Doca dos Pescadores | Dezoito turistas feridos em acidente

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m total de 18 turistas ficou ferido no sábado, após um acidente de viação que envolveu dois autocarros turísticos e um ligeiro de sete lugares. A colisão aconteceu na Avenida da Amizade, à frente da Doca dos Pescadores, e os envolvidos que necessitaram de ser transportados para o hospital já tiveram alta.

O choque terá acontecido quando o condutor da viatura privada tentava evitar atingir as pessoas que atravessavam a passadeira e acabou atingido por trás por um dos autocarros. Por sua vez, o condutor do segundo autocarro não conseguiu evitar a colisão, acabando por acertar, também por trás, no outro veículo pesado.

Segundo a informação das autoridades, os 18 feridos são todos do Interior da China e têm idades entre os 25 e 68 anos. Entre as pessoas transportadas para o Serviço de Urgência do Hospital Conde de São Januário, apenas uma era do sexo masculino.

O caso mais grave aconteceu com uma turista do sexo feminino, a quem ainda foi feita uma radiografia ao crânio. No entanto, os resultados não mostraram qualquer anormalidade pelo que a pessoa encontrando-se em “estado clínico considerado bom” não necessitou de ser internada e teve alta clínica no sábado. Além das queixas ao nível da cabeça, a pessoa em causa sofreu um corte no braço direito.

Os restantes turistas tiveram lesões mais leves, com hematomas e cortes superficiais. Segundo as autoridades todos tiveram “alta após tratamento e exames”.

O acidente aconteceu mais de um ano depois do acidente na Rua de Entena. Na altura o condutor do autocarro turístico esqueceu-se de travar a viatura, e o veículo embateu num edifício. Na altura, 32 pessoas ficaram feridas, das quais uma turista ficou em estado muito grave com lesões na cabeça.

13 Nov 2017

Mar do Sul da China | Trump oferece-se para arbitrar disputas

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ofereceu-se para ser mediador nas disputas territoriais no Mar do Sul da China, num encontro com o Presidente do Vietname.

Trump disse a Tran Dai Quang que tinha conhecimento da disputa do Vietname com a China sobre as águas estratégicas, e sublinhou ser “um muito bom mediador e muito bom árbitro”, disposto a ajudar.

O Presidente norte-americano falava com o homólogo vietnamita no início dos seus encontros em Hanoi. Trump disse que a Coreia do Norte “continua a ser um problema” e espera que o Presidente chinês Xi Jinping seja “uma tremenda ajuda”, bem como a Rússia.

O Governo chinês reivindica a quase totalidade do Mar do Sul da China, incluindo zonas perto das costas do Vietname, Filipinas, Malásia, Brunei, Tailândia, Camboja, Birmânia, Laos, Indonésia e Singapura.

Nos últimos anos, Pequim reforçou a presença neste mar estratégico através da construção de ilhas artificiais que podem ser usadas como bases militares, apesar de o tribunal internacional de Haia ter considerado as reivindicações marítimas chinesas ilegítimas.

Trump e Quang falaram brevemente aos jornalistas após a chegada do chefe de Estado norte-americano ao palácio presidencial em Hanoi, com Trump a prometer “uma tremenda quantidade de comércio” com o Vietname, envolvendo “milhares de milhões” de dólares.

O Presidente norte-americano está no Vietname no âmbito de uma viagem asiática. No final do dia de ontem deslocou-se às Filipinas, o último destino do périplo.

Questão coreana

Donald Trump, afirmou também que o seu homólogo chinês, Xi Jinping, aceitou endurecer as sanções contra a Coreia do Norte em resposta ao programa nuclear de Pyongyang.

“O Presidente chinês Xi declarou que reforçou as sanções contra [a Coreia do Norte], escreveu Trump na rede social Twitter, a partir de Hanoi.

Durante a sua passagem, na quinta-feira, por Pequim, o Presidente norte-americano instou Xi Jinping a aumentar a pressão sobre o regime norte-coreano que realizou em Setembro um novo teste nuclear.

“A China pode resolver este problema facilmente e rapidamente”, afirmou.

Noutra publicação no Twitter, o Presidente norte-americano evocou directamente o dirigente norte-coreano: “Porque é que Kim Jong-un me insulta chamando-me ‘velho’, quando eu NUNCA o chamei de ‘pequeno e gordo?’ Bom, eu tento tento ser amigo dele – e talvez um dia isso vá acontecer!”.

Trump abordou também na rede social a questão da Rússia, criticando os “‘haters’ e os imbecis”, após uma troca de palavras com Putin.

“Quando é todos os ‘haters’ e imbecis vão perceber que ter uma boa relação com a Rússia é uma coisa boa, não é uma coisa má? Estão sempre a fazer jogo político – mau para o nosso país. Quero resolver a Coreia do Norte, Síria, Ucrânia, terrorismo, e a Rússia pode ajudar muito!”, escreveu.

No sábado, Donald Trump garantiu que Vladimir Putin negou as acusações de interferência russa na campanha eleitoral norte-americana, depois de os dois se terem encontrado no Vietname.

Horas depois destas declarações, a CIA reafirmou as acusações contra a Rússia, explicando que a conclusão a que tinham chegado sobre essa interferência não tinha mudado.

13 Nov 2017

Cliché

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]ermitam que me apresente: A iniciativa insere-se na construção da Grande Baía, tendo em conta a interligação entre as municipalidades do Pan-Delta do Rio das Pérolas e partindo da plataforma institucional nascida da política “Uma Faixa, uma Rota”, apenas possível graças à soberana e quimérica filosofia “Um País, Dois Sistemas”. Para tal, é necessário prosseguir a edificação da Cidade Inteligente, recorrendo ao precioso auxílio da eterna busca de talentos locais no contexto da consagração do grande Centro Galáctico do Turismo e Lazer. Afinal de contas, esta é a Cidade Criativa onde impera Amor, Paz e Integração Cultural, a consagração da harmonia pela via da máxima “Macau, o Lar Feliz e Sadio”, um conceito inspirado na “família” Manson.

Esqueçam a diabolização dos TNRs, a Internet que faz lembrar tempos jurássicos do Imperador Napster, o taxista que se transforma no Hulk ao ouvir uma palavra em inglês, as fronteiras que encerram cada um dos três pontos da Extraordinária Baía e a faixa que apenas serve para privatizações longe da plataforma giratória. Não liguem aos dois sistemas que emulam a história de Caim e Abel, o centro internacional que vive exclusivamente à sombra periférica do vizinho próximo, ou a diversificação económica que tenta esconder a essencial homogeneidade da mesa de jogo.

No Reino do Cliché a realidade é uma questão de perspectiva. Aqui o significado encontrou o maior e mais irresistível sono no fundo do Rio das Pérolas, jaz nas profundezas, vazio de conteúdo, intencionalmente desenhado para ser impossível de interpretar.

Sou o lugar-comum, a materialização da linguagem vaga, oca, que enche as bocas dos políticos que nada de valor têm para dizer. Sou o grande Kalahari de definições, a triste aridez onde a vida não tem como prosperar, sou o diabólico marketing linguístico que reduz tudo a pó. Quando me entoam empresto vã solenidade aos que se socorrem de mim, atribuo ares de cerimónia protocolar à aniquilação do esclarecimento.

Todos os dias assassino a comunicação, nada germina em meu redor, nada resta depois de salgar o solo onde se deviam cultivar viçosos argumentos. Sou a vitória do niilismo, sou a inexistência que atormenta filósofos, poetas, bêbedos sem mais um centavo no bolso para transformar liquidez em líquido. Sou o nada mais palavroso de que há memória, o tormento conceptual, a morte trazida por bombas de palavras nucleares, vectores de trajectória descendente em direcção ao alvo entendimento. Sou a anti-resposta, a inconsequência, trago o crepúsculo da resolução, tenho orgulho em ser o maior inimigo da acção, o mais eloquente fardo de palha.

Por mim nada passa porque sou indefinível, uma abstracção de bloqueio para que nada mude, sou inércia e letargia oratória. Sustento o conservadorismo de quem se senta nas cadeiras do poder com jargões vazios, actuo como uma muralha de pomposa protecção verbal erguida entre governantes e governados. Enunciem-me como uma oração e proteger-vos-ei do claro e esclarecedor debate com uma mordaça de fogo.

Do alto da minha torre de marfim proclamo o início do “Grande Bastião das Maravilhas”, uma política só alcançável uma vez concretizado o “Rumo para a Perfeição”. Em termos económicos devemos prosseguir a máxima “Um Cidadão, Um Maserati”, enquanto que na área da saúde deve ser dada prioridade ao objectivo “Alegre Caminho para a Imortalidade”.

Tudo prometo e pouco concretizo. Sou o chavão que faz correr vermelho sangue das sílabas, enquanto o excedente de significado se derrama em direcção ao esquecimento. A minha pena serviu para a linguística e a verdade assinarem um pacto suicida por se terem tornado obsoletas, um vestígio arqueológico de uma Era passada.

Sou a mão firme da linguagem que irrompe entre as nuvens e desce até nós ostentando um vigoroso dedo do meio erigido para quem procura resposta, resolução. Sou todo este rol de clichés, o orgulhoso assassino da razão.

13 Nov 2017

La grande bouffe

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma a uma, as estrelas de Hollywood têm vindo a cair dos pedestais olímpicos para onde foram catapultadas pela legião de fãs que o cinema de entretenimento granjeia. Correcção: os homens de Hollywood. O escândalo em redor da figura tentacular de Harvey Weinstein, um dos produtores mais bem-sucedidos da indústria, abriu as portas do sótão para onde a elite de Hollywood estava acostumada a atirar os escândalos que pudessem colocar em risco as fundações e a sobrevivência da indústria.

As denúncias têm vindo a crescer de forma exponencial, e até os tipos mais consensualmente simpáticos como, por exemplo, o comediante Louis CK, não lograram escapar à enxurrada de denúncias que dia após dia fazem as primeiras páginas dos jornais. As perguntas que toda a gente faz, mesmo que não as verbalize, são: Quando é que isto vai parar? Quem é o próximo.

Na verdade, a exposição deste comportamento aparentemente transversal às diversas áreas da indústria de entretenimento peca apenas por tardio. Inúmeras denúncias morreram na praia das redacções dos jornais, muito graças à proximidade cúmplice entre media e actores, realizadores e restantes elementos da engrenagem de Hollywood e também devido à acção concertada de uma espécie de mordaça colectiva, composta pelos mais diversos elementos que, por meio de chantagem ou de ameaça pura e simples, reduziam às denúncias a rumores maledicentes e infundados e deturpavam a lógica da acusação, transformando a vítima numa espécie de predador movido pela inveja e pela sede de fama.

A direita americana não perde pitada da novela. Críticos das instituições culturais em geral e do mundo das celebridades em particular, os media mais próximos da actual administração americana saltaram entusiasticamente para a caravana do linchamento mediático. É claro que nada disto tem que ver com justiça. Nem a acusação sobre a qual recai este esquema de ponzi dos múltiplos abusos sexuais cometidos ao longo do ano, a de Harvey Weinstein, acontece motivada por um sentimento de justiça. Harvey Weinstein teve o seu tempo, um tempo em que o seu toque de midas fazia a carreira de um filme da bilheteira aos óscares. À medida que a sua influência foi diminuindo, ficou mais vulnerável, numa lógica análoga ao funcionamento de um gangue: um líder enfraquecido ou que mostra fraqueza não sobrevive muito tempo.

Os votantes de Trump, sobretudo, desprezam profundamente esta elite que, para eles, nunca trabalhou um dia de trabalho honesto, esta gente que tem uma opinião acerca de tudo: o aquecimento global, os direitos das minorias, a imigração, o racismo, o controlo de armas. E, na grande maioria dos casos, uma opinião radicalmente contrária à dos blue-collar workers que se sentem, por um lado, portadores dos ideias que presidiram à génese dos EUA, desde a segunda emenda ao american dream, e por outra parte, ameaçados pelas minorias que, pouco a pouco, estão destinadas a tornar-se a maioria, fechando dessa forma o ciclo histórico do povo europeu, branco e cristão que colonizou o norte da américa e fez dos Estados Unidos o país de todas as possibilidades. Não é por acaso que o slogan de Trump é Make America Great Again e que quase todos os comentários nos media online mais próximos da actual presidência terminam com o hashtag #MAGA.

Veremos como Hollywood consegue reagir a esta epidemia de acusações. Para já, vai tentando uns tímidos e muito cautelosos passos de marketing positivo, escolhendo cuidadosamente figuras que sejam impolutas e que possam reavivar a imagem de Hollywood enquanto território de sonhos. Mas não se prevê que num futuro próximo as mulheres abusadas durante tantos anos por estas criaturas inebriadas de poder decidam calar-se. Que sobrará deste fogo?

13 Nov 2017

Atleta de 23 anos é o primeiro japonês a vencer Open de Badminton de Macau

[dropcap style≠’circle’]K[/dropcap]ento Momota derrotou Ihsan Mustofa por 2-0 na final do Open de Macau em Badminton. O dia ficou marcado por várias vitórias para as cores chinesas e Huang Yaqiong levou mesmo duas medalhas de ouro para casa.

Kento Momota derrotou Ihsan Mustofa por 2-0, com os parciais de 21-16, 21-10, e conquistou o Macau Open de badminton, que decorreu no Pavilhão Desportivo do Tap Seac. Momota, de 23 anos, tornou-se no primeiro japonês a vencer a competição do território e sucede ao chinês Zhao Jupeng.

O indonésio Mustofa era considerado o favorito porque ocupava a 70.ª posição do ranking, enquanto o japonês era 79.º. Contudo, no Pavilhão Tap Seac, não deu qualquer hipóteses.

O início do encontro foi muito equilibrado, mas a partir do 5-5, Momota disparou no marcador e acabaria por fechar o primeiro set com 21-16.

Em desvantagem, Mustofa precisava de vencer o set seguinte para ainda disputar o encontro. Porém, Momota entrou muito forte e colocou-se a ganhar por 9-0. Com uma vantagem tão grande, o japonês só precisou de gerir o resultado.

Na final singular feminina, a vitória foi para a jovem promessa chinesa, Cai Yanyan, que tem apenas 17 anos. Na final a atleta do Império do Meio teve uma tarefa complicada, mas levou de vencida a taiwanesa Pai Yu Po por 2-1, com parciais de 21-15, 17-21 e 21-16.

Os dois primeiros sets foram particularmente bem disputados com as duas atletas a terem trocas constantes na liderança do marcador. Mas no último set, Cai conseguiu mesmo impor-se, tendo estado sempre à frente da adversária.

O resultado do encontro também acabou por ser uma surpresa, visto que a atleta de Taiwan é mais experiente e ocupa a 42.ª posição no ranking mundial, enquanto a chinesa está no 91.º lugar.

Dupla vitória de Huang Yaqiong

O dia de ontem foi particularmente feliz para as cores chinesas, com todas os atletas envolvidos em finais a levarem o ouro para casa. Para este sucesso muito contribuiu a jogadora Huang Yaqiong, ao vencer nada menos do que duas finais.

A primeira foi em pares mistos. Huang Yaqiong teve como parceiro o atleta Zheng Siwei e impôs-se à dupla sul-coreana constituída por Seung Jae Seo e Kim Ha Na, por 2-0, com os parciais 21-14 e 21-11.

A segunda vitória foi na final de pares femininos. Huang fez dupla com Yu Xiaohan e derrotaram as também sul-coreanas Ha Na Baek e Yu Rim Lee, por 2-0, com os parciais 21-10 e 21-17.

Já na final masculinas de pares, Seung Jae Seo, que já tinha perdido a final mista, e Kim Won Ho foram derrotados pelos indonésios Arya Pangkaryanira e Ade Santoso em dois sets, por 21-13 e 21-14.

Rodolfo Ávila com pódio em Wuhan

[dropcap style≠’circle’]R[/dropcap]odolfo Ávila (VW Lamando GTS) somou um terceiro lugar e uma desistência nas duas corridas do Campeonato da China de Carros de Turismo, disputadas este fim-de-semana na pista citadina de Wuhan, na província de Hubei. Na altura em que desistiu, na prova de domingo, o piloto mostrava um ritmo forte, tendo recuperado do 10.º ao terceiro lugar. Contudo problemas de motor impediram-no de pontuar. “Foi pena [a desistência], porque para além de ter perdido um pódio garantido, em termos de campeonato este abandono também foi bastante prejudicial”, disse o piloto no final. As provas do fim-de-semana foram vencidas pelos colegas de equipa de Ávila, o britânico Robert Huff e o chinês Zheng Zheng Dong. O piloto de Macau é agora 6.º no campeonato com 97 pontos, a 19 do líder Robert Huff, que soma 116.

13 Nov 2017

Pequim e Taipé colaboram num satélite para prever sismos

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China e Taiwan fecharam um acordo para cooperarem num satélite de detecção de ondas electromagnéticas que possa prever sismos.

O satélite será lançado no próximo ano, no âmbito de um projecto conjunto ontem revelado pelo jornal South China Morning Post.

Alguns sismos geram anomalias electromagnéticas antes de ocorrerem, e este projecto pretende detectar esses fenómenos para tentar prever os sismos, que afectam com regularidade tanto a China como Taiwan.

Esta cooperação entre Pequim e Taipé representa um marco, principalmente tendo em conta a actual relação política entre as duas partes, desde a subida ao poder, no ano passado, da actual Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, de um partido independentista.

“Esta é a primeira vez. Nunca ouvi falar de cooperação com Taiwan de qualquer tipo neste campo. Este tipo de dados é normalmente secreto”, disse ao jornal de Hong Kong Li Zaoshe, investigador da Academia de Ciências da China, em Pequim.

O secretismo prende-se com o facto de estes satélites poderem também ter um importante uso militar, como a localização de estações de radar ou de centros de lançamento de mísseis.

Dois mortos em derrocada num supermercado

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]elo menos duas pessoas morreram sábado e seis ficaram feridas na derrocada do segundo piso de um supermercado na cidade chinesa de Xangai, provavelmente por excesso de peso de mercadoria, segundo os meios de comunicação social locais.

O desastre aconteceu sábado de manhã num supermercado em Zhuqiao, no distrito de Pudong, que pertence à cidade de Xangai. Inicialmente, uma pessoa morreu e sete foram resgatadas vivas entre a pilha de mercadorias e escombros, mas um dos feridos acabou por morrer pouco depois no hospital. Segundo as autoridades locais, o supermercado em causa é pequeno e parte do segundo piso era usada para armazenar produtos. Terá sido o excesso do peso de mercadorias que fez derrubar o piso. As autoridades chinesas estão agora a avaliar supermercados e centros comerciais da mesma região para avaliar os riscos para a segurança.

13 Nov 2017

Hato | Proprietários de carros inundados querem compensações

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s proprietários dos carros inundados com a passagem do tufão Hato pelo território querem medidas de reembolso e de ajuda nas despesas de cancelamento de matrícula. A ideia foi deixada ontem em conferência de imprensa dada pela recente aliança de vários grupos que, em comum, têm o facto de serem constituídas por pessoas que perderam os seus veículos devido às inundações.

A conferência contou com a presença do deputado Sulu Sou, que criticou o Governo por ainda não ter apresentado medidas satisfatórias sobre a prevenção de catástrofes, e, pior ainda, não ter resolvido alguns dos problemas deixados pela passagem do Hato, nomeadamente o seguimento dado aos casos que envolvem os carros danificados e a falta de medidas para compensar os proprietários afectados.

Stanley Ip, membro da união recém-formada, queixa-se da medida do Governo em que só os proprietários que adquirirem novos automóveis podem obter apoios. “Será que os lesados que não querem comprar novo veículo não são lesados ou não foram afectados?”, interroga. O mesmo representante criticou ainda os procedimentos relativos ao cancelamento de matrículas dos veículos inundados.

Leong Kin Keong, outro representante da união, pede que sejam devolvidos aos lesados os impostos já pagos, e, tendo em conta que o Governo começou a vender em hasta pública os veículos com matrículas canceladas, o dinheiro obtido deveria ser deduzido nas despesas administrativas e voltar para os próprios lesados.

De acordo com Sulu Sou, os lesados vão reunir-se na terça-feira com o director da Direcção dos Serviços de Economia (DSE) e com a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) para apresentar as suas queixas.

13 Nov 2017

‘Dia dos Solteiros’ | O maior evento de comércio ‘online’ do mundo

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Dia dos Solteiros na China, uma data nascida na década de 1990 entre estudantes universitários, é hoje o maior evento de comércio electrónico do mundo, com os chineses a gastarem milhares de milhões de yuan em compras ‘online’.

O gigante de comércio electrónico Alibaba disse este sábado que as vendas dos milhares de retalhistas que constam da sua plataforma excederam os 130 mil milhões de yuan entre a meia-noite de sexta-feira e o início da noite de sábado.

Já o maior rival do Alibaba, o revendedor ‘online’ JD.com, divulgou que as vendas atingiram os 16,7 mil milhões de dólares. Contudo, os números não são comparáveis, uma vez que as transacções da JD vão desde 1 de Novembro até sábado.

Por comparação, os norte-americanos gastaram o ano passado cinco mil milhões de dólares  em compras ‘online’ no Dia da Acção de Graças e na ‘Black Friday’ (a sexta-feira seguinte à Acção de Graças, que os comerciantes transformaram num evento comercial). A época da Acção de Graças assinala-se no final de Novembro e marca, nos Estados Unidos da América, o início das compras de Natal.

Já na ‘Cyber Monday’ (a segunda-feira a seguir ao Dia de Acção de Graças, em que empresas promovem compras ‘online’), os americanos gastaram 3,39 mil milhões de dólares o ano passado, ainda de acordo com a Adobe, que faz esta monitorização.

Sempre a crescer

A China é, actualmente, o maior mercado de comércio electrónico do mundo e a as compras ‘on-line’ representam uma proporção cada vez maior das despesas de consumo dos chineses.

A consultora Boston Consulting Group prevê que os gastos ‘online’ aumentarão 20% ao ano, atingindo 1,6 biliões de dólares em 2020, em comparação com o crescimento de 6% previsto para as compras presenciais.

O Dia dos Solteiros foi iniciado por estudantes universitários chineses na década de 1990 como uma versão do Dia dos Namorados para pessoas sem parceiros românticos, tendo sido transformado num evento de comércio ‘on-line’, com os retalhistas a anunciaram promoções, com o objectivo de atrair jovens consumidores.

A despesa deste dia na China dá um impulso aos esforços do Partido Comunista chinês para estimular o crescimento económico baseado no consumo interno.

A China tem 731 milhões de utilizadores de Internet, um aumento de 6% face a 2016, segundo as estatísticas do Governo.

13 Nov 2017

Droga | Consumo de metanfetaminas aumentou entre os mais jovens

Os jovens de Macau consumiram mais cristal de metanfetamina, conhecido localmente por “ice”, em relação ao ano passado. Também os custos mensais para sustentar o vício aumentaram 36,4 por cento no primeiro semestre deste ano

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s consumidores de estupefacientes inscritos no Sistema de Registo Central dos Toxicodependentes do Instituto de Acção Social (IAS), gastam mensalmente cerca de 10 mil patacas em droga. Os dados foram revelados pelos serviços de acção social que acompanham os casos dos consumidores de drogas.

A despesa mensal com drogas aumentou 36,4 por cento no primeiro semestre deste ano, para uma média de 10.218 patacas, comparativamente ao período entre Janeiro e Junho do ano passado, em que a média despendida era de 7.489 patacas.

Este valor corresponde aos consumos reportados por 311 pessoas inscritas no registo central, menos 63 do que em igual período de 2016, segundo dados apresentados após uma reunião plenária da Comissão de Luta Contra a Droga.

O número resulta do registo voluntário de pessoas, e de informações fornecidas por 18 entidades, incluindo polícia judiciária, polícia de segurança pública e organizações não-governamentais, “mas não reflecte a população toxicodependente de Macau”, disse em conferência de imprensa a chefe do departamento de Prevenção e Tratamento da Dependência do Jogo e da Droga do IAS, Hoi Va Pou.

Cristal boémio

Apesar de se manter como a droga mais consumida, o “ice” representou 30,4 por cento do consumo total de estupefacientes, uma valor menor 4,6 pontos percentuais comparativamente aos 35 por cento no primeiro semestre de 2016.

O “ice”, ou cristal de metanfetamina, manteve-se como a droga mais consumida pelos jovens em Macau, aumentando para 55,6 por cento no primeiro semestre deste ano, mais oito pontos percentuais em relação aos 47,4 por cento entre Janeiro e Junho de 2016.

O consumo de droga entre os jovens (16 a 20 anos) representou 5,5 por cento do total (17 pessoas entre 311), quando nos primeiros seis meses de 2016 representava 4,8 por cento (18 pessoas entre 374).

Macau tem em vigor uma nova lei da droga desde o final de Janeiro, que aumentou as penas para o consumo, de um máximo de três meses para um ano.

13 Nov 2017

Erro médico | Serviços de Saúde condenados por falha em diagnóstico

O Tribunal Administrativo condenou os Serviços de Saúde ao pagamento de uma quantia superior a 120 mil patacas aos pais de um menor. Em causa está um mau diagnóstico efectuado nas urgências do hospital Conde de São Januário após uma queda que resultou numa fractura. Sem uma solução, o menor teria ficado com uma deficiência permanente no braço

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]udo começou em Março de 2010 quando um jovem português, menor de idade, caiu na escola e magoou o braço. As dores intensas e o inchaço fizeram com que os pais o levassem às urgências do Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ) para um diagnóstico que se revelou errado: havia uma fractura e o médico da urgência não soube detectar o problema através do raio-X realizado. Além disso, não encaminhou o jovem para uma consulta de ortopedia.

Os pais decidiram levar o caso à justiça e a decisão do Tribunal Administrativo (TA) foi conhecida no passado dia 6 de Outubro: os Serviços de Saúde (SS) vão ter de pagar mais de 120 mil patacas aos pais do jovem por danos patrimoniais e não patrimoniais, segundo o acórdão a que o HM teve acesso. O TA decidiu-se por este valor uma vez que os pais do menor acabaram por se deslocar a Hong Kong para a realização de uma operação cirúrgica, que custou cerca de 90 mil patacas, além de despesas adicionais.

O TA considerou que o médico dos serviços de urgência do CHCSJ “não tomou as medidas necessárias para assegurar a precisão e certeza do diagnóstico do paciente, violando as regras de ordem técnica e prudência comum exigível ao exercício de função médica”.

“Atendendo a que o diagnóstico feito pelo médico de Hong Kong envolve pouca complexidade, sendo acessível a qualquer médico médio, significa que o exame da ferida do braço necessita de algum conhecimento técnico de ortopedia, pelo que o [médico da urgência do CHCSJ] deveria socorrer-se de um especialista no serviço para consulta de imediato, ou pelo menos encaminhar o menor para uma consulta posterior da especialidade.”

Além disso, o médico em questão “chegou a praticar um acto ilícito”, ao tirar “uma conclusão precipitada e incorrecta com dados facultados na altura, o que, conducente à qualificação de ‘simples’ da situação do menor e à adopção do tratamento ‘errado’, ainda que o tratamento prescrito não se tenha revelado lesivo para a saúde ou vida do menor”. “Foi de modo inadequado e não imediato”, revela o acórdão.

Ainda assim, o TA entendeu que a negligência não foi “grave ou grosseira”,  porque o médico “seguiu o procedimento normal para o exame do paciente e foi por falta de conhecimento técnico e experiência na especialidade de ortopedia que fez um diagnóstico errado da lesão do menor”. “Não é de considerar que essa falha foi resultado directo da sua diligência e zelo manifestamente inferiores àqueles a que se achava obrigado em razão do cargo”, acrescenta o TA.

O HM sabe que decisão do TA foi tomada após a constituição de uma junta médica composta por três médicos, dois deles do hospital Kiang Wu e pedidos das três entidades envolvidas no processo: os pais do menor, o CHCSJ e o tribunal. Com base nos documentos e exames apresentados, foi decidido por unanimidade que o jovem tinha fracturado o braço.

Privado com diagnóstico

A primeira ida do menor às urgências revelou-se infrutífera: nos dias seguintes as dores não paravam, apesar da prescrição do médico do CHCSJ, que lhe receitou meia ampola de Diclofenac, “bem como de pomadas e medicamentos”. Na urgência colocaram-lhe ainda uma “ligadura no braço direito”, “sem marcação de encaminhamento ou consulta posterior na especialidade de ortopedia”. Apesar do médico ter pedido o raio-X, “não reconheceu que o cotovelo do braço direito do menor foi dobrado no ângulo de noventa graus, com inchaço e dores”.

Os pais decidiram então recorrer a um médico no sector privado, que verificou de imediato que a existência de fractura no braço magoado.

“Foi no dia seguinte a fractura observada na consulta do médico especialista exercida no sector privado na RAEM, através do exame do novo raio-X tirado nesse dia”, lê-se no acórdão do TA.

Em Hong Kong, os médicos iriam decidir-se pela operação, pois, caso contrário, o jovem menor poderia ficar com uma pequena deficiência permanente: não poderia voltar a estender o braço na totalidade.

“Foi diagnosticada a fractura do côndilo medial do braço direito na consulta junto da ortopedista em Hong Kong alguns dias posteriores à queda, o que levou [o pai do menor] a aceitar a recomendação de se realizar a cirurgia imediata em Hong Kong, para reduzir os riscos da não reunião ou deformação do osso.”

Os juízes afirmaram ainda compreender o facto dos pais do menor se terem deslocado a Hong Kong para resolver este caso quando o seu filho tem direito a cuidados de saúde gratuitos no serviço público de saúde em Macau.

“É compreensível e não fora de expectativa que os pais, face às queixas continuadas de dores do filho menor, tenham recorrido a outro pessoal médico para opiniões técnicas. É também compreensível que se tenham preocupado com a situação do menor diagnosticada pelo médico de Hong Kong e que tenham aceite a sugestão de se realizar a cirurgia imediata em Hong Kong, para reduzir os riscos da não união ou deformação do osso.”

É referido, neste contexto, que os pais do menor “perderam a sua confiança na adequação e eficácia do tratamento oferecido ao seu filho junto do serviço de saúde pública”.

13 Nov 2017

Museu de Arte de Macau recebe Festival de Animação Experimental Cross-Straits

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Festival Experimental de Animação Cross-Straits, ou EXiM 2017, decorre no próximo fim-de-semana, de 17 a 19 de Novembro, no Auditório do Museu de Arte de Macau. O evento inclui três sessões de visionamento, sendo que a sessão inaugural acontece no próximo dia 17 de Novembro, sexta-feira, pelas 19h e é organizado pelo Armazém do Boi.

As manifestações de experimentalismo na área da animação normalmente transcendem a tradicional narrativa do vídeo e do filme para conceitos que extravasam os habitais cânones da criação cinematográfica.

Ao longo do tempo, este tipo de criações tornaram-se uma forma de criação artística com presença em exposições de arte contemporânea.

Os organizadores do evento convidaram três curadores com bastante traquejo no que toca à arte contemporânea e ao cinema experimental. A saber: Cao Kai do Interior da China, Phoebe Man de Hong Kong e Chang Jay de Taiwan. Os três curadores escolheram uma selecção de 34 trabalhos, aos quais se juntam mais quatro de artistas locais e que forma o cartaz do EXiM 2017.

Tendo em conta o surgimento nos últimos anos de uma grande profusão de meios electrónicos e digitais, inclusive no campo do software, os artistas viram as possibilidades em animação multiplicarem-se a um ritmo acelerado. Desta forma, não é de estranhar que o cinema de animação tenha sido escolhido como conceito condutor do EXiM 2017.

Da diversidade

A organização deste evento, de acordo com o comunicado do Armazém do Boi, é estimular a criação local de arte experimental neste ramo, de forma a manter Macau a par da cena internacional, rompendo com as amarras conceptuais que normalmente constrangem a expressão cinematográfica.

Por outro lado, a escolha destes três curadores visa imprimir no cartaz do festival uma multiplicidade de influências e visões artísticas diversas. Macau, Hong Kong, Interior da China e Taiwan têm fundos históricos distintos, com níveis de desenvolvimento e ideologias sociais diferentes. Todas estas envolvências inspiram a criação artística de formas variadas em cada região. Ou seja, o público não só pode assistir às criações cinematográficas, mas também ter um vislumbre das influências sociais das produções.

As sessões começam sempre às 19h e têm entrada livre.

13 Nov 2017

Segurança rodoviária | Angela Leong preocupada com o uso de telemóveis

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo deve, o mais rapidamente possível, implementar medidas de promoção da segurança rodoviária que tenham como alvo o uso de telemóveis. A ideia é deixada em comunicado pela deputada Angela Leong que está preocupada com o aumento de acidentes resultantes do uso destes dispositivos por condutores.

A deputada faz referência aos dados facultados pela Polícia de Segurança Pública que revelam um aumento em 13 por cento das multas passadas por uso de telemóvel a condutores relativamente ao total de casos registados no ano passado. No total, de Janeiro a Outubro, registaram-se 3387 multas por uso de telefone ao volante, enquanto em 2016 foram registados 2991 casos.

Para a deputada não há ainda uma consciencialização suficiente dos condutores acerca dos perigos do uso de aplicações como o facebook, we chat ou whatspap enquanto se conduz.

Por outro lado, a multa em vigor, de 600 patacas, aplicada aos condutores que infringem a lei é, também, reduzida.

Mas o alarme não é só dado aos condutores. Ângela Leong está ainda preocupada com os peões que “andam sempre de cabeça curvada”. Além das distracções com as aplicações móveis, a deputada alerta para os perigos de usar auscultadores e ouvir música. Para Angela Leong, são tudo factores que promovem a falta de atenção ao ambiente circundante e que interferem no bom funcionamento do mesmo. Para combater esta tendência, Leong considera fundamental o investimento por parte do Governo em programas pedagógicos que consciencializem os residentes para os perigos de se estar alheado do meio em que circulam e os obstáculos que são criados para uma circulação segura e de qualidade.

13 Nov 2017

Trabalho | Empregados domésticos e deficientes sem salário mínimo

A consulta pública sobre salário mínimo começa hoje e o Executivo está a estudar deixar de fora empregados domésticos e pessoas com deficiência. O valor do ordenado só vai ser definido após a recolha de opiniões

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo está a ponderar deixar de fora da lei geral do salário mínimo empregados domésticos e pessoas com deficiência. Esta é uma proposta em cima da mesa quando o Executivo começa a ouvir opiniões, numa consulta que começa hoje e vai estar em vigor até 27 de Dezembro.

Numa conferência de imprensa realizada, ontem, pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), o director Wong Chi Hong, explicou que o facto dos trabalhadores domésticos não puderem ser avaliados em termos de produção, justifica que não sejam abrangidos pelo diploma que deve entrar em vigor em 2019.

“De uma forma geral, os trabalhadores são contratados de acordo com a capacidade de produção, mas isso não acontece quando se contrata um trabalhador doméstico”, disse Wong Chi Hong, director da DSAL.

“É por isso que queremos ouvir a população sobre se quer incluir os trabalhadores domésticos no salário mínimo”, frisou.

Por outro lado, o Executivo teme que um aumento no ordenado deste tipo de trabalhadores force as pessoas a deixarem de trabalhar para tratarem dos assuntos domésticos. Uma preocupação que se explica com o medo de ver a mão-de-obra encolher.

Segundo os dados do Governo, no Interior da China, Hong Kong e Taiwan, a lei do salário mínimo também não inclui os trabalhadores domésticos.

Em relação às pessoas com deficiência, os responsáveis do Governo mostraram-se preocupados com o facto da imposição de um salário mínimo poder resultar em menos empregabilidade.

“Estamos a ponderar se a partir do momento em que houver um salário mínimo para pessoas com deficiência, se isso não vai afectar a empregabilidade. Se eles também receberem o salário mínimo, não será que os empregadores vão optar por contratar antes outros trabalhadores? Queremos ouvir os empregadores sobre essa questão”, explicou Wong Chi Hong.

Sem definição

A consulta pública não apresenta nenhum montante  para o salário mínimo como referência. Segundo o director da DSAL, a questão só vai ser proposta depois da consulta pública.

“Queremos ouvir as opiniões do público antes de propor um montante. Estamos a ponderar a situação geral, porque o salário mínimo irá afectar a inflação, vai ter impacto para os empregadores e pode levar o aumento dos salários a reflectir-se nos preços finais que serão sentidos pelos consumidores”, afirmou o responsável da DSAL sobre este ponto.

Actualmente os sectores laborais das empregadas de limpeza e seguranças de condomínio já estão abrangidos pelo salário mínimo. O valor nestes casos é de 30 patacas por hora. Porém, Ng Wai Han, subdirectora, admitiu que o ordenado mínimo até pode ser inferior a esse valor, dependendo da consulta pública.

No final do ano passado havia 44.200 trabalhadores a receberem um ordenado inferior ao do montante mínimo para as empregadas de limpeza e seguranças de condomínio.

Com a consulta pública a terminar quase no final do próximo mês, a proposta de lei só deverá entrar na Assembleia Legislativa no próximo ano. Mesmo assim, o director da DSAL mostrou-se confiante que a lei entre em vigor ao longo de 2019, como foi prometido pelo Governo.

 

Só para residentes

A deputada ligada à Associação Geral das Mulheres, Wong Kit Cheng, defende que apenas os trabalhadores domésticos residentes devem ser protegidos pelo salário mínimo. Questionada sobre o tema, a subdirectora da DSAL, Ng Wai Han, admitiu esse cenário, se for essa a conclusão da consulta pública. “Se o resultado da consulta pública indicar que a medida se deve aplicar a trabalhadores residentes mas não a trabalhadores não residentes, será isso que vamos propor”, admitiu a responsável.

13 Nov 2017

LAG 2018 | Sónia Chan recebe sugestões

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] desenvolvimento do chamado “Governo electrónico”, a definição de funções do órgão municipal sem poder político, a revisão do regime jurídico da função pública e a reorganização dos mercados foram algumas das preocupações demonstradas pela Aliança de Povo de Instituição de Macau e a Associação dos Conterrâneos de Kong Mun à secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan.

De acordo com um comunicado oficial, os encontros com a secretária têm por objectivo a recolha de “opiniões sobre a reforma da administração pública, a construção do sistema jurídico e os serviços relativos à vida da população”.

Depois de ouvir as sugestões das associações, do lado do Governo ficaram as promessas de simplificação dos procedimentos da autorização de licenciamento para os estabelecimentos de restauração e o reforço da coordenação entre os serviços com a criação de uma cidade inteligente.

Por outro lado, Sónia Chan garantiu ainda que as LAG 2018 vão ter em conta a implementação da aplicação de metadados para o desenvolvimento do Governo Electrónico.

13 Nov 2017

Segunda edição do Ciclo de Cinema Brasileiro arranca quarta-feira

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Fundação Rui Cunha recebe a partir de quarta-feira um festival dedicado à sétima arte produzida no Brasil. O II Ciclo de Cinema Brasileiro em Macau, que decorre até dia 21 de Novembro, arranca com o filme “Elis”, sobre a vida e carreira de Elis Regina.

O filme “Elis”, sobre a curta e intensa vida da cantora Elis Regina, vai abrir, na quarta-feira, o II Ciclo de Cinema Brasileiro em Macau, um evento promovido pela Associação Casa do Brasil. O ciclo é composto por cinco filmes que serão exibidos na Fundação Rui Cunha até dia 21.

“Elis” (2016) é a película que marca a estreia na realização de Hugo Prata e aborda a carreira e vida pessoal da cantora brasileira Elis Regina, que morreu em 1982, aos 36 anos.

“É um filme que conta como ela cresceu como cantora. Ela introduziu a Música Popular Brasileira (MPB), e depois teve o problema da droga que acabou com a sua vida”, disse à agência Lusa Jane Martins, presidente da Casa do Brasil em Macau. “O filme saiu do cinema há pouco tempo no Brasil e quem já gosta de MPB vai gostar muito”, acrescentou.

A obra chegou às salas portuguesas de cinema no dia 28 de Setembro. “Elis” venceu em oito categorias no Grande Prémio do Cinema Brasileiro de 2017: melhor actriz (Andréia Horta), montagem, fotografia, banda sonora original, maquilhagem, som, direcção de arte e figurino.

O ciclo de cinema vai também apresentar “O Outro Lado do Paraíso” (2014), de André Ristum, uma história que tem como pano de fundo os sonhos de um pré-adolescente “Nando” (Davi Galdeano) e a chegada dos militares ao poder em 1964.

Películas premiadas

“Nise, O Coração da Loucura”, de Roberto Berliner, é outro dos filmes do cartaz, que ganhou “melhor filme” e “melhor actriz” (Glória Pires), no 28.º Festival de Tóquio, em 2015, além de outros prémios internacionais na América Latina, destacou Jane Martins. O filme conta a história da médica psiquiatra Nise da Silveira que questiona a violência no tratamento de pacientes diagnosticados com esquizofrenia, num hospital psiquiátrico no subúrbio carioca de Engenho de Dentro.

O cartaz do II Ciclo de Cinema Brasileiro em Macau inclui também “Que Horas Ela Volta?” (2015), de Anna Muylaert, que Jane Martins define como “um filme para a família”, sobre “a relação entre mãe e filha”, que “tem uma mensagem bonita, de que quanto mais perto você puder ficar dos filhos, melhor”.

“Que Horas Ela Volta?”, que estreou em Portugal no final de 2015, foi o candidato brasileiro a uma nomeação para o Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, no ano seguinte, ganhou o Prémio do Público no Festival de Berlim, e o Prémio Especial do Júri no Festival de Sundance. Deu ainda à protagonista, a actriz Regina Casé, vários prémios de interpretação, e contribuiu para a revisão das condições de trabalho dos trabalhadores domésticos, no Brasil, na altura da estreia.

A obra trata as relações, algumas vezes perversas, entre patrões e empregados, expondo o tratamento discriminatório de que são alvo, em termos de direitos. “Que horas ela volta?” conta a história de uma mulher, Val, que deixou a sua família para ir trabalhar como empregada doméstica para uma casa rica de São Paulo, perdendo o contacto diário com a sua família e a sua filha.

A obra põe em evidência as diferenças de tratamento das classes sociais, o comportamento servil a que a empregada se sujeita e o vazio relacional dos patrões com o filho, que Val acaba por ocupar, com o seu trabalho diário (o título inglês do filme é “The second mother”, ou seja a segunda mãe). Em 2015, a estreia do filme de Anna Muylaert contribuiu para o debate da revisão da Constituição brasileira, que só então reconheceu a igualdade de direitos dos empregados domésticos com os dos restantes trabalhadores.

Cine-palmo e meio

O ciclo de Cinema Brasileiro em Macau tem ainda uma sessão infantil, com “Uma Professora Muito Maluquinha” (2011), de André Alves Pinto e César Rodrigues. “É um filme divertido, sobre educação, baseado numa história dos anos 1940, em que uma professora inova na forma de ensino”, explicou a presidente da Casa do Brasil.

“É uma boa selecção. Quisemos trazer histórias diferentes para que as pessoas não sentissem que era tudo igual. Foram filmes que estiveram em cartaz muito tempo e foram muito elogiados”, disse.

O objectivo da associação Casa do Brasil em Macau é tornar o ciclo de cinema brasileiro um evento anual. “Queremos ver se conseguimos fazer todos os anos. É um evento bem-vindo e as pessoas gostam, principalmente por ser em português. E todos os filmes estão legendados em inglês, para quem não fala português”, afirmou.

13 Nov 2017

Jovens apresentam ao Governo as suas preocupações para as LAG

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]rânsito, saúde e habitação são as três situações que os jovens locais querem ver debatidas nas Linhas de acção Governativa 2018. A ideia é deixada pelo resultado de um inquérito realizado pela União Geral das Associações dos Moradores de Macau (Kaifong) em parceria com a Associação de Juventude para os Quarteirões de Macau, sobre as expectativas dos jovens locais acerca das LAG que têm início esta semana.

De acordo com os entrevistados, os assuntos ligados ao trânsito são a prioridade para 63,9 por cento dos jovens de Macau, seguidos pelos problemas associados aos serviços de saúde com 63 por cento dos inquiridos a revelaram a sua preocupação, e pelas dificuldades na habitação, apontadas por 58,4 por cento.

Wong Wai Pan, membro dos Kaifong e responsável pelo inquérito, referiu na apresentação dos resultados online,  que, na questão do trânsito, 48,6 por cento dos entrevistados querem que o planeamento dos itinerários das carreiras de autocarros no território seja melhorado e cerca de 40 por cento querem que os veículos abandonados sejam removidos dos estacionamentos.

No âmbito de serviços de saúde, mais de 52 por cento dos entrevistados estão preocupados com a falta de camas nos hospitais e com a escassez de médicos. Já 46,6 por cento dos jovens entrevistados querem o aumento na qualidade dos serviços de saúde locais através de formação do pessoal médico.

Por outro lado, quase 50 por cento das preocupações registadas com a habitação têm que ver com o destino das casas do território. Para os jovens, a solução passa pela implementação da política “terra de Macau destinada à população de Macau”.

Sugestões específicas

Os resultados e opiniões da pesquisa vão ser entregues ao Executivo e, de acordo com Wong Wai Pan, apontam em sentidos claros. “Em primeiro lugar, as autoridades precisam de rever a eficiência das políticas do tráfego e responder à dificuldade da população em termos da deslocação”, disse o responsável. De não esquecer ainda “o ajustamento no número de camas e de médicos, de modo a promover uma melhor relação entre médicos e doentes, e o avanço de políticas eficazes e benéficas para os residentes no que respeita à habitação tendo em conta as necessidades dos jovens e dos casais recém-casados”.

De acordo com a pesquisa, os jovens locais querem ainda ver concretizado o aumento do imposto para quem adquirir uma segunda casa no território.

O inquérito abarcou uma população de 1086 residentes entre os 18 e os 45 anos.

13 Nov 2017

Autocarros | Leong Sun Iok pede detalhes sobre renovação de contratos

A cerca de nove meses do fim dos contratos de concessão das três empresas responsáveis pelo serviço de autocarros de Macau, Leong Sun Iok quer detalhes dos preparativos que estão a ser feitos para a renovação dos mesmos. Para o deputado trata-se de uma questão que tem de ter em conta os interesses da população e dos funcionários

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado Leong Sun Iok quer saber os pormenores acerca dos preparativos do Governo sobre a renovação dos contratos, agendada para o ano que vem, das três empresas concessionárias dos autocarros do território.

Para o deputado trata-se de um assunto que interfere directamente com a vida quotidiana da população local.

Leong Sun Iok recorda, em interpelação escrita, que cerca de 40 por cento dos residentes usa o autocarro como principal meio de deslocação e em Setembro, de acordo com os dados estatísticos, o número médio diário de passageiros chegou aos 600 mil. Com estes dados, o tribuno com ligações à FAOM, considera que “a melhoria do mecanismo de circulação e funcionamento dos autocarros, envolve problemas complexos e tem um impacto profundo no público, pelo que deve ser implementado com cautela”, lê-se na missiva.

A menos de nove meses do final dos contratos das concessionárias, Leong Sun Iok aponta que ainda não existe qualquer informação por parte do Executivo quanto aos moldes da renovação. O deputado faz ainda referência à concessionária Nova Era, cujo contrato findou em Junho deste ano, e que, por questões de consenso, viu o serviço renovado por um período excepcional de 13 meses de modo a coincidir mais perto do termo dos acordos com as outras duas concorrentes a operar em Macau.

“No entanto, o Governo nunca anunciou os acordos que vai fazer e não está claro se o modelo de serviço existente será renovado ou não”, aponta o deputado.

Lições do passado

O estreante no hemiciclo recorda o passado e os problemas que existiram dada a falta de preparação das renovações contratuais que “trouxeram inconvenientes, não só aos utilizadores deste meio de transporte, como aos próprios funcionários no que respeita à garantia dos seus direitos e interesses”, aponta.

Esta deveria ser, no entender do deputado, uma forma de aprender e por isso, agora, o Executivo deve proceder ao tratamento desta questão de uma forma séria, e ter em conta que, em caso de concurso público, deve ainda garantir que não existirão atrasos administrativos ou outras situações que possam pôr em risco tanto o funcionamento dos autocarros como os direitos dos trabalhadores.

Leong Sun Iok quer que o Governo faça o que prometeu no ano passado, e que em vez de andar com a frase “de tornar público a seu tempo”, revele o plano que tem para a renovação de contratos dos autocarros bem como as melhorias que irá exigir às empresas concessionárias para que possam fornecer um serviço de maior qualidade.

13 Nov 2017

SARS | Doente zero da epidemia detectado em Hong Kong há 15 anos

Foi em Março de 2003 que o primeiro doente com a Síndrome Respiratória Aguda foi descoberto na zona de Kowloon Bay, em Hong Kong. Era o início da presença da epidemia que matou 299 pessoas na região vizinha e 800 em todo o mundo. Em Macau as fronteiras fecharam, houve poucos doentes e nenhuma morte. Rui Furtado, médico, recorda: “tivemos sorte, porque, se tivéssemos tido muitos doentes, as instalações que tínhamos não chegavam”

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m homem de 33 anos dormia no apartamento do seu irmão, localizado no Bloco E do edifício Amoy Gardens em Kowloon Bay, Hong Kong, depois de mais uma sessão de diálise. Nessa noite teve diarreia e voltou depois para Shenzen, sem saber que, já aí, era portador da Síndrome Respiratória Aguda (SARS).

Em Março de 2003 a SARS chegou a Hong Kong e depois a Macau, após já estar no mundo inteiro. As fronteiras fecharam e accionaram-se os mecanismos possíveis de prevenção e tratamento para uma epidemia da qual se sabia muito pouco.

Rui Furtado, médico, recorda que, à época, as instalações disponíveis no Centro Hospitalar Conde de São Januário não eram suficientes caso a RAEM tivesse tido a má sorte que atingiu Hong Kong, com a morte de 299 pessoas.

“Era uma situação nova, mas Macau seguiu os padrões para doenças infecciosas e epidemias. Criaram-se enfermarias próprias para receber esses doentes e felizmente houve poucos casos, mas tivemos sorte, porque se tivéssemos tido muitos doentes as instalações disponíveis não chegavam” contou ao HM.

Para Rui Furtado, a SARS deixou alertas para o futuro, a que não é alheio o facto do Governo estar a construir uma nova unidade para doenças infecto-contagiosas, a ser inaugurada em 2019.

“Criaram-se planos para evitar novas epidemias que ainda hoje estão em vigor. A construção da nova unidade para doenças infecto-contagiosas vem na sequência dessa situação.”

O médico português, que entretanto deixou de exercer funções no serviço público, recorda o grande desconhecimento que existia, não só junto da comunidade médica, mas também junto da população.

“Era uma epidemia de difícil controlo. As pessoas não sabiam como se tratava, foram tomadas medidas e o que resultou para o futuro é que passou a haver mais cuidado com as epidemias e com os cuidados primários. Houve mais atenção aos primeiros sinais epidémicos, passou a haver o controlo nas fronteiras. Depois da SARS houve outros casos. Criaram-se guias para se fazer a prevenção.”

Conferência em chinês

Paulo Azevedo, director-geral da empresa de media De Ficção Multimédia, era na altura chefe de redacção do diário Ponto Final e protagonizou um momento de revolta quando os SS decidiram, no âmbito da SARS, organizar uma conferência de imprensa sem tradução do chinês para português, deixando parte da população sem acesso a informações vitais sobre a epidemia.

“O Jornal Tribuna de Macau chegou a colocar esse caso na primeira página”, recordou Paulo Azevedo ao HM. “Houve uma conferência de imprensa dos SS no hospital Conde de São Januário e foi apenas em chinês. Eu ouvi os senhores, nem sequer havia tradução, levantei-me e disse que assim não valia a pena [estar ali], que não respeitavam a Lei Básica e que não estava ali a fazer nada, e fui-me embora.”

Na altura, “havia departamentos que utilizavam o português, e outros usavam umas vezes, outras não. Não era algo intencional. Era um pouco baldas, e ainda hoje é assim”, explicou Paulo Azevedo.

O residente em Macau recorda um período de medo em que todos se tentavam preparar para aquilo que viesse a acontecer. O desconhecimento era generalizado e os SS também tinham as suas falhas, como lembrou o jornalista.

“Estávamos todos preocupados, porque falava-se que podia ser uma peste tão grande como a peste espanhola que, no século XIX, dizimou centenas de milhares de pessoas. Era algo bastante novo. Estávamos a ver no que ia dar, a esperar que ninguém do nosso círculo mais próximo fosse atingido.”

“Havia notícias de mortes em todo o lado e não sabíamos mais nada. Tenho pena de o dizer, mas os nossos SS não são propriamente de topo mundial. Estávamos um pouco preocupados porque eram muitos mortos, em muitos países. Mas fazer o quê?”, referiu ainda.

Maior preparação

Mesmo que Macau esteja no caminho da integração regional, dado a existência de planos como da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, que vai representar um maior fluxo de pessoas e de comunicações, Rui Furtado acredita que haverá medidas preventivas suficientes em casos como o da SARS.

“A OMS tem guias para estas situações e Macau o que tem de fazer é seguir isso e saber alguma coisa além desses guias”, disse, sem esquecer que “nenhum território está preparado para responder a uma epidemia deste género”.

“Estas doenças não são todas iguais, tudo depende do número de casos. Se forem 20 casos, Macau está preparado, se forem 50 casos, Macau está mais ou menos preparado, mas se forem 500 ninguém está preparado. Se houver duas unidades de internamento cheias com este tipo de doentes, para onde vão as pessoas? Nunca se está plenamente preparado.”

Contudo, “para uma primeira fase para encarar uma epidemia, Macau está preparado”, frisou Rui Furtado.

Também o jornalista Paulo Azevedo acredita que hoje há uma maior resposta a situações como a de há 15 anos atrás.

“A OMS agora está mais atenta a estes vírus e epidemias. Primeiro foi a SARS, depois houve a febre das galinhas, por exemplo, e há uma maior atenção. A directora-geral é de Hong Kong (Margaret Chan). Há um outro tipo de alertas mais rápidos para os governos e direcções de saúde”, disse.

Num artigo recente sobre os 15 anos do paciente zero da SARS, a revista Time Out de Hong Kong lembrou que o hábito de usar máscaras na rua, tão comum em Pequim por causa da poluição, tem uma outra origem em Hong Kong e Macau. Todos tinham medo da SARS e essa era a primeira forma de protecção.

Depois da saída do paciente zero para Shenzen, 200 pessoas que viviam no edifício Amoy Garden foram hospitalizadas e diagnosticadas com a SARS. Só no final do mês de Março de 2003 é que o Governo decidiu implementar uma ordem de quarentena para todos aqueles que viviam no mesmo bloco de apartamentos onde tinha estado o infectado.

No total, Hong Kong registou 1755 ocorrências, e os casos do bloco Amoy Gardens representaram 20 por cento do total. No mundo houve mais de oito mil infectados.

A Time Out lembra ainda que a SARS começou a espalhar-se a partir da província de Guangdong, que demorou a comunicar o registo dos primeiros doentes com as autoridades de Hong Kong.

Em Macau, o Governo fez de tudo para evitar o contágio e a propagação. Chegaram a ser instalados detectores térmicos infra-vermelhos “para acelerar os trabalhos de despistagem de pessoas com sintomas suspeitos da doença, à entrada e saída das fronteiras do território”, referiam os comunicados oficiais da altura.

Em Abril de 2003, surgiu o primeiro caso de suspeita de contágio da SARS, que veio a revelar-se infundado. “Os SS acreditam, todavia, após averiguação detalhada e cuidadosa, que a notícia teve a ver com duas situações observadas: um toxicodependente de 26 anos de idade, que mora no Bairro da Areia Preta, com um abcesso pulmonar, e uma criança de 6 anos de idade, com nedio otitis”, refere um outro comunicado oficial.

13 Nov 2017

Rússia | Putin denuncia intenção dos EUA em influenciar eleições

[dropcap style≠’circle’]V[/dropcap]ladimir Putin denunciou ontem as intenções dos EUA em influenciar as eleições presidenciais na Rússia, marcadas para Março de 2018, que relacionou com o que diz ser “imaginária ingerência” russa no acto eleitoral que elegeu Donald Trump, em 2016.

“Em resposta à nossa imaginária ingerência nas eleições [norte-americanas], querem criar problemas nas eleições presidenciais”, afirmou Putin, Presidente da Rússia, numa reunião com trabalhadores de uma fábrica em Cheliabinsk, nos Urais.

Putin fez escala naquela cidade do nordeste russo a caminho do Vietname, onde participará na cimeira de líderes dos países do Fórum de Cooperação Económica Ásia-Pacífico (APEC), com início esta sexta-feira, em Danang.

Durante a cimeira, está previsto que Putin mantenha um encontro com Donald Trump, num périplo pelo Oriente, mas não há ainda confirmação de que os dois líderes se encontrem.

A agência russa RIA Novosti citou ontem o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Ribakov, com a garantia de que a reunião entre Putin e Trump ocorra na sexta-feira, de manhã.

Porém, mais tarde, o secretário de Estado norte-americano Rex Tillerson garantiu que o encontro não está marcado.

Questão olímpica

Putin afirmou também que existem denúncias contra a Rússia de apoio à dopagem de desportistas e estabeleceu uma relação com a realização das eleições presidenciais, em 18 de Março do próximo ano.

“Há algo que me preocupa: as Olimpíadas devem começar em Fevereiro e quando são as eleições presidenciais? Em Março. São grandes as suspeitas de que isso é feito para criar descontentamento entre fãs e desportistas, partindo do pressuposto de que o Estado é responsável pelas irregularidades”, disse.

O Presidente russo observou que as organizações desportivas internacionais, incluído o Comité Olímpico Internacional, são altamente dependentes, em particular dos patrocinadores, dos proprietários de direitos de televisão e de publicidade.

Putin notou que os Estados Unidos têm “as principais empresas que pagam pelos direitos de televisão, os principais patrocinadores e os principais compradores de espaços publicitários”.

Em Novembro de 2015, a Agência Mundial Antidoping revelou um estudo a denunciar que atletas russos ingeriram substâncias dopantes e a revelar a existência de um programa estatal russo de doping, que foi negado pelo Kremlin.

10 Nov 2017

Tufão Damrey faz quase 100 mortos no Vietname

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]e acordo com os dados das autoridades vietnamitas, disponibilizados ontem, 91 pessoas morreram em inundações e deslizamentos de terras provocados pelo tufão que atingiu o centro e sul do país.

Outras 23 pessoas continuam desaparecidas desde a tempestade, uma das mais mortíferas das últimas décadas.

A cidade de Danang, que acolhe a cimeira da APEC, foi atingida por fortes chuvas, mas a água não atingiu níveis muito elevados.

Mais de 120 mil casas e 250 mil hectares de terras agrícolas foram danificadas pela tempestade em todo o país, segundo a autoridade de gestão das catástrofes do país.

A vila de Hoi An, classificada como património mundial pela UNESCO, foi muito afectada.

“A nossa família passou alguns dias no segundo piso da casa, a comer massa instantânea seca porque a electricidade estava cortada”, explicou à agência AFP Nguyen Thi Dung, um residente.

Agora que o nível das águas desceu, a vila tem estado ocupada a limpar as suas antes da visita dos dirigentes da APEC.

10 Nov 2017

Iris Sio, licenciada em marketing e professora: “Ensinar crianças é muito fascinante”

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ascida em Macau, há 23 anos, Iris Sio adora explorar novos caminhos e nesta fase prepara-se para rumar a mais uma aventura. Depois de se ter licenciado em marketing, na Universidade de Macau, Iris está a preparar-se para reunir as últimas forças e saltar para o sonho de se tornar professora de estudantes com necessidades especiais. Um objectivo que surgiu na vida da jovem, após ter começado a dar aulas de inglês para crianças.

“Quero mudar o rumo da minha vida e ser professora a tempo inteiro. Comecei a dar aulas de inglês, em regime de part-time, já há algum tempo e tenho grande satisfação com este trabalho. Ensinar crianças é muito fascinante porque têm sempre a capacidade de nos surpreender, adoro esta experiência”, afirmou Iris Sio, ao HM.

“O mais interessante de trabalhar com os mais novos é que podemos ensinar de uma maneira mais dinâmica. Mais importante do que as notas, é a evolução e aquisição de conhecimentos. Assim, sem a pressão de exames, ensinamos de uma forma mais lúdica e eficaz. É mais fácil para os nossos alunos evoluírem se sentirem que estão a fazer algo de que gostam muito”, acrescentou.

Antes de poder dedicar-se a pessoas com necessidades especiais, Iris Sio vai aprofundar os conhecimentos sobre o ensino. Posteriormente, vai procurar especializar-se no ramo do ensino para pessoas com necessidades mais específicas.

“O ensino especial é um processo de procura, porque falamos de pessoas que muitas vezes têm problemas no sistema escolar tradicional. Por isso, acredito que o nosso grande desafio passa por ajudá-las a explorar os talentos que possuem e onde podem fazer a diferença”, explicou.

“Para o ano espero começar a mudar a minha carreira, começando a frequentar algumas das formações dos Serviços de Educação. Depois vou ponderar frequentar um curso para o ensino especial, talvez no estrangeiro. Uma boa formação no exterior poderia ser uma mais-valia com a aquisição de conhecimentos muito mais especializados”, frisou.

Nesta altura Iris Sio ainda trabalha ligada à área do marketing, porém admite fazer uma saída, pelo menos, temporária. Uma decisão motivada pelo facto do trabalho não lhe permitir explorar tanto o lado criativo tanto quanto desejava.

“Sou uma pessoa extrovertida e sempre achei que o marketing seria uma área que se adequaria à minha personalidade. No entanto, depois de ter trabalhado na área, a verdade é que os casos que estudamos nos livros são muito mais interessante do que a realidade” disse a jovem.

“O problema também tem a ver com o mercado de Macau, que é pouco original e foca-se demasiado na venda de produtos e bens materiais, em vez de transmitir mensagens fortes, que nos permitem ser mais criativos”, considerou.

Contacto com o português

Nascida em Macau, Iris optou por estudar português no IPOR durante algum tempo. Para melhorar os conhecimentos fez mesmo um curso intensivo em Lisboa durante um mês. Porém, admite que para conseguir dominar a língua deveria ter investido mais.

“Antes de optar pelo marketing, cheguei a admitir estudar português. Contudo acabei por considerar que não era o caminho que realmente queria seguir. Mesmo assim tive aulas de português no IPOR. Gosto de desafios e acho que ter alguns conhecimentos da língua pode ser útil. Até porque é uma das línguas oficiais de Macau”, afirmou.

“Reconheço que não é uma língua fácil porque é muito diferente do chinês. Por exemplo, são muitos os tempos verbais utilizados e depois existe a questão do género. Saber se devemos utilizar o género masculino ou feminino é mesmo muito complicado”, considerou.

Sobre a aventura em Lisboa, revela que foi uma experiência muito interessante, mesmo que muitas vezes não fosse compreendida quando falava na língua de Camões: “Lisboa foi uma experiência engraçada porque embora o meu português fosse muito básico, conseguia usar algumas palavras ou expressões mais simples. Mas às vezes as pessoas não me compreendiam e tinha de falar em inglês ou usar os gestos, uma forma de comunicação muito universal”, recorda divertida.

De volta a Macau, Iris admite que sente saudades da cidade antiga, mesmo que agora se sinta confortável. “Na altura não havia tanta multidão, hoje é quase impossível ir para algum sítio e não haver muita gente”, aponta.

É por esta razão que a jovem de 23 anos acaba por regularmente ir a Coloane fazer caminhadas, à procura de uma “maior tranquilidade” entre os espaços verdes.

10 Nov 2017

Crisântemo, a Flor de Ouro do Outono

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] cultura tradicional chinesa tem quatro plantas (si jun zi) como temas usados pelos eruditos (escritores, pintores e calígrafos) nos seus poemas e pinturas pois elas simbolizam quatro respeitáveis características que expressam a sua percepção de vida e os elevam à condição superior do ser humano.

A flor da ameixoeira (em mandarim Mei, ) representa o Inverno, altura em que floresce e simboliza energia e coragem, renovamento pessoal e perseverança. A orquídea (em mandarim Lan, ), escolhida para representar a Primavera, simboliza não ter medo das dificuldades, humildade, autodisciplina e pureza de espírito. O bambu (em mandarim Zhu, ), ligado ao Verão, é símbolo de integridade, rectidão, virtude e devoção, paixão pelo estudo, significando firmeza, flexibilidade e resistência. O crisântemo (em mandarim Jü, ) está relacionado com o Outono, pois é nessa estação que aparece, quando já as outras flores murcharam e representa comportamento apropriado e ético. Jun Zi servia ainda para significar a categoria de homem distinto e honrado.

Conhecida na China por JüHua (菊花 kók fá em cantonense), o nome de Chrysanthemum L. foi-lhe dado na Europa em 1689 por Breynius, devido a chrysos significar ouro, sendo universalizado pelo holandês Linneu.

Da família das asteráceas, o crisântemo, que pode apresentar-se em 23 mil diferentes formas, tem na cor amarela a mais comum das suas tubulares (longas e finas) pétalas, apesar de se encontrar com outras colorações, como branco, vermelho escuro e roxo. De cultura fácil, propaga-se por sementes, ou em estacas. É a flor de Outono, pois normalmente aparece durante esta estação do ano e dura até começarem as geadas, simbolizando a longevidade. “Denominada beleza para sempre, representa a jovialidade e amizade e é apreciada pela riqueza das suas cores”, segundo Luís Gonzaga Gomes.

No Outono pelo chão

O poeta Tao Yuanming (365-427), referido por António Graça Abreu no início do Prefácio do livro Poemas de Han Shan (editado por COD, Macau, 2009), apresentou-se precocemente envelhecido, sereno, sobraçando um ramo de crisântemos quando os deuses da poesia decidiram convidar os maiores poetas da China para um banquete de príncipes e letrados, algures num terraço entre nuvens pendurado numa das montanhas mágicas do velho Império do Meio.

Tao Yuanming escreveu sobre os crisântemos e no seu poema “Bebendo vinho”, (retirado do livro Poemas de Tao Yuanming, prefácio e notas de Manuel Afonso Costa, editado por Livros do Meio, Macau, 2013), na sétima parte refere, <Crisântemos de Outono de cores fascinantes / eu vos colho carregadas de orvalho / e mergulho no vinho / para esquecer as mágoas / e os pensamentos do mundo…”

Ficcionada por FengMengLong (冯梦龙) durante a Dinastia Ming, a história ‘O vento de Outono fez cair as pétalas dos crisântemos’ reporta-se a duas personagens da Dinastia Song do Norte (960-1127); Su Shi (1037-1101), mais conhecido por Su Dongpo e Wang Anshi (1021-1086), escritor, poeta, oficial civil, três vezes Governador de Nanjing e por duas vezes Primeiro-Ministro.

Ainda jovem, Su Shi, após se distinguir nos exames imperiais de Keju e ter o título de Jinshi, ficou a trabalhar na capital Kaifeng sob as ordens do primeiro-ministro Wang Anshi, que gostava dele devido à grande inteligência. Mas Su Shi era muito orgulhoso e não perdia uma oportunidade de se mostrar, considerando os outros inferiores, em inteligência e conhecimento. Wang Anshi, sabendo da falta de modéstia de Su Shi, mandou-o para Huzhou como governador. Após três anos, Su regressou à capital e foi ao palácio visitá-lo, onde o informaram estar o primeiro-ministro a dormir. Convidado a entrar nos aposentos de trabalho de Wang, pois reconhecido pelos funcionários, ali se quedou esperando. Perscrutando o local, vislumbrou sobre a mesa um papel com um poema ainda por terminar, algo invulgar, pois lembrava-se das qualidades do seu superior em escrever de seguida relatórios e grande quantidade de poemas. Lendo-o: <Ontem à noite o vento de Outono atravessou o jardim / fez cair as pétalas dos crisântemos, cobrindo o chão de ouro>. O inacabado poema em estilo shi, que deveria ter quatro versos cada um com sete caracteres, estava com imensos erros, pensou ele, pois, esta flor só abre nos finais do Outono e as pétalas, mesmo no Inverno, nunca caem, podendo apenas ficar a flor seca. Tentação irresistível ao olhar para as duas linhas do poema e numa atitude inconsciente resolveu terminá-lo, escrevendo: “As flores de Outono não caem tão facilmente como as da Primavera / por favor pense com cuidado.” Impulso de que logo se arrependeu. Sem poder emendar o erro, resolveu ir embora.

Ao acordar, Wang já no seu estúdio de trabalho reparou na folha escrita e reconhecendo a caligrafia, desabafou não terem chegado três anos para Su aprender a ser modesto. Na audiência com o Imperador, o primeiro-ministro referiu precisar Su Shi de praticar mais para conseguir ser um bom governador e assim, escolheu um pequeno local para o colocar, numa posição mais baixa, destacando-o para Huangzhou, na província de Hubei.

Su Shi, percebendo estar a ser punido pela ousadia de ter escrito aquelas verdades no poema do primeiro-ministro, com um sentimento de superioridade, tentou não se importar, pois sabia ser injusta aquela colocação. Antes da partida, Wang convidou-o para um almoço onde referiu Huangzhou como um lugar relaxante e por isso, poderia ler mais livros. Ao ouvir tal provocação, Su Shi ficou interiormente zangado pois fora um dos melhores nos exames imperiais.

Chegou a Huangzhou em Novembro de 1079 e após uma série de dias de vento forte, a não permitir sair de casa, no dia seguinte à Festividade ChongYang (Duplo 9) foi visitado por um amigo. Su Shi lembrou-se ter à chegada sido recebido com um crisântemo e por isso, sendo esta a melhor altura para o observar, propôs uma ida a um jardim com essas flores. Ao entrarem, Su Shi apanhou um choque. Viu as pétalas amarelas das flores espalhadas pelo chão, cobrindo-o como que de ouro. Reconheceu então o seu erro e compreendeu a razão de ser para aí enviado. Como o ditado chinês refere, “Por mais que se saiba, devemos permanecer modestos, pois nunca sabemos tudo.”

Segundo Luís Gonzaga Gomes, as vestes dos mandarins (oficiais civis) “nas dinastias Ming e Qing eram bordadas com motivos florais como a peónia, ameixoeira, lótus, crisântemo e pássaros”. Também nos bordados xiang, de Changsha, capital da província de Hunan, as figuras mais usadas são o leão, o tigre e o crisântemo. Já o realizador chinês Zhang Yimou no filme de 2006, Man Cheng Jin Dai HuangJin Jia (A Maldição da Flor de Ouro) usa o bordado aliado com o simbolismo do crisântemo, num drama épico que se desenrola nos finais da dinastia Tang.

Em Kaifeng, província de Henan, realiza-se todos os anos, entre 18 de Outubro a 18 de Novembro, o Festival dos Crisântemos, que já vai na sua 35.ª edição e onde são expostos milhões de vasos com essa flor.

10 Nov 2017

Ampliação e redução

“…a graça liliputiana das velas brancas sobre o espelho azul onde elas pareciam borboletas adormecidas, e alguns contrastes entre a profundidade das sombras e a palidez da luz.”
Marcel Proust
“The Colossus”, Goya

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] inegável que vamos conhecendo pessoas ao longo da vida. Desde sempre se estabeleceu contacto com um círculo mínimo de pessoas. O contacto está já desde sempre estabelecido. Não se dá o caso de virmos a conhecer alguém que já vimos. O contacto está feito e já pronto. Crescemos dentro desse mar onde há gente. Aparecemos também aos outros desse modo. Para os que já estão temos a vida marcada e é por nós que esperam, a mãe e o pai, os avós e família mais chegada, amigos próximos, vizinhos. Há outros que conhecemos à medida que o tempo passa. Dão-nos o mote, o tom, a melodia, o ritmo, a música própria das nossas vidas. Nós compomos também em conjunto a melodia de nós para eles. O ritmo e o tempo não são inteiramente particulares ou individuais. Extravasam para fora das nossas vidas, mas às vezes é difícil de perceber que os outros desde sempre escutaram a mesma banda sonora que nós e fizeram a mesma experiência que nós, ainda que pudessem não a ter verbalizado.

Mas há formas de conhecermos os outros que são acentuadas e marcaram as nossas vidas de diferentes modos. Talvez fosse outra forma de magia diferente da primeira, onde o local de encontro era a casa onde nascemos, a praia onde mergulhamos pela primeira vez, a casa de férias, a nossa cidade. Os sítios são feitos pelos encontros. Os outros connosco fazem os sítios, anulam-lhes o carácter factual e constituem-nos como horizontes de sentido e de significado.

Há outros que encontramos em sítios mágicos em tempos inaugurais. O primeiro dia de aulas e o colega ou a colega de carteira, com quem vamos ter ou quem encontramos no recreio. Porquê estas e estes e não aquelas ou aqueles? Que espécie de sentido outro diferente dos que dão a matéria à percepção nos permite detectar afinidades electivas? Os encontros pressupõem uma escolha ou são eles que constituem as afinidades e assim a escolha? Os encontros e os desencontros são muito mais do que princípios básicos de atracção, sobretudo na infância, embora haja paixão na infância, mas é diferente daquela que depois mais tarde na vida acontece para nos marcar a carne e o espírito a ferro.

Um encontro com outro na escola ou com os miúdos novos que vieram para o prédio, aqueles que encontramos na praia com os pais de férias ou os que vamos encontrando no liceu, na faculdade, no emprego, no ginásio dá-se não porque duas pessoas têm uma percepção mútua uma da outra, mas porque há um horizonte de sentido e significado que vibra de uma forma tal que os outros podem ser percebidos por nós e nós pelos outros mas de uma forma completamente diferente. E um encontro pode não ser apenas a dois. Pode ser em grupo. Pode haver um conjunto de pessoas com quem temos afinidades, um mesmo encanto e um mesmo fascínio estão a forrar o tempo que é sempre marcado, a escola, o liceu, a faculdade, o ginásio, o emprego. Pode ser só duas semanas e nunca mais vamos ver essa pessoa. Ainda que não desaparece é apenas um conteúdo onírico que assome ao horizonte de quando em vez já com o rosto desfocado. Pode ser anos e décadas. Há pessoas com quem convivemos décadas e que desaparecem. Regressam a um campo de latência e desaparecem. Podem desaparecer sem nos lembrarmos bem de como era com eles. Às vezes têm uma presença nítida do seu perfil característico. É como se estivessem connosco na sala vazia onde se escreve uma carta, mas pode ser no trânsito, quando tudo está parado e passa na rádio uma melodia ou então sem nenhuma razão aparente.

Uma vida humana tem essas vidas todas em si. E o próprio, protagonista de uma vida ou personagem secundária na vida de outros ou até só figurante, é composto destas múltiplas pessoas que são os terminais das nossas mais diversas relações e comportamentos.

É estranho como de nada se convertem em gigantes nas nossas vidas, mas como também antes de desaparecerem são liliputianos. Entre a ampliação hipertrofiada de alguém na nossa vida e a sua redução a uma memória fugidia tem de haver alguma verdade. Ou a verdade é sempre entre os Yahoos e os Liliputianos que somos nós uns para os outros, mas sem um verdadeiro enfoque, sem uma verdadeira sintonização?

10 Nov 2017

A Sombra de Teseu

TESEU

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]ara ser justo com os deuses

Tenho também de matar Fedra,

Pois as palavras dela mentem

Tanto ou mais que as de Hipólito.

Lembro bem que ela exigiu

Que meu filho trouxesse provas

De que Teseu estava morto.

Mas dessa prova nunca falou

E só de palavras fabricou

A ciência da verdade.

 

CORO DE MULHERES

E Teseu tem agora poder

Para decidir por si mesmo?

Não basta ter morto seu filho,

Matará ainda a mulher?

E nesta decisão quem faz

O gesto final com as mãos,

Ele ou algum deus perverso?

 

CORIFEU

Só a verdade aqui decide!

A verdade do que é certo

É património de Dikê,

Honrada deusa da justiça.

 

CORO DE MULHERES

Uma deusa é uma deusa!

Sempre há-de fazer de nós

Aquilo que bem ela quer!

Se é Fedra que é culpada,

Também agora será Teseu!

Inocente só Hipólito.

E o coitado está morto.

 

(Teseu entra nos aposentos de Fedra)

 

QUINTO EPISÓDIO

TESEU

Podes dizer-me, Fedra, qual foi a prova da minha morte, que Hipólito trouxe à tua exigência, aquando da sua chegada, que não perfaz ainda uma volta do sol à Terra?

FEDRA

Que dizes, meu amado? (surpresa e amável)

TESEU

Pergunto-te pela prova exigida, onde está essa prova?

 

FEDRA

De que prova falas, meu marido?

 

TESEU

Aquela que exigiste como comprovação da minha morte e que levaria Hipólito à tua alcova.

 

FEDRA

Dei à minha criada para destruir, Teseu.

 

TESEU

Mas viste, antes de lhe dares a prova para destruir. Que prova era essa?

 

FEDRA

Era uma das tuas sandálias, Teseu! Pelo menos pareciam. Ele mesmo se esforçou por mostrar isso mesmo, que era uma das tuas. Disse tê-la encontrado junto a um corpo em decomposição, impossível de identificar, que ele mesmo, com seu criado, enterrou. A sandália tinha aquela marca junto ao calcanhar, que tu sempre fazias, sempre fazes, logo que o artificie tas entrega.

 

TESEU (gritando para fora dos aposentos)

Guardas! Guardas!

 

FEDRA (assustada)

Que foi, meu marido?

 

TESEU

Nada com que tenhas de te preocupar, Fedra.

 

(entra o chefe dos guardas, com mais dois atrás dele)

 

CHEFE DOS GUARDAS

Que deseja destes seus servos, meu rei?

 

TESEU

Ide buscar imediatamente a criada de Fedra e tragam-na aqui!

 

FEDRA

Para que queres a minha criada aqui? Não confias nas palavras que te digo?

 

TESEU

Tenho o dever de escutar todos os envolvidos nesta trama. Meu filho, meu único filho jaz morto neste palácio, devido a esta trama. Para não enlouquecer completamente tenho o dever e a obrigação, para com ele, para comigo e para com a Hélade, de escutar a tua criada. Espero que entendas, Fedra!

 

FEDRA

Compreendo, meu amor. Mas que pode uma criada dizer?

 

(entra a criada)

 

CRIADA

Vós mandaste-me chamar?

 

TESEU

Eu mandei, mulher! Quero fazer-te umas perguntas.

 

(ao ver a criada tentando encontrar os olhos de Fedra, diz)

 

TESEU

Olha para mim, mulher! Para mim! Antes de me responderes, é como se Fedra estivesse morta, não existisse mais. Quando Hipólito chegou de Atenas, que objecto Fedra te entregou, para que lhe desses um fim eterno?

 

CRIADA (sem saber o que fazer, mas depois de algum desconfortável silêncio)

Não sei, senhor! Minha senhora deu-me algo, sim, mas embrulhado num pano, e não desembrulhei para ver do que se tratava. Ela disse-me apenas para me livrar disso, lhe dar um fim eterno.

 

TESEU

Queimaste o que Fedra te deu, foi?

 

CRIADA

Sim, meu senhor, dei-lhe um fim eterno!

 

TESEU

Estou a ver, mulher. Responde-me então a mais uma coisa. E isso foi antes ou depois da tua senhora se deitar com Hipólito? E não olhes para Fedra, se queres continuar viva!

 

CRIADA (muito atrapalhada e balbuciando)

Mas, mas… eu não sei nada sobre isso, senhor! Nunca soube de minha senhora ter-se deitado com Hipólito…

 

TESEU

Nunca deste conta sequer de que Hipólito se insinuasse a Fedra ou mesmo a tenha tentado seduzir?

 

CRIADA (atrapalhada, mas após um curto silêncio, desenvolta)

Meu senhor, é possível que isso tenha acontecido, sim. Fedra continua uma bela mulher. E, Hipólito, pensado talvez que o senhor tivesse morrido… Não sei, pode ter afectado a cabeça dele.

TESEU

Já escutei o que precisava escutar, mulher. Podes ir embora. Sai!

10 Nov 2017