Rússia, arvorada em madrinha dos povos eslavos, decretou mobilização geral em socorro da Sérvia. O Czar tinha as costas quentes com a Triple Entente, o pacto que chamaria a França e o Reino Unido em sua defesa em caso de agressão.

Agora Guilherme percebia que um fio que se puxasse ia tudo atrás. É mortificação do Príncipe, sobretudo dos retraídos e mercuriais como Guilherme, o pressentimento de ser a única pessoa na sala que não está a par de algo que todos sabem. E que as suas ordens são cumpridas e as vontades acatadas por mera deferência. Se o servilismo, tanto melhor quanto acrescentado de bajulação, ao menos deixa à mostra a hipocrisia, a probidade e o dócil conformismo dos que por fidelidade se demitem de objectar, são demónios que atormentam o discernimento do regente.

O que mais preocupava a titubeação de Guilherme era que em nome dele a casa de Hohenzollern continuasse primeira entre a aristocracia prussiana, famosamente ríspida e marcial, brutalmente agrária, culturalmente embebida da razão de Kant e do determinismo de Hegel-o-velho-de-Berlim. E os cabeças quadradas exultavam com a hipótese da guerra para glória e escudo da Alemanha. De tal modo que já haviam congeminado o Plano Schlieffen: num prodígio de precisão e disciplina logística primeiro lançar-se-iam 7 ou 8 exércitos contra a França, para numa vitória rápida assegurar a inibição da frente ocidental e depois virava-se tudo contra a Rússia.

A magnitude, a agressividade e talvez até o custo do plano impressionaram o Kaiser. Aproximando-se “O Dia” (em que a operação seria desencadeada), tão assustado andava que tresleu um telegrama do embaixador alemão em Londres, segundo o qual, dir-se-ia que por meias palavras, os britânicos garantiam a neutralidade da França. Radiante, Guilherme chamou Helmuth von Moltke, o chefe do Estado Maior – podemos atacar apenas a Leste.
Mas Motke retorquiu que tal não era possível: “não se podem alterar em tão pouco tempo os horários dos comboios e estes já estão em marcha.”

14 milhões de almas foram devolvidas ao Criador nos 4 anos de batalhas nas trincheiras da frente Oeste. Contudo os comboios circularam impecavelmente à tabela.

21 Jun 2019

Pouca esperança

[dropcap]A[/dropcap]o contrário da maior parte dos meus amigos, não fui votar nestas eleições europeias. Muitos deles não perderam a oportunidade de me relembrar a importância do voto numa sociedade democrática. Na teoria, a democracia enquanto sistema de governação política é o melhor dos sistemas conhecidos: permite, para além de escolhermos quem nos representa, uma saudável alternância regular de eleitos e respectivas ideias. Mas a democracia é uma ideia que envolve dois momentos constituintes distintos e necessariamente complementares: a forma, pela qual se anuncia a estrutura subjacente ao sistema democrático e o fundo, ou seja, as pessoas que preenchem os lugares constantes da estrutura do sistema. E é precisamente com esse ponto me tenho encanitado desde sempre.

A nossa jovem democracia foi-se consolidando e profissionalizando, nestes últimos quarenta e qualquer coisa anos. Sendo o processo de consolidação inerentemente bom e necessário, já o mesmo não pode ser dito daquilo que se entende por profissionalização da carreira política, que se tem pautado por ser mais semelhante a um regime mafioso, com as obrigatórias juras de lealdade, de silêncio e de fidelidade canina que lhe inerem do que propriamente com um processo fundamental para o desempenho da actividade política. A isto acresce ainda uma não módica quota de endogamia e nepotismo; no caso do Dr. Carlos César, um dos rostos mais visíveis deste PS em funções e deputado à assembleia nacional, difícil será encontrar-lhe um familiar que não esteja alapado a um qualquer organismo público. Nesse aspecto, os partidos do denominado centrão não se distinguem uns dos outros: são essencialmente redes de manutenção e ampliação de poder e de distribuição das prebendas que deste decorrem. Descontando o facto de se ter de deixar a coluna vertebral à porta para neles ter lugar, são de longe as melhores agências de emprego em Portugal.

À parte o desagradável facto de estarmos literalmente nas mãos de uma casta de meliantes profissionais, a maior parte das vezes sem qualquer currículo fora da esfera política, temos ainda de levar em linha de conta o nível de corrupção de que nos vamos dando conta quase diariamente pela comunicação social. Do governo central às autarquias, são raros os dias nos quais não sai uma notícia sobre mais um caso em que o visado, prontamente entrevistado, é lesto a declarar-se inocente e, não raras vezes, vítima de uma cabala política. Tudo bons rapazes.

Lembram-se de Sócrates? Ainda hoje estamos a tentar perceber a real dimensão da teia de influências e pressão montada à altura para capturar os mais importantes sectores de um país. O que tem vindo a lume nas audições da comissão de inquérito parlamentar à recapitalização da caixa é estarrecedor em dois sentidos: toda a gente parece de algum modo implicada na gigantesca marosca e, simultaneamente, temos a sensação de que aquela enorme montanha não produzira nada senão um desinteressante bode expiatório para satisfazer um nível infra-atómico de decência.

Há de facto outros partidos que, por razão de escala e de crónica distância ao centro de poder, têm currículos mais simpáticos, a nível de corrupção. Mas por um lado são partidos que normalmente propõem ou não se opõem à ideia de mais estado, de mais controlo estatal e, consequentemente, de mais impostos para financiar o paquiderme. Exactamente o contrário daquilo que gostaria de ver. Por mim, o estado não era dono de uma única empresa. Muito menos de um banco.

Os dias de votação têm sido para mim muito sossegados. Aborrecidamente iguais aos outros. Acabo por fingir algum interesse nos resultados, para me sentir integrado no desígnio nacional em curso, mas é sol de pouca dura. Os meus amigos muito activistas desfiam longuíssimas explicações sobre o sucesso ou fracasso de determinado partido de esquerda (sendo que alguns vêem sucesso e outros fracasso no mesmíssimo resultado). Eu há muito que deixei de achar isto interessante.

21 Jun 2019

Lusofonia | Semana Gastronómica de Moçambique “pode ser a última”

[dropcap]M[/dropcap]oçambique volta a promover, entre amanhã e dia 29 deste mês, a sua cultura gastronómica em Macau, num evento organizado há mais de dez anos para “celebrar a independência” do país africano, disse à Lusa a organizadora. Apesar da Semana Gastronómica ser “muito bem recebida todos os anos”, a organização teme que esta seja a última edição, tendo em conta as “dificuldades logísticas” e os apoios, que “nem sempre são suficientes”.

“Temos encontrado cada vez mais dificuldades, mas este ano foi pior (…) O problema é arranjar um espaço que nos dê condições para organizar esta semana, tudo o que o evento exige. Pedimos apoios, mas às vezes não são suficientes”, indicou à Lusa a directora da Associação dos Amigos de Moçambique, Helena Brandão. “Pode ser a última edição”, lamentou.

Desde 2007 que a Semana Gastronómica de Moçambique traça o mesmo objectivo: pôr a comunidade de Macau em contacto com os “sabores, as danças e as músicas” tradicionais moçambicanas, na mesma altura em que se “celebra a independência”, apontou Helena Brandão.

Moçambique comemora a 25 de Junho o 44.º aniversário como país livre e soberano, independência conquistada em 1975 após cinco séculos de domínio português.

“[Todos os anos] convidamos um ‘chef’ moçambicano que prepara, durante uma semana, num restaurante de Macau, pratos típicos de Moçambique”, explicou Helena Brandão. Este ano, a Associação de Amigos de Moçambique convidou a ‘chef’ Orlanda Barbosa, que trará ao Varandas Restaurante & Bar “alguns condimentos e produtos” moçambicanos que não estão disponíveis no território.

21 Jun 2019

LMA | Música tropical para dançar este sábado

[dropcap]O[/dropcap]s sons tropicais chegam este sábado, dia 22, ao LMA – Live Music Association, a partir das 22h. A pista de dança do 11º andar na Rua do Coronel Mesquita, vai contar com a presença dos portugueses DJ Limes (Hélder De Lima), DJ S.Rola (Sérgio Rola) e do japonês DJ Ryoma (Ryoma Ochiai).

Desta vez, as sonoridades House, Tecno, Transe Psicadélico e Rock&Roll dão lugar aos sons mais leves e descontraídos da World Music, Tribal, Indie-Disco, Reggae e Latina. O organização revelou que a escolha é propositada, “para brindar ao Verão”, com um estilo de música menos pesada e para um público mais jovem e variado, agora que as férias escolares estão à porta.

Este é o único espaço de música ao vivo e dança, com programação regular e variada, que funciona como clube fora dos circuitos hoteleiros há mais de dez anos. A festa de sábado tem entrada gratuita e promete apresentar as novidades mais recentes do que se ouve por aí nos festivais internacionais, onde os disco-jóqueis têm participado com regularidade, confirmou Ryoma Ochiai ontem ao HM.

21 Jun 2019

The KVB ao vivo esta quarta-feira em Hong Kong

Na próxima quarta-feira, a partir das 20h, o duo britânico The KVB sobe ao palco do MOM Livehouse, em North Point Hong Kong para um concerto que promete fazer as delícias dos apreciadores de sonoridades mais negras do post-punk electrónico e do shoegaze

 
[dropcap]M[/dropcap]elómanos com guarda-roupa onde o preto predomina, rejubilem! The KVB tocam esta quarta-feira em North Point, em Hong Kong. O concerto está marcado para as 20h no MOM Livehouse, um clube escondido na cave de um centro comercial antigo, rodeado por cabeleireiros e manicures.

São previstas batidas pulsantes, guitarra barulhenta cheia de reverb, teclados que criam ambientes de sonho e vozes desleixadas e graves carregadas de eco. Tudo estes ingredientes servidos num cozinhado que convida à dança lânguida e concentrada dos apreciadores de sonoridades a resvalar para o gótico.

Os The KVB são constituídos por Nicholas Wood e Kat Day, a dupla que começou a dar nas vistas em 2011, desde que se formaram em Londres, depois do projecto a solo de Wood se ter transformado num dueto. Depois de dois anos à procura de um conceito sonoro, algures entre o electro minimal, post-punk, shoegaze e a música psicadélica, os The KVB lançam o disco de estreia “Always Then”.

Os ritmos electrónicos entre a fragilidade e a rigidez, aliados às explosões sónicas, evocavam os estilos musicais de bandas como Cabaret Voltaire e Jesus and Mary Chain.

Quando The KVB deixou de ser o projecto a solo Nicholas Wood, apenas com algumas demos lançadas e edições limitadas em cassete, com a aquisição de Kat Day, o dueto lançou-se em intensa produção discográfica. Depois do disco de estreia, a dupla lançou “Immaterial Visions” e “Minus One” em 2013, “Mirror Being” em 2015, “Of Desire” em 2016 e “Only Now Forever” no ano passado. Pelo meio, lançaram ainda dois EPs.

Agora sempre

O último disco da dupla britânica, que deve contribuir fortemente para o alinhamento de quarta-feira, é um registo com abordagem muito independente e livre, algo que pode ter surgido do facto de ter sido gravado no apartamento de Berlim onde a dupla viveu em 2017. Apesar do contexto caseiro, “Only Now Forever” tem uma sonoridade encantatória, uma tela com pinceladas de pop, sempre prestes a ser rasgada por uma guitarrada sónica. O último registo dos The KVB é um bom paliativo para os fãs que sofrem com saudades de discos dos Depeche Mode, The Soft Moon, New Order, Nine Inch Nails ou My Bloody Valentine.

Quem estiver interessado em dançar e ser abanado pela guitarra estridente dos The KVB terá de desembolsar 280 HKD se comprar o bilhete antecipadamente ou 350 HKD se comprar à porta do MOM Livehouse.

21 Jun 2019

MUST | Trabalhadores com menos confiança no emprego

[dropcap]A[/dropcap] Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST na sigla inglesa) revelou os resultados de um inquérito que aponta para a insatisfação das pessoas que trabalham em Macau, apesar de uma ligeira subida em relação ao ano passado.

A conclusão é do estudo “Macao Employee Confidence and Satisfaction Index 2019”, realizado pelo Instituto de Desenvolvimento Sustentável da MUST. Participaram no inquérito 905 residentes, maiores de 16 anos, escolhidos aleatoriamente e que estavam empregados a tempo inteiro durante os meses de Abril e Maio.

Segundo os resultados da pesquisa, a pontuação atribuída ao índice de confiança geral no trabalho foi de 2,98 pontos (a pontuação máxima é 5), registando uma descida de 0,3 por cento em relação ao ano passado. No entanto, o indicador que mede a satisfação atingiu 3,07 pontos, o representou uma subida de 1,5 por cento em relação ao ano 2017. A investigação mostra que os funcionários não têm muita esperança quanto à possibilidade de promoção e aumento salarial, ou satisfação salarial dentro de um ano. Algo que se pode aferir no índice de confiança mínima quanto à oportunidade de promoção, que se ficou pelos 2,16 pontos.

O índice de confiança dos empregados da indústria do jogo desceu 1 por cento em relação ao ano passado, contrastando com o índice de satisfação que aumentou 0,6 por cento.

21 Jun 2019

Negócios | Jovens empresários juntam-se para mudar o ambiente em Macau

Resolver os problemas ambientais num só fim-de-semana pode parecer ambicioso, mas é o que se propõem fazer centenas de jovens empresários em 60 cidades de todo o mundo. Os empreendedores locais reúnem-se de hoje até domingo

 
[dropcap]O[/dropcap] 1º Fim-de-Semana Global de Startups, dedicado à Revolução da Sustentabilidade, realiza-se entre hoje e domingo, 21 a 23 de Junho, no hotel Sofitel em Macau. O evento acontece ao mesmo tempo noutras 50 cidades em todo o mundo, que durante 54 horas vão partilhar e apresentar projectos, ideias e produtos.

O evento pretende promover a interacção entre profissionais, investidores, especialistas e mentores. A organização quer orientar todos aqueles que tenham um projecto em potência, com vista à criação de futuros produtos e serviços.

Macau participa no segundo fim-de-semana desta iniciativa global, juntamente com outras 25 cidades, após um primeiro grupo de 26 cidades ter feito parte da ronda inicial do evento, no fim-de-semana passado, que incluiu a vizinha cidade de Hong Kong.

O encontro conta já com cerca de 40 pessoas inscritas, para o desenvolvimento de projectos e apresentação de resultados, esperando-se outras 80 pessoas na cerimónia de apresentação dos protótipos e resultados, no último dia, domingo, antes da festa de encerramento. Os espectadores interessados podem ainda adquirir bilhete para essa sessão na página web da Techstars, pelas 16h30, ao preço único de 100 patacas.

Por onde começar?

Os participantes do encontro foram instados a trazer uma ideia para resolver ou inovar em termos ambientais, tema que inquieta cada vez mais a comunidade internacional e tem influência directa na vida das pessoas. Os desafios são variados: novos produtos ecológicos, planos para atrasar a obsolescência dos equipamentos, reciclagem e requalificação de materiais, redução de desperdícios alimentares, mais produção e distribuição local, construção de sistemas de eficiência energética, reconstrução sustentável de edifícios, concepção dos sistemas de transportes do futuro, e planeamento de cidades inteligentes, inclusivas e mais resilientes.

“A humanidade precisa de soluções concretas para o futuro”, revelou Kenny Lei, um dos membros da organização. Uma delas começa já neste encontro de startups, com o desafio Zero Desperdício, onde foi pedido aos participantes que levassem o seu próprio material para evitar o excesso de lixo descartável e reforçar o exemplo de cidadania. O repto foi feito em todas as edições internacionais do encontro.

Os melhores projectos serão avaliados na cerimónia de domingo. Os vencedores vão ter direito a seis meses de espaço gratuito em sistema de co-working no Macau Hub, entre outras regalias oferecidas pelas empresas patrocinadoras. E o Top 20 de vencedores globais oferecerá o direito a programas de incubação e workshops de aprendizagem com mentores internacionais.

A única advertência da organização aos participantes “é o risco de terem que se demitir dos seus empregos na manhã de segunda-feira, para poderem montar a sua startup e seguirem o sonho de tornar o mundo melhor”, informa a página da organização.

21 Jun 2019

Clínica do grupo português IGHS abre em Outubro

[dropcap]A[/dropcap] clínica de Macau do grupo português IdealMed GHS (IGHS) vai começar a operar em Outubro deste ano, de acordo com um comunicado nas redes sociais. Com as novas instalações, a clínica vai disponibilizar “novas especialidades médicas”.

A nova clínica vai operar no espaço onde estava o EC Centro Médico, na Taipa, depois da compra desta unidade ao grupo de Hong Kong Chow Tai Fook, em Novembro de 2018. Antes disso, a IdealMed firmou um acordo de cooperação com a Universidade de Macau.

Antes da clínica abrir com a imagem renovada, o EC Centro Médico vai continuar a operar com os serviços que já antes disponibilizava.

21 Jun 2019