João Luz VozesQuem vê caras [dropcap]P[/dropcap]rosseguindo a contradição das políticas de segurança de Macau, que apregoam harmonia e estabilidade enquanto apertam o cerco securitário, as câmaras com tecnologia que permite reconhecimento facial estão prestes a tornar-se uma realidade. Enquanto o fantasma do alargamento do sistema de crédito social paira como uma alma penada por cima das nossas cabeças, em prol da integração e cuspindo no segundo sistema, a prioridade de enfraquecer de direitos, liberdades e garantias ganha cada vez mais terreno à vontade de resolver os reais problemas da cidade. Nesta história toda, o que me diverte mais é a postura do Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais (GPDP), esse carimbo do Governo que jamais verá qualquer problema, a não ser que estejamos a falar de spam de cabeleireiros e serviços de unhas de gel. O GPDP é o equivalente a um bully medroso que, por temer crianças da sua idade, vai aterrorizar meninos da 1ª classe. Quando estão em causa privacidade e direitos individuais, a passividade é absoluta e reveladora da falta de independência de um organismo que deveria ser fiscalizador. É por isso que o sistema de checks and balances funciona. Enfim, também não me parece que em Macau os residentes tenham qualquer problema em abdicar, e entregar de mão beijada, direitos fundamentais à paranoia securitária do Amor. Depois de contar os caracteres desta coluna, olhei para cima e li Protecção de Dados Pessoais e dei uma gargalhada.
Fernando Sobral Folhetim h | Artes, Letras e IdeiasA grande dama do chá [CAPÍTULO ANTERIOR] [dropcap]O[/dropcap] som era empolgante. Penetrava pelos ouvidos e fazia com que a batida do coração se acelerasse. Ezequiel de Campos não reconheceu a música, mas sabia que era de uma ópera. Quando entrou na sala da casa de Du Yuesheng, junto à praia de Cheoc Van, percebeu que o som vinha da varanda, onde encontrou Du e Luc LeFranc sentados. Ambos fumavam charutos e, na mesa que tinham defronte deles, estava uma garrafa de cognac francês com três copos. Dois quase cheios e um vazio. Havia também uma cadeira disponível. Percebeu que esse era o seu lugar. O som que vinha do gramofone abafava todos os outros ruídos. Quando se sentou, Du olhou para ele e disse, num inglês com forte sotaque: – A música incomoda-o, sir? – Não. – Ainda bem. Gosto de ouvir ópera ao fim da tarde. Enche-me a alma. Fez uma pausa enquanto o mordomo enchia o copo de Ezequiel. Depois disse: – Sabe o eu é? – Confesso a minha ignorância. – Nem todos gostamos de ópera. Eu só aprendi a ouvi-la bastante tarde, em Xangai. Tinha de ir a acontecimentos sociais e este som foi-se entranhando. Passou a fazer parte de mim. Esta é uma das minhas favoritas. O Anel dos Nibelungos, de Richard Wagner. Não foi um acaso que tenha sido um oficial alemão a oferecer-me. – E porque gosta dela? Pela música, pelo canto? – Bem, eu não sei alemão. Mas sinto-me mais forte, especialmente quando oiço a parte da Cavalgada das Valquírias. Todos os personagens querem o anel mágico forjado pelo anão Alberich. Ao renunciar ao amor para sempre este cria o anel mágico, que permite dominar o mundo. Sem emoções isso é possível. É o que vemos quase sempre, não é? Luc deu uma pequena gargalhada. Estava claramente à vontade perante Du. Ezequiel foi mais seráfico: – Vemos muitas vezes. Mas o amor também consegue ser mais forte do que o poder. – O amor trai-nos. O poder não, se o soubermos conquistar e preservar. Mas, para isso, temos de ser inclementes, até connosco próprios. Temos de ser como monges. O poder é uma religião. Ezequiel, que tirara o curso na Universidade de Coimbra, era um devoto da cultura grega. E, assim, não deixou de recordar: – Nos dramas da velha Grécia, não sei se conhecem, que sempre tiveram muita influência no Ocidente, os protagonistas predestinados e condenados, são sempre confrontados por um sistema que é indiferente ao seu heroísmo, à sua individualidade e à sua moral. Mas agora há novos deuses. E o maior são os negócios. O dinheiro é Zeus. – Exacto, meu caro. Mas o dinheiro sempre foi o deus dos homens. É isso que nos move. A Terra não pertence a nada excepto ao vento. O dinheiro é o nosso vento. – E quem dominar o vento, tem o poder. Du fez um sorriso afável. – É um homem que eu entendo. Levantou o copo, num sinal de brinde. Não esperou que os outros o acompanhassem e bebeu um gole. Os seus olhos brilharam. – Eu sabia que tínhamos algo em comum devido à forma como trata a Marina. Ezequiel não disse nada. Mas não conseguiu ler nenhum traço de ironia nos olhos de Du. Luc LeFranc moveu-se um pouco na cadeira, mas continuou calado. Só observava, como se estivesse ali apenas como testemunha. O chinês disse então: – Caro doutor Ezequiel, tenho as melhores referências de si. Foi por isso que lhe pedi para vir aqui. Imaginará porquê. O português fez um ar surpreendido. – Confesso que não sei. Tem algo a ver com a Marina? Du deu uma pequena gargalhada. – Não o julgava tão ingénuo, sir. A Marina é uma velha amiga de Xangai, como sabe. Tenho a maior confiança nela. E sei que ela não se ligaria a um homem se não tivesse absoluta certeza sobre as suas ideias e sonhos. E, permita-me dizê-lo, segredos. Ezequiel fungou. – Acha que a Marina conhece todos os meus segredos? – Claro que não. Todos os homens têm segredos que não confiam a ninguém. E ainda bem que o fazem. Mas ela confia em si. É o suficiente. Fez uma pausa para beber mais um gole de cognac. – É um homem de negócios, caro Ezequiel. Posso tratá-lo assim, não é verdade? O português assentiu com um pequeno acenar da cabeça. – Macau é uma terra de comerciantes. E, quer os portugueses, quer os chineses, fizeram disso o seu acordo de conveniência. Sem assinarem nada, o que vale mais que todos os contratos. Cada um faz os seus negócios, sem que ninguém importune os outros. A única diferença é que os chineses sempre fizeram o comércio sem a desculpa da religião. – São mais livres, caro senhor Yuesheng. – É verdade. E chame-me Du, por favor. E olhemos um para o outro. Somos ambos pessoas de comércio. E é por isso que queria falar consigo. Como deve saber, tive de sair de Xangai. É impossível negociar com os japoneses. Eles só conhecem as suas leis. Até agora eu negociava com os ingleses, com os franceses, com os alemães. O senhor LeFranc, que está aqui connosco, pode confirmar isso. E, por isso, decidi abrir novos mercados para os meus produtos. Macau é pequena, mas é importante. Nunca se sabe onde chegará a guerra. – Assim é. Macau parece frágil, mas é forte. Talvez venha a ser mais importante do que Hong Kong nos próximos anos. Até porque Xangai poderá ficar nas mãos dos japoneses durante anos. – Esperemos que poucos, sir. Du recostou-se melhor na cadeira. Ezequiel olhou para ele com atenção. Tinha um ar frágil, mas Ezequiel sabia que isso era uma ilusão. Fora o mais poderoso gangster de Xangai. A sua palavra era lei, nas diferentes concessões estrangeiras. Traficava com tudo. O que Marina Kaplan lhe tinha contado, que era uma ínfima parte do que sabia, era um relato arrepiante do que ele fazia para manter o poder. Não havia limites para a forma como o exercia. Pesavam-lhe na consciência centenas ou milhares de mortos, muitos deles ligados à luta subterrânea contra os comunistas de Xangai, em nome dos ideais de Chiang Kai-shek. Ezequiel não queria fazer juízos de valor sobre isso. Era um homem de negócios, apesar de ter as suas opiniões sobre o assunto. Escutou novamente a voz de Du: – A minha proposta é simples. Gostaria de ter um homem honesto a gerir, aqui em Macau, as minhas exportações de uísque e cognac para a Ásia. Não sei o que se irá passar em Hong Kong, para onde vou a seguir. Por isso este é um bom porto de abrigo para todas essas actividades. E, depois, há um negócio que muito me interessa: o do arroz. Em tempos de guerra é preciso alimentar os povos. Os preços sobem. Quem dominar o comércio do arroz pode ficar rico. Que me diz? – Deixa-me sem palavras, senhor Yuesheng, ou melhor, Du. Mas parece-me uma boa proposta. Dê-me um dia ou dois para reflectir sobre ela. Du fez um sorriso amigável. – Tem esse tempo. Preciso é de uma resposta rápida. Porque não sei quanto mais tempo ficarei aqui em Macau. Sabe como é. Nada é eterno e, pelo contrário, tudo o que nos rodeia é frágil e perecível. Nunca imaginei que, um dia, poderia ver arder Xangai. Tal como também desapareceram muitas coisas e pessoas que eu acreditava que durariam para sempre. Há muito que tinham deixado de escutar a ópera de Wagner. Agora só restava o silêncio. Mas, nesse momento de paz, todos sabiam o que estava em causa. [CONTINUAÇÃO]
António de Castro Caeiro h | Artes, Letras e IdeiasA casa [dropcap]O[/dropcap] interior de uma casa não é dado por uma geometria pura do que está dentro por oposição ao que está fora. O que delimita o interior do exterior pode ser apenas a percepção da possibilidade do fora. Um quarto sem janelas deixa adivinhar corredores e outras divisões, a rua e as ruas contíguas. Mas são naturalmente janelas e portas que fazem a fronteira complexa entre dentro e fora, que permitem espreitar para dentro e olhar janela fora, entrar e sair, fechar e abrir, prender e soltar. Há portas e portões que nos estão interditos ou podem estar abertos. Abrimos ou não a porta da nossa casa. Mas portas e janelas têm dimensões multifacetadas, como os portais virtuais do tempo passado e do tempo fantástico do sonho e da imaginação. Neste sentido apenas se tem acesso ao “interior” da casa a partir de uma percepção da intimidade afectiva da própria casa. A casa não está apensa inserida na natureza que a acolhe: piso, andar, monte, colina, ravina, mas só existe humanamente quando ela começa a inserir-se, a enraizar-se na intimidade do humano. Demora muito tempo a estar-se em casa, tanto quanto demora a sentirmo-nos em casa. A essência da casa é a intimidade do humano. A intimidade do humano não existe em nenhuma geometria esboçada até à data. O acesso à intimidade da casa é o acesso que o humano pode ter à sua intimidade. A intimidade da casa é de alguma maneira a intimidade do humano e não é perscrutável por quem nela não viva ou para quem se tenha já tornado outro e diferente de quem era. Só o sonho pode como hipótese psicanalítica sintonizar e canalizar essa dimensão perdida para a memória de uma casa e das nossas vivências dela, distribuídas ao longo do tempo. “O sonho seria uma espécie de elevador que iria buscar, de forma alucinada, essa geografia perdida”. O que o sonho faz viver oniricamente como irreal não deixa de surtir efeito, accionar afectivamente o horizonte de sentido que se projecta sobre todo e qualquer conteúdo real, transformando-o, metamorfoseando-o. O trabalho do acesso é hermenêutico. Se por defeito o quotidiano se encontra em “negação” relativamente ao estranho, inóspito, angustiante, ou melhor, se o quotidiano produz “recalcamento”, é necessário encontrar vestígios, muitas vezes avulsos e mascarados, que nos ponham na pista da dimensão profunda da existência, ou como os platónicos lhe chamam o outro mundo, ideal, mas mais verdadeiro do que mundo da realidade física. As portas de abertura encontram-se esporadicamente e requerem não apenas atenção mas um trabalho de elaboração hermenêutica. Se o quotidiano provem de e acaba numa psicopatologia, os momentos de neutralização do pathos podem ser “vistos” no “equívoco, lapso, acto falhado”. São estas formas de descontinuidade no contínuo psicopatológico que constituem verdadeiras fissuras ou fendas, portais de entrada no que a psicanálise chama “inconsciente”, que o é tão pouco que nos acontece por sua visitação, talvez.
Hoje Macau China / ÁsiaPolícia de Hong Kong proíbe protesto e sublinha risco de cinco anos de prisão [dropcap]A[/dropcap] polícia de Hong Kong proibiu a manifestação e a marcha pró-democracia agendadas para sábado pelo movimento que tem liderado os protestos na ex-colónia britânica, sublinhando que quem desobedecer pode enfrentar até cinco anos de prisão. A decisão das autoridades foi justificada à Frente Cívica de Direitos Humanos (FCDH) por razões de segurança, dada a natureza violenta que tem caracterizado desde o início de Junho muitas das manifestações em Hong Kong, segundo um documento à qual a agência Lusa teve acesso. No mesmo documento, a polícia sublinhou que aqueles que desobedecerem à proibição podem incorrer em crimes com uma moldura penal que pode chegar aos cinco anos de prisão. A marcha deveria terminar simbolicamente junto do Gabinete de Ligação do Governo Central em Hong Kong, para assinalar o 5.º aniversário do anúncio de Pequim de uma reforma política conservadora que estipulava uma triagem para as eleições do Chefe do Executivo por sufrágio universal. A proposta foi rejeitada pelo parlamento de Hong Kong e a ‘nega’ de Pequim às reivindicações de sufrágio universal levou ao movimento de desobediência civil que ficou conhecido como a “revolução dos Guarda-Chuvas”, quando activistas pró-democracia ocuparam a zona central da cidade e bloquearam as principais estradas do território durante 79 dias. O último protesto organizado pela FCDH terá juntado, segundo o movimento, mais de 1,7 milhões de pessoas nas ruas, numa marcha pacífica que também fora proibida pelas autoridades. Tal como já acontecera anteriormente, após este protesto voltaram a registar-se episódios de violência entre manifestantes e as forças de segurança, com confrontos nos subúrbios de Tsuen Wan, nos quais a polícia de Hong Kong recorreu ao uso de canhões de água e efectuou um disparo com arma de fogo para o ar. “Cercados, sob ataque e enfrentando perigo de vida, seis polícias retiraram as suas pistolas (…) A fim de proteger a própria segurança e de outros polícias, um agente disparou um tiro de advertência para o ar”, lê-se num comunicado da polícia. De acordo com o mesmo comunicado, pelo menos quinze agentes da polícia ficaram feridos durante os confrontos de domingo e dezenas de manifestantes, incluindo um menor de 12 anos, foram detidos por reunião ilegal, posse de armas e agressão. Em oposição A chefe de Governo de Hong Kong, Carrie Lam, que regista o índice de popularidade mais baixo de sempre, anunciou na passada semana a criação de uma plataforma de diálogo com a sociedade, mas avisou que se os protestos violentos continuarem vai usar todos os meios legais para os enfrentar. “Há cinco anos, o Congresso Nacional do Povo bloqueou o nosso caminho para eleições livres. A sua tentativa de nos privar do sufrágio universal (…) desencadeou o movimento Occupy [Central]”, apontou a FCDH quando convocou o protesto. Agora, lamentou a decisão da polícia em proibir a manifestação e a marcha de sábado, sublinhando que tem feito todos os esforços para que os protestos sejam pacíficos. O movimento pró-democracia tem ajustado as reivindicações ao longo destes quase três meses. O movimento exige a retirada definitiva das emendas à lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que as ações dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial, a demissão da Chefe do Governo, Carrie Lam, e sufrágio universal nas eleições para chefe do Executivo e para o Conselho Legislativo.
Hoje Macau China / ÁsiaGuerra comercial | Pequim e Washington em contacto para retomar negociações [dropcap]A[/dropcap] China e os Estados Unidos “mantiveram uma comunicação efectiva” sobre a possibilidade de retomarem, em Setembro, negociações para um acordo que ponha fim à guerra comercial, informou ontem o ministério chinês do Comércio. Em conferência de imprensa, o porta-voz do ministério, Gao Feng, disse que “os dois lados estão a debater” a possibilidade de reunir no próximo mês, conforme planeado após a última ronda de negociações. “Neste momento, o mais importante é criar as condições necessárias para que ambas as partes continuem as negociações”, disse o porta-voz. “A China acredita que se a delegação chinesa for aos Estados Unidos, os dois lados devem trabalhar juntos e criar condições para promover o progresso nas consultas”, afirmou. Estas declarações foram feitas depois de o Presidente dos EUA, Donald Trump, ter afirmando, na segunda-feira, que uma nova ronda de negociações poderia começar “muito em breve”, e não descartou atrasar ou cancelar a entrada de novas taxas alfandegárias sobre produtos chineses, prevista para os próximos meses. Gao reiterou que a China “se opõe fortemente a uma escalada da guerra comercial e está disposta a resolver o problema através de consultas e cooperação com uma atitude calma”. O porta-voz exigiu que as últimas taxas, anunciadas na sexta-feira passada por Washington, sejam suspensas. Números em causa O governo dos EUA indicou então que aumentaria as taxas de 25 para 30 por cento para importações oriundas da China no valor total de 250.000 milhões de dólares, a partir de Outubro, e de 10 a 15 por cento, para produtos no valor de 300.000 milhões de dólares, a partir de Setembro. O anúncio surgiu após Pequim aumentar as taxas sobre um total de 75 mil milhões de dólares de bens importados dos EUA, de 5 por cento para 10 por cento. A ascensão ao poder de Donald Trump nos EUA ditou o espoletar de disputas comerciais, com os dois países a aumentarem as taxas alfandegárias sobre centenas de milhões de dólares de produtos de cada um. Os EUA temem perder o domínio industrial global, à medida que Pequim tenta transformar as firmas estatais do país em importantes actores em sectores de alto valor agregado, como inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros eléctricos.
Hoje Macau China / ÁsiaNuclear | Rejeitado acordo com EUA para eliminar mísseis [dropcap]P[/dropcap]equim rejeitou ontem a proposta norte-americana de negociar um tratado trilateral para a eliminação de mísseis nucleares de médio e curto alcance, que incluiria ainda a Rússia, considerando que não é “justo ou razoável”. Washington decidiu este mês não renovar o Tratado de Armas Nucleares de Médio Alcance com a Rússia, que existia desde 1987, e convidou a China a integrar “uma nova era de controlo da corrida às armas”, com a negociação de um acordo entre as três nações. “A participação da China em negociações trilaterais não é justa nem razoável. Os EUA são o país com o maior arsenal nuclear, devem aceitar a sua responsabilidade no controlo do armamento e criar condições para que outros países participem do desarmamento, em vez de se retirarem dos tratados”, afirmou o porta-voz do ministério chinês da Defesa, Ren Guoqiang. Ren lembrou que “logo após os EUA se retirarem do tratado, começaram a testar mísseis, o que prova que as acções não correspondem às palavras. Militares norte-americanos testaram, no domingo passado, um míssil de médio alcance na costa da Califórnia – um lançamento que seria ilegal caso o acordo com a Rússia ainda vigorasse. “Pedimos aos EUA que abandonem a sua mentalidade da Guerra Fria, moderem o desenvolvimento de armamento e façam mais pela estabilidade no mundo”, acrescentou. O porta-voz realçou que “a China segue uma política militar defensiva” e que o seu desenvolvimento de armas nucleares “é muito restrito”, mantendo-se num “nível mínimo”, para garantir as necessidades de defesa. Prontos para agir Assinado em 1987 por Ronald Reagan e Mikhail Gorbachov, então Presidentes dos Estados Unidos e da antiga União Soviética, respectivamente, o tratado aboliu o recurso a um conjunto de mísseis de alcance, entre os 500 e os 5 mil quilómetros, e pôs fim à crise desencadeada na década de 1980, com a instalação dos SS-20 soviéticos, visando capitais ocidentais. Após a retirada do tratado, o secretário de Defesa dos Estados Unidos disse que quer instalar mísseis convencionais de médio alcance na região Ásia-Pacífico, “dentro de alguns meses”. O governo chinês disse então que “não vai ficar de braços cruzados” e que vai tomar contra-medidas, sem avançar mais detalhes. Em Abril de 2017, o então chefe do Comando do Pacífico das forças armadas dos EUA, Harry Harris, afirmou ao Senado norte-americano que a China, que não faz parte de nenhum tratado de desarmamento, possui a “maior e mais diversificada força de mísseis do mundo, com um inventário de mais de 2.000 mísseis balísticos e de cruzeiro”.
Hoje Macau EventosIC | Aceitam-se propostas para “Desfile Internacional de Macau” [dropcap]R[/dropcap]ealiza-se a 8 de Dezembro mais uma edição do “Desfile Internacional de Macau 2019”, organizado pelo Instituto Cultural (IC) em celebração do 20.º Aniversário da Transferência da Administração de Macau para a China. O IC começa a receber propostas de participação de grupos artísticos ou escolas que desejem desfilar por algumas zonas da península de Macau entre os dias 2 e 8 de Setembro. De acordo com um comunicado, “a rota do desfile desta edição é semelhante à do ano anterior, tendo início nas Ruínas de S. Paulo e fim na Praça do Lago Sai Van”. O tema deste ano é “Uma Faixa, Uma Rota”, nome do projecto político chinês, que pretende reconstituir a antiga rota comercial da seda. Os grupos podem participar no desfile em duas modalidades : “Tema do Desfile” e “Desfile de Grupos Artísticos”. Além disso, os participantes podem inscrever-se também nas actividades comunitárias que decorrem na véspera do desfile, tal como o “Mini Desfile de Promoção Artística” e o “Programa da Arte na Comunidade”. O objectivo é levar “diferentes formas de cultura e artes às comunidades de Macau”. Serão ainda atribuídos dois prémios.
Andreia Sofia Silva EventosTIMC | Wu Tiao Ren em Portugal para concertos em cinco cidades A banda chinesa Wu Tiao Ren aterrou ontem em Lisboa e prepara-se para realizar a sua primeira digressão em Portugal. Manuel Correia da Silva, do festival This is My City – Global Creative Network, pretende transformar estes concertos numa iniciativa permanente e até levá-los aos festivais de Verão que anualmente acontecem no país [dropcap]C[/dropcap]omeça hoje a digressão em Portugal da banda chinesa Wu Tiao Ren, oriunda de Shenzen, que termina a 8 de Setembro. Hoje os Wu Tiao Ren protagonizam um concerto na redacção do Jornal de Notícias do Porto e, no sábado, na sala de espectáculos Casa da Música. Segue-se uma residência artística em Leiria, graças a uma parceria com a editora Omnichord Records, estando previsto um concerto no Atlas Hostel Leiria. Na próxima quinta-feira, 5 de Setembro, é a vez da banda actuar no Salão Brazil, em Coimbra, seguindo-se o concerto no MusicBox, em Lisboa, no dia seguinte. A 8 de Setembro os Wu Tiao Ren tocam no interior do Alentejo, na cidade de Montemor-o-Novo, no espaço artístico das Oficinas do Convento. Em declarações ao HM, Manuel Correia da Silva, responsável pelo TIMC, declarou que esta é a primeira vez que promovem uma digressão com uma banda chinesa e não pretendem ficar por aqui. “Queremos alargar esta rede e poder trazer bandas chinesas com mais frequência para estes circuitos. Estes artistas não são conhecidos e temos de fazer um grande trabalho de promoção para conseguirmos alcançar os festivais de Verão. Acho que faz todo o sentido chegar a esse mercado e acreditamos que para o ano isso já se vai conseguir, estamos a trabalhar para alcançar esse objectivo.” Acima de tudo, trazer os Wu Tiao Ren a Portugal significa mostrar um outro lado da cultura e música chinesas ainda desconhecidas do grande público português. “A nível de expressão artística e de música indie é muito raro acontecer algo em Portugal. Fala-se muito da China mas só se fala de um certo tipo de coisas, e queremos mostrar ao vivo artistas que pertencem a uma geração mais recente, de uma cultura urbana, que em muitas coisas são parecidos connosco mas ao mesmo tempo tem uma cultura diferente, e os Wu Tiao Ren fazem bem esse jogo, porque apesar de terem uma base musical bastante universal, que é o rock, têm muitos pormenores da cultura deles, porque cantam em chinês e têm muitos pormenores da cultura folclórica do sul da China, como a ópera chinesa e tudo mais. Esta conjugação parece-nos única e de valor para ser apresentada cá.” Também para chineses Apesar de esta ser uma digressão em Portugal, Manuel Correia da Silva admite que gostaria de encontrar, na audiência, rostos da comunidade chinesa residente em Portugal. “Gostava muito de conseguir encontrar a comunidade chinesa nestes concertos, pois acho que também é para eles. Estamos a tentar colmatar o desafio que é chegar essas comunidades. Não é fácil.” Os Wu Tiao Ren nasceram em 2008, sendo oriundos da cidade de Shantou, na província de Guangdong. As suas músicas versam sobre as vidas marginais da China e são marcadas pela influência da ópera local e por canções de pescadores. Além disso, “a sonoridade desta banda chinesa incorpora ainda gravações das ruas da cidade, buzinas de autocarros, ruídos de motorizadas e encenações de discussões entre vizinhos”, aponta um comunicado. Além da digressão dos Wu Tiao Ren, o TIMC tinha o plano de trazer o projecto NOYB, mas por motivos de doença de um dos protagonistas da iniciativa o projecto teve de ser adiado. “Este é um projecto de Macau, liderado pelo Rui Farinha e por mim. É um trabalho de curadoria e um projecto multimédia que envolve música e video e que constitui também uma tentativa de reflectir a região onde estamos. Era um espectáculo que ia ser feito de propósito para Macau, mas é provável que aconteça ainda este ano”, frisou.
João Luz SociedadeJogo | Construção do Grand Lisboa Palace termina no próximo mês Três novos espaços no Cotai começam a ganhar nitidez. No próximo mês termina a construção do Grand Lisboa Palace, do grupo SJM, com abertura prevista para a segunda metade de 2020. Entretanto, a Galaxy Entertainment levanta o véu sobre o novo centro de convenções, enquanto a Sands China adianta que o Londoner Hotel estará pronto em Julho de 2020 [dropcap]C[/dropcap]om a renovação das licenças de jogo no horizonte, a abertura de três novos espaços no Cotai ganha contornos mais concretos. Neste aspecto, destaque para a estreia da Sociedade de Jogos de Macau, S.A. (SJM) no strip do Cotai com o Grand Lisboa Palace. Durante uma cerimónia de entrega de bolsas escolares a filhos de funcionários da concessionária, o CEO da empresa, Ambrose So, garantiu que a construção do Grand Lisboa Palace tem fim à vista, já para Setembro. Terminadas as obras, a SJM irá pedir licença de funcionamento, um processo que a concessionária espera que demore algum tempo, uma vez que tem de passar pelo crivo de vários departamentos públicos. Em relação ao número de mesas de jogo que o Grand Lisboa Palace terá, Ambrose So referiu que irá pedir licença para cerca de 300. “Quantas mesas o Governo irá conceder não sabemos, mas com base nas experiências anteriores no Cotai, normalmente são aprovadas entre 120 e 150 mesas de jogo”, projectou o CEO da SJM, citado pela Macau News. Como já tinha sugerido noutras ocasiões, Ambrose So não descarta a hipótese de transferir algumas mesas de outros casinos do grupo para o novo espaço no Cotai. Em relação ao decréscimo das receitas registadas no mês passado, em relação ao ano anterior, o director da SJM justificou o resultado com a quebra das receitas apuradas pelo segmento VIP, que não foi compensado. Em relação ao panorama económico, Ambrose So espera que se chegue a um acordo na guerra comercial entre Pequim e Washington e que a estabilidade regresse a Hong Kong para que “a vida volte ao normal”. Centro da galáxia Esta semana, em Pequim, na IBTM China, feira dedicada ao sector MICE, o grupo Galaxy Entertainment levantou o véu sobre o Galaxy International Convention Center, descrito como uma das infra-estruturas mais avançadas tecnologicamente para este tipo de negócio. Com abertura programada para o início de 2021, o centro de convenções terá uma área de 40 quilómetros quadrados, onde vai estar incluída uma sala de exposições e conferências com cerca de 10 quilómetros quadrados de área. Além destas valências, a infra-estrutura vai albergar um espaço dedicado a espectáculos e desporto, a Galaxy Arena, com capacidade para 16 mil lugares. O centro de convenções será ainda dotado de um salão para banquetes, com capacidade para acolher 2400 pessoas, além de um hotel de luxo com 700 quartos. “É uma honra apresentar esta infra-estrutura de topo, de forma a atrair novos visitantes e complementar a visão do Governo de Macau de diversificação económica e desenvolvimento do território enquanto centro mundial de turismo e lazer”, disse o presidente da Galaxy Entertainment Group, Lui Che Woo, citado pela Inside Asian Gaming. A abertura do centro de convenções da Galaxy trará concorrência à Sands China e à Cotai Expo do Venetian e ao Cotai Arena. Ainda no universo da Sands China, a vice-presidente do departamento de marketing e comunicação, Cristina Quental, revelou que o The Londoner Hotel estará concluído em Julho do próximo ano, de acordo com informação veiculada pela Macau News Agency. A nova unidade hoteleira irá substituir o Holiday Inn Macao Cotai Central, transformando os 1200 quartos do edifício antigo por 600 suites com um quarto.
Raquel Moz SociedadeAlfândega | Apreendido vestuário infantil contrafeito e detidas sete pessoas Mercadoria contrafeita no valor de 70 mil patacas foi interceptada pelas autoridades, em lojas próximas à Avenida Almeida Ribeiro. Os suspeitos pela venda de 852 peças de roupa infantil foram detidos por violação dos direitos de propriedade intelectual [dropcap]O[/dropcap]s Serviços de Alfândega de Macau anunciaram ontem a apreensão de um lote de vestuário de criança contrafeito, que resultou na detenção de sete pessoas envolvidas, cinco das quais residentes e duas não residentes, por violação de propriedade intelectual. Durante a operação, que ocorreu esta segunda-feira, as autoridades interceptaram mercadoria de contrafacção em quatro lojas, alegadamente autónomas, na zona centro do território, perto da Avenida Almeida Ribeiro. Os nomes das lojas não puderam ser divulgados, por “estarem agora em processo judicial”. O lote de mercadoria apreendida foi estimado em 70 mil patacas e era composto por 852 peças de roupa infantil, de diferentes marcas incluindo a britânica “Peppa Pig”, além de artigos com defeito. Segundo os inspectores, a proveniência das peças ainda está por apurar, mas foi trazida do exterior, informaram ontem em conferência de imprensa. O negócio passava por adquirir cada peça por valores entre os 10 e os 30 renminbis e vendê-las depois por somas entre as 25 e as 70 patacas. A verificação das peças e inspecção das infracções levaram à suspeita de violação da propriedade intelectual, pelo que foi feita a detenção dos envolvidos para posterior identificação e investigação. Entre estes, duas pessoas foram dadas como responsáveis, as outras são empregadas das quatro lojas. Os sete suspeitos, cinco mulheres e dois homen, têm idades compreendidas entre os entre os 27 e os 53 anos. Duas das mulheres são portadoras de “blue card”, os restantes são residentes locais. Mais informação Esta não foi, em termos de quantidade, a maior apreensão de produtos contrafeitos do ano, afirmaram os Serviços de Alfândega, mas os números têm sido inferiores aos registados em igual período do ano passado, que os responsáveis atribuem aos esforços de esclarecimento feitos nos últimos anos. “Em relação a 2018, de facto reduzimos o número de casos, porque fizemos mais promoção sobre essa questão da propriedade intelectual e também existem mais comerciantes a fazerem perguntas e a consultarem-nos sobre esta matéria”, indicaram, “e por isso desceu este tipo de crime”. Os Serviços de Alfândega acrescentaram que têm apelado “a todos os cidadãos para que não vendam produtos que violem a propriedade intelectual e não desafiem a lei”. Os sete envolvidos foram já entregues ao Ministério Público, suspeitos de violar o Regime Jurídico da Propriedade Industrial, pela venda, circulação ou ocultação de produtos ou artigos que infringem os direitos de propriedade intelectual. Pelas infracções poderão incorrer em pena de prisão até 6 meses ou pena de multa de 30 a 90 dias, de acordo com o disposto no mesmo diploma. Presentes na conferência de imprensa estiveram o chefe de Divisão de Inspecção, U Iek Chun, o chefe operacional da Divisão de Inspecção, Cheang Wa Kam e a chefe do departamento de Propriedade Intelectual, Tam In Man.
Hoje Macau SociedadeTaishan | Incidente na central nuclear sem consequências [dropcap]O[/dropcap]s Serviços de Polícia Unitários divulgaram ontem que no passado dia 20 de Agosto, terça-feira, a Central Nuclear de Taishan sofreu um incidente ao nível do isolamento. “Pelas 16h50, foi activado o sistema de ventilação eléctrica (DVL) da fábrica de segurança, tendo o pessoal operacional verificado que dois amortecedores de isolamento do sistema de ventilação foram colocados no modo de controlo manual in loco, o que levou a que o sinal de isolamento automático deixasse de funcionar e a função de isolamento ficasse indisponível”, refere o comunicado dos (SPU). Menos de uma hora depois o problema foi resolvido, e os SPU asseguram que, “actualmente, as unidades em funcionamento de Central Nuclear de Taishan mantêm-se em estado seguro e estável”. Segundo as autoridades, “o incidente não afectou o funcionamento, a segurança da central, a saúde do pessoal operacional, da população e do ambiente adjacente à central”.
Andreia Sofia Silva PolíticaPearl Horizon | Investidores recorrem ao Conselho de Estado chinês O facto do Governo de Chui Sai On não ter considerado o pagamento do imposto de selo por parte dos promitentes-compradores do Pearl Horizon no acesso ao programa de habitação para troca levou os lesados a entregar uma carta junto do Conselho de Estado para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Governo Central. Na missiva, pedem igualdade de acesso a uma fracção [dropcap]A[/dropcap] Macau News Agency (MNA) noticiou ontem que os promitentes-compradores do Pearl Horizon recorreram, pela primeira vez, ao Conselho de Estado para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Governo Central, em Pequim, para se queixarem do facto de terem investido milhões numa casa que nunca será construída, pois o Governo retirou a concessão do terreno ao promotor do projecto habitacional, a Polytex. A carta entregue junto do Conselho de Estado também apresenta críticas à postura do Governo relativamente ao programa de habitação para troca. Em declarações à MNA, Kou Meng Pok, porta-voz dos lesados e presidente da Associação dos Compradores do Pearl Horizon, disse que o Executivo liderado por Chui Sai On nunca convidou a associação que representa os lesados para uma reunião, que serviria para discutir o programa de habitação para troca. “Qualquer proprietário é um investidor legítimo e está sujeito à propriedade privada de acordo com a Lei Básica de Macau. O Governo da RAEM deve respeitar o estatuto legal dos proprietários. A confiança nos contratos originais e no pagamento do imposto de selo é a posição consistente e o desejo de todos os proprietários”, pode ler-se. “Exigimos que o Governo Central intervenha e exija ao Governo de Chui Sai On a resolução deste problema o mais cedo possível”, acrescenta a carta. O deputado José Pereira Coutinho entregou recentemente uma interpelação junto do Governo onde acusa as autoridades de criarem critérios errados no acesso à habitação para troca, o que faz com que muitos lesados não se consigam candidatar à aquisição de uma nova casa. Cerca de 100 lesados ficam de fora deste programa porque o Governo teve em conta o registo predial das fracções (que não foi feito por todos os lesados) e não o pagamento do imposto de selo. A empresa de renovação urbana já aprovou 1022 pedidos por parte dos promitentes-compradores do Pearl Horizon, mas mais de dois mil terão apresentado a sua candidatura. “Às cegas” A MNA noticiou também que esta quarta-feira houve uma reunião de membros do Governo, onde se inclui a secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, com outra associação ligada ao empreendimento Pearl Horizon, a Associação de Promoção da Habitação para Troca, que serviu para abordar o programa de habitação para troca, que vai nascer no terreno da Areia Preta onde iria ser criado o empreendimento da Polytex. Kou Meng Pok disse que esta nova associação foi criada pelo Governo, numa acção que ele considera ser secreta. “Porque é que o Governo não discute directamente com a Associação de Compradores do Pearl Horizon? Se o projecto de habitação para troca e renovação urbana cobre todo o território de Macau, não seria mais adequado recorrer à nossa associação para criar uma associação de promoção da habitação para troca?”, questionou.
Hoje Macau SociedadeUM | Professor premiado com Medalha Científica na Suécia [dropcap]S[/dropcap]un Guoxing, professor assistente do Instituto de Física Aplicada e Engenharia de Materiais da Universidade de Macau (UM) foi prestigiado com a Medalha Científica de 2019 na 27ª cerimónia de prémios da Associação Internacional de Materiais Avançados (IAAM), realizada na Suécia, “pelo seu excepcional contributo no campo da ciência avançada de materiais”, anunciou ontem a instituição académica. O docente e investigador da UM é doutorado em Engenharia Civil e Ambiental pela Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong, e tem desenvolvido pesquisas nas áreas de materiais poliméricos avançados, nanocompósitos, materiais de cimentação, misturas de betão, e outras inovações aplicadas. Sun Guoxing tem já 43 teses académicas publicadas e sete patentes registadas. Os vencedores da Medalha Científica do IAAM são seleccionados com base na sua contribuição de excelência nos cinco anos anteriores ao da nomeação, para as áreas da física, química, biologia, engenharia, ciências médicas e matemáticas, oceanologia, ciências da terra, da atmosfera e planetárias.
Hoje Macau SociedadeDiamantes | Novas regras de importação e exportação em Outubro [dropcap]O[/dropcap] Governo anunciou ontem que as novas regras de importação e exportação de diamantes no território entram em vigor a 1 de Outubro, para alinhar o território com as regras do comércio internacional. Sem a certificação do processo Kimberley, que estabelece as regras do comércio internacional, as regiões produtoras não poderiam exportar diamantes em bruto para Macau, que no ano passado importou diamantes já trabalhados no valor de 20 milhões de patacas, explicou, no final de Março, o porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng. O regulamento administrativo complementar divulgado ontem estabelece como prazo máximo de dois anos as licenças de operação de importação, exportação, trânsito, compra e venda e transporte de diamantes em bruto em Macau. O pedido deve ser feito junto da Direcção dos Serviços de Economia, já “o prazo de validade do certificado não pode ser superior a 60 dias, e as licenças de exportação, importação e trânsito são válidas por um período de 30 dias”, explicaram as autoridades do território.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeEPM | APIM não passa concessão do terreno à fundação da escola A Associação Promotora da Instrução dos Macaenses não pretende transmitir a concessão do terreno à Fundação Escola Portuguesa de Macau, que, por sua vez, vai ser a concessionária do polo da escola nos novos aterros. José Sales Marques, membro da fundação, garante tratar-se de um “não assunto” e que ambas as entidades podem trabalhar em conjunto [dropcap]D[/dropcap]uas concessões, o mesmo projecto educativo. O terreno onde está localizada a Escola Portuguesa de Macau (EPM) foi concessionado pelo Governo à Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM), e assim se deverá manter. Miguel de Senna Fernandes, presidente da APIM, garantiu ao HM que não tem em vista uma transmissão de direitos da concessão à Fundação Escola Portuguesa de Macau (FEPM), que ficará com a concessão do terreno nos novos aterros para o novo polo da EPM. “O terreno foi concedido à APIM, portanto não é meramente detido. Não há uma transmissão do terreno à vista, pois não é esta a ideia da APIM”, apontou. O advogado garantiu que cabe ao Governo tomar a decisão de alterar a concessão inicial, sempre com o aval do Chefe do Executivo e “com o acordo da APIM”. Neste sentido, uma eventual mudança não será feita “sem se ouvir a APIM”, acrescentou. De frisar que a APIM é um dos muitos accionistas da FEPM, tendo a liberdade de sair a qualquer momento, mas Miguel de Senna Fernandes garantiu ao HM que “isso nunca esteve em causa”. “Nunca considerámos deixar a FEPM”, frisou. A questão da titularidade do terreno da EPM foi colocada por Joana Alves Cardoso em entrevista ao HM, publicada nesta edição, onde a candidata pelo CDS-PP às eleições legislativas em Portugal, pelo Círculo Fora da Europa, defende que esta matéria deveria ser esclarecida em prol da sustentabilidade futura da EPM. Para a candidata, a APIM já deveria ter transmitido esse direito de concessão à FEPM. Novos aterros com a FEPM Do lado da FEPM, a reacção é de tranquilidade. Ao HM, José Sales Marques frisou que este é um “não assunto” e “não faz parte da agenda da FEPM”. O economista e membro do conselho de administração da FEPM assegura que esta entidade “será concessionária do terreno do novo polo, pelo que por aí teremos muito que fazer”. Sales Marques, quando confrontando pelo HM, disse não temer uma eventual saída da APIM do corpo de accionistas da FEPM. “Não há razões para esses receios. A sustentabilidade das duas escolas precisa, como é óbvio, de ser objecto de estudo e de uma criteriosa análise, nomeadamente quanto à dimensão da nova escola e da actual EPM após a ampliação.” O economista acredita que há até condições para a APIM e a FEPM trabalharem em conjunto no mesmo projecto educativo. “Creio que as duas unidades poderão criar sinergias positivas entre elas e contribuir, no seu conjunto, para maximizar o potencial das duas”, acrescentou. De acordo com o despacho datado de 1998, e assinado pelo, à época, Presidente da República portuguesa, Jorge Sampaio, o património da FEPM é composto pela “contribuição da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses traduzida na disponibilização da utilização do terreno e do imóvel onde se encontra a funcionar a actual Escola Comercial Pedro Nolasco, sita na Avenida Infante D. Henrique, em Macau, para os fins a prosseguir pela Fundação”.
Andreia Sofia Silva EntrevistaJoana Alves Cardoso, candidata às legislativas pelo CDS-PP | Apostar forte em Macau Advogada e com fortes laços ao território, Joana Alves Cardoso integra a lista candidata do CDS-PP, liderada por Gonçalo Nuno Santos, às eleições legislativas para a Assembleia da República em Portugal, pelo Círculo Fora da Europa. A candidata defende que a questão dos direitos do terreno onde está localizada a Escola Portuguesa de Macau deve ser alvo da atenção do Governo português e confessa que os resultados eleitorais vão ditar o estabelecimento de uma secção do partido em Macau Porque decidiu avançar para esta candidatura? Houve um convite pessoal feito pela líder do CDS-PP, Assunção Cristas, em Lisboa, e pelo candidato do CDS-PP ao Círculo Fora da Europa, Gonçalo Nuno Santos. Decidi avançar porque sou simpatizante do partido. Achei o convite natural. Quais os maiores problemas sentidos pela comunidade portuguesa em Macau que vai destacar na sua candidatura? Continuam a existir queixas quanto aquilo que os serviços consulares conseguem realizar. Existe uma efectiva quebra na ligação entre os órgãos de soberania em Lisboa e o que são as massas associativas junto das comunidades portuguesas. Há uma queixa que se prende com o facto de as redes consulares não utilizarem as línguas locais, pelo menos no seu funcionalismo. A comunidade portuguesa queixa-se de não ter os seus interesses ou os seus problemas absolutamente resolvidos pelos serviços consulares actualmente oferecidos. Nesse sentido, qual a proposta do CDS-PP para a resolução desse problema? Um dos pontos do programa eleitoral é a criação do que chamamos de consulados de proximidade, consulados esses que organicamente terão de ter uma comunicação diferente com os cidadãos e os utentes do consulado, que crie mecanismos de proximidade que não se prendam com os serviços consulares propriamente ditos. Deve haver uma ampliação dos serviços de apoio prestados pelo Governo de Portugal aos interessados. O Governo português tem dito que os problemas com o funcionamento do consulado se prendem com questões financeiras, que não permitem um maior recrutamento de funcionários e um aumento salarial. Recrutar mais pessoas seria a solução para melhorar a situação? Acho que a questão passará por dois vectores. Um será adequar os recursos humanos às necessidades das redes consulares. Tem sido manifestado pelo consulado que há um manifesto volume de trabalho ao qual este não consegue dar seguimento face à solicitação que tem. Haverá que implementar um programa de formação na comunicação dos funcionários face aos utentes, uma adequação de métodos de trabalho. Muitas vezes os utentes, quando procuram informação que depende dos serviços centrais, deparam-se com uma notória falha no processo. Haverá certamente limites orçamentais quanto ao recrutamento de pessoal, mas é verdade que hoje em dia as tecnologias colmatam muitas das falhas se forem bem implementadas. Houve francas melhorias ao nível do website, mas este tem-se limitado a ser uma plataforma de informação limitada e de reserva de acolhimento. Nesse aspecto a plataforma poderia ser melhorada face ao que são os hábitos de comunicação nos dias de hoje. José Cesário é candidato pelo PSD, Augusto Santos Silva concorre pelo PS. Quais as expectativas face a estes dois candidatos? O PS fez uma aposta forte, porque é a primeira vez que um ministro dos Negócios Estrangeiros em funções encabeça uma lista. José Cesário é uma pessoa muito conhecida e tem exercido um papel muito activo como deputado e ex-secretário de Estado. Ao CDS-PP interessa o facto de ser a primeira vez que faz uma aposta tão forte no Círculo Fora da Europa com candidatos locais. Há o projecto de abrir uma secção do partido em Macau? Veremos. Serão as próprias comunidades que verão a questão colocada na mesa. Não se retira a hipótese de abrir uma secção do partido em Macau, trabalharemos e estaremos disponíveis para isso, mas tudo depende dos resultados eleitorais, no sentido do que venha a ser um processo mais ou menos acelerado. Que outras matérias ligadas à comunidade portuguesa, ao nível de direitos, liberdades e garantias ou questões laborais, por exemplo, que pretenda debater nesta campanha? O caso dos dois juristas que saíram do hemiciclo, por exemplo, preocupou bastante a comunidade. Esse é um assunto de particular interesse e de uma particular realidade de Macau. A comunidade portuguesa em Macau tem um contexto histórico diferente face às outras comunidades portuguesas no exterior. Tenho assistido de forma observante e preocupada às informações que nos chegam de determinadas situações. Em relação à que me referiu em especial, e que teve destaque nos últimos meses, ainda estamos para saber os detalhes que envolveram a não renovação dos dois contratos, de forma a que não me vou alargar muito porque não sabemos as circunstâncias. Face aos direitos de residência de cidadãos portugueses, tem-se verificado um notório acréscimo de um poder discricionário mais limitado em relação à renovação dos pedidos de residência. Isso resultará de uma política do território e terá os seus fundamentos. Sem dúvida que a Assembleia da República (AR), através dos deputados pelo Círculo Fora da Europa, tem de estar preocupada com o cumprimento de prerrogativas históricas e legislativas que foram acordadas com países terceiros. Na entrevista que concedeu ao HM, José Cesário também disse que a componente pedagógica da Escola Portuguesa de Macau (EPM) deve estar na agenda política. O CDS-PP tem o mesmo objectivo? A questão da existência e da sustentabilidade da EPM deve ser sempre uma prioridade da AR, em especial do Círculo Fora da Europa. Mas as declarações do doutor José Cesário face à EPM revelam a falta de conhecimento profundo que o PSD tem quanto a matérias de particular importância em Macau, nomeadamente quanto a este tema em particular. E só podem ser justificadas pelo mero esquecimento que estes deputados tenham quanto ao que foi a origem do projecto da EPM. Em que sentido? É inequívoco que a EPM faz parte necessariamente da agenda política do Governo de Portugal porque o Ministério da Educação faz-se representar por três membros no conselho de administração da Fundação da EPM (FEPM), e como tal não é necessário que o PSD venha dizer que este tema precisa de estar na agenda para que isso aconteça. Por outro lado, quer o conselho de administração da FEPM, quer o órgão interno do conselho pedagógico da EPM, estão encarregues de assumir e orientar o projecto pedagógico da escola. Estes elementos podem, de forma capaz e articulada, promover o melhor projecto pedagógico para a EPM e para aquele que é o único público alvo da escola, que é o estudante que pretende frequentar o ensino de matriz portuguesa. Quanto à afirmação de que os alunos seguem estudos noutros países, e da existência de diferentes públicos-alvo, quero deixar duas notas. Mais uma vez revela-se uma falta de conhecimento ou um esquecimento face ao que foi o nascimento da escola, pois ela sempre foi feita de alunos que sabiam de outras opções que não passavam apenas por Portugal. E eu pessoalmente nunca soube de nenhum caso em que o nosso currículo fosse colocado em causa, antes pelo contrário. Sempre foi muito bem aceite em escolas na Europa, australianas ou americanas. Quanto às diferenciações em matéria do perfil do aluno, elas sempre existiram no liceu de Macau, no Colégio Dom Bosco e na Escola Comercial. O que aconteceu é que foi tudo aglutinado numa escola exclusivamente portuguesa. O que não tem acontecido, e isso sim deveria fazer parte da agenda política e ser uma prioridade, é haver um olhar mais atento aquilo que é a sustentabilidade da EPM. Refere-se à sustentabilidade financeira? É sabido que a associação de pais pediu, mais do que uma vez, contas à FEPM, e estas nunca foram satisfatoriamente prestadas. Por outro lado, e mais importante, é sabido que desde o inicio é a Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM) que detém o direito sobre o terreno onde está localizada a escola. A APIM é uma mera accionista da FEPM e é livre de sair como qualquer accionista, como aliás fez a Fundação Oriente há algum tempo. Sabe-se também que a APIM nunca transmitiu esse direito da transmissão do terreno à FEPM, como seria de esperar, nem nunca diligenciou nesse sentido. E essa questão é essencial e deveria estar no topo da agenda política, porque decide, ou não, a afirmação de uma EPM livre de quaisquer vicissitudes. José Cesário fez também uma crítica face ao posicionamento do CDS-PP relativamente às alterações à lei eleitoral. Como reage a isto? No que concerne ao recenseamento eleitoral é falso o que o doutor José Cesário vem dizer, não é verdade que o CDS-PP não tenha participado nas discussões. Somos absolutamente a favor de uma alteração que promova a liberdade do voto e que facilite o voto nas comunidades portuguesas, mas facto é que, quanto ao voto electrónico, há ainda que se fazer estudos e implementar experiências e enquanto isso não acontecer a posição do CDS-PP é de que a lei eleitoral que temos terá, por hora, satisfazer positivamente as necessidades. O CDS-PP continua a pensar que o voto deve ser preferencialmente presencial, e não o sendo, não serão as associações locais as entidades mais adequadas para supervisionar o acto eleitoral. Também houve críticas face ao posicionamento do CDS-PP em relação à lei da nacionalidade. A última proposta apresentada pelo CDS-PP e PSD foi aprovada em 2015 e prendia-se sobretudo com a concessão da nacionalidade portuguesa a netos. É totalmente falso que o CDS-PP tenha estado longe dessas matérias. Quanto a outras propostas que têm vindo a ser apresentadas, o CDS-PP, não votou favoravelmente porque tem uma participação activa, mas discute as propostas apresentando os seus fundamentos. A lei da nacionalidade é demasiado importante para estar a ser alterada a cada seis meses ou um ano, sempre que uma bancada parlamentar entende que está na hora de acrescentar mais uma adenda. É uma lei estrutural do país e não devem ser pasmados orgulhos partidários. O CDS-PP toma como posição de que o critério que deve ser continuado a ser tomado em conta nas alterações à lei da nacionalidade é o do laço sanguíneo. De resto, as expectativas da comunidade portuguesa na diáspora é de que continue a prevalecer o critério do laço sanguíneo. Assusta-a a abstenção nas próximas eleições? Muito, é um dos pontos principais da minha candidatura individual. Como candidata inserida na lista tenho promovido o apelo ao voto, independentemente da escolha que as pessoas façam. O consulado poderia ter tido um papel mais activo neste campo? Vítor Sereno, ex-cônsul, chegou a fazer uma campanha a apelar ao recenseamento eleitoral. Poderia ser feita uma maior promoção do acto eleitoral começando por Portugal e acabando nas redes consulares. Se isso poderia ser feito pelo consulado, sem dúvida, mas não sei se esse é o propósito de Paulo Cunha Alves (actual cônsul). Conhecem-se algumas das plataformas digitais para verificar o recenseamento e capacidade eleitoral, mas é uma publicidade muito mitigada e institucional. Nesse sentido, é também necessário que os partidos olhem com mais atenção para os eleitores portadores do passaporte português mas que não dominam a língua? Será sempre uma comunidade portuguesa de origem chinesa, mas para mim é comunidade portuguesa. Tem de haver um trabalho maior de divulgação e de apelo à participação na vida comunitária, porque apenas com um sentido de pertença é que as pessoas abordam princípios de direitos cívicos. Falhando essa pertença à comunidade, dificilmente as pessoas se vão sentir próximas para cumprirem um dever cívico. Reforçaria o facto de o Círculo Fora da Europa ser desde há 30 anos o mesmo e isso não serviu para resolver problemas que se arrastam há anos. Considero que está na altura de haver uma verdadeira mudança.
Hoje Macau SociedadeHong Kong | Corrida à renovação de passaportes no Consulado [dropcap]D[/dropcap]esde há dois ou três meses a esta parte, notámos um aumento da procura por parte dos utentes que residem em Hong Kong, no que diz respeito à revalidação de passaportes e de cartões de cidadão” portugueses, confirmou ontem o cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong à Rádio Macau. Paulo Cunha Alves comentou aos jornalistas que, desde o início dos protestos contra o Governo da ex-colónia britânica, cresceu a procura dos serviços consulares por parte de cidadãos nacionais ali residentes. “Muitos deles são titulares destes documentos, mas não os costumavam renovar regularmente. Eventualmente, agora estarão mais interessados em tê-los regularizados”, justificou. Sobre um maior interesse da população vizinha numa alternativa à instabilidade política e económica que se vive em Hong Kong, o cônsul-geral português adiantou ainda, que não é só a renovação de documentos nacionais que tem aumentado, mas também a emissão de vistos de residência e de investimento em Portugal. O diplomata esteve com a comunicação social ontem, durante a entrega da Medalha de Mérito das Comunidades Portuguesas, atribuída pelo Governo português à Santa Casa da Misericórdia de Macau.
Hoje Macau Manchete SociedadeMisericórdia distinguida com Medalha de Mérito das Comunidades Portuguesas [dropcap]A[/dropcap] Santa Casa da Misericórdia de Macau foi ontem distinguida com a Medalha de Mérito das Comunidades Portuguesas, um reconhecimento que “dá mais força e alento”, disse o provedor da instituição à agência Lusa. “A cerimónia de ontem, na qual se formalizou a distinção feita pela Secretaria de Estado das Comunidades é um honroso reconhecimento do esforço colectivo”, que “dá mais força para continuarmos a defender e valorizar a nossa identidade, bem como o nome de Portugal no Oriente”, sublinhou António José de Freitas. “Dá mais força e mais alento” à “Santa Casa da Misericórdia, que é o espelho solidário de Macau”, acrescentou, lembrando que a distinção sucede também num momento especial: no ano em que se assinala o 20.º aniversário da Região Administrativa Especial de Macau [RAEM] e os 450 anos da instituição, sempre numa “missão de índole social e de cariz humanitário”. A Medalha de Mérito das Comunidades Portuguesas (grau Placa de Honra, neste caso) procura galardoar as pessoas singulares e colectivas, nacionais ou estrangeiras, cuja actividade contribua ou tenha contribuído para o fortalecimento dos laços que unem os Portugueses e lusodescendentes. Em acção A medalha é atribuída quando se verifica a dignificação da presença de Portugal no mundo, a valorização das comunidades portuguesas nas sociedades de acolhimento e a divulgação da língua e cultura portuguesas. Em declarações à Lusa, o embaixador responsável pelo Consulado Geral de Portugal em Macau e Hong Kong explicou que a importância da distinção justifica-se pelo “esforço e acção solidária e de apoio social de associações como a Santa Casa da Misericórdia de Macau”, essenciais para se apoiar “o desenvolvimento harmonioso da sociedade” no território. No seu discurso, durante a cerimónia, Paulo Cunha-Alves desejou que a Santa Casa da Misericórdia de Macau “prossiga a sua acção de solidariedade e que continue a ser elo de união entre todos os residentes (…), contribuindo para o multiculturalismo da sociedade da RAEM, numa perspectiva social de estabilidade, desenvolvimento e prosperidade”. Contas à vida A Santa Casa da Misericórdia de Macau tem um orçamento superior a 70 milhões de patacas, com uma despesa mensal em salários superior a três milhões de patacas (próximo do valor que a instituição arrecada das rendas do seu património imobiliário) e um subsídio governamental que “representa apenas cerca de 25 por cento”, explicou em Maio o provedor em entrevista à Lusa, no mês em que foi condecorado pelo Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa. A obra social da Misericórdia em Macau abrange áreas como o apoio a deficientes, idosos e crianças. Um centro de apoio a invisuais (80), um lar (135), uma creche (258) e uma loja social são estruturas que traduzem a actividade social da instituição que tem mais de 180 funcionários. Inicialmente designada de “Confraria e Irmandade da Misericórdia de Macau”, foi criada poucos anos após a fundação de Macau, como entreposto português. O fundador, o jesuíta Belchior Carneiro, esteve mesmo ligado à fundação do Senado, em 1853, a primeira instituição política no território. Nesse período, a instituição “contribuiu para a implementação de taxas organizadas sobre diversas actividades até então não reguladas, funcionou como banco, emprestando dinheiro, e promoveu uma lotaria muito popular”, pode ler-se no site da Santa Casa da Misericórdia de Macau. Concessão renovada Foi ontem publicado em Boletim Oficial (BO) um despacho que dá conta da renovação da concessão de um prédio a favor da Santa Casa da Misericórdia de Macau (SCMM). O despacho, assinado pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, determina que o terreno, com uma área de 396 metros quadrados e localizado entre o Largo do Senado e a Travessa da Misericórdia, continua sob alçada da SCMM, destinando-se a “manter a construção nele implantada compreendendo dois pisos, para finalidade de escritório e comércio”. Esta revisão da concessão foi precedida de um pedido, feito pela SCMM, de alteração da finalidade do piso do rés-do-chão do edifício para comércio, pedido esse feito em 2017, apenas aceite em Abril deste ano por parte da Comissão de Terras.
Andreia Sofia Silva VozesQuase psicopatas [dropcap]S[/dropcap]omos todos seres humanos e atentos ao mundo que nos rodeia, até ao dia em que nos esquecemos disso mesmo. E, por norma, esse esquecimento ocorre com frequência nas redes sociais, onde nos atacamos quase sem dar por isso. Há uns tempos, um leitor enfurecido decidiu escrever na página oficial do Hoje Macau, no Facebook, que nós merecíamos levar com uma bomba, uma publicação feita na caixa de comentários de uma notícia sobre ataques na zona da Faixa de Gaza. Bastante elucidativo. Agora, são os protestos em Hong Kong que geram uma onda de revolta individual e quase colectiva contra os manifestantes. Há dias, um leitor escrevia que os tiros dados pela polícia não deveriam ter sido feitos para o ar, mas directamente para quem estava a protestar. Tipo arma de fogo, morriam logo vários de seguida. Aposto que se trata de um bom residente, cumpridor das regras sociais e defensor da harmonia de Macau. Só não lhe dêem uma arma para as mãos. Somos todos bonzinhos e respeitadores, até termos acesso a uma rede social. Aí, destilamos ódio, somos uns quase psicopatas sem nos apercebermos. Seríamos incapazes de matar, mas nas redes sociais, não faz mal nenhum ameaçar. Serve para descomprimir das agruras da vida…
António Cabrita Diários de Próspero h | Artes, Letras e IdeiasConfesso-me culpado [dropcap]N[/dropcap]a leitura de Ernesto Sábato, por causa de um prefácio a escrever, descubro: o escritor argentino não traía a paixão mais chã pelo futebol. Eu sempre liguei menos ao futebol (por ter sido um praticante medíocre?) e neste fim de semana esqueci-me de ver o Benfica-Porto. Todavia, o meu desafecto prende-se mais com o que Hans Ulrich Gumbrecht explica: «Existem dois modelos básicos de comportamento, no tempo de lazer, na sociedade burguesa, um reconhecido como “exigente” e outro como “trivial”, e esta dicotomia valorativa é acompanhada por uma outra diferenciação que, pelo menos desde o período moderno inicial, pode ser observada entre os jogos que enfatizam o corpo e os jogos que enfatizam a mente, entre o desporto e a literatura.» Ou seja, padeço (padeci?) de snobeira quanto ao desporto. Não tenho dúvidas. O Gumbrecht elucida nuns ensaios notáveis porque se deu a transferência da valorização pública duma orbe intelectual para a desportista; as “estéticas da presença”, performáticas, apagam mais facilmente o fosso entre o artista e o público/observador e geram uma atmosfera simbiótica, seja no desporto como na música pop/rock; os quais se usam de velhos mecanismos, como a “identificação”. No filme Bohemian Rhapsody, sobre o cantor Freddie Mercury, há um momento que ilustra bem este ponto. Após a morte do cantor, Bryan May, o guitarrista, conta como nasceu uma canção emblemática da banda, Radio Gaga: para intensificar essa interação com o público em que o Freddie era mestre, lembrou-se de fazer uma canção que levasse o público a co-participar na textura do refrão através das palmas. Claro, foi um êxito. Vi também um concerto de uma cantora brasileira (não me lembro qual) no qual, aos primeiros acordes de um seu sucesso, o público desatou a cantar tão maciçamente que a artista, comovida, do princípio ao fim, limitou-se a direcionar o microfone para o público, no fito de ampliar a comunhão. Existe apenas o transe da música, já não existe de um lado o autor/intérprete e o receptor de outro; a amplificação fez sobressair o sentimento de pertença. No futebol é o mesmo. No Iniesta, no Messi e no Luis Suarez “projecta-se” a jogada que os fãs desejam. O futebolista? Um mero heterónimo do fã. A paixão do fã é a de quem foi tomado pelo fanatismo próprio ao entusiasmo que, para Platão, era o abono de vida do poeta (- entretanto, desviado para as malhas da racionalidade mais ilhada), e é essa exaltação que encadeia aquele transe colectivo. Alguma arte e literatura, da ala mais erudita, ficaram arredadas desta qualidade. Desde que deixei de juntar cromos de futebolistas que, progressivamente, se me tornou tudo demasiado cerebral, distanciado, mediado pelo discursivo. Fareja-se, o entusiasmo em T.S. Eliot, na Arte Conceptual, no filósofo Heidegger? Só solenidade, discurso e disforias. Ficou pior, agorinha mesmo: por causa do Sabato descobri o livro de Evgen Bacvar, Le Voyeur Absolu o magnífico fotógrafo esloveno que é cego desde os 12 anos de idade. Sheet, ia começar esta tarde no ginásio os meus treinos de boxe e, está visto, vou faltar para ler as letrinhas que o esloveno nunca leu e apreciar-lhe as fotos que imaginou mas nunca viu. Já nos anos cinquenta George Bataille acusava a civilização, não apenas de ter deixado insatisfeitas as necessidades corporais da humanidade, mas, através da permanência de tal frustração, de as ter reprimido – ao nível coletivo. E a hipóstase da corporalidade – através da suposta exclusão do intelecto – sempre enervou muito os intelectuais. Falo por mim, que nunca acreditei muito no mito da espada do Afonso Henriques, do bem que faria aos peitorais erguê-la. Enuncia Gumbrecht: «(…) coloquemos a questão: quem lê literatura contemporânea e o que é que os seus (já poucos) leitores – tipicamente – fazem com os seus corpos? (…) Enquanto experiências subjetivas “autênticas” do corpo, os intelectuais de hoje apegam-se àquelas experiências do corpo que “vão ao limite”, àquelas nos quais a própria experiência do corpo se torna uma “expansão da consciência”. Talvez esta obsessão em “experimentar os limites” seja um indicador de quão difícil (impossível) se tornou para eles habitarem os seus próprios corpos.» É pertinente a questão, desdenhámos a inteligência colectiva que se manifesta no fluxo e na materialidade do jogo desportivo e que além de ser hoje o fermento da sociedade de massas estabelece uma nova relação entre o corpo, a sua discursividade e aproveitamento. Embora continue a parecer-me tão bizarro e intratável – roça o irrelevante – que se gaste dois anos de vida num treino intensíssimo e orientado para a meta de baixar um segundo a um recorde de quatrocentos metros livres, como passar dois anos a querer justificar a bisonhice de Heidegger em relação à comédia: duas ilusões razoavelmente infecundas, apesar dos pergaminhos que tais exercícios concedam. Contudo, como, de uma forma até insuspeita, tudo se relaciona, podemos ler na organização tácita de uma equipa de futebol o equivalente das geometrias secretas que delineiam a composição de um quadro, na pintura. Qual é o problema de José Mourinho? Foi perdendo a alegria do jogo e, perdido o entusiasmo, reduziu a leitura do jogo ao cálculo das probabilidades (supostamente científico), apostando agora excessivamente nas jogadas com contorno e nas estruturas tácticas, o que inibe severamente a improvisação nas equipas: tornou-se “um treinador figurativo”, de feição hierática, como o pintor Georges Rouault. Guardiola pelo contrário, deixa que cada jogo conte a sua própria história, apesar de ou contra as estruturas que monta: é um “treinador abstracto”, da ala Kandinsky. Pelo menos é a divagação que me chega, hoje, neste remorso de ter dado banhada, como espectador, ao “meu” Benfica. Sinto-me culpado pela derrota, ou sinto-me derrotado pelo pensamento mágico: sinto que a minha falta de comparência é que quebrou o elã, levando a que aquele indescritível algo que, para além da técnica, pode catapultar a vitória não se tivesse dado. Ora, porra!
Gisela Casimiro Estendais h | Artes, Letras e IdeiasFlores de Paris [dropcap]N[/dropcap]unca peço este bolo. Há uma amiga que o escolhe sempre mas hoje, como ela não está aqui…” Completo-lhe a frase enquanto serve o seu chá. Pequenos, delicados, estranhos rituais estes, que passamos a ter na ausência de alguém para trazê-lo/a mais para perto de nós. Conversamos sobre as idas à piscina, o desamor, o negócio dos livros, doenças e solidão. Mais tarde falaremos sobre o cansaço das viagens e tudo o que pode correr mal em festivais literários. Dir-me-á para não pensar tanto em coisas que, assegura, fiz bem em deixar. Passaram alguns anos desde que me enviou essa foto que nunca esqueci: flores de Paris, de entre as quais sobressaem verónicas, dálias e hortênsias. Noutra altura, uma tarte de maçã ladeada de hortelã e manjericão a emoldurar a singeleza. Não costumo ir muitas vezes à Versailles, o que é pena, porque a sopa de cebola, o pastel de bacalhau, os bolos, e até mesmo a formalidade, são bastante prazerosos. Não fazer muitas vezes algo que nos dá gosto ajuda a preservá-lo como deveríamos. Há uma mini Versailles no hospital onde fui operada a primeira vez e há uma Versailles umas ruas abaixo de onde vivo agora. Mas na original sentei-me com a minha amiga Ana a falar da sua mãe e de bandas desenhadas. De como o pai queria aprender a cozinhar para a mulher, que era professora e cantava fado. Eu não chegaria a conhecê-la, mas naquela tarde senti que sim. Foi ali que estreitámos laços, comovidas que estávamos. Por isso, não sei como poderia ter-me encontrado com mais esta amiga noutro sítio, independentemente do jeito que desse. Há algumas coisas que notamos sempre na primeira vez: quando nos chamam pelo diminutivo, quando alguém de quem gostamos nos diz que somos bonitas (mesmo se agora já o sabemos), quando uma amiga se nos refere como tal, em voz alta, a outra pessoa. «Como é que eu podia explicar à mamã que o problema não era ela, mas a deformação que o tempo sofria na casa dela? Eu entrava na casa da mamã e o tempo tornava-se um mecanismo tosco, como se alguém o esculpisse em fisga, eu à mercê dessa fisga, eu munição contra mim mesma, a ser puxada para trás no tempo e depois atirada, desprotegida contra o presente, onde via todos os meus erros e fracassos. A casa da mamã guardava tudo o que eu não quis ser, e que ironicamente acabei por ser.» Troco mensagens com uma amiga que me diz: “Cliffhanger maravilhoso na Eliete”. Rio-me. Pergunto, citando o livro: “Não vais apagar agora, pois não, Carlota?” Responde com um “Somos todos Eliete”. Somos, mas só a Dulce pode ser a Dulce. Daí a uns dias, vamos a uma conversa na Tigre de Papel e rimos como umas perdidas enquanto trocamos bilhetinhos secretos, ela com uma carraspana de meter dó, anunciando uma morte para breve antes de abandonar a sala mais cedo. «Vou ter de comprar um medidor de tensão arterial destes, e o coração ficou esquecido nos rascunhos.» A capa do livro funde-se com o meu velho edredão laranja. É bom saber que há mais de onde vieram estes livros, estas mulheres. Há muito de Portugal, daquela coisa mesmo deliciosa e terrivelmente portuguesinha em Eliete. Na Dulce há uma gentileza que me encanta sempre. Nunca usei tanto a expressão temos de parar de encontrar-nos desta forma com alguém como com ela. Porque a encontrei quase sempre por acaso, em transportes públicos ou restaurantes de fast food. Não é todos os dias que temos um ataque de riso com alguém que nos faz sentir tanto com a sua escrita. A primeira vez que a vi, ainda não a conhecia, foi num evento com laivos de chique, trazia um vestido preto e havaianas. Sempre a rir, sem querer saber. Há uns anos, a um sábado de manhã, quando entrou e se sentou à minha frente no metro, mochila e casaco floridos, pareceu-me que era ela, a cabeleira loira inconfundível, mas achei que devia controlar-me. Os meus auscultadores só estavam a funcionar de um lado. Sorte a minha. Ele – Lembras-te do Professor Pardal? Também andava sempre com uma lâmpada. Ela – Lembro. Mas ele era magrinho. Terias de fazer uma dieta. (Risos) Eu – Riso silencioso, a tentar ser discreta, mas sem conseguir, à medida que ela se ia metendo mais e mais com ele, um beicinho a nascer-lhe. Ele – A música deve estar boa. (Para mim) Ela – Ahaha Eu – Peço desculpa. (Sem conseguir conter o riso mas a tentar, a limpar as lágrimas e a encolher os ombros) Ele – Deve ser um podcast. (Já a corar) Ela – Eu também tenho disso (Para mim, ambas a rir sem parar). Podia ser a tua imagem de marca, podias ir a todo o lado com uma lâmpada. (Para ele) Como explicar uma amizade que começa antes de que se possa saber o mínimo não-tão-indispensável sobre alguém? Ou será assim que surgem algumas das amizades mais ternas? Não saber quase nada sobre alguém, nem precisar, é o derradeiro guilty pleasure das relações modernas. Ou melhor, saber só o que importa. Levar o seu tempo, e fazê-lo olhos nos olhos. Coisas para as quais não há pressa, flores que continuam a crescer ininterruptamente, para lá dos seus vasos fotografados, num país onde nunca estive.
Luís Carmelo h | Artes, Letras e IdeiasE se a Gronelândia fosse um travesti? [dropcap]H[/dropcap]á alguns dias, andei à procura de ilações absurdas para iniciar uma crónica. Precisava desse condimento. Já veremos por que razão. O percurso seria elementar: bastava passar por notícias vindas da Arábia ou do Irão, ou entrar em algumas universidades como a de Quilmes, em Buenos Aires, cujas pesquisas científicas são sempre interessantes, nomeadamente a que provou que os hamsters recuperam melhor das mudanças de fusos horários, quando estão sob o efeito de viagra. Mas como os humanos são seres azougados, bastou esperar umas horas para que um dos títeres do nosso tempo me proporcionasse ilações absurdas: depois de se comemorarem 152 anos sobre a compra do Alaska ao Canadá (já nem falo dos conhecidos episódios na fronteira sul pela mesma época), eis que o PR dos EUA se propôs comprar a Gronelândia à Dinamarca, um território correspondente a 26 vezes a superfície de Portugal. Um simples negócio imobiliário. Moral da história: procurar ilações absurdas no nosso tempo é um acto absurdo. Kierkegaard e Camus, cada um a seu jeito, já se tinha encarregado do assunto e a primeira-ministra Mette Frederiksen, em Copenhaga, leitora do primeiro dos autores por razões óbvias, voltou agora a sublinhá-lo com aqueles seus olhos de iceberg verde vago. Há seis anos, já outra PM dinamarquesa, Helle Schmidt, tinha caído no goto de Obama, durante as exéquias de Mandela. As primeiras-ministras dinamarquesas e os EUA parecem, pois, para o pior e para o melhor, manter uma relação estilo Deucalião e Pirra. Mas o assunto que me trazia para os corredores desta crónica era literário e elevado, podia lá ser outro, e prendia-se com o conto de Truman Capote ‘Uma candeia numa janela’ que pode ser assim resumido: um homem perde-se na floresta e descobre uma casa onde é bem recebido. A anfitriã é uma senhora de idade, viúva, que vive com vários gatos. O homem passa aí a noite e no outro dia descobre que o amor pelos gatos de Mrs. Kelly estava recheado de dotes faraónicos. Ao abrir a arca frigorífica, uma vasta colecção de gatos congelados comprova-o. E a dona da casa confessa a sua perdição: “Todos os meus velhos amigos. No eterno repouso. É que eu não suportava a ideia de os perder”. O conto tocou-me, porque faço parte daquela franja da humanidade que tem um enorme fraquinho pelos gatos. Mas não sou maluco ao ponto de ir votar no PAN, pois é mais importante voltar a normalizar o Serviço Nacional de Saúde do que criar um paralelo destinado aos mais belos felinos da galáxia. Voltando ao tema, devo referir que, por razões profissionais, procurei na rede críticas a este conto de Capote e ao livro onde ele surge publicado, ‘Música para Camaleões’. E foi então que, por acaso, encontrei um artigo científico que deixa as pesquisas da Universidade de Quilmes a um canto. Insere-se no naipe de investigações que, hoje em dia, fazem vida nos chamados ‘Estudos de Género’. O texto é da autoria de Michael P. Bibler e deixo-o aqui sem mais comentários (a tradução é minha, deixo o original em inglês em rodapé): “Embora a história nos prepare para o facto de os gatos congelados serem símbolos ou substitutos do seu falecido marido, torna-se claro que ela ama os seus gatos literalmente enquanto gatos e nada mais. Capote leva-nos a compreender e a aceitar este amor pelos seus gatos como uma coisa em si mesma. E ao fazê-lo, ele convida-nos a imaginar um mundo mais hospitaleiro capaz de se ajustar a outras opções para além dos limites do casamento heterossexual, incluindo, ainda que sem se limitar a tal, a sua homossexualidade.” Depois de ler esta preciosidade, pergunto-me se valerá a pena sequer comentá-la. Entre comprar a Gronelândia e a ideia de que os gatos congelados significam uma sexualidade de várias entradas, o que sobrará? Sobrará talvez uma breve narrativa de teor oral que me foi contada por um amigo pintor que, por coincidência, é um apaixonado pela prosa de Truman Capote, pelos romances de Camus e pela filosofia de Kierkegaard: ‘O marido queria praticar sexo anal com a mulher, mas não sabia como pôr em prática um projecto de tal complexidade. Lembrou-se de comprar um busto de Napoleão. Colocou-o em frente à cama, ao lado da televisão. Na noite seguinte, a mulher perguntou – “O que faz ali aquele busto?” – e o marido, virando-se para ela, replicou – “qual busto, qual quê, o que tu queres sei eu”. E lá avançou como pôde, coitado’. Esta breve narrativa, que em certos meios científicos é classificada como anedota, tem uma carga suplementar de vernáculo (diz literalmente “ir ao cu”), o que lhe confere um certo fundo antropológico. Se se convidasse o senhor Michael P. Bibler a interpretar este excurso no auditório da Gulbenkian, o que diria ele? Diria que o marido, ao focar-se no peito de Napoleão (era essa a inexorável proeminência do busto), estaria a convidar-nos a imaginar um mundo mais hospitaleiro e capaz de se ajustar a outras posições e opções para além dos limites do sexo oral, competência em princípio partilhável nos mundos hetero e homossexual. Acrescentaria ainda em jeito de conclusão: como os humanos não conhecem o género a que pertencem e precisam de aulas para o descobrir (por causa do dilúvio, Deucalião e Pirra ainda estão na lista de espera), se se tratasse do busto de Trump, tornar-se-ia necessário descongelar os gatos de Mrs. Kelly e a Gronelândia inteira e, depois de tudo derretido, tal como aconteceu com os hamsters de Quilmes, logo se veria para que fuso pendiam as coisas. Só então se podia, com propriedade, falar em negócio imobiliário. Capote, Truman, Música para Camaleões, trad. paulo Faria, Livros do Brasil, Porto, 2015 pp.35-38 [Em linha]. (S/D.) https://static.fnac-static.com/multimedia/PT/pdf/9789723829044.pdf [Consult. 3 Ago. 2019]. “Although the story prepares us to expect that the frozen cats could be symbols or surrogates for her dead husband, it becomes clear that she loves her cats literally as cats and nothing more. Capote pushes us to acknowledge and accept this love for her cats just as it is. And by doing so, he invites us to imagine a more hospitable world in which we accommodate other kinds of object-choice beyond the confines of heterosexual marriage, including but certainly not limited to his own homosexuality.”. In Michael P. Bibler, Capotes´s Frozen Cats – Sexuality, Hospitality, Civil Rights, Journal Angelaki, Journal of theoretical humanities. [Em linha]. (Volume 23, 2018 – Issue 1 / Queer Objects. Issue Editors: Guy Davidson and Monique Rooney) https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/0969725X.2018.1435387?journalCode=cang20 [Consult. 3 Ago. 2019].
Hoje Macau China / ÁsiaComércio | UE alerta para impacto do sistema de crédito social [dropcap]A[/dropcap] Câmara de Comércio da União Europeia na China apelou ontem às empresas europeias para que se preparem para o sistema de crédito social no país, alertando para interrupções “substanciais e amplas” dos seus negócios. O mecanismo, que será lançado em 2020, implica uma “nova abordagem de conformidade regulamentar”, através do uso de análise de dados em grande escala (Big Data), visando a detecção imediata de não conformidade com as regras do mercado. Cada empresa passa a estar sujeita a um sistema de “pontuação”, que afectará o regime fiscal, condições de crédito, acesso ao mercado ou participação em concursos públicos. Os reguladores chineses, desde o fisco às alfândegas, estão a classificar cada vez mais empresas de acordo com aquele sistema, e a partilhar “listas negras” de firmas que violam regras. Joerg Wuttke, o presidente da Câmara de Comércio, afirmou que “não é exagerado dizer que o Sistema de Crédito Social Corporativo vai ser o sistema mais abrangente criado por qualquer governo para impor um mercado autorregulado”. “Também não é inconcebível que se trate de uma questão de vida ou morte para as empresas”, apontou. Wuttke considerou como “profundamente preocupante” a “esmagadora ausência de preparação pela comunidade empresarial europeia”. Documentos do governo revelam que uma variedade de reguladores chineses, desde da segurança no trabalho ao comércio electrónico ou cibersegurança, estão a compilar classificações de empresas segundo 300 regras específicas, informou a Câmara do Comércio, num relatório. Prós e contras Em muitos casos, as empresas estrangeiras podem até beneficiar do sistema, pois geralmente têm melhor conformidade em áreas como a protecção do ambiente, ressalvou a Câmara. “Empresas europeias cujas operações são frequentemente suspensas, em dias altamente poluídos, a par de competidores que não cumprem com requisitos ambientais, deverão poder continuar a produção, enquanto os poluidores perderão pontos” exemplificou. Em outros casos, uma empresa pode perder pontos devido às acções de um parceiro local. Um caso citado no relatório revela que uma empresa estrangeira foi informada de que a classificação do seu parceiro pelas autoridades alfandegárias afectaria a sua classificação. O controverso mecanismo afectará também indivíduos, com os dados coletados a resultarem em recompensas ou punições, dependendo da pontuação, pelo que críticos consideram tratar-se de um sistema “orwelliano”. O relatório considera que a discussão se tem focado nas implicações para os indivíduos, mas que houve “muito menos discussão” sobre o impacto para os negócios.
Raquel Moz EventosFIMM | Billy Childs Quartet e Dorian Wind Quintet juntos em concerto O Quarteto de Jazz de Billy Childs junta-se ao Quinteto de Cordas Dorian para dois espectáculos cada, um dos quais em conjunto, em Outubro no território. A proposta é tentadora e acontece no XXXIII Festival Internacional de Música de Macau [dropcap]B[/dropcap]illy Childs Quartet e Dorian Wind Quintet são duas bandas de relevo convidadas para participar no XXXIII Festival Internacional de Música de Macau (FIMM), que se realiza este ano entre 4 e 30 de Outubro em diversas salas do território. Os dois grupos vão actuar no mesmo dia em separado, a 10 de Outubro, apresentando os seus trabalhos musicais, e no dia seguinte juntam-se para um novo concerto a meias, a 11 de Outubro, onde irão apresentar a estreia mundial de “Ecosystems”, a mais recente produção de Billy Childs. O pianista e compositor de jazz norte-americano é figura de destaque neste programa do FIMM, considerado um dos artistas mais diversificados e aclamados da actualidade na sua área. “As composições e arranjos originais de Billy Childs valeram-lhe um Doris Duke Performing Artist Award em 2013, Guggenheim Fellowship em 2009, 16 nomeações e cinco prémios Grammy”, lê-se no programa divulgado pelo Instituto Cultural (IC). As primeiras influências de Childs devem-se aos mestres de jazz norte-americano Herbie Hancock e Chick Corea, indo beber ainda aos compositores clássicos como Maurice Ravel e Igor Stravinsky. A carreira de William Edward Childs passou também pela “aprendizagem com o lendário trombonista de jazz J.J. Johnson e o grande trompetista de jazz Freddie Hubbard. Antes de conseguir um contrato com a sua editora, gravou e tocou com influentes músicos de jazz como Joe Henderson e Wynton Marsalis”. Como pianista, Billy Childs tocou já em parceria com Yo-Yo Ma, Sting, Renee Fleming, Jack DeJohnette, Dave Holland, Ron Carter, Chris Bottio, os próprios Chick Corea e Wynton Marsalis, e as bandas The Los Angeles Philharmonic, The Detroit Symphony Orchestra, The Kronos Quartet, The Ying Quartet ou The American Brass Quintet. Em 2001, formou o seu grupo de jazz de câmara, composto por piano, contrabaixo, percussões, guitarra acústica, harpa e sopros de madeira, embora fosse tendo diferentes formações em função dos projectos musicais em mãos. Para o espectáculo do FIMM, Childs traz consigo um quarteto de grandes intérpretes de jazz, como “o multipremiado saxofonista Shai Golan, o baixista Dave Robaire, que foi aluno do célebre baixista John Patitucci, e o jovem e enérgico baterista Christian Euman, aclamado como um dos ‘seis bateristas que devemos conhecer’”, informa o IC. O grupo toca às 20h do dia 11 de Outubro, sexta-feira, no grande auditório do Centro Cultural de Macau. O espectáculo terá hora e meia de duração e apresentará obras do seu repertório, como “Backwards Bop”, “Stay” e “Rebirth”, sendo este último o título do seu disco mais recente, premiado com o Grammy de Melhor Álbum Instrumental de Jazz em 2018. Os bilhetes custam 150, 200, 300 e 400 patacas. Sopros barrocos No mesmo dia e à mesma hora – 11 de Outubro às 20h – apresenta-se o Dorian Wind Quintet no palco do Teatro D. Pedro V. O famoso quinteto de música de câmara, composto por instrumentos de sopro, é uma formação versátil e “exímia na interpretação de música de várias épocas, desde as transcrições e arranjos de obras-primas dos períodos renascentista e barroco, até ao século XX com obras contemporâneas de compositores americanos e franceses”. O Dorian Wind Quintet é conhecido mundialmente como um dos mais proeminentes e activos conjuntos de câmara, formado em Tanglewood, no Massachusetts, in 1961. Desde a sua criação, colaborou já com “artistas lendários como Phyllis Bryn-Julson, Lukas Foss e Lorin Hollander”, e percorreu a Europa, Médio Oriente, Índia, África e Ásia, além das digressões que faz pelos Estados Unidos e Canadá. Em 1981, foi o primeiro quinteto de sopros a actuar no Carnegie Hall. Até hoje tem sido “responsável por quase 40 encomendas a grandes compositores e estreou 98 novas composições. A sua encomenda do Quinteto de Sopros nº 4, de George Perle, ganhou o Prémio Pulitzer de Música em 1986, fazendo história por ser o primeiro atribuído a um quinteto de sopros”. O ensemble é actualmente composto por Gretchen Pusch na flauta, Gerard Reuter no oboé, Benjamin Fingland no clarinete, Adrian Morejon no fagote e Karl Kramer-Johansen na trompa. O concerto, que terá aproximadamente 1 hora e 45 minutos, com intervalo, e conta com suites e peças de Trans. R. Roseman, J. Ibert, A. Harberg, P. Hindemith e Johann Sebastian Bach. Os bilhetes custam 250 e 300 patacas. Todos juntos No dia seguinte, sábado de 12 de Outubro, o Dorian Wind Quintet dividirá o palco do Teatro D. Pedro V com Billy Childs, para interpretarem juntos a estreia mundial de “Ecosystems” e o regresso de “A Day in the Forest of Dreams”, estreado em 1997, ambos compostos por Childs. A peça foi entregue pelo compositor ao quinteto em Agosto de 2018, com o apoio do CMA Classical Commisioning Program Grant, para ser estudada e interpretada algures no Verão de 2019, o que acontece agora em primeiríssima mão no FIMM. O espectáculo terá 1 hora e 45 minutos, com intervalo, aos preços de 250 e 300 patacas.