Kamyi Lee, Artista Digital | Da música às cores

[dropcap style=’circle’] F [/dropcap] oi na infância que Kam Ying Lee teve o primeiro contacto com o mundo das artes. As aulas de piano marcaram a jovem local, que com o passar do tempo trocou as teclas do piano pelos média digitais. Aos 27 anos, encontra-se em Los Angeles, a tirar um mestrado em Média Interactivos para Performance, e foi nos Estados Unidos que mostrou ao público os seus últimos trabalhos.

“Sempre quis estar envolvida no mundo das artes desde a minha infância. Nessa altura, estava exposta principalmente à música porque aprendi a tocar piano. Mas com o passar do tempo desenvolvi um maior interesse pelas artes visuais, até que, na universidade, comecei a trabalhar com tecnologias digitais. Neste momento, a maior parte dos trabalhos que desenvolvo são focados nas componentes áudio e visual”, contou Kam Ying Lee, que tem como nome artístico Kamyi Lee.

Antes de ingressar no Instituto de Artes da Califórnia, e quando ainda estava no território, optou, primeiro, por se licenciar em Comunicação na Universidade de Macau. Uma licenciatura que encarou como a melhor opção para se preparar para o que antevia como a carreira: “Decidi estudar artes porque é através dessa forma que quero exprimir e as minhas ideias. Quero que as pessoas compreendam o que vejo e o que quero partilhar”, contou.

 

Design gráfico

Concluídos os estudos, Kam Ying Lee focou-se essencialmente no design gráfico, com a paginação de revistas locais, livros entre outros mais. “É uma área que sempre me interessou muito, ainda hoje me interessa, mas por agora estou mais focada nos meios digitais”, reconhece. “No fundo, o que tenho feito ainda está intimamente ligado ao design gráfico, só que estou a trabalhar com outros meios. Tenho um âmbito mais alargado, com outras plataformas”, frisou.

Foi neste período, entre 2013 e 2014, que através da participação no Festival de Artes de Macau envolveu nos espectáculos “Mapping: Fabricado em Macau I e II” e “Um Sonho de Luz”. Os primeiros espectáculos projectaram imagens, combinadas com elementos áudio, sobre a Praça do Tap Seac e Casa do Mandarim, o segundo, em que desempenhou a função de assistente de produção aconteceu com a projecção de imagens sobre as Ruínas de São Paulo.

“O espectáculo Um Sonho de Luz mudou um pouco a forma como vejo a zona das Ruínas de São Paulo. O projecto estava integrado no Festival de Artes de Macau, era uma grande equipa e tivemos cerca de 10 meses para prepará-lo. Envolveu muita pesquisa e isso permitiu-me ter uma melhor compreensão daquela zona”, reconhece Kam Ying Lee. “É uma das minhas zonas favoritas em Macau”, acrescenta.

 

Mudança para os EUA

Com o avançar do tempo, Kamyi sentiu necessidade de se desafiar, seguir o seu caminho e continuou a desenvolver técnicas de trabalho. Por esta razão, decidiu mudar-se para os Estados Unidos. Mesmo que implicasse ficar sem trabalhar durante algum tempo.

“Estava um bocado aborrecida em Macau, sentia que precisava de mexer um pouco com a minha vida e de me afastar para fazer um caminho meu. Também estou numa área em que nem sempre há projectos em Macau, por isso ir estudar para fora foi uma opção para me continuar a desenvolver”, sublinha.

O facto de ter um irmão mais velho, fez com que a família aceitasse com naturalidade a mudança: “Sou a segunda filha e o meu irmão tem assumido o principal papel financeiro. Tenho sido a mimada da família e por isso os meus pais deixam-me fazer o que quero, desde que mantenha a independência financeira”, admite, em tom divertido.

 

Saudades da Chuva

Mas se o aspecto profissional e educativo tem entusiasmado Kamyi, que em dois anos desenvolveu seis projectos, alguns dos quais integrados no mestrado, por outro lado, a residente de Macau, nascida em Hong Kong, admite que sente saudades do território.

“Tenho sempre muitas saudades, do ambiente da cidade, do mar, porque nos Estados Unidos vivo mais afastada do oceano, das pessoas e de falar cantonense de forma regular”, confessa, apesar de dominar fluentemente o inglês. “Nos primeiros tempos foi difícil encontrar pessoas que falassem cantonense, e ainda hoje não conheço muitas. Portanto, acaba por haver essa saudade”, justifica.

Nos últimos dias, com a passagem do tufão Ewiniar, ter saudades pode parecer estranho, contudo, Kamyi admite que depois de dois anos a viver quase num deserto, que se sentem bem nestas condições: “Tenho saudades da chuva, porque estou há dois anos quase numa zona de deserto e isso muda-nos perspectiva”, frisa.

Foi também a chuva que serviu de inspiração para a sua última instalação em Los Angeles, que teve com o nome: The Peach Blossom Land. O trabalho consistiu numa série de chapéus-de-chuva com luzes LED, numa sala escura, presos ao tecto, que as pessoas podia mover à vontade. A partir do movimento das pessoas, as luzes mudavam também de cor, variando entre o vermelho, azul e verde.

“A arte para mim tem de ser interactiva. É diferente ficar a apreciar um trabalho de forma passiva e poder mexer-lhe e interagir sobre ele. Para mim, é muito mais significativo envolver as pessoas”, explicou sobre o conceito. “Se estivermos de fora e virmos as pessoas a interagirem com a instalação, e eu fiz isso, há um significado especial. Para mim se fizer um trabalho e as pessoas não interagirem, não se envolverem, sinto que a exposição não está completa”, acrescentou.

 

8 Jun 2018

O desafio das alterações climáticas

[dropcap style=’circle’] A [/dropcap] s alterações climáticas são possivelmente o desafio ambiental mais significativo do nosso tempo e representa uma séria ameaça ao desenvolvimento sustentável no mundo e, mais ainda, na maioria dos países em desenvolvimento. O impacto das alterações climáticas afecta os ecossistemas, os recursos hídricos, a alimentação e a saúde. Assim, as políticas governamentais inter-relacionadas, devem ser projectadas para evitar conflitos no seu desenho e implementação. Existe uma ligação directa entre as alterações climáticas e a insegurança alimentar global, mais ainda nos países em desenvolvimento, onde as alterações climáticas agravadas com a pobreza exacerbaram os impactos.

A fim de enfrentar os desafios colocados pelas alterações climáticas, é necessário examinar os factores que contribuem para as mesmas e como tais, os que influenciam a produção de alimentos a nível global. Factores climáticos como a precipitação, evaporação, humidade e a duração do sol, formam a base para a melhoria da segurança alimentar. É necessário que os formuladores de políticas, comunidades e provedores de ajuda incorporem tecnologias baseadas em evidências de sistemas e conhecimento de alimentos. As tecnologias baseadas em evidências que são as que foram empiricamente testadas e usadas, incluem plantio directo, gestão integrada da fertilidade do solo, tecnologias de irrigação, como por exemplo a irrigação por gotejamento, melhoramento de sementes, captação de água, agricultura orgânica e incorporação do conhecimento local.

O impacto de algumas das tecnologias pode ser visto à luz da melhoria global da produtividade de grãos, através do uso de tecnologias integradas de gestão da fertilidade do solo, chuva e do ambiente irrigado. As culturas de grãos tolerantes à seca, também podem ajudar a aumentar os rendimentos. Os resultados dos estudos realizados nesta área são pertinentes aos formuladores de políticas no campo da segurança alimentar e sustentabilidade dos meios de subsistência. As medidas de mitigação e adaptação devem ser eficazes, acessíveis e apropriadas para a sustentabilidade e desenvolvimento ambiental.

Tal controlo, defende a integração de sistemas convencionais baseados na agrociência, com o conhecimento tradicional da agricultura, a fim de mitigar a severidade das alterações climáticas e o seu impacto na segurança alimentar e na sustentabilidade dos meios de subsistência. A integração de agrociência e sistemas agrícolas tradicionais é importante para que a segurança alimentar seja sustentada. A expressão “alterações climáticas” significa a alteração do clima do mundo como resultado das actividades humanas através da queima de combustíveis fósseis, desmatamento de florestas e outras práticas que aumentam a concentração de “Gases de Efeito Estufa (GEE)” na atmosfera. Tal está de acordo com a definição oficial da “Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima UNFCCC (na sigla inglesa)”, que afirma que as alterações climáticas podem ser atribuídas directa ou indirectamente à actividade humana que altera a composição da atmosfera global e a variabilidade climática natural observada ao longo de períodos de tempo comparáveis.

O “Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC)” define as alterações climáticas, como uma transformação no estado do clima que pode ser identificada por mudanças na média e ou na variabilidade das suas propriedades, e que persiste por um período prolongado, tipicamente décadas. As alterações climáticas são uma mudança sistemática nas principais dimensões do clima, incluindo a temperatura média e os padrões de vento e precipitação durante um longo período de tempo. No uso recente, especialmente no contexto da política ambiental, as alterações climáticas, geralmente, referem-se a mudanças no clima moderno. Pode ser qualificado como alterações climáticas antropogénicas, mais geralmente conhecida como aquecimento global ou “Aquecimento Global Antropogénico (AGW na sigla inglesa)”.

É de considerar que devido à natureza predominante do efeito estufa melhorado na atmosfera, os seus efeitos ocorrem a nível global, regional e nacional. Tem havido evidências de aumento nas temperaturas globais que levaram às alterações climáticas a nível global, regional e nacional nos últimos cem anos. O aumento das temperaturas globais experimentadas ao longo do século passado, é o resultado da acumulação de GEE na atmosfera, levando ao aquecimento global. Utilizando modelos climáticos complexos, o IPCC, no seu terceiro relatório de avaliação, previu que a temperatura média da superfície global aumentará de 1,4 graus Célsius para 5,8 graus Célsius até ao final de 2100. Os múltiplos conjuntos de dados mostram essencialmente, a mesma tendência de aquecimento global nos últimos cem anos, com o aumento mais acentuado do aquecimento nas últimas décadas.

A evidência das alterações climáticas induzida pelo ser humano vai além do aumento observado nas temperaturas médias da superfície, pois inclui a fusão do gelo no Árctico, derretimento de geleiras ao redor do mundo, aumento da temperatura dos oceanos, incremento do nível do mar, acidificação dos oceanos devido ao excesso de dióxido de carbono, mudança nos padrões de precipitação e das funções do ecossistema e da vida selvagem. A produtividade agrícola reduzida com a escassez de alimentos, consequente, foi experimentada. Os estudos mostram que com menores concentrações de CO2, as plantas podem crescer mais e de forma rápida. No entanto, o efeito do aquecimento global pode afectar a circulação geral da atmosfera e, assim, alterar o padrão de precipitação global, bem como modificar os teores de humidade do solo em vários continentes.

Houve um aumento no nível do mar observado em algumas partes do mundo devido ao excesso de aquecimento do ar que causou a fusão em grande escala de coberturas de gelo, inundações de grandes proporções na Califórnia em 1999 e partes da costa ocidental da Índia nos últimos cinco a oito anos, que são testemunhos dos efeitos da elevação do nível do mar.

É de atender que se o nível do mar subir oitenta a noventa centímetros, talvez muitas das cidades costeiras do mundo sejam arrastadas, além de grandes mudanças nos portos e suas instalações, rotas marítimas e na indústria pesqueira, bem como a perda de terras agrícolas férteis, ocasionada por inundações, impactos na segurança alimentar e meios de subsistência a nível doméstico e nacional. Existiu um aumento da seca e inundações a nível global e ironicamente, alterações no clima devido ao excesso de gases causadores do efeito estufa, estão a causar o aumento da seca e das inundações. A actividade violenta das tempestades cresce à medida que a temperatura aumenta e mais água se evapora dos oceanos. Tal inclui a ocorrência de furacões mais poderosos, tufões e um aumento na frequência de tempestades e tornados considerados severos.

As tempestades muitas vezes resultam em inundações e danos às terras agrícolas, causando insegurança alimentar. O aquecimento também causa a evaporação mais rápida em terras, levando à fome induzida pela seca. As alterações/mudanças nas estações e no carácter sazonal, ocorrem em todo o mundo devido à mudança na temperatura do ar e nos padrões de precipitação. Algumas estações foram reduzidas ou prolongadas. Os invernos estenderam-se em muitos locais, enquanto o verão é mais severo em outros lugares. O grau de confiabilidade diminuiu e o elemento de incerteza aumentou. Tal desorienta os agricultores das comunidades rurais que dependiam do conhecimento local na previsão de padrões climáticos para a produção de alimentos. As grandes mudanças ocorreram nos recursos hídricos do mundo, devido a perturbações nos ciclos hidrológicos.

As zonas de chuvas intensas são gradualmente convertidas em áreas de baixa pluviosidade, com muitas áreas húmidas a serem transformadas em superfícies áridas e da mesma forma, a depleção de água subterrânea é alta e a recarga é muito baixa. Houve uma mudança nos ciclos de doenças/pragas de plantas e animais. Muitas das pragas/doenças insignificantes, estão a atingir grandes proporções porque a composição da população microbiana é afectada pela mudança de temperatura e ciclos hidrológicos. Estes tiveram impacto na produção de alimentos e perda pós-colheita ocasionando escassez de alimentos e perda de meios de subsistência.

Os ecossistemas modificam e as alterações no clima farão que algumas espécies mudem de uma região para outra e, em combinação com outros factores de “stress” como o desenvolvimento, fragmentação de habitats e espécies invasoras, podem ter consequências negativas sobre a biodiversidade e os benefícios que os ecossistemas saudáveis ​​proporcionam aos seres humanos e ao meio ambiente. O jacinto-de-água, uma espécie invasora no Lago Vitória, reduziu tremendamente as actividades pesqueiras com impacto nos meios de subsistência. As alterações climáticas afectarão sempre os meios de subsistência. A economia e o meio ambiente podem ser afectados como resultado das alterações climáticas, especialmente na ausência de contra medidas. Os impactos no sector da saúde afectarão as populações alterando o estado de saúde de milhões de pessoas, inclusive através do aumento de mortes, doenças e ferimentos devido a ondas de calor, enchentes, tempestades, incêndios e secas.

O aumento da desnutrição, doenças relacionadas ao meio ambiente, como a cólera, disenteria, meningite, filariose linfática, febre-amarela, malária, tuberculose, entre outras, exercerão grande pressão sobre os recursos de saúde pública e as metas de desenvolvimento serão ameaçadas por danos de longo prazo à saúde. Torna-se necessário limitar o aquecimento global a 1,5 graus Célsius que poderá evitar cerca de três milhões e trezentas mil mortes de casos de dengue por ano, apenas na América do Sul e nas Caraíbas de acordo com uma nova pesquisa da “Universidade de East Anglia. (UEA)”.

O novo relatório publicado na revista “Proceedings of National Academy of Sciences (PNAS)”, a 28 de Maio de 2018, revela que limitar o aquecimento à meta do “Acordo de Paris”, também impediria a disseminação do dengue para áreas onde a incidência actualmente é baixa. A trajectória de aquecimento global de 3,7 graus Célsius pode levar a um aumento de até sete milhões e quinhentos mil de casos de dengue, adicionais por ano até meados deste século. A dengue é uma doença tropical causada por um vírus transmitido por mosquitos, com sintomas que incluem febre, dor de cabeça, dores musculares e articulares. É endémica em mais de cem países e infecta cerca de trezentas e noventa milhões de pessoas em todo o mundo anualmente, com uma estimativa de cinquenta e quatro milhões de casos na América do Sul e Caraíbas. Os mosquitos que transportam e transmitem o vírus prosperam em condições quentes e húmidas, sendo mais comum em áreas com essas condições climáticas. Não existe tratamento específico ou vacina para a dengue e, em casos raros, pode ser letal.

8 Jun 2018

Karting | João Afonso corre a pensar no top três

[dropcap style=’circle’] E [/dropcap] ste fim-de-semana inicia-se a versão deste ano do Campeonato Asiático de Karting. O piloto local João Afonso arranca com ambições de conseguir um lugar entre os três primeiros.

O Kartódromo de Coloane foi o local escolhido para o arranque do Campeonato Asiático da modalidade e Macau vai estar representado por João Afonso. Durante os três dias da primeira prova no território, o piloto vai ainda participar na corrida do Campeonato da China.

“São as primeiras provas em que participo este ano, mas tenho a experiência acumulada dos anos anteriores. A nível físico tive uma preparação bem exigente e sinto-me apto para competir a nível físico e mental. Estou preparado a 100 por cento”, disse João Afonso, ao HM.

Em relação aos objectivos para o Asiático, o piloto de Macau quer terminar o campeonato, assim como a prova local, entre os três primeiros. Um objectivo que acredita poder concretizar, se não tiver problemas.

“Com a experiência e o meu andamento, tenho como objectivo terminar entre os três primeiros. É um campeonato que conheço muito bem e acredito que é um objectivo realista”, acrescentou.

Ao nível do Asiático, João Afonso vai participar na classe F125 SR Open/X30 SR, que tem a corrida principal agendada para as 12h26. Os pilotos terão de cumprir 25 voltas ao circuito. Choi Kin Wa é o outro representante de Macau na prova.

Esta é a primeira ronda do Asiático, que nesta edição conta apenas com quatro provas: duas em Macau, uma agora e outra em Dezembro, e outras duas rondas nas Filipinas, em Julho e Novembro.

 

Top 3 na prova chinesa

Contudo, a actividade para João Afonso não se fica por aqui, e também no Domingo, o piloto a entra em acção, desta feita às 14h41, com a participação na corrida principal do Campeonato da China. No total, o piloto vai ter de cumprir 15 voltas, na última prova do fim-de-semana.

“Também no Campeonato da China espero andar entre os pilotos da frente, porque tenho muita experiência. É um campeonato onde corri muitas vezes, conheço bem os adversários e normalmente fico nos lugares da frente. O objectivo também tem de ser esse”, afirmou.

No que diz respeito ao Campeonato da China de Karting, a cidade de Macau também só vai estar representada com dois pilotos. Wong Man Chong, colega de equipa de João Afonso na equipa Team 1 Racing, é o outro piloto a correr com a bandeira da RAEM.

Esta prova marca igualmente o regresso à competição de João Afonso, depois de ser ter lesionado no ano passado, também no Kartódromo de Colaone. Na altura, o piloto foi atingido por trás por um karting, partindo uma costela. Contudo, terminou as duas provas em que participou, tendo sido 7.º numa das provas e 11.º na corrida do Asiático, depois de ter arrancado na posição 22 da grelha de partida.

8 Jun 2018

Decisão I

[dropcap style=’circle’] A [/dropcap] partir de determinada altura, deixamos de ter aniversários. Fazemos anos todos os dias. Ficámos, de algum modo, à espera. O que era para nós um projecto vital pode ficar hipotecado. Não tanto relativamente à promessa que temos com a vida, seja nós a fazê-la, seja a vida a fazê-la a nós. Mais relativamente ao meio que escolhemos para ser quem somos. Há muita gente que não terá tido essa possibilidade. Mas eu conheço muita gente que teve. Há alturas em que parece que ficamos desavindos com amigos. Sem sabermos bem por quê. Acontece. A resposta imediata de parte a parte resolve a situação. Não ficam ressentimentos. Voltamos a estar como se não houvessem mal entendidos. Os entusiasmos passados lentamente se tornam cruzes que temos de carregar. Todas as nossas decisões tomadas de ânimo leve ou difíceis abrem horizontes temporais que podem ser de longo prazo. Mesmo que achemos que foram acertadas no momento da escolha, a partir de determinada altura na vida, pensamos o que teria sido se não as tivéssemos tomado. Podemos pensar que não havia alternativa, mas o resultado que é esta vida, a única que temos, parece, se não, negativo, pelo menos difícil. O modo de vermos as coisas pode ter sido o do ultimato. A decisão podia ter parecido inevitável. Mas pensamos sempre se não poderíamos ter esperado mais um dia, se não poderíamos ter visto “melhor” as consequências das nossas acções: do sim e do não. De algum modo, parece que podemos ter cedido a tentações: a do prazer a que dissemos sim e à da fuga ao sofrimento a que dissemos não. Sabermos, ainda assim, se não foi uma decisão motivada por princípios “patológicos” como Kant lhes chamava: por um lado, a cedência à promessa do prazer, por que nos decidimos como se não houvesse amanhã. Por outro, a fuga à ameaça de sofrimento como se só houvesse um amanhã sem alternativa, difícil de suportar. Em ambos os casos vemos a promessa como o que vai ficar para sempre. Tudo será como é agora no presente. Todo o prazer será bom e cada vez mais frequente e intenso. Por outro lado, todo o sofrimento é visto no presente como a ameaça não anulável de um futuro onde só haverá condenação sem redenção. A racionalidade promete a possibilidade de um escrúpulo da não cedência à primeira dificuldade ou facilidade. Mas como podemos percorrer as nossas vidas na fantasia da imaginação para ver o que efectivamente vai acontecer se ficarmos ou se formos, se partirmos ou insistirmos, se mudarmos ou ficarmos na mesma? É a racionalidade que transcende o prazer e o sofrimento, a promessa e a ameaça, a abertura possível a uma escolha que vai contra todo o prazer e tolera todo o sofrimento, que anula o vigor de promessas e ameaças como futuros aparentes e falsos? E esta elucubração sobre a possibilidade da racionalidade aparece por quê? Pode ela modificar o passado ou antecipar boas resoluções para o futuro? Posso eu ficar sossegado ao ver em retrospectiva as decisões passadas como boas decisões e que tudo estaria pior se tivesse optado pela outra alternativa? E no futuro, poderei eu decidir fora do âmbito do prazer ou do sofrimento e perceber que as coisas já acabaram e eu não sabia ou ainda não acabaram e eu também não sei? Nenhum sossego vem, contudo. Tudo é inquietação, porque achamos que somos o resultado da única alternativa possível. As coisas que fazemos por prazer admitem a abstenção. As que não fazemos por sofrimento admitem a motivação. Em qualquer dos casos, há alturas em que achamos que todas as nossas decisões tomaram o curso errado. Mas a aparência de resolução desta possibilidade cai por terra, quando se multiplicam as decisões no âmbito de todas as frentes da vida.

Tudo é inquietação, porque achamos que somos o resultado da única alternativa possível. As coisas que fazemos por prazer admitem a abstenção. As que não fazemos por sofrimento admitem a motivação.

Só podemos ter uma vida e com ela há uma possibilidade infinita de vida que corre paralela a esta vida. Mas é só na nossa imaginação. Viver todas as vidas de todos os amores possíveis, viver em todos os países que vivemos, ter todos os trabalhos que gostaríamos ter tido, viver todas as aventuras possíveis. E, contudo, só há isto que podemos viver. Mesmo que nos multipliquemos não seremos artistas, sacerdotes, amantes ou lá o que pudemos ter sido e ser. Amamos muitas coisas na realidade e na imaginação, mas haverá um único verdadeiro amor? Porque achamos que é um único o verdadeiro amor e que é o amor a motivação intrínseca para sermos quem somos. Há amores infelizes e amores felizes, amores que dão prazer e outros que são duríssimos. Há assim as pessoas das nossas vidas e as relações que com elas temos e as actividade a que nos dedicamos e que nos definem. Mas que seremos sem essas pessoas todas? O que seremos sem as atividades que são as nossas vidas? O que seremos sem conteúdos? Posso ser sem biografia? Posso ser sem o conteúdo dos dias como se fosse uma tábua rasa de tudo sem nada? E poderíamos viver na indecisão? A não decisão tem consequências também. A angústia invalida até o horizonte em que as possibilidades de decisão ocorrem.

8 Jun 2018

Avenida Vasco da Gama

[dropcap style=’circle’] I [/dropcap] naugurada às 5 e meia da tarde de 20 de Maio de 1898, quatrocentos anos depois do dia da chegada a Calicute da primeira armada portuguesa à Índia, a Avenida Vasco da Gama fora planeada pelo então Director das Obras Públicas, Eng. Augusto Abreu Nunes. Encontra-se no sopé do Monte da Guia e tem 32.500 m², tornando-se o segundo jardim público de Macau e a primeira ampla avenida da cidade. Em alameda, com um comprimento na sua maior extensão de 500 metros e largura média de 65 metros, situa-se entre a Estrada da Flora e a da Vitória e desde a Calçada do Gaio até ao Quartel da Flora. Abreu Nunes quando a descreve no início do seu texto prolonga-a, “… a NE. da cidade, na encosta dos outeiros da Guia e da Flora, entre a estrada da Flora e a da Victoria, estendendo-se desde a Calçada do Gaio até à Rampa da Inveja, que passa junta ao jardim do Palácio de Verão do Governador da Província. (…) É dividida no sentido longitudinal por muitos renques de árvores vulgarmente denominadas de S. José (Ficus chlorocarpas) que, apesar de recentemente plantadas, produzem já um efeito muito agradável e que quando se tornarem frondosas formarão extensas abóbadas de folhagem transformando aquele local num retiro fresco e aprazível.

Do lado do Norte termina a Avenida por um pitoresco jardim com a forma circular cujo diâmetro é de 58 m sendo torneado pela rua central da Avenida. Ao centro do jardim eleva-se um elegante monumento de mármore, levantado pelo Leal Senado em 1864 para comemorar a vitória que em 1622 os portugueses alcançaram contra os holandeses que pretendiam tomar a cidade.” Como dá para perceber por estas palavras do Eng. Abreu Nunes, a avenida termina na Praça de Vitória, mas agora é a data do Monumento que não está em sintonia com a referida pela História.

 

Quartel da Flora

 

Partindo do Palácio da Flora, residência de Verão do Governador, após atravessada a Rampa da Inveja apresenta-se, no extremo Norte do Campo dos Arrependidos, o edifício do Quartel da Flora. Ainda não representado no mapa de 1838, aparece referenciado em 30 de Março de 1882 quando para aí se mudou a 3ª Companhia da Guarda Policial e em 1896, no Quartel da Flora estava instalado o Corpo da Polícia de Macau.

Entrando pela Praça da Vitória, inaugurada a 26 de Março de 1871, tal como o monumento ao centro colocado, “no mesmo jardim, entre o monumento e a rua que o torneia, com o centro na continuação do eixo da Avenida, acha-se implantado um vistoso lago de granito, tendo ao centro uma peça monumental de ferro formada de diferentes bacias de onde se desprende a água que nelas é lançada por meio de um tudo central. Quatro peixes, que ficam num plano inferior, lançam pela boca outros tantos jactos de água. Sobre a bacia superior, três garças simulam gozar aquela agradável frescura rematando assim este gracioso conjunto [o Padre Manuel Teixeira adita, <esta peça encontra-se agora no Jardim da Flora e as garças desapareceram>]. O lago é cercado por uma cadeia de ferro presa a doze pequenas colunatas colocadas nos ângulos de um polígono que o circunscreve sendo ela, a seu turno, cercada por canteiros de flores dispostos segundo uma coroa circular.

Simétricos com o lago e em disposição análoga possui o jardim ainda um fontenário e dois elegantes caramanchões; é muito arborizado e, quando as árvores se desenvolverem, deve tornar-se aquele recinto de uma frescura agradabilíssima”, descrição do Eng. Abreu Nunes.

<Este campo [dos Arrependidos, local onde os holandeses se encontravam e se mostraram indecisos e vacilantes (arrependidos) quando os dois tiros de canhão, calculados pelo Padre Rho e disparados da inacabada Fortaleza do Monte, fizeram estourar o seu barco da pólvora em frente da Praia de Cacilhas], ora transformado numa deliciosa Avenida e plantada de tenras árvores, já esteve regado de sangue…>, assim refere um jovem em 1898 n’ O Provir. Após descrever o lago, “no lado oposto está um fontanário também de ferro colocado simetricamente com o lago e em cada lado dele há um copo de metal preso por uma corrente”.

 

Descrição da Alameda

 

À Praça da Vitória chega a Avenida Vasco da Gama, cujos limites, a Leste tem a Estrada da Vitória e no outro lado, a Estrada da Flora, mais tarde chamada Rua Sidónio Pais. Colocados longitudinalmente na alameda uma fila de bancos de madeira e alguns renques de árvores de S. José.

A cruzar a então longa Avenida Vasco da Gama duas ruas perpendiculares a ligar as estradas laterais, sendo uma próxima da Praça da Vitória, que deve ser a então Rampa da Vitória e a outra, aproximadamente a meio, a fazer a ligação da Estrada do Cemitério com a Estrada da Guia. Nesse pequeno troço, para o lado Leste, entre a Avenida Vasco da Gama e a Estrada da Vitória, aparece já um largo, onde se pretende colocar o busto do navegador. “Contíguo a este largo e do lado da estrada da Victoria procede-se actualmente à construção de um coreto para música, ao centro de um pequeno jardim, sendo este jardim fechado por duas rampas circulares d’ acesso da avenida para a estrada da Victoria que devem produzir um lindo efeito. Do lado da estrada da Flora, é a avenida cercada por sólidos muros de alvenaria e possui diversas escadas e rampas de acesso”, segundo Abreu Nunes.

 

Inauguração da Avenida

 

A cerimónia da inauguração da Avenida, realizada a 20 de Maio de 1898, ocorre no largo, ao lado do coreto que ficará ainda pronto em 1898, onde se projecta erigir o monumento com o busto do navegador português. O Independente de 22 de Maio de 1898 relata, “A acta do lançamento da primeira pedra, depois de assinada, foi encerrada num cofre de bronze, juntamente com uma colecção de estampilhas e bilhetes-postais do centenário, umas provas do Jornal Único (jornal feito para a comemoração), um exemplar do Echo Macaense e outro de O Independente. O cofre foi depois metido num bloco de pedra, onde assentaria o monumento a construir”.

O busto de Vasco da Gama encontra-se ainda em forma de projecto, apresentado com um desenho no Jornal Único, diferente do que virá a ser realizado pelo escultor Tomás da Costa e só inaugurado a 31 de Janeiro de 1911. Abreu Nunes descreve-o em 1898: “Ao centro proximamente da avenida, no ponto onde esta cruza com uma rua transversal que parte da estrada da Flora, existe um largo com a forma poligonal onde se projecta elevar um elegante monumento a Vasco da Gama. Este monumento, representado na 1.ª vista [do Jornal Único], é construído por dois corpos de mármore sobrepostos encimados pelo busto fundido em bronze do grande Navegador; o todo eleva-se sobre uma escadaria de granito de forma hexagonal. Na superfície do corpo inferior de mármore serão colocadas passagens moldadas em bronze alusivas à saída de Lisboa da frota Vasco da Gama que em 1498 descobriu o caminho marítimo da Índia e à sua chegada a Calicut. No corpo superior serão aplicadas, em bronze também, de um lado as armas reais portuguesas e do outro, uma inscrição lembrando a época em que foi levantado o monumento.”

8 Jun 2018

Cultura | Festival de artes sino-lusófono a partir de dia 30

[dropcap style=’circle’] M [/dropcap] acau vai acolher, a partir do próximo dia 30, o primeiro “Festival de Artes e Cultura entre a China e os países de língua portuguesa”. Os bilhetes vão ser colocados à venda no fim-de-semana.

Cinema, música e dança figuram entre as propostas da primeira edição do “Encontro em Macau – Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa”. A iniciativa, organizada pelo Instituto Cultural (IC), vai decorrer entre 30 de Junho e 13 de Julho.

O Festival de Cinema entre a China e os Países de Língua Portuguesa conta com 24 filmes, dividindos em três categorias: “Filmes em Chinês”, “Filmes em Português” e “Imagens, Macau”. “Wrath of Silence” (“Ira de Silêncio”), o filme mais recente do realizador chinês, Xin Yukun, abre o festival que vai fechar com uma “dobradinha” do cineasta português Manoel de Oliveira, falecido em 2015. Os filmes escolhidos foram “Aniki Bóbó” (a sua primeira longa-metragem) e “Douro, Faina Fluvial” (o seu primeiro documentário curto).

O cartaz inclui três películas contemporâneas da China, nove filmados recentemente em países de língua portuguesa, como Portugal, Brasil, Cabo Verde, Moçambique e Guiné-Bissau, bem como na África do Sul, e outros tantos (em chinês e em português) que foram gravados em Macau entre 1923 e 2015.

As exibição dos filmes vai ser complementada com seminários pós-projecção e palestras, indicou o IC, num comunicado enviado ontem.

Música e dança

Já a 6 de Julho, pelas 20h, realiza-se o Serão de Espectáculos entre a China e os países de língua portuguesa. O Grupo de Artes Performativas de Gansu é um dos que vai subir ao palco do grande auditório do Centro Cultural, dando a conhecer os costumes do povo do noroeste da China, através de música e dança com elementos do seu património cultural intangível, realça o IC.

No que diz respeito aos grupos musicais e de dança dos oito países de língua portuguesa que também vão actuar no serão, o destaque vai para o agrupamento musical português Galandum Galundaina que irá apresentar melodias antigas.

Os bilhetes para o Festival de Cinema vão ser colocados à venda na Cinemateca Paixão a partir de amanhã, custando 60 patacas. Os ingressos para o Serão de Espectáculos vão ficar disponíveis na bilheteira online de Macau a partir de domingo, ao preço de 50 patacas.

8 Jun 2018

Secretas | “Ataque acústico” levam EUA a retirar funcionários da China

[dropcap style=’circle’] O [/dropcap] s Estados Unidos retiraram vários funcionários governamentais de Cantão, sul da China, depois de testes médicos terem revelado sintomas semelhantes aos causados pelos “ataques acústicos” em Cuba, no ano passado, informou o Departamento de Estado.

A porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert, revelou que “várias pessoas” foram levadas para os EUA, para além de uma outra que anteriormente registou sintomas semelhantes. Os funcionários foram retirados juntamente com as famílias depois de um segundo caso de um funcionário do consulado em Cantão ter sentido dor de cabeça, sonolência e náuseas, levando Washington a enviar uma equipa médica para realizar análises.

A China reafirmou ontem que “não encontrou causas ou pistas” sobre possíveis ataques a diplomatas dos EUA no país. “Há pouco, num outro caso de um diplomata norte-americano, a China realizou investigações e informou os EUA de que não encontramos sequer pistas” de que se trata de um ataque deliberado, afirmou ontem a porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying, em conferência de imprensa.

Alerta sonoro

No primeiro caso, ocorrido no mês passado, um alerta de saúde emitido pela embaixada norte-americana em Pequim revelava que “um funcionário do Governo dos EUA reportou recentemente sensações subtis e vagas, mas anormais, de ruído e pressão”. Hua disse que o segundo alegado caso não foi sequer oficialmente notificado à diplomacia chinesa. “Se há realmente algum problema, esperamos que os EUA possam comunicá-lo directamente, para que a China adopte uma atitude responsável e investigue”, acrescentou.

O Departamento de Estado comparou estes casos com os ocorridos, no ano passado, com 24 diplomatas norte-americanos e respectivos familiares estacionados em Cuba, que experimentaram misteriosos “ataques acústicos”, que provocaram sintomas como perda auditiva, náuseas, tonturas, dor facial, dor abdominal, problemas cognitivos e danos cerebrais.

No caso de Cuba, a imprensa norte-americana escreveu mais tarde que o FBI não conseguiu determinar a causa dos sintomas, apesar das acusações de Washington.

Funcionários do Departamento de Estado insistiram, no entanto, que as pistas apontavam todas para um ataque coordenado.

8 Jun 2018

Diplomacia | Presidente Russo visita Pequim para reforçar laços

[dropcap style=’circle’] O [/dropcap] Presidente russo, Vladimir Putin, começa hoje uma visita de Estado à China, um mês depois de iniciar um novo mandato, o que ilustra a reaproximação entre Pequim e Moscovo face à crescente pressão dos Estados Unidos.

A Rússia e a China têm reagido à estratégia de segurança nacional norte-americana, que classifica os dois países como os principais rivais dos EUA, com o compromisso de reforçarem a sua cooperação económica, política e militar.

A reaproximação entre Pequim e Moscovo é impulsionada pela forte relação pessoal entre Putin e o Presidente da China, Xi Jinping, considerado o líder chinês mais forte desde Mao Zedong, o fundador da República Popular.

Os dois líderes reuniram já por 25 vezes, cinco das quais no ano passado. Sublinhando a sua relação próxima com Xi, Putin afirmou a uma emissora estatal chinesa que o Presidente chinês é o único líder mundial que ele já convidou para a sua festa de aniversário.

“Bebemos um ‘shot’ de vodka e comemos umas salsichas no final de um dia de trabalho”, afirmou Putin, na entrevista difundida na quarta-feira. O líder russo considerou Xi um “parceiro agradável” e “um amigo de confiança”.

Os dois líderes reforçaram o autoritarismo nos respetivos países para travarem qualquer oposição às suas lideranças.

Xi emendou a constituição para poder permanecer no poder sem limite de mandatos, enquanto Putin, o líder russo há mais tempo no poder desde Josef Stalin, acabou de ser reeleito para o sexto mandato.

Moscovo depende cada vez mais do comércio e investimento chineses, após uma vaga de sanções impostas pelos países ocidentais atingir o seu sector energético e indústrias militares e limitar o acesso do país aos mercados financeiros mundiais.

Unidos contra os estados

“Durante a última década, desenvolvemos as relações para um nível sem paralelo no mundo actual”, afirmou Putin na entrevista. “Estas relações são baseadas na consideração de interesses mútuos”, afirmou.

Entretanto, as fricções entre a China e os EUA agravaram-se, face a uma possível guerra comercial e às críticas de Washington à reclamação por Pequim da soberania do Mar do Sul da China.

“Tudo o que os EUA fazem para tentar sancionar a Rússia e restringir a China levam os dois países a elevar a cooperação a todos os níveis”, afirmou Li Xin, director do Centro de Estudos da Rússia e Ásia Central do Instituto de Estudos Estrangeiros de Xangai, citado pela agência Associated Press.

A Rússia e a China alinharam já posições nas Nações Unidas, ao oporem-se a uma intervenção na Síria e anularem tentativas de criticar as violações dos direitos humanos pelos dois países.

Moscovo apoia a oposição de Pequim à navegação da marinha norte-americana no Mar do Sul da China. Ambos os países realizaram já exercícios militares conjuntos, incluindo no Báltico. A Rússia partilhou também com a China alguma da sua tecnologia militar mais avançada.

No nível económico, no entanto, a cooperação segue aquém da cooperação política e no âmbito da segurança. A China é o principal parceiro comercial da Rússia, enquanto a Rússia surge em décimo lugar entre os parceiros de Pequim.

O comércio bilateral fixou-se, em 2017, em 90 mil milhões de dólares.

Em comparação, as trocas comerciais entre Pequim e Washington ascenderam a 636 mil milhões de dólares, no mesmo período, com os EUA a registaram um deficit de 375,2 mil milhões de dólares.

8 Jun 2018

Medicina | Governo prevê 304 residentes formados nos próximos três anos

[dropcap style=’circle’] O [/dropcap] Interior da China é o principal local escolhido pelos residentes para se formarem em Medicina, seguindo-se Taiwan, Hong Kong e Reino Unido. Não há estudantes de Macau em Portugal a frequentar cursos de medicina.

Entre 2018 e 2020, 304 residentes de Macau vão concluir licenciaturas em Medicina. Todos os estudantes estão no exterior, uma vez que no território não existem instituições que disponibilizem este curso. A estimativa, a que o HM teve acesso, é da Comissão de Desenvolvimento de Talentos, com base nos dados referentes ao Subsídio de Aquisição de Material Escolar, compilados pelo Gabinete de Apoio ao Ensino Superior.

Segundo os dados apresentados, este ano vão ser formados 98 médicos, no próximo ano 108 e, em 2020, serão formados mais 98 profissionais. Entre os estudantes de medicina dos três anos, a maior parte está no Interior da China, ou seja 246 em 304, o equivalente a 81 por cento. Seguem-se os estudantes formados em Taiwan, com um total de 38, Hong Kong, 15, e Reino Unido com cinco estudantes. De acordo com a informação do Governo, não há alunos de Macau a estudar Medicina em Portugal.

No que fiz respeito ao período após 2020, os número do Governo não são tão detalhados, mas as estimativas apontam para que sejam formados 126 médicos. Contudo, o facto de serem formados alunos, não significa que estão obrigados a regressar a Macau, podendo optar por continuar a carreira noutras paragens. Também no início do ano, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura tinha afirmado que os Serviços de Saúde iam contratar 63 médicos ao longo deste ano.

73 novos dentistas

No que diz respeito à Higiene Oral, os formados ao longo de três anos serão 73, com 25 a concluírem a licenciatura em 2018, 19 no próximo ano e 29 em 2020. Após 2020, as estimativas do Governo, com base nos estudantes nas instituições de ensino do exterior, são de 32 residentes a concluírem os seus estudos. A maior parte dos alunos está a estudar no Interior da China, havendo também uma pessoa em Portugal, que deve concluir a licenciatura ainda este ano.

Finalmente, no que diz respeito aos Serviços Médicos, constituídos pelos cursos de fisioterapia e terapêutica, reabilitação e regeneração, optometria e nutrição, o número de licenciados nos próximos três anos será de 315 alunos. Neste aspecto, Taiwan é quem forma mais residentes, com um total de 218 estudantes. Já o número de pessoas a frequentar a licenciatura em Saúde Pública, área em que o Chefe do Executivo é doutorado, e que vão terminar os cursos nos próximos três anos é de 36. Entre os alunos que frequentam o curso de Saúde Pública, 16 vão concluir a licenciatura este ano, 11 no próximo ano e nove em 2020. Nesta área, é Taiwan que forma mais profissionais, com 13 alunos, seguindo-se o Interior da China, com 9 alunos, Austrália, com 5, Canadá e EUA, , cada país com quatro, e Portugal, com um aluno que deverá concluir a licenciatura em 2019.

65 alunos de Medicina Tradicional Chinesa

Entre este ano e 2020, 65 residente de Macau vão-se formar em Medicina Tradicional Chinesa, com o pique a ser atingido no próximo ano, quando deverão ser formados 27. Naturalmente, o Interior da China é o principal local de formação, com 61 alunos, seguido por Hong Kong, cujas instituições de ensino são frequentadas por 3 residentes.

8 Jun 2018

Trânsito | Aumento de multas não é consensual

[dropcap style=’circle’] O [/dropcap] aumento das multas que consta da revisão da lei do trânsito rodoviário está a provocar reacções de vários quadrantes da sociedade. A insuficiência de estacionamentos no território e a ausência de outro tipo de medidas para regular os problemas de tráfego são algumas das críticas tecidas por deputados e responsáveis associativos.

Os aumentos das multas previstos na revisão da lei do trânsito rodoviário tem merecido críticas tanto de legisladores como de dirigentes associativos. Uma das vozes descontentes é de Ella Lei que entende que a insuficiência de estacionamentos no território provoca muitos incómodos aos residentes. No entender da deputada, o Executivo não pode aumentar as multas sem melhorar as instalações complementares do trânsito e os serviços de transportes públicos. Numa interpelação escrita, Ella Lei questiona se o Governo vai ter em conta a proporção entre o número total de veículos que circulam no território e os estacionamentos existentes. Ao mesmo tempo, a legisladora ligada aos operários quer saber se o Governo tenciona disponibilizar mais lugares para breve.

O deputado Leong Sun Iok revela que a sociedade está de acordo com o aumento de multas nos actos que coloquem a segurança pública em risco, como condução sob efeitos de droga e de álcool. Mas no entender do colega de bancada de Ella Lei, o aumento das sanções para o estacionamento ilegal não vai contribuir para a diminuição da sinistralidade rodoviária.

O aumento de multas é, para José Pereira Coutinho, uma forma de dissuadir os residentes a usarem os seus veículos. Para o deputado, é uma medida “ridícula” e mostra que o Executivo não tem em consideração os problemas do quotidiano da população.

Por seu lado, Sulu Sou avança na sua contestação à medida a apresentação de números. “Há apenas 51 mil lugares de estacionamento para 123 mil motas”, refere o deputado com mandato suspenso. O pró-democrata recorda ainda que em 2007, quando o Governo elaborou a lei do trânsito rodoviário, o aumento das multas para estacionamentos ilegais gerou reacções de protesto devido à falta de lugares.

 

Associações unidas

Em declarações ao Jornal do Cidadão, o presidente da Aliança de Povo de Instituição de Macau, Lei Leong Wong, critica Governo por recorrer apenas a medidas de carácter económico para resolver os problemas de trânsito.

Para o dirigente associativo, é importante que as autoridades avancem com medidas complementares, e que estas políticas sejam apoiadas pelos cidadãos. Lei Leong Wong apela ao Executivo que ausculte as opiniões da sociedade e tenha em conta a situação actual e futura do tráfego local.

Já Chan Ka Leong, vice-presidente da União Geral das Associações dos Moradores de Macau (Kaifong), considera, em declarações ao Jornal Ou Mun, que se o Governo pretende resolver os problemas no trânsito só através do aumento de multas, os resultados não serão satisfatórios. Além de não resolver qualquer problema, estas medidas vão ainda provocar desconforto na população. O vice-presidente dos Kaifong sublinha que o Executivo deve melhorar os serviços de transportes públicos, planear com eficácia os estacionamentos e garantir as instalações complementares no território.

Nada é definitivo

À margem do debate que teve lugar ontem na Assembleia Legislativa, o secretário para os Transportes e Obras Públicas fez questão de referir que o aumento de multas previsto na revisão da lei do trânsito rodoviário ainda não é um facto consumado. “Aquilo que foi divulgado na conferência de imprensa sobre as multas é uma informação que consta do documento de consulta”, apontou. De acordo com o secretário, a consulta pública faz parte do processo legislativo e pode apontar para modificações da proposta de lei que o Executivo vai elaborar.

8 Jun 2018

Pearl Horizon | Grupo de 27 deputados enviou cartas à Polytex

[dropcap style=’circle’] O [/dropcap] s legisladores continuam a apoiar os promitentes-compradores do empreendimento Pearl Horizon e ontem a empresa Polytex recebeu duas cartas com assinaturas de deputados.

Um total de 27 deputados assinou uma carta entregue à Polytex, empresa responsável pelo empreendimento Pearl Horizon, a exigir a devolução do dinheiro aos promitentes-compradores das fracções. Entre os membros da Assembleia Legislativa, apenas Ho Iat Seng, presidente, Chui Sai Cheong, vice-presidente, Kou Hoi In, Chan Chak Mo, Sulu Sou e Leong Sun Iok não deixaram a sua assinatura no documento.

“Pretendemos que a empresa assuma as responsabilidades no âmbito contratual e resolva o problema dos promitentes-compradores, pagando o que está nos termos legais”, começou por explicar o deputado José Pereira Coutinho, em declarações ao HM.

“Até hoje [ontem] o valor do sinal não foi pago pela Polytex. Eles têm de cumprir as suas obrigações legais e pagar o dobro do sinal. Se já houver contratos-promessa, e presumo que não existam, a Polytex vai ter de assumir as suas responsabilidades e dar uma casa às pessoas”, acrescentou.

O Pearl Horizon era para ser um empreendimento de luxo, que acabou por não ser construído, uma vez que o prazo de aproveitamento do terreno expirou, sem que a obra tivesse sido concluída.

“A Polytex beneficiou muito durante a Administração Portuguesa, conseguiu ‘reinados’ com a promessa de que ia construir edifícios industriais, onde ia colocar fábricas. Foi tudo uma tetra, que está a ser desmascarada pouco a pouco. É uma empresa que ganhou imenso com o ‘açambarcamento’ dos terrenos que conseguiu na Administração portuguesa”, considerou o legislador ligado à Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau.

“A infelicidade dos compradores foi terem confiando num empresa, vista como muito grande. Agora as pessoas estão em dificuldades”, sublinhou.

Por sua vez, a empresa Polytex queixa-se que não teve tempo para finalizar os trabalhos devido aos atrasos do Governo na aprovação das licenças para as obras. Coutinho aponta que mesmo que a empresa tenha razão, que isso não justifica que não assuma as suas responsabilidades.

“Não há contradição porque o que estamos a exigir é que a empresa cumpra as obrigações legais. São obrigações contratuais, que significam o pagamento do dobro do sinal”, apontou.

Segunda carta

Além do documento com 27 assinaturas, houve uma outra carta com o mesmo destinatário, que contou também com a assinatura de legisladores. Neste caso os signatários foram José Pereira Cotuinho, Agnes Lam, Au Kam San, Ng Kuok Cheong e Zheng Anting.

Contudo, já antes do dia de ontem, tinha circulado uma carta entre os promitentes-compradores, enviada pela empresa, que informava as pessoas sobre a existência de um plano para a devolução do dinheiro.

“Estou muito contente com o evoluir da situação por saber que há planos de efectuar os pagamentos”, disse Agnes Lam, deputada, ao HM. Também Coutinho considerou esse facto “positivo”, caso se confirme.

Ainda ontem, um grupo de proprietários entregou uma carta no Banco da China a pedir para suspender o pagamento dos empréstimos para as habitações do Pearl Horizon, até receber o dinheiro da Polytex.

Face a este assunto, José Pereira Coutinho mostrou-se mais cauteloso: “Os montantes eventualmente terão de ser cobrados, mas tudo depende da acção dos accionistas, que podem considerar a situação excepcional”, concluiu o legislador.

8 Jun 2018

Cartas de condução | Reconhecimento mútuo pode estar pronto até ao final do ano

[dropcap style=’circle’] O [/dropcap] s trâmites relativos ao processo de reconhecimento mútuo das cartas de condução entre Macau e o continente podem estar concluídos até ao final do ano, revelou ontem Raimundo do Rosário. O governante apontou ainda que a discussão desta medida, por motivos de princípio, “é embaraçosa” visto ser uma acção que contempla residentes do mesmo país.

O processo relativo ao reconhecimento das cartas de condução entre Macau e a China continental pode estar terminado ainda este ano, de acordo com o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário. “Além dos procedimentos de Macau, há ainda os procedimentos do Governo Central e, portanto, estamos nesta fase da tramitação. Temos quase tudo feito e todas estas coisas têm um conjunto de procedimentos”, referiu ontem o secretário após o debate na Assembleia Legislativa acerca a matéria.

Raimundo do Rosário deslocou-se à casa das leis ontem, pela segunda vez este ano, para a participar no debate proposto pelo deputado Ng Kuok Cheong. No plenário, o secretário revelou que a insistência neste tópico é algo que dá “uma certa vergonha”.

O reconhecimento mútuo das cartas de condução, considerou, não se deve colocar por uma questão de princípio. De acordo com o governante, na abordagem deste assunto é necessário ter em conta duas questões. Uma está relacionada com o princípio subjacente ao reconhecimento das cartas de condução e uma outra referente a uma discussão sobre o que pode ser feito para que esta medida avancem nas melhores condições.

No primeiro ponto, Raimundo do Rosário sente-se constrangido por ser ainda um assunto de discussão. “Até estou numa situação embaraçosa por estarmos a discutir este assunto”, disse o secretário.

Em causa está o facto de se estar a falar de um reconhecimento que abrange a população que faz parte de um mesmo país. “Vejam a bandeira de Macau, da República Popular da China, Macau é China. Os nossos compatriotas têm este direito e com esta medida Macau não está a dar nenhum privilégio a estes compatriotas”, apontou.

No entender de Raimundo do Rosário, se existem 110 países que já assinaram protocolos internacionais para o reconhecimento das suas cartas em Macau, não há razão para que os residentes do continente não o tenham. “Isto é um fenómeno natural e deve ser feito naturalmente”, rematou a este respeito.

Implementação limpa

No que respeita às questões relacionadas com a forma como a medida pode ser implementada para não causar transtornos à população, Raimundo referiu que “há entidades próprias e competentes para resolver eventuais problemas que possam existir no futuro”.

De acordo com a nota justificativa do pedido de debate apresentada por Ng Kuok Cheong, uma das preocupações reveladas prende-se com os turistas do continente. Para o deputado, “se os residentes da China continental puderem conduzir em Macau, milhares de turistas vão fazê-lo”, disse.

O responsável pela Direcção de Serviços para os Assuntos de Tráfego, Lam Hin San, esclareceu este ponto dando como exemplo o que acontece em Hong Kong, região que aplica o sistema de reconhecimento de cartas de condução e que permite aos residentes do continente virem a Macau e usar o procedimento da região vizinha para poderem conduzir no território.

Apesar desta possibilidade já existir, apontou o director da DSAT, não se assistiu ao seu uso em Macau, nem ao consequente aumento de turistas a conduzir no território, pelo que acredita que o mesmo se vai manter. “Hoje em dia, Hong Kong e o continente já têm este procedimento em que 50 milhões de turistas podem reconhecer a carta na região vizinha, entrar cá e conduzir”, no entanto isso não se verifica, explicou.

Por outro lado, a medida tem que ser vista numa perspectiva mútua. Se os residentes do continente podem conduzir em Macau, também os de cá vão poder fazer o mesmo na China, referiu o responsável. Lam Hin San salientou ainda que há, neste momento, 25 mil matrículas duplas no território”. “Este reconhecimento mútuo também facilita muito a vida dos residentes de Macau”, referiu.

Entretanto, em 2017 foram feitos 2500 pedidos por parte de residentes do interior para conduzir no território e até 18 de Abril deste ano, foram recebidos 447 pedidos.

8 Jun 2018

Fundo de Segurança Social | Sustentabilidade assegurada nos próximos 50 anos

[dropcap style=’circle’] N [/dropcap] em hoje, nem amanhã. O Fundo de Segurança Social (FSS) “não vai ter problemas nos próximos 50 anos” – palavra do Governo.

Embora “muitos cidadãos estejam preocupados com a situação [financeira] do Fundo de Segurança Social”, receando ficar privados das prestações no futuro, não há qualquer razão para alarme nos próximos 50 anos. Foi o que garantiu ontem o Governo aos deputados da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas da Assembleia Legislativa (AL).

“O Governo salientou que, nos próximos 50 anos, o Fundo [de Segurança Social] não vai ter problemas”, afirmou o presidente da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas da AL, Mak Soi Kun, após uma reunião com o Executivo, que contou com o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, sobre a situação financeira do Fundo de Segurança Social (FSS) em 2017.

“Foi um ano muito positivo para o FSS”, afirmou Mak Soi Kun, recordando nomeadamente o aumento do montante das contribuições mensais – de 45 para 90 patacas. Segundo os dados facultados, em 2017, as receitas totais do FSS ascenderam a 10,8 mil milhões de patacas; enquanto as despesas totalizaram 4 mil milhões de patacas, das quais 94 por cento destinadas aos pagamento das prestações, resultando, por conseguinte, num saldo positivo de 6,2 mil milhões.

As principais fontes de receita do FSS são as contribuições do jogo (5,5 mil milhões ou 51 por cento do total em 2017) e as verbas do Governo (1 por cento das receitas correntes efectivamente apuradas em cada exercício do Orçamento da RAEM). Já as contribuições (de empregadores e trabalhadores no caso do regime obrigatório; e de participantes individuais no caso do facultativo) e as taxas de contratação de trabalhadores de não residentes foram na ordem dos 700 milhões de patacas. A faltar ficam ainda os rendimentos dos investimentos privados, também analisados.

Segundo o presidente da Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Finanças Públicas da AL, as receitas provenientes dos depósitos bancários foram de 1,1 mil milhões de patacas; enquanto as de aplicações financeiras, descontando as despesas com gestão de fundos, atingiram 3,4 mil milhões. “Assim, as receitas totais dos investimentos em 2017 foram de 4,5 mil milhões”, tendo “conseguido cobrir todas as prestações do FSS”, sublinhou Mak Soi Kun. Até 31 de Dezembro, o valor dos activos líquidos correspondia a 77,4 mil milhões de patacas, pelo que a taxa de retorno foi de 6,4 por cento, um valor que deixou a Comissão “satisfeita”.

“Estes dados demonstram que, nos próximos 50 anos, a situação financeira do fundo é estável” e, “em termos gestão financeira, continua a seguir-se o princípio da prudência no investimento para garantir um desenvolvimento sustentável a longo prazo”, realçou.

Diversificar a carteira

Actualmente, os depósitos a prazo têm um peso de 58 por cento na carteira de investimentos, o que levou os deputados a perguntar por que motivo não há uma maior aposta em aplicações financeiras. Na réplica, o Executivo indicou estar a caminhar-se para equilibrar a proporção.

“Até 2019, estes investimentos vão ser alterados para que a proporção seja de 50-50”, indicou Mak Soi Kun. Em paralelo, em 2016, o Chefe do Executivo, Fernando Chui Sai On, encomendou a uma “instituição especializada um estudo sobre a carteira de investimentos” para “definir uma nova política”, cujo resultado vai ser divulgado “ainda durante o actual mandato”, ou seja, até ao final de 2019.

“A Comissão não perguntou qual a empresa – também não fazia parte da ordem do dia de hoje. Apenas queríamos saber da situação financeira, [porque] estávamos preocupados se [o FSS] consegue pagar aos beneficiários no futuro”. “Quanto custava uma fracção há dez anos e quanto custa agora? Estamos preocupados com a evolução económica de Macau e, de facto, o Governo tem tudo previsto e está a efectuar estudos”, observou Mak Soi Kun.

À luz das previsões, em 2018, o total de beneficiários será de 105 mil, um número que vai ser 1,5 vezes superior dentro de dez anos; pelo que o valor das prestações a pagar vai subir de 420 para 760 milhões de patacas, indicou.

O universo de prestações inclui as pensões para idosos, de invalidez, bem como os subsídios de desemprego, de doença, de funeral, de casamento e de nascimento.

“De acordo com os dados facultados pelo Governo, dentro de 50 anos, o FSS não terá problemas para pagar aos beneficiários, mas haverá um estudo a longo prazo porque o FSS é só um dos mecanismos”, insistiu, dando o exemplo do Regime de Previdência Central Não Obrigatório, que entrou em vigor a 1 de Janeiro último e que figura como o segundo nível do regime de segurança social.

 

8 Jun 2018

APIM | Miguel de Senna Fernandes em silêncio sobre acusações

[dropcap style=’circle’] O [/dropcap] presidente da Associação de Promoção da Instrução dos Macaenses (APIM), entidade que tutela o jardim de infância D. José da Costa Nunes, nada diz quanto a eventuais faltas de pessoal para apoiar crianças com necessidades educativas especiais. Miguel de Senna Fernandes foi ontem ouvido pela DSEJ.

Continua a decorrer o processo de investigação relativo ao caso de alegados abusos sexuais cometidos por um funcionário do jardim de infância D. José da Costa Nunes. Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação de Promoção da Instrução dos Macaenses (APIM), foi ontem ouvido pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ).

“Não faço ideia [de quando o processo estará concluído], esperemos que isso aconteça o mais depressa possível. Tudo vai depender do ritmo da DSEJ e estamos à disposição da DSEJ para tudo o que for necessário. Obviamente, que não posso adiantar nada em nome da confidencialidade.”

Confrontado com as acusações da psicóloga suspensa, quanto aos inúmeros pedidos que terá feito em prol da contratação de mais pessoal, Miguel de Senna Fernandes optou por deixar explicações para outra altura.

“Não vou responder a isso. O que digo é que há um certo exagero nessa história do ‘várias vezes’. Ela sabe porque é que tivemos reticências em aceitar [a contratação de mais pessoas], mas não vou adiantar mais nada sobre isso.”

“São questões que estão dentro do processo de averiguações que está em curso. Não vamos responder sem mais nem menos, mas um dia iremos responder. Achamos que não tínhamos de responder coisa alguma neste momento, mas a tempo próprio iremos fazê-lo”, acrescentou o presidente da APIM ao HM.

Questionado sobre a possível implementação dos planos de intervenção que a psicóloga deixou feitos, Miguel de Senna Fernandes referiu que tudo vai depender da decisão da nova equipa de psicólogos.

“Tudo vai depender da nova equipa, eles melhor saberão se devem ou não implementar esses planos. Não nos cabe a nós decidir se esses planos vão ser implementados ou não, queremos também ouvir essa equipa de conselheiros.”

As mesmas estruturas

Na primeira carta que enviou à direcção da APIM, Goreti Lima descreve o cenário com que teve de lidar quando entraram dois novos alunos que necessitaram de um maior acompanhamento.

“A escola cresceu mas as estruturas são as mesmas e os apoios da APIM são nulos. A falta de comunicação é um problema. O meu departamento é totalmente financiado pela DSEJ/CAPPE, mas as autorizações para a aquisição de material, melhoramento de recursos e até formação profissional é morosa e burocrática – é inaceitável. Como as verbas são bloqueadas e tardiamente libertadas, dificultando ainda mais o decurso do nosso quotidiano.”

Na segunda carta que enviou, a psicóloga continua a defender que está inocente neste processo. “A educadora está em contacto directo com a directora e, aliás, nas reuniões semanais de certeza que relata as situações normais e anormais que acontecem na sua sala. Fiquei descansada, acreditando que o assunto estaria a ser tratado pela escola. Como podem imputar responsabilidades à minha pessoa se a directora da escola já tinha conhecimento dos casos e que estes seriam em número superior ao que tomei conhecimento?”, questionou.

“É do vosso conhecimento que neste ano lectivo estou totalmente concentrada nos casos dos alunos de ensino especial e dos restantes alunos inclusivos, pelo que mesmo que quisesse proceder a um acompanhamento mais dedicado à sala, só o poderia fazer com a instrução da directora – facto que não aconteceu mas que podia ter acontecido a partir do dia 24 de Abril, se tivesse suscitado interesse ou representado uma prioridade para a escola”, acrescentou a psicóloga.

Além disso, Goreti Lima afirma ter estado disponível para prestar declarações para a realização do relatório interno que a escola entregou à DSEJ. Contudo, nunca terá sido chamada. “Demonstro mais uma vez a minha inteira disponibilidade para colaborar na averiguação destes factos, assim como retomar imediatamente o meu posto de trabalho”, conclui.

8 Jun 2018

Goreti Lima, psicóloga suspensa do D. José da Costa Nunes |

Suspensa de funções, Goreti Lima garante que, quando soube dos alegados casos de abusos sexuais a 8 de Maio, tentou agir, mas que a educadora desvalorizou, prometendo-lhe medidas, além de que a directora não lhe deu instruções, apesar de saber do caso desde Abril. A psicóloga, com várias formações na área do autismo, deixou planos de intervenção para funcionários e crianças, a pedido da DSEJ, e acusa a direcção da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses de nunca ter agido para a contratação de mais pessoas

 
[dropcap style=’circle’]Q[/dropcap]uando soube do primeiro caso, a 27 de Março, diz, na carta enviada à APIM, que “se deixou mover pela veemência da educadora”. Mais à frente escreve que houve duas situações, em anos anteriores, em que foi além da educadora e fez queixas directamente à directora. Porque é que não agiu assim desta vez?
Eu dou espaço às educadoras porque eu trabalho em paralelo com elas, não passo por cima delas.

O seu trabalho é então acompanhar crianças com necessidades educativas especiais e não crianças regulares?
Sim. Neste ano lectivo sim, mas não foi sempre assim. A prioridade este ano era dar apoio aos alunos de ensino especial, para os quais a escola não estava preparada. Mas recebemo-los. Quando os pais falam directamente comigo é uma coisa, mas quando reportam directamente à educadora… o que se passa na sala de aula é da sua responsabilidade, não me diz respeito. Neste caso, quando a 8 de Maio soube do segundo caso [de alegados abusos sexuais], e vou para comunicar à directora [Marisa Peixoto], percebo que ela já sabia desde 24 de Abril. Se achava que era necessária a minha presença na sala, aí teria de ser ela a dizer-me para eu parar o meu trabalho e mandar-me para onde achasse necessário.

E isso nunca lhe foi pedido?
Não. Nunca me pediram nada. E só soube do caso a 8 de Maio. Quando soube desse caso conversei com os pais e contaram-me o que se passava. Nessa tarde, os pais da primeira criança falaram comigo e com a directora directamente sobre esse assunto. Aí, disse que já sabia desde a véspera da páscoa [ 26 Março] mas que a educadora me tinha garantido que era mentira, que ia tomar medidas. Disponibilizei-me para falar com os pais, mas a educadora não quis.

Não deveria ter insistido mais?
Tenho as prioridades dos alunos com necessidades educativas especiais. Se uma educadora me diz “aqui não se passa nada, não preciso de ajuda” [não posso fazer nada]. Mas até dei algum apoio no sentido de se fazer um acompanhamento aos pais e às crianças. Dei algumas indicações à educadora, de como se poderiam fazer perguntas e abordar a questão.

Chegou a observar a criança quando soube do caso, a 8 de Maio?
Não. Fizemos a interrupção lectiva a 28 de Março e soube dia 26 do primeiro caso. A educadora veio falar comigo mas disse-me que era mentira e que ele [o suspeito] era incapaz de fazer uma coisa destas. Disse-me que ia tomar algumas medidas, mas não sei que medidas ela tomou. Não sei se falou com a directora. Venho a saber, no dia 8 de Maio, que afinal já tinha falado. Ela é que tem de falar sobre estes assuntos.

Enviou duas cartas, a 14 de Maio e 5 de Junho, à direcção da APIM. Obteve alguma resposta?
Não.

Numa das cartas enviadas diz que não foi questionada para a elaboração do relatório interno.
Nunca prestei declarações. Fui à Polícia Judiciária, fui inquirida como testemunha para a DSEJ [Direcção dos Serviços de Educação e Juventude]. No dia em que o presidente da APIM confirma o caso ao jornal fui contactada por um elemento do Centro de Apoio Psico-Pedagógico e Ensino Especial (CAPPE) para me deslocar à DSEJ. Nessa reunião, disseram-me que tinham conhecimento que a escola ia entregar um relatório e aconselharam-me a anexar uns planos de intervenção para as duas crianças, a sala onde estavam e os pais, além de um plano profundo de formação para professores e a escola. Disseram-me que havia um subsídio que a escola podia requerer para poder fazer estas formações, e percebi que confiavam nas minhas competências para ser eu a avançar com isso. Na semana seguinte percebo, após reuniões de pais, que há alguns encarregados de educação que não confiam no meu profissionalismo. Não os recrimino, porque a direcção da escola pôs-me numa posição que não abona a favor das minhas capacidades.

Deixou estes planos feitos e no dia seguinte foi suspensa?
Não, fui suspensa no próprio dia. Entreguei os dois planos na manhã do dia 17 de Maio e à hora de almoço recebi a carta de suspensão. Eles esperaram que entregasse os planos de intervenção e que o relatório fosse entregue. O que me dá a entender é que, com base nesse relatório, a escola fez as suas averiguações e percebe que eu tenho responsabilidade directa no assunto.

 Que argumentos foram usados para a sua suspensão?
[Pega na carta e lê]. Dizem aqui que a minha atitude “acabou por frustrar as expectativas dos pais na segurança do jardim de infância e impossibilitou a tomada de uma decisão que pudesse, a tempo útil, pôr cobro à situação e evitar a exposição das crianças a casos graves”, e que posso ser acusada de “negligência grosseira”. A directora já sabia desta situação a 24 de Abril e não me deu instruções precisas para eu avançar para este caso. Eu não sabia que ela sabia, só fiquei a sabê-lo no dia 8 de Maio. Parece que aquilo que fiz pôs em risco, de imediato, a segurança das crianças e da escola, mas deixaram-me estar em funções até ao dia 17 de Maio.

E aceitaram os planos de intervenção que elaborou. Acredita que vão ser postos em prática?
Acredito. Os planos de intervenção são de formação, que é uma coisa pela qual me venho a bater há muito tempo. Entreguei um plano virado para todos os funcionários da escola e outro é um programa de intervenção nas áreas sócio-emocionais para os alunos. Era isso que eu podia ter feito se me tivesse alocado para este caso logo em Abril, ou se a educadora me tivesse pedido apoio, o que não fizeram.

Diz nas cartas que a escola não estava preparada para receber crianças com necessidades educativas especiais, e chegou a fazer vários pedidos para que existisse mais formação. A direcção da APIM não fez o suficiente?
A escola tem estado a receber estas crianças com os recursos que existiam, e que existem há vários anos. Estão desactualizados no sentido em que as características que estas crianças apresentam, neste momento, são cada vez exigentes. Temos dois alunos de ensino especial [dentro do grupo de 11 alunos autistas] e foi notório, logo em Setembro, que não conseguíamos dar resposta. Ainda assim, com as condições e os recursos humanos que temos, demos apoio. Éramos três pessoas, uma a tempo inteiro e duas a meio termo. E ainda é assim. Estamos a falar de dois alunos que não conseguem estar sozinhos numa sala com outras crianças e que precisam de alguém que os ensine a ter autonomia. Foi isso que fiz durante este ano.

O que falta ao jardim de infância nesta área que a direcção da APIM não resolveu atempadamente?
Sobretudo, pessoal. Numa reunião que tivemos em Outubro cheguei a pedir mais pessoal, nem que fossem agentes de ensino, pois eu depois dar-lhes-ia formação. Se não havia dinheiro para contratar psicólogos ou técnicos especializados nesta área, eu poderia dar formação a outras pessoas, e assim conseguia resolver essas lacunas.

Que argumentos foram usados para que esse problema nunca tenha sido resolvido?
(Hesita). Diziam-me que era preciso falar com a DSEJ, ou então “temos de ver isso”. Foi sempre uma constante com o presidente da APIM [Miguel de Senna Fernandes].

Isto porque o departamento que coordenava no jardim de infância é totalmente subsidiado pelo Governo. Então qual era o argumento?
O cenário de crianças com necessidades educativas especiais tinha mudado bastante em relação a anos anteriores, tinha-se agravado. Foi por isso que tivemos essa reunião em Outubro. Nunca tivemos resposta da direcção da APIM em relação a isto. Houve situações em que a DSEJ fez contactos directos comigo no sentido de abrir uma sala de ensino especial para o próximo ano lectivo para podermos dar resposta. Preparei todo esse processo. Aparentemente, eu servia para isso e fui válida até ao dia 17 de Maio.

Em Macau a Ordem dos Psicólogos Portugueses não pode actuar e existe apenas uma associação. Era necessário uma entidade que regulasse estas questões?
O que faz falta a todas as escolas de Macau é uma formação para professores e funcionários. No tempo da Vera Gonçalves havia essa formação e eu cheguei a chamar profissionais que conheci em cursos que fiz nos Estados Unidos. E houve cursos dados por mim. Depois as coisas mudaram completamente com a entrada da nova direcção da APIM. Quando houve o afastamento da Vera Gonçalves deixou de se investir em formação de pessoal. Até o processo de recrutamento de educadores e agentes de ensino antes era diferente.

Como explica essa falta de investimento?
Não tenho resposta. Falta de financiamento não deve ser, porque eu desempenhava estas funções enquanto funcionária da escola, muitas vezes com horas extra que me eram pagas. Talvez falta de sensibilidade ou conhecimento, não sei.

A escola sofreu com as várias mudanças de direcção que decorreram?
Sofreu, porque cria-se sempre alguma instabilidade. Houve uma alteração no estilo de gestão, e com a Vera Gonçalves todos éramos implicados nas reuniões da escola.

E agora há falta de comunicação?
Eu ainda não tive nenhuma comunicação com a direcção em termos oficiais. Ainda não fui a uma única reunião pedagógica este ano. Não fui convocada, e supostamente realiza-se uma reunião por mês.

Está a ser realizado um processo de recrutamento. Mas, ainda assim, gostava de voltar à escola. Sabe quando termina o seu prazo de suspensão?
Não, nunca fui informada de nada. Recebi esta carta a 17 de Maio e nunca mais houve nenhum contacto, nem da parte da direcção da escola ou da APIM. Antes também nunca houve, desde Outubro não voltei a reunir com ninguém sobre assunto nenhum. Quero voltar à escola porque tenho um projecto a desenvolver e quero continuar o trabalho com os alunos inclusivos. Só isto demonstra a falta de sensibilidade ou o desconhecimento quanto às práticas mais correctas para lidar com estas crianças.

Faz também uma crítica à direcção da APIM, nestas cartas, quanto à sua actuação com os pais. Acha que houve má gestão do caso?
Acho que quem esteve presente na reunião geral de pais percebeu que eles não estavam minimamente preparados para responder às questões que os pais tinham. Na reunião que houve com os pais da sala em questão, fui a única pessoa que tirou notas porque achei importante as sugestões que estavam a ser feitas, e as mudanças que queriam ver na escola.

Quais eram?
A questão de definir as tarefas de cada funcionário e que fosse algo claro para todos, para não haver sobreposição. Reuniões em que as pessoas pudessem comunicar umas com as outras, para haver uma partilha do que contam às educadoras, para que estas pudessem fazer chegar esta informação a quem de direito. Questões sobre modelos de aprendizagem, também. Percebi que uma das coisas que podia correr melhor era a questão do pessoal. Demasiadas coisas aconteceram por causa disso. Era uma questão de muito volume de trabalho além do que as pessoas poderiam suportar. Há crianças a mais com necessidades específicas para o número de educadoras ou para a qualidade de formação de alguns funcionários. Os agentes de ensino fazem o que podem com aquilo que sabem. Quero que se mantenha o nível de qualidade que a escola tinha, pelo menos até à entrada desta nova direcção da APIM.

Acredita que o caso vai mexer com a imagem da escola?
O caso foi muito chocante para todos nós e para a comunidade inteira, mas, apesar de tudo, isto deve mexer com todas as escolas em Macau, com as famílias e com todos nós. É importante que demos voz às crianças e que elas sejam a prioridade.

8 Jun 2018

Cloee Chao volta a pedir bónus para funcionários dos casinos

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] presidente da Associação Novo Macau para os Direitos dos Trabalhadores do Jogo, Cloee Chao, entregou ontem uma carta na sede do Executivo onde exige que as operadoras de jogo atribuam bónus aos trabalhadores dos casinos. A responsável, a trabalhar como croupier, lembrou que as receitas brutas dos casinos de Maio chegaram às 25,4 mil milhões de patacas, um valor que representa um crescimento de 12,1 por cento em relação ao período igual do ano anterior, de acordo com os dados oficiais.

Contudo, a presidente da associação lamenta que, apesar desse aumento dos lucros, as regalias dos funcionários tenham vindo a decair nos últimos anos. “Em 2014, as operadoras anunciaram a atribuição de um bónus, equivalente ao 14º salário. Este ano, já estamos em Junho e ainda não houve divulgação do bónus relativo ao mês de Julho.” Cloee Chao teme que o bónus possa ser anulado a partir deste ano.

Na carta que entregou na sede do Governo, a dirigente associativa dá conta dos receios dos trabalhadores quanto à possibilidade das suas regalias terem diminuído nos últimos anos devido a falhas de gestão do Executivo.

“Como o negócio do jogo é concessionado pelo Governo, as autoridades têm a obrigação de fiscalizar as operadoras, nomeadamente quanto às promessas que foram feitas”, frisou.

Entretanto, a Sands China anunciou ontem a atribuição de um bónus aos funcionários “qualificados” a 31 de Agosto, equivalente a um mês de salário e com o limite de 50 mil patacas. A operadora disse ainda, segundo o canal chinês da Rádio Macau, que a grande maioria dos trabalhadores será beneficiada com esta medida.

7 Jun 2018

Gente de Jun(h)o

[dropcap style≠‘circle’]É[/dropcap] nesta melancólica tarde chuvosa de quarta-feira, dia 6 de Junho, que me apetece dissertar sobre o dia de Portugal, que se assinala no próximo Domingo, e sobre a portugalidade em geral, e como a sentimos deste lado do mundo. E chuva é mesmo aquilo que nos espera neste mês de Junho; se os Waterboys uma vez escreveram que “December is the cruelest month”, e porque nunca passaram por um Junho em Macau.

Somos portugueses (somos!), e amamos Portugal (amamos!), assim como nos sentimos no direito, e na obrigação de sentir a dor que sente o nosso povo, lá a 10 mil quilómetros de distância, assim como partilhar das suas alegrias. O que é que nós somos? (portugueses!). Contudo, é difícil para nós exercer aqui a portugalidade. Não faltam as boas intenções, a palmadinha nas costas do compatriota (e aqui há-os de todas as origens), e o mais elementar protocolo, sempre com a empatia quer do governo local, quer das restantes comunidades, tanto lusófonas, como as de outras expatriados. E pronto, bate-se a pala, iça-se a bandeira, “toca suíno”, então o que nos faz falta?

É a tal da distância, sim. Que coisa de um raio. E o clima, não posso deixar de insistir. Uff. É frustrante realizar um arraial de S. João à chuva, com a dita a bater na fatia de pau onde jaz a sardinha. E que festa é esta, em que tem que se andar a tapar a sangria. Há uma expressão local (ou fui eu que inventei, que não me recordo) que diz que “o S. Pedro não colabora com o S. João”. Eu até achava giro, se não fosse tão trágico. Até a habitual “ida ao pastel”, na residência do cônsul-geral, no idílico Hotel Bela Vista, peca pela roupa colada ao corpo, do suor da humidade, e não raras vezes o tal S. Pedro decide também lançar uma descarga. Deve andar irritado com os dragões que vão deslizando estes fins-de-semana nos lagos Nam Van.

Estamos longe e temos saudades sim. Por muito que nos tentemos desligar, há sempre ali um bocado de nós, que ora já existia, ora desponta subitamente como o botão de uma linda flor. Fazem-nos falta as noites sem fim, o bradar dos tambores, a alegria das nossas gentes. Pouco depois disso estamos lá, é verdade (alguns de nós, os que insistem em ir…), e este 10 de Junho e todo o arraial que se segue são apenas os preliminares. Um feliz Dia de Portugal para todos.

 

PS: Queria aproveitar, porque ainda não o fiz, para mandar um grande abraço e um muito obrigado ao cônsul-geral de Portugal, Vítor Sereno, que se encontra prestes a terminar a sua missão no território. Muitas felicidades, é o que lhe desejo, esteja onde estiver. Touché-sai.

7 Jun 2018

Franguinho no churrasco

03/05/18

Há gente que sabe aproveitar todas as oportunidades para se mostrar inconveniente. Como aquele padre que em todos os enterros improvisava em torno de um tema que só ele considerava fascinante: a história do ataúde, desde os sumérios até hoje. Como o presidente do Sporting, que se julga o criador do Jurássico Parque; como Hércules, que desflorou numa noite as 50 filhas de Téspio, sem que nenhuma delas tenha gozado; como o chato que apareceu na Feira do Livro e que me exigia a oferta de um livro em memória de uma bebedeira acontecida há trinta anos, o mesmo tempo há que não o via.

Escrevo esta crónica depois de o ter tido de aturar meia hora até que o mandei às favas.

E aproveito o incómodo para contar como esta feira do livro de Lisboa me entristeceu pelo excessivo número de stands e de promoções onde se “liquidam” livros – de um euro a cinco.

Excelente para o leitor que sou, pois com 50 euros compro uma dúzia de livros de arromba, mas deprimente como sintoma do que se passa na área dos livros.

Dia 31 fiz a apresentação de um livro de Carlos Alberto Machado, Puta de Filosofia.

Um senhor policial com feroz incidência política e onde, sobretudo, se cria uma personagem, coisa mais rara do que se crê.

Foi porém descoroçoador constatar – sabendo que o Carlos, como responsável pela Companhia das Ilhas, já editou mais de cem autores, e soma como autor inúmeros livros, entre os quais uma colectânea de poesia na Assírio e Alvim com excelente fortunata crítica – que ele veio da ilha do Pico, onde vive, para a Guilherme Cossoul para lançar o seu livro face a 7 pessoas presentes na sala, sendo que duas lá aterraram porque me queriam ver.

Há algo que está realmente doentio na esfera da literatura e da sua recepção.

Depois, a explosão de pequenas editoras com tiragens diminutas é simultaneamente salutar e um sinal de tribalização preocupante. A cidade está dividida, o meio literário está pulverizado, as leituras andam dispersas. Cada um fica com os seus e uma perspectiva geral afunda-se.

Contaram-me que ia para guilhotina a biografia de Alexandre O’Neill da Maria Antónia Oliveira, editada pela Don Quixote.

Espero que seja falso.

Seria outro péssimo sintoma. Se nem já o O`Neill atrai leitores apetece deitar a toalha ao chão.

O que é facto é que os média ajudam este estado das coisas: uma má comédia, um mau filme, uma má exposição de pintura, despertam sempre a atenção da imprensa. Um livro quase nunca.

Quem deu conta da nova edição de poemas de Carl Sandburg, com versões de Vasco Gato a juntarem-se às de O’Neill  da livraria-editora Flâneur? Como é que ainda não esgotou?

Quem topou a edição do belíssimo texto de Paul Auster, Espaços em Branco, com uma boa tradução de Maria da Conceição Sendas, da (não) edições?

Foram devidamente celebrados os últimos livros de Alberto Pimenta, na Pianola, uma figura absolutamente central em quarenta anos de experimentalismo literário e um pensador sobre literatura com poucos émulos à altura em Portugal?

Já se falou sobre a tão “extravagante” como bela aventura editorial da Livros de Bordo, da Maria João Belchior, uma editora devotada à divulgação da cultura do Oriente? Vá lá, saiu uma referência no Diário de Notícias. Já nem se pede que se leia Wenceslau de Moraes e O Bon-Odori em Tokushima, que há meio século estava esgotado, experimente-se a História dos Mongóis aos Quais Chamamos Tártaros, de Carpini.

A cultura definitivamente só é encarada como divertimento. É o franguinho no churrasco no reino do comissariado político.

 

04/05/18

A propósito, o O’Neill, este esteve sempre mais próximo das safadezas de Dada que da propensão oracular de algum Surrealismo, e fazia do riso uma arma com que desmontava as ilusões da teleologia poética. O seu é um riso que afirma, ou, antes, que desactiva pela afirmação uma energia reactiva, pelo que também não hesita em explorar todas as ambivalências, mesmo quando se articulam de forma desconstrutora.

Peguemos numa das suas facécias mais conhecidas:

 

O GRILO

O grilo

não só de ouvido

eu cri-qu´ria sabê-lo

não só de gaiola cati

vá-lo mas dáctilo

grafá-lo copiar

seu abc de pobre

 

o poema começa por ser “um achado tipográfico” que desenha meia gaiola – a outra metade desenha-o a imaginação do leitor. Depois traslada a natureza para a linguagem pela metamorfose aliterante do vocábulo «grilo» em «grafá-lo». Segue-se que, no próprio coração do texto/gaiola, o poema em vez de falar da linguagem do grilo, encarna-a: cri-qu´ria-a.

Isto é, inclusive quando parece retirar à poesia a ganga romântica, dessublimando-a, o poema acaba por cumprir um dos desideratos românticos: nomear as coisas que se amam com a linguagem das coisas que se ama.

E temos, à vez, riso, experimentalismo, ludismo… mas também, a contrapêlo: celebração e elegia.

Só há uma forma de agirmos em vez de sermos agidos pela cultura que nos condiciona as virtualidades da deliberação: é apoderarmo-nos o mais profundamente de todas as suas florações até que, pela comparação e o diferimento, possamos potenciar uma distância crítica; visto não haver quaisquer hipóteses de nos ser devolvida a idade da inocência, a subtracção agramatical.

7 Jun 2018

China | Resgatados 23 mineiros após explosão que fez 11 mortos

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m total de 23 trabalhadores foram resgatados com vida após uma explosão numa mina de ferro, na província chinesa de Liaoning, no nordeste do país, que fez pelo menos 11 mortos, noticiou ontem a imprensa estatal.

A explosão ocorreu na terça-feira às 16h10 à entrada da mina, na cidade de Benxi, depois de os mineiros atirarem explosivos pelo poço da mina, a cerca de mil metros de profundidade, indicou a agência noticiosa oficial Xinhua. A detonação destruiu o sistema de elevação da mina e deixou 25 mineiros presos, a maioria dos quais foi resgatada durante a madrugada de ontem. As equipas de resgate continuam a tentar localizar os restantes mineiros.

Todos os mineiros resgatados não estão em perigo de vida, apesar de cinco deles terem ferimentos graves e estarem a receber tratamento hospitalar, segundo a Xinhua, que citou as autoridades locais.

No ano passado, morreram 375 pessoas em 219 acidentes em minas na China, segundo dados oficiais, o que faz das minas chinesas, sobretudo as de carvão, das mais perigosas do mundo. No início da década passada, o número de mortos em acidentes em minas chinesas chegou a atingir os sete mil por ano.

Cerca de dois terços da energia consumida no “gigante” asiático é produzida através da combustão de carvão.

Muitos acidentes ocorrem em depósitos que operam ilegalmente e não colocam em prática medidas de segurança básicas.

7 Jun 2018

Site disponibiliza informações de locais “amigos das tatuagens”

[dropcap style≠‘circle’]U[/dropcap]m novo site japonês disponibiliza informações sobre banhos termais e praias que permitem a entrada de pessoas com tatuagens no corpo, algo raro num país onde as tatuagens ainda são, muitas vezes, associadas à máfia. A página “Tattoo Friendly” pretende ser uma referência para turistas estrangeiros tatuados que querem ir a hotéis, spas, ou piscinas no Japão, entre outros locais públicos, onde normalmente há restrições de entrada às pessoas com tatuagens.

A ideia surgiu porque “a comunicação é difícil devido à língua” e desta forma os turistas podem “aceder a novos conteúdos”, afirmou o criador do site, Miho Kawasaki. O responsável da “Tattoo Friendly” disse ainda não fazer sentido continuar a aplicar medidas “rígidas e restritivas” contra as tatuagens por causa da associação das tatuagens a grupos criminosos, como a ‘yakuza’ (máfia japonesa).

O site, lançado em inglês a 28 de Maio, já registou mais de 10.000 visualizações e permite aos utilizadores verem o mapa do arquipélago japonês e verificar as regras de acesso relacionadas com a permissão de tatuagens em vários tipos de estabelecimentos.

Kawasaki quer combater os preconceitos e, desta forma, evitar situações difíceis para os turistas, quando confrontados com a proibição de entrada nos locais.

Mais de metade dos estabelecimentos termais e banhos públicos no Japão não permitem tatuagens, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Governo nipónico em 2015.

7 Jun 2018

Airbnb suspende grande maioria dos anúncios no Japão

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] plataforma de arrendamento turístico Airbnb suspendeu ontem a grande maioria dos anúncios no Japão devido a uma nova lei imposta pelo Governo nipónico, que entra em vigor na próxima semana, para supervisionar a actividade.
Os proprietários que queiram arrendar as casas através desta plataforma têm de se registar junto das autoridades, um procedimento que muitos ainda não fizeram. Além deste procedimento administrativo, a lei impõe várias restrições, como a limitação do período de arrendamento a 180 noites por ano por habitação.
A cidade de Kyoto decidiu que só vai permitir arrendamentos deste tipo em áreas residenciais entre meados de Janeiro e meados de Março, ou seja, fora da temporada turística. Em Tóquio, muitos distritos, como Shinjuku, também tomaram medidas deste tipo.
“Neste fim de semana, entrámos em contacto com aqueles que ainda não se registaram e informámos os proprietários que não podem arrendar as casas”, a partir de 15 de Junho, quando a lei entra em vigor, afirmou o porta-voz do Airbnb para a região da Ásia Pacífico, Jake Wilczynski.
O representante da Airbnb não indicou o número de utilizadores da plataforma que vão ser afectados, mas os ‘media’ locais informaram que cerca de 80 por cento das mais de 60.000 residências registadas vão ter de encerrar.
“Estamos no caminho certo para registar dezenas de milhares de novos anúncios no Japão nos próximos meses”, disse Wilczynski.
O número de turistas no Japão tem vindo a aumentar ao longo dos anos e em 2017 o arquipélago recebeu quase 29 milhões de turistas. As autoridades esperam atrair 40 milhões de visitantes estrangeiros em 2020, ano dos Jogos Olímpicos de Tóquio.

7 Jun 2018

Regulador encerra pela primeira vez um operador de moeda virtual no Japão

O regulador japonês do sector de criptomoedas vai retirar, pela primeira vez, a permissão de operação de uma correctora de moeda virtual por violação de regulamentos, anunciaram os ‘media’ locais

 

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] agência de serviços financeiros do Japão (FSA) decidiu rejeitar o pedido de registo da correctora de criptomoedas FSHO, fundada em 2014, o que na prática significa que vai ter de cessar a atividade. O regulador nipónico tomou esta decisão depois de concluir que a FSHO não aplica os protocolos necessários para verificar a identidade dos utilizadores, de acordo com o jornal económico Nikkei.

Esta é a primeira vez que a FSA nega permissão a uma casa de câmbio digital de poder operar, embora no passado já tenha suspendido outras empresas do sector. A FSHO já tinha sido advertida em Março, sendo mesmo forçada a suspender temporariamente a actividade. Esta penalização foi prorrogada em Abril porque a operadora continuou a não aplicar os requisitos de transparência destinados a impedir o branqueamento de dinheiro ou outros crimes financeiros.

 

Regulador atento

As autoridades japonesas intensificaram a vigilância deste mercado no país, na sequência de um ataque informático e consequente desaparecimento de 523 milhões da divisa virtual NEM, cujo valor total ascendia a 58 mil milhões de ienes (430 milhões de euros), na maior casa de câmbio de criptomoedas no país, Coincheck.

Em 2014, o Japão foi palco do escândalo Mt.Gox, na altura a maior casa de câmbio de criptomoedas, que faliu após o desaparecimento de 850 mil unidades de Bitcoin, num valor estimado de 48 mil milhões de ienes (368 milhões de euros).

O Japão é o segundo maior mercado mundial deste tipo de divisas e, em Abril último, passou a ser o primeiro país a reconhecê-las como forma de pagamento e a estabelecer requisitos legais para que as casas de câmbio possam operar de forma segura e para prevenir delitos como o branqueamento de capitais.

7 Jun 2018

Ébola | Governo chinês envia médicos e vacina para República Democrática do Congo

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]equim enviou esta semana uma equipa de médicos chineses para a República Democrática do Congo com uma vacina produzida na China para ajudar na luta contra o ébola, informou ontem o jornal oficial em língua inglesa China Daily.

A equipa, composta por quatro especialistas em saúde pública do Centro Chinês de Controlo e Prevenção de Doenças (CCDC, na sigla em inglês) e sete de outras instituições, incluindo a Academia de Ciências Médicas Militares, vai avaliar a situação e ajudar no combate ao vírus. Os especialistas vão permanecer no país durante um mês, segundo o plano inicial, afirmou Gao Fu, director do CCDC, citado pelo China Daily.

A vacina, desenvolvida em conjunto pela Academia de Ciências Médicas Militares e a CanSinobio, empresa chinesa encarregue do desenvolvimento e produção de vacinas, foi aprovada em Outubro passado pelo regulador chinês para os medicamentos. A China torna-se assim o terceiro país, a seguir aos Estados Unidos e Rússia, a conceber uma vacina para combater o ébola.

A taxa de mortalidade do vírus está fixada entre 25 e 90 por cento, segundo a Organização Mundial de Saúde.

O ministério da Saúde da República Democrática do Congo (RDCongo) contabilizou até Sábado 25 mortes por ébola em 53 casos confirmados ou suspeitos. A epidemia teve início a 8 de Maio em Bikoro, junto à fronteira com a República do Congo, 600 quilómetros ao norte de Kinshasa, capital da RDCongo, e atingiu também a cidade de Mbandaka, com 1,2 milhões de habitantes.

Trata-se da nona vez que a RDCongo é atingida por uma epidemia de Ébola desde o surgimento da doença no território deste país da África Central em 1976.

7 Jun 2018

Facebook partilhou dados de utilizadores com grupo Huawei

O Facebook admitiu ontem ter partilhado dados de utilizadores com quatro empresas chinesas, incluindo o grupo de telecomunicações Huawei, que Washington considera uma ameaça à segurança nacional, agravando a pressão sobre a política de privacidade da empresa

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s fabricantes chineses Huawei, Lenovo, OPPO e TCL estão entre as empresas com quem o grupo partilhou dados, de forma “controlada”, admitiu o vice-presidente do grupo Francisco Varela, em comunicado. A partilha fazia parte de um acordo entre o Facebook e os fabricantes para facilitar o acesso dos utilizadores aos serviços da rede social. A nota surge após uma investigação do jornal The New York Times ter revelado que o Facebook estabeleceu acordos com 60 fabricantes de dispositivos móveis, que tiveram acesso, sem o consentimento explícito, a vários dados pessoais dos utilizadores, como religião, tendências políticas, amigos, eventos e estado civil.

O Huawei esteve sob investigação pelo Congresso dos Estados Unidos, que num relatório de 2012 considerou que a firma tem uma relação próxima com o Partido Comunista Chinês.

Agências governamentais e o exército norte-americano baniram recentemente telemóveis fabricados pela Huawei devido a questões de segurança. “Queremos clarificar que toda a informação partilhada com o Huawei foi armazenada nos dispositivos e não nos servidores do Huawei”, afirmou Varela.

“Justo e transparente”

Em Abril passado, Zuckerberg esteve no Congresso norte-americano para testemunhar no caso que envolve a empresa Cambridge Analytica, que usou, indevidamente, dados de 87 milhões de utilizadores do Facebook. Em Maio, Zuckerberg foi ouvido no Parlamento Europeu e pediu desculpa pelo uso indevido de dados pessoais dos utilizadores.

A Huawei tem escritórios em Lisboa, onde conta também com um centro de inovação e experimentação. Segundo a AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal), desde 2004, a firma chinesa investiu 40 milhões de euros em Portugal.

O Governo chinês pediu ontem aos Estados Unidos que facilitem “um ambiente justo e transparente para que as empresas chinesas operem e invistam”, em resposta à denúncia de acesso a dados do Facebook por grupos tecnológicos chineses.

A porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Hua Chunying, disse em conferência de imprensa que o ministério não comenta o caso, por se tratar de “cooperação entre empresas privadas”, mas insistiu na necessidade de que os EUA tratem de forma justa e transparente as firmas chinesas.

7 Jun 2018