Hoje Macau China / ÁsiaXi Jinping e Trump reúnem-se num clima de relações dúbias [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s Presidentes dos Estados Unidos e China, Donald Trump e Xi Jinping, respectivamente, reúnem-se entre quinta e sexta-feira, num período de incerteza quanto ao futuro das relações bilaterais e aparente inversão de papéis no cenário internacional. A visita de Xi aos EUA era tida como pouco provável até há cerca de dois meses, quando Trump suscitou protestos em Pequim devido às suas afirmações de que poderia vir a deixar de reconhecer a política “Uma Só China”, vista pela República Popular como uma garantia de que Taiwan é parte do seu território. Numa chamada telefónica realizada em meados de Fevereiro, porém, Trump voltou atrás e disse reconhecer aquele princípio, abrindo portas à visita, que decorrerá entre 6 e 7 de Abril, no resort de Trump em Mar-a-Lago, na Florida. A imprevisibilidade demonstrada pelo líder norte-americano terá, contudo, deixado os chineses apreensivos. “Os chineses temem que Trump crie uma situação embaraçosa para Xi Jinping. Temem a sua imprevisibilidade”, comentou um diplomata europeu em Pequim. A cautela chinesa não é novidade, mas encontra no contexto atcual motivos reforçados. Manobras de Xi Xi Jinping imprimiu uma nova dinâmica na política externa chinesa, defendendo a globalização e o livre-comércio, em contraste com Trump. Sob a sua liderança, a China lançou iniciativas como a nova Rota da Seda, um gigante plano de infra-estruturas que abrange a Ásia, África e Europa, e – sinal dos tempos – é comparado por alguns analistas ao norte-americano ‘Plano Marshall’, lançado a seguir à Segunda Guerra Mundial. “Adoptar o proteccionismo é como uma pessoa fechar-se num quarto escuro. O vento e a chuva ficarão lá fora, mas o quarto escuro bloqueará também a luz e o ar”, afirmou, em Janeiro passado, numa inédita intervenção no Fórum Económico Mundial de Davos. Aquele discurso foi feito poucos dias antes de Donald Trump tomar posse como Presidente dos EUA. Fala Donald No seu discurso inaugural, Trump avisou: “Um novo capítulo na grandeza americana está agora a começar”. “Não irei permitir que os erros das recentes décadas definam o curso do nosso futuro. Por muito tempo, observámos a nossa classe média encolher, à medida que exportámos postos de trabalho e riqueza para outros países”, disse. A redução do défice comercial que Washington tem com a China (347 mil milhões de dólares) é uma prioridade para o líder norte-americano, que culpa o país asiático pela destruição de emprego nos EUA. Por outro lado, Pequim está a encetar uma transição no seu modelo económico, visando maior preponderância do consumo interno, em detrimento das exportações e do investimento público. Uma alteração brusca na política do seu principal parceiro comercial – e Trump ameaçou já aumentar os impostos sobre as importações oriundas da China – levaria a uma subida do desemprego, que poderia afectar a estabilidade social no país asiático. O primeiro encontro entre os dois chefes de Estado terá também a Coreia do Norte em pano de fundo. Trump acusa a China de não fazer o suficiente para travar o controverso programa nuclear de Pyongyang, visto ser o mais importante aliado comercial e diplomático do regime liderado por Kim Jong Un. Porém, a China afirma que a sua influência sobre o país vizinho é limitada. A diplomacia chinesa já indicou que o encontro tem como objectivo permitir aos dois lideres conhecerem-se melhor, reservando questões sensíveis para reuniões posteriores. Trump, por seu lado, prevê uma reunião “muito difícil”. “A reunião na próxima semana com a China deve ser muito difícil. Não podemos continuar a ter enormes défices comerciais (…) e perdas de emprego. As empresas americanas devem procurar outras alternativas”, escreveu na sua conta na rede social Twitter. Especialista espera “tom conciliatório” no encontro de Presidentes O especialista norte-americano Andrew Nathan defendeu ontem que o Presidente dos EUA, Donald Trump, deverá adoptar um tom mais conciliatório no seu primeiro encontro com o Presidente da China, Xi Jinping. Especialista em China da Universidade de Columbia, em Nova Iorque, Andrew Nathan disse à Lusa que “é difícil saber” como vai decorrer o encontro, “porque Trump tem falta de ‘staff’ e de disciplina pessoal”, mas que espera “um tom mais conciliatório” por quatro razões. “Trump está focado em problemas domésticos e não precisa de uma crise com a China; parece estar muito sob a influência de Jared Kushner, que favorece uma linha conciliatória; foi esse o tom que [Rex] Tillerson adoptou na sua recente viagem à China e, finalmente, o lado chinês é muito experiente em relações transaccionais, e acho que preparam Trump para esse tipo de negociação”, disse. Os chineses, explica Andrew Nathan, “vão querer discutir Taiwan e procurar o apoio dos EUA para a política de uma China”, segundo a qual o Tibete, Hong Kong, Macau, Xinjiang e Taiwan são parte do seu território, e tentar “reduzir o apoio diplomático e venda de armas para Taiwan.” O Presidente chinês deve pedir também uma redução da presença dos EUA no Mar do Sul da China, uma zona rica em recursos e uma importante rota de comércio sobre a qual o país reclama “soberania indiscutível”, bem como uma redução das restrições de produtos do seu país por empresas americanas. Os americanos, por sua vez, devem pedir apoio para pressionar a Coreia do Norte, como de costume, mas Donald Trump não deve falar sobre violações de direitos humanos, algo que os Presidentes americanos fazem habitualmente. “Os americanos normalmente levantariam a questão dos direitos humanos, mas Trump não o deve fazer. Os seus pontos principais estarão relacionados com a economia, como um maior acesso ao mercado chinês e procura de investimento chinês na infra-estrutura dos EUA”, explica o professor universitário. Receios e fraquezas Andrew Nathan, que já escreveu mais de uma dezena de livros sobre a China e é membro da Comissão Nacional EUA-China, espera “um posicionamento menos confrontante com a China do que aquele que houve durante [os mandatos de] Obama” e teme o que isso significa para o sistema internacional. “Receio que, com o pouco entendimento que Trump tem da complexidade dos assuntos asiáticos, ele enfraqueça a posição estratégica dos EUA na Ásia em troca de concessões económicas que acabarão por beneficiar mais a China do que os EUA”, conclui o americano.
João Paulo Cotrim h | Artes, Letras e IdeiasTango de créditos e de débitos Santa Bárbara, 26 Março [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] passagem pelas Caldas da Rainha resgatou do meu Esquecimento a Antologia do Henrique Fialho, ficou já escrito. Entre outras preciosidades lá descobri melancólico elogio ao anónimo e tombado em combate editor maila sua vocação, a pretexto do tristonho-como-qualquer-obrigação Dia Mundial da Poesia. Apetecia transcrevê-lo na totalidade, mas seria batota. Vem possuído de carga poética sem perder a lucidez, ainda não se afaste do comércio. «O autor não pensa no assunto, o poeta não sabe, mas no final tudo acaba reduzido a isto, um tango de créditos e de débitos.» Um livro, sendo produto comercial, está longe de se esgotar nele. O seu capital simbólico transcende-o, torna-o uma potência iluminadora. Colocamos em circulação pequenos navios-faróis, que chegam até a evitar naufrágios, sem deixar de fazer perder olhos-viajantes. «A sustentabilidade é garantida pela quantidade, pelo acaso, por um prémio que abone publicidade e promoção, pelas redes de simpatia, pela recensão, por um título que ofereça fôlego financeiro, pelas parcerias com instituições dispostas a suportar, custear, patrocinar. Raramente a sustentabilidade se sustenta a si mesma, pelo que acabaram os exclusivos.» É muito isto, sim, mas de modo tal que o livro parece não ter valor facial, não custar mais do que um obrigado, ser de borla. Em que outras actividades se oferece tanto? Aliás, nos últimos dias circularam histórias de bibliotecas inteiras oferecidas, por força do tempo. Um velho alfarrabista em Faro faliu e alguém decidiu abriu as portas livremente, com um conselho: «levem uma lanterna, porque este espaço não tem atualmente eletricidade e existem locais com livros, mas sem luz…» Onde há livros, há luz. Noutro caso, no Porto, sem espaço para conter os 50 mil títulos caçados-recolhidos por Joaquim Sousa Pereira, foram disponibilizados pelos herdeiros às vontades alheias. «É verdade que nunca como hoje foi tão fácil e barato produzir um objecto, mas também nunca como hoje foi tão difícil respeitar um critério, manter os níveis de exigência, resistir à tentação meramente lucrativa, sustentar um projecto de saber. Isso. Um projecto de saber, um projecto que se distinga dos inúmeros elixires que ocupam o espaço e nos sufocam com promessas vãs. Raramente falamos dos editores porque eles executam o menos idílico dos papéis, obrigam-nos a pensar a realidade sem filtros, desligam-nos a antena do sonho sempre que neles pensamos.» Ainda assim, Henrique, há realidade para além do negócio. E do sonho. Horta Seca, 29 Março Sem variação, mas com variantes, cada visitante da minha oficina espanta-se com a aparente desarrumação das mesas e das estantes. Não, o plural não é gralha, que são várias as mesas onde acumulo, sobretudo livros, mas também revistas e jornais e revistas e cartazes e documentos, enfim, papel e pó. Esta acumulação resulta de um processo único, próximo do zen, desenvolvido com preguiça e argúcia ao longo dos anos: se não estiver perto, esqueço. Por folha estará ao menos uma ideia, cada monte contém infinita potência de leitura ou de projecto. Preciso sopesar formatos, respirar grafismos, tocar a haste da letra, beber a imagem, mergulhar no pensamento, enfim, achar que posso ler, a qualquer momento. Esta proximidade define horizontes e estruturas, sem as colunas em altura desmorono, sem a visão dos tons infinitos e movediços do papel paraliso. Moro nos antípodas do origami, a arte de, com dobras engenhosas, domesticar o espaço de modo a que o mundo e as suas formas caibam na mão. E assim encolher o tempo. Aqui, o caos parece congelar o tempo, propondo-lhe um labirinto. Não morro menos por isso. Horta Seca, 30 Março A edição (em papel) de abril da Agenda Cultural Lisboa (https://www.agendalx.pt/) traz o Alex Cortez na capa, já que um dos temas de abertura (sendo outro as cervejas artesanais) é a «Leitura Partilhada». As suas 200 sessões de Poesia no Povo justificam-no bem: parabéns! Acompanho desde a primeira edição a Agenda e não posso deixar de ficar espantado e aflito com o volume de propostas que cada edição contém. Espantado com a quantidade, que aprecio e saúdo, até por saber que muito se pode ainda usufruir além disto. A cidade está toda riscada com entidades, maiores ou menores, oficiais ou nem tanto, a oferecer festas e festivais, enfim, cultura. Mas de que espectáculo falamos quando falamos de Cultura? E fico aflito, por não conseguir aproveitar nem um décimo. Fixo interesses, mas sei que o fazer dos livros não me vai permitir desfazer outras meadas. Não posso deixar de notar que, no conjunto, o assunto literatura ocupa uma meia dúzia de páginas e, ainda assim, em relação com outras artes. Sintoma, mas de que doença? Sinal do fim de um mundo? Horta Seca, 31 Março Chega, finalmente, a segunda edição de Autismo, do mano Valério Romão. Foi dos primeiros que editámos e dos que mais contribuíram para definir projecto e identidade da abysmo, que o laboratório faz-se a caminhar. A escrita do Valério possui a força de um corpo, carne e sangue e sopro. Arrisca erguer-se de linguagem, mas sem que perca narrativa ou personagens. Assombrada pelo tema, que se assume título, está muito para lá dele. Pulsa vida nestas páginas, sem esconder as muitas mortes de que ela é feita. Não conforta, antes desafia. Chamemos-lhe, em termo fora de uso, literatura. Embora não fosse novo, continuava arriscado isto da capa, assinada pelo querido Alex Gozblau (na ilustração), vir forrada a silêncio, apenas na lombada aparecendo título e autor. A princípio não era intenção desdobrar abysmo em colecções, antes afirmar cada título como único. Mas o resultado do conjunto, sobretudo com a abertura entregue a quatro imagens, que nos permitem espreitar ambientes, convenceram-nos de que podia ser um caminho. Era. Percebemos melhor com este livro o disfuncionamento do mercado. Esteve muitas vezes esgotado, mas logo as devoluções daqui ou dali desmentiam a notícia. Livro de hoje tem dois ou três meses de existência, que digo?, de visibilidade nos escaparates das novidades. Findo esse período, se não se tornar best seller, acabará a vegetar nas prateleiras de trás, antes de acabar a ganhar pó no armazém. Ai de quem perguntar por ele, que a resposta (mentirosa) será (quase) sempre: está esgotado. Esgotado, nem por isso. Apenas cansado.
Julie Oyang h | Artes, Letras e IdeiasFan Li o “Mau da Fita” e a inimitável mente chinesa西施与她的情人为何是中国最早的女权主义者? Foto: O bailado contemporâneo Xi Shi [dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]untem-se à minha volta gentis leitores e permitam que vos presenteie com a história maravilhosa e nunca antes contada de Fan Li 范蠡 – intelectual, estratega militar e homem de negócios bem sucedido – e de Xi Shi 西施, a sua famosa amante, uma femme fatale. Os dois ficaram conhecidos na História chinesa como um par de “maus da fita”. Fan nasceu nos finais do séc. VI AC, num reino chamado Yue (a poucas horas de carro da actual Xangai). Filho de pais pobres, tornou-se amigo de um homem que reconheceu o seu talento e sabedoria e o levou consigo para a capital como conselheiro do Rei Goujian, que era inteligente e ambicioso. Pouco depois o Rei Goujian atacou o Reino de Wu e sofreu uma derrota memorável. Fan e o Rei foram feitos reféns e torturados durante longos anos pelos carcereiros do Rei de Wu, até serem libertados e mandados para casa carpir as mágoas. Quando lá chegaram, Fan começou a engendrar um plano de vingança – um plano que exigia um toque feminino. Xi Shi, filha de um comerciante de chá e uma femme fatale entrou em cena, uma mulher que poderia ser recordada como uma das Quatro Grandes Beldades. Era tão atraente que os peixes do lago, onde ela ia todos os dias lavar as suas sedas, perdiam a capacidade de nadar e afundavam-se. Xi Shi cruzou-se com o engenhoso Fan Li junto ao lago, quando ele andava à procura de uma mulher inteligente e talentosa. Apaixonaram-se perdidamente um pelo outro. O Rei de Wu tinha fama de mulherengo. Fan Li compreendeu que tinha encontrado o espião perfeito, ou melhor dizendo a espia perfeita, para derrubar o reino inimigo. Para ajudar o seu amante, Xi Shi aceitou ser enviada como um presente de Yue ao Rei de Wu. O libidinoso Rei ficou imediatamente rendido a Xi, dava-lhe presentes, construiu-lhe um palácio e colocava-a acima de todos as suas outras esposas. Durante os 17 (!) anos que se seguiram, ela foi-lhe aos poucos envenenando o espírito, minando a sua capacidade para governar e afastando os seus sensatos conselheiros, ou fazendo com que ele os mandasse executar. Em 473 AC, Yue voltou a atacar. Wu não estava preparado e sucumbiu. O Rei de Wu suicidou-se quando o seu reino foi anexado. Depois disto, Fan Li retirou-se do serviço público. Ele e Xi Shi desapareceram num barquinho, nas águas cobertas de nevoeiro do Lago Taihu. Foi nas margens do Taihu que ele lançou os primeiros alicerces dos negócios chineses: centrando-se na organização, abertura de espírito, honestidade e na observação astuta da flutuação dos mercados. Fan Li tornou-se um comerciante rico. Foi tão bem-sucedido que escreveu uma série de livros sobre gestão comercial. Já na reforma escreveu o primeiro texto de sempre sobre aquacultura, estabelecendo os princípios que iriam dominar nos próximos 2.000 anos a criação de viveiros de peixes na China. A China controla 70% desta actividade a nível mundial, baseada na reciclagem de nutrientes e no respeito pela biodiversidade. Paradoxalmente, hoje em dia a China está a ser afectada por uma quantidade assustadora de crises ambientais. Por isso, se não consegue abarcar a imprevisibilidade do raciocínio chinês e a intrincada ramificação mundial dos negócios e investimentos deste povo, que quase parecem ser feitos ao acaso, a forma mais fácil de começar a desembaraçar este novelo é estudar Fan Li. Fan Li também é conhecido por Tao Zhugong 陶朱公, um intelectual que se tornou o santo patrono dos homens de negócios.
Tânia dos Santos Sexanálise VozesBi [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] M. é uma mulher especial como todas as outras – porque toda a gente é especial de alguma forma. A M. tem um corpo bonito, uns olhos penetrantes e um sorriso honesto. Ela faz parte da normalidade que é a média da curva normal da beleza contemporânea. A M. também orgulhosamente se assume como bissexual e já teve namorados e namoradas. Poder-se-ia pensar que se ela se sente atraída pelos dois géneros (ou mais, para não cairmos no binário) e por isso tem a vida muitíssimo facilitada – tem muito por onde escolher! Mas claro que é uma assumpção ridícula. Na verdade, a bissexualidade ainda é discutida e apresentada de uma forma polémica. Se a aceitação total da homossexualidade ainda está para acontecer, a bissexualidade está a uns passos atrás. Isto deve-se porque as pessoas acreditam que ser bissexual trata-se de uma confusão identitária e que é ‘uma fase’. Uma fase de transição para a homossexualidade, ou vice-versa. A insistência em ignorar esta categoria sugere que há uma dupla estigmatização porque há hetero e homossexuais que acham que a bissexualidade não faz sentido. M. discordaria, a bissexualidade é uma etiqueta digna de ser utilizada – não é uma fase nem é uma confusão, é a forma como ela vive a sua vida. Foi assim que a M. explicou aos pais dela, quando uma vez apareceu em casa com um namorado, e passado uns meses apareceu com uma namorada. Como as pessoas julgam esta caracterização confusa, facilmente julgam que é igualmente uma fase confusa, e é preciso parar de o fazer. Há uma série de mitos associados à bissexualidade e um deles é de que é uma orientação sexual que sente atracção sexual pelos dois géneros, de igual forma. Não quer dizer que possa não acontecer, sentir exactamente o mesmo desejo, afecto e amor por um homem e uma mulher. Mas isso é tão difícil de afirmar! Ninguém anda com um barómetro de atracção no bolso para avaliar estas diferenças. Pode-se gostar mais de uma pessoa do que de outra, mas não quer dizer que está associado a todo um grupo de género. A M. diz-nos que ser bissexual não é sinónimo de infidelidade. Nem que as suas relações são laissez-faire – porque ‘nada’ interessa – nem os genitais. Não pensem que é como ‘tudo o que vem à rede é peixe’. Pensem assim, da mesma forma como vocês, caros leitores, preferem morenas/os, um bissexual tem preferências também. Não se esqueçam que um relacionamento depende de algum nível de intimidade, atracção e ligação, só que os heterossexuais e os homossexuais põem o género na lista de critérios, e os bissexuais não. A M. diria que devemos ter cuidado com estas tentativas de definir a bissexualidade por quem não se identifica como bissexual. Há uma tendência de meter o bedelho em assuntos que não nos afectam directamente, e por isso, automaticamente, não deveríamos ter legitimidade para defender o que quer que seja. Quem sou eu para dizer o que a bissexualidade é ou não é? A M. é que me tem que dizer a mim e a todos os interessados em ouvir. É certo que questões relacionadas com as identidades, comportamentos e atracções são complexas – por isso não esperem uma resposta totalmente clara e/ou congruente. Alguém pode identificar-se como bissexual sem nunca de facto ter praticado o seu desejo, ou pode acontecer que alguém tenha tido relacionamentos com homens e mulheres mas não identificar-se com a bissexualidade. A permeabilidade destas categorias de formas sexuais não deverão ser vistas como confusas – nem devem ser usadas para defender a contestação. Vejam-nas como possíveis fontes de inspiração para desenvolver aquilo que deverá ser o respeito mútuo. Há uma hostilidade constante sobre aquilo que não conhecemos, i.e., aquilo que não nos é apresentado no nosso dia-a-dia social. Há que lutar contra a nossa tendência para julgar e de ‘racionalizar’ aquilo que já é racional. Perdemos muito tempo das nossas vidas a tentar perceber quem somos, para descobrir que não encaixamos perfeitamente nas expectativas das pessoas à nossa volta e às vezes isso parece-nos estranho. A M., que tem as suas preferências e que tenta ser ela própria (num mundo que gosta de colocar tudo em caixinhas pré-definidas), vive experiências de expressão pessoal que ressoarão com outras pessoas, seja pela orientação sexual ou por outra coisa qualquer.
João Luz Ócios & Negócios PessoasAnihelp | Pronto socorro animal No ano passado foi fundada a Anihelp, um projecto de amor e devoção que acode a animais abandonados, ou em risco. A associação nasceu num jantar de amigos voluntários na Cruz Vermelha que resolveram estender o grau de acção do seu altruísmo a todos os seres vivos [dropcap style≠’circle’]“P[/dropcap]rocuramos sempre ajudar as pessoas, o que é importante, mas pouca gente ajuda os animais e eles também têm direitos”. As palavras são de David Tai, vice-presidente da Associação de Salvamento de Animais de Macau, mais conhecida por Anihelp. A organização trabalha na linha da frente no socorro a animais em situação de abandono, ou de perigo. A associação começou com muito poucos meios, de uma forma espontânea, da vontade de dois amigos fazerem algo pelos animais de Macau, David Tai e Oscar Choi, o presidente da associação. Eram ambos voluntários na Cruz Vermelha de Macau e decidiram alargar o espectro da solidariedade que devotam à comunidade a toda a bicharada. “No início não tínhamos nada, ninguém nos ajudava, pagávamos tudo do nosso bolso”, conta David. Tudo começou com a criação de uma página de Facebook onde, recebem denúncias e alertas de casos de abandono, ou maus tratos. Em primeiro lugar recolhem os animais e depois procuram um novo dono que lhe dêem uma vida nova. A Anihelp deu os primeiros passos, no final de 2015, até que no ano passado Oscar Choi decidiu que o melhor seria registar a associação na Direcção dos Serviços de Identificação de Macau e abrir uma conta bancária para receber donativos. Hoje em dia contam com 12 voluntários para fazer salvamento, a página de Facebook tem quase 6500 amigos e já resgataram mais de 200 animais. O vice-presidente da Anihelp lembra-se vividamente do primeiro salvamento. “Enviaram-nos uma mensagem de Facebook a dizer que estava um hamster abandonado na rua na Areia Preta”, recorda. Acorreram ao local e encontraram o bicho numa gaiola, com um pouco de comida. O primeiro passo foi levá-lo a um veterinário para aferir da sua saúde e, em seguida, procurar quem estivesse interessado em dar uma segunda oportunidade ao hamster. E assim foi. David recorda o sentimento de satisfação de ao menos ter ajudado um animal em situação de perigo, mas sempre com a noção de que havia muito trabalho pelo frente. Linha SOS Para já, a Anihelp não tem uma casa onde albergar os animais resgatados. É uma despesa incomportável para uma associação desta dimensão, além de que, o seu funcionamento é essencialmente online. Ainda assim, alguns voluntários levam animais para casa, enquanto não aparecem novos donos que os adoptem, ou até serem entregues a outras associações como a ANIMA e a MASDAW. Apesar de não terem um espaço têm um automóvel que funciona como ambulância, devidamente equipada para recolher animais da rua. David, que trabalha como interprete e tradutor, não esconde que no futuro talvez fosse interessante ter uma casa, mas para já é impraticável. A Anihelp tem ambições muito pragmáticas. Uma delas é angariar mais voluntários para que a cobertura seja mais eficaz. “Acontece nos dias úteis receber uma mensagem e não poder responder imediatamente”, perdendo-se o cariz de “primeira resposta”. Outra das visões da associação é a criação de uma linha SOS 24 horas para socorro de animais. “Estamos em contacto com a CTM para fazer uma hotline”, revela David. A maioria dos animais que a Anihelp ajuda são cães e gatos, mas chegam-lhes às mãos todo o tipo de bicharada, desde hamsters, pássaros, tartarugas. Uma das situações que mais impressionou David Tai foi um incidente que começou com uma chamada da MASDAW. A responsável pela associação suspeitava que numa construção pudessem estar a cozinhar cães. Os dois amigos foram até ao local, pularam uma cerca e foram seguindo os latidos até encontrarem três cães adultos e seis cachorros pequenos. O sítio tinha condições péssimas para ter animais. Encontraram uma pessoa da obra que negou ser o dono dos animais, enquanto tinha uma panela com água a ferver ao lume. Depois de alguma resistência do trabalhador da construção, e de mencionar que não podiam levar os animais e que estes serviam para proteger o local, os dirigentes da Anihelp perguntaram se cozinhavam cães. O trabalhador afirmou não ter nada a ver com o assunto e deixou os activistas levarem sete dos cães, que a MASDAW veio a acolher. David ficou chocado. “Sei que na China muitas pessoas comem cães, mas afinal em Macau também, fiquei horrorizado”, conta.
Hoje Macau China / ÁsiaSão Petersburgo | Registada nova ameaça de atentado [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]epois do atentado à bomba ocorrido no metro da cidade de São Petersburgo, na Rússia, houve ontem uma nova ameaça de bomba no mesmo local. A notícia começou a ser avançada ao início da tarde de ontem pela agência Reuters, que citava a agência russa RIA Novosti. A estação de Sennaya Ploshchad terá sido evacuada e encerrada na sequência de um telefonema anónimo. Um repórter da agência Interfax diz ter visto vários carros dos bombeiros junto à entrada para esta estação. Entretanto, o atentado ocorrido esta segunda-feira já originou cerca de 50 feridos e 14 mortes. Uma bomba improvisada cheia de estilhaços explodiu dentro de um comboio entre duas estações de metro, informou o Comité Nacional Antiterrorista russo. O incidente aconteceu na tarde de segunda-feira, num dia em que recomeçavam as aulas após férias escolares e quando se encontrava na cidade o Presidente russo. Macau seguro Vladimir Putin, que se encontra em São Petersburgo – a segunda maior cidade russa – já afirmou que todas as causas estão a ser investigadas, incluindo a possibilidade de tratar-se de um atentado terrorista. Ontem foi identificado pelas autoridades o suspeito do atentado – será Akbarzhon Jalilov, um cidadão russo nascido no Quirguistão em 1995. O suspeito foi identificado pelo Comité Nacional de Segurança do Quirguistão (GKNB). Segundo um comunicado do Gabinete de Gestão de Crises de Turismo (GGCT), não há, até ao momento, qualquer registo de possíveis vítimas oriundas de Macau. “Das informações recolhidas através da indústria turística de Macau, neste momento não há indicações de que grupos de excursão de Macau tenham sido afectados. Até ao momento, o GGCT não recebeu qualquer pedido de informação ou assistência”, pode ler-se. Entretanto, o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, já condenou o atentado e expressou a sua solidariedade para com o Governo de Moscovo. “Não toleraremos actos terroristas. O Presidente Putin, o povo da Rússia e o Japão permanecem unidos”, disse Abe. O treinador de futebol André Villas-Boas, que actualmente está na China mas que treinou a equipa russa do Zenit por três épocas, também deixou uma mensagem de condolências na sua página do Facebook. “Meus queridos cidadãos de São Petersburgo, por favor sejam fortes. As minhas condolências às famílias que perderem os seus entes queridos neste ataque horrível”, escreveu o actual técnico dos chineses do Shangai SIPG.
João Luz Entrevista MancheteCelina Veiga de Oliveira, historiadora: “Aqui ainda se respira um aroma português” Viveu quase 20 anos em Macau e, quando regressou a Portugal, Celina Veiga de Oliveira levou o Oriente consigo. A historiadora guiou o HM por três séculos do “ténue equilíbrio” das relações sino-portuguesas, que culminam nos dias de hoje. Traz na bagagem um livro sobre uma figura histórica de Macau, intitulado “Carlos D’Assumpção – Um Homem de Valor”, que apresenta no Albergue SCM no próximo sábado [dropcap]P[/dropcap]rivou de perto com Carlos D’Assumpção. Descobriu alguma coisa nova sobre o homem durante a pesquisa para o livro? Esta pesquisa já foi feita há muito tempo. Conheci muito bem o Dr. Assumpção, ele morreu em 1992, eu cheguei cá em 1980 e nesse período de 12 anos ele era, sem dúvida alguma, a figura mais prestigiada de Macau. Era presidente da Assembleia Legislativa. Era um senhor, ao estilo daqueles conservadores britânicos, sempre muito bem vestido. Uma pessoa muito elegante fisicamente e também de cabeça. Era um cavalheiro. Quando cá cheguei, fui professora de liceu e dei aulas ao João, o seu filho, uma pessoa pela qual tenho um afecto especial. A Dr.ª Nini Assumpção, a sua mulher, foi médica das minhas filhas desde pequeninas, isso também nos aproximou um bocado. Conheci o Dr. com alguma proximidade, frequentava a casa dele, fui a muitos jantares. Ele, normalmente, jantava tarde e gostava muito de estar rodeado de amigos. Era um grande conversador, com muito sentido de humor, apesar de ser uma figura muito respeitada. Como todos lhe tinham muito respeito, nem toda a gente pôde aperceber-se dessa faceta bem-humorada que tinha. Era uma característica da sua personalidade e uma prova da sua inteligência. Como é que Carlos Assumpção, um político conservador, viveu a década de 60 com a revolução cultural em plena ebulição aqui tão perto? Os anos 60 em Macau foram de grande turbulência. Quando foi o 1,2,3, o Dr. Assumpção ainda era novo e foi um terramoto político muito grande. Os ecos da Revolução Cultural chinesa sentiram-se cá. O Governador Nobre de Carvalho, coitado, tinha acabado de chegar, e quando uma pessoa chega a Macau é muito difícil apreender logo toda esta diversidade de ideias. O Dr. Assumpção participou nas negociações mas teve de as abandonar, porque tinha uma posição de firmeza e, provavelmente, devem ter considerado essa postura perigosa. Era necessário uma pessoa mais consensual. No entanto, o consenso, que é uma característica da personalidade do Dr. Assumpção, depois veio a manifestar-se toda a vida, até ao fim. Ele foi uma pessoa que serviu sempre de mediador entre as duas comunidades. Como explica não ter havido nessa altura, e noutras, derrame de sangue? Isto nunca foi uma colónia, a situação de Macau e Hong Kong têm um processo histórico diferente. Há uma frase, que talvez não consiga citar bem, de Franco Nogueira que diz que isto é uma espécie de condomínio. Macau sempre foi uma coisa especial, desde a altura em que cá chegámos, no século XVI. Nunca tivemos plena soberania, era sempre partilhada, houve sempre um equilíbrio ténue com alguma capacidade diplomática. O século XVIII talvez tivesse sido o período mais frágil do poder político português. Isto porque a China atravessou um período forte, com os três grandes imperadores chineses do século XVIII. Aqui havia dois pontos de poder. O poder dos mandarins de Cantão e o poder imperial, e muitas vezes esses poderes não eram, propriamente, coincidentes. Mas houve forma de ir equilibrando os pratos da balança. Tivemos sempre uns diplomatas fantásticos, os jesuítas. Muitas vezes quando Macau tinha proximidade mais directa com Pequim, isso não era muito bem visto pelos mandarins. Esta proximidade de Pequim em relação a Macau, por vezes, entrava em conflito com os interesses de Cantão. Ao contrário, se tínhamos ligações mais estreitas com Cantão, esvaziava-se um bocadinho a nossa proximidade ao Império. O século XVIII foi difícil porque sentiu-se muito o poder mandarínico, através de legislação e restrição do comércio. O porto de Macau só podia ter um contingente de 25 barcos, se algum de estragasse e fosse necessário um novo, tinha de ficar com o registo do antigo. Era tudo muito controlado. Entretanto, o cenário muda de figura. O século XIX foi diferente. Por razões conjunturais, que não têm propriamente que ver com Macau, os portugueses puderam assumir um certo controlo. Houve a Guerra do Ópio, que acabou com a derrota humilhante da China e que culminou com a cessão de Hong Kong aos britânicos. Certo é que os portugueses aqui de Macau, por estarem perto de uma ilha ocupada por europeus, sentiram algum conforto. Em caso de necessidade podiam pedir protecção. Nessa conjuntura, era preciso que Macau ficasse munido de certas condições que Hong Kong tinha, para não desaparecer completamente. Então, D. Maria II implantou o porto franco de Macau, à semelhança do porto franco de Hong Kong, e as mercadorias podiam circular. Hong Kong sugou muita da energia económica de Macau, tivemos de mudar alguma coisa. Depois veio para cá o Governador Ferreira do Amaral que resolveu aplicar o domínio, a soberania portuguesa aqui em Macau, e pagou caro por isso, tendo sido assassinado. Isso fez, outra vez, tremer a posição de Macau. Mas continuámos cá, a presença portuguesa nunca teve interrupções. Este ano é o aniversário do primeiro Tratado entre Portugal e a China sobre a situação de Macau, que legitimava uma soberania limitada. O Tratado de 1887 trouxe uma alteração do estatuto político, que nos deu um bocadinho de alívio, apesar de continuarem os problemas quanto delimitações de Macau. Entretanto, chega o século XX, a turbulência política e as guerras. O século XX foi a afirmação do Partido Comunista Chinês, mas houve sempre aqui na parte sul, sobretudo em Cantão, uma afirmação nacionalista. Os próprios jornais de Cantão falavam sempre que os estrangeiros de Macau deviam sair, que isto era território chinês. Apesar do Tratado, Macau ficou sempre a ser um foco de conflito e reivindicação. Como é possível, em plena Revolução Cultural, a China permitir um território ocupado por um país com um regime fascista? Para já porque não lhes interessava, na altura, criar outro foco de conflito. Eles são muito pragmáticos. Mas havia algo sempre latente, subliminar. Mas o pragmatismo chinês também vem de uma noção de tempo diferente. Nós, ocidentais, temos a noção de tempo diferente de um chinês, somos muito impacientes. A questão de Macau teria de ser resolvida de acordo com o tempo e o modo que eles definissem. A Revolução Cultural, claro, tinha de ter ondas de choque aqui. Nessa altura, isto tremeu de facto. Mas depois, com alguma cedência da parte do poder português, a coisa, de certa forma, apaziguou-se. Mas as pessoas lúcidas daquela altura tinham a certeza de que a isto teria de ter um estatuto diferente num futuro próximo. Era inevitável e seria irreversível. Em 1999 regressa a Portugal. Presumo que se lembre bem do momento da partida? Lembro-me perfeitamente. Trabalhei tanto naqueles últimos tempos que tinha alguma vontade de regressar a Portugal, estava um bocadinho cansada de tanto trabalho. Mas em termos emocionais foi terrível. Tive de pensar: “Tens de pôr em prática alguma lucidez oriental, vive o dia de hoje, não penses muito no que vai ser amanhã, não penses muito que tens de te ir embora e procura esconder a emoção, procura amuralhar a emoção”. Preparei-me durante meses para que nos últimos momentos a minha emoção, o meu coração, estivesse preservado de emoções, porque tinha receio da minha reacção. Preparei-me psicologicamente para esse momento. Procurei vivê-lo, sempre muito desperta, mas sem interferência emocional, que depois veio em Portugal. Lembro-me de dizer, há muitos anos, que nunca mais poderia ser só de um sítio. O nosso coração fica dividido e tem de dar afecto a Macau, mesmo depois de regressar a Portugal. Por que regressou a Portugal? Tinha lá as minhas filhas e alguns problemas familiares para resolver. Não sei se foi boa opção. Estou em Portugal mas, sem querer exagerar ou ser piegas, não há um dia que não pense em Macau. Sou membro da Sociedade de Geografia de Macau, que está dividida em comissões, e eu sou vice-presidente da comissão asiática. Estou sempre com o pezinho no Oriente, sempre. Durante 13 anos, tive uma editora, a Tágide, e os temas fulcrais, a linha editorial que prevaleceu, era sempre o Oriente. No sentido inverso, como é regressar a Macau? Regressar é sempre uma emoção. Chego e aqui e fico espantada com as coisas novas que apareceram. Havia ali na Doca dos Pescadores uma espécie de um vulcão, até achava aquilo um bocado feio. Já lá não está. Noto que aquela parte junto ao mar está em completa e em contínua actividade, com mais terrenos conquistados ao mar. A primeira vez que regressei a Macau foi em 2000, poucos meses depois ter partido. Nessa altura, senti um ambiente um bocadinho estranho, embora os meus amigos chineses me tivessem acolhido muito bem. Mas, por exemplo, ao ver a fachada do Leal Senado fiquei triste por não ver o escudo português, mas temos de compreender. O que é que podemos fazer? Não podemos estar a chorar sobre as pedras da calçada, porque isto era natural. Sente que a mudança foi assim tão grande? Houve muita coisa que a RAEM preservou. Apesar de ter mudado a ordem da toponímia mantiveram os mesmos nomes, assim como a calçada portuguesa. Aqui ainda se respira um certo aroma português. No entanto, estamos a aproximar-nos de 2049. De acordo com a Lei Básica, a língua portuguesa é uma das línguas oficiais. Neste capítulo, a realidade não é assim tão forte como aquilo que está no papel. Esperemos que o bom senso prevaleça. O povo chinês e o poder político que vem de Pequim têm mostrado bom senso e respeito. É complicado o português sobreviver, mas vamos ver, enquanto estiverem cá portugueses, jovens que queiram cá ficar, isso é muito bom. É uma maneira de se continuar a falar a língua de Camões em Macau. Isso é que é bom, gente nova! Aproveitou para matar saudades de Macau? Tive oportunidade de ir passear com amigos, alguns que nunca tinham cá estado, pela Macau que eu gosto. Sem nostalgia, também gosto de movimento. Mas aquela Macau romântica, em que ainda há partes da velha muralha que dividia a cidade cristã. Fartei-me de andar e foi uma tarde muito boa. Andámos pelos becos e ruínas dessa Macau, que ainda é a do nosso tempo. Está cá e tem um lugar muito privilegiado no coração dos portugueses.
Hoje Macau PolíticaLei de Terras | Governo afastou “excepções” sobre prazo das concessões de terrenos Um parecer da Mesa da Assembleia Legislativa sobre a Lei de Terras concluiu que o Governo afastou “excepções” sobre o prazo das concessões de terrenos, e “insistiu sempre” que os recuperaria na falta de aproveitamento volvidos 25 anos. Mas mostra também que o Executivo não fechou a porta à ponderação de casos concretos [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] relatório surge após ouvidas as gravações das reuniões em sede da 1.ª Comissão Permanente – que analisou o diploma na especialidade – para apurar a intenção legislativa subjacente depois das dúvidas levantadas com a aplicação da Lei de Terras e na sequência de um projecto de lei, apresentado, no Verão, pelo deputado nomeado e jurista Gabriel Tong, projecto esse que foi rejeitado. Apesar de ter entrado em vigor há três anos, a Lei de Terras tem estado envolta em controvérsia desde que o Executivo avançou em força com a reversão de terrenos por estes não terem sido aproveitados dentro do prazo máximo de 25 anos. Muitas declarações de caducidade das concessões têm vindo a ser contestadas nos tribunais, com concessionários a alegarem haver casos em que a responsabilidade pelo não-aproveitamento deve ser parcial ou totalmente imputada ao Governo. No parecer, refere-se que um deputado levantou “especificamente a questão de como resolver o problema em caso de não-conclusão do aproveitamento do terreno quando o prazo de concessão se encontrar prestes a terminar” e propôs soluções, como conferir “ao Chefe do Executivo competência para, neste caso, autorizar a renovação”, mas que essas sugestões foram “expressamente” rejeitadas pelo Governo. Neste ponto, uma nota de rodapé remete para “as conclusões do relatório sobre a auscultação das gravações das reuniões da Comissão”, cuja transcrição não consta, contudo, do documento tornado público, com 562 páginas na versão portuguesa. Porta ainda fechada Aos jornalistas, o presidente da Assembleia Legislativa (AL), Ho Iat Seng, disse que, ao abrigo do Regimento, os “pontos mais detalhados” não podem ser disponibilizados, estando então em causa o teor das reuniões da comissão que decorrem à porta fechada. Recorda ainda a Mesa da AL que foi nesse pressuposto – de que as concessões provisórias não podem ser renovadas – que a proposta de lei foi aprovada, não tendo as normas em causa “sofrido alterações substanciais desde a sua versão inicial até à final”. A política legislativa “não só foi comprovada pelos elementos constantes do processo legislativo” como foi sempre defendida, sem excepção, pelo Governo e pelos órgãos judiciais”, refere. Tirando “a situação em que um terreno de concessão provisória seja anexado a um terreno concedido a título definitivo e ambos estejam a ser aproveitados em conjunto”, defendeu-se que não seriam considerados outros casos excepcionais, lê-se no relatório que sublinha que essa opinião foi “acolhida” pela 1.ª Comissão Permanente. “Portanto, estava clara a atitude do legislador perante a questão da renovação da concessão provisória, ou seja, só há uma excepção” e “mesmo quando as cláusulas de aproveitamento do contrato de concessão não puderem, por razões inimputáveis ao concessionário, ser cabalmente cumpridas, não há lugar a qualquer excepção para a renovação”, diz o documento. Talvez talvez Contudo, como argumentou Tong na nota justificativa do seu projecto de lei, citando o parecer da 1.ª Comissão Permanente da AL sobre a Lei de Terras, de 2013, “nunca se suscitou a ideia de expropriação dos terrenos cujo não-aproveitamento não seja imputável aos concessionários. Pelo contrário”. Segundo o parecer da lei apresentado pela referida comissão, um deputado questionou como seriam tratados os casos em que não se conseguisse cumprir o prazo concedido por razões não imputáveis ao concessionário e o Governo terá aberto a porta à possibilidade de excepções. Isto porque declarou não ser “adequado estabelecer que haja lugar a renovação no caso de atrasos no aproveitamento”, mas não excluiu que “casos concretos que correspondam a outras disposições previstas (…) possam ser tratados de forma excepcional”. A “norma interpretativa” de Tong pretendia clarificar que o prazo de concessão podia ser “suspenso ou prorrogado” por autorização do Chefe do Executivo, “sempre que haja motivo não imputável ao concessionário e que tal motivo seja, no entender, do Chefe do Executivo, justificativo”. Esta situação encontra-se prevista para o prazo de aproveitamento, mas não para o de concessão, pelo que questionou por que razão “em caso do termo do prazo de concessão por arrendamento, ainda que o prazo de aproveitamento esteja suspenso, o concessionário deve ainda assumir a consequência da devolução do terreno”. A Mesa da AL rejeitou a iniciativa, entre outros motivos, por discordar tratar-se de uma norma interpretativa, mas de uma alteração, pois “não vem explorar nem o espírito, nem o pensamento legislativo subjacente ao normativo da lei, mas sim criar, na prática, novas disposições normativas”, além de que “toca e vai alterar a política de gestão de solos definida”.
Hoje Macau PolíticaDeputados acham improvável salário mínimo antes de 2019 [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] calendário de alargamento do salário mínimo não deverá estar aprovado antes de 2019, entendem vários deputados à Assembleia Legislativa, que alertaram para o tempo que vai ser necessário para todas as consultas que o Governo pretende fazer até apresentar o diploma. O salário mínimo foi introduzido a 1 de Janeiro do ano passado, apenas para duas categorias de trabalhadores, através de um diploma que foi definido como “piloto” para um posterior alargamento, no prazo de três anos, a todos os sectores de actividade. O assunto foi discutido na Assembleia Legislativa (AL), na sequência de uma interpelação oral da deputada Ella Lei que colocou em causa a promessa feita pelo Governo. Na resposta, o Executivo não deixou garantias sobre quando é que o salário mínimo generalizado será efectivamente uma realidade. “Sobre a data de entrada em vigor já não é possível ser controlado pelo Governo”, afirmou o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong. Apesar de reafirmar que, tal como define o primeiro plano quinquenal de Macau, apresentado no ano passado, o salário mínimo será “uma realidade no ano de 2019”, os deputados manifestaram dúvidas, atendendo aos trabalhos que o Executivo pretende realizar até à apresentação de uma proposta de lei. Em Dezembro, o Governo enviou inquéritos aos serviços públicos, empresas de serviços de limpeza, de administração predial e de segurança, às comissões administrativas de edifícios para “a recolha de dados sobre o antes e depois da entrada em vigor da lei” e de “opiniões relevantes dos intervenientes”, explicou o responsável. Cobrança de promessas Na semana passada, depois de uma análise dos dados, a execução da lei foi debatida no Conselho Permanente de Concertação Social, mas uma “nova recolha de opiniões” vai realizar-se no final de Abril, anunciou Lionel Leong. A Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) vai ouvir “as entidades empregadoras e trabalhadoras”, cujas perspectivas serão incluídas num relatório, para servirem como “um dos fundamentos de referência” para a futura aplicação do salário mínimo, indicou. No último trimestre do corrente ano está prevista uma consulta pública, devendo o relatório final ser publicado no primeiro trimestre de 2018, explicou Lionel Leong. Só depois terá início o processo legislativo, que inclui – além da elaboração do diploma – a entrega do documento para apreciação pelo Conselho Executivo. Só depois de validado por aquele órgão, o documento seguirá para o hemiciclo. “O essencial é que o Governo afirmou que ia implementar o regime de salário mínimo antes de 1 de Janeiro de 2019”, disse Ella Lei Cheng I, ao perguntar a Lionel Leong se pode “dizer claramente” se aquele compromisso “ainda vale”. A deputada apontou que o hemiciclo “não pode apreciar a proposta de forma precipitada”, defendendo que “parece que o Governo não quer saber” dos deputados. “Creio que é impossível ser apenas entregue em 2019, deve ser entregue antes”, declarou. “Acho que temos nove meses para este processo legislativo”, disse Lionel Leong, prometendo que o Governo vai “tentar acelerá-lo”. Au Kam San também foi peremptório na sua intervenção: “O que está aqui em causa é uma promessa do Governo. Segundo as contas, não é possível implementar a 1 de Janeiro de 2019”.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaLei de Terras | Deputados querem reunir com Chefe do Executivo Duas dezenas de deputados querem reunir com o Chefe do Executivo a fim de encontrar uma solução para os problemas levantados com a Lei de Terras. Esta sexta-feira será assinado um documento com sugestões que não passam pela criação de normas interpretativas [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Assembleia Legislativa (AL) promete não ficar de braços cruzados no que à Lei de Terras diz respeito. Rejeitada a proposta do deputado Gabriel Tong, (ver página 4), um grupo de vinte deputados prepara-se para subscrever esta sexta-feira uma carta para agendar um encontro com o Chefe do Executivo, Chui Sai On. O HM sabe que 13 deputados estiveram reunidos no passado sábado com o intuito de chegarem a uma solução, onde se incluem nomes como o de Kwan Tsui Hang e o vice-presidente da AL, Lam Heong Sang, em nome da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM). Au Kam San e Ng Kuok Cheong, bem como Chan Meng Kam e os seus parceiros de bancada, Si Ka Lon e Song Pek Kei, são também subscritores da carta. Incluem-se ainda José Pereira Coutinho e o seu número dois, Leong Veng Chai, bem como os deputados que representam a União Geral das Associações de Moradores (kaifong), Ho Ion Sang e Wong Kit Cheng. O deputado Gabriel Tong, autor da proposta de interpretação já rejeitada, também deverá subscrever a carta. Segundo disse José Pereira Coutinho ao HM, “os deputados subscritores não têm nenhuma intenção de avançar com normas interpretativas”. “A nova Lei de Terras não será mexida”, acrescentou. “Pela primeira vez houve um consenso geral entre os deputados para se encontrar uma solução para resolver este imbróglio. Há que arranjar uma solução e ver até que ponto se pode, ao abrigo da legislação vigente, sem mexer na estrutura da Lei de Terras, definir uma solução para uma situação que consideramos dramática para a vida de muitas famílias”, disse ainda José Pereira Coutinho. Já o deputado Au Kam San considerou que o Governo não pode continuar a adiar o caso. “O conteúdo da carta visa encontrar soluções para o caso Pearl Horizon. Por este caso envolver grandes benefícios públicos, esperamos que o Chefe do Executivo possa ter em conta a possibilidade de o resolver.” Concurso público? José Pereira Coutinho volta a apontar uma solução que já tinha apresentado no último plenário da AL, na semana passada. “A solução pode passar pela realização de um concurso público para o terreno em causa, e estabelecer condições ao nível do caderno de encargos.” No debate de quinta-feira, Coutinho apontou uma ideia nova. “Será que é possível submeter uma proposta a concurso público do terreno, e inserir cláusulas para proteger os investidores? O Governo pode elaborar uma proposta para atingir este objectivo? Não sei se é viável ou não.” Au Kam San alerta apenas para a urgência do caso. “O Governo disse que vai assegurar os benefícios dos pequenos investidores, mas não apresentou nenhuma medida concreta que mostre o que vai ser feito em prol dos que foram prejudicados”, apontou. O HM chegou ainda à fala com o deputado Leonel Alves, que declarou não ter conhecimento desta iniciativa, pelo facto de não se encontrar no território. Foram ainda feitas várias tentativas para contactar outros deputados subscritores da carta a entregar a Chui Sai On, mas até ao fecho desta edição não foi possível.
Hoje Macau SociedadeReceitas do jogo com aumento anual de 18 por cento em Março [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s casinos de Macau fecharam Março com receitas de 21,232 mil milhões de patacas, um aumento de 18,1 por cento face ao período homólogo de 2016, indicam números oficiais divulgados este fim-de-semana. Segundo os dados publicados pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), os casinos registaram, no acumulado de Janeiro a Março, receitas de 63,479 mil milhões de patacas, mais 13 por cento em relação aos primeiros três meses do ano passado. Março marcou o oitavo mês consecutivo de subida das receitas da indústria do jogo. As receitas dos casinos iniciaram em Junho de 2014 uma curva descendente, terminada em Agosto último, mês que colocou então termo a 26 meses consecutivos de quedas anuais homólogas. Apesar da recuperação encetada, as receitas dos casinos caíram pelo terceiro ano consecutivo em 2016, registando uma queda de 3,3 por cento que se seguiu à diminuição de 34,3 por cento em 2015 e de 2,6 por cento em 2014. Arrastada pelo desempenho do sector do jogo, a economia de Macau contraiu-se em 2016 pelo terceiro ano consecutivo e o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 2,1 por cento em termos reais, com a recuperação da indústria a ser insuficiente para permitir uma retoma. Este resultado representou uma significativa melhoria depois da quebra de 21,5 por cento em 2015. Em 2014, o PIB de Macau caiu 1,2 por cento, em termos reais, de acordo com os dados revistos, naquela que foi a primeira queda desde a transferência de administração. A contracção da economia foi menor do que a antecipada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) que esperava que o PIB de Macau sofresse um recuo de 4,7 por cento em 2016, antes de regressar a um crescimento positivo este ano. No último relatório, publicado em Fevereiro, o FMI reviu em alta a previsão de crescimento da economia de Macau, avançada em Outubro, de 0,2 por cento para 2,8 por cento.
Hoje Macau Manchete SociedadeLai Chi Vun | Área dos antigos estaleiros navais com novo plano [dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]ai Chi Vun vai ter um novo plano. A promessa foi deixada pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas, que não tem ainda uma data para que o projecto esteja concluído. O governante diz que o processo não é incompatível com o procedimento de classificação do local A zona dos antigos estaleiros navais da ilha de Coloane, em Macau, será alvo de um novo plano, após os anteriores terem ficado na gaveta por razões que desconhecidas, revelou o secretário para os Transportes e Obras Públicas. “A razão pela qual vamos iniciar um novo plano é precisamente porque nenhum dos estudos anteriores chegou até ao fim, ou seja, nenhum obteve aprovação final”, disse Raimundo do Rosário aos jornalistas, no final de um plenário dedicado a interpelações orais dos deputados, incluindo uma versando sobre os antigos estaleiros navais de Lai Chi Vun, na ilha de Coloane. O secretário afirmou, porém, desconhecer por que razão os planos anteriormente delineados para a zona ficaram na gaveta. O novo plano “vai ser coordenado pelas Obras Públicas, terá a colaboração da DSAMA [Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água] e terá a colaboração de outros”, sendo que todos os serviços interessados vão ser chamados a participar, “a emitir parecer nesse plano”. “Olhemos para o futuro”, realçou Raimundo do Rosário, indicando que o novo plano irá definir designadamente o que se pode ou não fazer e qual é a vocação daquela zona, sendo que, segundo explicou, “até pode haver vocações diferentes para áreas diferentes”. Actualmente, não há uma data concreta para a apresentação do plano. “Está a decorrer, neste momento, aquele processo administrativo de adjudicação”, que prevê a consulta a três entidades, afirmou. “Só depois de escolher uma determinada entidade é que sabemos a proposta que essa entidade apresentou, as fases [e] a duração” de cada uma, explicou, detalhando que há ainda um período para o Governo aprovar cada etapa antes de se avançar com a seguinte. À entidade a que for adjudicado o novo plano vão ser facultados “todos os estudos” que estiverem disponíveis na Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes e na DSAMA, complementou. Uma questão de ajuste Raimundo do Rosário esclareceu também que o novo plano não interfere com a abertura de procedimento para decidir se os antigos estaleiros navais na ilha de Coloane serão classificados como património cultural, anunciada no início da semana. “Acho que as duas coisas podem andar ao mesmo tempo – depois ajusta-se”, afirmou Raimundo do Rosário. O Instituto Cultural (IC) anunciou, na semana passada, a abertura do procedimento de classificação dos estaleiros, definindo que, com esse gesto, ficam suspensas quaisquer intervenções na zona, sejam construções ou demolições. No início do mês passado, dois estaleiros de Lai Chi Vun foram demolidos por razões de segurança, o que levou à apresentação de três petições a exigir a classificação daquele conjunto de estruturas na vila de Coloane. Esse procedimento, que implica também uma consulta pública, não deve demorar mais de um ano, segundo o IC.
Hoje Macau SociedadeVeterinária | Consulta pública a lei de controlo sanitário animal [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Executivo disponibilizou o texto de consulta sobre a Lei do Controlo Sanitário Animal e Médico-Veterinária à população. O período de consulta pública começa hoje e decorre até ao dia 2 de Maio, sendo que o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) solicita a participação activa tanto dos cidadãos, quanto dos profissionais do sector. Os objectivos primordiais desta iniciativa legislativa são prevenir e controlar epidemias animais, assim como estabelecer uma base legal de supervisão dos estabelecimentos de clínica veterinária, reprodução, venda e hospedagem de animais de estimação. No fundo, uma base de leis que visa prevenir as doenças infecto-contagiosas. Não existe ainda cobertura legal em matéria de prevenção e tratamento de doenças infecto-contagiosas dos animais, registos de médicos veterinários, estabelecimentos de clínicas veterinárias e gestão de estabelecimentos de reprodução, venda e hospedagem de animais de estimação. Em comunicado, o IACM refere que o Executivo teve como referência as experiências dos países e territórios vizinhos na elaboração desta lei. Os serviços municipais acrescentam que foram também ouvidos os profissionais do sector, assim como associações de protecção dos direitos dos animais. O IACM organiza duas sessões de esclarecimentos relativas a este regime legal nos dias 13 e 20 de Abril.
Hoje Macau SociedadeAmbiente | Achim Steiner defende veículos eléctricos em Macau Achim Steiner, antigo director executivo do Programa da Organização das Nações Unidas para o Ambiente, acredita que o território deve promover mais os veículos eléctricos, através de um trabalho feito pelo Executivo em prol de mais infra-estruturas [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] vice-presidente internacional do Conselho Chinês para a Cooperação em Ambiente e Desenvolvimento defendeu a transição de Macau para uma “economia verde” com a introdução de veículos eléctricos no território. Achim Steiner, antigo director executivo do Programa da ONU para o Ambiente, falava aos jornalistas no âmbito do Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau (MIECF, na sigla inglesa). “O custo mais elevado de adquirir um automóvel e usar petróleo não é o combustível, é a poluição e a saúde. O uso de combustíveis fósseis está a matar as pessoas, é simples”, afirmou. De acordo com estatísticas da Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de seis milhões de pessoas morrem prematuramente todos os anos devido à má qualidade do ar. Com uma população de cerca de 650 mil habitantes e 250 mil veículos e motorizadas, Macau “representa uma enorme oportunidade para uma transição para uma economia verde” com a introdução de carros eléctricos, disse. Esta transição só é bem sucedida se os governos intervierem para garantir investidores e infra-estruturas, incentivos aos utilizadores e um bom serviço de abastecimento na cidade, explicou. “Se o governo não desenvolver estas medidas, é muito difícil ao sector privado vender carros e aos consumidores escolher veículos eléctricos”. Macau pode aproveitar o enorme potencial no sector automóvel da China, que é um líder mundial na produção, acrescentou. Steiner lembrou também a importância de um sistema de transportes públicos conveniente para o utente, o que implica “frequência, qualidade e cobertura”. O desenvolvimento de energias limpas, uma utilização eficiente dos recursos, a separação entre o crescimento económico e as emissões de carbono, a resolução dos problemas da qualidade do ar, reciclagem e gestão podem integrar a cooperação definida na estratégia “Uma Faixa, uma Rota” da China, considerou, destacando o papel de Macau. Prioridades verdes A décima edição do MIECF abriu na quarta-feira com as palavras do Chefe do Executivo, Fernando Chui Sai On, que lembrou que o “reforço da protecção ambiental” foi definido “como uma prioridade” para “garantir uma cidade com qualidade de vida, com intenção de equilibrar e coordenar o desenvolvimento urbano e a protecção ambiental”, de acordo com o primeiro plano quinquenal do Governo, apresentado no ano passado. “Também iremos aproveitar as oportunidades de desenvolvimento criadas pela estratégia ‘Uma Faixa, Uma Rota’ [e] à medida que desenvolvemos o papel de Macau como ‘Um Centro, Uma Plataforma’ iremos encorajar uma cooperação regional próxima na área da protecção do ambiente e o desenvolvimento de uma economia verde”, afirmou. Subordinada ao tema “Desenvolvimento Verde Inovador para um Futuro Sustentável”, a edição deste ano do MIECF conta com mais de 50 oradores e mais de 450 expositores de 17 países e regiões, incluindo de países de língua portuguesa. O MIECF, cujo programa inclui seminários, fóruns, além da área de exibição, terminou no sábado.
Sofia Margarida Mota EventosAFA | Aguarelas de Cai Guo Jie expostas a partir de hoje São paisagens locais vistas com olhos de pássaro. A proposta é de Cai Guo Jié que adoptou Macau como casa e a quer mostrar a todos. A exposição é uma organização da Art for All Society e está patente até 23 de Abril no Art Garden [dropcap style≠’circle’]“O[/dropcap]verlook the Macau City” é a exposição de Cai Guo Jie que está, a partir de hoje, aberta aos visitantes no Macau Art Garden. A iniciativa promovida pela Art for All (AFA) traz uma série de 14 aguarelas que representam alguns dos espaços mais emblemáticos da cidade, produzidos pelo artista. A escolha da técnica, disse o autor ao HM, tem a ver com motivos históricos e culturais. “Antigamente, a aguarela era utilizada na cerâmica que, antes de ser levada para cozedura, era pintada com esta técnica”, explicou. A aplicação é realizada na pintura de espaços como Mong Ha, o Porto Interior, as Ruínas de São Paulo, a Igreja de São Lourenço e o Alto de Coloane. O objectivo é dar um panorama geral do território. “É um retrato dos lugares por onde passo todos os dias e que fazem parte da cidade”, disse. Depois de várias exposições com passagens por Pequim, a mostra que hoje inaugura representa ainda uma mudança na perspectiva do artista. As paisagens agora elevadas a um plano superior do olhar, pretendem mostrar os lugares comuns de residentes e visitantes quando passeiam pela cidade. “Na pintura `Camões Olhando para o Leste´, o espectador parece ter sido levantado no ar e colocado num ponto mais alto, o horizonte também se levanta e a maior dimensão é ampliada à utilização de uma folha de aguarela completa”. Cai Guo Jie, natural de Taiwan veio para Macau à cerca de cinco anos. “Era o local onde tinha o coração”, disse ao HM. Ao longo da carreira, passou por várias fases e, se num momento inicial tinha como meta a adaptação e técnicas ocidentais a motivos do oriente, com o tempo o objectivo também se transformou: “tornou-se fundamental dar mais relevo às técnicas locais”. “Prefiro exportar a cultura a importar o que vem de fora e, quando me senti preparado, decidi produzir uma série de trabalhos sobre Macau”, recordou. Liberdade local Vindo de fora e com os olhos postos nos jovens criadores, Cai não tem dúvidas de que, em Macau, a liberdade é um marco na criação artística capaz de levar ao sucesso. Em contraponto está a realidade de Taiwan. “A maioria dos alunos de arte de Taiwan estudam muito mas o objectivo não passa de tentarem passar nos exames. Os estudantes de Macau são diferentes: “são muitos os que se dedicam à arte por sentirem um verdadeiro interesse e gosto por ela e, como tal, trabalham muito para conseguirem fazer o que gostam”, apontou Cai. Por outro lado, a diferença pode estar na formação, até porque “os professores de Taiwan não consideram a questão da carreira. Como tal, aquando de dificuldades, os estudantes acabam por optar por outras carreiras. “Já aqui, e baseado na minha experiência no Instituto Politécnico de Macau, sinto que as escolas estão mais empenhadas em ajudar os artistas no encontro de um caminho profissional”. É a autonomia que sente na vida artística de Macau que dá a Cai Guo Jie confiança para ficar e trabalhar no território. “Aqui, há liberdade e possibilidade de cada um de nós desenvolvermos as nossas características”, concluiu o artista.
Hoje Macau China / ÁsiaPequim insta Trump a reduzir controlo sobre importações de alta tecnologia [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China pressionou sexta-feira o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a reduzir o controlo sobre as exportações de alta tecnologia para o país, como forma de reduzir o déficit comercial entre as duas maiores economias do mundo. “Se os EUA relaxarem o controlo sobre as exportações de alta tecnologia para a China e (…) facilitarem o investimento chinês nos EUA, será uma grande ajuda para reduzir o desequilíbrio comercial entre os dois países”, afirmou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Zheng Zeguang, em conferência de imprensa. Trump acusa frequentemente a China de ter destruído milhões de postos de trabalho nos EUA, através de concorrência desleal e manipulação do valor da sua moeda. O líder norte-americano disse na quinta-feira que o encontro com o seu homólogo chinês, Xi Jinping, na próxima semana, será “muito difícil”. “A reunião na próxima semana com a China deverá ser muito difícil”, escreveu Trump, na sua conta na rede social Twitter. “Não podemos continuar a ter enormes déficits comerciais e massivas perdas de emprego. As empresas americanas devem procurar outras alternativas”, acrescentou. Os comentários surgiram poucas horas após Pequim confirmar que Xi vai reunir com Trump, na luxuosa residência deste no Estado da Florida, Mar-a-Lago, a 6 e 7 deste mês. “A China não procura ter um superavit comercial e não temos a intenção de impulsionar as nossas exportações através da desvalorização da moeda. Essa não é a nossa política”, afirmou o vice-ministro. Zheng considerou que as relações entre ambas as potencias baseiam-se no “benefício mútuo” e afirmou que o investimento chinês nos EUA gerou postos de trabalho naquele país. O vice-ministro assegurou que ambas as partes esperam que o encontro entre Trump e Xi seja um êxito. Problemas de rede Face ao apelo para que Trump levante as restrições nas importações de alta-tecnologia, os jornalistas perguntaram ao vice-ministro se estaria disposto a terminar com o controlo que Pequim exerce sobre a Internet, permitindo a gigantes norte-americanos como o Google e Facebook reforçarem as operações na China. “A China está comprometida com a reforma e abertura (…) Damos as boas-vindas às empresas estrangeiras para que explorem o mercado chinês, com respeito pela lei”, disse. Empresas e políticos europeus ou norte-americanos acusam frequentemente a China de impedir as empresas estrangeiras de participar em vários sectores do mercado chinês, ou a forçá-las a fazer parcerias com empresas locais e transferir tecnologia chave, apesar da postura pró-globalização e em defesa do livre comércio adoptada pelos líderes chineses.
Hoje Macau China / ÁsiaPequim confirma que corpo de Kim Jong-Nam regressou à Coreia do Norte [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] corpo de Kim Jong-Nam, meio irmão do líder da Coreia do Norte, Kim Jong-Un, que vivia exilado em Macau e foi envenenado na Malásia, chegou a Pyongyang, confirmou sexta-feira o ministério dos Negócios Estrangeiros da China. “O corpo do cidadão da RPDC (República Popular Democrática da Coreia) que morreu na Malásia e relevantes cidadãos da RPDC voltaram hoje à RPDC, via Pequim”, confirmou o porta-voz do ministério Lu Kang. “Segundo as práticas internacionais, e por motivos humanitários, a China ofereceu a necessária assistência no transporte do corpo”, acrescentou. Dois norte-coreanos suspeitos de envolvimento na morte de Kim Jong Nam terão sido também repatriados para a Coreia do Norte, segundo a Associated Press. Kim Jong-Nam morreu envenenado com VX, poderosa substância neurotóxica, no aeroporto de Kuala Lumpur, afastando assim um potencial rival do actual líder da Coreia do Norte. O caso despertou um conflito diplomático entre a Malásia e a Coreia do Norte, que expulsaram os respectivos embaixadores e impediram os cidadãos radicados em cada país de sair. Investigadores da Malásia procuravam sete suspeitos da Coreia do Norte, quatro que abandonaram o país no dia do homicídio e três que se acreditava estarem escondidos na embaixada da Coreia do Norte. Os dois países acabaram por concordar retirar a interdição de viajar e que a Malásia enviaria o corpo de Kim Jong-Nam para a Coreia do Norte. Pyongyang recusou confirmar a identidade da vítima, que tinha consigo um passaporte da Coreia do Norte com o nome Kim Chol quando foi assassinada. A Malásia confirmou oficialmente a identidade da vítima através de um teste de ADN. Os serviços secretos da Coreia do Sul afirmaram que o envenenamento foi uma ordem directa do líder norte-coreano Kim Jong-Un.
Valério Romão h | Artes, Letras e IdeiasDa compreensão simplificada do autismo [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] dia de ontem, 2 de Abril, é o dia mundial da consciencialização do autismo. O meu filho tem treze anos e, com apenas dois anos e meio, foi diagnosticado com uma perturbação do espectro do autismo. A minha compreensão do autismo e dos seus múltiplos efeitos condicionantes mudou radicalmente desde então. O que eu pensava do autismo estava ancorado na pouca experiência indirecta que tinha da síndrome: alguns artigos de divulgação generalista, uma criança – estranhamente silenciosa para a idade – que frequentou durante muito pouco tempo as mesmas aulas de karaté que eu e, pedra de toque fundamental do entendimento do autismo para a minha geração, a personagem interpretada por Dustin Hoffman no filme Rain Man. Durante muito tempo os autistas foram para mim essa caricatura de Hollywood: criaturas excepcionalmente dotadas, do ponto de vista do cálculo e da matemática, mas extremamente rígidas quanto aos hábitos e às rotinas e desprovidas de quaisquer competências sociais. No fundo, uma espécie de génio cujas aptidões e insuficiências se encontram elevadas a um expoente no qual umas e outras se revelam inadequadas para dar conta da vida e do seu aspecto pragmático. Todos os autistas eram, para mim, génios. E todos os génios exibiam, em maior ou menor grau, alguma da sintomatologia associada ao autismo. O meu filho brincava com os carrinhos de modo particular; pegava neles e rodava-os ao contrário como se fossem piões. Eu achava piada àquela – aparente – manifestação de irreverência precoce. Quando, chegado aos dois anos sem vocalizar uma única palavra e incapaz de apontar para aquilo que queria, começámos a transitar da disposição todas-as-crianças-têm-o-seu-tempo-próprio para o território muito mais inóspito do há-algo-de-errado-aqui, a internet e o seu bibliotecário universal chamado Google pareceram-nos a forma mais rápida – e anónima – de encontrar algumas repostas para perguntas que mal sabíamos formular. Lembro-me de dar com um site monocromático no qual se elencavam alguns comportamentos passíveis de serem indicadores de uma perturbação do espectro do autismo. Rodar objectos era um dos itens da lista. Lembro-me de o meu cérebro, procurando o conforto de um contraponto capaz de resistir aquele choque inesperado – o meu filho, autista? – ter formulado imediatamente uma prescrição redentora: “finalmente vamos ter um génio na família”. Rapidamente percebemos o que não era o autismo. Rapidamente percebemos que a proporção de génios no autismo é, grosso modo, equivalente à proporção de génios existentes na população neurotípica. Rapidamente percebemos que o Rain Man, para além de caricatural, era uma imagem extremamente redutora para a multiplicidade de autismos – que descobrimos quase tão numerosa quanto a quantidade de indivíduos portadores de autismo – com os quais nos fomos deparando nas terapias, nas associações de pais de autistas e nas salas de aula especializadas. Rapidamente percebemos que aquela condição se manteria toda a vida e que era imperioso fazer o luto da criança idealizada para que a criança real encontrasse, na reconfiguração trituradora à qual por vezes temos de submeter os nossos melhores sonhos, o seu espaço vital. Hoje em dia, quando me perguntam pelo meu filho de modo a que o autismo tenha de ser trazido à colação, apresso-me a explicar que não é o Rain Man. Que nem todos são génios – que, aliás, muitos poucos são e, dentro desses, são reduzidíssimos aqueles cujas competências lhes servem para mais do que para exibições de carácter circense. Que muitos têm limitações vincadas, tanto ao nível da inteligência como da motricidade. Que alguns até precisam de ser medicados porque não conseguem controlar a sua agressividade. Que quando gritam no supermercado, não é porque sejam mal-educados. Que não são de todo enviados cósmicos sob a forma de anjos capazes de percepções infra ou supra realidade. Há que ter a coragem de nos despirmos de todas as explicações reconfortantes para o fenómeno da deficiência. Eu, por ser parte interessada e implicada, levei anos a fazer isso. Anos absolutamente injustos para o meu filho, que se via sempre, injusta e involuntariamente, equiparado à criança que nunca chegou a nascer, a criança perfeitinha das conversas que versam o tema da gravidez e do parto, a criança que o obrigámos a usar sobre o rosto como uma máscara de ferro. Eu levei muitos anos a abrir os olhos e o coração. Mas eu sou estúpido e lento. Vocês são melhores. Eu sei que são.
Hoje Macau SociedadeComércio externo de Macau subiu nos dois primeiros meses do ano [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] comércio externo de Macau subiu 2,8 por cento em termos anuais homólogos até Fevereiro, alcançando 13,56 mil milhões de patacas, indicam dados oficiais. Em 2016, o comércio externo de Macau tinha registado, pelo segundo ano consecutivo, uma queda, e em Janeiro passado tinha verificado uma diminuição. Segundo a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), nos primeiros dois meses de 2017, Macau exportou produtos no valor de 1,88 mil milhões de patacas – mais 11,2 por cento em termos anuais homólogos – e importou bens avaliados em 11,69 mil milhões de patacas, ou seja, mais 1,6 por cento. Nos dois primeiros meses deste ano, o défice da balança comercial atingiu 9,81 mil milhões de patacas, traduzindo um desagravamento ligeiro (0,1 por cento) comparativamente a igual período do ano passado. Em termos de mercados, as exportações para a China diminuíram 1,8 por cento em termos anuais homólogos, para 234 milhões de patacas. Em contrapartida, as vendas de mercadorias de Macau para Hong Kong, no valor de 1,25 mil milhões de patacas subiram 20,2 por cento. As exportações para os Estados Unidos (32 milhões de patacas) e para a União Europeia (31 milhões de patacas) aumentaram, respectivamente, 58,7 por cento e 6,5 por cento, em termos anuais homólogos. A mesma tendência verificou-se nas vendas aos países de língua portuguesa que aumentaram 25,6 por cento para 200 mil patacas nos primeiros dois meses do ano em termos anuais homólogos, indica a DSEC. Em termos de mercadorias, o valor exportado de joalharia com diamantes aumentou 82,6 por cento para 264 milhões de patacas, enquanto as vendas de máquinas, aparelhos e componentes diminuíram 55 por cento para 66 milhões de patacas. Mais Europa, mais lusofonia Já do lado das importações, Macau comprou à China produtos no valor de 3,95 mil milhões de patacas, o representa uma quebra de 7,9 por cento em relação aos primeiros dois meses do ano passado. Em sentido inverso, as compras à União Europeia dez por cento. O mesmo sucedeu relativamente ao valor importado de mercadorias dos países de língua portuguesa, que cresceu 12,9 por cento para 103 milhões de patacas face ao período homólogo do ano passado. Só no mês de Fevereiro, Macau exportou produtos avaliados em 904 milhões de patacas– mais 27,2 por cento face a Fevereiro de 2016 – e importou mercadorias no valor de 5,18 mil milhões de patacas, ou mais 9,1 por cento. O défice comercial do segundo mês do ano foi de 4,28 mil milhões de patacas.
Sofia Margarida Mota Entrevista MancheteCarlos Martins, secretário de Estado do Ambiente: “O empenho da China é a melhor memória que levo” O secretário de Estado do Ambiente, Carlos Martins, marcou ontem presença no Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau. A visita incluiu uma reunião com Raimundo do Rosário e ficou a possibilidade de colaboração futura. Ao HM, Carlos Martins falou das necessidades locais, do ambiente em Portugal e do empenho chinês na matéria Do que constou a reunião que teve com o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário? Vai existir colaboração na área do ambiente entre Macau e Portugal? Ficou no ar a possibilidade de virmos a estudar um protocolo que permita, naquilo que são as autoridades do ambiente nacionais, cooperar na área da educação ambiental, na capacitação de recursos humanos e na cooperação com empresas portuguesas. Foram identificados ainda os pontos fortes da região e as áreas em que pode necessitar, a curto prazo, de mais colaboração. Estiveram também presentes representantes das empresas que trabalham no sector e que, com certeza, tomaram boa nota do que pode vir a constituir uma oportunidade para o futuro. De relevante, ficou uma vontade recíproca de podermos vir a fazer um memorando que leve a um reforço da colaboração. Que áreas foram identificadas como estando a precisar de uma intervenção mais rápida? As questões relacionadas com transportes, a área dos resíduos e a qualidade do ar. O que é que se pode fazer, em colaboração, na melhoria da qualidade do ar? As fontes que influenciam a poluição do ar podem estar no próprio território e, como tal, a solução vem de dentro. Mas, como sabemos, a qualidade do ar está associada a um meio que recebe inputs que, muitas vezes, estão além das fronteiras físicas e territoriais e, desse ponto de vista, o controlo da qualidade torna-se mais difícil. Uma das questões que me pareceram mais problemáticas e consensuais está relacionada com a situação crítica associada ao excesso de veículos. É necessário um melhor controlo das emissões produzidas. Em Portugal também estamos nesse processo, sobretudo nos veículos de duas rodas, e já temos um histórico alargado. Do ponto de vista da indústria, não estamos num território que a tenha e, se esse risco acontecer, vem de fora. Temos experiência na monitorização da qualidade do ar, pelo que poderíamos vir a cooperar e a acompanhar a situação, bem como dar algumas competências na matéria. Esteve sempre associado à área da água. Como é que vê a situação de tratamento de águas em Macau? Temos duas dimensões na água do território. Uma pareceu-me estar relativamente bem resolvida e está relacionada com os serviços públicos de abastecimento de água. Entra na esfera de manutenção e gestão de uma rede que já existe, e que agora terá mais procura do que teve no passado, fruto da maior densidade populacional que se tem vindo a registar, mas que parece ter uma tendência para a estabilidade. Neste domínio, em que Portugal também tem competências, não antecipo uma grande oportunidade porque estará a funcionar num quadro normal de estabilidade. No que respeita às águas residuais, temos experiência e know-how. Em Macau, a população tem aumentado, mas as estações de tratamento de águas residuais já têm alguns anos de operação, o que pode vir a determinar a sua modernização a médio ou curto prazo. É um território que, dado o desenvolvimento urbano que tem registado, deve ter maiores exigências com instalações deste tipo e ter uma especial atenção a questões de cheiros, à eficiência do tratamento da parte líquida e das próprias lamas que decorrem no processo. Temos muitas bandeiras azuis que resultam do mérito de gerirmos bem estas infra-estruturas. Há também casos em Portugal em que tivemos de modernizar estações importantes de tratamento de água com elas em funcionamento. São obras de uma grande complexidade no planeamento, às vezes mais do que fazer uma obra de raiz. Também neste sentido podemos dar o nosso contributo. Há uma outra dimensão da água que diz respeito aos recursos hídricos. Temos algumas situações que são referências internacionais, como o programa de despoluição do estuário do Tejo e a despoluição do rio Trancão, que era considerado o mais sujo da Europa. Em Macau, não haverá situações tão dramáticas quanto aquelas que tivemos de enfrentar com a limpeza do rio Trancão. De qualquer maneira, podemos partilhar as nossas metodologias. Neste momento, temos monitorização quer das massas de água, quer dos fundos do estuário, que fazemos em colaboração com as universidades e podemos pôr ao serviço da região, se for entendido que pode ser útil. Há abertura por parte do território? Fiquei com a ideia de que há uma grande abertura e interesse em podermos vir a concretizar o memorando e, à medida que as questões apareçam e sejam interessantes para as partes, podermos avançar. Portugal está no sétimo lugar do ranking dos países no bom caminho na implementação de medidas coniventes com o Acordo de Paris. É uma boa posição? Mais do que bom, é muito bom. Em termos internacionais, Portugal representa uma percentagem muito reduzida, mas é bom saber que estamos a fazer bem aquilo que são as nossas responsabilidades no âmbito do Acordo de Paris. O facto de termos feito uma grande aposta dentro do uso das energias renováveis também nos coloca no patamar da excelência. Em 2016, tivemos quatro dias e meio em que Portugal foi auto-suficiente à custa de energias renováveis. A aposta para os próximos anos está muito focada no melhor aproveitamento de um bem que temos: o sol. Temos muito sol, muitos dias por ano. Estamos a apostar na energia solar combinada com a renovação urbana. O Governo determinou que, para reanimar alguns sectores de actividade económica e melhorar a eficiência energética nos edifícios, é necessário um investimento muito grande em termos de reabilitação urbana recuperando o centro das grandes cidades, que tem estado muito abandonado. Na emissão de gases, estamos a investir nos transportes públicos através da renovação da frota, aumentando a oferta e, ao mesmo tempo, a dar valor ao uso individual de transportes com a criação de condições para que possam existir mais veículos eléctricos. Tudo isso combinado acaba por resultar naquilo que hoje é a nossa maior aposta: renovar o paradigma de consumo energético em Portugal. A ideia é ter a energia solar nos edifícios para produzir electricidade para as águas quentes e o calor. O projecto “casa eficiente” tem como objectivo tornar os edifícios mais ecoeficientes, sendo que temos uma má tradição: as construções não foram pensadas com qualquer preocupação energética. Tudo isto associado aos transportes, que ainda é a área que reúne as medidas com menos sucesso, Portugal pode ficar muito acima do sétimo lugar. O que é que tem sido feito, concretamente, nos transportes eléctricos? Estamos a testar autocarros eléctricos completamente produzidos em Portugal. Há dois autocarros na frota da Carris que integram estes testes. O Governo não deveria dar o exemplo através da utilização deste tipo de veículos? Lançámos recentemente um grande desafio nesse sentido aos municípios e tivemos 119 que se candidataram, e vão ter as frotas dos serviços ambientais todas elas eléctricas. Aproveitámos essa circunstância para colocar postos de carregamento e, assim, aumentar a rede de abastecimento que tem sido sempre uma limitação, dado o problema de autonomia dos veículos. Entre o Porto e o Algarve criámos uma rede de postos de carregamento rápido em que as pessoas, em dez minutos, podem carregar 80 por cento da bateria. As candidaturas também estão abertas às autoridades e o Ministério do Ambiente já tem por tradição o uso de veículos eléctricos. Estamos também a lançar o desafio a algumas empresas públicas, como as Águas de Portugal, para que possam vir a ter frotas eléctricas em grade parte dos seus serviços. Já foram cancelados dois contratos relativos à prospecção e exploração de petróleo na costa portuguesa, e estão ainda dois em andamento. Porquê o cancelamento e que consequências têm estas iniciativas? Os processos que foram cancelados tinham lugar na plataforma continental. Para já estão interrompidos e não irão prosseguir. Entravam em rota de colisão com aquilo que são os interesses e estratégias regionais que apostam no turismo. A associação dos municípios e os agentes económicos tinham muito receio que uma intervenção nesse sector pudesse fazer perigar aquilo que têm sido as estratégias de sucesso. Os processos ainda em curso não têm ilegalidades na concessão e ocorrem a muitos quilómetros de distância da costa. Estão ligados a procedimentos de outra natureza e que são, sobretudo, prospectivos. Servem essencialmente para fazer uma avaliação, mais do que para exploração, e devem continuar a seguir os procedimentos de licenciamento normais. Como vê esta edição do Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau? Pareceu-me importante a área expositiva que temos presente e o nível das empresas que cá estão. A nossa presença está na linha do que podemos considerar uma oportunidade, tendo em conta uma cultura e uma história que nos ligou a este território e, espero, continue a ligar. É do interesse da China esta colaboração, dado o nosso papel enquanto ponte com as economias dos países de expressão portuguesa. Fiquei surpreendido com o grande número de presenças que já será pouco frequente na Europa, mas que demonstra um outro potencial. A minha maior satisfação é ver que um país que tem um importante papel para o Acordo de Paris, como a China, tem um discurso assertivo e orientado para as questões do ambiente. O empenho da China é a melhor memória que levo. Já tinha observado, em Paris, que as autoridades chinesas estavam muito focadas nas questões ecológicas e agrada-me saber que esta é uma linha estratégica do país. Tendo em conta a sua quota de emissões no contexto mundial, é uma boa notícia. Com a participação da China na protecção ambiental podemos ter um contributo, à escala planetária, contra o aquecimento global. A posição de Donald Trump, pelo contrário, parece não ter em consideração a questão do aquecimento global. Representa, de algum modo, algum impasse? Julgo que políticas como as do ambiente acabam por estar acima dos actores políticos momentâneos. São iniciativas feitas para durar gerações, pelo que as acções e posições das pessoas acabam por ser mais relevantes. Creio que as grandes empresas americanas, independentemente de um abrandamento da pressão de natureza governativa, não vão querer ser tidas como entidades menos empenhadas na matéria ambiental quando todos somos mais exigentes enquanto consumidores à escala global. Independentemente da flexibilidade que venha a ser dada pelas autoridades, estou convicto de que se imporá, ao tecido empresarial americano, um papel de responsabilidade e terão de ser agentes comprometidos com o ambiente.
Hoje Macau PolíticaExecutivo toma decisão sobre aves vivas em Abril [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo defendeu ontem que a única forma de impedir o contágio humano com gripe aviária é terminando a importação de aves vivas, e remeteu uma decisão sobre o assunto para o próximo mês. “Face à epidemia da gripe aviária que se torna cada vez mais grave a nível mundial (…) a solução que resta será a cessação da importação das aves de capoeira vivas (…)”, afirmou a secretária para a Administração e Justiça. “É preciso seguir a via da importação de aves já abatidas que correspondam aos critérios sanitários, substituindo completamente o abastecimento de aves vivas dos mercados do território. Somente esta acção permitirá (…) reprimir, o mais possível, a ameaça da gripe aviária que pende sobre os cidadãos”, disse Sónia Chan, na Assembleia Legislativa. As autoridades foram obrigadas a abater aves em cinco ocasiões em menos de um ano, a mais recente em Fevereiro, depois de detectarem o vírus da gripe das aves. Há muito que a proibição da venda de aves vivas é discutida, por motivos de saúde pública, mas o Governo tem vindo a adiar a medida, escudando-se na oposição popular e principalmente na resistência dos vendedores. Ontem, Sónia Chan frisou que as inspecções a que as aves vivas são sujeitas, com um método de amostragem aleatória, “não podem assegurar (…) que todas as aves de capoeira vivas não se encontram infectadas pela gripe aviária”, o que faz com que os trabalhadores envolvidos no transporte dos animais, no abate, no processamento e até os residentes das áreas envolventes aos locais onde as aves estão fiquem em risco. “Não queremos que os residentes comam aves e percam a sua vida. Há muitos riscos para residentes que compram aves vivas nos mercados. Em Macau, se há um surto de gripe aviaria, podemos imaginar como vai afectar o papel de Macau como centro internacional de turismo”, afirmou. O medo dos vendedores A secretária indicou que o Governo tem estado em negociações com o sector, de modo a “oferecer mais opções para transformação sectorial”. “A situação é mais grave neste momento e vamos tomar o quanto antes a decisão sobre a nossa postura, (…) em Abril vamos tomar uma decisão”, afirmou. O presidente do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, José Tavares, explicou que as duas reuniões com os vendedores revelaram que estes “não têm um conhecimento assim ao profundo sobre gripe das aves e não têm assim tanta noção do risco”. Dias após o primeiro encontro, “enviaram uma carta a insistir na importação de aves vivas, querem que o Governo mude de posição”, disse, explicando que estão em causa 250 vendedores. “Dizem que não conseguem sobreviver com a venda de carnes refrigeradas. Mas podemos ajudá-los a transformarem-se para outros sectores”, garantiu.
Andreia Sofia Silva PolíticaAlexis Tam defende apoio de portugueses para formar bilingues [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, defendeu ontem na Assembleia Legislativa (AL) que a comunidade portuguesa residente em Macau também pode contribuir para a formação de talentos bilingues. “Os portugueses que vivem em Macau também podem contribuir para a transformação de Macau numa base de formação de talentos bilingues. Em Macau há o ambiente que facilita a aprendizagem da língua portuguesa”, referiu. O assunto foi levantado pela deputada Angela Leong, que queria saber como é que o Governo pretende reforçar a formação do pessoal bilingue e de tradutores. Alexis Tam lembrou a visita do primeiro-ministro chinês e as mensagens deixadas aquando da passagem por Macau. “Li Keqiang deu instruções no sentido de transformar Macau numa base de talentos bilingues. O Governo tem essas condições para criar uma base na região asiática para a formação de talentos bilingues, porque a língua portuguesa é uma das línguas oficiais. O Governo já investiu muitos recursos para a formação de talentos bilingues nas universidades, no ensino infantil e não superior.” Angela Leong abordou ainda a questão dos subsídios atribuídos às escolas privadas, sendo que vários deputados alertaram para a pouca fiscalização do Fundo de Desenvolvimento Educativo, entidade que atribui esses apoios. Alexis Tam explicou que já foram suspensos os subsídios atribuídos a seis escolas, devido ao facto de não terem sido entregues os relatórios financeiros. Foi ainda criado, no seio do FDE, “um grupo de trabalho para a verificação das contas, que inclui profissionais de contabilidade e auditores de contas”. No que diz respeito ao ensino especial, o governante disse que serão contratados mais terapeutas da fala em Hong Kong. “Reconheço que se verifica uma certa carência de terapeutas. Entendo que esses especialistas são importantes e esperamos poder importar esses especialistas, sobretudo terapeutas da fala. Temos vindo a recorrer a especialistas de diferentes especialidades, em Hong Kong, para saber se há possibilidade de convidar terapeutas da fala. Hong Kong aceitou e muito em breve poderemos contar com esses especialistas, para dar apoio às crianças.”
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaSaúde | Governo quer criar academia de medicina ainda este ano O secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, prometeu ontem que será criada a Academia de Medicina de Macau em meados deste ano, uma promessa feita nas Linhas de Acção Governativa para 2016. Quanto à construção de lares de idosos no interior da China, ainda não há planos [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo está prestes a cumprir uma promessa feita ainda em 2015, quando foram apresentadas as Linhas de Acção Governativa (LAG) para o ano seguinte. Alexis Tam, secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, disse ontem na Assembleia Legislativa (AL) que o Executivo tem a intenção de criar a Academia de Medicina de Macau, pelo menos até ao final deste ano. “Estamos a envidar muitos esforços ao nível dos recursos humanos. Em meados ou até finais deste ano vamos ter uma academia de medicina, e também iremos aumentar o número de pessoal, sobretudo ao nível dos médicos especialistas”, disse o secretário. Alexis Tam quer contratar mais médicos e aumentar o número de camas disponíveis, de modo a responder aos padrões decretados pela Organização Mundial de Saúde. “Creio que actualmente conseguimos cumprir as regras internacionais. Em 2020, e isso está explícito no Plano de Desenvolvimento Quinquenal de Macau, vamos aumentar o número de camas de 2,8 para 4,4 por cento por cada mil habitantes. Quanto aos enfermeiros, queremos aumentar de 3,5 para quatro por cento. Vamos conseguir isso no futuro. Queremos ainda contratar médicos especialistas qualificados ao exterior, incluindo Portugal.” Contudo, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura voltou a admitir que é necessário aumentar os salários dos médicos. “Temos de rever o quadro do nosso pessoal médico porque, de acordo com o actual regime, será difícil contratar médicos de alta qualidade.” Lares na China sem plano Alexis Tam foi à AL responder a uma interpelação escrita do deputado Si Ka Lon, que versava sobre os apoios à população idosa. O secretário adiantou que não há qualquer plano para a construção de lares de idosos na China, uma possibilidade que foi há tempos levantada. “No que toca aos trabalhos de construção de lares de idosos no interior da China, devido ao facto da aquisição de terrenos para o efeito ser a título oneroso, e como o método da sua utilização e o cálculo do preço carecem de um estudo bilateral pragmático, rigoroso e prudente entre Macau e Guangdong, actualmente não existe ainda uma proposta concreta nesse sentido”, apontou o secretário. O deputado Mak Soi Kun chegou a questionar Alexis Tam sobre a possibilidade de comprar terrenos em Zhuhai em hasta pública para esse efeito, mas o secretário apenas prometeu a construção de mais centros de saúde. “Em finais deste ano teremos mais dois centros de saúde, no início do próximo ano teremos mais um. Vamos tentar aumentar o número de camas até às 2400. As nossas políticas viradas para os idosos não são más e creio que no estrangeiro não há muitos países que tenham estes apoios”, concluiu o governante.
Andreia Sofia Silva PolíticaLei de Terras | Proprietários aplaudem intervenções na AL Representantes de 300 compradores do Pearl Horizon estiveram ontem na Assembleia Legislativa a aplaudir as intervenções dos deputados, em mais um longo debate sobre a Lei de Terras. Alguns deputados assumiram o erro na escolha do voto em 2013. O Governo continua a não querer rever a lei [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]erante cada palavra de apoio e de contestação ao Governo, havia uma chuva de aplausos. Foi assim em mais um debate da Assembleia Legislativa (AL) que obrigou membros do Executivo a dar novas explicações sobre a Lei de Terras. Representantes de 300 investidores de apartamentos do edifício Pearl Horizon estiveram na plateia e aplaudiram as intervenções dos deputados, uma por uma. Sem a presença do secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, coube a Alexis Tam e Sónia Chan, tutelares das pastas dos Assuntos Sociais e Cultura e Administração e Justiça, respectivamente, enfrentarem o batalhão de perguntas sobre o tema. O caso continua em tribunal e o Executivo não se compromete com uma mudança de fundo. “Se entendermos que há uma nova interpretação, podemos ajustar o rumo da nossa análise. O Governo não tem ainda a intenção de rever a lei em causa”, disse Sónia Chan. O deputado Leonel Alves voltou a alertar para o facto de a Administração ter emitido licenças de construção à Polytec, a concessionária do terreno, apesar do prazo de concessão estar prestes a terminar. “O Governo emitiu a licença de construção da obra. Muitos proprietários disseram que só compraram o apartamento [em regime de pré-venda] porque sabiam que o Governo tinha emitido a licença de construção, e aí pediram o empréstimo.” Para o deputado e advogado, é preciso fazer uma consulta alargada à população para que se chegue a um consenso. “O problema que enfrentamos é que o nosso regime tem problemas, está doente. Como podemos curar esta doença? Já existe um consenso bastante alargado, a não ser que o Governo esteja à espera da realização de um referendo sobre a matéria”, apontou. Numa altura em que a AL está prestes a concluir a análise às gravações da comissão permanente que estudou a lei na especialidade, Leonel Alves lembra que, em 2013, estava apenas em causa a falta de aproveitamento dos terrenos. “O Governo precisa de ouvir as gravações para dizer ao público qual era a intenção legislativa inicial porque, na altura, nenhum dos representantes do Executivo falou destes casos. O que estava em causa era apenas os terrenos desaproveitados”, disse. O terreno da STDM Os deputados Mak Soi Kun e Zheng Anting alertaram o Governo, através de interpelações orais, para a existência de problemas psicológicos e financeiros no seio das famílias que não conseguem pagar os empréstimos que pediram para comprar uma casa que nunca vão ter. Ainda assim, o Instituto de Acção Social não recebeu nenhum tipo de pedido para apoio psicológico. A maioria dos deputados disse lamentar a situação dos pequenos proprietários. “O Governo fica de mãos atadas e diz que vai esperar pela sentença do tribunal, e este é um problema social. Vamos esperar que os pequenos proprietários se suicidem?”, questionou o deputado Fong Chi Keong. Angela Leong, deputada e directora-executiva da Sociedade de Jogos de Macau, referiu ter pena dos que investiram as suas poupanças, mas não deixou de puxar a brasa à sua sardinha. “O terreno da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM) é uma realidade e não sei se devo falar [sobre ele]. Se for necessário posso dar uma opinião mais concreta junto da DSSOPT e da secretária [Sónia Chan]”, frisou. O terreno em causa foi um dos lotes recentemente revertidos para a Administração, por falta de aproveitamento. Perante a tragédia do presente, houve quem admitisse os erros do passado na hora da votação na especialidade da proposta de lei, há três anos. “Creio que cometemos um erro e votei de forma errada”, assumiu Cheung Lap Kwan. “Como vamos resolver o problema? Se o promotor [Polytec] perder em tribunal, temos de pensar como vamos indemnizar os pequenos proprietários”, defendeu. No tempo de Susana Chou O deputado Fong Chi Keong preferiu viajar na cápsula do tempo no que ao aproveitamento dos terrenos diz respeito. “Houve uma revisão da lei porque se verificou a existência de conluio entre privados e o Governo. No tempo de Susana Chou [ex-presidente da AL] dizia-se que os terrenos tinham sido concedidos a preço de saldo. O que vemos agora é uma situação injusta que envolve 300 proprietários”, adiantou. O deputado nomeado lançou também uma indirecta aos seus colegas de bancada. “Posso dizer que aquilo que os deputados disseram pode não coincidir com o que de facto pensam. Devemos ser honestos e razoáveis. Muitos colegas levantam o braço e estão sob pressão das associações. No tempo da governação portuguesa nunca houve situações destas, porque perante um erro os terrenos devem ser devolvidos. Se há troca de interesses, então apresentem as provas”, argumentou.