Andreia Sofia Silva PolíticaFunção Pública | Sugerida reorganização do pessoal da área jurídica [dropcap]A[/dropcap] secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, foi ontem confrontada com sugestões de dois deputados quanto à necessidade de reestruturação dos serviços da Administração para uma eficaz distribuição de juristas. O deputado José Chui Sai Peng defendeu a divisão de todos os juristas por vários departamentos. “Uma parte dos juristas estaria nos serviços públicos e outra parte na Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça e secretários. Quando fosse necessário, os serviços públicos poderiam requerer o destacamento de pessoal para uma melhor eficiência dos trabalhos. É como comprar um livro, depois de o ler posso emprestá-lo a outra pessoa”, disse. Sónia Chan admitiu estar aberta a esta possibilidade de reorganização. “Vamos pensar sobre isso, é uma boa ideia. No entanto, os serviços públicos nem sempre querem destacar os seus bons juristas para outros serviços. São poucos os profissionais que têm pouco ou nenhum trabalho, pois temos muitos procedimentos administrativos e acções em tribunal”, explicou. Também Ho Ion Sang defendeu uma concentração dos juristas “num só serviço, para que haja uma menor divergência em termos de produção legislativa”. O deputado criticou também o facto do Governo não ter cumprido o seu plano legislativo anunciado o ano passado. “Um total de sete propostas de lei ainda estão em processo de elaboração. Este ano muitas propostas de lei foram-nos apresentadas e outras já foram submetidas a consulta pública há muitos anos e ainda não chegaram a este hemiciclo, como é o caso da lei de protecção dos consumidores. Parece que o actual mecanismo de coordenação da produção legislativa não está a surtir os devidos efeitos”, frisou o deputado.
Andreia Sofia Silva PolíticaTitulares de principais cargos | Coutinho questiona regalias em cartaz [dropcap]O[/dropcap] deputado José Pereira Coutinho levou ontem um cartaz para a sessão plenária onde criticou a disparidade de regalias atribuídas no seio da Função Pública. Os caracteres chineses diziam que “os trabalhadores da primeira classe têm vilas para viver, pensões de aposentação, subsídio de residência, despesas de representação, viagens em primeira classe, cozinheiros e pessoal auxiliar para as tarefas domésticas”. Por outro lado, “os trabalhadores de segunda classe não têm pensões de aposentação, habitação. Não têm, na sua maioria, o que têm os outros”. No caso dos “trabalhadores de terceira classe, trabalham por hora, com contratos de tarefa e de aquisição de serviços”. A secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, refutou estas acusações. “Não há diferentes níveis, cada um tem o seu trabalho e responsabilidades”, rematou.
Andreia Sofia Silva SociedadeIACM | Urso Bobo vai mesmo ser embalsamado, apesar das críticas de Sulu Sou [dropcap]O[/dropcap] deputado Sulu Sou levou ontem a plenário a questão da morte do urso Bobo, que vivia no jardim da Flora e que faleceu esta semana com 35 anos de idade. Sulu Sou questionou a decisão das autoridades de proceder ao embalsamento do animal, tendo mostrado à secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, um cartaz que tem circulado nas redes sociais. “Depois da questão das más condições dos galgos no Canídromo, as pessoas estão contra o embalsamento do urso”, apontou. Contudo, esta acção vai mesmo avançar, revelou José Tavares, presidente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM). “Nas regiões vizinhas os animais são embalsamados, e esperamos que a história se possa manter. Isto também ajuda a uma maior consciência por parte da população sobre a importância da preservação dos animais, espero que possam compreender”, frisou.
Andreia Sofia Silva PolíticaSufrágio Universal | Sónia Chan justifica-se com novos membros do IAM [dropcap]S[/dropcap]ulu Sou, Au Kam San e Ng Kuok Cheong, os três deputados do hemiciclo do campo pró-democrata, questionaram ontem a secretária para a Administração e Justiça sobre a falta de referência do desenvolvimento democrático no relatório das LAG. Sónia Chan justificou-se com a introdução dos dois novos membros na comissão eleitoral do Chefe do Executivo, oriundos do futuro Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), além de ter falado das alterações já feitas às leis eleitorais. “O Governo presta muita atenção aos elementos democráticos do sistema político”, começou por dizer. “Na alteração da lei eleitoral para a Assembleia Legislativa reforçámos o combate à ilegalidade nas campanhas eleitorais, o que correspondeu aos princípios da transparência pedidos pela população. O IAM vai ter dois membros que vão integrar a comissão eleitoral. No futuro vamos continuar a fazer estudos e a ouvir a sociedade para aperfeiçoamento do sistema político”, rematou. Au Kam San questionou mesmo se a eleição do Chefe do Executivo por uma comissão eleitoral de 400 pessoas irá manter-se para sempre. “Não houve nenhum avanço democrático com essa alteração. A eleição num pequeno círculo vai ser permanente? Temos de pensar nesta questão”, frisou o deputado.
Andreia Sofia Silva PolíticaLAG 2019 | Sónia Chan contraria CA quanto à implementação do Governo Electrónico [dropcap]A[/dropcap] implementação do Governo Electrónico foi um tema bastante abordado pelos deputados na sessão plenária de ontem no âmbito da discussão das LAG na área da Administração e Justiça. Apesar do relatório demolidor do Comissariado de Auditoria (CA), que apontou falhas graves no planeamento e implementação do Governo Electrónico, os governantes garantiram que as medidas têm vindo a ser feitas. Kou Peng Kuan, director dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), referiu que o próximo projecto do Executivo passa pela criação de um website de uniformização dos serviços públicos. A ideia é desenvolver “uma página unificada e uma só conta para todos os serviços”, disse. “Há muitos serviços electrónicos mas estão dispersos. No futuro, quando criarmos a página unificada do Governo, as pessoas podem com uma só conta recorrer aos serviços públicos e terão também acesso a uma aplicação de telemóvel com todos os serviços concentrados”, adiantou Kou Peng Kuan. Sónia Chan referiu que “nos vários mandatos do Governo envidámos esforços para melhorar os procedimentos e promover a uniformização dos serviços”, apesar do relatório do CA ter denunciado a ausência de acções e planos durante vários anos. A secretária adiantou também que “o plano para o período de 2015 a 2019 está quase concluído” e que o Governo vai posteriormente “fazer o planeamento de 2020 a 2024 sobre a governação inteligente”. Nesta fase será feita a aposta no sistema de cloud computing (computação em nuvem), graças à criação de um novo centro. “Este centro vai garantir a partilha de documentos e o trabalho com mega-dados. Depois de ser lançado poderá permitir a informatização dos pedidos relativos à contratação de empregadas domésticas e pedidos de residência. Com a aprovação da lei da cibersegurança vamos fazer mais trabalhos”, adiantou Sónia Chan. Falta de vontade O deputado Si Ka Lon foi um dos mais críticos deste sistema. “O Governo Electrónico não cumpriu os objectivos desejados. Alguns serviços públicos não estão muito motivados para esta medida. Há ou não medidas para ultrapassar este impasse?”, questionou. Ho Ion Sang, ligado à União Geral das Associações de Moradores de Macau, defendeu que o processo tem sido bastante “moroso”. “Apenas foram disponibilizados sete serviços junto do público com o sistema de e-pass. Isto é incompatível com a sua criação. Como vamos coordenar e unificar essas contas que estão dispersas e criadas em serviços diferentes?”, questionou.
Andreia Sofia Silva PolíticaLAG 2019 | Categoria de escriturário administrativo vai acabar na Função Pública Sónia Chan anunciou ontem o fim da carreira de escriturários administrativos no âmbito da revisão do Estatuto dos Trabalhadores da Função Pública, o que vai permitir a candidatos com o ensino secundário “entrar noutras carreiras”. A secretária para a Administração e Justiça admitiu a dificuldade de actualização salarial por escalas [dropcap]O[/dropcap] Governo vai mesmo avançar com o fim da carreira do índice 195 do Estatuto dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ETAPM), que corresponde ao cargo de escriturário administrativo. Na prática, os trabalhadores que já desempenhavam funções equiparadas a uma carreira do índice 260 passam a ganhar o salário correspondente a esse posto. A informação foi avançada ontem pela secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, no primeiro debate na Assembleia Legislativa (AL) relativo às Linhas de Acção Governativa (LAG) da sua tutela. “No que diz respeito à segunda fase do Estatuto dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ETAPM), o objectivo é cancelar a carreira do índice 195, onde trabalham muitas pessoas que têm o ensino secundário complementar. No futuro não vamos recrutar mais pessoal deste índice, que terão oportunidade de entrar noutras carreiras”, frisou Sónia Chan. A medida deixou contente o deputado José Pereira Coutinho, também presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM). “Esta foi uma das reivindicações pelas quais temos vindo a lutar nos últimos 10 anos. Até que enfim que se acaba com esta exploração, pois o pessoal era contratado com um índice remuneratório baixo e exercia funções de uma categoria superior”, disse ao HM. Apesar de estar satisfeito com a medida, Pereira Coutinho promete continuar a lutar pelo fim de outras situações semelhantes na Função Pública. “A luta não acabou e vai continuar, porque o Governo está a pagar o índice 360 para os detentores de bacharelatos, quando estes já não existem. Tendo em conta que há vagas suficientes para cursos universitários, não se percebe porque se pretende manter o índice 360 para bacharelatos. Essas pessoas são contratadas mas desempenham funções de licenciados do índice 430.” Além disso, “existem ainda outras tabelas indiciárias que exploram muito os trabalhadores, e que não correspondem ao trabalho que é desempenhado”, apontou o deputado. Em resposta a Pereira Coutinho, Kou Peng Kuan, director dos SAFP, defendeu a separação de categorias. “Continuamos a ter necessidade dessa diferenciação porque é necessário continuarem as funções de técnico e técnico superior e, por isso, não vamos fazer a fusão. Mas ainda vamos realizar a consulta pública.” Falhas salariais Sónia Chan garantiu que no próximo mês será iniciada uma consulta pública sobre a segunda fase da revisão do ETAPM, e admitiu que é difícil aumentar os salários na Administração por escalas. “Actualmente, a actualização salarial é feita de forma uniforme, pois um índice salarial corresponde a X patacas, e temos de mudar esta dificuldade para poder avançar com essa actualização por escalas. Já fizemos os devidos estudos e temos critérios para essas escalas salariais.” No que diz respeito ao regime de avaliação e desempenho dos funcionários públicos, Sónia Chan também pretende introduzir melhorias. “Temos de melhorar o regime de avaliação de desempenho. Espero que os funcionários que trabalhem bem venham a ser premiados. Podemos fazer um trabalho mais pormenorizado, pois quem tem excelente na sua avaliação pode dar o exemplo aos outros trabalhadores”, explicou.
João Santos Filipe SociedadeBiblioteca Central | Instituto Cultural vai “avaliar” o projecto vencedor do arquitecto Carlos Marreiros Após as dúvidas sobre o plágio, a resposta. O arquitecto enviou ontem uma carta a pedido do IC a explicar o seu projecto e a negar ter copiado o Auditório da Cidade de León [dropcap]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC) pediu explicações ao arquitecto Carlos Marreiros sobre o projecto da Biblioteca Central no Antigo Tribunal, devido às questões levantadas nas redes sociais de que poderia ter havido plágio do Auditório da Cidade de León. A situação foi revelada, ontem, pela presidente do Instituto Cultural Mok Ian Ian, que defendeu igualmente o resultado do concurso público. “Estamos a estudar este caso e contactámos de imediato a empresa que ganhou o concurso público. Mas no Instituto Cultural fizemos sempre uma apreciação de forma justa, imparcial e transparente”, afirmou Mok. A responsável pelo IC explicou também que ficou a conhecer o caso pelas redes sociais, na manhã de ontem: “Como sabem as redes sociais divulgam as informações de uma forma muita rápida. Tivemos conhecimento por esse meio e logo que ficámos a saber deste caso contactámos com a empresa adjudicada”, acrescentou. Este foi um pedido a que o atelier de arquitectura Marreiros Arquitectos e Associados respondeu ainda ontem, como explicou Carlos Marreiros. O arquitectou marcou igualmente uma conferência de imprensa para voltar a negar as acusações, como tinha feito em declarações ao HM. “O IC não me disse nada porque ainda é cedo [para estudarem a nossa resposta]. Mas está tudo em condições para se prosseguir com os trabalhos, e termos a adjudicação para fazer o projecto, no prazo dos 268 dias”, afirmou Marreiros. Durante uma hora o arquitecto esteve em conversa com os jornalistas a explicar todo o seu projecto e a justificar algumas das escolhas durante a concepção. “Sou uma pessoa que gosta de agarrar o boi de frente”, começou por justificar na sessão de clarificações. “Como se trata do concurso público da Biblioteca Central, apressei-me a esclarecer a opinião pública. Se fosse uma coisa privada não estava muito preocupado, mas tratando-se de uma obra com a importância que tem e de estar a ser paga com o Erário Público, as pessoas merecem ser informadas rapidamente”, sublinhou. O atelier de Carlos Marreiros foi um dos nove que apresentaram propostas para o projecto da Biblioteca Central e o trabalho acabou adjudicado por um valor de 18,68 milhões de patacas, que serão pagos pelo Governo. Línguas semelhantes Ainda ao longo da explicação técnica, Carlos Marreiros afirmou que as linhas das janelas do seu projecto recorrem à arquitectura militar, um estilo que já havia utilizado anteriormente no Quartel de São Francisco, e que a separação entre as janelas não é feita de forma recta, como na obra dos arquitectos espanhóis Emilio Tuñón Álvarez e Luís Moreno Mansilla. O macaense mostrou depois imagens do interior Capela de Notre Dame du Haut em Ronchamp (França), do arquitecto Le Corbusier, onde foi buscar inspiração para o projecto que foi a concurso. “É uma peça muito bonita e é das coisas que nós arquitectos temos sempre em mente. E eu, particularmente, porque o Corbusier, além de ser arquitecto, engenheiro e urbanista, era pintor, poeta, escritor. Ele tinha uma mundividência que eu admiro muito”, revelou. Foi também através da literatura que Carlos Marreiros explicou eventuais semelhanças entre o seu projecto com o dos arquitectos espanhóis: “A linguagem vocabular da arquitectura como uma forma de expressão é como uma língua, tem as suas regras, as suas construções frásicas, o seu vocabulário próprio […] E se há algumas construções frásicas que possam ter alguma sugestão de similitude, é um caso que às vezes acontece em todo o mundo, no movimento moderno e na arquitectura contemporânea”, apontou. O arquitecto defendeu igualmente que os dois projectos não podem ser comparados só através da fachada principal: “Não se pode concluir que há cópia, plágio, simplesmente porque uma parte do discurso arquitectónico, do edifício, é relevado para se comparar com outra parte de outro edifício. É preciso, em arquitectura, ter uma análise global de todos os aspectos”, frisou. Desconhecimento do auditório Por outro lado, o arquitecto confessou que desconhecia o projecto do Auditório da Cidade de León, tal como os arquitectos. Marreiros explicou que só foi alertado para o trabalho em causa, após ter sido contactado, na quarta-feira à noite, pelo HM. “Não conhecia os dois arquitectos em causa e a obra deles, de que até gostei. E muito menos conhecia este auditório de León. Por isso, nunca poderia ser uma inspiração e muito menos uma cópia ou plágio. Nem sequer conhecia o edifício”, revelou. Ainda por último, Marreiros questionou o que tinha a ganhar em plagiar num concurso com um grande escrutínio, uma vez que está para ser construído desde 2007. “Não faz sentido pensar-se que ia plagiar num concurso público com tanta exposição, mais a mais a Biblioteca Central, que há 10 se arrasta como um pesado fardo…”, frisou. “Comecei a projectar e a construir, quando ainda estava a estudar em Lisboa. O que é que eu ganhava se começasse a plagiar aos 61 anos?”, perguntou. Inspirações semelhantes Após ter sido revelado o caso, o arquitecto Jonathan Wong comentou a título pessoal os dois projectos. Apesar de ser presidente da Associação dos Arquitectos, Wong fez questão de sublinhar que só comentava o caso a nível pessoal. “Penso que ambos os projectos, do arquitecto Marreiros e dos arquitectos de León, tiveram como inspiração o mesmo autor, o arquitecto Le Corbusier e a Capela de Notre Dame du Haut em Ronchamp”, começou por dizer, ao HM. “Também penso que nestes casos não existe uma forma padrão para avaliar se um edifício é uma cópia ou uma inspiração directa de outro projecto”, acrescentou. Wong admite igualmente que há semelhanças: “Talvez possa existir a percepção, quando se olha para o projecto da Biblioteca Central, que já tinha sido visto em algum lado. Até porque quando olhamos para um edifício falamos na cor e na forma. Aqui a cor é a mesma, o branco, e a forma também é semelhante, basicamente é um rectângulo horizontal”, considerou. Em relação ao procedimentos que o IC pode adoptar, no caso de considerar que poderá haver um cópia, Jonathan Wong defende que há pouca margem de manobra. “A única forma que pode alterar os resultados do concurso é a existência de um problema técnico, que não esteja contemplado. Mas à partida parece que não há problemas neste sentido”, indicou. Proposta autêntica O presidente da Associação dos Arquitectos revelou ainda que não recebeu qualquer queixa por parte dos diferentes associados, face às denúncias online. O HM ouviu ainda a opinião do arquitecto Rui Leão, um dos interessados no concurso, que não quis responder se estava a equacionar impugnar o concurso ou apresentar qualquer tipo de queixas junto do IC. Porém, apontou que o projecto que apresentou era “autêntico”. “A única coisa que posso dizer é que fizemos uma proposta que tem um desenho autêntico, não é copiado de lado nenhum. Dá muito trabalho ter ideias de raiz, e o nosso projecto, do meu ponto de vista, é muito mais interessante e bonito do que o vencedor. É a única coisa que tenho a dizer”, disse Rui Leão, ao HM. A proposta que Rui Leão apresentou, com o nome LBA, Arquitecto e Planeamento, tinha um valor de 16,13 milhões de patacas e um prazo de execução de 250 dias. A proposta de Carlos Marreiros tem um valor de 18,68 milhões de patacas e um prazo de 268 dias.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadePolytex | Sentença do caso contra jornal Sou Pou conhecida a 17 de Dezembro O desfecho do caso em que a Polytex acusa um jornalista e o director do jornal Sou Pou de difamação será conhecido no próximo mês. Ministério Público não encontrou indícios de crime; antiga concessionária do terreno do Pearl Horizon pede dois milhões de patacas de indemnização [dropcap]E[/dropcap]sta manhã decorreu no Tribunal Judicial de Base (TJB) a leitura das alegações finais do caso em que a Polytex acusa o jornal Sou Pou de difamação, devido à publicação de oito artigos de opinião da autoria do jornalista Lei Kong sobre o caso Pearl Horizon. A Polytex exige uma indemnização de dois milhões de patacas por difamação, enquanto que o Ministério Público não detectou indícios de crime. Lei Kong admitiu em tribunal “ter medo” de escrever opinião e disse que os artigos de opinião tinham apenas como objectivo “o interesse público” e que estavam a ser cumpridas “as responsabilidades enquanto jornal”. O jornalista destacou a importância que este caso inédito tem para o panorama da comunicação social em Macau e para a questão da manutenção da liberdade de imprensa. “Admito que possa ter errado mas se isso constitui esse crime que me é imputado…se eu for condenado será uma notícia bombástica para Macau e essa é a minha preocupação.” Leonel Alves, advogado da Polytex, acusou Lei Kong de ter escrito artigos de opinião que transmitiram “mensagens erradas para a opinião pública”, cheios de “delírios”. Assumindo-se como um defensor da liberdade de expressão e de imprensa, o advogado recordou que há limites quando está em causa o bom nome de outrem. “O jornal tem o dever de informar correctamente e aí está o valor da informação”, assegurou. Paulo Ramalho, advogado de defesa dos arguidos, lembrou, entre muitos outros argumentos, que a credibilidade da Polytex já tinha sido posta em causa muito antes da publicação dos artigos de opinião no jornal Sou Pou. Além disso, acusou Leonel Alves de demonstrar uma “atitude de político” na sua intervenção. “Falou como um político e fez uma interpretação própria de um político que, como disse, tem as suas bases.” Leonel Alves, que foi deputado na Assembleia Legislativa (AL), e que votou no processo legislativo relativo à lei de terras, refutou esta acusação. “Trabalhei muitos anos na AL mas interferi sempre como jurista nos trabalhos legislativos, dando o meu contributo. Não trouxe inputs políticos para esta audiência”, frisou.
Hoje Macau EventosGalo de Barcelos em destaque no Desfile Internacional de Macau em Dezembro [dropcap]O[/dropcap] Galo de Barcelos vai estar em destaque, este ano, no Desfile Internacional de Macau, que assinala o 19.º aniversário da transferência da administração de Portugal para a China, anunciou hoje a organização. Além da figura portuguesa, outras nove da China, de Macau e de oito países lusófonos vão representar “a essência cultural dos respectivos países e regiões” na oitava edição do Desfila, em 16 de Dezembro, subordinado ao tema “Encontro entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, acrescentou. As restantes figuras incluem Nüwa da China, A-Má de Macau, Sol de Cabo Verde, Crocodilo de Timor-Leste, Macaquinho de Nariz Branco da Guiné-Bissau, Protetora das Florestas do Brasil, Ilha dos Galos de São Tomé e Príncipe, Deusa do Mar de Angola e Espírito dos Oceanos de Moçambique. Portugal vai estar também representado pelo grupo Projectos de Intervenção Artística (PIA), um dos 76 que vai animar esta edição do Desfile Internacional, que visa “introduzir a nova colaboração cultural” entre a China e o bloco lusófono. Tal como na edição anterior, o Desfile terá início nas Ruínas de São Paulo e terminará junto ao lago Sai Van, onde uma cerimónia vai assinalar o 19.º aniversário da transferência de administração de Macau de Portugal para a China, a 20 de Dezembro de 1999. Brasil, Guiné-Bissau e Moçambique são os países de língua portuguesa participantes, tal como 57 grupos locais, 19 do Interior da China e de França, Espanha, Rússia, Colômbia, Itália, Alemanha, Holanda, Argentina, Japão, Malásia, Coreia do Sul e Hong Kong, num total de mais de 1.700 participantes que vão actuar em Macau. Apesar de manter “o modelo de anos anteriores”, o Desfile apresenta nesta edição mais “24 actuações”, entre 1 e 15 de Dezembro, e ‘workshops’ comunitários, além do programa de dia 15 de Dezembro, de acordo com o programa apresentado pela presidente do Instituto Cultural de Macau, Mok Ian Ian, em conferência de imprensa.
Hoje Macau China / ÁsiaChina boicota produtos da Dolce & Gabbana após alegados insultos racistas [dropcap]A[/dropcap]s principais plataformas de comércio electrónico da China deixaram hoje de vender produtos da Dolce & Gabbana, após três anúncios da empresa e insultos racistas, alegadamente proferidos pelo co-fundador da marca italiana, terem motivado críticas no país. Uma pesquisa por produtos da Dolce & Gabbana nas principais plataformas de comércio electrónico do país, como Tmall e JD.com, não dão hoje qualquer resultado, enquanto nas redes sociais chinesas vários internautas lançaram hoje apelos de boicote à marca. A reacção surge após uma série de anúncios da Dolce & Gabbana, que mostram uma mulher chinesa a tentar comer comida italiana – pizza, esparguete e cannoli – com pauzinhos, ter resultado em várias críticas e numa disputa com o co-fundador da marca Stefano Gabbana, que diz agora que a sua conta oficial no Instagram foi pirateada. Imagens difundidas nas redes sociais chinesas mostram Gabbana numa discussão ‘online’, na qual se refere à China como um “país de porcaria”, “mafioso, sujo e ignorante”, e afirma que os chineses comem cão. A marca emitiu já um comunicado a pedir desculpa e afirmou que as suas contas no Instagram foram pirateadas. “Pedimos muita desculpa por qualquer ofensa devido a estas mensagens não autorizadas. Nós respeitamos a China e o povo chinês”, lê-se. Na quarta-feira, a controvérsia tornou-se rapidamente no tópico número um na rede social Weibo, com mais de 120 milhões de visualizações. Zhang Ziyi, estrela de cinema de “Memórias de uma Geisha” considerou já que a marca “se humilhou a si própria”. Celebridades como a actriz Li Bingbing e a cantora Wang Junkai anunciaram que iam boicotar um desfile da marca italiana em Xangai, agendado para quarta-feira, e entretanto cancelado. Shaun Rein, analista do China Market Research Group, que conduz análises sobre o mercado chinês, disse esperar um período difícil para a empresa, ao longo dos próximos seis a doze meses. A Ásia, e a China em particular, são um mercado chave para as marcas de luxo europeias. Um estudo recente da consultora Bain revela que os chineses compõem um terço do consumo de gama alta no mundo, seja em compras no mercado doméstico ou em viagem. Este número deve subir para 46%, em 2025, impulsionado pelos ‘millennials’ e a geração nascida em meados dos anos 1990. A Dolce & Gabbana tem 44 lojas na China, incluindo quatro em Xangai. Entrou no mercado chinês em 2005, na cidade de Hangzhou, costa leste do país.
Hoje Macau EventosA vida e as letras todas de Chico Buarque pela primeira vez reunidas num só livro [dropcap]A[/dropcap] vida do músico Chico Buarque e todas as letras que escreveu estão pela primeira vez reunidas num único livro, intitulado “Tantas Palavras”, que a Companhia das Letras publicou este mês em Portugal. Esta “arca do tesouro literária”, como a editora lhe chama, reúne todas as letras escritas por Chico Buarque – mais de 300 -, desde “Tem mais samba” (1964), que o músico considera o marco zero da sua carreira, até “Tua cantiga” (2017). A única letra que não consta desta compilação é a da música “Sonho impossível”, uma versão que Chico Buarque e Ruy Guerra fizeram, em 1972, a partir da canção norte-americana “The impossible dream”, de Joe Darion e Mitch Leigh. A música foi gravada e lançada em 1975, no disco “Chico Buarque e Maria Bethânia Ao Vivo”, na voz de Maria Bethânia, que consagrou esta versão brasileira. No entanto, “os detentores dos direitos autorais da canção original não permitiram a reprodução da versão de Chico Buarque e Ruy Guerra”, lê-se no livro. “Tantas palavras” traça também o percurso de vida do compositor, cantor e ficcionista brasileiro, através de uma extensa reportagem biográfica escrita pelo jornalista Humberto Werneck a partir de pesquisas e de entrevistas feitas com o próprio Chico Buarque e com personalidades da cultura e música brasileiras, como Tom Jobim, Edu Lobo, Caetano Veloso e Gilberto Gil. A reportagem começa com o episódio que deu origem à primeira letra que Chico Buarque escreveu: Luiz Vergueiro, publicitário e produtor, encomendou ao “seu amigo Chico” uma música para o musical que estava a preparar. Dois dias antes do espectáculo, à noite, o compositor apareceu com uma música que “até não era ruim”, mas não servia, porque não passava a mensagem pretendida. “Chico saiu furioso. No dia seguinte, às dez da manhã, o produtor o vê chegar outra vez, ‘os olhos vermelhos pela noite em claro e um tremendo bafo de cana’, e com uma canção ainda quentinha no violão. Era ‘Tem mais samba’”. A partir daí a história recua no tempo, até ao nascimento de Chico Buarque, para depois discorrer sobre a evolução do seu crescimento como pessoa e músico, a que não faltam episódios da vida familiar, da vida no estrangeiro, de “colisões de adolescente com a Lei”, da efervescência política até à ditadura no país, que o leva a aproximar-se do partido comunista brasileiro e de outras correntes de esquerda, e do exílio no estrangeiro. “Num texto a que não faltam humor e emoção, revelando saborosas histórias, o leitor acompanha Chico Buarque na sua fascinante trajectória de homem e de artista, para com ele desembocar na serena maturidade de um músico que se afirmou também como grande romancista”, segundo a sinopse do livro. Chico Buarque escreveu “Estorvo” (1991), pelo qual recebeu o Prémio Jabuti para melhor romance do ano, “Benjamim” (1995), “Budapeste” (2003) e “Leite derramado” (2009), ambos distinguidos com o Prémio Jabuti para Livro do Ano, e ainda “O irmão alemão”. A relação destes livros, com as datas de lançamento, os países onde foi publicado, e as adaptações cinematográficas de que foram alvo, está descrita no final do volume, num capítulo dedicado à “obra” do autor. Nesse capítulo encontra-se também uma lista de todos os discos que editou, e respectivas datas, bem como as peças de teatro que escreveu: “Roda-Viva” (1967), “Calabar” (1973), “Gota d’Água” (1975) e “Ópera do Malandro” (1978). A compor toda a parte escrita, esta obra de 495 páginas contempla ainda um conjunto de fotografias e imagens da vida de Chico Buarque, sozinho, com a família, com colegas estudantis, ou com outros músicos, que ajudam a ilustrar o percurso pessoal e profissional do músico. Hoje com 74 anos, e já sete netos, Chico Buarque continua a escrever e a compor, e imagina-se a chegar aos “noventa e tantos anos”, com saúde, imaginação, vontade de criar e “virando a noite por causa de uma música, de um livro…”.
Tânia dos Santos Sexanálise VozesGino-fobia [dropcap]U[/dropcap]ma tentativa falhada de neologismo, ou talvez nem tanto. Estou na sala de espera do hospital, à espera de uma consulta. Estou à espera há imensas horas, porque aconteceu eu ter uma vida e atrasar-me. Se calhar atrasei-me de propósito. O que interessa é que puseram-me no final da fila e agora tenho, quantas, uma dezena de vaginas à minha frente? Não sei, estou à espera há duas horas para a minha ser ‘inspeccionada’ ou verificada, nem sei que verbo é o mais adequado. Não sei porque é que as pessoas à minha volta têm um ar tão relaxado – serei só eu a irradiar tensão e desconforto? Quem é que no seu perfeito juízo quer tirar as cuecas, deitar-se de costas, abrir as pernas e deixar um estranho mexer-lhe nas parte íntimas? Mesmo que seja um estranho de bata branca, continua a ser um estranho. A verdade que esta é a segunda vez na minha vida que estou numa sala de espera para ver um ginecologista. A primeira foi há dez anos atrás e a coisa correu muito mal. Prometi a mim mesma que não voltaria. O raio da Gineco era bruta como tudo, e por isso acho que… traumatizei. Daí o pobre neologismo no título, que, na verdade, quer dizer ‘fobia de mulheres’. Não é bem o caso, tenho é medo da Ginecologista. Esta não é a minha história, tenho outra(s). Mas o medo não é incomum: pessoas detentoras de vaginas que tomam calmantes, pessoas que têm que respirar fundo e outras que estão absolutamente tranquilas com toda a experiência. Há imensos factores que podem moldar esta ida – extremamente importante à saúde feminina – à Gineco. Primeiro, a relação paciente e profissional de saúde é uma relação que pode ser complicada. Uma das razões é que nós temos um corpo que o sentimos, mas o outro é que percebe mais sobre o nosso corpo, apesar de não o sentir. Digamos que é uma experiência muito pouco participativa. Há quem tenha problemas com essa dinâmica e há outros que não. O cerne da questão é que temos que ter a sorte em arranjar um bom médico que nos ouça com atenção – daí as pessoas detentoras de vaginas procurarem recomendações. Segundo, continuamos a anos luz de perceber bem a saúde feminina, aqui no reino do conhecimento diário e mundano. Há coisas do conhecimento técnico que não passam para o reino dos comuns mortais. Vivemos com a sombra do cancro que nos assola frequentemente – e por isso a insistência em campanhas de sensibilização para se tomarem medidas e rastreios como mamografias e citologias. Mas há tantas outras condições que podiam ser mais discutidas. Como por exemplo HPV (e as suas verrugas vulvares), herpes genital, cândida, vaginites e vaginoses. Ir ao médico ginecologista regularmente é extremamente importante porque o nosso corpo detentor de vagina – cíclico – passa por muitas transformações e desafios ao longo do tempo. Mas para quem tem medo de ir, há vários dilemas que se criam. O que é que é melhor? Eu não encarar a condição da minha vagina ou submeter-me a uma carga de nervos aterrorizadora? Parece uma decisão simples, mas percebo perfeitamente que não seja. Acho que o primeiro passo é compreender este terror. Há imensa gente que tem medo de ir ao dentista. Mas por alguma razão, fala-se mais disso do que do medo da Gineco. Uma pesquisa rápida em bases de dados em artigos científicos mostra-me que há mais literatura desenvolvida sobre o medo do dentista, do que o medo do Ginecologista – que sugeriu zero resultados. O medo do urologista também sugeriu zero resultados – apesar de ser a especialidade mais odiada pelos homens. Parece-me bastante natural que estas idas a especialistas do órgão sexual reproductor não sejam fáceis pelo simplesmente facto de já ser difícil falar sobre o sexo, educação sexual, direitos sexuais e reprodutivos no espaço público. Tenho cá para mim que talvez deva ser um tópico mais discutido, se não for na academia, que seja entre amigos ou com profissionais de saúde. A ‘ginecologio-fobia’ será real?
Hoje Macau SociedadeAlexis Tam visitou os feridos do Grande Prémio [dropcap]O[/dropcap] Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, deslocou-se ontem ao Centro Hospitalar Conde de São Januário para visitar os cinco feridos no 65.º Grande Prémio, incluindo a piloto alemã Sophia Floersch, que teve um acidente na curva do Lisboa. Segundo um comunicado oficial, Alexis Tam manifestou-se “muito satisfeito” pela recuperação, mas deu conta da “corrida contra o tempo” para formar de imediato um grupo médico para diagnóstico, exame e tratamento cirúrgico atempado que permitiu depois a realização com sucesso da cirurgia de fixação cervical com enxerto de osso ilíaco. Alexis Tam visitou também dois pilotos britânicos do GP de motos, bem como um comissário de pista local e um fotógrafo da China, que ficaram feridos no acidente, desejando rápidas melhoras a todos.
João Santos Filipe Desporto MancheteGrande Prémio | Pun Weng Kun nega intenção de encobrir acidentes O coordenador da Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau garante que há indicações para que todos os acidentes sejam transmitidos, à excepção das imagens do trabalho das equipas de socorro. Pun admitiu ainda que é a comissão que define os conteúdos transmitidos [dropcap]O[/dropcap] coordenador da Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau (COGPM), Pun Weng Kun, nega que tenha havido qualquer intenção de esconder dos telespectadores o acidente da piloto Sophia Floersch, durante a corrida de Fórmula 3, que decorreu no domingo passado. Em declarações ao HM, o também presidente do Instituto do Desporto (ID) admite que há instruções da organização para não se filmar os trabalhos de salvamento, mas que há luz verde para mostrar os acidentes, os momentos dos impactos e repetições. “Ficou a sensação a quem assistiu à prova pela televisão que houve intenção de esconder as imagens do acidente. Mas nunca nos passou pela cabeça esconder os acidentes”, afirmou Pun Weng Kun, ontem, ao HM. O responsável pela prova explicou que existem instruções para não se mostrar os trabalhos de salvamento porque as imagens podem ferir susceptibilidades e também para proteger a imagem dos pilotos. Pun contou ainda que estas instruções foram tomadas em consenso com a Federação Internacional do Automóvel (FIA), mas que a decisão coube à COGPM. Segundo o coordenador do COGPM, a maior parte dos pilotos e as famílias também estão de acordo com que não se mostrem os momentos de salvamento. “Há um consenso há vários anos. Quando ocorre este tipo de acidentes existe a possibilidade de haver imagens que podem ferir as susceptibilidades dos telespectadores. A COGPM considera que se devem proteger os mais sensíveis”, afirmou. “Não nos passou pela cabeça esconder as imagens dos acidentes, até porque hoje em dia sabemos que as pessoas que estão nas bancadas têm os telemóveis e conseguem gravar e divulgar o que se passa”, justificou. Por outro lado, Pun Weng Kun diz que quando aconteceu o acidente com a piloto alemã que a total prioridade da COGPM estava focada em garantir que a jovem era salva o mais depressa possível e não em controlar as imagens: “Honestamente quando ocorre um acidente deste tipo, no centro de controlo a nossa maior preocupação é garantir que as equipas de salvamento chegam ao local o mais depressa possível”, defendeu. Efeito surpresa Em relação ao facto de durante a corrida de Fórmula 3 nunca terem sido mostradas imagens do impacto, nem repetições, Pun diz acreditar que até o operador ficou surpreendido. “Talvez por ter sido um acidente com uma dimensão que já não se verificava há vários anos, ninguém conseguiu reagir a tempo. Mas a verdade é que no sábado os acidentes foram transmitidos, todos”, vincou. No sábado a corrida de motociclos foi interrompida algumas voltas mais cedo depois de um acidente entre os concorrentes Ben Wylie e Phillip Crowe. A transmissão televisiva apenas mostrou as motos dos pilotos no chão. O coordenador do COGPM diz que tal ficou a dever-se ao facto das câmaras terem tendência para acompanhar os pilotos da frente. “Temos que perceber que as imagens também estão mais focadas na frente da corrida e que pode acontecer os operadores não captarem esses momentos, porque são pilotos que vêm mais atrás. Mas posso garantir que não há instruções para que os operadores não transmitam as imagens dos acidentes”, realçou. “Agora pode acontecer que a certa altura os operadores não consigam filmar todos os momentos dos acidentes”, concluiu. Pun Weng Kun afirmou também que se no futuro houver acidentes, o que disse não desejar, que vão continuar a ser transmitidas as imagens, como aconteceu até aqui.
Gisela Casimiro Estendais h | Artes, Letras e IdeiasTitanic [dropcap]N[/dropcap]o primeiro dia, ela leva-me para o escritório e fecha a porta à chave atrás de si, apesar dos dois seguranças do lado de fora, sorridentes e prestáveis. Na verdade, lembram mais polícias do que outra coisa. A casa tem vigilância 24 horas por dia, explica. A nossa conversa interrompida por gritos e risos vindos do corredor e, depois, por batidas cada vez mais fortes e pedidos cada vez mais desesperados de um dos rapazes tentando entrar. Como se fosse arrombar a porta. Como se fosse a coisa mais importante, mais urgente do mundo, entrar por aquela sala adentro. Para quê? Explicações, justificações e desculpas enquanto alterna o que nos trouxe ali com pedidos para que se acalme, e espere. Nada. Ele continua e, eventualmente, consegue entrar. Parece perturbado por alguma coisa ou alguém. Parece encurralado, tentando escapar. Parece em perigo, a precisar de ser salvo. Ela pergunta, finalmente, o que é que ele quer, e ele responde conseguindo-o: um abraço. Aquele rapaz, nos seus treze anos e quase um e oitenta de altura, caracóis dourados e olhos claros, capaz de tamanha brutalidade para com uma porta, apenas exige, apenas quer do mundo um abraço. Assino os papéis. Gostas de mim? Silêncio. Ouviria esta pergunta dezenas de vezes por dia nas próximas semanas. Pijama polar azul, olhar fixo sobre a rua, à espera de ver os outros regressar, com telemóveis novos nos bolsos ou mais uma expulsão da escola. A mesma força bruta e incomensurável de antes. Força essa que o levaria a passar dois dias no hospital, ao partir a cabeça de propósito contra uma janela, por querer visitar um dos companheiros, que lá está por doença. Sempre a mesma pergunta e, quanto mais ele a coloca, maior a tendência para passar do silêncio ao sim, e de essa resposta passar de conveniente a verdadeira. Claro que gosto de ti. Desço para a rua. Nas escadas ecoa um assobio cujo dono eu ainda não sei reconhecer. Ao tema, sim: My heart will go on, de Céline Marie Claudette Dion. Tenho tempo antes de começar. Como um gelado na praça, nas únicas vezes talvez em que não reparo em ninguém. Dois euros, três sabores à escolha e natas. Quero esvaziar a cabeça ou ganhar coragem. Estar preparada. Como se fosse possível. Há sempre futebol quando venho. Dois ou três fazem questão de estar em casa nesses finais de tarde. Ocupam o sofá, mandam os outros calar. Sento-me a ver com eles. Nos intervalos, jogam hóquei de mesa. Noutra noite, participarei numa peça de teatro sem guião e sem público, repetida incansáveis vezes. Perucas brilhantes, de cores extravagantes, e vozes feitas grossas para a ocasião, muita gesticulação e um médico louco, que nos persegue no lusco-fusco. É suposto que nos deixemos vencer por um destino cruel ao som de gargalhadas maléficas. Há um rapaz de quem toda a gente me fala, mas o tempo passa e não nos cruzamos. Parece que ninguém sabe o que fazer com ele e, como se comporta, deixam-no no que julgam ser em paz. Entretanto, deixo-me ficar com os dois irmãos: um joga no computador (carros), enquanto ouve rap tuga sobre como é difícil a vida nas ruas. Ensurdecedora, pelos vistos. O outro, o que me ofereceu chocolates uma vez, lê a Bíblia. Às vezes não sabe dela e não sossega enquanto um dos outros não a descobre e lha devolve. Normalmente, está no andar de cima, onde nunca chegarei a ir. Quando volto, na semana seguinte, ele já não está lá. Foi transferido para outro lugar. Na parede, nas mesas, vestígios da festa de despedida do dia anterior: fotografias a cores dos rapazes e da equipa, felizes. Bolos, sandes, frango de churrasco, sumo. Agora foi-se o líder. Agora que íamos ouvir música, escrever e rever canções juntos. Agora que eu lhe ofereci o meu pin do Muhammad Ali. Agora que eu estava a tentar convencê-lo a regressar à escola. Agora que eu o fizera sorrir, e falar-me dos temas do rap que fazia e da rapariga de quem gostava. Agora que volta a ser um nome suspirado por todos os adultos e recordado respeitosamente por todos os miúdos. Eu não sei o que fazer e, como tal, escolho o que sempre faço nessas situações: um bolo. A oito mãos, impacientes e conflituosas, curiosas e inexperientes, que vão seguindo as minhas indicações com mais ou menos nuvens de farinha no ar. Mas isto não é sobre o bolo, embora eu espere que as cabeças que surgem à porta com olhar de gula, desprezo e maldizer, sejam compreensíveis caso não esteja como querem. É, ainda, a estreia do forno que não consigo entender de imediato como funciona. Ajudam-me. Ainda há muito por fazer e por limpar. Alguns recebem telefonemas da família. Outros, encontram-na nos que ali trabalham e estão presentes todos os dias. Alguém suspira. Alguém comenta o quão nova era a casa ainda agora e o quão destruída vai ficando a cada dia, conforme as energias negativas, de que me dizem estar cheios, vão sendo libertadas. “Se eles puderem roubar-te, não vão hesitar.” Quem confiará em quem primeiro? Há um momento de tensão, e outro, e outro. Alguém separa adulto e adolescente. Em breve, ela, a adulta, estará de baixa, oferta da casa. Mas voltará. Voltará sempre, porque entende. Porque escolheu estar ali. “Quem és tu?” Apresentam-me. Apresento-me. “Deve ser a nova estagiária.” Já no sofá, em sossego, continua: “Tens filhos?” Respondo. “Não te preocupes, miúda, um dia ainda vais ser mãe.” E mal tenho tempo de processar isto quando regressam os outros, como quem tivesse estado à escuta: “Vieste buscá-lo? És a tia dele?” Contam-me que uma ex-funcionária tentou adoptá-lo mas não conseguiu a aprovação. Queria levá-lo de novo para a terra onde nasceu, mas acabou por desistir. “Era a oportunidade de ele sair daqui. Vai sempre depender de alguém. Não sei o que vai ser dele.” Ele. Tenho carinho por ele. Quando vou a casa dos meus pais, na semana seguinte, resgato o velhinho 20,000 Léguas Submarinas. No quarto, lemos juntos, à vez. Confessa, às vezes tenho uma escuridão dentro de mim. Daí a Bíblia. Tem medo, e um dos sorrisos mais bonitos que já vi. À nossa volta, posters e mais posters do filme Titanic, o seu preferido. Vê-o todos os dias. Chora sempre. Convida-me para o seu aniversário, daí a dois dias. Deixo-o descansar. Saímos os três para a noite fria. Estou de totós, que outro dia aprendi dizer-se Maria-Chiquinha, no Brasil. “Pareces a Harley Quinn”. Fico a olhar para ele e digo a mim mesma: disfarça, não queres que deixe de pensar que és fixe. Continuamos a volta ao bairro. Estão a aprender a dar a quem precisa. Levam comida para quem a não tem. Eles que já têm tão pouco, e de quem apenas se espera o pior. Mas a verdade é que perto, longe, onde quer que estejamos, tornam-se facilmente os nossos miúdos preferidos. Mesmo quando se peidam sem pudor e evitam tomar banho por tanto tempo quanto possível. Mesmo se o autismo, a delinquência, o abandono, a deficiência. Ah, rapazes perdidos. Fosse o mundo assim tão puro.
António Cabrita Diários de Próspero h | Artes, Letras e IdeiasArs moriendi [dropcap]U[/dropcap]m produtor americano, depois de visionar o material da primeira semana de rodagem, levou as mãos à cabeça, impotente, e disse ao realizador: “Nos primeiros cinco minutos dás-nos dezanove mortos. Não vejo o que possa acontecer mais no resto do filme!” O número de armas que pululam nos filmes extenua o folego de qualquer maratonista etíope. Ninguém dissuade ninguém, atirando-lhe à mona a Suma Teológica do S. Tomás de Aquino, é de balázio para cima, e ficamos convencidos do que me dizia o Gilinho, amigo do meu prédio de infância: “só matam as balas que não querem enferrujar!” Faço zapping e colecciono os mortos: uma doçaria excelsa, é um verdadeiro “mil-mortes” com uma barra de diabetes por cima. Nem persuasão, nem perdão: ninguém ouve o Unchain my Heart, do Joe Cocker? Quando muito a morte adia-se pagando, sendo a vida outro modo de designar o juro – sempre a acumular. O que afinal não difere do modo platónico de encarar o corpo como o túmulo da alma; o cinema devolveu-nos ao ponto de onde nunca saímos. Admira que o Sloterdijk nos esclareça que, para esta tradição, pensador que se preze é uma espécie de morto em férias? É bem-apanhado e próximo do que dizia o Godard quando adiantava que o cinema é o aparato que “filma a morte no trabalho”. Uma morta em férias: a mulher de Michel Piccolli, no fantástico Dillinger Morreu, do Marco Ferreri, que exasperava os espectadores por ser todo em tempos reais. Era assim: Glauco, um desenhador industrial, chega a casa e encontra a sua mulher já a dormir e uma refeição fria. Resolve confeccionar qualquer coisa e comer sozinho, vendo a televisão. Depois projecta vários filmes de férias e mima idiotamente alguns momentos. Por acaso, encontra na dispensa um revólver embrulhado numa velha reportagem sobre a morte do gansgster americano Dillinger. Pinta a arma de vermelho com bolinhas brancas. Depois da tinta secar sobe ao quarto, mete uma almofada sobre o rosto da mulher e dispara dois tiros. Sai, guia até ao porto e vê que num iate um marinheiro morto é lançado à água. Nada então até ao iate e pergunta quem morreu, respondem-lhe que o cozinheiro e ele oferece-se para ocupar o lugar. Volto a fazer zapping. Para o cinema mais comercial, que encharca os canais do meu pacote televisivo, a vida é uma retrete abandonada, um epitáfio inacabado. Conheço um livro brilhante de epitáfios dum poeta italiano, Giorgio Bassani, Epitafio, talvez na esteira do americano Edgar Lee Masters, mas preferia o livro do transalpino, que infelizmente extraviei. Há pouco tempo também escrevi um epitáfio. Reza assim (o verbo não podia ser mais justo): “Meu querido, enquanto não me enviares os teus pulmões em encomenda registada eu não abro mão da tua laje no jazigo da família!”. Deve-se a outro poeta, o checo Miroslav Holub, esta Breve reflexão sobre a morte: «Agitam-se alguns/ como se ainda não tivessem nascido./ Entretanto um dia/ Williams Burroughs, intimado por um estudante a dar/ opinião sobre uma/ eventual vida póstuma, replicou:/ – Mas quem lhe disse que você não está já morto?» Holub foi um poeta e eminente imunologista checo, a quem a especialidade não resguardou da crua pergunta de Burroughs, feita pela própria morte em 1998. Sugere o poema que estamos sempre desconectados, num estado de extenso sonambulismo, e pouco nos é dado fazer, para além de nos agitarmos demais ou de colocarmos perguntas desnecessárias, ie., rebarbativas: póstumas. Talvez consigamos aceder momentaneamente à consciência que nos cede o poema, num breve interregno, ao flagrante de uma sintonia, mas estou certo de que Holub, ainda para mais com a sua especialidade, não declinou num assédio de consciência: terá sido mais à má fila, por um efeito adverso, que a morte o visitou. Há várias formas de partir da vida e de chegar ao último apeadeiro. Vitorino Nemésio no hospital, conta-se, tinha um medo que se pelava. Para os indianos a morte é apenas o lambril de um palácio cuja planta está por desenhar. Desconsidero-me um arquitecto a tal altura. E seria preciso a energia de imaginar a experiência da morte multiplicada por éne, labirinto em que me vejo mais escamado do que a barracuda na banca de Neptuno. Contento-me com uma morte que o poeta moçambicano Heliodoro Baptista definiu bem, deste modo: “Antes da merda obnóxia me exaurir de todo”. Todavia, reconheço-o, surpreendem-se várias faces para a morte, como esta que achei nos meus diários: «O livro olhava para mim, da estante. Bebi o café e comi a torrada, repimpado na cama, mas o livro não desarmava. Fitava-me, de esguelha (ou de lombada), na estante. Depois da última golada de café decidi-me, fui buscá-lo. Uma antologia (em espanhol) alentada do poeta polaco Tadeus Rózewicz, nascido em 1921 e uma das vozes mais autênticas da “anti-poesia” universal. Como o chileno Nicanor Parra, ou, das Balcãs, Vasko Popa. Abro o livro ao calha e sai-me isto: CORREÇÃO/ A morte não corrigirá/ nem uma linha de um verso/ não é uma correctora/ não é uma benevolente/ redactora// uma má metáfora é imortal//o mau poeta que morreu/ é um mau poeta morto// o aborrecido trás a morte aborrece/ o estúpido vomita cretinices/ desde a própria tumba. Estupidificado na própria cama, abala-me o susto. Uma má metáfora é imortal. De quantas já fui responsável, de quantos milhares? Imortal? Como os vírus, afinal? Há uma ecologia para o verbo a que de facto não ligamos. Devíamos ser mais parcos, posto que na verdade não ressuscitaremos para corrigir qualquer coisinha, enquanto o ranço das más metáforas é imortal. Alguém tem por aí um aparador de relva que me empreste?» Aparador não tenho, mas tenho à mão este verso do Heliodoro: “Já alguém deu de comer ao vento?”. Refrigeração.
Luís Carmelo h | Artes, Letras e IdeiasAfinal está tudo na net [dropcap]U[/dropcap]ma vez passeava de barco num dos canais da cidade de Utreque e, a alguns metros de mim, percebi que dois barcos iriam inevitavelmente colidir. A velocidade e a direcção em que ambas as embarcações seguiam tornava inevitável o choque. E aconteceu. No entanto, durante aqueles breves instantes que antecederam o embate, fui invadido pela conhecida sensação de quem não consegue acreditar no que está a ver. Foi como se agora desse com Theresa May encostada à nespereira do meu pátio a fumar erva. Para acreditar não basta que as coisas possam ter ou não sentido, é necessário sobretudo que quem acredita sinta na mão o leme que não é o seu e o articule com o desejo. Isto é, quando acredito, desdobro-me (no ‘outro’ ou em ‘outrem’) e logo regresso ao meu próprio encontro. Um ‘boomerang’ que decorre num ápice, a maior parte das vezes de modo involuntário. Naquele dia, em Utreque, eu não consegui rever-me na quilha das embarcações que iriam embater entre si e o meu desejo, parece, estava longe de acompanhar o arroubo do contratempo. As propósito destes vaivéns, verdadeiros anjos da guarda que nos colam ou descolam da vida, soube, na passada semana, de um caso particularmente interessante: uma amiga minha recebeu em casa um livro de poesia acabadinho de vir da gráfica e o filho, com doze anos de idade, agarrou no livro, folheou-o de ponta a ponta e inquiriu: “Ó mãe, foste mesmo tu que escreveste isto, ou viste na net?”. O rapaz também não queria acreditar na colisão de Utreque e muito menos na desenxabida aparição de Theresa May. Aproveitemos a concordância para permanecer em Utreque, cidade a que costumava chegar de comboio, todas as manhãs, durante alguns anos. Relembro ainda que a palavra holandesa “beeldenstorm” significa literalmente “tempestade de imagens”, mas, na realidade, é utilizada no dia-a-dia para designar a guerra contra as imagens que começou em 1566 e que se estendeu à região de Utreque no verão de 1580. A revolta levou o poder protestante a cortar cabeças de santos em diversas esculturas da catedral do Dom. Uma iconoclastia anti-católica que deixa ainda hoje à mostra, na capela Van Arkel, superfícies rasas e brancas por cima dos pescoços das imagens. A primeira vez que vi aquelas decapitações nem queria acreditar. Eu estava como o rapaz de doze anos, que se chama Duarte, mas sem qualquer net para poder atribuir a autoria de tais sórdidos actos. Os iconoclastas daqueles tempos praticavam actos à talibã, porque a coisa rimava com fé. Uma pessoa, quando crê, não se imagina a desdobrar-se ou a desejar seja lá o que for; apenas disfere, dispara, investe. Nem interessa em que direcção, pois, de um lado, o mundo é negro e do outro torna-se logo redentor. Coisa perigosa. Crer é bem distinto de acreditar, acreditem-me. Se não vejamos: no início deste ano, num famoso museu de Manchester, a direcção achou por bem retirar da exposição um quadro de William Waterhouse, intitulado ‘Hilas e as Ninfas’ (1896). O ‘pecado’, aparentemente, não se baseava em questões de fé, nem teria resultado da faina de possíveis plágios. O que estava em causa era a “forma decorativa passiva” com que as mulheres haviam sido registadas pelo pintor vitoriano (que deveria sofrer de patologia contemplativa). Para que não se pensasse que o arrojo pudesse ter conotações de crença talibã, a curadoria do museu comunicou publicamente a iniciativa iconoclasta como se fosse, ela mesma, uma obra de arte. Eu nem queria acreditar e fiquei com dúvidas, se foi o curador que teve a ideia, ou se ‘viu aquilo na net’. Entendamo-nos: “ver na net” quer dizer, no nosso tempo, bem mais do que copiar ou do que cumprir uma simples moda ou ensinamento. “Ver na net” significa essencialmente viver, respirar e até acreditar. Num caso limite, implicará “crer”, separar, disferir. “Ver na net” é imitar tendências e fazê-lo cegamente e em fluxo: repetir, reverberar, reiniciar. A perífrase “Ver na net” estará mais em linha com um certo modo de rectifcar o mundo, tornando-o mais ‘correcto’. Como se fosse um imenso shopping digital em que tudo se expõe de uma maneira formatada, precisa, higiénica. Há uma proto-ideologia em crescimento no planeta, de que um pós-‘millenial’ como o Duarte dá conta que nem peixe na água, que nos diz que as embarcações de Utreque vão mesmo embater uma na outra. Iremos ainda, um dia destes, ver quadros de Picasso retirados dos museus, azulejos taurinos recolhidos das estações da CP e pinturas de batalhas famosas irradiadas dos salões. Iremos ainda ver um mundo sem autoria seja de quem for, mas todo ele esquematizado, denunciado e sem qualquer ironia (com excepção para aquela menina que faz os anúncios da Trivago). As mãos que arrasaram as esculturas de Gerrit Splintersz na catedral de Utreque e as mãos que privaram um museu de Manchester do quadro de William Waterhouse têm em comum um ideal de pureza. Mas uma pureza que exclui a conhecida sensação de não conseguir acreditar no que se está a ver. Banhados por esse brilho de pureza, ver torna-se sinónimo de crer. Coisa perigosa. Quer no devir protestante, quer no devir da correcção ‘millenial’, a realidade é uma plasticina criada pela re-arrumação permanente de bits (antes designados através do fogoso ímpeto do ‘espírito santo’). E já se sabe que, no tempo digital, uma simples imagem numérica, não analógica, livre de referentes e apenas subordinada à linguagem que a gera, decompõe ou programa… pode fazer de cada um de nós um iconoclasta em potência, ou até, no limite, um internauta com claras inclinações talibãs. Afinal de contas, o Duarte tinha razão: está tudo na net.
Hoje Macau China / ÁsiaChina e Filipinas assinam memorando para exploração de gás no Mar do Sul [dropcap]C[/dropcap]hina e Filipinas anunciaram ontem um memorando de entendimento para exploração conjunta de petróleo e gás no Mar do Sul da China, demonstrando uma aproximação entre Pequim e Manila após anos de disputa pela soberania daquele território. Na primeira visita de Xi Jinping a Manila, tradicional aliado estratégico de Washington, o memorando, que tem vindo a ser negociado nos últimos meses, foi assinado, apesar dos protestos da oposição. O Tribunal Permanente de Arbitragem, com sede em Haia, concedeu em 2016 às Filipinas a soberania das águas em questão, que incluem várias ilhotas e atóis ocupados pela China. No entanto, sob a presidência do actual Presidente filipino, Rodrigo Duterte, as Filipinas têm sido mais permissivas, face às promessas de investimento chinês no país, de quase 24 mil milhões de dólares. Nos últimos meses, vários membros do gabinete de Duterte admitiram a existência de negociações com uma empresa estatal chinesa para exploração daquelas águas. “A China e as Filipinas são vizinhos próximos, com uma história de intercâmbios com milhares de anos. Boa vizinhança, amizade e cooperação é a única escolha correcta para nós”, afirmou Xi, após reunir-se com Duterte no palácio de Malacañang, a sede da presidência filipina. Duterte descreveu a visita de Xi como um “momento marcante” na “história comum” dos dois países. “Viramos uma nova página e estamos prontos a escrever um novo capítulo de abertura e cooperação”, afirmou. Coro de protestos Os detalhes do memorando para exploração conjunta não são ainda públicos. No entanto, a oposição nas Filipinas, incluindo a vice-presidente, Leni Robredo, exigiu que se publique integralmente o texto, alertando para a possibilidade de uma cedência na soberania nacional e violação da Constituição do país. “É inaceitável e traiçoeiro”, afirmou a senadora de oposição Risa Hontiveros. “Reverte a nossa vitória histórica no [tribunal] de Haia e dá a soberania das Filipinas no mar do Oeste das Filipinas”, considerou. Manila foi também palco de vários protestos durante a visita de Xi, face à disputa pela soberania do mar do Sul da China. Os manifestantes, que se reuniram em frente à embaixada chinesa em Manila, denunciaram ainda que os empréstimos concedidos por Pequim poderão criar uma situação insustentável para o país. Os dois chefes de Estado assinaram, no total, 29 acordos e memorandos de entendimento, nos sectores das finanças, banca, investimento, comércio, agricultura, infraestrutura, educação e cultura. A visita de Xi foi a última paragem de um périplo por três nações asiáticas, onde se tem comprometido a financiar a construção de infra-estruturas e defendido o livre comércio, parte de uma disputa por influência regional com Washington. Antes de regressar a Pequim, Xi reuniu-se com o presidente do Senado, Vicente Soto, e a presidente da Câmara dos Representantes, Gloria Macapagal-Arroyo.
Sofia Margarida Mota EventosSound & Image | Divulgada parte das curtas dedicadas à ficção Está aí mais uma edição do Sound & Image Challange, Festival Internacional de Curtas-Metragens. Depois de ser dado a conhecer o cartaz dos filmes de animação, a organização começou a divulgar os filmes seleccionados na área de ficção [dropcap]E[/dropcap]ntre os dias 4 e 9 de Dezembro, o Teatro Dom Pedro V recebe o Festival Internacional de Curtas-Metragens Sound & Image Challenge. De entre os 90 filmes em exibição, oriundos de todo o mundo, 34 pertencem à secção de ficção e a organização levantou o véu de 15. As projecções têm início dia 5 de Dezembro, às 18h. Esta primeira sessão abre com “Into the blue” da realizadora croata Antoneta Alamat Kusijanovic. O filme aborda a temática do trauma e da sua relação com a violência em que uma adolescente que sofre de abusos, procura o amor. Mas a crueldade dos amigos desperta a violência que transporta consigo e de onde desesperadamente tenta escapar. A esta curta de cerca de 22 minutos, segue-se “Black Mamba”. Realizado pelo tunisino Amel Guellaty , o filme conta a história de Sara, uma jovem de classe média da Tunisia, que tem uma vida de acordo com os planos da família: frequenta aulas de costura e irá casar com um bom rapaz. Mas a realidade é outra e a jovem tem planos para escapar aos ditames da tradição. Depois de Sara entra em cena Liana, a única criança da família chinesa Tangerang. Segundo os costumes, Liana tem que ser virgem se quiser casar-se, ou então sofrerá as consequências. A rapariga que não for virgem para o casamento será eliminada pelos antepassados e pela família do marido. A história de Liana é retratada em “Red Paper”, a película indonésia do realizador Revin Palung. A sessão termina com “Y” da alemã Gina Wenzel. A curta conta com mais uma mulher como protagonista, desta feita com Laura, uma jovem autoconfiante e membro da “Me Me Me Generation” ou “Geração Y”. Laura não se pode queixar e tem muitas opções e caminhos que pode dar à sua vida, pelo que não precisa de pensar em objectivos ou ideais. Mas, num encontro que tem com Safi, tudo pode mudar. Sessão da noite No mesmo dia, às 20h continuam as projecções das curtas de ficção. A sessão abre com “Blanca” da venezuelana Mariana Peña. Blanca uma escritora em formação e tem apenas um dia para terminar uma história para um concurso de literatura. No entanto, o fim do prazo coincide com a data de aniversário do seu casamento o que faz com que tenha que mover-se entre os planos pessoais e as tradições de uma familiar peculiar. Segue-se “Crabgirl” uma história que retrata o drama de um jovem de 23 anos que não consegue ter um relacionamento íntimo com a namorada. Decidido a deixar de ser virgem faz um ultimato à companheira e acaba por descobrir a verdade por detrás das rejeições que tem sofrido. Crabgirl vem da Ucrânia e é realizado por Sergiy Pudich. Na mesma sessão há ainda espaço para a curta polaca “Jet Lag” de Grzegorz Piekarski, numa adaptação do romance de Gustav Flaubert “Madame Bovary”. O dia fecha com “Happy” de Alex Petroff. O escritor Felix Penn não podia estar melhor tendo atingido o auge na carreira e nas relações amorosas e profissionais. O desafio agora é descobrir como manter este momento e o escritor acabar por encontrar um método para conseguir o seu objectivo. Macau a duplicar No dia seguinte a primeira sessão tem lugar às 19h30. O primeiro filme a ser projectado é “Acid” do francês Just Philippot. A curta conta a saga da fuga de uma população quando é assombrada por uma nuvem de ácido. “Bridge” é o filme seguinte. Realizado por Niels Bourgonje traz o impasse de Jos e Ad. Os protagonistas aproximam-se de uma ponte, cada um de um dos lados e a passagem é dada, através de um sinal a Jos, que a passa. Nenhum se decide. Uma surpresa mal sucedida e capaz de levar ao limite os seus protagonistas é a proposta de “Impact” de Hèctor Romance. O cinema segue para um lado mais negro com “Lamb”. O filme é do realizador local Oliver Fa e conta o drama de duas personagens que vão para uma clínica. Chegados à instituição, descobrem que se trata de um estabelecimento ilegal que se dedica à extração de órgãos humanos. Nas ficções do Sound and Image Challange há também espaço para super heróis. É o caso de “Super Juan” de Rubén Dené. O herói desajeitado protagoniza uma comédia em que tem que vencer uma mutação que está a invadir os cérebros humanos dos principais líderes mundiais. Antes da sessão terminar há ainda espeço para “The Island” de Martin Van Hassel. A película apela ao surrealismo ao trazer a história de quatro estranhos que se vêem presos dentro de uma ilha situada no meio de uma estrada. A impedir estas personagens de sair do impasse, está uma mulher macabra, na berma, vestida de negro. A última película do dia também é de Macau. “The Last Scene” é realizada por Vong Kuan Chak e o argumento conta como um cineasta que se dedica a produção de documentários descobre a verdade acerca da morte do seu pai ao ver as últimas imagens de um vídeo.
Diana do Mar SociedadeIndústrias culturais | Receitas de 7,08 mil milhões em 2017 [dropcap]A[/dropcap]s receitas geradas pelas indústrias culturais atingiram 7,08 mil milhões de patacas no ano passado, traduzindo um aumento anual de 4,8 por cento, indicam dados divulgados ontem pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). O valor acrescentado bruto (VAB), que reflecte o contributo económico, fixou-se em 2,38 mil milhões de patacas (+6,9 por cento), representando 0,6 por cento do VAB de todos os ramos de actividade económica em 2017. Macau contava, no ano passado, com 2.088 organismos nas indústrias culturais – mais 175 – abrangendo as áreas de design criativo, exposições e espectáculos, colecção de obras artísticas e ‘media’ digital. Ao serviço das indústrias culturais estavam 11.702 funcionários, ou seja, mais 6,4 por cento em termos anuais, de acordo com a DSEC.
Diana do Mar SociedadeFinanças públicas | Receitas até Outubro ultrapassam o previsto para todo o ano [dropcap]A[/dropcap] Administração fechou os primeiros dez meses do ano com receitas de 109.541 milhões de patacas, mais 15,1 por cento em termos anuais homólogos, ultrapassando o orçamentado para todo o ano (105.287 milhões), indicam dados provisórios divulgados ontem no portal da Direcção dos Serviços de Finanças (DSF). Os impostos directos sobre o jogo – 35 por cento sobre as receitas brutas dos casinos – foram de 88.150 milhões de patacas, reflectindo uma subida anual de 15,6 por cento e uma execução de 107 por cento relativamente ao orçamento autorizado para 2018. A importância do jogo encontra-se patente no peso que detém no orçamento: 80,4 por cento nas receitas totais, 81,7 por cento nas correntes e 92,8 por cento nas derivadas de impostos directos. Já as despesas cifraram-se em 59.875 milhões de patacas até Outubro. Cumpridas em 60,9 por cento, aumentaram 7,5 por cento face ao período homólogo do ano passado. Neste capítulo, destacam-se os gastos ao abrigo do Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração (PIDDA) que alcançaram 10.250 milhões de patacas, valor que reflecte um aumento de 20,1 por cento. A taxa de execução correspondeu, por seu turno, a 48,5 por cento. Entre receitas e despesas, a Administração acumulou nos primeiros dez meses do ano um saldo positivo de 49.665 milhões de patacas, mais 25,8 por cento face a igual período de 2017. No entanto, a almofada financeira excede largamente o orçamentado para todo o ano (6,9 mil milhões de patacas), com a taxa de execução a corresponder a 717,4 por cento.
João Luz SociedadeDSPA | Reunião desilude activistas contra o uso do plástico O director dos Serviços de Protecção Ambiental encontrou-se com Agnes Lam e activistas ambientais para encontrar soluções para o abuso do plástico. A reunião desiludiu Annie Lao, responsável por uma petição que pediu respostas ao Executivo para o uso excessivo de plástico [dropcap]“O[/dropcap] director apenas nos prometeu que iriam fazer algo em conjunto com os supermercados, como premiar a superfície comercial mais amiga do ambiente”, conta Annie Lao, activista ambiental depois de uma reunião com Raymond Tam, director dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA). Annie Lao saiu desiludida do encontro porque, no seu entender, a posição das autoridades “limita-se a recompensar as pessoas por fazerem o que está certo, quando seria muito mais importante e eficaz impor regulações restritivas” para limitar o abuso do plástico. A activista considera que os índices de poluição em Macau estão no limite, e que apenas medidas restritivas podem parar o uso excessivo do plástico descartável, “algo que o Governo, nesta altura, não considera uma prioridade”. Em comunicado, Raymond Tam afirmou concordar com as opiniões sobre os trabalhos “para a redução de plástico apresentadas pelos participantes na reunião”. O director da DSPA referiu ainda que “o Governo tem o mesmo objectivo que a sociedade, para além de aprofundar os trabalhos legislativos e efectuar acções de sensibilização e educação”, espera que a sociedade possa, “por sua iniciativa”, praticar “actos amigos do ambiente no âmbito da redução de plástico”. Uma das medidas elencadas por Raymond Tam para combater os efeitos originados por este tipo de poluente foi a iniciativa “Reduzir o uso de sacos de plástico poderá dar prémios”, que contou com mais de 260 mil participantes. É o sexto ano consecutivo que se promove esta iniciativa, recebida com cepticismo pelos activistas ambientais. Além dos sacos Para Annie Lao, a forma de combater o uso excessivo de sacos e materiais de plástico implica uma actuação concertada com as superfícies comerciais, algo que vai muito além da atribuição de prémios pontuais. No relatório das Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2019 está inscrita a intenção de incentivar “a redução da utilização do plástico”. “Importaremos máquinas para a recolha de garrafas de plástico e pretendemos concluir, no próximo ano, o processo legislativo da ‘limitação do uso de sacos de plástico’. O resultado deverá surgir em forma de regulamento administrativo. Quanto à apresentação das LAG, a activista mostra-se “bastante desiludida com as medidas anunciadas para combater a poluição com plásticos”. Annie Lao é da opinião que o Governo deveria banir o uso de plástico descartável, que se usa só uma vez, e promover a utilização de materiais biodegradáveis. “O Governo tem dinheiro para o fazer, em vez disso limita-se a dar dinheiro aos residentes em vez de gastar com critério… é Macau”, conclui a activista ambiental.
Diana do Mar SociedadeInflação | Taxa fixou-se em 2,81 por cento em Outubro [dropcap]A[/dropcap] taxa de inflação em Macau foi de 2,81 por cento nos 12 meses terminados em Outubro, em relação a igual período do ano anterior, indicam dados divulgados ontem pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). O Índice de Preços no Consumidor (IPC) registou as maiores subidas nos índices de preços das secções do vestuário e calçado (+5,7 por cento), dos transportes (+5,1 por cento), da saúde (+4,7 por cento) e da educação (+4,4 por cento). Só em Outubro, o IPC geral cifrou-se em 3,35 por cento, traduzindo uma descida de 0,16 pontos percentuais em termos mensais.
Diana do Mar SociedadePIB cresceu 1,6 por cento no terceiro trimestre do ano [dropcap]A[/dropcap] economia de Macau cresceu 1,6 por cento, em termos reais, no terceiro trimestre, face a igual período do ano passado. O forte abrandamento do Produto Interno Bruto (PIB) ficou a dever-se à descida contínua do investimento em construção e à contracção significativa do aumento das exportações de serviços, indicou ontem a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). A procura externa recuou, com as exportações de serviços a aumentarem apenas 6,3 por cento em termos anuais, impulsionadas pelos aumentos de 5,8 por cento nas exportações de serviços do jogo e de 11,4 por cento noutros serviços turísticos, enquanto as de bens caíram 8,8 por cento. A procura interna também apresentou um comportamento frágil, com uma retracção homóloga acentuada (20,1 por cento) no investimento, pese embora subidas homólogas na despesa de consumo privado (4,1 por cento), na de consumo final do Governo (5,4 por cento) e nas importações de bens (2,9 por cento). O investimento do sector privado registou uma queda anual de 17,8 por cento, particularmente no ramo da construção devido à diminuição significativa das obras dos grandes empreendimentos. Desempenho idêntico teve o investimento do sector público que assinalou uma descida anual de 32,7 por cento, devido à descida significativa de 45,7 por cento em obras públicas, sobretudo devido à conclusão sucessiva dos projectos de infra-estruturas. O deflactor implícito do PIB, que mede a variação global de preços, registou um crescimento anual de 3,8 por cento. Nos três primeiros trimestres, a economia de Macau sofreu um aumento homólogo de 5,6 por cento, em termos reais, com o PIB a alcançar 320.868 milhões de patacas no final de Setembro. A taxa de crescimento económico do primeiro trimestre foi de 9,4 por cento, enquanto a do segundo correspondeu a 5,9 por cento, segundo dados revistos. Actualizada foi também a taxa de crescimento do PIB no ano passado de 9,1 para 9,7 por cento, informou a DSEC.