Caixa Geral de Depósitos

[dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uem se aproxima do Campo Pequeno vê assomar no planalto contíguo um Templo, uma verdadeira obra faraónica, babilónica, com jardins desertos suspensos e vértices triangulares, uma opulência também de Templo Salomónico; perguntamos como, a que deus, a quem tão fantástica obra se erigiu e suborna toda a visão periférica se erguendo à altura de forte? A que Olimpo se destina, e qual a divindade que lhe preside, e nesta extemporânea interrogação, a transcendência se cala para sussurrar: ao dinheiro! Mas o dinheiro é ele uma divindade? Não. O dinheiro é poder, é substância, é jogo, é fome, é abuso, é implosão, é a grandiloquência sem a rectificativa análise de um ponto que a transcenda e lhe dê a tal particularidade de culto.
Houve sempre divindades telúricas, teutónicas, que tinham como esfera de governação e domínio os lados mais densos da matéria. No Hades preside ainda um deus e Baco seria uma derivada da divindade do gozo na sua regência Dionisíaca onde se celebravam até as mais arrojadas manifestações e os cultos Luciferinos nas suas entradas de terreiros herméticos. Mas até o Paganismo foi discreto face aos seus cultos, e se dirigia para os outros que representavam a graduação da unidade boa a quem apelavam naqueles casos em que a vida não tem mais respostas, eram eles, nos seus claros Olimpos que atravessavam as mentes inquietas e as aglomeravam para a estranha façanha do Bem.
Olhemos este caso CGD. Quem anima a vertente poderosa daquela fachada, daqueles longos metros de saturação em pedra, a que prestamos culto, quem nos absolverá num local daqueles? Para onde darão os subterrâneos do monstro? Câmaras funerárias? Bunkers? Cidades subterrâneas? Aquedutos que vão dar ao mar? Aquelas coisas parecem-me pretextos para outras bem mais pensadas: ora vejamos, um local assim está sem dúvida apetrechado para salvar alguém em caso de ruptura com o lado de fora, pois que são fortes, de Fortaleza, bem dizendo, e quanto à divindade que a anima, pois não há nenhuma, o dinheiro é o grande poder que uniformizou as massas que anteriormente ainda lutavam de forma fraseada nos locais de Vulcano. Dentro dele não está nenhuma anima, pois que por ele, e com ele, o que estava animado se foi. Erigido algo tão desprovido de captação litúrgica, fora planeada uma arquitectura muito, muito grande, para a escala do local e para se poder dizer: agora sou eu o deus para toda a eternidade! Tal como Urizien, que fazendo de tampão, isola o tempo. Por fora há receitas para muitos espectáculos e salas espectaculares, os artistas, os pensadores dobram a espinha para poder passar, não pelo buraco de uma agulha, que isso é mais para camelos, mas pela receita do tempo que a eles lhes dá receitas para acabarem de vez.
Nós espreitamos para aquilo das laterais e parece de facto um princípio de sarcófago. Não há nada, pássaros, erva; há uma água que vem de um lugar e que repuxa para o nada, umas portas que nem Salomão, para guardar a Arca, poderia suspeitar que pudessem um dia vir a existir, mas a Arca tinha dois arlequins e a estranha energia que vinha de lá podia de certo fulminar os crentes impreparados. Mas era Deus que lá estava, ou assim se interpreta a chave da grande iniciação do passar das portas; aquilo ali, é de aterrorizar! O que guardará o Ventre da Baleia nos seus recônditos alçapões? Deus – eu senti – nunca lá pôs os pés, dado que aquilo nem sabe que tal entidade existe, mas pode haver um demiurgo que se entranhe naquela plataforma estarrecedora. Nunca lá entrei, tenho medo que fechem as portas e fiquemos num limbo pela eternidade fora… que o código não responda às abotoaduras e desçam ferros que nos impossibilitem dar mais um passo. Mas as pessoas são incrédulas e vão a estes locais como os tais bois olhando para palácios. Nós sabemos da linda madeira do Líbano, do ébano, dos materiais que foram para a construção do Templo e, como Templo divino, ali não entrava serrote, faca e parafuso. A rainha do Sabá, ficando curiosa, quis saber porque uma construção assim era tão silenciosa, e procurou conhecer o arquitecto Hiram. Ora Salomão diz-se que não gostou porque sentiu ciúmes do velho construtor. Ele era um Sábio e este um Construtor, uma espécie de Arquitecto do Mundo; havia então alguém tão poderoso quanto ele e começa aqui a primeira rebelião de trabalhadores que Salomão instiga contra o Mestre: sabotaram algumas leis do trabalho e a obra mais personalizada deste criador, na inauguração, explode. Nem aqui houve aquela harmonia que se pretende inalterável para louvar Deus, pois que um homem só, mesmo sábio, precisa dos que criam e dirigem as obras por onde a glorificação dos locais algures passará. O domínio profano também tem criado os seus “altares” e o que guardam aí é bem mais enigmático que um culto destes, pois que ele era a casa interior que devia dirigir a personalidade cá fora, é como um receptáculo que visa reforçar o ego para que este não se estilhace no meio das multidões.
Creio que não terá também aquela Pedra Angular nem nenhuma geomancia do terreno, e como isso são condições para grandes monumentos, a que serve e como serve uma coisa destas? Talvez nos alerte para a robustez sem sentido, a grandeza sem mérito, a opulência sem amor, a distribuição mal parada, a esfera da usura que tememos até nos sonhos mais sombrios — mas aquela realidade está lá e espelha o tempo de todas as barbáries feitas com o abuso e o desmedido mau gosto que pode muito bem começar a ser interpretado como agente poluidor. — Das mentes, da alma, da vista, das frágeis sensações que de tão enlouquecidas até devem pensar que é para guardar dinheiro. Aquilo é feito para divinizar o dinheiro, mostra-lo como o deus da igualdade que não há, e servir até causas e interesses que os cidadãos desconhecem.
Parece que tem problemas, a Caixa, por isso eu sempre irei preferir as Arcas, que como se sabe, neste país também não têm fundo, a ver pelas surpresas desagradáveis de coisas ditas que de lá dizem vir e nunca lá estiveram, aquelas frases traiçoeiras que um Pessoa certamente nunca escreveu. Porque não lêem nem sabem o que os verdadeiros construtores andam a fazer, nem tão pouco, e ainda bem, onde arrumaram as Arcas. A mesma leitura se pode fazer diante das coisas que nos parecem demais, e estão ali a servir qualquer outra dimensão. Nem que seja a do crime, do desmérito, e da presunção desmedida que leva a vangloriar o grande como medida de salvação.

22 Ago 2016

Rio 2016 | Equipa canarinha brilhou. Telma é porta estandarte. Tempo de balanço

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s Jogos Olímpicos Rio2016 terminaram ontem com os maratonistas Rui Pedro Silva e Ricardo Ribas e os ciclistas David Rosa e Tiago Ferreira, no ‘cross country’, a fecharem a participação portuguesa. O Brasil festejou em grande a vitória contra a Alemanha e nas despedidas faz-se o balanço. Na comitiva portuguesa cabe a Telma Monteiro ser a porta-estandarte

Neymar, autor da grande penalidade decisiva que deu o inédito título olímpico de futebol ao Brasil, no sábado, admitiu que esse foi dos melhores momentos que já viveu. “Isto é das melhores coisas que já me aconteceu na vida”, admitiu o emocionado ‘capitão’ dos ‘canarinhos’, que dedicou o título à família, amigos e companheiros de selecção.
O Brasil reina no futebol internacional com cinco títulos mundiais, mas faltava-lhe o mais desejado: Neymar marcou o primeiro golo do desafio que terminou 1-1 no tempo regulamentar e após o prolongamento e, no quinto e último penálti, logo após Nils Petersen permitir a defesa de Weverton, teve o momento que o deixará na história do país. A equipa conquistou a medalha de ouro no torneio masculino de futebol do Rio, ao vencer a Alemanha por 5-4 no desempate através de grandes penalidades, depois do empate 1-1 no tempo regulamentar e no prolongamento. O Brasil já tinha vencido quase tudo no futebol, faltava a medalha de ouro olímpica no torneio masculino, que já não falta. Depois do prolongamento vieram os penáltis e foi então que o guarda-redes Weverton defendeu o ‘tiro’ de Nils Petersen e Neymar selou o triunfo da equipa canarinha.

Nas despedidas

Fernando Pimenta, João Ribeiro, Emanuel Silva e David Fernandes terminaram a final de K4 1.000 metros na sexta posição, a 5,339 segundos da Alemanha, campeã olímpica. Foi-se o ‘metal’, ficou o diploma, o quarto nas provas de canoagem, depois dos alcançados em K1 1.000 metros, K2 1.000 metros e no C1 em slalom. Já em fase de despedidas, Telma Monteiro, a única medalhada portuguesa, foi a porta-estandarte da delegação portuguesa na cerimónia de encerramento dos Jogos, repetindo a tarefa de Londres, então na cerimónia de abertura.
A escolha pertenceu ao chefe da missão portuguesa, José Garcia, dando honras a Telma Monteiro de levar a bandeira portuguesa, depois de ter sido o velejador João Rodrigues, recordista em Jogos Olímpicos, o porta-estandarte na abertura.

Em jeito de balanço

O presidente do Comité Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach, felicitou a hospitalidade brasileira e mostrou-se satisfeito com o sucesso desta edição “Jogos emblemáticos e, os brasileiros são grandes anfitriões, unidos em torno dos Jogos Olímpicos”, frisou o responsável. Bach não esqueceu a parte competitiva, enaltecendo Usain Bolt e ainda a forma como foram tratados os membros da equipa olímpica de refugiados, tratados como ‘rockstars’ na Aldeia Olímpica”, concluiu.
 

Competição

Park In-bee sucede no historial do golfe olímpico a Margaret Abbott, 116 anos depois. A sul-coreana Park In-bee sagrou-se campeã olímpica de golfe feminino, sucedendo no historial à norte-americana Margaret Abbott, medalha de ouro em 1900. “Estou muito honrada e orgulhosa por ter conquistado uma medalha de ouro nos Jogos Olímpicos. É verdadeiramente inacreditável! Estou muito feliz por ter subido ao lugar mais alto do pódio”, afirmou a sul-coreana. Park In-bee concluiu o torneio com 268 pancadas, menos cinco do que a neozelandesa Lydia Ko, número um mundial.
“Não consigo parar de chorar. Estou muito feliz por tudo o que fiz nos últimos quatro anos”, explicou a norte-americana Gwen Jorgensen, depois de se sagrar campeã olímpica de triatlo. Depois do furo no pneu da sua bicicleta que a remeteu para o 38.º lugar há quatro anos, Jorgensen venceu a prova, deixando a suíça Nicola Spirig, medalha de ouro em Londres e campeã da Europa em 2009, 2010, 2012, 2014 e 2015, no segundo lugar, a escassos 40 segundos. Jorgensen, campeã do mundo e vencedora de 12 etapas Mundial 2014 e 2015, assegurou o primeiro título olímpico na modalidade para os Estados Unidos.

E vão seis

A norte-americana Allyson Felix conquistou no sábado a sua sexta medalha de ouro em Jogos Olímpicos, ao ajudar os Estados Unidos a revalidar o título na estafeta de 4×400 metros, que conquistam desde Atlanta 1996. O quarteto formado por Courtney Okolo, Natasha Hastings, Phyllis Francis e Allyson Felix cumpriu a prova em 3.19,06 minutos, deixando a Jamaica, campeã do mundo em 2015, na segunda posição, a 1,26 segundos. A Grã-Bretanha assegurou a medalha de bronze, em 3.25,88. 

Movidos a galinha e salmão

A espanhola Ruth Beitia, especialista no salto em altura, queixou-se da variedade dos menus para os atletas na Aldeia Olímpica, onde está há 16 dias. “A nossa alimentação é à base de galinha e salmão, galinha e salmão e ainda galinha e salmão, mas temos também massa e salada”, explicou Beitia, admitindo que foram integrados novos pratos nos últimos dias. Não sendo apreciadora de carne, a espanhola vai levar algum tempo para voltar a comer salmão: “Comi tanto salmão que até fico com comichões quando vejo salmão”. De raízes cubanas e naturalizado espanhol em 2013, Orlando Ortega já adaptou o gosto ao país e escolheu paelha para celebrar a medalha de prata nos 110 metros barreiras.

22 Ago 2016

A “evasão” dos bombeiros

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o passado dia 13 o “Yahoo” publicou uma notícia sobre a evasão de 12 estudantes da Academia dos Serviços de Ambulâncias e Incêndios (uma escola sob a alçada do Departamento dos Serviços de Incêndios de Hong Kong, organismo dependente do Governo da RAEHK, responsável pela formação de bombeiros). A surtida deu-se durante a cerimónia de formatura e, aparentemente, aconteceu porque os estudantes quiseram sair para entregar convites aos familiares. Inicialmente a Academia apenas entregava três bilhetes a cada estudante. Mas no dia 11, por volta das 16:30, decidiu entregar mais dois a cada um deles.
Os estudantes estavam divididos em dois grupos para a cerimónia de formatura, que se realizou no dia 12. Na véspera, um dos grupos ficou na Academia até às 22:30 e o outro passou lá a noite. O problema aconteceu com este último grupo. Cerca de 50 estudantes evadiram-se e passaram ingressos para a cerimónia a familiares.
Por volta das 20:30, os responsáveis da Academia convocaram de surpresa todos os estudantes, para verificar as presenças. O artigo referia que apenas 20 se apresentaram de imediato. Cerca de 18 estudantes pediram a outros colegas que se apresentassem na vez deles e 11, ou 12, não compareceram à chamada. Existem rumores de que estes últimos serão expulsos após processo disciplinar. Mas há quem diga que serão eles a apresentar a demissão, para não “manchar” o seu cadastro escolar e não virem a prejudicar uma carreira ao serviço do Governo de Hong Kong.
E porque é que os estudantes se “evadiram”? O artigo do “Yahoo” explicava que antigamente não existia limite de bilhetes para as cerimónias de formatura, os estudantes podiam convidar quantas pessoas quisessem. Mas este ano a Academia anunciou inicialmente que cada estudante só tinha direito a três convites. Posteriormente esse número foi alargado para cinco.
O “Yahoo” também ventilava que no momento em que os estudantes receberam os convites lhes terá sido dito para os entregarem como melhor entendessem.
A partir destas declarações os estudantes assumiram que tinham consentimento da administração para se ausentarem. Foi talvez este facto que determinou a sua saída.
O desaparecimento dos jovens foi reportado por um dos funcionários, cujo filho também frequenta a Academia. Por ter acesso privilegiado às camaratas este funcionário costumava visitar o filho, o que desagradava aos outros estudantes pois sentiam que ele tinha um tratamento diferenciado.
Até ao momento, não existe mais informação sobre o assunto.
Esta história serve de lição para todos os estudantes que se preparem para servir as forças da ordem. É evidente que não se pode justificar uma evasão com o desejo de entregar convites a familiares. Alguns bombeiros seniores defenderam este ponto de vista, explicando a necessidade de os estudantes compreenderem que não se pode abandonar o posto sem autorização, sob risco de poder colocar as populações em perigo em caso de emergência.
Mas temos de tentar perceber o lado dos estudantes. Num outro site de Hong Kong, o “orientaldaily.on.cc”, escrevia-se que esta cerimónia era a última oportunidade de a Academia poder contar com a presença do Comissário dos Serviços de Incêndios, o Sr. Lai Man Hin. Para não perturbar a ocasião, os alunos que se tinham evadido deveriam estar presentes. Os estudantes não concordaram com este procedimento.
No entanto, devemos interpretar o caso de duas maneiras. Os preparativos de uma cerimónia deste género podem necessitar de ser melhorados. O alargamento dos convites à última hora, de três para cinco, pode ter sido inapropriado. Não é tanto a questão de se dar mais dois convites a cada estudante, mais sim, do tempo que precisaram para os passar aos convidados, e da disponibilidade destes para estarem presentes. A maior parte das pessoas não dá atenção a estes pormenores.
Devem também ser consideradas as declarações da administração da Academia. A ser verdade que foi dito aos estudantes que “entregassem os convites como melhor entendessem”, o facto de terem muito pouco tempo para os passarem à família poderá ter criado um mal-entendido. Se estes estudantes forem sujeitos a uma acção disciplinar, estas declarações e a própria organização da cerimónia de formatura devem ser debatidas. De outra forma, será injusto para os estudantes.
Independentemente do que se vier a decidir sobre o destino destes 12 jovens, do ponto de vista social, Hong Kong sai sempre a perder. Para formar um bombeiro, o Governo de Hong Kong tem de investir 400.000 HK dólares. Se forem expulsos 12 estudantes, desperdiçaram-se cerca de 5 milhões de HK dólares. Será que vale a pena? Quem tiver de lidar com este caso deve ter em consideração os interesses dos alunos evadidos, a deficiente organização da cerimónia de formatura, a veracidade da declaração que provocou o mal-entendido e, finalmente, o interesse público. Não vai ser tarefa fácil.

22 Ago 2016

A machadada que faltava

“There’s no regret more painful than the regret of things that never were.” (Fernando Pessoa, Portuguese poet translated by Richard Zenith, Lisbon 2006)

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]matutino Ponto Final destacou, no passado dia 16 de Agosto (cfr. pág.ª 5), uma sugestão apresentada ao Executivo de Macau pelos membros da Assembleia Legislativa (AL) que integram a Comissão de Acompanhamento para os Assuntos de Terras e Concessões Públicas, no sentido de haver uma maior utilização da língua inglesa e de ser ponderada a “atribuição de um estatuto legal a esta língua”.
Desconfiado do sentido da notícia, porque um tipo não se deve fiar em tudo o que lê, tomei a iniciativa de ler o relatório da referida Comissão para confirmar a sua veracidade. E, de facto, lá estava, preto no branco, a sugestão, na página 12, formulada nos seguintes termos:
“8. incentivo a uma maior utilização da língua inglesa, ponderando a atribuição de um estatuto legal a esta língua”.
Em resposta a esta sugestão, “os representantes do Governo concordaram que o inglês deve ter uma maior preponderância em Macau”.
O relatório está assinado por Ho Ion Sang, que é também o presidente da Comissão, e pelos deputados Melinda Chan, Kwan Tsui Hang, Kou Hoi In, Leonel Alves, Tsui Wai Kwan, Au Kam San, Chan Iek Lap, Ma Chi Seng e Song Pek Kei.
No dia seguinte, o jornal Hoje Macau publicou uma reportagem pela qual dava a conhecer mais alguns contornos da proposta. A deputada Melinda Chan, que assinou o relatório pelo qual se sugeria ponderar a atribuição de estatuto legal à língua inglesa, veio esclarecer que afinal “não seria sequer bom para Macau considerar oficialmente a língua inglesa”. Não percebi o que a levou a assinar o relatório, nem porque a senhora acrescentou que encorajava os jovens ao estudo do português, mas logo compreendi haver um vasto consenso sobre a matéria quando li que também o “nosso” deputado Pereira Coutinho, ex-candidato à Assembleia da República, comendador da Nação por graça e obra de um sujeito de Boliqueime e conselheiro das Comunidades Portuguesas desde 2003, se mostrou a favor de uma maior utilização da língua inglesa nos serviços públicos e na sinalização das ruas de Macau.
Não vou aqui comentar as posições proteiformes de alguns, sempre prontos a mostrarem trabalho aos descendentes dos novos senhores feudais de Macau, mas seria bom que todos tivéssemos a noção de que a realidade não é a cores, o português tem vindo a perder o estatuto de língua oficial e só a muito custo sobrevive nestas paragens.
De facto, bem podem os responsáveis do IPOR e alguns falantes acomodados do português dizerem que nunca houve em Macau tantos alunos do idioma de Camões, quando o facto é que a sugestão que partiu dos senhores deputados da AL, e que pelos vistos foi bem recebida pelo representantes do Governo, só veio confirmar aquilo que de há muito se sabia. O estatuto de língua oficial que o português ainda detém é fruto de um compromisso internacional entre a China e o Estado português, acolhido como muitas outras coisas de que ninguém quer saber na Lei Básica da RAEM, e cujo estatuto está consagrado no Decreto-Lei n.º 101/99/M, de 13 de Dezembro, estranhamente ainda em vigor.
E digo estranhamente porque na prática o inglês já é língua “oficial” da RAEM e só não é ainda no papel por duas razões: porque ainda há quem se preocupe com o cumprimento das leis vigentes e, por outro lado, porque tem havido uma grande hipocrisia e falta de coragem política para afirmá-lo. Como afinal em quase tudo e sempre que não se trata de perseguir os jovens residentes permanentes que exprimem uma opinião desalinhada, porque aí e para lixar o mexilhão coragem é coisa que não lhes falta.
Não é, aliás, a primeira vez que se fazem propostas destas para depois se dar o dito por não dito. Como que a ver se a coisa passa não havendo ondas. Ainda recentemente, numa polémica que está em banho-maria, deputados da mesma AL que aprovaram as alterações de 2013 à Lei de Terras vieram sacudir a água do capote dizendo que tinham sido enganados. Não se sabendo ainda quem anda a enganar quem, também não será de estranhar que amanhã todos os que assinaram o relatório da Comissão da AL que sugeriu a ponderação da atribuição do estatuto de língua oficial ao inglês se venham a demarcar da sugestão que unanimemente fizeram e do papel que assinaram.
Porém, antes que o façam, convém dizer, como é evidente, e ao contrário do que meia dúzia de burocratas pensam, que não é o facto de haver muitos chineses a aprenderem português nas universidades ou a frequentarem os cursos promovidos pelo IPOR ou por qualquer outra instituição que vai alterar o estatuto de insignificância, desprezo e menorização a que na prática a língua portuguesa está actualmente votada em Macau. Não vale a pena disfarçar.
Ainda há meses me dirigi aos balcões de vários serviços públicos, em português, sendo-me de imediato solicitado pelos funcionários que me atenderam que eu falasse em inglês. A Autoridade Monetária de Macau (AMCM) enviou há semanas um questionário em chinês e inglês para ser respondido por escrito pelos advogados de Macau, documento que mereceu vivo repúdio por parte de alguns causídicos. Não tivesse havido esta reacção e não se teria enviado novo questionário em chinês e português. Nos estabelecimentos comerciais da Região, nos hotéis, nos restaurantes, nos avisos afixados em edifícios onde residem estrangeiros, nas comunicações recebidas de muitas entidades bancárias, na bilheteira do CCM quando se vai comprar um bilhete para um espectáculo, falando com os polícias, nas concessionárias públicas ou nas casas de massagens, seja em que circunstâncias for, é em inglês que em regra os não falantes de chinês se entendem, e tal acontece mesmo quando quem se dirige se expressa na segunda língua oficial de Macau. Noutra ocasião, um residente que só se expressa em português, na sequência de uma queixa por si apresentada junto do Ministério Público (MP), num processo de índole laboral, onde foi representado pelo MP, e que teve seguimento sendo proferida decisão final, foi notificado em Portugal, onde actualmente se encontra por razões de saúde, do sentido da decisão proferida, que até lhe era favorável, exclusivamente em língua chinesa.
Nada disto é inocente. E tem merecido acolhimento inclusivamente por parte de responsáveis pelo poder judicial, no que pessoalmente considero – posição que tive oportunidade de transmitir a quem de direito pela vias próprias mas que há mais de um ano aguarda resposta – uma afronta à Declaração Conjunta entre Portugal e a China de Abril de 1987 e à própria Lei Básica de Macau.
Refiro-me, para quem não sabe, é claro, ao permanente desrespeito pelo artigo 6.º do decreto-lei acima referido que consagrou o estatuto de igualdade das línguas portuguesa e chinesa. O facto de hoje em dia os mandatários portugueses em processos judiciais, não obstante a sua solicitação expressa para serem notificados em língua portuguesa, receberem notificações, despachos e sentenças em língua chinesa, língua que não dominam, constitui um grave atropelo aos direitos das partes e uma forma de se cercear o exercício de direitos de defesa. Repare-se que, ao contrário do que tem sido entendido (aliás mal) por alguns, não está em causa o direito indiscutível de quem profere as decisões a fazê-lo em língua oficial chinesa, mas apenas o direito dos destinatários dessas decisões serem notificados do seu conteúdo na língua que dominam, a qual tem (ainda) estatuto de língua oficial e é expressamente reconhecida em vários outros diplomas como o Código do Procedimento Administrativo.
Perante este estado de coisas, eu pergunto se tem algum sentido que o português seja língua oficial da RAEM.
Provavelmente, para os senhores deputados que sugeriram ao Governo da RAEM que ponderasse a atribuição de um estatuto legal à língua inglesa, isto bate tudo certo. Se há duas línguas oficiais, até pode haver três ou quatro. Ou nenhuma, bastando o cantonense falado e romanizado. Para o Governo da RAEM também deverá fazer sentido, pois que, de outro modo, os seus representantes junto da Comissão que fez a sugestão não se atreveriam a manifestar de viva voz a sua concordância com a sugestão.
Assim sendo, rendo-me às evidências. E quero, por isso mesmo, deixar aqui um repto, uma vez que isso também poderá facilitar a vida a muita gente e deverá ser rápida e definitivamente consumado, que passa pela consagração desse objectivo de elevação do inglês a língua oficial da RAEM, com a consequente confirmação da atribuição à língua portuguesa do estatuto de indecência de que oficialmente já goza.
Estou certo que a Direcção dos Serviços de Assuntos de Justiça anseia por enviar recomendações aos notários para a celebração de escrituras e a prática dos actos notariais em inglês, a Associação dos Advogados está ansiosa por mandar traduzir para inglês os seus estatutos e o respectivo Código Deontológico (para permitir a alguns uma melhor compreensão do seu conteúdo), e os julgamentos e actos processuais judiciais poderão, finalmente, ser conduzidos em inglês, citando-se nas alegações Shakespeare e T. S. Eliot no original, e dispensando-se a sempre arreliadora tradução. O ideal seria mesmo que a proposta de lei fosse já apresentada em chinês e também em inglês, língua que não é estranha ao jornal oficial da RAEM.
Com a unanimidade vigente na AL, onde pelas posições manifestadas até será possível colher os votos favoráveis dos deputados Leonel Alves e Pereira Coutinho, e com o sempre ajuizado, cómodo, economicamente compensador e subserviente silêncio das autoridades portuguesas sobre esta matéria, penso que será possível a apresentação, logo no inicio da próxima sessão legislativa, de uma proposta de lei que de uma vez por todas revogue o estatuto de igualdade entre o português e o chinês e confira o estatuto de língua oficial ao inglês. Com tantas assinaturas no relatório e o apoio do Governo deve ser fácil encontrar a coragem política que tem faltado para se avançar.
Com tal proposta poder-se-ia dar consistência à máxima confuciana, constante da doutrina da rectificação (chêng ming), no sentido da administração do Estado reflectir a verdade das coisas, única forma da governação poder ter sucesso, o que pelo número de inquéritos judiciais, qualidade dos detidos, obras e imbróglios em curso se sabe que não tem acontecido.
Oxalá que os senhores deputados sejam expeditos. E que o Chefe do Executivo lhes dê o indispensável ámen, antes mesmo de se deslocar a Portugal, para poderem avançar já com a iniciativa legislativa, aproveitando-se os dois meses estivais de paragem da AL. Uma proposta dessa natureza faria o pleno, beneficiaria do apoio unânime das concessionárias do jogo, das “subconcessionárias” reconhecidas e das putativas, dos junkets e até de muita da maltosa que gravita na esfera dos casinos e seus negócios e que só se entende em inglês ou em dialectos de Nápoles e do interior da Sicília quando negoceia com as autoridades dos Estados onde contribui para o PIB.
Além de que, dar-se-ia a oportunidade a esse valorosos portugueses que beneficiam de subvenções vitalícias milionárias pelos “extraordinários” serviços que prestaram a Portugal, designadamente em defesa da língua portuguesa, para aproveitarem as suas reformas na aprendizagem de um inglês decente (patuá não tiveram tempo de aprender enquanto por aqui “governaram”), de maneira a que da próxima vez que voltarem a Macau possam explicar a toda a gente, a começar pelos “casineiros” e taxistas, o que andaram a fazer num idioma que os deputados entendam, lhes seja acessível e dispense tradução.

21 Ago 2016

Uber | Empresa poderá deixar Macau no início de Setembro

Mais de dez milhões de patacas. São estes os valores referentes às multas passadas à Uber que “uma fonte credível” dá ao deputado Pereira Coutinho e que podem justificar a possível saída da empresa de Macau. A empresa não desmente e pede um sistema regulador amigável

 

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Uber pode vir a sair de Macau já no próximo mês. É o que garante José Pereira Coutinho ao HM. O presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública (ATFPM) cita “uma fonte credível” próxima da empresa para assegurar que a empresa de serviço de transporte privado “está a considerar suspender os seus serviços em Macau no início de Setembro”.
Questionada pelo HM, a directora-geral da Uber em Macau não desmente a notícia. Mas deixa uma declaração que indica que a empresa poderá estar a pensar adoptar esta estratégia. 
“Gostaríamos de continuar a fornecer serviços convenientes aos utilizadores e oportunidades económicas aos condutores que contam com a Uber todos os dias. Mas isso, sob um regime inovador e amigável, sem as multas proibitivas”, admite Trasy Lou Walsh.
Desde o seu lançamento em Outubro de 2015 que a Uber tem vindo a levantar polémica. Apesar de ser utilizada por residentes e turistas – “milhares” como assegura o presidente da ATFPM – e de ter mais de dois mil condutores a tempo inteiro que receberam em retorno “21 milhões de patacas”, ainda segundo informações prestadas por José Pereira Coutinho, a empresa não é bem-vinda. Pelo menos da parte do Governo.
O serviço de transporte privado Uber é, de acordo com o Governo, mesmo ilegal e o porta-voz do Governo, Leong Heng Teng, prometeu fazer de tudo para impedir, “de forma séria”, que estes veículos circulem. A directiva vinha este ano do Gabinete do porta-voz do Governo, que referia estar muito atento à entrada da Uber em Macau.
O assunto foi discutido por diversas vezes por deputados no hemiciclo, que pediram inclusivamente a legalização do meio de transporte. As multas passadas aos condutores podem ir até às 30 mil patacas. “Desde o lançamento que a PSP multou já 300 condutores num montante total de dez milhões de patacas. A média semanal é de um milhão de patacas em multas. Estaremos mesmo perante crime organizado ou terrorismo?”, ataca Pereira Coutinho.

Não dá

É precisamente esta “perseguição” que deverá levar a empresa a sair de Macau. “Eles irão suspender os serviços pois a situação é insustentável e lamentam que os residentes fiquem com menos uma opção de transporte e os condutores com menos uma fonte de rendimento. Eles preferiam não tomar esta decisão, mas infelizmente sentem que não têm outra solução a menos que se conclua que a discussão sobre a regulamentação irá ocorrer e que durante tal período se proceda de boa-fé e sem este nível de multas”, indica ao HM.
O Governo considera esta actividade ilegal por não ser “um meio eficiente para colmatar a insuficiência de automóveis de aluguer”, pois será difícil “regular o funcionamento e a remuneração do serviço cobrado”. Mas a verdade é que já foram vários os residentes que asseguram usar a Uber, até devido à escassez de táxis no território. “De acordo com a sondagem dos Kaifong 80% dos inquiridos consideram esta tecnologia necessária em Macau. Outros 90% dos inquiridos consideram que regulamentação para partilha de transporte é necessária para dar mais opções de transporte.”
Nem o facto da China ter abraçado esta nova forma de serviço teve qualquer impacto no território, como nota Pereira Coutinho. Recorde-se que a Uber está disponível para reunir com o Secretário para os Transportes e Obras Públicas e o Chefe do Executivo para discutir regulamentação, mas até agora não houve novidades. “As soluções da China podem servir como referência”, remata Pereira Coutinho.

19 Ago 2016

Turismo | Feira Internacional chega em Setembro

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]stá marcada para Setembro aquela que é a quarta Feira Internacional da Indústria de Turismo de Macau. O anúncio foi feito ontem por Maria Helena de Senna Fernandes, directora dos Serviços de Turismo (DST), que explicou que o objectivo do evento é facilitar negócios.
A Feira acontece entre os dias 2 e 4 de Setembro, no Venetian, sendo a primeira vez que a DST surge como entidade organizadora. A explicação veio da por parte Helena de Senna Fernandes, que frisa “que houve a necessidade de tornar esta feira mais profissional e de lhe dar um brilho diferente”.
“Achámos que, estando presentes enquanto entidade organizadora, poderíamos dar uma dimensão maior e facilitar as oportunidades de negócio quer para as operadores internas quer para as externas.”
Sete milhões de patacas é o dinheiro aqui investido por parte do Executivo. Este ano o certame internacional vai receber expositores de várias partes do mundo, num total de 15 países e regiões representados, onde se incluem China continental e Portugal. “Pretendemos criar parcerias e simbioses de mercado com operadores destes dois países que nos são próximos”, referiu a directora da DST.
A Feira tem vindo sempre a crescer e este ano tem o maior número de expositores, sendo que 169 é o número avançado pela organização. Tem-se revelado importante pólo para a promoção do turismo de Macau, assegura Senna Fernades. O presidente da Associação das Agências de Viagens de Macau, Alex Lao, referiu a propósito “que a Feira tem feito um percurso de sucesso e continuamos a ter o compromisso de promover Macau e os seus produtos, criar oportunidades de negócio e permitir que se transforme numa importante plataforma para trocas e transacções na área do turismo”.
O subdirector da DST, Cheng Wai Tong, acrescentou que o objectivo é o de “continuar a melhorar a oferta e saber explorar os recursos de Macau tornando-o num centro de turismo e lazer”.
Um dos temas da feira será o do conceito de viagem ou do viajante inteligente. Esta temática assenta no incentivo à utilização das plataformas digitais, das aplicações e de tudo o que possa enriquecer uma viajem e que possa ser encontrado no mundo virtual. Isto aplica-se também aos serviços disponibilizados por estas aplicações web, que são cada vez mais utilizados, sobretudo pelas faixas etárias mais novas. “Queremos focar a nossa atenção em nichos de mercado”, acrescentou o subdirector da DST.

Portugal vai cá estar

Quanto a participantes: Portugal será um dos países representados com 14 operadores turísticos já garantidos. Doze têm por objectivo levar o melhor de Macau e dois o de organizar pacotes de viagens, para levar população local a visitar Portugal.
Uma comitiva portuguesa virá participar neste evento. “Vamos ter um representante do Turismo de Portugal, João Rodrigues Pires, representantes da Câmara Municipal de Aveiro e da Associação da Agências de Turismo de Portugal”, explicou Helena de Senna Fernandes.
No espaço físico desta mostra internacional, Macau vai ter uma rua. Mais uma vez esta responsável explica que “é uma simulação do que podemos encontrar numa qualquer rua de Macau, com vários serviços e lazer. É mostrar um pouco desta realidade”.
Durante três dias haverá oportunidade de negócio sobretudo entre operadores turísticos, mas o público também está convidado a participar uma vez que também poderão adquirir viagens, quer internacionais quer regionais. Estarão também presentes elementos essenciais da indústria turística: alimentação, alojamento, transporte, entretenimento, tecnologia relacionada com o turismo, entre outros.
Haverá ainda seminários onde serão abordados temas como as análises das novas tendências do turismo individual na rede ferroviária de alta velocidade, pontos turísticos mais visitados em 2016 e desenvolvimento do Turismo inteligente, entre outros temas.

Trânsito condicionado

Questionada sobre a possibilidade de haver condicionamento aos autocarros de turismo na zona das Ruínas de S. Paulo, Helena de Senna Fernandes fez saber que o caso está a ser estudado com as entidades responsáveis pela situação, mas até ao momento ainda não há uma solução. “Como o que aqui importa é garantir a segurança das pessoas, talvez os turistas tenham de andar um pouco mais. Pode ser que os autocarros tenham de estacionar no parque da Tap Seac, mas tal como disse, ainda estamos a estudar as soluções.”

19 Ago 2016

“City Notes”, de Yves Etienne a 30 de Agosto na AFA

[dropcap style=circle’]Y[/dropcap]ves Etienne inaugura no dia 30 de Agosto a exposição “City Notes”, na Art For All Society (AFA). A exposição do artista francês é aberta ao público e concentra-se em diversas artes, que vão da pintura à fotografia e ao vídeo e música, “numa simbiose perfeita com a cidade”.
“City notes” não é apenas o que ouvimos no dia-a-dia da cidade. Não é o som dos peões, dos carros ou dos mercados. Nem sequer dos pássaros, dos aviões e da natureza. “É o som emitido pelas fileiras e fileiras de prédios ao longo das ruas. Aos olhos do artista, as camadas de edifícios são como a estrutura de uma pauta”, descreve a organização.
Yves Etienne cria pautas musicais a partir de elementos que encontra na cidade. E foi o que fez em “City Notes”: imprimiu uma imagem panorâmica da cidade e fez furos de acordo com os elementos que encontrou nos prédios representados na imagem, por exemplo aparelhos de ar condicionado.
“Esses pequenos furos são posicionados como as notas musicais na pauta. Depois passa a imagem para uma pequena máquina de música onde o som é criado de acordo com os elementos existentes na fotografia ou na pintura. E é assim que nasce uma música para cada paisagem, edifício ou rua”, indica a AFA.
Yves Etienne tem um mestrado em Belas Artes pelo Instituto Superior de Artes de Toulouse e vive na Ásia há já alguns anos. A mostra será diversificada uma vez que Yves Etienne trabalha com fotografia, pintura, música e vídeo.
A exposição inaugura pelas 18h30 de dia 30 deste mês e pode ser visitada entre as 12h00 e as 19h00 até 18 de Setembro. A entrada é livre.

19 Ago 2016

Estratégia chinesa para Macau

[dropcap style=’circle’]”[/dropcap]Desde a fundação da Dinastia Ming (1368-1644), que a grande preocupação era a defesa contra qualquer tentativa restauradora da dinastia derrubada, a Yuan. Por esta razão, toda a defesa militar chinesa se concentrou no Norte, nas fronteiras com os Mongóis”, segundo Jin Guo Ping e Wu Zhiliang.
A afirmação da dinastia Ming além-mar levou o Imperador Yong Le a enviar emissários ao Oceano Índico e para isso, promoveu as expedições marítimas comandadas pelo Almirante Zheng He, cortadas que estavam as fronteiras terrestres. Após o regresso da sétima e última viagem transcontinental da armada, que partira em 1431 comandada por Zheng He e que sem ele chegou dois anos depois, a dinastia Ming destruiu os barcos de navegação marítima e retirou-se para o interior, usando as águas do Grande Canal para o transporte das mercadorias.
Assim, a China, sem interesse no comércio exterior, após 1433 voltou a fechar para o interior e desprotegeu as costas marítimas, passando a pirataria a dominar os mares. Segundo Rui Manuel Loureiro, por volta de 1430 a dinastia Ming desencorajava “abertamente quaisquer ligações marítimas de chineses com o estrangeiro, instituindo penas severas para os infractores, que no entanto, nunca deixaram de se multiplicar”.
Toda a documentação oficial relacionada com as expedições marítimas do Almirante Zheng He, para que não servisse de estímulo a outras aventuras semelhantes, foi então destruída. 19816P14T1
Com a saída dos chineses do mar, o comércio ficou nas mãos dos muçulmanos que passaram a controlar todo o Índico e o Sudoeste do Pacífico. Cem anos depois, apareceram os barcos dos europeus que começam a dominar os Oceanos, devido às invenções e conhecimentos náuticos adquiridos aos árabes e muçulmanos, que por sua vez tinham aprendido com os chineses. Interessante é constatar que com cem anos de antecedência, o Almirante Zheng He elegeu como portos estratégicos, Malaca, Ormuz e Adem, os mesmos que inicialmente Afonso de Albuquerque tinha planeado para controlar o comércio no Oceano Índico.

Um problema diplomático

De Malaca se abriu o Oceano Pacífico aos portugueses, que como novos mercadores entraram a comercializar. Após a primeira visita à China em 1513 por Jorge Álvares, apresentaram-se os portugueses numa embaixada em 1517, à frente da qual seguia o boticário Tomé Pires, mas como a entrada neste país só era permitida aos países e reinos tributários, facilitando na burocracia o embaixador chegou à terra chinesa como proveniente de Malaca. Tal era verdade porque os portugueses expulsaram o Sultão de Malaca, Mamude Xá, o verdadeiro tributário da China e cujos antepassados em 1409 se colocaram debaixo da protecção dos imperadores chineses da dinastia Ming, para conterem os ataques do reino do Sião (Siam). Malaca era após as viagens de Zheng He o único porto onde os chineses se forneciam de mercadorias do Índico. Tomé Pires e os seus companheiros guiados pelos intérpretes malaios, que reconhecendo o terreno souberam chegar à capital, foram desmascarados em Beijing como impostores pelos enviados do Sultão. Mas faleceu em 20 de Abril de 1521 o ainda jovem Zheng De e a China parou pela morte do Imperador. No Sul da China, os mercadores portugueses desrespeitando e não acatando a suspensão obrigatória de todas as actividades, provocaram ao largo do porto de Tunmen em Setembro de 1521 a primeira batalha naval entre portugueses e os chineses. Ocorreu muito devido à imagem de pirata que Simão de Andrade aí deixara e levou à prisão de muitos portugueses. Ficava irremediavelmente perdido o primeiro esforço dos portugueses ao serem banidos das terras chinesas.
A China, um país que nunca se interessou pelo comércio, tendo em baixo nível social a quem ele se dedicava, por um édito imperial de 1525 promoveu a destruição de todos os barcos que navegassem no mar e o aprisionamento dos mercadores que tivessem intenções de comercializar com outros países, ficando apenas os barcos e a indústria naval ligada à navegação pelos rios.

Do Liampó a Chincheu

“Sem embargo das sobreditas leis, não deixam alguns chineses de navegar para fora da China a tratar; mas estes não tornam mais à China. Destes vivem alguns em Malaca, outros em Sião, outros em Patane, e assim por diversas partes do Sul estão espalhados alguns destes que saem sem licença. Pelo que destes que já vivem fora da China, alguns tornam em seus navios a navegar para a China debaixo do amparo dos portugueses. E quando hão-de despachar os direitos de seus navios, tomam um português seu amigo a quem dão algum interesse, para que em seu nome lhe despachem os direitos. Alguns chineses, desejando ganhar o remédio para sua vida, saem muito escondidos nestes navios destes chineses a contratar fora, e tornam muito escondidos que o não saibam nem seus parentes, porque se não divulgue e não incorram na pena que os tais têm”, segundo refere Gaspar da Cruz.
Com os mares despovoados de embarcações chinesas, os chineses ultramarinos encaminharam então os portugueses “a que fossem a Liampó fazer fazenda, porque não há naquelas partes cidades nem vilas cercadas, senão muitas e grandes aldeias ao longo da costa, de gente pobre, a qual folgava muito com os portugueses, porque lhes vendiam seus mantimentos, com que faziam seu proveito. Nestas aldeias eram estes mercadores chineses que com os portugueses navegavam aparentados e por serem conhecidos recebiam ali por sua causa melhor os portugueses, e por eles negociaram com os mercadores da terra trouxessem suas fazendas a vender aos portugueses”, do Tratado das Coisas da China, do dominicano Frei Gaspar da Cruz. Já Fernão Mendes Pinto refere, terem-se “chegado a António de Faria os quatro principais do governo daquela povoação ou cidade de Liampoo, como os nossos lhe chamavam, que eram Mateus de Brito, Lançarote Pereira, Jerónimo do Rego e Tristão de Gaa”. Segundo Rui Loureiro, “Os portugueses, na realidade, mantiveram um estabelecimento mercantil nas ilhas de Shuang-hsü” (…) e esta povoação de Liampó, “como outras que surgiam ao longo da costa chinesa, era frequentada por navegadores de outras procedências, e normalmente siameses, léquios, chineses e japoneses. Não eram invulgares os conflitos com as populações ou com as autoridades chinesas dessas regiões, a propósito de questões mercantis.”
Moltalto de Jesus refere, “Depois da destruição de Liampó, os portugueses asseguraram uma base em Chincheu, perto de Amoy (hoje Xiamen), por meio de pesados subornos. Também aí (actual Zhangzhou) a mesma horrível sorte os alcançou, dois anos mais tarde (1549), segundo Mendes Pinto, em consequência de uma disputa pelos bens de um arménio morto. Um administrador oficial, Aires Botelho de Sousa, com fama de homem sem princípios e ganancioso, tomou como fazenda parte dos bens e algumas mercadorias que dois comerciantes chineses diziam suas e que, como não lhes fossem restituídas, se queixaram aos mandarins – que imediatamente proibiram as relações dos nativos com os portugueses, racionando o fornecimento de provisões. Levados pela fome, passaram a região a pente fino. Isto terminou em escaramuças que levantaram o distrito inteiro contra eles. Enquanto um exército acabava rapidamente com os portugueses, uma frota deitou fogo aos seus barcos; e de quinhentos portugueses apenas cerca de trinta escaparam a uma morte atroz”. (…) “Com estas horríveis hecatombes a China queria, evidentemente, impedir os portugueses de frequentarem as suas costas inóspitas. No entanto, nada intimidou estes esforçados navegadores. Os proscritos dirigiram-se agora para Sanchuan”, e pela frequência dos portugueses em peregrinação ao local onde morrera o Padre S. Francisco Xavier, os chineses em 1554 os impediram de voltar a frequentar essa ilha e para Lampacao os desviaram.

Plano para Macau

“O perigo em que esteve a Corte (com o incidente de Gengxu, protagonizado por Altan, em 1550, quando contornando a Grande Muralha, chegou ao pé de Pequim ameaçando tomar a cidade e saqueando os subúrbios do Noroeste) levou os Ming a reorganizar a defesa militar (…) e para fazer frente a outras rebeliões das minorias nacionais chinesas, tornou-se urgente resolver o problema de Macau. A situação no litoral do Sul também não era nada optimista. Em 1552, a do Distrito de Huangyan caiu na mão de piratas japoneses, o que ficou conhecido na história como Renzi zhi bian (Incidente do ano Renzi, 1552). Foi um tremendo abalo para a Administração Ming. Eis o pano de fundo do entre Leonel de Sousa e Wang Bo. A invasão de Pequim em 1550 e Renzi zhi bian são as chaves para perceber a viragem da atitude chinesa, decidida por Pequim e executada por Guangdong, para com os Portugueses, que já tinham sofrido grandes reveses à mão de Zhu Wan, em Liampó e Chincheo respectivamente em 1548 e 1549. As campanhas expedicionárias de Zhu Wan contra os Portugueses conseguiram algumas vitórias militares, mas não resolveram o problema da pirataria, nem conseguiram acabar com a presença portuguesa”, segundo referem Jin Guo Ping e Wu Zhiliang: “Em termos globais, o poder militar chinês era superior ao dos Portugueses que frequentavam o litoral chinês”.
“Macau começou a ser (em 1557) um entreposto para o comércio português entre Malaca e o Japão”, como refere Rui Loureiro e continuando com Jin Guo Ping e Wu Zhiliang, “o desenvolvimento desse comércio traria, mais cedo ou mais tarde, a praga da pirataria a Macau e a Guangdong. Após a repressão de alguns grupos de piratas chineses nas águas de Guangdong e instalados os Portugueses em Macau, as autoridades de Guangdong começaram a tentar resolver o problema dos Japoneses. Antes de mais, uma autorização de residência concedida aos Portugueses em Macau poderia obrigá-los a não se associarem publicamente aos piratas japoneses. De facto, sem os fixar num lugar, como se poderia sujeitá-los à legislação chinesa? Mais tarde, seriam tomadas medidas legais para proibir os Portugueses de ter Japoneses ao seu serviço. Através desta medida de acomodação dos Portugueses em Macau, foram conseguidas, a nível militar, duas vitórias: a rápida repressão dos piratas chineses e o impedimento de qualquer ligação pública entre os Portugueses e os piratas japoneses”.

19 Ago 2016

Seul realiza maior exercício de artilharia de sempre perto da fronteira com Norte

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Coreia do Sul levou ontem a cabo o maior exercício de artilharia com fogo real até à data perto da fronteira com a Coreia do Norte, numa acção descrita como podendo elevar as tensões entre os dois regimes.
No exercício de ontem cerca de 300 peças de artilharia de 49 batalhões abriram fogo contra alvos simulados, disse à Efe um porta-voz do Ministério de Defesa de Seul.
O exercício teve lugar na véspera do primeiro aniversário de um dos maiores episódios de tensão das últimas décadas entre ambas as Coreias, quando a 19 de Agosto os dois exércitos realizaram uma troca de tiros na Zona Desmilitarizada (DMZ), que separa os dois países.
O incidente desencadeou acusações mútuas, mas sem resultar em danos humanos ou materiais.
O exercício de ontem é interpretado como uma advertência de Seul de que está preparada para responder com firmeza a qualquer agressão.
Não obstante, peritos citados pela agência Efe acreditam que as manobras de ontem poderão contribuir para elevar a tensão militar com a Coreia do Norte, num momento marcado pela profunda deterioração nas relações bilaterais.
Um dos maiores focos de tensão é a prevista instalação do sistema antimísseis norte-americano THAAD na Coreia do Sul, projecto que, segundo advertiu na quarta-feira a Coreia do Norte, conduzirá à “catástrofe” das relações entre ambas as Coreias.
A Coreia do Norte e Coreia do Sul permanecem tecnicamente em guerra desde a Guerra da Coreia (1950-53), que terminou com um armistício nunca substituído por um tratado de paz.

19 Ago 2016

“Singing Girl”, de Macau, consegue financiamento em Feira de Cinema

O filme de Macau “Singing Girl” foi o único a conseguir financiamento na Feira de Investimento na Produção Cinematográfica entre Guangdong–Hong Kong–Macau 2016. Co-organizada pelo Instituto Cultural, pelo Hong Kong Film Development Council e pela Administração de Imprensa e Publicação, Rádio, Cinema e Televisão da Província de Guangdong, a feira terminou esta quarta-feira.
Entre os 25 projectos cinematográficos que procuravam chamar a atenção dos mais de 50 investidores foi “Singing Girl”, de Lou Ka Hou, quem mereceu mais destaque.
“O investidor de Guangdong Han Yuan Education Investment & Management Ltd., fechou negócio com um projecto cinematográfico de Macau, o Singing Girl, e três projectos cinematográficos de Guangdong, nomeadamente, “The Fist and Snows”, “The Same Fac”e e “Some stories about Love”. Realizou-se no local a cerimónia de assinatura de carta de intenção de cooperação de investimento”, indica a organização.
À parte do investimento, nenhum dos sete projectos de Macau arrecadou prémios. “Singing Girl” conta a história de uma rapariga que sonha ser cantora. Um dia participa num concurso com uma canção contendo linguagem imprópria. Esse episódio sai-lhe caro e acaba por ser expulsa da escola e repudiada pela família. Por outro lado, a música que entretanto foi parar à internet permitiu-lhe conquistar uma legião de fãs. Esta dualidade divide a rapariga, que se questiona: abandona o sonho e recupera a vida que tinha, ou deixa para trás o passado e segue rumo ao palco?

19 Ago 2016

Escarlatina aumenta novamente. Sobem infecções por VIH

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]ontinuaram a aumentar os casos de escarlatina em Julho em Macau face ao mesmo mês do ano passado. Dados ontem enviados aos média pelos Serviços de Saúde (SS) mostram que foram declarados 18 casos da doença, mais quatro do que no ano passado.
Tal como o HM tinha avançado no final do mês passado, desde 2010 que Macau não via tantos casos de escarlatina. Só este ano, já contabilizou quase 300 casos da doença respiratória que atacou em força no século XIX e que foi erradicada, mas que regressou recentemente em todo o mundo. No ano passado, o número de casos de escarlatina chegou aos 268, tendo atacado especialmente crianças do sexo masculino. Este ano, o número de infecções pela mesma doença foi superior a todo o ano de 2015, ascendendo aos 285. Somam-se agora mais 18 casos registados o mês passado, ainda que muito menos do que em Junho, que totalizou mais de 50.
Em Julho, os Serviços de Saúde registaram 406 situações em que foi efectuada a declaração obrigatória de doenças e “verificou-se que existe uma mudança mais evidente em algumas doenças”, como a escarlatina, a papeira (sete casos), a varicela (56 casos) e as salmoneloses (11 casos).
“Estes números significam que houve um aumento de casos quando comparados com o período homólogo do ano passado”, admitem os SS, depois de no mês passado terem dito que a escarlatina estava a diminuir, mas comparando de mês para mês em vez de anualmente.
Foram ainda declarados 225 infecções por enterovírus e oito casos de influenza, ainda que tenha havido uma diminuição do número de casos, em comparação com o período homólogo do ano passado e com o passado mês de Junho.
Durante o mês de Julho foram também registados 32 casos de tuberculose pulmonar, “um número inferior ao período homólogo do ano passado”. Já casos de infecção pelo VIH foram registados oito e três de SIDA, “o que significa um ligeiro acréscimo relativamente ao período homólogo de 2015”.

19 Ago 2016

Quinze suspeitos detidos por atentados na Tailândia

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]exército tailandês anunciou ontem que deteve 15 suspeitos no âmbito de uma investigação sobre a recente série de atentados em zonas turísticas do país.
“As autoridades detiveram 17 suspeitos, dois deles foram libertados”, disse o coronel Burin Tongprapai, representante da junta militar no poder.
O responsável não precisou o número de dias que os suspeitos ficaram detidos, num país onde o exército pode fazer detenções com uma duração de até sete dias.
O coronel Burin disse que as autoridades tinham o objectivo de deter novamente os dois suspeitos libertados anteriormente e que todo o grupo devia ser acusado na sexta-feira.
Pelo menos 11 bombas explodiram em cinco locais de províncias do sul da Tailândia na quinta e sexta-feira da semana passada, incluindo em estâncias turísticas, segundo a polícia.
Ninguém reivindicou a responsabilidade dos atentados à bomba, que provocaram a morte de quatro pessoas e mais de 30 feridos.
Entre os feridos há pessoas de diversas nacionalidades e países, como a Austrália e o Reino Unido.
O governo e a polícia da Tailândia descartaram a hipótese de terrorismo internacional, afirmando que os autores eram “sabotadores locais”.
Os atentados e ataques na Tailândia são habituais no sul do país, devido a um conflito separatista que já matou mais de 6.500 pessoas desde 2004.
A Tailândia é actualmente governada por uma junta militar que tomou o poder em 2014, num golpe de Estado.
 

19 Ago 2016

Morde aqui a ver se eu deixo

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]coisa acontece assim: eu, residente de Macau, perfeita conhecedora dos níveis de tolerância da polícia local, entro ali num prédio abandonado e decido pendurar uma faixa com um insulto a uma figura pública da terra. Como sei que há vários sentidos que não abundam na cidade – incluindo o de humor, se de uma piada se tratasse –, tenho a certeza de que responderei, pelo menos, por um crime. Ou por dois ou três.
A polícia não brinca em serviço e alimenta as gordas dos jornais, pelo que amanhã estarei, sem dúvida alguma, na capa deste matutino. E nas dos outros, ora pois, que as notícias não abundam. Com sorte, entro no próximo relatório sobre a falta de liberdade de expressão em Macau. Mas eu, que até dei a entender ter estado na origem do acontecimento, não assumo o que fiz, porque há o segredo de justiça e coisa e tal. E, já agora, quem me conhece como jornalista que escreva a notícia sem fazer referência à profissão pela qual meia dúzia de gatos-pingados me identifica: chamem-me outra coisa qualquer que eu às vezes sou isto, outras vezes sou aquilo.
O acontecimento Scott Chiang versus Alexis Tam, com o Hotel Estoril como pano de fundo, tem entrada directa no anedotário político local. Por várias razões, a começar pelo formato e a acabar na intenção. O rapaz da Associação Novo Macau – que, neste episódio, não quer ser conotado com a Novo Macau, embora a Novo Macau aplauda o sucedido – não se ensaia nas palavras e nos actos, diz não ter medo de nada, nem de ninguém, mas não assume a autoria da intervenção activista da semana.
No plano das intenções, Scott Chiang está apreensivo com o património da terra, preocupação que só lhe fica bem e que é partilhada pelas gentes que amam a cidade. Recusa ser protagonista de manobras eleitoralistas, fez a coisa que afinal-não-diz-que-fez por amor à camisola, neste caso o edifício do antigo Hotel Estoril, acusa o secretário de falta de debate público, de homicídio dos bens valiosos da urbe. Como membro de uma associação que, independentemente de gostos e preferências, até há bem pouco tempo era levada a sério por pessoas com diferentes posturas na vida, o activista não debate, não organiza mesas redondas, não chama dois ou três especialistas para uma troca de ideias, não sugere uma alternativa. O activista age. Age mais ou menos – não sabemos se foi ele que agiu, que o protagonista alega o silêncio que a justiça impõe.
Em suma: andam todos a trabalhar para os jornais. Os novos da Novo Macau e a polícia de enraizados costumes. A malta da comunicação social agradece, é assunto para uns dias valentes e daqui a uns tempos volta a ser notícia, quando se for ver o que aconteceu ao processo. Além de estarem a trabalhar para os jornais, uns e outros contribuem para que o debate não aconteça, porque nestas linhas que escrevo o património fica de fora, se ainda houvesse alguma coisa para discutir em torno do Estoril. Assunto mais debatido – para a esquerda e para a direita, por dentro e por fora – não há.
Certo é que estes episódios de provinciana política vêm aumentar a estranha fogueira em que se quer colocar Alexis Tam – e é aqui que Scott Chiang e os parceiros poderão estar a desempenhar um papel mais ou menos consciente e mais ou menos perigoso. Percebeu-se desde o início que o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura não ia ter a vida facilitada. A gestão pública de um ou outro processo não ajudou à missa: o caso Estoril não foi particularmente bem dirigido e esta condução atribulada tem resultados à vista.
Goste-se ou não do estilo, simpatize-se ou não com Alexis Tam: num exercício de distanciamento, é visível, a olho nu, que existe interesse (ou vários interesses) em colocar pedras num caminho já cheio de buracos, por via da inacção do passado e da sobrecarga de tarefas do presente. Goste-se ou não do secretário, basta ler os títulos dos jornais para se perceber que não há movimento respiratório que Alexis Tam faça que não seja alvo de críticas. Se foi é porque não devia ter ido, se consultou não devia ter ouvido, se não ouviu devia ter falado. Se vai fazer é porque vai gastar dinheiro, se deixar tudo como está é porque não se interessa, não faz, é igual aos outros. Se agrada a uns é porque é mais isto, se satisfaz outros é porque é mais aquilo. Em suma: não há pachorra.
Não haveria pachorra se tudo isto não fosse sério, talvez mais sério do que aparenta ser. Pensar que Scott Chiang é um menino nas artes políticas não é um erro total, mas pode corresponder a uma análise pouco aprofundada. Atribuir às eleições do próximo ano a culpa pelos dedos em riste é uma explicação plausível, mas só em parte. Em Macau, há sempre mais qualquer coisa, qualquer coisa mais opaca do que aquilo que nos é mostrado. Andamos todos entretidos com o burburinho activista e, às tantas, o que importa passa serenamente ao lado, entre os pingos da chuva que abunda e é forte. Um dia destes ainda vamos todos perceber o que efectivamente se está a passar, que interesses maiores se erguem por aí. Ou talvez não, talvez não nos contem e a gente nem dê pela ausência de explicação, entusiasmados que estamos, de pipoca na mão, a achar que é com episódios emocionantes como o do Hotel Estoril que o mundo pula e avança.

19 Ago 2016

IC | Actividades para promover a comunicação entre a comunidade

Integrar artistas, agentes sociais e comunidade é o objectivo da iniciativa do IC “Ligar as peças da comunidade”. São quatro dias de trocas de conhecimentos e experiências que pretendem criar um mundo mais fácil e mais capaz de comunicar através da utilização da arte

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]comunidade é um todo dinâmico e com necessidade de comunicar entre si e a arte pode ser um veículo ao serviço de todos. “Ligar as peças da comunidade” é o tema de um ciclo de actividades que teve início ontem e se prolonga até ao próximo domingo, dias em que vão ser debatidos e experimentados estes e outros temas. A iniciativa promovida pelo Instituto Cultural (IC) quer, através de um conjunto de palestras, seminários e workshops debater a forma como a comunidade no seu todo pode expressar as suas preocupações tendo em conta a via da criatividade e da arte.
As actividades que têm lugar durante quatro dias vão dar a oportunidade a diferentes pessoas e entidades de partilharem as suas experiências de forma a que seja construída uma “plataforma de criação conjunta que ligue as pessoas”, informa o site do IC que anuncia o evento.

Comunicar melhor

Depois de ontem ter tido lugar o “Contador de histórias da cidade”, um espectáculo acompanhado de palestra acerca dos traços de memória locais, tem lugar hoje – das 10h00 às 17h00 – o workshop de formação de instrutores de arte para pessoas com deficiência. A iniciativa conta com a participação de professores experientes da “Associação de Arte com pessoas com deficiência de Hong Kong” e pretende que os cuidadores que prestam serviços nesta área possam aprofundar conhecimentos acerca dos diferentes tipos e formas artísticas e, ao mesmo tempo, estudar técnicas de comunicação mais eficazes no ultrapassar dos desafios que a área representa. O evento tem lugar na Escola de Música do Conservatório de Macau e é limitado a 15 participantes.
Para o serão está agendada a palestra “A viabilidade das artes intervirem na sociedade”, a partir das 20h00. O evento a ter lugar no edifício do IC tem como oradores Yeung Sau Churk, também vindo da vizinha RAEHK. A intenção da palestra é fomentar o debate acerca da participação da arte contemporânea que para muitos ainda é um “lugar vedado” à participação social. É objectivo ainda mostrar que é necessário pôr a arte ao serviços das causas sociais e serão abordadas algumas das possíveis formas de o fazer.

Não escolhe idades

Amanhã tem lugar “A visita ao museu com velhos amigos”. A actividade que decorre no Museu de Macau é dirigida aos mais velhos com idade igual ou superior a 65 anos. Os 15 participantes serão orientados por monitores da “Arte no Hospital” de Hong Kong de modo a juntar “um grupo de velhos amigos” na visita a uma exposição. No final são todos convidados a partilhar as suas reflexões pessoais acerca do que viram numa demonstração de que a arte é para todos.
A tarde será preenchida com a temática do teatro participativo. O evento tem lugar na Escola de Música do Conservatório de Macau com a realização de um seminário que demonstra a experiência já vivida em Taiwan entre a comunidade de Gouziwei e a iniciativa ShanDongYe. O objectivo é ilustrar como é que o teatro pode reunir a comunidade incluindo os moradores como actores e público, de modo a que possam sentir as dinâmicas de cada um dos lados. Os exemplos serão dados com o que já aconteceu com a peça “Passeios nocturnos” e conta com a participação de uma das actrizes do espectáculo, Shu-chin Lai, e Li-hua Chang, uma residente da comunidade.

Encontros criativos

A iniciativa termina no domingo com uma edição de “Speed dating”. A actividade tem lugar das 15h00 às 18h00 no Conservatório de Macau. A intenção é colocar em contacto artistas e elementos da comunidade para trocar experiências e responder a questões que possam surgir de parte a parte.

19 Ago 2016

Líder da Birmânia visita Pequim e leva agenda preenchida

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]líder da Birmânia, Aung San Suu Kyi, iniciou ontem uma visita oficial a Pequim, onde abordará vários assuntos com os líderes chineses, incluindo o projecto da barragem de Myitsone, suspenso pela Birmânia em 2011.
Suu Kyi, que recebeu o prémio Nobel da Paz em 1991, será recebida na China com uma cerimónia de boas-vindas e com honras de chefe de Estado pelo primeiro-ministro Li Keqiang.
Durante o dia de hoje Suu Kyi irá reunir-se com o Presidente chinês, Xi Jinping e leva na agenda a possibilidade de a China participar na reconstrução da barragem Myitsone, um projecto que foi travado e que desagradou a Pequim.
Apesar de liderar a Birmânia, Suu Kyi é oficialmente ministra dos Negócios Estrangeiros e Conselheira de Estado, estando impossibilitada de assumir o cargo de presidente, por estar casada com um estrangeiro.
A primeira vez
Esta viagem acontece uma semana antes de a Birmânia celebrar a Conferência de Panglong, que promove a paz entre o Governo e as guerrilhas constituídas por minorias étnicas e é também a primeira visita à China desde assumiu o cargo .
O apoio da China é visto como crucial para pôr fim a décadas de conflitos étnicos no país, algo em que Pequim está interessado, visto que em ocasiões passadas os confrontos com o exército da Birmânia ocorreram em zonas próximas à sua fronteira.
Esta visita ocorre um mês antes de Suu viajar até aos Estados Unidos da América, o que é interpretado pela China como um sinal de boas relações bilaterais.
Pequim foi o único apoio internacional da Junta Militar que governou a Birmânia (desde o final dos anos 1960 até 2011) e que manteve Suu 15 anos na prisão.
Ainda assim, continuam a existir diferendos entre os dois países vizinhos.
O fundamental diz respeito ao adiamento da construção da barragem de Myitsone, financiada pela China, numa decisão que contou com a influência de Suu Kyi.
A aprovação, no passado fim de semana, por parte da Birmânia, de um comité para rever a situação do projecto despertou as esperanças da China de que este seja reactivado, segundo publicaram alguns jornais oficiais chineses.

19 Ago 2016

Casas-Museu fechadas para renovação

O Instituto Cultural (IC) fechou temporariamente as cinco Casas-Museu da Taipa de modo a proceder à optimização das instalações culturais e funcionalidades desta zona. O encerramento destes edifícios está agendado para 22 de Agosto não havendo data prevista para a sua reabertura. No entanto, o IC adianta que será realizada após a conclusão dos trabalhos e garante “uma nova imagem”.

19 Ago 2016

Relatório | “Uma Faixa, Uma Rota” coloca China pela primeira vez no Top25 dos países mais inovadores

A implementação da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” e o facto de estar aberta a colaborar com economias mais desenvolvidas no ramo da investigação colocaram a China no Top25 dos países mais inovadores. É a primeira vez que tal acontece não só com o país, mas com uma economia considerada “média”, como a do Império do Meio. São os resultados do Global Innovation Index, que classifica o continente como “um caso notável”

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]China entrou pela primeira vez no Top25 dos países mais inovadores. Os resultados são do Global Innovation Index (GII) e a posição também coloca o continente como o primeiro país do grupo das “economias médias” a integrar a tabela das mais desenvolvidas em nove anos. O documento, lançado pela Cornell University, The Business School for the World e a World Intellectual Property Organization (WIPO), foi dado a conhecer na quarta-feira.
“A entrada da China no Top25 marca a primeira vez que um país com uma economia mediamente desenvolvida se junta às economias mais desenvolvidas do mundo e que dominaram, historicamente, o top do GII durante os nove anos de pesquisa sobre as capacidades de inovação de mais de uma centena de países em todo o mundo. A evolução da China reflecte a forma como o país melhorou a sua performance ao nível da inovação”, pode ler-se no relatório, que alerta, ainda assim, para ainda existente divisão entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento. “Mas há também mais atenção dos políticos para o facto de que a inovação é crucial para uma economia vibrante e competitiva.”
Xi Jinping pode ser o homem responsável por esta subida do 29º lugar em 2015, que já provocou diversas reacções nos média nacionais (ver textos abaixo). Em 2013, a implementação da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” pelo Presidente chinês – que a concretizou no ano passado – fez com que a China se posicionasse ainda mais estrategicamente no mundo. Especialmente, porque o que a iniciativa promove – a integração económica de países asiáticos, africanos e europeus – conta já com mais de 60 países e foca-se nas principais áreas que dão um empurrão à economia: infra-estruturas, trocas comerciais, educação, investigação e inovação.
“A diversidade entre os países que fazem parte de ‘Uma Faixa, Uma Rota’, apesar de desafiante, é um dos factores mais apelativos nesta iniciativa. As vantagens dos diversos países podem ser aproveitadas e o potencial para o progresso é extremamente alto. O aprofundamento da integração económica, melhores infra-estruturas e cooperação em domínios como a educação, pesquisa e inovação têm o potencial de levar os [participantes] a níveis mais elevados e, consequentemente, maior desenvolvimento económico”, indica o GII. inovação medicina china

A aprender

A abrir a tabela deste ano surgem a Suíça (com 66,28 pontos numa escala que vai até cem), a Suécia (63,57) e o Reino Unido (61,93). Hong Kong não fica numa má posição, conseguindo o 14º lugar dos mais inovadores (ver texto secundário), ainda que demonstre uma queda. Macau não aparece.
Apesar de ficar atrás de Singapura, que arrebata o sexto lugar, a China consegue com o seu 25º lugar (50,57 pontos) ultrapassar países europeus como Portugal (30º), Itália e Espanha. Em último, na posição 128, surge o Iémen.
Mas, em que apostou a China para subir na tabela? Segundo o GII, no investimento.
“Inovação requer um investimento contínuo. Antes da crise de 2009, os gastos com a investigação e o desenvolvimento subiram cerca de 7% anualmente. Os dados deste ano mostram que estas despesas mundiais subiram apenas 4% em 2014, resultado de um crescimento económico mais lento nas economias emergentes e orçamentos mais apertados para a investigação nas economias mais desenvolvidas. O que, aliás, se mantém um motivo de preocupação”, explica o relatório. “Mas, ainda que os EUA liderem, a China demonstrou um crescimento rapidíssimo nos seus gastos de investigação e desenvolvimento. O [país] sozinho foi responsável por 21% das despesas globais em investigação, ficando apenas atrás dos EUA.”
Estudos citados no GII mostram que a China está também a elevar o número de investigadores e de publicações científicas: entre 128 países, a RPC consegue o 46º lugar no número de países com mais investigadores. Isto tendo apenas em conta o continente, já que Hong Kong ocupa a 27ª posição nesta área.
“A investigação na inovação é crítica para conseguir elevar o crescimento económico a longo-prazo”, refere Francis Gurry, director-geral do WIPO. “Neste clima económico descobrir novas formas de crescimento e conseguir novas oportunidades que surgem com inovação ao nível global deve ser a prioridade para todos.”
Nota positiva acontece também com o registo de patentes, onde “os EUA estão a ver a sua liderança a diminuir”, com a China a conseguir, entre os países de “Uma Faixa, Uma Rota”, o primeiro lugar nesta área, ao lado do fabrico de produtos de alta tecnologia e de exportações. A China consegue ainda o 17º lugar na qualidade de inovação entre as quatro economias que se realçam nessa área – Japão, EUA, Reino Unido e Alemanha. “Esta posição torna o país o líder entre as economias médias, seguido da Índia, que ultrapassou o Brasil.”

Um caso “notável”

Com uma posição não tão satisfatória (88ª) no que à “estabilidade política” diz respeito, a China consegue ser “um caso notável”, como refere o GII. E tudo devido à sua abertura para o mundo.
“A forma como a China se abre à cooperação internacional é cada vez mais estratégica. Desde o processo de abertura do país, em 1978, a política externa tem sido utilizada como um avanço no desenvolvimento da economia. E, mais recentemente, a intensificação da rede de colaborações internacionais espalhou-se em todos os aspectos da inovação chinesa – desde a investigação académica conjunta, ao licenciamento tecnológico e ao investimento directo e aquisições estrangeiros”, indica o relatório, que acrescenta que o resultado destas apostas é um sistema densamente conectado a fontes cujo ‘expertise’ é elevado. Chinese President Xi Jinping talks about how the Chinese symbol for the word "people" resembles two sticks supporting each other as he speaks Tuesday, Sept. 22, 2015, at a banquet in Seattle. Xi was in Seattle on his way to Washington, D.C., for a White House state dinner on Friday. (AP Photo/Ted S. Warren)O país está ao lado da Malásia, Bulgária, Costa Rica, Roménia e Montenegro no Top10 dos melhores países com uma economia mediana e ocupa também uma posição invejável nos países com melhor rácio de inovações mais eficazes. E, como o HM analisou, no grupo dos países asiáticos o Império do Meio assume também um lugar de destaque: o quarto, atrás apenas da Coreia do Sul, Hong Kong e Japão. Precisamente graças à sua abertura.
“Uma coisa que distingue a China do Japão ou da Coreia no caminho da inovação é a sua abertura para ‘comprar experiência que está na prateleira’ quando necessário”, ou seja procurar o que já é tido como de qualidade.
“Uma e outra vez, exemplos de colaborações são evidentes. Como Adam Segal, um especialista em China no Conselho de Relações Exteriores dos Estados Unidos, descreveu ‘uma das grandes vantagens da China tem sido o seu foco em moldar as interacções com os estrangeiros para servir os seus objectivos’”, remata o GII.

Altos elogios

“As 25 primeiras posições do GII são ocupadas por um conjunto estável de países de alto-rendimento que consistentemente lideram na inovação. Nos últimos anos, quase nenhum país mudou dentro ou fora deste grupo de melhor desempenho, mas este ano algumas mudanças notáveis tiveram lugar dentro do Top25, em parte devido à inclusão de novos indicadores. Notavelmente, pela primeira vez, um país de economia média – a China – está nesse top. Esta inclusão é impulsionada não apenas pelo desempenho na inovação, mas também por considerações metodológicas, como a adição de quatro novos indicadores em que a China fez particularmente bem”, realça o relatório. “Por exemplo, o país tem uma nota particularmente elevada no número de empresas que mais investem em pesquisa, tem rankings de inovação com pontuações mais altas e indicadores altos em pedidos de patentes, bem como nas exportações de alta tecnologia e bens criativos.”
A China ainda não está a par de qualquer um dos dez países de topo, mas consegue pontuações mais altas em sofisticação empresarial e exportação de conhecimento e tecnologia do os seus pares no grupo do 11º ao 25º lugar, como indica o GII. Assim, está mais próxima de países de economia alta, com a Malásia agora em maior distância, quando no ano passado os dois países foram as duas únicas economias de economia mediana perto do grupo superior. A China tem demonstrado uma melhoria mais forte ao longo dos anos em vários indicadores.”

Hong Kong à frente mas a descer

Macau está de fora do índex, mas Hong Kong conseguiu arrecadar o 3º lugar na liderança dos países do Sudeste Asiático mais inovadores. No ranking geral, ainda assim, a região vizinha desceu face a anos anteriores. Se em 2015 conseguiu a 11ª posição, está agora no 14º lugar. Mantém-se à frente do continente e no Top25. “No que ao conhecimento e tecnologia diz respeito, Hong Kong está em 30º. Mas consegue boas posições em instituições e infra-estruturas [de inovação], com um quarto e segundo lugar. Também na sofisticação de mercado consegue um segundo lugar. O seu desempenho é superior em termos de sofisticação do mercado, onde a maioria das forças individuais da economia são identificadas: a protecção dos investidores minoritários, a capitalização de mercado e o valor total de acções são todos primeiros classificados. Por outro lado, apesar de melhorar na classificação em dois indicadores na Educação, os gastos com a educação e as despesas públicas em educação por aluno são áreas com oportunidades de melhoria.”

O Top25

1. Suíça (número 1 em 2015)
2. Suécia (3 em 2015)
3. Reino Unido (2 em 2015)
4. EUA (5 em 2015)
5. Finlândia (6 em 2015)
6. Singapura (7 em 2015)
7. Irlanda (8 em 2015)
8. Dinamarca (10 em 2015)
9. Holanda (4 em 2015)
10. Alemanha (12 em 2015)
11. Coreia do Sul (14 em 2015)
12. Luxemburgo (9 em 2015)
13. Islândia (13 em 2015)
14. Hong Kong (11 em 2015)
15. Canadá (16 em 2015)
16. Japão (19 em 2015)
17. Nova Zelândia (15 em 2015)
18. França (21 em 2015)
19. Austrália (17 em 2015)
20. Áustria (18 em 2015)
21. Israel (22 em 2015)
22. Noruega (20 em 2015)
23. Bélgica (25 em 2015)
24. Estónia (23 em 2015)
25. China (29 em 2015)

RPC, o futuro

Gu Qingyang, professor associado da Escola de Políticas Públicas de Lee Kuan Yew da Universidade Nacional de Singapura, considera que esta entrada da China no Top25 é uma notícia incentivadora. Num editorial escrito no Diário do Povo, jornal que dedicou diversos artigos a este resultado, o académico considera este um momento de viragem decisiva para o desenvolvimento na inovação da China. Gu Qingyang crê que o plano nacional da inovação tecnológica do 13º plano quinzenal publicado pelo  Conselho de Estado do Governo Central da China contribuiu imensamente para que se saiba qual o plano de inovação tecnológica da China nos próximos cinco anos.
“No passado, a inovação era definida como o fruto das tecnologias de ponta, mas agora na China a inovação está entre a população”, refere.
O “The Economist” publicou recentemente um artigo de capa em que considera que a China e o mundo ocidental já entraram numa fase de “referência mútua de inovação” no sector tecnológico. Um texto do Financial Times relata que os investidores aguardam com expectativa que o potencial da tecnologia chinesa possa ultrapassar os Estados Unidos da América, como relembra ainda o académico.
O Diário do Povo frisa ainda um artigo da CNN norte-americana, que realça a inovação como um motor crucial para a economia chinesa. “Os gastos de pesquisa e desenvolvimento das empresas chinesas está a crescer a um ritmo de 20% enquanto o das empresas americanas é de 1 a 4%. A China está a tornar-se um país repleto de produtos e ideias inovadoras”, indicava.
Também o director-geral da Organização Mundial da Propriedade Intelectual, Francis Gurry, fez questão de frisar que a inovação que a China está a prosseguir serve como um elemento essencial para a transição do produto “Made in China” a “Created in China”.

19 Ago 2016

Novas paragens de autocarros na Taipa e Macau

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) reordenou algumas paragens nas ilhas, cancelando duas delas perto dos Jardins do Oceano. “Tendo em conta que as paragens Jardins do Oceano/Rose Court e Ponte de Sai Van/Av. do Oceano e as da Rotunda dos Jogos da Ásia Oriental e Avenida dos Jogos da Ásia Oriental/Ponte de Sai Van estão relativamente próximas serão canceladas as Rotunda dos Jogos da Ásia Oriental e Avenida dos Jogos da Ásia Oriental/Ponte de Sai Van”, explica um comunicado.
Assim, as carreiras n.os 26 e MT4 passam a fazer escala nas paragens “Jardins do Oceano/Rose Court” e “Ponte de Sai Van/Av. do Oceano”, enquanto a carreira n.o 73 para também nestas duas paragens.
A DSAT vai ainda criar a paragem “Centro de Santa Lúcia” na Estrada de Nossa Senhora de Ká Hó e a paragem “Parque de M. da Barragem de Ká-Hó” na Estrada da Barragem de Ká Hó, alterando o itinerário da carreira n.o 21A para fazer com que este autocarro pare nestas duas paragens.
Já do lado de Macau, a carreira n.o 5X deixa de circular na Rua de Malaca, a partir de passando a seguir para o viaduto, através da Avenida de Marciano Baptista e faz escala na paragem “Av. R. Rodrigues/Rua Malaca”.
Todas estas mudanças acontecem amanhã, dia em que se inaugura o novo terminal de autocarros do Vale das Borboletas, localizado no complexo de habitação pública de Seac Pai Van. As carreiras n.os 51, 52, 55, 56, H3 e N5 passam a sair daquele terminal, em vez do terminal provisório de Seac Pai Van. Entretanto, este terminal provisório é repartido em duas paragens para uso do público com as novas denominações de “AL. da Harmonia / Edf. Ip Heng” e “AL. da Harmonia / Edf. Lok Kuan”. O Terminal do Vale das Borboletas tem cinco vias de autocarros.

19 Ago 2016

China | Qualidade dos lacticínios “melhorou” mas desconfiança mantém-se

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]qualidade dos lacticínios chineses “melhorou substancialmente”, garantiu ontem uma associação ligada ao sector. Apesar disso os consumidores chineses mantêm-se desconfiados e continuam a dar preferência aos produtos importados. Presente na memória ainda está o episódio do leite contaminado que em 2008 abalou a China e vitimou várias crianças.
A Associação da Indústria de Lacticínios da China garante que 99,5% dos produtos testados no ano passado “obedecem aos padrões” e estão “livres de aditivos ilegais”, segundo um relatório citado pela agência oficial Xinhua.
Em 2008, cerca de 300 mil crianças adoeceram e seis morreram na China após ingerirem leite em pó contaminado com melamina, composto químico usado na produção de plásticos.
Após o incidente, que envolveu então a empresa líder do sector na China, a Sanlu Group, com sede na província de Hebei, mais leite contaminado foi descoberto por todo o país, gerando uma enorme procura por lacticínios importados, especialmente para crianças.
Em Lisboa, por exemplo, a passagem de navios da marinha chinesa, em 2013, deixou farmácias e parafarmácias de prateleiras vazias, após os marinheiros chineses comprarem todo o leite em pó para bebés que encontraram, chegando a provocar rupturas no stock.
Citada pela agência Xinhua, Yang Yang, que foi mãe recentemente, garante que, apesar das melhorias referidas no relatório, “irá continuar a não comprar leite em pó para o seu bebé”.
“Ninguém arrisca a vida dos seus bebés para testar a segurança do leite chinês”, afirmou.
Desde 2014, a China autoriza 31 empresas portuguesas a exportar os seus lacticínios para o país.

19 Ago 2016

China | Recuperação do mercado imobiliário abranda

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]subida dos preços no mercado imobiliário sofreu um abrandamento em Julho, com o valor das casas a aumentar em um menor número de cidades, comparativamente aos meses anteriores, segundo dados oficiais divulgados.
Os preços da habitação nova subiram em 51 das 70 principais cidades do país, face ao mês anterior, enquanto em Junho e Maio foram 55 e 60, respectivamente, as cidades que registaram uma subida nos preços.
A China não divulga a percentagem global de variação dos preços da habitação em todo o país, limitando-se a revelar a mudança de preços, face ao mês e ao ano anterior, nas 70 principais cidades do país, como indicador da evolução do mercado.
Em Julho, no entanto, os preços caíram em 16 cidades, seis a mais do que em Junho e doze mais do que em Maio.
Em termos homólogos, 58 cidades registaram um aumento dos preços das habitações novas, enquanto 11 registaram quedas.
A cidade de Shenzhen, localidade no sul da China, próxima de Macau e Hong Kong, voltou a liderar o ranking e registou um aumento de 41,4% dos preços, em Julho, mantendo a tendência que regista desde o verão de 2015.
Ainda assim, a subida foi inferior ao registado em Junho e Maio, 47,4% e 54%, respectivamente.
Em Pequim e Xangai, as duas principais metrópoles da China, os preços subiram 33,1% e 22,7%, respectivamente.
A cidade de Jinzhou, na província de Liaoning, no nordeste da China, voltou a liderar as quedas, ao registar um recuo dos preços de 3,8%, face ao mesmo período do ano passado, e de 3,5%, face a Julho.
Após uma estagnação no sector imobiliário, entre a segunda metade de 2014 e a primeira de 2015, Pequim tomou várias medidas para impulsionar a compra de habitação.
Entre estas, destacam-se a redução da taxa de juro para estimular o crédito bancário, a diminuição dos impostos sobre as transacções imobiliárias e a redução do pagamento inicial na compra de uma casa.

19 Ago 2016

Sonho com efeito

[dropcap style=’circle’]S[/dropcap]er criatura e não saber de quê de quem. De que sonho. De que modelo, de que criação, de que mito ou de que lenda. Como uma nostalgia de raízes na terra. No outro. Como o sonho de demiurgia fatal. E o medo, proporcional à grandiosidade do. Medo… Do inteligível ao mundo sensível. O medo. À imagem isso sim sabe-se. Que se é. À imagem de qualquer imagem interior, a qualquer entidade humana ou supra-humana. Ser criatura e não se saber criada. Contornar o mistério da criação divina. Ou será esse mistério, o da expectativa do amor. A eterna nostalgia do olhar. Criador. Modelador. Como uma síndroma de Galateia. O renovar desse olhar inicial que nos edifica enquanto criaturas e esculpe. Sede lugar de um olhar e sede fome de corresponder a um olhar. Descer ao território etéreo como esse e inerente ao humano. Sempre o mistério e misterioso imperfeito, como o é o tempo, com memória e sonho. E que sem tudo, seria eterno. E acabado perfeito.
A criatura e o criador. Ou, a criatura o criador. No diálogo. Ela em frente, a espera do fim. O fim da obra acabada. E todo o momento é aquele em que foge a criatura e duvida o criador. A dúvida é dele a fuga é da obra criada. Ramificada, camada sobre camada. Sobre camada e sobre camada e exponencial. Como ramos, o caminho. Bifurcado e não pensado, não sonhado. Mas é a natureza da obra e do humano. Amplo e humano. A criação é memória e a memória humanidade, olhar, experiência, tacto, vida e morte. Não há outro caminho na criação. Mas na criatura criada sim. Externa ao sonho de si, tornada visível, escapa-se ao primeiro olhar, ao primeiro gesto, e sem que a si se lhe possa atribuir nada. Culpa, decisão ou determinação. Nudez muda abandonada no cavalete do escultor. A partir daí, uma respiração, uma vibração no ar, perguntas, questões. E a criatura passa a espelho e o espelho a criatura no espelho do outro. É depois, a fantasia da obra. Ou antes. Escrita, lavrada, esculpida. Bordada a ponto. Rebelde. A tecer outros tecidos e bordados. Mesmo a pedra. Nem sempre de acordo com o escultor. Terá ele que o desculpar a si próprio. Ou a ela. É indiferente. Está ali com todas as imperfeições de um e de outro. Sente-se a obra frente ao criador. Senta-se, sentada de pedra, obra e em frente, pedra de alquimia, terra de cultivo. Senta-se. Fitando com olhos de amor. E espera o sopro vital. Fitam-se os olhos. Do desconfiar. Rebela-se a obra. Duvida o criador. Deixar à poesia a função de encantar. No seu falar só. Solitário. E formar a obra. Pedra de formas. Sente. O frio que espera. O sopro.
Criatura criada é um mundo. No universo da linguagem, nas suas camadas de sentido em aberto. Obra aberta. E mais o tempo. Senta-se a criatura criada em frente e senta-se o criador na frente e, no confronto, como estranhos. Afinal. Se um é o outro. Até ao toque final. Até ao sopro vital. E a criatura vai. Amante do criador e este, extasiado ou desiludido, ou estupefacto da criatura criada a partir de si. Por si para si no mundo fora de si e para o mundo além de si. A partir. Por outros sentidos. Sem sair do mesmo lugar. Ali. A obra espera serena e passiva a continuação do sonho. Julga. O criador, esse, desfaz-se em indecisão porque vê de fora a criatura criada, meio criada mas já definida, conflituosa. Como uma personalidade a desenvolver-se. E há que entender e comparar e testar o direito de a reconduzir ao sonho inicial de a cercar de uma ideia firme e embrionária. Porque ela foge e noutros sentidos e talvez seja de deixar fluir. No seu caminho livre, agora. Depois do gesto inicial. Deixando de pertencer, ganhando vida própria. Num limbo em que depende do criador para o sopro vital, o rito de passagem. De inacabado a acabado. Familiar ou estranho. Ao criador. E se às vezes houve a paixão pela ideia, outra é a paixão pela pedra esculpida. A estranheza do encantamento. E a obra está pronta e o criador nem sempre para a obra criada. Exterior, autónoma e estranha na sua identidade recente. Mas ela devolve em reflexo. Perfeito ou imperfeito de uma intenção inicial. Ao espelho.
Mas perfeito, é o paradigma do mito. No olhar de Pigmaleão, escultor da pedra à medida do sonho e do imaginado perfeito. Mas falta ao mito a fantasia do olhar sobre si. O olhar da criatura criada sobre o criador amante. O olhar que se fantasia refletido no olhar do outro. O olhar do outro que edifica monstros e anjos e por vezes o outro. Assim. Nunca do natural se pode imitar sem perda. Da natureza a arte deve assumir a competição. Imitar é ficar aquém, reformular é dar vida. Inventar a vida. O escultor, esculpe a figura à medida da sua utopia e a vê-a, como prémio, tornada viva e realidade. O poder da invenção na manifestação de realidade. O sonho a definir os troços do caminho. O de Pigmalião é um mito belo. Porque não se detém na fraqueza humana e no insucesso, mas no poder de uma expectativa positiva, no engendrar da vida. O efeito de Rosenthal. Quanto mais se edifica uma imagem mais ela se concretiza. Ou, noutros termos e noutros estudos, profecia auto-realizável.
E a consciência de si de cada um, já não obra criada, mas mesmo assim. Formulada no outro. Mesmo sem mais desígnio do que o do simples olhar. Espelho. Reflexão. Existência criada ou ignorada. Ou esquecida. Sim, o espelho como raízes estendidas de lado a lado do vidro, do estanho, da prata, da obsidiana negra que transtorna o olhar-raiz. Transtorna de lucidez ou transforma de embriaguez. E de novo, como o sopro vital.
Aqueles em que nos fantasiamos como eles a nós. Uma coincidência mágica de identidade suavemente conseguida reconhecida e grata. O espelho ideal para uns o que retoca e regenera, para outros o que vai às entranhas do eu e as devolve delicadamente. Iguais. Sim a magia dos espelhos como a da criação artística ou de paradigmas. Nelas rever a essência do que somos que não a sós. Essa, quase sempre uma outra imagem e solitária. Criar um olhar que vê ou criar um olhar que não vê nem se mostra no ver e ser visto. Que nem passa pelos olhos, talvez. Como Modigliani deixava os olhares vazios…vazios ou cheios de todas as possibilidades interiores a um olhar. Sem limite. Talvez deixando para mais tarde o desafio de os entender ou talvez deixando-os como abertura franca, um rasgo directo à alma expressa na intimidade dos corpos, essa que lhes transmitia uma entrega de nudez para além da pele. Tudo. Como representação. O sonho com efeito. Ou a arte pela vida.

19 Ago 2016

Mais dois casos de dengue importado

Os Serviços de Saúde (SS) deram conta de dois novos casos de dengue importados, diagnosticados depois de um homem e uma mulher terem viajado para o Camboja e Filipinas, respectivamente, elevando o número destes casos para sete.
Em comunicado divulgado na quarta-feira à noite, os SS informam que um homem de 24 anos foi diagnosticado depois de ter estado no Camboja, entre 31 de Julho e 6 de Agosto, para fazer voluntariado. No dia 12, já depois de ter regressado a Macau, manifestou sintomas de febre e dores musculares, recorrendo ao hospital. Como a febre não passou, voltou ao hospital no dia 15, acabando por ficar internado e ser diagnosticado.
O outro caso diz respeito a uma mulher de 44 anos que tinha estado nas Filipinas entre 3 e 12 de Agosto. Foi ainda no país que, após sintomas, foi diagnosticada. Após regressar a Macau, voltou a ser internada e começou a apresentar erupções cutâneas, tendo-lhe sido diagnosticado dengue de tipo III. Segundo os SS ambos apresentam melhorias. Estes dois diagnósticos elevam o número de casos de febre de dengue importado para sete desde o início do ano.

19 Ago 2016

Obras nocturnas para acelerar trabalhos da Praia Grande

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s obras de pavimentação das vias públicas no centro da cidade vão ser realizadas também à noite de modo a diminuir os efeitos da construção. A informação é dada pelo Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), que adianta que a partir da próxima terça-feira, e durante três dias consecutivos, as obras de repavimentação das vias que fazem a junção da Avenida da Praia Grande com a Almeida Ribeiro vão acontecer à noite.
Para diminuir a perturbação que possa gerar ao público, o IACM decide realizar a pavimentação das vias públicas às horas mais calmas que acontecem durante a noite e os trabalhos vão preencher o horário compreendido entre as 20h00 e as 6h00 da manhã seguinte. A empresa encarregue da empreitada já foi informada desta medida e foi-lhe também exigido que acabe depressa com as obras que possam produzir ruído mais forte. A empresa também tem na sua alçada a responsabilidade de recuperar as condições de trânsito antes das seis da manhã.
A decisão de ocupar a noite com as obras foi feita de modo a equilibrar o movimento com a passagem de transportes públicos, a vida do quotidiano da população e ainda para evitar mais problemas provocados por sucessivos condicionamentos provisórios ao trânsito.
O IACM está ainda a realizar repavimentações a outras vias adjacentes e o tempo total dos trabalhos está previsto para 20 dias úteis. Durante a execução das obras, o movimento do tráfego estará condicionado com a proibição de movimento de veículos nas vias atingidas, bem como nas adjacentes. Neste momento estão a ser levadas a cabo cerca de 99 obras nas vias da cidade e que têm sido alvo de críticas por parte dos residentes. O Conselho Consultivo do Trânsito revelou ainda que “é impossível terminar algumas das obras de grande escala antes do final das férias de Verão”.

19 Ago 2016

AMCM | Fundo de Investimento é para avançar mas só com formados

O Fundo para o Desenvolvimento e Investimento vai mesmo avançar, mas não sem antes se formar pessoas na área financeira, diz a AMCM

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Governo vai mesmo avançar com o Fundo para o Desenvolvimento e Investimento, anunciado em 2015, mas não sem antes formar pessoal. O assunto tinha sido alvo de debate em sede da Comissão de Acompanhamento para as Finanças Públicas da Assembleia Legislativa (AL), onde os deputados questionaram o Executivo. Um porta-voz da Autoridade Monetária de Macau (AMCM) confirmou ao HM que o projecto é para avançar.
Ontem, também o Jornal Tribuna de Macau tinha avançado que estão já em marcha os trabalhos “preparatórios” para o Fundo, que se prevê estar concluído em 2019. Um relatório da Comissão da AL publicado esta semana e analisado pelo HM indicava que “os pormenores do Fundo estavam em fase de estudo”, mas a AMCM disse ao diário que os trabalhos arrancaram após a conclusão desse estudo de avaliação interno feito pelo organismo.
O Fundo será semelhante a um fundo soberano, “exclusivamente para gerir os investimentos das reservas” financeiras, sendo que a AMCM alertou os membros do hemiciclo de que está a ter uma atitude prudente face ao dinheiro público.
“A AMCM adoptará apenas uma política de aplicação financeira mais prudente, face à previsão de uma maior oscilação no mercado financeiro mundial este ano de 2016.”

Calmos e formados

Os deputados tinham sugerido que o Governo avançasse com uma política de investimento “mais agressiva”, com investimentos no continente e a compra de imóveis de “alta qualidade em Macau”. Esse não é o desejo do Executivo, que quer, contudo, maior aposta na formação.
“Seja em termos de política de gestão financeira, ou em termos de normação legal, a aplicação dos fundos públicos tem de ser sempre rodeada da maior cautela para se manter, pelo menos, a estabilidade dos activos. (…) Contudo, a tarefa primordial do Governo, enquanto este [Fundo] não for criado, é a formação de mais quadros qualificados para a área financeira.”
Os números apresentados pelo Governo sobre a taxa de retorno dos investimentos da Reserva Financeira em 2015 mostram que o 0,7% não agrada e é menor que todas as taxas nos últimos quatro anos. “Pode até dizer-se que o seu valor é mais baixo do que os rendimentos de depósitos obtidos por particulares”, avisam os deputados.
O Executivo diz que a baixa taxa se deve “às turbulências verificadas no mercado mundial bolsista e à depreciação do yuan”. O valor dos activos ascendeu a 345,05 mil milhões de patacas em 2015.
Chui Sai On tinha anunciado que iria proceder a um estudo sobre a aplicação de determinada percentagem da actual reserva financeira na criação do Fundo.

19 Ago 2016