Hoje Macau PolíticaIdeologia | Reuters diz que caso Sulu Sou revolucionou o activismo político A agência Reuters escreve que o activismo político no território sofreu uma mudança com a suspensão do deputado Sulu Sou, atravessando uma “nova fase”. O texto, que contém entrevistas a Sulu Sou e a Rocky Chan, activista membro da Novo Macau, aponta para semelhanças entre o caso que tem vindo a abalar o panorama político local e o dos independentistas de Hong Kong, após o movimento dos guarda-chuvas amarelos. “Querem eliminar qualquer fogo que possa ser ateado”, disse o analista político Larry So à Reuters, que defendeu que Sulu Sou tem vindo a obter um maior apoio por parte da sociedade local. “Este é um desafio para o Estado de Direito e para a independência judicial em Macau. Nunca vimos uma situação tão séria como esta antes”, disse Sulu Sou à agência noticiosa. A Reuters faz também referência às consequências do tufão Hato no que diz respeito ao impacto junto da opinião pública e na atenção obtida por parte da comunidade internacional. “Pensamos que a coisa mais importante é o interesse público e como podemos fazer as coisas de forma mais transparente”, adiantou Rocky Chan. Sulu Sou disse também à Reuters estar “optimista” em relação ao desfecho do caso, numa altura em que interpôs recurso da decisão do Tribunal de Segunda Instância (TSI), que decidiu não se pronunciar sobre a providência cautelar apresentada, por considerar que a suspensão votada pelos deputados do hemiciclo constitui um acto político.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaNovo Macau | Caso Sulu Sou sem efeito directo na obtenção de donativos A Associação Novo Macau continua com a campanha de crowdfunding activa e já obteve cerca de metade do dinheiro que precisa para funcionar, ou seja, 150 mil dólares de Hong Kong. Scott Chiang, ex-presidente, garante que o caso Sulu Sou ajudou mas não foi o factor principal para a obtenção de donativos ou para a inscrição de novos membros A suspensão temporária do deputado Sulu Sou da Assembleia Legislativa (AL) tem vindo a chamar mais a atenção da sociedade para a Associação Novo Macau (ANM), mas nem por isso teve um efeito directo na obtenção de donativos que a entidade precisa para operar, desde que os deputados Au Kam San e Ng Kuok Cheong deixaram de contribuir financeiramente com os seus salários. Quem o afirma é Scott Chiang, ex-presidente e membro da ANM. A associação, que mudou recentemente de instalações, tem levado a cabo uma campanha de crowdfunding que dura até Março. Os associados já conseguiram obter cerca de 50 por cento do dinheiro que necessitam, ou seja, 300 mil dólares de Hong Kong. O caso Sulu Sou “teve e não teve influência”, apontou Scott Chiang. “O caso fez com que haja uma maior preocupação em relação à associação e às suas actividades. Mas não teve influência, uma vez que não estamos a recolher fundos para pagar aos advogados, não é disso que se trata.” “Acredito que as pessoas não doam dinheiro apenas devido ao caso de Sulu Sou, mas porque têm consciência do quão frágil é o campo pró-democrata. Ainda somos uma minoria no campo político e temos de contar com mais apoio popular para continuarmos o nosso trabalho”, acrescentou o ex-presidente. A ANM necessita desse dinheiro para pagar rendas, salários e para financiar actividades. Caso não obtenha a totalidade dos 300 mil dólares de Hong Kong, o montante será devolvido a quem o doou. “Estamos a tentar ser optimistas e penso que depois do Ano Novo Chinês será preciso relembrar as pessoas da nossa campanha e o que está a acontecer. Vamos tentar mobilizar mais apoio.” Mais membros Scott Chiang referiu ainda que a associação do campo pró-democrata tem vindo a receber mais membros. “Se disser que sim [que o caso Sulu Sou teve influência], não estarei a ser correcto para com os novos membros, porque são corajosos, querem ajudar e fazer algo por Macau, e não apenas por causa do caso de Sulu Sou.” “Não vamos diminuir a sua contribuição, há mais coisas além dessa para se ser um membro da Novo Macau. O caso só veio relembrar as pessoas de que há algo que não está bem, que vivemos num território onde as coisas mudam e que há um lado que é ainda demasiado poderoso e que nos quer destruir. É uma boa recordação para que as pessoas não se esqueçam que continuamos frágeis e que precisamos de ser apoiados pela maioria das pessoas”, concluiu Scott Chiang.
Sofia Margarida Mota Manchete SociedadeAusência de Macau de relatório internacional sobre a corrupção não causa grandes danos Macau não figura desde 2012 na avaliação da Transparency International. A ausência não é indicadora de falta de transparência financeira, mas antes de falta de dados fornecidos à organização. Quanto a consequências, há economistas a considerarem que são mínimas no território devido à cultura local e à economia assente no jogo [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oram ontem divulgados os dados do relatório do índice de corrupção feito pela Transparency International. A organização que monitoriza os índices de corrupção internacionais e que serve de referência a investidores internacionais não menciona Macau desde 2012. A razão não tem que ver com falta de transparência local, mas sim com a falta de dados. A informação foi adiantada pela própria Transparency International ao HM. “Em Macau não há fontes de dados suficientes e este é o único motivo pelo qual não foi incluído no índice”, refere a organização com sede em Berlim. A recolha de informação não é feita pela própria organização mas sim por entidades in loco e “a responsabilidade não é das autoridades locais”, salienta a Transparency International. A última vez que Macau figurou no ranking da corrupção da organização foi em 2011. Na altura, a RAEM ocupava o 47º lugar numa lista de 182 regiões. Mas o que significa em termos práticos esta ausência de avaliação num relatório internacional de referência? “Todos os relatórios são importantes quando falam ou não falam das situações”, começa por dizer José Morgado ao HM. O economista confessa que se trata de uma avaliação importante na lógica da imagem e do investimento tanto para quem quer investir no território como para quem quer manter o investimento em Macau. Por outro lado, “cria ainda condições para que o sistema económico financeiro funcione melhor”, refere José Morgado. Tratando-se, “acima de tudo de uma questão de imagem” e, nesse sentido, há que referir os esforços que Macau tem feito nos últimos anos para a melhorar e que começam a dar resultados, salienta. O economista dá alguns exemplos: “Noto por parte das autoridades que cada vez mais pedem informação aos bancos. Sou do tempo em que para abrir uma conta não era solicitada muita informação, mas agora é necessário todo um conjunto de informações para que se tenha um conhecimento do cliente, do negócio, etc. Sou do tempo em que nada disso acontecia”, recorda ao HM. Na opinião do economista, as medidas são também extensíveis ao funcionamento dos casinos no que diz respeito ao branqueamento de capitais, com o aumento do acompanhamento do funcionamento das operadoras de jogo. Macau, um lugar particular Mas mais do que da imagem exterior, Macau e o investimento feito no território sobrevivem de um conhecimento in loco com características próprias. “Em termos muito gerais penso que quem conhece a realidade de Macau sabe mais do que uma pessoa que vive à conta de relatórios”, refere. O conselho para investir por cá é “conhecer bem a realidade ou fazer parcerias com quem a conheça”, aponta, até porque há questões além dos dados e dos relatórios. Trata-se da chamada “economia cultural” que diz respeito ao conhecimento da mentalidade e cultura locais. José Morgado, que já trabalhou nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia, nota particularidades na forma de levar avante negociações em cada um destes locais. Mas, “a grande diferença é que aqui há três tipos de negócio a fazer: o que tem o gweilo, o estrangeiro que faz o negócio de vez em quando, o do pangyau, o amigo que pode fazer cá alguns negócios. Depois há o negócio entre a família. O investidor tem de crescer e criar confiança nesta escala da valores, o que é difícil”, remata. Fonte pouco transparente As particularidades locais são também destacadas pelo politólogo Eric Sautedé, mas por outras razões. “A transparência internacional não pode abranger Macau, pois não existem pesquisas independentes acerca da corrupção feitas por indivíduos confiáveis ou por instituições académicas”, começa por dizer ao HM. Mas, será que a ausência de Macau de relatórios de referência, como o divulgado ontem, penaliza o território? A resposta de Sautedé é negativa. Em causa está uma outra estrutura fundamental da economia local que é muito dúbia em termos de clareza, considera. “Dada a natureza da economia local se basear no jogo, não há interferência”, aponta ao mesmo tempo que ressalva que também esta actividade suscita dúvidas quando se fala de negócios “limpos”. No entanto, e caso a economia local se venha a diversificar, “o assunto é outro”. Aí, o Governo deve ser o primeiro a encorajar e mesmo financiar através da Fundação Macau, por exemplo, pesquisas independentes sobre corrupção de modo a que existam dados suficientes para uma avaliação do território. Para já, e ao contrário de José Morgado, Sautedé não considera que o território tenha tido melhorias no que respeita à transparência financeira. “Lembro-me que em 2007, nos disseram que com o escândalo Ao Man Long tudo seria diferente, mas depois veio o caso de Ho Chio Meng. Para Macau ser diferente, toda a economia teria que ser diferente”, refere o académico que se mostra céptico em relação a uma eventual mudança de panorama. Antes não estar que estar mal José João Pãosinho considera que às vezes “mais vale não estar do que estar mal” colocado no ranking internacional salientando que não seria também essa a situação do território. Para o também economista, Macau tem provas dadas no combate à corrupção e confirmação disso “é o último relatório da Ásia Pacífico de há menos de um ano e que deu uma nota excelente ao território”, recorda. De acordo com o economista, as medidas tomadas quanto à fiscalização e requisitos exigidos aos bancos colocariam Macau numa boa posição entre os 180 avaliados. Pãosinho arrisca mesmo dizer que o território ficaria nos trinta primeiros lugares. Uma comparação com o território vizinho, Hong Kong, não se coloca. Para José João Pãozinho, não faz sentido comparar com Hong Kong porque “a região vizinha tem um mercado financeiro bastante desenvolvido, uma série de instrumentos financeiros de risco associados à bolsa, o que não existe em Macau. São realidades que não são comparáveis”, diz. No entanto, no que diz que respeito ao negócio internacional, “este tipo de índices são extremamente importantes”, refere. “Há empresas em determinados países que não fazem operações com empresas que não estejam domiciliadas nos países que estão nos últimos três grupos dos sete que são considerados, e há também bancos que evitam relações com bancos desses territórios”, aponta. Em Macau, os efeitos negativos podem ser meramente indirectos. O economista explica que “o facto de não aparecer no relatório pode fazer com que haja empresas a adiar decisões e que os bancos também o façam ou que vão à procura de outras fontes”, conclui. Ninguém está limpo No relatório divulgado ontem pela Transparency International, organização que avalia os índices de corrupção internacionais, a Europa lidera no ranking dos países com menos corrupção. Apesar da Nova Zelândia estar no primeiro lugar com 89 pontos, segue-se a Dinamarca, a Finlândia e a Noruega. Singapura está em quinto lugar. A China mantem-se numa posição não muito abonatória. Apesar de ter subido dois lugares ainda se encontra na 77ª posição entre os 180 países e territórios avaliados naquele que é considerado um dos principais indicadores globais sobre a corrupção. Também Hong Kong subiu duas posições relativamente a 2016 estando agora no 13º lugar do ranking. Já Portugal mantem-se no 29º lugar, tal como no ano passado. De acordo com a organização, foi impossível encontrar qualquer país ou região totalmente isenta de corrupção e o mais alarmante, refere, é que dois terços dos países avaliados estão com pontuações inferior a 50 pontos numa escala que vai de 0 a 100 e em que a média é de 43 pontos. Nos últimos lugares da tabela está a Somália, antecedida pelo Sudão e pela Síria. Corrupção e jornalismo A morte do jornalistas em serviço está relacionada com os índices de corrupção dos países. Uma das conclusões retiradas do relatório divulgado ontem pela Transparency International. “Concluímos que os países que se encontram nas últimas posições do nosso índice são mais perigosos para jornalistas e activistas”, refere a apresentação geral de resultados. Na realidade, há um jornalista morto em serviço, por semana, nos países classificados como “altamente corruptos”. A organização lamenta ainda que, apesar dos esforços que têm sido feitos para diminuir os perigos e a corrupção, os resultados sejam ainda muito reduzidos.
Hoje Macau EventosFotojornalista Mário Cruz expõe nos Açores escravatura de crianças no Senegal [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] fotojornalista Mário Cruz expõe a partir de sábado no Centro de Artes Contemporâneas Arquipélago, em Ponta Delgada, um conjunto de fotos onde denuncia a exploração das crianças “talibés”, escravas de “falsos professores” corânicos no Senegal. O vencedor do prémio World Press Photo 2016 – Assuntos Contemporâneos, Picture Of The Year International 2016 – Assuntos Contemporâneos, Estação Imagem 2016 e Magnum Photography Awards 2016, justamente com o tema “Talibes Modern Day Slaves”, explicou à Lusa que esta situação afeta mais de 50 mil crianças, que “deveriam ser estudantes”, mas são, “na verdade, escravas de falsos professores corânicos”. No Senegal, existem centenas de escolas corânicas (daaras) onde se encontram aprisionados rapazes, dos 5 aos 15 anos, que são obrigados a mendigar nas ruas oito horas por dia para manter o seu marabout (professor). Esta realidade extensiva aos países limítrofes do Senegal, como a Guiné Bissau, faz com que “muitas das crianças que hoje se encontram a mendigar nas ruas daquele país sejam da Guiné e do Mali”, estando a situação, segundo o fotojornalista da agência Lusa, “fora do controlo, apesar dos progressos dos últimos anos, que caem por terra com o passar do tempo e falta de atenção”. “Esta exposição é feita para relembrar que o problema permanece e que estas fotografias são a prova disso mesmo, que os abusos acontecem e a prova de que a escravatura contemporânea existe no Senegal. Não podemos ficar indiferentes”, afirmou Mário Cruz. Para este profissional da Lusa, o jornalista “tem o dever de denunciar estas situações, saindo à rua”, a par da disponibilidade de tempo, algo que “falta hoje nas redações, um pouco por todo o lado”. De acordo com este profissional de comunicação, vivem-se dias em que “não se pensa muito sobre o que se escreve e fotografa devido à dimensão do fluxo noticioso, sendo tudo de última hora, urgente”, em detrimento dos trabalhos de fundo. Mário Cruz está convicto de que este tipo de opção editorial “dá frutos” e exemplifica que o New York Times está a “voltar a apostar neste tipo de conteúdos e a duplicar os salários dos fotógrafos e jornalistas que escrevem reportagem, porque percebeu que os media não podem ficar reféns da notícia rápida, da estatística, dos números, do que se diz ao microfone”. “O jornalista tem que dar muito mais porque tem essa responsabilidade, é um dever. Sem dúvida que isso tem que acontecer”, referiu. Nascido em 1987, em Lisboa, Mário Cruz estudou fotojornalismo no Cenjor – Centro Protocolar de Formação Profissional para Jornalistas, começou a fotografar para a Lusa em 2006 e já recebeu vários prémios. O seu trabalho tem sido publicado nos títulos Newsweek, LENS – New York Times Blog,International New York Times, CNN, Washington Post, El Pais, CTXT.es e Neue Zürcher Zeitung.
Hoje Macau EventosVhils inaugura exposição em Los Angeles e cria novo mural com Shepard Fairey [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] artista português Alexandre Farto (Vhils) inaugura, na quinta-feira, uma exposição em Los Angeles, nos Estados Unidos, cidade onde irá também criar três murais, um dos quais em parceria com o norte-americano Shepard Fairey. “Annihilation”, que estará patente na galeria Over The Influence, é composta por 20 obras, “novas e criadas de raiz para a exposição, de vários tipos, de várias dimensões e em vários suportes”, explicou o artista em declarações à Lusa. A maior parte das peças são retratos, “alguns gravados em velhas portas de madeira e em camadas de cartazes retirados da rua”, mas haverá também “peças com paisagens urbanas, peças em esferovite e esculturas em betão que fundem retratos e paisagens urbanas e uma instalação com cubos de metal gravados com ácido nítrico com composições que fundem retratos, paisagens urbanas e elementos gráficos e geométricos”. Além disso, haverá “uma secção com vídeos de peças murais criadas com recurso a explosivos, e filmagens realizadas em Hong Kong, Macau, Pequim e Los Angeles”. Fora da galeria, Vhils irá deixar três peças murais, “incluindo uma nova colaboração com Shepard Fairey”. A primeira colaboração entre os dois artistas data de julho do ano passado, altura em que criaram em conjunto um mural em Lisboa, na parede lateral de um prédio de três andares, na rua Senhora da Glória, na Graça, a propósito da primeira exposição em Portugal de Shepard Fairey, na galeria Underdogs. “Annihilation” será a exposição inaugural do espaço, em Los Angeles, da galeria Over The Influence de Hong Kong, onde o artista português já expôs. A mostra estará patente de 23 de fevereiro a 01 de abril. Depois, Alexandre Farto tem já na agenda uma exposição em Paris, a ser inaugurada a 19 de maio, no espaço Centquatre. Esta será a terceira exposição de Vhils na capital francesa, mas “a primeira num contexto mais institucional, embora fazendo sempre a ponte com a rua”. Em Paris, tal como em Los Angeles, adiantou o artista, serão apresentadas apenas obras inéditas. Entretanto, até 17 de março, está patente na Galeria Vera Cortês, em Lisboa, “Intrinseco”, exposição inaugurada a 01 de fevereiro, na qual Vhils utiliza pela primeira vez o plástico como suporte, numa instalação na qual faz uma “quase reflexão sobre a condição humana no espaço urbano”. Nascido em 1987, Alexandre Farto cresceu no Seixal, onde começou por pintar paredes e comboios com ‘graffiti’, aos 13 anos, antes de rumar a Londres, para estudar Belas Artes, na Central Saint Martins. Captou a atenção a ‘escavar’ muros com retratos, um trabalho que tem sido reconhecido a nível nacional e internacional e que já levou o artista a vários cantos do mundo. Além de várias criações em Portugal, tem trabalhos em países e territórios como a Tailândia, Malásia, Hong Kong, Itália, Estados Unidos, Ucrânia, Macau e Brasil. Em 2015, o seu trabalho chegou ao espaço, através da Estação Espacial Internacional, no âmbito do filme “O sentido da vida”, do realizador Miguel Gonçalves Mendes.
Hoje Macau EventosColombiano Juan Gabriel Vásquez vence prémio principal do Correntes D’Escritas [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] escritor colombiano Juan Gabriel Vásquez foi o vencedor do prémio literário Casino da Póvoa 2018, o principal galardão atribuído no Correntes d’Escritas, da Póvoa de Varzim, anunciou a organização. O júri deste encontro de escritores de expressão ibérica, que se realiza na Póvoa de Varzim até sábado, distinguiu o autor sul-americano, de 44 anos, pelo seu livro “A forma das ruínas”, editado pela Alfaguara. O romance de Juan Gabriel Vásquez mereceu três dos cinco votos do painel de jurados, composto por Fernando Pinto de Amaral, Javier Rioyo, José Mário Silva, Maria de Lurdes Sampaio e Teresa Martins Marques. Na sua declaração de voto, o júri destacou a obra pelo “extraordinário fôlego narrativo e pelo notável retrato da história da Colômbia do século XX, fruto de uma vasta investigação pessoal e literária”. “A partir de dois homicídios políticos que permaneceram como feridas na memória coletiva, Juan Gabriel Vásquez criou uma ambiciosa e muito bem organizada arquitectura romanesca”, pode ler-se na declaração de voto. O escritor colombiano, que esteve na Póvoa de Varzim no ano passado, vai receber um prémio de 20 mil euros por esta distinção no Correntes D’Escritas. Juan Gabriel Vásquez já tinha sido, em 2016, distinguido com o Prémio Literário Casa América Latina, tendo em 2014 vencido o Prémio da Real Academia Espanhola, com o livro “Las reputaciones”. O escritor colombiano era um dos 14 finalistas ao prémio, a par de Jaime Rocha (“Escola de Náufragos”), que amealhou dois votos do jurí, José Rentes de Carvalho (“O Meças”), Ana Teresa Pereira (“Karen”), Isabela de Figueiredo (“A Gorda”), Bruno Vieira Amaral (“Hoje Estarás Comigo no Paraíso”), Ana Margarida de Carvalho (“Não se Pode Morar nos Olhos de Um Gato”), João Ricardo Pedro (“Um Postal de Detroit”), Djaimilia Pereira de Almeida (“Esse Cabelo”), João Pedro Porto (“A Brecha”), João Paulo Borges Coelho (“Água”), o brasileiro Julián Fuks (“A Resistência”), Enrique Vila-Matas (“Marienbad Eléctrico”) e Juan Marsé (“Essa Puta tão Distinta”). Juan Gabriel Vásquez é esperado este sábado na Póvoa de Varzim para receber o prémio, durante a sessão de encerramento do Correntes D’Escritas, o encontro de escritores de expressão ibérica, que este ano reúne 80 autores de 14 países na Póvoa de Varzim. O colombiano sucede a Armando Silva Carvalho, que, em 2017, venceu o prémio literário Casino da Póvoa com a obra “A Sombra do Mar”. Nesta 19.ª edição do Correntes D’Escritas, que hoje arrancou na Póvoa de Varzim, e irá prolongar-se até sábado, com várias atividades, foram ainda atribuídos outros prémios: Balaton, de Ana Beatriz Correia de Sousa, venceu o Prémio Literário Correntes D’Escritas Papelaria Locus, enquanto o primeiro lugar do Prémio Conto Infantil Ilustrado Porto Editora, vocacionada para as escolas, foi para “O Advento na Achada”, do 4.º ano da Escola EBII Clemente Tavares, de Gaula, em Santa Cruz, na Madeira.
Hoje Macau Eventos“Estou sempre a contar uma história nos meus quadros”, diz Paula Rego [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] artista portuguesa Paula Rego diz estar sempre a contar uma história nos seus quadros, mesmo que essa história vá mudando ou que só seja descoberta no final do processo de criação. Num texto publicado no jornal britânico The Guardian, no contexto da exposição “All Too Human”, a inaugurar na próxima semana na Tate Britain, em Londres, Paula Rego afirma que “as histórias têm pessoas nelas”, então desenha pessoas a fazer coisas umas às outras, lembrando que recorre a contos do folclore português e a histórias como as de Eça de Queirós. A artista relata como o processo de criação do retrato do antigo Presidente da República Jorge Sampaio “quase [a] matou”, porque, enquanto pintava, “havia pessoas sempre a entrar e a dizer ‘esse braço não está bem’ ou ‘o nariz dele não é assim’”. “No fim, eu disse: ‘Talvez devêssemos ir para outro lado’. Fomos para uma sala cheia de armários de vidros e trabalhei muito duro. Fiquei num hotel lá perto e ia para a cama exausta. É um homem muito simpático. Ou, pelo menos, foi muito simpático para mim. Ainda somos amigos”, conta Paula Rego. A artista portuguesa radicada em Londres há décadas diz trabalhar maioritariamente a partir de modelos vivos ou de “bonecos” que faz ou que são feitos para si. “Desenho o contorno em carvão. Costumo começar pelo rosto e vou trabalhando a partir daí. Usar bonecas é uma experiência diferente de um modelo vivo. São obedientes – posso colocá-las como quero e ficam assim, são como atores num palco. Mas não trazem vida – preciso de uma pessoa lá, também, porque a intensidade é importante. Se desenhas uma pessoa, ela dá-te muito de volta. Às vezes dão tanto – inundam-te com a sua personalidade, com a sua alma – que tens dificuldades em segurá-las”, referiu Paula Rego. Para a artista, quanto mais se olha, melhor uma pessoa se torna a olhar, e “isso é uma disciplina importante, seja como for que se pretenda trabalhar”. Rego conclui com a constatação daquilo que lhe suscita maiores dificuldades: “As árvores são as coisas mais difíceis de acertar. E as tulipas. E todos os vegetais, exceto os tomates”. A exposição “All Too Human” é inaugurada no dia 28 de fevereiro e vai estar na Tate Britain até 27 de agosto, com o objetivo de “celebrar os pintores no Reino Unido que procuram representar as figuras humanas, as suas relações e as redondezas das formas mais íntimas”, segundo a página do museu. Além de Paula Rego, a mostra inclui trabalho de artistas como Lucian Freud, Francis Bacon e Frank Auerbach, entre outros, como Walter Sickert e David Bomberg, de gerações anteriores. Paula Rego é uma das pintoras participantes na Bienal Internacional de Mulheres Artistas de Macau, que decorre a 13 de Maio.
Hoje Macau China / ÁsiaProtocolo | Universidade de Coimbra mais ligada à Câmara de Comércio Luso-Chinesa [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Universidade de Coimbra (UC) assina hoje um protocolo de cooperação com a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa (CCILC). De acordo com um comunicado, o acordo tem como objetivo “estabelecer cooperação académica, científica e cultural entre as partes com vista à realização conjunta de atividades de natureza académica, científica, técnica, pedagógica e cultural, em áreas de interesse comum.” O mesmo documento aponta que a universidade portuguesa tem sido “um polo de atração de muitos estudantes chineses que querem aprender a língua e a cultura portuguesas e frequentam um número crescente de cursos nas mais variadas áreas”. Quanto ao Instituto Confúcio da UC, estabelecido em 2016, “reúne todas as condições para contribuir para a difusão da língua e cultura chinesas, para a melhoria significativa do conhecimento da Medicina Tradicional Chinesa em Portugal e para a qualificação dos profissionais portugueses que a exercem entre nós, bem como para a formação de todos os interessados em aprofundar as relações entre Portugal e a China”.
Hoje Macau SociedadeImobiliário | Transacções com ligeira descida em 2017 Diana do Mar [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] número de transacções de imóveis diminuiu ligeiramente no ano passado, mas o valor envolvido foi superior ao de 2016 Ao longo de 2017 foram transaccionadas 13.985 fracções autónomas e lugares de estacionamento – menos 0,9 por cento face a 2016 –, mas o valor envolvido subiu 15 por cento atingindo 85,23 mil milhões de patacas, indicam dados divulgados ontem pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). A maioria das transacções foi de fracções autónomas destinadas à habitação (mais 411 em termos anuais) por 69,44 mil milhões de patacas, o que representou um crescimento de 18,2 por cento face a 2016. Desse total, 2043 casas pertenciam a edifícios em construção e 8538 a prédios construídos, com os montantes implicados a corresponderem a 20,41 mil milhões e 49,04 mil milhões de patacas, respectivamente. O preço médio por metro quadrado (área útil) das fracções autónomas habitacionais cifrou-se em 100.822 patacas, reflectindo um aumento de 16,8 por cento, em relação a 2016, com Coloane a manter-se como o sítio mais caro (128.205 patacas), seguido do da Taipa (115.160 patacas) e do da península de Macau (91.769 patacas). Já o preço médio por metro quadrado das fracções autónomas destinadas a escritórios e o das industriais atingiu 113.198 e de 54.411 patacas, respectivamente, mais 13,1 por cento e 14,4 por cento, em termos anuais.
João Santos Filipe SociedadeFitch prevê que mercado do jogo cresça ao ritmo de 13 por cento este ano [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] agência de notação financeira Fitch Ratings prevê que o sector do jogo registe um crescimento de 13 por cento ao longo do ano, segundo os dados de um relatório publicado ontem. No ano passado, as receitas na principal indústria do território foram de 265,7 mil milhões de patacas, e um crescimento de 13 por cento significa que em 2018 o montante gerado pelos casinos atingirá os 300,3 mil milhões de patacas. “Estamos a prever um crescimento nas receitas do jogo de 13 por cento para 2018. Esta previsão encara com alguma moderação o crescimento de 36 por cento registado em Janeiro e tem em conta o aumento do número de mesas de jogo e dos quartos dos hotéis mais focados no segmento premium do mercado de massas”, é explicado no relatório. “A previsão inclui a abertura do MGM Cotai, que aconteceu este mês, assim como a abertura na Primavera da Torre Morfeu [no casino City of Dream] e a conversão de vários quartos do Parisian em suites, ao longo de 2018”, é acrescentado. A longo prazo, a agência de notação financeira aponta como factores promotores de crescimento “os melhoramentos nas infraestruturas” em Macau e nas regiões circundantes, assim como o desenvolvimento a classe média chinesa “mais propensa a viajar”. Riscos para o sector Em relação aos riscos enfrentados pela indústria, a Fitch refere algumas das consequências da dependência dos turistas do Interior da China, assim como o desenvolvimento de mercados em países como Filipinas, Austrália e Coreia do Sul. Para a Fitch, os riscos e constrangimentos para o mercado de Macau incluem a “vulnerabilidade às políticas do Continente, que podem afectar de forma adversa o sector do jogo”, como campanhas contra a corrupção, dificuldades no acesso ao crédito e acesso nos vistos dos turistas chineses de entrada em Macau, a “susceptibilidade à concessão de crédito e às condições macroeconómicas da China”, “a natureza limitada do prazo das concessões”, “a mão-de-obra limitada”, entre outros. Em relação aos factores que contribuem para o crescimento da indústria a longo prazo, a agência destaca a abertura do Grande Lisboa Palace, assim como as segundas fases dos casinos no Cotai das operadoras Melco, Wynn e Galaxy.
Leocardo VozesCozidos e mal amados [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] chefe de cozinha português José Avillez foi recentemente agraciado com o “Grand Prix de L’Art de La Cuisine”, uma espécie de Oscar da gastronomia mundial, uma distinção que, à distância que estou e atendendo que estamos aqui a falar de cozinha, me deixa contente, por ele. Está de parabéns, portanto. Assim que o chefe ganhou o prémio, começou a circular pelas redes sociais uma imagem da sua interpretação do Cozido à Portuguesa, que é servido no seu restaurante “Belcanto”, em Lisboa, distinguido também ele com duas estrelas Michelin. O Cozido em questão é composto por duas míseras cenourinhas, uma folha de couve, uma lâmina de nabo e cebola, e debaixo destas duas um pedaço de carne que mal dá para encher a cova de um dente. Tudo regado com o caldo do Cozido e servido com uma folha de hortelã. Caíu logo o Carmo e Trindade (que nem por acaso são ali perto), e o tribunal popular “online” determinou que aquilo “é um insulto”; questionou-se a competência do chefe Avillez, chamou-se de “parvos” aos gajos da Michelin, e enfim, choveram comentários do tipo “na tasca tal come-se melhor e mais barato”, ou “a minha Gertrudes faz um Cozido que se apresente”. Muito bem, e tenho a certeza que o meu filho, que nem sabe acender os bicos do fogão cá de casa, confecionaria também ele um prato muito mais substancial, e nem é isso que está em causa. Contudo, e depois de tentar saber a causa das coisas, descobre-se que o tal Cozido do chefe Avillez faz parte de um menu de degustação. Repito, degustação. Quem for procurar o significado da palavra “degustar” no dicionário, vai encontrar a seguinte definição: “Provar ou tomar o gosto de algo; avaliar pelo paladar o sabor de”. Não seria degustação no caso do Cozido vir servido com chouriços e alheiras inteiras, chispes de porco, um arraial de batatona, couves do tamanho de uma bola de futebol, e tudo regado com vinhaça, como o meu povo gosta. Neste caso o tal menu de degustação “Lisboa” (e recomendo sinceramente uma pesquisa na net) inclui um total de 12 pratos, e custa 300 euros. Não está ao alcance de todas as bolsas, é verdade, mas o chefe Avillez não está ali a enganar ninguém. Ah sim, e os 300 “paus” incluem “couverts”, água e café. É no fundo uma experiência gastronómica, e não um almoço de enfarta-brutos, e a julgar pelas (excelentes) avaliações nos Yelpers e Zomatos desta vida, tem muita qualidade. O povo pode escolher ir entupir as coronárias com o cozido da tal tasca da esquina, ou em alternativa usufruir da arte do melhor cozinheiro do mundo. E quando queremos “o melhor do mundo”, é óbvio que temos que pagar por isso. É de estranhar a alergia que os portugueses têm ao sucesso dos seus compatriotas. Não há bolas de ouro que Cristiano Ronaldo possa ganhar que demova os seus “haters”, e até Salvador Sobral, que no ano passado teve o desplante de ganhar o Festival da Eurovisão, foi quase crucificado por ter proferido a palavra “peido” em determinada circunstância. Eu não quero acreditar que os portugueses são um povo invejoso, ou até mal amado, como sugere o título desta peça. Eu diria antes que é “desconfiado”. Sim, é isso, “o outro pensa que é melhor que eu”, ou “tem a mania que é esperto, mas a mim não me engana ele”. Pode ser que um dia passe, quando começar a ser normal termos os melhores do mundo em várias outras funções. Nunca perco a esperança que isto aconteça um dia. Sou mesmo um optimista inveterado. PS: E parabéns ao chefe Avillez, de quem não tenho procuração passada para defender. É uma questão de justiça, apenas.
João Santos Filipe DesportoTaça AFC | Equipas da Coreia do Norte no mesmo grupo causam apreensão A participação de duas formações coreanas no Grupo I da Taça AFC e o facto dos resultados contarem para o ranking das nações pode levantar suspeitas sobre combinação de resultados. Ao HM, Bernardo Tavares, treinador das águias, reconhece também que as convocatórias das águias podem ter apenas 13 jogadores, se não houver dispensa do trabalho dos atletas locais [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] facto de haver duas equipas da Coreia do Norte, o 25 de Abril e o Hwaepul, a integrarem o Grupo I da Taça da Confederação de Futebol Asiática (AFC) causa apreensão ao treinador das águias, Bernardo Tavares. Em declarações ao HM, o técnico explicou que como só se apura uma equipa no grupo e que como os pontos das equipas contribuem para o ranking dos respectivos países, que pode haver indicações para que uma das formações facilite nos dois encontros entre ambas, com o objectivo de uma equipa ajudar a outra a apurar-se. “A situação das formações da Coreia do Norte ficarem no mesmo grupo quando só se apura uma e os resultados contribuem para os rankings nas nações, mostra porque é que a AFC é tida como uma entidade com menos credibilidade do que, por exemplo, a UEFA”, afirmou Bernardo Tavares, em declarações ao HM. “É inconcebível que duas equipas do mesmo país estejam no mesmo grupo em que só se apura uma e cujo resultado acaba por contar para o ranking dos países na AFC. Como é óbvio, para a Coreia do Norte é importante que seja uma equipa do país a passar e pode ficar sempre aquele dúvida se não poderá ter havido uma concertação de resultados”, explicou. Ainda em relação às formações da Coreia do Norte existem dificuldades para recolher informações sobre os plantéis e jogadores: “Não é fácil obter informação sobre as equipas da Coreia do Norte, mesmo recorrendo às plataformas para treinadores onde há informações sobre as diferentes equipas não há muitos vídeos de jogos disponíveis ou estatísticas”, reconheceu. No entanto, o treinador do Benfica de Macau viu através de gravações a primeira mão do play-off, em que o Hwaepul derrotou o Erchim por 4 – 0. Também tendo em conta o regime militarizado da Coreia do Norte o treinador não tem dúvidas em apontar os adversários como equipas “fisicamente muito fortes”. Jogadores em risco Mas as dificuldades do Benfica de Macau não se ficam pelo lado regulamentar. Nesta altura, existe ainda o risco da formação apresentar-se em alguns encontros apenas com 12 ou 13 atletas convocados. Em causa está o facto de alguns jogadores não conseguirem autorização para serem dispensados dos respectivos empregos. “Precisamos que os jogadores que trabalham sejam dispensados para poderem ir aos jogos. É um aspecto em que gostaríamos de contar com o apoio do Governo, também porque uma boa prestação do Benfica vai dar mais visibilidade a Macau. Se isso não acontecer, podemos ter convocatórias com 12 ou 13 jogadores”, justificou Bernardo Tavares. “Mesmo nos jogos em Macau, se os treinos de adaptação ao relvado acontecerem durante a tarde, existe a possibilidade de mais de metade do plantel estar indisponível para essas sessões de treino”, reconheceu. Ao nível dos treinos, o técnico dos encarnados apontou como principal dificuldade o facto da equipa estar a treinar em campos com dimensões mais reduzidas do que as oficiais. Contudo admite que é uma realidade para a qual já tinha sido preparado, antes de assumir o cargo. “Era importante que a equipa tivesse mais tempo de treino num campo de futebol. É importante que se perceba que esta participação é uma oportunidade para todos e que o futebol de Macau pode beneficiar com mais pontos para o ranking”, considerou. O Benfica de Macau inicia a participação na fase de grupos da Taça AFC diante do Hang Yuen, a 7 de Março, às 20h00. De acordo com o portal da AFC, a partida vai decorrer no Estádio da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau.
Michel Reis h | Artes, Letras e IdeiasAs Ilhas do Ouro Branco A arte que o açúcar da Madeira comprou em exposição no Museu Nacional de Arte Antiga [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] antecipar o arranque do programa de Comemorações dos 600 anos do Descobrimento da Madeira e do Porto Santo, que se assinalará em 2019 de forma intensa, o Governo Regional da Madeira, em conjunto com o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) de Portugal, apresenta a excepcional exposição “As Ilhas do Ouro Branco – Encomenda Artística na Madeira (séculos XV-XVI)”, inaugurada no passado dia 15 de Novembro. Em Lisboa, estão reunidas 86 peças provenientes do Museu de Arte Sacra da Diocese do Funchal, de colecções privadas e um retábulo do espólio do Museu. Se a importância desta exposição é inegável no âmbito da história da arte, não é menos relevante no que concerne à museografia. Comissariada por Fernando António Baptista Pereira e Francisco Clode de Sousa, historiadores de arte e museólogos, com reconhecida investigação no âmbito do património madeirense, a narrativa expositiva flui numa lógica coerente e articulada, facilmente perceptível pelo visitante. A abrir a exposição, que apresenta obras de pintura, escultura e ourivesaria, algumas delas restauradas para a ocasião, está um grande ecrã onde é projectado um filme que mostra a Madeira e a sua natureza em bruto, tal como terá sido encontrada pelos primeiros navegadores, e “que estão na base do encantamento que a ilha da Madeira provocou”, salientou Francisco Clode de Sousa na apresentação à imprensa, para quem esta mostra revela também a história da Madeira, a ilha “onde Portugal se ensaiou fora de si próprio”, referiu. Sublinhou ainda que “a Madeira é uma espécie de balão de ensaio do que viria a ser o Portugal da expansão, primeiro atlântica e depois no Índico.” Ao longo de uma narrativa que parte do espanto dos primeiros navegadores perante o novo território e prossegue com a evocação do esforço do povoamento e da implantação de estruturas económicas e administrativas no arquipélago, esta exposição dá a conhecer as elites comitentes locais através das suas encomendas – obras de pintura, escultura e ourivesaria – provenientes da Flandres, do continente ou até do Oriente. A narrativa expositiva constrói-se em quatro núcleos: “O açúcar no paraíso”; “Organizando a terra virgem”; “A arte que o açúcar comprou”; “Um reino dentro do reino” Numa última sala, expõem-se as mais destacadas obras-primas encomendadas, sintetizando, com particular brilho, a riqueza do património madeirense dos séculos XV e XVI, resultante do esplendor cultural proporcionado pelo ciclo económico do “ouro branco”. Proveniente da Ásia, a cana-de-açúcar terá começado a ser importada da Sicília pelo Infante D. Henrique, que introduziu o seu cultivo na Madeira nos finais da primeira metade do século XV, um projecto de rápida expansão. O desenvolvimento da produção de açúcar em larga escala permitiram a sua exportação para os portos da Flandres, primeiro através de Lisboa, e depois directamente. O consumo do “ouro branco” aumentou, assim, por toda a Europa, alterando hábitos alimentares e algumas práticas medicinais no mundo. Em paralelo, os mercadores que levavam o açúcar para Bruges e Antuérpia, entre outras cidades da Flandres, regressavam regularmente à Madeira com bens, nomeadamente obras de arte, sobretudo de carácter religioso, destinadas a satisfazer as devoções e a definir o estatuto social dos novos grupos populacionais constituídos à sombra dos canaviais e da economia açucareira, nomeadamente de pinturas das oficinas de Gérard David, Dick Bouts, Joos Van Cleve e Jean Gossaert, de escultura das oficinas de Malines, Antuérpia e Bruxelas, artes decorativas e ainda ourivesaria, também provenientes do continente e até do Oriente. A maioria das igrejas matrizes fundadas ou reformuladas durante o reinado manuelino foi dotada de imagens e retábulos flamengos, entre os quais se destaca o magnífico retábulo da Sé do Funchal, único no mundo, inspirando a encomenda de peças idênticas por particulares. Com um pé na economia açucareira, eram feitas encomendas artísticas que geraram “uma economia da salvação”, explicou Fernando António Baptista Pereira na apresentação à imprensa. Nas palavras deste historiador de arte, as peças expostas resultavam “da oferta à igreja de obras de arte que eram compradas com os excedentes económicos para remissão dos pecados”. Recordou ainda que foram os cereais o primeiro ciclo económico do arquipélago, só depois substituídos pelo açúcar. Foi este “ouro branco” escoado para os mercados europeus, numa altura em que o açúcar ainda era raro e caro, que proporcionou um enorme desenvolvimento local na Madeira. É perceptível o gosto dos senhores locais pela arte flamenga, onde frequentemente se faziam representar e cuja posse lhes sublinhava o prestígio. Tal como se regista a mudança de gosto que, a partir de meados do século XVI, passa a privilegiar as oficinas de Lisboa, nas expressões da Renascença ao Maneirismo. Muita da “arte que o açúcar comprou” pode ser vista nesta exposição que constitui, seguramente, uma oportunidade de excepção para ver em Lisboa algumas das obras mais notáveis de pintura, escultura e ourivesaria do património artístico português, incluindo: Santiago Maior, de finais do século XV e atribuído a Dieric Bouts; a Virgem com o Menino, São Bento e São Bernardo, de c. 1515 e atribuído a Francisco Henriques; o Retábulo dos Reis Magos, com o corpo central relevado em madeira dourada e policromada e volantes laterais pintados com a representação dos doadores, de oficina de Antuérpia, datado de c. de 1530; o Tríptico da Descida da Cruz, de cerca de 1518-1527 e atribuído a Gérard David (Bruges); o Tríptico de Santiago Menor e de S. Filipe, datado de c.1527-1531 e atribuído a Pieter Coecke van Aelst (Antuérpia); o Tríptico da Virgem da Misericórdia, de Jan Provoost (Bruges e Antuérpia), datado de 1529, com Nossa Senhora da Misericórdia ao centro, ladeada pelos santos Cristóvão, Paulo, Pedro e Sebastião; duas pinturas (Apresentação do Menino no Templo e Ressurreição) do retábulo da igreja de São Brás, no Arco da Calheta, de c. 1550-1560 e atribuído ao Mestre de Abrantes; quatro pinturas (Anunciação, Adoração dos Pastores, Adoração dos Magos e Ressurreição, de oficina portuguesa e datadas de c. 1550-1560; ou as extraordinárias esculturas de S. Sebastião, fragmento, de oficina coimbrã, atribuída a Diogo Pires, o Moço, e da Imaculada Conceição, dita Virgem de D. Manuel, trabalho flamengo, possível oficina de Malines, ambas datadas do início do século XVI; a imponente cruz processional, com iconografia da Paixão e a representação, no reverso, da figura em vulto de Cristo Redentor Mundi, e com decoração e heráldica manuelina, em prata dourada, do primeiro quartel do século XVI, para além de obras do anónimo conhecido como “Mestre da Lourinhã”, de Michiel Coxcie (Malines), e Joos van Cleve (Antuérpia). E estas são apenas algumas de entre as 86 peças que se encontram expostas e que podem ser vistas no MNAA, de terça a domingo das 10h00 às 18h00, até 18 de Março de 2018.
António Cabrita Diários de Próspero h | Artes, Letras e IdeiasCurar & Curare 19/02/2018 [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] tapeçaria dos povos apresenta amiúde histórias medonhas, intrincadas, implacáveis. Pior quando se eximem da responsabilidade sobre o bem comum e acabam como vítimas desgraciosas do próprio desleixo acumulado. Nesta última semana choveu a potes. Daria para transformar um estádio nacional em barragem, em não havendo drenagem. Desconheço em que estado ficou o Estádio Nacional de Maputo. Entretanto, não longe dali, no Hulene, acumulavam-se há anos monturos de lixo que cresceram, até à “sã” altura de um prédio de três andares, colinas de miasmas circundadas por casas de cimento ou madeira e zinco. Sofrivelmente cristãos, esses monturos resistiram à chuva, ao vento, à sua fúria e gosma. Até que ontem desmoronou sobre as casas, num tsunami. Foi um regabofe. Ficaram soterradas cinco casas. Dezassete mortos, fora os que ainda não vieram à tona e estão a ser pasto dos ratos. Que quarenta anos depois da independência uma comunidade morra enterrada pelo lixo que produz não deixa de ser tristemente metafórico. É a condição mais habitual em países que escolheram como prioridades as armas e a “política do ventre”. Situando-nos agora no norte, contaram-me a seguinte história: um amigo precisava de uma certidão de nascimento. Por acaso é do Mossuril, no distrito da Ilha de Moçambique. Ora, os livros de assento dessa zona foram enviados para a Conservatória da Ilha e foi aí que um amigo deste meu amigo foi requerer uma certidão de nascimento. Porém, a seguir todos os prazos razoáveis foram ultrapassados, até que chegou finalmente o documento e a explicação. Os livros de assento de antigamente eram grandes e as suas páginas desbordam da única e pequena máquina de fotocópias que existe na Conservatória. E então a opção é acumular os casos por resolver a fim de que se justifique enviar dois ou três livros de assentos atravessar o istmo que separa a ilha da costa numa balsa, com um funcionário, para, no outro lado, se tirar as fotocópias necessárias. E sob risco de que um aguaceiro, uma trovoada repentina, desabe sobre a balsa e os livros, debotando o milhar de assentos de que dependem muitas vidas. Por que não se digitaliza? Porque não há orçamento. O episódio da ilha chega a ser risonho, não fora essa quase doce irresponsabilidade – uma verdadeira cocada mole – ser outra face da mesma realidade que desaba na triste tragédia ocorrida esta noite. E não há orçamento quer para a digitalização dos arquivos, quer para o tratamento do lixo, porque se tem preferido a guerra ao diálogo, com todos os custos que tal acarreta. Deve ser horrível ser enterrado vivo por uma tonelada de lixo, a não ser que encaremos a tragédia como uma vacinação garantida contra os maus odores do inferno. 20/02/2018 Numa atoarda infeliz, a Ordem dos Médicos em Portugal posicionou-se contra as licenciaturas no ramo da Medicina Tradicional Chinesa, vulgo Acupunctura. Foi com assombro que li que «A OM acusou o Governo de ameaçar a saúde dos portugueses validando cientificamente práticas tradicionais chinesas através de uma licenciatura e admite avançar para “formas inéditas” de mostrar o descontentamento dos médicos. Para o bastonário, Miguel Guimarães, a criação de um ciclo de estudos com formação de quatro anos “em práticas que não têm base científica constitui um perigo para a saúde e para as finanças dos portugueses!”». Ora, a minha experiência leva-me a dizer o contrário, quiseram os médicos da “medicina científica” espoliar-me enquanto na acupunctura encontrei um modo alternativo de com eficácia resolver os meus problemas. Passo a contar. Em 2008, depois de uma gravidez, a minha mulher ficou com o “ombro congelado”, havia perdido a mobilidade por calcificação. A única solução dos médicos convencionais era levá-la à serra, operação invasiva e de resultados incertos, para além do preço bruto da intervenção. Optámos pela acupunctura. Em doze sessões a calcificação “liquidificou”. Cem por cento de eficácia para um terço do custo. Resolvi fazer doze sessões, para regulação. Só fiz oito porque fui orientar um curso em Madagáscar, mas assisti ao seguinte: a minha parceira de quarto nas sessões era uma garota de doze anos que experimentou a acupunctura por desespero: tinha um cancro numa víscera, não lembro onde. Na última sessão a que fui, havia festa e corria o champanhe. Os pais e a terapeuta comemoravam que o cancro da miúda tinha reduzido em dois terços. Se não tivesse visto não teria acreditado, mas fui testemunha. E bebi o champanhe. Há três anos uma filha minha fracturou num treino de ginástica um ossinho do joelho. Fomos à clínica privada melhor equipada em Maputo. Fez uma radiografia e o médico não detectou nada, disse que era uma inflamação e enviou-a para casa com umas pomadas e uns comprimidos para as dores. Dois dias depois eu tinha de descer com a miúda ao colo os nove andares do meu prédio (o elevador estava avariado) e voltámos lá. O médico voltou a não encontrar nada na radiografia, e sentenciou, Ela tem de fazer um TAC. Ok, quanto custa? Mil dólares. Arregalei os olhos e perguntei: O dr. tem consciência de que com esse dinheiro vou fazer um TAC a Lisboa? Lamento, mas é o preço. Passou-me pela cabeça ir consultar primeiro um acupunctor. Meia hora depois o terapeuta chinês segurava a radiografia e diagnosticava, apontando, Tem uma fractura, aqui… E, agora, precisa de gesso? Nada. Como vamos então fazer? Traz a menina duas vezes por semana, e faremos doze sessões. E depois não vai precisar de fisioterapia? Nada. Havia um precedente, confiámos. E um mês e meio depois a miúda andava, dois meses e meio depois voltou para a ginástica. E em vez de dois mil dólares no total gastámos duzentos dólares por tudo. O ano passado a minha mulher escapou de ir à faca, para tirar a vesícula, usando de novo a acupunctura. O ideal será cruzar as duas medicinas. A acupunctura não faz milagres, não é panaceia para tudo mas funciona – e ao nível preventivo aí será imbatível.
Hoje Macau China / ÁsiaJaponês obtem custódia de 13 crianças nascidas de barrigas de aluguer [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] caso passou-se na Tailândia e é o mais recente capítulo de um escândalo conhecido como “a fábrica de bebés” e que trouxe à tona o lado obscuro do mercado de gestação contratada local em 2015. O tribunal de menores de Bangkok evocou a felicidade das 13 crianças nascidas de mães de aluguer para justificar a decisão de conceder a Mitsutoki Shigeta, um japonês abastado, todos os direitos parentais. “O pai biológico não tem antecedentes de má conduta”, pronunciou o tribunal. A sentença permitirá que Shigeta leve todas as crianças para o Japão. De resto, o japonês já organizou toda a logística necessária e contratou várias babystitters para cuidar da numerosa prole, segundo seus advogados. Muito discreto desde que o escândalo explodiu, Shigeta não foi à Tailândia para responder às perguntas dos investigadores. A respeito dos motivos que levaram seu cliente a querer uma descendência tão numerosa, o advogado se limitou a explicar que Shigeta queria ter uma família grande. “Ele nasceu numa família numerosa e quer que seus filhos cresçam juntos”, limitou-se a comentar. O caso foi revelado quando a polícia tailandesa comunicou que amostras de DNA vinculavam Shigeta a nove bebés encontrados numa casa em Bangkok, onde residiam com suas mães de aluguer. A imprensa começou a chamar da história de “a fábrica de bebés”. As mães abriram um processo contra o Estado para ter direito a seus filhos, que foram entregues aos serviços sociais. No Japão, o pai biológico começou uma batalha legal para conseguir a custódia de todos. As mães acabaram por assinar um acordo, por meio do qual abriram mão de seus direitos parentais, segundo o tribunal. Não foram reveladas informações sobre um possível pagamento de indemnização. Proibido aos estrangeiros O negócio da maternidade contratada cresceu nos últimos anos na Tailândia aproveitando um vazio jurídico. Porém, em resultado da polémica foi aprovada em 2015 uma lei que proíbe a prática a estrangeiros. Coincidindo com o caso de Shigeta, um casal de australianos revoltou a opinião pública ao abandonar o seu bebé com Síndrome de Down com a mãe de aluguer tailandesa. Desde então, o mercado para estrangeiros que procuram por barrigas de aluguer se deslocou para outros países do Sudeste Asiático. No Camboja, o mercado da maternidade contratada desenvolveu-se rapidamente depois da proibição na Tailândia. Os preços de uma gravidez desse tipo eram muito mais em conta, principalmente em relação aos Estados Unidos e, como não havia regulamentação, as clínicas também aceitavam casais homossexuais e solteiros. As autoridades cambojanas acabaram, no entanto, por proibir essa prática e, agora, o Laos afigura-se como o novo país da região onde esse tipo de mercado floresce.
Hoje Macau China / ÁsiaTimor-leste | CNRT acusa Fretilin de espiar negociação com Austrália para fixar fronteiras O maior partido da oposição timorense, o CNRT, acusou hoje o partido do Governo, a Fretilin, de ter um espião como “agente duplo” para obter informação confidencial das negociações sobre fronteiras marítimas com a Austrália, lideradas por Xanana Gusmão [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] acusação foi publicada na página oficial do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT) no Facebook num texto intitulado “desconfia-se da instalação de espião para monitorizar equipa do ‘irmão’ Xanana – membros da equipa negociadora não se sentem seguros”. O CNRT, que é presidido por Xanana Gusmão, diz que a Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), que lidera a coligação do Governo, está a usar este “agente duplo” para obter “informação confidencial” das negociações para divulgar no Comité Central da Fretilin. Xanana Gusmão está ausente de Timor-Leste desde 11 de Setembro do ano passado, tendo estado desde aí envolvido quase exclusivamente nas negociações. A publicação do CNRT surgiu numa semana em que decorre em Kuala Lumpur, na Malásia, uma derradeira ronda de negociações entre Timor-Leste, a Austrália e o consórcio responsável pelos campos de Greater Sunrise, para procurar uma solução para o desenvolvimento deste recurso. Questionado sobre a acusação, Arão Noé, chefe da bancada do CNRT no Parlamento Nacional, disse à Lusa não ter qualquer conhecimento sobre o caso afirmando que eram os serviços de media do partido que tinham a informação. “São os serviços de media que têm essa informação. Não tenho conhecimento sobre este assunto. Não me quero pronunciar sobre este assunto”, disse. Questionado sobre quem é responsável pela gestão da página na rede social – o administrador não está identificado – Arão Noé disse que a gestão era feita “em termos rotativos”, sem revelar mais informação. Verdade escondida Segundo a publicação do CNRT a informação confidencial estará a ser passada por um quadro técnico que “talvez tenha afiliação radical ao partido Fretilin” e que está a atuar como “agente duplo para passar informação em segredo ao CCF em Díli” o que leva a que a equipa de negociação “não se sinta segura”. “O partido Fretilin tem um espião para monitorizar a situação das negociações e os movimentos do irmão Xanana”, refere o CNRT, que argumenta que responsáveis da Fretilin têm feito comentários nas redes sociais e declarações sobre a negociação. José Reis, secretário-geral adjunto da Fretilin e ministro Adjunto do primeiro-ministro para Assuntos de Governação, considerou a publicação uma “acção de propaganda falsa” que pretende tentar distanciar Xanana Gusmão do atual primeiro-ministro, Mari Alkatiri. “Neste processo o primeiro-ministro está a trabalhar com o homem de maior confiança de Xanana Gusmão, que é o ministro Adjunto do primeiro-ministro para a Delimitação das Fronteiras Marítimas, Agio Pereira”, disse à Lusa José Reis. “Eles que denunciem quem é porque eu não conheço mais ninguém. Nunca tivemos ninguém na equipa nem nomeamos ninguém para pedir informações a Xanana Gusmão”, sublinhou. Militante do CNRT e homem de confiança de Xanana Gusmão, Agio Pereira é o número dois da equipa de negociação das fronteiras e será quem, em nome de Timor-Leste, assinará no próximo dia 6 de Março o novo tratado com a Austrália. Afirmando que é mais uma “tentativa de politizar um assunto de Estado” como as fronteiras marítimas, José Reis afirmou que as redes sociais estão a ser usadas como “instrumento de ataque político”. “É tudo absolutamente falso”, afirmou José Reis.
Hoje Macau China / ÁsiaPequim quer proibir a presença de strippers em funerais [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo da China quer proibir a presença de strippers em funerais, uma tradição que existe em algumas províncias no interior do país e que é uma resolução de Pequim para o ano novo. Algumas comunidades no interior do país utilizam a presença de strippers para levar mais pessoas às cerimónias. Segundo o jornal britânico The Daily Telegraph, os mandatários chineses querem acabar com essa tradição que ainda é muito respeitada em províncias do interior como Henan, Anhui, Jiangsu e Hebei. Segundo o jornal, essa é a terceira vez desde 2006 que o Governo chinês tenta acabar com o costume. Entre as comunidades mencionadas acredita-se que um funeral cheio de gente traz fortuna e boa sorte para o espírito do morto. O Governo chinês criou uma linha de telefone especial para a população denunciar shows eróticos nos funerais e a família do morto pode ser multada ou até mesmo presa. Além disso, o Governo está levar a cabo uma campanha nos órgãos de comunicação social para convencer a população que levar strippers para cerimónias fúnebres é uma manifestação de decadência moral e cultural resultante da influência do ocidente no país.
Hoje Macau China / ÁsiaReligião | Mais de 48 mil baptizados na China no ano passado No ano de 2017 foram registados na China Continental 48.556 baptismos, número revelado pelos dados, ainda parciais da Sociedade Cultural “Faith”. Ao mesmo tempo que o Vaticano se afasta de Washington, aproxima-se de Pequim [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s estatísticas foram divulgadas na véspera do Ano Novo chinês pela Sociedade Cultural “Faith”, mas “ainda não são completas” – como precisa o organismo – pela falta de dados sobre as comunidades católicas que vivem em áreas rurais mais remotas. Não obstante isto, os dados “espelham a vitalidade e o dinamismo missionário de uma comunidade que vive a fé em plenitude”. Segundo os dados enviados à Agência Fides, a Província de He Bei, bastião do catolicismo chinês, encabeça mais uma vez a lista com 11.899 baptizados. A comunidade de Xing Tai teve 3.645 baptizados e a Diocese de Han Dan 3.059. Ademais, também uma pequena comunidade na Província de Hai Nan teve 38 baptizados. Na Diocese de Pequim, por sua vez, foram 1.099 os baptizados. Novos católicos Em regiões em que a maioria de população é muçulmana, como a administração autónoma de Xin Jiang (China Ocidental), foram registados 66 baptismos, enquanto na Província de Ning Xia foram 128 e em Qing Hai 54. Também a minúscula comunidade católica no Tibete, mergulhada no ambiente budista tibetano, acolheu 11 novos católicos. Segundo a Faith Cultural Society, “não obstante as cifras encorajadoras e o grande empenho missionário nas comunidades locais em toda a China, devemos sempre nos sentir chamados a um renovado empenho missionário. A evangelização na China é uma longa e difícil estrada a ser percorrida”. Ao mesmo tempo, é reiterado que as estatísticas publicadas representam “um convite e um apelo, porque devemos fortificar a nossa fé e seguir sempre em frente em nosso caminho em direção a Cristo”. “Faith” convida por fim toda a comunidade a melhorar e a manter sempre em ordem os registros paroquiais e os arquivos, a fim de possibilitar a permanência de dados corretos, que possam contar com clareza a história da própria comunidade, mas também de toda a Igreja na China.
Sofia Margarida Mota EventosFrancisco António Ricarte, arquitecto e fotógrafo: “Fotografo o que sinto sobre o que vejo” São 60 imagens em livro, 22 das quais estão expostas na Creative Macau até ao próximo dia 17 de Março. “Somewhere” é o nome da exposição de fotografia que traduz o sentimento de Francisco António Ricarte. Arquitecto de profissão, Ricarte vê na fotografia a sua forma de expressão O que é que vemos em “Somewhere”? Começa por ser o resultado de uma série de anos em que me fui dedicando a uma paixão que tenho desde a juventude, que é a fotografia. Sempre foi uma área que me fascinou e à qual fui, paulatinamente dando uma série de visões. Não num espírito de fotografia de retrato, mas sim de imagem que traduza algo mais do que aquilo que é uma visão imediata. A minha preocupação é ter a fotografia como uma oportunidade de expressar algum sentimento, alguma visão das coisas que me rodeiam, que me cativam, que me motivam mais. A fotografia é o corolário dessa oportunidade. A de mostrar qualquer coisa que vejo dentro de mim. Não procuro um retrato muito fiel de uma realidade, mas encontrar uma tradução de uma visão sobre determinados aspectos que me sensibilizam. No fundo, o que tenho nas imagens de “Somewhere” é a oportunidade de expressar essa visão, essa percepção. Fala na apresentação do livro, de mostrar o que está dentro. Tal como Caspar David Fredrich nos fala em relação à pintura, o mesmo pode ser dito com a fotografia: “Não fotografamos o que está diante de nós, mas o que está dentro de nós”. Fotografo o que sinto sobre o que vejo. Que sentimentos encontramos? São emoção sobre uma alma interior dos sítios. Por defeito de profissão sou bastante sensível aos locais, ao que nos podem conferir e da forma como nos identificamos com eles. A minha preocupação foi essa, o que senti nesses locais, através da vibração dos lugares, das cores, da ambiência e do silêncio. Muitas destas imagens traduzem o silêncio que nos transporta para alguma coisa mais do que aquilo que lá está. Francisco Ricarte Porquê o nome? “Somewhere” porque é uma exposição que não é sobre uma determinada realidade. Tem algumas imagens de Macau mas não é acerca da região nem sobre a Ásia em especifico. Não foi minha preocupação dizer que as imagens eram de determinado local. São emoções. Encontro no fotografia uma possibilidade de me expressar. É arquitecto. Há alguma influência desta área nas suas imagens? Nestas imagens procurei, de forma deliberada, fugir um pouco àquela grande temática da arquitectura que se refere a uma realidade física construída, com linhas verticais, horizontais, oblíquas, etc. Tentei sair dos sistemas de composição que são bastante caros aos arquitectos e para os quais também sou sensível. Mas nesta série fujo a essa temática de modo a fazer quase um desafio a mim próprio e procurar uma outra realidade. Trago esta realidade através de dois processos. Um primeiro que é o acto de fotografar, ou seja o acto de seleccionar determinada visão em detrimento de outras, e o segundo aspecto tem que ver com a própria revelação dessas imagens, ou seja trazer à luz uma realidade bruta. A ideia não é alterar a realidade em si mas antes melhorar a realidade que me despertou a atenção, da mesma forma como há muitos anos fazia fotografia analógica, a preto e branco. Mais não é do que mais uma vez, traduzir uma visão pessoal. Nestas imagens o sistema de composição é muito importante o formato quadrado é exemplo disso. Todas as imagens são coloridas e por razões estéticas cheguei à conclusão que muitas vezes quando olhava para uma imagem vertical ou horizontal via áreas acessórias, não determinantes em relação àquilo que queria mostrar. De uma forma natural cheguei ao formato quadrado. É o resultado de dez anos de imagens. Como é que foi o processo de selecção? Teve dois processos. São dez anos de atenção perante determinadas realidades paisagísticas em oposição à matéria edificada. Mas por outro lado, sem ter uma consciência muito plena quando comecei a fotografar, fui captando várias coisas e quando comecei, há cerca de dois três anos, a pegar na edição das imagens a selecção foi acontecendo de uma forma natural. A série expressa-se num livro com 60 fotografias e destas 60 estão 22 expostas na Creative Macau como uma espécie de síntese. As imagens expostas são fotografias de grande dimensão. Acho que a dimensão é também uma parte importante da percepção que quero transmitir. Claro que muitas vezes sou confrontado com os limites técnicos na medida em que há imagens que não resultam em formato tão grande. Mas as coisas de forma natural chegaram à selecção final. A selecção é um exercício de depuração. A Clarice Lispector tem uma frase que me pareceu apropriada para este processo e que aproveitei para o texto de apresentação: “É realmente complicado fazer coisas simples”. Muitas vezes quando vemos grande complexidade nomeadamente nas artes plásticas, o exercício de depuração é muito difícil e é quase uma nova descoberta da imagem. Falou do silêncio. Tem aqui alguma imagens feitas em Macau. Conseguiu encontrar o silêncio no território? Sim, ainda consegui. O silêncio é conferido através da luz. Podia até estar um ambiente ruidoso mas quando vi o que vi, a situação isolou-se, autonomizou-se e conferiu a aquele momento de silêncio. Este silêncio está subjacente a todas as fotos. Quando determinado momento me aparece, é como se tudo à volta se calasse e só aquele momento me falasse. A vinda para Macau mudou a sua percepção do mundo? Sim, completamente. A vinda para Macau correspondeu a um desafio profissional, mas esse desafio teve um corolário de uma nova visão do mundo, daquilo que nos rodeia. Aqui tudo é muito diferente e, de uma forma geral, ou gostamos ou odiamos. No meu caso, senti-me imediatamente bem. Consegui adquirir essa capacidade de olhar e de ir apreendendo esta realidade física, cromática, de sons e de cheiros. Tudo isso que nos vai marcando e que muitas vezes nos obrigada a ter o tempo acelerado. O tempo acelerado é muitas vezes este fascínio que nós ocidentais temos perante a apreensão de uma realidade quotidiana com que nos vimos confrontados e é com ela que estamos sempre a aprender e a olhar de outras formas. Isso é fascinante. Macau contribuiu muito para olhar de outra maneira. Foi uma oportunidade fantástica que agarrei e que me ajudou sob o ponto de vista da percepção e dos sentimentos. Mas não só me ajudou a ter uma visão do que era novo como também a olhar com outros olhos para aquilo que nos é já velho no sentido do que já estamos habituados, quer seja sob o ponto de vista da realidade portuguesa, quer seja sob o ponto de vista de uma realidade física ocidental europeia. As formas de lidar com estas realidades são diferentes. Foi precisamente essa nova visão que me ajudou a construir muito esta percepção que agora tenho e que penso que não seria possível sem a vinda para Macau e sem a experiência do Oriente. Não seria possível porque, apesar de não serem imagens especificamente do Oriente, traduzem a dupla visão do que é novo e velho no nosso mundo, do que é já sedimentado mas que, com o novo se reinventa também. Francisco Ricarte É um amante de arte em geral. Preocupações estéticas sempre tive, sob o ponto de vista das manifestações artísticas e culturais. É uma coisa que me tem sempre motivado ao longo dos anos e, felizmente, o Oriente tem-me ajudado a profundar esta vertente e este gosto. Tenho interesse e não sou capaz de deixar de ir a uma exposição ou um espectáculo. É uma questão que me motiva sempre. Por paixão e tendo um pouco mais de capacidade económica posso por vezes adquirir algumas peças, nomeadamente de fotografia. Mas diria que a minha principal aquisição e que nunca deixo, são os livros. Ando sempre com eles. são uma coisa da qual não me consigo desapegar. Quais os seus escritores favoritos? Há tantos. Não quero ser injusto para com nenhum mas o Sebald é um deles. Há vários livros dele imprescindíveis: “Austerlitz”, “The Rings of Saturn”, “Campo Santo” (poesia), etc.). Foi um escritor que me deu a volta à cabeça precisamente por ter uma realidade muito gráfica. Muitos dos livros que ele tem são obras em que a história é acompanhada de pequenas imagens. É um escritor que tem uma narrativa como as cerejas. Já escritores de língua portuguesa, gosto muito do Agualusa. Mas há tantos. Gosto também muito de poesia. Por outro lado, também não posso passar sem música. Acho que ainda faço parte de uma das últimas gerações que compram CDs, pelo objecto e pela qualidade sonora. O MP3 não me convence. Comprar um livro ou ver um concerto são actos criativos para mim. Não me coloco na posição de mero espectador mas tento colocar-me numa posição que me dá uma determinada viagem. A fotografia é onde tenho a capacidade de pegar num instrumento, numa matéria bruta e fazer alguma coisa.
Hoje Macau SociedadeMGM China | Lucros caíram 23,3 por cento em 2017 A MGM China registou lucros líquidos de 2,3 mil milhões de dólares de Hong Kong no cômputo do ano passado, traduzindo uma queda de 23,3 por cento face a 2016 Diana do Mar [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s lucros líquidos da MGM China diminuíram 23,3 por cento em 2017 para 2,3 mil milhões de dólares de Hong Kong, anunciou a operadora de jogo em comunicado enviado na noite de terça-feira. Já as receitas ascenderam a 15,4 mil milhões de dólares de Hong Kong, traduzindo uma subida de 3,3 por cento face ao apurado em 2016, enquanto o EBITDA ajustado (resultados antes de impostos, juros, depreciações e amortizações) foi de 4,6 mil milhões de dólares de Hong Kong – contra 4,5 mil milhões de dólares de Hong Kong em 2016. Os dados relativos ao exercício terminado em 31 de Dezembro chegam uma semana depois de a operadora, fruto de um parceria entre a norte-americana MGM Resorts e a empresária Pansy Ho, ter inaugurado o seu segundo empreendimento – o MGM Cotai, nas vésperas do Ano Novo Lunar, após uma série de atrasos. O ‘resort’ integrado, avaliado em 27 mil milhões de dólares de Hong Kong, marcou a entrada do grupo na ‘strip’ de casinos entre as ilhas da Taipa e de Coloane. Expectativas em alta “Achamos que esta propriedade constitui uma verdadeira mudança no mercado e, de facto, em termos de ‘resort’ integrados, no mundo”, afirmou o presidente da MGM Resorts International, James Murren. O norte-americano antecipou 2018 como um “ano muito forte” tanto em Macau como em Las Vegas, durante uma conferência com analistas. “Abrimos recentemente [a 13 de Fevereiro], por isso os dados são preliminares, mas posso dizer que a procura tem sido robusta, tanto em termos de quartos como ao nível do jogo”, realçou James Murren, apontando que todos os quartos de hotel estarão disponíveis na Primavera. Actualmente, apenas 900 dos cerca de 1400 se encontram operacionais, indicou Murren. “É um tempo desafiante para fazer qualquer tipo de avaliação, mas têm havido realmente indicadores preliminares muito muito bons”, observou, por seu turno, o CEO da MGM China, Grant Bowie, para quem a nova propriedade no Cotai vai oferecer “formas mais avançadas e inovadoras de entretenimento em Macau à medida que [o território] cresce como um destino de turismo global”. Já sobre as expectativas relativamente às licenças de jogo, que expiram entre 2020 e 2022, James Murren indicou que a MGM não manteve discussões a esse respeito com o Governo, afirmando que, tal como outras operadoras, tem confiança numa avaliação justa. “Penso que pelo final do ano ou no próximo vai haver conversações”. “Eles não nos procuraram para discutir isso, nem nós a eles”, acrescentou. Aquando da abertura do MGM Cotai, Grant Bowie, não se mostrou inquieto tendo em conta o investimento que a subconcessionária acabou de fazer no Cotai. “Não é motivo de preocupação. O Governo tem sido muito claro de que não vai dizer nada e não posso acrescentar mais nada. Merecemos a prorrogação do nosso contrato. Se investimos 3,4 mil milhões de dólares [norte-americanos] não vamos abandonar Macau”, sublinhou.
Hoje Macau Manchete SociedadeInquérito | Mais de metade desconhece programas de exclusão de acesso aos casinos A Universidade de Macau concluiu o inquérito encomendado pelo Instituto de Acção Social (IAS) para aferir o grau de consciencialização relativamente ao jogo responsável. Apesar das melhorias a diferentes níveis, a maioria dos inquiridos, entre os quais jogadores, desconhece a existência dos programas de exclusão Diana do Mar [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s pedidos de exclusão de acesso aos casinos têm aumentado de ano para ano, mas muitos ainda desconhecem que a interdição de entrada nos espaços de jogo pode ser requerida (pelo próprio ou por terceiros) à luz da lei que entrou em vigor há cinco anos. Pelo menos, de acordo com os resultados do inquérito sobre o jogo responsável que o IAS encomendou à Universidade de Macau (UM). O estudo mediu, pela primeira vez, o pulso ao nível de consciencialização quanto às medidas de cariz voluntário, de autoexclusão e exclusão a pedido de terceiros, implementadas pelo Governo. A Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) registou, no ano passado, 376 pedidos de exclusão de acesso aos casinos – mais 25 do que em 2016 – atestado uma tendência crescente. Em 2015 foram contabilizados 355 pedidos, contra 280 em 2014 e 276 em 2013, o primeiro ano completo desde a entrada em vigor da lei que condiciona a entrada, o trabalho e jogo nos casinos. Ao abrigo do diploma, o director da DICJ pode interditar a entrada em todos os casinos, ou em apenas alguns, pelo prazo máximo de dois anos, às pessoas que o requeiram ou confirmem requerimento apresentado para o efeito por cônjuge, ascendente, descendente ou parente em 2.º grau. Os resultados do inquérito – solicitado pelo IAS ao Instituto de Estudos sobre a Indústria do Jogo da UM – “mostram que 46,1 por cento dos inquiridos estavam conscientes sobre a existência dos programas de exclusão”, ou seja, mais de metade não estava. O documento, recentemente publicado, não refere, porém, a amostra. O HM contactou o IAS mas, até ao fecho da edição, não foi possível obter uma resposta. Idade legal OK Pela primeira vez também se tentou perceber se os residentes sabem qual a idade mínima legal para se poder entrar num casino: 78,9 por cento dos inquiridos acertaram na resposta. Dados facultados recentemente pela DICJ indicam que foi recusada a entrada nos casinos a cerca de 430 mil menores de 21 anos ao longo de 2017. Tratou-se do maior número anual desde a entrada em vigor da lei que impede os casinos de contratar ou de permitir o acesso aos espaços de jogo a menores de 21 anos sob pena de incorrerem em sanções administrativas. Este diploma vai, entretanto, ser revisto. No final do ano passado foi realizada uma consulta pública, cujo documento propõe a interdição de entrada nos casinos aos profissionais da indústria do jogo quando não se encontrarem no desempenho das suas funções para reduzir a probabilidade de se tornarem jogadores problemáticos. Consciencialização em alta A primeira conclusão, em termos genéricos, a retirar do inquérito é a da existência de uma maior consciencialização sobre a prática de jogo responsável: Em 2009, antes do lançamento das actividades de promoção do jogo responsável correspondia a 16,2 por cento e, em 2017, a 63,7 por cento. “Globalmente, apuramos, assim, que a taxa de consciencialização cresceu significativamente entre 2009 e 2012. Contudo, desde 2013 a taxa de crescimento começou a abrandar”, lê-se no documento. Com efeito, os inquiridos estavam, em geral, informados da existência de pelo menos um dos nove centros de tratamento de problemas de jogo, sendo que quase sete em cada dez conheciam a linha aberta que funciona durante 24 horas para aconselhamento. A percentagem dos jogadores cientes da prática de jogo responsável manteve-se “significativamente mais alta do que a apurada entre os restantes”: 74,1 por cento contra 58,5 por cento. O documento não especifica, porém, a proporção de jogadores no universo dos entrevistados. Em paralelo, os jogadores foram categorizados em dois grupos com base na frequência e hábito: os ocasionais (que apostavam, em média, menos de uma vez por mês) e os regulares (pelo menos uma vez por mês). “Os resultados indicam que, em média, o número de comportamentos responsáveis antes de iniciarem o jogo indicados pelos jogadores ocasionais era significativamente maior do que os mencionados pelos regulares”, diz o documento. Tendência idêntica foi sinalizada nos casos em que houve problemas após a prática de jogo: “A percentagem de jogadores ocasionais que procura ajuda profissional junto de especialistas é significativamente mais elevada do que a de jogadores regulares”. O inquérito permitiu ainda aferir que, por comparação, “os jogadores estão mais conscientes sobre as medidas de promoção do jogo responsável desenvolvidas pelas operadoras” e, “geralmente, mais informados sobre as medidas e políticas do Governo”. No entanto, “o nível de consciencialização e/ou entendimento dos jogadores sobre os impactos negativos decorrentes do vício do jogo e os respectivos centros de aconselhamento não era significativamente maior” quando comparado com os que não tentam a sua sorte. “Também é de reter que os jogadores mostraram sempre ter uma percepção incorrecta sobre [as] características dos jogos de fortuna e azar [e], por isso, os resultados levam-nos a concluir que as campanhas – que têm sido realizadas todos estes anos – apenas conseguiram consciencializar os jogadores para o conceito de jogo responsável”. Contudo, “não atingiram o objectivo de os dotar de um conhecimento profundo sobre o jogo e os distúrbios subjacentes a uma prática irresponsável”. Neste sentido, “é notório que o nível de conhecimento nestas duas esferas tem que ser reforçado”, recomenda a UM, apontando que “é aconselhável que nas próximas campanhas se explore e explique mais específica e detalhadamente aos jogadores a natureza do jogo e os distúrbios que lhe estão associados”. Relativamente à metodologia do estudo, sabe-se apenas, segundo dados anteriormente divulgados, que teve como destinatários os residentes de Macau com idade igual ou superior a 18 anos e que foi realizado entre 21 de Agosto e 3 de Setembro de 2017 através do método de amostragem aleatória e da realização de entrevistas por telefone.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeCabo Verde | Activistas continuam a não confiar no projecto de David Chow O grupo de activistas cabo-verdianos intitulado Movimentu Korrenti di Ativista continua a ter muitas dúvidas em relação ao empreendimento turístico que o empresário local David Chow quer erguer no Ilhéu de Santa Maria. Apesar de já existir um relatório de impacto ambiental, e de terem sido feitas alterações ao projecto, o grupo queixa-se de falta de informações da parte do Governo [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s alterações que foram feitas ao empreendimento turístico que o empresário e ex-deputado David Chow quer erguer no Ilhéu de Santa Maria, em Cabo Verde, continuam a não agradar ao grupo de activistas cabo-verdianos Movimentu Korrenti di Ativista, que desde o início se insurgiu contra o projecto. Nem a realização de um estudo de impacto ambiental eliminou as incertezas sentidas pelos activistas. Em declarações ao HM, Ras Munda, representante do grupo, considerou que continuam a não existir informações suficientes sobre um projecto que irá alterar a génese do local e a ligação da população ao meio ambiente envolvente. “Quanto ao impacto ambiental, só o futuro da obra responderá a isso. A construção no ilhéu deste complexo é, por si só, um grande atentado contra a natureza, porque a construção gera uma grande complexidade com os bairros periféricos. É preciso ver o ambiente não só como aquilo que tocamos e sentimos, mas também as informações que observamos.” O grupo alerta para uma grande ausência de informações relativamente aos ganhos que os cabo-verdianos podem obter com este empreendimento turístico. “Como já avançaram com o projecto, ao menos devem explicá-lo melhor, divulgando da melhor forma o que pensam em termos concretos para o povo, que ao menos passa a ganhar confiança na decisão que tomaram. É preciso dizer em concreto o que é que vamos ganhar com este investimento. Precisamos saber agora se estão preparados para nos avançar com os mesmos números que estão no Boletim Oficial.” De acordo com o jornal cabo-verdiano A Nação, o casino já não vai ficar situado sobre o mar como estava previsto inicialmente. Esta foi uma das alterações propostas pela Câmara Municipal da Praia. Ao jornal, o vereador do urbanismo Rafael Fernandes garantiu que os pedidos foram bem aceites pela empresa de David Chow, a Macau Legend Development Cabo Verde Resorts SA. “Houve uma pequena alteração, até sugerida por nós, em relação à ponte e aos edifícios que eram uma espécie de bungalows, o que não fazia sentido na primeira versão, porque parecia que era um destino turístico de praia e não é. É um turismo de cidade, diferente do que acontece nas outras ilhas. E houve também uma adaptação no ilhéu. O edifício projectado ia demorar muito tempo a ser construído e com um custo acrescido. O edifício emblemático do casino vai ficar com o mesmo aspecto mas ancorado no ilhéu”, explicou o vereador. Houve também mudanças em relação à ponte de ligação entre a Gamboa e o Ilhéu de Santa Maria. O Movimentu Korrenti di Activista confessou ao HM nunca ter estado contra a realização de obras no local, mas preferia que as mesmas tivessem o cunho da população. “O projecto foi contestado por nós porque acreditamos que o Governo deveria dar um destino mais sustentável para o ilhéu que tem uma grande importância para os cabo-verdianos. Poderiam ser realizada obras, mas estas deveriam ao menos partir do próprio Governo, com propostas dos cidadãos e com construções mais simples e sustentáveis que respeitavam a dinâmica, a cultura e o ambiente da nossa cidade.” Os três vectores O grupo Movimentu Korrenti di Ativista considera que o investimento de David Chow é como lançar uma moeda ao ar sem saber qual dos lados vai cair no chão. “O Governo e a autarquia estão a pensar que a moeda vai cair da maneira que estão a pensar. Mas de onde vem esta certeza? E se der tudo ao contrário? Será que estes governantes estão preparados para assumir esta responsabilidade?”, questionou o representante do grupo. Tal como já tinha sido noticiado, os activistas alertam para a possibilidade do empreendimento de David Chow poder atrair mais prostituição e casos de branqueamento de capitais. “Aos cabo-verdianos que consideraram esta uma boa decisão, devem estar atentos a três dados: a questão do tráfico de drogas, prostituição e lavagem de capital.” Há também o receio de se gerarem situações de desigualdade ou mesmo exclusão social. “Eles devem pensar [se o projecto] abre a porta para a possibilidade de transformação destas ilhas num paraíso fiscal no continente africano”, rematou o grupo.
Sofia Margarida Mota Manchete PolíticaDeputado Si Ka Lon preocupado com exclusividade da Air Macau no aeroporto [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m aeroporto pequeno e com concessões exclusivas, poderá estar a pôr em causa a competitividade local. A denúncia é feita pelo deputado Si Ka Lon. De acordo com o tribuno, os resultados não são os esperados, apesar do Governo ter “trabalhado bastante nesta vertente”, nomeadamente com a assinatura de acordos aéreos bilaterais com vários países, com a criação de pontos de tráfego em cidades no interior da China e com o Plano de Desenvolvimento do Aeroporto Internacional de Macau (AIM). A razão, aponta Si Ka Lon em interpelação escrita, tem que ver com a pouca liberdade do regime jurídico, a inflexibilidade do funcionamento da infraestrutura e o facto do AIM estar já demasiado congestionado. “Como o regime local de liberdades do ar é atrasado e o modelo de funcionamento do aeroporto não é flexível, o desenvolvimento da rede de transportes aéreos chegou ao “gargalo”, lê-se na missiva dirigida ao Executivo. O deputado explica que “em Macau existe um regime de concessão exclusiva das operadoras aéreas. Embora a RAEM já tenha assinado acordos aéreos bilaterais com 49 países e regiões, e tenha criado 57 pontos de tráfego com em cidades no interior da China, a realidade é que, neste momento, as rotas ainda não se encontram em operação. Portanto, os acordo aéreos celebrados com 37 países e regiões e 30 pontos de tráfego no continente ainda não estão a ser aproveitados”, diz. Para Si Ka Lon, e de acordo com as opiniões que tem recebido, a culpa é das concessionárias que nem querem operar nessas rotas nem permitem que outras empresas o façam. Perda de terreno Por outro lado, o Governo não tem tido uma acção concreta e empreendedora de modo a melhorar, efectivamente, as condições da infraestrutura e, com isso, está a perder competitividade relativamente a outros aeroportos da região. Si Ka Lon dá um exemplo próximo: o aeroporto de Zhuhai, em 2014, atingiu os quatro milhões de passageiros, enquanto que o de Macau registava a circulação de 5 milhões. Em Zhuhai a estrutura sofreu melhorias e no ano passado já acolheu nove milhões de pessoas enquanto o AIM se ficou pelos sete milhões, tendo sido “ultrapassado”, refere. As vias aéreas são fundamentais, principalmente numa região como Macau que pretende ser uma plataforma e integrar projectos como “Uma Faixa, Uma Rota” e a “Grande Baía”, afirma o deputado. Si Ka Lon quer saber, por parte do Governo, qual a razão para que existam tantas rotas previstas que não estão a ser utilizadas. Outra das preocupações do deputado prende-se com o facto da “Air Macau” ter a concessão exclusiva até 2020. Nesse sentido, questiona o Executivo se, para melhorar a situação, pretende alterar o actual modelo de forma a “que os aeroportos e as empresas aéreas de todo o mundo concorram de forma livre num mercado aberto”.
Sofia Margarida Mota PolíticaJoalharia | Deputado Ip Sio Kai pede padrões de certificação de pedras preciosas Macau não aderiu à certificação internacional de jóias. A par disso, o território não possui equipamento nem profissionais para garantir que a joalharia que se vende seja autêntica. Os profissionais do sector estão preocupados e querem um regime legal e especialistas de modo a que o mercado possa manter a competitividade local e internacional [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] mercado da falsificação de jóias está em constante actualização. No entanto, em Macau, onde o sector tem uma forte presença no mercado, não se seguem os padrões de certificação de autenticação internacional capazes de garantir que diamantes, jades e outras jóias à venda no território sejam verdadeiras. O alerta é dado pelo deputado Ip Sio Kai. Em interpelação escrita, o tribuno aponta o dedo à inoperância do Executivo nesta matéria, sublinhando que desta forma Macau pode perder competitividade no mercado devido à desconfiança dos consumidores. De acordo com Ip Sio Kai, esta é mais uma prova de recuo quando Macau se quer afirmar como centro turístico, demonstrando a forma como o território continua atrasado em relação aos padrões internacionais, facto que não corresponde ao pretendido posicionamento como centro mundial de turismo e lazer”, refere. O deputado recorda uma apreensão recente na vizinha Hong Kong de diamantes falsos. As pedras eram, no entanto, muito difíceis de detectar como não sendo verdadeiras. “Devido ao avanço das técnicas é necessário recorrer a aparelhos sofisticados para distinguir os diamantes naturais dos artificiais”, refere o deputado. Contudo, Macau, onde o comércio de jóias é também um dos atractivos turísticos, as lojas não têm este tipo de equipamentos nem “condições para adquirir este tipo de aparelhos”, diz. Para Ip Sio Kai, o sector das jóias enfrenta novos desafios e um acréscimo nas dificuldades quando se trata de manter a credibilidade no mercado. Sem profissionais Acresce ao problema a falta de quadros qualificados em autenticação de jóias. Para o deputado trata-se de mais uma situação “que vai prejudicar a competitividade do sector”. De acordo com Ip Sio Kai, “se a situação não melhorar rapidamente receia-se que os sectores da joalharia e ourivesaria deixem de atrair os consumidores das regiões vizinhas”, teme o deputado. O problema não é novo e não é a primeira vez que o Governo é alertado para a situação. “Segundo a associação comercial do sector, este tem apelado ao Governo para criar um sistema de reconhecimento e certificação de jóias de jade e de diamantes, bem como um regime de formação profissional”, aponta o deputado. A associação apresentou mesmo um proposta no sentido de garantir uma resposta. No entanto, “até agora, não se registou nenhum avanço”, aponta. De acordo com os comerciantes que trabalham no sector da joalharia, as melhorias sugeridas ao Executivo vão contribuir para uma melhor qualidade do serviço e por uma elevada reputação quer entre as regiões vizinhas quer a nível internacional. Em Macau existem cerca de 300 empresas ligadas ao sector que precisam de profissionais de autenticação e de certificação internacional, refere. Ip Sio Kai quer saber qual é o ponto da situação nesta matéria e que medidas o Executivo tenciona tomar.