CriaMacau, projecto de marketing: “Saber comunicar é o pilar de tudo”

Este projecto embrionário nasceu nos corredores da Universidade de Macau e pretende desenvolver no mercado o chamado “marketing de guerrilha” junto de empresas locais. A ideia correu tão bem na prática que poderá continuar fora do meio universitário

 

[dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]á muito que as empresas usam redes sociais como o Facebook, o Youtube ou o Instagram para fazerem publicidade aos seus produtos e serviços, mas a CriaMacau entende que isso já não chega. Para que o público faça a sua opção em prol daquilo que a marca pretende, é preciso inovar. E é aí que a CriaMacau quer trabalhar.

Criado em Setembro, este projecto é uma iniciativa de quatro académicos ligados ao mestrado em Comunicação e Novos Media da Universidade de Macau (UM). Bruna Pickler explicou ao HM como tudo funciona. “A CriaMacau é um espaço onde abordamos o conceito muito pouco falado de marketing de guerrilha. Explicamos as melhores ideias criativas, as que não correram tão bem, a diferença do que se faz em cada parte do mundo.”

Além disso, “é também um canal onde pretendemos criar alguma ligação com o público, daí termos a nossa página aberta a todos aqueles que nos quiserem questionar sobre o tema e ao mesmo tempo disponíveis para ajudar quem pretenda melhorar a sua visibilidade junto do público”, disse ainda Bruna Pickler.

Para a académica, “as marcas precisam de chegar aos consumidores e os canais tradicionais estão sobrecarregados”. “Há cada vez mais uma completa cegueira para os anúncios a que todos estamos habituados. É a pensar nisso que pretendemos compilar as acções mais disruptivas e inspirar todos os que por aqui passam”, acrescentou Bruna.

Ajudar as PME

A CriaMacau foi criada a pensar também nas dificuldades sentidas pelas Pequenas e Médias Empresas (PME) no seu dia-a-dia, já que muitas vezes as dificuldades em pagar uma renda acabam por pôr uma estratégia de marketing em segundo plano.

“Foi com essa intenção que a página foi criada, para descobrir o que os pequenos negócios locais precisam, o que falta para que essas empresas se desenvolvam melhor. Auxiliamos com alternativas criativas. Acreditamos que as acções de baixo custo podem trazer benefícios para qualquer negócio que precise de ampliar resultados. Isto é válido para Macau e para o resto do mundo. Saber comunicar é o pilar de tudo”, defendeu Bruna Pickler.

Depois, o marketing pode ainda chamar a atenção para várias questões sociais. “Percebemos que Macau tem muito foco na indústria do entretenimento e algumas questões sociais ficam de lado. Com o marketing de guerrilha, podemos gerar acções que beneficiam as grandes e pequenas empresas integrando a comunicação com projectos sociais e culturais. E é isso que queremos ensinar aos utilizadores.”

Continuar no mercado

A CriaMacau é apenas um projecto universitário com existência através de uma página na rede social Facebook, mas poderá ser bem mais do que isso. Apesar dos seus membros ainda estarem a avaliar a viabilidade do projecto, há uma forte possibilidade de a CriaMacau se transformar numa empresa a operar no mercado.

“Com o decorrer da página temos percebido que pode ir além do âmbito universitário. Gostamos da pesquisa exploratória, de andar na rua à procura do exemplo mais básico, e por isso, e dependendo do avanço do projecto, será para continuar.”

A gestão de páginas nas redes sociais poderá ser um ponto de partida, sendo que muitos dos que trabalham na CriaMacau já estiveram ligados a empresas estrangeiras. “Alguns dos membros da CriaMacau trabalharam individualmente com projectos de marketing de diferentes empresas de todo o mundo. Este é um projecto muito jovem e ainda estamos à procura de negócios locais em Macau, ou então de gestores que queiram contactar-nos para desenvolverem um projecto de marketing”, concluiu. O projecto da CriaMacau poderá ser conhecido na página www.facebook.com/criamacau.

16 Nov 2016

Portugal | Relações comerciais com a China vão reforçar-se

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] ministro da Economia considerou ontem que as relações comerciais com a China vão reforçar-se no futuro, destacando que “a China vê Portugal como um parceiro estratégico” não só para investimentos no país, mas também na lusofonia.

“As relações com a China vão reforçar-se ainda mais nos próximos anos; a China vê Portugal como um parceiro estratégico e Portugal vê a China como um grande mercado com muitas oportunidades”, disse Manuel Caldeira Cabral à margem do primeiro Fórum Económico Portugal-China, que decorre até esta quarta-feira em Lisboa.

Para o ministro, uma das grandes vantagens de Portugal passa por ser uma porta de entrada não só para outros mercados europeus, mas também para os mercados lusófonos, com o Brasil, Angola ou Moçambique.

“Há oportunidades muito interessantes na cooperação tripartida para projectos em países africanos, no Brasil e no desenvolvimento de Portugal como plataforma de entrada para as empresas chinesas no mercado europeu, podendo juntar a capacidade técnica e o conhecimento de Portugal dos mercados lusófonos com a capacidade financeira e a dimensão das empresas da China”, acrescentou o governante.

A vantagem para as empresas portuguesas, salientou Caldeira Cabral, é a possibilidade de juntar o conhecimento técnico português com o músculo financeiro chinês, a segunda maior economia do mundo, que apesar da fase de abrandamento do crescimento económico, não tem problemas de liquidez.

A junção das empresas “permite alavancar e fazer grandes investimentos em países como o Brasil, Angola e Moçambique, para os quais as empresas portuguesas têm capacidade técnica mas podem não ter capacidade financeira para investir e responsabilizar-se pelos investimentos”, defendeu o governante.

Está na moda

Manuel Caldeira Cabral concordou que “Portugal está na moda em áreas como o turismo ou o imobiliário”, mas destacou que o país “é e quer afirmar-se como um país aberto que acolhe investimento não só da China, mas de todo o mundo, porque é um factor importante para o nosso crescimento”.

Portugal, disse, é olhado pelos investidores como um país que é “um bom lugar para investir, seguro, que garante estabilidade, competitivo e com trabalhadores qualificados que são capazes de dar resposta aos avanços tecnológicos”.

16 Nov 2016

Função Pública | Estudo revela baixo sentido de pertença de trabalhadores

Um estudo realizado pela Federação das Associações dos Operários de Macau revela que os funcionários públicos têm baixo sentido de pertença e pouco envolvimento no trabalho. Sentem-se, contudo, satisfeitos com o que fazem. Quanto ao stress, vem do dia-a-dia e não do trabalho

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]uas associações com ligações à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) realizaram um estudo que revela que os trabalhadores da Função Pública têm um baixo sentido de pertença em relação ao cargo que desempenham, além do baixo envolvimento no trabalho que realizam diariamente. O estudo revela, contudo, que os funcionários sentem-se satisfeitos consigo mesmos, revelando uma elevada capacidade de tolerância.

Realizado entre Julho e Dezembro pela Federação das Associações dos Trabalhadores da Função Pública e pela Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Origem Chinesa, em cooperação com o Departamento do Estudos Políticas e da Informação da FAOM, o inquérito baseou-se em 1540 opiniões de funcionários públicos de 27 serviços.

As razões que estarão por detrás deste baixo sentido de pertença devem-se à falta de consciência do seu papel enquanto funcionários públicos e às lacunas existentes no regime de carreiras, sobretudo na possibilidade de ascensão na carreira.

A FAOM sugere, portanto, que seja reforçada a formação de trabalhadores para que estes tenham mais a “consciência de servir a população”. A entidade defende ainda uma melhor distribuição dos recursos humanos e das tarefas, bem como o estabelecimento de um meio de comunicação para facilitar o intercâmbio entre funcionários e superiores hierárquicos.

Em relação aos níveis de stress, o estudo conclui que a sensação de stress ou cansaço vinda dos problemas do dia-a-dia é superior ao stress originado pelo trabalho. Os resultados mostram ainda que os funcionários públicos têm uma atitude positiva no trabalho, com elevado grau de tolerância.

Cerca de 60 por cento dos inquiridos têm entre 25 e 39 anos, sendo que 74 cento têm formação académica acima da licenciatura. Apenas 14 por cento dos inquiridos tem formação acima do mestrado. Quase 60 por cento dos entrevistados trabalham na Função Pública há menos de dez anos, sendo que 30 por cento têm um salário anual acima das 600 mil patacas, enquanto 11,9 por cento recebe menos de 100 mil patacas anuais. A FAOM considera que os inquiridos são, no geral, novos e contam com elevada formação académica, com uma média de antiguidade de dez anos. O estudo será apresentado à Administração para servir de referência.

15 Nov 2016

LAG | Comerciantes da Horta da Mitra querem políticas para os mais jovens

Chui Sai On fez na sexta-feira uma visita surpresa ao bairro que o viu crescer, pediu fiambre com ovos no café da esquina e perguntou como andavam os negócios para a zona da Horta da Mitra. Na hora do Chefe do Executivo ir à Assembleia Legislativa, os comerciantes do bairro revelam quais as políticas que querem ver concretizadas no próximo ano

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]elas sete ou oito horas da manhã, os mais pequenos vestem o uniforme, os mais velhos as fardas dos seus empregos e todos saem à rua para mais um dia. Pelo meio, bebe-se um café. Sexta-feira simbolizou, contudo, um final de semana diferente para quem reside no Bairro da Horta da Mitra, graças a uma visita surpresa do Chefe do Executivo.

Lam Mio Iong não viu Chui Sai On, mas lembra-se daquele ser o bairro onde, durante muitos anos, a família Chui viveu. “A geração do pai de Chui Sai On morava aqui e Chui Sai On cresceu neste bairro. Acho que voltou para visitar o bairro onde cresceu. A sua família tinha uma relação bastante boa com as pessoas do bairro.”

Por ali vendem-se pratos chineses que se comem na rua e que têm um preço mais baixo: monta-se uma mesa improvisada no passeio, come-se da tigela e já está. Ainda assim, a comerciante garante que o negócio dos vendilhões já conheceu melhores dias. “O meu negócio está pior porque os jovens desta geração preferem comer num restaurante e os vendilhões já não recebem muitos clientes. Mas quero continuar a ter este negócio por mais tempo.”

Na fase de preparação das Linhas de Acção Governativa (LAG), o Chefe do Executivo costuma reunir-se com as associações tradicionais que lhe fazem pedidos e transmitem as maiores necessidades da população. Uma das medidas que deverão ser hoje anunciadas na Assembleia Legislativa (AL) é o habitual aumento de salários na Função Pública, mas para quem não trabalha na Administração os receios são outros.

“Acho que o Chefe do Executivo é próximo da população, mas o maior problema neste momento é a habitação, sobretudo para os jovens. Chui Sai On fez bastante para ajudar os idosos, aumentando os apoios sociais, mas depois os mais jovens enfrentam muitos problemas por causa do alojamento”, acrescentou Lam Mio Iong.

A fotografia no jornal

Nem só de vendilhões de comida se faz o Bairro da Horta da Mitra. Há um mercado municipal, cafés, um templo e algumas lojas. O Chefe do Executivo entrou na loja do senhor Yip, que orgulhosamente vai buscar a fotografia que saiu no jornal Ou Mun para nos mostrar.

Chui Sai On “foi simpático” e “pelo menos quis saber como estão os pequenos negócios nesta zona”. “É muito bom que o Chefe do Executivo preste atenção a estas zonas e aos negócios”, adiantou Yip.

E quais são os maiores problemas de quem trabalha ali diariamente? “O maior problema é a falta de um parque de estacionamento. Depois esta rua tem apenas uma direcção e as pessoas quando vêm fazer compras nesta zona não conseguem estacionar os carros”, disse.

Além disso, há o habitual problema das rendas, numa zona de residentes e para residentes, sem turistas. “As rendas são extremamente altas. Há 18 anos pagava cerca de 2800 patacas e agora pago 19 mil. Só quem é proprietário das lojas é que consegue sobreviver em Macau, os negócios individuais já estão numa situação mais difícil.”

Para as LAG de 2017 Yip deseja “ver melhorias em quase todos os aspectos: na saúde, transportes, habitação. Este é o maior problema porque é impossível comprar uma casa em Macau e gostava que o Chefe do Executivo prestasse mais atenção à classe mais baixa da população.”

Fiambre com café

Uns metros mais à frente, Chui Sai On entrou no café Vai Kei sem pré-aviso. Pediu café misturado com chá e leite, mais fiambre com ovos. No meio do rodopio da hora de almoço, a empregada confessa-nos que ficou “surpreendida” quando viu chegar o governante: sentou-se numa cadeira, como se fosse um cliente habitual. “Ele é simpático, vinha com um grupo grande de pessoas”, disse ainda a empregada do estabelecimento, que não quis dizer o que espera das LAG para o próximo ano, por não ser residente de Macau.

Tomado o pequeno-almoço, o Chefe do Executivo decidiu ir conversar ao café do lado, chamado In Kei. “Perguntou-nos como está o negócio, só isso. Fiquei muito contente por ter vindo aqui fazer uma visita”, disse o senhor Lo. Na zona não se esperam grandes novidades no dia-a-dia ou melhoria aos negócios já existentes.

“O negócio está mais ou menos, aqui quase que não há turistas, só temos negócios ligados aos residentes, cafés, mercados, agências imobiliárias. Vou ficar contente se o Governo distribuir mais dinheiro pela população e se fizer políticas em benefício da vida da população. Mas claro que o dinheiro não chega, são necessárias mais políticas para os pequenos negócios”, resumiu Lo.

A zona da Horta da Mitra está cheia de ruas e becos escondidos, sendo que o Chefe do Executivo só terá passado por uma delas. Quem não o viu de perto prefere não comentar a sua visita ou aquilo que espera para o território. Muitos deles fazem ali o seu negócio há décadas sem grandes mudanças. Por vezes o bairro torna-se um grande palco graças à festividade do Duplo 2, que celebra o aniversário do deus local Tou Tei. São cinco dias em que a Rua Tomás da Rosa se transforma, com construções de bambus, leitões em cima de uma grande mesa e pessoas, muitas pessoas, que se juntam para ver os espectáculos das companhias de ópera Yue, de Guangdong.

Aquilo que hoje é um misto de ruas, mercados, frutas frescas e templos foi, até meados do século XIX, uma mata e alguns casebres, sem ruas ou ordenamento urbano, segundo um artigo de José Simões Morais publicado na revista Macau. Só nos anos posteriores, quando Tomás de Sousa Rosa era governador de Macau, foi dada uma nova vida a uma zona considerada insalubre, onde a população chinesa vivia.

Chui Sai On passou num ápice numa zona cheia de história, conhecida em chinês por Cheoc Chai Un, ou Jardim dos Passarinhos. Ainda assim há quem admita ver o Chefe do Executivo muitas vezes naquela zona a passear, sozinho, pela calada da noite, chegando a entrar no templo que serve de casa às tradicionais festividades. Porque, afinal de contas, depois de um dia cheio de obrigações e compromissos políticos, sabe bem voltar a casa.

15 Nov 2016

Wong Kit Cheng pede revisão das carreiras dos enfermeiros

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] deputada Wong Kit Cheng apresentou uma interpelação escrita ao Governo onde defende uma revisão do regime de carreiras no sector da enfermagem. A ex-enfermeira defende que o contínuo crescimento da população fez com que o actual número de profissionais desta área já não corresponda às actuais necessidades.

“Existem preocupações em relação ao futuro da profissão e as motivações para o trabalho são baixas”, apontou Wong Kit Cheng, tendo defendido ainda o aumento dos salários com a revisão do regime, tanto no sector público como no privado, por forma a atrair mais pessoas, sobretudo jovens, para a profissão.

A deputada fala ainda da existência de injustiças na ascensão da carreira, já que os enfermeiros fora do quadro não poderão candidatar-se às posições de enfermeiro especializado dentro do quadro. Isso faz com que muitos enfermeiros experientes fora do quadro fiquem restringidos quando querem ascender na profissão através do exame.

Wong Kit Cheng lembrou que, em Julho deste ano, levantou a mesma questão ao Chefe do Executivo num plenário da Assembleia Legislativa (AL), tendo Chui Sai On prometido que Alexis Tam, secretário com a tutela da saúde, iria tentar resolver a questão. Até hoje não houve novidades, apontou a deputada.

15 Nov 2016

LAG | Sem novidades, especialistas esperam concretização de políticas

É quase certo que o Chefe do Executivo não deverá hoje anunciar nada de novo no âmbito das Linhas de Acção Governativa para 2017. Ainda assim, os especialistas anseiam pela concretização de políticas há muito prometidas e discutidas, nas áreas dos transportes, habitação, reforma da Administração e até democracia

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] uma fase especial aquela que atravessa a vida política de Chui Sai On. O Chefe do Executivo vai hoje à Assembleia Legislativa (AL) com o segundo mandato na recta final e meses após ter apresentado o Plano de Desenvolvimento Quinquenal, com metas a cumprir nos próximos cinco anos. É por isso que três especialistas contactados pelo HM não esperam o anúncio de novas políticas hoje, mas sim o cumprimento de tudo o que já foi dito e prometido.

“Não espero grandes diferenças em relação ao tom que Chui Sai On tem vindo a demonstrar nos últimos anos. Deverá apresentar medidas que garantam a manutenção dos apoios sociais, os cheques pecuniários… Não haverá grandes novidades”, disse ao HM Agnes Lam, docente universitária e ex-candidata às eleições legislativas.

A presidente da associação Energia Cívica defende que tem havido uma maior abertura do Governo. “Os governantes têm sido bastante activos, enviam dirigentes para o programa de rádio numa base diária, onde se discutem problemas e soluções. Espero que tenham um melhor plano em termos de transportes. A questão do metro ligeiro é realmente preocupante.”

“As pessoas esperam mais medidas ao nível dos transportes e habitação. Nos dias de semana há tráfego em todo o lado e nunca são resolvidos os pequenos ou grandes problemas no trânsito. A implementação do Plano Director é também urgente. Não são necessárias novas políticas, mas é necessário que se continue a trabalhar nas actuais medidas e na resolução destes problemas”, acrescentou Agnes Lam.

Já o sociólogo Larry So defende que “não há novas políticas a serem anunciadas”. “Este será o último ano de mandato e não deverá ter nada de novo para anunciar. Em segundo lugar, tivemos o ano passado a apresentação do Plano de Desenvolvimento Quinquenal, que é um documento muito importante para os próximos cinco anos em termos de planeamento de terrenos, habitação pública ou segurança social.”

“A minha hesitação prende-se exactamente com essa falta de novidade, ou então diria que as LAG vão manter as medidas que precisamos de ter para que a economia permaneça estável. O Plano de Desenvolvimento Quinquenal trouxe o tom que as políticas devem ter e uma direcção para o Governo, as LAG não deveriam ser muito diferentes disso”, disse ainda o sociólogo.

Larry So defende que Chui Sai On vai apresentar hoje medidas para o seu Executivo cumprir, e não a pensar no seu sucessor. “Não seria justo se ele apresentasse medidas para o próximo Chefe do Executivo. Este terá que seguir o Plano de Desenvolvimento Quinquenal, por isso estas serão medidas apresentadas para Chui Sai On e não a pensar no próximo Governo.”

Democracia e reformas

Tong Ka Io, presidente da associação Iniciativa de Desenvolvimento Comunitário, ligada aos deputados Au Kam San e Ng Kuok Cheong, garante que o mais importante é o progresso em relação à implementação do sufrágio universal. “O mais importante e fundamental é garantir o avanço da democracia em prol do desenvolvimento de Macau.”

Além disso, Tong Ka Io acredita que a Função Pública continua a não funcionar como deveria. “Desde a transferência de soberania até agora, a administração pública tem vindo a deteriorar-se. O sistema de responsabilização tem sido bastante lento, pelo que as políticas públicas não reflectem os interesses públicos, mesmo que haja muitos casos em que duvidamos da existência de vários interesses privados em vez dos tais interesses públicos. É necessária uma reforma do sistema da administração pública, está pior e a gestão é bastante pobre. Não podemos ver políticas públicas bem-sucedidas. Pelo contrário, as medidas na área da habitação, economia ou transportes parecem não estar a ser bem-sucedidas. São essas as prioridades que temos”, concluiu.

15 Nov 2016

Lei para as áreas marítimas em consulta pública  

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo de Macau vai entregar no próximo ano aos deputados uma proposta de lei de bases para a gestão das áreas marítimas, depois de a China ter colocado sob sua tutela, há um ano, 85 quilómetros quadrados de águas.

Em Maio foi criado um grupo de trabalho que reviu a legislação vigente na região relacionada com estas matérias e que ontem anunciou ter concluído que “existe a necessidade e é oportuna a elaboração de uma lei de bases de gestão das áreas marítimas, com vista a definir os objectivos e os princípios a que se deve obedecer em relação ao uso, gestão, protecção e desenvolvimento” das águas que estão sob jurisdição de Macau, segundo um comunicado divulgado.

“É necessário fazer com que as normas agora existentes se adeqúem aos diversos diplomas e linhas estratégicas do país no âmbito marítimo, pelo que existe a necessidade e é oportuna a elaboração de uma lei de bases”, acrescentou o director dos Serviços de Assuntos de Justiça do Governo de Macau, Liu Dexue, em conferência de imprensa.

Até meados do próximo mês, está em consulta pública um documento com as linhas da proposta de lei de bases elaborada por este grupo de trabalho, que espera entregar à Assembleia Legislativa uma versão final no segundo semestre de 2017, já na nova legislatura, depois das eleições do próximo ano.

Definir princípios

Li Dexue insistiu que se trata de uma lei de bases e, por isso mesmo, apenas de um enquadramento, com princípios gerais, que servirão de base a planos e a outros diplomas e regulamentos mais pormenorizados sobre a gestão, protecção e exploração das águas marítimas de Macau.

A proposta agora em consulta pública tem como objectivos “garantir a conformidade da exploração e do aproveitamento das áreas marítimas da Região Administrativa Especial de Macau com o interesse geral nacional”, “aperfeiçoar a legislação sobre as áreas marítimas”, definir zonas funcionais, “proteger o meio marinho ecológico”, melhorar “o ordenamento e recuperação das áreas marítimas” e a qualidade das águas e desenvolver a economia ligada ao mar, segundo o mesmo responsável.

A nível ambiental, por exemplo, no documento refere-se a necessidade de “controlar a quantidade global de emissão de poluentes”, de “definir o mecanismo de monitorização ambiental” das áreas em causa e de “avaliação de risco de catástrofe no mar”, assim como “elaborar o plano de contingência” em caso de catástrofe e de “acidentes de poluição”.

Quanto ao desenvolvimento da economia marítima, o documento aponta, entre outros aspectos, o incentivo da “pesquisa científica e tecnológica nas ciências marítimas”, a promoção da cooperação regional ou a aposta em “novos tipos de indústria de turismo marítimo”.

Macau passou a ter sob sua jurisdição 85 quilómetros de águas marítimas a 20 de Dezembro de 2015, por decisão do Conselho de Estado da China. Em Março, Chui Sai O, disse que 2016 era “um ano crucial” para o território, defendendo a importância de “agarrar” as “oportunidades de desenvolvimento da China” e a criação de uma “economia marítima”. Já no início deste mês, o Chefe do Executivo anunciou que a região vai ter um plano de aproveitamento e desenvolvimento das zonas marítimas para os próximos 20 anos.

15 Nov 2016

Centro para o Turismo nasce no IFT

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]acau tem, a partir de hoje, um Centro Global para a Educação e Formação em Turismo para “elevar a qualidade dos recursos humanos na indústria turística”. De acordo com um despacho do chefe do Executivo, publicado em Boletim Oficial, o centro, criado no Instituto de Formação Turística (IFT), “visa através da cooperação com a Organização Mundial de Turismo das Nações Unidas, elevar a qualidade dos recursos humanos na indústria turística e reforçar a capacidade de estabelecer políticas, legislações e mecanismos”.

Oferecer programas de educação e formação turísticas, incluindo a organização de visitas e estágios, e realizar estudos de investigação na área do turismo são duas das competências do centro.

Um coordenador e um coordenador-adjunto do centro serão nomeados de entre os trabalhadores do IFT por despacho do presidente do instituto, em regime de acumulação de funções, explica o mesmo despacho.

A estrutura surge numa altura em que Macau procura fazer a transição para um destino de turismo e lazer para reduzir a dependência económica do sector do jogo.

Segundo a estimativa mais conservadora do Plano Geral do Desenvolvimento da Indústria do Turismo de Macau, dentro de uma década, o território deverá acolher 33 milhões de visitantes por ano. Já outro dos cenários projectados no mesmo plano prevê até 40 milhões, com contas feitas a um crescimento médio anual de cinco por cento. Considerando o primeiro cenário, e a percentagem mínima de crescimento de um por cento ao ano, em 2020, Macau deve ser o destino escolhido por mais de 32,2 milhões de visitantes – sensivelmente mais cinco por cento relativamente aos 30,7 milhões registados em 2015.

15 Nov 2016

Caso Ho Chio Meng | Tribunal desmente opiniões veiculadas nos media portugueses

 

O Tribunal de Última Instância fez ontem um esclarecimento invulgar sobre o caso Ho Chio Meng. O órgão presidido por Sam Hou Fai veio garantir que os advogados do ex-procurador tiveram mais do que um mês para preparar a defesa

 

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] uma nota à imprensa pouco comum, atendendo ao modo como, por norma, os tribunais de Macau lidam com matérias deste género. O Tribunal de Última Instância (TUI) escreveu ontem um comunicado às redacções em resposta a “alguns órgãos de comunicação social portuguesa”, por terem “reflectido a preocupação de alguns advogados pelo facto de a audiência de julgamento do ex-procurador da RAEM se iniciar a 5 de Dezembro próximo”. Em causa estará a comparação com outros julgamentos em processo penal, bem como o curto prazo que o advogado do arguido teria para preparar o processo.

O TUI começa por explicar que “os julgamentos com arguidos presos têm sempre prioridade relativamente ao julgamento dos outros processos em que não se verifica este condicionalismo”, admitindo que, por norma, “os tribunais de primeira instância marquem julgamentos com arguidos presos para datas um pouco superiores a cinco meses”. O órgão recorda, no entanto, que “tais tribunais têm centenas de julgamentos para realizar”, o que não acontece com o TUI: “Este tribunal tem, neste momento, apenas este julgamento em primeira instância”. Ho Chio Meng vai ser julgado no TUI devido ao cargo que exercia à data dos factos.

Consulta sem problemas

O tribunal diz também que “não é verdade que os advogados do arguido tenham apenas um mês para ler o processo e preparar a defesa”, divulgando alguns detalhes sobre o processo. Deduzida acusação pelo Ministério Público, o arguido requereu a abertura de instrução no passado dia 29 de Agosto. A 6 de Setembro, o juiz de instrução declarou a abertura da instrução e desde essa data que “os advogados do arguido têm tido pleno acesso ao processo” no TUI.

“O processo foi consultado muitas vezes, simultaneamente, por vários advogados do arguido. Aliás, até à data, nunca o arguido ou os seus advogados se queixaram de falta de acesso ao processo”, garante o tribunal.

Recorde-se que a data de início do julgamento de Ho Chio Meng foi tornada pública na passada quinta-feira. Detido desde Fevereiro deste ano, o antigo responsável máximo pelo Ministério Público é acusado de uma longa lista de crimes, de peculato a abuso de poder, passando por burla e participação económica em negócio. Ao todo, vai responder em tribunal por 1536 crimes – da acusação constam ainda mais algumas centenas, mas são crimes em concurso aparente, pelo que em julgamento se decidirá qual dos delitos será aplicável.

Pelo que foi divulgado aquando da detenção, a investigação em torno do ex-procurador e dos restantes arguidos foi desencadeada no ano passado, depois de o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) ter recebido uma denúncia. Além de Ho Chio Meng, o caso envolve duas antigas chefias do Ministério Público, o ex-chefe do gabinete do procurador e um assessor, vários empresários locais e dois familiares de Ho Chio Meng.

Para já, ainda não são conhecidos detalhes sobre o que terá acontecido – sabe-se apenas que, em causa, está a adjudicação de quase duas mil obras nas instalações do Ministério Público, sempre às mesmas empresas. Os crimes terão ocorrido entre 2004 e 2014, e as empresas envolvidas terão recebido um valor superior a 167 milhões de patacas. O CCAC acredita que, deste valor, 44 milhões de patacas terão sido encaixados pelos arguidos.

 

15 Nov 2016

Trânsito | Grande Prémio provoca alterações já a partir de amanhã

Em contagem decrescente para mais uma edição do Grande Prémio de Macau, os Serviços para os Assuntos de Tráfego dão a conhecer as medidas que se aplicam ao trânsito e as alterações nos autocarros. Há 43 carreiras que têm percursos diferentes nos próximos dias

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]o que obriga um circuito citadino: todos os anos, com a chegada do Grande Prémio de Macau (GPM), há que repensar o trânsito dentro e fora da Guia. Ontem, a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) deu a conhecer as alterações previstas para os próximos dias, que implicam, desde logo, a mudança provisória os itinerários de 43 carreiras de autocarros.

De quinta-feira a domingo, as carreiras 1A, 3, 3A, 10, 10A, 10B, 10X, 12, 28A, 28B, 28BX, 32, AP1 (em direcção ao Aeroporto) e N1A deixam de parar no Terminal Marítimo do Porto Exterior. Em alternativa, os passageiros poderão optar por duas carreiras (12X e 31), sem terem de pagar, para se deslocarem entre o terminal marítimo e a Praça de Ferreira do Amaral, ou entre o terminal marítimo e o Fórum. O serviço da carreira H2 será também suspenso.

Para aliviar a pressão viária em algumas vias, explica a DSAT, deixará de se efectuar escalas nas paragens “Campo Desportivo Mong-Há” e “Centro Actividades Turísticas”. As carreiras 8 e 28C não vão passar pela Travessa da Amizade, mas sim pela Rua de Malaca em direcção à Avenida do Dr. Rodrigo Rodrigues, suspendendo-se a paragem “Jai Alai”. O terminal destas carreiras mudará temporariamente para a paragem provisória do Fórum.

Além das carreiras 5, 5X, N1A e N2, foi mudado o circuito das carreiras 1A, 3, 3A, 8, 10, 10A, 10B, 10X, 12, 23, 28A, 28B, 28BX, 28C e 32 que passarão pela paragem “Av. R. Rodrigues/Hotel Nam Yue”, mas nela não efectuarão escala. Na paragem “Ouvidor Arriaga /Xavier Pereira”, as carreiras 1A, 3A, 10, 10B e 17 irão passar mas não fazem escala, ao passo que as carreiras 16, 28B, 28BX, AP1 e N1B vão efectuar escala. Além da carreira 32, as carreiras 1A, 3A, 10, 10B, 17, 28B, 28BX e N1B vão passar pela “Est. do Reservatório”, mas não efectuarão escala.

A DSTA explica que, para que os residentes fiquem a par do ajustamento do circuito das carreiras durante a realização do GPM, as operadoras do serviço de transportes públicos vão afixar os avisos nas paragens em causa. Além disso, os Assuntos de Tráfego vão mobilizar pessoal para várias paragens e vias para prestar apoio aos passageiros, e deixam um conselho aos residentes: devem planear o percurso que vão fazer, sair de casa mais cedo e optarem por andar a pé “ou em outros meios de transporte público”.

Mudanças ao volante

Vão ser ainda implementados alguns condicionamentos provisórios em várias vias de Macau. O troço da Rua Cidade de Sintra, entre a Praça de Ferreira do Amaral e a Avenida 24 de Junho, situada a sul do jardim das Artes, passará a efectuar-se em dois sentidos de circulação, das 10h de quarta-feira às 19h de domingo. Ao mesmo tempo, ficarão vedadas ao trânsito as duas faixas centrais para inversão de marcha, existentes no lado oposto à Rua de Cantão e junto à Praça de Ferreira do Amaral. O troço da faixa direita da Avenida de Marciano Baptista, junto ao Fórum de Macau, ficará demarcada ao uso de autocarros, das 20h de quarta-feira à 01h da madrugada do dia 21, segunda-feira.

Amanhã, a partir das 21h, e até às 18h de domingo, o viaduto da Estrada da Bela Vista passará a processar-se em dois sentidos de circulação e será invertido o sentido de circulação no troço da Estrada da Bela Vista, entre o Edifício Fok Hoi e o viaduto da Estrada da Bela Vista, ou seja, os veículos poderão passar pelo Edifício Fok Hoi em direcção ao viaduto da Estrada da Bela Vista.

O troço da Estrada de Ferreira do Amaral, entre a Rua de São João Bosco e a Estrada de D. Maria II, passará a efectuar-se em dois sentidos de circulação. Por sua vez, a execução do corredor exclusivo para transportes públicos na Avenida de Almeida Ribeiro, durante os feriados e domingos, será suspensa no domingo: os veículos poderão circular normalmente entre a Rua Central e a Rua dos Mercadores.

15 Nov 2016

Semana da Bélgica traz artistas do país até Hong Kong

[dropcap style≠’circle’]V[/dropcap]ários artistas belgas têm obra exposta na região vizinha durante esta semana. Alguns são consagrados; outros são menos conhecidos. Há espaço ainda para o debate sobre as colecções e o investimento em obras de arte.

São vários artistas que expõem pela primeira vez em Hong Kong, em dois espaços diferentes – o KEE Club e o ArtOne. As exposições têm a curadoria de Emilie Rolin Jacquemyns, uma cidadã belga residente na região vizinha.

Sendo um dos países com mais coleccionadores de arte per capita, a Bélgica tem vindo a desenvolver-se como um centro importante para a divulgação do trabalho de artistas contemporâneos. A organização das exposições em Hong Kong destaca que as obras levadas até à antiga colónia britânica mostram não só artistas consagrados, mas também novos talentos da Bélgica, que espelham um país “rico em cultura e expressão artística”.

Dos 13 nomes com trabalhos representados no KEE Club encontram-se Harold Ancart, Ann Veronica Janssens e Sophie Whettnall. Ancart foi recentemente distinguido pelo Financial Times como um dos artistas mais importantes do ano. Nascido em Bruxelas, vive e trabalha em Nova Iorque. A Hong Kong leva um único trabalho, sem nome. “Utilizando o espaço e a repetição nas suas instalações de arquitectura e nas obras em papel, o trabalho de Harold Ancart é frequentes vezes minimalista, com recurso a motivos como papagaios, a selva e palmeiras”, descreve a organização.

Ann Veronica Janssens “utiliza a distribuição da luz, da cor e superfícies reflectoras para revelar a instabilidade da percepção do tempo e do espaço através de instalações, projecções e esculturas”. Nascida no Reino Unido, a artista vive em Bruxelas. Em Hong Kong, apresenta o trabalho “Espelho Mágico”.

Sophie Whettnall, que vive e trabalha em Bruxelas, foca-se na luz mas também na sua ausência, bem como na paisagem – um tema recorrente nas suas obras, marcadas por “elementos naturais que reflectem conceitos e percepções contraditórias”. Quem passar pelo KEE Club pode ver “Border Lines #26”, numa mostra que foi inaugurada ontem e que termina na próxima sexta-feira.

Imagens e ideias

No ArtOne, a exposição é da responsabilidade do fotografo Yves Ullens de Schooten, com o trabalho “O Teatro das Luzes”. Trata-se de fotografia abstracta “para expressar a emoção e a energia da luz e da cor”. A exposição – “Materiais e Contraste” – pode ser visitada até sábado.

Sobre as exposições que agora organiza, a curadora Emilie Rolin Jacquemyns explica que quis levar até Hong Kong um conjunto variado de artistas para que o público pudesse ficar com uma ideia do que é a Bélgica. “De cada vez que olho para o trabalho deles, está ali uma parte da nossa cultura, da nossa história e do nosso modo de vida. A luz está no centro de todos estes trabalhos, até mesmo quando é subtil e minimalista. Para mim, existe uma sensação de calma que une todas estas peças, uma noção de brilho e uma expressão de cor que fazem com que a Bélgica fique mais perto de mim, aqui em Hong Kong.”

Além das exposições, amanhã, no KEE Clube, há um debate sobre colecções e investimento em arte, a cargo do consultor de arte Jehan Chu, a partir das 19h.

15 Nov 2016

MIFF | Evento sem Marco Mueller avança com transtornos, mas confiante

 

 

A primeira edição do Festival Internacional de Cinema de Macau é marcada pela saída repentina de Marco Mueller da direcção. Mais do que para a apresentação do cartaz, a conferência de imprensa realizada ontem foi marcada pela ausência do italiano de renome que prometia levar o território ao mundo

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] conferência de imprensa destinada à apresentação do programa da primeira edição do Festival Internacional de Cinema de Macau (MIFF, na sigla inglesa) ficou essencialmente marcada pela ausência de Marco Mueller. O italiano que, até ao passado domingo, era o director do evento e que apresentou demissão é agora substituído pela directora dos Serviços do Turismo e representante da Comissão Organizadora, Maria Helena de Senna Fernandes.

A iniciativa, que vai ter lugar entre os dias 8 e 13 de Dezembro, irá, à partida, decorrer sem grandes alterações, afirma Senna Fernandes, não deixando de sublinhar que o MIFF vai sofrer contratempos. “Não posso dizer que não há transtornos com a saída de Marco Mueller, mas estamos confiantes, porque um festival não é feito por uma só pessoa mas da junção do trabalho de várias partes.”

Tudo na mesma

Até ontem, o programa previsto para a primeira edição do MIFF não tinha sofrido qualquer alteração apesar da saída do director. “A maioria dos filmes foi escolhida por Marco Mueller, mas também há convidados especiais que a Comissão Organizadora contactou por achar que podiam ter um ângulo diferente, de modo a construir um programa mais completo”, explica Senna Fernandes.

A actual responsável pelo evento justifica que, das reuniões a que assistiu em que pudessem ter existido divergências quanto à inclusão de obras, nunca os diferendos deixaram de ser resolvidos, sendo que, na sua perspectiva, não foi por discordâncias de programação que Marco Mueller terá pedido a demissão.

Encontrar um substituto para o demissionário director está, nesta altura, fora de questão. Para Helena de Senna Fernandes, “não seria justo colocar outra pessoa para de repente assumir esta tarefa, sem mais nem menos, e que já tem a assinatura de outra pessoa”. No entanto, e tendo em conta edições futuras, a Comissão Organizadora admite que já está à procura de quem assuma o cargo – ainda assim, é uma tarefa que, de momento, exige calma. “Há pessoas em todo o mundo que têm este tipo de experiência e há pessoas qualificadas para assumir este tipo de tarefas. Não é altura para precipitar a situação, mas sim para acalmar os ânimos”, diz Helena de Senna Fernandes.

Tudo indica que a programação prevista para a primeira edição do MIFF não vai sofrer alterações e, até ontem, nenhum dos convidados declinou os convites. “Quando publicámos a notícia da demissão de Marco Muller, fizemos saber a informação a todos os contactos associados ao festival, e até à data, ainda não recebemos nenhuma recusa por parte dos nomes até agora confirmados”, explica a directora dos Serviços de Turismo. “Os filmes que estão divulgados também já assinaram acordo com evento pelo que, caso não queiram prosseguir com a sua participação, terão as consequências previstas”.

 

 

 

Estreias mundiais e asiáticas em destaque

O cartaz da primeira edição do Festival Internacional de Cinema de Macau é composto por 49 filmes. A informação foi adiantada ontem na conferência de imprensa promovida pela comissão organizadora do evento.

Do programa relativo à competição internacional, a mais prestigiada do evento, constam 11 películas, todos eles estreias, mundiais ou asiáticas. As origens são diversas e os filmes vêm de França, Inglaterra, Índia ou Japão.

Ainda em competição oficial está a estreia no grande ecrã de “Sisterhood”, da realizadora local Tracy Choi, ou “São Jorge”, do português Marco Martins, metragem que valeu a Nuno Lopes o prémio de melhor actor da secção “Horizontes” do Festival de Veneza. Os 11 filmes em competição concorrem a nove prémios dos quais se destacam os de melhor filme, melhor realizador ou melhores actores de ambos os géneros.

Do júri fazem parte cinco elementos presididos pelo produtor e realizador indiano Skekhar Kapur, que já viu as suas obras nomeadas para os Óscares e Baftas.

O festival inclui ainda várias rubricas e em competição há uma secção especialmente dedicada à Ásia, a “Hidden Dragons”.

A comissão organizadora sublinhou a importância das “masterclasses” – duas – que vão ser levadas a cabo por Gianni Ninnari, Tom McCarthy e Bobby Cannavale.

Do programa consta ainda uma secção de competição de curtas-metragens de modo a incentivar a produção e divulgação local. As inscrições abriram ontem e fecham a 30 de Novembro.

O MIFF abre o ecrã com “Polina”, a 8 de Dezembro, uma produção francesa que conta a história que junta a sétima arte e a dança contemporânea na personagem que dá nome à película. A realização está a cabo de Angelin Preljocaj e Valérie Muller, e o elenco conta com Anastasia Shevtsova e Juliette Binoche.

Os bilhetes estão à venda a partir da próxima segunda-feira e os preços são de 50 patacas para as sessões normais e de 80 para as sessões em 3D.

Mueller em tribunal?

A Associação de Cultura e Produção de Filmes e Televisão de Macau, co-organizadora do MIFF, fez saber ontem, em nota de imprensa, que “irá exigir a Marco Mueller todas as responsabilidades decorrentes do incumprimento contratual, por todos os meios ao seu alcance, incluindo a via judicial”. Helena de Senna Fernandes admite a possibilidade de abertura de um processo contra o director demissionário, dadas as circunstâncias da sua saída. Para a associação, o que está em causa é o incumprimento do compromisso assinado pelo director italiano. “Marco Mueller faltou ao compromisso assinado como director do Festival conforme acordo assinado com a Associação de Cultura e Produção de Filmes e Televisão de Macau [sic]”, lê-se na mesma nota.

É a segunda vez que se anuncia uma primeira edição de um festival internacional de cinema de Macau organizado por esta associação. No ano passado, o evento também terá estado para acontecer, sem ter sido realizado. Helena de Senna Fernandes, confrontada com a situação, não adiantou as razões que levaram a iniciativa a ficar pelo caminho e os representantes da associação não se pronunciaram em conferência de imprensa, nem avançaram com mais informações acerca de um eventual processo contra Marco Mueller.

 

15 Nov 2016

China | Consumo privado irá contribuir para quase metade da economia

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] consumo privado contribuirá para quase metade da economia chinesa, em 2030, segundo a unidade de análise da revista The Economist, após no ano passado ter constituído pela primeira vez o principal motor de crescimento do país.

A Economist Intelligence Unit (EIU) prevê que o poder de compra dos consumidores chineses cresça a um ritmo médio de 5,5%, até ao final da próxima década, compensando a queda no investimento público e exportações.

“O volume do aumento do consumo privado chinês que estimamos para os próximos 15 anos é superior ao nível actual do consumo na UE [União Europeia]”, refere o estudo.

Pequim está a encetar uma reconfiguração do modelo económico do país, visando uma maior preponderância do consumo interno, em detrimento das exportações e do investimento em grandes obras públicas.

Em Outubro, as exportações da maior potência comercial do planeta recuaram pelo sétimo mês consecutivo, com as empresas chinesas forçadas a subir os preços, face ao aumento dos custos com a mão-de-obra e produção.

Por outro lado, no ano passado, o consumo privado subiu 8,4%, em termos homólogos, superando o ritmo de crescimento da economia chinesa, que se fixou em 6,9%.

Os consumidores chineses contribuem agora para 38% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, uma percentagem que é pela primeira vez superior ao investimento público e às exportações.

Na análise enviada esta semana aos investidores e a que agência Lusa teve acesso, os analistas da revista britânica The Economist prevêem que, em 2030, o consumo privado represente 47,4% do PIB chinês.

O estudo refere que 35% da população chinesa, ou cerca de 480 milhões de pessoas, terão um rendimento médio alto ou elevado, um segmento que situa acima dos 10.000 dólares.

Trata-se de um aumento significativo, face aos actuais 132 milhões de consumidores chineses – dez por cento da população – com um rendimento anual acima daquele montante.

Já a percentagem de população com rendimentos mais baixos – inferiores a 2.100 dólares – deverá cair dos actuais 36,9% para 11%, enquanto aquela com rendimentos mais elevados – acima dos 32.100 dólares – aumentará de 2,6% para 14,5%.

“A China vai parecer-se mais com uma sociedade de classe média, apesar de que a desigualdade continuará a constituir um desafio”, refere o estudo do EIU.

Por todo o lado

Os analistas consideram ainda que os altos rendimentos se tornarão mais dispersos: as cidades de Changsha, Chengdu e Wuhan e o município de Chongqing, todos situados no sudoeste do país, terão cada um pelo menos dois milhões de consumidores com rendimento elevado.

“Estas cidades recorreram a mão-de-obra e terrenos baratos para atrair empresas chinesas e estrangeiras, que procuram escapar ao aumento dos custos nas cidades costeiras. Isto ajudou a aumentar os níveis de rendimento, emprego e criação de riqueza”, refere o EIU.

Mas serão os grandes centros urbanos – Pequim, Cantão, Xangai e Shenzhen – que continuarão a ter o maior número de habitantes com rendimento elevado.

Em Xangai, por exemplo, o número de residentes com um rendimento anual acima dos 32.100 dólares corresponderá a 43,2% da população – 10 milhões de pessoas.

“Estes aumentos previstos nos níveis de rendimento significam que os hábitos de consumo dos chineses também vão sofrer alterações”, refere o estudo.

Os economistas do EIU prevêem que os novos consumidores com rendimento médio baixo vão consumir mais produtos e serviços, enquanto aqueles do segmento médio alto vão comprar produtos de marca e com qualidade.

Já o aumento da população com rendimentos elevados acarretará novas formas de consumo, que beneficiarão os sectores dos seguros e de gestão de património.

“Entender como o comportamento do consumidor chinês se vai desenvolver nos próximos 15 anos será importante para as empresas se anteciparem”, sublinha o estudo.

15 Nov 2016

Milhares em manifestação de apoio a Pequim e contra a independência em Hong Kong

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ilhares de pessoas em Hong Kong participaram no domingo numa manifestação em defesa do governo da China e da sua decisão de proibir dois deputados independentistas de repetirem os juramentos necessários para exercerem o cargo.

Cerca de 40 mil pessoas segundo a Aliança Anti-independência de Hong Kong, organizadora do protesto, e 28 mil segundo a polícia, concentraram-se junto à sede do Governo local empunhando grandes bandeiras da China, para mostrar o seu apoio à intervenção de Pequim na vida política e judicial da cidade.

Entoando ‘slogans’ como “Lutar contra a independência de Hong Kong, apoiar a interpretação”, os manifestantes expressaram o seu apoio à interpretação que Pequim fez à Lei Básica (mini-constituição) de Hong Kong na semana passada, em que anulou os juramentos dos deputados por terem sido feitos “de uma maneira que não é sincera ou solene”.

Pequim considerou que dois deputados, Sixtus Baggio Leung Chung-hang e Yau Wai-ching, esgotaram as suas opções para assumir os cargos, ao recorrerem a insultos e linguagem desrespeitosa em relação à China durante o primeiro juramento.

Os dois ficam assim impedidos de repetir o juramento, após o conflito que se gerou no hemiciclo devido ao seu comportamento. O caso estava a ser analisado nos tribunais de Hong Kong quando Pequim avançou com uma interpretação que muitos consideram irreversível.

Prós e contras

A decisão adoptada pelo Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular da China foi criticada por activistas pró-democracia e especialistas legais de Hong Kong, que a encararam como um golpe à independência judicial de Hong Kong, o que levou centenas de advogados e juízes da cidade a sair em protesto na passada terça-feira.

A manifestação de domingo, uma das maiores dos últimos anos a favor da presença da China em Hong Kong, levou às ruas deputados da cidade próximos do regime comunista.

“A China nunca irá tolerar a divisão da nação”, disse o deputado Michael Tien.

A ala pró-democracia ainda não se pronunciou publicamente sobre a decisão do Governo chinês e o Supremo Tribunal de Hong Kong não emitiu ainda a sua decisão sobre se os dois deputados devem ser impedidos de assumir os cargos.

15 Nov 2016

Xi Jinping e Donald Trump vão “reunir em breve”

O Presidente norte-americano eleito e o Presidente chinês combinam para breve uma reunião para trocar opiniões. Em cima da mesa estarão temas de “interesse mútuo”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, e o futuro homólogo norte-americano, Donald Trump, concordaram ontem reunir-se “em breve” para discutir a relação entre os dois países, noticiou a televisão estatal CCTV.

Numa conversa por telefone, Xi e Trump “prometeram manter um contacto próximo, construir boas relações de trabalho e reunir em breve para uma troca de opiniões em assuntos de interesse mútuo”, referiu o canal.

Durante a campanha eleitoral, o país asiático foi um dos alvos preferidos do magnata nova-iorquino, que acusou a China de “manipulação da moeda”, ou “batotice” e ameaçou taxar os produtos chineses em 45%.

Trump chegou a chamar a China de “inimigo” e prometeu enfrentar um país que diz considerar os EUA “palermas”.

O presidente eleito sugeriu, no entanto, que não se quer envolver em disputas externas e recusou o Tratado Transpacífico (TPP, na sigla em inglês), um acordo que visa a criação da maior área de livre comércio do mundo e que a China vê como prejudicial aos seus interesses.

A CCTV cita Trump, que afirmou que “a China é um grande e importante país, cujo desenvolvimento surpreendeu o mundo”.

“Os EUA e a China podem beneficiar-se mutuamente”, disse.

O termo usado pela CCTV – “benefício mútuo” – é frequentemente utilizado pela diplomacia chinesa.

Mar de incógnitas

As posições contraditórias e ambíguas de Trump deixam dúvidas sobre a forma como lidará com a China, a segunda maior economia mundial e detentora de um poderoso aparelho militar.

Durante a administração de Barack Obama, Washington reforçou a presença militar e diplomática no leste asiático, levando Pequim a adoptar uma política assertiva, face ao que considera uma tentativa de conter a sua influência económica e geopolítica.

Mas Trump não propôs soluções para questões estratégicas que perturbam as relações, como as reclamações territoriais de Pequim no Mar do Sul da China, o programa nuclear da Coreia do Norte ou o futuro de Taiwan.

O vencedor das eleições norte-americanas indicou ainda que os EUA estão cansados de pagar pela defesa dos seus aliados, como o Japão e a Coreia do Sul, sugerindo que estes países deviam desenvolver as suas próprias armas nucleares.

Mark Williams, analista da consultora Capital Economics, sugeriu anteriormente numa nota que se os “EUA estiverem menos envolvidos na Ásia, Pequim terá a oportunidade de definir a integração política e económica da região nos seus próprios termos”.

Isso poderá incluir um acordo comercial que exclua os EUA, como o TPP excluiu a China.

Em andamento

Pequim já está em negociações para instituir a Parceria Económica Compreensiva Regional (RCEP, na sigla em inglês), uma área de comércio livre que inclui países do sudeste da Ásia, a China, Índia, Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia.

No total, abarcará mais de 3.000 milhões de pessoas.

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Austrália afirmou mesmo na quinta-feira passada que, caso o TPP falhe, “o vácuo que seria criado deverá ser preenchido com o RCEP”.

Questionado sobre a ameaça de Trump vir a taxar os produtos chineses, o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês lembrou na semana passada que o comércio bilateral entre os dois países aumentou 200 vezes nas últimas décadas, beneficiando ambos os lados.

“Qualquer chefe de Estado nos EUA que considera os interesses dos seu país e do seu povo irá fazer a escolha certa”, disse.

15 Nov 2016

Furor e mistério

Saber que o mal vem sempre de mais longe do que pensamos e que nem sempre morre na emboscada que lhe lançámos.
René Char

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]sta é a obra que todo o poeta gostava de poder reunir sem lhe arderem os dedos e secarem os olhos à medida que vai percorrendo o ciclo do tempo criativo com a gravidade dos que precisam de unir as pontas destes véus por vezes tão soltos, tão sós, tão perdidos, entre as multidões de opacidade vária em que o mundo se tornou, podendo fazer de um poeta, também, um ser em desintegração. Só que, ele tem esse fio de prumo no acento de todas as fórmulas por onde desliza, e em mistério e pensamento, reúne o que esse divino imanente que o habita o manda interpretar. Ao contrário da lixeira poemática dos dias em que se tornaram as referências, com actos isolados e “papéis bordados a tinta” sem nenhuma intimidade com a estrutura poética de uma vida, aqui, isso nunca era passível de ter acontecido. Char, abandonou os pragmatismos da vida comum  para interpretar um destino e fê-lo na singular e alquímica experiência de  um iniciado. Coisas que se não forem exactamente assim, jamais serão o que quer que seja que  valha a pena contemplar.  O poeta René Char não era outra coisa a não ser um  poeta. Não era um fazedor poemático isolado, e isso, só por si, é de um maravilhamento sem limites, nós, os que nos damos, não suportamos a acumulação de funções, nós, os que amamos , amamos sempre, e mais, a mesma coisa, aquela com que nos casámos nos dias felizes dos juramentos eternos.

Nenhuma leviandade, nenhum cansaço, nenhuma infidelidade entram no imenso espírito de um poeta, não pode viver com a fealdade de uma traição nem com uma permanente falta de atenção para consigo num esquecimento sem memória, pois que ele constrói e une todas as memórias e por vezes, a falta de rigor e o desconhecimento  dos outros face à sua,  sempre, e naturalmente, gentil pessoa, abrasa-o, pois que não sabe como encaminhar os outros  e não entende a distância que o mantém tão isolado. Sim, a Humanidade não é polida, nem sensível à sua existência neste mundo, muitas vezes mandam-no fazer coisas que ele só de ouvir se envergonha, pois não sabem, que o seu pacto é uma fera consciência que não sabe  transmitir numa linguagem imediata.  No entanto, há que viver, até para continuar fazendo a obra, viver é muito abstracto, e, se não houver uma causa, um amor, uma demanda… para que serve uma vida? Para que serve o prazer isolado dos dias sem um fio condutor de alguma eternidade?

Neste momento histórico vivemos uma interface programática de incentivo à criatividade, só que, as pessoas andam  na mansidão terrível dos regimes como se cumprissem pactos com eles, e, na profunda superfície de vidro vazio « Furor e  Mistério» não está, por que para estar, seria preciso uma natureza religiosa, uma espécie de êxtase perante o abismo daquilo que é o vazio e o desconhecido , era preciso, entretanto, que a palavra fosse uma lava de matéria ardente para ser desocultada:  nada disto nos dita nestes  dias dos frémitos do esvaziamento pelas explicações indevidas,  como se tudo fosse explicadamente  acessível e em tudo tivéssemos que orientar o pequeno mundo que vai sendo o global instante de um reconhecimento vário.

Se há uma« Homenagem e Fome» em verso livre numa destas páginas, ela transmite o mundo de Elliot junto daqueles ossos que se tornariam vida….- “Hão-de viver estes ossos?”- Aqui é uma  Mulher e não a Senhora de Elliot, toda semente para feras ansiosas, numa hora esteva de ossadas…. daquele homem que para melhor a adorar recuava indefinidamente….com esta sorte sabia então que a terra não iria morrer e a fome era só o tormento de uma espera.. ..- Perguntar-me-ão, do poético da  composição, pois que nada existe de mais poético que a carga de uma insuportável vontade   que não se rende ao espaço da diversão narrativa que retira a força da tenção.   Dar às pessoas uma dose articulada de resultados é adormecê-las, e ao manter a máxima inquietude, a linguagem,  é o puro exercício poético.

O amor que em tempo de consubstancialidade assume o integrar o outro é mais que possessividade, é a legenda de uma absorção  radical  que se deseja, e « Allégeance» é um fenómeno sonoro de longos mistérios a cumprir:

Dans les rues de la ville il y a mon amour, peut importe oú il va dans le temp divisé. Il n´est plus mon amour chacun peut lui parler.

il ne se souvient plus qui au juste l´aima et l´éclaire de loin pour qu´il ne tombe pas.

Nós que atravessamos tão sós os nossos instantes, que trabalhamos para as auroras como se as conhecêssemos, que ficamos  nos limbos das terras alheias, que não tendo chão, também perdemos o gosto de  andar, não estamos nos locais que outros deviam ocupar. Ou estamos? E se sim, por que não os ocupam?  E se estamos por que não fazemos  pontes? Toda esta mágoa…este tecer, e ler a beleza que aqui está, nos faz…não sei, prisioneiros, e depois não mais estaremos juntos sorrindo com o gosto dos dias nos nossos rostos….

Char, nesta bela recolha diz que o poeta vive na maldição, isto é, assume perigos perpétuos e renovados do mesmo modo que recusa, com os olhos abertos, aquilo que outros aceitam com os olhos fechados: o proveito de o ser. Passando por todos os graus solitários  de uma memória colectiva, da qual as regras do jogo o excluem.

Neste imenso brilhantismo incandescente faz a obra  cujo resultado é mais do que podemos suportar, e, no tempo das leves brisas estas Fúrias tão gentis revolvem a nossa natureza que deve estar disforme de tanta voz dissonante e matéria volátil, nós que agarrados às Barcas aguentamos os lemos, não nos atiramos à água por medo da fúria magnética. No fundo as sereias cantam…mas, quem as encanta são ainda os poetas que presos aos mastros continuam a misteriosa Viagem.  E agora que as correntes se foram nos silêncios dos cânticos, nos vazios dos mares,  talvez não se entenda por que se morre nas travessias das guerras que preparámos só  por não  sabermos compor. Sempre que deixamos os Ofícios dos Mistérios os mares tornam-se grandes sepulturas, e os nossos olhos, secam, para não ler o mapa de um mundo que  se liquefaz e se desfaz.

« Viver com semelhantes homens»  tenho tanta fome… durmo sob a canícula das provas. Viajei até à exaustão, a fronte sob o enxugadouro nodoso. Já não é a vontade elíptica da escrupulosa solidão… mostrai  os vossos desígnios e essa vasta abdicação do remorso!

Tanta gente!  São nossos irmãos.

15 Nov 2016

O preço das casas

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]orria o ano de 2002, e a editora Gótica lançava um livro de poesia chamado O Preço das Casas, de Joaquim Cardoso Dias. Livro com 62 páginas e 40 poemas, divididos em duas partes: “Entrada de Emergência” e “De Uma Porta à Outra”. O título, somado à inscrição de Ruy Belo, antes do início do livro – Só as casas explicam que exista / uma palavra como intimidade – sugere-nos logo uma leitura junto da fenomenologia. Embora o preço das casas, a que o título se refere, também seja o preço de mercado, o preço que pagamos pelo imóvel, o preço que pagamos com o suor do corpo, o preço das casa aqui é antes de mais o preço da intimidade que nasce entre quatro paredes, o preço da intimidade que nasce entre um coração e outro ou, melhor seria dizer com Cardoso Dias, o preço da intimidade que nasce entre um animal que cheira outro animal – escreve o poeta à página 28, no poema “Another Shade Ten Minutes”: “(…) onde um animal olha outro animal olhando-lhe (…). No fundo, o preço das casas é o preço de amar. Mas o que é amar, neste livro, e que se adivinha que também seja na vida? Esta pergunta – o que é amar – lembra-me sempre um verso de Pedro Tamen: “Amor, é amar”. Aquela vírgula ficou para sempre no meu coração. E aqui neste livro de Joaquim Cardoso Dias a pergunta não é menos pertinente. Começa assim o livro, com o poema “Sem Mentir”:

ainda não sei se o amor esteve aqui de luz acesa

e se caminhou nu toda a noite

pelo tecto do quarto mas

eu tirei a roupa toda bebi água

e não te telefonei

qualquer coisa assim atirou-me de bruços

para o coração e lembrei-me

de te esquecer desde o começo

muito longe e alto nas escadas de incêndio

foda-se como acreditar que te amo

sem mentir

Poucos são os livros com começos tão felizes como este. De uma felicidade amarga, como toda a felicidade revisitada – “(…) Nessun maggior dolore / che ricordarsi del tempo felice / ne la miséria (…) / Não há maior dor / que recordar o tempo feliz / já na miséria” (Dante, Divina Comedia, Canto V, vv. 121-23). E o que é um bom poema, se não uma felicidade revisitada? Mas este poema dá-nos o tom do livro, em quatro penadas: uma casa vazia, a noite onde não se dorme, o amor que só tem carne e por isso estraga-se, e a necessidade imperativa de mentir, não só para que o amor exista, mas também para que a vida exista. Escrever poemas aparece logo no início do livro, como a arte superior de mentir. Porquê superior? Porque admite para si mesma a sua essência longe da verdade. Leia-se este poema de uma cintilação rara, “Enquanto A Noite”:

não tenhas medo é tudo o que sei fazer

duas das minhas mãos pelo teu cabelo enquanto a noite

essa idade onde descreveras o calor à volta de mim

e um pouco mais

sei por isso quem morre neste poema

Escrever é mentir, viver é mentir-se. E, entre as mentiras da escrita e da vida, há apenas a beleza; a beleza dos versos, como o início deste poema, e a beleza dos corpos, capazes de descreverem o calor à nossa volta. Ponto de vista este que é reforçado no poema “Mitologia”: “finjo que acredito em ti: amo-te /e sem o saber todos os sonhos / caíram no fim das tuas palavras antes da única verdade / se ter ferido encostada tanto / ao meu peito”. A única verdade: o corpo, a beleza. Há um verso de Ruy Cinatti, que ecoa aqui com uma força ainda maior: “Quem não me deu Amor, não me deu nada” – este livro de Cinatti, O Livro do Nómada meu Amigo, é aliás um livro que brilha na escuridão destes poemas. Mas aqui em Cardoso Dias, poderíamos traduzir para: Quem não me deu Beleza, não me deu nada. Pois o amor é apenas parte inexistente, ou desconhecida, da beleza.

Assim, o preço das casas é o preço dos corpos, o preço da beleza, o preço daquilo que faz a vida ser vivida, que faz a vida valer a pena, que faz, no fundo, a vida ter preço. Escreve o poeta em “Salsugem@hotmail.com”: “um segredo é a alquimia mais sincera / uma contradição comum com interesse individual // neste sentido amo-te tanto e amo-te muito // e publicar esta ausência contrária / é um erro trágico que irei pagar com o teu corpo.” Esta contradição comum com interesse individual, com que o poeta nomeia o segredo, essa sinceridade única, que é o silêncio que une dois corpos, e condenada a acabar assim que se enuncia, é também a vida. A vida é um segredo.

Do ponto de vista da técnica, aquilo que mais salta aos nossos olhos, é a duplicidade do verso, como no poema “Mitologias”: “e sem o saber todos os sonhos / caíram no fim das tuas palavras (…)” No primeiro verso somos levados a pôr uma vírgula entre “saber” e “todos”, acabando por ler: e sem o saber, todos os sonhos… Mas o poeta não quis a vírgula porque não quer que se leia apenas assim, quer também que se leia: e sem o saber todos os sonhos… Mesmo sem saber todos os sonhos, ou sem saber “todo” o que seja, que é a condição humana, tudo nos cai ao chão, tudo cai ao chão, como no poema de Dylan Thomas. Terminemos com este poema de Joaquim Cardoso Dias:

O PREÇO DAS CASAS

não foi ao mesmo tempo

uma viagem o mesmo ar entre o teu sorriso

ou esta navegação politica da idade

mas eu acreditei em tudo

desde a primeira vez em que estivemos juntos

eu dava meia volta e a lua

lá estava durante o sono

no meu espelho de atravessar os mares

iludindo a vontade de chorar

até a temperatura se tornar insuportável

na interpretação quase televisiva do mundo

de repente pouco sabíamos um do outro

e a sensibilidade ficou assombrosamente maior

por denunciar a minha barba cada vez mais insistente

agora só o teu corpo consegue despir-me

agora posso sonhar até deixar de ter

e teremos perdido tudo por engano amor

e durmo contigo sem ninguém ver

esta rosa do fundo da minha cabeça

dormirei contigo esta noite aqui devagar

onde atiro pedras a todos os sentidos

apago a luz e espero o sono

as pálpebras limpam este desejo no movimento da respiração

já não tenho comprimidos para te esquecer

Joaquim Cardoso Dias publicou recentemente um novo livro de poesia com o título Pornografia Doméstica, pela editora Gulliver. E, tal como O Preço das Casas, também já está esgotado.

15 Nov 2016

O Reino Unido e o exemplar respeito da lei

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o passado dia 19 de Julho, o Tribunal de Primeira Instância do Reino Unido deu início à análise do caso apresentado por Gina Miller e outros. O réu era o Governo do Reino Unido. Esta sessão foi constituída para se proceder a um exame judicial

Ao contrário de Portugal, no Reino Unido não existe um corpo legal administrativo. A “lei administrativa” está incluída na lei civil. O exame judicial é um procedimento legal indexado ao Tribunal de Primeira Instância do Reino Unido. Por norma, analisa queixas contra o Governo apresentadas por cidadãos comuns. Tem por objectivo rever actos administrativos efectuados pelo Executivo. Aqui não se trata de julgar a capacidade do Governo para realizar os actos. O Tribunal vai focar-se nos actos em si, e determinar se são ou não legais. Por exemplo, existe um requisito estatutário que determina que no caso de o Governo desejar reclamar um terreno para construção, digamos de um Centro Comercial, terá de pedir um relatório a uma agência de protecção ambiental. Se não o fizer, qualquer pessoa afectada por essa decisão pode processar o Governo e solicitar um exame judicial, alegando que houve quebra do requisito estatutário. Se houver provas suficientes que determinem a violação do requisito o Governo perde o caso.   

Na presente situação, os queixosos alegaram que o Governo do Reino Unido deveria ter apresentado notificação da sua intenção de abandonar a União Europeia, ao abrigo do artigo 50 do Tratado da União Europeia, apresentando essa decisão a voto no Parlamento, com debate deliberativo em profundidade sobre as suas implicações e objectivos. O Secretário de Estado para os Assuntos do Brexit defendeu que a activação do artigo 50 era uma prerrogativa Real e que dispensava a consulta dos membros do Parlamento.

Gina Miller ainda alegou que, como as notificações ao abrigo do artigo 50 não podem ser revogadas, na prática acabam por ser anulados uma série de Actos Parlamentares. A Constituição consagra que os Actos Parlamentares não podem ser alterados sem o consentimento do Parlamento.

A audiência ficou concluída a 18 de Outubro. O Tribunal deliberou e publicou a sua decisão a 3 de Novembro. Os juízes não deram razão ao Governo quanto à prerrogativa Real sobre o artigo 50 do Tratado da União Europeia. Mais tarde será decidida a forma como tal disposição deveria ter sido tomada. Os juízes descreveram o Acto 1972 da Comunidade Europeia como o mais eficaz para “compreender o efeito directo da lei da EU no sistema legal nacional”, e defendem que não é plausível que a intenção do Parlamento tenha sido defender a capacidade da Coroa para, de forma unilateral, alterar o sentido do artigo através do exercício das suas prerrogativas.

Simultaneamente, na Irlanda do Norte, outros processos legais contra o Governo ficaram concluídos a 28 de Outubro, mas o Tribunal permitiu que quatro dos cinco queixosos pudessem apelar para instâncias superiores.

O resultado final do exame judicial não é conhecido por enquanto. Mas os princípios legais e o estado de direito implantado no Reino Unido são exemplares. O Tribunal determinou que o Governo tinha falhado porque na altura da adesão do Reino Unido à União Europeia, a aprovação foi dada pelo Parlamento. Portanto, quando o Reino Unido quis sair, o Parlamento deveria ter aprovado essa decisão. E porquê? Porque a vontade do Parlamento é soberana. A legislação proposta pela Coroa tem de obter o consentimento das Câmaras Parlamentares. Esta é a famosa doutrina da “soberania Parlamentar”. O Parlamento pode alterar uma lei sempre que quiser. No entanto, a Coroa não pode fazê-lo apenas através do exercício das suas prerrogativas, a menos que a própria lei o permita. Na Proclamação 1610, a Coroa declara solenemente não interferir na lei comum, na lei estatutária nem nos costumes. Na medida em que a lei da UE afecta directamente a lei do Reino Unido, o parlamento deve autorizar as alterações que forem feitas. Consequentemente, o exercício das prerrogativas Reais, por si só, não basta.

Esta foi a decisão do Tribunal de Primeira Instância, quer se concorde com ela ou não. O julgamento reflecte claramente que a Coroa não tem poder para alterar a lei. Este impedimento é o símbolo do “estado de direito”, demonstrando que todos são iguais perante a lei, mesmo estando na posse do mais alto poder administrativo. Se até a Rainha, a pessoa mais importante do Reino Unido, obedece à lei, não há motivo para que as outras pessoas não obedeçam. Porque a Rainha obedece à lei, o Tribunal tem o poder de julgar o Governo. Porque o Governo obedece à lei, a decisão tomada pelo Tribunal pode ser aplicada. A aplicação da lei não se faz pela força, mas através do poder da palavra. Estes procedimentos baseados no respeito da lei – são um exemplo a seguir por todos, e um modelo para a resolução de qualquer contenda. Este caso permite-nos compreender claramente os alicerces do sistema jurídico-legal britânico.    

O Supremo Tribunal do Reino Unido já agendou para Dezembro uma audiência para analisar o recurso do Governo da decisão do Tribunal de Primeira Instância. A audiência terá lugar entre 5 e 8 de Dezembro, mas a decisão só deverá ser divulgada no início de Janeiro de 2017. Nicola Sturgeon, Primeiro Ministro escocês pediu que o Director Jurídico do seu Governo (Scottish Lord Advocate) esteja presente no Tribunal. Espera-se uma nova batalha legal. Estejamos atentos aos próximos desenvolvimentos.

Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau
15 Nov 2016

Conversando

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ão vivemos no mundo dos contos de fadas, dos finais felizes ou dos desejos realizados. Das duas uma, ou engolimos sapos ou conversamos sobre as coisas até chegarmos a um acordo sobre o que queremos. Com o amor e o sexo passa-se a mesma coisa, nem sempre vemos acontecer aquilo que queremos que aconteça. Entretanto, muitos corações partem-se e muitos relacionamentos deixam de existir mas outros se calhar precisam de ser melhorados. O aconselhamento matrimonial/de casal/sexual está constantemente a exigir mais e melhor comunicação entre as pessoas. Mas o que é que isso quer dizer? O que é que quer dizer comunicar melhor?

Depois de um dia de trabalho intenso e cansativo, chegamos a casa perto do nosso mais que tudo e não pensamos conscientemente sobre esta questão comunicativa. A comunicação simplesmente acontece, quer queiramos ou não. Em momentos de tensão esta comunicação parece refugiar-se no véu da introspecção e da individualidade. Enganamo-nos se pensamos que nada passa cá para fora. E não há nada de errado com isso, ter maus dias e ter dias de stress é normal. Estes obstáculos emocionais são normais. Eles podem ser a causa (ou consequência) daquilo que sentimos como pessoas, enquanto casal ou enquanto pessoa em sociedade.

Tal como as dores de crescimento, estes momentos de tensão são necessários ao desenvolvimento de um relacionamento mais forte, mais seguro, mais profundo connosco próprios e com os outros. Num relacionamento temos que lidar com o dupla problematização entre o indivíduo e o colectivo que é uma daquelas coisas chatas e difíceis de conseguir. A solução simples a ser sugerida é a boa comunicação, a complicada, é praticá-la.

Uma boa comunicação não é debitar tudo aquilo que pensamos sem qualquer filtro. Boa comunicação sugere uma abertura e honestidade que está em sintonia com o que o outro pode receber, digerir e assimilar. Não me interpretem mal, não estamos totalmente à mercê do outro, mas o outro tem que ser considerado. Se a comunicação não é dialógica, trata-se de um monólogo.

Vamos por um exemplo, imaginem uma terrível incompatibilidade sexual. Vocês engatam, dão beijinhos vão para a cama e a coisa corre verdadeiramente mal. Mas talvez se pudessem falar sobre isso a coisa poderia melhorar, se a linguagem corporal não conseguir veicular a mensagem, talvez umas palavras conseguirão. O que dizem? Olha, isto não correu muito bem, o que podemos fazer para melhorar? Soa tão diplomático, não soa? Mas poucos o fazem porque é muito pouco romântico. Resolver problemas não é romântico ou sexy, é chato porque é muito real. Quem é que aguentaria encontrar o amor da sua vida e perceber que ele afinal não sabe proporcionar um bom cunnilingus? Ele pode aprender! Mas se não derem a entender que a tarefa não está a ser bem desenvolvida, ele nunca saberá que há espaço para melhorar. A falar é que a gente se entende pode soar a cliché mas é talvez das condições mais necessárias para uma vida amorosa e sexual feliz. Ninguém lê a tua mente, ninguém sabe como lê-la, por isso é melhor explicar o que se passa na tua cabeça.

Eu percebo que falar sobre dificuldades não seja muito divertido, mas pode ser. Sugiro que tentem incluí-la saudavelmente na vossa vida sexual. Se tiverem sessões temáticas do tipo, a noite BDSM, brincadeiras marotas na banheira,  o dia do coito ao ar livre, porque não, o sexo das dúvidas. Um dia programado para mexer no corpo um e do outro e reagir em tempo real, falando abertamente sobre o que gostam e não gostam. Se sentem as bochechas a corarem só de pensar em tamanha honestidade, podem planear uma sessão de dúvidas às escuras, o que interessa é que experimentem com o à vontade que o sexo tão precisa. Sem ofender ninguém! É preciso ter tacto. Dizer o teu sexo oral é terrível faz com que o ouvinte se sinta envergonhado e pode fazê-lo fechar-se ainda mais à discussão. Não esquecer de dizer as coisas com jeito e pensar na sinergia, afinal, o sexo é a dois (ou a mais) e não é de responsabilidade isolada de um ser. Não é o outro que simplesmente não tem técnica de língua, o que recebe é que também não gosta muito da forma como é feita. Isto para reforçar que o melhoramento sexual não é universal não há uma técnica universal na cama. O que funciona para uns, não funciona para outros. Daí a importância da dinâmica criada entre o casal. Os dois é que juntamente criam o seu universo sexual, as suas fantasias e desejos. O sexo é partilha, quando bem comunicada.

15 Nov 2016

Marco Mueller demite-se do Festival Internacional de Cinema

O director do primeiro Festival Internacional de Cinema de Macau, Marco Mueller, demitiu-se ontem. Uma referência do cinema internacional que deixa o evento mais pobre e os protagonistas da sétima arte receosos quanto ao futuro

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]arco Mueller demitiu-se do cargo de director do Festival e Cinema Internacional e Macau. A notícia foi dada ontem em comunicado emitido pela Comissão Organizadora do evento. O acontecimento dá-se a cerca de três semanas do início do festival que tem data marcada de 8 a 13 de Dezembro e apresenta um cartaz com 43 filmes.

Macau perdeu o passaporte para a internacionalização na sétima arte com a saída de Marco Mueller da direcção do primeiro Festival Internacional de Cinema (MIFF). Este é o sentimento que ficou, ontem, entre realizadores residentes a propósito da notícia da demissão do reconhecido programador, Marco Mueller, do cargo de direcção artística da primeira edição do evento que prometia colocar Macau no mapa dos festivais de cinema.

Nos realizadores locais fica a sensação de perda, de esperança desfeita e de sonho perdido. “Este sonho de existir um festival com um grande programador mundial diluiu-se antes mesmo de ter início”, reage o realizador de “Cartas de Guerra”, Ivo Ferreira, em declarações ao HM.

Ter um festival de cinema em Macau não seria uma distinção. O segredo estava, e até ontem, bem entregue ao facto de assumir a liderança com um nome como o de Marco Mueller.

Para Ivo Ferreira, “festivais há muitos, há milhões no mundo todo e sem relevância alguma. A diferença acontece quando têm características particulares, como por exemplo, ter um grande director  e um programador fantástico, como estava para acontecer em Macau com a presença do Mueller”.

O realizador lamenta a notícia do fim ainda antes do início, e a demissão de Mueller “esmorece muito o sonho de termos um grande festival de cinema em Macau”, até porque a sua presença na direcção do MIFF não estava guardada para reconhecimento futuro e já tinha contribuído para colocar Macau no mundo. “Eu que passo muito tempo em Festivais, agora quando digo que venho de Macau, as pessoas já sabem, precisamente pela referência ao director”. “É uma pena”, remata Ivo Ferreira.

Futuro incerto

O sentimento é partilhado por Emily Chan que, apesar de já ter uma película agendada para o evento, não deixa de se mostrar surpreendida e até temerosa quanto ao futuro do MIFF. “Estou assustada e não percebo as razões deste desfecho”, afirma a realizadora local ao HM em reacção à notícia de ontem.

“Durante a convivência com o Marco, ele mostrou ser caloroso  e com vontade de ajudar os realizadores locais, sobretudo os mais jovens. É uma figura carismática e essencial”, explica.

Para Emily Chan, a ausência de Marco Mueller também “é uma pena”. Macau ainda está a dar os primeiros passos na sétima arte e na projecção do que se faz no território e, no ponto de vista da realizadora, Marco Mueller era a esperança do futuro do cinema local. “ Em Macau o cinema é muito recente e está numa fase inicial, e nós, realizadores locais, precisamos muito do apoio de um profissional como o Marco que poderia servir de ponte. Ele era capaz de levar as nossas obras para outras paragens e internacionalizar o trabalho que fazemos”, explica a jovem realizadora.

Não há dúvidas e “é inevitável a perda que o festival vai sofrer com a saída de Mueller, até porque muitos dos filmes que constam no cartaz foram trazidos por ele”, lamenta Emily Chan.

Sem Mueller, e com a promessa agora esmorecida, o receio torna-se inevitável: “se não contamos com ele vai ser mais difícil dar passos no sentido de trazer o bom cinema a Macau e tornar o festival de cinema num evento de renome”.

Diferenças  maiores

Marco Mueller conta já com um vasto currículo e com o nome à frente de alguns dos grandes festivais internacionais, como o de Veneza ou Roma tendo ainda colaborado  como consultor do festival de cinema de Pequim e programador do festival da Rota da Seda.

Em nota enviada ao HM a Comissão Organizadora faz saber  que “foi por motivo de divergências de opiniões entre o Sr. Marco e a Associação de Cultura e Produções de Filmes e Televisão de Macau” que o agora ex-director do MIFF, apresentou a sua demissão.

A mesma entidade dá ainda a conhecer que Marco Mueller não vai ser substituído e que “a Comissão Organizadora e a Associação de Cultura e Produções de Filmes e Televisão de Macau, decidiram não convidar um outro director para o Festival de Cinema, sendo que o Secretariado irá assumir todas as tarefas e responsabilidades de director do Festival.”

Uma surpresa

Também para o Secretário para os Assuntos Sociais e da Cultura , Alexis Tam, a saída de Marco Mueller parece ser uma surpresa. O Secretário reagiu à saída do programador italiano do cargo de director do Festival Internacional de Cinema de Macau, dizendo que a decisão é “pessoal” e “inesperada”, conforme citado pela Rádio Macau. Segundo a mesma fonte, Alexis Tam sublinha ainda que esta é uma decisão que “naturalmente respeita”.

14 Nov 2016

Marisa Gaspar, antropóloga: “A identidade molda-se às situações”

 

Tropeçou em Macau e nos macaenses por acaso, já lá vão mais de 10 anos. Do acaso ao fascínio, Marisa Gaspar passou para a investigação. A antropóloga apresenta em Janeiro o livro que resulta de uma tese de doutoramento sobre os macaenses, em que explora o conceito de ambivalência: fazer parte de dois mundos não é sinónimo de desconforto

 

“No Tempo do Bambu – Identidade e Ambivalência entre Macaenses”. O livro surge na sequência da tese de doutoramento que fez, mas o contacto com a comunidade macaense não começou com os anos de pesquisa que resultaram nesta obra.

Sim, há mais de uma década que investigo Macau e os macaenses, sobretudo a comunidade que está radicada cá. Isto foi o culminar de uma investigação para um doutoramento. Depois de ter sido defendida em 2013, o passo seguinte seria a publicação, que se concretizou. O livro saiu pela edição do Instituto do Oriente da Universidade de Lisboa.

Como é que surgiu o interesse por Macau e pelos macaenses?

Não tinha qualquer ligação a Macau – agora sim, tenho muitas afectivas – mas, até então, não. Quando fui a primeira vez a Macau fui sozinha, à descoberta, e rapidamente conheci pessoas que foram muito calorosas e que me integraram. O gosto por Macau começou em 2003. Quando terminei a minha licenciatura em Antropologia tive a oportunidade de fazer um estágio profissional no Centro Científico e Cultural de Macau aqui em Lisboa. O centro foi fundado em 1999, precisamente com a preocupação de, uma vez que Macau tinha passado para a China, manter a ligação ao território e ser uma ponte activa nas relações China-Portugal, passando sempre por Macau. Não conhecia o centro e pouco conhecia a história de Macau – como a maior parte dos portugueses, que sabem aquela história romântica de que foi cedido aos portugueses que ficaram lá e defenderam a costa. A Expo 98 também foi importante, porque nos aproximou mais do Oriente, as pessoas tiveram oportunidade de perceber que havia um pavilhão muito interessante, o de Macau. Mas, como referi, pouco sabia de Macau. Foi esse estágio que me permitiu ter mais conhecimento sobre o Oriente e, à medida que ia sabendo mais, ia estudando mais e ficando cada vez mais fascinada. Depois, o facto de ter conhecido Henrique de Senna Fernandes, numa das suas passagens por Lisboa: tive a oportunidade de passar longas tardes com ele à conversa e fiquei completamente fascinada por esta comunidade, por esta terra, quis saber mais e investigar mais. Nunca pensei que teria um projecto destes. Entretanto, a minha vida foi mudando, passei por outros sítios, estive um pouco desligada desta investigação, mas sabia que, no futuro, iria voltar a ela e iria fazer um projecto com mais consistência.

A identidade macaense é um assunto muito polémico, não reúne consenso dentro da própria comunidade macaense – ou nas comunidades macaenses. É neste contexto que surge a ambivalência a que se faz referência no título? A que conclusões chegou?

Em relação às conclusões, tenho de salientar que são sempre as minhas interpretações – há sempre muitas divergências no seio da própria comunidade, é natural que umas se identifiquem mais e outras menos com as observações que faço e com as conclusões a que chego. A ambivalência não diz respeito ao que serão os marcadores identitários da comunidade porque, nesse sentido, não encontro grandes discrepâncias. O meu estudo baseia-se na comunidade, mas não me fixei só em Macau ou só em Portugal. A comunidade é muito dinâmica e funciona sobretudo em rede – o que move a comunidade são redes de pessoas e determinadas pessoas dentro da comunidade. Quando percebi isso, achei que poderia focar-me em redes de pessoas e não tanto nos sítios onde estão fixadas, até porque a comunidade tem muitos fluxos entre Portugal, Macau e a diáspora. Mas o importante é perceber que as pessoas estão constantemente em contacto. O facto de estar cá em Portugal não quer dizer que não saibam exactamente o que se está a passar em Macau, porque as pessoas usam as redes sociais e a Internet como forma de comunicação diária e actualizada. Acredito até que os macaenses em Portugal saibam mais das notícias de Macau e do que se passa com os macaenses em Macau do que propriamente o que está a acontecer aqui no país de acolhimento. Mas o que me interessava perceber era exactamente o que se tinha passado desde 1999 – a grande alteração social, económica e cultural em Macau – e a forma como isso se estava a reproduzir em termos de alterações identitárias na comunidade.

Que alterações identitárias foram essas? Aconteceram?

Sim, essa é a conclusão a que o meu estudo chega. De facto, o que percebi é que há uma mudança de paradigma. Se antes a comunidade macaense se identificava sobretudo com uma cultura e uma identidade lusófona, de matriz portuguesa, neste momento houve uma mudança de paradigma: mais importante do que ter essa matriz portuguesa na sua cultura e na sua identidade é marcar pela diferença, ou seja, ‘eu sou diferente quer do português, quer do chinês, porque sou uma mistura dos dois, sou mestiço, sou filho desta terra, como toda a nossa cultura é um produto dessas misturas, seja na comida, seja na língua que se mistura, somos nós, somos um produto da vivência destes dois mundos que resultou nesta mistura’. Acho que esta identificação começa a acontecer precisamente com a preparação para a transição e sobretudo depois da transição, até porque o discurso formal, oficial e político em Macau é precisamente nesse sentido – marcar pela diferença. Macau é diferente da China, tem uma cultura e uma identidade próprias e é isso que está a ser incutido diariamente. Os macaenses, como filhos da terra que são, têm aqui um papel muito importante – mostrarem ao mundo como duas culturas tão diferentes se misturaram e resultaram nesta comunidade.

Faz referência a uma ambivalência estratégica. Que estratégia é esta?

O que entendo por ambivalência é um conceito mais abstracto que tentei explorar. A sensação que tenho, do trabalho de campo intensivo com os macaenses, é que o facto de terem características de informação e saberem estar em ambos os mundos – de conhecerem a cultura ocidental, portuguesa, assim como têm os requisitos da cultura oriental – faz com que a ambivalência seja usada de forma estratégica, de tirar o maior proveito possível dela. Em situações em que convém ser mais ocidental, são mais ocidentais; quando convém ser mais oriental, são mais orientais. Não estando em nenhum dos dois mundos mas estando no meio deles, a verdade é que sabem estar em ambos. Há esse aproveitamento positivo. A ambivalência pode sempre vista, em termos sociológicos, como o não saber estar ou uma confusão de identificação, mas no caso dos macaenses a ambivalência sempre existiu e foi aproveitada de uma forma muito proveitosa e positiva. Esta ambivalência será também identitária, porque haverá alturas e situações em que se deve, se pode ou é mais proveitoso identificar-se com determinados parâmetros, e noutras com outros. Isto para explicar que a identidade é uma coisa muito fluida, plástica, que se molda às situações, àquilo que os indivíduos querem fazer com ela.

Os macaenses são um caso muito específico, atendendo a que a questão da mestiçagem foi um processo mais claro nas antigas colónias portuguesas, até pelas características políticas. À descolonização corresponderam processos de independência, mas no caso de Macau aconteceu uma transferência de poderes – e não passou a ser dos macaenses, como já não era antes. Coloca uma questão: “Macau, ainda terra minha?”. Que resposta é que se pode dar?

De facto, Macau é incomparável com qualquer uma das ex-colónias portuguesas. Lembro-me perfeitamente de ouvir, nas minhas entrevistas, macaenses dizerem que tinham pisado Portugal pela primeira vez com 18, 20 anos, quando tinham oportunidade de vir estudar. Quando ouvia isto, era já no seguimento de uma longa conversa, e para trás tinha ficado uma paixão à pátria, um amor à terra – uma terra que não conheciam. Deixava-me chocada por perceber que era um amor quase platónico, porque estamos a falar de um país que ficava muito longe e que não conheciam de todo. Nesse sentido, o processo educativo vinha obviamente de uma política de instrução escolar – refiro-me a um grupo numa faixa etária entre os 60 e os 70 anos. Este grupo viveu o Macau antes e o depois da transição – e talvez muito mais o Macau antes, que podia ser o Macau chinês que sempre foi, mas esta comunidade era lusófona. Nesse sentido, havia essa ligação muito forte a Portugal. Com o processo de transferência houve muitas questões delicadas, mas penso que se resolveram pelo melhor e, no geral, as pessoas ficaram satisfeitas. Todas elas me falavam do fantasma do processo de descolonização em África e como isso as tinha, de certa forma, traumatizado, gerando o receio de terem de largar tudo e irem embora. Mas isso não aconteceu, as pessoas foram bem integradas, quem quis vir embora veio, houve muita gente que percebeu que era melhor estar em Macau e regressou. A verdade é que a comunidade é isto: são várias redes de pessoas que têm ligações por laços familiares, mas não só, por laços de afectividade que ficou dos tempos da escola, que se continuam a relacionar e a mover. Estamos a chegar ao próximo Encontro das Comunidades Macaenses e há uma demanda para Macau. Há a necessidade de manter os laços bem activos com Macau e de perceber que ‘a minha terra continua ali e as minhas origens são aquelas’.

Um livro disponível

A obra de Marisa Gaspar é apresentada na Casa de Macau em Lisboa a 19 de Janeiro do próximo ano, mas está já disponível para quem se interessa pelo tema. Existem exemplares impressos que não vão ser comercializados – a edição foi patrocinada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia do Governo português – e sim distribuídos pelas bibliotecas da especialidade. Mas existe uma versão de “No Tempo do Bambu” em e-book, que pode ser descarregada gratuitamente no site do Instituto do Oriente do Instituto de Ciências Sociais e Políticas da Universidade de Lisboa. Em Janeiro, para assinalar a publicação da obra, vai realizar-se um debate que conta com as intervenções do académico Brian O’Neill, autor do prefácio do livro; de Ana Paula Laborinho, presidente do Instituto Camões; e de Fernanda Ilhéu, coordenadora do ChinaLogus – Business Knowledge & Relationship with China, do Centro de Estudos de Gestão da Universidade de Lisboa.

14 Nov 2016

Segurança social | Próximos 50 anos sustentados por 68 mil milhões

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]té o final deste ano o activo total do Fundo de Segurança Social (FSS) é estimado em cerca de 68 mil milhões, sendo que o montante poderá sustentar o funcionamento das pensões para idosos por mais 50 anos. A  informação é dada por Iong Kong Io, presidente do Conselho de Administração do Fundo de Segurança Social no programa Macau Talk do canal chinês da Rádio Macau. O responsável  sublinhou ainda que, a curto prazo, o Governo não terá necessidade de proceder a qualquer injecção de capital.

Para Iong Kong Io, o regime de segurança social é a principal garantia social e como tal o Governo assume 85% das despesas do fundo destinado ao sector, sendo que salvaguarda que a dependência em demasia do Executivo acarreta riscos. “Para assegurar a sustentabilidade prolongada do regime é necessário que este seja assumido também por parte de empregadores e empregados”, afirma o dirigente.

O Fundo de Segurança Social  vai, a partir do próximo ano, aumentar o montante das contribuições por parte da entidades patronais e laborais, das 45 patacas para 90 patacas, mantendo a proporção um para dois. Iong Kong Io referiu ainda que, actualmente, as pensões dos idosos ocupam mais de 90% das despesas do Fundo de Segurança Social, sendo o restante montante absorvido pela atribuição de subsídios, nomeadamente, de invalidez.

14 Nov 2016

Segurança | Criticado sistema para adjudicação de contratos

Mais fiscalização aos serviços de segurança de modo a combater a fraude nos salários é a premissa deixada  pelo deputado Au Kam San em interpelação ao Executivo. Na origem do problema está o critério que valoriza as propostas mais baratas

[dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uanto mais barato, melhor, é a ideia que está na base da interpelação do deputado Au Kam San, que critica o sistema de adjudicação dos serviços de segurança por parte do Executivo em que, mais que a qualidade, a aceitação tem tido como critério o preço mais baixo. Com os valores reduzidos que as propostas apresentam de modo a serem aceites, o deputado levanta a suspeita de “possibilidade de fraude nos processos”. De modo a evitar a situação, Au Kam San pede maior fiscalização por parte do Governo,  aos serviços de segurança.

“As empresas que prestam o serviço de segurança a baixo custo, não conseguem pagar os salários aos funcionários”, afirma o deputado enquanto adianta que as adjudicações a empresas de segurança privadas são em número “extraordinariamente” grande. Apesar dos serviços serem adjudicados de acordo com as necessidades próprias de cada departamento e através do concurso público, o baixo custo é o factor que mais conta na avaliação das propostas. O peso dos gastos pode atingir os 60 por cento a 80 por cento da pontuação total atribuída às propostas. “Podemos concluir que, segundo este princípio, quem apresentar o preço mais baixo consegue mais facilmente  obter a adjudicação”, lê-se na interpelação.

Tendo como referência a boa gestão dos dinheiros públicos, Au Kam San concorda que o valor monetário deve ser um critério a considerar na avaliação das propostas, no entanto, não ao ponto de permitir que os funcionários do sector da segurança possam vir a usufruir de um salário inferior aos valores mínimos legais.

Fazer pela vida

O que se tem vindo a verificar, aponta o deputado, é que, de acordo com empresas do sector, o facto do preço do serviço se ter transformado em factor decisivo para a adjudicação bem sucedida, é imperativa para as entidades patronais, a redução de gastos e consequente limite dos salários abaixo do ordenado mínimo previsto pela lei, de modo a ser sustentável. “Para as empresas, se o salário mínimo obrigatório e previsto por lei tiver que ser assegurado, é quase impossível sustentar o serviço que foi adjudicado, porque os gastos com o mesmo serão superiores ao orçamento aprovado”.

Au Kam San questiona retoricamente como é que as empresas poderão resolver este problema sem que incorram em fraude nos preços dados para avaliação em concurso público.  Para o deputado é claro que só não existe fraude, caso os concessionários dos serviços de segurança estejam dispostos a suportar o défice entre o serviço pago pelo Governo e os verdadeiros custos do mesmo. “Só quando as empresas estiverem preparadas para suportar a diferença entre os custos reais e o orçamento adjudicado, é que não se estará a incorrer em fraude”, afirma o deputado.

Para Au Kam San a solução passa pelo reforço dos serviços de fiscalização ao sector da segurança.

14 Nov 2016

AAM | Lista de Neto Valente é a única à presidência

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]orge Neto Valente vai recandidatar-se à presidência da Associação dos Advogados de Macau (AAM). A informação é adiantada pela Rádio Macau, sendo que as eleições, estão marcadas para Dezembro e contam com uma lista única. Além de Neto Valente na presidência, Paulino Comandante mantém-se na direcção. O presidente da Assembleia Geral vai ser Philip Xavier e Rui Cunha fica na liderança do Conselho Fiscal.  Já o Conselho Superior da Advocacia ainda não tem presidente mas tudo indica que será Frederico Rato. Em declarações à Rádio Macau, Neto Valente disse que a lista é de continuidade. “Não apareceu outra lista, infelizmente. Avisámos, tentámos, convidámos, mas não conseguimos arranjar outra lista. Portanto, há algumas renovações, algumas substituições mas é uma lista de continuidade.” Neto Valente apontou como prioridade as tarefas que a AAM tem em curso, nomeadamente, “a revisão dos estatutos de regulamentos e diplomas vários que regulam a profissão”. Já o objectivo principal continua a ser “melhorar” a Justiça. “Infelizmente a Justiça não está com muita saúde e não tem nada que a recomende”, enfatizou.

14 Nov 2016