Hoje Macau Breves PolíticaVisita oficial | Chui Sai On vai hoje para Cambodja e Tailândia Visita oficial | Chui Sai On vai hoje para Cambodja e Tailândia [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Chefe do Executivo, Chui Sai On, parte hoje para uma visita oficial ao Cambodja e Tailândia no âmbito da política “Uma Faixa, Uma Rota”, aponta um comunicado. O objectivo da visita é “aprofundar a cooperação e intercâmbio na área do turismo, economia e comércio e, de acordo com as necessidades do País, aproveitar as vantagens de Macau, para que o território desempenhe o seu papel singular de ponte, contribuindo para a grande estratégia de desenvolvimento da construção de ‘Uma Faixa, Uma Rota’”. A comitiva inclui a secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, os membros do Conselho Executivo e representantes da comunidade ultramarina e de jovens de Macau. A visita termina esta sexta-feira, estando na agenda visitas às capitais Phnom Penh e Banguecoque. Está prevista a realização de “encontros com vários oficiais de alto nível dos dois países”. Mercado da Taipa | Leong Sun Iok quer calendário das obras [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] deputado Leong Sun Iok entregou uma interpelação escrita ao Governo onde pergunta sobre prazos para a renovação do mercado municipal da Taipa. Na opinião do membro da Assembleia Legislativa, o plano de ampliação do espaço tem decorrido a um ritmo lento, sendo que há vários anos que os moradores não procuram o espaço para fazer as suas compras, o que causa dificuldades aos vendilhões. Tendo em conta que o mercado é o único a funcionar na Taipa, Leong Sun Iok quer saber quando é que as obras serão realizadas e quais as medidas que serão criadas para apoiar os vendilhões durante este processo. Além disso, o deputado deseja saber se o plano de ampliação contém uma zona de comidas e bebidas, para que haja uma maior variedade de serviços e incentivo para que os moradores ali façam as suas compras. Habitação | Song Pek Kei questiona planeamento de lotes da Doca do Lam Mau [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] deputada Song Pek Kei entregou uma interpelação escrita ao Governo onde questiona o planeamento de dois lotes na zona da doca do Lam Mau, no Fai Chi Kei. Song Pek Kei recorda que o Governo prometeu dar prioridade à construção de habitações públicas mas, no entender da deputada, os pequenos terrenos na zona da doca do Lam Mau podem não ter as condições ideais para erguer casas públicas. Nesse sentido, a deputada quer saber se é possível construir nos referidos terrenos mais lares de idosos, creches e espaços para a prática desportiva, uma vez que são espaços de que a população também necessita.
Hoje Macau China / ÁsiaComércio | “Grandes diferenças” no prevalecem entre Pequim e Washington [dropcap style=’circle’] P [/dropcap] equim e Washington acordaram estabelecer um mecanismo que permita lidar com as crescentes disputas comerciais, mas reconheceram que prevalecem “grandes diferenças” entre os dois países, noticiou a agência oficial chinesa. A agência noticiosa oficial Xinhua, que cita o ministério chinês do Comércio, afirma que os dois lados abordaram um aumento das exportações norte-americanas para a China, comércio de serviços, protecção de propriedade intelectual e como resolver as disputas em torno da implementação de taxas alfandegárias. Os dois lados “chegaram a um consenso em algumas matérias”, refere a agência, sem avançar com mais detalhes. Também o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Steven Mnuchin, deu um sinal positivo sobre as negociações com as autoridades chinesas, que decorreram em Pequim. “As conversas estão a correr bem”, disse, num breve comentário aos jornalistas. O Presidente dos EUA, Donald Trump, quer reduzir em 100.000 milhões de dólares o deficit na balança comercial com a China e exige que Pequim garanta às empresas norte-americanas uma melhor protecção dos direitos de propriedade intelectual. A sua administração ameaçou subir as taxas alfandegárias sobre um total de 150.000 milhões de dólares em exportações chinesas para o país, incluindo produtos do sector da aeronáutica, tecnologias de informação e comunicação ou robótica. Em retaliação, Pequim ameaçou subir as taxas alfandegárias sobre uma lista de produtos norte-americanos, cujas exportações para a China se fixaram, no ano passado, no mesmo valor. Expectativas vs realidade Continua a não ser claro se as negociações desta semana vão levar as autoridades de ambos os países a anular aquelas medidas, que perturbaram as praças financeiras em todo o mundo, temendo uma guerra comercial entre as duas maiores economias do planeta. Analistas consideram ser difícil China e EUA chegarem a um consenso, tendo em conta a forte incompatibilidade entre as estratégias de ambos para o sector tecnológico, no qual Pequim ambiciona competir com Washington. O jornal oficial China Daily lembra que é normal que existam diferenças entre os EUA e a China em torno de questões comerciais, mas que os recentes “ataques mostram o quão acesas se tornaram as disputas e o quão difícil será para os dois lados ficarem satisfeitos”. Um acordo é apenas possível se os “dois lados tiveram expectativas realistas”, acrescentou o jornal. Na raiz desta disputa está o plano de Pequim, designado “Made in China 2025”, para transformar o país numa potência tecnológica, com capacidades nos sectores de alto valor agregado, incluindo inteligência artificial, energia renovável, robótica e carros elétricos. A China fabrica 90 por cento dos telemóveis e 80 por cento dos computadores do mundo, mas depende de tecnologia e componentes oriundos dos EUA, Europa e Japão, que ficam com a maior margem de lucro. Washington queixa-se de que as autoridades chinesas estão a subsidiar empresas locais e a protegê-las da concorrência, enquanto forçam firmas estrangeiras a partilhar tecnologia com potenciais futuros rivais chineses, em troca de acesso ao mercado do país. A delegação norte-americana incluiu ainda o secretário do Comércio, Wilbur Ross, o representante comercial da Casa Branca, Robert Lighthizer, e o assessor económico máximo de Trump, Larry Kudlow. Do lado chinês, as discussões foram lideradas pelo vice-primeiro-ministro Liu He, principal encarregado da política económica e financeira do país asiático e visto como próximo do Presidente da China, Xi Jinping.
João Santos Filipe Manchete PolíticaChui Sai On acha que jovens pensam de forma diferente do Governo O Chefe do Executivo foi de férias na sexta-feira, mas deixou uma mensagem alusiva ao Dia da Juventude. Chui Sai On elogiou o progresso da juventude local e mostrou-se satisfeito por haver opiniões construtivas, mesmo que diferentes das adoptadas pelo Governo [dropcap style≠‘circle’]N[/dropcap]a sexta-feira celebrou-se o Dia da Juventude e o Chefe do Executivo, apesar de ter tirado dois dias de férias – segundo um despacho em Boletim Oficial – revelou-se “profundamente satisfeito” com o progresso dos mais jovens, através de uma mensagem gravada. Chui Sai On destacou também o espírito crítico da nova geração do território e destacou que muitas das opiniões diferentes das seguidas pelo Governo são construtivas. “Os intercâmbios realizados ao longo destes anos, deixam-me profundamente satisfeito por verificar o progresso dos jovens de Macau”, começou por dizer. “Os jovens contemporâneos de Macau são mais maduros no seu pensamento e têm uma visão da vida mais ampla; detêm uma elevada capacidade de julgamento e consciência crítica, e têm opiniões diferentes em relação às políticas e medidas do Governo, muitas das quais são construtivas”, apontou. Por outro lado, Chui Sai On recordou a iniciativa quase singular durante a sua governação, em que os secretários se mostraram disponíveis para participar em palestras com os alunos da Universidade de Macau. O líder do Governo não deixou passar a ocasião para fazer um balanço positivo da iniciativa. “É minha convicção que esta comunicação directa e pessoal contribui para que as novas gerações tenham um melhor conhecimento sobre os trabalhos do Governo e, em particular, sobre as ponderações e as prioridades tidas em consideração para tomada de decisões. Podemos assim concluir que esta forma de comunicação tem efeitos positivos quer para o desenvolvimento dos jovens, quer para os trabalhos do Governo”, rematou. “Vivam bem a juventude” Nascido a 3 de Janeiro de 1957, Chui Sai On tem actualmente 61 anos e do alto da sua experiência deixou um conselho para os mais jovens: “vivam bem a juventude”. A frase foi proferida após o Chefe do Executivo ter pedido aos locais que recebam de braços abertos os jovens do Interior da China e do estrangeiro. “Espero que os jovens se preparem e se integrem activamente no desenvolvimento global do País e que, com uma mente-aberta, acolham a vinda de jovens do Interior da China e do estrangeiros para Macau, com o propósito de aprendizagem, e que no processo da aprendizagem conjunta, vivam bem a juventude, se auto-realizem, e contribuam para o desenvolvimento contínuo do País e de Macau”, aconselhou. Ao longo do discurso, o líder máximo do Governo local fez ainda vários apelos ao amor pelo País e ao patriotismo. Chui recordou também a visita do presidente Xi Jinping, aquando a celebração dos 15 anos da RAEM.
Hoje Macau China / ÁsiaIdeologia | Xi enaltece ideais de Marx apesar de abertura do país ao capitalismo [dropcap style=’circle’] O [/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, enalteceu os ideais de Karl Marx, que teoricamente continuam a reger o país, onde milhares de operários morrem anualmente em acidentes laborais, numa celebração do bicentenário do nascimento do filósofo alemão. “Como um espectacular amanhecer, o marxismo ilumina o caminho da humanidade”, afirmou Xi, no Grande Palácio do Povo, local que acolhe os mais importantes eventos políticos da China, situado junto à Praça de Tiananmen. Durante um discurso de uma hora e meia, proferido perante personalidades militares e civis da China, Xi classificou Marx como “o maior pensador dos tempos modernos”. “Duzentos anos depois, apesar das enormes e profundas mudanças na sociedade humana, o nome de Karl Marx continua a ser respeitado em todo o mundo e a sua teoria continua a ser iluminada pela luz da verdade”, lembrou Xi. Um enorme retrato do filósofo alemão, nascido em 5 de Maio de 1818, ocupou o espaço normalmente reservado aos símbolos do regime chinês no Grande Palácio do Povo. Desde que ascendeu ao poder, em 2013, Xi Jinping tem vindo a promover o estudo do marxismo entre os altos quadros do Partido Comunista, visando um “regresso às raízes”. O segundo centenário do nascimento de Karl Marx foi comemorado na China com várias actividades, incluindo a organização de exposições ou a reedição de clássicos marxistas como o “O Capital” ou “O Manifesto Comunista”. Segundo a sua Constituição, a China é “um Estado socialista, liderado pela classe trabalhadora e assente na aliança operário-camponesa”. O reverso da moeda Em 1979, no entanto, o país abriu-se à iniciativa privada e ao investimento estrangeiro e é hoje a segunda maior economia do mundo, após quatro décadas a crescer, em média, quase 10 por cento ao ano. Desde então, centenas de milhões de chineses saíram da pobreza extrema, num “milagre” sem precedentes na História moderna. No entanto, segundo contas da Organização Internacional do Trabalho, o operariado chinês regista, em média, cerca de 70.000 mortes por ano devido a acidentes no trabalho – 192 óbitos por dia. A desigualdade social é também uma das principais fontes de descontentamento popular no país. O rendimento ‘per capita’ em Pequim ou Xangai, as cidades mais prósperas do país, é dez vezes superior ao das áreas rurais, onde quase metade dos 1.750 milhões de chineses continua a viver.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeEfeméride | Há 25 anos, a cidade muralhada de Kowloon era demolida O arquitecto Mário Duque e o secretário-geral da Cáritas, Paul Pun, recordam a sua experiência como visitantes na cidade muralhada de Kowloon. Era um “labirinto” de apenas 2,7 hectares onde chegaram a residir 50 mil pessoas. A ilegalidade fez do local um problema para o Governo britânico que só foi resolvido em 1994. A demolição dos 500 edifícios aconteceu há 25 anos [dropcap style≠‘circle’]E[/dropcap]m chinês era conhecida como a “cidade da escuridão”. Não havia recolha de lixo, muito menos elevadores, água potável ou instalações eléctricas legais. Um frágil sistema de esgotos foi instalado quando as autoridades perceberam que os dejectos estavam a contaminar a água que era consumida. A construção foi sendo feita ao longo de décadas, sem mão de arquitectos ou engenheiros, sem inspecções ou fiscalizações. A cidade muralhada de Kowloon, casa de 50 mil pessoas que viviam em 500 edifícios construídos em pouco mais de 2,7 hectares, tornou-se numa mancha negra na história da administração britânica em Hong Kong. Essa mancha foi definitivamente apagada há 25 anos, com a demolição de todos os edifícios. As pessoas foram realojadas nas habitações sociais dos Novos Territórios, além de terem recebido uma indemnização. Em lugar do vazio deixado pelo território, que foi o mais densamente povoado do planeta, existe hoje um parque que conta as memória de um lugar que muitos recordam com saudade. FOTO: Hong Kong Lands Department Mário Duque, arquitecto, visitou a cidade muralhada de Kowloon, mas não foi sozinho. Levou um amigo que lhe mostrou como entrar num espaço cheio de becos e ruelas escuras. “Era um espaço de uma enorme densidade e percebia-se que tinha alguma organização, porque as coisas funcionavam. Era uma espécie de colmeia e não se percebia muito bem como é que aquilo tudo funcionava, porque toda a gente corria de sítio para sítio, sabia de onde vinha e sabia para onde ia e desenvolviam funções lá dentro. Era um sítio de trabalho e de habitação também. Tinha uma organização com alguma informalidade, mas que, na realidade resultava. Havia ares condicionados, a água corria pelo chão e paredes, havia electricidade.” Mário Duque recorda-se da sensação de se estar num “território estranho, para o qual não temos um mapa, não sabemos por onde se entra, nem por onde vamos”. “Tínhamos de ir com alguém que conhecesse minimamente o espaço. Não sabíamos sequer por onde entrar e por onde circular. Ninguém estava disponível para falar, porque estava toda a gente muito atarefada. Não devo ter passado do rés-do-chão, a zona dos pódios dos edifícios. Ali eram casas de comida, oficinas, fábricas e também habitações em simultâneo.” Mesmo sem ter conseguido falar com trabalhadores ou moradores, Mário Duque percebeu que havia ali uma certa estrutura social. “Notava-se que havia sítios onde as pessoas não estavam propriamente a trabalhar. Reuniam à volta da mesa, conversavam, pareciam os administradores do local. Toda a gente corria, todos tinham uma função, e não era propriamente uma cooperação, era cada um por si.” A cidade muralhada de Kowloon tinha a presença de algumas tríades da China e de Hong Kong e era comum a existência de bordéis e consumo de estupefacientes. Muitos trabalhavam sem documentos, em fábricas que não eram inspeccionadas pelas autoridades, em longas jornadas de trabalho que aconteciam todos os dias da semana, sem folgas. Nos andares de baixo funcionavam várias lojas, restaurantes onde se consumia comida de cão e dentistas sem qualquer tipo de licença. O arquitecto, a residir há décadas em Macau, recorda-se de que os espaços disponíveis para circulação dentro da cidade eram reduzidos ao essencial. “Em tempos, deveria ter tido uma construção organizada, mas depois foi apropriada. Houve um crescimento tão grande, e com uma intensidade tal, que tínhamos a sensação de estar dentro de uma colmeia, com tudo a funcionar, com muito pouco espaço. Era um labirinto, mesmo ao nível das circulações. Uma das coisas a que estamos habituados em Macau nos edifícios antigos é que muitas vezes as pessoas ocupam os espaços comuns de circulação e transformam-nos, e ali estava tudo ocupado.” “Senti-me seguro” Paul Pun, secretário-geral da Cáritas, já fazia trabalho de apoio social quando visitou pela primeira vez a cidade muralhada de Kowloon. Nunca se sentiu inseguro, apesar da existência omnipresente de consumidores e traficantes de drogas e da ausência de autoridades policiais. “Naquela altura, na cidade muralhada, viviam apenas chineses, e havia uma ligação às tríades. Eles não estavam presentes apenas na cidade, mas em vários pontos de Hong Kong. Lá havia mais liberdade para as tríades levarem a cabo as suas actividades, porque não havia câmaras.” O secretário-geral da Cáritas foi, durante dois anos, estudante da Universidade de Hong Kong. Na altura optava por andar a pé, evitando autocarros ou eléctricos, para sentir mais de perto o pulsar da cidade. Mais tarde, visitaria a cidade muralhada de Kowloon, sem ajuda de ninguém. “Não tinha ligações a ninguém, ou a qualquer associação. Cheguei a trabalhar com portadores de deficiência, que muitas vezes tinham de ir fazer tratamentos a Hong Kong, e algumas pessoas vinham a Macau pedir apoio e tínhamos de os ajudar nos contactos. Antes, as pessoas de Hong Kong perdiam dinheiro no jogo e nós fazíamos esse trabalho de apoio”, contou. Paul Pun recorda a ligação que existia entre as muitas famílias que tinham de partilhar pequenos espaços. Várias gerações nasceram e morreram na cidade muralhada de Kowloon que, originalmente, era um forte militar chinês. A sua população aumentou drasticamente com a ocupação japonesa de Hong Kong durante a II Guerra Mundial. “O espaço era gerido por eles próprios e tinha uma coisa boa: as pessoas mantinham a harmonia lá dentro, as pessoas não olhavam para ti, faziam com que te sentisses acolhido. Eu senti-me normal lá dentro, não me senti um estranho”, acrescentou Paul Pun, que, quando questionado sobre as condições das estruturas dos edifícios e do ambiente, recordou uma curiosidade. “Não sei se cheirava mal, porque na altura tive um problema de saúde e não conseguia ter cheiro. Por isso, é que quando caminhei lá não senti problemas a esse nível, mas garanto que era um lugar seguro.” Na cidade muralhada de Kowloon, Paul Pun recorda-se de existir uma ligeira diferenças no modo de estar das pessoas de Macau e Hong Kong. “Eu não me vestia como alguém de Hong Kong. Naquela altura, havia uma maior diferença na forma de vestir e até de andar, porque as pessoas de Hong Kong andavam mais depressa, por exemplo. Quando entrei num supermercado da cidade muralhada perceberam que eu não era de Hong Kong, porque andava mais devagar. Mas senti-me bem acolhido.” Densidade de hoje Na cidade muralhada de Kowloon, os apartamentos eram minúsculos e poucos tinham o luxo de morar numa casa exposta à luz do sol e ao ar da rua. Quem vivia nos apartamentos cá em baixo precisava subir vários andares a pé para o terraço do edifício, onde o espaço era dominado por um vasto campo de antenas de televisão desorganizadas. Uma escultura em bronze da maquete da “Cidade Muralhada” foi colocada à entrada do Kowloon Walled City Park, em Hong Kong. Hoje em dia, permanece o problema da falta de espaço em Hong Kong e é cada vez mais visível a realidade dos que são obrigados a viver em gaiolas ou em apartamentos. Em Macau nunca existiu um espaço tão densamente povoado como a cidade muralhada de Kowloon, mas Paul Pun alerta para a situação em que vivem hoje muitos trabalhadores migrantes. “Se compararmos com Hong Kong, sempre tivemos numa melhor situação, com a diferença dos trabalhadores migrantes, que vivem em espaços mais apertados. Estamos a falar de um espaço que era mais pequeno do que Seac Pai Van”, frisou o secretário-geral da Caritas. Mário Duque fala de uma predisposição cultural para que os asiáticos se organizem na cidade de uma forma mais densa, uma vez que os europeus, pelo contrário, precisam de espaço para comunicar uns com os outros. Ainda que a uma escala diferente, e sem a dimensão da cidade muralhada de Kowloon, o arquitecto dá exemplos de aglomerados urbanos que se mantiveram imunes ao desenvolvimento urbano, com uma organização própria. “Em escalas muito pequenas encontramos isso em Macau, quando determinado núcleo urbano tradicional foi incorporado numa estrutura urbanística geral, como as ilhas que permaneceram lá dentro, com a sua própria organização. Encontramos isso nas zonas viradas para o Patane e Porto Interior.”
Hoje Macau EventosCreative Macau | Festival Sound & Image com mais de 25 candidaturas portuguesas [dropcap style=’circle’] A [/dropcap] inda não fecharam as inscrições e a organização do Sound & Image já recebeu mais de 1500 filmes para a nona edição do festival. Destes “pelo menos 27” são de autores portugueses. Este ano Miguel Dias vai fazer parte do júri. A 9.ª edição do Sound & Image Challenge de Macau, festival que motiva todos os anos produtores locais e internacionais de curtas-metragens e música a competir no território, já recebeu pelo menos 27 candidaturas de filmes portugueses. “Até agora já recebemos 1604 filmes da Grécia, Egipto, Estados Unidos, Reino Unido, Irão, Portugal, Brasil, etc.”, afirmou à Lusa a coordenadora do Creative Macau, Lúcia Lemos, que organiza o festival. A coordenadora do espaço cultural, que este ano celebra o 15.º ano de existência, anunciou ainda que “um dos directores do festival internacional de Curtas de Vila do Conde, Miguel Dias, vai ser grande júri do Festival”. Para a competição de curtas, os trabalhos serão recebidos até 16 de Junho, sendo o prazo alargado até 20 de Agosto para os vídeos musicais. O Sound & Image Challenge International Festival divide-se em duas competições: a de curtas-metragens, nas categorias de Ficção, Documentário e Animação, e a vídeos musicais. Prémios novos A estes prémios, a organização decidiu acrescentar este ano novas nomeações: Prémios de melhor realizador, melhor cinematografia, melhor edição, melhor música, melhor banda sonora, melhores efeitos visuais para a competição de curtas, e de melhor canção e melhores efeitos visuais para a competição de vídeos musicais, que por enquanto não têm valor monetário. Os trabalhos finalistas vão ser apresentados de 4 a 9 de Dezembro no teatro Dom Pedro V. Lúcia Lemos fez um balanço muito positivo dos 15 anos Creative Macau já que foram alcançados todos os objetivos, de “ser uma plataforma e um centro de apoio aos criativos locais”. Este espaço criativo, que conta com mais de 500 membros, dá a possibilidade aos associados de “exporem em grupo, nas exposições colectivas, os seus trabalhos e também podem ser convidados a fazer exposições individuais”, explicou a coordenadora. Para além dos membros, os alunos da Universidade de São José, em Macau, e do Instituto Politécnico de Macau podem utilizar o espaço para divulgarem os seus trabalhos. Para as celebrações do aniversário do espaço, no dia 28 de Agosto, a coordenadora admitiu que ainda não sabe que trabalhos vai exibir, “mas certamente que vão existir peças de portugueses”.
Hoje Macau EventosLivro de poesia de Oscar Maldonado vence Prémio Literário UCCLA [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] paraguaio Oscar Maldonado venceu a edição deste ano do Prémio Literário UCCLA – Novos Talentos, Novas Obras em Língua Portuguesa, com o livro de poesia “Equilíbrio Distante”, anunciou a organização. Em comunicado, a União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA) revelou que a obra vencedora da 3.ª edição do prémio foi apresentada no âmbito das celebrações do Dia da Língua Portuguesa e da Cultura da CPLP, na quinta-feira. Oscar Ruben Lopez Maldonado, de 48 anos, é natural do Paraguai, mas reside em São Paulo, no Brasil. Esta edição contou com 805 candidaturas, oriundas da Alemanha, Angola, Brasil, Cabo Verde, Espanha, Guiné-Bissau, Moçambique, Paraguai, Portugal e São Tomé e Príncipe. Relativamente às idades dos concorrentes que submeteram candidaturas, verifica-se que 35% tinham entre os 16 e os 30 anos, 41% entre os 31 e os 50, 21% entre os 51 e os 70, e 3% entre os 71 e os 90 anos. No que respeita ao género, 31% são mulheres e 69% são homens. O prémio literário é uma iniciativa conjunta da UCCLA, da Editora A Bela e o Monstro e do Movimento 2014, que conta com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa. O objetivo do prémio é estimular a produção de obras literárias, nos domínios da prosa de ficção (romance, novela e conto) e da poesia, em língua portuguesa, por novos escritores. O prémio foi lançado em 2015 e distinguiu, na 1.ª edição, o romance “Era Uma Vez Um Homem” da autoria de João Nuno Azambuja, de Portugal, e, na 2.ª edição, a obra “Diário de Cão” de Thiago Rodrigues Braga, de Goiás, Brasil.
Hoje Macau InternacionalSecretário-geral das Nações Unidas destaca importância da CPLP no Dia da Língua Portuguesa [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, destacou a importância da diversidade contra as tentativas de uniformização a que se assiste e disse que a CPLP tem nesta matéria um “papel essencial a desempenhar”. No Dia da Língua Portuguesa e da Cultura da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), celebrado a 5 de Maio, António Guterres fez um pequeno discurso, em português, nos Jardins das Nações Unidas, em Nova Iorque, no qual elogiou a diversidade da CPLP, com países em todos os continentes. “É necessário dizer que nós na CPLP nos orgulhamos da nossa diversidade, reconhecemos que as nossas próprias sociedades são multiétnicas, multiculturais, multirreligiosas, e que isso é um bem, não é uma ameaça, e que isso deve ser valorizado, e afirmado, e que isso deve ser uma lição para outras partes do mundo, outros povos, outras culturas. E penso que a CPLP tem aqui um papel essencial a desempenhar”, disse António Guterres no discurso, disponível na página oficial da ONU na internet. Afirmando que a celebração de hoje foi a primeira clara manifestação da língua portuguesa nos Jardins das Nações Unidas, Guterres afiançou que um dos pontos fundamentais do seu mandato é “exprimir a importância do multilinguismo nas Nações Unidas”, contra um “mundo uniformizado em que todos falem a mesma língua”. Porque é preciso um mundo em que cada um fale a sua língua, porque são precisas “umas Nações Unidas baseadas na diversidade”, disse. Umas Nações Unidas baseadas na diversidade “contra essa tentativa de uniformização a que estamos assistindo e que causa um empobrecimento desnecessário da comunidade internacional”, disse António Guterres, insistindo que a diversidade é um valor essencial num mundo onde existem “várias tentativas de isolamento” e se se assiste ao reacender de “expressões de racismo, de xenofobia” e de condenação “do outro só porque o outro é diferente”. Neste mundo os países da CPLP podem ser uma ponte e um fator de harmonia, capaz de ajudar os outros e de prevenir novos conflitos e tentar contribuir para a resolução de atuais conflitos, disse também o secretário-geral. Guterres lembrou ainda os 20 anos da atribuição do prémio Nobel da Literatura a José Saramago e disse que muitos outros autores de língua portuguesa o mereciam, concluindo que tudo fará para que a língua portuguesa e a cultura dos países da CPLP tenham nas Nações Unidas “uma manifestação cada vez mais forte como símbolo da diversidade”. O dia 5 de maio foi instituído em 2009 como Dia da Língua Portuguesa e da Cultura na CPLP.
Hoje Macau InternacionalDelegação norte-americana em Pequim para negociar disputas Uma delegação norte-americana de alto nível iniciou ontem conversas em Pequim visando pôr fim à guerra comercial com a China, apesar de ambos os lados considerarem difícil um acordo definitivo entre as duas maiores potências comerciais [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Presidente norte-americano, Donald Trump, que acusa Pequim de práticas comerciais “injustas” e definiu como prioridade reduzir o défice comercial com a China, nomeou o secretário do Tesouro norte-americano, Steven Mnuchin, para liderar as negociações. A delegação, que chegou ontem a Pequim, inclui ainda os principais responsáveis pela política comercial de Washington, incluindo o secretário do Comércio, Wilbur Ross, o representante comercial da Casa Branca, Robert Lighthizer, e o assessor económico máximo de Trump, Larry Kudlow. A visita ocorre a poucos dias do fim do período de apreciação das taxas alfandegárias propostas por Washington sobre um total de 1.300 produtos chineses de vários sectores, incluindo aeronáutica, tecnologias de informação e comunicação ou robótica. Aquela medida afectará, no conjunto, 50.000 milhões de dólares nas exportações chinesas para os EUA. As negociações decorrem na Residência de Hóspedes Oficiais Diaoyutai, em Pequim, segundo a embaixada dos EUA na China. Do lado chinês, as discussões são lideradas pelo vice-primeiro-ministro Liu He, principal encarregado da política económica e financeira do país asiático e visto como próximo do Presidente da China, Xi Jinping. Os Estados Unidos, que almejam uma redução de 100.000 milhões no défice comercial com a China, reclamam uma maior abertura do mercado chinês. Expectativas tímidas Washington exige ainda uma protecção mais forte dos direitos de propriedade intelectual e critica a “transferência forçada de tecnologia e propriedade intelectual norte-americana” em troca de acesso ao mercado chinês. Ambos os lados expressaram, no entanto, cautela sobre o resultado das negociações. “Este é um passo construtivo, desde que os Estados Unidos sejam sinceros (…), mas dada a complexidade das economias dos dois países, não é realista imaginar uma solução para todas as disputas”, afirmou na quarta-feira Hua Chunying, porta-voz da diplomacia chinesa. Também Lighthizer advertiu: “Eu prefiro esperar, mas nem sempre sou optimista. É um grande desafio”. Pelas contas do Governo chinês, no ano passado, a China registou um excedente de 223,5 mil milhões de euros no comércio com os Estados Unidos. As contas de Washington fixam o excedente chinês ainda mais acima, em 304,1 mil milhões de euros.
Hoje Macau InternacionalMuseu digital chega a Tóquio para libertar a arte das restrições físicas O colectivo multidisciplinar japonês teamLab, conhecido mundialmente por exposições futuristas e interativas, vai abrir em Tóquio, este verão, o primeiro museu dedicado inteiramente à arte digital. A ideia é concretizar o sonho de “libertar a arte das restrições físicas” [dropcap style≠‘circle’]D[/dropcap]e passeios bucólicos em campos de arroz, a “florestas” de lâmpadas de várias cores e movimentos, as instalações do novo museu têm um único objectivo: a imersão do visitante. A equipa dedicada a moldar sonhos sob a forma de arte digital foi fundada em 2001 pelo artista Toshiyuki Inoko. Na altura com 41 anos, juntou-se a quatro amigos da Universidade de Engenharia e juntos começaram a desenhar o futuro. “Achamos que a arte digital pode ampliar o conceito de beleza”, resumia o manifesto da teamLab. Só dez anos mais tarde o conceito se viria a materializar de forma a ganhar contornos mundiais. Foi a estreia artística em Taipei, capital de Taiwan, em 2011, que lhes garantiu a rampa de lançamento. Em 2014, integravam já a Pace Gallery, em Nova Iorque. A primeira exposição no Japão, um ano mais tarde, atraiu cerca de 500.000 visitantes em cinco meses, à qual se seguiram exposições de Londres à China. Criar o próprio museu é “um novo passo” para a TeamLab, um caminho possível depois da parceria com a Mori Building, líder de desenvolvimento urbano em Tóquio, e do apoio de vários grupos japoneses, da Panasonic à Epson, que fornecem equipamentos sofisticados. Arte-tec Apresentado como “único” no mundo, o museu estende-se por uma vasta área de 10.000 m² e reúne cerca de cinquenta instalações na ilha artificial de Odaiba, a seis quilómetros da capital japonesa. Com 520 computadores e 470 projectores, é acima de tudo um “feito tecnológico”. As peças apresentadas não são “nem animações pré-gravadas nem imagens em loop”, mas realizadas em tempo real, insiste o teamLab. “O universo transforma-se com a presença do outro e isso é muito importante para nós, eu sou parte do trabalho, assim como todos os outros visitantes”, disse Toshiyuki Inoko. Nos bastidores, actuam ao mesmo tempo 500 artistas, engenheiros, programadores, matemáticos, especialistas em robótica e arquitectos. O investimento do projecto não foi tornado público, mas um membro da equipa indicou que cada instalação pode rondar entre um e dois milhões de dólares. O “Mori Building Digital Art Museum teamLab Borderless” abre ao público no dia 21 de Junho por 3.200 ienes (24 euros), na esperança de atrair uma grande audiência nos Jogos Olímpicos do Japão, em 2020.
Hoje Macau InternacionalTrump diz que avença a advogado cobria pagamento a actriz porno [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] presidente norte-americano disse ontem que o valor pago ao seu advogado pelo silêncio da actriz porno Stormy Daniels correspondia a uma avença mensal e assegurou que não foi usado qualquer dinheiro da campanha eleitoral. Donald Trump escreveu no Twitter que o seu advogado Michael Cohen recebia uma avença mensal através do qual pagava “um contrato privado entre duas partes, conhecido como acordo de confidencialidade” e que era usado para impedir “as acusações falsas e extorsionárias” da actriz sobre a relação que mantiveram. As declarações de Trump surgem depois de o ex-presidente da Câmara de Nova Iorque Rudy Giuliani ter dito numa entrevista à estação de televisão Fox News, que Trump “reembolsou” o advogado pelo pagamento dos 130 mil dólares acordado com a actriz de filmes pornográficos, numa aparente contradição com as alegações anteriores do presidente de que desconhecia a origem do dinheiro. “Pelo que sei, Trump não conhecia os detalhes, mas tinha conhecimento de que havia a possibilidade de um acordo e que Michael (Cohen) ia encarregar-se do assunto”, disse ainda Rudy Giuliani. Stormy Daniels e Donald Trump enfrentam-se num processo judicial desde que, no princípio do ano, foi publicado na imprensa que Cohen fez um pagamento à actriz antes das presidenciais norte-americanas em 2016. Supostamente, o pagamento terá sido efectuado para que Stormy Daniels não revelasse a relação sexual que manteve com Trump em 2006, pouco depois do casamento com a actual primeira dama dos Estados Unidos, Melania Trump. A transacção pode configurar como violação das leis norte-americanas sobre financiamento eleitoral, caso se considere que o pagamento teve como finalidade manter a imagem de Trump, como candidato, num momento especialmente delicado da campanha. Giuliani afirmou na entrevista à Fox News que o pagamento não transgrediu a lei eleitoral, porque o montante referido não saiu das contas da campanha do Partido Republicano. No início de 2018, Stormy Daniels, nome artístico de Stephanie Gregory Clifford, 39 anos, recorreu aos tribunais para renunciar ao pacto, um litígio judicial que ainda não foi resolvido. O advogado Michael Cohen pediu, entretanto, uma quantia milionária à actriz por não cumprimento do pacto de confidencialidade ao tornar pública a ligação que, supostamente, manteve com Donald Trump.
Hoje Macau SociedadeLucros da Melco Resorts sobem 38,1 por cento no primeiro trimestre [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] operadora de jogo Melco Resorts & Entertainment anunciou lucros líquidos de 156,9 milhões de dólares (130,8 milhões de euros) no primeiro trimestre deste ano, mais 38,1 por cento face ao período homólogo do ano passado. De acordo com o comunicado divulgado ontem, o grupo alcançou receitas de 1,3 mil milhões de dólares, o que representa um aumento de 3 por cento em relação ao mesmo período do ano anterior, quando a receita tinha sido de 1.277,2 milhões de dólares. “O aumento na receita líquida é principalmente atribuível às maiores receitas brutas em todo o segmento de jogo”, declarou operadora de jogo, no comunicado. O EBITDA ajustado (lucros antes de impostos, amortizações e depreciações) aumentou 14 por cento relativamente aos meses de Janeiro a Março de 2017, para 401,8 milhões de dólares. Lawrence Ho, filho do magnata do jogo de Macau Stanley Ho e presidente da Melco Resorts afirmou que “Macau teve um forte começo de ano com um crescimento de receita de jogos no ano de aproximadamente 22 por cento em comparação com o mesmo período de 2017”. Lawrence Ho considerou ainda que com a abertura, para breve, da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau “a região vai beneficiar de um aumento da procura”. Além de Macau, “o Japão continua a ser a prioridade central” da Melco, sublinhou Ho. A Melco Internacional está presente na China, Filipinas, Rússia, Macau e garantiu a primeira e única concessão para um casino no Chipre. A operadora de jogo Melco Resorts & Entertainment, uma das seis concessionárias que operam em Macau, anunciou em Fevereiro que obteve receitas de 5,3 mil milhões de dólares em 2017, com lucros atribuíveis ao grupo de 347 milhões de dólares.
Tiago Bonucci Pereira VozesDa Política “Going Out” à Iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” (OBOR ou BRI) pode em certa medida ser encarada como a evolução natural da política “Going Out” promovida por Jiang Zemin em 1999, política essa centrada na internacionalização da economia chinesa, traduzida pela transição da República Popular da China (RPC) de país receptor para país promotor de investimento directo estrangeiro (IDE). A estratégia foi progressivamente consolidada em 2001 com a admissão da China na Organização Mundial do Comércio e o anúncio, em 2004, pela Comissão Nacional para Reformas e Desenvolvimento da RPC (NDRC) e pelo China Eximbank de medidas de apoio ao investimento em 4 sectores específicos: (i) recursos naturais e bens primários relativamente aos quais a China é deficitária; (ii) investimento em sectores exportadores ou que envolvam novas tecnologias e equipamentos; (iii) colaborações com entidades estrangeiras em projectos de investigação e desenvolvimento (I&D) e novas tecnologias, gestão e formação de quadros; (iv) fusões e aquisições com vista ao aumento progressivo da competitividade internacional de firmas nacionais e à expansão dos mercados de produção e vendas. O plano conjuga, portanto, a transformação progressiva do tecido económico e industrial Chinês para sectores de valor acrescentado com a internacionalização de empresas e sectores cujo mercado interno caminha para a saturação. Com efeito, a China apresenta actualmente excesso de capacidade em sectores críticos, como a construção e indústrias associadas, bem como no sector energético. Como tal, a sustentabilidade dessas empresas exige uma política expansionista em busca de mercados em território estrangeiro. Os dois sectores acima referidos são porventura os que têm maior visibilidade. A produção de energia a carvão constitui um exemplo de conjugação de várias políticas: Pequim, a partir de 2014, reintroduziu taxas sobre a importação de diversas qualidades de carvão e proibiu a compra de carvão de baixa qualidade. Medidas estas que surgem na sequência da implementação de políticas de combate à poluição, bem como de protecção dos produtores chineses. Por outro lado, e já antes do anúncio da iniciativa BRI, têm-se multiplicado a construção de centrais térmicas a carvão por empresas chinesas no estrangeiro. No que respeita ao IDE, foi feita uma descrição, num artigo anterior, do crescente investimento chinês em África, num padrão onde se constata a progressiva transferência de indústria transformadora para regiões com menores custos laborais, funcionando em simultâneo como uma forma de criação de emprego e de desenvolvimento económico e social. Padrão similar observa-se nos países do Sul da Ásia. Mas o cenário muda radicalmente quando olhamos para o continente europeu. A Europa é a principal destinatária do IDE chinês (29 por cento do total), estando a aposta centrada nos sectores de energia, finança, tecnologia e infraestruturas. O sector imobiliário perdeu importância nos últimos anos em virtude de um maior controlo administrativo chinês sobre certos tipos de transacções, como forma de travar a fuga de capital. No entanto, o incentivo à diversificação para firmas chinesas é inegável. As restrições sobre o investimento em imobiliário, de resto, resultaram num redireccionamento do investimento chinês para outros sectores, também em face da desaceleração do mercado doméstico. Conhecemos bem os exemplos portugueses, como o investimento da China Three Gorges na EDP e a aquisição pela Fosun da Caixa Seguros. Todavia, Portugal, com um total de investimentos entre 2000 e 2017 de 6 mil milhões de euros, é o sétimo destinatário europeu do IDE chinês. O pódio pertence ao Reino Unido (42 mil milhões de euros), Alemanha (20.6 mil milhões de euros) e Itália (13.7 mil milhões de euros). Exemplos recentes de investimentos são a aquisição pela Midea da empresa alemã de robótica KUKA e a compra por um consórcio chinês de 49 por cento da operadora de centro de dados do Reino Unido Global Switch. A aposta chinesa em sectores de valor acrescentado poderá ser associada ao plano “Made in China 2025”, um masterplan anunciado em 2015 e que tem em vista a transformação da China nas próximas décadas numa superpotência industrial com base em tecnologias inovadoras. Contudo, esta aposta era já visível a partir de 2004. Os números assim o demonstram: investimento chinês no estrangeiro disparou a partir sensivelmente de 2005, tendo o IDE na década seguinte tido uma média anual de crescimento de 30 por cento. O investimento chinês em Investigação & Desenvolvimento aumentou exponencialmente a partir da mesma data, correspondendo actualmente a 20 por cento do investimento mundial nesta área. Circunstâncias mais recentes (desaceleração económica; desenvolvimento económico e social; saturação de certos sectores) poderão ter ditado uma aceleração mais acentuada. Mas é nítido que esta aposta estava já na mente dos governantes chineses. Constata-se agora um crescente nervosismo na classe política europeia com as aquisições chinesas em sectores chave da sua economia, argumentando falta de reciprocidade na medida em que muitos investimentos são em sectores nos quais as empresas estrangeiras continuam a encontrar barreiras no acesso ao mercado chinês. Acresce que problemas políticos no seio da União Europeia, como os diferendos com os países do leste, são encarados como sendo agravados por acções como a iniciativa “16+1” entre a China e países da Europa Central de Leste, iniciativa esta que tem em vista a realização de projectos no âmbito do BRI. Que a liderança europeia esteja preocupada com o crescimento chinês e o impacto económico e político na Europa é normal. Estranha-se, no entanto, é que esta preocupação surja de forma tardia. Por outro lado, as preocupações têm mais a haver com problemas europeus do que propriamente com a China. A reciprocidade é possível através de negociações. E as deficiências institucionais europeias são um problema exclusivamente europeu. Percebe-se que existe uma sequência lógica na evolução do investimento externo chinês, num processo contínuo de aprendizagem e delineado com rigor e pragmatismo. Perante isto, como podemos interpretar a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”? Será tentador encará-la de forma cínica como nada mais do que um processo de etiquetagem e exercício de retórica sobre um projecto já em marcha, mas essa interpretação não corresponderia à verdade. Este tópico, porém, merece um artigo em separado.
João Santos Filipe PessoasHyper Lo, cantor | O Rapaz de Chocolate [dropcap]S[/dropcap]ou doce, tão doce, como um rapaz de chocolate”. Começa assim a música Chocolate Boy (em português Rapaz de Chocolate) do artista de Macau Hyper Lo, cantor de pop, que viria a marcar a sua afirmação no panorama da indústria do entretenimento local. Mas se, por um lado, foi este tema, com forte inspiração no pop coreano, que reforçou a imagem de um cantor polivalente, por outro, é através das baladas que Hyper Lo conquista o público, principalmente os mais novos e os pais. “O tema Chocolate Boy é inspirado no pop coreano, um género musical que aprecio muito devido ao ritmo e à vibe que transmite. Curiosamente, foi um tema que me surpreendeu porque sendo algo diferente do habitual, chegou a um público muito maior”, conta o cantor. “Muitas crianças gostaram da música e ouvi muitas críticas positivas por parte de muitos pais”, acrescentou. Actualmente, Hyper Lo trabalha a tempo inteiro para a produtora SP Entertainment. Além da carreira a solo, faz igualmente parte do grupo MFM, que é constituído ainda pelo macaense Adriano Jorge, assim como Josie Ho, cantora e filha do deputado Ho Ion Sang. Ao HM, Hyper Lo confessou que é com os MFM que tem mais sucesso, e que na rua é muito abordado pelo trabalho feito em grupo. “Para ser sincero, posso dizer com orgulho que muitos locais gostam das nossas músicas como MFM. Somos um grupo muito próximo e trabalhamos juntos desde 2014. Temos uma química especial”, admitiu. “Conseguimos popularidade em Macau por causa das nossas músicas de dança, também fomos pioneiros no território ao nível do investimento monetário que fazemos na qualidade de produção das nossas músicas e videoclips”, explica. É também como membro do trio que Hyper Lo deixa a musa tomar conta da sua criatividade. “Espero que os MFM venham logo à cabeça doas pessoas, quando as pessoas pensam em artistas de Macau”, confessa. Desafios locais Sobre a indústria local do entretenimento, Chocolate Boy admite que há vários desafios e aconselha os interessados nesta carreira a não se dedicarem a tempo inteiro. “Não é fácil ser artista a tempo inteiro e não encorajo ninguém a fazerem-no logo após terminarem o ensino secundário ou superior. No início, é melhor concentrarem-se em desenvolver também outras habilidades para poderem ter outras formas de ser auto-suficientes. Só quando tiverem um bom suporte financeiro é que aconselho a encararem a possibilidade de serem artistas a tempo-inteiro”, aponta. Aos 31 anos, Hyper Lo estabeleceu-se principalmente como cantor, no entanto, a sua carreira poderia ter sido bem diferente. Na altura de começar os estudos no ensino superior, Hyper foi aceite na Universidade de Macau para tirar a licenciatura em Inglês. Contudo, foi nessa altura que decidiu tomar a decisão de se mudar para Taiwan e estudar artes performativas. “Senti que era o meu sonho e que se esperasse pelo final da licenciatura seria muito velho para lutar pelo que queria. Tive em mente que há muitos cantores que começam as carreiras aos 16 anos. Por isso, senti que essa era a melhor altura para apostar neste tipo de estudos”, recorda. Enquanto artistas, tem como principal ídolo a cantora e actriz de Hong Kong Viviana Chow, com quem já trabalhou anteriormente. “Adoro-a porque ela é sempre muito bonita e elegante, canta muito bem e é uma pessoa com quem é muito fácil trabalhar”, justifica. No dia-a-dia a inspiração começa em casa, com a mãe. “Foi uma pessoa que não teve a oportunidade de frequentar um curso superior mas que, mesmo assim, não deixou de se interessar e ser autodidacta, através de livros e jornais. É uma pessoa que me ajuda muito e que tem sempre um conselho, uma opinião para dar, mesmo agora”, admite. Banhos para relaxar Enquanto residente de Macau, na altura de relaxar Hyper Lo não tem dúvidas sobre o seu local favorito. Por isso, quando se sente mais cansado, trocas as ruas efervescente da Península e da Taipa pela tranquilidade de Coloane. “Adoro a vila antiga de Coloane porque é o único local onde me sinto relaxado e descontraído. Sempre que me sinto stressado e a precisar de descansar é para lá que vou”, revela. Contudo, também encontra alternativas e revela um dos seus prazeres proibidos: “Adoro relaxar com longos banhos de imersão”. No que diz respeito à relação com a cidade, as memórias mais agradáveis que recorda da infância são os passeios de bicicleta na Taipa antiga: “Macau era uma cidade muito diferente muito mais tranquila, tinha muito menos pessoas e trânsito. Tenho saudades desse tempo”, recorda. Apesar disso, o Rapaz de Chocolate não tem dúvidas em dizer que se sente muito feliz por viver em Macau e também por ter seguido esta carreira, mesmo que o trabalho lhe imponha alguns amargos de boca. “Gosto muito de chocolate, desde que não seja branco, infelizmente como preciso de me manter em forma já não posso comer tanto”, reconhece.
João Santos Filipe DesportoRodolfo Ávila começa nova época no CTCC à procura do título Evitar confusões nas primeiras voltas e ir somando pontos ao longo de todas as provas. É esta a receita do piloto de Macau para o Campeonato da China de Carros de Turismo, em que o título de pilotos pode ser mesmo uma realidade no final da temporada [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Campeonato da China de Carros de Turismo (CTCC) arranca este fim-de-semana no Circuito Internacional de Xangai e Rodolfo Ávila (Volkswagen Lamando) parte para a ronda inaugural da competição com aspirações ao título. O vice-campeão do CTCC já rodou ontem com o carro na capital financeira da China e, apesar de reconhecer que poderá estar na luta pela vitória, sublinha que o mais importante é conseguir marcar muitos pontos. “No ano passado não venci nenhuma prova e acabei em segundo no campeonato. Vai ser esta mentalidade que vou adoptar para o campeonato. Vou estar focado em evitar os acidentes e as confusões habituais das primeiras voltas. Mas, claro, se puder vencer, não vou querer desperdiçar a oportunidade, até porque ainda não ganhei no CTCC”, afirmou Rodolfo Ávila, ao HM. Em relação à equipa, os objectivos passam por voltar a reconquistar o título de marcas, a que pretende juntar o título de pilotos, que fugiu no ano passado. Partindo para a segunda época completa no CTCC e depois de ter sido vice-campeão na temporada passada, Rodolfo Ávila pode ser mesmo o ponta-de-lança da formação, com o auxílio do experiente Rob Huff. O britânico e colega de equipa de Ávila, que já venceu no Circuito da Guia por nove vezes, vai participar em quatro provas do campeonato. “Aprendi bastante no ano passado, apesar de haver alguns termos de afinações que ainda não domino totalmente, em termos de condução estou mais habituado e consigo portar-me bem. Também tenho como colega de equipa o Robert Huff, com quem aprendo bastante”, contou Ávila. “Apesar de ele só ir fazer quatro provas, dá-nos, aos pilotos da equipa, um bocado na cabeça quando está connosco. O que é um bom, porque puxa por nós e faz-nos andar mais rápido”, acrescentou. Sem grandes alterações Ontem, o piloto de Macau já teve a oportunidade de rodar no Volkswagen Lamando GTS, sendo que não são muitas as diferenças face ao ano anterior. O maior condicionalismo acaba mesmo por ser a existência de um novo fornecedor de combustível. “O carro é o mesmo do ano passado, com algumas actualizações e melhorias. Há um pacote aerodinâmico novo, pelo que esperamos que esteja melhor. Temos travões novos, houve uma troca de amortecedores e outras partes do carro, mas 70 por cento é o mesmo do ano passado”, começou por explicar o piloto. “Mas houve uma mudança de fornecedor de combustível e nota-se alguma diferença porque o combustível não é tão bom. Tivemos de descer a potência dos motores em cerca de 10 ou 15 cavalos, mas não vai fazer uma grande diferença porque é para todas as equipas”, respondeu. Sobre a concorrência, Ávila aponta a KIA e a BAIC como os principais adversários, com a Ford um pouco mais atrás. Porém, recorda que ao longo da época, o construtor norte-americano pode apanhar o ritmo das outras marcas.
António de Castro Caeiro h | Artes, Letras e IdeiasRaccord I [dropcap style≠‘circle’]T[/dropcap]udo o que vemos está à nossa frente. Os olhos estão dirigidos para fora, têm uma orientação, uma direcção, nem sempre um alvo. Podemos perder-nos no horizonte ou nos objectos espalhados pelo hemisfério que captamos. Entre o céu azul em cima de nós e o plano que se estende dos nossos pés até lá ao “fundo” à linha do horizonte, o olhar pode apanhar tudo o que aí está pulverizado em cima e em baixo, distante e próximo, dentro e fora, à direita e à esquerda. É assim que vemos o pôr do sol. Uma vez posto, viramo-nos para a direcção contrária. O que tínhamos à nossa frente “desfaz-se”, desaparece da vista para fora, fica literalmente atrás das nossas costas, e passamos a ter à nossa frente outro hemisfério. Vejo agora também lá ao fundo o céu ainda azul do fim de tarde de onde se perfilam as casas da aldeia concentradas em diferentes planos fundidos, mas diferentes, uns mais próximos dos outros. Entre a concentração de edifícios na aldeia e o sítio onde estou estendem-se a estrada e os passeios que a ladeiam, a praia, as pessoas que ainda lá se encontram. Há sempre um arredondamento dos conteúdos do mundo, mesmo que do meu mundo. Só vemos o que está à nossa frente e para onde nos dirigimos. É por aí que nos orientamos. À medida que nos viramos, rápida ou lentamente, desaparece o que tínhamos e aparece o que não tínhamos. Há sempre apenas a sensação de que temos mundo atrás das costas, para onde não estamos a olhar. Para o activarmos, porém, temos de olhar nesse sentido e nessa direcção. O plano de fundo tende a atrair objectos que concentra espalhados numa abóbada. As estrelas espalhadas pelo céu na noite de Agosto estão todas aparentemente numa mesma película, num mesmo plano, com um brilho diferente. E, contudo, se ainda lá estiverem, e estão sempre enquanto brilham, estão a distâncias diferentes de cada um de nós. Podemos perceber a lua e o sol mais próximos de nós. Mas a partir de determinada distância todos os objectos são empurrados para o seu limite homogéneo, todos eles lá ao fundo. Só a proximidade nos dá o relevo, alto e baixo, permite resolver com nitidez os contornos dos objectos e, com as diversas, percepções ter uma imagem mais completa da realidade do que são. Com o tempo passa-se o mesmo. Há um aparente predomínio do presente. É agora que estamos a atravessá-lo com uma velocidade configurada pela actualidade das actividades ou inactividades a que nos dedicamos. A manhã passa rápida ou lenta, não damos pelo tempo passar ou damos por ele a passar tão lentamente que parece que ouvimos cada segundo a passar no relógico cósmico. A actualidade do presente mantém aderida a si ainda o dia de ontem, como decorreu, o que fizemos, como se estivéssemos a olhar para uma página do diário em que tudo foi apontado tim tim por tim-tim, ou como quando tentamos lembrar-nos do que comemos de véspera, se fizemos ou não fizemos X, Y e Z. A actualidade mantém também o estilo de experiência com que esperamos o que se passará no dia de amanhã, que dia da semana é e o que costumamos fazer nesse dia da semana, se é dia feriado ou um dia normal, que dia da semana é. Ainda assim, é do tempo presente e vivo da actualidade que mantemos esses dois olhos virados para o passado e para o futuro. Quando pensamos no dia de ontem e tentamos reconstituí-lo temos à nossa frente os objectos como se estivéssemos a percepciona-los. A lembrança tem sempre uma orientação e direcção para o olhar. Mesmo quando me lembro do pequeno almoço, a janela está à minha frente quando entro na cozinha e só quando lhe viro as costas vejo a porta de entrada. A lembrança segue o padrão da percepção. Quando antecipo o jantar de hoje e as pessoas que irei encontrar, vejo-as também de frente e se lhes virar as costas sei que não as verei. Apenas “as farei a ser”. Quando não penso no dia de ontem nem no dia de amanhã, percebo que me aparecem em lembretes as impressões deixadas e as antecipações do que há-de ser uma impressão no presente. Mas a actualidade do presente está sempre impregnada do próprio sentido da impressão deixada pelo que foi vivido e pela antecipação da impressão que será deixada e dos estados em que ficaremos depois de termos passado pelo futuro que nós dará a viver em actualidade o que é meramente virtual. O futuro e o passado são o horizonte que servem de fundo às fases de tempo entre o passado todo e o presente ou o futuro todo e o presente. Está mais próximo de nós o dia de ontem do que a semana passada, os últimos vinte anos do que os últimos quarente. Está também mais próximo de nós o dia de amanhã do que depois de amanhã, os próximos anos do que mais tarde. Mas o passado tende a atrair e absorver tudo o que é passado para um fundo idêntico ao céu por onde se distribuem as estrelas, lá ao fundo e num mesmo plano indistinto. Também o futuro dos futuros é esse céu que mantém em si todos os momentos de tempo. Não só os momentos futuros de todas as pessoas que estão aí comigo e das que ainda nascerão. Esse céu que tem espalhado por si todos os tempos no seu fim. É lá que se encontra também a primeira vez de todas as primeiras vezes. A primeira vez não está atrás de mim, nas minhas costas, tão pouco como o futuro está à minha frente à minha espera. Todo o meu passado está à espera de mim na hora da minha morte. E pode também acontecer que não tenha já futuro. O que quer dizer que o meu olhar se perde nele como se perde no céu azul, deixando-me sem distância para a proximidade e o que está à mão.
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasPrimeiro dia das Comemorações [dropcap style≠‘circle’]N[/dropcap]ão basta a peste e desde 25 de Abril de 1898 junta-se-lhe notícias da Guerra Hispano-Americana, devido à intervenção norte-americana nas guerras de independência que sobretudo Cuba e as Filipinas travam contra Espanha. Aqui próximo, nas Filipinas, os espanhóis viriam a ser derrotados a 12 de Junho, tornando-se estas ilhas do Pacífico independentes, mas anexadas logo de seguida pelos americanos, prosseguindo os nativos assim na luta pela sua independência. Perdida a guerra em todas as frentes, a 12 de Agosto de 1898 teve a Espanha que ceder aos EUA as Filipinas, Porto Rico e Guam, tornando-se Cuba independente, mas sobre supervisão americana. Se a nível internacional ocorre a Guerra Hispano-Americana, com barcos de guerra americanos a sair do porto de Hong Kong para ir fazer o cerco a Manila, também neste final de Abril, o ambiente de Macau é bastante desfavorável a grandes festejos para comemorar o IV Centenário do Descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia. Grassa já a peste bubónica e segundo O Porvir de 30 de Abril de 1898, “Diz-se que foi exportada de Hong Kong, pois daí tem fugido muita gente que não gosta do tratamento médico e das medidas sanitárias adoptadas nessa colónia. Bom seria que as autoridades de Macau tomassem medidas rigorosas para evitarem que continue o êxodo de chineses de Hong Kong para Macau”. Devido ao crescente número de casos de peste bubónica, o governo de Macau resolve transformar a abandonada Fortaleza de D. Maria II em lazareto. Por isso, refere O Porvir de 21 de Maio, são eliminados do programa dos festejos do IV Centenário tudo o que pudesse promover aglomeração dos habitantes de Macau, ou concurso dos nacionais ou estrangeiros das colónias, ou povoações próximas. No primeiro dia Os jornais, como O Porvir de 21 de Maio de 1898 publicado em Hong Kong e em Macau, o Echo Macaense e O Independente, ambos de 22 de Maio, dedicam colunas das suas páginas a descrever o dia-a-dia dessas celebrações. Assim, num apanhado dessas notícias, deixamos aqui registados os quatro dias de comemorações. Como introdução refere O Independente, “Foram modestos e simples os festejos (…), pelas más condições de salubridade em que se encontra esta terra; mas o sentimento patriótico sobressaiu em todos esses actos, sem grandes expansões de entusiasmo, mas intimamente, mas convictamente”. A cidade acorda, ao raiar do dia 17 de Maio de 1898, com o toque de alvorada às seis da manhã em frente ao Palácio do Governo executado por elementos da guarnição de Macau, enquanto as fortalezas de S. Francisco e de S. Paulo do Monte salvam com 21 tiros. Em seguida, a banda musical da guarnição faz soar o hino do Centenário e segue em direcção ao Paços do Concelho (Leal Senado), onde em frente toca também esse hino e com ele depois prossegue o seu trajecto, percorrendo as ruas da cidade. À tarde, pelas 5 horas, tem lugar um Te Deum na Sé Catedral. Está a igreja bem decorada, sobressaindo as bandeiras portuguesas que ornam a parte superior do altar-mor e as tribunas, e completamente cheia, tanta é a concorrência do povo que aquele vasto templo mal o pode comportar. Aí está presente o Governador, com o seu estado-maior, o Leal Senado, o Dr. Juiz de Direito com os seus escrivães e oficiais de diligências, o Secretário-geral, o Chefe do Serviço de Saúde, o Inspector da Fazenda, o Procurador Administrativo, o Chefe do Expediente Sínico, os corpos docente e discente do Liceu, oficiais de mar e terra e todo o clero. O soleníssimo Te Deum tem como celebrante Sua Excelência Reverendíssima o Sr. D. José Manuel de Carvalho, que chegara à cidade a 1 de Março de 1898, após ser eleito Bispo de Macau por decreto de 4 de Fevereiro de 1897 e preconizado em consistório de 16 de Abril desse mesmo ano. José de Carvalho nascera a 16 de Setembro de 1844 em Torigo, freguesia do Barreiro, concelho de Tondela e estudara Teologia em Viseu, onde tomou ordem de Presbítero em 1867 e entrando na Universidade, concluiu em 1881 a formatura em Direito. No início de um brilhante discurso, o Revendo cónego Conceição Borges declara ser a última vez que ora ao público de Macau. Tece com verdadeiros rasgos de eloquência, que por vezes comovem a audiência, o panegírico do Vasco da Gama e dos portugueses do seu tempo, relacionando o acontecimento que se comemora com a doutrina de Cristo. Depois disto, dois cavalheiros de Hong Kong (o Sr. Kraal e Vicente Senna), a D. Maria Guedes e a D. Emília Pacheco, com a sua belíssima voz de soprano e cheia de sentimento, cantam primorosamente uma Ave-Maria, sendo acompanhados pela orquestra. Ensaiada e regida pelo Dr. Gomes da Silva, é a orquestra constituída por alguns amadores (Condessa de Senna Fernandes e os srs. drs. Gonçalves Pereira, Fernando Cabral, António Vicente da Silva e Carlos Cabral) e seis músicos da banda da Companhia de Infantaria. Segue-se o Te Deum solene cantado pelos seminaristas, estando a parte instrumental a cargo da banda dos alunos do Seminário de S. José. Estes, antes de chegar à Sé, tinham passado pelo Leal Senado, onde interpretaram o hino da Carta. Terminadas aquelas cerimónias, a guarda de honra, postada no Largo da Sé dá três descargas, salvando nessa ocasião a fortaleza do Monte com 21 tiros. A banda musical do Seminário saindo da Sé dirige-se para o Palácio do Governo onde toca os hinos da Carta e do Centenário, assim como esses alunos dão vivas a Portugal, à família real portuguesa, ao coronel Galhardo e ao Vasco da Gama, recolhendo em seguida todos ao seminário. À noite, os alunos do Liceu, com archotes e o seu estandarte, percorrem diferentes ruas da cidade, seguindo à frente a sua filarmónica, regida pelo jovem Fernando Cabral. Vão às casas dos seus professores e à do ancião Luiz Maria do Rosário, o brioso militar único sobrevivente dos 32 bravos que tomaram a Fortaleza do Passaleão [nome dado pelos portugueses a Pac-Sa-Leong] e que vive desfavorecido de fortuna. Constatam ser a iluminação dos edifícios públicos igual à habitual, mas quando passam pelo edifício do Leal Senado, numa das suas janelas está colocado um quadro transparente, executado por Sr. Jaime dos Santos e representando a chegada de Vasco da Gama a Calicut. Também à porta da ‘Empresa Económica’, a ocupar toda a sua extensão, outro quadro com a imagem de um selo postal do centenário, o de 4 avos. Iluminado com balões chineses, o Hotel Hingkee tem pintadas bandeiras de todas as nações. Os alunos do liceu são por todos recebidos esplendidamente e erguem calorosos vivas a Portugal, à família real portuguesa, a Galhardo, à Academia macaense e ao povo de Macau. Em casa do Sr. Conde de Senna Fernandes há uma soirée dançante, onde se acha reunida a elite da cidade. Este, o programa do primeiro dia das comemorações realizadas em Macau a 17 de Maio de 1898.
Andreia Sofia Silva EventosComuna de Pedra explora a coreografia com materiais A Associação de Arte e Cultura Comuna de Pedra apresenta nesta edição do Festival de Artes de Macau o espectáculo “Murmúrio da Paisagem”, onde os corpos humanos perdem protagonismo em detrimento da manipulação de materiais. Jenny Mok juntou-se ao designer visual Nip Man Teng para um espectáculo novo que mistura dança e instalação teatral [dropcap style≠‘circle’]”A[/dropcap] colina que se vê não é uma colina; o riacho que se vê não é um riacho. Uma ilusão temporal entre uma colina e um riacho é uma moldura instável que se desmorona com uma simples rajada de vento.” É desta forma que o Instituto Cultural (IC) descreve o novo espectáculo que a Associação de Arte e Cultura Comuna de Pedra leva ao palco na edição deste ano do Festival de Artes de Macau (FAM), nos dias 19 e 20 de Maio. Em “Murmúrio da Paisagem”, Jenny Mok, directora da Comuna de Pedra, decidiu criar um espectáculo de dança e instalação teatral onde materiais como espuma ou plástico ganham importância em palco em detrimento do corpo humano. Para atingir este objectivo, a Comuna de Pedra trabalhou em parceria com Nip Man Teng, designer visual. “Este é o primeiro projecto que faço deste género e comecei a trabalhar nele no início de 2016”, explicou Jenny Mok ao HM. Este é, aliás, um projecto que surge no seguimento de “Paisagem Entrelaçada: Maré da Noite”, já apresentado e onde a directora da associação Comuna de Pedra também trabalhou com Nip Man Teng. “Comecei a trabalhar na ideia de fazer coreografia com materiais e essa é a ideia base do espectáculo. Quando falamos em teatro ou performances o foco principal é o corpo humano, independentemente do tipo de espectáculo. Então pensei em colocar o corpo humano numa posição mais secundária e dar mais destaque aos materiais e objectos. Tentei fazer coreografias para estes materiais e ver qual seria o resultado”, adiantou. O espectáculo da Comuna de Pedra vai revelar ao público um projecto em duas fases. “Numa primeira fase usei sacos de plástico e tecidos elásticos, e numa segunda fase concentrei-me apenas no plástico. Eu e o meu designer visual decidimos mudar para outros objectos diferentes para fazermos coreografias.” “Murmúrio da Paisagem” é também uma forma de espelhar a forma como utilizamos materiais no nosso dia-a-dia, uma vez que, na visão de Jenny Mok, “manipulamos estes objectos para tornar as nossas vidas melhores, e há séculos que fazemos isso”. “Isso é algo interessante sobre o ser humano, porque adoramos manipular tudo. Com estas coreografias feitas com objectos e materiais pretendemos também explorar esta relação que se estabelece com o ser humano. Há uma projecção para o futuro, colocamos muita imaginação sobre aquilo que vai acontecer no que diz respeito à manipulação feita pelos humanos.” Perspectiva ambiental Jenny Mok confessou também que outra das ideias por detrás de “Murmúrio da Paisagem” é a de chamar a atenção para o desperdício de recursos e a forma como, diariamente, poluímos o meio-ambiente. “Todos os locais podem ser considerados paisagem, mas, no caso de Macau, e tendo em conta que vivemos numa cidade, existe a consciência de que podemos ver apenas uma pequena parte da paisagem, e muitas vezes não é sequer possível. Tudo o que podemos ver actualmente, e que pode ser uma paisagem, é algo manufacturado depois da manipulação do ser humano.” Num território onde a construção não pára e onde o antigo e natural tem dificuldades em permanecer, “manipulamos imenso, os terrenos, a construção dos edifícios enormes, e a própria natureza em prol de nós próprios”. “É uma parte irónica, porque achamos que estamos no topo de qualquer coisa, temos autoridade sobre algo, manipulamos, mas sabemos que, eventualmente, isso vai-nos matar, mas continuamos a fazê-lo. Estamos obcecados com a manipulação”, defendeu Jenny Mok. Neste sentido, o espectáculo tem também um lado político ao decidir apresentar dança e instalação tendo objectos como protagonistas. “Colocamos o foco em algo a que queremos prestar atenção, para ser a parte principal do espectáculo. Então há também uma mensagem aqui, e ao fazer coreografias com os materiais também os estamos a manipular. Há um significado em tudo isto, na forma como exploramos estes temas.” Uma forma de comunicar Fazer um espectáculo, seja ele qual for, implica comunicar com artistas, actores, bailarinos. Um dos desafios que Jenny Mok sentiu foi o de ter de estabelecer algum tipo de diálogo com os plásticos ou tecidos usados para “Murmúrio na Paisagem”. “O grande desafio foi trabalharmos com estes materiais quase como se tivéssemos a trabalhar com artistas humanos. Quando comunicamos com um artista é diferente, pois quando estamos a comunicar com os materiais eles não te vão dar uma resposta, não há uma maneira de falar com eles. Então há que conhecê-los.” Houve, portanto, “um processo de comunicação e também de manipulação, mas ao mesmo tempo os materiais também te vão dando ideias pela maneira como te dão feedback. Há um equilíbrio entre manipular e ser manipulado por esses materiais, e essa é uma parte interessante”, rematou a directora da Comuna de Pedra.
João Santos Filipe SociedadeEntrada do casino Venetian foi palco de batalha campal A entrada do casino controlado pela Sands China foi palco de uma cena de pancadaria, que envolveu, pelo menos, 11 indivíduos. A situação foi revelada por um vídeo nas redes sociais, que acaba com a intervenção de dois polícias. A PSP diz que o caso foi resolvido no local e que não resultou em queixas [dropcap style≠‘circle’]D[/dropcap]urante o dia de ontem circulou um vídeo das redes sociais de uma batalha campal na rampa de entrada ao casino e hotel Venetian, no qual é possível ver cerca de 11 indivíduos em confrontos físicos. O vídeo foi gravado entre a noite de quarta-feira e a madrugada de quinta-feira, mas segundo as informações fornecidas pelo Corpo de Polícia de Segurança Pública não houve detidos, nem qualquer queixa. “Um indivíduo do Continente foi rodeado por mais de dez pessoas. Mas a PSP tinha polícias naquela zona que estavam junto do Venetian, a controlar o trânsito. Quando um dos agente se deslocou para o local e se aproximou do indivíduo que foi rodeado, os restantes começaram a dispersar”, afirmou fonte oficial da PSP, ao HM. Nas imagens que circularam durante o dia de ontem nas redes sociais, é possível ver, pelo menos, dois agentes policiais no local, antes das imagens terminarem. Também é possível ver confrontos entre pares de pessoas, com cerca de 11 de indivíduos, apesar da versão oficial defender que a situação foi despoletada devido à oferta de um empréstimo a um grupo de jogadores, por parte de um alegado agiota. “A Polícia questionou se o sujeito que foi rodeado desejava apresentar queixa para desencadear os procedimentos policiais. Mas ele disse muitas vezes que não se tinha passado nada e que não era preciso apresentar queixa”, acrescentou a PSP. Neste contexto, em que o alegado agiota que a PSP refere ter sido rodeado pelas restantes pessoas e que não quis apresentar queixa, o caso nem chegou a levar os intervenientes na escaramuça à esquadra da PSP mais próxima. “Nem houve deslocação à esquadra porque o indivíduo não quis apresentar queixa. Ele só disse que não se passava nada, que não perdeu nada e que não havia ferimentos. Nestes casos, a polícia não pode fazer nada, porque ele não quis apresentar queixa”, foi explicado. Vídeo viral Apesar dos poderes da Polícia serem limitados neste tipo de situações, esse facto não impediu que o caso fosse altamente comentado e partilhado nas redes sociais, principalmente entre os residentes que falam chinês. Entre os vários comentários que a situação despoletou, houve quem, em tom de brincadeira, sugerisse ao secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, que levasse o Festival Internacional de Mestre de Wushu da Praça do Tap Seac para o empreendimento da Sands China. No mesmo registo, houve quem comparasse a situação à que se pode ver nos filmes nos acção asiáticos com cenas memoráveis de grandes batalhas campal, normalmente entre diferentes tríades, ou até quem tenha dito que se tratava da edição de 2018 do popular jogo de luta Street Fight.
Hoje Macau SociedadeAIPIM pede convenção internacional de segurança dos jornalistas [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM) juntou-se ao apelo da Federação Internacional de Jornalistas para a criação de uma convenção internacional para a segurança e independência dos profissionais da comunicação social. “Neste Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, 3 de Maio, chamamos a atenção para o recente aumento substancial da violência atingindo jornalistas em certos países – em vários casos com consequências fatais”, declarou a direcção da AIPIM, em comunicado. A AIPIM defendeu ainda que “não pode haver liberdade de imprensa quando os jornalistas vivem e trabalham num clima de medo e intimidação”. A Federação Internacional de Jornalistas (IFJ) divulgou ontem um comunicado em que denunciou a morte de 32 jornalistas ou profissionais de comunicação social, em 2018, “uma média de dois jornalistas mortos a cada semana”. Por essa razão a IFJ urgiu para a necessidade da criação de uma convenção internacional para a segurança e independência dos jornalistas e profissionais da comunicação social que estabeleça “normas vinculativas que criem salvaguardas especificamente para jornalistas e trabalhadores dos media”. “Não podemos celebrar o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa sem apelarmos aos governos que assumam a responsabilidade de garantir a segurança de nossos colegas”, apelou o presidente da IJF, Philippe Leruth, em comunicado.
Diana do Mar SociedadeReceitas da Galaxy cresceram quase um terço no primeiro trimestre do ano A Galaxy registou, entre Janeiro e Março, receitas de 18,5 mil milhões de dólares de Hong Kong entre Janeiro e Março, um aumento de quase um terço em termos anuais homólogos [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap]s receitas da Galaxy Entertainment cresceram 32 por cento no primeiro trimestre do ano para 18,5 mil milhões de dólares de Hong Kong, anunciou ontem a operadora em comunicado. As receitas de jogo, que representaram sensivelmente 93 por cento dos ganhos, foram de 17,2 mil milhões de dólares de Hong Kong, traduzindo uma subida de 31 por cento em termos anuais homólogos. As receitas geradas pelo segmento VIP (de grandes apostadores) deram um pulo de 44 por cento para 9,9 mil milhões de dólares de Hong Kong, enquanto as do mercado de massas totalizaram 6,7 mil milhões de dólares de Hong Kong, reflectindo um aumento de 17 por cento comparativamente aos primeiros três meses do ano passado, segundo os resultados não auditados. O EBITDA ajustado (resultados antes de impostos, juros, depreciações e amortizações) atingiu 4,3 mil milhões de patacas, mais 36 por cento em termos anuais homólogos e mais 4 por cento face ao trimestre anterior, indicou a empresa que opera seis dos 42 casinos de Macau. “Estamos muito satisfeitos por anunciar que registamos um arranque positivo em 2018, com um EBIDTA ajustado trimestral recorde. Trata-se do nono trimestre consecutivo de crescimento do EBITDA apesar de o mercado de Macau ter mais capacidade competitiva”, afirmou Lui Che Woo, presidente e fundador do Galaxy Entertainment Group (GEG), para quem o grupo se encontra “excepcionalmente posicionado para o crescimento a longo prazo”. Plano de expansão “Estamos comprometidos em continuar a apoiar a visão do Governo em tornar Macau num Centro Mundial de Turismo e Lazer como demonstram as fases 3 e 4 do Cotai e o nosso plano de desenvolvimento em Hengqin [Ilha da Montanha]”, afirmou. As fases 3 e 4 do Cotai vão incluir jogo, 4500 quartos de hotel, lojas, restaurantes, bem como um espaço de 16 mil pés quadrados para o sector das convenções e exposições, além de uma sala de espectáculos com capacidade para 16 mil lugares, entre outros equipamentos. Já os planos de expansão internacional passam nomeadamente pelas Filipinas. Em Março, a Galaxy anunciou a intenção de investir até 500 milhões de dólares norte-americanos num ‘resort’ de baixa densidade, de elevada qualidade e amigo do ambiente, que incluía um pequeno casino com até 60 mesas de jogo, na estância balnear de Boracay. Contudo, os planos foram colocados em causa pelo Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, que questionou a mais-valia de ter um casino em Boracay, ilha que, no final de Abril, foi encerrada aos turistas por um período de seis meses. “Apoiamos a decisão do Governo filipino de fechar temporariamente Boracay e a sua iniciativa de restaurar a ilha. Vamos continuar a trabalhar com os nossos parceiros locais para procurar mais esclarecimentos”.
Andreia Sofia Silva SociedadeTSI recusa pedido de suspensão de eficácia feito pela CESL-Ásia [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Tribunal de Segunda Instância (TSI) recusou o pedido de suspensão de eficácia apresentado pela Focus-Gestão, Operação e Manutenção de Instalações, empresa ligada ao universo CESL-Ásia, a 14 de Fevereiro deste ano. O pedido foi feito no âmbito de uma decisão do TSI relativa um concurso público que foi realizado em Dezembro de 2016 para a “Prestação do serviço de manutenção das instalações do Terminal Marítimo de Passageiros da Taipa”, que foi adjudicado à Focus. Contudo, uma das empresas concorrentes, a CCCC Terceiro Macau Limitada, foi a tribunal, alegando que o regulamento do concurso público não foi devidamente cumprido e que os critérios para a escolha da empresa não foram seguidos, de acordo com os parâmetros previamente definidos. O TSI acabaria por anular o resultado do concurso público, em Janeiro deste ano, sendo que, após recurso apresentado, o Tribunal de Última Instância (TUI) continuou a dar razão aos juízes do TSI. Após esta decisão, o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, “proferiu despacho [a 14 de Fevereiro deste ano], determinando proceder ao cumprimento do referido acórdão do TUI dentro do prazo legal”. Já a Focus-Gestão, Operação e Manutenção de Instalações decidiu apresentar o pedido de suspensão de eficácia da decisão do TSI alegando que “a execução deste acto lhe causará prejuízos de difícil reparação”, além de que “a suspensão da execução não acarreta qualquer prejuízo para o interesse público, e inexistem indícios de ilegalidade do recurso”, aponta o acórdão ontem divulgado. No entanto, o TSI entendeu que “não se afigura que seja um acto administrativo cuja eficácia é susceptível de suspensão”. Na prática, o Governo terá de realizar um novo concurso público para a manutenção das instalações do novo terminal marítimo, uma vez que não só o TSI anulou o resultado da adjudicação do concurso público como o TUI voltou a considerar, em Janeiro, que “a Comissão de Avaliação das Propostas violou o Programa do Concurso ao valorizar experiência de empresas com personalidade jurídica diversa de concorrente ao concurso, a quem é imputada a mencionada experiência”, de acordo com o respectivo acórdão.
João Santos Filipe SociedadeÁlvaro Barbosa nomeado vice-reitor da Universidade de São José O até agora director da Faculdade de Indústrias Criativas da USJ vai assumir o cargo de vice-reitor da instituição, substituindo Maria Antónia Espadinha, que deixou o cargo em finais de Abril [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] director da Faculdade de Indústrias Criativas da Universidade de São José (USJ), Álvaro Barbosa, foi nomeado vice-reitor, sucedendo a Maria Antónia Espadinha, que deixou a posição no final de Abril. A notícia foi avançada, ontem, pela Rádio Macau e confirmada ao HM pelo próprio, que se confessa entusiasmado por poder contribuir para a equipa reitoral da universidade. “Era director da Faculdade de Indústrias Criativas e fui convidado pelo reitor da Universidade [Peter Stilwell] para ser vice-reitor. É um cargo que vou ocupar a par do professor Vincent Yang e a nomeação está confirmada. A tomada de posse deverá ser feita mais tarde”, afirmou Álvaro Barbosa, futuro vice-reitor da instituição ao HM. Apesar desta alteração nas suas funções, o académico não olha para a mudança como uma subida na carreira. “Não encaro a alteração propriamente como uma promoção. Na vida académica as promoções têm que ver com os graus, por exemplo uma pessoa que passe de professor associado a catedrático. Eu era director e agora vou desempenhar uma nova função na equipa da universidade, não é propriamente uma promoção”, considerou. Em relação às expectativas para o novo cargo, Álvaro Barbosa considera que não se devem esperar alterações de fundo, uma vez que o seu objectivo é auxiliar, da melhor forma possível, o actual reitor. “O reitor tem um projecto de continuidade. Eu chego a esta posição pelo facto da vice-reitora Maria Antónia Espadinha estar em vias de se reformar, no final de um mandato de dois anos. As minhas funções não vão ser exactamente as mesmas que ela desempenhava, mas têm uma lógica de continuidade”, explicou. Em relação ao desafio que tem pela frente, o futuro vice-reitor sublinha que “é um projecto no sentido de desenvolver uma universidade de cariz internacional em Macau, com ligações fortes com a diocese e com a Universidade Católica Portuguesa”, apontou. Aposta no multiculturalismo Nos últimos anos a USJ tem trabalhado para conseguir autorização para receber alunos do Interior da China. Ao HM, Álvaro Barbosa explicou que essa intenção enquadra-se na missão das universidades de Macau de ajudarem a formar quadros qualificados para o Continente. “Até ao momento, não houve autorização para esse recrutamento, mas vamos continuar a candidatarmo-nos e esperar que seja decidida essa possibilidade, por parte das autoridades competentes. É uma questão que deve ser vista não como da Universidade de São José, mas como as universidades de Macau a proporcionarem acesso ao ensino superior ao estudantes da China”, explicou sobre o assunto. No entanto, esta formação não é exclusiva do Interior da China, o futuro vice-reitor recordou que a USJ tem uma vocação multicultural na qual vai continuar a apostar. Além de ser director da Faculdade de Indústrias Criativas na USJ, Álvaro Barbosa era também o coordenador do departamento de música. No currículo, o académico conta com um doutoramento em ciência e tecnologia das artes, mestrado em gestão de indústrias criativas e uma pós-graduação em fotografia e design digital.
Diana do Mar PolíticaJúri de provas de doutoramento na Universidade de Macau mais flexível [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] júri das provas de doutoramento na Universidade de Macau (UM) vai deixar de ser exclusivamente presidido pelo reitor ou pelos vice-reitores. A alteração ao decreto-lei de 1994, que regula as formas de obtenção dos graus de mestre e de doutor na UM, foi anunciada ontem pelo porta-voz do Conselho Executivo, Leong Heng Teng. O “crescente número de estudantes de doutoramento” e, por conseguinte, o “grande volume de trabalho” figuram como a principal razão para a mexida, explicou Leong Heng Teng, dando conta de que existem, actualmente, “quase 950 doutorandos” naquela instituição de ensino superior pública. À luz do novo regulamento administrativo, o reitor da UM preside ao júri das provas de doutoramento, mas pode delegar esta competência num vice-reitor ou “num professor catedrático, professor catedrático distinto ou professor catedrático de mérito que tenha sido orientador de, pelo menos, três estudantes que tenham concluído o curso de doutoramento”, indicou o mesmo responsável em conferência de imprensa. O regulamento administrativo entra em vigor no dia seguinte ao da sua publicação em Boletim Oficial.