João Luz PolíticaEducação | Regime Ensino Superior ainda nesta legislatura O presidente da comissão permanente que analisa o lei que regulará o ensino superior em Macau tem confiança de que o diploma será aprovado em Maio. Ou seja, ainda antes do fim da legislatura. Entretanto, aguarda que o Executivo complete a versão final do articulado [dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]e tudo correr bem, as instituições de ensino superior de Macau terão um regime legal que as regule no ano lectivo 2018/2019. Este é o vaticínio mais optimista e que depende da aprovação da proposta de lei antes do fim da actual legislatura. Outra condição necessária a esta meta temporal é o Executivo conseguir elaborar todas as dezenas de regulamentos administrativos antes do mencionado ano lectivo. “Estou com muita confiança de que a proposta de lei seja aprovada, se calhar, em Maio, porque já é discutida há muitos anos”, adianta Chan Mak Mo, presidente da comissão. Esta foi a maior novidade que saiu ontem da reunião que a 2.a Comissão Permanente da Assembleia Legislativa teve com membros do Executivo. “A reunião correu sem sobressaltos, o Governo aceitou muitas das nossas opiniões e introduziu melhorias à proposta de lei”, contou o deputado. Um dos assuntos em destaque no encontro entre deputados e membros do Governo foi a questão dos recursos que financiam o sistema de ensino superior, um dos tópicos que tem levantado maiores dificuldades de entendimento. A proposta de lei prevê que o fundo do ensino superior, assim como o regime de atribuições, composição e funcionamento sejam estabelecidos por regulamento administrativo. “Alguns membros da comissão perguntaram ao Governo o porquê desta matéria ser definida através de regulamento administrativo”, revelou Chan Chak Mo. Segundo o tribuno, o Executivo justificou esta opção com as boas experiências do uso deste tipo de financiamento, nomeadamente nos casos dos fundos que financiaram o Pavilhão do Panda Gigante, em 2001, e o Fundo de Conservação Energética em 2011. “O Governo disse-nos que é uma prática habitual, há muitos fundos criados desta maneira”, esclareceu. Vigor da entrada Outro assunto discutido entre a comissão e os membros do Executivo foi a elaboração, alteração e homologação dos estatutos das instituições de ensino superior, assim como o regime sancionatório para as mesmas quando contrariem os preceitos legais que definem as questões estatutárias. Neste domínio, a proposta de lei prevê que o Chefe do Executivo, através do serviço competente, notifique as instituições para que estas procedam a correcções aos seus estatutos. Os membros da comissão sugeriram ao Governo que a proposta de lei seja alterada de forma a colocar este preceito legal no artigo que regula as sanções. Uma questão de arrumação legislativa. A entrada em vigor do diploma também esteve em análise na reunião. Na versão inicial da proposta de lei, estava previsto que o diploma vigoraria passados 90 dias da data da sua publicação. Esse prazo foi alterado para um ano. “O Governo explicou que os serviços competentes da área jurídica já estão a trabalhar na elaboração de 60 a 70 regulamentos administrativos.” Ou seja, a intensa produção regulamentar obriga a este prazo de um ano, assim como o necessário diálogo com “as entidades e serviços competentes sobre o sistema de crédito”, explicou o presidente da comissão. Chan Chak Mo confessou que os profissionais da área da educação esperam há muito esta lei e que, de acordo com as opiniões auscultadas, consideram-na boa. Segundo o tribuno, outra das prioridades do Executivo será dar andamento à produção regulamentar e publicitá-la, de forma a que também a população possa seguir o processo de perto. Por enquanto, os membros da comissão que trata o regime do ensino superior aguardam a versão final do Governo para darem o seu derradeiro parecer. Apesar da suposição de que esta lei possa ser aprovada em Maio, o presidente da comissão diz não saber até quando vai ter de esperar. Com ele aguardam alunos, as suas famílias e corpos docentes das instituições de ensino.
Hoje Macau SociedadeMIECF | Guangdong e Macau assinam acordo de cooperação [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] planeamento de protecção ambiental, a monitorização do ambiente, o tratamento de resíduos sólidos e a indústria ambiental são algumas das directrizes que marcam o acordo de cooperação ambiental Guandong-Macau, assinado ontem. O documento estabelece que o principal conteúdo da cooperação entre as duas regiões, a ter lugar entre 2017 e 2020, será relativo à protecção e planeamento da Região do Grande Golfo de Guangdong, Hong Kong e Macau. São ainda consideradas a implementação de uma série de acções promotoras do tratamento e transferência inter-regional de veículos abatidos na área do tratamento de resíduos tóxicos. A cooperação tem ainda em conta a união de esforços em áreas como a educação ambiental e a investigação científica. A formalização da acção decorreu durante o Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau 2017 (MIECF, na sigla inglesa) e o documento foi assinado pelo Departamento de Protecção Ambiental da Província de Guangdong e pela Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA). De acordo com o comunicado enviado à imprensa, esta é mais uma medida que “visa reforçar o intercâmbio e cooperação entre as duas partes”.
Victor Ng Manchete SociedadeDSAL | Trabalhadores do jogo pedem mais benefícios A Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais recebeu ontem duas cartas de representantes dos trabalhadores do sector do jogo a solicitar mais benefícios e maior justiça. Em causa estão salários, férias e despedimentos sem justa causa [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s trabalhadores do sector do jogo pediram ontem mais benefícios e protecção para a classe. Em carta dirigida a Wong Chi Hong, responsável pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL), a Associação de Avanço dos Trabalhadores de Jogo reivindica o aumento de salários, o pagamento de bónus extra e uma melhor distribuição de férias e feriados. Chan Chi Kin, director da associação, argumentou que, apesar da diminuição das receitas dos casinos nos últimos anos, as operadoras não deixaram de ter lucros significativos. Como tal, os trabalhadores mostram-se descontentes. “Não estamos satisfeitos com o aumento salarial do ano passado porque não acompanhou a inflação”, lê-se na missiva. De modo a ter um tratamento mais justo, os funcionários querem passar a receber 14 meses anuais e 20 por cento dos lucros das operadoras. De acordo com Chan Chi Kin, as medidas exigidas “não vão aumentar a pressão das operadoras”. Os trabalhadores consideram que, se a pretensão for atendida, o desempenho profissional será melhor. “Quando o dinheiro ganho é partilhado, trabalhamos mais”, referiu o director da associação. Por outro lado, a calendarização dos dias de trabalho também não é tida como justa e, argumenta, acarreta problemas de saúde. “Os horários são irracionais, sendo que há alturas em que trabalhamos nove dias seguidos.” A má calendarização de dias de folga é considerada fonte de stress e razão para o desenvolvimento de problemas físicos. Despedimentos baratos Também ontem, a directora da Associação Nova dos Direitos e Interesses dos Trabalhadores de Jogo, Cholee Chao, manifestou à DSAL o desagrado dos seus associados. Em causa estão cerca de 20 despedimentos sem justa causa no casino do Lan Kwai Fong. “Recebemos muitas queixas de trabalhadores do Lan Kwai Fong relativas a ameaças em que, em caso de denúncia, consideram o despedimento”, declarou. A directora disse ainda que as queixas tiveram início com dois casos, sendo que o aumento tem sido significativo. Quanto aos argumentos dados pelas operadoras, indicou a responsável, “nalguns casos limitaram-se a dizer que o funcionário não preenchia os requisitos da empresa” pelo que considera tratar-se de uma acção sem justa causa. Para Cholee Chan, os dados são chocantes, mais ainda porque o Lan Kwai Fong é uma empresa de pequenas dimensões. Os trabalhadores denunciaram ainda que a empresa contratou cerca de 30 novos profissionais que recebem “apenas 9000 patacas mensais”. Para os funcionários, os despedimentos tiveram na sua génese o objectivo de novas contratações por salários mais baixos.
João Luz SociedadeProtecção | Lei que protege animais em Macau começa a dar frutos Com a entrada em vigor da Lei de Protecção dos Animais, no passado dia 1 de Setembro, Macau virou uma página. Com um esforço de sensibilização da população e um quadro legal que dá direitos aos animais, a própria relação com as associações melhorou significativamente [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) prevê que o abandono de animais diminua à medida que o respeito dos donos aumenta. A somar à entrada em vigor da Lei de Protecção dos Animais, em Setembro do ano passado, juntam-se as campanhas de sensibilização que têm como objectivo a educação dos donos. Um dos pilares na frente da protecção animal é o Canil Municipal de Macau, um edifício que foi remodelado e que recebe todos os dias cães vadios. O HM participou numa visita ao local, que é um autêntico jardim, situado num edifício classificado como património de interesse cultural onde há, inclusive, um pequeno cemitério canino. Ali são tratadas licenças de cães, procedem-se a avaliações para dispensa de açaime, prestam-se cuidados veterinários, isolam-se animais com problemas de agressividade. Também se resgatam, esterilizam e dão-se para adopção cães abandonados. Igualmente, procede-se a abate, algo que acaba por ser inevitável. Albano Martins, presidente da associação ANIMA, salienta que “o IACM está a investir nos cães e quer evitar ao máximo o abate”. O activista dos direitos dos animais acrescenta que “quando não conseguem entregá-los para adopção, ligam e pedem para irem para o canil de Coloane”. Nesse equipamento, gerido pela ANIMA, os melhores amigos do Homem não são abatidos. Lei Hoi Tou, veterinário no Canil Municipal, conta que, neste momento, “as instalações albergam mais de 40 cães, sendo que a sua capacidade é de uma centena”. A esta população acrescentam-se os mais de 30 que estão no canil de Coloane. O médico veterinário conta que, “desde que a Lei de Protecção dos Animais entrou em vigor, houve um aumento da adopção e uma redução do abandono”. Aliás, a legislação foi um virar de página ao atribuir direitos aos animais. Albano Martins explica que também a relacionamento com o IACM mudou com a nova direcção. “A relação que temos hoje funciona impecavelmente bem, algo que no passado não acontecia. A atitude do IACM para connosco mudou”, conta. Lei nova Uma das alterações foi o forte incentivo para que os donos licenciem e esterilizem os cães, assim como a promoção da vacinação e a utilização de trela e açaime, quando necessário. Antes desta lei, as licenças de canídeos custavam perto de duas mil patacas. Hoje em dia, as licenças para cães esterilizados custam 330 patacas durante três anos e a renovação custa 220. No caso dos cães não esterilizados, o custo do licenciamento é de 990 patacas para o mesmo período. O objectivo é evitar a reprodução não planeada e, consequentemente, reduzir o número de casos de abandono. Desde a entrada em vigor da lei, foram registadas 382 infracções, incluindo dois casos de maus tratos, 291 casos de falta de licença de cão e 71 casos de falta de trela em espaços públicos. Ao mesmo tempo, o IACM, mais propriamente a Divisão de Inspecção e Controlo Veterinário, contratou 72 funcionários. Neste incremento de mão-de-obra contam-se quatro veterinários e 21 fiscais. A lei trouxe também um mecanismo que responsabiliza os donos de cães de grande porte, ou seja, com peso igual ou superior a 23 quilos. Neste domínio, o canil procede à avaliação comportamental do animal para aferir se necessita de usar açaime. No total, já foram submetidos à dita avaliação 709 cães, tendo sido reprovados apenas três. Os cães de raças potencialmente perigosas têm sempre de usar açaime. Essas raças são: mastiff tibetano, cão de fila brasileiro, dogue argentino, pit bull terrier, tosa inu e os seus híbridos. Tradições a quebrar Mas Macau é um uma terra onde, tradicionalmente, se tratam mal os animais, onde a irresponsabilidade se alia à falta de sensibilidade. O IACM quer alterar esse panorama. Ao incentivo legal que pune casos de maus tratos e abandono, juntam-se as campanhas que os serviços municipais organizam para sensibilização da população. São organizadas palestras junto de escolas e associações, celebra-se o dia da divulgação da Lei de Protecção dos Animais e festeja-se o Carnaval dos Cães. Distribuem-se panfletos e montam-se campanhas publicitárias que apelem à responsabilidade dos donos de animais de estimação. “Nesta terra, o abandono é enorme, os gatos são abandonados em massa e não são protegidos pela lei”, conta o presidente da ANIMA, que fica com os gatos que o IACM lhes entrega. Neste capítulo, Albano Martins destaca que os serviços municipais aceitam que os gatos tenham microchip, que colocam gratuitamente. Os felinos são abandonados a um ritmo alarmante – só a ANIMA resgata cerca de 400 gatos todos os anos. Mas há lugar para melhorias na luta pela dignificação dos animais em Macau. Não só é necessária a sensibilização da população, como o aperfeiçoamento do quadro legal. “A lei, como está agora, não protege o canil”, explica Albano Martins. Se por um lado pune o abandono, permite que os donos que deixem o cão no canil sem qualquer penalização. Neste capítulo, o presidente da ANIMA não tem dúvidas. “Têm de ser penalizados todos os donos que cortem as relações familiares com o animal, porque o abandono é isso mesmo, tirar da família.” Ainda assim, o activista reconhece, além da vontade institucional do IACM em proteger os animais, a nova lei como um passo importante no bom sentido. Mesmo que imperfeita, tem margem para ser melhorada com o tempo.
Hoje Macau SociedadeJason Chao entrega queixa no CCAC contra a polícia Vai acabando a liberdade, diz a Associação Novo Macau. Ontem, Jason Chao esteve no Comissariado contra a Corrupção para apresentar queixa da Polícia de Segurança Pública. Em causa está a actuação de um agente numa reunião realizada num jardim da Taipa [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]conteceu há exactamente uma semana, no Jardim da Cidade das Flores, na Taipa. A Associação Novo Macau (ANM) decidiu fazer uma reunião para “recolher as ideias dos cidadãos sobre a plataforma política” da organização. De acordo com Jason Chao, que ontem era ainda vice-presidente da ANM, os organizadores tinham a devida autorização para ocuparem o espaço, onde colocaram mesas e cadeiras. A dada altura, por volta das 17h, chegou um agente da Polícia de Segurança Pública (PSP). “Disse que tinha recebido ordens do seu superior para fazer um aviso, era um agente da esquadra da Taipa”, contou Jason Chao aos jornalistas. O aviso tinha que ver com a utilização de um altifalante na reunião com os cidadãos. “O polícia aproximou-se dos organizadores, disse-lhes que não podiam utilizá-lo e ameaçou-os com um processo judicial”, relatou o vice-presidente da ANM. A Novo Macau decidiu apresentar queixa junto do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) por entender que a PSP não está a respeitar a liberdade de reunião, consagrada na Lei Básica. “Há uma série de medidas subtis das autoridades policiais para diminuir a liberdade dos cidadãos”, acusou o activista. “O que nos preocupa é a liberdade de expressão. A liberdade dos cidadãos está a desaparecer aos poucos”, acrescentou. “Com muita frequência, a nossa liberdade está a ser atacada, a pouco e pouco. Neste momento, em que me preparo para deixar oficialmente a ANM, recorro a este meio para defender a liberdade de expressão, a liberdade de associação e de reunião.” Como manda a lei A ameaça de que a ANM diz ter sido alvo resultou numa discussão de meia hora. Os organizadores e participantes acabaram por sair do local porque, entretanto, tinha chegado ao fim o período autorizado para a reunião no jardim. Ninguém foi detido e não há conhecimento de qualquer processo judicial mas, ainda assim, Jason Chao entende que o caso não deve passar em claro. “De acordo com a lei, quando a polícia é notificada da realização de uma reunião, pode impor restrições no que toca ao espaço, à hora e à duração do evento em questão”, acrescentou o vice-presidente da ANM. “No entanto, não existem restrições na escolha ou na utilização de equipamentos, à excepção de armas. É o que está na lei”, vinca. O vice-presidente da ANM continuou dizendo que “mesmo que as autoridades quisessem impor restrições ao equipamento utilizado na reunião, deveriam tê-las comunicado por escrito”. A razão desta observação, “com base no que diz a lei”, é simples: “Ao impor uma restrição através de uma ameaça verbal no local, os organizadores ficaram impedidos de recorrer para o Tribunal de Última Instância (TUI).” O activista cita ainda um acórdão de 2011 do TUI, em que se diz que “a produção normal de ruído de uma manifestação em cortejo, com invocação de palavras de repúdio, apoio, júbilo ou reprovação, (…) afecta a qualidade de vida da população, designadamente a tranquilidade pública, mas (…) tem de se tolerar porque está em causa um direito fundamental”. Com a queixa ao CCAC, Jason Chao espera, por um lado, alertar para a diminuição da liberdade dos cidadãos, mas deseja também uma acção concreta. Há cerca de quatro anos, a ANM teve uma experiência semelhante e o organismo de investigação criminal abriu um processo. “Foi-nos dada razão parcial. Temos de confiar nestas entidades para que as investigações sejam feitas.”
Hoje Macau China / ÁsiaXi Jinping e Trump reúnem-se entre 6 e 7 de Abril [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente da China, Xi Jinping, vai-se encontrar com o homólogo norte-americano entre 6 e 7 de Abril, no resort que Donald Trump tem na Flórida, anunciou ontem um porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros. O encontro surge após uma fase de incerteza nas relações bilaterais, devido às repetidas acusações de Trump contra as políticas comerciais da China e a postura de Pequim face à Coreia do Norte. A reunião é vista como crucial para determinar o futuro das relações entre as duas maiores economias do mundo nos próximos anos. O encontro era tido como pouco provável até há cerca de dois meses, quando Trump suscitou protestos em Pequim devido às suas afirmações de que poderia vir a deixar de reconhecer a política “Uma só China”. Aquele princípio é visto por Pequim como uma garantia de que Taiwan é parte do seu território e não uma entidade política soberana e considerado a base para estabelecer relações diplomáticas com outro país. Contudo, numa chamada telefónica realizada em meados de Fevereiro, Trump voltou atrás e disse reconhecer o princípio, criando condições para Pequim e Washington discutirem um encontro. O telefonema foi seguido pelas visitas do conselheiro de Estado chinês, Yang Jiechi, a Washington, e do secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, a Pequim. Sem tacos Xi é o segundo chefe de Estado a visitar o resort de Trump em Mar-a-Lago, na Flórida, que Trump designa da “Casa Branca de Inverno”. O Presidente do Japão, Shinzo Abe, visitou Donald Trump no mesmo resort em Fevereiro passado, tendo ambos jogado golfe, num ambiente propício à criação de laços pessoais que Trump considera serem importantes. Xi não deverá, no entanto, alinhar em partidas de golfe. O Partido Comunista Chinês considera a modalidade um desporto “burguês” e adoptou várias medidas para travar a sua expansão na China, parte de uma campanha anti-corrupção que puniu mais de um milhão de funcionários do Governo. O carácter informal do resort de Mar-a-Lago permite a Trump receber o líder chinês sem as cerimónias habituais de uma visita de Estado. Fontes diplomáticas em Pequim, citadas pela agência France-Presse, referem que os encontros irão ter como objectivo inicial permitir aos dois líderes conhecerem-se melhor, reservando questões sensíveis para reuniões posteriores.
Andreia Sofia Silva EventosClube de Jazz | Live Music Association acolhe concertos ao domingo O Clube de Jazz de Macau vai promover concertos no espaço Live Music Association. A iniciativa acontece todos os domingos e o objectivo é, para já, levar os jovens músicos a mostrar o seu trabalho a um público que tem sede de concertos ao vivo [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] lugar remete-nos para uma onda underground. O palco é pequeno, o espaço quase faz lembrar uma caixa preta colocada num edifício industrial, mas o ambiente é o ideal para encontros onde o jazz é rei. É esta a ideia que está por detrás da mais recente iniciativa de três amigos, amantes deste estilo musical, que se associaram ao Clube de Jazz de Macau. A ideia é que todos os domingos possam acontecer concertos no Live Music Association (LMA), ao final do dia. O primeiro decorre já este domingo, 2 de Abril, com a banda The Bridge, que nos anos 90 fez as delícias do público que frequentava o espaço do Clube de Jazz de Macau. Henrique Silva, designer, fala em nome dos três amigos e lembra-se bem desses tempos. Anos depois, é muita a vontade de trazer de volta esses momentos de música. “Somos todos da velha guarda e decidimos logo juntarmo-nos ao clube. O jazz em Macau tem uma tradição muito antiga e podemos, de alguma forma, voltar a revitalizar [as sessões de música], nem que seja só ao domingo, aquele dia que serve para terminar a semana de uma forma calma”. Até agora, o Clube de Jazz de Macau vinha promovendo concertos esporádicos em vários lugares, sendo que a Casa Garden, da Fundação Oriente, era o local mais escolhido. A organização dos concertos no LMA vai permitir uma melhor logística. “Somos todos amantes e sócios do Clube de Jazz de Macau e, existindo o LMA, que é um espaço montado, com todo o equipamento necessário, achamos que, não existindo tantas oportunidades para haver música ao vivo, era uma pena ver aquela casa fechada e a ser utilizada só de vez em quando”, contou Henrique Silva ao HM. “Decidimos criar algo mais regular, para as pessoas poderem contar com isso e saberem que, aos domingos, há sempre jazz”, acrescentou Henrique Silva, que fala de uma “solidariedade natural” com o Clube de Jazz de Macau. “Relançar” o clube José Luís Sales Marques, presidente do Clube de Jazz de Macau, explica a forma como vai funcionar a iniciativa. “Será importante fazermos uma mobilização dos sócios, estarmos lá presentes, organizar as coisas. Vamos também proporcionar algum apoio financeiro para esta primeira fase, uma vez que o clube tem tido uma actividade muito diminuta, que se limita à apresentação da banda The Bridge no Lago Nam Van. Mesmo isso, neste momento, não está a acontecer.” Para Sales Marques, os domingos com jazz no LMA constituem “uma oportunidade para relançar a actividade do clube, num ambiente de música ao vivo, e mais informal do que aquele que costumamos ter na Casa Garden, que continua a ser um lugar importante, que nos tem dado muito apoio”. Para já, a ideia é organizar os concertos apenas no LMA. “A aposta, por enquanto, é essa. É um espaço que é interessante e está localizado num edifício com algum charme”, considera Sales Marques. Henrique Silva explicou que, daqui a uns tempos, poderão ser feitos convites a bandas de fora. “Consoante o que isto crescer e a adesão que tiver, e também quando percebermos as necessidades que houver por aqui, queremos trazer bandas de fora, seria fantástico, até para os estudantes de música tocarem com pessoas de fora e aprenderem um pouco mais.” Mostrar o que se toca cá Se os The Bridge representam a velha geração do jazz local, a verdade é que continua a formar-se uma nova geração de jovens músicos que não tem oportunidades para tocar ao vivo. É a esse segmento que os mentores desta ideia querem chegar e dar uma resposta. “Há muito jazz que se faz em Macau. Há muitos miúdos a tocar jazz e não têm muitos sítios para o fazer. Essa foi uma das nossas ideias iniciais, criar um espaço onde estes miúdos possam dar asas à sua criatividade e à sua música. Estamos muito abertos à realização de jam sessions, com pessoas a tocar e a improvisar”, diz Henrique Silva. José Sales Marques assume querer “explorar um pouco essa via nos próximos tempos”. “Em Macau não há tantas oportunidades para se ouvir música ao vivo, num ambiente relaxado. Há muita gente em Macau que precisa de tempo de palco, enfrentar uma audiência. Essa é a nossa abordagem.” O objectivo é também chegar a um público expatriado que, nos seus países de origem, já tem o jazz como referência musical. “Há muita gente que gosta de jazz em Macau e há uma comunidade estrangeira que vem dos Estados Unidos, onde há uma cultura muito grande do jazz, e também da Europa. Esperamos que essas pessoas adiram, que a mensagem chegue e que façam parte do nosso clube”, disse Henrique Silva. Festival internacional pode reaparecer este ano Pouco se tem ouvido falar do Clube de Jazz de Macau, mas há uma vontade da parte do seu presidente de alterar o panorama, através do regresso do Festival Internacional de Jazz este ano, que não se realizou em 2016 por falta de apoios. “Temos sempre um alinhamento preparado, mas o festival não se consegue fazer se não tivermos um apoio oficial. Isto porque os apoios da privada, quanto muito, são logísticos.” Além disso, o Clube de Jazz de Macau depara-se com a dificuldade de não ter um espaço próprio para concertos. “Em 2014 e 2015 ainda fizemos bastantes espectáculos, fizemos o festival de jazz que até correu muito bem. Fizemos algumas colaborações com o IACM e com o Instituto Cultural, fizemos umas produções conjuntas”, recorda. “A questão essencial é não haver capacidade de autofinanciamento. Não temos outras actividades se não o que resulta das nossas profissões e, hoje em dia, qualquer espectáculo custa logo dinheiro. Há também uma falta de meios”, explicou José Sales Marques.
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasPor coincidência, falso marquês [dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]ual teria sido a finalidade de Madame Blanche Lachmann se casar com Albino Paiva? Num anterior artigo referimos as famílias ligadas à nossa personagem principal, mas faltou falar da descendência proveniente do casamento de Francisco José de Paiva com Inácia Vicência Marques. Os avós do lado materno de Albino Francisco de Paiva de Araújo tiveram oito filhos e se aqui apenas nos interessa Mariana, uma das cinco filhas e mãe do nosso biografado, já o seu tio, Francisco José de Paiva filho (1801-1849) foi o elemento da família mais distinto e quem deu o nome à Travessa do Paiva. Sobre ele haveremos de tratar em próxima ocasião. Outra filha deste casal, que mais adiante irá aparecer nesta história, é D. Antónia Maria de Paiva, nascida na freguesia de S. Lourenço a 22 de Dezembro de 1816 e que casou em Lisboa com Francisco Rebelo de Albuquerque de Mesquita e Castro, 2.º Visconde de Oleiros, segundo informações de Jorge Forjaz no livro Famílias Macaenses. Em Paris, sobre Albino Francisco de Paiva de Araújo, Flectwood-Hesketh diz ser “marquês de Paiva Y Aranja com quem [Thérèse Blanche Lachmann] se casou em Passy em 5 de Junho de 1851. Paiva era primo do embaixador português. Aparentando ser muito rico, ele estava na realidade profundamente endividado; as grandes propriedades em Portugal, de que ele se dizia herdeiro, eram inteiramente fictícias. Ele vivia do dinheiro de Teresa; primeiro ficaram na rua Rossini, depois numa casa curiosa no Lugar de S. Jorge, de escultura gótica, construída em 1840 pelo arquitecto Renaud. Em troca do seu grau nobiliário, ela deu dinheiro a Albino, mas só o mínimo da bênção nupcial; e durante um ano uma nova luz navegou na sua órbita.” A informação de Albino Paiva de Araújo ter o título de Marquês não é verdadeira, nem tão pouco o de ser primo do embaixador português em Paris, o Visconde de Paiva. No entanto, é espantosa a coincidência pois encontrava-se em Paris na mesma altura Francisco José de Paiva (1819-1868), 1.º barão em 1853 e 1.º visconde de Paiva em 1858, como enviado extraordinário e ministro plenipotenciário de Portugal em Paris. Este era filho de D. Ana Sofia Thompson e de José Caetano de Paiva Pereira, fidalgo cavaleiro da Casa Real e membro do Supremo Tribunal de Justiça. Casado com Carlota de Oliveira Maia a 19-12-1838, foi eleito par do Reino em 1862. Em Paris contraiu enormes dívidas, que não conseguia pagar e por tal foi transferido para Berlim e aí se enforcou de profundo desgosto em 1868. Interessante paralelismo com a história do nosso boémio, Albino Francisco de Araújo, que também se suicidou e cujo avô e tio tinham o mesmo nome do embaixador português em Paris. O final de Paiva de Araújo Foi pelo título (falso) de marquês que Blanche Lachmann se casara com Albino de Paiva de Araújo, pois, já 40 vezes milionária desde que viera de Londres, faltava-lhe apenas um título para adquirir dignidade na sociedade, condizente com a sua opulência e assim, passou a apresentar-se com o seu marido, o marquês de Paiva. O padre Manuel Teixeira refere, “Ainda vivia com este suposto marquês, que era o seu segundo marido, a quem dera dinheiro em troca do seu grau nobiliário, quando foi apresentada, pelo cônsul alemão Félix Bamberg numa noite de ópera em 1852, ao conde Henckel von Donnersmark”. Segundo Camilo Castelo Branco: “Dobaram-se alguns anos em que nada averiguei; até que, em 1873, li nos jornais portugueses que Paiva Araújo se suicidara em Paris. Conversando a tal respeito com António Augusto Teixeira de Vasconcelos, em Lisboa, por 1874, me disse o famoso escritor, que o conhecera muito em Paris, e tinha exactas informações da sua morte. O marido indigente de mad. de Paiva procurou congraçar-se com a sua marquesa, que vivia opulentamente no seu palácio de Pont-Chartrin, o das 365 janelas, decorado por Paul Baudry, ligada ao conde Henckel de Donnesmark. Ela repeliu-o. Paiva manteve-se algum tempo de empréstimos, e pequenos donativos talvez da mãe com que ia disfarçando a sua pobreza aos olhos de outros a quem tencionava recorrer”. O Padre Manuel Teixeira refere, “Tendo obtido do Santo Ofício a anulação do seu casamento com o <Marquês> de Paiva a aventureira consorciou-se pela terceira vez com o Conde Henckel de Donnesmark, rei do cobre da Silésia”. Peter Flectwood-Hesketh dá as datas, “Em 16 de Agosto de 1871, o casamento de Blanche com Paiva foi anulado pelo Vaticano e em 28 de Outubro ela casou com Henckel na igreja evangélica da Confissão de Augsburg na Rua Roquépine, Paris. Paiva vivia no n.º 11 da Rue Neuve des Mathurins. Em 8 de Novembro de 1872 ofereceu aos seus credores um jantar particular na Maison Dorée, o qual ele não podia pagar. Voltando a casa nessa noite, pôs termo à vida com um tiro de revólver no peito, tendo 45 anos de idade”. Mas segundo escreve Camilo Castelo Branco, “Um dia, em grande apuro, escreveu pedindo 2000 francos a um rico e antigo conviva dos seus desperdícios, e, juntamente com a carta, meteu na algibeira do fraque coçado um revólver. A carta foi, posta interna, ao seu destino, e a resposta, no dia imediato, foi entregue ao porteiro do hotel. Quando voltou a casa e leu a resposta negativa, ainda subiu alguns degraus, e, no primeiro patamar, caiu moribundo com um tiro no peito. Se bem me lembro, foi o ministro português quem pagou o carro que conduziu o cadáver ao Pére La Chaise. Depois, a viúva que, até esse dia, se chamava marquesa, pelo seu segundo marido, casou com o terceiro, que realmente a fez condessa. Não duvido que Paiva Araújo se intitulasse marquês em França. Jeronymo Collaço também se intitulava conde, e, a falar verdade, não carecia d’esse ridículo para se distinguir. Só duas palavras mais a respeito da mãe de Paiva Araújo. Há-de haver oito anos que a sua casa, ricamente ornamentada, foi à praça para pagamento de dívidas. Ela tinha sacrificado quase toda a sua meação para salvar o filho. Pagou as dívidas, e retirou-se com umas sobras mesquinhas para um pobre casebre rural, nos arrabaldes do Porto. Não tenho a certeza de que ela já gozasse a suprema felicidade de morrer”. Assim termina Camilo Castelo Branco a sua crónica publicada no Jornal da Manhã de 13 de Julho de 1885, mas no livro Boémia do Espírito, editado no Porto em 1886, acrescenta em nota duas cartas que recebera no entretanto de amigas da macaense Senhora Paiva para o esclarecer. Interligando essas duas cartas, pois o conteúdo repete-se, fica-se a saber que “Vivia no Porto, na rua de Santa Isabel [próximo do jardim Arca d’ Água], recebendo uma pequeníssima mesada [proveniente de Lisboa] que lhe davam a irmã [D. Antónia Maria Paiva] e sobrinha, viscondessa dos Olivais e viscondessa de Oleiros, mesada que mal chegava para viver debaixo da maior economia” e na outra carta se refere, “A infeliz macaense faleceu no dia 26 de Maio último (1885) com 88 anos, (…e…) está enterrada na Lapa, da qual foi uma grande benfeitora” e regressando à primeira carta, “Foi aquela Irmandade que lhe fez o enterro gratuitamente, como lembrança de algumas esmolas que ela, em tempo, deu àquela Irmandade”.
Amélia Vieira h | Artes, Letras e IdeiasReflexões lexicais [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] língua, elemento altamente contorcionista do aparelho fonador, gerada e não criada, consubstancial ao som, por ela todas as coisas foram feitas, e por elas feitas, e por elas começadas, de novo há-de aparecer no cimo das Nações para julgar os vivos e os mortos. O Acordo Ortográfico a um primeiro instante pouco atencioso, bloqueia: bloqueia quem de outras fonéticas, e sons e signos, foi gerando a matéria das suas fundações, mas não deve bloquear quem não tem termo de comparação, pois tudo o que se fixa como regra é indiscutivelmente fácil de apreender. Mas nós que somos de muitas camadas de evolução fonadora ficamos pouco à vontade, pois que de nós ninguém se compadece. Nós, que somos ainda da geração do Crepúsculo dos Deuses – filhos deles – portanto, filhos de Deus, vamos assistindo à vinda do Filho do Homem e estas coisas requerem ajustes, tais como a modificação da primeira origem que passa por aperfeiçoar ou mesmo reduzir a complexa estrutura de um sistema que nem sempre serve bem a causa a que se propõe. É também por causa da palavra, de Babel ,que tudo se tornou subitamente mais isolado. Talvez que a primeira sensação de bloqueio venha justamente da severidade espartana da queda de caracteres, como se ruíssem impérios a partir da pedras angulares, caracteres minguados, desajustados, falta de caracteres, que diminuem o carácter de uma língua. A língua é noção de fertilidade fazendo alma no ser e ela será sempre materna ou não será: ela fica por isso muito bela na sua progressão germinal, na ortografia nunca sentimos ser de mais os signos léxicos – os hífens, as cedilhas, os apóstrofes, as reticências, as vogais, as consoantes mudas, o desalinho, a orquestração, a composição, a arte visual do seu grafismo. Tirar caracteres é amputá-la, facilitando até a confusão entre sinónimos, é reprimi-la. Ora a Língua não pode jamais ser reprimida, quanto muito acrescentada. Esta sistematização de amputação sistemática parece até uma queda da linguagem num local qualquer, uma maneira insidiosa de a instrumentalizar, parece que se perdeu a sensibilidade geradora de realidade manifesta que só ela transporta. É por isso que parece também desprovido de sentido o muito que se diz, o muito que aflitivamente todos querem dizer antes que acabe o tempo de não mais se poder fazê-lo. Estamos todos à beira de uma catástrofe alfabética com lesões cerebrais de tal ordem gigantescas que não sabemos prever as suas consequências. Fomos construindo matéria a partir dela – Ovo Cósmico – na medida em que acrescentamos pela linguagem toda a forma de ajustar a nossa própria dimensão… Talvez, sim, a Língua seja barroca, fractal, gasosa, líquida, fogo, terra… a Língua não é um implante: caem-nos os dentes, outros nascem, a língua ninguém a perdeu nem achou. Bem capaz pode ainda ser que o aparelho fonador tenha os chamados” dias contados” em sílabas, números, e marés, e que míngue tanto que recue o dom da fala. Mas enquanto o ar nos der à entrada da vida o primeiro som, hei-de dela lembrar o Grito! Ela associa-se ao primeiro fenómeno vivido, escutamos a mãe – a mãe grito – choramos – abrimos o ar – gritamos por fim. Nascemos foneticamente preparados para a linguagem e é no primeiro som nascente que fixamos o fonema e dele partimos para a fala: procuramos o som, a voz da mãe, e não a sua forma, escutamos latidos, gemidos e risos, sabemos da vocação de criar laços tão gigantes como frases. Mas será que a nova humanidade se lembra deste registo? Não, o nascer asséptico implantou um clone adiado, a cesariana matou a forma do “nascido para falar”. Há grito? Há som? Há gemido? Não há. E curiosamente oiçamos eles falando (novos seres): o que entendem da articulação verbal das suas linguagens? Muito pouco, se estivermos atentos não há paralelo com o tempo da Linguagem, que, como é sabido – eles falam – mas por Acordos, que não acordam como nós tantos lados importantes do dom da dita linguagem, que poderá ser agora à nova luz da silhueta mundial até um desajuste. Dito assim, apenas desejei acrescentar a esta discussão um ponto mais na ordem das coisas pensadas e, observando como os mudos, o mundo, sei que algo grave para nós, últimos herdeiros de uma vontade feita pela palavra, está objectivamente a acontecer. Não sabemos nada de como se vão adaptar as funções. Imaginemos um mundo telepático, preciso, mais filtrado de leveza. Pode ser que sim, que seja este o caminho, mas a nós faltam as peças desta futura construção, não somos consensuais e não temos de facto nenhuma razão para sê-lo. Deixem-nos a herança de um sonho que passou, pois que não será possível derrubá-lo. Estamos demasiado velhos para orientações e suficientemente sábios para reflectirmos as coisas, a nossa vida vai ser demonstrar que não passámos nem de moda, nem de tom, e que, se guardamos intactos todos os verbos, é por que onde tudo muda, é preciso algo que não mude e esses são os construtores da memória. Ninguém se vai lembrar dos que fazem a subtração alfabética e que reduzem a implante o que todos conquistámos gritando, dizendo até a voz nos doer. Não estando na sintaxe dos modos e dos tempos, acresce informar que a inventividade não se rasura com bisturis orientados nem com tesouras que permanecem afiadas como em tempos de censura, e na língua, como no amor, retirar é uma falta grave: pese embora o ganho dos línguístas em assuntos da matéria, esses bens ficam para os números que precisam ter a beleza abstracta da sua função: dinheiro será por fim uma mera sigla em que até o número desaparecerá e a palavra que produz, será apenas uma ordem. E, findo o acto, o pano cobre o palco e nestas coisas estranhas acontece pensar da saudade se delas nos esquecermos – das palavras – de como nos fizeram companhia quando todos levaram os seus tristes acordes para outro lado, de como por elas quase fomos mortos. E depois, por elas, ressuscitámos: pensamos na intrigante doença do esquecimento e no banho de ninguém a ser sujeito, e de como continuar, se tal mal nos der a paz de esquecer.
Paulo José Miranda Em modo de perguntar h | Artes, Letras e IdeiasRita Taborda Duarte | A poesia é um acto de resistência [dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]ens vários livros de poesia editados – em Novembro passado escrevi aqui no jornal acerca do teu Roturas e Ligamentos – e outros tantos de literatura para jovens. Além de tudo isto és também professora de literatura na universidade. Presumo que sejam registos diferentes de pensares a palavra e o mundo. Gostava que me falasses desses diferentes registos. Os registos da poesia e da escrita para a infância são muito similares: partem até de uma mesma atitude sobre o mundo e o modo como o relacionamos com a nossa própria linguagem. As crianças têm, perante a língua, uma atitude de espanto, desconfiança, mesmo incompreensão; nada do que lhes és dito lhes surge como estático, consabido, pré-definido; apreendem cada palavra à imagem da fluidez do seu mundo; constantemente, usam vocabulário novo e são inventivas, quando se apercebem de que a língua é pobre e fica aquém de toda a complexidade do seus universos. Os adultos, que por cá já andam há mais tempo, olham a língua de longe e do alto; usam a linguagem como uma moeda de troca gasta, cansada, repetitiva, como se não percebessem que a língua não tem a função de representar o mundo, mas de o ser, de o construir. Assim, a poesia está próxima do olhar inaugural da criança e do seu espanto; é uma arte que se move por uma rebelião contra as palavras, num perpétuo braço de ferro contra elas. Aliás, as palavras, amiúde, não seduzem o poeta coisa nenhuma: agridem-no, ludibriam-no. E ao escritor cabe esta incomodidade, esta raiva, por ter de escrever com as palavras, tão gastas, usadas, não para dizer o mundo (para isso, basta-nos, simplesmente, uma mão cheia de enredos de dicionário), mas para o reconstruir à sua imagem. A verdade é que todos nós passamos boa parte da vida a aprender a ajustar-nos à nossa língua materna; a diferença do poeta é que este procura passar todo o resto da sua vida a tentar desaprendê-la, a desfamiliarizar-se dela, buscando recuperar o olhar inaugural das crianças, quando se confrontam com a linguagem pela primeira vez e a descobrem cheia de enigmas. Na faculdade, eu não ensino literatura (dou aulas na Escola Superior de Comunicação Social), o que, na verdade, me dá uma enorme liberdade para falar de literatura, exactamente do modo que me apetecer. Ou seja, sem rodriguinhos, nem punhos de renda e sem ir cheia de pruridos e cerimónias «ao encontro do texto literário»; pelo contrário, posso ir «de encontro ao texto»; que é exactamente a forma como se deve ler: provocando-lhes umas justas amolgadelas e claro, saindo de dentro dele, do texto, também com algumas mazelas. Recentemente, há um mês, lançaste um novo livro para crianças, Animais e Animenos e outros bichos mais pequenos, em parceria com o artista plástico Pedro Proença. A ideia partiu de quem? No caso particular de Animais e Animenos e outros bichos mais pequenos (Caminho, 2017) o texto surgiu primeiro. E apareceu, efectivamente e uma vez mais, como espécie de necessidade infantil (para se escrever para crianças, assim como para se ser poeta, deve-se ser um bocadinho infantil) de perceber que por dentro das palavras vivem outras palavras e ainda outras palavras, ainda, que podemos sempre desconstruir, transformando-as, ainda, noutras diferentes, que por sua vez edificam outras coisas novas no mundo. Dos Animais (que são «mais») passei, assim, para os animenos (que são, claro está, «menos»). O desafio ao Pedro surgiu como uma evidência, diria mesmo uma necessidade óbvia: quem melhor do que ele para dar corpo e forma a animenos inventados? Ele que é o especialista em fazer nascer de um traço criaturas que já lá viviam, sem nós nos termos apercebido? Eu criei os animenos com palavras, é certo, mas o Pedro é que acaba por ser o verdadeiro criador, ao dar-lhes sopro da vida. No princípio aqui foi o verbo, mas foi o Pedro Proença que do verbo lhes deu vida. Qual a importância da artes visuais na tua vida, tendo em conta que ela atravessa tanto os teus livros? A relação mais óbvia e imediata que me ocorre, digo-te por antinomia, terá a ver com o facto de eu não ser não ser capaz sequer de desenhar uma linha direita; uma iletrada por completo a desenhar seja o que for, por isso também a minha admiração por quem cria mundos palpáveis, com formas, texturas e cores, assim, só com um mover rápido de mão. Tenho uma admiração enorme por isso, já que nem as letras (a minha suposta matéria prima) consigo desenhar… Mas, agora que falas nisso, vejo que tens razão em algo de que nem me tinha bem apercebido. Além dos livros infantis, os meus livros de poesia têm, de facto, uma componente visual forte; um livro de 2004, «Sentidos das coisas» é todo feito a partir da percepção (não só, mas também visual), e grande parte desses poemas de então partiam de objectos pictóricos (quadros, pinturas, esculturas), que, não estando reproduzidos no livro, são pictoricamente reinterpretados através de imagens (ilustração e fotografia) do Luís Henriques. Também Roturas e Ligamentos, o meu último livro de poesia, é um livro duplo: o meu texto interliga-se com a relação poético-pictórica (incrível e belíssima) do André da Loba, que forma a outra face do livro. Na verdade, a questão da percepção (a minha tese de mestrado é sobre isso mesmo, mas a propósito da percepção crítica sobre a poesia) e o modo como incorporamos em nós o que vemos é muito interessante, porque podemos ler tanta ambiguidade na percepção visual como na linguagem; a pintura, por exemplo, é bem o exemplo disso mesmo. A pintura fará ao mundo o mesmo que a poesia: rasura-o e escreve por cima. Na verdade, não acredito nada naquela máxima velhinha de São Tomé… Não: «crer para ver», assim é que deve ser; como fazem as crianças, os poetas, os pintores e melhor ainda farão os poetas-pintores. Voltando à poesia, aquando da leitura do teu Rotura e Ligamentos, não pude deixar de ver o quanto para ti a ética se liga à palavra. Para além da estética, a palavra é um instrumento ético. Não apenas no sentido da “palavra dada”, isto é, não apenas no sentido de nós com os outros, mas principalmente no sentido da responsabilidade por nós mesmos. Nós somos as palavras que usamos, as palavras que lemos, as palavras que pensamos e até as palavras que calamos. Gostava que nos falasses disto. A poesia, por si só, é, quanto a mim, um acto de resistência; de resistência contra a própria língua que está aquém ‒ se não a torcermos, se não a torturarmos ‒ de todo o mundo que há por dizer e por construir. Enquanto não percebermos que a poesia não é algo sequer essencial, sendo simplesmente a essência, vamos continuar a tornar o mundo mais pobre e mais unidimensional. É isto que nos diz um dos verso de Carlos de Oliveira ( um neo-realista que percebeu que a poesia por si mesma é uma arma de resistência, exactamente pela própria carência da linguagem: Rosa martelo fala disto mesmo no seu ensaio sobre Carlos de Oliveira) que me habita a memória desde há muito tempo: «elevar a torre do meu canto/ é construir o mundo /pedra a pedra.» A literatura, a poesia, não é, mau grado o platonismo, uma forma mais ou menos incipiente de imitação, sequer de representação, da realidade; é, sim, uma construção do real… sem ela, teremos menos mundo no mundo à nossa volta. Só por isto a poesia será uma questão ética e também uma forma de resistência política. Uma linguagem pobre, rasteira, reflecte um mundo igualmente indigente e em vez de o edificar torna-o mais rarefeito. Mesmo que não trate de temas políticos, a literatura é sempre um proposta ética, que não se limita a aceitar simplesmente o mundo como ele supostamente é; torna-se parte activa na sua reconstrução e funda um modo de o recriar, mais do que o re(a)presentar. É o que tu dizes, na tua própria questão: o mundo é a linguagem, e nós somos as palavras que usamos e também as que calamos. Em tempos numa entrevista [para o jornal Abril Abril] a uma pergunta similar lembrei-me da formulação de Jorge Luís Borges que dizia que todos os livros eram auto-biográficos. Penso que, parafraseando o escritor argentino, podemos também dizer que toda a literatura é política: alguns textos poderão até iniciar-se desta forma «Aconteceu certo dia em Alepo», outros poderão iniciar-se assim : «Num certo lugar da Mancha, cujo nome amanhã o direi», na tradução de Aquilino, que sempre recordo. Na verdade, tudo o que sabemos do mundo muda-nos; tudo o que escrevemos acrescenta mais mundo ao mundo; e as palavras são parte intrínseca deste mundo que habitamos: não são o revestimento, são o miolo. Entendes que a poesia hoje em Portugal atravessa um bom momento? Penso que terá acontecido uma coisa muito interessante com a poesia, nos nossos dias; por ser o parente mais pobre da literatura, aquele mais miserável e esfarrapado, a que os grandes grupos editoriais fecham a porta com um misto de náusea e condescendência (as pessoas são condescendentes com os poetas, e isto acontecerá talvez, como já disse, por eles serem tendencialmente infantis), foram sendo criadas editoras mais pequenas, que publicam, militantemente, livros de poesia, com um desmedido desprezo pelos mercados, e com verdadeiro gosto e entusiasmo pelo trabalho poético, pela palavra dita e escrita; editoras independentes, que acabam por juntar os poetas, promover leituras, tertúlias, e que permitem que a poesia ocupe, de facto, contra todas as expectativas, a cidade, o espaço público. A poesia, efectivamente, excede, graças a essas editoras, o circuito interno comercial do livro fechado, que tantas vezes se resume ao vendável ou não vendável ou a um lugar provisório na estante da livraria: isso é muitíssimo interessante. A abysmo, a que pertenço (e eu sinto a ideia de pertença relativamente à abysmo de uma forma muito forte, como casa que de facto acolhe a minha poesia e a de poetas que muito admiro) é um exemplo disso mesmo. Mas muitas outras editoras, pequenas, têm tido um papel relevante para impedir que se expulse definitivamente os poetas da República; pequenas casas editoriais que fazem um notável trabalho de resistência, com catálogos muitos diversos, mesmo perspectivas diferentes, mas espaços que acolhem resistentemente e com critério a poesia. Citando algumas, e vou pecar por esquecer injustamente outras, reconheço as chancelas do «homem do saco», onde também já editei, na «douda correria», em «do lado esquerdo», «averno», «língua morta», «tea for two», «licorne», «mariposa azual», como alguns exemplos que têm tido uma defesa activa da poesia, contra todas as circunstâncias, divulgando e revelando, contra a maré, novas vozes poéticas. Que projectos tens para este ano? Estou a escrever um novo livro de poesia, que penso que estará terminado depois do Verão. Já tem título, de há uns dias para cá: por agora chama-se «A Cabeça do Louva- a- Deus». Curiosamente, é um livro que não é para crianças (soa mal dizer que é um livro para adultos: rasteiras da nossa linguagem), mas que parte de imagens, desenhos a tinta da china, do Pedro Proença. Desta vez, aconteceu o processo inverso: ele desenhou (são cerca de quarenta desenhos, belíssimos e terríveis, com um louco imaginário fundado em mitologia) e eu, a partir dessas imagens extremamente fortes, estou a fazer o que a poesia faz naturalmente ao mundo; ao mesmo tempo a resistir-lhe, a provocá-los, e a apr(e)endê-los, também; tornando-os meus e, consequentemente, naturalmente, rasurando-os… com palavras.
Sérgio Fonseca DesportoTaça do Mundo de GT deve voltar este ano [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Federação Internacional do Automóvel (FIA) ainda não confirmou o regresso da Taça do Mundo FIA de GT ao Circuito da Guia este ano, mas Stéphane Ratel, o presidente da SRO Motorsports Group e figura proeminente das corridas de GT a nível mundial, está confiante que a prova irá ficar na RAEM pelo terceiro ano consecutivo. Apesar dos insistentes rumores que davam conta da possibilidade do moderno circuito francês de Paul Ricard poderia substituir Macau, Ratel, cuja organização ajudou a Associação Geral Automóvel Macau-China (AAMC) a colocar de pé este evento nos dois últimos anos, continua a afirmar que Macau é a melhor localização para acolher um evento desta natureza e dimensão. “Penso que Macau é o melhor lugar para o evento”, disse o francês que também organiza as séries Blancpain GT na Europa e Ásia, em entrevista à publicação especializada norte-americana Sportscar365. “A ideia é fazê-lo (o evento) um pouco mais profissional. Cada ano temos mais pilotos amadores e mais acidentes.” Mesmo tendo assumidas pretensões em subir a parada, Ratel admite que será difícil colocar de pé um evento apenas com equipas de fábrica e pilotos profissionais, visto que as corridas de GT (Grande Turismo) estão na sua essência direccionadas à competição-cliente. A Taça do Mundo do ano passado reuniu apenas quatro construtores em Macau, menos um que na edição de 2015 e menos três do que a FIA ambicionava quando em 2014 decidiu avançar com esta prova. O empresário francês conhece melhor que ninguém as dificuldades em persuadir os construtores automóveis em participar oficialmente nesta categoria, pois quando ele próprio tentou organizar um Campeonato do Mundo FIA com viaturas de GT iguais às que vemos em Novembro em Macau este acabou por morrer pelo desinteresse dos próprios fabricantes em apoiar a iniciativa. “Nós sabemos que os construtores da categoria GT3 têm dificuldades em gastar dinheiro em eventos que não sejam bem estabelecidos como as 24 horas de Spa-Francorchamps (Bélgica) ou Nürburgring (Alemanha)”, sublinhou. Para melhor, está bem Contudo, por agora, “a ideia é modificar algumas das regulamentações desportivas para melhor executar o evento e orientá-lo mais para pilotos profissionais”. A edição do ano passado que terminou ao fim de três voltas e com o vencedor com as quatro rodas apontadas para o céu deixou os quatro construtores presentes bastante insatisfeitos, ao ponto da Porsche ameaçar não regressar caso o evento não reúna as condições mínimas para proclamar o estatuto que tem. Para os construtores automóveis envolvidos na Taça do Mundo FIA de GT, que fazem um investimento avultado para estarem presentes oficialmente no Grande Prémio de Macau, o evento tem pecado pela falta de tempo no programa, que este ano terá novamente a Taça do Mundo de Fórmula 3 e mundial de carros de turismo (WTCC), e as pelas interrupções sucessivas causadas por acidentes com pilotos amadores. Isto, apesar do ano passado o maior perturbador ter sido o próprio vencedor da prova, o belga Laurens Vanthoor.
Paul Chan Wai Chi Macau Visto de Hong Kong VozesOs milagres dependem de nós [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] história de David e Golias que a Bíblia nos conta é sempre citada como um exemplo do triunfo dos fracos sobe os fortes. Mas será que esta história nos fala de um milagre? Depois de a lermos com atenção, reparamos que não foi tarefa fácil para David. David precisou de espírito, bravura e bastante preparação porque sabia muito bem que não tinha hipóteses de vencer Golias num confronto físico. Por isso recorreu aos jogos psicológicos e ao ataque surpresa. Golias subestimou as capacidades de David, deixou para trás o soldado que lhe transportava o escudo e lançou-se no ataque a David, que o ia provocando verbalmente. Esta reacção foi a que David esperava. Nessa altura, David usou a sua funda para atacar Golias. Lançou-o por terra e a seguir decapitou-o. A funda, usada na caça pelos pastores, lança a pedra a uma grande velocidade contra o alvo, fazendo dela uma arma letal. Há cerca de dez anos fiz uma peregrinação à Terra Santa e vi alguns locais a demonstrarem o seu funcionamento, com o objectivo de as vender aos turistas. Foi uma pena não ter comprado uma nessa altura. Mais tarde pedi a um amigo que também lá foi, para me comprar uma funda se as visse à venda. Mas possivelmente devido ao conflito israelo-palestiniano, foram retiradas do mercado. Carrie Lam venceu as eleições do passado domingo para Chefe do Executivo de Hong Kong, derrotando John Tsang que não conseguiu operar milagres junto da opinião pública. Mas, pessoalmente, penso que Carrie Lam conseguiu vencer devido à diferença de condições entre as campanhas, e não por falta de capacidade de mobilização e de entusiasmo de John Tsang. Uma das condições que marcou a diferença foi sem dúvida o apoio do Governo Central a Lam. A candidata (Carrie Lam) foi alcunhada por um adversário de “três-poucos”: pouca popularidade, pouca energia e pouca legitimidade, e mesmo assim conseguir ganhar a eleição. Este cenário terá algum paralelismo com a história de David que derrubou Golias? Na edição de sexta-feira do jornal “Sing Tao Daily”, vinha um artigo intitulado “Porque é que o Governo Central não apoiou John Tsang na corrida à liderança do Executivo?” Se isto se tivesse passado em Macau alguém teria apresentado queixa ao Comité Eleitoral, por causa do conteúdo do artigo e pelos possíveis impactos no acto eleitoral. O artigo explanava sobre o facto de John Tsang, que já foi um homem de confiança do Governo Central, ter concorrido às eleições sem esse apoio. Ou seja, John Tsang agiu de uma forma que não serviu os arranjos e as disposições do Governo Central. Foi esperto, mas no fim a sua esperteza acabou por se virar contra ele. Foi o contrário do que aconteceu, quando o ainda Chefe do Executivo Leung Chun-ying se pretendeu recandidatar. CY Leung tinha sido “encaminhado” para a vice-presidência do Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CPPCC sigla em inglês). Logo a seguir a estes “arranjos”, anunciou a retirada da recandidatura devido a problemas familiares. Este anúncio foi feito três dias antes da demissão oficial de John Tsang de Secretário das Finanças, o que o colocou num dilema. Poderia dizer-se que Carrie Lam tinha sido encarregada num momento crítico da missão de substituir Leung Chun-ying, que não goza de popularidade junto do Comité Eleitoral. A atitude abnegada de Carrie Lam, no sentido de cooperar com as disposições do governo Central, foi a chave para a sua vitória. A “esperteza” e um certo sentido de humor de John Tsang, acabaram por lhe retirar a confiança do Governo Central. Foi-lhe permitido ocupar-se dos assuntos financeiros enquanto Secretário das Finanças, mas se se tivesse tornado Chefe do Executivo, poderia ficar demasiado poderoso e o Governo Central teria mais dificuldade em controlá-lo. É uma prática tradicional de manipulação na política chinesa. Olhemos agora para as eleições para a Assembleia Legislativa de Macau marcadas para Setembro. Se a orientação da “Estabilidade Acima de Tudo” se mantiver, o resultado será uma vitória desequilibrada, já que as fraudes e a corrupção eleitoral continuam a subsistir apesar do reforço da lei. A Democracia irá continuar a desempenhar o seu papel “decorativo” na Assembleia e os que combatem em seu nome irão enfrentar uma extinção sem precedentes. Passaram-se alguns dias sobre a eleição de Carrie Lam e, depois da poeira ter assentado, algumas pessoas já estão convencidas de que o resultado desta eleição não foi o pior possível. Carrie tem reafirmado que a resolução das cisões sociais é uma das suas prioridades enquanto Chefe do Executivo. Demos-lhe tempo para mostrar o que vale.
Isabel Castro VozesNão mexe [dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]ouve uma altura em que deixou de se perceber o que se estava a passar, o que é mau, porque dá azo a especulações. De um lado, dizia-se que era para ir abaixo, porque se não fosse pela força das máquinas, o vento iria tratar do assunto, com consequências imprevisivelmente más. Do outro, falava-se em conservação, na preservação de não se sabia bem o quê, se era um apenas, dois, cinco, todos ou metade. Houve muita confusão numa matéria sensível, o que não é bom. Há dias, as coisas tornaram-se mais claras: afinal, Lai Chi Vun não vai ser demolido, depois de já ter sido ligeiramente demolido. Não vai tudo abaixo por enquanto, para se estudar o valor patrimonial dos estaleiros, para se pensar na classificação das estruturas que ali estão. Com sorte, e a concretizarem-se os desejos de alguns, a vila vai ficar mesmo como está. Mas arranjada e mais bonita, mais segura também, para que ninguém leve com teca na cabeça. Estranho processo este o da povoação de Coloane. De um lado, os Assuntos Marítimos que, a dada altura, tinham invariavelmente a mesma resposta para dar: é para demolir, a segurança e coisa e tal. Todas as questões que se foram colocando mereceram a mesma resposta, como se, do outro lado do email, estivesse uma máquina e não uma pessoa. Pergunta-se se é branco; na réplica diz-se que é o ano do galo. Irritante hábito este, o de as pessoas fingirem que não entendem o que se lhes pergunta. Irritante hábito este, o de as pessoas fingirem que não estão a ouvir, impávidas e serenas, mesmo quando há alguém que lhes grita ao ouvido. Mas adiante. Lai Chi Vun correu politicamente mal. Emenda-se agora a mão e ainda bem, que isto da face tem muito que se lhe diga, mas não importa nada quando em causa estão valores mais altos do que as bochechas de uns e de outros. Lai Chi Vun correu politicamente mal porque quem decidiu que era para ir abaixo não foi capaz de perceber o que está ali em jogo. Não foi capaz de compreender o que querem as pessoas de Macau. Não é preciso ter-se um doutoramento em Sociologia, nem um mestrado em História para se perceber que os estaleiros têm um significado especial para muita gente – não só para quem ali vive, mas para muitas mais pessoas do território. Basta ler duas páginas sobre o assunto num jornal qualquer, escolhidas de forma aleatória entre o muito que se escreveu acerca da matéria, para se perceber que Lai Chi Vun tem uma característica especial: ao contrário da calçada à portuguesa, das Ruínas de São Paulo ou da Igreja de São Domingos, os estaleiros representam uma história que é só das pessoas de Macau, independentemente das influências externas nas embarcações que ali foram sendo construídas. É um passado de pessoas daqui, de gente que nasceu, viveu e morreu nos barcos e para os barcos. É um passado que tem que ver com a subsistência, com o saber fazer, com a possibilidade de se construir e também com a ideia da partida, porque é um passado virado para o mar, para a hipótese de liberdade. Lai Chi Vun representa ainda uma forma diferente de contar os minutos. Ali, o tempo passa mais devagar do que no reboliço que alguém inventou para esta cidade, que nos consome os anos e a vida. De algum modo, mais do que ser a última testemunha de uma actividade desenvolvida em Macau, Lai Chi Vun é também do pouco que resta de um território que muitos gostariam de ter visto evoluir a uma escala humana. Ainda bem que se foi a tempo. Sabe bem dar boas notícias e ter a ilusão de que, nesta terra, não contam só os interesses de quem destrói o que é autêntico para construir o que é pastiche. Conforta a alma pensar que ainda se pensa em quem quer apenas continuar, por entre a teca, a ver o dia desaparecer na água.
Andreia Sofia Silva Perfil PessoasCélia Ferreira, empresária | De coração aberto [dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] uma recém-chegada a um território de vindas e idas. Célia Ferreira tem 40 anos, é licenciada em Relações Internacionais, empresária de profissão. Apesar de ainda estar na contagem crescente que se faz quando se desembarca, de malas atrás, no Porto Exterior, não é novata nestas andanças da emigração. E é por isso que cita Fernando Pessoa. Ele diz, como ninguém, que “vivemos todos, neste mundo, a bordo de um navio saído de um porto que desconhecemos para um porto que ignoramos; devemos ter, uns para os outros, uma amabilidade de viagem”. Nascida em Guimarães, o berço de Portugal, Célia Ferreira ganhou no curso que fez a possibilidade de conhecer pessoas de várias nacionalidades. Foi através deste “contacto permanente” que surgiu a área comercial, trabalho a que se foi dedicando e a razão que a trouxe a Macau. A primeira experiência internacional aconteceu em África. “Fui convidada para desenvolver um negócio na área de hotelaria e spa, num resort em Angola. Foi um desafio que aceitei quase de imediato”, recorda. Mais tarde, percebeu que poderia abrir a sua empresa, “direccionada para produtos de luxo”. O contexto económico de Luanda deu-lhe a volta aos planos. “A má altura económica que Angola atravessa dificulta muito o acesso a divisas, logo, também à importação. Com estas dificuldades de acesso a divisas, comecei a pensar em alternativas”, explica. Seguiram-se conversas com amigos, ideias para explorar. “Comecei a pensar noutros mercados, que fizessem sentido para o género de produtos que pretendo representar”, diz. Brasil, Canadá ou Estados Unidos eram opções que se colocavam no horizonte. “Macau não foi a primeira opção”, confessa. Mas vieram umas férias e a oportunidade de conhecer o território. “Já tinha algumas referências através de amigos a viverem cá, amigos de familiares que também residiram cá, e passou a ser uma hipótese.” A diferença Quando se sai do país sem uma oferta de trabalho na mão, quando se emigra numa lógica de se criar um negócio na nova casa, a viagem tem de ser mais bem planeada. Célia Ferreira criou uma empresa e decidiu participar na MIF. A Feira Internacional de Macau, que lhe permitiu dar visibilidade a alguns dos produtos que representa, foi o “kick-off” da mudança. “Estabeleci alguns contactos com empresas chinesas, com interesses em produtos europeus, nomeadamente em produtos femininos e de criança. Representamos marcas de gama média/alta”, refere, num leque variado que vai de produtos de spa a têxteis para casa, bem como relógios e canetas. A dar os primeiros passos como empresária na Ásia, depois de ter vivido em África, Célia Ferreira continua a ter uma ligação “bastante forte” a Portugal, “por todos os laços desenvolvidos, a família, os amigos”. Pela actividade profissional que tem, espera aterrar com muita frequência nos aeroportos portugueses. “Apesar da distância, pretendo ir várias vezes durante o ano, quer pela família, quer pelo contacto com empresas que querem ser representadas em Macau e na China Continental.” E as maiores dificuldades de adaptação a Macau? “Quase nenhumas”, responde. Nem sequer a humidade a atrapalha, porque “o clima similar é ao que encontrei em África”. Ainda assim, reconhece que houve uma expectativa que, de certo modo, saiu defraudada: a comunicação. “Pensei que seria mais fácil, dada a presença portuguesa durante séculos. Achava que seria comum encontrar mais pessoas a falar português, mas verifiquei que, em alguns serviços, até em inglês se torna difícil comunicar”, aponta. O tempo que conta de vida no território faz com que a cultura chinesa seja ainda encarada “como um desafio”, um desafio daqueles que fazem bem. “Adoro viajar e conhecer novas culturas, hábitos e tradições. Acredito que com a minha mudança para cá irei ter estas oportunidades e outras que nem equacionei.” Resumindo e concluindo: “Vim de coração aberto”.
Hoje Macau China / ÁsiaEmpresa de genro de Trump cancela negociações com chineses [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] família de Jared Kushner, genro e assessor de Donald Trump, anunciou esta quarta-feira o cancelamento das conversações com o conglomerado chinês Anbang sobre uma das suas propriedades na Quinta Avenida, em Nova Iorque, que suscitaram críticas no Congresso. “As Kushner Companies já não estão a negociar com o Anbang a possível remodelação do edifício 666 da Quinta Avenida. As nossas empresas decidiram, por comum acordo, acabar com as conversações relativas à propriedade”, conforme um comunicado da empresa. O cancelamento das conversações entre as empresas de Kushner e a Anbang acontece depois de vários congressistas terem exprimido preocupação pelas relações da empresa chinesa com os dirigentes de Pequim, o que representaria um conflito de interesses por Jared Kushner ser genro e assessor do Presidente dos EUA. Cinco congressistas tinham enviado uma carta a um advogado da Casa Branca para pedir informação sobre o que descreveram como uma “transacção muito preocupante” entre as Kushner Companies e a Anbang. Os congressistas citaram informação segundo a qual as Kushner Companies obteriam um ganho de 400 milhões de dólares em ganhos com a operação imobiliária. Adiantaram também que Kushner e o presidente da Anbang, Wu Xiaohui, se reuniram em Novembro, depois da vitória eleitoral de Trump, mas que a Casa Branca não divulgou informação sobre os resultados da mesma. O genro de Trump parece estar em dificuldades para conseguir rentabilizar o 666 da Quinta Avenida, que tem 30% dos escritórios desocupados e uma dívida acumulada 1,2 mil milhões de dólares. No comunicado de hoje, as Kushner Companies não deram qualquer explicação para o cancelamento das conversações com o conglomerado chinês, que tão pouco quis comentar o assunto. O Anbang possui o conhecido hotel nova-iorquino Waldorf Astoria, que comprou em 2014 por 1,95 mil milhões de dólares. Na segunda-feira, a Casa Branca anunciou que Kushner vai dirigir um novo serviço na estrutura governamental, designado Gabinete de Inovação, cuja tarefa vai ser a aplicação de ideias empresariais ao funcionamento do governo federal.
Hoje Macau China / ÁsiaFilipinas | Rodrigo Duterte volta a insultar líderes da União Europeia [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, subiu o tom das críticas à União Europeia, voltando a recorrer a palavrões para insultar os líderes europeus e os deputados por censurarem a sua política anti-droga. “Eu enfrento de frente o problema das drogas, a UE, filhos da p***”, disse o chefe de Estado num discurso no palácio presidencial Malacañan, em Manila, perante o colégio de vereadores filipinos e funcionários que acabavam de prestar juramento para servir os respectivos cargos. Quanto aos deputados ao Parlamento Europeu, Duterte pediu aos presentes: “se vos perguntarem como os descreveriam, digam-lhes apenas que o alcaide disse que sois uma boa m****”. Em meados de Março, o Parlamento Europeu aprovou uma resolução a condenar e a pedir o fim da “guerra contra as drogas” liderada por Duterte, cujo balanço ascende já a mais de sete mil mortos desde o início em 30 de Junho de 2016, dia da sua tomada de posse. “Não nos venham impor os vossos valores e isso tudo, porque vos detestamos por serem hipócritas. Vocês são a incongruência dos tempos”, afirmou o Presidente filipino, numa referência à União Europeia. O governante argumentou ainda que a Europa conseguiu os seus progressos económicos “conquistando a Indonésia, a Malásia, as Filipinas, e levando o melhor” destas terras, pelo que convidou o Velho Continente a não dar “lições de moral” a países e governos com realidades distintas no outro lado do planeta. Das contradições O chefe de Estado tinha chamado “loucos” aos deputados europeus na semana passada, o que levou Bruxelas a chamar o embaixador filipino para consultas. Curiosamente, os insultos de Duterte de ontem acontecem apenas escassas horas depois do seu ministro dos Negócios Estrangeiros, Enrique Manalo, reafirmar o seu desejo de estreitar laços com UE, numa tentativa de acalmar os ânimos no ocidente. No seu discurso de ontem, Duterte qualificou também como “filho da p***” o anterior Presidente norte-americano, Barack Obama, a quem insultou em outras ocasiões, assim como os meios de comunicação filipinos – nomeadamente o Daily Inquirer filipino e a cadeia de televisão ABS-CBN – que criticaram a sua “guerra contra as drogas”. A campanha anti-droga de Duterte foi reactivada em Março depois de um mês de interrupção, alegadamente para “limpar a corrupção da polícia”, e desde então resultou em várias dezenas de presumíveis traficantes e toxicodependentes mortos às mãos de agentes policiais e milícias.
Sofia Margarida Mota Entrevista MancheteMelinda Chan, deputada: “Nós, as mulheres, temos as mesmas capacidades” A deputada Melinda Chan ainda não dá certezas quanto à sua candidatura nas próximas eleições para a Assembleia Legislativa. Ao HM, falou do caminho que percorreu e das suas prioridades. E apontou ideias pelas quais quer continuar a lutar É candidata às próximas eleições legislativas? Ainda estou a pensar. Tenho de reunir uma equipa e depois tenho de verificar o mais importante: saber se as pessoas também querem que eu continue. Não sou só eu que tenho de querer, o mais importante é sentir que sou apoiada. Passou a ser deputada quando o seu marido, David Chow, deixou a Assembleia Legislativa (AL). Sente que foi um legado que herdou? Candidatei-me pela primeira vez em 2009. O meu marido tinha sido deputado desde 1996, ainda antes da transferência de Administração. Eu já estava, desde 2002, à frente da associação de beneficência Sin Meng. Em 2009, existiram duas razões para que me sentisse motivada a candidatar-me à AL. Por um lado, David Chow reformou-se da função de deputado. Com a sua saída, as pessoas que ele representava ficariam sem um porta-voz que protegesse as suas opiniões. Era minha responsabilidade continuar o trabalho, até porque muitos dos problemas da altura ainda estavam sem solução. Por outro, ao lidar com os membros da associação que representam diferentes classes da população com necessidades também diferentes, senti que tinha a responsabilidade de trabalhar com eles. Na altura, que necessidades exigiam uma intervenção mais urgente? A segurança social, especialmente no que dizia respeito às pensões dos idosos. O montante era então de 1700 patacas e, na minha opinião, tinham de ser aumentadas para, pelo menos, três mil patacas. Ouvi dizer que seria uma missão impossível por ser um aumento muito grande. Mas certo é que consegui. Os cuidados hospitalares também eram urgentes. A população idosa tinha de esperar muito tempo para ser atendida. A lei do erro médico, recentemente aprovada, também foi uma luta. Outra causa que sempre tive foi a legislação contra a violência doméstica. O início da discussão na AL foi muito difícil e o mais importante era fazer entender aos deputados o que estava em causa. Tem lidado com portadores de deficiência na sua associação. As necessidades com os deficientes também são muitas. A ideia de aumentar os seus rendimentos ou os apoios financeiros do Governo não é suficiente. O cuidado para com esta população deve ser tido desde que nascem e começa no rastreio. É necessário formar equipas médicas capazes de os acompanhar e ajudar a obter ferramentas para que um dia possam ser o mais autónomos possível. O sistema educativo deve acompanhar estes cuidados e fornecer meios para acolher portadores de deficiência. Deve existir um ensino especial munido de profissionais e especialistas. Também acho que temos feito muitos progressos, mas o Governo deveria investir mais recursos financeiros na criação de toda uma estrutura capaz de ajudar esta população. Deveria ser dada em dois sentidos: cuidados médicos e educação especial. A percentagem de fundos dirigida a esta população em Macau ainda é muito reduzida. Em 2013, dizia que uma das suas prioridades era a reforma de Administração Pública. Como correu este trabalho? O problema da Administração Pública de Macau é, acima de tudo, a lentidão. Tudo o que se pretenda fazer implica demasiada burocracia. Precisamos de mudanças no sentido de diminuir o número de procedimentos. As decisões têm de ser mais rápidas na base. Por exemplo, a ponte Hong Kong-Macau- Zhuhai, irá abrir, em princípio, no final deste ano, mas, dadas as complexidades burocráticas, temo que o troço de Macau não possa estar aberto ao mesmo tempo que os outros. Macau vai ficar mais tempo isolado e gostava que isto não acontecesse. Já vivo aqui há cerca de 50 anos, já é a minha terra e gostava de ver o seu desenvolvimento mais fluido porque Macau é um bom sítio. Outra questão que não me agradava, por exemplo, há 30 anos, era a comparação de Macau a Hong Kong como se o território vizinho fosse a cidade grande e Macau um pequeno lugar. Mas penso que isso está a mudar. No entanto, tem de ser uma mudança apoiada e com consciência por parte de todo um Governo e de políticas que o permitam. Como é que vê Macau enquanto “plataforma”? Macau é muito especial porque temos vários contrastes que dificilmente se encontram noutros lugares. Temos a cultura chinesa e a ocidental dentro de uma cidade pequena. Temos património mundial a conviver com os casinos e hotéis de cinco estrelas. As pessoas podem ter contacto com coisas muito diferentes num pequeno espaço. Faz parte da identidade de Macau e até o Governo Central dá ao território uma denominação especial enquanto plataforma. Não nos podemos também esquecer que, aqui, convivemos com a língua portuguesa, pelo que temos uma situação privilegiada e que devemos usá-la da melhor maneira. Como? Podemos pensar em formas de melhorar o conceito de plataforma, tendo em mente a utilização da língua portuguesa. Na China Continental, mesmo em Cantão, há muitas fábricas que exportam os seus produtos. Macau podia ser o local de excelência a considerar na exportação dos produtos entre o Continente e os países de língua portuguesa enquanto plataforma logística. Hong Kong, por exemplo, tem um porto marítimo conhecido historicamente pelas trocas comerciais. Macau tem uma grande vantagem linguística e como tal podia investir no desenvolvimento de estruturas logísticas. Isto é só um exemplo de como podemos tirar o maior partido da “plataforma”. O território pode ter o mesmo papel que Hong Kong, mas enquanto o território vizinho leva muita coisa para o Continente, nós podíamos fazer o inverso: levar para os países de língua portuguesa. Posteriormente, poderíamos aproveitar os mercados em desenvolvimento e que estão muito perto de nós, como o Camboja e o Laos. Além de um porto para o efeito, podemos ainda usar a ponte que está a ser construída, desde que salvaguardemos a liderança nos processos logísticos. Também existe o problema do aeroporto. É muito pequeno e já não se adequa nem às necessidades turísticas enquanto centro de turismo mundial, nem às necessidades para transporte de cargas. Macau deveria ser uma plataforma comercial e logística. A lei sindical não tem chegado a consensos. A sua opinião também não tem sido clara. Como é que vê uma futura implementação do diploma no território? Sou a favor da criação da lei sindical, mas temos de resolver outro tipo de problemas antes para que seja viável. Macau é diferentes de outras regiões porque tem muitas associações de trabalhadores. No mesmo tipo de emprego, há várias associações. Este é um dos problemas. Há cerca de 700 associações neste momento, não seria fácil ter uma entidade de defesa, como um sindicato que agradasse a todas elas porque têm ideias e interesses diferentes. Por exemplo, só para os enfermeiros há várias e a questão é: quem é que os passaria a representar? Outra questão tem que ver com os financiamentos. Noutras regiões, os sindicatos não são subsidiados pelo Governo e têm de ir buscar os fundos aos associados. O que é que se pode fazer em Macau neste sentido, sendo que as associações são financiadas pelo Executivo? Em terceiro lugar, também gostaria de ver claro um outro assunto: se existirem associações sindicais e estas terminem a actividade, para onde vai o dinheiro que lhes pertence? Vai ser dividido pelos seus membros? Seria justo dividir o património pelos seus membros. Isto tem de estar definido por lei. Quando estas questões estiverem devidamente clarificadas, votarei a favor do diploma. Não sou em nada contra os princípios sindicais, mas tem de existir um limite nas associações sindicais e não sei como isso iria acontecer em Macau. Se vamos ter uma nova lei, deve ser justa para ambas as partes. Se se candidatar nas próximas eleições, quais serão as suas prioridades? Em primeiro lugar, estarei sempre junto daqueles que têm mais dificuldades em expressar-se. Por isso, estarei, mais uma vez, a lutar pela inserção da população portadora de deficiência. Esta população não tem capacidades para lutar pelos seus direitos. Penso também que Macau precisa de algumas mudanças e continuarei a reivindicar mais rapidez na administração pública. Quero, se possível, trabalhar na área dos negócios, essencialmente na variedade de emprego. Este objectivo está associado a um bom funcionamento da segurança social. Para termos um bom sistema, temos de garantir uma economia viva e diversificada. O Governo já disse que não podemos estar apenas dependentes dos casinos e que temos de ser diversificados. Eu quero pegar nesta ideia e promovê-la. Lido com muitos jovens que, depois de irem para a faculdade, regressam a Macau e não têm trabalho nas suas áreas porque não existem. Acho que é muito importante alargar os sectores de empregabilidade além do jogo e do turismo. É preciso promover mais escolhas e mais tipos de negócios. Considera que a imigração rouba empregos aos locais numa sociedade em que o desemprego é residual? A mão-de-obra estrangeira é importante para o desenvolvimento de Macau No que respeita a quadros especializados, o território precisa de chamar peritos de fora para trabalhar e, ao mesmo tempo, formar os nossos residentes. Precisamos de tempo para desenvolver as nossas capacidades. As pessoas saem da universidade sem experiência, é necessário que a adquiram com pessoas que a tenham, e ter peritos de fora a dar formação ajuda muito. Por outro lado, no que respeita a trabalho ligado ao serviço na hotelaria e construção, Macau precisa de importar mão-de-obra porque não temos pessoas para esse tipo de serviço. No domingo passado, Carrie Lam venceu as eleições em Hong Kong. Que comentário faz? Fiquei muito contente. Penso que é uma mulher muito trabalhadora e boa para as pessoas. Tendo em conta o seu trabalho nos últimos anos, tem mostrado que é responsável. Muitos países começam a ter mulheres como líderes. Penso que é muito positivo que a tendência esteja a acontecer em Hong Kong. Nós, mulheres, temos a mesma educação e as mesmas capacidades, pelo que espero que esta igualdade se comece a sentir na política. Também penso que as mulheres têm sensibilidade para coisas que os homens não têm. O que acha da possibilidade de existir em Macau a eleição do Chefe do Executivo através de sufrágio universal? Macau irá ter o sistema de voto universal, só não sabemos quando.
Victor Ng PolíticaRelatórios sobre viagens oficiais no portal do Governo [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] ideia é que o sistema fique “centralizado”, ainda que estejam a ser estudadas as alterações necessárias. Kou Peng Kuan, director dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), adiantou à deputada Ella Lei que, numa primeira fase, os relatórios relativos às viagens oficiais realizadas por funcionários públicos serão publicados no portal do Governo. Ainda assim, não foi avançada qualquer data para a entrada em vigor de novas medidas. “O Governo está a fazer trabalhos de estudo com base nas directrizes definidas. Em 2016, foram recolhidas informações junto dos departamentos públicos, tendo já sido feita uma classificação desses dados. Foi ainda iniciado um estudo sobre o regulamento de divulgação de informações do Governo que se aplica no território.” O regulamento a que se refere Kou Peng Kuan diz respeito a um despacho emitido pelo Chefe do Executivo, Chui Sai On, que determina as instruções relativas à publicação dos resultados das deslocações ao exterior, em vigor desde o passado dia 1 de Fevereiro. Esta é, actualmente, a única legislação que define que os serviços públicos são obrigados a divulgar os relatórios sobre visitas de trabalho e seminários realizados fora de Macau. Contudo, para Ella Lei, é necessária uma maior transparência no processo de divulgação de informações. “A Administração deve exigir que os resultados das visitas de estudo e seminários das deslocações em missão oficial de serviço dos trabalhadores da Função Pública, bem como os apoios e gastos suportados pelo erário público, sejam publicados na Internet em formato de documento electrónico”, defendeu. Não há unificação Na resposta à interpelação escrita da deputada, Kou Peng Kuan admitiu que, “para já, o Governo não tem normas unificadas para a realização de estudos”, sendo que os departamentos públicos “vão utilizar as formas adequadas com base na situação em questão”. O responsável máximo pelos SAFP disse ainda que “o Governo dá muita importância aos trabalhos de divulgação das informações”, algo que “visa não só assegurar o direito à informação dos cidadãos, mas também fomentar a participação dos cidadãos na discussão de políticas”. Tudo para “aumentar a qualidade das políticas, o desenvolvimento económico e a qualidade dos serviços”, rematou.
Hoje Macau Manchete PolíticaLusofonia | São Tomé e Príncipe adere ao Fórum Macau São Tomé e Príncipe faz, a partir de ontem, parte Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa. O país deixou de ter relações com Taiwan e passou a estar próximo de Pequim. Ficou também mais perto de Macau [dropcap style≠’circle’]“A[/dropcap] partir desta reunião, São Tomé e Príncipe já é um país participante do nosso Fórum”, disse ontem a secretária-geral do secretariado permanente do Fórum Macau, Xu Yingzhen, no final da reunião em que foi aprovada a integração do país, três meses depois do corte das relações diplomáticas com Taiwan. Segundo Xu, todos os membros concordaram com a integração de São Tomé. “O nosso Fórum fica mais completo, já temos todos os países de língua portuguesa neste fórum. Desejo que São Tomé possa beneficiar deste mecanismo”, disse. Quanto a uma possível adesão da Guiné Equatorial, a secretária-geral disse não ter qualquer notícia. “Não foi um tema discutido na reunião”, indicou. O próximo passo será a escolha do delegado e participação nas actividades. “Depois desta reunião já pode participar activamente em todas as acções do secretariado permanente, mas como membro novo tem de ter tempo para estudar e pensar em quais actividades lhes convém participar”, explicou. No dia 20 de Dezembro, São Tomé e Príncipe cortou relações diplomáticas com Taiwan e reconheceu a República Popular da China. Seis dias depois, a China anunciou o restabelecimento dos laços diplomáticos com o país. São Tomé e Príncipe encontrava-se, até agora, excluído do Fórum Macau devido às relações com Taiwan. Criado em 2003 por Pequim, o Fórum Macau tem um Secretariado Permanente e reúne a nível ministerial a cada três anos. Na V Conferência Ministerial, em Outubro último, não esteve qualquer representante de São Tomé, apesar de o país ter participado como observador nas reuniões do Fórum e de, em 2013, ter enviado, pela primeira vez, um representante com a categoria de ministro. Fundo antes de Julho Xu Yingzhen disse ainda que a mudança da sede do fundo chinês de mil milhões de dólares destinados a investimentos de e para o universo lusófono para Macau deve acontecer na primeira metade deste ano. “O Banco de Desenvolvimento da China está a discutir com o Governo da RAEM para acelerar os passos para trazer a sede principal para Macau. Acho que na primeira metade deste ano vai estar aqui”, afirmou. A mudança da sede do fundo para Macau foi anunciada em Outubro do ano passado e esperava-se que pudesse acontecer ainda em 2016. Já em Janeiro deste ano, a directora-geral da empresa de gestão do fundo, Jin Guangze, disse que a equipa estava “a trabalhar nos aspectos jurídicos” para que tal se “concretize o mais rápido possível”. O fundo, com o valor global de mil milhões de dólares, aprovou até agora três projectos, em Angola, Moçambique e Brasil. O projecto de construção de uma estância turística em Cabo Verde, que vai inaugurar a indústria de jogo no país, do empresário de Macau David Chow estava, em Janeiro, “na fase de análise, mas quase a finalizar”, estando em causa o financiamento em 20 milhões de dólares. “Já finalizámos quase todas as etapas, só falta uma aprovação para poder arrancar esse projecto”, disse na altura Song Feng, diretor-geral adjunto do departamento de gestão do fundo.
João Luz Manchete PolíticaCAEAL | Comissão garante liberdade de expressão durante campanha Vinte dias depois de a Associação de Imprensa de Língua Portuguesa e Inglesa de Macau ter solicitado esclarecimentos à Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa, o pedido continua sem resposta. Mas fica a promessa de que vai haver diálogo com os jornalistas [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]arece prosseguir a indefinição sobre o que distingue propaganda eleitoral e livre exercício do jornalismo no discurso da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL). No passado dia 8 de Março, a comissão realizou uma palestra com os media sobre as consequências das alterações à lei eleitoral, dando eco às preocupações de alguns deputados com a actuação da comunicação social. Aí, foi referido que os conteúdos que dirigem a atenção do público para algum candidato, que fomentem o voto, ou o desencorajem, podem ser alvo de sanção durante o período de proibição de campanha eleitoral. Não foram mencionados quaisquer critérios sólidos na avaliação dos conteúdos informativos. Ora, uma entrevista acarreta, obviamente, atenção sobre o que é dito por um entrevistado, sendo impraticável atingir igualdade de tratamento entre candidaturas. Como tal, essa palestra levantou questões sobre a liberdade de imprensa, motivando um pedido para uma reunião da Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM) à comissão. Até à hora de fecho desta edição, não tinha sido dada qualquer resposta à solicitação. Ontem, à margem de uma reunião da comissão, Victor Chan, membro da CAEAL e porta-voz do Executivo, fez referência ao encontro de 8 de Março para sustentar que “a situação ficou clara”. O problema é que foi, exactamente, na sequência dessa palestra que nasceram as dúvidas que originaram o pedido de reunião da AIPIM. O membro da comissão referiu que a associação “não tem questões novas” e que será mantida “uma relação estreita” com a associação – não explicou, porém, em que moldes será garantida esta comunicação. José Carlos Matias, presidente da AIPIM, refere que foi “enviado um email com um pedido formal de reunião à CAEAL”, ao qual ainda “não foi dada resposta oficial”. A associação aguarda, assim, uma reacção da comissão presidida por Tong Hio Fong. Ainda a propósito das dúvidas que subsistem entre os media de língua portuguesa e inglesa, o porta-voz do Executivo garante que, mesmo depois das alterações à lei eleitoral, “será salvaguardada a liberdade de imprensa”. Questionado sobre se a reunião com a AIPIM acontecerá, Victor Chan não faz promessas: o também director do Gabinete de Comunicação Social refere que tem de “ver a situação real”, e que a comissão não pode reunir com todas as associações, uma vez que têm de ser tidos em conta o tempo e a agenda de todos os membros da CAEAL. Ambiente na campanha No que toca aos assuntos discutidos na reunião da comissão, foi anunciado o contacto com uma associação dos direitos dos portadores de deficiência visual, onde foram discutidas as dificuldades que este segmento da população pode ter no momento de votar. Nesta matéria, o presidente da CAEAL, Tong Hio Fong, refere que serão realizadas reuniões com “representantes de mais três associações” de direitos dos invisuais de forma a “recolher mais opiniões e preocupações”. Em causa estão questões como o design do boletim de voto, tendo sido anunciado que a CAEAL quer oferecer aos portadores de deficiência visual mais escolhas para que possam votar pessoalmente. Nesse sentido, vão ser criadas assembleias de voto de simulação para este segmento do eleitorado. É de salientar que, em eleições anteriores, os invisuais exerceram o seu direito de voto por intermédio de uma pessoa de confiança, normalmente um familiar ou um amigo. Foram discutidos, também, os efeitos que a campanha eleitoral pode ter no ambiente, nomeadamente pela poluição sonora que pode provocar. Como tal, a CAEAL reuniu com a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental e pediu aos serviços a elaboração de um estudo para aferir até que ponto os decibéis da propaganda eleitoral podem ser prejudiciais. Esta medida incide, particularmente, nos eventos de campanha ao ar livre, assim como na circulação de camiões apetrechados com megafones. Nestes casos, prevê-se que seja implementada a imposição de limites de volume. Como a CAEAL conta com um aumento do número de eleitores, foram discutidas a possibilidades do aumento das assembleias de voto, assim como a sua relocalização para zonas mais densas em termos de população, como o norte de Macau. Procura-se a eficiência, a facilidade de funcionamento dos locais de votação e o conforto do eleitor. Neste capítulo, é de referir que existem no território 33 assembleias de voto, estando a ser equacionadas a criação de mais uma ou duas, suplentes.
Hoje Macau SociedadeMUST assina acordo com Faculdade de Medicina de Lisboa [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST) e a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa assinam no próximo domingo um memorando de entendimento. Segundo um comunicado, a nova cooperação é celebrada no âmbito da 36.ª edição do Fórum Médico Internacional Sino-Luso, cujo tema é “Boas práticas na Educação Médica e Habilidades Cirúrgicas”. Madalena Patrício, presidente da Associação Europeia em Educação Médica e directora do Departamento de Educação Médica da Universidade de Lisboa, estará presente na iniciativa. O memorando será assinado nas instalações da Fundação Stanley Ho. Citado pelo mesmo comunicado, Manson Fok, director da Faculdade de Ciências da Saúde da MUST, explica que a realização destes fóruns anuais pela universidade privada visa responder à ausência de uma faculdade de Medicina em Macau. “Não temos uma faculdade de Medicina em Macau. Nos últimos sete anos, fizemos um imenso esforço para formar os prestadores de serviços médicos. O nosso ensino de saúde só terá qualidade consoante as pessoas que o conceberem e gerirem. Temos vindo a convidar especialistas de renome internacional para falar neste fórum, para atrair docentes na área da medicina para inspirar a próxima geração de Macau, em termos de valor e ética”, apontou. Manson Fok diz ainda esperar que seja possível, “nesta década, ver grandes avanços ao nível da formação médica e cirurgia, bem como na investigação e inovação”, acrescentou. Já Madalena Patrício afirmou ser “óptimo poder estar envolvida e participar neste fórum com oradores de elevada qualidade”. “É muito bom poder ter este apoio para uma melhoria da educação na área da saúde em Macau, em conjunto com os países de língua portuguesa”, concluiu.
Sofia Margarida Mota SociedadeSão Januário | Hospital volta a ser acreditado por entidade australiana Foi ontem formalizada a acreditação do Centro Hospitalar Conde de São Januário pelo Conselho Australiano de Normas de Saúde. A distinção não é nova. Foi agora prolongada por mais quatro anos [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]ecorreu ontem a cerimónia de entrega do certificado de acreditação, por mais quatro anos, ao Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ). A distinção foi atribuída pelo Conselho Australiano de Normas de Saúde (ACHS, na sigla em inglês). O secretário para os Assuntos Sociais e Cultura realçou que, para que a distinção alcançada, “todos os 47 critérios das três áreas de avaliação foram aprovados”. Entre os parâmetros constam a assistência médica, os serviços de apoio e a administração institucional. Os critérios de avaliação tiveram em conta o funcionamento de quatro serviços: a informação ao público, a participação por parte dos utentes nos cuidados de assistência médica, a prevenção de recaídas e a gestão dos actos de vigilância nos cuidados médicos. Em todos, o São Januário teve a classificação de nível quatro que corresponde a uma “realização extensiva”, disse Alexis Tam. De acordo com o secretário, as avaliações mais positivas dadas pelo ACHS registaram-se nas acções para a redução de listas de espera. A causa, afirmou, foi a “criação de consultas externas nocturnas”. À acção juntou-se o alargamento da divulgação de informação médica à comunidade, e a criação dos centros de avaliação conjunta pediátrica e de avaliação e tratamento da demência. John Smith, presidente da ACHS, recordou o processo de avaliação que teve lugar em Outubro de 2016, em que foi identificado “um alto desempenho por parte do CHCSJ”. O responsável foi mais longe e sublinhou a qualidade dos serviços de informação que a entidade tem disponíveis, “o forte compromisso para com a participação da comunidade e a minimização de recaídas”. A ACHS já existe há mais de 40 anos e é acreditada pela International Society for Health Care (ISQua) desde 1997. Actualmente, opera em cerca de 20 países e tem, como membros, mais de 1600 instituições hospitalares e dedicadas aos cuidados de saúde. Melhoras de milhões O CHCSJ conta também com novos equipamentos e estruturas de vanguarda na área da imagiologia. Em visita guiada, o director do centro hospitalar, Kuok Cheong U, fez questão de mostrar a convidados e jornalistas as novas aquisições. O hospital tem agora um novo aparelho de rastreamento de cancro da mama. A ideia é, afirmou, conseguir diagnósticos cada vez mais precisos e com maior antecedência, de forma a permitir intervenções precoces. Ainda na mesma área está em funcionamento uma sala para operações híbridas, ou seja, evasivas e não evasivas e que podem ser assistidas numa outra sala, criada para o efeito, por outros especialistas. No total, o Governo investiu mais de 37 milhões de patacas: a sala de angiografia teve um custo de 33 milhões de patacas e o equipamento de rastreio de cancro mamário envolveu 4,4 milhões. Classificação quanto antes Alexis Tam quer que os procedimentos de avaliação para a classificação dos estaleiros de Lai Chi Vun possam estar concluídos antes do período de um ano previsto por lei. “Vou dar ordens ao Instituto Cultural (IC) para que o procedimento de classificação possa ser acelerado”, disse ontem, à margem da cerimónia de acreditação do São Januário. O secretário para os Assuntos Sociais e Cultura esclareceu que o IC irá trabalhar com a Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água e com as Obras Públicas, sendo que, por ora, estão suspensas as obras de demolição. Já há trabalho agendado a partir de Abril. “Vamos ter uma reunião com o Conselho do Património Cultural para ouvir as opiniões dos profissionais”, explicou. No entanto, Alexis Tam não deixou de ressalvar que uma futura classificação está dependente do processo de avaliação. Quanto ao futuro, caso os estaleiros sejam classificados como património cultural, o secretário já tem uma ideia. “É o maior conjunto deste tipo de instalações do sul da China e podemos requalificar o local, transformando-o numa zona de turismo e lazer, e oferecer aquela zona aos residentes.”
Hoje Macau SociedadeAssistente de Ng Lap Seng em negociações com a acusação [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] assistente do empresário de Macau Ng Lap Seng, Jeff Yin, está em negociações com a justiça norte-americana, anunciou ontem a sua advogada. De acordo com a agência Reuters, as negociações para transacção de culpa, que envolvem Yin e a acusação, foram dadas a conhecer numa carta apresentada pela defensora do assistente junto do Tribunal Federal de Manhattan, onde está a correr o caso. Ng Lap Seng e o assistente Jeff Yin foram detidos em 2015, acusados de envolvimento num caso de corrupção que tinha como figura central o antigo presidente da Assembleia Geral das Nações Unidas John Ashe, que morreu em Junho de 2016, enquanto aguardava julgamento. A acusação diz que o empresário de Macau subornou o diplomata em mais de 500 mil dólares, para que, entre outros aspectos, Ashe o apoiasse na construção de um centro de convenções em Macau. A advogada de Yin, Sabrina Shroff, está a tentar adiar os prazos determinados pelo tribunal de modo a que o seu cliente, de 31 anos, possa considerar a proposta feita pela acusação, que é “complexa” e envolve “imposições e responsabilidade civil”. As negociações para transacção de culpa surgem numa altura em que já começou a contagem decrescente para o julgamento, marcado para 15 de Maio. Ng Lap Seng e Jeff Yin arriscam “uma pena de prisão substancial”, qualifica a Reuters. Não se sabe quais são os crimes que Yin terá de admitir nesta proposta de transacção de culpa, caso aceite a oferta que lhe está a ser feita. É acusado de corrupção passiva, branqueamento de capitais e crimes fiscais relacionados, sendo que responde ainda por ter violado a legislação norte-americana aplicável à corrupção no estrangeiro. Ng Lap Seng, fundador da empresa de imobiliário Sun Kian Ip Group, com sede em Macau, negou os crimes que lhe são imputados. Um dos advogados do empresário recusou tecer comentários sobre o processo de negociações de Jeff Yin.
Hoje Macau SociedadeAmbiente | Lixo vai para a China em 2019 [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] aterro na província de Guangdong destinado aos resíduos das construções de Macau deverá entrar em funcionamento em 2019. A data é avançada pela Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), em resposta ao deputado Si Ka Lon, que interpelou o Governo sobre a matéria. Na missiva enviada em Janeiro, Si Ka Lon recordava que, com o contínuo crescimento populacional e as muitas obras de grande dimensão espalhadas pelo território, aumentou significativamente o volume de lixo doméstico e de resíduos resultantes das construções. Fazendo também referência ao mais recente incêndio no aterro sanitário, “uma situação que deixou a população preocupada”, o deputado pedia pormenores sobre o plano de cooperação com a província de Guangdong anunciado em 2014, projecto este que continua por concretizar. Na réplica, a DSPA explica que o Conselho de Estado deu permissão ao Governo da RAEM para tratar dos resíduos resultantes da construção civil através da cooperação regional, explicando que, neste momento, a Administração está a discutir com as autoridades do Continente a forma como executar e gerir o projecto. Falta ainda decidir o local concreto de Guangdong para onde vão ser enviados os resíduos produzidos em Macau. A DSPA diz ainda que, com os trabalhos legislativos que estão a ser feitos em relação aos resíduos de construção, o Governo espera que a quantidade de lixo produzida durante as obras seja reduzida.