Coreia do Norte | China pede contenção aos Estados Unidos

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Presidente Xi Jinping apelou a “contenção” sobre a questão norte-coreana durante uma conversa ao telefone com o homólogo norte-americano, Donald Trump. A troca de impressões, mantida ontem de manhã, acontece numa altura em que um contingente de navios militares, liderado pelo porta-aviões Carl Vinson, anda em águas asiáticas.

O telefonema foi feito com uma preocupação crescente em mente: teme-se que Pyongyang leve a cabo outro ensaio nuclear ou um teste com mísseis para assinar o 85.o aniversário da fundação do Exército Popular Coreano. A efeméride assinala-se hoje.
A China “espera que as partes envolvidas possam manter a contenção e evitar acções que possam aumentar a tensão na Península Coreana”, disse Xi Jinping, citado por um comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
“A única forma de concretizar a desnuclearização da Península Coreana e de resolver rapidamente o problema nuclear da Coreia do Norte é se cada parte envolvida cumprir totalmente os seus deveres”, continuou o Presidente chinês.
Foi a segunda conversa ao telefone entre os dois líderes desde o encontro no resort de luxo de Donald Trump, na Florida, no início deste mês. A conversa tinha sido previamente marcada e, dizem as agências internacionais de notícias, partiu da iniciativa do Presidente dos Estados Unidos.
O pedido de Pequim em relação à necessidade de moderação por parte de Washington surge depois de, no sábado passado, o vice-presidente norte-americano Mike Spence ter anunciado que o porta-aviões Carl Vinson iria chegar, “numa questão de dias”, ao Mar do Japão, perto da Península Coreana. No domingo, o Carl Vinson juntou-se a outros navios de guerra para exercícios militares conjuntos com o Japão, no Mar das Filipinas.
Mike Pence aproveitou ainda para reiterar os pedidos feitos a Pequim – o único grande aliado e o maior parceiro comercial de Pyongyang” – para que utilize a sua “posição única” para obrigar o regime de Kim Jong-un a ceder nas suas pretensões nucleares.
“São recebidos com muito agrado os passos que temos visto a China dar, passos sem precedentes em muitas formas, aumentando a pressão económica na Coreia do Norte”, afirmou ainda o vice-presidente. “Acreditamos que a China pode fazer mais”, acrescentou.
Em Fevereiro, a China anunciou que ia suspender todas as importações de carvão da Coreia do Norte – uma fonte de rendimentos essencial para Pyongyang – até ao final do ano. Pequim deixou ainda o aviso, já este mês, que um conflito com o regime de Kim Jong-un poderia rebentar “a qualquer momento”, numa altura em que Pyongyang ameaçava com uma resposta “sem misericórdia” a qualquer acção militar norte-americana.

Varrer com eles

A Coreia do Norte tem aumentado as ameaças nas últimas semanas, já depois do falhado teste de um míssil que coincidiu com o 105.o aniversário do nascimento do fundador do país, Kim Il-sung. Um recente artigo difundido pela agência oficial norte-coreana KCNA acusa Pequim de ceder às pressões de Washington, advertindo que a postura chinesa poderá ter “consequências catastróficas”.
Um site oficial norte-coreano advertiu os Estados Unidos de que serão “varridos da face da Terra” se desencadearem uma guerra na península.
Numa série de editoriais, o jornal Rodong Sinmun, porta-voz do partido único no poder, explica que as forças norte-coreanas não estão impressionadas com a chegada iminente do porta-aviões norte-americano, que constitui “uma chantagem militar sem disfarces”. As forças norte-coreanas estão prontas para “afundar o porta-aviões nuclear norte-americano com um único ataque”, escreveu o jornal.
O site de propaganda Uriminzokkiri considera que o envio do Carl Vinson é uma declaração de guerra. “É a prova de que uma invasão da Coreia do Norte fica mais próxima todos os dias”, referiu. Num editorial apresentado como tendo sido escrito por um oficial do exército, o site alerta Washington para não confundir a Coreia do Norte com a Síria, que não lançou um “contra-ataque imediato” após um ataque dos Estados Unidos a uma base aérea síria no início do mês.
Em caso de ataque à Coreia do Norte, “o mundo verá como os porta-aviões inconscientes de Washington são reduzidos a pedaços de aço e naufragam e como um país chamado América é varrido da face da Terra”, ameaça.
Mike Pence, que terminou uma viagem à região, declarou, como outros responsáveis norte-americanos, que face às ambições nucleares norte-coreanas “todas as opções estão sobre a mesa”, incluindo a militar.

Arigato a Trump

Antes da conversa com Xi Jinping, Donald Trump esteve ao telefone com o primeiro-ministro nipónico, Shinzo Abe. O tema da conversa foi o exercício militar conjunto em que participa o porta-aviões Carl Vinson e a Força Marítima de Auto-Defesa do Japão. “Disse-lhe que apreciamos muito as palavras e as acções dos Estados Unidos, que demonstram que todas as opções estão em cima da mesa”, disse o chefe de Governo aos jornalistas. “Concordamos totalmente com esta exigência de forte contenção por parte da Coreia do Norte que tem, reiteradamente, agido de forma provocatória e perigosa”, acrescentou Shinzo Abe. A demonstração da força naval nipónica reflecte a preocupação crescente de um ataque da Coreia do Norte. Alguns deputados do partido do poder em Tóquio pediram já ao primeiro-ministro que compre armamento capaz de lidar com os mísseis norte-coreanos, temendo um ataque iminente. A frota naval militar japonesa é a segunda maior da Ásia, logo a seguir à da China, mas é sobretudo constituída por contratorpedeiros. A imprensa japonesa tem dado conta de um receio da população em relação a um ataque nuclear da Coreia do Norte na região, que se tem traduzido na procura de abrigos nucleares e na compra de purificadores de ar capazes de bloquear as radiações.

Grupo de norte-coreanos em risco de repatriamento

Oito norte-coreanos que fugiram do país arriscam-se a serem repatriados depois de terem sido detidos, no mês passado, pela polícia chinesa. A denúncia foi feita ontem pelo grupo Human Rights Watch (HRW), que tem estado a ajudar os desertores.
A organização não-governamental explica que as autoridades da China detiveram os oito norte-coreanos em meados de Março, durante uma operação de rotina numa estrada do nordeste do país.
A detenção do grupo acontece numa altura em que o Presidente dos Estados Unidos tem estado a pressionar Pequim para que aja de forma mais activa em relação a Pyongyang, por entre um clima de tensão em torno das intenções nucleares norte-coreanas.
“Temos, neste momento, muitos relatos de sobreviventes que indicam que a administração de Kim Jong-un persegue aqueles que são obrigados a regressar à Coreia do Norte depois de terem partido ilegalmente. São sujeitos a tortura, violência sexual e trabalhos forçados – e ainda a pior”, afirmou em comunicado o vice-director para a Ásia da HRW. Phil Robertson pede à China que não repatrie os desertores.
As Nações Unidas já condenaram o facto de Pequim recambiar os norte-coreanos que são encontrados em território chinês, alertando para o facto de o Governo Central estar a cometer uma violação da legislação internacional.
A China contra-argumenta alegando que os desertores norte-coreanos são imigrantes ilegais que fugiram do país de origem por razões de natureza económica. Já a Coreia do Norte diz que se trata de criminosos e chama sequestradores a quem os ajuda a chegar à Coreia do Sul.

Apelo aos Presidentes

Os oito norte-coreanos em risco de repatriamento estavam na cidade de Shenyang, onde a polícia de trânsito os encontrou. Foram levados para a esquadra por não terem documentação válida.
Um pastor cristão que ajuda desertores da Coreia do Norte na China – e que pediu à Reuters para ser identificado pelo pseudónimo Stephan Kim – contou que os homens lhe enviaram um vídeo em que pedem ajuda ao Presidente norte-americano Donald Trump e ao homólogo chinês Xi Jinping. O vídeo mostra o grupo dentro de um veículo, à porta de uma esquadra da polícia chinesa.
São muitos os norte-coreanos que, todos os anos, tentam fugir do país natal. Porque a fronteira com o Sul é a mais protegida do mundo, a fuga faz-se, por norma, através da China, passando por outros países do Sudeste Asiático até chegar à Coreia do Sul. Cerca de 30 mil conseguiram chegar a Seul, muitos com a ajuda de grupos de direitos humanos sul-coreanos, de organizações religiosas e até de empresários.

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