Hoje Macau SociedadeAnuário do D. José da Costa Nunes é lançado hoje A associação de pais do Costa Nunes apresenta hoje a terceira edição do anuário dos alunos do jardim-de-infância. Fátima Oliveira, a nova presidente da direcção, promete um trabalho de continuidade. E também atenção ao crescimento da escola, que traz alguns desafios [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] ideia é criar “um repositório de recordações”, tanto para os alunos, como para os pais e familiares das crianças relativamente ao período de passagem pelo jardim-de-infância. A terceira edição do anuário do Jardim-de-infância D. José da Costa Nunes é hoje apresentada. Diz respeito aos anos lectivos de 2013/2014 e 2014/2015, e é da responsabilidade da associação de pais do estabelecimento de ensino. Ao HM, Fátima Oliveira – que desde Janeiro passado é a presidente da associação – destaca a pertinência deste género de publicações. “O que se pretende é deixar fundamentalmente uma recordação do período de frequência do jardim-de-infância.” Numa terra com elevada mobilidade, este tipo de registo adquire maior significado. O anuário inclui dois textos. Um deles é da autoridade de Carmo Pires, educadora com muitos anos de experiência: “Dá-nos uma perspectiva da evolução que o jardim-de-infância tem tido”. O segundo escrito é o testemunho de um antigo aluno, André Ritchie, “sobre a sua experiência enquanto criança e, mais tarde, enquanto pai, uma vez que teve lá o seu filho”. Diz a presidente da associação de pais que se trata de “um testemunho também muito interessante que nos dá uma ideia de como era antigamente o jardim-de-infância”. Fátima Oliveira faz também uma referência especial ao facto de, a cada edição, o anuário contar com a colaboração de artistas de Macau, responsáveis pela capa. Depois de António Conceição Júnior e de Rui Rasquinho, o volume que é hoje apresentado tem a capa desenhada por Carlos Marreiros. A cerimónia de lançamento, agendada para o final da tarde, conta com a presença de Alexis Tam. “Sendo o secretário da tutela da educação, e tendo sempre defendido o bilinguismo e mostrado grande apoio pela língua portuguesa, convidámos o secretário para deixar algumas palavras no anuário. Há um pequeno texto” de Alexis Tam, conta a presidente da associação. “Contamos com a sua presença no sentido de reforçar a promoção da língua portuguesa, que também tentamos fazer”, acrescenta. “É o único jardim-de-infância de língua veicular portuguesa, pretende-se que se mantenha assim.” O desafio das línguas Na presidência da associação há pouco mais de três meses, Fátima Oliveira explica que, acima de tudo, trata-se de uma direcção de continuidade. “Faço parte da associação há três anos, fui vice-presidente, e assumi agora a presidência”, contextualiza. “Os desafios desta nova direcção são cooperar com a escola, mantermo-nos atentos e, sobretudo, lutar pela manutenção da qualidade do jardim-de-infância.” O principal desafio para a manutenção da qualidade tem que ver com a gestão do crescimento da escola, procurada cada vez mais por famílias de língua materna chinesa, e a capacidade de resposta do jardim-de-infância a crianças que não falam português. “A escola neste momento tem muitas crianças de língua materna chinesa e isso pode representar alguns desafios relativamente ao idioma e ao desenvolvimento do trabalho do jardim-de-infância”, observa Fátima Oliveira. “Esse, quanto a mim, será o maior desafio: garantir que a escola mantém a qualidade do ensino e que consegue lidar com o facto de ter muitas crianças que não dominam a língua portuguesa.” De resto, a associação pretende continuar com as actividades desenvolvidas até agora, com destaque para as levadas a cabo nas férias da Páscoa e do Verão. “Consideramos essencial criar actividades para as crianças. Nesta faixa etária, dos três aos cinco anos, não existe oferta em língua portuguesa”, diz. “Temos conseguido arranjar uma ocupação, de forma divertida, com muita variedade de actividades, que permite ocupar as crianças pelo menos uma parte do dia.”
Sofia Margarida Mota EventosNatália Gromicho, artista plástica: “Macau foi um sonho realizado” Depois de ter estado em Macau no ano passado, para uma exposição exclusivamente produzida com pinturas ao vivo inspiradas na Ásia, Natália Gromicho avança agora para o lançamento do seu primeiro livro. “Do Ocidente para o Oriente” é uma representação, na linguagem da artista, dos sítios por onde passou. O livro é apresentado a 25 de Maio em Lisboa O lançamento da obra “Do Ocidente para o Oriente” resulta de uma série de exposições que, por seu turno, deram origem a uma apresentação global no Museu do Oriente em Lisboa. Como surgiu a ideia de fazer este livro? O livro surge como um passo quase natural na sequência de um trabalho realizado ao longo de vários anos. As obras reúnem todas a influência oriental em que me inspirei na Índia, em Singapura, em Timor-Leste e no último destino por onde passei, Macau. Foi um conjunto de trabalhos cuidadosamente preparados e seleccionados, inicialmente para integrar a exposição do Museu do Oriente de Lisboa. Com o resultado conseguido, pensei que seria um trabalho merecedor de ser mostrado ao público através de um outro meio. Para isso, optei por um formato que nunca tinha utilizado antes, o do livro. O que vamos ver nesta edição? Tratando-se de uma primeira edição em livro, espero que consiga retratar, através da minha linguagem, algumas das obras que, penso, foram de maior relevo dentro do percurso a que chamo do Ocidente para o Oriente. É uma selecção criteriosa dentro do material que foi exposto. O que conta “Do Ocidente ao Oriente”? De que “viagens” fala ou que “viagens” quer contar? A minha ideia é que o leitor percorra as várias fases e influências que senti ao longo das viagens que fiz e experiências por que passei durante cerca de quatro anos. A distância que separa o Oriente do Ocidente foi a base de todo este projecto. É lá, longe, que se encontra uma cultura que considero extremamente vasta e muito rica. Tentei abordar aquilo que, para mim, fazia mais sentido e que me era mais querido. Do que mais admiro no Oriente e mais me tocou foi a noção de disciplina, o vestuário usado e a arquitectura também tão diversa. Espero que, de alguma forma, tenha conseguido homenagear de forma correcta algumas características destes povos que me serviram de inspiração. Mas tudo começa em Nova Deli, com o primeiro contacto a Oriente. “Humanidade” foi o nome da exposição onde apresentei obras já inspiradas em ambientes, monumentos e na própria cultura indiana. A ideia era já dar a minha interpretação do que senti. Depois veio Singapura. Penso que podemos considerar que Singapura representa a grande mudança da minha expressão plástica. Na prática, o que aconteceu foi o abolimento do traço e a incursão num expressionismo abstracto profundo. O objectivo é também levar o espectador a criar a sua própria linha de pensamento. Desta passagem em Singapura nasceram algumas das obras que considero mais icónicas e de maior relevo dentro do meu espólio. Penso que o contacto com aquela arquitectura teve também um papel fundamental e sinto-o como marcante. Os edifícios emergiam. Depois temos Timor Leste. É ainda uma presença constante no meu processo criativo, um lugar onde encontrei um povo extremamente inteligente e sensível. Pintar em Timor foi um grande desafio, principalmente para conseguir explicar o que me leva a pintar desta forma. Ali a pintura abstracta é uma forma de arte que os timorenses não contemplam. Macau é o marco de uma nova era, é o regresso à cor e à minha “Nova Linguagem Pictórica”. Foi em Macau que escolhi a produção em grande formato que até agora utilizo de forma permanente. É uma alteração radical da forma de comunicar com o público que se mantém. Macau foi um sonho realizado. Mas não fica por aí, além da minha grande admiração por Macau, que sentia já há muito, antes mesmo de ter tido oportunidade de cá estar. A exposição “Nova Linguagem Pictórica” representa também um novo início para mim: marca o começo de uma nova fase minha e da minha pintura. Por outro lado, coincidiu com uma data assinalável: os 20 anos de carreira. Juntando tudo, o livro pareceu-me uma boa forma para dar destaque a todo um conjunto de situações de relevo para mim. Começa com a obra “Lusíadas” e termina com “Torre de Macau”. Os “Lusíadas” é a minha homenagem a Luís Vaz de Camões, pai da língua portuguesa. Em que critérios se baseou para chegar à selecção final? Foram trabalhos cuidadosamente seleccionados de entre os trabalhos produzidos no período de 2012 a 2016. São “expressões” das minhas influências orientais. Tive em atenção que fosse uma abordagem global, desde trabalhos que foram exibidos em Nova Deli e em Singapura. Tive ainda em atenção o que produzi in loco, com as pinturas ao vivo que fiz em Díli ou aquando da minha passagem por Macau. Depois, e no Ocidente, está sempre Lisboa, a minha cidade. O que espera que o público veja neste livro? Espero que o público tenha contacto com a minha obra, com a minha linguagem, e que percorra o caminho que preparei para que o leitor sinta na pintura algumas das experiências que eu vivi, não só a Oriente, como a Ocidente.
Hoje Macau EventosJazz | Dia Internacional celebrado sábado na Casa Garden [dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] já este sábado que se celebra o Dia Internacional do Jazz com um concerto na Casa Garden, da Fundação Oriente. O evento começa às 20h30 com uma projecção de vídeo de alguns momentos do Concerto Global de comemoração da efeméride, que no ano passado decorreu em Washington, nos Estados Unidos. Segue-se um concerto, a partir das 21h30, com duas bandas da Associação de Promoção do Jazz de Macau, uma das organizadoras da iniciativa, juntamente com a Associação de Promoção de Actividades Culturais. A partir das 23h, há uma jam session, aberta a todos os músicos que queiram participar. O Dia Internacional do Jazz foi criado em 2011 pela UNESCO e celebra-se anualmente com um grande concerto, levado a cabo por artistas internacionais. Este ano o Global Concert terá lugar na cidade de Havana, em Cuba. O lema destas iniciativas é “Celebrar, Educar e Participar” e tem como objectivo mobilizar amantes da música e músicos num só sentido, para que a música estabeleça uma ligação entre todos.
Hoje Macau China / ÁsiaPyongyang em “ponto sem retorno” se fizer teste nuclear [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m jornal do Partido Comunista Chinês (PCC) advertiu ontem a Coreia do Norte de que vai entrar num “ponto sem retorno” se efectuar um novo teste nuclear, face à crescente tensão com Washington. “Se a Coreia do Norte realizar o sexto teste nuclear, como se espera, o mais provável é que a situação chegue a um ponto sem retorno”, avisou o Global Times, jornal de língua inglesa do grupo do Diário do Povo, o órgão central do PCC. Os Estados Unidos ameaçaram já lançar um ataque preventivo, em resposta ao programa nuclear do regime de Kim Jong-un. Todas as partes “assumirão as consequências”, mas será Pyongyang a “sofrer as maiores perdas”, considerou o Global Times, um dia depois do Presidente chinês, Xi Jinping, pedir contenção ao homólogo norte-americano, Donald Trump. O jornal alertou ainda Pyongyang para “sanções sem precedentes” da ONU e um ataque lançado por Washington contra instalações militares e nucleares norte-coreanas, que vão forçar o país a “tomar uma decisão de vida ou morte”. “A última coisa que a China quer ver” é a Coreia do Norte nesta circunstância ou o início de uma guerra, sublinhou o jornal, que destacou a “influência limitada” de Pequim sobre o país vizinho. Missão impossível “Washington espera que Pequim contenha Pyongyang (…), como se isso fosse assim tão fácil, como dizer ‘abracadabra’. A Coreia do Norte, por outro lado, espera que a China pressione os Estados Unidos e a Coreia do Sul, para que detenham as ameaças de guerra. Pequim não pode satisfazer ambos”, escreveu. O jornal aconselhou o regime norte-coreano a “ser flexível” neste momento, louvando o desenvolvimento independente após a Guerra da Coreia (1950-53) e a soberania do país, “muito maior” do que a do vizinho do Sul. “Dar um pequeno passo atrás facilitará a solução do conflito. Isso não significa ser cobarde, mas sim valente para enfrentar o desafio de maneira diferente”, considerou.
João Paulo Cotrim h | Artes, Letras e IdeiasDesacertos na recta do tempo Santa Bárbara, 16 Abril [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] silêncio de um editor é sempre ofensa, falta de consideração, desrespeito, desatenção. De Profundis, diz o outro. «Não quero martelo e rima/Aqui no Largo da Graça/Quero ficar onde estou/para saudar a quem passa.» Horta Seca, Lisboa, 18 Abril Os dias andam tristes. Talvez nem tanto, apenas embrulhados em circunstâncias miúdas que não permitem abrir os braços e acolher de peito feito a cidade. Eis se não quando uma dúzia de páginas tintadas de azul e vermelho chegam pelo correio e impõem paragens. A história breve de uma solidão faz-se desdobrar por Bárbara R. em grandes planos e geometrismos e desacertos neste pequeno álbum auto-editado. O Sol da Sra. Azul celebra a vizinhança, a atenção ao outro, com simplicidade extrema. Detalhe: fá-lo assente na imperfeição. A impressão riso deste meu exemplar 51 em 90 torna-o único e não me canso de nele descobrir pormenores: de gente, de casas, de percursos. A gentileza de Bárbara deu-me a ver os velhos que ainda cruzam as ruas da cidade dos turistas cegos. Sim, ainda há velhos em Lisboa. Não sei se há sol ou Primavera. Monumental, Lisboa, 19 Abril Autismo, do mano Valério, dobra os 1500 exemplares em três anos bem medidos e atira-se em segunda edição. As sobras no armazém parecem desmenti-lo, mas há leitores para romances assim. De choque, dizem alguns. De rasgo, digo eu. Horta Seca, Lisboa, 20 Abril Faz 30 anos que Rui Baião, Al Berto e o mesmo Paulo da Costa Domingos, que passa a deixar-me prova de vida da frenesi, agora em edição viúva (!), cozinharam antologia que daria brado: Sião. Escolhas pessoalíssimas, a reinventar-se poema único de fôlego capaz de estabelecer correspondências íntimas de Antero a Fernando Luís Sampaio. «Nenhum detém uma ciência, sequer empírica, dos destinos da Poesia. Nenhum propôs a outrem cânone que não constituísse já a sua coluna vertebral e fado seu, irreversível». Palavras do ímpar editor, noutra ocasião comemorativa, de 1991, e que agora revela, entre outras mais ou menos provocatórias na brochura Sião – Doc. Interno, publicada a pretexto da exposição que comemora, na associação cultural do Porto, Sismógrafo, as tais três décadas da Sião. E que celebrava «o centro urbano, as sociedades nocturnas, pessimistas, decadentistas e que se afastavam da escrita agrária, bucólica do século XIX.» Numa altura em que surgem editoras como cogumelos, mesmos nos dias em que não chove, incautas que julgam que para editar basta imprimir livros, as reflexões suscitadas pelas dezenas de títulos postos a nu no chão ao longo da parede são de extrema importância. Contra o esquecimento, pela afirmação de uma ética. Uma editora faz-se, antes de mais, lugar de resistência pela reflexão, contra a vida, apesar dela, em nome de uma ideia de literatura que nos desarruma, que investe língua adentro, que experimenta, que pensa cada aspecto do não. O logótipo da faz-se «de um cabrito alado em silhueta, e era originalmente a asa de um recipiente persa, em ouro, talvez um jarro». A espiral foi inscrita pelo Paulo Costa Domingos e não deixou ainda de girar sobre si. A palavra vem de verso de Mário de Sá-Carneiro: «Um frenesi hialino arripiou/Pra sempre a minha carne e a minha vida.» A frenesi arrepiou. A frenesi arrepia. Basta subir, página a página, à última cidade do Armagedão. Casa da Cultura, Setúbal, 21 Abril E 30 anos passaram desde a morte do Zeca. Quantas décadas contém cada canção sua? As granadas de mão estão cheias de referências, supostas impurezas, nomes concretos, de lugares exactos, insultos dirigidos, asneiras de criar bicho, múltiplos sinais do seu tempo, que só tolos acharão passados pois são afinal palmos de terra sobre os quais se erguem cabanas, lares, fortalezas. Sopram nelas ventos que confluem em espiral, forças de assombrar futuros. Olha ele a cantar-me ao ouvido: «a fadiga é um dom da natureza/ Chiça!/ Com as minhas tamanquinhas/Com as minhas/ Com as minhas tamanquinhas/ P’ra quem não faz fortuna/ Mata as penas e faz covinhas». Desconfio, não tenho certezas, aprendi com ele a world music ou que o surrealismo era redondo vocábulo e isto de viver uma soma agreste. Utilidades, portanto. «Era um redondo vocábulo /uma soma agreste/revelavam-se ondas/em maninhos dedos/polpas seus cabelos/resíduos de lar». Onde andam os vinis da minha infância a querer-se outra coisa? Mas Quem Vencer Esta Meta Que Diga Se a Linha é Recta comemora estes anos todos, os dele feitos meus. O mano José Teófilo [Duarte], que fez dele boa causa, comemorou o design na obra do José Afonso a partir da arte de José Santa-Bárbara, José Brandão, João de Azevedo, Alberto Lopes, produtores das imagens que me forram a memória. Venham mais cinco será o meu preferido? Ou antes Com as minhas tamanquinhas? Onde rodam os discos da minha infância pouco farta, mas rica? Conheci há pouco um velho amigo, o João Azevedo, que traz perfumes das quatro partidas do mundo, sendo nele mais intenso o de Moçambique, que por um triz não visito agora. As linhas não são todas rectas. O João vem de celebrar 50 anos de pinturas, em boa companhia de mais três nados na Figueira da Foz de costas para terra. Folheio o testemunho impresso, passeio pelas cores, pelos rostos. Invisto tempo nos Ícaros, divertem-me os crocodilos, céu apesar de quedas, horizontes que mordem. Pinta agora barcos apinhados de gente, refugiados. Parecem farpas as suas cores. Mas há sempre rostos, quase gritos. «A formiga no carreiro/andava à roda da vida/caiu em cima/de uma espinhela caída.» Mudemos de rumo.
Julie Oyang h | Artes, Letras e IdeiasProtejam a moral chinesa tradicional 中国高校现反同性恋横幅 [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]a semana passada, duas estudantes da província de Hubei provocaram uma onda de protestos no campus universitário, e também online, no seguimento de se ter tornado viral nos media chineses uma foto de ambas a segurarem uma faixa com conteúdos homofóbicos. A faixa dizia: “Protejam a moral chinesa tradicional. Defendam os valores centrais do socialismo. Resistam à corrosão provocada pelo decadente pensamento ocidental. Mantenham a homossexualidade fora do campus.” A foto foi tirada junto às linhas laterais de um campo de basquetebol, durante um torneio que se realizou na Universidade de Ciência e Tecnologia de Huazhong, em Wuhan (HUST- sigla em inglês). O treinador da equipa feminina de basquetebol, que tirou a fotografia, postou: “Este é desejo do público que eu trago sempre no coração.” Uma das mulheres fotografadas escreveu: “O basquetebol feminino era um desastre em termos de homossexualidade. Mas depois das reformas e de uma educação positiva, restam muito poucas lésbicas nas nossas equipas.” A HUST, situada na China central, é conhecida por ter uma atitude relativamente acolhedora em relação aos homossexuais. Os estudantes exibem bandeiras com o arco-íris nas cerimónias de graduação e a escola promove eventos em que estão representados autores e artistas homossexuais. Até 1997 a China considerava a homossexualidade um crime. Mas nos últimos anos o país foi ficando gradualmente mais tolerante em relação a estas questões. Este incidente desencadeou uma discussão alargada sobre a discriminação nas escolas chinesas contra estudantes homossexuais, bissexuais e transgénero. Mas qual é exactamente a “moral chinesa tradicional” que as jogadoras de basquetebol querem proteger? Companheira perfumada《怜香伴》é uma peça de Li Yu, escrita em 1651. A peça conta a história de Cui Jianyun, mulher de Fan Jiefu, um homem erudito. Madame Cui tinha ido ao templo queimar incenso para os deuses, logo a seguir ao seu regresso da lua de mel. No templo conheceu Cao Yuhua, filha de Lord Cao, dois anos mais nova do que ela. Cui sentiu-se imediatamente atraída pelo invulgar perfume de Cao. Cao sentiu-se atraída pelo talento poético de Cui. Apaixonaram-se e juraram que na próxima vida seriam marido e mulher. De forma a poderem viver juntas, Cui persuadiu o marido a enviar uma casamenteira a casa de Lord Cao, para, em seu nome, pedir a filha em casamento como segunda mulher. Lord Cao ficou enraivecido com a ideia de a filha se vir a tornar uma mera concubina. Expulsou a casamenteira e partiu imediatamente para a capital com Cao. Depois de inúmeras voltas e reviravoltas, Cui Jianyun e Cao Yuhua conseguem finalmente reunir-se. No final, o rei dá permissão a Mestre Fan de tomar as duas por legítimas esposas. Li Yu (李渔1610–1680 DC), também conhecido por Li Liweng, foi dramaturgo, romancista e editor. É o presumível autor de Tapete da Oração Carnal (肉蒲團), uma comédia bem arquitectada e um clássico da literatura erótica. Nos seus contos abordou o tema do amor entre pessoas do mesmo sexo. Li Yu foi muito lido e apreciado pela ousadia com que tratava este tema inovador. As estradas da vida são muitas vezes distorcidas ou desmanteladas por pessoas que querem decidir que caminhos elas devem trilhar. Lamentável.
Fa Seong A Canhota VozesUm “elefante branco” sempre problemático [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] metro ligeiro tornou-se um alvo de crítica por parte dos políticos, um motivo de piada nas conversas dos cidadãos, e uma ironia que reflecte o desempenho do Governo. Depois de tantas prorrogações de prazos e derrapagens orçamentais, podemos finalmente ver que o segmento da Taipa está a ganhar forma. Ainda assim, duvido se este “elefante branco”, que já gerou despesas na ordem das 11 mil milhões de patacas, possa efectivamente começar a circular daqui a dois anos, como está previsto. Mesmo que esta meta seja cumprida, percebemos que o funcionamento deste sistema de transporte poderá representar um grande encargo financeiro. Pelo que percebi das explicações do Governo sobre a proposta de lei do sistema de transporte de metro ligeiro, cuja consulta pública acabou de terminar neste mês, nas estações do metro não estão reservados espaços para o funcionamento de restaurantes, cafés ou lojas de retalho. Isso significa que o Governo ou a empresa gestora só poderá obter receitas através da publicidade e das tarifas cobradas aos passageiros, e já foi dito que os preços dos bilhetes serão baixos. O secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, afirmou que os custos do funcionamento do metro ligeiro não são baixos, então deve estar preparado para suportá-los. Não me parece adequado que as estações do futuro metro ligeiro sirvam apenas para a chegada e partida das carruagens, pois essa não é a prática comum de muitos países. Nas estações de metro de todo o mundo há lojas de roupas e restaurantes, espaços onde se vende artesanato ou com mostras culturais. A justificação até pode ser o facto dos espaços serem reduzidos, mas não acredito que nas estações não caibam diversas lojas. Isso poderia ajudar à diversificação do turismo e dos visitantes que apanham o metro. Poderia ainda facilitar à concretização de outro tipo de negócios e, através disso, o Governo poderia ganhar receitas. O metro ligeiro representa sempre problemas e preocupações. Mas, ao menos, já podemos imaginar a realidade de ver o metro ligeiro a funcionar na Taipa. Acontece que, quando perguntamos ao Governo qual será o funcionamento do sistema de transporte em concreto, a resposta é sempre que é cedo para discutir o assunto. É difícil não duvidar da forma como vai ser gerido este gigante das obras públicas. Faltam apenas dois anos para que a primeira linha de metro ligeiro funcione em Macau, mas se olharmos para os procedimentos administrativos que faltam concluir, parece-me que uma discussão concreta sobre a sua operacionalização deveria ser feita já. O Executivo não está a ter a percepção da velocidade do projecto. No ano de 2019 termina o mandato do actual Chefe do Executivo e dos cinco secretários, incluindo o de Raimundo do Rosário. Este já afirmou que não quer continuar no cargo. Se os trabalhos relacionados com o metro ligeiro não ficarem definidos dentro deste mandato, é preocupante pensar que o funcionamento deste meio de transporte possa mais uma vez ficar afectado devido à mudança de Executivo. Terminou a consulta pública, e já sabemos que, novidades, só depois do Governo terminar a análise das opiniões e a elaboração do respectivo relatório.
Andreia Sofia Silva Ócios & Negócios PessoasSarah Henna Macau | Traços de felicidade Sarah Leong despertou para as tatuagens feitas com henna há cerca de cinco anos e, desde então, é esta actividade que ocupa os seus dias. Faz tatuagens a pedido para vários eventos e clientes, e também organiza workshops. Para Sarah, desenhar com henna representa mais do que uma simples expressão cultural [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s tatuagens feitas com henna já se popularizaram um pouco por todo o mundo, sendo um dos símbolos que mais facilmente é reconhecido como fazendo parte da cultura indiana. Henna é um pó que vem das cascas de árvores e que serve não apenas para fazer tatuagens indolores, podendo ser utilizado em produtos de beleza e roupas. Sarah Leong apaixonou-se quase de imediato por este produto, tendo desenvolvido as suas técnicas de forma espontânea. Hoje gere a actividade através da sua página de Facebook, intitulada “Sarah’s Henna Macau”, aceita os mais diversos pedidos dos clientes e também é mentora de workshops que ensinam outras pessoas a desenhar com henna, seja no corpo ou em objectos. Ainda assim, Sarah diz que aquilo que faz não é um negócio. “Quando comecei só queria partilhar o meu trabalho através do Facebook, e nada mais, por forma a mostrar a cultura de henna às pessoas de Macau. Isto porque o mais importante do trabalho com henna é fazer com que mais pessoas conheçam este tipo de arte. Macau é o local ideal para que existam diversas culturas”, explicou ao HM. A primeira vez que Sarah tentou fazer um desenho deste tipo recorreu a um eyeliner, utilizado para realizar a maquilhagem comum. Mas depressa começou a experimentar os instrumentos tradicionais. “Comecei a desenhar com henna em 2012 mas, nessa altura, desenhava com uma caneta de eyeliner e ajudava a fazer maquilhagens para dançarinos. Eu própria sou dançarina de Bollywood e sempre tive um interesse pelos elementos da cultura indiana.” Nessa altura, fazer desenhos com henna era apenas um divertimento. Até que, um ano depois, tudo mudou. “Em 2013, tive a oportunidade de fazer um curso de henna em Macau e foi a primeira vez que fiz trabalhos com um cone [um dos materiais utilizados para fazer as pinturas]. Ainda me lembro de como estava entusiasmada com isso e, depois de três horas de aula, comecei a praticar sozinha”, recordou. “Foi bom ter conseguido um logótipo, então criei a minha página, mas apenas por divertimento. Mas depois os meus amigos incentivaram-me a desenvolver mais os trabalhos de henna e a começar, de facto, um negócio. As pessoas começaram a descobrir que desenhava com henna e aí comecei a criar produtos diferentes com padrões”, apontou. Uma forma de meditação Sarah é provavelmente uma das poucas pessoas em Macau que faz este tipo de trabalho. A ideia é sempre alargar horizontes e conhecimentos nesta área. “Tento conhecer diferentes artistas que trabalham com henna em Taiwan ou em Hong Kong. Através da henna posso também conhecer várias pessoas e ouvir as suas histórias. Todas essas coisas fizeram-me começar a trabalhar com henna”, contou. Para a artista, este não é um simples trabalho artístico, mas sim algo que mexe com a mente. “A henna não tem apenas a ver com cultura e arte. Quando seguro um cone é, para mim, uma altura em que me sinto relaxada, então considero a henna como a minha forma de meditação. É por isso que eu gosto tanto de henna, e sinto que desenhar faz parte do meu corpo e da minha vida.” O grande conceito por detrás de uma tatuagem feita com henna é a busca da felicidade. Sarah faz todo o tipo de padrões, consoante aquilo que o cliente procura. “Cada vez que falo com um cliente discutimos no sentido de encontrar o melhor padrão. Claro que também aceito algumas ideias prévias e muitas vezes crio um padrão só para essa pessoa. Digo sempre que, se as pessoas acreditam no meu trabalho, então vêm ter comigo. Mas, com base na cultura indiana, desenho na maioria flores, folhas… Tem tudo que ver com a natureza e sempre com uma ligação ao estilo indiano”, explicou a artista. Tratando-se de um tipo de tatuagem que não causa dor, ao contrário das tatuagens normais, Sarah garante que “as pessoas podem escolher padrões diferentes e ter sensações diferentes”. “A henna não é apenas para os casamentos e coisas mais tradicionais, mas também pode ser utilizada em moda e por pessoas que gostam de tatuagens de forma temporária”, disse a artista. “Há pessoas que gostam de ter uma tatuagem antes de irem de férias e essa tatuagem pode fazer das suas férias algo diferente. Nesse período de tempo, sentem como se tivessem uma tatuagem verdadeira”, concluiu.
Sérgio Fonseca DesportoAutomobilismo | Filipe Souza obtém segundo lugar na TCR Asia Series [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]ilipe Clemente Souza regressou no fim-de-semana ao campeonato TCR Asia Series e obteve um espectacular segundo lugar na segunda corrida do fim-de-semana. Aproveitando a passagem do campeonato pelo Circuito Internacional de Zhuhai, Souza juntou-se à Son Veng Racing Team e alinhou à partida com um Volkswagen Golf GTi da equipa do território, preparando assim o que irá ser a sua temporada de 2017, cujos planos finais ainda estão por divulgar, mas que giram na órbita deste tipo de viaturas de turismo. Apesar de ter testado um Audi R8 LMS Cup do troféu monomarca asiático no defeso, Souza deverá continuar a competir nas provas de carros de turismo esta temporada, tanto além fronteiras, como no Campeonato de Carros de Turismo de Macau (MTCS). Na primeira corrida do TCR Asia Series no traçado de Zhuhai, o piloto inscrito pela Macau David Racing Team partiu do 7º posto da grelha de partida e terminou na mesma posição. Numa corrida disputada ainda com a pista seca, venceu o Audi RS 3 LMS pilotado pelo jovem Jasper Thong de Hong Kong e da equipa Phoenix Racing Asia, cujo o engenheiro de pista é o macaense Duarte Alves. Na segunda contenda, Souza partiu no segundo lugar da grelha de partida, mas um arranque pouco inspirado atirou-o para o oitavo lugar ainda na primeira curva. Com a pista molhada e catorze voltas para cumprir, Souza fez uma recuperação notável, chegando até ao segundo posto. O bi-campeão do “AAMC Challenge” ainda se aproximou nas derradeiras voltas do líder e vencedor da corrida, o tailandês Tin Sritrai, em Honda Civic, mas uma ligeira saída de pista na penúltima volta quase deitava tudo a perder. “Que corrida…foi uma daquelas corridas memoráveis. Obrigado à Son Veng Racing Team pelo serviço e à Macau David Group e Sniper Capital por terem tornado isto possível”, disse no final da corrida um visivelmente satisfeito Souza. A próxima prova do TCR Asia Series volta a ser realizada em Zhuhai, no mês de Maio, mas Souza ainda não sabe se participa, pois é algo que “depende do orçamento disponível”. Em pista, também a representar a RAEM, esteve também Liu Lic Kai, que neste evento contou com a ajuda do piloto de Macau Rodolfo Ávila para encontrar as melhores afinações da sua viatura, após as dificuldades encontradas na primeira prova do campeonato realizada no mês passado na Malásia. Aos comandos de um SEAT Leon TCR preparado pela equipa Elegant Racing, Liu foi 8º classificado na primeira corrida, após ter arrancado do 10º lugar entre catorze participantes. Na segunda corrida Liu desistiu com problemas de falta de pressão de gasolina no carro espanhol logo na segunda volta. Vitórias na F4 Filipe Souza não foi o único piloto de Macau a subir ao pódio em Zhuhai este fim-de-semana. Leong Hon Chio venceu duas das três corridas da jornada de abertura do Campeonato da China de Fórmula 4. O piloto de 15 anos da RAEM, que lidera o Campeonato Asiático de Fórmula Renault 2.0, diz que “ainda não sabe” se fará esta temporada mais provas desta categoria de monolugares apoiada pelo gigante da indústria automóvel chinesa Geely, porque “a corrida de Fórmula 4 em Xangai coincide com uma prova do asiático de Fórmula Renault”.
Hoje Macau China / Ásia MancheteCoreia do Norte | China pede contenção aos Estados Unidos [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Presidente Xi Jinping apelou a “contenção” sobre a questão norte-coreana durante uma conversa ao telefone com o homólogo norte-americano, Donald Trump. A troca de impressões, mantida ontem de manhã, acontece numa altura em que um contingente de navios militares, liderado pelo porta-aviões Carl Vinson, anda em águas asiáticas. O telefonema foi feito com uma preocupação crescente em mente: teme-se que Pyongyang leve a cabo outro ensaio nuclear ou um teste com mísseis para assinar o 85.o aniversário da fundação do Exército Popular Coreano. A efeméride assinala-se hoje. A China “espera que as partes envolvidas possam manter a contenção e evitar acções que possam aumentar a tensão na Península Coreana”, disse Xi Jinping, citado por um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros. “A única forma de concretizar a desnuclearização da Península Coreana e de resolver rapidamente o problema nuclear da Coreia do Norte é se cada parte envolvida cumprir totalmente os seus deveres”, continuou o Presidente chinês. Foi a segunda conversa ao telefone entre os dois líderes desde o encontro no resort de luxo de Donald Trump, na Florida, no início deste mês. A conversa tinha sido previamente marcada e, dizem as agências internacionais de notícias, partiu da iniciativa do Presidente dos Estados Unidos. O pedido de Pequim em relação à necessidade de moderação por parte de Washington surge depois de, no sábado passado, o vice-presidente norte-americano Mike Spence ter anunciado que o porta-aviões Carl Vinson iria chegar, “numa questão de dias”, ao Mar do Japão, perto da Península Coreana. No domingo, o Carl Vinson juntou-se a outros navios de guerra para exercícios militares conjuntos com o Japão, no Mar das Filipinas. Mike Pence aproveitou ainda para reiterar os pedidos feitos a Pequim – o único grande aliado e o maior parceiro comercial de Pyongyang” – para que utilize a sua “posição única” para obrigar o regime de Kim Jong-un a ceder nas suas pretensões nucleares. “São recebidos com muito agrado os passos que temos visto a China dar, passos sem precedentes em muitas formas, aumentando a pressão económica na Coreia do Norte”, afirmou ainda o vice-presidente. “Acreditamos que a China pode fazer mais”, acrescentou. Em Fevereiro, a China anunciou que ia suspender todas as importações de carvão da Coreia do Norte – uma fonte de rendimentos essencial para Pyongyang – até ao final do ano. Pequim deixou ainda o aviso, já este mês, que um conflito com o regime de Kim Jong-un poderia rebentar “a qualquer momento”, numa altura em que Pyongyang ameaçava com uma resposta “sem misericórdia” a qualquer acção militar norte-americana. Varrer com eles A Coreia do Norte tem aumentado as ameaças nas últimas semanas, já depois do falhado teste de um míssil que coincidiu com o 105.o aniversário do nascimento do fundador do país, Kim Il-sung. Um recente artigo difundido pela agência oficial norte-coreana KCNA acusa Pequim de ceder às pressões de Washington, advertindo que a postura chinesa poderá ter “consequências catastróficas”. Um site oficial norte-coreano advertiu os Estados Unidos de que serão “varridos da face da Terra” se desencadearem uma guerra na península. Numa série de editoriais, o jornal Rodong Sinmun, porta-voz do partido único no poder, explica que as forças norte-coreanas não estão impressionadas com a chegada iminente do porta-aviões norte-americano, que constitui “uma chantagem militar sem disfarces”. As forças norte-coreanas estão prontas para “afundar o porta-aviões nuclear norte-americano com um único ataque”, escreveu o jornal. O site de propaganda Uriminzokkiri considera que o envio do Carl Vinson é uma declaração de guerra. “É a prova de que uma invasão da Coreia do Norte fica mais próxima todos os dias”, referiu. Num editorial apresentado como tendo sido escrito por um oficial do exército, o site alerta Washington para não confundir a Coreia do Norte com a Síria, que não lançou um “contra-ataque imediato” após um ataque dos Estados Unidos a uma base aérea síria no início do mês. Em caso de ataque à Coreia do Norte, “o mundo verá como os porta-aviões inconscientes de Washington são reduzidos a pedaços de aço e naufragam e como um país chamado América é varrido da face da Terra”, ameaça. Mike Pence, que terminou uma viagem à região, declarou, como outros responsáveis norte-americanos, que face às ambições nucleares norte-coreanas “todas as opções estão sobre a mesa”, incluindo a militar. Arigato a Trump Antes da conversa com Xi Jinping, Donald Trump esteve ao telefone com o primeiro-ministro nipónico, Shinzo Abe. O tema da conversa foi o exercício militar conjunto em que participa o porta-aviões Carl Vinson e a Força Marítima de Auto-Defesa do Japão. “Disse-lhe que apreciamos muito as palavras e as acções dos Estados Unidos, que demonstram que todas as opções estão em cima da mesa”, disse o chefe de Governo aos jornalistas. “Concordamos totalmente com esta exigência de forte contenção por parte da Coreia do Norte que tem, reiteradamente, agido de forma provocatória e perigosa”, acrescentou Shinzo Abe. A demonstração da força naval nipónica reflecte a preocupação crescente de um ataque da Coreia do Norte. Alguns deputados do partido do poder em Tóquio pediram já ao primeiro-ministro que compre armamento capaz de lidar com os mísseis norte-coreanos, temendo um ataque iminente. A frota naval militar japonesa é a segunda maior da Ásia, logo a seguir à da China, mas é sobretudo constituída por contratorpedeiros. A imprensa japonesa tem dado conta de um receio da população em relação a um ataque nuclear da Coreia do Norte na região, que se tem traduzido na procura de abrigos nucleares e na compra de purificadores de ar capazes de bloquear as radiações. Grupo de norte-coreanos em risco de repatriamento Oito norte-coreanos que fugiram do país arriscam-se a serem repatriados depois de terem sido detidos, no mês passado, pela polícia chinesa. A denúncia foi feita ontem pelo grupo Human Rights Watch (HRW), que tem estado a ajudar os desertores. A organização não-governamental explica que as autoridades da China detiveram os oito norte-coreanos em meados de Março, durante uma operação de rotina numa estrada do nordeste do país. A detenção do grupo acontece numa altura em que o Presidente dos Estados Unidos tem estado a pressionar Pequim para que aja de forma mais activa em relação a Pyongyang, por entre um clima de tensão em torno das intenções nucleares norte-coreanas. “Temos, neste momento, muitos relatos de sobreviventes que indicam que a administração de Kim Jong-un persegue aqueles que são obrigados a regressar à Coreia do Norte depois de terem partido ilegalmente. São sujeitos a tortura, violência sexual e trabalhos forçados – e ainda a pior”, afirmou em comunicado o vice-director para a Ásia da HRW. Phil Robertson pede à China que não repatrie os desertores. As Nações Unidas já condenaram o facto de Pequim recambiar os norte-coreanos que são encontrados em território chinês, alertando para o facto de o Governo Central estar a cometer uma violação da legislação internacional. A China contra-argumenta alegando que os desertores norte-coreanos são imigrantes ilegais que fugiram do país de origem por razões de natureza económica. Já a Coreia do Norte diz que se trata de criminosos e chama sequestradores a quem os ajuda a chegar à Coreia do Sul. Apelo aos Presidentes Os oito norte-coreanos em risco de repatriamento estavam na cidade de Shenyang, onde a polícia de trânsito os encontrou. Foram levados para a esquadra por não terem documentação válida. Um pastor cristão que ajuda desertores da Coreia do Norte na China – e que pediu à Reuters para ser identificado pelo pseudónimo Stephan Kim – contou que os homens lhe enviaram um vídeo em que pedem ajuda ao Presidente norte-americano Donald Trump e ao homólogo chinês Xi Jinping. O vídeo mostra o grupo dentro de um veículo, à porta de uma esquadra da polícia chinesa. São muitos os norte-coreanos que, todos os anos, tentam fugir do país natal. Porque a fronteira com o Sul é a mais protegida do mundo, a fuga faz-se, por norma, através da China, passando por outros países do Sudeste Asiático até chegar à Coreia do Sul. Cerca de 30 mil conseguiram chegar a Seul, muitos com a ajuda de grupos de direitos humanos sul-coreanos, de organizações religiosas e até de empresários.
Sofia Margarida Mota PolíticaNg Kuok Cheong | Terrenos devem ser estudados e planeado com antecedência [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] deputado Ng Kuok Cheong defende um trabalho interdepartamental prévio ao retorno de terrenos, para que possa ser feita uma avaliação das suas condições, caso sejam destinados à construção de habitação pública. O objectivo, afirma, é evitar as grandes perdas de tempo dedicadas a estudos de viabilidade focados essencialmente em questões ambientais e de tráfego. Em causa, e como exemplo, o deputado faz referência ao caso da Avenida Wai Long, os terrenos que estavam destinados ao La Scala. O projecto de construção de habitação pública previsto para aquela zona tem sido alvo de críticas, nomeadamente relacionadas com a falta de condições ambientais e de tráfego. “Recentemente, o Executivo deu a conhecer o plano para a construção de oito mil fracções de habitação pública na Avenida Wai Long, mas há residentes que têm mostrado reservas”, lê-se na interpelação de Ng Kuok Cheong. No que respeita ao ambiente, as principais preocupações estão relacionadas com a proximidade à central de incineração e ao aeroporto. De acordo com o deputado, estas questões não têm sido devidamente respondidas pelo Executivo. Antes de construir, avaliar É baseado nesta premissa que Ng Kuok Cheong considera que não basta dar a construção de habitação pública como prioridade para o aproveitamento dos terrenos que vão voltando para as mãos do Governo. É necessário, afirma, proceder à realização de estudos, avaliações e planeamentos que tenham em conta, antes do final do processo jurídico de recuperação de terras, as condições que têm e as medidas que devem ser tomadas, para que sejam devidamente aproveitadas para habitação social. Para o efeito, deve existir cooperação entre as várias entidades governamentais envolvidas. O deputado pretende ainda saber se o Governo tem realizado uma fiscalização e uma avaliação, de forma contínua, da qualidade do ar na zona de Wai Long tendo em conta o funcionamento da central de incineração, e da poluição sonora causada pelo movimento no aeroporto.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaHabitação | Caso das casas económicas entregue ao CCAC [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]erca de centena e meia de famílias estavam prestes a assinar as escrituras das casas económicas que já habitam em Seac Pai Van, mas o destino mudou-lhe as voltas. O Instituto de Habitação (IH) alega que as condições com as quais se candidataram à habitação pública, em 2004, mudaram, pelo que não poderão ficar com os apartamentos. O deputado José Pereira Coutinho conta que recebeu o caso no seu gabinete de atendimento e reúne-se hoje com o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, para debater o assunto. Além disso, o caso já foi entregue ao Comissariado contra a Corrupção (CCAC), adiantou o deputado ao HM. “Encaminhámos dezenas de queixosos que vieram ao gabinete de atendimento para o CCAC. Não vamos deixar este assunto acabar. Temos uma reunião agendada com o secretário”, explicou o deputado. No encontro, marcado para hoje, vai estar também presente o presidente do IH, Arnaldo Santos, que inicialmente tinha dito ao deputado que “não tinha tempo” para o atender. Coutinho refere-se ao caso como sendo “uma tamanha irresponsabilidade” da parte do Governo. “É centena e meia de requerentes de fracções económicas. Em 2003 ou 2004, as pessoas declararam o seu agregado familiar, cumpriram os requisitos, submeteram os pedidos. Em 2007 ou 2008 foram chamados para escolher as casas, foram entregues as chaves, assinaram os contratos-promessa [de compra e venda].” Entretanto, tudo mudou este ano. “Com as casas já decoradas, eis que as pessoas recebem uma carta do IH a dizer que a escritura não vai ser assinada porque o seu agregado familiar mudou, porque receberam heranças, porque estão em uniões de facto”, contextualiza. “Isto é de uma tamanha irresponsabilidade dos dirigentes máximos do IH. Querem que os requerentes cumpram o celibato até à assinatura da escritura? É inconcebível”, acusou o deputado. Exigido cumprimento da lei O deputado Ng Kuok Cheong também abordou este assunto na última edição do Fórum Macau, tendo defendido que os problemas ocorridos no processo de candidatura devem ser revelados aos candidatos nessa altura e não numa fase posterior. Segundo a imprensa chinesa, o deputado referiu ainda que a lei de habitação económica já define os casos de exclusão dos candidatos. Contudo, Ng Kuok Cheong acredita que, nesta caso, a maioria dos lesados não terá prestado falsas declarações. Ng Kuok Cheong disse ainda que as alterações do agregado familiar ocorridas após a obtenção da casa económica não devem constituir motivo para o cancelamento da escritura. O deputado pede, por isso, que se respeite o conteúdo da lei da habitação económica, ao invés de se alterarem subitamente os critérios.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaCCAC | Instituto Cultural propõe modelo provisório a Alexis Tam [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC) apresentou ontem as conclusões do relatório interno sobre o caso dos funcionários contratados sem concurso público e apenas com base no regime de aquisição de bens e serviços, uma situação denunciada pelo Comissariado contra a Corrupção (CCAC). Para resolver a situação dos 94 funcionários envolvidos nesta questão, o IC vai propor um modelo provisório ao secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam. O modelo passa pela assinatura de contratos individuais de trabalho com alguns desses trabalhadores, sendo que, até final do ano, todos eles deixarão de prestar serviços ao IC. “De um total de 94 pessoas, temos actualmente 82 recrutadas desta forma. Para não prejudicar o funcionamento dos serviços, elaborámos uma proposta de acordo com o regime de contrato de trabalho dos serviços públicos. Queremos propor ao secretário este modelo”, explicou Choi Cheng Cheng, jurista. Segundo Leung Hio Ming, presidente do IC, “a maioria do pessoal termina a relação de trabalho com o IC até ao terceiro trimestre [deste ano]”, sendo que “três quartos do pessoal vão ser dispensados” até ao final de 2017. “Até ao terceiro trimestre os 94 trabalhadores vão ser desvinculados do IC”, garantiu. “Cada contrato vai ser rescindido e, mesmo nos novos contratos individuais de trabalho que serão assinados, há um termo”, acrescentou Leung Hio Ming. A assinatura destes contratos com alguns meses de duração prende-se com o facto de o IC necessitar de uma reestruturação. “Para resolver este problema não podemos prejudicar os serviços culturais que prestamos à população. Temos de ter tempo para reajustar a situação e dar tempo ao pessoal afectado para pensar na sua situação”, apontou. Apesar da saída dos trabalhadores, o IC pretende preencher as mesmas vagas com recurso ao concurso público. “A fim de satisfazer as necessidades temporais e urgentes deste período, vamos fazer um ajustamento com o número de trabalhadores que temos. No futuro, quanto ao recrutamento, vamos abrir concursos públicos e cumprir tudo de forma transparente”, explicou Choi Cheng Cheng. O presidente do IC fez ainda esclarecimentos sobre o caso da nomeação de dois funcionários para o cargo de chefia sem estes terem o número de anos de experiência suficientes. “A partir de 1 de Janeiro de 2016 nomeámos 14 chefias mas, devido à falta de conhecimento das leis, nomeámos dois chefes de divisão sem estes terem os anos de experiência necessários. Quando fizemos a proposta não demos muita atenção se todas as chefias tinham os requisitos suficientes [para subirem de categoria]”, adiantou Leung Hio Ming. Pareceres ignorados Na conferência de imprensa não foram apontados nomes concretos de culpados, nem sequer o de Ung Vai Meng, ex-presidente que pediu a demissão por motivos de aposentação. Falou-se sim de uma responsabilização dos dirigentes do IC no seu todo. Leung Hio Ming adiantou que a contratação de pessoas sem a realização de concurso público sempre foi uma prática comum. “O IC tem uma grande responsabilidade e o CCAC fez avisos em relação à situação entre 2012 e 2014, mas esta situação já se verifica desde que eu entrei para o IC, em 1995”, disse o presidente, que descartou responsabilidades sobre o caso. “Sempre estive mais ligado à área das artes performativas e não estava directamente ligado ao recrutamento. Não tinha grandes conhecimentos sobre esta lei [regime de aquisição de bens e serviços].” Não só a situação era comum, como os próprios juristas do IC fizeram vários alertas, sem sucesso. “Os nossos juristas elaboraram pareceres e alertaram-nos para o risco, mas as chefias não aceitaram esses pareceres. Quando desenvolvemos o trabalho sentimos a necessidade de o fazer [a contratação] sem pensar bem na lei, e temos a responsabilidade de aperfeiçoar o nosso conhecimento jurídico”, frisou Leung Hio Ming. Sem corrupção O presidente do IC referiu também que o relatório não concluiu a existência de corrupção ou de troca de interesses com as referidas contratações. “No estudo que fizemos não há corrupção ou troca de interesses”, disse o responsável, que justificou a contratação de pessoas com o aumento de trabalho nos últimos anos. “Devido ao desenvolvimento socioeconómico, temos aumentado a realização de actividades culturais e a diversidade de actividades é cada vez maior. Por exemplo, só no desfile de ‘Macau, Cidade Latina’, participam cerca de mil pessoas. A implementação da lei da salvaguarda do património cultural também aumentou o volume de trabalho”, exemplificou. “Houve um aumento de trabalho entre 2012 e 2014, mas concordamos que não deve ser um pretexto para o não cumprimento da lei”, admitiu Leung Hio Ming, que disse ser necessário reforçar a fiscalização. “Temos de valorizar os pareceres jurídicos e temos de reforçar a formação do pessoal na área jurídica. Temos de ter cuidado na aplicação da lei e tratar os assuntos relacionados com os recursos humanos nos termos da lei. Temos de criar um mecanismo de fiscalização permanente”, rematou.
Hoje Macau SociedadeHo Chio Meng | Alegações finais em meados de Maio [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s alegações finais do julgamento do antigo procurador da RAEM vão acontecer em meados de Maio. De acordo com a TDM, que tem estado a acompanhar o julgamento, a data não vai ao encontro das expectativas da advogada de defesa, que se queixa de falta de tempo. Oriana Pun entrou no processo já o julgamento ia a meio, uma vez que foi substituir Leong Veng Pun, que pediu o abandono do patrocínio. Ainda segundo a TDM, na sessão de ontem esteve em destaque o caso Ao Man Long. Uma testemunha que passou pelo Tribunal de Última Instância afirmou que Ho Chio Meng quis suspender a recuperação de 400 milhões de dólares de Hong Kong que o antigo secretário para os Transportes e Obras Públicas obteve ilicitamente. O montante encontrava-se em Inglaterra. Apesar de o caso não constar da acusação, as afirmações da testemunha – um assessor responsável por recuperar o dinheiro em causa – deram origem a perguntas do colectivo de juízes. O valor acabaria por ser recuperado pela RAEM em 2014. Por seu turno, Ho Chio Meng insistiu que foi graças à sua intervenção e da co-arguida Wang Xiandi que o dinheiro foi recuperado por Macau. O ex-procurador explicou que assumiu compromissos, sem concretizar a ideia, dizendo apenas que prefere não revelar quais são.
Andreia Sofia Silva Manchete Sociedade25 de Abril | Data é celebrada com a realização de três jantares [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]elebrar Abril em Macau continua a ser uma realidade. A data que marca o fim do Estado Novo e o começo da democracia em Portugal é todos os anos lembrada com a realização de várias actividades, e este ano não é excepção. Grupos diferentes compostos por membros da comunidade portuguesa promovem hoje três jantares de celebração do 25 de Abril, sendo que não há o objectivo de politização desses encontros. “Havendo três jantares, há sempre o risco de poder ser interpretado como sendo actividades divisionistas. Mas essa não é a minha leitura”, começa por dizer João Pedro Góis, organizador de um convívio na zona do NAPE. “Há diversos grupos de pessoas que, por comodidade ou maior aproximação, acabam por organizar jantares distintos. Mas não são contrários, nem contraditórios. Todos eles têm a mesma missão, que é celebrar a liberdade. Não me parece grave haver mais do que um jantar, porque isso significa que, em diversos focos e espaços, há pessoas a celebrar esta data”, contou ao HM. João Pedro Góis costuma organizar todos os anos um jantar via Facebook, convidando o círculo de pessoas que conhece. Ainda assim, aponta, “este jantar não é institucional, mas sim transversal, aberto a todos os que gostam da liberdade, sejam de direita, esquerda, católicos ou monárquicos”. Também Tiago Pereira partilha do mesmo pensamento. É secretário-coordenador do Partido Socialista em Macau, mas não é nessa qualidade que ajuda a organizar o jantar que decorre hoje no Clube Militar. “Este é um jantar informal, uma festa, no fundo. Vamos ter o convívio com música e poesia, até porque o lema do jantar é ‘traz um poema e um amigo também’”, contou ao HM. “Queremos mesmo que seja um jantar em que esteja presente o espírito de Abril. O jantar está a ser organizado por um grupo de cidadãos de diferentes cores partidárias e que resolveram celebrar o 25 de Abril à sua maneira”, acrescentou Tiago Pereira. A Casa de Portugal em Macau organiza o jantar habitual. Amélia António, presidente da associação, fala da importância de celebrar o 25 de Abril. “É uma data em que prestamos homenagem aos que lutaram para que o país se tornasse mais alegre e democrático. Estamos também a lembrar às nossas gerações que é preciso estar sempre atento e defender esses valores.” Comunidade atenta Mesmo à distância, a comunidade portuguesa em Macau nunca deixou de celebrar o 25 de Abril. António Katchi, jurista, lembra os habituais jantares e as actividades da Escola Portuguesa de Macau, a título de exemplo. “Tem havido iniciativas importantes e, às vezes, vêm aqui personalidades a convite, ou são exibidos filmes. Penso que o facto de aqui não ser feriado diminui a presença de pessoas nessas actividades. Mas, de qualquer modo, nunca foi esquecido”, observou. Para Amélia António, “há pessoas que se mantém indiferentes à data, mas há muita gente que reconhece a sua importância e a comemora com grande empenho”. “Graças ao 25 de Abril, toda a gente pode ter as suas opções e fazer as suas escolhas, e comemorar ou não conforme os seus sentimentos e convicções”, disse ainda a presidente da Casa de Portugal em Macau. João Pedro Góis acredita que “a globalidade da comunidade portuguesa residente em Macau celebra esta data e considera-a importante”. Já Tiago Pereira destaca a importância do 25 de Abril ser celebrado no mundo inteiro. “Independentemente de estarmos em Macau, o 25 de Abril ganha uma importância maior visto estarmos a assistir ao crescimento do populismo e de movimento segregacionistas na Europa. Não é o caso em Portugal, mas temos visto os partidos de extrema direita a ganharem força”, concluiu.
Hoje Macau SociedadeEnsino | Bispo de Macau passa a ser o chanceler da São José [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Bispo de Macau é, desde meados deste mês, o chanceler da Universidade de São José (USJ). Até então, o cargo era ocupado pelo magno chanceler da Universidade Católica Portuguesa, instituição com a qual a USJ tem uma estreita relação. É norma, nas universidades de matriz católica, o chanceler ser o bispo do local onde a entidade de ensino superior está localizada. Desde 2013 que esta alteração estava a ser pensada, sendo que foi levada agora a cabo através de uma modificação dos estatutos da USJ, publicada ontem em Boletim Oficial. Esta mudança obrigou à alteração do artigo que diz respeito à nomeação do reitor. O responsável máximo pela universidade é nomeado pelo chanceler: com esta alteração estatutária, passa a ser o Bispo de Macau o responsável pelo acto. Até agora, o Bispo de Macau era apenas auscultado em relação à escolha, tendo o mesmo papel do reitor da Universidade Católica Portuguesa, sendo a nomeação da competência do magno chanceler da Universidade Católica Portuguesa. A USJ aproveitou as mudanças nos estatutos para introduzir algumas modificações, a maioria das quais relacionadas com o facto de ter mais do que um vice-reitor. Os estatutos publicados em 1996, altura em que foi criado o Instituto Inter-Universitário de Macau (que deu origem à Universidade de São José), faziam referência a apenas um vice-reitor. Foi ainda alterado o artigo referente ao funcionamento do Conselho de Gestão. Nos estatutos originais, lia-se que as deliberações são tomadas por maioria, “sendo obrigatória a presença de todos os seus membros ou de quem os substitua”. Com a nova redacção, mantém-se o peso da maioria, mas passa a ser obrigatória a presença do reitor, de pelo menos um vice-reitor ou de quem os substitua. O reitor passa a ter voto de qualidade em caso de necessidade de desempate.
Hoje Macau SociedadeTurismo | Mais de 2,5 milhões de visitantes em Março [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] número de pessoas que visitou Macau em Março deste ano aumentou 5,7 por cento em comparação com o ano passado. Os dados divulgados ontem pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) indicam que o território foi visitado por mais de 2,5 milhões de pessoas, o que traduz também um aumento ligeiro de 0,2 por cento em termos mensais. Do número total de visitantes, destaque para o aumento significativo do número de turistas (mais 13,9 por cento). Em sentido inverso estão os excursionistas, segmento em que se registou uma queda de 2,4 por cento. Quanto à permanência, os visitantes ficaram no território por um período médio de 1,2 dias, idêntico ao registado em Março de 2016. Os turistas são os que ficam mais tempo – 2,1 dias. No que toca à proveniência de quem veio a Macau no mês passado, houve uma subida de 11,5 por cento no mercado da China Continental. O número de visitantes com visto individual cresceu 18,4 por cento em termos anuais. Guangdong, Hunan e Fujian são as províncias de onde vem a maioria dos turistas e excursionistas. Nota também para o crescimento dos mercados da Coreia do Sul (56,9 por cento), Japão (19,2 por cento) e Taiwan (7,5 por cento). A DSEC aponta que se verificou uma tendência contrária no número de visitantes de Hong Kong, com uma diminuição de 12,6 por cento quando comparando com igual período do ano passado. Na lista de origens mais distantes, aumentaram os turistas dos Estados Unidos e do Canadá, sendo que diminuíram os da Austrália e do Reino Unido. A DSEC faz ainda as contas ao primeiro trimestre deste ano: Macau recebeu já a visita de mais de 7,87 milhões de pessoas, ou seja, mais 5,6 por cento do que nos primeiros três meses de 2016. Os números demonstram que estão a diminuir as excursões e que as pessoas vêm ao território cada vez mais sem recorrerem a viagens organizadas.
Hoje Macau SociedadeSaúde | Sands China confirma investigações dos Serviços de Saúde [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Sands China – proprietária e operadora do Parisian – confirmou ao site GGRAsia que foi contactada pelas autoridades de saúde de Macau por causa dos três residentes de Hong Kong que, ao que tudo indica, terão contraído a doença dos legionários na unidade hoteleira. Numa resposta por email, a empresa do sector do jogo garante que está a “cooperar totalmente” com as investigações levadas a cabo pelas autoridades. “Como de momento não temos outros detalhes, não nos encontramos em posição de tecer mais comentários”, escreveu ainda a operadora. Os Serviços de Saúde deram a conhecer, no passado fim-de-semana, que três homens de Hong Kong que estiveram no Parisian foram diagnosticados com a doença dos legionários. Dois doentes ficaram no hotel em Janeiro e Março, sendo que o terceiro tinha pernoitado na unidade hoteleira do Cotai em Dezembro do ano passado. De acordo com as informações das autoridades de Hong Kong, um dos homens infectados encontra-se em estado crítico, sendo que outro caso é considerado grave. O terceiro paciente já recebeu alta hospitalar. O GGRAsia perguntou à Sands China se o incidente está a ter repercussões na marcação de quartos e nas operações para os feriados do Dia do Trabalhador, uma das alturas do ano em que os hotéis do território registam maior procura. A empresa preferiu não comentar a questão. Os Serviços de Saúde estão a levar a cabo uma série de análises à água de fontes, jacuzzis e piscinas do Parisian. O site indica ainda que o sistema de canalização do hotel também já foi alvo de uma inspecção. Com a recolha de amostras de água, as autoridades pretendem tentar encontrar a fonte da infecção que atingiu os três residentes de Hong Kong. Os resultados deverão ficar disponíveis no prazo de dez dias. Sem demoras, nem problemas Entretanto, o secretário para a Saúde de Hong Kong negou ter havido qualquer atraso na investigação em torno dos três pacientes infectados com legionella. Confrontado pela imprensa de Hong Kong acerca de um eventual problema de comunicação com as autoridades de Macau, Ko Wing-man afirmou que o Departamento de Saúde teve de cumprir “certos procedimentos” para identificar a fonte das infecções. O governante assegurou que vai estar em contacto próximo com Macau para que o assunto seja resolvido. Ko Wing-man disse ainda que vai acompanhar de perto os resultados das investigações feitas pelos vizinhos. “A nossa responsabilidade é providenciar tratamento adequado para estes pacientes, bem como ter um bom mecanismo de comunicação em funcionamento”, rematou.
Hoje Macau EventosKura | DJ português observa grande evolução na China [dropcap style=’circle’]D[/dropcap] Desde que actuou pela primeira vez na China, em 2014, o DJ português Kura (Ruben de Almeida) observou uma “evolução muito grande” na forma como o público local reage à chamada EDM (Electronic Dance Music). “Inicialmente, as pessoas ainda não se sabiam comportar em relação à música”, disse Kura à Agência Lusa em Pequim. “Não sabiam se haveriam de saltar, meter os braços no ar. Não estavam habituados”, conta. “Hoje em dia, já reagem de uma maneira completamente diferente”. A nível de cachés, também houve mudanças. “Ao início pagava-se mais aqui. Também pelo desconhecimento da indústria. Mas agora, como os chineses já estão a par dos cachés que se praticam lá fora, já não estão para pagar mais do que os outros”, revela o DJ. Nos últimos três anos, Kura já viajou “umas 30 vezes” para a China. O DJ de 28 anos é um dos dois portugueses entre os 100 Top DJs do mundo seleccionados pela revista britânica da especialidade DJ Mag. Na classificação mais recente, divulgada este mês, estava no 51.º lugar, subindo dez lugares em relação há um ano. Kura actuou este fim-de-semana em Pequim, no Sirteen, um clube nocturno com capacidade para mais de mil pessoas. Público acolhedor No espaço VIP, que compõe cerca de um terço da discoteca, era constante o fluxo de garrafas de champanhe e whiskey para mesas ocupadas por chineses na casa dos 20 anos. Os carros topo de gama estacionados à porta serviam de presságio ao luxo lá dentro. “Eles fartaram-se de torrar dinheiro na discoteca”, observou o assistente de Kura sobre a qualidade do espaço. Como outras actividades, a chamada “vida nocturna” é uma indústria nova na China, mas que tem vivido um boom nos últimos anos, com nightclubs e bares a surgir em todas as grandes cidades do país. Em Pequim, a maioria das discotecas está concentrada em torno do Estádio dos Trabalhadores, ícone da arquitectura socialista, erguido em 1959 para celebrar o 10.º aniversário da República Popular da China. Kura diz já ter tocado em cidades do norte ao sul do país, mas as deslocações são quase sempre muito rápidas e com pouco tempo para descanso ou lazer. Desta vez, o DJ aterrou em Pequim poucas horas antes de actuar e, logo após o fim do espectáculo, apanhou um voo para a ilha de Bali, na Indonésia, onde foi pôr música antes de voltar para Portugal. “A vida de DJ é muito cansativa”, confessa. “Mas faço o que gosto”. Kura garante que o público chinês é muito acolhedor. No final da actuação, o artista conta que é sempre solicitado pelo público para tirar fotografias. O DJ já actuou por todo o mundo, mas diz que continua a “gostar muito” de tocar em Portugal.
Sofia Margarida Mota EventosFan Sai Hong | Taipa Art Village apresenta a primeira exposição do artista [dropcap style=’circle’]S[/dropcap]ão mais de 100 os desenhos de Fan Sai Hong que vão forrar as paredes da galeria da Taipa Art Village. O artista de Macau vê, assim, pela primeira vez o seu trabalho exposto. “Vamos ter os esquiços do acervo pessoal de Fan Sai Hong”, explica ao HM João Ó, curador da exposição. A selecção para “Simple Things” partiu de um trabalho conjunto entre curador e artista. “Estivemos a rever os esboços e resolvemos expor aqueles que fazem um retrato autobiográfico, e que foram feitos em blocos de desenho”, explica. No total, a mostra representa cerca de 15 anos da vida de Fan Sai Hong que cobrem o período de criação de 2002 a 2016. No entender de João Ó, o facto de não ter ainda exposto os seus trabalhos prende-se com a falta de convencionalismo dentro do que normalmente está associado à obra de arte e à sua exibição. No entanto, é esta passagem ao lado da norma que cativa o curador num trabalho “pouco convencional, em que a forma de expor não faz parte dos cânones de emoldurar uma pintura, uma aguarela ou seja o que for”. “Vamos pôr os esboços directamente na parede, de modo informal, e ordenados por séries e épocas num continuum que mostra o percurso pessoal de Fan Sai Hong, sem barreiras entre obra e observador”, sublinha. Paisagens internas Enquanto autobiografia, são desenhos realizados em várias fases da vida do artista. Passam pelo Japão e pela Nova Zelândia. No entanto, nunca são trabalhos realistas. Da Nova Zelândia saem paisagens, mas interiores. “São das peças mais coloridas do seu trabalho, mas são sempre de mundos interiores. Fala-me daquela paisagem espectacular, mas transforma-a num desenho interno”, diz João Ó. Também no que respeita à técnica, o curador dá destaque à variedade utilizada por Fan Sai Hong. “A vida não é mecânica. Numa vida orgânica passa-se por várias experiências e, como tal, também se experimentam várias técnicas. Aqui, cada período recorre a um meio diferente de expressão.” Para João Ó, “esta riqueza técnica revela de modo particular o estado mental do artista e, sendo desenhos autobiográficos, não são repetíveis”. É nesta cristalização do tempo e na sua impossibilidade de repetição que está, de acordo com o curador, um dos pontos de reflexão da própria exposição. O primeiro livro A par da exposição, o evento de inauguração serve também de mote para o lançamento do primeiro volume de um conjunto de quatro de um trabalho de banda desenhada do artista de Macau. A banda desenhada foi iniciada em 2006 e tem o nome de “No Name”. A ideia, explica João Ó, “era encontrar um nome suficientemente abrangente para dar liberdade de interpretação”. Trata-se mais uma vez de um percurso de vida, “um percurso solitário de um indivíduo sobre uma paisagem, da descoberta sobre si próprio dentro de uma ideia de passagem ritual da juventude para o estado adulto”, explica. Para o curador, que encontrou Fan Sai Hong através do Facebook, o interesse pelo seu trabalho foi inevitável. “Mesmo os desenhos mais reais são muito naïfs, no sentido de uma observação da realidade distorcida. De acordo com o artista, esta distorção flui na lógica do próprio desenho, sem se converter ao realismo.”
Hoje Macau China / ÁsiaMNE chinês reúne com homólogo iraniano [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, encontrou-se este domingo, com o chanceler iraniano, Mohammad Javad Zarif, durante a primeira reunião ministerial do “Fórum de Civilizações Antigas”, em Atenas. Segundo Wang Yi, a parceria estratégica abrangente entre a China e o Irão está em constante desenvolvimento. A cooperação bilateral em matéria de economia, comércio, investimento e de cultura tem sido aprofundada. Os dois países mantêm uma estreita comunicação e coordenação em questões internacionais. A China congratula-se com a presença dos altos funcionários do governo iraquiano na reunião de alto nível que visa expandir a cooperação no âmbito de “Uma Faixa, Uma Rota”, informa a rádio China. De acordo com Zarif, a troca de visitas entre os dois Chefes de Estado consolidou a base das parcerias estratégicas bilaterais. O Irão apoia a iniciativa chinesa “Uma Faixa, Uma Rota” e procura realizar um desenvolvimento comum. As duas partes trocaram opiniões sobre questões internacionais e regionais de interesse comum, incluindo a questão da Síria, e a situação nuclear na Península Coreana.
Hoje Macau China / ÁsiaPoluição | Quase três mil empresas violam regras ambientais [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s autoridades ambientais da China encontraram 2.808 empresas que violaram os padrões estabelecidos durante a primeira ronda de inspecção da poluição do ar. As equipas de inspecção em 28 cidades na região de Pequim-Tianjin-Hebei e nas áreas nos arredores descobriram que as 2.808 das 4.077 empresas não cumpriram as normas, disse o Ministério da Protecção Ambiental em comunicado. Os problemas incluíram produção sem licença, prevenção ineficiente de poeira e falta ou mau funcionamento de instalações de tratamento da poluição, informa o comunicado.Os inspectores também descobriram algumas empresas que tinham sido fechadas pelas violações e retomaram a produção ilegal fornecendo dados falsos de controlo. A taxa de dias com boa qualidade do ar em Pequim-Tianjin-Hebei aumentou 14,6 pontos percentuais em relação ao ano transacto, para 66,3% em Março, mesmo que tenha caído no primeiro trimestre, segundo os dados.
Hoje Macau China / ÁsiaDevin Nunes | Expansão chinesa não beneficia populações [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] congressista norte-americano Devin Nunes criticou ontem em Lisboa a actuação da China em termos globais, nomeadamente em África, por não levar benefícios às populações dos países onde investe e militarizar as regiões. “A China espalha influência pelo mundo; em África trazem pessoas, constroem estruturas, que muitas vezes não funcionam bem, colocam militares, não se misturam com as pessoas e só se preocupam com eles”, disse o republicano em entrevista à Lusa, durante a passagem por Lisboa. “Se faz parte do partido, está numa elite e os outros não têm nada, e projectam isto pelo mundo, e uma das razões por que fazem isto é que uma parte da elite quer tirar o dinheiro do país e pô-lo noutros lugares”, criticou o congressista republicano, que visitou as instalações de defesa naval portuguesa e participou num encontro de legisladores luso-americanos, no fim de semana. Para Devin Nunes, os chineses frequentemente argumentam com razões económicas quando têm fins militares: “Quando vão para esses sítios, e dizem que vão para pesquisa científica ou razões económicas e depois aparecem os militares, isso é inaceitável”, vincou. África minha Em África, a China é um dos principais investidores em Angola, comprando metade do petróleo que o país exporta, e em Moçambique o gigante asiático já investiu 6 mil milhões de dólares desde 2015, segundo dados apresentados pelo embaixador chinês em Maputo, na semana passada. Questionado sobre as relações entre a Rússia e as eleições norte-americanas, que ditou o afastamento de Devin Nunes da investigação, apesar de se manter como presidente da comissão parlamentar sobre informações, o republicano lembrou que “a Rússia tem estado fortemente envolvida nas eleições [norte-americanas] há décadas, mas dantes não se falava nisso”. Os russos, considerou, “são muito bons em propaganda” e estão envolvidos também nas eleições europeias, “é o velho KGB a funcionar, há televisões russas em toda a Europa, incluindo a RT em Portugal, e são muitos bons a promover o seu regime”. “O desafio é saber se a Rússia sai da Crimeia, da Ucrânia, e trabalha connosco contra o ‘jihadistas’, isso seria positivo, mas acho que não”, disse. O congressista considerou que a falha de avaliação das intenções e objectivos da Rússia nos últimos anos “é o maior falhanço desde o 11 de Setembro” e vinca que avisou o anterior Governo “há um ano” e que há vários anos que tem alertado para a “inabilidade dos EUA em perceberem os planos da Rússia”. Sobre a União Europeia e a recente decisão do Reino Unido de abandonar esta entidade, e o ressurgimento de nacionalismos que têm colocado os partidos de extrema-direita mais perto do topo das intenções de voto, Devin Nunes preferiu não se alongar na análise. “É muito importante ter uma União Europeia forte, e o desafio é o nível de burocracia em Bruxelas, saber quanta burocracia é demasiada, porque há uma linha ténue entre ter uma enorme burocracia que dificulta a vida diária das pessoas, versus dar-se bem com os vizinhos e ter uma boa relação; nós só queremos ser úteis e fortalecer a relação com os nossos aliados”, concluiu.
Paulo José Miranda h | Artes, Letras e IdeiasApresentação de Autismo (2ª Edição) [dropcap style=’circle’]V[/dropcap]ou começar a apresentação deste livro por um filme recente, de Tom Ford, Animais Nocturnos. Numa cena do filme, em que o casal ainda está junto, a mulher diz ao homem, acerca da sua escrita: “tu estás sempre a escrever sobre ti” e di-lo de modo depreciativo, mostrando-lhe que isso é entediante, com pouco interesse. Ao que ele contrapõe, deste modo: “todos os escritores só escrevem sobre si mesmos.” Anos mais tarde, muito depois dela ter terminado a relação com ele, o homem faz-lhe chegar um livro onde descreve o modo como ele viu a separação deles, mas pondo a cena num lugar e numa circunstância completamente distinta. Aquilo que o homem finalmente entendeu, e por isso escreveu aquele livro que agora tocou tanto a sua ex-mulher, é que um escritor não escreve o que lhe acontece; um escritor escreve com o que lhe acontece, o que faz toda a diferença. Esta introdução para dizer que Autismo de Valério Romão é as duas coisas. Ele escreve com o que lhe aconteceu, sem dúvida, mas também escreve o que lhe aconteceu. E é nesta dobra que o incómodo da leitura se instala. Ele é o livro que não é. Dito de outro modo: o livro é ele amplificado. Antes de mais, amplificado pela arte – e toda a arte é mais do que o indivíduo, é uma amplificação deste –, e também amplificado pelo que não aconteceu fora dele, mas dentro dele. Amplificado, não pelos factos, mas pela vida, isto é, amplificado pelo que sentiu e ninguém viu, pelo que pensou e não disse, pelo que imaginou e nunca manchou a realidade e ainda pelo que apareceu no mundo apenas literariamente. Por isso, podemos dizer que ele é o livro que não é. A pergunta acerca da veracidade da narrativa é secundária. O que é que é verdade e o que é que é mentira, não tem qualquer importância para apreciação de uma obra literária ou para a fruição de um romance. Pois, onde há verdade, os factos recolhem-se com vergonha. Entenda-se verdade, aqui, não como qualquer ultimato religioso ou científico, mas como profundo, humano, entenda-se verdade como aquilo que é património de todos aqueles que carregam as suas próprias vidas ao longo dos dias. Por isso, neste livro, Autismo, o narrador sou eu. O narrador é cada um dos seus leitores. Evidentemente, isto acontece com quase todos os livros em que as narrativas são na primeira pessoa, como é o caso, mas principalmente acontece porque o tom do livro é trágico. E a tragédia, sabemo-lo bem, é a verdade, isto é, é o que é de todos. No fim do dia podemos não ter uma cama onde nos deitar, mas temos tragédia. Podemos não ter o que comer, mas temos tragédia. Podemos até ter tudo, pois a tragédia arranja sempre modo de aparecer: ou por um filho que se mata, ou que morre precisamente ao volante do bólide que lhe oferecemos, ou o próprio escuta a notícia de que tem uma doença incurável, e não consegue trocar o tudo que tem por dias de vida. Isto é a tragédia. Os negros do Mississípi do século passado diziam: this is the blues. Voltando ao livro que aqui nos reúne, acompanhamos as desventuras do narrador, através da descoberta do autismo do filho, do fim do casamento e da ruptura com o pai. Caímos do narrador abaixo até ao medo de aquilo sermos nós ou de ser algo que nos possa acontecer, ou eventualmente que já nos aconteceu e só agora nos damos conta, que é o modo de ficar a saber mais traiçoeiro que existe. E isto, que acontece ao longo das páginas de Autismo, é a passada larga da tragédia grega. Não é uma tragédia, porque não há herói, mas o tema é sem dúvida o da queda. O tema é sem dúvida este: estamos vivos, logo isto vai correr mal. Pois se não fosse para correr mal não se escrevia, como os gregos antes de nós também já sabiam. Há escritores que têm a capacidade de nos mostrar exteriores de um modo interior. Quando Valério Romão descreve a sala de espera num hospital ou um consultório médico, estes não ficam apenas palpáveis, concretos diante de nós, eles passam a ser partes de nós, recordações nossas. Hoje, posso dizê-lo já com dias de prova, quando recordo o meu tempo de espera nesses espaços, recordo-me das descrições do Valério no Autismo. Um grande escritor diz-se de muitas maneiras, mas a mais cruel de todas é esta: fazer das suas memórias trágicas as de todos nós. Nesses espaços, consultórios, salas de espera nos hospitais, a angústia, o sem sentido da vida, a miséria de estar ali cresce como os embondeiros nas florestas tropicais, rasgando o céu. A nossa vida, de algum modo, pelo menos a partir dos trinta anos, é uma espécie de sala de espera de um hospital. E o Valério Romão não só viu isso muito bem, como no-lo disse exemplarmente. Leia-se um excerto do capítulo “Urgências”: “Rogério aproveitava para perguntar se era possível obter mais elementos, porque aquilo das urgências era um bocado vago, mas a rapariga dizia que dali lhe era impossível, tinha de lá ir ao local, perguntar, em suma, fazer pela vida, e Rogério saiu, despedindo-se com pressa, virando–se apenas para apontar para uma direcção e perguntar se era por ali o caminho, se ia bem, porque a direita variava consoante se estava de costas ou de frente e ele não queria ir parar à radiologia, do lado oposto do complexo de edifícios, só por ter desprezado perguntar pelo norte a quem soubesse dele. Rogério entrava por um complexo de veredas onde floresciam ocasionalmente umas placas com direcções e encaminhava–se para as urgências. Passados alguns carreiros quase a correr, Rogério deu com um edifício cor–de–rosa, a modos que pequeno, e à entrada do edifício estava um segurança, fardado, a ocupar–se, pelos vistos, da regulação do rádio. Rogério dirigiu–se–lhe, Olhe, desculpe, estou à procura das urgências, disseram–me que era um edifí́cio assim como este, para não confundir com as urgências gerais, pode dizer–me se é aqui, e onde posso conseguir informações, é que tenho o meu filho nas urgências, internado, sabe, um acidente. O segurança, a manusear o rádio para vazar o vagar das mãos, Sim, de facto é aqui as urgências, mas não lhe sei dizer se o seu filho está aqui, mas se conseguiu essa informação no balcão geral é porque deve estar. O melhor é esperar que entre ou saia alguém; aqui não há recepção, há uma campainha ali dentro, e apontava para o interior do hall de entrada das urgências, uma espécie de corredor largo ladeado por cadeiras e horas de espera, onde as pessoas se deixavam afundar sob o peso da preocupação. Pode experimentar tocar e talvez venha alguém abrir a porta e falar consigo, nem sempre acontece, eles são muito ocupados, sabe, estão sempre a entrar pessoas em situações muito urgentes, pelo que é preciso ter paciência aqui, porque aquela campainha nem sempre dá resposta.” Toda esta longa passagem é memorável, mas acho esta pequena parte muito querida: “Rogério aproveitava para perguntar se era possível obter mais elementos, porque aquilo das urgências era um bocado vago (…)”. Como se na vida pudéssemos pedir mais elementos e como se ela não fosse vaga (um bocado é o lado humorístico do autor). E esta é a nossa tragédia, a de estarmos à espera. Estamos à espera de nós, e nós nunca chegamos. Estamos à espera dos que amamos e eles escapam-nos por entre a vida. Estamos à espera de notícias e elas são vagas. Estamos à espera. E, como se sabe, isto só pode dar merda. Pois sabemos bem que não se faz nada de bom quando somos obrigados a ficar à espera. Escreve Valério Romão: “É preciso ter paciência aqui, porque aquela campainha nem sempre dá resposta.” E eu digo-vos: é isto é a vida, quero dizer, o Autismo.