Tânia dos Santos Sexanálise VozesGalos [dropcap style≠’circle’]B[/dropcap]em-vindos ao ano novo do Galo. Não fosse o galo o melhor calão para pénis da língua inglesa e esta dedicatória aos galos erectos não existiria. Os galos estão no coração do imaginário masculino e em muitas culturas são símbolo de masculinidade. Estes galos, preciosos adereços pendurados, em tempos embrionários foram coisa nenhuma. Agora falos de tão grandiosa beleza e arquitectura, urinam e ejaculam alternadamente, apesar de uma abertura por igual. O objecto de tão grande desejo sexual julga-se simples e complexo, simples em funcionamento mas complexo nos significados que gerações de homens procuram: à procura do sentido do pénis. Grande ou pequeno, relativo em tamanho, o pénis erecto tem o potencial de surpreender no seu crescimento, ou, por vezes, nem tanto. Se há mistérios da vagina, há mistérios do pénis se assim os quisermos entender ou até explicar… Há teorias infindáveis sobre a pluralidade de tamanhos, sobre como aumentar, ou acidentalmente diminuir! Mas não vale a pena tentar prever absolutamente nada, não há tamanho de sapatos, nem tamanho de mãos que possam garantir o tamanho do objecto penetrador. Há quem diga que fumar fá-lo (falo) diminuir… As bolas, uma mais pendurada que a outra, revestidas de um tecido mais ou menos farto, permitem a temperatura ideal para que as gónadas se ocupem das criação das criaturinhas que correm rápido, cheias de energia, à procura de ovócitos para fecundar. Das estimadas 7000 ejaculações de uma vida masculina, os nossos amiguinhos espermatozóides procuram companhia ideal para gerarem vida – diria que 99,99% das vezes sem sucesso. O sémen, o liquido viscoso dos deuses, rico em vitamina C e aminoácidos para garantir a mobilidade ultrasónica dos nossos transportadores de cromossomas, espirra com vigor para dentro – daquilo que a mente masculina assim desejar. Se o sabor muda consoante a dieta? Muda. Ao que parece o consumo de carne vermelha pode estragar um pouco o aroma do nosso elixir do sexo – o elixir do orgasmo masculino. O orgasmo masculino pode ser curto comparado com o orgasmo feminino mas é o triunfo de beleza sexual. O jacto tão clarificador, não engana absolutamente ninguém de que o prazer foi atingido. Os homens tremem ao sabor da pulsante necessidade de se moverem até à saída da última gota. Os caminhos para lá chegar são mais que muitos: as áreas de excitação do órgão sexual masculino estão na ponta da sua varinha, no períneo, a área entre os testículos e o ânus, e na próstata. Tudo passíveis de carinho, amor e muitas massagens, tal como o resto do corpo. Um artefacto de 28.000 anos foi encontrado com uma clara forma fálica. Em pedra polida, era muito provavelmente usado no auxílio sexual, ou mesmo como decoração. Como as mulheres carregam os bebés, artefactos de mulheres hiper-sexualizadas são muito mais comuns de serem encontrados, mas um pénis? Muitíssimo raro. Isto sugere que o nosso tão prezado galo tenha estado fora do spotlight durante demasiado tempo. Se há um enfoque exagerado no corpo feminino até em tempos contemporâneos? Há. Se precisamos de mais falos simpáticos nas nossas vidas? Precisamos. Bem dito ano do Galo que veio reforçar (se bem que talvez somente na minha fantasia) a importância do pénis nas nossas vidas. São precisos uns galos cantadores de vigor e desejo para satisfazer perspectivas femininas de igualdade também. Não me interpretem mal, nunca estaria a pregar a favor de uma filosofia de ‘satisfaz o teu homem’: satisfaçam-se um ao outro.
Hoje Macau InternacionalEUA| Recurso de Trump para repor decreto sobre imigrantes rejeitado [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m tribunal de recurso norte-americano rejeitou ontem o pedido da administração do Presidente Donald Trump para restabelecer imediatamente a aplicação do decreto que impede a entrada nos Estados Unidos de cidadãos de sete países muçulmanos. O Departamento de Justiça tinha recorrido no sábado à noite da decisão do juiz federal que bloqueou a aplicação do decreto, assinado há oito dias por Donald Trump, para impedir cidadãos de sete países muçulmanos e refugiados de entrarem nos Estados Unidos. O Governo do Presidente dos Estados Unidos iniciara no sábado o processo de recurso da decisão de um juiz federal. Num documento apresentado no Tribunal de Recurso do Nono Circuito, com sede em São Francisco (Califórnia), Trump e o seu gabinete recorreram formalmente da decisão judicial que bloqueou temporariamente a polémica ordem executiva e já abriu as portas do país a imigrantes e refugiados. A notificação do recurso foi apresentada em nome de Trump, do secretário de Segurança Nacional, John Kelly, do secretário de Estado, Rex Tillerson, e dos Estados Unidos. As partes recorrem “da decisão de 3 de Fevereiro” que “restringe a aplicação de parte da ordem executiva de 27 de Janeiro para proteger o país da entrada de terroristas estrangeiros”, segundo a notificação apresentada no tribunal. O documento dá início a um processo de recurso que, segundo especialistas legais, vai seguir-se de um pedido de suspensão da decisão judicial que bloqueou o veto migratório, e de um relatório que expõe os motivos por que, do ponto de vista do Governo, o tribunal de recurso deve aceder ao pedido. Actualmente, mantém-se a decisão do juiz federal James Robart, que bloqueou na sexta-feira a aplicação do decreto de Trump com efeito imediato em todo o país, o que obrigou o Governo a revalidar milhares de vistos e a alterar os seus protocolos de actuação em relação aos imigrantes anteriormente vetados.
Andreia Sofia Silva Internacional MancheteFilipinas | Comunidade em Macau apoia acções de Rodrigo Duterte Não são considerados humanos por serem autores de crimes e por terem a mente alterada devido ao consumo de estupefacientes. Este parece ser o pensamento de grande parte dos membros da comunidade filipina em Macau face à política antidrogas do seu Presidente, Rodrigo Duterte. Mesmo com assassinatos na família, os filipinos aceitam e compreendem que este é o caminho a seguir [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] comunidade filipina em Macau continua a acreditar piamente no candidato às presidenciais que ajudou a eleger em Abril do ano passado. Apesar de a Amnistia Internacional (AI) ter divulgado esta semana um relatório que dá conta da prática de “crimes contra a Humanidade” na implementação da política antidrogas, a crença de que Duterte vai acabar com a corrupção e o crime no país mantém-se inabalável. O documento, intitulado “Se és pobre matam-te: execuções extrajudiciais nas Filipinas”, espelha uma política de combate à droga que se caracteriza por execuções à margem da justiça, com o conluio das autoridades e pagamentos feitos a agentes da autoridade por cada execução, que podem variar entre mil e pouco mais de duas mil patacas. Os factos não chegam para mudar a postura de uma comunidade que acredita que Duterte vai limpar a sociedade de todos os seus males. Os filipinos que aqui vivem apoiam as mortes, compreendem-nas, mesmo que, em muitos casos, afectem as suas famílias. A garantia é deixada por dois representantes da Associação Santo Niño Cebu em Macau, “uma organização religiosa e cívica”, cujo “maior foco é unir a comunidade”, diz ao HM Jamilito Scotti. É Scotti também que nos conta que “a maioria dos filipinos que vivem em Macau está do lado de Duterte”. Ele próprio “concorda com o que o Presidente está a fazer”. A palavra de ordem é limpar para depois reconstruir. Há que compreender, mesmo que a morte doa. “Não conheço casos de filipinos em Macau que tenham perdido os seus familiares nas Filipinas neste contexto, mas acredito que haja pessoas que possam ter passado por essa situação”, admite Jamilito Scotti. “A comunidade filipina em Macau está contente com o Presidente. Falamos sobre assunto entre nós e estamos contentes com esta Administração. Adoramos as nossas famílias e, mesmo que os nossos familiares sejam bons, há sempre alguém que não é. Temos de aceitar a realidade. Esse é o grande ponto, a grande ideia: temos de compreender e aceitar. Temos de estar unidos”, defende Jerry Cuijiano, também ligado à Associação Santo Niño Cebu. Ele próprio teve um familiar assassinado em Dezembro do ano passado. “Tenho uma família grande e um dos meus familiares estava ligado a esse mundo [do tráfico de drogas]. Disseram-nos que foi morto numa situação de luta na rua. Quando ele morreu sentimos… não digo alegria, mas foi um agradecimento a Deus. Foi o primeiro da família que nunca nos ouviu, como é que poderíamos esperar que ele nos iria ouvir?”, relata Jerry Cuijiano. A dor e o medo existem, mas são ultrapassados. “As pessoas compreendem. As vítimas destas famílias tinham uma mente fechada e pertenciam ao mundo das drogas. Não há espaço na nossa sociedade para criminosos, não podemos esperar garantir [o respeito pelos] direitos humanos para estas pessoas. Mas, na generalidade, a questão dos direitos humanos está a ser usada como desculpa para escapar”, inidca Cuijiano. Nem o facto de estarmos perante uma das sociedades mais católicas do mundo afasta a ideia de que a morte é a única solução, sem lugar para o perdão. “Somos pessoas religiosas. Se me pergunta, eu escolho a vida. Matar as pessoas, os viciados em droga, não é a escolha mais acertada para resolver a situação, mas não podemos evitar os assassinatos. No entanto, a sua mente está diferente, têm uma mente distorcida por causa das drogas, estão afectados, e por isso criam situações de conflito”, frisa Jamiliano Scotti. Menos que gente Um dia depois de a Amnistia Internacional ter divulgado um relatório que fala na prática de crimes contra a Humanidade apoiados por Duterte, o secretário para a Justiça do país, Vitaliano II, deixou bem clara a ideia que o actual Governo filipino tem em relação a quem comete crimes no país. Citado pelo Philippines Star, Vitaliano II disse que “os criminosos, os barões da droga, os traficantes, não pertencem à Humanidade. Não são humanos”. Uma ideia que é partilhada pela maioria que votou em Duterte, em busca da erradicação da corrupção e da pobreza. Ana Fivilia, representante de outra associação ligada à comunidade filipina local, lembra que as mortes não foram a primeira opção do actual Presidente. “Duterte quis, numa primeira fase, limpar a confusão do consumo e tráfico de drogas, então decretou uma medida em que as autoridades batem à porta dos suspeitos de tráfico e consumidores, e tentam convencê-los a não continuar a fazer o mesmo. Têm uma lista nas mãos com todos os nomes”, explica. “Penso que a maioria dos filipinos concorda com isso, porque os traficantes e consumidores foram avisados, mas não ouviram as opções que lhes foram dadas. É uma forma de resolver o problema e eliminar todos esses casos”, observa Ana Fivilia. “Nesta situação precisamos de um Presidente assim, e é bom que se faça tudo para limpar, mudar, clarificar. Estou muito satisfeito com o que se está a passar nas Filipinas e quero dizer a todos que aqueles que morreram que escolheram morrer, porque optaram por ter aquele estilo de vida. Tenho noção do que são os direitos humanos, mas também temos de analisar os direitos das vítimas, dos criminosos. Temos de fazer um equilíbrio. A ideia de direitos humanos é boa e precisamos deles, se o país estiver numa boa fase. O país precisa de um homem como ele [Rodrigo Duterte], alguém para fazer o trabalho”, adiantou Jerry Cuijiano. O responsável pela Associação Santo Niño Cebu admite que as Filipinas estão a ganhar má reputação a nível internacional, mas defende que estas acções têm de ser feitas. “Quando se assume uma acção como esta, de limpar os traficantes de droga, claro que dá uma má imagem. Mas temos de compreender que as pessoas que morreram eram criminosas, dependentes de drogas. Temos de fazer uma limpeza primeiro e depois impor os direitos humanos. Há criminosos que apenas cometem crimes porque precisam de ajudar a família, tudo bem. Mas e os criminosos que o fazem porque são loucos e só pensam em actos maus, como matar? Isso tem de ser removido.” Reabilitar sim, mas pouco O documento divulgado pela AI fala do envolvimento da polícia nas execuções, com muitos dos agentes a receberem dinheiro pelo que fazem. Mas há também uma ligação no próprio mundo da droga. “Quem mata essas pessoas são polícias que também estão ligados aos traficantes de droga”, admite Jerry Cuijiano. “Há famílias assustadas com tudo o que está a acontecer. O Presidente Duterte tem a acção contra o tráfico e o que o Governo está a fazer é uma intenção de limpar todas as pessoas que estão envolvidas, incluindo os polícias. Há incidentes, assassinatos em que a polícia também está envolvida”, acrescenta Jamilito Scotti. Questionados sobre a importância de apostar em centros de reabilitação para curar o vício da droga, tanto Scotti e Cuijiano optaram por não se alongar muito sobre o assunto. “Há centros de reabilitação mas, quando as pessoas se tornam dependentes de drogas, só vêem o que querem. Perdem a noção de tudo. Tornam-se completamente limitadas”, diz Cuijiano. Já Jamilito Scotti considera que as condições actuais para receber toxicodependentes são más. “Nas Filipinas há muitos toxicodependentes, mas não existem infra-estruturas suficientes para os receber. Por isso o Governo está a tentar ter centros em vários pontos do país, não apenas em Manila. Pelo que sei, há alguns países como o Japão ou a China que têm comunicado com as Filipinas para ajudar nesse sentido, para que haja mais centros de tratamento.” Uma grande indiferença Ângelo R. Lacuesta é um escritor filipino que já esteve em Macau para participar no festival literário Rota das Letras. Em declarações ao HM, por e-mail, o escritor fala do medo diário que se instalou no país, mas também na indiferença. “Há uma série de coisas chocantes que estão a acontecer à nossa volta, mas duas delas sobressaem. Em primeiro lugar há uma série de assassinatos extrajudiciais a acontecer numa base diária. Em segundo lugar, há uma incrível apatia, indiferença e apoio que as pessoas têm vindo a demonstrar em relação a estes homicídios.” Para Ângelo R. Lacuesta, é necessário olhar para a vida. “Antes de nos questionarmos quem está por detrás dessas mortes, ou que impacto terão na economia, um assassinato é um assassinato. Não tem nada que ver com política, ou personalidades – é uma questão de justiça”, remata. O relatório da AI aborda 33 casos em que foram assassinadas 59 pessoas em diversas partes do país. A organização entrevistou 110 pessoas, incluindo testemunhas, familiares de vítimas e agentes das forças de segurança. Os pagamentos aos agentes serão uma prática comum. Um dos agentes confessou à AI que a polícia lhes paga entre oito mil e 15 mil pesos [qualquer coisa como 1300 a 2500 patacas] por execução, sendo que ainda recebem uma comissão das funerárias mais próximas. A AI escreve que, “se não forem tomadas imediatamente medidas decisivas, a comunidade internacional deve recorrer ao Tribunal Penal Internacional para uma investigação preliminar a estes homicídios, incluindo a participação de altos funcionários do Governo”.
João Luz Manchete PolíticaFinanciamento | Au Kam San pede fiscalização a associações O deputado Au Kam San, em interpelação escrita, questiona o Governo sobre a forma como se autorizam e fiscalizam os financiamentos às associações. Para o deputado, algumas destas organizações são um “grande buraco negro” [dropcap style≠’circle’]“P[/dropcap]orque é que o Governo autoriza este tipo de financiamento?”, interroga Au Kam San. O exemplo que serve de motor à interpelação escrita é um caso do ano passado, quando se descobriu que a Associação de Mútuo Auxílio dos Moradores de Mong Há desviou fundos para financiar o seu centro de convívio. Para o deputado, em teoria, quando uma associação requer fundos do erário público deve especificar “o destino do financiamento”, os fins específicos para os quais são destinados. Ou seja, não podem ser utilizados para outras entidades. Em questão está a ligação entre a associação e o seu centro de convívio. O último está subordinado à Associação de Mútuo Auxílio dos Moradores de Mong Há, “mas ambas têm autonomia financeira”. Para Au Kam San, a situação agrava-se uma vez que o dito cento de convívio já recebe fundos do Instituto de Acção Social (IAS). “Ao longo dos últimos 20 anos, o centro foi financiado em milhares de patacas para o pagamento da respectiva dívida”, escreve na interpelação. O tribuno acrescenta ainda que esta devia ser a única forma de financiamento do espaço, sendo que os valores transferidos para pagamentos de renda não ficaram inscritos nas receitas da associação. Ou seja, as centenas de milhares de patacas que serviriam para pagar as rendas “desapareceram completamente”. Pedida responsabilidade Au Kam San lembra que este tipo de problemas tem sido sempre alvo das críticas do Comissariado da Auditoria mas, apesar de tudo, são situações que continuam por resolver. O deputado alertou na interpelação que “quando o centro obteve o financiamento, o seu coordenador transferiu as verbas respectivas para a associação de que também é director-geral”. Esta manobra torna “a fiscalização impossível”, o que configura para Au Kam San “um autêntico abuso e uma ilegalidade”. O deputado questiona-se como poderá o IAS ter permitido esta situação, sugerindo ser a própria associação a resolver os conflitos que tinha internamente. “Foram arbitrariamente utilizados recursos públicos, desapareceu mesmo ou foi desviado erário público, portanto, não restam dúvidas da natureza criminal da situação”, completa. Neste âmbito Au Kam San pergunta porque não foram feitas participações “aos serviços competentes da área da investigação criminal”.
Andreia Sofia Silva PolíticaHo Ion Sang critica não cumprimento dos planos legislativos O deputado Ho Ion Sang interpelou o Executivo sobre os atrasos na implementação dos dois planos legislativos de 2015 e 2016, afirmando que a coordenação da elaboração das leis não está a acontecer [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo tem vindo a prometer, mas não cumpre. Há muito que os relatórios das Linhas de Acção Governativa (LAG) falam na implementação da coordenação das leis, mas para o deputado Ho Ion Sang essa é uma realidade que está longe de se verificar. “Segundo afirmações da Administração, o quarto Governo da RAEM já definiu um regime de coordenação legislativa e emitiu instruções internas implementadas em todos os serviços sobre o fluxograma das operações”, escreveu o deputado numa interpelação escrita. Contudo, “os planos legislativos relativos aos últimos dois anos (2015 e 2016) não conseguiram ficar concluídos em conformidade com o prazo definido, e actualmente estão acumuladas, no âmbito das comissões permanentes da Assembleia Legislativa (AL), muitas propostas de lei que aguardam a respectiva apreciação na especialidade”. O deputado, que representa a União Geral das Associações de Moradores (Kaifong) no hemiciclo, defendeu que “neste momento ainda não é possível alcançar o objectivo de ser a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça a entidade responsável pela coordenação de todas as propostas de lei, pois a elaboração de algumas ainda é liderada pelo respectivo serviço funcional.” “Como é que as autoridades vão coordenar o respectivo trabalho, acelerar o ritmo legislativo e aumentar a respectiva eficiência?”, questionou. Táxis, idosos, habitações Ho Ion Sang falou dos diplomas que estão atrasados e que estão relacionados com a vida dos residentes. “Quanto ao regime jurídico de garantias dos direitos e interesses dos idosos e o regime jurídico de habitação social, são propostas de lei que envolvem o bem-estar da população e que continuam a permanecer na ‘fase do exame final’ ou na ‘fase de aperfeiçoamento final’, portanto não se sabe quando ocorrerá a sua apresentação à AL. Mas não é só no caso do plano legislativo para 2016 que existe a situação do plano legislativo não estar concluído dentro do prazo, pois o mesmo aconteceu com o plano legislativo para 2015.” Para o deputado, “há que proceder ao necessário ajustamento, para que o plano legislativo seja mais concreto e viável, realizando, passo a passo, um mecanismo de coordenação legislativa que assuma, em si, a tomada de decisão, coordenação, elaboração e consulta. Isto vai ser feito?”, questionou. Defeitos e problemas Ho Ion Sang aponta ainda a existência de vários problemas no conteúdo das propostas de lei e “defeitos ao nível da sua aplicação”. Os articulados “necessitam de sujeitar-se a várias alterações, facto esse que facilmente origina a redução da eficiência legislativa, sendo desfavorável à estabilidade da lei. Dessa forma também é difícil alcançar os efeitos sociais pretendidos.” Para o deputado dos Kaifong, é necessário “criar um mecanismo de avaliação que vise, principalmente, fazer reflectir sobre os diplomas legais no tocante a vários aspectos, tais como a razoabilidade da concepção, os efeitos resultantes da execução, com vista a opiniões ou sugestões para os futuros trabalhos legislativos e a respectiva execução da lei. Isto chegou a ser feito?”, concluiu.
João Luz Manchete SociedadeTurismo promete guerra contra excursões a preços baixos [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]m resposta à interpelação escrita da deputada Kwan Tsui Hang que pedia fiscalização às agências de viagens e aos guias turísticos, o Executivo respondeu com medidas. De acordo com a Direcção dos Serviços de Turismo (DST), existe intenção de criar “normas destinadas à questão de excursões a preço nulo ou a preço baixo”. Como tal, foi proposta uma lei para proibir as agências de viagens de aceitar o acompanhamento de excursões turísticas à RAEM “sempre que o preço cobrado pelos serviços seja inferior ao respectivo custo e às sanções no caso do incumprimento”. A DST tem realizado inspecções regulares a postos fronteiriços e pontos de interesse turístico, em especial durante os feriados e períodos festivos, quando se regista uma maioria afluência de turistas. Durante o ano passado foram “realizadas 1401 acções de inspecção”, assim como foram inspeccionados, aleatoriamente, 323 grupos turísticos oriundos do Interior da China. No que toca a tratar disputas turísticas, a DST instaura procedimentos sancionatórios sempre que se verifiquem irregularidades por partes das agências, ou guias turísticos locais. Sempre que os incidentes tenham na sua origem operadores turísticos do Interior da China, a DST dá conhecimento dos casos à entidade homóloga da China, para que esta possa proceder como julgue conveniente. Neste sentido, no ano passado a DST recebeu 67 queixas, ou pedidos de assistência, por parte de turistas. Destas participações resultou um caso de infracção à legislação vigente, com devido procedimento sancionatório instaurado, sendo que em cinco outros casos envolvendo agências de turismo do Interior da China foi dado conhecimento às autoridades chinesas. Guias protegidos A resposta do Executivo, no que toca às excursões de baixo custo, alerta que “é difícil garantir a qualidade se o preço é demasiado baixo”. É compreensível que estes métodos sejam usados para angariar clientela mas, desta forma, os operadores turísticos procuram obter verbas de outras formas. Por exemplo, induzindo os turistas a fazerem compras, valores que se acrescentam ao preço das viagens. O Governo procura minorar o efeito destas técnicas comerciais através de campanhas de sensibilização dos turistas, distribuindo “panfletos informativos e curtas-metragens publicitárias para promover a racionalidade no processo de consumo”. Foi também disponibilizado no site da DST um link para recolha de queixas de turistas que se sintam lesados por estas práticas. Outro dos pontos da resposta do Executivo prende-se com a protecção do guia turístico quando este trata da sua certificação. Antes de 1998, o cartão de guia era requerido pela agência turística, ficando esta com a faca e o queijo na mão porque o documento caducava com o fim do contracto. A alteração eliminou o regime de exclusividade à entidade patronal, aumentando a autonomia e flexibilidade dos guias turísticos.
Andreia Sofia Silva SociedadeEnsino | Governo estabelece código de conduta para docentes Já estão publicadas em Boletim Oficial as normas profissionais do pessoal docente das escolas públicas e privadas. A académica Teresa Vong lamenta que tenha sido o Governo a criar este código de conduta, em vez dos próprios docentes [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ão discriminar, ensinar conteúdos de forma diversificada, “dar o exemplo de boa conduta”, não aceitar subornos. Eis algumas indicações que constam nas novas normas profissionais do pessoal docente, publicadas ontem em Boletim Oficial e assinadas pelo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam. O novo código de conduta entra em vigor em Setembro, no arranque de um novo ano lectivo. As normas estabelecem ainda regras a cumprir “no âmbito da relação entre docentes e alunos”, sem esquecer as “relações de parceria” com outros professores. É ainda decretada a forma para se ter a “atitude profissional mais correcta”. É também pedido aos docentes que apostem na sua formação profissional ao longo da carreira. “Além de possuir as qualificações e capacidades profissionais previstas nos respectivos diplomas legais, procure elevar as suas capacidades profissionais e de formação, no sentido de contribuir para promover o reconhecimento e aceitação da profissão”, pode ler-se. Ao HM, a académica Teresa Vong, da Universidade de Macau (UM), lamenta que o código de conduta tenha sido elaborado pelo Governo, apesar de este contar com o apoio de uma comissão composta por membros do sector. “Normalmente estes códigos de conduta são estabelecidos por órgãos profissionais, em vez do Governo. Mas em Macau o sistema é diferente e não temos esses órgãos profissionais. Claro que quando o Governo estabelece este código profissional para os professores, significa que são mais medidas administrativas do que profissionais. Noutros lugares, em Portugal e no Reino Unido, os órgãos profissionais têm mais poder do que o Governo. Aqui não existem sequer e é tudo da responsabilidade do Executivo. Mostra que em Macau, especialmente os professores, não existe suficiente profissionalismo.” Faltam direitos Teresa Vong defende ainda que as normas profissionais do pessoal docente pecam por não conterem os direitos dos professores. “Estas regras dão ênfase às responsabilidades dos professores. Não houve uma elaboração dos direitos dos professores. Não são normas de conduta muito completas.” A docente da UM considera que houve alguns casos pontuais de abusos ocorridos antes da publicação destas normas. “No final do ano passado, houve o caso de um professor que assediou ou teve um caso com uma aluna. Mas não é uma questão muito séria em Macau. Estas normas de conduta funcionam como uma forma de prevenção de más práticas. Penso que se trata de uma medida suave, que encoraja os professores a praticar ou a exercer determinadas práticas.” Paul Pun, docente e director da escola São João de Brito, defende que o documento visa apenas servir de orientação para quem ensina. “Alexis Tam publicou este código de conduta, mas já vínhamos seguindo algumas orientações. Os professores devem ser um exemplo para os estudantes e para a comunidade. São apenas regras orientadoras, não representam um ataque aos professores.”
Isabel Castro SociedadeMacau e Hong Kong com as temperaturas mais elevadas desde que há registos Desde 1952 que não se via, em Macau, um primeiro mês do ano assim tão quente. Os agasalhos pouco saíram dos armários. Em Hong Kong registou-se o mesmo fenómeno. A culpa é das alterações climáticas [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] média da temperatura em Macau no primeiro mês deste ano foi a mais alta em Janeiro desde que existem registos: 17,5 oC. O valor foi fornecido ao HM pelos Serviços de Meteorologia e Geofísica e confirmam um fenómeno que também se registou em Hong Kong, região com contas feitas à temperatura há bastante mais tempo. “Esta média é relativamente alta. É a média de temperatura do ar mais elevada em Janeiro desde o estabelecimento desta direcção de serviços, em 1952”, explica a Meteorologia, numa resposta enviada por escrito. O valor representa uma subida de dois graus Celsius em relação à média normal de Janeiro. Há várias razões para que os termómetros não tenham descido às temperaturas que, por norma, se sentem no Inverno – e nem o ano novo chinês que, por norma, vem acompanhado de frio, foi excepção. “A deslocação do ar frio e intenso foi pouco frequente para Macau e, ao contrário, o tempo foi afectado pela massa de ar quente e húmido que provocou as temperaturas altas em Janeiro.” O fenómeno também “está relacionado com as alterações climáticas”. Em Hong Kong, os registos das temperaturas datam de 1885 – e nunca se tinha visto um mês assim. Em 1901, Janeiro foi também um mês invulgarmente ameno, mas mais fresco do que este início de ano. De acordo com a imprensa da antiga colónia britânica, a média da temperatura foi superior à de Macau, ao chegar aos 18,5 oC. Por norma, em Janeiro a média das temperaturas é de 16,3 oC, assinala o Observatório da região vizinha. As autoridades de Hong Kong divulgaram ainda outros dados: 6 de Janeiro foi o dia mais quente do mês, com os termómetros a chegarem aos 25,5 oC, e foram registadas, em média, mais 2,1 horas de sol do que é habitual.
Hoje Macau China / ÁsiaRelatório | Liberdades de Hong Kong diminuíram [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] organização norte-americana Freedom House considera que Hong Kong é menos livre do que há um ano, devido à interferência nos assuntos da cidade pela China, um país que mantém como “não livre”, segundo parte do relatório anual publicada ontem. Hong Kong foi novamente classificada como “parcialmente livre”, mas a sua pontuação global em termos de direitos políticos e liberdades civis passou de 63 para 61 em 100. O relatório da Freedom House indica que “a violação das liberdades no território por Pequim” está reflectida, entre outros aspectos, na recente interpretação da Lei Básica (miniconstituição da cidade) para impedir dois deputados pró-independência eleitos de tomarem posse no Conselho Legislativo (parlamento). A interpretação da Lei Básica de Hong Kong por Pequim aconteceu em Novembro, cerca de dois meses depois das eleições para o Conselho Legislativo de 4 de Setembro. Em Outubro, Baggio Leung e Yau Wai-ching prestaram juramento, mas pronunciaram a palavra China de forma considerada ofensiva e acrescentaram palavras próprias ao texto da tomada de posse, comprometendo-se a servir a “nação de Hong Kong”. Os juramentos foram considerados inválidos e em Novembro, quando o caso estava a correr na justiça em Hong Kong, o Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular da China, numa rara interpretação da Lei Básica da região, considerou que os dois eleitos não podiam repetir o juramento do cargo e tomar posse como deputados. A Freedom House também referiu as detenções pelas autoridades do interior da China de cinco livreiros ligados a uma editora de Hong Kong – um caso tornado público há cerca de um ano, após os respectivos desaparecimentos no final de 2015 – e apontou retrocessos na independência académica e liberdade de imprensa. “Os defensores da liberdade de imprensa em Hong Kong continuaram a criticar o crescimento repentino da pressão pró-Pequim sobre a expressão jornalística, acusando os proprietários dos ‘media’ de incentivarem a autocensura para favorecer os interesses do Governo central”, indica o relatório. Tendências negativas Já a China obteve 15 pontos em 100 no índice de liberdade do ‘think tank’, que coloca o país na categoria “não-livre”, e abaixo de países como o Irão, a Rússia e a República Democrática do Congo. A Freedom House referiu que o Partido Comunista chinês apertou o controlo sobre vários aspectos da governação no país, enquanto o Presidente, Xi Jinping, consolida o seu poder. Também advertiu que a China está numa “tendência descendente”, reflectindo “o efeito arrepiante” gerado por uma lei relacionada com a cibersegurança e com o aumento da vigilância na Internet, além de denunciar “as longas penas de prisão aplicadas a advogados de direitos humanos, activistas e crentes religiosos”. Aprovada em 2016, a lei sobre a cibersegurança visa, segundo a agência de notícias chinesa Xinhua, “controlar, defender e gerir os riscos da cibersegurança e as ameaças internas ou vindas do estrangeiro, protegendo informação chave de ataques, intrusão, alterações e danos”, e tem sido muito criticada por organizações empresariais estrangeiras e grupos de defesa dos Direitos Humanos. A Freedom House não faz referência a nenhum relatório sobre Macau na sua página de Internet. A organização Freedom House foi criada em 1941 pelo advogado do Partido Republicano norte-americano Wendel Wilkie e por Eleanor Roosvelt, mulher do Presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosvelt. O relatório anual sobre “Liberdade no Mundo” é publicado desde 1972. Globalmente, a organização apontou o declínio da liberdade a nível mundial pelo 11.º ano consecutivo, numa altura em que “as forças populistas e nacionalistas conseguem ganhos significativos em Estados democráticos”. Em 195 países ou territórios avaliados, 87 foram classificados como “livres”, 59 “parcialmente livres” e os restantes “não livres”.
Hoje Macau EventosArte | Decreto de Donald Trump mina exposições e intercâmbios A decisão de barrar a entrada nos Estados Unidos de cidadãos de vários países muçulmanos está a ter consequências práticas aos mais diversos níveis. Há curadores e artistas com projectos que passaram a ser impossíveis. Existe ainda o receio de que Donald Trump acabe com o financiamento para a arte [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] alerta é deixado por artistas e curadores que trabalham com arte do Irão: a impossibilidade de acesso aos Estados Unidos para aqueles que constam da lista de países malditos definida por Donald Trump está a ameaçar o intercâmbio, a organização de exposições e a realização de residências artísticas. O Art Newspaper conta que dois artistas iranianos cancelaram uma viagem dos Estados Unidos para o Canadá, com receio de terem problemas no regresso a casa, apesar de serem detentores do cartão de residência permanente. Iam à cerimónia de inauguração de uma exposição de arte contemporânea no Museu Aga Khan. A publicação explica que até mesmo os cidadãos iranianos que têm passaporte americano ou os que residem nos Estados Unidos há muitos anos se sentem ameaçados e inseguros. Para reforçar a sensação de incerteza, as notícias que dão conta dos planos da Administração Trump em relação ao fundo nacional para as artes: diz-se que o Presidente quer acabar com este mecanismo. O responsável pela revista online Reorient, Joobin Bekhrad, cancelou, por enquanto, as viagens para os Estados Unidos. Bekhrad faz um trabalho significativo na divulgação da arte do Médio Oriente e tem dupla nacionalidade – é iraniano e canadiano. “Dizem que, por ser também canadiano, não devo ter razões para me preocupar, mas não acredito”, explica. “Vou sentir falta de ir a exposições, mas penso que não valem a humilhação.” Sanções para a arte Têm sido realizadas várias exposições importantes de artistas iranianos nos Estados Unidos. O Warhol Museum confirmou esta semana que vai para a frente com uma mostra do artista iraniano (também com nacionalidade americana) Farhad Moshir, programada para Outubro. “O artista aborda tradições e o isolacionismo histórico do Irão, demonstrando, em simultâneo, o poderoso apelo e influência da cultura ocidental no seu país natal”, declarou um porta-voz do museu. Já a curadora Roya Khadjavi-Heidari que, no ano passado, organizou uma exposição de arte iraniana e cubana no nova-iorquino Rogue Space, admite estar preocupada com um projecto que tem em mãos: uma iniciativa agendada para Abirl, composta por 30 trabalhos de três irmãos do norte do Irão, Morteza, Mojtaba e Sina Ghasemi. Khadjavi-Heidari está fortemente envolvida em programas de intercâmbio cultural e o decreto presidencial tem um forte impacto no seu trabalho. “Julgo que não se pensou nas consequências, é uma medida que vai trazer muitas complicações. A arte nunca fez parte das sanções, sempre conseguimos trazer obras com alguma facilidade”, aponta. “Estou preocupada. Será impossível a estes três artistas conseguirem os vistos de entrada.” Em Paris, a curadora Leila Varasteh recorda que, mesmo sem a iniciativa de Donald Trump, já era difícil fazer chegar ao Ocidente obras de artistas iranianos, por causa das sanções a Teerão propostas pelos Estados Unidos e que os países europeus subscreveram. “É difícil ir buscar arte e não posso pagar aos artistas porque, se o fizer, congelam as minhas contas bancárias”, explica. “Durante a Administração Obama, houve ainda uma pequena esperança que agora desapareceu. É uma pena porque as trocas culturais entre os Estados Unidos e o Irão eram fantásticas. Tudo aquilo que vem do Irão está a ser cancelado, de dentro do país e também dos iranianos que vivem no estrangeiro.” Ainda assim, os protestos nos Estados Unidos e na Europa contra as novas interdições de entrada em solo norte-americano fazem com que Leila Varasteh diga que “a esperança está a voltar aos poucos”. Medo de estar, medo de sair Nascida no Irão, a artista Bahar Behbahani vive em Brooklyn e tem dupla nacionalidade. Com uma exposição neste momento em New Hampshire, confessa não se sentir segura, não obstante o facto de ter passaporte norte-americano. Behbahani tem sido aplaudida por uma série de trabalhos que têm por base os jardins persas. Em 2007 fez um filme sobre uma mulher no Irão que observa um jardim perfeito, mas fá-lo de pernas para o ar. Na semana passada, diz a artista, teve a mesma sensação de deslocamento e estranheza nos Estados Unidos. “Quase dez anos depois, senti-me de novo ao contrário. Na última semana senti-me confrontada com a minha nacionalidade, mas também com o facto de ser artista. Não é relevante de onde se vem, quando nos sentimos ameaçados com as notícias de que o fundo para as artes poderá ser eliminado. Isso também é uma ameaça”, afirma. “Não sou só eu a ter esta sensação. Há tantos americanos que se sentem também de pernas para o ar, em vários aspectos. São tempos difíceis para todos.” O artista iraniano Shahpour Pouyan, a viver em Nova Iorque com um cartão de residência permanente, diz sentir-se “preso”. “Não posso deixar o país e, como artista, tudo isto significa que não posso fazer exposições e mostrar os meus trabalhos lá fora”, explicou ao New York Times. Shahpour Pouyan é um dos artistas que cancelou a viagem ao Canadá.
Hoje Macau EventosVhils apresenta trabalho na embaixada portuguesa em Banguecoque [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] português Alexandre Farto, que assina como Vhils, vai criar este mês uma obra na embaixada de Portugal em Banguecoque, que será a primeira do artista na Tailândia. De acordo com o Instituto Camões, a peça, criada “no muro exterior da embaixada de Portugal, situada no terreno oferecido em 1820 pelo Rei Rama II”, será inaugurada no próximo dia 10. Contactado pela Lusa, Alexandre Farto adiantou tratar-se de uma obra isolada em Banguecoque, que será a primeira que fará na Tailândia, mas escusou-se a revelar qual o seu conteúdo. A obra é uma iniciativa da embaixada de Portugal e do Centro Cultural Português em Banguecoque, com o apoio do Instituto Camões e do Minor Group. Alexandre Farto cresceu no Seixal, onde começou por pintar paredes e comboios com graffiti, aos 13 anos, antes de rumar a Londres, para estudar Belas Artes, na Central Saint Martins, depois de não ter conseguido média para uma faculdade portuguesa. A técnica que notabilizou Vhils consiste em criar imagens, em paredes ou murais, através da remoção de camadas de materiais de construção, criando uma imagem em negativo. Além das paredes, já aplicou a mesma técnica em madeira, metal e papel, nomeadamente em cartazes que se vão acumulando nos muros das cidades. Em 2014, Alexandre Farto inaugurou a sua primeira grande exposição numa instituição portuguesa, o Museu da Electricidade, em Lisboa: “Dissecação/Dissection” atraiu mais de 65 mil visitantes em três meses. Esse ano ficaria também marcado pela colaboração com a banda irlandesa U2, para quem criou um vídeo incluído no projecto visual “Films of Innocence”, que foi editado em Dezembro de 2014, e é um complemento do álbum “Songs of Innocence”. Em 2015, o trabalho de Vhils também chegou ao espaço, através da Estação Espacial Internacional, no âmbito do filme “O Sentido da Vida”, do realizador Miguel Gonçalves Mendes. Em Março do ano passado, inaugurou a primeira exposição individual em Hong Kong, “Debris”, no topo do Pier 4, uma mostra que reflecte a cidade e a identidade de quem nela habita para ver e, sobretudo, “sentir”. Em Dezembro, chegou a vez de Macau, com um mural nos jardins do Consulado de Portugal. Foi a primeira obra de Vhils numa representação diplomática portuguesa. Ainda no ano passado, Vhils recebeu o prémio personalidade do ano 2015 da Associação da Imprensa Estrangeira em Portugal. Paralelamente ao desenvolvimento da sua carreira criou, com a francesa Pauline Foessel, a plataforma Underdogs, projecto cultural que se divide entre arte pública, com pinturas nas paredes da cidade, e exposições dentro de portas, em Lisboa.
Anabela Canas de tudo e de nada h | Artes, Letras e IdeiasBranco-cinza. Cor de rosa [dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]á uma cidade submersa por detrás de cada frase. De cada pessoa. De cada paisagem estranha de sonho. Aquela quase brancura do céu nas noites de chuva mansa e monótona e às vezes acabada. Como a pele clara mergulhada na quase escuridão, de quase não pensar. É o quê, o corpo, senão uma imensidão branca e momentânea no resto da noite como o céu no resto da chuva. Um corpo a apagar. A acender, a apagar. A mágoa a apagar o que o corpo acende. Às vezes. Desvendar como aos olhos. Como se uma impossibilidade fosse visível na possibilidade de um corpo. Uma visão completa do que é para além. Dos espasmos. De uma respiração rouca. Gritos. Mesmo. Se mesmo, algo cruzasse nos sentidos todos, a fronteira fina da pele. Mas mesmo assim não há menos do que dois ou três, num. Sentir, olhar, pensar. O outro. E são quatro, já. Ali. Na mesma cama. Na mesma noite branca acinzentada, e de restos de chuva, ainda a escorrer de tudo. Intervalados ruídos frescos. Irritantes e cavos, dependendo do que tocam. Alguns. Outros, devagarinho, a envolver. Em insólitas geometrias secretas. Daqui e dali. A ecoar na noite. Branca, cinzenta, citadina, como só as noites. Sobre paredes, canos e vidros, e tudo ao negro, ou quase. Excepto a noite do céu. Clara e impiedosa a correr sem se dar por ela. A correr lenta. Clara. Clara e lenta e surda como só a noite. Na cidade real e adormecida. Ao lado do corpo. Cerra-se-me o silêncio como uma banda adesiva em torno de pensamentos e palavras de conclusão. Cerram-se as palavras em torno de pensamentos e penas. E como penas e penugens de asas friorentas sobre o corpo de uma lógica e uma não-lógica. E o frio. E provisório tudo. As pessoas viram o cérebro do avesso e mobilam a casa. Ou perder-me em auto-estradas de circulação restrita. Marear sem cuidado nem destino e voltar a casa ao Cabo da frustração. Mas é uma coisa perecível sempre. Cada tom e cada lugar e cada passo. Passou. Sei lá, às vezes o que fazer de ti, de mim. Na memória. Beijos. Como a terminar uma carta mas com a polpa de um lábio inferior nítida. Nítida e doce. Depois a flor. Já na almofada. Não sei se minha se no sonho, minha. E falar. Não é que tantas vezes não pense que me desenganei no ficheiro e cliquei no poema errado. Poema, loquema, fonema, criatema, problema. Coisas que nem existem. Abraço a almofada com força. Todos os dias até à noite, ou sobretudo aí aquela vontade teimosa de que ainda chegue algo consolador. E ao mesmo tempo que rejeitar a ideia de fechar o dia na noite da cama do sono e do fim, e nele, nela, a vontade do outro dia. Do seu desconhecido, do seu desconhecimento absoluto no que traz e no que retira. Fico entre portas na indefinição de querer e não querer ouvir. Ver. Perguntar, esperar. Acabar. Desesperar. De não ver. Sempre. E como se as palavras da escrita pudessem ter as cores de uma aguarela sóbria etérea e deslavada de qualquer colorido rico e definitivo, e dela sobrasse apenas uma memória fresca mas fantasmagórica da cor. Das cores. Das cores suaves de ainda não serem no esplendor do meio-dia. Da fantasmática misteriosa plenitude da meia-noite iluminada de lua, do desconhecido absoluto de uma noite sem luar, ou da misteriosa vida anunciada em declínio pelas cinco da tarde a reverberar como iluminadas por dentro as formas. É já uma madrugada nublosa daquelas em que a maior violência que se pode imaginar, para além de todos os pensamentos pendentes de outros dias, para aquém deles e dos dilemas, mais dúvidas do que dilemas, para além de tudo o que acorre de assalto no primeiro minuto vigilante, é ter que sair do esquecimento morno dos cobertores de lã. Em que há sempre ainda a esperança de retorno ao sono. Mas que já não volta até outro dia. E o apelo frio incolor da madrugada, ali, como um chamamento indeciso mas persistente. Avanço no campo de vimes e hastes a amarelar sem estação convicta. Rígidos e estaladiços. Discretamente crepitantes, frágeis na forma e espessura, mas que picam. Que arranham, que ferem discretamente a pele sem impedir de avançar, sem se lhe dedicar um pensamento mais do que ténue como as cores. Momentâneo como cada passo. E passo em frente com as árvores ao fundo sem saber porquê. Porque vou. E uma haste perdida no meio de tudo, uma pernada de roseira brava por engano. A diferença entre tudo o que se assemelha. No meio, bem no meio do que se assemelha. E, como por ilusão da vontade, vira uma corola coroada de pétalas frescas de cor suave mas cor. Vira para mim imperceptíveis milímetros das pétalas abraçadas entre si e penso que não são girassóis ali. Pergunto-me porquê. Que nada em mim tem o alo ensolarado e radiante matinal de um sol da terra. Mas avanço deslumbrada. Chego-lhe perto demais. E estendo a mão no encantamento de uma rosa no meio de silvas e outras agruras. E pergunto, recolhendo a mão posso…posso tocar…pergunto sempre e nunca sei a resposta porque é assim que eu sou. Para além dos olhos nada mais sei. Diria que me olhou ao chegar. Mas talvez não. Era talvez o meu desejo deslumbrado de a ver diferente e bonita. Ali. Talvez até nem estivesse ali ao fundo, mas por detrás dos olhos com que a desejei. Ver. Pressentir ao fundo. Alugar os meus passos até. E chegar. E perguntar posso. E vê-la ainda talvez amuada ou irritada da minha pergunta. Que faço demais. E olhar…Também. E perguntar. E olhar. E perguntar. E nunca saber ver. Sem perguntar sem saber. Quase jurava ver-lhe, se estava ali, um risinho sarcástico ou uma ironia imperscrutável do que diz claro que sim. Ou de quem diz claro que não. Estavas aí…a mesma resposta, claro que sim, a mesma resposta, claro que não. É assim que eu vejo o que vejo. Afasto com a violência desesperada de ter que ser, os lençóis brancos, os cobertores de lã branca quentes e afáveis que me não podem prender mais e por que tem que ser este arrancar brutal, este renascer diário para o mesmo que me espera. E que, brancos, me dão a calma que não tenho, como aquela rosa. E a as nuvens correm como em certos dias, as ventanias assobiam e passam, o mar revolve-se na sua eterna e igual violenta imaterialidade, as coisas nascem crescem e secam ou morrem. E eu estou aqui, sem voar de pés na terra e sempre com a mesmas dúvidas que me levam às rosas e trazem à matérica textura áspera mas calorosa destes cobertores em que às vezes sonho. E de novo aquela aprisionante sensação desesperada de nadar na espessura viscosa e densa das roupas de cama. Sem conseguir deixar o corpo afundar nelas e avançar na água. Que não podia ser mas se ansiava que fosse. Fecho os olhos ao ver que sonha. Que sonha uma que não sei se sou. Revolve-se nos mesmos rolos viscosos e cinzentos escuros da roupa e no mesmo sonho em que me vejo. Vista ou sonhada. Ou nada. Os olhos fechados não me permitem ver. Ver-me nesse sonho que não conheço. Ver quem sonha o sonho. Quem sonho e a quem sonho o sonho. Entendo sempre os meus sonhos de outros em mim. Nunca em mim me entendo nos sonhos de outros em mim. É isso. Os olhos fechados que não me veem e sonham. Será a mim. Ou não. Acordo e não está ali quem me sonhou no meu sonho. Ou porque não sonho. Levanto-me de dentro do sonho do sonho. Do sonho. Um acordar penoso e longo como um túnel. De reposteiros pesados e escuros a transpor com os pés fora da cama sobre o abismo. Os chinelos são a aterragem possível. Atamancada e tosca como a de uma ave pouco habituada. E o dia rende a noite em cinzentos também. Mas do céu e por ali abaixo. Que respiro mas percebo suaves. Hoje. E, por momentos não saber nada. E ser bom. E ali, longe, todos os meus anjos voam no céu. Inalcançáveis vigilantes. Tão longe, tão irredutíveis, tão abstractos. Tão dentro de mim. Só me resta olhar para cima. Seguir-lhes os olhos ausentes como um último fio que nos liga. Um grito surdo.
José Simões Morais h | Artes, Letras e Ideias立春 Li Chun – Princípio da Primavera [dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]oje, 3 de Fevereiro celebra-se na China a Festa do Princípio da Primavera e inicia-se o ano do Galo Solitário. Li Chun, ou Princípio da Primavera, comemora-se normalmente a 4 de Fevereiro, podendo por vezes ocorrer também no dia 3, ou 5, se houver ajustamentos e é o primeiro dos vinte e quatro termos em que está dividido o Calendário Solar do Agricultor. Com datas fixas, os termos estão directamente ligados à eclíptica do Sol e são indicadores das estações do ano, por isso conectados com a agricultura. Foi durante a dinastia Han (206 a.n.E.-200) que se resolveu celebrar no dia 4 de Fevereiro, o Princípio da Primavera, mas após muitas reformas acordou-se comemorar no primeiro dia do primeiro mês lunar também essa festividade, cujas datas são muito próximas uma da outra. O Ano Novo e o início da Primavera traduzem uma renovação e a combinação entre o calendário solar e o lunar, conhecido como calendário lunisolar, passou a ser usado na China. Combina os doze ramos terrestres com os dez caules celestes e cria um ciclo de 60 anos, que se vai repetindo. Em tempos antigos, quando a China tinha uma economia baseada na agricultura, esta festividade durava um mês e celebrava o final do Inverno, a estação de interregno para os agricultores e o início da Primavera, quando de novo a terra começava a ser trabalhada. Agora assiste-se a grandes festejos no primeiro dia da primeira Lua e não no Princípio da Primavera, apesar dos mestres da geomancia colocarem no Li Chun o dia da mudança para a regência do signo do ano. Este ano lunar chinês, que começou a 28 de Janeiro de 2017 e terminará a 15 de Fevereiro de 2018, vai ter treze meses, havendo um duplo mês, o da sexta Lua, sendo o primeiro denominado intercalar, ou adicional e o segundo sexto mês, chamado natural. Nele se celebrará por duas vezes a Festa do Princípio da Primavera, por isso auspicioso para o nascimento de crianças. Quando num ano lunar não se celebra nenhuma Festa da Primavera, isto é, quando o Ano Novo Lunar começa após o dia 4 de Fevereiro e no ano seguinte termina antes dessa data, diz-se ser um ano cego. O calendário solar do Agricultor Lichun, Princípio da Primavera, é a primeira grande festa solar e marca o início do ano agrícola, após um período de hibernação, quando a Terra desperta para um novo ciclo de vida. É o primeiro dos 24 termos solares de um sistema elaborado através dos tempos, a partir das observações feitas por astrónomos. Entre estes termos estão os dois solstícios, os primeiros a ser estabelecidos e depois, os dois equinócios. Pesquisas em torno do movimento aparente do Sol foram por isso necessárias para elaborar os calendários, sendo feitas de duas formas diferentes. Uma, pela medição da sombra do gnómon (instrumento que marca a altura do Sol pela direcção e comprimento da sombra de uma vara) ao meio-dia, assentando em tal medição o anunciar das estações e o determinar do ano trópico. A outra maneira era o estudo da variação aparente da velocidade anual do Sol e a averiguação do valor anual da alteração do ponto do solstício do Inverno observando a posição do Sol contra o céu, com a ajuda de instrumentos astronómicos. Anunciar a data precisa das estações era impossível sem uma identificação exacta da altura em que acontecia o solstício de Inverno. Mas já em 2317 a.n.E., durante o reinado do Imperador Yao, o ano tinha 365,25 dias e em 1100 a.n.E., mediante observações do Sol estabeleceu-se com uma aproximada exactidão a posição do solstício de Inverno. Estava encontrado o ano trópico, o período de tempo que transcorre desde o começo de uma Primavera, à outra, mostrando as mudanças sazonais anuais. Mais tarde calculou-se o equinócio da Primavera, que chega após 81 dias do solstício de Inverno. Os 24 termos solares gradualmente reconhecidos por volta do século III a.n.E., foram compilados por Lu Shi Chun Qiu, mas foi na enciclopédia Huai Nan Zi, escrita em 120 a.n.E., que todos os termos ficaram mencionados. Eis a lista dos 24 termos: Nome chinês: Tradução: Início: Lichun Princípio da Primavera 4 de Fevereiro Yushui Água da chuva 19 de Fevereiro Jingzhe O acordar dos insectos 6 de Março Chunfen Equinócio da Primavera 21 de Março Qingming Puro brilho 5 de Abril Guyu Chuva para as sementes 20 de Abril Lixia Princípio do Verão 6 de Maio Xiaoman Despontar da semente 21 de Maio Mangzhong A semente na espiga 6 de Junho Xiazhi Solstício de Verão 22 de Junho Xiaoshu Suave calor 7 de Julho Dashu Maior calor 23 de Julho Liqiu Princípio do Outono 8 de Agosto Chushu Limite de calor 23 de Agosto Bailu Branco orvalho 8 de Setembro Qiufen Equinócio do Outono 23 de Setembro Hanlu Frio orvalho 9 de Outubro Shuangjiang Queda de geada 24 de Outubro Lidong Princípio do Inverno 8 de Novembro Xiaoxue Leve nevão 23 de Novembro Daxue Grande nevão 7 de Dezembro Dongzhi Solstício de Inverno 22 de Dezembro Xiaohan Pequeno frio 6 de Janeiro Dahan Grande frio 21 de Janeiro Dos 24 termos solares, doze são chamados “jieqi“, enquanto os restantes se denominam “zhongqi“. Xiaohan, o 1º do grupo “jieqi” chega trinta dias antes do 2º, Lichun, o Princípio da Primavera. O intervalo entre cada um dos outros dez desta série é idêntico. O solstício de Inverno, Dongzhi, inicia a série “zhongqi” dispondo-se da mesma forma. Quando um mês que está para ocorrer não contém nenhum termo das séries do segundo grupo “zhonqi” esse mês será considerado um mês intercalar. Estes meses seguem-se ao mês a que estão associados. Os oito termos – os equinócios, os solstícios e o início de cada uma das quatro estações, são mais importantes que os outros, havendo um intervalo de mais ou menos 46 dias entre cada um deles. Este sistema, único no mundo, sugere o nível a que chegou a ciência da China antiga. Deixamos aqui agora votos de um bom Ano Novo – Kung Hei Fat Choi (Próspero Ano Novo), que só deve ser dito após se iniciar o novo ano lunar e Sun Tan Kin Hong (Boa Saúde), em mandarim: Gong Xi Fa Cai e Shen ti Jian Kang.
Paulo José Miranda Em modo de perguntar h | Artes, Letras e IdeiasLuís Brito: “Escrevo tanto o que vivo como o que penso” [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]pesar de ainda só teres 30 anos, tens três livros publicados: Alcatrão (Abysmo, 2013), que é um livro de viagens, Arigato, eu (Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2016), que relata a tua experiência no Japão, e Jejum (Tea For One), que é um livro de poesia. Julgo que os teus livros deveriam ir para Macau, pois além de serem bons (escrevi uma pequena resenha sobre Alcatrão, para uma revista brasileira), inscrevem-se num universo muito caro às pessoas que ali vivem. Viajaste desde o Chile à Índia, passando por África e, mais tarde, passas uma longa temporada no Japão. Acerca de Alcatrão escrevi: “O viajante tem, em suma, de transformar-se em um sem-abrigo. Só nesta condição todo e qualquer metro quadrado do planeta se transforma em sua morada e esta em sua possibilidade de ver o mundo. A dúvida acerca da proximidade e distância entre viajante e sem-abrigo, é, aliás, exposta em algumas passagens do livro.” O que te leva a viajar é o mesmo que te leva a escrever? São da mesma ordem, esses movimentos, para fora e para dentro? A verdade é que gosto de viajar como um zarolho. Um olho aberto e outro fechado, sabendo que o primeiro vê o que vai lá fora, e o segundo espreita para dentro. A meu ver, as viagens devem ser simbioticamente exteriores e interiores, pois é nos espelhos do mundo, e na autoconsciência do que eles reflectem em nós, que está o verdadeiro crescimento. E isso aparece-me na escrita. Escrevo tanto o que vivo como o que penso, sabendo que pensar é viver. E viver sem pensar é-me impossível. O que me leva a viajar talvez seja o mesmo que me leva aos livros: a curiosidade, virada para o mundo e virada para mim, e ainda o encontro com o homem nas situações mais exíguas, sem quaisquer luxos ou distracções, onde a sua natureza mais crua se revela. Recentemente numa entrevista disseste, e passo a citar-te: “O lançamento do livro é um desporto com cada vez mais popularidade. Em Lisboa, em Portugal, no Mundo, e eu também aderi à modalidade.” Achas que deixámos de ler, para ir aos lançamentos dos livros? A literatura e a poesia passaram a ser fait divers? É difícil que os livros tenham a importância que merecem, quando há cada vez mais informação, eventos, actividades e ideias. Eu próprio sou um mau leitor, por isso essa frase, em tom de brincadeira, é antes de mais uma auto-crítica, mas sempre é melhor as pessoas irem aos lançamentos do que não irem de todo, assim lá se aumenta a probabilidade de lerem, e pelo menos o autor tem o prazer de ver caras queridas. Se os lançamentos e as obras modernos são fait divers? Talvez seja verdade, mas pelo menos não são dos piores. Sempre se aprende qualquer coisa e, salvo as árvores que se decapitam para dar lugar às folhas de papel, na arte normalmente ninguém sai prejudicado. Além de viajares por países em modo pouco turista, vives também de um modo pouco turista, apesar de dependeres deles. Trabalhavas numa agência de publicidade e despediste-te para passares a tocar hang drum (ou cataplana, como eu lhe chamo) para os turistas. Esse teu modo de viver continuamente sem rede é fascinante. Não consegues mesmo viver como os outros? Tanto no que toca às viagens, como a esta nova carreira de músico de rua, as pessoas costumam dizer-me que sou um tipo de coragem. Eu respondo-lhes que corajoso seria se me mantivesse muito tempo no mesmo sítio, por exemplo, fechado num escritório. Há, sem dúvida um contra senso: sou anti-turista e agora vivo do turismo. Pode-se dizer que faço haiki-dô, usando a meu favor a força do inimigo. No entanto, este trabalho permite-me viajar sem sair do sítio, pois contacto com gente de muitos lugares, acabando até por conhecer também alguns viajantes pouco turistas. E da fissura entre essa ideologia e a prática concreta, pode nascer um caso de estudo, aliás, ando a escrever sobre essa experiência. Se não consigo viver como os outros? Cada um é a vida como ele a vê. E a verdade é que estas opções que tomo não são assim tão radicais, se as compararmos a um nível global e aos verdadeiros loucos, os que fazem coisas verdadeiramente audazes, arriscando a vida e até a vida dos que lhes são próximos, ou viver uma vida longe deles. Concordas com esta frase: “viajar é um exercício de tentar perder-se de si, um dos caminho mais rápidos em direcção a nós mesmos”? Não só concordo como subscrevo, e atrevo-me a corrigir. É o mais rápido e o melhor, pelo menos tal como eu concebo a vida. Para nos tornarmos em quem somos, precisamos de nos soltar do mais possível do que nos ensinaram, do que aprendemos, do que vivemos dia a dia sem perguntar, a famosa zona de conforto, a acumulação de ideias que temos sobre nós mesmos. No vazio, no anonimato e na errância encontramos mais e mais camadas de força e inteligência, além da tão necessária capacidade de fazer contacto humano. Quanto mais diferente de nós for o outro, mais intensa pode ser a catarse. É um lugar comum, mas a verdade é que só nos perdendo nos podemos encontrar.
Paul Chan Wai Chi Um Grito no Deserto VozesPerspectivas para o Ano do Galo [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]m primeiro lugar, quero desejar a todos saúde e prosperidade para este Ano do Galo. Os antigos chineses acreditavam desde tempos ancestrais que o galo possuía cinco virtudes, o dom da literatura, faculdades militares, bravura, benevolência e fiabilidade. Mas, hoje em dia, raras são as pessoas possuidoras destas virtudes. Na minha opinião, a atribuição destas virtudes ao galo era uma forma de satirizar a desumanidade do Homem. Desde o regresso à soberania chinesa, Macau e Hong Kong passaram por muitas mudanças, no entanto do ponto de vista político não se registaram quaisquer progressos. Espero que as alterações a este nível se comecem a manifestar a partir da segunda metade do Ano do Galo! Em 2012 Henry Tang Ying-yen e Leung Chun Ying foram candidatos às eleições para Chefe do Executivo de Hong Kong. Mas só devido à actuação dos grupos de pressão pró-China, o candidato eleito conseguiu evitar a embaraçosa situação de ser escolhido para o cargo com menos de 50% dos votos. Depois de Leung Chun Ying ter assumido o poder a expensas alheias, não tentou unificar as várias facções do campo pró-regime, originadas pelas eleições. Em vez disso, manteve uma governação nepotista, autocrática e de estilo ditatorial que ainda criou mais cisões na sociedade de Hong Kong. Se olharmos para as reformas constitucionais teremos de salientar que, embora a Decisão de 31 de Agosto de 2014 (o método para seleccionar do Chefe do Executivo no 4º mandato em 2012, que se mantém em vigor para o 5º mandato de 2017) tenha sido tomada pelo Governo Central da China, Leung Chun Ying não se esforçou por apresentar ao poder central uma proposta que reflectisse a vontade da opinião pública de Hong Kong quanto a esta matéria. Limitou-se a curvar-se perante os pontos de vista dos membros do Governo Central e ignorou o sentimento das pessoas de Hong Kong. Daqui resultou o insucesso da reforma constitucional na mobilização das consciências políticas locais. E na sequência destes acontecimentos, Leung Chun Ying não tentou sequer pacificar a população depois das forças policiais terem lançado gás lacrimogéneo sobre manifestantes. Optou, em vez disso, por levantar a questão “da independência de Hong Kong” e por enfatizar os problemas internos da cidade agitando o fantasma da cisão nacional (da China). Quis eliminar todas as forças de oposição, servindo o Governo Central e criando condições para a sua reeleição. Podemos afirmar que a recente decisão que tomou de retirar a candidatura à reeleição foi resultado de procedimentos errados da sua parte. Se o resultado do próximo escrutínio para a eleição do Chefe do Executivo não for determinado pela livre vontade dos membros da Comissão Eleitoral de Hong Kong, mas sim pela manipulação de bastidores, que deu lugar à eleição do antigo Secretário da Administração, não irá haver paz na cidade. Resta-nos saber se o Governo Central terá aprendido a lição das eleições de 2012 e, se será ou não capaz de se abster de interferir no processo eleitoral de 2017. Disso irão depender a estabilidade e a prosperidade futuras de Hong Kong. Em Macau a Comissão dos Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa já está oficialmente constituída e terá um papel determinante para garantir que as eleições venham a ser justas e transparentes, mas para isso terá de se empenhar num combate eficaz à corrupção eleitoral. Comparado com Hong Kong, Macau é politicamente mais imaturo, já que a classe dirigente e os políticos em geral não se empenharam na educação cívica das populações, o que resultou na apatia política das gerações mais jovens. A implementação dos 15 anos de educação gratuita apenas conseguiu garantir 15 anos de escolaridade, mas falhou o objectivo de levar os jovens a absorver os princípios nos quais a educação se sustenta. O desenvolvimento anormal do conceito de ecologia política em Macau levou a uma deformação social. As próximas eleições de Setembro para a Assembleia Legislativa irão determinar o destino da cidade, através do uso do direito de voto. Se esta campanha continuar a ser dominada pelas más práticas de suborno, (oferta de refeições e mantimentos), ou benefícios (viagens, presentes, compensações monetárias), Macau irá a caminho da perdição. A economia determina as condições de sobrevivência dos povos, mas a política deve dominar a economia. Se os macaenses quiserem alterar o status quo, devem deixar de se queixar e tomar medidas que lhes permitam conduzir a mudança. Terão de participar activamente na discussão dos temas de interesse social, aprender a distinguir o verdadeiro do falso e votar pelo futuro de Macau.
Isabel Castro VozesO desigual [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ascemos todos irremediavelmente iguais. É uma verdade que não agrada a todos, bem sei, mas é um facto incontestável. Nascemos iguais no desamparo da separação do ventre, na solidão do corte do cordão umbilical, na necessidade extrema de aconchego, na insaciável necessidade de pele. Só na morte voltamos a experimentar semelhante condição de igualdade. Também ela é solidão, mesmo que haja outras mortes à nossa volta. Nascemos inevitavelmente iguais, mas o problema acontece logo depois, na tesoura que nos corta a protecção e no pano que nos embrulha. Apesar de sermos muito iguais no acto de nascer – mesmo com todas as diferenças físicas que partilhamos uns com os outros –, há quem seja envolvido no único farrapo disponível. E depois há quem tenha um lençol lavado e uma manta quente. Deixamos de ser todos tão iguais. A desigualdade vai acontecendo ao longo da vida. Pais, sem pais, com educação, sem ela. Religião, sem religião, pão, sem pão, saúde, sem ela. A desigualdade é uma cena tramada essencialmente para aqueles que são mais desiguais do que os outros, porque reduz a hipótese do sonho. Olhamos para os nossos filhos, pequenos, e imaginamos que terão o mundo ao alcance do que quiserem dele. Aos filhos de quem vive na guerra resta, com sorte, a sobrevivência. No meio de um mundo profundamente desigual, há boas almas que lutam pela igualdade. Deixam os lençóis e as mantas quentes em que nasceram para estarem ao lado daqueles que, nascidos iguais, tiveram o azar dos acontecimentos. Ou o azar da cor da pele. Ou o azar da religião que passou a maldita. Boas almas também não faltam entre os que levaram com toda a desigualdade possível: têm um farrapo a mais do que o vizinho e, por terem essa fortuna, partilham-na com quem precisa dela. É assim que sucede desde que se escreve a história. E desde que a história se escreve que há loucos e que há gente com os princípios ao contrário. Quando um louco tem os princípios ao contrário, assume contornos assustadores. Quando um louco tem os princípios ao contrário e, qual cereja podre em cima do bolo, é também ignorante, aqueles que estão em seu redor devem ter cuidado, muito cuidado. Desde que se escreve a história que loucos deste género chegaram ao poder, muitas vezes de forma legítima, por vontade da maioria popular. Quando se sentam na cadeira do poder, pouco ou nada interessa por que razão ali se instalaram, uma vez que já se esqueceram. E como são loucos, fazem o que lhe dá na gana, contornam obstáculos e derrubam opositores, calam as vozes de protesto e iludem os apoiantes com algum pão e uma dose substancial de espectáculo. Nos povos em que a maioria pouco mais tem, ao nascimento, do que um farrapo a embrulhar o corpo, os loucos costumam permanecer no poder; nos sítios onde a maioria tem, pelo menos, um lençol limpo, o caso costuma ser outro. Mas não existe uma regra, diz-nos a história desde que é escrita. Há um homem no poder do mundo, neste momento, que desconhece que todos nós, quando nascemos, somos irremediavelmente iguais. Não é o único a pensar assim – o que não falta é gente por aí com o mesmo pensamento quadrado, ideias que chocam com os ângulos da forma geométrica e dali não saem. Todos nós conhecemos pessoas assim, por esse mundo fora e neste mundo aqui dentro também. Os imigrantes do Sudeste Asiático são menos gente. Os migrantes da China Continental são menos gente também. Os muçulmanos são isto. Os judeus são aquilo. Os judeus foram sempre muita coisa, consoante os anos em que a história se escreveu, e os muçulmanos também. E os católicos e os budistas e todos os outros, os brancos, os menos brancos, os pretos, os mulatos, os de olhos rasgados e os de olhos menos rasgados. É o que nos diz a história desde que é escrita e eu acredito nela. O problema acontece porque temos um homem com poder no mundo que junta loucura, princípios ao contrário, ignorância e uma extraordinária influência em termos globais. É um homem que não sabe que a diferença entre os homens é uma questão de cor, pelo que somos todos iguais nessa desigualdade. E que a verdadeira diferença, a mais importante de todas – a impossibilidade de sonhar com a igualdade – só existe por causa de homens mais ou menos como ele. Desde que a história se escreve que os homens revelam uma enorme incapacidade de aprender com a história que se escreveu. Quero acreditar que, desta vez, será diferente. E que tudo aquilo que leio não passará de uma experiência muito breve de um louco que nasceu igual a mim, morrerá com igual solidão, mas a vida dele fez-nos desiguais, não pela cor laranja que exibe e que eu não tenho, mas por lhe terem acontecido princípios ao contrário e uma ignorância que toca no azar a poucos.
João Luz Perfil PessoasAna Lara Clemente, professora: “Sou uma fã de Macau” [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]na Lara Clemente chegou há quatro anos e meio e cedo se apaixonou pela cidade. Os cheiros, as pessoas, as vivências e as ruas fizeram da professora, criada em Santarém, uma apreciadora de Macau. Até passou a ver algum encanto na confusão. “Sou uma fã de Macau, adoro cá viver, adoro o clima, adoro as pessoas, adoro tudo.” Ana Lara Clemente, professora do ensino básico, trabalha hoje com crianças de Jardim de Infância. Mas as facetas apaixonantes da região não se ficam por aqui. “Adoro os cheiros, adoro andar pelas ruas, até da confusão, por incrível que pareça, porque venho de uma cidade em que não há confusão”, acrescenta a professora. Hoje em dia gosta do burburinho do território, assim como das pessoas que partilham as artérias de Macau. “Têm uma cultura muito diferente da nossa, são mais fechados, mas identifiquei-me com isso, porque era, também, uma pessoa reservada”, confessa. Era! Actualmente, comunica muito mais, está mais aberta aos outros, uma evolução pessoal que atribui a Macau. A sua adoração pela região começou com umas férias de uma semana, preliminares a uma viagem à Tailândia. A sua impressão da cidade já tinha sido boa, apesar da confusão reinante que a baralhou um pouco. Ana Lara tinha cá família, os cunhados, e a sua vida mudou quando o marido veio para Macau trabalhar. Então, no Verão de 2012, veio de malas aviadas para a Ásia, com uma filhota pequena, Carolina, que foi a sua primeira alavanca social. “Foi óptimo para mim a minha filha entrar na escola, porque acabei por fazer muitas amizades com os pais das colegas dela, criei o meu grupo de amigos, que mantenho até hoje”, conta. Macau continua a seduzir Ana Lara, em todos os mercados, nos passeios que dá com as filhas na zona dos Três Candeeiros, na vila da Taipa, nos monumentos que gosta de visitar. Mas quando se questiona sobre o sítio que a mais marcou, a resposta é fácil: o Alto de Coloane. Outro dos prazeres que tem é levar as filhas aos parques, dar longos passeios, fazer uma visita aos pandas. A família também disfruta a oferta que Macau proporciona: sempre que há um bailado aproveita para levar as filhas e não dispensam uma ida ao cinema. A cidade acolheu-as, mas Ana Lara nota uma diferença entre Carolina e a filha mais nova, que nasceu cá. “A Inês é muito filha de Macau”, conta. Enquanto a filha mais velha quer muito ir a Portugal, sempre impaciente com a chegada das férias, a mais nova, quando regressou de férias e chegou a casa, suspirou. Foi como se dissesse “esta é a minha terra, é aqui que tenho as minhas raízes”, recorda. Professora mãe Desde criança que Ana Lara quis ser professora, a sua vida profissional é impulsionada por um sonho de infância. Lembra-se de brincar às professoras desde tenra idade. Porém, a sua experiência na escola primária não foi a melhor, à excepção da professora Isabel que, ainda hoje, recorda com carinho. “O que me inspirou a seguir este caminho foi o azar de ter tido maus professores no primeiro ciclo.” A experiência compeliu-a a ser uma melhor educadora, a procurar ser diferente. Uma espécie de vingança pedagógica. Criou uma empresa de centro de estudos e ocupação de tempos livres em Santarém, à qual se dedicou durante quatro anos, antes de vir dar aulas para Macau. Por cá encontrou alunos que são expostos a uma vida diferente, com mais facilidades, com um maior acesso a tudo, que tomam o mundo como um dado adquirido. Isso reflecte-se no comportamento na sala de aula. A diferença é maior, principalmente porque Ana Lara trabalhou em Portugal quando a crise económica rebentou. No entanto, esta é a profissão que a realiza, até porque trabalha com “um público muito honesto e aberto”. Um dos factores que atribui ao seu crescimento profissional é o facto de ter sido mãe. Passou a compreender muito melhor as preocupações dos pais que, anteriormente, podia achar um pouco intrusivas. “Desde que fui mãe apercebi-me das razões pelas quais os pais querem participar. Querem estar atentos à educação dos filhos, saber o que se passa tanto na sala de aulas, como no recreio. A insistência não é porque se querem intrometer na vida dos professores.” O factor maternidade fez com que passasse a dar ainda mais atenção à comunicação com os pais, a criar uma boa relação que una a escola à família.
Hoje Macau InternacionalTrump oferece ajuda militar ao México contra os “bad hombres” [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]e acordo com uma transcrição a que a Associated Press e CNN tiveram acesso, o Presidente norte-americano sugeriu enviar tropas para o México, durante um telefonema com o seu homólogo mexicano, Enrique Peña Nieto, noticia o Público. Os dois meios, citam, no entanto, transcrições ligeiramente diferentes do telefonema que aconteceu na última sexta-feira, depois de o Presidente mexicano se ter recusado a encontrar pessoalmente com Donald Trump. “Vocês têm um monte de bad hombres [homens maus]. Não estão a fazer o necessário para os travar. Penso que os vossos militares estão assustados. Os nossos militares não, por isso talvez os envie para que tratem disso”, cita a Associated Press, questionando uma possível ameaça norte-americana ao México. Já a CNN relata uma versão ligeiramente diferente, aparentemente menos dúbia sobre o tom da conversa entre os dois líderes. “Vocês têm um monte de hombres durões para os quais podem precisar de ajuda. Estamos dispostos a ajudá-los, mas eles têm de ser eliminados e vocês [México] não têm feito um bom trabalho nisso”, transcreve a CNN. O canal afirma que a fonte da AP não se trata de uma transcrição, mas de notas do telefonema, feitas por assessores. Em entrevista à Radio Formula, Eduardo Sanchez, porta-voz do Presidente mexicano, garantiu que a oferta de Trump não constituía uma ameaça. Foi sim, “uma conversa produtiva”, esclareceu também Sean Spicer, porta-voz da Casa Branca. Não são, para já, conhecidos mais detalhes sobre se o apoio militar norte-americano no combate a gangues irá avançar ou quando irá acontecer. A Associated Press afirma ainda que os dois líderes concordaram em não falar publicamente sobre quem pagará a factura do muro.
João Luz Internacional MancheteEstados Unidos | Presidente barra certos muçulmanos Donald Trump começa a cumprir uma das mais polémicas promessas de campanha, numa hierarquia difícil de realizar: proibir a entrada de muçulmanos em território americano. O HM analisa as reacções que esta ordem executiva suscitou [dropcap style≠’circle’]“D[/dropcap]ai-me os teus fatigados, os teus pobres, as tuas massas encurraladas ansiosas por respirar liberdade”, pode ler-se no pedestal da Estátua da Liberdade, em Nova Iorque. A citação, retirada do poema “The New Colossus” de Emma Lazarus, resume o espírito de ‘melting pot’ que caracteriza não só Nova Iorque, mas os inteiros Estados Unidos desde a sua génese. Pode dizer-se que, com a proposta do Presidente para banir muçulmanos de pisarem solo americano, parte desta mensagem perde-se. Donald Trump já havia prometido barrar a entrada de quem professe o Islão “até percebermos o que se passa”, uma condição enigmática que vê agora concretização. A ordem executiva, assinada na semana passada, proíbe a entrada de mais de 218 milhões de pessoas, impedindo também a possibilidade de asilo a refugiados oriundos de determinados países predominantemente islâmicos. A acção temporária aplica-se durante 90 dias e proíbe a entrada de nacionais oriundos do Sudão, Irão, Iraque, Líbia, Somália e Iémen. Para acrescentar insulto à injúria, os refugiados provenientes destes países serão barrados por 120 dias. A segurança nacional é apontada como a razão principal de tal acção, sendo de salientar que a larga maioria dos atentados terroristas em solo americano tem sido cometida por cidadãos americanos, em grande parte com ligações a milícias de extrema-direita. Brancos, cristãos e muito bem armados. Outra incongruência na medida da nova Administração é não abarcar a Arábia Saudita, o país de origem de Osama Bin Laden. Isto apesar de a maioria dos terroristas responsáveis pelo ataque de 11 de Setembro às torres do World Trade Center terem sido sauditas. Nem mesmo a exportação do wahabismo – uma vertente extremista sunita que tem inspirado terrorismo um pouco por todo o mundo – colocou a Arábia Saudita na lista negra. De fora da proibição também ficaram o Egipto, a Indonésia e os Emirados Árabes Unidos, tudo países onde Donald Trump tem negócios. Consequências e reacções A ideia inicial seria proibir a entrada de quem vem dos países visados para os Estados Unidos à procura de trabalho, para lá se fixar. Mas a verdade é que esta medida tem directo impacto em famílias de norte-americanos com raízes nestes países. Um dos rostos dos visados é o de Abubaker Hassan, médico, que ficou separado da esposa e da filha recém-nascida em sequência do selectivo fechar de portas a muçulmanos. Há um par de meses, a sua mulher, Sara Hamad, levou a filha do casal a visitar familiares ao Qatar. Apesar de ambos terem visto para trabalhar e viver em Detroit, são de origem sudanesa, uma das nacionalidades afectadas pelo banimento. O rebento do casal, Alma, nascida em Detroit, tem cidadania norte-americana. Na passada segunda-feira, mãe e filha tentavam regressar a casa e foram impedidas de embarcar no aeroporto do Qatar, apesar da recém-nascida ter cidadania norte-americana, e a mãe ter visto de permanência. Mas como Hamad não é cidadã, ou residente permanente, ficaram em terra. Em desespero, a mãe disse à ProPublica que não pode “reunir a família”, nem o marido se pode juntar a elas. Uma das reacções mais visíveis à proibição de entrada de muçulmanos em solo americano veio de Sally Yates, Procuradora-geral do Estado de Nova Iorque, que ordenou ao Departamento de Justiça que ignorasse o decreto presidencial. Em questão estava a constitucionalidade da medida, e a “garantia da justiça e a luta pelo que é certo”, disse Yates em entrevista à Reuters. A oposição não caiu bem em Donald Trump, que a despediu quase imediatamente. Em comunicado, a Casa Branca justifica a demissão acusando a Procuradora-geral de “ter traído o Departamento de Justiça ao recusar aplicar uma ordem legal feita para proteger os cidadãos dos Estados Unidos”. A Administração Trump adiantou ainda que a “insubordinação [de Yates] demonstra pouco rigor a lidar com assuntos fronteiriços e falta de firmeza na resposta à imigração ilegal”. Além dos protestos que se fizeram sentir em vários aeroportos norte-americanos, as reacções à proposta do Presidente chegaram de todos os quadrantes. Dez dias depois de passar o testemunho presidencial, Barack Obama reapareceu na cena política para repudiar o polémico decreto assinado por Trump. Em comunicado, o porta-voz de Obama declarou que o antigo ocupante da Casa Branca “discorda da discriminação com base em crença religiosa”. Acrescentou ainda que “espera ver os cidadãos a exercer o seu direito constitucional de protesto, uma vez que os valores americanos estão em causa”. A voz do dinheiro Dificilmente o Presidente escutará a opinião do seu antecessor. Porém, as vozes dos directores de grandes empresas não costumam passar ao lado do magnata nova-iorquino. Este pode ser o mais eficaz travão a abrandar o comboio anti-imigração da Administração Trump. Os homens máximos da Apple, Ford e Goldman Sachs emitiram comunicados categorizando o decreto que bane muçulmanos de entrar nos Estados como “antiamericano e mau para os negócios”. Na mesma linha, a Google anunciou a entrega de donativos a organizações que apoiem imigrantes. Também a Starbucks se manifestou prometendo tudo fazer para ajudar empregados que sejam afectados pelo decreto, assim como contratar refugiados. Ouvido pela Associated Press, o director executivo da Apple, Tim Cook, alertou para o facto de a empresa “não existir se não fosse a imigração”. Cook refere-se não só ao carácter multiétnico da multinacional, mas também ao facto de o fundador da Apple, Steve Jobs, ser filho de um refugiado sírio que conseguiu asilo nos Estados Unidos. Ásia em protesto Nos protestos que ocorreram no aeroporto de São Francisco, marcaram presença duas figuras de destaque de Silicon Valley: Sergey Brin, co-fundador da Google, e o presidente da Y Combinator, Sam Altman. Não só o mercado de mais de 1,5 mil milhões de muçulmanos é algo que as empresas das tecnologias não querem desperdiçar, como uma parte considerável da sua mão-de-obra é proveniente de países de maioria islâmica. Também a área jurídica se fez ouvir no coro de protestos contra a acção executiva da Casa Branca, nomeadamente associações que representam advogados oriundos do sul da Ásia. As duas maiores associações que reúnem juristas da região declararam em comunicado que “as ordens, baseadas em preconceitos que preconizam que determinados grupos étnicos estão mais dispostos à violência, são incompatíveis com os valores americanos”. O comunicado acrescentou ainda que a medida não tornará as comunidades mais seguras, nem fortalecerá a nação. No comunicado, o presidente dos Associação dos Advogados do Sul da Ásia, Vichal Kumar, acrescentou que “a criminalização e estigmatização de um grupo de pessoas devido às suas crenças, ou origem, viola o espírito de igualdade, justiça e princípio da presunção da inocência”. Hong Kong assistiu ontem a protestos contra as medidas de Donald Trump. Foram poucos, cerca de 20, mas fizeram-se ouvir. Os manifestantes, ligados a vários grupos políticos como a Liga dos Sociais Democratas (LSD) e a International Migrant Alliance, seguiram em cortejo até ao consulado norte-americano no centro de Hong Kong. Empunhavam cartazes com mensagens que diziam “Fazer a América odiar novamente”, ou “Uma desgraça para a humanidade”. Em declarações à Rádio e Televisão Pública de Hong Kong, Avery Ng, dirigente da LSD, declarou que “desde que Donald Trump assumiu a presidência, conseguiu desafiar a Constituição norte-americana, desafiar os direitos humanos e os valores que todos nós, como cidadãos globais, defendemos”. Avery acrescentou ainda que, “se isto continuar, a divisão entre religiões, etnias e nacionalidades será cada vez maior”. Esta parece ser a rota trilhada pela actual Casa Branca, que tem espalhado brasas um pouco por toda a comunidade internacional. Nem antigos aliados escaparam, como os países da Europa Central, Japão e México. Aguardam-se novos desenvolvimentos na frente chinesa.
Hoje Macau PolíticaDeputado de Hong Kong impedido de entrar em Macau [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado pró-democracia de Hong Kong Raymond Chan disse na sua página de Facebook que foi impedido de entrar em Macau na passada segunda-feira, por poder constituir uma ameaça para a estabilidade interna da região, informou a imprensa local. Raymond Chan disse que viajava sozinho para visitar alguns amigos e afirmou não compreender como é que ele poderia representar uma ameaça para a segurança em Macau. Citado pela Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK), o deputado disse que o seu colega de partido, Christopher Lau, tinha sido autorizado a entrar em Macau um dia antes, no domingo. O impedimento de entrada em Macau acontece com alguma regularidade, com a grande maioria dos casos a serem tornados públicos pelos próprios visados, muitos dos quais políticos ou activistas da região vizinha. A Polícia de Segurança Pública (PSP) não tem por hábito apresentar motivos concretos. Depois de confirmar à Agência Lusa que uma pessoa foi impedida de entrar no território na segunda-feira, a PSP disse não ter “nada a referir e comentar” sobre “um caso particular”. Entre os últimos casos divulgados pela imprensa está o do ex-deputado pela Association for Democracy and People’s Livelihood (ADPL) Frederick Fung, que foi impedido de entrar em Macau em Dezembro passado. Na altura, Frederick Fung disse que já tinha sido impedido de entrar em Macau três vezes. Em Outubro de 2016, quando o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, esteve em Macau, dois ex-activistas e um cineasta de Hong Kong foram igualmente impedidos de entrar na cidade, com o mesmo argumento de que representam uma ameaça à segurança. Outros casos conhecidos de figuras impedidas de entrar em Macau são os de membros do Partido Democrático de Hong Kong, incluindo da antiga deputada e ex-presidente do Partido Democrático de Hong Kong Emily Lau. As autoridades recusam-se a revelar o número de pessoas que proibiram de entrar no território, as razões pelas quais o fizeram ou a sua procedência, sob o argumento de que essas informações são confidenciais. “Os dados estatísticos de ‘recusas de entrada’ são classificados como dados e informações ‘reservados’, pelo que não há lugar para a sua divulgação”, afirmou a PSP, no início de Janeiro, em resposta escrita enviada à Lusa. Contudo, nem sempre foi assim. Pelo menos durante o mandato do anterior secretário para a Segurança, a PSP chegou a divulgar dados sobre as pessoas proibidas de entrar em Macau, a pedido dos jornalistas.
Andreia Sofia Silva PolíticaPetição | Voto electrónico poderá ser uma realidade Os mentores da petição “Também somos portugueses” acreditam que o recenseamento automático e o voto electrónico para emigrantes vai mesmo ser implementado. O Ministério da Administração Interna em Portugal “já está a estudar” a medida [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi no passado dia 25 que a Assembleia da República de Portugal recebeu a petição da plataforma “Também somos portugueses”, que apela à introdução do recenseamento automático para emigrantes, bem como a implementação do voto electrónico. Em declarações ao HM, Paulo Costa, um dos mentores da petição e representante da “Migrantes Unidos”, confirmou que esse pedido deverá ser mesmo uma realidade. “Acreditamos que muito vai mudar. Foi-nos comunicado oficialmente que o Ministério da Administração Interna já está a estudar como implementar o recenseamento automático dos portugueses que vivem no estrangeiro. Foi-nos também comunicado em primeira mão que tanto o PSD (Partido Social-Democrata), como o Bloco de Esquerda preparam alterações nesse sentido. Portanto, estamos confiantes que essa parte da petição vai mesmo ser implementada”, apontou o responsável. Não obstante, Paulo Costa refere que ainda persistem resistências em relação ao voto online. “Há um reconhecimento dos problemas do voto presencial para os emigrantes e dos problemas do voto postal. Mas há algum receio da segurança do voto via Internet. Pensamos que as condições técnicas estão maduras para isso. O que pedimos é que a legislação seja aberta para permitir que tal aconteça, que sejam consultados especialistas e efectuados testes para comprovar que, à semelhança dos modernos sistemas bancários, também o voto electrónico pode ser seguro”, acrescentou. Paulo Costa lembra ainda que “há sempre a dificuldade de se obter a maioria de dois terços para alterar a legislação”, além do “receio da incerteza dos resultados eleitorais com muitos mais portugueses emigrantes a votar”. “Esperamos com este movimento possa ultrapassar estes dois obstáculos, tendo provado que os portugueses no estrangeiro pedem e merecem uma mudança do sistema eleitoral”, frisou. Política ainda interessa Sobre o facto de, em Macau, apenas 17 pessoas terem assinado a petição, Paulo Costa acredita que tal se deve a uma maior proximidade das pessoas em relação aos serviços consulares. “Talvez os cidadãos de Macau não sintam os problemas da distância aos postos consulares que se sentem noutros territórios.” Em declarações ao HM, Tiago Pereira, coordenador da secção do Partido Socialista em Macau, defendeu isso mesmo, refutando a possibilidade de tais números representarem um afastamento das pessoas em relação à política do seu país. Uma ideia também partilhada por Paulo Costa. “Notámos que ainda existe essa ligação. Não em todos, mas particularmente nos que emigraram há menos tempo”, rematou.
Hoje Macau PolíticaWong Kit Cheng quer instruções claras sobre qualidade do ar para as escolas [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] deputada Wong Kit Cheng sugere ao Governo a criação de regras claras para as escolas adoptarem nos dias de má qualidade do ar. Citada pelo Jornal do Cidadão, a deputada considera que “as instruções dadas pelas autoridades em relação às actividades ao ar livre são apenas conselhos, e as escolas não são obrigadas a cumpri-las”. Sendo assim, os Serviços Meteorológicos e Geofísicos, em conjunto com os Serviços de Saúde, Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) e Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), deveriam, na opinião da deputada, “criar um sistema conjunto para coordenar e reagir à situação da má qualidade do ar”. “A DSEJ deveria estudar e criar uma série de instruções para as escolas seguirem no caso de má qualidade do ar, para suspender a totalidade ou parcialidade das actividades ao ar livre”, acrescentou Wong Kit Cheng. A deputada, que representa a União Geral das Associações de Moradores (UGAMM) e a Associação Geral das Mulheres, referiu ainda que o Governo deveria instalar mais equipamentos para medir a qualidade do ar nas várias zonas do território. “Só há cinco postos de verificação da qualidade do ar e na zona de maior densidade populacional só existem dois postos de verificação. Neste sentido, se os aparelhos não conseguem mostrar o estado da poluição de cada zona, os cidadãos não conseguem saber a situação real. Sugiro que se aumentem os postos de verificação do ar e mudança de qualidade do ar, a fim de conseguir alertas de forma pontual”, defendeu. A deputada acredita que, apesar de o Governo continuar a dizer que os dias de má qualidade do ar se têm mantido estáveis, Macau continua a sofrer a influência do smog vindo do Continente. “Sugiro que os serviços do Governo devem reagir o mais depressa possível para prevenir os impactos causados pela poluição atmosférica. Embora os SMG tenham declarado que os dias de má qualidade do ar têm sofrido um retrocesso, Macau fica no Delta do Rio das Pérolas e sofremos a influência da poluição registada em Shenzhen ou Zhongshan. O vento poluído passa por Macau, por isso também há a possibilidade de termos dias com smog”, concluiu.
Hoje Macau PolíticaSalário mínimo | Ella Lei questiona atraso anunciado pelo Governo O Governo já anunciou que o salário mínimo universal poderá não ser implementado em 2018 ou 2019, o que faz Ella Lei questionar as razões para esse atraso. A deputada quer saber do andamento dos trabalhos sobre a legislação [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]a última reunião do Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS), o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, deixou no ar a ideia de que o salário mínimo universal não deverá ser implementado em 2018, nem sequer em 2019. A falha de mais uma meta levou a deputada Ella Lei a entregar ao Governo uma interpelação escrita. O Executivo tinha apontado como objectivo a entrada em vigor da medida aquando do terceiro aniversário da implementação do salário mínimo para as profissões de limpeza e segurança dos edifícios habitacionais. “Vários deputados questionaram porque é que o Governo não implementou o salário mínimo em todas as áreas. O Governo prometeu o prazo de três anos para a implementação do salário mas, infelizmente, no espaço de um ano mudou de ideias para a realização dessa lei. Como é que os cidadãos podem confiar no Executivo?”, questionou a deputada eleita pela via indirecta, que no hemiciclo representa a Federação das Associações dos Operários de Macau. “Se o Governo continua a não cumprir as suas promessas vai destruir a imagem da RAEM. Como é que o Executivo vai punir os responsáveis que não fazem bem o seu trabalho?”, questionou ainda Ella Lei, que deseja saber tudo o que já foi feito em termos de análise e estudo em prol do salário mínimo universal. “Durante o ano de 2016, que trabalhos foram feitos neste sentido? Quais as conclusões e o processo? As autoridades podem oferecer um calendário exacto sobre os trabalhos concretizados, incluindo os trabalhos que já estão a ser realizados? Qual o calendário para a consulta pública e a entrega da proposta de lei para que, em 2019, o salário mínimo possa ser concretizado plenamente?”, escreveu. Tudo por fazer Um dia após a reunião do CPCS, o secretário Lionel Leong garantiu que o objectivo da Administração é atingir o consenso possível. “O Governo vai respeitar as opiniões da sociedade e da Assembleia Legislativa, iniciando de forma pragmática os trabalhos de consulta e os procedimentos legislativos”, apontou, acrescentando que a data de entrada em vigor do salário mínimo universal “tem de respeitar as opiniões da sociedade e o processo legislativo, designadamente as opiniões dos deputados”. Apesar das declarações de Lionel Leong, Chui Sai On, Chefe do Executivo, disse aos jornalistas que o salário mínimo universal “será uma realidade, no ano de 2019”. Segundo a Rádio Macau, Chui Sai On frisou que essa “é uma das prioridades e objectivos deste Governo”. Ella Lei lembrou que, desde 1999, o Executivo não realizou quaisquer consultas ou estudos quanto à implementação de um salário mínimo, com excepção para os trabalhos relativos aos limites mínimos a pagar a quem trabalha na área da segurança e limpeza dos edifícios. “De acordo com a lei laboral, o Governo deve assegurar o salário mínimo e mobilizar essa política. A lei já define claramente que Macau precisa de implementar uma política de salário mínimo. Desde a transferência de administração, o Governo não começou qualquer trabalho relativo à implementação da lei, e o sector laboral solicita que o Governo dê mais atenção aos grupos de pessoas que recebem salários baixos e que ofereça medidas de apoio”, rematou a deputada.
Hoje Macau Manchete SociedadeJogo | Receitas subiram 3,1 por cento em Janeiro A tendência da recta final de 2016 manteve-se no primeiro mês de 2017. Janeiro chegou ao fim com os casinos a darem sinais positivos sobre a recuperação do sector do jogo. Ambrose So acredita que o Galo vai despertar a indústria [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s casinos fecharam em Janeiro com receitas de 19,255 mil milhões de patacas, uma subida de 3,1 por cento face ao período homólogo de 2016, indicam dados oficiais ontem divulgados. Este é o sexto mês consecutivo em que as receitas dos casinos registam uma subida, após 26 meses de quedas anuais homólogas da principal indústria do território, segundo as informações publicadas pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ). Os casinos de Macau fecharam 2016 com receitas de 223,210 mil milhões de patacas, uma queda de 3,3 por cento face ao cômputo de 2015. O ano passado foi o terceiro ano consecutivo de quebra depois de uma diminuição de 34,3 por cento em 2015 e de 2,6 por cento em 2014. A importância do galo Os resultados de Janeiro foram anunciados poucos dias depois de o presidente executivo da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), Ambrose So, ter dito que espera que o Ano do Galo traga “crescimento renovado e prosperidade”. No jantar anual de ano novo da SJM, Ambrose So lembrou como a indústria do jogo viu o início de 2016 acompanhar a “tendência descendente dos dois anos anteriores”, mas no final do ano verificou-se “a refrescante retoma de algum crescimento”, referindo-se à subida das receitas dos casinos. “O mercado precisa de despertar e, para isso, o galo chega mesmo a tempo. Como toda a gente sabe o galo é o despertador do reino animal. Antecipamos que vai trazer crescimento renovado e prosperidade para Macau”, afirmou. Em relação ao Grand Lisboa Palace, aquele que deverá ser o último projecto a inaugurar na vaga de novos casinos, em 2018, o responsável fez referência a “progressos positivos na construção”. Os dados mais recentes da SJM indicam uma queda de 11,1 por cento nas suas receitas de jogo no terceiro trimestre de 2016, comparando com o mesmo período de 2015. A SJM não esteve sozinha na diminuição do dinheiro arrecadado. A Wynn Macau anunciou há dias que os lucros da operadora caíram 26,6 por cento, para 46,6 milhões de dólares norte-americanos, no último trimestre de 2016, em comparação com o mesmo período de 2015. Os dois projectos da Wynn em Macau – um no centro da cidade que opera desde 2006 e o novo Wynn Palace, que abriu a 22 de Agosto no Cotai – geraram receitas de 917,1 milhões de dólares nos três últimos meses do ano, mais 65 por cento em termos anuais. Este foi o primeiro trimestre completo a contar com os ganhos do novo projecto.