Relatório | “Uma Faixa, Uma Rota” coloca China pela primeira vez no Top25 dos países mais inovadores

A implementação da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” e o facto de estar aberta a colaborar com economias mais desenvolvidas no ramo da investigação colocaram a China no Top25 dos países mais inovadores. É a primeira vez que tal acontece não só com o país, mas com uma economia considerada “média”, como a do Império do Meio. São os resultados do Global Innovation Index, que classifica o continente como “um caso notável”

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]China entrou pela primeira vez no Top25 dos países mais inovadores. Os resultados são do Global Innovation Index (GII) e a posição também coloca o continente como o primeiro país do grupo das “economias médias” a integrar a tabela das mais desenvolvidas em nove anos. O documento, lançado pela Cornell University, The Business School for the World e a World Intellectual Property Organization (WIPO), foi dado a conhecer na quarta-feira.
“A entrada da China no Top25 marca a primeira vez que um país com uma economia mediamente desenvolvida se junta às economias mais desenvolvidas do mundo e que dominaram, historicamente, o top do GII durante os nove anos de pesquisa sobre as capacidades de inovação de mais de uma centena de países em todo o mundo. A evolução da China reflecte a forma como o país melhorou a sua performance ao nível da inovação”, pode ler-se no relatório, que alerta, ainda assim, para ainda existente divisão entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento. “Mas há também mais atenção dos políticos para o facto de que a inovação é crucial para uma economia vibrante e competitiva.”
Xi Jinping pode ser o homem responsável por esta subida do 29º lugar em 2015, que já provocou diversas reacções nos média nacionais (ver textos abaixo). Em 2013, a implementação da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” pelo Presidente chinês – que a concretizou no ano passado – fez com que a China se posicionasse ainda mais estrategicamente no mundo. Especialmente, porque o que a iniciativa promove – a integração económica de países asiáticos, africanos e europeus – conta já com mais de 60 países e foca-se nas principais áreas que dão um empurrão à economia: infra-estruturas, trocas comerciais, educação, investigação e inovação.
“A diversidade entre os países que fazem parte de ‘Uma Faixa, Uma Rota’, apesar de desafiante, é um dos factores mais apelativos nesta iniciativa. As vantagens dos diversos países podem ser aproveitadas e o potencial para o progresso é extremamente alto. O aprofundamento da integração económica, melhores infra-estruturas e cooperação em domínios como a educação, pesquisa e inovação têm o potencial de levar os [participantes] a níveis mais elevados e, consequentemente, maior desenvolvimento económico”, indica o GII. inovação medicina china

A aprender

A abrir a tabela deste ano surgem a Suíça (com 66,28 pontos numa escala que vai até cem), a Suécia (63,57) e o Reino Unido (61,93). Hong Kong não fica numa má posição, conseguindo o 14º lugar dos mais inovadores (ver texto secundário), ainda que demonstre uma queda. Macau não aparece.
Apesar de ficar atrás de Singapura, que arrebata o sexto lugar, a China consegue com o seu 25º lugar (50,57 pontos) ultrapassar países europeus como Portugal (30º), Itália e Espanha. Em último, na posição 128, surge o Iémen.
Mas, em que apostou a China para subir na tabela? Segundo o GII, no investimento.
“Inovação requer um investimento contínuo. Antes da crise de 2009, os gastos com a investigação e o desenvolvimento subiram cerca de 7% anualmente. Os dados deste ano mostram que estas despesas mundiais subiram apenas 4% em 2014, resultado de um crescimento económico mais lento nas economias emergentes e orçamentos mais apertados para a investigação nas economias mais desenvolvidas. O que, aliás, se mantém um motivo de preocupação”, explica o relatório. “Mas, ainda que os EUA liderem, a China demonstrou um crescimento rapidíssimo nos seus gastos de investigação e desenvolvimento. O [país] sozinho foi responsável por 21% das despesas globais em investigação, ficando apenas atrás dos EUA.”
Estudos citados no GII mostram que a China está também a elevar o número de investigadores e de publicações científicas: entre 128 países, a RPC consegue o 46º lugar no número de países com mais investigadores. Isto tendo apenas em conta o continente, já que Hong Kong ocupa a 27ª posição nesta área.
“A investigação na inovação é crítica para conseguir elevar o crescimento económico a longo-prazo”, refere Francis Gurry, director-geral do WIPO. “Neste clima económico descobrir novas formas de crescimento e conseguir novas oportunidades que surgem com inovação ao nível global deve ser a prioridade para todos.”
Nota positiva acontece também com o registo de patentes, onde “os EUA estão a ver a sua liderança a diminuir”, com a China a conseguir, entre os países de “Uma Faixa, Uma Rota”, o primeiro lugar nesta área, ao lado do fabrico de produtos de alta tecnologia e de exportações. A China consegue ainda o 17º lugar na qualidade de inovação entre as quatro economias que se realçam nessa área – Japão, EUA, Reino Unido e Alemanha. “Esta posição torna o país o líder entre as economias médias, seguido da Índia, que ultrapassou o Brasil.”

Um caso “notável”

Com uma posição não tão satisfatória (88ª) no que à “estabilidade política” diz respeito, a China consegue ser “um caso notável”, como refere o GII. E tudo devido à sua abertura para o mundo.
“A forma como a China se abre à cooperação internacional é cada vez mais estratégica. Desde o processo de abertura do país, em 1978, a política externa tem sido utilizada como um avanço no desenvolvimento da economia. E, mais recentemente, a intensificação da rede de colaborações internacionais espalhou-se em todos os aspectos da inovação chinesa – desde a investigação académica conjunta, ao licenciamento tecnológico e ao investimento directo e aquisições estrangeiros”, indica o relatório, que acrescenta que o resultado destas apostas é um sistema densamente conectado a fontes cujo ‘expertise’ é elevado. Chinese President Xi Jinping talks about how the Chinese symbol for the word "people" resembles two sticks supporting each other as he speaks Tuesday, Sept. 22, 2015, at a banquet in Seattle. Xi was in Seattle on his way to Washington, D.C., for a White House state dinner on Friday. (AP Photo/Ted S. Warren)O país está ao lado da Malásia, Bulgária, Costa Rica, Roménia e Montenegro no Top10 dos melhores países com uma economia mediana e ocupa também uma posição invejável nos países com melhor rácio de inovações mais eficazes. E, como o HM analisou, no grupo dos países asiáticos o Império do Meio assume também um lugar de destaque: o quarto, atrás apenas da Coreia do Sul, Hong Kong e Japão. Precisamente graças à sua abertura.
“Uma coisa que distingue a China do Japão ou da Coreia no caminho da inovação é a sua abertura para ‘comprar experiência que está na prateleira’ quando necessário”, ou seja procurar o que já é tido como de qualidade.
“Uma e outra vez, exemplos de colaborações são evidentes. Como Adam Segal, um especialista em China no Conselho de Relações Exteriores dos Estados Unidos, descreveu ‘uma das grandes vantagens da China tem sido o seu foco em moldar as interacções com os estrangeiros para servir os seus objectivos’”, remata o GII.

Altos elogios

“As 25 primeiras posições do GII são ocupadas por um conjunto estável de países de alto-rendimento que consistentemente lideram na inovação. Nos últimos anos, quase nenhum país mudou dentro ou fora deste grupo de melhor desempenho, mas este ano algumas mudanças notáveis tiveram lugar dentro do Top25, em parte devido à inclusão de novos indicadores. Notavelmente, pela primeira vez, um país de economia média – a China – está nesse top. Esta inclusão é impulsionada não apenas pelo desempenho na inovação, mas também por considerações metodológicas, como a adição de quatro novos indicadores em que a China fez particularmente bem”, realça o relatório. “Por exemplo, o país tem uma nota particularmente elevada no número de empresas que mais investem em pesquisa, tem rankings de inovação com pontuações mais altas e indicadores altos em pedidos de patentes, bem como nas exportações de alta tecnologia e bens criativos.”
A China ainda não está a par de qualquer um dos dez países de topo, mas consegue pontuações mais altas em sofisticação empresarial e exportação de conhecimento e tecnologia do os seus pares no grupo do 11º ao 25º lugar, como indica o GII. Assim, está mais próxima de países de economia alta, com a Malásia agora em maior distância, quando no ano passado os dois países foram as duas únicas economias de economia mediana perto do grupo superior. A China tem demonstrado uma melhoria mais forte ao longo dos anos em vários indicadores.”

Hong Kong à frente mas a descer

Macau está de fora do índex, mas Hong Kong conseguiu arrecadar o 3º lugar na liderança dos países do Sudeste Asiático mais inovadores. No ranking geral, ainda assim, a região vizinha desceu face a anos anteriores. Se em 2015 conseguiu a 11ª posição, está agora no 14º lugar. Mantém-se à frente do continente e no Top25. “No que ao conhecimento e tecnologia diz respeito, Hong Kong está em 30º. Mas consegue boas posições em instituições e infra-estruturas [de inovação], com um quarto e segundo lugar. Também na sofisticação de mercado consegue um segundo lugar. O seu desempenho é superior em termos de sofisticação do mercado, onde a maioria das forças individuais da economia são identificadas: a protecção dos investidores minoritários, a capitalização de mercado e o valor total de acções são todos primeiros classificados. Por outro lado, apesar de melhorar na classificação em dois indicadores na Educação, os gastos com a educação e as despesas públicas em educação por aluno são áreas com oportunidades de melhoria.”

O Top25

1. Suíça (número 1 em 2015)
2. Suécia (3 em 2015)
3. Reino Unido (2 em 2015)
4. EUA (5 em 2015)
5. Finlândia (6 em 2015)
6. Singapura (7 em 2015)
7. Irlanda (8 em 2015)
8. Dinamarca (10 em 2015)
9. Holanda (4 em 2015)
10. Alemanha (12 em 2015)
11. Coreia do Sul (14 em 2015)
12. Luxemburgo (9 em 2015)
13. Islândia (13 em 2015)
14. Hong Kong (11 em 2015)
15. Canadá (16 em 2015)
16. Japão (19 em 2015)
17. Nova Zelândia (15 em 2015)
18. França (21 em 2015)
19. Austrália (17 em 2015)
20. Áustria (18 em 2015)
21. Israel (22 em 2015)
22. Noruega (20 em 2015)
23. Bélgica (25 em 2015)
24. Estónia (23 em 2015)
25. China (29 em 2015)

RPC, o futuro

Gu Qingyang, professor associado da Escola de Políticas Públicas de Lee Kuan Yew da Universidade Nacional de Singapura, considera que esta entrada da China no Top25 é uma notícia incentivadora. Num editorial escrito no Diário do Povo, jornal que dedicou diversos artigos a este resultado, o académico considera este um momento de viragem decisiva para o desenvolvimento na inovação da China. Gu Qingyang crê que o plano nacional da inovação tecnológica do 13º plano quinzenal publicado pelo  Conselho de Estado do Governo Central da China contribuiu imensamente para que se saiba qual o plano de inovação tecnológica da China nos próximos cinco anos.
“No passado, a inovação era definida como o fruto das tecnologias de ponta, mas agora na China a inovação está entre a população”, refere.
O “The Economist” publicou recentemente um artigo de capa em que considera que a China e o mundo ocidental já entraram numa fase de “referência mútua de inovação” no sector tecnológico. Um texto do Financial Times relata que os investidores aguardam com expectativa que o potencial da tecnologia chinesa possa ultrapassar os Estados Unidos da América, como relembra ainda o académico.
O Diário do Povo frisa ainda um artigo da CNN norte-americana, que realça a inovação como um motor crucial para a economia chinesa. “Os gastos de pesquisa e desenvolvimento das empresas chinesas está a crescer a um ritmo de 20% enquanto o das empresas americanas é de 1 a 4%. A China está a tornar-se um país repleto de produtos e ideias inovadoras”, indicava.
Também o director-geral da Organização Mundial da Propriedade Intelectual, Francis Gurry, fez questão de frisar que a inovação que a China está a prosseguir serve como um elemento essencial para a transição do produto “Made in China” a “Created in China”.

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