ONU | Representante diz que casinos ainda são centro de lavagem de dinheiro

Jeremy Douglas, representante da Agência para os Assuntos de Droga e de Crime das Nações Unidas para a zona da Ásia-Pacífico, disse à Macau News Agency que o sector do jogo em Macau ainda é um dos principais centros de branqueamento de capitais, com o grande contributo dos junkets

 

[dropcap]A[/dropcap] Organização das Nações Unidas (ONU) considera que Macau é ainda um foco de lavagem de dinheiro. O aviso foi feito à Macau News Agency (MNA) por Jeremy Douglas, representante da Agência para os Assuntos de Droga e de Crime das Nações Unidas para a zona da Ásia-Pacífico (UNODC, na sigla inglesa).

“Há muito que Macau tem sido lugar para actividades de branqueamento de capitais e crime organizado e, apesar dos tempos e dos métodos terem vindo a mudar, o território é ainda visto por muitos desta forma”, apontou. O responsável não ignorou o facto de Macau estar situado numa zona do globo onde o jogo tem expandido em países como o Camboja ou o Vietname, entre outros. “Os casinos tem vindo a expandir-se e a proliferar”, disse, enquanto que “os junkets, levemente regulados, tem vindo a financiar aqueles que fazem apostas elevadas”, sem esquecer que aqueles que são considerados os “correios de dinheiro” transportam “elevados montantes”.

A semana passada, um relatório da UNODC deu conta da existência de várias organizações criminais em Hong Kong, Macau, Taiwan e Tailândia, bem como da falta de capacidade legislativa destes territórios para responder ao panorama do tráfico de droga na zona do sudeste asiático. O tráfico faz-se sobretudo com estupefacientes, produtos contrafeitos, medicamentos, espécies protegidas e pessoas. Os traficantes recorrem aos casinos, que a UNODC considera serem mal regulados, ou através dos sistemas bancários de Hong Kong e de Singapura.

Discussões com Pequim

À MNA, Jeremy Douglas disse ainda que a ONU tem vindo a “trabalhar de perto com as autoridades em Pequim, discutindo preocupações sobre os casinos e a indústria junket nesta região”.

Apesar das críticas apontadas por Douglas, o Governo de Macau tem mexido na legislação respeitante a estas matérias. Em 2017, foi feita uma revisão à lei que regula o branqueamento de capitais, tendo sido implementadas também mudanças na forma de registo dos operadores junket e na documentação a entregar junto da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ).

Esta não é a primeira vez que uma entidade relaciona a criminalidade organizada ao mundo do jogo. Em 2016, um estudo da Universidade Cidade de Hong Kong dava conta do domínio das tríades nas salas VIP dos casinos, algo que foi rejeitado pela DICJ. “Até ao momento, não verificámos qualquer ‘tríade seleccionada pelos casinos nem a trabalhar com junkets’”, foi referido.

23 Jul 2019

Banco Chinês de Macau | Governo autoriza sucursal em Cantão

[dropcap]F[/dropcap]oi ontem publicado em Boletim Oficial (BO) um despacho assinado pelo secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, que conta autoriza a abertura de uma sucursal do Banco Chinês de Macau na cidade de Cantão, província de Guangdong. O Banco Chinês de Macau nasceu a partir do antigo Finibanco, estabelecido em Macau em 1995.

Actualmente, tem como presidente do conselho de administração Ye Shaokun, que assinou, em Março, o relatório e contas relativo ao ano de 2018. No documento constam os planos que o Banco Chinês de Macau tem para este ano.

Para a entidade bancária, 2019 “é um ano em que existem simultaneamente oportunidades e desafios”, uma vez que será aprofundada “a reforma”, além de se pretender “acelerar a reconversão e valorização, o investimento e exploração da tecnologia financeira do banco”, bem como “elevar geralmente a capacidade de serviço financeiro e suportar, como sempre, o desenvolvimento sustentável de todos os negócios locais”.

23 Jul 2019

Governo abordou excepções a deputados na lei do consumo

[dropcap]A[/dropcap] Lei de Protecção dos Direitos e Interesses do Consumidor não vai ser aplicada a áreas como o jogo nos casinos, saúde, serviços jurídicos, contabilidade, auditoria e serviços de ensino. Ontem, o Executivo esteve na 1.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) a avançar as explicações para estas excepções.

Segundo a justificação do Governo, estas áreas são tidas como especiais por terem entidades responsáveis pela fiscalização, pelo que foi considerado desnecessário aplicar a lei que vista garantir a qualidade e segurança dos serviços prestados. Neste capítulo, foi apontado aos deputados que no que diz respeito ao jogo já existe a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) para fiscalizar. Em relação à saúde a responsabilidade da supervisão está com os Serviços de Saúde de Macau (SSM) e no caso dos serviços jurídicos com a Associação dos Advogados de Macau (AAM).

Contudo, o presidente da 1.ª Comissão Permanente da AL, Ho Ion Sang, alertou que na área da saúde a parte estética é abrangida pela lei, apesar de apenas poder ser exercida por pessoas com as qualificações reconhecidas pelos SSM.

Por outro lado, ficou claro para os deputados que o corrente diploma é subsidiário, ou seja, aplica-se como um complemento para as várias leis que já definem igualmente direitos dos consumidores.

E a internet?

Ontem, a discussão focou o âmbito da aplicação da futura lei. Em causa está o facto de o diploma apenas se aplicar a entidades que estejam em Macau. Este aspecto é um desafio, uma vez que pode deixar de fora várias compras feitas através da internet, como acontece com o Taobao.

Segundo o presidente da comissão, para se aplicar a lei a uma entidade esta tem de ter sede, ou representação, em Macau. Porém, este não é o único critério, empresas com contas bancárias em Macau em patacas, IP local, ou seja o Protocolo da Internet, que é um número único para cada ligação, ou ainda domínio do servidor, ou com .mo no endereço electrónico, também são consideradas locais e estão sujeitas a esta lei.

A lei em causa foi aprovada na generalidade em Março, mas apenas ontem reuniu pela segunda vez, após a primeira reunião em Abril. Sobre este aspecto, Ho Ion Sang explicou que os deputados tiveram de esperar respostas do Governo, que chegaram num documento de 40 páginas. O presidente da comissão defendeu ainda o Executivo e explicou que o diploma é muito complexo, pelo que precisa de uma análise muito cuidada.

23 Jul 2019

Patriotismo | Chui pede aos jovens para retirarem “lições da História”

[dropcap]O[/dropcap] Chefe do Executivo, Chui Sai On, esteve ontem presente em Hebei, na China, onde participou numa sessão de intercâmbio entre estudantes universitários e representantes de jovens de Macau e de Hebei. Citado por um comunicado oficial, Chui Sai On disse “esperar que as novas gerações dos dois territórios retirem conjuntamente lições da história, vivam o presente, enfrentem o futuro e aproveitem a sua juventude”.

Também o director do Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau, Fu Ziying, aconselhou os jovens a “não esquecerem a história e a transmitirem o espírito patriótico”, tendo destacado a importância de continuar a implementar o princípio “Um País, Dois Sistemas”.

Os representantes dos jovens de Macau de Hebei afirmaram que “todos devem estudar com afinco, compreender e colocar em prática os seis desejos do Presidente Xi Jinping para a juventude chinesa na nova era, referidos na sessão comemorativa do 100º aniversário do Movimento Quatro de Maio”.

23 Jul 2019

Chefe do Executivo | Ho Iat Seng angaria 378 assinaturas do colégio eleitoral

378 dos 400 membros do colégio eleitoral apoiam a candidatura de Ho Iat Seng a Chefe do Executivo. Na prática, o apoio avassalador significa que não há lugar para mais ninguém na corrida ao mais alto cargo do Governo. Ho Iat Seng entregou ontem o boletim de candidatura nos Serviços de Administração e Função Pública

 

[dropcap]O[/dropcap] forte suporte ao candidato favorito a Chefe do Executivo já era expectável, mas a recolha de 378 assinaturas dos membros do colégio eleitoral por Ho Iat Seng afasta a possibilidade de haver adversários. Entre os 400 membros do colégio eleitoral, cerca de 95 por cento, expressaram o apoio ao ex-presidente da Assembleia Legislativa (AL).

Para formalizar a candidatura a Chefe do Executivo, cada candidato tinha de reunir, pelo menos, 66 assinaturas de membros do colégio eleitoral. Cada membro só pode apoiar um candidato. Desta forma, restam apenas 22 apoios, número insuficiente para que qualquer um dos outros 12 residentes que levantaram boletim de propositura, possa ser considerado.

“Consegui 378 assinaturas de todos os sectores”, disse Ho Iat Seng ontem, ao início da tarde quando entregou o boletim de propositura nos Serviços de Administração e Função Pública, na Rua do Campo. O prazo de entrega dos boletins termina hoje, mas o ex-presidente da AL não quis correr riscos “em caso de tufão”.

O facto de não haver concorrentes não vai deixar Ho com “uma atitude passiva”, que pretende continuar a ouvir as preocupações da população, referiu. “Agora vou ouvir os residentes na rua”, disse.

Nas declarações aos jornalistas, o candidato recordou que ao longo das últimas duas semanas tem feito os possíveis para auscultar as opiniões dos vários sectores da população local. Ho sublinha que os encontros que manteve não se restringiram a membros da comissão eleitoral, mas abrangeram associações ligadas a vários quadrantes da sociedade e que não participam do núcleo que vai decidir o próximo Chefe do Executivo.

Questionado sobre o facto de estas visitas terem incidido sobre o “sector mais tradicional”, o candidato apontou que “em Macau não há partes opostas na sociedade”. “Visitei diferentes sectores com pessoas diferentes. Não podemos etiquetar as diferentes faixas como opostas”, apontou na mesma ocasião.

“Já visitei mais de 70 associações nestes 15 dias e as que não visitei podem contactar na minha sede de candidatura. Nós não rejeitamos ninguém e se nos contactarem são bem-vindas”, acrescentou.

Agora segue-se a preparação do programa político que será apresentado à Comissão de Assuntos Eleitorais do Chefe do Executivo no próximo dia 10 de Agosto, altura em que também arranca o período de campanha eleitoral.

23 Jul 2019

Deputados aguardam dados sobre o Fundo de Pensões prometidos para Julho

[dropcap]A[/dropcap] Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas da Assembleia Legislativa (AL) ainda aguarda as conclusões do relatório actuarial, que o Governo ficou de apresentar entre Junho e Julho de 2019, com projecções actualizadas dos activos do Fundo de Pensões, para poderem analisar a necessidade de injecções de verbas regulares e solicitar outras formas de capitalização.

Na ordem do dia estão as preocupações dos funcionários públicos e aposentados, após as últimas previsões, que remontam a 2014, apontarem para a falta de cobertura para o pagamento de pensões e subsídios de sobrevivência face às receitas dos contribuintes em 2022, e para o esgotamento total dos activos em 2031.

Na reunião de ontem, o presidente da Comissão, Mak Soi Kun, reafirmou que o Executivo garantiu a liquidez do Fundo para os compromissos assumidos com os aposentados e pensionistas, mas os deputados também estão à espera de respostas.

“Esse relatório actuarial, segundo nos foi dito pelo Governo, estaria concluído no mês de Junho ou Julho, mas a comissão ainda não o recebeu. Esperamos que nos seja disponibilizado em breve, porque muitos trabalhadores da função pública também manifestaram a sua preocupação sobre a situação financeira do Fundo de Pensões. O Governo esclareceu que não vai haver problema, podem ficar descansados. No entanto, a Comissão está interessada em saber como é que será feita uma eventual injecção de capitais e quando, se for caso disso. Mas tudo dependerá do relatório actuarial”, comentou.

O relatório, encomendado pelo Executivo a uma entidade terceira, deverá avaliar os activos do Fundo de acordo com os actuais valores de mercado, para se poder analisar a necessidade de injecções de verbas regulares e solicitar outras formas de capitalização, além da carteira de investimentos financeiros, obras de arte e propriedade imobiliária que já possui. Uma das sugestões apresentadas pela Comissão em anteriores reuniões foi a venda das obras de arte – nomeadamente, a valiosa colecção de pintura japonesa antiga – cuja valorização em três décadas foi quase nula e cujas despesas de armazenamento em segurança vão subir este ano, de mil para cinco mil patacas anuais.

Sugestões de futuro

Os deputados elaboraram também, no encontro de ontem, uma lista de opiniões e sugestões a entregar ao Executivo, onde solicitam que o relatório de contabilidade do Fundo de Pensões, que anualmente publica as demonstrações financeiras, “deve incluir também as respectivas anotações, para que os subscritores dos regimes de aposentação e de sobrevivência, bem como o público geral, possam conhecer a situação financeira real e concerta. Antes não vinha acompanhado de anotações e agora nós fizemos essa recomendação”, acrescentou Mak Soi Kun.

O responsável pela Comissão pretende também que o Governo defina com exactidão planos viáveis para afectar verbas ao Fundo, que garantam a cobertura dos pagamentos e encargos. E pede que seja rapidamente anunciada uma calendarização para a injecção de capitais – que até aqui tem acontecido de forma irregular e consoante a necessidade – para tranquilizar os trabalhadores quanto ao futuro dos seus benefícios.

23 Jul 2019

Tang Kwok Kwong, académico: “O Marxismo cria problemas”

Natural de Hong Kong, Tang Kwok Kwong sempre defendeu igualdade de oportunidades para todas as pessoas. Foi este pensamento que o levou a enveredar pela carreira académica na especialidade de confucionismo. O professor da Universidade de Macau defende que a filosofia antiga chinesa pode servir de instrumento para mudar um mundo cada vez mais egoísta e alienado. O “caminho da humanidade” é a proposta que apresenta

 

 

Como começou o seu interesse pela área do confucionismo?

[dropcap]C[/dropcap]omecei ainda muito novo. Há cerca de 50 anos. Naquela altura, vivia em Hong Kong e sendo chinês não tinha qualquer estatuto social debaixo da soberania do Governo britânico. Era um tempo muito difícil para nós em Hong Kong. Nessa altura, qualquer jovem chinês acabava por ter de fazer serviço civil para o Governo colonial e eu não queria que a minha vida fosse aquilo. Achava que era humano, como os outros. Já defendia que as oportunidades devem ser iguais para todos. Achei também que era altura para lutar por isso: para que todos tivessem oportunidades iguais e ser um exemplo de que isso podia ser possível. O facto de todos terem direito a oportunidades não quer dizer que todos tenham os mesmos bem materiais ou o mesmo estatuto social, mas sim que tenham a opção de seguir a sua vontade, o seu curso na vida, as suas preferências profissionais e pessoais. Acabei por conseguir ir para a universidade e fui o único aluno a continuar os estudos académicos e a seguir para doutoramento na Universidade Chinesa de Hong Kong. Escolhi o estudo do confucionismo ao mesmo tempo que pesquisava o pensamento ocidental.

Porquê essas duas vertentes?

Acho que devemos ter mente aberta e pensamento activo se queremos ascender a uma abordagem que vá além do confronto. Depois devemos levar este tipo de abordagem aos outros. Acabei por vir para Macau dar aulas há 27 anos e através do ensino daquilo que aprendi e continuo a aprender, espero fazer chegar aos outros a ideia de que todos temos um lugar no mundo e igual acesso a oportunidades desde que as queiramos.

De que forma o confucionismo vai de encontro a isso?

A nível pessoal, por exemplo, estudar confucionismo é uma opção institucional para seguir uma carreira académica, e seguir esta carreira é uma forma de promover o benefício público, o que vai de encontro à própria teoria. Não podemos estagnar no campo da literatura académica. Devemos sim promover os nossos estudos e pesquisas de modo a que possam ser aplicadas à sociedade. Ou seja, é necessário dissolver apenas a busca do conhecimento académico e chegar à sociedade para que possam entender o que se faz e para o que serve e usar esse conhecimento. Se olharmos agora para Hong Kong, actualmente podemos questionar o que estaria a acontecer se o Governo e as pessoas soubessem de facto o que estão a fazer. Se soubessem, ao longo dos últimos 20 anos, a situação não teria chegado a este ponto. Trata-se de uma situação muito delicada em que todos perderam a cabeça quando se considera a situação geral e um esforço comum para o futuro. No confucionismo há um conceito que se aplica a quem governa – 仁义王位 (renyi wangwei) – que, apesar de complexo, significa que quem está a frente do Governo deve ser reconhecido por governar com benevolência ou por ter conquistado esse lugar dada a sua rectidão, humanidade e virtude, ou seja, que tem em consideração um todo e um esforço comum para o futuro. Também quer dizer que, de acordo com a minha condição de pessoa, faço o melhor possível. Este ano, a instabilidade social fez-me pensar na estagnação social. É preciso uma troca de conhecimentos mais inteligente com o campo académico. Nós podemos ajudar com os nossos conhecimentos Macau e Hong Kong para perceberem que é necessário dar mais atenção ao amor à população e ouvir os seus sentimentos. Não é só querer impor uma questão política, é preciso pensar na população com amor. Por isso, estudei o confucionismo, que não é apenas interpretar o que o autor disse. O que ele disse já foi muitas vezes dito por muitas pessoas. Precisamos de entender na nossa situação actual, real, em que é que se aplica. A isto chama-se filosofia. É uma forma de resolver os conflitos da religião. Trata-se de uma questão que ultrapassa a questão material.

Os Governos deveriam ter mais em conta a filosofia?

A Ásia está a viver um momento em que as pessoas apenas procuram o sucesso, principalmente financeiro. Isto não é em si um problema, precisamos de uma crença, de um pensamento comum que vá de encontro aos direitos humanos. Ou seja precisamos daquilo a que a filosofia chinesa chama de 人道 (rendao), que se pode traduzir aqui pelo caminho do Homem, da humanidade. E é este caminho que tem que ser partilhado por Macau e Hong Kong. Se não conseguirmos encontrar esta via, de uma forma pacífica, de uma forma que possa acalmar os receios que se vivem actualmente podemos desenvolver uma sociedade muito perigosa, uma sociedade separada. Isto aplica-se a todos os países e sociedades. Se os EUA não perceberem isto, se a Ásia não perceber isto, se a Europa e os outros continentes não perceberem isto, vai aparecer um caos invisível em que cada país apenas luta pelo seu próprio benefício. Esta via humana seria uma forma de voltar a dar valor à própria vida humana em sociedade.

É um pensamento muito humanista.

Sim. É. Isto não representa a exclusão dos bens materiais, mas implica pensar neles de um ponto de vista comum. No pensamento de Confúcio, por exemplo, o líder de uma escola deve ter em conta que a escola não é ele, mas sim todos os que nela participam. O mesmo acontece com o Governo. Um líder de um país não deve dizer que o país é seu, porque um Governo só o é tendo em conta a população. Além desta relação com as pessoas, só resta a ganância e o interesse privado. Chamo de via humana no sentido o apaziguamento deste desejo egoísta de possuir as coisas. A democracia não existe se existirem donos de países. É apenas uma forma de ditadura invisível, se assim for. Esta via humana é mais alta até do que a própria democracia. A este nível de realização do humano, todos podem ter um papel na administração pública.

Como é possível promover esse tipo de pensamento junto das pessoas?

Temos que libertar lentamente o sentimento de posse das pessoas. Isso pode ser alcançado através de uma verdadeira educação que tenha em conta o ensino que contemple a consideração pelos outros e o respeito a si e aos outros.

Hoje em dia, isso é possível? Actualmente, a sociedade caminha para um egoísmo crescente.

De facto, tem razão e agora a tecnologia também tem um papel importante e tem desenvolvido ainda mais o sentimento de alienação das pessoas perante o mundo. Por exemplo, o telefone controla cada uma das pessoas e controla o todo também. As pessoas deixaram de olhar umas para as outras quanto tomam café, estão cada uma a olhar para o seu telefone. Este tipo de alienação, se não foi combatido através da educação, tudo tende a piorar. O que significa que o egoísmo se vai tornar também cada vez mais comum a todos.

Combater esta tendência não será uma utopia?

É difícil, mas há sempre a via da humanidade. A filosofia de Confúcio tem por base a própria vida. E deve ser por aí que a educação começa. Como aplicar este conceito – via do Homem – quando falamos de pesquisa para o nosso futuro? Podemos ter considerações mais sólidas nesta direcção e descobrir uma forma de libertar o sentido de posse e de egoísmo. Temos de o fazer aos poucos, um passo de cada vez. Mas o egoísmo está na natureza humana. Pelo menos, nalgum lugar da natureza humana e o confucionismo é baseado também na natureza humana. Confúcio já tinha entendido os seus desafios. Mas, ainda assim, percebeu que a par do lado mais obscuro da natureza humana também está o seu melhor lado. Um pouco à semelhança do taoísmo que reconhece o convívio de naturezas opostas e não só, que admite que é necessário este convívio e trabalhar no seu equilíbrio. Se a nossa consciência se esforçar por desenvolver o lado mais positivo da nossa natureza é mais fácil criar uma sociedade melhor, aponta o Confucionismo. É necessário, para isso, que cada um esteja atento a si mesmo. Isto dito é simples.

Tendo em conta este humanismo onde é que se encaixam as hierarquias sociais ou mesmo a vertente mais legalista do pensamento do autor?

As castas sociais não são uma consideração essencial de Confúcio. Ele enfatiza sim, como é possível ultrapassar o sistema de classificação social fixo. Uma pessoa que acredite num sistema de castas sociais fixas está a demitir-se do seu conhecimento e do seu caminho, do caminho humano. Esta classificação social e o conceito de classe social é um conceito fundamental há mais de 700 anos. Mais tarde, Karl Marx formou uma teoria baseada no conflito de classes. Tudo isto é muito trágico para mim. Em primeiro lugar, é uma forma de criar problemas. O Marxismo cria problemas por ser baseado no conflito e não ter em conta os aspectos mais positivos do ser humano. Mas para Confúcio este lado positivo existe, está em tudo e só precisa que exista auto-atenção por parte das pessoas para o perceberem ou para o atingirem. O Confucionismo elogia isso, enquanto o marxismo é oposto.

Talvez por isso não tenha tido muito sucesso.

Sim, agora todos podem ver que ninguém vai continuar a seguir o marxismo, incluindo a China. Apesar de ser um slogan político, na prática não tem significado.

Como é que a via humana pode ser aplicada a áreas como a economia?

Há cerca de 100 anos, o primeiro chinês a fazer uma tese em economia na Columbia University defendeu o princípio da economia confuciana. Ele tentou pegar no confucionismo para resolver os problemas económicos e provou que seria mais efectivo do que as práticas adoptadas pelo ocidente, em que existe a mão invisível que controla tudo e a que se chama de mercado. No mercado, os preços são calculados pela oferta e pela procura em que as variáveis não são dadas a conhecer às pessoas. É o mercado, a mão invisível, que é o princípio básico das economias ocidentais. Mas este autor, tendo em conta o bem público defendido por Confúcio, enfatizou a necessidade de investimento público para garantir medidas que regulem os preços deste mercado. Neste sentido, o Governo deve interferir no mercado, para proteger a população. Se por exemplo, existir uma mudança súbita e as dificuldades que aparecem com ela implicarem o aumento muito alto dos preços em determinada área, o Governo deve intervir de modo a conseguir garantir o armazenamento de um bem, que possa estar em falta, em quantidade suficiente de forma a que os preços se equilibrem. Desta forma, o Governo aumenta a estabilidade e permite às pessoas que acreditem na satisfação das suas necessidades. Este é um princípio confucionista. Este autor percebeu isto por volta de 1920, altura em que a América viveu uma grande depressão económica. Este princípio acabou por ser aplicado e hoje em dia a economia já é, de facto, baseada no modelo de economia social confucionista. Há 100 anos não existia este conceito. Se Karl Marx tivesse vivido nesta altura teria percebido que há um ser humano mais alto. O confucionismo diz isso e a sua aplicação resolveria os problemas que vivemos actualmente.

23 Jul 2019

Trump considera “responsável” atitude de Xi Jinping face aos protestos de Hong Kong

[dropcap]O[/dropcap] Presidente dos EUA, Donald Trump, sublinhou ontem que o seu homólogo da China, Xi Jinping, “actuou responsavelmente” nas grandes manifestações em Hong Kong contra uma proposta de lei de extradição que facilitaria o envio para Pequim de “fugitivos” refugiados.

“Julgo que o Presidente Xi da China actuou responsavelmente, muito responsavelmente. Estão a protestar há muito tempo”, disse Trump em declarações aos jornalistas na Casa Branca ao receber o primeiro-ministro paquistanês, Imran Khan.

“Sei que é uma situação muito importante para o Presidente Xi (…). Se quisesse, a China poderia parar os manifestantes”, acrescentou Trump, que adoptou um tom cauteloso face aos protestos nas ruas de Hong Kong. No domingo, dezenas de milhares de pessoas regressaram às ruas para exigir reformas.

As manifestações, que se iniciaram há sete semanas, evoluíram da contestação à lei da extradição, que permitia o envio para a China de “fugitivos” ou suspeitos de crimes refugiados no território de Hong Kong, até reivindicações mais amplas sobre a melhoria dos mecanismos democráticos da cidade, cuja soberania foi recuperada pela China em 1997 com o compromisso de manter até 2047 as estruturas erguidas pela colonização britânica.

Os críticos consideram que a lei intimidará e penalizará os críticos e dissidentes do regime chinês, enquanto os seus defensores asseguram que procura preencher um vazio legal, por não existirem fórmulas legais de extradição entre Taiwan, Hong Kong e a China continental.

No entanto, vários analistas consideram que a China está a tentar acelerar o processo de assimilação da ex-colónia britânica, um processo que regista a firme oposição de parte da população de Hong Kong.

Os EUA e a China estão envolvidos numa guerra comercial face às medidas proteccionistas impulsionadas por Trump desde a sua chegada ao poder. Em finais de Junho, Trump e Xi concordaram em estabelecer uma nova trégua na guerra comercial durante a reunião do G20 no Japão, com Washington a congelar a imposição de novas tarifas à China e a permitir que empresas norte-americanas vendam produtos da tecnologia Huawei.

No entanto, os EUA vão manter as tarifas aplicadas a produtos chineses num valor de 250 mil milhões de dólares, enquanto a China continua a manter as suas taxas a diversas importações norte-americanas por um total de 110 mil milhões de dólares.

23 Jul 2019

Beijing Capital Airlines inaugura voo Lisboa-Xian-Pequim na próxima semana

[dropcap]A[/dropcap] Beijing Capital Airlines inaugura na próxima semana a ligação entre Lisboa-Xian-Pequim, uma rota aérea que, segundo o secretário de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, resultou do esforço diplomático entre os dois países.

“A nova rota vai permitir que não só turistas, mas também empresários, investigadores, professores e estudantes universitários encontrem forma de ir de um território para o outro”, disse o governante, durante a cerimónia oficial de inauguração da rota, que decorreu hoje em Lisboa.

A nova rota, anunciada no mês passado por fonte da empresa à agência Lusa, arrancará com três frequências semanais a partir de dia 30 de Agosto e vai substituir a ligação directa entre Hangzhou, costa leste da China, e Lisboa, com paragem em Pequim, suspensa em Outubro do ano passado. Será operada por aviões Airbus A330, com capacidade máxima para 440 passageiros.

Durante a cerimónia de hoje, o presidente do Turismo de Portugal, Luís Araújo, destacou igualmente a importância da parceria Portugal-China, lembrando que em 2019 se celebrará o 40.º aniversário do estabelecimento oficial de ligações diplomáticas entre os dois países.

Recordou também que em 2018 Portugal recebeu mais de 315 mil turistas chineses, num crescimento médio anual nos últimos três anos de 25 por cento, o que motiva a manter uma relação “cada vez mais próxima” com a China e todos os parceiros.

Luís Araújo citou ainda os números recentemente divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) a dar conta que, nos primeiros cinco meses deste ano, a China é o segundo país com maior crescimento para Portugal, de 17,1 por cento. “A existência de boas ligações aéreas é fundamental para o crescimento do número de turistas que nos visita”, defendeu.

22 Jul 2019

Hong Kong | Clube de Correspondentes protesta em silencio amanha contra acção da polícia

[dropcap]O[/dropcap] Clube de Correspondentes Estrangeiros de Hong Kong (FCC na sigla inglesa) organiza amanhã, a partir das 9h30, um protesto silencioso contra a agressão de que jornalistas foram vítimas no último domingo. De acordo com um comunicado, os manifestantes irão empunhar uma faixa com a mensagem “Sim à liberdade de imprensa, não à violência contra jornalistas”.

No mesmo comunicado é referido que, de acordo com a lei vigente em Hong Kong, os jornalistas e correspondentes “tem o direito a cobrir este tipo de protestos”. “O FCC expressa uma grande preocupação sobre jornalistas que, envergando o cartão de identificação, foram alvo da polícia durante os ataques com gás lacrimogéneo e outras formas usadas para controlar a multidão durante os recentes protestos que resultaram da apresentação, por parte do Governo, da lei da extradição.”

“Condenamos o uso de qualquer força contra jornalistas durante estes protestos e exigimos uma investigação independente às alegações feitas por jornalistas e outras testemunhas do uso da força pela polícia. Exigimos também que essas investigações sejam feitas de forma minuciosa e transparente”, lê-se ainda.

Este domingo houve confrontos violentos junto ao edifício que alberga o Gabinete de Ligação do Governo Central em Hong Kong e também na zona dos Novos Territórios, na estação de metro de Yuen Long. O South China Morning Post escreveu que os ataques, levados a cabo por um grupo de pessoas de cara tapada e envergando camisolas brancas, terão sido organizados por tríades. Vários relatos apontam para uma intervenção tardia das autoridades policiais.

22 Jul 2019

Exército chinês realiza exercícios anti-terrorismo perto de Hong Kong

[dropcap]O[/dropcap] exército chinês anunciou hoje que realizou exercícios anti-terrorismo na província de Guangdong, que faz fronteira com Hong Kong, um dia após manifestantes terem atacado o edifício do Gabinete de Ligação do Governo central em Hong Kong.

A 74.ª Brigada do Exército de Libertação Popular não refere no comunicado os protestos em Hong Kong, mas o analista militar e oficial aposentado Yue Gang disse que os exercícios mostram que as tropas estão prontas para intervir no território.

Os manifestantes grafitaram e lançaram ovos contra a fachada do edifício do Gabinete de Ligação, no domingo, quando quase meio milhão de pessoas desfilou nas ruas de Hong Kong contra as emendas na lei da extradição e a exigir um inquérito independente sobre a actuação da polícia em manifestações anteriores.

O ataque danificou o emblema nacional da China, que está pendurado na frente do prédio, ao manchá-lo com tinta preta. O emblema foi substituído por um novo em poucas horas.

O Global Times, jornal oficial do Partido Comunista Chinês, informou que o exercício, realizado na cidade de Zhanjiang, simulou uma resposta para uma onda de violência ou terrorismo.

A contestação nas ruas, que dura há sete semanas, foi iniciada contra um projecto de lei que permitiria extradição para o continente chinês. A proposta foi, entretanto, suspensa, mas as manifestações generalizaram-se e são agora contra o que os manifestantes afirmam ser uma “erosão das liberdades” na antiga colónia britânica.

22 Jul 2019

As primeiras embaixadas católicas à China

[dropcap]O[/dropcap] Cristianismo entrou de novo na China em 1583 através do padre jesuíta Matteo Ricci (cujo nome em chinês era Li Ma-tou), a trabalhar no Padroado Português, reinava ainda a dinastia Ming. Longe da memória estavam já os privilégios dos cristãos durante a anterior dinastia, a Yuan dos mongóis. Nos artigos ‘Os primeiros cristãos na China’ e ‘Os primeiros católicos na China’ publicados no HojeMacau a 19 e 26 de Fevereiro de 2016 a História contada leva-nos a deixar aqui um aditamento para a complementar.

O franciscano Frei Lourenço de Portugal em 5 de Março de 1245 foi designado pelo Papa Inocêncio IV (1243-1254) embaixador ao Khan dos mongóis, enquanto outra expedição aos mongóis da Pérsia (os Il-Khan) era feita pelos dominicanos. Na China dominavam já a Norte os mongóis. Frei Lourenço tinha sido ministro provincial da Província de Santiago de Compostela e o Papa nomeou-o Penitenciário Apostólico em S. João de Latrão, passando dois anos como Legado Apostólico no Oriente, durante o conflito entre Roma e Bizâncio. Mas só regressou à Santa Sé em 1248 e assim não foi como embaixador ao Oriente, pois logo em 1245 o Papa enviara à corte mongol o italiano Giovanni del Carpini. Este chegou a 22 de Julho de 1246 à capital Karakorom, onde existia uma tenda a fazer de capela nestoriana. Trazia uma carta para o “Rei e povo tártaro” e vinha negociar com o novo Khan, Guyuk, uma aliança contra o Islão, pois pensava-se ser a campanha mongol contra o Islão. A missão de del Carpini nada conseguiu por não levar presentes e também não prestou homenagem, não se tendo prostrado perante o khan, pois só se prostrava perante Deus. Assim falhou esta embaixada, tal como a de 1252, quando o Rei de França Luís IX mandou o franciscano Guilherme de Ruysbroeck à corte dos Khan, com resultados iguais aos da primeira missão. Chegaram no ano seguinte e encontraram uma grande tolerância dos mongóis à religião, havendo nestorianos, budistas e islamitas na corte.

Os irmãos Pólo, Mafo e Nicolo, o pai de Marco Pólo, encontraram-se com os nestorianos quando chegaram em comércio ao reino dos mongóis. Recebidos por Kublai Khan, o imperador Shi Zu, fundador da Dinastia Yuan, na sua nova capital Khambaliq (Beijing), construída em 1267. O Grande Khan em 1269 nomeou-os embaixadores e partiram para em seu nome pedirem ao Papa o envio de cem sábios, sendo mandados para a China apenas dois dominicanos que nunca lá chegaram.

Em 1286, o Khan da Pérsia, Argun enviou a Roma o nestoriano Bispo Rabban Sauma (Bar Sauma, 1225-1294, mais tarde Vigário-Geral da China, título que recebeu do Patriarca nestoriano de Bagdad, segundo António Carmo) a dizer estar Kublai Khan disposto a receber os católicos.

Franciscanos com os mongóis na China

Meritório trabalho de missionário realizou o franciscano Giovani Montecorvino, escolhido como Legado e Núncio da Santa Sé pelo primeiro Papa franciscano Nicolau IV (1288-1292). Montecorvino partiu em 1291 “cheio de presentes e munido de cartas para o Khan Argun, para o grande Imperador Kublai Khan, para Kaidu, príncipe dos Tártaros, para o Rei da Arménia e para o Patriarca dos Jacobitas. Os seus companheiros eram o dominicano Nicolau de Pistoia e o comerciante Pedro de Lucalongo”, segundo o P. Manuel Teixeira.

Estava investido de toda a autoridade para tratar com o grande Khan, mas ao chegar a Dadu (Beijing) em 1294, ficou a saber ter Kublai Khan morrido e Timur (Imperador Cheng Zong, 1294-1307) sucedido no trono. Este, sem ser Cristão, não pôs obstáculos ao zelo missionário que ali se estabeleceu e pôde-se pregar livremente o Evangelho. Montecorvino em 1300 baptizara já seis mil cristãos quando lhe foi permitida a construção de uma igreja em Dadu e cinco anos depois.

“Em 1305 levantou uma segunda igreja mesmo em frente do palácio do Imperador, juntamente com oficinas e habitações para duzentas pessoas. Aqui reuniu cerca de cento e cinquenta rapazes, de sete a onze anos de idade, ensinou-lhes latim e o grego e estabeleceu as horas canónicas cantadas, como nos seus conventos da Europa, com grande gosto do Imperador, que se deleitava a ouvir as vozes melodiosas das crianças. Eram também estas crianças que faziam o ofício de acólitos, ajudando à missa”, segundo o padre Manuel Teixeira, que refere Montecorvino “familiarizou-se com a língua nativa, podendo assim pregar e traduzir para chinês o Novo Testamento e os Salmos. As maiores dificuldades e obstáculos encontrados na árdua empresa da evangelização da China vieram-lhe da parte dos nestorianos, que então abundavam na China.”

Os sucessos da missionação de Giovani Montecorvino levaram o Papa Clemento V (1305-1314) a enviar sete bispos franciscanos encarregados de o consagrar pela bula Summus Archiepiscopus, mas a Dadu só chegaram três, Geraldo, Peregrino e André de Perúgia. Estes em 1308 nomearam-no Arcebispo de Pequim e Patriarca de todo o Oriente e rumando para Quanzhou sucederam-se uns aos outros como bispos na Sé de Zaiton, estabelecida por Montecorvino. Em 1312, o Primaz de Pequim e de todo o Extremo Oriente recebia mais três novos prelados franciscanos e instituía novas dioceses, para além das já existentes. Depois de trinta e oito anos de vida apostólica na China, Giovanni Montecorvino, com 81 anos, morreu na sua sede Arquiepiscopal de Pequim em 1328. Dez anos após a sua morte, o último dos soberanos da dinastia mongol Yuan, Shun Di (1333-1368), enviou ao Papa uma embaixada, solicitando o envio de mais missionários e um outro legado pontifício. Apelo correspondido, pois o Papa Bento XII nomeou João de Marignoli legado pontifício, seguindo com ele mais vinte e dois padres, que chegaram em 1342 a Dadu, após uma viagem de quatro anos. Mas Marignolli, apercebendo-se que os mongóis nunca conseguiriam conquistar a estima das populações que ocupavam, regressou à Europa em 1345.

Então, o Papa Inocêncio VI ordenou ao superior dos franciscanos o envio de missionários para a China, sendo nomeados três bispos para a Sé de Dadu, mas nenhum aí chegou.
O Khan da Pérsia, Timur (1336-1405) em 1362 começou a perseguir os cristãos, levando à dispersão destas comunidades para a Índia do Sul. Quando o católico quarto bispo de Quanzhou, Giacomo da Firenze foi martirizado em 1363, encerrou-se mais um ciclo da evangelização cristã na China.

Na China, a queda da Dinastia Yuan deu-se em 1368 e com a chegada dos sedentários chineses Han, que formaram a Dinastia Ming, os cristãos saíram do país e acompanharam os mongóis para as terras do Norte.

Durante a Dinastia Yuan, os franciscanos converteram mais de trinta mil chineses, maioritariamente de etnia mongol e como os católicos foram seus protegidos, quando a Dinastia Ming se sentou no trono da China proibiu o Cristianismo. Só duzentos anos depois, em 1583, o jesuíta Matteo Ricci conseguiu reestruturar a missão Católica na China, esquecido que estava o período de terror na qual a população chinesa Han vivera, pois classificada no nível mais baixo do escalão social mongol.

22 Jul 2019

Observações

[dropcap]K[/dropcap]ou Hoi In é o novo presidente da Assembleia Legislativa (AL). Espero que tudo lhe corra bem e que se mostre à altura do cargo. Mas, e quero estar enganado, não acredito que tenha competências para a posição. Kou tem um percurso no hemiciclo cheio de manchas.

Foi um dos homens por trás do projecto de resolução que tentava dizer aos tribunais o que podem fazer, o que é muito preocupante e mostra a falta de noção sobre a separação de poderes. Foi o presidente da Comissão de Regimento e Mandatos que andou a fazer reuniões ilegais sem que os outros deputados tenham sido avisados. Também não conseguiu apresentar uma justificação para a forma como contrariou o regimento.

No meio destes casos, o esquecimento de dizer Macau no juramento é um coisa mínima… Pode ser muito simbólico, mas erros todos comentemos. Interessante também foi analisar as dinâmicas entre governantes durante a primeira cerimónia de juramento de Kou Hoi In. Mi Jian está a ser investigado e nota-se claramente que é tóxico. Foram muito poucos os colegas de Governo que se aproximaram dele.

Ainda na mesma cerimónia, outro apontamento interessante. O Governo tem uma hierarquia e a sala VIP não é para todos. Um secretário entra, mas o chefe de departamento não… Wong Sio Chak e Alexis Tam estivaram na sala VIP, já Raimundo do Rosário preferiu misturar-se com a ralé política. Será Raimundo o secretário “da malta”? Ou está apenas a desfrutar a liberdade de não ter ambições políticas?

22 Jul 2019

Ataque ao Gabinete de Ligação em Hong Kong é insulto ao povo chinês, diz representante

[dropcap]O[/dropcap] representante do governo de Pequim em Hong Kong condenou hoje o ataque ao edifício do Gabinete de Ligação na região vizinha, no domingo, afirmando que os manifestantes insultaram “todo o povo chinês”.

“Estas (acções) prejudicaram gravemente o espírito de Estado de Direito ao qual Hong Kong está profundamente ligado (…) e ofenderam seriamente todo o povo chinês, incluindo os sete milhões de compatriotas de Hong Kong”, afirmou Wang Zhimin, chefe do Gabinete de Ligação de Pequim, aos jornalistas.

Num comentário difundido na primeira página, e intitulado “O Governo central não pode ser desafiado”, o Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista Chinês, considerou as acções dos manifestantes “intoleráveis”.

Os manifestantes grafitaram e lançaram ovos contra a fachada do edifício do gabinete, no domingo, quando quase meio milhão de pessoas desfilou nas ruas de Hong Kong contra as emendas na lei da extradição e a exigir um inquérito independente sobre a actuação da polícia.

O ataque danificou o emblema nacional da China, que está pendurado na frente do prédio, ao manchá-lo com tinta preta. O emblema foi substituído por um novo em poucas horas.

Mais tarde, num novo desenvolvimento no movimento, os manifestantes que tentavam voltar para casa foram atacados dentro de uma estação de metro, por assaltantes que pareciam ter como alvo manifestantes pró-democracia.

Pelo menos 45 pessoas ficaram feridas e 22 permanecem hospitalizadas, incluindo um homem em estado grave. Outras 14 pessoas ficaram feridas quando a polícia usou gás lacrimogéneo para expulsar os manifestantes no centro de Hong Kong. A polícia disse que os manifestantes atiraram tijolos e bombas de gasolina e atacaram a sede da polícia.

A contestação nas ruas, que dura há sete semanas, foi iniciada contra um projecto de lei que permitiria extradição para o continente chinês. A proposta foi, entretanto, suspensa, mas as manifestações generalizaram-se e denunciam agora o que os manifestantes afirmam ser uma “erosão das liberdades” na antiga colónia britânica.

22 Jul 2019

Quase meio milhão de pessoas em protesto nas ruas de Hong Kong

[dropcap]Q[/dropcap]uase meio milhão de pessoas desfilaram ontem nas ruas de Hong Kong contra as emendas na lei da extradição e a exigir um inquérito independente sobre a actuação da polícia, indicou o movimento que organizou o protesto.

O número de 430 mil manifestantes foi avançado pela Frente Cívica de Direitos Humanos na aplicação de mensagens instantâneas Telegram, naquele que foi a terceira grande manifestação promovida pelo movimento. A primeira, a 9 de Junho, terá juntado um milhão de pessoas. A segunda, a 16 de Junho, dois milhões, números que foram sempre contestados pelas autoridades de Hong Kong, que apontaram sempre para uma adesão mais reduzida.

A informação foi divulgada poucos minutos depois da polícia de Hong Kong ter avisado que se prepara para agir sobre algumas centenas de manifestantes que ocuparam zonas centrais da cidade em protesto contra as emendas da lei da extradição “devido à escalada de violência”.

“Os participantes da manifestação pública devem tomar o transporte público e partir o mais rápido possível”, avisou a polícia na sua página na rede social Facebook.

As forças de segurança querem dispersar os manifestantes que, depois de participarem na marcha durante a tarde de hoje, se dirigiram ao edifício do gabinete de ligação de Pequim no território, bloquearam várias ruas e ocuparam acessos ao quartel general da polícia e ao parlamento.

“Esta tarde, depois de participantes de uma manifestação pública chegarem a Wan Chai, alguns prosseguiram, bloqueando estradas, vandalizando carros e paredes dos edifícios. Em face da escalada da violência, a polícia conduzirá uma acção para desimpedir” a área, pode ler-se na mesma publicação da polícia de Hong Kong.

A polícia apelou ainda à população para evitar deslocar-se para o palco dos protestos ou áreas adjacentes e que residentes e trabalhadores garantam a sua segurança pessoal e fiquem atentos às informações da polícia.

Apesar das manifestações serem maioritariamente pacíficas, manifestantes e polícia confrontaram-se já nas ruas da antiga colónia britânica. Dois dos protestos, a 12 de Junho e a 1 de Julho, foram marcados por violentos confrontos entre manifestantes e a polícia, que chegou a usar balas de borracha, gás pimenta e gás lacrimogéneo. A 1 de Julho, os manifestantes invadiram mesmo o Conselho Legislativo (LegCo, parlamento local) de Hong Kong.

A contestação nas ruas, iniciada contra um projecto de alteração, entretanto suspenso, à lei da extradição, generalizou-se e denuncia agora o que os manifestantes afirmam ser uma “erosão das liberdades” no território.

A chefe do Governo de Hong Kong, Carrie Lam, admitiu que a lei estava “morta”, sem conseguir convencer os líderes dos protestos. Pequenas acções e manifestações continuam a ser organizadas na cidade para exigir que o Governo responda a cinco reivindicações: retirada definitiva da lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que os protestos de 12 de Junho e 1 de Julho não sejam identificados como motins, um inquérito independente à violência policial e a demissão de Carrie Lam.

Apresentadas em Fevereiro, as alterações permitiriam ao Governo e aos tribunais da região administrativa especial chinesa a extradição de suspeitos de crimes para jurisdições sem acordos prévios, como é o caso da China continental.

22 Jul 2019

Imagem de fotojornalista português seleccionada para exposição colectiva em Nova Iorque

[dropcap]O[/dropcap] fotojornalista português Gonçalo Lobo Pinheiro, radicado em Macau, foi seleccionado para a exposição colectiva de fotografia “Documenting Humanity” em Nova Iorque, que inaugura terça-feira.

A competição foi promovida pelo 24HourProject e o fotógrafo português “é o único representante português dos 80 escolhidos em centenas de participantes de diversas partes do mundo e milhares de fotografias”, pode ler-se num comunicado divulgado pelo próprio.

A imagem escolhida é o retrato da trabalhadora indonésia Ratna Khaleesy, intitulada de “Hope and belief”, distinguida em diversos prémios de fotografia desde o início do ano, entre as quais se destaca o prémio de fotojornalismo português Estação Imagem ou o Festival della Fotografia Etica, em Itália.

“Estou muito contente por mais esta distinção. Os últimos dois anos, em particular, têm sido muito gratificantes no que diz respeito ao reconhecimento do meu trabalho internacionalmente com alguns prémios e exposições de fotografia. Fico honrado pelos meus pares verem nas minhas fotografias qualidade relevante para serem destacadas”, afirmou Gonçalo Lobo Pinheiro, citado na mesma nota.

22 Jul 2019

Futebol | Sulu Sou pede a adeptos protestem contra a associação

O deputado apela aos adeptos que se deslocarem ao encontro entre o R&F Guangzhou e o Southampton que levem camisolas pretas, como forma de protesto contra a Associação de Futebol de Macau, que impediu os jogadores de defrontarem o Sri Lanka

 

[dropcap]O[/dropcap] Torneio Internacional de Macau de Comemoração do 20.º Aniversário do Estabelecimento da RAEM, que opõem o R&F Guangzhou ao Southampton, foi a forma encontrada pelo deputado Sulu Sou para mostrar o descontentamento face à Associação de Futebol de Macau (AFM). O jogo está agendado para amanhã às 20h00,no Estádio de Macau e o pró-democrata pede aos adeptos que não desistam, vão logo às 18h00 e se vistam de preto.

“Os cidadãos que se preocupam com o desenvolvimento do futebol de Macau nunca vão esquecer a desgraça que foi perder por falta de comparência um jogo de qualificação para o Mundial da FIFA”, consta no texto do evento, na rede social facebook. “Apelamos a todos que aproveitem esta oportunidade para apoiarem os jogadores da selecção e mostrarem o descontentamento do com a AFM por irem ao jogo, logo às 18h00, vestidos de preto”, é acrescentado.

O jogo está a ser organizado pelo Instituto do Desporto, que distribuiu 10 mil bilhetes gratuitos para a partida. Os ingressos esgotaram e não têm lugares marcados. Foi por este motivo que o deputado ligada à Associação Novo Macau pediu aos interessados em mostrar a sua insatisfação que entrem pela porta número 23 e se concentrem nessa zona da bancada.

O grande catalisador para este protesto, segundo Sulu Sou, foi a decisão da AFM de desistir da primeira fase de pré-apuramento para o Mundial de 2022, depois de ter impedido a selecção de jogar a segunda mão da eliminatória no Sri Lanka. A escolha foi justificada com motivos de segurança, face aos ataques terroristas da Páscoa.

Equipas chegam hoje

Em relação ao encontro, as duas equipas chegam hoje a Macau, de acordo com o programa revelado pelo Instituto do Desporto. O Guangzhou arranca às 09h00 de Cantão e entra no território pelo Posto Fronteiriço de Cotai.

Já a comitiva do Southampton tem chegada marcada para Hong Kong em dois grupos, às 11h55 e 13h15 de hoje, e entra em Macau através do Posto Fronteiriço da Ponte Hong Kong-Macau-Zhuhai.

Mais tarde às 19h15, a equipa do Southampton tem um treino conjunto com os jogadores da selecção local. A sessão de trabalho é a porta fechada, pelo que o público não poderá assistir.

Já no dia da partida, alguns jogadores mais conhecidas da equipa britânica e da equipa chinesa têm agendada uma sessão de intercâmbio com juvenis da selecção de Macau, que tem a duração de uma hora. Esta actividade está agendada para as 09h00, no Campo de Hóquei do Centro Desportivo de Olímpico.

22 Jul 2019

Existe necessidade urgente de repensar a questão da identidade, diz Amin Maalouf

[dropcap]O[/dropcap] escritor e ensaísta Amin Maalouf, vencedor do Prémio Gulbenkian 2019 manifestou em entrevista à Lusa profunda “inquietação” pela actual situação mundial, onde deixou de existir “credibilidade moral”, e assinalou a urgente necessidade de “repensar” a questão da identidade.

“Não é uma questão simples. Não há uma solução milagrosa, estamos num mundo que atravessa um momento extremamente delicado, na minha perspectiva uma das coisas essenciais reside na necessidade de repensar a questão da identidade”, assinalou na sede da Fundação Gulbenkian, em Lisboa, onde na sexta-feira recebeu o Prémio Calouste Gulbenkian 2019 por um júri presidido por Jorge Sampaio e também justificado pela sua “promoção activa da fluidez cultural”.

Filho de pais libaneses – mãe nasceu no Egipto – Amin Maalouf, natural de Beirute, 70 anos, tem dupla nacionalidade libanesa e francesa e é apontado como um dos mais empenhados intelectuais na busca de um novo caminho de convivência multiétnica, multirreligiosa, multicultural.

No seu recente ensaio “O Naufrágio das Civilizações” (2019), vários anos após “As Identidades Assassinas” (1998), retoma a abordagem das diversas derivas e feridas do mundo presente. E no qual detecta uma relação de “causa-efeito” entre o naufrágio do Levante, a região do Mediterrâneo Oriental, do Médio Oriente, e o naufrágio de outras civilizações.

“Temos necessidade de mudar a atitude que consiste em resumir a identidade de uma pessoa a um aspecto, seja religioso, nacional ou outro, e é necessário ajudar as pessoas a assumir o conjunto da sua identidade, o conjunto da sua pertença. Quando algumas pessoas têm uma pátria de origem e uma pátria de acolhimento, é necessário que possam assumir plenamente a sua pertença às duas”, assinala o autor de “As Cruzadas Vistas pelos Árabes” (1983) e “Leão, o Africano” (1986).

O escritor, vencedor do Prémio Gouncourt em 1993 pelo seu livro “O Rochedo de Tanios” e que foi eleito para a Academia Francesa em 2011, sublinha o “importante trabalho a fazer para garantir uma coexistência harmoniosa”, que considera “o grande projecto” da época actual. “Mas tenho a impressão que não fizemos o suficiente por isso”, ressalvou.

A “má gestão” das questões em torno das identidades, em particular na região do Mediterrâneo Oriental, continua a manifestar-se, apesar de recordar que o século XX foi “desastroso” desse ponto de vista.

“Houve evidentemente a tragédia arménia, todas as tragédias que se sucederam, nem as contamos, toda essa região que era uma região de reencontro, de Sarajevo a Alexandria, de Bagdad a Constantinopla, toda essa região que tinha potencialidades gigantescas, que poderia ter sido um pólo de progresso para todo o mundo. Foi uma verdadeira tragédia o que aconteceu”, lamentou.

Na sua inquietação, Maalouf depara-se hoje com uma época de imensos sucessos, mas também de profundos fracassos, de uma ordem internacional em colapso, de um mundo árabe, “do meu Levante” como refere, que atravessa um dos momentos mais negros da sua história, da grande potência ocidental que perdeu a autoridade moral.

“Existem relações muito pouco saudáveis entre diversas partes do mundo, estamos num mundo que precisa de coexistência, de uma gestão serena das identidades, e não caminhamos nessa direcção”, sublinhou.

Lucidez é uma palavra muito presente no seu amplo vocabulário. “Temos necessidade de lucidez, frequentemente somos regidos seja por preconceitos seja por bons sentimentos… Penso ser necessário ver o mundo tal qual ele é, tentar compreender os mecanismos do problema, e tentar verdadeiramente resolvê-los”, sugeriu.

“O que me perturba sempre, e trata-se de uma característica da nossa época, é que falamos muito dos grandes problemas e temos a impressão de resolvê-los porque falámos deles. É verdade para o clima, é verdade para outras situações, falamos, os problemas estão presentes, agravam-se de uma década para a seguinte e não fazemos nada de decisivo para terminar com essa deriva”, acentuou.

O ensaísta, que viveu a sua infância no Líbano – “havia qualquer coisa no Líbano que era promissora, infelizmente a experiência não conseguiu manter essa promessa”, disse – depara-se com novos fenómenos que acentuam a inquietação que percorre a sua obra.

“Já ninguém possui uma verdadeira credibilidade moral. Nem pessoas, nem instituições, nem referências morais, estamos numa época em que tudo é posto em causa, tudo parece em vias de perder a sua capacidade de exercer uma autoridade moral. Vai da Casa Branca ao Vaticano, por todo o lado as instituições estão em profunda crise e cuja credibilidade foi abalada”, concluiu.

22 Jul 2019

Coreia do Sul | Um recorde mundial e o fim de um reinado no primeiro dia dos Mundiais de natação

[dropcap]U[/dropcap]m recorde do mundo nos 100 metros bruços masculinos, conseguido por Adam Peaty, e o fim do reinado de Katie Ledecky nos 400 metros livres, ditado por Ariarne Titmus, marcaram ontem a primeira jornada dos Mundiais de natação.

Em Gwangju, na Coreia do Sul, as primeiras portuguesas a entrar em competição foram Victoria Kaminskaya, Diana Durães e Ana Catarina Monteiro, que ficaram pelas eliminatórias.

Kaminskaya terminou as eliminatórias dos 200 metros estilos, com o 19.º tempo entre as 36 inscritas, Diana Durães concluiu os 400 metros livres no 27.º lugar, e Ana Catarina Monteiro foi a 29.ª entre as 52 presentes nos 100 metros mariposa.

O britânico Adam Peaty nadou a eliminatória dos 100 metros bruços em 56,88 segundos, tornando-se no primeiro a percorrer a distância abaixo dos 57 segundos. Peaty, o campeão olímpico da distância, que procura o terceiro título mundial consecutivo, melhorou o seu próprio recorde mundial, fixado em 57,10, estabelecido em Glasgow em Agosto do ano passado.

O chinês Yan Zibei conseguiu o segundo melhor tempo das eliminatórias, 58,67, a 1,79 segundos de Peaty, marca que lhe valeu o recorde asiático. Antes de Peaty, a estrela do dia foi a australiana Ariarne Titmus, que colocou fim ao reinado da norte-americana Katie Ledecky, tricampeã mundial e campeã olímpica nos Jogos Rio2016, nos 400 metros livres.

Depois de ter entrado nos últimos 50 metros em desvantagem, Titmus, recordista da distância em piscina curta, nadou a última piscina em 29,51 segundos, contra os 31,34 da norte-americana.

A marca de 3.58,76 minutos valeu a Ariarne Titmus a medalha de ouro, deixando Ledecky com a prata, com a marca de 3.59,97, e a também norte-americana Leah Smith (4.01,29) com o bronze.

Nos 400 metros livres masculinos, repetiu-se o pódio dos mundiais Budapeste2017, com o chinês Sun Yang, envolvido em suspeitas de doping, a conquistar o ouro (3.42,44 minutos), o australiano Mack Horton (3.43,17) a prata e o italiano Gabrielle Detti (3.43,23) o bronze.

Na estafeta de 4×100 metros livres masculinos, os Estados Unidos conquistaram o ouro em masculinos, seguidos da Rússia e da Austrália, que ficaram com a prata e com o bronze, respectivamente. Em femininos, as australianas dominaram, deixando a prata para as norte-americanas e o bronze para as canadianas.

Hoje entram em prova mais quatro dos 10 representantes lusos nos Mundiais: Gabriel José Lopes (ALN-Louzan), nos 100 metros costas, Miguel Duarte Nascimento (Benfica), nos 200 livres, Tamila Holub (Sporting de Braga) e Diana Durães, nos 1.500 livres.

22 Jul 2019

Projecções à boca das urnas no Japão dão vitória à coligação do primeiro-ministro Shinzo Abe

[dropcap]A[/dropcap]s primeiras projecções à boca das urnas apontam que a coligação política do primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, terá assegurado a maioria dos assentos parlamentares que estavam em jogo nas eleições legislativas parciais realizadas ontem no país.
Shinzo Abe já reagiu às projecções, afirmando que os dados reflectem um mandato público para as políticas do seu Governo.

“Acredito que o povo escolheu a estabilidade política, exortando-nos a seguir as nossas políticas e a realizar a diplomacia para proteger os interesses nacionais do Japão”, afirmou o político.

As eleições foram convocadas para eleger metade dos parlamentares que compõem o Senado, a câmara alta do Parlamento (Dieta) nipónico. A restante composição será eleita num escrutínio agendado para 2022.

Dos 124 lugares que foram ontem a votos, 63 terão sido conquistados pelo conservador Partido Liberal Democrático, de Shinzo Abe, e pelo seu aliado político, Komeito, segundo as primeiras projecções divulgadas pela agência noticiosa Kyodo e pelo diário Asahi.

Tal resultado irá permitir à coligação governamental ocupar 130 dos 245 lugares que compõem o Senado nipónico e assim revalidar a sua ampla maioria neste órgão legislativo, segundo outra projecção avançada pela estação estatal japonesa NHK.

Os resultados oficiais finais serão anunciados hoje, segundo as agências internacionais. As eleições estavam a ser encaradas como um barómetro do apoio público ao Governo de Shinzo Abe, que está no poder há seis anos e meio e está prestes a tornar-se num dos líderes políticos japoneses há mais tempo no executivo.

Um novo aumento do imposto sobre o consumo, previsto para Outubro próximo, a reforma do artigo pacifista da Constituição japonesa, com o intuito de dar mais poderes ao exército nipónico, e a sustentabilidade do sistema nacional de pensões, foram alguns dos assuntos que dominaram a campanha eleitoral.

22 Jul 2019

Choi Hin Man, empresário e parceiro de negócios de Stanley Ho: “Centro POAO foi amplamente divulgado”

Radicado em Portugal há cerca de 30 anos, Choi Hin Man trabalha ao lado de Stanley Ho no Grupo Estoril-Sol, mas é na qualidade de sócio da POAO II – Investimentos Imobiliários que está a ser investigado pela justiça portuguesa. O empresário explica os bastidores de um negócio de venda de armazéns em Portugal a investidores chineses que o acusam de burla, frisando que foram feitas visitas ao local antes do negócio ser concretizado. Numa entrevista concedida por email, Choi Hin Man afasta o envolvimento do advogado Rui Cunha neste processo, apesar deste ser sócio da sociedade de advogados em Lisboa, também alvo de investigação

 

 

Quais as principais razoes para o investimento, por parte da POAO II, num novo complexo comercial na zona do Porto Alto?

[dropcap]O[/dropcap]s comerciantes chineses radicados na região de Lisboa têm vindo, nas últimas décadas, a estabelecer os seus negócios na zona do Martim Moniz. Ora, encontrando-se o Martim Moniz no centro histórico da cidade de Lisboa, as possibilidades de expansão comercial revelam-se escassas e tem vindo a ser um dos principais problemas que ocupa a comunidade. A acrescer à falta de condições logísticas para o comércio por grosso, há a necessidade de espaço, nomeadamente parques de estacionamento e locais de cargas e descargas, o que não se verifica no cento da cidade. Por isso, o projecto inerente ao desenvolvimento do complexo comercial na zona do Porto Alto visa, sobretudo, constituir uma alternativa à sobrecarga que se constata nas lojas situadas no Martim Moniz, que já não oferece condições condignas às ambições e expansão desejada pela nova geração de chineses radicados em Lisboa. A construção do Centro POAO assenta na intenção clara de dinamizar e dar um novo rosto aos negócios levados a cabo por esta comunidade.

Como foram feitos os primeiros contactos com os investidores chineses?

Através da intervenção de alguns dos sócios da POAO que possuem interesses e relações comerciais na China.

Até que ponto o escritório de advogados que o representa, Rui Cunha, Glória Ribeiro e Associados, esteve envolvido neste processo? Apenas mediou os contratos de compra e venda ou também ajudou a angariar esses potenciais clientes?

Face às imputações que erradamente lhe têm sido dirigidas, é importante esclarecer o papel da sociedade de advogados neste projecto. Desde o início que essa sociedade tem vindo a patrocinar a POAO II em questões de carácter societário, na elaboração de contratos, pareceres jurídicos e demais questões de assessoria jurídica. Contudo, a actuação da sociedade de advogados começa e termina no âmbito jurídico, não tendo qualquer intervenção na mediação de contratos de compra e venda nem na angariação de clientela, resumindo-se a sua actividade à apreciação e avaliação jurídica das questões que lhe são apresentadas.

Os investidores alegam que nos contratos há discrepâncias nas versões em português e chinês, nomeadamente em relação ao termo “loja” e “armazém”. Nega que haja essas diferenças?

A larga maioria dos investidores que assinaram contratos promessa de compra e venda deslocaram-se previamente ao Centro POAO e puderem constatar as características e localização das fracções a adquirir. Tendo os compradores conhecimento directo daquilo que adquiriam, a divergência linguística, a existir, não tem qualquer relevância. Além disso, importa esclarecer que o projecto “Centro POAO” foi amplamente divulgado e explicado a todos os potenciais compradores, que não poderiam desconhecer aquilo que efectivamente estavam a adquirir. Não me parece existir fundamento para este argumento linguístico, quando da parte da POAO II sempre foram promovidas as condições especificas do projecto por si desenvolvido, que são de conhecimento público e foram amplamente divulgados quer em Portugal quer na China.

Ficou prometido nos contratos a compra, por parte da POAO II, dos espaços comerciais aos investidores chineses ao fim de um período de cinco anos. Os investidores temem que não haja essa compra, uma vez que afirmam que a POAO II está em processo de insolvência. O senhor Choi Man Hin nega. Como explica então estes receios por parte dos investidores?

Presumo que a sua questão decorre do artigo publicado no jornal Público, que urge esclarecer. A POAO II não está nem nunca esteve insolvente. Em 2017, como forma de pressão, um fornecedor requereu a insolvência da POAO II como forma de obter o pagamento uma dívida. O referido processo foi extinto logo após a contestação da POAO II por não se verificarem os pressupostos da insolvência, como se pode constatar no processo judicial em causa, que pode ser consultado. Parece-me pois que os receios dos investidores são infundados.

Como explica que haja ainda investidores que não obtiveram o seu visto Gold?

Não sou a pessoa mais apta para lhe dar resposta a esta questão, pois não acompanhei nem conheço directamente a tramitação de todos os processos de “vistos Gold” dos investidores que adquiriram ou prometeram-adquirir fracções do “Centro POAO”. De todo o modo, a informação que sempre me foi transmitida foi a de que os atrasos e os escassos indeferimentos se deveram a questões meramente procedimentais, não estando relacionados com o investimento em si. Como foi referido na resposta ao jornal Público, os atrasos nos processos aí enunciados resultaram da falta de verificação dos pressupostos, por parte dos investidores. Nunca foi suscitada qualquer dúvida pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras quanto ao investimento feito no Centro POAO, sendo inquestionável que o mesmo é apto para a obtenção de “Visto Gold”.

O escritório de advogados que o representa assume ter ligações a Macau, sobretudo ao nível da mediação de negócios. Até que ponto Macau tem ligações a este negócio? Foram feitos contactos no território para a angariação de potenciais investidores? Houve mais empresas de Macau, até ao nível da tradução, envolvidas neste processo?

Do conhecimento directo que tenho, a sociedade de advogados mantém uma ligação com Macau devido ao facto do um dos seus sócios ser também advogado em Macau onde detém um escritório de advogados, designadamente, a “C&C Advogados”. Contudo, pese embora a ligação existente com a sociedade de advogados portuguesa, nunca a “C&C Advogados” teve qualquer ligação com os investimentos realizados no Centro POAO, não servindo, como se sugere, de ponte de conexão entre os investidores chineses e a POAO II. Aliás, o investimento no “Centro POAO” em nada se relaciona com a RAEM. Que eu tenha conhecimento, nenhum investidor da POAO II é de Macau.

Apesar deste negócio estar a ser investigado pelo Ministério Público, continua optimista face ao sucesso do novo complexo comercial?

Considero que não subsistem razões que impeçam o desenvolvimento do “Centro POAO” e continuo a acreditar que a finalidade inerente ao projecto desenvolvido prevalecerá sobre quaisquer rumores, não ficando prejudicado por qualquer investigação do Ministério Público, que acredito, contribuirá para o total esclarecimento do assunto.

Está disposto a colaborar com as autoridades portuguesas em tudo o que lhe seja pedido no âmbito deste caso?

A minha conduta moral desde a chegada a Portugal nos anos 80 tem sido sempre pautada pelo estrito cumprimento da lei e por uma forte relação de cooperação com as autoridades. Por isso, as últimas notícias não me conduzem, de modo algum, a adoptar outra posição.

É parceiro de negócios de Stanley Ho há vários anos. Não teme que este caso possa ter repercussão na vossa parceria empresarial ou até na imagem do próprio Stanley Ho?

O investimento na sociedade POAO II é um investimento pessoal, a titulo particular, que nada tem a ver com os cargos que exerço no grupo Estoril Sol ou outros. Considero aliás absolutamente lamentável que façam esta relação com o Sr. Stanley Ho, com quem trabalho desde os anos 70, e acredito que esta relação consolidada não será sequer beliscada nem a imagem do Sr. Stanley Ho.

Afirmou, no seu direito de resposta, que o empresário e os seus sócios estão a trabalhar no sentido de “ultrapassar os resultados menos positivos” da POAO II. Concretamente, o que tem sido feito?

Como em qualquer sociedade, em que existem ciclos de maior ou menor produtividade, os sócios estão a implementar todas as medidas que julgam necessárias e convenientes ao prosseguimento da actividade da sociedade, cujas estratégias, como compreenderá, não podem ser divulgadas publicamente.

Disse que a empresa é detentora de um património de valor elevado. Pode apresentar valores e falar mais sobre o seu desempenho financeiro nos últimos anos?

A POAO II é detentora de um património imobiliário de valor bastante elevado, sendo que, apesar de ter recorrido à banca para financiamento do projecto, como é normal em qualquer sector de actividade económica, sempre deteve um activo muitíssimo superior ao passivo, como ainda se verifica à data. O seu principal património é constituído pelo Centro POAO, o qual foi há poucos meses avaliado por uma entidade independente por valores próximos de 40 milhões de euros. Em termos de desempenho do projecto e relativamente ao seu volume de vendas imobiliárias foram já realizadas dezenas de escrituras, o que equivale a um volume de vendas bastante elevado.

Além do projecto comercial na zona do Porto Alto e da aposta na Herdade do Pinheiro, que outros investimentos pretende a POAO II realizar nos próximos anos?

Nos próximos anos a POAO está centrada no desenvolvimento do Centro POAO, dar uma nova dinâmica comercial a nível internacional e consolidar o seu objectivo de desenvolver um centro global/plataforma de negócios nacional e internacional.

Que comentário faz à política de atribuição dos vistos Gold nos últimos anos? Tem, de facto, contribuído para uma devida diversificação do investimento em Portugal, nomeadamente no que diz aos investidores chineses? Ou é necessário fazer mais neste âmbito?

É inegável que o programa de “vistos Gold” contribuiu para o desenvolvimento da economia portuguesa, tendo sido uma medida importante para ultrapassar a grave crise económica pela qual Portugal atravessou. Apesar da maioria do investimento se focar na aquisição de imobiliário, o programa de “vistos Gold” prevê formas diversificadas de investimentos, desde investimento em instrumentos financeiros ao desenvolvimento de actividades culturais e cientificas. Dando o programa de “vistos Gold” todas estas possibilidades, a diversificação do investimento depende sobretudo da iniciativa particular. Face à nova conjectura, pode-se observar a necessidade de adaptar o programa à experiência adquirida nos últimos anos, mas esta é sobretudo uma questão política, que não me cabe a mim equacionar nem tenho dados suficientes para o fazer.

No que diz respeito aos vistos Gold e captação de investimento, Macau e Hong Kong são portas importantes na ligação à China?

Macau e Hong Kong foram, e continuam a ser, portas importantes na ligação entre o Oriente e o Ocidente. Parece-me que este papel seguramente se manterá, e estou convicto que se irá intensificar nos próximos anos.

A União Europeia publicou um relatório recente em que afirma que a política dos vistos Gold potencia casos de corrupção e que deveria ser suspensa pelas autoridades portuguesas. Qual o seu comentário sobre esta matéria?

Não me cabe a mim responder sobre isso. Cada caso é um caso e não tenho competência nem conhecimento para falar de corrupção na política dos vistos Gold.

Quais as principais mudanças que pode apontar quanto à evolução da comunidade chinesa nos últimos tempos?

Na maioria dos casos o comércio e a restauração foram as actividades que os imigrantes abraçaram em solo europeu. Foi assim na primeira vaga de chineses, em meados do século XX. Hoje já não é assim. Com uma educação ocidentalizada e uma vivência social diferente da percorrida pelos pais os jovens são mais qualificados. A educação dos filhos é a prioridade das famílias chinesas e há muitos licenciados nos descendentes dos imigrantes que abriram lojas e restaurantes. A ideia de comunidade fechada, muitas vezes associada aos chineses, já não faz sentido. Hoje há muitos casamentos entre chineses e portugueses e estão bem integrados. Não há discriminação.

Xi Jinping esteve em Portugal este ano, além de que Marcelo Rebelo de Sousa também esteve na China há alguns meses. Como olha para esta relação bilateral entre os dois países?

A relação diplomática entre os dois países, que já é antiga, tem vindo nos últimos anos a estreitar-se e tem conduzido a benefícios manifestos para ambas as comunidades, quer de carácter económico, como também de carácter social e cultural, o que muito me apraz.

22 Jul 2019

Hong Kong | Polícia avisa pelo Facebook que vai agir sobre manifestantes

[dropcap]A[/dropcap] polícia de Hong Kong avisou que se preparava para agir sobre os manifestantes que ocuparam ontem zonas centrais da cidade em protesto contra as emendas da lei da extradição “devido à escalada de violência”. “Os participantes da manifestação pública devem tomar o transporte público e partir o mais rápido possível”, avisou a polícia na sua página na rede social Facebook.

As forças de segurança queriam dispersar os manifestantes que, depois de participarem numa marcha que juntou dezenas de milhares durante a tarde de ontem, se dirigiram ao edifício do gabinete de ligação de Pequim no território, bloquearam várias ruas e ocuparam acessos ao quartel general da polícia e ao parlamento.

“Esta tarde, depois de participantes de uma manifestação pública chegarem a Wan Chai, alguns prosseguiram, bloqueando estradas, vandalizando carros e paredes dos edifícios. Em face da escalada da violência, a polícia conduzirá uma acção para desimpedir” a área, pode ler-se na mesma publicação da polícia de Hong Kong.

A mesma informação foi prestada na aplicação de mensagens instantâneas Telegram da organização dos protestos, a Frente Cívica de Direitos Humanos, na qual se indica também que as forças anti-motim já se posicionaram no terreno.

A polícia apelou ainda à população para evitar deslocar-se para o palco dos protestos ou áreas adjacentes e que residentes e trabalhadores garantam a sua segurança pessoal e fiquem atentos às informações da polícia.

Centenas de manifestantes que protestam em Hong Kong contra as emendas à lei da extradição posicionaram-se junto ao quartel general da polícia e parlamento, seguindo também para o edifício de ligação do Governo central da China no território, ignorando ordens das forças de segurança.

Os organizadores do protesto, que juntou centenas de milhares de pessoas, permaneceram “no fim do percurso que foi definido por razões de segurança, e apenas um pequeno grupo com menos de 30 pessoas, como permite a lei, se deslocou até ao tribunal de última instância, em Central”, disse à Lusa a porta-voz do movimento que promoveu a manifestação, Bonnie Leung.

Os restantes manifestantes simplesmente prosseguiram a marcha e ocuparam locais que foram já palco de violentos confrontos com a polícia desde meados de Junho.

À cautela, tendo em conta a invasão do parlamento a 1 de Julho e o cerco ao quartel-general da polícia a 12 e 16 de Junho, as forças de segurança ergueram enormes barreiras de água junto para tentar evitar que os manifestantes ganhem posição junto desses dois locais.

22 Jul 2019

César Pelli, arquitecto das Petronas Towers, na Malásia, morre aos 92 anos

[dropcap]O[/dropcap] arquitecto argentino César Pelli, que projectou as emblemáticas Torres Petronas de Kuala Lumpur, na Malásia, e o One World Financial Center, em Nova Iorque, morreu na passada sexta-feira aos 92 anos.

“Quero enviar as minhas condolências aos familiares e amigos do talentoso César Pelli. As obras que deixa no mundo como legado são uma fonte de orgulho para os argentinos”, afirmou o Presidente argentino, Mauricio Macri, no ‘Twitter’.

O arquitecto também foi homenageado por Juan Manzur, governador de Tucuman, a província onde César Pelli nasceu em 12 de Outubro de 1926, e se formou como arquitecto.

Formado na Universidade Nacional de Tucuman, o arquitecto mudou-se graças a uma bolsa para os Estados Unidos em 1952, vivendo em Connecticut. César Pelli tornou-se um profissional de prestígio internacional e deixou a sua marca em vários arranha-céus e edifícios em todo o mundo, o que levou à conquista de mais de 300 prémios por excelência em design.

César Pelli foi reitor da escola de arquitectura da Universidade de Yale de 1977 a 1984 e recebeu a medalha de ouro do Instituto Americano de Arquitectura, em 1995, pela sua distinta carreira.

Entre as suas obras mais famosas estão as Torres Petronas de Kuala Lumpur, com 452 metros de altura, que ostentaram o título de edifícios mais altos do mundo entre 1998 e 2003. Foi também o arquitecto responsável pela ampliação do Museu de Arte Moderna (MoMa) de Nova York, em 1984, construiu a Torre Iberdrola, em Bilbau, o International Financial Center, em Hong Kong, a Grande Torre Costanera, em Santiago do Chile, o Pacific Design Center em Los Angeles, o ARIA Resort em Las Vegas, além de dezenas de teatros e centros culturais em todo o mundo.

Uma das suas mais recentes obras foi o Salesforce Transit Center, em São Francisco, que abriu em 2018 e inclui espaços verdes, um centro comercial e um anfiteatro.

22 Jul 2019

Edgar Martins traz a Macau fotos de prisão do Reino Unido em 2020

O projecto fotográfico do português Edgar Martins, com reclusos de uma das mais violentas prisões do Reino Unido, foi publicado em livro e vai estar em exposição em Lisboa no final do ano. A Macau virá de Junho a Setembro de 2020

 

[dropcap]W[/dropcap]hat Photography & Incarceration have in Common with an Empty Vase” (“O que a fotografia e a prisão têm em comum com uma jarra vazia”, em tradução do inglês) tem imagens recolhidas na HM Prison Birmingham e num bairro nas imediações, com os presidiários, famílias e outras figuras locais.

“Utilizando o contexto social do encarceramento como ponto de partida, exploro o conceito filosófico de ausência e abordo uma consideração mais ampla do conceito de fotografia quando se cruzam questões de visibilidade, ética, estética e documentação. De uma perspectiva humanista, o trabalho procura reflectir sobre como se lida com a ausência de um ente querido, trazido pela separação forçada”, resumiu o fotógrafo sobre o projecto.

O livro está dividido em três capítulos, que variam entre imagens de arquivo, fotografias feitas durante os três anos de trabalho, que incluem a documentação de objectos simbólicos para os presos, como um par de sapatos de criança ou um maço de cigarros, além de uma reprodução do diário de um recluso escrito especificamente para este projecto.

“Estava interessado em explorar todo um conjunto de estratégias e metodologia que fossem para além do documental e que contribuíssem para o debate acerca da ontologia da imagem fotográfica”, explicou à agência Lusa o fotógrafo.

Convite para a prisão

O projecto foi feito a convite da organização Grain Projects e acabou por se centrar no que rodeia a prisão e os seus ocupantes e menos no interior e funcionamento do edifício, devido às dificuldades em ultrapassar as limitações administrativas.

“O maior desafio foi lidar com a prisão em si. A HMP Birmingham é uma prisão complexa, com muitas carências e deficiências, falta de investimento crónico. Durante os três anos em que trabalhei com a prisão tiveram quatro directores distintos e por isso a evolução do projecto foi tumultuosa e muito condicionada por vários eventos e circunstâncias: aconteceram os maiores motins da história de um estabelecimento prisional em Inglaterra, a prisão sofreu os maiores níveis de consumo de droga e violência da sua história e, no último ano, passou pelas maiores mudanças estruturais dos últimos 10 anos”, admitiu Edgar Martins.

O projecto foi premiado com o terceiro lugar da categoria ‘Série dos Prémios de Fotografia Artística LensCulture’, em 2018, e vai iniciar uma série de exposições em Lisboa a 14 de Novembro, na Galeria Filomena Soares Lisboa, onde vai ficar até Janeiro de 2020. De seguida viajará para o território, até ao Museu de Arte de Macau onde a mostra vai poder ser visitada de 6 de Junho a 1 de Setembro de 2020. O Museu do Chiado, em Lisboa, receberá o acervo expositivo a partir de Outubro de 2020.

22 Jul 2019