Sofia Margarida Mota EventosBOK | Festival volta a trazer o teatro experimental ao território Começa amanhã e vai até 8 de Julho. É festival BOK que vai ocupar o Edifício do Antigo Tribunal. Este ano o evento não vai para a rua, mas a organização promete, a quem se deslocar aos espectáculos, uma experiência a registar [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]omeça amanhã. É o BOK, festival que se dedica à apresentação de espectáculos for do circuito comercial. Nesta quinta edição, a ideia é a interactividade com o público e o factor surpresa domina o programa. Ao contrário das edições anteriores, em que os espectáculos tinham apresentações espalhadas pelo território, este ano a organização optou por uma situação inversa e o programa do festival vai estar concentrado no Edifício do Antigo Tribunal. A ideia, apontou Erick Kuok em entrevista ao HM, tem que ver com a própria temática desta edição. Em causa está a dinâmica capaz de ser criada com o público, sendo que a organização pretende, desta forma, testar as possibilidades do que um espectáculo pode fazer com os espectadores e de que forma os pode integrar no palco. “Se por um lado, nesta edição, temos uma concepção mais formal de teatro – os espectáculos voltam a ser feitos neste tipo de espaços, ao contrário do ano passado em que andámos em espaços alternativos –, por outro, podemos jogar com isso e dinamizar o interior do próprio teatro e usar o público”, explicou o organizador. O projecto que, pelo segundo ano, está de pé sem apoios do Governo, tem nesta edição os horizontes estendidos. Para o efeito, a organização estabeleceu parcerias com companhias de Taiwan, Coreia e Hong Kong para trazer espectáculos a Macau, mas não só. A pensar nos artistas locais, é intenção do BOK, poder levar com este trabalho os artistas locais ao exterior. Começar pelo local O festival tem início com as duas secções pensadas para a promoção de artistas locais. “Give it a Shot” é um espaço de trabalho em tempo real em que os projectos de Macau têm, diz Erik Kuok, “um acompanhamento crítico para que sejam devidamente desenvolvidos”. Este ano, a secção tem lugar nos dias 1 e 2 de Julho e integra projectos dedicados à dança, música clássica e electrónica independente. Da coreógrafa Chloe Lao, é apresentado o espectáculo de dança “Artificial Roses”, baseado no conto homónimo de Gabriel Garcia Marquez. Vão ainda ser mostrados publicamente “E-arrangement of Vivaldi’s Summer”, do quarteto de cordas Opus-A, e “Chemtrails, Morgellons”, de Sonia Ka Ian Lao. A secção “Bok Lab”, é o espaço em que são apresentados os trabalhos desenvolvidos no “Give It a shot” do ano passado. Nesta edição, Miki To vai apresentar “Moderation”. A iniciativa está agendada para os dias 28 e 29 de Junho, às 20h e pretende ser um espaço de reflexão social. De 28 a 30 de Junho, às 21h15, é também o tempo marcado para a apresentação de “Picturesque” pelos Water Singers. De acordo com a organização, trata-se de um espectáculo que convida a “uma viagem na escuridão, sem nada mais a não ser a voz”. Desafiar limites O final da edição de 2017 do BOK é preenchida por espectáculos internacionais. Entre 4 e 8 de Julho tem lugar a secção “Crossibition” em que a ideia é trazer ao território espectáculos experimentais que demonstrem “maturidade a nível de conteúdo, meios e formas de encarar o público”, aponta a organização. Este ano foram seleccionadas três peças em que “o espaço, os sentidos e a experiência do público fossem testados”. De Hong Kong vem o grupo de teatro “Heteroglossia”, com “Woyzeck” do dramaturgo alemão Georg Büchner. A ideia é a exploração de técnicas narrativas utilizadas em conteúdos de cinema e a sua adaptação para o palco. “Bodies in the Dark” é a peça trazida pela companhia coreana “Elephants Laugh”. O espectáculo é feito num ambiente de escuridão absoluta em que “podendo ser desconfortável, irá testar os limites do público”, lê-se na apresentação facultada pelo BOK. De Taiwan, a companhia “Riverbed Theatre” apresenta “Hypnosis: The Just for you Project”. A companhia de Taipé traz um espectáculo destinado a um público de um elemento em que o objectivo é “criar um ritual de intimidade e ligação e um veículo para o subconsciente”. Acabar à conversa O festival conta ainda com um espaço dedicado à conversa informal e ao encontro entre artistas e o público. É o “BOK CLUB”. Para Erik Kuok, “o teatro é também um espaço para as pessoas partilharem ideias, para conversarem”. Este ano o espaço de conversa vai ter lugar num bar na zona da Praia Grande onde vão ser apresentados pequenos espectáculos. Ao mesmo tempo, a organização tem na agenda a realização de algumas pop up performances. “Estas apresentações serão sempre uma surpresa porque o público nunca sabe o que vai acontecer. Tem de ir para se surpreender e para ver”, explicou o organizador.
Hoje Macau China / ÁsiaHong Kong | Xi Jinping presente nos 20 anos da transferência de soberania [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, acompanhado pela sua esposa Peng Liyan, inicia na quinta-feira uma visita de três dias a Hong Kong para participar nas cerimónias do 20.º aniversário da transição para a China, informou a agência de notícias Xinhua. Num breve comunicado, a agência de notícias chinesa refere que Xi vai estar em Hong Kong para “inspeccionar” a Região Administrativa Especial chinesa, sem avançar detalhes. O secretário para a Segurança de Hong Kong, Lai Tung-kwok, apelou à compreensão da população para as necessárias medidas de segurança durante a visita do Presidente chinês à cidade, escreve a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK). Alguns grupos já anunciaram que organizarão protestos durante a visita de Xi, que será marcada por importantes medidas de segurança. A segurança foi reforçada, comparando com a visita há dez anos do então Presidente Hu Jintao, e a imprensa enfrenta maiores restrições. Os jornalistas têm agora de submeter os seus números de cartão de identificação à polícia antecipadamente para a visita de Xi Jinping, algo que não foi exigido há dez anos, quando do décimo aniversário da transição da antiga colónia britânica para a soberania chinesa, refere a RTHK. Lai disse que o reforço das medidas de segurança era necessário para que as autoridades possam tratar os pedidos de cobertura de forma suave e eficiente. Questionado sobre se as pessoas teriam de passar por postos de controlo de identificação caso estejam perto das áreas visitadas por Xi Jinping, Lai disse que estas questões eram “muito detalhadas” e que não dispunha de detalhes operacionais sobre a actuação da polícia. Xi Jinping, também secretário-geral do Comité Central do Partido Comunista da China e presidente da Comissão Militar Central, vai igualmente marcar presença na tomada de posse do quinto governo daquela Região Administrativa Especial chinesa, liderado por Carrie Lam. Primeira mulher a desempenhar o cargo, Carrie Lam foi eleita, a 26 de Março, por um comité formado por apenas 1.200 membros de diversos sectores da sociedade. No início de Maio, o jornal South China Morning Post noticiou que dez mil agentes policiais iriam ser mobilizados em Hong Kong para as cerimónias do 20.º aniversário da transferência de soberania do Reino Unido para a China. Mais de um terço de toda a força policial da RAEHK vai garantir a segurança dos líderes, incluindo o Presidente da China, que vão assistir às cerimónias, acrescentou o diário.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Aldeias e cidades rendem-se às vantagens do comércio electrónico [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] chinesa Yao Yao há muito que deixou de fazer a lista de compras, carregar sacos do supermercado ou ter dinheiro na carteira, beneficiando da difusão ímpar do comércio electrónico e carteiras digitais na China. “Quando saio de casa, nem levo carteira. Basta-me o telemóvel”, conta a chinesa natural de Pequim, que diz fazer “entre 70 a 80%” das suas compras na rede. Não é um caso único: cada vez mais chineses recorrem unicamente às ferramentas digitais para chamar um táxi, pagar a conta no restaurante ou até as despesas na farmácia. No ano passado, o comércio ‘online’ na China cresceu 26,2%, em termos homólogos, para 752 mil milhões de dólares – um valor equivalente a quase quatro vezes o Produto Interno Bruto (PIB) português. O país asiático é responsável por cerca de metade do conjunto mundial de vendas pela Internet. Nas ruas de Pequim ou Xangai, o frenesim das motorizadas que fazem entregas rápidas ao domicílio é constante e, ao longo do dia, as encomendas amontoam-se à entrada dos bairros. O fenómeno alastrou-se já às aldeias do país, onde vivem quase metade dos 1.375 milhões de chineses, através de estações abertas pelo grupo Alibaba, que controla 90% do comércio electrónico na China. Retalho a vê-los passar Wang Huan’e dirige uma estação aberta pela plataforma Taobao na aldeia de Huangwan, a cerca de três horas de carro de Pequim, onde recebe as encomendas feitas pelos locais e ajuda os mais idosos a fazerem compras ‘online’. “Antes desta estação abrir, os habitantes da aldeia tinham de se deslocar à cidade mais próxima para fazer compras”, recorda à Lusa. “Agora não, basta pegarem no telemóvel e podem comprar o que quiserem, seja de manhã, ao acordarem, ou de noite, antes de irem dormir”. A proliferação do comércio electrónico beneficia também os empresários, que conseguem colocar os seus produtos em qualquer ponto da China, sem depender de retalhistas. “É um espaço e mercado totalmente livre”, explica à agência Lusa Li Guocun, cofundador de uma fábrica de produtos para crianças, cujas vendas são feitas exclusivamente através do Taobao. A firma emprega vinte operários numa aldeia da província de Hebei e seis funcionários num escritório no norte de Pequim, onde é feita a gestão da loja ‘online’ e o apoio ao cliente. Li trata do design dos produtos e das fotos para o catálogo. A extensa rede logística da China encarrega-se do resto. Consumidor perfilado Para o empresário, a outra vantagem do comércio ‘online’ reside no ‘Big Data’, a análise dos dados dos consumidores, que permite moldar o produto à procura do mercado. Através dos dados coletados pelo Taobao, “conseguimos ver o perfil do consumidor, a que segmento ele pertence, os seus gostos, hábitos de consumo ou área de residência”, afirma. “Temos uma visão transparente do mercado”. Numa altura em que Pequim anuncia a extinção de quase dois milhões de posto de trabalho na indústria secundária, visando combater o excesso de capacidade de produção, o negócio da Internet pode gerar novas oportunidades. “Toda a gente pode ter uma loja ‘online’, basta ter acesso à rede”, defende Li. “O investimento necessário é baixo, só é preciso ter vontade”. Portugal está atento ao fenómeno. Portugal na rede chinesa Procurando pelo termo ‘Putaoya’ (Portugal, em chinês) no Taobao.com, os resultados mostram utensílios de cozinha, mobília, produtos de cortiça, vinho ou azeite português. No mês passado, o secretário de Estado da Internacionalização, Jorge Costa Oliveira, anunciou um acordo para a abertura de uma loja ‘online’ só para produtos portugueses. “Há cinco ou dez anos era impensável para uma pequena ou média empresa de Portugal tentar abrir uma loja ou uma rede de lojas [na China], porque os custos fixos eram enormes e era uma aposta de enormíssimo risco”, afirmou. Hoje, “com a possibilidade de utilizar as plataformas online, a existência de centros de distribuição e logística físicos em partes da China é, obviamente, um complemento extraordinariamente importante”, disse. João Pimenta, Agência Lusa
Hoje Macau China / ÁsiaAlibaba e Tencent lideraram investimento na China Unicom [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s gigantes da tecnologia chineses Alibaba e Tencent Holdings estarão entre os novos investidores que vão colocar um total de cerca de 10 mil milhões de dólares na operadora de telefones móveis China Unicom, como parte dos esforços de Pequim para rejuvenescer as gigantes estatais com dinheiro privado. Quatro fontes a par do assunto disseram à Reuters que a Alibaba e a Tencent investirão na unidade listada na bolsa de Xangai do grupo de telecomunicações, a China United Network, como parte do esforço para levantar capital. Uma das fontes disse que Alibaba e Tencent vão liderar o grupo de investidores, enquanto o Baidu, o terceiro da constelação chinesa de gigantes tecnológicos, desistiu. A fonte não comentou o motivo dessa decisão. A China Unicom, formalmente conhecida como China United Network Communications, quer realizar cerca de 70 milhões de yuans através da unidade de Xangai, disseram as fontes. Tal marcaria a maior captação de capital na Ásia desde a oferta inicial de acções da seguradora AIA Group em 2010, de acordo com dados da Thomson Reuters. Cerca de 50 mil milhões de yuans seriam realizados com a venda de novas acções, enquanto a segunda maior operadora de telecomunicações da China também venderia uma participação na unidade listada em Xangai, disseram duas das fontes, que não podem ser identificadas porque as negociações não são públicas. Outros investidores potenciais abordados pela China Unicom incluem outras principais empresas de internet do país e algumas instituições com apoio do governo, como a China Life Investment, disse uma das fontes. A Alibaba, a Tencent e outros investidores potenciais ainda não conseguiram concluir os termos de uma compra, disseram as fontes, embora o negócio seja provavelmente fechado ainda no terceiro trimestre. A China Unicom é uma das três principais estatais de telecomunicações da China, juntamente com a China Mobile e a China Telecom, mas a empresa é amplamente vista como tendo excesso de pessoal e ser ineficiente e lenta a desenvolver tecnologias-chave – levando Pequim a adicioná-la no ano passado ao primeiro lote de empresas públicas que passariam a ter capital misto.
Amélia Vieira h | Artes, Letras e IdeiasTodos os dias o medo [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] nosso quotidiano não disfarça ainda a nossa perplexidade perante o efeito do desastre e suas leis que devem ser muito precisas e por isso de infalibilidade revestidas: comovem-nos sempre como se não pertencessem por inerência a todo este propósito. O impacto dele nos é dado nos dias que vivemos e nem por isso nos insensibiliza cada vez que um acontece, como se estivéssemos em pleno cenário de guerra com lesões do funcionamento neuronal. Há gente que cai aleatoriamente enquanto passa por locais onde todos acabámos de passar, mares de azul lindíssimo feitos mortalhas, edifícios em chamas trespassados por máquinas voadoras, sangue em todas as arenas. Noite após dia, dia após noite, olhamos incrédulos, sempre, para o último amontoado de escombros como se um frémito violento nos levantasse das nossas calmas funções. O longo caminho da História deu-nos terreiros e hortos para a compenetração formal da morte que vinha como inimiga a combater: tinha trombetas, frases mágicas, líderes que a encabeçavam, como se de um compromisso se tratasse. Isto embora saibamos que, por onde passassem estes guerreiros, as populações nem sempre estavam a salvo: a guerra obedecia a um plano, havendo mesmo datas combinadas com o inimigo para exercitá-la, mas a nossa realidade, de contingências feitas, não nos dá segurança nenhuma nestas coisas e tudo o que existe à vista é uma guerra contínua e disparatada, feita de picaretas e outros utensílios que nos rebentam nas mãos. Com choques, afrontas, colapsos, amálgamas de cimento e sangue, de luz e treva, que é de arrepiar as nossas reservas de coragem. Nós, cuja liberdade nos fora consagrada como um registo pessoal, temos por isso toda a legitimidade de nos alhearmos e vivermos os dias à nossa maneira, transcritos à nossa realidade. Cada ser pode firmar para si um isolamento saudável como partícula de sobrevivência e, até chegar a esse globalizante desastre, nada entretanto aconteceu. Mas isto, que parece a melhor das aptidões do instante, tira-nos a perspectiva da ocasião e do momento histórico que nos foi dado viver – para viver – por vezes há que desviver devagarinho… A realidade, essa, será sempre esse ponto de partida por onde nos é dado então regular o que queremos esteja inscrito nos acontecimentos não permitindo o acto invasivo do mundo se aproximar de nós. Ao iniciarmos os dias, não devemos começá-los por notícias e visões esmagadoras: a nossa força vacila e a nossa coragem esmorece, a esperança ofusca-se, o diálogo embarga-se, os olhos ficam grandes de espanto perante imagens tão sobrenaturais… existe um imediato reflexo de insustentável pavor e, até nos colocarmos na marcha da lucidez necessária, temos de ir deixando passar as horas. Nós sofremos quando vimos os outros em dor. Nada daquilo é gratuito e apenas informativo, existirá sempre um fio condutor que nos liga aos outros no instante em que padecem, e tantos, e tão continuamente, gera a mais preocupante prostração. O facto de irmos antecipando a nossa defesa nestas coisas, promove uma vantagem contra o meio ambiente, que é o de haver pessoas saudáveis quando for preciso a sua imediata intervenção. Nota-se muito a desarticulação das fontes de salvamento, o titubear dos que podem e não sabem… da avalanche quase demencial deste cenário. O medo aproxima-se de nós também como um amigo, pois que nos insufla de consciência, mas andar aterrorizado sem saber atrai o caos e a vida começa a ser um jogo diário onde não vemos o propósito maior que é o estar vivo para além dos nossos medos. Claro, esquecemos, temos de ir, de fazer, de continuar dentro de nós; no entanto, não sabemos bem como avançar de forma precisa, a nossa mente está em alerta, o nosso cérebro tem hoje, talvez, possíveis ligamentos em áreas que lhes estavam reservadas para funções que não se parecem com estas. Toda a nossa antecipação na arbitrariedade da vida nos deixa inquietos na busca de a vivermos sem que saibamos dirigir o desígnio do viver. As coisas vão baixando como as pragas e se a economia nos secou a visão onírica, hoje estamos “salpicados” de sangue que nos dias corre no seio da União. Desconfiamos de todos, claro está, quem são os que nos matam? Serão quem se diz? Ou somos já nós a fazer esse projecto para adicionar interesses que fingem ser incólumes? Vamos vendo à medida que os sinais se propagam… vendo coisas novas que não estavam lá, e sabemos do medo imenso que é o da loucura mais grosseira nos ter possuído. De quem, afinal, não devemos ter medo, quando nos dizem para não ter? Que calma querem que tenhamos no meio de tais acontecimentos e quem nos educa para a abulia total de sermos os espectadores de coisas tais? Que confiança, em que liberdade, em que maravilhoso sistema desejam que acreditemos? Desculpar-me-ão mas eu não acredito nele. Pois que tenho medo e sei o que significa chegar aqui de olhos abertos a ver todas estas impensáveis realidades que nem dela fugindo estamos a salvo. Construímos por ócio todos os fantasmas e tecemos a malvadez como um plano bastante inclinado mas deveras excitante, e, enquanto ele vogava na sétima arte, e na ficção, eram nossas todas as perversões da alma, já danada, de tanta felicidade, agora, eles mesmos, os espectros se tornaram tão autónomos como nós, e agora, somos nós e eles, de corpo presente a constatar a nossa mais medonha obra. Concomitante a toda a nossa realidade, seja ela resguardada, ou mantida em dose máxima de informação, há outras realidades que se passeiam, tão reais quanto estas. E dessas não temos memória, e estamos a construir espaço para a podermos abarcar, pois que nem em sonhos e visionarismos se teria previsto tanto! Como não ser a realidade uma esfera à parte, até da nossa capacidade de mediúnicos informadores?! Nestes quotidianos, assim vamos vivendo como se de um cadáver nos estivéssemos alimentando, tornámo-nos necrófilos sociais, para não se desaparecer de vez e nos levarem as doces bactérias que restam à ameaçante guerra de neutrões que nos há-de suportar lavados de dissolventes naturais. E se as bombas não chegarem a Nova Iorque, vão chegar a outro local, que Nova Iorque é agora uma metáfora de Babel . E se os nossos filhos morrerem a percorrer o mundo, que tão generosamente lhes insuflámos na mente como lugar extraordinário, que mesmo assim não tenhamos medo das nossas lágrimas e saibamos com dignidade ir abrindo espaço à gravidade desta situação social. Vivemos ameaçados, com cortes, com despejos, com ofensas, com desconsiderações tais que dava para nos atordoarmos de espanto até ao fim dos nossos dias, e agora mais esta terrível realidade de grupo que queremos contornar com uma compostura mumificante e nos trespassa a noite como um raio impúdico e imprudente. Sair disto sem feridas é impossível, nós estamos mais ou menos já em chaga, mas, talvez ainda se consiga uma certa nobreza que fará sempre parte de uma saudosa Humanidade sonhada. Nós, que inventámos o sonho e fizemos da vida uma obra de Arte ( os que a fizeram), não devemos acabar assim. O mundo é o cenário de um grande dramaturgo poético, um mundo em que o criador está presente em toda a parte, e em toda a parte oculto.
Paulo José Miranda Em modo de perguntar h | Artes, Letras e IdeiasKaradeniz: “Saber matar bem tem sempre futuro” PJM: Lá está você a dizer mal do seu filho, Karadeniz! K: É verdade, tens razão!… PJM: O Karadeniz também frequentou a prostituição de elite, porque critica o seu filho? K: É muito diferente, Paulo! Muito diferente. Eu ia algumas vezes a Zurique, mas já foi depois de ter ficado sem a mãe dele, sem quaisquer possibilidades de nos encontrarmos. Quando se ama muito alguém que não se esquece, só se pode ir às putas. Mas para o meu filho, as putas vêm antes do amor. Antes e depois, que ele não conhece outro modo de se relacionar com uma mulher. PJM: Sente culpa em relação ao seu filho? K: Não, não sinto culpa. Tenho pena que nunca nos tenhamos chegado a encontrar, mas não sinto culpa. O amor que sentia pela mãe dele, esse amor sempre desencontrado, não me deixava ver mais nada. PJM: O Karadeniz gostava mais da sua mulher do que do seu filho, não gostava? K: É verdade, Paulo! Não podia fazer nada. PJM: Julga que o seu filho sabia disso, que ele sabe disso? K: Não sei. Eu não sei quase nada do meu filho. O meu verdadeiro filho é as coisas que tenho naquela casa perto de Eminonu. PJM: Não gostava de estar mais com o seu filho, nesta fase da sua vida? K: Antes de morrer, queres tu dizer! Não sei se gosto do meu filho, Paulo! Tenho-lhe amor, como pai, quero que tudo lhe corra como ele quiser que corra, mas julgo que não gosto da pessoa que ele é. Julgo que ele também não gosta da pessoa que eu sou. Vivi sem hipocrisias e não quero morrer próximo dela. É melhor assim como está, cada um para seu lado. Se pudesse, antes de morrer, gostava era de ver uma vez mais a minha mulher. Ver o amor pela última vez. Mas isso não é possível. PJM: A sua vida parece uma canção de amor e morte, Karadeniz! K: Não, Paulo, a minha vida é, como já te tinha dito, uma história de amor. Mas não há histórias de amor sem mortes. Aliás, a morte só ganha sentido com o amor. Se não sentíssemos amor à vida, amor a alguém a morte não tinha poder nenhum; a morte não assustava ninguém. A morte é de quem a vê, de quem fica, de quem se sente afectado pelo que vê, afectado por quem acaba de perder. A morte só existe na vida. Não há morte depois da vida. Isto é uma coisa que se aprende na profissão que tive. Por isso é que a morte que fazia acontecer aos outros não era morte. Eu não a via acontecer, eu não perdia ninguém. Eu não era aquele que ficava, era aquele que continuava, que é muito diferente. Saberes da morte de um desconhecido não é saberes a morte, mas saberes da morte de alguém que amas é saber a morte. PJM: Antes e depois de cada um dos seus trabalhos, costumava pensar acerca da morte ou, pelo contrário, concentrava-se apenas na técnica e na perícia necessária à execução? K: Precisamente, Paulo, antes e depois de fazer acontecer a morte a alguém, a morte é apenas algo a realizar e todos os pensamentos vão nessa direcção: identificação dos problemas possíveis à realização do trabalho e encontrar as soluções para os mesmos; após a realização, faz-se o balanço de tudo. A morte nesses momentos é apenas um objectivo a alcançar, como para o atleta cortar a meta. Só mais tarde, passados uns dias, já no conforto de casa é que a morte se tornava pensamento, uma coisa geral, uma coisa de todos. Quando se está em campo, presos na dualidade de se ser atingido ou preso, ou fazer a morte, a morte não aparece. Ela pode acontecer, mas não aparece. PJM: Julga que também é isso que acontece na guerra, em combate? K: Não, Paulo! Aí a morte dos outros à tua volta pode fazer com que a morte fique à tua frente de um modo que não te deixa ver mais nada. Nesses casos, a morte não te deixa fazer nada. Absolutamente nada. A presença da morte torna-se tão evidente que anula a acção e a vontade. É a cobardia extrema. PJM: Mas essa evidência também pode empurrar o homem para a frente, para um acto absolutamente temerário, não pode? K: Sim, também pode! A evidência total da morte produz dois efeitos completamente contrários: a inacção e acção total. De qualquer modo, esta acção total é, acima de tudo, uma tentativa de fugir à morte. A morte é tão presente que o homem foge dela, indo na direcção daquele que pode fazer a sua morte acontecer. Repara que a expressão que se usa é a de “fuga para a frente”, de fuga para morte. Fugir da morte na direcção dela, de onde ela vem. No fundo, é um acto religioso, porque quem avança na direcção da morte, acredita que pode assustá-la ou fazê-la parar, só pelo facto de ir enfrentá-la completamente a descoberto. Acredita que vai ser recompensado. PJM: Mas pode acontecer, ou não? K: Pode! Como também pode acontecer pormos cinco balas no tambor de uma arma de seis tiros, rodá-lo, apontá-lo à cabeça, disparar e ser a vez da câmara vazia. Mas quem é que sensatamente faria essa aposta? PJM: Sim, só no desespero completo alguém faria uma coisa dessas! K: Precisamente! O desespero completo é ter a morte como evidência total. PJM: Também pode acontecer na vida de cada um, sem ser em combate. K: Acontece sempre. A diferença é que em combate é tudo mais decisivo, é tudo mais apressado, e também tudo muito mais tangível. Em combate a morte sente-se fora de nós e à flor da pele. Se já tiveste a experiência de lutar na rua com desconhecidos, sabes que essa luta é muito mais do que uma luta a treinar. Podes sair magoado de ambas, mas na luta de rua, tudo à tua volta é sentido por ti como possibilidade de dor. Uma garrafa na mão do outro, já não é uma garrafa, é uma possibilidade que pode acabar contigo naquele momento. A grande diferença é que em combate a morte não é pensada, é sentida, na vida a morte é fundamentalmente pensada. Em combate, as coisas estão contra nós, se não estiverem a nosso favor. Na vida, as coisas são as coisas, são neutras, não precisam de ser nem a favor, nem contra. É por isso que em combate a morte se sente mais. PJM: Presumo então que o Karadeniz também esteve em combate! K: Claro! Antes de ser assassino profissional, fui militar. E cheguei a estar em combate. PJM: Aonde é que combateu e quando? K: Fiz o serviço militar nas forças especiais, quando regressei dos EUA, depois do curso de engenharia, e cheguei a combater em operações secretas nas montanhas entre a Turquia, o Irão e o Iraque. PJM: Foi aí que adquiriu a perícia para a sua posterior profissão? K: Uma parte dela, sim. A Turquia tinha, e ainda deve ter, das melhores forças especiais do mundo. A Turquia sempre foi e tem de continuar a ser fortemente militarizada, por causa do lugar onde se encontra. Vivíamos, e ainda vivemos, rodeados de inimigos. PJM: Se, nos dias de hoje, estivesse a começar a sua vida, voltaria a ter a mesma profissão? K: Voltaria. Parece-me uma profissão de futuro. Saber matar bem tem sempre futuro.
Rui Flores VozesDa dessacralização do poder [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m grupo de alunos da Universidade de Macau foi recentemente recebido pelo Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, no âmbito de uma visita de estudo à Europa, organizada pelo European Union Academic Programme in Macao. O facto de um grupo de alunos de Macau, na sua grande maioria da China continental (integravam também a delegação uma aluna “local”, uma italiana e um butanês), ter sido recebido por um chefe de Estado é, naturalmente, notícia, e diz bem da importância estratégica que Portugal dá à China, particularmente à Região Administrativa Especial. Mas mais do que a mera nota da visita, o contexto do encontro e a forma como Marcelo recebeu os alunos (sobretudo mulheres, num claro sinal de que o género feminino domina a academia – e isso não acontece apenas na Europa) merecem reflexão. Marcelo é desarmante. Põe todos à vontade. A visita à Europa dos alunos da Universidade de Macau incluiu, entre outras, reuniões na Comissão Europeia e no Serviço de Acção Externa da União Europeia, em Bruxelas, ou encontros na Assembleia da República, com deputados da comissão parlamentar de amizade Portugal-China, e no Ministério dos Negócios Estrangeiros, com a secretária de Estado dos Assuntos Europeus, em Lisboa, ou o presidente da Câmara Municipal do Porto. O encontro menos formal terá sido aquele que decorreu em Belém. Marcelo está na moda. E ele sabe-o bem. Primeiro, arruma com qualquer formalismo (ou esvazia qualquer nervosismo que pudesse afectar a delegação) logo no início do encontro. Cumprimenta todas as mulheres da delegação, e são 11, com um beijo. Na cultura chinesa, o beijo é um contacto físico muito íntimo e por isso apenas reservado aos mais próximos. Não era algo com o qual as alunas estivessem à espera. Sobretudo vindo de um Chefe de Estado. É evidente que após as três ou quatro primeiras alunas terem sido “corridas” com um ósculo presidencial, as seguintes já se preparam para ele de um modo mais natural. (No final, para as selfies da praxe, são elas que vão a correr para ele, de beijo e abraço prontos, para se despedirem, como se tivessem acabado de visitar o avô.) Depois, o discurso. Numa altura em que as universidades chinesas se fecham sobre si próprias – com declarações públicas de altos quadros chineses, inclusive do ministro da Educação, contra os valores ocidentais nas universidades chinesas –, Marcelo fala da importância dos estudos europeus, das instituições europeias, da solidariedade europeia e dos valores europeus no actual contexto internacional de interdependência e globalização. A forma como o faz não poderia ser mais directa, simples. Para que todos o compreendam. Depois de perguntar aos alunos se lhe querem colocar questões, salienta que esteve na região a dar aulas, na mesma Universidade de Macau, no final da década de 1980, e que se recorda bem da qualidade dos alunos. Tudo de um modo informal, sorridente, cheio de apartes. Marcelo é um exímio comunicador. É com essa mesma simplicidade, por exemplo, que pega no telefone, dois dias depois da reunião com os alunos de Macau, em pleno centro de operações da proteçcão civil, para convencer uma velhota de uma aldeia ameaçada por um dos incêndios florestais, que então lavravam na região centro, a abandonar a sua casa. Com a sua presidência dos afectos, Marcelo Rebelo de Sousa tem feito mais pela aproximação dos portugueses das instituições do que qualquer política de inserção social. Marcelo não é apenas um professor culto e experiente, que consegue traduzir conceitos complexos por palavras simples, apreensíveis por quase todos. Ele é também o comentador político, que durante anos partilhou o serão de domingo com as famílias portuguesas, comentando a actualidade, sugerindo caminhos, identificando os bons e os maus, dando notas aos políticos (como se ele próprio estivesse acima disso), e foi aperfeiçoando a sua forma de comunicar aos tempos contemporâneos. Outros políticos, noutros países, tentam transformar a política numa coisa natural; dessacralizá-la. Não é fácil. Muitos acabam por cair na esparrela da contradição ou são vítimas de um mau desempenho de actor medíocre. Marcelo é um homem numa missão. Os alunos de Macau assistiram na primeira fila a essa missão. A de por palavras simples, com uma capacidade ímpar de ouvir, mostrar que os assuntos de Estado podem ser conduzidos de uma forma mais aberta, menos dramática, com resultados, porventura, mais eficazes. Uma espécie de alternativa a que não estamos muito habituados. Algo que os alunos não irão seguramente esquecer.
Carlos Morais José A outra face VozesA ausência como centro Pablo Picasso – “Auto-retrato” [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]miúde o exilado se debate com as questões do abandono e da ausência. Situado na posição ambivalente de quem abandonou e se sentiu abandonado, é na experiência da ausência que, finalmente, a sua desterritorialização se constrói e edifica. É à volta desse vazio, tomado quantas vezes por absoluto, que o exilado alicerça novas identidades e se redescobre, enquanto humano e errante. Não se tratará de uma ausência particular mas de um conjunto intrincado, parte inconsciente ou com dificuldade denotado, que constitui uma espécie de vórtice — Maelstrom — em cada singularidade, impregnando-a de um movimento centrípeto, alucinado, mas cujo centro se afasta, ao invés de se aproximar. É por isso que encaramos essa ausência com uma estranha tranquilidade, como se estivéssemos a assistir à nossa morte, no momento em que ela consiste claramente numa metamorfose. Concretamente, não conseguimos deixar de girar em torno dessa ausência, mas ela não exerce uma atracção fatal: pelo contrário, erige-se como um horizonte que contemplamos com uma doçura cada vez mais açucarada, à medida que paulatinamente nos afastamos. Contudo, bem o sabemos, nenhuma distância realmente apagará esse sentimento de ausência que nos assombra. Seja ele fantasmático ou não, faça ele parte de uma qualquer realidade ou meramente se ancore numa imaginação perturbada, a verdade é que esse sentimento resiste ao tempo como se de um mal genético se tratasse. Nunca definitivamente se esvai, nunca de todo se apagará. É mal incurável e bem supremo que singularmente nos distingue. Espécie de maldição irrevogável e bendita, caminho sem retorno para o celeste inferno de uma percepção distanciada do mundo. Procurei sempre esse olhar. Encontrei-o num título de Claude Lévi-Strauss e nas tropelias poéticas de Rimbaud. Fiz um curso para o compreender. Mas nunca, de facto, em mim o experimentara até me deslocar aos confins da minha civilização e nas suas margens ele em mim se entranhar. Percebi que esse olhar distanciado não se aprende de outra maneira que não seja pelo exercício da ausência, pela intimidade solitária do pensamento, nas volutas espantadas de raciocínios bárbaros, nas delícias de concretos paradoxos, excrescências de logos, numa palavra, no exercício diário do exilado. Porque nunca algo se torna tão presente, tão importante, como quando é marcado pela ausência. Como se esta admitisse a presentificação de forma suave, quase ternurenta, do que mantemos encerrado nas caves desse seu castelo, cedendo-lhe espaço para contemplar, analisar, criticar, julgar; finalmente, capazes de entender e amar. Ele há exilados na distância, na geografia, mas também os há que nunca saíram do mesmo lugar. Eles sabem do que estou a falar. De uma saudade de infinitamente abraçar, de amorosamente compreender. Dessa percepção distanciada do mundo, da certeza de não lhe pertencermos por há muito o termos abandonado. Primeiro, a medo… depois, por força das circunstâncias… doutras vezes, a maior parte delas, por sermos mesmo assim e tal carregarmos como destino ou maldição. O exilado não se contorce, nem desespera: há muito que o desespero é seu fiel companheiro e a angústia noiva eterna, à sua espera num altar. É-lhe ridícula a esperança pois, intimamente, sabe que os outros dias não hão-de voltar. Esses dias que nunca realmente aconteceram, o vinho que nunca foi doce e as raparigas que nunca foram disponíveis e amáveis. O exílio é um estranho banho de realidade, na qual todos os dias mergulhamos sem a reconhecermos e dotados de míseras pistas de leitura. É então que se abre o universo e fazem sentido as facetas múltiplas que o compõem. É então que advém um amaciado entendimento, não discursivo, das coisas. Das que tenuemente existem e das que não existem de todo. E é então que o exílio se transforma numa espécie de cidadania de um mundo belo, cruel e indiferente.
Sérgio Fonseca DesportoAutomobilismo | Ávila contra a maré [dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]al como nas duas primeiras provas do Campeonato da China de Carros de Turismo (CTCC), Rodolfo Ávila teve mais uma vez que “remar contra a maré” e aplicar-se a fundo para sair do Circuito de Guizhou com um resultado satisfatório. Apesar de desconhecer o exíguo circuito da cidade Guiyang, Ávila aproveitou o facto da pista estar molhada no início da qualificação, vindo a secar com o progredir da sessão, para obter o quinto lugar. O piloto português da RAEM foi melhor dos quatro pilotos da SVW333 Racing, conquistando assim o seu primeiro ponto em sessões de qualificação esta temporada. Contudo, todo o trabalho realizado por Ávila no dia de sábado, acabou por ser em vão, porque o VW Lamando GTS se recusou a colaborar no arranque para a primeira corrida, disputada esta manhã. “Estava já parado na grelha de partida, pronto a arrancar, quando a temperatura do motor atingiu os 100 graus e o carro desligou-se”, explicou o piloto da SVW333 Racing. “Ainda consegui reiniciar o sistema mas o carro voltou a desligar na Curva 1 e depois na Curva 6. Quando finalmente começou a andar normalmente já era tarde de mais para conseguir obter um bom resultado, mas aproveitei a oportunidade para fazer mais quilómetros com o carro e continuar a minha adaptação.” Apesar de ter que largar da modesta 16ª posição para a segunda corrida, Ávila não “deitou a toalha ao chão”. O piloto oficial da SAIC Volkswagen fez novamente uma corrida cheia de garra de “trás para a frente”, como o tem caracterizado esta temporada. Após realizar diversas ultrapassagens, algumas de alto nível, Ávila terminou no sexto lugar da geral, sendo, mais uma vez, o melhor representante da SVW333 Racing. “Durante o intervalo entre as corridas pedi que me trocassem o diferencial e os resultados práticos foram visíveis.”, disse o piloto português de Macau. “Quando arrancamos a pista estava molhada, mas começou a secar gradualmente. O comportamento do carro esteve muito melhor e consegui subir várias posições. O resultado só não foi um lugar no pódio, porque a equipa Ford meteu pneus slicks e no final da corrida foram inevitavelmente os carros mais rápidos.” A próxima prova do campeonato está marcada para o fim-de-semana de 8 e 9 de Julho no circuito de Xangai Tianma, mais uma pista desconhecida para Ávila.
Hoje Macau China / ÁsiaAmiga de ex-presidente sul-coreana detida [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m tribunal sul-coreano condenou a três anos de prisão a amiga da presidente destituída Park Geun-hye, que usou aquela relação para conseguir a admissão ilegal da filha numa universidade do país. O tribunal afirmou que Choi Soon-sil “cometeu várias ilegalidades” para pressionar a universidade Ewha, uma das mais prestigiadas do país, a admitir a filha e a conceder facilidades académicas apesar das poucas qualificações de Chung Yoo-ra. Choi, amiga de longa data de Park e conhecida como a “Rasputina” sul-coreana, está também a ser julgada por ter criado uma rede de tráfico de influências para extorquir cerca de 70 milhões de dólares a grandes empresas. Depois de meses de protestos maciços e de um processo de destituição, Park abandonou formalmente o cargo e detida no âmbito do mesmo escândalo de corrupção. Em Abris, foi acusada de abuso de poder, coação, suborno e divulgação de segredos oficiais. A antiga directora da Ewha Choi Kyung-hee e Namkung Gon, antigo responsável pelas admissões da universidade, foram também condenados a curtas penas de prisão por terem dado tratamento preferencial a Chung. Era hipismo Em Maio, Chung foi extraditada da Dinamarca e está actualmente a ser investigada pelos procuradores sul-coreanos que consideram a filha de “Rasputina” uma figura-chave na rede de subornos entre Park e o gigante das telecomunicações Samsung. Seul acusou a jovem, de 20 anos, de corrupção e de ter recebido tratamento privilegiado na universidade e no bacharelato – título que lhe foi retirado por suspeita de falsificação de notas e dos registos de presença. As autoridades de Seul acreditam que o grupo Samsung assinou um contrato na ordem dos 22.000 milhões de wons (cerca de 170 milhões de patacas) com uma empresa com sede na Alemanha propriedade de Choi Soon-sil e que deu apoio financeiro para que a jovem Chung Yoo-ra, que pratica hipismo, treinasse no território alemão e comprasse cavalos. A jovem, que justificou estar na Dinamarca por causa de actividades relacionadas com o hipismo, negou todas as acusações, mas admitiu que assinou em várias ocasiões documentos que lhe foram apresentados pela mãe.
Andreia Sofia Silva China / Ásia MancheteCaso EDP | Relações China-Portugal não sofrem influências de casos de corrupção Prudência parece ser a palavra de ordem do lado da China perante o caso EDP, onde a China Three Gorges é a accionista maioritária. Analistas garantem que o alegado caso de corrupção não vai afectar as relações entre China e Portugal, nem mesmo outros processos semelhantes, como é o caso do que está relacionado com os vistos dourados. Os chineses preferem mesmo esperar para ver [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s suspeitas de corrupção que envolvem os patrões da Electricidade de Portugal (EDP), António Mexia e Manso Neto, já constituídos arguidos, é o mais recente escândalo de corrupção em Portugal. Contudo, não é o único que se imiscui as relações económicas que a China e Portugal têm mantido nos últimos anos. Na EDP, a empresa estatal China Three Gorges é hoje a accionista maioritária, tendo pago, em 2011, 2,7 mil milhões de euros ao Estado português por 21,35 por cento do capital da empresa ligada ao sector energético. Convém ainda lembrar o processo que decorre em tribunal relacionado com a política de captura de investimento dos vistos dourados. Dados relativos ao mês de Maio mostram que a atribuição dos chamados Vistos Gold caiu para metade, sendo que a excessiva burocracia é também culpada por esses números. Há ainda as acusações de corrupção de um milionário chinês exilado nos Estados Unidos, de nome Guo Wengi, que atingem o grupo HNA, accionista da companhia área portuguesa TAP através do consórcio Atlantic Gateway e da companhia brasileira Azul. Até onde irão as consequências destes casos para as relações dos dois países? Referindo-se ao caso EDP, Y Ping Chow, presidente da Liga dos Chineses em Portugal, garante que não se avizinha, para já, um impacto negativo. “A comunidade chinesa não tem opinião sobre esta matéria, a opinião dos portugueses sobre este assunto é mais negativa. Os portugueses pensam que as empresas chinesas estão a roubar o seu lugar, mas nunca pensaram que a EDP, com a entrada das acções chinesas, obtivesse muitos benefícios”, disse ao HM. Para Y Ping Chow, “as relações entre os dois Governos não estão afectadas, e o Governo português reconhece que não foram prejudicados com a entrada do capital chinês”. Prudência a quanto obrigas A China já reagiu ao caso EDP, mostrando uma postura atenta e, ao mesmo tempo, prudente. Num comunicado enviado à Agência Lusa, não se revelam sinais de quebra de relações e defende-se, sobretudo, a importância da colaboração com as autoridades portuguesas no processo de investigação. “A China Three Gorges Europa apoia todas as partes envolvidas a colaborarem inteiramente com os procedimentos da investigação”, pode ler-se. Além disso, a empresa diz continuar a acreditar que as autoridades portuguesas “continuarão a manter um quadro regulamentar estável para o sector energético”. A China Three Gorges afirma ainda esperar que “todas as partes se comprometam com o conteúdo de todos os acordos válidos, incluindo os Custos para Manutenção do Equilíbrio Contratual”. Estes custos dizem respeito aos apoios que o Estado português atribui para a produção de electricidade e energia, as chamadas “rendas”. Segundo a edição do semanário Expresso da semana passada, o Estado poderá cobrar 500 milhões de euros em rendas que foram indevidamente recebidas pela empresa, relativas a um período superior a dez anos. Na visão do académico Arnaldo Gonçalves, a China tem revelado, acima de tudo, uma postura prudente. “A posição da China perante estas coisas, como é habitual na diplomacia chinesa, é uma posição de enorme prudência, ver exactamente o que se passa.” O especialista em relações internacionais lembra que ainda é cedo para avaliar potenciais consequências negativas. “A situação está a evoluir e numa direcção que ainda não percebemos muito bem para onde é que ela vai. São várias circunstâncias que estão a ocorrer ao mesmo tempo. As relações, para já, são boas. O clima é amistoso, quer do lado de Portugal, quer do lado da China.” Wang Jianwei, especialista em política externa chinesa e docente da Universidade de Macau, considera que podem existir algumas mudanças nesta relação bilateral, ainda que seja cedo para traçar um cenário. “Não temos ainda muitos detalhes sobre o caso e a natureza do crime, das pessoas que estarão envolvidas. Se o caso envolver políticos chineses ou empresas estatais, terá eventualmente algum impacto nas relações entre os dois países, sobretudo se os dois Governos tiverem diferentes visões sobre as pessoas envolvidas e a natureza do caso”, defendeu. A curto prazo, tanto o caso EDP, como outros semelhantes “não terão um grande impacto nos investimentos portugueses que são feitos na China e nos investimentos chineses que estão a ser feitos em Portugal”. “O caso pode ser controverso para os dois lados, pois podem existir duas visões diferentes sobre esse assunto”, frisou ainda Wang Jianwei. Corrupção no mundo lusófono Arnaldo Gonçalves prefere olhar para fora de Portugal: afinal de contas, os casos de corrupção têm ocorrido com frequência nos países com quem a China tem relações económicas. “Se pensarmos nas relações da China com África, países onde, ciclicamente, se falam em casos de corrupção, a China tem sempre uma posição de grande prudência e contenção no uso das palavras. E colocam-se na mesma posição em relação a Portugal. Fazem a declaração que qualquer parceiro fará, de colaboração com a justiça.” “Os problemas da corrupção são mundiais e transversais”, acrescenta o académico, lembrando que, ao nível interno, a China tem a sua própria campanha anti-corrupção. “Temos visto nos últimos meses casos de nepotismo, de favorecimento, de pessoas ligadas a figuras do Partido e do Politburo. Quase todas as semanas vemos notícias de alguém que é suspeito ou acusado. A China tem esse problema dentro de portas e tenta actuar com muita prudência.” Casos como o da EDP ou Vistos Gold não preocupam o analista. “A China espera que as coisas se clarifiquem. Não há nenhuma quebra de confiança e nem faria sentido. O problema da corrupção é genérico e atravessa todos os continentes. Angola, que é um regime socialista também, onde há problemas de corrupção gravíssimos”, lembrou. O comunicado enviado pela China Three Gorges à Lusa aconteceu duas semanas depois de Mexia, presidente da EDP, e João Manso Neto, presidente da EDP Renováveis, terem sido constituídos arguidos, no âmbito de um inquérito a eventuais crimes de corrupção activa e passiva e participação económica em negócios na área da energia. Já foram constituídos mais cinco arguidos, incluindo antigos assessores do Ministério da Economia no tempo em que Manuel Pinho assumia a tutela, bem como ex-administradores da EDP e responsáveis da Rede Energéticas Nacionais. Alertas directos | “Contra qualquer forma de corrupção” No comunicado enviado à Lusa, a China Three Gorges deixa ainda bem claro que é “contra qualquer forma de corrupção”, esperando que os arguidos disponibilizem um “acesso ilimitado à informação”, para que todo o processo de investigação decorra sobre os “princípios da abertura, transparência e objectividade”. A empresa estatal chinesa afirma ser “contra qualquer forma de corrupção e práticas de negócio impróprias”, tendo adiantado que “vai continuar a promover a colaboração estratégica e industrial com a empresa [EDP], o desenvolvimento da economia portuguesa e o rigoroso cumprimento das leis e regulamentos da República de Portugal”. Quatro dias depois das buscas à sede da EDP, o presidente do Conselho Geral e de Supervisão da EDP, Eduardo Catroga, garantiu que os accionistas manifestaram “a sua solidariedade com a gestão da EDP”, na sequência do processo de investigação. Eduardo Catroga lembrou que “aquilo que foi comprado não pode ser espoliado”, realçando que nenhum Governo “quer um litígio jurídico com accionistas que compraram uma empresa com as receitas que integram este litígio”, referindo eventuais alterações aos apoios à produção de energia.
Hoje Macau PolíticaChui Sai On | Xangai e Macau mais unidos [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]inanças, turismo, educação, ciência e tecnologia, desporto. São estas as principais áreas em que Macau e Xangai deverão reforçar a cooperação. A ideia saiu da reunião mantida ontem entre o Chefe do Executivo e o secretário do Comité Municipal do Partido Comunista Chinês (PCC), Han Zheng, e o presidente do município, Ying Yong. De acordo com um comunicado do Governo, foi considerado na reunião que “a base de cooperação bilateral é firme”, pelo que se espera agora “fortalecer o intercâmbio em várias vertentes”. Durante o encontro, Chui Sai On fez um balanço dos resultados alcançados com os mecanismos estabelecidos, tendo defendido que ambas as partes “criaram uma base vantajosa para colaborar, particularmente com a assinatura do ‘Memorando de Cooperação Financeira entre Xangai e Macau’, em 2012”. Este entendimento permitiu à RAEM participar no projecto da zona de comércio livre, sublinhou, tendo ainda recordado que Xangai e Macau desenvolveram uma série de acções de cooperação no âmbito do turismo, cultura, comércio e educação, entre outras áreas. Por sua vez, Han Zheng explicou que, seguindo as instruções e programação do país, Xangai tem-se dedicado ao desempenho das funções de “vanguarda da reforma e abertura” e “precursor no desenvolvimento por inovação”, bem como ao aprofundamento da reforma da zona pioneira de comércio livre, no sentido de impulsionar o desenvolvimento contínuo da metrópole. O secretário do Comité Municipal do PCC defendeu que “os contactos entre Xangai e Macau são muito estreitos”, com uma base de ligação “bem delineada”. E deixou uma promessa: Xangai continuará a apoiar o desenvolvimento de Macau. Na deslocação à capital económica chinesa, Chui Sai On e a comitiva que o acompanha estiveram presentes nas comemorações do 75.º aniversário do Banco Tai Fung e cerimónia de inauguração da sucursal em Xangai. O regresso a Macau aconteceu ainda ontem.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaOperários | Não é certa eleição de segundo deputado, diz Larry So Ella Lei é candidata à Assembleia Legislativa pelo sufrágio directo e diz que isso parte de uma “decisão pessoal”. O analista político Larry So acredita que será difícil aos Operários a eleição de um número dois, pelo facto de estar a apostar nas gerações mais jovens e menos conhecidas do eleitorado [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] participação das listas com ligações à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) sofreu uma reviravolta este ano. Ella Lei, que em 2013 foi pela primeira vez eleita deputada pelo sufrágio indirecto, é este ano candidata por sufrágio directo. Kwan Tsui Hang e Lam Heong Sang estão de saída, depois de décadas a assumir posições políticas. Ao HM, Ella Lei disse apenas que a decisão de concorrer a um assento pelo sufrágio directo foi pessoal. “Não tem que ver com mais nenhuma razão. A equipa tem os seus mecanismos e requisitos. Tendo em conta os últimos quatro anos, quero candidatar-me pelo sufrágio directo. Já tinha uma ideia nesse sentido e acho que preciso de assumir essa posição.” Aposta jovem Para o analista político Larry So, o nome de Ella Lei é a prova de que a FAOM está a apostar nas novas gerações para o seu percurso político. Contudo, poderá não estar garantida a eleição de um número dois. “Se conseguem eleger um segundo deputado? Vamos ver como é que a estratégia vai correr. Diria que a FAOM está a lutar muito para pôr as gerações mais jovens à frente. Não diria que vão ter menos votos, mas enfrentam um risco.” Larry So acredita mesmo que a lista com ligação aos Operários pode perder parte do seu eleitorado mais tradicional. “Há jovens a concorrer, mas os eleitores mais tradicionais podem desistir deles. Um lugar está garantido, mas vão ter mais dificuldades a eleger um número dois.” Ainda assim, dificilmente estes eleitores irão virar-se para outros candidatos, como, por exemplo, as listas do universo Chan Meng Kam. “Têm eleitorados diferentes. Chan Meng Kam concorre pelos clãs, e não pelos trabalhadores. Não vejo Chan Meng Kam a roubar votos aos Operários, mas estes podem ter alguns problemas neste ponto.” A primeira vez Há muito que Ella Lei assume uma posição de destaque no trabalho que é desenvolvido pela FAOM, apesar de ser uma deputada eleita pela via indirecta. É uma voz interventiva nos plenários, tendo inclusivamente feito um pedido de debate, além das muitas interpelações que apresenta. O analista político Larry So denota isso mesmo. “Mesmo que seja uma deputada eleita pela via indirecta, o seu desempenho e comportamento é melhor do que muitos dos deputados eleitos pela via directa. Nesse caso diria que ela está preparada para as eleições.” “Na corrida às eleições pelo sufrágio directo todos têm a sua primeira vez. Não me surpreendo, mas penso que ela está bem preparada”, acrescentou Larry So.
Hoje Macau PolíticaLei de Terras | Sónia Chan precisa de tempo [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, disse em declarações reproduzidas pelo canal chinês da Rádio Macau que recebeu há dias a proposta de revisão à lei de terras submetida pelos deputados Leonel Alves e Zheng Anting, mas que precisa de tempo para as analisar. O problema prende-se com o facto de o documento estar em português e necessitar de tradução, assim como o número elevado de artigos. Esta semana, antes de partir para Xangai, Chui Sai On disse que o processo legislativo está a “seguir os trâmites normais”. O Chefe do Executivo acrescentou que “é necessário fazer uma análise profunda e a secretaria [da Administração e Justiça] irá entregar um relatório”. Sónia Chan garantiu apenas que vai analisar o documento o mais rapidamente possível, não havendo para já uma data confirmada para a emissão de um relatório. Se o Chefe do Executivo não tomar uma decisão em breve, será difícil discutir o diploma na actual legislatura, partindo do princípio que dá autorização para a iniciativa legislativa dos deputados. Se o tempo for insuficiente, o projecto de lei terá de ser de novo apresentado depois das eleições, sendo que um dos proponentes, Leonel Alves, já não será deputado, uma vez que anunciou publicamente esta semana que não se recandidata à Assembleia Legislativa.
Victor Ng PolíticaIncêndios | Kwan Tsui Hang apela a revisão urgente de regulamento A revisão do regulamento de segurança contra incêndios já entrou no processo legislativo, mas a deputada Kwan Tsui Hang quer saber em que ponto está. A matéria tem carácter urgente e é necessário levar o diploma à Assembleia Legislativa [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] deputada Kwan Tsui Hang pede informações acerca do processo de actualização do regulamento de segurança contra incêndios. Em causa está a sua desactualização e, em interpelação escrita, a deputada solicita ao Governo que seja conhecida a informação do respectivo processo. Kwan Tsui Hang pede ao Executivo que aproveite a revisão da matéria para proceder à introdução de um mecanismo de carácter periódico que garanta que os requisitos exigidos acompanham o desenvolvimento local. A deputada justifica o pedido com as queixas que têm sido feitas pelos sectores de arquitectura e engenharia. Apesar de, no ano passado, o Executivo ter avançado com uma consulta pública para a definição e uma actualização do regulamento em causa, Kwan Tsui Hang afirma que, até à data, não foi divulgada mais nenhuma informação acerca do processo. “O secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, respondeu que tal proposta já tinha entrado no processo legislativo. No entanto, para já não há um calendário para a sua apreciação na Assembleia Legislativa”, lê-se na missiva. Matéria urgente Para a deputada, a questão da segurança contra incêndios é urgente. Trata-se de uma matéria, sublinha, que envolve as vidas de quem mora no território e, como tal, deve constituir uma prioridade na agenda do Executivo. O presente regulamento não sofre alterações desde 1995 pelo que, diz Kwan Tsui Hang, está desactualizado e precisa de ser optimizado tendo em conta a nova configuração do território e as necessidades que acarreta, sendo que, agora, os requisitos relativos à segurança são com certeza mais e diferentes dos que eram há duas décadas. Na prática, a deputada pede ainda informações detalhadas quanto às intenções do Governo na revisão do regulamento em causa, incluindo pormenores acerca das reacções dos materiais de construção ao fogo e dos procedimentos quanto aos padrões de avaliação. Kwan Tsui Hang recorda ainda que, no ano passado, o Governo recebeu os sectores de arquitectura e engenharia para recolha de opiniões, sendo que a deputada quer, agora, saber os contributos dos sectores em causa.
Andreia Sofia Silva PolíticaLei da Nacionalidade regulamentada. José Cesário alerta para dificuldades e burocracias [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi ontem publicada a regulamentação da Lei da Nacionalidade, que visa a atribuição da cidadania portuguesa a netos de portugueses nascidos no estrangeiro. O novo diploma vai obrigar os requerentes a cumprir uma série de requisitos para que possam ser cidadãos portugueses, sendo um deles o domínio da língua. “Verifica-se que o conhecimento da língua portuguesa será obrigatório em todos os casos”, referiu José Cesário, deputado à Assembleia da República eleito pelo Círculo Fora da Europa. A nova lei irá admitir a dispensa do domínio do português “nos casos de naturais de países com língua oficial portuguesa há pelo menos 10 anos, aos que residem em Portugal há cinco anos ou a quem tenha frequentado estabelecimento de ensino reconhecido nos termos da lei portuguesa ou devidamente acreditado pelo Instituto Camões”. José Cesário traça, contudo, algumas críticas a um diploma que há muito estava por regulamentar. “A versão agora publicada desilude muito as expectativas criadas nos últimos tempos. Tal como havia já prognosticado, as decisões serão casuísticas e ficarão fundamentalmente nas mãos da Ministra da Justiça e dos serviços da Conservatória dos Registos Centrais.” O reconhecimento imediato da cidadania só acontece caso os netos de cidadãos portugueses residam em Portugal. “A deslocação regular a Portugal e a participação habitual nos últimos cinco anos nas actividades de associações culturais e recreativas da comunidade portuguesa serão um elemento de ponderação a ser apreciado no processo decisório”, alertou ainda José Cesário. Um processo complicado Em Macau haverá alguns casos de netos de portugueses que terão condições para pedir a nacionalidade, mas não tantos como os que se verificam noutros países. No mesmo comunicado, José Cesário considera que “fica-se muito aquém do que desejávamos para se fazer justiça a milhares de netos de cidadãos nacionais, que anseiam por ter a nacionalidade portuguesa, de uma forma simples e objectiva”. Ainda assim, o deputado e ex-secretário de Estado das Comunidades Portuguesas defende que a regulamentação da Lei da Nacionalidade “permitirá que os diversos casos possam ser formalizados e ter os primeiros resultados”, embora lhe pareça que “os aguarde um processo relativamente moroso”.
Victor Ng SociedadeDSAT | Ferreira do Amaral tem os trabalhos de manutenção em dia Ella Lei reclamou, mas o Governo desdramatiza. O parque de estacionamento da Praça Ferreira do Amaral voltou a ter condições de utilização. Em resposta a uma interpelação da deputada, a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego garante que já foram tomadas as medidas necessárias [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] manutenção das instalações para o acesso a peões e a desactivação dos elevadores que não apresentam condições de funcionamento estão feitas na Praça Ferreira do Amaral. A informação é dada pela Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) em resposta a Ella Lei, deputada à Assembleia Legislativa. De acordo com o Governo, já foi exigido aos responsáveis pela gestão do parque de estacionamento o reforço dos serviços de fiscalização para manter o bom estado do equipamento. Na mesma resposta, o responsável máximo pela DSAT, Lam Hin San, garante ainda que a fiscalização no auto-silo da praça Ferreira do Amaral irá ser reforçada em duas vertentes: tanto nas acções periódicas, como pontuais. No que diz respeito aos trabalhos de limpeza, a DSAT considera que têm sido feitos e que estão em conformidade com a manutenção das boas condições de utilização daquela área. Por outro lado, quanto aos espaços arborizados, o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais continua a contratar fiscais para assegurar a limpeza da zona. Há lugares para todos A disponibilização de lugares de estacionamento para ciclomotores e motociclos na cave 1 do auto-silo não se justifica, diz a DSAT, até porque não é um local muito procurado, pelo que há espaço suficiente para que todos tenham um lugar. Por outro lado, as zonas de estacionamento que circundam o auto-silo devem ser aproveitadas para melhorar a circulação de peões e para optimizar as acções de recolha e entrega de mercadorias. A razão é evitar o desperdício de espaços públicos. Ella Lei tinha sugerido ainda, na interpelação enviada ao Executivo em Abril, que fossem instalados equipamentos de lazer no rés-do-chão do auto-silo da Praça Ferreira do Amaral. A DSAT não concorda e reitera o que já tinha sido dito pelo IACM: a medida traz inconvenientes no acesso àquela zona.
Hoje Macau SociedadeDetectada prescrição inadequada de medicamentos oncológicos [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Saúde de Macau (SSM) detectaram casos suspeitos de prescrição inadequada de medicamentos contra o cancro por clínicas privadas, no valor de 80 milhões de patacas. Num comunicado enviado pouco depois da meia-noite de ontem, os SSM explicam que, suspeitando do caso, que “pode ter efeitos adversos nos pacientes”, realizaram fiscalizações surpresa em sete estabelecimentos privados de cuidados de saúde, sendo que em quatro se mantiveram as suspeitas, dois estão ainda a ser investigados e num caso o centro médico foi ilibado. Os fiscais verificaram que, em casos de prescrição de medicamentos destinados ao tratamento de carcinoma pulmonar, os processos clínicos dos pacientes estavam incompletos ou em falta e havia diferenças de quantidade entre a compra e a prescrição. Os produtos suspeitos foram selados, bem como os processos clínicos. O valor total dos medicamentos contra o cancro que terão sido prescritos inadequadamente é de cerca de 80 milhões de patacas. Os SSM explicam ainda que os medicamentos em questão “não foram registados oficialmente em Macau”, tendo sido solicitada por importadores uma licença especial para que pudessem ser utilizados por determinados pacientes, o que foi autorizado pelos SSM. No entanto, “algumas entidades de saúde procediam à venda ilegal deste tipo de medicamentos a pacientes do interior da China para obtenção de lucro”, o que pode incorrer em fraude, contrabando e evasão fiscal. Os SSM alertam que, se se concluir que a infracção constitui “crime contra a saúde pública, a multa será acrescida de suspensão de licença e, em caso de reincidência, do seu cancelamento”. Além disso, se a prescrição não corresponder à “realidade do processo clínico, não será excluída a possibilidade de envio do caso ao Ministério Público para apuramento da responsabilidade penal”.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeMedia | Negócio entre KNJ e Global Media adiado O diário Correio da Manhã escreve que o negócio da compra de 30 por cento da Global Media por parte da KNJ só deverá concretizar-se em Setembro, quando estava prometido para Março deste ano. Paulo Rego não comenta [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]ecorria a conferência ministerial do Fórum Macau, em Outubro do ano passado, quando foi selado o pré-acordo da compra de 30 por cento da Global Media por parte da empresa local KNJ Investment, liderada pelo empresário Kevin Ho, sobrinho de Edmund Ho. O advogado Daniel Proença de Carvalho, presidente do conselho de administração da Global Media, esteve em Macau, fazendo-se acompanhar pelo jornalista Paulo Rego, mediador das negociações. Meses depois o negócio continua por fechar. Segundo o diário português Correio da Manhã (CM), o acordo deverá ser selado apenas em Setembro, quando fora anunciado para Março deste ano. “Contudo, sabe o CM, o negócio, a concretizar-se, não deverá acontecer antes de Setembro. De referir que recentemente uma comitiva da KNJ esteve em Portugal, tendo visitado as instalações do grupo de media em Lisboa e no Porto”, escreve o jornal. Contactado pelo HM, Paulo Rego não quis comentar esta notícia. O HM tentou ainda contactar Daniel Proença de Carvalho via e-mail, mas até ao fecho desta edição não obtivemos qualquer reacção. As reacções Em declarações à Agência Lusa, em Setembro do ano passado, Kevin Ho considerou que o grupo Global Media, que detém títulos como o Diário de Notícias, a TSF e O Jogo, terá “grande potencial após uma reestruturação”. “A KNJ Investment Limited expressou interesse inicial no grupo Global Media”, disse Kevin King Lun Ho, esclarecendo que a KNJ se trata de “uma empresa de investimento e não se limita ao negócio do imobiliário”. De acordo com o registo comercial, a KNJ, fundada em 2012, dedica-se ao investimento imobiliário, médico e de saúde, bem como à restauração. “Se um negócio for fechado, a empresa pretende expandir para diferentes áreas”, acrescentou. O negócio tem gerado algumas reacções em Portugal. Num artigo de opinião publicado no jornal Público, o colunista João Miguel Tavares questionou “que negócio, afinal, foi este?”, num artigo intitulado “A Global Media e o nosso homem em Macau”. “Perplexidade 5: As movimentações accionistas via Macau não espantam apenas pela estranha empresa KNJ, que supostamente investe ‘na área do imobiliário, saúde e restauração’ (entradas no Google sobre a KNJ Investment antes de 2016: zero)”, escreveu Tavares.
Hoje Macau EventosCinemateca Paixão | Segundo festival de documentários em Julho [dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]eis filmes de realizadores portugueses integram o segundo Festival Internacional de Documentário de Macau (FIDM ou MOIDF, na sigla em inglês), que arranca a 8 de Julho, na Cinemateca Paixão. “Ama-san”, documentário que Cláudia Varejão rodou no Japão, acompanhando uma comunidade de mulheres que se dedica à prática milenar de pesca por mergulho em apneia é uma das produções portuguesas apresentadas no certame. Falado em japonês, com legendas em inglês e chinês, o filme premiado no DocLisboa 2016 resulta de um trabalho de pesquisa de Cláudia Varejão, no Japão, em torno de pescadoras que apanham moluscos e bivalves, mergulhando sem garrafas de oxigénio, respeitando técnicas tradicionais e rituais antigos. Com um total de 27 filmes de várias partes do mundo, incluindo Taiwan e Hong Kong, o festival inclui uma Secção Portuguesa com cinco documentários. “Rio Corgo” (2015), da polaca Maya Kosa e do português Sérgio da Costa, e que recebeu o prémio para melhor filme português no Festival DocLisboa, é o primeiro dos filmes em exibição nesta secção. Outro dos destaques na secção dedicada aos criativos portugueses é a “A Caça Revoluções” (2014), o primeiro filme de Margarida Rêgo, uma animação experimental sobre fotografia, que tem como mote a Revolução de Abril de 1974, a partir de uma fotografia tirada na época. Leonor Teles em Macau “Balada de Um Batráquio” (2016), curta-metragem da realizadora Leonor Teles, vencedora do Urso de Ouro do Festival de Berlim e premiada no Festival Internacional de Cinema de Hong Kong em 2016, também vai ser exibida em Macau. Do luso-americano Gabriel Abrantes chega “Uma Breve História da Princesa X” (2016), a escultura na base do escândalo do Salão Internacional de Arte de Paris, em 1920, dedicado ao escultor Constantin Brancusi e à escritora Marie Bonaparte, um filme que no ano passado teve a sua antestreia na Tate Britain, em Londres, no Reino Unido. “Cidade Pequena” (2016), a curta-metragem que valeu a Diogo Costa Amarante o Urso de Ouro no festival de Berlim deste ano, encerra os filmes da secção portuguesa. Tempo e crescimento O 2.º Festival Internacional de Documentário de Macau é uma colaboração entre a Cinemateca Paixão e a Comuna de Han-Ian. Assente em dois conceitos – “Tempo” e “Crescimento” –, e no tema “Imagem do Tempo”, o festival abre com “Small Talk” (Taiwan), uma complexa história sobre a cineasta Hui-chen, que venceu o Prémio Teddy para Melhor Documentário no Festival Internacional de Cinema de Berlim 2017. A cineasta japonesa Naomi Kawase vai ser a “realizadora em foco” da segunda edição do FIDM, com a exibição de seis dos seus documentários, incluindo “Embracing”, “Katatsumori” e “Chiri”, os quais retratam a mesma personagem ao longo da vida. Nascida em Nara, no Japão, Naomi Kawase tornou-se em 1997 a mais jovem realizadora de sempre a ganhar a Camera d’Or no 50.º Festival Internacional de Cinema de Cannes e vai estar em Macau para partilhar a sua experiência com o público (ver texto nesta página). Outros destaques do certame são o filme de ficção “Suzaku”, também de Naomi Kawase, “Brothers”, descrito como uma versão documentário do filme “Boyhood”, e “Still Tomorrow”, filme de Jian Fan sobre uma mulher agricultora que se torna poeta, distinguido no Full Frame Documentary Film Festival (IDFA). O segundo Festival Internacional de Documentário de Macau termina a 30 de Julho.
Hoje Macau EventosNaomi Kawase: As possibilidades criativas da dor Excertos de um texto de Jo Takahashi [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]usência e perda. Na filmografia da cineasta japonesa Naomi Kawase, é comum observar experiências de vida que envolvem a aprendizagem dos personagens com a dor inevitável de um acontecimento trágico, sem no entanto sucumbir ao ressentimento ou à culpa. Diferente da produção audiovisual da indústria que reproduz determinados padrões de género, o cinema de Kawase explora imagens sensoriais que redimensionam a relação entre corpos filmados e câmara, por meio de filmes dotados de motivação autobiográfica. As suas primeiras curtas são filmes caseiros, onde ela mesma procura lidar com elementos claramente pessoais, como o abandono do pai e a iminência da morte da tia-avó. Por meio de um inventário de imagens registadas na sua própria casa ou nos arredores da bucólica cidade de Nara, tais filmes caseiros absorvem nuances sentimentais de curiosidade e esquadrinham uma intimidade. Com uma Super 8, Kawase regista momentos de sua vida quotidiana que são dignos de ser guardados e, por meio desta colecção de instantes, monta seus filmes domésticos de forma descontínua, como forma de preservar aquilo que é mais caro nas imagens: sua dócil presença. Tal sensibilidade é enfatizada em Caracol (1994), no momento em que Kawase toca o rosto de sua tia-avô, após tê-la observado da janela de sua casa. O acto de acariciar a imagem, de fazer do contacto o gesto primordial, sugere a aposta em uma “câmara-pele”, como explica o ensaísta Luis Miranda em El Cine en El Umbral. Kawase explicita a necessidade de tocar alguém que se ama e, por meio de tal gesto, sustentar uma materialidade que fatalmente se perderia com a morte da tia-avó. A modulação da ausência também é presente em outros documentários caseiros da cineasta, como Em seus braços, em que ela mostra sua busca pelo pai biológico; ou Cartas de uma cerejeira amarela em flor, onde relata suas visitas a um amigo crítico de fotografia, que estava na beira da morte. Nos filmes de ficção, a potência de vida das personagens é tanta que a perda nunca é compreendida como algo negativo. Dentro dos seus limites, os personagens dos longas de Kawase esforçam-se por provocar bons encontros que aumentem ao máximo sua acção no mundo. A tristeza transforma-se em alegria; a obscuridade em luz. É o caso de Shara, que narra como uma família lida com o desaparecimento de um ente querido; ou A Floresta dos Lamentos, em que um viúvo fortalece a amizade com uma moça que acaba de perder o filho. Cada filme passa a ser a expressão intensa dos esforços dos seus personagens em organizar, cada um a seu modo, encontros alegres, apesar da dor da perda. Aqui o sofrimento não depõe contra a vida. As trajectórias dos personagens são marcadas pela contingência, pela diversidade de regularidades e acasos. E assim é a vida: cheia de erros e acertos, descobertas e fracassos. No cinema contemporâneo, Kawase começou a ter reconhecimento quando recebeu o prêmio Camera D’Or no Festival de Cannes, em 1997, tornando-se a mais jovem directora a ser premiada no evento, com a sua primeira longa-metragem Suzaku.
João Luz EventosGiulio Acconci expõe pela primeira vez no Centro de Design de Macau [dropcap style≠’circle’]“M[/dropcap]AZU – A Solo Exhibition By Giulio Acconci” é uma estreia absoluta no mundo da pintura. Como se costuma dizer, há uma primeira vez para tudo. Uma frase que deve andar pela cabeça de Giulio Acconci há, pelo menos, um ano. Apesar de ter um passado ligado às artes plásticas, o artista expressou-se principalmente através da música, enquanto trabalhava como designer gráfico. “Esta não só é a primeira vez que faço uma exposição, mas também a primeira vez que faço obras completas de pintura”, explica. O público pode apreciar os primeiros trabalhos de Giulio no Centro de Design de Macau, a partir de terça-feira, dia 27, até ao dia 10 de Julho. Até 2016, o artista nascido em Macau fazia apenas pequenas experiências que não passavam de esboços e desenhos em papéis isolados e blocos. Uma vez uma mão, noutras uma perna, sempre sem coerência de uma obra sólida. No ano passado, Giulio Acconci começou a concretizar as experiências em algo mais completo e o resultado deu-lhe coragem para prosseguir e dedicar-se, efectivamente, à pintura. “O que as pessoas podem ver é uma jornada que começou por curiosidade, para ver até que ponto poderia ir com a pintura”, conta o artista. O resultado é a combinação dos anos de designer gráfico e de todos os conceitos que foi absorvendo em leituras e em experiências de vida com manifestações estéticas. Memória surreal A inspiração para as pinturas partiu de uma visão da deusa Mazu, que empurrou Giulio Acconci para um “universo paralelo pela vida da pintura surrealista”. Nos seus quadros existem leões, dragões e pessoas em cenários surpreendentes. O artista quis dizer algo sobre Macau nestas obras que considera como memórias surreais da cidade. “Não estou a tentar passar uma mensagem particular, os meus trabalhos são muito abstractos e conceptuais, misturam elementos do Oriente e Ocidente”, explica. “A deusa Mazu foi a centelha que ateou o fogo mais surreal e o universo paralelo das minhas pinturas, é uma divindade com lendas inspiradoras”, desvenda Giulio Acconci. O artista foi criado no seio de uma família com forte ligação às artes. Neste capítulo importa mencionar que o seu avô, Oséo Acconci, fez o painel em mosaico que decora a fachada do Hotel Estoril. As obras que constituem a primeira mostra de Giulio Acconci foram concebidas usando aguarela, tinta-da-china e lápis de aguarela para apurar detalhes, numa mistura que une elementos oníricos a imagens recorrentes.
Sofia Margarida Mota EventosAlfredo Ceyna, artesão de lanternas de coelhos | Manter viva a tradição Foi professor do ensino primário nas Filipinas e agora é mestre da arte de construir lanternas. Alfredo Ceyna passa todos os anos o conhecimento da tradição a quem quiser aprender. Este ano, o workshop tem lugar de 17 a 28 de Julho Como é que aconteceu a passagem do ensino de artes industriais no seu país à mestria na construção das lanternas típicas do território? Nunca tinha pensado nisso. Quando o arquitecto Carlos Marreiros me pediu para fazer este trabalho pensei que teria de fazê-lo e não via nenhuma razão para que isso não acontecesse. Foi a partir de 2009, quando participei com o arquitecto na construção do Pavilhão da Lanterna do Coelhinho, na Expo de Xangai de 2010. Na altura, o arquitecto quis começar com o festival das lanternas em Macau por ser uma tradição local, nomeadamente com as lanternas do coelhinho. Pediu-me para aprender o ofício. Aprendi tudo o que sei com o Carlos Marreiros. Foi ele o meu mestre. Mostrou-me como se fazia, como se construía, como se podiam fazer estruturas e forrar com vários materiais. A partir daí desenvolvi as competências necessárias para poder construir as lanternas do coelhinho. Apesar de não esperar vir a tornar-me um artesão e dominar este ofício, acabei por perceber que é um trabalho muito bonito e que fazia peças também muito bonitas. Foi ainda uma prova que dei ao Carlos Marreiros que sempre me apoiou e incentivou a fazer mais e melhor. O que vê nestas lanternas? Do que sei, penso que simbolizam prosperidade. Na sua origem, acho que serviam para iluminar os caminhos quando as pessoas saíam de casa. Com o passar do tempo foram sendo desenvolvidas as técnicas e as formas: no início era usado o bambu para fazer a estrutura, e depois era unido e coberto com papel de arroz. Este método tradicional tem agora variações. Pode ser usado o arame e o ferro, por exemplo, e vários tipos diferentes de papel ou mesmo outros materiais sintéticos. Mas não há nada como a construção tradicional. O papel de arroz é um material muito frágil e delicado, mas especial quando falamos de textura e de cor. Tem um workshop marcado para o próximo mês. A iniciativa tem lugar todos os anos. Qual é a importância da sua realização? Fazer estes workshops anualmente é fundamental. As lanternas já começam a ser esquecidas em muitos locais, nomeadamente na China Continental. Em Macau, as lanternas do coelhinho são uma demonstração da cultura local que não podemos deixar desaparecer. Queremos mostrar, a quem estiver interessado, como podem fazer estes objectos. Por outro lado, é uma forma de alertar as pessoas para a importância das lanternas em Macau. Tecnicamente, ensino as competências a ter, como fazer as estruturas depois da ideia, e de como juntar e pintar o material que as vai cobrir. De facto, não é muito complicado fazer estas lanternas desde que se saibam as técnicas mais básicas. Claro que inicialmente é uma coisa difícil, principalmente a materialização da ideia em estrutura. Apesar de gostar mais do bambu, aqui aprendemos a usar o arame e penso que esta é a parte mais difícil. Porquê? É como uma escultura. As pessoas começam sem saber ao certo o que vão fazer. Tem de ser feito primeiro um plano e depois conseguir materializar a ideia em arame. Isso tem sido o mais complicado. Este workshop é dirigido a um nível avançado. Porquê? Sim. Chamamos de avançado porque não são dadas orientações. O processo é acompanhado, mas as pessoas fazem o seu próprio projecto. Fazem a sua estrutura e depois cobrem-na com o material que preferirem. É avançado porque deixo os alunos decidirem tudo o que tenha que ver com o que vão fazer. Não sou eu que controlo o resultado ou que forneço os esboços. Se assim fosse, seria tudo muito uniforme e eu quero que sejam todos diferentes. Qual é a sua opinião acerca da adesão a esta iniciativa? A adesão aos workshops vai variando de ano para ano. Às vezes temos mais participantes, outras menos. Tive uma vez uma criança, mas é uma arte muito difícil de ensinar quando as pessoas são muito novas. Do que tenho notado, é que são os mais velhos que, por vezes, se mostram mais interessados, sendo que a faixa média de idades não aparece tanto. Não sei porquê, talvez achem aborrecido. No entanto, os que frequentam os workshops terminam a formação muito satisfeitos. No final conseguem ver o produto que lhes saiu das mãos e que foi fruto de um trabalho duro. Também temos um limite de dez participantes, o que faz com que não possam integrar as formações muitas pessoas. Mas também não podem ser mais, para que seja um trabalho bem feito. Por falar em participantes, recordo uma senhora que vem todos os anos. Acho que ela gosta realmente deste ofício. Pode ser um dos últimos mestres desta arte em Macau. Como é que vê o futuro da tradição no território? Penso que esta é uma forma de manter a tradição viva. Por outro lado, o apoio de patrocinadores, especialmente para a construção de lanternas tradicionais em bambu, pode realmente ser um contributo importante para que o conhecimento e a construção se mantenham. É ainda importante o contributo do Governo. Se isso acontecer, a tradição não estará ameaçada e continuará. Macau é um lugar bonito e está cada vez mais a ter em conta o património e as tradições. Não acho que ainda esteja a ser feito tudo o que é possível para a sua preservação, mas está a ser feito um trabalho nesse sentido.
Hoje Macau China / ÁsiaChina promete cooperação com ASEAN no Mar do Sul [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China prometeu nesta quarta-feira efectuar diligências conjuntas com os países da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) para garantir o sucesso da reunião dos chanceleres China-ASEAN em Agosto e promover a paz e a estabilidade no Mar do Sul da China. O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Geng Shuang, fez a declaração em resposta a uma pergunta sobre os comentários recentes da secretária assistente das Relações Exteriores das Filipinas para os assuntos da ASEAN, Maria Hellen De La Vega. A diplomata filipina disse que o estabelecimento da linha vermelha de diplomatas seniores entre a China e os países da ASEAN e a aplicação do Código para os Encontros Não Planeados no Mar (CUES, em inglês) no Mar do Sul da China, ajudarão a melhorar as relações China-ASEAN. Geng elogiou os comentários da diplomata filipina, acrescentando que a situação actual no Mar do Sul da China é estável e mantém um ímpeto de desenvolvimento saudável. As partes relacionadas têm impulsionado as consultas sobre o Código de Conduta (COC, em inglês) no Mar do Sul da China, além da cooperação marítima, disse Geng. O diplomata chinês acrescentou que as partes chegaram a um acordo sobre a estrutura do COC. No ano passado, concordaram em estabelecer uma linha vermelha de diplomatas seniores para lidar com emergências marítimas e aplicar o CUES no Mar do Sul da China. A linha vermelha está na fase de experiência durante a primeira metade deste ano, segundo Geng. “Todas essas medidas têm desempenhado papéis importantes para fortalecer a confiança entre as partes e evitar assuntos inesperados”, acrescentou.